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Como funciona um carro elétrico,

manutenção, recarga e baterias


Saiba as diferenças dele para um veículo a combustão e detalhes como motor, baterias,
recarga e autonomia
Por Leonardo Felix
20.03.2023 às 17:00 • Atualizado em 17.08.2023

Goste-se ou não, queira-se ou não, o fato é que o carro elétrico enfim chegou com força
ao mercado global, inclusive ao Brasil, e para ficar. É claro que, por aqui, ele ainda
engatinha. Enquanto esse tipo de veículo já representa 10% das vendas globais de
veículos, puxado por mercados como China, Europa e Estados Unidos, aqui eles
representam só 0,4% do mercado.

Todavia, embora ainda esteja longe do poder aquisitivo necessário para adquirir um
carro elétrico, o brasileiro já demonstra muita curiosidade a seu respeito. Afinal, como
funciona um carro elétrico? Ele é muito diferente de um carro a combustão? Como
funciona e quanto custa a recarga? Quanto tempo dura a bateria?
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São essas as perguntas que a Mobiauto responderá neste artigo. Confira:

Como funciona um carro elétrico


Um carro a combustão é formado por um motor térmico alimentado por algum tipo de
combustível (seja gasolina, etanol, diesel ou GNV, as opções existentes no Brasil).

Em combustão com o oxigênio após compressão, o motor gera uma quantidade de


energia que será repassada às rodas através do sistema de transmissão, que inclui caixa
de câmbio, diferencial, semieixos e, em alguns casos, cardan, até as rodas.

O carro elétrico tem lógica similar, sendo na verdade até mais simples do que um a
combustão. Em vez de um complexo motor térmico, ele conta com um ou mais dos
chamados motores de indução, muito mais compactos e com muito menos
componentes, conforme contamos neste outro artigo.

O motor elétrico é alimentado diretamente pelo banco de baterias, que substitui o tanque
de combustível. Cada motor se conecta às baterias de modo independente, de modo que
é possível incluir um ou até dois motores independentes por eixo, formando tração
integral ou 4x4 sem necessidade de diferencial central ou cardan.

Fios de alta tensão assumem o lugar do sistema de alimentação para levar a eletricidade
até um inversor, que fica acoplado ao motor elétrico e converte a corrente contínua
(DC) armazenada nas baterias para corrente alternada (AC), a que é efetivamente
aplicada ao motor.
Este, por sua vez, se conecta diretamente ao diferencial, dispensando o uso de caixa de
câmbio. Por isso, diz-se que um carro elétrico possui câmbio de “marcha única com
relações infinitas”. Uma central de controle é responsável por receber as informações do
pedal do acelerador e gerenciar a eletricidade gerada pela bateria.

Dessa forma, o sistema eletrônico define quanta energia será enviada ao motor,
controlando a velocidade do veículo. Como a transferência da energia é quase imediata
e dosada apenas pelo nível de aceleração, o torque máximo surge de modo praticamente
instantâneo.

Também ligado ao diferencial, o sistema de regeneração funciona como “freio-motor” e


ajuda a recuperar a energia cinética dissipada nas frenagens, convertendo-a em
eletricidade e enviando-a novamente às baterias.

Por ter muito menos componentes do que um carro a combustão, o elétrico possui um
nível muito mais alto de eficiência energética, aproveitando cerca de 80% ou 90% da
eletricidade acumulada, enquanto um carro térmico usa não muito mais do que 30% de
toda a energia gerada pelo motor. O resto acaba desperdiçado.

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As diferenças de um carro elétrico para um híbrido
GWM Haval H6 PHEV: um híbrido plug-in

A principal distinção entre um automóvel elétrico e híbrido é que o híbrido utiliza todo
o sistema elétrico mencionado acima como elemento auxiliar de propulsão, em conjunto
com um motor a combustão. Suas baterias podem ser tão robustas quanto as de um carro
elétrico, ou também muito menores, a depender da proposta. Há três tipos básicos de
carros híbridos:

 Híbrido leve (MHEV) - Um exemplo é o Kia Stonic. Aqui, o motor elétrico é


ainda menor, com menos de 1 kWh de capacidade, e tensão de 48 Volts. Ele se
liga ao alternador do carro, e não há um motor elétrico operando diretamente na
tração. A energia elétrica armazenada é usada para auxiliar a partida e manter o
carro no embalo a velocidades de cruzeiro, desligando temporariamente o motor.
 Híbrido paralelo, pleno ou convencional (HEV) - A operação em modo elétrico
ocorre de maneira ainda pontual, mas mais robusta, em momentos como a
partida e a fase fria do motor, além de arrancadas e retomadas, a fim de melhorar
o consumo de combustível e a eficiência energética durante essas fases mais
críticas de uso. É possível, inclusive, rodar alguns metros em modo 100%
elétrico de tração. O Toyota Corolla e seu conjunto com 1,3 kWh de baterias. é o
modelo mais conhecido do tipo à venda no Brasil.
 Híbrido plug-in (PHEV) - Híbridos com sistema elétrico mais robusto costumam
ser do tipo plug-in (PHEV), com recarga externa. Um exemplo é o recém
lançado GWM Haval H6, cujas baterias alcançam 34 kWh de capacidade,
levando o alcance em modo somente elétrico a até 170 km, segundo o Inmetro.
Eles possuem bancos de bateria maiores, geralmente acima de 10 kWh, e um ou
mais motores elétricos capazes de mover o carro sozinho por vários quilômetros.
BYD Yuan Plus: um elétrico

Tipos de carro elétrico


Quando falamos em "veículo elétrico", falamos sobre um automóvel, comercial leve ou
pesado tracionado exclusivamente por um motor elétrico. Embora os modelos mais
difundidos sejam aqueles com banco de baterias, há mais tipos de veículo elétrico o
mercado. Confira os principais:

 BEV (Veículo Elétrico a Bateria): O motor elétrico é alimentado por um banco


de baterias, que geralmente pesa centenas de quilos e pode se localizar no capô,
porta-malas ou assoalho do veículo. A energia é recuperada por meio de recarga
externa, em tomadas comuns de 220 Volts, wallboxes ou, em alguns casos,
carregadores rápidos. O BYD Dolphin é atualmente o elétrico mais vendido no
País.
 FCEV (Veículo Elétrico a Célula de Combustível): Aqui, o motor elétrico é
alimentado por hidrogênio convertido em eletricidade dentro de uma célula de
combustível. Há modelos do tipo que usam hidrogênio líquido, caso do Toyota
Mirai, mas algumas montadoras estudam criar veículos FCEV nacionais
alimentados por etanol. O combustível vegetal passaria por um reformador para
ser transformado em hidrogênio e, então, em eletricidade. Volkswagen, Nissan,
a própria Toyota, a Stellantis e a GWM fazem estudos nesse sentido.
 REEV (Veículo Elétrico de Autonomia Estendida): Com o advento de
baterias mais densas e eficientes, tem se tornado um conceito cada vez mais
raro. Trata-se de um veículo elétrico dotado de um motor a combustão que opera
unicamente como gerador, sem capacidade de tracionar as rodas. O BMW i3
Rex é mais famoso produto do tipo.
Os itens de um carro elétrico
Um carro elétrico do tipo BEV é conhecido por ter muitos componentes a menos do que
um a combustão. Ele é composto, basicamente, dos seguintes elementos:

 Motor: Muito mais simples do que um motor a combustão, conforme


explicaremos mais abaixo
 Inversor: É a central que faz a ligação entre as baterias e os motores,
convertendo corrente DC (contínua) em AC (alternada)
 Transmissão: Como os motores ficam postados diretamente sobre os eixos e
possuem alta capacidade de rotação e elasticidade, um carro elétrico não possui
caixa de câmbio. A transmissão é direta para o diferencial, semieixos e,
posteriormente, rodas.
 Bateria: É o conjunto que armazena a energia elétrica a ser usada pelo veículo.
Falaremos mais sobre ele logo abaixo.

Como é o motor de um carro elétrico

Em vez de cabeçote, coletor, válvulas, bloco, pistões, bielas, virabrequim, correia, velas
etc, o motor elétrico é formado basicamente por um rotor e um estator anexados em uma
carcaça. Eles podem operar de modo síncrono (girando em sincronia) ou assíncrono
(sem necessidade de sincronismo).

Em tempos recentes, vem se tornando cada vez mais padronizado o motor elétrico do
tipo síncrono com ímãs permanentes. Como o nome diz, ele utiliza placas
eletromagnéticas em volta do estator. O rotor gira em sincronia com o campo
magnético, tendo um aproveitamento ainda mais alto de energia e gerando mais torque.
Por isso, é mais leve e compacto.
Leia também: Adeus carro elétrico? Como funciona combustível artificial da Porsche
Como é a bateria de um carro elétrico

Para funcionar, um carro elétrico precisa ter um banco de baterias minimamente


robusto, capaz de armazenar energia suficiente para deslocamentos mais longos e
manter as funções “vitais” do veículo em operação.

Os bancos de baterias costumam ser formados por módulos múltiplos. O tipo mais
conhecido de bateria é o de “íons de lítio”. Trata-se de um composto que na verdade se
chama óxido de cobalto, manganês, níquel e lítio (NMC).

Recentemente, tem-se disseminado o uso de baterias do tipo LFP (fosfato de ferro lítio),
um tipo diferente de íons de lítio, menos eficiente no aproveitamento energético, mas
mais baratas e com promessa de maior vida útil.

Como dissemos acima, as baterias são formadas por dezenas ou até centenas de lâminas
ou módulos, que podem ser substituídos individualmente quando danificados, a fim de
reduzir o custo e a complexidade de um eventual reparo.

Para o futuro, fabricantes já estão desenvolvendo baterias como as de estado sólido, que
promete reduzir o peso e o volume dos bancos, ao mesmo tempo em que aumentará a
densidade energética e a capacidade de armazenamento, além de reduzir
substancialmente o tempo de recarga.
Quanto tempo dura a bateria de um carro elétrico
A capacidade de armazenamento de energia de um banco de baterias é medida em kWh
(quilowatt-hora), de modo que o consumo será determinado em km/kWh. Por exemplo,
o BYD Yuan Plus que testamos recentemente possui 60,5 kWh de baterias e obteve um
consumo médio em nosso teste de 5,75 km/kWh. Isso perfez um alcance real de cerca
de 350 km.

Porém, para medir a autonomia de um carro elétrico, órgãos oficiais como o Inmetro
submetem os veículos a diferentes tipos de testes de duração da energia armazenada no
ato da homologação.

Afinal, o tipo de condução, o ambiente trafegado (cidade ou rodovia), a frequência de


uso da frenagem regenerativa e o uso de elementos como ar-condicionado são cenários
que afetam diretamente o alcance final do carro a cada ciclo de carga.

No Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro, o mesmo BYD Yuan Plus obteve


423 km de autonomia máxima, levando-se sem conta as condições ideais de uso, sendo
294 km quando aplicada uma “penalidade” de 30%, justamente a que prevê um modo
mais extremo e menos econômico de uso.

Agora, se a pergunta for em relação à vida útil de uma bateria de carro elétrico,
fabricantes estimam que elas são capazes de durar entre oito e dez anos sem a
necessidade de troca dos módulos, ou milhares de ciclos de carga. Oito anos costuma
ser, inclusive, o período de garantia oferecido para todo o conjunto de propulsão de um
carro elétrico.

Leia também: Carros elétricos já desvalorizam menos que os a combustão


Como funciona a recarga de um carro elétrico
Em vez de ir a um posto de combustíveis encher o tanque, o dono de um veículo elétrico
terá que procurar um eletroposto ou uma tomada doméstica.

Há dois tipos de recarga: a lenta, por corrente alternada (AC), que pode variar entre os
220V de uma tomada doméstica ou até 7 ou 8 ou 11 kW em um chamado wallbox.
Nesse caso, será necessário aguardar algumas horas, por vezes até um dia inteiro, para
se preencher os 100% de capacidade.

Já a recarga rápida utiliza corrente contínua (DC) e só pode ser encontrada em postos
especializados, por lidar com eletricidade de alta tensão. Nesse caso, é possível chegar a
100 ou até 150 kW de potência de recarga, e consegue-se ir de 10% a 80% da carga em
períodos como 30 ou 40 minutos.

Alcançados os 80% de energia armazenada, a recarga rápida sempre é automaticamente


convertida em lenta para se finalizar os últimos 20%, e isso acontece em qualquer
carregador. O motivo para isso é bem simples: segurança. Uma sobrecarga das baterias
sob alta tensão pode ser perigoso e gerar acidentes graves.

Porém, antes de comprar um elétrico esperando pelas benesses de uma recarga rápida, é
preciso saber que o veículo desejado precisa ser apto a aceitar recargas do tipo. Modelos
mais simples, como um Renault Kwid E-Tech, não são preparados para tal.

Quanto custa recarregar um carro elétrico


Considerando o custo médio da eletricidade (R$ 0,65 por kWh) cobrado no Estado de
São Paulo em 2022, carregar um BYD Yuan Plus custaria menos de R$ 40 na tomada
de sua casa. Isso, claro, sem levar em consideração tarifas, taxas extras e impostos
ligados à sua conta de luz. É bem mais barato do que reabastecer qualquer automóvel.

Além disso, há eletropostos e postos de recargas dentro de condomínios ou centro


comerciais que costumam ser gratuitos. Contudo, alguns eletropostos externos já estão
começando a operar com cobrança por kWh que ficam acima das tarifas básicas das
companhias de energia elétrica locais, muitas vezes perto de R$ 2 o kWh. Afinal, é
preciso ter lucro sobre a operação.

Neste último cenário, a recarga completa de um BYD Yuan Plus sairia por R$ 120,
enquanto o preenchimento entre 10% e 80% da carga custaria aproximadamente R$ 85.

Leia também: Como EUA e Europa estão reagindo à invasão de carros elétricos
chineses
Como é a revisão e manutenção de um carro elétrico
Por ter menos componentes, o carro elétrico possui manutenção muito mais simples e
barata do que um veículo a combustão. Geralmente, os custos de revisão são mais que
50% menores em um veículo elétrico de porte similar.

Por exemplo, enquanto um Peugeot 208 1.6 demandará uma despesa de pelo menos R$
4.828 para as revisões básicas da garantia até 60.000 km, o dono de um e-208 gastará
apenas R$ 2.103 rodando a mesma quilometragem.

Isso porque, como já explicamos, o carro elétrico possui milhares de componentes a


menos. A cada ciclo de revisão, não é necessário fazer mais do que trocar o filtro de ar e
fluidos das caixas de redução e freios, além de completar líquidos de arrefecimento.
Ademais, faz-se a inspeção de componentes como motor e baterias.

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