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MECANISMOS DE LESÃO CELULAR E MORTE CELULAR

 Resposta Variável à Lesão:


◦ Depende do gravidade e de sua duração.
▪ Uma toxina em baixas quantidades e em baixa duração pode causar apenas uma
lesão reversível, agora se se prolongar e for em uma dose maior pode resultar em
uma lesão irreversível.
 Fatores Determinantes na Consequência da Lesão:
◦ O impacto de uma lesão varia de acordo com o tipo de célula afetada.
▪ A tolerância à isquemia, por exemplo, é maior no músculo esquelético do que no
cardíaco.
◦ O estado nutricional e hormonal da célula afeta sua capacidade de sobreviver a uma
lesão.
◦ Variações genéticas, como nos genes que codificam o citocromo P-450, influenciam a
velocidade de catabolismo de toxinas e a resposta a lesões.
 Mecanismos de Lesão Celular:
◦ Diferentes tipos de estresse celular impactam organelas e vias bioquímicas distintas, e
um estímulo pode impactar várias vias.
◦ A privação de oxigênio afeta principalmente as funções que requerem energia, levando a
necrose.
◦ Enquanto danos ao DNA e proteínas tendem a induzir a apoptose.
Hipóxia e isquemia:
 Deficiência de oxigênio (hipóxia) impede muitas funções celulares que dependem de
energia, levando à morte celular por necrose. A hipóxia pode ser uma consequência da
isquemia.
 Produção de Energia:
◦ As mitocôndrias produzem a maior parte do ATP (energia da célula) através da
fosforilação oxidativa, um processo que necessita de oxigênio.
◦ O ATP é essencial para várias funções como transporte através da membrana, síntese de
proteínas, produção de lipídios e manutenção dos fosfolipídios das membranas.
 Efeito compensatório à Hipóxia:
◦ Indução do fator de transcrição HIF-1.
◦ O HIF-1 promove a produção de proteínas para adaptação à falta de oxigênio, como o
VEGF – Fator de Cescimento Vascular Endotelial atua na angiogênese.
◦ Metabolismo Adaptativo: Proteínas induzidas pelo HIF-1 promovem a glicólise e a
absorção de glicose, reduzindo a dependência da fosforilação oxidativa por meio da
produção de ATP por glicólise anaeróbica.
▪ Tecidos com altas reservas de glicogênio, como o fígado e os músculos, têm mais
chances de resistir à hipóxia pois fazem glicólise do que aqueles com baixas
reservas, como o cérebro.
 EFEITOS DA HIPÓXIA E BAIXA DO ATP:
Lesão por Isquemia-Reperfusão
 A lesão por isquemia-reperfusão é o aumento paradoxal do dano tecidual que ocorre quando
o fluxo sanguíneo é restaurado a um tecido que sofreu isquemia. Apesar de a reperfusão ser
essencial, ela pode, em alguns casos, exacerbar o dano celular por meio de:
◦ Já um acúmulo de ROS durante a isquemia, esses ROS podem ser gerados por células
com mitocôndrias danificadas que não conseguem realizar a completa redução do
oxigênio e devido falha na defesa antioxidante. Ademais com a súbita disponibilidade de
O2, o ROS geradas por leucócitos infiltrativos durante a reperfusão.
 Intensificação da resposta inflamatória já presente com maior influxo de leucócitos:
 As proteínas do sistema complemento que entram com a reperfusão podem se ligar a células
danificadas ou a anticorpos já presentes no tecido, o que leva à ativação do sistema
complemento e piora o dano tecidual.

Estresse Oxidativo
 O estresse oxidativo é causado por um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de
oxigênio (ROS) e a capacidade do corpo de neutralizá-las.
◦ Pode ser induzido por fatores como lesões químicas, radiação, hipóxia (falta de
oxigênio), envelhecimento celular e processos inflamatórios.
 ROS são um tipo de radicais livres que possuem um elétron desemparelhado em sua órbita
externa, tornando-os altamente reativos e eletronegativos o que o ajuda a atacar moléculas. 7
◦ Radicais livres atacam o DNA, proteínas e lipídios celulares, causando danos
significativos.
 Iniciam reações em cadeia que transformam moléculas atingidas em novos radicais
livres, propagando o dano.
 O dano celular causado pelo estresse oxidativo pode levar a morte celular por necrose,
apoptose ou necroptose.
Geração e Remoção de Espécies Reativas de Oxigênio:
 Produzido normalmente em todas as células por meio das reações REDOX que
normalmente ocorrem na respiração celular (produção de energia mitocondrial).
◦ O ROS tem um papel fisiológico quando em baixas concentrações participam de
vias de sinalização celular. Em células saudáveis sua concentração é regulada.
◦ No interior das mitocôndrias, o oxigênio molecular (O2) é essencial para a cadeia de
transporte de elétrons, onde é reduzido (ganha elétrons) para formar água (H2O) -
▪ Como os elétrons são passados um a um, há fases intermediárias em que o O2 forma
o superóxido O2•(ganhou um e–).
▪ O2• é reduzido pelo segundo e–, reação que pode ser espontânea, mas é muito
acelerada pela superóxido-dismutase – SOD, originando H2O2;
▪ Esta é reduzida pelo terceiro e–, resultando em H2O e no radical hidroxila (•OH).
▪ O ROS portanto é formado como subproduto de uma redução incompleta que forna
ânion superóxido (O2•-) e peróxido de hidrogênio (H2O2).
Causas no Aumento e Formas de Geração de Radicais Livres:
 Radiação Ionizante: Raios UV, raio X podem hidrolisar água, formando radicais livres
hidroxila e hidrogênio.
 Metabolismo Enzimático de Químicos Exógenos: Substâncias como o tetracloreto de
carbono podem gerar radicais livres durante sua metabolização.
 Inflamação: Leucócitos produzem radicais livres como parte da resposta inflamatória.
◦ Produzido por leucócitos fagócitos como neutrófilos e macrófagos como forma de
defesa para destruir os organismos e outras substâncias durante a inflamação.
▪ Leucócitos englobam patógenos em vesículas chamadas fagossomos.
▪ Ocorre a explosão respiratória que é um processo parecido com a fosforilação
oxidativa mas que produz ROS para matar o patógeno.
▪ NADPH oxidase, enzima da membrana dos fagossomos, catalisa a formação do
ânion superóxido (O2•-).
▪ O superóxido é convertido em peróxido de hidrogênio (H2O2), um antimicrobiano
menos reativo.
▪ Formação de Hipoclorito: A enzima Mieloperoxidase nos leucócitos usa H2O2
para produzir hipoclorito (OCl-), um reativo poderoso contra microrganismos.
 Reperfusão de Tecidos Isquêmicos
 Reações REDOX
 Óxido Nítrico: O Óxido Nítrico (NO) também é um radical livre (não é ROS) produzido
pelos macrófagos antimicrobiano.
◦ NO pode reagir com o ânion superóxido (O2•-) para formar peroxinitrito (ONOO-), que
é uma molécula altamente reativa e danosa.
 Metais de Transição (formação do radical hidroxila)
◦ O radical hidroxila -OH, é um dos agentes mais oxidantes que se tem conhecimento, e
também é formado na presença de metais de transição (como o ferro Fe2+) e peróxido
de hidrogênio (H2O2) através da reação de Fenton.
▪ A reação de Fenton é dada pela seguinte equação química:
▪ Fe2++H2O2→Fe3+ + OH− +OH•
 Fe2+: É um íon ferroso, ou seja, ferro no estado de oxidação +2. H2O2: É o
peróxido de hidrogênio, comumente conhecido como água oxigenada. Fe3+: É
um íon férrico, ou seja, ferro no estado de oxidação +3. OH-: É um íon
hidróxido. OH•: É o radical hidroxila.

Mecanismos de Remoção de Radicais Livres:


 Radicais livres são instáveis e podem se decompor sozinhos.
 Enzimas e Antioxidantes:
◦ Superóxido Dismutase (SOD): Acelera a decomposição do superóxido.
◦ Glutationa-Peroxidases (GSH): Protege contra lesões oxidativas, decompondo H2O2
(2GSH + H2O2 → GS-SG + 2H2O).
◦ Catalase: Enzima nos peroxissomas que decompõe H2O2 em oxigênio e água, com alta
eficiência.
◦ Antioxidantes Endógenos e Exógenos: Vitaminas E, A, C e β-caroteno ajudam a
bloquear a formação ou a remover radicais livres já formados.
Lesão Celular Causada por Espécies Reativas de Oxigênio

 Peroxidação Lipídica das Membranas:


◦ Ataque dos lipídios poli-insaturados da membrana por radicais livres derivados de
oxigênio.
◦ Geração de peróxidos instáveis que iniciam uma reação em cadeia autocatalítica - em
que o produto da reação acelera ou promove a própria reação. No contexto da
peroxidação lipídica, uma vez que um radical livre ataca um lipídio, forma-se um novo
radical livre, que por sua vez pode reagir com outro lipídio, perpetuando o dano à
membrana.
 Alterações nas Proteínas:
◦ Radicais livres podem causar danos às proteínas de duas maneiras principais: formando
ligações cruzadas (que alteram a estrutura e função da proteína) e fragmentando as
cadeias de polipeptídeos.
◦ Grupos sulfidrila nas proteínas são alvos comuns desses ataques de radicais livres.
◦ As proteínas danificadas não se dobram corretamente.
 Danos no DNA:
◦ Quebras de filamentos simples no DNA causadas por reações de radicais livres com o
resíduo de timina, contribuindo para apoptose, envelhecimento e transformação maligna.

Lesão Celular Causada por Toxinas


 Toxinas de Ação Direta:
◦ Atuam diretamente combinando-se com componentes moleculares ou organelas
celulares.
◦ Exemplo: Cloreto de mercúrio (frutos do mar contaminado) inibe transporte dependente
de ATP e aumenta permeabilidade da membrana ao se ligar a grupos sulfidrila (-SH) .
Toxinas microbianas.

 Toxinas Latentes:
◦ Substâncias químicas que precisam ser convertidas em metabólitos ativos para causar
dano.
◦ A conversão geralmente ocorre no fígado, mediada pelo citocromo P-450.
◦ Causam danos através da formação de radicais livres e peroxidação de fosfolipídios de
membrana.
◦ Exemplo de Toxina Latente: Tetracloreto de Carbono (CCl4):
▪ Convertido em radical livre tóxico no fígado, causando danos às membranas do RE e
mitocôndrias.
▪ Há também diminuição da síntese de apoproteínas que formam complexos com
triglicerídeos, e assim facilitam a secreção dos destes; esse defeito resulta em
acúmulo de lipídios em hepatócitos e outras células e o “fígado gordo”.
Estresse do Retículo Endoplasmático

 Acúmulo de Proteínas Mal Dobradas:


◦ Causa estresse nas vias compensatórias do RE e pode levar a apoptose
◦ As Chaperonas – proteínas que atuam no dobramento apropriado de outras proteínas e marcam as
proteínas mal dobradas para degradação/proteólise por meio da ubiquitinação.
◦ Se as proteínas mal dobradas se acumulam isso é percebido pelo sensor de membrana cinase IRE-1, o
sensor vai formar oligômeros por meio da fosforilação para ativar a via compensatória que consiste em
aumentar a produção de chaperonas e diminui a tradução de proteínas
 Falha na resposta compensatória adaptativa leva a apoptose pela via intrínseca devido ao acúmulo excessivo de
proteínas mal dobradas que ativa sensores proapoptóticos (BH3-only) e caspases.
 Causas do Acúmulo de Proteínas Mal Dobradas: Mutação genética resultando em proteínas que não dobram
corretamente. Envelhecimento reduzindo a capacidade de correção de dobramento. Infecções virais causando
excesso de síntese de proteínas microbianas. Aumento na demanda por proteínas secretoras, como em
resistência à insulina. Alterações no pH intracelular e no estado redox. Condições como isquemia e hipóxia.

 Impacto nas Doenças: Proteínas mal dobradas é fundamental em diversas doenças.


Dano do DNA
 Causas de Dano ao DNA:
◦ Exposição a radiação e agentes quimioterápicos.
◦ Geração intracelular de ROS.
◦ Aquisição de mutações.
 Detecção e Resposta ao Dano do DNA:
◦ Proteínas sentinelas detectam o dano e ativam a proteína p53.
◦ p53 suspende o ciclo celular para permitir reparo do DNA.
◦ Se o dano for extenso e irreparável, p53 induz a apoptose pela ativação de proteínas
proapoptóticas como Bax e Bak da família Bcl-2.
▪ Células com DNA danificado podem sobreviver se p53 estiver mutada ou ausente,
como em alguns cânceres. Isso pode levar a mutações adicionais e transformação
neoplásica.

Inflamação
 Neutrófilos, macrófagos, linfócitos e outros leucócitos secretam substâncias para combater
microrganismos. Esses produtos também podem causar danos aos tecidos hospedeiros e
gerar respostas imunes desreguladas em doenças autoimunes e alergias. As reações imunes
prejudiciais são aquelas de hipersensibildiade.

Eventos Comuns na Lesão Celular de Causas Diversas


Influxo de Cálcio

Disfunção Mitocondrial
 As mitocôndrias são críticas na geração de
energia (ATP) para a célula. Quando
danificadas, não só a produção de ATP é
afetada, mas também são geradas ROS
prejudiciais. Além disso, as mitocôndrias
desempenham um papel central na
iniciação da apoptose ao liberar moléculas
sinalizadoras.
 Sensíveis a danos por hipóxia, toxinas
químicas e radiação.
 Anormalidades Bioquímicas:
 Falha na fosforilação oxidativa, levando à
depleção de ATP e necrose.
 Formação de ROS durante a fosforilação
oxidativa anormal.
 Danos na membrana mitocondrial associados à formação do poro de transição de
permeabilidade, afetando o potencial de membrana e a fosforilação oxidativa.
 Liberação de proteínas como citocromo c, ativando a via apoptótica.

Defeitos na Permeabilidade da MembranaI


 Aumento da
Permeabilidade da
Membrana: Comum em
várias formas de lesão
celular, levando à necrose.
 Locais Importantes de
Lesão da Membrana:
◦ Membrana
mitocondrial: dano
reduz a produção de
ATP.
◦ Membrana plasmática:
danos levam à perda de
equilíbrio osmótico,
influxo de líquidos,
íons e perda de
conteúdo celular.
◦ Membranas lisossômicas: danos resultam na liberação de enzimas hidrolíticas no
citoplasma, levando à digestão enzimática dos componentes celulares e necrose.
CASO CLÍNICO:

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