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Fundamentos da Ludopedagogia

Para Gadotti (2000) ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter
consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem
educadores, assim como não se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os
educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em
conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Eles fazem fluir o
saber (não o dado, a informação e o puro conhecimento), porque constroem sentido para
a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mas
produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis.

Em palavras mais simples e voltando nosso foco para educação, podemos dizer que
existem muitas abordagens possíveis para propiciar o ato educativo. Na intenção de
transmitir informações e transformá-las em conhecimento, um professor pode optar por
diversas maneiras de comunicação com seus alunos. A pedagogia é exatamente isso, a
normatização das ações e dos instrumentos didáticos que devem ser utilizados para
qualquer nível de educação (COSTA, 2008).

1.2 Educação

Fonte:https://blog.psiqueasy.com.br/2018/10/18/como-aproveitar-as-oportunidade-de-aprendizado/

Agora é Carlos Brandão (1993) quem nos define de maneira clara o que seria educação,
a educação ajuda a pensar tipos de homens, mais do que isso, ela ajuda a criá-los,

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através de passar uns para os outros o saber que o constitui e legitima. Produz o conjunto
de crenças e idéias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de
símbolos, bens e poderes que, em conjunto constroem tipos de sociedades (BR ANDÃO,
1993, p. 11).

Brandão constrói o conceito de educação através da endoculturação como sendo o


processo onde a criança se transforma num adulto que assimila o conjuntode crenças e
hábitos da sociedade (BRANDÃO, 1993, p. 23). A educação é apenas uma fração da
experiência endoculturativa. Ela aparece sempre que há relações entre pessoas e
intenções de ensinar e aprender. São como as intenções de “modelar” a criança para
conduzi-la a ser o modelo social de adolescente e, ao adolescente, para torná-lo mais
adiante um jovem e, depois um adulto.

O autor compara a melhor imagem que se faz da educação com a imagem do oleiro que
toma barro e faz o pote. As vezes a argila resiste as mãos do oleiro, mas se deixa
conduzir por elas e se transforma na obra feita.

Segundo o autor, quando o educador pensa a educação, ele acredita que, entre homens,
ela é o que dá a forma e o polimento (BRANDÃO, 1993, p. 25). A educação acontece em
locais onde não há escola, já que por toda par te pode haver “redes e estruturas sociais
de transferência de saber” de uma geração a outra, onde não foi sequer criada a sombra
de algum modelo de ensino formal e centralizado. A educação aprende com o homem a
continuar o trabalho da vida (BRANDÃO, 1993, p. 13).

O homem que transforma, com o trabalho e a consciência, partes da natureza em


invenções de sua cultura, aprendeu com o tempo a transformar partes das trocas feitas no
interior desta cultura em situações sociais de aprender ensinar e aprender em educação.
Na espécie humana, a educação não continua apenas o trabalho da vida. Ela se instala
dentro de um domínio propriamente humano de trocas: de símbolos, de intenções, de
padrões de cultura e de relações de poder.

Mas, o seu modo, ela continua no homem o trabalho da natureza de fazê-lo evoluir,
tornando-o mais humano. A educação aparece sempre que surgem formas sociais de
condução e controle da aventura de ensinar e aprender. O ensino formal é o momento em
que a educação se sujeita à pedagogia (a teoria da educação); cria situações próprias

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para o seu exercício, produz os seus métodos, estabelece suas regras e tempos, e
constitui executores especializados.

É quando aparecem a escola, o aluno e o professor (BRANDÃO, 1993, p.26). Citando


Durkeim, Brandão (1993, p. 71) diz que “A educação é a ação exercida pelas gerações
adultas que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto
suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e
morais reclama dos pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a
criança, particularmente, se destina”.

Fonte:http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm

Educação é uma situação temporal e espacial determinada em que ocorre a relação


ensino-aprendizagem, seja ela formal ou informal. Em outras palavras, trata-se da
transmissão de informações para que sejam armazenadas e transformadas em
conhecimento. Para Piaget (s.d), a principal meta da educação deveria ser a criação de
homens capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações
já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores.

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A segunda meta da educação seria a formação de mentes que estejam em condições de


criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe. O termo didático é a adequação
entreos meios e os fins escolhidos para o ato educativo. Trata-se da razão instrumental
que norteia esse processo, e tem uma importância enorme para a eficiência da
transmissão de conhecimento.

Com base nisso, a didática está intrinsecamente ligada à pedagogia, já que depende
substancialmente das normas e métodos para aplicar esse saber especial (COSTA,
2008).

1.3 Lúdico

Fonte:https://educacional.cpb.com.br/conteudos/universo-educacao/a-importancia-do-ludico/

Muitos pesquisadores denominam o século XXI como o século da ludicidade. Vivemos


em tempos em que diversão, lazer, entretenimento apresentam-secomo condições muito
requeridas pela sociedade. E por tornar-se a dimensão lúdica alvo de tantas atenções e
desejos, faz-se necessário e fundamental resgatarmos a sua essência, dedicarmos
estudos e pesquisas no sentido de evocarmos seu real significado (SÁ, 2007).

Para a mesma autora, viver ludicamente significa uma forma de intervenção no mundo,
indica que não apenas estamos inseridos no mundo, mas, sobretudo, quesomos ele.
Logo, conhecimento, prática e reflexão são as nossas ferramentas para exercermos um

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protagonismo lúdico ativo. Negrine (2000) afirma que a capacidade lúdica está
diretamente relacionada a sua pré-história de vida.

Acredita ser, antes de qualquer coisa, um estado de espírito e um saber que


progressivamente vai se instalando na conduta do ser devido ao seu modo de vida. O
lúdico refere-se a uma dimensão humana que evoca os sentimentos de liberdade e
espontaneidade de ação. Abrangem atividades despretensiosas, descontraídas e
desobriga das de toda e qualquer espécie de intencionalidade ou vontadealheia. É livre de
pressões e avaliações.

Caillois (1986) confirma esta ideia explicitando seu entendimento sobre o jogo na
perspectiva lúdica: acima de tudo, infalivelmente traz a atmosfera de conforto e de
entretenimento. Descansa, relaxa e diverte. Evoca uma atividade sem restrições, mas
sem consequências na vida real. Opõe-se à seriedade da vida real. Caillois (1986) afirma
que o caráter gratuito presente na atividade lúdica éa característica que mais a deixa
desacreditada diante da sociedade moderna. Entretanto, enfatiza que é graças a
essacaracterística que permite que o sujeitose entregue à atividade
despreocupadamente.

Assim, o jogo, a brincadeira, o lazer enquanto atividades livres, gratuitas são protótipos
daquilo que representa a atividade lúdica e longe estão de se reduzirem apenas a
atividades infantis. Freinet(1998, p. 304) denomina de “Práticas Lúdicas Fundamentais”
não o exercício específico de alguma atividade, pois ele acredita que qualquer atividade
pode ser corrompida na sua essência, dependendo do uso que se faz dela. Logo para
Freinet, a dimensão lúdica é:“(...) um estado de bem-estar queé a exacerbação de nossa
necessidade de viver, de subir e de perdurar aolongo do tempo.

Atinge a zona superior do nosso ser e só pode ser com- parada à impressão que temos
poruns instantes de participar de umaordem superior cuja potência sobre-humana nos
ilumina. Freinet(1998) refere que este “estado de bem-estar” jamais se restringe à
circunscrição de nossa individualidade. Isto é, parte de uma espécie de exaltação íntima
de nossa potência para a vida e atinge escalas sociais muito amplas, o que nos fará
descobrir e exaltar novas potências íntimas em nosso ser que ocasionará novamente a
expansão para o plano social, sendo assim uma vivência inesgotável da dimensão lúdica.

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Leontiev(2001) considera o brinquedo como o resultado de certo excesso de energia na


criança, gasta durante a brincadeira, extrapolando o papel de suporte. Vigotsky(1984)
concorda com Leontiev e considera o brinquedo como uma solução para realizar os
desejos das crianças que não são possíveis de serem realizados de fato.

Huizinga(1996) bem como Brougère (1998) entendem o jogo em seu aspecto mais amplo,
ou seja, levam o jogo a ser entendido de acordo com as diferentes culturas. Toda uma
escola de pensamento, retomando os grandes temas românticos inaugurados por Jean-
Paul Richter e Ernest Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann, vê no brincar o espaço da
criação cultural por excelência.

Deve-se a Winnicott a reativação de um pensamento segundo o qual o espaço lúdico vai


permitir ao indivíduo criar e entreter uma relação aberta e positiva com a cultura: “Se
brincar é essencial é porque é brincando que o paciente se mostra criativo” (WINICOTT,
1975 apud BROUGÈRE, 1998).

Brincar é visto como um mecanismo psicológico que garante ao sujeito manter certa
distância em relação ao real, fiel, na concepção de Freud, que vêno brincar o modelo do
princípio de prazeroposto ao princípio de realidade (BROUGÈRE, 1998). Brincar torna-se
o arquétipo de toda atividade cultural que, como a ar te, não se limita a uma relação
simples com o real.

Mas numa concepção como essa, o paradoxo é que o lugar de emergência e de


enriquecimento da cultura é pensado fora de toda cultura como expressão por excelência
da subjetividade livre de qual quer restrição, pois esta é ligada à realidade. A cultura
nasceria de uma instância e de um lugar marcados pela independência em face de
qualquer outra instância, sob a égide de uma criatividade que poderia desabrochar sem
obstáculos.

O retrato é, sem dúvida, exagerado, mas traduz a psicologização contemporânea do


brincar, que faz dele uma instância do indivíduo isolado das influências do mundo, pelo
menos quando a brincadeira real se mostra fiel a essa idéia, recusando, por exemplo,
qualquer ligação objetiva muito impositiva, caso do brinquedo concebido exteriormente
ao ato de brincar. Encontramos aqui de volta o mito romântico tão bem ilustrado em
“L’enfantétranger” (Acriança estrangeira), de Hoffmann, onde o brinquedo se opõe ao
verdadeiro ato de brincar.

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Alguns autores negam qualquer construção cultural estável até mesmo o termo
“brincadeira”, “jogo”. Seriam uma apropriação do “brincar”, essa dinâmica essencial ao ser
humano (BROUGÈRE, 1998).

Concepções como essas apresentam o defeito de não levar em conta a dimensão social
da atividade humana que o jogo, tanto quanto outros comportamentos, não pode
descartar. Brincar não é uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada de
uma significação social precisa que, como outras, necessitam deaprendizagem
(BROUGÈRE,1998).

1.3.1 O jogo enquanto cultura lúdica e seu enraizamento social

Fonte:http://revistaunico.com/kids/pedagogia-waldorf-amar-la-trama/

Segundo Brougère (1998), brincar supõe, de início, que no conjunto das atividades
humanas, algumas sejam repertoriadas e designadas como brincar a partir de um
processo de designação e de interpretação complexo. O ludus latino não é idêntico ao
brincar francês. Cada cultura, em função de analogias que estabelece, vai construir uma
esfera delimitada (de maneira mais vaga que precisa) aquilo que numa determina- da
cultura é designável como jogo.

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