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Especialização EAD – Gestão

Estratégica em Saúde

Belo
Especialização EAD Horizonte
em Gestão Estratégica em Saúde
2023.
PRINCÍPIOS DE EPIDEMIOLOGIA
APLICADOS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

MATERIAL COMPLEMENTAR

Pós-Graduação Lato Senso: Gestão Estratégica em Saúde.

Disciplina: Princípios de Epidemiologia Aplicados aos Serviços de Saúde.

Professora: Raquel Batista Dantas. 1º Tenente do Quadro de Oficiais da Saúde


(QOS), categoria Enfermeiro. Diretoria de Saúde da Polícia Militar de Minas Gerais
(DS/PMMG).

Elaboração: 2021. 2
Revisão: 2023.
Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde

Proibida a divulgação, cópia e uso deste material sem a autorização.


PRINCÍPIOS DE
EPIDEMIOLOGIA APLICADOS
AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
SUMÁRIO

Apresentação................................................................................................ 04

Objetivos....................................................................................................... 05

Capítulo 01- Bases conceituais, história e aplicações da Epidemiologia...... 06

Capítulo 02 - Processo saúde-doença e o método investigativo 15


epidemiológico................................................................................................

Capítulo 03 - Princípios de Bioestatística aplicados à Epidemiologia........... 28

Capítulo 04 - Estudos Epidemiológicos......................................................... 63

Capítulo 5 - Indicadores Epidemiológicos utilizados na saúde..................... 92

Referências................................................................................................... 111

Anexos........................................................................................................... 113

Anexo A – Glossário de Terminologias.......................................................... 113

Anexo B – Ementa da Disciplina................................................................. 127

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PRINCÍPIOS DE
EPIDEMIOLOGIA APLICADOS
AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
APRESENTAÇÃO

Caro (a) Discente,

A vigilância epidemiológica é uma das estratégias mais eficazes para o controle e


mitigação de enfermidades e problemas de saúde das populações.
Tem como pressupostos basilares ferramentas e métodos que possibilitam elucidar as
cadeias de transmissão e ocorrência das enfermidades e agravos de saúde além de
controlar fatores de risco associados.
Dados epidemiológicos de qualidade favorecem a integração entre o saber clínico e a
saúde coletiva compondo informações assertivas que favorecem a tomada de decisão
pelos gestores dos serviços de saúde.
Esse material aborda os principais conceitos e métodos da epidemiologia e vigilância à
saúde. Está organizado em (05) cinco capítulos, a saber:
Capítulo 01- Bases conceituais, história e aplicações da Epidemiologia;
Capítulo 02 - Processo saúde-doença e o método investigativo epidemiológico;
Capítulo 03 - Princípios de Bioestatística aplicados à Epidemiologia;
Capítulo 04 - Estudos Epidemiológicos;
Capítulo 05 - Indicadores Epidemiológicos utilizados na saúde.
O material comtempla aspectos fundamentais para apoiar o aprendizado do aluno,
abordando conceitos e aplicações da epidemiologia e princípios bioestatísticos na área
da saúde.
Espera-se, o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades para aplicar na prática,
junto à sua equipe de trabalho, esses conhecimentos. Bons estudos!

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PRINCÍPIOS DE
PRINCÍPIOS DE
EPIDEMIOLOGIA APLICADOS
EPIDEMIOLOGIA APLCIADA
OBJETIVOS AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Apoiar o aprendizado do aluno sobre os princípios da epidemiologia e bioestatística da


área de saúde, através de conceitos e ferramentas de vigilância em saúde.

“Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se
entende, e não há sucesso no que não se gerencia” (Willian Edwards Deming, 1950).

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PRINCÍPIOS DE
1. Bases conceituais, história e EPIDEMIOLOGIA APLICADOS

aplicações da Epidemiologia AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Epidemiologia pode ser definida como a “ciência que estuda o processo saúde-
doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores
determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde
coletiva, com vistas a propor medidas específicas de prevenção, controle ou
erradicação de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao
planejamento, administração e avaliação das ações e políticas de saúde”
(ROUQUAYROL e GOLDBAUM, 2003).

É a ciência básica da saúde coletiva e a principal ciência de informação em saúde. Seu


objeto são as relações de ocorrência de saúde-doença em massa (em sociedades,
coletividades, comunidades, classes sociais, grupos específicos, etc.). As relações são
referidas e analisadas mediante o conceito de risco.

Para melhor entendimento, a etimologia da palavra aponta pressupostos e a


finalidade dessa disciplina:

De maneira sucinta, a palavra “epidemiologia” significa ciência que se dedica ao


estudo sobre a população e, ao ser aplicado no campo da saúde, pode ser
compreendido como o estudo sobre o “que afeta” a população. Ao considerar esse
conceito, se reconhece os atributos principais desta ciência, quais são: população,

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tempo e espaço. Ou seja, a epidemiologia é a ciência que estuda os fatores
inerentes ao processo saúde-doença de uma determinada população, considerando
o tempo e o espaço nos quais esta população está inserida.

Atributos da Epidemiologia

Paciente/ População

Espaço

Tempo

A área de atuação da epidemiologia é bastante ampla e genericamente


compreende: (PEREIRA, 2013):

● o ensino e pesquisa em saúde;


● a descrição das condições de saúde da população;
● a investigação dos fatores determinantes da situação de saúde e de
adoecimento das pessoas/coletividades;
● a avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde e doença
dos grupos/coletividades.

Enquanto a clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo, analisando caso a


caso, a epidemiologia volta-se a investigar os problemas de saúde em grupos de
pessoas, às vezes grupos pequenos (amostras), ou dependendo da viabilidade da
pesquisa, populações numerosas.

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A epidemiologia é, portanto, uma ciência que congrega métodos e técnicas de três
áreas principais de conhecimento, a saber: estatística, ciências biológicas e ciências
sociais.

Breve histórico da Epidemiologia

Embora seja incerto definir o início e quem foi o pioneiro a propor conceitos e
aplicabilidades da epidemiologia, alguns autores indicam que a epidemiologia
nasceu com Hipócrates na Grécia antiga, em uma época em que se atribuía as
doenças, as mortes e as curas a deuses e demônios. 1

Hipócrates2 (460-370 a. C.), considerado o “pai da medicina científica”, se contrapôs


a tal raciocínio e difundiu a ideia de que o modo como as pessoas viviam, onde
moravam, o que comiam e bebiam, enfim, fatos materiais e terrenos eram os
responsáveis pelas doenças. Foi uma proposta revolucionária de se pensar o
processo saúde-doença. A partir das ideias de Hipócrates, surgia então a Teoria dos
Miasmas. (Figura 01).

1 Por volta do século 6º a. C., o mundo grego passou por profundas transformações, que se estenderam
também à Medicina. Houve um enfraquecimento das crenças mitológicas – não abandonadas
completamente –, buscando-se explicar as enfermidades com base no raciocínio humano. Nessa
época, alguns médicos sugeriram que a saúde seria o resultado do equilíbrio entre determinados
poderes do corpo (úmido, seco, frio, quente, amargo e doce) e que a doença seria o resultado do
excesso ou da desarmonia entre eles. Maiores informações em: <
https://www.unifesp.br/reitoria/dci/publicacoes/entreteses/item/2194-contagio-miasmas-e-
microrganismos>. Acesso em junho de 2021.
2 Hipócrates, em “Tratado dos ares, das águas e dos lugares” (século V a.C.), coloca os termos

epidêmico e endêmico, derivados de epidemion (verbo que significa visitar: enfermidades que visitam)
e endemion (residir enfermidades que permanecem na comunidade). Ele sugere que condições tais
como o clima de uma região, a água ou sua situação num lugar em que os ventos sejam favoráveis
são elementos que podem ajudar o médico a avaliar a saúde geral de seus habitantes. Maiores
informações em: < http://www.historiadamedicina.ubi.pt/cadernos_medicina/vol14.pdf>. Acesso em
junho de 2021.

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Figura 01: Teoria miasmática do século V

Miasmas: emanação de odores fétidos proveniente de matéria orgânica de animais ou


vegetais em decomposição.

"... aquele que deseje compreender a ciência médica, deve considerar os efeitos
das estações do ano, as águas e suas origens, o modo de vida das populações..."

Principais ações
de saúde
consistiam em
manter a matéria
orgânica longe
dos centros
urbanos.

(Corpus Hippocraticum)

Fonte: Adaptação da autora. Coletânea de imagens. Disponível em: google imagens e no material do site:
<http://www.escoladesaude.pr.gov.br/arquivos/File/Material_1_Aula_1_Conceitos_Saude_e_Doenca_milene.pdf
>. Acesso em junho de 2020.

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- Outros nomes importantes na história da epidemiologia foram:

John Graunt (1620-1674): pioneiro em quantificar os padrões de natalidade e mortalidade. Publicou


em Londres, um trabalho sobre as estatísticas de mortalidade de nascimentos e óbitos semanais,
quantificou o padrão de doença na população londrina e apontou características importantes nesses
eventos, tais como: diferenças entre os sexos, diferenças na distribuição urbano-rural; elevada
mortalidade infantil; variações sazonais.

Pierre Louis (1787-1872): utilizou o método epidemiológico em investigações clínicas de doenças.

Louis Villermé (1782-1863): que pesquisou o impacto da pobreza e das condições de trabalho na
saúde das pessoas.

William Farr (1807-1883): que implementou a produção de informações epidemiológicas


sistemáticas para o planejamento de ações de saúde.

Louis Pasteur (1822-1895): considerado o “Pai da Bacteriologia”, pois identificou inúmeras bactérias
e tratou diversas doenças. Ele influenciou profundamente a história da epidemiologia, pois introduziu
as bases biológicas para o estudo das doenças infecciosas (PEREIRA, 2013), determinando o
agente etiológico das doenças e possibilitando o estabelecimento futuro de medidas de prevenção
e tratamento.

Jhon Snow (1854): pioneiro na procura sistemática dos determinantes das epidemias, descobriu a
transmissão da cólera por meio de um microrganismo (“parasitas invisíveis”) e não por miasmas.

(ALMEIDA FILHO, 1986; PEREIRA, 1995)3.

De modo especial, diversos autores citam Jhon Snow – médico britânico – como
“pai da epidemiologia”, por ter intervido com seus conhecimentos de base
epidemiológica durante as duas epidemias de cólera em Londres ocorridas em 1849
e 1854. Através de uma ampla e inovadora pesquisa com pacientes acometidos pela
doença, Jhon Snow registrou as feições clínicas da doença e descobriu que o
“veneno da cólera” seria um ser vivo proveniente do solo e dos poços de água.

3 Acesse informações em: < https://www.scielo.br/j/csp/a/w7tKhWSwPdKHx3wfrxM7zjb/?lang=pt>. Veja


também: < https://www.scielo.br/j/csp/a/9XkJ8dgTvbCyvmvMfsj35Ww/?lang=pt# >.
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Com base no mapeamento dos casos, óbitos, do comportamento da população
(consumo de água) e dos aspectos ambientais da localidade em estudo, ele
conseguiu incriminar o consumo de água contaminada como responsável pela
ocorrência da doença (SNOW, 1999; PEREIRA, 2013).

De forma inovadora o epidemiologista relatou a transmissão hídrica do bacilo da


cólera décadas antes de Robert Kock ter isolado e cultivado o microrganismo vibro
choleare.

Entre o século XIX até o início do século XX a epidemiologia obteve aplicação de


seu escopo de atuação e suas preocupações concentraram-se sobre os modos de
transmissão das doenças e o combate às epidemias. Alguns exemplos desses
achados são: prevenção do escorbuto (doença causada pela deficiência severa de
vitamina C), do beribéri (deficiência de tiamina – vitamina B1) e da pelagra
(deficiência de niacina) (PEREIRA, 2013).

Entretanto, com a melhoria do nível de vida nos países desenvolvidos e com o


consequente declínio na incidência das doenças infecciosas, a partir das primeiras
décadas do século XX, outras enfermidades de caráter não-transmissível, isto é, as
chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como doenças
cardiovasculares, câncer, violências e outras, passaram a ser objetos de estudos
epidemiológicos

Mais especificadamente, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, houve intenso


desenvolvimento da metodologia epidemiológica, com a ampla incorporação da
estatística, propiciada em boa parte pelo aparecimento dos computadores e da
ciência da computação. Desde então, a aplicação da epidemiologia passou a
estudar um largo espectro de agravos à saúde, extrapolando as doenças
infectocontagiosas e abarcando doenças crônicas e qualidade de vida das
populações.

A denominação “Doença Crônica Não Transmissível” é usada, de forma genérica


para designar grupos de doenças caracterizados por ausência de micro-organismos
no modelo epidemiológico, pela não transmissibilidade, pelo longo curso clínico e
pela irreversibilidade, apesar de algumas dessas características não se adaptarem
diretamente a todos os grupos de doenças a que se referem. Em geral, são de longa
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duração e estão entre as que mais demandam ações, e intervenções nos serviços
de saúde.

Dada à relevância e impactos sociais das doenças crônicas no mundo e no Brasil,


o Ministério da Saúde (MS) publicou em 2011 o chamado “PLANO DE AÇÕES
ESTRATÉGICAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO
TRANSMISSÍVEIS (DCNT) NO BRASIL, 2011-2022”, que tem por meta preparar o
Brasil para enfrentar e deter, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).4

De acordo com o Plano Brasileiro (Brasil, 2011)4 as DCNT são as principais causas
de morte no mundo, correspondendo a 63% dos óbitos em 2008. Aproximadamente
80% das mortes por DCNT ocorrem em países de baixa e média renda. Um terço
dessas mortes ocorre em pessoas com idade inferior a 60 anos. A maioria dos óbitos
por DCNT são atribuíveis às doenças do aparelho circulatório (DAC), ao câncer, à
diabetes e às doenças respiratórias crônicas. As principais causas dessas doenças
incluem fatores de risco modificáveis, como tabagismo, consumo nocivo de bebida
alcoólica, inatividade física e alimentação inadequada.

As DCNT de maior impacto epidemiológica para os serviços de saúde no país foram:


acidente vascular cerebral, infarto, hipertensão arterial, câncer, diabetes e doenças
respiratórias crônicas. Tais doenças têm sido associadas – em aproximadamente
70% de magnitude – às causas de mortes em camadas pobres da população e em
grupos mais vulneráveis, como a população de baixa escolaridade e renda.

O conhecimento da prevalência – frequência absoluta ou somatório dos casos


“novos” e casos “antigos” - dos fatores de risco para DCNT, principalmente os de
natureza comportamental (dieta, sedentarismo, dependência química - tabaco,
álcool e outras drogas) é fundamental, pois são sobre eles que as ações preventivas
podem ser custo efetivas, foi um dos motivos principais para a estruturação do
Sistema de Vigilância de DCNT no país. Quanto aos estudos epidemiológicos
envolvendo as DCNT, podem ser citados: citar:5

4 Inspirado e adaptado de: Brasil. Ministério da Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento
das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília, 2011. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf
5
Para maiores informações acesse às fontes de informações:
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● Os trabalhos de Doll e Hill (década de 1950) sobre tabagismo e doenças
associadas ao fumo: além de deixar evidente a íntima relação tabaco-
câncer do pulmão, demonstrou a correspondência entre o aparecimento da
neoplasia do pulmão e a carga tabágica (quantidade de tabaco inalado)
consumida pelos pacientes (atual, passada, nos últimos 10 anos e total).
Seus achados foram importantes para o declínio do tabagismo e das
doenças associadas;
● Descoberta da oncogênese (1975): pesquisadores detectaram o gene src,
capaz de provocar alterações genéticas na célula e torná-la cancerígena.
● Estudo sobre fatores associados à hipertensão Arterial Sistêmica no
Brasil (1978) do pesquisador Aloyzio Achutti: conduzido pela Secretaria
de Saúde do Rio Grande do Sul e Fundação Oswaldo Cruz, mostrou a
prevalência da hipertensão arterial em São Paulo.

- Determinantes sociais em saúde

Os determinantes sociais em saúde podem ser compreendidos como as condições em


que as pessoas vivem e trabalham. Atuar sobre esses determinantes é a forma mais
justa para melhorar a saúde das pessoas, pois a despeito da importância da estrutura
dos serviços de saúde, recursos correlatos à assistência dos profissionais de saúde, há
fatores que podem afetar a saúde das pessoas como, por exemplo, nível
socioeconômico, condições de moradia, risco ocupacional, que precisam ser abordados
a fim de que o bem-estar seja alcançado.

Condições ambientais e sociais desfavoráveis podem, também, resultar em


comportamentos adversos, os quais podem favorecer a atuação dos principais fatores
de risco sobre as doenças crônicas não transmissíveis.

Sobre câncer de pulmão: Doll R, Hill AB. Smoking and carcinoma of the lung. BMJ 1950;2: 739-58.
Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2038856/>. Acesso em junho de 2021.
Sobre câncer de mama: leia mais em: <https://super.abril.com.br/especiais/cancer-a-trajetoria-da-
doenca/>.
Sobre estudos epidemiológicos de HAS: leia mais em :< http://publicacoes.cardiol.br/caminhos/03/ >.

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Esquema ilustrativo: Determinantes e Condicionantes de Saúde

MACRODETERMINANTES

Modelo de
Determinação Social
da Saúde proposto por
Dahlgren & Whitehead
(1991).

MICRODETERMINANTES
Figura 02: Modelo da determinação social das doenças

Fatores sócio- Globalização;


econômicos, Urbaniação;
cuturais, políticos e Envelhecimento populacional;
ambientais Pandemias(SARS-COV-2) - Comuns e Modificáveis:
Tabagismo;
Consumo abusivo de álcool;
Dieta inadequada;
Sedentarismo

- Comuns e não modificáveis:


Fatores de Riscos Idade;
Sexo;
Hereditariedade.

Elevação da pressão
Fatores de Risco sanguínea arterial;
Intermediários Elevação da glicemia;
Obesidade

Hipertensão Arterial
Principais doenças Sistêmica (HAS);
crônicas Diabetes Mellitus (DM);
Infarto Agudo do
Fonte: Modelo de Determinação Social da Doença. Adaptação decorrentes Miocárdio (IAM);
da autora. 2022. Acidente Vascular
Encefálico (AVE)

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PRINCÍPIOS DE
PRINCÍPIOS DE
EPIDEMIOLOGIA APLICADOS
EPIDEMIOLOGIA APLICADOS
Modelo de explicação multifatorial das doenças. Elaboração da autora, 2021.
AOS SERVIÇOS
AOS SERVIÇOS DE
DE SAÚDE
SAÚDE
2. Processo saúde-doença e o
método investigativo
epidemiológico

O método investigativo da epidemiologia considera a relação entre eventos que


impactam na saúde, tais como doenças, seus determinantes e o uso de serviços de
saúde, de modo que a intereção entre os mesmos não ocorrem ou se distribuem ao
acaso. Há grupos populacionais que apresentam mais casos de certo agravo, por
exemplo, e outros que morrem mais por determinada doença.

Tais diferenças ocorrem porque os fatores que influenciam o estado de saúde das
pessoas se distribuem desigualmente na população, acometendo mais alguns
grupos do que outros (PEREIRA, 1995).

Nesta perspectiva, para melhor compreensão do processo saúde-doenças torna-se


fundamental o entendimento sobre o conceito de saúde.

O conceito ampliado de saúde

Saúde é um direito fundamental do ser humano, garantido pela Declaração Universal


dos Direitos Humanos (DUH), sem distinção de sexo, raça ou cor da pele em todas as
sociedades do mundo.

No Brasil a saúde é regulamentada pela Constituição Federal (CF) da República como


um direito à cidadania, expressa na seção II, nos artigos 196 a 200. Neste caput,
ampliou-se o direito do cidadão à saúde do direito previdenciário, sob uma perspectiva
política, econômica e social. (BRASIL, 1988)
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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) “Saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou
enfermidade”. (OMS, 1978, 1986).

O conceito ampliado e positivo de saúde enfatiza a relevância dos recursos sociais e


pessoais, bem como as capacidades físicas das pessoas, e, extrapola o contexto
biológico causador de patologias, estendendo-se a um estilo de vida saudável, com
vistas ao bem-estar nas dimensões pessoal e coletiva. As figuras 03 e 04
respectivamente sumarizam esquematicamente esse conceito.

Figura 03: Condicionantes da saúde previstos pela CF de 1988.

SERVIÇOS DE
SAÚDE

ALIMENTAÇÃO HABITAÇÃO

SAÚDE
MEIO
LAZER AMBIENTE /
SANEAMENTO

TRABALHO/
EDUÇCAÇÃO
RENDA

Fonte: Elaboração da Autora. Adaptação e alusão ao artigo 196 da CF de 1988. (BRASIL, 1988)

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- Saúde descrita no Art. 196 da CF do Brasil:
“Saúde é um direito de todos e dever do estado, garantido mediante medidas

políticas, sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de agravos


e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção

e recuperação” (BRASIL, 1998).

Figura 04: Dimensões da Saúde sob uma lógica ampliada e interdependente.

Bem estar Físico

Bem estar
Emocional/Mental

Bem estar Social

Bem estar
Espiritual

Fonte: Esquema elaborado pela autora. Alusão ao conceito ampliado de saúde, proposto pela OMS, 1978.

Por isso, garantir a saúde dos cidadãos, não é uma responsabilidade exclusiva do setor
saúde. Embora seja a diretriz central de muitas políticas nacionais e internacionais da
área, ainda continua sendo um grande desafio para gestores e a população em geral.

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A maioria das pessoas durante a maior parte de suas vidas é saudável, a menos que
adquira algum problema de saúde nos anos precoces da vida. Ou seja, o recurso aos
hospitais, filas de pronto socorros, leitos de CTI/ Enfermaria ou ainda complexos
procedimentos médicos, diagnósticos ou terapêuticos, de um modo geral não são
demasiadamente frequentes.

Contudo, durante toda a vida todos nós precisamos ter acesso à água tratada, ar puro,
ambiente limpo e saudável, alimentação adequada, situações social, econômica e
cultural favoráveis, prevenção de problemas específicos de saúde, assim como
educação e informação. De modo que, estes determinantes sociais e não puramente
biológicos são os componentes mais importantes capazes de promover saúde e evitar
o adoecimento das pessoas (WHO, 2009).

Assim, a promoção da saúde, mais importante até que as medidas “curativistas e


intervencionistas”, refere-se às ações sobre os condicionantes e determinantes sociais
da saúde, dirigidas a impactar favoravelmente a qualidade de vida das pessoas. (WHO,
2009).

No Brasil, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) foi editada como política
pela primeira vez no ano de 2006 com o esforço em rever o conceito de saúde em uma
lógica ampliada, e reforçar mudanças dos estilos de vida, redução de fatores de risco e
a vigilância em saúde, privilegiando o bem de todos e a construção de uma sociedade
solidária, cujo objetivo geral se concentra em torno da redução de vulnerabilidade e
riscos à saúde e da qualidade de vida (SILVA e BAPTISTA, 2015).

Em linhas gerais, a PNPS reeditada em 2014 reforça a redução de vulnerabilidades e


riscos à saúde no âmbito individual e coletivo, e da qualidade de vida, com vistas à
promoção da equidade e da melhoria das condições e modos de viver. Desta forma,
orienta como estratégias prioritárias o controle e prevenção de doenças com ações que
pautam hábitos e estilos de vida, a saber: alimentação saudável, atividade física,
controle do tabagismo, redução da morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de
álcool e outras drogas, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito,
prevenção da violência e cultura da paz e promoção do desenvolvimento sustentável.

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Destaca formas de produzir saúde, no âmbito individual e coletivo. (BRASIL, 2012, 2014;
SILVA e BAPTISTA, 2015).

Alguns autores afirmam que Promoção da Saúde é uma das estratégias mais efetivas
para o desenvolvimento social, econômico e cultural de uma nação, e, de forma objetiva,
representa uma das mais importantes dimensões da qualidade de vida das pessoas.
(BUSS, 2000; BYDLOWSK e WESTPHAL, 2004; BRASIL, 2012; SILVA e BAPTISTA,
2015).

SAÚDE NÃO É SOMENTE AUSÊNCIA DE DOENÇAS.


SAÚDE PLENA ESTÁ ASSOCIADA A PADRÕES ADEQUADOS DE
ALIMENTAÇÃO, SONO, MEDITAÇÃO/ORAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA PARA
ALIVIAR O ESTRESSE DO DIA A DIA.

A regulamentação da saúde no Brasil está prevista nas chamadas “Leis Orgânicas da


Saúde”, quais são: Leis 8.080 de 1990 e 8.142 de 19906. A primeira organiza e
determina as funções e níveis estruturais dos serviços de que integram o sistema de
saúde no Brasil; cria o chamado “Sistema Único de Saúde” (SUS) - maior concentrador
das ações no país - e define o caput de ações complementares da assistência
privada/particular à saúde em território nacional. Conforme os seus princípios, a rede de
saúde organiza-se de forma descentralizada e regionalizada, com ações concentradas
em níveis de complexidade assistencial. Já a segunda lei, refere-se à regulação da
saúde e participação social no controle e gestão da saúde.

Conforme norma regulamentar, os três níveis de complexidade de assistência à saúde


são:

6 Maiores detalhes consultar: Bases legais do SUS: Leis Orgânicas da Saúde. Disponível em: <
https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/15655/1/Bases%20legais%20do%20SUS%20-
%20Leis%20org%C3%A2nicas%20da%20sa%C3%BAde.pdf >.
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- Atenção Primária de Assistência à saúde:
Constituída por unidades que prestam assistência básica com ações que

abrangem a promoção e a proteção da saúde, visando à atenção integral


que impacte positivamente no bem-estar do usuário.

- Atenção Secundária de assistência à saúde:

Formada por serviços especializados em nível ambulatorial e, em alguns

casos, unidades hospitalares de baixa complexidade.

- Atenção Terciária de assistência à saúde:

Representada pelos serviços de alta complexidade hospitalar e/ou elevada

especialização (hospitais de Trauma, de Referências em Emergências, etc.).

Com a missão organizar e ser a “porta de entrada” dos usuários do sistema de saúde –
quer público, privado, filantrópico ou de qualquer outra natureza jurídica – a Atenção
Primária à Saúde (APS) corresponde a uma resolubilidade assistencial robusta de
aproximadamente 80% dos problemas de saúde da população a ele vinculada. Integra
a rede assistencial de cuidados primário7, fundamentais para o enfrentamento de
epidemias, como no caso da Pandemia de COVID-19.

De modo convergente ao modelo de saúde adotado no Brasil através do Sistema Único


de Saúde (SUS), mas com particularidades quanto ao perfil de assistência e público
atendidos, o Sistema de Saúde (SISAU) no âmbito da PMMG/CBMMG/IPSM é uma
modalidade privada de assistência à saúde voltada aos Policiais Militares, Bombeiros
Militares e demais beneficiários. Neste sistema, correspondem ao nível primário de

7Veja maiores informações no site do Ministério da Saúde, caput que refere-se à Atenção Primária em
Saúde (APS) e Equipes de Saúde da Família. Disponível em : <https://aps.saude.gov.br/smp/smpoquee>.
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assistência à saúde as Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), denominadas
no SISAU como Núcleos de Assistência Integral à Saúde (NAIS) e Seções de Atenção
à Saúde (SAS).

Representam o primeiro nível de contato dos militares e demais beneficiários com o


SISAU. Por tratar, sobretudo, das atividades de saúde ocupacional da Tropa possuem
a responsabilidade de gerenciar os problemas de saúde mais frequentes e impactantes
na população em que assistem, isto é, aquela que é vinculada à Unidade - também
chamada de população adscrita. Nota-se que a proposta deste modelo de atenção à
saúde é proporcionar o cuidado o mais próximo possível onde pessoas vivem e
trabalham. Constituem, portanto do primeiro elemento de um continuado processo de
assistência à saúde.

CUIDADOS INTEGRAIS COM A SAÚDE

Fique atento:
Sua Saúde é o seu maior bem.
Prevenir é melhor do que remediar!

Fonte: Elaboração da Autora, 2021. Modelo de estruturação de assistência nos serviços de saúde.

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Processo saúde-doença e a vigilância em saúde

Segundo Laurell (1983) o termo “processo saúde-doença” refere-se ao modo pelo qual
ocorre nas pessoas ou grupos da coletividade, o processo biológico de desgaste e
reprodução, destacando como momentos particulares a presença de um funcionamento
biológico diferente, com consequências para o desenvolvimento regular das atividades
cotidianas, isto é, o surgimento de doença ou incapacidade.

Hipócrates na obra “Tratado do prognóstico e aforismos” (século V)8 trouxe a teoria


– à época revolucionária - de que o médico poderia predizer a evolução de uma
doença mediante a observação de um número suficiente de casos. Ressaltou que
para se fazer uma correta investigação das doenças, era necessário o conhecimento
das peculiaridades de cada lugar, e a observação da regularidade das doenças num
contexto populacional. Esses pressupostos são, até hoje, uma das principais
características da epidemiologia.

As abordagens frente ao processo saúde-doença se diferenciam quanto ao perfil do


“objeto de investigação” (paciente ou comunidade/população) e das peculiaridades
inerentes, conforme pode se nota no Quadro 01 abaixo:

Quadro 01: Abordagens utilizadas na investigação do processo saúde-doença.

TIPOS ABORDAGEM DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

CLINICA EPIDEMIOLÓGICA

DIAGNÓSTICO Individual. Coletivo / populações.

Exame físico, exames Dados populacionais


laboratoriais e de (primários ou secundários);

8
Veja maiores detalhes em:< http://mitologiaecivilizgrega.blogspot.com/2009/12/hipocrates.html>.
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INFORMAÇÕES imagem e história indicadores de saúde; dados
ANALISADAS clínica do indivíduo. com referência de tempo,
espaço geográficos e
variáveis associadas, etc.

OBJETIVOS DAS Curar, controlar ou Mitigar ou controlar fatores


INTERVENÇÕES prevenir o agravo de risco para a
presente na pessoa. comunidade/coletividade;
melhorar o nível de saúde e
de vida das populações;
controlar surtos, epidemias
ou pandemias, etc.

INTERVENÇÕES Tratamento e Programas de Promoção à


reabilitação. saúde e controle de doença
(EX; PNI. Hiper DIA - controle
de hipertensos e diabéticos
etc).

MONITORAMENTO Acompanhamento Acompanhamento dos


clínico individual indicadores de saúde (taxas
(prevenir a doenças, de mortalidade, internações,
melhorar ou curar a contágio por doenças);
condição, ou mudanças nos estados de
estabilizar a condição). saúde populacionais.

Fonte: Elaboração pela autora, 2021.

No campo da saúde, a vigilância está relacionada às práticas de atenção e promoção


da saúde dos cidadãos e aos mecanismos adotados para prevenção de doenças. Além
disso, integra diversas áreas de conhecimento e aborda diferentes temas, tais como

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política e planejamento, territorialização, epidemiologia, processo saúde-doença,
condições de vida e situação de saúde das populações, ambiente e saúde e processo
de trabalho. A Vigilância em Saúde organiza-se em torno de 04 (quatro) pilares:
vigilância epidemiológica, sanitária, ambiental e da saúde do trabalhador.

A vigilância epidemiológica reconhece as principais doenças de notificação


compulsória e investiga epidemias que ocorrem em territórios específicos. Além disso,
age no controle dessas doenças específicas.

A vigilância ambiental se dedica às interferências dos ambientes físico, psicológico e


social na saúde. As ações neste contexto têm privilegiado, por exemplo, o controle da
água de consumo humano, o controle de resíduos e o controle de vetores de
transmissão de doenças – especialmente insetos e roedores.

As ações de vigilância sanitária dirigem-se, geralmente, ao controle de bens, produtos


e serviços que oferecem riscos à saúde da população, como alimentos, produtos de
limpeza, cosméticos e medicamentos. Realizam também a fiscalização de serviços de
interesse da saúde, como escolas, hospitais, clubes, academias, parques e centros
comerciais, e ainda inspecionam os processos produtivos que podem pôr em riscos e
causar danos ao trabalhador e ao meio ambiente.

Já a área de saúde do trabalhador realiza estudos, ações de prevenção, assistência e


vigilância aos agravos à saúde relacionados ao trabalho.

O Sistema Nacional de Vigilância em Saúde tem a competência de realizar ações


de vigilância, prevenção e controle de doenças transmissíveis, incluindo ações de
vigilância da saúde das populações.9

A COVID-19 vem exigindo uma forte organização dos serviços de saúde, especialmente
na seara de vigilância epidemiológica através da reorganização dos processos de
trabalho para atender eficazmente os casos, encaminhar ao nível de complexidade de
cuidado exigido além de mitigar a cadeia de contágio protegendo trabalhadores,
transeuntes e outros pacientes à contaminação da doença.

9
Veja mais detalhes e informações na obra do Ministério da Saúde: Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde.
Disponível em:<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_vigilancia_saude.pdf.>.
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Todos aqueles que se inserem direta ou indiretamente na prestação de serviços de
saúde, estão expostos aos riscos relacionados ao ambiente de assistência. O risco de
exposição varia de acordo com a categoria profissional, a atividade realizada ou o setor
de atuação nos serviços de saúde.

As imagens a seguir, expostas na figura 05, demonstram exemplos de estratégias


implementadas para a vigilância epidemiológica em saúde.

Figura 05: Exemplos práticos de estratégias utilizadas para gerenciamento


epidemiológico.

25

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- Continuação: Figura 05 – Exemplos práticos de estratégias utilizadas no
gerenciamento epidemiológico

Variáveis epidemiológicas de investigação em saúde: sóciodemogáficas (sexo, idade,


raça, cor da pele); tipo de evento (código de doença - CID), etc.

NOTA: A demonstração das informações epidemiológicas permite a comparabilidade entre os serviços de saúde e a
contingência em casos de emergências sanitárias – como é o caso da Pandemia do novo Coronavírus. Esses aspectos
são imprescindíveis para o desenvolvimento e performance dos programas de atenção à saúde coletiva.

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- Continuação: Figura 05 – Exemplos práticos de estratégias utilizadas no
gerenciamento epidemiológico

Fonte: Informações extraídas do site da vigilância em saúde da Secretaria de Saúde do Estado de


Minas Gerais. Variáveis e layout em Dashboard (Óbitos não fetais: dados sóciodemograficos;
COVID-19). Veja mais em: <
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNTU3MjRiYWYtMWY2YS00N2YxLTk2YjgtYTE3MDVlNGI0
NGEzIiwidCI6Ijg3ZTRkYTJiLTgyZGYtNDhmNi05MTU3LTY5YzNjYTYwMGRmMiIsImMiOjR9&page
Name=ReportSection3502a3bc9513457c2b19>. Veja também no site:
https://coronavirus.saude.mg.gov.br/painel.

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PRINCÍPIOS DE
PRINCÍPIOS DE
EPIDEMIOLOGIA APLICADOS
EPIDEMIOLOGIA APLICADOS
3. Princípios de Bioestatística AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
aplicados à Epidemiologia

Conforme apresentado nos capítulos anteriores, as informações que amparam a


ciência e ferramentas da epidemiologia são oriundas de métodos e técnicas de três
áreas principais de conhecimento: Estatística, Ciências da Saúde e Ciências
Sociais.

A Bioestatística corresponde às bases da estatística que são aplicadas às ciências


biológicas e da saúde. Ela é um dos saberes pilares da epidemiologia que se
desenvolveu de forma expressiva no século XIX, tendo sido impulsionada pelo aumento
da expectativa de vida ocorrida em todos os países do mundo e pela melhora nas
condições de saúde das populações (SOARES e SIQUEIRA,2020). Por meio da
inferência estatística é possível tomar decisões sobre uma população, baseando-se
apenas na informação contida em uma amostra aleatória da população de interesse.

Para melhor compreensão, são apresentados nesse capítulo alguns conceitos da


Bioestatística que são fundamentais e amparam as investigações epidemiológicas na
saúde.

Variáveis de análise10

Entende-se por variável uma característica de interesse que é medida em cada


elemento da amostra ou população de um determinado segmento (pessoas, objetos,

10
O conjunto de valores de uma característica associada a uma coleção de indivíduos ou objetos de
interesse é dito ser uma população
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animais, etc). As variáveis se distinguem entre si levando em consideração o elemento
de análise, e, neste sentido, seus resultados variam e podem corresponder a “valores
numéricos” e “valores não numéricos”.

De forma objetiva, as variáveis podem ser classificadas em quantitativas e qualitativas,


e sobre estas categorias, incidem subcategorias, a saber:

● Variáveis quantitativas: são as características que podem ser medidas em uma


escala quantitativa, ou seja, apresentam valores numéricos que fazem sentido.
Podem ser contínuas (apresentam valores fracionados, ou aproximados, como
exemplo os valores do peso, altura, pressão arterial, etc.) ou discretas (o
resultado da contagem é um número absoluto, como exemplo número de
consultas/atendimentos ao mês, número de filhos, etc).
● Variáveis Qualitativas (ou categóricas): são as características que não
possuem valores quantitativos, mas, ao contrário, são definidas por várias
categorias, ou seja, representam uma classificação dos indivíduos. Podem ser
nominais ou ordinais. No primeiro caso (nominais) não há uma ordenação
entre as categorias, e o resultado comumente é um nome. Pode-se citar como
exemplos desse tipo de variável: sexo (feminino ou masculino), cor dos olhos,
fumante/não fumante, doente/sadio, etc).
● Já as variáveis categóricas ordinais expressam uma ordenação entre as
categorias. Exemplos: escolaridade (Fundamental, Ensino Médio e 3° graus),
valores de intervalo de exames (glicemia em jejum entre 60 a 99 mg/dl – normal;
entre 99 a 119 mg/dl – valor alterado; > 119 mg/dl – investigar Diabetes Mellitus);
estágio da doença (inicial, intermediário, terminal), mês de observação (março,
abril maio), etc.

A seguir são apresentados exemplo de variáveis utilizadas em algumas análises


epidemiológicas e suas respectivas classificações:

- Variáveis Quantitativas:

a) Quantitativa discreta:
● N° de exames positivos confirmados para COVID-19 ao dia / semana e
mês;

29

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● N° de licenças de militares da ativa (ao dia/ semana / mês), homologadas
na Unidade de Saúde (Exemplo: Núcleo de Assistência à Integral de
Saúde - NAIS - de referência), relacionadas a resultados positivos do
exame RT – PCR11 para COVID-19.

b) Quantitativa contínua:
● Média de dias de afastamento entre os policiais militares da ativa,
notificados como casos positivos para COVID-19 (4,0 dias 5,8 dias, 8,5
dias, etc);
● Média de internações ao mês entre os trabalhadores de uma Unidade,
para tratamento de sintomas da síndrome SARS – Cov2 (COVID-19).

- Variáveis Qualitativas

a) Qualitativa nominal:
● Sexo de maior incidência e prevalência entre os que apresentaram
resultados positivos para COVID-19.
● Estado civil,
● Cor da pele auto referida;
● Posto/graduação do policial militar acometido pela doença, etc.

b) Qualitativa ordinal:
● Faixa de idade de maior prevalência de casos positivos para COVID-19 entre os
militares da ativa da PMMG (20 a 29 anos / 30 a 39 anos / 40 a 49 anos / 50 a 59
anos / acima de 60 anos).
● Distribuição de casos positivos entre as comorbidades crônicas pré-existentes
(Doenças Cardiovasculares, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes

11 O teste molecular (RT-PCR) permite a identificação direta do vírus através da pesquisa do material
genético viral em amostras do aparelho respiratório. É o método diagnóstico de escolha com maior
validação no mundo e com ampla disponibilidade em Minas Gerais, por se tratar de padrão-ouro na
identificação do vírus.

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Melitus, Obesidade, Neoplasias, Doenças Pulmonares Crônicas,
Imunossupressão, Outras).

Uma variável originalmente quantitativa pode ser coletada de forma qualitativa.


Por exemplo, a variável idade que é medida em anos completos é do tipo quantitativa
discreta (10 anos); mas, se for informada apenas a faixa etária (0 a 5 anos, 6 a 10 anos,
etc.), esta variável será classificada como qualitativa (ordinal). Outro exemplo é o
peso dos pacientes - uma variável quantitativa contínua, se trabalhamos com o valor
obtido na balança (Ex: 90,5 Kg), mas pode se tornar uma variável qualitativa (ordinal)
se os pacientes forem avaliados por faixas de pesos - exemplo dos lutadores de artes
marciais: peso-pena, peso-leve, peso-pesado, etc.

Outro ponto importante é que nem sempre uma variável representada por números é
quantitativa. O número do telefone de uma pessoa, o número da casa, o número de sua
identidade. Às vezes o sexo do indivíduo é registrado na planilha de dados como 1 se
masculino e 2 se feminino, por exemplo. Isto não significa que a variável sexo passou a
ser quantitativa.

Distribuição de frequências de uma variável

Para melhor compreensão das variáveis e as informações que elas carregam, é


necessário conhecer a distribuição de frequência por meio das possíveis realizações
(dados) que se pretende analisar.

A Frequência Absoluta (ni) é definida como o número ou contagem de observações


para cada variável em um conjunto de dados. Já a Frequência Relativa ou proporção
(fi) é definida como a proporção de cada realização em relação ao Total de observações.

A representação gráfica da distribuição de frequências de uma variável contínua é feita


através de um gráfico chamado histograma – um tipo de gráfico de barras verticais,
constituído de barras unidas, devido ao caráter contínuo dos valores da variável. Outra
aplicabilidade deste perfil de gráficos é apresentação dos valores por agrupamentos

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(faixas de idade, faixas de valores de referência em alguns exames da saúde, faixas de
peso, etc). A figura 06 adiante apresenta alguns exemplos de gráficos com dados
epidemiológicos nestas categorias de variáveis.

Figura 06: Dados epidemiológicos apresentados por meio de frequências.

Frequência absoluta (n° de ocorrências de uma determinada Frequência relativa (proporção que de uma
variável) determinada variável)

Fonte: SES. Secretaria de Vigilância à Saúde. Dashboard Coronavírus. Disponível :<


https://coronavirus.saude.mg.gov.br/painel >. Acesso em 20 de julho de 2021. Para informações e fonte da última
imagem (gráfico de histograma), acessar: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Histograma >.

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Medidas de Tendência Central (MTC)

As MTC correspondem a formas de caracterizar um conjunto de dados. Dentre as


medidas de tendência central, a média e a mediana são amplamente utilizadas para a
descrição do conjunto de dados. No entanto, cada uma dessas medidas possui
vantagens e desvantagens.

✔ MÉDIA

Corresponde à medida de tendência central que representa o centro da gravidade no


conjunto de dados (SOARES e SIQUEIRA, 2020). Para seu cálculo deve-se incorporar
(somar) o valor de cada participante, “caso” ou atributo da variável e dividir pelo número
total de eventos da amostra (“n”) ou população (“N”) de interesse. Portanto, a média
leva em consideração os valores de todos os indivíduos ou variáveis que são
observadas.

- Vantagens do uso da Média como medida de tendência central (MTC):

● Seu cálculo leva em consideração os valores de todos indivíduos/variáveis


estudados;

● É mais facilmente compreendida pelos leitores e pesquisadores.

- Desvantagens da Média como medida de tendência central (MTC):

● É influenciada por valores extremos (outliers);

● Só deve ser utilizada quando a distribuição dos dados for simétrica (normal ou
Gaussiana).

✔ MEDIANA

33

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A Mediana representa o valor que divide o conjunto de dados ao meio. Isto é, pelo
menos 50% dos dados da amostra estão acima do valor da mediana e os 50% restantes
estão abaixo desse valor.

Para realizar o cálculo da Mediana deve-se:

● Colocando os dados em ordem crescente;

● Se o número de observações for ímpar, deve-se identificar o valor que divide os


dados em duas partes iguais;

● Já, se o número de observações for par, para calcular a mediana deve-se


identificar os dois valores centrais, soma-los e dividir por 2 (dois).

- Vantagens do uso da Mediana como medida de tendência central (MTC):

● Não sofre influência de valores extremos;

● Pode se manter inalterada ainda que haja alguma variação entre os valores de
determinada amostra;

● É utilizada especialmente para distribuições assimétricas, nas quais representa


de forma mais confiável o ponto onde se encontra a maioria dos valores de um
conjunto de dados.

- Desvantagens da Mediana como medida de tendência central (MTC):

● Por não ser tão frequentemente usada, especialmente na linguagem de


artigos da saúde, ainda não é bem compreendida por muitos leitores;

● Não é levada em consideração na maior parte dos cálculos dos testes


estatísticos.

✔ MODA

Sua utilização é pouco usual, e serve apenas para demonstrar qual o valor ou
atributo mais frequente (que mais se repete) em um conjunto de dados.

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✔ APLICAÇÕES PRÁTICAS DO USO DA MÉDIA, MEDIANA E DA MODA

Considere a seguinte situação hipotética:

Número de dias de afastamento por homologações (casos) de licenças com CID´s


relacionados ao COVID-19, entre os militares da ativa da PMMG ao dia “X”, conforme
pode ser observado na tabela 01 adiante:

Tabela 01: N° de dias de afastamento por licenças de militares da ativa, homologadas


no dia 25 de junho de 2020

Homologações de licenças relacionadas a adoecimento, dentre os militares da Ativa, TOTAL


ao Dia

A B C D E F G 07 militares

Nº de dias de 3 4 5 7 7 10 14 50 dias
afastamento

Nota: dados meramente hipotéticos, não alusivos a qualquer correlação entre indivíduos. Não há
possibilidade de identificação de sujeitos.

No exemplo supramencionado teremos os seguintes resultados para as medidas de


tendência central:

*Média: A soma de todos os dias de afastamento concedidos a cada um dos indivíduos


da amostra (50 dias) dividido pelo n° de indivíduos que se licenciaram (07), ou seja: 50
/07.

(Média) Ʃ = 7,14 dias de afastamento do trabalho por algum CID -10 que esteja
relacionado ao COVID-19.

*Mediana: É o n° 07 (sete), pois é o n° que divide a amostra em 2 partes iguais.

35

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Note que, caso os dados não estivem no padrão crescente de organização, seria
necessário fazê-lo.

3 4 5 7 7 10 14

Valores antes da mediana Valores após a mediana

*OBS: no exemplo citado observamos que o valor da média é – ainda que sutilmente -
superior (7,14) ao valor da mediana (7) e da moda (7). Neste caso, temos uma
distribuição assimétrica para a Direita, e, portanto, o uso da mediana seria mais
apropriado ou confiável em comparação à média para as análises desejadas, vez que
não sofre interferência de valores extremos.

Se a distribuição das variáveis ocorresse em número par, vejamos como seria:

3 4 5 7 8 10 12 14

Em caso de distribuição amostral


Variáveis hipotéticas
de “numeração par” a mediana
acrescentadas
corresponde à média dos 02
valores centrais

Neste exemplo temos como mediana o valor = 7 + 8 / 2 = 7,5.

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*Moda: Temos uma amostra unimodal, com a moda equivalente ao número 07, ou seja,
07 dias de afastamento (considerando os valores da tabela 01) por algum CID -10 que
esteja relacionado ao COVID-19.

Medidas de dispersão

As medidas de dispersão descrevem o quanto os dados estão espaçados ou distantes


em torno das medidas de tendência central (SOARES e SIQUEIRA,2020). Isto é,
expressam a variabilidade e dispersão dos dados. Elas são utilizadas para as variáveis
quantitativas contínuas.

Correspondem às mensurações da amplitude, desvio padrão e variância – amplamente


usadas para determinar o grau de variação dos números de uma lista com relação à
média.

✔ AMPLITUDE

A amplitude de um conjunto, em Bioestatística, é estabelecida mediante a diferença


entre o maior elemento desse conjunto e o menor. Em outras palavras, para encontrar
a amplitude de uma lista de números, basta subtrair o menor elemento do maior.

Essa medida pode ser utilizada para verificar se um conjunto de dados está estável ou
não, isto é, as “distâncias” entre as suas variações são menores ou maiores. Amplitudes
muito elevadas mostram uma grande variação entre os limites do conjunto de dados,
enquanto menores amplitudes indicam um equilíbrio (tendência a um parâmetro de
normalidade ou distribuição sem grandes variações) no conjunto de dados.

A amplitude corresponde à diferença entre o valor máximo e o valor mínimo de uma


série de dados. Vejamos seu cálculo no exemplo a seguir:

Exemplo A: Consideremos os conjuntos de observações, relacionadas ao número de


dias de internações de pacientes idosos, em Enfermarias de 02 hospitais distintos,
conforme apresentado no quadro a seguir:

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Hospital A Hospital B

Nº de dias de internação Nº de dias de internação

21 24 27 30 33 15 24 29 32 35

Média amostral = 27 dias de internação Média amostral = 27 dias de internação

A partir dos resultados podemos dizer que o grupo de pacientes internados observados
no Hospital A corresponde à uma amplitude menor, isto é, houve menos variação dos
dados.

Gráficos de histograma e de colunas para visualização da distribuição das amostras

Dis t ribuiç ão (ni) dos dias de int ernaç ão Dis t ribuiç ão ( ni) dos dias de int ernaç ão
de pcientes idosos no Hospital "A" de pcientes idosos no Hospital "B"
(n=5). (n=5).

40 40
DIAS DE INTERNAÇÃO

DIAS DE INTERNAÇÃO

35
30 35
33 30
32
30
20 27 25 29
24
21 20 24
10 15
10 15
0 5
1 2 3 4 5 0
AMOSTRA DE PACIENTES 1 2 3 4 5
AMOSTRA DE PACIENTES

38

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C o mp a r a ç ã o e n t r e a s n i c o r r e l a t a s a o s d i a s d e i n t e r n a ç õ e s
d e a p c i e n t e s i d o s o s e m d o i s h o s p i t a i s ( A e B ) ( n a = 5 / n b =5 ) .
40 35
Nº DE DIAS DE INTERNAÇÃO 35 32 33
29 30
30 27
24 24
25 21
20 15
15
10
5
0
1 2 3 4 5
PACIENTES OBSERVADOS

Hospital A Hospital B Linear (Hospital A) Linear (Hospital B)

Fonte: elaboração pela autora. Dados hipotéticos, 2021.

✔ DESVIO PADRÃO (DP – S ou 𝜎 )

O desvio padrão é uma medida que expressa o grau de dispersão de um conjunto de


dados ou variáveis. Isto é, indica o quanto um conjunto de uma amostra ou população
está uniforme. Quanto mais próximo de 0 for o desvio padrão, mais homogêneo são
os dados.

Um elevado desvio padrão significa que os valores amostrais estão distribuídos em


torno da média e tendem estar mais distante da mesma, enquanto que um desvio
padrão pequeno indica que as variáveis analisadas estão condensadas próximas à
média. Sumariamente pode-se dizer que quanto menor o desvio padrão, mais
homogênea é a amostra e a chance de encontrarmos atributos nesta amostra que sejam
bem próximos à realidade da população é grande.

A fórmula para o cálculo de DP (S) é:

39

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Onde: valor individual = xi / média amostral = x / número de amostras (participantes
observados) = n

Ao aplicamos a fórmula com os dados do Exemplo A, obtemos o seguinte resultado:

Desvio Padrão da amostra A:

S (A)2 = 2√ (21 – 27) 2 + (24 – 27) 2 + (27 – 27) 2 + (30– 27) 2 + (33 – 27)2 =

(5 – 1)

S (A) = 2√ (6)2 + (3)2 + (0)2 + (3)2 + (6)2 = 2√ 90

4 4

2
𝑆(𝐴) = √22,50 = 4,74

Desvio Padrão da amostra B:

S (B)2 = 2√ (15– 27)2 + (24 – 27) 2 + (29 – 27) 2 + (32– 27) 2 + (35 – 27)2 =

(5 – 1)

S (B) = 2√ (12)2 + (3)2 + (2)2 + (5)2 + (8)2 = 2√ 246 =

4 4

2
𝑆(𝐵) = √61,5 = 7,84

✔ VARIÂNCIA
As medidas de variação medem a tendência de distribuição de um conjunto de valores
em torno de um valor central que, geralmente, é a média. Portanto, as tendências
centrais podem não ser suficientes na descrição e discriminação de diferentes conjuntos
de dados. Consideremos ainda o Exemplo A:

40

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Hospital A Hospital B

Nº de dias de internação Nº de dias de internação

21 24 27 30 33 15 24 29 32 35

Média amostral = 27 dias de internação Média amostral = 27 dias de internação

Neste exemplo hipotético verifica-se que os 02 hospitais apresentaram a mesma


média [ 𝑥 (A) 𝑥 ( B )] = 27 dias de internações . A despeito disso, as médias
não são capazes de demonstrar as variações na distribuição dos dias de
internações (variável analisada) em cada grupo. Isto é, pesar de obterem as
mesmas médias, há também diferentes distribuições – variabilidades - entre os
conjuntos de dados. Por isso, é conveniente criar uma medida que sintetize a
variabilidade de uma série de valores e que nos permita comparar conjuntos
diferentes de valores.

A variância é a medida de dispersão mais frequentemente utilizada demonstrar a


variabilidade de uma série de valores/dados/variáveis coletadas, pois é capaz de medir a
concentração dos mesmos em torno de sua média.

Fórmula da Variância (𝑆 2 𝑜𝑢 𝜎 2 ):

A variância amostral (𝑆 2 ) de um conjunto mede o desvio médio dos valores individuais


em relação à média e pode ser obtida através da soma dos quadrados dos desvios em
relação à média (xi - 𝑥̅ )2, dividido pelo valor de observações menos 1 (n-1) - “n” é o
número de elementos do conjunto. Embora possa parecer complexa, a variância é
calculada de maneira simples:

41

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- Voltando ao exemplo:

Hospital A Hospital B

21 24 27 30 33 15 24 29 32 35

Média amostral = 27 dias de internação Média amostral = 27 dias de internação

𝑆 2 (A) = (21 – 27) 2 + (24 – 27) 2 + (27 – 27) 2 + (30– 27) 2 + (33 –27)2 = (6) 2 + (3) 2 + (0) 2 + (3) 2 = (6) 2

(5 – 1) 4

(36+ 9+0+9+36) = 90

4 4

𝑆 2 (A) = 22,5 dias

𝑆 2 (B) = (15 –27) 2 + (24 – 27) 2 + (29 – 27) 2 + (32– 27) 2 + (35 –27)2 = (12) 2 + (3) 2 + (2) 2 + (5) 2 = (7) 2

(5 – 1) 4

144+ 9+4+25+49) = 231

4 4
2
𝑆 (B) = 57,75 dias

A partir dos resultados podemos dizer que o grupo de pacientes internados observados
no Hospital A é mais homogêneo em comparação ao Hospital B.

- Como interpretar os resultados?

42

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No exemplo hipotético, nota-se que apesar das médias de internações terem sido iguais,
a variabilidade na distribuição dos dias de internação nos 05 (cinco) casos observados
foi diferente entre os 02 (dois) hospitais. Ou seja, os resultados nos possibilitam dizer
que o Hospital A obteve menor variação dos dias de internação. Isso pode estar
associado a inúmeros fatores que são objetos da investigação epidemiológica, tais
como:

a) Os pacientes pertenciam a grupos de diagnósticos diferentes, e não


padronizados em ambas as observações, o que pode ter interferido;

b) A idade do paciente e a consequente média podem interferir no prolongamento


da internação, pois, ora, a depender da fragilidade ou condição clínica, os mais
longevos teriam mais dificuldade para se reabilitar e receber a alta;

c) A estrutura hospitalar (número e tipo de profissionais disponíveis para o cuidado;


presença de protocolos clínicos e assistenciais para tratamento de determinados
grupos de doentes), etc.

✔ COEFICIENTE DE VARIAÇÃO (CV)

O coeficiente de variação é usado para expressar a variabilidade dos dados estatísticos


excluindo a influência da ordem de grandeza da variável. Em resumo esta estimativa
pode ser utilizada para identificar se um desvio-padrão é pequeno ou grande – e isso
depende da ordem de grandeza da variável analisada.

O CV é interpretado como a variabilidade dos dados em relação à média. Quanto menor


o seu resultado, mais homogênea é a amostra ou conjunto de dados. Trata-se de um
valor que assume o mesmo caráter do atributo que é mensurado na média. Por exemplo:
seu cálculo será positivo se a média for positiva; será zero quando não houver
variabilidade entre os dados e, negativo se a média for negativa. Usualmente é
expresso em porcentagem (%), indicando o percentual que o desvio padrão é
menor ou maior do que a média.

43

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- Fórmula da Variância (𝐶𝑉):

̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑆
𝐶𝑉 =
𝑋̅
Aplicando a fórmula às amostras A e B do mesmo exemplo:

CVA= 4,74 CVA = 17,55% CVB = 7,846 CVB= 29,04%

27 27

Perguntas para refletir: Qual CV foi maior? O que isso significa?

✔ OUTRAS APLICAÇÕES DAS MEDIDAS DE DISPERSÃO

Veja a interpretação desses estimadores considerando o exemplo das amostras A e B


a seguir:

- Amostra A

Tabela da amostra A: N° de dias de afastamento por licenças de militares da ativa, na Unidade “X”,
homologadas no dia 25 de maio de 2020.

Militares com Homologações ao Dia TOTAL

A B C D E F G H 08 militares

Nº de dias de 3 4 7 11 13 14 14 17 83 dias
afastamento

Nota: dados meramente hipotéticos, não alusivos a qualquer correlação entre indivíduos.

Média= 83 / 08 = 10,37 dias. Considerado valor aproximado: Média = 10 dias.

Para calcular o Desvio Padrão (S) é necessário aplicar os valores encontrados na


fórmula:

44

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Onde: valor individual = xi / média amostral = 𝑥 / número de amostras (participantes
observados) = n

Tem-se:

S = (3 – 10)2 +(4 – 10)2 + (7– 10)2 + (11– 10)2 + (13– 10)2 + (14– 10)2 + (14– 10)2 + (17– 10)2

(8-1)

S = (-7)2 +(- 6)2 + (– 3)2 + (1)2 + (3)2 + (4)2 + (4)2 + (7)2

(8-1)

S = 49 + 36 +9 + 1 + 9 +16 + 16 + 49 = S = 185 / 7 = 26,42

2
𝑆 = √26,42 = 5,14

● Grupo A: Média = 10 dias (DP = + 5,14 dias).

● Desvio Padrão (S) = 5,14 dias

● Variância = (5,14) 2 = 26,42

● Coeficiente de Variação = 5,14 / 10 = 0,51

Amostra B

Tabela da amostra B: N° de dias de afastamento por licenças de militares da ativa, na Unidade “Y”,
homologadas no dia 25 de maio de 2020.

Militares com Homologações ao Dia TOTAL

A B C D E F G H 08 militares

Nº de dias de 4 6 6 8 10 14 15 18 50 dias
afastamento

Nota: dados meramente hipotéticos, não alusivos a qualquer correlação entre indivíduos.

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Média = 81 dias / 8 (n) = 10,12 ------ Média = 10 dias (método de arredondamento)

Desvio Padrão (S):

(4 – 10)2 +(6 – 10)2 + (6– 10)2 + (8– 10)2 + (10– 10)2 + (14– 10)2 + (15– 10)2 + (18– 10)2

(8-1)

S = (-6)2 +(- 4)2 + (– 4)2 + (-2)2 + (0)2 + (4)2 + (5)2 + (8)2

(8-1)

S = 36 + 16 +16 + 4 + 0 +16+ 25 + 64 = S = 177 / 7 = 25,28

2
𝑆 = √25,28 = 5,02

● Grupo B: Média = 10 dias (DP = + 5,02 dias).

● S = 5,02.

● Variância = (5,02) 2 = 25,28.

● Coeficiente de Variação = 5,02 / 10 = 0,50

- Interpretação dos dados:

Nota-se nos exemplos em questão que a dispersão dos dados a partir da média foi
considerável, para ambas as amostras (S = 5,14 dias e S = 5,02 dias). Isto é, em ambos
os grupos observados, encontrou-se uma mesma média (10 dias) de afastamento
relacionado aos grupos de CID´s para COVID-19, mas com variabilidade distinta partir
da média entre os grupos (Grupo B discretamente menos heterogêneo em comparação
ao grupo A).

Como o desvio padrão demonstra o quão confiável é o valor a partir da média, e, neste
caso, houve um elevado desvio padrão, pode-se inferir que ambas as amostras são bem
heterogêneas, mas entre elas, a que representa maior dispersão dos dados é o grupo
“A”.

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O Coeficiente de Variação também demostra de forma mais sensível a variabilidade
dos dados, excluindo-se a influência da ordem de grandeza entre as amostras. Reforça
a heterogeneidade da amostra, havendo, portanto, uma elevada dispersão entre os
resultados observados nos indivíduos de cada grupo, mas sendo ligeiramente (1%)
maior no grupo “A”.

Tipos de amostras

As análises de dados da saúde são subsidiadas por conceitos da Bioestatística que


envolve especialmente aspectos sobre as formas de amostragem. Neste sentido, não
basta que saibamos descrever convenientemente os dados de uma amostra e que
dominemos perfeitamente as técnicas estatísticas para que possamos executar, com
êxito, um trabalho estatístico completo. (SOARES e SIQUEIRA,2020). Inicialmente é
preciso garantir que a amostra ou amostras que serão utilizadas sejam obtidas por
processos adequados.

Se erros forem cometidos durante a amostragem da população – seleção dos elementos


da amostra -, provavelmente os resultados finais serão incorretos. Deve-se, portanto,
tomar especial cuidado quanto aos critérios que serão usados na seleção da amostra.

Os problemas de amostragem podem ser mais ou menos complexos, a depender das


populações e das variáveis que se deseja estudar. Como exemplo, pode-se citar os
processos industriais e empresariais, amostras são frequentemente retiradas para efeito
de controle da qualidade dos produtos e materiais. Neste caso, problemas de
amostragem são mais simples de resolver. Por outro lado, em pesquisas das áreas da
saúde, ciências sociais, econômicas ou de opinião, a complexidade dos problemas de
amostragem é normalmente grande.

É necessário garantir que a amostra seja representativa da população a ser estudada.


Isso significa que, a menos de certas discrepâncias inerentes à aleatoriedade - sempre
presente em maior ou menor grau -, a amostra deve possuir as mesmas características
gerais encontradas na população. Ou seja, por meio dos resultados da amostra, e
através de uma metodologia de amostragem adequada, controle de erros sistemáticos
47

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(vieses), é possível generalizar dados daquela amostra para a população à qual ela se
vincula – pressuposto da chamada “inferência estatística”.

A obtenção de soluções adequadas para o problema de amostragem exige, em geral,


muito bom senso e experiência. Além disso, muitas vezes torna-se conveniente que o
trabalho do estatístico seja complementado pelo do pesquisador, epidemiologista ou
especialista da área investigada.

48

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População x Amostra

População: Conjunto de objetos que apresenta, ao menos, uma característica em comum.

Amostra: Parte da população. A principal característica de uma amostra é sua


representatividade da população.

Unidade amostral: Varia em função do interesse da pesquisa. Em Psicologia, quase sempre


é um indivíduo, mas é possível ser uma família, uma empresa, etc.

Característica populacional: Aspecto de interesse a ser acessado ou medido.

Censo: Pesquisa em que todos os elementos da população são acessados.

Erro amostral: Diferença entre o resultado obtido na amostra e o valor verdadeiro


populacional.

Distribuição Amostral

É a distribuição de probabilidades associada à estatística, considerando todas as amostras


possíveis, de mesmo tamanho, colhidas da mesma população, mas de forma independente.

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Teorema do Limite Central (TLC)
Essa teoria é utilizada para explicar a tendência da
distribuição amostral das médias das amostras.

Neste caso, a distribuição das médias em distintas


amostras, tende a se tornar mais próxima (ou normal)
em relação à média da população que se estuda. Desta
forma, o gráfico com os valores das médias encontradas
nas várias amostras, terá formato de “sino” (curva
simétrica em torno do seu ponto médio). Essa
aproximação melhora à medida que aumentamos o
tamanho das amostras aleatórias - utilizadas para
produzir a distribuição amostral.

Distribuição normal (também conhecida como


distribuição gaussiana).

Fonte: Elaboração da autora, 2021. Imagens extraída do site: google imagens.

Conceitos importantes para a análise da Distribuição Amostral

✔ Lei dos grandes números:

Selecione observações ao acaso de qualquer população com média µ. À medida que o


número de observações selecionadas aumenta, a média da amostra se aproxima cada vez
mais da média populacional;

✔ Características das Distribuições Normais:

▪ Forma simétrica ou de “sino”.


▪ Média e mediana (podendo também a moda) são iguais; localizadas no centro da
distribuição.
▪ Aproximadamente 68% dos dados estão dentro do intervalo de valores de 01 (um)
desvio padrão da média.
▪ Aproximadamente 95% dos dados estão dentro do intervalo de valores de 02 (dois)
desvios padrão da média.

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▪ Aproximadamente 99,7% dos dados estão dentro do intervalo de valores de 3 (três)
desvios padrão da média.

Fonte: Elaboração da autora, 2021. Imagens extraída do site: google imagens.

- Porque amostrar uma população?


Natureza particular de certos testes (tempo de validade, necessidade de
repetição da aplicação);
A impossibilidade física de checar todos os itens na população;
O custo de estudar todos os itens em uma população é frequentemente
proibitivo (elevado tempo e contingente de indivíduos para a coleta de
dados);
Muitas vezes as estimativas baseadas em uma amostra são mais precisas
do que os resultados obtidos através de um levantamento censitário (em
toda a população);
Tempo muito elevado para a apuração de resultados em censos.

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- Amostragem probabilística

Há dois tipos de amostragem: a PROBABILISTICA e a NÃO PROBABILÍSTICA. A


amostragem será probabilística se todos os elementos da população tiverem
probabilidade conhecida - e diferente de zero - de pertencer à amostra; do contrário, a
amostragem será não probabilística.

Segundo essa definição, a amostragem probabilística implica um sorteio com regras


bem determinadas, cuja realização só será possível se a população for finita e
totalmente acessível. Embora as técnicas de inferência estatística pressuponham que
as amostras utilizadas sejam probabilísticas, muitas vezes isso não é possível por
inúmeras razões (recusa de participação na pesquisa, perda da variável observada ao
longo da pesquisa – a exemplo de impossibilidades clínicas ou óbito do paciente; etc.).

A utilização de uma amostragem probabilística deve garantir a representatividade da


amostra, pois o “acaso” será o único responsável por eventuais discrepâncias entre
população e amostra, o que é levado em consideração pelos métodos de análise da
Estatística Indutiva (ou Inferência Estatística).

A seguir são descritas algumas das principais técnicas de amostragem probabilística.

- Amostragem Probabilística Aleatória Simples (AAS)

Esse tipo de amostragem, também chamada simples ao acaso, aleatória, casual,


simples, elementar, randômica, etc., é equivalente a um “sorteio lotérico”. Nela, todos
os elementos da população têm igual probabilidade de pertencer à amostra, e todas as
possíveis amostras têm também igual probabilidade de ocorrer.

Sendo N o número de elementos da população e n o número de elementos da amostra,


cada elemento da população tem probabilidade n/N de pertencer à amostra. A essa
relação n/N denomina-se fração de amostragem. Por outro lado, sendo a amostragem

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feita sem reposição, a suposição que fazemos em geral, é que existem (n) possíveis
amostras, todas igualmente prováveis.

Na prática, a amostragem simples ao acaso (ou aleatória simples) pode ser


realizada numerando-se a população de 1 a N, sorteando-se, a seguir, por meio de um
dispositivo aleatório qualquer, “n” números dessa sequência, os quais corresponderão
aos elementos sorteados para a amostra. Um instrumento útil para realizar esse tipo de
sorteio é a tabela de números ao acaso. Tal tabela é simplesmente constituída por
inúmeros dígitos que foram obtidos por algum processo equivalente a um sorteio.

A chave para uma seleção de amostra adequada na AAS é obter e manter uma lista
atualizada de todos os indivíduos ou itens a partir dos quais a amostra será extraída.
Tal lista é conhecida como a estrutura de população (universo) ou simplesmente
população. A lista da população irá servir como população-alvo, de modo que se muitas
amostras probabilísticas diferentes forem retiradas desta lista, é de se esperar que cada
amostra seja a representação em miniatura da população e que ela produza estimativas
razoáveis de suas características.

A desvantagem deste método é que se a lista contida na população de interesse for


inadequada porque certos grupos de indivíduos ou itens na população não foram
incluídos de forma apropriada, as amostras de probabilidade aleatórias irão apenas
oferecer estimativas das características da população-alvo (e não da verdadeira
população), e os resultados sofrerão tendenciosidade.

Dois métodos básicos poderiam ser utilizados para selecionar a amostra: a


amostra poderia ser obtida com reposição ou sem reposição da população finita. O
método aplicado deve ser claramente estabelecido, uma vez que várias formas
utilizadas posteriormente com o propósito de inferência estatística são dependentes do
método de seleção.

Na amostragem com reposição, a chance de que um membro em particular da


população seja selecionado na primeira retirada (ou sorteio) é de 1/N.
Independentemente de quem seja selecionado na primeira retirada, informações
pertinentes são registradas num arquivo principal, e então este cartão/ficha de
informações do membro sorteado é recolocado na cesta (ou qualquer outro dispositivo

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que contenha a população - programas de computador, roleta de números, etc). Essa é
a base da amostragem com reposição.

Os N cartões na cesta/caixa, programa computacional são então bem


embaralhados/distribuídos e o segundo cartão/ficha é retirado. Uma vez recolocado o
primeiro cartão, a chance de seleção de cada membro em particular na segunda retirada
incluindo aquele primeiro indivíduo, independentemente de ele ter sido previamente
selecionado é ainda 1/N. Novamente, as informações pertinentes são registradas num
arquivo principal e o cartão é recolocado para se preparar para a terceira retirada. Tal
processo é repetido até que n vezes que o tamanho amostral desejado seja alcançado.
Assim, ao realizar amostragem com reposição, cada indivíduo ou item, em cada retirada,
terá sempre a mesma chance l/N de ser selecionado.

A reposição de amostras em pesquisas da saúde

Ao compor amostras com seres humanos, é em geral mais apropriado ter uma amostra
com pessoas diferentes do que permitir medições repetidas da mesma pessoa. Assim
sendo, empregaríamos o método de amostragem sem reposição, de modo que, uma
vez retirado determinado indivíduo, o mesmo não poderia ser selecionado novamente.

Ao fazer amostras sem reposição a chance de que qualquer membro da população seja
selecionado na primeira retirada da cesta é de 1/N. Quem quer que seja selecionado,
as informações pertinentes são registradas em um arquivo principal, e então o cartão
específico é colocado de lado, em vez de recolocado na cesta (amostragem sem
reposição). Os N-1 cartões remanescentes na cesta são então bem embaralhados e o
segundo cartão é retirado.

A chance de qualquer indivíduo não selecionado previamente ser escolhido na segunda


retirada é agora de 1 sobre N-1 (1/ N-1). Este processo de selecionar um cartão, registrar
a informação em um arquivo principal, embaralhar os cartões remanescentes e então
retirar novamente continua até que seja obtida a amostra desejada de tamanho n.

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- Amostragem Aleatória Sistemática (AAS)

Quando os elementos da população se apresentam ordenados e a retirada dos


elementos da amostra é feita periodicamente, e sob uma metodologia previamente
determinada, temos uma amostragem sistemática. Assim, por exemplo, em uma clínica
de exames laboratoriais, para avaliar a calibração dos resultados de exames
encontrados, podemos, a cada 10 (dez) exames/laudos realizados, extrair 1 (um) para
pertencer a uma amostra da análise diária.

Para melhor compreensão, considere o exemplo: N = 800 (população – total de exames


realizados ao dia), n (amostras de exames no dia de avaliação) = 40. Em seguida é
necessário ordenar os valores de 20 em 20 observações, pois ao dividirmos a população
pela amostra realizada (800/40 = 20), temos uma chance a cada 20 observações de
pertencer à amostra. Assim, o primeiro elemento sorteado para a amostra estaria
contido no intervalo de exames de 01 a 20; e os demais elementos seriam
periodicamente retirados de 20 em 20 (21 a 41, 42 a 62...etc.).

De modo semelhante, a amostra poderia ser coletada através de uma matriz de dados
com os números/códigos dos exames dispostos em uma matriz com 40 linhas e 20
colunas. Neste caso, dever-se-à sortear uma coluna, cujos números indicariam os
elementos da amostra. Nesse caso, cada elemento da população ainda teria
probabilidade 40/800 de pertencer à amostra, porém existem agora apenas 20 colunas
que contém as amostras (40 códigos), que com as mesmas chances de serem
sorteadas.

A amostragem sistemática é popular entre os pesquisadores devido à sua simplicidade.


Neste método de amostragem, geralmente é possível assumir que os resultados são
representativos da maioria das populações “normais”, a menos que uma característica
aleatória exista desproporcionalmente com cada “n” da amostra de dados (o que é
improvável).

A vantagem da amostragem sistemática está na grande facilidade na determinação dos


elementos da amostra. Elas são relativamente fáceis de construir, executar, comparar
e entender, por isso é amplamente utilizada em estudos ou pesquisas que operam com

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restrições orçamentárias. Por outro lado, a desvantagem desse método amostral é,
a possibilidade de semelhança ou coincidência nas características ou opiniões
entre os elementos dos grupos selecionados devido a sequência escolhida, mas
esse problema pode ser facilmente resolvido se os grupos divididos forem
previamente estudados e separados com um peso proporcional, dessa forma,
características favoreceram a representatividade no estudo e então a amostragem
sistemática terá efeitos equivalentes à causal simples, podendo ser utilizada sem
restrições.

Um exemplo dessa situação poderia ser: estudo sobre a importância de acessibilidade


nos serviços de saúde levando com consideração uma amostra de adultos acima de 40
anos até idosos com idades iguais ou maiores a 80 anos e o “sistema” amostral
considerando pessoas nas faixas etárias com “saltos” a cada 10 anos. Nesse caso
poderia haver “coincidência” nas respostas, pois a possibilidade de encontrar pessoas
com necessidades de apoio à mobilidade ou com funcionalidade comprometida seria
considerável tendo em vista que a população tem uma faixa etária mais elevada.

Por isso, é imprescindível conhecer a população e ter acesso aos atributos da mesma
para melhor delineamento amostral.

- Amostragem Probabilística por Conglomerados (AC)

Quando a população apresenta uma subdivisão ou grupos, chamados conglomerados,


é possível - e muitas vezes conveniente - recorrer à amostragem por meio desses
conglomerados.

Diferente das amostras probabilísticas anteriormente apresentadas, que selecionam


primeiro o indivíduo, a amostra por conglomerados tem como fase inicial a seleção de
um grupo (cidade ou estado em um país) para compor a amostragem.

Em simples palavras, esse método consiste em sortear um número suficiente de


conglomerados (grupos ou estratos), cujos elementos constituirão a amostra. Desse
modo, a amostra é realizada em mais de uma etapa, sendo no primeiro estágio, os
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grupos (ou conglomerados) são definidos e no segundo ou mais estágios os indivíduos
com as características de interesse na pesquisa que são sorteados. Ou seja, as
unidades de amostragem, sobre as quais é feito o sorteio, passam a serem os
conglomerados e não mais os elementos individuais da população.

O número de etapas de uma amostra por conglomerados varia de acordo com o tipo de
estudo/pesquisa e o quanto o universo estudo deve ser dividida de forma a auxiliar a
investigação. Quanto maior e mais heterogênea uma população, mais divisões se
tornam necessárias.

Para simplificar pode-se dizer que a amostragem por conglomerados se traduz no


sorteio de unidades compostas de subunidades, que vão sendo selecionadas em cada
estágio até chegar ao objeto de interesse da pesquisa. Por exemplo, no Brasil podem-
se selecionar no primeiro estágio os setores censitários (definidos pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE) denominados de unidades primárias de
seleção. No segundo estágio, dentro dos setores selecionados, os domicílios (que
podem ser selecionados por saltos de números das casas), e no último o indivíduo (sexo
e faixa etária, etc) com as características que se deseja pesquisar.

Esse, é o método de amostragem mais frequente empregado nos estudos ecológicos


(inquéritos de base populacional), pois além da facilidade de aplicação, tem a vantagem
de contribuir para a redução da variância entre as unidades de seleção.

- Amostragem Probabilística Estratificada (AE)

Muitas vezes a população se divide em subpopulações ou estratos, sendo razoável


supor que, de estrato para estrato, a variável de interesse pode apresentar um
comportamento substancialmente diverso, tendo, entretanto, comportamento
razoavelmente homogêneo dentro de cada estrato. Em tais casos, se o sorteio dos
elementos da amostra for realizado desconsiderando a existência dos estratos, pode
acontecer que os diversos estratos não sejam convenientemente representados na
amostra, e, consequentemente, estaria influenciada pelas características da variável
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nos estratos mais favorecidos pelo sorteio. Evidentemente, a tendência da ocorrência
de tal fato será tanto maior quanto menor o tamanho da amostra. Para evitar isso, pode-
se adotar uma amostragem estratificada.

Esse método é recomendado quando a população estudada é heterogênea e pode ser


dividida em estratos (subgrupos homogêneos) de modo que a amostra extraída da
população tenha em cada estrato uma proporção de indivíduos igual ou semelhante à
proporção na população. Por exemplo, a população de uma região pode ser dividida em
faixas etárias e uma amostra da população pode ser extraída de tal modo que a
proporção de pessoas em cada faixa etária seja semelhante à proporção de pessoas
naquela faixa etária na população de interesse.

Constituem outros exemplos em que uma amostragem estratificada parece ser


recomendável a estratificação de uma cidade em bairros, quando se deseja investigar
alguma variável relacionada à renda familiar; a estratificação de uma população humana
em homens e mulheres, a estratificação de uma população de estudantes conforme
suas especializações, etc.

Geralmente a AE pode ser classificada em 03 (três) tipos, a saber:

a) Amostragem estratificada uniforme: sorteio de um número igual de elementos


em cada estrato;
b) Amostragem estratificada proporcional: o número de elementos sorteados
em cada estrato é proporcional ao número de elementos existentes no estrato.
Evidentemente, a amostragem estratificada uniforme será, em geral,
recomendável se os estratos da população forem pelo menos aproximadamente
do mesmo tamanho; caso contrário, será em geral preferível a estratificação
proporcional, por fornecer uma amostra mais representativa da população;
c) Amostragem estratificada ótima: elege em cada estrato, um número de
elementos proporcional ao número de elementos do estrato e também à variação
da variável de interesse no estrato, medida pelo seu desvio padrão.

A principal vantagem da amostra estratificada, em relação aos outros métodos de


amostragem, é o aumento da representatividade que ela gera por possibilitar uma
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estratificação do universo (população). Isso porque, a divisão de grupos realizada na
primeira etapa permite que as diferentes respostas ou opiniões possíveis em uma
pesquisa possam aparecer de forma proporcional e representativa.

- Amostragem Não Probabilística (ANP)

Amostras não probabilísticas são também, muitas vezes, empregadas em trabalhos


estatísticos, por simplicidade ou por impossibilidade de se obterem amostras
probabilísticas, como seria desejável.

Como em muitos casos, os efeitos da utilização de uma amostragem não probabilística


podem ser considerados equivalentes aos de uma amostragem probabilística, e têm
também sua importância.

Em alguns casos, o pesquisador poderá recorrer à ANP, tendo em vista alguns


dificultadores, tais como:

a) Inacessibilidade a toda a população: essa situação ocorre com muita frequência


na prática. Surge aqui, portanto, uma distinção entre população-objeto e população
amostrada. A população-objeto é aquela que temos em mente ao realizar a
pesquisa; ocorre que se apenas uma parte dessa população, porém, estiver
acessível, será dela que retiramos a amostra. Essa parte é a população amostrada.
E, se as características da variável de interesse forem as mesmas na população-
objeto e na população amostrada, então esse tipo de amostragem é equivalente a
uma amostragem probabilística.

b) Incertezas quanto aos limites da população: O presente caso de amostragem


não probabilística pode ocorrer também quando, embora se tenha a possibilidade
de atingir toda a população, retiramos a amostra de uma parte que seja prontamente
acessível. Assim, se fôssemos colher uma amostra de pacientes com febre amarela
não haveria certeza de quantos pacientes poderiam vir a ser detectados, em um
determinado tempo e espaço.

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- Amostragem Não Probabilística por Conveniência

Esta técnica de amostragem é muito comum na pesquisa clínico-epidemiológica


(descrita no próximo capítulo da apostila). Ela consiste em formar uma amostra da
população a partir de itens que estejam mais facilmente disponíveis. Ou seja, como
exemplo pode-se citar amostras obtidas simplesmente por meio de identificação de um
número de pacientes que atendem aos critérios para inclusão em um estudo.

- Amostragem Não Probabilística a “esmo” ou sem norma

A amostragem em que o amostrador, para simplificar o processo procura ser aleatório


sem, no entanto, realizar propriamente o sorteio usando algum dispositivo aleatório
confiável.

Por exemplo: retirar uma amostra de 10 avaliações de ouvidoria em um serviço de


saúde, cuja média de avaliações diárias é igual a 100 avaliações, por meio de extração
dos papéis de avaliação simplesmente a esmo.

Os resultados da amostragem a esmo serão, em geral, equivalentes aos de uma


amostragem probabilística se a população é homogênea e se não existe a possibilidade
de o amostrador ser inconscientemente influenciado por alguma característica dos
elementos da população.

- Amostragem Não Probabilística Intencional

Enquadram-se aqui os diversos casos em que o pesquisador deliberadamente escolhe


certos elementos para pertencer à amostra, por julgar tais elementos bem
representativos da população.

Ao exemplo desse método pode-se citar: uma pesquisa que busque identificar as
dificuldades do serviço operacional para policiais militares em áreas de risco. Neste
caso, o objeto principal de análise requer que intencionalmente sejam selecionadas

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policiais femininas, que atuem em agrupamentos policiais específicos, em exercício
frequente nesta modalidade.

O perigo desse tipo de amostragem é obviamente grande, pois o analista estatístico ou


pesquisador pode facilmente se equivocar em seu pré-julgamento. Apesar disso, o uso
de amostragens intencionais, ou parcialmente intencionais, é bastante frequente,
ocorrendo em vários tipos de situações reais que poderíamos tentar identificar e
classificar. Não o faremos, porém, por fugir à nossa finalidade neste texto.

Cuidados com a pesquisa epidemiológica

- Sub abrangência: Quando alguns grupos da população são deixados fora do


processo de escolha da amostra. Neste caso não será possível generalizar os
achados da amostra para um a população.
- Impossibilidade de coleta da informação na amostra: quando não houver
meios de se obter a observação da característica de interesse; exemplo:
indivíduo escolhido para integrar a amostra não pode ser contatado ou se recusa
a cooperar.
- Erro amostral: é a diferença entre o resultado amostral e o verdadeiro resultado
populacional; tais erros resultam de flutuações amostrais aleatórias. Os erros
amostrais ocorrem única e exclusivamente em função do número de elementos
da amostra e do processo de seleção desses elementos.
- Erros não amostrais: são os cometidos durante o processo de pesquisa de
marketing que não sejam oriundos do tamanho e do processo de seleção da
amostra. Não são mensuráveis e tendem a crescer com o aumento do tamanho
da amostra.

Ex. 1: escolha de amostra não aleatória e tendenciosidade;

Ex. 2: utilização de instrumentos de mensuração defeituosos;

Ex. 3: examinadores não “calibrados” ou previamente treinados para aplicação


do questionário ou medição dos dados clínicos;

61

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Ex. 4: possibilidade de não haver uma alternativa que se aplique ao “n” da
amostra;

Ex. 5: materiais com nível de informação inadequado para a pesquisa;

Ex. 6: definição errada da população de pesquisa.

- Variáveis de análise (questões) mal formuladas: confusas ou dirigidas podem


introduzir viés (tendência) aos resultados, uso de questionários não validados à
cultura; modificações na composição das perguntas que podem induzir o
resultado da pesquisa.

Etapas envolvidas no processo de amostragem

A. Identificação da população-alvo;

B. Determinação da estrutura da amostra;

C. Seleção do procedimento de amostragem e determinação do tamanho relevante da


amostra;

D. Calibração dos instrumentos de coleta das variáveis;

E. Coleta de dados: obtenção de informações sobre os respondentes;

F. Tratamento em caso de perdas amostrais - problema de não resposta;

H. Análise dos resultados e comparações com estudos semelhantes;

I - Geração de informação para propósito de tomada de decisão.

62

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PRINCÍPIOS
PRINCÍPIOS DE
DE
EPIDEMIOLOGIA
EPIDEMIOLOGIA
APLCIADOS
APLICADOS AOS
AOS
4. Estudos Epidemiológicos SERVIÇOS
SERVIÇOS DE
DE SAÚDE
SAÚDE

Os estudos epidemiológicos aplicam-se às populações inteiras ou em suas


amostras para, a partir dos indicadores de saúde e outros dados
epidemiológicos construídos, analisar as informações geradas através de métodos
estatísticos, realizar o diagnóstico de saúde, subsidiar medidas de promoção da
saúde e prevenção de doenças coletivamente (MEDRONHO, 2005;
ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 2003).

Logo, a capacidade de aplicar o método epidemiológico é uma habilidade


fundamental para todos os trabalhadores de saúde que tenham como
objetivo reduzir doenças, promover saúde e melhorar os níveis de saúde da
população, especialmente para gestores que necessariamente precisam
compreender as especificidades de uma área do conhecimento tão abrangente.

Aplicações dos estudos Epidemiológicos

Como visto nos capítulos anteriores, as aplicações principais da Epidemiologia são:

a) Descrever as condições de saúde da população: que pode ser através das


causas de internações e mortalidade em bancos de dados oficiais da Secretaria
de Vigilância à Saúde no SUS (Ministério da Saúde; Secretarias Estaduais e
Municipais de Saúde);
b) Identificar fatores determinantes da situação de saúde: analisados como
“fatores de risco” para o desenvolvimento de doenças e/ou agravos. Podem ser
63

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de caráter social (uso de cigarros, bebidas alcoólicas, horas de sono, etc);
microbiológico (compartilhamento de seringas e infecção por Hepatites e HIV)
ou comportamental (uso de segurança e ocorrência de acidentes de trânsito; uso
de redes sociais e ocorrências de transtorno de ansiedade; etc).

c) Avaliar o impacto das ações e políticas de saúde: através de programas de


saúde ou estratégias que atuem sobre determinados e conhecidos fatores de
riscos associados às doenças (ex. vacinação contra a Gripe – vírus influenza e
redução das taxas de pneumonia em idosos; vacinação infantil e redução de
doenças infectocontagiosas da infância; vacinação contra a COVID-1 e redução
nas taxas de transmissão da doença, internações hospitalares e óbitos; etc).

Conforme definição trabalhada, a Epidemiologia é definida como o estudo da


distribuição e dos determinantes das doenças ou condições relacionadas à saúde em
populações determinadas. Incorporada à essa definição, os estudos epidemiológicos
proporcionam a aplicação da vigilância e análises para controlar problemas de saúde,
considerando:

a) Distribuição dos eventos (agravos/doenças): que devem ser analisados tempo,


local e características dos indivíduos;
b) Determinantes para a ocorrência do evento: são todos os fatores físicos,
biológicos, sociais, culturais e comportamentais que influenciam a saúde.
c) Condições relacionadas à saúde: incluem doenças, causas de mortalidade,
hábitos de vida (como tabagismo, dieta, atividades físicas, etc.), provisão e uso de
serviços de saúde e de medicamentos;
d) Populações alvo: são aquelas com características identificadas, como, por
exemplo, determinada faixa etária em uma dada população; sexo; tipo de trabalho;
etc.

Com o fulcro de melhor entendimento quanto à classificação dos estudos


epidemiológicos, cumpre ressaltar que as variáveis analisadas nestes estudos – para
além da classificação a presentada no capítulo 03 desse material didático - podem ser
categorizadas em independentes ou dependentes, de modo a considerar a existência

64

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de relação entre elas. Geralmente, a variável dependente varia em função da
independente e nos estudos epidemiológicos consideramos:

- Variável Dependente: também chamada variável resposta, ou explicada eu é


o efeito, doença/agravo, dano avaliado no estudo;
- Variável Independente: também chamada de variável preditora; é aquela que
produz a mudança no estado de saúde/doença, ou seja, o fator de risco ou a
exposição eu explica a ocorrência do desfecho doença/agravo, efeito, etc.).

Observe alguns exemplos de variáveis com essa classificação:

ESTUDOS DE CORRELAÇÃO ENTRE CÂNCER E TABAGISMO

Variável (is) independente(s): Variável (is) dependente(s):

 Resultado histopatológico ou
 Tabagismo
exame de imagem para
adenocarcinoma de pulmão.

ESTUDOS DE CORRELAÇÃO ENTRE ALIMENTAÇÃO E HIPERTENSÃO


ARTERIAL

Variável (is) independente(s): Variável (is) dependente(s):

 Elevação persistente dos níveis


 Consumo de sal aumentado;
pressóricos em estágios
 Hipercolesterolemia;
 Fatores genéticos.

A relevância desta classificação está no fato de que, de tal maneira, a mensuração


previne ou minimiza erros de aferição – por meio de medidas, dosagens ou perguntas
em questionários apropriados - a fim de se evitar erros aleatórios ou sistemáticos de
precisão ou acurácia nas pesquisas epidemiológicas, proporcionando a validade dos
resultados do estudo e consequente generalização (inferência) para a população geral.

É necessário compreender também alguns possíveis erros que influenciam os


resultados em pesquisas epidemiológicas, quais são:
65

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


- Erros Aleatórios (indeterminado):

Manifestam-se na forma de pequenas variações nas medidas de uma amostra.


São consequência de fatores para os quais o analista não possui controle e, na
maioria dos casos, não podem ser controlados. Para amenizar a ocorrência de
erros aleatórios, pode-se aumentar o tamanho da amostra, pois quanto maior
o número de medidas, mais os valores medidos se distribuem
(aproximadamente) simetricamente em torno da média.

- Erros Sistemáticos (tendenciosos):

São decorrentes de falhas na execução de uma pesquisa (erro do método,


falha de um equipamento, reagente ou erro grosseiro). Neste caso, os
resultados encontrados terão sua exatidão ou precisão comprometidas. Para
diminuir a ocorrência de erros sistemáticos é necessário utilizar métodos com
boa acurácia e precisão, além de aumentar o tamanho da amostra.

Viés  erro sistemático associado à análise

ACURÁCIA PRECISÃO
Corresponde à capacidade de um determinado Corresponde ao grau de variação gerado por
método ou instrumento em captar o evento diferentes medições, de tal modo que quanto mais
(variável ou fator de observação) desejado. preciso um processo/instrumento de pesquisa ou
Assim, quanto mais acurado o instrumento de método, menor será a variação entre os valores
medição, mais próximo está o resultado da resultantes. Ou seja, quanto mais próximo os
medida do valor tido como verdadeiro ou de resultados de uma medição em cada observação,
referência. mais preciso e o instrumento utilizado.
A precisão tem como base o desvio-padrão de uma
série de repetições da mesma análise (baixos
desvios-padrões correspondem a uma elevada
precisão).
A ausência de precisão é consequência de erros
aleatórios, decorrentes de variabilidade do aferidor,
do instrumento e do sujeito da pesquisa.
66

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ACURÁCIA X PRECISÃO

TESTES PARA AFERIR ACURÁCIA EM SAÚDE TESTES PARA AFERIR PRECISÃO EM SAÚDE
Medida de sensibilidade, especificidade de um Medida da reprodutibilidade/repetibilidade (índice
teste diagnóstico, valores preditivos positivos e Kappa – K), análise de confiabilidade ou
negativos, área sob a curva (ROC), razão das consistência interna de um método (alfa de
chances de diagnóstico, etc. cronbach, KR-21, etc).

- Exemplo: O estudo de Dantas, Oliveira e Lage (


- Exemplo: O teste de polymerase chain reaction
2017) que adaptou e avaliou as propriedades
em tempo real (RT-PCR) para identificação de
SARS-CoV-2 é um teste de elevada sensibilidade e psicométricas da Escala Triagem de
especificidade (86% e 96%) e, por isso padronizado Vulnerabilidade ao Abuso (Vulnerability to Abuse
em muitos serviços de saúde como padrão de Screening Scale – VASS) utilizada para identificar
exame diagnóstico para a COVID-19. 12 risco de violência doméstica contra idosos no Brasil,
demonstrou elevada reprodutibilidade devido à alta
confiabilidade do instrumento (Kp = 0.92); boa
consistência interna do escore geral da VASS (KR-
20 = 0,69), e melhor confiabilidade entre o índice
global da VASS e o instrumento semelhante que o
originou (HS EAST), tanto no contexto de origem
quanto no contexto brasileiro ( valores da VASS
superiores - α = 0,29 e KR-20 = 0,64)13.
Fonte: Elaboração da autora. Imagens extraídas do google imagens, 2021. Para apoio e melhor compreensão do conteúdo leia o
artigo disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/59/o/Modulo2-Avaliacaodetestesdiagnosticos.pdf>.

ACURÁCIA E PRECISAO SÃO DIMENSÕES IMPORTANTES PARA


AVALIAR A CONFIABILIDADE DO MÉTODO

12 Veja maiores detalhes em: https://amb.org.br/wp-content/uploads/2020/09/RT-PCR-NA-


INFEC%C3%87%C3%83O-POR-COVID-19-FINAL-14.07.2020.pdf
13 Veja o artigo na íntegra em:
https://www.scielo.br/j/rsp/a/LTgRGnPdkj7FfJrvT8Jz5Jg/?format=pdf&lang=pt
67

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A calibração de um teste em saúde pode ser definida como a repetição de exames nas
mesmas pessoas pelos mesmos avaliadores ou pelo mesmo examinador em tempos
diferentes, a fim de diminuir as discrepâncias de interpretação nos diagnósticos. Assim,
objetiva-se, principalmente, assegurar uniformidade de interpretação, de entendimento
e de aplicação dos critérios das várias doenças e condições a serem observadas e
registradas; garantir, também, que cada um dos examinadores possa trabalhar
consistentemente com o padrão adotado e minimizar as variações entre diferentes
avaliadores (ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002).

NOTA

Em estudos epidemiológicos, a precisão dos métodos de aferição das variáveis é um


requisito fundamental para demonstrar que a medida utilizada é capaz de avaliar o
que foi planejado. Nesse sentido, a estimação da confiabilidade torna-se um dos
passos imprescindíveis. Essa estimação pode ser feita por meio de um conjunto de
técnicas que refletem a quantidade de "erro" aleatório ou sistemático, inerente ao
processo de aferição.

A partir dessas informações, é possível prosseguir a apresentação de algumas


medidas fundamentais para a compreensão dos estudos epidemiológicos.

68

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Medidas de Frequência de Doenças

Como já vimos, o requisito primordial da epidemiologia se fundamenta na


observação de fatos que ocorrem em uma determinada população, espaço
geográfico e tempo. Esses fatos podem ser classificados em presença de doenças,
a exposição a determinados fatores, ou outros atributos ou eventos de interesse.
Não obstante, para estimar o impacto de tais fatos sob uma população ou amostra
de interesse, é necessário quantificar, isto é, aplicar ferramentas da bioestatística –
apresentadas no capítulo anterior.

Uma das formas de se quantificar os eventos na epidemiologia é através da medição


por frequência. A frequência de doenças/agravos ou condições de saúde pode ser
realizada através de probabilidade, risco e taxa. Neste sentido, tem-se:

- Probabilidade:

Medida de ocorrência para um fato incerto, isto é, o número de vezes que se espera
que ocorra um evento no futuro. Pode-se obter seu cálculo pelo número de eventos
que ocorrem dentro de um número de eventos possíveis. No cálculo da
probabilidade, compara-se o número de casos favoráveis com o de casos
possíveis. Por exemplo, a probabilidade de sair “cara” quando lançamos uma moeda
(probabilidade 1/2) e de sair “seis” quando lançamos um dado (probabilidade 1/6).

Importante dizer que em epidemiologia, chance (utilizada nos estudos com o termo
em inglês - odds) tem entendimento distinto da probabilidade propriamente dita. A
chance de ocorrência de um evento refere-se à probabilidade de ocorrência deste
evento dividida pela probabilidade da não ocorrência do mesmo evento. Isto é, no
caso do cálculo da chance é necessário obter uma razão de probabilidades (razão
entre a probabilidade de o evento acontecer dividida pela probabilidade do evento
não acontecer). Aplicando esse conceito ao mesmo exemplo da moeda, teríamos:
a chance de ao lançarmos a moeda e sair “cara” seria igual a 1/1; e de sair “seis”
quando lançamos um dado de 1/5.

69

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- Risco à saúde:

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), os fatores de risco para um dano


são “todas as características ou circunstâncias que acompanham um aumento de
probabilidade de ocorrência do fato indesejado sem que o fator tenha intervindo
necessariamente em sua causalidade” (ALMEIDA FILHO e ROUQUAYROL, 2002).
Simplificando, significa dizer que risco é a probabilidade de um membro de uma
população definida desenvolver uma dada doença em um período de tempo.

Portanto, risco em Epidemiologia, é a probabilidade de ocorrência de um resultado


desfavorável (dano ou fenômeno indesejado) e varia entre 0 e 1, podendo ser
transformado em percentual ao se multiplicar por 100. Estima-se o risco ou
probabilidade de que uma doença exista através dos coeficientes de incidência e
prevalência, cujos conceitos serão apresentados neste capítulo.

- Taxa:

É uma medida da velocidade de mudança de um estado ao outro (de pessoa sadia


para doente, a exemplo), e, portanto, também expressa um risco. No entanto,
diferente do risco, a taxa implica correlacionar a exposição de algum evento à
população, considerando a unidade tempo-pessoa de exposição. A Taxa não mede
a proporção da população afetada por um agravo/doença ou desfecho, mas a razão
do número de casos pelo tempo em risco de apresentar a doença. Exemplo: O
Boletim do Observatório Covid-19 da FIOCRUZ de unho de 2021 informa que a taxa
de letalidade de 7,2% entre grávidas em decorrência da COVID-19 representa mais
que o dobro da atual taxa de letalidade pela doença no país (2,8%) – no ano de
2021 até o período de junho do mesmo ano.

Incidência e Prevalência de agravos à saúde

Para efeitos de mensuração de eventos ligados ao processo saúde-doença, denomina-


se coeficiente, a medidas do tipo proporção em que, em geral, os eventos do numerador
representam um risco de ocorrência em relação ao denominador.

70

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Tais eventos podem ser detectados em duas perspectivas diferentes: a primeira, em um
momento e com base numa única aferição: a prevalência. A segunda corresponde à
detecção da ocorrência de eventos ou mudanças de status ao longo de períodos
variáveis de tempo de observação ou acompanhamento, implicando, às vezes, mais de
duas mensurações: a incidência.

A incidência é uma medida dinâmica de frequência de um agravo/dano ou evento e se


modifica à medida em que novos casos ocorrem, considerando um intervalo de tempo.
Analogamente poderíamos imaginar um “filme” sobre a ocorrência da doença, no qual
cada cena pode conter um novo caso ou novos casos (PEREIRA, 1995).

Já a prevalência, uma medida estática da frequência de uma doença/agravo ou


evento, se refere ao número de casos existentes em um dado momento. Pode ser
comparada à uma “fotografia” sobre a ocorrência dos fatores. Os casos existentes
são daqueles que adoeceram em algum momento do passado, somados aos casos
novos dos que ainda estão vivos e doentes (MEDRONHO, 2005, PEREIRA, 1995).

Enquanto a Incidência traz a ideia de intensidade com que acontece uma doença
numa população, mede a frequência ou probabilidade de ocorrência de casos novos de
doença na população. Alta incidência significa alto risco coletivo de adoecer. A
prevalência, por sua vez, indica qualidade do que prevalece e implica em acontecer e
permanecer existindo num momento considerado. Destarte, a prevalência é o número
total de casos de uma doença, existentes num determinado local e período.

Vejamos a aplicação e cálculo considerando os respectivos conceitos:

- COEFICIENTE DE INCIDÊNCIA

O coeficiente de incidência representa a proporção de indivíduos que, no começo do


acompanhamento, não tinham desenvolvido o evento de interesse e que, ao longo dele,
mudaram de status ao desenvolvê-lo. Tradicionalmente, entende-se o numerador como

71

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o número de "casos novos" diagnosticados ou detectados que serão divididos pelo total
exposto ou suscetível. O denominador do coeficiente de incidência, no caso, é
compreendido como a "população em risco" de desenvolver o evento incidente no
começo ou ao longo do acompanhamento.14

Coef Incidência = nº de casos novos de determinada doença em um dado local e período X 10

População exposto, no mesmo local e período.

-COEFICIENTE DE PREVALÊNCIA

O coeficiente de prevalência expressa à proporção de pessoas que, em determinado


momento, é portadora do evento de interesse em relação ao total. O numerador
corresponde à contagem de portadores do evento de interesse e o denominador é
compreendido como o número que, nesse mesmo momento, foi investigado mediante
uma única avaliação e sem haver acompanhamento para detecção de novos eventos.
Utiliza-se a medida para a mensuração da probabilidade de eventos mórbidos e também
para avaliação da frequência de fatores de risco e proteção os quais podem constituir
hábitos ou práticas.

Coef. Prevalência = nº de casos existentes (novos + ant.) em dado local/momento/período X 10

População exposto, no mesmo local e período.

Intimamente ligada a um período de seguimento estabelecido arbitrariamente como


referência, a sempre incidência deve conter este período especificado (semanal,
mensal, trimestral, anual, quinquenal etc.)15.

A prevalência pode ser pontual (point prevalence) ou no período (lápsica):

14
As constantes utilizadas nos coeficientes de incidência e prevalência, frequentemente utilizam a base de 10 ou mais
para facilitar a interpretação dos resultados (especialmente em se tratando de grandes populações).
15
São termos sinônimos encontrados para essa mesma medida de frequência: "taxa de
incidência" ou "taxa de ataque" -
72

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


- Prevalência pontual (instantânea ou prevalência momentânea): corresponde à
frequência absoluta da doença ou pelo seu coeficiente em um ponto definido no tempo,
seja o dia, a semana, o mês ou o ano. No intervalo de tempo definido da prevalência
pontual, os casos prevalentes excluem aqueles que evoluíram para cura, para óbito ou
que migraram.

- Prevalência lápsica: abrange um lapso de tempo mais ou menos longo e que não
concentra a informação em um dado ponto desse intervalo. Na prevalência lápsica estão
incluídos todos os casos prevalentes, inclusive os que curaram, morreram e emigraram.

Veja alguns exemplos práticos de incidência e prevalência do Boletim Epidemiológico


da COVID-19 no Brasil (emissão sistemática pelo MS) e da ONU:

73

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Incidência Coeficiente de incidência

Prevalência de casos de COVID-19 e prevalência de óbitos (ranking mundial)

Pontos de reflexão
Prevalência

 O coeficiente de prevalência é mais utilizado para doenças crônicas de longa duração (Ex:
hipertensão arterial, diabetes melittus, cardiopatias, etc.);
 Casos prevalentes são os que estão sendo tratados (casos antigos), mais aqueles que foram
diagnosticados (casos novos);
 A prevalência perpassa a ideia de acúmulo e indica a força com que subsiste a doença na
população.

74

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


 Entre os fatores que influenciam a prevalência de um agravo à saúde, excluída a migração,
estão a incidência, as curas e os óbito.
 Quanto à migração, o raciocínio é bastante simples. A chegada a um município de novos
moradores com determinada doença aumentará sua prevalência, correto? Da mesma maneira,
a saída de pessoas doentes diminuirá sua frequência, ou seja, sem se modificar o risco e a
sobrevida pode haver flutuação nos casos existentes de determinada doença em função de
processos migratórios.

Incidência

 Alta incidência significa alto risco coletivo de adoecer;


 A incidência geralmente evidencia a velocidade de progressão de uma doença;
 O monitoramento da incidência de doenças infectocontagiosas, como a exemplo da COVID-
19, pode auxiliar na tomada de medidas ou intervenções sanitárias, sobretudo em casos de
surtos.

A incidência no contexto da epidemiologia é mais frequentemente utilizada para


investigações etiológicas ou com vistas a elucidar relações de causa e efeito, avaliar
o impacto de uma política, ação ou serviço de saúde, além de estudos de
prognóstico. Como exemplo contemporâneo pode-se citar a verificação do impacto
da vacinação sobre o número de casos da doença (houve declínio ou não na
incidência após a intervenção?). Outros exemplos: a promoção da saúde, através
de incentivo a uma dieta saudável, realização de atividade física e combate ao
tabagismo em um determinado lugar e tempo diminui as taxas de internações por
problemas respiratórios? Diminuiu a obesidade? Etc.

No cenário da atual pandemia de COVID-19, os serviços de saúde têm utilizado para


mensurar a incidência da doença, a notificação por período estabelecido (semanal,
quinzenal) de casos, dividido pela população estimada para o mesmo período.

A prevalência, por sua vez tem maior aplicabilidade em casos de doenças crônicas
ou de longa duração (PEREIRA, 1995, MEDRONHO, 2005, ROUQUAYROL e
ALMEIDA FILHO, 2003). Entre as finalidades das medidas de prevalência em saúde
pública destacam-se o planejamento de ações e serviços de saúde e a previsão de
recursos humanos, diagnósticos e terapêuticos.

75

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Fonte: Google imagens, 2021.

Estudos Epidemiológicos propriamente ditos

Os estudos epidemiológicos podem ser classificados em observacionais e


experimentais; e possuem subdivisões para melhor compreensão do objeto de análise
cada um deles, conforme será apresentado adiante.

Estudos observacionais

A principal característica dos estudos observacionais está no fato de permitirem que a


natureza determine o curso da pesquisa; isto é, o investigador mede, mas não intervém
na pesquisa. Esses estudos podem ser ainda classificados como descritivos e
analíticos.

Os estudos do tipo descritivos são aqueles que se limitam a descrever a ocorrência de


uma doença em uma determinada população, tempo e espaço, sendo, frequentemente,
o primeiro passo de uma investigação epidemiológica. Os principais estudos descritivos

76

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


incluem série de casos (descrição de uma série de pacientes) ou relatos de caso
(descrições de pacientes individuais). Como se nota esses subtipos de estudos
descritivos estão relacionados a indivíduos ou grupos de pessoas específicas.

São especialmente úteis em situações de detecção de epidemias, descrição de


características de novas doenças, formulação de hipóteses sobre possíveis causas para
doenças, descrição de resultados de terapias propostas para doenças raras e de efeitos
adversos raros em doenças comuns.

Já os estudos epidemiológicos do tipo analíticos tentam quantificar a relação entre dois


fatores, ou seja, o efeito de uma exposição sobre um respectivo desfecho e são
realizados em amostras de populações. Esse tipo inclui os estudos observacionais do
tipo caso-controle, de coorte e estudos populacionais transversais - também chamados
de ecológicos ou surveys. O esquema apresentado a seguir adiante sumariza a
classificação dos estudos epidemiológicos observacionais e em seguida são
apresentadas as principais características de cada um desses estudos.

Relato de Casos

DESCRITIVOS

Série de Casos

ESTUDOS
Ecológico
OBSERVACIONAIS

Transversal

ANALÍTICOS

Caso-controle

Coorte

Fonte: Esquema de classificação dos Estudos Observacionais. Elaborado pela autora. 2021.

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Estudos Observacionais Descritivos - Relato de Caso

O estudo de casos ou relato de casos consiste na descrição minuciosa de informações


sobre o diagnóstico e evolução de uma determinada doença/agravo ou condição de
saúde. Tem por objetivo elucidar os mecanismos doenças ou problemas de saúde, dos
tratamentos e das condições associadas a um paciente ou de um pequeno grupo de
pacientes.

Principais vantagens e limitações do estudo de caso são:

Estudos de Caso

Vantagens Limitações

Pode sugerir explicações sobre Subjetividade na avaliação dos


elementos pouco conhecidos na desfechos
etiologia e evolução de doenças;

Baixo custo e de fácil realização Número reduzido de indivíduos


estudados dificultando a inferência
para outras populações

Cada “caso” é observado de forma Inexistência de “casos-controle” para


detalhada comparações.

78

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Estudos Observacionais Descritivos - Série de Caso

Esses estudos representam uma forma expandida do relato de caso individual. De igual
maneira, descreve características de um número de pacientes com uma determinada
doença ou outro efeito/desfecho que se deseja observar e podem levar à formulação de
novas hipóteses, especialmente sobre doenças raras.

De natureza qualitativa e exploratória, embora possam ser quantificados, tais estudos


geralmente combinação mensurações quantitativas para compor a frequência e outras
variáveis descritivas.

Ressalta-se que os pareceres sobre a etiologia (causas), prevenção e


terapêutica/procedimentos evidenciadas nas conclusões dos artigos de série ou relato
de casos servem de base para outros estudos que deverão ser realizados, e não como
resultado que permita generalizações para o padrão de doença ou evento detalhado.
Mesmo com estas limitações, estes estudos são fundamentais para o avanço do
conhecimento de patologias raras.

Estudos Observacionais Analíticos – Surveys ou Estudos Ecológicos

Estudos Ecológicos (analítico de corte ou transversal) são aqueles em que a relação


exposição-doença em uma população é investigada em um momento particular no
tempo, fornecendo um “retrato” da situação naquele momento.

São capazes de investigar a relação entre as doenças e outras variáveis de interesse


que existem em uma população definida (exposição e desfecho são medidos ao mesmo
momento). Todavia incapazes de estabelecer nexo causal entre o eu se presume ser
causa ou o efeito.

A finalidade desse tipo de estudo é quantificar a prevalência de uma doença ou fator de


risco e também a acurácia de um teste diagnóstico. Metodologicamente constituem
ensaios relativamente simples de serem conduzidos e de baixo custo, além de
eticamente mais seguros quando comparados aos estudos de intervenção.

79

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Estabelecem apenas hipótese sobre uma possível associação e não a casualidade entre
os fatores de causa e efeito observados. Na investigação de surtos epidêmicos, a
realização de um estudo transversal medindo diversas exposições é, em geral, o
primeiro passo para a determinação da sua causa.

Os surveys frequentemente utilizam grandes bases de dados e informações de saúde


e são desenhos destinados a investigação da ocorrência de problemas de saúde gerais
em grandes populações com a finalidade de orientar os gestores na condução dos
serviços de saúde. Neste caso, frequentemente são estimadas taxas (mortalidade,
adoecimento, etc.) ou razões de prevalência para melhor compreender os eventos. Esse
tipo de estudo não é capaz de testar hipóteses.

Estudos Observacionais Analíticos – Estudo Transversal

Estudos transversais são apropriados para levantar questões relacionadas à presença


de uma associação, mas não é capaz de testar hipóteses (exemplos: o câncer de
pulmão tem como fator de risco o tabagismo? O consumo de sal aumentado pode
acarretar elevação persistente de pressão arterial?). Permitem estimar a prevalência de
uma doença ao passo que os estudos analíticos podem fornecer uma estimativa da
associação entre os indivíduos expostos comparados aos não expostos.

Os dados utilizados em pesquisas com delineamento transversal podem ser coletados


diretamente dos participantes (pacientes/casos) através de instrumentos ou
questionários de investigação (fontes primárias de dados) ou ainda através de dados já
disponíveis em bancos de dados (fontes secundárias). Nesse caso, temos como
exemplos as informações sobre internações hospitalares disponíveis no Sistema de
Informações Hospitalares – SIH do SUS; informações sobre doenças de notificação
compulsória do SINAN, etc.

Metodologicamente os estudos transversais requerem definir uma população ou


amostra de referência, das quais se coletam dados de exposição e doença ao mesmo

80

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tempo. A partir desse conjunto, divide-se em quatro grupos para análise como pode ser
observado na tabela 2x216 que se segue:

. DOENTE NÃO DOENTE

EXPOSTO a b

NÃO EXPOSTO c d

- Considere nesse caso:

a = doentes e expostos ao fator de risco;

b = não doentes expostos ao fator de risco;

c = doentes não expostos ao fator de risco;

d = não doentes expostos ao fator de risco.

Para se calcular a prevalência (P) da doença (D) entre expostos (exp), e a prevalência
entre os “não expostos” (não exp) utiliza-se a fórmula a seguir:

Prev D exp = a Prev D não exp = c

a+b c+d

Em seguida obtém-se a Razão de Prevalências da Doença, considerando tanto


expostos, quanto os “não expostos”, como se vê na fórmula adiante:

16A tabela de contingência 2 x 2 é a base para a aplicação das variáveis epidemiológicas que compõe as
estimativas dos estudos epidemiológicos.
81

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R Prev D exp = Prev exp a / a +b

Prev não exp c / c +d

Mas, pode-se também calcular também a prevalência da exposição entre doentes e não
doentes:

Prev exp à D = a Prev não exp à D= b

a+c b+d

Estudos Transversais

Vantagens Limitações

Possibilita estudos de prevalência ou Possibilidade de viés ao se avaliar


prevalência relativa;; fatores de risco (pois não testa
hipóteses);

Úteis para levantar a questão da presença Não estabelece sequência de eventos


de associações; (causa e efeito)

Menos dispendiosa e mais rápida Não é adequado para doenças raras;

Amostras e mensurações controladas; Não possibilita estudo de incidência;

Fracas para testar hipóteses;

82

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


- Estudos Observacionais Analíticos – Estudo de Coorte

São reconhecidos como estudos capazes de mensurar o risco de uma determinada


exposição ou fator em desencadear uma doença ou agravo à saúde. Para isso, em seu
delineamento metodológico o seguimento será de expostos e não expostos, de modo
que é o único estudo epidemiológico capaz de confirmar hipóteses causais, haja vista
que acompanha no tempo os indivíduos desde o início da exposição até o desencadear
da doença/agravo.

Neste sentido, é capaz de determinar a incidência de uma doença. Iniciam com grupos
homogêneos de não doentes, agrupados segundo uma variável como ano de
nascimento, área geográfica, dentre outras, o que se denomina de coorte, registra-se
exposição aos fatores de risco e após um tempo de seguimento, observa-se a
ocorrência ou não do desfecho em quatro grupos. Ao contrário dos estudos de caso-
controle, possui natureza temporal prospectiva ou retrospectiva, podendo ser de dois
tipos:

- Prospectivo ou longitudinal Concorrente: o pesquisador seleciona uma amostra


ou população sadia ou sem o desfecho que se deseja estudar, e, realiza o seguimento
até o desenvolvimento da doença/evento ou não.

Amostra ou uma 2020


Início
População definida

Seguimento (Sadios) NÃO 2022


EXPOSTOS
Alocação não randômica EXPOSTOS

Desfecho NÃO NÃO


DOENTES DOENTES 2030
(doentes x não doentes) DOENTES DOENTES

83

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Retrospectivo ou Coorte histórica: nesse caso o investigador parte de uma população
ou amostra de pacientes/casos com registros de exposição ao fator de risco obtido no
passado, mas verifica-se a doença no presente.

Amostra ou uma
População definida 2000

Sem seguimento
2010
(avaliação de exposição EXPOSTOS NÃO EXPOSTOS
no passado )

Início 2020
Desfecho DOENTES DOENTES
(doentes x não doentes)

Estudos de coorte permitem o cálculo das medidas de efeito que são medidas de
associação entre exposição e doença. As medidas de efeito avaliam as diferenças de
riscos entre grupos que diferem em relação à exposição ao fator de risco estudado.

Veja como se o cálculo das medidas de efeito baseados na tabela a seguir:

Risco absoluto ou Incidência (I) da doença entre os expostos (Exp):

Ra = I Exp = a

a+b

84

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Incidência (I) nos não Expostos (não Exp):

I Não Exp = c

c+d

Risco atribuível (RA) ou diferença de riscos:

RA = I Exp - I Não Exp

Razão de riscos ou Risco Relativo (RR)

RR = I Exp

- I Não Exp

Estudos Observacionais Analíticos – Estudo de Caso-controle

São estudos em que inicialmente dois (02) grupos principais de participantes são
selecionados, a saber: um grupo com os “casos” ou indivíduos portadores de uma
doença ou agravo, e o outro contendo os controles ou indivíduos que não apresentam
o desfecho estudado, mas, possui características semelhantes aos “casos”.

Note que, neste delineamento de estudo epidemiológico, os participantes são alocados


nos seus respectivos grupos após o desfecho ter ocorrido, isto é, após a detecção de
85

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


pessoas doentes (“casos”). A exposição ao fator de risco é pesquisada
retrospectivamente e depende da memória do paciente, portanto, possuem natureza
retrospectiva, e partem da doença para elucidar fatores de associação no passado.

Delineamento dos estudos de Caso-controle

INÍCIO PESSOAS DOENTES PESSOAS SADIAS

(Casos) (Controles)

Determinação da História de Exposição

FORAM EXPOSTOS NÃO FORAM EXPOSTOS FORAM EXPOSTOS NÃO FORAM EXPOSTOS

PESSOAS COM A DOENÇA PESSOAS COM A DOENÇA

O número de controles em relação aos casos, em geral é 1:1 (1 caso: 1 controle), e, os


controles podem ainda ser pareados com relação a sexo, idade, etc. A associação entre
a doença e a exposição é testada pelo Odds Ratio (OR) ou razão de chances que é
uma estimativa do Risco Relativo que expressa a chance de um caso (doente) ser
exposto a algum fator (risco), dividido pela chance de um controle (não doente) ser
exposto ao mesmo fator. Obtém-se da seguinte maneira:

a) Calcule a proporção de doentes ou casos (%D) expostos, utilizando-se a


fórmula:

OR D. Exp = a

a+c

86

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


b) Para o cálculo do OR [Chance de doentes ou casos (D) expostos (exp)]:

OR D. Exp = a / a+c OR D. Exp = a

c/a+c c

c) Calcular a proporção de não doentes ou controles (Não Doentes) expostos:

% Não D. Exp = b

b+d

d) Calcular o OR ou Chance dos não doentes ou controles expostos:

OR Não D. Exp = b / b+d OR D. Exp = B

d/b+d d

e) Por fim, a Razão de Chances ou OR será:

OR Não D. Exp = a/c = a X d = a.d

b/d c c d.c

Em resumo, os estudos de CC apresentam como vantagens serem de seguimento


rápido, menor custo quando comparado aos estudos de coorte e não estão sujeitos às
perdas de seguimento, tendo em vista que não acompanham o participante/paciente
durante um tempo.

87

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Como limitações, podem apresentar viés de seleção de casos e controles, não mostram
a incidência, não adequados para investigar exposições raras, não estabelecem a
sequência entre doença e exposição.

Estudos Analíticos Experimentais (Intervencionais)

Os Estudos Experimentais ou Intervencionais são aqueles em que o pesquisador além


de observar as variáveis de interesse, também manipula ou intervém no estudo de
alguma forma, por exemplo: em uma pesquisa onde é avaliada uma nova medicação
para uma determinada doença, o pesquisador aplicará a intervenção (medicação) à qual
se supõe ter o efeito terapêutico esperado em um determinado grupo de pacientes
(grupo de intervenção) e, em outro grupo será administrado um placebo, ou seja,
nenhum procedimento real ou medicação que possa ter efeito para alterar o desfecho
do paciente.

Note que, neste tipo de estudo há a intenção de se testar uma intervenção em particular
e, para tanto, ocorre alocação de pacientes em grupos previamente estabelecidos:
grupo que receberá a intervenção e o grupo que receberá o placebo. Correspondem a
tipos de estudo nesta categoria os chamados Ensaios Clínicos Randomizados (ERC),
Ensaios Comunitários (EC) e o Ensaio Clínico de Campo (ECC).

88

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Ensaio Clínico
Randomizado

Ensaio clínico
de Campo
ESTUDOS
ANALÍTICOS
EXPERIMENTAIS
Ensaio
Comunitário

Fonte: Esquema sumariado de classificação dos Estudos Experimentais. Elaborado pela autora. 2021.

Estudos Epidemiológicos Analíticos Experimentais – Ensaio Clínico


Randomizado (ERC)

O ECR adquire tal nomenclatura porque, face ao teste da intervenção que se deseja
medir, os indivíduos selecionados na amostra são aleatoriamente - ou também
chamados de randomicamente - alocados para os grupos intervenção e controle, e os
resultados são avaliados comparando-se os desfechos entre esses grupos. Trata-se de
um experimento planejado que envolve pessoas doentes, e é formulado para determinar
o tratamento mais apropriado nos futuros pacientes com a mesma doença.

A força dos resultados alcançados no ERC está diretamente ligada à aleatorização dos
pacientes (alocação por sorteio e/ou técnicas sistemáticas randômicas) nos grupos e
controle de perdas amostrais. Isso garante a comparabilidade entre os grupos desde o
início da intervenção e as diferenças observadas não serão afetadas por viés do
investigador.

89

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


O Ensaio Clínico Aleatorizado/Randomizado é considerado como a técnica mais
poderosa para evidenciar a eficácia da intervenção em investigações na área da saúde.

Estudos Epidemiológicos Analíticos Experimentais – Ensaio Clínico de Campo


(ECC)

Ensaios de campo, em contraste com os ensaios clínicos, envolvem pessoas que estão
livres de doença, mas sob o risco de desenvolvê-la. Os dados são coletados “no campo”,
isto é, entre pessoas da população geral não institucionalizada (internadas em hospitais,
clínicas ou até em Instituições de Longa permanência).

Uma vez que os participantes estão livres da doença e o propósito é prevenir a


ocorrência de doenças mesmo entre aquelas de baixa frequência, os ensaios de campo
envolvem um grande número de pessoas, o que os torna caro e logisticamente
complicados. Os ensaios de campo podem ser utilizados para avaliar intervenções que
objetivam reduzir a exposição sem necessariamente medir a ocorrência dos efeitos
sobre a saúde.

Estudos Epidemiológicos Analíticos Experimentais – Ensaio Clínico Comunitário


(ECCom)

Conforme o nome já diz, neste tipo de experimento, os grupos de tratamento são


comunidades ao invés de indivíduos. Esse delineamento é particularmente apropriado
para doenças que tenham suas origens nas condições sociais e que possam ser
facilmente influenciadas por intervenções dirigidas ao comportamento do grupo ou do
indivíduo. Os hábitos de qualidade de vida nos programas de promoção à saúde podem
ser citados como um objeto de análise que pode ser investigado nos ensaios clínicos
comunitários.

90

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Exemplo de Ensaio Clínico Comunitário – Estudo Brasileiro (2008). )

Fonte: veja mais detalhes no artigo na íntegra.


Acesse:< https://www.scielosp.org/pdf/csp/2008.v24suppl2/s353-s359/pt>

.
91

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


PRINCÍPIOS DE
EPIDEMIOLOGIA
APLICADOS AOS
5. Indicadores Epidemiológicos SERVIÇOS DE SAÚDE
aplicados à Saúde

Indicadores de Saúde são medidas de interesse utilizadas na área, com a finalidade


de expressar uma realidade. Consolidam-se como ferramentas úteis para gestores e
profissionais para nortear, gerenciar e avaliar o planeamento das ações em saúde, de
modo a permitir mudanças nos processos e resultados.

No Brasil, existem importantes bancos de dados secundários com abrangência nacional


– como o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM-SUS), o Sistema de
Informações sobre Autorizações de Internações Hospitalares (SIH-SUS), O Sistema
Notificação de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema Nacional de Nascidos Vivos
(SINASC); a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD – desde 1998), e
inúmeros outros – que podem ser usados por gestores e trabalhadores ou
pesquisadores para consulta ou condução de pesquisas epidemiológicas a fim de se
ampliar ainda mais a compreensão dos indicadores de saúde e permitir a
comparabilidade entre coletividades e populações.

O DATASUS – Departamento de Informática do SUS, dispõe de um aplicativo de


domínio público (TABNET – tabulador genérico para indicadores de saúde, previstos
pelo Sistema Único de Saúde) que apresenta a padronização dos indicadores de saúde,
com vistas a melhor gerenciamento da saúde e comparabilidade das informações. Desta
forma, gestores e profissionais de saúde organizar dados e avaliar seus indicadores de
forma rápida conforme a consulta que se deseja tabular. Foi desenvolvido pelo para
gerar informações das bases de dados do Sistema Único de Saúde.

92

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Indicadores de saúde da base nacional DATASUS:

Fonte: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index. php?area=0203.

93

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Outros links úteis que agregam indicadores de saúde:
 Organização Pan-Americana da Saúde. Plano Estratégico da
Organização Pan-Americana da Saúde 2014–2019. Disponível em
espanhol em:
http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_docman&task=doc_do
wnload&gid=41494&Itemid=270&lang=es
 Compêndio de indicadores do impacto e resultados intermediários.
Plano Estratégico da OPAS 2014-2019. Disponível em espanhol em:
http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&i
d=1930%3A2009-compendium-indicators-monitoring-regional-and-
global-ncds-americas&catid=1384%3Acncd-
surveillance&Itemid=1708&lang=es
 Organização Pan-Americana da Saúde. Preparar a la Región de las
Américas para alcanzar el Objetivo de Desarrollo Sostenible sobre la
salud. Disponível em espanhol em:
http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_docman&task=doc_vie
w&gid=31629&Itemid=270&lang=es
 Organização Mundial da Saúde. A saúde na Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável (resolução WHA69.11). Disponível em
espanhol em: http://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA69/A69_R11-
sp.pdf
 Rede Interagencial de Informação para a Saúde (RIPSA). Indicadores
básicos para a saúde no Brasil: Conceitos e aplicações. Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/indicadores.pdf
 Organização das Nações Unidas. Transformar nosso mundo: Agenda
2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em espanhol em:
http://www.un.org/es/comun/docs/?symbol=A/RES/70/1

Fonte: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/49057/9789275720059_por.pdf?sequence=5.
Acesso em Julho de 2021.

Também em âmbito nacional, a Rede Interagencial de Informações para a Saúde


(RIPSA), criada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) - em 1995 -, busca
94

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


de difundir informações a respeito da situação e tendências na saúde nos países da
América Latina. O objetivo principal é estabelecer as bases de dados e informações
produzidos no país; articular participação de instituições para produção e análise de
dados; implementar mecanismos de apoio à produção de dados e informações;
promover intercâmbio entre subsistemas de informação da administração pública;
contribuir para estudos e compreensão do quadro sanitário brasileiro; fomentar
mecanismos que promovam o uso de informação em processos decisórios na SUS.
(RIPSA, 2012)17.

Os Indicadores disponíveis para consulta na web pela RIPSA em seu site no


link: http://fichas.ripsa.org.br/2012/ , de forma agrupada são:

 Demográficos - Medem a distribuição de fatores determinantes da situação de


saúde relacionados à dinâmica populacional na área geográfica referida;

 Sócioeconômicos - Medem a distribuição dos fatores determinantes da


situação de saúde relacionados ao perfil econômico e social da população
residente na área geográfica referida;

 Mortalidade - Informam a ocorrência e distribuição das causas de óbito no perfil


da mortalidade da população residente na área geográfica referida;

 Morbidade - Informam a ocorrência e distribuição de doenças e agravos à saúde


na população residente na área geográfica referida;

 Fatores de Risco e de Proteção - Medem os fatores de risco (por ex. tabaco,


álcool), e/ou proteção (por ex. alimentação saudável, atividade física,

17
Vea maiores detalhes em: < http://www.ripsa.org.br/vhl/indicadores-e-dados-basicos-para-a-saude-
no-brasil-idb/ >. Acesso em julho de 2021.
95

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


aleitamento) que predispõe à doenças e agravos ou, protegem das doenças e
agravos;

 Recursos - Medem a oferta e a demanda de recursos humanos, físicos e


financeiros para atendimento às necessidades básicas de saúde da população
na área geográfica referida;

 Cobertura - Medem o grau de utilização dos meios oferecidos pelo setor público
e pelo setor privado para atender às necessidades de saúde da população na
área geográfica referida. (RIPSA, 2012)

Na base de dados RIPSA é possível acessar os principais indicadores de utilidade para


os serviços de saúde, de maneira global. Os indicadores são agrupados em 06 (seis)
categorias principais, e em cada um desses eixos há uma lista de indicadores correlatos.

96

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


97

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Detalhamento das informações e qualificação do indicador:

Fonte: < http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/CapituloC.pdf >.

Algumas observações gerais dos indicadores epidemiológicos de utilidade para os


serviços de saúde, em conformidade com a publicação da OPAS (2018), são

98

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


apresentado sumariamente neste capítulo. Não obstante, recomenda-se ao discente a
leitura na íntegra do documento, para maiores detalhes e informações (OPAS, 2018).18

Incidência, Mortalidade e Letalidade

Os coeficientes de incidência e de mortalidade constituem, no âmbito dos serviços,


os indicadores mais frequentemente utilizados para avaliar o estado de saúde da
população com propósitos de monitoramento e vigilância epidemiológica.

A mortalidade em determinado lugar e tempo pode ser medida de várias maneiras, como
números absolutos, proporções e taxas. Diferentemente da morbidade, a morte é um
evento único e claramente identificável que reflete a ocorrência e a gravidade de uma
doença. Recomenda-se desagregar os dados de mortalidade segundo diferentes
características como causa idade, sexo, local de residência e ocorrência e grupo étnico
(OPAS, 2018) Os dados de mortalidade representam uma fonte fundamental de
informação demográfica, geográfica e de causa de morte. Estes dados são usados para
quantificar os problemas de saúde e determinar ou monitorar prioridades ou metas em
saúde (OPAS, 2018).

Para alguns desses indicadores, encontra-se consolidado o cálculo da ocorrência para


cada 1.000 habitantes (como no coeficiente de mortalidade geral), 100.000 (como no
coeficiente de mortalidade por causa específica ou para determinadas faixas etárias).

A Mortalidade é uma medida muito utilizada como indicador de saúde; é calculada


dividindo-se o número de óbitos pela população em risco. Já a letalidade é uma
medida da gravidade da doença, calculada dividindo-se o número de óbitos por
determinada doença pelo número de casos da mesma doença. Algumas doenças
apresentam letalidade nula, como, por exemplo, escabiose; já para outras, a
letalidade é igual ou próxima de 100%, como a raiva humana.

18 Referência citada: Organização Pan-Americana da Saúde. Indicadores de saúde. Elementos


conceituais e práticos. Washington, D.C.: OPAS; 2018. Disponível em: <
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/49057/9789275720059_por.pdf?sequence=5 >.
99

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Cita-se a exemplo, alguns indicadores dessa categoria:

- TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL:

Cálculo: número de óbitos em menores de 1 ano de idade (por 1.000), dividido pelo
número de nascidos vivos na população no ano considerado.

Fonte: os dados para o numerador deste indicador provêm normalmente dos


sistemas nacionais de informação sobre mortalidade e registros de estatísticas
vitais, enquanto que os dados para o denominador provêm dos sistemas nacionais
de informação sobre nascidos vivos e registros de estatísticas vitais.

Interpretações possíveis: este indicador estima o risco de as crianças nascidas


vivas morrerem antes de completar um ano de vida. A análise desta estimativa no
tempo e por diferentes causas e subgrupos etários (neonatal, neonatal precoce,
neonatal tardio e pós-neonatal) permite monitorar a magnitude do indicador e obter
evidências preliminares da efetividade de políticas, programas e intervenções que
visam a prevenção de óbitos infantis.

- RAZÃO DE MORTALIDADE MATERNA:

Cálculo: número de óbitos maternos – mortes de mulheres por causas e afecções


relacionadas à gravidez, parto e puerpério (até 42 dias após a gravidez chegar a
termo) – por 1.000, dividido pelo número de nascidos vivos na população residente
no ano considerado.

Fonte: os dados para o numerador deste indicador provêm normalmente dos


sistemas nacionais de informação sobre mortalidade e registros das estatísticas
vitais, complementado por informações da vigilância da mortalidade materna,
enquanto que os dados para o denominador são obtidos dos sistemas nacionais de
informação sobre nascidos vivos e registros das estatísticas vitais.

Interpretações possíveis: este indicador estima, embora de forma indireta, o risco


de uma mulher morrer por causas relacionadas à gravidez. Indica o acesso aos
serviços e a qualidade da atenção prestada às mulheres durante a gravidez, parto
e puerpério. A análise desta estimativa no tempo, para diferentes subgrupos de

100

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


causas de morte e em subgrupos populacionais, permite monitorar a magnitude do
indicador. Este tipo de análise fornece evidências da efetividade de políticas,
programas e intervenções que visam a prevenção de mortes maternas, que na sua
maioria podem ser evitados se existe assistência pré-natal e pós-natal de boa
qualidade e são realizadas outras melhorias nos serviços de saúde.

Indicadores de Morbidade

Os indicadores de morbidade têm como finalidade medir a ocorrência de doença, lesão


e incapacidade na população. Estes indicadores podem ser expressos ao medir a
incidência ou a prevalência.

O cálculo das taxas de morbidade requer a observação direta (com inquéritos e outras
pesquisas), a notificação dos eventos aos sistemas de vigilância e a notificação de
doenças nos sistemas de informação de ambulatórios, hospitais ou em outros registros.
São exemplos desse grupo de indicadores:

- TAXA DE PREVALÊNCIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL:

Cálculo: número de casos existentes de hipertensão arterial (por 100.000), dividido pelo
número de indivíduos que formam a população em determinado momento. A taxa pode
ser desagregada por sexo, idade, grupo étnico e outras variáveis de interesse.

Fonte: os dados do numerador para este indicador provêm normalmente de pesquisas


populacionais com o uso de amostras representativas (nacionais ou locais). O indicador
é, portanto, uma estimativa de uma amostra e deve vir acompanhado do grau de certeza
da estimativa e de variabilidade não explicada (intervalos de confiança).

Interpretações possíveis: este indicador estima a prevalência da hipertensão na


população. A análise desta estimativa no tempo e em subgrupos populacionais permite
monitorar a magnitude do indicador e prever a demanda de serviços de saúde
relacionada à doença, assim como fazer o planejamento de intervenções de prevenção
e promoção.

101

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


- PROPORÇÃO DE INTERNAÇÕES HOSPITALARES POR CAUSAS EXTERNAS:

Método de cálculo: número de internações hospitalares por grupos de causas externas


(por 100.000 habitantes), dividido pelo número total de internações hospitalares por
causas externas em um tempo especificado. Esta proporção pode ser desagregada por
sexo, idade, grupo étnico e outras variáveis de interesse.

Fonte: os dados do numerador e do denominador deste indicador provêm normalmente


dos próprios sistemas de informação dos hospitais (nacionais ou locais). Para interpretar
o indicador, é necessário garantir que estejam representados tanto os hospitais públicos
como os privados.

Interpretações possíveis: este indicador estima a proporção de internações


hospitalares por causas externas. A análise desta estimativa no tempo e em subgrupos
populacionais permite monitorar a magnitude e a distribuição deste indicador e medir a
repercussão das intervenções de prevenção.

Indicadores de Fatores de Risco Comportamentais

As mudanças nos padrões demográficos e epidemiológicos da população mundial,


sobretudo nas últimas décadas, acentuaram a ocorrência das doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT) e dos fatores de risco associados.

Neste sentido, as estratégias e programas adotados para proteção e promoção da


saúde, em particular as relacionadas com as DCNT, devem concentrar-se nos
determinantes - conjunto de fatores de risco comportamentais relacionados com o modo
de viver - que podem ser modificáveis, tais como as taxas de prevalência do tabagismo,
sedentarismo/inatividade física, alimentação inadequada e uso excessivo de álcool.

De acordo com a OMS, estes quatro comportamentos de risco estão associados aos
quatro (04) grupos de causas de morte (doenças cardiovasculares, neoplasias, diabetes

102

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


19
e doenças respiratórias) de maior incidência no mundo (OMS, 2012). São alguns
exemplos:

- TAXA DE PREVALÊNCIA DE ADULTOS FUMANTES ATUAIS:

Cálculo: número de adultos (acima de 18 anos) fumantes – independentemente do


número de cigarros consumidos, frequência de consumo e duração do hábito – (por
100) dividido pelo número de adultos (acima de 18 anos) residentes ou entrevistados.

Fonte: os dados para o numerador deste indicador são normalmente obtidos de


pesquisas de base populacional com o uso de amostras representativas (nacionais ou
locais). O indicador é uma estimativa da amostra e deve vir acompanhado do grau de
certeza da estimativa e da variabilidade não explicada (intervalos de confiança).

Interpretações possíveis: este indicador estima a frequência do tabagismo atual na


população adulta (acima de 18 anos). A análise desta estimativa no tempo e em
subgrupos populacionais (idade, sexo, área geográfica, nível de escolaridade) permite
monitorar a magnitude e a distribuição do indicador. O indicador fornece evidências
preliminares da efetividade de políticas, programas e intervenções antitabagismo.

- TAXA DE PREVALÊNCIA DE NÍVEL INSUFICIENTE DE ATIVIDADE FÍSICA:

Cálculo: número de indivíduos com idade entre 15 e 69 anos com nível insuficiente de
atividade física (por 100), dividido pelo número de indivíduos entrevistados com idade
entre 15 e 69 anos.

Fonte: os dados para o numerador deste indicador são normalmente obtidos em


pesquisas de base populacional com o uso de amostras representativas (nacionais ou
locais). O indicador é uma estimativa de uma amostra e deve vir acompanhado do grau
de certeza da estimativa e da variabilidade não explicada (intervalos de confiança).

Interpretações possíveis: este indicador estima a proporção de indivíduos que não


praticam atividade física suficiente na população com idade entre 15 e 69 anos. A

19 Detalhes na publicação da OMS: Organização Mundial da Saúde. Global Action Plan for the Prevention
and Control of NCDs 2013-2020. Disponível em inglês em:
http://www.who.int/entity/cardiovascular_diseases/15032013_updated_revised_draft_action_plan_
spanish.pdf?ua=1
103

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


análise desta estimativa no tempo e em subgrupos populacionais permite monitorar a
magnitude do indicador, que fornece evidências preliminares da efetividade das
políticas, programas e intervenções que visam a promoção da prática regular de
atividade física e a prevenção do sedentarismo/inatividade física.

- TAXA DE PREVALÊNCIA DO CONSUMO REGULAR DE FRUTAS E VERDURAS

Cálculo: número de adultos (acima de 15 anos) que referem consumo regular de frutas
e hortaliças (por 100), dividido pelo número de adultos (acima de 15 anos) entrevistados.
Entende-se como consumo regular de frutas e hortaliças consumir estes alimentos cinco
dias ou mais por semana.

Fonte: os dados para o numerador deste indicador são normalmente obtidos em


pesquisas de base populacional com o uso de amostras representativas (nacionais ou
locais). O indicador é uma estimativa de uma amostra e deve vir acompanhado do grau
de certeza da estimativa e da variabilidade não explicada (intervalos de confiança).

Interpretações possíveis: este indicador estima a frequência do consumo regular de


frutas e hortaliças na população adulta (acima de 15 anos). A análise desta estimativa
no tempo e em subgrupos populacionais permite monitorar a magnitude do indicador,
que fornece evidências preliminares da efetividade de políticas, programas e
intervenções que visam incentivar o consumo de frutas e hortaliças. Além disso, o
indicador pode ser usado em estudos da associação do consumo irregular ou inexistente
de frutas e hortaliças com sobrepeso e obesidade e com a incidência de doenças não
transmissíveis.

- TAXA DE PREVALÊNCIA DO USO EXCESSIVO DE ÁLCOOL:

Cálculo: número de indivíduos acima de 15 anos com uso excessivo de bebidas


alcoólicas relatado nos últimos 30 dias (por 100), dividido pelo número de indivíduos
acima de 15 anos. O numerador é obtido ao multiplicar o número de doses consumidas
no dia em que a pessoa consumiu álcool, pelo número de dias de consumo, e em
seguida dividir o produto pelo número de dias no período de referência. A OMS define
como uso excessivo de bebidas alcoólicas o consumo superior a duas doses diárias
para o sexo masculino e o consumo superior a uma dose diária para o sexo feminino.
104

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Fonte: os dados do numerador deste indicador são normalmente obtidos em pesquisas
de base populacional com o uso de amostras representativas (nacionais ou locais). O
indicador é uma estimativa de uma amostra e deve vir acompanhado do grau de certeza
da estimativa e da variabilidade não explicada (intervalos de confiança).

Interpretações possíveis: Exemplos de interpretação: este indicador estima a


frequência de uso excessivo de bebidas alcoólicas na população acima de 15 anos. A
análise desta estimativa no tempo e em subgrupos 35 populacionais permite monitorar
a magnitude do indicador, que fornece evidências preliminares da efetividade de
políticas, programas e intervenções que visam a prevenção do uso excessivo de álcool.
O indicador pode também ser usado em estudos que analisam a associação entre o uso
excessivo de álcool e a incidência de doenças associadas ao álcool em excesso, como
cirrose alcoólica, pancreatite alcoólica, demência, polineuropatia, miocardite,
desnutrição, hipertensão arterial, infarto do miocárdio e certas neoplasias (da boca,
faringe, laringe, esôfago ou fígado).

Indicadores de Avaliação de Serviços de Saúde

Há distintas formas de mensurar e planejar indicadores de qualidade segundo diferentes


marcos conceituais. Os indicadores de desempenho e da qualidade dos serviços de
saúde destinam-se a várias funções, sendo fundamentais para o monitoramento da
performance institucional ou organizacional.

São alguns exemplos desse perfil de indicadores:

- RAZÃO DO NÚMERO DE LEITOS HOSPITALARES POR HABITANTE

Cálculo: número de leitos hospitalares (por 1000) dividido pelo número total de
habitantes no ano considerado (em geral, ajustado para o meio do ano).

Fonte: os dados para o numerador deste indicador são normalmente obtidos dos
institutos nacionais de estatística, registros das instituições de saúde ou pesquisas
sobre a estrutura dos serviços de saúde.

105

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Interpretações possíveis: este indicador estima a relação entre a oferta (ou cobertura
potencial) de leitos hospitalares e a população residente. Destaca-se que, em alguns
países, o conjunto de dados apenas compreende o número de leitos na rede pública. A
análise desta estimativa no tempo e em subgrupos populacionais permite monitorar a
razão. Este indicador fornece evidências preliminares de efetividade de políticas,
programas e ações que visam a expansão da capacidade de internação hospitalar. Além
disso, é usado em estudos da estrutura do atendimento hospitalar. Em geral, os leitos
hospitalares estão concentrados nas áreas urbanas e o monitoramento deste indicador
promover maior igualdade na distribuição geográfica de leitos hospitalares em uma
região.

- PROPORÇÃO DE PARTOS CESÁREOS:

Cálculo: número de nascimentos por parto cesáreo (por 100) dividido pelo total de
nascimentos na população no ano considerado.

Fonte: os dados para o numerador e para o denominador deste indicador são


normalmente obtidos dos sistemas nacionais de informação sobre nascimentos e de
pesquisas demográficas e de saúde.

Interpretações possíveis: este indicador estima a proporção dos partos cesáreos do


total de nascimentos na população. A análise desta estimativa no tempo e em subgrupos
populacionais permite monitorar a magnitude do indicador, que fornece evidências
preliminares da efetividade de políticas, programas e ações que visam promover o parto
natural. Além disso, o indicador é usado para fundamentar pesquisas sobre os
procedimentos e práticas de uma sociedade quanto à acessibilidade e o uso de serviços
de atenção de saúde ao parto.

- TAXA DE MORTALIDADE POR DOENÇAS QUE PODEM SER EVITADAS POR


VACINAÇÃO EM MENORES DE 1 ANO:

Cálculo: número de óbitos por doenças que podem ser evitadas por vacinação em
menores de 1 ano de idade (por 100.000) dividido pelo total de nascimentos na
população no ano considerado.

106

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Fonte: os dados para o numerador deste indicador são normalmente obtidos dos
sistemas nacionais de informação sobre mortalidade e os dados para o denominador
provêm dos sistemas nacionais de informação sobre nascimentos.

Interpretações possíveis: este indicador estima o risco de crianças menores de 1 ano


de idade de morrer por uma causa relacionada a um conjunto de doenças para as quais
os serviços de saúde dispõem de programas de vacinação adequados. A análise desta
estimativa no tempo e em subgrupos populacionais permite monitorar a magnitude do
indicador, que fornece evidências preliminares da efetividade de políticas, programas e
intervenções que visam estimular a expansão do acesso a vacinas e fundamentar
pesquisas sobre os processos e práticas dos serviços de saúde quanto à vacinação de
crianças no primeiro ano de vida.

- Indicadores de Qualidade da Saúde Suplementar

No âmbito da Saúde Suplementar no Brasil, a Agência Nacional de Saúde Suplementar


(ANS), através da Resolução Normativa (RN) N° 405/2016 estabelece o Programa de
Qualificação dos Prestadores de Serviços na Saúde Suplementar (QUALISS).
(BRASIL, 2016).

O QUALISS visa estimular a qualificação dos prestadores de serviços de saúde


(hospitais, clínicas, laboratórios e profissionais de saúde) e aumentar a disponibilidade
de informações sobre qualidade de prestadores de serviço.

Em termos práticos, consiste no estabelecimento de atributos de qualificação relevantes


para o aprimoramento da qualidade assistencial oferecida pelos prestadores de
serviços; além da avaliação e divulgação da qualificação desses prestadores de
serviços de saúde. Desta forma, os indicadores monitorados possibilitam incentivar a
melhoria da qualidade dos serviços e a transparência de informações acessadas pelo
consumidor final.

107

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Na versão atual do QUALISS, recomenda-se a avaliação de 14 (quatorze)
indicadores20 – dos quais 10 (dez) são obrigatórios –, capazes de mensurar atributos
da qualidade assistencial em 03 (três) dimensões: efetividade, eficiência e a
segurança da assistência prestada aos beneficiários pelos hospitais vinculados aos
seus planos de saúde. Os indicadores da dimensão efetividade referem-se aos
desfechos associados aos procedimentos realizados e à adesão de protocolos
institucionais validados; os de eficiência avaliam a qualidade e agilidade dos processos,
buscando grau máximo de cuidado efetivo com os recursos disponíveis; já os
indicadores de segurança do paciente avaliam as estratégias para evitar danos
desnecessários. O detalhamento desses indicadores é demonstrado na página adiante
(Figura 01).

Sob a perspectiva tecnológica, para apoiar a divulgação e comparação desses dados,


recentemente a ANS lançou o Sistema de Indicadores Hospitalares (SIHOSP)21 para
acompanhar o desempenho e avaliar a qualidade de hospitais que atuam no setor de
planos de saúde.

20 Detalhamento da ficha técnica dos indicadores podem ser acessados em: https://www.gov.br/ans/pt-
br/arquivos/assuntos/prestadores/qualiss-programa-de-qualificacao-dos-prestadores-de-servicos-de-
saude-1/fichas-tecnicas-dos-indicadores-monitoramento-da-qualidade-hospitalar.pdf
21 Informações detalhadas podem ser vislumbradas no site: https://www.gov.br/ans/pt-
br/assuntos/prestadores/qualiss-programa-de-qualificacao-dos-prestadores-de-servicos-de-saude-
1/monitoramento-da-qualidade-hospitalar
108

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Figura 01 – Indicadores do Programa QUALISS da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS)
Indicadores Obrigatórios (10)

Continuação:
Figura 01 – Indicadores do Programa QUALISS da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS)

109

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


Indicadores Opcionais (04)

Fonte: Adaptado da autora. Informações disponíveis no site da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS). Disponível em: < https://www.gov.br/ans/pt-br/assuntos/prestadores/qualiss-programa-de-
qualificacao-dos-prestadores-de-servicos-de-saude-1/monitoramento-da-qualidade-hospitalar>. Acesso
em fev.2022.

Por fim, para agregar ao conteúdo sumarizado neste capítulo recomenda-se a leitura da
referência (Organização Pan-Americana da Saúde. Indicadores de saúde. Elementos
conceituais e práticos. Washington, D.C.: OPAS; 2018).

110

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


REFERÊNCIAS

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed. – Brasília:


Ministério da Saúde, 2009. 816 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
MEDRONHO R.A. Epidemiologia. 2ª Edição. Atheneu, 2009. (Atenção que a 3ª. Edição
encontra-se em fase de finalização)  Gordis L. Epidemiologia 5ª ed. Rio de Janeiro:
Revinter; 2017.
ROUQUAYROL, M. Z; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e Saúde. 6. ed. Porto
Alegre: MEDSI. 2006.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2005. 596p.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm > . Acesso em: 16 Fev. 2021.

______. CF/88. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> >. Acesso
em: 16 Fev. 2021.

______. Ministério da Saúde (MS). Anais: I Seminário sobre a Política Nacional de


Promoção da Saúde Brasília: MS; 2012. (Série D. Reuniões e Conferências).)

______. Ministério da Saúde. Portaria Nº 2.446/GM de 11 de Novembro de 2014.


Redefine a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Brasília, DF, 2014.

111

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


LAURELL, A. C. A saúde-doença como processo social. In: NUNES, E. D.
(Org.). Medicina social: aspectos históricos e teóricos. São Paulo: Global, 1983, p. 133-
158.

OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Declaração de Alma-Ata: primeira


conferência internacional sobre cuidados primários de saúde. Genebra, 1978.

OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Carta de Ottawa para a promoção da


saúde: primeira conferência internacional sobre promoção da saúde. Genebra, 1986.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Diminuindo diferenças: a prática das


políticas sobre determinantes sociais da saúde: documento de discussão. Rio de
Janeiro, Brasil, 19-21 de outubro de 2011. Disponível em: <»
http://cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/10/Documento-Tecnico-da-
Conferencia-vers%C3%A3o-final.pdf>. Acesso em: 16 Jun. 2021.

ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Disponível em:<


http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm >. Acesso em: Jan. 2021.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Indicadores de saúde. Elementos


conceituais e práticos. Washington, D.C.: OPAS; 2018. Disponível em: <
https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/49057/9789275720059_por.pdf?sequenc
e=5 >. Acesso em: 16 Jun. 2021.
WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. The Nairobi call to action for closing the
implementation gap in health promotion. Geneva, 2009.

112

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


ANEXOS

ANEXO A – Glossário

GLOSSÁRIO22

Este glossário constitui-se de material de apoio para melhor compreensão das


terminologias utilizadas nesta publicação. Entretanto, alguns termos aqui incluídos
podem ser encontrados com significados distintos em outras publicações. Ressalta-se
que as definições aqui apresentadas são as mais utilizadas no contexto da vigilância
em saúde e controle de doenças.

AGENTE: entidade biológica, física ou química capaz de causar doença. AGENTE


INFECCIOSO: agente biológico, capaz de produzir infecção ou doença infecciosa. ALADO: fase
adulta do vetor, presença de asas.

ANTICORPO: globulina encontrada em fluidos teciduais e no soro, produzida em resposta ao


estímulo de antígenos específicos, sendo capaz de se combinar com os mesmos, neutralizando-
os ou destruindo-os.

ANTICORPO MONOCLONAL: anticorpo produzido pela progênie de uma única célula, fato que
o torna extremamente puro, preciso e homogêneo.

ANTIGENICIDADE: capacidade de um agente, ou de fração do mesmo, estimular a formação


de anticorpos.

ANTÍGENO: porção ou produto de um agente biológico, capaz de estimular a formação de


anticorpos específicos.

22
Informações do Glossário extraídas do Guia de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde. [Brasil. Ministério
da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância
epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. –
7. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 816 p.]. Algumas informações foram adaptadas pela autora em 2021 para
auxiliar na compreensão.
113

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


ANTISSEPSIA: conjunto de medidas empregadas para impedir a proliferação microbiana.

ÁREA DE FOCO: área de transmissão para esquistossomose, com localização bem definida,
limitada a uma localidade ou pequeno número desta, em um município.

ASSEPSIA: conjunto de medidas utilizadas para impedir a penetração de microrganismos


(contaminação) em local que não os contenha. ASSOCIAÇÃO MEDICAMENTOSA:
administração simultânea de dois ou mais medicamentos, seja em preparação separada, seja
em uma mesma preparação.

BACTERIÓFAGO: vírus que lisa a bactéria. Capaz de infectar e destruir bactérias. É


frequentemente utilizado como vetor pela engenharia genética.

CAPACIDADE VETORIAL: propriedade do vetor, mensurada por parâmetros como abundância,


sobrevivência e grau de “domiciliação”. Relaciona-se à transmissão do agente infeccioso em
condições naturais.

CARACTERES EPIDEMIOLÓGICOS: modos de ocorrência natural das doenças em uma


comunidade, em função da estrutura epidemiológica da mesma.

CARÁTER ANTIGÊNICO: combinação química dos componentes antigênicos de um agente,


cuja combinação e componentes são únicos, para cada espécie ou cepa do agente, sendo
responsável pela especificidade da imunidade resultante da infecção. CASO: pessoa ou animal
infectado ou doente, apresentando características clínicas, laboratoriais e/ou epidemiológicas
específicas.

CASO AUTÓCTONE: caso contraído pelo enfermo na zona de sua residência.

CASO CONFIRMADO: pessoa de quem foi isolado e identificado o agente etiológico, ou de


quem foram obtidas outras evidências epidemiológicas e/ou laboratoriais da presença do agente
etiológico, como, por exemplo, a conversão sorológica em amostras de sangue colhidas nas
fases aguda e de convalescência. Esse indivíduo pode ou não apresentar a síndrome indicativa
da doença causada pelo agente. A confirmação do caso está sempre condicionada à observação
dos critérios estabelecidos pela definição de caso, a qual, por sua vez, está relacionada ao
objetivo do programa de controle da doença e/ou do sistema de vigilância.

CASO ESPORÁDICO: caso que, segundo informações disponíveis, não se apresenta


epidemiologicamente relacionado a outros já conhecidos.

CASO ÍNDICE: primeiro, entre vários casos, de natureza similar e epidemiologicamente


relacionada. O caso índice é muitas vezes identificado como fonte de contaminação ou infecção.

114

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


CASO IMPORTADO: caso contraído fora da zona onde se fez o diagnóstico. O emprego dessa
expressão dá a idéia de que é possível situar, com certeza, a origem da infecção numa zona
conhecida.

CASO INDUZIDO: caso de malária que pode ser atribuído a uma transfusão de sangue ou a
outra forma de inoculação parenteral, porém não à transmissão natural pelo mosquito. A
inoculação pode ser acidental ou deliberada e, nesse caso, pode ter objetivos terapêuticos ou de
pesquisa. CASO INTRODUZIDO: na terminologia comum, esse nome é dado aos casos
sintomáticos diretos, quando se pode provar que os mesmos constituem o primeiro elo da
transmissão local após um caso importado conhecido.

CASO PRESUNTIVO: pessoa com síndrome clínica compatível com a doença, porém sem
confirmação laboratorial do agente etiológico. Histórico de exposição não evidenciado ou pouco
provável.

CASO SUSPEITO: pessoa cuja história clínica, sintomas e possível exposição a uma fonte de
infecção sugerem que possa estar ou vir a desenvolver alguma doença infecciosa.

CEPA: população de uma mesma espécie, descendente de um único antepassado ou que tenha
espécie descendente de um único antepassado ou mesma origem, conservada mediante uma
série de passagens por hospedeiros ou subculturas adequadas. As cepas de comportamento
semelhante são chamadas “homólogas” e as de comportamento diferente, “heterólogas”.
Anteriormente, empregava-se o termo “cepa” de maneira imprecisa, para aludir a um grupo de
organismos estreitamente relacionados entre si e que perpetuavam suas características em
gerações sucessivas.

COORTE: grupo de indivíduos que têm um atributo em comum. Designa também um tipo de
estudo epidemiológico.

COLONIZAÇÃO: propagação de um microrganismo na superfície ou no organismo de um


hospedeiro, sem causar agressão celular. Um hospedeiro colonizador pode atuar como fonte de
infecção.

CONTÁGIO: sinônimo de transmissão direta.

CONTAMINAÇÃO: ato ou momento em que uma pessoa ou objeto se converte em veículo


mecânico de disseminação de determinado agente patogênico.

CONTATO: pessoa ou animal que teve contato com pessoa ou animal infectado, ou com
ambiente contaminado, criando a oportunidade de adquirir o agente etiológico.

115

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CONTATO EFICIENTE: contato entre um suscetível e uma fonte primária de infecção, em que
o agente etiológico é realmente transferido dessa para o primeiro.

CONTROLE: quando aplicado a doenças transmissíveis e não transmissíveis, significa


operações ou programas desenvolvidos com o objetivo de reduzir sua incidência e/ou
prevalência a níveis muito baixos.

DESINFECÇÃO: procedimento pelo qual são tomadas medidas de saúde para controlar ou
matar agentes infecciosos na superfície corporal de um ser humano ou animal, no interior ou na
superfície de bagagens, cargas, containers, meios de transporte, mercadorias e encomendas
postais, mediante exposição direta a agentes químicos ou físicos.

DESINFECÇÃO CONCORRENTE: aplicação de medidas desinfetantes o mais rápido possível,


após a expulsão de material infeccioso do organismo de uma pessoa infectada ou depois que a
mesma tenha se contaminado com o referido material. Reduz ao mínimo o contato de outros
indivíduos com esse material ou objetos.

DESINFECÇÃO TERMINAL: desinfecção feita no local em que esteve um caso clínico ou


portador, ocorrendo, portanto, depois que a fonte primária de infecção deixou de existir (por morte
ou por ter se curado) ou depois que abandonou o local. A desinfecção terminal, aplicada
raramente, é indicada no caso de doenças transmitidas por contato indireto.

DESINFESTAÇÃO: destruição de metazoários, especialmente artrópodes e roedores, com


finalidades profiláticas.

DISSEMINAÇÃO POR FONTE COMUM: disseminação do agente de uma doença, a partir da


exposição de um determinado número de pessoas, num certo espaço de tempo, a um veículo
comum. Exemplo: água, alimentos, ar, seringas contaminadas.

DOENÇA TRANSMISSÍVEL (doença infecciosa): doença causada por um agente infeccioso


específico ou pela toxina por ele produzida, por meio da transmissão desse agente ou de seu
produto, tóxico a partir de uma pessoa ou animal infectado, ou ainda de um reservatório para um
hospedeiro suscetível, quer direta ou indiretamente intermediado por vetor ou ambiente.
DOENÇAS QUARENTENÁRIAS: doenças de grande transmissibilidade, em geral graves, que
requerem notificação internacional imediata à Organização Mundial da Saúde, isolamento
rigoroso de casos clínicos e quarentena dos comunicantes, além de outras medidas de profilaxia
com o intuito de evitar sua introdução em regiões até então indenes. Entre as doenças
quarentenárias encontram-se a cólera, febre amarela e tifo exantemático e a atual COVID-19.

DOSE DE REFORÇO: quantidade de antígeno administrada com o fim de manter ou reavivar a


resistência conferida pela imunização.
116

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EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA DE IMPORTÂNCIA INTERNACIONAL: evento
extraordinário que, nos termos do presente Regulamento, é determinado como: a) constituindo
um risco para a saúde pública para outros Estados, devido à propagação internacional de doença
e; b) potencialmente exigindo uma resposta internacional coordenada. Para o RSI/2005, “evento”
significa uma manifestação de doença ou uma ocorrência que apresente potencial para causar
doença.

EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA DE IMPORTÂNCIA NACIONAL: evento que apresente


risco de propagação ou disseminação de doenças para mais de uma unidade federada (Estado
ou Distrito Federal), com priorização das doenças de notificação imediata e outros eventos de
Saúde Pública (independentemente da natureza ou origem), depois de avaliação de risco, e que
possa necessitar de resposta nacional imediata. Para fins dessa definição considera-se um
“evento”: cada caso suspeito ou confirmado de doença de notificação imediata; agregado de
casos de doenças que apresentem padrão epidemiológico diferente do habitual (para doenças
conhecidas); agregados de casos de doenças novas; epizootias e/ou mortes de animais que
podem estar associadas à ocorrência de doenças em humanos; outros eventos inusitados ou
imprevistos, incluindo fatores de risco com potencial de propagação de doenças, como desastres
ambientais, acidentes químicos ou radio nucleares.

ENDEMIA: presença contínua de uma enfermidade, ou agente infeccioso, em uma zona


geográfica determinada; pode também expressar a prevalência usual de uma doença particular
numa zona geográfica. O termo hiperendemia significa a transmissão intensa e persistente,
atingindo todas as faixas etárias; e holoendemia, um nível elevado de infecção que começa a
partir de uma idade precoce e afeta a maior parte da população jovem, como, por exemplo, a
malária em algumas regiões do globo.

EPIDEMIA: manifestação, em uma coletividade ou região, de um corpo de casos de alguma


enfermidade que excede claramente a incidência prevista. O número de casos, que indica a
existência de uma epidemia, varia com o agente infeccioso, o tamanho e as características da
população exposta, sua experiência prévia ou falta de exposição à enfermidade e local e época
do ano em que ocorre. Por decorrência, a epidemia guarda relação com a frequência comum da
enfermidade na mesma região, na população especificada e na mesma estação do ano. O
aparecimento de um único caso de doença transmissível, que durante um lapso de tempo
prolongado não havia afetado uma população ou que invade pela primeira vez uma região,
requer notificação imediata e uma completa investigação de campo; dois casos dessa doença,
associados no tempo ou espaço, podem ser evidência suficiente de uma epidemia.

117

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EPIDEMIA POR FONTE COMUM (epidemia maciça ou epidemia por veículo comum):
epidemia em que aparecem muitos casos clínicos, dentro de um intervalo igual ao período de
incubação clínica da doença, o que sugere a exposição simultânea (ou quase simultânea) de
muitas pessoas ao agente etiológico. O exemplo típico é o das epidemias de origem hídrica.

EPIDEMIA PROGRESSIVA (epidemia por fonte propagada): epidemia na qual as infecções


são transmitidas de pessoa a pessoa ou de animal, de modo que os casos identificados não
podem ser atribuídos a agentes transmitidos a partir de uma única fonte.

ERRADICAÇÃO: cessação de toda a transmissão da infecção, pela extinção artificial da espécie


do agente em questão. A erradicação pressupõe a ausência completa de risco de reintrodução
da doença, de forma a permitir a suspensão de toda e qualquer medida de prevenção ou controle.
A erradicação regional ou eliminação é a cessação da transmissão de determinada infecção, em
ampla região geográfica ou jurisdição política.

FOCO NATURAL: pequeno território, compreendendo uma ou várias paisagens, onde a


circulação do agente causal estabeleceu-se numa biogecenose, por um tempo indefinidamente
longo, sem sua importação de outra região. O foco natural é uma entidade natural, cujos limites
podem ser demarcados em um mapa. (exemplo – esquistossomose).

FOCO ARTIFICIAL: doença transmissível que se instala em condições propiciadas pela


atividade antrópica.

FÔMITES: objetos de uso pessoal do caso clínico ou portador, que podem estar contaminados
e transmitir agentes infecciosos e cujo controle é feito por meio da desinfecção.

FONTE DE INFECÇÃO: pessoa, animal, objeto ou substância a partir do qual o agente é


transmitido para o hospedeiro.

FONTE PRIMÁRIA DE INFECÇÃO (reservatório): homem ou animal e, raramente, o solo ou


vegetais, responsáveis pela sobrevivência de determinada espécie de agente etiológico na
natureza. No caso dos parasitas heteróxenos, o hospedeiro mais evoluído (que geralmente é
também o definitivo) é denominado fonte primária de infecção; e o hospedeiro menos evoluído
(em geral hospedeiro intermediário) é chamado vetor biológico.

FONTE SECUNDÁRIA DE INFECÇÃO: ser animado ou inanimado que transporta determinado


agente etiológico, não sendo o principal responsável pela sobrevivência desse como espécie.
Esta expressão é substituída, com vantagem, pelo termo “veículo”.

118

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FREQUÊNCIA (ocorrência): termo genérico, utilizado em epidemiologia para descrever a
frequência de uma doença ou de outro atributo ou evento identificado na população, sem fazer
distinção entre incidência ou prevalência.

GOTÍCULAS DE FLÜGGE: secreções oro nasais de mais de 100 micras de diâmetro, que
transmitem agentes infecciosos de maneira direta mediata.

HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA: descrição que inclui as características das funções de


infecção, distribuição da doença segundo os atributos de pessoas, tempo e espaço, distribuição
e características ecológicas do reservatório do agente; mecanismos de transmissão e efeitos da
doença sobre o homem.

HOSPEDEIRO: organismo simples ou complexo, incluindo o homem, capaz de ser infectado por
um agente específico.

HOSPEDEIRO DEFINITIVO: apresenta o parasita em fase de maturidade ou de atividade sexual.


HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO: apresenta o parasita em fase larvária ou assexuada.

IMUNIDADE: resistência, usualmente associada à presença de anticorpos que têm o efeito de


inibir microrganismos específicos ou suas toxinas, responsáveis por doenças infecciosas
particulares.

IMUNIDADE ATIVA: imunidade adquirida naturalmente pela infecção, com ou sem


manifestações clínicas, ou artificialmente pela inoculação de frações ou produtos de agentes
infecciosos, ou do próprio agente morto, modificado ou de forma variante.

IMUNIDADE DE REBANHO: resistência de um grupo ou população à introdução e disseminação


de um agente infeccioso. Essa resistência é baseada na elevada proporção de indivíduos
imunes, entre os membros desse grupo ou população, e na uniforme distribuição desses
indivíduos imunes.

IMUNIDADE PASSIVA: imunidade adquirida naturalmente da mãe, ou artificialmente pela


inoculação de anticorpos protetores específicos (soro imune de convalescentes ou
imunoglobulina sérica). A imunidade passiva é pouco duradoura.

IMUNODEFICIÊNCIA: ausência de capacidade para produzir anticorpos em resposta a um


antígeno.

IMUNOGLOBULINA: solução estéril de globulinas que contêm aqueles anticorpos normalmente


presentes no sangue do adulto.

IMUNOPROFILAXIA: prevenção da doença através da imunidade conferida pela administração


de vacinas ou soros a uma pessoa ou animal.
119

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INCIDÊNCIA: número de casos novos de uma doença, ocorridos em uma população particular,
durante um período específico de tempo.

INFECÇÃO: penetração, alojamento e, em geral, multiplicação de um agente etiológico animado


no organismo de um hospedeiro, produzindo-lhe danos, com ou sem aparecimento de sintomas
clinicamente reconhecíveis. Em essência, a infecção é uma competição vital entre um agente
etiológico animado (parasita sensu latu) e um hospedeiro; é, portanto, uma luta pela
sobrevivência entre dois seres vivos, que visam a manutenção de sua espécie.

INFECÇÃO APARENTE (doença): desenvolve-se acompanhada de sinais e sintomas clínicos.

INFECÇÃO HOSPITALAR: desenvolve-se em paciente hospitalizado ou atendido em outro


serviço de assistência, que não padecia nem estava incubando a doença no momento da
hospitalização. Pode manifestar-se, também, como efeito residual de infecção adquirida durante
hospitalização anterior, ou ainda manifestar-se somente após a alta hospitalar. Abrange
igualmente as infecções adquiridas no ambiente hospitalar, acometendo visitantes ou sua própria
equipe.

INFECÇÃO INAPARENTE: cursa na ausência de sinais e sintomas clínicos perceptíveis.

INFECTIVIDADE: capacidade do agente etiológico se alojar e multiplicar-se no corpo do


hospedeiro.

INFESTAÇÃO: entende-se por infestação de pessoas ou animais o alojamento,


desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do corpo ou nas roupas. Os objetos
ou locais infestados são os que albergam ou servem de alojamento a animais, especialmente
artrópodes e roedores.

INFLAMAÇÃO: resposta normal do tecido à agressão celular por material estranho; caracteriza-
se pela dilatação de capilares e mobilização de defesas celulares (leucócitos e fagócitos).

INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO: levantamento epidemiológico feito por coleta ocasional de


dados, quase sempre por amostragem, que fornece dados sobre a prevalência de casos clínicos
ou portadores em determinada comunidade.

INVASIBILIDADE: capacidade de um microrganismo entrar no corpo e se disseminar através


dos tecidos. Essa disseminação pode ou não resultar em infecção ou doença.

INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE CAMPO (classicamente conhecida por


investigação epidemiológica): estudos efetuados a partir de casos clínicos, ou de portadores,
para a identificação das fontes de infecção e modos de transmissão do agente. Pode ser
realizada quando de casos esporádicos ou surtos.
120

Especialização EAD em Gestão Estratégica em Saúde


ISOLAMENTO: segregação de um caso clínico do convívio das outras pessoas, durante o
período de transmissibilidade, visando evitar que os susceptíveis sejam infectados. Em certos
casos, o isolamento pode ser domiciliar ou hospitalar; em geral, é preferível esse último, por ser
mais eficiente. Para o RSI/2005, “isolamento” significa a separação de pessoas doentes ou
contaminadas ou bagagens, meios de transporte, mercadorias ou encomendas postais afetadas
de outros, de maneira a evitar a propagação de infecção ou contaminação.

JANELA IMUNOLÓGICA: intervalo entre o início da infecção e a possibilidade de detecção de


anticorpos, por meio de técnicas laboratoriais.

LATÊNCIA: período, na evolução clínica de uma doença parasitária, no qual os sintomas


desaparecem, apesar de o hospedeiro estar ainda infectado, e de já ter sofrido o ataque primário,
ou uma ou várias recaídas. Terminologia frequentemente utilizada em relação à malária.

NICHO OU FOCO NATURAL: quando o agente patogênico, o vetor específico e o animal


hospedeiro existirem sob condições naturais, durante muitas gerações, num tempo indefinido,
independente da existência do homem.

OBSERVAÇÃO DE SAÚDE PÚBLICA: no RSI/2005, esta expressão significa o monitoramento


do estado de saúde de um viajante ao longo do tempo, a fim de determinar o risco de transmissão
de doença.

OPORTUNISTA: organismo que, vivendo normalmente como comensal ou de vida livre, passa
a atuar como parasita, geralmente em decorrência da redução da resistência natural do
hospedeiro.

PANDEMIA: epidemia de uma doença que afeta pessoas em muitos países e continentes.
PARASITA: organismo, geralmente microrganismo, cuja existência ocorre à expensa de um
hospedeiro. Entretanto, não é obrigatoriamente nocivo a seu hospedeiro. Existem parasitas
obrigatórios e facultativos; os primeiros sobrevivem somente na forma parasitária e os últimos
podem ter uma existência independente.

PATOGENICIDADE: capacidade de um agente biológico causar doença em um hospedeiro


suscetível.

PATÓGENO: agente biológico capaz de causar doenças.

PERÍODO DE INCUBAÇÃO: intervalo entre a exposição efetiva do hospedeiro suscetível a um


agente biológico e o início dos sinais e sintomas clínicos da doença no mesmo.

121

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PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: intervalo de tempo durante o qual uma pessoa ou animal
infectado elimina um agente biológico para o meio ambiente ou para o organismo de um vetor
hematófago, sendo possível, portanto, a sua transmissão a outro hospedeiro.

PERÍODO DE LATÊNCIA: intervalo entre a exposição a agentes patológicos e início dos sinais
e sintomas da doença.

PERÍODO PRODRÔMICO: lapso de tempo entre os primeiros sintomas da doença e o início dos
sinais ou sintomas, que baseia o estabelecimento do diagnóstico.

PODER IMUNOGÊNICO (imunogenicidade): capacidade de o agente biológico estimular a


resposta imune no hospedeiro; conforme as características desse agente, a imunidade obtida
pode ser de curta ou longa duração e de grau elevado ou baixo.

PREVALÊNCIA: número de casos clínicos ou de portadores existentes em um determinado


momento, em uma comunidade, dando uma idéia estática da ocorrência do fenômeno. Pode ser
expressa em números absolutos ou em coeficientes. PRÓDROMOS: sintomas indicativos do
início de uma doença.

PROCESSO SAÚDE-DOENÇA: termo utilizado para definir todas as variáveis envolvidas no


estado de “saúde” e “doença” de um indivíduo ou população, levando-se em conta que ambos
os estados estão interligados e que são consequências dos mesmos fatores.

PROFILAXIA: conjunto de medidas que têm por finalidade prevenir ou atenuar as doenças, suas
complicações e consequências. Quando a profilaxia basear-se no emprego de medicamentos,
tratase da quimioprofilaxia.

QUARENTENA: isolamento de indivíduos ou animais sadios pelo período máximo de incubação


da doença, contado a partir da data do último contato com um caso clínico ou portador ou da
data em que esse comunicante sadio abandonou o local em que se encontrava a fonte de
infecção. Na prática, a quarentena é aplicada no caso das doenças quarentenárias. No RSI/2005,
“Quarentena” é definida como a restrição das atividades e/ou o separação de pessoas suspeitas
de pessoas que não estão doentes ou de bagagens, containers, meios de transporte ou
mercadorias suspeitos, de maneira a evitar a possível propagação de infecção ou contaminação.

QUIMIOPROFILAXIA: administração de uma droga, incluindo antibióticos, para prevenir uma


infecção ou a progressão de uma infecção com manifestações da doença.

QUIMIOTERAPIA: uso de uma droga com o objetivo de tratar uma doença clinicamente
reconhecível ou de eliminar seu progresso.

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RECAÍDA: reaparecimento ou recrudescimento dos sintomas de uma doença, antes do doente
apresentar-se completamente curado. No caso da malária, recaída significa nova aparição de
sintomas depois do ataque primário.

RECIDIVA: reaparecimento do processo mórbido após sua cura aparente. Exemplo: na


tuberculose, significa o aparecimento de positividade no escarro, em dois exames sucessivos,
após a cura.

RECORRENTE: estado patológico que evolui através de recaídas sucessivas.

RESERVATÓRIO DE AGENTES INFECCIOSOS (fonte primária de infecção): qualquer ser


humano, animal, artrópode, planta, solo, matéria ou uma combinação deles, no qual
normalmente vive e se multiplica um agente infeccioso, que depende desse meio para sua
sobrevivência, reproduzindo-se de modo tal que pode ser transmitido a um hospedeiro
susceptível.

RESISTÊNCIA: conjunto de mecanismos específicos e inespecíficos do organismo que serve de


defesa contra a invasão ou multiplicação de agentes infecciosos ou contra os efeitos nocivos de
seus produtos tóxicos. Os mecanismos específicos constituem a imunidade; os inespecíficos, a
resistência inerente ou natural.

SANEAMENTO DOMICILIAR: conjunto de ações que visa à melhoria do abastecimento d’água,


esgotamento sanitário, manejo e destino adequado dos resíduos sólidos no domicílio.

SEPTICEMIA: presença de microrganismo patogênico, ou de suas toxinas, no sangue ou em


outros tecidos. SINAL: evidência objetiva de doença.

SÍNDROME: conjunto de sintomas e sinais que tipificam uma determinada doença.


SINERGISMO: ação combinada de dois ou mais medicamentos que produzem um efeito
biológico, cujo resultado pode ser simplesmente a soma dos efeitos de cada composto ou um
efeito total superior a essa soma. Quando um medicamento aumenta a ação de outro, diz-se que
existe potencialização. Esse termo é muitas vezes utilizado de forma pouco precisa para
descrever o fenômeno de sinergismo, quando dois compostos atuam sobre diferentes locais
receptores do agente patogênico. O caso oposto é representado pelo antagonismo, fenômeno
pelo qual as ações conjuntas de dois ou mais compostos resultam em diminuição do efeito
farmacológico.

SINTOMA: evidência subjetiva de doença.

SOROEPIDEMIOLOGIA: estudo epidemiológico ou atividade baseada na identificação, com


base em testes sorológicos, de mudanças nos níveis de anticorpos específicos de uma

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população. Esse método permite não só a identificação de casos clínicos mas também os
estados de portador e as infecções latentes ou subclínicas.

SOROTIPO: caracterização de um microrganismo pela identificação de seus antígenos.

SURTO EPIDÊMICO: ocorrência de dois ou mais casos epidemiologicamente relacionados.


SUSCETÍVEL: qualquer pessoa ou animal que supostamente não possui resistência suficiente
contra um determinado agente patogênico, que o proteja da enfermidade, caso venha a entrar
em contato com o agente.

TAXA (OU COEFICIENTE) DE LETALIDADE: medida de frequência de óbitos por determinada


causa, entre membros de uma população atingida pela doença.

TAXA DE MORBIDADE: medida de frequência de doença em uma população. Existem dois


grupos importantes de taxa de morbidade: os de incidência e os de prevalência.

TAXA (OU COEFICIENTE) DE MORTALIDADE: medida de frequência de óbitos em uma


determinada população, durante um intervalo de tempo específico. Ao serem incluídos os óbitos
por todas as causas, tem-se a taxa de mortalidade geral. Caso se inclua somente óbitos por
determinada causa, tem-se a taxa de mortalidade específica.

TAXA (OU COEFICIENTE) DE NATALIDADE: medida de frequência de nascimentos, em uma


determinada população, durante um período de tempo especificado.

TOXINA: proteínas ou substâncias proteicas conjugadas, letais para certos organismos. As


toxinas são produzidas por algumas plantas superiores, por determinados animais e por
bactérias patogênicas. O alto peso molecular e a antigenicidade das toxinas diferenciam-nas de
alguns venenos químicos e alcalóides de origem vegetal.

TRANSMISSÃO: transferência de um agente etiológico animado de uma fonte primária de


infecção para um novo hospedeiro. Pode ocorrer de forma direta ou indireta.

TRANSMISSÃO DIRETA (contágio): transferência do agente etiológico, sem a interferência de


veículos.

TRANSMISSÃO DIRETA IMEDIATA: transmissão direta, em que há um contato físico entre a


fonte primária de infecção e o novo hospedeiro.

TRANSMISSÃO DIRETA MEDIATA: transmissão direta, em que não há contato físico entre a
fonte primária de infecção e o novo hospedeiro; a transmissão ocorre por meio das secreções
oronasais (gotículas de Flügge).

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TRANSMISSÃO INDIRETA: transferência do agente etiológico por meio de veículos animados
ou inanimados. A fim de que a transmissão indireta possa ocorrer, torna-se essencial que os
germes sejam capazes de sobreviver fora do organismo, durante um certo tempo, e que haja um
veículo que os leve de um lugar a outro.

TRATAMENTO ANTI-RECIDIVANTE: tratamento destinado a prevenir as recidivas,


particularmente as que incidem a longo prazo. Sinônimo de tratamento radical com expectativa
de cura plena da doença ou sintoma.

TRATAMENTO PROFILÁTICO: tratamento de um caso clínico ou de um portador, com a


finalidade de reduzir o período de transmissibilidade.

VACINA: preparação contendo microrganismos vivos ou mortos ou suas frações, possuidora de


propriedades antigênicas. São empregadas para induzir, em um indivíduo, a imunidade ativa e
específica contra um microrganismo.

VEÍCULO: ser animado ou inanimado que transporta um agente etiológico. Não são
consideradas, como veículos, as secreções e excreções da fonte primária de infecção, que são,
na realidade, um substrato no qual os microrganismos são eliminados.

VEÍCULO ANIMADO (vetor): artrópode que transfere um agente infeccioso da fonte de infecção
para um hospedeiro suscetível.

VEÍCULO INANIMADO: ser inanimado que transporta um agente etiológico. Os veículos


inanimados são: água, ar, alimentos, solo e fômites.

VETOR BIOLÓGICO: vetor no qual se passa, obrigatoriamente, uma fase do desenvolvimento


de determinado agente etiológico. Erradicando-se o vetor biológico, desaparece a doença que
transmite.

VETOR MECÂNICO: vetor acidental que constitui somente uma das modalidades da
transmissão de um agente etiológico. Sua erradicação retira apenas um dos componentes da
transmissão da doença.

VIGILÂNCIA DE DOENÇA: levantamento contínuo de todos os aspectos relacionados com a


manifestação e propagação de uma doença, importantes para o seu controle eficaz. Inclui a
coleta e avaliação sistemática de:

“• dados de morbidade e mortalidade;


• dados especiais de investigações de campo sobre epidemias e casos individuais;
• dados relativos a isolamento e notificação de agentes infecciosos em laboratório;
• dados relativos à disponibilidade, uso e efeitos adversos de vacinas, toxóides, imunoglobulinas,
inseticidas e outras substâncias empregadas no controle de doenças;

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• dados sobre níveis de imunidade em certos grupos da população. Todos esses dados devem
ser reunidos, analisados e apresentados na forma de informes que serão distribuídos a todas as
pessoas que colaboraram na sua obtenção e a outras que necessitem conhecer os resultados
das atividades da vigilância, para fins de prevenção e controle de agravos relevantes à saúde
pública. Esses procedimentos aplicam-se a todos os níveis dos serviços de saúde pública, desde
o local até o internacional” (BRASIL, 2009, 119p.).

VIGILÂNCIA DE PESSOA: observação médica rigorosa, ou outro tipo de supervisão de contatos


de pacientes com doença infecciosa, que visa permitir a identificação rápida da infecção ou
doença, porém sem restringir liberdade de movimentos.

VIGILÂNCIA SANITÁRIA: observação dos comunicantes durante o período máximo de


incubação da doença, a partir da data do último contato com um caso clínico ou portador, ou da
data em que o comunicante abandonou o local em que se encontrava a fonte primária de
infecção. Não implica restrição da liberdade de movimentos.

VIRULÊNCIA: grau de patogenicidade de um agente infeccioso.

ZOOANTROPONOSE: infecção transmitida aos animais, a partir de reservatório humano.

ZOONOSES: infecção ou doença infecciosa transmissível, sob condições naturais, de homens


a animais e vice-versa.

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ANEXO B - Ementa da Disciplina

INSTITUTO FEDERAL SUL DE MINAS – CAMPUS MACHADO

Especialização EAD: Gestão em Serviços de Saúde

Nome da Disciplina: Epidemiologia aplicada aos serviços de saúde

Carga Horária: 30 h

Professora: MSC 1° Ten PM/QOS Raquel Batista Dantas

Ementa

Análise da situação de saúde; vigilância epidemiológica; critérios de escolha e uso de indicadores


epidemiológicos na avaliação dos serviços de saúde; visão geral da bioestatística; aplicação
pratica dos estudos epidemiológicos em saúde.

Conteúdo

Bases conceituais, história e usos da epidemiologia. Processo saúde-doença. Princípios de


bioestatística aplicados à epidemiologia. Análise da situação de saúde. Vigilância epidemiológica.
Estudos epidemiológicos e medidas de morbimortalidade; coeficientes e padronização de taxas.
Critérios de escolha e uso de indicadores na avaliação dos serviços. Avaliação da qualidade de
serviços de saúde através de indicadores epidemiológicos.

Bibliografia Básica:

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed. – Brasília: Ministério da


Saúde, 2009. 816 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).

MEDRONHO R.A. Epidemiologia. 2ª Edição. Atheneu, 2009. (Atenção que a 3ª. Edição
encontra-se em fase de finalização)  Gordis L. Epidemiologia 5ª ed. Rio de Janeiro: Revinter;
2017.

ROUQUAYROL, M. Z; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e Saúde. 6. ed. Porto Alegre:


MEDSI. 2006.

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PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
596p.

Bibliografia Complementar:

BRASIL. Saúde Brasil 2009: uma análise da situação de saúde e da agenda nacional e
internacional de prioridades em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 368 p. (Série G.
Estatística e Informação em Saúde). Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/29_11_10_saude_brasil_web.pdf

REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÃO PARA A SAÚDE (RIPSA). Indicadores básicos


para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2.ed. Brasília: Organização Panamericana da
Saúde, 2008. Disponível em:
<portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ind_basicos_2_edicao.pdf>.

SOARES, J.F. SIQUEIRA, A.L. Introdução à estatística médica. 2.ed. Belo Horizonte:
COOPMED, 2002. 300p.

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