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Pedagogia do Desporto

Licenciatura em Ciências do Desporto

Teórica: 10-10-23

Cláudio Farias: claudiofarias@fade.up.pt


A A P RE NDIZ AGE M E DE S E NVOLV IM E N TO HU M A N O NO,
ATRAVÉ S E P E LO DE S PO RTO COM O
P RO B LE M Á TICA DA P E DAGO GIA DO DE S PO RTO

2
• Entender o papel da PD no
esclarecimento da aprendizagem e
desenvolvimento humano no, pelo e
através do Desporto

• Reconhecer a aprendizagem no
OBJETIVOS desporto como um fenómeno
multidimensional e integrado

• Reconhecer a aprendizagem no
desporto como um processo
individual/cognitivo, social, cultural e
interacional

3
Pontos-chave

• Aprendizagem como processo (parcialmente) individual e intransmissível.

• Aprendizagem como um processo ativo de construção de significados fortemente


influenciado pela história e experiências únicas de cada pessoa (damos significado ao
que já conhecemos).

• Aprendizagem como processo fortemente influenciado por processos sociais e


culturais.

• Aprendizagem como processo de construção de sentidos, práticas e formas de ação


influenciado pelo contexto particular de participação no mundo social/prática
desportiva.

4
Tarefa

5
6
7
Diga numa palavra o que entende por
Aprendizagem

www.mentimeter.com

code 1938 4090


8
9
Que
importância
do
conhecimento
sobre a
Aprendizagem
para o ensino
e treino?

10
https://www.youtube.com/watch?v=4jWZVtkJdC0
Que
importância
do
conhecimento
sobre a
Aprendizagem
para o ensino
e treino?

11
Pedagogia do Desporto

13
Pedagogia do Desporto

Principais problemas em que o Educando é considerado na Pedagogia do Desporto:

educação, formação, desenvolvimento, socialização, aprendizagem, treino

• Principais questões em que a Pedagogia do Desporto considera o


praticante:
• educação . no desporto
• formação, . através do desporto
• socialização . oportunidades e ajuda do desporto
• aprendizagem
• treino.

• O objeto de investigação da Pedagogia do Desporto inclui todas as


idades.
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PD – Educação - ser Humano
O menino de Aveyron
Com seu resgate, os estudos do jovem foram importantes para novas descobertas na pedagogia, comunicação oral e
psicologia.

Estamos perante
um ser humano?

Totalmente
humano?

O que é ser-se
humano?
Victor de Aveyron, A criança selvagem, ± 1788 - ... 15
Aprendizagem humana • Movimento (T2)

Antecipação do futuro (NEOTENIA)


19’55’’ – 16’50’’
7’30’’ – 5’22’’

Movimento – instrumento de construção do


mundo
5’00’’ – 4’20’’
3’20’ – 1’40’’

Estamos “equipados/preparados” para


aprender?!
Aprendizagem humana
REFLEXÃO

Que GRANDES IDEIAS extraio


desta análise?
Aprendizagem humana • Movimento (T2)

Mimicra social / 21’40’’ – 20’ 40’’


Aprendizagem humana
REFLEXÃO

Que GRANDES IDEIAS extraio


desta análise?
Aprendizagem como processo social e cultural > Neurológico

Neurociência: Neurónios-espelho

Nosso banco de experiências, apreciado sinesteticamente, fornece um veículo


através do qual podemos traduzir como os outros se estão sentindo.

Esses neurônios ligam o que é percebido do outro, ao que o percebedor


experimentou, e permite que este se “coloque no lugar do outro”.

Oa neurônios-espelho criam uma situação na qual ver e talvez ouvir outra


pessoa ativa nossos próprios sistemas incorporados, permitindo-nos
“espelhar” a experiência dos outros.
20
Aprendizagem como processo social e cultural > Neurológico

Neurociência: Neurónios-espelho

Padrões neuronais responsáveis por gerar uma imagem motora de uma ação
são em grande parte os mesmos padrões neuronais que são ativados no caso
da observação da ação e na execução da ação.

Os mesmos neurônios-espelho são acionados quando o sujeito vê uma ação


específica, como agarrar um objeto ou o movimento da mão para a boca
realizado por outra pessoa, ou quando o sujeito realiza a ação por conta
própria.
Argumenta-se que as áreas cerebrais responsáveis pelo planeamento de uma
ação são as mesmas que são ativadas na observação de outras.

21
ser Humano

• ação, aberto, plástico, com


capacidade para aprender...

• histórico, não intemporal. O ser


humano é sempre aquilo em que
se tornou.

• cultural, social e gregário


– sendo uma individualidade única e
insubstituível, o ser humano também
se caracteriza por traços sociais,
gregários e culturais que o tornam
distinto.
Aung, Min Wae - return from market (2009)

23
ser Humano

Temos a possibilidade de nos


humanos por estarmos
antropologicamente “equipados” com
atributos que nos permitem aspirar a
ser humanos...
Mas...
Podemos nunca vir a ser o que
podíamos ser...

PORQUÊ? Aung, Min Wae - return from market (2009)

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ser humano

• o homem é um ser com consciência:


– da perfeição
– da alteridade:

• o ser humano é uma pessoa relacional - um ser para o encontro


– um ser para o encontro:
» consigo mesmo
» com o transcendente
» com os outros
» com o mundo

• o homem é uma realidade intersubjetiva ou interpessoal. O “eu” constitui-se


por referência ao “tu”

• o homem rege-se por valores

– valor universal – consciência ontológica


– valor singular – consciência psicológica
25
ORDEM SOCIAL E CIVILIZACIONAL ser humano

26
PD – Educação - ser Humano

A selecão evolutiva teve que premiar também


as comunidades onde se davam relações
melhores entre anciãos e jovens, mais
afectuosas e comunicativas.

A sobrevivencia biológica do indivíduo justifica


a coesão familiar, mas, provavelmente, foi a
necessidade de educar a “causadora” de laços
sociais que vão mais além mais além do
núcleo procriador.

Savater, F. (2019). A Aprendizagem Humana. In F. Savater (Ed.), El valor de educar. Editorial Presença. 27
PD – Educação - ser Humano

Não foi tanto a sociedade quem inventou a


educação mas o afã (ânsia) de educar e de
fazer conviver harmoniosamente mestres
com discípulos, durante o maior tempo
possível que finalmente criou a sociedade
humana e reforçou os seus vínculos
afectivos, para além do estrito âmbito
familiar.

Savater, F. (2019). A Aprendizagem Humana. In F. Savater (Ed.), El valor de educar. Editorial Presença. 28
PD – Educação - ser Humano

“Os seres humanos, nascemos ja o sendo, mas só o


seremos, completamente, depois.”

A nossa humanidade biológica necessita de uma confirmacão posterior,


algo assim como que um segundo nascimento onde por meio do nosso
próprio esforço e da relação com outros seres humanos se confirme
definitivamente o primeiro nascimento (“nasceu um ser humano”).

Savater, F. (2019). A Aprendizagem Humana. In F. Savater (Ed.), El valor de educar. Editorial Presença. 29
PD – Educação - ser Humano

Neotenia significa “plasticidade ou disponibilidade juvenil” e implica uma rede de


relações necessárias com outros seres humanos.

o O ser humano passa por duas gestações:

o A primeira, no útero materno, segundo determinismos biológicos.

o A segunda, de matriz social, em que se cria, submetido a variadíssimas variações


simbólicas – a linguagem a primeira de todas – e a usos rituais e técnicos próprios
da sua cultura.

Savater, F. (2019). A Aprendizagem Humana. In F. Savater (Ed.), El valor de educar. Editorial Presença. 30
PD – Educação - ser Humano

• O sistemas nervosos surgiram como assistentes do corpo,


responsáveis pela coordenação funcional de tecidos, orgãos e
sistemas, bem como da sua relação com o ambiente.

• Quando tocamos num objeto com os


dedos, os dispositivos sensorias (pele)
e os restantes sentidos mapeiam as
várias características de um objeto
(geometria global, textura, temperatura).

31
Damásio, A. (2018). A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura. Editora Companhia das Letras.
PD – Educação - ser Humano

• Nosso cérebro não só mapeia o que lhe chega de


várias fontes sensoriais externas, mas também,
mapeia estados internos, cujo resultado são os
sentimentos.

• Todas as imagens do mundo


exterior são processadas de forma
paralela às reações afetivas que
produzem.

32
Damásio, A. (2018). A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura. Editora Companhia das Letras.
PD – Educação - ser Humano

Plasticidade, i.e. a capacidade de


o cérebro de automodelar em
função da experiência.

É a experiência (A
EXERCITAÇÃO) que constrói a
capacidade cognitiva do
indivíduo e a sua competência
motora (e social, e afetiva, e etc.)

33
Damásio, A. (2018). A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura. Editora Companhia das Letras.
How do we learn to learn?
A prática sistemática leva a construções neurais e A prática continuada cimenta e amplia a competência
neuromusculares.

Estrutras “apagam-se” na falta de prática sistemática

34
Oakley, B. e Sejnowowski, T. (2018). Learning how to learn. Tarcher perigee, New York:USA..
PD – Educação - ser Humano

What are the key take-home points?


Physical exercise performed on its own or in combination with antidepressant treatment
can alleviate symptoms of depression to a similar extent as antidepressants alone. Our
results support the adoption of exercise as an alternative treatment for non-severe
depression in adults.
• Primeiros passos (T1)
Aprendizagem humana
Movimento – instrumento de construção
do mundo /
15’00’’ – 13’30’’
Final da aula de 10-10-23
Pedagogia do Desporto

Licenciatura em Ciências do Desporto

Teórica: 17-10-23
Parte II
Cláudio Farias: claudiofarias@fade.up.pt
A A P RE NDIZ AGE M E DE S E NVOLV IM E N TO HU M A N O NO,
ATRAVÉ S E P E LO DE S PO RTO COM O
P RO B LE M Á TICA DA P E DAGO GIA DO DE S PO RTO

40
PD - educação

O que aprendeste na última aula?

41
PD - educação

Aqui chegados o que começa a ficar mais claro...

42
PD - educação

A possibilidade de ser humano só se realiza através dos


outros, dos semelhantes, isto é, daqueles com quem o menino
fará seguidamente, todo o possível por parecer-se.

Esta disposição mimética, a vontade de imitar os congéneres,


também existe nos antropóides, mas está enormemente
multiplicada no “macaco humano”.

Somos antes de tudo “macacos de imitação” e é através da


imitação que conseguimos ser algo mais do que macacos.
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A partir dos dados da neurociência da educação

• A neuroplasticidade é a base do fenómeno


educacional como fenómeno de aprendizagem.

• Há períodos sensíveis para aprender, mas a


capacidade de aprendizagem perdura ao longo da
vida.

• A aprendizagem é um fenómeno holístico global

• O pensamento (e a APZ) é sempre emocional


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Domínios problemáticos da pedagogia do desporto: Educação

• Educação

processo de aprendizagem de padrões


de comportamento social e cultural que
visa uma melhoria no comportamento e
nas disposições de comportamento do
educando.

Beamish, Rollin - Portrait Malala Yousafzai 2013


50
... acerca do conceito de educação

• Ação estimuladora e reguladora


do processo de desenvolvimento
humano (da personalidade)

• Educa-se em função de uma ideia,


de uma conceção de ser humano,
de cultura e de sociedade.

Fenn, Harry - The Wise Teacher


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Ideias-chave • Educação informal, no sentido lato, pode
não garantir o desenvolvimento das
aprendizagens necessárias ao
desenvolvimento pleno da pessoa.

• É necessária promover a aprendizagem no


sentido restrito, formalizada

• Aprendizagem decorrente de um processo


de orientação especializado, Professional,
com estruturação conhecedora de
desenvolvimento de processos e
entendimento de conteúdos

52
• Sentidos (T1)
Aprendizagem humana
Diferentes experiências multissensoriais
constroem diferenças estruturas cerebrais
(e.g. a importância da cinestesia no
desenvolvimento)

41’15’’ – 40’50’’
40’30’’ – 40’05’’
39’50’’ – 35’05’’
Aprendizagem humana
REFLEXÃO

Que GRANDES IDEIAS extraio


desta análise?
PD – Educação - ser Humano
“Sem corpo não há mente” (p. 99)

Indivisibilidade do ser humano: Educação - Desenvolvimento – Aprendizagem


regem-se por um processo multidimensional e integrado (e integral).

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Damásio, A. (2018). A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura. Editora Companhia das Letras.
APRENDER a ser Humano no, através, pelo Desporto

O QUE É A APRENDIZAGEM?

67
Diga numa palavra o que
entende por
Aprendizagem

68
Diga numa palavra o que
entende por
Aprendizagem

69
APRENDER a ser Humano no, através, pelo Desporto

O QUE É A APRENDIZAGEM?

•Manténs a palavra escolhida antes ou altera-la?

•Porquê?

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Aprendizagem – relacionado com as mudanças no
comportamento da pessoa e nas suas capacidades de base

Mudanças não só relativas

às suas capacidades cognitivas e motoras

Brown, John George - going to the school (1874) mas, também,


ao seu comportamento emocional e social.

• A aprendizagem é uma necessidade existencial do ser humano.


• Não existe formação, educação e socialização sem aprendizagem.
71
Aprendizagem: Multidimensional - Integrado - Integral

SOCIAL

COGNITIVO/
CONTEXTUAL INTERNO/
PESSOAL
APRENDIZAGEM

BIOLÓGICO CULTURAL

75
Aprendizagem
como
processo
estritamente
biológico???

76
Aprendizagem humana • Movimento (T2)

Movimento – APZ precede


desenvolvimento ou desenvolvimento
precede a APZ?

47’25’’ – 46’30’’
45’00’’ - 42’52’’
34’15’’ – 33’15’’ (IMP) * ideia da ação
A Aprendizagem (e Desenvolvimento humano) é um processo (parcialmente) biológico

DESENVOLVIMENTO

Refere-se a mudanças ao nível do funcionamento do


indivíduo, da PESSOA ao longo do tempo.

Uma mudança adaptativa em busca da competência.

O surgimento e a ampliação da capacidade de


funcionar a um nível mais elevado

Ao longo da vida há a necessidade de ajustes,


compensações sou mudanças para se adquirir ou
manter a competência

Processo que se estende ao longo da vidaDavid Gallhaue


78
A Aprendizagem (e Desenvolvimento humano) é um processo (parcialmente) biológico

DESENVOLVIMENTO

Existem
caracterísiticas
tendencionalmente
desenvolvimentais
mas
o desenvolvimento
não precede
necessariamente a
aprendizagem…

David Gallhaue
79
A Aprendizagem (e Desenvolvimento humano) é um processo (parcialmente) biológico

O processo de desenvolvimento reforça a


individualidade de cada Educando…

Cada índividuo tem um cronograma singular para


a aquisição das capacidades de movimento (e.g.
ações do bebé baseadas na maturação) e das
habilidades motoras

Embora relógio biológico seja bem específico na


sequência de aquisição das habilidades de movimento
(e.g. sentar antes de andar), a extensão de
desenvolvimento são determinadas individualmente
(experiência) e sofre drástica influência de fatores
contextuais, sociais e cognitivos
David Gallhaue
80
5 minutos 1.Individualmente: Cria um jogo,
com duas balizas, 1 bola, 10
jogadores…

prompter

81
Que objetivos? Que
conteúdos/Que
comportamentos?

prompter

82
Aprendizagem como
processo Individual
(cognitivo/intrapessoal)

83
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

Ideias-chave
• Aprendizagem (também) é um processo
interno

• A pessoa constrói a nova aprendizagem


’sobre’ as suas experiências (schemas)

• A nova informação pode não ser


diretamente assimilada (assimilação,
acomodação, internalização)

• A aprendizagem é regulada por


processos de processamento de
informação/movimento (psicomotor)

• As pessoas têm caraterísticas


(cognitivas) de aprendizagem diferentes

84
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

Jean85Piaget
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

SCHEMAS

Todos os seres vivos e pensantes têm um conjunto de regras que são conhecidas como “roteiros”, “esquemas” e, como
usaremos, “esquemas” que são usados para interpretar seus arredores cotidianos.

Organizados em torno de temas ou tópicos.

Esquemas são redes integradas de conhecimento representações do que a pessoa sabe (ou consegue fazer) que são
armazenadas na memória de longo prazo e nos permitem relembrar, compreender e criar expectativas. Redes de itens
discretos de conhecimento que estão ligados uns aos outros pelo tema comum do esquema.

E.g., tudo o que uma criança sabe sobre carros pode ser que eles viajam de um lugar para outro, é necessário serem
conduzidos por uma pessoa, são vermelhos, têm um cheiro distinto, há um assento para uma criança no banco de trás e
bagagem pode ser transportada no porta-malas.

Em todas as ocasiões em que a criança experimenta algo relacionado a um carro – uma buzina, uma cor diferente, um
som estridente dos freios – essas novas informações serão adicionadas ao schema em desenvolvimento do que é um
carro.

Jean Piaget
86
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

• Assimilação - acomodação - adaptação

Assimilação: Recolha e classificação de novas informações. Educando recebe uma nova informação
ou percebe uma nova situação e consegue encaixar essa informação ou realidade em um esquema mental já
existente.

Quando uma nova informação é encontrada – um carro sem teto, um carro pintado de flores – isso é
adicionado ao esquema existente (só será assimilado se não contradizer algo já estabelecido como parte
integrante do que existe).

*** Apesar da aparente contradição, se parece que a nova informação é realmente plausível ou se ela se
apresenta em muitas ocasiões– “Eu não sabia que um carro podia ter um reboque acoplado” – o esquema é
adicionado e a informação é assimilada.
87
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

Acomodação: Educando transforma um esquema mental pré-existente para levar em conta


percepções dissonantes da realidade.

Quando um carro menos comum, um modelo de três rodas antigo, é visto pela primeira vez, é muito provável
que a criança muito pequena não consiga relacionar isso com sua compreensão atual do que é um carro.
(*** potencial tempo de negação)

Segue-se eguido período de ajuste, ao longo de algum tempo da repetição da experiência) o carro de três
rodas será admitido no schema do carro e serão feitos links para outros esquemas (por exemplo, esquema de
bicicleta/triciclo).

88
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

Adaptação/equilíbrio: estado de equilíbrio entre assimilação e acomodação, uma fase em


que a realidade percebida, quaisquer que sejam suas variações, encaixa-se no esquema mental do Educando.

Este é o estado de não haver contradições presentes em nossas representações mentais de nosso ambiente.
Os processos ligados de assimilação e acomodação são os meios pelos quais um estado de equilíbrio é
procurado.

89
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo) • Assimilação
• acomodação
• adaptação
Fases de aprendizagem Estratégias de aprendizagem relacionadas
Perceção da realidade No ensino/aprendizagem de JDC, pode-se prever várias estratégias de captação-de-informação:
(a) observação direta pelo aluno; (b) reflexão sobre a ação; (c) interações verbais com pares envolvidos no
Processo através do qual um indivíduo tem em conta jogo; (d) interações verbais com observadores de colegas de equipa; (e) interações verbais com o
objetos ou características presentes no seu ambiente. professor.

Assimilação Aquisição de conhecimentos declarativos:


terminologia do jogo/ regras de organização do jogo.
Processo através do qual o conhecimento declarativo Processuais:
ou processual é integrado pelo aluno que pode então quando o pensamento convergente está a funcionar e.g. aplicar ações táticas aprendidas anteriormente
aplicá-lo. para resolução de problemas (atacar o ímpar em situações de igualdade numérica)

Acomodação Construção efetiva de conhecimento tático.


Ocorrer em situações que exijam um pensamento divergente (a solução habitual não resolve a situação)
ajustamento feito por meio da alteração dos (ataca o par seguida de bloqueio para gerar superioridade numérica com cruzamento do colega para o
conhecimentos processuais quando se revelam lado oposto)
inoperantes numa nova situação. Pensamentos divergentes são gerados a partir de:
observação de colegas a jogar; intercâmbios e debates entre os alunos, seguido de ensaios e verificações
durante jogos seguintes.
Adaptação (estabilização) Adaptação > estabilização e generalização dos recursos dos alunos:
A adaptação ocorre quando variações na situação já - tendo em conta os sucessivos ensaios da mesma situação nas mesmas condições, os Educandos continuarão a
não criam uma dissonância com o esquema mental ser bem-sucedidos;
do aluno. - confrontados com variadas situações de jogo semelhantes, os Educandos apresentarão respostas estáveis;
90
- confrontados com variadas atividades desportivas semelhantes, os Educandos apresentarão respostas estáveis.
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

Teoria do processamento da informação

92
Aprendizagem como processo (intra) Individual (cognitivo)

REFLEXÃO
Aprendizagem como processo
exclusivamente interno não
influenciado por fatores externos?

Processo também interno (cognitivo) …


mas nenhuma aprendizagem é exclusivamente um processo interno…

e.g. como são construídas as memórias? … em contacto com o mundo, com o outro, com a
cultura…
95
Final da aula de 17-10-23
97
Pedagogia do Desporto

Licenciatura em Ciências do Desporto

Teórica: 23-10-23
Parte III
Cláudio Farias: claudiofarias@fade.up.pt
99
Aprendizagem humana
REFLEXÃO

Que GRANDES IDEIAS extraio


desta análise?
Aprendizagem
humana

1
Aprendizagem
humana

2
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)
103
5 minutos 1.Individualmente: Cria um jogo,
com duas balizas, 1 bola, 10
jogadores…

prompter

104
5 minutos 1.Individualmente: Cria um jogo,
com duas balizas, 1 bola, 10
jogadores…
Que objetivos? Que
conteúdos/Que
comportamentos?
TEASER

2. Pares: integra ideas com o


colega para chegarem a uma
versão única do jogo
105
Aprendizagem como Ideias-chave
processo social e
cultural (qualidade da)
(interpessoal) Processos sociais de
aprendizagem são
Aprendizagem depende
da qualidade das
também ditados a nivel
interações sociais entre
neural.
as pessoas.

Aprender determinada
conceção/conteúdo Aprendizagem é
implica sempre uma socialmente co-
certa socialização dependente e co-
(compreensão do emergente.
mundo)

Aprendizagem depende A Aprendizagem é


das perceções das influenciado por
expetativas (sociais) dos aspetos e construções
outros em relação a nós. culturais.
106
• Primeiros passos (T1)
Aprendizagem humana
APZ e Linguagem – qualidade da
comunicação é influente
13’10’’ - 10’05’’ (vocabulário superior in
walking babies)
7’50’’ – 6’50’’ / 6’41’’ – 6’20’’ /
6’15’’ – 4’35’’ / 3’55’’ – 3’40’’
Aprendizagem humana
• Qualidade e tipo de
instrução e envolvimento do
aprendente no processo
ensino-aprendizagem
impactam na sua
APRENDIZAGEM…
Aprendizagem humana
Informação

Aprendizagem
Informação imparcial (ou
personalizadora Efeitos/enfoque
positiva)
(contendo juízo de valor)
O enfoque é colocado na

humana Bom trabalho, eu gosto/não


gosto da forma como a “Joana”
está a manter o braço, olhar e
Bom trabalho, quando o braço,
o olhar e a mão alinham/não
alinham com o cesto, a
competência do trabalho
realizado e não na competência
da pessoa; “Bom trabalho”
probabilidade de sucesso é oferece informação sobre o
mão alinhados com o cesto.
maior/menor. comportamento que produz
sensações positivas.
Reconhece o grau de satisfação
Estou/não estou orgulhoso de
Deves estar muito orgulhoso de do adulto, mas transfere/não
ti.
ti mesmo. transfere o valor para o
praticante.
Respeitar o adversário é um Reforça desaprovação (provoca
Respeitastes/não respeitaste o sensações de mau estar e
motivo de orgulho
adversário. perceção de características
Não respeitar o adversário
deve ser um motivo de reflexão pessoais negativas).
Quando convida à reflexão e
Este tipo de comportamento autoconhecimento aumenta a
não é benéfico! consciência acerca do impacto
Foste maldoso, não gostei dessa
Devemos repensar situações das ações individuais nos
atitude!
que podem prejudicar a nós outros.
próprios e as outras pessoas.
É fundamental manter o punho
fechado e a palma para cima no Reforça/não reforça relação
Falhaste porque não colocaste
serviço por baixo. entre processo de pensamento
o punho e palma da mão para
Como estavam colocados o (reflexão crítica sobre a ação) e
cima durante o serviço!
punho e a palma da mão o seu efeito no desempenho.
durante o serviço por baixo?
A Dimensão Social Aprendizagem

• À medida que os Educandos desenvolvem a sua


capacidade de comunicar e compartilhar
interpretações comuns com seus colegas sobre
desportos e jogos, eles também se tornam
progressivamente mais propensos a participar de
nesses jogos e atividades físicas.

• A aprendizagem envolve a progressão dos Educandos


nas trajetórias de plena participação na vida social da
comunidade de Educandos (por exemplo, turma, equipa,
equipa de aprendizagem) à qual pertencem.

112
A Dimensão Social Aprendizagem

- Há um desenvolvimento inter-relacionado
entre a confiança mútua, o cuidado e a
sensibilidade dos Educandos em relação às
diferenças individuais, sua disposição para
compartilhar conhecimento e buscar
objetivos de aprendizagem mais justos e
democráticos como um grupo e o nível de
participação nas atividades de grupo de cada
aluno.

113
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

Co-dependência

§ Jogadores são agentes co-dependentes no sistema complexo de


aprendizagem/ação motora

§ Impossível de pre-determinar completamente respostas dos


jogadores, porque alterações numa parte do sistema, geram
respostas diferentes (eg, interdependência passe/receção;
interdependência sucesso/insucesso)
§ Necessidade constante de adaptar, inventar, ajustar, jogar;
feedback jogador-jogador; treinador-jogador
§ Exemplo: passe e receção sãos fortemente interdependentes
115
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

Co-emergência

§ Co-dependência leva à co-emergência; quando um grupo de jogadores


joga junto e um jogador aprende (cria/gera) um novo movimento que
muda a maneira como os restantes precisam responder, uma nova
oportunidade de aprendizagem é gerada para os restantes

§ Se nosso jogo evolui juntos dessa maneira, nossa aprendizagem é co-


emergente; isso é verdade tanto para o alcance de metas cooperativas e
competitivas (oponentes)

§ Exemplo: ajuste continuo e progressivo das ações do atacante/defensor 116


Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

§ Como os Educandos interpretam as expectativas que os outros têm em relação


às suas habilidades motoras, características pessoais ou posição de “status” no
grupo, influencia muito qual será o desempenho motor real e a identidade social
desse aluno.

§ O tipo de clima de aprendizagem incentivado pelo educador esportivo (por


exemplo, o 'erro' é uma razão para punição ou superá-lo é um objetivo central
de aprendizagem?) perceções de quão ’bons’ e bem-sucedidos eles são.

§ O desempenho motor expressa interações interdependentes entre Educandos.


Por exemplo, um bom passe pode depender da natureza das relações sociais
entre os alunos; interações saudáveis e socialmente positivas levam à
participação inclusiva e equitativa dos Educandos .

117
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

Analisar a dimensão individual da construção de significado é explorar como os indivíduos criam novos significados,
lembrando experiências anteriores e relacionando-as com as experiências da situação atual.

Aluno 1: Aquilo que aconteceu com o João, foi difícil. Tentei chegar à bola, então ele passou à minha
frente e eu caí.
Aluno 2: Faz assim, mantém os braços direitos, rente ao corpo (o aluno mostra como fazer), depois
empurra-o.
Aluno 1: Mas eu li num livro que se a bola vier e não conseguires dominá-la, deve-se fazer como eu fiz.
Aluno 2: Escuta, se tentares ganhar a bola correndo ombro a ombro com eles, podes empurrá-lo.
Aluno 1: Mas se eu fizer isso ele vai cair e magoar-se. Eu não quero isso.
Aluno 2: Mas ah, podes empurrar um bocadinho.
Aluno 1: Um bocado?!
Aluno 2: No jogo podes empurrar. Se ele cair, está a faze-se à falta.
Aluno 1: O quê?
Aluno 2: Se ele cair, está a mergulhar.
[O Aluno 1 sussurra baixinho e depois senta-se em silêncio no banco sem mais argumentos.]
119
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

Aluno 1: tem dúvidas sobre suas ações quando caiu durante o jogo > recorda o que leu em um livro sobre
como jogar futebol, relaciona isso com o que aconteceu conclui que agiu corretamente.
Aluno 2: lembra que se pode empurrar numa disputa de bola.

*** cria-se uma relação entre: empurrão ser permitido no desporto < > empurrão que ocorreu neste jogo
Aluno 1: lembra o perigo (queda) de pressionar relacionando-o isso com o comentário do Aluno 2.

*** Dois possíveis significados contrastantes sobre empurrar no futebol são assim criados : empurrar é
algo que você deve fazer porque faz parte do jogo e é algo que você não deve fazer porque pode magoar
alguém.
Uma situação indeterminada é constituída nas expressões do Aluno 1 “um bocado?” e “o quê?” > Aqui
abre-se um potencial de mudança.
O aluno 2 fecha essa lacuna dizendo que se alguém cair, ele simplesmente mergulha. Como o Aluno 1 não
tem uma resposta apropriada para isso, ele simplesmente não leva adiante o argumento.
120
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

QUE IMPLICAÇÕES PARA A APRENDIZAGEM?

Implicação prática
*os Educandos aprendem a agir ao participar num jogo. Este é um conhecimento incorporado sobre
como se relacionar com outras pessoas e também o que esperar dos outros quando participando
neste encontro.

Implicação cognitiva
*os Educandos adquirem conhecimento sobre as regras formais e expectativas de jogar futebol em
termos do que formalmente é permitido ou não para ter sucesso no jogo. Ganhar o jogo, portanto,
torna-se o princípio superior.

Implicação moral
*os Educandos aprendem e relacionam-se com uma norma social sobre como tratar seus
semelhantes durante um jogo de futebol. A ideia da consideração pelo próximo é aqui posicionada
contra a ideia de desempenho desportivo, e empurrar, não moralmente defensável em outras
situações da vida, de repente torna-se correto e aceitável. Em conjunto, essas implicações criam
novas e potenciais predisposições para agir. 121
Aprendizagem
como processo
social e
cultural
(interpessoal)

? 122
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

Professor: Vamos fazer um mini torneio onde misturamos as equipas, meninos e meninas. Pedro, Sara, Luísa, peguem
colete azul; Ana, Jorge, Marta, brancos. ….

Uma aluna não quer participar no jogo…

Professor: Isso não é assim tão mau. Já passa, se não participares, a tua equipa terá um a menos. Isso é mau. Terão que
fazer o trabalho por ti, é injusto não é?
Aluno 1: Não quero.
Professor: Não podes dizer que não queres. Quem não acha a matemática divertida, o que acontece se disserem que
não querem? O que achas disso?
Aluno 2: Pode-se não ter medo de matemática, mas ter medo de EF.
Professor: Muitas pessoas não jogam futebol. A bola atinge sempre toda a gente em algum momento.
[Aluno 1 entra em campo e entra no jogo.]

123
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

QUE INFLUÊNCIAS/LIMITAÇÕES DA VERTENTE SOCIAL E CULTURAL?

Argumentos utilizados pelo professor (contribuir para a equipea, a injustiça, comparação


com a matemática, e a afirmação de que a bola bater em todos é natural) convence a
aluna a entrar no jogo (mesmo que relutante).

A intervenção do professor cria uma situação em que se torna difícil agir de forma
diferente. Embora o Aluno 2 se abra para outras possibilidades, nem o professor nem o
Aluno 1 atuam sobre essa proposta…

*** Peso cultural sobre o funcionamento de uma aula (e.g., professor como
responsável/mais conhecedor) condiciona o que os Educandos assumem
como certo/a fazer.
124
Aprendizagem como processo social e cultural (interpessoal)

QUE INFLUÊNCIAS/LIMITAÇÕES DA VERTENTE SOCIAL E CULTURAL?

*** A mais breve das instruções do professor pode iniciar o jogo de maneira habitual.

A dimensão cultural é evidente no hábito de jogar com bola de acordo com as regras e
expectativas do desporto na sociedade em termos de equipamentos, pontuação, técnica,
tática, regras, expectativas de como se relacionar com os outros, o que é socialmente
aceitável…

Os Educandos agem imediatamente e de acordo com as expectativas do jogo de futebol.


Não há hesitações, e não são feitas perguntas sobre como jogar, o que fazer ou qual é o
foco do jogo.

Isso ser relacionado à tradição da disciplina de usar e ver o desporto como o conteúdo da
disciplina real na EF.
125
Bom trabalho
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