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INTRODUÇÃO
Para o cumprimento dos seus objectivos, o PRONA conta com alguns parceiros,
nomeadamente, Gabinete do Movimento de Alfabetização, Sociedade Civil,
Instituições de Ensino, Sector Público, Sector Privado e pessoas individuais e
colectivas. No âmbito das parcerias com partes interessadas na problemática de
alfabetização, foram instituídos na província diversos programas de
alfabetização tais como Alfa Regular, Alfa Rádio, Programa Família Sem
Analfabetismo e HIV Sida (PROFASA), Alfalit, Reflect, que operam sob tutela do
sector da Educação. Trata-se de programas concebidos, financiados e
implementados pelos próprios parceiros e, muitas vezes, direccionadas para as
mesmas comunidades. É o caso da comunidade de Omalapala, no distrito de
Malema, província de Nampula, onde estão a ser implementados, em simultâneo
quatro programas, tendo como grupo alvo as mesmas pessoas e no mesmo
período lectivo.
Face a esta realidade e tendo em conta que cada parceiro usa seu programa e
metodologias diferentes, surge a seguinte questão: De que modo os modelos
de programas de Alfabetização e Educação de Adultos praticados por
diferentes programas contribuem para o acesso e retenção de adultos nos
centros de alfabetização na comunidade de Omalapala no distrito de
Malema?
qualitativa mostra que cada autor enfatiza alguns aspectos que a distinguem da
pesquisa quantitativa.
A partir do exposto até aqui, fica claro que a abordagem qualitativa enfatiza a
compreensão e admite que a realidade é subjectiva, inatingível e holística, ou
seja, admite uma visão pluralista da realidade de acordo com as interpretações
dos indivíduos que a procuram interpretar.
O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas
históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são
incluídas no repertório de um historiador: observação direta e série sistemática
de entrevistas. Novamente, embora os estudos de caso e as pesquisas
históricas possam se sobrepor, o poder diferenciador do estudo é a sua
capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências - documentos,
artefactos, entrevistas e observações - além do que pode estar disponível no
estudo histórico convencional. Além disso, em algumas situações, como na
observação participante, pode ocorrer manipulação informal.
GODOY (1995: 25) ressalta que o estudo de caso é adequado à pesquisa que
procura responder às questões “como” e “por que” certos fenómenos ocorrem,
quando há poucas possibilidades de controlo sobre eventos estudados e quando
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1.5.1 A entrevista
A entrevista, de acordo com SEVERINO (2007: 124), é uma técnica que tem por
intuito recolher informações, por meio de sujeitos entrevistados, sobre um
determinado assunto, havendo, portanto, a interacção entre pesquisador e
entrevistado. Neste sentido, “o pesquisador visa apreender o que os sujeitos
pensam, sabem, representam, fazem, argumentam”. Severino distingue dois
tipos de entrevista: a diretiva e a não-diretiva. A entrevista não-diretiva permite a
liberdade do entrevistado em falar o que deseja. O entrevistador mantém-se em
escuta atenta, registando todas as informações e só intervindo discretamente
para, eventualmente, estimular o depoente. Este tipo de entrevista ocorre como
se fosse uma conversa informal (cit in Camurra e Batistela, 2009:6).
Para DUARTE (s/d) as entrevistas são classificadas como abertas, quando são
constituídas por questões não estruturadas; semi-abertas, as constituídas de
questões semi-estruturadas; e fechadas, quando contêm questões estruturadas.
Segundo este autor, as abertas e semi-abertas são do tipo em profundidade, que
se caracterizam pela flexibilidade e por explorar ao máximo determinado tema,
exigindo da fonte subordinação dinâmica ao entrevistado. Na realidade, a
entrevista em profundidade, entre outras qualidades, tem a flexibilidade de
permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar
livremente as perguntas. Este tipo de entrevista procura intensidade nas
respostas, não-quantificação ou representação estatística. A diferença entre
abertas e semi-abertas é que as primeiras são realizadas a partir de um tema
central, uma entrevista sem itinerário, enquanto as semi-abertas partem de um
roteiro-base.
Refira-se que a amostra para esta pesquisa considera-se não probabilística, visto
que ela é obtida a partir do estabelecimento de um critério de inclusão e que, por
conseguinte, nem todos os elementos da população-alvo têm a mesma
oportunidade de participar na pesquisa.
Em 2000, foi feita a avaliação dos ideais de Jomtien da qual resultou o Marco de
Ação de Dakar, onde a UNESCO voltou a afirmar a visão da Declaração Mundial
de Educação para Todos, apoiada pela Declaração Universal de Direitos
Humanos de 1948 e pela Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) de que
toda criança, jovem e adulto tem o direito humano de beneficiar de uma educação
que satisfaça as suas necessidades básicas de aprendizagem, no melhor e mais
pleno sentido do termo, e que inclua aprender a aprender, aprender a fazer,
aprender a conviver e aprender a ser. Trata-se de uma educação que se destina a
captar os talentos e potencial de cada pessoa e desenvolver a personalidade dos
educandos para que possam melhorar as suas vidas e transformar suas
sociedades (UNESCO, 2000). Nessa conferência entre outros, foi definido como
um dos objectivos da educação, assegurar que as necessidades de
aprendizagem de todos os jovens e adultos sejam atendidas pelo acesso
equitativo à aprendizagem apropriada e às habilidades para a vida.
O aspecto sociológico diz respeito aos padrões que a sociedade estabelece para
reconhecer a independência do indivíduo para assumir a sua responsabilidade
produtiva. É relacionada, portanto, ao plano económico.
por seus actos que, por ventura, venham a infringir os padrões morais de
convivência social.
Já FREIRE e MACEDO (2002) entendem que não pode haver indivíduos que
não necessitam da leitura e da escrita no seu quotidiano, pois todos necessitam
de empawerment individual, social para travar a perpetuação de relações de
repressão e de dominação que só é feita através da consciência critica
desenvolvida, resultante da alfabetização. Nesse sentido, a alfabetização é um
campo de luta ideológica e, ao mesmo tempo, um movimento social que deve
ser alicerçar-se num projecto ético e politico com a finalidade de dignificar e
ampliar as possibilidades de vida e de liberdade humana.
Para os que optam por este modelo, a educação de adultos prende-se com a
compensação da escolaridade a que estes não tiveram acesso na idade devida,
descurando a preparação do adulto para as situações do quotidiano. De um
modo conciso, pode-se apontar algumas falhas características do modelo
receptivo alfabetizador:
É neste sentido que se procura, cada vez mais, criar processos que vão ao encontro
das necessidades e procuras dos adultos. É com este intuito que este modelo parte
das necessidades sociais de aprendizagem mais do que dos programas formativos, já
que se pretende que os programas estejam ao serviço das necessidades educativas e
não o contrário. As pessoas adultas não se devem ver forçadas a aprender, optando
entre as diversas ofertas educativas, mas as ofertas educativas é que se devem
adequar à procura dos adultos.
Para responder a algumas das necessidades dos adultos e para os ajudar a interagir
na vida social, a interpretar a vida e a identificar-se com ela, encontramos o movimento
das tertúlias literárias, que mantêm os adultos em processos de formação, fazendo da
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leitura uma ferramenta social. A leitura é, assim, convertida não num fim em si mesmo
mas num instrumento de participação social.
Como realça GOMEZ (1999, apud UCIQUETE, 2010: 13), com uma população
de 4000 habitantes em 1909, em Moçambique existiam apenas 56 escolas
destinadas a poucas crianças; por outro lado, as poucas escolas existentes
encontravam-se subdivididas em escolas oficiais destinadas aos filhos de
colonos e assimilados, e outras escolas chamadas elementares e destinadas
aos indígenas, evidenciando, assim, o seu carácter discriminatório e
reducionista.
MAZULA refere ainda que, por pressão da Organização das Nações Unidas
para Portugal parar com a educação discriminatória nas colónias, BELCHIOR
justificou a separação nos seguintes termos:
Para além da civilização e cristianização, a escola tinha por objetivo "a formação
de mão-de-obra necessária e adequada às necessidades económicas da
colónia” (GOMEZ, 1999: 58), ou, nas palavras de Mazula, “a formação do
indígena e a criação da figura jurídico-política de 'assimilado' impunha-se como
necessidade de força do trabalho qualificada para a maior exploração capitalista”
(1995:80).
Por outro lado, o objectivo da educação era matar a cultura indígena em nome
da civilização, e impor, a todo custo, a cultura portuguesa, visto que, na óptica
do regime, o indígena era selvagem sem cultura e que, em lugar desta, tinham
usos e costumes que também lhe eram negados a não ser que não fossem
incompatíveis com a moralidade e os dítames da humanidade. Na óptica de
Gomez, “o princípio da moralidade e humanidade, colocado como ponto de
referência para avaliar ‘os usos e costumes’ africanos, não era outra coisa do
que o modelo cultural ocidental, mais concretamente o português e este, ainda,
inserido num contexto moldado por um regime fascista” (1999: 50). É pois nesse
contexto que em 1919 é instituída, sob forma de lei, a figura de assimilado (que
significava civilizado, europeizado ou simplesmente cidadão português), cujo
objectivo era conferir a cidadania portuguesa aos nativos.
Por outro lado, a Lei 6/92 encara o Ensino de educação de adultos como
modalidade destinada aos indivíduos que não se encontram em idade normal de
frequentar os níveis de ensino geral e técnico profissional e àqueles que não
tiveram oportunidade de ingressar no sistema de ensino na idade normal
Feitas as leituras que constituíram a base teórica deste estudo empírico, no qual
se enfatizaram os modelos de educação de adultos, a alfabetização e educação
de adultos no contexto do sistema nacional de educação em Moçambique,
considera-se formada a base conceptual suficiente e capaz de orientar a
realização do estudo.
A análise das entrevistas foi feita com recurso à escuta de informações gravadas
em áudio digital na altura da recolha dos dados e transcrição de aspectos
relevantes. Seguiu-se à sistematização, através de categorização e interpretação
da informação, de acordo com as questões comuns ou diferentes também dadas
aos entrevistados. A informação foi posteriormente confrontada com o referencial
teórico para responder ao problema de pesquisa.
Realce-se que a análise dos resultados das entrevistas foi feita em separado,
primeiro dos dados referentes às respostas dos gestores distritais de AEA,
seguido dos de alfabetizandos.
4.1 Análise dos dados das entrevistas aos gestores distritais de AEA
Por outro lado, nos depoimentos está evidente o modelo dialógico social
praticado pelos programas CLUSA e UATAF, modelo este que dá ênfase á
consciência crítica, ao pensamento, á participação e á gestão social, destacando
a importância das competências sociais que permitem aos adulto enfrentar
diversas situações que a vida real lhes apresenta. Aqui, o alfabetizador não
ensina pela autoridade, como no modelo alfabetizador, mas o seu trabalho
consiste em reconhecer e potenciar a continuidade das aprendizagens ao longo
da vida, fazendo com que o perfil dominante deste formador seja o de animador;
de facto, a CLUSA e UATAF estão mais preocupados coma associações ou
projectos já existentes e o objectivo é apoiar os seus membros a atingir os
objectivos por eles definidos.
programas com maior rigorosidade, pois são estes que são mais
concorridos pelos alafabetizandos (Sup-Alf).
Fazendo uma relação entre os modelos de AEA que cada um dos programas
pratica nas comunidades e os critérios de afetação seguidos pelas autoridades
de AEA no distrito de Malema, facilmente se constata que o modelo receptivo
alfabetizador é direccionado para as comunidades que não possuem projectos
de desenvolvimento próprio, enquanto o modelo dialógico social é direccionado
para as comunidades que se organizam em associações, para desenvolverem
alguma actividade de desenvolvimento.
Um dos factores que concorre para o nível de aderência dos adultos aos
programas de alfabetização é a possibilidade que tais programas tem de
provocar impactos positivos imediatos nas suas vidas, ora, mediante o uso do
que aprende para melhorar as suas condições de vida, e isso só é possível se
os conteúdos e actividades estão alinhados às necessidades de aprendizagem.
É prova disso o facto de que os programas que se baseiam no modelo
receptivo alfabetizador são pouco concorridos em relação aqueles baseados no
modelo dialógico social; quando procuramos perceber dos alfabetizadores, com
que facilidade conseguiu se inscrever no programa e a que está vinculado, as
respostam revelam que os programas que associam a alfabetização às
actividades de emponderamento económico e social são mais concorridos e,
por conseguinte difíceis de aceder que aqueles que apenas se cingem no
ensino da leitura e escrita, factos evidentes nos depoimentos dos
alfabetizandos entrevistados:
Como afirma CARRÉ (2001: 51) apud FONSECA (2010: 41) “ o individuo
[adulto] procura formação com o objectivo de obter novos e/ou renovados
conhecimentos que lhe permitam fazer face a alterações ou novas situações da
sua vida quotidiana, social e familiar”, por outro lado, a mesma autora citada
refere que “os adultos esperam uma aplicação prática e imediata do que
aprenderam e manifestam um interesse muito reduzido por saberes que só
serão úteis num futuro distante” ” (QUINTAS, 2008: 22) apud FONSECA
(2010:41) Com efeito, procurou-se saber dos participantes do nosso estudo, em
que medida os conteúdos ministrados nas aulas eram relevantes para as suas
actividades diárias. Em resposta, os alfabetizandos vinculados aos programas
do CLUSA e UATAF revelaram que quase tudo o que aprendem nas aulas de
alfabetização tem aplicação imediata nas suas actividades do dia-a-dia:
Feita a análise e interpretação dos dados das entrevistas dirigidas aos gestores
distritais de AEA e aos beneficiários dos programas ministrados por diferentes
actores de alfabetização, é tempo de apresentar as conclusões, assunto que se
vai tratar a seguir.
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CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
BALDIN, Nelma; MUNHOZ, Elzira MB. Snowball (bola de neve): uma técnica
metodológica para pesquisa em educação ambiental comunitária. In: Anais do X
Congresso Nacional de Educação. I Seminário Internacional de Representações
Sociais, Subjetividade e Educação. 2011.
FONSECA, Cláudia Elisabete Pires Reis da. Porque razão se formam os adultos?
Motivações e expectativas dos formandos dos cursos de educação e formação.
2010.
PINTO, Álvaro V. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo, Cortez, 2000.