Capítulo V

Neste capítulo, dando continuidade à dimensão alegórica do seu sermão, Padre António Vieira,
após as repreensões em geral, vai apontar alguns peixes cujas características são figuração de defeitos
da Humanidade. Este capítulo é verdadeiramente importante na arquitetura do sermão, pois nele
termina a Confirmação, parte do texto onde o orador faz a prova e fornece evidências das ideias
explanadas.

Nome do Defeitos dos peixes Traços humanos representados
Peixe
A arrogância, o orgulho e a
Sendo peixes pequenos, soberba.
roncam muito, mostrando
arrogância e soberba. É Este contraste (nos peixes)
Roncadores precisamente por serem representa os homens com
pequenos que roncam, poucas qualidades e virtudes,
para se fazerem grandes, mas que, por terem algum
tal como muitos homens poder ou saber, se vangloriam
fazem. de ter valor.
São Pedro é comparado aos
roncadores porque tinha
alardeado que nunca renegaria
Cristo e acabou por fazê-lo.
Conselhos finais e
exemplo de Santo
António
Os arrogantes e os
soberbos confrontam-se
com Deus, acabando
por perder. Por isso, o
melhor é calar e imitar
Santo António que tinha
muito saber e poder,
mas não se vangloriava.

O oportunismo, o
parasitismo social e a
Pequenos peixes que se subserviência
pegam aos costados dos
maiores para se Os homens poderosos, como
Pegadores sustentarem. um Vice-rei ou um Governador,
Defeito que os peixes têm sempre atrás de si uma
teriam aprendido com os comitiva de «pegadores» que os
portugueses (crítica acompanham nas incursões
implícita aos colonos que militares para ficar com parte
navegam aqueles mares). do espólio que aqueles
conquistam.
Aconselha os peixes a
chegarem-se aos
grandes, mas não de
maneira a morrer com
eles. Os poderosos
podem morrer porque
beneficiaram do seu
poder; porém, os que os
seguiam morrem sem
terem tirado proveito.
Por outras palavras,
quer dizer que cada
homem deve procurar
trilhar o seu próprio
caminho.
Santo António pegou-se
apenas a Cristo e
seguiu-O.

A ambição desmedida
Peixes de grandes Aconselha os voadores
barbatanas que saltam A vaidade, o capricho, a (os homens) a não
Voadores para fora da água como se presunção e a ambição levam quererem mais do que
voassem. São peixes que muitos homens à perdição. são. Cada um deve

querem ser aves, por isso
sofrem os perigos dos
peixes e os das aves.
Servindo-se da metáfora (a
Polvo cabeça do polvo lembra um
capelo, os tentáculos raios)
e da comparação (parece
um monge, uma estrela, a
própria mansidão) o orador
revela a aparência do
polvo, para, de imediato,
aditar, através de um
significativo oximoro
(hipocrisia tão santa), que,
sob uma aparência de
serenidade e mansidão, se
esconde o maior traidor do
mar.
«Quem quer mais do que lhe
convém, perde o que quer e o
que tem»
Traição e Hipocrisia
Para ilustrar a sua capacidade
de camuflagem, o orador
compara-o, através de uma
simetria, ao camaleão e a
Proteu, ambos com
características de dissimulação.
Porém, enquanto a capacidade
de se camuflar no camaleão é
«gala» (ostentação, pompa) e
em Proteu apenas ficção
mitológica, no polvo é malícia e
as presas são, efetivamente,
capturadas. Seguidamente,
O polvo é comparado com
Judas, símbolo por excelência
da traição. No entanto, o orador
considera Judas menos traidor
do que o polvo, pois Judas não
prendeu ninguém e exerceu a
sua traição à vista de todos.
Quanto ao polvo, a
desconformidade entre aquilo
que aparenta e o que é
verdadeiramente, leva os outros
ao engano, apanhando-os
desprevenidos. Em suma,
representa os traidores e os
hipócritas que se escondem sob
um manto ( da fé, da
bondade...).
contentar-se com o seu
elemento.
Santo António teve as
asas da sabedoria,
porém usou-as apenas
para estar junto dos
homens.
O orador termina o
capítulo, aconselhando
os peixes (os Homens) a
não se apoderarem dos
bens dos outros, ato
que é pecaminoso e
desonesto.
De novo, evoca Santo
António como exemplo
de sinceridade e de
verdade, onde nunca
houve fingimento ou
engano.
Porém, lembra que
antigamente, para se
ter estas virtudes,
bastava ser português,
não era preciso ser
santo. Por outras
palavras, em tempos
antigos qualquer
português era virtuoso,
contrariamente ao
presente ( de Vieira),
em apenas os santos
são verdadeiros.