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Crítica | E Depois? - Plano


Crítico
Kevin Rick

4–5 minutos

Lançado na Netflix no final do ano passado, E Depois? é


um dos curtas em live-action indicados ao Oscar de
2024. Passando um pouco batido pelo público, como
normalmente acontece com curtas-metragens, a
produção ganhou mais atenção após a seleção na grande
premiação cinematográfica. Dirigido por Misan
Harriman, com roteiro de John Julius Schwabach, o
filme acompanha a jornada de luto de Dayo (David
Oyelowo), um homem que perde tudo em uma tragédia
inesperada.

O início do curta tenta estabelecer o máximo possível de


conexão com Dayo e sua família, com algumas rápidas
cenas ternas e fofas. Não chegamos a realmente criar um
vínculo com os personagens, mas há um toque de
compaixão que agarra o espectador a se emocionar pelo
evento trágico que dita a segunda parte da fita. Misan
inclusive imprime um tom intenso nos minutos iniciais
da obra, o que torna o fatídico dia mais agudo e menos
abrupto da percepção da audiência, por mais que uma
estética meio “comercial de carro” atrapalhe a imersão
narrativa.

A partir de tal evento, o curta muda de figura, colocando


o luto como o centro das atenções e adotando uma
condução mais vagarosa, contemplativa e melancólica
através da dor imensurável de Dayo, com destaque para
a atuação tocante de Oyelowo. Em alguns momentos, o
roteiro e a direção são um pouco apelativos e
sentimentalistas em sua óbvia intenção de provocar
choro na audiência, mas de maneira geral há um
trabalho superficialmente bonito na vulnerabilidade e
perdição do protagonista, algo que também é facilmente
identificável por se tratar de um tema universal que
rapidamente puxa as dores e traumas do próprio
público.

É curioso como o filme se assume como uma visão


passiva por parte do personagem, que se torna um
motorista de uber e começa a caminhar estoicamente
pelos problemas e felicidades de seus passageiros,
praticamente vivendo indiretamente pelos rápidos
acontecimentos que escuta por alto e assiste de canto de
olho das pessoas no banco de trás. É difícil extrair
substância de tais momentos, porque não existe uma
perspectiva realmente delineada pela narrativa ou
algum tipo de construção dramática que traga
interpretações ou lições de vida para além de estarmos
vendo um fantasma observador dirigindo em meio à sua
angústia.

É difícil não se emocionar, porém, por mais


sentimentalmente induzido que a produção seja. O
desfecho em particular é extremamente comovente e
relacionável, se não diria pessimista ao tentar responder
a pergunta do título português e representar o cenário
do título inglês, sobre um momento que parece um mar
de ceticismo e tristeza. A explosão emocional de Dayo é
ao mesmo tempo um baixo choro eterno e um grito de
dor incontrolado, como infelizmente muitos de nós
entendemos. O final é abrupto, mesmo para um curta-
metragem, mas encapsula a sensação geral do filme: um
homem quebrado, sem saber para onde ir e como seguir.

E Depois? (The After) — Reino Unido, 2023


Direção: Misan Harriman
Roteiro: John Julius Schwabach
Elenco: David Oyelowo, Jessica Plummer, Sule Rimi,
Izuka Hoyle, Amelie Dokubo, Ellen Francis
Duração: 18 min.
Kevin Rick

Comecei minha jornada na Grand Line, passei pelo


Templo de Ar do Leste, adentrei no Monte da Justiça,
em Happy Harbour, e nadei nas profundezas de
Atlântida. Entretanto, ainda estou em busca do One
Piece. Durante minhas viagens, pude descobrir mundos
nas imagens de quadrinhos, imaginá-los nas páginas de
livros e vivenciá-los na tela de cinema. Ainda não
cheguei a Laugh Tale, mas estou aproveitando o
caminho.

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