Você está na página 1de 47

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS

REGÊNCIA DO CURSO DE CONTABILIDADE E GESTÃO

GESTÃO DE ESTOQUE COMO FACTOR DE


LUCRATIVIDADE NO NEGÓCIO, ESTUDO DE CASO NA
FARMÁCIA JOSÉ HEQUELE TCHITATA

Natália Flora Nunes Chinjavata

Moçâmedes, 2024
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS

REGÊNCIA DO CURSO CONTABILIDADE E GESTÃO

GESTÃO DE ESTOQUE COMO FACTOR DE LUCRATIVIDADE NO


NEGÓCIO, ESTUDO DE CASO NA FARMÁCIA JOSÉ HEQUELE TCHITATA

Natália Flora Nunes Chinjavata

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade


de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade
do Namibe, como parte dos requisitos para
aquisição do grau de Licenciatura em Contabilidade
e Gestão. Sob orientação científica do Docente
Bernardo Kuzissa Afonso, Lic.

Moçâmedes, 2024

ii
UNIVERSIDADE DO NAMIBE

Unidade Orgânica_______________________________________
Departamento De________________________________________

Trabalho de Fim de Curso apresentado à Faculdade


de Ciências Sociais e Humanidades da
Universidade do Namibe, como parte dos
requisitos para aquisição do grau de Licenciatura
em Contabilidade e Gestão.

(GESTÃO DE ESTOQUE COMO FACTOR DE LUCRATIVIDADE NO


NEGÓCIO, ESTUDO DE CASO NA FARMÁCIA JOSÉ HEQUELE
TCHITATA)

Apresentado Por
____________________________
Nº de Estudante: ______________________
Nº de Registo do Trabalho: ______________

Orientado Por
_______________________________

Moçâmedes

iii
2024

iv
v
GESTÃO DE ESTOQUE COMO FACTOR DE LUCRATIVIDADE NO NEGÓCIO, ESTUDO DE
CASO NA FARMÁCIA JOSÉ HEQUELE TCHITATA

2024
NATÁLIA FLORA NUNES CHINJAVATA
vi
AGRADECIMENTOS

vii
RESUMO

viii
ABSTRACT

ix
LISTA DE FIGURAS

x
LISTA DE TABELAS

xi
LISTA DE ABREVIATURAS

xii
LISTA DE SÍMBOLOS

xiii
ÍNDICE

1
2
INTRODUÇÃO
No incessante palco empresarial, onde a concorrência dita o ritmo e a eficiência é a chave-
mestra, a gestão de estoque emerge como um elemento que não apenas sustenta, mas
impulsiona a lucratividade nos negócios. Este trabalho mergulha nas profundezas desse
universo dinâmico, desvendando a gestão de estoque como uma força motriz para o
sucesso financeiro das organizações.

A gestão de estoque, longe de ser um mero exercício de controle de inventário, revela-se


como uma peça estratégica no quebra-cabeça do triunfo empresarial. Em um ambiente
onde a agilidade é essencial, a capacidade de antecipar, adaptar e inovar torna-se crucial
para a sobrevivência e prosperidade dos negócios. Nesse contexto, a gestão eficiente de
estoque não é apenas uma tarefa operacional, mas uma arma estratégica para conquistar
mercados e maximizar os lucros. A presença ostensiva da globalização e as oscilações
imprevisíveis nos padrões de demanda dos consumidores fazem com que a gestão de
estoque se transforme em um campo de batalha estratégico. A disponibilidade de produtos
no momento certo, na quantidade certa, é a pedra angular sobre a qual se constrói a
satisfação do cliente e, por conseguinte, a lucratividade do negócio.

Neste contexto, é imperativo explorar não apenas as práticas tradicionais de gestão de


estoque, mas também abraçar as inovações tecnológicas que moldam o futuro
empresarial. A inteligência artificial, a automação e a análise de dados tornam-se aliados
poderosos na busca pela excelência na gestão de estoque. Empresas visionárias que
adoptam essas tecnologias não apenas superam os desafios operacionais, mas também
redefinem os limites do desempenho financeiro. Ao longo desta jornada, serão
desvendados casos inspiradores de organizações que, por meio de estratégias inovadoras
de gestão de estoque, não apenas superaram obstáculos, mas também transformaram
desafios em oportunidades de crescimento exponencial. A análise profunda dessas
experiências práticas proporcionará percepções valiosas para gestores e empreendedores,
oferecendo uma visão abrangente das possibilidades e armadilhas nesse terreno
estratégico.

Assim, este trabalho visa destacar a gestão de estoque como um catalisador para a
lucratividade nos negócios, provocando uma reflexão crítica sobre a relevância
estratégica dessa disciplina e inspirando a adopção de práticas vanguardistas para
impulsionar o desempenho financeiro das organizações no cenário competitivo
contemporâneo.

3
Problema de Pesquisa
Muitas empresas enfrentam desafios relacionados à gestão de estoque, que podem resultar
em problemas como excesso de estoque, falta de produtos essenciais ou custos elevados.
Mediante a esse quadro, surgiu a seguinte situação problemática: Qual é a importância
de uma gestão de estoque eficiente para o sucesso das empresas?

O presente estudo tem como objectivo geral: Apresentar a importância de uma gestão de
gestão de estoque eficiente para o sucesso das empresas.

Objectivos específicos:
1. Fundamentar teoricamente os conceitos que sustentam o tema;
2. Identificar as práticas actuais de gestão de estoques na Farmácia José Hequele
Tchitata
3. Investigar os principais factores que contribuem para a eficiência da gestão de
estoques;

Hipóteses
1. A implementação de práticas eficientes de gestão de estoque resultará em um
aumento na disponibilidade de produtos para os clientes, o que, por sua vez,
melhorará a lucratividade do negócio;
2. Empresas que negligenciam a gestão de estoque eficiente enfrentarão custos
elevados de armazenamento, obsolescência de produtos e insatisfação dos
clientes, o que prejudicará sua lucratividade

Justificativa
A gestão de estoques é um componente fundamental da operação de qualquer negócio.
Uma gestão ineficiente pode resultar em custos adicionais, insatisfação dos clientes e
perda de competitividade. Deste modo, é relevante porque compreender a importância de
uma gestão de estoque eficiente é crucial para o sucesso e a sobrevivência das empresas,
também visa fornecer informações valiosas para empresas de diferentes sectores sobre
como optimizar sua gestão de estoques, o que pode levar a uma melhoria significativa na
lucratividade. Além disso, a pesquisa pode beneficiar gestores, estudiosos e profissionais
que buscam compreender melhor a relação entre a gestão de estoques e o desempenho
financeiro.

Estrutura do trabalho

4
O presente trabalho está estruturado em dois capítulos. o primeiro capítulo trata da
fundamentação teórica, sobre os conceitos de gestão, estoque, gestão de estoque,
modelos, tecnologias e ferramentas de suporte a gestão de estoque. O segundo e último
capítulo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa,
instrumentos de recolha de dados, a população, amostra e apresentação de resultados.

5
CAPITULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Marion et all (2002, p. 38), “o referencial teórico deve conter um apanhado do
que existe, de mais actual na abordagem do tema escolhido, mesmo que as teorias
actuais não façam parte de suas escolhas”. Já para Marconi e Lakatos (2003, p. 158),
“referencial teórico permite verificar o estado do problema a ser pesquisado, sob o
aspecto teórico e de outros estudos e pesquisas já realizados”.

Nesse sentido, este capítulo apresenta o referencial teórico do estudo.

1.1 GESTÃO
1.1.1 Conceito
Segundo Pires (2007), a palavra gestão é uma palavra polissémica. Em conformidade, é
necessário adaptá-la ao ambiente onde está a ser utilizada de maneira a assumir em termos
relactivos o seu verdadeiro significado.

A gestão pode ser entendida como o processo de coordenação e integração de recursos,


tendente à consecução dos objectivos estabelecidos, através do desempenho das
actividades de planejamento, organização, direcção e controlo. Pode ser também
assimilada a processo de trabalho com e através dos outros, a fim de se atingirem
eficazmente os objectivos organizacionais traçados, utilizando-se eficientemente os
recursos escassos, num contexto em constante mutação (Santos, 2008)

1.1.2 Funções
A gestão compreende 4 funções essenciais, que são:

1.1.2.1 Planeamento
Processo que envolve, para além da análise e monitorização sistemática do meio
envolvente contextual e transaccional (oportunidade e ameaças) e dos pontos fortes da
organização, a definição dos seus objectivos, a formulação da estratégia destinada à sua
consecução e o desenvolvimento dos planos, programas e orçamentos tendentes a
assegurar a integração, coerência e coordenação das actividades. Ou de uma forma mais
sintética, pode ser entendida como a função da gestão que clarifica a missão da
organização, define os seus objectivos e formula a estratégia e as tácticas mais adequadas
à consecução dos objectivos traçados (Santos, 2008).

6
1.1.2.2 Organização
Processo de gestão que se ocupa da afectação dos recursos organizacionais (humanos,
financeiros, materiais, equipamentos, tecnologia, know-how, infra-estrutura, etc.) às
diversas actividades, tarefas e processos (identificados aquando do planejamento) no
sentido de assegurar a consecução dos objectivos planeados.

Para além de envolver a definição das tarefas, processos e actividades a levar a cabo (bem
como a identificação dos trabalhadores que irão assegurar a sua execução), esta função
envolve ainda a disponibilização dos recursos necessários à sua realização, a
determinação do modo como aqueles irão ser afectados aos processos e actividades, a
definição da linha de comando, e a clarificação dos níveis de autoridade e de
responsabilidade associada às decisões a tomar (Santos, 2008).

1.1.2.3 Direcção
Esta função da gestão pode ser definida como o processo de comando e motivação dos
trabalhadores, através do qual os gestores influenciam os membros da organização, no
sentido de assegurar que estes assumem os comportamentos de trabalho indispensáveis
à consecução dos objectivos estabelecidos (Santos, 2008).

1.1.2.4 Controlo
Constitui-se como a função da gestão que envolve monitorização e o acompanhamento
contínuo e sistemático do meio envolvente e do desenvolvimento das actividades, no
sentido de assegurar o cumprimento dos planos e objectivos fixados e,
concomitantemente, accionar as medidas correctivas que se revelem necessárias, em
face da detecção de eventuais desvios (Santos, 2008).

1.2 ESTOQUES
Segundo Moura (2004), estoque é considerado um conjunto de bens armazenados, com
características próprias e com funções específicas, que atendem aos objectivos e
necessidades que a empresa necessita. Todo item armazenado em um depósito, galpão,
almoxarifado, prateleira, gaveta ou armário para ser utilizado pela empresa em qualquer
de suas actividades, é considerado um item do estoque da organização.

Para Ballou (2001, p. 249), “os estoques são pilhas de matérias-primas, insumos,
componentes, produtos em processo e produtos acabados que parecem em numerosos
pontos por todos os canais logísticos de produção da empresa.”. Para o autor as razões

7
para manter estoques estão relacionados com melhorar o serviço ao cliente e a redução
de custos, onde manter estoques promove economias de compra.

As empresas se preocupam em aperfeiçoar seus recursos devido à concorrência e a


competitividade no mercado actual. O estoque é um dos factores preocupantes na
empresa, pois seu excedente ou falta afectam directamente as receitas. Conforme dito
pelo autor, estoque é definido por tudo aquilo que precisa ser armazenado ou estocado
em determinados locais de uma organização, pois assim complementa a rotatividade da
organização, tornando-a rápida e eficaz.

Segundo Dias (2010), o principal objectivo do estoque é a optimização do seu


investimento. O valor varia conforme o armazenamento, onde os produtos com giro
menor apresentam um custo maior, sendo que as empresas que possuem grandes estoques
que comprometem seus recursos de giro. A empresa precisa estabelecer certos padrões
que sirvam de guias aos controladores, para que eles tenham parâmetros de compra e
venda.

Conhecer o estoque de uma empresa é um grande desafio, porém, a dificuldade não está
em reduzir a quantidade de produtos estocados, nem diminuir os custos. A dificuldade
está em obter a quantidade correcta de mercadoria estocada para atender as prioridades
gerenciais de modo eficaz.

1.2.1 Funções
Segundo Dias (2006) a meta de qualquer empresa é, sem dúvida, é maximizar o lucro
sobre o capital investido na fábrica, equipamentos e estoque. Para obter um lucro máximo
a empresa deve evitar que esse capital investido fique inactivo. O estoque tem a função
de ser o combustível para que a empresa expanda e tenha uma produção capaz de atender
todos seus clientes e compromissos.

De acordo com Ballou (2006), estoques funcionam como agentes amortecedores entre o
suprimento e as necessidades de produção de qualquer empresa. Beneficiam os sistemas
produtivos por vários motivos como: melhoram o nível de serviço; incentivam economias
na produção; possibilitam economias de escala nas compras e no transporte; funcionam
como protecção no aumento dos preços e protegem a empresa de incertezas na demanda
e no tempo de ressuprimento. No entanto é de suma importância que estes amortecedores,
quando utilizados sejam determinados critérios para que não se eleve demais o custo total
do estoque.

8
Complementando Martins (2009), cita as principais funções de estoque como:

 Garantir o abastecimento de materiais à empresa, neutralizando os efeitos de


demora ou atraso no fornecimento de materiais, sazonalidades no suprimento,
riscos de dificuldade no fornecimento;
 Proporcionar economias de escalas: através da compra ou produção em lotes
económicos, pela flexibilidade do processo produtivo, pela rapidez e eficiência no
atendimento às necessidades.

Em suma, os estoques têm a função de garantir o abastecimento de materiais através da


demora ou atraso no fornecimento, na sazonalidade no suprimento e na dificuldade de
fornecimento, além de proporcionar economias de escala através da compra, pela
flexibilidade do processo produtivo e pela rapidez e eficiência no atendimento às
necessidades, entre outros.

1.2.2 Tipos de Estoques


O estoque é um item indispensável para a composição de uma empresa. O modo como
ele e armazenado e controlado pode aumentar a lucratividade da entidade ou causar
transtornos para a mesma. Para isso, é indispensável que o gestor participe fielmente da
empresa.

Para Dias (2015) os tipos de estoques são:

 Matérias-primas: são materiais necessários para a produção, pode-se dizer que a


matéria prima é todo o material que é agregado ao produto final, seu consumo é
proporcional ao volume de produção. Toda empresa de algum modo tem um
estoque de matéria prima;
  Materiais em processo: são os materiais usados no processo de fabricação dos
produtos, geralmente esses materiais estão parcialmente acabados, mas adquire
outra(s) característica(s) no fim do processo produtivo. Ter um estoque em grande
quantidade desses materiais acarreta maiores custos para a empresa. Para que isso
não ocorra deve-se acelerar a rotatividade do estoque;
 Produtos acabados: são os itens já produzidos, mas ainda não comercializados.
Nas empresas que já possuem encomendas desses produtos o estoque é baixo, mas
ao contrário, em alguns casos os produtos são fabricados antes de ocorrer sua

9
venda, isso acaba sendo determinado através das previsões de vendas, pelo
processo e pelo investimento feito
 Estoque de Segurança: é a quantidade de estoque adicional mantido além do
estoque normal para atender à demanda imprevista ou variações na demanda do
mercado.

É importante ressaltar que a natureza e a composição dos estoques podem variar de acordo
com o sector, o tipo de negócio e as estratégias de gerenciamento adoptadas pela empresa.
O objectivo principal de manter esses estoques é garantir a disponibilidade dos produtos
para atender à demanda e evitar interrupções no processo de produção.

1.3 GESTÃO DE ESTOQUES


Os estoques, devido sua posição estratégica em muitas organizações, necessitam de uma
série de actividades específicas para coordená-los de forma a atender as necessidades da
empresa; a esse conjunto de actividades pode-se chamar de gestão de estoques. Para
Viana (2009) a gestão de estoques é um conjunto de actividades que visam, por meio de
políticas de estoques apropriadas, o pleno atendimento das necessidades da empresa
através da máxima eficiência. Ao mesmo tempo, elas visam o menor custo possível,
realizando um maior giro do capital investido.

Por outro lado, Wanke (2006) complementa este conceito, pois para ele, esse
gerenciamento actua como elemento fundamental para a redução e o controlo dos custos
totais, bem como na melhoria crescente no nível de serviço prestado pela instituição. Já
para Bowersox e Closs (2010), a gestão de estoques é um processo integrado pelo qual
são obedecidas às políticas da empresa e da cadeia de valor com relação aos estoques.

Nesse sentido, a administração dos estoques tem um papel fundamental a cumprir, pois
ela é a responsável pela definição do planeamento e controlo dos níveis de estoques em
dados segmentos produtivos. Tubino (2002), por exemplo, ressalta a necessidade de
administrar estoques a fim de diferenciá-los quanto a suas importâncias relativas,
definindo tamanhos de lotes e dimensionar estoques de segurança. Segundo ele, é
fundamental equacionar os tamanhos dos lotes à forma de reposição e os estoques de
segurança do sistema, pois ele é de alto custo e aumenta de acordo com o custo financeiro.

Com tudo, a gestão de estoque é o processo que garante planeamento, execução e controlo
dos recursos armazenados dentro de uma empresa, ela é uma das actividades chave para
a gestão da empresa, pois está relacionada com a eficiência das empresas em gerirem seus

10
processos. “O objectivo da gestão de estoque é proporcionar um nível adequado de
estoque, que seja capaz de sustentar o nível de actividades da empresa ao menor custo”
(Matias, 2007, p. 103).

Tradicionalmente são três tipos de problemas que podem ser levantados quando se efectua
uma abordagem a gestão dos estoques

 A gestão dos materiais: são problemas associados com o acondicionamento dos


stocks, que vão desde o espaço físico adequado aos materiais que necessitam de
armazenagem, à sua protecção contra roubo, destruição e ainda à sua própria
movimentação dentro e fora do armazém.
 A gestão administrativa: são problemas relacionados com os documentos
necessários aos registos de saída e entrada de mercadorias, quer em valor quer
em quantidade
 A gestão económica: são problemas que dizem respeito à “necessidade” de
manter em armazém um nível de existências que assegure o funcionamento da
empresa, de modo não só a evitar rupturas por falta de matérias-primas ou
produtos em via de fabrico, mas também em satisfazer atempadamente o cliente.
Neste caso, surgem custos resultantes do facto de se manter “empatado” em
armazém um capital que poderá ter outra aplicação, são os chamados custos de
oportunidade.

1.3.1 Políticas de Estoque


As políticas de estoque podem ser entendidas como directrizes que guiam a administração
de estoques. Devem proporcionar como resultado dois factores: atendimento ao cliente e
economicidade para manter um equilíbrio entre elas, garantindo uma estocagem e
distribuição nos pontos estabelecidos pelo planeamento.

Para Viana (2000, p. 322):

Política de estoques é o conjunto de actos directivos que estabelecem, de forma global e


específica princípios, directrizes e normas relacionadas ao gerenciamento. Em qualquer
empresa, a preocupação da gestão de estoques está em manter o equilíbrio entre as
diversas variáveis componentes do sistema, tais como: custo de aquisição de estocagem
e de distribuição; nível de atendimento das necessidades dos usuários consumidores.

Utilizar a matriz de criticidade é uma boa maneira de definir uma política de gestão de
estoques consolidada, onde os riscos de perder mercado por falta de algum componente

11
são bem menores. Ela servirá de regra para definir parâmetros como: lotes de
encomendas, intervalos de ressuprimento e revisão dos itens, estoque de segurança, e lead
time dos fornecedores entre outros. Viana (2000), afirma que previsões exageradas por
excesso implicam na imobilização desnecessária de recursos financeiros, além de
congestionamento nas áreas de armazenamento e de sobrecargas de trabalho aos
colaboradores devido ao grande manuseio de estoques. Já as reposições reduzidas geram
compras repetidas e maior giro de estoques renovando diariamente os produtos da
empresa e mantendo maior qualidade dos itens. A formulação de políticas de estoques
requer o conhecimento do papel do estoque nas áreas de produção e marketing, deve-se
ter uma visão da magnitude dos activos neles investidos.

Definir as políticas de estoques é muito importante para o funcionamento de todas as


actividades que envolvem a administração dos estoques, por estarem ligados directamente
com a principal matéria que a empresa utiliza para formar seus produtos finais. A
administração principal da empresa é quem deve definir ao sector de controlo de estoques
a programação de objectivos a serem alcançados, ou estabelecer padrões que sirvam de
guia aos programadores e também de critérios para avaliar o desempenho da política de
estoques.

1.3.2 Avaliação da Gestão de Estoque


Os estoques são muito importantes para as empresas, mas deve-se analisar quais são os
custos gerados.

Segundo Ballou (2006), existem custos que são extremamente importantes para as
empresas, são eles: custo de aquisição, custos de manutenção, custo de capital, custo de
serviço, custo dos riscos, custo de falta de estoque.

a) O custo de aquisição é o que quase sempre determina a quantidade de material a


ser comprado para suprir as necessidades. Quando é feito a solicitação da compra
de qualquer material, est· incluso o preço desde a fabricação, até o produto final.
Quanto ao custo com transporte, ele só é incluído no custo de aquisição se não
possuir políticas de taxas de entrega. Caso a empresa que fabrique o seu próprio
produto para suprir seus estoques, esse custo passa a ser chamado de custo de
preparação do processo de produção.
b) Os custos de manutenção estão ligados ao custo de espaço, de capital, de serviços
e riscos de estocagem. Quanto ao custo de espaço, refere-se ao custo com o local

12
onde as mercadorias são armazenadas, custo com a iluminação, ventilação entre
outros. Caso o espaço seja alugado, esse custo passa a ser com o aluguel do
espaço.
c) O custo de capital está ligado com o dinheiro que a empresa retirou de seu caixa
para investir em estoque. É o primeiro passo para se ter um estoque, passando
assim em ter o seu dinheiro investido em produtos prontos.
d) O custo de serviço é aquele que diz respeito aos gastos com o deslocamento de
mercadorias e serviços, como o pagamento de seguros para o estoque, a fim de
prevenir acidentes, como por exemplo, roubos, incêndios ou acções climáticas,
como as chuvas.
e) O custo dos riscos de estocagem está· relacionado a todo o tipo de depreciação
ou perda que a mercadoria poder· sofrer. Por isso é importante que seja feito o
seguro contra esses incidentes.
f) O custo de falta de estoque acontece quando a mercadoria solicitada não chegou,
ou por uma falha da empresa de não ter feito o pedido na quantidade correcta. Isso
faz com que a empresa perca em relação as vendas que foram perdidas, ou por
falta de material em estoque ou também em relação as vendas atrasadas, que foram
adiadas para esperar que a mercadoria chegasse. Essa falha pode fazer com que a
empresa perca o cliente, pois o material não estando disponível, ele poderá ir ao
concorrente mais próximo e efectuar a compra.

Matias (2007) apresenta quatro custos que os estoques podem sofrer, são eles:

a) O custo de estocagem infere sobre o custo de armazenagem e manuseio, impostos


sobre as mercadorias, depreciação e seguro.
b) Os custos de encomenda referem-se ao custo que se tem com o pedido, isto é, o
manuseio da mercadoria e embarque e o custo de deslocamento dentro da
empresa.
c) O custo de insuficiência de estoque acontece quando ocorre a perda de vendas,
ou a insatisfação do cliente, ou até mesmo na quebra do processo de produção.
d) O custo da qualidade está ligado ao material que apresenta defeitos e falhas,
trocas realizadas pelos clientes e até mesmo a má impressão que o cliente leva da
empresa.

13
1.3.3 Dificuldades Enfrentadas
Para Slack et al (2002) possuir um estoque activo pode representar um risco a empresa,
pois, o estoque pode representar um elevado valor financeiro que está estático, enquanto
não for monetizado pelo processo de produção da empresa. Entretanto, a empresa pode
vir a possuir certa segurança por ter um estoque onde em ambientes de mercado
inconstante ou incerto, possuir um estoque pode representar um diferencial positivo para
a instituição.

Observando o autor, torna-se claro que uma problemática enfrentada pela gestão de
estoque é definir os níveis de estoque correcto. O administrador deve estar atento para as
variações na demanda dos produtos, e dessa forma, fazer o processamento de dados para
definir um volume de entrada e um de saída dos materiais, que seja perfeito para aquele
período.

Para Souza et al (2017), uma das características mais importantes do controlo de estoque
é identificar o momento correcto em que deve ser feita a aquisição de materiais, chegando
assim aos níveis correctos do estoque de cada material. Definir estes números é uma
dificuldade encontrada nas empresas, juntamente com manter os níveis correctos em
relação à entrada e saída de produtos. O autor também destaca o custo de obsolescência
que se impacta sobre os produtos que estão estocados há muito tempo nos depósitos das
empresas, este factor causa vencimento dos mesmos, complicações no controlo dos
materiais e uma previsão com falhas da demanda das mercadorias.

Segundo Borges (2011), uma grande dificuldade na gestão de estoque, para muitas
empresas, é a falta de equipamentos que auxiliam na organização dos materiais. Máquinas
que ajudem os funcionários no processo de organização, e muitas vezes as empresas
sofrem com falta de espaço para posicionamento de mercadorias.

Quando a empresa insiste em se manter na situação apresentada acima, ela sofre com
prejuízos em diversas áreas. Os problemas além de financeiros, podem incidir prejuízos
para os funcionários, que vão se desgastar diariamente durante a jornada de trabalho
tentando solucionar problemas, que na realidade, precisam de mais atenção dos directores
da empresa, que por sua vez, insistem em se manter inertes diante da falha.

Ballou (2006) destaca que existem falhas na cadeia de produção onde factores como
mudanças exigidas por clientes, novos produtos presentes no processo de produção que
vão para expedição e causam dificuldades nesse processo, problemas relacionados

14
directamente a produção, problemas com desenvolvimento de produtos e também
relacionados a qualidade dos mesmos causam atrasos e prejuízos para as empresas.

Para Oliveira et al (2016), a falta de conhecimento sobre as vantagens de se ter um estoque


bem organizado causa dificuldade durante o processo de organização, por consequência,
a falta de conhecimento sobre o assunto leva aplicações incorrectas dos modelos de gestão
dentro das empresas, o que pode vir a causar prejuízos financeiros. A aplicação incorrecta
de gestão, por falta de conhecimento, pode gerar sentimento de ineficiência,
desenvolvendo assim, uma ideia de que os conceitos não são aplicáveis em sua instituição.

1.3.4 Motivos que Geraram Necessidade de uma Gestão de Estoque


Segundo Lopez e Dandaro (2015) o processo de globalização exigiu a implantação, dentro
das empresas, de novas tecnologias, nesse caso as mais modernas possíveis e em meio a
essas tecnologias encontramos os novos processos organizacionais. Uma possível
consequência da gestão correcta de estoque é a maximização dos lucros, que será
decorrido do melhor funcionamento do processo de produção, e aumento da eficiência
nas actividades do sector (Borges et al., 2010).

Dentro do controlo de estoque é necessária uma organização no armazenamento de


produtos, onde o que sairá primeiro deve ficar de forma mais visível e ter o acesso
facilitado, para que o colaborador faça um manejo eficiente do produto, isso agrega valor
dentro de uma empresa. Hoje são usadas diversas formas e técnicas inovadoras
relacionadas ao controlo de estoque para que o controlo ocorra da melhor forma possível.

Segundo Gonçalves (2013) a empresa deve procurar um equilíbrio, entre a oferta que seus
produtos estão tendo no mercado e a velocidade de atendimento dos pedidos. Dessa
forma, deve-se buscar os melhores resultados através da redução de custos envolvidos na
gestão do estoque e no abastecimento de materiais.

O autor ainda alerta sobre a renovação do estoque, onde a aquisição de novos produtos
ou materiais pode demandar custos adicionais para a empresa, a capacidade de determinar
os investimentos de forma correcta para essas aquisições, sem que sejam adquiridos
materiais em quantidades excessivas causando redução do capital de giro da empresa, ou
mesmo adquirindo poucos recursos prejudicando o atendimento dos pedidos efectuados
daquele produto.

15
Segundo Figueiredo (2006), não é possível uma empresa sobreviver no mercado
competitivo se não mantiver a sua organização de materiais funcionando perfeitamente.
Os objectivos principais se relacionam directamente com o suprimento de materiais e
todos os recursos que demandam um investimento da empresa. O administrador deve
fiscalizar, controlar, zelar para que toda a rotina de injecção de materiais seja feita no
momento exacto, buscando assim a melhor produtividade.

Ballou (2006) ressalta que o risco de muitas mercadorias paradas no estoque significa
custos desnecessários, seja para qual for o meio de utilização destinada a mercadoria,
tanto para o manuseio, produção, ou venda, para que isso não ocorra se faz importante
que o administrador responsável, tenha um controlo de estoque de uma forma correcta,
para verificar se os mesmos estão sendo bem manuseados e controlados. Ainda segundo
o autor, ter um inventário baseado em contagem física dos seus itens, é uma forma de
obter uma confrontação com antigos registos disponíveis dentro da organização e isso
mostra um meio de verificar as diferenças físicas na contagem e no seu controlo. Com
esse procedimento é possível evitar e identificar possíveis falhas dentro do seu registo
contábil e dos controlos internos, identificando também alguma forma de desvio ou outras
irregularidades.

1.4 MODELOS DE GESTÃO DE ESTOQUE


Segundo Lopez e Dandaro (2015), alguns conhecimentos são necessários para o
gerenciamento correctos do estoque, principalmente o gerenciamento de recursos
materiais. Já segundo Ballou (2006), o gerenciamento do estoque segue as políticas da
empresa que são pré determinadas e devem normatizar a quantidade de produtos que
podem ser armazenados, os momentos em que serão necessárias novas aquisições de
materiais, como se dará a distribuição dos recursos, que poderá ser por meio de número
do lote de produto ou data do produto. As políticas da empresa devem determinar como
será feita a identificação e a classificação dos recursos. Para se controlar o estoque
existem vários modelos, são eles:

1.4.1 Lote Económico


É o tamanho do lote que minimiza os custos de pedido e armazenagem anuais totais
(Krajewski et al., 2009).

De acordo com Krajewski et al. (2009), as premissas para um modelo de lote económico
são:

16
a) Taxa de demanda do produto conhecida e constante;
b) Capacidade de suprimentos sem restrição em relação ao tamanho do lote;
c) Considera-se apenas o custo de armazenagem e o custo fixo por lote para pedido
d) Decisões do produto devem ser tomadas independentemente da decisão de outros;
e) O lead time é constante.

Ainda de acordo com Krajewski et al. (2009), como satisfazer as cinco premissas desse
modelo não é simples, mesmo quando elas não são totalmente aplicáveis o lote económico
serve como uma aproximação razoável do tamanho do lote necessário.

De acordo com Lustosa et al. (2001), o cálculo do lote económico tem como objectivo a
minimização do custo total de operação, podendo ser decomposto em três parcelas:

Custo total = Custo de aquisição + Custo de pedido + Custo de armazenagem.

Ainda segundo Lustosa et al. (2001), para a parcela de custo de aquisição, se o custo do
produto for constante, independentemente do tamanho do lote adquirido, essa parcela não
influenciará o tamanho do lote. Já as parcelas do custo do pedido e do custo de
armazenagem dependem do tamanho do lote a ser adquirido pela empresa e deve haver
um equilíbrio entre as mesmas, por quanto maior o tamanho do lote, menos pedidos serão
necessários, porem um maior espaço será consumido para a armazenagem do lote. A
demanda é determinante para que haja o equilíbrio entre esses custos. Logo o custo total
pode ser demonstrado pela equação a seguir

Custo total = Preço unitário x Demanda + Custo do pedido x (demanda/tamanho do


lote de compra) + custo de armazenagem x (demanda/2)

Logo o tamanho do Lote Económico pode ser definido como:

Lote Económico = √(2 x custo do pedido x demanda/ custo de armazenagem)

1.4.2 Reposição por Ponto de Pedido (contínua)


O modelo de reposição por ponto de pedido, segundo Tubino (2009), consiste em
estabelecer uma quantidade de itens em estoques, chamada de ponto de pedido ou
reposição, que, quando atingida, dá partida ao processo de reposição do item em uma
quantidade preestabelecida. Ao mesmo tempo, segundo Bowersox (2014), este método é
processo contínuo de controlo de estoques que analisa continuamente a situação dos
estoques. Segundo ele, sua finalidade é determinar a necessidade de reabastecimento de
determinada actividade, assim como optimizar essa reposição. Nesse sentido, a Figura 1
17
representa um modelo de controlo de estoque por ponto de pedido. Nela está indicado o
nível de estoque, apresentando uma separação nítida em duas partes: os materiais que
devem ser utilizados totalmente até a data da encomenda de um lote de reposição, assim
como os itens utilizados entre a data da encomenda e a data de recebimento do lote,
representando assim o chamado "ponto de pedido" (PP).

Figura 1: Reposição por ponto de pedido

Fonte: Tubino (200)

Vale ressaltar a importância da mensuração correra da quantidade de estoque mantida no


ponto de pedido, pois esta deve ser suficiente para atender à demanda pelo item durante
seu tempo de ressuprimento. Paralelamente, é fundamental o estabelecimento de um nível
de estoque de segurança ou reserva a fim de absorver variações na demanda durante o
tempo de ressuprimento, bem como possíveis não conformidade no próprio tempo de
entrega. Segundo Tubino (2000) a determinação do ponto de pedido se dá pela Equação
1:

PP=d*t+Qs

Onde: PP = Ponto de Pedido; d = demanda por unidade de tempo; t = tempo de


ressuprimento; Qs = estoque de segurança.

Ao mesmo tempo, o tempo de ressuprimento (t) deve ser considerado como o espaço de
tempo decorrido desde o momento da constatação da necessidade de repor o item, até a
efectiva entrada do mesmo em estoque. Desse modo, quanto mais demorado for este
tempo, maior o nível de ponto de pedido, bem como maiores serão os estoques médios
mantidos pelo sistema. Por esse motivo, com a finalidade de se manter um certo controlo
sobre o desempenho do modelo de controlo de estoque por ponto de pedido, pode-se
estabelecer duas faixas limites (limite superior (Qmax) e o limite inferior (Qmin)), que

18
quando ultrapassadas significam alterações no sistema, tanto na demanda quanto no
tempo de ressuprimento. Assim, o limite superior é formado pela soma do estoque de
segurança (Qs) com o lote de reposição (Q), já o limite inferior é o próprio estoque de
segurança, ou seja, (Qs).

Outro método fundamental, segundo o mesmo autor, é o cálculo do estoque máximo,


exposto na Equação 2, a seguir:

̅ + 𝑍 × 𝜕̅
𝑬𝒎á𝒙 = 𝑀

̅ = média de consumo anual; Z = factor constante e


Onde: 𝐸𝑚á𝑥 = Estoque Máximo; 𝑀
𝜕̅= desvio padrão de consumo anual. O factor Z depende do nível de serviço desejado
para o item em questão

1.4.2 Reposição por Previsão Periódica


Segundo Tubino (2000), o modelo de revisões periódicas trabalha no eixo dos tempos,
estabelecendo datas nas quais serão analisadas a demanda e as demais condições dos
estoques, para decidir qual momento realizar a reposição dos itens armazenados.
Conforme exposto na Figura 2, diferente do método de ponto de pedido (PP), este método
sugere a colocação de pedidos em intervalos de tempo regulares e fixos, a fim de suprir
as necessidades de demanda de um dado período superior (Dias, 2010).

Nesse sentido, segundo Tubino (2000) e Slack et al. (2002), o tempo entre cada revisão,
pode ser determinado por meio do intervalo ideal de ressuprimento baseando-se: na data
em que são realizados o inventário, bem como no intervalo mais económico para o
ressuprimento. Tal método, segundo os autores, objectiva a consolidação das cargas,
baseando-se nas datas de entregas dos vários itens por um mesmo fornecedor garantindo,
assim, descontos no preço ou no transporte dos itens

19
Figura 2- Reposição por previsão periódica

Fonte: Tubino (2000)

Ao mesmo tempo, de acordo com Arnold (2000), o sistema de revisão periódica é útil nas
seguintes situações:

 Quando há muitas liberações pequenas de estoque e actualização nas transacções


do registo de estoque torna-se muito cara;
 Quando os custos com pedidos são pequenos. Isso ocorre quando muitos itens
diferentes são pedidos de uma única fonte;
 Quando muitos itens são pedidos em conjunto para perfazer uma operação de
produção ou encher a carga de um caminhão.

Todavia, segundo Dias (2006), a dificuldade desse método é a determinação do melhor


período entre revisões, dada suas próprias particularidades. Nesse sistema são
programadas as datas em que deverão ser realizadas as reposições de material, sendo os
intervalos de reposições iguais. A análise deverá ser feita considerando o estoque físico
existente, o consumo no período, o tempo de reposição e o saldo de pedido no fornecedor
do item. Desse modo, erros durante esse planejamento podem prejudicar a eficiência do
ressuprimento.

1.5 FERRAMENTAS DE SUPORTE À GESTÃO DE ESTOQUES


A eficiente gestão de estoque é a espinha dorsal de qualquer operação comercial. Nesse
universo dinâmico, as ferramentas de suporte desempenham um papel crucial, capaciando
as empresas a navegar pelos desafios logísticos com precisão e agilidade. Vamos explorar
algumas ferramentas essenciais que impulsionam a eficiência e a lucratividade no
controlo de estoque.

20
1.5.1 Curva ABC
Para Martins (2006), a curva ABC é uma das formas mais usuais de se examinar estoques.
Geralmente as verificações dos estoques ocorrem num espaço de tempo, seis meses a um
ano do consumo, em valor monetário ou quantidade, para serem classificados em ordem
decrescente de importância. Na área administrativa, a curva ABC tornou-se utilidades
amplas nos mais diversos sectores em que se necessita tomar decisões envolvendo grande
volume de dados e a acção torna-se urgente. “A curva ABC é um método de classificação
de informações, para que se separem os itens de maior importância ou impacto, os quais
são normalmente em menor número”. (Carvalho, 2002, p. 226). Esta ferramenta gerencial
classifica estatisticamente os materiais, através do princípio de Pareto, a fim de justificar
os itens quando a sua relativa importância.

Ela é representada pelas letras A, B, C, que se classificam da seguinte forma:


 Classe A: principais itens em estoque e de alta prioridade, 20% dos itens
correspondem a 80% do valor;
 Classe B: itens que ainda são considerados economicamente preciosos, 30% dos
itens correspondem a 15% do valor;
 Classe C: 50% dos itens que correspondem a 5% do valor.

Desta forma, a classificação pode ser relacionada ao valor do item, ou seja, produtos
onerosos estocados excessivamente tornam-se caros para a empresa. Uma forma comum
de discriminar diferentes itens de estoque é lista-los de acordo com suas movimentações
de valor. Os itens com movimentação de valor particularmente alta demandam controlo
cuidadoso, enquanto aqueles com baixas movimentações de valor não precisam ser
controlados tão rigorosamente. Geralmente, uma pequena proporção dos itens totais
contidos em estoque vai representar uma grande proporção do valor total do estoque.

Figura 3- Curva ABC

Fonte: Ballou (2007)

21
1.5.2 Just In Time (JIT)
Segundo Moura (2004), o JIT é uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a
produtividade e eliminar as perdas. Ele possibilita a produção eficaz em termos de custo,
assim como o fornecimento adequado de componentes na qualidade correcta, no
momento e locais apropriados, utilizando o mínimo de instalações, equipamentos,
materiais e recursos humanos. Para o alcance desses resultados preciso um envolvimento
total dos funcionários e trabalho em equipe.

Para Martins (2009), pode-se dizer que a técnica foi desenvolvida para combater o
desperdício. Toda actividade que consome recurso e não agrega valor ao produto é
considerada desperdício. Ainda segundo Martins (2009) o JIT hoje, é mais que uma
filosofia gerencial, procura não somente os desperdícios, mas também colocar o
componente certo, no lugar e na hora certa, as partes são produzidas a tempo de atenderem
as necessidades de produção, ao invés da abordagem tradicional de só produzir nos casos
que sejam necessárias. O JIT leva estoques a custos menores, mais baixos e melhor
qualidade do que os sistemas convencionais.

A implantação correcta do sistema JIT leva a empresa a obter maiores lucros e melhor
retorno de capital investido, decorrente de redução de custos, redução de estoques e
melhoria na qualidade. (Martins, 2011).

A filosofia JIT transmite a ideia de que perda é tudo aquilo que não acrescenta valor ao
produto, portanto deve ser eliminada. Por esta definição temos:

 filas de materiais são perdas, pois ocupam espaço, aumenta o tempo de ciclo de
manufactura e o produto pode ser danificado;
 estoque é perda. Requer estocagem, registos e movimentação de material extra,
“amarra” o capital e alguns materiais tendem torna-se obsoletos;
 a movimentação de material, as longas preparações de máquina e a produção de
peças com defeitos são perdas.

Conforme Slack et al. (2011), a filosofia JIT apresenta uma visão geral da produção, a
qual pode ser utilizada pelos gestores para guiar suas acções na execução de diferentes
actividades nos diversos contextos. Esta visão desenvolve-se através da aplicação de
ferramentas e técnicas. Entre elas, podemos citar o Kaban, cuja técnica auxilia no
gerenciamento dos estoques e no controlo da transferência de material de um estágio a
outra da operação.

22
1.5.3 Sistema Kaban
O Kaban é um método de autorização da produção e movimentação do material no
sistema JIT. (Martins, 2011).

Para Slack at al. (2011) o Kaban é um método de operacionalizar o sistema de


planejamento e controlo puxado. Kaban é a palavra japonesa para cartão ou sinal. Ele
também é chamado de “correria invisível”, que controla a mudança de material de um
estágio para outro. Moura (2004) define Kaban da seguinte forma:

É um método que reduz o tempo de espera, diminuindo o estoque, melhorando a


produtividade e interligando todas as operações em um fluxo uniforme
ininterrupto. Objectiva-se em converter a matéria-prima em produtos acabados,
com tempos de espera iguais aos tempos de processamento, eliminando todo o
tempo em fila do material e todo o estoque ocioso. (Moura, 2004.p.27).

Este sistema assegura que a linha de produção fabricara apenas os componentes que
devem ser usados pela próxima etapa da produção, assim, o fluxo terá continuidade
quando o processo seguinte usar todo o seu suprimento de peças disponíveis. Isto se deve
justamente porque a programação da produção é baseada no pedido sob encomenda e não
na produção para estoque. As unidades são fabricadas apenas para satisfazer as
necessidades.

Conforme o autor, o Kaban tem as seguintes funções:

 Acciona o processo de fabricação, apenas quando necessário;


 Não permite a produção para estoque com previsões futuras;
 Paralisa a linha quando surgem problemas não solucionados
 Permite o controlo visual do andamento do processo;
 É accionado pelo próprio operador;
 Uma ferramenta para garantir a distribuição programada das ordens de serviço;
 Uma ferramenta para evitar o excesso ou a falta de produção/entrega de produtos;
 Uma ferramenta para controlar o inventário;
 Produção de peças com base em lotes pequenos;
 Entrega de peças de acordo com o consumo.

Segundo Slack et al. (2011), o Kaban pode ser classificado da seguinte maneira:

23
 O Kaban de transporte. É usado para avisar o estágio anterior que o material
pode ser retirado do estoque e transferido para uma destinação específica.
 O Kaban de produção. É um sinal para um processo produtivo de que ele pode
começar a produzir um item para que seja colocado em estoque.
 O Kaban do fornecedor. É usado para avisar o fornecedor que é necessário
enviar materiais ou componentes para um estágio da produção.

1.5.4 Previsão da Demanda


A pesar de ser importante estimar o futuro para melhor dimensionar os recursos no
presente, Segundo Slack et.al. (2009), não se sabe com precisão a quantidade de pedidos
que determinada empresa irá receber, muito menos a quantidade de seus futuros
consumidores. Entretanto, realizar previsões (estimar) é necessário para ajudar aos
gerentes na tomada de decisões sobre como reunir recursos para a organização no futuro.
Sem tais previsões, as empresas não possuem as informações essenciais capazes de
auxiliá-las na realização de um planejamento adequado, com a finalidade de precavê-las
para eventos futuros inesperados. Desse modo, as previsões de demanda possuem um
papel fundamental no planejamento da produção das organizações, sendo parte
indispensável do processo de tomada de decisões

Portanto, a previsão de demanda é a base para o planejamento estratégico da produção,


vendas e finanças de qualquer empresa. Partindo desse ponto, segundo Tubino (2000), as
empresas podem desenvolver os planos de capacidade, de fluxo de caixa, de vendas, de
produção e estoques, de mão-de-obra, de compras etc. De forma a lidar com tantas
variações, muitas técnicas para a previsão de demanda foram desenvolvidas, bem como
estão disponíveis para que as organizações identifiquem o modelo mais viável para cada
situação, podendo ser divididos três métodos: o qualitativo, o quantitativo e uma
combinação destes dois (Pellegrini & Fogliatto, 2000)

O uso de métodos qualitativos, geralmente baseados em opiniões, experiências passadas,


assim como adivinhações, detém aplicação recorrente no meio empresarial. Todavia,
apesar dessa aplicação ser válida para algumas situações há na literatura inúmeras
técnicas quantitativas para melhor auxiliar aos tomadores de decisão em seus trabalhos.
Nesse sentido, as técnicas de previsão quantitativa podem ser utilizadas para modelar
dados, avaliar tendências e relacionamentos causais, bem como fazer previsões de
demanda. Desse modo, embora nenhuma abordagem ou técnica resulte em previsão

24
exacta, uma combinação de abordagens qualitativas e quantitativas pode ser usada com
grande efeito para integrar julgamentos especialistas e modelos preditivos.

Ao mesmo tempo, apesar de existir uma diversidade de métodos e técnicas para previsão,
deve-se ressaltar que um dos elementos determinantes é o próprio comportamento da
demanda. Segundo Ballou (2001), quando a demanda se apresenta muito estável, ou seja,
com desvio padrão pequeno, é razoável utilizar como previsão a média de consumo do
período anterior, sobretudo quando essa estimativa for utilizada nos modelos de controlo
de estoques. Segundos esses autores, esse procedimento simplifica a tarefa de realizar
previsões sem grande impacto nos resultados dos modelos de estoque. No caso do
controlo de estoque com revisão periódica, é necessário conhecer a média e o desvio
padrão da demanda no período, tarefa relativamente simples quando a demanda é
considerada constante e conhecemos os dados históricos.

1.6 MÉTODO DE VALORIZAÇÃO DO ESTOQUE


Segundo Bertaglia (2006), existem três métodos para a valorização do estoque, são eles:
o método do primeiro que entra, primeiro que sai, o método do último que entra, primeiro
que sai e o método do custo médio ponderado.

a) O método do primeiro que entra, primeiro que sai (FIFO), é um método onde
a empresa utiliza primeiramente o estoque mais antigo, isto é, a mercadoria que
chega primeiro na empresa é vendida primeiramente e a última que entra fica no
estoque e assim sucessivamente. O preço do produto mais antigo é utilizado, até
que acabem todas as unidades deste lote. Esse tipo de estoque é utilizado
principalmente para os produtos que possuem prazos de validade.
b) O método do último que entra, primeiro que sai (LIFO), é um método onde a
empresa utiliza primeiramente o material que chega por último (o mais novo), isto
é, o produto que acaba de chegar na empresa é utilizado, deixando o produto mais
antigo em estoque. O preço utilizado neste método é o do produto mais recente.
c) O método do custo médio ponderado, ocorre a junção de todas as mercadorias,
da mais recente que acabou de chegar, até a antiga que j· estava em estoque na
empresa. O preço para essas mercadorias é realizado pelo custo médio, soma-se o
preço da primeira mercadoria com a última que chegou, fazendo- se assim uma
média para determinar o preço.

25
1.7 PRINCIPAIS TECNOLOGIAS APLICADAS NA GESTÃO DE ESTOQUE
No cenário empresarial actual, onde a agilidade, precisão e eficiência são cruciais, a
gestão de estoque evoluiu além dos métodos tradicionais para abraçar uma série de
tecnologias inovadoras. Essas ferramentas não apenas simplificam processos, mas
também transformam fundamentalmente a maneira como as organizações percebem,
monitoram e optimizam seus estoques.

1.7.1 Sistema de Gerenciamento de Armazéns (WMS)


O Sistema de Gerenciamento de Armazéns, chamado de WMS (Warehouse Management
System), é uma tecnologia utilizada em armazéns onde ele integra e processa as
informações de localização de material, controlo e utilização da capacidade produtiva de
mão de obra, além de emitir relatórios para os mais diversos tipos de acompanhamento e
gerenciamento. O sistema prioriza uma determinada tarefa em função da disponibilidade
de um funcionário informando a sua localização no armazém.

Com este recurso ocorre um aumento na produtividade quando diferentes tipos de tarefas
são intercalados. Segundo (Banzato 2005) um WMS além de desenvolver as funções
apresentadas acima, têm capacidades gerenciais, que devem ser cuidadosamente
analisadas, como redução de custos e melhoria no nível de serviço.

A redução de custos se deve ao facto da melhoria da eficiência de todos os recursos


operacionais, tais como: equipamentos, mão de obra, entre outros, já a melhoria do nível
de serviço se deve ao facto de minimizarmos os erros e falhas na separação e entrega,
bem como da agilização de todo processo de atendimento ao cliente, combinando a
melhoria do fluxo de materiais coma melhoria do fluxo de informações. No mercado
existem vários sistemas de WMS é importante que se faça uma abrangente análise das
reais necessidades em operacionalidades e funcionalidades em funções das restrições
impostas por cada pacote de sistema.

1.7.2 Código de Barras


Toda e qualquer armazenagem, a gestão da informação tem que ser monitorada
principalmente, as movimentações realizadas nos recebimentos de mercadoria,
estocagem, transferência, separação, embalagem, expedição, dentre outras ocorrências e
devem estar registadas para um maior acompanhamento, e uma tecnologia muito utilizada
é o código de barras, que por sua vez é de fácil manuseio.

26
De acordo com Barros (2005), o código de barras pode conter inúmeras informações,
desde a descrição do produto, lote, datas de fabricação e validade às informações
referentes ao endereçamento (rua, corredor, andar, apartamento de armazenagem). Todos
esses dados podem ser impressos no código de barras e anexadas a cada item ou ao
endereço de armazenagem, eliminando papéis, ainda há etiquetas feitas manualmente.
Sendo assim, há um ganho de produtividade com o uso do código de barras, pois as
mesmas são registadas no sistema da empresa e impressas automaticamente quando
necessários. Por trazer esses benefícios é que, segundo Martins (2006, p. 358), o código
de barras “é o método mais usado para colectar dados para rastreamento, das fábricas aos
supermercados, no entanto, a tecnologia continua a requerer a intervenção humana”, o
que dá margem a falhas.

1.7.3 Identificação por Radiofrequência (RFID)


Barros (2005) menciona que o código de barras não é a única alternativa da tecnologia de
informação disponível para o registo das operações de um almoxarifado. Segundo Twist
(2004), a automação dos armazéns está mudando com a entrada de uma nova tecnologia
baseada em etiquetas eletrônicas inteligentes, chamadas tags, que emitem sinais de rádio
frequência com as informações do produto, esta tecnologia denomina-se Radio Frequency
Identification (RFID).

Basicamente, o RFID possibilita a detecção e a identificação de um produto etiquetado


por meio de uma antena, um transmissor (com codificador) e um transponder (chamado
RF tag ou etiqueta eletrônica, programado com a informação necessária) localizados no
almoxarifado ou em diversos pontos da cadeia de suprimentos (inclusive em veículos).

Dessa forma, existe a possibilidade real de acompanhamento online do posicionamento


dos produtos na rede logística (BHUPTANI; MORADPOUR, 2005).

É interessante frisar que existe aplicações possíveis para essa tecnologia, podendo ser
aplicada no monitoramento da movimentação da materiais (tag), pessoas (tornozeleiras
electrónicas), equipamento e veículos (autotracke sem parar), gerando informações
precisas, isso faz com que o controlo sobre a operação seja eficiente.

1.7.4 Sistema de Planeamento de Recursos Empresariais (ERP)


ERP (Enterprise Resources Planning), também conhecido como Sistemas Integrados de
Gestão, é um sistema de informações que tem como objectivo redesenhar e integrar todos
os processos da empresa, possibilitando o planejamento e o controlo dos recursos e

27
actividades relacionadas à compra, produção, envio e contabilização de pedidos,
conforme Mehejerdi (2010) e Aloini et al. (2007).

Dredden (2007) explica que o ERP é um sistema que integra processos de uma empresa
utilizando um único banco de dados, o que permite que as informações sejam utilizadas
por diversas áreas do negócio. Essa integração possibilita redução de custos, pois auxilia
a minimizar redundâncias e erros, uma vez que há uma comunicação mais eficiente e uma
melhor visibilidade na empresa. Logo, isso também reflecte na redução de volume de
retrabalho, na melhoria da tomada de decisão e no serviço ao consumidor, pois garante
que todos os níveis do planejamento sejam baseados nos mesmos dados.

Mehrjerdi (2010) considera que a redução de tempo e custo das actividades


complementares do negócio, que resultam na melhoria das margens de rentabilidade,
sejam os factores que fizeram com que o ERP tenha se tornado popular.

Ehiea e Madsen (2005) acreditam que a implementação do ERP deve ser vista como um
sistema que irá beneficiar a empresa em termos de eficiência e eficácia e não apenas como
uma solução de TI. Aloini et al (2007) ainda complementam, que a implementação do
sistema é também um investimento de elevados riscos e custos, que são ocultados por
benefícios intangíveis.

28
CAPÍTULO 2: ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO E RESULTADO

29
30
31
32
33
34

Você também pode gostar