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Autocuidado de Orem:
Contributos para o Autocuidado
Terapêutico
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ÍNDICE DE FIGURAS
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ÍNDICE
NOTA INTRODUTÓRIA 5
4. AUTOCUIDADO TERAPEUTICO 20
NOTA FINAL 24
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25
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NOTA INTRODUTÓRIA
A bibliografia sobre o autocuidado e em particular sobre a teoria de enfermagem do
autocuidado de Orem é dispersa, repetitiva e de forma insuficiente relativamente à perspectiva
do autocuidado terapeutico a partir da teoria do autocuidado de Orem.
Deste modo, este texto de apoio tem como propósito reunir um conjunto de apontamentos, de
suporte aos conteúdos da Unidade Curricular de Gestão de Autocuidado Terapeutico,
particularmente sobre o autocuidado em saúde a partir do referencial teórico de Dorothea
Orem. Os conteudos aqui apresentados foram selecionados pela sua relevancia, tendo em conta
o contexto desta unidade curricular. Assim, são abordados os construtos da teoria do
autocuidado de Orem, o autocuidado como um processo de aprendizagem, o autocuidado
terapeutico e os modelos de gestão da doença crónica. Na sua conceção, procurou-se que o
mesmo não fosse apenas um recurso pedagógico, face aos conteudos da unidade curricular,
mas também fosse motivador para uma pesquisa mais exaustiva e aprofundada acerca de
elementos constituintes da abordagem teórica de Orem e de outras perspectivas teóricas,
relacionadas com os modelos de autocuidado terapeutico e de outras especificidades
decorrentes da area em estudo.
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1. AUTOCUIDADO PESSOAL E AUTOCUIDADO PROFISSIONAL
Cada um de nós, de forma consciente, cuida de si e pensa no seu futuro, no fundo, vive em
cuidado consigo próprio, quer a preocupação seja racional ou emotiva. Os outros, nos quais a
pessoa se revê e com os quais se relaciona, são também objecto de cuidado, pela solicitude,
pelo zelo, pela dedicação, pelo interesse, pela preocupação sentida e, por vezes, demonstrada.
A pessoa dedica atenção, diligencia trabalho, fazendo das coisas do mundo em geral, objecto
de cuidado. A existência humana, de cada ser humano revela-se assim no cuidado de si, na
solicitude pelos outros e na preocupação e ocupação pelo mundo.
Qualquer exemplo de ação de autocuidado pode ir desde um cuidado 100% pessoal até um
cuidado 100% profissional. Entre eles existe um cuidado partilhado onde as pessoas e as
famílias se associam aos profissionais no cuidado de si. A maioria do cuidado é partilhado e
pode envolver uma pequena ou grande componente de autocuidado.
O autocuidado em saúde reflete dois entendimentos diferentes, ainda que interligados. Por um
lado, o autocuidado em saúde refletido nas capacidades para ação, é considerado como um
conjunto de ações exercidas deliberadamente na vida quotidiana em proveito da saúde, da vida
e do bem-estar. Por outro lado, é visto como um conjunto de capacidades em saúde, dirigidas
aos requisitos universais, de desenvolvimento e associados a problemas de saúde (Bente,
Wagner, & Hall, 2007).
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da pirâmide é uma forte aposta para aumentar a qualidade dos serviços e a qualidade de vida
das pessoas com doença crónica.
Figura 1 – Pirâmide de cuidado para condições a longo prazo Adaptado de “Department of Health: Improving Chronic
Disease Management.”, Londres 2004
Uma cultura de cuidados de saúde baseada nas teorias de autocuidado é uma cultura que assenta
num modelo de cooprodução de cuidados de saúde, que valoriza o envolvimento do cidadão
no seu autocuidado e das pessoas que tem a cargo, com resultados em saúde observados na
adesão e manutenção do autocuidado em saúde, seja ele autocuidado de promoção de saúde ou
de gestão de autocuidado terapêutico, com sucesso na melhoria da saúde e bem-estar.
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A centralidade no cliente defendida pelo serviço nacional de saúde, destaca o auto cuidado,
como dimensão chave da saúde nas várias áreas de intervenção. Os modelos de cuidados de
saúde que adotam o autocuidado como um componente nuclear, enfatizam o “empowerment e
a aquisição de habilidades de auto-gestão (Bodenheimer, Wagner, & Grumback, 2002; Wagner
et al.; 2001; Baker et al, 2005, citados por Sidani, 2012)
O cidadão capacitado tem mais saúde por um período mais longo e tem expectativas de
cuidados de saúde mais personalizados e tem maior exigência dos serviços, nas respostas às
suas necessidades e preferências (WHO, 2009).
Mais tarde na década de 60, o conceito de autocuidado em saúde foi formalizado e validado,
através do trabalho desenvolvido pelos membros do “Nursing Development Conference
Group” (Denyes, Orem & SozWiss, 2001). Atualmente e desde 1991 “O International Orem
Society for Nursing Science and Scholarship” incentiva e promove a divulgação dos trabalhos
desenvolvidos por Orem, bem como trabalhos sustentados na sua perspetiva teórica.
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2. TEORIA DE ENFERMAGEM DO AUTOCUIDADO DE OREM
A Teoria de Enfermagem do Autocuidado desenvolvida por Dorothea Orem é uma das teorias
mais amplamente discutidas e utilizadas internacionalmente em enfermagem (Melleis, 2012).
Trata-se de uma teoria geral, e não apenas de uma teoria explicativa de uma situação específica,
podendo ser adotada em qualquer situação de enfermagem (Fawcett, 2001).
Orem definiu o conceito de autocuidado como uma função humana reguladora, realizada pelo
indivíduo, ou para ele por outros, com o objetivo de manter as funções que garantam a vida, a
saúde e o bem-estar, num quadro de condições que são essenciais à vida. Para a mesma autora,
as pessoas que desenvolvam o autocuidado, possuem as condições que as tornam capazes de
desenvolver as ações e o poder de agir de forma deliberada na gestão das necessidades
reguladoras, perante fatores internos e externos que afetam as atividades do indivíduo e o seu
desenvolvimento. A teoria de enfermagem do autocuidado parte do pressuposto central que a
pessoa cuida de si mesmo, em função da manutenção da vida, da saúde e do bem-estar (Orem,
2001).
A teoria do autocuidado tem por base o conceito de autocuidado, como função humana
reguladora, sendo presumível que os indivíduos aprendam e desenvolvam o autocuidado
através da experiência, da educação, da cultura, do conhecimento, do crescimento e
desenvolvimento (Meleis, 2012).
À luz da teoria do autocuidado, existe uma relação intencional entre o autocuidado e as ações
de funcionamento e desenvolvimento individual e de grupo. Na perspetiva de Orem, as pessoas
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desenvolvem o autocuidado através de uma série de relações interdependentes dentro da
família, da comunidade e da cultura, ao longo da vida (Orem, 2001).
Para Orem, as pessoas que desenvolvam o autocuidado, possuem as condições que as tornam
capazes de desenvolver as ações e o poder de agir de forma deliberada na gestão das
necessidades reguladoras, perante fatores internos e externos que afetam as atividades do
indivíduo e o seu desenvolvimento (Orem, 2001).
Nesta teoria são descritos três conceitos operativos: as práticas de autocuidado; os requisitos
de autocuidado e as capacidades para o autocuidado, que se interligam num modelo explicativo
do modo como as pessoas gerem as suas práticas de autocuidado em prol de si mesmo ou de
pessoas dependentes, para a manutenção da vida, da saúde e do bem-estar, conforme se observa
na Figura 1 (Denyes, Orem & SozWiss, 2001).
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Há medida que a pessoa vai exercendo a autorresponsabilidade pelas suas ações e atitudes, vai
desenvolvendo uma autoridade interna reguladora das suas práticas e das suas escolhas em
relação à vida, até atingir um nível de maturidade que permita uma ação consistente,
intencional e efetiva (Soderhamn, 2000).
As práticas de autocuidado têm como objetivos: manter a saúde e o bem-estar, fornecer meios
para o desenvolvimento contínuo e para funcionar de acordo com as normas compatíveis, com
as condições essenciais à vida e manter o ambiente necessário para garantir o funcionamento
integrado e o desenvolvimento humano individual e de grupo. As pessoas produzem
autocuidados através de práticas, deliberadamente realizadas, com vista aos requisitos de
autocuidado (Orem, 2001).
Os requisitos universais são comuns a todas as pessoas e estão presentes em todas as fases da
vida. Estes refletem as necessidades humanas fundamentais que proporcionam as condições
internas e externas para manter e promover o desenvolvimento humano. De acordo com Orem,
os requisitos universais são:
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Manutenção de ingestão adequada de alimentos;
Aprender a viver com os efeitos das condições de saúde alteradas, num estilo de vida
que promova o desenvolvimento pessoal;
1
A tradução é da responsabilidade da autora
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2.1.3 Capacidades para o autocuidado
Domínio cognitivo, constituído pelo conhecimento das condições de saúde e das habilidades
cognitivas necessárias, para exercer as ações de autocuidado, nomeadamente a capacidade de
decisão.
Domínio psicossocial, que inclui as atitudes, os valores, o desejo, a motivação e a auto eficácia
na realização da ação.
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2.1.4 Fatores determinantes básicos do autocuidado
As mudanças nas capacidades para o auto cuidado refletem-se num aumento ou diminuição do
poder ou na sua estabilização. As mudanças dos requisitos e das capacidades para o
autocuidado estão associadas ao efeito de uma serie de fatores determinantes básicos tais como
a idade, género, estadio de desenvolvimento, estado de saúde, fatores socio culturais, fatores
ambientais, disponibilidade e adequação dos recursos, sistema familiar, sistema de cuidados de
saúde e padrão de vida que se relacionam, conforme podemos ver na figua 2 (Orem,
2001;Taylor, 2011)
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natureza e/ou extensão do défice de autocuidado, as pessoas tornam-se dependentes de outros,
para a satisfação dos requisitos de autocuidado (Orem, 2001).
De acordo com esta teoria, os sistemas de cuidados de enfermagem podem ser totalmente
compensatórios, quando compensam a incapacidade, apoiam e protegem; parcialmente
compensatórios, quando substituem o indivíduo em algumas atividades e ainda sistemas de
cuidados de enfermagem de apoio e educação, quando ajudam a tomar decisões, fornecem
informação e promovem a aprendizagem conforme se observa na figura seguinte (Orem, 2001).
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Figura 4 - Tipos de Sistemas de autocuidado. Orem, D. E. (1979). Concept formalization in nursing: Process and product
(2nd ed.). Boston, MA: Little Brown.
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3. AUTO CUIDADO COMO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
O autocuidado considerado como capacidade para ação, traduz a noção de saúde como um
estado funcional, enquanto na sua dimensão de processo, o autocuidado em saúde pode ser
visto como um processo da experiencia de vida e de aprendizagem, podendo o autocuidado ser
visto como um reflexo de si mesmo (Bente, Wagner, & Hall, 2007).
No quadro da saúde, estas duas conceções são vistas como integradas numa conceção
bidimensional. Contudo, apesar desta estrutura bidimensional, as capacidades e os processos
são recursos interdependentes, que ao mesmo tempo favorecem e restringem a saúde dos
indivíduos. Isto é, quanto maior for o nível de capacidade, mais é provável que o individuo
participe no autocuidado e tenha um equilíbrio contínuo de saúde (Bente, Wagner, & Hall,
2007).
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da perspetiva dos outros e são resultado da execução de obrigações recíprocas e de expectativas
conjuntas (Soderhamn, 2000).
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3.2 AUTOCUIDADO COMO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
MULTIDETERMINADO
Soderhamn (2000) define adaptabilidade como um esforço contínuo, que permite às pessoas
serem capazes de agir, gerindo o que sentem, perante as possíveis alterações da vida e da saúde.
A concretização desse esforço pode manifestar-se na adequação das capacidades e das
atividades de autocuidado e na adequação das atividades ao significado contextual.
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4. AUTOCUIDADO TERAPEUTICO
Já Grady (2008), citada por Sidani (2012) distingue autocuidado de autogestão. Para este autor,
autocuidado é um processo de tomada de decisão naturalista envolvendo a seleção e
desempenho de comportamentos que mantenham a estabilidade fisiológica. Enquanto
autogestão é um processo de decisão iniciado em resposta a problemas de saúde quando estes
ocorrem. Este processo implica o reconhecimento de mudanças no estado de saúde, a avaliação
de atividades para enfrentar as mudanças, a escolha de atividades mais adequadas, o
desempenho das atividades selecionadas e a avaliação da eficácia das atividades em enfrentar
as mudanças no estado de saúde.
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Autocuidado formalmente guiado consiste em exercer de forma regular as atividades da vida
diária, mas existe observância acrítica das orientações terapêuticas e no desempenho das
actividades diárias.
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5. MODELOS DE GESTÃO DA DOENÇA CRÓNICA
O efetivo envolvimento das pessoas é central para que o processo de cuidados tenha sucesso
e por essa razão é reconhecido como componente-chave no desenvolvimento de cuidados de
qualidade. Neste sentido, a organização dos cuidados e a sua melhoria devem seguir algumas
regras, nomeadamente:
1. As pessoas têm direito a receber cuidados quando necessitam e os sistemas devem ter
a flexibilidade necessária para prestar cuidados individualizados e com base nas
necessidades e valores das pessoas;
2. As pessoas devem estar no controlo da sua situação de saúde e devem ter a informação
e as oportunidades para exercerem esse poder, sendo promovida a liberdade para a
tomada de decisão;
3. Os sistemas devem ser capazes de partilhar o conhecimento e permitir um livre fluxo
de informações;
4. As pessoas devem receber cuidados informados pela melhor evidência;
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5. A segurança deve ser uma propriedade do sistema;
6. O sistema deve ser transparente, antecipar as necessidades, evitar o desperdício e
promover a cooperação entre instituições (European Patients Forum, 2018).
O Modelo de Gestão da Doença Crónica, proposto por Wagner (1997) foi desenvolvido para
uma gestão eficaz de cuidados às pessoas com doença crónica. Este modelo utiliza uma
abordagem sistemática, através de interações entre os sistemas de saúde e a comunidade e
identifica os elementos essenciais de um sistema de saúde que encorajam os cuidados de alta
qualidade nas doenças crónicas. Compreende seis componentes básicos:
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NOTA FINAL
Depois de Orem ter desenvolvido a sua teoria de enfermagem, muitos teóricos têm vindo a
acrescentar conhecimento à sua teoria, contribuindo para a sua robustez e propondo novas
abordagens e perspetivas; fornecendo orientações teóricas e evidencia cientifica para a prática
clínica, não só para o domínio da enfermagem mas também para a saúde em geral.
Este texto de apoio, como material pedagógico de suporte à unidade curricular de Gestão do
Autocuidado Terapêutico do curso de licenciatura de enfermagem, procurou selecionar os
tópicos fundamentais acerca do autocuidado, e do autocuidado terapeutico apartir da
perspetiva de ciência de enfermagem e em particular da perspectiva teórica de Dorothea Orem.
Abordaram-se os elementos necessários à compreensão da teoria do autocuidado de Orem;
inclui-se o autocuidado enquanto processo de aprendizagem, pela sua relevância,
particularmente para a função diagnóstica e intervenção clínica, no processo de capacitação
para o autocuidado. Procurou-se fazer a distinção entre o autocuidado de saúde e o autocuidado
terapêutico. A inclusão de modelos de gestão da doença crónica, ainda que de forma muito
breve, teve como propósito contribuir para a compreensão do autocuidado terapêutico, como
resposta aos atuais desafios em saúde, de forma integrada e fortemente ligada à ciencia da
enfermagem.
Espera-se que o texto aqui apresentado, suscite a curiosidade intelectual dos estudantes para
outros assuntos relacionados com os conteúdos aqui apresentados e contribua para uma
aprendizagem mais profícua.
24
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