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DISPONIBILIZAÇÃO: JUUH ALVES

TRADUÇÃO:
REVISÃO INICIAL: Elisabeth
REVISÃO FINAL: DADÁ, Adriana Guisi
LEITURA FINAL: Juuh, Stella
FORMATAÇÃO: DADÁ
LANÇAMENTO

Próximo:
CREAM OF THE CROP
A história de Natalie
Roxie Callahan é a chef particular de algumas das
mais ricas e mais sórdidas esposas contadoras de
calorias de Hollywood. Porém, pós um desastre com
laticínios, sua carreira cuidadosamente trabalhada foi
por água abaixo, e ela encontra-se agora de volta para
sua casa no interior de Nova York, resgatando sua mãe
hippie e tomando conta do restaurante da família.
Quando o lindo fazendeiro local Leo Maxwell
oferece-lhe um monte encantador de nozes orgânicas,
Roxie se pergunta se um verão de volta em casa é
realmente uma ideia tão ruim, afinal. Leo está
fortemente envolvido no movimento de comida
sustentável, e ele gosta de tomar seu tempo lentamente.
Em todas as coisas. Roxie está determinada a voltar
para a costa oeste assim que o verão terminar, mas a
atração por preguiçosos vaga-lumes e seu próprio
‘Almanzo Wilder’ será suficiente para mantê-la bem em
casa?
Salgado. Picante. Doce. Nozes? Vá em frente, pegue
um punhado.
"Ok, vamos ver. Caldo dashi está feito. Bok choy está torrado;
camarão está no ponto. Sem glúten, tanto quanto os olhos podem ver",
disse a mim mesma, inclinando-me sobre o balcão de aço inoxidável da
cozinha mais bonita já criada. Se você gosta do estilo retrô Califórnia
moderna. Mas, e quem não gosta? Milhas e milhas de aço inoxidável e
concreto polido.
Inúmeros aparelhos e ferramentas de chefs estavam contra os
azulejos de metrô em formato de espinha, brilhantes e intocados pelas
mãos de seu dono. Tocados apenas pela minha mão de chef particular e
matadora do glúten malvado nesta terra de cabelos louros e moda.
Especificamente, Hollywood. Especificamente, Bel Air. Especificamente,
a casa de Mitzi St. Renee, esposa de um famoso produtor e caçador de
talentos que é adepto ao lema ‘a juventude nunca termina’.
Aos trinta e dois anos (quem teria pensado que alguém apenas
cinco anos mais velha do que eu poderia falar comigo com tanta
superioridade?), e numa cidade onde trinta era o ponto de referência
para homens mais velhos que se casam por amor aos peitos, Mitzi
estava obviamente preocupada com a sua idade. Segurando uma calda,
eu fiz uma pausa para considerar: peitos... Peitos que pertenciam a
uma mulher bonita. Peitos que estavam numa mulher não muito
agradável. Peitos que estavam numa idiota, verdade seja dita.
Eu balancei a cabeça para limpá-la, e comecei a cortar o melão.
Cubos de uma polegada com bordas nítidas; sem cantos arredondados
aqui. Em seguida foram bolas de melão, arredondadas e gordas. Sem
buracos irregulares; apenas bolas simplesmente perfeitas. Prestei
atenção como isso soou na minha cabeça e bufei, mudando-me para os
triângulos de melancia. Aguda. Obtuso. Será que Mitzi aprecia as
habilidades de faca que estavam em sua tigela de frutas? Duvidoso.
Será que ela percebe a geometria culinária que compôs sua explosão de
energia? Provavelmente não. Ninguém notou a perfeição dos meus
melões, mas com toda a certeza notaram os dela.
Parei meu diálogo interno e mudei-me para a montagem da bandeja
de Mitzi; ela gostava do seu jantar servido exatamente às 18h 30min.
Algumas pessoas contratam chefs privados apenas para fazer o
cozimento. Alguns até mesmo levam o crédito enquanto os chefs ficam
escondidos na cozinha. E outros assumem que só porque trabalhamos
na cozinha e fomos pago para cozinhar, que também somos mordomos
da noite. Mas, considerando quanto Mitzi me paga, eu estava bem em
servir seu à moda asiática, com baixo teor calórico e muito saboroso
jantar numa bandeja em sua sala de jantar.
Quando eu estava puxando a acelga chinesa do forno, meu telefone
tocou de repente, surpreendendo-me e fazendo-me bater com a mão na
borda interior do forno. Sibilando de dor, ainda consegui segurar a
travessa antes de deixá-la cair. Verificando a temperatura do forno,
rapidamente abaixei-a, em seguida, olhei para a acelga por um longo
tempo. Selecionando as partes mais verdes e a mais puras,
cuidadosamente coloquei as melhores folhas no centro de uma bacia de
porcelana branca, criando uma pequena torre verde, e logo em seguida
o temporizador do forno tocou, alertando-me que estava pronto.
Escalfado em um caldo, com uma leve sugestão de pimentão
tailandês e canela, tudo rosado e perfeito. Empilhando tudo em cima
das acelgas (simetria, sempre simetria), eu, então, polvilhei cebolinha
cortada em viés, alho em conserva e chalotas, que tinham sido
ligeiramente bronzeados em óleo de amendoim (um segredo que nunca
seria divulgado a Miss Maníaca das Calorias) em voz alta. Coloquei o
prato sobre uma bandeja esmaltada, e então derramei o caldo dashi
numa jarra de porcelana branca. Depois disso, servi exatamente três
quartos de xícara de arroz de jasmim perfumado com kaffir de limão
numa tigela de harmonização. O controle das porções era essencial para
manter um estilo de vida tamanho zero numa cidade fitness.
Quando eu estava recolhendo a bandeja para levar para a sala de
jantar, meu telefone tocou novamente. Eu bati desligar mais uma vez, e,
vendo o horário, internamente me amaldiçoei por deixar o relógio chegar
até 06:32 sem que eu percebesse.
Na sala de jantar, minha cliente estava sentada na cabeceira da
mesa; ela ia comer sozinha, como de costume. O marido estava sempre
trabalhando. Mas, todo sentimento de compaixão que eu poderia ter
sentido por ela desapareceu quando ela deu um show ao olhar para o
relógio.
"Sinto muito que é um pouco tarde; o bok choy (acelga) precisava
apenas de um pouco mais de tempo hoje à noite.” Eu gorjeei, baixando
a bandeja e servindo-a pela esquerda.
"Oh, Roxie, o que são quatro minutos? Quero dizer, quatro minutos
aqui, sete minutos lá, vamos apenas relaxar todas as regras, não é?"
Ela cantarolou quando eu servi o caldo do jarro, circulando-o em torno
do centro.
Ela paga bem. Muito bem.
Rangendo os dentes, eu sorri para sua testa cheia de botox e afastei
a jarra vazia.
Eu voltei para a cozinha para terminar sua "sobremesa" e seu café,
bem como iniciar seu café da manhã e almoço para o dia seguinte, e
limpar. A palavra ‘sobremesa’ estava grifada em neon dentro da minha
cabeça, já que era difícil visualizar tão linda palavra sendo aplicada à
biscoitos wafer sem açúcar e raspadinha de limão e gelo. Eu não me
oponho à raspadinha de limão, ou aos "cookies" que, diga-se de
passagem, também precisavam passar pelo ‘tratamento dieta’. Mas isso
não era sobremesa.
A única coisa na qual eu poderia exagerar aqui era na maneira que
Mitzi tomava seu café. Mix de Kona assado escuro com uma - e apenas
uma! - colher de sopa cheia de gorduroso chantilly caseiro. Mitzi
permitia-se esse deleite diário, pelo menos. Hey, não cabe a mim dizer a
alguém onde gastar suas “calorias extras". Wow, muitas citações hoje à
noite.
Peguei o misturador de aço inoxidável, tirei uma tigela do
congelador e derramei pouco mais de meia xícara de creme de leite
fresco. A garrafa estava quase vazia; eu teria que acrescentar mais um
item à sua lista de mercado. Eu faço uma lista de compras para ela a
cada semana, em seguida, venho ao longo de vários dias para preparar
as refeições que ela precisa. E duas vezes por semana eu cozinho para
ela também.
Adicionando ao creme uma colher de chá de baunilha de
Madagascar e exatamente duas colheres de chá de açúcar, deixei-o
batendo enquanto arrumo a cozinha, ignorando o sinal vindo do meu
telefone a partir das duas chamadas que eu tinha perdido enquanto
servia o dashi.
Mantendo um olho sobre o chantilly e uma orelha na sala de jantar,
eu soquei o café na cafeteira, ajeitando-o para preparar exatamente
113,5g de café expresso. Meu telefone tocou contra o balcão de aço
inoxidável, e eu vi que ele estava chamando outra vez quando fechei a
máquina Breville cara.
Fechei os olhos em frustração e atendi. "Olá mãe. Estou
trabalhando. Posso ligar de volta para você mais tarde?"
"Depende. Você vai me ligar de volta hoje à noite?"
"Eu vou tentar", respondi, lutando com o bico de espuma da
máquina de café expresso.
"Você vai tentar?"
"Eu vou, ok?"
"Você promete?"
"Sim, eu prometo que eu vou... Oh, cara!"
"Qual o problema? Você está bem, Roxie?"
"Eu estou bem, apenas um pequeno acidente na cozinha. Eu te ligo
mais tarde". Eu desliguei, olhando para a tigela de chantilly.
Agora eu precisava descobrir como explicar a Mitzi St. Renee, uma
mulher cuja vida dependia de sua capacidade de parecer bonita e
manter um corpo requintado, e cuja única indulgência era o seu café à
noite, que em vez de fazer o creme de chantilly billowy macio... Eu tinha
feito manteiga.
Merda.
Despedida?
Sim, despedida!
POR. MANTEIGA.
Sentei-me no meu carro fora da casa de Mitzi, olhando para as
montanhas. Eu tinha embalado minhas facas, pego meu último cheque
de suas unhas de gel perfeitamente bem cuidadas, em seguida, marchei
em direção ao meu Jeep Wagoneer 1982.
Merda. Manteiga. Eu deveria ter pensado melhor antes de dar as
costas ao creme que estava sendo batido, já que chantilly é o tipo de
coisa que pode desandar de picos firmes para guinchos amanteigados
em segundos.
Meu telefone tocou novamente e o rosto da minha mãe apareceu na
tela, com tranças castanhas e crespas e uma margarida atrás da orelha.
Hippie de segunda geração. Woodstock parte dois. Eu tinha herdado o
cabelo dela, mas meus olhos vieram do meu pai. Eu nunca o conheci,
mas minha mãe dizia que podia perceber os nossos humores com base
em nossa cor dos olhos. Avelã quando estou calma, um pouco de azul
quando estou bem e um pouco de verde quando estou cansada...
Eu ouvi a porta da frente e vi Mitzi descendo as escadas,
provavelmente para me dizer que era hora de sair. Então liguei o motor,
e acenei adeus com um dedo bem específico a mostra. Nada
profissional, eu sei, mas eu não precisava mais me preocupar com o
que ela pensava, de qualquer maneira.
Resmunguei para mim mesma durante todo o caminho de casa, o
que era um feito bastante considerável uma vez que eu tinha que cruzar
toda a cidade para chegar ao outro lado das montanhas, onde eu
morava. Lá as casas eram consideravelmente menores, dando lugar a
blocos e blocos de prédios de apartamentos cheios até rebentar com
jovens esperançosos. Quando me aproximei do meu prédio, meu
telefone tocou. Mais uma vez.
"Você realmente não podia esperar até eu ligar de volta?" Eu disse
enquanto sua voz soava através dos alto falantes. A lei mãos livres da
Califórnia garantiu que eu pudesse ouvir a voz da minha mãe
ricocheteando por todos os cantos do carro, em estéreo.
"Quem sabe quando isso seria? Eu estou literalmente estourando de
vontade de te contar a minha notícia!" Minha mãe gritou, rindo
animadamente.
Eu ri, apesar de mim mesma. Minha mãe era muitas coisas, mas o
seu entusiasmo era sempre difícil de resistir.
"Deve ser uma grande notícia; é tarde aí. Por que você não está na
cama?" Eram quase onze horas na costa leste: passada da hora de
dormir.
"Eh, eu vou poder dormir quando eu estiver morta. Ouça, Roxie,
tenho algo fantástico para lhe dizer!"
"Phish está em turnê de novo?"
"Roxie...", Ela advertiu.
Mordi o lábio para não dizer algo sarcástico. "Você encontrou uma
nova marca de gérmen de trigo e não pode esconder seu entusiasmo?"
claramente morder o lábio nem sempre funcionava.
"Estou tão feliz que você goste de se divertir as custas da sua mãe,
especialmente com o seu hippie genérico. Você está muito irônica esta
noite", ela respondeu, sua voz ficando um pouco afiada.
Eu precisava aliviar um pouco. Afinal de contas, não era
inteiramente culpa dela que eu tinha sido demitida.
"Sua notícia?", perguntei docemente, antes que ela pudesse sair
pela tangente e dizer que a razão pela qual eu estava tão irônica era
porque eu não estava recebendo quantidade suficiente de ferro. Ou
sexo. Típicas coisas de mãe e filha.
"Certo! Sim! Minhas notícias! Você está sentada?"
"Sim, eu estou sentada."
"Eu vou estar na televisão!", Ela explodiu, terminando em um
guincho.
"Oh, isso é legal. O programa Cantinho do Artesanato está no ar de
novo?"
Nossa pequena cidade no norte do estado de Nova York tinha o seu
próprio canal de acesso público, e minha mãe esteve contribuindo com
ideias durante anos. Então, quando eles haviam cortado o orçamento ao
meio, pediram para que ela fosse lá apresentar. Como fazer um vestido
de camisola, como fazer trabalhos em biscuit, etc. Seu segmento de
lanternas de papel Jiffy Pop gerou a maior pontuação de audiência já
registrada. Três pontos.
"Não, não, não o Cantinho do Artesanato. Você já ouviu falar do The
Amazing Race?"
"Claro, claro. O Canal 47 fará uma versão local?", Perguntei,
chegando no meu estacionamento.
"Não é o Canal 47, querida, é o show real! Eu vou estar no
verdadeiro The Amazing Race!"
"Espere, o quê?", perguntei, freando no pedal errado e quase
atropelando uma lata de lixo.
"Você me ouviu! Eu fiz o teste para o show no outono passado,
quando estava em Poughkeepsie com sua tia Cheryl, e eles nos
selecionaram! Nós vamos viajar ao redor do mundo!", Ela gritou.
"Ok, pare de gritar. Mãe, sério, pare, ok. Ok, Olá?" Tentei falar uma
palavra, mas era impossível. Ela estava jorrando nomes de cidades e
países à direita e à esquerda, sua voz ficando cada vez mais animada.
Cairo. Moçambique. Krakatoa.
"Krakatoa? Você vai visitar um vulcão?"
"Quem sabe? Mas, esse é o ponto! Eles poderiam nos enviar para
qualquer lugar! Eu estou indo numa missão!"
"Com a tia Cheryl? Ela se perdeu no novo A & P. Como é que ela vai
sair numa missão?"
"Oh, não seja careta, Roxie," minha mãe disse, e eu pude sentir
meus ombros tensos, como sempre acontecia quando ela usava esse
tom.
Minha mãe era um "espírito livre", e ela não podia parar sua vida só
porque sua filha era como uma lesma. Uma lesma que aos quatorze
anos de idade se tornou a responsável pela casa, sempre vendo se tinha
comida na despensa. Ainda assim, eu fiquei feliz por ela.
"Desculpe, isso soa incrível. Realmente, eu estou muito animada
por você", disse, imaginando minha mãe e sua irmã tentando navegar
em um bazar no Norte de África. "Quando tudo isso vai acontecer?"
"Bem, esso é a coisa, querida. Partimos em duas semanas."
"Duas semanas? E quem é que vai cuidar de Callahan?"
"Quem você acha?", perguntou ela.
Ela não estava... Não, ela não poderia pensar que eu ia sair do
meu.... Não, ela nunca faria isso. . . Inferno sim, ela faria.
"Você está louca? Tipo, totalmente insana?"
"Apenas me ouça, Roxie-"
"Te ouvir? Você quer que eu deixe a minha empresa, que está
finalmente começando a chegar a algum lugar, para cozinhar numa
lanchonete de esquina em Bailey Falls, New York? Enquanto você sai
para um remake geriátrico da 'volta ao mundo em oitenta dias’. Tenha
dó!"
"Eu não posso acreditar que você me chamou de velha!"
"Eu não posso acreditar que essa é a única palavra que você ouviu!"
Eu explodi. Enquanto eu estava sentada no meu carro, com os olhos
esbugalhados pela audácia da minha mãe, meu celular vibrou com um
texto. "Explique-me como você acha que isso pode funcionar. Como
posso fazer isso?"
"Fácil. Você tira uma licença aí, então dirige pra cá e cuida do jantar
enquanto eu viajo."
Eu tomei uma respiração, segurei-a por um momento, e em
seguida, deixei o ar sair lentamente. “Uma licença." Respire. Expire. "Eu
trabalho para mim mesma. Logo, uma licença significa ‘não mais
negócios’. O que me leva a crer que você esta sugerindo uma licença de
desemprego. Uma licença de, 'hey, clientes, peça a alguém para
cozinhar para você’ enquanto eu estarei até os cotovelos numa caçarola
de macarrão com atum, de volta para casa em Podunk."
"Nós não servimos mais a caçarola de atum."
"Nós teremos que discutir a sua audição seletiva em algum
momento, você sabe", eu disse quando meu telefone vibrou com outro
texto. "Mãe, eu tenho que ir. Nós podemos-"
"Nós não podemos falar sobre isso mais tarde. Eu preciso saber se
você pode me ajudar ou não."
"Você não pode me ligar do nada e pedir…"
"Não seria ‘do nada’ se você ligasse para casa mais vezes", ela disse
sorrateiramente.
Inspire. Expire. De repente eu pude entender perfeitamente a frase
"meu sangue estava fervendo": eu podia sentir bolhas de estresse se
formando dentro das minhas veias, pulsando e me aquecendo de dentro
para fora. Eu tinha passado do ponto de ebulição, e estava chegando
perto de escaldar. Antes que eu pudesse explodir, tentei mais uma vez.
"Aqui está a coisa, mãe. Eu preciso que você seja razoável. Eu não
posso voltar para casa toda vez que você entrar em apuros ou-"
"Eu não estou em apuros, Roxie. Estou-"
"Talvez não neste momento, mas no funso é a mesma coisa, apenas
embrulhado num bonito pacote de rede de televisão. Isso não vai mais
acontecer".
“Eu paguei sua faculdade, Roxie, e dois anos no American Culinary
Institute. O mínimo que pode fazer é isso."
OK. É isso aí.
"Você sabe o quê, mãe? Não. Eu não estou fazendo nada disso“, eu
disse com raiva enquanto outro texto chegava no meu celular. ”E você
só pagou pelo ACI porque tinha acabado de ganhar na loteria."
Ela permaneceu teimosamente em silêncio. Este era geralmente o
ponto da conversa onde eu cedia. Mas não desta vez.
"Ok, mãe. Enquanto você está tentando descobrir o verdadeiro
significado da vida e saltar em um tanque de tubarões ao largo da costa
da África do Sul com a tia Cheryl, que não sabe nadar, eu vou ficar
aqui. Em Los Angeles. Trabalhando como um burro de carga, tentando
construir um negócio e manter minhas próprias luzes acesas, para que
eu não tenha de viver no meu carro”. Respondi enquanto mais um texto
chegava.
"Você realmente acha que eles vão fazer-nos entrar num tanque de
tubarões?"
"Oh, vá fumar um cigarro mãe!" Eu desliguei, perguntando-me como
no mundo ela poderia ser ridícula o suficiente para pensar que eu
largaria tudo e voltaria para casa para fazer o seu jantar. Inacreditável.
Eu tinha uma vida, clientes, e eu tinha... bom senhor, outro texto?
Eu olhei para o meu telefone, que apresentou seis mensagens
esperando por mim. Não, sete - outra acabou de chegar. O que estava
acontecendo? Abrindo o primeiro, eu vi que era de Shawna, uma
cliente.

Roxie, eu não preciso que você cozinhe para mim na próxima semana.

Huh. Isso foi estranho. Abri o próximo texto.

Desculpe pelo aviso de última hora, mas eu vou ter que cancelar as
refeições que você tem planejado para a próxima semana e na semana
seguinte. Vou entrar em contato com você no futuro, talvez.

Espere o quê? Miranda era outra cliente. Ela tinha estado comigo
por alguns meses, recomendada por... Mitzi. Ah merda!
Eu abri o próximo texto. Até o momento em que eu tinha lido todos
eles, cada cliente a quem Mitzi recomendou meus serviços tinha
cancelado. Desistido. Me largado.
Por causa de chantilly que virou manteiga???
Ou talvez sobre o gesto do dedo obsceno?
Eu odeio essa cidade.
Referências eram tudo numa cidade como esta, e por causa de Mitzi
St. Fodida Renee, eu era agora uma pária culinária. As metidas
mulheres plasticamente refeitas e com mais dinheiro do que Deus
tinham decidido acabar com a minha carreira num jogo de mentalidade
de rebanho. Os poucos clientes que restaram só me chamavam
ocasionalmente, para eventos ou quando seus horários permitiam.
Embora eu amasse a Califórnia, realmente estava começando a
odiar LA. O dinheiro era ótimo aqui, mas o dia-a-dia, ter que lidar com
essas pessoas, era quase demais às vezes. E o dinheiro só era bom... até
acabar. Eu tinha acabado com a maior parte das minhas economias
num novo motor para o jipe, e estava temporariamente em baixa no
departamento de fluxo de caixa.
Todos os clientes, todos aqueles dólares confiáveis, tinham
desaparecido no espaço de um telefonema. Meu estômago deu um nó
com o pensamento de ter que reconstruir meu negócio. Uma bolha de
preocupação flutuou enquanto eu corria mentalmente através da minha
lista de clientes, imaginando quem poderia ser capaz de usar meus
serviços em tempo integral – ou, pelo menos, numa base regular.
Então meu celular apitou com outro texto. Oh Deus. Mais alguém
baleado no tiroteio de manteiga?

Estarei novamente na cidade no meio da próxima semana. Deixe-me


saber se você estiver a fim de um pouco de companhia.

Graças a Deus, não foi relacionado à culinária. Embora uma vez um


pote de manteiga de amendoim esteve envolvido... esqueça isso!
Suspirei enquanto entrava no meu apartamento. Mitchell era meu...
hmm. Não meu namorado, isso era certo. Ele era meu... brinquedo.
Meu último de uma série de homens com quem eu gostava de fazer
sacanagem, mas não namorar. Emocionalmente envolvidos?
Interessado em longas caminhadas na praia e num parceiro para a
vida? Vou passar. Sexo suado, corpos ofegantes contorcendo-se e um
telefonema eventual com um mínimo de palavras e bastante confuso?
Agora você está falando minha língua.
Nada do tipo “como foi seu dia, querida?”. Sem “hey, Roxie, nós
vamos passar por este momento difícil.” O tipo de dificuldade que
Mitchell traria seria me curvar sobre a poltrona, uma de suas mãos
cheias do meu cabelo e a outra cheia de meu... Pena que ele não estava
aqui esta noite - eu poderia usar algo para acabar com esse excesso de
energia. Meu cérebro estava agitado, minha carreira potencialmente
implodiu, e havia um sentimento de culpa à oeste de Bailey Falls, Nova
Iorque.
Eu precisava de paz. Eu precisava de silêncio. Meus olhos
examinaram meu apartamento - pelo qual eu não podia pagar a menos
que tivesse cada um dos meus clientes de volta - e se estabeleceram na
garrafa de Patrón1. Além de paz e sossego, eu precisava de um limão...

1 Tequila.
Eu acordei, hmm, digamos, tarde, com meu rosto coberto de polpa
de limão e preso na minha poltrona de couro sintético. Eu olhei o
relógio. Viva! Consegui quase quatro horas de sono assistido pela
tequila. Foi uma boa noite, considerando que eu normalmente só
consigo dormir, em média, cerca de três horas por noite. Sofrendo de
insônia intermitente desde a escola primária, eu tinha me adaptado a
dormir pouco.
Tropecei para a cozinha e procurei cegamente pelo café, recusando-
me a pensar que fui demitida. Bocejando, peguei o café recém coado,
ovos mexidos com alguns tomates, alho, espinafre e um toque de crème
fraîche. Ralei um pouco de queijo sobre o produto acabado, tirei um
pedaço de pão challah perfeitamente preparado da torradeira, em
seguida, agarrei meu café e voltei para o couro sintético.
Enquanto mastigava, uma revista tabloide sobre a mesa chamou
minha atenção. Meu prazer culpado. Eu apoiava-as num carrinho de
receita enquanto estava cozinhando, às vezes. Enquanto desossava um
frango assado, eu tirava o atraso das fofocas em Tinseltown. Mas esta
manhã eu percebi que conhecia a pessoa na capa. Ela era uma cliente.
E gostaria de pensar que talvez fosse uma amiga.
Ouvi falar pela primeira vez de Grace Sheridan quando o mundo
inteiro estava se concentrando em sua outra metade, Jack Hamilton.
Um jovem ator britânico incrivelmente de boa aparência, ele tinha sido
o queridinho do mundo da mídia por alguns anos agora, e enquanto a
sua estrela continuava a brilhar, a imprensa estava constantemente
especulando sobre quem era a nova paixão desse astro de cinema. À
medida que o mundo descobriu que a ruiva não identificada era
realmente Grace Sheridan, atriz, rapidamente a enxurrada de mídia
tornou-se numa tempestade, especialmente quando ela anunciou ao
mundo que eles eram um casal, tomando-o pela mão e publicamente
afirmando-o como dela num tapete vermelho. Eu sabia de tudo isso a
partir do que tinha lido online. Mas, quando ela me ligou um dia para
me pedir para cozinhar para ela enquanto se preparava para uma nova
temporada de sua série de TV de sucesso, pude começar a conhecer a
mulher por trás das capas de revistas.
Ela era engraçada. Ela era doce. E adorava comida. E eu estaria
cozinhando para ela mais tarde hoje. Merda! Eu tinha esquecido
completamente da minha cliente, aquela que estava me esperando para
jantar esta noite. Eu levei cinco minutos para esfregar meu rosto e
vestir algumas roupas limpas antes de pegar minhas facas e correr para
o mercado.
Eu tinha cozinhado para Grace no ano passado. Ela era uma fã
ferrenha de comida, e também gostava de cozinhar, então só me
chamava para ajudar quando sua agenda ficava muito exigente. Dois
atores morando na mesma casa, ambos trabalhando em horários
loucos. Quando eles contratavam um chef privado era uma vantagem
para algumas pessoas, e um salva-vidas para outras.
Grace tinha sido muito franca na imprensa sobre sua inconstância
peso, e ela levava sua figura muito a sério. Jack? Levava-o ainda mais
sério...
A primeira vez que encontrei Jack Hamilton, ele estava roubando
muitos beijos de sua noiva enquanto roubava cenouras da tigela de
salada em que eu estava trabalhando. Eu estava um pouco tonta por
estar tão perto de uma grande estrela de cinema, mas tontura e uma
faca não funcionam tão bem juntas, então eu fingi que tudo era natural
e cozinhei uma refeição maravilhosa. Tão incrível que eu me tornei sua
chef particular ocasional.
Passeei por todo mercado, pegando coisas que eu sabia que ela
gostaria: rúcula, frisee, chalotas, limões, bife cabide, alcachofras de
Jerusalém, prosciutto e peras Bosc. Uma encantadora fatia de cheddar
inglês. Porque, graças a Deus, Jack e Grace gostavam de sobremesa. E
isso os tornava quase alienígenas numa cidade que sempre franzia a
testa para a coitada da sobremesa. Então, no carrinho também
acrescentei farinha, açúcar, ovos e a linda e maravilhosa manteiga.
Uma hora mais tarde eu me encontrava na cozinha ensolarada de
duas das estrelas mais brilhantes de Hollywood, separando massa de
bolo em duas bandejas de pão, com Grace do outro lado da ilha de
cozimento.
"Não faz sentido você me pagar para cozinhar quando faz metade do
trabalho."
"Eu sou como seu chef ajudante", Grace protestou quando eu puxei
um banco da cozinha e apontei para ela.
"Sente-se, relaxe e fique do seu lado da cozinha, e então vou deixar
você lamber isso." Eu levantei o batedor.
"É uma coisa boa que Jack não está casa; ele nunca deixaria uma
frase como essa passar", disse ela com uma risada. "Mas eu quero
lamber isso, então vou ficar por aqui."
Sorri quando pensei em como eu mantive o domínio sobre uma das
maiores estrelas da televisão com apenas um batedor de doces. Por que
não poderiam todos os meus clientes ser como ela? Ela ficou em
silêncio por alguns minutos enquanto lia um script, e eu trabalhei em
meus bolos de limão. Mas ela nunca podia ficar calada por muito
tempo...
"Então, todos eles simplesmente cancelaram? Só isso?" Ela
perguntou, olhando para cima de seus papéis.
Eu mantive meu olho em minhas panelas. "Eu não deveria ter dito a
você. Isso foi incrivelmente não profissional."
"Também foi incrivelmente pouco profissional quando Jack ofereceu
sexo em troca de outra porção pudim. Não profissional é como nós
agimos".
Bufei com a lembrança. Eu tinha feito um pudim tradicional Inglês
numa noite, e Jack ficou fora de si. Tão fora de si que realmente tinha
oferecido seu corpo em troca de futuros doces ingleses.
Eu realmente não deveria ter descarregado tudo em Grace. Mas, em
algum lugar entre guardas as compras do supermercado e a poda da
alcachofra, ela tinha percebido que algo estava me incomodando. E
antes que eu percebesse, toda a história tinha derramado.
"Então, sua mãe quer ir em The Amazing Race, hein?"
"Ugh, sim. Ideia ridícula".
"Eu não sei, eu vi o show algumas vezes. Sempre parece divertido."
"Oh, não é que não pareça divertido. É apenas... hmm... como
explicar a minha mãe?" fiz uma pausa, batendo as fôrmas de pão sobre
o balcão para retirar quaisquer bolhas de ar antes de colocá-los no
forno. "Ela é uma hippie dos anos oitenta. Ela foi pega em toda aquela
coisa de segunda onda".
Ela assentiu com a cabeça. "Eu me lembro disso. Compre seus
brincos sinal de paz em Contempo Casuals."
"Exatamente." Entreguei-lhe os batedores prometidos, e ela
começou a lambê-los. "Mas ela ficou presa nessa época. Ela diz que é
um espírito livre, mas eu tenho outra palavra para descrevê-la".
"Irresponsável?", Ela perguntou.
"Sim. Irresponsável. Ela é ok, mas quando fica toda concentrada
sobre a lua estar na sétima casa, esquece de coisas como pagar a
empresa de energia elétrica para manter as luzes acesas na casa.
Felizmente ela me teve para cuidar do dia a dia, pelo menos. Sem
mencionar os inúmeros 'tios' que estavam constantemente ao nosso
redor."
"Ah", disse ela, mudando para o outro batedor.
"Eram todos bons rapazes, e ela simplesmente odiava ficar sozinha.
Então teve certeza que isso nunca acontecesse. Ela se apaixonou por
vários ‘alguéns’ que nunca preocuparam em olhar duas vezes para ela”.
Minha mãe estava convencida de que cada homem que conheceu era o
escolhido. Ou que o próximo seria aquele por quem ela estava
esperando, quando o relacionamento anterior terminava. E eu tinha
visto as consequências incontáveis disso tudo quando os príncipes
finalmente se cansavam e carnificina era deixada para trás. O choro, a
gritaria, a compulsão de açúcar, Van Morrison gritando sem parar na
vitrola. E então o suspiro inevitável quando o próximo cara aparecia em
seu laço do amor hippie.
"Então ela é uma romântica?" Grace perguntou.
"Você diz romântica, eu digo co-dependente." Lavei as peras na pia.
"Você diz romântica, eu digo medo de ficar sozinha. Você diz romântica,
eu digo por que no mundo alguém se colocaria a mercê de tanto
aborrecimento e dor de cabeça "
E era exatamente por isso que eu gostava dos meus
relacionamentos simples, cheios de sexo e sem amor. Meu problema
para dormir era um grande motivo para garantir que os homens nunca
passassem a noite, também. Uma vez que eles saíam, eu finalmente
conseguia cair no sono, sozinha. Insônia acompanhada de outro ronco
humano na mesma cama era a melhor receita para garantir que eu
literalmente nunca conseguisse dormir. Além disso, eu não via
nenhuma razão para ficar olhando sem jeito para um homem a noite
toda depois que a parcela de exercício noturno tivesse sido concluída,
então eu mandava-os seguirem seus caminhos. Eles não pareciam se
importar, e eu evitava todas as besteiras.
Grace ficou pensativa por um momento, e eu podia ver sua mente
trabalhando. "Ok, então você não encara as coisas da mesma maneira
que sua mãe."
Eu balancei minha cabeça. "Além da busca da minha mãe pelo
amor eterno, a única constante em nossas vidas foi o jantar. Eu preciso
de mais controle na minha vida do que isso."
"O restaurante da sua família?"
"Sim, meu avô abriu o Callahan uns mil anos atrás. Comecei a lavar
pratos lá quando tinha dez anos, eu acho. Consegui amar esse trabalho
infantil. Quando meu avô morreu, minha mãe herdou o
estabelecimento. Não é nada especial, apenas uma espécie de ponto de
encontro numa cidade pequena".
"Parece bom."
"É, totalmente. Foi lá que eu percebi que queria ser uma chef. Mas
eu nunca quis administrá-lo, nem mesmo por um curto período de
tempo. Você tem alguma ideia de quanto tempo leva administrar um
restaurante familiar mal sucedido? Esqueça férias. Esqueça liberdade.
Esqueça uma noite tranquila. E mesmo se você está em casa, você está
atendendo a telefonemas sobre uma batedeira quebrada ou um
frigorífico que está vazando, ou uma garçonete cuja unha rompeu na
saladeira e sobre como devemos fechar o lugar até encontrá-la". Eu
suspirei, exalando a tensão que sempre se estabelecia quando eu
pensava sobre o nosso sonho americano.
"Além disso, esqueça ter qualquer tipo de privacidade numa cidade
como Bailey Falls: todo mundo sabe tudo sobre todos. Você é quem você
é, e eles não permitem que você esqueça disso. Passei toda a minha
infância vivendo na sombra da minha mãe, esperando até ter dezoito
anos e poder ficar longe de casa, só para ter a chance de ser uma
criança. Assim, minha mãe pensar que eu tinha que largar tudo e
correr para casa.... oh, isso me irrita."
"Eu posso dizer. Você descascou a pera até o caroço", disse ela
suavemente, e eu olhei para baixo. Eu tinha feito exatamente isso, de
fato.
"Oh, pelo amor de-" Toda a casca estava empilhada na pia,
juntamente com toda a pera. "Eu sinto muito, isso é terrível. Vamos
falar sobre você: o que está acontecendo com você?” Jogo toda a casca
no ralo e começo a trabalhar numa nova pera fresca.
Ela me deu um olhar que me disse que não perdeu o jogo de ‘trocar
de assunto’, mas que ia jogar junto. Ela me contou tudo sobre a nova
temporada do show, então me contou alguns segredos do set do novo
filme ‘Tempo’ que Jack tinha acabado de filmar. Era, uma franquia de
filmes de sucesso baseado numa série de contos eróticos. Um cientista
viajante temporal, visitando mulheres ao longo do tempo... não parecia
uma má maneira de passar uma noite no cinema. No momento em que
o jantar estava quase pronto, eu tinha quase conseguido esquecer que
alguma coisa existia além do presente jantar e dos maravilhosos
clientes.
Eu estava apenas tirando o bife da panela e colocando-o para o lado
para descansar quando um farol brilhou pela janela de trás quando um
carro estacionou na entrada da garagem. Eu me virei para ver Grace,
que se iluminou tanto quanto os faróis – ela até mesmo corou um
pouco. "Jack chegou!" Ela parecia tão genuinamente feliz que eu tive
que sorrir também, mesmo que ela tenha me lembrado da minha mãe
perpetuamente apaixonada por um momento.
Olhei ao redor da cozinha, com sua cor de madeira mel quente e
ilha de mármore gigante. Fotos do casal e seus amigos estavam
penduradas nas paredes, em detrimento de sofisticados trabalhos de
arte. Flores estavam derramadas casualmente fora de potes, e não havia
nenhum enorme arranjo de florista nesta casa. Porque não era apenas
uma casa, era um lar... Ao contrário de todas as outras casas em que
eu cozinhei, Grace e Jack eram o impossível nesta cidade plástica:
pessoas reais. Eu sentia falta de pessoas reais.
Mas eu não tinha necessidade de ser a terceira roda para pessoas
reais nesta noite. Assim, quando Jack entrou pela porta de trás, eu
juntei minhas ferramentas.
Ele imediatamente chamou sua noiva, "Venha cá, Maluquinhas, eu
estive esperando para correr minhas mãos em você! Hey, Roxie." Jack
sorriu preguiçosamente sobre a parte superior dos cachos ruivos de
Grace quando a envolveu num abraço. "Eu esqueci que você estaria
aqui hoje à noite. Cheira muito bem, o que é?"
"Bife marinado num pouco de coentro e molho de soja e cortados
numa cama de rúcula bebê e frisée, com alcachofra de Jerusalém
assada levemente com suco de limão e queijo pecorino," eu disse,
levando seus pratos para a mesa. "Jack, você também está recebendo
Peras de Bosc embrulhadas em presunto, e uma fatia grande de seu
pudim Inglês favorito. Grace, você só ganha as peras".
"Por que ela não ganha gostosuras especiais também?", ele
perguntou, sentando-se em sua cadeira e tentando puxar Grace para o
seu colo.
"Eu não ganho guloseimas especiais porque tenho uma cena de
sexo para filmar em duas semanas", disse ela levemente, dando um
beijo na bochecha dele e mal escapando de seu colo.
"E já que eu estou pulando as guloseimas, posso ter bolo mais
tarde", disse ela, cavando em sua salada. "E eu posso também ter
lambido os batedores."
"Queria ter estado aqui para ver isso", disse Jack em voz baixa.
Eu balancei a cabeça e silenciosamente terminei de limpar a
cozinha enquanto eles comiam seu jantar. Que amaram.
Depois que eu derramei calda de mel e limão sobre os bolos ainda
quentes e me preparei para ir, Jack e Grace começaram a me implorar
para ficar.
"Você deve comer bolo com a gente", disse Jack, movendo-se
facilmente ao redor da cozinha.
Jack Hamilton com uma braçada de Tupperware: Eu poderia vender
essa imagem para uma revista e nunca ter que trabalhar novamente.
"Não é possível, mas obrigada pela oferta. Eu tenho que chegar em
casa e arrumar algumas coisas", eu disse, deslizando minha última faca
na bainha, exatamente quando meu telefone tocou. Minha triste
realidade: minha mãe. Eu lidaria com ela mais tarde.
"Tudo bem?", ele perguntou, preocupação evidente em seus olhos
quentes.
Inacreditavelmente eu senti meus olhos queimando um pouco.
Engoli em seco ao redor do repentino nó na minha garganta.
"Ela está bem. Vou acompanhá-la até lá fora", disse Grace,
enganchando um braço no meu e indo em direção à porta dos fundos.
"Brilhante jantar, Roxie, realmente excelente. Obrigado mais uma
vez," Jack respondeu, assobiando enquanto voltou sua atenção em
reorganizar o interior da geladeira.
Eu soltei um enorme suspiro aguado enquanto me dirigia para fora
no ar da noite. "Eu sinto muito sobre isso. Eu não sei o que deu em
mim agora”. Eu funguei um pouco, enxugando os olhos quando
andamos em direção ao meu carro.
"Você teve um péssimo dia e isso acontece. Converse com sua mãe".
"Ela vai acabar me convencendo a fazer isso para ela," eu disse,
colocando minhas coisas na parte de trás do meu carro.
"Eu odeio dizer isso, porque iria significar que seus bolos estão
saindo, mas talvez você precise de uma pausa. Talvez esta fosse uma
boa ideia. Sair da cidade por um tempo, limpar sua cabeça."
"Se eu sair, vou estar deixando tudo em aberto."
"Você já perdeu a maior parte de seus clientes, Rox", disse ela.
"Exceto por nós, é claro, seus favoritos."
"Claro." Eu suspirei. "Você sabe por que eu amo cozinhar para
você?"
"Por que você pode olhar para Jack?"
"Obviamente. Mas fora isso, eu sinto falta de cozinhar comida real.
Comida caseira. Calorias que se danem."
"Alimentos reais no mundo irreal. Eu ouvi isso." Grace riu. "Ligue
para a sua mãe, dê sua opinião e decida o que quer fazer. Mesmo se
você sair, sempre pode voltar."
"Oh, eu voltarei. Levei dezoito anos para sair daquela pequena
cidade, e não há nenhuma maneira que eu vá ficar lá para sempre",
disse, balançando a cabeça.
"Ótimo! Se você voltar, desculpe, quando você voltar, eu vou
trabalhar nas suas recomendações. Conhecemos toneladas de pessoas
que poderiam precisar de uma grande chef, e nenhum deles são
comedores de plástico. Vai dar tudo certo."
"Vá comer o seu bolo. Eu guardei para você, exatamente 113,5g.
Não mais", eu disse, subindo em minha Wagoneer.
"Vamos ver", disse ela com uma piscadela.
Poucos minutos depois, eu estava na metade do caminho de volta
para casa, no meio do canyon. Assim que tive sinal, liguei para minha
mãe. Eu escutei o que ela disse.
Então, fui para casa e olhei para a minha pilha de contas,
comparando-a com o meu rendimento salarial agora inexistente. Liguei
para minha mãe de novo.
“Roxie, já passa da meia-noite.”
“Estou voltando para casa, mãe. Eu vou cuidar do restaurante. Você
vai me pagar um salário. Isso vai durar exatamente o tempo que leva
para você correr ao redor do mundo com a tua Cheryl. Então eu estarei
saindo de novo, e não haverão mais favores. Para sempre. Fui clara?”
“Ah sim. Obrigada, minha filha fantástica, obrigada! Quando você
estará aqui?”
“Eu vou ligar de manhã e então poderemos acertar todos os
detalhes, ok? Você ganhou, mãe, então desfrute.”
Eu suspirei, deitando-me na minha cama. Merda. Eu estava
voltando para casa.
Uma semana depois, eu tinha sublocado meu apartamento,
arrumado minhas coisas, dito ao meu homem brinquedo que estava
saindo durante o verão – sem ele, obvio – e começado a dirigir.
Dirigir pelo país sozinha pode ser chato, especialmente no início de
uma viagem. Desculpe, Nevada, desculpe, Utah. Eu gosto do que vocês
têm a oferecer ao mundo, os jogos de azar e os Osmonds e tudo mais,
mas quando você está se sentindo insegura sobre suas escolhas de
vida, o deserto não é um ótimo lugar para dirigir sozinha por horas a
fio.
Por outro lado, com apenas cactos, areia e um urubu real de
testemunha, o deserto é o lugar perfeito para baixar as janelas do carro
e cantar "Sweet Caroline" a plenos pulmões. Eu até fiz os meus próprios
vocais de apoio, dando a cada bah- bah- bah meu tudo, e executei
algumas guinadas em toda a faixa amarela que dividia a pista como
forma de dança.
Era possível que o deserto estivesse me enlouquecendo.
Mas ele também manteve as memórias longe. Memórias que
vibravam novamente entre as músicas. Pensando em passar algum
tempo no leste, e talvez ver minhas melhores amigas Natalie e Clara, me
fez pensar sobre quando todos nós nos encontramos e o tempo especial
que tive com elas em minha vida.
Eu tinha saído de casa para o Instituto de Culinária Americana em
Santa Barbara, convencida de que seria o canhão que iria atirar-me
para fora na idade adulta. O lugar onde eu finalmente encontraria a
vida e o destino que me eram reservados. Onde eu poderia me
concentrar em mim mesma, longe das catástrofes perpétuas da minha
mãe ou do constrangimento do ensino médio.
Eu tinha sido uma garota tímida, embaraçosa até. Não pertencia
nem aos atletas, nem aos totós, anormais ou aos nerds: eu estava numa
espécie de intersecção de ninguém. Não é como se houvesse uma
panelinha colegial composta por alimentos esnobes. Não havia
toneladas de crianças que passavam seus fins de semana aperfeiçoando
tortinhas de queijo de cabra ou fazendo degustações de azeite em seu
quintal.
Eu fiz ambos.
Eu era tímida; Eu era toda cotovelos e joelhos, e corava sempre que
alguém olhava para mim. Eu até atrapalhei o meu caminho através da
minha primeira grande sessão de amasso com um estudante de
intercâmbio da Finlândia, depois de ficar bêbada com bebidas
contrabandeadas. Ele tocou meus seios e eu gostei. Mas então vomitei.
Ele nunca ligou de novo.
Uma vez eu tinha prendido o zíper do meu casaco num nó no meu
cabelo na hora do almoço, e passado cinco minutos tentando me
libertar antes de, com calma - eu esperava que parecesse calma, -
começar a comer os feijões verdes feitos com amêndoas e Gruyère que
eu tinha trazido de casa, tentando não notar o olhar fixo dos colegas da
classe. Certa vez, tropecei e cai um lance de escadas na frente de toda a
minha classe, terminando com a minha saia em volta da minha cintura.
Uma vez eu escolhi a caixa errada na minha atribuição de classe
eletiva e, em vez de me inscrever para o ‘Taste of the parade: mundo de
delícias culinárias’, me inscrevi para a classe de debate, e passei um
semestre inteiro temendo como um temporizador de ovo, fui um
fracasso suado em meu caminho através de "Qual era o compromisso
do Missouri?”
Quando me formei, estava determinada a redefinir quem era Roxie
Callahan, para decidir que tipo de pessoa eu queria ser, como queria
me apresentar para o mundo. E a beleza de ir para a faculdade é que
ninguém tem uma ideia preconcebida de quem você é.
Além disso, no ACI eu estava no ambiente exato em que se supunha
que eu deveria estar. Estava com pessoas como eu. Ficávamos
animados quando uma nova caixa de foie gras chegava, eu salivava
quando trufas estavam na época, e tivemos absoluto tesão quando
aprendemos a caramelizar pele de galinha para um enfeite.
E por falar em tesão... Vamos falar de tesão. Eu gostei muito desses
tempos cheios de tesão. A escola de culinária foi uma panela de fondue
de tensão sexual, com todos nós morrendo de vontade de se espetar e
lambuzar. Junto com a confiança que veio de aprender a cozinhar bem,
eu também ganhei confiança em meu corpo.
O cabelo castanho crespo tornou-se elegante e saltitante depois de
ser apresentado a alguns tratamentos de alisamento. O estilo de vida da
Califórnia deu-me um agradável bronzeado durante todo o ano, e as
sardas que eu tinha tentado desvanecer com suco de limão quando era
criança tornaram-se um quadro agradável para os olhos.
Eu também fiz amigos, e alguns desses amigos eram meninos. E os
meninos eram divertidos. Depois de ver a minha mãe flutuar sobre cada
indivíduo com uma semelhança passageira com Tom Selleck (seu ideal),
eu fiz o oposto. Flertei com diferentes sabores, e apreciei junto com
cada um deles a merda do meu empoderamento recém-descoberto,
tornando-me fisicamente - mas nunca emocionalmente - enredada com
qualquer cara com quem tive uma fantasia.
Porque Roxie Callahan não estava indo pelo mesmo caminho que a
mãe, que saltava de um relacionamento para outro com uma criança
numa das mãos e um romance Harlequin na outra, esperando o
próximo homem varrê-la para fora de seus pés hippies. Nah-nah. Eu
tinha uma carreira para construir.
Foi o que fiz. Quando meus instrutores me davam feedbacks, eu
prosperava. Trabalhei no que eles apontavam, melhorando os pequenos
ajustes aqui e ali que faziam a diferença entre executar e dominar uma
técnica. Para entender como um respingo de vinagre de champanhe
exatamente no momento certo poderia elevar a receita, mas se
adicionado apenas um momento mais tarde iria turvar e transformar
um prato de outra forma aceitável. Isso era pura perfeição. Passei horas
incontáveis nessas lindas cozinhas de aço inoxidável misturando
ingredientes, jogando com sabores, saboreando o processo: todas as
coisas que você realmente não consegue fazer quando está trabalhando
numa cozinha de restaurante.
Embora eu soubesse que rotina diária de um restaurante não era
assim, eu acreditava que uma vez que você elevasse a comida à uma
forma de arte, o artista teria tempo para trabalhar. Mas não era assim
que funcionava. Ser um chef executivo num restaurante com estrelas
Michelin não era nada do que eu estava sonhando. Era pessoal e folha
de pagamento, gestão, críticas e avaliações, ficar à frente – atrás - da
casa e, ocasionalmente, se perder em sua cozinha e realmente cozinhar.
Então, eu encontrei-me à deriva: apaixonada pelo processo de criação
de comida, mas convencida de que no fundo a agenda agitada de um
restaurante, somado a cozinhar sob pressão constante, nunca sobraria
qualquer liberdade para mim.
Mas eu aprendi: aproveitei a oportunidade de cozinhar comida
bonita enquanto durou e graduei-me com honras. E ofertas. Ofertas de
aprendiz para trabalhar em algumas das melhores e mais inovadoras
cozinhas de restaurantes no país, até mesmo no exterior.
Mas eu sabia que não seria feliz nisso. Não era glamour e fama que
eu queria, era a oportunidade de criar. Eu odiava o stress das
operações do dia-a-dia de uma cozinha profissional, portanto, com a
orientação de um professor, eu escolhi a vida mais calma de um chef
privado.
Foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Como chef privada
eu poderia me destacar, e a minha comida falaria por si. Às vezes até
encontrava-me dando algumas dicas para cliente aqui e ali: truques de
compras, como se certificar que a massa da torta sempre saia perfeita,
como caramelizar sem queimar as cebolas e como esculpir uma galinha.
E não uma daquelas coisas desossadas e sem pele - pessoas com menos
de quarenta nunca aprenderam como lidar com um frango de verdade,
coisa que agora só chefs e idosos sabiam como fazer. E eu gostei do
aspecto "ensino" do meu trabalho. Era o "algo extra". Eu podia fazê-los
sentir como se a contratação de um chef privado não tivesse sido
apenas um luxo, mas algo de valor inestimável.
Eu fiquei na Califórnia, movendo-me por todo o Golden State
sempre que o humor mudou ou um novo cliente chamou. Santa
Barbara, San Diego, Monterey, finalmente estabelecendo-me em Los
Angeles. Eu sempre ouvi dizer que você aprendia a dizer não em seus
trinta anos, por isso meus vinte anos foram todos em dizer sim. Para
um novo emprego, uma nova cidade, uma nova experiência. A menos
que fossem ilegais (principalmente), perigosos (realmente), ou tivessem
relação com sexo anal (não vai acontecer), eu raramente disse que não.
Eu raramente voltei a Bailey Falls também, preferindo ter minha
mãe me visitando no oeste. Eu gostava da minha vida, eu gostava da
nova Roxie, e estava determinada a nunca mais voltar a ser a antiga
Roxie novamente.
Mas, enquanto evitei o estresse de trabalhar com chefs executivos
arrogantes e o drama de bartenders dormindo com garçons cantores, eu
não contornei o estresse de ser a única responsável por garantir as
indicações que tinham que continuar a chegar. Meu sustento dependia
quase inteiramente de referências e, embora eu trabalhasse pra
caramba para construir meu negócio, eu não tinha segurança. Sem
salário garantido a cada semana. Nenhum seguro médico. Nenhum
plano dentário. Sem promoções. Nenhuma família. Restaurante de
família, quero dizer.
Esse pensamento me trouxe de volta ao presente, quando eu estava
dirigindo por todo país para salvar minha mãe. Liguei o rádio e me
concentrei em ficar na pista correta.

No terceiro dia eu parei num restaurante de beira de estrada, que


proclamava ter a melhor carne de porco do mundo. Eu estava
familiarizada com a globalização; cada jantar tinha uma pretensão de
fama culinária particular. Melhor torta cremosa de coco do mundo,
melhores picles fritos do mundo, melhor scrapple do mundo... essa
última pertencente ao nosso próprio restaurante. Você não precisa nem
quer saber o que é preslceid, desde que seja o melhor do mundo.
Mas eu apreciei a forma como esta propaganda jogou meu traseiro
direito para fora do banco do carro, e eu estava com fome por bom
churrasco. Eu estava no meio de Kansas, perto o suficiente de Kansas
City, então o restaurante devia ser bom o suficiente.
Foi bom. Docemente picante, como todos os churrascos devem ser.
As pontas foram trituradas e empilhadas num rolo na porção correta
para uma refeição, e os sabores estavam perfeitamente equilibrados.
O jantar foi à velha escola Americana. O lugar tinha cheiro de
pimentão, de batatas fritas feitas em casa, e o leve aroma de gordura
pairava no ar, não importa o quão completamente as caixas de gordura
foram limpas. E o jantar também veio acompanhado de algo que era
quase impossível encontrar estes dias, mas que costumava ser comum
uma vez: gentileza.
"Você quer mais alguma coisa, querida?"
Eu sorri para a velhinha que tinha andado um milhão de milhas
nesses tênis Reebok, sem jamais escorregar numa ervilha. "Eu estou
bem. Obrigada pela recomendação do bolo, estava ótimo."
"Nata. Esse é o segredo", ela sorriu, colocando o meu cheque sobre
a mesa. "Faz toda a diferença no mundo. Não é apenas para as batatas
cozidas, você sabe."
"Não me diga," Eu sorri, deixando-a transmitir-me sabedoria.
Vinte minutos depois eu estava de volta na estrada, com uma
barriga cheia, uma nova receita de bolo fudge mocha chocolate e um
fraquinho súbito para um bom jantar antigo.

Até o momento em que eu tinha cruzado a linha do Estado de Nova


York, porem, eu estava num estado de espírito muito diferente. Estava
cansada de dirigir, de fazer xixi em paradas de caminhão, e cansada de
ficar em casa - mesmo que eu tecnicamente não estivesse em casa
ainda. Duas horas mais tarde, quando comecei a lenta e gradual
escalada nas montanhas de Catskill, estava tão cansada e irritadiça que
nenhuma quantidade de pássaros cantando ou tulipas no final da
temporada embelezando as duas pistas poderiam levantar o meu
humor. E quando saí da estrada e fui para a principal rua de Bailey
Falls, a bandeira pitoresca que pendia da prefeitura, proclamando que o
desfile anual do Memorial Day seria realizado em apenas alguns dias,
com sua “encantadora” decoração vermelho branco e azul envolta em
varandas e penduradas em todos os postes de iluminação falhou
miseravelmente em me encantar.
No piloto automático, dirigi passando as grandes casas na Main
Street, as ainda grandes casas em Elm e Maple, as casas menores e
ainda encantadoras nas ruas Locust e Chestnut, passando pelas
tranquilas casas de fazenda na subdivisão na periferia da cidade,
dirigindo ao longo dos trilhos de trem e de volta para a vila. As casas
eram mais distantes agora, algumas com fazendas adjacentes.
Finalmente chego numa entrada de automóveis longa e sinuosa, de
cascalho, forrada com caixas de flores pintadas com as cores amarelo,
laranja, roxo e rosa. Aqui e ali, sinais apoiados nas floreiras gritavam
mensagens motivacionais em verde neon:

MENOS SOLDADOS, MAIS ABRAÇOS.

UMA MULHER PRECISA DE UM HOMEM TANTO QUANTO UM PEIXE


PRECISA DE UMA BICICLETA.

NENHUM DIA É MELHOR DO QUE HOJE.

Meus olhos rolaram, uma resposta condicionada. Andando até a


calçada, lendo os novos sinais misturados com os velhos, tentei vê-los
da mesma forma que outros os viam. Felizes. Positivos. Eternamente
otimistas.
Mas continuava sendo capaz apenas de ver minha mãe mais nova
em seus macacões e com uma flor atrás da orelha me trazendo meu
saco de almoço na escola quando eu deliberadamente tinha deixado-o
em casa, e dizendo na frente de todos os meus amigos para eu me
certificar de não tirar meus brotos de feijão do sanduíche, porque eu
precisava da fibra para o bom funcionamento do meu intestino.
Mortificante.
Dirigi ao redor da última curva na entrada da garagem e encontrei-
me em frente à minha casa de infância. Embora tivessem passado
alguns anos, parecia exatamente a mesma. Dois andares com pintura
descascada branca, alpendre coberto e muitos projetos de arte
semiacabados. Casas de passarinhos e cata-ventos ainda estavam
espalhados pelo gramado da frente, o que poderia ser bom. Pelo menos
três cores de tinta diferentes tinham sido experimentadas aqui e ali do
lado da casa, tudo abandonado quando outra coisa chamou a atenção
de minha mãe. Havia buracos onde pica-paus aproveitaram para fazer
seus ninhos e, ocasionalmente, os perderam para seus amigos esquilos.
Escutar uma correria nas paredes era sempre bom para acordar.
Mas eu estava em casa. Estacionei o carro, arrastei minha bagagem
para a varanda e debati se deveria bater na porta da frente da casa
onde eu tinha vivido desde que tinha três dias de idade.
Declinei a batida e girei a maçaneta.
Estava trancada.
Então eu bati. Nenhuma resposta.
Isso era alguma brincadeira?
Eu marchei através do quintal, passando os sinais incentivando-me
a não me preocupar e apenas ser feliz, e procurei pela chave que ainda
estava sob o vaso na porta dos fundos. Bati mais uma vez e, como não
houve resposta, entrei.
Cada casa tem um cheiro. Você pode senti-lo quando visita a casa
de alguém pela primeira vez. Às vezes é bom, como canela e roupa
limpa. E tabaco de cachimbo. Às vezes é ruim, e fede a repolho, curry e
gaiola de hamster. Pizza velha e células mortas da pele. (Se você já foi
ao apartamento de um universitário, então está familiarizado com o
último. Como eu disse, cada casa tem um cheiro.) E cada cheiro conta
uma história. Você normalmente não pode cheirar sua própria casa, a
menos que tenha saído de férias por um tempo e consiga ter um sopro
rápido quando entra em casa depois de um tempo. Ou se afastou-se por
vários anos.
Uma respiração profunda foi o suficiente para eu me sentir em casa.
Olhei em volta e achei que tudo estava exatamente como sempre foi. Os
mesmos copos de água do Snoopy que secavam ao lado da pia. As
mesmas latas de cerâmica em formato de cogumelos brancos e marrons
alinhados no balcão. As mesmas placas bicentenárias ainda
penduradas na parede, embora Rhode Island parecesse estar faltando.
"Mamãe? Você está em casa?" Eu chamei, sabendo que ela não
estava.
E assim de repente eu estava chateada. Eu tinha dirigido por todo o
país, me afastando do meu próprio negócio (minha raiva não se
preocupava com fatos reais), e voltado para casa para que ela pudesse
viajar ao redor do mundo. E ela não estava.
Saí batendo a porta, saltei para o meu carro e voltei para a cidade.
Era segunda-feira de manhã. Eu tinha uma boa ideia de onde ela
estava.

Quando entrei no estacionamento de trás do restaurante, estacionei


ao lado de seu carro. O carro com painéis de madeira era a marca da
família, portanto, não tinha como confundi-lo: um station wagon 19772,
com um desbotado adesivo ‘Vote Mondale/Ferraro!’ que ainda
permanecia.
Peguei minha bolsa e entrei pela porta de trás, caminhando em
linha reta para a cozinha e sendo recebida por uma cena que já tinha
visto milhares de vezes. Bilhetes voando. Sinos tocando. Pés batendo. A
porta da geladeira batendo conforme as pessoas corriam para dentro e
para fora. Legumes picados. Pães sortidos. Um exército de garçonetes
com aspecto retrô anotando pedidos e trazendo comida, todas vestidas
com vestidos rosa e verde de poliéster que combinavam perfeitamente
com os assentos. Havia certo ritmo e certa loucura. Havia também
risadas - que na maior parte eram da minha mãe.
Ela estava no centro da tempestade, com o avental sujo amarrado
habilmente para trás, seu cabelo crespo e grisalho preso num coque,
vestindo um largo sorriso enquanto expedia ordens, levava comida e
gritava pedidos especiais a plenos pulmões: "Para mesa 16 eu preciso
de ‘two dots and a dash’, dois ovos mexidos, um ‘club high and dry’ e
um ‘cowboy with spurs’3."
Ela me viu parada na entrada em meio ao caos e, um segundo
depois, eu estava envolta num abraço de urso que tirava meu fôlego. Eu
a abracei de volta, incapaz de parar a risada que escapou de mim.
Principalmente porque todo o meu ar foi forçado a sair de uma vez.
Principalmente.
"Roxie, você chegou cedo! Achei que estaria aqui só de tarde, ou
mesmo hoje à noite. Quando você chegou?"
"Agora a pouco. Eu estava tão perto na noite passada que decidi
continuar."

2
3 São todos nomes de pratos servidos no restaurante.
"Estou tão feliz que você achou a minha nota."
"Que nota?" Perguntei enquanto ela voltava a me olhar, seus olhos
me avaliando.
"Na porta da frente, dizendo que eu estava trabalhando no primeiro
turno. De que outra forma você saberia que eu estava aqui?"
"Imaginei. E não havia nenhuma nota, mãe." Eu balancei minha
cabeça.
"Claro que havia. Eu colei na porta da frente enquanto saía esta
manhã, quando eu... Oh aqui está", disse ela, balançando a própria
cabeça para o pedaço de papel que tirou do avental:

Roxie, estou trabalhando no turno da manhã. Encontre-me no


restaurante. Estou tão feliz que você chegou!

"Oh, bem, você está aqui! Isso é tudo que importa! E chegou bem na
hora certa; estamos com alguns probleminhas. Carla ligou às 4 da
manhã dizendo que estava doente, então eu tive que abrir esta manhã,
e uma das nossas lavadouras de louça se demitiu na semana passada,
e eu não tive a chance de substituí-la ainda. Você trouxe seu avental?"
"Trazer meu avental? Mãe, eu… eu literalmente vim direto para cá
depois de dirigir a noite toda e..."
"Sem problemas, basta pegar um da parede. Eu preciso voltar ao
trabalho, vamos falar quando a correria terminar, ok? Obrigada,
querida!", Ela gritou, virando-se para Maxine, uma das garçonetes mais
velhas. "Aquelas espigas estão ficando frias, leve aquelas coisas para a
mesa sete, rápido!"
"Que espigas, Trudy? Roxie! Ótimo ter você em casa de novo!". Foi
sua resposta, e o caos retornou.
Eu estava presa no meio de tudo isso, me perguntando o que diabos
tinha acontecido.
"Você se lembra de como descascar batatas? Nós estamos ficando
com poucas batatas fritas, e eu adoraria ter mais algumas prontas
antes da loucura do almoço." minha mãe chiou quando passou por
mim, me virando em direção a uma montanha de sacos de batata.
"Eu sei como descascar batatas, pelo amor de Deus", eu murmurei,
irritada, percebendo que não havia nenhuma maneira que pudesse me
livrar disso tudo. Minha mãe já estava voltando para o balcão da frente,
gritando por cima do ombro: "Pedido um, fazê-lo através do jardim e
fixar uma rosa nele."
"É mais rápido só dizer hambúrguer com alface e tomate," Eu disse
às batatas, que olharam para mim suavemente. Porque elas tinham
olhos, você sabe.
Peguei um avental limpo da parede, agarrei a menos maçante e
menos propensa a me cortar faca do bloco, e comecei a encher uma
panela de hotel com água para colocar as batatas de molho. Nós
servimos batatas fritas no restaurante, grandes o suficiente para encher
um pão de cachorro-quente. Mas isso não significa que elas não
poderiam ser batatas fritas perfeitas. Então eu estabeleci-me com a
minha faca, descascando, cortando e alinhando-as com uniformidade
perfeita. Eu cortei fora os pontos pretos, aparei os verdes e me perdi nos
detalhes.
Com gritos de pedidos e entregas, Eve passando com uma tampa na
mão, e vários outros barulhos ecoando em torno de mim, eu me
concentrei nos ângulos retos escorregadios, certificando-me que eles
estivessem perfeitamente afiados antes de entrarem no banho de água.
Minha mãe apareceu para pegar a primeira panela de batatas
prontas para fritar, e olhou com curiosidade como eu me concentrei na
remoção de uma casca teimosa. "Elas vão ficar cobertas de molho ou
mergulhadas em ketchup; elas não precisam ser uma obra de arte,
Rox."
"Você me disse para descascar batatas. Isto é como eu descasco
batatas", respondi, jogando outro pedaço na panela quando ela se virou
para ir.
"Acenda um fogo, ou nós nunca terminaremos isso", ela instruiu e
eu revirei os olhos. "Eu vi isso!", Ela gritou.
"Eu não estava escondendo!" Eu peguei outra panela e enchi-a de
água.
Agora eu tinha uma missão: fazer uma perfeita porção de batatas
para fritar, e rápido. Me afastei mentalmente do barulho e dos ruídos e
baixei a cabeça na tarefa. Mãos voaram, dedos dançaram, e a panela foi
gradualmente preenchida com batatas artisticamente pontudas. O
tempo voou enquanto eu enchia panela após panela, e os sacos foram
esvaziando.
Quando uma das outras garçonetes bateu no meu ombro em
saudação e acabou me assustando, minha faca escorregou da minha
mão, pousando na parte de trás da bandeja da água. Inclinando-me
sobre a panela para recuperá-la, me desequilibrei e consegui submergir
meu peito na água fria da batata. "Merda", eu disse, sentindo a água
fria escorrendo pelo lado de dentro da minha camisa e por toda a minha
barriga. Fiz uma pausa do meu frenesi e olhei em volta. Havia panelas
de batatas em todas as superfícies de trabalho no meu canto. Huh.
Acho exagerei um pouco!
"Por Deus, Roxie, quantas batatas fritas que você acha que
precisamos?" Minha mãe perguntou quando virou a esquina.
"Elas vão durar até amanhã – ou até o dia seguinte, talvez ", eu
respondi, um pouco envergonhada.
"Está tudo bem, eu vou reservar um espaço para guardá-las. Como
se sente sobre a limpeza de algumas ervilhas?", Ela perguntou, me
entregando uma grande panela de vagens de ervilha. "Cortar o fim,
retirar a parte fibrosa."
"Eu sei como limpar uma vagem," resmunguei. "Cortar o fim..." Eu
enchi a panela com água, bufando. "Tirar fora a parte fibrosa. Sem
brincadeira."
"Você começou a falar sozinha lá em Hollywood?" Minha mãe
brincou, enfiando a cabeça na porta e quase sendo atingida no rosto
com a ervilha que eu joguei nela. Ela riu e desapareceu de volta para a
cozinha.
Eu suspirei, espreguicei-me e passei a trabalhar novamente. Depois
disso, eu estava tirando uma soneca.
Depois de um tempo eu me tornei ciente de um formigamento na
parte de trás do meu pescoço, e olhei por cima do meu ombro para
encontrar a fonte. Em seguida, várias coisas aconteceram dentro de
poucos segundos, embora eu os visse em câmera lenta:

1. Um homem estava em pé bem atrás de mim.


2. Ele estava segurando uma cesta.
3. A cesta continha algumas nozes encantadoras.
4. Eu gritei, porque ele estava bem atrás de mim.
5. Eu deixei cair minha panela.
6. As ervilhas voaram em todas as direções.
7. Algumas das ervilhas pousaram em suas botas de trabalho.
8. Olhei para cima das botas: calça jeans.
9. Eu olhei para cima dos jeans: camiseta Fugazi vintage, debaixo
de uma camisa de flanela verde
10. Eu olhei acima da flanela: Umas duas semanas de barba loira
desgrenhada. Mmm...
11. Eu olhei acima da barba: lábios.
12. Eu olhei para os lábios.
13. Eu olhei para os lábios.
14. Eu olhei para os lábios.
15. Oh! Por favor!
16. Eu olhei acima dos lábios.
17. Eu estava feliz por olhar acima dos lábios!
18. Os olhos e os cabelos eram um pacote completo! O cabelo estava
caindo sobre os olhos de uma maneira descuidada que dizia: "Ei, moça.
Tenho ervilhas em meus sapatos, mas quem se importa, porque eu
tenho esses olhos e esse cabelo, e sou muito foda." Hummm...
19. O cabelo era da cor de tabule.
20. Seus olhos eram da cor de...
21. Pickles?
22. Feijões verdes?
23. Não! Brócolis que tinham sido cozidos durante exatamente
sessenta segundos. Verdes. Vibrantes. Brilhantes.
24. Me levantei - derramando ainda mais ervilhas sobre ele.
25. A partir de seus pés, dirigi meu olhar pra ele.
26. Um canto de sua boca se elevou por um momento ínfimo.
27. Ele olhou para minha camiseta molhada e quase transparente
por um pequeno momento antes da decência ditar que ele não devia
fazer isso.
28. Ele largou a cesta de nozes e estendeu a mão para mim. Elas
eram calejadas. Ásperas. Ambos os cantos de sua boca agora estavam
levantados.
29. Peguei a mão dele para levantar. Escorreguei novamente num
piscar de olhos. Mundos colidiram quando minha pele se encontrou
com a dele, e nossas cabeças colidiram.
30. Uma das minhas vagens de ervilha estava presa debaixo da bota
dele.
31. Ele caiu também.
32. Suas nozes acabaram por toda parte.
33. Nossas pernas estavam entrelaçadas.
34. Sua cabeça caiu no meu... colo.
35. Ervilhas eram o meu novo vegetal favorito.

O cara das nozes se chamava Leo. Eu sei disso porque, quando


minha mãe veio ver o que tinha acontecido e pegou-o com a cabeça nas
partes de sua filha, ela gritou: "Leo!" E correu para ajudá-lo. Ele. Ela
nunca pôde resistir a um homem de boa aparência. E uma vez que o
homem saiu do meio das minhas pernas... misericórdia... ele se
abaixou mais uma vez para tentar me ajudar a levantar.
"Pelo amor de Deus, Roxie, o que você está fazendo no chão?",
interrompeu minha mãe, me pegando por debaixo de ambos os braços e
me estatelando de volta aos meus pés como um saco de farinha.
"Eu... uh... bem..."
"Eu acho que a surpreendi, Senhora Callahan," Leo disse, e sua voz
era suave e áspera ao mesmo tempo. Como isso era possível? "Você está
bem?"
"Eu... uh... bem.." De onde isso está vindo? Eu não gaguejo.
Ele sorriu, um olhar de diversão curiosa se espalhando por todo o
seu rosto.
"Ela está totalmente bem, certo... Oh querida! Parece que o peru
está pronto, você pode querer cobrir-se...", disse minha mãe, olhando
para uma parte muito específica do meu peito.
Lembrando-me da minha camiseta molhada, eu olhei para baixo e
rapidamente cruzei os braços sobre o peito. Meus mamilos tinham
estalado como temporizadores de peru. Deus do céu! É muita vergonha
em tão pouco tempo!
"Roxie, vá buscar um novo avental e, em seguida, vem sentar-se
com Leo aqui e tomar uma xícara de café. Você tem tempo para o café,
não é mesmo, Leo? É o mínimo que podemos te oferecer depois que você
acabou no nosso... chão!"
Café de repente soou como a melhor ideia na história das melhores
ideias. Café? Sim. Deitar em cima de mim de novo? Se você quiser.
"Desculpe Sra. C, mas não posso ficar para o café hoje. Eu tenho
um caminhão cheio de entregas para fazer antes das cinco. Parece que
vai chover, inclusive?", Perguntou ele, desencadeando um sorriso para
minha mãe e então virando esse lindo sorriso para mim. "Você tem
certeza que está bem?"
Absolutamente bem. Não! Eu não estava com os joelhos fracos só
porque um cara bonito olhou para mim, mesmo que meus
temporizadores de peru estivessem saltados.
Eu olhei para ele, inclinei a cabeça para o lado e soltei meu próprio
sorriso. "Desculpe por suas nozes." E então lentamente caminhei em
direção ao frigorifico, colocando uma pequena oscilação em meus
quadris.
Dentro da cabine gelada permiti-me dez segundos de furor
adolescente, apenas para ser pega no primeiro pulinho quando minha
mãe enfiou a cabeça para dentro para ver se eu estava bem.
"Se está tudo bem por aqui, há um punhado de ervilhas no chão
para limpar.” ela disse com um sorriso maroto.
Parece que passar o verão em casa acabou de ficar um pouco mais
interessante.
Após a corrida de almoço terminar, eu estava sentada na mesa de
canto para fazer uma pausa. Leo. Quem se chamava Leo nos dias de
hoje? E por que ele estava levando todas essas nozes?
"Ele entrega nozes toda semana, querida. Eu estou em sua rota."
"O quê?", perguntei, girando em meu assento.
"Você perguntou por que ele estava carregando todas aquelas nozes.
Eu suponho que você quer dizer Leo, o jovem que você derrubou esta
manhã."
"Eu disse isso em voz alta?"
"Você disse. Ou é privação do sono ou em sua viagem para o chão
acabou batendo a cabeça e deixou algo solto, mas você está aqui fora
conversando com os assentos de vinil."
Ela veio para sentar-se comigo agora que as portas estavam
trancadas e os funcionários tinham sido enviados para casa. De
segunda a quinta-feira o restaurante fechava após o almoço; só abria
para o jantar de sexta a domingo. As tardes no restaurante eram uma
das minhas memórias favoritas da infância. Era tranquilo e pacífico, e
eu costumava construir cidades com os porta-guardanapos enquanto
minha mãe trabalhava em seus pedidos e faturas, comendo tanta torta
quanto eu pudesse pegar escondida.
Nós tínhamos esse tempo juntas quase todos os dias quando eu era
jovem - minha escola primária era a apenas algumas quadras e era uma
rápida caminhada após o sinal. Eu e meu dever de casa, ela e seu
trabalho, e um por do sol tarde a cada dia. Em algum lugar entre 4:30 e
5:30 da tarde nós arrumávamos as malas e íamos para casa, já que
qualquer "tio" que minha mãe estivesse namorando no momento estaria
chegando em breve, com fome para o jantar. Então, à noite, eu ia perdê-
la um pouco, assim como qualquer criança que tem que compartilhar
sua mãe com um pai, com outras crianças ou com qualquer outra coisa
que ocupe seu tempo.
Ela namorou caras legais e caras chatos, e nenhum deles ficou por
muito tempo. Ela amava o meu pai, eu sabia. Sua fotografia estava
sempre no porta-retratos, não importa o que acontecia com o tio que
estava circulando na época. Ele morreu quando eu não tinha nem um
ano de idade, e ela estava sempre perseguindo esse sentimento com
outro.
De qualquer forma, porém, tardes no restaurante sempre tinham
sido boas.
Aparentemente, porem, elas agora envolviam eu falando em voz alta
comigo mesma. Não estava de volta à cidade nem por um dia inteiro
ainda, e já estava perdendo a cabeça.
"Você não está perdendo a cabeça, querida," minha mãe falou, e
olhei para ela com os olhos arregalados.
"Eu disse isso em voz alta também?", perguntei, encolhendo-me em
meu lugar. "O que diabos você coloca nesse café?"
"Você não disse, mas eu conheço a minha filha. Você está pensando
que esta pequena cidade já está te deixando louca, certo?"
"Possivelmente", eu admiti. Depois de um momento de inspecionar o
topo de linóleo salpicado da mesa, eu calmamente perguntei: "Então,
que rota?"
"Hmm?"
"Você disse rota."
"Quando eu disse rota?"
"Um minuto atrás."
"Eu não acho que disse."
"Mãe."
"Oh, você quer dizer a rota de Leo?"
"Foi você quem mencionou," eu disse, acenando com a cabeça. Sua
memória estava bem, por sinal. Seu senso de humor, no entanto, era
bastante torcido. "Então, o cara com a rota..."
"Sim, querida?", Ela perguntou inocentemente.
"É isso aí, eu vou para casa." Eu comecei a me puxar para fora da
cabine.
"Oh, relaxe. Fique e beba o seu café; Eu estou apenas brincando",
disse ela, acenando-me para sentar de novo. "Então, o que você quer
saber sobre o cara com a rota? Embora eu goste de pensar nele como o
cara com os olhos... você viu seus olhos?"
"São de uma sombra interessante de verde, eu tenho que admitir
isso", concordei, sabendo que até que eu admitisse não íamos chegar a
lugar algum. "Quem é ele?"
"Ele é da Fazenda Maxwell; ele vende seus produtos para os
restaurantes locais. Toda semana ele traz algo especial. Esta semana
foram nozes."
"A antiga Fazenda Maxwell?"
"A própria."
"Alguém está realmente cultivando aquela terra agora?"
"Ah, sim, eles transformaram todo o lugar! Agora tem pomares de
volta na linha, estufas, e os campos estão produzindo de novo. É
simplesmente maravilhoso."
"Quando tudo isso aconteceu?"
"Você não esteve aqui em quantos anos, Roxie? As coisas não têm
exatamente parado só porque você não estava aqui." Seu rosto era
neutro, mas sua voz foi um pouco mais acentuada do que o normal.
"Eu percebi isso," eu disse, girando minha xícara de café no pires.
Senti um pequeno puxão. Eu tinha ido embora há muito tempo. Mas
baixei meus sentimentos, mantendo a atenção no agricultor.
A Fazenda Maxwell era uma lenda nesta parte do país. Inferno, os
Maxwell eram lenda em todas as partes do país. Antigos, de New York.
Dinheiro velho. Família de banqueiros há gerações. Tem uma hipoteca?
Provavelmente foi realizada por um banco Maxwell em algum ponto.
Alugar um carro? Provavelmente garantido por um banco Maxwell em
algum ponto. Investiu em fundos mútuos? Se tem a ver com o mercado
de ações, a família Maxwell Banking da grande Nova York esta
provavelmente envolvida.
E, como todas as antigas famílias abastadas, eles ocasionalmente
gostavam de deixar seu apartamento em Manhattan, ou sua casa à
beira-mar nos Hamptons, ou sua casa de inverno em Palm Beach, e
subir para uma boa vida no campo, desfrutando do rústico e do
antiquado em sua "fazenda".
Fazenda no sentido mais amplo da palavra que se possa imaginar.
O que você pensa quando ouve a palavra fazenda? Dez ou vinte acres
em torno de uma fazenda de família antiga com um celeiro vermelho
resistente, em algum lugar num desses estados dos quais se ouve falar?
Talvez um gato de celeiro preguiçoso. Talvez uma galinha ou duas.
Talvez, se você tiver muita sorte, pode até imaginar uma adorável vaca.
Se você é um pouco menos romântico e um pouco mais consciente,
pode então imaginar uma visão completamente diferente, com centenas
e centenas de acres de plantações, provavelmente de milho ou soja, sem
fazenda antiga ou celeiro. Provavelmente existissem vários românticos
nesta propriedade gigante em um ponto, mas todos eles venderam suas
terras para um enorme conglomerado, e as estruturas foram
derrubadas ou deixadas de lado. Talvez até houvesse um grande
"celeiro", mas definitivamente não há nenhuma adorável vaca.
Mas a Fazenda Maxwell? Era idílica, e parecia o paraíso na terra. No
final de 1800, quando os Maxwells já estavam firmemente
entrincheirados na elite social de Nova York, compraram uma grande
parcela de terreno no Vale do Hudson. Isso não era incomum naquela
época: os Vanderbilt, os Rockefellers, os Carnegies... todos eram donos
de fazendas. Pedaços enormes de terras, com "mansões" de pedra
bonitas e elaboradas, e igualmente completas com belos celeiros de
pedra, pistas de equitação, casas de chá, fontes e gazebos. E,
ocasionalmente, essas fazendas podiam até plantar uma safra ou duas.
A fazendo Maxwell começou como um lugar para ficar longe da
rotina diária de ser rico - como era usual na época. A casa principal e
os celeiros foram construídos no alto de uma falésia, com vista para o
rio Hudson. Os enormes celeiros de pedra foram utilizados
principalmente para o gado de casa, já que ela já foi uma vez uma
fazenda de trabalho. A terra foi usada para agricultura, principalmente
vegetais e pomares, mas a maior parte da área cultivada foi posta de
lado como uma reserva natural. Alguns campos foram apurados para a
caça: enquanto os Maxwells proporcionavam grandes festas para os
seus amigos da cidade, os homens entretinham-se com codorna e
faisão, enquanto as senhoras visitavam os jardins e os pomares de
laranja. Os Maxwells estavam na residência apenas algumas vezes por
ano. O resto do tempo a terra era trabalhada por mãos de jardineiros
contratados, que se certificavam que tudo estivesse sempre pronto para
o povo da cidade. Conforme o tempo passou, a maior parte da terra
entrou em pousio, os campos foram tomados pelos bosques e a casa
permaneceu fechada por anos. Suponho que os Maxwell tivessem
encontrado outros lugares para "fugir".
Com o passar do tempo, a casa e os celeiros caíram em desuso, e a
propriedade tornou-se mais uma propriedade abandonada na periferia
da cidade. Na década de 1970, porem, a nova Sra. Maxwell ficou
interessada na história da família com quem se casara, e começou a
restauração da casa. Ninguém nunca viveu lá por qualquer período de
tempo, mas excursões eram programadas em ocasiões especiais: minha
própria classe da quarta série foi até lá numa viagem de campo para
maravilhar-se ao longo dos pontos de vista, da casa e da grandeza.
Eu vi toda aquela terra que não estava sendo usada, todos os
celeiros não cheios de gado, uma casa de pedra fria e cheia de flores, e
sempre senti que era um desperdício.
"Bem, estou contente de ver que aquela área está tendo uma boa
utilização agora", eu disse.
"Concordo."
"E Leo é o cara que entrega todos os produtos? Bem, isso é ótimo.
Simplesmente ótimo."
"Concordo."
"Será que eles têm um estande no mercado dos agricultores?"
"Sim."
"Bem, talvez eu vá dar uma olhada. É ainda aos sábados, certo?"
"Mmm-hmm."
"Pode ser uma boa ideia ver o que eles têm de produtos da estação,
para o jantar."
"Concordo." Minha mãe tomou um gole de café, mantendo um olhar
sonhador no rosto. Devia estar pensando em sua viagem incrível.
"Vamos para casa", eu disse. "Você pode me fazer um pouco da sua
sopa de legumes, e então eu vou para a cama assim que o sol se pôr."
Eu me arrastei para fora da cabine e peguei minha bolsa. Minha calça
jeans literalmente rangeu enquanto eu caminhava, dura com sumo de
batata seca e água de ervilha, lembrando-me que eu tinha trombado
com o agricultor mais bonito deste lado do país.
"Por que seu jeans está rangendo?", perguntou minha mãe.
Nada, e repito, nada, passa por ela. Exceto os avisos finais da
companhia elétrica. E impostos sobre a propriedade. E a renovação da
carteira de motorista. Mas andar na cozinha e encontrar sua filha de
braços abertos no chão com o rosto de algum cara aleatório no meio de
suas pernas, enquanto nozes e ervilhas estão espalhas ao redor? Ela
não vai perder isso. Ou o subsequente rangido do jeans.
"Não é nada. Vamos para casa."
Eu estou supondo que ela também não vá deixar passar o meu
rubor.

Eu dirigi meu carro e minha mãe levou o dela. Apesar do meu


cansaço, usei os poucos minutos de silêncio (silêncio! Eu tinha quase
esquecido o que parecia, após o restaurante caótico) para fazer um
balanço. Algumas coisas na cidade mudaram claramente desde que eu
morava aqui, e eu tentei realmente observá-las agora.
Era bonito, na verdade. Dirija pelas ruas de Bailey em praticamente
qualquer época do ano e você vai se convencer de que não há uma
cidade mais bonita do planeta. Outono em Nova York? Esqueça. As
chamas de cor laranja e amarelo e vermelho que corriam pela floresta e
transformaram tudo num cobertor crocante de folhas - não havia nada
tão bom quanto isso. Exceto, talvez, o inverno, quando há pilhas de
neve por milhas, todas as estrelas são brilhantes e o luar é de um doce
prateado. Então, novamente, a primavera era muito extraordinária,
quando as flores das macieiras floresciam, o ar ficava suave, quente e
cheio de um maravilhoso cheiro verde. Sim, muita coisa acontecendo
por aqui no departamento de cenário.
Então por que eu estava sempre tão relutante em voltar para casa?
Por que eu estava tão inflexível sobre ter certeza que minha mãe
soubesse que nosso arranjo era temporário? Não deveria ser tão difícil
voltar para cá...
Meus olhos varreram sobre o pitoresco e bonito cenário mais uma
vez. O problema era que Bailey Falls era como areia movediça para
mim. Como se entrasse lixo em seu corpo e, ao tentar tirá-lo, ele te
deixava com um pé molhado, frio e descalço numa poça de sujeira. Era
como um buraco negro, do qual era quase impossível escapar.
Essa era a pequena cidade norte-americana que todos pareciam
querer nos dias de hoje? Eu cresci nela. E, para uma tímida
adolescente, eu estava além de pronta para uma aventura quando
chegou minha hora de sair de casa. E, embora eu não tivesse vivido
aqui desde os dezoito anos, não havia como escapar do alvo escondido
na parte de trás da minha calça. E não importava onde eu fui ou o quão
longe eu viajei... Hey, Roxie... seu passado está chamando! O que será
que a pequena cidade estava pronta para jogar em mim dessa vez?
Eu certamente não posso dizer que tive uma infância ruim. Mas eu
cresci cedo e rápido e, ao longo dos anos, cresceu também meu
ressentimento. Eu fui a clássica criança que se tornou o alvo das
piadas. Pai esquisito e criança estudiosa: todos assistindo a história
desconcertante, mas (às vezes) encantadora. O desdobrar no episódio de
hoje seria: “O que foi que seus pais fizeram para você?” Eu sabia,
reconhecia, eu podia ver meus problemas chegando a uma milha de
distância. Especialmente quando estava na metade dos meus vinte anos
e minha mãe estava na metade de seus cinquenta, e eu ainda estava
limpando suas bagunças.
Eu morava na Califórnia agora, mas estava secretamente
morrendo de medo de acabar me mudando de volta para Bailey. Eu
tinha me definido na Califórnia e estava extremamente relutante a viver
novamente numa cidade que me definiu apenas como a filha de Trudy
Callahan, aquela que cora muito.
Isso realmente não poderia ter vindo em melhor hora, no entanto...
Ok! Eu só não iria deixar esse pensamento ficar sob a minha pele.
Eu faria isso por ela, mas seria só isso.

"É uma boa torta. Realmente boa massa. Banha?" Eu perguntei a


minha mãe mais tarde naquela noite. Ela trouxe para casa o último
pedaço de uma torta da lanchonete, para a sobremesa.
"Como?"
"Tem banha na massa?", Perguntei novamente.
Eu saí um pouco após o jantar, para limpar minha cabeça e pegar
um pouco de ar fresco, e, claro, ela rapidamente veio atrás de mim,
como uma mariposa. Eu tinha percebido logo depois que entrei na casa
que o meu sonho de ir para a cama cedo era exatamente isso: um
sonho. Mas eu tinha que admitir, havia muito ar fresco no Vale
Hudson, e isso era muito melhor do que em Los Angeles.
"Oh, você teria que perguntar a Katie sobre a torta, querida; ela
quem fez." Minha mãe raspou o prato com a parte de trás do seu garfo,
pegando a ultima migalha.
"Você já perguntou a ela por que ela só faz torta de cereja?".
Perguntei, também raspando o prato. Estava muito bom.
"Não."
"Por que não? Você já pensou que, talvez, uma vez que a torta de
cereja é tão fantástica, ela poderia fazer outras tortas? Tão boas quanto
essa, se não melhores?", Perguntei, lambendo meu garfo.
Minha mãe apenas deu de ombros.
Eu explodi. "Mas você administra o lugar! É o seu restaurante! Por
que no mundo a proprietária de uma empresa não pergunta para a
confeiteira porque ela não faz mais tortas?” Eu bati no braço da minha
cadeira para dar ênfase, e meu garfo caiu no chão da varanda.
Ela me olhou por um momento; minha mão ainda estava fechada
em um punho. "Quão chateada você está?"
"Bem chateada." Eu suspirei, colocando meu prato no chão. Tanta
coisa para não deixá-la ficar sob minha pele. Evidentemente ela era
uma lasca do tamanho de um poste telefônico. "Eu só -. Ugh" eu abaixei
a cabeça em derrota.
"Diga, Roxie", disse ela.
"Eu estou aqui. E vou segurar as pontas enquanto você estiver fora.
Mas como eu disse, não estou te socorrendo novamente." Levantei
minha cabeça para olhar para ela, com os olhos cansados.
"Não posso acreditar que ajudar no comércio da sua família está te
chateando tanto. Não quando eu tenho a chance de ir à TV tentar algo
realmente novo e excitante", disse ela.
Fechei os olhos. Eu estava sentindo os efeitos da minha longa
viagem, e não queria uma briga agora.
"Concordo que desta vez é um pouco diferente. Um programa de
televisão não é geralmente o método que você usa para me trazer
novamente para casa, ou corrigir alguma coisa, ou fazer uma chamada,
ou, literalmente, salvá-la quando você inunda o porão porque esqueceu
de desligar a mangueira. Mas eu estou falando do futuro. Quando essas
coisas acontecerem de novo? Não vou vir correndo. Eu tenho a minha
própria vida para cuidar. Eu estou tentando construir uma carreira, de
qualquer maneira."
Ela abriu a boca. Em seguida, fechou. Em seguida, abriu-a
novamente.
"Quando você vai voltar?" Perguntei em voz baixa.
"O produtor disse que eu não serei capaz de saber, algo sobre a
confidencialidade, mas que em caso de emergência, eu seria capaz de
entrar em contato com você ou vice-versa, por isso não acho que-"
"Quando você vai voltar?" Repeti.
"Depende de quão bem eu fou, quão bem tia Cheryl for, se seremos
capazes de permanecer no jogo até o fim ou não, então-"
Eu usei literalmente cada pedaço da minha paciência disponível
para perguntar calmamente mais uma vez: "Quando. Você. Pretende.
Voltar?"
"Setembro. Esperemos que até o Dia do Trabalho."
Três meses. Eu estaria aqui durante todo o verão. Uau. Teria eu
totalmente me transformado novamente em interiorana no momento em
que ela voltasse?
Sentei-me. Eu não era mais aquela garota socialmente desajeitada.
Era uma graduada do Instituto de Culinária Americano. Uma chef
particular em Los Angeles, Califórnia. Era Roxie, uma chef tão talentosa
que era capaz de fazer um pudim tão bom a ponto de Jack Hamilton
fazer uma cara que, eu tenho certeza, somente Grace Sheridan
geralmente conseguia ver.
Eu respirei fundo, centrada, e acenei com a cabeça. "Ok. Durante
todo o verão. Tudo bem."
"Sério?", ela perguntou, parecendo surpresa e aliviada.
Forcei um sorriso. "Eu tenho certeza que tudo vai ficar bem. Estou
exausta, então eu vou para a cama."

Sentei na minha cama de infância, cercada por tudo que foi


importante para mim quando adolescente. Em vez de cartazes de Justin
Timberlake e Edward Cullen, eu tinha um santuário para Eric Ripert e
Anthony Bourdain. Aqueles dois iriam fazer um sanduíche celestial
para qualquer mulher sortuda. Se me perguntassem, eu alegremente
seria o recheio.
Em vez de pompons de cheerleader e imagens do baile de
formatura, eu tinha emoldurado menus de alguns dos meus
restaurantes favoritos em Nova York: O Nomad; WD-50; The Shack
Shake; Pok Pok NY; Union Square Café; Claro Le Bernardin e o acima
mencionado Sammich Ripert / Bourdain.
Enquanto outras meninas na minha escola estavam planejando a
fraternidade que se juntariam no próximo ano na faculdade e qual
vestido usar para o baile, eu estava sonhando com os cogumelos e
mariscos do Instituto de Culinária Americano, na bonita e ensolarada
Santa Barbara. Um mundo de distância da minha cidade natal.
E lá estava eu, de volta na casa eu cresci. Puxei para trás o
edredom, sorrindo enquanto cheirava o sabão caseiro de lavanda que
minha mãe fazia a cada verão, quando os jardins de ervas no quintal
ficavam grossos com aroma picante.
Ela esqueceu de me deixar um bilhete na porta, mas fez questão
que eu tivesse lençóis limpos.
Eu escorreguei entre eles, apaguei a luz na minha cabeceira e vi
como a sombra se tornou familiar. O brilho do velho barracão ainda
brilhava pela janela de trás, fazendo as lantejoulas dançarem na fita
azul que eu tinha ganhado no concurso de pudim na feira do condado.
As bonecas na prateleira acima da escrivaninha ainda estavam
alinhadas, suas formas mudando um pouco quando o luar caiu sobre
elas. Cobertas de azul e prata, elas esperavam serem puxadas para fora
da prateleira novamente. Eu podia ouvir os grilos, terminando a sua
primeira sinfonia da noite, sabendo que eles só tomariam um breve
intervalo antes de seu show continuar até o amanhecer. Eu capotei e
caí na cama de solteiro, confortada e um pouco de melancólica ao saber
que nada havia mudado.
Lembrei-me das noites que passei neste cômodo, lutando para cair
no sono, lutando para relaxar e tentando desesperadamente conseguir
algumas horas de sono antes do alarme disparar. Me senti exatamente
a mesma. E, na hora certa, o último trem de Poughkeepsie desceu o rio
Hudson, soando seu apito solitário em seu caminho para a Grand
Central na cidade, seu som marcando o início da parte mais solitária da
noite. Quando eu sabia que todo mundo estava dormindo e eu não
podia mais fingir que não era a única pessoa ainda acordada.
Eu odiava aquele som.
Eu fracassei mais uma vez, sentindo as bordas de pura exaustão
começar a me puxar para baixo. Eu ainda não podia acreditar que
estava de volta aqui.
Mas era só durante o verão. E então eu ligaria para Grace Sheridan,
e cobraria sua promessa de apresentar-me a algumas pessoas melhores
para cozinhar.
E, se eu tivesse sorte, iria encontrar alguma empresa no mesmo
período.

Quando acordei na manhã seguinte, minha mãe já tinha ido. Fiquei


imensamente grata por não estar oficialmente na escala de horário de
trabalho do restaurante ainda, uma vez que o meu cérebro ainda estava
funcionando no horário do Pacífico. Enquanto eu lutava para me sentir
mesmo remotamente alerta, o espectro da Roxie do ensino médio surgiu
de novo, então eu chamei reforços. Literalmente.
Minha melhor amiga Natalie e eu tínhamos nos conhecido anos
atrás, quando éramos calouras na ACI em Santa Barbara. Crianças de
olhos arregalados de dezoito anos de idade, ambas fora de casa pela
primeira vez, nos ligamos rapidamente e encontramos nossa outra
amiga Clara na aula de assados básicos, no primeiro dia de escola.
Natalie e Clara saíram da ACI após seu ano de calouras, não tendo a
paixão pela comida que eu tinha, mas eu mantive-me próxima a elas
mesmo quando nos espalhamos por todo o país. Natalie voltou para sua
cidade natal de Manhattan, enquanto Clara voltou para Boston.
"Menina. O que foi?" Natalie respondeu no segundo toque.
"Oh, o costume. Cozinhando. Afiando minhas facas. Descansando
em meu quarto de infância".
"Você tem um show de cozinha em Nova York ou algo assim?"
"Tenho um show de cozinha em Bailey Falls," eu disse, me
preparando para o grito dela.
Natalie não me decepcionou. Dez segundos depois, o grito ainda
estava tocando em meus ouvidos.
"Espere um minuto, espere um minuto maldito. Você está em Nova
York? Quando? Como? Por quê? Quando? Legal!" Outro grito. "Está
bem, está bem. Pare de gritar e diga-me o que aconteceu!"
"Bem, tenho certeza que eu não sou a única que está gritando," eu
lembrei a ela, rindo.
"Bem, bem, estou calma. Diga-me o que está acontecendo", disse ela
em voz cantada. Natalie animada significava cantoria. Embora, se eu
parasse para pensar sobre isso, tudo para Natalie significava cantoria.
Eu a presenteei com histórias de chantilly-manteiga e textos de
demissão, bolos de limão e pedaços de Hollywood. Contei algo sobre
corridas incríveis e sobre socorrer mães, também. Ela ficou triste pela
perda dos meus clientes, mas não escondeu sua emoção por eu estar
mais perto agora. Pelo menos por um tempo.
"Você tem que vir para a cidade o mais rápido possível! Ou eu
poderia ir vê-la; Eu nunca tenho a chance de sair daqui."
"Você nunca quer sair da cidade, Nat." Eu ri. Nascida e criada em
Manhattan, ela pensava que o país parava no West Side Highway e não
começava novamente até que você aterrissasse no LAX. Apenas uma
viagem ocasional pelo "país" era permitida: Bridgehampton.
"Mais uma razão para que eu saia da minha ilha e vá vê-la. Além
disso, depois de ouvir você reclamar sobre a sua cidade natal durante
todos estes anos, ter a chance de realmente te ver nela? Isso certamente
vale um bilhete de trêm."
"Guarde o bilhete. Na verdade, não guarde o bilhete, envie-me um.
Eu já estou morrendo por uma chance de voltar para a civilização. Se
eu estiver vestindo um chapéu flexível grande e falando poeticamente
sobre aromaterapia quando você finalmente me ver, vá em frente e me
amarre numa camisa de força!"
"Os grandes chapéus estão totalmente de volta, Rox", ela respondeu
prontamente. "Não se desespere. Você é muito mais descolada do que
pensa."
Eu pigarreei em resposta.
"E isso não pode ser tão ruim, certo? Quero dizer, pelo menos você
está no mesmo fuso horário agora. Não há nada nem ninguém que
pareça promissor? Há quanto tempo você está ai, mesmo?"
"Eu só estou passando agora a marca de vinte e quatro horas", eu
disse a ela. "E muito poucas dessas horas foram gastas dormindo,
portanto poderia ser uma alucinação, mas eu tive um encontro
interessante na parte de trás do restaurante..." Eu parei, pensando em
nozes escorregadias.
"E?", Ela perguntou.
Então eu enchi seus ouvidos acerca de Leo e sua rota, talvez
deixando de fora alguns dos mais embaraçosos detalhes relacionados
com a água de batata.
"Ooooh, um namorado de verão parece promissor!", ela cantou,
lançando-se numa versão de "Summer Lovin”.
"Whoa, irmã. A minha posição sobre namoro não mudou."
Eu não tinha casos de uma noite. Era mais como.. noites
suficientes para conhecer o corpo do rapaz e que o ele gostava, e para
me certificar de que ele soubesse do que eu gostava, mas não o
suficiente para chegar a algo sério. Fácil. Simples.
"Sim, mas você vai ter algum tempo livre neste verão. Talvez Leo
fosse uma boa companhia." Eu praticamente podia vê-la balançando as
sobrancelhas.
“Quem sabe? Minha carreira ainda é meu foco, por isso, se eu
precisar me distrair, eu vou escolher alguém que está no modo de
espera. Sem cordas, sem anexos. Apenas fácil e divertido.”
Ela ficou em silencio por um momento. “Isso é totalmente como um
cara iria definir as coisas.”
“Sim, se um cara pegar mulheres aleatórias por toda a cidade ele
estão apenas sendo um cara. Mas se uma garota faz isso ela é sacana,
não é?” Isso provavelmente era como as pessoas de Baiey Falls iriam
reagir. Eu me perguntei novamente se vir passar o verão aqui tinha sido
um grande erro. Mas, como de costume, Natalie sabia do que eu
precisava.
"Eu acho que é meio brilhante, na verdade", disse ela.
"Isso é bobagem até mesmo para falar. Dificilmente será o foco da
minha vida. Agora, o que há com você? Quebrou o coração de alguém
ultimamente?"
Nós conversamos por mais de uma hora, até que eu comecei a me
sentir mais acordada e mais como eu mesma. E culpad, por não gastar
cada momento possível com minha mãe para conhecer o restaurante
antes dela mãe dirigir-se para o pôr do sol. Eu prometi que iria
conversar com Natalie novamente uma vez que eu tivesse as coisas sob
controle, e desliguei.
Passei os próximos dias reconhecendo o restaurante da família,
anotando as ideias da minha mãe sobre tudo o que eu precisava saber
para manter as coisas funcionando. Quem eram seus fornecedores,
quando ela fazia os pedidos, quem tinha as chaves e poderia fechar,
quando eram feitas as entregas, etc.
Enquanto eu me dirigia para a mesa de preparação, ouvi alguém
dizer o nome de Leo. Havia uma pequena janela entre a cozinha e a
estação onde as garçonetes ficavam, onde eram guardados todos os
itens secundários para as mesas, como limões para chá gelado,
guardanapos, etc. Me esgueirei mais próximo, ficando fora da vista
estilo ninja. Sandy e Maxine eram sempre boas para fofocas locais, e eu
queria ouvir tanto sobre Leo quanto pudesse. Eu estava determinada a
me redimir da próxima vez que o visse, e manter uma conversa real,
para variar.
"Ele é simplesmente, caramba, ele é só... caramba!", disse Ruby,
desmaiando.
Maxine concordou. "Eu sei, eu entendo perfeitamente o que você
esta tentando dizer. Você viu que o pepino que ele trouxe na semana
passada? Deu-me ideias."
"Garota, se Roy tivesse um pepino tão grande, você acha que eu o
teria deixado?"
"De jeito nenhum! Melhor que ele foi embora, porem, e você sabe
disso."
"Eu faço. Eu também sei que nunca vi Leo em torno da cidade com
ninguém. Talvez ele esteja apenas esperando a garota certa."
"E você acha que a garota certa para ele é uma garçonete com
cinquenta e sete anos de idade de Bailey Falls?"
"Ponto feito. Mas se eu fosse trinta anos mais jovem, eu me jogaria
para ele."
Maxine bufou. "Você definitivamente teria que ser trinta anos mais
jovem para isso. Um pepino daquele tamanho iria matá-la agora.”
"Mas seria uma ótima maneira de morrer!"
Sem namorada. Hmmm... Eu definitivamente teria que estar
disponível cada vez que um garoto de entrega entrasse pela porta dos
fundos. Estritamente por causa do pedido de desculpas, claro.
E também pode ser por isso que eu me encontrei no mercado dos
agricultores no sábado de manhã.
Quero dizer, talvez não. Eu estava olhando para ver o que era de
época, quais eram os produtos mais frescos. Afinal de contas, a
excelência é a minha área.
Ok, talvez eu estivesse procurando ver se certo alguém com certo
par de olhos e certo par de mãos fortes e capazes estava lá. Para que eu
pudesse falar com ele como uma adulta neste momento.
Ele estava lá, de fato, e tinha a maior e mais longa fila de todos os
fornecedores. Claro.
Notei também o quão diferente o mercado dos agricultores estava
desde que eu vivia aqui. Naquela época, minha mãe e alguns outros
chefes mantiveram-no vivo fazendo comidas típicas locais, mas era uma
coisa meio hippie. Eram, literalmente, algumas mesas com tomates
gigantes e geleia caseira (melhor geleia de todas!) e, ocasionalmente,
alguém iria trazer alguns ovos. Era realizada no estacionamento atrás
da igreja Metodista, e nunca houve mais de dez pessoas ao mesmo
tempo comprando, incluindo os agricultores; geralmente terminava com
todos sentados na parte de trás de um caminhão, comendo todo o
caramelo de milho restante.
Mas este lugar estava crescendo! O mercado tinha sido transferido
para a periferia da cidade, num antigo celeiro que era mais velho do que
a própria cidade, na época quando tudo no Vale do Hudson tinha sido
terra. Era enorme, com vigas de carvalho branco e caibros, mas ainda
tinha cara de cidade pequena. E agora era a casa do Mercado dos
Fazendeiros de Bailey Falls, cheio de estandes de fornecedores locais.
Cada cabine tinha o nome da fazenda exibido com orgulho sobre
sua mesa, mostrando também o que eles estavam produzindo. Diversos
vegetais estavam por toda parte, sendo nabo e mostarda verde os mais
proeminentes. Havia alface de todas as variedades, bem como cenouras
em uma profusão de cores - não apenas a laranja, mas também
cenouras vermelhas, roxas, amarelas... Lindas e espalhadas sobre suas
cestas, só à espera do cliente. Vegetais de raiz, cebolinha, alho e cheiro
verde, tudo maravilhoso e delicioso, e tudo disponível apenas no final
da primavera. Talos de espargos, finos e macios, imploravam para
serem levados e, em seguida, preparados com o azeite mais verde.
Morangos frescos, ainda com suas vinhas em anexo. E ruibarbo
fresquinho...
Mas os mercados de agricultores já não eram apenas o território de
produções locais pequenas. Um bom mercado dos agricultores podia
oferecer quase tudo o que era necessário para uma semana de grandes
refeições. Ovos, frango, carne de porco, linguiça, carne de gado, etc. Eu
circulei as barracas, tomando nota de tudo o que eu queria
experimentar enquanto estava na cidade. E, conforme estava
circulando, encontrei-me de volta onde comecei: a grande e longa fila
para Leo.
Desde que Leo fazia entregas semanalmente no restaurante, ele
apenas seria educado e diria oi. Usando o anonimato da multidão, eu
dei-lhe uma olhada adequada. Ele deveria ter 1,80m, alto e magro como
alguém que nadou e correu em pista em vez de jogar futebol. Tinha um
sorriso rápido e fácil. Eu vi como ele interagia com as pessoas que
conhecia e, aquelas que não conhecia, fazia questão de parar para
apertar as mãos. E quando veio ao redor da mesa para ajudar uma
velhinha levar uma cesta para seu carro, eu não pude deixar de sorrir.
Leo não era só um cara hipster quente, ele era doce. Combinação
perfeita.
Enquanto ficava na fila para dizer olá, ouvi meu nome ser chamado
e me virei para ver um homem muito bonito se aproximando.
Chad Bowman?
Oh, cara! O capitão da equipe de natação Chad Bowman. Presidente
da classe sênior Chad Bowman. Eleito o melhor olhar, melhor corpo, e
maior probabilidade de sucesso Chad Bowman. Esse Chad Bowman!
E ele está andando na minha direção. A última vez que o vi foi na
formatura, depois que ele assinou meu anuário. Então ele saiu com
Amy Schaefer, a garota mais bonita da minha escola, provavelmente
para fazer sexo. Da última vez que o vi, eu posso inclusive ter babado
um pouco.
"Roxie? Puta merda, Roxie Callahan!" Ele me pegou em um abraço
de urso gigante, puxando-me fora de meus pés. "Eu não vi você desde
que, oh homem, era a graduação?"
Ele cheirava à protetor solar, mel e algo intangível. Era o cheiro do
sucesso? O aroma da perfeição? Da boa vida, da incrível leveza de ser
bonito? O cheiro de saber quem você é e o que você quer e como obtê-
lo? Porque um cara como este não aceitaria um não como resposta. Ele
não conhecia o significado de ‘timidez’ ou ‘nervosismo’. Ele só sabia o
significado de ser incrível.
Eu inalei mais um pouco da realeza do ensino médio antes que ele
pudesse me colocar para baixo e sua esposa incrivelmente linda, sem
dúvida, aparecer e perguntar por que ele estava abraçando uma garota
da cidade que vestia uma camiseta que dizia ‘não é enchimento de
creme’.
"Chad, é ótimo te ver. Como você está?", Eu consegui falar quando
ele finalmente me colocou no chão. Eu não estava gaguejando: a Roxie
da Califórnia tinha voltado!
"Eu estou bem, muito bem, na verdade", disse ele com um sorriso
largo. Deus, ele ainda tinha dentes perfeitos. "E quanto a você, o que
está fazendo de volta?"
"Oh, apenas ajudando minha mãe. Ela está saindo da cidade por
um tempo para fazer-"
"The Amazing Race, eu ouvi sobre isso!", Ele exclamou, olhando por
cima do ombro, sem dúvida, para a sua mulher.
"Ela disse a metade da cidade, eu aposto." Eu suspirei, desfrutando
deste momento ao sol com Chade FODÁSTICO Bowman. Olhei por cima
do outro ombro. Ela seria pequena e morena? Ou alta e loira?
"Ela disse a metade da cidade, e essa metade contou para a outra.",
ele riu, acenando para alguém sobre o meu ombro. "Roxie, eu adoraria
apresentar você..."
Virei-me para finalmente ver...
"...meu marido."
Alto e loiro, isso é o que era!

Acabei tomando café num pequeno café no celeiro com Chade


Bowman e seu marido, o igualmente charmoso e bonito Logan. Embora
no meu ensino médio eu sempre estivesse incrivelmente nervosa para
sentar à mesa dos ‘descolados', me encontrei surpreendentemente à
vontade. Talvez eu pudesse me lembrar quem eu era neste verão, depois
de tudo.
"Eu não posso acreditar como é fácil falar com você", admiti, dando
uma mordida grande. Bagels da Costa Oeste, não tinha nada melhor do
que estes. Nenhuma coisa.
"Por que não seria?", Perguntou Chad, parecendo confuso.
"Você é Chad Bowman", respondi simplesmente, lambendo uma
bola de creme de queijo do meu polegar.
"E?", Ele perguntou depois de uma pausa.
"Você é, tipo, o cara. E eu estou sentada conversando com você
como se eu fosse uma garota legal dos velhos tempos! Se ainda
estivéssemos no colégio, suponho que você poderia querer que eu te
ajudasse com a lição de casa - o que na verdade não faz sentido, uma
vez que você estava na sociedade de honra. Quero dizer, realmente,
quão abençoado pode ser um cara?"
"Oh, muito! Bem abençoado!", acrescentou Logan, o que me fez rir.
"Eu me lembro que você era um pouco tímida na época", disse
Chad, ignorando o comentário de Logan, apesar da cor rastejando em
seu rosto.
"Isso é como dizer que você era um pouco lindo. Felizmente eu
mudei, embora admita que tive um pouco de aflição nervosa enquanto
dirigia para a cidade ontem, perguntando-me se tudo seria como
antigamente." Certamente eu tinha pensado em lutar por nozes e
ervilhas no chão. Mudando de assunto sem problemas, eu perguntei:
"Então, como você está? O que você tem feito desde a escola?"
"As coisas estão muito boas. Voltamos para a cidade há cerca de um
ano."
"E de onde você é, Logan?", Perguntei.
"Iowa, mas cresci em Manhattan".
"Uau, isso é uma grande diferença."
"Totalmente. É por isso que, depois que Chad me trouxe até aqui
para conhecer os pais dele e eu tive um olhar para a vida ao longo do
Hudson, eu sabia que este era o lugar onde eu queria viver".
Chad entrou na conversa. "Estamos reformando uma casa na
Maple. Lembra-se da antiga casa rosa na esquina?"
"Aquela com as cortinas de renda balançando para fora daquelas
janelas quebradas?" Eu fiz uma careta. Aquela casa era medonha.
"Essa mesmo, mas você deve vê-la agora. Ela já está bem diferente.
Nós estamos dando uma festa de pintura na próxima semana, você
deve vir!"
"Uma festa de pintura?"
"Sim, todas as paredes são novas, e os pisos estão sendo lixados
esta semana. Agora é hora da pintura", explicou Logan. "Por favor,
venha."
Eu sorri e levantei o meu pão em solidariedade. "Estou dentro."
E simples assim, eu tinha um encontro com Chad Bowman. E seu
marido, claro. Eu tinha uma imagem mental muito suja do que um
encontro real com estes dois homens lindos poderia implicar, então
arquivei tudo isso para uma noite sozinha, tendo um arrepio
deliciosamente impertinente.
Eu conversei com os dois por outra meia hora, recuperando o atraso
em todas as fofocas do ensino médio, da cidade e fofocas em geral.
Chad tinha saído da nossa pequena cidade e ido para Syracuse para
cursar seu MBA. Ele estava trabalhando para uma empresa financeira
em Wall Street quando conheceu Logan numa empresa concorrente.
Eles saíram, se apaixonaram e decidiram se mudar. Investiram tudo o
que tinham e abriram uma empresa de consultoria financeira, e agora
Chad Bowman ajudava idosos com seus planos de aposentadoria.
"Então agora você está de volta de Los Angeles para cuidar do
restaurante enquanto sua mãe estiver fora da cidade. Você está aqui
apenas para o verão, ou..." Chad perguntou quando estávamos
terminando nosso lanche.
"Existe alguém que não sabe o motivo pelo qual estou aqui?",
Perguntei, fazendo um show de olhar ao redor.
Chad enrolou seu cardápio e segurou-o em sua boca como um
megafone. "Oh, por favor, como você pode não se lembrar de como as
notícias viajam rápido nesta cidade? Por exemplo, como no mundo você
conseguiu prender o fazendeiro Leo entre suas coxas?"
Engasguei com o meu chá. "Fale baixo!", eu sussurrei-gritei,
horrorizada.
"Oh, por favor, você deixou todas as solteiras da cidade chateadas,
para não mencionar a metade das casadas. Todo mundo quer saber
como você fez isso acontecer, e no seu primeiro dia de volta à cidade,
não menos!", Exclamou Chad, e Logan assentiu com a cabeça.
"Ok, sério, pare. Eu escorreguei e caí, e sem querer acabei
derrubando-o também. Eu não sei nada sobre ele, exceto que ouvi dizer
que trabalha na Fazenda Maxwell..."
"Trabalha na Fazenda Maxwell?", interrompeu Logan.
Eu balancei a cabeça, continuando, "...o que eu acho ótimo. Eu não
posso acreditar que esses sangues azuis deixaram aquela terra
abandonada por tantos anos. Que desperdício! E se ele trabalha lá e
está ajudando aquela família a fazer algo de bom para variar, em vez de
apenas ficarem sentados contando seu dinheiro, então bom para ele."
Eles ficaram em silêncio.
"Ter uma fazenda, ha! Não é como se um Maxwell fosse sujar as
mãos – esse seria um dia para se ver, se acontecesse."
Quando fiz uma pausa para saborear meu chá, duas mãos de
repente apareceram em meu campo de visão. Ásperas. Fortes. E...
sujas? Estas mãos colocaram uma pequena cesta na mesa, cheia de...
ervilhas. Oh homem! Olhei para Chade e Logan, que pareciam
positivamente encantados com o rumo que esta manhã estava tomando.
Droga.
Eu suspirei, em seguida, virei-me lentamente no meu lugar para
encontrar o Leo em pé atrás de mim, encarando-me com um olhar
igualmente encantado.
"Seu sobrenome é Maxwell, não é?", Perguntei, olhando em seus
olhos.
"Oh sim", respondeu ele, certificando-se de balançar as "sujas"
mãos de fazendeiro. "Eu trouxe algumas ervilhas. E as colhi com
minhas próprias mãos de sangue azul." Seus olhos dançaram em
diversão.
Peguei as ervilhas e agradeci. Levantei-me e me virei em direção a
ele, para pedir desculpas pelo o outro dia e, agora, pelos comentários
desagradáveis que tinha acabado de fazer. Mas, quando me virei,
tropecei na perna da cadeira e minha testa bateu em seu peito
enquanto eu caía sobre ele, levando-nos para o chão mais uma vez -
ervilhas voando por toda parte novamente e tudo. Só que desta vez eu
aterrissei em cima dele.
De cara entre suas coxas.
Merda!
Chad Bowman e Logan O'Reilly aplaudiram e tiraram fotos.
Os próximos momentos se desdobraram em câmera lenta: aquelas
mãos ásperas sobre os meus ombros me levantaram e escovaram meu
cabelo do meu rosto, e um canto de sua boca levantou novamente
quando ele me ajudou a levantar conforme era capaz, considerando
nossa posição. Ele gemeu quando se sentou, sem dúvida porque o meu
corpo congelado ainda estava envolto no dele. Sua risada ecoou
enquanto ele observava as ervilhas que se agarravam aos seus
músculos do peito. E então eu vi o flash de vergonha em seus olhos
quando ele me viu olhar ao redor freneticamente, tentando descobrir
como reunir todo o resto de dignidade que ainda me restava.
Eu podia sentir as pessoas me observando. Eu sabia que a história
estaria por toda a cidade dentro de uma hora - não havia nada melhor
para fazer em Bailey Falls do que fofocar sobre a filha desajeitada de
Trudy. Que estava de volta na cidade e, num único dia, já tinha se
metido em confusão duas vezes. Ainda no chão, enrolada com esse
homem lindo, eu podia sentir meu velho eu me dizendo para correr e
me esconder, e fingir que isso nunca aconteceu.
Foda-se o velho eu!
"Então, era essa sua ideia de uma oferta de paz?", Perguntei,
arrancando uma vagem de ervilha de seu cabelo loiro areia e girando-a
entre meus dedos. Para o registro, eu ainda estava enrolada em toda a
sua metade inferior.
"Acho que sim", ele riu. "Embora tecnicamente tenha sido você
quem literalmente se jogou em mim, duas vezes agora. Não é você quem
deveria estar me oferecendo alguma coisa?”. Seus olhos eram quentes e
um pouco desafiadores. Ele parecia estar me pedindo para jogar.
Ok, garoto da fazenda, vamos jogar!
Apoiei minha mão sob o meu queixo, como se estivesse sentada
confortavelmente numa cadeira ao invés de pairando sobre suas partes.
"Eu tenho metade de um pão na mesa ali em cima. Você está convidado
a dividi-lo comigo. Mas, antes de eu comer sua baguete, nós deveríamos
nos apresentar adequadamente, você não acha?"
Ele lambeu seu lábio inferior. Eu quase fiz o mesmo. Eu queria
lamber o lábio inferior dele até o final dos tempos, com certeza.
"Roxie".
"Leo".
"Oh meu Deus!" Chad falou da mesa acima. Olhei para ele e fiz uma
careta, imaginado a cena que Chad e Logan estavam observando:
engraçada e ridícula eram dois bons adjetivos para ela, pensei.
Compreensível. Nós estávamos cobertos de ervilhas.
Feitiço quebrado, nós nos desembaraçamos e, em seguida,
recuperamos as ervilhas que estavam espalhadas pelo chão do celeiro.
Leo me ajudou a levantar, mantendo a mão na minha cintura meio
segundo mais do que o necessário. Enfrentamos a multidão - que não
tinha ajudado a recuperar uma única ervilha - nos assistindo com
sorrisos largos.
Olhei para o meu prato. "Opa, mais como um quarto de uma
baguete. Mas diga uma palavra e ela é toda sua."
"Eu vou passar", ele respondeu, levantando uma sobrancelha. "Por
agora."
"Posso pelo menos comprar-lhe uma xícara de café, para pedir
desculpas por tudo o que derrubei em você?"
Ele olhou por cima do ombro em direção ao estande da Fazenda
Maxwell. A fila ainda era longa. "Eu preciso voltar; manhãs de sábado
são sempre ocupadas." Ele parecia genuinamente arrependido de ter
que recusar minha oferta. "Te vejo depois?"
"Certo. Eu estarei aqui durante todo o verão", eu disse. Pela
primeira vez, sem um pingo de resmungo.
Ele sorriu, acenou com a cabeça, em seguida, disse tchau para os
caras. Quando ele se afastou por entre a multidão, afundei de volta na
minha cadeira com um suspiro, cutucando o meu pão.
"Ele é solteiro, você sabe," Chad murmurou, fazendo-me olhar para
cima do meu prato.
“Não que seja da minha conta, mas obrigada", eu disse
afetadamente. "Você é tão mau quanto as garçonetes no restaurante.
Eu recebi um relatório semelhante delas." Um relatório que elas não
sabia que estavam compartilhando comigo, mas ainda assim...
"Ele não namora", acrescentou Chad, com o rosto impassível.
"Perfeito. Nem eu," Eu ronronei, observando Leo atravessar o
celeiro.
"Claro."
Nenhum deles ofereceu qualquer informação adicional, então eu
afastei meu olhar do traseiro de Leo, que era magnífico, e voltei a
encarar meus companheiros de bagel. Suspirei. "Ok, eu vou morder a
isca. Ele não namora, nunca? E como você sabe disso?"
"Ele não saiu com ninguém desde que chegou à cidade", disse
Logan. "E é por isso que muitas das senhoras aqui estão sempre
migrando para o seu estande no mercado. Certamente não é apenas
para comprar legumes", acrescentou Chad.
"Eu não tinha notado," disse a eles.
"Olhe para o nariz dela, não para de crescer e crescer", disse Chad,
com olhos divertidos.
"Eu posso ter notado que a fila dele era um pouco mais longa do
que a da maioria," concedi.
"Se Deus quiser", Logan murmurou.
"Pare com isso." Eu suprimi uma risadinha.
"Para o registro, quando eu disse que ele não namorava, isso não
significa necessariamente que ele não faz... você sabe...", Disse Chad
significativamente.
"Ele pode fazer você sabe o tempo todo, mas é muito discreto,"
Logan entrou na conversa.
Eu consegui permanecer em silêncio, mas debaixo da mesa eu cavei
minhas unhas em minha palma. Todos os três de nós agora olhávamos
para a barraca onde Leo estava encantando as calcinhas da Sra
Sherman, uma aposentada de oitenta anos de idade e conhecida como a
Elizabeth Taylor local. Eu mencionei que seu nome completo era Sra.
Kitty Chase Bocci Billings Cole Billings Hobbs Sherman? Ela gostava
tanto de Mr. Billings que se casou com ele duas vezes. E agora ela
estava batendo as asinhas em torno Leo.
Que naquele momento ostentava um sorriso tímido e estava
travando olhares comigo.
"Hmm," eu disse, mastigando um pedaço do meu bagel. Será que eu
tinha encontrado minha diversão de verão? Eu sempre tive uma
fantasia com fazendeiro, um resquício de assistir reprises de Little
House. E santo Almanzo Wilder, este agricultor era um espetáculo.
Eu disse adeus a Chade e Logan e fui para o restaurante, onde era
esperada para trabalhar no turno do almoço. Nada de encontros, hein?
Enquanto dirigia de volta ao restaurante, cantarolava uma musiquinha.

“Summer loving had me a blast...” (O amor de verão me detonou...)

Mas todos os pensamentos de amor de verão foram embora quando


eu estacionei atrás da lanchonete, porque lá estava a minha mãe em pé
na porta de trás, pano de prato na mão e um sorriso sarcástico no
rosto. "Como foi no mercado dos agricultores?", Ela perguntou, sua voz
cheia de alegria.
"Cheio de legumes", eu respondi, sentindo meu rosto queimar
enquanto eu me perguntava como no mundo que ela já sabia?
Cidades pequenas. Pelo amor...
Ao longo dos próximos dias, cada olhar de cumplicidade e olhar
furtivo me lembrou do quanto as pequenas cidades gostavam de
fofocas. Minha mãe me encantou todos os dias, dizendo-me o que tinha
ouvido: que eu empurrei Leo atrás de uma barraca de ervilha no
mercado dos agricultores e me enrosquei com ele no chão; que tinha lhe
oferecido meu pão repetidamente, recusando-me a aceitar um não como
resposta; ou que tinha sido vista atrás do mercado ajudando-o a
carregar seus vegetais, e fui pega segurando seu pepino. Esse era o meu
favorito.
Mas, enquanto minha mãe queria se concentrar em se eu
conseguiria permanecer em pé neste verão onde quer que Leo pudesse
estar, eu estava tentando deixar as coisas prontas no restaurante, para
ter uma transição mais suave quando minha mãe finalmente saísse de
“férias”. Eu também estava respondendo a todos os tipos de perguntas
do público, intrigado sobre como era ser uma chef particular em Los
Angeles. "Será que eles comem mais do que apenas os brotos de feijão?"
"Você já conheceu Jennifer Aniston?" "É verdade que você vê estrelas de
cinema em toda parte, até no posto de gasolina?" Aparentemente
aposentados assistem um monte de fofocas sobre Hollywood. Mas não
tinha problema. Porque eu estava aqui, determinada a fazer o melhor
possível com a situação.
Quando misturei a carne e o queijo velveeta triturado para fazer um
cozido junto com a couve-flor, eu disse: "Mamãe. Sério. Com todo o
queijo incrível que você poderia estar usando, alguns até mesmo,
literalmente, do outro lado da estrada, e você ainda está usando
velveeta?"
"Pessoas comem o que gostam, Rox", disse ela, picando repolho
para uma salada que ela sobrecarregava com um molho grosso de
maionese. "Você não pode ser tão esnobe com comida."
"Querer usar um queijo de verdade me faz esnobe?"
"Isso e o fato de que seus olhos estão prestes a sair do seu rosto por
causa da maneira como eu estou fazendo minha salada de repolho",
disse ela, sem nem mesmo ter que se virar para ver o meu rosto.
Desfiz minha careta. "Tenho uma grande receita de salada de
repolho. Talvez eu pudesse experimentá-la algum dia?" Ofereci.
"Você sabe que a minha salada de repolho é a receita da família,
certo?"
"Eu sei, e sei que as pessoas adoram ela, mãe. Eu apenas pensei
que talvez pudéssemos tentar algo novo, fazer uma mudança e..."
"Hey, Albert!" Minha mãe gritou para um senhor mais velho sentado
na ponta do balcão.
"Como está, Trudy?", Ele respondeu, sem levantar os olhos do
jornal. Albert vinha todas as tardes desde que eu conseguia lembrar,
demorando-se depois do almoço para ler os quadrinhos.
"Qual é o seu prato favorito aqui?", perguntou ela.
Revirei os olhos para a pilha de pedaços de velveeta.
"Salada de repolho", respondeu ele, e ela se virou para sorrir
lindamente para mim.
"Hey, Albert!", Eu gritei de volta.
"O que há, Roxie?"
"Se houvesse um novo prato no menu, talvez um tipo diferente de
salada de repolho, você experimentaria?"
"Claro, eu amo todos os tipos de salada de repolho", ele respondeu,
sem tirar os olhos de seu jornal.
O sorriso da minha mãe caiu.
"Hey, Albert?", Ela gritou, sua voz consideravelmente mais doce.
"Sim, Trudy?"
"Você diria que, embora ocasionalmente pudesse gostar de tentar
algo novo, há algo a ser mantido sobre o que é tradicional? Sobre ter o
que você gosta quando você gosta?", Ela perguntou.
"Claro que sim", respondeu ele.
Minha mãe é a primeira pessoa na história que tem arrogância
enquanto faz retalhamento.
"Hey, Albert," eu o chamei novamente.
"Sim, Roxie?"
"Você diria que, por vezes, todos nós tendemos a ficar um pouco
preguiçosos e pedimos a mesma coisa todos os dias simplesmente
porque é o que estamos acostumados, e que, talvez, se alguém criasse
algo novo e inovador, isso pode vir a ser exatamente o algo novo que
você estava procurando, sem sequer saber que estava procurando?"
"Pode apostar."
A cabeça de repolho foi atirada no balcão, fazendo com que minha
pilha de queijo neon tombasse.
"Hey, Albert!" Minha mãe gritou.
Mas agora Albert tinha outras ideias. "Agora chega! Eu estou
tentando ler meus quadrinhos. Se eu quisesse ouvir este tipo de briga,
poderia ter ficado em casa com a minha mulher!"
Um farfalhar de jornal. Um barulho como um copo de café irritado
batendo num pires inocente. Retomamos nossos serviços em silêncio.
"Só para você saber, você pode fazer alterações, se quiser", disse ela,
poucos minutos depois.
"Obrigada."
"Quem sabe, talvez algum sangue fresco é apenas o que este lugar
precisa."
"Mamãe..."
"Quando eu herdei este lugar de seu avô, eles ainda serviam língua
no menu. Você pode imaginar?"
"Mamãe-"
"Então, quando chegou a minha vez, eu mantive algumas das
velhas receitas, é claro, mas adicionei algumas coisas aqui e ali,
coloquei alguns ingredientes aqui e ali, e ao longo do tempo renovei
quase todo o menu! Então, você vê..."
"Mamãe. Eu não vou ficar", eu disse baixinho, me movendo ao redor
do balcão para ter certeza que ela me via. "Fim do verão, e isso é tudo.
Ok?"
Parecia-me como se ela quisesse dizer mais alguma coisa, mas no
final, simplesmente assentiu. "Hey, Albert, quer mais café?", Ela
chamou.
"Eu pensei que você nunca ofereceria."
Sufoquei uma risada quando ela saiu para conversar com ele,
mexendo o molho de queijo. Meu celular vibrou e eu vi que tinha um
alerta do Facebook. Um novo pedido de amizade, de Chad Bowman! Eu
rapidamente o aceitei, e rapidamente recebi uma mensagem dele.

Festa da pintura na sexta à noite, você está convidada! Traga roupas


velhas e alguma bebida. Nós vamos fornecer a tinta e a comida! Amor,
Chade e Logan.

Fantástico!

Eu sempre ficava maravilhada com meninas que podiam ir para


qualquer lugar sem conhecer uma alma que fosse. Eu tinha visto minha
amiga Natalie fazer amizade com quase todos em nossa classe. Ela
podia falar com ninguém ou com todos ao mesmo tempo, e ainda assim
todos gravitaram em direção a ela. Clara era mais tranquila, um pouco
mais séria, mas ainda totalmente capaz de conhecer novas pessoas. A
maioria das pessoas tinha o gene da conversa.
Eu não nasci com ele, mas o tinha cultivado ao longo dos anos.
Longe de casa, aprendi com meus novos amigos quão fácil era se
socializar. Agora eu poderia ir a uma festa onde não conhecia ninguém
e ficar bem, até mesmo me divertir. Conheci alguns dos meus melhores
clientes desta forma. Eu não era a alegria em pessoa, mas também não
era a tristeza do ambiente.
No entanto, conhecer todos em uma festa poderia ser ainda pior do
que não conhecer ninguém. Esse era o motivo do meu nervosismo
enquanto me aproximava da casa de Chad sexta à noite. Eu conhecia
cada pessoa na cidade, e cada um deles me conhecia. Especialmente
depois de meus triunfos vencendo todos os concursos de culinária
quando criança. Conhecer a diferença entre coisas como canela do
Vietnã e canela do Camboja tendem a chamar a atenção sobre si no
ensino médio. E embora Chad tinha sido um "grande" garoto popular,
alguns de seus amigos, por vezes, caíram para a categoria "médio". E
alguns deles poderiam estar aqui esta noite.
Eu estava animada em ser convidada para uma festa; isso fez a
perspectiva de passar o verão aqui mais divertida. Mas eu estaria
mentindo se dissesse que não havia um pouco da Roxie antiga quando
cheguei à porta. Eu precisei me lembrar que não estávamos na escola,
estávamos no presente agora. Além disso, eu estava carregando meu
famoso preparado de feijão branco toscano, salpicado com limão e alho
e servido em crostinis de brioche, perfeitamente cortados em viés.
Então, vamos lá. Eu respirei fundo e toquei a campainha.
Logan abriu a porta com um grande abraço e um sorriso, pegou
meu preparado, entregou-me um rolo de pintura e um balde e, simples
assim eu estava numa festa legal. E sim, havia pessoas lá de quem eu
me lembrava, mas eles estavam realmente felizes em me ver.
Perguntaram se eu ainda estava cozinhando, expressaram sua
admiração pela minha graduação em uma das melhores escolas de
culinária no país e inveja pela minha vida em Los Angeles, um lugar
que ainda era considerado muito emocionante, "incrível" e "Cara, isso é
muito foda!" Ninguém sabia como a manteiga tinha afundado minha
carreira; estavam todos apenas impressionados que eu estava fazendo
algo que a maioria das pessoas nunca faria, e estavam muito curiosos.
Los Angeles nunca pareceu dura ou uma aventura para mim;
sempre foi exatamente o que eu deveria fazer. Então, agora,
conversando com pessoas que pensavam que eu era corajosa por me
aventurar e fazer algo diferente de todos os outros? Cara. Isso era legal.
Eu me misturava alegremente, vendo mais da casa. Uma grande
construção velha vitoriana, ela com certeza era áspera, mas muito
bonita. O piso principal tinha janelas lindas e largas, lambris e uma
enorme lareira com estantes embutidas em ambos os lados. A cozinha
foi reformada recentemente e Chad me disse que, quando eles
derrubaram um armário velho a ganharam mais espaço na nova
cozinha, encontraram recortes de jornais antigos de uma centena de
anos atrás. A casa escorria charme, mesmo no estado em que se
encontrava.
A todo mundo foi atribuído um cômodo para pintar, com cada parte
da casa contando uma história de cor diferente. Eu estava indo até o
terceiro andar, onde havia um espaço gigante convertido em sótão, com
uma pequena sala ao lado com uma parede exterior curva.
"Oh meu Deus, esta é a sala da torre?", exclamei.
"Sim, é o meu cômodo favorito na casa. O resto do sótão vai ser
uma espécie de segunda sala de estar, mas eu pensei em transformar
isso em meu escritório em casa", disse Chad.
"É perfeito, eu adorei! Que cor vai ser?"
Ele abriu uma lata e me mostrou o mais profundo tom de ardósia
cinza que eu já vi. "Eu sei que a sabedoria convencional diz que um
cômodo pequeno não deve ser escuro, mas eu pensei que seria
acolhedor."
"Não, não, eu acho que é perfeito", eu disse, enxotando-o com o
pano. "Agora saia daqui e deixe-me pintar o seu escritório."
"Divirta-se, irmã. Há mais pessoas vindo, e eu vou enviar algumas
para pintar o resto do sótão, de modo que você não estará sozinha aqui
em cima por muito tempo", disse ele, em seguida, voltou lá para baixo.
Comecei a despejar a tinta escura, manchando a bandeja de
pintura. Esse certamente seria um escritório maravilhoso.
Eu estava perdida na pintura quando ouvi alguém subindo as
escadas. Me virei para dizer oi com um sorriso no rosto, confiante de
que poderia fazer quem quer que fosse sentir-se bem-vindo.
E é claro que era o Leo. E a terceira vez que nos vimos foi o charme,
aparentemente, porque, depois de derrubar ervilhas nas duas primeiras
vezes, agora eu tinha apenas que ficar calma e deixá-lo entrar no
escritório. E esse cara definitivamente era o meu tipo de bonito.
Ainda melhor do que sua altura eram seus ombros largos. E aqueles
ainda seria a minha morte. Verde, oh tão verde, e solidamente fixados
em mim. Brilhantes. O espaço se encheu com uma confiança fácil. Não
arrogante, apenas autoconfiante. Agora eu podia ver claramente a borda
Maxwell que tinha sido amenizada pela primeira impressão do cara de
entregas. Ele me avaliou, calculadamente. Ele estava vestindo uma
camisa xadrez de dez dólares, e um relógio de mergulho de design
impecável. Riquinho com um polegar verde?
"Ei, é a garota das ervilhas!", disse ele, pousando seu rolo e bandeja
de pintura.
"Oh não, não, não, não, fique aí mesmo!" eu instruí.
"Por quê?", ele perguntou, intrigado.
"Você está brincando?" perguntei, olhando para o campo minado
estabelecido entre nós. "Latas de tinta abertas, rolos, escovas... isso
pode acabar muito mal."
"Bom ponto", admitiu ele, dando de ombros para fora da jaqueta e
largando-a numa escada. "Mas eu acho que vou arriscar."
"Eu praticamente fui para baixo em você em público. Agora, isso é
muito arriscado", eu disse, cruzando os braços e balançando o quadril
com um pouco de arrogância.
Então eu ouvi o que tinha acabado de dizer. Eu poderia ter sido um
pouco sarcástica.
Ele começou a rir. "De onde diabos você veio?"
"LA", eu disse com um aceno despreocupado da minha mão,
consequentemente pintando meus peitos. Ele riu mais forte,
encostando-se a parede para se apoiar. Eu não tive coragem de dizer a
ele que eu tinha acabado de pintar essa parede.
"Então, como você conhece Chade e Logan?", perguntou, pegando
um pincel.
"Eu fui para a escola com o Chade, e Logan só conheci agora. E
quanto a você?"
"Eles são parte da CSA na fazenda", disse Leo. "Eu costumo vê-los
uma vez por semana quando entrego suas encomendas."
"CSA, CSA... por que esse som é familiar?" Enruguei a testa
enquanto pensava sobre isso. "Ah com certeza! Comunidade de
Suprimentos Agrícolas, certo? Eles estão aparecendo em Los Angeles.
Para falar a verdade, em quase toda a Califórnia. Eu nunca pertenci a
um, embora; exatamente como isso funciona?"
"É muito simples. Um grupo de pessoas paga uma taxa pré-
estabelecida antes da estação de crescimento, e, em troca, a cada
semana eles recebem uma caixa de tudo o que é fresco do campo. O
agricultor recebe o dinheiro com antecedência, o que é ótimo, e o
consumidor recebe um desconto no preço da caixa semanal, pagando
menos do que pagaria se tivesse que vir até a fazenda, e muito menos
do que num supermercado convencional."
A forma como seus olhos se iluminaram me disse que ele gostava de
falar sobre o que fazia para viver. Foram também informações
fascinantes: sempre que alguém queria falar de comida comigo eu
estava disposta. Mas agora, eu estava tendo dificuldade em me
concentrar, por causa de quão próximo ele estava. Quão lindo ele era, e
tão apaixonado quando estava falando sobre sua fazenda...
"Comida lenta, certo?" Eu disse, ciente de que minha voz estava
assumindo um tom sonhador, porem, bem menos ciente de que eu
ainda estava esfregando o rolo de pintura.
"Mmm-hmm. Lento". O olhar dele se estreitou, em seguida, ele
fechou o espaço entre nós, dando apenas um passo, mas fez isso
lentamente. Ele estava perto o suficiente para que, se minha camisa de
alguma forma se abrisse e meu sutiã voasse, ele provavelmente pudesse
me fazer gozar apenas com a boca nos meus seios.
Mas depois eu me lembrei que eu estava aqui para pintar. Então
recomecei meu trabalho.
Leo e eu pintamos essa pequena sala, e ouvimos todos tendo um
grande momento conversando na sala ao lado. Mas, nesse minúsculo
escritório? Feromônios estavam saltando pelas paredes.
Eu só disse coisas como "Você pode me passar o pano?" e "Você tem
uma dessas varas para mexer a tinta?" e "Será que está ficando bom?"
Mas sempre que nossos olhos se encontravam... formigamentos,
formigamentos. A tensão era tão espessa que, quando Leo quebrou o
silêncio, eu pulei um pouco.
"Então, sua mãe disse que você é uma chef particular na Califórnia,
certo? Ela me disse que você cozinha alimentos chiques para pessoas
extravagantes", ele respondeu, enxugando pintura ao longo da janela.
"Ela parecia muito orgulhosa de você."
"Realmente? Ela usou a palavra orgulhosa?"
"Não, mas ela parecia orgulhosa."
"Huh," eu disse.
"Você está em casa apenas para o verão, certo? Em seguida, de
volta à fantasia?", perguntou.
Eu balancei a cabeça lentamente. Ooh, era a abertura perfeita para
dizer-lhe que sim, que eu estaria aqui apenas durante o verão, que eu
voltaria para a Califórnia em breve então, você sabe, se quiser ser
minha companhia... Caras geralmente amam essa conversa. Sem
cordas, apenas pura diversão. Eu abri minha boca para dizer
exatamente isso, mas ele continuou antes que tivesse uma chance.
"LA é grande e tudo, mas prefiro Bailey em qualquer dia da
semana." Ele viu minha carranca. "Você não concorda?"
"Eu não sou boa em pequenas cidades", eu respondi. "Todo mundo
sabe da vida do outro. Todo mundo conhece a história de cada um."
“Todo mundo se ajuda", ele insistiu.
"Todo mundo fofoca sobre o outro," eu corrigi.
"Algumas pessoas chamariam isso de charme."
"Algumas pessoas chamariam isso de irritante." Eu ri, balançando
minha cabeça. "Escute, eu entendo totalmente o apelo de uma pequena
cidade; isso só não é para mim".
"Luzes brilhantes, cidade grande?", Perguntou ele, de repente ao
meu lado. Seu rolo de pintura estava ficando cada vez mais perto do
meu pincel.
"Algo parecido com isso", respondi, sentindo meu coração
esmurrando meu peito. "Às vezes é bom ser apenas um rosto na
multidão."
"Isso não é possível", ele murmurou e eu olhei em seus olhos. Outro
soco no peito. "Você ser apenas uma rosto? Não é possível."
Meu pulso estava acelerado. Seria tão fácil levantar-me e
surpreendê-lo com um beijo. Em vez disso, eu me atrapalhei e pisquei.
Esse cara era exatamente o tipo de cara que eu normalmente ficava:
boa aparência, engraçado. Mas ele me deixava... nervosa. De uma forma
que eu não tinha ficado em um longo tempo. Nesse ritmo eu acabaria
transformando isso em qualquer coisa menos uma festa de pintura,
então eu precisava pisar no freio.
Mas antes que isso acontecesse, eu precisava esclarecer uma coisa
primeiro. "Me desculpe novamente sobre o tipo de comentário que eu fiz
sobre a sua família, no mercado no outro dia", eu disse timidamente.
“Eu realmente não quis que soasse daquela maneira. Eu sequer
conheço a sua família. Eu só sei o que o resto da cidade sabe." Ele
piscou, seu rosto assumindo uma expressão que eu não tinha visto
antes.
Eu não conseguia controlar meus pensamentos, e meu pulso
acelerado fazia minhas palavras saírem um pouco confusas.
"Obviamente você tem toneladas de dinheiro e uma antiga família de
Nova York ou algo assim... E você tem toda aquela terra. Agora está
trabalhando nela, e parece tão apaixonado sobre o cultivo de alimentos
quanto eu sou por cozinhá-los. Você tem esse jeito todo quente de
agricultor forte, suado... poderoso, e eu tenho certeza que aí existe uma
história. Puta merda, eu preciso calar minha boca agora."
"Roxie?"
"Uh-huh?" respondi, mortificada.
"Você parece muito estranha. Mas definitivamente...", havia um
sorriso em sua voz.
"Definitivamente... o quê?", olhei para ele.
Nunca na minha vida eu quis tanto agarrar alguém. Beijar? Certo.
Ver nu? Certo. Mas quando meus olhos encontraram os dele, eu senti
um impulso poderoso para agarrá-lo. Sua boca, seu pescoço, o peito, o
estômago e tudo sob os jeans azuis desgastados. E o engraçado é que
eu senti que ele estava pensando a mesma coisa.
Se Logan não tivesse chegado nas escadas naquele momento para
anunciar a pausa para o lanche, isso poderia ter acontecido.
"Definitivamente", ele repetiu com um sorriso.
Comecei a arrumar o meu espaço de trabalho enquanto Logan
admirava o quarto. "Vocês são rápidos. Você quer trabalhar nessa
marquise gigante no andar principal ao lado?"
"Na verdade, eu tenho que ir. Tenho um longo dia amanhã", disse
Leo, limpando um pouco de tinta em sua camisa.
No processo, ele se arrumou um pouco. No processo, eu tive que ver
seu tanquinho. No processo eu formigava em todas as partes, e pode ser
que eu tenha engasgado um pouquinho.
Logan notou. Leo felizmente não o fez. Virei-me rapidamente para a
parede para cobrir o meu rubor, apertando o meu pincel até quase
quebrá-lo. Enquanto Leo e Logan conversavam atrás de mim, eu disse a
mim mesma que era apenas uma barriga. Uma barriga tanquinho, e
quente, com certeza. Escaldante, plana e polvilhada com uma deliciosa
trilha feliz, mas ainda apenas uma barriga.
Enquanto eu tentava me convencer disso, percebi que o quarto
tinha ficado quieto. E, minha pele, que estava formigando de novo, me
disse que Leo estava de pé bem atrás de mim. Eu me virei.
"Legal trabalhar com você, Roxie."
"Você também, Leo," eu disse. "Boa pintura."
Boa pintura? Bom sofrimento.
"Boa pintura para você", disse ele com uma risada. "Eu te vejo por
aí, tenho certeza."
“É uma cidade pequena", respondi. "Talvez você vá aparecer na
minha porta de trás com suas nozes novamente."
Leo balançou a cabeça quando se virou para ir, e eu podia ouvi-lo
rindo enquanto descia as escadas. E eu ainda não tinha tido coragem
de contar a ele sobre a mancha nas costas de sua camisa.
Eu sorri para Logan, dei um tapa em seu ombro e disse: "Eu estou
morrendo de fome. Vamos ter alguns petiscos!"
A próxima semana passou acelerada e, antes que eu percebesse,
estava ajudando minha mãe a se preparar para seu reality show. E isso
é uma frase raramente pronunciada. Os produtores lhe deram uma lista
de coisas que ela não poderia levar, incluindo telefone e laptop. Ela
precisa estar totalmente alheia ao que estava acontecendo em casa, e
enquanto estivesse lá, receberia um bom valor em dinheiro. Ela estava
animada para se desconectar. Ela passou por suas listas finais de
afazeres comigo, fazendo com que eu tivesse tudo que precisava para
administrar o restaurante durante o verão. Depois, estava pronta para
ir.
A característica que me mais me incomodava sobre a minha mãe
também era a que eu mais admirava: sua capacidade de ir com o fluxo.
Enquanto eu crescia, foi frustrante como o inferno minha única
responsável ser tão descontraída. Eu desejei o tipo de mãe que
mandasse eu fazer minha lição de casa, assinasse os bilhetes de escola
e preparasse lanches embalados para viagens de campo. Mas seu voo
de fantasia também me levava a acordar de um sono profundo durante
a noite para se certificar que eu não perdesse uma chuva de meteoros, e
para cantar canções de Natal em julho a plenos pulmões enquanto
dirigíamos pela estrada, porque ela tinha que ir a uma feira de
antiguidades em Albany, a qual tinha acabado de descobrir.
Esta mesma atitude tornou possível para ela aproveitar a viagem a
qual estava prestes a ir, fazendo-a realmente vê-la como uma aventura.
Eu a vi zumbindo sobre a cozinha, em busca de um pauzinho para
prender seu cabelo enquanto esperávamos o carro que viria buscá-la e
levá-la ao aeroporto. Tia Cheryl vivia em Dayton, Ohio, e ia encontrá-la
em Nova York. Desde que minha tia era o oposto da minha mãe, as
duas certamente fariam uma grande dupla esquisita na televisão.
"Ok, há mais alguma coisa que você precisa de mim? Você tem os
números de telefone de todos os funcionários, no caso de você precisar
chamá-los. Você conseguiu encontrar os documentos de seguro na
pilha que eu te mostrei em cima da mesa?”
"Eu tenho tudo e eu já encontrei. Estamos bem, mãe." E eu estava
realmente pronta para assumir.
"E, não se esqueça, se acontecer alguma coisa inesperada com o
restaurante, chame um dos meninos que fazem a manutenção. A pia
sempre acaba entupindo quando os canos dilatam, então só empurre
algumas toalhas sob ela e ligue para os meninos. A pia normalmente só
faz isso em dias muito quentes, mas você sabe como pode ser em julho",
disse ela, agitando uma nuvem de flor de laranjeira e hortelã-pimenta.
Mamãe era um grande fã de óleos essenciais. Hmm, isso era uma pitada
de sálvia? Ela pode estar um pouco nervosa.
"Eu tenho isso, mãe", disse, entregando-lhe o passaporte que ela
tinha acabado de soltar e agora não conseguia encontrar novamente.
"Oh, muito obrigada, querida, obrigada." Quando a buzina soou lá
fora, ela quase pulou para fora de sua pele. "Oh! Esse é meu carro, é
hora de ir!" Ela piou, em seguida, correu para fora da porta da frente.
Não pude deixar de rir enquanto observava sua excitação, ajudando-a a
colocar as malas no carro. Eu duvidava que qualquer um dos outros
concorrentes estivesse viajando com uma mochila vintage do exército,
bordada com a frase ‘Faça biscoitos, não faça guerra’ ao lado.
"Você tem as informações de contato dos produtores, por isso, se
precisar de mim, você liga, certo?"
"Tudo bem. Não se preocupe com nada."
Ela parou de carregar as malas e olhou para mim. "Eu não me
preocupo com você lidando com as coisas, Roxie. Isso é algo com o que
eu nunca tive que me preocupar."
"Então, vá se divertir. Eu estarei aqui quando você voltar", assegurei
a ela, acariciando seu braço.
Ela me pegou em um abraço apertado, segurando-me firmemente.
"Tenha um pouco de diversão neste verão também. Aproveite, ok?"
"Eu vou, mamãe."
"Use luvas quando estiver assando; aquele forno velho não é
confiável."
"Eu irei."
"Use óleo de citronela se você for para a floresta."
"Eu irei."
"Use protetor solar se for nadar no lago."
"Eu irei."
"Use preservativo se tiver relações sexuais com um agricultor."
"Eu vou! Jesus, mãe!"
Ela riu, em seguida, subiu no banco de trás, me soprando um beijo
e dizendo que me amava. Ela disse ao motorista para levá-la em uma
aventura e então se foi, deixando-me balançando a cabeça.
Honestamente!
Orelhas e bochechas queimando, eu voltei para dentro e dei uma
boa olhada ao redor. Eu tinha o dia de folga, e sabia exatamente como
ia gastá-lo. Faxina.
Eu sempre fui a responsável, sempre séria. Eu gostava de limpeza, e
desorganização me deixava louca. Então eu empilhei e endireitei,
espanei e varri. Não joguei nada fora, uma vez que não era a minha
casa, mas arquivei numa caixa grande parte do material e do absurdo.
Uma vez que a sala de estar estava pronta, fui para cozinha, fazendo
brilhar os pisos de madeira e as bancadas.
Levando um pouco das caixas para o galpão, decidi ir para o jardim,
que precisava de um bom trato, e fiz disso meu projeto da tarde. Estava
tudo num emaranhado de cipós de madressilva e rosas, de arbusto
velhos e flores com espinhos de espessura mais grossa.
Quando eu estava arrastando uma confusão de videiras cortadas
para a pilha de lixo, algo chamou minha atenção. Algo que tinha sido
parte do quintal por tanto tempo que era apenas parte do cenário: o
velho reboque, estacionado atrás de uma fileira de pinheiros.
Tinha pertencido ao meu avô, que tinha usado-o para viajar pelo
país no trem hippie original - Woodstock não era longe de Bailey Falls.
Depois que ele morreu, foi mandado para o pasto. Era sempre o último
item da lista de coisas para fazer, com outra coisa sempre levando
prioridade para onde gastar aqueles poucos dólares extras a cada mês,
e gradualmente se tornou um elefante branco gigante enferrujando no
quintal, tão grande que era imperceptível.
Mas hoje eu o notei, e fui dar um olhar mais atento. Sempre achei
que estes reboques velhos muito bonitos, num estilo retrô. Ele estava
bem destruído, cheio de ervas daninhas, pneus carecas e rasgados, e
sem dúvida era um lar para diversas criaturas também. Algum dia
poderia ser divertido olhá-lo por dentro, mas não hoje.
Voltei para o meu trabalho no jardim, terminando-o, então fui para
dentro. Depois da vibração constante da minha mãe na última semana,
a pequena casa agora parecia grande e vazia.

Outro dia, outra corrida de pequeno almoço. Eu mantive meus


olhos e ouvidos abertos quando trabalhei minha primeira mudança
administrativa no restaurante no dia seguinte. Os funcionários
estavam, na sua maioria, há anos trabalhando ali, e o lugar realmente
era capaz de correr por si mesmo, mas eu sabia que minha mãe queria
alguém no comando. O restaurante era seu bebê, que tinha sido o bebê
de seu pai antes dela, e que ela esperava que um dia fosse meu, não
importava quantas vezes eu tenha dito a ela que porcos voariam se isso
acontecesse. Mas esse era um pensamento para outro dia; eu tinha
uma mudança de pequeno almoço para ser executada. Assim, eu me
joguei na cozinha, quebrando ovos e fazendo torradas para fazer um
‘Adão e Eva numa jangada quebrada’4.
Um fluxo constante de pedidos, varias fofocas das pessoas que
fizeram encomendas, três dedos queimados, duas garçonetes brigando e
um incêndio de gordura muito pequeno mais tarde, eu tinha sobrevivido
com sucesso meu primeiro pequeno almoço, e encontrava-me mais uma
vez no fim do dia junto com um descascador de batatas.
Concentrando-me na perfeição que se tornariam minhas batatas
fritas, quase não ouvi a porta traseira abrindo. Mas, desta vez, o

4 Nome do prato.
agricultor foi inteligente o suficiente para anunciar a si mesmo antes de
algo sair voando.
"Você está armada?"
Olhei por cima do meu ombro para ver Leo, vestindo um sorriso
provocante. Eu respondi com meu próprio sorriso, segurando minhas
mãos no ar: batata em uma, descascador na outra.
"Eu estou, e talvez seja melhor você não chegar muito mais perto",
eu disse muito a sério. Balancei a cabeça em direção à cesta em cima
das caixas que ele carregava. "Eu não posso acreditar que você trouxe
nozes para uma luta de batata."
"Eu admito que não correu bem para mim da última vez", disse ele,
caminhando até minha estação e largando as caixas que carregava. "Ou
correu muito bem para mim da última vez, dependendo do ponto de
vista."
"Ponto de vista é importante," eu disse, soltando o descascador. Ele
estava mais perto do que eu esperava, e me vi olhando para os seus
incríveis olhos verdes, brilhantes e curiosos. "Então, o que você me
trouxe hoje?"
Sem tirar os olhos dos meus, ele bateu levemente na pilha de
caixas. "Alguns tipos diferentes de alface, incluindo uma nova
variedade. Bastante erva-doce e cabeças de alho. Alho poró, aipo, couve
e um grande e gordo nabo. E um agrado: os primeiros morangos." Ele
ergueu um pequeno saco de papel, abriu o topo e eu olhei para dentro.
Localizados na parte inferior estavam um punhado de morangos gordos,
vermelhos e salpicados com folhas verdes aromáticas.
"Mmm." Eu respirei. "Isso cheira a verão."
"É verdade, certo?", ele respondeu, tirando um dos pequenos frutos.
"É uma nova variedade que estamos tentando. Teve baixo rendimento
até agora, mas são os morangos mais doces que eu já provei."
"Mesmo?" Ele parecia igual a todos os outros que eu já tinha visto.
"Tente. Experimente-o ", disse ele, me oferecendo o morango.
"Eu não aceito doces de estranhos."
"Não é doce, e nós não somos estranhos. Nós pintamos juntos."
"E caímos algumas vezes."
"Exatamente", ele balançou a cabeça, me oferecendo a fruta mais
uma vez. "Coloque isso em sua boca."
"Isso é exatamente o que um estranho pode dizer," eu disse, mas
abri a boca.
Ele deixou o morango cair sobre minha língua, e seus olhos
enrugaram quando eu soltei o suspiro mais ínfimo.
"Esse é um morango delicioso."
Eu gosto de pensar que sim", respondeu. Olhamos um para o outro
exatamente dois segundos a mais do que o necessário, em seguida, eu
segui em frente.
"Então, e sobre todas as nozes?" Eu perguntei, olhando para a cesta
grande.
"Há um bosque da mesma idade que a propriedade, e estamos
sempre colhendo. Então eu comecei a adicioná-las às entregas, e as
pessoas gostaram."
De repente, inspirada, eu disse: "Eu vou fazer bolo de noz! Não faço
um há tempos, e eu poderia fazer alguns com a quantidade de nozes
que você me trouxe."
"Eu sinto que todas as nossas conversas foram baseadas em nozes",
disse ele.
Inclinei a cabeça para o lado, meus pensamentos atraídos de volta
para o agricultor muito bonito na minha frente. "Concordo. Como
podemos mudar isso?"
"Você quer vir conhecer minha fazenda?"
"Oh sim. Devo levar um pouco de bolo de noz?"
Ele balançou a cabeça, e eu fiz ele me alimentar com outro
morango.
Amor do verão, aconteceu tão rápido...

Após o turno do almoço, separei algumas formas de bolo e fui


trabalhar. Eu tinha encontrado a receita que queria num antigo livro de
receitas com o qual me deparei num mercado de pulgas quando estava
na escola. Eu frequentava bazares e vendas de garagem exatamente
para esse tipo de coisa, especialmente livros de receitas de bolos e
festas de igreja. Geralmente bem utilizados, eles continham receitas que
resistiram ao teste do tempo. Carne assada, frango e bolinhos: eles
ainda estavam por lá por uma razão. Mas eu gostava particularmente
das sobremesas, especialmente os bolos. Simples e antiquados bolos
triplos de coco. Bolos de nozes e castanha com chocolate branco. Bolos
de baunilha preta e mel.
Eu tinha ido direto para a receita do bolo de noz pecã neste livro de
receitas, pois era a página mais desgastada. As páginas com respingos e
manchas de colher eram as mais utilizadas, e era como sabíamos que
seria bom. De acordo com o livro de receitas da Primeira Igreja
Metodista, escrito por uma Sra. Myra Oglesby de Latrobe, Pensilvânia,
esta receita estava "na minha família há gerações. Minha mãe
costumava colher nozes das árvores de sua mãe, manualmente, e
retirava a casca com fogo”.
Eu amei essa ideia. Amei o livro de receitas que tinha manchas de
gordura e manchas de chocolate por toda parte. Amei alguém que há
cem anos sentou-se perto do fogo para retirar as cascas das nozes. Da
mesma forma que uma colcha de retalhos poderia contar uma história,
o mesmo fazia uma receita. Você poderia observar uma velha receita
como um detetive e talhar pistas sobre as pessoas que a tinham escrito.
Eles usavam manteiga ou margarina? O termo óleo era usado apenas
por pessoas de uma certa idade, então eu podia compreender a época
de uma receita com base nesta única palavra. Ocasionalmente eu tinha
muita sorte e encontrava uma caixa velha de receitas que continha
fichas manuscritas, e ia maravilhar-me com a caligrafia. Pessoas
acostumadas a escrever! Em letra cursiva! De propósito!
Era charmoso, embora frustrante, descobrir que alguns desses
cartões de receitas manuscritas incluíam medidas que só a família iria
entender. "Duas colheres de baunilha usando a velha colher azul
esmaltada." "Três fios de vinagre do galheteiro de vidro verde." "Adicione
uma pitadas sal como o rosto do tio Elmer."
O bolo de noz era um trabalho de amor para a Sra. Myra Oglesby, e
para qualquer um que usou sua receita para assar para seus familiares
e amigos. De todas as receitas com as quais me deparei, esta era a
minha favorita. Encorpada, rica, pesada, tinha três camadas e era
salpicada com nozes e canela. A surpresa foi o ligeiro toque de um copo
de leite com manteiga, e as fitas de coco que eram espalhadas por todo
o bolo. Mas o destaque? A deliciosa e macia cobertura de creeam
cheese, misturada com claras em neve e manteiga cremosa.
Quando coloquei o toque final de nozes picadas sobre os bolos, olhei
para grande janela da frente da restaurante e vi que estava quase
escuro. Onde tinha ido o tempo? Rapidamente levei os bolos para a
antiga vitrine de vidro perto da caixa registradora, onde as sobremesas
ficavam desde os anos trinta, e apaguei as luzes. Caminhando para fora
da porta da frente em direção à noite suave de início do verão, eu parei,
subitamente tomada pela forma do quão verdadeiramente bonita minha
cidade natal era.
As luzes da rua estavam ligando, adicionando outra camada de ouro
contra a luz do sol que espreitava sobre as velhas construções. As ruas
no centro da cidade eram um pouco confusas, como muitas das
pequenas cidades do Nordeste eram. Trilhas indígenas antigas, estradas
de terra, mesmo caminhos de boiadas tornaram-se as estradas que
vemos hoje. A cidade foi construída no sopé das montanhas de Catskill,
e algumas das casas mais antigas foram construídas quase que
diretamente nas colinas em si, com varandas com vista ao longo da rua
principal.
Fiz o caminho mais longo para onde eu tinha estacionado,
respirando o crepúsculo especial de junho, onde até mesmo o ar parecia
gentil e macio sobre meus braços e pernas cansados. As crianças
estavam fora, aproveitando essas horas extras de luz solar, andando de
bicicleta e gritando dessa forma despreocupada que todas as crianças
fazem quando todo seu mundo se resume a pedir para sua mãe
comprar um picolé. Eu andei um pouco mais para baixo ao longo da
margem do rio, observando o movimento do espumante Hudson ouro e
laranja. Um cheiro pantanoso me atingiu quando cheguei mais perto da
água, limpa e um pouco lamacenta.
Realmente era uma ótima pequena cidade. Se você gostasse desse
tipo de coisa.

Na tarde seguinte, depois do jantar, fechei o restaurante e fui para a


Fazenda Maxwell, com uma fatia de bolo de nozes tão grossa quanto
pude cortar. Era um caminho lindo, com montanhas e árvores
pontiagudas espalhadas na floresta, e aqui e ali os pinheiros eram
espaçados o suficiente para se ter um vislumbre da pedra rochosa
abaixo da superfície.
Dirigi feliz, cantarolando uma canção muito específica do filme
Grease (Nos tempos da brilhantina), sentindo o sol em meus ossos
através das janelas. Me senti um pouco como se estivesse numa viagem
de campo, dirigindo-me para ver a fazenda com o resto da minha classe.
Mas desta vez eu iria receber o tour particular do próprio agricultor.
Um fazendeiro muito bonito.
Este era o momento para uma reflexão sobre a minha fantasia com
o agricultor. Eu li os livros Little House quando era criança, uma e
outra vez. Eu amei tudo sobre esta pequena família e suas lutas com a
vida pioneira. Me maravilhei com o fato de Ma e Pa deixarem Laura e
Maria sozinhas na pradaria enquanto iam para a cidade... por horas!
Elas tinham seis e oito anos de idade, e já estavam fazendo fogueiras,
ordenhando vacas leiteiras e costurando suas colchas manualmente!
Isso era paternidade ao ar livre no seu melhor.
Quando chegava da escola, me espalhava no velho sofá com a
minha mãe e assistia reprises da série de TV Little House, vaiando
muito Nellie Oleson.
E então, em torno da sexta temporada, um certo fazendeiro loiro fez
a sua aparição e mudou a vida de Laura - e a vida da pequena Roxie
Callahan também. Ele foi a minha primeira paixão. Almanzo era forte,
magro e bonito, e eu suspirava junto com Laura sempre que ele dirigia
seu carrinho pela cidade. Mesmo quando me tornei adulta, se eu estava
folheando os canais tarde da noite e um episódio de Little House
passasse, eu o assistia por tempo suficiente para ver se Almanzo ia
aparecer. E se ele aparecesse...
Vamos apenas dizer que, se eu precisasse resolver meus problemas
sozinha naquela noite, ele era uma adição útil.
E, na minha nova fantasia, a parte de Almanzo Wilder será
interpretada por Leo Maxwell.
Eu tremi um pouco enquanto saltava pelos buracos em direção a
Fazenda Maxwell. Humm, saltando... mais combustível ao devaneio...
Um enorme sinal em frente da entrada avisava que eu tinha
chegado ao meu destino. Colunas de pedra em ambos os lados erguiam
vigas de carvalho velho que mostravam para todos o nome da família.
Tinha estado aqui por tanto tempo quanto eu conseguia lembrar. Acho
que quando você tem mais dinheiro do que praticamente todo mundo,
um simples nome em uma caixa de correio apenas não é suficiente.
A propriedade era ladeada pela estrada rural, e uma vez que você
seguisse pela entrada estaria envolto num túnel de árvores plantadas
majestosamente para dar uma sensação protetora. Era uma primeira
impressão impactante, isso é certo. Carvalhos enormes e altos subindo
orgulhosos e arqueando toda sua força em direção a seus amigos no
outro lado, seus galhos entrelaçados e balançando as pequenas pinhas,
certificando-se que o Sol chegasse calmamente abaixo. Sinais
apareciam intermitentemente, apontando os caminhos em direção a
outros destinos na propriedade. Trilhas para caminhadas, vire à
esquerda. Labirinto, siga em frente. Vire à direita aqui. Eu fiquei na
estrada principal, maravilhada com o quão grande era a propriedade.
Era outro mundo acontecendo por trás deste túnel verde que separava o
mundo real deste mais rico.
De vez em quando eu via manchas de sol em ambos os lados da
estrada, dando lugar a um prado aqui, uma dependência lá. E,
finalmente, perto da última curva, tinha terra, tanto quanto eu podia
ver. Mas não era o tipo de fazenda que eu tinha visto enquanto dirigia
por Kansas, Missouri e Iowa. Aquelas eram aplos espaços de terra
principalmente sem árvores, com milho verde ou plantações enfileiradas
de soja em distâncias uniformes. Mas aqui, aqui eu vi uma explosão de
cor. Campos pequenos, plantas de todas as formas e tamanhos. Entre
os campos estavam arbustos e pequenas árvores raquíticas. Tinha
atividade em todos os lugares para onde eu olhei: pessoas ajoelhadas no
chão, trabalhadores com cestas escolhendo com cuidado o que
pareciam ser feijões, alguém espalhando folhas numa horta recém
plantada.
Eu até mesmo tive que parar meu carro para deixar um bando de
galinhas atravessar a estrada. (Introduza sua própria piada aqui, por
favor).
A casa principal estava no topo da colina, no ponto mais alto, e
parecia ficar olhando para baixo em tudo, como uma gentil senhora de
idade (bonita, mas impassível). Sinais me guiaram para o
estacionamento junto à casa principal, e quando estacionei olhei para o
enorme celeiro de pedra, onde Leo disse que estaria esperando por mim.
E lá estava ele, elevando-se acima de um bando de escoteiros.
Ele chamou minha atenção e acenou, e uma borboleta
pequenininha bateu as asas na minha barriga. Eu acenei de volta,
peguei a fatia de bolo que trouxe para ele e atravessei todo o quintal. O
celeiro foi criado quase uma forma de U, envolvido em torno de um
pátio central e sombreado por uma grande árvore de carvalho. As
paredes eram de pedra do campo, nos dois andares. Vigas largas eram
visíveis através das janelas abertas, e suas faixas estavam pintadas de
vermelho vivo. As caixas de feno originais agora continham escritórios e
salas de aula. Maxwell não era apenas uma fazenda - era uma fazenda
escola. Eu estava esperando saber mais sobre o que eles estavam
ensinando na minha visita hoje.
A risada do menino me fez parar de admirar as caixas nas janela no
segundo andar, transbordando de flores coloridas, e olhar para o grupo
em torno de Leo. Os garotos estavam pulando e gritando enquanto o
seguravam. Leo estava se soltando dos pequenos polvos e chamando as
crianças pelo nome. Quando cheguei mais perto, podia ouvi-lo rindo
junto com as crianças.
“Estou te ouvindo, Owen, você vai ter o seu adesivo de atividade
também, não se preocupe. Quem mais? Aqui está, Jeffrey, você ganhou
quando pegou a maior berinjela que tivemos ainda este ano! Quem
mais? Vamos ver... oh garoto, não podemos esquecer Matthew aqui,
você também vai ganhar, amigo."
Seu sorriso era realmente contagiante, e eu encontrei-me sorrindo
enquanto atravessava o cascalho, admirando suas altas maçãs do rosto
e a curva de seu lábio inferior enquanto ele ria, e seus olhos verdes que,
quando fixos nos meus, acordavam todas as borboletas da minha
barriga.
E essa barba. O que constituía uma barba moderna? Era o
comprimento? A forma? A proximidade com a flanela e o estilo rock
folk?
Eu nunca tinha sido uma grande fã de pelos faciais de mais de dois
dias, mas Leo estava ostentando uma barba real e eu gostei. Mais do
que gostei - eu queria tocá-la. Será que arranhava? Era suave?
Grosseira? Mais do que tocá-la, inferno, eu gostaria de olhar para baixo
e vê-la, junto com seu rosto, obvio, entre as minhas coxas. Com muito
menos roupa do que em nossos encontros anteriores.
Com a minha respiração acelerada, outra imagem apareceu no meu
cérebro: nós dois nus, corpos suados e pegada forte! Caramba, parecia
quente aqui fora! Cristo, o agricultor estava agora me afetando
fisicamente. O que era bom, já que eu queria fisicamente. Eu precisava
do fisicamente. Então, quando eu o vi pegar um pepino, que imitou algo
muito específico em minha mente, acabei cobrindo meu gemido com
uma tosse.
"Você está bem?", ele perguntou.
"Sim. Por quê?", eu disse, puxando a minha camiseta. Ar, por favor,
apenas um pouco de ar.
"Parecia que você estava..."
"Só limpando a garganta", eu disse e rapidamente mudei de
assunto. "Eu fiz o bolo de nozes, com glacê de cream cheese." Eu
empurrei a caixa branca em suas mãos.
"Uau, você realmente me fez um bolo?", perguntou, parecendo
bastante satisfeito.
"Bem, eu fiz para o restaurante, e o resto foi vendido hoje."
"Está bom?", perguntou.
Eu sorri. "Pra caralho."
Leo fechou os olhos e balançou a cabeça, e eu percebi que tinha
acabado de bombardear um grupo de escoteiros com palavrões.
"Ah merda," eu murmurei, em seguida, bati a mão sobre a minha
boca.
Leo apenas bufou e reuniu as crianças. "Ei você aí, Jason, ainda
precisa do seu crachá, certo? Roxie, talvez você possa guardar este bolo
no refrigerador dentro da loja lá atrás, ok?"
Peguei o bolo e me afastei rapidamente, indo para o escritório da
fazenda. Eu não tinha ideia de como falar com crianças, mas tinha
certeza que palavrões na frente deles estava no topo da lista de coisas
para não fazer. Encontrei alguém para guardar o bolo na geladeira,
respirei e decidi agir como se nada tivesse acontecido. Então voltei para
a tropa.
"Eu não sabia que você estava brincando com seus amigos hoje",
disse, apontando para os espectadores.
"Na verdade, nós temos pessoas visitando quase todos os dias, quer
se trate de uma viagem de campo de classe, os novos estagiários
rotativos, ou um grupo de..."
De repente Leo caiu em minha direção, empurrado por um motim
de estudantes brigando pelo último adesivo. O ar quase foi batido fora
de mim quando cerca de 90 Kg de Leo colidiram comigo, me fazendo
ofegar. Eu estava mais uma vez em seus braços, mas desta vez
rapidamente ele me pôs em pé, e ficamos abraçados. O cheiro dele...
Fantástico.
Tudo o caos que nos rodeava aparentemente sumiu. No momento,
tudo o que eu estava ciente eram seus braços confortáveis em torno da
minha cintura. Suas mãos, inicialmente apenas em meus quadris para
me firmar, agora cutucavam por baixo da minha blusa, e estavam se
espalhando para tocar minhas costas.
E... Wow! Olha, essas eram mesmo as minhas mãos, pressionadas
firmemente contra seu peito coberto de flanela? Deslizando alto, mais
alto, ondulando sobre os músculos incrivelmente fortes e movendo-se
para o norte, em torno da parte posterior do seu pescoço, sentindo as
pontas de seu cabelo... E aqueles olhos verdes estão em chamas... e
interessados... e hey, estou até na ponta dos pés agora, e aposto que
meus peitos parecem fantásticos esmagado contra o seu-
"Eu vou te chutar nas bolas!" Gritou um garoto, e instantaneamente
eu me afastei do peito musculoso. E da sua boca, que pareceu ficar
triste! E sua cabeça estava balançando, me dizendo: oh sim, vamos
terminar isso mais tarde.
Eu adoraria terminar isso mais tarde!
Mas primeiro eu tinha uma fazenda para conhecer. E, uma vez que
os estudantes foram embora, o passeio começou. Estávamos só eu e
Leo, e mais dezessete outras pessoas que tinham se inscrito para o tour
pelas terras da fazenda. Eu pude aprender que a Fazendo Maxwell
agora era uma escola agrícola no Vale do rio Hudson.
Alguns devem estar dizendo que foi difícil para mim concentrar-me
em coisas como plantas de cobertura e plantio rotativo agora que eu
tive em minhas mãos nesses cabelos cor de mel. Mas, para seu crédito,
Leo me deu um passeio e tanto.
O que ele tinha feito com a terra desde que a comprou há vários
anos era tudo novo para mim. A propriedade tinha evoluído de uma
casa de família para uma comunidade de negócio inteira, empregando
não só uma equipe durante todo o ano, mas uma série de estagiários de
verão, ansiosos para aprender o que Leo tinha para ensinar. Nas duas
horas que caminhamos ao redor da propriedade, aprendi mais sobre a
agricultura sustentável do que eu já tinha ouvido em toda a minha vida.
"Então, quando você começou a converter os campos de volta para o
uso, qual foi o problema que teve? Como você chamou?" Um dos caras
do passeio perguntou.
"É chamado de síndrome de pousio, e acontece quando os campos
não foram plantados por algum tempo. Você pensaria que deixar um
campo descansar um pouco, naturalmente ia reabastecê-lo de
nutrientes, e isso até é um pouco verdadeiro. Mas, se você deixar terras
agrícolas assentar-se por anos e anos, não haverá muita ação
acontecendo sob a superfície. Então, quando começamos a plantar de
novo aqui, reviramos a terra, arejando-a para, em seguida, plantar uma
colheita de adubo verde em todos os campos que queríamos ser capazes
de cultivar."
Um casal de jovens rapazes, provavelmente obrigados a vir por
causa de seus pais e entediados como o inferno, a julgar pelo fato de
que seus iPhones não tinham deixado suas mãos desde que deixamos o
celeiro, riram. "Adubo verde? Tipo cocô vegetal?", perguntou um deles,
para o deleite do outro.
"Nah, o cocô veio mais tarde," Leo disparou de volta, batendo o
garoto nas costas e acenando com a cabeça em direção ao iPhone. "Você
pensa em jogar nessa coisa o tempo todo?"
"Hum, não?"
"Grande resposta. Então, de volta ao cocô-"
"Espere, o cocô é real?" O garoto perguntou, olhando para seu
amigo em descrença.
"Cara. Isso é uma fazenda. Há cocô em todos os lugares", disse Leo,
sério. Cada um de nós elevou rapidamente os pés, verificando o fundo
dos nossos sapatos. "A adubação verde é uma cultura de cobertura que
semeamos para colocar um pouco de nitrogênio de volta no solo. Esses
trevos também são ótimos para as vacas, o que funciona perfeitamente
uma vez que a próxima fazenda é de gado leiteiro. O proprietário é um
amigo meu, e nós ajudamos um ao outro. Eu forneço a terra de
pastagem, Oscar fornece as máquinas de cocô de quatro patas, e
pronto!".
"Cocô?", perguntou um dos jovens.
Leo assentiu. "A maneira da natureza de garantir uma boa colheita."
Todos assentiram em como isso fazia sentido.
“Nós geralmente não temos tanta conversa sobre cocô no início da
turnê, mas de vez em quando temos alguém no grupo que não pode
deixar a palavra esterco passar sem uma risada. Eu entendo.", disse
Leo, batendo sobre no ombro do garoto. "Quem quer ver a pilha de
compostagem?"
Ambos os adolescentes esqueceram tudo sobre seus iPhones pelo
resto da turnê, e depois eu os ouvi dizendo ao pai que Leo era "incrível".
Nós caminhamos, subindo e descendo colinas, nos enfiando dentro
e fora das cercas vivas e ao longo dos caminhos naturalmente
desgastado entre os campos. Vimos fileiras e fileiras de vegetais, quase
todos os tipos imagináveis. Pés de feijão cresciam verticalmente por
cima de estacas de madeira, e aprendemos sobre plantas espumantes,
destinadas a dissuadir pragas de uma forma natural. Cenouras eram
plantadas alternadamente com alho poró, o que incentivava o
crescimento e desencorajava algo chamado mosca da cenoura. Paramos
periodicamente para degustações, mordiscando flores de cebolinha e os
primeiros pequenos tomates pera amarelos, plantados ao lado de
arbustos de manjericão roxo.
Nós visitamos a estufa, onde bandejas e bandejas de mudas
estavam em diferentes estágios de crescimento. Mudas de batatas
pequenas cresciam ao lado de enormes cabeças de alface manteiga.
Passamos algum tempo nos campos que estavam deliberadamente
descansando da produção de culturas, embora dificilmente pudessem
ser descritos como dormentes. Fomos até as colinas, onde foi possível
ver os celeiros e a casa principal muito abaixo, em meio a um mar de
verde.
Justo quando deixávamos um dos campos, três tratores
apareceram, rebocando o que pareciam ser... pequenas casas?
"Hora perfeita, aí vêm as galinhas", disse Leo, guiando-nos para um
canto do campo enquanto os tratores seguiam com seu caminho pelo
meio. "Se vocês olharem para este campo, em comparação com o
próximo a ele, o que vocês veem?" Ele olhou para todos, incentivando as
crianças a responderem.
À minha esquerda havia um campo com ovelhas pastando. À minha
extrema esquerda, havia um campo com as vacas emprestadas acima
mencionadas pastando. E o campo atual? Quando cada trator parou e
desacoplou sua casinha rebocada, havia galinhas em todos os lugares.
Grandes pássaros bonitos com penas brilhantes, gordas e atrevidas,
ciscando e correndo pela grama. Grama. Hmmm...
Eu olhei de campo para campo. "Você está movendo os animais
para cortar a grama", falei, e Leo olhou diretamente para mim, sua
expressão se iluminando com a minha resposta correta. Uma sensação
de calor começou em minha barriga e se espalhou por todo corpo.
"Exatamente: os animais estão cortando a grama para nós" Ele
apontou para as vacas pacientemente mascando seu pasto. "Num dos
campos nós temos uma saborosa cobertura vegetal de alfafa, com um
pouco de trevo misturado. As vacas mastigam e cortam na altura dos
tornozelos, quando então as passamos para o próximo campo."
"E colocam as ovelhas no primeiro campo, certo?" Eu apontei para
as bolas de neve macias.
"Certo novamente, Roxie", disse ele, caminhando através do grupo
para ficar bem na minha frente.
Por um momento, me emocionei ao ouvir o som do meu nome em
seus lábios. E, no momento seguinte, imaginei-o repeteindo meu nome
uma e outra vez. E então, por um momento particularmente
impertinente, eu esqueci tudo sobre o meu nome em seus lábios e
apenas me imaginei em seus lábios.
Nesse momento, ele os lambeu. Seus lábios, quero dizer. E esse
sentimento doce de calor foi direto para o meio das minhas pernas. Não
mais doce, não mais contido. Luxúria apenas.
"Então, e o que as galinhas fazem?", Alguém perguntou.
Leo ficou em silêncio por um minuto, meio perdido, estudando... a
mim?
"Por que você move as galinhas depois das ovelhas?" O autor da
questão repetiu.
O maxilar de Leo apertou. Eu parei de respirar.
"As galinhas?" O cara repetiu.
Eu comecei a dizer que ninguém estava tão preocupado com as
galinhas, e para onde esse cara deveria exatamente ir, quando Leo
felizmente interveio.
"As galinhas terminam o trabalho que as ovelhas e as vacas
começaram", disse ele, parecendo fundamentar-se no material familiar.
"E, em turnos, todos eles fertilizarão o campo. Os frangos ajudam a
terminar o arejamento do solo, acabando com todos os insetos deixados
para trás, ficando todos gordos e felizes num ambiente totalmente
natural e livre de estresse. As galinhas produzem ovos com gemas
laranjadas, como vocês certamente nunca viram. E as galinhas...", ele
começou a descer a colina em direção à casa principal "... estão no final
do passeio. Vamos voltar."
O grupo seguiu obedientemente atrás dele, e eu podia ouvi-lo
dizendo-lhes como podiam ajudar em suas próprias comunidades, ou
como se juntar ao farmshare, se fossem locais. Estávamos nos movendo
mais rápido do que o normal? Certamente era o que parecia quando Leo
nos apressou a descer o morro de volta para onde a turnê começou.
Ele me pegou pelo braço enquanto dizia, "Obrigado por terem vindo
hoje, pessoal. Espero que tenham gostado da visita. Quem estiver
interessado em comprar qualquer coisa que produzimos aqui na
fazenda, incluindo os ovos com gemas laranjadas dos quais eu estava
falando, basta falar com Lisa na loja em seu caminho para fora."
Ele acenou adeus a todos, mantendo-me perto com a outra mão.
Meu coração acelerou um pouco ao sentir sua mão segurando meu
cotovelo. Sortudo, cotovelo de sorte. Ele estava me tocando!
"O que foi, farmer boy?", murmurei, inclinando-me um pouco mais
perto dele e encostando meu peito contra seu braço. Agora meu seio
direito era tão sortudo quanto meu cotovelo.
"Não quero você fugindo com o rebanho. Eu ainda quero te mostrar
uma coisa", ele murmurou de volta, sorrindo e balançando a cabeça.
Uma vez que o grupo tinha saído, ele me guiou em frente ao pátio e ao
redor da parte de trás do celeiro de pedra.
"Oh, o estacionamento dos funcionários", comentei quando saímos
para a sombra do edifício, onde carros com adesivos ‘Fazenda Maxwell’
estavam estacionados. "Isso é o que resta por trás da cortina de
material, é onde toda a magia acontece, certo? Caramba! Obrigada por
me mostrar isso”.
"Você é muito espertinha, sabia?", perguntou ele, soltando meu
cotovelo e subindo num velho Wrangler5 preto. "Eu abriria a porta para

5
você, mas eu tirei todas elas na primavera passada e não me preocupei
em colocá-las de novo."
"Quem sabe nesse outono você possa fazer isso." Eu disse, subindo
no carro. "E sim, eu sei que sou uma espertinha. Onde estamos... hey!”
Eu não tinha afivelado o cinto de segurança ainda quando ele acelerou
e saiu do local.
Nós dirigimos por uma estrada de terra, por trás dos celeiros de
pedra. Enquanto nos avançávamos e saltamos dentro do carro,
considerando a velocidade que Leo estava, de alguma forma ele ainda
conseguiu manter-nos na estrada e conectar seu iPod num painel que,
quando instalado originalmente, provavelmente continha um leitor de
cassetes. Eu sei disso porque minha mãe ainda tinha um desses na
nossa sala de estar. Era uma coincidência ele pegar um de seus álbuns
favoritos, também.
"U2?", Perguntei, segurando a barra de segurança.
"Oh yeah", ele respondeu. "Melhor banda do mundo."
"Minha mãe costumava tocar esse álbum por horas quando eu era
criança."
"Será que ela tem uma faixa favorita?", ele perguntou, virando-nos
para outra estrada de terra, que continuava ao longo de alguns dos
campos.
"Nove", eu disse, conhecendo a lista de faixas de Achtung Baby de
cor. Eu sorri quando ouvi a abertura com a batida de bateria. E eu
esperei pelo o aborrecimento que geralmente acompanhava um
pensamento sobre a minha mãe, mas ele não veio.
"Boa música", disse ele, batendo a mão no volante no ritmo da
música. Eu batia muito, mantendo-me no Jeep, como nós fomos em
torno de uma curva apertada. Eu o acompanhei no batida, o que me
desencadeou um enorme sorriso dele. O sol estava baixo no céu,
destacando as culturas altas mais para baixo da propriedade. Aqui fora,
pés de milho estavam subindo, o trigo estava acenando, e... “...O que é
isso?”
"É centeio."
"Como o do pão?"
"Como o da grama. É uma boa cultura de inverno, e funciona como
cultura de cobertura ou como alimento para o gado, que vai acabar
ficando neste campo. O que sobrar vai virar feno no final da temporada,
e eu vou vendê-lo a alguns dos produtores de leite da região."
"Como Oscar, da fazenda ao lado?", Perguntei.
"Alguém estava prestando atenção", brincou ele. Antes que eu
pudesse provocá-lo de volta, ele fez outra manobra louca e, de repente,
estávamos dirigindo para a floresta.
"Onde diabos estamos indo?"
Ele apontou para a estrada. "Por aqui."
Eu bufei. "A sensação é de conto de fadas, com todos esses bosques
e tal. Você não vai me levar para uma cabana feita de doces e tentar me
comer, não é?"
"Hoje não", disse ele, olhando-me de lado.
Eu olhei-lhe de volta. "Bem, não seria tão ruim", eu disse, mantendo
minha voz baixa. E com isso ele começou a andar mais devagar. "Eu
estava brincando! Não venha todo ‘Colheita maldita’ pra cima de mim!",
brinquei.
"Relaxe. Nós chegamos."
"Onde?" Estávamos num lugar totalmente remoto, bem longe de
onde viemos.
Ele caminhou para o meu lado do jipe e estendeu-se para desatar o
cinto de segurança. Quando o fez, sua mão roçou a parte externa da
minha coxa e eu respirei fundo. Ele se virou para mim com o som, seu
olhar reconhecendo o motivo. Eu franzi minhas sobrancelhas para ele,
tentando encobrir a sensação. Mas a mão na minha coxa. Oh Deus!
"Então, onde estamos?" Repeti.
"Vamos sair daqui, Ervilha", disse ele, pegando minha mão e me
puxando para fora do carro sem portas. Ele soltou minha mão logo que
eu estava estável, mas eu ainda podia senti-lo. Sem mencionar o prazer
que certamente apareceu no meu rosto por ele me chamar de ervilha.
Oh, agora era a hora de terminar o que tínhamos começado
anteriormente.
Ele partiu para um caminho fechado pela floresta. Nós tínhamos
andado quase 100 metros quando ele parou e eu por pouco não trombei
com suas costas. Recuperando-me, eu olhei ao meu redor.
"O que estamos procurando?", sussurrei.
"Por que você está sussurrando?", ele respondeu de volta.
"Eu não sei", eu disse, ainda sussurrando. "E você não respondeu
minha pergunta."
"Está do outro lado dessa grande árvore." Ele apontou para uma
árvore que supostamente ocultava algo que eu deveria ser capaz de ver.
"Leo, eu odeio dizer isso, mas às vezes preciso que as coisas sejam
explicadas detalhadamente para mim. Então, há algo que eu deveria
estar vendo? Eu não entendo."
Ele me puxou na frente dele e se inclinou para baixo, com o queixo
quase descansando no meu ombro. Então apontou com uma das mãos,
e virou meus quadris com a outra, murmurrando em meu ouvido.
“Consegue ver agora?"
E eu vi. Depois de acabar com o motim de borboletas na minha
barriga agitadas pela sensação de Leo curvando-se contra as minhas
costas, eu pude ver as ruínas de uma antiga casa com fundação de
pedra. Árvores cresciam entre os antigos muros, e o segundo andar
havia caído há anos. Uma chaminé de pedras do campo ainda estava
inclinando-se precariamente na parede oposta enquanto a parede de
frente para nós se foi.
"Uau", eu respirei.
"Você sabe o que é tudo em torno dessa casa, certo?", Perguntou
ele, bem no meu ouvido.
Misericórdia. Eu adorava a sensação dele atrás de mim. Eu poderia
me acostumar com isso.
"Não?"
"Suas nogueiras." Ele me cutucou, obrigando-me a andar para
frente, sua mão se movendo do meu quadril para a parte inferior das
minhas costas. "Se as árvores estavam aqui antes da casa, ou se
cresceram depois que a casa foi abandonada, porem, eu não tenho
ideia."
"Oh, sério, isso é muito legal!", eu disse, encantada com a ideia de
estar conhecendo as árvores que me ajudaram a fazer um bolo tão
delicioso. Ele balançou a cabeça para mim, em sincronia comigo. Eu
adorava saber da onde a minha comida estava vindo. Eu o deixei me
levar para a casa, escolhendo meu caminho cuidadosamente através
das rochas caídas e dos escombros antigos. A luz do sol se infiltrava
através das árvores criando um pequeno bolso de verde no meio da
construção. "Isso ainda é sua propriedade, certo?"
"Tecnicamente é propriedade da minha família, então sim. Mas nós
não temos a mesma ideia sobre preservação", disse ele, caminhando
para a maior árvore, presa e retorcida.
Fiquei maravilhada com a ideia de que essa família possuía tanta
terra por tanto tempo. "Portanto, esta é uma nogueira, hein? Eu nunca
teria reconhecido."
"Eu não saberia também, até que estive aqui fora num dia no
outono e encontrei todas as cascas no chão. Temos outro bosque onde
posso coletá-las, mas ainda venho aqui colher algumas todos os anos."
"E a casa? Foi sua família que construiu?", perguntei, olhando para
a fundação de pedra.
"Acho que não. Eu pesquisei um monte de mapas e levantamentos
da propriedade antiga, e parece que essa casa é parte de uma fazenda
mais velha que foi abandonada muito antes dos Maxwell chegarem". Ele
disse seu nome de família com um traço de amargura. Mas antes que
eu pudesse perguntar mais alguma coisa, ele se virou para mim. "De
qualquer forma, eu só achei que você gostaria de vê-lo."
"É bom vir aqui. É calmo, sossegado. Há bolsões de tranquilidade
onde eu vivo agora, mas você tem que dirigir muito longe para encontrá-
los."
"Já estive em LA muitas vezes. Pacífica não é a primeira palavra que
me vem à mente para descrevê-la."
"Hmm," eu disse, inclinando a cabeça para trás contra a árvore e
olhando para o dossel. O verde sobreposto às folhas e galhos
balançando no alto com a brisa não chegava até onde nós estávamos.
Leo encostou-se em sua árvore e eu inclinei-me mais contra a minha, e
nós bebemos da quietude profunda da floresta. Eu respirei o cheiro da
poeira e das folhas secas, e o cheiro verde de coisas que crescem,
exalando um suspiro longo e lento.
"Esse foi um suspiro tipo: 'este lugar é chato'?", perguntou ele do
outro lado da clareira.
Eu balancei minha cabeça. "De jeito nenhum. Esse foi um suspiro
do tipo 'que dia delicioso que este acabou se tornando'. O clima perfeito,
temperatura perfeita, cenário perfeito. Eu aprendi porquê as galinhas
atravessaram a estrada, e também de onde as nozes vêm. Comparado
com o que os meus dias têm sido em LA recentemente, isso foi
exatamente o que eu precisava."
"Um suspiro de um bom dia," ele repetiu, empurrando-se para longe
de sua árvore e caminhando lentamente em direção a mim.
"Um suspiro de um ótimo dia," alterei.
"Um upgrade? Por que a mudança de bom para ótimo?"
Ele estava perto o suficiente agora, e eu podia ver o pouco de
vermelho fraco em sua barba ao longo de sua mandíbula, o local em
sua camisa que estava desgastado por anos de lavagem, as veias no
interior de seu antebraço bronzeado e o quão fortes suas mãos
aparentavam ser.
"E está a caminho de se tornar impressionante", eu respondi,
passando os braços ao redor da árvore atrás de mim e imitando uma
donzela em perigo. Eu olhei para ele através de cílios abaixados. Roxie
californiana em cena. "Especialmente se você continuar vindo para cá."
O sorriso que preencheu seu rosto era menos ‘agricultor amigável’ e
mais ‘pirata sexy’. Então de repente ele estava lá, dentro do meu espaço
pessoal.
Era hora de chutar as engrenagens deste romance de verão. Lá
estava eu, encostada a uma árvore numa floresta, com os braços atrás
de mim e meus seios empurrados para a frente, no sinal internacional
de ‘beije-me, seu idiota’. E lá estava ele, todo movimentos lentos, olhos
ardentes e antebraços irresistíveis, um pouco estranho e perigosamente
sexy.
E então lá estava também um enorme zangão, voando em volta de
mim. Ele bateu no meu ouvido, bombardeou meu pescoço, riu na
minha cara e voou direto para baixo, entre os meus seios.
Fiquei instantaneamente desesperada, gritando e batendo em meu
peito durante o surto. Arranquei minha camisa para chegar à abelha e
corri em círculos ao redor da árvore, sacudindo meu sutiã enquanto
gritava a plenos pulmões.
"Roxie? Roxie! O que diabos está acontecendo?"
"Abelhaaaaaaaaaa!" Eu gritei quando ele parou na minha frente,
fechando as mãos em torno dos meus braços e tentando, embora não
forte o suficiente, não olhar para os meus seios, agora lutando para se
manter dentro dos bojos do sutiã.
"Tudo bem, acalme-se. Ela não vai picar se você se acalm-"
"Sim vai! Abelhas são idiotas!" Eu gritei, dançando como louca e
tentando me soltar.
"Você é alérgica?"
"Não!"
"Então pare de se contorcer!"
"Não!"
"Acalme-se, por favor."
"Foda-se!" Eu gritava enquanto a abelha zumbia dentro do meu
sutiã. "Abelhaaaaaa!"
Meu cérebro primitivo tomou conta, e de repente uma saída vertical
parecia ser a minha única opção. Subi no Leo como se estivesse
escalando um poste. Ele tinha um bocado de abdômen para eu escalar
em direção aos ombros. Envolvi minhas pernas em volta de sua cabeça,
apertando as coxas em seus ouvidos e arqueei para trás, em direção a
árvore. Com a casca da nogueira em minhas costas e um grito em meus
lábios, eu bati no meu sutiã novamente. A abelha olhou para mim, eu
olhei para ela e ela me encarou.
Embora eu nunca tenha sido picada por uma abelha antes, sempre
tive medo de todas as coisas pequenas. Eu não participava de festas no
jardim ou churrascos ao ar livre, e me recusei a carregar flores num
casamento ao ar livre uma vez, tudo por causa de uma pequena abelha.
Eu golpeei entre os meus seios mais uma vez, e finalmente consegui
nocauteá-la. Ela ziguezagueou algumas vezes, me lançando um olhar
por cima de seu ombro desagradável de abelha, em seguida, fugiu
floresta a dentro, para fazer o que estava fazendo antes que a senhora
louca decidisse implodir. "Ugh", eu disse, tremendo.
"Ugh?", Disse uma voz de baixo.
Lembrei-me de onde estava, do que tinha acontecido e de onde Leo
agora tinha seu rosto. Olhando para baixo, eu escovei seu cabelo loiro
da testa para ver seus olhos olhando para os meus.
Oh. Eu estava tão mortificada. "Estou tão envergonhada!"
"Ah gawna seh donna oo", veio sua resposta abafada. Eu deslizei
mais para trás contra a árvore, liberando seus lábios dos meus shorts
bastante curtos.
"Desculpe?", eu cantei, tentando fazer com que isso não ficasse
ainda mais completamente estranho.
"Eu disse" ele agarrou minhas mãos "que vou", moveu-me para sair
debaixo de mim "colocá-la" eu voei no ar antes que ele me pegasse
ordenadamente "para baixo agora."
Eu estava em seus braços, sem camisa, com o cabelo cheio de casca
de arvore e meu peito vermelho dos meus tapas. Ele estava coberto de
lama dos meus sapatos, respirando pesadamente e mantendo as mãos
firmemente na minha cintura, segurando-me a uma distância segura.
Ele balançou a cabeça. "Você é como um acidente de trem, não é?"
Empurrei um pouco de cabelo para longe do meu rosto. "Puiiiii?"
Graças a Deus ele riu.
Então ele galantemente se virou enquanto eu vestia minha blusa de
volta, o que foi doce, considerando que ele já tinha tido uma visão
substancial das mercadorias. Em seguida, ele começou a caminhar de
volta para o jipe.
"É sempre assim com as abelhas?", perguntou.
"Onde?", perguntei, esquivando-me automaticamente. Minha
frequência cardíaca ficou elevadíssima com o pensamento de que a
abelha havia retornado para se vingar.
"Calma aí, ela está muito longe."
"Bom", eu disse, examinando a área.
"Ela provavelmente está dizendo a todos os seus amigos para se
desviarem da senhora andando na floresta em sua roupa de baixo."
"Hey!", eu disse, dando-lhe uma cotovelada. "Era apenas o meu
sutiã."
Ele apenas balançou a cabeça e riu. "Não há mais natureza para
você hoje." E colocou a mão na parte inferior das minhas costas
novamente, me guiando em direção à estrada.
Tudo estava calmo, e era possível ouvir os sons de nossos pés
esmagando a vegetação rasteira. Eu olhei para ele com o rosto quase na
sombra. Passava do anoitecer - nós ficamos na floresta por um tempo.
Os vaga-lumes estavam começando a ligar, provocando aqui e ali na
penumbra. Nós tínhamos passado a maior parte da tarde juntos, e ela
tinha voado.
"Abelhas à parte, obrigada por me trazer aqui. E desculpe
novamente sobre a escalada. E os gritos."
"Da próxima vez, menos gritos. Escalada é bom; só me dê um aviso
antes", ele respondeu com um sorriso fácil.
Nós tínhamos chegado ao jeep. "Escalada", eu anunciei em
advertência, dando um passo para o alto e fixando-me em meu lugar.
Ele ficou de pé ao lado do carro por mais um momento, e eu olhei para
ele com curiosidade. "O que foi, Leo?"
"Você só estará aqui durante o verão, certo?", perguntou, seus olhos
olhando fixamente para os meus.
Eu me senti o mais ínfimo dos solavancos passando através de
mim.
"Mmm-hmm." Talvez isso fosse mais fácil do que eu pensei, se nós
dois quiséssemos a mesma coisa. Essa média...
Ele se inclinou para o jipe, uma mão segurando a barra de rolo
sobre a minha cabeça e a outra descansando no painel. Enjaulada por
seus braços fortes, eu olhei para o rosto dele. O canto de sua boca se
levantou num sorriso furtivo. "Então eu deveria me jogar nisso."
Em seguida, seus lábios estavam nos meus, quentes e macios.
Mmm. Meus olhos ainda estavam abertos, procurando os seus.
Emocionada e encorajada por sua súbita mudança, minha boca moldou
à dele. O beijo foi rápido, muito rápido - antes que eu pudesse fechar os
olhos e começar a me divertir ele se afastou, lambendo os lábios e
sorrindo como um gato.
"Hey, volte aqui", eu insisti, deslizando minhas mãos atrás de seu
pescoço, meus polegares acariciando suas maçãs do rosto. Eu puxei
sua boca de volta à minha, deleitando-me com a sensação. Sua barba
fazia um pouco de cócegas, rouca e suave ao mesmo tempo. Eu gostava.
Eu mais do que gostava, realmente. Eu podia ver como muito
rapidamente poderia começar a almejar por isso. Inclinei-me para o
beijo, levantando-me um pouco do banco e roçando seus lábios com os
meus. Nós nos beijamos de novo e de novo, e pequenas explosões de luz
eclodiram a cada vez. Eu suspirei em sua boca e ele se afastou um
pouco. Tentei seguir seus lábios e ele riu.
"Isso foi um suspiro de 'isso é chato'?”
"Você está de brincadeira? Foi um suspiro de 'por favor, me beije
mais'." Eu pressionei mais um beijo em seus lábios.
"'Por favor, me beije mais?’", ele perguntou, com os olhos cheios de
divertimento.
"Uh-huh!". Balancei a cabeça, colocando um beijo em sua testa,
nariz, queixo, e um final sobre sua boca. "É assim que todos os passeios
pela fazenda terminam?"
"Eu diria que essa é primeira vez." Ele riu, inclinando-se sobre mim
e afivelando meu cinto de segurança.
"Bom", respondi enquanto ele caminhava para o seu lado do jipe.
"Eu gosto de ser original."
"Oh, eu percebi isso", ele respondeu, ligando o carro e me dando um
sorriso sexy.
Meus joelhos fraquejaram. Eu não pude evitar. Voltamos para a
casa principal, onde ele me colocou no meu carro, e então me beijou
mais uma vez antes de eu sair.
E enquanto eu dirigia para casa brinquei com meu ipod,
percorrendo canções até que encontrei Achtung Baby. Eu tinha
esquecido o quão incrível este álbum era.
Quando o alarme disparou na manhã seguinte às 4:30, eu comecei
a listar todas as razões pelas quais eu deveria odiar minha mãe. Por
4:37 eu tinha dezessete razões bem pensadas que dificultariam o
pagamento de fiança nos termos da lei do Estado de Nova Iorque. Mas
por 4:57 eu estava no carro, cabelo molhado e amarrado para trás em
um coque, caneca de café na mão, pronta para um dia de trabalho.
Eu odiava levantar tão cedo, como qualquer humano normal. Não
havia nada pior do que ser arrastado para fora da cama antes que o sol
tivesse sequer tivesse nascido, para limpar caixas de gordura e cortar
setenta cabeças de alface para "salada". Esta foi a minha vida desde
cerca dos onze anos de idade até a graduação do ensino médio. A
mesma coisa, dia após dia. Foi parte da razão pela qual eu tinha
escolhido o caminho de chef particular: havia sempre algo novo e
excitante para brincar, novos menus para criar, novos paladares para
atormentar.
Eu esmaguei esse pensamento enquanto me dirigia para a cidade.
Quando o sol rastejou sobre as montanhas, eu gemia e resmungava
sobre quão cedo eu tinha que ir para o restaurante. No entanto, havia
algo sobre o ar tão cedo, especialmente no verão: era limpo e fresco.
Embora a previsão dissesse que ia ter chuva, agora o céu estava claro,
sem um traço de umidade.
Eu bocejei enquanto estacionava em meu lugar atrás da lanchonete.
Tinha dormido particularmente mal na noite passada. Foi porque eu
tinha ficado entrando e saindo dos meus sonhos? E por dentro e fora...
Bem. Sim, de fato. Eu toquei meus lábios, em memória da sensação de
sua boca na minha, e com um sorriso secreto abri a porta traseira e
comecei meu dia.
Por volta das 8:00 eu tinha legumes preparados para o dia, seis
lotes de carne temperada e pronta no forno para o serviço de almoço e
estava gritando de volta para Maxine e Sandy enquanto elas faziam os
pedidos. Comandei a grelha até que Carl chegou às 9h, e então fui para
o frigorífico para ver algo novo para o almoço do especial de amanhã.
Quarta-feira tinha sido dia de guisado de carne desde que o tempo
começou, mas eu pensei que poderia tentar algo um pouco diferente. Se
Albert estava disposto a tentar algo novo, alguns dos outros clientes
leais podem estar abertos a tentar também. Modificar o ensopado não
era exatamente como negociar um tratado de paz no Oriente Médio,
mas poderia ser minha pequena vitória.
Sustentando a porta da cabine um pouco aberta, para evitar ficar
presa, observei as prateleiras, notando a desorganização da minha mãe.
"Carl, tudo bem se eu trabalhar aqui um pouco? Reorganizando
algumas coisas?" falei.
"Claro, claro Roxie, posso me virar sozinho aqui fora", resmungou
ele, bem-humorado.
Eu sabia que ele ficava mais feliz quando era deixado sozinho. Carl
tinha trabalhado aqui por mais tempo do que alguém poderia lembrar;
até a minha mãe não tinha certeza de quanto tempo ele tinha estado
por aqui. Uma das minhas primeiras lembranças era de Carl jogando
água na grelha para limpá-la. Eu gostava de trabalhar com ele. Ele
ficava quieto e não deixava as garçonetes puxá-lo para qualquer drama,
e nunca perdia a calma, mesmo quando estávamos em nosso momento
mais movimentado.
Eu dei um passo para fora até a cozinha, para pegar meu agasalho.
"Chame-me se ficar apurado, ok?" Dei um passo atrás para pegar a
prancheta do gancho e comecei a fazer um inventário.
Arrumei tudo para ficar organizado e prático. Proteínas de um lado,
legumes e frutas do outro. O menu era tão fortemente dependente dos
itens padrão do restaurante (bife, empadão de frango, hambúrgueres,
etc.) que a nova organização ficou um pouco esparsa; a maior parte das
entregas frescas ia direto para o freezer para ser mais tarde. Enquanto
reorganizava, comecei a pensar em quais maneiras que eu poderia
redirecionar alguns desses ingredientes. Eu estava profundamente
envolvido em calcular quantos quilos de batatas eu precisava para
batatas fritas e se eu tinha de sobra para fazer batatas gratinadas
quando ouvi uma batida na porta.
"Eu estou indo, Carl," falei, começando a abrir a porta.
"Por que de repente eu estou com ciúmes de Carl?" Leo encheu a
porta com seu corpo grande e seu sorriso.
"O que você está fazendo aqui?", perguntei quando ele deu um
passo em minha direção. "Não é o seu dia de entrega normal."
"Você acreditaria em mim se eu dissesse que tinha algumas
beterrabas para trazer?"
"Isso dependeria da beterraba", eu disse. "O que mais você tem?"
"O que você está vestindo?", perguntou, dando mais um passo em
minha direção.
Eu recuei para a alface. "Isso?" Abri os lados do meu muito atraente
moletom cinza de capuz.
"É muito foda", disse ele, tomando o último passo e deslizando as
mãos dentro do meu moletom, estabelecendo-se baixo em torno dos
meus quadris.
"Você realmente não me trouxe beterraba, não é?" Eu disse, não
sentindo mais o frio em torno de mim agora. Eu deixei minhas mãos
viajarem até seu peito, deslizando para cima e em volta de seu pescoço.
"Eu fiz", ele murmurou, seus polegares deslizando por baixo da
minha camisa um pouquinho. "Eu trouxe beterrabas insanas."
"Oh homem," suspirei, e logo mudei para um “snortmmm” quando
ele acariciou minha nuca. "Você me trouxe mais alguma coisa?"
Ele aproximou seu rosto do meu, corando só um pouquinho. "Eu
estou um pouco hesitante em te responder isso agora."
"O que você trouxe?", perguntei, sacudindo os ombros.
Ele enterrou a cabeça mais uma vez no meu pescoço. "Um
realmente grande pepino", foi sua resposta abafada. Eu joguei minha
cabeça para trás e ri. Ele continuou seu caminho, agora varrendo beijos
de volta em direção ao meu ouvido.
"Eu estou pegando minhas beterrabas de volta e indo para casa", ele
sussurrou, e meu riso parou quando ele lambeu minha pele.
"Não, não, você teve todo esse trabalho só para me trazer um
pepino. Pelo menos deixe-me vê-lo."
Ele gemeu em meu pescoço. "Agora você está me matando." Ele
tentou se afastar, mas eu logo o puxei de volta.
"Você deve ficar apenas mais um minuto", eu disse, virando a
cabeça para lhe permitir um melhor acesso ao meu ponto doce. Bem, o
local mais doce acessível agora, pelo menos. "Oh sim... você
definitivamente deve ficar mais um minuto... ou sete."
Ele respondeu com um beijo na minha clavícula. "Será que essa é
versão de restaurante de Sete Minutos no Céu6? Eu me sinto como um
adolescente."
"Eu posso lhe oferecer uma versão melhor", eu disse, arqueando-me
para ele e sentindo meus seios imprensados contra seu peito. "Minha
mãe está fora da cidade. Você quer vir para o jantar hoje à noite?"
"Agora você está falando minha língua", ele disse à alça do meu
sutiã, que ele estava empurrando para o lado para dançar beijinhos na
pele por baixo. Meu ombro estava no céu. Ele reuniu meu cabelo para
trás em seu punho, varrendo-o dos meus ombros, e respirou fundo.
"Alguém já te disse que você cheira a mel?"
"Isto certamente explicaria as abelhas."
Ele levantou a cabeça. "Você está ciente de que no segundo em que
você disse a palavra abelha, todo o seu corpo congelou?"
Eu suspirei. "Eu realmente acredito na história 'quando as abelhas
sumirem, assim acontecerá com o planeta também', mas elas ainda são
idiotas."
Ele baixou a cabeça de volta para o meu ombro. "Você é maluca."
Eu sorri. "Mas você ainda quer lamber meu mel, não é?"
Ele gemeu.
Minutos mais tarde, depois de ajeitar o cabelo dele com as mãos
para suavizar as marcas que minhas mãos haviam feito, e endireitar a
minha camisa, Leo saiu, dizendo: "Ok então, eu vou trazer as
beterrabas quando estiver na época certa.”

6É uma brincadeira adolescente onde um casal é trancado no armário ou algo do gênero


durante sete minutos para fazerem o que quiserem.
Eu sabia que ele estava falando isso para que as pessoas
pensassem que ele estava lá apenas para fazer as entregas, mas mesmo
assim não pude deixar de rir.
Hoje à noite eu teria Leo. Para jantar. Sim, essa frase foi
intencional. Eram raros os momentos quando eu me sentava com um
cara e compartilhava uma refeição que eu tinha preparado. Mas com
Leo fornecendo uma porção da comida, e considerando o pouco
potencial para amarras, isso só parecia certo. E, para ser sincera, eu
gostei da ideia de cozinhar para Leo. Eu queria cozinhar para ele.
Esperei mais alguns minutos, mantendo minhas risadinhas sob
controle e fechando o zíper do meu agasalho, perguntando-me se meus
lábios pareciam usados. Caramba, o homem sabia beijar.
Quando voltei para a cozinha com a prancheta na mão, tudo estava
normal - o mundo continuou a girar.
Mas o almoço estava se aproximando, e minha curiosidade sobre a
cesta que ele me trouxe - eu precisava ver o quão grande esse pepino
era - infelizmente teria que esperar. Enquanto eu preparava o
ensopado, percebi que estava curiosa para chegar ao fundo da história
de Leo, já que eu tinha certeza que seria uma boa história. E agora eu
estava também fora de minha mente, presa numa tangente de devaneio
sobre sua parte inferior, que certamente seria grandemente bonita.
Pensei em todas as possibilidades durante todo o almoço, e depois,
durante toda a preparação das beterrabas. Eu tinha algumas ideias do
que queria fazer para o jantar hoje à noite com Leo, e as beterrabas
teriam um lugar de destaque. E, por falar em destaque, agora eu pude
finalmente olhar no cesto que ele me deixou, e vi o pepino. Ele deveria
ter sido preso por carregar essa coisa através da cidade. Honestamente.
Depois que eu fechei a lanchonete e recolhi minha beterraba, fui
fazer compras para o resto do que eu precisava para esta noite. Estando
tão perto do Instituto de Culinária da América, em Hyde Park, esta área
sempre teve a sua quota de paladares impecáveis. Mas com a explosão
do campo à mesa, o número de lojas que vendem produtos locais e
caseiros haviam se multiplicado significativamente.
Eu passei os últimos anos sendo mimada pelas riquezas de viver tão
perto do Vale de San Joaquin, uma das maiores áreas agrícolas em todo
os Estados Unidos. O acesso a frutas e legumes cultivados localmente
era algo que eu tinha como certo.
Mas aqui tudo era cultivado em casa, no estilo de Nova York. O Vale
Hudson sempre teve uma mistura de pessoas que acreditavam na
agricultura familiar. Pegue alguns hippies e ricaços, adicione uma
pitada da velha escola, uma pitada de sangue azul e um montão de
tempo, com uma ajuda generosa dos profissionais da cidade que
possuíam casas de fim de semana, e você tinha um caldeirão eclético.
Por isso, fazia todo o sentido que na rua principal fosse possível
encontrar uma loja de roupas de alta costura ao lado de uma loja que
vendia cristais prometendo-lhe luz e paz interior. Um corretor de
imóveis com portfólio de vários milhões de dólares ao lado de um pub
simples.
Mas o que eu estava mesmo observando era o açougue de cidade
pequena. A loja de queijos. Uma padaria. Uma mercearia vendendo de
tudo: desde cintos de dois dólares à fivelas de nove dólares e picles
artesanais. Ooh, e uma loja de vinhos. Produzidos localmente, de
origem sustentável, e borbulhantes para fazer-nos ligeiramente
bêbados? Ora, muito obrigado, senhor, acho que vou querer mais um
pouco.
Passei a tarde entrando e saindo de lojas, dizendo Olá para as
pessoas que eu não tinha visto há tempos e estocando minha despensa
para o verão de forma significativa. Eu tinha deixado muitas das
minhas coisas em LA, trazendo apenas o básico: roupas, maquiagem,
facas e um punhado de açafrão.
Agora eu enchia a parte de trás do meu carro com pão de centeio
fresco, vinagre balsâmico envelhecido e bacon defumado local. Peguei
braçadas de especiarias, molhos de ervas frescas e uma porção de
queijo especial produzido por um queijeiro aqui da cidade. A loja de
queijos contava com uma grande variedade de laticínios das
proximidades, e eu poderia apostar que Leo saberia mais sobre essas
vacas.
E, enquanto comprava, fui lembrando de várias coisas que Leo
tinha dito ao nosso grupo na turnê pela fazenda. O que ele estava
fazendo não era diferente de como a agricultura familiar havia sido
executada há cem anos; ele estava apenas trabalhando numa escala
maior do que a maioria. "O que cresce junto, fica bem junto" era uma
frase que eu ouvi durante toda a minha vida culinária. Às vezes é
aplicada a combinação de vinhos com alimentos específicos, e muitas
vezes é aplicada à ervas e afins. Pegue tomates e manjericão, por
exemplo. Todo mundo sabe que eles ficam ótimo juntos, mas eu aprendi
com Leo que, literalmente, eles crescem melhor quando são plantados
juntos. Algo sobre o solo e uma praga particular. Era difícil prestar
atenção nesse ponto, porque ele estava ajoelhado, o que deixou suas
calças apertadas sobre seu “pacote” muito bonito, mas o ponto era que
tomates e manjericão plantados próximos uns dos outros, na verdade,
tem um sabor melhor. A Mãe Natureza era realmente muito sábia.
Então, conforme fazia minhas compras agora, estava ainda mais
consciente sobre o que acontecia com o que, e sobre quem produziu
tudo isso. E por isso era bom encontrar um açougueiro honesto, que
não só poderia me dizer qual era o melhor corte do dia, mas que quando
eu mencionei que precisava de carne de porco moída fresca, ele cortou
um pedaço de lombo e triturou-o para mim, pessoalmente. Seu nome
era Steve. O nome do meu novo açougueiro era Steve.
Eu me peguei assobiando um acorde feliz no meu caminho de volta
para o carro e, por um momento minúsculo, encontrei-me um pouco
saudosa de casa e da minha cidade natal.
Mas, por agora, saí em disparada na direção da casa da minha mãe.
Eu tinha um menino chegando esta noite. Graças a Deus eu tinha
limpado o lugar.
Algumas horas mais tarde eu já tinha aberto todas as janelas para
deixar a brisa do fim da tarde entrar, e estava de volta aos pensamentos
sobre Leo. Eu gostava de ficar perto dele, e estava ansiosa para
desfrutá-lo nu em algum ponto. Mas, além disso, também queria
conhecê-lo, descobrir o que o fez ser do jeito que era.
O que Leo pensaria da minha pequena casa de infância? Eu não
tenho vergonha das minhas origens, mas era impressionante pensar em
quão diferente eram os lugares da onde viemos.
Mas eu não podia pensar sobre isso muito tempo, pois tinha um
jantar para fazer. Misturando um pouco de limão, estragão fresco,
azeite e uma pitada de sal, eu salpiquei os temperos ao longo das belas
vieiras que peguei no mercado de peixe (outra coisa nova na cidade).
Reservei as vieiras e sua marinada na geladeira, e montei o stilton com
algumas cerejas que escolhi. Em seguida, comecei a descascar as
beterrabas que eu tinha cozido no restaurante.
Estava cortando a beterraba quando ouvi um carro descendo a
entrada. Um olhar através das cortinas mostrou o jipe de Leo
estacionando, levantando poeira. Mesmo sob a camisa, seus músculos
eram evidentes quando ele desceu, com costas fortes, mas não de uma
forma ondulante. Era apenas força impressionante. Eu tinha visto o
quão duro ele trabalhava em sua fazenda. E, por falar em
impressionante, ele abandonou a camisa de flanela de trabalhador e
estava fodidamente lindo numa branca de botões e jeans confortáveis.
E a barba ainda estava lá, desalinhada e bem aparada, e eu queria
beijá-lo só para sentir as cócegas. Senti um arrepio correr para cima e
para baixo pela minha espinha enquanto imaginava se eu gostaria de
ser a garota para quem ele chegaria em casa a cada noite. Uau. Da onde
veio isso?
Balancei a ideia pra longe, me inclinei para fora da janela e gritei: "A
porta está aberta, entre!"
Eu tive o prazer de ver o brilho no seu rosto quando ele ouviu o som
da minha voz. Wow, olha isso!
"Bem, olá", disse ele, chegando ao virar da esquina com uma garrafa
de vinho. "Eu não tinha certeza do que você estava preparando, então
trouxe vinho branco. Wow, você matou alguém esta tarde?"
"Ha-ha,” respondi, segurando a última beterraba que eu estava
cortando e mostrando-lhe meu mindinho roxo. "Alguém me trouxe
beterraba, e esse mesmo alguém sabe exatamente o que elas fazem para
suas mãos quando você mexe com elas."
"Se eu fizesse uma piada sobre captura-la em flagrante, você iria
rir?"
"Eu acho que sim", eu disse, soprando um pedaço de cabelo para
longe do meu rosto.
Ele esperou um momento, olhando para mim com expectativa.
"O que eu perdi?"
"Você não está rindo", disse ele, colocando o vinho na mesa e se
aproximando.
"Estava esperando a sua piada", eu disse, soprando novamente um
pedaço de cabelo caído no meu rosto. Eu não ousei tocá-lo; suco de
beterraba manchava quase tudo que tocava.
Suas bochechas se enrugaram enquanto ele ria. "Esqueça. Posso te
ajudar com isso?" Ele se inclinou e tirou o cabelo do meu rosto,
colocando-o cuidadosamente atrás da minha orelha. "Melhor?"
"Melhor", eu concordei. "Você está com fome?"
"Faminto", respondeu, dando um passo ainda mais perto.
"Faminto". Sua mão permaneceu no meu pescoço, seus dedos dançando
em toda a minha pele enquanto deslizavam ao redor até minha nuca,
quentes e pesados. "Posso te beijar sem você manchar minha camisa
toda de beterraba?"
"Com certeza", respondi, deixando que ele me puxasse para ele.
Mantive minhas mãos em meus lados, tentando evitar marcar sua
camisa. Ele me beijou lento e doce. Escovou fugazmente um pouco seus
lábios, primeiro de um lado da minha boca, depois do outro. Até o
momento que ele chegou ao meio da minha boca, eu estava subindo na
ponta dos pés para chegar mais perto, ainda mantendo minhas mãos
sujas para os lados. Ele segurou meu rosto entre as mãos, os polegares
varrendo minhas bochechas e franja. Na visita surpresa dessa tarde,
fomos surpreendidos pela louca paixão. Agora, porem, tudo queimava
lentamente por todo meu corpo.
Seus beijos varriam ao longo do meu queixo, e logo que ele chegou à
minha orelha, tive que avisá-lo que minhas mãos estavam começando a
ter mente própria.
"Se você quiser manter essa camisa intacta, é melhor se afastar
enquanto ainda estou conseguindo raciocinar." Eu gemi, abaixando a
cabeça e batendo-a contra seu peito algumas vezes.
"Para o registro, eu não estou nenhum pouco preocupado com a
camisa", disse ele enquanto eu me afastava e voltava para a minha
tábua de corte.
"Agora que você me diz." Terminando de cortar as beterrabas, eu
lavei as mãos até que a água saísse clara, em seguida, comecei a
montar a salada. Empilhei folhas de alface frisée e folhas de endívia em
dois pratos, coloquei algumas fatias de beterraba roxa, adicionei um
punhado das nozes especiais que Leo havia colhido (para as quais
recebi uma sobrancelha erguida em aprovação) e terminei com algumas
pitadas de um bom queijo feta moído. Reguei tudo com xarope de
vinagre balsâmico, acrescentei um pouco de óleo de noz, sal e, em
seguida, polvilhei pimenta e alguns ramos de salsa fresca na parte
superior.
Enquanto montava a salada, ele me contou sobre como um de seus
porcos fugiu do cercado e foi parar na floresta, e consequentemente
como ele e alguns de seus estagiários passaram a tarde correndo pela
floresta tentando resgatar o porco.
"Eu realmente queria ter visto isso", eu disse, colocando os pratos
sobre a mesa enquanto Leo abria o vinho que tinha trazido.
"Volte na fazenda em algum momento e eu vou lhe mostrar os
porcos. Eles são ótimos."
"E você cria porcos para...?"
"Carne de porco. Bacon. Tudo."
Virei-me do fogão, onde eu estava deixando esquentar a panela de
ferro fundido para preparar as vieiras. Eu já tinha fritado alguns
pedaços de bacon, deixando-os prontos para usar no último momento.
"Posso te perguntar uma coisa?"
"Claro", respondeu, derramando o vinho nas taças que separei.
"É estranho conhecer os animais que você vai acabar matando?
Você já se apegou?"
Eu segurei minha mão sobre a panela, testando o calor. Derrubei
uma gota de água, observando-a chiar e evaporar num pop. Perfeito.
Muito quente e as vieiras iriam queimar. Não quente o suficiente e elas
simplesmente estragam.
"Hmm. Não tenho certeza se me apegar é a palavra certa. Como
posso explicar sem soar insensível?" ele veio para ficar ao meu lado
enquanto eu começava a vieiras. "Durante o passeio eu falei sobre como
tudo na fazenda tem um propósito, certo? Os animais vivem a maior
parte da vida livre de estresse. Não apenas por razões humanitárias, o
que eu acho essencial. Mas também é melhor para mim e para o resto
da minha fazenda deixar as galinhas, ovelhas, porcos, mesmo as vacas
que pastam em algumas de minhas terras, soltas pelo maior tempo
possível. Quando eu movo as ovelhas num campo, eu recebo o benefício
de seus cascos arejando o solo e obtenho o benefício do composto que
ocorre naturalmente quando os animais fazem seus negócios. Eles
obtêm o benefício de comer bem todo dia, sob um céu lindo e movendo-
se tão livremente quanto querem. São animais incrivelmente felizes."
"Eles pareciam felizes", eu disse, observando as vieiras. Resisti à
vontade de virá-las, sabendo que quanto mais eu deixasse-as quietas
mais caramelizadas e suculentas elas ficariam.
"É incrível o quão boa fica uma bisteca quando o porco foi criado
andando pela floresta, rolando na lama, dormindo na sombra e vivendo
uma vida plena. Tentamos produzir tanto quanto podemos na fazenda,
tentando ser tão diversificados quanto possível e ainda manter a
qualidade. É um ato de equilíbrio que ainda estou aprendendo."
Ele era tão cheio de paixão pelo que fazia - seu corpo inteiro se
animou enquanto falava sobre isso.
Eu verifiquei uma das minhas vieiras, que estava linda na parte
inferior. Usando pinças, virei cada uma para dourar por igual.
"Eu me pergunto se esse bacon era feliz..." eu disse, pegando o
prato que tinha preparado anteriormente.
"Onde você conseguiu isso?"
"Na cidade. Steve, meu novo açougueiro favorito, recomendou".
"Esse é um bacon muito feliz," ele disse com orgulho. "É da minha
fazenda."
"Bem, olhe para você." Eu sorri, observando-o inchar um pouco. E
por que não deveria? Parecia que ele estava fazendo exatamente o que
deveria fazer.
As vieiras só precisavam de um momento no segundo lado, então as
tirei da panela. "Você pode querer ir um pouco mais para trás." Avisei, e
então espirrei uma colher de sopa de conhaque na panela, me
afastando ligeiramente também. O fogo pegou o álcool e chamas
dançaram furiosamente antes de morrerem tão rapidamente quanto
haviam começado. Eu estava me mostrando um pouco? Talvez. Era
bom cozinhar para alguém que eu estava... conhecendo.
Eu deixei o molho na panela mais um pouco, acrescentei um
pacotinho de manteiga para dar brilho, em seguida, o bacon. Mexi por
apenas um momento, terminei o molho e derramei sobre a linha de
vieiras no prato, e polvilhei cebolinha picada sobre a coisa toda. "Bem,
eu estou pronta para comer esse bacon feliz, essas vieiras totalmente
abençoadas e aquelas lindas beterrabas."
"Tudo parece incrível. Muito obrigado por cozinhar esta noite. Eu
poderia dizer que vou retribuir o favor, mas dizer que sou ruim na
cozinha seria o eufemismo do século".
"Você me ajuda com o jardim da minha mãe lá fora e eu vou te
ensinar algumas receitas básicas. O que você acha?" Falei antes mesmo
de pensar a respeito. Eu não ensino caras a cozinhar. Isso não era meu
modus operandi. Mas, que mal poderia fazer?
Ele colocou os pratos na mesa, em seguida, olhou para mim, os
olhos dançando. "Eu diria que esse vai ser um verão ocupado."

As beterrabas estavam boas. As vieiras ficaram adoráveis. O vinho


estava fantástico. O fazendeiro era lambível. Nós conversamos enquanto
comíamos, e ele elogiou a comida o tempo todo. Nunca na minha vida
eu estive com ciúmes de uma folha de endívia. Mas, entre as minhas
fantasias de ser devorada, realmente aprendi um pouco mais sobre Leo.
Digo pouco porque ele não compartilhou tudo o que eu queria saber,
porem.
Perguntei a ele sobre a rotação de culturas e ouvi mais do que você
jamais pensou que existisse. Perguntei sobre o movimento slow food, e
quase pude pensar que estava igreja ouvindo um sermão. Mas quando
perguntei a ele sobre seus pais, como tudo isso aconteceu para ele, ou
quantas vezes ele conheceu alguém com o mesmo sobrenome, e o cara
se escondeu como uma ostra. Graças a Deus por Chad, Logan e
Maxine, a garçonete fofoqueira.
"Mas você não cresceu aqui, não é?" Eu disse, inclinando-me para
trás na cadeira e permitindo que Leo me servisse outra taça de vinho.
Eu não estava bêbada ainda, mas as paredes do cômodo estavam se
tornando um pouquinho confusas.
"Por que você se lembrou disso?", ele perguntou, terminando a
garrafa em sua própria taça.
"Você está brincando? Quando a casa grande abriu novamente, as
pessoas souberam. É como a rainha: quando a bandeira está ali, ela
está em casa."
"O Maxwells. Isso é realmente como as pessoas nos veem, não é? O
nome?", Ele suspirou, seus olhos parecendo cansados quando ele
sorveu seu vinho.
"Bem, é um pouco de uma instituição, você tem que admitir." Eu
segui o laço na toalha da mesa. "Eu sempre me perguntei se vocês eram
as pessoas do café, também."
"Esses são nossos parentes distantes. Nós somos apenas os
banqueiros. Bem, eles são os banqueiros. Eu não estou mais envolvido
no negócio da família", disse ele, observando meus dedos sobre a mesa.
"Você nasceu e cresceu aqui, certo? Por que deixou este lugar?",
perguntou ele, e a mudança de assunto veio tão rapidamente que eu
tive que sacudir minha cabeça. "E não me diga que algumas pessoas
desejam luzes brilhantes e uma cidade maior."
"Uh, sim. Nasci e cresci aqui, em Bailey Falls. Saí logo depois que
me formei porque queria algo além de Bailey Falls. Eu sabia o que
aconteceria se ficasse aqui."
"O que você estava tão certa de que ia acontecer?"
"Estava muito bem escrito nos livros da cidade que eu herdaria o
restaurante e o administraria pelo resto da minha vida. Eu gostaria de
realmente ter uma vida em primeiro lugar."
"Você não quer o restaurante?"
"Você tem alguma ideia de como é difícil experimentar um novo
chapéu quando todos em sua família assumem que você deseja usar o
mesmo que todos eles estão usando?" Eu perguntei, sentindo um pouco
do velho peso que costumava carregar quando tinha que cuidar de
tudo, incluindo minha mãe, começando a se acumular novamente.
Ele fez uma careta. "Sim. Há um banco em Manhattan do tamanho
de um quarteirão com o meu sobrenome."
Ficamos em silêncio, exceto para o plink-plink da torneira
pingando. É claro que ele sabia do que eu estava falando. Havia mais
dessa história, mas ele parecia contente em sentar-se no silêncio, e eu
não estava prestes a empurrá-lo para fora de sua zona de conforto.
Tomei um gole de vinho, em seguida, falei. "Então, sim, eu fui
embora para a escola de culinária na Califórnia."
Ele parecia contente de focar a conversa de volta para mim. "Mesmo
com outra escola de culinária tão perto de casa?"
"O Instituto de Culinária da América é uma incrível escola e uma
das melhores. Mas era aqui, e eu queria estar longe".
"Califórnia, especificamente?", Perguntou.
"Sim e não. Fiquei intrigada com a Costa Oeste porque estava do
outro lado do mundo. E eu realmente gostava de estar lá: gostei do
clima, das pessoas, especialmente em Santa Barbara. Mas acho que, na
maior parte, era porque não era aqui".
"Mas é tão bom aqui", disse ele, parecendo confuso. "Parece o lugar
perfeito para crescer."
"Você fala como alguém que está cansado de toda a agitação da vida
urbana", eu disse com uma risada. "Aonde você cresceu?"
"Manhattan, principalmente. Eu nasci lá, fui para a escola lá até a
oitava série, então fui embora."
"Para a faculdade?"
Ele balançou a cabeça tristemente, revirando os olhos um pouco.
"Deixe-me adivinhar, Andover?"
"Exeter.”
"Ooooo, você remou um daqueles barcos, não é!"
"Você se refere à equipe de remo?"
"Equipe técnica! Sim!"
"Eu fiz", respondeu ele, seu rosto refletindo confusão e prazer pelo
meu prazer óbvio. Mas antes que eu tivesse a chance de perguntar a ele
sobre qualquer outra coisa, ele balançou o assunto de volta para mim.
"Então, havia uma razão que te fez querer tanto sair daqui?"
"Vamos apenas dizer que minha mãe tinha um monte de
namorados, e deixar por isso mesmo."
Ele parecia um pouco horrorizado. "Espere, isso significa que algum
deles..."
"Não, nada como você está imaginando! Foi apenas... minha mãe
acredita em amor à primeira vista."
"Bem, isso é... romântico?"
"É cansativo", eu disse, segurando minha cabeça em minhas mãos e
espiando através dos meus dedos. "Ela dizia que cada novo cara era o
único, sua alma gêmea, e ela vivia tudo muito intensamente. E, no meio
desse novo romance emocionante, ela esquecia de pagar a conta de
energia elétrica e as luzes eram cortadas. Mas, o verdadeiro amor
sobrevive a tudo, certo?"
"Verdadeiro amor versus eletricidade?"
"Bem, isso só aconteceu uma vez. Mas sempre havia coisas assim.
Ela faltava uma peça da escola porque Bob tinha um compromisso
posterior, ou não havia mais bolinhos para levar para a escola no meu
aniversário porque Chuck comeu todos à meia-noite. Mas o pior eram
os rompimentos. Ela conheceu seu príncipe encantado uma e outra vez,
e quando cada um desses príncipes inevitavelmente desencantava,
havia sempre o rescaldo. Ela estaria emocionalmente dizimada por um
tempo. Mas, no entanto, pronta para começar tudo de novo quando o
próximo cara na armadura brilhante aparecia."
"Parece que ela é o que eles chamam de ro..."
"Pessoa louca?"
"Eu ia dizer romântica incurável", disse ele, arqueando uma
sobrancelha para mim. "Então, eu entendo que esse gene não foi
passado para você?"
"Não muito", eu respondi, balançando a cabeça. "O amor é confuso,
doloroso e emocionalmente desgastante. Dificilmente parece valer a
pena." Ele estava me estudando cuidadosamente. Tempo para clarear
um pouco as coisas. "Mas chega de blábláblá. Vamos falar sobre a
equipe um pouco mais, porque agora eu estou te imaginando num
barco, sem camisa, e estou gostando dessa imagem!"
Ele sorriu. "Você está, hein?"
"Sim. Me conte tudo sobre seu tempo na equipe de remo. Em que
posição você joga?" Eu perguntei, ansiosamente querendo dar corpo a
minha fantasia com alguns detalhes da vida real.
Ele riu. "Você não sabe nada sobre a tripulação, não é?"
"Eu sei que há um cara no final que canta ou algo assim."
"O timoneiro?"
"Agora você está me matando." Eu suspirei, fingindo um desmaio.
Encorajada por sua risada, pulei fora da minha cadeira e sentei em seu
colo. Ele ficou surpreso, mas também parecia encantado. "Por favor,
diga mais palavras como timoneiro."
"Você está manchando uma das tradições mais antigas das escolas
preparatórias americanas, e eu não vou te ajudar nisso", ele repreendeu
quando eu me contorci um pouco, fazendo-o se empurrar para trás da
mesa para me dar mais espaço. O que permitiu que seus braços se
envolvessem em torno da minha cintura, seus polegares fazendo
pequenos círculos na minha pele.
"Manchar não é tão bom quanto timoneiro," eu provoquei. "Dê-me
palavras muito mais formais, como smoking ou Perrier."
"Como quando eu fazia todas essas coisas de mauricinhos?", ele
perguntou, olhando para mim com um sorriso divertido enquanto eu
brincava com os botões de sua camisa.
"Esse tempo de mauricinho deve ter te feito bem..." Inclinei-me e
esfreguei meu rosto em sua barba. "Eu mencionei o quanto eu gosto
desta barba?"
"Você não falou, mas obrigado. Eu estava pensando em raspar,
embora".
"Não faça isso. Há algo que eu quero tentar primeiro." Eu deixei
minhas mãos deslizarem até sua barba, espalhando-a um pouco com
meus dedos.
"E o que seria isso?", perguntou ele, empurrando a cadeira um
pouco mais. Aproveitei a oportunidade para levantar-me um pouco,
jogando uma perna de lado e sentando de frente para ele.
"Não posso te dizer. Ainda não", eu disse, sentindo meu rosto
esquentar.
Ele segurou meu rosto em suas mãos. "Olhe para você, se
envergonhando. Eu me pergunto o que você está pensando", brincou
ele, feliz.
"Shush", eu disse, rindo. Balancei-me um pouco para frente,
mexendo meus quadris e arqueando as costas. Seu rosto
instantaneamente passou de divertido para focado. "Por que não
estamos nos beijando ainda?"
"O inferno se eu sei", respondeu ele, e então me beijou forte. Ele
beijou-me quente. E enquanto sua língua brincava, meus lábios se
separaram e, inferno, minhas coxas se separaram também e... Mais... E
ele me beijou molhado.
E ele me beijou... lento. Agonizantemente, irritantemente e
dolorosamente lento.
Eu adorava beijar. Eu também adorava o que geralmente acontecia
depois, mas estava especialmente amando esta parte com Leo. No
início, quando tudo é novo e excitante, todo o mundo se resume a lábios
doces e suspiros silenciosos. Quando as estrelas desaparecem e a terra
deixa de girar, seu eixo esquecido na sequência de coisas como para
que lado você vai inclinar-se e de que maneira seu pescoço
naturalmente vai virar. Seria mesmo possível que eu pudesse realmente
detectar suas impressões digitais? Porque minha pele parecia tão viva
agora... e meu nariz apenas roçou o seu, e o pequeno gemido que
retumbou profundamente em seu peito é o som mais erótico que se
possa imaginar, e, oh meu Deus! Seu cabelo cheira muito bem.
Nos beijamos por um logo tempo, como se fosse por mais de mil
anos. Ou sólidos quinze minutos, pelo menos. Isso é muito tempo para
ficar apenas beijando... e ainda não era tempo suficiente. Ao houve
acima da camisa ou ação abaixo da fivela, nenhum empurrão ou
moagem. Apenas beijos. Minhas mãos ficaram em seus ombros, e um
pouco em seu cabelo. Suas mãos se hospedaram na minha cintura, e
um pouco na minha bunda. Exceto por esse momento glorioso quando
elas vieram até meu rosto, traçando os polegares sobre minhas
bochechas e virando meu rosto para que ele pudesse fazer cócegas em
meu pescoço com seus lábios.
Lenta e preguiçosamente, sem pressa e maravilhosamente, sua
língua mergulhou contra a minha de novo e de novo, e eu podia sentir
pequenos espinhos e formigamentos ao longo de toda a minha espinha.
E por pequenos espinhos e formigamentos eu quero dizer fogos de
artifício - meu corpo estava acordando sob suas mãos, querendo mais,
precisando de mais. Se sua boca por si só poderia fazer tudo isso, o que
poderá acontecer quando outras partes estiverem envolvidas? Senti um
puxão de pura luxúria na minha barriga, reunindo-se no meu sangue e
ameaçando se soltar e correr livremente por todo o meu corpo.
Me afastei dele, meus lábios inchados, a área ao redor da minha
boca formigando por causa de sua barba. Minha cabeça se inclinou um
pouco para trás, parecendo flutuar, e meu corpo sabia o que fazer,
mesmo que minha mente não chegasse a entender exatamente o que eu
estava sentindo. O sentimento por trás da figura do atleta bobo e do
alegre agricultor, a sensação de que algo épico e incomum estava
acontecendo. Leo se inclinou em minha direção, seus lábios traçando
um caminho no meu pescoço, lambendo, chupando e gemendo
enquanto suas mãos agora viajavam até o primeiro botão aberto da
minha camisa, e depois o próximo.
Ele olhou para mim com olhos semicerrados, escuros e
emocionados. Ele levantou uma sobrancelha e eu balancei a cabeça, e
então ele começou a retirar minha camisa lentamente, revelando a
renda do meu sutiã. Quando ele inclinou a cabeça de novo para mim,
seus lábios mal escovaram os topos dos meus seios, mas eu sabia
exatamente onde estávamos indo com isso. Aproveitei essa pequena
pausa para ter uma conversa muito séria antes que chegássemos lá.
Perdida entre carícias, murmurei em voz baixa, "Leo?"
"Mmm?", respondeu ele, seus lábios fazendo cócegas em minha
garganta.
"Lembra-se do que estávamos falando antes, sobre amor à primeira
vista, relacionamentos, o príncipe encantado e tudo isso?"
"Mm-hmm," ele disse, virando aqueles olhos ardentes em minha
direção. "Príncipe encantado, com certeza. Você ia pedir para ver minha
espada ou algo assim?"
Eu podia sentir seu sorriso - era grande o suficiente para tocar os
topos de ambos os meus seios, direito e esquerdo. Eu ri do momento, e
então tentei usar minha voz de garota grande. "Você sabe que eu vou
ficar aqui somente durante o verão, certo?"
"Estou ciente. Você sabe que tem uma sarda entre os seus..."
"Eu sei", eu disse, gemendo, com a pele arrepiada "Mas, o verão-"
"Sim, você está aqui para o verão. E só o verão. Você menciona isso
o tempo todo. Você vai se transformar em uma abóbora em setembro ou
algo assim?"
Sorri, mas depois fiquei séria novamente. "Eu menciono isso muito
porque gosto que as coisas sejam claras e honestas, sem mal-
entendidos desarrumados mais tarde. Então você deve saber que eu
realmente não me envolvo."
Ele parou o beijo e levantou o rosto para olhar para mim. Realmente
olhar para mim. Ele parecia estar me observando, tentando descobrir o
que eu estava pensando mas não estava dizendo. E mesmo que eu
tivesse tido essa conversa com outros homens antes, desta vez eu senti
um... tipo curioso de pontada. Mas, antes que eu pudesse pensar mais
sobre isso, ele concordou. Em seguida, aproximou os lábios da minha
clavícula, e eu parei de pensar. E, quando sua boca começou a
esquentar toda minha pele novamente, quando senti meus quadris
começarem a se mover contra os seus, meu telefone tocou ecoando em
todo cômodo.
Eu gemi, recostando-me contra a mesa quando ele olhou para a
cozinha.
"Você precisa atender?", ele perguntou, suas mãos deslizando de
volta para minha cintura e me puxando contra ele, segurando-me mais
perto. Sim, muito mais perto!
"Não, eu não penso assim", respondi, afundando minhas mãos em
seus cabelos. Espessos e sedosos, eles enrolaram naturalmente ao
longo de meus dedos. Nós jogamos um jogo de espera em silêncio
enquanto o telefone tocava mais três vezes antes de finalmente ir para o
correio de voz. E nesse meio tempo respiramos juntos, meu peito
subindo ao mesmo tempo que o dele.
Inclinei-me para beijar o topo de sua cabeça, e ele gemeu. "Você
deve fazer isso de novo", ele murmurou em minha pele.
"Fazer o quê?", Perguntei, repetindo o movimento.
"Isso", respondeu ele, beijando o topo do meu seio. "Faz com que eu
veja todo o caminho para baixo em sua camisa."
Rindo, o empurrei para trás, deixando minhas unhas arranharem
um pouco enquanto arrastava minhas mãos para cima em direção aos
seus ombros. Em retaliação, ele apertou minha cintura um pouco mais
forte, seus dedos cavando em minha pele...
E o telefone tocou de novo. Oh, pelo amor. . .
Tentei alcançar meu telefone sem sair de seu colo, mas não
consegui. Bufei enquanto me levantava do colo de Leo, dando dois
passos para frente e, em seguida, um passo para trás, para mais um
beijo. Ele inclinou-se avidamente, e um beijo tornou-se oito. Oito
tornou-se treze. E meu telefone parou de tocar de novo.
Treze estava a caminho do muito mágico vinte e sete quando meu
telefone tocou pela terceira vez. Eu literalmente tive que me forçar a
afastar meus lábios dos dele, usando o polegar como um pé de cabra.
"É melhor ter alguma coisa pegando fogo para justificar", disse eu,
finalmente, recuperando meu telefone. Não reconheci o número.
"Roxie Callahan?", perguntou uma voz de homem.
"Sim."
"Aqui é do Corpo de Bombeiros."
Graças a Deus nada estava em chamas. O corpo de bombeiros local
recebeu ligações da empresa de alarme: a porta dos fundos do
restaurante foi aberta e o alarme disparou como louco. Até o momento
em que eu tinha meus sapatos e estava pronta para ir até lá, eles
tinham conseguido ligar para Carl, que também estava na lista de
chamada, e ele saiu para verificar tudo. Aparentemente um vento forte
tinha conseguido abrir a porta, e agora a crise tinha acabado. Leo
ofereceu-se para dirigir-se ao restaurante comigo para acompanhar,
mas Carl me garantiu que estava tudo bem, e eu chamaria um chaveiro
de manhã para me certificar de que não voltasse a acontecer.
Saímos em direção a sua caminhonete no meu quintal. Ele estava
com a mão na parte inferior das minhas costas, firme, quente e...
reconfortante? Inferno, conforto era muito parecido com tesão, então eu
estava bem com isso.
"Obrigado pelo jantar de hoje à noite. Eu diria que as vieiras foram
a melhor parte, mas eu acho que foi..."
"Se você disser as beterrabas, eu vou..."
"Obviamente eu estava me referindo a espreitar para baixo da sua
camisa", disse ele inexpressivo. "Mas agora que você mencionou, as
beterrabas certamente foram o melhor."
"Espere só até eu começar a trabalhar em suas abobrinhas", eu
disse com uma piscadela.
"Você é um pouco perigosa, não é?", perguntou ele, pegando-me em
um abraço solto e olhando para mim. A lua estava cheia e brilhante,
fazendo sombras sobre o gramado. E ao luar, ele era o único perigoso.
Em vez de responder, eu trouxe sua cabeça para baixo e beijei-o.
Uma vez mais, com sentimento.
Poucos dias depois, Chade Bowman entrou valsando na lanchonete
vazia logo após o turno do almoço.
"O que há, sonho adolescente?" Eu perguntei enquanto ele
balançou-se sobre um dos bancos.
"O que há com você?", ele respondeu e eu ri.
"Você me fez lembrar que eu tinha memorizado o seu horário no
segundo ano. Eu sabia exatamente as salas para as quais me esgueirar,
exatamente o momento certo para ter um vislumbre seu", eu admiti,
exagerando e fazendo um coração batendo com a mão.
"Eu fiz isso também, no segundo ano", disse ele. "Mas eu estava me
esgueirando para ver o treinador Whitmore."
"Oooh, isso é uma bomba!", eu respondi, pensando no treinador do
time de basquete do colégio, que usava os mais apertados e mais
brancos shorts que conseguia encontrar. Olhei para baixo no balcão,
observando a hora em seu relógio. "Sim! Hora de fechar!" Eu disse,
levantando meu punho em vitória e indo em direção à porta para fechá-
la. "O senhor fodão do ensino médio tem permissão especial para ficar,
mas só se você se comportar enquanto eu estou limpando."
"Não vou demorar muito tempo; eu só vim por um pedaço de bolo.
Eu ouvi um boato de que depois de mil anos este restaurante estava
servindo algo diferente de torta de cereja, é verdade?" Ele esticou o
pescoço para ver o visor de sobremesa. Que estava vazio.
"Você ouviu direito, mas acabou tudo depois do almoço, exceto..."
Corri de volta para a cozinha. "Este" segurei um prato com os dois
últimos pedaços de bolo de caramelo.
"Oh meu Deus, isso é lindo," ele sussurrou, e eu tive que concordar.
Impossivelmente alto, o bolo tinha três camadas. Fofo, com camadas de
bolo de manteiga um pouco picante, leite e pitadas de baunilha de
Madagascar. Escondida entre as camadas de bolo estava uma camada
de caramelo caseiro cozido lentamente, o qual eu também derramei
sobre o topo e que agora escorria pelos lados; uma sobremesa
brilhantemente doce.
"Eu estava levando estes para casa comigo esta noite, mas prefiro
sentar no balcão com a minha paixão favorita do colegial e ver o garfo
entrando e saindo de sua boca."
"Eu diria que isso me assusta um pouco, mas não quero correr o
risco de ficar sem esse bolo", ele disse, sem afastar os olhos do prato.
"Quer um pouco de café para acompanhar?" Eu ri, colocando o
prato no balcão e indo pegar dois garfos.
"Que café?", Perguntou ele, encantado como uma cobra.
"Notável", eu disse com uma risada, entregando-lhe um garfo. Eu
adorava assistir as pessoas que gostavam da minha comida. Eu
precisava de café para armonizar com o meu deleite doce, no entanto.
Antes de eu terminar de encher minha xícara, porem, metade de seu
bolo tinha ido embora.
"Do que você chama isso?", perguntou ele com a boca cheia.
Inclinei-me e tirei uma migalha de seu queixo com o polegar, trazendo-a
aos meus lábios e lambendo. Ele parecia triste que eu tinha roubado
uma migalha.
"Bolo triplo de caramelo do Sul."
"Agora vai se chamar Chad Bowman especial."
"Entendido", respondi, atacando minha própria fatia.
Quando eu fiz estes bolos na noite anterior, não tinha ideia que
seriam um sucesso tão grande. Eu tinha feito quatro bolos, e essas
duas fatias eram tudo o que restava. Eu comecei a pensar em outros
bolos que poderia fazer, imaginando quais tipos de cobertura e recheio
poderia usar. Eu estava acostumada a ficar constantemente testando
receitas, mudando e adaptando-as, mas agora estava presa fazendo o
mesmo macarrão com almôndegas da receita que tinha estado no menu
desde antes de eu nascer. Eu ficaria entediada se não tentasse algo
novo no menu em breve.
Suspirei quando provei o bolo de caramelo. Este era um exemplo de
como uma velha receita ainda era tão boa como no dia em que foi
escrita. A única coisa que eu tinha mudado? Eu adicionei creme de leite
e usei fava de baunilha real em vez de apenas o extrato. Mesma receita,
ligeiramente melhorada. Suspirei mais uma vez, saboreando a doçura
do caramelo e a riqueza do açúcar mascavo.
"Isso é bom", admiti, e Chad assentiu com a cabeça, a boca cheia de
bolo. Estava silencioso, e podíamos ouvir apenas o tilintar dos nossos
garfos enquanto terminávamos nosso bolo.
"Então, como vão as coisas com o agricultor?", perguntou Chade,
literalmente lambendo o prato. Eu tinha feito a mesma coisa com a taça
quando fiz o glacê.
"O agricultor?" Eu perguntei inocentemente, levando nossos pratos
de volta para a cozinha para que ele não visse minhas bochechas
coradas.
"O agricultor", disse ele com um suspiro. "Você não é legal!"
"Oh, esse agricultor", eu respondi. "Suponho que ele está indo muito
bem."
"Eu ouvi um boato de que ele foi visto dirigindo para a sua casa
algumas noites atrás. Importa-se de comentar?"
Eu bati meu pano de prato na direção dele. "De onde estão vindo
esses rumores? Primeiro o bolo, agora isso."
"Meu marido gosta de pensar em si mesmo como um repórter de
jornal de cidade pequena. Mas acho que ele está mais para revista de
fofocas." Ele riu, fingindo digitar furiosamente. "Eu vou acompanhar
essa história até o final, ouviu?"
"Eu sou a pessoa menos interessante para fofocar", eu disse,
limpando as migalhas do nosso lanche. Então peguei os açucareiros do
balcão e comecei a enche-los.
"Oh, eu não acho que isso seja verdade. A pequena e tímida Roxie
Callahan volta para casa do céu de fantasia de Los Angeles com suas
ferramentas na mão para resgatar o restaurante da família, e encontra
algo diferente para agarrar-se à noite", ele disse, ainda em sua voz de
jornalista.
"Você é tão estranho. Você sempre fez isso?", perguntei, entregando-
lhe um pacote de sal e apontando para que ele enchesse os saleiros.
"Sempre. Eu só escondia sob um capacete de futebol naquela
época", ele respondeu, me ajudando.
"Você ficava lindo com esse capacete. E sem o capacete também."
Suspirei, dando-lhe a minha melhor batidas de cílios.
"É verdade, tudo verdade. Mas chega de enrolação. O que se passa
com o fazendeiro?"
"Eu não estou desviando. Ei, olha o que eu encontrei ontem à
noite!", Eu disse, segurando um frasco de conserva que tinha
encontrado no porão. Os equipamentos de conserva da minha mãe
estavam empoeirados desde que ela foi embora, e eu trouxe alguns
frascos para a máquina de lavar louça. Depois fui colher os primeiros
picles do início do verão.
"Enrole o quanto quiser, eu só preciso saber quando você entrar no
macacão dele."
"Eu duvido seriamente que Leo vista macacões. Caramba, você acha
que Leo veste macacões?"
"Caramba, o que você está fazendo durantes as noites? O que vai
fazer com todos esses potes?" Ele perguntou enquanto eu os alinhava
ao longo do balcão.
"Eu estou fazendo pickles, bobo." Eu ri.
"Você sabe como fazer picles?"
"Chef, lembra?" Eu disse, apontando para mim mesma. "Eu tenho
até aquele chapéu engraçado em algum lugar."
"Nos ensine como fazer? Logan está sempre falando sobre aprender
a fazer coisas assim."
"Coisas como picles?", perguntei.
"Picles, geleia, coisas em potes" ele comentou enquanto reabastecia
os saleiros. "Ele assiste um monte de Walking Dead".
"Não tenho certeza que compreendi a conexão entre zumbis e
geleia."
"Se houvesse um apocalipse zumbi e ninguém estivesse produzindo
comida, eventualmente alguém teria que começar a fazer essas coisas.
Exceto que ninguém sabe como fazer esse tipo de coisa, exceto hippies e
chefs. E quais são as chances que eles façam o suficiente para todos
antes de serem comidos?" Ele disse tudo isso enquanto trabalhava com
os saleiros, como se fosse perfeitamente natural.
"Você tem certeza que você e Logan iriam conseguir também? Digo,
antes de serem devorados?"
"Pois é. Nós dois pensamos nisso. Além disso, ele aprendeu algumas
coisas na escola, então ele seria como aquela mulher durona com as
espadas. E quando ele chegar em casa depois de um dia difícil no
trabalho de matar zumbis, seria bom ter alguma geleia no pão com
manteiga de amendoim ".
"E uns picles ao lado?". Perguntei, minha testa enrugando enquanto
eu tentava seguir este desastre de trem de pensamento.
"Exatamente!"
"Huh" foi a minha única resposta.
Um momento depois, ele levantou os olhos do que estava fazendo.
"Então, você vai nos ensinar?"
"Claro", eu disse. "Mas só por causa dos zumbis." Eu fiz uma nota
mental para pegar um pouco de vinagre no mercado. Será que Leo tem
endro plantado na propriedade?
Meu telefone tocou. Hmm, falando do agricultor, ele se manifestou.
Quero dizer, chamada ao acaso.
"Você tem endro plantado na propriedade" Eu perguntei
diretamente, sem ao menos cumprimentá-lo.
"Se eu ganhasse um níquel..." A voz profunda de Leo assumiu. Senti
um arrepio na base da coluna.
"Eu te dou um níquel, mas quero fazer conserva de picles." Eu ri,
sufocando a segunda rodada de arrepio. Rapidamente me foquei. "E pra
isso preciso de endro."
"Picles, hein? Então, será que também lhe interessa saber que os
primeiros pepinos bebê estão quase prontos para colheita?"
"Nada me interessa mais do que o seu pepino", murmurei para o
telefone, mantendo minha voz baixa. Chad Bowman estava agora
segurando o funil como um dispositivo de escuta de baixa tecnologia.
Leo bufou. "Estou tão feliz que estamos começando a focar no meu
pepino, em vez de falar sobre as minhas nozes o tempo todo."
"Oh, eu tenho certeza que suas nozes estarão em jogo novamente
em breve."
"Que barulho foi esse?", perguntou Leo, soando um pouco
preocupado.
"Desculpe por isso, um cliente só caiu do banquinho", respondi,
balançando a cabeça quando Chad voltou a esgueirar-se pelo balcão,
com os olhos ainda arregalados pelo comentário das nozes. Eu segurei
meu dedo até meus lábios, advertindo-o a manter a calma. “Deixando
as nozes de lado, o que aconteceu?"
"Engraçado você mencionar que precisa de endro, porque eu estava
ligando para ver se você queria se juntar ao CSA durante o verão. Você
pode sair na hora que quiser, pode pegar as caixa já montadas ou pode
montar o seu próprio kit. Eu normalmente não deixo que as pessoas
façam isso, mas, você sabe..." ele parou.
"Mas, você sabe, eu conheço o fazendeiro." Eu sorri, golpeando a
mão de Chad quando ele fez dois saleiros se beijarem.
"Você poderia conhecer o agricultor", disse Leo, seu tom
escurecendo um pouco, sua voz ficando um pouco mais baixa, mais
aquecida. Falando de aquecido...
"Quando eu deveria ir?", perguntei, imitando seu tom de voz.
Chad mordeu um pano de prato. Em seguida o cuspiu para fora,
quando sentiu o gosto de água sanitária.
"Hmm, eu sinto que deveria responder algo como... agora? Nesse
exato momento? Qualquer e toda hora que você quiser?"
"Bom homem."
"Amanhã?"
"Eu posso vir logo após o turno do almoço acabar", ronronei, e ele
riu.
"Perigosa", disse ele, em seguida, desligou.
Rindo para mim mesma, me virei para ver que Chad tinha escrito
OH MEU DEUS em sal ao longo do balcão.
"Você está limpando totalmente isso", eu disse.
Na tarde seguinte, eu saí para a Fazenda Maxwell novamente, ainda
mais ansiosa desta vez. Eu estava ansiosa para a colheita dos vegetais,
para inscrever-me para o clube de recebimento de legumes e para beijar
o fazendeiro. Principalmente beijar o fazendeiro.
Eu não o tinha visto desde a noite que tinha feito o jantar, quando o
corpo de bombeiros interrompeu algo que já estava em chamas. Eu
tinha estado ocupada trabalhando em turnos duplos no restaurante,
substituindo a fechadura da porta traseira e voltando para o ritmo de
cozinhar numa cozinha profissional. Eu tinha novas queimaduras no
antebraço de uma luta com um ensopado de carne, um Band-Aid no
polegar de quando o confundi com uma cenoura... e uma vontade de rir
igual menininha enquanto me trocava antes de sair. Estava lutando
contra o riso até agora, só de pensar nisso.
Quando cheguei na Fazenda Maxwell, os campos e o
estacionamento estavam numa enxurrada de atividades. Agarrei a
porção de bolo de gengibre que trouxe para Leo e parti através do
cascalho. Era o dia em que todo mundo vinha pegar sua caixa do clube
de entregas, então eu me encontrei com várias pessoas que conhecia.
Era fim de tarde, o sol brilhava através de um céu sem nuvens e os
grupos permaneciam em torno dos carros, quase como uma ponte do
campo à mesa. As crianças brincavam com os gatos do celeiro, os pais
conversavam alegremente com outras mães e pais e a sensação fácil de
comunidade era palpável. Era um sentimento com o qual eu estava
familiarizada, mas que nunca realmente senti... interiormente. Desde
que a minha família era proprietária do restaurante mais popular ao
redor, se alguém deveria se sentir assim, você logo pensaria que seria
eu, certo? Mas agora, enquanto alguns rostos familiares sorriam na
minha direção e algumas ondas casualmente amigáveis foram enviadas
meu caminho, eu senti algo parecido com orgulho pela minha cidade
natal. Interessante.
As pessoas estavam deixando o celeiro principal com cestas
grandes, cheias de todos os tipos de produtos, caixas de ovos, queijo
embrulhado em papel e nozes. Sorrindo, fui para dentro.
Lá, no meio de tudo, vi Leo. E fui golpeada uma vez mais em como
verdadeiramente bonito ele era. Mulheres ao meu redor estavam
igualmente impressionadas, e eu senti um desejo estranho de atacá-las,
só para marcar território. Leo conversava facilmente com todos quando
se aproximavam, fazendo perguntas sobre seus filhos, fazendo
recomendações sobre como combinar este com aquele, dizendo-lhes o
que estaria em temporada nas próximas semanas.
As mulheres, compreensivelmente, penduravam-se em cada
palavra. Ele era gentil, seu sorriso era quente e os antebraços eram
espetaculares. A camisa de mangas compridas vintage estava
empurrada até os cotovelos, a pele era bronzeada de trabalhar ao ar
livre, o desvanecido jeans rasgado estava pendurado baixo em seus
quadris. Quando ele tirou uma caixa de ruibarbo do caminhão atrás
dele, um pedaço de pele apareceu, e eu vi uma mulher abanar-se com
uma folha de alface.
Seus olhos subiram para a multidão e encontraram os meus. Seu
sorriso fácil mudou quando um canto de sua boca se levantou num
sorriso sexy que fez meu pulso retumbar. Ele acenou para mim através
da multidão que conversava, ignorando a senhora do leque de alface, e
eu senti minhas bochechas quentes por ter sido escolhida. Ele apontou
para o lado, onde caixas de madeira estavam empilhadas.
"Hey, Ervilha", disse em voz baixa, e meu pulso pulou novamente.
“Hey, Almanzo" era tudo que podia responder. E ele me chamou
perigosa.
Ele se inclinou. "Little House?"
"Você é um fã?"
"Irmã mais nova. Ela costumava fazer-nos jogar Little House no
verão no grande celeiro", ele respondeu com os olhos brilhando. "Você
está escondendo algo atrás de suas costas?", ele perguntou, e então eu
orgulhosamente mostrei o doce deleite que trouxe para ele. "Para mim?"
"Você parecia gostar do bolo de nozes, então achei que gostaria de
algo um pouco mais picante", eu disse. Alto o suficiente para todos me
ouvirem? Era uma aposta justa.
Ele sorriu, levantando o canto do guardanapo e espreitando. "Cheira
bem."
"E tem um sabor ainda melhor", respondi, dando-lhe um honesto
bater de cílios. Ele balançou a cabeça, guardou o bolo no refrigerador
atrás da mesa, e, em seguida, virou-se para mim com um olhar de
expectativa.
"Você está pronta para isso?"
"Acho que sim? Não tenho certeza exatamente do que estamos
fazendo aqui." Mentirosa. Você sabia exatamente o que estava
esperando.
"Simples", respondeu ele, saindo de trás do suporte com um caixote.
"Nós vamos fazer compras. Assuma aqui para mim, está bem?", ele
perguntou, batendo no ombro do cara ao lado dele e entregando-lhe
uma prancheta.
Quando ele me levou para fora do celeiro, apontou os congeladores
e refrigeradores gigantes por trás dos trabalhadores. "Dependendo da
ação que você compra, pode obter tudo e qualquer coisa que quiser
quando estiver em temporada. Algumas pessoas optam por uma
pequena parte, e outras, por vezes, apenas por itens especiais, como
cogumelos ou tomates enlatados. Algumas pessoas também compram
proteínas a cada semana. Às vezes carne de porco, às vezes carne
bovina, frango quase sempre, tanto inteiros quanto os já cortados.
Normalmente ovos e às vezes queijo."
"Vocês fazem queijo aqui também?", perguntei, surpresa com o
alcance da operação.
"Nós não, mas trabalhamos com outras fazendas na área para nos
certificar de que suas ações sejam realmente bem corretas. Temos
parceria com Oscar Mendoza, o cara que dirige a indústria do leite, para
trazer queijo, leite, manteiga e tudo o que eles oferecem para os nossos
clientes."
Quando olhei em volta, notei várias cestas com grandes garrafas de
leite, garrafas menores de creme de leite fresco e manteiga em barra
embrulhada em papel, tudo carimbado com ‘Bailey Falls Laticínios’.
"Parece que você não tem sequer que ir ao supermercado quando é
um membro," eu disse.
"Isso é o que nós esperamos. Na maior parte, é possível alimentar
uma família inteiramente com produtos de origem local," disse ele, sua
voz cheia de orgulho. "Os supermercados têm o seu lugar; isso nunca
vai mudar. Mas nós gostamos de pensar que isso pode ser tão
conveniente quanto e, ao longo do tempo, custar menos do que as lojas
convencionais".
"E pode conhecer a cara de que está cultivando sua comida", eu
disse, aquecendo-me com a ideia de que eu estaria preparando os
alimentos que as mãos de Leo tiraram da terra. Claro que
aparentemente eu teria acesso especial às suas mãos neste verão, mas
ainda estava feliz com a ideia geral. Mais ainda com sua boca. Eu
gostaria de ficar muito feliz com a ajuda de sua boca. Droga, onde
estavam as alfaces? Eu também precisava me abanar.
E por falar em sua boca, ela estava agora transformando-se em algo
malicioso. "No que você está pensando agora?", perguntou.
"Honestamente? Comida."
“Só comida?”
“E na sua boca.” Admiti.
Seus olhos se arregalaram, então se estreitaram. "Venha aqui." Ele
deixou a cesta atrás do celeiro, arrastando-me para uma pequena fenda
da parede de pedra. E então sua boca pressionou contra a minha numa
enxurrada de pequenas mordidas e lambidas, pequenos gemidos e
suspiros.
"Se eu dissesse que estava pensando em algo mais que na sua boca,
o que teria ganhado em troca?" Respirei entre os beijos ardentes.
“Problemas", ele respondeu, olhando para a esquerda e vendo
algumas pessoas andando para perto de onde estávamos. "Vamos,
vamos encher sua cesta."
"Eu sinto que isso pode ser um código da fazenda para algo muito
mais divertido do que escolher legumes, mas vou deixar quieto por
hora." Eu ri, endireitando meu vestido e fazendo-o parecer como se eu
não tivesse sido prensada entre uma rocha e um agricultor quente.
"Este pode ser o momento para dizer-lhe que eu quero a quota total".
"É isso aí." Ele piscou e, agarrando o meu cesto, me levou para os
campos.
Nós vagamos para cima e para baixo pelas linhas da horta, e eu
fiquei maravilhada com tudo que estava começando a crescer. Eu provei
limão azedo e erva-doce, e peguei um punhado de pequenas berinjelas
bebês: uma variedade japonesa listrada em roxo e branco. Na feira
desta semana todos estavam comprando alface, mais desses morangos
doces, alguns ruibarbos e as primeiras amoras. Eu estava testando
receitas mentalmente, decidindo o que mais eu precisaria para
apimentar os meus jantares em casa e o que mais eu poderia usar na
lanchonete.
E enquanto nós caminhávamos, Leo apontou vários marcos. Onde
tinham lavrado um campo não utilizado e descobriram uma lata de café
com cem anos de idade, cheia com moedas de um centavo velhas. O
poço que foi reaproveitado e agora era usado para a irrigação no jardim
de ervas. Ele tinha posto canteiros no mesmo padrão originalmente
plantado, usando um velho projeto de paisagem que tinha encontrado
no sótão da casa grande, quando jardins foram projetados para os
padrões mais exigentes.
"Naquela época, cravos foram plantados em toda a volta. É um
ótimo repelente de insetos", ele explicou enquanto fazíamos o nosso
caminho através das ervas. "Você precisava de endro, certo?"
"Sim, estou transformando alguns desses pequenos pepinos e
tomates verdes que colhemos em conservas zumbis", eu disse.
"Eu deveria saber o que isso significa?", ele perguntou, ajoelhando-
se para pegar um punhado de endro.
"Eu espero que não. Chad me pediu para ensiná-lo a fazer picles.
Logo, ele e Logan estão vindo para o restaurante depois de fechar este
fim de semana, e eu vou ensinar-lhes. A parte zumbi é mais difícil de
explicar, porem."
"Eles querem aprender a fazer picles?", perguntou, incrédulo. Ele
empacotou os temperos em conjunto, envolvendo as extremidades com
um pouco de fio de cozinha. "Isto é suficiente?"
"Perfeito", eu disse quando ele os ofereceu para mim como um
ramalhete. E como um buquê, eu cheirei. Mmm. Nada cheirava tão bem
como ervas frescas. "E você ficaria surpreso com quantas pessoas
querem aprender essas coisas. A aula mais popular no anexo de
aprendizagem na UCLA é a indústria conserveira e de decapagem. Um
grupo dos meus clientes foram ter algumas aulas lá. Todas essas
mulheres lindas e plastificadas, com mais dinheiro que Deus, estão
aprendendo a fazer picles de cinquenta centavos."
"Sério?"
"Oh sim. O movimento slow food é todo sobre a obtenção de
produtos naturais, locais e sustentáveis, mas também é uma tendência
alimentar galopante. E ninguém entende de moda como as esposas
troféu de L.A. Faz sentido, no entanto. Ninguém na nossa geração sabe
como fazer essas coisas."
"Que tipo de coisas?”
“Descascar corretamente os alimentos. Enlatar. Preparar conservas.
Costurar. Se eu perder um botão ou algo assim estou ferrada. Minha
mãe sabe costurar, mas eu nunca me preocupei em aprender. E ela é
minoria entre as mulheres hoje em dia, que estão pelo menos duas
gerações longe dessas habilidades. Sua mãe sabe costurar?"
Ele jogou a cabeça para trás e riu. "Você é adorável."
"Exatamente. Mas eu aposto que sua mãe sabe – dinheiro não tem
nada a ver com isso. As pessoas costumavam saber como fazer essas
coisas, e agora não sabem".
"O anexo de aprendizagem. Interessante", disse ele, pensativo,
esfregando sua barba. "Posso ir à classe de picles?"
"Não é realmente uma aula", eu disse, brincando com as folhas de
endro. "Mas, com certeza. Se quiser."
"Eu quero."
Corri meus dedos ao longo das vistosas ervas verdes, sentindo a
sensação de seda em toda a minha pele. Eu quero. Eu gostei da maneira
como isso soou, mais do que gostaria de admitir. Mas o que eu não
desfrutei foi do zumbido revelador que, de repente, foi ampliado em
minha orelha.
"Não! Não, não, não!" Eu gritei, derrubando meus temperos, minha
cesta e correndo para o outro lado do campo antes de Leo sequer
entender o que tinha acontecido.
"Rox! Hey, Rox!", Ele gritou atrás de mim, mas eu estava correndo
enlouquecidamente. "Roxie!"
Olhei por cima do meu ombro para gritar de volta, "Eu te disse,
abelhas são idiotas!" E porque eu olhei por cima do meu ombro, acabei
tropeçando num balde deixado para trás e caí na sujeira espalhada.
Chegando perto de mim alguns segundos depois, Leo se agachou ao
meu lado. "Você está bem?", ele perguntou, me digitalizando
apressadamente.
"Claro." Suspirei, segurando minhas mãos sobre o meu rosto. "Eu
realmente tenho um problema com abelhas."
Ele tirou meus dedos do rosto, mas não soltou minha mão. Ele
respirou fundo. "Deve ser o mel."
Prendi a respiração, consciente de cada ponto de contato entre nós.
No chão, cercada por paredes de verde agitando na brisa, tudo parecia
um mundo paralelo: as abelhas imbecis, este agricultor e a saia
franzida em torno das minhas coxas.
Ele se inclinou, liberando as mãos para escovar meu cabelo para
trás da minha testa. "Se você fosse picada, adivinha o que aconteceria?"
"O mundo terminaria", respondi prontamente, e ele me deu um
olhar aguçado.
"Você seria picada. É isso aí. Dói, às vezes mais do que outras
coisas, mas depois acaba."
Levantei-me em meus cotovelos, deliberadamente invadindo seu
espaço. "Prefiro não ser picada." E então o beijei. Meus lábios roçaram
os dele uma vez, duas vezes, e eu estava me preparando para uma
terceira quando ouvi um estrondo nas proximidades.
Ele gemeu, mas me segurou para mais um beijo. "A menos que
queiramos o grupo de passeio da tarde nos vendo rolando aqui no chão,
provavelmente deveríamos nos levantar."
"Provavelmente." Relutantemente, já que podíamos ouvir vozes se
aproximando, eu o deixei me puxar para cima, e nós voltamos para
recolher os legumes que eu tinha espalhado em todas as direções
durante minha corrida.
Depois que Leo me ajudou a recolhe-lhos, ele se esgueirou para
mais um beijo pouco antes do grupo de visitantes aparecer no topo da
colina. Nós acenamos de onde estávamos e fomos na direção oposta.
Andamos pelo campo conversando sobre tudo e qualquer coisa. Ele me
contou todos os tipos de curiosidades sobre a propriedade, me
perguntou sobre as diferentes maneiras que eu poderia usar
determinados produtos da fazenda, e nós rimos mais do que consigo me
lembrar de fazer em um tempo muito longo.
"É ótimo que você tenha acesso a toda essa história, saber o como e
os porquês de como essa propriedade veio a ser o que é.", observei
quando começamos a voltar para o celeiro.
O sol estava começando a ser por. Do alto do cume, as únicas
coisas possíveis de ouvir eram o vento e os pássaros cantando. Minhas
mãos estavam sujas de escavar na terra, e meus dedos estavam
manchados de verde.
"Nós não costumávamos vir aqui muitas vezes; mais frequentemente
no verão, apenas", disse ele, parando e olhando para a casa grande,
apenas uma silhueta contra o sol poente. O Hudson estava do outro
lado, amplo e sem pressa, correndo na direção oposta. "Eu passava
horas aqui, correndo pela floresta, brincando com os cães. Há um
riacho no lado mais distante da propriedade, e eu não posso te dizer
quantas pontas de flechas costumava encontrar ao longo das margens.
Eu geralmente chegava em casa coberto de bichos de pé e
absolutamente imundo, para o horror de minha mãe e seus amigos".
"Minha mãe costumava arranjar a mangueira no quintal para fazer
um poço de lama, e nós nos sentávamos lá e fazíamos tortas de lama."
A lama era tão refrescante nos dias quentes de verão. "Ela sempre disse
que lama era bom para a pele. E cito: ‘Todos os filhos devem ficar sujos,
especialmente as meninas.’"
"Eu posso ouvi-la dizer isso." Ele riu, pegando minha mão. Ele
examinou as minhas unhas cheias de sujeira. "Então ela adoraria isso."
"Ela ficaria feliz!" Confirmei quando ele virou minha palma da mão
para cima e correu seu polegar em toda a minha linha do amor. Eu
tremi. "Eu aposto que sua mãe acha que todas as suas brincadeiras na
sujeira valeram a pena no final. Olhe o quão incrível este lugar é.”
Ele traçou outra linha no centro da minha mão, em seguida, olhou
para longe. "Vamos ter certeza de que sobrem alguns ovos para você,
antes que sejam todos vendidos."
Ele não disse mais nada sobre a mãe dele, e eu não perguntei.
Fomos descendo a colina em direção ao celeiro, Leo carregando minha
cesta, nossos braços se escovando ocasionalmente.
Era bom.
Havia algumas caixas de ovos guardadas, e eu fiquei muito feliz por
ver que não eram só os de um belo marrom salpicado, mas que havia
alguns brancos pálidos também. Minha participação nessa semana
também rendeu uma grande partilha de queijo da fazenda local, um
quilo de manteiga fresca, algumas trutas localmente pescadas e duas
galinhas para assar. Houve também alguns cortes de bacon Maxwell. E,
claro, eu gostei especialmente de um alguém bem específico da Fazenda
Maxwell.
No momento em que terminei, o estacionamento estava quase vazio.
Era quase crepúsculo quando Leo disse adeus para os últimos
retardatários e fui para o espaço de trás do galpão original, com seu
enorme silo de pedra. Ele agora alojava um banco de leitura, uma
estante e uma coleção de fotografias emolduradas, contando a história
da fazenda. Eu estava na porta, maravilhada com a obra na qual tinha
se transformado o silo. Como perfeitamente construído ele era, com um
detalhe aqui e ali para impressionar, apesar de ter sido feito
simplesmente para o armazenamento de grãos.
Ouvi Leo dizendo boa noite para alguns dos caras que trabalhavam
na fazenda, em seguida, ouvi os passos dele se aproximando, e parando
logo atrás de mim. Eu andei através da porta de carvalho velho do silo,
e ele me seguiu. Uma vez que a porta se fechou atrás de nós, tudo ficou
silencioso e escuro.
"Então, o que veio primeiro, o celeiro ou os silos?" Eu perguntei,
olhando para as paredes altas de pedra. Perfeitamente cilíndricas, os
quatro silos tinham quase três andares de altura, e podiam ser vistos de
todo a fazenda.
"O celeiro", respondeu Leo, andando na minha direção.
Eu recuei um pouco, deixando meu olhar permanecer nas paredes
de pedra e não no agricultor que já estava circulando atrás de mim.
"E quando foi que você disse que o celeiro foi construído?",
perguntei, aproximando-me da parede.
"Você não estava prestando atenção na turnê no outro dia?"
Eu segui a linha de uma das pedras do campo, encaixando meu
dedo no sulco entre ele e a outra em cima. Embora o dia tivesse sido
quente, no interior do silo e as pedras eram frias. "Eu estava prestando
atenção na maior parte do tempo," admiti.
"Na maior parte?", ele perguntou, agora diretamente atrás de mim.
Eu tremi um pouco, e não foi por causa da parede fria. Eu podia
sentir seu calor no meu corpo, mesmo que ele ainda não estivesse me
tocando – acho que apenas irradiava contra a minha pele.
"Eu estava um pouco..." Respirei fundo quando aquelas mãos fortes
levantaram o cabelo sobre meu ombro esquerdo, deixando minha pele
sardenta exposta "...distraída", terminei fracamente.
Porque agora ele inclinou a cabeça contra a minha pele, aninhando-
se no meu cabelo. Pequenos lampejos de desejo estavam começando a
arder pelo meu corpo todo. Pensar que alguém sentia a mesma atração
que você estava sentindo era uma coisa; mas saber que o sentimento
era mútuo era um tipo totalmente diferente de impressionante. Seu
nariz roçou meu ombro e meus dedos voaram abertos contra a pedra.
Ele pressionou um beijo solitário no oco entre meu ombro e
pescoço, e meu cérebro ficou um pouco confuso. Seus lábios quentes e
úmidos continuaram seu caminho ao longo do meu pescoço, arrastando
mordiscando.
Suas mãos se estabeleceram em meus quadris, movendo-se até que
seus polegares escovaram a pele exposta no decote no meu vestido.
Minhas costas arquearam enquanto meu corpo reagia a sua
proximidade. Mais uma vez ele se aninhou em meu pescoço, sua
respiração pesada agora no meu ouvido.
"Se você ainda quiser falar sobre datas de construções e significados
históricos eu estou feliz em compartilhar," ele me disse, e então varreu
outra linha de beijos ao longo do meu queixo.
Virei a cabeça para deixar o homem fazer o trabalho no qual ele
claramente era tão bom. "Eu gosto de história," respondi, minha voz
rouca.
"História...", ele disse, fechando sua boca em volta do meu ponto de
pulso. Certeza que meu coração tentou se aproximar de seus lábios.
"...tem o seu lugar."
"Eu gosto do presente também." Minhas mãos finalmente
emaranharam-se em seus cabelos. "O presente pode ser tããão
interessante."
E, no presente atual, as mãos de Leo foram deslizando para cima
pelos lados do meu tronco, afunilando os dedos em toda a minha caixa
torácica, apenas mal escovando debaixo dos meus seios. Eu parei de
respirar. Também deixei de me importar com o fato de que eu não tinha
ideia de quantas pessoas poderiam estar fora dessa pesada porta de
carvalho. Uma porta que, embora extremamente grossa, podia não ser o
suficiente para abafar meus gritos se Leo me tocasse onde eu precisava
que ele tocasse.
Cada parte do meu corpo tremia enquanto seus dedos deslizavam
para cima em direção aos meus seios, que estavam pesados e cheios.
Suspirei quando a ponta do seu dedo mindinho roçou meu mamilo.
Suspirei quando arqueei contra ele e o senti à minha volta, forte e duro
e oh... duro. Suspirei quando seus dentes mordiscaram atrás da minha
orelha - seus dentes, sua língua e sua doce barba raspando minha pele.
E suspirei quando uma de suas mãos deixou meus seios para varrer o
meu cabelo de volta, virando minha cabeça para o lado para expor a
base do meu pescoço. E eu choraminguei quando ele deixou um rastro
de beijos de boca aberta enquanto descia pelo centro das minhas costas
e depois lambia minha coluna no caminho de volta para cima.
Ele. Lambeu. Minha. Coluna.

Naquela noite, eu me revirei na cama por um motivo diferente do


habitual. A brisa tinha se dissipado, deixando a noite quente e
pegajosa. Eu tinha todas as janelas abertas e um ventilador ligado, na
tentativa de trazer um sopro de vento. Eu revirava na cama porque
estava quente, revirava na cama porque estava insone e revirava na
cama porque estava com um tesão do inferno após Almanzo Wilder
quase me pegar num silo de um século de idade. E, se não fosse por um
grupo de passeio quase nos apanhar em flagrante, eu teria deixado
totalmente ele me rolar pelo feno.
Virei-me para o meu estômago, enterrando meu rosto no meu
travesseiro quando imagens chamuscaram minha mente
superaquecida. Suas mãos deslizando meu vestido até a metade das
minhas coxas. Exalei alto no travesseiro e deitei de lado. Um mini filme
passava em minha mente, onde Leo e sua barba torturante faziam
cócegas na minha espinha enquanto ele beijava um caminho direto
para baixo a partir da base do meu crânio onde começava o meu
vestido, e depois lambia minha coluna no caminho de volta para cima.
Um vestido que era um dos meus favoritos, mas que se ele o tivesse
rasgado e deixado numa pilha no chão, eu teria gritado aleluia
enquanto me certificava que ele achasse minha calcinha e sutiã
igualmente ofensivos.
Ele lambeu minha coluna.
Eu bufei e deitei de costas, perna direita dobrada para cima e perna
esquerda esticada para o lado, tentando sentir algum tipo de brisa,
algum tipo de ar, algum tipo de alívio para a forma como o meu cérebro
estava queimando com fantasias de flashes de suados corpos sexys
brincando através de uma horta e fazendo sexo ao lado de alguns
tomates.
Como se soletra alívio?
M-A-S-T-U-R-B-A-Ç-Ã-O.
Bom, uma menina tem que fazer o que precisa ser feito...
Minha mão esquerda estava apertada em um punho em minha
cabeça, e meu corpo inteiro estava apertado numa bola de tensão.
Forcei meus dedos a relaxar e me abanei para frente e para trás um
pouco, virando meu pulso enquanto deixava minha mão descer para o
sul sobre minha pele branca, passando ao longo da borda superior da
minha calcinha e acariciando minha pele superaquecida.
Afastei o pequeno pedaço de renda, sentindo os seixos da minha
pele. Mergulhei minha mão embaixo do tecido, arqueando em meu
toque.
Ele lambeu minha coluna.
Um gemido escapou da minha boca enquanto meus mamilos
endureciam instantaneamente, sensíveis e apertados. Tirei minha
camisa e os meus seios caíram livres. Enquanto a minha mão esquerda
dançava em toda a minha pele, minha mão direita mergulhava mais
abaixo, deslizando dentro da minha calcinha.
Ele lambeu minha coluna.
Porque isso me deixava tão excitada? Certamente havia outras
partes do corpo muito mais secretas e íntimas. Ou talvez minha coluna
fosse minha nova zona erógena. Talvez meu corpo inteiro fosse minha
nova zona erógena. Ou talvez eu só estivesse totalmente sexualmente
zoneada por Leo Maxwell.
Mas, enquanto isso, de volta ao trabalho, onde apenas eu existia,
tocando o meu... hummm.
Minha respiração ficou presa quando senti meu corpo ganhar vida
em minhas mãos. Desejo se reuniu em minha barriga, espalhando-se
totalmente através de mim. Como ele soava quando gozava? Será que
ele estremecia, silencioso e forte, ou gemia, ofegando meu nome
enquanto sua mão bombeava seu membro rígido...
Eu estava fantasiando sobre como ele parecia quando se tocava...
enquanto eu estava me tocando? Tão quente.
Eu estava em chamas. Deslizei meus dedos para baixo, encontrando
meu próprio calor. Lisa e molhada, quase arqueei para fora da cama
quando meus dedos encovaram sobre o meu clitóris, meus quadris
rolando conforme mexia meus dedos em busca do equilíbrio perfeito de
pressão. Doce Cristo, era tão bom! Gritei o nome dele enquanto me
aproximava do limite, a crescente pressão na minha barriga...
Zumbido.
Zumbido.
Zumbido.
Eu olhei para a direita e vi a luz do meu telefone anunciar uma
mensagem de texto. O nome de Leo brilhou em toda a tela. Eu gemi com
a interrupção - vai que ele me enviou uma mensagem com um retrato
de...
Peguei meu telefone.

“Eu estou do lado de fora.”


Oh.

“E eu posso ouvi-la.”

Ohhh.

“Você disse meu nome.”

Oh. Meu. Deus.

“Deixe-me entrar”
Desci correndo as escadas e abri a porta. Leo estava no quintal,
olhando para a minha janela. Jesus, ele realmente sabia o que eu
estava fazendo. Eu fui para a varanda de camisola, e quando a porta de
tela se fechou atrás de mim, ele olhou na minha direção.
Seus olhos se arregalaram quando ele viu o que eu estava vestindo
e quão rosada eu estava, considerando o que eu estava fazendo. Ele
atravessou o pátio em três passadas e encurralou-me contra a porta em
mais uma.
Eu deveria ter sabido quando ele lambeu minha coluna que esse
cara seria minha ruína. "O que você está fazendo aqui?"
"Eu não conseguia dormir", disse ele, seus braços me enjaulando,
cutucando entre as minhas pernas. "Não conseguia parar de pensar em
você." Sua boca desceu para o meu ombro, beijando um caminho em
direção ao meu pescoço, ao longo do meu queixo e para a minha boca.
Ele pairou lá, sua respiração misturando-se com a minha. Agarrei seus
quadris, puxando-o para mim, faíscas voando dos nossos corpos.
"Eu estava pensando em você também." Sussurrei. Quando ele
empurrou minhas pernas mais abertas e pressionou sua coxa no meu
calor, eu engasguei.
Ele assentiu. "Eu ouvi."
E então ele me beijou com força - dentes batendo, cabeças girando -
desta maneira frenética. Se eu pudesse ter escalado para dentro de sua
boca eu teria feito exatamente isso. "Roxie?", ele disse, afastando a boca
da minha por um breve segundo. Eu queria beijá-lo novamente, não
queria que seus lábios ficassem longe de mim sequer por um instante.
"Mmm?" Eu consegui responder.
"Foda-se", ele assobiou quando eu esfreguei seus quadris nos meus
mais uma vez. "Estou morrendo de vontade de te ver."
"Eu?", perguntei, arqueando contra a porta para obter mais
alavancagem. "O que você quer ver?"
Ele puxou a alça da minha camisola. "Isso." Ele beijou entre os
meus seios. "Você. Toda você." Ele falou com a minha pele, sua
respiração quente.
E foi assim que todos os meus sentidos foram preenchidos com Leo.
A maçaneta da porta de madeira contra as minhas costas me arranhou
enquanto ele empurrava seus quadris nos meus, moendo contra mim e
causando a minha ruína. E eu senti tudo. A forma como a minha pele
reagiu ao seu corpo, os arrepios subindo pelos meus braços mesmo
através do calor da noite, a forma como a luz do galpão iluminava seu
perfil, me mostrando partes de sua maçã do rosto, os cabelos
despenteados e a mais sexy barba... essa mesma barba deslizando entre
os meus seios, seu nariz e dentes já empurrando minhas esparsas
peças de roupa em torno de minha clavícula para permitir-lhe melhor
acesso para me devorar. Os gemidos da parte de trás de sua garganta
enquanto ele lambia meu umbigo.
"Você cheira a mel e parece o céu", ele murmurou, sua voz áspera
alcançando minhas orelhas tontas antes que ele subisse de volta até o
meu corpo para plantar beijos sobre cada polegada do meu pescoço.
Eu esqueci o meu nome. Eu esqueci o nome dele. Eu só sabia que
tinha uma maçaneta na parte inferior das minhas costas, o que parecia
ser uma maçaneta entre as minhas coxas, e que eu estava mais uma
vez subindo nele, como aparentemente eu tinha nascido para fazer.
E então a maçaneta entre as minhas coxas se moveu, parecendo
muito mais como um batente de porta. Como o tipo que você
encontraria numa catedral.
E falando em ver Deus, a mão direita de Leo deslizou por baixo da
minha cocha e puxou-a em torno de seu quadril. Essa mão áspera e
calejada na minha coxa suave me fez querer chorar - era tão bom.
Enquanto eu ainda era capaz de falar, levantei sua cabeça do meu
ombro e olhei-o nos olhos.
"Se isso acontecer, e eu preciso que isso aconteça..." Fiz uma pausa,
porque, embora seus lábios tivessem parados, seus quadris não
estavam, e a moagem estava lentamente dissolvendo meu cérebro. Meus
próprios quadris circulavam, doendo, precisando.
"Necessidade é uma palavra curiosa," ele murmurou com um círculo
lento de seus quadris. "Você precisa de comida. Você precisa de água.
Você precisa de abrigo."
"E de sexo. Sexo também é uma necessidade", respirei enquanto
seus lábios se moviam para baixo para morder meu pescoço. Com uma
mão - uma mão! - ele rasgou minha camisola do meu corpo. Eu pisquei.
O tecido era agora apenas farrapos e retalhos. Eu pisquei novamente.
Puta merda.
"Eu estou chegando na parte do sexo", respondeu ele, usando a
mesma mão para abrir a parte de trás do meu sutiã e atirá-lo por cima
do ombro também. Com os olhos queimando enquanto me observava,
agora ele falou diretamente com os meus seios. "Eu estava pensando
que a palavra necessidade era curiosa, porque agora mesmo eu
necessitava ver seus peitos mais do que qualquer outra coisa no
mundo. Não ‘eu teria gostado de ver seus peitos’ ou ‘eu achava que seria
ótimo vê-los’. O correto é ‘eu necessito ver seus peitos’."
Riso borbulhou de dentro de mim e derramou-se sobre ele, deixando
a noite quente e pegajosa envolta numa pequena dose de bobeira, que
foi espelhada em seus olhos quando ele os levantou do meu peito e
olhou para o meu rosto com um pequeno sorriso.
Escorrei-me em suas boas e fortes mãos, que já estavam em casa no
meu corpo. Em casa? Perigoso.
"Estou feliz que você está tão feliz com nosso acordo quanto eu
estou," eu disse, esquivando-me de seu olhar. Por que usar esse termo
era tão estranho com Leo? Distante. Separada. Solitária?
Eu senti seu olhar em mim e forcei o meu próprio a encontrá-lo.
Encarei-o por alguns segundos enquanto ele permanecia olhando
atentamente para mim, e pude sentir a vontade de desmoronar se
aproximando. Mas então ele acenou com a cabeça e sua boca voltou
para a minha pele, urgente, querendo e necessitando. E eu me
entreguei a ele, toda.
De repente estávamos deitados na varanda, metade dentro da casa
e metade fora e, onde minha calcinha foi? Tudo era Leo, tudo eram suas
mãos, lábios e boca, e quão perfeitamente meu calcanhar cabia nessa
covinha logo acima de sua bunda, e quão insanamente incrível sua pele
parecia contra a minha. Onde é que a camisa dele foi parar? Tudo era
minhas costas se arqueando, sua língua se movendo, minhas mãos e o
agarrar de suas mãos deslizando em meus quadris. Sua barba me
atiçando e coçando. Onde estava seu jeans?
Durou uma eternidade. Ou apenas cinco segundos. Eu não tenho
nenhuma ideia de como deitamos no chão ou como ficarmos nus - tudo
que eu sei é que ele sussurrou, "Eu tenho um preservativo" e eu
sussurrei, "Você é terrivelmente presunçoso", então ele sussurrou,
"Estou errado?" e eu sussurrei de volta: "Claro que não, tenho um na
minha bolsa, apenas no caso de você querer fazer exatamente isso!"
Ainda entre sussurros, ele disse: "Eu não sei quanto tempo eu posso
durar ", e eu sussurrei: "Foda-me duro, então!" Nós dois gememos. Ele
empurrou em mim. Ele era grosso e duro, eu estava molhada e quente,
e ele manteve seus olhos nos meus todo o tempo, não me deixando
olhar para longe, não deixando que eu me escondesse deste contato
íntimo. Quando ele finalmente empurrou para dentro, eu ofegava e ele
suava, e santo inferno, parecia que o mundo abrandou e depois parou
de girar por completo, tornando-se apenas a sensação dele pulsando
profundamente em mim. Eu podia sentir meu coração literalmente
batendo em volta dele.
Uma vez que ele estava lá dentro, ele não se mexeu. Simplesmente
levantou-se sobre mim, seus braços fortes em ambos os lados da minha
cabeça, e me olhou, e algo como alívio percorreu seu rosto, algo quase
triste. Mas, em seguida, o canto de sua boca se elevou e luxúria encheu
seus olhos, e seus quadris empurraram contra os meus. "Puta que
pariu, Roxie," ele gemeu quando se colocou de volta em cima de mim,
minhas pernas envolvidas firmemente em torno de sua cintura.
Foi arrebatador.

Na varanda, no meio da noite, sob uma cobertura de escuridão e


ao som delicioso dos mosquitos, eu estava emaranhada numa pilha de
agricultor nu. Membros espalhados, cabeças pendendo, as mãos ainda
em um circular preguiçoso e doce após orgasmos de transformar
qualquer um em gosma. Muito felizes. Intensamente satisfeitos.
Leo deu um tapa minha bunda.
"O que foi isso?", perguntei, levantando minha cabeça e olhando
para ele de forma estranha.
"Mosquito", ele sorriu, mostrando-me sua mão.
"Ew." Eu fiz uma careta, empurrando sua mão para baixo no chão
da varanda e limpando-a para ele.
Pranchas de madeira não são exatamente o local mais confortável
para uma primeira vez. Mas se eu mudaria alguma coisa? De jeito
nenhum. Eu sustentaria esta impressão de maçaneta na minha coxa
com orgulho. Eu estava no círculo de seus braços, uma perna ainda
envolta em torno de seus quadris. Tinha sido rápido e furioso, o oposto
do caminho que Leo escolheu viver sua vida. Mas eu não estava
reclamando. Os três orgasmos que ele tinha me dado provaram o fato
de que Leo era assassino no sexo. E contra o lado de uma casa...
Me aninhei em seu pescoço, sentindo o calor de sua pele. Descrever
seu cheiro como o de terra parecia muito simplório, mas, na verdade,
era exatamente isso. Um pouco como o verde que cresce na terra:
argiloso, mas limpo. Acentuado com um toque de sabonete. Ele tinha
um pouco de cabelo no peito, o que era legal. Não tanto como um ator
de filmes pornô dos anos setenta, mais como os atuais lenhadores
fortes e corpulentos, e era bom descobrir essa pequena suavidade sob a
camisa de flanela vintage.
O que não podia ser descrito como "pequeno" de qualquer maneira
era o que estava entre suas pernas, e eu podia senti-lo já se agitando
novamente contra a minha bunda. Rolei um pouco para olhar para ele e
encontrei-me encarando olhos desejosos.
"Eu deveria tirá-la da varanda," ele murmurou.
Eu balancei a cabeça vigorosamente. "Que tal minha cama?"
Sua resposta foi me recolher, jogar-me por cima do ombro num
movimento rápido e me levar para dentro de casa. "Eu pensei que você
nunca pediria." Lá dentro, ele olhou para as escadas. "Qual é o
caminho?"
Rindo, apontei com um pé. Com uma das mãos firmemente
encravada entre as minhas coxas, ele dirigiu-se para onde eu mostrei.
"Eu espero que você esteja pronta para a segunda rodada, porque eu
planejo ir lento agora."
"E você me ouviu reclamando... quando?"
"Eu só estou dizendo que não tinha planejado te comer na varanda
da frente", ele respondeu, dando um beijo na minha nádega direita
enquanto corria (oh meu deus, ele correu!) pelas escadas.
"Se você não estava pensando em me foder, então por que a visita
de fim de noite?" Eu ri, apontando para o meu quarto novamente com
meu pé.
"Oh, eu planejava te foder." Ele me jogou na minha cama, me
fazendo saltar no ar. "A varanda da frente que foi a parte
surpreendente."
"Como você sabia que eu ia deixar você fazer isso?" Perguntei, me
empurrando até a cabeceira. Ainda nua.
Leo, ainda nu também, se inclinou sobre mim. Plantando um beijo
entre os meus seios, ele gemeu na minha pele. "Eu estava esperando
que você me deixasse te foder." Outro beijo. "E então, quando eu ouvi o
que estava acontecendo aqui em cima, inferno, Ervilha. Você já estava
aqui me fodendo, tudo por conta própria".
Uma pessoa decente iria corar agora. Eu tinha corado quando caí
em cima dele, duas vezes. Eu corei quando pensei sobre sua barba e
onde mais eu gostaria de senti-la me arranhar. Ocasionalmente eu corei
quando ele falou tão livremente sobre suas nozes. Mas agora? Quando
eu legitimamente poderia e deveria corar? Não!
Eu simplesmente tomei-o pelo pescoço, puxei-o para mim e beijei-o
lento e doce, durante muito tempo. Quando sua língua mergulhou na
minha boca, eu tremi. A coceira inicial tinha aplacado, e agora eu
ansiava explorar, com gosto, para me deleitar em conhecer seu corpo e
como ele respondia ao meu. Nós caímos de costas na cama, preguiçosos
e próximos, o ar ainda espesso, mas preenchido com beijos tranquilos e
o ranger insistente da minha cama enquanto rolávamos e
balançávamos.
"Eu acho que eu tenho WD-407 no meu Jeep," Leo murmurou, e eu
ri em sua garganta. Ele me rolou para cima dele e eu beijei seu pomo de
Adão.
"Você acha que eu não tentei isso antes? É apenas um chiado."
"Você é um tipo de chiadora também." Ele me arrastou mais para
cima pelo seu corpo, mordiscando enquanto me puxava. Como seus
lábios fechados em volta do meu mamilo eu, de fato, chiei um pouco.
"Vê?"
"Isso foi um gemido, não um chiado", protestei, começando a ofegar
enquanto ele me cercava com os dentes. Eu efegava, a cama rangia e o
fazendeiro ria em meu peito.
"Eu sabia no minuto em que você gritou para o pobre zangão que
você seria uma gritalhona."

7 WD-40 é uma marca registrada largamente utilizada em diversas áreas como


óleo lubrificante. Foi desenvolvido por Norm Larsen em 1953 para ser usado como
eliminador d'água e anticorrosivo em circuitos elétricos. Ele fala sobre esse produto por
causa do ranger da cama da Roxie.
Sentei-me pseudo-indignada, cruzando os braços sobre meu peito
nu. "Só para você saber, aquela abelha e eu tivemos problemas na hora
em que eu pus o pé na floresta. Elas sempre me veem chegando."
"Eu gostaria de vê-la chegando", ele murmurou, passando as mãos
para cima e para baixo nas minhas coxas, incentivando-me a monta-lo.
"Eu ainda não posso acreditar o quão tensa você fica quando eu
menciono abelhas. Você está sequer ciente do quão apertado suas coxas
estão agora em meus quadris? Você é como um quebra-nozes".
"Você realmente quer falar sobre abelhas agora?" Eu respondi,
forçando-me a relaxar.
"Não." Ele me rolou mais uma vez e deslizou pelo meu corpo. "Mas
eu vou provar um pouco desse mel."
"Mel? Oh-"
Eu me entreguei à sensação de seus lábios se arrastando para baixo
pela minha barriga, fazendo uma pausa para lamber levemente logo
abaixo do meu umbigo. Sua boca, o plantio de beijinhos de um lado do
meu quadril para o outro, suas mãos deslizando para cima e pegando
os meus seios, provocando os mamilos. Engoli em seco, minhas costas
arqueando novamente sob seu toque. Ele mudou-se mais para o sul,
aninhando-se no topo da minha coxa. Eu tinha fantasiado durante
semanas sobre como aquela barba pareceria entre as minhas pernas.
Ele apoiou o queixo três polegadas acima de onde eu estava
morrendo para ele ir. Eu remexi meus quadris. Ele deu um beijo duas
polegadas acima de onde eu estava morrendo para ele ir. Eu gemi e
fechei os olhos, pronta para estourar fora da minha própria pele ao
menor toque dele. Eu estava zumbindo, estalos de tensão começando a
correr soltos por todo o meu corpo. E ainda...
"Você se lembra daquela noite em sua cozinha?", perguntou ele, e
meus olhos se abriram. Levantando-me em meus cotovelos, olhei para
ele. Mais uma vez ele apoiou o queixo em mim, parecendo perfeitamente
natural e não como se estivesse apoiado na junção de... Por favor, por
favor, pelo amor de Deus!
"Cozinha?" Eu disse, tentando impedir-me de chiar novamente. Eu
já tinha me tornado viciada em seu toque, e agora, estar assim tão
próxima a ele e ser negada? Era enlouquecedor.
Era incrível também, claro.
Mas principalmente enlouquecedor.
"A noite que você me fez o jantar, sentou no meu colo e corou da
mesma cor das beterrabas que eu trouxe para você? Algo sobre a
sensação da minha barba?" Ele baixou o queixo, raspando a referida
barba por todo o comprimento de cima para baixo pela minha... Sim!
Exato, exatamente aí, caramba! "Algo sobre o desejo de tentar algo, eu
acho. Antes de eu raspá-la?"
"Sério? Hmm, eu não me lembro." Eu calmamente afastei um pouco
mais os meus tornozelos, dobrando os joelhos ligeiramente, e oops. Ele
estava exatamente cara a cara com o meu lugar feliz. "Oops!"
Seu sorriso se alargou ao som do meu oops. Meus joelhos se
abriram ainda mais com o seu sorriso. Só havia realmente uma maneira
disto acabar.
"Você vê, eu estou espantado que você não consiga lembrar o que
quer que tenha te feito corar naquela noite, porque com certeza você
parecia estar pensando em algo bastante específico." Ele mergulhou
para baixo, correndo a ponta do seu nariz pela minha pele, ao longo do
meu vale. O fazendeiro estava muito próximo do ponto certo. Eu estava
ofegante. Deliberadamente deslizei meus pés em seus ombros,
mantendo um ar... não de indiferença, mas de... o que quer que seja o
oposto de indiferença. "Claro, você não se lembra," ele respirou, seus
lábios há meros centímetros do centro de todo o meu mundo.
"Eu posso... estar me lembrando... de algo..." Eu disse, sentindo
uma onda de calor se espalhar através de mim. A única parte dele me
tocando era o seu fôlego, e eu estava me sentindo mais e mais certa de
que poderia flutuar pelo ar, desde que o ar fosse Leo.
"Você me diz no que estava pensando...", ele ofereceu, roçando os
lábios nas minhas coxas. "...e eu vou fazer para você."
Eu estava no último estágio da consciência quando ele deslizou
suas mãos ansiosas ao longo do lado de baixo das minhas coxas,
empurrando minhas pernas mais abertas sobre seus ombros e
ancorando meus quadris com as palmas das mãos enquanto eu
ofegava. "Por favor, sua boca. Eu preciso da sua boca!" Eu chorei. E ele
obedeceu.
No primeiro golpe de sua língua eu caí para trás contra os
travesseiros. Na primeira mordidela de seus dentes, eu joguei o
travesseiro para fora da cama. No primeiro gemido de seus lábios, que
estavam profundamente no centro do meu mundo, eu arqueei-me tanto
na cama que tirei o lençol. E quando ele me chupou em sua boca,
enterrando seu rosto em mim e me lambendo furiosamente, eu pude
sentir aquela barba fazendo cócegas na parte mais suave das minhas
coxas. E isso foi M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O.
Valeu a pena cada guincho que eu dei.

"Então, quem são os dois caras mais velhos?"


"Caras velhos?" Eu perguntei, não sabendo de onde isso veio.
"Sobre a mesa", disse ele, apontando para o quadro de avisos. "Um
deles parece familiar, na verdade."
"Eles são Ripert e Bourdain. Chefs celebridades."
"Soa como uma série policial francesa."
Eu ri. "Anthony Bourdain foi um chef em Manhattan por muitos
anos; agora ele tem um par de shows sobre viajar, comer, etc. Eric
Ripert administra o Le Bernardin, também no-"
"Aha! É por isso que ele parece familiar."
"Faz sentido; ele aparece na TV o tempo todo."
Ele balançou a cabeça. "Não, não, o outro cara. Le Bernardin é o
restaurante favorito do meu pai. Meus pais têm uma reserva
permanente; eles vão lá pelo menos duas vezes por mês."
Em algum lugar no mundo, cabeças de minúsculos chefes
explodiram. A ideia de que poderia haver uma vida onde você poderia ir
regularmente ao Le Bernardin, não apenas uma vez por mês, mas duas
vezes? Sério? Esse era o pedaço mais foda de toda essa frase.
Eu sufoquei minha própria explosão invejosa e tomei meu tempo
para admirar suas costas de onde eu estava deitada numa bola
confortável. Leo tinha a bunda mais bonita que eu já vi. Suas nadegas
eram redondas e firmes, como duas colheres sexys. Ele desfilou, er, ele
caminhou em direção a janela da frente e olhou para fora. "O vento
finalmente começou novamente."
"Oh sim?"
"Sim. E nossas roupas estão espalhadas por todo o quintal."
Eu ri e comecei a me levantar.
"Não, não, você relaxa. Eu vou pegar as roupas."
"E eu vou deixar você pegar minhas roupas", eu disse, juntando-me
a ele. "Enquanto eu faço algo para nós comermos." Eu adicionei um
tapa nas suas colheres sensuais e desci as escadas.
Quando tivemos algumas camadas de roupas de volta, eu já estava
rodando uma panela de azeite quente e alho. Leo, que parecia todos
tipos de sexy, suave amarrotado apenas em calça jeans, inclinou-se
sobre o meu ombro para ver o que eu estava fazendo.
"Cheira bem."
"O meu cheiro favorito em todo o mundo é o do alho exatamente
vinte segundos depois de atingir uma panela quente", eu disse,
respirando o aroma inebriante. Uma pitada de pimenta vermelha foi
esmagada no pão ao lado, e uma panela de água fervente com sal
borbulhava, preparando lentamente grandes punhados de linguini.
"Tem meia baguete no balcão – você não quer cortá-la para mim? Os
pratos estão nesse armário." Eu apontei com a minha colher de pau.
Tecnicamente era a colher de pau da minha mãe. Ainda mais
tecnicamente, era da minha tia-avó Mildred, que tinha partido da terra
há muitos anos, deixando-nos a colher. Ela era manchada de marrom
escuro dos milhões de molhos que fez, resultado de anos de uso.
Eu pensei sobre esse ângulo muitas vezes ao longo dos anos,
principalmente quando a usava para mexer alguma coisa para mim
mesma. Quantas vezes ela tinha estado numa cozinha mexendo um
molho de domingo, ou certificando-se de que o purê de batatas tivesse
apenas a quantidade certa de manteiga dourada e leite? Quantas vezes
ela tinha cozinhado mesmo quando estava exausta? Quantas vezes ela
gritou com o tio Fred enquanto estava mexendo alguma coisa com esta
colher? Quantas vezes ela a usou para pontuar um comunicado,
apontando-a para o ar enquanto enfatizava algo que sentiu fortemente?
E se ela tivesse alguma vez cozinhado com raiva? Teria ela já tomado
uma decisão importante na vida enquanto olhava para as calmantes
voltas rítmicas da velha colher?
Enquanto eu pensava sobre antropologia culinária, o homem lindo
na minha cozinha furtivamente passou as mãos em volta da minha
cintura e me aconchegou enquanto eu mexia. "Cheira bem", disse ele
uma vez mais. "E eu não estou falando sobre a comida." Ele mergulhou
o nariz na dobra do meu pescoço, inalando profundamente. "Mel." Ele
suspirou.
"Sim, querido?" Eu respondi, rindo da minha piada enquanto rolava
um limão na palma da minha mão.
"Esse maldito cheiro de mel está por toda a sua pele, e isso está me
deixando louco", ele murmurou, sua respiração quente na minha pele.
"Eu não posso manter minhas mãos longe de você, é como se elas
tivessem vontade própria." Seus lábios traçaram a concha da minha
orelha enquanto suas mãos foram deslizando debaixo da minha camisa.
Seus dedos calejados, desgastados e ásperos de horas de trabalho duro
pareciam naturais na minha pele. Natural e surpreendente.
Eu empurrei meus quadris contra ele. "Tenho certeza que sei que
tipo de vontade está guiando-as." Incrivelmente, depois de tudo o que
tinha acontecido, hm, na varanda e no andar superior, ele certamente
estaria pronto para brincar novamente com apenas um convite e um
aperto rápido.
Em vez disso, eu apertei o limão. Esquivando-me das mãos errantes
e de seu muito determinado quadril, adicionei um punhado de salsa
fresca picada na panela, em seguida, levantei grandes garfadas de
linguini sobre ela, mexendo até que cada fio fosse revestido com o
molho celeste. "Vai pegar os pratos, por favor."
Franzindo a testa, ele bateu no meu traseiro, mas foi buscar os
pratos. Um momento depois nossos pratos estavam sobre a mesa,
atulhados de massa. Ele sentou-se e eu fiquei ao lado dele, ralando um
pouco de locatelli fresco em seu prato enquanto sua mão curvava ao
redor do exterior da minha coxa em direção ao meu quadril. Eu gostava
de suas mãos no meu corpo mais do que eu gostaria de admitir, e não
apenas durante os momentos sensuais. Eu esmaguei esse pensamento
e disse: "Aqui vamos nós - prove", eu disse, adicionando uma pitada
final de queijo.
Observei-o girar uma garfada, levantando-a à boca. Ele mastigou,
uma, duas, três vezes, e então fechou os olhos em êxtase. Esse era o
olhar pelo qual todo chef ansiava. O que eu tinha feito, trabalhado com
minhas próprias mãos, trazia-lhe prazer. O estrondo no fundo de sua
garganta, que eu tinha ouvido apenas uma hora antes quando minha
língua fez algo que ele realmente gostou, combinava com o olhar em seu
rosto. Ele gostou do meu linguini.
Sentei-me na minha cadeira já satisfeita, e ainda nem tinha
experimentado a comida. Para ser justa, eu estive satisfeita mais vezes
do que poderia contar esta noite. Linguini ao alho e óleo? Foi apenas a
cereja no topo deste bolo muito sexy.
Comemos em silêncio: não havia sons, apenas o tilintar de garfos e
o sugar do macarrão. Minha mãe costumava dizer que o melhor teste de
uma boa refeição é o quanto tranquilos os convidados estão: se eles
estão calmos, estão desfrutando. Eu achei que podia ser verdade. Leo
suspirou com a boca cheia aqui e ali, sorrindo para mim se nossos
olhos se encontrassem, mas, de outra forma, apenas comeu. Eu me
sentia bem sentada aqui nessa cozinha escurecida com ele, meu joelho
escovando o seu ocasionalmente. Seu pé tocando o meu. Estar no meio
da noite, no meio da cozinha, compartilhando uma refeição tranquila
era tão íntimo quanto o que tínhamos compartilhado no andar de cima.
Girando uma última porção em torno de seu garfo, ele começou a
parecer triste. "Havia um chef na cidade que costumava atender um
monte dos pedidos dos meus pais; ele fazia algo assim." Ele estudou o
garfo. "Não exatamente o mesmo, já que eu não me lembro de nenhum
verde no dele." Ele comeu o último pedaço e gemeu em voz alta. "Porra,
isso é bom. O dele era bom, mas este é melhor. O dele tinha um gosto
um pouco diferente, quase, eu não sei, um pouco como nozes? Isso faz
sentido?"
"Ele provavelmente adicionava anchovas", eu disse, sugando meu
último macarrão.
Ele fez uma careta. "Não, eu não gosto de anchovas."
"Ninguém gosta anchovas, mas você provavelmente as comeu mais
vezes do que pensa. Eu coloco em pratos de massas o tempo todo." Ele
não parecia convencido, então eu continuei: "O truque é colocá-las na
panela cedo, logo antes do alho. Elas são tão pequenas e finas que se
dissolvem no óleo quente. Esse é o gosto do qual você estava falando."
Ainda parecendo um pouco perturbado, ele cutucou o pouco de alho
à esquerda no prato. Verificando para ver se era um peixe minúsculo,
talvez? "De qualquer forma, o chef sempre fazia algumas coisas super
sofisticadas para os convidados dos meus pais, mas uma vez que as
coisas estavam encaminhadas, ele fazia uma panela de macarrão só
para mim. Às vezes ele jogava algo extra, se havia lagosta ou
caranguejo, algo assim. Mas foda-se, ficava incrível!" Ele sorriu um
pouco com a memória.
"Eles davam muitas festas?", perguntei, pensando sobre como uma
festa para os Maxwells seria.
"Todo o tempo", disse ele, sua expressão mudando um pouco
quando ele se afastou da memória das massas para outra coisa. "Havia
sempre pessoas na cidade a negócios ou famílias que estavam em
férias, negócios a ser intermediados, algum tipo de besteira. Minha
família quase nunca jantava junto. Eles estavam ou fora com amigos,
ou tínhamos amigos em casa, mas apenas a nossa família? Por nós
mesmos? Nem sempre. Na maioria das noites éramos só eu e minha
irmã, Lauren. E Angela..."
"Outra irmã?"
"Babá. Gabriela ficava na parte da manhã, mas Angela ficava as
tardes e noites." Ele sorriu quando disse isso, mas lá estava de novo,
aquela tristeza passageira. Talvez fosse verdade o tal clichê: ‘pobre
menino rico’.
"Onde está sua irmã agora?", perguntei.
"Ela ainda está na cidade, trabalha com o meu pai. Ela lidera nossa
divisão internacional. Eu não a vejo muito." Ele parecia perdido em
pensamentos.
"Quando tínhamos festas em minha casa, nós fazíamos sorvete com
uma maquina à manivela e, quem quer que minha mãe estivesse
namorando trazia os pães ou salsichas quentes grelhadas. Alguém
trazia salada de batata, e a salada de repolho pegávamos da lanchonete.
Os adultos jogavam ferraduras até que tudo estivesse pronto para
comer. Éramos todos dedos pegajosos, picadas de mosquito, cachorros-
quentes meio-queimados e sucos derramados, o suficiente para trazer
cada formiga ao leste do Hudson para o nosso quintal. "
"Parece fantástico", respondeu Leo.
Eu pensei sobre aqueles dias preguiçosos. O sol brilhando e tudo
tão colorido quanto uma caixa de lápis de cera, e todo o mundo se
resumia a um joelho esfolado ou um topo de dedo do pé arrancado. E
percebi uma coisa de repente. "Você sabe o que, era mesmo." Meu olhar
viajou em torno da cozinha bem gasta: o linóleo riscado, um pouco de
pintura descascando, o gráfico de altura que ainda estava no batente da
porta desde quando eu nasci. Eu deslizei meu pé no chão debaixo da
mesa e cobriu seu pé com o meu.
Ficamos em silêncio novamente, mas desta era vez um pouco
diferente, mais pesado. Cada um de nós parecia perdido em nossas
próprias memórias. Ele talvez pensando numa infância cheia de babás e
luxos. Eu com o pensamento de uma infância preenchida com nada
caro mas cheia de amor, sem saber o quão rica minha vida tinha sido.
Agora meu mundo se resumia a um pé quente debaixo do meu. E
quando ele se levantou e me puxou para os seus braços, em seguida,
levando-me de volta para a minha cama de solteiro chiadora, eu nem
sequer pensei em dar-lhe o meu discurso padrão sobre a minha insônia
e sobre não ser capaz de dormir com outra pessoa. Eu só o deixei se
deitar comigo e dormir.
E o que me deixou mais surpresa foi que eu dormi cinco horas
inteiras naquela noite.
Cinco horas inteiras era um luxo. Igualmente luxuoso era o modo
como essas horas terminaram. Lábios macios traçando um caminho
através do meu ombro, uma mão calejada deliciosamente me puxando
para trás contra um peito quente e, em seguida, oh! Leo enfiou em mim
por trás.
Voltei a essa memória uma e outra vez enquanto trabalhava na
lanchonete, tentando desesperadamente me concentrar em carnes e
ovos quando tudo que eu conseguia pensar era na forma como seus
olhos ardiam nos meus enquanto ele me fodia na minha varanda. Eu
derramei café, derrubei hambúrgueres e fiz o que pude para não pensar
sobre o fato de que eu tinha dormido com um homem pela primeira vez
em toda a minha vida.
Eu estava forrando uma assadeira com massa de torta e tentando
não pensar sobre isso em tudo quando Chad Bowman aproximou-se do
balcão, vestido como se fosse para Montauk em algum passeio de barco.
Shorts plissados de marinheiro, sperrys brancos e uma camisa polo
salmão. Não rosa, não pêssego, nem pôr do sol ou laranja. Era salmão,
pelo amor de Deus. Tudo o que estava faltando era o cardigã de tricô em
torno de seus ombros... E lá estava ele. Amarrado em um nó perfeito em
torno de seus ombros largos. Ele também colocou um par de aviadores
de prata sobre seu cabelo loiro.
"Você parece algo saído de um catálogo", eu disse, cutucando seu
colarinho levantado.
O. Colarinho. Estava. Levantado! "Equipe J chamando, você está na
página sessenta e nove."
Ele envaideceu-se, sua pele bronzeada brilhando sob o meu louvor.
"Como diz a rainha Beyoncé, eu acordei assim." Sorrindo, ele me
observou uma vez. Então mais duas vezes.
Eu alisei meu cabelo automaticamente, endireitando o meu avental.
Ele podia ver? Ele poderia dizer? Certamente ele não po-
"Mmm-hmm", disse ele, fixando-se em um banquinho e me dando
um olhar compreensivo.
"Mmm-hmm o quê?", perguntei, alisando meu avental novamente.
"Oh, você sabe exatamente o que, pequena miss rolando no feno
com um fazendeiro."
"Eu não estou rolando no feno com um fazendeiro!" Eu rebati, alto o
suficiente para que todo o restaurante ficasse em silêncio. O que nunca
acontece. Garfos pairavam em bocas abertas e cada par de olhos estava
sobre mim. Eu tenho certeza que todos estavam me imaginando nua.
E, a julgar pelo brilho em seus olhos, Chad estava imaginando Leo
nu.
Uma onda de constrangimento passou por cima de mim, quente e
rápido. Eu não gostava da minha vida sendo colocada à exposição. E eu
tinha certeza que Leo não gostaria que sua vida fosse exposta também.
"Mmm-hmm." Ele levantou o seu menu, que tremia enquanto ele ria
baixinho.
"Não comece boatos, Bowman," eu disse calmamente, endireitando
os dentes de seu garfo para alinha-lo com o guardanapo de papel. "Não
é... não é como você está pensando." Olhei em volta para ver se as
pessoas ainda estavam assistindo. E ouvindo...
Noventa e nove por cento dos clientes da lanchonete voltaram para
o seu café da manhã, ocupados fofocando e, sem dúvida, passando as
fofocas adiante por meio da árvore de telefone da cidade. Mas um
determinado companheiro mais velho no balcão estava fazendo um
buraco na parte de trás da camisa de Chad.
Eu pisquei. Certamente ele não poderia ter um problema com Chad,
certo?
"Se esconder dos fanáticos não adianta, querida," Chad disse, me
virando para encará-lo. "Esse é Herman." Ele sorriu e brindou o café em
direção a Herman, que parecia irritado com a atenção sendo voltada
para ele.
Dispensando o café, o homem jogou algumas notas sobre o balcão,
em seguida, saiu da lanchonete. Infelizmente a porta não bateu na
bunda homofóbica em seu caminho para fora.
"Um bom amigo, eu vejo." Inclinei meus cotovelos no balcão em
frente ao meu amigo. Embora ele julgasse isso como se não fosse
grande coisa, eu podia ver que o incomodava. "Isso acontece muito? O
olhar fixamente desagradável?"
Eu esperava que a resposta fosse não, que a maioria das pessoas
estava aceitando e que poucos eram idiotas. Especialmente nesta
cidade, onde metade das empresas hasteavam bandeiras arco-íris.
Chad se remexeu em seu banco. "Não, isso não costuma acontecer
aqui. É uma grande parte da razão pela qual decidimos que podíamos
morar neste lugar. E eu posso lidar com essa porcaria agora, mas no
ensino médio, esse tipo de coisa teria me matado." Ele sorriu. "Eu teria
entrado em pânico e não diria nada, e então pensaria em dez grandes
retornos uma hora mais tarde."
Sua admissão deu-me uma nova perspectiva sobre como ele era. Eu
não poderia imaginar o quão difícil tinha sido esconder esse grande
segredo. Fingir ser algo que eu não era.
"Eu gostaria de te ajudar, então, caso você queria alguém para
conversar ou o que quer que seja."
"Já chega disso", ele disse com desdém. "Eu quero todos os detalhes
explícitos sobre a noite passada!"
"Telefone para você, Rox," uma voz soou da cozinha, e eu sorri,
alíviada.
"Nossa, parece que eu tenho que atender uma chamada."
Chad apontou dois dedos em seus olhos, então os virou para mim,
me dizendo que ele sabia que algo estava acontecendo, e que estaria me
vigiando.
Eu sorri e peguei o telefone da parede. "É Roxie."
"Olá, Roxie, é a Sra. Oleson, do gabinete do prefeito."
"Oh, Olá, Sra. Oleson, como você está?"
As sobrancelhas de Chade subiram. A Sra. Oleson tinha trabalhado
no gabinete do prefeito desde que qualquer um podia se lembrar, não
importava qual prefeito estava no poder. Ela tinha a mão em quase tudo
o que aconteceu na cidade. Huh. Não muito diferente de uma Sra.
Harriett Oleson de Walnut Grove. Eu me permiti alguns segundos de
fantasia com Almanzo.
"Roxie, você está aí?"
"Sim, estou aqui. O que posso fazer por você, Sra. Oleson?"
"Eu estou com um pequeno problema, querida, e estou esperando
que você possa me ajudar."
"Eu vou fazer o que posso. O que está acontecendo?" Respondi,
confusa e intrigada.
"Bem, você sabe que eu sempre levo bolos para o almoço das
senhoras, mas este ano acabei totalmente sobrecarregada. Linda e
Evelyn estavam positivamente delirantes sobre o bolo de noz que
comeram no restaurante na semana passada, porem, e eu me perguntei
se..."
"Você quer que eu faça um bolo de nozes para a senhora?",
terminei.
"Na verdade, eu precisaria de quatro. E talvez... tem algo diferente
que você poderia fazer? Elas já comeram o bolo de noz, então pensei
que talvez pudéssemos surpreendê-las com algo novo", disse ela, sua
voz ficando quieta e sorrateira. "Eleanor fez seu famoso pão de ló na
semana passada, e preciso superá-la em um detalhe ou dois."
"Algo novo", repeti, olhando para o expositor de bolos vazio com
preocupação. Não porque eu teria que assar mais, mas porque eu
queria isso. "Para quando você precisa?"
"Amanhã?", ela perguntou hesitante.
Caramba. Olhei de novo para o expositor. Esta manhã eu fiz oito
bolos, cada um cortado em oito fatias generosas para venda. Agora
havia apenas migalhas.
Eu quero fazer isso? Eu poderia fazer isso era uma pergunta
melhor, já que estaria adicionando outra coisa na minha agenda já
lotada.
"O que você tem em mente?", perguntei, minha decisão tomada.
Agarrei o bloco de pedidos amarelo do bolso do avental de Maxine
enquanto ela passava e esperei. Ela franziu a testa, olhando-me debaixo
do penteado cuidadosamente elaborado. "Eu preciso disso também",
cantarolou, arrancando a caneta do espiral que a prendia. Ela me bateu
na bunda com um pano de prato.
"Cenoura?" Eu perguntei de volta para a Sra. Oleson, minha mente
imediatamente correndo. "Tradicional? Com nozes?" Eu estava tonta
com a ideia de fazer compras no Leo para os ingredientes. Mmm, eu
poderia fazer glacê de cream cheese. Eu tinha visto embalagens disso
na Fazenda Maxwell. O que mais eu poderia pegar lá? Ooooh, talvez ele
me pegasse. Talvez ele terminasse o que começou naquele dia no silo...
Merda, eu ainda estava no telefone. "Pode buscá-los amanhã de
manhã", instrui a Sra. Oleson, afobada.
Quando desliguei o telefone, a família Scott entrou. Mãe, pai, duas
crianças pequenas e uma ainda no forno, quase ponta para sair.
"Sentem-se em qualquer lugar que esteja vago" falei, inclinando-me
sobre o balcão para ver se havia uma cabine ou mesa livre. Tinha uma
na parte de trás, para onde a Sra. Scott foi capaz de gingar
desconfortavelmente e sentar-se.
"Parece que alguém está começando a fazer um nome para si
mesma nesta cidade", disse Chad por cima do menu.
"Eu nem sei por que você está fingindo olhar para o cardápio, já que
sempre pede a mesma coisa: atum grelhado, salada de batata e Coca-
Cola." Revirei os olhos, batendo no topo de sua cabeça levemente com o
menu.
"Ela conhece os pedidos de seus clientes e está se tornando famosa
por suas doces guloseimas, e enfaticamente não está se enroscando
com um agricultor. Que verão Roxie Callahan está tendo", disse Chad.
Bati nele novamente, nem tentando esconder meu sorriso.
Depois de enviar seu pedido para a cozinha, comecei a vasculhar
um dos antigos livros de culinária que minha mãe guardava atrás do
balcão. Achei um velho Betty Crocker dos anos cinquenta, repleto de
clássicos americanos como pão de ló, angel’s food, devil’s food 8, bolo de
coco... E então veio o capítulo principal: a seção europeia de
sobremesas. Tiramisu, Floresta Negra, Pavlova e Mousse Irlandês. Eu
estava prestes a ler a receita de torta mousse quando o Sr. Scott se
aproximou do balcão.
"Deus, eu não vi uma dessas em vinte anos!", exclamou, apontando
para a imagem de uma torta de maçã Amber. De acordo com a receita,
era uma torta com merengue de whisky, maçãs frescas adoçadas com
cidra, açúcar e limões, e coberta com um rico merengue levemente
flambado.
Quando o Sr. Scott inclinou-se para olhar o livro de receitas,
parecia que estava prestes a babar. "Você vai fazer isso?", perguntou,
esperançoso.
"Eu não sei, talvez. Eu nunca fiz antes." Mas poderia, facilmente, e
os clientes iriam adorar. Hmmm. Maçãs não estavam em temporada
ainda, mas pêssegos estariam em breve. Comecei mentalmente a
converter a receita, retirando as maçãs e adicionando pêssegos: talvez
menos canela, um pouco de bourbon. Será que Leo tem pessegueiros?
Hmmm, doces pêssegos gostosos. E doce e gostoso Leo.

8 Bolo Angel's Food (Comida de anjo) é uma variedade de bolo originalmente da América
do Norte que começou a ficar popular nos EUA no fim do século XIX. É assim chamado
por causa de sua leveza aerada, que é associada a "comida dos anjos". Uma variedade de
bolo de chocolate conhecida como Bolo Devil’s food (comida de demônio), considerada o
oposto do Angel Food, é outro bolo popular nos Estados Unidos, desenvolvido mais tarde.
O Angel Food é um bolo tipo esponja (não leva gordura), enquanto o Devil's Food é um
tipo amanteigado.
Aulas de picles zumbi. Tal frase nunca antes tinha sido
pronunciada na história das frases, e muito menos escrita num cartaz.
Mas lá estava ela, na janela da frente da lanchonete, apoiada por dez
conservas de picles. E aparentemente era uma grande obra de arte, de
acordo com Chad. "É irônico, é caseiro, é perfeito!" Ele disse quando
tinha pendurado o cartaz mais cedo naquele dia, fortemente me
ameaçado caso eu resolvesse tirá-lo.
Embora eu tivesse insistido que ensinar ele e Logan a fazer
conservas de picles dificilmente constituía uma "aula", ele insistiu mais.
Então lá estava eu, rodeado por tábuas de corte, pepinos, alho e
algumas dezenas de frascos, à espera da minha primeira aula começar.
O restaurante estava tranquilo, as luzes da frente foram apagadas e a
jukebox estava desligada; apenas o zumbido fraco dos frigoríficos era
audível na cozinha.
Eu bocejei, inclinando-me sobre a bancada. Eu só tinha conseguido
cerca de três horas de sono na noite anterior, e esse tinha sido um
longo dia. Um dos cozinheiros tinha ficado de doente, então eu tinha
trabalhado tanto no café da manhã quanto no almoço durante as
mudanças na grade. Minhas costas rangiam, meus ombros doíam e
meu dedo estava queimado por uma frigideira.
Mas eu também estava surpreendentemente... eufórica. Eu tinha
trabalhado ao longo de um dia duro, mas fiz tudo o que precisava fazer:
apaguei incêndios, literalmente e fiz com que cada pessoa que passou
pela porta amasse uma comida. Eu tinha feito uma nova versão da sopa
de tomate hoje, lentamente cozinhando os tomates com manjericão e
um pouco de salsinha antes de fazer o purê, ao invés de usar o padrão
enlatado. Tinha usado creme fresco também, e então adicionado
croutons de brioche, salpicando tudo com gruyère e pimenta preta. Nós
tínhamos vendido toda sopa antes de 11:00? Possivelmente. Tivemos
mais pedidos de sopa para viagem do que tínhamos tido desde que eu
voltei para casa?
Sim! Toneladas de ordens para viagem.
Junto com a alegria, eu também senti uma sensação de... conforto?
Inclusão? Parecia uma reação perfeitamente natural, já que era a minha
cidade natal, ainda que eu quase nunca tivesse sentido isso antes. E
junto com a alegria e o conforto de pertencer à algum lugar, podia-se
adicionar uma pitada de... borboletas no estômago?
Não, não era isso.
Sopro no coração?
Certeza que eu estava saudável, sem cardiopatias.
Indigestão?
Com esse estômago de ferro fundido? Dificilmente.
Então o que era?
Esperança? Alegria? Intriga?
Indigestão. É isso aí. Demasiados croutons.
Croutons estavam me dando borboletas no estomago?
Mmm-hmm.
Eu ponderei tudo isso enquanto segurava um pepino na mão. O que
naturalmente me trouxe outros pensamentos. Pensamentos que eu não
tive tempo para explorar, já que o proprietário do pepino que eu
desejava estar segurando entrou pela porta da frente, seus olhos
procurando os meus. Deixei de lado as borboletas assustadas pelos
croutons.
Quando Leo viu o que eu estava segurando, seu rosto abriu-se num
sorriso de estrela de cinema.
Nesse instante, todo o ar sumiu da sala. Naquele instante, tudo o
que eu reconhecia era aquele rosto, aqueles olhos e aquele sorriso... e
um pepino que estava aquecendo rapidamente. Naquele instante,
naquele exato segundo... Eu percebi que estava em apuros.
Porque esse cara era incrível.
Porque esse cara era real, doce, gentil, e conhecia todos os tipos de
coisas que poderiam balançar através de cada brecha na minha
armadura, atingindo meu coração até então inquebrável.
Comida.
Orgasmos.
Comida.
Doce.
Comida.
Força.
Orgasmos.
Oh Deus!
Ele era divertido.
Cuidadoso.
Meu tipo.
Não tinha medo de sujar as mãos.
Não tinha medo de falar sujo.
E a surpresa de todas as surpresas: eu já tinha dormido com ele na
minha cama.
"Hey, Ervilha", disse ele. "Que tipo de planos você tem para esse
pepino?"
Oficialmente eu queria lhe dar uma resposta inteligente.
Oficialmente eu gostaria de oferecer algumas brincadeiras espirituosas
para manter as coisas leves e glamurosas. Oficialmente eu joguei fora
cada borboleta alvoroçada pelos croutons que ainda esvoaçava dentro
de mim.
Mas extra oficialmente? A sensação de estar com alguém tão doce
me fez sorrir amplamente. Nada espirituoso saiu pela minha boca; ela
estava muito ocupada sorrindo. E então meu sorriso tornou-se um
beijo, depois dois, depois três. Porque extra oficialmente eu
praticamente saltei sobre o balcão, corri para Leo como uma tola num
filme de Nicholas Sparks e me joguei em seus braços fortes, beijando-o
como se alguém tivesse ameaçado levar sua boca longe de mim.
Seus braços me envolveram, e sua risada surpresa foi rapidamente
abafada pelo meu rosto. Então ele me cobriu de beijos igualmente
urgentes, seus lábios pressionando contra a minha testa, minhas
bochechas, a ponta do meu nariz e, finalmente sobre a minha boca
novamente. Levantando-me, ele me colocou em cima do balcão, abriu
minhas pernas sem encontrar nenhuma resistência da minha parte e
ficou entre elas. Envolvi minhas pernas em volta dele, cruzando-as no
alto de suas costas, e ele deixou sua cabeça cair para frente,
descansando-a em meu peito, as mãos cavando em meus quadris, forte.
"Você me deixa louco, Ervilha." Gemeu.
"Me chame disso de novo e eu estarei cancelando a aula de picles"
Corri minhas mãos pelo seu cabelo e couro cabeludo, obtendo um
gemido satisfeito em resposta.
"Ervilha? Isso te excita?" Perguntou, e eu inclinei a cabeça para
cima em sinal de rebeldia.
"É isso aí. A aula está cancelada." Eu estava prestes a dizer-lhe para
trancar a porta e devastar-me contra o balcão quando ouvi um aplauso
lento, à la todos os filmes dos anos oitenta.
"Muito bom. Será que todas as aulas começam dessa maneira?"
Chad e Logan estavam apoiados na porta, ambos ostentando
enormes sorrisos.
Eu caí contra o peito de Leo, respirando seu perfume inebriante e
expirando minha frustração por ter sido interrompida. Quando olhei
para cima novamente, Logan fez-me uma saudação decididamente nada
cavalheiresca e totalmente juvenil com um pepino, me fazendo bufar
uma risada, mesmo quando tentei evitá-la. Considerando que o clima
tinha acabado, Leo me ajudou a descer do balcão, e eu enfrentei minha
pequena turma de bobos.
"Vocês estão prontos para os picles?"
Eles estavam, de fato, prontos para os picles. E foi isso que nós
fizemos. Eles foram surpreendentemente bons alunos, uma vez que
tiraram todas as piadas sobre o tamanho dos picles fora de seus
sistemas. Eles prestaram muita atenção, seguiram todos os passos e,
dentro de cerca de 90 minutos tínhamos vários frascos prontos para
armazenar. Foi divertido: eu já tinha esquecido o quanto gostava de
ensinar as pessoas a fazerem coisas como esta.
Leo manteve-se perto de mim a maior parte da noite, recusando-se
a responder as perguntas nada sutis de Chad sobre o que estava
acontecendo com a gente, mudando de assunto sem problemas a cada
vez. Foi frustrante para Chad e divertido para mim, e assim
conseguimos manter o foco nos alimentos. Eu queria saber o quão longe
as coisas teriam ido se Chad e Logan não tivessem aparecido... mas
não importa. Eu estava curtindo a noite com três homens lindos, e
poderia começar a ver um deles nu muito em breve. Em resumo, a aula
de picles zumbis foi um total sucesso.
A aula de picles zumbis também foi observada por vários
transeuntes. Afinal, como eles poderiam deixar de ler um sinal como o
que estava na janela? Embora a porta estivesse trancada, isso não
impediu as pessoas de espreitar para dentro. Interessante...
"Devemos fazer mais! Eu quero o suficiente para durar todo o
inverno", Logan proclamou enquanto rotulava seu pote de conserva.
"Estes são picles em conserva, de modo que só estarão bons por
alguns meses. Se você quiser picles que irão durar por mais tempo, tem
que fazer uma salmoura totalmente diferente. Você tem que cozinhá-los
um pouco, como fazemos com geleia ou compota."
"Sim! Vamos fazer geleia também!" Chad fez coro com entusiasmo.
"Ok, todo mundo se controle!" Eu disse enquanto Leo sufocava uma
risada. "Nós podemos definitivamente fazer geleia, mas não esta noite."
Eu sorri para a ânsia deles enquanto pegava alguns dos frascos das
minhas conservas e me dirigia para o refrigerador.
"Que tal na próxima semana? Mesmo horário e mesmo lugar?",
perguntou Logan, e balancei a cabeça concordando.
"Mirtilos acabaram de chegar, e até a próxima semana teremos
framboesas também", disse Leo.
Mmm. Eu amo geleia de framboesa.
"Você sabe fazer doce de maçã?" Chad perguntou enquanto limpava
sua estação. "Minha avó fazia todo mês de outubro, e eu comia metade
de um pão caseiro todos os dias depois da escola, apenas com doce
maçã. Podemos fazer também?"
"Não posso, me desculpe."
"Por que no mundo não?" Então seus olhos se iluminaram com um
brilho malicioso. "E se eu colocar minha velha jaqueta de jogador?"
A cabeça de Logan apareceu de dentro do frigorífico. "Deixe-o vestir
a jaqueta, Rox. Fica quente como o inferno."
"Oh, eu me lembro. Mas a safra da maçã é no outono".
"Então?", perguntou Chad, e Logan me deu um olhar interrogativo.
"Eu não vou estar aqui no outono," disse calmamente, sentindo o
olhar de Leo na parte de trás da minha cabeça. É engraçado como um
olhar pode ser sentido fisicamente do outro lado da sala. "Estou saindo
quando minha mãe voltar de sua aventura surpreendente, lembram?"
Um silêncio caiu sobre a cozinha, e todo o bom humor
aparentemente se foi.
"Além disso, o Lady Jam já vai querer me matar por ensinar vocês
como fazer geleia. Eu não posso tirar seus clientes do doce de maçã
também - ela nunca me deixaria em paz depois disso."
"Você não vai estar aqui para ouvi-la reclamar, de qualquer jeito."
Logan murmurou.
Revirei os olhos. "Ok, zumbis, a aula acabou. Na próxima faremos
geleia, mesmo horário, mesmo local", eu disse, forçando minha voz a
ficar leve e brilhante.
Chad assentiu com a cabeça, me puxando contra ele em um abraço.
"Esta noite foi divertida, muito obrigado." Ele deixou cair um rápido
beijo na minha testa antes de sair com Logan e seus frascos de
conserva de picles.
Fiquei sozinha com Leo, que baixou o olhar quando me virei. "Eu
vou pegar uma vassoura e ajudá-la a limpar tudo", disse ele, movendo-
se em direção ao armário utilitário.
Não havia nada que eu pudesse dizer para aliviar a tensão súbita.
Esta... coisa... era apenas durante o verão. Então ele pegou a vassoura
e eu limpei os balcões, e dentro de alguns minutos começamos a
conversar sobre quais outras frutas poderiam estar prontas em breve
para a aula de geleia. Conversa leve e feliz.
Leve e feliz não gera expectativas. Não há exigências de tempo, não
há ressentimentos e certamente não há lágrimas. É por isso que
quando ele saiu com apenas um rápido beijo na minha testa, eu não
senti uma pontada suspeita por trás das minhas pálpebras, nem
percebi que meu queixo tremeu um pouco.
Fechei a lanchonete, dirigi para casa e não dormi. Porque
oficialmente éramos apenas uma aventura. E um caso de verão não
fazia exigências sobre onde ele passava as noites.
Leve e feliz.
Eu não podia acreditar que o quatro de julho estava quase
chegando. Parecia que eu mal tinha chegado, mas as bandeiras em
torno da cidade diziam que o verão estava quase acabando.
Eu juro por Deus, esta cidade manteve o negócio de hastear a
bandeira mais do que qualquer outra no país. Se fosse feriado, você
podia apostar sua torta de maçã doce que Bailey Falls estava
arrastando para fora o vermelho, branco e azul, pendurando-o em
qualquer coisa que podia ficar parado. Pitoresco. Caseiro. Maravilhoso
na verdade.
Acabei meu dia no restaurante, dirigi meu grande carro americano
velho no meio da boa e velha rua principal americana, pensei em foder
meu bom fazendeiro americano, sentindo os bons e velhos fogos de
artifício. É assim que eu gostaria de celebrar a fundação do nosso país.
Eu ponderei tudo isso e continuei acenando para rostos familiares
ao longo da rua principal. Pessoas que eu já conhecia e tinha vindo a
conhecer de novo, novas pessoas que eu conheci quando voltei para
casa há alguns meses. Alguns eu conhecia pelo nome; mas
principalmente os conhecia por seus pedidos diários. Olhe o senhor
‘ovos mexidos com torradas Rye’ está saindo da loja de ferragens com
abraçadeiras. Pergunto-me se ele está pensando em usa-las na
senhorita ‘aveia com leite desnatado e passas’. Aposto que ela gosta de
ter suas passas presas....
O termômetro sobre o banco disse que estava perto dos 30 graus, e
eu estava contente com a brisa que entrava através da minha janela.
Liguei o rádio e dirigi ao som de "Mysterious Ways", rindo com o
pensamento de que Achtung Baby estava sendo reproduzido numa
estação livre. Minha mãe ia pirar se soubesse que eu estava ouvindo
isso. Onde ela estava agora? Brasil? Itália? Minnesota? Onde quer que
estivesse, espero que ela esteja se divertindo.
Enquanto dirigia para casa, vi algumas garotas adolescentes
caminhando para a floresta por trás da escola, carregando toalhas e
uma bola de praia. E de repente eu sabia exatamente onde queria
passar a minha tarde. E quem eu queria que a passasse comigo.
Eu me apressei de volta para casa, parando apenas para enviar um
texto para Leo.

Roxie: Você quer matar aula hoje?

Leo: Você vai estar nua? Eu só posso considerar pedidos para matar
aula se envolvem mulheres nuas.

Roxie: É muito possível. Venha, venha brincar comigo 9.

Leo: Esse não é um trecho de O Iluminado10?

9 https://www.youtube.com/watch?v=CMbI7DmLCNI
Roxie: Você me levaria muito mais a sério, então, certo? Além disso,
não preste atenção ao machado preso nas minhas costas11.

Leo: Você tem sorte que eu gosto de mulheres perigosas. Quando?

Roxie: Agora. Solte sua enxada e pegue seus calções de banho. Eu


estarei aí em quinze minutos.

Leo: Calção de banho? Agora estou intrigado.

Roxie: Intrigado o suficiente para matar aula comigo?

Leo: Claro! Traga comida e eu sou todo seu.

Roxie: Feito.

Leo: Não se esqueça sobre a parte da nudez.

Roxie: Farei o meu melhor.

10 The Shining, no original. É um filme anglo-estadunidense de terror psicológico de 1980


produzido e dirigido por Stanley Kubrick, co-escrito com a romancista Diane Johnson e
estrelado por Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd e Scatman Crothers. O filme é
baseado no livro homônimo escrito por Stephen King e lançado em 1977. O Iluminado foi
o terceiro livro de Stephen King e seu primeiro best-seller em capa-dura. O sucesso do
livro foi tanto que firmou King na carreira de escritores do gênero.
11 O machado é uma arma recorrente no enredo do filme/livro.
Coloquei um biquíni, certificando-me de fazer nó duplo nas cordas.
Por causa de Leo. Peguei um cooler, gelo, cerveja, os sanduíches que eu
tinha feito no restaurante e que originalmente seriam para o meu
jantar, em seguida, agarrei o velho toca fitas da minha mãe. Era grande,
quadrado, coberto de botões, interruptores e mostradores - exatamente
o tipo de coisa necessária para matar um tempo no velho point de
natação da cidade.
Cada cidade no Vale Catskills tinha um point de natação ou ficava
perto de um. Havia inúmeros riachos, córregos, lagoas e lagos, e onde
havia água, nós nadávamos. Era como se sobrevivia nos verões quentes
quando criança, e onde se aprendia o beijo francês quando adolescente.
Havia vários ótimos lugares para nadar em torno de Bailey Falls,
mas ‘the tube’ era o meu favorito. Perto da borda da propriedade do
hotel Bryant Mountain House havia uma pequena lagoa que alimentava
o lago maior no lado do hotel. Água clara, fria e com fundo rochoso, e
um monte de pedreiras para quem estivesse se sentindo ousado pular.
Era um refúgio fresco para um dia quente, e era exatamente para onde
eu queria levar Leo hoje.
Quando fui até o grande celeiro de pedra, ocorreu-me que ainda não
sabia onde Leo morava. Ele disse que não usava a casa principal, já que
era usada para férias e tendia a ser o domínio de sua mãe quando ela
visitava. Então, onde é que ele dormia à noite? Havia casas de hóspedes
que ele tinha convertido em dormitórios para os estagiários de verão no
programa de aprendiz, mas eu duvidava que ele ficasse ali.
Mas, antes que pudesse pensar muito tempo sobre isso, lá estava
ele. Mais alto do que o resto do grupo, seu cabelo loiro areia brilhando
ao sol, ficando mais claro a cada dia.
Ele acenou adeus ao grupo que estava conversando e então correu
para o meu jipe.
"Então misteriosa", disse ele, inclinando-se na minha janela e
olhando para a esquerda e para a direita (para se certificar de que
ninguém estava olhando?) antes de baixar a cabeça para me beijar uma
vez, duas, três vezes. "Para onde estamos indo, Ervilha?"
Apontei meu dedo involuntariamente e acelerei o motor, uma
consequência de ser chamada pelo meu apelido. Rindo, ele recuou e
levantou as mãos num gesto de rendição.
"Entre", eu disse. "E coloque o cinto de segurança."

"Então era aqui que você trazia todos os meninos para ter seu
caminho com eles em seus dias mais jovens."
Nós saímos da estrada principal para a floresta e andamos por um
caminho de terra onde mal cabia meu carro sem arrancar alguns ramos
aqui e ali. Tive o prazer de ver outros carros aqui quando estacionei,
antes de levá-lo há algumas centenas de metros ou mais para a clareira
acima.
Começando como uma fonte subterrânea, a água forçava seu
caminho através da rocha, criando esta bela pequena piscina cercada
de enormes rochedos escarpados, alguns pontudos, alguns planos como
pratos gigantes. A piscina era um pouco comprida e fina, mais parecida
com um tubo do que com um círculo, daí seu nome. Uma vez que era
menor do que alguns dos outros pontos de natação perto da cidade,
normalmente não estava tão cheio.
E hoje nós tínhamos tudo para nós.
À medida que eu admirava o ambiente, o que ele disse finalmente
foi registrado. Seus olhos estavam cheios de diversão e travessuras
enquanto ele olhava para mim, esperando ansiosamente pela minha
resposta.
"Eu nunca trouxe meninos aqui, senhor. Não para maus caminhos,
nem para qualquer outra coisa.“ Pontuei minha declaração com um
tapa em seus ombros.
"Oh, eu acho difícil de acreditar nisso", ele brincou, retornando os
tapinhas nos meus ombros. "Vamos lá, você pode me contar. A Roxie
Adolescente, com habilidades culinárias lendárias, deve ter feito um
piquenique e tanto para seduzir os meninos."
Pensei sobre isso por um momento. Quão perfeita essa minha
versão adolescente poderia ter sido, espalhando uma toalha xadrez
vermelho-e-branco sobre a grama e as flores silvestres e sentando-se
com Chad Bowman para dividir uma compota de maçã enquanto
comíamos sanduíches minúsculos e falávamos sobre... tudo o que
quiséssemos conversar.
Era difícil me colocar numa memória imaginária com a ex-Roxie
desastrada quando tinha meu atual sonho molhado aqui na minha
frente, porem.
"Eu não era assim", expliquei, puxando-o para perto e colocando as
mãos na parte inferior das suas costas. Ele deslizou as mãos em meus
bolsos traseiros como faziam nos clips dos anos oitenta da MTV. "Eu
era tímida. Uma observadora, que mantinha as pessoas longe de mim
mesma. E não me transformei numa mulher razoavelmente atraente até
depois que saí de Bailey Falls."
Belisquei seu queixo com meus dentes, ganhando dois apertos
firmes no bumbum. "E por falar em mulher atraente, estou interessado
em criar algumas histórias cheias de tesão adolescente aqui e agora.
Interessada?"
Um beijo profundo e ardente foi a minha resposta. Interessadíssima.
Subimos cuidadosamente o caminho rochoso. Ele era todo
cavalheiresco com o seu "Oh, deixe-me ajudá-la a descer", juntamente
com suas mãos, que me seguravam e permaneciam no meu traseiro. Ou
o casual roçar no meu seio, que eu não afastava imediatamente.
Nós simplesmente não conseguíamos manter as mãos longe um do
outro. E eu estava rapidamente me tornando viciada nesse doçura
confortável misturada com crescente paixão. Ia ser difícil ‘apagar meus
faróis’ no final do verão.
Inclinei-me em seu ombro para sentir o cheiro do verão em sua pele.
Wella, wella, wella, huh12.
Eu era viciada em todas as coisas sobre Leo. Agora, enquanto
escolhíamos o nosso caminho através das rochas, foquei em seus
dedos. Bronzeados, fortes e todo homem. Nem um pouco parecidos com
os dedos de mocinhas que a maioria dos caras em Los Angeles tinham.
Estes eram calejados e trabalhadores dedos da terra.
E, no momento, eles estavam brincando com a bainha da minha
bermuda. Os pedaços desgastados que pendiam contra minhas pernas
estavam chamando sua atenção. Ele enrolava-os em torno de seu dedo
indicador enquanto nós caminhávamos, e os pontos de contato
tornaram-se pequenas manchas de fogo que enviavam arrepios pela
minha espinha e para baixo na minha calcinha.
Ultimamente suas mãos faziam cada vez mais contato com a minha
pele. Por razões óbvias, com certeza, mas era mais. Quando ele não
estava apertando minha bunda ou meus seios, estava garantindo um
escovar mais suave aqui. Outro toque mais suave ali. Parecia que ele
não perceba que estava fazendo isso também, como se esse sentimento
surpreendesse tanto ele quanto eu.

12 Trecho da música Summer lovin’.


Nós continuamos até que finalmente nos cercamos de árvores, onde
o silêncio freou nossa insensatez.
"Isso é perfeito", disse ele, puxando-me na frente dele para
descansar a cabeça no meu ombro.
Uma libélula voou ao longo da água, enviando pequenas ondulações
através do azul, convidando-nos a entrar. Tínhamos o lugar todo para
nós. De repente, tomada por inspiração, eu sorri.
Virei-me em seus braços, piscando inocentemente para ele. "Fique",
instruí com o meu dedo indicador no centro de seu peito. Curiosidade
brilhou em seus olhos. Parecia que ele queria perguntar o que eu estava
fazendo, mas não o fez, deixando-me executar o show.
Tirei meus chinelos e deixei-os sob uma árvore próxima. Minha
regata branca fina foi a próxima, deslizando sobre a minha cabeça. Os
olhos de Leo se estreitaram quando ele viu meu minúsculo biquíni,
vermelho com bolinhas brancas, que tentava, sem sucesso, cobrir a
minha súbita inspiração. Escorreguei para fora do meu short, expondo
outra parte do minúsculo tecido, e fiquei muito feliz quando seu rosto
mudou de expectativa para profunda satisfação.
Me virei em direção à água, olhei por cima do meu ombro com um
sorriso secreto e observei o Leo ali em pé, imóvel, sorrindo largamente.
Suas mãos se fecharam em punhos aos lados de seu corpo enquanto ele
me observava puxar a corda no meu top de biquíni, expondo-me a Deus
e as libélulas. Deixei os minúsculos triângulos deslizarem para baixo da
minha pele aquecida ate caírem no cascalho e terra, e sua respiração
ficou presa então. Ele deu um pequeno passo para frente antes de parar
a si mesmo. Ele me deixaria fazer isso no meu próprio ritmo, e parecia
estar curtindo cada segundo do meu show.
Dei um passo em direção à água e o ouvi dar um passo atrás de
mim. Quando meus dedos do pé bateram na água, porem, eu quase
pulei para fora da minha pele. Eu imaginei que estaria morna, dada a
época do ano, mas estava absolutamente fria, como uma fábrica de
mamilos acesos.
Entrei mais profundamente na água, a frieza deslizando sobre
minhas canelas, joelhos, a meio caminho da minha coxa, e então parei
e dei mais um olhar para trás, para Leo. Era como um jogo de Luz
Vermelha, Luz Verde. Para cada passo que eu dava na água, ele deu um
passo para trás em direção as rochas. Quando eu parava, ele também
parava. Entretanto, quando me virei esta última vez, deixando-o dar
uma espiada no que as árvores já tinham visto, ele parou tão rápido que
teve que balançar os braços para não cair. Jesus, se seios podiam fazer
isso para um homem adulto, o que aconteceria quando eu...
Segurei as cordas em cada lado do meu quadril e puxei.
Eu já tinha visto Leo mover-se rapidamente antes, mas ele estava
prestes a quebrar a velocidade da luz enquanto ficava nu para entrar na
água. Jeans e boxers saíram num emaranhado enquanto ele pulava em
um pé e tirava os sapatos, simultaneamente.
Ele estremeceu quando atingiu a água, mas não perdeu o impulso.
Sua camiseta ainda estava vestida, como se ele tivesse esquecido que a
estava usando. Rasgando-a, ele a jogou para trás de si mesmo, fazendo-
a aterrissar numa rocha com um barulho molhado.
"Você não deve provocar um cara assim, Roxie", alertou, me
puxando para ele tão rapidamente que a água espirrou entre nós,
molhando meu rosto e cílios.
Agora pressionados juntos, muito molhados e muito nus, ele me
deu um olhar muito específico. O tipo que você dá a alguém que quer
devorar. Eu era uma voluntaria feliz para ser devorada. Então ele alisou
a palma da mão molhada sobre o meu cabelo, e eu fechei meus olhos
com seu toque de luz. Me inclinei em seu calor, incapaz de parar o
sorriso que tomou conta do meu rosto, e meus olhos abriram então,
piscando contra a luz do sol, e eu suspirei de contentamento.
Ele estava se inclinando-se para beijar-me quando algo passou
zunindo no meu ouvido. Meu corpo ficou rígido, assim como o dele, e
não de uma boa maneira. Embora essa parte especifica da anatomia
masculina já estivesse balançando contra a minha perna.
"Basta ignorá-la, Rox, e ela vai embora", ele persuadiu, tentando
espantar o terrível bicho.
"Não. Abelhas. São. Criaturas. Malignas", gaguejei com os dentes
cerrados, tentando fugir, mas incapaz de escapar de seu aperto – ele
estava com o braço enrolado na minha parte inferior, a mão sobre a
bochecha da minha bunda. Tentei respirar. "É como uma espécie de
chamada do outro lado da floresta: 'Ei, Roxie está aqui; ela está nua na
lagoa e está tentando seduzir o Almanzo, vamos pegá-la!"
"Você realmente tem uma coisa com Almanzo, não é?"
"Você não tem ideia. Lembra-se do episódio quando Nellie Oleson fez
frango, seu prato favorito? Mas Nellie não sabia cozinhar, de modo que
mandou Laura fazê-lo? Laura apenas odiava Nellie, então ela trocou a
canela por pimenta caiena?" Balbuciei, enterrando a cabeça no peito de
Leo para tentar nos abaixar tanto na água quanto fosse possível.
"Canela? O quê?", Ele perguntou, confuso, quase perdendo o
equilíbrio enquanto eu me mexia contra seu estômago, curvando-me
para baixo.
"Você disse para ignorá-la, eu estou tentando."
Eu nunca vou saber qual seria sua resposta, porque naquele
momento eu estava observando a abelha número um saudar sua prima
idiota, a abelha número dois.
"Tchau!" Sussurrei e me abaixei. Suas mãos procuraram meu corpo
quando me contorci até o fundo, onde nem mesmo uma única abelha
idiota poderia me seguir. Eu nadei alguns pés e voltei à tona, e vi Leo
acenando com as mãos sobre a cabeça e tentando espantar as filhas da
puta. Então submergi novamente, desta vez com os pulmões cheios.
Isso continuou por algum tempo, e cada vez que eu apareci em
diferentes locais, Leo tentou se comunicar comigo nos 2,2 segundos que
eu ficava acima da água antes de mergulhar novamente, determinada a
esperar. Ele nadou tentando me encontrar, só para ver-me voltar à tona
como um golfinho para pegar outro fôlego. O pobre rapaz estava
tentando como um louco me alcançar, e eu pude pegar pequenos
fragmentos de palavras entre as respirações.
“Roxie, elas foram..."
"embora, você pode...”
"... pare, Rox, pelo amor de Deus, você pode..."
"Droga, Ervilha, você só-"
Foi quando ele me chamou de ervilha que eu parei. Sempre seria
assim. Eu nadei para mais perto dele, e até mesmo debaixo d'água eu
estava hipnotizada por sua pessoa. Não pude resistir a tocá-lo. Suas
mãos mergulharam sob a água então, me agarrando pelos ombros e, em
seguida, me puxando de volta acima da água.
"Foram?" Engasguei quando ele me colocou de pé. Em seguida, ele
rapidamente me pegou sob os joelhos e envolveu minhas pernas em
volta de sua cintura.
"Foram", disse ele, puxando-nos suavemente para águas mais
profundas.
"O que você está fazendo comigo?", ele perguntou, segurando meu
rosto delicadamente enquanto decididamente não era tão delicado com
meus lábios. Ele estava febril, fora de controle. Eu respondi a sua
pergunta com ações. Totalmente apanhados no momento, nossos
corpos moldaram-se um no outro, nossa pele aquecida mesmo quando
estávamos cercados por água fria. Felizes. Devassos. Desligados para o
mundo.
Tanto que nem notamos os estudantes do ensino médio ao longo da
margem rochosa com as suas toalhas na mão... e sorrisos nos rostos.

"Entendi, senhora Montgomery, duas dúzias de biscoitos para o seu


piquenique de quatro de julho. Você quer todos de cereja, ou... Ok,
posso fazer alguns com mirtilo. Sim, isso é muito patriótico da sua
parte. Cerejas e mirtilo, e eu vou colocar cobertura de baunilha em
cima. Todas as cores da bandeira." Escrevi tudo, calculando quanto
cobrar e quanto tempo precisaria para fazê-los. O bolo de cenoura da
sra. Oleson tinha sido um sucesso, e o almoço das senhoras também.
Todo mundo queria um pedaço de mim. Do meu bolo.
Quando o sino tocou acima da porta da frente, olhei por cima do
ombro e sorri quando vi Leo.
"Lá está ela," sussurrou, vendo que eu estava ao telefone. Ele
colocou suavemente alguns envelopes nas pilhas do contador, então
apoiou as mãos no balcão e se levantou, me olhando enquanto estava
prestes a iniciar uma rotina já natural para nós, descansando seus
quadris contra a fórmica lascada. Inclinando-se, ele me deu três
bicadas rápidas nos lábios, afastando-se apenas o suficiente para me
ver sorrir, em seguida, olhar em volta pelo restaurante. Eu quase deixei
cair o receptor quando seus lábios deixaram os meus e se concentraram
no meu pescoço, me fazendo tremer deliciosamente. Meu pescoço
continuou a receber esta atenção até que ele viu o recipiente de
sobremesa vazio.
Ele olhou para mim de uma forma tão boba eu que tive que morder
uma risada e escrevi "Guardei bolo de blueberry para você" no bloco de
notas onde estava anotando o pedido da sra. Montgomery. Prazer
rastejou em seu rosto como um nascer do sol. Ele era tão fácil. Levantei
um dedo, indicando que só precisava de mais um minuto, e ele
concordou.
Ele olhou para dentro do mostrador de sobremesa e viu algumas
migalhas e blueberries errantes. Com seu corpo equilibrado em um
braço, ele abriu a porta e pegou as migalhas, sorrindo maliciosamente
enquanto fazia isso. Ele começou a pressionar beijos açucarados ao
longo da minha clavícula, fazendo-me inalar rapidamente, quase
ofegante no receptor.
"O quê, sra. Montgomery? Sim, eu estava ouvindo, desculpe.
Havia... algo."
Ele sorriu, desceu do balcão e sentou novamente exatamente na
minha frente enquanto eu tentava manter uma conversa. Ele estava
determinado a continuar me beijando. Ele riu e beliscou, lambeu e
chupou seu caminho através do meu ombro até o oco da minha
clavícula, antes de sua mão lentamente começar a descer pelo meu
estômago. Com os olhos arregalados, eu balancei a cabeça
negativamente. Também com os olhos arregalados, ele acenou
positivamente a cabeça para mim. E então se inclinou e começou a
beijar um caminho direto para a minha barriga, habilmente deslizando
sob o meu avental e abrindo o zíper dos meus shorts. Ele colocou a mão
dentro das minhas calças antes que eu pudesse ofegar, e agora estava
inserindo-se também à minha conversa conforme se enfiava dentro da
minha calcinha, e-oh!
Deixei cair o telefone. Direito sobre a cabeça dele. "Bem feito!"
Murmurei, tentando não rir conforme o assistia esfregar o galo que
havia se formado.
Ele saltou para longe e recuperou os suprimentos que havia trazido,
ainda sorrindo quando desapareceu na cozinha.
Quando eu trouxe o receptor de volta ao meu ouvido, a senhora
Montgomery estava perguntando a que horas devia pegar os cupcakes e
o que no mundo estava me fazendo soar tão sem fôlego?
"Desculpe, eu apenas deixei cair o telefone. Venha buscá-los pela
manhã; estamos fechando mais cedo para o feriado. Adeus para você
também."
Ele tinha me excitado além dos meus limites. Assim que desliguei o
telefone, fui na direção que Leo tinha ido, empurrando-o contra a
máquina de gelo e beijando-o até que ele estava sem fôlego também.
Eu também acariciei outro galo que estava se formando nesse exato
momento.

Dez minutos mais tarde, eu ainda estava sem fôlego e


decididamente brilhante. Nossa rapidinha havia chego ao fim comigo
gritando um pouco antes da porta da frente abrir, anunciando a
primeira chegada para a aula de cozinha zumbi número dois. Você
nunca verá alguém endireitar um avental mais rápido em sua vida,
confie em mim.
E a campainha da porta continuou a tilintar à medida que mais e
mais pessoas chegavam, alguns conhecidos e outros não. O que estava
acontecendo?
Parecia que minha aula era uma super balada onde todos queriam
entrar. E quando eu comecei a contar quantas pessoas estavam aqui,
senti uma sensação estranha no estômago.
Eu estava conquistando um espaço. Na cidade que eu jurei que não
iria trabalhar novamente. E o pior de tudo, isso era tão...
Estranho? Não inteiramente.
Familiar? Na verdade não. Embora o cenário fosse familiar, este
verão definitivamente não foi.
Agradável? Possivelmente.
Demais? Possivelmente.
Rapidamente significando algo para mim? Oh, talvez!
Eu suspirei. Não ajudou que minha mente ainda estivesse um
pouco embaralhada pela nossa ‘desossa’ contra a máquina de gelo.
Interpretando mal o meu suspiro, Leo beijou a ponta do meu nariz.
"É totalmente normal ter borboletas no estômago, Ervilha".
Da cozinha, nós espreitávamos através da janela da porta de
vaivém. Nós precisávamos de um momento extra para recolher a nós
mesmos. Afinal, ele estava dentro de mim há menos de dois minutos. Só
de pensar nessas palavras me fez apertar.... Mmm... tremor.
"Não estou realmente nervosa", eu disse. "Só não esperava tantas
pessoas."
A corretora de Chad e Logan, Mary, estava aqui com seu namorado,
Larry. A sra. Oleson e a sra. Shrewsbury, do Senhoras Auxiliares,
também. Eu reconheci algumas das estagiárias mais jovens da Fazenda
Maxwell, e a mulher do mercado dos agricultores que eu tinha visto
abanando-se com uma folha de alface e comendo Leo com os olhos. E
um cara muito alto com cabelo preto ondulado e um cinto de couro,
muito tatuado, muito carregado no departamento de músculos e
parecendo muito desconfortável em assistir a uma aula confecção de
conservas.
"Quem é esse?", sussurrei.
"Qual?"
"O cara Game of Thrones lá atrás." Apontei para alto, moreno e
totalmente fodível homem.
Leo olhou, então bufou. "Oh, ele vai adorar isso. Esse é Oscar, o
produtor de leite ao lado."
Eu o empurrei para fora do caminho e dei outra olhada. Ele era tão
alto que quase bateu a cabeça no sinal de cerveja que pairava sobre a
porta da frente.
"Esse é Oscar?", perguntei, incrédula.
"Sim," ele concordou.
"O produtor de leite?"
"Sim."
Eu balancei a cabeça, observando como ele era jovem. Sem dúvida
as atraídas por Leo agora estavam rindo estupidamente na presença de
Oscar. "Foda-me, os outros homens dessa cidade não têm nem chance."
"Perdão?", Perguntou Leo.
"Esqueça isso." Abri e porta e entrei no restaurante. O que diabos
eles tinham começado a colocar na água desde que eu tinha ido
embora?
Depois de receber todos, me apressei para separar tudo o que eles
precisavam para fazer geleia. Como não havia estações individuais
suficientes, dividi todos em duplas, como na Arca de Noé. Exceto Oscar.
Ele havia sido convocado para a equipe do Chade e Logan, e parecia
feliz em estar lá.
Depois que tudo estava pronto, todos prestaram atenção em mim.
"Olá a todos, e mais uma vez obrigada por terem vindo esta noite.
Estamos fazendo geleia!" Deus, eu adorava ensinar!
"Não podemos beber primeiro?" Chad perguntou a Logan com uma
risadinha.
Eu lutei contra um sorriso. "Como vocês podem ver, eu não estava
esperando tanta gente, então vocês estarão compartilhando os frascos.
Da próxima vez terão mais. Vocês vão encontrar tudo que precisam na
sua frente: frasco, funil, pectina, açúcar e suco de limão. Eu já lavei as
frutas, esterilizei os frascos, anéis e tampas, de modo que vocês ficarão
com todas as coisas divertidas. Para nossas atividades de hoje à noite,
vocês têm à escolha deliciosos frutos frescos, cortesia desse cara aqui e
da Fazenda Maxwell. Há amoras, framboesas e até mesmo groselhas."
Aproveitando a sugestão, Leo colocou um braço em volta de mim e
colocou uma groselha na minha boca.
Oh. Demonstração pública de afeto - nosso segredo foi revelado!
A verdade é que ninguém se importava, com exceção das
estagiárias, que rapidamente deslocaram sua atenção na direção de
Oscar. Quando percebi que a cidade não ia implodir só porque eu voltei
para casa e estava conseguindo conquistar Leo Maxwell, percebi que
havia algumas vantagens agradáveis em viver numa cidade pequena,
afinal.
Meu sorriso encheu meu rosto. "Ok, todo mundo, podem vir
escolher sua fruta!"

"Talvez geleia não tenha sido uma boa ideia", eu disse, lavando as
bancadas uma última vez. Xarope de blueberry estava em todos os
lugares, e a turma ficou para ajudar a limpar - potes foram limpos,
colheres foram penduradas em suas prateleiras e copos medidores
foram colocados de volta em seus lugares.
"Você está brincando? Esta foi a coisa mais divertida que eu já fiz
em anos", disse Logan, carinhosamente borrifando suco de amora-preta
na camisa polo de Chad. Eu adoraria ver a coleção de polos em seu
armário de verão.
"Você se divertiu, Oscar?", perguntei.
Ele estava na pia, limpando uma garrafa com uma escova,
empurrando-a para dentro e para fora. Eu realmente gostaria de dizer
que ouvi sua resposta, ou qualquer coisa que ele disse durante toda a
noite além de "Olá, prazer em conhecê-la", mas seria uma mentira.
Porque... ele era tão quente. Chad, Logan e eu, todos paramos para
olhar enquanto ele empurrava a escova para dentro e para fora da
garrafa. Deus misericordioso. Eventualmente ele vestiu sua jaqueta e
acenou para Leo em seu caminho para fora da porta. O que significava
que ele tinha parado de limpar.
"Você sabe, senhorita Roxie, você poderia facilmente obter uma
grana dando aulas na cidade." disse Chad.
Isso me trouxe de volta para a Terra. Ganhar para dar aulas? Rodas
começaram a girar e ideias começaram a surgir no meu cérebro, o ping
passando pelas sinapses como uma máquina de pinball.
Eu estaria mentindo se dissesse que esse comentário não deu início
a uma lista mental de razões para ficar em Bailey vs. razões para correr
gritando de volta para Los Angeles. Mas, uma aula semanal era uma
marca sólida na coluna a favor da estadia. Podia levar algum tempo
para estabelecer um público tão disposto em Los Angeles,
especialmente uma vez que não havia previsão de quanto tempo o
boicote culinário estaria em voga com Mitzi e sua tripulação.
Leo estava assistindo, mas tentando ser discreto sobre isso
enquanto continuava varrendo o chão.
"Eu vejo as engrenagens funcionando. Diga-me que você está pelo
menos considerando?" Chad pressionou em voz mais baixa, levando-me
para o canto para ter alguma aparência de privacidade.
Meus olhos encontraram Leo, que ainda estava nos observando de
perto. Ele ria de algo ou participava em outra conversa, mas eu poderia
dizer que uma de suas orelhas estava sintonizada em nós.
"Taaaaaaaalvez?" Batia minha mão sobre a boca de Chad antes que
ele pudesse gritar.
"Uau, Leo deve realmente ter um pé de feijão mágico na fazenda
para levá-la a considerar ficar."
Ele queria me provocar, mas eu recuei e verbalmente ataquei. "Esse
não é o motivo! Quero dizer, sim, é uma coisa grande de verão, mas isso
não significa que eu... Eu quero dizer... Só porque estamos juntos pelo
verão não significa que... isso não significa... Porra!"
O que quer que realmente fosse, também era o tipo de diversão que
poderia acender rapidamente para algo mais além. Isso é o que meus
instintos me diziam. Mas, considerando o gene de paixonite do qual eu
nasci, eu não sabia se devia confiar em meus instintos.
Independentemente da direção para a qual o meu coração me dizia para
ir, eu geralmente corria para o lado oposto.
Mas, e como ele estava se sentindo? Ele parecia estar gostando
disso tanto quanto eu. E como eu, ele foi para o relacionamento com os
olhos bem abertos. Já estávamos juntos há três meses. Mas o que
aconteceria a seguir...
"A quantidade de internalização que você está fazendo agora vai
dar-lhe uma úlcera." Chad me deu um tapinha nas costas suavemente.
"Não é algo que você precise decidir esta noite. Deixe para a próxima
primeira aula", disse ele, rindo e se juntando ao resto do grupo.
"O que estamos fazendo na próxima semana, Roxie?", perguntou
uma estagiária com expectativa, e o restaurante ficou em silêncio
enquanto o grupo esperava pela minha resposta.
Leo parou de varrer, segurando a vassoura sob o queixo quando se
inclinou contra ela, esperando.
Olhei para o balcão, espionando uma pilha de revistas de culinária
que minha mãe ignorava em favor dos habituais pratos do menu. Na
capa havia uma grande tigela azul cheia com linguini, mariscos e molho
de tomate.
"Estamos enlatando tomates", soltei, meus olhos em Leo.
Que estava radiante.
Minha melhor amiga Natalie gemeu. "Sabe o que eu estou tendo
agora?" Parecia que ela tinha a boca cheia de alguma coisa. "Adivinha".
"A julgar pelo gemido, suponho que seja um grande e belo pau." Eu
ri quando ela se engasgou.
Ela tinha ligado no intervalo entre o café da manhã e almoço, e eu
estava ansiosa para conversar com ela. Deslizei para o canto atrás do
armário de casacos não utilizado para ter mais privacidade,
equilibrando o telefone entre o ombro e meu ouvido. O restaurante
estava mais ocupado do que de costume: a calmaria entre café da
manhã e almoço estava ficando mais curta a cada dia.
Nós sempre fechávamos no Quatro de Julho e ficávamos fechados
também no dia cinco – era uma espécie de minibreak para a equipe. Eu
estava aguardando ansiosamente para poder colocar os pés para cima e
relaxar. Ou, talvez, colocar os pés para cima e ao redor de um certo
homem de olhos verdes lindos. Mmm. Mas voltando à Natalie...
"Idiota, eu poderia ter morrido. Morte por ensopado!"
"Natalie! Você está no House of Wong sem mim? Eu sou a única que
deveria estar te chamando de idiota, idiota! Você sabe que é o meu
lugar favorito e que você me provocaria assim! Eu estou tão ciumenta."
"Garota, por favor, você já esteve em Bailey Falls por quantas
semanas mesmo? E não pisou na cidade nenhuma vez. Eu não me sinto
mal sobre isso em tudo. Ouviu isso?" Slurping. Ela não o fez. Ela não
faria isso.
"Você está tendo os bolinhos com a sopa?"
Slurp. Slurp, glup. "Estou cansada de esperar que você traga sua
bunda bonita aqui. O que diabos está acontecendo aí?"
"Oh, você não tem ideia." Eu gemi, imaginando o navio de bambu
preenchido com bolinhos de massa perfeitamente em forma, saborosa
massa macia e um rico, não, lindo caldo.
"Você ainda está pensando nos meus bolinhos de massa, não é?",
ela perguntou.
Eu sorri. "Pega. Você faz parecer tão sórdido".
"Eu faço parecer solitário. Enfie sua bunda no trem e você pode
estar na Grand Central em noventa minutos."
"Eu ainda tenho serviço de almoço. Coloque sua bunda no trem e
você pode estar em Poughkeepsie na mesma quantidade de tempo."
Ela piou. "Sim, tá bom. Que diabos é que eu vou fazer aí?"
Natalie sofria com a crença de Manhattan de que não valia a pena
fazer nada fora de sua ilha. Normalmente eu concordava, mas...
"Aqui também temos coisas para fazer. Não é tão ruim." Olá, da
onde veio isso?
"Coisas para fazer. Isso não explica o porquê eu estou desfrutando
de um delicioso bolinho sozinha, e você ainda não me disse por que
você não veio para a cidade para me visitar, também".
"Eu estive... ocupada." Me senti mal por não ser honesta com ela,
mas como eu poderia ser quando não estava sendo totalmente honesta
nem comigo mesma? Eu tive um dia de folga aqui e ali, e onde eu os
tinha gasto? Sob e sobre um certo fazendeiro.
"Eu não entendo. Eu sei que o restaurante deve ser desgastante.
Mas eu sinto sua falta, Rox! O que está acontecendo?"
"Agora não é realmente um grande momento", eu disse, assistindo
mais e mais clientes chegando. O restaurante estava enchendo
rapidamente.
A cidade sempre teve um fluxo de visitantes nos fins de semana de
férias. Os nova-iorquinos que não iam para os Hamptons fugiam para
as montanhas para ter uma sugestão da vida no campo. Todos os
negócios eram inundados então; Leo disse que os passeios ao redor da
fazenda estavam com a agenda lotada por dias. Não pela primeira vez
eu me perguntei quando ia vê-lo de novo. Nós conversamos sobre
assistir a queima de fogos desta noite juntos, mas...
"Você apenas deu um suspiro sonhador?" Perguntou Natalie com
tom de provocação.
"O quê?" Pensei por alguns segundos e percebi que sim, quando
tinha pensado sobre Leo eu suspirei. Maldição, agora eu estava
suspirando pelos cantos.
"Você nunca suspirou assim! Diga-me agora o que está
acontecendo!"
Ah Merda. "Não é apenas o restaurante... Eu conheci alguém
quando cheguei aqui. Estamos envolvidos."
“Envolvidos? O que diabos isso significa?"
"Isso significa que eu tenho alguém que estou vendo. Durante o
verão. E... bem..."
Ela engasgou. "E... bem? Você nunca ‘e... bem’. É ‘preservativo,
vuco-vuco e de volta ao trabalho’. Não posso crer que a ‘senhorita não
tenho relacionamentos’ está se apaix-"
"Fique quieta! Vou desligar na sua cara. Não coloque palavras na
minha boca".
"E o que ele está colocando na sua boca?"
Escondi meu rosto em minhas mãos. "Oh, inferno."
"Eu posso dizer o que estou colocando na minha boca. Um prato
inteiro de bolinhos e sopa. Pegue o seu amor de verão, entre num trem
e obtenha a sua bunda aqui!"
"Ele realmente não pode sair durante o verão, ele é um... bem... ele
é um..." Eu coloquei minha mão em volta do meu telefone e disse
calmamente: "fazendeiro".
"Ele é um o quê?"
"Um agricultor", eu sussurrei.
Quando ela finalmente parou de rir, me contou tudo sobre o
agricultor com o qual ela se envolveu no ‘Mercado Union Square
Farmers'. Fazendeiros eram o novo tipo de boy-magia, ao que parece.
Eventualmente eu fui capaz de desligar o telefone, prometendo a ela
que iria para a cidade assim que tivesse um tempo. Mas, por agora, eu
tinha um jantar para fazer. Voltei para a cozinha, oferecendo um ‘toca
aqui’ com Maxine quando passei, e ela felicitou-me por toda a boa
mudança que estava acontecendo.
Bom ser necessária.
"Eu não posso acreditar que você não quer ir ver o desfile. Quem
não gosta de um desfile?", Disse Leo.
Estávamos na cozinha da minha casa lavando os pratos depois do
jantar. Eu tinha feito milho fresco na espiga no estilo de rua mexicano,
com bastante pimenta em pó, sal e limão, pequenas batatas assadas
com cebolinha fresca e creme de leite, e frango frito. Que não era
apenas bom do tipo ‘lambendo os dedos,’ mas, aparentemente, era bom
do tipo ‘lambendo-Roxie’. Depois da refeição, Leo havia declarado o meu
como o melhor frango frito que ele já tinha comido e, em seguida,
lambeu meu pescoço por um tempo. Eu não podia esperar para
descobrir o que ele lamberia quando descobrisse que eu tinha feito
torta...
Agora nós estávamos discutindo as atividades da cidade para a
noite, e minha falta de interesse nelas. "Eu gosto de um desfile, é só que
fui a essa mesma parada a cada quatro de julho desde que eu era
criança. Eu sei tudo que vai acontecer. A banda de escola secundária
toca, as líderes de torcida torcem, a rainha do baile reina de seu carro
de papel higiênico e o prefeito faz um discurso. Que é normalmente um
pouco arrastado e acompanhado de sudorese pesada devido ao fato de
que, a essa altura, ele já tomou alguns muitos copos. Geralmente de
cerveja caseira do Sr. Peabody, o que é basicamente wisky em um copo
de plástico. Os fogos de artifício explodem sobre a prefeitura, todos
fazem oohs e ahhs, então as pessoas correm para chegar aos seus
carros e estarem em casa antes da meia-noite."
Coloquei o prato para lavar e balancei as sobrancelhas para ele.
"Prefiro ficar em casa e desfrutar de alguns oohs e ahhs de um tipo
diferente, se você sabe o que quero dizer."
Ele prontamente guardou o prato que estava secando e parou atrás
de mim. Suas mãos furtivamente enrolaram em volta da minha cintura,
puxando-me perto de seu corpo. "Eu sei o que você quer dizer. E se você
está pronta para os oohs e ahhs, eu estive pronto para comemorar o
aniversário do nosso país desde que você veio abrir a porta nesse sutiã
de estrelas e listras." Ele bateu seus quadris nos meus, compartilhando
sua ‘saudação’ com meu traseiro.
"Como você sabia?" Perguntei, virando a cabeça para ver seu sorriso
tímido.
Eu tinha escolhido este sutiã especialmente para a ocasião, depois
de espiá-lo numa vitrine na avenida principal. A loja de lingerie local era
especializada em lingeries temáticas. Quer ter certeza de ganhar muitos
presentes no próximo Natal? Eles vão conseguir para você uma
camisola que parece com uma chaminé sexy. Quer que seus seios
pareçam bolos de aniversário para alguém especial? Eles têm um sutiã
para isso. Quer um par de cuecas com um arbusto colocado
estrategicamente para comemorar o Dia da Árvore? Pode apostar.
Mas eu tinha escondido o meu novo sutiã vermelho, branco e azul
sob a minha roupa, planejando revelá-lo para Leo enquanto ouvíamos
os booms distantes dos fogos de artifício da cidade.
"Quando você estava debulhando milho mais cedo, o botão do meio
se abriu. Eu vi tudo. E, a propósito, eu prefiro que todo o processo de
debulhar milho a partir de agora seja feito nu, ou pelo menos sem o seu
pijama. Porque, puta merda, digamos que é muito difícil ver você
debulhar milho sem querer começar imediatamente com a ralação."
Seus lábios estavam no meu ombro agora, empurrando a minha camisa
de lado e expondo uma estrela e uma listra.
"Você queria me ajudar a descascar?"
"Vamos ser claros," ele murmurou, mordiscando-me um pouco. "Eu
queria dobrar você sobre esse barril e descasca-la até que o milho
estivesse espalhado em todos os lugares."
Fechei os olhos para a imagem repentina de Leo, forte e nu, glorioso
e nu, e também totalmente nu, empurrando em mim por trás enquanto
eu me dobrava alegremente sobre um tambor de chuva, ao som de fogos
de artifício iluminando o céu noturno e com palhas de milho explodindo
preguiçosamente por todo o quintal. Calor instantâneo floresceu e meus
quadris arquearam para trás, buscando contato com qualquer coisa
que se assemelhasse a uma espiga de milho. Quando uma de suas
mãos deslizou sob a minha camisa, eu senti meu coração bater mais
rápido e meu sangue correr alucinadamente pelo meu corpo.
Meus lábios estavam solitários. Meus seios estavam pesados e
cheios. Meus quadris sentiam necessidade de uma orientação muito
específica, principalmente do tipo vai-e-vem. E outras áreas sentiam-se
dolorosamente vazias. Eu inclinei minha cabeça para trás em seu peito.
À medida que sua boca se movia contra o meu pescoço, o cheiro dele
me cercou - bronzeado de sol, terra molhada e salgado. Eu olhei para
baixo quando ele começou a abrir meus botões, e vi suas mãos no meu
corpo. Grandes, fortes e um pouco sujas, a linha de sujeira embutida
embaixo de suas unhas persistindo mesmo quando eu sabia que ele as
esfregou antes de vir. Grosseiras e calejadas mãos que trabalhavam
duro, mas que foram gentis quando deslizaram minha camisa dos meus
ombros e deixaram-na cair no piso desgastado que foi usado por longos
dias quentes e sujos. Eu queria a mesma coisa com ele.
Longos dias quentes e sujos. E noites.
Virei-me, deixando-me cercar por ele quando ele me encostou na
pia. Seus olhos ardiam enquanto observavam meu sutiã vermelho,
branco e azul, e então ele sorriu, percebendo que eu tinha planejado
comemorar este feriado com ele do jeito mais sujo possível.
"Olhe para você, Ervilha" ele sussurrou, levantando-me tão
facilmente quanto poderia levantar um gatinho e me colocando sobre a
borda do balcão, abrindo as minhas pernas com um movimento rápido.
Ele rapidamente se colocou entre elas e as puxou em volta dele
enquanto me equilibrava. Em seguida, com um dedo colocado
exatamente no centro do meu estômago, ele me cutucou. E eu caí
espalhando água por toda pia.
"O quê? Sério?" Eu gaguejava, pernas batendo e água voando por
toda parte.
Leo me segurou no comprimento do braço e apenas riu. Mas
quando seus olhos encontraram os meus novamente, eles estavam
menos travessos e mais luxuriosos. Suas mãos, que tinham me
impedido de sair da pia enquanto ele ria, agora deslizaram sob a água,
deslizando ao longo do interior das minhas coxas, debaixo dos meus
shorts e-
"Você está molhada", observou ele, seu olhar aquecido.
"Bem, sim", eu respondi, segurando a borda da pia enquanto seus
dedos mergulhavam em mim.
"E não apenas por causa da água." Ele se aproximou e um rubor
subiu por mim quando me encontrei montando sua mão e balançando
na pia. Minha respiração ficou presa. A paixão que estava sempre
borbulhando sob a superfície agora estava pegando fogo, enviando
arrepios até as pontas de todo o meu corpo.
"Você sabia que seus olhos mudam de cor?", ele murmurou, seu
olhar aquecido enquanto me olhava de perto, tão de perto.
"Hmm?" Eu tentei manter os olhos abertos, mesmo que tudo que eu
quisesse fazer fosse fechá-los e saborear estes sentimentos.
"Eles mudam. Quando você está excitada." Seus dedos deslizaram
dentro da minha calcinha. Minhas costas arquearam involuntariamente
e eu segurei muito apertado na borda da pia.
"Eu sei que eles mudam... de cor quando eu estou... frustrada...
foda, isso é tão bom."
"Eles normalmente são cor avelã, talvez um pouco de azul, talvez
um pouco de marrom, mas quando estão verdes... mmm". Ele acelerou
seus dedos. O que acelerou minha respiração. Ele se inclinou mais
perto, pressionando os lábios contra o meu pescoço e beijando um
caminho para cima até um pouco abaixo da minha orelha, onde
sussurrou: "Você sabia que eles ficam totalmente verdes? Logo antes de
você gozar?"
Eu gemi. Este homem me conhecia; me conhecia tão bem. Ele se
afastou um pouco, me estudando.
"Olhe para isso, eles estão ficando ainda mais verdes a cada
segundo."
Tudo que eu podia fazer era gemer com o ataque de sensações que
quebravam através de meu corpo. Ele observou meus olhos enquanto
seus dedos deslizavam pela minha pele até que eu estava quase
gozando em sua mão. Mas antes que eu gozasse ele me puxou contra
seu peito, ficando tão molhado quanto eu. Enquanto ele caminhava
através da cozinha e saia pela porta de trás, minhas mãos
imediatamente se prenderam nos seus cabelos, e eu lhe dei um beijo
selvagem. Minhas pernas se envolveram em torno dele, mas antes que
eu pudesse apertar ele me colocou de pé na frente do barril e me girou
como um pião.
"Essa é uma ideia muito boa para deixar passar." Ele arrastou meu
short e calcinha pelas minhas pernas molhadas e, segundos depois eu
ouvi o seu zíper. Mmm. "Segure do outro lado, Ervilha".
Eu me dobrei, sentindo o ar da noite no meu traseiro nu. "Assim?"
Perguntei, olhando para trás por cima do meu ombro e arqueando
minhas costas. O que vi foi algo lendário. Leo, tirando sua camiseta.
Seu tronco longo, magro e forte quando descartou a camiseta e, em
seguida, abriu o botão da calça jeans. Que foi rapidamente empurrada
um pouco para baixo, junto com sua cueca. Eu tremi quando o assisti
rasgar o invólucro de preservativo com os dentes e, em seguida, vi sua
mão desaparecer dentro de sua calça jeans. As borboletas em minha
barriga voaram em mil direções ao mesmo tempo quando o vi
segurando-se em suas mãos, rolando o preservativo para baixo de seu
comprimento e espessura. Agora, este foi desfile digno.
Sua mão direita segurou-se na base e a mão esquerda escorregou
pela minha espinha, acariciando a parte inferior das minhas costas e
me empurrando mais contra o barril. "Abra as pernas um pouco mais,
Rox, isso, exatamente assim", ele murmurou, a doçura de sua voz
grossa.
Prendi a respiração quando ele empurrou para dentro de mim. Ele
deixou escapar o fôlego enquanto me penetrava, numa longa... e lenta...
expiração. Quando ele estava enterrado lá no fundo, então, disse meu
nome. Suas mãos correram pelas minhas costas - ele não estava se
movendo dentro de mim ainda, apenas nos segurando juntos, com as
mãos me acalmando e acariciando. Sua voz disse meu nome uma e
outra vez neste lindo sussurro rouco, que era tão sexy quanto íntimo.
Me senti, em uma palavra, adorada.
Em seguida, uma mão fechou em torno do meu ombro e a outra
agarrou meu quadril, e então ele empurrou. Parecia delicioso. "Deus, eu
gostaria que você pudesse ver como está agora", disse ele, suas palavras
caindo sobre mim. Eu arqueei minhas costas como um gato,
empurrando de volta contra ele. Então olhei por cima do ombro mais
uma vez, ficando ainda mais ligada pela intensidade que vi em seu
rosto, no modo que ele mordia o lábio inferior enquanto empurrava e
em como os nervos em seu pescoço apertavam conforme ele movia meu
corpo com o dele.
"Então descreva como eu estou agora." Minha respiração ficou presa
na minha garganta quando ele me puxou poderosamente contra ele.
O canto de sua boca se dobrou num sorriso doce. "Sua pele está
brilhante, e não é apenas por causa da luz da lua."
"Sim?"
"Toda vez que eu empurro em você, você empurra o quadril para
trás, e Cristo, eu posso te sentir inteira ao meu redor."
"Mmm-hmm." Eu suspirei, apertando-o com força e recebendo um
gemido em resposta.
"E foda, sua bunda parece fantástica assim." Ele me deu um
tapinha na parte traseira e eu gritei. Não apenas em surpresa.
"Devidamente anotado", ele murmurou, deslizando a mão pela minha
espinha para enterrá-la no meu cabelo, torcendo-o em torno do punho.
Puxando um pouco, meu pescoço arqueou, minhas costas arquearam e
eu estava na borda, literalmente e orgasmicamente, especialmente
porque sua outra mão deslizou debaixo de mim, parando logo acima de
onde estávamos conectados.
"Eu me pergunto de que cor estão seus olhos agora", ele gemeu,
seus quadris acelerando, punindo, famintos, desesperados. Gemendo e
me sentindo febril, eu podia sentir a bola de tensão pulsando através do
meu corpo, as luzes piscando diante dos meus olhos e seus gemidos
grossos atrás de mim. Meus olhos ficariam completamente verdes
quando eu desmoronasse sob o céu noturno, com Leo duro e liso dentro
de mim.
Feliz aniversário, América.

"Ei, o que é isso?", Perguntou Leo.


"Meu seio."
"Eu estou ciente disso", disse ele, inclinando-se para soltar um beijo
doce no meu peito. "Mas, o que é isso? A coisa grande nos arbustos?"
"Esclareça isso, por favor, ou eu estou correndo para dentro de casa
e deixando-o lidar com qualquer coisa grande e assustadora que esteja
nos arbustos."
"Isso", disse ele, apontando para a coisa.
"Oh, isso é o velho Airstream" eu disse, relaxando de volta em seus
braços. Os quais, de repente, não estavam mais lá.
"Um desses trailers velhos?" Ele já estava de pé, deixando meu peito
sozinho. Resmungando enquanto abotoava minha camisa, eu o segui
até a parte da frente do quintal, onde ele estava. "Wow, olha isso!
Quanto tempo está aqui?"
"Difícil dizer. Quando Nixon estava no poder?", respondi.
Ele se virou de onde estava andando em torno do mato. "Tá de
brincadeira!"
"Eu nunca brinco quando um garoto está seminu", respondi,
afetadamente segurando minha camisa fechada.
Seus olhos percorreram todo o meu corpo de uma maneira
superficial, quase como se, como menino, ele fosse incapaz de não olhar
para uma garota seminua. Mas ele muito rapidamente voltou sua
atenção para o trailer. Tentei não ficar ofendida.
Afastando alguns ramos, ele bateu no metal. "Qualquer ideia da
última vez que esteve na estrada?"
"Ainda esperando por você para me lembrar de quando Nixon estava
no poder", respondi.
"Mulher. Você está me matando", ele gemeu, usando a lanterna de
telefone para tentar olhar dentro. "As pessoas usam estes para todos os
tipos de coisas, você sabe. Não apenas acampar."
"Pode até ser, mas eu tenho certeza que muitos bichos estão
acampando aí dentro por anos."
"Food truck." Ele se virou para olhar para mim, sua lanterna
brilhando bem na minha cara.
Temporariamente cega, eu fechei meus olhos. "Você quer
transformar isso em outra coisa?"
"Sério, Roxie, este poderia ser um food truck. Eles estão por toda
parte estes dias."
"Cara, eu sou de LA. Food trucks são muito comuns lá."
"Cara", disse ele, de repente bem na minha frente, lanterna
desligada. "Você é e esta em Bailey Falls. E eles não existem aqui
ainda."
Minha mente correu de imediato através do meu portfólio culinário,
iniciando a triagem através de pratos que iriam funcionar num
ambiente móvel. Em seguida, ela se mudou para o mercado dos
agricultores – e para o estacionamento livre para food trucks.
Dizem que quando uma ideia nasce, ela é como um flash que
dispara sobre sua cabeça. No meu caso, foram os fogos de artifício da
prefeitura. Que eu observei estourando na parte traseira da minha
propriedade, onde um Airstream antigo brilhava à luz do luar em meio a
décadas de mato de crescimento excessivo. E onde um agricultor,
iluminado por estrelas e lantejoulas, vestia apenas seu jeans desbotado
e um sorriso gigante.
Daqui podíamos ver cidade como um cartão postal: luzes noturnas
cintilantes, o Rio Hudson invisível no escuro, mas sugerido pela
mancha mais escura no horizonte. E, sobre tudo isso, grandes toques
de vermelho-fogo, branco e azul, e uma leve sugestão da banda da
escola secundária, que mal podia ser ouvida.
As mãos de Leo enrolaram-se em torno dos meus quadris, me
firmando de pé na frente dele, de frente para os fogos de artifício,
encarando a corrente de ar, a cidade. Eu permiti que a minha cabeça
caísse para trás contra seu peito, absorvendo o calor de sua pele. Com
os braços cruzados na minha frente, um suspiro de contentamento
escapou quando o queixo dele descansou em cima da minha cabeça. E,
enquanto assistíamos os fogos de artifício e eu relaxava contra ele,
percebi que o suspiro veio de mim. E que o contentamento era meu.
E, apenas por um momento, eu permiti que minha imaginação
corresse solta. Um food truck cheio de alimentos, como bolos à moda
antiga. Uma fila em torno do bloco de clientes fiéis e prontos para fazer
suas encomendas. E Leo, no final de um dia longo e duro, pronto para
uma longa noite e dura.
E eu tremi, embora estivesse muito quente no interior seus braços.
Eu dormi até as dez da manhã. Um feito inédito na história do sono
da Roxie. Rolei, estendendo-me deliciosamente e estendendo a mão
para Leo. Nós tínhamos ido dormir tarde, somente depois de observar
os fogos de artifício durante a noite, enroscados na varanda dos fundos.
Não havia escapado à minha atenção que, com Leo na minha cama, eu
dormia mais tempo e mais profundamente do que tinha conseguido
antes. Ele apenas se encaixava bem no cenário, então? Provavelmente, e
o homem dava um ótimo orgasmo, também.
Não era o orgasmo...
Não, não era. Era apenas Leo. Que ocupava muito espaço na minha
cama de solteiro. Que tinha mãos ásperas e pés frios, mesmo na noite
mais quente, e cujos cabelos do peito faziam cócegas no meu nariz, algo
terrível.
E mesmo assim eu amei dormir com ele. De trás para frente, com a
cabeça em seu peito, bunda para bunda - não importava, eu adorei.
Minhas mãos tatearam em seu lado novamente, em busca de um
punhado quente de Leo, mas ele se foi. Meus olhos se abriram,
sonolentos, e eu vi que ele tinha me deixado um bilhete no travesseiro.
Ervilha,
Meu coração disparou em ver meu apelido escrito. Por que era que
tão emocionante? Enfim, de volta à nota.

Ervilha,
Tenho um dia ocupado hoje. Estou ajudando Oscar a mover algumas
vacas para um campo novo, e depois vou substituir a pia da minha
cozinha. Você sai aí pelas cinco horas do restaurante esta noite? Vou
trazer-lhe alguns morangos...
Leo

P.S. Ansioso para te fazer ficar verde em menos de um minuto.

Corei, pensando em todas as coisas que ele podia fazer para meus
olhos mudarem de cor. E então corei de novo quando percebi que eu
estava segurando a nota perto do meu rosto, como se eu fosse beijá-la.
Rolei na cama, gritando como uma estudante com sua primeira paixão.
Suspirei em seu travesseiro e respirei o traço persistente de seu cheiro.
Rindo em voz alta, chutei meus pés no ar e percebi novamente que eu
estava indo além de uma simples paixonite.
Reli sua nota, ansiosa para ver seu apelido para mim de novo, e
observei na parte inferior que ele tinha feito um pequeno desenho.
Uma interpretação livre de um trailer Airstream, com uma menina
de sorriso largo pendurada para fora da janela lateral. E uma fila de
clientes que conduzia até ela. Um pensamento borbulhava em peito - o
mesmo pensamento que tive na noite passada enquanto assistia os
fogos de dentro do círculo dos braços do meu Almanzo.
Meu Almanzo?
Eu persuadi o pensamento a retroceder.
Um food truck. Eu poderia fazer isso? Poderia realmente decidir
ficar aqui, em vez de voltar para Los Angeles? Não era mais uma
possibilidade fora do reino do possível. Os bolos estavam certamente
vendendo. Eu teria acesso a Leo e tudo o que isso implicaria. E eu
gostava muito dele.
Tombei sobre a cama, relendo sua nota pela quarta vez. Ele traria
morangos. Eu poderia fazer uma torta de morango. Eu deveria fazer
uma torta de morango. Eu tinha o dia de folga, já que o restaurante
estava fechado.
...Estou substituindo a pia da minha cozinha...
Eu nunca tinha visto a sua cozinha, e nunca tinha visto a sua
casa. Já conhecia o caminho, embora; ele apontou para a rua lateral
que levava à sua parte da propriedade uma vez, numa parte mais
tranquila da fazenda. Hmmm.
Eu poderia ir mais cedo, surpreendê-lo, fazê-lo escolher alguns
morangos para mim e assar a torta enquanto o observava substituir a
pia. Eu adoraria vê-lo segurando uma chave. De repente, a imagem dele
se segurando na noite passada surgiu na minha cabeça, e eu tremi.
Fui para o chuveiro, criando uma lista mental de tudo o que eu
precisaria para cozer a torta surpresa. E qualquer coisa que eu não
precisaria... como calcinha. Se Deus quiser.
Duas horas mais tarde eu estava dirigindo pela estrada secundária,
meu prato de torta favorito no assento ao meu lado, juntamente com
todos os meus ingredientes. U2 estava no rádio, "So Cruel". Eu estava
sorrindo desde que acordei, e perceber isso me fez sorrir ainda mais.
Quando dirigi através dos portões para a fazenda, maravilhei-me
mais uma vez com tudo o que ele tinha criado aqui. Eu estava
começando a conhecer a fazenda, e pude ver as mudanças que tiveram
lugar desde que eu tinha estado aqui da primeira vez. Os feijões
estavam subindo mais e mais em suas apostas, cheios, verdes e
exuberantes. As linhas de alface foram dizimadas, como Leo tinha
explicado que aconteceria quando o sol ficou demasiado forte para as
culturas de tempo frio.
Virei na estrada lateral, que se transformou em cascalho esmagado
quando me aproximei de onde sua casa devia estar. As árvores estavam
podadas agora, e eu podia sentir meu coração acelerar um pouco. Uma
viagem só para ver Leo? Ao invés de empurrar o sentimento para baixo,
deixei-o florescer um pouco. Felicidade simples floresceu então, e a
parede que eu mantinha entre mim e sexo masculino ficava cada vez
menor.
Meus dedos felizes acompanharam a melodia no volante enquanto
eu cantarolava feliz. Mais duas voltas pela floresta e eu pude ver uma
casa começando a tomar forma. O jeep de Leo estava ao lado da casa, e
meu coração sacudiu. Ele estava em casa!
Parei ao lado de seu caminhão, do lado da casa, olhando para a bela
construção. Era toda em pedra e tinha janelas grandes, portas
encantadoras e uma enorme chaminé cutucando através do telhado.
Não era grande, mas também não era pequena; era adorável, e muito
Leo.
E por falar no anjo, lá estava ele, descendo os degraus da varanda
da frente, rindo. Ele sempre era rápido para encontrar alegria em
qualquer situação, e eu me perguntei o que estava fazendo-o rir. Então,
quando desci do meu Wagoneer, pude ver a fonte de sua diversão.
Montada em suas costas, com cabelo louro e olhos cor de areia que
combinavam com os dele, estava uma menina, seis, talvez sete anos de
idade. Leo a levou a galope através do quintal da frente enquanto ela ria
e gritava.
Bem quando eu estava tentando descobrir o que ia dizer, ele me viu,
ali de pé com a minha boca, sem dúvida, bem aberta. Ele parou de rir.
A menina não tinha entendido ainda o que estava acontecendo.
Chutando sua lateral como se estivesse usando esporas, ela gritou
alegremente: "Vai, Papai, vá!"
Eu estava tão surpresa que nem percebi quando uma abelha grande
e gorda chegou, voou por baixo da minha saia e me picou direito na
porra da minha coxa.
E isso doeu tanto quanto eu sempre achei que faria.

Para o registro, eu não corri. Dei um tapa na minha perna


violentamente, matando a abelha e fazendo-a cair bem em cima do meu
pé, onde ficou para todo mundo ver. Um mundo que incluía Leo e sua
filha. Que estavam andando na minha direção agora.
"Roxie", disse ele com uma voz suave.
Eu tinha ouvido sua voz suave antes. A suavidade provocou um
pânico que percorreu todo o meu corpo, e meu olhar caiu longe de Leo e
sua filha - sua filha! Ele viu a abelha no meu pé justo quando a dor
começou a florescer em algum lugar no meio da minha coxa. Duas
grossas lágrimas se formaram nos meus olhos, e eu as deixei derramar
pelo meu rosto antes que pudesse detê-las.
"Eu fui picada", disse, sentindo as lágrimas escorregarem para
baixo do meu queixo e no meu vestido. Eu tinha sido picada! Chutei a
abelha, observando-a cair na grama. Era uma enorme abelha. E eu
estava chorando? O que aconteceu? "Eu fui picada", eu repeti enquanto
esfregava minha perna, tornando tudo pior.
"Você foi picada por uma abelha?" A menina perguntou, e eu olhei
para aqueles olhos verdes familiares, borrados por causa das minhas
lágrimas. Abelhas são idiotas! Por que ninguém me escuta?! "Sim",
inalei, limpando meu rosto, que estava ficando mais quente a cada
segundo.
Leo parecia preocupado, mas também um pouco inseguro.
"Deixe-me ver, deixe-me ver!", Ela disse.
Leo se agachou e ela pulou de suas costas de forma praticada, em
seguida, correu para mim e me olhou com expectativa.
"Um, você quer ver a minha picada de abelha?", Perguntei, confusa.
"Não, eu quero ver a abelha. Onde ela está?"
"Oh." Eu apontei para a grama.
Ela agachou-se ao lado do bicho, estudando-o com cuidado. Leo
veio para ficar ao meu lado, seus olhos procurando os meus. Eu tinha
tantas perguntas, mas agora tudo o que eu podia sentir era a dor.
Na minha perna.
"É uma abelha operária", disse ela com naturalidade. De repente,
ela endireitou-se e se virou para mim com horror. "Você a matou."
Surpresa por ter sido colocada na defensiva por uma pessoa tão
pequena, respondi: "Sim, eu fiz. E daí? As abelhas não morrem depois
de picar, de qualquer maneira?" Que diabos?
"Nuh-huh, só as abelhas que recolhem o mel. Não havia nenhuma
razão para matá-la".
"Eu tinha uma razão," resmunguei e olhei para Leo, em busca de
ajuda. Ele estava assistindo a nós duas, fascinado.
Se foi a picada, a surpresa ou o fascínio eu não sei, mas meus
joelhos se dobraram e de repente eu estava na grama, ao lado de uma
abelha morta, uma criança de idade indeterminada me olhando com
desaprovação e um agricultor que escondia muitas surpresas atrás de
seu rosto doce.
"Merda", murmurei, em seguida, bati a mão sobre a minha boca.
Leo ajoelhou-se, me deu um tapinha no ombro e se virou para sua
filha. "Polly, este é minha amiga Roxie."
"Oi," ela disse, olhando-me de cima a baixo.
"Oi", eu disse através das minhas mãos.
Leo sufocou uma risada. "Oh, que tal se nós te ajudarmos a se
limpar?"
Eu assenti. Polly assentiu. Leo tentou abafar outra risada.

"Tem certeza que isso é o que se deve usar? Não há outra coisa que
realmente venha da farmácia? De preferência num tubo, e que diga:
remédio para picada de abelha?" Eu estava sentada no balcão da
cozinha ao lado de uma pia semi-instalada, e com a minha perna
empoleirada nas costas de uma cadeira. Eu tinha sido picada na parte
de dentro da minha perna direita, logo acima do joelho, e estava bem
inchado.
"Bicarbonato de sódio e água são as melhores coisas para uma
picada de abelha," Leo acalmou, misturando a pasta com o dedo.
"O bicarbonato de sódio neutraliza o ácido das picadas de abelha,
por isso é a melhor coisa." Polly bateu seu dedo contra o lábio inferior.
"A menos que seja um vespão, porque então você precisaria de vinagre.
Você sabia que o ferrão do vespão e o veneno da vespa são alcalinos? O
ácido no vinagre neutraliza o veneno."
"Eu não sabia" eu disse, sibilando quando o dedo de Leo espalhou a
pasta sobre a minha picada.
"Bicarbonato de sódio é bom para muitas coisas ao redor da casa.
Você pode usá-lo para escovar os dentes, ou para limpar panelas e
frigideiras. Papai usa o tempo todo. Especialmente nas mãos quando
elas estão realmente sujas", disse Polly, enumerando os usos do
bicarbonato.
"É bom para cozinhar também", eu disse. "Você já viu massa de bolo
antes de assar?"
Ela assentiu com a cabeça. "A mãe da minha amiga Hailey cozinha
o tempo todo, e às vezes me deixa lamber o batedor."
"Ok, então você sabe como a massa vai para a assadeira toda
grudenta?" Vacilei quando Leo deu um tapinha na minha perna. Ele
murmurou: "Desculpe."
"Sim", disse Polly.
"E depois, quando sai do forno, esta mais alta, certo?"
"Certo."
"Isso é o que o bicarbonato de sódio faz num bolo: crescer e ficar
fofo. Mas é alcalino, como a palavra que você usou antes."
"E que eu sei o que significa", disse ela, revirando os olhos.
Uau. Expectadora resistente. Olhei para Leo, insegura sobre como
continuar com isso.
"Polly, o que eu lhe disse sobre rolar seus olhos?"
"Que é incrivelmente rude," ela suspirou, olhando na minha direção.
"Desculpe por revirar os olhos, mas eu leio muito." Ela me estudou
cuidadosamente. "Se você disser outra coisa que eu já sei, prometo que
não vou rolar meus olhos."
Leo tossiu. Seus ombros estavam tremendo um pouco, também.
"Certo, bem, é alcalino, então não tem um gosto muito bom. Se você
já escovou os dentes com ele deve ter percebido. Portanto, se há
bicarbonato de sódio numa receita, os outros ingredientes têm de
encobrir esse gosto, da mesma maneira como o vinagre neutraliza a
alcalinidade no veneno do vespão."
Depois de me olhar por alguns momentos, ela disse: "Papai, eu
posso ir brincar?"
"Eu gostaria que se você desempacotasse suas roupas primeiro",
disse ele.
Ela pulou do balcão e começou a correr para a porta da frente. "Já
fiz."
"E separou a roupa suja em pilhas?"
"Defina separar as roupas em pilhas", disse ela, e desta vez fui eu
quem sufocou uma risada.
"Montes de roupas brancas. Montanhas de roupas escuras. A
definição de pilhas não inclui empurrar tudo para dentro do armário e
cobrir com um cobertor."
Ela dirigiu-se para as escadas. "Certo. Vou fazer isso." Conforme ela
subia as escadas correndo, sua cabeça voltou a aparecer sobre o
corrimão. "Sinto muito por sua picada de abelha, Roxie."
"Obrigada, Polly."
"Mas da próxima vez não mate a abelha, ok? Assim você acaba
prejudicando as colônias"
"-e então a terra. Sim, sim, eu sei," Terminei, revirando os olhos.
Sob a minha respiração, eu disse: "Elas ainda são idiotas."
Ela sorriu, desapareceu pelo corredor e, alguns segundos depois,
ouvi sua porta fechar.
Sozinha, finalmente, me virei para Leo, que estava sentado lá com
uma expressão divertida e um dedo pastoso.
"Você pode escovar os dentes com isso, você sabe," eu disse, não
encontrando seus olhos ainda e inclinando-me para inspecionar seu
trabalho.
"Eu sei." Ele também se inclinou para baixo. A pele em torno da
picada ainda estava inchada, mas o fogo tinha começado a arrefecer sob
a pasta de bicarbonato de sódio. "Como está se sentindo?"
"Confusa. Você?" Minha voz tinha uma frieza que eu não gostei.
"Confuso." Sua voz tinha a mesma frieza. "O que você está fazendo
aqui, Rox?"
"Eu vim para cozinhar uma torta e-" Oh meu deus! Os ingredientes
ainda estavam no caminhão, no sol da tarde quente! "Merda, tenho que
ir-"
"Whoa Whoa Whoa, espere um minuto", disse ele, me impedindo de
saltar para baixo do balcão. "Onde você pensa que está indo?"
"Provavelmente há manteiga derretendo em todo o banco da frente!"
Eu tentei, sem sucesso, saltar para baixo novamente. "Vai ser uma
grande confusão."
"Eu resolvo isso, fique aqui um minuto. Essa pasta precisa
endurecer, ou vai escorrer por todo o chão." Ele olhou diretamente para
a pasta pegajosa. "Não se mova."
Deixei escapar um suspiro exasperado quando joguei-lhe minhas
chaves, em seguida, fiz um grande show de não me mover. Exceto por
meus olhos, que eu rolei. Um sorriso surgiu em seu rosto, e então ele se
foi. E eu estava sozinha em sua casa. Com sua filha.
Merda.
A tonelada de ocasiões em que ele poderia ter mencionado que tinha
uma filha passou pela minha cabeça como um noticiário. No próximo
bloco, apresentaram-se todas as ocasiões em que alguém na cidade
poderia ter mencionado esta pequena surpresa. Sério, como poderia
ninguém ter mencionado isso antes?
E sua filha tinha acabado de desempacotar as malas, o que
significava que ela estava longe. Com sua mãe? Leo era divorciado?
Separado? Ainda casado?
Pavor atingiu minha barriga enquanto eu me perguntava se estive
dormindo com o marido de alguém. Mas não, Chad teria me dito se ele
fosse casado.
"Bleagh", murmurei, apertando meu estômago. Que bagunça do
caralho. Tanto para um romance de verão.
Basta perguntar a ele.
Sim, eu faria exatamente isso. Mas agora eu me perguntava o que
mais Leo poderia ter escondido. Agora que pensei sobre isso, parecia
estranho que nunca tivesse vindo aqui antes. Tudo sempre tinha
acontecido na minha casa. Ou no meu restaurante. Ou meu lugar
especial de natação.
Eu senti uma dor aguda no meu peito enquanto pensava sobre
todas as coisas que tinha feito com Leo, imaginando se estava tudo
acabado agora.
Acalme-se!
Certo. Eu respirei fundo, em seguida, olhei em volta.
A casa era tão bonita dentro como era fora. A chaminé era o ponto
focal de todo o nível mais baixo, com pedras empilhadas ao redor de
uma linda lareira feita de tijolos de vidro verde profundo. Os ricos pisos
de madeira eram de um tom castanho chocolate. Um dos dois andares
da grande sala estava ancorado por estantes profundamente embutidas,
sofás confortáveis de pelúcia e cadeiras espalhadas em áreas de
conversação. A cozinha, que estava cheia com aparelhos de alta
qualidade e superfícies de trabalho feitas de concreto polido, era ampla
e aberta; o tampo da ilha onde eu estava sentada era grande o
suficiente para acomodar confortavelmente seis pessoas. O refrigerador
Sub-Zero era grande o suficiente para armazenar alimentos para um
ano, e estava coberto de cima a baixo com trabalhos escolares, testes,
tarefas de casa e imagens desenhadas com lápis e canetinha.
E fotos dos dois estavam por toda parte. Leo segurando uma
pequena Polly, que estava enrolada num cobertor rosa, um chorando de
forma clara e o outro absolutamente radiante. Leo segurando Polly
pelas pontas dos dedos enquanto ela dava o que pareciam ser seus
primeiros passos. Leo e Polly na fazenda, com as mãos enterradas no
chão e um vaso de mudas ao lado, e uma pá saindo da terra. O rosto de
Leo estava dividido por um largo sorriso em cada uma delas. Ele estava
claramente na lua para sua filha, e com razão. Ela era linda.
Então eu ouvi Leo entrar pela porta da frente.
"A manteiga amoleceu, mas não muito. Geladeira?", Ele perguntou,
carregando meus sacos e bandeja da torta. Eu balancei a cabeça. "Você
ficou parada?", ele perguntou, de costas para mim.
"Sim, eu fiquei exatamente onde me foi dito para ficar."
Ele se afastou da geladeira, sua expressão aquecida desde que ele
saiu. "Roxie, eu-"
"Pai? Minha roupa está separada. Posso ir brincar agora?", Uma voz
chamou do andar de cima.
"Sim", ele respondeu, os olhos ainda em mim. Ele me ofereceu um
sorriso tímido, e eu não pude deixar de sorrir de volta. Aquele sorriso
sempre me derrubava.
"Eu quero ir ver os porcos, ver o quão grande eles ficaram enquanto
eu estava fora... o que é isso?" Polly veio correndo escada abaixo, voou
para a cozinha e agora estava olhando para as sacolas de ingredientes.
"Roxie trouxe com ela. Algo sobre uma torta?", Respondeu Leo,
olhando para mim com um brilho nos olhos.
"Oh sim, uma torta." eu disse. "Alguém me prometeu morangos,
então eu pensei em-"
Polly explodiu: "Eu amo torta de morango. Eu posso ver você fazer
isso? É difícil? Você faz sua própria massa? Às vezes, torta de morango
tem ruibarbo, será que esta tem? Há uma lanchonete na cidade que faz
torta de cereja, mas eu realmente acho a de morangos melhor. Papai
tem uma nova variedade de morangos este ano, chamados de morangos
açúcar mascavo. Eu não experimentei ainda, mas ele me disse tudo
sobre eles. Você vai usá-los? Posso ajudar? Eu posso-"
"Espere aí, Bisteca, você está falando a mil por hora. Vamos mais
devagar, deixe Roxie acompanhar!" Leo interrompeu.
Ele a chamou de Bisteca.
"Acompanhar o quê?", ela perguntou, totalmente inconsciente. "Eu
posso ajudar, você sabe. Afinal, já tenho sete anos de idade."
"Bem, então, você está praticamente dirigindo" eu brinquei.
Ela me olhou séria. "Eu não posso dirigir por mais nove anos."
Eu pisquei. "Claro." Eu olhei para Leo pedindo ajuda, mas ele
estava desempacotando minhas sacolas. "Espere - assar uma torta aqui
obviamente não é a melhor ideia."
"Por que não?", ele perguntou.
"Por que não?" Polly ecoou.
"Hum, bem..." Eu olhei ao redor desconfortavelmente. "A pia! Não
está funcionando, você não pode assar sem ter água corrente. Além do
que..."
Leo agarrou uma ferramenta, desapareceu debaixo da pia por trinta
segundos, voltou e abriu a torneira.
"Certo. Bem-"
"Você precisa de morangos, certo?", disse Leo, levantando uma
pequena bolsa no balcão e derramando os mais doces, mais suculentos
e mais perfeitos morangos do mundo numa tigela.
"Então, torta?", perguntou Polly, saltando um pouco enquanto batia
palmas.
Oh, pelo amor de Deus...
"Então, torta," eu disse.
O telefone de Leo tocou e ele ergueu as sobrancelhas.
"Claro, vá em frente", respondi, descendo do balcão e testando
minha perna. Ela mal parecia ferida.
Leo tinha ido para outro cômodo, então eu perguntei a Polly, "Onde
é que o seu-" meu Deus, eu não podia chamá-lo de papai. "Onde é que
ele guarda as tigelas?" Ela estava muito feliz em me mostrar.
Em minutos tínhamos uma linha de montagem na bancada: sacos
de farinha e açúcar, copos de medição que eu trouxe de casa, uma
tabua de corte e minha melhor faca. Eu decidi começar com a massa, e
colocar Polly para trabalhar.
"Você sabe como medir farinha?" Perguntei quando ela arrastou um
banquinho até o balcão.
"Eu sei frações." Ela não disse ‘duh’, mas ficou implícito.
"Certo." Eu posso ter implicado um ‘duh’ também. Um ponto para
ela, porém, por não revirar os olhos.
"Você pode me passar o avental pendurado ao lado daquele do
papai?", ela perguntou, apontando para os ganchos na porta dos
fundos.
Ali havia, de fato, um pequeno avental e um grande avental. Só
faltava um avental de tamanho médio para tornar essa a perfeita casa
dos três ursos.
Eu fui mancando até o avental, percebendo depois de alguns passos
que eu não precisava mancar. O bicarbonato de sódio realmente tinha
feito sua mágica. Desde que Polly estava me observando, eu transformei
o coxear num pouco de dança.
"Você sempre dança quando assa tortas?" Ela perguntou.
"Você não?" Perguntei-lhe de volta, inexpressiva.
"Eu nunca cozinhei antes." Ela pensou por um momento. "Eu gosto
da dança da torta."
Eu sorri e entreguei-lhe o avental. "Ok, aqui está o que vamos fazer.
Eu vou te dizer o que se coloca dentro da tigela, e você vai medir. Eu
vou cortar a manteiga, já que a faca é muito, muito afiada, mas você
pode adicioná-la quando estivermos prontas. Combinado?"
"De acordo", disse ela, animada. "Onde está a receita?"
Eu apontei para a minha cabeça. "Está tudo aqui."
Começamos a trabalhar e, depois de um tempo, tínhamos uma
tigela cheia de morangos fatiados com um pouco de suco de limão,
outra tigela cheia de farinha perfeitamente medida, sal e açúcar, e agora
Polly estava adicionando meu corte uniforme de manteiga aos
ingredientes secos.
Ela questionou tudo: Por que tinha sal na massa de torta? Por que a
manteiga precisa ser tão fria? Ela também parecia apreciar a forma
como eu cortei cada cubo igual e em linha reta, todos do mesmo
tamanho. Boa menina.
"Ok, agora amasse tudo com este batedor de massa. Ele vai
misturar a farinha e a manteiga, e então nós poderemos adicionar a
água gelada."
"Água gelada? Numa torta?", ela perguntou.
"Lembra-se do que eu disse sobre o uso de ingredientes frios para a
massa folhada?"
"Quanto mais frios os ingredientes, mais crocante a crosta", ela
repetiu, com a minha inflexão exata e no mesmo tom.
Eu tive que sorrir.
"Como estamos indo por aqui?", Perguntou Leo, roubando um
morango da tigela. Eu golpeei sua mão, fazendo-o rir. Enquanto comia a
fruta, ele fez uma careta. "Porque estão azedos?"
"Porque eu não adicionei o mel ainda. É por isso que você não pode
dar uma mordida até a chef dizer que você pode." eu disse, estendendo
a mão para um pote de mel local.
Polly assistiu a tudo com os olhos arregalados, em seguida, voltou
para sua massa. Seu pequeno pulso virou uma e outra vez na bacia, e
sua língua espreitava para fora de sua boca enquanto ela trabalhava.
De repente eu fui atingida por uma visão de Leo fazendo a mesma coisa
quando estava carregando uma caixa da fazenda num sábado agitado.
"As abelhas produzem o mel, você sabe. Tem certeza de que não
está com medo?" Polly perguntou com um sorriso insolente.
Eu senti meu rosto esquentar.
"Pode parar de fazer piadas com Roxie, Bisteca", disse Leo. "Peça
desculpas."
Ela olhou para a tigela. "Desculpe," disse, com voz mansa.
"Não é grande coisa", eu respondi, chuviscando um pouco de mel
sobre as frutas. Depois de mexe-los um pouco, eu falei para Leo,
"Experimente de novo, veja o que acha agora."
Ele fechou a boca em torno de um morango. "Mmm."
Minhas bochechas se aqueceram novamente. A última vez que o
ouvi dizer mmm, ele estava degustando algo completamente diferente.
"Meus braços estão cansados. Está quase pronto?", perguntou Polly,
esfregando seu ombro.
Olhei por cima do ombro para a tigela. "Parece muito bom.
Consegue ver como aqueles no canto são do tamanho de ervilhas?"
"Não há cantos em uma tigela, é um círculo." Ela deve ter pego um
olhar de Leo então, porque mudou de tom. "Oh sim, tamanho de
ervilha. Entendo."
"Deixe tudo do mesmo tamanho e nós poderemos ir em frente." Eu
comecei a arrumar a cozinha. "Um bom cozinheiro sempre limpa antes
de sair."
Ganhei um grande sinal de positivo do Leo. Ele parecia mais
relaxado do que estava antes, mais à vontade em ter-me em sua casa e
em torno de sua filha. Eu desejei me sentir da mesma maneira.
Exteriormente eu estava calma, mas por dentro eu ainda estava
tentando rebentar pelas costuras. Processando. Pensando.
Adivinhando. Imaginando.
E, com Polly concentrada em seu trabalho, Leo e eu tivemos uma
conversa silenciosa do outro lado do balcão.
Que diabos? Disse meu rosto.
Mais tarde, ele respondeu com seu rosto.
Oh, você pode ter certeza disso, minha cara assegurou.
Seu rosto respondeu com um podemos conversar mais tarde ou com
podemos foder mais tarde. Estranhamente, os dois pareciam o mesmo.
Nesse meio tempo, no entanto, eu tinha uma sete anos de idade na
cozinha, e uma torta para terminar.

No final, uma torta foi feita. Polly era boa com um rolo, e quando a
massa rasgou um pouco, o que era normal, ela ouviu pacientemente
enquanto eu ensinava a ela como molhar os dedos, beliscar e alisá-la de
volta junta. Ela perguntou se quando isso acontecia era um bom
momento para dançar, e eu concordei. Por isso, parei por trinta
segundos para uma pausa de dança improvisada, para grande deleite
de Leo. Polly não entendia por que ele ria tanto, e disse-lhe: "Papai,
dançar ajuda às vezes." Como ele poderia argumentar com isso?
Ele ficou em segundo plano, principalmente respondendo a
telefonemas. Eu estava ficando com a sensação de seu dia foi
inesperado e me perguntava, pela milionésima vez, onde Polly tinha
estado, e por que ela apareceu de repente. A nota que ele deixou na
minha cama esta manhã dizia que ele estaria movendo vacas, colhendo
morangos e me fazendo ficar verde. Em nenhum lugar ele mencionou
filhas chegando.
Após levar a torta ao forno, Polly saiu para brincar, parando apenas
para um tímido agradecimento por deixá-la me ajudar a cozinhar.
Agora, sozinha na cozinha com Leo, talvez eu pudesse obter algumas
respostas.
"Eu estou com fome, você está com fome?", perguntou ele, virando-
se e remexendo na despensa. Respostas não chegariam ainda,
aparentemente.
"Eu não tenho tanta fome quanto estou confusa."
"Confusa?", ele repetiu, parecendo estar determinado a fazer-me
dizer tudo. A colocar minha merda para fora antes que ele explicasse.
"Confusa, como: que diabos, Leo? Por que você nunca me disse que
tinha-"
A porta da frente bateu. "Podemos descer e ver as galinhas? Eu
quero ver se elas lembram de mim." Polly veio correndo para a cozinha e
parou, pouco antes de olhar para mim. "Quero dizer, quando a torta
estiver pronta, é claro."
Eu conhecia o meu limite, e tinha acabado de alcançá-lo.
"Você sabe o quê, eu acho que vou embora agora. Não se preocupe,
o temporizador está definido e, lembra-se do que eu disse sobre ver o
suco borbulhando? Quando o temporizador se apaga, se a torta estiver
borbulhando, ela está pronta para sair. Se não, basta dar-lhe mais
alguns minutos. Você pode ajudá-la a verificar o borbulhar, Leo?"
"Rox-", ele começou.
Eu me virei para a porta. "Eu vou pegar minhas coisas mais tarde.
Prazer em conhecê-la, Polly."
Tudo o que eu queria era ficar, mas corri para fora da porta, dirigi-
me para outro lado do gramado e sai do estacionamento rapidamente.
Considerando tudo que tinha acontecido, eu pensei que tinha lidado
com isso muito bem. Até que percebi que tinha esquecido minha bolsa.
Acelerei até o limite de velocidade. Não havia nada que me fizesse
voltar agora.
Bati a panela para baixo sobre o fogão. Minha faca cortou com raiva
através da manteiga. Joguei um pouquinho ou dois na panela, ouvindo-
a chiar instantaneamente.
Droga.
Eu adicionei azeite, rodei os dois juntos, em seguida, joguei um
pedaço de chuleta na panela quente. Deixei dourar de um lado
enquanto cortava a salsa como se ela tivesse feito algo pessoal para
mim.
Droga.
Eu ouvi o chiado da carne, confiando em meus ouvidos para dizer-
me quando era hora de virá-lo enquanto assassinava a salsa. O ritmo
familiar de cortar me distraiu dos pensamentos que estavam rolando
dentro do meu cérebro como bolas de boliche descendo em direção a
pinos muito firmemente arraigados.

Pino 1. Não se envolva.


Pino 2. Aproveite o pênis. Não envolva nenhum outro órgão.
Pino 3. Relacionamentos são para otários. Veja a sua mãe.
Pino 4. Apaixonar-se é uma porcaria.

Ei, ei, peraí. Apaixonada? Quem falou isso?


Eu escolhi mentalmente a bola de boliche mais pesada e a joguei
pela janela de vidro na pista de boliche em minha mente.
Merda!
Depois que tinha deixado a casa de Leo, eu voltei para casa, circulei
a entrada de automóveis e voltei para a cidade, direto para o açougue.
Pedi pelo o maior e mais belo corte que tinham. Consegui um pedaço de
chuleta perfeito.
Raspei minha salsa numa tigela e comecei a pulverizar um dente de
alho perfeitamente inocente.
Inocente, minha bunda! Vamos ver o que você está escondendo. Eu
bati e bati o alho, e então parei para acrescentar uma pitada de sal
kosher no molho que estava feliz por não ser o objeto do minha... raiva?
Eu estava com raiva?
E porque esse molho estava torcendo o nariz para mim? Eu o
refoguei em azeite de oliva, espremendo um limão ao longo de toda a
mistura até que gritei: "Foda!", em seguida, mexi o melhor ate o ponto
de esquecimento.
Tudo para evitar sentir a...
A carne esta pronta! A deixei descansando na tábua de corte,
cobrindo-a com papel alumínio enquanto procurava ao redor da cozinha
por algo mais para massacrar. Tomates. Oh, olhe para os tomates.
Colhidos manualmente de plantas nutridas no solo perfeitamente
lavrado por descolados fazendeiros barbudos, na terra do leite orgânico
e das abelhas idiotas, onde todo mundo estava feliz e em harmonia com
a terra e todo mundo era sustentável e envolvido no movimento slow
food de comida... local.
Foda-se o local. Eu tinha fodido o local, e veja onde isso me levou.
Irritada/não irritada, ignorada/não recebi uma ligação ou mensagem de
texto, sentimental/não sentindo nada, confusa, traída, e ligeiramente...
usada?
Peguei os tomates malditos por seus cabinhos estúpidos, quase
arranquei a porta de suas dobradiças e os joguei tão longe quanto podia
através do quintal, explodindo-os através do emaranhado de cipós para
respingar contra o Airstream.
"Boa pontaria."
Merda! O último tomate na minha mão virou gazpacho13. Me virei
para encontrar Leo de pé ao lado da casa, e tive que resistir a dois
impulsos simultâneos: o de esmagar o tomate em seu rosto e, em
seguida, lambe-lo.
Eu escolhi não jogar nada, optando por ser calma e neutra.
"O que você está fazendo aqui, Leo?", perguntei, jogando o tomate
destruído em alguns arbustos e espreitando para dentro de casa,
sabendo que ele iria seguir. Quando lavei e sequei minhas mãos, estava
surpresa com o quanto elas estavam tremendo. Tanto para tentar
parecer neutra.
Eu podia sentir seus olhos em mim enquanto me movia em torno da
cozinha e, evitando seu olhar, arrumei e empilhei pratos que não
precisavam ser arrumados ou empilhados.

13Gaspacho ou caspacho é uma sopa fria à base de hortaliças, com destaque para o
tomate, o pepino e o pimentão, muito popular no sul de Portugal, no sul de Espanha, bem
como no México e outros países centro-americanos.
Ele não respondeu minha pergunta, então eu finalmente olhei para
ele, levantando as sobrancelhas. Seu rosto estava cauteloso, tingido
com algo que parecia um pouco como... esperança? Eu me preparei.
"Eu queria falar com você", ele finalmente respondeu, vendo como
descobri o bife que estava descansando.
Eu peguei uma faca e comecei a corta-lo. "Então, fala." respondi,
organizando o bife num prato e chuviscando a mistura de salsa e limão
sobre ele. De jeito nenhum eu ia começar a conversa. Eu não estava
jogando minha mão até que tivesse visto o que mais ele podia ter na
manga.
Ele disse: "Você correu para fora de lá tão rápido esta tarde que eu
não tive a chance de-"
"Eu estive aqui durante semanas, Leo, semanas! Você nunca
pensou, sequer uma vez, em mencionar que tinha uma filha?" Enfiei um
pedaço de bife na boca e o mastiguei, furiosa. "Como, ‘hey, Roxie, pegue
aqui alguns desses morangos que você gosta, minha filha também os
ama’, ou ‘Obrigado por me mostrar esse lugar de natação; vou ter que
trazer Polly aqui algum dia’, ou ainda ‘Hey, Roxie, antes que eu te foda
sem sentido, já mencionei o fato de que eu tenho uma filha?’"
Eu cortei o bife com tanta força que metade dele saiu voando para o
chão, e a outra metade riscou o prato. Pisquei para Leo, que usava uma
expressão que eu imagino que só alguém que acabou de levar tapa
poderia usar.
"Você está brincando, certo?", ele perguntou suavemente.
Eu escavei a metade restante do meu bife, o mastiguei e engoli
como uma vingança. "Não sei por que eu estaria brincando sobre isso,
Leo. Você mentiu para mim."
"Eu nunca menti."
"Você quer discutir semântica? Uma mentira por omissão ainda é
uma mentira." Peguei uma mordida grande de bife.
Leo esfregou as mãos pelo rosto como se não pudesse acreditar no
que estava ouvindo. "Será que você realmente só usou Bill Clinton
contra mim?"
"Chame do que você quiser. Mas você e eu sabemos que você optou
por não me contar sobre sua filha, e de eu onde venho-" fiz uma pausa
para deglutição "isso faz de você um mentiroso."
"De onde eu venho isso não faz de mim um mentiroso. Faz-me
cauteloso sobre quem eu confio com a minha família", ele respondeu de
maneira uniforme, cruzando os braços e encostando-se no balcão.
Antes que eu tivesse a oportunidade de responder, ele olhou
diretamente através de mim. "E nós dois sabemos que você deixou bem
claro desde o início que não queria nada comigo além deste verão."
"Eu não fiz... isso não é... você faz soar como..." Eu balbuciei,
tentando formar uma frase.
"Você fez, é, e é exatamente o que parece", ele respondeu.
"Você concordou! Eu perguntei, e você concordou! Nós dois
entramos nisso sabendo exatamente o que era, e não tivemos realmente
um grande momento?" Eu rebati, chutando a minha cadeira de volta em
seu lugar e despejando meu prato na pia. "Isso, o que esta acontecendo
agora, é a exata razão pela qual eu não me envolvo."
Eu olhei para a pia. O cômodo estava em silêncio, exceto pelo pinga-
pinga a partir da antiga torneira. Em seguida houve um barulho, e
depois os cabelos na parte de trás do meu pescoço ficaram arrepiados.
Porque ele estava atrás de mim, e minha pele traidora e estúpida o
conhecia o suficiente para ficar feliz.
"Naquela noite que você me fez o jantar, aqui, com a beterraba,
lembra? O que você me disse então?", ele perguntou em voz baixa, sua
boca há apenas polegadas da minha orelha.
"Eu lhe disse muitas coisas," respondi, tentando como o inferno
resistir à memória muscular que estava doendo para me fazer inclinar a
cabeça para trás, sobre seu peito, que eu sabia ser firme e forte.
"Você me disse que o amor era confuso, doloroso e emocionalmente
desgastante."
Eu estremeci ao ouvir minhas palavras jogadas de volta para mim.
Mas então ele continuou. "Você se lembra da primeira noite que eu tive
você, na varanda?"
A memória veio tão rápido que um gemido estava fora da minha
boca antes que pudesse detê-lo. Leo, forte e bonito, deslizando para
dentro e para fora de mim, olhando para mim com algo parecido com
admiração. Eu balancei a cabeça, mordendo o lábio para me impedir de
gemer novamente.
Suas mãos estavam nos meus lados agora, o seu calor ao meu
redor. "E que eu lhe disse que tinha sido um longo tempo para mim?"
Eu me lembrava. Naquela primeira vez ele tinha sido frenético,
furioso e incrível. E então me fodeu novamente no andar de cima, desta
vez lento e seguro, com mais do mesmo incrível. Eu balancei a cabeça
novamente, perguntando-me onde isso estava indo.
"Minha filha tem sete anos," ele sussurrou, seus lábios quase
tocando minha orelha.
Minha testa enrugou. O que isso tem a ver com... oh. Oh, agora,
espere um minuto. Ele não podia... oh. Merda! Me virei confusa, mas
não tanto quanto admirada.
"Você quer dizer que você não tinha... Não desde que... Sério?"
Perguntei, minhas mãos se apoiando automaticamente em seu peito,
olhando-o nos olhos. "Mas isso é... Você é tão... Isso é criminoso!"
"Criminoso?", perguntou ele, o canto de sua boca levantando um
pouquinho.
Eu bati em seu peito para dar ênfase. "Você já viu a si mesmo? Mais
ao ponto, você tem fodido a si mesmo?"
E isto, senhoras e senhores, trouxe à mente imagens que me
manteriam aquecida nas noites frias de inverno pelo resto da minha
vida. Para não mencionar o calor que deflagrou em seus olhos. Senti
meu próprio rosto em chamas, e sabia que estava perdendo
credibilidade aqui. "Eu só disse... Inferno. Eu não sei o que quero dizer."
Dei um tapinha em seu peito distraidamente, me deleitando com a
sensação dele. "Eu acho que a pergunta é: por quê?"
"Por que eu não tinha feito sexo em tanto tempo? Ou por que não
contei sobre Polly?", perguntou ele, com os braços ainda em ambos os
lados do meu corpo. Uma mão acariciou facilmente meu quadril,
estabelecendo-se ali, seu polegar ainda acariciando a pele exposta.
Me emocionou sentir suas mãos sobre mim mais uma vez. E me
assustou além da crença que suas mãos pudessem me emocionar
assim. Será que eu teria coragem suficiente para superar tudo isso?
"Responda os dois", arrisquei, minhas mãos já não dando tapinhas,
mas alisando, calmantes. Tocando só porque eu podia? Ok, vamos logo
com isso.
"Eu vou responder a ambas; elas estão realmente ligadas. Mas é
uma grande história... você está pronta para isso? É sobre todas as
coisas que você diz que não gosta: Confuso, doloroso...", ele bateu seus
quadris nos meus "...e emocionalmente desgastante"
Ele estava me dando uma escolha aqui. Não só de ouvir sua
história, mas para dar o próximo passo com ele. Para ouvir a sua
história e deixá-lo entrar. Para ouvir a sua história e ele confiar em mim
com ela. Será que eu podia lidar com isso?
Eu mordi meu lábio. Ele acariciou meu quadril.
"Ok", eu disse cuidadosamente, em seguida, dei um beijo no centro
de seu peito. "Vamos ouvi-lo."

Nós nos sentamos na varanda da frente em extremos opostos do


sofá de vime, separados por um travesseiro que ergui sem querer entre
nós. Provavelmente não era a maneira mais receptiva para ouvir sua
história, mas eu precisava desta pequena distância.
Emoções fortes eram exaustivas. Agora eu entendia porque, quando
as minhas amigas reclamaram sobre como os relacionamentos eram
estressantes, elas diziam que estavam cansadas de todo vai-e-vem de
discussão e sensação de desilusão.
Frustração, orgulho... sendo sempre tão determinada, eu conhecia
esses sentimentos por dentro e por fora. Mas as emoções de estar
envolvido romanticamente com alguém? Eu não tinha nenhuma ideia,
exceto com os relacionamentos da minha mãe e, portanto, determina a
me esquivar.
Depois de certificar a Leo que ia ouvi-lo, fui direto para o scotch, e
ele aceitou minha oferta de uma dose. Então, aqui estávamos nós com
nossos copos de scotch, aguardando Leo me contar sua história.
"Eu nasci em Manhattan, Lenox Hill hospital.”
"A pobre criança rica?" Eu simplesmente não pude evitar.
Ele sorriu, mas arqueou uma sobrancelha. "Você concordou em
ouvir minha história, não enfeitá-la."
Eu serrei meus lábios, trancando-os e, em seguida, jogando a chave
por cima do meu ombro. Eu tive que pescar no meu bolso uma segunda
chave, entretanto, para destravá-los e poder tomar um gole de água, se
ficasse com sede.
Ele assistiu tudo isso com uma expressão divertida, então esperou
por mim para se instalar. "Já terminou?"
Eu balancei a cabeça. "Continua".
Ele fez. Ter nascido numa família de extremo privilégio trouxe suas
vantagens óbvias, mas também um lado da vida que eu nunca tinha
pensado muito.
"Para qual escola primária você foi?", ele perguntou.
"Bailey Falls East Elementary".
"E por que você foi para essa escola?"
"Porque nós vivíamos mais perto de Bailey Falls East Elementary".
"Mm-hmm. Fácil. Simples. Não aconteceu o mesmo comigo. O nome
Leopold Matthew Maxwell estava na lista para Dalton duas semanas
depois que eu nasci. Extraoficialmente, mesmo antes de nascer, já
havia um bebê Maxwell na lista. Durante toda a minha vida eu fui
criado com as melhores coisas que a vida particular tinha para oferecer.
Quando chegou a hora para a faculdade, não havia dúvida sobre para
onde eu iria."
"Adirondack Community College?", perguntei, ganhando um sorriso.
"Meu pai foi para Yale, meu avô foi para Yale e... adivinha para onde
meu bisavô foi?"
"Adirondack Community College?" Repeti.
Ele me deu um olhar chocado. "Como você adivinhou?" Então coçou
o queixo, pensativo. Eu podia ouvir o roçar de sua barba contra as
pontas dos dedos, associando aquele som com Leo e seu cabelo loiro-
areia lindo. "Meu bisavô era, inclusive, um estudante legado: nós
Maxwells tivemos seis gerações em New Haven”.
"Tudo foi prefixado. Festas, viagens, férias ao redor do mundo.
Houve um tempo que eu estava em todas as atividades que meus
familiares estiveram. E as meninas, elas estavam por toda parte. Eu era
um idiota naquela época. Meninas e mulheres queriam um pedaço de
mim, e eu estava muito feliz em dar-lhes um. Meus amigos eram todos
exatamente como eu: apenas atravessando os movimentos, apreciando
o estilo de vida extremamente fácil até poderem seguir o negócio da
família na vida real. E você sabe qual era a definição de 'vida real' para
nós? Dos caras que eu fui para a escola e faculdade, há pelo menos três
congressistas, quatro CEOs, um embaixador e um apresentador de talk
show político muito importante na CNN."
Eu joguei para trás o último gole da minha bebida. Minha cabeça
estava começando a girar. "Ok, então, você viveu a vida de um menino
rico, isso eu entendi. Mas quando foi que você saiu do trem? Onde você
se desviou?"
"Engraçado você mencionar isso", disse ele com um olhar triste.
Condorme ele continuava, o retrato da vida encantada começou a
ter um viés um pouco mais escuro. Depois que ele se formou em Yale,
ele foi trabalhar para o seu pai, enquanto perseguia simultaneamente
seu MBA.
"Eu estava aprendendo um pouco de tudo, tentando encontrar meu
lugar dentro do sistema. Cada geração da minha família tenta tudo,
trabalha em quase todos os setores de nossa empresa antes de
encontrar seu nicho particular. Eu saltei em torno de mais do que a
maioria. Não era como se eu não tivesse apreço pelo que minha família
tinha construído. Mas nada estava tocando quaisquer sinos para mim.
Nada era interessante para além do salário. Eu estava mais interessado
nas festas, em desfrutar da boa vida que, francamente, eu não merecia.
Mas tente dizer isso a um garoto de vinte e três anos de idade e veja o
que acontece."
Eu empurrei o balanço, mantendo o movimento calmante enquanto
ouvia a história de Leo - as festas, as mulheres, o sexo. Eu não podia
dizer que estava pronta para declará-lo um pobre menino rico, mas
certamente parecia haver uma pressão advinda da extrema riqueza na
qual ele tinha nascido. Ele realmente trabalhou em diversos setores da
empresa de sua família, embora estivesse claro que, quando seu
sobrenome é Maxwell, esse não era um duro trabalho de quarenta
horas semanais. Quarenta horas, pfft. Minha mãe trabalhou de
cinquenta a sessenta horas semanais durante toda a minha vida, e
ainda assim foi muito difícil.
"Se lembra da crise financeira de alguns anos atrás? Todos esses
empréstimos hipotecários, todos esses arrestos, todas aquelas pessoas
que perderam suas casas porque não podiam pagar suas dívidas?"
"Eu com certeza lembro. Minha mãe quase perdeu esta casa", eu
respondi, e vi como ele estremeceu. "Ela estava namorando um cara que
a convenceu a refinanciar a casa. Mas ela não pensou que o
empréstimo certamente ia durar mais do que o relacionamento. Ela
ficou completamente surpresa quando os pagamentos aumentaram -
algo sobre uma taxa ajustável?"
"Sim, toneladas de pessoas se deram mal em novos empréstimos
denominados ARMs: Hipotecas de taxa ajustável."
"Tivemos sorte. Conhecíamos o presidente do banco local, e eles
foram capazes de fazê-la voltar para o empréstimo original, embora ela
tenha perdido uma tonelada de suas economias para fazer isso." Eu
parei de balançar. "A sua família estava envolvida nesse tipo de
operação bancária?"
"Minha família está envolvida em todos os tipos de serviços
bancários. Minha família é bancária." Ele parecia chocado.
"Então, sim, estavam."
"Sim. Claro que sim. Você sabia que existem, provavelmente, menos
de vinte pessoas no mundo que podem realmente explicar o que
aconteceu de errado, que bagunça foi feita e o efeito que teve sobre
tudo? As estatísticas, as teorias matemáticas avançadas que precisam
ser empregadas para realmente entender o que aconteceu e como
verdadeiramente fodido foi são surpreendentes".
"Eu não preciso entender a matemática para saber que foi fodido.
Minha mãe estava pensando em se mudar para o restaurante. Eu
entendo." Eu comecei a balançar de novo, meu pé com raiva chutando
na varanda, mantendo o ritmo.
"Eu comecei a pensar duas vezes sobre o negócio da família então,
sobre o quão completamente ligado a tudo ele é, e o que realmente
representa. E mais ou menos nessa época, quando estava começando a
questionar o meu lugar dentro da empresa, conheci Melissa."
É incrível a rapidez com que uma opinião pode ser formada. Tudo o
que eu sabia sobre essa mulher era o seu nome, e já estava
instantaneamente em guarda. Eu tive uma reação quase física ao som
do nome de outra mulher saindo da boca de Leo - o que me disse mais
sobre meus próprios sentimentos do que eu gostaria de admitir, pelo
menos no momento. Eu mantive o balanço, precisando do ritmo.
"No começo ela foi apenas outra menina, uma de muitas. Melissa
tinha acabado de chegar ao grupo onde eu estava trabalhando no
momento, e quando começou a estar nos mesmos lugares que eu uma
atração aconteceu. E então outras coisas aconteceram. E, conforme eu
a conhecia melhor, ela parecia... hmm", ele fez uma pausa pela primeira
vez em sua história, parecendo quase perdido em pensamentos.
"Diferente. Ela era diferente de todas as outras. Ela veio para Nova York
de uma pequena cidade em Wisconsin, e num primeiro momento não
ficou babando sobre todo o dinheiro e os sobrenomes. De qualquer
forma, nós começamos a namorar, depois ficamos ainda mais sérios e,
simples assim, eu me vi apaixonado por ela. Apresentei-a aos meus
pais, parei de sair com qualquer outra pessoa e nos tornamos
exclusivos." Ele fez uma pausa para olhar para mim com cuidado. "Você
está bem?"
"Por que eu não estaria bem?", perguntei.
"Você está prestes a nos derrubar do balanço", disse ele. Então eu
notei pela primeira vez a quantidade de força que empreguei para
movimentar o balanço. Meu corpo teve uma reação muito definida a
esta Melissa. Arrastando um pé, passei lentamente a um ritmo normal.
"Me desculpe por isso. Você e Melissa, quero dizer, você e Melissa
exclusivos. Vá em frente." Eu forcei meu pé a mal encostar na varanda
de vez em quando.
Ele continuou. Eles namoraram por meses, ela conheceu todo
mundo que próximo a ele e foi recebida completamente na família. Sócia
minoritária numa empresa de contabilidade, ela conhecia muitas áreas
de finanças, e poderia prender a atenção de todos na maioria das
conversas. Ela era matadora numa festa formal, disse ele, e ele estava
orgulhoso de tê-la em seus braços.
Mas, como o país ainda estava lutando para se recuperar da crise
econômica, Leo começou a expressar algumas de suas preocupações
sobre as práticas que, não só os Maxwells empregavam, mas que o
mundo bancário em geral tinha como certas. "Ela me encorajava a falar,
compartilhar minhas ideias, mas eu comecei a notar que ela sempre
adicionava algo sobre não ser o momento certo, ou para talvez manter
minhas opiniões para mim mesmo até que o clima tivesse mudado,
coisas assim. Ela sabia que eu estava descontente com as coisas no
trabalho, mas quando a gente conversava sobre isso, sempre acabava
me sentindo mais confuso do que estava antes, sem saber que posição
tomar e com quem falar."
De repente ele olhou intensamente nos meus olhos, parecendo um
pouco assombrado. "Alguma vez você já ficou tão totalmente
apaixonado por alguém que não tinha nem ideia de como isso tinha
acontecido?"
"Honestamente? Não." Fiz uma pausa, mordendo meu lábio. "Mas
isso é porque eu nunca deixei ninguém chegar perto o suficiente."
Pausa dramática. "Até você."
Olhamos um para o outro, e a emoção entre nós cintilou no ar em
ondas gigantes de ‘oh meu deus! Esse cara poderia me arruinar para
sempre, mas eu ficaria bem com isso’, até que um pássaro barulhento
nos assustou.
Levantando um canto da boca daquele jeito adorável, ele continuou.
"Bem, até Melissa, eu tinha sido da mesma maneira que você. Mas ela
sorrateiramente se infiltrou em mim, em toda a minha família, e se
mostrou uma ótima escavadora de ouro."
"Não", eu respirei, e ele concordou.
"Oh sim. Ela era tão boa que eu nem sequer vi chegando. Eu
continuei meu vai-e-vem nos setores da empresa, tentando descobrir
onde queria chegar no trabalho e se eu queria fazer uma mudança para
uma divisão diferente ou tentar algo novo e, em seguida, passamos um
fim de semana aqui em Bailey Falls. Eu não tinha vindo à fazenda em
anos, mas nós dois queríamos sair da cidade por um longo fim de
semana, e ela parecia fascinada por todas as propriedades pertencentes
à minha família. Ela parecia impressionada com o tamanho total da
casa e da propriedade, embora um pouco decepcionada com o estado
das coisas por aqui. Especialmente porque ninguém tinha vivido na
fazenda em tempo integral há anos, e as coisas estavam mais que um
pouco rústicas."
"Rústicas como todas as velhas e grandes casas de campo podem
ser", eu disse num sotaque do Upper East Side, e ele sorriu.
"Exatamente. De qualquer forma, três coisas muito importantes
aconteceram durante essa viagem. Um: eu visitei um agricultor
orgânico nas proximidades, de uma fazenda sobre a qual eu tinha lido a
respeito no The New Yorker, e me encantei sobre como ele estava
fazendo coisas incríveis com uma antiga propriedade. Naquela manhã
de sábado, enquanto ela ainda estava dormindo, tirei meu Jeep da
velha garagem e corri ao redor da nossa propriedade durante todo o dia,
seguindo os campos antigos e vendo possibilidades com a terra que eu
nunca tinha visto antes." Seu rosto se iluminou como sempre fazia
quando ele falava sobre a terra, e da maneira que ele cuidava dela.
"E a segunda coisa importante?", Perguntei.
"Eu ouvi o final de uma conversa que Melissa estava tendo com sua
mãe. Ela estava comentando sobre o quão grande era a casa, mas
também sobre o quão precário tudo parecia ser, e sobre o que ela faria
se lhe fosse dada a chance de ser uma senhora Maxwell."
Meu nariz enrugou e meus lábios se contraíram. Mais uma vez, ele
concordou com a cabeça.
"Então você disse a ela para juntar suas coisas e levar sua bunda
grande de volta à cidade?", perguntei, revirando os olhos quando ele
balançou a cabeça.
"Não, eu contei a ela o início da ideia sobre o que eu queria fazer
com a Fazenda Maxwell", disse ele com tristeza. "Ela não ficou muito
entusiasmada com isso."
"Eu posso imaginar", bufei, já sabendo como esta mulher era. Ela
parecia exatamente como Mitzi St. Renee e o bando de idiotas tamanho
zero para quem eu costumava cozinhar em Bel Air. Mas eu também
estava vendo Leo sob um olhar diferente - mais jovem, mais urbano, à
beira de se tornar o cara fantástico que eu conhecia, fazendo
exatamente o que amava e tornando o mundo um pouco melhor e muito
mais sexy. "Então, qual foi a terceira coisa importante que aconteceu?"
"Logo depois que eu disse que ela não deveria se preocupar tanto
sobre quanto a casa poderia custar ou sobre como a vida seria, ela me
contou que estava grávida."
O balanço parou tão de repente que eu quase caí no chão da
varanda, sem perceber por um segundo ou dois que foi meu próprio pé
que abruptamente o parou.
Leo estendeu a mão para me segurar, em seguida, colocou uma mão
reconfortante no meu ombro enquanto eu pensava sobre a notícia que
ele tinha recebido há quase oito anos.
"Você só pode estar fodidamente brincando comigo!", eu disse
através dos meus dentes.
"Eu não estou", ele assegurou, esfregando minhas costas em
círculos suaves. "Embora eu tenha dito algo semelhante."
"Você acha que ela planejou isso? Engravidar de propósito, quero
dizer. É muito rude perguntar isso?"
"Não é rude, e também é a mesma pergunta que todas as pessoas
que eu conheço fizeram em algum ponto. Se foi de propósito ou não,
porém, não importa."
"Acho que não", respondi, inclinando-me para os círculos que ele
fazia nas minhas costas, e que eventualmente se transformaram num
braço inteiro em torno do meu ombro. Inclinei-me para isso, também.
"De qualquer forma, tentamos por um tempo fazer as coisas
funcionarem. Consideramos até ficar noivos, mas meus olhos estavam
abertos agora, e eu sabia que era só uma questão de tempo antes que
tudo fosse para o inferno. O que eu não sabia era que também seria só
uma questão de dinheiro".
"O que isso significa?"
"Tentamos fazer as coisas funcionarem entre nós porque estaríamos
tendo um filho. Mas ficou claro, muito rapidamente inclusive, que as
coisas não iam funcionar, e começamos a brigar constantemente. O que
me deixava nervoso, porque eu sabia que todo o estresse não era bom
para o bebê. Mas quando eu fiz um comentário fora de mão numa noite,
sobre dar a ela um saco de dinheiro em troca do bebê depois que ele
nascesse, ela se agarrou à ideia."
"Não, oh meu Deus, não!" Sussurrei, horrorizada.
"Eu não podia acreditar, também, mas ela estava falando sério.
Acontece que todos os seus contatos em Manhattan eram um pouco
sombrios. Ela não estava tão bem quanto pensava em sua empresa e,
para uma contadora, ela tinha um terrível hábito de consumismo
desenfreado. Então, ter um bebê Maxwell?" Ele cuspiu as palavras,
duas manchas vermelhas acesas no alto de suas maçãs do rosto. "Essa
foi uma jogada de sorte."
"Leo. Eu sinto muito", eu disse, virando-me em seus braços e
descansando minha cabeça em seu peito, passando os braços tão
firmemente quanto pude ao redor de sua cintura.
"Está tudo bem, Ervilha. Porque eu ganhei essa filha fantástica no
final de todo o negócio." Ele me segurou apertado, com o queixo apoiado
no topo da minha cabeça, onde agora deu um beijo carinhoso. "Foi uma
confusão por um tempo, as fofocas eram brutais e eu não desejaria esse
inferno nem para o meu pior inimigo. Mas uma vez que os advogados se
envolveram e um acordo foi assinado, o negócio estava feito. Ela teve o
bebê, segurou Polly exatamente três vezes e... nós não a vimos desde
então. Meu contador me diz que os cheques ainda são descontados
mensalmente, e esse é o único contato ainda que tenho com ela."
Minhas costas se arrepiaram quando me perguntei como esta
mulher poderia desistir de sua própria filha por dinheiro.
"Mas, depois disso, as coisas ficaram muito melhores. Deixei o meu
emprego depois de falar com o meu pai, explicando que eu
simplesmente não podia ser uma parte do banco. E sou grato que meu
nome me proporcionou a oportunidade de assumir a fazenda e
realmente fazer crescer algo incrível aqui."
"Com o perdão do trocadilho," Eu ri baixinho.
"Uma vez que Polly já estava com poucos meses de idade, comecei a
passar cada vez mais tempo aqui, deixando as coisas prontas,
construindo a casa em que vivemos agora e sendo aprendiz na fazenda
que eu tinha visitado naquele fim de semana, quando tudo explodiu. Eu
contratei algumas pessoas para me ajudar ao redor da propriedade,
comecei a girar sobre os campos e, um ano depois que Polly nasceu,
nós demos adeus a cidade e nos mudamos para o campo em tempo
integral. Eu não queria que ela crescesse do mesmo jeito que eu, com a
imprensa girando em torno da minha família e fazendo especulação
sobre onde a mãe dela poderia ter ido, então sabia que era melhor
retirar-nos completamente. Isso balançou o barco Maxwell um pouco, e
eu não vejo minha família tantas vezes quanto gostaria, mas a verdade
é que minha família se resume a Polly agora, e a esta vida que estamos
criando juntos."
"Certo. Isso tem que vir em primeiro lugar."
"Polly está muito bem aqui, e mesmo que as pessoas nesta pequena
cidade leiam as mesmas revistas que as pessoas da cidade, eles
parecem mais... Eu não sei, solidários conosco. Eu encontrei uma
grande babá, algumas, na verdade, que me mostraram que minha filha
tinha realmente pessoas maravilhosas com ela. É uma ótima cidade
para educar uma criança."
Eu sorri.
"Tudo girava em torno de Polly e da fazenda até alguns meses atrás.
E, depois de tudo que aconteceu, tenho certeza que você vai entender
quando eu digo que a última coisa em minha mente era me envolver
com outra mulher".
"Você nunca pensou sobre isso?" Eu perguntei, torcendo em seus
braços para olhar para o seu rosto doce.
"Claro que pensei sobre isso," ele admitiu timidamente, um tipo
diferente de rosa colorindo suas bochechas agora. "Mas nunca quis
arriscar perturbar a vida que tinha criado para mim aqui. Nunca quis
confiar em ninguém com Polly depois que vi sua própria mãe jogar tudo
fora por dinheiro."
"Mmm-hmm", eu disse, e algo baixo e inesperado torceu no meu
estômago.
"E então você apareceu", disse ele, forçando meu queixo para cima
para me olhar nos olhos. "E Polly estava no acampamento de verão pela
primeira vez. Sem saber como, eu ganhei um verão onde poderia
apenas... Relaxar. Ser um cara. Me divertir um pouco com uma garota
de L.A."
"E eu tive a certeza de dizer mil vezes que estava saindo no final do
verão," suspirei quando a última peça do quebra-cabeça se encaixou.
"Com certeza isso tornou mais fácil para mim simplesmente me
deixar levar", disse ele, sua voz se aquecendo e me aquecendo
completamente também. Aninhando meu pescoço, ele deu um beijo
atrás da minha orelha. "Mas aconteceu algo que eu não estava
esperando."
Prendi a respiração, esperando para ver o que ele diria.
"Tornou-se mais do que apenas um verão, você não acha?"
"Sim", sussurrei, respondendo a sua pergunta, bem como a minha
própria. Estava tudo claro agora. Tínhamos ido além do simples prazer,
adentrando em algo mais profundo e inexplorado - e francamente
assustador no que competia a mim.
"E então Polly chegou em casa mais cedo, sem nenhum aviso. Eu teria
lhe dito, Rox, mas ela veio enquanto a babá estava de férias. Eu não tinha
ninguém para vigiá-la para que eu pudesse vir falar com você, e isso não é
o tipo de coisa que se conta por telefone. Eu já estava tentando pensar
numa maneira de falar sobre ela, sobre nós, para fazer com que ficar aqui
fosse uma..." Ele parou de falar, não terminando a frase.
Eu terminei para ele. "Uma possibilidade?"
"E é? Uma possibilidade?", perguntou.
Eu suspirei. "Eu não sei Leo," admiti. Senti que ele expirou. "Mas eu
vou... Vou pensar sobre isso."
"De verdade?"
"Sim. Obviamente foi além de um caso de verão para mim, também.
Droga, por que diabos você é tão incrível?" Eu ri, deslizando para fora
do balanço e puxando-o comigo. Ele tinha bagagem, Deus sabia que eu
tinha bagagem, mas talvez... Apenas talvez. "Deixe-me pensar um
pouco, ok?" Eu disse, deixando minhas mãos rastejarem de seu peito
até seu pescoço, sentindo seu calor transpassar através da minha
camisa e se fixar em meus ossos. Ele seria a minha morte nesse ritmo.
"Nós ainda podemos nos divertir, você sabe", ele sussurrou, suas mãos
deslizando para o meu traseiro, me esmagando ainda mais contra ele.
"Eu vou precisar que você prove isso então, por favor," eu ri,
batendo meus quadris contra os seus. "porque este dia tem sido
estranho o suficiente."
Ele provou que ainda podia me divertir. E que os agricultores são
quentes, mas, maldição, nada é tão quente quanto um fazendeiro papai.
"Você é a melhor maldita coisa que eu vi durante todo o dia." Eu
respirei fundo, deleitando-me com o cheiro fresco da terra, até mesmo
salivando um pouco. Olhei em volta para me certificar de que ninguém
estava olhando, então esfreguei minha bochecha sobre o pão artesanal
de centeio que a padaria tinha acabado de entregar. Terno, macio, com
um marrom bonito na crosta, fiquei muito feliz ao descobrir que ele
ainda estava quente.
"A-ham." Ouvi, trazendo-me do meu devaneio.
"Oh, desculpe!" Eu disse para o motorista escandalizado.
Eu assinei a entrega e paguei o pobre homem, que saiu da porta
com a prancheta na mão enquanto eu estava embalando o pão como
um bebê.
"Conseguiu que ele te achasse louca, Roxie", disse a mim mesma.
Mas, dois segundos depois, eu estava cheirando o pão como uma mãe
cheirava a cabeça do seu bebê. Algo sobre o cheiro de um recém-
nascido? É errado que eu me sinta da mesma maneira sobre um pão de
centeio quente?
Prateleiras estavam cheias com lindos pães que, por sua vez,
estavam esperando para serem cortados para sanduíches. Minha mãe
tinha encomendado pão branco da padaria local desde antes de eu
nascer, cortando-os em fatias finas para torradas e grossas para
sanduíches que ela carinhosamente chamava de sangwiches.
Eu tinha alterado seu pedido, mantendo o pão branco tradicional e
adicionando algumas outras variedades, principalmente para a nova
linha de sangwiches deli que eu tinha anunciado com grande alarde.
O de centeio era para o sanduíche Reuben14. Eu tinha atualizado o
clássico, adicionando um pouco de limão no molho russo e uma fatia
muito fina de Gouda defumado escondida entre o suíço.
O pão mais escuro, pumpernickel15, eu combinei com cebolas em
fatias finas, creme de wasabi e grossas fatias de presunto polonês.
O de grãos usei para o pastrami16. De corte grosso, ele foi
temperado com mostarda deli... e nada mais. Vamos lá, eu ainda era
uma garota de Nova York.
Eu usei outros pães de outras maneiras também. Nós ainda
tínhamos nosso sanduiche de pão francês tradicional, mas eu adicionei
um pudim de pão brioche17 para o menu. Fatias de brioche embebidas
em creme de baunilha e ovo, depois cozidas com passas e nozes e

14 É um sanduíche quente de carne enlatada, queijo suíço, chucrute e molho russo ou


Thousand Island, grelhado entre fatias de pão de centeio.
15 Pumpernickel é um pão de centeio muito escuro típico da Alemanha. A massa não é

preparada com levedura e o pão é cozido em banho-maria, na umidade da própria massa


durante 16 a 24 horas.
16 Pastrami é uma carne magra curada e muito temperada, que se popularizou nos

Estados Unidos. É supostamente originário dos Bálcãs, e parece estar relacionado com a
pastirma da Turquia.
17 Pão de origem francesa, feito com alto teor de manteiga e ovos.
coberta com açúcar em pó e pimenta da Jamaica? Poderia ter esgotado
todos os dias desde que eu o tinha adicionado no menu.
Admirei este pão da maneira como um escultor pode admirar um
pedaço de mármore virgem. Apenas um bloco de pedra mas, o que mais
poderia ser? O que poderia tornar-se sob as mãos de um mestre?
Esfreguei novamente o centeio integral.
"Você prefere que eu te deixe sozinha?" Leo perguntou atrás de
mim. Um pouco envergonhada, eu me virei para vê-lo parado na porta
de vaivém que levava à sala de jantar.
Eu sorri um pouco timidamente, cheia de sentimentos que eu não
poderia nomear e nem sequer tentar explicar. Depois da noite passada,
eu estava um pouco insegura sobre como seria esta nova fase da...
qualquer que seja a coisa que estávamos fazendo. Eu nunca tinha
estado aqui antes. Seria estranho? Será que nós imediatamente
tínhamos evoluído de diversão pura e sem amarras para algum tipo de
casal? Assim é como os casais se comportam? Puta merda, espere um
minuto, somos um casal!
Um beijo me tirou do meu pânico crescente. Foi o menor pincelar
contra os meus lábios, mas tão quente e doce que cortou através da
minha besteira e me fez querer outro beijo. E outro...
As mãos de Leo furtivamente foram ao redor das minhas costas
enquanto ele me puxou contra ele, dançando beijinhos numa linha em
direção ao meu pescoço.
"Oi," ele murmurou, falando diretamente para meu coração, que
atualmente batia contra seus lábios.
Eu respirei profundamente, deleitando-me com o cheiro dele. Era
tudo sobre grama verde e pele salgada. Sua barba raspou um pouco
contra minha clavícula, e eu percebi que a sensação dele duro e sujo
era algo a que eu também tinha ficado muito acostumada.
"Eu tenho uma pilha de bacon aqui que está ficando frio, e você
sabe que o Sr. Beechum odeia bacon frio. Então me dê só mais uns
oitenta e três beijos e volte ao trabalho."
“Maxine separou uns pedaços de bolo para mim, vim aqui buscá-
los”, ele falou exatamente quando ela caminhava para dentro com um
sorriso torto.
Minha cara de beijo tinha sido notada, e seria a conversa da estação
de condimento dentro de minutos... e estaria na linha de fofocas da
cidade dentro de uma hora.
Eu me atrevi a esgueirar-me para mais um beijo, porém, e então
sorri para ele. "E aí?"
"Estamos aqui para o almoço", ele respondeu, com os olhos
dançando.
Ceeeeeeerto. Um balde de água fria. Porque Leo já era um nós. E
sempre seria um nós. E, sendo eu alguém que já teve problemas com
ser um nós, isso seria complicado para mim.
Eu sorri com bravura, determinada a ver como isso ia evoluir. Eu
tinha prometido a Leo que tentaria.
Empurrando pela porta de vaivém e entrando no salão, avistei Polly
sentada na ponta do balcão. Respirando fundo, eu passeei para fora
como se possuísse o local – o que tecnicamente era verdade, já que eu
era filha da dona -, determinada a não mostrar medo.
"Hey, Polly, o que anda aprontando?", perguntei. Na verdade, eu
perguntei a uma garota de sete anos o que ela andava aprontando por
aí. E eu sei disso porque as palavras estavam piscando no ar, fechadas
numa bolha, como numa história em quadrinhos. Uma história em
quadrinhos intitulada "Coisas que nunca devem ser ditas a uma
criança."
Olhei por cima do meu ombro para ver se Leo tinha escutado, e ele
estava apenas olhando para o teto, balançando a cabeça.
Polly parecia confusa. "O que estou aprontando por aí?"
"As coisas que você anda descobrindo pela fazenda, é claro!" Sorri
tão amplamente que quase pude sentir meus lábios rachando.
Ela alisou seu rabo de cavalo com os dedos. "Tudo bem, eu acho."
"Bem, isso é ótimo. Então, o que eu posso fazer por você?"
"Estou morrendo de fome", ela anunciou, empertigada em seu
banquinho.
"Então você veio ao lugar certo. Eu estava me preparando para fazer
um queijo grelhado para mim mesma. Você gosta de queijo grelhado?"
"Eu não gosto de queijo grelhado", disse ela. Mas, justo quando eu
comecei a pensar em outras opções, ela inclinou-se sobre o balcão e
disse com voz grave: "Eu amo queijo grelhado."
"Fantástico", eu respondi, inexpressiva também.
"Hey, Rox? Ela gosta de seu queijo grelhado com Velvee-"
"Silêncio", eu disse, o que fez Polly dar uma risadinha. "Você quer
um queijo grelhado regular ou quer um queijo grelhado Roxie especial?"
"Roxie especial!", ela gritou. Então, quando percebeu que estava se
divertindo, ela repetiu "Roxie especial" de uma maneira indiferente.
"Saindo um Roxie especial!", eu respondi, enxotando Leo para o
banquinho ao lado dela.
"Você não vai perguntar se eu quero um Roxie especial?",
perguntou ele, assim que Maxine apareceu com uma toalha de prato
nas mãos.
"De novo?", perguntou ela com uma piscadela e um estalar de sua
toalha.
A boca de Leo caiu aberta, e depois fechou rapidamente quando viu
Polly estudando sua reação.
"O que ela quis dizer, papai?" Eu a ouvi perguntar quando voltei
para a cozinha, rindo para mim mesma. De frente para o grill, eu
reivindiquei um canto para mim mesma, enxotando um Carl
resmungante antes de começar a trabalhar.
Dez minutos mais tarde eu deslizei três sanduíches de queijo
grelhado quente em pratos e levei-os para fora da cozinha.
"Oooo," Polly inspirou quando eu coloquei um sanduíche na frente
dela.
"Oooh," Leo respirou quando olhou para o sanduíche na frente de
Polly. "Uau, Rox, é bonito, mas-"
"Isso não se parece com o meu queijo grelhado normal," disse Polly,
olhando para o sanduíche, então para mim, em seguida para o
sanduíche novamente.
"Não, senhora", eu respondi do meu lado do balcão. Eu levantei
metade do meu sanduíche d prato para mostrar a ela, e uma sequência
de queijo derretido apareceu.
Queijo derretido em camadas de mussarela e cheddar Inglês,
coberto com fatias finas de maçã, e uma simples sugestão de sálvia
fresca. O pão? Em fatias grossas de centeio, com manteiga de ambos os
lados e enegrecido com marcas da grade. Eu dei uma mordida enorme
na minha metade, revirando os olhos para os céus e mostrando o
quanto eu gostava da porra do meu sanduíche.
"O que é isso saindo do lado?", Perguntou Polly.
"Maçã."
"No queijo grelhado?"
"Oh sim." Eu assenti com a boca cheia.
"Meu pai sempre diz que não se deve falar com a boca cheia."
Eu atirei de volta, "Minha mãe sempre diz para comer o que é
colocado na sua frente."
Ela pensou sobre isso por um momento, inclinando a cabeça para o
lado de seu pai. "Meu pai diz isso também," ela concordou, e pegou o
sanduíche. Ela cheirou, franziu o nariz, em seguida, deu uma mordida
hesitante.
Notei que Leo não estava respirando. E eu notei isso porque eu
também não estava respirando. É por isso que quando o rosto de Polly
se iluminou com um enorme sorriso, sua franja foi soprada na brisa do
suspiro que exalamos.
Em vez de fazer um grande negócio por causa disso, eu só peguei
meu sanduíche, brindei com Leo, e nós três almoçamos juntos. Mas
toda vez que ele chamou minha atenção, seus olhos estavam sorrindo.
No final da refeição, eu aprendi que Polly amava a cor azul, que queria
ser treinadora de cavalos ou meteorologista quando crescesse, e que o
Roxie Especial era seu novo sanduíche favorito. Segundo ela, era "muito
mais adulto do que o sanduíche que papai faz. Seu queijo favorito é o
string cheese18. O meu era spray can19, mas não mais!"
Ah, pelo amor de Deus, essa garota estava me deixando um pouco
emocionada. No momento em que os sanduíches eram apenas crostas,
Maxine se ofereceu para deixar Polly escolher as próximas músicas no
jukebox, e Leo e eu ficamos sozinhos.
"Assim, tudo correu bem", disse ele, atingindo outro lado do balcão
e roubando o último picles do meu prato.

18

19
"Sim, queijo grelhado é a minha especialidade", eu disse.
"Não apenas o queijo grelhado. Eu quis dizer-"
"Oh, eu sei o que você quis dizer," eu interrompi, me sentindo um
pouco emocionada, agora por um motivo diferente. "Você apenas passou
pela cidade, e, de repente, parou aqui para o almoço."
Ele deixou cair aquele sorriso lento para mim, e eu vacilei
ligeiramente. "Hey, nós tínhamos que comer, certo?"
Revirando os olhos, acenei que sim, que eles tinham que comer.
"Você vai à festa de Chad e Logan sábado à noite?", ele perguntou,
mudando de assunto.
"Claro." Comecei a limpar os pratos, curvando-me para colocá-los
na bacia de plástico embaixo do balcão.
Ele se inclinou um pouco sobre o balcão. "Quer ir junto comigo?"
Eu apareci de volta. "Wow, trazendo sua filha ao redor, me
convidando para festas... olha quem está fazendo as coisas oficiais de
repente!" Eu lhe dei uma jogada de cabelo sobre meus ombros, para
suavizar um pouco minhas palavras; mas não importava, elas já tinham
escapado.
"Inferno, sim, uma festa de inauguração vai tornar isso oficial",
disse ele levemente, fingindo atirar seu próprio cabelo sobre o ombro.
Ele conhecia meu jogo, e não estava caindo nele. "É uma festa, Rox. Eu
só estou te convidando para uma festa; não é ‘até que a morte nos
separe’."
Você já esteve numa sala cheia de ruído ambiente, onde sabe que
pode ter uma conversa privada que ninguém mais vai ouvir, por causa
de toda a conversa de fundo? Mas, de repente, geralmente durante a
parte principal, todo o barulho silencia e todo mundo ouve o que você
está dizendo?
Agora imagine isso numa lanchonete de cidade pequena, quando
uma pausa na lista da jukebox acontece exatamente quando Leo
Maxwell, solteiro mais cobiçado da cidade, diz ‘até que a morte nos
separe’ para Roxie Callahan, filha fugitiva e candidata menos elegível.
Maxine e seus companheiros acabaram de ganhar a fofoca do dia na
estação de condimento. A fofoca do dia.
Essa semana passou de estranha para mais estranha ainda. Eu
estava super ocupada no restaurante, assando bolos depois que fechava
para os pedidos que foram chegando, e estava começando a perceber
que, mesmo com as padarias artesanais e a dieta natural local, as
pessoas eram loucas por bolos feitos à maneira que vovó fazia. Eu
estava atolada profundamente em bolos red velvet, enterrada até os
olhos em creme bourbon e, mais frequentemente do que não, fui para a
cama à noite com coco no cabelo.
O que eu não levando para a cama, porém, era com um certo
agricultor a quem eu tinha me acostumado a ter à disposição sempre
que a necessidade surgisse (ou seja, o tempo todo). Mas, quando se
adiciona uma criança à mistura, especialmente uma tão precoce quanto
Polly, tinha-se menos amor de verão e mais sexo por telefone e
mensagem de texto. E oh meu Deus, Leo era especialista nisso.
Não era como se eu o tivesse visto todas as noites antes de Polly
aparecer em cena. Mas, mais frequentemente do que não, por volta das
seis eu costumava receber um telefonema perguntando se eu tinha
jantado (que era código para "posso ir até aí para você me alimentar
com sua comida deliciosa"), ou um texto em torno das dez perguntando
o que eu estava fazendo (código para "eu posso ir até aí para você me
alimentar com a sua deliciosa bocet-". Wow, eu vou manter esse código
em segredo). E, eventualmente, após uma rodada de sexo, nós
adormecíamos, comigo abrigada em seu lado ou envolvida totalmente,
como ele preferisse.
E ele dormia de conchinha.
E eu gostei. Não, mais do que gostar. Eu adorava. E o que vinha
depois de adorar? Essa palavra de quatro letras20 que eu estava
relutante em usar, mas era a única maneira de realmente capturar a
maneira como eu me sentia sobre Leo. Sobre dormir com Leo, quero
dizer. Depois de anos e anos de insônia, finalmente conseguir dormir
durante a noite embrulhada num casulo Almanzoniano era
absolutamente impressionante.
Mas agora... ajustes tiveram que ser feitos.
Porque agora as chamadas e textos eram para checar como eu
estava e para conversar sobre o dia, sempre terminando com, "Assim
que a babá dela estiver de volta na cidade, você pode apostar sua bunda
doce que eu estarei aí para te foder e abraçar."
Mas nenhuma foda ou aconchego estava acontecendo. Por
conseguinte, nada de dormir estava acontecendo, e eu estava de volta à
minha média de três horas por noite. O que eu tinha feito durante anos
e anos, mas... eu adorava dormir mais. E eu estava perdendo a cabeça.
Eu até tinha visto Leo algumas vezes essa semana, em torno da
cidade, durante sua entrega regular na lanchonete e no que estava se
tornando uma viagem diária para almoço de queijo grelhado. Mas,
tempo sozinha com ele? Não muito.

20 Amor.
Eu estava me ajustando à ideia de que Leo tinha uma filha. Quero
dizer, crianças acontecem, certo? O que estava me causando mais
problemas, porem, era como eu estava me ajustando ao ajuste de Leo
ter uma filha. Entenderam? À medida que a existência de Polly se
revelava sobre nós... revelava também que nós estávamos caminhando
em território inexplorado.
Esse sentimento se revelou quando ele trouxe Polly para o
restaurante no dia seguinte: nós ficávamos muito bem juntos,
considerando a reação dela ao sanduíche, agora orgulhosamente o seu
favorito. Mas, ainda assim, havia algo sobre isso que eu não conseguia
entender. Um mal-estar, quase como o sentimento que se tem cinco
segundos antes de um nó se formar na garganta.
Nó na garganta? Jesus Cristo, isso é o melhor que você pode fazer
para descrever?
E, falando do melhor que eu posso fazer...
Era sábado à noite, e eu girava no espelho do quarto. Eu tinha
trazido apenas um belo vestido comigo neste verão, e finalmente teria a
chance de usá-lo. Era de linho vermelho-sangue, era suavizado por uma
aspersão de flores rosa pálido aqui e ali. O decote era em V e ele tinha
mangas - simples, mas muito elegante. Evitando minhas tranças
gêmeas habituais ou coque, esta noite deixei meu cabelo solto e
encaracolado. Eu o tinha domado com um pouco de óleo de coco, e ele
brilhava como cobre polido. E mesmo que eu aplicadasse protetor solar
deliberadamente todos os dias, minha pele estava com um tom de
bronze rosado, e meu nariz e bochechas sardentas.
Mas mais do que isso? Eu parecia relaxada e feliz. As linhas de
preocupação que tinham começado a aparecer entre os meus olhos e na
minha testa tinham suavizado este verão, fazendo-me parecer jovem e
fresca. Leo era como Botox, aparentemente.
Eu escorreguei em minhas sandálias de salto alto, em seguida, corri
escada abaixo para dar os últimos retoques no meu presente de
inauguração. Cupcakes de creme brulèe minúsculos, embebidos em
aguardente com aroma de laranja e cobertos com uma crosta salpicada
com açúcar - eles pareciam pedacinhos do céu. Eu tinha feito alguns
para os convidados, bem como um recipiente separado para Chade e
Logan desfrutarem depois que todos partissem. Cupcakes à meia-noite
não eram um mau caminho para começar numa casa nova.
Eu estava apenas colocando os últimos no recipiente quando ouvi
um carro parar do lado de fora. Não soava como o jipe de Leo, então eu
olhei para fora da porta aberta e vi um grande e preto Mercedes parado
na entrada.
Levei um momento para perceber que era Leo. Com suas camisetas
vintage e seu jipe enferrujado, ele ficava sob o radar tão bem que era
fácil esquecer que ele era rico. E cara, o homem que saiu do carro era
mais do que eu estava esperando.
Vestido com uma camisa branca de botões, blazer preto, calça jeans
digna de um desfile e algum tipo de sapatos brilhantes, ele estava
impressionante. E... oh!
Ele tinha se barbeado.
O que ele escondia sob aquela barba moderna? Maçãs do rosto
pintadas por Da Vinci. Uma mandíbula esculpida por Michelangelo.
Seus olhos verdes estavam iluminando o rosto mais bonito que eu já
tinha visto. Seu cabelo loiro-areia estava jogado para trás, despenteado,
mas de um jeito diferente. Será que ele usou pomada? Cera? Era
perfeição total, independente do método.
Seu olhar me varreu avidamente - o vestido, os saltos, as pernas.
Eu sabia o quanto ele gostava das minhas pernas. Conforme ele se
aproximava da varanda, eu podia sentir minha pele formigando em
todos os lugares que seu olhar tocou.
"Você está linda", ele disse quando parou abaixo de mim, um pé
descansando no último degrau.
"Você está... o que é melhor que bonito?", perguntei, me
aproximando um passo dele.
"Luminoso? Radiante? Sexy além do pensamento racional?" Ele se
aproximou também, parando a distância de um braço.
Eu balancei a cabeça. "Você está todas essas coisas."
Antes que pudesse dar mais um passo e atacar, ele me puxou em
sua direção, me suspendendo no ar e esmagando-me em seu peito, e
me beijando até eu ficar sem fôlego. Após cinco dias de textos sensuais
e uma cama solitária, este homem tinha-me em seus braços, uma mão
subindo pela minha coxa, e meu coração quase saltou do meu peito.
Quando ele finalmente deixou-me recuperar o fôlego, eu abri meus
olhos sonhadores, tonta, e ele cutucou meu nariz com o dele. Soltando
mais um beijo doce na minha boca ele me colocou de volta nos meus
pés e piscou.
"Vamos inaugurar uma casa."

Com a mão apoiada no meu joelho, seu dedo mindinho traçava


círculos sobre a minha pele enquanto nós dirigíamos através da cidade.
Minúsculos círculos imperceptíveis, mas que estavam me excitando
tanto que eu quase saltei por cima do console central e sentei no seu...
colo.
"Se você não parar com isso, senhor, em breve vai ter que encostar
o carro," eu avisei, apoiando minha mão na sua para parar seu
movimento.
"Eu não consigo ver nenhum problema nisso." Ele continuou,
ignorando o meu pedido.
Sorrindo de volta, disse a única coisa que sabia que chamaria sua
atenção. Inclinando-me, rocei em seu braço e sussurrei em seu ouvido:
"Quanto mais rápido chegarmos lá, mais rápido poderemos voltar para
casa para eu começar a experimentar o seu rosto barbeado".
Ele sofreu com um tremor de corpo inteiro. "Você não está jogando
limpo, Roxie."
Não, eu não estava. Mas ele também não, indo me buscar como se
fosse o Lobo de Wall Street.
"O que eu posso dizer? Tem sido uma semana longa e solitária", eu
admiti, dando-lhe um beijo rápido enquanto estávamos parados num
sinal vermelho.
Ele levantou minha mão e beijou-a suavemente, sorrindo e fazendo
meu coração trovejar. "Também senti sua falta."
Depois de explodir essa bomba, ele pisou no acelerador quando o
sinal ficou verde.
Enquanto isso, eu era um feixe de puta merda. Inspire. Expire. Ele
sentiu minha falta. Sentiu minha falta!
Amor de verão, santa merda...
Hoje à noite parecia como se tivéssemos caído de cabeça na relação.
E eu não estava nervosa por ter feito isso. Mais como confusa, animada
e um pouco apreensiva. Sim, estes eram os sentimentos. Ultimamente
ele também estava muito mais aberto, mais meloso e mais grudento
quando outros estavam em torno. Um carinho na minha bochecha aqui,
um toque e cócegas ali, atraindo todos os olhos para nós.
Eu me perguntava se seria assim esta noite. A julgar pelo beijo
digno de cinema que ele me deu... Eu seria capaz de apostar que seria
sim.
Enquanto um carro normal rangeria sobre o caminho de cascalho,
eu mal podia sentir o solavanco na surpreendente Mercedes. Filas de
carros já estavam estacionados quando chegamos, e a entrada estava
iluminada com luzes que levavam até a porta da casa, vermelha e
brilhante e recém-pintada.
Quando eu vim aqui para a festa de pintura alguns meses atrás,
Leo e eu não éramos nada. Mas agora nós éramos, porem, e íamos nos
anunciar para a cidade. Merda, espera, o que estávamos anunciando?
O que nós somos?
Leo apertou um botão para desligar o carro.
"Você está pronta?", perguntou ele, virando-se para mim e enfiando
uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, girando-a no final entre os
dedos.
"Como eu nunca vou estar", respondi. Me aproximei e dei-lhe um,
dois, três beijinhos nos lábios.
Ele gemeu quando eu finalmente me afastei, seus lábios me
perseguindo a meio caminho através do console. "Se eu não sair do
carro agora, vou acabar te levando para o banco traseiro, e não me
importo quem vai testemunhar o que pretendo fazer contigo ali."
Eu olhei para as pessoas na calçada. Percebendo que a maior parte
da cidade estaria recebendo um show, eu disse: "Mais tarde. Eu vou
fazer valer o seu tempo, prometo."
Satisfeito, ele se ajustou e pulou para fora do carro, em seguida,
circulou em torno da frente para abrir a minha porta. Ele estendeu a
mão e me ajudou a sair, seus olhos nunca deixando os meus.
Seus olhos me disseram tanto, fazendo tantas promessas imundas,
que eu fiquei tentada a atirá-lo sobre o capô do carro e montá-lo como
uma maldita estrela pornô.
"Vocês estão aqui!" Chad gritou, descendo as escadas com duas
jarras em suas mãos. Bonitas, alinhadas e charmosas, elas continham
algum tipo de drink com framboesas, hortelã e gelo flutuando.
"Nós estamos aqui!", respondi, tão cheia de entusiasmo quanto ele.
Eu fiquei feliz pela interrupção, considerando que Leo e eu estávamos
bastante tentados a encenar um filme pornô alguns segundos atrás. Um
filme que, com base em quão bom Leo estava parecendo hoje à noite, eu
ficaria orgulhosa de estrelar, mas...
Chad nos levou para dentro da casa, pegando a minha mão
enquanto caminhávamos pela porta da frente. Mas ninguém estava
olhando para a mão dele. Não, senhora. Todos estavam olhando para a
mão que Leo tinha colocado com firmeza e de forma sucinta nas minhas
costas, anunciando o nosso relacionamento com mais eficácia do que se
tivéssemos um com a língua na garganta do outro.
Olhos estavam arregalados, mãos cobriam bocas abertas e cotovelos
cutucavam para alertar outras pessoas. E eu tenho bastante certeza de
que aqueles que não puderam comparecer foram alertados via Facebook
e Twitter, uma vez que algumas pessoas estavam tirando fotos do casal
feliz.
O feliz casal que nesse caso éramos nós. Ou pelo menos um de nós.
Não me interpretem mal, era ótimo sentir-me assim querida. E Leo
não tinha problema em me deixar sentir o quanto me queria. Ele ficou
atrás de mim enquanto Archie Bryant me dizia o quanto tinha gostado
do bolo de creme de coco que um de seus chefs tinha comprado no
outro dia no restaurante, e quando perguntou se eu não podia
considerar uma oportunidade para trabalharmos juntos.
Uma oportunidade para trabalhar com Bryant Mountain House? O
lugar (e seu chef) eram lendários, icônicos!
Eu calmamente disse que sim, que estaria interessada em falar
sobre isso, tentando não gritar enquanto falava. Também era difícil me
controlar para não guinchar como Archie era incrivelmente bonito.
Considerando os cabelos castanho avermelhados e ondulados, os olhos
azuis e o sorriso rápido dele, era difícil não ficar histérica.
Mas, além da histeria, eu também tive que evitar desmaiar
enquanto Leo estava atrás de mim, anunciando sua presença com uma
parte muito específica e muito dura de sua anatomia pressionando em
meu traseiro.
Lutando contra um rubor, eu agradeci a Archie pelo seu interesse e
prometi ir vê-lo em algum momento.
Leo era bom nisso. Eu andava para a esquerda e lá estava ele ao
meu lado, me marcando com sua mão nas minhas costas. Eu ia para a
direita e, tcharam, ele também ia para a direita comigo. E ninguém
sequer tinha ideia de que ele estava balançando um silo rígido em suas
calças enquanto estava apertando mãos e rindo de piadas.
Isso tudo deveria ter me incomodado. Esperei o formigamento no
meu pescoço ou entre os meus ombros quando ele correu um dedo na
minha espinha... mas, ele não veio. A única coisa que me atingiu foi um
profundo desejo de tê-lo nu e debaixo de mim o mais cedo possível. E
sim, havia uma parte de mim que gostava de ser reclamada
publicamente também.
Sentindo-me quente, quase febril, finalmente me separei do Sr.
Mãos Felizes para ir ao banheiro das mulheres, que estava identificado
por um mini quadro-negro. Refresquei a parte de trás do meu pescoço
com uma toalha molhada e me olhei no espelho. Corada e de olhos
arregalados. Oh, Senhor! O que estava acontecendo comigo?
E quando sai do banheiro, para completar, dei um passo para o
meu próprio filme de John Hughes21.

21 John Hughes Jr. foi um aclamado diretor, produtor e roteirista de cinema


estadunidense, famoso por ter escrito e dirigido filmes que se tornaram clássicos da
década de 1980 e início dos anos de 1990.
Lá estava Leo, encostado na parede em frente a mim, uma perna
flexionada na altura do joelho e apoiada contra a parede. Sua cabeça
estava para baixo, mas ele fez um olhar lento e sexy enquanto a
levantava, até estar me encarando. Então começou a desencostar da
parede e caminhar para mim, não, perseguir-me descrevia melhor, como
o predador mais sexy já visto.
Ele me prendeu à parede. Na parede! Seu corpo cobrindo todo o
meu, seus quadris positivamente me possuindo. Logo no fim do
corredor, o resto do grupo estava apenas a um passo de encontrar-nos
contra a parede e fora de nossas mentes. Mas, com Leo pressionado
contra mim, ele ocupou toda a minha mente. Perdida numa névoa de
hormônios e necessidade carnal pura, concentrei-me na boca de Leo
correndo para cima do meu pescoço enquanto ele sussurrava as
promessas mais imundas que eu já tinha ouvido. Lamber. Chupar.
Morder. Levantar. Girar. Virar. Palmada. Foder. Foder. Foder.
O tilintar de vidro nos assustou e interrompeu, e nós viramos a
cabeça em direção ao barulho, que foi seguido por uma risadinha
abafada. Foi o suficiente para nos tirar da nossa névoa – nos
desenroscamos da parede e voltamos para a festa, onde todos pareciam
saber exatamente o que fizemos.
"Eu preciso de uma bebida. Você precisa de uma bebida?",
Perguntei, nervosa. Eu precisava de um momento sem o inebriante Sr.
Maxwell tão perto e sob a minha pele. E quase debaixo do meu vestido.
Ele lambeu os lábios, sorriu para mim e se dirigiu para a multidão
para obter nossas bebidas, sorrindo e conversando como um
profissional pelo caminho.
E foi então que eu ouvi uma voz que tinha assombrado os meus
tempos de colégio.
"Bem, bem, olhe quem está volta na cidade explodindo todas as
cabeças." Krissy Jacobson, representante de turma, rainha do baile e
com maior probabilidade de sucesso em ser uma cadela para o resto de
sua existência, se aproximou de mim. Atrás dela, como sempre, ela
arrastava suas quatro fiéis ratas de estimação. Quantos anos tinham se
passado mesmo desde o colégio? E elas ainda a seguiam como patos
bebês?
Eu me preparei para os gracejos, calúnias e socos acerca da Roxie
antiga, e da bagunça que eu costumava ser naquela época.
"Oi, Roxie!" Maureen falou. Ela sempre foi a mais amigável do
grupo.
Loren me puxou para um abraço. "É tão bom ver você!", ela
aplaudiu e me beijou na bochecha antes de me passar para Paula, que
repetiu o abraço antes de me passar para Lece.
Elas deliraram sobre o meu vestido, meu cabelo e meu brilho
"beijada pelo Sol", que eu tinha certeza que elas sabiam vir de Leo, e
não do Sol. Nenhuma delas tinha deixado Bailey Falls, optando por
aumentar a população criando seus 2,5 filhos aqui, e minha cabeça
voou quando me contaram sobre suas famílias, maridos e crianças.
Em seguida, elas me crivaram de perguntas sobre a Califórnia. Será
que eu ia à praia todos os dias? Será que as Kardashians frequentavam
a minha academia? Será que eu cozinhava para pessoas famosas?
Eu nunca cozinhava e contava, mas estas eram as meninas que
fizeram a vida miserável para mim na época do colégio. Então eu
poderia ter-lhes mostrado uma foto minha com Jack Hamilton, com
seus braços em volta de mim em sua cozinha e suas mãos cheias com
meus bolos. Todos elas gritaram, olhando para o meu telefone com
inveja.
"E Leo..." Krissy deixou seu nome flutuando para que eu pegasse.
"Sim, Leo." Respondi, tomando a minha bebida e evitando o contato
visual.
"Você é tão sortuda", disse Lece. "As mulheres têm tentado prendê-
lo durante anos!"
Eu balancei a cabeça, absorvendo tudo. Como ele era ativo na
comunidade, o quão bonito ele ficava com Polly.
"Nada é mais sexy do que um pai amoroso", disse Maureen,
engolindo seu drink.
"Você é a conversa da cidade, sendo a menina de Leo", disse Paula.
Sorrindo educadamente, eu mastiguei o ‘Menina de Leo’ enquanto
elas se mudavam o assunto para Oscar, o leiteiro gostoso.
Por tanto tempo quanto eu conseguia me lembrar, eu sempre fui
vista como a menina de Trudy.
Agora eu era menina de Leo.
O que era necessário para eu ser apenas Roxie?
Califórnia.
Eu conversei com as meninas por mais alguns minutos, chupando
azeitonas com Lece, tomando um drink com Maureen, em seguida,
outro drink com Maureen, e então, finalmente, um terceiro drink com
Maureen. Eu confessei a Krissy que tinha sido a única a sabotar sua
torta de morango na aula de culinária, trocando o açúcar por sal. E
então tomei mais uma bebida com Maureen.
Quando finalmente me desculpei e me afastei, fazendo um balanço
das coisas, percebi que estava um pouco tonta. Eu me perguntava
quanto tempo levaria para Leo entrar em minha calcinha quando
chegássemos em casa... Soluço. Oh boy, até meu cérebro estava tonto.
No tempo que levei para andar do bar para a sala de estar, eu tinha
evoluído de "um pouco tonta” para "puta merda, estou rodando". Avistei
Leo na cozinha, sentado na bancada de granito e tomando uma água
engarrafada enquanto falava com Oscar, o gigante. Que, por sua vez,
estava vestido com uma T-shirt branca e limpa que estava quase
estourando nas emendas para conter seus enormes bíceps tatuados.
Seu cabelo preto brilhante estava preso novamente com uma tira de
couro, e eu me perguntei o que tinha que acontecer para fazê-lo soltá-
lo. Aposto que só alguém realmente lindo conseguiria. E por falar em
lindo...
Leo encontrou meu olhar e oh, a queimadura, o doce fogo que tinha
sido acesa por aquele beijo na minha varanda elevou sua cara bonita
novamente. Eu fiz o meu caminho através do piso de ladrilho irregular
(era liso e reto), tropeçando apenas um pouco em meus sapatos, e
acabei em pé entre as pernas de Leo, sorrindo estupidamente para ele.
"Almanzo, você quer ir dar um passeio de buggy?" Eu ronronei
(arrastei), tentando colocar minha mão em suas costas para fazer com
que todos vissem a minha reivindicação. Certamente teria sido mais
eficaz se o seu blazer não tivesse cobrido toda a ação, mas quem se
importa? Eu ia ter um orgasmooooo hoje à noite!
"Eu vou falar com você mais tarde, Leo," Oscar resmungou (viu
como eu sou engraçada?), e saiu pela porta de trás, tendo que se
abaixar um pouco ao passar por ela.
"Eu vi você bebendo lá com as meninas", disse ele, rindo quando eu
derrubei minha cabeça em seu peito, respirando seu cheiro de terra.
"Elas me odiavam na escola," Eu contei a ele. "mas agora elas me
amam. Porque eu estou com você? Por que eu sou uma garota da
Califórnia agora? Difícil dizer. E por que você não está me montando
num buggy agora?"
"Parece que você está pronta para ir para casa, Ervilha." Ele deu um
beijo no topo da minha cabeça enquanto eu brincava com os botões da
sua camisa.
"Oh, Deus, você sabe o que faz comigo quando me chama assim?"
Suspirei. "Isso me faz querer quebrar."
"Quebrar?", perguntou ele, o canto de sua boca subindo.
"Em seu rosto." Eu acariciei seu rosto enquanto seu queixo caia
aberto.
"Ok, hora de ir."
Dando um rápido adeus a Chade e Logan, ele me levou correndo
pela porta dos fundos, me guiando pela calçada e me colocando em seu
carro antes que tivesse a chance de dizer: "Ei, boa casa, espero que
esteja completamente inaugurada agora!"
Eu gritei esta joia especial sob o braço de Leo enquanto ele se
atrapalhava com o meu cinto de segurança.
"Leo, Leo, Leo - Deus, eu amo dizer o seu nome," eu disse, por
debaixo de seu braço e olhando para o céu. Ele se apoiou no meu
assento, varrendo meu cabelo para trás do meu rosto e olhando
profundamente em meus olhos. Porque ele estava à procura de
respostas? Ou porque ele estava verificando para ver o quão bêbada eu
estava? "Eu pensei em você durante toda a semana, você sabe." Eu
disse.
"Você fez?", Ele perguntou, seu prazer evidente mesmo através da
preocupação.
"Pare de me olhar assim. Eu estou bêbada, mas não tão bêbada a
ponto de não perceber as coisas."
"Que coisas você percebeu, garota bonita?" Sua palma varreu minha
bochecha, embalando o meu rosto, seus dedos descansando levemente
na parte de trás do meu pescoço.
"Eu sei o que você estava fazendo lá, com sua grande mão sexy nas
minhas costas durante toda a noite, marcando o seu território." Eu
puxei a camisa dele, trazendo-o para mais perto de mim, então beijei
seu nariz, pálpebras, sua testa, e finalmente seu queixo.
"E se eu estivesse fazendo realmente tudo isso?" Ele inalou
rapidamente quando eu mordisquei seu queixo. Um gemido abafado
escapou dele quando coloquei minhas mãos em seu cabelo, em seguida,
beijei um caminho em direção a sua boca.
"Eu conheço uma maneira muito melhor de marcar o seu território",
eu respirei, em seguida, cobri sua boca com um beijo quente e
selvagem, empurrando minha língua em sua boca enquanto suas mãos
se tornavam ásperas e instáveis.
"Diga-me", disse ele, sua voz cheia de necessidade. Eu me enchi de
luxúria por saber que poderia deixá-lo desta forma. "Me diga o que você
quer."
Eu o puxei bem perto para sussurrar em seu ouvido. "Eu quero que
você me foda sem camisinha, em seguida, goze em cima de mim. Eu
quero ficar coberta de você, escorregadia, molhada e suja, muito suja."
Leo congelou. Então se afastou para olhar para mim. E inalou como
se não conseguisse respirar.
Eu adoraria dizer-lhe que conseguimos voltar para a minha casa. O
máximo que posso dizer, porem, é que nós paramos um pouco longe da
cidade e profanamos uma estrada rural da maneira mais gloriosa.
"Pedidos prontos! Eu tenho mexidos com centeio seco, dois Reubens
- um com picles, e uma vaca preta. Vamos começar a nos mexer, não
vamos, senhoras?"
Eu ri quando panos de prato de todos os quatro cantos do
restaurante vieram voando em minha direção. Maxine e as outras
marcharam para pegar seus pedidos na janela, e eu ganhei uma
piscadela dela. Eu tinha gastado a manhã na cozinha depois que Carl
ligou avisando que estava doente. Eu tinha manipulado a grade,
preparado tudo para amanhã e agora estava começando a limpeza,
fazendo o melhor que podia.
"Como está indo, sra. Oleson?" Gritei quando o sino tilintou,
alertando-me de um novo cliente.
Ela acenou e gritou: "Roxie, você vai estar aqui amanhã de manhã?
Eu preciso pedir algo para o almoço do prefeito na próxima semana.
Você pode fazer um bolo invertido de abacaxi caramelado?"
"Com fatias de abacaxi e laranja na lateral, e calda açucarada?"
Todo o restaurante delirou, e ela me deu o polegar para cima.
Sorrindo um pouco, eu me virei para guardar as garrafas de ketchup
atrás do balcão, assobiando junto com a jukebox enquanto arrumava os
recipientes. Ouvi a campainha tilintar mais uma vez, e disse por cima
do meu ombro, "Bem-vindo ao Callahan! Pegue qualquer lugar vazio;
uma garçonete logo vai te atender...”
Minha voz sumiu quando o aroma de patchouli me atingiu. De jeito
nenhum. Eu me virei para ver minha mãe em pé ao lado da porta, tia
Cheryl bem atrás dela. Ela estava bronzeada, com uma aparência
saudável e positivamente radiante.
"Você não deveria estar... O que você est... Quero dizer, você está
em casa!" Eu soltei. Oops.
"Bem, bem-vinda para você também", ela respondeu, sua voz quente
e feliz. Seus braços e mãos estavam cobertos de tatuagens de henna, ela
tinha um novo piercing no nariz e seu cabelo selvagem estava em duas
tranças crespas.
Tomada pela necessidade de abraçá-la, corri de trás do balcão. Uma
onda de patchouli tomou conta de mim, forte e terrosa, e pela primeira
vez em muito tempo, eu estava muito feliz por vê-la.
Mas, quão estranho era o meu primeiro pensamento ser, ‘droga, era
hora de ela voltar para casa, já’?
"Um pouco de ajuda aqui?" Tia Cheryl estava lutando com o que
pareciam ser dois conjuntos de bagagens.
"Oh, tia Cheryl, desculpa, deixe-me ajudá-la com isso", exclamei,
agarrando suas mochilas e sacolas cheias até a borda com coisas de
flamenco espanhol, máscaras chinesas de Ano Novo, um bong de
bambu. "Ma! Você não pode apenas levar um bong22 por aí numa
bolsa!" Eu joguei uma toalha de prato sobre o tubo de bambu.
Ela estava acenando para todo mundo como uma celebridade. Oh
garoto. Ela vai ser a fofoca daqui pelos próximos dez anos.
"É um bong cerimonial, Roxie. Eu consegui no Laos.", disse ela,
caminhando pelo restaurante e dando uma boa olhada.
Alguma coisa se apertou no meu estômago quando ela avaliou as
mudanças que eu tinha feito, sem dúvida pesando no quão rapidamente
ela poderia desfazê-las.
Balançando a cabeça, entrei em ação. Maxine e eu levamos todas as
bolsas para o lado da porta enquanto minha mãe estava
cumprimentando a todos como se ela tivesse ido embora há anos.
Alguém no balcão fez a pergunta de milhões de dólares. "Então,
vocês ganharam?"
Mamãe e tia Cheryl se olharam entre si antes de balançaram a
cabeça. "Desculpe, não posso dizer nada ainda. Estou contratualmente
obrigada a ficar em silêncio." Mamãe explicou.
"Tia Cheryl, você está bem? Você parece exausta", eu disse,
empurrando um banquinho atrás dela.
"Eu nunca estive tão cansada em toda a minha vida." Ela afundou
no banquinho com gratidão, descansando a cabeça sobre a bancada.
Ela estava meio dormindo no momento em que eu olhei de novo
para a minha mãe, que estava fazendo a ronda, cumprimentando seus
clientes, participando de conversas. Ela cresceu na cidade, conhecia
todo mundo e era muito querida por todos. Seu retorno fornecia alguma
emoção para esta pacata cidade, e ela estava curtindo esse momento.

22
Enquanto caminhava ao redor, ela continuou a verificar as mudanças
que eu tinha feito, mas não houve quaisquer comentários ou perguntas
até agora. Se ela estava irritada com as mudanças, não disse nada.
Talvez porque tínhamos uma audiência. Ou talvez porque estava feliz
com isso. Coisas mais improváveis e estranhas já tinham acontecido,
afinal.
Conforme continuei com meu trabalho, o restaurante começou a
esvaziar da corrida para o almoço. E enquanto eu limpava, ficava
esperando o sentimento de alívio descer sobre mim. Como ela estava de
volta, meu tempo aqui tinha acabado, e eu poderia voltar para a minha
vida na Califórnia. E continuei esperando por esse sentimento.
Mas ele nunca veio. Engraçado.
Quando o último cliente do almoço foi embora, mamãe trancou a
porta. Fazendo o seu caminho até mim, ela se sentou no banquinho ao
lado de sua irmã roncando. "Devemos deixá-la dormir?"
"Ela parece bem cansada." Eu ri. "Eu voto em deixá-la dormir."
"Falando de dormir-"
Eu pulei. Quem já tinha contado a ela sobre Leo?
"Como você conseguiu dormir, com todo esse ar puro do campo?"
Eu respirei de alívio. "Oh, hum, eu tenho dormido muito bem, na
verdade."
"Você parece realmente bem", disse ela, me examinando com
cuidado. "Você parece descansada. Sua pele está ótima, seus olhos
estão brilhantes, e seu cabelo parece bom e forte".
"Obrigada, eu comi um ovo cru todos os dias esde que você saiu,
por isso o brilho. Você deseja verificar os meus dentes?"
"Não zombe da sua mãe, Roxie", disse ela distraidamente, ainda me
olhando com muito cuidado. Ela poderia dizer? Será que ela sabia?
"Mmm-hmm," ela finalmente disse.
Me senti da mesma maneira como quando eu era criança e tentei
mentir para sobre se tinha feito ou não minha lição de casa. Ela sempre
sabia.
"Você está livre para ir, Rox", disse ela.
"Hum, obrigada, mas eu ainda tenho pedidos para terminar antes
que eu possa sair hoje. Eu vou ver você de volta em casa. Tenho certeza
que a tia Cheryl prefere tirar um cochilo no sofá em vez de sobre o
balcão." Eu sorri e ela deu um tapinha na minha mão. "É bom ter você
em casa, mãe."
"Eu quis dizer que você está livre para voltar para a Califórnia."
Eu estava no meio da porta de vaivém quando ouvi suas palavras. E
voei de volta para o restaurante.
"Estou em casa! Você está livre!", ela gritou, fazendo um grande
gesto em direção à porta da frente. "Estou surpresa que você não correu
para as montanhas assim que entramos."
Sentei-me ao lado dela, brincando com um fio solto no meu avental.
O cenário estava muito igual a quando eu era uma garotinha. Sentadas
lado a lado, sem olhar uma para a outra.
"Eu estava pensando," finalmente disse, girando meu telefone no
balcão como distração, "Eu meio que tenho que ficar um pouco mais.
Você vê, você voltou para casa mais cedo do que eu planejei
inicialmente. Estou feliz que você está em casa, mas ainda não estou
preparada. Eu hum... ainda tenho pedidos de bolo para entregar. É
claro que eu preciso te contar sobre os pedidos que bolo que peguei,
mas... E eu tenho essas aulas de culinária zumbi que estou
ministrando. Nós ainda temos a de conservas para aprender, e eu
também estava esperando poder ensinar a fazer extrato de tomate e
como congelar corretamente os alimentos antes de ir."
Foi então que meu telefone se iluminou anunciando uma mensagem
de texto. Na tela estava o nome de Leo, junto com uma imagem que eu
tinha tirado no dia em que ele me mostrou suas nozes... nas árvores.
Ele estava sorrindo preguiçosamente, aparentando em cada polegada o
garoto-propaganda da ‘Fazendeiros quentes’. Era a minha imagem
favorita dele. E embora eu tenha rapidamente virado a tela para baixo,
não fui rápida o suficiente.
Minha mãe viu a foto. E poderia até mesmo ter visto o texto. Oh
homem.
Seus lábios enrolaram quando ela tentou segurar um sorriso.
"Entendo."
"Você não entende nada. Não é o que parece".
"Eu adoraria saber o que você pensa que parece quando o solteiro
mais cobiçado no estado de New York manda mensagens de texto para
minha filha, com coisas como: 'Hey Ervilha, a noite passada foi incrível
e-'"
"Pare de falar! Oh meu Deus, faça isso parar!" Eu gemi, deixando
minha cabeça cair sobre o balcão como tia Cheryl.
"Você tem feito mais de bolos neste verão, Roxie Callahan!" Minha
mãe saltou de seu banquinho e correu atrás do balcão, segurando duas
canecas de café. Servindo as bebidas, ela apoiou o queixo em suas
mãos e arqueou as sobrancelhas. "Derrame."
Eu derramei depois do jantar, depois que tia Cheryl estava serrando
toras no quarto de hóspedes e minha mãe e eu nos sentamos na
varanda da frente. Nossa varanda da frente estava vendo alguma ação
neste verão, isso era certo, entre o sexo, o andar e a contação de
histórias. Minha mãe fumou um pouco da melhor folha do Colorado
enquanto eu fiquei com um café gelado.
Contei apenas coisas superficiais, sem divulgar nada substancial,
admitindo apenas ver Leo ocasionalmente, casualmente. Algumas
pitadas suculentas a distraíram facilmente, e com apenas a mais leve
cutucada eu fui capaz de mudar seu foco para longe de mim e da minha
vida amorosa, bombardeando-a com perguntas sobre como a viagem
tinha sido.
Oficialmente ela não poderia me dizer se elas tinham ganhado, mas
com base no fato de que ela voltou para casa mais cedo e uma piscadela
artisticamente cronometrada quando eu disse: "Ah, pelo amor de Deus,
diga-me, você perdeu, certo?" Eu coloquei dois e dois juntos.
E tão fácil como foi distraí-la com algo brilhante (falar sobre si
mesma), ela pode ser distraída por algo ainda mais brilhante e
corriqueiro (sua vida amorosa).
Minha mãe tinha encontrado nada menos que três homens em sua
viagem. Primeiro foi Hank, um vendedor de peças de automóvel de
Akron, Ohio, viajando com seu filho para o show. Um dos primeiros
selecionados, ele e mamãe tinham partilhado uma noite de beijos
bêbados na Chinatown de San Francisco após a festa de boas-vindas
aos participantes do programa. Seu filho e tia Cheryl intervieram,
explicando a cada um deles que se envolver com a concorrência era
uma receita certa para o desastre. Quando minha mãe pegou Hank com
as mãos dentro das calças de uma outra concorrente (Sabrina, uma
instrutora de ioga de Tallahassee), ela concordou que não daria certo, e
simples assim Hank entrou na pilha de descarte.
Em seguida veio Pierre, um imigrante francês que tinha sido o
instrutor num mergulho nos Mares do Sul, a pérola da expedição.
Depois de tentar mergulho livre depois de apenas 10 minutos de
treinamento e sem suporte de respiração, minha mãe tinha sido
arrastada para fora da água e para o colo de Pierre, onde foi
ressuscitada pelo francês. Ela na verdade esperou vários minutos antes
de “voltar à vida”, de modo a desfrutar de um pouco mais de boca-a-
boca. Minha mãe e Pierre tiveram uma noite de mergulho íntimo
oceânico, onde ele pediu-lhe para tentar definir um novo recorde
mundial para a apneia enquanto ficavam ocupados...
Eu quase tive que bucar o scotch para ouvir essa história.
E, finalmente, houve Wayne Terça-Feira. Sim, esse era o nome real.
Wayne era um operador de câmara para a empresa de produção que
possuía The Amazing Race, e sua unidade havia sido designada para
filmar minha mãe e tia Cheryl. Tarde da noite, na ilha de Tahiti, depois
de um concurso de limbo que minha mãe ganhou, os dois furtivamente
fugiram do resto da esquipe e dividiram um daiquiri de abacaxi. Foi o
abacaxi? Teria sido o limão? Ou o bendy? (Com certeza foi o bendy.) o
fato era que ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido, somente
que ela estava completamente apaixonada por Wayne.
Agora, normalmente quando um participante de reality show se
envolve com um membro da equipe de filmagem (eles desaprovam isso),
uma de duas coisas acontece. Ou o competidor é removido ou o
membro da equipe é demitido. Wayne e minha mãe foram capazes de
esconder seu romance de todos até o local de filmagem final em Roma,
onde foram pegos jogando um jogo espirituoso de esconder o salame.
Ele foi demitido e algumas semanas mais tarde, minha mãe e tia Cheryl
tinham sido eliminadas.
Para o registro, este foi o mais longo tempo que mamãe manteve um
segredo. Se ela já me disse: "Ei, eu não ganhei The Amazing Race"? Não,
mas ela contornou as regras com bastante facilidade em sua mente,
usando palavras como eliminado. Ninguém, e eu quero dizer ninguém,
conversava com Trudy Callahan por mais de uma hora sem que ela
contasse um segredo.
Mas, conforme ela contava história após história de suas aventuras,
eu fui pega na excitação, na tolice, na sua atitude despreocupada. Eu
estava gostando de sua companhia, eu ri de seus contos e
simpaticamente afaguei seu ombro quando ela me contou sobre os
perigos de queimaduras solares lá em baixo depois de uma temporada
numa praia de nudismo.
E foi por isso que, enquanto observamos os vagalumes dançarem
preguiçosamente através do quintal, conversando sobre isso e aquilo e
tudo, eu estava convencida de que ela tinha esquecido da mensagem de
texto de Leo. Porem, de repente ela disse: "Leo Maxwell é exatamente o
tipo de homem que eu posso ver com você. Veja isso também, Roxie."
Eu estava tão surpresa que permaneci na varanda, sentada em
linha reta e tensa, pensando sobre o que ela tinha dito por muito tempo
depois que ela entrou.
Na manhã seguinte, minha mãe me disse que Wayne Terça-Feira
estava chegando hoje; ele estava vindo de DC para passar a semana
com ela. Tia Cheryl tinha ido para casa mais cedo na manhã seguinte,
dizendo para minha mãe nunca, nunca chamá-la de novo para qualquer
tipo de reality show. Ou qualquer viagem de qualquer tipo.
Minha mãe estava feliz da vida que eu iria ficar em torno por mais
um tempo, mesmo que eu já estivesse de olhos em lugares livres nos
bairros próximos da nossa casa. Eu estava acostumada a ter seus
namorados por perto, mas tinha sido anos desde que eu realmente tive
que vê-la com algum deles. Estremeci enquanto pressionava um
hambúrguer, pensando sobre o que eu poderia ter que suportar quando
Wayne chegasse.
Mamãe e eu fomos trabalhar juntas hoje. Ela estava ansiosa para
ver os livros e ver como as coisas tinham andando enquanto ela ficou
afastada. Eu estava ansiosa, agora que ela estava de volta e se
estabeleceu, para ver como o que eu tinha feito seria recebido.
Embora não devesse importar. Eu estava voltando para L.A....
certo?
Possivelmente? Talvez não? Se Chad Bowman estivesse na minha
cabeça agora, ele teria feito uma cambalhota. Eu estava realmente
considerando a ideia de... ficar?
Eu ponderei tudo isso enquanto assava alguns espetinhos de queijo
e me preparava para lançar uma nova linguiça defumada na grelha. O
açougue no qual eu tinha conseguido o pastrami no outro dia tinha
uma nova linha de salsichas alemãs, e vinha trabalhando o meu
caminho através delas. A linguiça de fumada era fantástica,
perfeitamente temperada e suculenta com gordura boa aqui e ali. Eu
estava trabalhando mentalmente numa receita com cebolas grelhadas e
um pouco de vinagre de maçã quando ouvi Maxine avisar que eu tinha
um visitante.
Olhando para o relógio antigo sobre o armário, vi que era hora do
almoço, o que só poderia significar um visitante muito específico. Eu
sorri, tampando os pedaços de queijo para deixá-los agradáveis e
pegajosos, limpei as mãos no avental e empurrei as portas giratórias.
Eu imediatamente vi Polly sentada no balcão com o menu na frente
dela, parecendo muito crescida.
"Beber refrigerante não é ilegal. Isso é bobagem, papai", ela
argumentou dando Leo me um olhar de soslaio.
Encostei-me ao batente da porta e sorri quando Leo calmamente
pegou o menu e fechou-o, colocando-o entre eles.
Atrás deles eu vi minha mãe com a cafeteira, passando de mesa em
mesa, conversando, certificando-se que todos tinham o que precisavam.
E então um flash de repente me bateu - ou talvez tenha sido só um
devaneio. Claro como o dia, eu tive a visão mais nítida de uma Polly um
pouco mais velha me ajudando no restaurante. Ela estalou a bola do
seu chiclete e anotou o pedido de um menino que não era muito mais
velho que ela.
Eu olhei para a cena ao meu redor: pessoas felizes numa cidade
feliz. Tudo super-hiper-megafeliz. Isso poderia ser real? Isso poderia ser
real para mim?
Só então Leo reparou em mim e, como sempre, seus olhos
percorreram todo o meu corpo, queimando com calor antes que ele me
desse uma piscada.
Eu sorri instantaneamente. Talvez isso fosse real, afinal. Comecei a
andar na direção deles com esse mesmo sorriso brilhante.
"Bisteca, você não pode ter refrigerante. Leite ou suco de maçã são
as suas escolhas. Tome-o ou deixe-o", disse Leo com uma voz firme.
"Vovó, por favor", ela reclamou.
Vov- o quê? Parei tão rápido que deixei marcas de derrapagem.
Com certeza, lá estava a Sra Maxwell. E ela parecia tão
profundamente fora do lugar. Eu não tinha ideia de como não tinha
notado.
Talvez eu estivesse um pouco distraída com a visão da minha
pequena família feliz, protagonizada por mim e meu próprio Almanzo
girando a nossa Polly na fazenda.
Seu cabelo perfeitamente cortado era tão prateado que podia brilhar
no luar. E ela tinha olhos verdes, como Leo e Polly, embora os dela
fossem da cor do dinheiro e do poder.
Ela estava ricamente vestida em calças de cor creme feitas sob
medida, e eu silenciosamente a aplaudi por ter coragem de usá-las num
lugar que servia pimentão ao molho sete dias por semana. A blusa
listrada harmonizava com as pérolas em volta de seu pescoço, que
provavelmente custavam o que eu tinha pago pela escola de culinária.
Ou mais.
Mentalmente averiguando minha roupa, eu me amaldiçoei,
pensando no pudim de arroz que tinha manchado minha capri mais
cedo. Para não mencionar a mancha de cranberry no meu avental.
"Oi, Roxie!" Polly falou. Alisando o guardanapo sobre seus shorts
jeans, ela continuou, "Vovó, este é Roxie. A garota que eu estava te
falando. Ela faz a melhor torta! E nós fazemos uma versão super chique
e melhorada de queijo grelhado, com queijo nobre, maçãs e pão de
centeio com estes pequenos grãos estranhos nele. É tããão legal! Uma
delícia!"
"É um prazer conhecer você. Roxie, não é?", perguntou ela
friamente.
Sem aperto de mão. Ela provavelmente não podia levantar a mão, de
qualquer maneira, devido ao peso do diamante do tamanho de um
rinque de patinação que estava em seu dedo.
"Meu Leo me disse que você tem ajudado a sua mãe aqui até voltar
para... Onde mesmo?"
"CC-Califórnia," balbuciei, vendo minha mãe andar em direção ao
balcão com duas cafeteiras vazias e um sorriso largo. Oh Deus. Minha
mãe e a mãe dele, no mesmo lugar e ao mesmo tempo, poderia ser
material de lendas. Também poderia ser material para um épico
desastre de trem.
"Hey, Polly, você voltou do acampamento de verão mais cedo, não
é?" Minha mãe gritou, correndo ao redor do balcão numa nevoa de
sândalo e franjas de couro para ficar na frente da filha do Leo,
estendendo a mão e apertando o nariz dela. Polly deu uma risadinha e
respondeu com um high-five.
"Oi, Ms. Callahan! O acampamento foi mais ou menos, e o papai
sentiu tanto a minha falta que decidi voltar para casa mais cedo."
"Estamos felizes por ter você em casa. E, Leo, você só fica mais
bonito cada vez que te vejo!" Minha mãe voltou para trás do balcão.
"Como foi o verão? Parece que você e Roxie tiveram um grande tempo!
Bom Deus, olhe para você, está ficando tão rosado quando a bunda de
um porco."
Se você disser a palavra bunda na frente de uma criança de sete
anos de idade, não importa o quão inteligente ela seja, ela vai rir até
sua cabeça explodir. Ouvir seu pai ser comparado com a traseira de um
porco fez Polly voar num vendaval de risos que não parava mais. Não
importava o quanto à mãe de Leo tentasse acalmá-la gentilmente. Ela
riu tão forte que provavelmente até perdeu o comentário sobre eu
passando o verão com seu pai - mas a mãe dele com certeza prestou
bastante atenção nessa parte.
"E esta deve ser a sua mãe, a Sra. Maxwell. Você sabe, eu vejo vocês
vindo visitar a cidade durante todos esses anos, mas ela nunca antes
veio até a minha lanchonete. Agora, como isso é possível?" Minha mãe
parou em frente à mãe de Leo.
"Você sabe como verões podem ser ocupados com hóspedes e festas.
Eu sempre quis entrar na cidade quando a visitava, mas Leo me
manteve tão ocupada lá em casa", ela respondeu com a voz anasalada
típica dos ricos. Um pouco de Boston, um pouco dos Hamptons, um
monte de Upper East Side. "Eu não acho que eu entendi completamente
seu nome, Sra...?"
"Apenas me chame de Trudy."
A sra. Maxwell sorriu de maneira uniforme, provavelmente se
perguntando como acabou subitamente numa relação de primeiro-nome
com uma hippie. Ela estendeu a mão sobre toda a formica, um gesto
que minha mãe deixou passar.
"Oh, olha essa linha da vida!", exclamou ela, virando a mão da Sra.
Maxwell para examinar a palma. "Ininterrupta. Mas esta linha curiosa
aqui... hmmm... você sofreu algum acidente quando era criança?"
"Mãe, chega, ok?", insisti, pisando no pé dela por baixo do balcão.
"Sra. Maxwell, o que posso fazer por você? Uma xícara de café? U prato
de chilli?" E só assim eu percebi que tinha acabado de perguntar ao
equivalente à uma rainha se ela queria um pouco de água da torneira.
Antes que ela pudesse responder, minha mãe entrou em cena.
"Roxie, pegue para Sra. Maxwell uma xícara de chá preto, o meu
especial. Eu vou ler suas folhas de chá!" Minha mãe saiu novamente de
trás do balcão e enfiou o braço pelo da sra. Maxwell. "Vamos dar uma
olhada em nossa jukebox. Aposto que você vai conhecer todos os
antigos clássicos de seus anos de adolescência que não foram, assim
espero, desperdiçados."
Enquanto Leo e eu assistíamos a cena com nossas bocas
entreabertas, minha mãe levou a mãe dele para o velho Wurlitzer. E sra.
Maxwell, com anos de boa educação, foi junto com a minha mãe
sorrindo e acenando com a cabeça, provavelmente pensando que teria
que encarar a hippie um pouco mais antes de bater em retirada.
E justo quando elas estavam indo para um lado, Chade e Logan
entraram do outro, vindo direto para o balcão.
"O que está acontecendo?" Eu perguntei enquanto Polly fuçava
despreocupadamente os botões na manga de Leo. Quando eu olhei mais
de perto, percebi também que ele estava usando roupas muito não-Leo.
Camisa pólo branca com as mangas compridas arregaçadas. Shorts
cáqui. Olhei sobre o balcão para dar uma olhada em seus pés.
Sperrys23. "Por que você está tão formal?"

23
Ele fez uma careta. Mas antes que pudesse responder, Chade e
Logan chegaram.
"Precisamos de milkshakes, querida," Chad anunciou, afundando
no banquinho ao lado de Polly e oferecendo-lhe o punho. "Olá, Pollster,
como vai?"
Polly bateu seu punho. "Apenas conversando com Roxie. Papai, eu
também preciso de um milkshake, por favor."
"O meu pode ser de chocolate?", Perguntou Logan. "Você não tem
ideia do dia que tivemos!" Ele se inclinou sobre Chad para oferecer à
Polly sua própria saudação de punho. "Como vai, princesinha?"
"Você não tem ideia do dia que eu tive!" Ecoou Polly. "Primeiro, eu
quase derrubei minha Barbie no vaso sanitário. Então, a vovó e o papai
quase entraram numa briga sobre eu passar batom. E, embora
provavelmente aquela não seja a minha cor, ainda deve ser minha
escolha experimentá-lo, certo?"
"Eu concordo totalmente", disse Chad.
"E então...", disse Polly, sabendo que ela tinha todos os olhos sobre
ela, "...nós chegamos aqui, e o papai disse que não podia tomar
refrigerante! E agora os meninos estão recebendo milkshakes. Como
isso é justo?"
Sete anos de idade, só para lembrá-los.
Polly, Chad e Logan olharam para Leo.
"Milkshake para todo mundo, por favor, Roxie", disse ele com um
suspiro. "Você ainda tem aquela garrafa de scotch escondida lá atrás?"
"Roxie, e o chá preto? Rápido!" Minha mãe gritou da frente da
lanchonete.
Eu escapei para a cozinha, onde fui recebida com fumaça saindo do
grill: os queijos eram só fumaça, e a linguiça defumada estava
queimada além da salvação.
"O que está acontecendo?" Eu perguntei ao mundo mais uma vez, e
alguém finalmente me respondeu.
"A loucura chegou a Bailey Falls," disse Leo com voz de locutor de
filme, cruzando a porta de vaivém e tossindo um pouco com a fumaça.
Eu balancei a cabeça em concordância. "E seu nome é Mãe."
Uma vez que a fumaça se dissipou e a salsicha foi posta fora de sua
miséria, Leo estendeu a mão e levantou meu queixo em direção a ele.
"Você está bem com tudo isso, Ervilha?"
"Eu estou tentando, Almanzo. Eu realmente estou." Suspirei. Deixei
ele me puxar para os seus braços, envolvendo-os firmemente em torno
da minha cintura, e pude sentir um pouco da sua força penetrando em
mim. Descansando meu queixo em seu peito, eu olhei para ele e perdi-
me nos olhos cujos quais eu vi pela primeira vez nesta mesma cozinha,
apenas dois meses antes. Suspirei, ficando na ponta dos pés. "Um beijo
iria ajudar."
"Seu pedido é uma ordem". Seus lábios pressionaram contra os
meus, famintos e quentes.
E, quando Maxine abriu a porta perguntando onde o chá e os
milkshakes estavam, todo mundo pode nos ver.
Eu ouvi um grito e nós dois quebramos o beijo, voltando-nos para
ver a minha mãe e a dele, uma com um olhar de alegria e a outra com
um olhar de desagrado distinto.
Chad e Logan ostentavam grandes sorrisos.
E Polly. Seus olhos se arregalaram. Em seguida, se encheram de
lágrimas. Seu rosto amassou. Ela saiu de cima do banquinho, correu
para sua avó e escondeu o rosto em Chanel No 5.
As mãos de Leo se afastaram da minha pele, como se ele tivesse
sido eletrocutado. E o olhar em seu rosto... oh.
Ele saiu da cozinha sem dizer uma palavra, andou através da
lanchonete e pegou sua filha, abraçando-a enquanto ela chorava e
enquanto sua mãe tentava consolá-la também. Ele saiu do restaurante,
com os braços cheios de sua família, seus olhos encontrando os meus.
Agora eu sabia.
Ele murmurou, "Eu sinto muito." Sua mãe olhou para mim com
gelo absoluto em seus olhos.
Agora eu sabia.
Eu estava na porta da cozinha, estupefata.
Agora eu sabia... por que eles chamam de cair de amor.
Porque a queda era muito, muito ruim.

Momentos após os Maxwells saírem, quando eu estava sentada


calmamente ao lado de Chad e Logan, minha mãe me entregou o chá
que eu devia ter preparado para a mãe de Leo. Logo em seguida, o sino
da porta tilintou, e nós nos viramos ao mesmo tempo na esperança de
ver... Eu não podia dizer isso.
Um homem de boa aparência, no alto de seus cinquenta anos veio
navegando pela porta da frente, mais sal do que pimenta em seu cabelo.
Ele segurava um saco numa mão e um mapa na outra. "Eu estou
procurando Trudy Callahan. Sou Wayne Terça-Feira."
Minha mãe acariciou minha mão e fez seu caminho para Wayne,
que a beijou na boca bem na frente de todos. Jesus, todo mundo estava
beijando abertamente hoje. Como era possível que ninguém na cidade
tivesse algo melhor para fazer do que ver as pessoas se beijando?
À medida que um beijo se tornou dois, depois quatro, eu senti um
nó maldito na minha garganta e, por mais que tentasse, ele
simplesmente não descia goela abaixo.
"Sabe o que? Acho que vou sair daqui." Levantando do meu banco,
eu desatei meu avental, peguei minha bolsa debaixo do balcão e acenei
adeus para Chad e Logan.
"Você precisa de alguma coisa? Você pode vir conosco se quiser,
temos filmes, pipoca..." Logan ofereceu.
"Isso soa bom, mas eu acho-" Olhei por cima do ombro e vi
rapidamente para onde as coisas estavam indo com minha mãe e
Wayne. "Ugh. Eu só preciso sair daqui."
Porque aquele caroço na garganta, eu estava descobrindo agora,
seria rapidamente seguido por lágrimas, e elas já estavam ardendo e se
preparando para manchar minhas bochechas. Os caras me olharam
tristemente enquanto eu me dirigia para fora da porta da frente.
Minha caminhonete parecia embaçada pelas lágrimas que agora
começaram a derramar. Saltei para a gigante Wagoneer24 que tinha me
acompanhado quando atravessei o país na primeira vez, e depois me
levado de volta para casa, e quando dei partida e ouvi o velho ronco
familiar, U2 saltou estridente dos alto-falantes, cantando "One".

Is it getting better25…

24
25 ‘Esta melhorando?’ É o inicio da musica One, do U2.
Oh, Bono26!
Eu parei no acostamento da estrada e pressionei ejetar. Eu não
tinha paciência para U2 hoje, nem para a forma como suas letras
pareciam sempre destacar exatamente o que eu estava pensando,
exatamente o que precisava ser dito. Mas Bono continuou cantando,
algo sobre ter alguém para culpar27. Eu pressionei ejetar novamente.
Ainda nada. Eu pressionei ejetar uma terceira vez, e quando nada
aconteceu, soquei o aparelho de som.
Que ainda não fez nada! Bono cantou sobre me aproximar, e em
seguida precisar rastejar28, e eu dei um tapa no leitor de CD, gritando e
chorando, tentando fazer a maldita coisa parar.
E então eu ouvi um Wrangler muito familiar parando atrás de mim.
Antes de Leo chegar à minha janela, eu peguei minha bolsa e saí do
carro, seguindo a pé pela estrada.
"Hey, Roxie, onde você está indo?"
"Deixe-me sozinha, Leo," eu disse, não querendo que ele me visse
chorando, não querendo que ele visse seu rosto. Ele tinha um poder
sobre mim que eu nunca tinha sentido antes, e eu ficava tão fraca perto
dele. Estava com raiva de mim mesma por deixar as coisas chegarem
até esse ponto, e Leo sentiria o peso da minha raiva também se não se
afastasse.
"Pare, por favor – Jesus, Rox, pare agora!", Gritou ele, seus passos
fortes ecoando no asfalto quente quando ele correu atrás de mim.

26 Vocalista do U2.
27 Ainda sobre a letra de One, U2:
Is it getting better/Or do you feel the same?/Will it make it easier on you now/You got
someone to blame? / Está melhorando?/Ou você ainda sente a mesma coisa?/As coisas
vão ficar mais fáceis para você agora/Agora que você tem alguém para culpar?
28 You ask me to enter/But then you make me crawl. / Você me convida para entrar/e

então me obriga a rastejar.


Porque isso é o que acontece numa comédia romântica, certo? Ela foge,
ele persegue, ela protesta, em seguida, eles se beijam e tudo acaba bem.
Ele me alcançou e eu me virei, meu rosto molhado de lágrimas.
"Onde você pensa que está indo?", Perguntou ele.
"Eu não sei ainda. Onde está Polly?"
"Com a minha mãe. Eu as deixei em casa e depois voltei para você.
Sua mãe me disse que você tinha saído, e eu imaginei que você tivesse
saído dessa maneira. Polly está bem. Ela-"
"Polly não está bem", retruquei. “Ela não está nada bem - ela estava
chorando!"
"Rox, ela me teve todo para si mesma por sete anos. Você não acha
que me ver beijando uma mulher, especialmente uma que ela acabou de
conhecer, seria um pouco estranho para ela?"
"Você está louco? É muito estranho! Você não tem ideia do que ela
está sentindo agora!" Eu enxuguei minhas lágrimas com raiva e passei
por ele, voltando para o carro.
"O que você quer dizer? Como você pode saber o que ela- Ei, você
pode parar de fugir de mim?" Leo chamou, quente em meus
calcanhares.
"Ela está se perguntando se você vai se casar comigo. Ela está se
perguntando se eu vou chutá-la para fora de casa. Ela está se
perguntando se você vai parar de prestar atenção nela. Ela está se
perguntando se eu vou obrigá-la a comer cenouras todas as noites. Ela
está se perguntando se você vai esquecê-la um dia, porque você tem a
mim agora!"
Alcancei o carro e abri a porta, mas ele a fechou de repente antes
que eu pudesse entrar. Me virei, pura raiva que fluindo de mim agora.
"E o pior de tudo, ela está querendo saber se vai me amar, e se eu vou
amá-la de volta!"
Ele balançou para trás como se eu tivesse lhe dado um tapa.
O caroço... oh, o caroço. Eu estava me engasgando com ele.
"Você não vê, Leo? Você não pode apenas trazer uma namorada
para casa quando tem uma filha. Não é justo com ela, não é justo com
você, e certo como o inferno que não é justo comigo."
"Oh, vamos lá", disse Leo com a voz irritada. "Isso é besteira." Ele
avançou, me pressionando contra meu jipe.
Eu me afastei. "Não me diga que o que eu sinto é besteira! Não se
atreva a fazer isso! Eu não vou deixar nem você nem ninguém fazer
isso! Você me dá esse incrível verão, depois eu descubro que você tem
escondido uma filha de mim durante esse tempo todo, e então você
espera que eu acabe me tornando uma dona de casa exatamente do que
jeito que você precisa, do jeito que ela precisa, do jeito que todo mundo
aparentemente precisa? E sobre o que eu preciso?"
"Do que você precisa, Roxie? Do que exatamente você precisa? Você
diz que me deixou entrar, mas isso não é verdade. Eu ainda não sei
como você se sente sobre mim, como você se sente sobre nós. Você acha
que sabe o que eu quero? Como diabos você poderia saber algo assim
quando nem mesmo eu sei o que quero?!"
Ele arrastou suas mãos pelo rosto. "Eu quero você. Eu sei disso.
Mas como tudo vai acontecer e o que exatamente vai acontecer... eu não
tenho ideia. E se você apenas pudesse parar de fodidamente fugir de
mim e apenas deixasse isto acontecer - Cristo, Roxie!" Ele se aproximou
de mim e acariciou minha bochecha. Como era possível uma mão tão
grosseira ser também tão gentil?
Inclinei-me em sua mão, incapaz de impedir que meu corpo
respondesse da maneira que desejava.
"Apenas deixe que isso aconteça, Roxie, e nós vamos descobrir o
que fazer com o resto."
Eu queria. Verdadeiramente. Mas não podia.
"Eu tenho que ir", sussurrei, minha garganta embargada. "Com
tudo o que eu passei com a minha mãe, todos aqueles corações
quebrados - eu não posso fazer isso para você, ou para Polly." Minha
voz se quebrou. Me endireitei, em seguida, olhei-o nos olhos. "Eu não
vou fazer isso com vocês."
"Seu passado é de verdade." Ele olhou para mim com dor nos olhos,
mas com sua decisão tomada também. "Assim como o seu presente.
Assim como eu, e como todo o resto que esta bem na sua frente. E se
você estiver me deixando apenas para provar um ponto? Então eu
concordo que você deve ir - mas não pela razão que você pensa."
Sua mão acariciou minha bochecha mais uma vez, em seguida, ele
se afastou. Eu subi no meu jipe e fui embora.
Não olhei para trás. Não podia. Eu sabia que se o visse, junto com
os nossos corações quebrados e espalhados por toda a estrada
empoeirada, eu nunca seria capaz de sair.
Eu dirigi para a casa da minha mãe, joguei algumas roupas numa
bolsa, dirigi meu carro para a estação de Poughkeepsie e saltei no Metro
North em direção à Manhattan.
Eu precisava ver minha melhor amiga.
Quando eu era criança, todos se referiam à Manhattan como “A”
cidade. Nós nunca dizíamos apenas Manhattan, e certamente nunca
dissemos apenas Nova York. E embora quando criança eu tivesse
pensado que precisava ir para a Califórnia para fazer um nome para
mim mesma, eu sabia agora que A cidade era suficientemente longe, e
suficientemente grande e fabulosa para eu ser capaz de me perder nela
inteiramente.
Natalie era a cidade. Ela cresceu no centro urbano, filha de um
promotor imobiliário e uma negociante de arte. Nada mais que uma
intrometida na escola de culinária no primeiro ano, quando nos
conhecemos, ela permaneceu firme em sua ilha, saindo
esporadicamente apenas para ir aos Hamptons... quanto muito. Ela
tinha a selva de pedras totalmente arraigada em suas veias.
Surpreendi o inferno fora dela quando mandei uma mensagem da
estação de trem dizendo que estava indo vê-la, e pedindo para ela
cancelar seus planos para uma noite de sexta-feira. E agora aqui estou,
sentada no grande e confortável sofá de seu apartamento, enquanto ela
prepara margaritas no liquidificador. Como seu pai era dono de várias
moradias em Manhattan, ela era a beneficiária de um tipo muito
específico de aluguel. Ocupando o piso térreo de um edifício histórico de
três andares, o apartamento dela era do tipo que se poderia ver num
episódio da Lista de um milhão de dólares. Tetos altos, marcenaria
intrincada, sem falhas nos pisos de madeira brilhantes. O apartamento
era impressionante.
Assim como Natalie. Ela era o tipo de garota que nunca passava
despercebida, quer você gostasse de meninas ou não. Se você gostasse
de seres humanos em geral certamente ela chamaria sua atenção. Ela
era escultural até desarrumada e de pés descalços. Ela nunca ficava
descalça, entretanto, preferindo os mais recentes e mais altos saltos da
moda. Com o cabelo louro morango, ela era como uma supermodelo, e
tinha a boca mais suja da qual já se ouviu falar na terra. Ela poderia
até mesmo fazer um marinheiro corar, apenas para logo em seguida
grudar nela tentando conseguir uma chance. Ela era descolada, sempre
a primeira a fazer uma piada ou uma proposta indecente, que nunca
era recusada.
A menina personificava curvas, tendo uma figura de ampulheta
natural com um extra ou dois em cada extremidade. Eu realmente já vi
homens quase baterem seus carros quando ela caminhava pela rua.
Ela comandava todos os ambientes em que estava sem sequer
tentar. E era sempre a mesma, fosse em casa comendo pizza ou num
restaurante mais chique pedindo vinhos caros.
Ela namorou políticos e policiais, artistas e bombeiros, um
açougueiro, um padeiro e, embora não tecnicamente, um fabricante de
velas. Um dos caras que ela namorou, inclusive, era o presidente da
maior empresa fornecedora de lanternas na Costa Leste. Ela nunca teve
seu coração quebrado - ela era aquela que quebrava corações.
Depois de seu primeiro ano como estudante de culinária, ela tinha
se matriculado na Universidade de Columbia e se formado em
publicidade, e agora estava abrindo seu próprio caminho numa das
mais quentes empresas de publicidade da cidade. Ela trabalhou com
empresas da Fortune 500, montou campanhas que todos conheciam, e
provavelmente você cantarolava a canção de um comercial que ela
criou.
Além disso, ela fazia uma margarita fodidamente assassina.
"Explique-me isso", disse ela, tirando a tampa do liquidificador e
derramando o líquido espumoso e maravilhoso em dois copos. "Ele é
lindo."
"Até demais para seu próprio bem."
"E vocês tem química?"
"Até demais para o nosso próprio bem", gemi, me jogando de barriga
para baixo numa almofada. Eu podia ouvi-la clicando seu caminho até
onde eu estava. Ouvi o barulho de um copo, em seguida, o som de sua
parada na minha frente.
"E o sexo?"
Eu bombeei meus quadris para cima e para baixo na almofada.
"DE. DESLIGAR. O. CÉREBRO".
"Então, eu não vejo o problema aqui." Eu podia ouvi-la saborear sua
bebida. "Além disso, esse sofá foi muito caro, então pare de fodê-lo."
Sentei-me e fiz uma careta para ela. "Ele me quer para, tipo... estar
com ele."
Agora, uma declaração como essa para qualquer outra pessoa teria
resultado num sarcástico ‘Oh, pobrezinha’. Mas ela entendia. Ela
realmente me conhecia. E conhecia minhas merdas.
"Eu estava mesmo imaginando por que de repente você correu para
a cidade...", disse ela. "Não que eu não esteja feliz por você estar aqui."
A campainha da porta soou. "Graças a Deus, estou morrendo de
fome." Enfrentando o travesseiro novamente, eu fui incapaz de livrar-me
da visão de Leo parado no meio da estrada. Esperemos que a comida
extra picante me ajudasse a limpar essa cena da minha memória. Só na
cidade que você poderia solicitar a entrega de fast food indonésio.
"Por que diabos ela está sufocando no seu sofá?" Ouvi uma voz que
não pertencia nem remotamente a um entregador.
"Clara?" eu disse, levantando minha cabeça e vendo a nossa outra
melhor amiga de pé na porta com uma pequena mala de rodinhas e um
grande sorriso.
"Ela disse que você finalmente colocou sua bunda num trem para
vir para cá, então eu tive que vir também!"

"Minha boca está queimando. Eu acho. Ela ainda está onde


costumava ficar?", perguntou Natalie.
"Por que você pede comida picante se não pode lidar com isso?",
perguntou Clara de seu poleiro no braço do sofá. Ela engolia uma tigela
de frango com curry que eu não podia nem experimentar, e eu tinha um
paladar muito forte. Ela inclinou-se à beira de sua tigela e sorveu o
resto do molho, estalando os lábios.
"Eu amo isso. É picante, mas eu adoro.", respondeu Natalie,
movendo-se em direção à cozinha e verificando o seu reflexo no espelho.
"Veja quão inchados meus lábios estão! É como preenchimento labial!"
Enquanto ela se admirava, eu rolei para Clara no sofá. "Eu ainda
não posso acreditar que você está aqui."
"Eu precisava de uma desculpa para sair de Boston pelo fim de
semana; as coisas estão positivamente obsoletas lá agora." Ela olhou
para a minha tigela de laksa. "Você vai terminar isso?"
"Estou cheia. Pode pegar." Quando eu passei-lhe minha comida,
fiquei maravilhada que alguém realmente pudesse comer tanto e nunca
engordar.
Clara e Natalie não poderiam ser mais diferentes, e eu me
perguntei, não pela primeira vez, se nos tornaríamos amigas da mesma
forma se não tivéssemos todas longe de casa pela primeira vez.
Clara era pequena e atlética, com uma figura quase juvenil. Uma
corredora de longa distância desde o colegial, ela caminhava com um
poderoso passo. Ela tinha um fundo fiduciário que lhe caiu bem
enquanto competiu em maratonas e triatlos em todo o mundo. Com o
cabelo louro cortado curto e olhos caramelos, ela era uma beleza
tranquila.
A mais viajada do nosso trio, Clara tinha um trabalho que a maioria
das pessoas invejava, mas que poucos podiam realmente fazer. Depois
de deixar a escola de culinária, ela se matriculou num prestigiado
programa de gestão hoteleira em Cornell. Ao invés de gastar suas noites
e fins de semana trabalhando na recepção do Marriott Brookline,
porém, ela transformou seu olho afiado e mente analítica numa posição
maravilhosa com uma agência de marcas em Boston. Ela agora ajudava
hotéis nos Estados Unidos e no exterior a voltar a andar com seus pés,
e era especialista em antigos hotéis históricos. Assim sendo ela viajava
quase sem parar, e às vezes passava semanas num mesmo local.
"Obsoletas? Por quê? O que está acontecendo?" Eu perguntei
enquanto ela comia os últimos pedaços de comida.
"Eu realmente não sei. O trabalho apenas parece um pouco fora no
momento. Podem haver algumas mudanças as vezes, e isso acaba
causando uma vibração estranha. Estou saindo da cidade no próximo
mês, no entanto, e vai ser bom."
"E para qual cidade glamorosa você está indo agora? Londres?
Amsterdam? Rio?"
"Orlando." Ela suspirou. Em seguida, arrotou ligeiramente, pedindo
desculpas com um sorriso tímido.
"Orlando? Isso é um pouco... diferente para você", respondi,
franzindo as sobrancelhas.
"É um pouco horrível para mim. O que diabos eu sei sobre ratos
mágicos?", ela bufou, empurrando a tigela para longe e acariciando sua
barriga inexistente.
"Qual o problema com um rato mágico? Não é igual um coelho?"
Perguntou Natalie, voltando da cozinha e sentando no chão na minha
frente.
Clara olhou para os lados. "Não, isso-"
"Porque, deixe-me dizer, nada bate um coelho29. Não é uma mão,
não é um pau, nem mesmo aqueles pequeninos de controle remoto que
se encaixam bem dentro de sua calcinha. Nada bate um coelho." Natalie
fez uma pausa. "Apesar de uma língua chegar bem perto."
"Tem que usar a língua direito, no entanto," Clara interrompeu. "E
ela tem que estar no rosto certo, também."
"Nem sempre. Algumas das melhores transas que eu já tive foram
com caras feios. Aquele cara que eu saí do ano passado, que trabalhava
em South Street Seaport? Feio como uma pá, mas puta merda, ele

29 Aqui ela esta se referindo a um tipo de vibrador. Anteriormente, quando elas estavam
falando de ratos, era uma referencia ao Mickey Mouse, dos parques da Disney, que ficam
em Orlando.
poderia dar uma lambida fantástica", disse Natalie, examinando as
unhas. "Quero dizer, alguns caras só vão pra baixo e, tipo, dentro, fora,
dentro, fora e pronto. Mas outros são tão bons que é quase demais! E
você fica como, ‘olá, eu só gozei, como, onze vezes seguidas’. Mas eles
seguem em frente, e poderiam manter essa merda durante toda a noite.
Eu juro, alguns caras apenas vivem para fazer isso, 24∕7; eles não são
felizes a menos que tenham as coxas de uma mulher enroladas em
torno de sua cabeça e a língua ocupada. Eu sempre me perguntei,
quando você aperta as coxas em torno da cabeça do cara, você sabe,
pouco antes de explodir completamente... será que os ouvidos do cara
em questão ficam tipo como quando um avião atinge a altitude de
cruzeiro? E quando você finalmente solta, será que eles fazem um pop?"
Ela olhou para cima para encontrar Clara e eu olhando para ela.
Ela disse tudo isso num só fôlego, por sinal. "O quê?"
Silêncio. Então, "Fazer pop nos ouvidos?" Clara repetiu.
"Oh, por favor, como se você nunca tivesse se perguntado isso!"
"Nat, posso dizer honestamente que nunca na minha vida eu me
perguntei sobre isso", eu disse, jurando com a mão no meu peito.
"Ah, então você nunca fez Leo quase desmaiar? Não me admira que
você fugiu de lá então", disse Natalie em simpatia.
"Não, não, isso não é nada do que eu disse. Leo é-"
"Leo é o fazendeiro do qual ela me falou?" Clara perguntou a Natalie,
que assentiu.
"-maravilhoso na cama. Incrivelmente incrível. Não tenho queixas.
Mas-"
"Sim, o fazendeiro Leo Maxwell, que aparentemente prestou mais
atenção à sua e-ee-ee- ee em vez de fazê-la gritar o mais importante oh!"
Natalie respondeu, olhando para Clara de forma conspiratória.
"Isso não é verdade! Leo me fez dizer muitos e muitos ohs, o tempo
todo oh, sem escalas ohs, e-"
"Espere, espere, espere, você disse Leo Maxwell? O fazendeiro da
Roxie é Leo Maxwell? Louro? Trinta anos, mais ou menos? Sexo de
matar num silo?", perguntou Clara, desastradamente procurando pelo
seu telefone.
"Sim, ele é loiro, e nós não tivemos relações sexuais num silo, mas
estávamos num silo quando ele lambeu minha espinha e-"
Natalie interrompeu, "Boa, Leo! Será que ele continuou lambendo
até chegar a sua-"
"Ok, cale a boca. É este o seu Leo?", perguntou Clara, empurrando
o telefone na minha cara.
Oh sim. Esse era o meu Leo. A foto mostrava um Leo mais
cosmopolita do que eu estava acostumada a ver, mas mesmo nesta
imagem granulada era possível ver como ele era lindo. Ele estava saindo
de uma limusine, vestindo um terno preto perfeitamente alinhado ao
seu corpo forte e magro. Seus impressionantes olhos verdes estavam
afiados, calculando, avaliando. Passei para a próxima imagem. Outra
foto do Leo urbano, este em frente a um contexto publicitário em algum
tapete vermelho. Talvez de arrecadação de fundos? Desta vez ele estava
vestindo um terno cinza, parecendo todo menino rico.
Mas mesmo que eu pudesse apreciar essas imagens, na minha
mente ele sempre estaria mais bem vestido com jeans gasto, uma
camiseta de banda estilo vintage, duas semanas de barba, que se sentia
incrível sobre a pele macia entre as minhas coxas, e o verde amável em
seus olhos. Um sorriso fácil. Pacífico e feliz e tão satisfeito em seu
mundo. O Leo urbano obviamente tinha boa aparência, mas eu preferia
o Leo do campo.
Voltei para a conversa, onde Natalie e Clara estavam falando
animadamente.
"Então, espere, ele deixou New York quando-"
"Exatamente, depois que o bebê nasceu. Ela desapareceu e então
ele desapareceu. Ele se foi e depois disso não há fotos, nem viagens,
nem nada - ele se concentrou com tudo que tinha em ressuscitar aquela
fazenda", disse Clara.
Eu pisquei. "Ok, espere. Vocês duas conhecessem Leo?" Perguntei,
confusa.
"Eu sei quem ele é, mas não conheço. Já tinha ouvido falar dele, é
claro. Só nunca coloquei dois e dois juntos, que Leo Maxwell era o seu
fazendeiro Leo", disse Natalie, deitando de costas no chão e chutando as
pernas no ar. "Não tem ninguém nesta cidade que não conheça Leo
Maxwell. Todo mundo estava tentando pegar aquele cara – e que cara!"
"Sério, Roxie, ele era um jovem playboy até conhecer Melissa. E
uma vez que ela afundou suas garras nele, acabou. Ninguém nunca
soube realmente o que aconteceu; só que eles estavam juntos, que ela
estava grávida e então houve um rumor de que eles iam se casar. Em
seguida, eles não estavam mais juntos, e depois que o bebê nasceu ele
levou sua filha e se mudou para o norte do estado. Ela ainda ficou em
torno da cidade por um tempo, mas finalmente partiu para a Europa.
Eu acho que ela se casou com um cara russo. Não faço ideia do que
aconteceu entre ela e Leo, no entanto."
Eu sabia o que tinha acontecido. Leo tinha me contado essa
história. E eu acho que algumas das pessoas em Bailey Falls também
sabiam o que tinha acontecido, ou adivinharam algo do gênero. Porque
ninguém realmente nunca falou sobre Polly. Não que ela fosse um
segredo, mas eles eram...
Protetores? De ambos?
Sim. Pode ser. Pequena cidade, cuidando dos seus próprios.
Não é de admirar que Leo quisesse que sua filha fosse um rato do
campo.
"Por favor, me diga que você e Leo nunca saíram," eu disse, olhando
para Natalie.
"Não, eu nunca o conheci. Embora eu provavelmente tivesse me
aproveitado, se o conhecesse. Ei, o quão estranho seria isso?" Ela riu,
rolando para o lado e olhando para mim com cuidado. "Se eu tivesse
dormido com o cara pelo qual você esta apaixonada."
"Ei, quão estranho seria se batesse em você até que você estivesse
morta?", respondi.
Natalie e Clara rolaram em risos, mas tudo em que eu conseguia
pensar era em Leo.
E no fato de que, quando Natalie disse que ele era o homem por
quem eu estava apaixonada, eu não tinha corrigido-a.
Merda.

Naquela noite algo específico me manteve acordada em vez da


habitual insônia. Eu pesquisei sobre o Leo após a conversa com as
meninas, e eu já tinha passando das duas da manhã olhando para uma
fatia de sua vida que tinha sido capturada por fotos publicitárias.
Este era um Leo que eu não conhecia. Ele parecia mais desapegado,
de sangue fresco e muito nobre. Não vi nada do Leo que eu conhecia.
Que preferia andar num jipe aberto do que num carro chique da
cidade. Que preferia ter as mãos cheias de terra de cheiro doce do que
de martinis. Que ficava feliz por causa de uma cesta de ervilhas. Que
fazia amor carinhosamente, rudemente, rapidamente ou lentamente,
sempre me fazendo ofegar e gemer conforme a necessidade do
momento. Que estava vivendo a vida ao máximo, porque era uma vida
que ele tinha criado exatamente do jeito que queria, e à qual ele não
viveria para ninguém além de sua filha.
Me revirei durante a maior parte da noite, me perguntando se eu
tinha tomado uma terrível decisão ao deixar Bailey Falls da maneira
que fiz.

"Café. Eu exijo café", eu murmurei enquanto nós tecíamos nosso


caminho numa já lotada 17th Street.
"Nós já vamos conseguir café, não se preocupe. Nós só precisamos
chegar lá primeiro, antes que fique muito cheio."
"Quando Natalie começou a levantar da cama tão cedo numa
manhã de sábado?" Clara sussurrou para mim.
"Ou melhor, quando ela começou a se preocupar sobre da onde sua
comida vem?" Sussurrei de volta.
Natalie se virou para fazer uma careta para mim. "Eu ouvi isso", ela
cantarolou.
"Eu não estava tentando esconder!" Cantarolei de volta.
"Sério, Nat, qual é a pressa? Não me lembro de alguma vez você já
ter estado tão preocupada em comprar produtos frescos da fazenda -
apesar de eu entender as vantagens de comer produtos frescos locais
tanto quanto possível."
"Agora, quando você diz ‘comer produtos frescos locais’, eu suponho
que você está se referindo ao Leo desfrutando de uma viagem a cidade?"
Natalie respondeu com um sorriso, levando-nos para a desordem do
Union Square Greenmarket30.
Clara riu. "Você tem uma mente obsessiva por sexo."
Eu não ri. Eu estava pensando sobre os olhos de Leo enquanto ele
me observava, quando fazia, de fato, uma viagem ao centro da minha
terra. E eu quase gozei ali mesmo só de pensar nisso.
"Eu tenho uma mente multi obsessiva", disse Natalie. "Eu apenas
me certifico de que uma dessas obsessões seja sempre sobre sexo com
rapazes que gostam de comer um pedaço."
Um homem muito bonito que estava andando ao mercado dos
fazendeiros com um saco cheio de folhas verdes deu uma dupla
checada em Natalie, em seguida, uma volta completa. Será que ele era
ciente de que estava inclusive lambendo os lábios?
Natalie não percebeu, ela estava numa missão. Ela consultou um
mapa, alisou o cabelo já perfeitamente bagunçado e decolou para o
mercado.
"Hey, hey! Podemos, por favor, tomar um café antes de estocar seus
mantimentos, de repente, tão importantes?", perguntei.
Ela diminuiu a velocidade. Um pouco. "Sim, sim, há uma tenda ao
virar da esquina de onde eu vou. Podemos tomar um café ali depois."
Eu não tinha estado aqui em anos, e o lugar estava cheio. Tenda
após tenda estava lotada com belos produtos: ovos, aves, carnes e
flores, tudo que você poderia pedir. Muitas das barracas eram
provenientes de explorações agrícolas no Vale do Hudson, e eu me
perguntei se a Fazenda Maxwell tinha uma barraca aqui. Se tivesse, eu
realmente gostaria de ter escovado meu cabelo antes de sairmos.

30 Feira de produtos de NY.


"Deixe-me ver o mapa", perguntei, e ela entregou-o para mim.
Rapidamente examinei a lista de produtores e dei um suspiro de alívio
quando a fazenda de Leo não foi mencionada.
Quando nós andamos até o fim da primeira fila, Natalie de repente
abrandou, pegou o saco de linho que trouxe e começou a... pavonear.
Eu conhecia isso muito bem. Eu fiquei atrás dela em muitos clubes
e restaurantes quando ela estava à espreita. Algo que ela mencionou
numa chamada semanas atrás borbulhou na minha memória, e eu
percebi exatamente o que estava acontecendo.
"Você vem até aqui no início da madrugada de sábado para
espreitar algum fazendeiro bonito?", perguntei.
Ela girou ao redor. "Eu não sei do que você está falando", disse ela,
com os olhos arregalados e inocentes.
"Você tem tesão por um agricultor também? O que diabos está
acontecendo? Quando foi que o Velho McDonald se tornou o novo
arquétipo de Cara Quente?" Perguntou Clara, com o rosto cheio de
diversão.
"Para ser clara, ele não é um agricultor; ele é o cara dos laticínios.
Ele tem um monte de vacas do norte do estado e faz o melhor triplo-
creme brie31 que eu já provei. Ele derrete na boca." Natalie suspirou,
arqueando as costas. Eu diria que inocentemente, mas a verdade é que
ela sabia muito bem o quão bem essa arqueada fazia seus seios
parecerem. O cara que estava andando conosco desde que chegamos
realmente engasgou.
"Você quer dizer que o brie dele derrete na sua boca, certo?",
perguntei, arqueando minha sobrancelha.
"Bem", disse ela com um brilho nos olhos. "Por agora."
"Oh boy", respondi enquanto ela partia novamente.
31 Tipo de queijo.
E imagine minha surpresa quando ela desfilou direto para a
Queijaria Bailey Falls, dirigida por ninguém menos que...
"Oscar? O cara leiteiro quente é o Oscar?", exclamei.
"Do que você está falando?", ela perguntou, indiferentemente
olhando para um expositor de manteiga caseira. Nós estávamos na
beira do curral, cercadas por lindas cunhas de queijo, leite fresco bonito
e engarrafado em vidro e sim, um pouco de manteiga bastante deliciosa.
E atrás do balcão, uma cabeça mais alto do que todos os outros,
estava Oscar. O vizinho de Leo, vencedor do prêmio Conversador do Ano
de Bailey Falls, e o homem que fazia as bochechas de Natalie corarem.
E mais ninguém fazia isso.
"Eu o conheço; ele leva suas vacas para pastar na terra de Leo às
vezes."
"Eu estou indo buscar um café," Clara anunciou.
Eu fui ficar ao lado de Natalie na fila, com seu ‘brie derretedor na
boca’.
"Então o nome dele é Oscar?"
"Mmm-hmm, e isso é tudo que eu sei sobre ele. Ele é muito-"
"Intenso? Misterioso?"
"Não-verbal."
"Mmm." Seu gemido gutural fez vários homens - e três mulheres -, a
encarar com luxúria nos olhos. "Ele é do tipo forte e silencioso, eu
sabia!"
"Então, há quanto tempo esse flerte de queijo está acontecendo?",
perguntei quando a fila se moveu para frente.
"Tenho vindo aqui por um tempo agora. Você sabe o quanto eu amo
meu queijo".
Eu sabia. Foi o seu amor por queijo que a fez se matricular numa
escola de culinária.
Todo mundo tem um sonho secreto, uma vida insatisfeita que se
imagina viver se ganhasse na loteria. Parariam seu trabalho e...
...navegariam ao redor do mundo.
...abririam um resort de luxo nas Maldivas.
...cantariam na Broadway.
E no caso de Natalie... tornar-se-ia uma queijeira.
Sério. A mulher que vivia em táxis amarelos e concreto queria fugir
de tudo isso, simplificar tudo, usar cardigans e fazer queijo.
Ela ameaçava fazer isso pelo menos duas vezes por ano, geralmente
quando alguma campanha publicitária a tinha atada em nós e pronta
para gritar. Mas então ela se lembrava dos bailes arrecadadores de
fundos e luxuosos no Guggenheim, da magia do Central Park em
outubro, da entrega em casa de comida Malasiana a qualquer hora do
dia - e se lembrava de porque nunca deixaria sua cidade.
Mas a menina ainda amava queijo, isso era certo.
"Alguns colegas de trabalho vinham comentado sobre este novo cara
do queijo no mercado nos sábados, então eu tive que verificá-lo.
Primeiro meu paladar se apaixonou, e, em seguida foi a vez dos meus
olhos quando eu dei uma olhada nele. Quero dizer, ele é lindo, não é?"
Disse ela, deslizando seu braço no meu cotovelo a medida que nos
aproximávamos.
"Ele é, totalmente", concordei, assistindo Oscar interagir com seus
clientes. Leo era todo sorrisos e ‘oi tudo bem?’ com seus clientes,
lembrando seus nomes e os nomes de suas crianças, de qual fruta eles
mais gostavam...
Oscar? Ele praticamente grunhia, atendendo pedidos com eficiência
e não muito mais.
Lindo, sim. Amigável? Hum...
"Como você o conheceu?", Perguntou Natalie, cor colorindo suas
bochechas conforme nos aproximávamos da barraca de Oscar. Ela
estava batendo no meu braço de uma forma quase nervosa, movendo o
peso de um pé para o outro como se não pudesse evitar.
"Não é bem assim. As poucas vezes que o vi eu mal disse... - Oi,
Oscar! Como você está?" Gorjeei, colocando meu rosto de jogo.
Ele olhou maliciosamente para mim. A pele de Natalie começou a
queimar; eu podia senti-la se aquecendo ao meu lado.
"Então, hum, você vem toda semana para a cidade? Eu não sabia
que a indústria do leite tinha um estande aqui. Isso é ótimo!"
Mais uma olhada.
"Então, essa é minha amiga Natalie, ela ama seu brie. Certo, Nat?
Hey-Natalie?"
Minha amiga, que podia desviar um sacerdote do bom caminho,
tinha absolutamente congelado. Poderia ter virado um manequim, por
toda a vida que restava nela.
Oscar tirou os olhos dos meus e olhou para Natalie. Ele lentamente
observou-a, tomando seu tempo enquanto a examinava da cabeça aos
pés, em seguida, focando em sua boca. Que estava comprimida numa
linha apertada, seus lábios quase brancos com tensão. Ele finalmente
olhou nos olhos dela, e o crepitar de tensão entre eles me fez sentir um
pouco tonta.
Sob os olhos, ele estava vivo. Mas ainda não tinha dito nada.
Exceto...
"Brie?" Sua voz era mais profunda do que a que eu tinha ouvido
antes, arranhada e grossa.
Natalie apenas balançou a cabeça. Ele embrulhou uma peça,
inclinou-se para colocá-lo em frente a ela e mudou-se para o próximo
cliente.
Feitiço quebrado, Natalie voou até o caixa, pagou por seu queijo e
continuou se afastado de Oscar, andando para longe da Queijaria.
Andei até ela e puxei seu braço. "Que diabos foi isso?"
"O quê?", perguntou ela, toda calma e composta novamente. Ela
jogou o cabelo sobre o ombro e ficou ereta e alta, bonita e sob controle
mais uma vez. Clara estava vindo em nossa direção com cafés, e os
olhos de Natalie me pediram para não comentar.
"Nós vamos rever isso", eu disse, e ela balançou a cabeça. A única
maneira de alguém saber que ela tinha uma queda assassina por
Oscar, o ogro, era a flor de cor ainda manchava suas bochechas, e o
pequeno sorriso secreto que estava brincando em seus lábios.
E eu vi Oscar se inclinado para fora de sua tenda para apreciar a
magnífica visão que era a parte traseira de Natalie enquanto ela
rebolava à distância.
Nós andamos do mercado até em casa, Clara tendo seus passos
medidos habituais, Natalie parecendo deslizar no ar e eu me
arrastando. Já estava uns 27 graus bem antes do meio-dia, e ficaria
ainda mais quente. Numa cidade feita de aço e concreto, era como estar
num forno.
Apesar do calor, no entanto, as pessoas estavam fora de suas casas,
andando rápido e propositadamente. Parecia que todos andavam num
mesmo fluxo e direção, e quando vinham de direções opostas o
resultado era uma dança com um boxeador. Segurei três sacolas no
peito antes de finalmente começar a andar atrás de Natalie que, em
seus saltos, se destacava na multidão.
A cidade parecia como um ser físico, envolvendo-me quente e grosso
como um cobertor de lã. E isso não era exatamente o que eu queria nos
dias de cão do verão.
E o cheiro! Era dia de coleta de lixo, então milhares e milhares de
sacos de plástico estavam empilhados no meio-fio da calçada, a três ou
quatro pés de altura em alguns lugares, já que a cidade tinha sido
construída essencialmente sem becos. E no calor do verão, o cheiro
tendia a ser insuportável.
Quanto disto poderia ser compostado?, me perguntava enquanto
prendia a respiração quando passávamos pelas pilhas maiores. Quanto
disto poderia ser doado e trabalhado numa cobertura rica de nutrientes
que poderiam aumentar jardins de verão e campos de inverno?
Leo poderia descobrir isso, ele o faria... thunk! Esquivando-me de
mais uma pessoa que tinha a intenção de chegar a algum lugar cinco
minutos mais cedo do que todos os outros, fui empurrada contra a
parede de lixo, protegendo-me com meus braços para evitar cair de
cabeça numa montanha de dejetos bruta.
"Oh meu Deus, Roxie! Você está bem?" Clara me puxou de volta na
hora certa.
"Pau pequeno!" Falei depois que o cara me bateu com o ombro. Ele
nem sequer fez uma pausa, não parou nem para se certificar de que eu
estava bem.
Eu estava quente e pegajosa com suor, meu nariz estava cheio com
o cheiro do lixo e eu podia sentir meu estômago dando um estrondo de
aviso. "Merda", repeti para mim mesma. "Estou bem, obrigada."
"Quer que eu bata nele? Eu posso pegá-lo", disse Clara, saltando
levemente sobre seus pés.
"Não, não", eu disse, puxando a minha camiseta e tentando obter
um pouco de ar. De repente tudo parecia muito perto: o ar, minhas
roupas, as pessoas, mesmo as minhas amigas. Era tudo demasiado
alto, demasiado apertado. Minha garganta apertou e uma protuberância
curiosa se formou no fundo da minha garganta quando eu percebi com
grande surpresa que estava com saudades de casa. De Bailey Falls.
Da paz e da tranquilidade, do bom ar do campo, dos conhecidos
intrometidos, das áreas de natação e do vento através das árvores. Das
colinas cobertas de pequenos e engraçados galinheiros, dos morangos
doces e, oh meu Deus, eu queria o Leo e cada coisa que vinha com ele.
Tudo.
"Parece que você esta ficando doente." Natalie varreu meu cabelo
para trás do meu rosto.
"Qual é o caminho mais rápido para a Grande Central?", Perguntei,
cavando na minha bolsa para encontrar meu telefone. Morto. Droga.
Isso é o que acontece quando você corre para a cidade sem uma mala.
Eu estava usando as roupas de Clara hoje, pelo amor de Deus.
"Espere, o quê?", perguntou Natalie.
"Eu estou voltando para casa. Metro North corre todo dia, certo?"
Perguntei freneticamente.
"Mmm-hmm." Ela levantou a mão e chamou um táxi
imediatamente. "Grande Central", disse ao motorista.
"Obrigada, eu tenho que ir. Vou enviar-lhe as suas roupas." Eu
disse à Clara, entrando no táxi e imediatamente me sentindo melhor.
"Onde você vai?", ela perguntou.
Natalie segurou a mão de Clara. “Eu vou te explicar tudo depois”,
respondeu.

Estação Riverdale.
Estação Ludlow.
Estação Yonkers.
Conforme o trem acelerava rumo a Estação Hudson, era como se
tudo fosse subitamente clicando no lugar, como um jogo de Tetris
gigante onde cada peça estava finalmente encontrando sua casa.
No momento em que eu decidi que não queria mais estar nessa
cidade grande, meu coração se abriu e começou uma longa viagem para
uma cidade pequena - minha pequena cidade. Para mosquitos e chá
doce, para pés descalços e suaves colinas que levaram a picos
escarpados. Para piscinas de águas cristalinas e lagos glaciais. Para
vizinhos intrometidos, garçonetes irritadiças e ex-zagueiros doces. Para
mães hippie esquisitas que faziam se apaixonar parecer fácil e
maravilhoso, mesmo quando não era, e que sempre faziam com que
suas filhas comessem a quantidade adequada de fibras.
Para um fazendeiro que gemia quando gozava e sorria quando eu
gozava.
Para um fazendeiro que me queria desesperadamente, mas que
vinha como um conjunto já completo - um conjunto que eu tentaria
nunca ficar no meio, mas que ficaria honrada em compor algum dia.
Estação Irvington.
Estação Tarrytown.
Estação Philipse Manor.
Comecei a listar todas as razões pelas quais eu acreditava não
querer voltar para casa e viver uma vida de cidade pequena como a
minha mãe.

1. Você não quer administrar o restaurante da família. Mas eu já


ministrei o restaurante da família. Eu não queria continuar a fazê-lo
para sempre, mas não foi tão ruim como eu sempre pensei que seria.
2. Você acha que cidades pequenas são pequenas por uma razão, no
âmbito e no tamanho. O tamanho era pequeno, mas eu tinha aprendido
neste verão que ser pequena não era sinônimo de ser limitada.
3. Não existem oportunidades apaixonantes em Bailey Falls para
uma chef de formação clássica que não quer trabalhar num ambiente de
restaurante tradicional. Picles zumbi. Aulas de geleia. Oportunidade em
potencial no Bryant Mountain House. E a ideia que surgiu no quatro de
julho: um food truck Airstream.
4. Se você não voltar para Los Angeles e refazer sua carreira depois
do desastre com o chantilly-manteiga, Mitzi e suas cadelas ganham. Este
era mais difícil. Será que L.A. e suas madames me venceram? No pior
dos cenários... sim. Mas, e daí?

Esse ‘e daí’ era a parte mais difícil. Eu nunca tinha me esquivado de


uma luta. Mas não era possível começar uma luta se um dos lados não
estivesse disposto a participar, certo? Eu sempre me perguntaria o que
teria acontecido... Mas quem nunca olhou para trás e se perguntou
sobre decisões passadas? A pergunta era: eu poderia viver sabendo que
Mitzi St. Renee e suas amigas magrelas tinham ganhado?
Estação Cortlandt.
Estação Peekskill.
Estação Manitou.
Em algum lugar entre Manitou e Garrison, eu tive uma súbita
percepção: alguém como Mitzi St. Renee sempre vence. E você não pode
viver sua vida lutando contra as expectativas de todo mundo. E às vezes
o dado era viciado, e as pessoas com poder sobre a sua carreira eram
idiotas, e não havia nada que você pudesse fazer sobre isso.
Animada pela primeira vez em muito tempo, me sentei e empurrei
meu pé direito contra o chão, como se isso fosse acelerar o trem ao
longo do caminho. O Hudson brilhava azul à minha esquerda, veleiros e
caiaques pontilhando sua superfície. Enormes casas no alto do vale
compartilhavam a vista deslumbrante com as menores e mais simples.
Pitorescas cidades com estações de trem minúsculas, à fácil
distância da cidade mais grandiosa do planeta, cheias de pessoas que
optaram por viver há um mundo de distância... todas ficavam há
apenas uma hora do Hudson. As luzes brilhantes e o ritmo acelerado
estavam perto o suficiente se você precisasse deles, mas longe o
suficiente se você quisesse.
Meus pensamentos dançavam, enxergando infinitas oportunidades
que eu nunca tinha me incomodado de ver - especialmente uma
oportunidade bastante especifica com um certo fazendeiro e sua filha.
Eu só esperava que essa oportunidade ainda estivesse disponível para
mim.
O trem parou na estação de Poughkeepsie.
Eu saí. E fui direto para a fazenda.

Quando cheguei na Fazenda Maxwell eu estacionei, corri para


dentro do celeiro principal e comecei a procurar pelo alto e magro corpo
do Leo em todos os lugares. Eu pensei tê-lo visto quando uma camiseta
vintage veio ao virar da esquina, mas acabou por ser um dos seus
estagiários.
As pessoas que me conheciam e sabiam da minha relação com Leo
disseram olá para mim e, a julgar pela forma como me
cumprimentaram, eles sabiam que eu tinha deixado-o em pé no meio da
estrada. Eles eram protetores. Eu entendia isso.
Fui para a loja de fazenda, mas nenhum Leo. Verifiquei o celeiro, o
silo e também a cozinha nos fundos. Sem Leo.
"Procurando pelo meu pai?" Ouvi atrás de mim e me virei para
encontrar Polly sentada num carrinho de mão, separando pacotes de
sementes.
"Estou, sim. Como está, Polly?" Perguntei, ajoelhando-me.
"Como você está?", Perguntou ela incisivamente. Eu me lembrei que
ela tinha apenas sete anos de idade. Mas, com base nas minhas ações
ultimamente, provavelmente anos a minha frente emocionalmente.
"Ouvi dizer que você foi embora."
"Você ouviu, hein?", perguntei, encolhendo-me um pouco. "Estou de
volta, no entanto. Eu só fui para a cidade por um dia ou algo assim."
"Você quer dizer Manhattan?"
"Exatamente. Você já esteve lá?"
Ela ficou remexendo nos pacotes de sementes, e finalmente
respondeu: "Já, é bom. O apartamento da vovó é bonito, e você pode ver
muito longe lá do alto! É divertido correr para cima e para baixo dos
corredores e andar no elevador, mas ela ficou louca quando eu apertei
todos os botões."
"Oh, eu aposto. Eu fiz isso também uma vez, quando era criança".
"E eu gosto de ir aos museus, especialmente as exposições de
dinossauros. Mas..."
"Mas?"
"Mas eu gosto muito mais daqui. Papai cresceu na cidade, você
sabe."
"Eu sei." Respondi, observando-a olhar atentamente para mim.
"Ele adora isso aqui. Ele diz que nunca vai sair daqui para viver em
outro lugar."
Engoli em seco. "Isso é muito bom, não é?"
"Eu vi você beijar meu pai." Ela olhou para mim, sem piscar.
Eu pisquei. Muito. "Hum, sim. Você viu. Foi estranho?"
"Sim, a princípio foi. Mas agora, eu acho..."
Prendi a respiração.
Ela colocou alguns dos pacotes virados para cima, dispostos como
uma casa cheia de vegetais.
Leo teria grandes problemas com essa menina quando ela
crescesse. Eu sorri, esperando que pudesse ficar por perto para ver isso
acontecer.
E o meu sorriso era tudo que ela precisava.
Ela sorriu de volta, e o rosto pensativo ficando brilhante. "Eu estou
indo ver os porcos. Papai está no pomar de maçã."
E então ela saiu, correndo desordenadamente em todo o campo.
E eu sai correndo para o pomar.

Parei junto ao jipe de Leo e olhei através das fileiras de árvores,


procurando por ele. Pensei ter visto alguma coisa se mexendo várias
linhas abaixo, então entrei no pomar e fiz meu caminho em direção a
ele.
Enquanto eu caminhava, me dei conta de duas coisas.
Uma: minha pele estava formigando. Eu estava animada para vê-lo!
Eu queria ver seu rosto, beijar seus lábios, segurá-lo perto, ouvir a sua
voz no meu ouvido e sentir suas mãos na minha pele, depois que eu
dissesse a ele 'eu estou aqui para ficar se ainda puder ser sua’.
Dois: minha pele se arrepiou. Tornei-me consciente de outra coisa
para a qual eu vagava através das macieiras e colmeias. E quando me
mudei para os pessegueiros do fim de verão... foi quando senti.
Primeiro veio um zumbido baixo, quase como o feedback de um
alto-falante com graves muito baixos. Gritei para Leo, que eu agora
podia ver se movendo há algumas fileiras de distância. Meu chamado
mudou o zumbido para algo mais reconhecível, um som familiar que
colidiu com o canto do meu cérebro. Algo familiar o suficiente para
empolar minha pele.
E então eu vi.
Abelhas.
Em toda parte.
O zumbido, que era um zumbido coletivo, se anunciava para o meu
cérebro numa onda de terrível realização, fazendo todo o meu corpo
suar frio pelo terror absoluto. Eu queria correr. Eu queria congelar. Eu
queria-
"Roxie?", uma voz surpresa perguntou, e eu vi Leo debaixo de uma
árvore de pêssego, alheio ao coro de milhões de abelhas anunciando
que eu estava aqui e pronta para a colheita. Aqueles que estão prestes a
morrer o saúdam32.
"Oh!", foi tudo que eu consegui dizer antes dos gritos começarem
internamente. Uma tocou meu ouvido, outra o meu nariz, e várias
outras voaram ao redor da minha cabeça. Seus narizes de abelhas

32 "Ave, Imperator, morituri te salutant" ou "Ave, Caezar, morituri te salutant" ("Ave, César,
aqueles que estão prestes a morrer o saúdam") é uma conhecida sentença latina citada
em Suetónio, De Vita Caesarum ("A vida dos Cèsares", ou "Os Doze Cèsares"). Foi usada
durante um evento em 52 dC no Lago Fucino, por cativos e criminosos fadados a morrer
lutando durante um simulado de batalha naval — na presença do Imperador Cláudio.
Suetônio relata que Cláudio respondeu "Aut non" ("ou não"). É também utilizada numa
cena do filme Gladiador (https://www.youtube.com/watch?v=HKzaZor_x7o)
devem ter sentido o medo saindo de mim em ondas. Meus olhos
brilharam nos dele, e foi então que ele viu do que eu estava cercada.
Mas...
Eu vim para este pomar para pedir desculpa.
Ou pelo menos para dizer-lhe que eu gostaria de ser sua namorada.
Eu dei um passo.
Então dei mais um passo.
As abelhas foram comigo, uma nuvem de pesadelos pairando há
algumas polegadas de mim, falando entre si sobre a melhor forma de
me torturar. Eu tive uma visão súbita dos macacos voadores
carregando Dorothy33 para longe, com suas pernas chutando no ar. Eu
só esperava que quando as abelhas me levassem alguém garantisse que
a minha mãe ficasse com minhas facas de chef.
Preparando-me, tentei falar. "Oi. Leo." Minha voz estava rachada e
instável, beirando o pânico. "Eu queria falar com você... oh! Queria te
dizer que... merda, essa passou perto!... Eu, eu gostaria que-"
"Jesus, Roxie", disse Leo, maravilhado com a minha visão em meio
a nuvem de abelhas enquanto tentava manter uma conversa normal.
"Apenas respire, ok?"
"Sim, eu estou tentando fazer isso, mas não está funcionando tão
bem", eu disse com voz trêmula. "De qualquer forma, eu estou aqui
porque queria te dizer que... Filha da puta!"
Fui picada! Tanto para a teoria de que se você ignorasse-as elas iam
te ignorar também. Fodidas abelhas desonestas. "Ai!" Eeeeeee, outra
picada. Uma pousou no meu ombro e outra pousou no meu ouvido, e
embora eu tenha mantido a compostura através de tudo isso, quando
uma delas teve a coragem de pousar em meu nariz, fodeu.

33 Do livro e filme homônimo, O Mágico de Oz.


Mas em vez de fugir, eu corri na direção de Leo e seu rosto chocado,
que finalmente teve o bom senso de mostrar um pouco de medo de
abelhas. E então nós corremos através do pomar com rasantes
passando por nossas cabeças, e fugimos através da grama alta agitando
nossos braços.
"Esquerda, vá para a esquerda!" Ele gritou e eu obedeci, me batendo
enquanto sentia picadas na parte de trás da minha perna e no meu
cotovelo.
Numa névoa de gritos e contorcionismo, e tapas e pulinhos, nós
estouramos para fora do pomar e acabamos numa clareira. E logo
depois da clareira? Água!
Nós mergulhamos numa profunda lagoa fria, nadando para o centro
onde se podia submergir, e as picadas pararam de queimar
instantaneamente. Peguei a mão dele debaixo d'água e nós nos
revezamos voltando a tona para pegar um fôlego e ver como o enxame
estava indo.
Eventualmente as abelhas se cansaram e voltaram para o pomar,
para continuar se empanturrando de frutos caídos. Leo me empurrou
de volta para a superfície e nós surgimos de novo na água, no meio da
lagoa, no meio da Fazenda Maxwell. Meu cabelo estava grudado na
minha cara, e uma picada de abelha estava inchando na minha
sobrancelha. Eu estava coberta de algas, galhos e paus, e esperava
como o inferno que o quer que estivesse se envolvendo em torno de meu
tornozelo fosse o meu cadarço.
"Que diabos, Rox-"
Eu passei meus braços ao redor dele, e beijei-o até que ambos
submergimos. Em seguida, beijei-o novamente.
"Eu amo você, eu te amo tanto! Eu quero você, eu quero tudo. Eu
quero a cidade pequena e plantações caseiras. Eu quero tudo isso - sem
as abelhas, de preferência, mas se as abelhas obrigatoriamente vêm
com esta vida, então eu vou aceitar ate as fodidas abelhas. Eu só quero
ser sua Ervilha".
Leo silenciosamente nos retirou da água, um braço ainda
segurando-me perto. Ele não estava me afastando, mas também não
estava me puxando para mais perto.
E eu ansiava por estar mais perto. Eu ansiava ficar grudada nele.
"Eu quero viver aqui, e não apenas durante o verão. Eu quero viver
aqui em todas as estações do ano, rolando no feno, dançando na
cozinha e sendo inclinada sobre um tambor no quatro de julho. Eu te
amo, Leo, e eu quero tudo."
Eu sorri, sem medo. Era tão bom dizer isso, poder dizer tudo.
"Eu quero começar um food truck, e dar aulas de culinária, e a
conhecer Polly, se você estiver bem com isso, porque eu acho que ela é
incrível e acho que você é incrível. E - Jesus Cristo, espero que isso seja
o meu cadarço!" Eu puxei minha perna até a superfície, tirando o
sapato e espirrando água no rosto surpreso de Leo.
Mas a surpresa virou esperança. E a esperança tornou-se felicidade.
E a felicidade tornou-se desejo. Mas, antes que o desejo pudesse se
soltar, preocupação apareceu.
"Você tem certeza disso, Ervilha?" Borboletas! "Porque eu não posso
considerar somente a mim. Se você me quer, você tem que nos querer,
juntos. Eu não posso ter alguém temporário na minha vida. É tudo
ou..."
O sol da tarde brilhava, lançando uma luz dourada sobre a
paisagem, sobre a água e sobre as algas em sua barba.
Eu passei minha perna em torno dele e puxei-o para mais perto com
um sorriso. "Eu estou apostando tudo, Farmer Boy".
Farmer boy. Ela me chamou de Farmer Boy.
Eu pensei sobre isso enquanto caminhava através do trigo, correndo
meus dedos ao longo dos grãos altos. O ar estava fresco hoje, não muito
frio, mas com uma pitada de inverno que estava apenas a alguns meses
de distância agora.
O trigo era geralmente a última safra; as maçãs já tinham sido
colhidas e armazenadas para o inverno. E ela fez manteiga de maçã,
depois de tudo.
Polly amava manteiga de maçã. Ela comia todos os anos, mas este
ano ela aprendeu a fazê-la também. Sorri quando pensei nas tardes
passadas na cozinha de trás do restaurante, com potes espalhados por
toda parte, um pesado cheiro de canela picante no ar e as minhas
garotas em tranças correspondentes, rindo enquanto enchiam
recipientes com o doce deleite.
Minhas garotas.
Roxie foi inflexível sobre manter seu própria casa, e com razão. Uma
vez que ela tomou a decisão de voltar para Bailey Falls, ela estava
determinada a viver longe de sua mãe, mas por perto. A antiga casa de
fazenda que ela encontrou estava a meio caminho entre a minha casa e
a casa da mãe dela, e a poucos minutos da cidade. Ela alegou que a
achava muito pequena, mas eu sabia que ela secretamente a amava.
Quando eu voei com ela para Los Angeles para arrumar o
apartamento que ela tinha lá, percebi que não havia muito que o
fizesse... bem... um lar. Era funcional e, claro, a cozinha era
impressionante, mas não havia nada sobre o apartamento que
realmente dissesse... Roxie.
Por mais que ela alegasse ter tido uma vida plena lá fora, nos levou
menos de um dia para embalar tudo, e menos de uma noite para dizer
adeus a seus amigos. Claro, seus amigos de Hollywood Jack e Grace
ficaram tristes em vê-la partir, mas asseguram-lhe que a qualquer
momento eles estariam na costa leste, visitando.
Dirigindo de volta por todo o país, Roxie parecia animada em voltar
para casa, para sua nova vida. E mais rápido do que qualquer um
esperava, ela limpou o Airstream, o equipou com os itens necessários
para transformá-lo num food-truck e o Zombie Cakes nasceu. E
arrasou. Ela vendeu tudo que preparou a cada vez que apareceu num
mercado de agricultores, numa feira de condado ou num evento
privado.
Eu sorri, pensando sobre ela inclinando-se para fora do caminhão,
passando uma fatia de bolo de coco para um cliente feliz. E sorri mais
largo ainda quando pensei sobre como seus seios pareciam apetitosos
em sua camisa de gola V da Zombie Cakes.
Eu cheguei no final da linha, satisfeito com a sensação dos grãos
gordos sobre os talos. Teríamos que colher em breve, talvez até o final
da semana. Quando ouvi um Jeep rugindo pela estrada da fazenda eu
me virei, pegando o som fraco do U2 através das janelas abertas.
Acontece que Polly era uma grande fã da banda, e ela e Roxie
escutavam os álbuns antigos por horas enquanto cozinhavam. "É bom
para dançar, papai", Polly tinha me informado numa tarde quando eu
peguei as duas rebentando um movimento enquanto peneiravam
farinha.
Eu concordava plenamente com elas.
Quando elas fizeram a última curva e pararam o carro ao meu lado,
eu levantei a mão em saudação. Roxie desligou o motor enquanto Polly
lutava com o cinto de segurança, ansiosa para sair e roçar para cima e
para baixo nas fileiras de trigo, como ela fez toda vez que veio aqui.
"Ei, papai!", ela gritou enquanto eu a ajudava a desatar o cinto,
antes de balança-la no alto.
"Hey, Bisteca! Terminou a sua lição de casa?"
"Terminei, Roxie me ajudou. Também paramos na lanchonete
depois da escola e sra. Trudy me deu um pedaço de torta."
"Um pequeno pedaço" Roxie explicou com um olhar tímido. "E quem
dá lição de casa a uma criança de sete anos de idade, falando nisso?"
"Eu não me importo. Eu aprendi tudo sobre a diferença entre
cumulus e cumu... cum... como é que se chama?", perguntou Polly,
olhando para Roxie.
"Cumulonimbus" Roxie falou, e Polly assentiu com a cabeça
vigorosamente.
"Sim, cumulonimbles. Ambos são diferentes tipos de nuvens."
"Entendo. E o que são aqueles ali?" Eu perguntei, apontando para o
céu ocidental, observando como ela vagou e murmurou para si mesma,
tentando decifrar exatamente o que via. Aproveitei a oportunidade para
puxar Roxie para mim, roubando-lhe um beijo.
"Pode parar, Farmer Boy", Roxie suspirou, e apenas uma nuance de
verde brilhou em seus olhos. "Eu não estou pulando em você na frente
da pequenina."
"Ela vai estar ocupada com seus cumulonimbles por pelo menos
vinte minutos." Sorri, meu coração batendo um pouco mais rápido por
tê-la em meus braços novamente. "Pelo menos me deixe dar uma olhada
por baixo da sua camisa. Vou fingir uma abelha voou para lá".
"Você não vai fazer tal coisa. Além disso, precisamos guardar
alguma coisa para mais tarde", disse ela, mas sua respiração estava
acelerando.
"Eu não posso hoje à noite, Ervilha. A sra. Nyland teve que ir cuidar
de sua irmã em Yonkers, então vou ter que ficar com Polly esta noite."
Para manter as coisas tão rotineiras quanto possível, Roxie nunca
dormia na minha casa. Ela era insistente sobre isso. Ela visitava o
tempo todo, mas nunca passava a noite. Eu estava esperando fazer
uma mudança nesse departamento mais cedo ou mais tarde, mas essa
era uma conversa para outro dia. E para um ambiente mais sofisticado.
"Ah, não tem problema, eu cobrei alguns favores. Minha mãe
concordou em vir hoje à noite e ficar com Polly, então sinta-se livre para
bater na minha janela a qualquer hora depois das oito. Se você não
estiver lá...", ela respirou, mais verde aparecendo em seus olhos agora,
"...eu vou começar sem você."
"Perigosa", eu gemi, beijando seus lábios e envolvendo minhas
mãos em torno de seus quadris, sentindo aquelas curvas debaixo dos
meus dedos. Ela ficou sem fôlego, como a minha menina sempre fazia
quando eu a beijava delicadamente assim. Suas mãos deslizaram para
baixo da frente da minha camisa, me puxando para mais perto. Quando
eu rocei meus quadris nos dela, seus olhos se abriram com surpresa.
"São aquelas nozes em seu bolso, ou você só está feliz em me ver?",
ela perguntou, seus cachos castanhos suaves soprando
descontroladamente em torno de seu rosto.
Mexi no meu bolso e peguei um punhado de nozes, o que a fez
atirar a cabeça para trás e rir do jeito que eu amava. "Ambos." Falei, e
comecei a inclinar-me para frente, para outro beijo.
"Roxie! Acho que encontrei uma, sério!" Polly apontou
animadamente para o céu. "E beijar é nojento, por sinal."
"Eu acho que você achou uma cirrus", disse Roxie com uma risada,
apertando a minha mão. E então ela correu para o campo atrás da
minha filha, ajoelhando-se ao lado dela e olhando para onde Polly
estava apontando.
Meu coração parecia que ia estourar enquanto eu assistia minha
Bisteca de Porco e minha Ervilha estudando as nuvens.

FIM

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