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Art. 2° Cuidado Farmacêutico é ação integrada do farmacêutico com a equipe de saúde, centrada no usuário, para
promoção, proteção, e recuperação da saúde e prevenção de agravos. Visa à educação em saúde e à promoção do uso
racional de medicamentos prescritos e não prescritos, de terapias alternativas e complementares, por meio dos serviços
da clínica farmacêutica e das atividades técnico-pedagógicas voltadas ao indivíduo, à família, à comunidade e à equipe
de saúde.
Art. 3° O objetivo do Cuidado Farmacêutico é melhorar os resultados terapêuticos individuais e coletivos em saúde por
meio de ações clínicas do farmacêutico integradas à equipe multiprofissional.
Art. 4º A instituição do Cuidado Farmacêutico requer a reorganização das atribuições do farmacêutico, conciliando
atividades administrativas e clínicas, e o monitoramento e avaliação dos resultados desta ação.
Art. 5º As diretrizes para sua execução estão definidas no documento “Cuidado Farmacêutico na Rede de Atenção
Básica e de Especialidades” descritas no apêndice 1 (anexo).
APÊNDICE 1
Cuidado Farmacêutico na Rede de Atenção Básica e de Especialidades da SMS-SP
Diretrizes para sua organização 2016
1. Introdução
No Brasil, os modelos tecnológicos em saúde que precederam o Sistema Único de Saúde (SUS), contribuíram
para um afastamento da atuação do farmacêutico junto aos pacientes, pois não previam a participação deste na equipe
de saúde e nem consideravam o medicamento como um insumo estratégico.
Tal cenário começou a se modificar no final da década de 1980, com o início da implantação do novo sistema baseado
nos critérios de integralidade, igualdade de acesso e gestão democrática.1,2,3 Como reflexo dessa mudança, foi
introduzido o conceito de Assistência Farmacêutica (AF) e publicada a Política Nacional de Medicamentos (PNM), como
parte essencial da Politica Nacional de Saúde, com propósito de garantir a segurança, eficácia e qualidade dos
medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles medicamentos considerados essenciais.1
Em 2004 a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF) aprovada pela Resolução MS/CNS nº 338,
afirma que “a AF trata de um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto
individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e seu uso racional. Esse
conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção,
programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e
avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da
população”. A PNAF aprimora o entendimento da AF para além do medicamento, enfatizando o cuidado com as pessoas
e com a sociedade.4,5
Por meio de políticas de aprimoramento, a AF foi integrada aos serviços de saúde visando atenção contínua,
integral, segura, responsável e humanizada.
Dentre estas políticas foram publicadas em 2010 as diretrizes para a organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS)
no âmbito do SUS. As RAS são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades
tecnológicas que, integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a
integralidade do cuidado.6 Nessa perspectiva, em 2014, o Ministério da Saúde publicou a série “Cuidados Farmacêuticos
na Atenção Básica” prevendo ações assistenciais oriundas dos serviços clínicos farmacêuticos que propiciam alcançar
uma farmacoterapia efetiva e segura.5
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPS) a valorização da assistência farmacêutica no SUS
proporcionou a implantação de estratégias de melhoria de acesso aos medicamentos, por meio de incentivos
financeiros a programas específicos para doenças de maior prevalência, para agravos à saúde de maior risco e para
doenças que representam elevado custo individual de tratamento.7
As expectativas crescentes da sociedade a respeito da qualidade em saúde e da atenção sanitária resultam em
exigências de serviços reorientados e centrados no indivíduo, na família e na comunidade, com melhor grau de
assistência à saúde no âmbito da comunidade e sua maior participação nas decisões. Da mesma forma, as mudanças
nos serviços farmacêuticos não podem ser inferiores a tais expectativas, pois o acesso a esses serviços deve ser
entendido como um direito dos usuários dos sistemas de saúde e uma oportunidade de melhoria na saúde e
na qualidade de vida do paciente.7
No âmbito dos serviços farmacêuticos, a afirmação da atuação clínica do farmacêutico como integrante da
equipe de atenção à saúde é uma demanda que surge nas últimas décadas e esta ampliação se apoia no reflexo causado
pela utilização inadequada de medicamentos e na morbimortalidade associada ao seu uso, que constitui um grave
problema de saúde pública.8,9
Na Secretária Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP), que possui aproximadamente 570 farmácias, as
estratégias voltadas ao componente logístico da assistência farmacêutica evoluíram nos últimos anos e ainda merecem
aprimoramento. Considerando esse cenário, faz-se oportuno e estratégico avançar em serviços clínicos voltados para o
Cuidado Farmacêutico para melhoria da assistência prestada.
2. Histórico
Em 1990, Hepler e Strand propuseram o conceito de “pharmaceutical care”, traduzido no Brasil como Atenção
Farmacêutica ou Cuidado Farmacêutico, sendo definido como “a provisão responsável do tratamento farmacológico
com o objetivo de alcançar resultados satisfatórios na saúde, melhorando a qualidade de vida do paciente”. Em seguida,
no ano de 1993, foi publicado o documento conhecido como “Declaração de Tóquio”, a partir de uma reunião da
Organização Mundial da Saúde (OMS), que propiciou a reafirmação e divulgação desse novo modelo de prática de
atuação vinculado ao profissional farmacêutico.10,3,8
Em 2002, o termo Atenção Farmacêutica foi definido no Brasil como “um modelo de prática farmacêutica,
desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos,
habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de
forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia
racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta
interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades biopsicossociais,
sob a ótica da integralidade das ações de saúde”.11,12
Na Resolução nº 585/2013 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), o Cuidado Farmacêutico centrado no
paciente é entendido como “uma relação humanizada que envolve o respeito às crenças, expectativas, experiências,
atitudes e preocupações do paciente ou cuidadores quanto às suas condições de saúde e ao uso de medicamentos, na
qual farmacêutico e paciente compartilham a tomada de decisão e a responsabilidade pelos resultados em saúde
alcançados”.13
Em 2014, o Ministério da Saúde (MS) utiliza o termo Cuidado Farmacêutico e amplia o seu entendimento, que
passa a ser compreendido como: “ação integrada do farmacêutico com a equipe de saúde, centrada no usuário, para
promoção, proteção, e recuperação da saúde e prevenção de agravos. Visa à educação em saúde e à promoção do uso
racional de medicamentos prescritos e não prescritos, de terapias alternativas e complementares, por meio dos serviços
da clínica farmacêutica e das atividades técnico-pedagógicas voltadas ao indivíduo, à família, à comunidade e à equipe
de saúde”.5
3. Justificativa
Pacientes com polifarmacoterapia, com comorbidades e problemas de adesão e/ou acompanhados em diversos
serviços da rede assistencial, possuem alto risco para desenvolver problemas decorrentes do tratamento farmacológico,
representam os maiores consumidores dos recursos em saúde devido ao aumento das hospitalizações e geralmente
estão em situação de fragilidade assistencial.14,15
A participação do farmacêutico no acompanhamento farmacoterapêutico desses usuários tem mostrado
resultados positivos, reduzindo custos, melhorando a qualidade das prescrições, aprimorando o manejo clinico de
pacientes com doenças crônicas, controlando possibilidades de reações adversas e promovendo maior adesão ao
tratamento, além de proporcionar uma maior qualidade da atenção prestada aos usuários e atividades em educação em
saúde.16,17,18,11,19
Este documento define diretrizes para organização do serviço farmacêutico, conciliando atividades clínicas e
administrativas para promover o desenvolvimento de ações voltadas ao Cuidado Farmacêutico nas unidades da rede
básica e de especialidades da SMS-SP.
4. Objetivos
* Melhorar os resultados terapêuticos individuais e coletivos na gestão do cuidado em saúde por meio de ações
clínicas do farmacêutico integradas à equipe multiprofissional.
* Promover o uso racional de medicamentos junto aos prescritores, equipes de saúde e a comunidade,
englobando ações de educação em saúde e farmacovigilância.
Obs.: Atendimento em grupo que incluem ações de intervenção direta como dispensa, medição de parâmetros clínicos,
etc. devem ser registradas no código 03.01.01.008-7 ou 03.01.01.002-8;
As atividades educativas em grupo (código: 01.01.01.001-0 ou 01.01.002-8) deve ser utilizada quando se
trata de grupo/atividade de educação.
6. Referencias Bibliográficas
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Farmacêutica. Diário Oficial da União 2004 maio; Seção 1.
5. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégico. Departamento de Assistência
Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica. 1 ed. Brasília: Ministério da Saúde,
2014.
6. Ministério da Saúde (Brasil). Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010. Estabelece diretrizes para a organização
da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União 31 dez. 2010; Seção 1,
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