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A grade curricular das escolas e seus livros didáticos não dão o devido lugar ao

protagonismo negro, por mais que a lei 10.639/03 exiga o ensino dos povos
africanos. As instituições de ensino em sua maioria só abordam o tema nos dias 13
de maio e 20 de novembro, tratando a cultura como folclore, um termo usado como
forma de desqualificar os costumes e tradições, ou só falando da escravidão. Não
são mostradas as personalidades pretas influentes e poderosas, vemos apenas os
que estão em condições ruins: o escravo, o bandido, o favelado, etc. Como diz
Grada Kilomba (2008, p.65) falando da sua experiência escolar, “pediam que
escrevêssemos sobre o grande legado da colonização, embora só pudéssemos
lembrar do roubo e da humilhação. E nos pediam que não perguntássemos sobre
nossos heróis e heroínas de África porque elas/eles eram terroristas.”
Por mais que o sistema não ajude a mudar essa situação, cada professor
possui um lugar de fala ao estar na sala de aula, logo tem poder de reverter essa
situação, ou pelo menos uma fração num grupo de pessoas. Os docentes são
formadores de opinião assim como os jornalistas e a mídia, apesar de não
conseguirem alcançar a mesma quantidade de pessoas que esses meios de
comunicação. Porém não é tão simples, o profissional não pode simplesmente
chegar e falar da cultura negra e ensinar um história decolonial, porque existe uma
supervisão das escolas, principalmente nas particulares, em cima dos assuntos a
serem passados. Outro desafio são os vestibulares, em especial o ENEM, provas
muito influentes no ensino médio, moldando até a organização das instituições de
aprendizado, fortalecendo um ensino positivista e uma educação bancária.
Imaginemos agora que um professor preto começou um projeto na sua
metodologia para fornecer aos seus alunos narrativas decoloniais. Muito
provavelmente este indivíduo vem da periferia e é impedido de falar no centro.
“Nesse sentido, a margem não deve ser vista apenas como um espaço periférico,
um espaço de perda e privação, mas sim como um espaço de resistência e
possibilidade.” (KILOMBA, 2008, p.68) Pensando nisso, o educador precisa também
mudar a sua forma de enxergar a realidade para o plano seguir adiante. É
necessário entender o lugar em que mora e trabalha, as pessoas pertencentes a
esses ambientes, os problemas do local, o preconceito entranhado no pessoal, além
das possíveis reações negativas com essa proposta de metodologia. Novamente
expressando, não é algo fácil de se fazer, exige um ativismo e força de vontade
muito grande.

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