Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A anormalidade característica da LRA é uma redução da taxa de filtração glomerular (TFG), que
se evidencia por acumulação de ureia e creatinina no soro – condição conhecida como
azotemia.
No passado, a LRA era conhecida como insuficiência renal aguda (IRA). Na literatura médica,
existem mais de 35 definições diferentes para IRA. A inexistência de uma definição
padronizada acarretava variações da incidência relatada de IRA e relatos conflitantes quanto a
sua morbidade e mortalidade. Essa situação tinha efeitos adversos nos estudos científicos.1
Por essas razões, em 2004, um grupo de especialistas intensivistas e nefrologistas formou a
ADQI (Acute Dialysis Quality Initiative) para elaborar uma definição consensual para IRA/LRA. A
definição consensual elaborada pela ADQI é conhecida como classificação RIFLE (acrônimo de
Risco [de disfunção renal], Injury [lesão/danos aos rins], Failure [falência da função renal], Loss
[perda da função renal] e End-stage kidney disease [doença renal em estágio terminal]). De
acordo com a classificação RIFLE1 (Tabela 31.1), existem três níveis de gravidade crescente da
LRA – risco, lesão e falência – com base no aumento relativo da creatinina sérica ou um
período de redução do débito urinário. Além disso, dois critérios prognósticos – perda da
função renal e doença renal em estágio terminal – são definidos com base na duração da
perda da função renal (4 semanas e 3 meses), respectivamente.
Vários processos fisiopatológicos podem causar a síndrome da LRA. Para ajudar a estabelecer o
diagnóstico e o plano terapêutico, a LRA é classificada em três categorias gerais de acordo com
os fatores desencadeantes e os sintomas evidenciados (Quadro 31.1).
■Lesão renal aguda pré-renal
A LRA intrarrenal caracteriza-se por danos reais ao parênquima renal e tem diversas causas
associadas. Um método usado para classificar essas causas é com base no compartimento
anatômico: glomerular, vascular, intersticial e tubular. As causas glomerulares que acarretam
glomerulonefrite aguda incluem doenças mediadas por imunocomplexos (p.ex.,
glomerulonefrite pós-estreptocócica) e distúrbios que causam vasculite (p. ex., granulomatose
de Wegener e doença do anticorpo anti-membrana basal glomerular). As causas intersticiais
incluem nefrite intersticial alérgica (geralmente causada por fármacos) e etiologias infecciosas
(p. ex., pielonefrite). As causas vasculares incluem hipertensão maligna e também processos
microangiopáticos como síndrome hemolítico-urêmica (SHU) e púrpura trombocitopênica
trombótica (PTT). Por fim, os túbulos renais podem ser afetados primariamente por obstrução
ou necrose tubular aguda (NTA). As causas obstrutivas incluem mieloma múltiplo e nefropatia
aguda por uratos.
NTA é uma causa comum de LRA intrarrenal adquirida no hospital. Essa condição resulta de
um distúrbio pré-renal prolongado (NTA isquêmica) ou dos efeitos de toxinas nos túbulos (NTA
tóxica). Exemplos de toxinas potenciais que atuam nos túbulos renais são fármacos (p. ex.,
aminoglicosídeos, anfotericina B) e quimioterápicos; metais pesados; solventes orgânicos;
pigmentos com heme (p. ex., mioglobina e hemoglobina); e contrastes radiográficos (Quadro
31.2).
Qualquer obstrução do fluxo urinário proveniente dos ductos coletores dos rins para o orifício
uretral externo pode causar LRA pós-renal. A obstrução pós-renal pode resultar de bloqueios
do ureter (p. ex., cálculos renais bilaterais), da uretra (estenose e hipertrofia prostática
benigna) ou por processos extrínsecos (p. ex., tumor ou fibrose retroperitoneal). Outra causa
de LRA pós-renal é disfunção vesical (p. ex., causada por fármacos bloqueadores ganglionares,
que interrompem a inervação autônoma do sistema urinário). Homens idosos e crianças
pequenas são grupos especialmente suscetíveis à LRA pós-renal. As crianças estão em risco
secundário às anomalias congênitas, enquanto os homens idosos estão predispostos em razão
da prevalência alta de hipertrofia prostática benigna ou câncer de próstata.