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10 Características que os cristãos verdadeiros devem ter

Os discípulos de Yeshua foram chamados “cristãos” pela primeira vez na cidade


de Antioquia da Síria, conforme lemos em Atos 11:26, quase uma década depois dos
eventos de Atos 2. Essa nomenclatura é proveniente do termo grego “christos” (cristo), um
adjetivo que significa “ungido”; não é um sobrenome, como às vezes se
imagina. Christos corresponde ao hebraico “mashiah”, de onde vem a palavra “messias”,
significando “ungido”, da mesma forma que “cristo”. Portanto, o termo
“christianos”, alcunhado aos discípulos ali naquela ocasião e traduzido por “cristãos”,
possivelmente é uma junção do grego com o latim, e tem a ver com “discípulos ungidos”.
Neste estudo bíblico veremos as características daqueles discípulos que foram chamados
assim e extrair disso lições para nossa vida atual, dessa forma saberemos como realmente
eram os cristãos verdadeiros.

A origem do termo “cristãos”.

No hebraico, o termo que corresponde a “christianos” seria “mashihim” (‫)ְמִׁש יִחִּיים‬, mas
como o grego era a língua predominante ali dentre os cidadãos de Antioquia – vide v. 20 –
então eram chamados “christianos” mesmo, nome que posteriormente foi assumido
pelos pais da igreja para definir seu novo estilo de vida religioso.

Vale ressaltar, primeiramente, que os discípulos foram chamados christianos (cristãos), ou


seja, foram outros que deram tal nomenclatura para eles, e não eles mesmos. A conclusão a
que estudiosos do texto bíblico tem chegado atualmente é que este apelido foi dado a eles de
modo depreciativo. O comentário do William Barclay, por exemplo, diz:
… Esta palavra começou sendo um mote. O povo desta cidade era famoso pela facilidade
com que encontravam motes risonhos. Mais tarde o barbado imperador Juliano visitou a
cidade e o batizaram “O Bode”. A terminação — iani significa pertencente ao partido de…
Por exemplo, caesarean significa pertencente ao partido de César. Cristãos significa: Esses
amigos de Cristo. Era um mote meio zombador, risonho e depreciativo…

A Bíblia King James Fiel de Estudo Holman também comenta:


O termo “cristãos” veio, provavelmente, de romanos que rotularam os seguidores de Jesus
em Antioquia de “pequenos cristos“. embora seja provável que pretendia ser uma ofensa, o
rótulo é realmente uma honra, pois indica que os discípulos estão se assemelhando a Cristo
em seu viver.
Seja como for, aqueles discípulos estavam se parecendo com o Ungido, ou seja, com o
homem que seus seguidores judeus alegaram ser o Messias prometido à nação de Israel.
Estes discípulos de Antioquia também eram bem ensinados na palavra divina, seus líderes
principais eram Saul, chamado Paulo, e Barnabé, sábios homens e mestres israelitas. Saul
era da tribo de Benjamim, e Barnabé era um levita (Rm 11:1; At 4:36).
A comunidade de Antioquia da Síria nasceu com os eventos relatados em Atos 11:19-21,
depois da perseguição que se desencadeou com a morte de Estêvão.
Nessa época, já fazia pelo menos 8 anos que a primeira comunidade de discípulos havia se
formado depois da ressurreição do Senhor, em Atos 2:41-47.

O texto não menciona o nome das pessoas que pregaram a palavra de Deus aos de fala grega
mencionados em Atos 11:20. Além disso, não se sabe ao certo se eles eram descendentes
israelitas, isto é, judeus que haviam abraçado a cultura e língua grega, tendo perdido sua
identidade e maneira de viver bíblica, ou se eram de fato estrangeiros. De toda forma, sendo
um grupo ou outro, o fato é que eles confiaram na mensagem do Messias anunciada através
daqueles homens, e agora estavam orientando suas vidas de acordo com este ensino, isto é, a
interpretação das Escrituras que Yeshua transmitiu a seus discípulos.

(Veja com detalhes o significado da palavra Messias no Projeto Bíblico Ezra).


Diante do crescente número de pessoas abraçando a fidelidade ao Mestre em Antioquia, tal
notícia chega aos ouvidos da liderança principal dos discípulos, que estava em Jerusalém.

Eles então enviaram Barnabé, um levita, para checar a situação. Ao chegar ali, ele fica
maravilhado ao perceber que Deus realmente estava com aquela gente (vs. 22-24). Mas
possivelmente Barnabé fica um pouco desorientado ao ver a quantidade de homens
estrangeiros abraçando a fé no Messias de Israel, então ele decide chamar um homem mais
experiente para lhe ajudar a orientar essas pessoas. Ele vai em busca de Saul, chamado Paulo
para os romanos, um homem erudito judeu de cidadania romana; e ambos permanecem um
bom tempo ali ensinando a palavra do Eterno e educando aquelas pessoas nas Escrituras.

E aqui, finalmente, chegamos.ao ponto central do nosso estudo, onde os discípulos foram
chamados pela primeira vez de “christianos”, isto é, “cristãos” ou “ungidos”. Agora nós
vamos explorar informações dessa comunidade de Antioquia da Síria, que também é
mencionada em Atos 15, e buscar quais características a identificou com o Ungido, o Mestre
de Israel, Yeshua o nazareno.

(Veja também o estudo “Como foi que Yeshua virou Jesus”).


1) Os cristãos verdadeiros dão ouvidos à palavra de Deus.
Nós começamos a listar as características dos cristãos verdadeiros com essa abordagem
porque não há discípulo sem que antes se dê ouvidos à mensagem de um mestre. Neste
caso, o texto de Atos 11:19-21 relata um grande número de pessoas dando ouvidos à
mensagem de salvação de Deus através de seu servo, o Ungido. O próprio doutrinador dessa
comunidade dizia que a confiança/fé vem através de dar ouvidos à palavra de Deus (Rm
10:17).

Ora, e se eles deram ouvido, é porque deram crédito a essa mensagem, isto é, a receberam
como sendo a verdade de Deus. Além disso, eles decidiram se tornar seguidores do
Messias e obedecer-lhe. Dessa forma, todo aquele que é cristão verdadeiro dá ouvidos à
mensagem do Salvador, e fazem isso com a intenção de se tornarem discípulos dele.
2) Os verdadeiros crentes se voltam para Deus.

Dentre os chamados “gregos” mencionados no texto de Atos 11:20, possivelmente haviam


descendentes de israelitas que já haviam perdido sua identidade bíblica dada a eles por Deus
na Torá. Também havia estrangeiros, isto é, não israelitas, que naturalmente não seguiam ao
Deus de Israel. E como lemos no v. 19 deste mesmo texto, a mensagem de Yeshua foi
anunciada ali primeiramente aos judeus, ou seja, os discípulos diretos do Senhor estavam
fazendo o que lhes foi ordenado desde Mt 10:5-6, que era restaurar os descendentes perdidos
da casa de Israel e testemunhar aos judeus que o Messias havia se revelado. Isso nos indica
que eles estavam falando em hebraico ou aramaico com essa gente.

No entanto, alguém talvez tenha visto potencial entre os de fala grega, fossem eles
estrangeiros ou descendentes de israelitas, ou mesmo ambos. Então esses anunciadores das
boas novas decidiram pregar a mensagem do Salvador a eles também, e quando estes
ouviram, acreditaram em Yeshua, e com isso começaram a obedecer a Deus.

Dessa forma, os que são verdadeiramente “cristãos”, isto é, os que realmente creem no
Senhor Yeshua, voltam-se para Deus e voluntariamente se dispõem para obedecer a
palavra Dele! Ora, se alguém não está se submetendo ao Eterno ao ouvir sua palavra, não
tem motivo para ser chamado de discípulo do Messias! (Veja João 15:10).

3) Os verdadeiros crentes se motivam uns aos outros.


Nós podemos ver este exemplo em Barnabé. O v. 23 de Atos 11 relata que ele motivava os
irmãos a permanecerem firmes na caminhada com Deus.

Orientações como essa também foram dadas aos discípulos em outro momento, na carta aos
Hebreus capítulo 12:15, onde o autor se inspira em Deuteronômio 29:18 para instigar os
irmãos a serem perseverantes em seguir a ADONAI (cf. 10:23-25).

Logo, se os “cristãos” verdadeiros se motivam uns aos outros, não deve haver em nosso
convívio sentimentos de intriga, inveja, vingança, etc.
4) Os cristãos verdadeiros se dedicam à oração!
Eu devo aproveitar este tópico anterior para mencionar aqui uma característica
fundamental dos verdadeiros cristãos, que sem dúvida era praticada pelos discípulos de
Antioquia, isto é, a perseverança na oração!

Barnabé viu a graça de Deus entre aqueles irmãos e os anima a serem cada vez mais firmes
no Senhor. Então, para ele ter visto a graça de Deus com aquelas pessoas, eles certamente se
uniam a Ele, e isso envolve a perseverança em buscar ao Eterno com oração!

Além disso, os ensinamentos do Messias envolviam também tal perseverança, como lemos
por exemplo numa parábola contada por ele em Lucas 18:1-8.

Logo, o conselho aqui é dedicarmos momentos de nosso dia para buscar a Deus em oração.
Quem persevera em oração, é porque está se submetendo a Deus constantemente!
(Leia também: Por que oração e estudo bíblico devem ser praticados juntos?)

5) Os verdadeiros cristãos são pessoas de bem!


Essa característica é atribuída a Barnabé em Atos 11:24. Ali, no texto grego dos relatos dos
discípulos, é usada a palavra αγαθος (agathos), que no texto hebraico corresponde “tov”.
Essa palavra é a mesma usada em Gênesis 1 várias vezes enquanto Deus concluía as obras
de sua criação. Ele via que tudo que tinha feito, e era bom (cf. vs. 10,12,21,25,31).

Podemos encontrar algumas definições da palavra “tov” no Dicionário Strong (H2895),


dentre elas listamos:

1. Agradável (uma pessoa boa de se lidar);


2. Amável (pessoa agradável de se conviver);
3. Excelente (pessoa que tem boas qualidades como honestidade,
integridade, respeito, justiça, etc.);
4. Conveniente (uma pessoa sábia e sensata, que sabe lidar com os
conflitos, não se desespera diante dos problemas e consegue resolvê-los
com a calma necessária);
5. Benigno/generoso (pessoa que se compadece da necessidade dos outros
e ajuda);
6. Eticamente correto (o que é honesto, verdadeiro e respeita os
semelhantes);
Obs.: Todas as descrições das características entre (parênteses) acima são definições
interpretativas minhas e não do Dicionário Strong.

Por fim, as características descritas acima fazem parte de nosso ser e caráter? Se não fazem,
de fato não temos motivos para nos considerar “cristãos” verdadeiros.
6) Os verdadeiros crentes são cheios da inspiração santa!
Aqui, eu ainda quero me estender mais um pouco na pessoa de Barnabé, pois o v. 24 de Atos
11, além de dizer que ele era um homem bom, ainda afirma que ele era cheio da inspiração
de santidade. E ele era um dos “chefes” daquela comunidade de Antioquia.

Mas talvez você esteja achando estranho essa linguagem, pois nas traduções bíblicas mais
populares costuma-se ler, “cheio do Espírito Santo”, não é mesmo?!

Eu não queria “complicar” as coisas entrando neste assunto agora, no entanto será necessário
dar uma explicação, mesmo que breve, pois no meio cristão atual o termo “Espírito Santo”
geralmente é atrelado a uma das três pessoas nas quais o Deus Eterno estaria dividido,
segundo a doutrina do cristianismo. Entretanto, para ensinar aqui no Blog Bíblia se Ensina,
eu procuro respeitar os significados originais das palavras usadas na Bíblia em seu idioma
de origem. Neste caso, tanto o grego pneuma quanto o hebraico rúah significam,
basicamente, “vento, sopro, respiração”. É de pneuma, por exemplo, que vem a
palavra pneu [de carro], que é enchido com ar, e pneumonia, uma doença relativa à
respiração e aos pulmões.

(Leia, Deus é três pessoas? O que “Jesus” realmente ensinou?).


Então, para traduzir tanto pneuma hagion (literalmente “vento santo”) quanto rúah
hakodesh (“vento de santidade”), nós usamos termos que têm alguma conexão com o
significado original dessas palavras.
E como “inspiração” é literalmente inserir o ar nos pulmões, mas de modo figurado
é causar uma influência sobre alguém, entendemos que este é o termo mais adequado em
vários trechos dos relatos bíblicos. O texto de 1 Sm 10:10 é um clássico exemplo disso,
quando o rei Saul ao receber a inspiração (espírito) de Deus começa a
profetizar (também em 19:23-24).

Logo, Barnabé era um homem bom e cheio da inspiração de santidade, isto é, ele
anunciava a mensagem de Deus verdadeiramente inspirado por Ele. Além disso, enquanto
era guiado pela inspiração Dele, orientava sua vida de modo bom, íntegro e fiel, que será a
próxima característica que abordaremos.

Concluindo, os verdadeiros “cristãos”, isto é, os verdadeiros seguidores do Messias, por


obedecerem-no e se submeterem a Deus, tornam-se cheios da inspiração de santidade Dele!
(vide At 5:32),

(Leia também, “o que é e como ser cheio do Espírito Santo”).


7) Os cristãos verdadeiros são confiantes e fiéis!

A última característica que Atos 11:24 revela acerca de Barnabé é a fé. No grego, o termo
usado ali é “pistis”, que define alguém que tem inteira confiança em sua crença (em Deus),
ou uma pessoa de fidelidade e lealdade; alguém em cujo caráter se pode confiar
(Strong G4102).

Você já deve ter ouvido falar no termo original hebraico para essa palavra, que
é ‫‘( אמונה‬emunah). Seu significado não está longe do grego, que também envolve firmeza,
fidelidade, estabilidade e confiança (Strong H530).

(Aprenda a ler a Bíblia no original hebraico com os cursos do Instituto de Estudos Bíblicos
de Israel).

Em suma, uma pessoa cheia de emuná (fé) é;

1. Confiante em Deus, seja em seu poder para prover suas necessidades


ou para lhe salvar.
2. Fiel, alguém que exerce fidelidade a Deus, obedece seus mandamentos
e é verdadeiro para com Ele.
3. Leal, uma pessoa que é íntegra para com seus semelhantes e fala a
verdade.
4. Confiável, uma pessoa em quem os outros podem confiar.
5. Estável/constante, alguém que persevera em seguir aquilo que
acredita.

8) Os verdadeiros crentes se unem ao Messias!


Já foi destacado que os irmãos de Antioquia foram chamados de “christianos”, que é
uma variação greco-latina da palavra “christos”, devido de alguma forma eles serem
reconhecidos como seguidores do Ungido (cristo ou messias). Geralmente, quando nos
tornamos seguidores de certa pessoa, de uma religião ou até mesmo de um partido político,
somos apelidados pelos outros com alguma palavra derivada daquilo. Vamos dar alguns
exemplos. As pessoas que votam no partido político PT (Partido dos Trabalhadores) são
chamadas “petistas”; os que votam no Jair Messias Bolsonaro são chamados
“bolsonaristas“. É como se fosse dado um adjetivo pátrio para alguém: uma pessoa que
nasce no Brasil é brasileira, por exemplo.

Dessa forma, os seguidores do “christos” (Ungido) foram chamados “christianos”


(ungidos?); cf. Strong G5547 e G5546.
Embora muito possivelmente esse apelido tenha sido dado a eles de modo depreciativo,
havia um motivo pelo qual eles eram chamados assim.

Esse motivo pode ser devido a mensagem deles, que anunciava o Ungido (christos), salvador
de Israel; talvez os cidadãos de Antioquia quisessem debochar de sua crença e mensagem,
visto que em 1 Pe 4:16 essa mesma palavra é repetida por Simão em um cenário onde os
discípulos de alguma forma atravessavam sofrimentos, eram depreciados.

Seja como for, aqueles discípulos eram realmente seguidores fiéis do Messias, e estavam
intimamente unidos a ele pela fé. Isso não poderia ser diferente, pois eles estavam sendo
doutrinados por um homem que teve contato direto com os principais discípulos de Yeshua
(At 4:36), e por outro que teve um encontro pessoal, verdadeiro e sobrenatural com ele (At
26:9-18).

Desse modo, naqueles discípulos podemos ver as palavras do Senhor, que lhes ensinou
dizendo: Basta ao discípulo ser como o seu mestre… (Mt 10:25).

O quanto temos conhecido de Yeshua e seus ensinamentos? Ou o quanto o temos seguido


para dizer que somos verdadeiramente discípulos dele?
9) Os verdadeiros cristãos se unem ao povo do Messias!

Aqui eu quis dar um salto para o texto de Atos 15, onde esses crentes de Antioquia são
novamente mencionados, para aproveitar a sequência do tópico anterior. Pois além de serem
verdadeiramente unidos ao Messias, os verdadeiros “cristãos” também são unidos ao povo
do Messias! E quando eu digo “verdadeiros cristãos”, estou me referindo ao perfil daqueles
que estamos abordando aqui, isto é, dos discípulos de Antioquia da Síria.

Eu destaco isso porque, infelizmente, há várias diferenças dos “cristãos”, dos seguidores
ungidos daquela época, para o que se entende e o que se vê ser adepto do cristianismo hoje
em dia. Os cristãos atuais são herdeiros das doutrinas dos pais da Igreja.

Estes homens se evidenciaram no século II EC e desenvolveram uma série de interpretações


das Escrituras e do Messias que não foram originadas por seus discípulos diretos e
emissários (apóstolos). Eles foram também os fundadores da Igreja Católica Romana, que
por sua vez deu origem às igrejas protestantes, do século 16, e por fim às evangélicas atuais.
Ambas ainda permanecem com muito da base doutrinária e teológica, além de vários
costumes e liturgias de sua Igreja mãe.
Os “cristãos” (discípulos ungidos) de Antioquia da Síria, por sua vez, e como já dissemos,
foram doutrinados por homens que tiveram contato com o próprio Senhor, ou com os
discípulos dele. E estes homens permaneceram fiéis ao povo do Messias, sem desmerecer as
tradições que receberam da Lei de Deus, basta conferir isso em At 24:14 e 28:17. Além do
mais, Paulo promovia uma unificação dos gentios (crentes estrangeiros) ao povo de Israel,
pois ele sabia que essa também era a finalidade da morte do Messias, e que nenhum povo
poderia servir a Deus com integridade estando desconectado da raiz! Vide Ef 2:11-13 e Rm
11:16-18.
Sendo assim, como os “cristãos” de Antioquia da Síria aprendiam a Bíblia?

Fazendo uma abordagem simples e objetiva do texto de Atos 15, até mesmo para não
alongarmos demais nosso presente estudo, verificamos que de fato lá em Antioquia havia
discípulos estrangeiros ou descendentes israelitas que não viviam mais sua verdadeira
identidade bíblica descrita na Torá. Não é difícil concluir isso, pois o texto começa
descrevendo homens não circuncidados fazendo parte da comunidade de discípulos (vide vs.
1-2).

Um grupo de fariseus então, que havia abraçado a fé em Yeshua, tentou impor a circuncisão
àqueles homens (v. 5). Mas não era dessa forma que Saul e Barnabé estavam trabalhando
com aqueles discípulos, isto é, através da imposição ou coação.

Depois de muita discussão para resolver o assunto, foi determinado que aqueles discípulos
não circuncidados deveriam obedecer primeiro a um padrão mínimo de conduta, para
que a partir disso continuassem sendo discipulados ali (vs. 19-20). Entretanto, neste ponto
entra um dos maiores enganos cometidos por várias pessoas religiosas de nossa atualidade, e
para ser sincero é aqui que se encontra a maior diferença entre aqueles “cristãos” e os que
surgiram depois deles, que é o seu repúdio ao povo de Israel! Basta ver o v. 21 de Atos 15,
onde é dito: “Porque Moisés tem quem o proclame desde os tempos antigos em cada
cidade, sendo lido nas sinagogas todo o dia do shabat.”

Ora, se a questão discutida em quase todo este capítulo é o modo com que os discípulos
estrangeiros (gentios) que estavam em Antioquia deveriam ser doutrinados, e é mencionado
que Moisés era lido todo dia do shabat (sábado pela manhã) nas sinagogas judaicas, é porque
era lá, e neste dia, que eles estavam aprendendo as Escrituras com o povo de Israel!

O modelo de ensino que eles participavam, mencionado aí no v. 21, era a leitura das
porções semanais da Torá (chamadas “Parashá” no hebraico). Modelo este introduzido
por Esdras no século 5 AEC, e praticado pelo próprio Senhor e seus discípulos; veja Ne 8:1-
8, Lc 4:16 e At 13:14-15.

Logo, não houve um rompimento entre os discípulos não judeus e os judeus do 1º século de
nossa era. Na verdade, havia uma unificação, em que aqueles crentes permaneciam sendo
educados e orientados nas Escrituras pelo povo escolhido de Deus, pois a este povo Ele deu
tal tarefa, como lemos em Rm 9:4.
Então os verdadeiros cristãos, isto é, os verdadeiros discípulos ungidos do Senhor, além de
se unirem a ele, também se unem ao povo dele a fim de serem participantes das mesmas
bênçãos, promessas e alianças (cf. Zc 8:20-23; Is 56:3-8).

Aqui no Blog Bíblia se Ensina, nos tornamos alunos da Comunidade Judaica Netzarim do
Pará (Facebook Kehilat Netzarim-PA). Você também pode unir-se a eles, seja só ou em
comunidade, e receber aprendizado do Messias em seu devido contexto original. Envie
mensagem pela página.

Obs.: Para entender mais do assunto “judaísmo x cristianismo”, consulte a obra Judaísmo e
Cristianismo: as Diferenças, de Trude Weiss-Rosmarin.

10) Os verdadeiros discípulos ungidos são submissos aos seus líderes.

Neste último tópico, retomando o texto de Atos 11, podemos ver nos vs. 25-26 que Barnabé
e Saul ensinaram juntos àquela comunidade de discípulos em Antioquia da Síria. Podemos
ler nestes versículos que eles ficaram ensinando numerosa multidão e isso, direta ou
indiretamente, indica que havia submissão ao ensino daqueles dois homens israelitas.

Podemos nos recordar de que Saul, chamado Paulo, era fariseu e educado por um dos
mestres mais influentes de seu tempo, Gamaliel. Este era um homem justo e extremamente
fiel ao Deus de Israel e à Sua Lei (At 22:3). Foi ele que percebeu na comunidade de
discípulos de Yeshua um mover de Deus, por isso os favoreceu em certa ocasião (At 5:34-
39). Já Barnabé, por sua vez, e como já dissemos, era um levita e, portanto, envolvido
diretamente com o serviço a Deus no templo (At 4:36). Logo, aqueles discípulos de
Antioquia estavam de fato bem servidos, e isso sem mencionar os demais líderes que havia
entre eles, mencionados em Atos 13:1.

Ademais, ao mencionar a submissão aos líderes, queremos nos referir àqueles que são
realmente fiéis a ADONAI, o Eterno, Deus do Senhor Yeshua, pois assim era o perfil de
Saul, Barnabé e seus companheiros de ministério.
A fidelidade desses líderes ao Messias era tanta, especialmente no caso de Saul, que ele pôde
ser capaz de dizer:
“sejam meus imitadores/seguidores, como eu sou do Ungido” e,
“o que também aprenderam, receberam e ouviram de mim, e o que viram em mim, isso
ponham em prática; e o Deus da paz estará com vocês.”
(1 Co 11:1; Fp 4:9)

É claro que esses homens também tinham falhas, como todos nós temos, entretanto, sua
busca pela união com o Messias e sua inspiração nele como exemplo de fidelidade e
obediência a Deus, era o que os tornava líderes exemplares. A estes tipos de líderes, pois,
devemos buscar nossa inspiração e sermos submissos. A submissão a esse tipo de liderança,
consequentemente, é a nossa submissão ao ensino de Deus!
Lembrem-se dos seus líderes, daqueles que lhes transmitiram a mensagem de Deus.
Reflitam sobre o resultado do estilo de vida deles e imitem sua confiança.
(Hebreus 13:7 BJC)
É claro que, ao longo dos relatos bíblicos, são listadas dezenas de outras características dos
verdadeiros discípulos de Yeshua, como o amor que devem ter uns pelos outros, que na
verdade é a principal de todas essas características (Jo 13:35; Rm 13:8-10), a pacificidade
(Mt 5:9; Mc 9:50), o cuidar da família (1 Tm 5:8), a pureza na vida sexual (1 Ts 4:3), a
santidade (Rm 6:4-7) e muito mais. Entretanto, por agora, eu quis me resumir ao contexto da
comunidade de Antioquia da Síria relatada em Atos capítulos 11 e 15, devido a
nomenclatura abordada neste estudo ter sido atribuída a esses primeiro. Além do mais, se
fôssemos comentar cada uma das características, seria necessário escrever um livro!

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