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Obs: O valor obtido deve ser multiplicado por 0,85 para o cálculo em mulheres
EPIDEMIOLOGIA
As estimativas da incidência da IRA variam de acordo com a população
estudada e com os parâmetros utilizados para seu diagnóstico. Estudos epidemiológicos
apontam a incidência de IRA no ambiente hospitalar entre 1,9% e 7%. Quando
consideradas os pacientes internados em UTIs, 5% a 20% dos pacientes desenvolvem
IRA. A IRA na UTI geralmente apresenta etiologia multifatorial, sendo a sepse grave ou
o choque séptico a causa principal em mais da metade desses pacientes. A IRA ocorre
em 19% dos pacientes com sepse, em 23% daqueles com sepse grave e em 51% dos
pacientes com choque séptico.
O desenvolvimento de IRA intra-hospitalar leva à diminuição de sobrevida dos
pacientes, uma vez que é um fator independente para o óbito, ou seja, a IRA é causa de
óbito e não apenas uma comorbidade associada. A mortalidade da IRA em pacientes
sem falência de outros órgãos varia entre 7% e 23%. Já quando ocorre em pacientes
críticos associa-se a taxas de mortalidade de 50% a 83%.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Classicamente, a IRA é classificada como pré-renal, renal ou pós-renal:
IRA Pré-renal
A IRA pré-renal ocorre como uma resposta fisiológica do rim à diminuição na
perfusão sangüínea renal, seja por hipovolemia absoluta (por exemplo, sangramentos,
diarréia) ou hipovolemia relativa (por exemplo, sepse, insuficiência cardíaca,
hepatopatia). A IRA pré-renal é a causa mais comum de IRA. Em resposta às alterações
na pressão de perfusão renal, ocorre a auto-regulação do fluxo sangüíneo renal e da FG
mediante mecanismos neuro-humorais que levam à vasodilatação das arteríolas
aferentes e vasoconstrição das eferentes. Alterações na perfusão renal que suplantem a
auto-regulação e/ou o uso de drogas que interfiram nesse mecanismo (como
antiinflamatórios não-hormonais e inibidores da enzima conversora de angiotensina –
ECA) culminam com a redução da FG e conseqüente IRA pré-renal. Geralmente
reversível e sem representação histológica, pode progredir para necrose tubular aguda
(NTA) isquêmica se não for tratada adequadamente.
IRA Renal
A IRA renal pode ter origem isquêmica ou nefrotóxica. A principal causa de IRA renal
é a NTA que, em conjunto com a IRA pré-renal, é responsável por aproximadamente
75% dos casos de IRA. A sua patogênese envolve alterações do endotélio, com
conseqüente vasoconstrição, e da estrutura e composição bioquímica das células
tubulares, resultando em alteração de sua função e morte celular, tanto por necrose
quanto apoptose. Uma vez instalada, resulta em descamação do epitélio tubular,
obstrução intraluminal e vazamento transtubular do filtrado glomerular. Todo esse
processo está associado a recrutamento e ativação de células inflamatórias. A
recuperação da função renal requer a depuração das células tubulares inviáveis e de
debris, além de regeneração e reparo das células viáveis.
IRA Pós-renal
A IRA pós-renal (após a formação do filtrado glomerular) é classificada como
intra-renal (obstrução do fluxo do fluido tubular) ou extra-renal. A precipitação
intratubular de cristais insolúveis ou proteínas leva à obstrução intratubular,
aumentando assim a pressão intratubular que se opõe à pressão hidrostática glomerular,
com conseqüente diminuição da pressão de ultrafiltração e redução na FG. De forma
semelhante, a obstrução das vias urinárias em qualquer nível extra-renal (pelve,
ureteres, bexiga e uretra) pode levar a IRA pós-renal. Deve-se lembrar que, no caso de
obstrução de pelve ou ureter, somente ocorrerá IRA quando a obstrução for bilateral ou
quando ocorrer em rim único funcionante. A reversibilidade da IRA pós-renal depende
da duração e da intensidade da obstrução, o que aponta para a necessidade de tratar
rapidamente.
Mioglobinúria (rabdomiólise),
Proteínas hemoglobinúria (reação transfusional, crise
endógenas falciforme, coagulação intravascular
NTA
disseminada), rim do mieloma
Obstrução
ureteral (tem de Cálculos, coágulos, fibrose retroperitoneal,
Obstrução ser bilateral para tumores, compressão extrínseca
extra-renal causar IRA)
ACHADOS CLÍNICOS
Didaticamente, podemos dividir os achados clínicos entre aqueles relacionados à
causa de base da IRA e que, portanto, são fundamentais para que se elabore uma
hipótese diagnóstica, e aqueles relacionados à insuficiência renal per se.
Peritonite bacteriana
Sinais de hepatopatia, ascite volumosa espontânea ou síndrome
hepato-renal
Síndrome nefrítica,
Hipertensão hipertensão maligna ou pela
própria IRA
Nefrite intersticial,
Rash ou púrpura vasculites, lúpus,
ateroembolismo, endocardite
Vasculites (como na
Sintomas respiratórios e em seios da face
granulomatose de Wegner)
Rabdomiolise ou
Trauma hipovolemia por
sangramento
Uremia
A elevação da uréia e de inúmeras outras toxinas associa-se à disfunção celular de
diversos sistemas:
neurológico: a encefalopatia urêmica é uma manifestação comum da IRA. Varia
entre formas sutis, como alterações intelectuais e de memória, até quadros mais graves,
com a presença de alterações sensoriais, hiper-reflexia, tremores, mioclonias,
convulsões, mal epiléptico e coma;
cardiovascular: a uremia pode gerar pericardite, com risco de tamponamento e
piora de função cardíaca, entidade conhecida como miocardiopatia urêmica. Somam-se
aqui as complicações congestivas e hipertensivas;
hematológico: equimoses e outros sangramentos podem ocorrer pela redução da
adesividade plaquetária. A anemia também é freqüente e secundária à deficiência da
eritropoetina e diminuição da vida média das hemácias;
gastrointestinal: anorexia progressiva, náuseas e vômitos são os sintomas mais
comuns da IRA;
respiratório: pleurite e pneumonite podem ocorrer, sendo esta última mais rara.
Outra manifestação comum é a respiração de Kusmaull, em função da acidose.
Hipervolemia
Com a redução da diurese, passa a ocorrer um balanço positivo diário de água e sódio,
resultando em ganho de peso progressivo, edema e congestão. Um dos sinais mais
comuns da hipervolemia é a hipertensão, que pode chegar a valores extremos, gerando
quadros de emergências hipertensivas. Os quadros congestivos podem ser muito graves,
causando edema agudo de pulmão e insuficiência respiratória aguda. Além disso, como
é comum a ocorrência de IRA em pacientes cardiopatas e como a própria uremia piora o
desempenho cardíaco, as complicações congestivas são extremamente comuns. A
hipervolemia também pode ocorrer como resultado da manutenção de uma expansão
intensa, que é recomendada somente para o tratamento precoce da sepse.
Distúrbios Hidroeletrólíticos
A IRA cursa com uma série de alterações eletrolíticas, sendo as mais comuns a
hiponatremia, com risco de alterações sensoriais; a hipercalemia, com risco de arritmias
cardíacas; a acidose metabólica, responsável pelo surgimento de náuseas, piora da
hipercalemia e risco de arritmias; hiperfosfatemia, hipocalcemia e hiperuricemia, à
semelhança do que observamos em nefropatias crônicas; e, mais raramente, a
hipercalcemia (a IRA por rabdomiólise pode cursar inicialmente com hipocalcemia e,
posteriormente, com hipercalcemia).
EXAMES COMPLEMENTARES
O diagnóstico etiológico da IRA é essencialmente clínico, mas alguns exames
complementares são úteis na diferenciação entre as diferentes etiologias possíveis.
Dentre os mais importantes, encontram-se a urinálise com análise de sedimento
urinário, o cálculo das frações de excreção de sódio e uréia, os exames de imagem e a
biópsia renal.
Urinálise
O exame de urina é extremamente simples e deve ser solicitado rotineiramente
em todos os casos de IRA, principalmente para afastar causas glomerulares e túbulo-
intersticiais (tabela 4).
Relação Uréia/Creatinina
Um parâmetro útil e simples na diferenciação de IRA renal de IRA pré-renal é a relação
uréia/creatinina. Na IRA pré-renal ocorre aumento na reabsorção proximal de uréia, o
que gera uma desproporção entre a elevação de uréia e creatinina no plasma (a relação
uréia/creatinina normal de aproximadamente 20 pode atingir um valor acima de 40). No
entanto, pode haver muitos interferentes nessa relação, pois a relação uréia/creatinina
pode se elevar também em estados hipercatabólicos, como em infecções, após cirurgias,
em pacientes em uso de corticóide (principalmente se em dose elevada) ou em
sangramentos de trato digestivo. Entretanto, alguns fatores podem reduzir a relação
uréia/creatinina e mascarar estados de hipovolemia, como diminuição na produção da
uréia (jejum prolongado, hepatopatia avançada), aumento na produção de creatinina
(rabdomiólise), diminuição na eliminação da creatinina (cimetidina, trimetoprim) e
presença de agentes que interfiram na dosagem de creatinina (cetonas, metildopa, ácido
ascórbico).
Frações de Excreção de Sódio e Uréia
As frações de excreção de sódio e uréia são úteis na diferenciação de IRA renal de IRA
pré-renal. Como na IRA pré-renal a função tubular está preservada, ocorre intensa
reabsorção de sódio e uréia, principalmente em túbulo proximal, em resposta à
hipovolemia. Assim na IRA pré-renal as frações de excreção dessas duas substâncias
estão diminuídas (tabela 5) enquanto na NTA elas estão aumentadas. Vale notar que a
fração de excreção de sódio na IRA pré-renal pode estar aumentada pelo uso de
diuréticos ou em situações de depleção volêmica com bicarbonatúria, como vômitos e
perdas prolongadas por sonda gástrica aberta. Nessas circunstâncias, podemos utilizar a
fração de excreção de uréia, que não sofre influência de diuréticos ou bicarbonatúria.
Alguns estudos sugerem que a fração de excreção de uréia seja um índice mais sensível
e específico para o diagnóstico de IRA pré-renal do que a fração de excreção do sódio.
Relação U/Cr = relação uréia/creatinina séricas; UNa= sódio urinário; FENa= fração de
excreção do sódio; FEUréia= fração de excreção da uréia
Exames de Imagem
Exames de imagem, em especial a ultrassonografia, são importantes ferramentas para o
diagnóstico diferencial da IRA. Por meio da ultrassonografia pode-se confirmar ou
afastar o diagnóstico de IRA por obstrução extra-renal ou a presença de litíase. Rins
hiperecogênicos com tamanhos normais podem sugerir Nefrite intersticial aguda ou
pielonefrite. Rins com tamanhos reduzidos, alteração da camada córtico-medular e
hiperecogênicos são compatíveis com doença renal crônica. A tomografia
computadorizada sem contraste pode ajudar na avaliação de hidronefrose quando a
causa não for bem identificada ao ultra-som abdominal. O eco-Doppler de artérias
renais, ressonância magnética nuclear ou arteriografia são necessários para o
diagnóstico de obstrução arterial renal.
Biópsia Renal
A biópsia renal está indicada em casos de IRA de etiologia incerta, suspeita de
glomerulonefrites, Nefrite intersticial e em casos de IRA prolongada (definida como a
não-recuperação da função renal dentro de 4 a 6 semanas após o diagnóstico, sem que
ocorram novos insultos renais nesse período).
Outros Exames
Outros exames podem ajudar no diagnóstico diferencial da IRA, resumidos na
tabela 7.
Glomerulonefrite pós-
ASLO positivo (antiestreptolisina O)
estreptocócica
TRATAMENTO
Medidas Preventivas
O melhor tratamento da IRA é a sua prevenção. Como a IRA tem impacto significativo
sobre a morbimortalidade do paciente, é muito importante que o clínico e o intensivista
estejam atentos às medidas preventivas, habitualmente simples. Essas medidas baseiam-
se na manutenção da volemia, otimização de débito cardíaco e não-utilização de drogas
nefrotóxicas.
Deve-se dar especial atenção a pacientes pertencentes a grupos de risco para
desenvolvimento de IRA: idosos, desnutridos, cardiopatas, hepatopatas, diabéticos,
portadores de neoplasia maligna, disfunção renal crônica ou estenose de artéria renal
conhecida. Vale atentar que um valor de creatinina sérica considerado “normal”,
principalmente nesses pacientes, não significa que a FG esteja preservada, já que o valor
da creatinina depende de massa muscular, idade, sexo e raça do paciente, além de se
elevar somente quando a FG estiver 50% abaixo do normal. Na tabela 8 são citadas as
medidas preventivas gerais para evitar IRA, que devem ser consideradas em todos os
pacientes internados, e na tabela 9 são citadas as medidas preventivas de IRA em
situações específicas.
Medida preventiva
Evitar desidratação
Peritonite Antibioticoterapia
bacteriana
Infusão endovenosa de albumina 20% 1,5 g/kg de peso durante
espontânea
as primeiras 6 horas de tratamento e 1 g/kg no terceiro dia de
tratamento
Evitar desidratação
Corrigir a dose para a função renal
Aminoglicosídeos Monitorizar nível plasmático, quando possível
Infusão em dose única
Correção de hipocalemia e hipomagnesemia, se associadas
Hidratação
Aciclovir Correção da dose para a função renal
Infusão venosa lenta, durante aproximadamente 6 horas
Hidratação
Alcalinização da urina, mantendo pH urinário acima de 7,5
Metotrexate
Em pacientes que desenvolveram IRA, redução da dose e
administração de ácido folínico
Tratamento da IRA
O conhecimento da etiologia da IRA permite que sejam adotadas medidas específicas
para seu tratamento, com o intuito de reverter o mecanismo gerador da lesão e, assim,
estabelecer a recuperação da função renal. Algumas medidas gerais e de suporte sempre
devem ser aplicadas, independentemente da etiologia da IRA.
Medidas Gerais
Estar sempre atento a possíveis fatores pré ou pós-renais que estejam associados
com ou ocasionando a IRA e corrigi-los assim que identificados. Para tanto,
deve-se avaliar com frequência o estado de hidratação do paciente e otimizar o
débito cardíaco sempre que possível, mantendo uma pressão arterial média
adequada e utilizando parâmetros objetivos para avaliação da perfusão tecidual,
como lactato e saturação venosa central.
Pacientes submetidos à sondagem vesical de demora que desenvolvem anúria
súbita devem ter excluída a possibilidade de obstrução da sonda antes da
utilização de diuréticos ou hidratação vigorosa.
Monitorizar o balanço hídrico e pesar diariamente o paciente. Pacientes oligo-
anúricos devem ser submetidos à restrição de líquidos e de sal, visando manter
um balanço hídrico zerado ou manutenção do seu peso. O desenvolvimento de
hiponatremia, quando não identificada outra causa, deve ser acompanhado da
limitação da ingesta infusão de água livre.
A utilização de diuréticos para transformar a IRA oligúrica em não-oligúrica
ainda é assunto controverso na literatura, e seu uso deve ser, portanto, criterioso.
Introdução precoce e manutenção de suporte nutricional adequado. Deve ser
oferecido aporte calórico adequado para evitar que as proteínas endógenas sejam
utilizadas na gliconeogênese. O aporte protéico adequado depende do estado
clínico do paciente.
Controle glicêmico rigoroso, evitando o desenvolvimento e a manutenção de
estados hiperglicêmicos.
Busca ativa de possíveis infecções e estabelecimento precoce de tratamento,
assim que diagnosticadas. Verificação diária de catéteres e cuidado com seu
manuseio.
Quando houver desenvolvimento de IRA oligo-anúrica, restringir potássio na
dieta e em infusões endovenosas, evitando o uso de medicações que contenham
potássio ou provoquem elevação de seu nível sérico.
Investigação e tratamento de complicações agudas como hipercalemia,
hiponatremia, hiperfosfatemia, acidose e congestão pulmonar.
Consultar o nefrologista assim que a IRA for diagnosticada. Estudos mostram
que o atraso no chamado do nefrologista está associado ao aumento da
morbimortalidade em pacientes com IRA em UTI.
Medidas Específicas
IRA pré-renal: o tratamento consiste basicamente na reposição volêmica, na otimização
hemodinâmica e nas medidas gerais citadas acima.
IRA pós-renal, renal: deve ser tratada com o procedimento desobstrutivo adequado, o
qual deve ser realizado rapidamente. A IRA é, em geral, prontamente reversível quando
a desobstrução é feita em horas a poucos dias. Entretanto, obstruções prolongadas, de
semanas a meses, podem determinar lesão crônica, de caráter irreversível. Devemos
prestar particular atenção à fase poliúrica da recuperação da IRA pós-renal, quando há
risco de distúrbios eletrolíticos, desidratações importantes e IRA pré-renal, com nova
piora da função.
IRA renal: o tratamento depende da etiologia. O tratamento de vasculites e
glomerulopatias é complexo e baseia-se no uso de imunossupressores e corticosteróides.
Em casos de Nefrite intersticial aguda, além da suspensão da droga causadora, a
administração de corticosteroide pode ser útil. A dose e o tempo de tratamentos são
discutíveis, mas a maioria dos autores utiliza 1 mg/kg de prednisona por período ao
redor de um mês, seguido de desmame total da droga. O uso do corticóide deve ser
ponderado em idosos e diabéticos, podendo ser utilizado em doses menores. O
ateroembolismo não tem tratamento específico, mas deve-se sempre que possível
suspender os anticoagulantes. O uso de estatinas parece estar associado à melhor
recuperação da função renal nesses casos. A IRA relacionada à síndrome hepato-renal
deve ser inicialmente tratada com suspensão de diuréticos, uso de albumina e suspensão
de drogas nefrotóxicas. Outro recurso atualmente disponível é a terlipressina, droga com
ação vasoconstritora sobre a região esplâncnica. No entanto, o tratamento definitivo
para a síndrome hepato-renal é o transplante hepático.
Terapia de Reposição Renal
Apesar de ainda haver muita discussão na literatura, para a IRA ainda não existe
consenso sobre o momento ideal para o início da diálise, o melhor método dialítico a ser
utilizado e a dose (adequação) de diálise a ser administrada. Ainda assim, sabemos que
o procedimento dialítico não deve ser iniciado tardiamente, quando as complicações
urêmicas e congestivas já estão avançadas, expondo o paciente a riscos desnecessários.
As indicações clássicas para o início de diálise são: edema pulmonar não responsivo a
tratamento conservador; hipercalemia não responsiva a tratamento conservador; acidose
metabólica não responsiva a tratamento conservador; uremia sintomática (encefalopatia
e pericardite).
No entanto, quando a IRA já está instalada e não há mais medidas de resgate da função
que possam ser realizadas, o procedimento dialítico deve ser iniciado sem demora
diante de sintomas e sinais urêmicos e congestivos. No paciente em ambiente de UTI,
essa discussão ganha importância particular. Apesar de não haver nenhum estudo que
comprove que a instalação de diálise mais precocemente melhore a sobrevida de
pacientes críticos, diversos trabalhos sugerem que o início tardio da substituição renal
assim como doses insuficientes de diálise tenham impacto clínico sobre a mortalidade.
A escolha do método dialítico deve considerar o quadro clínico, o sexo e o tamanho
do paciente e, principalmente, a presença de instabilidade hemodinâmica. Em ambiente
de UTI, adiante da instabilidade hemodinâmica, damos preferência aos métodos
contínuos (hemodiálise contínua, hemofiltração, hemodiafiltração ou hemodiálise
estendida). Novamente, não há comprovação de superioridade de nenhum método em
relação ao outro. Reserva-se o uso da hemofiltração e da hemodiafiltração para os
quadros sépticos ou inflamatórios, na tentativa de se remover moléculas inflamatórias
através do hemofiltro. A hemodiálise estendida diária surgiu como uma alternativa para
pacientes que estão em fase de recuperação ou não são muito catabólicos, e que não
toleram o método clássico de hemodiálise. A diálise peritoneal pode ser utilizada em
pacientes críticos, desde que não haja comprometimento hemodinâmico grave (situação
na qual a má perfusão do peritôneo inviabiliza a diálise), nem contra-indicações formais
(cirurgias abdominais, pacientes pneumopatas descompensados, insuficiência cardíaca
descompensada). A diálise peritoneal é um bom método para crianças ou pacientes
adultos estáveis, de pequeno porte (habitualmente com peso inferior a 60 kg) e pouco
catabólicos.
Quando não há instabilidade hemodinâmica, damos preferência à forma
convencional de hemodiálise, principalmente pela eficiência dialítica que apresenta em
relação aos métodos contínuos. Alguns cuidados devem ser tomados. Habitualmente, o
tratamento dialítico convencional na IRA deve-se iniciar com doses menores (fluxo de
sangue baixo, primeira sessão mais curta e com administração de manitol) para evitar a
“síndrome do desequilíbrio”. Se houver hipocalcemia e hipocalemia antes da primeira
sessão, estas devem ser corrigidas, dado o risco de arritmias e parada cardíaca (com a
correção relativamente rápida da acidose pela diálise, a concentração de cálcio e
potássio no sangue pode cair ainda mais). A “dose” de hemodiálise deve ser
individualizada, considerando os parâmetros volêmicos, o peso do paciente, a função
cardíaca e a presença de hipercatabolismo e/ou desnutrição.
Para se diminuir a ativação inflamatória que ocorre pelo contato do sangue com o
capilar da diálise, as membranas de cuprofane devem ser evitadas principalmente no
paciente com sepse que já tem marcadores inflamatórios elevados na corrente
sanguínea.
Em pacientes com IRA, o acesso preferencial para hemodiálise são os cateteres
vasculares de curta permanência. Quanto ao local de inserção, devemos dar preferência
à veia jugular interna, pelo melhor fluxo de sangue que proporciona e também pelo
menor índice de trombose, quando comparada à veia subclávia. O acesso femoral é
utilizado com freqüência em pacientes críticos com distúrbios de sangramento, pois é
um local passível de compressão. Como esse sítio está associado a maior índice de
recirculação, orientamos sempre a utilização de cateter mais longos (20 cm). Qualquer
que seja o local de inserção deve-se estar muito atento à presença de sinais de infecção.
Devem ser feitos curativos diários e também sempre que o curativo estiver molhado ou
sujo. Trocar o sítio de inserção se houver sinais de infecção no local e lembrar que o
cateter de diálise só deve ser utilizado para a diálise.
ALGORÍTMO
Algoritmo 1: Avaliação diagnóstica da IRA
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