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Filosofia Moderna II
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SUMÁRIO
O GRANDE RACIONALISMO ............................................................................................................................3
Renê Descartes.........................................................................................................................................3
BARUCH DE ESPINOSA: Deus, ou a natureza. .................................................................................6
GOTTFRIED LEIBNIZ ..............................................................................................................................8
FILOSOFIA POLÍTICA ...................................................................................................................................... 11
PLATÃO: o rei-filósofo para a justiça .................................................................................................. 15
ARISTÓTELES: o homem como animal político .............................................................................. 16
MAQUIAVEL: os fins justificam os meios .......................................................................................... 16
BODIN: a defesa do governo nas mãos de um só ........................................................................... 17
HOBBES: a necessidade do Estado soberano ................................................................................. 18
LOCKE: a concepção do Estado liberal ............................................................................................. 18
MONTESQUIEU: a divisão de poderes ............................................................................................. 19
ROUSSEAU: a legitimação do Estado pela vontade geral ............................................................. 19
HEGEL: do Estado surge o indivíduo ................................................................................................. 19
MARX e ENGELS: o Estado como instrumento de dominação de classe ................................... 19
O EMPIRISMO INGLÊS A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA ................................................................ 20
JOHN LOCKE................................................................................................................................................. 21
GEORGE BERKELEY .................................................................................................................................. 24
DAVID HUME ................................................................................................................................................. 26
O ILUMINISMO .................................................................................................................................................. 28
O liberalismo na frança: Voltaire e Montesquieu ...................................................................................... 31
JEAN-JACQUES ROUSSEAU .................................................................................................................... 32
IMMANUEL KANT ......................................................................................................................................... 36
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................................... 41
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O GRANDE RACIONALISMO
A IMPORTÂNCIA DA RAZÃO
Os século XV e XVI foram marcados por importantes mudanças.
Por um lado, o mapa político da Europa contava com reinos unificados, que conferiam
aos reis o papel de comandantes de seu povo.
Por outro lado, a nobreza continuava explorando uma massa de camponeses.
As ideias renascentistas e a Reforma religiosa haviam enfraquecido a Igreja Católica,
eram as ideias escolásticas que ainda predominavam, mesmo nas universidades.
Que garantia poderia haver quanto à validade das novas verdades apresentadas?
O Renascimento havia aberto muitas portas, mas acreditava-se que o caminho do
verdadeiro conhecimento ainda estava para ser percorrido.
Já havia a crença de que a chave para se poder trilhar esse cominho era a razão.
A partir do século XVII promoveu-se um avanço importante: essa razão articulava-se
em um método.
A preocupação em encontrar um caminho seguro para o conhecimento já se
expressava no pensamento de Bacon, que viveu as 3 décadas do século XVII,
chamado de o “século do método”.
O entusiasmo desses filósofos pelas “matemáticas” fará nascer a ideia de que o
sucesso dessa ciência se deve a seu método e que o método matemático poderá ser
utilizado em todas as outras áreas da investigação, garantindo a exatidão e a certeza
dos conhecimentos alcançados.
O que se utilizaria como método não seria a matemática em si, os números, o cálculo,
e sim o procedimento dedutivo da geometria, isto é, o modo próprio da matemática de
encadear as razões ou afirmações segundo uma certa ordem.
Essa racionalidade se expressaria de modo geométrico, lógico, dedutivo, o que
caracterizaria a visão específica do racionalismo moderno.
O termo racionalismo é empregado para designar a concepção de que nada existe sem
que haja uma razão para isso.
Uma pessoa racionalista seria alguém que procura sempre uma explicação lógica para
as coisas, acredita que por meio de mecanismos racionais se pode explicar tudo.
Em filosofia, denominam-se racionalistas as doutrinas que buscam explicar o processo
de conhecimento dando ênfase ao papel da razão.
O racionalismo desenvolvido pela maioria das filosofias do século XVII afirmará que
todo conhecimento certo provém de princípios a priori (anteriores à experiência),
indiscutíveis e evidentes para a razão.
Esse racionalismo também considerava que os sentidos são uma fonte confusa,
obscura e provisória de verdade, o que relegará a experiência sensível a um segundo
plano, como fonte de conhecimento.
Renê Descartes
Nasceu em Haye, França.
Estudou no colégio jesuíta de La Flèche.
Executando a aprendizagem que fez da matemática. Decepcionou-se com a educação
jesuíta.
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Confessaria, tempos depois, sua decisão em buscar a ciência por conta própria,
esforçando-se por decifrar o “grande livro do mundo”.
Ingressando na carreira militar, mudou-se para a Holanda, onde participou de combates
contra os espanhóis.
Viajou por vários países europeus, estabelecendo contato com vários sábios, entre eles
Blaise Pascal.
O que publicou é suficientemente vasto para situá-lo como um dos pais da filosofia
moderna.
A ÁRVORE DO SABER
Descartes definira para si a missão de construir um sistema filosófico completo.
FILOSOFIA
“um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode saber, tanto
para a conduta da sua vida como para a conservação de sua saúde e a invenção
de todas as artes”.
Fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse
a certeza de nada omitir.
Teve então de fugir e viveu o resto de sua vida em várias cidades holandesas,
ganhando seu sustento como polidor de lentes.
De saúde frágil, sofreu quase 20 anos de tuberculose.
Além de defender a separação entre Estado e Igreja, política e religião, filosofia e
teologia, foi um grande crítico da superstição, tanto religiosa e política como filosófica.
Em seu Tratado teológico-político, submete a Bíblia a uma interpretação histórico-crítica
baseada na análise gramatical da língua hebraica e da história do povo judeu, e conclui
que seus textos estão intimamente ligados ao momento histórico em que foram
escritos.
Eles são basicamente regras de conduta humana formuladas dentro de determinado
contexto, sem constituir, portanto, verdades absolutas.
Isso significa que as palavras contidas na Bíblia não teriam vindo de Deus, pois se
Moisés tivesse realmente tido uma revelação de Deus, os dez mandamentos não
seriam apenas as leis de um povo e sim verdades eternas, que valeriam para todos.
O DEUS IMANENTE
Espinosa não concordava com a ideia generalizada de que Deus é um ser superior a
tudo e separado de tudo, portanto um ser transcendente.
Para ele, Deus e a natureza são a mesma coisa. DEUS = NATUREZA.
Em sua obra Ética, o filósofo explica que separar Deus do mundo, significa conceber a
existência de duas substâncias, o que seria impossível pela própria definição de
substância.
SUBSTÂNCIA é “o que existe em si e por si é conhecido, isto é, aquilo cujo conceito
não carece do conceito de outra coisa do qual deva ser formado”.
O único ser que “existe em si e por si é concebido” é Deus, portanto, não pode haver
outra substância.
A natureza seria o conjunto das infinitas manifestações da substância única, isto é,
Deus.
Ele diz: o mundo “é em Deus” e “Deus, ou a natureza”, isto é, a natureza é idêntica a
Deus.
Substância, Deus ou natureza são, portanto, a mesma coisa.
Ele é chamado de:
MONISTA, pois para ele toda a realidade seria composta de apenas uma única
substância.
PANTEÍSTA, pois ele identifica Deus em todas as coisas, ou defende a ideia de
que tudo participa da substância divina.
A inteligência humana consegue identificar no mundo apenas duas manifestações
essenciais da substância, que ele denomina atributos: o pensamento e a extensão.
Tudo que existe no mundo, ou cada criatura em particular, cada fenômeno, seria um
modo de manifestação de Deus ou de seus atributos, o pensamento e a extensão.
EXEMPLO: Atributo extensão: livro;
Atributo pensamento: as ideias contidas no livro.
Para Espinosa, Deus é causa imanente, isto é, interna, que produz efeito em sim
mesma (os modos), e todos os efeitos ou modos são fruto da necessidade dos atributos
ou características essenciais de Deus.
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Isso significa que tudo o que existe e acontece no mundo é o resultado necessário da
natureza de Deus, isto é, não pode ser diferente, tem de ser de determinada maneira.
Não há LIVRE-ARBÍTRIO no mundo.
Deus, ou a natureza, se manifesta por meio das leis da natureza, que são eternas,
imutáveis e inteiramente determinadas pela necessidade da natureza divina.
Os homens “enganam-se quando se julgam livres, e esta opinião consiste apenas em
que eles têm consciência de suas ações e são ignorantes das causas pelas quais são
determinadas”.
A NATUREZA HUMANA
A natureza humana é uma das expressões da substância única, repetindo de maneira
finita a estrutura da substância infinita, Deus, ou natureza.
CORPO modo da extensão;
ALMA modo do pensamento.
Ao descrever a essência do homem, o filósofo identifica um elemento, o canatus
(esforço, impulso instintivo), que seria o esforço empreendido por cada coisa para
perseverar em seu ser.
Quando o conatus se torna consciente de si, ele se chama desejo. Ambos contribuem
para afirmar e expandir o nosso ser.
Quando nossos desejos sofrem a ação das forças externas, nascem as paixões, que
são modificações passivas de nosso ser.
A alegria e a tristeza são as paixões fundamentais, das quais resultam todas as outras.
A alegria paixão que favorece a passagem para uma maior perfeição do ser, é
sempre boa;
A tristeza leva o homem a uma menor perfeição e é sempre má.
Como é impossível ao homem livrar-se das paixões, a VIRTUDE consistirá em alcançar
um conhecimento verdadeiro de nossas paixões, para com ele valer-se das paixões
positivas, principalmente o amor, e ampliar o canatus.
Ser VIRTUOSO consiste em, por meio da razão, formar ideias claras e distintas do que
se passa em nós, reconhecer o dinamismo da vida e afirmar-se como a causa
adequada dos efeitos que ocorrem em nós.
A verdadeira liberdade do homem: conhecer, pela razão, a necessidade das coisas e
agir de acordo com essa necessidade.
GOTTFRIED LEIBNIZ
Representação simbólica:
FRASE VERDADEIRA: A é A (a identidade);
FRASE FALSA: A é não-A (a contradição).
Trata-se de uma retomada do princípio de não-contradição, presente na lógica de
Aristóteles, que diz que “é impossível ser e não ser ao mesmo tempo”.
Para Leibniz, a verdade deverá ser sempre expressa pela proposição A é A.
Mesmo quando temos uma proposição do tipo A é B, para conhecer se ela é falsa ou
não devemos analisar e reduzir a noção de B até transformá-la em A e obter a
proposição A é A ou a A é não-A.
ANALISAR identificar tudo que está no sujeito.
Ele reconhece que existem proposições que escapam a essa demonstração: por mais
que recuemos em sua análise e em suas causas não chegamos à identidade (A é A).
EXEMPLO:
D. Pedro I deu o grito do Ipiranga.
É uma verdade histórica (um fato).
Distinção entre os 2 tipos de verdades:
VERDADES DE RAZÃO: são aquelas a que uma pessoa chega pela análise
lógica dos termos de uma proposição. São eternas, essenciais e metafísicas.
Pertence ao domínio da lógica e da matemática.
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As mônadas constituem um todo ordenado e harmonioso, pois são como “relógios que,
apesar de independentes, marcam a mesma hora”.
Haveria uma harmonia preestabelecida no Universo, o que garantiria a ordenação das
mônadas.
Essa harmonia teria sido criada por Deus, substância infinita e perfeita separada do
mundo, que contém em si, como suas infinitas expressões, as percepções de todas as
mônadas, das quais também é, portanto, o Criador.
FILOSOFIA POLÍTICA
O estudo do domínio social
POLÍTICA
Origem do Grego polis (“cidade-Estado”);
Designa o campo da atividade humana que se refere à cidade, ao Estado, à
administração pública e ao conjunto dos cidadãos.
Quando Aristóteles definiu o HOMEM como animal político é porque, na sua
concepção, a própria razão é, essencialmente, política.
FILOSOFIA POLÍTICA
Campo de reflexão filosófica que, historicamente, se ocupou do fenômeno
político e das características que o distinguem dos demais fenômenos sociais,
analisando as instituições e práticas das sociedades políticas existentes e
conjecturando sobre a melhor maneira de se construir as sociedades futuras.
Integra a TEMÁTICA BÁSICA DA FILOSOFIA POLÍTICA as reflexões em torno:
Do poder;
Do Estado;
Dos regimes políticos e formas de governo;
Da participação dos cidadãos na vida pública;
Da liberdade.
O fenômeno do poder
Bertrand Russell: “Poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos
desejados”.
O fenômeno do poder costuma ser dividido em duas categorias: o poder do homem
sobre a natureza e o poder do homem sobre outros homens.
A filosofia política investiga o poder do homem sobre outros homens, isto é, o poder
social.
As três formas do poder social
Levando-se em conta o meio do qual se serve o indivíduo para conseguir os efeitos
desejados, podemos encontrar três formas básicas de poder social:
Poder Econômico: Utiliza a posse de certos bens socialmente necessários para
induzir aqueles que não os possuem a adotar determinados comportamentos,
como, por exemplo, realizar determinado trabalho.
Poder Ideológico: Utiliza a posse de certas ideias, valores, doutrinas para
influenciar a conduta alheia, induzindo as pessoas a determinadas modos de
pensar e agir.
Poder Político: Utiliza a posse dos meios de coerção social, isto é, o uso da
força física considerada legal ou autorizada pelo direito vigente na sociedade.
O que essas três formas de poder têm em comum?
“É que elas contribuem conjuntamente para instituir e manter sociedades de
desiguais divididas em fortes e fracos, com base no poder político: em ricos e
pobres, com base no poder econômico; em sábios e ignorantes, com base no
poder ideológico”.
O poder econômico preocupa-se em garantir o domínio da riqueza controlando a
organização das forças produtivas.
O poder ideológico preocupa-se em garantir o domínio sobre o saber controlando a
organização do consenso social.
O poder político preocupa-se em garantir o domínio da força institucional e jurídica
controlando os instrumentos de coerção social.
Desses 3 poderes (econômico, político e ideológico) qual seria o principal, o mais
eficaz?
Para Bobbio é o poder político cujo meio específico de atuação consiste na
possibilidade de utilizar a força física legalizada para condicionar comportamentos.
“O poder político é, em toda sociedade de desiguais, o poder supremo, ou seja, o poder
ao qual todos os demais estão de algum modo subordinados”.
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Origem do Estado
Em dado momento da história da maioria das sociedades, com o aprofundamento da
divisão social do trabalho, certas funções político-administrativas e militares acabaram
sendo assumidas por um grupo específico de pessoas.
Esse grupo passou a deter o poder de impor normas à vida coletiva.
Função do Estado
E para que se desenvolveu o Estado?
Qual seria a sua função em relação à sociedade?
Não existe consenso sobre essa questão.
Pode-se destacar duas, que representam correntes opostas:
CORRENTE LIBERAL: A função do Estado é agir como MEDIADOR dos
conflitos entre os diversos grupos sociais, conflitos inevitáveis entre os homens.
O Estado deve promover a conciliação dos grupos sociais, amortecendo os
choques dos setores divergentes para evitar a desagregação da sociedade.
CORRENTE LIBERAL: A função do Estado é a de alcançar a harmonia entre os
grupos rivais, preservando os interesses do bem comum.
Pensadores liberais:
John Locke;
Jean-Jacques Rousseau
CORRENTE MARXISTA
O Estado não é um simples mediador de grupos rivais.
O Estado é uma instituição que interfere nessa luta de modo parcial, quase
sempre tomando partido das classes sociais dominantes.
A função do Estado é garantir o domínio de classe.
Pensadores: Karl Marx e Friedrich Engels
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Regimes Políticos
Por isso escreveu o livro O príncipe com o propósito de tratar da política tal como ela
se dá, ou seja, sem pretender fazer uma teoria da política ideal, mas, ao contrário,
compreender e esclarecer a política real.
Centrou sua reflexão na constatação de que o poder político tem como função regular
as lutas e tensões entre os grupos sociais.
Conforme ele, eram basicamente dois: o grupo dos poderosos e o povo.
Essas lutas e tensões existiriam sempre, de tal forma que seria uma ilusão buscar um
bem comum para todos.
Mas, se a política não tem como objetivo o bem comum, qual seria o seu objetivo então?
A política tem como objetivo a manutenção do poder político do Estado.
E, para manter o poder, o governante deve lutar com todas as armas possíveis, ficando
sempre atento às correlações de forças que se mostram a cada instante.
Isso significa que a ação política não cabe nos limites do juízo moral.
O governante deve fazer aquilo que, a cada momento, se mostra interessante para
conservar o seu poder.
Não se trata de uma decisão moral, mas sim de uma decisão de que atende à lógica
do poder.
Para ele, na ação política não são os princípios morais que contam, mas os
resultados.
É por isso que, para Maquiavel, os fins justificam os meios.
O mérito de Maquiavel é ter compreendido que a política, no início da Idade Moderna,
se desvinculava das esferas da moral e da religião, constituindo-se em uma esfera
autônoma.
O EMPIRISMO INGLÊS
A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA
Século XVII Filósofos Racionalistas
Descartes
Espinosa
Leibniz
Expressou o momento de ápice de alguns VALORES surgidos no Renascimento, como:
A ênfase no conhecimento do mundo;
A importância da razão;
Na utilização da matemática como instrumento metódico.
A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA
Incansável busca em definir as “coisas” em termos de:
• Substâncias
• Princípios racionais
• Idéias necssárias
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Final do século XVII a investigação filosófica tomaria outro rumo, tendo como
palco principal a Inglaterra.
Iniciou-se com Aristóteles: “Não há nada no intelecto que não tenha estado antes
nos sentidos”.
Não acreditam em idéias inatas.
A mente humana é um recipiente pronto para ser preenchido com aquilo que
nossos sentidos captarem do mundo exterior.
JOHN LOCKE
É considerado o pai do empirismo, mesmo não sendo o seu criador.
Em outras palavras, examinar o que a mente humana pode e não pode conhecer
e fazer com que os homens reconheçam sua “ignorância acerca de uma coisa”.
Para Locke não importa saber o que existe fora de nós, e sim como nossa mente
funciona e o que ela é capaz de conhecer.
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Exemplo, segundo o inatismo, das idéias que já nasceriam impressas na mente das
pessoas é o princípio lógico de não-contradição (“o que é, é” ou “A não é não-A”).
Locke argumenta que, se esse princípio fosse inato, não haveria quem não o
conhecesse desde o momento do nascimento, no entanto, podemos constatar que
existem pessoas que ignoram esse princípio.
Isso significa que a mente não é apenas um agregado caótico de idéias sensoriais,
resultantes da experiência externa, mas realiza certas operações com essas idéias,
formando novas idéias.
A afirmação de Locke significa também que, no limite, toda ideia tem como fonte
primeira e fundamental a experiência.
As idéias surgem com a experiência, elas não podem ser inatas.
A mente humana seria “um gabinete vazio”, “um papel em branco”, ou, como se
costuma dizer, uma tabula rasa.
Uma criança, por exemplo, quando vem ao mundo, não mostra indícios de possuir
qualquer ideia sobre ele, seu contato com as coisas vai aos poucos preenchendo sua
mente com os conteúdos que lhe serão familiares depois: luzes, cores, sons, formas,
sabores, odores e assim por diante.
Locke explica quando a criança entra em contato pela primeira vez com um objeto
qualquer, esse objeto não sugere ou fornece à sua mente uma ideia única, e sim uma
série de idéias.
Exemplo: de um cubo de gelo, ela formará primeiro idéias como: branco, frio e duro;
da neve, idéias como: branco, frio e macio; de limão idéias como: verde e ácido.
Essas idéias Locke denomina simples.
Ideias simples se formam por meio das duas vias: a sensação e a reflexão.
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Somente depois de entrar em contato diversas vezes com o mesmo tipo de objeto, a
criança formará em sua mente a ideia desse objeto como um todo, isto é, uma ideia
complexa.
As ideias simples são o material básico de todo o nosso entendimento, que poderá, diz
o filósofo, “repetir, comparar e uni-las numa variedade quase infinita, formando à
vontade novas ideias complexas”.
O CONHECIMENTO INTUITIVO E DEMONSTRATIVO
Segundo Locke, o conhecimento se dá quando a mente, nas operações que realiza
com ideias oriundas dos sentidos ou da reflexão, procura perceber o acordo ou o
desacordo que existe entre essas ideias.
Por exemplo: na frase “branco não é preto” ocorre o conhecimento intuitivo no qual a
mente percebe o desacordo de duas ideias (branco e preto) “imediatamente por elas
mesmas”, ou seja, pela própria evidência contida nas ideias de “branco” e “preto” e a
certeza de que há desacordo entre elas.
Locke critica a dúvida cartesiana, pois, todos nós teríamos o conhecimento intuitivo de
existir, dado pelos sentidos e pela reflexão.
As ideias que formamos com base nas qualidades primárias correspondem àquilo que
verdadeiramente existe nas coisas, o que não ocorre em relação às ideias formadas
com base nas qualidades secundárias, que podem variar de individuo para individuo,
deixando-nos sem saber com certeza qual é a característica verdadeiramente presente
na coisa em questão.
As qualidades primárias pertenceriam às coisas e não dependeriam dos sentidos.
Para Locke a palavra substância não passa de uma palavra, isto é, ela se refere a um
“não-sei-o-quê”, que está fora do alcance da experiência e do conhecimento do homem
e por isso não deve ser discutido pela filosofia.
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GEORGE BERKELEY
Nasceu em Kilkenny, na Irlanda.
Ordenou-se sacerdote da Igreja Anglicana, em 1710.
Criticava os filósofos que defendiam a existência de ideias gerais abstratas, entre eles
Locke.
A ideia de homem seria uma abstração mais complexa, pois ela separa, por exemplo,
nas ideias compostas de Pedro, Jaime e João o que é comum neles, formando assim
a ideia abstrata de homem, que se aplica a todos os homens
Para Berkeley, as IDEIAS ABSTRATAS são invenção dos intelectuais; ou seja, elas
não existem, pois é impossível conceber a ideia de movimento separa da ideia de um
corpo que se move rápida ou lentamente, para a frente e para trás.
Isso significa que para Berkeley o que se denomina ideia abstrata ou geral não passa
de uma ideia particular, que repousa numa impressão sensorial, numa ideia já
percebida pelo sentidos, e que ela sempre existe em conjunto com uma série de outras
ideias sensorialmente percebidas, e não como uma ideia isolada.
A IMATERIALIDADE DO MUNDO
Berkeley revela-se um empirista mais radical ao discutir a distinção feita por Locke entre
as QUALIDADES PRIMÁRIAS (extensão, forma, movimento, etc) e as QUALIDADES
SECUNDÁRIAS (cor, sabor, odor, etc).
Locke dizia que as PRIMÁRIAS são inerentes às coisas e, portanto, não dependem dos
sentidos; as SECUNDÁRIAS, ao contrário, são dados dos sentidos e não
correspondem a nada de certo no exterior.
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A teoria de Locke traz implícito um dualismo: algumas ideias são o efeito de coisas
externas (as primárias) e outras não (as secundárias).
Berkeley não aceita essa concepção, pois para ele só existe aquilo que percebemos
(as qualidades secundárias).
Tudo o que temos são percepções, ideias das coisas, mas as coisas existem
concretamente.
Para Berkeley é errado pensar que uma ideia é o efeito de uma coisa externa.
As qualidades primárias (forma, extensão, movimento, etc) não passam de ideias
abstratas e estas não existem com tal, isto é, não passam também de percepções
(qualidades secundárias).
Berkeley quer dizer fundamentalmente que as coisas existem apenas como percepção
do espírito, mente ou consciência, isto é, como ideias, e não como coisas materiais.
Como é que certas coisas parecem subsistir mesmo quando não são vistas ou tocadas?
Essa característica seria mantida por um espírito “que tudo realiza em tudo” e “por quem
todo existe”, ou seja, Deus.
É Deus quem garante não só que a mesa continue existindo como “ser percebido”
mesmo quando ninguém a vê, mas também é ele a causa das ideias dos objetos
sensíveis impressas no espírito dos homens.
As ideias dos objetos sensíveis não vêm de nenhuma substância material, e sim
espiritual.
A única substância é o espírito.
A realidade como um todo existe na mente divina, que se comunica com os homens
por meio da experiência que estes têm das coisas.
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DAVID HUME
Nasceu na cidade de Edimburgo em pleno Século das Luzes (séc. XVIII).
Deixou a Escócia e viveu por algum tempo na França, onde iniciou sua produção
filosófica.
Mesmo acusado de ateísmo, o filósofo morreu coberto de fama e glória, como sempre
desejara, além de ter sido muito querido e respeitado tanto por sua personalidade
afável e bondosa como pela extensão e profundidade de seus conhecimentos.
Para investigar a origem das ideias e com elas se formam, Hume parte do cotidiano
das pessoas e, sobretudo, do ponto de vista das crianças.
O ponto zero de formação das ideias é a mais tenra idade, e elas se formam a partir da
experiência.
Hume segue esse princípio à risca.
Hume considera esse método importante para descobrir noções falsas, uma vez que a
mente demonstra ter muita liberdade e não muito controle sobre as ideias.
A mente forma a ideia complexa de anjo com a ideia simples de asa e a ideia complexa
de homem, da mesma maneira que compõe a ideia complexa de sereia com base nas
ideias complexas de peixe e de mulher.
AS ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS
DE CONTIGUIDADE – pela qual a ideia de neve faz pensar no branco, pois neve
e branco são ideias próximas ou contínguas;
O que Hume pretende demonstrar é que as relações de fatos estabelecidas pela mente
não se baseiam em nenhum princípio racional, mas apenas na experiência, ou, mais
especificamente no hábito.
Para Hume, a CAUSALIDADE como princípio racional não passaria de outra ficção
racionalista, pois as causas e os efeitos não são descobertos pela razão, mas pela
experiência.
Como explicar, então:
A certeza que se tem sobre o futuro?
A certeza de que o Sol nascerá amanhã?
De que o ferimento trará dor?
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Hume responde que essa certeza é na verdade uma crença. E essa crença se deve à
regularidade com que nossas experiências se repetem, gerando o costume ou hábito.
O ILUMINISMO
Materialismo e sensacionalismo
Newton deixou de lado as hipóteses que não podiam ser explicadas matematicamente
nem comprovadas pela experiência (como a existência de Deus); aceitava assim as
limitações do entendimento humano.
Seu lema era denunciar todas as ideias obscuras, dogmáticas, autoritárias que
impediam o crescimento humano e a solução dos problemas sociais.
Pretendiam iluminar as trevas da ignorância tendo por instrumento a luz natural a todos
os homens, ou seja, a razão.
A filosofia das luzes teve como palco principal a França, deslocando-se mais tarde para
a Alemanha.
A TESE EMPIRISTA de que toda filosofia válida deve partir de noções que o homem
possa conhecer e comprovar com seus próprios sentidos é abraçada pela maioria dos
pensadores franceses.
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O primeiro a enunciar essa teoria foi o naturalista francês Jean-Baptiste de Monet, para
quem o meio é o principal fator de mudança: a modificação do meio leva à mudança de
necessidade da espécie; a nova necessidade modifica os hábitos, a estes, por fim, os
órgãos e as formas do corpo, segundo o princípio de que um órgão não utilizado se
atrofia e o que é mantido em uso se desenvolve.
Para o naturalista inglês Charles Darwin, que formulou a primeira teoria realmente
científica da evolução, a adaptação das espécies resulta da sobrevivência dos mais
aptos, isto é, de um processo de seleção natural em que formas vivas novas eliminam
ou ocupam o lugar das suas ancestrais.
Buffon, em sua teoria sobre a formação da vida, dispensa a noção de Deus como
criador da natureza: para ele, a vida é resultado apenas de processos físicos e químicos
no interior da matéria, e esses processos não apresentam nenhuma finalidade, como
concebia a filosofia aristotélica-tomista.
SENSUALISTA
Nome que se deve à ênfase que filósofo dá à sensação, da qual brotariam todas
as demais ideias presentes no espírito humano por meio de transformações
sucessivas.
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Para o filósofo francês Claude-Adrien Helvétius, em sua obra Sobre o espírito e Sobre
o homem, diz que todos os homens têm a mesma “sensibilidade física” .
O homem é uma espécie de “tábula rasa” que vai sendo gravada pelo meio em que
vive desde o momento do nascimento.
Holbach propunha uma reforma da sociedade que fizesse com que cada indivíduo
tivesse prazer em desejar o bem-estar do outro.
Mas como isso tem o inconveniente de que o julgamento feito pela vítima pode ser
parcial e injusto e o castigo, excessivo, os homens decidiram renunciar à sua liberdade
natural por meio de um pacto, entregando a um corpo político (o governo) o seu direito
de executar a lei natural para que garanta a segurança, o conforto e a paz da
comunidade.
O corpo político deve ser dividido em poderes:
O LEGISLATIVO que faz as leis; é o principal e a ele subordinam-se:
O EXECUTIVO que aplica as leis;
O FEDERATIVO que cuida das relações com outras comunidades.
O que legitima o PODER POLÍTICO é a adesão ao pacto feita pela maioria.
Qualquer atentado à propriedade privada é uma transgressão à lei natural e deve ser
reprimido e castigado pelo corpo político.
Locke também defendeu a tolerância religiosa em sua obra Carta acerca da tolerância.
Agitador, panfletário e satirista feroz, ele sabia que educar apenas não bastava para
promover o progresso e a felicidade geral.
Sem LIBERDADE não haveria o fim da prepotência dos poderosos e das injustiças
sociais.
Voltaire afirmava: “Posso não concordar com nenhuma palavra que você diz, mas
defenderei até a morte seu direito de dizê-la”.
Foi o principal propagandista dos ideais libertários do Iluminismo.
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A separação entre política e religião também é apregoada pelo filósofo francês Charles-
Louis de Secondat, barão de Montesquieu, um dos principais teóricos do liberalismo
político.
Montesquieu dizia que não apenas o corpo político e as leis governam os homens, mas
muitas outras coisas: o clima, a religião, os costumes, os exemplos das coisas
passadas, etc.
Para Montesquieu estes outros fatores formam o espírito geral de uma sociedade.
A liberdade, para Montesquieu, é o “direito de fazer tudo o que as leis permitem”.
Dedicou-se à tarefa de verificar em que condições esse direito seria o mais amplo
possível.
Propôs a divisão do Estado em: LEGISLATIVO, EXECUTIVO e JUDICIÁRIO.
Nessa divisão, cada poder deve agir independentemente mas, ao mesmo tempo, em
articulação com os demais poderes, de modo que eles se limitem mutuamente.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
Nasceu fraco e doente, em Genebra.
Perdeu a mãe ao nascer.
Foi criado por uma tia e pelo pai.
A partir dos 10 anos de idade, ficou sob a tutela de várias pessoas diferentes.
Aos 16, resolveu fugir da cidade onde vivia para levar uma vida independente.
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Em 1776, seu estado de saúde se agravou – ao lado da pobreza, a saúde frágil lhe
servira de desculpa para não criar nenhum dos 5 filhos, que foram deixados em
orfanatos.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU o Bom SELVAGEM
O homem em estado de natureza teria primeiro vivido livre, solitário e feliz pelas
florestas, orientado apenas pelo seu instinto de autopreservação, sem precisar de
ninguém para nada.
Suas paixões eram basicamente querer, desejar e temer.
Buscava o prazer elementar e fugia da dor.
Ele não poderia ser considerado nem bom nem mau.
Esse estado seria, na verdade, segundo Rousseau, “o mais propício à paz e mais
conveniente ao gênero humano”, pois a ignorância do vício e a tranquilidade do coração
seriam as condições mais favoráveis ao surgimento da virtude.
E a única virtude que o filósofo concebe como sendo natural ao homem, e não produto
do convívio social, é a piedade.
Para Rousseau, sem piedade, de nada serviria a razão, e os homens não passariam
de monstros.
Esse bom selvagem teria também uma qualidade potencial inata que o distinguiria dos
outros animais: a perfectibilidade, ou faculdade de aperfeiçoar-se.
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Rousseau imagina que tudo isso começou quando, um dia, os homens se associaram
espontaneamente para realizar algumas tarefas que exigia o concurso de várias mãos,
como, por exemplo, defender-se de um animal perigoso.
Esse processo teria se repetido várias vezes, e os homens passaram a dar preferência
a viver juntos, formando as primeiras famílias.
Desenvolveram, então, sentimentos mais refinados, como o amor pelo outro e pelos
filhos, e daí necessitaram criar códigos de comunicação (as línguas) e atividades de
socialização, como o canto e a dança.
As diferenças entre os homens, no início muito sutis, passaram a ficar perceptíveis.
Os mais hábeis, fortes e belos começaram a sobressair. Surgiu toda sorte de paixões
e vícios, como o orgulho, a cobiça, a inveja e a hipocrisia.
Os ricos percebendo que eles próprios eram os que mais tinham a perder com a guerra,
idealizaram um projeto que empregava em seu favor as forças daqueles que os
atacavam: um contrato social.
Prometendo paz, justiça e segurança para todos e garantindo que manteriam seus
bens, os ricos enganaram os grosseiros e ingênuos.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU: A VONTADE GERAL
O contrato social que vigorava seria, portanto, de acordo com Rousseau, uma
enganação.
Como legitimar, isto é, tornar direito e justo, aquilo que um dia não passou de uma
armadilha?
Na obra Do contrato social, responde à questão dizendo que dada a impossibilidade de
o homem voltar a seu estado primordial, o filósofo se empenha em conceber um
contrato social, ou forma de associação, “que defenda e proteja a pessoa e os bens de
cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só
obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes”.
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O pacto social deve nascer da entrega total de cada indivíduo à comunidade, com o
que ele não perde nada, pois, diz Rousseau, “cada um dando-se a todos não se dá a
ninguém”.
Todos se mantêm livres e iguais ao ingressar na sociedade civil, isto é, o corpo político.
Rousseau concebe o corpo político como um todo, uma unidade orgânica, com vida e
vontade próprias.
As leis desse corpo político devem ser o reflexo da vontade geral, conceito
importantíssimo da filosofia política de Rousseau.
A vontade geral é a que busca o melhor para a sociedade como um todo, ou seja,
aquela que satisfaz o interesse público, e não o de particulares.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU: A EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE
Rousseau queria uma sociedade em que as pessoas fossem não apenas livres e iguais,
mas também soberanas, isto é, que tivessem um papel ativo dentro do contexto geral.
Para isso seria preciso ensiná-las a ser:
Livres realizar o que o coração manda;
Autênticas reconhecer e mostrar os verdadeiros sentimentos;
Autônomas conduzir o próprio destino.
Essa tarefa de “civilizar a civilização” deveria partir da educação das crianças (obra:
Emílio).
A tese fundamental de Rousseau é a de que o homem é naturalmente bom, mas foi
corrompido pela sociedade.
A criança criada numa sociedade civilizada vai perdendo o contato com seus instintos
naturais e sentimentos à medida que eles vão sendo reprimidos ou à medida que ela
aprende, por meio de uma série de normas e conceitos abstratos, a não revelar certas
emoções e a fingir outras.
Em Emílio Rousseau inspira-se no homem natural e defende uma pedagogia que siga
a natureza.
Emílio é afastado do convívio social até os 15 anos de idade, evitando assim qualquer
influência corruptora da sociedade.
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Isso deveria ser feito com amor e carinho, não com punições e castigos; no seio da
família – não na escola -, por meio do exemplo e da prática, despertando na criança,
com naturalidade, os bons sentimentos e deixando em segundo plano o aspecto
teórico, racional.
IMMANUEL KANT
Foi o principal pensador do Esclarecimento, designação pela qual ficou conhecida a
filosofia das luzes na Alemanha.
Nasceu em Königsberg (hoje Kaliningrado), pequena cidade situada a oeste da Prússia.
Pequeno e frágil, Kant levou uma existência extremamente metódica, sem grandes
acontecimentos.
Nunca se casou e jamais saiu de sua cidade natal até seu falecimento.
IMMANUEL KANT: A NOVA REVOLUÇÃO COPERNICANA
Kant foi o primeiro dos grandes filósofos modernos a produzir seu pensamento dentro
de uma universidade, como acadêmico.
Ele era professor universitário de filosofia.
Na época em que Kant lecionava, o pensamento racionalista ainda era forte entre os
pensadores do Esclarecimento.
Kant também foi um estudioso dos iluministas franceses.
Kant achava que tanto os sentidos como a razão são fatores determinantes no
processo de conhecimento das coisas e, portanto, não adotou nenhuma das duas
posições.
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Para Kant, ambas apresentavam acertos e erros e seria possível obter melhores
resultados se elas fossem sintetizadas numa perspectiva totalmente nova de
abordagem do conhecimento.
Kant propõe fazer o mesmo com a questão do entendimento, ou seja, inverter o lugar
determinante que ocupa o objeto nas abordagens tradicionais.
Para ele, são “os objetos que têm de se regular pelo nosso conhecimento”.
Esse conhecimento não é simplesmente dado pelas coisas, como se o sujeito que
conhecesse ficasse totalmente passivo no processo.
Buscou saber como é o sujeito puro, a priori, isto é, o sujeito antes de qualquer
experiência sensível.
Kant chegou à conclusão de que o sujeito possui certas faculdades que possibilitam e
determinam a experiência e o conhecimento.
Kant conclui então que TEMPO e ESPAÇO são condições a priori de possibilidade da
experiência sensível ou intuição empírica.
Em outras palavras, tempo e espaço não são abstrações ou algo que existe fora de
nós: eles constituem formas da sensibilidade, isto é, são ferramentas humanas inatas
e necessárias ao homem para que ele possa construir toda a sua experiência do
mundo.
Essas formas da sensibilidade atuam como filtros ou lentes que definem como
podemos perceber a realidade.
São como receptáculos ou vasilhas vazias que vão sendo preenchidas com alguma
matéria, isto é, os conteúdos que compõem as sensações.
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Kant observou também que, quando enunciamos um juízo, uma afirmação qualquer,
como, por exemplo, “o calor dilata os corpos”, ocorre uma síntese das representações
“calor” e “dilata os corpos”.
Todo juízo é uma síntese efetuada pelo entendimento, que unifica as múltiplas
representações que aparecem na sensibilidade.
Do mesmo modo que existem formas da sensibilidade (espaço e tempo), Kant diz que
existem formas do entendimento.
A partir delas se estabelecem conceitos puros, a priori, que existem desde sempre em
nossa consciência, como os conceitos de causa, necessidade e substância
(categorias).
São as categorias que permitem pensar tudo aquilo que chega com a intuição ou
experiência sensível.
EXEMPLO: o conceito de causa.
Quando entramos numa sala aquecida pelo sol da tarde, podemos dizer com base
apenas nessa intuição ou experiência sensível: “O sol brilha na sala” e “A sala está
quente”.
Kant diz que fazer essa relação é algo inerente ao entendimento humano, que não
consegue deixar de empregar o princípio de que “todo efeito tem de ter uma causa”.
Para Kant, a noção de causalidade é algo que deriva do nosso entendimento, isto é,
nós é que criamos essa relação.
Isso quer dizer que entender a natureza é projetar sobre ela as nossas formas próprias
de conhecimento.
IMMANUEL KANT: A CRÍTICA À METAFÍSICA
Se projetamos sobre a natureza as nossas formas próprias de conhecer, o
conhecimento do mundo se restringe, pois nunca poderemos saber com certeza como
o mundo é em si, mas apenas como ele aparece para nós.
Kant faz distinção: “coisa em si” e “coisa para nós”.
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“COISA PARA NÓS” tudo o que conhecemos do mundo são os fenômenos – aquilo
que aparece para nós já filtrado pelas formas da sensibilidade.
“COISA EM SI” Kant denomina de númeno – não pode ser percebida pela razão
humana porque ultrapassa a experiência possível.
O processo de conhecer o mundo é mais ou menos como fotografar uma festa animada,
com muita música e dança.
A FESTA “a coisa em si”, o númeno.
A MÁQUINA é o sujeito com suas formas, seu aparelho próprio de conhecer.
A IMAGEM “a coisa para nós”, o fenômeno, aquilo que aparece para nós.
A FOTO constitui a experiência possível, a representação do fenômeno.
Kant afirma que isso não é possível, que há aí um uso ilegítimo da razão ao se
pretender conhecer aquilo que ultrapassa a experiência possível.
O homem não pode provar que Deus existe, que a alma é imortal, que o universo é
infinito, que o homem é livre.
E, quando tenta fazer isso, surgem as antinomias da razão pura (juízos que se
contradizem em tese e antítese)
Nessas questões tanto parecerá provável uma coisa como o seu contrário e sempre
será possível refutar as duas posições.
IMMANUEL KANT: A RAZÃO PRÁTICA
Kant diz que o homem sempre vai sentir a necessidade de saber de onde vem e para
onde vai.
Essa é uma necessidade inerente à própria razão.
Por isso afirma que o homem também possui uma razão prática.
No campo prático da razão, idéias como Deus, imortalidade e liberdade não devem ser
tratadas como conhecimento e sim como noções reguladoras da prática humana; elas
têm uma função prática em nossas vidas.
Esse é o campo da moral e da religião, no qual o homem afirma coisas que não pode
provar, porque isso favorece a sua existência prática.
São os postulados práticos, moralmente necessários.
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Kant também entendia que a filosofia devia se pôr ao lado dos interesses do homem;
entre os mais importantes, para ele, estava a liberdade.
No campo da moral, propõe que as leis morais são necessárias e universais, mas, ao
mesmo tempo, derivam dos próprios homens.
Nesse sentido apesar de agir por dever, o homem é livre, pois deve seguir a lei que ele
próprio criou.
Parece contraditório pensar em dever e liberdade ao mesmo tempo, mas não para
Kant.
Entendia que todos nós nascemos com a capacidade de distinguir o certo do errado.
Existiria uma lei moral universal e inata que orienta a ação de todos os homens, valendo
para todos em todas as situações.
Imperativo categórico: “Age apenas segundo aquelas máximas por meio das quais
possas, ao mesmo tempo, querer que elas se transformem em uma lei geral”.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA