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SUMÁRIO

1 OS TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO.............. 2

1.1 Leo Kanner .................................................................................. 3

1.2 Influências de Leo Kanner: .......................................................... 5

2 HANS ASPERGER ............................................................................ 6

3 OS DIFERENTES MODELOS EXPLICATIVOS DO AUTISMO ......... 7

4 AUTISMO INFANTIL .......................................................................... 9

4.1 Autismo atípico .......................................................................... 10

4.2 Síndrome De Rett ...................................................................... 12

4.3 Outro Transtorno Desintegrativo Da Infância ............................ 13

4.4 Transtorno Com Hipercinesia Associada A Retardo Mental E A


Movimentos Estereotipados.......................................................................... 14

4.5 Síndrome De Asperger .............................................................. 15

5 Outros Transtornos Globais (Invasivos) Do Desenvolvimento ......... 17

5.1 Transtornos Globais (Invasivos) Não Especificados Do


Desenvolvimento. ......................................................................................... 17

5.2 Tratamento ................................................................................ 20

5.3 Abordagens em equipe, com plano terapêutico singular ........... 20

5.4 Tratamento fonoaudiológico ...................................................... 24

5.5 Terapia Ocupacional ................................................................. 24

5.6 Trabalho com as famílias .......................................................... 25

5.7 Medicamentos ........................................................................... 26

6 A CRIANÇA E AS ESTRUTURAS FREUDIANAS DA PSICOSE .... 27

7 PSIQUIATRIA INFANTIL E PSICANÁLISE...................................... 32

BIBLIOGRAFIAS ................................................................................... 53
1 OS TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO

Os transtornos invasivos ou globais do desenvolvimento (TGD) são uma


categoria ampla de condições, dividida didaticamente em dois grupos:
(1) os transtornos do espectro do autismo (TEA), que incluem o
autismo infantil de Kanner, o autismo atípico, a síndrome de Asperger e
transtornos com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos
estereotipados;
(2) outras síndromes, incluindo a síndrome de Rett e os outros
transtornos desintegrativos da infância (incluindo as psicoses desintegrativas e
simbióticas esquizofreniformes, e a síndrome de Heller).
Sobram alguns quadros residuais, ditos não especificados, que não se
encaixam adequadamente em qualquer um dos dois grupos anteriores, pois
eventualmente podem ser considerados, em função de alguns sintomas, como
parte do espectro autista, ou não. Geralmente esta categoria – a dos não
especificados – é utilizada quando o diagnóstico ainda não está completo ou não
é bem definido.
O espectro autista representa transtornos do desenvolvimento,
envolvendo alterações qualitativas e quantitativas da comunicação (linguagem
verbal e não verbal), da interação social e do comportamento (estereotipias,
padrões repetitivos e interesses restritos), que geralmente tem início antes dos
3 anos de idade. Em termos etiológicos, tais alterações estão associadas a
anomalia anatômica ou fisiológica do sistema nervoso central (SNC), a
problemas constitucionais inatos predeterminados biologicamente, e a fatores de
risco.
Os transtornos invasivos do desenvolvimento ocorrem com maior
frequência em indivíduos do sexo masculino (3 a 5 homens para 1 mulher). O
aumento dos números relativos ao diagnóstico destes transtornos vem sendo
alvo de constantes discussões, visto que tais dados refletem a possibilidade do
real aumento dos casos ou de uma maior capacidade de identificação a partir da
ampliação dos critérios diagnósticos. Não se pode considerar raros os autismos.
O diagnóstico é eminentemente clínico e deve ser realizado a partir dos
critérios da CID-10, através de anamnese (com os pais ou responsáveis legais
e cuidadores), bem como da observação clínica dos comportamentos. A
utilização de escalas de triagem traduzidas e validadas para a população
brasileira pode favorecer a identificação precoce da suspeita destas condições,
por profissionais da atenção básica, nas ações de assistência materno-infantil.
A detecção precoce é fundamental para que as intervenções possam ser
realizadas, principalmente ao considerar-se que a resposta positiva ao
tratamento (em termos de linguagem, desenvolvimento cognitivo e habilidades
sociais) é mais significativa nos casos de intervenção mais imediata. Isso se dá
em função da plasticidade cerebral, assim como das experiências precoces nos
primeiros anos de vida do bebê, fundamentais para o funcionamento das
conexões neuronais e para o desenvolvimento psicossocial. Desse modo, as
intervenções precoces conferem maior eficácia e maior economia, devendo ser
privilegiadas pelos profissionais de saúde.

1.1 Leo Kanner

O termo autismo foi utilizado pela primeira vez em 1911, por Bleuler, para
designar a perda de contato com a realidade e consequente dificuldade ou
impossibilidade de comunicação.

Fonte: https://www.leokaneer.org
Em 1943, o médico austríaco radicado nos Estados Unidos da América -
Leo Kanner - observou onze crianças que passaram por sua consulta e escreveu
o artigo: "Os transtornos autistas do contato afetivo" (1943).
Com base nos aspectos que chamaram sua atenção, podemos dizer que
ele identifica como traço fundamental do autismo a "incapacidade para
relacionar-se normalmente com as pessoas e as situações" (1943, p. 20).
Vamos conhecer um pouco da descrição de Leo Kanner sobre o autismo:

Fonte: www.redehumanizasus.net

As relações sociais e afetivas: Desde o início há uma extrema solidão


autista, algo que, na medida do possível, desconsidera, ignora ou impede a
entrada de tudo o que chega à criança de fora. O contato físico direto e os
movimentos ou ruídos que ameaçam romper a solidão são tratados como se não
estivessem ali, ou, não bastasse isso, são sentidos dolorosamente como uma
interferência penosa" (KANNER, 1943).
A comunicação e a linguagem: L. Kanner descreveu a ausência de
linguagem (mutismo) em algumas crianças, seu uso estranho nas que a
possuem, a presença de ecolalia, a aparência de surdez em algum momento do
desenvolvimento e a falta de emissões relevantes.
A relação com as mudanças no ambiente e a rotina: A conduta da
criança "é governada por um desejo ansiosamente obsessivo por manter a
igualdade, que ninguém, a não ser a própria criança, pode romper em raras
ocasiões" (1943, p. 22).

Memória: Capacidade surpreendente de alguns em memorizar grande


quantidade de material sem sentido ou efeito prático.

Hipersensibilidade a estímulos: Muitas crianças reagiam intensamente


a certos ruídos e a alguns objetos. Também manifestavam problemas com a
alimentação.

Fonte: www.noticiasmagazine.com.br

1.2 Influências de Leo Kanner:

Nos estudos de Leo Kanner, estão descritas as principais características


do autismo. Entretanto, seus estudos também geraram certa confusão, além de
consequências teóricas e práticas determinantes, nas abordagens de
atendimento e compreensão das necessidades das pessoas com autismo.
Até a década de 70, persiste certa confusão do ponto de vista do
diagnóstico, conforme segue:
 O termo "autismo" já havia sido usado para referir-se à
esquizofrenia, podendo postular uma correlação indevida entre os
dois diagnósticos;
 Por não ter sido levada em consideração a idade da manifestação
do quadro, outros diagnósticos poderiam ser confundidos com
autismo;
 Estudos posteriores de Kanner reduzem as características
principais do quadro ou consideram parte das características
observadas como secundárias, acarretando diagnósticos com
sintomas que, na verdade, não apareceriam no autismo.

2 HANS ASPERGER

Poucos meses depois de Kanner, o médico vienense Hans Asperger


descreveu os casos de várias crianças vistas e atendidas na Clínica Pediátrica
Universitária de Viena.
Asperger não conhecia o trabalho de Kanner e "descobriu" o autismo de
modo independente. Publicou suas observações em 1944: "A Psicopatia autista
na infância".
As descrições do autismo feitas por Asperger foram publicadas em
alemão, no pós-guerra, e não foram traduzidas para outra língua, o que
provavelmente contribuiu para prolongar o período de desconhecimento a
respeito de seus estudos, até a década de 80.
A seguir, apresentamos um pouco da descrição de Hans Asperger sobre
o autismo:
As relações sociais e afetivas: Asperger identificava como traço
fundamental a limitação de suas relações sociais, considerando que toda a
personalidade da criança está determinada por esta limitação.
A comunicação e a linguagem: Estranhas pautas expressivas e
comunicativas, anomalias prosódicas e pragmáticas. As anomalias prosódicas
são alterações das propriedades acústicas da fala - ritmo e entonação,
constituindo uma fala estranha nesses aspectos. As anomalias pragmáticas
dizem respeito a uma comunicação restrita a significados implícitos ou a serem
inferidos. Do ponto de vista da comunicação receptiva, esta anomalia representa
a dificuldade de compreender um chiste ou o sentido ambíguo de palavras ou
expressões.
Pensamento: Compulsividade e caráter obsessivo de seus pensamentos.
Comportamento e atitudes: Tendência a guiar-se de forma alheia às
condições do meio.

3 OS DIFERENTES MODELOS EXPLICATIVOS DO AUTISMO

Até a década de 60, o autismo foi considerado um transtorno emocional,


causado pela incapacidade de mães e/ou pais de oferecer o afeto necessário
durante a criação dos filhos. Isso produziria alterações graves no
desenvolvimento de crianças.
A formulação dessa hipótese se baseava apenas na descrição de casos,
e não havia comprovação empírica. Posteriormente, essa correlação se mostrou
falsa, pois estudos mostraram que não havia diferença significativa entre os
laços afetivos de pais de crianças autistas e de outras crianças. Além disso,
novos estudos evidenciavam a presença de distúrbios neurobiológicos.
Durante as duas décadas seguintes, pesquisas empíricas, rigorosas e
controladas levaram à hipótese da existência de alteração cognitiva que
explicaria as características de comunicação, linguagem, interação social e
pensamento presentes no autismo. Nesse período de tempo, surgiram escolas
específicas para pessoas com autismo.
Posteriormente, as pesquisas fundamentadas em dados estabeleceram
importantes modelos explicativos. O autismo passa a ser estudado e
compreendido enquanto um transtorno do desenvolvimento. Deixa de ser
apontado como uma psicose infantil para ser entendido como um Transtorno
Global (ou Invasivo) do Desenvolvimento.
Os diferentes modelos explicativos do autismo, de 1943 aos dias de hoje,
implicaram, a cada momento histórico, diferentes impactos para as famílias e
para as crianças com autismo:
 As primeiras descrições do autismo, ao considerar o isolamento como um
desejo da criança e a interferência de outra pessoa no ambiente, na rotina
e na "solidão" como algo penoso, trouxeram em consequência o reforço
do isolamento dessas crianças. Havia a tendência de se proteger a
criança em relação a essas interferências, tanto nos espaços formais de
tratamento e educação, quanto nos espaços informais;
 As intervenções educacionais, quando começaram a ser implementadas,
ocorreram em circunstâncias ambientais artificiais, já que previam
controle e redução de estímulos e atendimentos individualizados ou com
outras pessoas que também apresentavam o mesmo transtorno. Se a
compreensão era de que os estímulos e a abordagem social poderiam
causar sofrimento, por consequência, não se oportunizou à maioria
dessas crianças a exposição ao meio social;
 Do ponto de vista da família, por duas décadas, os pais se viram diante
de uma responsabilidade que na verdade não existia. O modelo
explicativo, que vinculava o transtorno autista à incapacidade afetiva dos
pais, posteriormente comprovado como falso, afligia-lhes culpa e estigma
social. Em decorrência desse modelo, surgiram expressões
estigmatizastes como "mãe geladeira". A experiência de ter um filho com
autismo, por muito tempo, então, consistia num impacto terrível do ponto
de vista emocional, acarretando, muitas vezes, sofrimento e atitudes de
superproteção, decorrentes do sentimento de culpa, os quais não
contribuíram para uma abordagem familiar e profissional que
proporcionasse a superação das dificuldades da família e da criança;
 A ausência da oferta de educação escolar durante os primeiros anos de
estudo do autismo, levaram as famílias a viver seus desafios e
necessidades à parte das demais. Prova disso é o fato de que as
primeiras iniciativas de escolarização foram patrocinadas por familiares e
pais de autistas, e não pelo estado ou por profissionais e estudiosos da
educação. Se, por um lado, resultou em militância das famílias, por outro,
pode ter contribuído para o mito, ainda compartilhado por muitos, de que
apenas quem tem uma criança com autismo na família pode saber do que
essas crianças necessitam. Esse mito isentou a nós educadores de
nossas responsabilidades para com essa parcela da infância.
A partir desse breve histórico e de sua análise crítica, podemos
dimensionar a importância do momento atual da educação brasileira para as
crianças com autismo e suas famílias. A empreitada nacional, empreendida por
pais e gestores no sentido de constituir sistemas de ensino inclusivos, vem
retirando as crianças com autismo e suas famílias do isolamento social histórico
a que foram submetidas, enquanto segregadas em escolas especiais, tornando
pauta das discussões da gestão educacional a responsabilidade e os desafios
para a garantia do direito dessas pessoas à educação.

Fonte: www.leandroteles.com.br

4 AUTISMO INFANTIL

Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por:


a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade
de três anos, e
b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em
cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação,
comportamento focalizado e repetitivo.
Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras
manifestações inespecíficas, por exemplo fobias, perturbações de sono ou da
alimentação, crises de birra ou agressividade (autoagressividade).
Inclui: autismo infantil, psicose infantil, síndrome de Kanner, transtorno
autístico. Exclui: psicopatia autista (F84.5)

4.1 Autismo atípico

Transtorno global do desenvolvimento, ocorrendo após a idade de três


anos ou que não responde a todos os três grupos de critérios diagnósticos do
autismo infantil. Esta categoria deve ser utilizada para classificar um
desenvolvimento anormal ou alterado, aparecendo após a idade de três anos, e
não apresentando manifestações patológicas suficientes em um ou dois dos três
domínios psicopatológicos (interações sociais recíprocas, comunicação,
comportamentos limitados, estereotipados ou repetitivos) implicados no autismo
infantil; existem sempre anomalias características em um ou em vários destes
domínios. O autismo atípico ocorre habitualmente em crianças que apresentam
um retardo mental profundo ou um transtorno específico grave do
desenvolvimento de linguagem do tipo receptivo.
Inclui: psicose infantil atípica, retardo mental com características
autísticas (usar código adicional (F70-F79), se necessário, para identificar o
retardo mental).
De acordo com o DSM.IV, podemos descrever algumas características
que podem ser manifestadas pelas pessoas com autismo.
O autismo se caracteriza pela presença de um desenvolvimento
acentuadamente prejudicado na interação social e comunicação, além de um
repertório marcantemente restrito de atividades e interesses. As manifestações
desse transtorno variam imensamente a depender do nível de desenvolvimento
e idade.
Os prejuízos na interação social são amplos, podendo haver também
prejuízos nos comportamentos não verbais (contato visual direto, expressão
facial, gestos corporais) que regulam a interação social. As crianças com autismo
podem ignorar outras crianças e não compreender as necessidades delas.
Os prejuízos na comunicação também são marcantes e podem afetar
habilidades verbais e não verbais. Pode haver atraso ou falta total de
desenvolvimento da linguagem falada. Naqueles que chegam a falar, pode existir
prejuízo na capacidade de iniciar ou manter uma conversação, uso estereotipado
e repetitivo da linguagem ou uma linguagem idiossincrática (uso peculiar de
palavras ou frases não possibilitando entender o significado do que está sendo
dito).
Quando a fala se desenvolve, o timbre, a entonação, a velocidade, o ritmo
ou a ênfase podem ser anormais (ex.: o tom de voz pode ser monótono ou elevar-
se de modo interrogativo ao final de frases afirmativas). As estruturas gramaticais
são frequentemente imaturas e incluem o uso estereotipado e repetitivo (ex.:
repetição de palavras ou frases, independentemente do significado, repetição de
comerciais ou jingles).
Pode-se observar uma perturbação na capacidade de compreensão da
linguagem, como entender perguntas, orientações ou piadas simples. As
brincadeiras imaginativas em geral são ausentes ou apresentam prejuízos
acentuados.
Existe, com frequência, interesse por rotinas ou rituais não funcionais ou
uma insistência irracional em seguir rotinas. Os movimentos corporais
estereotipados envolvem mãos (bater palmas, estalar os dedos), ou todo o corpo
(balançar-se, inclinar-se abruptamente ou oscilar o corpo), além de
anormalidades de postura (ex.: caminhar na ponta dos pés, movimentos
estranhos das mãos e posturas corporais).
Podem apresentar preocupação persistente com partes de objetos
(botões, partes do corpo). Também pode haver fascinação por movimentos
(rodinhas dos brinquedos, abrir e fechar portas, ventiladores ou outros objetos
com movimento giratório).

Características principais Idade de Importante para o


manifestação diagnóstico diferencial

Prejuízo no desenvolvimento Antes dos 3 anos Prejuízo no


da interação social e da funcionamento ou
comunicação. Pode haver de idade. atrasos em pelo menos 1
atraso ou ausência do das 3 áreas:
desenvolvimento da Interação social;
linguagem. Naqueles que a Linguagem para
possuem, pode haver uso
estereotipado e repetitivo ou comunicação social;
uma linguagem idiossincrática.
Repertório restrito de Jogos simbólicos ou
interesses e atividades. imaginativos.
Interesse por rotinas e
rituais não funcionais.

4.2 Síndrome De Rett

Transtorno neuropsiquiátrico não autístico, caracterizado por um


desenvolvimento inicial aparentemente normal, seguido de perda parcial ou
completa da linguagem, da marcha e do uso das mãos, com retardo do
desenvolvimento craniano. Ocorre em meninas, geralmente entre 7 e 24 meses.
O interesse social é conservado pela criança, mas não há desenvolvimento, nem
social nem lúdico. Aos 4 anos inicia-se uma ataxia do tronco, com apraxia e,
eventualmente, movimentos atetósicos. Geralmente a inteligência fixa-se no
nível do retardo grave.
A Síndrome de Rett foi identificada em 1966 por Andréas Rett, tendo
ficado mais conhecida após o trabalho de Hagberg.
Do ponto de vista clínico, a Síndrome de Rett pode ser organizada em
quatro etapas, de acordo com Mercadante (2007), conforme segue:
Estagnação precoce: Dos 6 aos 18 meses, caracterizando-se pela
estagnação do desenvolvimento, desaceleração do crescimento do perímetro
cefálico e tendência ao isolamento social.
Rapidamente destrutiva: Entre o primeiro e o terceiro ano de vida, com
regressão psicomotora, choro imotivado, irritabilidade, perda da fala adquirida,
comportamento autista e movimentos estereotipados das mãos. Podem ocorrer
irregularidades respiratórias e epilepsia.
Pseudo-estacionária: Entre os dois e dez anos de idade, podendo
haver certa melhora de alguns dos sintomas como, por exemplo, o contato social.
Presença de ataxia, apraxia, espasticidade, escoliose e bruxismo. Episódios de
perda de fôlego, aerofagia, expulsão forçada de ar e saliva.
Deterioração motora tardia: Inicia-se em torno dos dez anos de idade,
com desvio cognitivo grave e lenta progressão de prejuízos motores, podendo
necessitar de cadeira de rodas.
Mesmo com a identificação do gene, os mecanismos envolvidos na
Síndrome de Rett ainda são desconhecidos. Reduções significativas no lobo
frontal, no núcleo caudado e no mesencéfalo têm sido descritas, havendo
também algumas evidências de desenvolvimento sináptico.

Características principais Idade de Importante para o


manifestação diagnóstico diferencial

Desenvolvimento de múltiplos Primeiras Presença de crises


déficits específicos após um
período de funcionamento manifestações convulsivas.
normal nos primeiros meses de após os Desaceleração do
vida.
Desaceleração do crescimento primeiros 6 a 12 crescimento do perímetro
do perímetro cefálico.
Perda das habilidades meses de vida. cefálico.
voluntárias das mãos Prejuízos
adquiridas anteriormente, e
posterior desenvolvimento de funcionais do
movimentos estereotipados
semelhantes a lavar ou torcer desenvolvimento
as mãos. dos 6 meses aos
O interesse social diminui após
os primeiros anos de primeiros anos
manifestação do quadro,
embora possa se desenvolver de vida.
mais tarde.
Prejuízo severo do
desenvolvimento da linguagem
expressiva ou receptiva.

4.3 Outro Transtorno Desintegrativo Da Infância

Também é um transtorno não autístico, caracterizado por


desenvolvimento inicial aparentemente normal, seguido de perda das
habilidades, em poucos meses, com perda do interesse pelo ambiente e
apresentação de condutas motoras estereotipadas e repetitivas (maneirismos).
Muitas vezes identifica-se uma encefalopatia. Inclui quadros de psicose
desintegrativa e simbiótica esquizofreniforme e de síndrome de Heller (demência
infantil).

Características principais Idade de Importante para o


manifestação diagnóstico diferencial

Regressão pronunciada em Após 2 anos e O transtorno não é melhor


múltiplas áreas do explicado pelo Autismo ou
antes dos 10 Esquizofrenia. Excluídos
funcionamento, após um
desenvolvimento normal anos de idade. transtornos metabólicos e
condições neurológicas.
constituído de comunicação
Muito raro e muito menos
verbal e não-verbal,
relacionamentos sociais, jogos comum do que o Autismo.
e comportamento adaptativo
apropriado para a idade. As
perdas clinicamente
significativas das habilidades já
adquiridas em pelo menos duas
áreas: linguagem expressiva ou
receptiva, habilidades sociais ou
comportamento adaptativo,
controle intestinal ou vesical,
jogos ou habilidades motoras.
Apresentam déficits sociais e
comunicativos e aspectos
comportamentais geralmente
observados no Autismo.

4.4 Transtorno Com Hipercinesia Associada A Retardo Mental E A


Movimentos Estereotipados

Presente em crianças com retardo mental grave (de QI abaixo de 50),


com retardo geral do desenvolvimento, e perturbação da psicomotricidade, da
atenção e do comportamento. Tais quadros de hiperatividade não reagem a
estimulantes.

Características principais Idade de Importante para o


manifestação diagnóstico diferencial
Existe prejuízo severo no Quando tais
desenvolvimento da interação características estão
social recíproca ou de presentes, mas não são
habilidades de comunicação satisfeitos os critérios
verbal e não-verbal ou diagnósticos para um
comportamentos, interesses e Transtorno Global do
atividades estereotipados. Desenvolvimento ou para
outros quadros
diagnósticos como
Esquizofrenia, Transtorno
da Personalidade
Esquizotípica ou
Transtorno da
Personalidade Esquiva.

4.5 Síndrome De Asperger

Transtorno de validade nosológica incerta, caracterizado por uma


alteração qualitativa das interações sociais recíprocas, semelhante à observada
no autismo, com um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado
e repetitivo. Ele se diferencia do autismo essencialmente pelo fato de que não
se acompanha de um retardo ou de uma deficiência de linguagem ou do
desenvolvimento cognitivo. Os sujeitos que apresentam este transtorno são em
geral muito desajeitados. As anomalias persistem frequentemente na
adolescência e idade adulta. O transtorno se acompanha por vezes de episódios
psicóticos no início da idade adulta. Inclui: psicopatia autística, transtorno
esquizoide da infância.
De acordo com o DSM.IV, as características essenciais do Transtorno de
Asperger consistem em prejuízo persistente na interação social e no
desenvolvimento de padrões repetitivos de comportamento, interesses e
atividades. A perturbação pode causar prejuízo clinicamente significativo nas
áreas social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento.
Diferentemente do que ocorre no Autismo, não existem atrasos
significativos na linguagem. Também não existem atrasos significativos no
desenvolvimento cognitivo ou nas habilidades de autoajuda, comportamento
adaptativo (outro que não a interação social) e curiosidade acerca do ambiente
na infância.
O Transtorno de Asperger parece ter um início mais tardio do que o
Autismo, ou parece ser identificado mais tarde. As dificuldades de interação
social podem tornar-se mais manifestas no contexto escolar, e é durante esse
período que interesses idiossincráticos (peculiares em relação aos interesses
comuns às pessoas) ou circunscritos podem aparecer e ser reconhecidos.
Quando adultos, podem ter problemas com a empatia e modulação da interação
social.

Características principais Idade de Importante para o


manifestação diagnóstico diferencial

Prejuízo persistente na Diferentemente do


interação social. Autismo, podem não
Desenvolvimento de padrões existir atrasos
Tem início mais
restritos e repetitivos de tardio do que o clinicamente significativos
comportamento, interesses e Autismo ou é no desenvolvimento
percebido mais
atividades. tarde (entre 3 e cognitivo, na linguagem,
5 anos).
Atrasos nas habilidades de
motores ou falta autoajuda apropriadas à
de destreza
motora podem idade, no comportamento
ser percebidos
antes dos 6 adaptativo, à exceção da
anos. interação social, e na
curiosidade pelo ambiente
na infância.
5 OUTROS TRANSTORNOS GLOBAIS (INVASIVOS) DO
DESENVOLVIMENTO

5.1 Transtornos Globais (Invasivos) Não Especificados Do


Desenvolvimento.

5.1.1.1 Diagnóstico
As diretrizes do Ministério da Saúde compõem um documento de leitura
imprescindível para os profissionais que estejam se iniciando nas tarefas de
atendimento de transtornos invasivos do desenvolvimento infantil.
A coleta da história clínica, a anamnese com os pais ou responsáveis
legais e cuidadores, e o exame devem ser coerentes com os critérios da décima
versão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados
à Saúde (CID-10), da Organização Mundial da Saúde.
Também deve-se levar em conta a Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) que, na área clínica, auxilia o
modelo de atendimento multidisciplinar. Ela foca as deficiências, incapacidades
e desvantagens não apenas como consequência das condições de saúde e
doença. Foca-as como fatos determinados também pelo contexto do meio
ambiente físico e social, por percepções culturais e atitudes, pela disponibilidade
de serviços e pela legislação. É um instrumento para medir o estado funcional
dos indivíduos, permitindo avaliar condições de vida e fornecer subsídios para
políticas de inclusão social.
O diagnóstico de transtornos do espectro do autismo é uma descrição e
não uma explicação. Esta descrição é dimensional também, pois sempre se deve
estabelecer o grau do problema, em um espectro que vai desde o muito discreto
e leve, até condições muito intensas e graves.
Sintomas e Sinais de Alerta para o Espectro Autista (de 2 a 15
meses)

IDADE DESENVOLVIMENTO NORMAL SINAIS DE ALERTA

2 meses • Criança fixa o olhar;


• Reage ao som;
• Bebê se aconchega no colo dos
pais e troca olhares (mamadas e
trocas de fralda)
4 meses • Emite sons;
• Mostra interesse em olhar rosto
de pessoas, respondendo com
sorriso, vocalização ou choro;
• Retribui sorriso
6 meses • Sorri muito ao brincar com • Não tem sorrisos e
pessoas; expressões alegres
• Localiza sons;
• Acompanha objetos com olhar
9 meses • Sorri e ri enquanto olha para as • Não responde às
pessoas; tentavas de interação
• Interage com sorrisos, feições feita pelos outros quando
amorosas e outras expressões; estes sorriem fazem
• Brinca de esconde-achou; caretas ou sons;
• Duplica sílabas • Não busca interação
emitindo sons, caretas ou
sorrisos
12 meses • Imita gestos como dar tchau e • Não balbucia ou se
bater palmas; expressa como bebê;
• Responde ao chamado do nome; • Não responde ao seu
• Faz sons como se fosse nome quando chamado;
conversa com ela mesma • Não aponta para coisas
no intuito de compartilhar
atenção;
• Não segue com olhar
gesto que outros lhe
fazem
15 meses • Troca com as pessoas muitos • Não fala palavras que
sorrisos, sons e gestos em uma não seja mama, papa,
sequência; nome de membros da
• Executa gestos a pedido; família
• Fala uma palavra
Fonte: São Paulo, 2013.

As alterações no desenvolvimento da criança podem ser percebidas pelos


pais antes dos 24 meses. A procura por serviços especializados diminui os
diagnósticos inadequados. Os sintomas e sinais de risco podem ser identificados
precocemente.
Sintomas e Sinais de Alerta para o Espectro Autista (de 18 a 36
meses)
IDADE DESENVOLVIMENTO NORMAL SINAIS DE ALERTA

18 meses • Fala no mínimo 3 palavras; • Não fala palavras


• Reconhece claramente pessoas e
partes do corpo quando nomeados; (que não seja
• Faz brincadeiras simples de faz de
ecolalia);
conta
• Não expressa o
que quer;
• Utiliza-se da mão
do outro para
apontar o que
quer
24 meses • Brinca de faz de conta; • Não fala frase
• Forma frase de duas palavras com
sentido que não seja repetição; com duas
• Gosta de estar com crianças da mesma
palavras que não
idade e tem interesse em brincar
conjuntamente; sejam repetição
• Procura por objetos familiares que
estão fora do campo de visão quando
perguntado
36 meses • Brincadeira simbólica com
interpretação de personagens;
• Brinca com crianças da mesma idade
expressando preferências;
• Encadeia pensamento e ação nas
brincadeiras (ex.: estou com sono, vou
dormir);
• Responde a perguntas simples como
“onde”, “o que”;
• Fala sobre interesses e sentimentos;
• Entende tempo passado e futuro
Qualquer perda de linguagem, de capacidade de comunicação ou
da habilidade social já adquiridas, em qualquer idade.
Fonte: São Paulo, 2013.

Um diagnóstico definitivo de transtorno do espectro do autismo só pode


ser firmado após os três anos de idade. Porém, os indícios e a identificação de
tendência para os TEA aparecem cedo. Há dados importantes sobre o
diagnóstico na publicação sobre a linha de cuidado em autismo, do Ministério da
Saúde.
Os quadros invasivos não autísticos, como a síndrome de Rett, os
transtornos desintegrativos e alguns dos globais não especificados, são muito
raros, mas têm bastante impacto sobre as famílias.
Demandam diagnósticos diferenciais com transtornos metabólicos
(mucopolisacaroidose SanFilippo) e condições neurológicas (encefalite por vírus
lento, epilepsia), além dos autismos (especialmente quando se observa um
desenvolvimento próximo do normal nos primeiros um ou dois anos, o que ocorre
em até 30% dos casos de autismo).
Não existe tratamento médico resolutivo, por si, para os quadros invasivos
não autísticos. Neles, as complicações neurológicas, especialmente a epilepsia,
são comuns. A abordagem é intersetorial. Essas crianças funcionam no nível de
grave a profundo retardo mental. A abordagem é multidisciplinar, implicando
psicoeducação voltada aos pais e cuidadores.
Na maioria das vezes, quando os pais de crianças com transtornos
invasivos fora do espectro autista aderem a associações de pais de crianças com
autismo eles ficam desapontados, porque o progresso visto em autistas não
ocorre com sua criança. O amparo emocional dado pelo setor saúde, portanto,
à família, pode diminuir seu sofrimento e suas dificuldades de aceitação da
condição.

5.2 Tratamento

5.3 Abordagens em equipe, com plano terapêutico singular

Não há uma abordagem única e insubstituível a ser privilegiada no


atendimento de pessoas com transtornos globais do desenvolvimento. Os
técnicos podem escolher entre várias abordagens existentes, considerando,
caso a caso, sua efetividade e segurança. Em especial deve-se levar em conta
a singularidade de cada caso.
Um plano terapêutico singular precisará ser construído, para cada
usuário, à medida que ele vai se tornando conhecido da equipe multidisciplinar.
O plano terapêutico visa entender os modos de funcionamento do sujeito,
das relações que ele estabelece e os impasses decorrentes. Parte do contexto
real do o sujeito, das rotinas que estabelece, de seu cotidiano, do que elege, o
que evita. Leva em conta a escuta da família e de outros atores importantes. Visa
criar recursos e alternativas para que se ampliem os laços sociais, suas
possibilidades de circulação, e seus modos de estar na vida; ampliar suas formas
de se expressar e se comunicar, favorecendo a inserção em contextos diversos.
Todo projeto terapêutico singular para a pessoa com transtorno do
espectro do autismo precisa ser construído com a família e a própria pessoa.
Deve envolver uma equipe multiprofissional e estar aberto às proposições que
venham a melhorar sua qualidade de vida. O objetivo geral de um plano
terapêutico singular é o de promover melhor qualidade de vida, autonomia,
independência e inserção social, escolar e laboral à pessoa enquadrada no
espectro autista. São objetivos específicos genéricos, num projeto:
a) Identificar habilidades preservadas, potencialidades e
preferências de cada paciente, bem como áreas comprometidas
(o que, como, o quanto);
b) Compreender o funcionamento individual de cada paciente,
respeitando seus limites e suas possibilidades de
desenvolvimento;
c) Elaborar e desenvolver um programa individualizado de
tratamento por meio da aprendizagem de novas habilidades,
ampliando os repertórios de potencialidades e reduzindo
comportamentos mal adaptativos ou disfuncionais;
d) Desenvolver ou melhorar as habilidades de autocuidado,
propiciando maior autonomia;
e) Desenvolver habilidades sociais, com o objetivo de melhorar o
repertório social dos pacientes para proporcionar interações
sociais mais positivas. Quando necessário, desenvolver ou
melhorar habilidades básicas de interações sociais, como, por
exemplo, o contato visual, responder a um cumprimento por
gestos;
f) Melhorar a qualidade do padrão de comunicação, seja verbal ou
não verbal. Alguns recursos adicionais podem ser utilizados para
possibilitar a comunicação, como o uso do PECS (Picture
Exchange Communication System), que permite a comunicação
por meio do uso de troca de figuras;
g) Reduzir ou extinguir repertórios inadequados e comportamentos
mal adaptativos, que dificultam a interação social ou aquisição de
novas habilidades, como agitação psicomotora, comportamentos
auto ou hétero agressivos e estereotipias;
h) Realizar orientações frequentes aos pais ou cuidadores de modo
a inseri-los no programa de tratamento, proporcionando novas
situações de aprendizagem, não apenas durante as sessões, mas
tendo os cuidadores como coterapeutas, reproduzindo as
orientações recebidas e possibilitando a replicação dos
comportamentos adequados em outros contextos;
i) Orientar, de maneira uniformizada, os demais profissionais
envolvidos, tanto de saúde como de educação, no cuidado e no
manejo dos pacientes.
Cada fase do desenvolvimento tem suas necessidades específicas a
serem respeitadas. O plano terapêutico deve ser reavaliado, periodicamente, a
cada seis meses, possibilitando identificar as áreas ou os repertórios
desenvolvidos e adaptar ou planejar novamente as ações.
No atendimento cotidiano os profissionais geralmente se valem de
tratamento clínico de base psicanalítica, de análise do comportamento aplicada,
conhecida como ABA, de comunicação suplementar e alternativa (CSA), de
integração sensorial, do método de tratamento e educação para crianças com
transtornos do espectro do autismo (TEACCH).
O método Lovaas, conhecido como Early Intensive Behavioral
Intervention (EIBI) ou Intervenção Comportamental Precoce Intensiva, para
crianças pequenas, vem sendo estudado e testado quanto às suas aplicações
em diversos contextos. É um método norte-americano complexo, que impõe
formação, de difícil acesso, aos profissionais que porventura queiram aprender
a utilizá-lo.
Fonte: www.communitypartnersnh.org

Procedimentos comportamentalistas, de cunho skinneriano, podem ser


utilizadas para trabalhar não só comportamentos, mas também a linguagem,
pois o autismo gera sistemática aplicação de:
a) Reforço do comportamento verbal de mando vocal aversivo
(chorar ou gritar, ou outros comportamentos de evitação que
podem ser incompatíveis com a aquisição de comportamentos
verbais apropriados para a idade);
b) Reforço do comportamento verbal de mando gesticulatório e
outras formas de mandos não-vocais;
c) Antecipação de necessidades da criança e consequente
reforçamento de um repertório não-responsivo que impede o
fortalecimento de mandos vocais e não vocais;
d) Extinção de comportamentos verbais;
e) Interação entre fatores orgânicos, ou presumidamente orgânicos,
e fatores comportamentais;
f) Não-supressão de comportamentos disruptivos e insuficiência em
estabelecer controle instrucional verbal inicial.
Os acompanhantes terapêuticos, voluntários ou contratados pela família,
podem ter papel social importantes em alguns casos.
Há estudos em andamento no sentido de se utilizar aparelhos de alta
tecnologia, como jogos e aplicativos para uso em notebooks, tablets, e até
aparelhos celulares, voltados especificamente para o desenvolvimento
educacional e sócio relacional de pessoas com TEA.
Os acompanhamentos para pessoas no espectro autista são mais efetivos
quando são realizados em longo prazo.

5.4 Tratamento fonoaudiológico

Os objetivos das terapias fonoaudiológicas visam adequar as dificuldades


de comunicação receptiva e expressiva. A linguagem infantil se constrói pela
brincadeira, inicialmente observando a exploração lúdica espontânea e,
posteriormente, incentivando-a a outras formas de brincar, de compartilhar
atenção e situações. As ações ou emissões verbais que indicam tentativas
comunicativas são incentivas e trabalhadas. A pessoas não verbais aplicam-se
abordagens alternativas de comunicação, como o uso de sistemas de
comunicação aumentativa. As técnicas de comunicação alternativas e
aumentativas são um complemento ou substituição da fala, para compensar a
dificuldade de expressão.

5.5 Terapia Ocupacional

Um plano de intervenção do terapeuta ocupacional leva em conta as


necessidades singulares de cada pessoa e de sua etapa de desenvolvimento.
Melhorar o desempenho em atividades, como alimentação, vestuário, higiene,
ou, ainda, mobilidade, brincar, desempenho escolar e ensino de procedimentos
de segurança são ações comuns do terapeuta ocupacional. As áreas a trabalhar
no autismo são:
a) Cuidados Pessoais: Alimentação – ensino passo a passo da
tarefa de comer de forma independente; Toalete – controle de
esfíncter e treino específico do uso de toalete; Higiene – lavar as
mãos, tomar banho, escovar dentes; Vestuário – tirar e colocar
roupas e sapatos; Sono – qualidade do sono e rotina na hora de
dormir;
b) Atividades Domésticas: arrumar a cama, guardar brinquedos,
ajudar a preparar um lanche, fazer compras em loja, preparar lista
de compras, conhecer dinheiro (troco, contar);
c) Mobilidade: atravessar rua, pegar transporte público, solicitar
ajuda quando perdido;
d) Educação: Ambiente escolar – localizar a sala, ir e vir
independentemente; Organização do espaço físico da sala,
potencial grau de distratibilidade. Adaptação do mobiliário e do
material para escrita; Coordenação motora global e fina; Rotinas
escolares – grau de independência para tomar lanche, guardar
material, brincar de forma compartilhada, utilizar o banheiro;
e) Emprego: preparar adolescentes para uma atividade laborativa,
sempre que possível; Pré-requisitos para atividades laborativas
(assiduidade, pontualidade); Habilidades para trabalho:
exigências físicas (força, coordenação, postura) e cognitivas
(memória, resolução de problemas);
f) Processamento sensorial: avaliar e intervir para melhorar o input
sensorial, seja por problemas na modulação sensorial
(defensividade tátil e auditiva, inquietação motora, insegurança
gravitacional, intolerância e movimento), seja na coordenação
(integração bilateral, sequenciamento e dispraxias, dificuldade de
planejamento motor);

5.6 Trabalho com as famílias

A abordagem familiar é um dos aspectos principais para o êxito do


tratamento. Isso se dá, tanto na psicoeducação, no apoio psicológico aos pais
ou cuidadores, e na instrumentalização para eles serem agentes terapêuticos.
Para que os pacientes e as famílias tenham um papel ativo no seu tratamento é
importante que conheçam sobre o transtorno e entendam as formas de
intervenção, para aderir ao tratamento e informar melhor à equipe que os assiste
sobre suas necessidades. Grupos de psicoeducação devem ser realizados para
que a família possa ter contempladas suas dúvidas, entender a situação e
compartilhar nas decisões do projeto de vida do paciente. Importante lembrar
que, conforme o paciente esteja apto a participar dessas decisões, ele deve
passar a tomá-las conjuntamente com a família e equipe terapêutica.

5.7 Medicamentos

Alguns fármacos são auxiliares no tratamento de pacientes portadores


de transtornos do espectro autista. Não são usados com o objetivo de cura, mas
de alívio de sintomas Alguns pacientes utilizam fármacos por longo prazo.
Nestes, os efeitos adversos devem ser analisados cuidadosamente durante a
escolha do medicamento e na sequência das tomadas.

Fonte: www.static.wixstatic.com

Os neurolépticos têm efeitos importantes para abrandar sintomas


psicóticos. Entre eles, a levomepromazina (para problemas graves de insônia e
comportamento agitado noturno), a clorpromazina, o haloperidol e a risperidona.
Em especial o haloperidol e a risperidona têm evidenciado resultados positivos,
incluindo redução de agressividade, da irritabilidade e do isolamento. Seus
efeitos colaterais mais comuns são a sonolência, tontura, a salivação excessiva
e o ganho de peso. A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
SUS (CONITEC), após estudo técnico, emitiu parecer técnico favorável ao uso
da risperidona:
Com registro ativo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
a risperidona possui indicação prevista em bula para o tratamento de
irritabilidade associada ao transtorno autista, em crianças e adolescentes,
incluindo sintomas de agressão a outros, autoagressão deliberada, crises de
raiva e angústia e mudança rápida de humor.

6 A CRIANÇA E AS ESTRUTURAS FREUDIANAS DA PSICOSE

Do estudo lacaniano sobre as psicoses, na década de 50, que se


concentrou, principalmente, no Seminário, livro 3: as psicoses (1955-1956) e no
texto dos Escritos, “De uma questão preliminar a todo tratamento possível das
psicoses” (1958), podem-se extrair contribuições bastante fecundas para a
compreensão a respeito da psicose infantil.
Quatro eixos principais de investigação balizaram o terceiro seminário de
Lacan, a saber, o resgate da doutrina freudiana das psicoses, o diálogo com a
psiquiatria clássica, a crítica à psicogênese dos fenômenos psicóticos e a
elaboração desses fenômenos à luz da teoria do significante. Esses eixos de
investigação, sobretudo, os dois últimos, são responsáveis por um aporte
fundamental à clínica com crianças. Com base na primazia do simbólico, o
seminário tem como referência clínica o caso de Schreber.
Do seu relato em Memórias de um doente dos nervos (1903/1995) se
depreende a importância dos fenômenos de linguagem que constituem
propriamente as “estruturas freudianas das psicoses” (LACAN, 1955-1956/1985,
p.186). A solução schreberiana implica essencialmente a lógica do delírio, a
saber, a lógica do inconsciente, a ser legitimada e sancionada pela psicanálise.
A abordagem dos fenômenos psicóticos, nesse período do retorno a
Freud, pautou-se, fundamentalmente, na investigação da relação específica do
sujeito com a estrutura de linguagem do inconsciente. A clínica estrutural da
psicose, que tem na forclusão do Nome do Pai um dos seus pilares
fundamentais, introduziu a causalidade significante da psicose, inserindo-a no
campo da fala e da linguagem.
Disso decorre uma retificação da causalidade deficitária da psicose, seja
ela orgânica, cognitiva ou ambiental, todas essas tão caras à psiquiatria infantil
e à psicologia da criança, porém avessas à ética freudiana. A concepção de que
a psicose enquanto uma estrutura clínica concerne ao sujeito do inconsciente e
que, por consequência, a psicose não tem idade tornou-se uma referência
prevalente na prática clínica com a criança.
De fato, com Lacan, uma série de formulações associadas à discussão
sobre a psicose infantil ecoou no campo freudiano:
1) a psicose não tem idade;
2) a psicose é uma só, quer ela se manifeste na criança ou no adulto;
3) a criança é um analisante por inteiro.
São hipóteses construídas em defesa da unidade da psicanálise, a
despeito da variedade clínica das manifestações psicóticas que se recolhe da
prática com a criança. Mas, ainda assim, a necessidade de elucidar os
fenômenos significantes e libidinais da psicose infantil não se dissipou, visto que
as formas clínicas de sua manifestação, que sempre se afastaram dos standards
da psicose, vêm sendo registradas na psicanálise com crianças, desde a década
de 30.
Ao contrário do que ocorreu na investigação da neurose, quanto à
psicose, a casuística de Freud passou ao largo do infantil, exceto na observação
do episódio alucinatório do Homem dos Lobos. Em 1918, Freud publica um dos
mais polêmicos de seus casos clínicos, no qual se pode destacar a resposta da
criança ao encontro com a castração, que é, certamente, um índice da posição
do sujeito em relação à estrutura simbólica.
Um dentre os acontecimentos principais da história infantil do Homem dos
Lobos foi o episódio alucinatório aos cinco anos de idade. Quando brincava
próximo à babá, fazendo cortes com seu canivete na casca de uma árvore, para
seu inexprimível terror, notou ter cortado fora o dedo mínimo da mão, que ficou
pendurado. Sem sentir dor, mas com muito medo, não se atreveu a dizer nada
para sua babá e foi incapaz de olhar para o seu dedo. Ao se acalmar, viu que o
dedo estava inteiramente intacto.
Lacan recorreu a esse fragmento do caso para ilustrar e distinguir o
recalque do mecanismo psicótico da forclusão, segundo o qual “tudo o que é
recusado na ordem simbólica, no sentido da Verwerfung, reaparece no real”
(LACAN, 1955-1956/1985, p.21).
A alucinação do dedo cortado é o reaparecimento no real da castração
recusada pelo sujeito. Na cena infantil descrita pelo Homem dos Lobos, chama
a atenção o silêncio que se impôs sobre o acontecido, o medo de falar até
mesmo com a babá, que era sua confidente. “Há aí um abismo, uma imersão
temporal, um corte de experiência, depois do que resulta que não há
absolutamente nada, tudo acabou, não falemos mais disso” (LACAN, 1955-
1956/1985, p.22).
Lacan comenta as tendências e propriedades psicóticas do Homem dos
Lobos, como se demonstrou pela curta paranoia que fez após o fim do
tratamento com Freud.
Que ele tenha rejeitado todo o acesso à castração, no entanto aparente
na sua conduta, no registro da função simbólica, que toda a assunção da
castração por um eu tenha se tornado para ele impossível, tem ligação muito
estreita com o fato de que lhe tenha sucedido ter tido na infância uma curta
alucinação cujos detalhes extremamente precisos ele relata (LACAN,
19551956/1985, p.21).
Na análise do adulto neurótico, o que Freud encontrou foi a neurose
infantil, isto é, a resposta do sujeito ao encontro traumático com a castração e
que o mantém ligado, em sua fantasia, à criança que ele foi. Pode-se perguntar
se haveria essa continuidade histórica da psicose quando ela se manifesta na
infância ou se a entrada na psicose por meio do desencadeamento não introduz
uma ruptura radical na história subjetiva.
O fato é que a criança psicótica apresenta-se bem distante da criança
freudiana, visto que sua maior particularidade é tratar o gozo sem se servir do
Nome do Pai, colocando-se fora do alcance da sua lei. É ela que desestabiliza
os ideais pedagógicos e os ideais familiares ao não responder às regras
previstas pelo Outro, quer seja na relação ao corpo, ao outro e, sobretudo, na
relação ao gozo.
Junto aos pós-freudianos, houve uma produção volumosa do ponto de
vista teórico e clínico com relação à psicose infantil, a exemplo da contribuição
de Winnicott, de Margareth Mahler, que será comentada mais adiante. Nenhuma
delas, no entanto, pretendeu estabelecer uma articulação com as estruturas
freudianas das psicoses. Destaca-se a contribuição de Melanie Klein, que, ao
enfocar a clínica da relação de objeto, de uma parte, promoveu a degradação
dos operadores freudianos das estruturas clínicas, a saber, o Édipo e a
castração; mas, de outra parte, acabou favorecendo a abordagem da psicose
infantil.
A clínica kleiniana deu lugar à sensibilidade ao real da psicose infantil,
como se pode notar no relato do caso Dick, nas “Contribuições à Psicanálise”
(1930). Contrariando Freud, que considerava impossível manter a transferência
nas psicoses, Melanie Klein incentivou os analistas a se ocuparem do psicótico.
Introduziu no campo teórico uma noção para balizar as questões clínicas da
transferência, a saber, a identificação projetiva como mecanismo esquizoide.
Porém, concebeu uma psicose infantil generalizada, equivalente à posição
esquizo-paranoide, típica das relações objetais primitivas da criança.
A posição esquizo-paranoide define-se por um tipo de mecanismo de
defesa responsável pela desintegração do eu, pela fantasia persecutória e a
cisão entre o objeto bom e mau. Dessa maneira, a psicose kleiniana tornou-se
uma espécie de passagem obrigatória para o infans, cuja travessia resultaria na
normalização neurótica. Mas acreditar que todos foram psicóticos numa etapa
da vida e generalizar a psicose são ações que produzem o apagamento da
concepção da própria estrutura psicótica, destituindo sua lógica e sua
particularidade.
Fonte: www.psiquiatrarj.com.br

Enfim, a potencialidade psicótica afirmada pelos kleinianos por meio da


posição esquizo-paranoide não é a mesma coisa que a estrutura psicótica. De
fato, a psicose na criança pode mostrar-se de modo latente ou mascarado,
revelar-se em sintomas e atitudes os mais diversos e, até mesmo, mostrar-se de
modo patente. Em alguns casos, a função tutelar da família acaba poupando a
criança dos encontros desencadeantes, mascarando a psicose.
Outras vezes, é o discurso dos especialistas da criança que cria um
aparato assistencial capaz de condicionar e adaptar a criança, ao preço do
desconhecimento de sua psicose. Desse modo, verifica-se o quanto os
distúrbios de linguagem, que, para a psicanálise, especificam as psicoses, são
frequentemente degradados em déficit cognitivo ou outros tipos de deficiência.
O mesmo ocorre com os distúrbios que envolvem o corpo, tais como as
descoordenações motoras, as agitações, desfuncionamento dos órgãos de
nutrição e de excreção, por exemplo, quando eles não são articulados à
incidência da linguagem sobre o ser vivente. Nesses casos, opta-se, com
frequência, por terapias ocupacionais, fisioterapias e reeducações diversas, sem
a menor consideração do sujeito, do estatuto do corpo com relação à linguagem,
ao inconsciente e ao gozo.
Percebe-se, sobretudo nos setores da saúde e da educação infantil, que
os impasses na identificação do desencadeamento das psicoses da criança
associam-se à utilização das classificações diagnósticas contemporâneas que,
a exemplo, da hiperatividade, do déficit de atenção e dos chamados transtornos
invasivos do desenvolvimento, contribuem para mascarar a irrupção da psicose.
Muitos fatores contribuíram para mascarar as estruturas freudianas das psicoses
na infância. Dentre eles, destacam-se os seguintes: a posição da psiquiatria
infantil e a redução da psicose à debilidade.

7 PSIQUIATRIA INFANTIL E PSICANÁLISE

Historicamente, verifica-se que diversos campos de saber resistiram ao


reconhecimento do sofrimento mental da criança. Na psiquiatria, esperou-se que
a infância pudesse estar ao abrigo do real da loucura, e seus fenômenos, quando
reconhecidos, eram atribuídos a distúrbios orgânicos. O classicismo psiquiátrico
não deu lugar à psicose infantil, que precisou aguardar o desenvolvimento do
saber psiquiátrico moderno para ser diagnosticada.
De acordo com Bercherie, no estudo intitulado “A clínica psiquiátrica da
criança” (2001), a estrutura mental lábil e mutável da criança explicaria certo
apagamento dos métodos clássicos na clínica psiquiátrica infantil. A labilidade
da infância tornaria impossível definir trajetórias típicas das doenças e estruturas
fixas cuja evolução estaria inscrita nos dados do seu início, conforme definição
do método clínico da psiquiatria clássica.
Da segunda metade do século XIX provém a primeira geração dos
tratados de psiquiatria infantil, dando início à constituição de uma clínica
psiquiátrica da criança, que, entretanto, não se impôs ainda como campo
autônomo de investigação, pois era uma espécie de decalque da clínica e da
nosologia elaboradas para o adulto. Para Bercherie, três teses foram
estruturantes da psiquiatria infantil, a saber, o retardamento como único
transtorno mental infantil, a loucura (do adulto) na criança, o nascimento de uma
clínica pedopsiquiátrica baseada numa psicopatologia infantil.
Fonte: www.paisefilhos.com.br

A primeira tese não inclui a psicose infantil, a segunda é um decalque da


clínica e da nosologia elaboradas para o adulto, e somente a terceira dá
sustentação à noção moderna de psicose infantil. Diferentemente da clínica
psiquiátrica do adulto, a clínica psiquiátrica da criança estruturou-se após a
descoberta da Psicanálise, o que poderia ter provocado alguma vacilação da
tese da causalidade orgânica da psicose.
De fato, apenas permitiu que a esta fossem somados outros fatores
causais, tais como o desenvolvimento, o ambiente familiar, a história, a
personalidade. A ideia de Freud de que a causalidade psicopatológica assenta-
se num conflito psíquico infantil reeditado e atualizado na vida adulta chegou a
ordenar a investigação psiquiátrica.
Ampliou-se, consequentemente, o campo da clínica da criança, no qual
foram incluídas as doenças psicossomáticas, as manifestações afetivas
patológicas, as perturbações do desenvolvimento das funções elementares
(motricidade, sono, fala, etc.) e os transtornos do comportamento, além das
neuroses e psicoses.
De fato, a incorporação das teses freudianas à psiquiatria infantil não
ocorreu sem a deformação nelas promovidas pela escola funcionalista
americana. A psicopatologia infantil que proliferou é a que considerava, em
primeiro lugar, uma patologia das grandes funções com expressão nos
transtornos de comportamento; em segundo lugar, o papel dos conflitos
emocionais no desenvolvimento; e, em terceiro lugar, os fatores constitucionais
e os transtornos da personalidade que emanam das doenças físicas.
Dois nomes são representativos dessa abordagem psicopatológica, Adolf
Meyer, um dos fundadores da Associação Americana de Psicanálise, e Kanner,
o criador do primeiro serviço de psiquiatria infantil, além de autor de um tratado
psiquiátrico, prefaciado por Meyer, obra de referência nesse campo, publicada
em 1935.
Ambos engajados numa oposição à Psiquiatria clássica sustentaram a
compreensão da doença mental enquanto uma conduta que tem uma função e
um sentido em relação à história do doente, às suas capacidades psicológicas e
não constituem somente o aspecto mental de uma lesão cerebral. A aliança da
psiquiatria infantil nascente na década de 30 com a psicanálise do ego norte-
americana e a psicologia do desenvolvimento deu lugar à investigação da
psicose infantil com a produção de uma categoria clínica até então inédita, isto
é, o autismo.
A esquizofrenia infantil e o autismo constituíram os tipos clínicos mais
pesquisados na psiquiatria infantil. Datadas desse período, existem duas teses
que obtiveram influência dominante nos Estados Unidos, além de promover
grande impacto junto aos demais pesquisadores, a saber, a tese sobre o autismo
infantil precoce de Leo Kanner (1943) e sobre a esquizofrenia infantil de Lauretta
Bender (1947). Kanner, na Universidade John Hopkins, e Bender, no Hospital
Bellevue, em Nova Iorque, tiveram experiência com crianças psicóticas e
desenvolveram estudos sistemáticos com elas, porém, produzindo hipóteses
divergentes.
Diferentemente do autismo, a esquizofrenia é uma categoria clínica
originária da psiquiatria clássica, identificada por Kraepelin, com a denominação
de demência precoce, em 1896, e rebatizada por Eugen Bleuler, em 1911, com
o termo esquizofrenia. Para Kraepelin, a demência precoce define um
agrupamento de entidades clínicas, a saber, demência precoce, catatonia e as
demências paranoides.
Fonte: www.folhavideira.com

Enquanto Kraepelin privilegiou o critério clínicoevolutivo da doença,


destacando, sobretudo, a precocidade do seu início e a cronicidade de seu curso,
Bleuler privilegiou a existência de um transtorno primário, a saber, a cisão
(Spaltung) das funções psíquicas, originando um sistema de funções
independentes que perturbam a unidade da personalidade. Trata-se de uma
dissociação das funções que concernem à inteligência, ao comportamento e ao
afeto.
No importante artigo sobre as psicoses, “Esquizofrenia e Paranoia”
(1982), Jacques-Alain Miller reconstituiu a história desses conceitos e defendeu
que a esquizofrenia bleuleniana é um conceito que testemunha a ressonância
da psicanálise freudiana na psiquiatria, promovendo no material kraepeliniano
uma substituição bem-sucedida de termos.
O ano de 1911 foi bastante fecundo quanto ao debate sobre a
esquizofrenia, pois nele apareceram três decisivas contribuições, a saber, o livro
de Bleuler Demência precoce ou o grupo das esquizofrenias, o livro de Jung
sobre a libido e o estudo de Freud “Notas psicanalíticas sobre um relato
autobiográfico de um caso de paranoia (Dementia paranoides)”. Paranoia e
demência precoce estiveram em questão no que diz respeito à clínica diferencial
e motivou a discórdia de Freud com Jung, para quem a paranoia está construída
exatamente como a demência precoce.
Freud assumiu a paranoia como um tipo clínico independente e criticou o
emprego do termo esquizofrenia por Bleuler, pois a esquize não constitui uma
característica exclusiva dessa categoria clínica. A posição tomada por Freud no
debate com Jung sobre a clínica diferencial da esquizofrenia e paranoia, a saber,
explicar a parte paranoica da demência, acabou constituindo a orientação maior
do enfoque psicanalítico das psicoses.
É essa também a orientação de Lacan no seu estudo das psicoses na
década de 50. De fato, a clínica da esquizofrenia, desde Freud, foi sendo
construída em relação aos seus contrastes com a paranoia. Do lado da
esquizofrenia, de modo privilegiado, estão os problemas ao nível do corpo e da
língua, enquanto, que do lado da paranoia, estão os problemas da relação com
o Outro e com o sentido.
No livro A outra prática clínica: psicanálise e instituição terapêutica (2010),
Alfred Zenoni explica que a preferência de Freud pela paranoia como modelo da
psicose se deve ao fato de que, por sua estrutura de linguagem, ela afastou
decididamente a loucura humana da demência. A orientação lacaniana a partir
do real, que se consolidou na década de 70, com a teoria dos discursos, a teoria
dos gozos, a topologia dos nós e o estudo sobre Joyce no Seminário, livro 23: o
sinthoma, abriu novos horizontes para a psicanálise e para a esquizofrenia.
É desde então que a especificidade do esquizofrênico destaca-se, isto é,
a de um falasser para quem o corpo se torna um enigma, por “ser apanhado sem
a ajuda de nenhum discurso estabelecido” (LACAN, 1972/2003, p.475). O artigo
“Psicose infantil” (1975), de autoria de William Goldfarb, apresenta a história da
conceituação da esquizofrenia e do autismo na psiquiatria infantil. Já em 1926,
Homburger, um psiquiatra alemão, autor de um tratado de psiquiatria infantil,
empregou o termo esquizofrenia infantil, retomado pelo americano Potter, oito
anos depois.
Os primeiros clínicos da psiquiatria infantil, como Potter (1933) e Bradley
(1941), consideraram os critérios de Bleuler para o diagnóstico da esquizofrenia
aplicáveis ao diagnóstico de crianças. Potter admitiu que a esquizofrenia pode
surgir muito antes da puberdade, mas reconheceu que a imaturidade mental e
emocional da criança, como seu estado de desenvolvimento, afetam de maneira
singular a expressão sintomática da psicose.
Por exemplo, acreditava que as limitações verbais e o concretismo mental
da criança psicótica explicassem a relativa raridade e a simplicidade das suas
reações delirantes.
Com base nesses argumentos, Potter (1933) propôs um esquema para o
diagnóstico de esquizofrenia infantil contendo seis critérios:
1) retração generalizada dos interesses no ambiente;
2) pensamentos, sentimentos e ações não realísticas;
3) perturbações de pensamento, manifestadas através de bloqueio,
simbolização, condensação, perseveração, incoerência e diminuição, chegando
esta, às vezes, ao mutismo;
4) deficiência no relacionamento emocional;
5) diminuição, rigidez e distorção de afeto;
6) alterações de comportamento acompanhadas ou de aumento da
motilidade, levando a atividade incessante, ou de redução da motilidade, levando
a completa imobilidade ou ao comportamento bizarro, com tendência a
perseverarão ou estereotipia. Apesar do esforço de Potter para estabelecer
critérios diagnósticos específicos para a esquizofrenia infantil, de acordo com
Goldfarb (1975), ele pouco se afastou da definição clássica de Bleuler dos
sintomas primários e secundários da esquizofrenia.
Lauretta Bender (1959), de orientação francamente biologicista, discordou
da tese de Kanner ao não aceitar uma subclasse específica de psicose infantil
tal como a do autismo. Ao rever esse conceito, afirma que o autismo não é uma
psicose tampouco indica um tipo específico de doença mental, mas representa
uma fase primitiva do processo normal de desenvolvimento, que pode persistir
como defesa contra a ansiedade resultante de prejuízos genéticos, cerebrais,
perceptivos e sociais.
A articulação que Bender estabeleceu entre autismo e esquizofrenia é a
de subordinação do autismo em relação à esquizofrenia, que, para ela, constitui
uma psicose essencial ou núcleo central de psicose. Fiel à orientação
biologicista, Lauretta Bender definiu a esquizofrenia infantil como um distúrbio
psicobiológico global na regulação da maturação de todas as funções básicas
de comportamento, observadas clinicamente na infância. Trata-se de um atraso
de maturação com aspectos embrionários, caracterizados por uma plasticidade
primitiva em todos os comportamentos modelados nas áreas autônoma ou
vegetativa, motora, intelectual, emocional e social, e cuja tendência é
geneticamente determinada.
O distúrbio clínico provém da descompensação resultante de uma crise
fisiológica, que leva à lesão cerebral ou à desintegração de personalidade e que
se acompanha dos distúrbios sintomáticos de identidade, do esquema corporal,
das relações pessoais, da orientação, da linguagem e da movimentação.
As expressões clínicas da esquizofrenia infantil foram classificadas por
Bender em seis diferentes tipos:
1) tipo de criança pseudodeficiente com retraimento autístico ou
regressivo;
2) tipo pseudoneurótico, semelhante à esquizofrenia pseudoneurótica
adulta com manifestações fóbicas, obsessivo-compulsivas, histéricas e
ansiosas;
3) tipo psicosssomático, com sintomas viscerais, respiratórios e
alérgicos;
4) tipo pseudopsicopata com impulsividade e sintomas antissociais no
período final da infância;
5) tipo caracterizado por episódios psicóticos definidos;
6) esquizofrenia latente. Lauretta Bender interessou-se, portanto, pelos
distúrbios que concernem ao corpo.
Ela observou e descreveu a movimentação e a resposta postural, de
natureza primitiva, nas crianças esquizofrênicas. Identificou os distúrbios na
movimentação padronizada, o atraso no desenvolvimento ou a falta de
coordenação e a insegurança motora. Considerou uma resposta postural infantil,
a “resposta de rodopio”, como marca registrada da esquizofrenia, quando
presente em crianças acima de seis anos de idade.
Fonte: www.reportersul.com.br

Ao ser colocada em pé, de olhos fechados e braços estendidos, enquanto


o observador faz uma rotação de sua cabeça em torno do pescoço, a criança
esquizofrênica moveria o corpo junto, como se quisesse mantê-lo na linha da
cabeça. Segundo a psiquiatra, a resposta de rodopio não é aprendida e alia-se
aos impulsos de rodar, rodopiar em movimentação externa e mesmo em
fantasias. Relacionadas a esses fenômenos estão a dependência corporal e a
submissão física, que se expressam na forma pela qual a criança esquizofrênica
se apoia no adulto ou se funde ao contorno de qualquer corpo com o qual entra
em contato.
A submissão motora, segundo Bender, representa a necessidade da
criança psicótica de perceber um centro de gravidade estável, previsível, em face
da desorganização e falta de configuração internas. A impulsividade física e a
falta de coordenação também se refletem em comportamentos desastrados e
caretas faciais. A percepção imprecisa do próprio corpo é um fator determinante
da falta de preocupação com as secreções corporais, as extensões do corpo e
a vestimenta.
A atividade motora desviante e o conhecimento prejudicado do próprio
corpo, enfim, todos esses fenômenos, para Bender, estão ligados às aberrações
perceptivas. Ela notou, em crianças esquizofrênicas, as respostas visual-
motoras primitivas do ponto de vista do desenvolvimento, entre as quais se
incluem a tendência à verticalização de figuras horizontais, a reprodução
precária de imagens visuais, a impulsividade motora e a distinção imprecisa de
figura e fundo. Além da descrição clínica, Bender acrescentou ao diagnóstico da
esquizofrenia infantil a avaliação psicométrica dos distúrbios da percepção e do
esquema corporal por meio do uso de testes baseados em figuras gestálticas
padronizadas e do desenho da figura humana.
Como se pode verificar, embora Lauretta Bender tenha sido uma
observadora cuidadosa da criança esquizofrênica, faltou a ela uma teoria do
corpo e da linguagem que permitisse uma outra articulação menos
biopsicologizante sobre esses fenômenos. Sem dúvida, há alguma intuição
dessa psiquiatra com relação à especificidade do sofrimento esquizofrênico, ou
seja, o sofrimento que advém do corpo, quando ela dá importância para os
distúrbios do esquema corporal.
Por estar decididamente tomada pelo biologicismo, Bender não pôde
pensar o corpo, senão no âmbito da fisiologia, da anatomia e da neurologia.
Acabou aliando-se à psicometria ao criar o teste psicomotor, o teste de Bender,
que passou a fazer parte de quase todo processo de avaliação psicológica da
criança. Trata-se de um teste psicológico empregado de modo generalizado para
detectar índices de distúrbios psicomotores de ordem neurológica. Assim que a
psiquiatria detectou a falta de uniformidade de critérios diagnósticos universais
para a psicose infantil, privilegiou a esquizofrenia infantil como categoria clínica
capaz de circunscrever o que os psiquiatras convencionaram designar como
psicoses funcionais.
Segundo as considerações de Goldfarb no artigo “Psicose infantil” (1975),
Eisenberg (1966) propôs uma classificação etiológica das psicoses infantis,
dividindo dois grandes grupos, o grupo composto de quadros clínicos causados
por prejuízo da função do tecido cerebral demonstrável — psicoses tóxicas,
psicoses metabólicas, psicoses degenerativas, psicoses infecciosas, psicoses
disrítmicas, psicoses traumáticas, psicoses neoplásticas — e o grupo das
psicoses funcionais, a saber, as que restam inclassificáveis etiologicamente,
uma vez que ainda não foi possível demonstrar, nesses casos, mudanças bem
definidas na estrutura cerebral.
Toda patologia que restou confusa, ambígua, que não coube na
classificação ordenada pela causalidade orgânica demonstrável, e que, na
verdade, “representa parte mais ampla dos distúrbios psicóticos observados e
tratados na maioria dos serviços psiquiátricos” (GOLDFARB, 1975, p.251) foi
absorvida sob o rótulo da esquizofrenia.
Na psicanálise com crianças, a contribuição maior para o estudo da
esquizofrenia vem de Melanie Klein e de seus seguidores. Para alguns analistas,
a referência à esquizofrenia infantil permaneceu obscura e contaminada pela
visão deficitária da psicose. É o que trasmite Laing, um dos analistas que
dedicou-se ao tema no livro O eu dividido, estudo existencial da sanidade e da
loucura (1973). “Mais frequentemente se fala de esquizofrenia infantil quando
não se compreende muito bem o que se passa” (LACAN, 1953-1954/1983,
p.124).
Antes dos anos 50, a clínica da psicose infantil permaneceu um pouco sob
a névoa do autismo ou da fragmentação esquizofrênica. Para a ciência, hoje, a
esquizofrenia é uma doença deficitária de origem organogenética; um simples
recondicionamento cognitivo seria suficiente para aproximar o esquizofrênico
dos padrões de normalidade. Da psiquiatria contemporânea, aquela que se
baseia nos DSM, “está eliminada toda referência ao sentido, aos significantes
próprios do sujeito, ao tempo, ao inconsciente ao gozo” (LAURENT, D., 2005,
p.56).
Essa psiquiatria permite ao sujeito liberar-se de toda explicação causal,
de todo o sentido e da fantasia que estrutura sua realidade psíquica. Sendo
assim, pode-se até pensar que essa clínica implicaria um campo de operações
muito mais afeitas ao esquizofrênico do que aquele proposto pela psicanálise;
pois se sabe que a sua opção forclusiva o exclui de qualquer discurso, do campo
do sentido, além de mantê-lo aquém do uso imaginário do significante para
proteger o gozo autista.
O fato é que o esquizofrênico chega ao encontro do psicanalista, talvez
porque nenhum outro discurso possa acolher o trabalho psicótico de invenção,
voltado, sobretudo, para a disjunção do corpo e do gozo, conforme será
abordado mais adiante. A causalidade libidinal da psicose, tão valorizada por
Freud, fica à margem do campo científico, que, cada vez mais, reduz os
fenômenos do gozo às alterações químicas do humor.
Quanto ao autismo, este constituiu verdadeiro enigma no campo de saber
sobre a criança. Por rejeitar o laço social, manter-se fora do discurso e
demonstrar uma grave perturbação da economia libidinal, o autista testemunha
um modo de ser bastante singular. O que leva uma criança a dispensar tão
radicalmente e, às vezes, muito cedo, na vida, a sua inserção no discurso e na
civilização?
Desde a psiquiatria clássica, passando pela psicanálise pós-freudiana até
a psicanálise lacaniana, o autismo vem sendo objeto de vários estudos e de uma
fecunda casuística. Das mais clássicas às mais contemporâneas abordagens
psiquiátricas e psicanalíticas, pode-se recolher uma série de formulações sobre
o autismo: um sintoma da esquizofrenia, uma síndrome infantil, uma fase
primitiva do desenvolvimento, um déficit cognitivo, um fenômeno preliminar à
psicose, uma estrutura específica, uma posição subjetiva do ser, um estilo de
vida, etc.
Definido primeiramente pela psiquiatria como um dos sintomas principais
da esquizofrenia bleulerliana, o autismo tem alcançado, progressivamente, uma
autonomia conceitual em relação à esquizofrenia desde que passou do estatuto
de manifestação esquizofrênica precoce a uma síndrome distinta, descrita por
Kanner na década de 40. De fato, com a progressiva separação do autismo da
esquizofrenia, esta, até então considerada pela psiquiatria infantil clássica como
a psicose infantil por excelência, vem sofrendo um apagamento em termos da
sua abrangência teórica.
A palavra autismo, proposta por Bleuler, no estudo da esquizofrenia, teve
inspiração no autoerotismo freudiano, que descrevia uma etapa precoce da vida
pulsional anterior ao narcisismo, precisamente, quando o próprio corpo da
criança lhe serve de objeto libidinal. O termo bleuleniano nomeia um quadro
clínico composto de retração do investimento libidinal do eu e redobramento
sobre si mesmo. O corpo e sua dinâmica libidinal encontram-se, portanto, em
pauta desde a primeira formulação sobre autismo.
Fonte: www.opas.org.br

Atualmente, sob o império crescente do biologicismo, é o corpo do ponto


de vista das perturbações genéticas, neurológicas, bioquímicas, e não libidinais,
que se tornou objeto do discurso da ciência, que prossegue determinado na
busca de uma causa para o autismo. É preciso lembrar que “todas as hipóteses
orgânicas que foram levantadas, nenhuma jamais se mostrou válida”5
(STEVENS, 2008, p.13, tradução nossa).
Para a psicanálise, a despeito da não comprovação dessas hipóteses, um
sujeito não deixa de ser um sujeito mesmo se seu corpo porta alguma
deficiência. Não se desconhece que os dados biológicos de cada um sejam parte
de sua bagagem e tenham participação decisiva na constituição desse sujeito.
“A psicanálise não supõe, nesse sentido, uma psicogênese das enfermidades
mentais, e sim a dimensão do sujeito e do parasita da linguagem, que é algo
bastante diferente” (LAURENT, 2007a, p.33).
Interessa à ética psicanalítica o aparecimento junto ao autista de uma
função subjetiva, o que implica necessariamente o corpo do falasser e uma
invenção, quer seja na vertente da alienação delirante, quer seja na vertente do
ato. O estatuto do autismo foi modificado por Kanner ao separá-lo da
esquizofrenia com base no início muito precoce do distúrbio autístico, nos dois
primeiros anos de idade, na sua evolução e no ambiente familiar das crianças
autistas. Separou o autismo também da deficiência mental, devido à evidência
de áreas segmentárias de competência dos autistas. Desse modo, o autismo foi
elevado ao estatuto de uma constelação diagnóstica particular.
Do ponto de vista epistemológico, Kanner oscilava entre diferentes
posições, ora atraído pelas teorias psicanalíticas pós-freudianas, que, a exemplo
de Margaret Mahler, problematizavam a relação mãe-criança como fator
etiológico do autismo; ora dominado pelo biologicismo, supondo, no autista, uma
incapacidade inata de construir o contato afetivo habitual com as pessoas. Sob
a influência também da escola funcionalista americana, Leo Kanner descreveu,
em 1943, a síndrome do autismo infantil precoce, isolando, como seu fator
patognomônico, a inaptidão das crianças para estabelecer relações normais com
as pessoas e para reagir normalmente a situações desde o início da vida.
Os critérios de Kanner para o diagnóstico de autismo são os seguintes:
1) solidão em grau extremo na mais tenra infância;
2) comunicação prejudicada, a fala e a linguagem não são usadas para
a comunicação, mutismo ou presença da linguagem ecolálica;
3) insistência obsessiva na manutenção de mesmice, com grande
ansiedade frente a situações novas e não familiares, e com uma preocupação
ritualística repetitiva;
4) fascinação pelos objetos, em contraste com desinteresse pelas
pessoas.
Contemporânea da tese de Kanner, porém menos difundida, surgiu, em
Viena, em 1944, a síndrome descrita por Asperger, que também concerne ao
autismo e cujo problema fundamental reside na limitação das relações sociais
persistente durante toda a existência, porém com desempenho de inteligência
superior em algumas áreas específicas.
Há vários pontos em comum entre o autismo de Kanner e o autismo de
Asperger:
1) extrema solidão autística desde o início da vida;
2) a importância dos objetos para o autista;
3) ambos os autores acabam não fazendo objeções à inclusão do
autismo na concepção geral da esquizofrenia.
A maior diferença entre as duas síndromes diz respeito aos problemas de
linguagem que foram mais acentuados na amostragem dos casos estudados por
Kanner. Atualmente, já se fala em muitos autismos, e a síndrome descrita por
Kanner não é mais a única.
A multiplicidade de definições e explicações para o autismo leva a uma
interrogação quanto à ressonância dos mais variados fatores na construção e
conceituação de uma nova categoria diagnóstica, particularmente, a do autismo.
Sabe-se que as transformações da civilização, sejam elas de caráter científico,
social, ou econômico, exercem influência na descrição das doenças e na busca
dos seus respectivos remédios. No artigo “Os espectros do autismo” (2011), Éric
Laurent examina alguns dos fatores envolvidos na transformação do autismo em
uma categoria específica.
Na sua opinião, “Les spectres de l’autisme” o autismo enquanto categoria
diagnóstica é uma das consequências mais marcantes da reincorporação da
psiquiatria na medicina no final dos anos 60. A psiquiatria, que até então
estudava os aspectos relacionais das patologias, se torna uma disciplina
eminentemente biológica, centrada no corpo definido como organismo.
Desse modo, afasta-se, então, cada vez mais, dos problemas de
linguagem envolvidos no autismo e valoriza os problemas do organismo do ponto
de vista dos distúrbios do humor em cumplicidade com a proposta DSM.7 Dois
fenômenos correlacionados entre si parecem ter contribuído fortemente para a
exclusão do autismo do campo das psicoses nas classificações mais recentes,
a saber, a invenção americana do manual DSM e o empuxo à educação da
criança autista na sociedade contemporânea.
Nas primeiras edições do DSM, o autismo ainda se manteve enquanto
expressão precoce da esquizofrenia, portanto, associado à psicose, tendo em
vista o paradigma psicossocial da psicose ainda presente nessa classificação.
A terceira edição do DSM (DSM-III), a partir de 1980, é um marco em termos do
avanço do paradigma biologicista para a explicação da loucura. A esquizofrenia
foi então considerada diferente do autismo, e este incluído nos transtornos
generalizados do desenvolvimento. O termo generalizado pretende abarcar o
comprometimento da maior parte dos aspectos do desenvolvimento, ou seja,
aspectos cognitivos, afetivos, sociais, de linguagem, etc.
Fonte: www.biosom.com.br

Dentro dessa nomenclatura ampla, organizada segundo enfermidades


neurológicas, aparece a noção de espectro do autismo, ou seja, sua pluralização.
O DSM-IV, juntamente com a classificação da OMS (CID-10),8 abandonou
definitivamente a dimensão psicótica associada até então ao autismo. De
“psicose iniciada na infância”, o autismo passa ao estatuto de “transtorno de
desenvolvimento psicológico”. Além disso, o autismo parece ter-se tornado um
novo paradigma da doença mental nas crianças. Ele suscita enorme interesse
na civilização atual.
Os autistas são sempre solicitados a transmitir a originalidade de sua
experiência. O interesse que o século XX manifestou pelos delírios deslocou-se
para as proezas técnicas dos autistas sábios. O empuxo à educação especial
da criança autista na sociedade contemporânea, tributário da era DSM, se deve
à ascensão do cognitivismo. Nesse contexto, a educação mostra-se como uma
tendência alternativa à clínica e, evidentemente, serve de argumentação para
aqueles que contraindicam a psicanálise para o autismo.
Com base na suposta causalidade cognitiva do autismo, crescem as
propostas reeducativas muito mais do que psicoterápicas para a sua abordagem.
Desse contexto procede o programa TEACCH9 (Tratamento e Educação da
Criança Autista) a partir de 1972, criado na Carolina do Norte, que incluía a
participação dos pais nos métodos educativos. A educação do corpo submetido
às técnicas de condicionamento é privilegiada, embora sem considerar
minimamente a dimensão da pulsão e da economia libidinal em jogo para o
falasser.
De modo geral, a sociedade vem deslocando o debate sobre o autismo
do campo da saúde mental para o campo da educação, o que corresponde à
modificação do seu conceito, a saber, do autismo concebido como uma resposta
do sujeito para o autismo como déficit cognitivo. Não se pode desconhecer que
essa mudança se associa à obtenção de benefícios e subvenções incluídas nas
políticas públicas para o autismo; tampouco ignorar a aliança entre educação e
saúde, quando tal parceria incentiva a medicalização generalizada.
Conforme discute Guillermo Belaga, no artigo “As psicoses infantis: do
autismo a psicotização”10 (2005), a ascenção do cognitivismo com o empuxo à
educação especial do autista não aconteceu sem a colaboração de uma parte
da psicanálise, pelo menos daquela que, ao considerar o sintoma da criança e a
família, substituiu a falta no campo do Outro pela carência ambiental e familiar.
Por não se ter afastado da imagem negativa e do prognóstico deficitário da
criança autista e por não levar em conta uma disjunção entre os pais e o Outro
da criança, a versão edipianizante da psicanálise produziu junto às famílias dos
autistas um enorme mal-estar advindo da suposta participação ativa da mãe na
causalidade dessa patologia.
A clínica edipianizante do autismo acabou dando ao congnitivismo
chances de se estabelecer. Com a hipótese estrutural sobre a família, a
psicanálise lacaniana privilegiou a inscrição e a função dos elementos parentais
no inconsciente, numa Outra cena distinta daquela do ambiente familiar
propriamente dito. Desde então é preciso identificar o lugar do Outro, como lugar
do significante, isto é, a cadeia significante que localiza o sujeito. A carência que
está em jogo é, portanto, do significante, posto que nesse Outro se inscreve uma
falta.
Disso decorre a necessidade de pensar as relações de conjunção e
disjunção entre os pais, o ambiente familiar e o lugar do Outro para o sujeito, ao
abordar o autismo ou qualquer outro modo de sofrimento da criança. Diferentes
psicanalistas dedicaram-se à investigação do autismo, desde os pósfreudianos.
Nos anos 60, Winnicott foi o primeiro a examinar as vantagens e desvantagens
da definição do autismo enquanto uma categoria clínica fora do leque das
psicoses. Esse psicanalista inglês se manifestou decididamente contrário ao
diagnóstico de autismo infantil de Kanner, por considerar o autismo como um
impasse normal e transitório da relação mãecriança e não uma patologia.
O debate pode ser acompanhado em três resenhas de livros sobre as
psicoses escritas por Winnicott, a saber, a primeira sobre o livro de Leo Kanner,
Psiquiatria na infância11 (1937); a segunda sobre o livro de William Goldfarb,
Esquizofrenia na infância12 (1961); e a terceira sobre o livro de Bernard Rimland,
Autismo infantil13 (1964). Na resenha sobre o livro de Kanner, encontra-se um
Winnicott bastante crítico com relação a esse manual de psiquiatria infantil, que
julgou pouco convincente, artificial, alheio aos agrupamentos diagnósticos
psiquiátricos e, sobretudo, alheio à psicanálise e aos resultados das análises de
crianças praticadas na Inglaterra.
Em vez de um entendimento da psicologia do inconsciente, encontramos
em todo o livro a ênfase usual excessiva naquilo que poderíamos chamar ‘o fator
externo desfavorável continuado’, que caracteriza as publicações de todas as
clínicas de orientação infantil de padrão norte-americano (WINNICOTT,
1938/1997, p.176).
O que mais chama a atenção do leitor é a discussão de Winnicott sobre
as vantagens e desvantagens da utilização do termo autismo, somente
justificável, segundo ele, devido a propósitos didáticos. No artigo intitulado
“Autismo” (1966), optou pelo termo esquizofrenia quando se trata de uma
classificação da psicose infantil e reafirmou sua concepção de que o autismo
não é uma enfermidade, e sim um problema do desenvolvimento emocional.
Mediante relatos de casos de esquizofrenia analisados por ele, Winnicott
admite que houve períodos nos quais o estado clínico dessas crianças poderia
ser descrito adequadamente por meio da palavra autismo. No entanto, para ele,
o autismo não existe enquanto uma patologia e apenas descreve, clinicamente,
os extremos de um fenômeno universal, o que supõe uma generalização do
autismo.
Por fim, na resenha do livro de Rimland, Infantile autism (1964), Winnicott
reafirma a sua posição sobre a psicose infantil: “eu cheguei à descrição de
Kanner do autismo com uma considerável experiência na psicose infantil, e
nunca vi uma razão clara para excluir teoricamente este grupo do assunto amplo
da esquizofrenia da infância inicial e da infância posterior” (WINNICOTT,
1966/1997, p.178).
Por motivos e razões teóricas bastante diferentes das de Winnicott,
Guillermo Belaga, psicanalista lacaniano, também questiona o uso do termo
autismo. Ele mapeia as diferentes tendências na América e na Europa com
relação ao autismo pensado como uma categoria diagnóstica. Ao indicar como
essa categoria descrita por Kanner implicou um contexto muito distante da
psicanálise na América, Belaga chegou a afirmar que “o termo autismo
obscurece mais do que clarifica o problema das psicoses infantis”14 (BELAGA,
2005, p.176, tradução nossa).
Buscamos pôr em questão a validade e, portanto, a pertinência do termo
‘autismo’ como entidade nosográfica, porque ainda que alguns autores tentem
dar-lhe outro sentido mais ajustado aos conceitos de Lacan, não se pode evitar
seu peso moral na sociedade, seu ‘pecado original’: o privilégio das emoções e
a rejeição da articulação freudiana entre dizer e economia libidinal15 (BELAGA,
2005, p.187, tradução nossa).
Para Belaga, o autismo surgiu enquanto entidade nosográfica num
contexto atravessado por três fatores tendenciosos, a saber, o afastamento dos
princípios freudianos, sobretudo da teoria da libido; os efeitos dos DSM sobre a
clínica; os efeitos de edipianização promovidos pela psicanálise pós-freudiana.
De fato, pode-se concordar que retirar o autismo do campo das psicoses, tanto
como reduzir a psicose à deficiência mental são atos que promovem o
apagamento da abordagem das estruturas freudianas das psicoses na infância.
Ao argumentar a favor de sua ideia, o psicanalista argentino aponta as
dificuldades dos analistas de delimitar o autismo como entidade clínica à parte
das psicoses, pois os traços do autismo estão reiteradamente escapando a essa
classificação. Ele vê na pluralização dos autismos o retorno do forçamento da
unificação de fenômenos psicóticos diferentes por meio da categoria autismo. É
o que Belaga recolhe da múltipla nomeação dos casos clínicos, como se
houvesse a criança de Kanner, a de Bender, a de Asperger e a criança de
Margareth Mahler.
Fonte: www.casule.com.br

Em virtude da precocidade de sua aparição, o autismo foi, de fato, o


problema que mais despertou a atenção das correntes de inspiração
psicogenética, nas quais se tornou uma patologia exemplar do tempo pré-verbal,
explicada segundo a interação dos fatores constitucionais e ambientais,
concebidos à revelia dos efeitos da incidência traumática da linguagem sobre o
falasser. O aspecto mais interessante da discussão encaminhada por Belaga é
que as variações sintomáticas das psicoses da criança para esse psicanalista
correspondem a constelações fenomênicas advindas do problema da não
extração do objeto do campo da realidade.
Trata-se de “fenômenos observáveis da falta do juízo de atribuição
freudiana, da Bejahung que destaca Lacan como afirmação primeira que
introduz a palavra como morte da coisa”16 (BELAGA, 2005, p.179, tradução
nossa). Decididamente adepto da hipótese do autismo como uma fase transitória
que evolui em direção à psicotização e, por conseguinte, para diferentes tipos de
psicose, Belaga toma o caso Joey de Bruno Bettelheim como paradigmático
dessa evolução. Segundo seu ponto de vista, os signos do autismo
predominaram nos primeiros sete anos de vida de Joey. A saída do autismo se
deu aos nove anos, a partir de sua passagem por uma instituição religiosa de
normas rígidas, quando a entrada no delírio lhe rendeu o nome de
meninomáquina.
Por fim, Belaga sublinha a suplência de Joey com a criação de um objeto
fora do corpo, a máquina de corrente alternada. Com um ponto de vista oposto
ao de Belaga e de outros analistas, Jean Claude Maleval (2009a) discute a
evolução do autismo dentro do próprio autismo. A partir das suas contribuições,
identifica-se uma tendência a manter o autismo inserido no campo das psicoses,
mas como um tipo clínico distinto da esquizofrenia e da paranoia.
Para sustentar suas hipóteses, Maleval recorre a uma casuística mais
ampla do que a dos Lefort; inclui o estudo da evolução dos casos de Kanner e
os de Asperger; valoriza a contribuição dos depoimentos dos próprios autistas e
da publicação atual e volumosa de suas biografias.
Há, no mínimo, cinco hipóteses que vêm organizando os trabalhos sobre
o autismo no campo freudiano:
a) o autismo como uma quarta estrutura clínica, segundo os Lefort;
b) o autista como um psicótico a trabalho, segundo Virgínio Baio;
c) a inserção do autismo no campo das esquizofrenias para Pierre Bruno;
d) o autismo como fenômeno transitório e sujeito à psicotização;
e) o autismo como um tipo clínico original segundo Maleval.
Ainda hoje, nem todos os impasses teóricos e clínicos sobre o autismo
obtêm uma solução uníssona. Para os lacanianos, o autismo nunca significou
uma fase do desenvolvimento nem uma patologia da relação mãe-filho. Mas foi,
sobretudo, a partir das últimas formulações de Lacan sobre a linguagem, a
língua, discurso, laço social, sobre a teoria do corpo e do gozo para além do
Édipo, que serão abordadas nesse trabalho, que os psicanalistas puderam
dispor de referências conceituais mais pertinentes à investigação do autismo.
Os efeitos da aplicação da psicanálise às crianças autistas é que
permitirão avançar na elucidação do enigma do autismo. Há registros clínicos de
casos cuja retificação do autismo foi proporcionada pela entrada na
transferência, o que supõe um consentimento do sujeito num novo parceiro.
“Teríamos, então, uma saída do autismo semelhante a um estado transitório, ou
seja, um fenômeno e não uma estrutura, ou ainda uma psicotização” (LAURENT,
É., 2007a, p.26).
Essa foi a hipótese inicial dos Lefort, que se modificou e culminou na
formulação do autismo como uma estrutura distinta da estrutura psicótica. A
posição de Éric Laurent quanto à unidade da estrutura do autismo, no artigo
“Reflexões sobre o autismo” (2007a), é de prudência, não sem abertura às
transformações possíveis do sujeito na sua relação com a linguagem, cujas
características no autismo serão discutidas mais adiante. Trata-se de uma
posição que não afasta o autismo dos efeitos da incidência da linguagem sobre
o falasser, mas coloca no horizonte a investigação da relação singular do
autismo com a estrutura de linguagem.
Ademais, não é certo que se deva tomar posição sobre a unidade de
estrutura do autismo, já que consideramos a possibilidade de o sujeito ter acesso
a uma “psicotização” de sua posição, assim como a um outro registro de inserção
na fala. Em nossa concepção, devemos tentar preservar esse registro de
transformação possível, ou não, do sujeito no decorrer da experiência, por
exemplo, o abandono do mutismo (LAURENT, É., 2007a, p.33).
Diante de um leque tão complexo de hipóteses, as generalizações
parecem pouco fecundas. Valoriza-se, sobremaneira, a ética do caso a caso e
principalmente a necessidade de formalizar os efeitos subjetivos produzidos pelo
encontro da criança autista com o desejo do analista. Os casos clínicos deste
trabalho oportunizarão um estudo comparativo de distintas soluções inventadas
por crianças autistas a partir da transferência.
A diferença entre a clínica psiquiátrica e a clínica propriamente
psicanalítica da psicose infantil consiste em que, enquanto a primeira funda o
diagnóstico da psicose na versão do déficit, a segunda, funda-o na versão da
produção. O déficit define-se como aquilo que falta, isto é, uma falta que é
tomada no sentido de um defeito em relação ao estado normal e de equilíbrio. A
produção, ao contrário, designa um dado positivo, isto é, o fato de produzir
alguma coisa, a fabricação, a formação de algo, a construção, a invenção. A
hipótese da produção se encontra presente, por exemplo, sempre que se avalia
um delírio à maneira freudiana, isto é, como uma tentativa de cura, uma
reconstrução do mundo, como saída da catástrofe interna vivida no
desencadeamento da psicose e não como um fenômeno mórbido deficitário.
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