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Apontamentos de

Filosofia Moderna II
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SUMÁRIO
O GRANDE RACIONALISMO ............................................................................................................................3
 Renê Descartes.........................................................................................................................................3
 BARUCH DE ESPINOSA: Deus, ou a natureza. .................................................................................6
 GOTTFRIED LEIBNIZ ..............................................................................................................................8
FILOSOFIA POLÍTICA ...................................................................................................................................... 11
 PLATÃO: o rei-filósofo para a justiça .................................................................................................. 15
 ARISTÓTELES: o homem como animal político .............................................................................. 16
 MAQUIAVEL: os fins justificam os meios .......................................................................................... 16
 BODIN: a defesa do governo nas mãos de um só ........................................................................... 17
 HOBBES: a necessidade do Estado soberano ................................................................................. 18
 LOCKE: a concepção do Estado liberal ............................................................................................. 18
 MONTESQUIEU: a divisão de poderes ............................................................................................. 19
 ROUSSEAU: a legitimação do Estado pela vontade geral ............................................................. 19
 HEGEL: do Estado surge o indivíduo ................................................................................................. 19
 MARX e ENGELS: o Estado como instrumento de dominação de classe ................................... 19
O EMPIRISMO INGLÊS A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA ................................................................ 20
JOHN LOCKE................................................................................................................................................. 21
GEORGE BERKELEY .................................................................................................................................. 24
DAVID HUME ................................................................................................................................................. 26
O ILUMINISMO .................................................................................................................................................. 28
O liberalismo na frança: Voltaire e Montesquieu ...................................................................................... 31
JEAN-JACQUES ROUSSEAU .................................................................................................................... 32
IMMANUEL KANT ......................................................................................................................................... 36
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................................... 41
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O GRANDE RACIONALISMO

 A IMPORTÂNCIA DA RAZÃO
 Os século XV e XVI foram marcados por importantes mudanças.
 Por um lado, o mapa político da Europa contava com reinos unificados, que conferiam
aos reis o papel de comandantes de seu povo.
 Por outro lado, a nobreza continuava explorando uma massa de camponeses.
 As ideias renascentistas e a Reforma religiosa haviam enfraquecido a Igreja Católica,
eram as ideias escolásticas que ainda predominavam, mesmo nas universidades.
 Que garantia poderia haver quanto à validade das novas verdades apresentadas?
 O Renascimento havia aberto muitas portas, mas acreditava-se que o caminho do
verdadeiro conhecimento ainda estava para ser percorrido.
 Já havia a crença de que a chave para se poder trilhar esse cominho era a razão.
 A partir do século XVII promoveu-se um avanço importante: essa razão articulava-se
em um método.
 A preocupação em encontrar um caminho seguro para o conhecimento já se
expressava no pensamento de Bacon, que viveu as 3 décadas do século XVII,
chamado de o “século do método”.
 O entusiasmo desses filósofos pelas “matemáticas” fará nascer a ideia de que o
sucesso dessa ciência se deve a seu método e que o método matemático poderá ser
utilizado em todas as outras áreas da investigação, garantindo a exatidão e a certeza
dos conhecimentos alcançados.
 O que se utilizaria como método não seria a matemática em si, os números, o cálculo,
e sim o procedimento dedutivo da geometria, isto é, o modo próprio da matemática de
encadear as razões ou afirmações segundo uma certa ordem.
 Essa racionalidade se expressaria de modo geométrico, lógico, dedutivo, o que
caracterizaria a visão específica do racionalismo moderno.
 O termo racionalismo é empregado para designar a concepção de que nada existe sem
que haja uma razão para isso.
 Uma pessoa racionalista seria alguém que procura sempre uma explicação lógica para
as coisas, acredita que por meio de mecanismos racionais se pode explicar tudo.
 Em filosofia, denominam-se racionalistas as doutrinas que buscam explicar o processo
de conhecimento dando ênfase ao papel da razão.
 O racionalismo desenvolvido pela maioria das filosofias do século XVII afirmará que
todo conhecimento certo provém de princípios a priori (anteriores à experiência),
indiscutíveis e evidentes para a razão.
 Esse racionalismo também considerava que os sentidos são uma fonte confusa,
obscura e provisória de verdade, o que relegará a experiência sensível a um segundo
plano, como fonte de conhecimento.

 Renê Descartes
 Nasceu em Haye, França.
 Estudou no colégio jesuíta de La Flèche.
 Executando a aprendizagem que fez da matemática. Decepcionou-se com a educação
jesuíta.
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 Confessaria, tempos depois, sua decisão em buscar a ciência por conta própria,
esforçando-se por decifrar o “grande livro do mundo”.
 Ingressando na carreira militar, mudou-se para a Holanda, onde participou de combates
contra os espanhóis.
 Viajou por vários países europeus, estabelecendo contato com vários sábios, entre eles
Blaise Pascal.
 O que publicou é suficientemente vasto para situá-lo como um dos pais da filosofia
moderna.

 A ÁRVORE DO SABER
 Descartes definira para si a missão de construir um sistema filosófico completo.
 FILOSOFIA
“um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode saber, tanto
para a conduta da sua vida como para a conservação de sua saúde e a invenção
de todas as artes”.

 Desde cedo Descartes se aplicara intensamente ao estudo das matemáticas e,


entusiasmado com os resultados que obtivera, acreditara ser possível transferir seu
instrumental a outras áreas do saber.
 Galileu dizia que a natureza está inscrita em linguagem matemática.
 Descartes construirá seu método de investigação calcado no modelo matemático de
demonstração.
 E por que o modelo matemático parecia tão perfeito?
 Descartes percebeu haver nas matemáticas aquilo que queria encontrar no mundo:
verdades absolutas e incontestáveis.
 Para alcançar essa certeza que só as matemáticas têm, Descartes adotou em seu
método filosófico o mesmo procedimento lógico demonstrativo da geometria analítica.
 Ele acreditava na existência de uma ordem natural inerente à estrutura do
conhecimento.
 Se a matemática é o fundamento comum a todas as ciências, por que ela não faz parte
da árvore do saber?
 Porque, sendo apenas um meio, um exercício, ela fornecerá apenas o método.
 O método cartesiano encontra-se detalhadamente apresentado em sua obra Regras
para a direção do espírito.
 Em Discurso do Método, sintetiza esse método por meio de quatro preceitos que
prescreve para si e que não se devem ser jamais esquecidos na busca do
conhecimento verdadeiro.
 Jamais escolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente
como tal;
 Dividir cada uma das dificuldades que eu duvidasse em tantas parcelas quantas
possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las;
 Conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais
fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento
dos mais compostos.
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 Fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse
a certeza de nada omitir.

 A dúvida metódica e o cogito


 Para conhecer a verdade, é preciso, de início, colocar todos os nossos conhecimentos
em dúvida.
 É necessário questionar tudo e analisar, criteriosamente, se existe algo na realidade de
que possamos ter plena certeza.
 Fazendo uma aplicação metódica da dúvida, foi considerando como incertas todas as
percepções sensoriais, todas as noções adquiridas sobre os objetos materiais.
 Finalmente, estabeleceu que a única verdade totalmente livre de dúvida era a seguinte:
meus pensamentos existem.
 E em seguida observou que a existência desses pensamentos se confundia com a
essência da sua própria existência como ser pensante.
 Disso decorreu a célebre conclusão: “Cogito ergo sum” ou “Penso, logo existo”.
 Esse “Penso, logo existo” seria uma verdade absolutamente firme, certa e segura, que
deveria ser adotada como princípio básico de toda a sua filosofia.
 PENSAMENTO  abrange tudo o que afirmamos, negamos, sentimos, imaginamos,
cremos e sonhamos.
 O ser humano era uma substância essencialmente pensante.
 O pensamento (consciência) é algo mais certo que a própria matéria corporal.
 Toda a filosofia posterior que sofreu a influência de Descartes assumiu uma tendência
idealista.
 Foi um racionalista convicto.
 Recomendava que desconfiássemos das percepções sensoriais, responsabilizando-as
pelos freqüentes erros do conhecimento humano.
 O verdadeiro conhecimento das coisas externas devia ser conseguido através do
trabalho lógico da mente.

 O DUALISMO E O SUBJETIVISMO CARTESIANO


 A separação entre res cogitam e res extensa na metafísica cartesiana inaugura uma
concepção dualista da realidade, isto é, aquela que separa totalmente a realidade
espiritual da realidade material.
 A divisão entre essas duas substâncias tem como consequência o fato de, para o
filósofo, a mente e o corpo serem também duas coisas totalmente separadas e distintas.
 Outra consequência dessa divisão é a separação entre sujeito (o ser que pensa) e
objeto (o ser pensado), na qual o sujeito assume a função ordenadora do
conhecimento.
 Em Descartes, o pensamento encontra em si os fundamentos que permitirão aceitar
algo como verdadeiro.
 Essa característica da filosofia cartesiana é denominada de subjetivismo.
 SUBJETIVISMO  faz com que o conhecimento do mundo seja possível apenas por
meio das ideias das coisas, isto é, das representação.
 REPRESENTAÇÃO  é todo conteúdo presente na mente. Na concepção tradicional,
ou realista, representação é a conversão das coisas em ideias dessas coisas.
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 A UNIÃO DA ALMA E DO CORPO


 A medicina cartesiana apresentava características mecanicistas, mas depois Descartes
mudou de orientação e passou a afirmar que o corpo humano deve ser estudado como
parte de um composto substancial resultante da união entre alma e corpo, e não como
uma máquina.
 Em sua obra As Paixões da Alma, o filósofo entende que a alma se une ao corpo de
maneira uniforme por todas as suas partes e “não se pode dizer que ela esteja em
qualquer de suas partes com exclusão de outras, porque o corpo é uno e indivisível” –
a indivisibilidade é própria da união.
 Essa ligação se dá mais particularmente em determinado ponto do cérebro: a glândula
pineal.
 A GLÂNDULA PINEAL situa-se na base do cérebro, atrás da hipófase, e atualmente se
atribui a ela papel importante no desenvolvimento psicofísico e sexual.
 Descarte descreve como cada posição dessa glândula provoca um afeto ou paixão da
alma.
 Se ela está de um lado, sentimos desejos; se está de outro, temos repulsa.
 De acordo com ele, não podemos excitar ou suprimir diretamente as paixões pela ação
direta da vontade, e sim, “indiretamente, pela representação das coisas que costumam
estar unidas às paixões que queremos ter, e que são contrárias às que queremos
rejeitar”.
 Exemplo, se queremos rejeitar uma tristeza, devemos ter pensamentos que nos
causem alegria.
 O que Descartes prescreve é a modificação dos pensamentos para alterar as condições
do corpo e da alma.
 Uma alma forte e virtuosa mantém as paixões sob controle e o corpo saudável.
 A vontade terá papel fundamental na moral cartesiana, pois será ela fundamentalmente
quem agirá sobre o entendimento e, a partir dele, sobre as paixões, em busca do que
pode ser melhor ou mais perfeito para o homem.
 Descartes reconhece que não se pode ter certeza absoluta em todos os domínios, pois
“a natureza do homem não é a de saber tudo”, e que às vezes só se pode emitir “o
melhor juízo possível”.

 BARUCH DE ESPINOSA: Deus, ou a natureza.


 Nasceu em Amsterdã, na Holanda.
 Era filho de imigrantes judeus de origem hispano-portuguesa que havia fugido das
perseguições religiosas.
 Foi educado dentro da tradição judaica, mas afastou-se da ortodoxia ao receber
influências de correntes dissidentes do judaísmo e dos pensamentos escolásticos,
platônico-renascentistas e cartesiano.
 Foi excomungado e excluído da comunidade judaica de Amsterdã, além de deserdado
pela família aos 24 anos de idade.
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 Teve então de fugir e viveu o resto de sua vida em várias cidades holandesas,
ganhando seu sustento como polidor de lentes.
 De saúde frágil, sofreu quase 20 anos de tuberculose.
 Além de defender a separação entre Estado e Igreja, política e religião, filosofia e
teologia, foi um grande crítico da superstição, tanto religiosa e política como filosófica.
 Em seu Tratado teológico-político, submete a Bíblia a uma interpretação histórico-crítica
baseada na análise gramatical da língua hebraica e da história do povo judeu, e conclui
que seus textos estão intimamente ligados ao momento histórico em que foram
escritos.
 Eles são basicamente regras de conduta humana formuladas dentro de determinado
contexto, sem constituir, portanto, verdades absolutas.
 Isso significa que as palavras contidas na Bíblia não teriam vindo de Deus, pois se
Moisés tivesse realmente tido uma revelação de Deus, os dez mandamentos não
seriam apenas as leis de um povo e sim verdades eternas, que valeriam para todos.

 O DEUS IMANENTE
 Espinosa não concordava com a ideia generalizada de que Deus é um ser superior a
tudo e separado de tudo, portanto um ser transcendente.
 Para ele, Deus e a natureza são a mesma coisa. DEUS = NATUREZA.
 Em sua obra Ética, o filósofo explica que separar Deus do mundo, significa conceber a
existência de duas substâncias, o que seria impossível pela própria definição de
substância.
 SUBSTÂNCIA é “o que existe em si e por si é conhecido, isto é, aquilo cujo conceito
não carece do conceito de outra coisa do qual deva ser formado”.
 O único ser que “existe em si e por si é concebido” é Deus, portanto, não pode haver
outra substância.
 A natureza seria o conjunto das infinitas manifestações da substância única, isto é,
Deus.
 Ele diz: o mundo “é em Deus” e “Deus, ou a natureza”, isto é, a natureza é idêntica a
Deus.
 Substância, Deus ou natureza são, portanto, a mesma coisa.
 Ele é chamado de:
 MONISTA, pois para ele toda a realidade seria composta de apenas uma única
substância.
 PANTEÍSTA, pois ele identifica Deus em todas as coisas, ou defende a ideia de
que tudo participa da substância divina.
 A inteligência humana consegue identificar no mundo apenas duas manifestações
essenciais da substância, que ele denomina atributos: o pensamento e a extensão.
 Tudo que existe no mundo, ou cada criatura em particular, cada fenômeno, seria um
modo de manifestação de Deus ou de seus atributos, o pensamento e a extensão.
 EXEMPLO: Atributo extensão: livro;
Atributo pensamento: as ideias contidas no livro.
 Para Espinosa, Deus é causa imanente, isto é, interna, que produz efeito em sim
mesma (os modos), e todos os efeitos ou modos são fruto da necessidade dos atributos
ou características essenciais de Deus.
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 Isso significa que tudo o que existe e acontece no mundo é o resultado necessário da
natureza de Deus, isto é, não pode ser diferente, tem de ser de determinada maneira.
 Não há LIVRE-ARBÍTRIO no mundo.
 Deus, ou a natureza, se manifesta por meio das leis da natureza, que são eternas,
imutáveis e inteiramente determinadas pela necessidade da natureza divina.
 Os homens “enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenas em
que eles têm consciência de suas ações e são ignorantes das causas pelas quais são
determinadas”.

 A NATUREZA HUMANA
 A natureza humana é uma das expressões da substância única, repetindo de maneira
finita a estrutura da substância infinita, Deus, ou natureza.
 CORPO  modo da extensão;
 ALMA  modo do pensamento.
 Ao descrever a essência do homem, o filósofo identifica um elemento, o canatus
(esforço, impulso instintivo), que seria o esforço empreendido por cada coisa para
perseverar em seu ser.
 Quando o conatus se torna consciente de si, ele se chama desejo. Ambos contribuem
para afirmar e expandir o nosso ser.
 Quando nossos desejos sofrem a ação das forças externas, nascem as paixões, que
são modificações passivas de nosso ser.
 A alegria e a tristeza são as paixões fundamentais, das quais resultam todas as outras.
 A alegria  paixão que favorece a passagem para uma maior perfeição do ser, é
sempre boa;
 A tristeza  leva o homem a uma menor perfeição e é sempre má.
 Como é impossível ao homem livrar-se das paixões, a VIRTUDE consistirá em alcançar
um conhecimento verdadeiro de nossas paixões, para com ele valer-se das paixões
positivas, principalmente o amor, e ampliar o canatus.
 Ser VIRTUOSO consiste em, por meio da razão, formar ideias claras e distintas do que
se passa em nós, reconhecer o dinamismo da vida e afirmar-se como a causa
adequada dos efeitos que ocorrem em nós.
 A verdadeira liberdade do homem: conhecer, pela razão, a necessidade das coisas e
agir de acordo com essa necessidade.

 GOTTFRIED LEIBNIZ

 Deus criou o melhor dos mundos possíveis.

 Nasceu em Leipzig, Alemanha, durante a Guerra dos Trinta Anos.

 Filho de um professor de filosofia da Universidade de Leipzig, muito cedo Leibniz entrou


em contato com os principais textos filosóficos.
 Dedicando-se à matemática, tornou-se um dos maiores matemáticos de seu tempo,
chegando à ideia do cálculo infinitesimal.
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 Fez várias contribuições na área da física, inventou a máquina de multiplicar, fundou a


Academia de Ciências de Berlim e foi membro da Royal Society de Londres e da
Fraternidade Rosacruz.
 Doutorou-se em direito e dedicou a maior parte de sua vida à política palaciana,
ocupando diversos cargos públicos e realizando várias missões diplomáticas, nas quais
pretendeu realizar o sonho de harmonizar o protestantismo com o catolicismo e
reunificar os cristãos.
 Faleceu em Hanôver, em 14 de novembro de 1716.

 VERDADES DE RAZÃO E VERDADE DE FATO


 Leibniz ambicionou construir uma ciência universal, mas nunca conseguiu levar seu
projeto adiante.
 Suas ideias formam um todo coerente e sistemático que busca explicar a totalidade das
coisas.
 Ele foi pioneiro na formulação da lógica matemática, ou simbólica, que busca expressar
as estruturas e operações do pensamento numa linguagem matemática.
 Uma das principais contribuições de Leibniz para a história da filosofia resulta de seu
trabalho em definir a natureza da verdade.
 Ele analisa as proposições, ou afirmações, verdadeiras e conclui que em todas elas a
noção do predicado está incluída na noção do sujeito.
 EXEMPLO: Dizer “o triângulo tem três lados” é uma proposição verdadeira, pois a
noção “três lados” (o predicado) está incluída na de “triângulo” (o sujeito). Se fosse dito
“o triângulo tem quatro lados iguais”, teríamos uma proposição falsa, pois a noção
“quatro lados iguais” não está incluída na de “triângulo”, isto é, ela identifica-se como
outro sujeito.

 Representação simbólica:
 FRASE VERDADEIRA: A é A (a identidade);
 FRASE FALSA: A é não-A (a contradição).
 Trata-se de uma retomada do princípio de não-contradição, presente na lógica de
Aristóteles, que diz que “é impossível ser e não ser ao mesmo tempo”.
 Para Leibniz, a verdade deverá ser sempre expressa pela proposição A é A.
 Mesmo quando temos uma proposição do tipo A é B, para conhecer se ela é falsa ou
não devemos analisar e reduzir a noção de B até transformá-la em A e obter a
proposição A é A ou a A é não-A.
 ANALISAR  identificar tudo que está no sujeito.
 Ele reconhece que existem proposições que escapam a essa demonstração: por mais
que recuemos em sua análise e em suas causas não chegamos à identidade (A é A).
EXEMPLO:
D. Pedro I deu o grito do Ipiranga.
É uma verdade histórica (um fato).
 Distinção entre os 2 tipos de verdades:
 VERDADES DE RAZÃO: são aquelas a que uma pessoa chega pela análise
lógica dos termos de uma proposição. São eternas, essenciais e metafísicas.
Pertence ao domínio da lógica e da matemática.
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 VERDADES DE FATO: são aquelas a que uma pessoa chega depois de


examinar os fatos, que envolvem a proposição. São temporais, contingentes e
físicas, ou seja, valem para determinadas condições existenciais. Pertencem às
ciências.
 As proposições necessárias (VR) passam a ser denominadas PROPOSIÇÕES
ANALÍTICAS.
 As proposições contingentes (VF) passam a ser denominadas PROPOSIÇÕES
SINTÉTICAS.
 As verdades de fato, serão fundamentadas pelo princípio metafísico da razão
suficiente.
 Tudo o que existe tem de ter uma causa ou uma razão determinante, isto é, que serve
para justificar a priori por que algo é assim em vez de ser de outra maneira.
 Então será preciso admitir, como razão suficiente e última, Deus.

 O MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS


 Outro ponto importante da filosofia leibniziana é a ideia de possibilidade.
 As verdades de razão, como as matemáticas, são necessárias, isto é, seu contrário é
impossível, as verdades de fato não são necessárias, ou seja, seu contrário é possível.
 Será, então, que o mundo poderia ser totalmente diferente?
 Para Leibniz isso não é possível, porque Deus é um ser com o máximo de essência ou
qualidades, no qual estariam contidas todas as verdades, todo o cosmo, e ele agiria
sempre com um máximo de perfeição.
 Deus teria escolhido um mundo composto de uma série de possíveis que não se
contradizem entre si e que formam a melhor combinação de possíveis.
 Portanto, como Deus só poderia fazer o melhor possível, este é o melhor dos mundos
possíveis.
 TEORIA DAS MÔNADAS
 O filósofo alemão tem uma visão pluralista da realidade.
 Segundo ele, como não existem dois seres perfeitamente idênticos, é necessário que
exista também uma infinidade de substâncias, que se agregam diferentemente,
formando seres individuais distintos.
 MÔNADA é como ele designa cada uma dessas substâncias: “a mônada, de que
falaremos aqui, é apenas uma substância simples que entra nos compostos; simples,
isto é, sem partes”.
 As mônadas seriam centros de atividade não materiais que comporiam tudo o que
existe, desde um grão de areia, o corpo e a mente humana, até Deus, que seria uma
grande mônada contendo todas as outras mônadas.
 Pelo ato da percepção, cada mônada expressa ou representa a totalidade do Universo
a partir de seu ponto de vista, de sua perspectiva, como se fosse um espelho.
 Nas mônadas superiores, a percepção é acompanhada da apercepção, isto é, da
auto-representação ou consciência.
 Como um mundo completo, toda mônada também é fechada em si mesma, isto é, não
se comunica com o mundo exterior.
 Um homem não sabe o que vai na cabeça do outro, pois, como diz Leibniz, “as
mônadas não têm janelas por onde qualquer coisa possa entrar ou sair”.
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 As mônadas constituem um todo ordenado e harmonioso, pois são como “relógios que,
apesar de independentes, marcam a mesma hora”.
 Haveria uma harmonia preestabelecida no Universo, o que garantiria a ordenação das
mônadas.
 Essa harmonia teria sido criada por Deus, substância infinita e perfeita separada do
mundo, que contém em si, como suas infinitas expressões, as percepções de todas as
mônadas, das quais também é, portanto, o Criador.

FILOSOFIA POLÍTICA
O estudo do domínio social
 POLÍTICA
 Origem do Grego polis (“cidade-Estado”);
 Designa o campo da atividade humana que se refere à cidade, ao Estado, à
administração pública e ao conjunto dos cidadãos.
 Quando Aristóteles definiu o HOMEM como animal político é porque, na sua
concepção, a própria razão é, essencialmente, política.
 FILOSOFIA POLÍTICA
 Campo de reflexão filosófica que, historicamente, se ocupou do fenômeno
político e das características que o distinguem dos demais fenômenos sociais,
analisando as instituições e práticas das sociedades políticas existentes e
conjecturando sobre a melhor maneira de se construir as sociedades futuras.
 Integra a TEMÁTICA BÁSICA DA FILOSOFIA POLÍTICA as reflexões em torno:
 Do poder;
 Do Estado;
 Dos regimes políticos e formas de governo;
 Da participação dos cidadãos na vida pública;
 Da liberdade.

Conceito antigo e moderno de política


 A obra de Aristóteles intitulada Política é considerada um dos primeiros tratados
sistemáticos sobre a arte e a ciência de governar a pólis.
 Para Aristóteles, a política era uma continuação da ética, só que aplicada à vida
pública.
 Aristóteles investigou em Política as instituições públicas e as formas de governo
capazes de propiciar uma melhor maneira de viver em sociedade.
 Aristóteles considerava essa investigação fundamental, pois, para ele, a cidade (a pólis)
é uma criação natural e o homem também é, por natureza, um animal social e político.
 O conceito grego de política como esfera de realização do bem comum se tornou um
conceito clássico e permanece até nossos dias, mesmo que seja como um ideal a ser
alcançado.
 O filósofo político italiano Norberto Bobbio, o conceito moderno de política está
estreitamente ligado ao de poder.
 Haroldo Dwight Lasswell e Abraham Kaplan:
“Política é o processo de formação, distribuição e exercício do poder”.
 PODER
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 Vem do latim potere, posse, “poder, ser capaz de”.


 Refere-se basicamente à faculdade, capacidade, força ou recurso para produzir
certos efeitos.
 Assim dizemos:
 O poder da palavra;
 O poder do remédio;
 O poder da polícia;
 O poder da imprensa;
 O poder do presidente.

O fenômeno do poder
 Bertrand Russell: “Poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos
desejados”.
 O fenômeno do poder costuma ser dividido em duas categorias: o poder do homem
sobre a natureza e o poder do homem sobre outros homens.
 A filosofia política investiga o poder do homem sobre outros homens, isto é, o poder
social.
 As três formas do poder social
 Levando-se em conta o meio do qual se serve o indivíduo para conseguir os efeitos
desejados, podemos encontrar três formas básicas de poder social:
 Poder Econômico: Utiliza a posse de certos bens socialmente necessários para
induzir aqueles que não os possuem a adotar determinados comportamentos,
como, por exemplo, realizar determinado trabalho.
 Poder Ideológico: Utiliza a posse de certas ideias, valores, doutrinas para
influenciar a conduta alheia, induzindo as pessoas a determinadas modos de
pensar e agir.
 Poder Político: Utiliza a posse dos meios de coerção social, isto é, o uso da
força física considerada legal ou autorizada pelo direito vigente na sociedade.
 O que essas três formas de poder têm em comum?
“É que elas contribuem conjuntamente para instituir e manter sociedades de
desiguais divididas em fortes e fracos, com base no poder político: em ricos e
pobres, com base no poder econômico; em sábios e ignorantes, com base no
poder ideológico”.
 O poder econômico preocupa-se em garantir o domínio da riqueza controlando a
organização das forças produtivas.
 O poder ideológico preocupa-se em garantir o domínio sobre o saber controlando a
organização do consenso social.
 O poder político preocupa-se em garantir o domínio da força institucional e jurídica
controlando os instrumentos de coerção social.
 Desses 3 poderes (econômico, político e ideológico) qual seria o principal, o mais
eficaz?
 Para Bobbio é o poder político cujo meio específico de atuação consiste na
possibilidade de utilizar a força física legalizada para condicionar comportamentos.
 “O poder político é, em toda sociedade de desiguais, o poder supremo, ou seja, o poder
ao qual todos os demais estão de algum modo subordinados”.
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Essa instituição poderosa que estabelece regras de convivência


 ESTADO:
 Deriva do latim status (estar firme);
 Significa a permanência de uma situação de convivência humana ligada à
sociedade política.
 Max Weber:
“Estado é a instituição política que dirigida por um governo soberano, reivindica o
monopólio do uso legítimo da força física em determinado território, subordinando os
membros da sociedade que nele vivem”.

Origem do Estado. Como se formou o Estado? E por que?


 Para a maioria dos autores, o Estado nem sempre existiu ao longo da história.
 Sabe-se que diversas sociedades do passado e do presente, organizaram-se sem ele.
 Nelas as funções políticas não estavam claramente definidas e formalizadas numa
determinada instância de poder.

 Origem do Estado
 Em dado momento da história da maioria das sociedades, com o aprofundamento da
divisão social do trabalho, certas funções político-administrativas e militares acabaram
sendo assumidas por um grupo específico de pessoas.
 Esse grupo passou a deter o poder de impor normas à vida coletiva.

 Função do Estado
 E para que se desenvolveu o Estado?
 Qual seria a sua função em relação à sociedade?
 Não existe consenso sobre essa questão.
 Pode-se destacar duas, que representam correntes opostas:
 CORRENTE LIBERAL: A função do Estado é agir como MEDIADOR dos
conflitos entre os diversos grupos sociais, conflitos inevitáveis entre os homens.
O Estado deve promover a conciliação dos grupos sociais, amortecendo os
choques dos setores divergentes para evitar a desagregação da sociedade.
 CORRENTE LIBERAL: A função do Estado é a de alcançar a harmonia entre os
grupos rivais, preservando os interesses do bem comum.
Pensadores liberais:
 John Locke;
 Jean-Jacques Rousseau

 CORRENTE MARXISTA
 O Estado não é um simples mediador de grupos rivais.
 O Estado é uma instituição que interfere nessa luta de modo parcial, quase
sempre tomando partido das classes sociais dominantes.
 A função do Estado é garantir o domínio de classe.
 Pensadores: Karl Marx e Friedrich Engels
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Relações entre sociedade civil e Estado


 O Estado costuma ser entendido com a instituição que exerce o poder coercitivo (a
força) por intermédio de suas diversas funções, tanto na administração pública como
no judiciário e no legislativo.
 A Sociedade Civil costuma ser definida como o largo campo das relações sociais que
se desenvolvem fora do poder institucional do Estado. Fazem parte da sociedade civil:
os sindicatos, as empresas, as escolas, as igrejas, os clubes, os movimentos
populares, as associações culturais.
 O relacionamento entre os membros da sociedade civil provoca o surgimento das mais
diversas questões: econômicas, ideológicas, culturais.
 Nas relações entre Estado e sociedade civil, os partidos políticos desempenham uma
função importante: podem atuar como ponte entre a sociedade civil e o Estado, pois
não pertencem, por inteiro, nem ao Estado nem à sociedade civil.
 Assim, caberia aos partidos políticos captar os desejos e aspirações da sociedade civil
e encaminhá-los para o campo da decisão política do Estado.

Regimes Políticos

 REGIME POLÍTICO é justamente o modo característico pelo qual o Estado se relaciona


com a sociedade civil.
 Na linguagem política contemporânea, os regimes políticos são classificados em dois
tipos fundamentais:
 DEMOCRACIA
 DITADURA
 DEMOCRACIA: participação política do povo
 DEMOCRACIA
 É uma palavra de origem grega que significa poder do povo.
 Demo = povo
 Cracia = poder
 DEMOCRACIA DIRETA
 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
 O ideal de Democracia Representativa é ser o governo dos representantes do povo.
Representantes que deveriam exercer o poder pelo povo e para o povo.
 CARACTERÍSTICAS
 Participação política do povo;
 Divisão funcional do poder político:
 Função Legislativa;
 Função Executiva;
 Função Jurisdicional.
 Vigência do Estado de direito

 DITADURA: concentração do poder político


 DITADURA
 É uma palavra de origem latina derivada de dictare, “ditar ordens”.
15

 Na antiga república romana, DITADOR era o magistrado que detinha


temporariamente plenos poderes, após ser eleito para enfrentar situações
excepcionais, como, por exemplo, os casos de guerra.
 CARACTERÍSTICAS
 Eliminação da participação popular nas decisões políticas;
 Concentração do poder político;
 Inexistência do Estado de direito.
 As ditaduras se sustentam mediante dos fatores essenciais:
 Fortalecimento dos órgãos de repressão;
 Controle dos meios de comunicação de massa

Reflexões sobre o poder político


 Por que e para que existe o poder político?
 Por que encontramos, em toda parte, um Estado que comanda e um povo que é
comandado?
 Será que sempre existiu o poder político do Estado?
 Como esse poder surgiu?

 PLATÃO: o rei-filósofo para a justiça


 Em A república, explica que o indivíduo possui três almas que o compõem.
 Essas almas correspondem aos princípios:
 RACIONAL, que busca o conhecimento e deve reger a vida humana.
 IRASCÍVEL, que se ocupa da defesa e da guerra,
 PASSIONAL, que busca a satisfação dos desejos, instintos e impulsos da
paixão.
 Através da educação, o indivíduo deve alcançar um equilíbrio entre esses três
princípios.
 Fazendo uma analogia entre o indivíduo e a cidade (pólis), Platão também dividiu esta
em três grupos sociais:
 PRODUTORES: responsáveis pela produção econômica (alma passional);
 GUARDIÃES: responsáveis pela defesa da cidade (alma irascível);
 GOVERNANTES: responsáveis pelo governo da cidade (alma racional)
 A justiça na cidade dependeria do equilíbrio entre esses três grupos sociais.
 Da mesma forma que a alma racional prepondera no indivíduo, a esfera preponderante
na cidade deve ser, para Platão, a dos governantes.
 Mas quem deve ser o governante?
 Platão propõe um modelo educativo que possibilita a todos igual acesso à educação,
independente do grupo social a que pertença o indivíduo por nascimento.
 Em sua formação, as crianças iriam passando por processos de seleção, ao longo dos
quais seriam destinadas a um dos três grupos sociais que forma a cidade.
 Os mais aptos continuariam seus estudos até o ponto mais alto desse processo – a
filosofia – a fim de se tornarem sábios e, assim, se habilitarem a administrar a cidade.
 Portanto, a concepção política de Platão é aristocrática, pois supõe que a grande
massa de pessoas é incapaz de dirigir a cidade.
 ARISTOCRACIA
16

 Do grego aristoi = melhores, e cracia = poder.


 É a forma de governo em que o poder é exercido pelos “melhores”, que, na
proposta de Platão, seriam uma elite (do latim eligere = escolhido) que se
distinguiria pelo saber.
 Isso significa também que Platão não propunha a democracia como a forma
ideal de governo.
 Platão criou a idéia do rei-filósofo: aquela pessoa que, pela contemplação das
idéias, conheceu a essência da justiça e deve governar a cidade.

 ARISTÓTELES: o homem como animal político


 Aristóteles afirmava que o homem é por natureza um ser social, pois, para sobreviver,
não pode ficar completamente isolado de seus semelhantes.
 Constituída por um impulso natural do homem, a sociedade deve ser organizada
conforme essa mesma natureza humana.
 O que deve guiar, então, a organização de uma sociedade?
 É a busca de um determinado bem, correspondente aos anseios dos homens que a
organizam.
 Para Aristóteles, a organização social adequada à natureza do homem é a pólis: “a
cidade encontra-se entre as realidades que existem naturalmente, e o homem é por
natureza um animal político”.
 A pólis grega, portanto, é vista por Aristóteles como um fenômeno natural. Por isso, o
homem verdadeiramente digno desse nome é um animal político.
 “O todo deve necessariamente ter precedência sobre as partes”.
 A política é uma continuidade da ética.

 A teoria do direito divino de governar


 Na Idade Média, com o desenvolvimento do cristianismo e o esfacelamento do Império
Romano, a Igreja se consolidou, primeiramente, como um poder extrapolítico.
 Santo Agostinho, por exemplo, separava a Cidade de Deus, a comunidade cristã, da
cidade dos homens, a comunidade política.
 Ao longo da Idade Média e em parte da Idade Moderna, ocorreu uma aliança entre o
poder eclesiástico e o poder político.
 E como a Igreja Católica entendia que todo poder pertence a Deus, surgiu a idéia de
que os governantes seriam representantes de Deus na Terra.
 O rei passou a ter o direito divino de governar.

 MAQUIAVEL: os fins justificam os meios

 É considerado o fundador do pensamento político moderno, porque desenvolveu a


sua filosofia política em um quadro teórico completamente diferente do que se tinha até
então.
 Maquiavel observou que havia uma distância entre o ideal de política e a realidade
política de sua época.
17

 Por isso escreveu o livro O príncipe com o propósito de tratar da política tal como ela
se dá, ou seja, sem pretender fazer uma teoria da política ideal, mas, ao contrário,
compreender e esclarecer a política real.
 Centrou sua reflexão na constatação de que o poder político tem como função regular
as lutas e tensões entre os grupos sociais.
 Conforme ele, eram basicamente dois: o grupo dos poderosos e o povo.
 Essas lutas e tensões existiriam sempre, de tal forma que seria uma ilusão buscar um
bem comum para todos.
 Mas, se a política não tem como objetivo o bem comum, qual seria o seu objetivo então?
 A política tem como objetivo a manutenção do poder político do Estado.
 E, para manter o poder, o governante deve lutar com todas as armas possíveis, ficando
sempre atento às correlações de forças que se mostram a cada instante.
 Isso significa que a ação política não cabe nos limites do juízo moral.
 O governante deve fazer aquilo que, a cada momento, se mostra interessante para
conservar o seu poder.
 Não se trata de uma decisão moral, mas sim de uma decisão de que atende à lógica
do poder.
 Para ele, na ação política não são os princípios morais que contam, mas os
resultados.
 É por isso que, para Maquiavel, os fins justificam os meios.
 O mérito de Maquiavel é ter compreendido que a política, no início da Idade Moderna,
se desvinculava das esferas da moral e da religião, constituindo-se em uma esfera
autônoma.

 BODIN: a defesa do governo nas mãos de um só


 Jurista e filósofo francês, Jean Bondin defendeu em sua obra A república o conceito de
soberano perpétuo e absoluto, cuja autoridade representa “a imagem de Deus na
Terra”.
 Teoria do direito divino dos reis.
 República  é usado aqui em seu sentido etimológico de coisa pública (do latim res,
“coisa”).
 E não como forma de governo oposta à monarquia.
 Na mesma linha de pensamento de Tomás de Aquino, afirmava ser a monarquia o
regime mais adequado à natureza das coisas.
 Argumentava que a família tem um só chefe, o PAI;
 O céu tem apenas um sol;
 O Universo, só um Deus criador.
 Assim, a soberania do Estado só podia se realizar plenamente na monarquia.
 Dentre as leis naturais, destaca o respeito que o Estado deve ter em relação ao direito
à liberdade dos súditos e às suas propriedades materiais.
18

 HOBBES: a necessidade do Estado soberano


 Outra questão que ocupou bastante os filósofos dos séculos XVII e XVIII foi a
justificação racional para a existência das sociedades humanas e para a criação do
Estado.
 Essa questão apresentou-se da seguinte forma:
 Qual a natureza do ser humano? Qual é o seu estado natural? Chegaram em geral a
conclusão básica de que os homens são, por natureza livre e iguais.
 Como explicar então a existência do Estado e como legitimar seu poder? Em um dado
momento, os homens se viram obrigados a abandonar essa liberdade e estabelecer
entre si um acordo, um pacto social.
 Essas explicações ficaram conhecidas como TEORIAS CONTRATUALISTAS.
 O primeiro grande contratualista foi o inglês Thomas Hobbes.
 Hobbes concluiu que o homem, embora vivendo em sociedade, não possui o instinto
natural de sociabilidade.
 Cada homem sempre encara seu semelhante como um concorrente que precisa ser
dominado.
 Onde não houver o domínio de um homem sobre o outro, dirá Hobbes, existirá sempre
uma competição intensa até que esse domínio seja alcançado.
 A consequência óbvia dessa disputa infindável entre os homens em estado de natureza
foi gerar um estado de guerra e de matança permanente nas comunidades primitivas.
 “O homem é lobo do próprio homem”.
 Só havia uma solução para dar fim à brutalidade social primitiva: a criação artificial da
sociedade política, administrada pelo Estado.
 Para isso os homens tiveram que firmar um contrato entre si, pelo qual cada um
transferia seu poder de governar a si próprio para um terceiro – o Estado – para que
esse Estado governasse a todos.

 LOCKE: a concepção do Estado liberal


 Também refletiu sobre a origem do poder político e sobre sua necessidade para
congregar os homens, que, em estado de natureza, viviam isolados.
 Refere-se ao estado de natureza como uma condição na qual, pela falta de uma
normatização geral, cada qual seria juiz de sua própria causa, o que levaria ao
surgimento de problemas nas relações entre os homens.
 Para evitar esses problemas, é que o Estado teria sido criado.
 O Estado teria a função de garantir a segurança dos indivíduos e de seus direitos
naturais, como a liberdade e a propriedade.
 Locke concebe a sociedade política como um meio de assegurar os direitos naturais e
não como o resultado de uma transferência dos direitos dos indivíduos para o
governante.
 E assim nasce a concepção de Estado liberal, segundo a qual o Estado deve regular
as relações entre os homens e atuar como juiz nos conflitos sociais.
 Mas deve fazer isso garantindo as liberdades e direitos individuais, tanto no que se
refere ao pensamento e expressão quanto à propriedade e atividade econômica.
19

 MONTESQUIEU: a divisão de poderes


 Charles de Secondat, mais conhecido como barão de Montesquieu.
 Propôs que se estabelecesse a divisão do poder político em três instâncias:
 PODER EXECUTIVO: que executa as normas e decisões relativas à administração
pública.
 PODER LEGISLATIVO: que elabora e aprova as leis.
 PODER JUDICIÁRIO: que aplica as leis e distribui a proteção jurisdicional pedida aos
juízes.

 ROUSSEAU: a legitimação do Estado pela vontade geral


 Formulou uma teoria contratualista.
 OBRA: Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens.
 Glorifica os valores da vida natural e ataca a corrupção, a avareza e os vícios da
sociedade civilizada.
 Exalta a liberdade que o homem selvagem teria desfrutado na pureza do seu estado
natural.
 OBRA: Do Contrato Social, procurou investigar não só a origem do poder político e se
existe uma justificativa válida para os homens.
 Defende a tese de que o único fundamento legítimo do poder político é o PACTO
SOCIAL pelo qual cada cidadão concorda em submeter sua vontade particular à
vontade geral.
 O compromisso de cada cidadão é com o seu povo.
 Rousseau define o pacto social nos seguintes termos: “Cada um de nós põe sua pessoa
e poder sob uma suprema direção da vontade geral, e recebe ainda cada membro como
parte indivisível do todo”.

 HEGEL: do Estado surge o indivíduo


 Criticou a concepção liberal do Estado, encontrada tanto em Locke como em
Rousseau.
 Não existe o homem em estado de natureza.
 O indivíduo humano é um ser social, que só encontra o seu sentido no Estado.
 De acordo com a reflexão política de Hegel, o indivíduo é parte orgânica de um todo: o
Estado.
 O indivíduo é historicamente situado, alguém que fala uma língua e é criado dentro de
uma tradição.
 Essas características são anteriores a cada um dos indivíduos isolados.

 MARX e ENGELS: o Estado como instrumento de dominação de classe


 A sociedade humana primitiva era uma sociedade sem classes e sem Estado.
 Nessa sociedade pré-civilizada, as funções administrativas eram exercidas pelo
conjunto dos membros da comunidade.
20

 Num determinado estágio do desenvolvimento histórico das sociedades humanas,


certas funções administrativas, tornaram-se privativas de um grupo separado de
pessoas que detinha força para impor normas e organização à vida coletiva.
 Teria sido através desse núcleo de pessoas que se desenvolveu o Estado.
 Isso teria ocorrido em certo momento de desenvolvimento econômico em que surgiram
as desigualdades de classes e os conflitos entre explorados e exploradores.
 O papel do Estado teria sido o de amortecer o choque desses conflitos, evitando uma
luta direta entre as classes antagônicas.
 OBRA de Engels: “A origem da família, da propriedade privada e do Estado”.
 Para Engels, embora o estado tenha nascido da necessidade de conter esses
antagonismos, nasceu também no meio do conflito e, por isso, acabou sendo sempre
representado pela classe mais poderosa.
 Marx e Engels concebem o Estado atuando geralmente como um instrumento do
domínio de classe.
 Na sociedade capitalista o domínio de classe se identificaria diretamente com a
“proteção da propriedade privada”.
 Proteger a propriedade privada capitalista implica preservar as relações sociais, as
normas jurídicas, enfim, a segurança dos proprietários burgueses.
 Essa concepção do Estado como instrumento de dominação de uma classe sobre a
outra, estabelece, portanto, uma relação entre as condições materiais de existência de
determinada sociedade e a forma de Estado que ela adota.
 O Estado nasce da desigualdade para manter a desigualdade.

O EMPIRISMO INGLÊS
A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA
 Século XVII  Filósofos Racionalistas
 Descartes
 Espinosa
 Leibniz
 Expressou o momento de ápice de alguns VALORES surgidos no Renascimento, como:
 A ênfase no conhecimento do mundo;
 A importância da razão;
 Na utilização da matemática como instrumento metódico.
 A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA
 Incansável busca em definir as “coisas” em termos de:
• Substâncias
• Princípios racionais
• Idéias necssárias
21

 Final do século XVII  a investigação filosófica tomaria outro rumo, tendo como
palco principal a Inglaterra.

 Século XVII caracterizou-se fundamentalmente por ser METAFÍSICO e


RACIONALISTA.

 Já o século XVIII apresentaria uma tendência mais EPISTEMOLÓGICA e


EMPIRISTA.
 EMPIRISMO

 Iniciou-se com Aristóteles: “Não há nada no intelecto que não tenha estado antes
nos sentidos”.
 Não acreditam em idéias inatas.

 A mente humana é um recipiente pronto para ser preenchido com aquilo que
nossos sentidos captarem do mundo exterior.

 Criticavam idéias filosóficas baseadas em conceitos excessivamente abstratos


e intangíveis, como os metafísicos.
 OBJETIVO  pretendia construir uma filosofia válida com base em noções que
o homem pudesse conhecer e comprovar com seus próprios sentidos.

JOHN LOCKE
 É considerado o pai do empirismo, mesmo não sendo o seu criador.

 Filho de uma família de comerciantes, nasceu na cidade de Wrington, na


Inglaterra.
 Estudou na Universidade de Oxford, onde se formou em medicina.

 Ocupou diversos cargos políticos e foi sempre um opositor da monarquia


absolutista.
 Exilou-se na Holanda, junto com o conde, em 1683.

 Retornou à Inglaterra com os monarcas e passou a se dedicar à sua obra


filosófica: “Ensaio acerca do entendimento humano”.

 Sua intenção era “investigar a origem, certeza e extensão do conhecimento


humano”.

 Em outras palavras, examinar o que a mente humana pode e não pode conhecer
e fazer com que os homens reconheçam sua “ignorância acerca de uma coisa”.

 Para Locke não importa saber o que existe fora de nós, e sim como nossa mente
funciona e o que ela é capaz de conhecer.
22

 As concepções de Locke acerca do entendimento humano também mostrarão


fortes vínculos com o seu pensamento político, defensor que foi do liberalismo e
da tolerância política e religiosa.
A ORIGEM DAS IDÉIAS
 O Ensaio acerca do entendimento humano inicia-se pela crítica ao inatismo.

 Exemplo, segundo o inatismo, das idéias que já nasceriam impressas na mente das
pessoas é o princípio lógico de não-contradição (“o que é, é” ou “A não é não-A”).

 Locke argumenta que, se esse princípio fosse inato, não haveria quem não o
conhecesse desde o momento do nascimento, no entanto, podemos constatar que
existem pessoas que ignoram esse princípio.

 Para Locke a mente humana alcança as verdades gradualmente, seguindo


determinados passos.

 Isso significa que a mente não é apenas um agregado caótico de idéias sensoriais,
resultantes da experiência externa, mas realiza certas operações com essas idéias,
formando novas idéias.

 Locke denomina a experiência interior dessas operações mentais de sentido interno ou


reflexão.

 A afirmação de Locke significa também que, no limite, toda ideia tem como fonte
primeira e fundamental a experiência.
 As idéias surgem com a experiência, elas não podem ser inatas.

 A mente humana seria “um gabinete vazio”, “um papel em branco”, ou, como se
costuma dizer, uma tabula rasa.

 Uma criança, por exemplo, quando vem ao mundo, não mostra indícios de possuir
qualquer ideia sobre ele, seu contato com as coisas vai aos poucos preenchendo sua
mente com os conteúdos que lhe serão familiares depois: luzes, cores, sons, formas,
sabores, odores e assim por diante.

IDEIAS SIMPLES E COMPLEXAS

 Locke explica quando a criança entra em contato pela primeira vez com um objeto
qualquer, esse objeto não sugere ou fornece à sua mente uma ideia única, e sim uma
série de idéias.

 Exemplo: de um cubo de gelo, ela formará primeiro idéias como: branco, frio e duro;
da neve, idéias como: branco, frio e macio; de limão idéias como: verde e ácido.
 Essas idéias Locke denomina simples.
 Ideias simples  se formam por meio das duas vias: a sensação e a reflexão.
23

 Somente depois de entrar em contato diversas vezes com o mesmo tipo de objeto, a
criança formará em sua mente a ideia desse objeto como um todo, isto é, uma ideia
complexa.

 As ideias simples são o material básico de todo o nosso entendimento, que poderá, diz
o filósofo, “repetir, comparar e uni-las numa variedade quase infinita, formando à
vontade novas ideias complexas”.
O CONHECIMENTO INTUITIVO E DEMONSTRATIVO
 Segundo Locke, o conhecimento se dá quando a mente, nas operações que realiza
com ideias oriundas dos sentidos ou da reflexão, procura perceber o acordo ou o
desacordo que existe entre essas ideias.

 Por exemplo: na frase “branco não é preto” ocorre o conhecimento intuitivo no qual a
mente percebe o desacordo de duas ideias (branco e preto) “imediatamente por elas
mesmas”, ou seja, pela própria evidência contida nas ideias de “branco” e “preto” e a
certeza de que há desacordo entre elas.
 Locke critica a dúvida cartesiana, pois, todos nós teríamos o conhecimento intuitivo de
existir, dado pelos sentidos e pela reflexão.

 Quando a mente não consegue perceber imediatamente o acordo ou o desacordo entre


duas ideias, temo o conhecimento demonstrativo, cujo modelo clássico é dado pela
matemática.

 Locke também discorda de Descartes, para quem as verdades matemáticas seriam as


mais certas e evidentes.

 Para Locke, no conhecimento demonstrativo a mente é obrigada a recorrer a outras


ideias para descobrir o acordo ou o desacordo entre determinadas ideias, formando o
que denomina raciocínio.
QUALIDADES PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS
 Locke dirá também que as coisas do mundo exterior possuem qualidades primárias,
como extensão, figura, solidez e movimento – ou seja, propriedades numéricas,
quantitativas –, e qualidades secundárias, como cor, sabor, odor – propriedades
propriamente sensoriais.

 As ideias que formamos com base nas qualidades primárias correspondem àquilo que
verdadeiramente existe nas coisas, o que não ocorre em relação às ideias formadas
com base nas qualidades secundárias, que podem variar de individuo para individuo,
deixando-nos sem saber com certeza qual é a característica verdadeiramente presente
na coisa em questão.
 As qualidades primárias pertenceriam às coisas e não dependeriam dos sentidos.

 Para Locke a palavra substância não passa de uma palavra, isto é, ela se refere a um
“não-sei-o-quê”, que está fora do alcance da experiência e do conhecimento do homem
e por isso não deve ser discutido pela filosofia.
24

GEORGE BERKELEY
 Nasceu em Kilkenny, na Irlanda.
 Ordenou-se sacerdote da Igreja Anglicana, em 1710.

 Preocupou-se com as discussões filosóficas e científicas da época, que para ele


estavam conduzindo a sociedade ao materialismo e ao ceticismo.
A CRÍTICA ÀS IDEIAS ABSTRATAS OU GERAIS

 Berkeley acreditava totalmente no que se percebe pelos sentidos, a ponto de


considerar loucura alguém pensar que há ideias ou coisas dissociadas deles.

 Criticava os filósofos que defendiam a existência de ideias gerais abstratas, entre eles
Locke.

 As ideias abstratas se formariam, de acordo com Locke, pelo processo de abstração,


no qual a mente separa as ideias que aparecem juntas nas coisas.
 A ideias de cor é, para Locke, uma abstração que exclui as demais qualidades do
objeto, como a sua forma e a sua solidez.

 A ideia de homem seria uma abstração mais complexa, pois ela separa, por exemplo,
nas ideias compostas de Pedro, Jaime e João o que é comum neles, formando assim
a ideia abstrata de homem, que se aplica a todos os homens

 Para Berkeley, as IDEIAS ABSTRATAS são invenção dos intelectuais; ou seja, elas
não existem, pois é impossível conceber a ideia de movimento separa da ideia de um
corpo que se move rápida ou lentamente, para a frente e para trás.

 Do mesmo modo, a ideia de HOMEM virá sempre acompanhada de suas


características físicas, como a cor da pele, a estatura, ...
 Para Berkeley todas as ideias são sempre de coisas particulares e nunca gerais.

 Isso significa que para Berkeley o que se denomina ideia abstrata ou geral não passa
de uma ideia particular, que repousa numa impressão sensorial, numa ideia já
percebida pelo sentidos, e que ela sempre existe em conjunto com uma série de outras
ideias sensorialmente percebidas, e não como uma ideia isolada.
A IMATERIALIDADE DO MUNDO

 Berkeley revela-se um empirista mais radical ao discutir a distinção feita por Locke entre
as QUALIDADES PRIMÁRIAS (extensão, forma, movimento, etc) e as QUALIDADES
SECUNDÁRIAS (cor, sabor, odor, etc).

 Locke dizia que as PRIMÁRIAS são inerentes às coisas e, portanto, não dependem dos
sentidos; as SECUNDÁRIAS, ao contrário, são dados dos sentidos e não
correspondem a nada de certo no exterior.
25

 A teoria de Locke traz implícito um dualismo: algumas ideias são o efeito de coisas
externas (as primárias) e outras não (as secundárias).

 As primárias pressupõem a existência de uma exterioridade, uma coisa fora de nós, um


mundo feito de substância ou matéria.

 Berkeley não aceita essa concepção, pois para ele só existe aquilo que percebemos
(as qualidades secundárias).

 Só existe os conteúdos da consciência resultantes da experiência: as percepções ou


ideias.

 Tudo o que temos são percepções, ideias das coisas, mas as coisas existem
concretamente.
 Para Berkeley é errado pensar que uma ideia é o efeito de uma coisa externa.
 As qualidades primárias (forma, extensão, movimento, etc) não passam de ideias
abstratas e estas não existem com tal, isto é, não passam também de percepções
(qualidades secundárias).

 O que resta é a IMATERIALIDADE do mundo: não podemos saber ao certo se há algo


além da mente que percebe e das ideias percebidas.
 “Ser é perceber e ser percebido”.
 Existem duas modalidades inseparáveis de ser:
 O ser que percebe
 O ser que é percebido

 Berkeley quer dizer fundamentalmente que as coisas existem apenas como percepção
do espírito, mente ou consciência, isto é, como ideias, e não como coisas materiais.
 Como é que certas coisas parecem subsistir mesmo quando não são vistas ou tocadas?

 RESPOSTA: existir como objeto de percepção é uma característica intrínseca tanto da


mesa como da árvore, mesmo quando ninguém as olha ou toca.

 Essa característica seria mantida por um espírito “que tudo realiza em tudo” e “por quem
todo existe”, ou seja, Deus.

 É Deus quem garante não só que a mesa continue existindo como “ser percebido”
mesmo quando ninguém a vê, mas também é ele a causa das ideias dos objetos
sensíveis impressas no espírito dos homens.

 As ideias dos objetos sensíveis não vêm de nenhuma substância material, e sim
espiritual.
 A única substância é o espírito.
 A realidade como um todo existe na mente divina, que se comunica com os homens
por meio da experiência que estes têm das coisas.
26

DAVID HUME
 Nasceu na cidade de Edimburgo em pleno Século das Luzes (séc. XVIII).

 Na juventude, Hume deixou os estudos jurídicos para os quais o encaminhara a família


e se dedicou às suas paixões: as letra e a filosofia.

 Deixou a Escócia e viveu por algum tempo na França, onde iniciou sua produção
filosófica.

 Hume também se dedicou à política e à diplomacia, tendo ocupado alguns cargos


públicos, entre os quais o de secretário da embaixada inglesa na França, em 1763.

 Mesmo acusado de ateísmo, o filósofo morreu coberto de fama e glória, como sempre
desejara, além de ter sido muito querido e respeitado tanto por sua personalidade
afável e bondosa como pela extensão e profundidade de seus conhecimentos.

 Hume sintetizou exemplarmente as noções centrais do empirismo e levou às últimas


consequências o programa empirista de não admitir hipóteses que não possam ser
experimentadas pelos sentidos.

 Hume descartará as hipóteses de Locke (existência de não-sei-o-quê) e Berkeley


(defendeu a existência de um espírito), por meio de um método inquisitivo e radical de
investigação da origem das ideias e do processo de conhecimento.
IMPRESSÕES E IDEIAS

 Para investigar a origem das ideias e com elas se formam, Hume parte do cotidiano
das pessoas e, sobretudo, do ponto de vista das crianças.

 O ponto zero de formação das ideias é a mais tenra idade, e elas se formam a partir da
experiência.
 Hume segue esse princípio à risca.

 Segundo ele, todos os materiais da mente, ou conteúdos da consciência, constituem


percepções.
 As percepções se subdividem em:
 IMPRESSÕES – que são as percepções mais vivas, como aquelas que temos
“quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, desejamos ou queremos”;

 IDEIAS ou PENSAMENTOS – que são percepções mais fracas que as


impressões, pois são cópias destas, e ocorrem quando recordamos,
imaginamos, refletimos.
O MÉTODO CRÍTICO
 Na análise da formação das ideias do homem, Hume propõe que se deve primeiro
decompor uma ideia complexa nas ideias simples que a constituem, para então verificar
quais são as impressões simples e complexas.
27

 Quando vemos um pássaro, por exemplo, formamos na mente uma impressão


complexa, que se constitui de várias impressões simples, como a de bico, pena e asa.

 Hume considera esse método importante para descobrir noções falsas, uma vez que a
mente demonstra ter muita liberdade e não muito controle sobre as ideias.

 A mente forma a ideia complexa de anjo com a ideia simples de asa e a ideia complexa
de homem, da mesma maneira que compõe a ideia complexa de sereia com base nas
ideias complexas de peixe e de mulher.
AS ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS

 Os processos cognitivos do conhecimento ocorrem quando a mente reúne, junta,


conecta mais de uma ideia, simples ou complexa.
 Para Hume, existem 3 tipos de associação de ideias:
 DE SEMELHANÇA – pela qual uma pessoa, quando vê um retrato, pensa no
que está retratado;

 DE CONTIGUIDADE – pela qual a ideia de neve faz pensar no branco, pois neve
e branco são ideias próximas ou contínguas;

 DE CAUSALIDADE – pela qual a ideia de ferimento leva a pensar na ideia de


dor, como uma relação de causa e efeito.
 Hume divide a INVESTIGAÇÃO humana em dois gêneros:

 RELAÇÃO DE IDEIAS – pertencem as ciências matemáticas e a lógica, cujas


proposições podem ser descobertas pela “simples operação do pensamento e
não dependem de algo existente em alguma parte do Universo“.

 RELAÇÃO DE FATO – resulta da relação que fazemos entre fatos,


acontecimentos, coisas vividas.
A CRENÇA E O HÁBITO

 O que Hume pretende demonstrar é que as relações de fatos estabelecidas pela mente
não se baseiam em nenhum princípio racional, mas apenas na experiência, ou, mais
especificamente no hábito.

 Para Hume, a CAUSALIDADE como princípio racional não passaria de outra ficção
racionalista, pois as causas e os efeitos não são descobertos pela razão, mas pela
experiência.
 Como explicar, então:
 A certeza que se tem sobre o futuro?
 A certeza de que o Sol nascerá amanhã?
 De que o ferimento trará dor?
28

 Hume responde que essa certeza é na verdade uma crença. E essa crença se deve à
regularidade com que nossas experiências se repetem, gerando o costume ou hábito.

 A relação de causa e efeito é uma crença baseada na experiência habitual de fatos


semelhantes.

 A ciência, que se constitui de afirmações fundamentadas em relação de fatos, não tem


bases racionais.
 São a crença e o hábito que fundamentam as leis “imutáveis” da natureza.

O ILUMINISMO
Materialismo e sensacionalismo

 As preocupações dos pensadores do século XVIII eram muito distintas daquelas do


início da era moderna.
 Definir limites para os regimes totalitários;
 Crença na superioridade da razão;
 A ideia de Liberdade.
 O cientista inglês Isaac Newton era uma personalidade consagrada.

 Newton deixou de lado as hipóteses que não podiam ser explicadas matematicamente
nem comprovadas pela experiência (como a existência de Deus); aceitava assim as
limitações do entendimento humano.

 Os pensadores se afastaram das discussões metafísicas e buscaram aplicar a nova


metodologia emprestada das ciências da natureza em outros campos de investigação,
como a moral, a política e a estética.

 Seu lema era denunciar todas as ideias obscuras, dogmáticas, autoritárias que
impediam o crescimento humano e a solução dos problemas sociais.

 Esses intelectuais acreditavam na capacidade racional de todos os homens, quando


livres da opressão, do medo e das superstições.

 Denominaram a própria época em que viveram de Século das Luzes e o movimento


intelectual da qual faziam parte de iluminismo ou ilustração.

 Pretendiam iluminar as trevas da ignorância tendo por instrumento a luz natural a todos
os homens, ou seja, a razão.
 A filosofia das luzes teve como palco principal a França, deslocando-se mais tarde para
a Alemanha.

 A TESE EMPIRISTA de que toda filosofia válida deve partir de noções que o homem
possa conhecer e comprovar com seus próprios sentidos é abraçada pela maioria dos
pensadores franceses.
29

 O escritor naturalista francês Georges-Louis Leclerc Buffon, voltando-se para a


natureza, concentra sua observação sobre os seres vivos, suas características físicas
e fisiológicas, e produz, com uma equipe de colaboradores, uma monumental História
natural, em 44 volumes.
 Georges-Louis além de classificar o reino animal em grupos de seres semelhantes
entre si, ele organizou essas espécies numa série contínua, realizando um trabalho
precursor da teoria da evolução das espécies.

 De acordo com a teoria da evolução, todas as espécies de plantas e animais teriam um


antepassado comum e seriam o resultado de um conjunto de transformações de
caracteres ocorrido de geração em geração.

 O primeiro a enunciar essa teoria foi o naturalista francês Jean-Baptiste de Monet, para
quem o meio é o principal fator de mudança: a modificação do meio leva à mudança de
necessidade da espécie; a nova necessidade modifica os hábitos, a estes, por fim, os
órgãos e as formas do corpo, segundo o princípio de que um órgão não utilizado se
atrofia e o que é mantido em uso se desenvolve.

 Para o naturalista inglês Charles Darwin, que formulou a primeira teoria realmente
científica da evolução, a adaptação das espécies resulta da sobrevivência dos mais
aptos, isto é, de um processo de seleção natural em que formas vivas novas eliminam
ou ocupam o lugar das suas ancestrais.

 Buffon, em sua teoria sobre a formação da vida, dispensa a noção de Deus como
criador da natureza: para ele, a vida é resultado apenas de processos físicos e químicos
no interior da matéria, e esses processos não apresentam nenhuma finalidade, como
concebia a filosofia aristotélica-tomista.

 Trata-se de uma concepção materialista da natureza, isto é, que enfatiza o papel da


matéria nos processos naturais.
 O médico e filósofo francês Julien Offroy de La Mettrie radicaliza essa tendência, afirma
que tudo é matéria, até mesmo a alma humana, concebendo a realidade como uma
cadeia contínua que vai da matéria inanimada até o homem.

 La Mettrie em sua obra O homem-máquina, alia a seu materialismo um mecanicismo


de inspiração cartesiana, pois, para ele, a natureza não passa de uma máquina
composta de inúmeros mecanismos.

 O filósofo francês Étienne Bonnot de Condillac concebia o conhecimento como um


conjunto de sensações transformadas na mente e fixadas pela linguagem, formulando
uma teoria denominada SENSACIONISTA ou SENSUALISTA

SENSUALISTA

 Nome que se deve à ênfase que filósofo dá à sensação, da qual brotariam todas
as demais ideias presentes no espírito humano por meio de transformações
sucessivas.
30

 Condillac desenvolveu também uma teoria da linguagem, segundo a qual a ciência é


uma “linguagem bem feita”, cujos termos não são jamais arbitrários e na qual cada
palavra tem o seu correspondente invariável nas sensações.
 Educação e progresso

 Os pensadores franceses desse período acreditavam numa evolução do pensamento


e do conhecimento e que isso um dia traria melhores condições de vida pra todas as
pessoas.
 Esses filósofos achavam que as “luzes” da razão trariam o progresso e que este
conduziria os homens à felicidade.
 O homem é um ser que se pode construir por meio da educação.

 Para o filósofo francês Claude-Adrien Helvétius, em sua obra Sobre o espírito e Sobre
o homem, diz que todos os homens têm a mesma “sensibilidade física” .

 O homem é uma espécie de “tábula rasa” que vai sendo gravada pelo meio em que
vive desde o momento do nascimento.

 Helvétius propunha uma educação dos indivíduos baseada no conhecimento dos


mecanismos do comportamento humano e voltada para o interesse geral.

 O interesse geral seria proporcionar o máximo de felicidade a todos e o mínimo de dor


a cada indivíduo.

 Os principais obstáculos para alcançar esse objetivo seriam, segundo Helvétius, a


religião cristã e as estruturas feudais.

 Paul-Henri Dietrich, ou barão de Holbach, diz que as religiões são um instrumento


poderoso para manter o domínio sobre os homens. Elas também seriam antinaturais,
uma vez que condenam o prazer.

 Holbach propunha uma reforma da sociedade que fizesse com que cada indivíduo
tivesse prazer em desejar o bem-estar do outro.

 Um dos principais monumentos iluministas do ideal de propagação do conhecimento e


da confiança no progresso da humanidade é a Enciclopédia, obra composta de 35
volumes, publicada de 1751 a 1772.

 A intenção da Enciclopédia era reunir e divulgar, da maneira mais completa possível, o


conjunto das realizações técnicas, científicas e humanísticas alcançadas pelo homem
até então.

 A maioria dos pensadores iluministas colaborou com a Enciclopédia escrevendo um ou


mais verbetes.
 Por isso se tornaram conhecidos também como ENCICLOPEDISTAS.

 O pensamento de Diderot é uma síntese dos ideais iluministas, Materialista e empirista,


ele afirmava que “uma boa observação vale mais do que cem teorias” e era avesso ao
31

“espírito de sistema” dos filósofos racionalistas, pois considerava um absurdo alguém


pretender explicar tudo numa cadeia de razões claras e distintas.

O liberalismo na frança: Voltaire e Montesquieu


 Locke em sua obra “Dois tratados sobre o governo civil”, diz que os homens em estado
de natureza são livres, iguais e independentes, podendo dispor de seu corpo para o
que desejarem, desde que isso não prejudique os demais.
 Assim a vítima tem o direito de guerra, que é castigar o criminoso.

 Mas como isso tem o inconveniente de que o julgamento feito pela vítima pode ser
parcial e injusto e o castigo, excessivo, os homens decidiram renunciar à sua liberdade
natural por meio de um pacto, entregando a um corpo político (o governo) o seu direito
de executar a lei natural para que garanta a segurança, o conforto e a paz da
comunidade.
 O corpo político deve ser dividido em poderes:
 O LEGISLATIVO  que faz as leis; é o principal e a ele subordinam-se:
 O EXECUTIVO  que aplica as leis;
 O FEDERATIVO  que cuida das relações com outras comunidades.
 O que legitima o PODER POLÍTICO é a adesão ao pacto feita pela maioria.

 Quando não há o consentimento da maioria, não há uma lei legítima e sim


arbitrariedade.

 Outra concepção importante do liberalismo lockiano é a de que a propriedade privada


é o resultado do trabalho.

 Qualquer atentado à propriedade privada é uma transgressão à lei natural e deve ser
reprimido e castigado pelo corpo político.
 Locke também defendeu a tolerância religiosa em sua obra Carta acerca da tolerância.

 Para Locke, a intolerância resultava de uma confusão entre autoridade política e


autoridade religiosa, ou entre comunidade e Igreja.

 O nome mais destacado do liberalismo francês foi o de Voltaire – pseudônimo usado


pelo filósofo François Marie Arouet.

 Agitador, panfletário e satirista feroz, ele sabia que educar apenas não bastava para
promover o progresso e a felicidade geral.
 Sem LIBERDADE não haveria o fim da prepotência dos poderosos e das injustiças
sociais.

 Voltaire afirmava: “Posso não concordar com nenhuma palavra que você diz, mas
defenderei até a morte seu direito de dizê-la”.
 Foi o principal propagandista dos ideais libertários do Iluminismo.
32

 Escreveu com humor e inteligência contra a religião, a metafísica, a superstição, os


fanatismos e os preconceitos.
 Os argumentos de Voltaire, expostos em seu Tratado de Metafísica, são favoráveis à
existência de um ser superior que tudo teria criado e que se revela à humanidade por
meio apenas da natureza e da regularidade de suas leis, como uma espécie de
relojoeiro divino.
 Mas Voltaire não via utilidade nas discussões sobre a essência de Deus.
 Após um exílio de dois anos na Inglaterra, Voltaire tornou-se também um dos principais
defensores do liberalismo político e da tolerância religiosa.
 O que é a tolerância?

“É o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-


nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da natureza”.

 A separação entre política e religião também é apregoada pelo filósofo francês Charles-
Louis de Secondat, barão de Montesquieu, um dos principais teóricos do liberalismo
político.

 Montesquieu dizia que não apenas o corpo político e as leis governam os homens, mas
muitas outras coisas: o clima, a religião, os costumes, os exemplos das coisas
passadas, etc.
 Para Montesquieu estes outros fatores formam o espírito geral de uma sociedade.
 A liberdade, para Montesquieu, é o “direito de fazer tudo o que as leis permitem”.

 Dedicou-se à tarefa de verificar em que condições esse direito seria o mais amplo
possível.
 Propôs a divisão do Estado em: LEGISLATIVO, EXECUTIVO e JUDICIÁRIO.

 Nessa divisão, cada poder deve agir independentemente mas, ao mesmo tempo, em
articulação com os demais poderes, de modo que eles se limitem mutuamente.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU
 Nasceu fraco e doente, em Genebra.
 Perdeu a mãe ao nascer.
 Foi criado por uma tia e pelo pai.
 A partir dos 10 anos de idade, ficou sob a tutela de várias pessoas diferentes.
 Aos 16, resolveu fugir da cidade onde vivia para levar uma vida independente.
33

 Passou fome e privação, mudou várias vezes de trabalho, de mulher e de país.

 Em 1742 chega a Paris, como professor de música, trazendo na bagagem um novo


sistema de notação musical, uma ópera, uma comédia, uma coletânea de poemas.
 Em 1749, despontou como filósofo ao escrever sua primeira obra, Discurso sobre as
ciências e as artes.

 Escreveu ainda Emílio e Do contrato social, obras consideradas ofensivas pelas


autoridades, então foi obrigado a fugir de Paris para não ser preso.
 O exílio não foi tranquilo e Rousseau teve de mudar de residência diversas vezes.

 Em 1776, seu estado de saúde se agravou – ao lado da pobreza, a saúde frágil lhe
servira de desculpa para não criar nenhum dos 5 filhos, que foram deixados em
orfanatos.
 JEAN-JACQUES ROUSSEAU o Bom SELVAGEM

 A Academia de Dijon propôs, num concurso, a seguinte questão: “O restabelecimento


das ciências e das artes terá contribuído para aprimorar os costumes?”.
 “Não”, respondeu Rousseau. As ciências e as artes, tanto quanto a civilização não eram
boas como se pensava.
 O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe.
 Na obra Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens,
descreveu minuciosamente como teria sido o homem em estado de natureza.

 O homem em estado de natureza teria primeiro vivido livre, solitário e feliz pelas
florestas, orientado apenas pelo seu instinto de autopreservação, sem precisar de
ninguém para nada.
 Suas paixões eram basicamente querer, desejar e temer.
 Buscava o prazer elementar e fugia da dor.
 Ele não poderia ser considerado nem bom nem mau.

 Esse estado seria, na verdade, segundo Rousseau, “o mais propício à paz e mais
conveniente ao gênero humano”, pois a ignorância do vício e a tranquilidade do coração
seriam as condições mais favoráveis ao surgimento da virtude.

 E a única virtude que o filósofo concebe como sendo natural ao homem, e não produto
do convívio social, é a piedade.

 Para Rousseau, sem piedade, de nada serviria a razão, e os homens não passariam
de monstros.
 Esse bom selvagem teria também uma qualidade potencial inata que o distinguiria dos
outros animais: a perfectibilidade, ou faculdade de aperfeiçoar-se.
34

 Essa capacidade se tornaria “a fonte de todos os males” da humanidade, quando, por


um conjunto de circunstâncias e coincidências, foi sendo despertada de seu estado de
dormência e tirou o homem de sua condição original de tranquilidade e inocência,
fazendo desabrochar “suas luzes e erros, seus vícios e suas virtudes” e tornando-o
“tirano de si mesmo e da natureza”.

 Rousseau imagina que tudo isso começou quando, um dia, os homens se associaram
espontaneamente para realizar algumas tarefas que exigia o concurso de várias mãos,
como, por exemplo, defender-se de um animal perigoso.

 Esse processo teria se repetido várias vezes, e os homens passaram a dar preferência
a viver juntos, formando as primeiras famílias.

 Desenvolveram, então, sentimentos mais refinados, como o amor pelo outro e pelos
filhos, e daí necessitaram criar códigos de comunicação (as línguas) e atividades de
socialização, como o canto e a dança.
 As diferenças entre os homens, no início muito sutis, passaram a ficar perceptíveis.
 Os mais hábeis, fortes e belos começaram a sobressair. Surgiu toda sorte de paixões
e vícios, como o orgulho, a cobiça, a inveja e a hipocrisia.

 O surgimento da propriedade privada teria sido o passo fundamental no processo de


corrupção do homem, pois, a partir dele, realizou-se a divisão social entre ricos e
pobres.

 A esse momento seguiu um estado de guerra generalizado entre os mais poderosos e


os primeiros ocupantes das terras.

 Os ricos percebendo que eles próprios eram os que mais tinham a perder com a guerra,
idealizaram um projeto que empregava em seu favor as forças daqueles que os
atacavam: um contrato social.

 Prometendo paz, justiça e segurança para todos e garantindo que manteriam seus
bens, os ricos enganaram os grosseiros e ingênuos.
 JEAN-JACQUES ROUSSEAU: A VONTADE GERAL

 O contrato social que vigorava seria, portanto, de acordo com Rousseau, uma
enganação.

 Como legitimar, isto é, tornar direito e justo, aquilo que um dia não passou de uma
armadilha?
 Na obra Do contrato social, responde à questão dizendo que dada a impossibilidade de
o homem voltar a seu estado primordial, o filósofo se empenha em conceber um
contrato social, ou forma de associação, “que defenda e proteja a pessoa e os bens de
cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só
obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes”.
35

 O pacto social deve nascer da entrega total de cada indivíduo à comunidade, com o
que ele não perde nada, pois, diz Rousseau, “cada um dando-se a todos não se dá a
ninguém”.
 Todos se mantêm livres e iguais ao ingressar na sociedade civil, isto é, o corpo político.

 Rousseau concebe o corpo político como um todo, uma unidade orgânica, com vida e
vontade próprias.

 E o que dá vida ao corpo político é a própria união de seus membros, ou seja, a


coletividade.

 As leis desse corpo político devem ser o reflexo da vontade geral, conceito
importantíssimo da filosofia política de Rousseau.

 A vontade geral é a que busca o melhor para a sociedade como um todo, ou seja,
aquela que satisfaz o interesse público, e não o de particulares.
 JEAN-JACQUES ROUSSEAU: A EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE

 Rousseau queria uma sociedade em que as pessoas fossem não apenas livres e iguais,
mas também soberanas, isto é, que tivessem um papel ativo dentro do contexto geral.
 Para isso seria preciso ensiná-las a ser:
 Livres  realizar o que o coração manda;
 Autênticas  reconhecer e mostrar os verdadeiros sentimentos;
 Autônomas  conduzir o próprio destino.

 Essa tarefa de “civilizar a civilização” deveria partir da educação das crianças (obra:
Emílio).
 A tese fundamental de Rousseau é a de que o homem é naturalmente bom, mas foi
corrompido pela sociedade.

 A criança criada numa sociedade civilizada vai perdendo o contato com seus instintos
naturais e sentimentos à medida que eles vão sendo reprimidos ou à medida que ela
aprende, por meio de uma série de normas e conceitos abstratos, a não revelar certas
emoções e a fingir outras.

 O resultado é a perda de contato consigo mesma e a necessidade de mostrar-se


diferente do que realmente é. Depois vêm a falsidade, a hipocrisia e todos os outros
vícios.

 Em Emílio Rousseau inspira-se no homem natural e defende uma pedagogia que siga
a natureza.

 Emílio é afastado do convívio social até os 15 anos de idade, evitando assim qualquer
influência corruptora da sociedade.
36

 O que o filósofo propõe de fundamental e inovador é uma educação que procura


incentivar a expressão das tendências naturais da criança, em vez de reprimi-las
ou discipliná-las, como era mais comum até aquela época.

 Isso deveria ser feito com amor e carinho, não com punições e castigos; no seio da
família – não na escola -, por meio do exemplo e da prática, despertando na criança,
com naturalidade, os bons sentimentos e deixando em segundo plano o aspecto
teórico, racional.

IMMANUEL KANT
 Foi o principal pensador do Esclarecimento, designação pela qual ficou conhecida a
filosofia das luzes na Alemanha.
 Nasceu em Königsberg (hoje Kaliningrado), pequena cidade situada a oeste da Prússia.

 Filho de um humilde artesão, estudou na universidade local, da qual se tornou professor


brilhante e reitor.

 Pequeno e frágil, Kant levou uma existência extremamente metódica, sem grandes
acontecimentos.
 Nunca se casou e jamais saiu de sua cidade natal até seu falecimento.
 IMMANUEL KANT: A NOVA REVOLUÇÃO COPERNICANA

 Kant foi o primeiro dos grandes filósofos modernos a produzir seu pensamento dentro
de uma universidade, como acadêmico.
 Ele era professor universitário de filosofia.

 Na época em que Kant lecionava, o pensamento racionalista ainda era forte entre os
pensadores do Esclarecimento.
 Kant também foi um estudioso dos iluministas franceses.

 Com o mesmo espírito questionador de sua época, o filósofo se empenhou na crítica


da própria razão, instaurando, como ele mesmo diz, “um tribunal que, ao mesmo tempo
que assegure suas legítimas aspirações, rechace todas as que sejam infundadas”.
 Desde Descartes, os filósofos se dedicavam à investigação do conhecimento na
tentativa de explicar como ele se dá e sobre o que é possível conhecer.
 Os RACIONALISTA deram sua resposta, baseada no poder de explicar tudo.
 Os EMPIRISTAS reagiram destacando a importância dos sentidos e seus limites.

 Kant achava que tanto os sentidos como a razão são fatores determinantes no
processo de conhecimento das coisas e, portanto, não adotou nenhuma das duas
posições.
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 Para Kant, ambas apresentavam acertos e erros e seria possível obter melhores
resultados se elas fossem sintetizadas numa perspectiva totalmente nova de
abordagem do conhecimento.

 Na obra “Crítica da razão pura”, Kant recorda o sucesso de Copérnico quando o


astrônomo, percebendo que os princípios explicativos da teoria geocêntrica se
fragilizavam diante de novas constatações, resolveu tirar a Terra do centro do universo
e colocar o Sol em seu lugar.

 Kant propõe fazer o mesmo com a questão do entendimento, ou seja, inverter o lugar
determinante que ocupa o objeto nas abordagens tradicionais.
 Para ele, são “os objetos que têm de se regular pelo nosso conhecimento”.

 EXEMPLO: quando vemos um objeto qualquer, a imagem que se forma em nossa


mente não é determinada por esse objeto, e sim o contrário: nós, por meio do nosso
modo próprio de perceber as coisas, é que determinamos e formamos essa imagem.
 IMMANUEL KANT: AS FORMAS DA SENSIBILIDADE
 Kant entendia que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, isto
é, no momento em que entramos em contato sensível com as coisas.

 Esse conhecimento não é simplesmente dado pelas coisas, como se o sujeito que
conhecesse ficasse totalmente passivo no processo.
 Buscou saber como é o sujeito puro, a priori, isto é, o sujeito antes de qualquer
experiência sensível.

 Kant chegou à conclusão de que o sujeito possui certas faculdades que possibilitam e
determinam a experiência e o conhecimento.

 Uma dessas faculdades é a sensibilidade. O filósofo observou que, quando


percebemos e representamos em nossa mente qualquer coisa externa, essa
representação é sempre feita no tempo e no espaço.

 Kant conclui então que TEMPO e ESPAÇO são condições a priori de possibilidade da
experiência sensível ou intuição empírica.

 Em outras palavras, tempo e espaço não são abstrações ou algo que existe fora de
nós: eles constituem formas da sensibilidade, isto é, são ferramentas humanas inatas
e necessárias ao homem para que ele possa construir toda a sua experiência do
mundo.

 Essas formas da sensibilidade atuam como filtros ou lentes que definem como
podemos perceber a realidade.

 São como receptáculos ou vasilhas vazias que vão sendo preenchidas com alguma
matéria, isto é, os conteúdos que compõem as sensações.
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 IMMANUEL KANT: AS FORMAS DO ENTENDIMENTO

 Kant observou também que, quando enunciamos um juízo, uma afirmação qualquer,
como, por exemplo, “o calor dilata os corpos”, ocorre uma síntese das representações
“calor” e “dilata os corpos”.

 Essa síntese é feita por outra faculdade humana: o entendimento ou faculdade de


pensar ou de julgar.

 Todo juízo é uma síntese efetuada pelo entendimento, que unifica as múltiplas
representações que aparecem na sensibilidade.

 Analisando os diversos juízos possíveis, Kant percebeu que todos se articulam de


acordo com certos princípios lógicos ou regras, apresentando formas básicas ou puras,
isto é, destituídas de qualquer conteúdo e anteriores a qualquer experiência vivida
pelas pessoas.

 Do mesmo modo que existem formas da sensibilidade (espaço e tempo), Kant diz que
existem formas do entendimento.
 A partir delas se estabelecem conceitos puros, a priori, que existem desde sempre em
nossa consciência, como os conceitos de causa, necessidade e substância
(categorias).

 São as categorias que permitem pensar tudo aquilo que chega com a intuição ou
experiência sensível.
 EXEMPLO: o conceito de causa.

 Quando entramos numa sala aquecida pelo sol da tarde, podemos dizer com base
apenas nessa intuição ou experiência sensível: “O sol brilha na sala” e “A sala está
quente”.

 Se, em seguida, relacionamos essas duas intuições, subordinamos uma à outra,


podemos concluir: “O sol aquece a sala”.

 Kant diz que fazer essa relação é algo inerente ao entendimento humano, que não
consegue deixar de empregar o princípio de que “todo efeito tem de ter uma causa”.

 Para Kant, a noção de causalidade é algo que deriva do nosso entendimento, isto é,
nós é que criamos essa relação.

 Isso quer dizer que entender a natureza é projetar sobre ela as nossas formas próprias
de conhecimento.
 IMMANUEL KANT: A CRÍTICA À METAFÍSICA
 Se projetamos sobre a natureza as nossas formas próprias de conhecer, o
conhecimento do mundo se restringe, pois nunca poderemos saber com certeza como
o mundo é em si, mas apenas como ele aparece para nós.
 Kant faz distinção: “coisa em si” e “coisa para nós”.
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 “COISA PARA NÓS”  tudo o que conhecemos do mundo são os fenômenos – aquilo
que aparece para nós já filtrado pelas formas da sensibilidade.
 “COISA EM SI”  Kant denomina de númeno – não pode ser percebida pela razão
humana porque ultrapassa a experiência possível.

 O processo de conhecer o mundo é mais ou menos como fotografar uma festa animada,
com muita música e dança.
 A FESTA  “a coisa em si”, o númeno.
 A MÁQUINA  é o sujeito com suas formas, seu aparelho próprio de conhecer.
 A IMAGEM  “a coisa para nós”, o fenômeno, aquilo que aparece para nós.
 A FOTO  constitui a experiência possível, a representação do fenômeno.

 Com base nos resultados dessa investigação, o filósofo criticará a pretensão da


metafísica de querer conhecer “o ser enquanto ser”, as “coisas em si” – e pretende
fazer isso como ciência, como conhecimento teórico.

 Kant afirma que isso não é possível, que há aí um uso ilegítimo da razão ao se
pretender conhecer aquilo que ultrapassa a experiência possível.

 O homem não pode provar que Deus existe, que a alma é imortal, que o universo é
infinito, que o homem é livre.
 E, quando tenta fazer isso, surgem as antinomias da razão pura (juízos que se
contradizem em tese e antítese)

 Nessas questões tanto parecerá provável uma coisa como o seu contrário e sempre
será possível refutar as duas posições.
 IMMANUEL KANT: A RAZÃO PRÁTICA

 Kant diz que o homem sempre vai sentir a necessidade de saber de onde vem e para
onde vai.
 Essa é uma necessidade inerente à própria razão.
 Por isso afirma que o homem também possui uma razão prática.

 No campo prático da razão, idéias como Deus, imortalidade e liberdade não devem ser
tratadas como conhecimento e sim como noções reguladoras da prática humana; elas
têm uma função prática em nossas vidas.

 Esse é o campo da moral e da religião, no qual o homem afirma coisas que não pode
provar, porque isso favorece a sua existência prática.
 São os postulados práticos, moralmente necessários.
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 A função prática e fundamental de acreditar na imortalidade da alma é tirar a angústia


causada pela ideia do fim absoluto após a morte e motivar uma conduta justa durante
a vida inteira.
 IMMANUEL KANT: A vontade legisladora

 Kant também entendia que a filosofia devia se pôr ao lado dos interesses do homem;
entre os mais importantes, para ele, estava a liberdade.

 No campo da moral, propõe que as leis morais são necessárias e universais, mas, ao
mesmo tempo, derivam dos próprios homens.

 Nesse sentido apesar de agir por dever, o homem é livre, pois deve seguir a lei que ele
próprio criou.

 Parece contraditório pensar em dever e liberdade ao mesmo tempo, mas não para
Kant.
 Entendia que todos nós nascemos com a capacidade de distinguir o certo do errado.

 Existiria uma lei moral universal e inata que orienta a ação de todos os homens, valendo
para todos em todas as situações.

 Imperativo categórico: “Age apenas segundo aquelas máximas por meio das quais
possas, ao mesmo tempo, querer que elas se transformem em uma lei geral”.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. 16 ed. reform. e


ampl. São Paulo: Saraiva, 2006.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. 4. ed. São Paulo: Ática, 2011.

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