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Pessoa humana

Visão Grega: O ser humano é individualizado pelo corpo, mas este tornar-se indivíduo não passa
de uma limitação degradante. Só pelo espírito é que o ser humano é humano. É pelo espírito
que pertencemos ao mundo das ideias, ao mundo perfeito, do verdadeiro. A libertação da
individualização causada pelo corpo é vista como necessária para que o espírito retorne à
universalidade que lhe é própria. O que interessa a esta filosofia não é o mundo imperfeito da
individuação, mas o mundo perfeito, o mundo do universal. Logo, é o mundo do universal que
deve ser contemplado pelo filósofo. A pseudo-realidade do indivíduo é irrelevante para o pensar
filosófico.

Visão Cristã: A visão do homem como pessoa é uma criação própria do cristianismo. Nasce da
reflexão acerca da experiência relacional estabelecida entre Deus e o ser humano,
principalmente a partir da fé num Deus Criador:

a) Ser relacional;
b) Ser de decisão e responsabilidade;
c) Ser de liberdade.

Perspectiva Clássica: aspectos básicos da realidade da pessoa focalizados pela perspectiva


clássica:

1. A “inseidade”: a pessoa é independente (subsiste em si e para si);


2. O caráter único e irrepetível de cada pessoa;
3. Por sua natureza espiritual a pessoa não fica fechada em si própria, antes está aberta à
realidade toda, ao horizonte ilimitado do ser.

Alcance: valoriza a dimensão singular de cada pessoa;

Limites: excessivamente estática e incapaz de valorizar a riqueza da experiência histórica do ser


e do existir como pessoa.

Reação moderna: sublinha o caráter dinâmico, histórico e funcional.

Visão personalista: busca aprofundar o caráter próprio do ser pessoa, especialmente na sua
distinção do mundo.

Dimensões fundamentais: interiorização ou imanência e a abertura ou transcendência.

Dimensão de interiorização: a pessoa deve estar centrada em si própria, orientada para a


própria interioridade. Esta dimensão pode ser desdobrada da seguinte maneira:

1. Autopossessão: a pessoa se autopertence, possui autonomia própria. Esta


independência e autopertença impedem que uma pessoa seja feita propriedade de um
outro: qualquer tipo de escravidão é um atentado direto contra a dignidade da pessoa).
2. Liberdade e responsabilidade: a pessoa é capaz de escolher determinados valores por si
mesma, a partir de si mesma. É chamada a se autodecidir e, assim, optar. Quer dizer: é
chamada a ser livre. Desenvolver autonomia. Ora, decisão e opção implicam assumir a
responsabilidade do que foi decidido e da opção feita. Todo tipo de manipulação deve
ser rejeitado. O respeito real à liberdade e responsabilidade concretas de cada pessoa é
indispensável para o desenvolvimento da humanização do ser humano.
3. “Perseidade”: a pessoa tem em si mesma a sua própria finalidade. No seu agir, a pessoa,
acima de tudo, se auto-realiza como ser pessoal. Por isso, a pessoa não deve ser medida
com critérios meramente utilitários. A pessoa não é um objeto ou um instrumento para
ser usado e depois deixado de lado. Viver puramente em função do outro (pessoas,
ideologias, sistemas...), descuidando sua autofinalidade, aliena a pessoa,
desumanizando-a.

Tais aspectos manifestam que cada ser humano, justamente pelo seu caráter pessoal, é
único, insubstituível, irrepetível e merecedor de todo respeito.

Dimensão de abertura: A pessoa só pode ser verdadeiramente ela mesma quando vai além
de si. Aspectos fundamentais:

1. Abertura ao mundo: é verdade que a pessoa é qualitativamente diferente das coisas do


mundo da natureza, mas é igualmente certo que a pessoa humana forma parte também
do mundo natural. A pessoa é chamada a trabalhar o mundo para transformá-lo em
morada digna de todos e todas.
2. Abertura aos outros: Aspecto básico do ser pessoal, mas descuidado na perspectiva
clássica. A liberdade, autonomia e autofinalidade da pessoa se realiza na relação, no
diálogo, no encontro, na abertura aos outros seres pessoais. Sair-de-si para o encontro
(em diversos níveis) é constitutivo da pessoa.
3. Abertura a Deus: Aspecto mais fundamental da pessoa. Deus estabelece uma relação
dialógica com o ser humano; só o ser humano pode falar com Deus e aceitar sua
proposta. A relação com Deus, relação única e exclusiva, faz de cada indivíduo humano
uma pessoa e não apenas mais um indivíduo da espécie humana. Para a fé cristã o
homem é pessoa acima de tudo porque é capaz de responder a Deus, de dialogar com
Ele e de aceitar sua proposta.

O crescimento pessoal: Existe uma certa tensão as dimensões. O que importa é tentar
articular praticamente as duas dimensões no dinamismo próprio de nossa existência. Uma
vez que ambas são constitutivas do ser humano, o crescimento e o amadurecimento da
pessoa não poderá ser realizado sacrificando uma dimensão em nome da outra.

Pessoa x personalidade: Entenderemos como personalidade o desenvolvimento das duas


dimensões já estudadas. Determinada pessoa tem uma personalidade mais amadurecida
quando desenvolve mais e articula melhor a sua autopossessão, liberdade,
responsabilidade, autofinalidade com a sua abertura ao mundo, aos outros (pessoal-
comunitário e sociopolítico) e com a abertura ao transcendente.

A dignidade da pessoa não é um atributo apenas da personalidade amadurecida, mas de


todo ser humano. O valor e a dignidade da pessoa humana é inviolável em toda e qualquer
circunstância. E precisamente os mais vulneráveis de nossa sociedade são os que mais
precisam de acolhimento, respeito e defesa.

Bibliografia:

RÚBIO, A. G. Unidade na Pluralidade. São Paulo: Paulinas, 1989.

FILLIOZAT, I. L’intelligence du coeur. Paris: Jean-Claude Lattès, 1997.

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