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HOMILÉTICA
EGUINALDO HÉLIO DE SOUZA
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18 HOMILÉTICA

Sumário
03 u Introdução

05 u Capítulo 1 q O princípio da homilética


05  O surgimento dos meios de comunicação
06  Conversa (diálogo)
06  O discurso em público
06  A retórica
08  Os romanos e sua oratória
08  Homilética cristã

10 u Capítulo 2 q A locução do pregador


11  Estudar o assunto para conhecer o tema
11  O pregador precisa ter ânimo
12  Fatores emocionais
12  O uso da palavra

13 u Capítulo 3 q A homilética na comunicação


13  Emissor
14  Mensagem
15  Como falar com a plateia

17 u Capítulo 4 q A homilética como instrumento auxiliar da Palavra de Deus


18  A evangelização
18  A hermenêutica
19  A exegese
19  O texto e o contexto

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18 HOMILÉTICA

21 u Capítulo 5 q A base para se elaborar um sermão


21  Estruturação da pregação
23  O título
23  A introdução
24  As divisões principais
24  A conclusão
25  Discussão
25  Ilustração
26  Aplicação
26  Apelo

27 u Capítulo 6 q Os tipos de sermões


27  Pregação temática
30  Pregação textual

33 u Capítulo 7 q As grandes possibilidades do sermão expositivo


34  A seriedade do estudo na apresentação de um sermão expositivo
35  Ideias erradas sobre o sermão expositivo
35  As peculiaridades do sermão expositivo
36  Como explorar o texto de forma consistente
37  A ordem do sermão expositivo
38  Exemplo esboçado de um sermão expositivo

40 u Conclusão

41 u Referências bibliográficas

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18 HOMILÉTICA

q Introdução

A origem etimológica da palavra homilética é derivada do grego homilos,


que significa “multidão”, “assembleia do povo”. Da mesma raiz surge outro
termo, homilia, que quer dizer “pequeno discurso”, extraído do verbo omileu, cuja
tradução é “conversar”.
O termo grego homilia significa “um discurso com a finalidade de convencer e
agradar”. Portanto, homilética significa “a arte de pregar”.
Como podemos ver, a arte de falar em público nasceu na Grécia antiga, com
o nome de retórica. Usada pelo cristianismo no século 17 como meio de pregação,
a arte de falar em público passou a ser chamada de homilética, que desenvolveu
vários métodos de comunicação. Um desses métodos é o discurso, ou seja, um con-
junto de frases ordenadas faladas em público. A principal característica da homilé-
tica é organizar, ordenar a forma correta de se expor um sermão.
Antes da homilética, a oratória contribuiu muito para aperfeiçoar o discurso e a
elaboração dos sermões. Depois de se tornar uma disciplina responsável pelo aper-
feiçoamento da maneira como o homem deveria falar em público, a homilética
passou a ter uma característica básica de anunciar uma notícia que, mais tarde,
recebeu o nome de pregação.

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18 HOMILÉTICA

Da união de vários fatores, como a persuasão, por exemplo, e de outros meios


de informar, surgiu, então, a eloquência, termo derivado do latim eloquentia , que
significa “elegância no falar”, “falar bem”, ou seja, a eloquência garante o suces-
so da comunicação, concedendo ao orador a capacidade de convencer. A elo-
quência, em verdade, está relacionada também às qualidades do pregador. Não
é gritaria, e muito menos excesso de expressões corporais no púlpito. A elocução
é o meio mais comum para a comunicação.
O curso de homilética envolve a pregação e a apresentação do ensino religio-
so. Isto é, ensina como montar e apresentar sermões de maneira mais eficaz. Sendo
uma disciplina que educa como falar em público, a homilética deve ser uma hon-
rosa tarefa exercida pelo cristão. O próprio Jesus Cristo ratificou isto ao dizer: “Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15).
Em relação ao estudo da Palavra de Deus, a dedicação e o esforço próprio
são atitudes muito importantes, porque ninguém sabe tudo, o processo de comu-
nicação está sempre mudando. Assim, ao estudante de comunicação cristã a me-
lhor maneira que ele tem de aprimorar sua fala em público é estudando.
Ninguém se torna um exímio pregador sem esforço. O estudo sistemático pode
fazer do aluno um notável pregador, desde que se dedique a este propósito!

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18 HOMILÉTICA

Capítulo
q O princípio da homilética
1
 O surgimento dos meios de comunicação

A comunicação faz parte das sociedades humanas desde os seus primórdios.


A palavra foi o primeiro veículo de comunicação (é antes do telex, do rá-
dio, da televisão, das mensagens via satélite e da Internet) e pode ser compreen-
dida de várias maneiras: sinais (símbolos gestuais), fala (símbolos sonoros) e escrita
(símbolos gráficos). Ou por métodos visuais.
A voz é um prodígio do sistema nervoso humano. Por meio da voz, da fala, o
homem, dotado de raciocínio e inteligência, pôde criar inúmeros meios de comu-
nicação. É por esse meio que consegue estabelecer diálogos, formular pensamen-
tos e condicionar suas emoções, e tudo isso relacionado às suas características
psicológicas.
Como um ser sociável, o homem, finalmente, passou a viver e a conviver em
grupos, tendo de recorrer ao diálogo para sua sobrevivência e comunicação entre
si. A voz tornou-se um feito comunitário.
A palavra possui duas características fundamentais: a física (som), chamada
de expressão (palavra que faz parte de uma língua), e a pensativa, que recebe o
nome de marco (limite, relação entre tempo e espaço). Nos primórdios da existên-
cia humana, a palavra tinha um significado nominativo, ou seja, as pessoas não a
consideravam de extrema importância, mas, sim, um simples objeto. Com o avanço
do homem ao conhecimento, a palavra passou a figurar como uma ideia sofisti-
cada, o que fez surgir o raciocínio completo. De sílabas, houve a evolução para
frases, até chegar à construção gramatical.

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Entretanto, foi a extrema necessidade do homem de dar nomes ao mundo à


sua volta, organizando sua vida, que possibilitou o desenvolvimento da comunica-
ção verbal, fundamentado na palavra: “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da
terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este
ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso
foi o seu nome. E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo
o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea” (Gn
2.19,20).

 Conversa (diálogo)

J á socializado, e tendo dominado a palavra, o homem começou a buscar


informação, surgindo, assim, a conversa (do latim, conversatio). Ou seja, o
dialogo entre duas ou mais pessoas.
Os gregos chamaram a conversa de homilia (o que fez surgir a homilética).
Mais tarde, os romanos passaram a chamar a homilia de sermonis (o que deu ori-
gem à palavra sermão). Os dois termos, grego e romano, têm o mesmo sentido de
comunicação.

 O discurso em público

O aumento populacional, junto com a organização de governos, culminou


no surgimento do discurso (exposição metódica sobre um assunto). O dis-
curso é dirigido, de forma direta, a determinado grupo de pessoas, porém, o con-
tato com o público passa a ser imaginário. Em um discurso, o orador transmite de-
terminado assunto trocando informações com seu público.
A data certa do aparecimento do discurso é indeterminada, mas tudo indica
que ele tenha surgido da necessidade de mudança na intensidade da voz para
que o orador pudesse interagir com os grupos de pessoas. O que podemos afirmar
com certeza é que o discurso surgiu no seio familiar, devido à necessidade de se fa-
lar sobre diversos assuntos. O pai, neste caso, representando um governante, tinha
a necessidade de se dirigir à família (ou seja, ao povo). Então, surgiu o discurso.

 A retórica

O s filósofos gregos foram os grandes estudantes do discurso. A história conta


que os gregos elaboraram a democracia (do grego dêmos, povo + krátos:
poder que emana do povo, sistema político mais usado no mundo atual). Foi na
Grécia que o homem começou a estudar os métodos de como deveria ser o pro-
nunciamento em público.

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Na democracia grega, as pessoas se reuniam em locais públicos para deba-


ter questões sociais, econômicas e políticas. Era a democracia direta, na qual o
povo participava fielmente das decisões da sociedade. Com o passar do tempo,
percebeu-se que o indivíduo que soubesse se expressar com facilidade junto ao
povo teria grandes privilégios na sociedade, atraindo para si melhores colocações
nas cidades.
O discurso passou a ser atribuído como arte. Foi então que surgiram professores
que difundiram por toda a Grécia a arte de falar em público.
Nessa época, a Grécia era a grande força do mundo. Seus ensinos sobre a arte
de discursar e demais áreas da ciência passaram a ser estudados por outros povos.
Discursar para o povo tornou-se uma febre nacional. Todos precisavam aprender
este ensino, caso contrário, eram excluídos da sociedade grega. Foi daí que surgiu
a retórica (arte da retórica, falar bem em público, utilizando regras específicas. O
termo deriva da palavra grega retos.)
Entre os gregos, o indivíduo (ou mestre) que falava em público era conhecido
como rétor, orador de um agrupamento de pessoas. Para nós, este orador passou
a ter um significado majestoso: “doutor da oratória”. O primeiro estudioso grego a
traçar uma metodologia para o discurso foi Corax (sábio que sistematizou a retóri-
ca, utilizando-a de forma comercial, sem nenhuma ética). Ele viveu na cidade de
Siracusa, na Grécia, no ano 500 a.C.
Corax ensinava que o discurso tinha de ter introdução, argumentação, infor-
mações suplementares e conclusão. Todavia, outro filósofo, Sócrates, contestou
os ensinos de Corax, por não ter uma ética elaborada. Mas reconheceu que seus
estudos, aplicados à filosofia, trariam benefícios incalculáveis. Sócrates tinha medo
que a retórica fosse usada de forma imoral pelos políticos, causando danos à so-
ciedade.
Suas suspeitas eram tão verdadeiras, que mais tarde a retórica passou a ser
usada pelos políticos de forma demagógica (no grego, o termo demagogo significa
“guia do povo”: dêmos, povo + ágo, conduzir).
Outros filósofos, como Platão e Aristóteles, que possuíam o mesmo pensamento
de Sócrates, eram norteados pelo seguinte princípio: “a retórica deve estar ao ofício
da verdade”.
O que deixa claro que a retórica se tornou uma disciplina a ser estudada é o
exemplo de Demóstenes que, apesar de ser gago, se tornou o melhor orador da
Grécia.
Antes da era cristã, a retórica estava dividida em três correntes ideológicas:
política, forense e epidíctica (ostentosa).

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 Os romanos e sua oratória

C om a queda do império grego, surgiu o império romano. Os romanos


eram grandes admiradores da cultura grega e, por isso, englobaram em
sua sociedade muitos ensinos gregos. Um desses ensinos foi a retórica que, mais tar-
de, passou a ser chamada de oratória, do latim oris, que significa “boca”.
Os romanos também tiveram célebres oradores. O maior deles foi Cícero, políti-
co e advogado, que criou vários projetos teóricos defendendo a oratória. Todavia,
o mais renomado escritor romano sobre oratória foi Quintilião, autor da mais com-
plexa obra de oratória da antiguidade, intitulada Instituição oratória.
Os romanos, no entanto, não conheciam a retórica sacra, pois o cristianismo
ainda não existia.

 Homilética cristã

A s primeiras religiões não possuíam uma homilética capaz de atrair novos


adeptos. As crenças pagãs, geralmente, tinham atribuições locais, regio-
nais e nacionais. No judaísmo, por exemplo, os pais passavam a tradição da religião
para os filhos.
Com isso, podemos afirmar que o cristianismo foi a primeira religião com um
apelo universal. Desde o surgimento da fé cristã até a queda do império romano,
o homem possuía apenas uma identidade, que se misturava com a vida política,
com a religião, com a vida militar e com a vida civil. O homem, nessa época, não
conseguia separar a política da religião. Dessa forma, entendemos que as guerras
políticas tinham atitudes religiosas, e vice-versa.
As batalhas vencidas eram interpretadas como uma superioridade do povo e
de seus deuses. Por isso, os povos antigos não almejavam a pregação de suas cren-
ças a outros povos.
A Grécia inventou a retórica, mas foram os romanos que apuraram e criaram a
oratória, ainda que não tivessem o conhecimento de sua serventia para a religião.
Até mesmo os judeus, que se consideravam os donos da verdade de Deus, não se
preocupavam em comunicar, em pregar a verdade divina para os demais povos.
Os profetas do Antigo Testamento falavam e escreviam ou contra ou a favor de
seu próprio povo. Os fariseus (seita do judaísmo) tentaram ser missionários, mas não
conseguiram.
Ao cristianismo, Deus incumbiu o apelo universal de propagar o evangelho a
todas as nações, surgindo, assim, a retórica sacra e a oratória sacra que, a partir do
século 17, receberam o nome de homilética (a arte de pregar sermões).

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18 HOMILÉTICA

Jesus Cristo foi o homem que começou a estruturar a homilética. Sem dúvida,
ninguém soube falar de forma tão simples e tão profunda como o Messias (Mt 13.54,
Mc 6.2, Lc 4.16-23). Ele lançava mão dos costumes da vida diária para poder levar
o homem a Deus. Ou seja, usava as parábolas (narração alegórica na qual o con-
junto de elementos evoca outra realidade de ordem superior).
Depois de Jesus Cristo, os discípulos começaram a estruturar as mensagens de
salvação. Eles narravam os trechos bíblicos que enfatizavam a vida de Jesus Cristo.
Dessa forma, provavam, de fato, que ele era o Messias profetizado pelos profetas
do Antigo Testamento (At 2.1-47; 7.1-53; 13.16-48, dentre outros).
Os pregadores cristãos aperfeiçoaram a retórica e a oratória, surgindo, então,
a homilética. Quando dizemos que a homilética é a arte de falar em público, não
queremos dizer que o pregador seja um artista. Antes, atribuímos ao pregador o
uso da técnica de como se expressar bem em público. A homilética na pregação,
na palestra e no discurso tem uma única função: levar o ouvinte a concordar com
aquilo que o orador está dizendo.
Depois da Reforma Protestante, a homilética passou a ser usada de forma ge-
nuína, dando condições ao orador de cumprir sua missão de anunciar o evangelho
com eficácia.
Temos de frisar a seguinte análise: a homilética não é somente para ser usada nos
púlpitos das igrejas. O bom orador pode utilizá-la também no evangelismo pessoal.

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18 HOMILÉTICA

Capítulo
q A locução do pregador
2
A expressão locução é um sinônimo da palavra eloquência, cuja origem eti-
mológica vem do latim eloquentia, que significa “falar bem”. Na eloquên-
cia, atribuímos ao orador o poder de persuadir as pessoas por meio da palavra.
A boa fala e o verbo fácil culminaram na retórica e na oratória, e delas surgi-
ram quatro maneiras para convencer os homens: as guerras, que utilizam a força
como poder para convencer; a força psicológica , que busca a razão do entendi-
mento pessoal; a força sociológica dos costumes e normas da sociedade, o direito;
e a força verbal, que utiliza a conversa ou a escrita, a retórica.
A boa fala e o verbo fácil, junto com a eloquência, são capazes de levar o
pregador a convencer as pessoas por intermédio de suas palavras.
A boa locução tem como único objetivo persuadir as pessoas a acreditar na-
quilo que ouvem. Assim, a eloquência, ou locução, é o canal pelo qual testamos a
retórica, a oratória e a homilética. A eloquência é a balança pela qual medimos
a retórica. Sem a eloquência, fica difícil ao orador alcançar a retórica, a oratória
e/ou a homilética. O pregador não existe sem uma boa eloquência. Eloquência
não é gritar nem falar alto, antes, é o poder de convencer as pessoas. Vejamos os
elementos da eloquência.

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18 HOMILÉTICA

 Estudar o assunto para conhecer o tema

O exímio orador ou pregador deve possuir algumas qualidades importantes


para o seu ministério. Ou seja, ele precisa ser estudioso e dedicado. Estu-
dar e conhecer bem o tema que irá explanar ajuda o pregador a demonstrar seu
domínio sobre a matéria. Geralmente, os bons oradores são estudiosos dedicados,
observadores e peritos em pesquisa.

Quando o pregador conhece de fato o assunto a que se propõe explanar,


transmite autenticidade e verdade absoluta. Expressa, por meio de suas palavras,
a sua real maneira de ser.

O pregador ousado necessita elucidar que o que está transmitindo é a coisa


certa. A convicção é muito mais do que aceitação intelectual. A convicção de-
monstra o estilo do pregador. O orador deve sentir tranquilidade diante dos céticos
e acreditar naquilo que prega. Caso contrário, por que pregar?!

Um vendedor faz de tudo para que seu produto tenha boa aceitação e al-
cance sucesso. Quanto mais nós, os cristãos, devemos nos esforçar sobremaneira
para que Jesus Cristo seja aceito por aquilo que ele realmente é: o Salvador do
mundo. Repetindo, a comparação é apenas um exemplo. Claro que não somos
comerciantes e muito menos estamos tentando vender Jesus. Nossa missão, como
discípulos, é transmitir a mensagem do evangelho e levar a salvação às pessoas por
meio daquele que veio ao mundo para resgatar o homem do pecado: Jesus Cristo,
o Filho de Deus.

 O pregador precisa ter ânimo

O ânimo (etimologicamente, significa: “alma, espírito”. No uso atual: “vonta-


de, coragem”) é o canal central da expressão verbal.

O orador precisa se contagiar com as afirmações e as ideias que transmite.


Caso contrário, não irá comover os espectadores. Para falar com entusiasmo, o
orador precisa viver aquilo que prega.

Muitas vezes, o comunicador peca no quesito “viver o que prega”. Não poucas
vezes, o orador deixa transparecer seus problemas pessoais. Isso é errado. Afinal, o
pregador possui um alvo, e esse alvo não pode ser errado. Se o pregador não con-
segue “esquecer” seus problemas quando está no púlpito, é bom que não pregue.

Outro detalhe importante. O pregador precisar ter forte comunhão com Deus.
Grandes façanhas da humanidade foram conquistadas com muito entusiasmo.

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 Fatores emocionais

S egundo a ciência, 60% de nossas decisões são emocionais, o que significa


que grande parte delas não é racional. O homem, desde o começo de sua
história, foi motivado pela emoção. Sua queda está relacionada à sua desobedi-
ência a Deus, pois se deixou empolgar pela emoção de conhecer o bem e o mal.
Todavia, não podemos deixar de aplaudir os grandes feitos do homem motivados
pela emoção. O esforço de cada pessoa, no entanto, é um ato que precisa ser
explorado. O brilhante cientista Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica, dizia
que seu sucesso era 1% de inspiração e 99 % de transpiração.
Os fatores emocionais estão ligados ao esforço de cada indivíduo. Saber tra-
balhar com a emoção e a razão proporciona ao orador grande sucesso no seu
discurso ou sermão.
A determinação é outro fator muito importante na vida do ser humano. Um
exemplo muito especial de determinação é Abraham Lincoln, o maior presidente
que os EUA já tiveram. Por diversas vezes, ele foi candidato a vereador, mais nunca
ganhou. Ao se candidatar à presidência, conquistou o cargo. Isto quer dizer que o
orador jamais pode se esquecer da fórmula: emoção + determinação = aceitação
do público. O pregador deve ser hábil ao usar estes artifícios para atrair a plateia.

 O uso da palavra

O uso da palavra certa interagindo com a plateia possibilita bons resultados.


O orador tem de observar bem seus espectadores, pois, em uma multidão,
sempre há pessoas de diversas faixas etárias. Saber falar de forma que alcance
crianças, jovens e adultos trará ótimos resultados ao seu discurso.
Há casos de oradores, e até mesmo de pastores iniciantes, que usam e abusam
das palavras rebuscadas. Ou seja, falam de forma difícil e, por conta disso, não
conseguem retorno de seus ouvintes. O orador deve procurar organizar suas ideias
para que possa conquistar (leia-se alcançar) a todos. Deve usar palavras fáceis.
Não podemos nos esquecer de uma coisa: o maior orador do mundo, Jesus Cristo,
proferia palavras simples, e jamais deixou de alcançar seus objetivos por isso.
Além de saber usar bem as palavras, o pregador deve ser fluente, ou seja, espon-
tâneo, atitude predominante em qualquer discurso. A elegância no uso da fala pode
trazer ótimos resultados. Entretanto, essa elegância depende de vários fatores: co-
nhecimento do idioma, capacidade criadora para construir frases com inteligência e
suscetibilidade e boa dicção (capacidade de controlar e articular bem a voz).

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18 HOMILÉTICA

Capítulo
q A homilética na comunicação
3
E stamos na era da globalização, na qual a comunicação vive seus melhores
dias. Hoje, com o surgimento de escolas e faculdades voltadas para esse
assunto, a comunicação tornou-se algo transparente e eficaz em nosso mundo
moderno.
Antigamente, o sentido da comunicação era estudado em sua origem etimo-
lógica. Hoje, a comunicação atribui para si sentido próprio: há várias formas de se
comunicar. A comunicação é a arte de persuadir as pessoas.
A retórica e a oratória (ou seja, a homilética) são instrumentos da comunicação
social. Alguns filósofos faziam críticas à retórica sofista, pois em qualquer processo
de comunicação sempre vai haver um aspecto ideológico. Para que haja comuni-
cação, não podem faltar três elementos básicos: emissor, mensagem e receptor.

 Emissor

O emissor é aquele que envia a mensagem ao receptor.


Para que haja comunicação, é necessário que a mensagem possua vários itens
semelhantes, tanto para aquele que a envia quanto para aquele que a recebe.

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18 HOMILÉTICA

 Mensagem

A mensagem é uma programação mental, por meio da qual a ideia trans-


mitida é traduzida por um código comum tanto pelo emissor quanto pelo
receptor. É importante ressaltar que ao emissor cabe formar a mensagem e codi-
ficá-la, a ele fica a responsabilidade de escolher o veículo pelo qual a mensagem
será transmitida.

Existem alguns fatores que prejudicam a recepção da mensagem. Essa inter-


rupção se chama ruído, que pode ser causado por um desajuste do código ou por
uma interferência no veículo.

O desajuste do código acontece primeiramente pelo contraste cultural. Por


exemplo: um médico tem um repertório cultural que lhe possibilita a comunicação
com pessoas com a mesma cultura. No entanto, seu repertório cultural prejudica
sua comunicação com pessoas de menos cultura que ele. Por outro lado, as pes-
soas mais simples possuem um repertório cultural de menor amplitude (falam gírias,
usam chavões), o que prejudica, por exemplo, sua comunicação com um médico,
pessoa com um grau de estudo maior.

O médico possui em seu repertório palavras técnicas e jargões da profissão


que possibilita maior comunicação com pessoas da mesma área. Mas tudo isso é
totalmente ineficaz para a comunicação com as pessoas que não têm a mesma
formação acadêmica.

Esses detalhes, na comunicação, são intitulados de ruídos que, basicamente,


interrompem a mensagem. Ou seja, a impedem de ser captada pelo receptor.

Para que a comunicação seja perfeita, o emissor deve utilizar vários métodos
como veículo, desde o áudio até o visual.

Trazendo isso para a nossa matéria, veremos que a homilética é muito mais do
que a arte de falar em público. Ela engloba o comunicador de forma geral: expres-
são corporal, entonação de voz e demais métodos. Visto que muitos templos hoje
em dia são projetados com uma boa acústica local e visualização do púlpito, o
pregador, por mais modesto que seja, deve lançar mão da expressão corporal, mas
sempre evitando os exageros. Antes de qualquer coisa, o pregador deve conhecer
a plateia para qual está pregando ou irá pregar. O público de hoje não se impres-
siona apenas com boas e sábias palavras, ele quer mais do orador.

O bom pregador ou comunicador é aquele que sabe persuadir e se utiliza de


todos os métodos da comunicação.

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18 HOMILÉTICA

 Como falar com a plateia

O pregador, entre outras coisas, deve falar de forma impessoal. Quando uma
pessoa está pregando, ela representa a Trindade santíssima e também um
grupo de pessoas (a igreja). O pregador é, de fato, o autor da mensagem, mas só
deve entregar aquilo que Deus coloca em seu coração. Somente assim, pode ser
considerado um instrumento de Deus.
Para isso, deve abandonar alguns termos usados no dia-a-dia. O orador nunca
pode utilizar a primeira pessoa (eu) para contagiar a plateia. Ele precisa evitar o
uso de sua própria pessoa, porque pode dar a impressão de autovalorização de si
mesmo. Afinal, o pregador evangélico não fala de si mesmo, mas de Deus. O uso
dos termos gerais (senhores, senhoras, irmãos, irmãs e vocês) é aconselhável. Faz
bem à plateia ouvir esse tipo de tratamento. A interação tem retorno e produz bons
resultados.

 Dinâmica na pregação
Em nossos dias, se fala muito de pregadores que sobem nos púlpitos sem ne-
nhum preparo. Isso até pode ser verdade; mas, às vezes, o que acontece é que o
pregador, ainda que conheça o tema, não tem objetividade ou não conhece seus
espectadores. Conhecer seu público alvo é um fator preponderante para qualquer
orador, daí a necessidade da dinâmica na pregação para que o pregador possa
atingir seus objetivos. Dinâmica aqui é o mesmo que didática.

 Objetividade
Antes de preparar a mensagem, o pregador precisa escolher um tema atraente.
Deve, acima de qualquer coisa, centralizar o objetivo do sermão. Comumente, os
discursos são para persuadir, ensinar e homenagear.
Geralmente, o orador utiliza a persuasão para atrair o público. O importante, em
um sermão, é centralizar o alvo da mensagem. O pregador não deve misturar vários
assuntos ao mesmo tempo, o que pode levá-lo a desviar-se do tema principal.

 Dicas aos pregadores


Nunca fazer uma segunda e autoapresentação;
Nunca manter a mão no bolso ou na cintura o tempo todo;
Nunca molhar o dedo na língua para virar as páginas da Bíblia;
Nunca limpar o nariz, coçar-se, exibir lenços sujos, arrumar o cabelo ou a
roupa;

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18 HOMILÉTICA

Nunca usar roupas extravagantes;


Nunca fazer gestos impróprios;
Nunca usar esboços de outros pregadores, principalmente sem fonte;
Nunca contar gracejos, piadas ou usar vocabulário vulgar;
Nunca ler o texto sentado. Deve fazer a leitura sempre em pé;
Nunca pedir desculpas, pois começa derrotado (não confundir com humil-
dade);
Nunca chegar atrasado.

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18 HOMILÉTICA

Capítulo 4
q A homilética como instrumento auxiliar
da Palavra de Deus

O pregador não deve confiar somente no conhecimento que adquiriu por


meio da homilética. A homilética, neste caso, deve ser vista como um
importante assistente para o orador. Afinal, o pregador é um instrumento de Deus
para transmitir a mensagem de Deus.
Embora os pregadores de hoje sejam profetas, porta-vozes da mensagem de
Deus, não podemos confundir seu ministério com o ministério profético dos antigos
profetas bíblicos. Jesus Cristo foi o único a acumular esses dois ministérios. Ou seja,
ele foi pregador e profeta ao mesmo tempo.
Então, quer dizer que o profeta não é necessariamente um pregador? Sim. A
função do pregador é diferente da função do profeta. Cabe ao pregador instruir e
convencer as pessoas e, ao profeta, transmitir a mensagem. O profeta não tem a
função de ensinar, mas o pregador sim, seu ministério é pedagógico.
Ao pregador é necessário muito mais do que saber falar em público. Assim
como o poeta aprecia a poesia e desenvolve um gosto apurado neste sentido, o
pregador também deve agir da mesma forma. Isto é, ele precisa aprimorar, a cada
dia, seu gosto pelo estudo da Palavra de Deus. Em uma comparação simples, o
pregador deve ser como o vinho, que fica melhor e mais apurado com o passar
dos anos.
A Bíblia é um livro profundo que deve ser estudado profundamente, para que
o pregador esteja preparado como um obreiro que maneja bem a palavra da
verdade.

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18 HOMILÉTICA

 A evangelização

O pregador jamais pode se esquecer de que a função primordial da homilé-


tica é anunciar as boas novas de salvação, por intermédio de Jesus Cristo.
O principal intuito da homilética é facilitar o caminho para que a mensagem da
cruz seja aceita pelos ouvintes. Quando isto não acontece, o pregador está cau-
sando um desvio de função, porque a homilética foi criada para ajudar os prega-
dores na evangelização e no ensinamento da verdade revelada por Deus.
A palavra evangelização possui vários aspectos que facilitam sua compreen-
são. O primeiro deles é o etimológico, que compreende seu sentido original: anun-
ciar a boa notícia ou boas novas. O segundo, o político, ou seja, a mensagem é
divulgada por um decreto do governo. O terceiro, o teológico: a mensagem é
anunciada pela vontade divina. O quarto e último, o literário: a mensagem é divul-
gada por meio de livros, que mostram e argumentam os atributos e o caráter de
Jesus Cristo.
Além dos vários aspectos da evangelização, existem algumas maneiras de se
anunciar o evangelho:

Quando o evangelista fala da Palavra de Deus


Individual
individualmente a uma pessoa.

Coletiva Quando o pregador evangeliza um grupo de pessoas.

Traz a presença ao vivo do indivíduo que transmite a


Pessoal
mensagem.

Impessoal
Por meio de canais de comunicação: revistas, jornais,
ou
filmes, livros, folhetos e TV.
Indireta

Quando o evangelista persuade a pessoa na rua, nas


Direta
praças, nos púlpitos.

 A hermenêutica

T anto a hermenêutica quanto a exegese são duas disciplinas fundamentais


para o sucesso da homilética. Sem o auxílio de uma boa interpretação do
texto e dos fatos históricos desse mesmo texto, o uso da homilética seria incerto. As
três matérias andam juntas. Se o pregador utilizar as três, aliadas à comunhão com
Deus, o sucesso será garantido.

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18 HOMILÉTICA

A hermenêutica (interpretação textual) estuda a explicação do texto na época


em que foi escrito. A homilética depende automaticamente da hermenêutica, pois
a pregação da Palavra de Deus se canoniza intrinsecamente com o documento
textual, a Bíblia. A interpretação correta da Bíblia é fundamental para uma boa pre-
gação. Se a homilética é o dom de falar em público, o estudo da hermenêutica pro-
porciona ao pregador o conhecimento sobre o tema que pretende desenvolver.
A homilética sem a hermenêutica torna-se obsoleta.

 A exegese

A arte de pregar depende da exegese.


A homilética ganha teor quando o orador se apoia no uso da hermenêutica e
adquire a definição correta com auxílio da exegese.
O objetivo da exegese é tornar os fatos de uma mensagem transparentes, co-
erentes, e isso de forma cronológica, desenvolvendo a estética e elaborando argu-
mentos e definições sem nenhum erro.
A exegese oferece ao orador inúmeras alternativas para expor suas ideias. Mui-
tas vezes, a hermenêutica e a exegese se misturam, embora as duas matérias te-
nham funções diferentes.
A exegese apoia-se nas interpretações feitas pela hermenêutica, enquanto a
homilética expõe os atributos da hermenêutica.
A homilética recebe o conhecimento que o pregador conquistou por intermé-
dio da hermenêutica que, por sua vez, toma estilo próprio quando aplicada à exe-
gese. Eis aí as diferentes funções que a hermenêutica e a exegese possuem.
Em síntese, a hermenêutica busca o estudo, a análise da interpretação correta
dos originais. A exegese busca dar forma a este estudo, a esta análise, para que
a mensagem seja transmitida com veracidade. Um exímio hermeneuta pode não
ser um bom exegeta. Um exemplo bem simples no meio acadêmico é o caso de
brilhantes professores que dominam a matéria, mas não sabem transmiti-la.

 O texto e o contexto

O texto é a plataforma principal da qual o pregador tira sua mensagem. A


literatura classificou o texto como um conjunto de signos gráficos que, jun-
tos, dão sentido às palavras e ideias. Assim, o texto é tudo aquilo que é escrito. O
texto pode ser uma palavra, uma oração, não importando seu tamanho: pequeno
ou grande.

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18 HOMILÉTICA

O contexto possui outra atribuição. Ele pode ser anterior ou ser lógico, imediato
ou longínquo. Tudo depende da posição e localização do texto. O contexto possui
várias possibilidades de ser interpretado: forma interna (em volta do texto examina-
do) ou forma externa (longe dele). Neste cenário, podemos atribuir que o contexto
pode ter dimensões históricas, sociais, psicológicas e culturais.
Isto deixa claro que a Bíblia é o texto, a nossa carta magna. Tudo o que se en-
contra à sua volta é história, literatura, linguística, antropologia, arqueologia, geo-
grafia, filosofia... e equivale ao seu contexto. O livro-texto do pregador é a Palavra
de Deus, o que não quer dizer que o pregador deve ser um homem de um único
livro, mas que a Bíblia é a base, o alicerce do pregador.

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18 HOMILÉTICA

Capítulo
q A base para elaborar sermões
5
 Estruturação da pregação

P or diversas vezes, os especialistas em homilética se esforçaram para estrutu-


rar os diversos tipos de sermões que existem. Os termos utilizados para estru-
turar os sermões mudam de acordo com o autor. Em geral, os sermões podem ser:

Interpretativos

Éticos

Devocionais

Doutrinários

Filosóficos

Apologéticos

Sociais

Evangelísticos

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18 HOMILÉTICA

Os sermões possuem vários tipos de estrutura:

A primeira delas é a estrutura expositiva, que usa um texto, uma passagem,


um livro, uma biografia ou um cenário.
A segunda é a estrutura argumentativa, que pode ser dedutiva ou analítica.
A terceira estrutura está relacionada ao enfoque dado a um assunto aborda-
do, mas em diferentes ângulos e esferas.
A quarta estrutura trabalha de forma alegórica, ou seja, por analogia, com-
paração e parábolas.

O sermão pode ser:

Normativo Propõem ao ouvinte obedecer.

Persuasivo Propõem ao ouvinte a credibilidade de sua fé.

Cooperativo Visa resolver problemas da sociedade e do pregador.

Interrogativo Levanta dúvidas sobre as questões éticas e tenta saná-las.

Existem, ainda, outras formas de estruturar os sermões. Tudo vai depender da


ocasião. Em determinadas situações, os sermões podem ser classificados por alvos.
Ou seja, sermões pastorais, evangelísticos, missionários, cerimoniais ou ocasionais.
Dentre os tipos de sermões abordados até agora, os mais fáceis são o temático,
o textual e o expositivo:

Temático Utiliza a ideia do tema, não depende tanto do texto.

Tem como propósito explicar um texto bíblico, sempre


apoiado na hermenêutica e na exegese. Um exemplo bem
Textual
simples desse tipo de sermão é uma pregação textual do
Salmo 23.

É exposto por meio de um estudo histórico, gramatical e


Expositivo
literário de uma passagem bíblica dentro do seu contexto.

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18 HOMILÉTICA

 O título

O pregador não deve preocupar-se com o título quando estiver preparando


seu sermão. Geralmente, o título, e também a introdução, são os últimos
tópicos a serem preparados.

 Peculiaridades do título

Deve ser interessante e atraente, a fim de despertar a atenção dos


1 ouvintes. Para ser interessante, deve relacionar-se às circunstâncias
exclusivas e às necessidades dos indivíduos que ouvem o sermão.

2 Deve ter relação com o tema do sermão ou com o texto bíblico.

Deve ser decente e digno. Devem ser evitados os títulos rudes, que
3
ofendem e causam apatia.

4 Deve ser breve, preferencialmente.

5 Pode ser uma citação curta de um texto bíblico.

Como já dissemos, a introdução, também chamada de exórdio, deve ser ela-


borada por último. Deve ficar claro que a introdução não se constituem de pre-
liminares que os pregadores costumam proclamar. As preliminares consistem de
observações gerais que não estão relacionadas com o sermão. Geralmente, é uma
apresentação ou um testemunho do pregador, para que seja conhecido do povo.

 A introdução

A introdução é o processo pelo qual o pregador procura conduzir a mente


dos ouvintes para o tema de sua mensagem. Na introdução, o pregador
procura prender a atenção dos ouvintes quanto ao tema que pretende proclamar
e desenvolver.

 Peculiaridades da introdução

1 Deve despertar o interesse dos espectadores.

2 Deve ser breve.

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18 HOMILÉTICA

 As divisões principais

A s divisões são o corpo do sermão. São as verdades espirituais divididas em


partes sequenciais, distintas, mas interligadas à verdade principal, que é a
proposição.

 Peculiaridades das divisões

1 Devem ter unidade de pensamento.

Ajudam o pregador a lembrar-se dos pontos principais


2
do sermão.

Ajudam os ouvintes a se recordarem dos aspectos


3
principais do sermão.

4 Devem ser distintas umas das outras.

Devem originar-se da proposição e desenvolvê-la


5
progressivamente até o clímax do sermão.

6 Devem ser uniformes e simétricas.

7 Cada divisão deve ter apenas uma ideia ou ensino.

O número das divisões deve, sempre que puder, ser o


8
menor possível.

 A conclusão

A conclusão é o clímax do sermão. Na conclusão, o pregador deve chegar


ao seu alvo, que é atingir os ouvintes e persuadi-los a praticar e a aplicar
em suas vidas a mensagem que ouviram. É a parte do sermão em que tudo o que
foi dito anteriormente é reafirmado com mais veemência e vigor, a fim de brotar
maior impacto nos ouvintes.

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18 HOMILÉTICA

 Peculiaridades da conclusão

1 Não é apenas um anexo da mensagem, antes, é parte dela.

Não deve ser apresentada nova ideia, apenas ser enfatizado


2
as ideias expostas anteriormente.

É a parte mais poderosa do sermão, porque une todas as


3
verdades ensinadas em uma verdade única.

4 Deve ser breve.

Pode ser uma recapitulação das ideias expostas nas divisões


5
principais.

6 Pode ser uma ilustração.

Pode ser a aplicação da mensagem aos aspectos práticos


7
da vida.

8 Pode ser um apelo.

 Discussão

A discussão é o desenvolvimento dos conceitos contidos nas divisões do ser-


mão. A fonte principal para a discussão deve ser a Bíblia, mas não é erra-
do o pregador recorrer a outras fontes, desde que sejam confiáveis. Essas fontes
podem ser citações de revistas, jornais, poesias, letras de hinos ou provérbios da
sapiência popular. Fontes históricas também são de grande valia para a discussão,
conforme a natureza do sermão.

 Ilustração

É o processo de explicar algo desconhecido pelo conhecido. É a exposição


de um exemplo que torna claro os ensinamentos do sermão.

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18 HOMILÉTICA

A ilustração pode ser uma parábola, uma alegoria, um testemunho ou uma


história. Devemos enfatizar que a ilustração não é a parte mais importante do ser-
mão. Trata-se apenas de uma explanação do texto. A parte mais importante é a
interpretação do texto, pois o alvo do sermão é torná-lo conhecido do público, e a
ilustração se presta a essa tarefa.

 Aplicação

A aplicação é o processo mediante o qual o pregador aplica a verdade


espiritual do sermão à vida dos ouvintes, a fim de persuadi-los a uma re-
ação favorável à mensagem. Em outras palavras, a aplicação é a persuasão das
palavras do pregador; é a palavra dirigida ao coração. Pelo sermão, o pregador
fala à mente das pessoas, a fim de que meditem nas palavras que estão ouvindo.
Pela aplicação, o pregador fala ao coração das pessoas, a fim de que ponham em
prática as palavras que ouviram.
Em síntese, a aplicação é a meditação posta em prática.

 Apelo

O apelo é o processo de requerer do auditório uma resposta positiva acerca


do que foi explanado. O apelo é uma invocação feita aos ouvintes para
que recebam os ensinamentos expostos na pregação.
Devemos enfatizar que a própria pregação já traz em si um apelo. O verda-
deiro apelo é feito pelo Espírito Santo, que chama e invoca os homens para que
ouçam a sua Palavra. E quando os homens se voltam para a Palavra, demonstram
sua fé naquilo que ouviram.
As Escrituras afirmam que “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”
(Rm 10.17), portanto, a exposição da Palavra é o apelo que o Espírito Santo diri-
ge aos homens para que ouçam, creiam e recebam a Palavra em seu coração.
Este fato, no entanto, não impede que os pregadores façam apelos à plateia. O
apelo pode ser gestual, ou seja, pedir ao ouvinte que levante o braço ou solicitá-
lo a ir à frente da congregação. Esse tipo de apelo, porém, deve ser usado com
moderação.

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18 HOMILÉTICA

Capítulo
q Tipos de sermões
6
 Pregação temática
A partir do tema, o pregador escolhe o texto que vai usar no sermão. Uma vez
escolhido o texto, este deve estar de acordo com o assunto que será explanado
pelo pregador. Para ser bem claro, escolhe-se, primeiro, o tema e depois, o texto
bíblico que apoiará o assunto a ser tratado. Geralmente, este é o modo mais usado
pelos pregadores na preparação dos sermões, por ser o mais fácil. É muito prático
preparar sermões doutrinários e evangelísticos, pois podem ser usados textos da
Bíblia, exclusivamente.
As vantagens do método temático são muitas. Vejamos algumas:

Variedade de tópicos
O pregador tem liberdade para falar de diversos temas e, com isso, não fica
preso a um único texto bíblico, tem a possibilidade de usar vários trechos da
Bíblia para desenvolver sua pregação.

É fácil de elaborar
O pregador tem em seu favor o privilégio de desenvolver qualquer assunto, o
que torna mais fácil a organização de ideias e argumentos da maneira que ele
acredita ser melhor. É o método mais praticado pelos oradores iniciantes no mi-
nistério da pregação, porque o alvo da mensagem é atingido com facilidade.
A pregação temática tem a facilidade de centralizar a ideia e o tema da men-
sagem, promovendo melhor compreensão dos argumentos apresentados.

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18 HOMILÉTICA

Favorece a uniformidade
Uma vez escolhido o tema do sermão, não há combinação com outros assun-
tos. O pregador pode ser fiel ao tema escolhido, mas precisa ter cuidado com
o texto proposto, caso contrário, poderá seguir outros caminhos e abordar ou-
tros assuntos.

Favorece o estilo literário e a ordem cronológica


O orador pode intermediar fontes literárias e aplicá-las à Bíblia. Pode, também,
utilizar hinos e poesias.

Não obstante todas essas vantagens, o método temático possui algumas ob-
servações que devem ser aplicadas. Por exemplo, o pregador nunca deve negli-
genciar o estudo profundo da pregação temática, mesmo que seja fácil de prepa-
rar. Outro fator importantíssimo é: evitar o secularismo. Às vezes, o pregador pode
correr o risco de sair definitivamente do assunto escolhido, e isso pode desviar a
atenção do auditório.

 Tipos de sermões temáticos

Cronológico
Alvo central: os juízos de Deus.
Na queda do homem, no dilúvio, em Sodoma e Gomorra e nas últimas pragas.

Estudo de episódio ou fatos bíblicos


Alvo central: Deus perdoa a todos.
Perdoou Judá, Davi, Maria Madalena e Pedro.

Exame de um tema ou de uma doutrina


Alvo central: a volta de Jesus.
Os sinais da natureza, os sinais por meio da história e os sinais religiosos.

Declaração e demonstração bíblica


Alvo central: Jesus é Deus.
Eu sou o bom Pastor, eu sou a Videira, eu sou o Pão vivo que desceu do céu.

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18 HOMILÉTICA

Argumentativo
Alvo central: obediência à Palavra de Deus.
Abraão obedeceu, os profetas obedeceram, os discípulos obedeceram e Jesus
obedeceu.

Estudo de conceitos bíblicos


Alvo central: o amor.
Amor sentimental: eros. Amor incondicional: ágape . Amor fraternal: fileo .

Ilustrativo e metáfora
Alvo central: o cristão deve influenciar a sociedade.
Como sal da terra e luz do mundo e como cartas abertas de Cristo.

 Exemplo esboçado de um sermão temático

Tema: A Palavra de Deus atua...

1. Salvando o homem
“Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia, recebei com
mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas almas”
(Tg 1.21).

2. Libertando o homem
“E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto en-
volto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir” (Jo 11.44).

3. Julgando o homem
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada
alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das jun-
tas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”
(Hb 4.12).

4. Purificando o homem
“Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para
a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa se-
melhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.26).

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 29


18 HOMILÉTICA

5. Consolando e alentando o homem


“Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta,
tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a
esperança proposta” (Hb 6.18).

6. Santificando o homem
“Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).

Depois de expor todos os tópicos, o pregador faz um resumo aplicativo e, em


seguida, o apelo.

 Pregação textual
O sermão textual é aquele cujo assunto é extraído do próprio texto. Geralmen-
te, é utilizado um único versículo bíblico, do qual é tirado o assunto central e demais
termos que serão tratados. Em relação ao sermão temático, o sermão textual é to-
talmente diferente. O tema da pregação textual sai do próprio texto. Ao contrário
do temático, no qual o pregador prepara o assunto e o tema. Há exemplos fabulo-
sos de mensagens tiradas do próprio texto. Vejamos alguns: o vale de ossos secos
(livro de Ezequiel) e o vaso do oleiro (livro de Jeremias), entre outros.

Existem vários benefícios de se pregar um sermão textual. O primeiro deles é:


ancorar o ouvir num só texto. Geralmente, esse método permite que o espectador
fique com a Bíblia aberta, evitando conflito de pensamento sobre o texto ministra-
do. O outro benefício significativo é a facilidade de preparar o sermão textual. Os
assuntos a serem tratados estão concretos no texto. Em regra, as afirmações do tex-
to são diretas, produzindo opinião clara sobre o tema. Por esse método, o ouvinte
acompanha as ideias do texto junto com o pregado, o que facilita o aprendizado.
O último favorecimento, e o mais atraente de todos, é que esse sistema permite
que o ouvinte possa tomar intimidade com a Bíblia.

Todavia, há alguns aspectos negativos nesse método: a pregação não pode


ser aplicada a todos os textos da Bíblia, pois existem versículos que não esboçam
ideias claras. Mas isto não é basicamente um problema, apenas exige que o pre-
gador tenha mais cuidado e desenvoltura para extrair o assunto principal. Às vezes,
o pregador corre o risco de ser artificial. Isso acontece quando o pregador coloca
ideias diferentes das do texto em seu discurso. Por isso é necessário muita cautela,
para que o pregador não imponha suas próprias ideias no texto bíblico escolhido
por ele para desenvolver sua mensagem, criando, sem querer, heresias.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 30


18 HOMILÉTICA

Uma importante dica aos pregadores que desejam lançar mão do sermão
textual: usar ideias consistentes. Se não for assim, a pregação fica cansativa, re-
petitiva e redundante, porque o orador não consegue embasar o tema com opi-
nião firme e coerente. A prática do sermão textual não é aconselhável aos pre-
gadores iniciantes. Normalmente, já é difícil esboçar este esquema de pregação
mesmo quando se tem experiência, pois, como a maioria das pregações textuais
utiliza textos pequenos, às vezes fica difícil a aplicação da passagem escolhida
no dia-a-dia da vida do ouvinte.
O estilo textual é o menos utilizado, simplesmente porque os pregadores pre-
ferem os estilos temático e expositivo, por possuírem maiores possibilidades de as-
suntos e temas para doutrinar os ouvintes na sua vida cristã. No entanto, se usado
com bom senso, escolhendo alguns textos peculiares, pode-se trazer maravilhosas
pregações. Mas tudo vai depender da perspicácia e preferência do orador.
O leitor agora deve estar se perguntando: “Como devo preparar um sermão
textual?”. Primeiramente, o pregador precisa definir o versículo e a ideia princi-
pal do texto escolhido. Deve separar bem a opinião do texto, pois alguns escritos
possuem diversidade de assunto. Já determinado o alvo central da pregação, o
orador deve preparar a sequência dos tópicos fundamentais escolhidos de acordo
com seu critério, tendo sempre em vista o cume final da pregação.

 A ordem do sermão textual

Ordem simples de acordo com o texto


Alvo central: Cristo é o caminho da salvação (Jo 14.6).
Cristo é o caminho que conduz o homem a Deus, Cristo é a verdade que guia,
Cristo é o doador da vida.

Trocando a ordem para atingir o auge do sermão


Alvo central: os dons espirituais e seus propósitos (Rm 11.29).
Propósito dos dons em cada pessoa: aprimoramento dos santos; propósito so-
cial: erigir a igreja; propósito evangelístico: servir a igreja.

Estabelecer os assuntos aplicando-lhes um alvo a ser alcançado em cada tema


Alvo central: as atribuições de cada cristão (Os 12.6).
Para cada pessoa, justiça; para com a sociedade, sempre promover a miseri-
córdia; para com Deus, sempre buscar a humildade.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 31


18 HOMILÉTICA

Procurar persuadir para causar reflexão


Alvo central: o propósito do Salvador (At 5.31).
Veio ao mundo para salvar; para remir o pecador.

 Exemplo esboçado de um sermão textual

Tema: Cristo é o único caminho para a salvação.


Texto base: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e
sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a des-
truir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10.9,10).
1. Jesus é o caminho que leva a Deus.
2. Ele recebe a todos.
3. Ele garante o bom alimento.
4. Ele veio para dar vida.

Depois de expor todas as aplicações que o texto revela, o pregador leva os


ouvintes ao apelo.
O sermão expositivo, por requerer um enfoque minucioso, será tratado no
próximo capítulo.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 32


18 HOMILÉTICA

Capítulo 7
q As grandes possibilidades do sermão expositivo

A pregação expositiva é a mais difícil de preparar, pois possui muita varie-


dade de texto para se trabalhar, entretanto, é o método mais eficaz para
atingir a alma do homem. Esse método tira do texto muito mais do que o tema
central. Ele mostra as divisões e as subdivisões, além de tornar explícito o espírito do
texto, o que faz que o telespectador reviva a situação e as emoções que levaram
o autor a elaborar o sermão.
Em uma análise simplificada, pode haver alguma semelhança com o sermão
textual, porque ambos os métodos se originam no texto bíblico. A primeira seme-
lhança é que o sermão textual extrai a ideia principal do texto, porém, as subdi-
visões são tratadas e argumentadas conforme a disponibilidade do pregador. No
sermão expositivo, as divisões e as subdivisões, no entanto, são extraídas da circuns-
tância narrada no texto.
O sermão expositivo tornou-se o mais usado por possuir vários benefícios, limi-
tados nos outros estilos. Um desses benefícios é garantir a veracidade da Palavra
de Deus, impedindo o pregador de seguir um rumo diferente e desnecessário. Uma
característica preponderante desse estilo de pregação é tratar o texto bíblico com
respeito, expressando exatamente o que o versículo está dizendo. A principal fun-
ção do pregador e da Palavra de Deus é satisfeita. Ou seja, o sermão expositivo
fornece o alimento espiritual à igreja, orientando o ouvinte a ter um profundo rela-
cionamento com Deus e com a sua Palavra.
Nesse método, o pregador tem o privilégio de expressar que possui comunhão
com Deus. Ao estudar o tema do sermão, o pregador se alimenta espiritualmente
e, depois, transmite esse alimento aos outros.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 33


18 HOMILÉTICA

Não obstante, existem alguns malefícios no sermão expositivo, pois, como em


toda técnica, ele possui vantagens e desvantagens.
Uma de suas desvantagens: ele é mais difícil de preparar, já que requer mais
tempo e dedicação no preparo. Muitos pastores não gostam de elaborar um ser-
mão expositivo, porque não dispõem de tempo para prepará-lo e, por conta disso,
elaboram, em muitas ocasiões, sermões cansativos, maçantes até. Não têm a per-
cepção de esmiuçar profundamente o texto bíblico.
Por ser um método difícil, porém, rico, exige mais tempo do pregador em sua
preparação. O pregador que deseja apresentar um sermão expositivo à igreja pre-
cisa dedicar-se à pesquisa e ao estudo do contexto histórico e cultural do texto
bíblico escolhido. Precisa, também, de um tempo maior de meditação, para que
possa trazer aos ouvintes todas as condições espirituais relatadas no texto.
Em termos gerais, o sermão expositivo é um método difícil de conquistar os
ouvintes e a igreja, pois aborda fatos passados e, hoje em dia, a mídia tem lançado
muitos fatos atuais, modernos, e as pessoas não têm mais interesse em fatos longín-
quos. Por isso o orador tem sempre de se reciclar, de maneira tal que possa atrair
a atenção do ouvinte.
Outra desvantagem desse método, e a mais perigosa, é o afastamento do ou-
vinte da Bíblia, caso o sermão seja mal estudado e preparado. Se o orador apenas
apresentar o texto, sem explorar a fartura de elementos históricos e contextuais,
não podemos chamar o sermão de expositivo, pois a característica principal desse
tipo de pregação é explorar todos os fundamentos descritos no texto bíblico.

 A seriedade do estudo na apresentação de um sermão expositivo

A pregação expositiva é um processo comunicativo, cujo fundamento é


transmitir a Palavra de Deus por meio de relatos históricos, literários, além
da interpretação gramatical. Cada vez mais, o estilo expositivo tem sido considera-
do o mais completo método de pregação, porque possui qualidades persuasivas,
tem poder de influenciar.
A pregação expositiva é a mais importante de todas, porque mostra, de forma
mais fidedigna possível, o que o texto de fato está dizendo, e isso diminui os erros
de interpretação. Expõe, de maneira extremamente ampla, o sentimento que o
Espírito Santo requer em determinado texto. Por estar fundamentada na veracida-
de bíblica, a pregação expositiva apresenta, de forma plena, as necessidades do
ser humano. É a Bíblia que deve preencher completamente o coração do homem,
e não a ideia ou a metodologia usada pelo pregador, por mais brilhante que seja.
Devemos lembrar que o bom pregador é apenas coadjuvante. Por mais genial que
seja o seu argumento, esse argumento, no entanto, jamais substituirá o teor subs-
tancial da mensagem da Palavra de Deus.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 34


18 HOMILÉTICA

A apologética está totalmente ligada à pregação expositiva, porque esse mé-


todo procura elucidar as verdades à luz da Bíblia para debater as heresias e as in-
terpretações erradas em relação às Escrituras. Respeitando o contexto, o pregador
se protege das vãs ideologias.

 Ideias erradas sobre o sermão expositivo

A lguns pregadores têm utilizado o método expositivo de maneira errada. A


seguir, as formas que não fazem parte do sermão expositivo.

 Exegese

Pregadores há que tentam usar a exegese para explicar o texto, mas, na verda-
de, não é assim que funciona. O tratamento expositivo do texto não busca interpretar
os usos linguísticos, como se fosse um léxico para exprimir cada construção frasal.

Ao agir dessa forma, o pregador conseguirá apenas cansar o ouvinte. Por outro
lado, a exegese é imprescindível para o orador esmiuçar o texto, mas sem explaná-la
ao ouvinte.

 Explicação bíblica

Outra forma que confunde muito o ouvinte é uma explicação repetitiva dos
aspectos históricos retratados no texto. O pregador precisa usar essas informações
como cenário secundário, e não como centro da discussão.

 Confusão entre um esboço temático com um esboço expositivo

Em muitos casos, as pessoas confundem o esboço expositivo com o esboço


temático. O método expositivo não está fundamentado em um tema absoluto, pois
o tema desse tipo de sermão é extraído do próprio texto bíblico, não se adapta,
na maioria das vezes, a um tema factual. Na verdade, quando o texto bíblico não
fala por si só, esse fato tira um pouco da eficácia de uma pregação expositiva.
Assim, se o pregador deseja explanar um tema, ele deve preparar um bom sermão
temático.

 As peculiaridades do sermão expositivo

B em, já vimos os aspectos errados usados em alguns casos no método ex-


positivo. Veremos, agora, as peculiaridades desse estilo de pregação, que
difere dos demais estilos já apresentados.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 35


18 HOMILÉTICA

O texto bíblico é o principal fundamento em qualquer pregação, mas, se tra-


tando do sermão expositivo, o texto extraído da Bíblia merece uma abordagem
mais ampla, pois, geralmente, é usada uma única passagem bíblica. Isso, no entan-
to, não impede que o pregador lance mão de outros textos ao mesmo tempo. To-
davia, ele deve prestar muita atenção, porque, em alguns episódios, pode misturar
os textos e, com isso, tirar a profundidade do texto principal.
A fidelidade ao texto principal é uma das características do sermão expositivo,
que deve respeitar o texto e nunca violá-lo. Na teologia, este tipo de cuidado é
chamado de inteireza à interpretação bíblica (hermenêutica). Ou seja, acatar as
normas de interpretação da Palavra de Deus. O sermão expositivo não força o texto
a dizer aquilo que ele não diz. E, quando isso acontece, surge uma nova heresia.
Outro fator preponderante na pregação expositiva é a coerência textual. Os
diversos assuntos devem estar ligados entre si. As ideias do sermão se encaixam,
estabelecendo uma abordagem clara, refletindo o que a Bíblia está dizendo.
A ilustração é um aspecto peculiar no sermão expositivo. Se o pregador, por
exemplo, for descrever a vida de Moisés, ele precisa fazer que o ouvinte veja esse
servo de Deus ainda menino, dentro de um cesto, no rio Nilo, e como um homem já
adulto, consagrado ao seu Deus, conduzindo milhares de pessoas no deserto.
A ordem lógica do assunto deve ser descrita de acordo com o ponto culmi-
nante do sermão, o apelo. Para isso, o pregador precisa evitar o uso repetitivo de
termos, sempre manipulando bem as palavras-chave. Toda palavra repetida deve
ter um propósito acentuado para fechar um assunto.
O alvo central do sermão expositivo é a aplicação daquilo que foi dito. Caso
isso não ocorra, os dados históricos não passam apenas de informação cultural. A
aplicação do sermão tem de refletir a realidade do espectador.

 Como explorar o texto de forma consistente

C omo já sabemos, a pregação expositiva apresenta alguns obstáculos, por


isso o pregador tem de estudar bem o texto bíblico escolhido. A seguir,
veremos como transpor estes obstáculos.
O primeiro passo é analisar bem o texto.
Caso o pregador não tenha tempo disponível para preparar um sermão ex-
positivo, que não se atreva a desenvolvê-lo. Uma das exigências desse modelo de
pregação é a interpretação correta do texto. O pregador não precisa ser um estu-
dioso de hermenêutica, mas precisa conhecer alguns elementos fundamentais de
interpretação.

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Observar o contexto e os fatores históricos é fundamental. Os fatores históricos


estão ligados diretamente ao texto. Conhecer o principal propósito do texto enri-
quece a mensagem, tornando-a criativa.
Outra qualidade substancial da pregação expositiva é a qualidade prática,
que serve para evidenciar o dia-dia do espectador. Caso contrário, o texto se tor-
na cansativo, por ser muito teórico. Quanto mais o pregador demonstrar praticida-
de, mais sucesso terá sua pregação.

 A ordem do sermão expositivo

O sermão expositivo segue a mesma ordem organizacional dos outros ser-


mões. Depois de estudar minuciosamente o texto, o orador deve observar
o assunto principal e, a partir dele, preparar a pregação. Após isso, deve elaborar
os agrupamentos das ideias geradas do assunto central. Os demais tópicos darão
o tom e a ênfase do sermão.

 Relatando episódios e fatos


Alvo central: batalha espiritual (Ef 6.10-20).
1. Ninguém pode lutar se estiver fraco, por isso a ordem é “fortalecei-vos” (v.10).
2. O crente deve conhecer a armadura (v.11).
3. O crente deve tomar de toda a armadura (v.13).

 Razões e circunstâncias
Alvo central: a vida espiritual do crente (Mc 13.24-31).
1. Os sinais estão se cumprindo (v. 25).
2. O dia da volta está próximo (v. 29).
3. Passarão os céus e a terra, mas a Palavra de Deus permanecerá (v. 30,31).

 Extraindo conceitos doutrinários do texto


Alvo central: o cristão e o novo nascimento (Jo 3.1-15).
1. O homem precisa nascer de novo (v. 3-5).
2. O segredo do novo nascimento (v. 6-10).
3. O galardão do novo nascimento (v. 15).

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Estes são alguns exemplos de sermões expositivos. Existem outros que utilizam
metáforas e figuras de linguagem. Vejamos, a seguir, o esboço de um sermão ex-
positivo.

 Exemplo esboçado de um sermão expositivo

Título: O cristão e a batalha espiritual

Texto base: Efésios 6.10-20

Introdução

1. Fortalecimento: Efésios 6.10


O crente deve se fortalecer no Senhor.

a) ninguém pode lutar se estiver fraco.


b) Jesus é a nossa fortaleza.

2. O crente deve conhecer a armadura de Deus: Efésios 6.11


O crente deve saber quais são as armaduras de Deus e buscar capacitação.

a) Sem preparação para guerra, não haverá vitória.


b) Essa capacitação é recebida na igreja, orando, estudando a Bíblia e exer-
citando.
c) O instrutor é o Espírito Santo.

3. O campo da batalha: Efésios 6.12


O lugar de combate.

a) É espiritual – nos lugares celestiais.


b) Não é lugar geográfico.
c) Existe um inimigo espiritual – o diabo.

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4. As armas espirituais da batalha: Efésios 6. 13-17


As armas espirituais são:

a) O cinto da verdade (v.14).


b) A couraça da justiça (v.14).
c) Calçados na preparação do evangelho (v.15).
d) O escudo da fé (v.16).
e) O capacete da salvação (v.17).
f) A espada do espírito (v.17).

5. A provisão da batalha
a) A oração na batalha (v.18,19).
b) Orando em todo o tempo (v.18).
c) Vigiando com perseverança (v.18).
d) Na força da Palavra de Deus com confiança (v.19,20).

Apelo final
A conclusão deve sempre ser feita enfatizando uma mudança de atitude.

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q Conclusão

A matéria que estudamos tornou-se, com o passar dos anos, uma das mais
eficazes para a instrução do pregador. E também para qualquer outro meio
de comunicação que deseje anunciar o evangelho. Em nossos dias, é notório o in-
teresse do pregador em saber como se deve comportar em público. E é aí que en-
tra a homilética, pois ela mostra o caminho: ensina como transmitir uma mensagem
eficaz e com eficácia, e orienta, de forma persuasiva, como deve ser a mensagem
e a maneira como o pregador pode obter sucesso em sua comunicação.
Hoje, é importante buscar a excelência mais do que qualquer outra coisa. Co-
nhecer o ser humano e a forma como ele age é uma regra para quem deseja
alcançar o sucesso. Por isso, estimado aluno, procure conhecer bem a Palavra de
Deus e o público alvo que deseja alcançar. Os dias são maus, e quanto mais você
se dedicar a Deus, mais frutos produzirá, e maior será o seu galardão.
Sua dedicação ao estudo da homilética pode torná-lo um excelente pregador!

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q Referências bibliográficas
SODRÉ, HÉLIO. História universal da eloquência. 3a. ed. Rio de Janeiro, Foren-
se, 1967.
SANTOS, Mário Fereira dos. Curso de oratória e retórica. 8 a. ed. São Paulo,
Logos, 1960.
VALENTI, Jack. A fácil arte de falar em público . Rio de Janeiro, Record,
1982.
WURMAN, Richard Save. Como transformar informação em compreensão.
São Paulo, Cultura, 1991.
POLITO, Reinaldo. Como falar corretamente sem inibições. São Paulo. Saraiva,
1986.
PETEADO, J. R. Whitaker. A técnica da comunicação humana. São Paulo.
Pioneira, 1986.
SIMMONS, Harry. Falar em público. Rio de Janeiro, Record, 1988.
MENDES, Eunice. Falar em público: prazer ou ameaça? 2a. ed. Rio de Janeiro
Qualitymark, 1999.
SILVA, da Moreira Plínio. Homilética: a eloquência da pregação. 6a. ed. Curitiba,
A.D. Santos, 1999.
BRINKE, Georg. Mil esboços bíblicos de Gênesis a Apocalipse. 9a. ed. Curitiba,
Esperança, 2000.
MARINHO, Moura Robson. A arte de pregar. 5a. ed. São Paulo, 2002.
NELSON, C.P./Lund E. Hermenêutica. 12a. ed. Sao Paulo, 1995.

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