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TEXTO DE APOIO PARA OS ALUNOS

2º Ciclo

QUÍMICA
QUÍMICA 11
TEXTO DE APOIO PARA OS ALUNOS
11ª Classe - 2º Ciclo
Índice
Pág
1. O AMONÍACO COMO MATÉRIA-PRIMA 1
Alguns materiais que nos rodeiam 1
Aspectos históricos da síntese do amoníaco 2
Síntese industrial do amoníaco 2
Reacções químicas completas 3
Quantidade de matéria 3
Massa molar 5
Volume molar 5
Quantidades envolvidas nas reacções químicas 6
Rendimento de uma reacção química 10
Grau de pureza de um material 10
Reagente limitante 11
Exercício 12
Química e indústria equilíbrios e desequilíbrios

2. O AMONÍACO, A SAÚDE E O AMBIENTE 12


Riscos do amoníaco para a saúde 13
Se o amoníaco apresenta tantos riscos, porque é usado? 13
Riscos do amoníaco para o ambiente 13
Exercícios 14
Unidade 4

3. SÍNTESE DO AMONÍACO E BALANÇO ENERGÉTICO 14


Reacções químicas exoenergéticas e endoenergéticas 15
Balanço energético na síntese do amoníaco 17
Exercícios 18

4. PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE AMONÍACO 18


Reacções reversíveis 19
Equilíbrio químico homogéneo 20
Constante de equilíbrio de uma reacção química 22
Como varia a constante de equilíbrio, Kc, com a temperatura? 23
Será que o valor de Kc depende da forma
como a equação química está escrita? 23
A extensão de uma reacção e o valor de Kc 24
Previsão do sentido de progressão de uma reacção 25
Exercícios 26
Exercícios Finais 27

5. CONTROLO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL 32


Factores que podem alterar o estado de equilíbrio
de uma mistura reaccional 32
Será que os catalisadores afectam o estado de equilíbrio? 34
Controlo e produção do amoníaco 35
Exercícios 36
Pág
5.1 ÁGUA DA CHUVA, AGUA DESTILADA E ÁGUA PURA 37
Porque será que a água da chuva é ácida? 37
Qual será o valor do pH da água destilada e da água pura (a 25 °C)? 38
O pH poderá ser uma medida da acidez, da basicidade
ou da neutralidade de uma solução? 38
Exercícios 39
Como calcular o valor do pH a partir do conhecimento
da concentração de H+(aq)? 39
Como interpretar os fenómenos de ácido-base? 41
Exercícios 41
5.2. AGUAS MINERAIS E DE ABASTECIMENTO PÚBLICO:
A ACIDEZ E A BASICIDADE DAS ÁGUAS 42
5.2.1. Água potável: águas minerais e de abastecimento público 42
5.2.2 Água gaseificada e água da chuva: acidificação artificial
Da atmosfera ao oceano: Soluções na Terra e para a terra

e natural provocada pelo dióxido de carbono. 44


Exercícios 50
5.3. CHUVA ÁCIDA 51
5.3.1 Acidificação da chuva 51
Exercícios finais 55
5.3.2. Chuva ácida: impacto em alguns materiais 58
O impacto da chuva ácida sobre os carbonatos 58
O impacto da chuva ácida sobre alguns metais 58
Unidade 5

O que são reacções de oxidação-redução? 58


Como atribuir o estado de oxidação a um elemento? 60
Será que os elementos podem ter mais do que um estado de oxidação? 61
Será possível evitar a corrosão de metais protegendo-os
com outros metais? 62
Como acertar uma equação de oxidação-redução? 64
Uma espécie química que numa reacção actue como oxidante
poderá actuar noutra como redutor? 65
Exercícios 66

6. MINERALIZAÇÃO E DESMINERALIZAÇÃO DE ÁGUAS 67


6.1. A solubilidade e o controlo da mineralização das águas 67
O que é uma solução? 67
Como se explica o processo da dissolução? 68
O que se entende por solubilidade? 69
Como variará com a temperatura a solubilidade
em água de um composto iónico? 70
Será possível a precipitação selectiva de sais a partir
de uma solução aquosa, por evaporação do solvente? 70
Será que a solubilidade dos gases em água também
varia com a temperatura? 71
Será que a solubilidade dos gases em água também varia com a pressão? 71
Quais são as espécies químicas mais comuns nas águas naturais? 72
Pág
Processos físicos e químicos mais importantes que têm influência
na composição das águas 73
Quais são as espécies químicas mais comuns na água do mar? 73
Será que o dióxido de carbono dissolvido tem efeito
na mineralização de uma água? 74
Da atmosfera ao oceano: Soluções na Terra e para a terra

Quando é que uma solução está saturada? 75


Será possível comparar a solubilidade, s, de dois sais, em água,
a partir do conhecimento dos valores dos produtos de solubilidade? 75
Quando é que a partir dos valores de Ks se pode, então,
comparar a solubilidade de dois compostos iónicos? 76
Previsão de reacções de precipitação 77
Factores que afectam a solubilidade de um composto iónico
numa solução 77
Unidade 5

Os iões presentes na solução 77


O pH do meio 78
A formação de iões complexos 78
O que se entende por dureza de uma água? 78
Quais são as consequências da utilização de águas duras? 79
Como reduzir a dureza das águas? 80
Eliminação do magnésio 80
6.2 Como dessalinizar a água do mar? 81
Destilação 81
Congelação 82
Intercâmbio iónico 82
Osmose inversa e electrodiálise 83
Questões 84
Exercícios finais 85
Bibliografia 86
Unidade 4 – Química e indústria equilíbrios e desequilíbrios
1. O AMONÍACO COMO MATÉRIA-PRIMA
Para muitos, a palavra "química" é sinónimo de substância nociva, tóxica ou artificial.
Contudo, ninguém tem dúvidas quanto ao facto de que muito da nossa qualidade de vida se deve à Química. O
conhecimento químico é hoje imprescindível não só para a interpretação do mundo actual, como também para
a construção de novas formas de matéria. Os químicos conseguem fazer novas moléculas, produzir novos mate-
riais, conhecer as suas propriedades e potencialidades... Mas tudo isto só é possível com recurso a novas tecno-
logias e métodos químicos.
Estas facetas da química encontram-se bem retratadas nos trabalhos desenvolvidos pelo químico alemão Fritz
Haber (1868-1934). Este cientista é conhecido por ter conseguido a síntese do amoníaco a partir do azoto do ar
atmosférico. Foi ele que também abriu caminho à produção dos adubos azotados que fizeram aumentar a pro-
dução agrícola mundial de uma maneira sem precedentes. No entanto, ficou também célebre na História, por
ser ele o "iniciador" da guerra química, ao possibilitar a síntese dos gases asfixiantes durante a Primeira Guerra
Mundial.
Somos assim confrontados com uma química geradora de bens de consumo da maior importância para os hábi-
tos e estilos de vida que hoje são adoptados nas sociedades mas, por outro lado, também geradora de substân-
cias tóxicas e nocivas para a saúde e ambiente. Se é verdade que a globalização e o enorme poder tecnológico,
adquirido pelo Homem, de acção e modificação de ambiente criaram mudanças irreversíveis, é igualmente ver-
dade que desconhecemos muitos dos possíveis efeitos e consequências. Progressivamente, o Homem adquiriu
maior capacidade de modificar o meio em que vive, mas fê-lo de tal forma que, hoje, as consequências come-
çam a ser drásticas. É bem claro que quer o crescimento demográfico, quer o desenvolvimento tecnológico
podem ser postos em causa pela crescente degradação ambiental. Temos de ter consciência que existem limites
impostos pelo ambiente (ar, água, solo ou matérias-primas) que comprometem a sustentabilidade do planeta.
Neste ponto, partindo da síntese industrial do amoníaco, pretende-se sensibilizar, não tanto para a compreen-
são dos processos químicos e físicos envolvidos nas indústrias químicas, mas sim para esta realidade.

ALGUNS MATERIAIS QUE NOS RODEIAM


Muitos dos materiais que nos rodeiam e que utilizamos no dia-a-dia não existem na Natureza nessa forma. Estes
materiais naturais que, em geral, são misturas de substâncias, são submetidos a transformações físicas e/ou
químicas para poderem ser utilizados com o fim em vista.
Por exemplo, a partir de fibras naturais como o algodão, podem obter-se, por tratamento químico, fibras artifi-
ciais.
Além de materiais artificiais, a indústria química permite preparar materiais sintéticos. Estes, como o polietile-
no, os acrílicos e o amoníaco, são obtidos de outros que designamos por matérias-primas.
As matérias-químicas são recursos que o Homem utiliza no fabrico de alguns produtos que usa como bens de
consumo ou de equipamento. Estas podem ter diversas origens.
As matérias-primas são substâncias ou misturas de substâncias com diferentes graus de pureza.
O amoníaco, por exemplo, é uma substância inorgânica importante, usada como matéria-prima no fabrico de
fertilizantes, de ácido nítrico, de explosivos, de produtos de limpeza, etc.
A indústria química, geradora de bens de consumo importantes para os hábitos e estilos de vida que hoje são
adoptados nas sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento, necessita de muitas e diversificadas matérias-
primas.

O benzeno (C6H6)
O gás natural é uma das possíveis maté- é uma das substâncias orgânicas mais
rias- primas para a produção de hidrogénio. A partir do petróleo, podem obter-se importantes na indústria. Cerca de 90% do
numerosas substâncias orgânicas usadas benzeno produzido é utilizado, como maté-
no fabrico de medicamentos, vestuário e ria-prima, na indústria dos polímeros.
outros produtos.

1
O ferro encontra-se na crusta terrestre em O ar líquido é matéria-prima para a produ-
minérios como a hematite e a magnetite. O ção de azoto, que é obtido por destilação As fibras ópticas são feitas dos mesmos
ferro constitui matéria prima de diversas fraccionada. Usa-se na conservação de materiais que o vidro de janela: sílica (SiO2),
industrias metalúrgicas, nomeadamente a alimentos e medicamentos e como refrige- carbonato de sódio (Na2CO3) e óxido de
de produção de aço – liga de ferro, carbono rante; na indústria química destina-se cálcio (CaO). Contudo, contrariamente ao
e outros elementos. sobretudo à produção de amoníaco, ácido vidro, as fibras ópticas transmitem a “luz”
nítrico e adubos nitrogenados. ao longo de quilómetros de fibra sem dimi-
nuição apreciável de intensidade.

ASPECTOS HISTÓRICOS DA SÍNTESE DO AMONÍACO


No final do século XIX, muitos químicos tentaram fazer a síntese do amoníaco a partir do azoto atmosférico e
do hidrogénio, mas, só em 1905, o químico alemão Fritz Haber conseguiu, pela primeira vez, essa síntese.
Fritz Haber estudou as temperaturas e pressões necessárias para combinar os dois gases. Verificou que essas
condições eram difíceis de conseguir: uma temperatura de cerca de 450 °C e uma pressão não superior a 350
atm.
No entanto, apesar destas condições, a produção de amoníaco era muito lenta. Para acelerar a reacção, foi
necessário um catalisador, neste caso, um metal, sobre cuja superfície a combinação dos dois gases se efectua-
va mais rapidamente. Haber ensaiou centenas de catalisadores diferentes, tendo seleccionado uma mistura de
ferro e de pequenas quantidades de óxido de potássio e de alumínio como o mais eficaz; este catalisador acele-
rava a reacção de forma notável.

Síntese do amoníaco: (1) As moléculas do H2 e do N2 ligam-se à superfície do catalisador; (2) Esta interacção
moléculas/catalisador provoca a dissociação das moléculas; (3) Os átomos de H e de N, agora mais reactivos,
combinam-se formando NH3.

SÍNTESE INDUSTRIAL DO AMONÍACO


O amoníaco é um gás incolor, de cheiro característico e sufocante, muito solúvel na água. A
solução aquosa de amoníaco designa-se por amónia.
A síntese industrial do amoníaco é feita pelo processo de Haber - síntese catalítica a partir
do azoto atmosférico e hidrogénio.

Esta síntese foi realizada, pela primeira vez, a nível industrial por Carl Bosch (1874-1940),
depois de ter conseguido equipamento especialmente resistente para desenvolver métodos
químicos de altas pressões.
Comecemos por estudar em separado as reacções de síntese e de decomposição do amoníaco.
A reacção de síntese do amoníaco é traduzida pela equação química seguinte:

Embora no rótulo diga


amoníaco, o frasco con-
tém amónia – solução
aquosa de amoníaco.

O azoto necessário a esta síntese é obtido do ar atmosférico, enquanto que o hidrogénio pode ser produzido
facilmente, fazendo passar vapor de água sobre carvão aquecido.

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Actualmente, o hidrogénio pode também ser obtido a partir da nafta ou da reacção do metano, CH4, principal
componente do gás natural, com vapor de água, na presença de catalisador e a altas temperaturas.

Vimos que o azoto e o hidrogénio, quando reagem em determinadas condições, produzem amoníaco.
No entanto, o amoníaco pode decompor-se a temperaturas elevadas, produzindo azoto e hidrogénio.
A reacção de decomposição do amoníaco é traduzida pela equação química seguinte:

As reacções (1) e (2) são reacções inversas uma da outra. São reacções reversíveis. A equação correspondente
pode ser escrita:

Como neste processo nenhum dos reagentes se esgota, a reacção é uma reacção incompleta.
Uma reacção incompleta é uma reacção em que nenhum dos reagentes se esgota no decorrer da reacção.

REACÇÕES QUÍMICAS COMPLETAS

A reacção de combustão do magnésio, em sistema aberto, é um exemplo de reacção que se aproxima de reac-
ção completa.
O magnésio, por combustão, origina óxido de magnésio.

Esta reacção termina quando o magnésio se consome por completo na presença de oxigénio em quantidade
suficiente para se dar a reacção.
As reacções completas também podem processar-se em sistema fechado. É o caso da reacção entre o ácido
clorídrico e a solução aquosa de hidróxido de sódio.

Esta reacção não ocorre em sentido inverso.

Em qualquer sistema reaccional, em que ocorra uma reacção completa, mesmo que os produtos se mantenham
em contacto, estes não regeneram os reagentes.
Uma reacção completa é uma reacção em que pelo menos um dos seus reagentes atinge valores de concentra-
ção não mensuráveis facilmente.

QUESTÕES
1. Considere o sistema reaccional, em equilíbrio, formado inicialmente por iodo molecular e hidrogénio.

1.1. Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações:


A - Como neste processo nenhum dos reagentes se esgota, a reacção é uma reacção incompleta.
B - Neste sistema reaccional coexistem reagentes e produtos de reacção.
C - Esta reacção termina quando o iodo se consome por completo.
1.2. Esta reacção decorre em sistema aberto ou fechado? Justifique.
1.3. Indique uma propriedade macroscópica que nos permita ver como a reacção evolui .

QUANTIDADE DE MATÉRIA
Como sabemos, as substâncias químicas são constituídas por unidades estruturais (átomos, moléculas ou iões).
Por mais pequena que seja a amostra de substância em estudo, ela contém milhões e milhões de unidades
estruturais, sejam elas átomos, moléculas ou iões.
Como os químicos estudam o seu comportamento químico, para além de outras propriedades, têm necessidade
de "contar" essas partículas... E passaram-no a fazer recorrendo à grandeza quantidade de matéria, grandeza do

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Sistema Internacional de Unidades (SI).
A mole (mol) é a unidade de quantidade de matéria.
A quantidade de matéria (n) é uma das sete grandezas fundamentais do Sistema Internacional (SI).

Uma mole (mol) corresponde à quantidade de matéria que contém tantas entidades elementares (átomos,
moléculas, iões...), quantos os átomos existentes em 1,2 x 10-2 kg de carbono-12.
Como em 1,2 x I0-2 kg de carbono-12 há 6,022 x I023 átomos, numa quantidade de matéria correspondente, por
exemplo, a uma mole de átomos, há também 6,022 x 1023 átomos.
Amostras de substâncias diferentes, com o mesmo número de entidades (N) constituintes, têm a mesma quan-
tidade de substância (n).
O número de entidades que existem na quantidade de matéria correspondente a uma mole 6,022 x 1023 enti-
dades designa-se por constante de Avogadro (L ou NA ).

NA≈ 6,022x1023 mol-1

Se pensarmos na definição da grandeza quantidade de matéria, podemos concluir que o número de entidades
(N), presentes numa amostra, é directamente proporcional à quantidade de matéria (n) respectiva, sendo a
constante de proporcionalidade a constante de Avogadro (NA)

n - quantidade de matéria (mol)


N- número de entidades elementares
NA - constante de Avogadro (mol-1)
Como os químicos representam as substâncias pelas respectivas fórmulas químicas, considera-se que estas
representam a quantidade de matéria de 1 mol da substância em questão.
EXEMPLOS
H2O - fórmula química da água; representa também 1 mol da KCI - fórmula química do cloreto de potássio; representa também
substância molecular água. 1 mol da substância iónica cloreto de potássio formada por iões
23 + -
Em 1 mol de água, há 6,022 x IO moléculas de água; estas, por potássio (K ) e iões cloreto (Cl ).
23 23 +
sua vez, são formadas por 6,022 x 10 átomos de oxigénio e Em 1 mol de cloreto de potássio, há 6,022 x 10 iões K e 6,022 x
23 23 -
12,044 x 10 átomos de hidrogénio. 10 iões Çl .

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QUESTÕES
1. Considere 3 mol de amoníaco, NH3, substância molecular.
1.1. Quantas unidades estruturais existem nas 3 mol de amoníaco? E em 0,1 mol?
1.2. Quantos átomos de azoto e de hidrogénio há nas 3 mol de amoníaco?

MASSA MOLAR
Vimos que em uma mole de moléculas de substâncias diferentes há o mesmo número de moléculas (6,022 x
1023), mas a massa dessas substâncias é, naturalmente, diferente, pois as moléculas têm constituição diferente
e, consequentemente, massas diferentes.

Em 1 mol de moléculas de oxigénio (O2), cuja massa é 32,0 g, há 6,022 x I023


moléculas (Mr(O2) = 32,0).
Em 1 mol de moléculas de dióxido de carbono (CO2), cuja massa é 44,0 g, há
6,022 x I023 moléculas (Mr (CO2) = 44,0).
Uma outra forma de quantificar uma amostra de substância é através da massa de
uma mole dessa substância - massa molar (M).
A massa molar exprime-se usualmente em g mol-1, mas em unidades SI terá de ser
expressa em kg mol-1.
Relativamente aos exemplos que vimos, podemos concluir que:
 A massa molar do oxigénio (O2) é 32,0 g mol-1.
Escreve-se:
M (O2) = 32,0 g mol-1
 A massa molar do dióxido de carbono (CO2) é 44,0 g mol-1
Escreve-se: M (CO2) = 44,0 g mol-1
Se compararmos os valores destas massas molares (M) com os valores das massas moleculares relativas (M,)
destas substâncias, verificamos que são iguais.

E isso não é por acaso... a mole foi escolhida como unidade de quantidade de matéria, de forma que esta igual-
dade entre os valores das massas atómicas ou massas moleculares relativas e os das massas molares se verifi-
casse.
Assim, ao calcular-se, por exemplo, o valor da massa molecular relativa de uma substância, fica-se logo a saber o
valor da sua massa molar (à parte as unidades).
Se se comparar o valor da massa molar de uma substância com a massa atómica ou molecular relativa dessa
substância, verifica-se que são iguais (à parte as unidades).
Pode relacionar-se a quantidade de matéria (n) com a massa (m) de uma amostra de substância, conhecendo a
massa molar (M) dessa substância, pela expressão:

n - quantidade de matéria
m - massa da amostra de substância
M- massa molar da substância

VOLUME MOLAR
Da mesma forma que falamos em massa molar, também podemos falar em
volume molar, como vimos no 10.° ano.
Ao dedicar-se ao estudo dos gases, Avogadro verificou a conhecida Lei de Avo-
gadro:
O volume de um gás, a uma dada pressão e temperatura, é directamente
proporcional à quantidade de gás.
Assim, se p = constante e T= constante.

V1 - volume da quantidade n1 de gás

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V2 - volume da quantidade n2 de gás
Esta expressão mostra que o volume de qualquer amostra de gás não depende do tipo de gás, mas apenas da
quantidade da amostra.
Designa-se volume molar (Vm), o volume ocupado por uma mole de um gás, em determinadas condições de
pressão e de temperatura.
Portanto, o volume molar de um gás só varia com as condições de pressão e de temperatura.

O volume molar de um gás ideal, nas condições normais de pressão e temperatura (PTN), é de 22,4 dm 3 mol-1;
nesse volume há 6,022 x 1023 partículas.
Pode relacionar-se a quantidade de matéria (n) com o volume (V) de um gás, em determinadas condições de
pressão e de temperatura, conhecendo o volume molar (Vm) nessas condições, pela
expressão:
n - quantidade de matéria
V- volume da amostra de gás
Vm-volume molar do gás nas condições de pressão e temperatura a que se encontra
QUESTÕES
1. Algumas botijas de gás, para uso doméstico, contêm 13 kg de gás butano (C4H10).
1.1. Que quantidade de gás contêm as botijas?
1.2. A PTN, qual seria o volume ocupado por essa quantidade de gás?
1.3. Qual o número de moléculas de butano contidas na botija?
2. O dióxido de carbono, CO2, é um dos grandes poluentes atmosféricos e um dos gases responsáveis pelo efeito de estu-
fa.
2.1. Calcule a sua massa molar (consultar uma tabela de massas atómicas relativas).
2.2. Determine a massa de 0,50 mol de dióxido de carbono.
2.3. Quantas moléculas de dióxido de carbono há em 0,50 mol de composto?
2.4. Indique o número de átomos de oxigénio presentes em 2,0 mol de dióxido de carbono.
2.5. Qual o volume ocupado por 0,50 mol de dióxido de carbono a PTN ?
3. Classifique as afirmações seguintes em verdadeiras (V) ou falsas (F).
A. A massa de 1,0 mol de N2 é igual à massa de 1,0 mol de CO.
B. A massa de 1,0 mol de O2 é igual à massa de 2,0 mol de CH4.
C. O volume ocupado por 1,0 g de hidrogénio H2 é igual ao volume ocupado por 32 g de oxigénio, O2, nas mesmas
condições de pressão e de temperatura.

QUANTIDADES ENVOLVIDAS NAS REACÇÕES QUÍMICAS


LEI DE LAVOISIER OU LEI DA CONSERVAÇÃO DA MASSA
Numa reacção química, as unidades estruturais que constituem as substâncias reagentes reagrupam-se de
maneira diferente, originando novas substâncias.
Quando ocorre uma reacção química, há sempre ruptura de ligações químicas nos reagentes e formação de
novas ligações que originam substâncias diferentes - os produtos de reacção – mas a massa do sistema reaccio-
nal conserva-se.
Este facto foi enunciado pelo químico francês Lavoisier (1743-1794) na conhecida Lei de Lavoisier ou Lei da con-
servação da massa numa reacção química.
Lei de Lavoisier - num sistema químico fechado, em reacção, a massa total permanece constante.
AS EQUAÇÕES QUÍMICAS
As equações químicas têm de estar de acordo com a Lei de Lavoisier. Para isso, é preciso acertá-las, colocando
coeficientes estequiométricos atrás das fórmulas químicas.
Os coeficientes estequiométricos são números que precedem as fórmulas químicas e que indicam o número
relativo de moles (de moléculas, iões...) de cada substância que participa na reacção (reagentes e produtos de
reacção).
Uma equação química indica:
 Os reagentes e os produtos de reacção através das fórmulas químicas, acompanhadas do estado físico
em que se encontram (este tem influência na reacção).
 A proporção molar em que os reagentes se combinam e os produtos se formam.
 Se é uma reacção completa (→) ou incompleta (↔).

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EXEMPLO 1 - SÍNTESE DO AMONÍACO

Equação química:

Que informações nos dá esta equação?


A nível molecular, diz-nos que, no estado gasoso, por cada molécula de azoto, que reage com três moléculas de
hidrogénio, formam-se duas moléculas de amoníaco.
A nível molar, diz-nos que, no estado gasoso, por cada mole de moléculas de azoto, que reage com três moles
de moléculas de hidrogénio, formam-se duas moles de moléculas de amoníaco.

Como podemos verificar, a quantidade de átomos de cada elemento presente no sistema reaccional mantém-
se. A equação está de acordo com a Lei de Lavoisier.
EXEMPLO 2 - COMBUSTÃO DO PROPANO

Equação química:

Acertar uma equação química nem sempre é fácil! Vamos dar uma ajuda para os casos mais difíceis.
Nestes casos, poderá usar-se o método matemático dos coeficientes indeterminados, resolvendo um sistema de
pequenas equações a várias incógnitas.
1.° passo: Escrever o esquema químico, com as fórmulas dos reagentes e produtos precedidos de letras: a, b, c...

2.° passo: Estabelecer para cada elemento uma equação:


C: 3a = c;
H: 8a = 2d;
O: 2b = 2c + d
Como há mais incógnitas do que equações, podemos ter múltiplas soluções para o sistema destas três equa-
ções.
Para o resolver, vamos atribuir a uma das incógnitas um valor, por exemplo, a = 1. Então, será: c = 3;d = 4eb = 5.
Portanto, a equação química (acertada) é, como já vimos:

EXEMPLO 3 - REACÇÃO ENTRE O SULFATO DE COBRE(II) E O FERRO


Certas substâncias, como os sais, quando em solução aquosa, dissociam-se nos seus iões.
As equações químicas que traduzem reacções em que intervêm só iões, ou iões e outras espécies químicas não
iónicas dizem-se equações iónicas. Os iões que não participam na reacção designam-se "iões espectadores";
estes iões não devem ser indicados na equação química.
No caso da reacção entre o sulfato de cobre(ll) e o ferro, forma-se sulfato de ferro(ll) e cobre. A equação quími-
ca pode ser escrita da seguinte forma:

O sulfato de cobre(ll) e o sulfato de ferro(ll) são sais, isto é, substâncias iónicas que, em solução aquosa, encon-

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tram-se dissociados nos seus iões.
Uma vez que o ião sulfato, SO4-2 é um "ião espectador", a equação iónica correspondente a esta reacção é, sim-
plesmente:

Quando se escrevem equações iónicas, tem de se ter o cuidado de não só as acertar quanto às massas, como
também quanto às cargas. Se repararmos na equação (1), temos uma carga total de + 2, tanto do lado dos rea-
gentes como do lado dos produtos.
Repare, agora, no esquema químico:

Este esquema está certo quanto às massas, mas não está certo quanto às cargas. Só teremos a equação acerta-
da se introduzirmos coeficientes estequiométricos:

Para acertar uma equação química, temos de colocar coeficientes estequiométricos de tal forma que sejam
iguais nos dois membros da equação:
 o número de átomos de uma mesma espécie;
 a carga eléctrica total.
QUESTÕES
1. Considere a equação química seguinte:

1.1. Que informação qualitativa nos dá esta equação química?


1.2. A reacção química referida é uma reacção de análise ou de síntese? Justifique.
1.3. Tendo em conta as informações quantitativas que a equação química nos dá, classifique como verdadeiras (V) ou
falsas (F) as seguintes afirmações:
A. A quantidade de hidrogénio que reage é igual à quantidade de vapor de água que se forma.
B. Durante a reacção, a quantidade de átomos de oxigénio diminuiu.
C. Durante a reacção, a quantidade de átomos de cada elemento presente no sistema reaccional mantém-se.
2. Escreva as equações químicas (devidamente acertadas) que traduzem as reacções químicas seguintes:
A. Decomposição do clorato de potássio, KCIO3, por aquecimento, em cloreto de potássio e oxigénio.
B. Combustão do metano, CH4.

LEI DAS PROPORÇÕES DEFINIDAS


Um outro aspecto importante das reacções químicas é que, num dado sistema reaccional, reagentes e produtos
de reacção interagem sempre na mesma proporção.
Analisemos, por exemplo, a reacção de síntese do amoníaco.

Criadas as condições necessárias para que a síntese ocorra, verifica-se que:


 Sempre que 1 molécula de azoto, N2, reage com 3 moléculas de hidrogénio, H2, formam-se 2 moléculas
de amoníaco, NH3.

 Sempre que 2 moléculas de azoto, N2, reagem com 6 moléculas de hidrogénio, formam-se 4 moléculas
de amoníaco, NH3.

 Sempre que 1 mol de moléculas de azoto, N2, reagem com 3 mol de moléculas de hidrogénio, H2, for-
mam-se 2 mol de moléculas de amoníaco, NH3.
Lei das proporções definidas - num dado sistema reaccional, reagentes e produtos de reacção interagem sem-
pre na mesma proporção.
As equações químicas dão, portanto, informação sobre a proporção de combinação dos diferentes constituintes
de um sistema reaccional.
Esta informação quantitativa pode ser expressa, quer em quantidade de substância (número de moles), quer em
massa, quer mesmo em volume (no caso de gases a pressão e temperatura constantes).

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No caso da síntese do amoníaco temos:
Informação quantitativa em moles:

Informação quantitativa em massa:

Informação quantitativa em volume (a pressão e temperatura constantes):


Vimos, no 10.° ano, que, nas mesmas condições de pressão e temperatura, o volume ocupado por um gás é
directamente proporcional à quantidade de gás (em mole) - Lei de Avogadro.

A partir das informações retiradas de uma equação química, podemos realizar cálculos Lei de Avogadro
estequiométricos para:
 determinar o rendimento de uma reacção;
 determinar o grau de pureza dos componentes de uma mistura reaccional; A p e T constantes
 identificar o reagente limitante;
 identificar o(s) reagente(s) em excesso;
 verificar se uma reacção química é ou não completa.

Estes cálculos quantitativos são de grande utilidade, tanto no laboratório como na indústria química.
Através deles é possível prever teoricamente as quantidades de produtos que se formam no decurso de uma
reacção química a partir de determinadas quantidades de reagentes, e vice-versa.
Passos a seguir na realização de cálculos estequiométricos:
 Escrever a equação química.
 Converter as massas e/ou volumes que forem dados em quantidades de substância (moles).
 A partir da estequiometria da reacção, deduzir as quantidades obtidas ou necessárias da substância
problema.
 Converter a(s) quantidade(s) da substância problema em massa e/ou volume, caso tenha sido pedido.
 Verificar a coerência dos resultados obtidos.

Considere a reacção química:

9
Qual é a quantidade máxima de amoníaco que se pode obter a partir da reacção de 10,7 g de cloreto de amó-
nio, em solução aquosa, com quantidade suficiente de óxido de cálcio?
Porque falamos em "quantidade máxima que se pode obter" e não apenas em "quantidades que se obtêm"?

RENDIMENTO DE UMA REACÇÃO QUÍMICA


Como na prática, a(s) quantidade(s) de produto(s) que se forma(m) é(são) inferior(es) às quantidades previstas
teoricamente, fala-se em rendimento de uma reacção.

O rendimento de uma reacção é o quociente entre a massa, o volume (gases) ou a quantidade de substância
efectivamente obtida de um dado produto, e a massa, o volume (gases) ou a quantidade de substância que teo-
ricamente seria obtida por reacção completa dos reagentes, na proporção estequiométrica da reacção.

O rendimento exprime-se, geralmente, em percentagem (%).

O facto de um rendimento ser quase sempre inferior a 1 (ou 100%) deve-se, fundamentalmente:
 à reversibilidade de alguns processos;
 à ocorrência de reacções secundárias em que um dos reagentes é comum à reacção principal.
Os processos industriais envolvem quantidades elevadas de substâncias químicas. Um pequeno aumento do
rendimento pode reduzir significativamente os custos de produção.
QUESTÕES
1. Considere a reacção de síntese do amoníaco.

1.1. Que quantidades de azoto, N2, e de hidrogénio, H2, deverão ser introduzidas, em proporções estequiométricas,
num reactor catalítico, para sintetizar 90 mol de amoníaco com um rendimento de 94%?
1.2. Se o rendimento da reacção fosse de 100%, as quantidades necessárias de azoto e de hidrogénio para sintetizar
as mesmas moles de amoníaco seriam iguais às calculadas em 1.1? Justifique a resposta.
2. Fizeram-se reagir 10,0 g de óxido de alumínio, AI2O3, com excesso de ácido clorídrico, tendo-se obtido 25,0 g de cloreto
de alumínio, AICI3. A equação química que traduz a referida reacção é a seguinte:

3. Calcule a quantidade de AICI3 que se obteria se o rendimento fosse de 100%. Calcule o rendimento da reacção.
A fermentação alcoólica da glicose, C6H12O6, consiste na decomposição da glicose (açúcar das uvas), em etanol, C 2H5OH, e
dióxido de carbono, C02, por acção de leveduras. Á equação química que traduz a referida reacção é:

Se se fizerem reagir 270,1 g de glicose, qual será:


3.1. A massa de etanol esperada (massa teórica)?
3.2. O volume de dióxido de carbono esperado (volume teórico) a PTN?
3.3. O volume de dióxido de carbono produzido, se o rendimento da reacção for de 85,0%?

GRAU DE PUREZA DE UM MATERIAL


Nos cálculos estequiométricos que vimos até agora, consideramos sempre os reagentes como substâncias
puras.
No entanto, é normal que os reagentes não se encontrem puros, isto é, que contenham misturadas pequenas
quantidades de outras substâncias que os impurificam. Em geral, os "reagentes" apresentam impurezas inertes.
Daí se falar em grau de pureza de um material.
O grau de pureza de um material é o quociente entre a massa da substância (pura) e a massa da amostra, onde
aquela massa está contida. Exprime-se geralmente em percentagem.

No caso de um "reagente" apresentar impurezas, quando se fazem cálculos estequiométricos, é necessário


descontar essas impurezas, pois só a quantidade correspondente à substância pura é que reage.
Por exemplo, na decomposição química de uma amostra de 100 g de clorato de potássio, KCIO3, com um grau
de pureza de 80%, há 20% de impurezas (substâncias que não intervêm na reacção química). Estas impurezas
têm de ser descontadas.
Um dado "reagente químico" pode apresentar diferentes graus de pureza. Portanto, a escolha do reagente
deverá ser feita consoante as finalidades do seu uso, mas tendo em conta esse grau de pureza, pois os custos

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são bem diferentes.
Não podemos esquecer que quanto mais puro queremos um material, mais custos há na sua síntese industrial.
QUESTÕES
1. Uma lâmina metálica de zinco, com 10,0 g de massa, contém 10% (em massa) de impurezas
inertes.
Quando se introduz esta lâmina em 500 cm3 de uma solução aquosa de HCI, de concentra-
ção 3,0 mol dm-3 ocorre uma reacção química que se traduz pela equação:

1.1. Qual é o grau de pureza da lâmina de zinco?


1.2. Admitindo que o rendimento da reacção é de 100%, verifique se algum dos reagentes está
em excesso.
1.3. Calcule o volume máximo de hidrogénio que se poderia libertar nas condições normais de
pressão e de temperatura.
1.4. Se a lâmina fosse de zinco puro, o volume máximo de hidrogénio que se libertaria, a PTN, seria maior
ou menor? Justifique, fundamentando a resposta com o cálculo desse volume.

REAGENTE LIMITANTE
Como vimos, os reagentes podem não se encontrar em proporções estequiométricas, isto é, um (ou mais) rea-
gentes pode(m) encontrar-se em excesso.
Quando isso acontece, temos sempre:
 Um reagente limitante.
 0(s) reagente(s) em excesso.
O reagente limitante de uma reacção é o reagente cuja quantidade condiciona as quantidades de produtos for-
mados. A reacção termina quando o reagente limitante se esgota.
Este é o reagente que está em menor quantidade relativamente às proporções estequiométricas estabelecidas
pela equação química.

O reagente limitante de uma reacção química é o reagente que está em menor quantidade relativamente às
proporções estequiométricas estabelecidas pela equação química.
Um reagente em excesso é um reagente cuja quantidade presente na mistura reaccional é superior à quantida-
de prevista pela proporção estequiométrica.
Numa reacção química, podemos ter mais do que um reagente em excesso, enquanto que só temos um reagen-
te limitante.
Todos os reagentes que não sejam o limitante são reagentes em excesso.

Passos a seguir na realização de cálculos estequiométricos quando um dos reagentes é limitante:


 Escrever a equação química.
 Converter as massas e/ou volumes dos reagentes em quantidades de substância (moles).
 A partir da estequiometria da reacção, comparar as quantidades dos reagentes. O reagente que está
em "menor quantidade relativa" é o reagente limitante.
 Proceder aos cálculos necessários, tendo como base a quantidade de reagente limitante.
 Converter a(s) quantidade(s) da substância-problema em massa e/ou volume, caso tenha sido pedido.
 Verificar a coerência dos resultados obtidos.
Esquema que poderá ajudar nos cálculos estequimétricos:

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EXERCÍCIOS

1. A ureia, (NH2)2CO, é usada como fertilizante e em rações para animais, bem como na indústria de polímeros.
A síntese da ureia é feita por reacção entre o amoníaco e o dióxido de carbono, segundo a equação química:

Num dado processo, são postos a reagir 681,2 g de NH3(g) com 1760 g deCO2(g).
1.1. Identifique o reagente limitante. Calcule a massa de ureia obtida.
1.2. Qual seria a massa de ureia obtida, em iguais condições, partindo, agora, de 681,2 g deNH3 ede2500 g deCO2. Jus-
tifique.

1. Quando o alumínio é exposto ao ar, oxida, formando-se, à superfície deste, uma camada de óxido de alumínio, AI2O3.
Esta camada evita a corrosão do alumínio, razão pela qual é utilizado, por exemplo, nas latas de bebidas.
1.1. A reacção entre o alumínio e o oxigénio do ar é uma reacção completa. Justifique esta afirmação.
1.2. Determine a massa molar do óxido de alumínio.
1.3. Calcule a massa de óxido de alumínio, existente em 2,5 mol deste óxido.
2. Em Portugal, o limite máximo admissível de álcool no sangue, para um condutor de automóvel, é de 0,50 g de álcool
3 3
por dm de sangue. Então, a quantidade máxima de álcool (etanol, C2H5OH) por dm de sangue é:
-2 -1
A-1,1 x 10 mol; B- 3,3 x 10 átomos; C-10,9 mol
Seleccione a opção correcta.
3. A aspirina, utilizada, em geral, como analgésico e antipirético, tem como princípio activo o ácido acetilsalicílico, C 9H8O4.
Este pode ser obtido a partir da reacção entre o ácido salicílico, C7H6O3, e o anidrido acético, C4H6O3, segundo a equação
química:

Atendendo às informações contidas na embalagem, calcule a massa de anidrido acético necessário para preparar os 20
comprimidos se:
3.1. A reacção for completa.
3.2. O rendimento da reacção for de 80%.
4. O gelo seco, dióxido de carbono, no estado sólido utilizado, por exemplo, em refrigeração, obtém-se quando se sub-
mete o dióxido de carbono, no estado gasoso, a certas condições de pressão e de temperatura. Este, por sua vez, pode
ser obtido a partir da decomposição térmica do carbonato de cálcio, um dos principais constituintes do calcário, sendo
a reacção traduzida pela equação química seguinte:

Considerando a decomposição térmica de uma amostra de calcário, de massa 100 g, com 20% de impurezas, como uma
reacção completa, determine:
4.1. A massa de CO2(s) que se obtém.
4.2. O volume de CO2(g) que se obtém em condições PTN.
4.3. O rendimento da reacção, se a massa de CO2 obtida for de 30 g.
5. O ácido fluorídrico, HF(aq), utilizado na produção do alumínio, pode ser obtido pela reacção, traduzida pela equação
química seguinte:

Num determinado processo são tratados 4,0 kg de CaF2 com 6,0 kg de ácido sulfúrico.
5.1. Indique, justificando com cálculos, qual é o reagente limitante.
5.2. Determine a quantidade de HF produzida, considerando o rendimento da reacção de 85%.

2. O AMONÍACO, A SAÚDE E O AMBIENTE


Os grandes avanços científicos e tecnológicos, que se têm verificado desde a Revolução Industrial, têm permiti-
do a produção de bens de consumo essenciais à nossa qualidade de vida. É o que acontece com as indústrias
electrónica, têxtil, química...
A produção do amoníaco, por exemplo, matéria-prima de muitas indústrias, veio contribuir, nomeadamente,
para a produção de fertilizantes, em grande escala e a baixo custo, que permitiram a obtenção de elevada quan-
tidade de alimentos requeridos pelo crescimento exponencial da população mundial.
Apesar de a actividade industrial ser muito importante para o nosso bem-estar, tem, no entanto, um impacto
muito negativo sobre o planeta e, em particular, sobre os seres humanos, que devemos conhecer para minimi-
zar os seus efeitos.
Neste ponto, vamos referir alguns dos riscos para a saúde e para o ambiente provocados por um dos produtos
químicos com que lidamos no dia-a-dia, o amoníaco.

12
RISCOS DO AMONÍACO PARA A SAÚDE
O amoníaco, no estado gasoso, é muito irritante para as mucosas. Quando atinge as vias respiratórias superio-
res, provoca espirros, dispneia e tosse e, quando atinge os olhos, fá-los lacrimejar, podendo provocar conjuntivi-
tes.
O amoníaco, em solução aquosa, pode provocar queimaduras na pele e, se for ingerido, pode causar corrosão
imediata do tracto gastrointestinal.
A gravidade das lesões provocadas pela exposição ao amoníaco está relacionada com a sua concentração e/ou
tempo de exposição.
A inalação de amoníaco pode ser detectada a partir de uma concentração de 5 ppm a 25 ppm. Nas inalações
para concentrações superiores, o tempo de exposição e as consequências sobre o organismo, estão resumidas
no quadro apresentado.

Mas o amoníaco apresenta ainda outros perigos adicionais no seu manusea-


mento a pressão elevada.
É o que se verifica em sistemas de refrigeração e aquando do seu transporte;
são exigidas elevadas pressões (para o manter no estado líquido) e normas
específicas de segurança, pois, por exemplo, se se misturar, acidentalmente,
com óleos lubrificantes, pode produzir explosões.

SE O AMONÍACO APRESENTA TANTOS RISCOS, PORQUE É USADO?


Por:
 ter baixo custo;
 ter melhor coeficiente de transferência de calor do que os outros refri-
gerantes;
 ter "alarme" próprio - em caso de acidente, o seu odor característico é
notado (para concentração a partir de 5 ppm);
 não ser miscível com o óleo de lubrificação utilizado no equipamento de
refrigeração; -não ser inflamável (só em determinadas condições de concentração e de pressão);
 ser o refrigerante que consome menos energia na refrigeração;
 ser biodegradável. O vapor de amoníaco regressa à Terra como fertilizante, quando chove, neva...;
 não ser um gás de estufa e não destruir a camada de ozono.

Como o amoníaco apresenta tantos riscos para a saúde, é necessário adoptar certas medidas de prevenção,
nomeadamente quanto:
 à manipulação em locais ventilados;
 ao armazenamento ao abrigo do calor, da radiação solar e de produtos susceptíveis de reagirem violen-
tamente com o amoníaco;
 às pessoas (instruídas e treinadas na sua manipulação), que devem utilizar luvas, botas, avental imper-
meável e roupa de algodão;
 à verificação regular das instalações (canalizações, uniões...);
 à situação de fuga de amoníaco, só o pessoal equipado com máscaras respiratórias deve permanecer no
local.

RISCOS DO AMONÍACO PARA O AMBIENTE


Que sucede ao amoníaco quando entra no meio ambiente?
Uma vez que o amoníaco é produzido na Natureza, este pode ser encontrado no solo, na água e no ar, sendo
reciclado no ambiente como fazendo parte do ciclo do azoto.
O amoníaco presente no solo e na água pode ser incorporado por plantas e bactérias ou ser transformado em
nitratos e nitritos por outras bactérias.
O amoníaco libertado para a atmosfera é, em geral, rapidamente removido pela chuva ou pela neve ou por
reacção com outras substâncias. Destas reacções, podem formar-se nitrato e sulfato de amónio que são matéria
particulada (partículas sólidas) que podem constituir suspensões e colóides na atmosfera. O amoníaco também
pode dar origem a óxidos de azoto, gases poluentes da atmosfera.

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EXERCÍCIOS
1. No laboratório, um aluno, quando media um certo volume de amoníaco na hotte, derramou um pouco sobre o braço.
Qual será o procedimento correcto a adoptar de imediato?
A. Chamar imediatamente o médico e não tocar na zona atingida até ele chegar.
B. Aplicar imediatamente uma solução aquosa de ácido sulfúrico para neutralizar o amoníaco.
C. Tomar um antídoto.
D. Lavar o braço afectado com muita água e, em seguida, lavar com água e sabão.
E. Esperar que a aula acabe e, em seguida, ir ao médico.
Seleccione a opção correcta.
2. Dos símbolos de perigosidade seguintes, qual é o que deve estar representado num frasco que contenha amoníaco?

3. Muitos dos produtos de limpeza que utilizamos nas nossas casas contêm amoníaco. Por isso, devem ser tomadas
algumas medidas no seu armazenamento e utilização, nomeadamente:
A. Colocar os frascos em prateleiras baixas para, se caírem, não se partirem.
B. Manter os produtos fora do alcance das crianças.
C. Guardar os produtos em embalagens que seriam para deitar fora, por exemplo, de Coca-cola.
D. Ventilar os compartimentos quando se utilizam esses produtos de limpeza.
E. Ter sempre uma garrafa de água próxima do local onde esses produtos estão armazenados para que, em caso
de contacto, a pele possa ser lavada imediatamente.
Seleccione a(s) opção(ões) correcta(s).
4. No manuseamento do amoníaco podem ocorrer acidentes.
É importante conhecer medidas que devem ser adoptadas nesses casos.
Das proposições seguintes, indique as correctas.
A. Em caso de inalação, a vítima deve ser levada para uma área arejada e, se for necessário, administrar-se oxi-
génio.
B. Em caso de inalação, a vítima deve ser posta perto de uma ventoinha.
C. Em caso de contacto com os olhos, a vítima deve fechar imediatamente os olhos e esperar que cheguem os
primeiros socorros.
D. Em caso de contacto com os olhos, não se deve permitir que a vítima feche ou mantenha os olhos fechados,
lavando imediatamente estes com água.
5. O amoníaco que é libertado para o ambiente pode originar matérias particuladas como o sulfato de amónio, (NH4)2SO4,
e o nitrato de amónio, NH4NO3, e óxidos de azoto. Estes produtos têm efeitos nocivos para a saúde e para o ambiente.
5.1. Porque é que estes materiais particulados são tão prejudiciais para a saúde?
5.2. Calcule a massa de material particulado retido por um filtro de uma estação de análise de qualidade do ar, duran-
-4
te um dia, se ficarem retidos no filtro 5,002 x 10 g de material particulado por metro cúbico de ar bombeado e
3 -1
se o caudal de ar bombeado for de 2,5 m h .

3. SÍNTESE DO AMONÍACO E BALANÇO ENERGÉTICO


"... e o que será que o Homem irá queimar quando não houver carvão? Água! Sim, meus amigos, eu acredito
que um dia a água será utilizada como combustível, que o hidrogénio e o oxigénio que a constituem, utilizados
por si só ou juntamente, fornecer-nos-ão uma inesgotável fonte de calor e luz."
Júlio Verne, 1850, A Ilha Misteriosa"
A obtenção de energia, tão necessária ao nosso bem-estar e qualidade de vida, tem sido uma preocupação
constante do Homem. E entre os muitos processos a que o Homem recorre para "produzir" energia, encontram-
se as reacções químicas; estas são muitas vezes provocadas não pelos produtos finais que se possam obter, mas
pela energia que se liberta.
Por exemplo, as reacções de combustão que envolvam combustíveis como o gás natural e o petróleo são provo-
cadas, no dia-a-dia, mais pela energia que se liberta do que pelos produtos de combustão que se produzem.
A energia associada a uma reacção química está relacionada com a energia interna do sistema em que ocorre a
reacção.
Designamos por energia interna (U) a energia associada às unidades estruturais das substâncias. Esta energia
interna resulta essencialmente da:
 energia própria dos átomos e das moléculas;
 energia potencial resultante da interacção das moléculas;
 energia mecânica de vibração, de rotação e de translação das moléculas.
Quando uma substância toma parte numa reacção química, há uma energia posta em jogo como resultado da
ruptura de ligações e da formação de novas ligações.

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Todas as reacções químicas obedecem à lei da conservação da energia - a quantidade total de energia no Uni-
verso permanece constante.
Recorrendo a esta lei, pode calcular-se a energia posta em jogo nas reacções químicas.
Neste ponto, vamos precisamente estudar as variações de energia que acompanham as reacções químicas.
A energia química é a energia "armazenada" nas unidades estruturais das substâncias. Quando as substâncias
participam em reacções, em geral, libertam ou absorvem energia. Mas há também transformações físicas em
que as substâncias libertam ou absorvem energia.

REACÇÕES QUÍMICAS EXOENERGÉTICAS E ENDOENERGÉTICAS


Para que ocorra uma reacção química, é necessário que os reagentes, uma vez postos em contacto, possuam
energia suficiente para se transformarem em produtos da reacção.
As substâncias químicas têm a sua própria energia interna.
Quando se produz uma reacção química, os reagentes podem aumentar ou diminuir a sua energia quando se
transformam em produtos da reacção.
Pensando na primeira Lei da Termodinâmica, podemos dizer que:
A energia absorvida sob a forma de calor, durante uma reacção química, mais o trabalho realizado sobre o sis-
tema levam a um aumento da energia dos produtos de reacção.
A energia libertada sob a forma de calor, durante uma reacção química, mais o trabalho realizado pelo sistema
levam a uma diminuição da energia dos produtos de reacção.

Conforme a energia que absorvem ou libertam para o meio envolvente, assim as reacções químicas se classifi-
cam em endoenergéticas e exoenergéticas.
 Reacção química endoenergética - reacção que, em sistema isolado, ocorre
com diminuição de temperatura.
 Reacção química exoenergética - reacção que, em sistema isolado, ocorre
com elevação de temperatura.
Como deve ter verificado, a reacção entre o zinco e o iodo pulverizado e uma reacção
fortemente exoenergética.

Uma vez que o sistema não é isolado, há transferência de energia sob a forma de
calor, do sistema para o exterior, até ser atingido o equilíbrio térmico.
Nas reacções exoenergéticas, os produtos da reacção têm menor energia do que os
reagentes pois, durante o processo, liberta-se energia.

Reagentes→ Produtos + Energia

No caso da reacção do tiocianato de amónio com o hidróxido de bário octa-hidratado, o gobelé "colou" à cortiça
pelo facto de a reacção ser endoenergética.
Ao absorver energia, a água que humedecia a cortiça congelou-se "colou" ao gobelé.
Como o sistema não é isolado, este absorve energia, sob a forma de calor, do meio exterior, até ser atingido o
equilíbrio
Nas reacções endoenergéticas, os produtos da reacção têm maior energia que os reagentes pois, durante o
processo, absorvem energia.
Reagentes→ Produtos + Energia
Porque há trocas de energia no decurso das reacções químicas?

QUESTÕES
Na figura está representada a reacção do propano, C3H8(g), com o oxigénio, O2(g).

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1. Escreva a equação química que traduz a referida reacção.
2. No decurso da reacção houve ruptura de que ligações?
3. Que novas ligações se formaram?
4. A ruptura de ligações será um processo endoenergético ou exoenergético? E a formação de novas ligações?
No decurso de uma reacção química, ocorre um processo simultâneo de ruptura e formação de novas ligações:
ruptura de ligações nos reagentes e formação de novas ligações nos produtos da reacção.
A ruptura de ligações faz-se com absorção de energia; é um processo endoenergético.
A formação de novas ligações faz-se com libertação de energia; é um processo exoenergético.
Consideremos, por exemplo, uma molécula de hidrogénio, H2. A molécula é mais estável do que os dois átomos
separados. Para separar os seus átomos, é necessário fornecer energia ao sistema para romper a ligação H-H
entre os dois átomos.

Essa energia designa-se, geralmente, por energia de dissociação da ligação e representa-se por D(H-H).
A energia D(H-H) = 436,4 kJ mol-1 indica-nos que são necessários 436,4 kJ para quebrar as ligações covalentes
em uma mole de moléculas de H2, no estado gasoso.
Aquando da formação da molécula a partir de dois áto-
mos isolados de hidrogénio,

liberta-se energia. Essa energia designa-se por energia


de ligação e representa-se por Elig(H-H).
A energia de ligação, nas moléculas diatómicas, é igual
em valor absoluto à energia de dissociação, mas de
sinal contrário.

Uma reacção química é um processo onde ocorrem, em simultâneo, ruptura e formação de ligações químicas.
A energia posta em jogo numa reacção química resulta do balanço entre a energia absorvida ("gasta") na ruptu-
ra de ligações e a energia libertada na formação de novas ligações, processos que ocorrem simultaneamente.
Esta energia designa-se por calor de reacção, Q.
O calor de reacção, Q, é a quantidade de energia posta em jogo numa reacção química.
O calor de reacção é característico de cada reacção química para uma pressão, temperatura e quantidade de
substância determinadas.
Para quantificar a quantidade de energia posta em jogo num processo, a pressão constante, os químicos usam o
conceito de entalpia, H. A entalpia (molar) exprime-se em joule por mole de reacção, (J/mol de reacção).
Contudo, o que se mede normalmente é a variação de entalpia, ΔH, também designada por entalpia de reacção.
A variação de entalpia, ΔH, é igual ao calor de reacção a pressão constante, Qp.

A variação de entalpia, ΔH, é quantidade de energia posta em jogo numa reacção química, a pressão constante.
A variação de entalpia, ΔH, é, portanto, igual à diferença entre as entalpias dos produtos e as entalpias dos rea-
gentes.
ΔH=H(produtos)-H(reagentes)

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Como saldo que é, entre a energia envolvida na ruptura e na formação de ligações químicas, a variação de
entalpia pode ser positiva ou negativa; depende do processo.
Um critério de identificar as reacções endoenergéticas e exoenergéticas é através do sinal (+) ou (-) da variação
de entalpia da reacção. Assim:

BALANÇO ENERGÉTICO NA SÍNTESE DO AMONÍACO


Vamos agora fazer o balanço energético da síntese do amoníaco, calculando a variação de entalpia da reacção.

Em cada molécula de azoto, N2, há ruptura de uma ligação N=N.


Em cada molécula de hidrogénio, H2, há ruptura de uma ligação H-H.
Por cada molécula de amoníaco, NH3, há a formação de três ligações N-H.

Atendendo aos valores tabelados das energias de dissociação:


D(N=N) = 941,4 kJmol-1
D(H-H) = 436,4 kJ mol-1
D(N-H) = 393 kJ mol-1
E a que
ΔH= ∑Energias de ligações "quebradas" - ∑ Energia de ligações formadas
temos:

A variação de entalpia, AH, da reacção de síntese do amoníaco é ΔH = -107kJ mol-1.


Como ΔH < 0, a reacção é exoenergética. Nesta reacção são libertados 107 kJ por cada 2 mol de NH3(g) que se

17
formam a pressão constante.
QUESTÃO
1. Por combustão do hidrogénio, forma-se vapor de água, de acordo com a equação química:

Considerando as energias médias de dissociação das ligações:


-1
D(H-H) = 436kJmol
-1
D(O=O) = 494 kJ mol
-1
D(O-H) = 464kJmol
Calcule a variação de entalpia associada a esta reacção.

EXERCÍCIOS
1. Considere a reacção química traduzida pela equação:

Seleccione a opção que permite escrever uma afirmação verdadeira. "Na reacção química referida...
A. ... o sistema absorve energia."
B. ... a energia envolvida na ruptura das ligações químicas em H2(g) e I2(g) é superior à energia libertada na for-
mação das ligações em Hl(g)."
C. ... a temperatura final do sistema reaccional é superior à inicial."
D. ... a energia das partículas diminui, à medida que ocorre a reacção."
E. ... a temperatura do sistema diminui."
2. Classifique em verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das afirmações seguintes:
A. Num sistema isolado não ocorrem reacções exoenergéticas, porque a temperatura não varia.
B. Numa reacção exoenergética, a soma das energias de ligação nos produtos é inferior à soma das energias de
ligação nos reagentes.
C. Uma reacção exoenergética é necessariamente provocada.
D. A condensação de um vapor é um processo exoenergético.
E. As energias de ligação podem ser positivas ou negativas.
3. Considere a reacção de formação de H2O(g), traduzida pela equação química:

Considerando as energias médias de dissociação das ligações:


-1 -1 -1
D(H-H) = 436 kJ mol D(O=O) = 494kJmol D(O-H) = 464kJmol
Seleccione a opção que permite completar correctamente a seguinte afirmação:
"A variação de entalpia associada à vaporização da água é...
-1 -1 -1 -1 -1
A. 466 kJ mol B. 245 kJ mol C. -245kJ mol D. 0 kJmol E. 1611 kJ mol

4. PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE AMONÍACO


Muitas reacções químicas tendem para o esgotamento de, pelo menos, um dos reagentes - são, como vimos,
reacções completas. Há outras, porém, como acontece com a síntese do amoníaco, em sistema fechado, em
que nenhum dos reagentes se esgota; essas reacções são incompletas, podendo ocorrer nos sentidos directo e
inverso, e envolvem competição entre transformações opostas uma da outra, tendendo, no entanto, para um
equilíbrio.
Quando uma reacção química atinge o estado de equilíbrio, embora não se observem variações visíveis no sis-
tema, há grande actividade a nível molecular, pois as moléculas de reagentes continuam a dar origem a molécu-
las de produtos e as de produtos a moléculas de reagentes.
Na Natureza, verificam-se muitas situações de equilíbrio e de desequilíbrio - a existência de oxigénio dissolvido
na água do mar, a formação de hidrogenocarbonato, as trocas gasosas nas células e nos pulmões; no entanto, é
nas situações de equilíbrio-desequilíbrio que essas reacções se manifestam, que a vida decorre...
A importância do equilíbrio químico reflecte-se particularmente na produção industrial.
A síntese industrial de qualquer substância resulta de estudos em que intervêm técnicos, como engenheiros
químicos e economistas, com vista à maior rentabilidade, nas melhores condições económicas, de qualidade e
de segurança.
Assim, será possível optar por condições de produção que resultem de um compromisso entre a extensão de
reacção, a sua velocidade, o seu preço e a segurança do processo.
Para que um processo seja rentável, é necessário compreender como ele se processa, como controlar as diver-
sas variáveis, de forma que uma das reacções seja favorecida em detrimento de outra, para se obterem rendi-
mentos aceitáveis.
Neste ponto, iremos estudar o equilíbrio químico e a extensão das reacções reversíveis.

18
REACÇÕES REVERSÍVEIS
Vimos já que uma reacção incompleta é uma reacção em que nenhum dos reagentes se
esgota no decurso da reacção.
Estas reacções são reacções reversíveis, isto é, dão-se nos dois sentidos.

No início de um processo reversível, a reacção dá-se no sentido directo, mas, à medida


que se formam os produtos, estes vão reagir e a reacção começa a dar-se no sentido
inverso.
A maioria das reacções são reversíveis em maior ou menor extensão.

Reacção reversível - é uma reacção em que os reagentes dão origem aos produtos da
reacção, diminuindo a sua concentração, sem, contudo, se esgotarem. Simultaneamente,
os produtos da reacção reagem entre si para originar reagentes.
Uma reacção reversível representa-se por duas setas com sentidos opostos (↔) a separar as representações
simbólicas dos intervenientes na reacção (reagentes e produtos).
Numa reacção reversível, conforme o sentido de reacção que queremos referir, assim falamos em reacção
directa e reacção
Por convenção, designa-se:
 Reacção directa - a reacção em que, na equação química, os reagentes se representam à esquerda das
setas e os produtos à direita das mesmas.
 Reacção inversa - a reacção em que, na equação química, os reagentes se representam à direita das
setas e os produtos à esquerda das mesmas.
Consideremos, por exemplo, um recipiente vazio, no qual se introduziu uma certa quantidade de dióxido de
enxofre, SO2, e de oxigénio, O2. Fechou-se o recipiente e elevou-se a temperatura até serem atingidos os 1000
K, temperatura que foi depois mantida constante.
Que se terá verificado?
Primeiro começou a ocorrer a reacção directa, na qual se forma trióxido de enxofre, SO3.

O valor da velocidade desta reacção directa, vd diminui com o tempo, à medida que diminuem as concentrações
de SO2 e de O2.
Entretanto, o SO3 formado começa a decompor-se, produzindo de novo SO2 e O2. Esta é a reacção inversa, na
qual o valor da sua velocidade, vi, aumenta com o tempo, à medida que aumenta a concentração de SO3.

Ao fim de certo tempo, te, o valor da velocidade da reacção directa passa a ser igual ao valor da velocidade da
reacção inversa.
A partir desse instante de tempo, te, as concentrações dos componentes da mistura reaccional mantêm-se cons-
tantes. Atinge-se o estado de equilíbrio químico:

19
Como acabámos de ver, as reacções reversíveis tendem para um estado de equilíbrio. Este é atingido quando
os valores das velocidades das reacções directa e inversa se igualarem.
A partir desse instante de tempo, as concentrações das espécies químicas intervenientes na reacção permane-
cem constantes ao longo do tempo.
Macroscopicamente, quando um sistema se encontra em equilíbrio químico, a uma dada temperatura, não se
registam mudanças observáveis de propriedades físico-químicas ao longo do tempo (cor, concentração dos
componentes, pressão, volume, temperatura e outros). No entanto, a reacção não pára; os reagentes conti-
nuam a formar produtos da reacção, e vice-versa.
Daí um estado de equilíbrio químico de um sistema ser um estado de equilíbrio dinâmico.
Equilíbrio químico de um sistema - é o estado de equilíbrio dinâmico, em que a rapidez da variação de uma
dada propriedade num sentido é igual à rapidez de variação da mesma propriedade no sentido inverso.
Saliente-se que, apesar de as reacções reversíveis tenderem para um estado de equilíbrio, existem reacções
reversíveis em situação de não equilíbrio.
É o caso, por exemplo, da reacção reversível de conversão de ozono, O3, em oxigénio, O2, e vice-versa, que ocor-
re na estratosfera por acção da radiação UV

Este processo reversível natural manteria a concentração de ozono constante na estratosfera, se este não fosse
destruído por agentes antropogénicos.

EQUILÍBRIO QUÍMICO HOMOGÉNEO


Uma vez compreendido o conceito de estado de equilíbrio de um sistema reaccional, vamos agora caracterizar
quantitativamente o equilíbrio químico em sistemas homogéneos.
Equilíbrio químico homogéneo - é o estado de equilíbrio que se verifica num
sistema reaccional, em que todas as espécies envolvidas se encontram na mes-
ma fase.
EXEMPLO 1
Um exemplo de equilíbrio químico homogéneo (em fase gasosa) é a dissociação
do tetróxido de diazoto, N2O4, em dióxido de azoto, NO2.

A extensão desta reacção pode ser facilmente controlada, na medida em que o


tetróxido de diazoto, N2O4, é um gás incolor e o dióxido de azoto, NO2, é um gás
castanho-escuro.
Analisemos três situações diferentes relativamente a este equilíbrio.
SITUAÇÃO 1
Suponhamos que é colocada uma quantidade conhecida de O2(g) num frasco
fechado, onde previamente tinha sido feito o vácuo.
De imediato aparece uma coloração acastanhada, o que prova a dissociação do
N2O4(g) em NO2(g).
A cor intensifica-se à medida que continua a dissociação do N2O4(g), até ser atin-

20
gido o equilíbrio químico. Uma vez atingido, deixa de se observar qualquer alteração de cor.
O gráfico da figura 4.6 traduz a variação das concentrações do tetróxido de diazoto, N2O4(g), e do dióxido de
azoto, NO2(g), em função do tempo, para uma mistura reaccional nestas condições.
Por análise do gráfico, verificamos que, ao longo do tempo, a concentração de N2O4(g) diminui e a concentração
de NO2(g) aumenta, até que, em dado instante, as concentrações de N2O4(g) e de NO2(g) permanecem constan-
tes.
É a partir desse instante que o sistema se encontra em equilíbrio químico.
Neste estado de equilíbrio, as velocidades das reacções directa e inversa são
iguais e as concentrações dos reagentes e dos produtos não variam em fun-
ção do tempo.

SITUAÇÃO 2
Suponhamos, agora, que é colocada uma quantidade conhecida de NO2(g)
num frasco fechado, onde previamente tinha sido feito o vácuo.
Verifica-se experimentalmente que a cor do NO2(g) é atenuada até ser atin-
gido o equilíbrio. Uma vez atingido, não se observa qualquer alteração de
cor.
O gráfico da figura 4.7 traduz a variação das concentrações de N2O4(g) e de
NO2(g), em função do tempo, para uma mistura reaccional nestas condições.
SITUAÇÃO 3
Este mesmo equilíbrio pode também ser atingido partindo de uma mistura reaccional de NO2(g) e de N2O4(g).
Dependendo da temperatura do sistema reaccional e das quantidades iniciais de NO2(g) e de N2O4(g), as con-
centrações destes dois gases no equilíbrio são diferentes, como podemos ver nos gráficos anteriores.
Num sistema químico em equilíbrio estão, portanto, presentes todas as espécies da mistura reaccional, haven-
do, para uma dada temperatura, uma infinidade de estados de equilíbrio possíveis, devido às diferentes con-
dições iniciais.
Na tabela a seguir, apresentam-se as concentrações de NO2(g) e de N2O4(g), obtidas experimentalmente, para
diferentes estados de equilíbrio, a 25 °C, e para condições iniciais diferentes do sistema reaccional.

Por análise dos valores da tabela, verifica-se que a razão

é praticamente constante e, neste caso, igual a 4,63 x 10-3 (valor médio dos quocientes dos valores registados).
Como este quociente, aproximadamente constante, corresponde a uma situação de equilíbrio, dizemos que a
constante de equilíbrio desta reacção é dada pela expressão:

O valor numérico da constante de equilíbrio não depende das concentrações iniciais das substâncias de partida
(reagentes ou produtos).
EXEMPLO 2
A reacção de síntese do amoníaco, em sistema fechado, é outro exemplo de equilíbrio químico homogéneo.

Verifica-se, experimentalmente, que o valor da constante de equilíbrio, Kc, desta reacção, que é dada pela

21
expressão:

A este valor de Kc correspondem múltiplos estados de equilíbrio para os quais o valor de Kc é o mesmo, a esta
temperatura.

CONSTANTE DE EQUILÍBRIO DE UMA REACÇÃO QUÍMICA


Genericamente, para um sistema químico homogéneo em equilíbrio químico a uma determinada temperatura,
que podemos representar pela equação:

onde a, b, c e d são os coeficientes estequiométricos das espécies A, B, C e D, a constante de equilíbrio, em ter-


mos de concentração, Kc, é dada pela expressão:
(1) Lei da acção das massas
A constante de equilíbrio, Kc, não tem unidades e o seu valor é o mesmo para qualquer estado de equilíbrio
dessa reacção, a uma dada temperatura.
A constante de equilíbrio, Kc, de uma reacção só depende da temperatura.
A equação (1) traduz de forma matemática a Lei da acção das massas, proposta pela primeira vez, em 1864, por
Cato Guldberg (1836-1902) e Peter Waage, (1833-1900). Daí a Lei da acção das massas também ser conhecida
por Lei de Guldberg e Waage.
Lei da acção das massas - num sistema químico em equilíbrio, a uma dada temperatura, existe uma razão cons-
tante entre o produto das concentrações dos produtos de reacção e o produto das concentrações dos reagentes,
todos eles elevados aos respectivos coeficientes estequiométricos.
Para escrever a constante de equilíbrio, Ke, de uma reacção química, deve-se atender aos seguintes aspectos:
 Começar por escrever a equação química da reacção.
 No numerador, indicam-se as concentrações no equilíbrio dos produtos de reacção, cada uma delas ele-
vada a um expoente, que é o respectivo coeficiente estequiométrico na equação química.
 No denominador procede-se da mesma forma, mas, agora, com as concentrações dos reagentes no
equilíbrio.
 As concentrações dos reagentes e dos produtos são expressas em mol dm3.
 Embora as concentrações estejam expressas em mol dm 3, a constante de equilíbrio é considerada adi-
mensional) - não tem unidades.
 Ao atribuirmos um valor à constante de equilíbrio, devemos indicar a equação química e a temperatura
da reacção.
QUESTÕES
1. Num recipiente vazio, de 5,0 L de capacidade, colocou-se uma mistura de azoto, N2, e de hidrogénio, H2, a 500 °C.
Quando o equilíbrio foi atingido, verificou-se que no sistema reaccional existiam 84,28 g de N2(g), 4,20 g de H2(g) e
9,61 (g) de NH3(g).
Calcule o valor da constante de equilíbrio, Kc, para esta reacção, à temperatura considerada.
2. A constante de equilíbrio Kc, para a reacção:

que ocorre num recipiente fechado com 1,00 L de capacidade, é Kc = 5,5 x 10, a 700 K.
-3
Considere que no equilíbrio, a 700 K, as concentrações de H 2(g) e de I2(g) são iguais a 0,213 mol dm .
2.1. Calcule o valor da concentração de Hl(g) no equilíbrio.
2.2. Determine o valor das quantidades iniciais de H 2(g) e de I2(g), componentes reaccionais de que se partiu em igual
quantidade.
3. Nas figuras estão representados dois gráficos referen-
tes ao exercício resolvido 2 que acabámos de ver.
Para este equilíbrio é, como vimos, Kc = 5,5 x 10, a
700 K.
3.1. Em que instante de tempo o valor da velocidade
da reacção directa é máximo?
3.2. Como varia o valor da velocidade da reacção
inversa com o tempo?
3.3. Porque é que a variação das concentrações de
H2(g) e de I2(g), com o tempo, são traduzidas no
gráfico por uma mesma curva?

22
3.4. Como identificamos, em cada um dos gráficos, o momento em que se atinge o equilíbrio químico?

COMO VARIA A CONSTANTE DE EQUILÍBRIO, KC, COM A TEMPERATURA?


A tabela, que a seguir se apresenta, mostra a variação da constante de equilíbrio, Kc, com a temperatura para
diferentes reacções, tanto endoenergéticas como exoenergéticas.

Como podemos verificar:


 Nas reacções endoenergéticas (ΔH > 0), Kc aumenta quando - temperatura do sistema aumenta.
 Nas reacções exoenergéticas (ΔH < 0), Kc diminui quando a temperatura do sistema aumenta.

A variação de temperatura afecta profundamente os sistemas em equilíbrio, uma vez que modifica o valor da
constante de equilíbrio.
 Se a temperatura aumenta, o equilíbrio desloca-se no sentido da reacção endoenergética.
 Se a temperatura diminui, o equilíbrio desloca-se no sentido da reacção exoenergética.

SERÁ QUE O VALOR DE KC DEPENDE DA FORMA COMO A EQUAÇÃO QUÍMICA ESTÁ ESCRITA?
1. REACÇÃO INVERSA
Consideremos novamente o equilíbrio químico que traduz a dissociação do tetróxido de diazoto, N2O4(g), em
dióxido de anto, NO2(g).
Para este equilíbrio:

Contudo, este equilíbrio também pode ser representado pela equação inversa:

O valor da constante de equilíbrio da reacção inversa de uma dada reacção é igual ao inverso do valor da cons-
tante de equilíbrio dessa reacção.
Tanto Kc como K'c são constantes de equilíbrio válidas.
Contudo, não faz sentido dizer que o valor da constante de equilíbrio da reacção é 4,6 x 10-3 ou 2,2 x 102 (a 25
°C), a não ser que indiquemos a equação química da reacção cuja constante de equilíbrio se está a considerar.

23
2. REACÇÃO REPRESENTADA POR UMA EQUAÇÃO COM COEFICIENTES ESTEQUIOMÉTRICOS MÚLTIPLOS OU SUBMÚLTI-
PLOS.
O valor da constante de equilíbrio, Kc, de uma reacção de equilíbrio a uma dada temperatura, também depende
da forma como se acertou a equação química.
Consideremos novamente o equilíbrio:

Este equilíbrio também pode ser representado pela equação:

sendo

Comparando as constantes de equilíbrio, Kc e K", verificamos que

Como na expressão da constante de equilíbrio, Kc, cada concentração se encontra elevada a um expoente igual
ao seu coeficiente estequiométrico, verifica-se que, em geral:

sendo n o factor pelo qual se multiplica a equação original.


O valor da constante de equilíbrio de uma reacção, cuja equação química apresenta os coeficientes estequio-
métricos multiplicados por um número n, é igual ao valor da constante de equilíbrio da primeira, elevado ao
expoente n.
Como acabámos de ver, o valor da constante de equilíbrio de uma reacção depende da forma como a equação
química que a traduz está escrita e acertada. Assim, antes de se escrever a expressão da constante de equilíbrio
de uma reacção, a uma dada temperatura, deve indicar-se a equação química correspondente à reacção em
causa.
Em Química, o conhecimento das constantes de equilíbrio é extremamente importante. Através delas, é possí-
vel resolver uma grande diversidade de problemas estequiométricos envolvendo sistemas em equilíbrio, como,
por exemplo:
 Avaliar a extensão da reacção.
 Calcular as concentrações dos reagentes e dos produtos no equilíbrio.
 Prever o sentido da progressão de uma reacção relativamente a um estado de equilíbrio.

A EXTENSÃO DE UMA REACÇÃO E O VALOR DE KC


Vimos que a constante de equilíbrio é característica de cada reacção química e que o seu valor só depende da
temperatura. Por exemplo

Através do valor da constante de equilíbrio, é possível avaliar • extensão da reacção, isto é, o grau de conversão
de reagentes •m produtos da reacção.

Tendo em conta que, nesta expressão, as concentrações dos produtos de reacção figuram no numerador e as
dos reagentes em denominador:
Um valor elevado de Kc indica que o equilíbrio se encontra muito deslocado no sentido da formação dos pro-
dutos - sentido directo.
Um valor pequeno de Kc indica que o equilíbrio se encontra mais deslocado no sentido de formação dos rea-
gentes - sentido inverso.

24
Em A é K>>1; o equilíbrio está deslocado para os produtos de reacção.
Em B é K<<1; o equilíbrio está deslocado para os reagentes.
Kc > > 1 - reacção muito extensa no sentido directo
Kc < < 1 - reacção muito extensa no sentido inverso
EXEMPLO 1

Como Kc >> 1, a reacção química é muito extensa. O equilíbrio encontra-se fortemente deslocado no sentido
directo.
EXEMPLO 2

Como Kc << 1, a reacção química é pouco extensa. O equilíbrio encontra-se fortemente deslocado no sentido
inverso.
QUESTÃO
1. Considere a seguinte reacção:

22
Sabendo que a 727 °C, KC= 3,8 x 10 :
1.1. Calcule o valor de K'c para a reacção no sentido inverso.
1.2. Compare os valores de Kc e de K'c e conclua quanto à extensão relativa das reacções directa e inversa.
1.3. Qual será maior, o grau de conversão de I(g) em I2(g) ou de I2(g) em l(g)? Justifique.

PREVISÃO DO SENTIDO DE PROGRESSÃO DE UMA REACÇÃO


Para avaliarmos se um dado sistema reaccional está ou não em equilíbrio, podemos recorrer a uma expressão
idêntica à definida para a constante de equilíbrio, Kc, em que as concentrações dos componentes da mistura
reaccional são avaliados em situações de não equilíbrio (desequilíbrio).
Genericamente, por aplicação da Lei da acção das massas a uma mistura reaccional que, num determinado ins-
tante, se encontra em situação de não equilíbrio:

o quociente da reacção, Q, é dado pela expressão:

Quociente de reacção Q - valor que se obtém ao substituir os valores das concentrações de uma mistura reac-
cional, num determinado instante, na expressão da constante de equilíbrio correspondente à reacção no estado
de equilíbrio.
Comparando valores de Q com valores conhecidos de Kc, a uma dada temperatura, podemos prever o sentido
da progressão da reacção relativamente a um estado de equilíbrio.
Assim, podemos ter três situações:

25
O valor de Q tende para Kc à medida que a reacção evolui e o sistema se aproxima do estado de equilíbrio.

EXERCÍCIOS
1. Considere o sistema reaccional:

No intervalo de temperaturas de 300 K a 500 K, a constante de equilíbrio, Kc, varia


conforme o gráfico:
1.1. Justifique o modo como a temperatura influencia a composição do siste-
ma reaccional no intervalo de 300 K a 500 K.
2
1.2. À temperatura de 300 K, misturaram-se 4,0 x 10 mol de cada um dos
componentes do sistema reaccional num vaso de capacidade 2,0 L. Preve-
ja, através de cálculos, o sentido em que o sistema evolui até atingir um
estado de equilíbrio.
2. O dióxido de enxofre, SO2, e o trióxido de enxofre, SO3, que são poluentes atmosféricos, podem transformar-se um no
outro de acordo com a equação química:
2 SO2(g) + 02(g) → 2 SO3(g) Kc = 47 (a 1100 K)
Num recipiente, de 1,0 L de capacidade, introduziram-se 0,10 mol de SO2(g) e de SO3(g) e 0,20 mol de O2(g).
2.1. Verifique por cálculos, se o sistema se encontra em equilíbrio.
2.2. No caso de não se encontrar em equilíbrio, preveja o sentido em que progredirá até ser atingido o equilíbrio.
2.3. Determine o valor da constante de equilíbrio da reacção inversa.
2.4. Em que sentido é mais extensa a reacção? Justifique.

3. Uma reacção química reversível atinge o estado de equilíbrio quando...


A. ... se inicia a reacção inversa.
B. ... um dos reagentes se esgota.
C. ... a velocidade da reacção directa é máxima.
D. ... as propriedades macroscópicas se mantêm constantes no tempo.
E. ... as velocidades da reacção directa e inversa passam a ser iguais.
Seleccione a(s) opção(ões) correcta(s).

4. Dos gráficos seguintes, indique os que correspondem a sistemas reaccionais que atingiram um estado de equilíbrio,

26
decorrido algum tempo de reacção.

5. Escreva a expressão da constante de equilíbrio, Kc, para cada uma das reacções reversíveis seguintes:

6. Considere a síntese do amoníaco traduzida pela equação química:

Introduziram-se, num recipiente, de 1,0 L de capacidade, 1,20 mol de N 2(g) e 10,40 mol de H2(g), à temperatura T, tendo
sido registado, no quadro seguinte, as concentrações respectivas.

6.1. Determine os valores de Y e de Z.


6.2. Determine o valor da constante de equilíbrio,Kc, para a temperatura T.
6.3. Atendendo ao valor determinado na alínea anterior, indique, justificando, se a reacção é muito ou pouco extensa.
7. Para o equilíbrio químico do sistema reaccional representado pela equação química:

-13
a constante Kc tem o valor de 1,0 x 10 à temperatura T.
Num dado instante, verificou-se que as concentrações das diferentes espécies eram:
-3 -3 -3 -3 -3
[HF] = 0,40 mol dm ; [H2] = 1,5 x 10 mol dm ; [F2] = 3,5 x 10 mol dm
Verifique se o sistema reaccional está em equilíbrio e, caso não esteja, preveja em que sentido progride a reacção até atin-
gir o estado de equilíbrio.

EXERCÍCIOS FINAIS
1. O amoníaco como matéria -prima
1. O amoníaco, NH3, é usado como matéria-prima de muitos produtos, nomeadamente no fabrico de fertilizantes, plásti-
cos e explosivos. No entanto, para a sua produção é preciso, também, recorrer a determinadas matérias-primas.
Dos componentes seguintes, indique aqueles que servem de matéria-prima para a produção industrial do amoníaco.
A-NH4CI; B-HCI; C - H2; D-H2O2; E - N2.

2. Complete o diagrama relativo à síntese do amoníaco pelo processo de Haber.

3. As equações químicas, entre outras informações, indicam-nos de que tipo de reacção se trata. Das equações químicas
seguintes,

27
Indique aquelas que traduzem:
3.1 Reacções de síntese.
3.2 Reacções de decomposição ou análise.

4. Um extintor de incêndios contém 136 mol de dióxido de carbono, CO2. A massa deste gás contido no
extintor é:
A - 3,09 kg ; B - 5,98 kg ; C - 5,98 g .
Seleccione a opção correcta.

5. Um copo de sumo de laranja contém 0,10 g de vitamina C, C6H8O6, e um comprimido de vitamina C con-
21
tém 1,7 x 10 moléculas dessa vitamina. Qual contém maior quantidade de vitamina C: o sumo ou o
comprimido?

6. Colocou-se uma folha de papel a arder dentro de um frasco e, em seguida, tapou-se. Ao fim de algum
tempo, verificou-se que só ardeu uma parte do papel.
Das proposições seguintes indique as verdadeiras.
A - A reacção é incompleta pois o papel não ardeu todo.
B - O reagente limitante é o oxigénio.
C - Da combustão do papel resultou dióxido de carbono e vapor de água.
D - O papel é formado por água e dióxido de carbono.

7. Na produção do vinho, na presença de enzimas, ocorre a transformação da glicose, C 6H12O6, em etanol, C2H6O, segun-
do a equação química:

Se o rendimento da reacção for de 70%, 2,0 mol de C6H12O6 originam:


A - 4,0 mol de C2H6O e 88 g de CO2.
3
B - 2,8 mol de C2H6O e 4,2 x 102 dm de CO2/ PTN.
C - 2,8 mol de C2H6O e 6,3 x 10 dm3 de CO2, PTN.
Seleccione a opção correcta.

8. O oxigénio pode ser obtido a partir da decomposição térmica do clorato de potássio, KCIO 3, segundo a equação quími-
ca:

A massa de clorato de potássio, com 15% de impurezas para se obter 5,0 L de O2, em condições PTN é, conside-
rando um rendimento de 80%:
A - 9,0 g ; B - 34 g ; C - 27 g .
Seleccione a opção correcta.
9. Um aluno, ao manusear um frasco de ácido sulfúrico, H2SO4, deixou cair um pouco na banca. Uma das formas de neu-
tralizar o ácido é adicionar-lhe hidrogenocarbonato de sódio, NaHCO3, até que se deixe de ver borbulhar.
Este borbulhamento resulta da libertação de dióxido de carbono, CO2.
9.1 Escreva a equação química que traduz a reacção referida.
9.2 A reacção é completa ou incompleta? Justifique a resposta.
-3
9.3 Se a concentração do ácido for 5,0 mol dm e for derramado 15 mL de ácido, calcule a massa de hidrogenocarbo-
nato de sódio necessária para neutralizar completamente o ácido.

10. A síntese da água é traduzida pela seguinte equação química:

Foi realizada uma experiência, para a qual se registaram os valores constantes no quadro:

Classifique as proposições seguintes em verdadeiras (V) ou falsas (F), corrigindo estas.


A - O reagente limitante é o hidrogénio.
B - O valor de X é 6,0 mol.
C - O rendimento da reacção é 56%.

28
D - Só um dos reagentes é que se esgota.

11. Considere a reacção química traduzida pelo esquema seguinte:

Os gráficos traduzem a evolução da reacção, para dois estados iniciais diferentes.

Seleccione as proposições verdadeiras.


11.1 Relativamente ao gráfico 1, pode afirmar-se que:
A - O reagente limitante é o Y.
B - A reacção é incompleta pois só um dos reagentes é que
se esgota.
C - No fim da reacção existem 1,5 mol de X e 7,0 mol de Z.
11.2 Relativamente ao gráfico 2, pode afirmar-se que:
A - O reagente limitante é o Y.
B - No início da reacção X e Y estão em proporções este-
quiométricas.
C - No fim da reacção existem 5 mol de Y e 10 mol de Z.

12. O oxigénio, O2, pode ser obtido a partir da decomposição térmica do clorato de potássio, KCIO 3, na presença do catali-
sador, MnO2.
A reacção é traduzida pela equação química seguinte:

Fez-se reagir 3,00 kg de clorato de potássio com 15% de impurezas. Calcule, considerando o rendimento da reacção de
80%.
12.1 O volume de oxigénio que se obtém, em condições PTN.
12.2 A massa de cloreto de potássio que se obtém.

13. O P4S3 é uma substância que é usada na produção de cabeças de fósforo. Fizeram-se reagir 3,00 kg de P4, com 10% de
impurezas, com 2,00 kg de S.
A equação química que traduz a reacção é a seguinte:

13.1 Determine a massa do reagente que ficou por reagir.


13.2 Determine a quantidade máxima de P4S3 que pode ser produzida.
13.3 Se forem produzidos 18,0 mol de P4S3, determine o rendimento da reacção.

2. O amoníaco, a saúde e o ambiente


14. Cite algumas aplicações do amoníaco.

15. Qual a razão de se afirmar que o amoníaco tem "alarme" próprio?

16. Identifique os riscos mais importantes que possam resultar da presença do amoníaco, quando houver: A - contacto
com a pele; B - contacto com os olhos; C-ingestão; D-inalação.

3. Síntese do amoníaco e balanço energético


17. Classifique em endoenergética ou exoenergética cada uma das transformações seguintes:

18. Uma planta verde quando é colocada num local sem luz morre, porque não ocorre a fotossíntese. Indique se a fotos-
síntese é um processo endoenergético ou exoenergético. Justifique.

19. A dissolução de uma mole de nitrato de amónio, em água, ocorre por absorção de 25 kJ de energia. Podemos afirmar
que:
A - Em sistema isolado, a temperatura diminui.
B - Se a dissolução de uma mole de nitrato de amónio for acompanhada de uma transferência de 25 kJ de energia
do exterior para o sistema, a temperatura final é igual à inicial.
C-A dissolução do nitrato de amónio é exoenergética.
D - Em sistema fechado, a dissolução produz um aumento de temperatura do sistema e do exterior. Seleccione as
opções correctas.
20. À temperatura T, a constante de equilíbrio, Kc, da reacção da síntese do amoníaco é de 2,0:

29
Introduziu-se num recipiente, de 2,0 L de capacidade, uma certa quantidade de NH 3. Mantendo constante a tempera-
tura T, verificou-se que no equilíbrio existiam 6,0 mol de H 2(g). Calcule:
20.1 A concentração de cada espécie no equilíbrio.
20.2 A quantidade de NH3(g) que foi introduzida no recipiente.

21. Considere a reacção de combustão do carbono.

em sistema isolado, a temperatura do sistema aumenta, sendo 394 kJ a energia posta em jogo por mole de carbo-
no que reage.
21.1 Esquematize um diagrama de variação de entalpia para a reacção.
21.2 Classifique a reacção em endoenergética ou exoenergética.

22. Considere a reacção de hidrogenação do eteno, traduzida pela equação química:

Atendendo ao valor de ΔH e às energias médias de ligação

Determine o valor da energia média de ligação de C=C.

4. Produção industrial do amoníaco


23. Com base nos gráficos seguintes.

Classifique em verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes proposições:


A. O gráfico 1 pode representar uma reacção de síntese.
B. O gráfico 1 não pode representar uma reacção completa, pois só um dos reagentes se esgota.
C. No sistema reaccional representado pelo gráfico 2, a curva Z corresponde a um reagente.
D. O gráfico 2 diz respeito a uma reacção incompleta, pois nenhum dos reagentes se esgota no seu decorrer.
E. No gráfico 3, a curva Y corresponde à reacção inversa de X.

24. Para a reacção traduzida pela equação química,

3 3
as concentrações no equilíbrio, à temperatura de 22 °C, são: [N 2O4]e=1,295 mol dm e [NO2]e=0,077 mol dm .
Calcule:
24.1 O valor de Kc à temperatura de 22 °C.
24.2 O valor de Kc para as reacções traduzidas pelas equações químicas:

24.2.1
24.2.2

24.3 Qual a relação entre os valores de Kc determinados:


24.4 Nas alíneas 16.1. e 16.2.1.
24.5 Nas alíneas 16.1. e 16.2.2.

25. Para o equilíbrio, em fase gasosa,

aqueceram-se, a 490 °C, num recipiente de capacidade 10,0 L, 0,150 mol de iodeto de hidrogénio. HI.
Calcule a concentração de equilíbrio de todas as espécies químicas, atendendo a que, a esta temperatura, o valor de Kc é
-2
de 2,20 x 10 .

26. Num recipiente, de 0,500 L de capacidade, introduziram-se 320 g de Br2(g) e 6,06 g de H2(g). Quando se atingiu o esta-
do de equilíbrio, à temperatura T, existiam 1,28 mol de HBr.
26.1 Determine o valor de Kc, à temperatura da experiência, para o equilíbrio:

30
-3
26.2 Faça um esboço do gráfico, concentração (mol dm ) em função do tempo, que traduza a evolução do sistema
referido.
-3
27. A 350 °C, o valor de Kc para o sistema, em fase gasosa, é de 2,37 x 10 .

Introduziram-se num recipiente de 2,0 L de capacidade 1,20 mol de N 2(g), 1,50 mol de H2(g) e 0,20 mol de NH3 à
temperatura de 350 °C.
Mantendo a temperatura constante, pode afirmar-se que:
A - A reacção vai progredir no sentido directo até se atingir o estado de equilíbrio.
B - A reacção vai progredir no sentido inverso até se atingir o estado de equilíbrio.
C - O sistema está em equilíbrio.
Seleccione a opção correcta.
28. Introduziram-se, num recipiente de 10,0 L de capacidade, 10,0 mol de N 2(g), 12,0 mol de H2(g) e 30,0 mol de NH3(g) e
aqueceu-se a mistura até se atingir a temperatura T. A esta mesma temperatura, o valor de Kc é de 0,11.
Preveja se haverá produção ou decomposição do amoníaco, para se atingir o estado de equilíbrio, mantendo a tempe-
ratura constante.

29. Considere a reacção, em equilíbrio, traduzida pela equação química:

e a tabela onde estão registados os valores das concentrações de equilíbrio, resultantes de duas experiências realiza-
das às temperaturas de 250 °C e 487 °C. A concentração inicial de PCI5(g) é a mesma nas duas experiências.

29.1 Classifique a reacção do ponto de vista energético.


29.2 Das seguintes alterações, indique as que conduzem a uma maior produção de CI 2(g):
A - AdiçãodePCI5(g).
B - Remoção de PCI3(g).
C - Diminuição do volume do recipiente.
D - Introdução, durante 2 minutos, do recipiente onde ocorre a reacção numa tina com gelo.

30. Na tabela estão registados valores de Kc a diferentes temperaturas, referentes à síntese do amoníaco:

30.1 Indique se a reacção é endoenergética ou exoenergética.


30.2 Das temperaturas apresentadas na tabela, indique a que corresponde a um maior rendimento de reacção.
30.3 Porque é que a síntese do amoníaco não é realizada a uma temperatura em que o rendimento é máximo?

31
4.5 CONTROLO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Muitas reacções químicas, como a síntese do amoníaco (processo de Haber), por serem incompletas, têm de ser
controladas para produzir rendimentos aceitáveis.
Tais reacções, podendo ocorrer nos dois sentidos, envolvem competição entre transformações opostas uma da
outra. Estas reacções poderão manter-se num estado estacionário se o sistema for alimentado continuamente
de matéria e controladas a temperatura e a pressão.
A capacidade dos químicos para manipular estas reacções de tal modo que a reacção desejada seja favorecida
em detrimento da outra, a não desejada, depende da compreensão dos factores que, em geral, afectam a situa-
ção de equilíbrio dos sistemas.
É através da Lei de Le Chatelier, lei que prevê o sentido da progressão de uma reacção química por variação da
temperatura, da concentração ou da pressão dá mistura reaccional, que vamos procurar compreender como é
que se consegue controlar as condições que afectam os diferentes equilíbrios, nomeadamente o da síntese do
amoníaco, optimizando a sua rentabilidade.

FACTORES QUE PODEM ALTERAR O ESTADO DE EQUILÍBRIO DE UMA MISTURA REACCIONAL


Quando um sistema químico esta em equilíbrio e sofre uma perturbação, o equilíbrio é desfeito e a reacção vai
evoluir no sentido de contrariar essa perturbação até ser atingido um novo estado de equilíbrio.
Os factores externos, que podem perturbar o estado de equilíbrio de uma mistura reaccional e que podem ser
controlados experimentalmente, são a temperatura, a concentração e a pressão.
Estes factores, ao perturbarem o equilíbrio, influenciam o sentido global de progressão da reacção para um
novo estado de equilíbrio.

Henry Le Chatelier (1850-1936), químico termodinâmico francês, enunciou, em 1884, a Lei de Le Chatelier - lei
que prevê o sentido da progressão de uma reacção por variação da temperatura, da concentração ou da pressão
da mistura reaccional.

Lei de Le Chatelier - se algum factor externo provocar uma perturbação num sistema químico em equilíbrio,
este vai evoluir no sentido de contrariar essa perturbação até ser atingido um novo estado de equilíbrio.

EFEITO DA VARIAÇÃO DA TEMPERATURA


Vimos já que a variação de temperatura afecta os sistemas em equilíbrio, uma vez que altera o valor da constan-
te de equilíbrio (esta só depende da temperatura).
A influência da temperatura no valor de Kc é diferente conforme a reacção é endoenergética ou exoenergética.
Assim:
Nas reacções endoenergéticas - ΔH > 0
- Um aumento de temperatura favorece a reacção no sentido directo, levando a um aumento de Kc.
- Uma diminuição de temperatura favorece a reacção no sentido inverso, levando a uma diminuição de
Kc.
Nas reacções exoenergéticas - ΔH < 0
- Um aumento de temperatura favorece a reacção no sentido do "consumo" de energia, isto é, no senti-
do inverso, levando a uma diminuição de Kc.
- Uma diminuição de temperatura favorece a reacção no sentido da libertação de energia, isto é, no sen-
tido directo, levando a um aumento de Kc.

Um aumento de temperatura favorece reacções endoenergéticas.


Uma diminuição de temperatura favorece reacções exoenergéticas.

Voltando ao equilíbrio homogéneo do cloreto de cobalto(ll) hidratado endoenergética

Cor rosa-avermelhado cor azul


Verificamos que:
 Quando se aumentou a temperatura da mistura reaccional, a cor passou de rosa-avermelhada → azul;
O aumento de temperatura favoreceu a reacção endoenergética (no sentido directo).
 Quando se baixou a temperatura da mistura reaccional, a cor passou de azul → rosa-avermelhada;
A diminuição de temperatura favoreceu a reacção exoenergética (no sentido inverso).

32
Quando ΔH > 0, a reacção é endoenergética no sentido directo e exoenergética no sentido inverso.
Quando ΔH < 0, a reacção é exoenergética no sentido directo e endoenergética no sentido inverso.

De que forma a temperatura afecta a reacção de síntese do amoníaco em sistema fechado?

Como ΔH < 0, a reacção é exoenergética no sentido directo e endoenergética no sentido inverso.

EFEITO DA ALTERAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO

Como evoluirá o sistema, em equilíbrio, se alterarmos as concentrações dos


componentes presentes (adição ou remoção de um dos componentes) sem variação da temperatura?
Para prevermos o sentido da evolução do sistema, vamos recorrer à aplicação da Lei de Le Chatelier e à análise
do quociente de reacção, como fizemos anteriormente.

EFEITO DA ALTERAÇÃO DA PRESSÃO


Como os sólidos e os líquidos são praticamente incompressíveis, um sistema reaccional, em equilíbrio, só pode
ser afectado pela variação da pressão, quando nestes intervêm componentes no estado gasoso.
A variação da pressão de um sistema reaccional, em equilíbrio, pode ser conseguida por variação do volume do
sistema, como mostram as figuras seguintes.

33
(1) À pressão inicial, o sistema está em equilíbrio. (2) O aumento da pressão exterior provoca uma diminuição do volume do sistema e
consequente aumento da pressão. (3) O sistema encontra-se num novo estado de equilíbrio.

Considerando a síntese do amoníaco, vejamos como o sistema evolui por variação de pressão a temperatura
constante.

Consideremos, agora, o seguinte sistema em equilíbrio:

Como na reacção não há variação do número de moles de gases (é igual nos dois membros), a variação da pres-
são (ou de volume) não altera a posição de equilíbrio.
E possível variar a pressão de um sistema sem variar o volume. Se for adicionado ao sistema que se encontra
num recipiente rígido um gás inerte (hélio, por exemplo), a pressão total do sistema aumenta, mas a concentra-
ção de todos os componentes mantém-se constante, uma vez que não há variação de volume. Assim, a presen-
ça de um gás inerte não altera a posição de equilíbrio.

SERÁ QUE OS CATALISADORES AFECTAM O ESTADO DE EQUILÍBRIO?


Muitas reacções que ocorrem, nomeadamente, nos seres vivos são aceleradas
por certas substâncias, que não são consumidas na reacção - designam-se por
catalisadores.
Catalisador - substância que aumenta a velocidade de uma reacção, sem experi-
mentar nenhuma alteração química permanente e que não se consome na reac-
ção.
Os catalisadores, que são específicos de cada reacção, diminuem a energia de
activação da reacção.
Se a um sistema reaccional, em equilíbrio, se adicionar um catalisador, este
Comparação entre a energia de
aumenta as velocidades das reacções directa e inversa na mesma extensão, não activação de uma reacção não
afectando, por isso, o estado de equilíbrio, nem o valor da constante de equilí- catalisada e de uma reaccão
brio. catalisada.

34
Se for adicionado um catalisador a um sistema reaccional que não se encontra em equilíbrio, as velocidades das
reacções directa e inversa aumentarão, conseguindo-se, assim, atingir mais rapidamente o estado de equilíbrio.

QUESTÕES
1. Considere o sistema, em equilíbrio, à temperatura T:

Qual o efeito, se existir, que cada uma das alterações seguintes tem na produção de Cl2(g)? Justifique as respostas.
A. Remoção de H2O(g).
B. Diminuição do volume do recipiente onde se processa a reacção.
C. Colocação do recipiente onde ocorre a reacção num banho de água quente.
D. Adição de árgon (gás inerte) sem alteração do volume do sistema.
2- 2-
2. Considere o equilíbrio entre os iões cromato, CrO 4 , e dicromato Cr2O7 , produzido pela equação

Qual o efeito na cor do sistema provocada por cada uma das perturbações:
A. Adição de dicromato de potássio.
B. Adição de hidróxido de sódio.
C. Adição de cromato de sódio.

CONTROLO E PRODUÇÃO DO AMONÍACO


O amoníaco, composto que é produzido em maior quantida-
de à escala mundial, tal como os outros produtos industriais,
resulta do compromisso entre a extensão e a velocidade da
reacção, o preço e a segurança do processo.
A extensão da reacção é maximizada por condições adequa-
das de concentração de temperatura e de pressão.
Assim, uma das formas de rentabilizar a produção de amo-
níaco, NH3(g), é a utilização de azoto, N2(g), em excesso,
reagente abundante e de preço baixo. Com o aumento da
quantidade de N2(g) e, portanto, da sua concentração, con-
segue-se uma conversão mais completa de H2(g), reagente
de preço elevado.
De acordo com a Lei de Le Chatelier, a reacção deve realizar-
se a altas pressões como se pode ver pelo gráfico. No entan-
to, a pressão não deve ser superior a, aproximadamente, 350 atm, pois pressões superiores requerem equipa-
mentos muito caros e estão sujeitos a avarias frequentes.
Como a reacção é exotérmica, de acordo com a Lei de Le Chatelier, a reacção deveria ocorrer à temperatura
mais baixa possível, para se obter um rendimento máximo de NH3, conforme mostra o gráfico. Uma outra van-
tagem da produção de NH3 a temperaturas baixas seria a possibilidade da sua remoção à medida que este se
formasse, pois a sua condensação seria rápida.

O gráfico traduz a variação da produção de NH3 em função das pres- O gráfico traduz a variação das concentrações de N2,
sões totais dos gases. H2 e NH3 em função da temperatura.

No entanto, a velocidade da reacção é muito pequena quando a temperatura é muito baixa. Assim, é necessário
haver um compromisso entre a extensão e a velocidade de reacção.

35
A temperatura a que a reacção ocorre é próxima de 450 °C. Mesmo a esta temperatura, sem acção de um cata-
lisador, a reacção, devido à sua lentidão, não é viável à escala industrial.

EXERCÍCIOS
1. Considere a reacção química em equilíbrio, em sistema fechado, traduzido pela equação:
4 HCI(g) + O2(g) ↔2 H2O(g) + 2 Cl2(g) ; ΔH< 0
Indique o sentido em que progride a reacção quando o sistema reaccional é submetido às seguintes perturbações:
A. Aumento de temperatura.
B. Eliminação de vapor de água.
C. Diminuição de pressão.

2. O metanol, CH3OH, é produzido industrialmente por hidrogenação do monóxido de carbono, CO.


CO(g) + 2 H2(g) ↔CH3OH(g) ; ΔH = - 125 kJ
Seleccione a(s) opção(ões) que completa(m) correctamente a frase: "O valor da constante de equilíbrio, K c, varia
se...
A. ... aumentar a eficiência da reacção, por adição de CO(g)."
B. ... diminuir o volume do vaso contentor onde ocorre a reacção."
C. ... aumentar a temperatura do sistema reaccional."
D. ... adicionar um gás inerte ao sistema."

3. A equação química seguinte traduz uma reacção que contribui para o aparecimento de uma "névoa poluidora",
com a formação de NO2(g).
NO(g) + O3(g)↔O2(g) + NO2(g); ΔH<0
Preveja, justificando, em que dia haverá condições mais propícias à formação da névoa (mantendo as outras con-
dições): num dia de Primavera em que a temperatura é amena ou num dia muito quente de Verão.

4. No copo A, dissolveu-se, em água, tiocianato de ferro(lll), [Fe(SCN)3].


Este ião dissocia-se em seguida, atingindo-se o equilíbrio traduzido pela equação:

Seleccione o copo que contém a solução resultante da adição à solução anterior de:
A. Tiocianato de sódio, NaSCN.
3+
B. Ácido oxálico, ácido este que reage com o ião Fe (aq).

EXERCÍCIOS
1. A formação de SO3(g), a partir do SO2(g) e O2(g), é uma reacção intermédia no fabrico do ácido sulfúrico e é também
responsável pelo fenómeno da chuva ácida. A equação que traduz a reacção química é:
-1
2 SO2(g) + O2(g) ↔ 2SO3(g); ΔH° = - 198 kJ mol
Para conseguir um maior rendimento na obtenção de SO3(g), qual será mais adequado:
1.1. A temperatura de 70 °C ou 480 °C?
1.2. A pressão de 80 atm ou 400 atm?

2. Faça a correspondência correcta entre as duas colunas, de forma que cada uma das alterações da coluna 1 provoque o
deslocamento das reacções da coluna 2, inicialmente em equilíbrio, no sentido directo (pode haver mais do que uma
opção).
Coluna 1 Coluna 2
A. Expansão do sistema I. 2HI(g) ↔ H2(g) +I2(g) ; ΔH < 0
B. Diminuição da temperatura do sistema II. N2(g) +3 H2(g) ↔2 NH3(g) ; ΔH < 0
C. Diminuição do volume do recipiente III. PCI5(g) ↔ PCI3(g) + Cl2(g) ; ΔH > 0
onde ocorre a reacção.

36
3. Faça a associação correcta entre as duas colunas, relativamente a uma reacção química em equilíbrio, podendo haver
mais do que uma opção:

a - Um aumento de temperatura... A -... provoca um aumento igual na velocidade de reacção


b - Um aumento da concentração de um dos reagen- nos sentidos directo e inverso.
tes... B -... favorece a reacção no sentido endoenergético.
c - A adição de um gás inerte... C -... favorece a reacção no sentido exoenergético.
d - A adição de um catalisador... D -... não altera o estado de equilíbrio.
E -... aumenta a eficiência da reacção.
F -... faz progredir a reacção no sentido directo.

4. A Lei de Le Chatelier afirma que, sempre que um sistema, em equilíbrio, é perturbado, este tende a...
A -... progredir no sentido directo, para contrariar a perturbação, até se atingir um novo estado de equilíbrio.
B -... libertar energia sob a forma de calor.
C -... progredir no sentido de aumentar a perturbação.
D -... progredir no sentido de contrariar a perturbação até se ter atingido um novo estado de equilíbrio.
Seleccione a opção correcta.

5. Considere a reacção endotérmica, em equilíbrio, traduzida pela equação química,

a elevada temperatura. Complete correctamente a frase "Diminuindo a temperatura, o equilíbrio altera-se haven-
do...
A -... uma diminuição da quantidade de PCI5(g). "
B -... um aumento da concentração de PCI3(g). "
C -... um aumento da extensão da reacção. "
D -... uma constância entre as quantidades totais dos produtos e dos reagentes. "
E -... uma diminuição das concentrações de PCI3(g) e de Cl2(g). "

UNIDADE 5 – DA ATMOSFERA AO OCEANO: SOLUÇÕES NA TERRA E PARA A TERRA


5.1 ÁGUA DA CHUVA, AGUA DESTILADA E ÁGUA PURA
Para além do problema das assimetrias de distribuição da água no planeta, a qualidade da água é um dos pro-
blemas mais preocupantes. Por todo o lado, as águas de superfície e subterrâneas são poluídas com uma assus-
tadora mistura de resíduos químicos e orgânicos mais ou menos perigosos.
As principais fontes de poluição dos meios hídricos são a actividade industrial e os efluentes domésticos. Mes-
mo nos países mais industrializados, onde existe legislação mais severa sobre a qualidade da água e onde o tra-
tamento das águas residuais é mais eficaz, o problema da poluição hídrica não deixa de existir.
Até mesmo as águas subterrâneas, que se encontram mais protegidas do que as dos rios ou lagos (as formações
geológicas que atravessam funcionam de filtros naturais), não deixam de apresentar, em alguns locais, poluição
difusa.
Em termos médios, a quantidade de água disponível por habitante diminui 40% desde 1970.
A água disponível, por muito tempo considerada como um recurso inesgotável, é, agora, um bem raro e precio-
so.
Até a água da chuva, água destilada pela Natureza, perdeu a sua pureza. Esta "dádiva do céu", que regressa à
Terra através do ciclo da água, repondo parte da água disponível, tornou-se numa chuva ácida devido à polui-
ção atmosférica.

PORQUE SERÁ QUE A ÁGUA DA CHUVA É ÁCIDA?


Como já foi referido, o ciclo hidrológico permite trazer de volta à Terra parte da água que foi "perdida" para a
atmosfera, por evaporação da água dos oceanos, dos rios e de outras águas de superfície, bem como através da
transpiração das plantas. Aí, na atmosfera, o vapor de água pode condensar, por arrefecimento, e dar origem a
precipitação (chuva, neve ou granizo).
Devido à dissolução do dióxido de carbono atmosférico, a chuva que cai sobre a superfície do planeta torna-se
ácida, pois formam-se iões H+(aq) e iões HCO3- (aq).
A equação química que traduz essa reacção é a seguinte:
CO2(g) + H2O(l) ↔HCO3- (aq) + H+(aq)

37
Chuva "normal" é ácida devido ao dióxido de carbono dissolvido.
Mas a água da chuva pode apresentar diferentes graus de acidez. Assim, quanto maior for a quantidade de
dióxido de carbono dissolvido, e/ou de óxidos de enxofre, de azoto e de outros gases de origem antropogénica,
mais ácida é essa chuva.
O limite inferior e actual do pH da água da chuva "normal" é 5,6 (pH = 5,6), à temperatura de 25 °C.
Tomando como referência este valor de pH, podemos dizer que:
 A chuva "normal" tem pH: 5,6 < pH < 7 (a 25 °C).
 A chuva ácida tem pH < 5,6 (a 25 °C).

QUAL SERÁ O VALOR DO PH DA ÁGUA DESTILADA E DA ÁGUA PURA (A 25 °C)?


Água destilada - água submetida a uma vaporização seguida de condensação.
Se compararmos o valor do pH da água da chuva com o da água destilada, em atmosfera aberta e em atmosfe-
ra fechada (água recém-destilada), verificamos que o pH da água destilada em atmosfera aberta é ácido, tal
como o pH da água da chuva; mas, se a água destilada tiver sido mantida em recipiente fechado com parafilme,
o valor do seu pH já é próximo de 7, a 25 °C.
Com efeito, a água destilada, quando exposta ao ar, dissolve dióxido de carbono atmosférico, tornando-se áci-
da.
A sua acidez deve-se, tal como na chuva "normal", à dissolução de dióxido de carbono.
A água pura, como é só água, não contém partículas dissolvidas que a tornem ácida ou alcalina. O valor do seu
pH é, portanto, 7, a 25 °C.

O PH PODERÁ SER UMA MEDIDA DA ACIDEZ, DA BASICIDADE OU DA NEUTRALIDADE DE UMA SOLUÇÃO?


Como sabemos, o valor do pH de uma solução permite classificá-la como ácida, alcali-
na ou neutra. Porquê?
Soren Sorensen (1868-1989), bioquímico dinamarquês, propôs, em 1909, uma
medida prática de determinar o carácter ácido, alcalino ou neutro, de uma solução
designada por pH.
O valor do pH está relacionado quantitativamente com o valor da concentração do
ião hidrogénio, H+(aq), de uma solução, através da expressão:
pH = - log [H+]

O pH é definido como o simétrico do logaritmo decimal (log) da concentração de iões H aq) presentes na solu-
ção, sendo esta concentração expressa em mol dm -3.

Mas, porque será que todas as soluções aquosas contêm iões H+(aq)?
A água é um solvente com características únicas, originando muitas soluções aquosas. Essas soluções podem
ser boas ou más condutoras da corrente eléctrica.
Se compararmos a condutibilidade eléctrica de uma solução aquosa de cloreto de sódio com a de uma solução
aquosa de açúcar (sacarose), de iguais concentrações, verifica-se que a primeira é melhor condutora da corren-
te eléctrica.

Água com sal Água com açúcar


Tal facto deve-se à presença de mais iões em solução, partículas responsáveis pela condução da corrente eléc-
trica nos fluidos.
Na água salgada encontramos iões Na+(aq), Cl- (aq), H+(aq) e HO- (aq), enquanto que na água açucarada só
encontramos iões H+(aq) e iões HO- (aq).
Estes iões H+(aq) e HO- (aq), que temos nas duas soluções, devem-se à auto-ionização da água.

Mas porque é que a água se auto-ioniza?


Como as moléculas da água são moléculas fortemente polares, ocorrem entre elas forças intermoleculares,
especialmente intensas (ligações de hidrogénio) que, em determinadas circunstâncias, fazem com que algumas

38
destas moléculas se ionizem, embora em pequena extensão, dando origem a iões H+ e HO", provenientes da
própria água. Daí se dizer auto-ionização.
A auto-ionização da água é traduzida pela equação:
H2O(l) ↔ H+(aq) + HO- (aq)
sendo a constante de equilíbrio, Kw, designada por produto iónico da água, igual ao produto das concentrações
molares dos iões H+(aq) e HO (aq), a uma dada temperatura.
Kw = [H+]e [HO- ]e
O equilíbrio da auto-ionização da água explica que na água pura a concentração de iões H+(aq) seja igual à con-
centração de iões HO- (aq).
Água pura: [H+]e = [HO- ]e
Verifica-se que, a 25 °C, as concentrações de iões H+(aq) e de HO- (aq) na água "pura" são iguais a 1,0 x 10 -7 mol
dm-3 (valores muito pequenos).
[H+(aq)]e = [HO- (aq)]e = 1,0 x 10+7 mol dm-3 (a 25 °C)
sendo, por isso,

O produto iónico da água, KW como constante de equilíbrio que é, varia com a temperatura.
Valores de Kw a diferentes temperaturas
Temperatura
0 10 25 45 60
(°C)
Kw 1,1x 10-15 2,9 x 10-15 1,0x 10-14 4,0 x 10-14 9,6 x 10-14

Uma vez que a reacção de auto-ionização é uma reacção endoenergética, de acordo com a Lei de Le Chatelier,
um aumento de temperatura vai fazer com que a reacção evolua no sentido de contrariar esse aumento. Neste
caso, vai evoluir no sentido directo, sentido que favorece a ionização da água, pelo que K w aumenta com a tem-
peratura.
Como podemos constatar pelo valor do produto iónico da água, a auto-ionização da água ocorre em muito
pequena extensão, pois Kw<< 1 (ver tabela).
A auto-ionização que ocorre na água "pura" também ocorre em qualquer solução aquosa. Assim se explica a
existência de iões H+(aq) e de iões HO- (aq) na água salgada, na água açucarada e em qualquer outra solução
aquosa.
A relação existente entre as concentrações destes iões é que vai permitir classificar as soluções em ácidas, alca-
linas ou neutras.
Assim:
 Numa solução ácida é [H+]>[HO-]
 Numa solução alcalina é [H+]<[HO-]
 Numa solução neutra é [H+]=[HO-]

EXERCÍCIOS:
- + -6 -3
1. Qual é a concentração de HO (aq) numa solução aquosa em que [H (aq)] = 1,0 x 10 md dm , a 25 °C?
2. Se adicionarmos NH3 à água pura, que sucede?
-12 - -7 -3
3. A 100 °C, Kw= 1,0 x 10 . Se a essa temperatura for [HO ] = 1,0 x 10 mol dm , a solução será neutra?

COMO CALCULAR O VALOR DO PH A PARTIR DO CONHECIMENTO DA CONCENTRAÇÃO DE H+(AQ)?


Vimos que é possível relacionar quantitativamente a concentração de H+(aq) de uma solução com o seu valor de
pH através da expressão:
pH =- log [H+]

Atendendo também a que


Kw = [H+]e [HO- ]e

E que Kw = 1,0 x 10-14 (a 25 °C)

Verifica-se que:
39
Relação entre a 25 °C
Solução
[H+] e [HO- ] [H ] (mol dm-3)
+
pH
+ - -7
Ácida [H ]>[HO ] > 1,0 x 10 < 7,00
+ - -7
Alcalina [H ]<[HO ] < 1,0 x 10 > 7,00
+ - -7
Neutra [H ]=[HO ] = 1,0 x 10 = 7,00

Por análise da tabela apresentada, pode constatar-se que o valor do pH aumen-


ta à medida que a concentração de H+(aq) diminui.
Efectivamente, quanto mais ácida é uma solução menor é o seu valor de pH, e
quanto mais alcalina é uma solução maior é o seu valor de pH.
Podemos comparar o carácter ácido, alcalino ou neutro de diferentes soluções
através da escala de pH - escala Sorensen (a 25 °C). Para as soluções diluídas
usuais, a escala de pH vai de zero (soluções fortemente ácidas) a 14 (soluções
fortemente básicas ou alcalinas).

Escala de pH (escala Sorensen, a 25 °C.

No caso da auto-ionização da água, vimos que o produto iónico, Kw, aumentava


com o aumento de temperatura.

Temperaturas °c
pH de algumas soluções do dia-a-dia, a
0 10 25 45 60 25 °C.
-15 -15 -14 -14 -14
Kw 1,1x 10 2,9 x 10 1,0x 10 4,0 x 10 9,6 x 10

pH 7,48 7,27 7,00 6,70 6,51

Embora as concentrações de H+(aq) e de HO- (aq) aumentem e o pH da água diminua, a água não deixa de ter
carácter neutro, pois [H+] = [HO- ] a qualquer das temperaturas.

Questão:
1. Considere as seguintes soluções de ácido clorídrico, HCI(aq), com diferentes concentrações e a 25 °C.

1.1. Calcule o valor do pH das soluções A e C.


+
1.2. Calcule o valor da concentração de H (aq) da solução B.
1.3. Coloque as soluções por ordem crescente de alcalinidade e justifique.

40
COMO INTERPRETAR OS FENÓMENOS DE ÁCIDO-BASE?
Ao longo dos tempos surgiram vários marcos históricos importantes na interpretação de fenómenos de ácido-
base. Entre eles destacam-se:
TEORIA IÓNICA DE ARRHENIUS
Uma das primeiras teorias sobre o conceito de ácido e de base foi a teoria iónica, proposta por Arrhenius nos
finais do século XIX.
Segundo a teoria iónica:

Base - espécie química que, em solução aquosa, origina iões HO- . Exemplo:

Ácido - espécie química que, em solução aquosa, origina iões H+. Exemplo:
Esta teoria mostrou-se incompleta, pois:
- só se aplicava a soluções aquosas;
- não explicava as propriedades ácidas de soluções aquosas de substâncias sem hidrogénio na sua consti-
tuição;
- não explicava as propriedades básicas de soluções aquosas de substâncias, como, por exemplo, o amo-
níaco, uma vez que na sua constituição não existem iões HO-;
- não explicava como soluções aquosas de alguns sais, como as de cloreto de amónio, NH4CI, apresentam
carácter ácido, ou como as de acetato de sódio, NaCH3COO, apresentam carácter básico.
TEORIA PROTÓNICA DE BRÕNSTED-LOWRY
No início do século XX, o químico dinamarquês Brönsted (1879-1947) propôs, simultaneamente, com o químico
inglês, Lowry (1874-1936), a teoria protónica. Esta teoria não restringe o comportamento dos ácidos e das bases
às soluções aquosas.

Segundo a teoria protónica:


Ácido - espécie química capaz de ceder protões (iões H+) a uma base.
Base - espécie química capaz de aceitar protões (iões H+) de um ácido.
De acordo com esta teoria, um ácido e uma base só se comportam como tal na presença um do outro.

Exemplos:

Espécie química anfotérica – espécie que tanto pode comportar-se como ácido ou como base.

EXERCÍCIOS:
1. Considere os fluidos seguintes e o respectivo valor de pH, a 25 °C.

1.1. Classifique-os em ácidos, básicos ou neutros.


1.2. Explique porque é que a água destilada exposta ao ar tem um pH inferior ao da água pura.
-
1.3. Em que fluido é maior a concentração em HO ?

2. Quando se deixa uma garrafa de vinho aberta durante algum tempo, este tem tendência a azedar, pois há conversão
de etanol (álcool etílico) em ácido etanóico (ácido acético), reacção que tem lugar em presença do oxigénio.
+
2.1. Indique em que situação é que a concentração em H é maior: após se ter aberto a garrafa, ou quando se deixou
o vinho ao ar durante um certo período de tempo?
41
2.2. Em qual destas situações é que o valor de pH é menor?
+ -8 -3
3. A 25 °C, as lágrimas têm uma concentração em iões H igual a 3,9 x 10 mol dm . Calcule o valor do seu pH.
+
4. Considerando que o sumo de uma laranja tem pH igual a 3,50, calcule a sua concentração em iões H .

5. Das frases seguintes indique as falsas e corrija-as.


- +
A. Numa solução alcalina [HO ] < [H ].
- +
B. Numa solução ácida [HO ] < [H ].
C. Numa solução neutra o pH é 7.

6. Uma solução aquosa de carbonato de sódio é alcalina. Das frases seguintes indique a verdadeira.
A. O pH da solução é inferior a 7.
+ -
B. Na solução, a concentração em iões H é inferior à concentração em iões HO .
+
C. Como a solução é alcalina, não contém iões H .

7. Segundo Brónsted-Lowry, ácido é toda a espécie química...


A. ... que tem pH inferior a 7.
+
B. ... dadora de iões H .
+
C. ... aceitadora de iões H .
D. ... que tem sabor azedo.
Seleccione a opção que completa correctamente a frase.

8. Considere a reacção entre o ácido etanóico, CH3COOH(aq) e a água, H2O.


8.1. Complete o seguinte esquema químico, indicando a transferência protónica.
CH3COOH(aq) + H2O(l) ↔ _______ (aq) + _______ (aq)
8.2. Indique qual das espécies indicadas se comporta como o ácido e a que se com porta como base, segundo Bróns-
ted-Lowry.

5.2. AGUAS MINERAIS E DE ABASTECIMENTO PÚBLICO: A ACIDEZ E A BASICIDADE DAS ÁGUAS


Durante o seu lento movimento de infiltração no subsolo, a água dissolve alguns componentes minerais, consti-
tuintes das rochas que atravessa no seu percurso, enriquecendo a sua composição química.
A água para consumo humano ou água potável provém destas águas de profundidade bem como das águas de
superfície.
O problema de abastecimento de água potável à população é, como sabemos, um dos maiores problemas de
futuro.
As necessidades de água variam de região para região e de país para país. Nos países industrializados, o consu-
mo de água para fins domésticos é muito superior ao dos países em vias de desenvolvimento. Por outro lado,
também se verifica que, em geral, a um maior consumo corresponde um maior aumento de água desperdiçada
e de água a necessitar de tratamento.
"Desperdiçado, poluído e esgotado, assim está hoje o principal recurso do planeta".
A escassez acentuada de água potável pode vir a ter consequências muito negativas, não só na qualidade de
vida das pessoas, como também no relacionamento entre os povos. Os conflitos da água, que hoje são já uma
realidade, podem tornar-se muito mais dramáticos.
Durante o século XX, o consumo de água aumentou, em média, 9,6 % ao ano, ou seja, quase duas vezes mais do
que a taxa de crescimento da população mundial.

5.2.1. ÁGUA POTÁVEL: ÁGUAS MINERAIS E DE ABASTECIMENTO PÚBLICO


“Não há vida sem água. A água é um bem precioso, indispensável a todas as actividades humanas.
A qualidade da água deve ser mantida a níveis adaptados à utilização para que está prevista e deve, designadamente, satis-
fazer as exigências da saúde pública.”
Carta Europeia da Água (extraído)

A água é dos recursos naturais aquele que mais se gasta, polui e desperdiça... e todos sabemos que não há vida
sem água! Não podemos correr o risco de ter sede de água...
Embora a água seja abundante no nosso planeta, só cerca de 2,5% da água natural é potencialmente utilizável
para consumo humano, e desta, só cerca de 0,74% é potável.

42
A água potável de que o Homem tanto necessita é uma parte bem pequena de toda a água existente no "plane-
ta água"...

A água destinada ao consumo humano ou água potável é:


 Toda a água que, no seu estado original, ou após tratamento, destina-se a ser bebida, a cozinhar, à
preparação de alimentos ou a outros fins domésticos, independentemente da sua origem e de ser for-
necida a partir de uma rede de distribuição, de um camião ou navio-cisterna, em garrafas ou outros
recipientes, com ou sem fins comerciais.
 Toda a água que se destina a ser utilizada numa empresa da indústria alimentar para o fabrico, trans-
formação, conservação ou comercialização de produtos ou de substâncias destinadas ao consumo
humano, excepto quando a utilização dessa água não afecta a salubridade do género alimentício na sua
forma acabada.
O QUE É UMA ÁGUA POTÁVEL?
Uma água potável é aquela que pode ser consumida pelo Homem, sem perigo para a sua saúde. É uma água:
 incolor e inodora;
 de sabor agradável;
 que coze bem os legumes;
 que não pode conter microrganismos patogénicos, nem quaisquer substâncias em quantidades ou con-
centrações que constituam um perigo potencial para a saúde humana.
As águas naturais, por mais "puras" que sejam, não satisfazem os requisitos microbiológicos e físico-químicos
exigidos às águas de abastecimento público, de forma a garantirem a sua salubridade e limpidez, necessárias a
não comprometerem a saúde pública.
A água destinada ao consumo humano deve ser salubre e limpa.
A qualidade das águas doces naturais, que constituem potenciais origens de água para consumo humano, tem,
portanto, de ser controlada.
Uma água natural pode conter uma grande variedade e quantidade de impurezas que surgem naturalmente do
seu ciclo hidrológico.
A água para consumo humano provém, fundamentalmente, de águas naturais de profundidade e de superfície.

Ciclo hidrológico da água

A água de precipitação que não penetra no solo ou que não volta à atmosfera por evapotranspiração, designa-
se por água de superfície.
A água de precipitação que se infiltra no solo e que se acumula no subsolo em lençóis de água (aquíferos não
confinados) e aquíferos combinados, designa-se por água de profundidade.

43
Embora as águas de profundidade sejam mais abundantes do que as águas de superfície, elas apresentam-se
desigualmente distribuídas, sendo menos exploradas, apesar de menos poluídas do que as águas de superfície.

5.2.2 ÁGUA GASEIFICADA E ÁGUA DA CHUVA: ACIDIFICAÇÃO ARTIFICIAL E NATURAL PROVOCADA PELO DIÓXIDO DE
CARBONO.
A acidez natural da água da chuva e das águas gaseificadas deve-se à ionização do ácido carbónico que se forma
quando se dissolve CO2 em água.
CO2(g) + H2O (l)↔H2CO3(aq)
H2CO3(aq) ↔ H+ (aq) + HCO3-(aq)
QUE DIFERENÇA HÁ ENTRE REACÇÃO DE IONIZAÇÃO E DISSOCIACÃO?
Quando falamos na teoria protónica de Brónsted-Lowry, vimos que o ácido clorídrico cede protões à água.

Esta transferência dá-se porque ocorre uma reacção química em que se formam iões que inicialmente não exis-
tiam. Dizemos que se trata de uma reacção de ionização.
O amoníaco, por exemplo, também se ioniza na água.

Em geral, os ácidos e muitas das bases ionizam-se em água. No entanto, há outras substâncias que, quando dis-
solvidas em água, apenas se dissociam. Dizemos que ocorre uma dissociação.
É o que acontece, por exemplo, com o hidróxido de potássio, KHO, o etanoato de sódio, NaCH3COO, e todos os
sais. Como são compostos iónicos, já são constituídos por iões; estes apenas se separam em água.

O QUE SÃO REACÇÕES DE ÁCIDO-BASE?


Vimos já que, segundo a teoria protónica de Brónsted-Lowry, os conceitos de ácido e de base são complementa-
res, isto é, um ácido só actua como dador de protões em presença de uma base que os recebe, ocorrendo uma
reacção de ácido-base.
Reacção de ácido-base - reacção em que há transferência de protões, H+, de um ácido para uma base.
As reacções de ácido-base também se designam por reacções protolíticas, uma vez que há transferência de pro-
tões do ácido para a base.
Genericamente, as reacções de ácido-base podem ser representadas pelo seguinte esquema:

Nestas reacções, o ácido 1 (ácido HA), cede um H+ à base 2 (base B).


Por outro lado, no sentido inverso, o ácido 2 (ácido HB+) cede um H+ à base 1 (base A- ).
Os pares HA/A- e HB+/B designam-se por pares conjugados de ácido-base. Nestes pares conjugados, o ácido e a
base apenas diferem em um protão.

A hidrólise do ácido etanóico, CH3COOH, é um outro exemplo de reacções de ácido-base.

Hidrólise - reacção de decomposição entre uma espécie química e a água.

44
O ácido etanóico, CH3COOH, difere do ião etanoato, CH3COO- , apenas num protão. O mesmo se passa com o ião
oxónio, H3O e a molécula da água, H2O. Os pares:
CH3COOH/CH3COO- e H3O+/H2O
Constituem, por isso, dois pares conjugados ácido-base.
QUAL SERÁ MAIS FORTE, O ÁCIDO NÍTRICO OU O ÁCIDO ETANÓICO?
Segundo a teoria de Brönsted-Lowry, um ácido forte tem grande tendência a ceder protões, enquanto que uma
base forte tem grande tendência a aceitar protões.
Esta tendência de um ácido em ceder protões e a de uma base em aceitar protões é relativa; depende da espé-
cie com que reage. Daí, para se comparar a força de ácidos e de bases, se tomar como referência, normalmente,
a água. Em geral, a reacção entre um ácido e a água pode ser traduzida esquematicamente por:

sendo a constante de acidez, Ka dada pela expressão:

A constante de acidez, Ka, como constante de equilíbrio que é, só varia com a temperatura. Assim, quanto maior
for Ka, mais extensa é a reacção no sentido directo. Assim:
 Se o valor de Ka for elevado, a reacção é extensa no sentido directo.
 Se o valor de Ka for pequeno, a reacção é pouco extensa no sentido directo.
A força de ácidos e de bases pode, portanto, ser comparada quantitativamente através das constantes de aci-
dez.
Nas reacções de protólise de ácidos fortes, como a protólise, é considerada praticamente total, coloca-se uma
só seta (→) na equação química.
Também é possível comparar a força de dois ácidos pelos respectivos graus de ionização, (a), medidos nas
mesmas condições de diluição e de temperatura.

Quanto maior for o grau de ionização de um ácido, maior é a respectiva constante de acidez, K a, e, portanto,
mais forte é o ácido.

Para soluções aquosas de ácidos fortes, como o ácido nítrico, HNO3, não faz sentido falar em constante de aci-
dez, pois a protólise é praticamente total.
HNO3(aq) + H2O(l) → NO3(aq) + H3O+(aq)
No caso do ácido etanóico, CH3COOH, a equação que traduz a sua ionização é a seguinte:
CH3COOH(aq) + H2O(l)↔CH3COO- (aq) + H3O+(aq)
Como vemos pela equação, trata-se de uma reacção de equilíbrio; logo, a ionização não é praticamente total
como acontece com o ácido nítrico. Portanto, o ácido nítrico é um ácido mais forte do que o ácido etanóico.

QUAL SERÁ MAIS FORTE, O ÁCIDO ETANÓICO OU O ÁCIDO CIANÍDRICO?


Tanto o ácido etanóico, CH3COOH, como o ácido cianídrico, HCN, não são ácidos fortes; as suas protólises não
são totais.
As equações químicas que as traduzem são as seguintes:

e as respectivas constantes de acidez são dadas Delas expressões:


45
Sendo Ka(CH3COOH) = 1,8 x 10 -5 (a 25 °C)
Ka(HCN) = 4,9 x 10-10(a 25 °C)
Comparando as constantes de acidez dos dois ácidos, verificamos que o valor do K a do HCN é muito inferior ao
valor do Ka do CH3COOH. Tal facto permite-nos concluir que o ácido etanóico se ioniza em maior extensão do
que o ácido cianídrico.
Como a ionização se dá em maior extensão, diz-se que o ácido etanóico é um ácido mais forte do que o ácido
cianídrico.
Quanto maior for a constante de acidez de um ácido, mais forte ele é, pois a sua ionização dá-se em maior
extensão.
EXERCÍCIOS:
+ -3 -3
1. A concentração em iões H3O numa solução aquosa de ácido nitroso, HNO2, é 2,8 x 10 mol dm .
-2
1.1. Calcule o valor da constante de acidez, Ka, do HNO2, sabendo que a concentração inicial do ácido é de 1,0 x 10
-3
mol dm .
-3
1.2. Este ácido será mais forte do que o ácido hipocloroso, HCIO, cujo valor da constante de acidez é 3,2 x I0 , a 25 °C?
Justifique a sua resposta.
-4
2. O ácido fluorídrico, HF(aq), é um ácido fraco, cuja constante de acidez, a 25 °C, é de 6,8 x I0 . Considere uma solução
-3
aquosa de ácido 0,15 mol dm .
- +
2.1. Calcule a concentração, no equilíbrio, em iões F (aq) e H3O (aq).
2.2. Determine o pH da solução, a 25 °C.
-5
3. Considere uma solução aquosa de ácido etanóico, CH3COOH, com pH = 4,00. Sabendo que, a 25 °C, Ka é 1,8 x I0 , calcu-
le a concentração inicial da solução.

COMO COMPARAR A FORÇA DE BASES?


Consideram-se bases fortes as espécies químicas, tais como os hidróxidos de sódio e de potássio, NaHO e KHO,
que sofrem dissociação praticamente total em água.

As equações que traduzem as suas dissociações são as seguintes:


No caso de bases que não sejam bases fortes, a reacção entre a base e a água pode ser traduzida esquematica-
mente da seguinte forma:

sendo a constante de basicidade, Kb, dada pela expressão:

Por exemplo, no caso do amoníaco, temos:

sendo

Como podemos constatar pelo valor da constante de basicidade, o amoníaco não é uma base forte, pois a sua
ionização dá-se em muito pequena extensão.
Tal como vimos para os ácidos, a força das bases pode ser comparada através dos valores das constantes de
basicidade; quanto maior for Kb, mais forte é a base.

46
QUE RELAÇÃO HÁ ENTRE OS VALORES DE KA E DE KB DE UM PAR CONJUGADO ÁCIDO-BASE?
Consideremos, por exemplo, o ácido etanóico, CH3COOH. Este reage com a água de acordo com a equação:

sendo

A base conjugada deste ácido, ião etanoato, CH3COO-, reage, por sua vez, com a água de acordo com a equação:

sendo

Multiplicando Ka <(CH3COOH) por Kb (CH3COO- ),

e fazendo as simplificações possíveis, temos:

isto é,

Como o valor do produto iónico da água, KW, é constante a uma dada temperatura, a partir desta expressão (3)
podemos concluir que:

Quanto mais forte é um ácido (> Ka), mais fraca é a sua base conjugada (<Kb), e vice-versa.

A partir desta expressão, também é possível calcular o valor de Kb a partir do valor de Ka, e vice-versa, desde que
seja conhecido o valor de Kw a essa temperatura.

A tabela seguinte mostra alguns pares conjugados ácido-base por ordem crescente da sua força.

Exercícios:
-5
1. O valor da constante de acidez do ácido etanóico, a 25 °C, é Ka (CH3COOH) = 1,8 x 10 .
1.1. Calcule o valor da constante de basicidade, Kb, da sua base conjugada.
47
1.2. Compare os valores de Ka e de Kb.
-3
2. Uma solução aquosa 0,010 mol dm de ácido metanóico, HCOOH, tem, à temperatura de 25 °C, pH = 3,00.
2.1. Escreva a equação química que traduz a reacção do ácido metanóico com água e identifique um par conjugado
ácido-base.
2.2. O ácido metanóico será um ácido forte? Justifique, calculando o valor da sua constante de acidez, K a, à tempera-
tura referida.
-
2.3. Calcule o valor de Kb, (HCOO ) e compare os valores de Ka e de Kb.

QUE ACONTECE QUANDO SE ADICIONA UMA BASE FORTE A UM ÁCIDO FORTE?


Quando se adiciona uma base forte (hidróxido) a um ácido forte, ocorre uma reacção em que se forma um sal e
água.
Ácido + Hidróxido → Sal + Água

No caso da reacção entre o ácido clorídrico, HCI(aq), e solução de hidróxido de sódio, NaHO(aq), a equação
química que traduz globalmente esta reacção é a seguinte:
HCI(aq) + NaHO(aq) → Na+(aq) + Cl- (aq) + H2O(I)

Como o HCI(aq) é um ácido forte e o NaHO (aq) é uma base forte, esta reacção é praticamente completa.
Se o HCI(aq) e o NaHO(aq) se encontrarem em quantidades estequiométricas, no final da reacção todos os iões
H+, provenientes do ácido, terão sido neutralizados pelos iões HO- , provenientes da base, com formação de
água.
Esta reacção de neutralização pode ser traduzida por uma das seguintes equações:

H+ (aq) + HO- (aq) →H2O (l) H3O+ (aq) + HO- (aq) →2H2O (l)
ou
Se repararmos, na equação química não foram indicados os iões Na+ (aq) e Cl- (aq) presentes na solução, pois
estes iões são quimicamente neutros, isto é, não interferem nesta reacção.
Estudos quantitativos de reacções de neutralização de ácido-base são geralmente efectuados através de titula-
ções de ácido-base.
O QUE É UMA TITULAÇÃO?
Uma titulação ácido-base é uma reacção completa entre um ácido e uma base, com o objectivo de determinar a
concentração (título) de uma das soluções.
Numa titulação temos a considerar o titulante e o titulado.

Titulante - solução de concentração conhecida e que normalmente se coloca na bureta.


Titulado - solução cuja concentração se pretende determinar e que normalmente se coloca num matraz.

Durante a titulação, vai-se adicionando lentamente a solução da bureta à solução do matraz, com agitação per-
manente deste. À medida que se adiciona HO- (aq), este vai reagindo com o H+(aq), diminuindo a sua quantida-
de na solução.
A reacção processa-se até se atingir o ponto de equivalência, isto é, o momento em As espécies presentes
que as espécies envolvidas na reacção, H+(aq) e HO- (aq), reagiram de acordo com a numa solução, que não
estequiometria da reacção. Esta reacção é completa. intervêm na reacção
espécies "espectadoras",
COMO IDENTIFICAR O PONTO DE EQUIVALÊNCIA? não devem ser indicadas
Na prática, é difícil detectar o ponto de equivalência devido à variação brusca de pH na equação química, pois
que se verifica na sua vizinhança; o que se consegue detectar é o ponto final da não são reagentes nem
volumetria. Este praticamente coincide com o ponto de equivalência. produtos de reacção.
O ponto final de uma volumetria corresponde ao momento em que se detecta
experimentalmente uma variação brusca de uma propriedade física ou química da
mistura reaccional.

48
O ponto final de uma volumetria pode ser identificado:
 Pelo aparecimento ou desaparecimento de uma turvação.
 Pela mudança de coloração na solução.
 Pela mudança de cor de um indicador.
 Com um pH-metro e traçado da curva de titulação.

Se, durante a titulação, for feito o registo periódico dos valores de pH lidos num pH-metro e dos corresponden-
tes volumes de titulante adicionados, é possível traçar a curva de titulação.
Estas curvas de titulação são importantes, pois permitem determinar (aproximadamente) o valor do pH no pon-
to de equivalência.
Na curva de titulação de ácido forte-base forte, como a que mostra a figura, observamos
três zonas de variação de pH:
 Uma variação suave (quase horizontal) na zona ácida da escala de pH.
 Uma variação brusca (quase vertical) na passagem da zona ácida para a zona
alcalina.
 Nova variação suave (quase horizontal) na zona alcalina.
Na titulação de ácido forte-base forte, a variação de pH é suave na zona ácida pois, como
o ácido é forte, uma pequena adição de base não vai alterar significativamente o valor do
pH.
Da mesma forma se explica a variação suave de pH na zona alcalina.
QUESTÕES
1. Para determinar a concentração desconhecida de uma solução de HNO3, procedeu-se à titula-
3 -3 3 Curva de titulação ácido
ção de 25,0 cm de ácido com uma solução de NaHO, 0,125 mol dm , tendo-se gasto 20,0 cm forte-base forte.
de titulante.
1.1. Identifique o titulante e o titulado.
1.2. Como pode detectar o ponto final da titulação?
1.3. Calcule o valor da concentração da solução titulada.
1.4. A 25 °C, qual será o valor do pH no ponto de equivalência? Justifique.
1.5. Se adicionasse água à solução inicial de HNO 3 a titular, o volume de NaHO (titulante)
necessário para atingir o ponto de equivalência seria o mesmo? Justifique.
2. Classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações:
A. Durante uma titulação, o pH da mistura mantém-se constante.
B. Durante uma titulação o volume da mistura mantém-se constante.
C. Numa titulação, o ponto final encontra-se muito próximo do ponto de equivalência.
D. Numa titulação de ácido forte por base forte, no ponto de equivalência, todo o ácido foi
"neutralizado" pela base, não havendo excesso nem de ácido nem de base.

O QUE É UM INDICADOR COLORIMÉTRICO?


Um indicador colorimétrico de ácido-base é um par conjugado ácido-base, em que as formas ácida e básica são
responsáveis por cores diferentes da solução.

Indicador universal

A cor da solução depende da abundância relativa da espécie ácida, Hlnd(aq), e da espécie básica, Ind- (aq),
abundância esta que depende do pH do meio.

Com o objectivo de detectar o ponto final de uma titulação ácido-base, adiciona-se normalmente ao matraz um
indicador colorimétrico.

49
Cada indicador tem como característica uma zona de viragem que corresponde ao intervalo de pH em que se
verifica a mudança de "cor ácida" para "cor alcalina" ou a situação inversa. Como tal, antes de se iniciar uma
titulação, é importante seleccionar o indicador.
A escolha de um indicador para uma dada titulação depende da natureza do ácido e da base utilizados na titula-
ção, isto é, se são fortes ou fracos.
COMO ESCOLHER O INDICADOR PARA UMA TITULAÇÃO ÁCIDO-BASE?
Um indicador ácido-base deve ter a sua zona de viragem de cor bastante estreita, no intervalo de pH correspon-
dente à zona em que se verifica o salto brusco de variação de pH, pois é neste intervalo que se encontra o ponto
de equivalência.

Para o caso de uma titulação de ácido forte - base forte, como, por exemplo, a titulação do ácido clorídrico,
HCI(aq), pelo hidróxido de sódio, NaHO(aq), qualquer um dos indicadores referidos nos gráficos pode ser utili-
zado.
Em geral, os critérios de selecção de um indicador para uma dada titulação são os seguintes:
 A zona de viragem do indicador deve ser bastante estreita.
 A zona de viragem do indicador deve estar localizada na zona abrupta da curva de titulação.
Na tabela que se apresenta a seguir, podemos ver as cores e as zonas de viragem para alguns indicadores.

EXERCÍCIOS:
1. Indique os ácidos ou bases conjugados das espécies químicas seguintes em solução aquosa:
+ 2- 2- -
A - HNO3 B - NH4 C - CO3 D -HCIO4 E -SO3 F-CN
2. Considere as reacções de ionização traduzidas pelos esquemas:

2.1. Complete os esquemas, indicando a transferência protónica e os pares conjugados ácido-base em cada caso.
2.2. Indique as espécies anfotéricas.
2.3. Indique um ácido forte, justificando.
3. Uma das penicilinas mais comuns é a penicilina G, ácido benzilpenicilínico, cujo valor da constante de acidez, K a, é
-3
1,74x10 (a 25 °C). Indique, justificando, se este ácido é mais forte ou mais fraco do que o ácido acetilsalicílico, que faz
50
parte da composição da aspirina comercial, sabendo que o valor da constante de basicidade, Kb, da sua base conjugada
-11
é 3,3 x 10 (a 25 °C).
4. O conhecimento do pH de um solo é um factor importante para a agricultura. Conforme a espécie que se cultiva, assim
se deve manter um determinado valor do pH do solo. Como este valor varia, nomeadamente, com a chuva ácida e
afecta a função de nutrição das plantas, é usual recorrer a um processo chamado "calagem" para corrigir o pH do solo.
Das substâncias seguintes indique a que deve ser adicionada a um solo para diminuir a sua acidez
.A - NH4CI B - H2SO4 C-CaO
3 3
5. Titularam-se 50,0 cm de uma solução aquosa de ácido nítrico, HNO3, com 75,0 cm de uma solução aquosa de hidróxi-
-2 -3
do de sódio, NaHO, de concentração 1,0 x I0 mol dm , a 25 °C.
5.1. Escreva a equação que traduz a reacção de neutralização entre o HNO 3(aq) e o NaHO(aq), e identifique os iões
espectadores.
5.2. Classifique em verdadeiras ou falsas as afirmações seguintes, corrigindo estas últimas.
A. O pH da solução resultante é inferior a 7.
-2 -3
B. A concentração inicial da solução de ácido nítrico é 1,0 x 10 mol dm .
C. A fenolftaleína (zona de viragem 8,3 - 10,0) é um indicador adequado para detectar o ponto de equivalência
nesta titulação.

5.3. CHUVA ÁCIDA


Descrita pela primeira vez em 1872, a chuva ácida continua a ser um dos problemas do mundo industrializado
de difícil resolução. O que levou ao Homem séculos e à Natureza milénios a construir tem sido degradado e
destruído em poucos anos...
Embora possam ser causadas por processos naturais (como, por exemplo, erupções vulcânicas), os gases que
originam as chuvas ácidas são, fundamentalmente, óxidos de enxofre e de azoto de origem antropogénica.
Estima-se que, por ano, sejam lançados na atmosfera cerca de 60 milhões de toneladas de dióxido de enxofre,
SO2!... Este óxido, que provoca chuvas ácidas, embora possa ter origem natural, é gerado sobretudo pela com-
bustão dos combustíveis fósseis e pela calcinação de sulfuretos metálicos.
Também os óxidos de azoto, emitidos por veículos motorizados, fábricas de ácido nítrico e fertilizantes, centrais
termoeléctricas, siderurgias e fábricas de aço, são poluentes atmosféricos que dão origem a chuvas ácidas.
Quando as chuvas ácidas atingem a Terra, os seus efeitos nefastos fazem-se sentir de forma mais ou menos
imediata: "dissolvem" mármores e materiais calcários, "atacam" estruturas metálicas por oxidação, baixam o pH
de lagos e rios, modificando as condições de vida das espécies que os habitam, destroem florestas por danifica-
ção de folhas e folículos. Os prejuízos causados pelas chuvas ácidas são incalculáveis.
Mas, a agravar os efeitos produzidos pela própria chuva ácida, há a sua combinação com a matéria particulada
ácida depositada nos edifícios, monumentos, árvores, estruturas metálicas, automóveis, etc. Estas partículas
vão acidificar ainda mais a chuva, agravando as consequências.

5.3.1 ACIDIFICAÇÃO DA CHUVA


QUANDO É QUE UMA CHUVA É CONSIDERADA ÁCIDA?
A chuva "normal" é, como vimos, um pouco ácida. Tal facto deve-se à dissolução do
dióxido de carbono atmosférico pela água da chuva.
Uma chuva "normal" (precipitação natural) tem um valor de pH que varia, em média,
entre 5,6 e 7, à temperatura de 25 °C.
O limite inferior e actual do pH da água da chuva "normal" é 5,6 , a 25 °C. O aumento da industrialização
Há, no entanto, zonas da superfície da Terra, como, por exemplo, no Nordeste dos dos países, com o consequente
aumento da queima de com-
EUA, em que a chuva tem um pH médio de cerca de 4,3. Esta chuva é uma chuva bustiveis fósseis, tem agravado
ácida. a acidificação da àgua da chuva.
A chuva ácida tem um pH inferior a 5,6, a 25 °C.
A chuva ácida deve-se à poluição atmosférica provocada, fundamentalmente, por óxidos de enxofre, azoto e
outros, quando combinados com a humidade atmosférica, que lhe confere um pH inferior a 5,6.
Como sabemos, são lançados diariamente na atmosfera produtos resultantes de actividades naturais (erupções
vulcânicas, tempestades de pó e areia) e produtos resultantes de actividades antropogénicas (gases provenien-
tes de processos industriais que envolvem combustões, centrais termoeléctricas, emissões de veículos motori-
zados, incineração e outras) que constituem os poluentes atmosféricos.
Grande parte destes poluentes atmosféricos sofrem fenómenos de acidificação na atmosfera, regressando à
Terra, ao fim de algum tempo, sob a forma:
51
- "húmida" - como chuva, nevoeiro e neve
- "seca" - como deposição de matéria particulada

A combinação destas duas formas de precipitação sobre a superfície da Terra é conhecida por chuva ácida.

Causas e efeitos da chuva ácida.

QUAIS SÃO OS EFEITOS MAIS PREJUDICIAIS DA CHUVA ÁCIDA?


Algumas das principais consequências da chuva ácida nos ecossistemas e no património arquitectónico natural
e edificado são:
 Destruição de florestas por danificação de folhas e folículos.
 Acidificação da água de lagos e de rios, provocando a morte de peixes, plantas aquáticas e microrganis-
mos.
 Aumento da lixiviação de solos alcalinos por reacção de ácido-base.
 Reacção com mármores e materiais calcários, provocando a deterioração do património natural e/ou
edificado.
 Reacção com alguns metais, deteriorando construções metálicas e pinturas de automóveis.

Como se forma, na atmosfera, a chuva ácida a partir de óxidos de enxofre e de azoto?

Formação de ácido sulfúrico, na atmosfera, a partir de óxidos de enxofre


A maior parte do dióxido de enxofre, SO2, que é lançado na atmosfera,
resulta de emissões antropogénicas directas devidas à combustão do
carvão e do fuel em centrais termoeléctricas.
O dióxido de enxofre emitido para a atmosfera sofre, em pouco tempo,
uma oxidação a trióxido de enxofre, SO3, por processos de natureza
fotoquímica ou catalítica.
Qualquer que seja o mecanismo de oxidação, o resultado final é a for-
mação de ácido sulfúrico, H2SO4 (devido à reacção do SO3 com o vapor
de água) e de sulfatos de amónio e de diferentes metais, por reacção
do H2SO4 com partículas dos mesmos, existentes na atmosfera.
Os processos através dos quais pode decorrer a oxidação do SO2 são
múltiplos. Contudo, podem ser explicados, basicamente, por dois
Fontes de SOx
mecanismos:
Processos de oxidação heterogénea do SO2
Estes processos podem ocorrer na superfície das gotas de água devido à elevada solubilidade do SO 2, ou tam-
bém na superfície de partículas.
Nestes processos de oxidação, podem actuar como agentes oxidantes, o oxigénio (as reacções, por sua vez,
podem ser ou não catalisadas) ou agentes oxidantes fortes como o ozono e o peróxido de hidrogénio.

52
Processos de oxidação homogénea do SO2
Nestes processos podemos distinguir os que se produzem por fotooxidação directa do SO2, com prévia excitação
das suas moléculas, e os que têm lugar por acção de espécies oxidantes, como o radical hidroxilo.
 Por fotooxidação directa:

 Por acção de espécies oxidantes:

Formação de ácido nítrico, na atmosfera, a partir de óxidos de azoto


Os óxidos de azoto (NOX) emitidos para a atmosfera evoluem de forma complexa segundo mecanismos que não
são bem conhecidos.
Como as concentrações das espécies são diferentes de dia e de noite, e isso tem influência nos mecanismos de
reacção, distingue-se a química diurna da química nocturna.
 A química diurna deve-se fundamentalmente à acção dos radicais hidroxilo (HO∙) e hidroperoxilo (HO2∙).
Esta é uma via secundária de evolução dos óxidos de azoto, uma vez que a velocidade destas reacções é
lenta.
 A química nocturna inicia-se com a presença de um agente oxidante como o ozono, O3, capaz de oxidar,
numa primeira fase, o NO2 a NO3. A reacção que ocorre com a formação de diferentes óxidos de azoto
só é possível na ausência de radiação solar, pois o NO3 sofre com facilidade reacções fotolíticas, pelo
que a sua concentração só é apreciável durante a noite.

O resultado final destas oxidações é a formação de HNO3, presente nas neblinas ácidas das primeiras
horas do dia, o qual, posteriormente, se deposita sob a forma de chuva ácida ou de nitratos, obtidos por
reacção com partículas de metais ou de amoníaco presentes na atmosfera.

PORQUE É IMPORTANTE O CONHECIMENTO QUÍMICO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS?


Como vimos, os processos de formação dos contaminantes atmosféricos são muitos e variados. Para reduzir as
suas emissões e/ou os seus efeitos, é necessário não só identificá-los, como também conhecer a sua origem e o
modo como reagem. Só assim poderão ser seleccionados os processos químicos mais adequados, no sentido de
melhorar o ambiente.
Por exemplo, o óxido de cálcio, CaO, também conhecido por cal viva, é adicionado a lagos e solos afectados pela
chuva ácida, para elevar os seus valores de pH.

Este óxido reage com a água, originando o hidróxido de cálcio, Ca(HO)2, que, como substância alcalina que é,
eleva o pH das águas dos lagos e dos solos, por reacção de ácido-base.
COMO MINIMIZAR A CHUVA ÁCIDA?
Para minimizar a chuva ácida, é necessário reduzir as emissões de certos poluentes, nomeadamente dos óxidos
de enxofre e de azoto (reduzir as emissões multiplica os benefícios...).
Para isso, podemos optar por dois tipos de soluções: diminuir a produção de contaminantes e/ou controlar e
travar as suas emissões, recorrendo a conhecimentos e processos químicos, bem como a equipamento adequa-
do.
53
A primeira opção é a mais desejável, pois tudo o que conduza a uma redução na produção de contaminantes
traduzir-se-á em múltiplos benefícios para o ambiente.

Uma forma de reduzir as emissões de SO2 e de SO3 é usar combustíveis com baixo teor de enxofre e instalar
filtros especiais nas chaminés das fábricas.
Por outro lado, cerca de 90% dos óxidos de azoto poderão ser transformados, não indo para a atmosfera, se os
automóveis usarem conversores catalíticos nos tubos de escape, como é actualmente aconselhado pela União
Europeia (UE).

Uma correcta avaliação do impacto ambiental ocasionado pela actividade humana e a possibilidade de implan-
tação de tecnologias de baixa ou emissão nula - tecnologias limpas - entra dentro das alternativas de acção.
Como a implantação correcta de um sistema de gestão de poluentes atmosféricos é complexa, é preciso analisar
muitas variáveis, não só do próprio processo, como do meio onde esses agentes vão ser expelidos.
Apresenta-se, em seguida, um esquema em que se pode ver, de forma resumida, as principais actividades emis-
soras de poluentes atmosféricos, os principais problemas que determinados poluentes originam e os efeitos
benéficos que adviriam da redução das emissões desses poluentes.

Muitos dos efeitos benéficos que podemos desfrutar na minimização da chuva ácida passam pelo implemento
de medidas a nível pessoal, social e industrial, tais como: a utilização de conversores catalíticos, de energias
alternativas e de combustíveis menos poluentes, bem como pela adopção de novos processos industriais.

SERÁ NECESSÁRIO ESTABELECER ACORDOS INTERNACIONAIS PARA REDUZIR A CHUVA ÁCIDA?


Devido às grandes distâncias percorridas pelos óxidos de enxofre e de azoto transportados pelos ventos, as
chuvas ácidas não atingem apenas as regiões onde estes são emitidos. O problema da chuva ácida assume pro-
porções internacionais.
Por exemplo, a maior parte da precipitação ácida que cai na Escandinávia tem origem nas zonas industrializadas
da Europa Central e do Reino Unido e a que cai no leste do Canadá tem origem nos Estados Unidos.

54
Para minorar estes problemas ambientais tiveram e têm sido estabelecidos acordos internacionais.

EXERCÍCIOS FINAIS:
1. ÁGUA DA CHUVA, ÁGUA DESTILADA E ÁGUA PURA
-13
1. À temperatura de 65 °C, o produto iónico da água é 1,0 x 10 . Classifique as proposições seguintes em verdadeiras ou
falsas.
A. A água é ácida pois o seu pH é 6,50.
+ -
B. Na água, a 65 °C, a concentração em iões H3O (aq) é superior à concentração em HO (aq).
- -7 -3
C. Na água, a 65 °C, a concentração em iões HO (aq) é 3,2 x 10 mol dm .
D. Esta água não pode ser pura, pois o seu pH não é 7,00.
E. O pH desta água diminui quando se faz borbulhar CO2.

2. Complete, no seu caderno, o quadro seguinte, considerando que as soluções se encontram à temperatura de 25 °C.
-14
Kw= 1,0x10 (a 25 °C)

+ -3 - -3
[H3O ] (mol dm ) [HO ] (mol dm ) pH Carácter químico
-3
1,2 x 10

8,00
-3
1,0 x 10

3. A acidez natural da chuva provém do dióxido de carbono dissolvido.


Nas áreas industrializadas a chuva contém ácidos provenientes da dissolução de gases como os óxidos de
enxofre, SO2 e SO3. Estes óxidos, que são provenientes da combustão do petróleo, do carvão e de outros
combustíveis fósseis, misturam-se com a chuva, formando ácidos.
A chuva ácida é responsável por muitos danos, nomeadamente a toxicidade da vegetação e da vida aquá-
tica e a "lepra da pedra" (corrosão da pedra pela chuva ácida como mostra a figura).
3.1. Escreva a equação que traduz a reacção do dióxido de carbono com a água, e indique a partícula
responsável pelo carácter ácido da chuva.
3.2. Os óxidos acídicos, como o SO2, resultam, não só de actividades antropogénicas, mas também de fenómenos
naturais. Indique um desses fenómenos naturais responsável pela emissão de SO 2 para a atmosfera.
3.3. Em que região é que o pH da chuva é menos elevado: numa região altamente industrializada ou numa região não
vulcânica em que a actividade principal é a agricultura? Justifique a resposta com base no texto.
3.4. A estátua representada na figura é de calcário. Escreva a equação que traduz a reacção que ocorreu na sua super-
fície.
4. De acordo com a teoria de Brönsted-Lowry, classifique em verdadeiras (V) ou falsas (F) cada uma das afirmações.
A. Quando um ácido reage com a sua base conjugada, dá origem a um sal e água.
B. Na reacção traduzida pela equação química

o HCIO4 e o H2SO4 têm comportamentos de ácido e de base, respectivamente.


C. A base conjugada de um ácido fraco é forte.
D. A reacção referida em B é uma reacção de ácido-base.
E. A solução resultante entre a reacção de um ácido com a sua base conjugada, a 25 °C, tem pH igual a 7.

+ -7
5. Preveja, justificando, o carácter químico de uma solução aquosa, a 40º C, cuja concentração em iões H3O é 1,00×10
-3 -14
mol dm . Kw= 2,9x10 (a 20 °C)
+ -8 -3
Analisou-se uma água pura e verificou-se que a sua concentração em iões H3O a 20 °C é 8,2×10 mol dm e, a 60°C, era
-7 -3
3,2×10 mol dm .
Classifique em verdadeiras (V) ou falsas (F) cada uma das afirmações seguintes.
A. A auto-ionização da água é menos extensa a 20 °C do que a 60 °C.
- -8 -3
B. A concentração em iões HO é maior do que 8,2×10 mol dm na água a 20 °C.
C. A 60°C, o pH da água é inferior a 7,00.
D. A auto-ionização da água é um processo exoenergético.
E. O pH da água depende da temperatura a que esta se encontra.

55
2. ÁGUAS MINERAIS E DE ABASTECIMENTO PÚBLICO: A ACIDEZ E A BASICIDADE DAS ÁGUAS
- -3 -3
6. A concentração em iões HO , num produto amoniacal para limpeza doméstica é 2,0 x 10 mol dm , a 20 °C. Calcule a
+
concentração em iões H3O na referida solução e indique, justificando, o carácter químico da solução.
-15
KW= 6,8x10 (a 20 °C)

7. Considere as reacções traduzidas pelas equações químicas:

Das proposições seguintes indique as verdadeiras (V) e as falsas (F), corrigindo estas.
A. O HCI(aq) dissocia-se quando reage com a água, enquanto que o NaCI(s) se ioniza quando é adicionado à água.
-
B. O NH3(aq) é uma partícula anfotérica, pois, quando reage com a água, dá origem a iões HO (aq).
C. O HCI(aq) é um ácido forte porque se ioniza rapidamente.
+
D. Segundo Brönsted-Lowry, o NH3(aq) é uma base, pois recebe um protão H da água.

8. A interpretação dos fenómenos de ácido-base foi evoluindo ao longo dos tempos, tendo-se destacado nessa interpre-
tação a teoria de Brönsted-Lowry.

8.1. Complete as equações seguintes, que se referem a reacções ácido-base, segundo a teoria de Brönsted-Lowry, e
indique a transferência protónica.

8.2. Indique os pares conjugados ácido-base nos equilíbrios representados pelas equações B e C.
8.3. Indique as espécies anfotéricas que existem em 8.1.
8.4. Como se designa a equação representada em D?

9. Considere duas soluções aquosas, a 25 °C, uma de ácido perclórico, HCIO4(aq), e outra de ácido etanóico,
CH3COOH(aq), de iguais concentrações iniciais. Indique, justificando, qual dos ácidos é mais forte, atendendo a que as
+ -2 -3 -4 -3
concentrações em iões H3O (aq) nas soluções são 1,0 x 10 mol dm e 4,2 x 10 mol dm , respectivamente.

10. Considere uma solução aquosa de ácido metanóico, HCOOH(aq) (ácido existente nas formigas), cujo valor da constante
-4
de acidez, Ka, a 25 °C, é 1,8 x 10 .
-2 -3
Calcule o pH de uma solução aquosa deste ácido, de concentração 1,0 x 10 mol dm .
-2 -3
11. Considere uma solução aquosa de amoníaco, NH3(aq), a 25 °C, de concentração 6,0 x 10 mol dm .
-5
Determine o pH da solução, a essa temperatura, sabendo que a constante de basicidade do amoníaco, K b, é 1,8 x 10 e
-14
o produto iónico da água, Kw é 1,0 x 10 .

12. O ácido láctico, CH3-CHOH-COOH, é um ácido monoprótico, que se acumula nos músculos durante o exercício físico,
originando, por vezes, cãibras e dores musculares intensas.
-1 -3
Considere uma solução deste ácido, a 25 °C, de concentração 2,0 x 10 mol dm .
-4 -14
A constante de acidez deste ácido, a 25 °C, é 1,6 x 10 e o produto iónico da água, KW, é 1,0 x 10 .
12.1. Escreva a equação química que traduz a ionização do ácido láctico em água.
12.2. Calcule a constante de basicidade para a base conjugada do ácido láctico, a 25 °C.
12.3. Calcule a concentração de todas as espécies no equilíbrio.

13. A figura diz respeito a uma titulação ácido-base, a 25 °C.


Classifique em verdadeiras (V) ou falsas (F) cada uma das afirmações seguintes, corrigindo as
falsas.
A. A curva representa a titulação de um ácido forte por uma base forte.
-11 -3
B. A concentração inicial da base é 1,0 x 10 mol dm .
+ -
C. No ponto de equivalência reagiram iguais quantidades de H 3O (aq) e HO (aq).
-3 -3
D. A concentração inicial do ácido é 1,0 x 10 mol dm se os átomos de ácido e de base
que reagirem forem iguais.
E. A fenolftaleína é um indicador apropriado para detectar o ponto final (zona de vira-
gem: 8,3 - 10,0)
56
14. Na titulação, 25 °C, de 20,0 dm3 de ácido nítrico, HNO 3(aq), gastaram-se pH na zona de
3 -
40,0 dm de hidróxido de potássio, KHO(aq), de concentração 1,00 x 10 Indicador
1 -3 viragem
mol dm .
Alaranjado de metilo 3,1-4,4
14.1. Calcule a concentração inicial do ácido.
+
14.2. Calcule a concentração em iões K (aq) no ponto de equivalência. Vermelho de metilo 4,2-6,3
14.3. A partir dos dados da tabela, seleccione o indicador adequado a esta Tornassol 5,0-8,0
titulação.
Amarelo de alizarira 10,0-12,1
15. Comente a frase:
-4 -3
"A 25 °C, uma solução aquosa de ácido nítrico, HNO 3, de concentração 1,3 x 10 mol dm , tem pH igual ao do ácido eta-
-3 -3
nóico, CH3COOH, de concentração 1,0 x 10 mol dm , à mesma temperatura".
-5
Ka(CH3COOH) = 1,8 x IO (a 25 °C)

16. Considere uma solução aquosa de etanoato de sódio, CH 3COONa, a 25 °C.


-
16.1. Determine o valor da constante de basicidade do ião etanoato, CH3COO , sabendo que o valor da constante de
-5
acidez do seu ácido conjugado, Ka, é 1,8 x 10 , à mesma temperatura.
- -2 -3
16.2. Calcule o pH da solução aquosa de etanoato de sódio, CH3COO , a 25 °C, de concentração 1,0 x 10 mol dm .
-14
Kw= 1,0 x 10 (a 25 °C)

17. O odor desagradável de certos peixes é devido à existência nestes de um composto orgânico que tem carácter básico.
Quando o peixe é temperado com limão, a intensidade deste odor diminui.
17.1. Indique o carácter químico da espécie existente no sumo do limão que é responsável pela diminuição da intensi-
dade do referido odor.
17.2. Que tipo de reacção ocorreu?
17.3. Se substituísse o sumo de limão por vinagre (solução aquosa que contém ácido etanóico), a intensidade do refe-
rido odor também diminuía? Justifique a resposta.

18. Considere duas soluções aquosas de ácido cianídrico, HCN, e de ácido hipocloroso, HCIO, a 25 °C, e atenda a que a esta
temperatura Ka(HCN) < Ka(HCIO).
Das proposições seguintes seleccione a falsa.
A. O pH da solução de HCN é inferior ao pH da solução de HCIO, se as concentrações iniciais dos dois ácidos
forem iguais.
B. A 25 °C, a solução de HCN pode ter um pH igual ao do HCIO.
C. A base conjugada de HCIO é mais fraca do que a base conjugada de HCN.
3 3
19. Titularam-se 20,0 cm de uma solução aquosa de ácido sulfúrico, H2SO4, com 30,0 cm de uma solução aquosa de
-2 -3
hidróxido de potássio, KHO, de concentração 1,0 x 10 mol dm , a 25 °C.
19.1. Escreva a equação química que traduz a reacção entre as soluções de ácido sulfúrico e de hidróxido de potássio.
19.2. Calcule a concentração inicial da solução de ácido sulfúrico.
19.3. Qual dos gráficos A, B ou C, corresponde à referida titulação?

19.4. Um aluno, ao fazer a titulação referida, adicionou, por engano, o indicador amarelo de metilo em vez de fenolfta-
leína.
Indique a cor com que ficaria a solução inicial de H2SO4 por adição do indicador amarelo de metilo.
Indicador amarelo de metilo - zona de viragem: vermelho (2,9 - 4,0) amarelo.

57
5.3.2. CHUVA ÁCIDA: IMPACTO EM ALGUNS MATERIAIS

O IMPACTO DA CHUVA ÁCIDA SOBRE OS CARBONATOS


A chuva ácida causa todos os anos prejuízos incalculáveis no património arquitectónico natural e edificado em
todo o mundo.
A degradação dos edifícios de mármore e calcário deve-se, quase exclusivamente, à
chuva ácida, em especial ao ácido sulfúrico, um dos ácidos que, como vimos, se for-
ma na atmosfera a partir dos óxidos de enxofre.
Este ácido reage com o carbonato de cálcio, principal constituinte do calcário e do
mármore, originando sulfato de cálcio e dióxido de carbono.
CaCO3(s) + H2SO4(aq) → CaSO4(s) + CO2(g) + H2O(l)
O sulfato de cálcio, que é pouco solúvel em água, vai formar depósitos sólidos nas
fendas e poros da pedra, provocando a sua desintegração.
Este processo de deterioração dos materiais calcários é conhecido por "lepra da
pedra".
Os ácidos atacam os carbonatos, por reacção de ácido-base, sendo um dos produtos
da reacção o dióxido de carbono.

O IMPACTO DA CHUVA ÁCIDA SOBRE ALGUNS METAIS


A chuva ácida também faz aumentar a velocidade de corrosão de estruturas metáli-
cas.
O ferro, por exemplo, reage com o ácido sulfúrico, libertando hidrogénio e formando
sulfato de ferro(ll).
Fe(s) + H2SO4(aq) FeSO4(aq) + H2(g)
Nesta transformação, o ferro vai sendo corroído; daí ser habitual proteger as estrutu-
ras em ferro com revestimentos apropriados para evitar a corrosão.
Com o objectivo de proteger o património arquitectónico, tem sido feita investigação
no sentido de estudar o modo como as variações de pH das chuvas ácidas, bem como
a natureza do ácido, têm influência na velocidade de corrosão de materiais, tais
como o ferro, o cobre, o bronze, o aço galvanizado e, inclusive, pinturas e vernizes.
Esta corrosão dos metais deve-se a reacções de oxidação -redução entre o ácido e o metal.
No caso, por exemplo, do ferro e do zinco, estes são atacados, como vimos, pelo ácido sulfúrico e/ou clorídrico,
com libertação de hidrogénio.
Os ácidos atacam alguns metais, por reacção de oxidação-redução, provocando a sua corrosão.

O QUE SÃO REACÇÕES DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO?


As reacções de oxidação-redução constituem um grupo de reacções com importância semelhante às de ácido-
base.
Enquanto que nas reacções de ácido-base, de acordo com a teoria de Brӧnsted-Lowry, há uma transferência de
protões, H+, entre o ácido e a base, nas reacções de oxidação-redução há, como vamos ver, uma transferência
de electrões, e-, da espécie redutora para a espécie oxidante.
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE OXIDAÇÃO
Inicialmente, o termo oxidação era usado para referir a reacção de combinação de uma substância com o oxi-
génio, como é o caso das combustões.
Oxidação: 2 Mg(s) + O2(g) →2 MgO(s) (1)
Da mesma forma, o termo redução era usado para descrever o processo inverso, isto é, a "perda" de oxigénio
por parte de uma substância.
Redução: ZnO(s) + C(s) → Zn(s) + CO(g) (2)
Na reacção (1) o magnésio foi oxidado e, na reacção (2), o zinco foi reduzido.

Este conceito era muito restrito. Viu-se que, muitas vezes, quando o oxigénio reage,
por exemplo, com um composto que contém hidrogénio, não se combina com ele.
Por exemplo: Quando o ferro enferruja, oxida-
se, transferindo electrões para o
58 oxigénio, que se reduz.
4 NH3(g) + 3 O2(g) → 2 N2(g) + 6 H2O(g)
Então, o conceito de oxidação e de redução foi alargado, passando a incluir a eliminação e a adição de hidrogé-
nio, respectivamente.
Oxidação: CH3CH2OH(aq) → CO(g) + 2 H2(g)

Redução: CH3CHO(aq) + H2(g) →CH3OH(l)

Actualmente, os conceitos de oxidação e de redução não se limitam ao aumento ou diminuição da composição


de um composto em oxigénio ou hidrogénio; são bem mais amplos.
Hoje, estes conceitos incluem todos os processos que envolvam transferência de electrões.
Assim:
Oxidação - processo que envolve perda de electrões
Redução - processo que envolve ganho de electrões
A perda e o ganho de electrões são processos independentes que ocorrem em simultâneo.
A este processo conjunto de transferência de electrões dá-se o nome de reacção de oxidação-redução.
Exemplo:
Quando se introduz um prego de ferro numa solução aquosa com iões
cobre(ll), Cu2+(aq), observa-se a formação de um depósito de cobre sobre o
prego de ferro. Isso verifica-se, porque os iões Cu2+(aq) são reduzidos a
cobre metálico, Cu(s). Simultaneamente, o ferro metálico, Fe(s), é oxidado
a iões ferro(ll), Fe2+(aq), que passam à solução.
Oxidação-redução:

Pregos de ferro numa solução aquosa com iões


2+
Cu (aq).

Reacção de oxidação-redução - reacção em que ocorre transferência de electrões.

Numa reacção de oxidação-redução, podem considerar-se duas semi-reacções - uma de oxidação e outra de
redução.
Fe(s) → Fe2+(aq) + 2e- eq. da semi-reacção de oxidação
Cu2+(aq) + 2e- → Cu(s) eq. da semi-reacção de redução
__________________________________________________________
Fe(s) + Cu2+(aq) ↔ Fe2+ (aq) + Cu(s) eq. global de oxidação-redução
Neste caso, houve, portanto, uma transferência de dois electrões do ferro, Fe(s), para o ião cobre(ll), Cu2+(aq).
O Fe(s) transformou-se em Fe2+(aq) por perda de dois electrões.
O Cu2 (aq) transformou-se em Cu(s) por ganho de dois electrões.
Os pares Fe2+/Fe e Cu2+/Cu constituem pares conjugados de oxidação-redução.

Num par conjugado de ácido-base, as duas espécies diferem apenas em um protão (H+). Num par conjugado de
oxidação-redução, as duas espécies podem diferir em mais do que um electrão (e- ).

Num par conjugado de oxidação-redução, quanto mais forte é o oxidante mais fraco é o redutor.
Par conjugado de oxidação-redução - par de espécies químicas que se podem transformar uma na outra por
perda ou ganho de electrões.
Ainda relativamente à reacção que estamos a considerar, podemos dizer que:
• O ferro, ao perder electrões, oxidou-se: é o agente redutor.
• O ião cobre(ll), ao receber electrões, reduziu-se: é o agente oxidante.
O número de electrões cedidos pelo redutor (ferro) é igual ao número de electrões recebidos pelo oxidante (ião
cobre(ll))
Oxidante - espécie que, numa reacção química, recebe electrões; ao receber electrões é reduzida.
Redutor - espécie que, numa reacção química, cede electrões; ao ceder electrões é oxidada.

59
COMO ATRIBUIR O ESTADO DE OXIDAÇÃO A UM ELEMENTO?
É possível conhecer o estado de oxidação de um elemento através do seu número de oxidação.
Número de oxidação de um elemento - carga eléctrica que o átomo do elemento adquire se os electrões de
cada ligação forem atribuídos ao átomo mais electronegativo.
Assim, por exemplo, no cloreto de hidrogénio, HCI, se os dois electrões da ligação forem atribuídos ao átomo
mais electronegativo, átomo de cloro, o número de oxidação do hidrogénio será +1 e o do cloro -1.
Pensando da mesma forma, no caso da água, H2O, o número de oxidação do hidrogénio é +1 e o de oxigénio -2
e no caso do amoníaco, NH3, O número de oxidação do hidrogénio é +1 e o do azoto -3.

Para determinar os números de oxidação dos elementos constituintes de iões e/ou substâncias simples e com-
postas, apresentam-se a seguir algumas regras:
Regras Exemplos Excepções
O número de oxidação de um ele- O2 ; O3 → n.o. (0) = 0
mento, no estado livre, é zero. Na → n.o. (Na) = 0
H2 → n.o. (H) = 0
Nos compostos, o número de oxi- HCI H2S04 Nos hidretos metálicos, o número
dação do hidrogénio é, em geral, n.o.(H) = +l n.o.(H) = +1 de oxidação do hidrogénio é -1.
+1. n.o.(cl) = -1 n.o(S) = +6 NaH CaH2
n.o.(0) = -2 n.o. (Na) = +1 n.o. (Ca) = +2
n.o. (H) = -l n.o. (H) = - 1
Nos compostos, o ,número de oxi- MgO H2O Nos peróxidos, o número de oxida-
dação do oxigénio é, em geral, n.o.(Mg) = +2 n.o.(H) = + 1 ção do oxigénio é -1.
-2. n.o. (0) = -2 n.o. (0) = - 2 H2O2 K2O2
n.o.(H) = +l n.o. (K) = +l
n.o.(0) = - 1 n.o. (0) = - 1
+
0 número de oxidação de um ele- Na → n.o. (Na) = +1
-
mento, nos iões monoatómicos, é Cl → n.o. (Cl) = -1
2+
igual à carga do ião. Zn → n.o. (Zn) =+2
A soma dos números de oxidação
2-
dos átomos dos elementos de um CO3
ião poliatómico é igual à carga do (+ 4) + 3 x (- 2) = - 2
ião.
A soma dos números de oxidação HNO3
dos átomos dos elementos que for- (+ 1) + (+ 5) + 3 x (- 2) = 0
mam uma molécula é igual a zero.
60
O conhecimento dos números de oxidação permite estabelecer uma definição mais geral de oxidação e de
redução.
Uma oxidação implica um aumento do número de oxidação.
Uma redução implica uma diminuição do número de oxidação.

QUESTÕES:
1. Considere a reacção que ocorre quando se coloca um fio de cobre, Cu(s), numa solução aquosa de nitrato de prata,
AgNO3(aq), traduzida pela equação química:
+ 2+
Cu(s) + 2 Ag (aq) ↔ Cu (aq) + 2 Ag(s)
1.1. Qual é a espécie química que se forma e é responsável pelo aparecimento da cor azul da solução?
1.2. Qual é a espécie química que se deposita no fio de cobre?
1.3. Indique o número de oxidação dos elementos em cada uma das espécies.
1.4. Quantos electrões são transferidos entre as espécies redutora e oxidante?
1.5. Quais são os pares conjugados de oxidação-redução?
2. Considere as reacções de oxidação-redução traduzidas pelas seguintes equações químicas:
A. 2 KCIO3(S) →2 KCI(s) + 3 O2(g)
B. Fe(s) + 2 HCI(aq) → FeCI2(aq) + H2(g)
Para cada uma das reacções indique:
2.1. O número de oxidação dos elementos em cada uma das espécies.
2.2. As espécies oxidante e redutora.
2.3. As espécies oxidada e reduzida.

SERÁ QUE OS ELEMENTOS PODEM TER MAIS DO QUE UM ESTADO DE OXIDAÇÃO?


Efectivamente, há elementos químicos, como o ferro (Fe), o cobre (Cu), o manganésio (Mn), o estanho (Sn), o
crómio (Cr) e o mercúrio (Hg) que podem apresentar mais do que um estado de oxidação.
Quando isso se verifica, indica-se, geralmente, o estado de oxidação em que esse elemento se encontra, colo-
cando o número romano correspondente ao estado de oxidação dentro de parênteses à frente do nome do
elemento.
O ferro, o cobre, o manganésio, o crómio e o mercúrio são metais de transição.
Como pode ver na Tabela Periódica, os elementos de transição apresentam, em geral, mais do que um estado
de oxidação.

Exemplos:
• FeSO4 - sulfato de ferro(ll) (Fe2+; SO42-) • SnCI2 - cloreto de estanho(ll) (Sn2+; Cl-)
• Fe2O3 - óxido de ferro(lll) (Fe3+; O2-) • SnCI4 - cloreto de estanho(IV) (S.n4+; Cl-)
• Cu2O - óxido de cobre(l) (Cu+; O2-) • CrCI2 - cloreto de crómio(ll) (Cr2+; Cl- )
• CuCI2 - cloreto de cobre(ll) (Cu2+; Cl-) • CrCI3 - cloreto de crómio(lll) (Cr3+; Cl-)
• MnO - óxido de manganésio(ll) (Mn2+; O2-) • Hg2CI2 - cloreto de mercúrio(l) (Hg22+; Cl-)
• MnO2 - óxido de manganésio(IV) (Mn4+; O2- ) • HgCI2 - cloreto de mercúrio(ll) (Hg2+; Cl- )

Há elementos que apresentam mais do que um estado de oxidação e que, em determinadas reacções, podem
ser simultaneamente oxidados e reduzidos. Quando isso acontece, a reacção diz-se reacção de dismutação ou
de auto-oxidação-redução.
A decomposição do peróxido de hidrogénio é um
exemplo de reacção de dismutação:

61
No extracto da Tabela Periódica que se apresenta a seguir encontram-se indicados os números de oxidação
de alguns elementos.

É de salientar que:
 Os elementos metálicos têm, geralmente, números de oxidação positivos, enquanto que os elementos
não metálicos podem ter números de oxidação positivos ou negativos.
 O número de oxidação mais elevado que um elemento representativo pode ter é o número correspon-
dente ao algarismo das unidades do número do grupo. Por exemplo, o número de oxidação mais eleva-
do para os halogéneos (grupo 17) é + 7.
 Os metais de transição têm, geralmente, vários números de oxidação possíveis.

SERÁ POSSÍVEL EVITAR A CORROSÃO DE METAIS PROTEGENDO-OS COM OUTROS METAIS?


Conhecidas algumas propriedades dos metais e reacções químicas em que eles
intervêm, compreendemos melhor alguns cuidados e medidas a tomar na sua
conservação/protecção.
Algumas medidas para combater a corrosão dos metais passam por evitar o con-
tacto entre o metal e outras substâncias nomeadamente a água e gases do ar.
Pode-se conseguir isso por pintura, por revestimento plástico, por camada de
verniz ou por protecção catódica.
Por protecção catódica usa-se um metal com maior poder redutor do que o
metal a proteger.
Este processo tem a ver com o facto de existirem metais com maior poder redutor do que outros.
Atendendo a este facto, é possível ordenar os metais segundo os seus poderes redutores.
Esta série, conhecida por série electroquímica, permite prever a ocorrência, espontânea ou não, de reacções
químicas entre metais e soluções aquosas de sais contendo catiões de outros metais.

Se repararmos na ordem pela qual se encontram os pares conjugados óxido-redutores, verificamos que aos
redutores mais fortes correspondem os oxidantes mais fracos, e vice-versa.
Quanto mais forte é um redutor mais fraco é o seu oxidante conjugado.
62
Exemplo 1

Nos gobelés A e D das figuras, as reacções são espontâneas. Porquê?


De acordo com a série electroquímica, constatamos que o Zn(s) tem maior poder redutor do que o Fe(s). Então,
a reacção traduzida pela equação:

será espontânea no sentido directo (e não no sentido inverso).


 O Zn(s) tem maior poder redutor do que o Fe(s).
 O Fe2+(aq) é um oxidante mais forte do que o Zn2+(aq).
Assim se explica a deposição de ferro no gobelé A, enquanto que no gobelé B não se observa reacção.
Relativamente aos gobelés C e D, cuja reacção pode ser traduzida pela equação:

Verifica-se que, de acordo com a série electroquímica, o Fe(s) tem maior poder redutor do que o Cu(s). Então, a
reacção é espontânea no sentido inverso (e não no sentido directo), sentido em que se observa a deposição de
cobre no gobelé D, enquanto que no gobelé C não se observa reacção.
Este exemplo, além de ter permitido comparar o poder redutor do cobre, do ferro e do zinco, ajuda a com-
preender como é que o zinco "protege" o ferro da corrosão dos cascos dos navios. O zinco, como tem maior
poder redutor do que o ferro, oxida-se mais facilmente.

Exemplo 2

Nesta célula electroquímica, o zinco é o ânodo e o ferro é


2+
Solução aquosa com iões Cu (aq) onde foi colocada uma bola feita com o cátodo. Como o zinco tem poder redutor maior do que o
papel de alumínio ferro, protege este da corrosão - protecção catódica. Esta
é a base do método de protecção catódica dos cascos dos
navios.

Será que o papel de alumínio ajuda a recuperar o cobre existente na solução sob a forma de Cu2+(aq)?
Se atendermos à série electroquímica, verifica-se que o alumínio, Al(s), tem maior poder redutor do que o Cu(s).
Então, a reacção em B
2 Al(s) + 3 Cu2+(aq) ↔ 2 Al3+(aq) + 3 Cu(s)
é espontânea no sentido directo, sentido em que se observa a deposição de cobre no gobelé, ao mesmo tempo
que a solução se torna mais clara.
Uma reacção de oxidação-redução, representada genericamente por
Oxid 1 +Red 2↔Red 1 + Oxid 2
será espontânea no sentido directo se:
63
• O Oxid 1 for mais forte do que o Oxid 2 .
• O Red 2 for mais forte do que o Red 1 .
isto é, ao par Oxid 1/Red 1 correspondem o oxidante mais forte e o redutor mais fraco.

COMO ACERTAR UMA EQUAÇÃO DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO?


Método misto ou método das semiequações Exemplo
- 2-
1. Identificar os elementos que sofrem 1. MnO4
+ H2O2 → Mn + O2 (meio ácido)
variação de número de oxidação e n.o. +7 -2 +1 -1 +2 0
determinar os seus números de oxi-  O Mn foi reduzido: o seu n.o. passou de + 7 para + 2.
dação  O O foi oxidado: o seu n.o. passou de - 1 para 0.
2. Escrever separadamente as equações 2. H2O2 → O2 eq. da semi-reacção de oxidação
- 2+
das semi-reacções de oxidação e de MnO4 → Mn eq. da semi-reacção de redução
redução.
3. Em cada equação de semi-reacção, 3. Neste caso, as massas já estão certas, pois o número de átomos dos
acertar as massas dos elementos que elementos, em cada membro da equação, é igual.
sofrem oxidação e redução.

4. Em cada equação, adicionar electrões 4. Na primeira equação, como o n.o. do 0 passou de - 1 para 0, é neces-
- -
de forma a acertar a variação dos sário acrescentar 2e ao segundo membro da equação (1 e por cada
-
números de oxidação. átomo) H2O2 → O2 + 2e
• Na segunda equação, o n.o. do Mn passou de + 7 para + 2, sendo, por-
-
tanto, necessário acrescentar 5e ao primeiro membro (se o n.o.
-
passou de + 7 para + 2, é porque o Mn captou 5e por átomo).
- - 2+
MnO4 +5e —► Mn

+
5. Se o meio for ácido, acertar as equa- 5. Como o meio é ácido, acertam-se as cargas com iões H
- +
ções, quanto às cargas, adicionando o H2O2 →O2 + 2e + 2 H (1)
+ - - + 2+
número necessário de iões H ao Mn04 + 5e + 8 H → Mn (2)
membro onde estão os electrões. Se o (1) Como a carga eléctrica do primeiro membro é zero, temos de adicionar
+
meio for alcalino, acertar as equações 2 iões H ao segundo membro para anular a carga eléctrica dos 2 elec-
quanto às cargas, adicionando o trões.
-
número necessário de iões HO ao (2) Como a carga eléctrica no segundo membro é +2 e no primeiro mem-
-
membro oposto ao que contém os bro é -6 (-1 do ião MnO4 e -5 dos 5 electrões), é necessário adicionar 8
+
electrões. iões H ao primeiro membro para que a carga passe a ser +2, como no
segundo membro.
- +
6. Acertar as equações das semi- 6. H2O2→O2 + 2e + 2 H (1)
- - + 2+
reacções quanto às massas (átomos MnO4 + 5e + 8 H → Mn + 4 H2O (2)
de hidrogénio e de oxigénio), adicio- (1) Nesta equação não é necessário adicionar H 2O, pois a equação já está
nando o número conveniente de certa quanto às massas.
moléculas de H2O ao membro oposto (2) Nesta equação foi necessário adicionar 4 H2O para acertar os átomos de
+
de H nas reacções em meio ácido e H e de 0.
-
ao membro oposto a HO nas reacções
em meio alcalino.
- +
7. Acertar as equações das semi- 7. (x 5) 5 H2O2 → 5 O2+ 10e + 10 H
- + 2+
reacções, multiplicando-as por núme- (x 2) 2 MnO4 + 10e + 16 H →2 Mn + 8 H2O
ros inteiros, que igualem o número de
electrões em jogo nas duas equações.
- +
8. Adicionar, membro a membro, as 8. 5 H2O2 →5 O2 + 10e + 10 H
- - + 2+
duas equações, reduzindo os termos 2 MnO4 + 10e + 16 H → 2 Mn + 8 H2O
semelhantes. __________________________________________________
- + 2+
2 MnO4 + 5 H2O2 + 6 H → 2 Mn + 5 O2 + 8 H2O
9. Verificar se a equação global está certa 9.
quanto às massas e quanto às cargas. carga Átomos Átomos Átomos
de Mn de O de H
1º membro +4 2 18 16
2º membro +4 2 18 16

64
Reacções de oxidação-redução Reacções de ácido-base (de Bronsted-Lowry)

Oxidante: capta electrões sofre redução Ácido: cede protões


Redutor: cede electrões sofre oxidação Base: capta protões
Pares conjugados Pares conjugados
Oxid 1 + Red 2↔Red 1 + Oxid 2 Ácido 1 + Base 2↔Base 1 + Ácido 2
Oxid 1/Red 1 e Oxid 2/Red 2 Ácido 1/Base 1 e Ácido 2/Base 2
Extensão da reacção Extensão da reacção
A reacção está tanto mais deslocada no sentido directo A reacção está tanto mais deslocada no sentido directo
quanto mais forte for o Oxid 1 em relação ao Oxid 2. quanto mais forte for o Ácido 1 em relação ao Ácido 2.
Ao par Oxid 1/Red 1 corresponde o oxidante mais forte e o Ao par Ácido 1/Base 1 corresponde o ácido mais forte e a
redutor mais fraco base mais fraca.

UMA ESPÉCIE QUÍMICA QUE NUMA REACÇÃO ACTUE COMO OXIDANTE PODERÁ ACTUAR NOUTRA COMO REDUTOR?
Efectivamente, uma espécie química que em determinada reacção actua como oxidante pode noutra reacção
actuar como redutor, dependendo da espécie química com que reage.
O carácter oxidante ou redutor de uma espécie química é, portanto, relativo.
Exemplos

O azoto, N2, actua como oxidante, ao reagir com o O azoto, N2, actua como redutor, ao reagir com o oxi-
hidrogénio, H2, na síntese do amoníaco, NH3. génio, O2, formando monóxido de azoto, NO.
Será que os ácidos reagem com todos os metais?

A figura mostra as reacções entre o ácido clorídrico, HCI(aq) e o ferro, Fe, o O cobre não reage com o ácido clorídrico.
zinco, Zn, e o magnésio, Mg, respectivamente. Como se pode observar, em
todas elas se liberta um gás, que é o hidrogénio. A rapidez com que este gás
é libertado é distinta, o que reflecte a diferente reactividade destes metais

Assim, o ferro é o metal menos reactivo dos três e o magnésio o mais reactivo. Este facto já era de esperar,
atendendo à ordem pela qual se encontram estes metais na série electroquímica.
As equações químicas que traduzem estas reacções são as seguintes:

65
Mas, atenção, nem todos os metais reagem com o ácido clorídrico, como é o caso
do cobre, Cu, da prata, Ag e do ouro, Au.
Metais como o ferro, zinco e magnésio, reagem com o ácido clorídrico; o metal
(redutor) oxida-se com redução simultânea do ião hidrogénio, H+(aq), a hidrogénio
gasoso, H2.
Os metais estão dispostos de acordo com a sua capacidade de deslocar o hidrogé-
nio de um ácido ou da água; o metal oxida-se com redução simultânea do hidro-
génio.

EXERCÍCIOS:
1. Das afirmações seguintes indique as verdadeiras:
2+
A. A transformação de Fe (aq) a Fe(s) é uma oxidação.
2-
B. A transformação de SO2(g) a SO3 (aq) é uma redução.
C. O número de electrões cedido por um redutor é igual ao número de electrões captado por um oxidante.
D. Nas reacções de oxidação-redução o oxidante cede oxigénio ao redutor.
E. Uma reacção de oxidação-redução é um processo de ocorrência simultânea de uma oxidação e de uma redu-
ção.
2. Indique o número de oxidação dos elementos sublinhados em cada uma das espécies químicas.
A - HNO3 B - P2O5 C- K2Cr2O7 D - HCI E - CaH2
2+ - +
F - O3 G - H2O2 H - Mn I - MnO4 J - NH4
3. Considere as seguintes transformações químicas:
A - Fe → FeS B - FeSO4 → Fe2(SO4)3 C - Fe2(SO4)3 → Fe2O3
3.1. Indique os números de oxidação do ferro nas diferentes transformações e em que casos sofre oxidação.
3.2. Seleccione a opção que completa correctamente a frase "O ferro é um elemento...
A - ... representativo". B - ... de transição". C - ... de transição interna".
4. Considere a reacção de oxidação-redução entre o ião permanganato, MnO4, e o peróxido de hidrogénio, H2O2, traduzi-
da pela equação:
- + 2+
2 MnO4 (aq) + 5 H2O2(aq) + 6 H (aq) → 2 Mn (aq) + 5 O2(g) + 8 H2O(l)
Das proposições seguintes seleccione as correctas.
-
A. O MnO4 actua como agente oxidante.
B. O H2O2 actua como agente redutor.
-
C. O MnO4 oxida-se.
D. O H2O2 reduz-se.
- 2+
E. O MnO4 é o redutor conjugado do Mn .
5. Acerte os esquemas seguintes, correspondentes a reacções de oxidação-redução.
+ 2+
A. Zn(s) + H (aq) → Zn (aq) + H2(g)
- 2+ 2+ 3+
B. MnO4 (aq) + Fe (aq) → Mn (aq) + Fe (aq)
2- + 2-
C. Cr4O (aq) + H (aq) → Cr2O7 (aq) + H2O(l)
D. H2O2(aq) → H2O(l) + O2(g)
6. Considere as reacções de oxidação-redução traduzidas pelas equações químicas:
2+ 2+
A. Zn(s) + Fe (aq)→Zn (aq) + Fe(s)
2+ 2+
B. Fe(s) + Cu (aq)→Fe (aq) + Cu(s)
6.1. Indique para cada uma das reacções a espécie oxidada e a espécie reduzida.
6.2. Que conclusão pode tirar quanto ao comportamento relativo de cada espécie química: tem tendência para se
oxidar ou reduzir?

66
6. MINERALIZAÇÃO E DESMINERALIZAÇÃO DE ÁGUAS
Mais de 70% da superfície do nosso "planeta de água" está coberta por oceanos. Eles desempenham um
papel primordial na sobrevivência de praticamente todas as espécies existentes.
De facto, as águas dos oceanos são "soluções" aquosas naturais de extraordinária importância pelas impli-
cações directas nas condições actuais de vida no nosso planeta, e pelo potencial que encerram na sua continui-
dade.
Os oceanos podem ser considerados como gigantescos reservatórios de dióxido de carbono atmosférico dis-
solvido (auxiliando a regular a temperatura do planeta), como habitats para cerca de 250 000 espécies de seres
vivos marinhos como fontes de ferro, areia, fosfatos, magnésio, petróleo, gás natural e de muitos outros valio-
sos recursos.
Mas os oceanos acabam por ser também receptáculo de tudo aquilo que já não interessa; por força do seu
enorme volume e das suas imensas correntes, dissolvem e diluem muitos dos desperdícios de origem antropo-
génica que nele se lançam e enterram.
Este precioso líquido, que participa nos principais ciclos biogeoquímicos, é solvente de muitos sólidos, líqui-
dos e gases, promovendo, simultaneamente com muitos fenómenos de dissolução, a ocorrência de reacções
químicas de importância crucial para a vida e para o ambiente.
A "água" dos oceanos é um sistema químico/biológico complexo, que em milhões de anos praticamente não
alterou a sua composição. Daí os organismos marinhos serem altamente sensíveis às agressões ambientais
como, por exemplo, derrames de crude. Até hoje, os oceanos têm conseguido diluir, dispersar e degradar gran-
des quantidades de poluentes. O mesmo já não se pode dizer da água dos rios, lagos e lagoas.
O impacto da poluição num rio depende, não só da natureza do poluente, mas também do caudal do rio, da
velocidade da água, do tipo de margens e vegetação nelas existente, da "herança" mineral da bacia hidrográfica
e do tipo de vida aquática. Assim, há rios altamente sensíveis a poluentes como sais, sedimentos, alterações de
temperatura e de pH, enquanto que outros são menos vulneráveis a este tipo de agressão.
O estudo da solubilidade e o controlo da mineralização das águas dão-nos ainda a compreender os parâme-
tros envolvidos nestes processos.

6.1. A SOLUBILIDADE E O CONTROLO DA MINERALIZAÇÃO DAS ÁGUAS

O QUE É UMA SOLUÇÃO?


As soluções são misturas homogéneas de duas ou mais substâncias, podendo ser sólidas, líquidas ou gasosas, de
acordo com os estados físicos iniciais dos componentes da solução.
Estados físicos Exemplos
Componente 1 Componente 2 Solução
(soluto) (solvente)
Gás Gás Gás Ar
Gás Líquido Líquido Água gaseificada (CO2 dissol-
vido)
Gás Sólido Sólido H2 dissolvido em paládio
Líquido Líquido Líquido Etanol dissolvido em água
Sólido Líquido Líquido NaCI dissolvido em água
Sólido Sólido Sólido Bronze (Cu/Sn), solda (Sn/Pb)
Numa solução temos a considerar o soluto e o solvente.
Soluto - substância presente em menor quantidade.
Solvente - substância presente em maior quantidade.
A água, bem como outros líquidos polares são, em geral, bons solventes de substâncias iónicas e de substâncias
moleculares polares. As substâncias moleculares apolares são, contudo, muito pouco solúveis em água.
Efectivamente, não existe um solvente universal, pois o fenómeno da dissolução resulta de uma interacção solu-
to-solvente; quanto maior for a afinidade entre os dois, melhor o soluto se dissolve no solvente. Como essa
afinidade tem a ver com a natureza dos dois (para além de outros factores), não é possível a existência de um
solvente universal.
Um soluto polar (ou iónico) dissolve-se, em geral, num solvente polar.
Um soluto apolar dissolve-se, em geral, num solvente apolar. Daí se dizer muitas vezes que:
polar dissolve polar
67
apolar dissolve apolar

A - A água é um bom solvente de sais, como o cloreto de sódio. B - Há substâncias mole- O iodo - substância apolar é
culares, como a sacarose (açúcar), que se dissolvem bem na água. pouco solúvel em água e muito
solúvel em tetracloreto de car-
bono, CCI4 - solvente apolar.
No nosso estudo, vamos concentrar a atenção nas soluções com, pelo menos, um
dos componentes líquido, isto é, soluções gás-líquido, líquido-líquido e sólido-líquido.
Nestas o líquido mais frequentemente usado é a água.
O fenómeno da dissolução resulta de uma interacção soluto-solvente.

COMO SE EXPLICA O PROCESSO DA DISSOLUÇÃO?


Quando uma substância (o soluto) se dis-
solve noutra (o solvente), as partículas do
soluto interagindo com as partículas do
solvente dispersam-se neste.
Podemos imaginar que o processo de dis-
solução se dá em três passos diferentes:
Passo 1 - envolve a separação das par-
tículas do solvente;
Passo 2 - envolve a separação das par-
tículas do soluto;
Passo 3 - as partículas do soluto e do
solvente misturam-se.
Os passos 1 e 2 envolvem a separação de partículas. Estes passos necessitam de energia para vencer as forças
atractivas entre as partículas; são, portanto, processos endoenergéticos.
No passo 3 as partículas do soluto e do solvente misturam-se; este processo pode ser endoenergético ou exoe-
nergético.
Consideremos, por exemplo, a dissolução do cloreto de sódio, NaCI, em água.
O cloreto de sódio, NaCI, é um sal. Os sais são, como sabemos, compostos iónicos. Estes são constituídos por
iões positivos e negativos ligados entre si por ligação iónica, formando uma malha iónica, isto é, uma estrutura
cristalina cujas unidades estruturais são iões distribuídos de forma regular.
No seu conjunto, as cargas positivas igualam as cargas negativas, sendo o cristal electricamente neutro.
Nos compostos iónicos temos, portanto, iões positivos e negativos, ligados por ligação iónica, enquanto que
nas substâncias moleculares temos átomos ligados por ligação covalente, ligação que é feita por compartilha-
ção de electrões entre dois átomos.
Quando uma substância iónica, como o cloreto de sódio, se dissolve em água, a
malha tridimensional dos iões no sólido desfaz-se, e os iões Na+ e Cl- separam-se
devido à interacção com as moléculas do solvente polar (água).
As atracções do tipo ião-dipolo, que se estabelecem entre os iões Na+ e Cl- com a
água, são suficientemente fortes para separar os iões do cristal.
Em solução, cada catião Na+ é rodeado por moléculas de água, orientadas com a
sua extremidade negativa para o catião. Da mesma forma, cada anião Cl- é rodeado
por moléculas de água com a sua extremidade positiva orientada para o anião.
Malha do cloreto de sodio, NaCI.

68
+ -
Hidratação dos iões Na e Cl

Um processo de dissolução é sempre acompanhado por um aumento de desordem.


É este aumento de desordem do sistema que favorece a solubilidade de qualquer substância, mesmo se o pro-
cesso de dissolução for endotérmico.
O processo pelo qual um ião é rodeado por moléculas de solvente designa-se por solvatação. No caso de o sol-
vente ser a água, designa-se por hidratação.
A hidratação ajuda a estabilizar os iões em solução e evita a combinação entre catiões e aniões.
Substâncias como o cloreto de sódio, NaCI, que tornam uma solução condutora da corrente eléctrica devido aos
iões que fornecem à solução, designam-se por electrólitos.
NaCI(s) Na+(aq) + Cl- (aq)
As soluções de ácidos e as bases são também electrólitos.
Por exemplo, o ácido clorídrico, HCI(aq), em água, gera iões H3O+(aq) e iões Cl-(aq).
HCI(aq) + H2O(l)→ Cl- (aq) + H3O+(aq)
Um electrólito é, portanto, um material que conduz ionicamente. A condução da corrente eléctrica faz-se,
então, por iões nos electrólitos e por electrões nos metais.
Electrólito - material que conduz ionicamente.

O QUE SE ENTENDE POR SOLUBILIDADE?


Para exprimir de forma quantitativa a maior ou menor capacidade de as substâncias se dissolverem num dado
solvente, a uma dada temperatura, os químicos introduziram o conceito de solubilidade.
A solubilidade de um soluto num dado solvente, a uma determinada temperatura, é a quantidade máxima de
soluto que se pode dissolver no solvente, de forma a obter-se um decímetro cúbico de solução saturada.
Uma solução diz-se saturada quando contém dissolvida a máxima quantidade possível de soluto num dado
volume de solvente, a uma dada temperatura. Estando uma solução saturada, se lhe adicionarmos mais soluto,
ele vai precipitar.
No caso do cloreto de sódio, NaCI, por exemplo, a quantidade máxima de sal que é possível dissolver em água, à
temperatura de 25 °C, de modo a obter 1,0 dm3 de solução saturada, é de 3,5 x 102 g.
No entanto, se o sal for o carbonato de cálcio, CaCO3, já só é possível dissolver em água, e a 25 °C, 6,7 x 10-3 g.
Portanto, a 25 °C, o CaCO3(s) é muito menos solúvel em água do que o NaCI(s).
O estado de divisão de um sal e a agitação da solução não vão aumentar a solubilidade do sal; apenas vão
interferir no tempo de dissolução, mantendo a temperatura e a pressão constantes.
As soluções reais são a maioria das soluções com que lidamos.
De acordo com a sua solubilidade em água, os compostos iónicos podem ser classificados em:
• muito solúveis; • pouco solúveis; • medianamente solúveis.

Na tabela apresentam-se as características de solubilidade de alguns compostos iónicos em água, a 25 °C.

Compostos iónicos Características de Excepções


solubilidade em água
(a 25 °C)
1. Todos os compostos de metais alcalinos
Muito solúveis
(grupo 1) são...
+
2. Todos os compostos de amónio (NH4 )
Muito solúveis
são...
3. Todos os compostos contendo iões
-
nitrato (NO3 ), clorato (CIO3), perclorato Muito solúveis
(CIO;) e eta- noato (CH3COO ) são...

69
Os hidróxidos de metais alcalinos e 0 hidróxido de
-
4. A maioria dos hidróxidos (HO ) são... Pouco solúveis bário (Ba(HO)2) que são solúveis. 0 hidróxido de
cálcio (Ca(HO)2) que é medianamente solúvel.
+ 2+ 2+
5. A maioria dos compostos contendo iões Os compostos que contêm os iões: Ag , Hg2 e Pb
- - -
cloreto (Cl ), brometo (Br ) e iodeto (I ) Muito solúveis que são pouco solúveis.
são...
2- Os compostos de amónio e de metais alcalinos que
6. Todos os carbonatos (CO3 ), fosfatos
3- 2- Pouco solúveis são solúveis.
(P04 ) e sulfitos (S ) são...
Os sulfatos de cálcio (CaSO4) e 0 sulfato de prata
2- (Ag2SO4) que são medianamente solúveis. Os sulfa-
7. A maioria dos sulfatos (SO4 ) são... Muito solúveis
tos de bário (BaSO4), de mercúrio(ll) (HgSO4) e de
chumbo (PbSO4) que são pouco solúveis.

Quando os compostos iónicos são pouco solúveis em água, têm tendência a precipitar.
Um precipitado é um material insolúvel, que se separa da solução, sedimentando.

COMO VARIARÁ COM A TEMPERATURA A SOLUBILIDADE EM ÁGUA DE UM


COMPOSTO IÓNICO?
Para a maioria das substâncias, a solubilidade depende da temperatura.
No gráfico podemos ver o modo como a solubilidade de alguns compostos
iónicos, em água, varia com a temperatura, independentemente de pro-
cesso de dissolução ser exoenergético ou endoenergético.
Na maior parte dos casos, a solubilidade desses compostos aumenta com a
temperatura. No entanto, há compostos iónicos cuja solubilidade diminui e
outros em que praticamente não varia.
Por exemplo, a solubilidade do nitrato de sódio, NaNO3, em água aumenta
rapidamente com a temperatura, enquanto que a do cloreto de sódio,
NaCI, e a do brometo de sódio, NaBr, variam pouco e a do sulfato de sódio,
Na2SO4, diminui. Gráfico 1- Variação da solubilidade de alguns
compostos iónicos, em água, com a tempe-
ratura.

SERÁ POSSÍVEL A PRECIPITAÇÃO SELECTIVA DE SAIS A PARTIR DE UMA SOLUÇÃO AQUOSA, POR EVAPORAÇÃO DO SOL-
VENTE?
No caso de uma solução aquosa de dois ou mais sais, em que um deles apresente uma variação apreciável de
solubilidade com a temperatura relativamente ao(s) outro(s) é possível isolar esse sal por cristalização fraccio-
nada.
Cristalização fraccionada - processo físico que permite separar um sal a partir de uma solução aquosa de dois
ou mais sais, com base nas suas diferentes solubilidades.
Consideremos, por exemplo, 100 cm3 de uma solução aquosa de 90 g de KNO3 e de 10 g de NaCI, em água, a 60
°C.
Será possível recuperar o KNO3 (puro) que se adicionou à solução?
Através da leitura do gráfico 1 podemos verificar que a solubilidade do nitrato de potássio, KN03, varia acentua-
damente com a temperatura, sendo muito mais solúvel em água a altas temperaturas do que a baixas, e a solu-
bilidade do cloreto de sódio, NaCI, praticamente não varia. Assim, se arrefecermos gradualmente a solução (que
se encontra a 60 °C) até 0 °C, verifica-se que o KNO3 cristaliza (cerca de 90% do KNO3 inicial), enquanto que o
NaCI permanece em solução.
Esta técnica é muito usada para purificar grande parte das substâncias que usamos no laboratório.
Também se purifica o "sal" que se extrai das salinas por precipitação selectiva de sais da água do mar, eva-
porando o solvente (água).
Pode controlar-se a cristalização, separando os sais que se formam em primeiro lugar, à medida que a água
se vai evaporando.
O primeiro sal a precipitar é o menos solúvel (o sulfato de cálcio, CaSO4). Retira-se este por filtração e, con-
tinuando a evaporar-se a água, obtém-se quase só cloreto de sódio (sal que existe em maior quantidade).

70
A salinidade de uma água é o conteúdo iónico salino total dessa água. A salinidade da água do mar tem um valor
médio de 35g/Kg.

SERÁ QUE A SOLUBILIDADE DOS GASES EM ÁGUA TAMBÉM VARIA COM A TEMPERATURA?
A solubilidade dos gases em água diminui normalmente com o aumento de tem-
peratura.
Quando se aquece, por exemplo, água, nota-se a formação de bolhas de ar junto
às paredes do recipiente antes de a água entrar em ebulição. A água parece estar
a entrar em ebulição, quando é o ar que estava dissolvido que se está a libertar
porque a sua solubilidade diminui.
A solubilidade reduzida do oxigénio em água quente é responsável pela poluição
térmica da água, cujos efeitos na vida aquática preocupa cada vez mais os ecolo-
gistas.
A solubilidade de um gás em água, em
geral, diminui com o aumento de
temperatura.

Descargas de água quente, provenientes Num dia de Verão, um pescador lança o Quando se abre a garrafa da bebida
de sistemas de arrefecimento industrial, anzol com a isca para zonas mais profun- gaseificada, a solubilidade do CO2
têm provocado o aquecimento de cursos das, pois os peixes procuram essas águas diminui, pois a pressão também
de água e a consequente morte de espé- mais frias por estarem mais oxigenadas. diminui.
cies biológicas do meio.

SERÁ QUE A SOLUBILIDADE DOS GASES EM ÁGUA TAMBÉM VARIA COM A PRESSÃO?
A solubilidade dos gases, contrariamente à dos líquidos e dos sólidos, varia com a pressão exterior.
A relação quantitativa entre a solubilidade dos gases e a pressão é dada pela Lei de Henry, segundo a qual a
solubilidade de um gás num líquido é proporcional à pressão do gás sobre o líquido.

Quando a pressão do gás sobre a solução aquosa aumenta de A para B, a quantidade de gás dissolvido também aumenta.

Efectivamente, quando a pressão do gás aumenta, aumenta também o número de moléculas que se dissolve na
solução, pois há mais moléculas a chocarem com a superfície da solução e a ficarem "retidas" nesta.
A maioria dos gases obedece à lei de Henry, mas há gases, como é o caso do amoníaco, NH3, e do dióxido de
carbono, CO2, que, como reagem com a água, (por reacção de ácido-base), a sua solubilidade é muito mais ele-
vada do que seria de esperar pela lei de Henry.
NH3(g) + H2O(l)↔NH4+(aq) + HO-(aq)
CO2(g) + H2O(l) ↔H2CO3(aq) ↔HCO3- (aq) + H+(aq)
Daí os oceanos constituírem um gigantesco reservatório de dióxido de carbono dissolvido.

71
Curiosidade!
Quando um mergulhador respira ar comprimido das garrafas de gás, a uma profundidade
superior a 15 m, dissolve-se mais azoto no sangue e nos outros fluidos corporais do que se
dissolveria à superfície, porque a pressão a esta profundidade é muito superior.
Se o mergulhador subir demasiado depressa, a solubilidade do azoto diminui rapidamente
com a diminuição da pressão, formando bolhas na corrente sanguínea. Estas bolhas redu-
zem o fluxo sanguíneo e afectam a transmissão dos impulsos nervosos, podendo provocar
a morte. Hoje usam-se garrafas com uma mistura de hélio e oxigénio em vez de azoto e
oxigénio devido ao hélio ser menos solúvel no sangue. O oxigénio não dá problemas, pois não provoca acidentes
de descompressão nos mergulhadores.

QUAIS SÃO AS ESPÉCIES QUÍMICAS MAIS COMUNS NAS ÁGUAS NATURAIS?


As águas naturais contêm uma vasta gama de espécies químicas dissolvidas, em suspensão ou sob a forma
coloidal, devido ao seu grande poder dissolvente, reactividade com algumas espécies e potencial erosivo.
A presença de seres vivos e de microrganismos, em particular, também afecta a natureza e concentração das
espécies presentes.
Assim, a composição das águas naturais vai depender de uma série de factores como: o tipo de água de que se
trata (marinha, lacustre, superficial, subterrânea, gelo, chuva), o tipo de terreno onde se encontra ou atravessa,
a temperatura e a pressão do meio, a época do ano...
Na tabela apresentam-se as espécies presentes, com maior frequência, numa água.
 Os gases mais abundantes são os provenientes da dissolução de gases atmosféricos (CO2, N2 e O2, prin-
cipalmente), aqueles produzidos pela actividade dos seres vivos (CO2 e O2) e os originados pela decom-
posição aeróbia ou anaeróbia dos mesmos (CO2, CH4, H2S, N2).
 Os iões presentes em maior quantidade provêm:
- Da dissolução e meteorização dos materiais da crusta terrestre, sendo os catiões mais abundantes:
Ca2+, Na+, Mg2+, K+, Fe2+...
e os aniões mais abundantes: HCO3-, Cl-, SO42- PO43-, F- e NO3-.
- De iões presentes na água da chuva, como o H3O+ e o HCO3-.
- Dos processos de decomposição dos seres vivos, como: SO42-, PO43-, NO3-,NH4+, CH3COO-, ...
 Espécies ácidas, que podem ter um efeito importante nos processos de meteorização, como o C02 e os
ácidos orgânicos provenientes da oxidação da matéria orgânica.
 Outras espécies inorgânicas que se encontram em suspensão devido à erosão e ataque químico da
água sobre os materiais por onde passa, sendo as areias e as argilas os mais abundantes.
 Quanto à matéria orgânica dissolvida presente na água e procedente de fontes naturais, destacam-se
as espécies provenientes dos seres vivos, tais como aminoácidos, hidratos de carbono, ácidos gordos,
álcoois, pigmentos naturais, etc.
 Quanto à matéria orgânica em suspensão ou no estado coloidal, destacam-se as substâncias húmicas e
púlvicas, que constituem a matéria orgânica dos solos, juntamente com outras macromoléculas orgâni-
cas de origem natural, como proteínas e polissacarídeos.
Fonte Suspensão Dispersão coloidal Solução
Atmosfera Macropartículas orgânicas e Partículas orgânicas Gases e iões dissolvidos
+ - 2-
inorgânicas e inorgânicas H3O , HCO3 , SO4 ...

Litosfera Areias, Argilas, Substâncias Sílica, Substâncias húmidas Aniões e catiões de sais dis-
(minerais, húmidas solvidos
rochas e solo)
Biosfera Algas, outras plantas e ani- Macromoléculas orgânicas Vírus Moléculas orgânicas e espé-
(seres vivos) mais aquáticos, Bactérias cies inorgânicas provenien-
tes da decomposição de
matéria orgânica
As águas naturais classificam-se em diferentes tipos, de acordo com a sua composição:
 Água atmosférica
 Águas superficiais
 Águas subterrâneas
 Água do mar

72
Por exemplo, quanto à água do mar, podemos dizer que:
- Possui uma "estrutura" em camadas com composição diferente em cada uma.
- Possui uma elevada salinidade.
- O valor de pH é aproximadamente constante (7,8 - 8,2).
- O conteúdo de oxigénio dissolvido diminui com a profundidade.
- A matéria orgânica é mais abundante nas camadas superficiais devido a uma maior actividade do fito-
plâncton.
- A concentração de bionutrientes, compostos de azoto e de fósforo, é muito variável.

PROCESSOS FÍSICOS E QUÍMICOS MAIS IMPORTANTES QUE TÊM INFLUÊNCIA NA COMPOSIÇÃO DAS ÁGUAS
Na figura, podemos ver, de forma esquemática, os principais processos que podem ocorrer nas águas natu-
rais.

QUAIS SÃO AS ESPÉCIES QUÍMICAS MAIS COMUNS NA ÁGUA DO MAR?


Iões maioritários Água do mar Água fluvial
(composição média) (g/kg) (composição média) (g/kg)
Cl- 19,35 * 0,008
SO42- 10,76 0,011
HCO3- 0,14 0,059 *
Br- 0,07 _
Na+ 10,76 * 0,006
Mg2+ 1,29 0,004
Ca2+ 0,41 0,015 *
K +
0,39 0,002

73
Na tabela, apresenta-se a diferença de composição entre a água do mar e a água doce (água fluvial), no que diz
respeito a algumas das espécies iónicas maioritárias.
Tratam-se de valores médios.
É importante reparar, não só na diferença entre as espécies maioritárias, como também na grande diferença de
concentrações que se verifica.
Vemos que na água do mar, a concentração dos iões que se encontram em maior proporção (ver asterisco) é
cerca de mil vezes mais elevada do que nos outros tipos de águas.
Os iões maioritários na água do mar são o Na+ e o Cl- , enquanto que nas águas fluviais são o Ca2+ e o HCO3-.

Este facto parece dever-se, em boa parte, aos crustáceos presentes nos oceanos que são responsáveis pela
diminuição de iões Ca2+ e HCO3- na água do mar, ao utilizarem-nos para formar os seus esqueletos e fabricarem
as suas conchas, sob a forma de carbonato de cálcio.
Após a sua morte, estes seres marinhos originam sedimentos no fundo do mar que, dissolvendo-se lentamente,
devolvem à atmosfera o dióxido de carbono.
A dissolução de gases presentes na atmosfera, em água, depende, entre outros factores, da pressão e da tem-
peratura do meio:
 Embora a pressão (parcial) do dióxido de carbono no ar seja baixa devido à sua pequena concentração
(350 ppm), comparativamente à dos gases maioritários, a sua capacidade de reacção com a água, por
reacção de ácido-base, torna-o numa espécie particularmente importante.
 A temperatura é outro factor determinante como vimos, pois a solubilidade dos gases diminui com o
aumento de temperatura. Esta tem grande importância, especialmente em relação à solubilidade do
oxigénio em água.
A presença de gases, tais como CO2, CH4, H2S e NH3, nas águas, também se deve à decomposição da matéria
orgânica mais abundante nas camadas superficiais.
A dissolução de sais também é um processo muito importante.
A grande capacidade dissolvente da água faz com que ela contenha diferentes iões dissolvidos, embora os
mesmos variem com o tipo de terreno onde esta se encontra e/ou atravessa.
Os sais que existem em grande quantidade em rochas, e que fornecem alguns dos iões maioritários à água, são
o CaCO3, o MgCO3, o CaSO4 e o NaCI.

SERÁ QUE O DIÓXIDO DE CARBONO DISSOLVIDO TEM EFEITO NA MINERALIZAÇÃO DE UMA ÁGUA?
As águas de superfície são, como vimos, ácidas, devido à dissolução do dióxido de carbono atmosférico.
Por sua vez, como o solo húmido contém ácidos húmicos produzidos pela vegetação em decomposição, as
águas subterrâneas tornam-se ácidas.
Estas águas ácidas atacam minerais e rochas da crusta terrestre, nomeadamente as rochas calcárias que encon-
tram no seu percurso, provocando a sua "solubilização".
O dióxido de carbono dissolvido na água contribui para a sua mineralização.
O carbonato de cálcio, constituinte do calcário reage com o CO2 dissolvido, segundo a equação:
CaCO3(s) + CO2(aq) + H2O(l) →Ca2+(aq) + 2 HCO3-(aq) (1)
A posição de equilíbrio da reacção traduzida pela equação (1) vai depender da pressão (parcial) do CO2.
Assim, de acordo com a Lei de Le Chatelier:
 para pressões (parciais) elevadas, dissolve-se CO2 e a reacção progride no sentido directo, sentido da
"solubilização" do carbonato de cálcio, CaCO3, até ser atingido um novo estado de equilíbrio.
 para pressões (parciais) baixas, tem-se o contrário, isto é, a reacção progride no sentido inverso, sentido
da precipitação do CaCO3, até ser atingido um novo estado de equilíbrio.
COMO SE FORMAM AS GRUTAS?
A "dissolução" de rochas calcárias em zonas mais interiores da Terra pode levar à formação de grutas.
Estas formam-se quando se atingem condições favoráveis relativamente à pressão do CO2.
Como as águas de infiltração (que contêm iões Ca2+ e HCO3-) ao atingirem a gruta, ficam com mais CO2 dissolvi-
do, pois a pressão (parcial) do CO2 é menor na gruta do que à superfície, de acordo com a Lei de Le Chatelier, a
reacção traduzida pela equação (1) vai evoluir no sentido de contrariar essa diminuição, ou seja no sentido
inverso, sentido em que precipita CaCO3.
O carbonato de cálcio, CaCO3, vai precipitar sob a forma de estalactites e de estalagmites. Este processo leva
centenas de anos...
Por vezes, as estalactites e as estalagmites unem-se constituindo colunas.

74
QUANDO É QUE UMA SOLUÇÃO ESTÁ SATURADA?
Vimos já que a solubilidade de um sal permite-nos saber a quantidade máxima de sal que é possível dissolver
num solvente, a uma dada temperatura, de modo a obter 1,0 dm3 de solução saturada.
Portanto, uma solução diz-se saturada, quando a uma dada temperatura, contém dissolvida a quantidade
máxima de soluto num dado volume de solvente.

Quanto maior for a solubilidade de um sal em água, a uma determinada temperatura e pressão, mais concen-
trada nesse sal é a solução saturada obtida.
Numa solução saturada de um sal, na presença deste no estado sólido, estabelece-se um equilíbrio dinâmico
entre o sal não dissolvido e os iões dissolvidos presentes na solução saturada; há, portanto, troca recíproca
entre iões da rede cristalina e da solução.
Exemplo
Consideremos uma solução aquosa insaturada de sulfato de bário, BaSO4, a uma determinada temperatura e
pressão.
Se lhe formos adicionando com agitação, para favorecer a dissolução, mais sulfato de bário sólido, verificamos
que, a partir de um dado momento, já não é possível dissolver mais BaSO4. A essa temperatura a solução está
saturada. A partir desse momento, o sal começa a depositar-se no fundo do recipiente sem se dissolver.
Quando isso acontece, estabelece-se um equilíbrio dinâmico entre o BaSO4, que não se dissolveu, e os iões
Ba2+(aq) e SO42+(aq), em solução.
BaSO4(s) → 3 Ba2+(aq) + SO42-(aq) (2)
Designando por s a solubilidade do sal, e atendendo à estequiometria dos iões no sal, pode escrever-se:
S(BaSO4) = [Ba2+]e = [SO42-]e
Se repararmos, o equilíbrio que se estabelece e que é traduzido pela
equação (2), é um equilíbrio heterogéneo, isto é, um equilíbrio em que
as espécies envolvidas não se encontram todas na mesma fase.
Neste caso, o BaSO4 encontra-se no estado sólido e os iões Ba2+(aq) e
SO42-(aq) encontram-se em solução aquosa.
Atendendo a que nos equilíbrios heterogéneos se considera constante a
concentração das espécies no estado sólido, a expressão da constante
de equilíbrio, Ks, para este caso, será:
A concentração de BaSO4 na solução saturada
Ks = [Ba2+]e [SO42-]e é maior do que na solução insaturada, a uma
A constante Ks (ou Kps) designa-se por constante de produto de solubili- mesma temperatura.
dade ou simplesmente produto de solubilidade.
O produto de solubilidade, como constante de equilíbrio que é, só depende da temperatura.
Para um sal de forma genérica AmBn, temos o equilíbrio:

Sendo

O produto de solubilidade, Ks, de um composto iónico é igual ao produto das concentrações de equilíbrio dos
iões constituintes, elevadas aos respectivos coeficientes estequiométricos.
 O produto de solubilidade, Ks, só depende da temperatura.
 A solubilidade, s, de um sal num dado solvente depende não só da temperatura, como também dos
iões que estejam presentes na solução e, por vezes, do pH do meio.

SERÁ POSSÍVEL COMPARAR A SOLUBILIDADE, S, DE DOIS SAIS, EM ÁGUA, A PARTIR DO CONHECIMENTO DOS VALORES
DOS PRODUTOS DE SOLUBILIDADE?
Na tabela que se apresenta a seguir, encontram-se as equações de equilíbrio e os valores de constantes de
produto de solubilidade, Ks, em água e a 25 °C, para alguns compostos iónicos pouco solúveis, bem como a
relação entre Ks e a solubilidade, s, do composto iónico em água.

75
Por análise da tabela, podemos constatar que existe uma relação entre a solubilidade, s, de um composto ióni-
co e o valor do seu produto de solubilidade.
Essa relação, torna-nos possível o cálculo do valor de uma a partir da outra, à mesma temperatura.
Sequência de cálculos para a determinação de Ks dada a solubilidade (sequência A) e da solubilidade dado o
Ks (sequência B)

Questão
1.
1.1. Calcule a solubilidade, s, do cloreto de prata, AgCI(s), e do carbonato de prata, Ag 2CO3(s), em água, a 25 °C,
sabendo que a esta temperatura:
-10 -12
Ks(AgCI) = 1,6 x 10 e Ks(Ag2CO3) = 8,1 x 10
1.2. Como explica que o cloreto de prata, AgCI, apresentando maior valor de produto de solubilidade, K s, seja menos
solúvel em água do que o carbonato de prata, Ag2CO3?

QUANDO É QUE A PARTIR DOS VALORES DE KS SE PODE, ENTÃO, COMPARAR A SOLUBILIDADE DE DOIS COMPOSTOS
IÓNICOS?
Se analisarmos os exemplos referidos na tabela anterior verificamos que a relação entre o produto de solu-
bilidade, Ks, e a solubilidade, s, é igual para os pares de compostos iónicos:
Compostos iónicos Relação catião/anião KS

3
Ag2CO3 e Zn(HO)2 (2 : 1) / (1 : 2) Ks = 4s
4
Ag3PO4 e AI(HO)3 (3 :1)/(1 : 3) Ks = 27s
5
Fe2S3 e Ca3(PO4)2 (2:3)/(3:2) Ks = 108 s

76
Estes exemplos levam-nos a concluir que é possível comparar as solubilidades de dois compostos iónicos a partir
dos valores de Ks, quando os compostos são constituídos por iões em proporões estequiométricas iguais ou
inversas (relação catião/anião).
Exemplo
Ks(Ag2CO3) = 8,1 x 10-12 e Ks(Zn(HO)2) = 1,8 x 10-14 (a 25 °C)
Como a relação catião/anião é (2 : 1) no Ag2CO3 e (1 : 2) no Zn(HO)2, isto é, inversas uma da outra, o produto
de solubilidade é dado pela mesma expressão para os dois compostos iónicos Ks = 4 s3.
Então, como Ks(Ag2CO3) > Ks (Zn(HO)2), podemos concluir que o Ag2CO3(s) é mais solúvel em água do que o
Zn(HO)2(s).
É possível comparar a solubilidade de dois compostos iónicos a partir dos valores de Ks, quando os compostos
são constituídos por iões em iguais proporções estequiométricas.
O estudo dos equilíbrios de solubilidade é importante; permite-nos prever a formação de precipitados, bem
como calcular a solubilidade de um sal, conhecendo os factores que o afectam. Estes métodos são muito usa-
dos em laboratório para separar e analisar misturas de sais.
Eles também apresentam aplicações práticas importantes no tratamento de águas residuais e na extracção de
sais da água do mar.

PREVISÃO DE REACÇÕES DE PRECIPITAÇÃO


Quando se juntam soluções aquosas de compostos iónicos, pode-se prever se ocorre (ou não) a formação de um
precipitado, através do quociente de reacção, Q.
Para isso, basta comparar o valor do quociente de reacção, Q, com o valor do produto de solubilidade, Ks, como
vimos anteriormente.
Assim:
 Se Q < Ks, não há formação de precipitado e a solução não está saturada.
 Se Q > Ks, há formação de precipitado e a solução saturada ficará em equilíbrio com o precipitado.
 Se Q= Ks, a solução está saturada.

Questões:
3 -3
1. À temperatura de 25 °C, adicionaram-se 50,0 cm de uma solução aquosa 0,100 mol dm em nitrato de chumbo,
-3
Pb(NO3)2, a igual volume de solução aquosa, 0,050 mol dm em iodeto de potássio, Kl. Terá havido formação de preci-
pitado? Justifique a resposta com cálculos.
-8
Ks(Pbl2) = 1,4 x 10
-2 -3
2. Misturaram-se volumes iguais de uma solução de brometo de cálcio, CaBr 2, de concentração 1,0 x I0 mol dm , e de
-4 -3
uma solução de sulfato de potássio, K2SO4, de concentração 8,0 x IO mol dm .
Verifique se há formação de precipitado.
-5
Ks(CaSO4) = 2,4 x I0

FACTORES QUE AFECTAM A SOLUBILIDADE DE UM COMPOSTO IÓNICO NUMA SOLUÇÃO


Vimos já que a solubilidade de um composto iónico varia com a temperatura, mas há outros factores que afec-
tam a solubilidade de um composto iónico numa solução, como:
- os iões presentes na solução;
- o pH do meio;
- a formação de iões complexos.

OS IÕES PRESENTES NA SOLUÇÃO


A presença de algumas espécies químicas em solução pode alterar a dissolução de outras substâncias.
Por exemplo, a solubilidade do cloreto de prata, AgCI, em água, é superior à sua solubilidade em água salgada,
devido ao efeito do ião comum (ião do composto que já existe em solução). Porquê?
O equilíbrio,
AgCI(s) → Ag+(aq) + Cl-(aq)
em água salgada, encontra-se deslocado no sentido inverso, sentido da formação de AgCI(s), devido a uma
maior concentração de CL-(aq) - ião comum, na água salgada (Lei de Le Chatelier). Como consequência,
aumenta a quantidade de AgCI precipitado.
Como consequência aumenta a quantidade de AgCI precipitado.

77
A solubilidade de um composto iónico diminui, em geral, por efeito do ião comum.
• O produto de solubilidade de um composto, a uma dada temperatura, não é afectado pelo efeito do ião
comum, pois como é uma constante de equilíbrio, só depende da temperatura.
• A solubilidade de um composto, a uma dada temperatura, diminui pelo efeito do ião comum.

O PH DO MEIO
A solubilidade de compostos iónicos é, muitas vezes, afectada pelo pH do meio, nomeadamente pela adição de
um ácido.
Assim, por exemplo, se ao sistema químico em equilíbrio

adicionamos ácido clorídrico, HCI(aq), este ioniza-se originando iões H3O+ que vão reagir com os iões CO32- de
acordo com a equação:

Por sua vez, os iões HClO3-, reagem com iões H3O+, com libertação de CO2(g), segundo a equação:
HCO3(aq) + H3O+ (aq) → CO2(g) + 2 H2O(l)
A concentração de CO32-(aq) vai, portanto, diminuir o que, de acordo com a Lei de Le Chatelier, faz com que a
solubilidade do carbonato de cálcio, CaCO3, aumente.
Em geral:
 A presença de um ácido forte (como o HCI(aq) favorece a solubilidade de sais pouco solúveis com aniões
derivados de ácidos fracos (como o CaCO3).
 A adição de um sal de amónio (como o NH4NO3) favorece a solubilidade dos hidróxidos pouco solúveis
(como o Mg(HO)2).
QUESTÃO
1. O hidróxido de magnésio, Mg(HO)2, é pouco solúvel em água.
1.1. Escreva a equação que traduz o seu equilíbrio de solubilidade.
1.2. Explique como varia a sua solubilidade quando se adiciona à solução nitrato de amónio, NH 4NO3.

A FORMAÇÃO DE IÕES COMPLEXOS


Os metais de transição têm grande tendência para formarem iões complexos. A formação destes iões provoca
um aumento da solubilidade dos sais.
Assim, se ao sistema em equilíbrio,
AgCI(s) Ag+(aq) + Cl-(aq)
adicionarmos solução aquosa concentrada de amoníaco, NH3(aq), este vai reagir com o catião prata, Ag+, for-
mando o ião complexo diaminoprata, muito estável.
Ag+(aq) + 2 NH3(aq) 3 [Ag(NH3)2]+(aq)
Com a formação deste ião complexo, a concentração de Ag+(aq) diminui e a reacção tende a progredir no senti-
do directo (Lei de Le Chatelier) aumentando, assim, a solubilidade do sal.
O mesmo acontece quando se adiciona, a uma solução deste sal, iões tiossulfato, S2O32-, ou iões cianeto, CN-,
pois estes, ao reagirem com o catião Ag+, formam os iões complexos, [Ag(S2O3)2]5 e [Ag(CN)2]-, respectivamente,
diminuindo a concentração em Ag+ na solução e aumentando, assim, a solubilidade do sal.
Ag+(aq) + 2 S2O32-(aq) ↔[Ag(S203)2]3-(aq)
Ag+(aq) + 2 CN-(aq) ↔[Ag(CN)2]- (aq)
Os metais de transição têm grande tendência a formarem iões complexos. A formação destes iões leva a um
aumento da solubilidade dos sais.

O QUE SE ENTENDE POR DUREZA DE UMA ÁGUA?


As águas que contêm quantidades significativas de iões Ca2+ e Mg2+, como as provenientes de solos calcários
que atravessam, designam-se por águas duras.
A dureza de uma água é um parâmetro importante a ser analisado uma vez que a presença de iões Ca2+ e/ou
Mg2+ tornam a água imprópria para certas utilizações domésticas e industriais.

78
A dureza total de uma água deve-se à presença predominante de catiões Ca2+ e
Mg2+.

A quantidade de catiões Ca2+ e Mg2+ numa água está associada à constituição dos solos
que a água atravessa.
Os solos constituídos essencialmente por calcário (CaCO3) e por dolomite (CaCO3,
MgCO3) são muito pouco solúveis em água.
As águas naturais, que transportam dióxido de carbono dissolvido, proveniente da
atmosfera, exercem uma acção "dissolvente" dos solos calcários de acordo com as As águas duras, quando aquecidas,
equações: deixam um depósito branco cons-
tituindo basicamente por CaCO3(s)
CaCO3(s) + CO2(aq) + H2O(l) →MgCO3(s) + CO2(aq) + H2O(l) e pequenas quantidades de
MgCO3(s).
2 HCO3(aq) + Ca2+(aq) 2 HCO3(aq) + Mg2+(aq)
As águas naturais que atravessam solos com vegetação em decomposição tornam-se mais ácidas, "dissolvendo",
também, solos calcários, de acordo com as equações:
CaCO3(s) + 2 H+(aq) →Ca2+(aq) + CO2(g) + H2O(l)
MgCO3(s) + 2 H+(aq) →Mg2+(aq) + CO2(g) + H2O(l)
Normalmente, referem-se três tipos de dureza de uma água:
 Dureza total - que se deve à presença predominantemente de iões Ca2+ e Mg2+.
 Dureza permanente ou não carbonatada que se deve aos sais solúveis de cálcio e de magnésio (sulfa-
tos, cloretos...) que não são eliminados por ebulição.
 Dureza temporária - que é a diferença entre a dureza total e a dureza permanente, estando associada
aos iões HCO3 que se eliminam por ebulição.
Dureza temporária = dureza total - dureza permanente

A dureza de uma água é expressa em miligramas de carbonato de cálcio por litro (mg de CaCO3/L), o que equiva-
le a 1 ppm de CaCO3.

QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DE ÁGUAS DURAS?


Uma elevada dureza da água pode provocar:
 Problemas a nível doméstico - nomeadamente na alimentação, na higie-
ne, na limpeza e no electrodomésticos que utilizam essa água, pois uma
água dura além de fazer pouca espuma com o sabão, dificultando a lava-
gem e levando a um maior consumo de sabão, produz incrustações que se
acumulam em chaleiras eléctricas, em aquecedores de água, em canaliza-
ções, etc.
 Problemas de lavagem - estes devem-se ã formação de sais insolúveis
(grumos), devidos à reacção entre os sabões, como o estearato de sódio,
NaCH3(CH2)16COO, com os iões Ca2+ e Mg2+ da água dura, segundo a equação:
As águas duras fazem pouca espuma
com o sabão.

 Formação de incrustações - estas são devidas essencialmente à formação de carbonato de cálcio,


CaCO3, sólido, de acordo com a equação:
Ca2+(aq) + 2 HCO3- (aq)→CaCO3(s) + CO2(aq) + H2O(l)
Sendo o dióxido de carbono, CO2, libertado da solução,
CO2(aq) ↔ CO2(g)
o que vai fazer deslocar a reacção ainda mais no sentido directo, favorecendo a precipitação do CaCO3.
Esta camada espessa formada, essencialmente constituída por CaCO3, reduz as transferências de calor e diminui
a eficiência e a durabilidade dos electrodomésticos, canalizações, etc. Nas canalizações domésticas pode mesmo
bloquear o fluxo de água.
Uma forma de os canalizadores removerem o depósito consiste em introduzir na canalização uma pequena
quantidade de ácido clorídrico. Este vai "dissolver" o CaCO3, de acordo com a equação:
CaCO3(s) + 2 HCI(aq) — CaCI2(aq) + H2O(l) + CO2(g)
79
 Problemas a nível industrial - nomeadamente, em caldeiras industriais e nos circuitos de refrigeração
de todo o tipo de indústrias.
As incrustações que se formam, devido essencialmente ao CaCO3, podem provocar uma série de efeitos indese-
jáveis, entre os quais se destaca um maior consumo de combustível e um maior risco de explosão das caldeiras,
ao libertar-se hidrogénio, devido à aceleração do processo de corrosão da caldeira em presença do vapor de
água, ao ser submetida a um aquecimento excessivo. Recorde-se que o hidrogénio que se liberta, além de
aumentar a pressão, é um gás combustível muito inflamável.
Por exemplo, se uma caldeira for de ferro, a altas temperaturas, ocorrerá a seguinte reacção de oxidação-
redução, com libertação de hidrogénio:
3 Fe(s) + 4 H2O(g) →Fe3O4(s) + 4 H2(g)
A formação de incrustações em caldeiras industriais é um dos maiores problemas que se coloca devido a uma
dureza elevada da água.

COMO REDUZIR A DUREZA DAS ÁGUAS?


O processo de reduzir a dureza das águas - abrandamento, é especialmente utilizado, pelas razões referidas
anteriormente, em águas para uso industrial - águas de caldeiras a vapor, águas de refrigeração, águas de bebi-
das gaseificadas..., embora também possa ser necessário empregar no caso de águas para uso doméstico exces-
sivamente duras.
O método de abrandamento de uma água vai depender, entre outros factores, do tipo de dureza da água e do
fim a que ela se destina (uso doméstico ou uso industrial).
Assim, no caso de uma:
DUREZA TEMPORÁRIA
Um dos métodos mais usados é o abrandamento por ebulição, ocorrendo as reacções traduzidas pelas equações
químicas:
2HCO3- (aq)↔ CO32-(aq) + CO2(aq) + H2O(l)
CO32-(aq) + Ca2+(aq) ↔CaCO3(s)
havendo, no entanto, outros métodos, como vamos ver.
DUREZA PERMANENTE
Para este tipo de dureza, e também para a dureza temporária, o abrandamento pode ser feito por diferentes
métodos. Vamos referir apenas alguns que dizem respeito à eliminação de cálcio e de magnésio, componentes
maioritariamente causadores da dureza da água.
A - Precipitação com Ca(HO)2 e Na2CO3
Este método - método da cal apagada (hidróxido de cálcio, Ca(HO)2) - é o mais clássico e usa-se principal-
mente no abrandamento de águas municipais em grande escala, uma vez que se trata de um processo bastan-
te económico relativamente a outros.
Eliminação do cálcio
Se a água dura contiver iões HCO3- (dureza temporária), adiciona-se unicamente hidróxido de cálcio, Ca(HO)2.
As reacções que ocorrem são as seguintes:
Ca(OH)2(s) Ca2+ (aq) + 2 OH- (aq)
Ca2+(água dura) + Ca2+(cal apagada) + 2 HCO3(água dura) + 2 HO(aq)→2 CaCO3(s) + 2 H2O(l)
Se repararmos na estequiometria das reacções, conclui-se que vai precipitar Ca2+ da água dura e Ca2+ do hidró-
xido de cálcio adicionado; por cada mole de Ca(HO)2(s) que se dissocia, há 2 moles de Ca2+ que precipitam sob a
forma de CaCO3, sendo 1 mol de Ca2+ da água dura.
Quando a água dura não contém iões HCO3- (dureza permanente), os iões Ca2+ têm de ser eliminados por outro
processo.
Um processo comum é a adição de carbonato de sódio, Na2CO3, que fornece os iões CO32- suficientes para pre-
cipitar o Ca2+.

ELIMINAÇÃO DO MAGNÉSIO
Na eliminação do magnésio, o processo químico é ligeiramente diferente e menos eficaz na eliminação do Mg2+
da água dura devido ao facto de carbonato de magnésio, MgCO3, ser muito mais solúvel do que o hidróxido de
magnésio, Mg(HO)2.
80
Ks(MgCO3) = 4,0 x 10 -5; Ks(Mg(HO)2) = 1,2 x 10 -11 (a 25 °C)
O processo é traduzido pelas equações:
Ca(OH)2(s) Ca2+ (aq) + 2 OH- (aq)
Mg2+(água dura) + Ca2+(cal apagada) + 2 HCO3-(água dura) + 2 HO-(aq) →CaCO3(s) + MgCO3(aq) + 2 H20(l)
MgCO3(aq) + Ca2+(cal apagada)+ 2 HO-(aq)→Mg(HO)2(s) + CaCO3(s)
Se repararmos na estequiometria das reacções, por cada 2 moles de Ca(HO)2(s) que se dissocia, há 1 mole de
Mg2+ da água dura que precipita sob a forma de Mg(HO)2(s). Uma vez formados os precipitados, estes são sepa-
rados por filtração.

B - Resinas de troca iónica


Para muitos fins industriais (caldeiras a vapor, águas de refrigeração,
águas desionizadas...) e inclusive, para uso doméstico, não é adequado
o método anterior por ser laborioso (a nível doméstico) ou por deixar as
águas saturadas em CaCO3(s) e MgCO3(s) (não havendo eliminação total
da dureza), o que seria prejudicial pelos processos de incrustação que
poderiam vir a ocorrer. Daí se eleger o método de resinas de troca ióni-
ca.
Neste processo, recorre-se a resinas que actuam como permutadoras
catiónicas, substituindo os seus catiões que não geram dureza, tipo H+
ou Na+, pelos catiões Ca2+ e Mg2+ das águas duras, de tal forma que
estes ficam imobilizadas na resina e os iões H+ ou Na+, que são liberta-
dos para a água, não vão precipitar originando incrustações.
O processo químico que tem lugar pode ser esquematizado da seguinte
forma, para uma resina, por exemplo, sódica:

Este método permite a redução total da dureza da água. Tem também a vantagem de ser um processo reversí-
vel, o que permite que as resinas possam ser recuperadas.

6.2 COMO DESSALINIZAR A ÁGUA DO MAR?


Os processos de dessalinização baseiam-se numa das seguintes possibilidades de separar os componentes da
"água" salgada:
Obtenção de "água" doce por separação da água - neste processo de tratamento é a "água" que se separa fisi-
camente do sistema inicial (água bruta) com um conteúdo muito reduzido em sais, mediante uma mudança de
fase (destilação e congelação) ou através de um meio poroso (osmose inversa). Os métodos são por:
- Destilação
- Congelação
- Osmose inversa
Obtenção de "água" doce por separação dos sais - neste processo de tratamento são os sais que são elimina-
dos do sistema inicial (água bruta), ficando retidos por intercâmbio iónico ou atravessando um meio poroso. Os
métodos são por:
- Intercâmbio iónico
- Electrodiálise

DESTILAÇÃO
Mais de 90% da água que é tratada em sistemas de dessalinização é por
destilação. Este é o método mais antigo de dessalinizar a água do mar.
Como sabemos, o processo envolve a vaporização da água seguida da
condensação do vapor de água (pura).
A maior parte dos sistemas de destilação necessita de energia sob a forma
de calor. Para reduzir os custos, hoje procura-se a utilização da energia
solar. Contudo, apesar de todos os esforços, ainda persistem alguns pro-

"Alambique solar".

81
blemas técnicos e os "alambiques solares" ainda não estão a operar em larga escala.
O método de destilação de efeito múltiplo da água do mar, que se
esquematiza a seguir, é uma técnica de destilação eficiente. Neste méto-
do, a água salgada entra numa série de câmaras, onde, após um aqueci-
mento prévio, sofre uma diminuição de temperatura e uma gradual dimi-
nuição de pressão.

Esquema simplificado de destilação de efeito múltiplo da água salgada.

CONGELAÇÃO
A dessalinização por congelação tem estado a ser desenvolvida há
vários anos, mas ainda não se tornou rentável comercialmente.
Este método baseia-se no facto de que quando uma solução aquosa
congela, o sólido que se separa da solução é praticamente água doce
(os icebergues são gelo de água doce).
Então, o gelo obtido da água do mar pode ser separado, lavado e fun-
dido para fornecer água potável (depois de tratada).
A principal vantagem da congelação relativamente à destilação é o baixo consumo de energia.
As principais desvantagens da congelação estão associadas ao crescimento lento dos cristais de gelo e à remo-
ção dos depósitos de sais dos cristais.

INTERCÂMBIO IÓNICO
Este método baseia-se no uso de resinas de troca iónica, tal como no
método de abrandamento que vimos com resinas de permuta catiónica,
aquando do estudo da dureza das águas.
Estas resinas vão retirar iões da água salgada (bruta) que circula através
das mesmas, cedendo, por troca, uma quantidade igual de outros iões.

Representação esquemática de uma resina de troca iónica de tipo polímero orgânico.

82
OSMOSE INVERSA E ELECTRODIÁLISE
As técnicas de separação por membrana incluem: a microfiltração (MF), a
ultrafiltração (UF), a osmose inversa (OI) e a electrodiálise (ED).
Estes métodos de tratamento por processos de membrana, como não
envolvem mudança de fase, são economicamente mais viáveis.

Estas técnicas de separação permitem "filtrar" impurezas diminutas. As Esquema da dessalinização da água salgada,
técnicas de microfiltração e de ultrafiltração separam partículas de acordo por osmose inversa.
com o seu tamanho e massa molecular.
A osmose inversa e a electrodiálise são técnicas de separação por membranas bastante diferentes, como
vamos ver.
A osmose inversa usa uma pressão elevada para obrigar a água a passar de uma solução mais concentrada
para outra menos concentrada através de uma membrana semipermeável.
Assim, por aplicação de uma pressão superior à diferença de pressão osmótica entre as duas soluções, água
salgada-água doce, pode obrigar-se a água a passar através de uma membrana semipermeável, da zona de água
salgada (maior concentração de sais e, portanto, maior pressão osmótica) para a zona de água doce (menor
concentração e menor pressão osmótica).
Os esquemas que se seguem ilustram o processo: na primeira figura apresenta-se o fenómeno de osmose e na
segunda figura o fenómeno de osmose inversa.

Esquema do fenómeno de osmose. Esquema do fenómeno de osmose inversa.

Algumas vantagens/desvantagens da osmose inversa, que merecem destaque:


Consumo energético relativamente baixo.
 Método útil para qualquer tipo de águas salinas.
 Permite separar bactérias e vírus, actuando como sistema desinfectante.
 Requer pré-tratamentos físico-químicos por vezes muito importantes.
 Apresenta problemas de limpeza e de resistência das membranas.
A electrodiálise consiste em submeter a água salgada (bruta) à acção de um
campo eléctrico gerado por dois eléctrodos entre os quais se aplica uma diferen-
ça de potencial.
Realiza-se em células constituídas por numerosas membranas catióticas e anióti-
cas alternadas. Esquema simplificado do proces-
A água salgada (bruta) penetra em compartimentos separados por membranas so de dessalinização da água
selectivas, isto é, umas permeáveis aos catiões e outras permeáveis aos aniões salgada por electrólise
presentes na água e que se encontram alternadas. Os catiões, como ten-
dem a emigrar para o cátodo e os aniões para o ânodo, surgem comparti-
mentos que se enriquecem em iões e outros que diminuem assim o seu
conteúdo salino (água desmineralizada).

83
Esquema simplificado do processo de electrodiálise. Esquema de funcionamento das membranas em electrodiálise.

Algumas vantagens/desvantagens da electrodiálise que merecem destaque:


 Só são eliminadas espécies iónicas.
 É utilizada para águas de salinidade média (salinidade < 3 g/L)
 A eficácia na eliminação de sais é da ordem dos 50%. Para se conseguir água potável usam-se processos
em várias etapas consecutivas.
 Realizam-se pré-tratamentos da água salgada (bruta) para reduzir a turbidez (turvação), sais incrustantes,
matéria orgânica, etc., que provocam problemas de limpeza e de poluição das membranas.
A dessalinização é um dos meios possíveis de obter água potável em regiões onde ela não existe como recurso.
Os valores de salinidade, que devem ser conseguidos para uma água potável, devem ser inferiores a 0,05% do
total de sólidos dissolvidos. Daí, a necessidade de corrigir o resultado da dessalinização de uma água para a
adequar aos VMR estabelecidos para uma água potável.

QUESTÕES:
1. Considere a solubilidade dos seguintes sais em água, a 25 °C:
-7 -3 -3 -3 -2 -3
s(PbCO3) = 2,7 x 10 mol dm ; s(BaF2) = 7,5x 10 mol dm ; s(CaSO4) = 1,7 x IO mol dm .
-7 -3
1.1. O que significa dizer que a solubilidade do carbonato de chumbo, PbCO 3, em água, a 25 °C, é 2,7 x 10 mol dm ?
1.2. Coloque-os por ordem decrescente de solubilidade em água, a 25 °C.
2. Qual é mais solúvel em água, o cloreto de sódio, NaCI, ou o carbonato de cálcio, CaCO3? Atenda a que o NaCI é um dos
sais que constituem a água do mar e o CaCO3 é o principal constituinte das conchas marinhas e dos corais. Justifique a
resposta.
3. Considere as constantes do produto de solubilidade dos seguintes sais, a 25 °C:
-10 -12 -29
Ks(BaSO4) = 1,1 x 10 KS(Ag2CrO4) = 1,2 x 10 Ks(Ca3(PO4)2) = 2,0 x 10
3.1. Escreva para cada um dos sais:
3.1.1. A equação que traduz o equilíbrio de solubilidade em água.
3.1.2. A expressão da constante do produto de solubilidade.
3.2. Indique, justificando com cálculos, qual dos sais é mais solúvel.
4. O sulfato de bário, BaSO4, que é opaco aos raios X, é muito pouco solúvel em água e em ácidos;
por isso, é utilizado em diagnósticos clínicos para visualizar, através de raios X, órgãos como o
estômago.
-1
Qual a solubilidade deste sal em água, expressa em g L , a 25 °C?
10
Ks(BaSO4) = 1,1 x 10 (a 25 °C)
5. A chuva ácida exerce acção dissolvente sobre o calcário (CaCO 3) e a dolomite (CaCO3, MgCO3),
constituintes dos solos calcários. As águas que atravessam estes solos apresentam elevada con-
2+ 2+
centração em iões Ca e Mg .
-9 -8
Ks(CaCO3) = 4,5 x 10 (a 25 °C) Ks(MgCO3) = 3,5 x 10 (a 25 °C)
5.1. Como se designam as águas com elevadas concentrações nestes iões?
5.2. Qual é a substância presente na água da chuva responsável pelo aumento da solubilidade do CaCO3 e do MgCO3
existente nestes solos?
5.3. Escreva as reacções que traduzem as reacções entre a substância referida em 5.2. e o CaCO 3 e o MgCO3.
5.4. Indique, justificando sem fazer cálculos, qual dos sais é mais solúvel em água, a 25 °C, o CaCO3 ou o MgCO3?
-4 -3
6. Um aluno pretendia preparar, a 25 °C, uma solução de nitrato de prata, AgNO 3, de concentração 1,0 x 10 mol dm .
Em vez de utilizar água desionizada, usou água da torneira, tendo-se, por isso, formado um precipitado branco de clo-
reto de prata, AgCI.
-
Determine a concentração mínima em iões cloreto, Cl , na água da torneira usada pelo aluno.
-10
Ks(AgCI) = 1,8 x 10 (a 25 °C)

84
EXERCÍCIOS FINAIS:
1. Das reacções traduzidas pelas equações químicas:
- +
A. H2SO4(aq) + CH3COOH(aq) ↔ HSO4 (aq) + CH3COOH2 (aq)
2+ 2-
B. CaCO3(s) Ca (aq) + CO3 (aq)
+ -
C. KCI(aq) K (aq) + Cl (aq)
D. H2O(l)↔H2O(g)
2+ 3+
E. 2 Al(s) + 3 Cu (aq) ↔3 Cu(s) + 2 Al (aq)
Indique uma que represente:
1.1. Uma reacção de oxidação-redução.
1.2. Uma reacção de ácido-base.
1.3. Uma dissociação em meio aquoso.
2. A reacção traduzida pela equação química seguinte é muito extensa no sentido directo.
2+ 2+
Zn(s) + Cu (aq) ↔ Zn (aq) + Cu(s)
Das proposições químicas seguintes, seleccione a(s) correcta(s).
A. A espécie reduzida é o zinco.
B. Há transferência de dois electrões do zinco para o ião cobre(ll).
C. O poder redutor do zinco é inferior ao do cobre.
D. A solução vai descorando à medida que a reacção ocorre.
E. Na reacção, o número de oxidação de zinco é sempre 2.
3. O zinco reage espontaneamente com uma solução aquosa de ácido clorídrico libertando hidrogénio.
3.1. Escreva as equações das semi-reacções de oxidação e de redução.
3.2. Indique os pares conjugados de oxidação-redução.
3.3. Indique o oxidante mais enérgico.
4. Acerte os seguintes esquemas de oxidação-redução, em meio ácido, e indique os pares conjugados de oxidação-
redução.
2+ 2- 3+ 3+
A. Fe (aq) + Cr2O7 (aq) —> Cr (aq) + Fe (aq)
- 2+
B. MnO2(aq) + Cl (aq) — Mn (aq) + Cl2(g)
5. Ao introduzir-se uma placa de cobre, Cu, numa solução aquosa de nitrato de prata, AgNO 3, verifica-se que a solução fica
azulada ao mesmo tempo que se observa a formação de um depósito escuro sobre a placa de cobre.
5.1. Escreva as equações das semi-reacções que ocorrem.
5.2. Indique a espécie oxidada e a espécie reduzida.
5.3. Indique, justificando, a espécie que tem maior poder oxidante.
6. Se se introduzir uma placa de zinco, Zn, numa solução aquosa de ácido clorídrico, HCI(aq), observa-se a libertação de
"bolhas" gasosas. O mesmo acontece se se introduzir uma placa de alumínio, Al, embora o número de "bolhas" gasosas
libertadas, no mesmo intervalo de tempo, seja menor.
Classifique em verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes proposições:
A. As placas de zinco e de alumínio reduziram-se.
+
B. As "bolhas" gasosas resultam da redução do ião H (aq) a H2(g).
2+ +
C. O Zn(s) ao oxidar-se a Zn (aq) reduziu os iões H (aq) a H2(g).
D. O poder oxidante do zinco é superior ao do alumínio.
E. Todos os metais reagem com os ácidos libertando-se hidrogénio.
-3 -3
7. A solubilidade do fluoreto de cálcio, CaF2, em água, a 25 °C, é 16,7 x 10 g dm . Calcule o valor do produto de solubili-
dade, Ks, a essa temperatura.
-
8. Uma solução saturada de cloreto de chumbo(ll), PbCI2, em água, a 25 °C, tem uma concentração em iões cloreto, Cl
-2 -3
(aq), igual a 4,8 x 10 mol dm .
2+
8.1. Calcule a concentração em iões Pb (aq) na solução.
8.2. Calcule o valor do produto de solubilidade, KS, a 25 °C.
3 -2
9. Misturaram-se, a 25 °C, 100 cm de uma solução aquosa de cloreto de bário, BaCI 2(aq), de concentração 4,0 x 10 mol
-3 3 -2 -3
dm , com 50 cm de uma solução aquosa de sulfato de potássio, K 2SO4(aq), de concentração 3,5 x 10 mol dm .
Verifique, com cálculos, se ocorreu precipitação de BaSO 4.
- 10
Ks(BaSO4) = 1,1 x 10 (a 25 °C)
-4 -3
10. Um aluno pretendia preparar uma solução aquosa de nitrato de prata, AgNO 3(aq), de concentração 1,0 x 10 mol dm ,
a 25 °C.
Como, em vez de utilizar água destilada, usou água da torneira, ocorreu a formação de um precipitado branco de clo-
reto de prata, AgCI.
-
Qual deveria ser a concentração mínima em iões cloreto, Cl , da água da torneira para ocorrer precipitação?
-10
Ks(AgCI) = 1,8 x 10 (a 25 °C)
11. Muitos minerais comuns são constituídos por aniões alcalinos, sendo mais solúveis em ácidos do que em água. É o caso,
por exemplo, da galena (PbS), da calcite (CaCO3) e da pirite (FeS2).
11.1. Escreva a equação que traduz o equilíbrio de solubilidade do carbonato de cálcio, CaCO 3, em água.

85
11.2. Se à solução saturada de CaCO3 referida se adicionar umas gotas de ácido clorídrico, HCI(aq), observa-se a liberta-
ção de um gás.
Escreva a equação que traduz a reacção que originou a formação do gás e diga o nome deste.
2+ -4
12. Uma solução aquosa do nitrato de cálcio, Ca(NO3)2, tem, a 25 °C, uma concentração em iões Ca igual a 1,0 x 10 mol
-3
dm .
12.1. Determine a concentração em iões nitrato, NO3 (aq).
3
12.2. A 100 cm desta solução adicionou-se carbonato de sódio, Na2CO3, até começar a precipitar carbonato de cálcio,
CaCO3. Considere que não houve variação de volume de solução.
12.2.1. Escreva a equação química que traduz a dissociação do carbonato de sódio, Na 2CO3, em água.
12.2.2. Escreva a equação química que traduz o equilíbrio de solubilidade do carbonato de cálcio, CaCO 3, em
água.
12.2.3. Calcule a massa de carbonato de sódio, Na2CO3, que será necessário adicionar à solução, para começar a
precipitar o carbonato de cálcio, CaCO3.
-9
Ks(CaCO3) = 4,8 x 10 (a 25 °C)

BIBLIOGRAFIA:
Maciel, N.,Gradim, M., Campante, M., Eu e a Química 11, Porto Editora

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