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DIREITO HIPOTECÁRIO
por
1899
Aos Drs.
Edmundo Bittencourt
Sancho Pimentel
l
I
Quando escrevíamos isto (n. 223 desta obra) nada mais fazíamos do que
assinalar um fenômeno, que está na previsão de todos quantos se interessam por esses
assuntos, e tínhamos em vista a feição que o moderno Código Civil alemão dá à letra
É sob esta feição que a hipoteca há de aparecer no futuro como figura jurídica e
do título circulatório da propriedade imobiliária, dar- lhe-ão uma estrutura que não a
poderá aparelhar para as funções que exige dela a economia moderna. A propriedade
deixou de aceitar o parecer da comissão da Câmara dos Deputados, que opinava pela
imobiliária adotada no regime germânico, que a Lei francesa de 11 brumário do ano 7.º,
já havia adotado, e que Troplong, o inspirador de quase todas as nossas leis inovadoras
presuntivo que se podia apoiar na incerteza dos limites da propriedade a grícola, assente
hipotecários, objeto das operações das sociedades sobre o capital e os proventos das
quais apoiava a valorização de tais títulos, falseava a natureza dos mesmos e, como justa
decorrência do erro cometido, veio o não terem as letras hipotecárias a aceitação que
vez da crise atual favoneava o café, o açúcar e o fumo uma bonançosa aragem de
prosperidade, para enxergar em tais títulos a garantia que lhes advinha da prosperidade,
das sociedades emissoras a qual dependia, por sua vez, do acerto da administração e da
prudência e segurança, com que eram feitas as operações, consultando a garantia que
hipotecários (art. 58, § 1.º, do Dec. 3.471, de 03.06.1865); como, porém, essa garantia
se apuraria o produto de tais imóveis, que não singularmente, mas em sua totalidade,
respondiam pelas letras (art. 6.º do Decreto citado) a garantia era de fato muitíssimo
fraca e incerta por depender a sua atividade da liquidação dos contratos hipotecários,
pois que do outro modo não se podiam exercer as ações dos portadores de letras, as
05.05.1872, que, sob uma orientação econômica e jurídica mais segura do crédito real,
especialmente inscrito no registro hipotecário, e dessa inscrição a letra nada mais era do
Assim emitida, à letra hipotecária prendia-se tal confiança e tal crédito, que
contra o portador da mesma não era admissível a alegação de simulação, sendo ela, ao
segunda vez.
tivessem, por qualquer razão, inclusive a dos pagamentos antecipados (arts. 331 e 332
contrato hipotecário.
da letra, como título de crédito real e instrumento de circulação dos valores imobiliários.
adquire a hipoteca, quando a letra lhe for entregue pelo proprietário do imóvel.
III
Há muito quem acredite que esta forma de emissão da letra e a estrutura dada à
obrigação principal, só foi confirmado no Código Civil alemão no art. 1.153, quando
dispõe que a obrigação principal, o crédito, não pode ser transferida sem a hipoteca,
nem esta sem aquela, sofreu diversos golpes, não sendo o menor o da criação da
hipoteca do proprietário, consagrada nos arts. 1.163, 1.168, 1.169, 1.170 daquele
Código.
proprietário do imóvel gravado, que paga a dívida hipotecária, o direito real com a
ordem de classe entre os próprios credores hipotecários, que tinha a hipoteca paga em
proprietário.
A hipótese é a seguinte:
pagamento; este direito, o art. 1.164 garante por meio da hipoteca que, pelo fato do
pagamento da dívida, devia passar para o proprietário, por força do disposto no art.
1.163.
figurados.
A renúncia da hipoteca pelo credor não extingue esta, fá-la passar para o
proprietário do imóvel (art. 1.168); se em face de disposição tão precisa pode ocorrer o
Não há como pôr em dúvida este resultado, justa decorrência das disposições
que citamos.
Dec. 169-A, de 19 de janeiro; tornamo-lo bem saliente nos comentários sob os ns. 310 e
aquela subsista, enquanto não cancelada, apesar de estar esta extinta, por qualquer dos
O art. 103 do Dec. 370 torna expressiva a desagregação, quando estabelece que
a subsistência da hipoteca, quoad tertios, dá-se ainda que o contrato de que resulta a
“Pode a razão tolerar absurdos deste quilate?”, pergunta o Sr. Lafayette (nota
Parece que sim, desde que se conceba a hipoteca constituindo figura jurídica
tardará a passar para as demais legislações, com o rep údio da noção romana.
IV
que a valoriza.
registro.
torna-se precária a sua ação protetora, que depende de fato alheio, e reconheceu-se na
aludimos a ela como elemento instrutivo do juízo sobre a índole de regime hipotecário
da atualidade. Adotada pelo direito romano: cum testamento quoque pignus constitui
posse, imperator noster cum patre sæpissime inscripsit, diz Ulpiano (L. 26 D. de
testamentaria nel diritto civile italiano, p. 5; Chironi - Trattato dei privilegi, delle
ipoteche e del pegno, n. 267) ela foi repelida pela maioria dos códigos e parece-nos uma
(Código Civil argentino, art. 3.115; Código Civil uruguayo, art. 2.288; Código Civil do
Cantão dos Grisões, art. 281; Código Civil do Chile, arts. 2.407 e 2.409).
V
e a decretação da invalidade do ato de registro; assim como tal razão não poderia apoiar
ato que imprime à hipoteca a força e o valor jurídicos em relação aos terceiros?
cancelada, ao dar-se a extinção da hipoteca, está em que o parágrafo único do art. 215
hipoteca e do qual tão zeloso se mostrou o legislador, que fez prevalecer a força jurídica
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LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
LEI HIPOTECÁRIA
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TÍTULO I
Da Hipoteca
Art. 1.º Não há outras hipotecas e ônus reais, senão os que este Decreto
estabelece.
disposição, transcrita do art. 2.115 do Código Civil francês e do art. 42 da Lei belga de
hipotecas gerais e sobre bens futuros (art. 4.º, 2.ª alínea) e as hipotecas legais das
mulheres casadas e dos menores e interditos; que no sistema da Lei de 1864, valiam
atual são os do art. 6.º do Dec. 169 A de 1890, quaisquer outros constituem encargos
O princípio capital que todos os bens do devedor respondem por suas dívidas e
para ligá-los de preferência ao pagamento de certa dívida, com exclusão das outras.
O seu poder de exceção vai além: para efetividade de sua ação garantidora a lei
concede- lhe na seqüela a faculdade de fazer obra, para o pagamento, sobre os bens já
idéia de que a hipoteca, é um direito real de exceção criado exclusivamente pela lei – e
de interpretação, não ampliável por analogia ou semelhança, mas sim restrita e limitada.
Paul Pont., Hypothéques, ns. 4 e 322 ; Dir. das Cousas, § 185 e notas; Martou,
Priviléges et Hypothéques, ns. 256 e 696; P. Mazzoni, vol. 3.º, n. 339; Chironi, vol. 1.º,
§ 213, n. 3.
pensamento, que a vontade das partes, é impotente para criar qualquer modalidade da
hipoteca diferente da que a lei estabeleceu. (Laurent, Principes de Droit Civil, vol. 30,
n. 187). É assim que a ninguém é lícito, à vista de tal disposição, constituir hipoteca por
testamento; porquanto a lei não compreendeu este ato entre os capazes de gerar a
hipoteca, como fê- lo a Lei belga de 1851 (art. 43) no que foi imitada pelo Código Civil
crédito territorial em sua expressão mais completa, e dar-lhe a circulação por meio de
estrutura dada à hipoteca no novo Código Civil alemão indica que as hipotecas legais,
criado pela hipoteca só se justifica quando fundado em fato expresso em que as partes o
estipulem; as mulheres casadas, os menores, a Fazenda Pública não precisam ficar fora
deste regime desde que tenham representantes que estipulem a hipoteca. Insistiremos
Assim é que segundo os moldes que lhe deu ela: quanto ao seu objeto, não
pode como no direito romano exercitar-se em bens móveis, nem em coisas incorpóreas,
ainda nos casos em que o direito civil lhes imprime o cunho de bens imóveis, com
3a. A convenção das partes – não pode ampliar a esfera do direito hipotecário
por analogia (Pont, 1, n. 322), ela é restrita aos limites que a lei traçou- lhe (Laurent, 30,
n. 187; Martou, 2, n. 696; Troplong, vol. 2, n. 392).
testamentária oriunda do direito romano (L. 26, D. de pignorat. actione) e adotada por
algumas legislações modernas (Lei belga de 16.12.1851, art. 43; Código Civil
português, arts. 910 e 836). O direito inglês estabelece privilégios entre os credores do
testamentária. (E. Glasson, Droit et Inst. de l’Anglet., vol. 6, p. 391, not. 4).
celebrada com a cláusula – se entrarem para o domínio do devedor – o que não exclui,
Glasson, Le mariage civil et le divorce, Parte Geral, p. 40) conservou a ampla esfera de
O mortgage inglês pode ter por objeto não somente bens móveis, como toda a
(E. Glasson, Droit d’Anglet, 6, p. 392). Com esta feição romana foi a hipoteca aceita no
american law, vol. 4.º, Lecture 58, p. 135), apesar da opinião em contrário de Butler,
Legais, convencionais e judiciais (Dec. 169 A, art. 2.º, § 8.º, e art. 3.º, § 11;
Quanto às hipotecas legais de que faziam menção a Lei 2.ª de 22.12.1761, nos
Código Comercial autoriza em suas disposições (arts. 97, 117, 564, 565, 626, 633, 738,
877 e 888), não vigoram como hipotecas; muitas delas, porém, têm o caráter de
obrigações reais e subsistem como privilégios: tais são por exemplo, as de que fazem
menção os arts. 876 e 877, §§ 5.º, 6.º e 7.º, e 878 do Código do Comércio (Decreto de 2
7. Os ônus reais que não se acharem entre os mencionados no art. 6.º do Dec.
169 A e no art. 238 do Decreto de 2 de maio, não podem gravar os imóveis hipotecados
e nem ser opostos aos credores hipotecários. Os ônus reais – que a lei reconhece –
art. 241) e, conseguintemente, contra os credores hipotecários (Dec. 169 A, art. 6.º §
2.º).
Quaisquer outros ônus que houverem sido impostos pelos proprietários aos
prédios somente valerão como ônus pessoais e não dão lugar senão a uma ação pessoal
Art. 2.º A hypotheca é regulada somente pela lei civil, ainda que algum ou
fundadamente, que tratando-se de restringir aos imóveis a ação desse direito real,
convinha não deixar supor possível a perduração das disposições do Código Comercial
legislador.
Código do Comércio concedeu sobre bens móveis, como nas hipóteses dos arts. 97, 117
e outros, indicam que as hipotecas sobre bens de raiz passaram ao domínio do foro civil,
isto é, ao direito comum; ora, o art. 2.º da Lei de 19 de janeiro em seu § 1.º declarando
que somente bens imóveis podem ser objeto da hipoteca subtraiu, ipso facto, ao regime
do Código Comercial o direito hipotecário.
O fim do art. 2.º da Lei de 1864, de onde foi copiada a disposição do Dec. 169
A, de 19 de janeiro, foi acabar com a anomalia de existirem hipotecas regidas pela lei
O § 10 do art. 14.º curou, porém, da jurisdição a que fica sujeita, de ora avante,
a ação hipotecária.
ser a ação oriunda das relações de direito nele criadas exeqüível perante a lei comercial,
Esta disposição excepcional foi transplantada do § 5.º do art. 4.º da Lei 3.272,
de 05.10.1885.
disposições:
que celebrado entre comerciantes, somente pode ser feito de acordo com a lei civil.
estão sem vigor perante o novo regime hipotecário: quanto às que admitem hipotecas de
imóveis (art. 265 e seguintes) – porque estas são do domínio exclusivo da lei civil;
quanto as que estabeleciam hipotecas sobre móveis (arts. 97, 117, 564, 565, 626, 633 e
outros), porque caducaram tais hipotecas, que passam a constituir privilégios, como
02.05.1890.
Era esta a opinião emitida pelo Sr. Nabuco de Araujo na sessão de 09.07.1864,
respondendo ao Sr. Souza Franco, por ocasião de decretar-se a Lei de 24.09.1864.
“Essas garantias, dizia aquele senador, não são mais hipotecas, são privilégios
que ficam salvos sobre todos os objetos, menos sobre os imóveis hipotecados.”
Os imóveis;
machinismos;
ao solo.
9. Das disposições dos §§ 1.º e 2.º do art. 2.º, acima transcritas conclui-se que a
maquinismos;
imóveis;
no contrato.
10. Os bens pertencentes às cinco primeiras classes podem ser de per si sós
especificados no contrato, podem ser objeto de hipoteca com os imóveis a que estão
Os imóveis pelo objeto a que se aplicam – não são hipotecáveis. (Decreto cit.,
art. 186).
3.º) Que imóveis por destino, além dos acessórios dos imóveis agrícolas
de maio, podem ser compreendidos na hipoteca com os imóveis a que estão ligados.
4.º) Qual a razão da exclusão dos imóveis pelo objeto a que se aplicam? Como
No direito romano podia a hipoteca versar sobre bens de toda a espécie; ainda
as coisas incorporais, aquelas que o direito considera imóveis pela coisa a que se
aplicam, tais como as servidões e outros direitos reais (o penhor, a hipoteca, a ação de
servidões urbanas (Leis 11, § 3.º, 12, 18 e 31, D. pignorib. et hypoth.; L. 15 Qui potior.,
L. 7 Cod. de hered vel act. vend.; Leis 1 e 2 C. pignus, pignori, datum sit. Accarias,
Precis de droit romain, § 286 a n. 2; Maynz, Cours de droit romain, § 154; Serafini,
da posse do objeto (o que a diferenciava do penhor). Eam qui senè traditione, nuda
credor, que se tornava efetiva pelo direito de vender o objeto hipotecado para se pagar
pignot. et hypoth.; D. títulos: de distract. pignot. e qui potiores in pignore; Ortolan, Inst.
de action., § 7, ns. 2096, 1.097 e 2.099; Accarias, n. 284; Maynz, § 154; Du Caurroy,
13. Oriunda do direito pretoriano ela teve em seu começo como objetivo a
impontualidade dos locatários, sem retirar a estes os instrumentos do trabalho, foi que
proprietário o meio de entrar na posse dos móveis que o locatário havia retirado ( illata)
do prédio, apesar do compromisso contraído pela cláusula: donicum solutum erit aut ita
satis datum erit, quæ in fundo illata erunt, pignori sunto, etc., cláusula que importava
um ônus real sobre tais móveis, que ficavam em poder do dono, mas adstritos à garantia
actio que autorizava, sobre os móveis retirados pelo devedor, uma reivindicação igual à
hipotecaria.
pagar-se precipuamente sobre o preço de sua dívida, com prelação sobre quaisquer
outros credores (Ortolan, Inst. n. 2.091; Maynz, § 153; Accarias, n. 284; Serafini, § 95,
p. 247 in fine e 248; Du Caurroy, Inst. n. 1.202).
nem sempre preenchia de modo aceitável e prático o fim de garantir o credor sem
outros acessórios do prédio rústico, como prover o devedor aos meios para o pagamento
Garantir o credor, sem privar o devedor da posse das coisas precisas para
das prestações da locação, os móveis que existiam dentro do prédio; esta doação
operava-se por meio da in jure cessio; os bens passavam para o domínio do credor, que,
os bens ao domínio do devedor logo que a dívida fosse paga: tal era a fïdúcia.
hipoteca; confundida ao princípio com o penhor – ela veio mais tarde corrigir os
inconvenientes deste contrato – até que com a evolução operada na ciência do direito e
na orientação econômica da sociedade moderna – veio a hipoteca a ser um instrumento
cadastral apurado da legislação alemã e australiana permitiu uma valorização tão segura
– que os capitais tendem nos países onde esse regime do registro da propriedade
territorial é perfeito a procurar o solo, como a mais segura, senão a mais remuneradora
conotação.
O fim de uma boa lei hipotecária é antes econômico do que jurídico. Daí essas
exceções de feição muitas vezes odiosa, que aos princípios de direito abrem, a cada
16. Inter pignus autem et hypothecam tantum nominis sonus differt – dizia
Marciano.
O direito português, aceito em 1823, como regulador das nossas relações civis,
eivado de romanismo, admitia a hipoteca dos móveis: tais eram todas as hipotecas
24.07.1793 trataram da hipoteca dos móveis introduzidos nas casas para uso e
comodidade da habitação.
Era um dos casos da hipoteca legal privilegiada que tinha sua fonte na
hipoteca dos móveis, consagrando a anormalidade de hipotecas regidas pela lei civil e
pela lei comercial, sem atender a que a rapidez do movimento, que as transações
reais constituídos sobre bens desta espécie, pois é antiqüíssimo o princípio concretizado
no art. 2.119 do Código Civil francês: que aos móveis não se aplica a seqüela. (Voêt,
Liv. 20, Tít. 1.º, n. 1.3; Mourlon, Répét. Ecrites, vol. 5.º, n. 1.141).
a propriedade imóvel.
Nos casos em que a lei antiga firmava esse direito real sobre tais bens ficou ele
02.05.1890.
É esta a primeira classe de imóveis que a lei admite como objeto da hipoteca
(Dec. 169 A, de 1890, art. 2.º, § 1.º; Dec. 370, de 02.05.1890, art. 133, § 1.º).
São:
a) O solo
É nisto que se funda a noção do direito moderno (Código Civil francês, arts.
517 a 520; Código Civil italiano, art. 408) que, repelindo a classificação de imóveis por
natureza e por ato humano – considera este segundo membro da classificação como
(Demolombe, vol. 9, n. 98; Laurent, vol. 30, n. 195; L. 115, D., de verb. signifi; Ribas,
Dir. Civ., vol. 2.º, p. 211; Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 179).
ligados ao solo pelas raízes: (Aviso 492, de 01.09.1836, art. 5.º, L. 40 D. de act. empt.
L. 44, D. de reivind; Consolidação das Leis Civis, art. 45; Lafayette, Dir. das cousas, §
179; Ribas, Dir. Civ. Bras., p. 211, do 2.º vol.; Demolombe, vol. 9.º n. 131; Código
a qualquer outro fim, desde que não sejam levantados com o intento de serem
espetáculos públicos.(a)
(a)
O direito moderno, atendendo à aderência física e incorporação material que sofrem
os edifícios em relação ao solo – com o qual, segundo a frase expressiva de Demolombe (n.
102), passam a formar um e mesmo ser, a ponto de existir somente o solo, tal qual é em
substância, mas melhorado – isto é, solo edificado e não solo nú (Demolombe, n. 102),
porquanto por seu poder de atração e de assimilação o solo absorveu em sua própria substância
os materiais componentes do edifício, e este em seu todo; atendendo a isto, dizemos nós, os
20. Quais destes imóveis por natureza podem ser objeto de hipoteca?
códigos e doutrinadores modernos consideraram os edifícios imóveis por natureza e não por ato
humano.
Os arts. 5.º e 6.º das Instruções de 01.09.1836 também classificaram os edifícios entre
os imóveis por natureza.
Parece-nos que a questão não oferece senão importância escolástica.
A incorporação do edifício ao solo sobre o qual foi levantado é reconhecida desde o
direito romano como um fato natural; – solum partem esse aedium existim nec alioquin
subjacere, ur more novibus, como dizia Celso (L. 49 D. de reivindi) mas, por mais enérgica que
seja essa incorporação, a ascessão salienta-se como o fatop que imprime a imobilização ao
prédio; deduz-se isso de não poder o edifício ser hipotecado sem o solo, de não ter o que
edificou em solo alheio outro direito além, de uma ação pessoal, por indenização do valor do
edifício, compreendendo-se em tal valor o preço dos materiais e da mão-de-obra. (Demolombe,
ns. 171, 175, 176, 178 e 179).
A teoria do direito moderno reduz-se, pois, à que classificava os edifícios entre os
imóveis por ato humano, porque eles somente se tornam imóveis depois de sua incorporação, ou
de sua aderência ao solo: – o ato humano é a causa mediata da accessão.
As leis fiscais concorreram muito para que de algum modo se falseasse a nolão correta
sobre a natureza da imobilização dos edifícios. Afirma uma verdade elementar o Sr. Sarsfield
quando diz: “Lo edifícios son designados em el codigo francez como imobiles por su naturaleza,
cuando em verdad solo lo son por um hecho de accesion”.
Não desconhecemos, no entanto, a conveniência prática da classificação do art. 518 do
Código Civil francês: em referência, porém, ao regime hipotecário é inteiramente desprovida de
alcance: os edifícios não se hipotecam sem o solo que oculpam: por quê? Se fossem de per si
imóveis por natureza, pelo fato de incorporação, nada influindo que o solo seja ou não de outro
dono (Demolombe, n. 104), poderiam ser de per si objeto de hipoteca; não o são porque a sua
desagregação do solo os torna móveis (Demolombe, n. 154).
A denominação de imóveis por ato humano é combatida pelos autores modernos
quando aplicada ao edifícios (Demolombe, n. 106), por entenderem que ato humano somente
pode produzir a imobilização por destino que der à causa imobiliázada. O proprietário não pode,
como não o pode qualquer outrem, tornar imóvel por natureza, diz Demolombe (n. 106) um bem
que não se achar nas condições essenciais desta espécie de imobilização.
estabelecer que somente podem ser objeto de hipoteca os bens imóveis que estão no
comércio e que possam ser vendidos em hasta pública. É este o critério para reconhecer
Código Civil português, art. 889; Paul Pont, n. 349; Laurent, n. 195; Dias Ferreira,
Coment. ao art. 949; Chironi, vol. 1.º § 215; Pacifici Mazzoni, vol. 3.º, n. 344, n. 1).
A razão é fundamental.
hipotecário. (Paul Pont, n. 349; Laurent, n. 195; Martou, 714; Mourlon, n. 1.434).
É preciso, pois, que o imóvel possa ser vendido para consignar-se o preço
21. Por não se acharem no comércio, não podem ser objeto de hipoteca os
(Ord. do Liv. 2.º, Tít. 26 § 8; Regimento da Fazenda, Cap. 237; Ribas, Dir. Civ., 2.ª ed.,
vol. 2, p. 292; Teixeira de Freitas, Consolid., art. 52, § 1.º, e nota 13; Souza Bandeira,
15.11.1831, art. 51, § 14 – Dec. 447, de 19.05.1846; Ribas, obra citada, p. 303;
c) Os portos e ancoradouros dos navios (Ord. do Liv. 2.º Tít. 26, § 9.º):
do Liv. 2.º, Tít. 26, § 9.º; Ribas, obra citada, p. 303; Teixeira de Freitas, Consol. das
Leis, art. 52, §§ 1.º e -2.º);
Ribas, obra citada. p. 310; Consol. das Leis, art. 52, § 2.º; Souza Bandeira, Novo
14.11.1832, art. 1.º; Lei 1.114, de 27.09.1860, art. 11, § 7.º; Lei 1.507, de 26.09.1867,
art. 39; Lei 4.105, de 22.02.1868). Excetuam-se os que por ato do poder competente
d) As terras devolutas (Lei 601, de 18.09.1850, arts. 1.º e 24; Dec. 1.368, de
Circular de 19.01.1833; Lei de 18.09.1850, art. 2.º, princ.; Decreto de 30.01.1854; art.
33).
f) As minas de metais e pedras preciosas (Ord. do Liv. 2.º, Tít. 26 § 16; Tít. 28,
17.09.1824, art. 9.º; Lei 514, de 28.10.1848, art. 34; Lei de 18.09.1850, art. 16. § 4.º).
5.955, de 23.06.1875).
h) Os bens vagos (Dec. 160, de 09.05.1842, art. 3.º; Dec. 2.035, de 15.06.1859,
art. 11).
i) Os próprios nacionais.
causa. (Paul Pont, n. 352; Laurent, n. 195; Martou, n. 714; Lafayette, Dir. das Cousas, §
178, n. 2).
22. Nem todos os imóveis por natureza podem ser de per si objeto de hipoteca;
ao passo que os imóveis que o são pela coisa a que se aplicam podem sê- lo.
Entre os imóveis por natureza somente podem ser objeto de hipoteca de per si:
a) O solo.
b) As minas de metais.(b)
(b)
Somos dos que entendem que a propriedade das minas pertencem ao Estado, ainda
quando elas se achem em terrenos particulares. Dispensamo-nos de demonstrá-lo. Em um
opúsculo publicado em 1885 sobre o assunto o Sr. Dr. Souza Bandeira fê-lo à saciedade.
As concessões de datas para minerar importam a prioridade da mina, conseguintemente
o poder de hipotecar.
No direito francês e belga a coisa é líquida em virtude da disposição expressa da Lei de
21.04.1810. Os comentadores não estão em discordância sobre este ponto; pode-se ver as
opiniões dos dois mais notáveis: Laurent (n. 200) Martou (n. 716).
No nosso direito as Instruções de 01.09.1856, art. 7.º, n. 5, mandam cobrar siza da
concessão de datas de terras, por importarem tais concessões transferência de domínio.
Parece-nos ser também o que se pode deduzir das disposições anteriores à Lei de
20.10.1823, que regularam a matéria, especialmente dos §§ 6.º e 8.º dos Estatutos que a Carta
Régia de 11.08.1817 decretou para as sociedades das lavras das minas de ouro que se
estabelecessem em Minas Gerais.
Quando a concessão da exploração recaía em minas existentes em propriedade
particular, era o proprietário obrigado a consentir a exploração, que passava a constituir
c) As pedreiras.
verdadeira servidão sobre o solo. O proprietário deste tinha direito à indenização de qualquer
dano que da exploração lje proviesse, mas o detrimento era averiguado por meio de peritos e em
processo rápido.
O concessionário das minas pode, pois, hipotecá-las, se for o proprietário do solo, não
se lhe pode contestar o direito de hipotecar em separado solo e mina. A hipoteca anterior do
primeiro não abrange a mina, porque desta não era proprietário o dono do solo e sim o Estado.
o mesmo não se deve, porém, dizer das minas de diamantes.
Os terrenos diamantinos pertencem ao domínio do Estado (Lei de 24.12.1754;
Resoluções de 25.10.1852, art. 9.º; e n. 374, de 24.09.1845, art. 9.º; Dec. 5.955, de 23.06.1875,
art. 3.º).
A sua exploração somente se pode operar por meio de arrendamento ou por concessão
de licença para faiscar. (Dec. 5.955, art. 25).
O proprietário do terreno, onde for descoberta a jazida diamantina, não tem outro direito
além do que lhe concede o art. 25 do Decreto de 1875, isto é, de contratar arrendamento, não em
hasta pública, mas perante a administração local do terreno diamantino, por termo lavrado, após
a medição e demarcação da área a arrecadar. Não é este privilégio exclusivo do proprietário,
mas sim extensivo a qualquer ocupante, que tiver sobre o solo estabelecimento, benfeitoria ou
casa de vivenda (Decreto cit., arts. 26 a 30).
O arrendamento, que pode ser por tempo de dez anos e passar aos sucessores do
conratante que se habilitarem em tempo (Decreto cit., arts. 41 a 57), não constitui ônus real
sobre o terreno diamantino – é uma simples locação – o direito do locatário não pode ser
transferido senão em virtude de assentimento da administração dos terrenos diamentinos.
(Decreto cit., art. 63).
Não é, pois, lícita a hipoteca do lote diamentino concedida para explorar, ainda por
prazo de dez anos.
É a conseqüência do regimento adotado no Decreto 5.955, de 1875, que aliás,
reproduziu, quanto ao tempo e efeitos dos arrendamentos, as disposições dos arts. 1.º a 4.º do
Decreto Legislativo 874, de 24.09.1845.
24. Os edifícios. As construções sobre o solo alheio não podem ser objeto de
hipoteca, qualquer que seja a sua solidez e o seu valor; a razão é fundamental: o edifício
é imóvel pela aderência física, pela incorporação ao solo, considerado em separado dele
passa a ser móvel e como tal impossível de ser hipotecado (Laurent, n. 129 e n. 214);
não pode sê- lo com o solo alheio porque ninguém pode hipotecar o que não pode
alienar; a hipoteca só poderia ter lugar assinando o proprietário do solo a escritura, caso
em que este hipotecaria em garantia da obrigação alheia, o que faculta a lei (Dec. 169 A,
edifício em solo alheio passa ao domínio do dono do solo – omne quod inedifcatur; solo
cedit o edificador não tem contra o proprietário do solo ação real – mas, apenas ação
(c)
Reputamos este ponto líquido. Nem faça impressão o que adianta Paul Pont no n. 359
do 1.º vol. do seu Tratado de Privilegios e Hipotecas, quando diz:
“Les batiments sont donc immoubles, aussi bien lorsqu‟ils sont 1‟oeuvre du propriètaire
du sol qui lorsqu‟ils ont été construits par un autre, et par suite ils sont susceptibles
d‟hypothéque.”
O notável tratadista não afirma que o edifício em solo alheio possa ser hipotecado de
per si – o que iria de encontro à doutrina por ele sustentada um pouco após no n. 360 – quando
tratando de frutos pendentes e das árvores, diz: “Ce n‟est pas dire qu‟il puissent être
hypothéqués distinctement du fonds de terre auquel ils adhérent ou qui lés racèle” a razão de
decidir é idêntica para os frutos pendentes e árvores e para os edifícios. Os frutos como os
edifícios fazem parte do solo, nem outro é o effeito da incorporação que torna imóveis os
edifícios.
Os frutos não podem ser hipotecados sem o solo pelas mesmas razões por que não
podem sê-lo os edifícios.
a) Porque desagregados do solo tornam-se móveis;
b) Porque ligados ao solo seguem a condição jurídica deste (L. 40, D., act. empt, L. 44
D., de rei vindicat).
Não seja, tampouco, causa de dúvidas o fato de considerarem as Instruções de
11.09.1836 (arts. 5.º, 6.º e 7.º) os edifícios que constituem prédios urbanos e rústicos – imóveis
por natureza.
A expressão prédio, como com justo fundamento diz o Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, §
179, nota 8), compreende os edifícios com o solo respectivo. As expressães prédios urbanos e
rústicos de que usava o art. 138, § 1.º, do Dec. 3.455, de 26.04.1895, o que o art. 135 do Dec.
379, de 1890, eliminou, tinham referência às disposições dos arts. 5.º, 6.º e 7.º, das Instruções de
1836; ora, este não consideram todos estes edifícios e os que menciona com minudência nos
arts. 6.º e 7.º imóveis por natureza, senão quando estão para com o solo em estado de aderência
e ligação tais – que a sua deslocação importa a perda das suas individualidades – fixados no solo
de maneira que, se não possam tirar e transferir do lugar em que se acharem sem se destruírem.
É este o característico da incorporação que. imprime a tais bens o cunho de imóveis por
natureza – e é por essa razão que as Instruções de 1836 citadas consideram imóveis por
natureza, não somente toda a espécie de edifícios aderentes ao solo como também os aquedutos,
cercas e pontes – e, exclui os moinhos d‟água e do vento que forem portáteis. (Instr. cit. art. 7.º,
n. 2).
O Sr. Lafayette entende (Dir. das Cousas, § 179, nota 8) que o superficiário pode
hipotecar os edifícios que houver construído sob o solo alheio sujeito ao ônus real da superfície.
Conseguintemente se a lei hipotecária houvesse reconhecido a superfície entre os ônus
reais – o superficiário poderia hipotecar os edifícios por ele levantados sobre a superfície, pois
em tais edifícios é que se exercitava o direito real de acordo com os preceitos do direito
pretoriano. (Maynz, vol. 1.º, 152 notas 3, 5, 6 e 7).
A questão carece, pois, de alcance prático, porque o legislador de 1890, seguindo os
passos do de 1864, não reconheceu a superfície como ônus real (Dec. 169 A, de 19 de janeiro;
art. 6.º; Dec. 370, de 2 de maio, art. 238).
Não é, porém, desprovida de interesse a liquidação deste ponto, mesmo porque há quem
compreenda a superfície entre as servidões. Juliano no § 4.º da Lei 86 D. de legatis et fidei
commisso) diz: “Valet legatum, si superficies legata sit ei, cujus in solo fuerit: licet is dominus
soli sit: nam consequetur, ut HAC SERVITURE liberetur, et superficiem benifaciat”.
Pode haver intérprete – que leve o desejo de ampliação ao ponto de entender que a
expresso – servidão – abrange a superfície e que conseguintemente esta possa ser a base da
hipoteca de um edifício em solo alheio – a prevalecer a opinião do Sr. Lafayette.
25. Os frutos pendentes
01.09.1836, art. 5.º; Ribas, obra citada, p. 212; Lafayette, Dir. das Cousas, § 179, n. 1),
como parte do solo, ao qual se reputam incorporados (L. 44, D., de reivindic.); não
torna móveis.
não a pode impedir – porque é ela um ato da administração que o devedor exercita sobre
o bem hipotecado, cuja posse conserva; que o credor quando contratou sabia que devia
ser praticado porque o destino de frutos e outros produtos da terra é o de serem colhidos
e que é exercitado pelo devedor não somente em vantagem própria, mas na do credor.
(Martou, n. 722; Demolombe, volume citado, ns. 180, 187 e 188; Pont., ns. 302 e 363).
hipoteca?
e ação do credor.
O Sr. Lafayette entende (Dir. das Cousas, § 180, not. 5.ª) que tais bens não se
índole do nosso direito, o domínio não se transfere pela simples convenção, mas
supra) – o devedor tem pleno direito de exercitá- lo sem que o credor hipotecário o possa
embaraçar: ora, esse direito ele pode exercê-lo por terceira pessoa – pelo adquirente dos
frutos, a quem eles podiam ter sido vendidos com a cláusula de fazer a colheita.
Quando se vende uma colheita pendente, não se entende vender bens imóveis,
móveis.
É certo que o comprador neste caso não reivindicava, havia-os pela ação ex-
incorporadas com os frutos e do qual se reputam fazer parte (fructos pendentes pars
fundi), não podiam ser reivindicadas de per si, sem o solo ao qual estavam aderentes:
arorum quod in fundo continentur, non est separatum corpus a fundo: et ideo, ut
dominus suas specialiter arbores vindicare emptor non poterit. – Tal é a razão dada por
Pomponio na Lei 40 do Dig. act-empt. – a qual não impedia que os frutos fossem
27. A lei admite à hipoteca de per si, como os imóveis por natureza:
a) O domínio direto dos bens enfitêuticos (Dec. 169 A, de 19.01.1890, art. 2.º,
b) O domínio útil dos mesmos bens. (Dec. 169 A, de 19.01.1890, art. 2.º, § 1.º;
maquinismos (Decretos citados 169 A, art. 2.º § 1.º, e 370, art. 133, § 4.º).
O direito moderno admite-o entre os bens que podem ser objeto da hipoteca.
(Código Civil português, art. 890; Código Civil italiano, art. 1967, n. 3).
e o Uso-fructo, p. 50).
consideração de poder ele, como o domínio direto, ser objeto de alienação: – estar no
comércio.
todos os casos respeitado (Dec. 169 A., art. 2.º, § 1.º), não importando, porém, tal
consentimento do senhorio.
A natureza imóvel e a importância deste direito justificam a disposição da lei
(Marton, n. 757; Troplong, n. 405; Laurent, n. 21; Duranton, vol. 19, n. 268):(d)
O legislador, que não admitiu as hipotecas sobre os imóveis pela coisa a que se
aplicam (Dec. 370, de 1890, art. 136) – fez exceção da enfiteuse – por motivos de
grande ponderação.
Martou (n. 737) a natureza imóvel e a importância deste direito, são mais enérgicas e
O enfiteuta hipoteca não o imóvel sobre o qual tem o domínio útil, mas o
direito de enfiteuse (Laurent, n. 214); ele não pode hipotecar mais do que possui: ora, o
prédio não lhe pertence, é do domínio de senhor direto que tem sob seu poder a
(d)
É objeto de controvérsia no direito francês, se a enfiteuse pode ser objeto de hipoteca.
Demolombe, foi a nosso o ver, o que com melhores argumentos ombateu a opinião dos
que entendem que o código Napoleão, apesar de não fazer menção da enfiteuse, aliás, admitida
pela legislação anterior (Lei de 11 brumario do ano 7.º) e repelida abertamente por Treilhard na
exposição de motivos, aceitou em seu sistema.
O ilustre comentador consideranda-a repudiada peio código Napoleão, que não tratou
dela no lugar próprio (art. 526), quando fez menção dos imóveis pela coisa a que se aplicam, –
nem no art. 2.118, quando enumerou os bens hipotecáveis, não entra na questão de saber se é ou
não a enfiteuse hipotecável.
Em contrário, porém, à doutrina de Demolombe e à de poucos outros (Paul Pont,
Previl., e Hypoth., vol. 1.º, n. 388) está a maioria dos escritores (Duranton, 19, n. 268; Marcadé,
Código Civil, vol. 2.º, n. 368 e outros) e mais do que tudo a prática uniforme em França
(Demolombe, ns. 485 e 491, 9.º vol.).
Em face do direito escrito francês parece justificado o conceito de Demolombe que a
jurisprudência e a prática – foram os que criaram verdadiramente a enfiteuse no moderno
direito francês.
substância da coisa; o direito real do enfiteuta limita-se aos atos de fruição e utilização,
no jus abutendi – isto é, na alteração da substância da coisa: até aí não alcança, porém, o
direito do usufrutuário.
Se como parece, e entende o escritor citado, o Código Civil português nos arts.
1.673 e 2.197, equipara, em seu exercício material, o usufruto à enfiteuse – nem, por
isso, se deve dar como acerto seguro e princípio incontrovertível que a noção jurídica de
um é igual à de outro: que o direito real que um representa e que se revela em efetivo
consiste. O enfiteuta pode reivindicar (Corrêa Telles, Dout. das acçs., ed. Teixeira de
Freitas, § 39, nota 106): o usufrutuário – que tem apenas servidão pessoal – não obtém a
posse do objeto do usufruto senão pela ação confessória (Dout. das acções, ed. cit., §
hipoteca, o que o equipara aos imóveis por natureza – apesar de ser imóvel pela coisa a
que se aplica.
usinas incluindo-o entro os bens que podem, de per si, ser objeto de hipoteca. Quis antes
o legislador revelar o apreço em que devem ser tidos tais bens como fatores do
são desde muito considerados objetos de hipoteca, enquanto aderentes ao solo, com o
qual formam um todo de que não podem ser desagregados sem perder a sua
sempre compreendidos na hipoteca das fábricas, como imóveis por destino (Provisão e
Instrução, citadas, Lei 1.257, de 24.09.1864, art. 2.º, § 2.º, Dec. 3.453, de 26.04.1865,
A lei não inovou, não teve como intuito resolver, de, modo diverso do que o
Estes engenhos não podiam ser objeto de hipotecas fora do solo: – a disposição
supra do Dec. 169 A, de 19 de janeiro, não teve em mira resolver o caso, formando
ao solo, tanto que cogitou sempre da desapropriação do solo alheio, para nele ser
construído o engenho central, de acordo com os preceitos do Dec. 816, de julho de 1855
sobre os rios, ribeiros e veios d‟água, que servirem para alimentar as caldeiras e
geradores de vapor.
engenhos centrais.
de hipoteca que se celebravam muitas vezes para garantir empréstimos realizados por
hipoteca era indispensável para conferir prelação a tais títulos, equívoco deplorável que
a lei felizmente incumbiu-se, em boa hora, de dissipar para sempre (Dec. 169 A, de
19.01.1890, art. 5.º § 1.º, n. 2; Dec. 370, de 02.05.1890, art. 220, letra b).
ligada ao solo, com ânimo perpétuo (Provisão de 08.01.1819, Instrução de 1836, art.
5.º); são os imóveis por natureza das estradas de ferro – compreendendo o leito onde
edifícios.
33. Os Decretos 1.664, de 10.01.1855, arts. 2.º e 3.º; 6.995, de 10.08.1878,
cláusula 3.ª, §§ 2.º, 3.º e 7.º; e 7.952, de 29.12.1880, cláusula 1.ª, ns. 1 e 2,
solo onde são colocados os edifícios e a superestrutura metálica – bem revelam que não
estradas, apenas com dependência e para a posse efetiva – da indenização que for
estabelecida – pelo processo regulado no mesmo Decreto, torna evidente que não há
possibilidade de estradas de ferro, construídas sobre o solo que não pertença à empresa
da mesma.
São imóveis por natureza o solo, as estações, oficinas e todos os edifícios: são-
a) locomotivas;
b) alimentadores;
34. A lei compreende entre os bens hipotecáveis os imóveis por destino (Dec.
169 A, de 15.01.1890, art. 2.º, §§ 1.º e 2.º, e Dec. 370, de 02 de maio, arts. 134 e 135).
O estudo dos bens que tomam este caráter, sendo, aliás, móveis por natureza, é
de alta conveniência não somente, porque tem dado no direito moderno, causa a grandes
dos imóveis por destino, quando se trata de bens rurais que não sejam agrícolas ou de
imóveis urbanos.
08.01.1819; Instrução de 01.09.1836, art. 5.º; L. 17 § 7.º D. de act. empt. e Leis 13 § ult.
e 38 § 2 D. h. tít.; Demol., vol. 9.º, ns. 199, 200 e 201; Marcadé, vol. 2.º, n. 352; Aubry
36. Esta noção oferece o preciso critério para resolver as dificuldades que no
nosso direito possam surgir na prática, como as que no direito francês originaram-se do
confronto dos arts. 518 e 525 do Código Civil. Assim desde que se revela por parte do
proprietário dos bens móveis e imóveis – o intuito de ligar aqueles a estes por laço
permanente, com o propósito de fazer deles um todo – o móvel passa a ser imóvel por
destino.
Daqui vem o critério estabelecido no Código Civil francês (art. 525) para
móvel ao imóvel por laços de ligação material como: cal, cimento, ferro, etc., de modo
tal que o móvel não possa ser destacado sem ruína ou deterioração própria, ou dos
edifícios. Esta noção está reproduzida na nossa legislação e em alguns códigos
modernos (Instruções de 01.09.1836, art. 6.º n. 1 in fine; Av. 367, de 06.11.1856 [não
encontrei esta norma]; Código Civil italiano, art. 414; Goyena, Código Civil espanhol,
art. 380, n. 4; Código Civil holandês, art. 563 in fine; Código Civil chileno, art. 572;
Código Civil espanhol, art. 331, n. 4); a doutrina, porém, mais recente é a que reconhece
como existente a imobilização por destino desde que se revela no proprietário a intenção
dependência – ainda quando não exista laço de aderência material. (Demolombe, vol.
9.º, n. 278; Paul Pont, n. 372; Aubry et Rau, § 164; Código Civil argentino, art. 6.º do
Tít. 1.º do Liv. 3.º; Código Civil oriental, art. 417; Marcadé, vol. 2.º, n. 352).
do Tít. 1.º do Liv. 3.º do Código Civil argentino), que a lei faça enumeração taxativa dos
imóveis por destino, como o fizeram o Código italiano, o do Chile, o do Estado Oriental
do Uruguai e outros.
292).
Sempre que o imóvel, seja qual for o laço da ligação, conservar a sua
individualidade especial é imóvel por destino, desde que a ligação seja permanente.
Assim a pedra mármore colocada nas sacadas de uma casa, perde a sua
No primeiro caso a pedra mármore, – por preciosa que seja sua qualidade,
domum.
hipotecário?
b) Os acessórios dos imóveis (Dec. 169 A cit.; Dec. 370, de 02.05.1890, art.
134).
de carro, animais de arado, etc.; mas ainda todos os animais necessários para a
exploração rural – como os carneiros, as vacas – desde que não se destinem unicamente
à engorda ou à criação (Demolombe, ns. 225, 235, 241, 242 e 243; Aubry et Rau, vol.
2.º, p. 13, e notas 38, 39 e 40; Marcadé, vol. 2.º, n. 353 e vol. 10, n. 372; Mourlon, Rep.
Ecrites, n. 1.436; Código Civil francês, art. 524; Código Civil italiano, art. 413; Código
Civil chileno, art. 570; Código Civil uruguaio, art. 417; Código Civil espanhol, art. 334,
n. 6; Código Civil holandes, art. 563, n. 3).
cabeças.
aclimação e zoológico.
não os mencionou entre os acessórios dos imóveis agrícolas, que são sempre alcançados
agrícolas e são:
a) Os instrumentos de lavoura;
b) Os utensílios das fábricas aderentes ao solo (Dec. 169 A, de 1890, art. 2.º §
2.º; Dec. 370 do mesmo ano; art. 155).
São estes os únicos bens que se compreendem nas hipotecas dos imóveis
agrícolas? Todos os mais dependem de ser mencionados, ainda os que, segundo a nossa
hipoteca dos imóveis por natureza; antes exigiu que fossem expressamente incluídos na
escritura, para que incidam sob a ação do direito real; permittio a sua hipoteca –
juntamente com os imóveis a que se acharem ligados – o que significa que condenou e
repeliu a hipoteca dos mesmos de per si – pela razão fundamental de serem tais bens
A doutrina contrária (Martou, 717 e 718) que acha apoio na lei belga, cuja
disposição é expressa (art. 45, 2.ª alínea), não é sustentável entre nós em face das
disposições do § 1.º do art. 2.º do Dec. 169 A, e art. 137, § 2.º, do Dec. 370 de 1890.
(e)
A opinião em contrário seguida pelo Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 183, n. 2)
42. A disposição compreende dois casos de subrogação que, conquanto
idênticos nos efeitos, convém, todavia, estudar em separado, para mais completa
brasileiro de 1864 copiou, por sua vez, com alterações de forma – o art. 10 da Lei belga.
hipoteca, é um dos modos da extinção desta (Dec. 169 A, art. 11, § 2.º; Dec. 370, art.
226, § 2.º); o que facilmente se compreende, desde que se considere, que a destruição da
imóvel – liquidação do direito real – sobre o preço, produto de tal venda, entenderam,
dizemos nós, ser justo que, na hipótese de não desaparecer totalmente o valor do imovel
– com o perecimento deste – mas antes subsistir pela prestação da quantia devida como
hipotecário, o que somente se podia alcançar por meio da subrogação, fixado o preço
em lugar do imóvel.
origem a dúvidas que já no domínio da Lei belga surgiram na prática por ocasião da
Vejamos as principais.
reparação?
O Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 182, nota 9) entendeu que depende tal
igual ao destruído, ninguém lhe pode vedar. A estipulação, que se costuma fazer nas
assim a obrigação contraída; mas tal estipulação não significa que a sua falta torna
plerumque fit.
hipotecário subsistindo sempre no solo – compreende o prédio que nele for levantado; –
formação da lei.
Pois bem, foi justamente o reparo de Bethmont que sugeriu a inclusão das
expressões (empregadas pela emenda Vavin): si elle n’est pas appliquée par lui à la
indicado pela natureza das coisas: a reparação dos estragos – a reconstrução de imóvel
– e de modo algum o pagamento de dívidas garantidas por hipoteca do imóvel
destruído!
não podiam contar, com outra coisa mais, do que as sobras incertas do preço do imóvel
matéria de seguro, o que não e da sua competência, antes é alheio ao seu objeto.
Lafayette parece que não resolve a dúvida, porque deixa de dar às expressões da lei o
verdadeiro alcance.
Tais expressões tiveram por fim evitar que se emprestasse à subrogação efeitos
De fato, desde que o preço ficasse subrogado ao imóvel, sem limitação, – qual
a conseqüência?
Os credores hipotecários, com o seu direito real firmado, por força da lei, no
preço, impediriam que ele fosse aplicado à reparação do imóvel – ainda quando tal
por ocasião de ser sujeito ao Conselho d‟Estado em França, o projeto de 1850, e que se
da Lei de 1864, tiveram por fim evitar que o credor hipotecário possa impedir, que o
preço do seguro seja aplicado à reparação do imóvel, quando estipulada tal reparação na
apólice; mas de modo algum visou deixar ao arbítrio do segurador pagar a indenização
ou reconstruir o prédio.
circunstância, podia ser tentado a aproveitar a oportunidade para liquidar o seu contrato.
A quantia ali estava – sem dispêndio e trabalho de sua parte, para apurá-la por meio de
seguro ao segurado?
O Sr. Lafayette opina que não, isto porque desde que a lei subrogou o preço da
coisa segurada a esta, em garantia dos credores hipotecário s, deu-lhe novo destino; – o
segurador não pode; sem infringir a lei, desviá- lo desse destino, como aconteceria se o
entregasse ao segurado.
48. Não nos podemos conformar com este modo de ver.
Ele importa subverter a noção da hipoteca; esta tem por fim a garantia da
solução da obrigação – respeitando sempre a posse do devedor, de cujo poder não sai [é
meio seguro de impedir que a quantia devida pelo segurador passe para seu poder – o
seqüestro – que a lei manteve, como medida assecuratória, sem restringi- la ao caso do
(f)
O Sr. Lafayette convém em que o art. 2.º, § 3.º, da Lei de 1864, não é expresso no
sentido da sua opinião – e, parece apoiar-se na autoridade de Martou.
Este escritor opina, porém, de modo diferente. O que ele afirma é que o direito dos
credores hipotecários, para se tornar efetivo, não depende de penhora ou seqüestro da quantia –
importância do seguro – em mãos do segurador, assim como teriam o dever de seqüestrar o
preço devido por terceiro adquirente do imóvel hipotecado (n. 271).
Não nos parece de todo o ponto exata a asserção do Sr. Lafayette, quando adianta:
“E, accresce, se a lei deixasse ao arbitrio do segurador pagar ao segurado, teria ella
mesma destruido a virtude da providencia que consagra.”
Como? Pois a lei faz subsistir sobre a importância do seguro – a hipoteca extinta pelo
perecimento da coisa hipotecada, e não dá ao credor garantia suficiente! – antes, inutilisa esta
garantia somente pelo fato de não tirar à posse do devedor aquilo que representa o imóvel
hipotecado, que não podia sair de sua posse – a não ser nos casos em que a lei concede ao
credor o seqüestro – como meio assecuratório do seu direito, tornado exeqüível – pelo
vencimento da dívida?
Este meio o credor pode utilizá-lo na hipótese em questão: – que maior segurança pode
lhe ser concedida?
Nas mãos do segurador – antes de paga – nas do segurado depois do pagamento – pode
a importância do seguro ser seqüestrada pelo credor hipotecário. Imobilizá-la em poder do
segurador, subvertendo a noção da hipoteca é o que somente um preceito expresso da lei pode
Nada pode, no caso vertente, embaraçar o seqüestro – porque a dívida
hipotecária reputa-se vencida, como bem opina o Sr. Lafayette (nota 6, § 182, Dir. das
Cousas).
49. Se o seguro houver sido feito pelo credor, ou por um credor hipotecário as
de igualdade, sem prelação uma sobre outra, deve ser rateada. (g)
(g)
Não pode prevalecer a opinião de Cloes, citada em Martou, de ter o credor
hipotecário, que fez o seguro, preferência sobre os outros somente por este fato, quando não
tenha prelação legal.
Martou, com muita procedência, faz sentir que o credor hipotecário, segurando o imóvel
hipotecpario, se criou para si a garantia – dando-lhe eficácia na hipoteca do perecimento da
coisa segurada – agiu, todavia, como gestor de negócios do devedor, como seu mandatário
tácito. O preceito do § 3.º, do art. 2.º, do Decreto de 1890, tem, pois, inteira aplicação em tal
ocorrência.
A opinião de Grün de Joliat, citados também por Martou, de não produzir efeito o
50. Influi na aplicação do preceito do art. 2.º, § 3.º, do Decreto supra a época
da hipoteca (Dir. das Cousas, § 182, not. 12; Martou, n. 266; Dias Ferreira, vol. 2.º, p.
opera-se em favor do credor hipotecário. A hipoteca tem, pela lei, como um dos seus
Como diz o Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, vol. 2.º, nota 13 ao § 182): “a hipoteca pela
seguro, senão até ao alcance do direito do credor hipotecário – segurado – é insustentável por
supor a impossibilidade de agir o credor hipotecário em seu proveito e no do proprietário do
imóvel.
Ele pratica um ato representando todos os interesses ligados ao objeto. Não somente ele
age em benefício próprio, mas no do proprietário, e no dos outros credores hipotecários, que
podem estabelecer concurso e com ele entrarem em rateio. – Reflita-se que ele melhorou, em
todo o caso, a sua posição. Sem o seguro do imóvel o seu crédito hipotecário nada valeria.
municipal, nos casos e nos termos do Decreto Legislativo 353, de 12.07.1845; ou para o
do mesmo ano; ou por necessidade pública nos casos da Lei de 29.09.1826, que a de
1855 não alterou, antes manteve nesta parte (art. 35, do Decreto Legislativo 353, de
12.07.1855).
53. Em qualquer destas hipóteses, por força da disposição da 2.ª alínea do § 3.º
do art. 2.º do Dec. 169 A, o imóvel fica livre do ônus hipotecário, e este passa para o
preço liquidado no processo da desapropriação. (Lafayette, Dir. das Cousas, § 182, art.
16).
O preceito do art. 31. da Lei 353, de 1845 citada, a que se refere Teixeira de
Freitas, na Consolidação das Leis Civis (nota 15, ao art. 522), e que oferecia o meio de
purgar o ônus real de que estava gravado o imóvel hipotecado, operando a sua remissão
de acordo com a disposição da Ord. do Liv. 4.º, Tít. 6.º princ. e § 1.º deixou de ter
aplicação desde que o art. 2.º, § 3.º, da Lei 1.237, de 24.09.1864 (reproduzida no
desapropriado pelo preço da indenização e fez recair sobre este a hipoteca que vinculava
54. A opinião sustentada pelo Sr. Lafayette na nota 15 do § 182 do seu Dir. das
Cousas não é aceitável também na hipótese vertente, porquanto a lei manda que a
Legislativo de 12.07.1845).
posse da importância que representa o imóvel, não pode ser tirada do poder do devedor
hipotecário, a menos que não se entenda obrigatória, como geral para todos os casos, o
depósito de que tratam os arts. 30, 31 e 32 do Decreto Legislativo de 1845, caso em que
indenização – sobre este se deve diretamente exercitar a ação dos credores hipotecários,
outrem deve- lhe reparação completa” (Código Civil francês art. 1.382; Código Civil
italiano, art. 1.151; Chironi, La culpa nel diritto moderno, culpa extraconttractuale, vol.
1.º, n. 2; Demolombe, vol. 31, n. 456 e seguintes; Laurent, vol. 20, n. 384; Sourdat,
Responsabilité, vol. 1.º, ns. 5 e 4; Martou, Priv. et Hyp., vol. 1.º, ns. 275 a 277; Pothier,
que será sempre a mais completa possível (art. 22 do Código Penal), deverá ser pedida
por ação civil (art. 68 da Lei de 03.12.1841), observando-se no que forem aplicáveis, as
com os princípios que regem no direito moderno – e que se pode ver desenvolvidos com
clareza e proficiência nos autores acima citados: como a lei estabelece, em garantia dos
que o legislador curou apenas do caso em que o dano fosse completo, isto é, que o
claro que a ficção da subrogação opera-se não somente quanto ao preço do imóvel que
pelos meios que o processo civil fornece, para dar efetividade às cláusulas
convencionais.
ele o indenizado antes de todos porque tinha o domínio do imóvel e a sua posse. A
hipoteca não lhe tirou: ele conservou ambos até o momento da desapropriação. Os
credores hipotecários têm, sim, o direito sobre o preço da indenização como tê- lo- iam
sobre o da venda em hasta pública: esta, porém, não se operaria senão em ação regular,
onde o ônus real podia ser invalidado – por meio de embargos que atacassem a hipoteca
em sua substância, em seu modo de constituição. Por embargos não são, nem podiam
ser, repelidos pela mesma lei apesar do rigor farisaico de que usou esta contra o
devedor.
55. A indenização pode ser devida por dano originário de fato sujeito à sanação
da lei penal ou de ato que escapa a tal sanção, mas que sendo danoso autoriza o pedido
de reparação.
pelos delitos e quase delitos, que no direito moderno se tem estudado com a solicitude
Só pode hipotecar quem pode alhear. Os imóveis que não podem ser alheados,
(h)
Que a hipoteca não é no direito moderno um desmembramento do domínio e muito
menos, um princípio de alienação sustenta-o Demolombe (vol. 9.º, ns. 471 e 472).
É incontestável que é um direito real; a seqüela é prova disso, apesar da convicta e
animada argumentação de Marcadé (vol. 2.º, ns. 360 e 361) que firma o conceito de que a
hipoteca é um simples crédito de dinheiro contra um imóvel (Op. cit., n. 363).
Que ela importa em um desmembramento do domínio entende Demolombe ser nolão
incorreta, repelida pela natureza das coisas.
Se se deve considerar como domínio, o direito real por excelência, o conjunto do jus
utendi, fruendi e abutendi não importando a hipoteca o exercício de qualquer destes direitos,
não pode ser considerada um desmembramento, ma desagregação dos elementos do domínio.
O devedor hipotecário tem completos o jus utendi e o jus fruendi; a limitação ao jus
abutendi não entende propriamente com o exercício deste, mas com os consectários decorrentes
deste exercício.
Efetivamente qual a conseqüência da danificação do imóvel hipotecado? da demolição
do edifício sobre o qual assentou a hipoteca?
O direito do credor pedir reforço, se o valor do imóvel danificado, ou do solo sobre o
qual estava erguido o edifício demoligo não for suficiente para garantir a dívida; somente no
caso de recusar om devedor o reforço, poderá o credor acioná-lo havendo-se a dívida
hipotecária por vencida. (§ 2.º, do art. 4.º, do Dec. 169 A, de 19.01.1890).
Se o credor não tem meios de impedir que o devedor hipotecário danifique o imóvel
hipotecado – mesmo demolindo o edifício construído sobre o solo hipotecado, se apenas resta-
lhe o direito de pedir reforço e só no caso de recusa deste pode requerer o seqüestro, porque só
então a dívida reputa-se vencida – como duvidar de que o devedor tem, em sua plenitude, o jus
abutendi, revelado em sua mais enérgica manifestação?
Qual dos elementos do domínio se desagrega para constituir a hipoteca?
A verdade é que a hipoteca não importa o exercício de qualquer dos elementos do
domínio como acontece com as servidões do uso, da habitação e do usugruto, e com a enfiteuse
em as quais o desmembramento do domínio dá-se de modo preciso.
O devedor hipotecário pode usar, gozar e alienar o imóvel hipotecado; ao credor não é
lícito exercitar nenhum dos elementos do domínio; como dizer eu é ele possuidor de uma
parcela do direito de propriedade desmembrada por força do contrato hipotecário do domínio do
devedor?
No rigor da lei civil inglesa o devedor hipotecário é considerado mero possuidor em
nome do credor, que pode, quando lhe apraz, tirar o devedor da posse, por despejo, ou por outro
qualquer meio judicial. “Technically speaking, the mortgagos has, at law, only a mere tenancy,
and that is subject to the right oh the mortgagee to enter immediately, and at his pleasure, if
there be no agreement to the contrary. He mau, at any time when he pleases, and before a
default, put the mortgagor out of possession, by ejectment, or other proper suit. This is the
Engish doctrine, and I presume it prevails very extensively in the United States”. (Kent‟s
Commentaries on American Law, vol. 4.º, n. 155).
A eqüidade não deixou de modificar essa severidade e segundo a sua doutrina a
hipoteca é considerada uma simples garantia da dívida e não afeta de modo algum o domínio do
devedor. “The equity doctrine is, that the mortgage is a mere security for the debet, and only a
chatell interest, and that until a decree of foreclosure, the mortgagor continues the real owner of
the fee”. (Kent‟s Commentaries, vol. 4.º, n. 160).
A generalidade dos escritores considera a hipoteca como um desmembramento do
domínio.
Laurent opina nesse sentido porque – “le débiteur qui a donné um immeuble em
hypothèque n‟am plus sur as chose le pouvoir absolu qui caracterise la proprieté; il ne peut plus
em disposer comme le propietaire em la detruisant, il ne peut plus em jouir, ni l‟administrer
comme il l‟entead quand même il agirait em bom père de famille” (vol. 30, n. 174).
Nada menos exato, no rigor do direito, como já o fizemos ver.
Martou não tem igualmente fundamento jurídico para afirmar que é meramente de
palavras a diferença entre o direito real de seqüela e o direito real que importa desmembramento
do domínio (n. 690).
A seqüela tem como fim único proporcionar ao credor um meio eficaz de tornar efetiva
a hipoteca, a garantia real, habilitando o credor a ir vender o imóvel e pagar-se do preço
respectivo, esteja ele em poder de terceiro; qualquer dos elementos que constituem o domínio
tem maior compreensão e o seu exercício põe embaraços às funções dominicais.
A afirmação de que a hipoteca é um desmembramento do domínio falsea, pois, a noção
jurídica da hipoteca.
O que doutrina o Sr. Lafayette, no seu Direito das Cousas (§ 175, n. 3), é prova da
exatidão da nossa asserção. O poder se sujeitar a coisa a qualquer destino a que ela se preste não
é de per si só faculdade característica do domínio tanto que existe no possuidor, a título
precário, no detentor em nome alheio. O Sr. Lafayette referindo-se as servidões (nota 15 do §
175) como desmembramentos do domínio exemplificou bem o princípio que emitira no texto
nestas palavras: “A hypotheca não póde ser estabelecida senão por quem tem o domínio e o
domínio resume em si todos os direitos de que são susceptiveis as cousas corporeas”.
Fir-se-á: a que fica reduzido o direito real da hipoteca? E a seqüela? Não é mais
enérgica manifestação do jus in te aliena?
Alomgamo-nos um pouco no estudo da questão: se ela é doutrinal, não lhe falta
interesse prático: como poder resolver as grandes controvérsias que ainda hoje oferece a
hipoteca se não procurar conhecer a sua estrutura jurídica?
Em resumo o fundamento jurídico da opinião de Demolombe é de incontestável
procedência.
O poder de sujeitar a coisa a qualquer destino a que ela se preste, não assiste de modo
algum ao credor hipotecário, este não tem o jus utendi; ainda na anticrese este direito não existe
de modo absoluto: segundo a nolão moderna da anticrede esta só confere ao credor a detenção
do imóvel como garantia da percepção dos grutos para o efeito de aplicá-los à remissão da
dúvida depois de compensados os juros. (Código Civil francês, art. 2.085; Código Civil italiano,
arts. 1.091 e 1.095; Mourlon, vol. 3.º, ns. 1.226, 1.227 e 1.231, § 2.º).
É esta noção a que passou para o nosso direito hipotecário atual o qual somente confere
ao credor anticrético a posse a título precário, para administra o imóvel e aplicar os frutos ao
pagamento das anuidades da dívida e gastos da administração. (Dec. 380, de 02.05.1890, arts.
341, § 2.º, e 352, segunda alínea, in fine).
O fundo substancial da hipoteca é conferir ao credor a faculdade de tornar efetivo o seu
direito, ainda que os bens do devedor tenham saído do poder deste para o de terceiro. Isto
objeto da hipoteca. Se o devedor hipotecário não tivesse, quando celebrou o contrato
hipotecário, a faculdade legal de dispor de seus imóveis, não poderia fazer destes objeto
de uma convenção que tem como intuito a venda dos mesmos, pois, a hipoteca só tem
57. Todos os que não têm a livre faculdade de dispor de seus bens estão
alieni juris (como os menores órfãos e filho de famílias) e aos que se acham sob a
administração alheia (os interditos) alienar por qualquer modo seus bens de raiz.
constitui apenas para o devedor uma limitação ao direito de transferir, sem ônus, os seus
imóveis hipotecados; mas não importa investir o credor no exercício de quaisquer dos elementos
do domínio. No direito romano o devedor hipotecário conservava o direito de usar da coisa e de
apropriar-se dos frutos (Leis 22, § 2.º, e 35, § 1.º, D. de pign. action; L. 12 por D. de distract
pign. L. 21, § 2.º, D. de pignorib. e L. 22, § 1.º, de novalib. action); de reivindicá-la, ainda do
credor hipotecário (L. 36 D. de adq vel ammit posses, L. 40 princ. D. de pignorab. action; L.
205 D. de reg. jur; Const. 10, cod., de pign. action; Const. 9.º, cod., de pigni et hupoth.) O
direito essencial que a hipoteca conferia ao credor era o de fazer vender a coisa gravada e de se
pagar pelo preço; enquanto não usasse desse direito a hipoteca não autorizava nenhum poder
sobre a coisa (Maynz, § 161; se o credor usasse ou dispusesse dela, podia incorrer a ação de
furto (L. 54, princ. D. de furtis; Instít. de oblig, quae ex delictis nascuntur, § 6.º); o direito do
credor hipotecário, consistindo no direito romano em pagar-se pelo preço da coisa, concedia-se
ao credor uma vigilância sobre a situação da coisa; em virtude disso é que ele podia usar utiliter
das ações negatória, confessória, finium regundorum e communi dividundo (Leis 16 D. de
servit, 9 de operis nov. nunt; 1.ª § 5.º de remission, 4.ª § 9.º D. finium regund, 7 § 6.º D. comm.
divid.) e da ação de furto (L. 12 § 2.º D. de condict furt, Leis 15 princ. e 87 D. de furtis e Leis
17 princ. e 30 § 1.º D. ad levem aqyuiliam).
No direito moderno esse direito era garantia do devedor ao qual restituía se o excesso de
preço sobre a dívida (Maynz, § 161) Veja Ortolan, vol. 1.º, n. 234).
só admitiam a anulação da venda, quando decretada em virtude de reclamação deles ou
de seus tutores e representantes legais (L. 13 e 29 D. de act. empt.; B. Carn., Liv. 1.º,
Tít. 26 § 224 ns. 6 e 7, Biret, Traité des nullités, 1.º, p. 15, 28 e 33), e tornavam a
ratificação retrotraindo os seus efeitos até à época do contrato validava a hipoteca desde
sua data. A ratificação pode dar-se de modo expresso ou tácito. O fato de não usar da
reclamação dentro de cinco anos, depois da maioridade, importa por parte do devedor
hipotecário, ratificação da hipoteca. (L. 3.ª, Cód. Si major factus alieni, Silva a Ord. do
Liv. 3.º, Tít. 42, § 2.º, ns. 3 a 7; B. Carn., Liv. 1.º, Tít. 27, § 239, n. 43; Paul Pont, vol.
11, n. 616).
hipotecarem, desde que o façam com autorização do juiz dos órfãos e seja transcrito na
escritura o alvará (art. 119, par. ún., b); esta disposição compreende todos aqueles que a
a) os emancipados com suplemento de idade (Ord. do Liv. 1.º, Tít. 88, § 28);
c) os casados com mulheres menores de 21 anos, pela razão de não poder dar
outorga para a constituição de um direito real quem não pode constituir-o e não ser a
consignação do imóvel ao pagamento da dívida pelo seu preço ou valor venal, além de
58. O falido não pode hipotecar seus imóveis da data da publicação da sentença
da falência em diante, por que desde essa época fica privado da administração e
disposição de seus bens (art. 18 do Dec. 917, de 24.10.1890, Paul Pont, vol. 2.º, n. 620);
falência são nulas (Dec. 370, de 02.05.1890, art. 129; Dec. 917, de 24.10.1890, art. 29,
f): de onde resulta que a hipoteca celebrada no espaço de tempo que mediar entre a
sentença e a sua publicação será sem efeito para com terceiros, porque a publicidade dos
conformidade com o art. 6.º, b, da Lei 917, de 24.10.1890, para garantir dívida anterior
ao referido termo é igualmente nula. (Dec. 370, de 1890, art. 127, Dec. 397 de 1890, art.
A que houver sido contratada antes da abertura da falência, para garantir dívida
contraída no mesmo ato é válida: (Dec. 370, de 1890, art. 128, Dec. 917, de 1890, art.
29, c).
mesmo, como os dotais, os parafernais da mulher, os dos filhos e os que ele houver
adquirido por doação ou legado com a cláusula de não responderem por quaisquer
hipotecados (Decreto citado, parágrafo único do art. 18; Dir. das Cousas, § 213, n. 3;
insolvência, tem a livre disposição de seus bens e podem hipotecar seus imóveis. (Pont,
vol. 2.º, n. 622; Dir. das Cousas, § 215, n. 4, Zacharias, § 266; Troplong, vol. 3.º, n.
661).
Os arts. 20 do Dec. 169 A, de 19.01.1890, e 380 do Dec. 370, de 2 de maio do
mesmo ano, declaram sujeitos à falência todos aqueles que hajam caído em insolvência
agrícola.
que fosse proposta ação para a cobrança das dívidas e se desse o seqüestro dos bens.
desde que o art. 1.º do Dec. 917, de 24.10.1890, determinou que só o comerciante pode
ser declarado em estado de falência e que o § 2.º do mesmo artigo dispôs que as dívidas
hipotecar quem só tem a faculdade de administrar. (Pont., 2 - 632 e 633; Laurent, vol.
30 - 483 e 484).
Assim, o pai que é administrador dos bens que constituem o pecúlio adventício
dos filhos. (Ord. do Liv. 4.º, Tít. 97 § 19 e Tít. 98 § 7.º) não pode hipotecá- los porque
não pode aliená- los (B. Carneiro, § 188); a opinião contrária de Pont (2, n. 635) carece
conceder- lhe autorização pare hipotecar os imóveis do filho, se ficar provado que daí
provém vantagem para o menor ou que haja necessidade de solver dívida urgente e
herdeiros, porque sem tal consentimento não podem alienar (Dir. das Cousas, § 218, n.
hipotecar seus bens segundo os preceitos de direito comum (art. 72, § 3.º, da
Constituição da República, e art. 19, par. ún., letra a, do Dec. 370, de 1890).
Os bens inalienáveis não podem servir de base ao crédito do devedor que, não
tendo a faculdade de dispor deles, não pode tornar efetiva a garantia dos credores pela
aplicação do produto da venda ao seu pagamento (Pont, Hypoth., vol. 1.º, ns. 349 e 355,
Laurent, vol. 30, n. 195); este princípio fundamental domina a matéria (Martou, vol. 2.º,
n. 714).
culto da divindade, os cemitérios (P. Pont, 1 - 350); Troplong., Hyp., vol. 2.º, n. 412)
público conferem um direito pessoal; tais edifícios não podem ser objeto de hipoteca; a
opinião em contrário sustentada por Pont (1 - 350) não tem procedência no nosso
351 e 352; Dir. das Cousas, 2 - § 178) não podem ser hipotecados.
Os imóveis penhorados.
A opinião de Pont (1 - 353) não tem apoio no nosso direito, porque a penhora
afeta os bens à solução de uma dívida reconhecida por sentença; não pode m tais bens
ser objeto de um direito real que, por sua vez, afetá- los- ia à solução de outra dívida,
com violação do decreto judicial que sobre eles estabeleceu um vínculo jurídico
intransferíveis (Pont, 1 - 355), como os que forem doados ou legados com a cláusula de
não poderem ser aplicados à solução das dívidas do donatário ou do legatário. (Pont, 2 -
617).
(Dir. das Cousas, nota 8 ao § 179; Laurent, 30 – 214; Martou, 3 – 955): a opinião em
hipotecarem imóveis.
63. O filho família maior de dezoito anos não pode hipotecar, salvo sendo
comerciante, autorizado por seu pai, em escritura pública; o maior de vinte e um anos
com autorização por escrito de seu pai, pode hipotecar porque pode também alienar.
26).
64. O maior de vinte anos emancipado por suplemento de idade, nos termos da
Ord. do Liv. 3.º, Tít. 42, não pode vender bens imóveis, não é conseguintemente capaz
de hipotecar (Ord. do Liv. V, Tít. 88, § 28). Em posição igual acha-se o casado menor
de vinte e um anos.
O juiz da primeira instância (Lei de 22.09.1828, art. 2.º, § 4.º, Decretos 1.030,
de 14.11.1890, art. 50, § 4.º; 1.334, de 28.03.1893, art. 16; e 2.579, de 16.08.1897, art.
5.º, § 1.º, VIII, b) pode conceder autorização para tal fim (Dec. 370, de 02.05.1890, art.
119, b). Tais menores, sendo comerciantes, podem alienar e hipotecar os bens de raiz,
65. O nosso direito mantém a mulher sob o poder do marido; que é o chefe da
sociedade conjugal.
A mulher não tendo o exercício dos direitos civis não pode alienar nem
hipotecar bens de raiz, ainda seus próprios, sem consentimento do marido, salvo os
doados sob a condição de dispor deles livremente, exceção que confirma a regra geral
e 28).
Duas exceções abre a lei a esta incapacidade:
a) A da Ord. do Liv. 4.º, Tít. 66. O imóvel que a mulher casada reivindica da
concubina de seu marido, cai sob o seu exclusivo domínio, e ela dispõe dele sem
alienar e hipotecar seus imóveis, ainda dotais, (i) se for comerciante tendo mais de 18
(i)
O Sr. Lafayette censura com justa razão a disposição do Código do Comércio que
permitte à mulher casada comerciante hipotetcar os imóveis dotaes, que tem no casal um destino
que semelhante faculdade impede de preencher (Dir. das Cousas-, nota 6 ao § 213) e lastima
que o nosso legislador não se houvesse atido ao preceito prudente do art. 7.º do Código do
Comércio francês, que proíbe a alienação e a hipoteca dos bens dotaes quando o casamento
houver sido celebrado sob esse regime. Tais bens são absolutamente inalienáveis no direito
francês; seu rendimento tem o mesmo caráter, eles escapam aos credores, ainda depois da
dissolução do casamento, se os credores o forem por dívida contraída na constância do mesmo.
(Alauzet, vol. 1.º, 85).
O art. 120 do Dec. 370 citado, na 2.ª alínea refere-se, revogando-a – à disposição do art.
60, do Dec. 181, de 24.01.1890, que limita a faculdade conferida pelo art. 27 do Código do
Comércio às mulheres comerciantes antes do casamento.
(j)
O Código do Com. italiano contém (art. 14) disposições mais cautelosas que o nosso.
À mulher casada permitte hipotecar todos os bens imóveis, que lhe são proprios; quanto
aos dotaes a faculdade lhe é somente concedida nos casos o com as formalidades do Código
Civil. Bem longe de estabelecer preceito de excepção às regras do direito civil o Código do
Comércio italiano sujeita a alienação dos bens dotaes da mulher – ainda quando commerciante –
aos princípios daquele direito que dominam a matéria.
Segundo o Código Comercial português de 1888 é conferida à mulher casada que for
comerciante o poder de hipotecar seus bens próprios não dotaes, sem dependência de
autorização do marido, contanto que seja por causa de seu comércio (art. 16).
O Código Comercial espanhol de 22.08.1885 mandado vigorar desde o 01.01.1886
autoriza a mulher comerciante a hipotecar não somente seus bens próprios e pessoais, mas ainda
Não pode, porém, hipotecar os imóveis comuns, nem os que forem de
propriedade exclusiva do marido. (Dir. das Cousas, § 213, n. 2, e nota 7; Dec. 370, de
02.05.1890; art. 120). Esta faculdade tem a mulher sendo comerciante antes de casar
contraídas em boa fé pelas pessoas, que com justo título possuiam os imóveis
hipotecados.
66. As duas condições capitais para ter-se a faculdade de hipotecar são: o poder
de alienar e o domínio.
Este de per si só, já o vemos, não supõe o primeiro, mas não é admissível a
alienação da coisa alheia.
Quer para os que entendem que a hipoteca é um começo de alienação, um
desmembramento do domínio; quer para os que vêem nela apenas em direito real, que
tem por objeto a segurança do cumprimento da obrigação, e como tal é subsidiária e não
sobrevive à solução da mesma obrigação, o domínio é condição substancial do poder de
hipotecar.
A hipoteca da coisa alheia é radicalmente nula – quum conveniat rem in bonis
debitoris fuisse (L. 15 § 1.º D. de pignor. et hipoth.) per alium rem alienam invito
domino pignori obligari non posse certissimum est. (L. 6, Cód. si aliena res pignor);
mas se o devedor adquiria depois a propriedade do imóvel que hipotecara, operava-se o
título, o que importa dizer que a lei somente revigora a hipoteca eivada de um vício
por meio da prescrição trintanária, a hipoteca convalesce porque tal prescrição supre o
título.
ainda no caso de estar o devedor hipotecário de má-fé (Leis 9, § 4.º, e 22, § 2.º, D. de
fizera pregoeiro e que Cujacio qualificara de frivolidade (quasi in hanc rem Accursii
influi sobre o nexum contraído, nem sobre o efeito da hipoteca (Dir. das Cousas, § 216,
nota 5; Troplong, Hypoth., vol. 2.º, n. 525); é este o sentir de intérpretes da autoridade
entendem que só pode ter um sentido negativo, isto é, o de recusar a ação ao credor que
aceitação da Lei belga, de 1851, antes o preceito da 1.ª alínea do art. 78 proibindo a
hipoteca dos bens futuros, não visou outro intuito senão obviar às dificuldades que havia
ser estabelecida senão sobre bens pertencentes atualmente o devedor, segue-se que a
hipoteca constituída sobre os bens de outrem, será nula ainda quando aquele que a
germe, de um começo de direito; não se confirma, não se consolida o nada. Pois bem,
no momento em que deu em hipoteca a coisa pertencente a outrem, ele não tinha sobre
ela direito algum, nenhuma esperança, nem uma eventualidade de direito, etc.”
É este o sentir de Laurent (vol. 30, ns. 467 a 474), Aubry et Ra u (vol. 8.º, §
266, notas 5, 8 e 10), Paul Pont (vol. 2.º, ns. 627 e 628), Duranton (vol. 19, n. 367),
O Código Civil argentino vedou a hipoteca dos bens que não se acharem sob o
domínio do devedor e tornou nula a hipoteca de bens alheios, ainda que posteriormente
caiam sob o domínio do devedor, por qualquer meio, mesmo por herança.
O Código Civil do Chile permite a hipoteca dos bens futuros, a inscrição fica
suspensa e só realiza-se à proporção que os bens forem sendo adquiridos (art. 2.413).
segundo o preceito geral da lei (art. 9.º do Dec. 169 A, de 1890) pelo fato da inscrição.
domínio, pelo atual devedor hipotecário, quer sobre os credores hipotecários, de anterior
que forem estipuladas pelo possuidor. A razão é manifesta, a hipoteca constituída pelo
dono é desde sua data válida, não se desfaz por ato posterior translatício do domínio.”
Estas proposições do Sr. Lafayette (§ 216, do Dir. das Cousas) somente são
aceitáveis referindo-se aos efeitos da hipoteca entre as partes contratantes, e não aos
terceiros; contra estes só valerá a hipoteca inscrita, ainda que consolidada pelo fato do
domínio subseqüente.
O princípio defendido por Maynz, a que se refere o Sr. Lafayette, era de inteira
O que doutrina Troplong (n. 526) deve ser entendido de acordo com este
princípio: o fim da inscrição não é outro senão conceder a prioridade ao credor – ainda
credores entram em rateio, pois, que a data da constituição da hipoteca não fundamenta
ao outro, terceiros.
A prelação não sendo efeito essencial da hipoteca, como o é a seqüela, pode ser
critério jurídico, apoiando-se na opinião de Cujacio, era consagrada nos textos que
concederam a utilis actio rei perscutoria ao credor, no caso vertente, como já o fizemos
sentir.
“Rem alienam pignori dedisti: deindé dominus rei ejus esse coepisti. Datur
Cum res, quae necdum in bonis debitoris est, pignore data ab eo, postea in
bonis ejus esse incipiat: ordinariam quidem actionem super pignore non competere,
manifestum est: sed tamen aequitatem facere ut facile utilis persecutio exemplo
n. 524, bis) tem acudido, em prol dos sãos princípios e firmado a regra que já o
legislador de 1864 consagrou (art. 9.º, da Lei 1.237, de 24 de setembro): que o credor
inscrito conserva o seu direito se seqüela contra todos os adquirentes dos bens
que os seqüestrarem.
Aquele que recebe a doação do imóvel, e que incorre em qualquer das causas
ex-causa voluntária.
novamente ao doador, a hipoteca subsiste; porque não for a justo que se deixasse ao
arbítrio do devedor ser a coisa efetivamente obrigada, ou não, ou como dizia a glosa:
quia in debitoris arbitrio esse non debet an res sit obligata, necne; expressões que
comentavam o final do rexto de Ulpiano, principal assento da matéria: ubi sic res
distrata est, nisi emptoris displicuisset, pignus finiri non putet. (L. 3.ª Dig. quibus modis
pignus, vel. hypotheca solvitur) (Troplong, 2 - 466; Laurent, 30 - 478, 479 e 480).
credor hipotecário não pode sofrer prejuízo – nemo alterius facto prægravari debet
(Martou, 3 - 969).
Aquele que compra um imóvel sob reserva da cláusula redimendi feita pelo
vendedor (Ord. do Liv. 4.º, Tít. 4.º pric.) pode hipotecá- lo; desde, porém, que o
vendedor faça efetivo o seu direito a propriedade passa para ele, livre de qualquer
anulado, pode ter gravado com hipotecas os imóveis da herança; estes, porém, passarão
aos herdeiros legítimos, vencedores da ação de nulidade, livres de tais hipotecas que
enquanto pende a condição, enquanto não se realiza o fato a coisa não é devida, ela
assento no domínio não existente, como é aquele que está dependente de uma condição
suspensiva.
O próprio Troplong (2 - 468, quater) repele a aplicação da noção romana, que
aceitara anteriormente (n. 468 ter) ao caso da condição suspensiva quando diz: “Qu‟est
ce qu‟une, condition suspensiva? Toutes les notions les plus élémentaires me repo ndent
que c‟est cena qui suspend 1‟effet de la disposition jùsqu‟à 1‟événement d‟un fali futur.
Tant que 1‟événement n‟est pas arrivé, tant que la condition est pendante, la chose n‟est
pas due; le crèancier n‟en jouit pas: elle est dètenue par le debiteur. Le créancier ne peut
contrário do Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 219, n. 12) não pode ser defendida.
72. Aquele que tem o direito de reivindicar um imóvel pode hipotecá- lo?
apenas o domínio do reivindicante; aquele que tem a ação de reivindicação supõe-se que
a utiliza, que a exercita em virtude do domínio que tem e conserva, apesar da posse
alheia.
pas de mon droit; je suis et je n‟ai jamais cessé d‟être propriétaire. Qu‟importe que je
donnant gain de cause, décidera que je n‟ai jamais cessé d‟être propriétaire car les
jugements ne font que déclarer les droits des parties, ils ne leur en atribuint aucun; la
consequente en sera que l‟hypothèque par moi constituée sera parfaitement valable,
puisqu‟elle a eté consentie par celui a qui 1‟immeuble appartenait actuellement, comme
O Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 219, n. 4) entende que a parte que tem o
hipoteca do imóvel que pode ser alienado pelo hipotecante (Dec. 169 A, de 19.01.1890,
art. 2.º, § 4.º, Dec. 370, de 2 de maio do mesmo ano, art. 119) e não tendo este, no caso
figurado, outro direito além do de transferir a sua ação de reivindicação, mas não o de
transferir o domínio, que, pelo simples fato de depender de decreto judicial que o
reconheça, não está localizado, nem tem assento na pessoa do reivindicante. Não se
actionem habet ad rem recuperandam, ipsam rem ha habere videtur (Lei 15, D., de
Reg. jurisp.), alás contestado pelo estabelecido na Lei 204 do mesmo título do Digesto:
Ainda que fosse conciliável com o restrito regime do nosso direito hipotecário,
a hipoteca do imóvel reivindicável pelo reivindicante, ela nenhum valor prático teria
porque dependendo da inscrição para valer contra terceiros, não investiria o credor nem
do direito de prelação nem do de seqüela, ambos eles referentes aos terceiros e não às
partes contratantes.
73. Prevalece a hipoteca constituída por aquele que adquiriu um imóvel, mas
O Sr. Lafayette opina pela afirmativa, porque a ação de lesão enorme é pessoal.
A ação de lesão enorme tem por fim ou reparar o dano, ou obter a entrega da
coisa vendida, rescindindo a venda; mas se o comprador a houver transferido, não tem o
receber do comprador o preço dela (Ord. do Liv. 4.º, Tít. 13 § 4.º). No caso, porém, de
ser enormíssima a lesão a coisa deve ser restituída, precisamente, diz o § 10 da Ord.
citada, com os frutos desde o tempo da venda. Sendo real a ação a coisa passa ao
vendedor livre dos ônus com que o tiver gravado o comprador. A hipoteca não subsiste.
§ 7.º Não só o fiador, senão também qualquer terceiro, pode hipotecar seus
74. Aquele que tem o domínio pleno sobre a coisa tem a faculdade de aliená-la,
Quem assim grava seu imóvel com hipoteca por obrigação alheia não toma o
compromisso de solver tal obrigação, de pagar a dívida; apenas afeta o imóvel à sua
solução até ao valor do mesmo. É assim que se e produto do bem hipotecado não bastar
para o pagamento da dívida, o credor não pode acionar o terceiro hipotecante, que não é
perecer, desaparecerá a garantia do credor, que não tem o recurso do reforço, utilizável
unicamente contra o obrigado direto, contra o devedor. (Pont, 2 – 608; Dir. das Cousas,
2 - § 213, n. 3).
75. O terceiro hipotecante pode ser fiador do devedor, neste caso o imóvel
hipotecado não é a garantia única do credor. O patrimônio do fiador responde por toda a
obrigado. A sua obrigação é acessória, ele goza do benefício de ordem, mas tornada
efetiva a sua responsabilidade, esta compreende todo o patrimônio, até inteira solução
da dívida (Dir. das Cousas, nota 7 ao § 212; Aubry et Rau, § 266, nota 1.ª; Dias
1.141).
à obrigação garantida (Código Civil italiano, art. 1.964; Código Civil português, art.
895; Código Civil argentino, art. 14 do Cap. 1.º, Tít. 14, liv. 3.º; Código Civil do Chile,
art. 2.414, 2.ª alinea; Código Civil do Uruguai, art. 2.293; Código Civil francês, art.
hypothecam potest, sive pro sua obligatione, sive pro aliena. (L. 5.ª §.º D. de pignor. et
hypoth.).
direito conferido ao exeqüente sobre os bens do condenado, para o efeito de executá- los,
ainda quando em poder de terceiros adquirentes. Sem dúvida é isto devido à limitação
dada aos efeitos da hipoteca judiciária, que se restringem à seqüela, com exclusão da
preferência. O Dec. 370, de 2 de maio, que regulamentou a lei, corrigiu esse defeito de
redação.
convencionais e judiciárias.
dúvida, um grande passo em bem do fim econômico que se propõe alcançar um bom
referência aos ônus reais, que a possam gravar, a especialmente aos encargos
hipotecários.
sobre bens futuros, restringiu tal princípio ao domínio das hipotecas convencionais;
admitiu hipotecas legais gerais – as das mulheres casadas, dos menores e dos interditos
(art. 3.º, § 10, da Lei 1.237, de 24.09.1864; Dec. 3.453, de 26.04.1865, art. 118).
pessoas, que não podem velar sobre os próprios bens de modo a assegurar- lhes a
O defeito era capital, pois dificultava a publicidade sobre o estado dos bens do
responsável, ao passo que iludia a garantia criada pela lei, porquanto não sendo
para poderem ser inscritos e somente depois de inscritos podem valer contra terceiros.
sob o domínio da legislação de 1864, o legislador de 1890 fixou o passo de um ano para
dentro dele serem especializadas as hipotecas gerais existentes sob pena de caducarem e
não produzirem efeitos contra os terceiros (art. 397, do Dec. 370, de 1890).
24.09.1864, art. 2.º, § 8.º, e art. 3.º, § 12; Decreto de 26.04.1865, arts. 110 e 111).
excepciona o princípio que os bens do devedor respondem, por igual, por todas as suas
Somente a lei tinha força para criar semelhante direito, todo de exceção: é,
chega-se ao conhecimento de que a alguns deles conferiu a lei, por sua única sanção, a
força de dar origem à hipoteca, a outros, não; tornando antes a geração da hipoteca
efetividade do pagamento, gera a hipoteca judicial, que não confere ao credor outro
poder além do de executar o julgado nos bens da condenação, ainda que se achem em
poder de terceiro.
Finalmente a hipoteca pode, ser objeto de contrato entre credor e devedor; pode
ter sua origem na convenção; sendo esta sua causa imediata denomina-se a hipoteca
convencional.
Nesta, mais do que no rigor dos meios de ação contra os devedores, está a
não tem conseguido imprimir à hipoteca (mortgage) a importância que devera ter no
defeito que o Ato de 13.08.1875, atenuou, mas não conseguiu eliminar de todo, e a
prova está na asserção do notável escritor que citamos – que apesar da severidade das
a) da mulher casada;
b) dos menores;
c) dos interditos;
d) da Fazenda Pública;
f) do Estado;
g) do ofendido;
art. 3.º).
84. Nenhuma das hipotecas legais aceitas pela legislação de 1890 é geral.
inscritas valem contra os terceiros (Dec. 169 A, art. 3.º, § 10; Dec. 370, de 02.05.1890,
art. 114).
A hipoteca judicial é também havida pela lei como especializada nos imóveis
do condenado, que o exeqüente designar nos extratos (arts. 1.183, § 2.º, e 201, do Dec.
370, de 02.05.1890).
85. Abolido o regime das hipotecas gerais que o direito anterior a 1864 aceitara
amplamente (Lei de 20.06.1774, §§ 31 e 32) fundado no direito romano (L. 9 D. que res
pignor oblig.: Maynz, 1, § 155, nota 29) e que a legislação de 1864 consagrara em
referências às hipotecas das mulheres casadas, dos menores e dos interditos (Lei 1.237,
de 24.09.1864, art. 30, § 11; Dec. 3.453, de 26.04.1865, art. 118); não há mais
não são admissíveis hipotecas que produzam todos os efeitos desde a data da
declaração, por parte do devedor, de se acharem seus bens sujeitos à hipotecas legais,
mesma garantia que o devedor lhe oferece; a publicidade da hipoteca proporciona meio
legal e seguro de informação. O preceito a que nos referimos é lei; parece, porém, que
deve ser entendido de acordo com as outras disposições que regem as hipotecas e ter
aplicação somente ao caso do não registro da hipoteca legal anterior, não tanto pelo
dano que possa advir ao novo credor hipotecário, porque a hipoteca legal anterior não
inscrita não tem prelação sobre a parte não inscrita, mas pela má- fé em que possa
A disposição a que nos referimos foi copiada, sem crítica, do art. 8.º da Lei
3.272, de 05.10.1885, que a adotou, sem o menor fundamento jurídico, pois que tal lei já
exigia a inscrição das hipotecas legais para que eles valessem contra terceiros. Impor ao
devedor uma pena severa porque o credor não foi cauteloso, antes foi descurado de seus
interesses e isto quando o devedor fazendo a inscrição p raticou o ato exigido pela lei
(k)
O direito francês reconhece a hipoteca geral da mulher casada sobre todos os
imóveis, presentes e futguros do marido (art. 2.122 do Código Civil; Troplong, Previl. et
Hypoth, 2 - 434; Paul Pont, 1 - 323); o nosso legislador, melhor orientado, inspitou-se na
legislação belga, que exige a especialização da hipoteca legal da mulher casada. (Lei de
16.12.1851, arts. 44 e 65; Martou, 3 - 882; Laurent, 30 - 189; Thiry, 4 - 476).
O Código Civil italiano (art. 1.969) admite a hipoteca geral da mulher casada, quando
no contrato matrimonial não tiverem sido especificados os bens do marido que devam garantir o
dote e os rendimentos deste.
Os códigos mais recentes tendem a abolir as hipotecas legais e a confiar a constituição
da hipoteca exclusivamente às convenções.
É assim que os Códigos do Chile, argetino, uruguaio e holandez não reconheceram a
§ 9.º As hipotecas, ou legais, ou convencionaes, somente se regulam pela
prioridade. Esta é determinada pela inscripção nos termos estabelecidos por este
decreto.
86. A disposição supra torna bem acentuado que a publicidade é o meio de dar
somente vigora entre as partes contratantes (Pont, 2 - 728; Aubry et Rau, nota 3.ª ao §
credor hipotecário, perante os outros que também possuem sobre o mesmo imóvel,
legislação de 1864, segundo a qual tal hipoteca podia ser geral, isto é, sobre imóvel
indeterminado) porque a hipoteca legal deve ser sempre especializada e precisa ser
inscrita.
do meio-dia às 6.
segundo, porque a primeira terá número de precedência sobre a segunda. Todas as que
todos os casos. (Dec. 169 A, art. 9.º, §§ 3.º e 4.º; Dec. 370, arts. 43, 44, 45 e 46.
A hipoteca não inscrita não tem valor algum. Não produz nenhum dos seus
credor, porque todos os bens do devedor respondem inteiramente por suas obrigações.
que concorrem à inscrição no mesmo dia, não têm prelação uns sobre outros, ainda que
a inscrição haja sido feita em horas, isto é, em tempos diversos (Código Civil francês,
Aos argumentos com que Pont (n. 734) e Martou (n. 1.052) sustentam tal
partir du moment où elle est prise; donc, entre d eux hypothèques inscrites le même jour,
celle qui est inscripte la première devrait primer l‟autre. C‟est le principe que la loi suit
des hypothèques?...”
“En réalité, la loi, en decidant que les deux créanciers inscripts le même jour
viennent par concurrence, altère le droit da premier, car il n‟obtiendra qu‟une partie da
prix, tandis qu‟i1 aurait, eu tout le prix si on lui avait conservé le rang auquel il a droit.”
convenções das partes, todavia a graduação do credor é de interesse privado; pode ser
não. A inscrição não gera a hipoteca, publica-a apenas. O seu efeito e, pois, limitado aos
terceiros. Quanto ao devedor o contrato existe desde que em sua celebração foram
observadas as formalidades substanciais. Acresce que o devedor não tem interesse
“Il est sans droit et sans intérêt: sans droit, puis que 1‟inscription lui est
étrangere, il n‟est pas un tiers; sans intérêt, car vainement 1‟inscription serait elle radiée,
regulamentar correspondente do Dec. 370, de 1890 (art. 112): “as hipothecas legais e
92. O Código Civil italiano manda determinar a graduação da hipoteca pelo seu
número de ordem (art. 2.008); este número corresponde à precedência no registro, isto
número e conseguintemente a mesma graduação (art. 2.008) e nesta hipótese não têm
prelação uns sobre os outros, mas entram em concurso sobre o preço do imóvel (art.
2.009) .
produzem-se desde a sua data, se houver sido registrada dentro de seis dias, no caso
porém de não ter sido registrada neste prazo, produz efeitos da data do registro, que
devida cautela.
incompleto.
93. Esta disposição, que é a reprodução literal da do art. 827, § 2.º, do Código
Comercial, consagra uma nulidade de pleno direito (art. 684, § 1.º, do Dec. 737, de
1850) porque o ato condenado supõe-se ter sido praticado com dolo.
Deve ser estudada em confronto com o art. 29, c, do Dec. 917, de 24.10.1890
que a substituiu.
hipotecas celebradas dentro do termo legal da falência fixado pelo juiz de conformidade
com o art. 6.º, b, do mesmo decreto para garantia de dívidas contraídas anteriormente a
esse termo. A nulidade da hipoteca dá-se, mesmo que o credor não tenha conhecimento
do estado do devedor; mais ainda, se ficar provado que o devedor fazendo a hipoteca,
Era ponto líquido na jurisprudência (Orlando, Cód. Comm. 5.ª edição, nota
1.299) que o contrato hipotecário celebrado para garantir dívida contraída no mesmo
ato, ainda dentro dos quarenta dias anteriores à abertura da falência, era válido.
O art. 128 do Dec. 370, de 02.05.1890, consagrou esta jurisprudência.
falência, ficará sem valor contra terceiros, porque depois de aberta a falência todas as
inscrições e transcrições são nulas. (Dec. 370, art. 129, e Dec. 917, de 24.10.1890, art.
29, f.)
O art. 129, diz requeridas, o que parecia autorizar a opinião que as inscrições
que houvessem sido requeridas antes da sentença que abre a falência, poderiam ser
feitas depois; a disposição da letra f do art. 29 do Dec. 917, de 1890, declarando nulas as
qualquer dúvida.
Se a inscrição da hipoteca, legalmente celebrada, não puder ter tido lugar ante s
Ainda assim não poderia ter lugar depois da declaração da falência, sem
§ 11. Fica derrogado em sua segunda parte o art. 273 do Código Comercial.
sobre os bens móveis de sua propriedade e sobre os semoventes, era justo levantar a
Os animais podem ser hipotecados com os imóveis, como imóveis por destino;
se o não houverem sido, podem ser penhorados nos termos dos arts. 362 e seguintes do
Dec. 370, de 1890: é uma exceção aos princípios em favor do penhor agrícola.
penhorá-los.
CAPÍTULO I
DA HYPOTHECA LEGAL
Pelo dote;
comunicados.
estão sujeitas à administração alheia e que ela reputa incapazes de utilizar de per si os
meios de amparar seus bens; promovendo as garantias reais sobre os imóveis d‟aqueles
que os administram, fez nascer a hipoteca do fato civil que sujeita tais pessoas ao poder
alheio.
Desde que se opera o casamento, regularmente celebrado nos termos dos arts.
especialização tornem válida a hipoteca em referência aos terceiros (Dec. 169 A, art. 3.º
§ 10; Dec. 370; art. 116) no que se conforma com o direito belga (Lei de 16.12.1851,
art. 64) abandonando o sistema francês (art. 2.135, n. 2, do Código Civil) que fora
97. O casamento deve ser válido (Martou, vol. 2, n. 750; Pont., vol. 1, n. 427;
mesmo Decreto não produz hipoteca legal; o casamento anulável, vigorando enquanto
não rescindido pela ação competente (arts. 64, 65, 67, 68, 69, 71 e 73 do Dec. 181, de
efeito (Martou, 2, n. 750; Pont, 1, n. 427; Lafaytte, Dir. das Cousas, § 188).
98. Das disposições acima citadas, que regem a anulação dos casamentos
anuláveis, outra, conclusão não se pode virar além da que deixamos exarada e pode
casamento anulável?
A nulidade relativa não afeta o ato, quando aquele em cujo proveito for
de 1850, que o Dec. 763, de 19.09.1890, mandou observar como lei formal ou adjetiva.
99. O casamento deve ser precedido de contrato no qual se estipule o regime da
separação de bens; a razão é que fora deste regime, vigora a comunhão de bens. (Ord.
do Liv. 4.º, Tít. 46, art. 57 do Dec. 181, de 24.01.1890); ora, quando todos os bens são
comuns, o são igualmente as responsabilidades, as dívidas; a mulher não pode ter então
hipoteca sobre os bens do marido, já porque este não tem bens próprios, já porque todos
subsistir a dúvida que autorizava a redação do § 9.º do art. 3.º da Lei 1.237, de
24.09.1864, de onde foi aquela disposição transportada, dúvida que o art. 132 do Dec.
cônjuge.
bens próprios, ou dotais ou parafernais; sem essa propriedade exclusiva da mulher não
Pode ser estipulada a comunhão nos bens não sujeitos ao regime dotal, a
hipoteca legal origina-se de todo contrato para garantir os bens excluídos da comunhão
antenupcial, não somente o domínio mas ainda a administração, não dão direito à
encargos do casal, passam ao domínio do marido; se os bens são fungíveis ou são dados
com estimação venditionis causa – deve o marido restituir o preço, soluto matrimonio;
se são dados com estimação taxutionis causa, o domínio do marido é resolúvel, este
deve restituí- los em espécie; no primeiro caso tem os herdeiros da mulher ação pessoal,
no segundo real. (B. Carneiro, 2 - 2.143, ns. 1, 2, 3 e 4; Valasco, consulta, 113, ns. 3 e
e 53 a 54).
marido.(l)
(l)
A criação da instituição dotal não presidiu, como muitos ainda supõe, o pensamento
de garantir o bem-estar da mulher, noção incorreta que os modernos doutrinadores têm repelido;
mas antes o de igualar o concurso dos cônjuges ao desempenho dos encargos do casal.
No direito romano o dote foi o meio empregado para prover às uniões conjugais,
concedendo ao marido, sobre quem pesavam os ônus da família, meios de prover a elas – ad
sustinendi onera matrimonii; os textos não deixam dúvidas sobre este ponto. (L. 4 D. de jure
dotium, LL. 17 e 18 do Cód. de jure dotium, LL. 7 princ. 56, §§ 1 e 2 D. de jure dotium, LL. 20,
§§ 2.º e 46, D. familiæ erciscundæ).
Daí as conseqüências capitais da instituição no direiro romano:
a) Domínio do marido sobre os bens dotais. Constante matrimônio dos in bonis mariti
est.
b) Inalienabilidade de tais bens.
No direito romano, ainda quando estimados taxationis causa os bens dotais passavam
ao domínio do marido, sem que a mulher tivesse sobre eles igual direito; deduz-se isto dos
textos que autirozavam o marido:
A adquirir a propriedade dos frutos e acessões dos bens dotais. 9LL. 4 e 32 D. de jure
dotium, L. 7 § 12 D. soluto matrimonio dos quemad petatur).
A extinguir por confusão e consolidação as servidões constituídas sobre o imóvel que é
dado em dote. (LL. 4.ª, 69 § 9, 78 princ. de jure dotium).
A reivindicar os bens dotais contra a própria mulher (L. 24 D. de actione rerum
amotarum); ao passo que era negado à mulher o direito de reivindicá-los na constância do
matrimônio. (L. 9, Cód. de reivindicatione).
O marido era, sem dúvida, forçado a restituir os bens dotais que lhe fossem entregues
taxationis causa, no caso de dissolução do matrimônio; o que indica apenas que o domínio do
marido era resolúvel e, por outro lado, confirma o pacto da investiruda do domínio sem qual a
restituição não se poderia dar (Maynz, Droit romain, § 311 in fine).
São estes os princípios que o direiro potruguês adotou e que nós aceitamos. (Lobão,
Notas a Mello, Tít. 9, § 14, n. 2; Coelho da Rocha, § 272; Lafayette, Dir. de Família, nota 1.ª ao
§ 73; B. Carneiro, vol. 2.º, § 132 e seguintes e, especialmente, 144).
O regime inaugurado pela Lei 1.237, de 24.09.1864, e adotado pelo Dec. 169 A, de
19.01.1890, melhorou a garantia que o direito romano e a legislação portuguesa concediam à
mulher casada em benefício do dote.
No direito romano a hipoteca tácita concecida por Justitiano à mulher casada, sobre os
bens do marido (Novela 109) representa a última e a mais eficaz de todas as medidas
assecuratórias da restituição do dote, que haviam sido proporcionadas pelas leis anteriores, tais
como:
a) a missio dotis servanda causa (L. 26, § 1 D. ad municipalem, L. 48 D. de solution et
liberationibus);
b) o privilegium exigendi, que lhe dava a precedência sobre todos os credores e que
tinha por fim não só reaver as coisas dotais, mas as adquiridas com o rendimento delas (LL. 9 e
30, Cód. de jure dotium, L. 12 princ. Cód. qui potiores in pignore habeantur).
c) a ação de reivindicação dos bens que existissem pertencentes ao dote e a hipotecária
para haver o valor dos que não existissem. Per utranque viam, diz Justiniano, sine in rem, sine
hypothecariam.
Ela passou para o direito português com a sua denominação de tácita e com a sua
generalidade (§ 40, da Lei de 20.06.1774).
Acha-se, em vista do que fica exposto, a solução da trabalhada questão da restituição do
dote, que fez o tormando dos intérpretes do direito romano e dos doutrinadores do direiro
português.
Tais dúvidas não têm razão de ser no novo regime hipotecário.
O que regula a extensão da restituição, o eu limita a obrigação po parte do marido, findo
o casamento pelo divórcio, ou por parte dos herdeiros, dissolvida a sociedade conjugal pelo
101. A mulher casada não pode renunciar a hipoteca em favor do marido, nem
fosse lícito fazendo cessão da hipoteca abrir mão da garantia que lhe concedeu a lei.
antenupciais são irrevogáveis desde que se lhes seguir o casamento (Coelho da Rocha, §
256; Cons. das Leis Civis, nota 17 ao art. 88; Valasco, Consulta 30, n. 29; Código Civil
Não sendo a hipoteca legal da mulher atualmente geral e sim especial, só tem
razão de ser a dúvida de poder ou não a mulher casada renunciar a hipoteca, sobre
certos e determinados bens do marido no caso de intentar este subtrair qualquer deles ao
hipotecário, podia ela eximi- los todos subtraindo-os um a um, por meio de desistências
repetidas, e tornar de nenhum efeito a hipoteca (Lafayette, Dir. das Cousas, § 191, n. 4).
legal, tácita ou expressamente feita (L. 21, Cód. S. C. Velleiano; Lei 8.ª D. ad S. C.
remissione pignor.; L. 11 e 12 D. quibus modis pign. solvetur), desde que com isto não
seja prejudicada a garantia do seu dote, isto é, contanto que o marido não se torne
insolvável e conserve bens suficientes para cobrir a importância do dote: “si modo alia
bona super sint marito, ex quibus illa indemnitatem consequi possit”, como dizia Fabre.
A razão que dava Accursio para, justificar a disposição da Lei 21.ª do Código
ad S. C. Velleiano era que desde que o marido garantia a restituição do dote, não era
No direito francês a maioria dos escritores inclina-se à negativa, por não ser
lícito à mulher casada alienar o dote, na constância, do matrimônio, mas ser- lhe
casamento não for dotal, exclusivo ou limitativo da comunhão. (P. Pont, 1, ns. 451. e
452; Dalloz, Diction. de droit civil, verb. Hyp. légale, ns. 69-70; Aubry et Rau, nota 46
ao § 264).
marido.
cessão é possível sempre que o marido conserva ainda bens suficientes para garantir o
perigo em admití- lo quando a mulher está toda sob a autoridade e influência do marido:
já porque é absoluto o princípio que a condição do dote não pode ser piorada por
estipulações entre o marido e a mulher em qualquer época (Troplong, 2, ns. 601 e 635
que, sendo o dote inalienável, a renúncia da hipoteca legal, que o garante, é de nenhum
efeito, pois, a inviolabilidade do principal (o dote) arrasta como conseqüência a
hipoteca em favor de terceiros, mas proíbe-a expressamente quando feita de modo direto,
em favor do marido.
em que tal hipoteca geral colocava o crédito do marido, quase sempre em detrimento,
especialização, o crédito do marido não se conserva sob a pressão de uma hipoteca geral
econômica do responsável.
gouvernement, peuvent dépendre d’un sacrifice fait à propos par la femme (Martou, 3,
limitada: ela pode renunciar ou transferir o seu direito hipotecário in totum ou apenas o
Laurent, mais de acordo com o rigor dos princípios, opina por uma distinção
A hipoteca legal da mulher casada, assim como a dos menores, não pode ser
renunciada, porque tal hipoteca é de ordem pública, por ser concedida a incapazes em
razão da sua incapacidade; não é permitido às partes interessadas derrogar as leis que
A inscrição, com seus efeitos para com terceiros, e em favor destes, sim, diz
Laurent (30 - 386), é licito à mulher renunciar, mas sob duas condições:
de credores hipotecários.
preceito de lei.
O § 5.º do art. 131 do Dec. 370, de 02.05.1890 dispõe que a hipoteca legal da
mulher casada reputa-se constituída, por seu dote, sobre os imóveis do marido :
porquanto para que esta exista é essencial que haja sido pactuada a exclusão da
antenupcial.
inalterável, imprime- lhe o cunho de estabilidade que se faz preciso para que o contrato
pode ter lugar sem a especialização (Dec. 370, de 02.05.1890, art. 116); devem, pois, ser
considerados revogados os preceitos dos arts. 123 do Dec. 9.549, de 23.01.1886, que
Pode a hipoteca ter por fim garantir os bens que entram para o patrimônio
desde o momento em que o título de aquisição é exigível (§ 6.º do art. 131 do Dec. 370,
de 1890).
noções atualmente em vigor, abandonada a teoria dos estatutos reais e pessoais, que o
Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, nota 4 ao § 194) reputa defectiva e incompleta.
Brasil.
regressado ao Brasil (Dec. 181, de 24.01.1890, arts. 47 e 56, § 6.º; Dec. 233, de
(Pasquale Fiore, Direito internacional privado, n. 291; Paul Pont, n. 433; Lafayette,
b) a hipoteca deve conformar-se com a legislação que rege tais contratos entre
nós, quer quanto ao objeto, quer quanto ao regimes de publicidade e especialização. (P.
Pont, loc. cit.; Pasquale Fiore, § 231; Lafayette, Dir. da Cousas, § 194, ns. 2 e 6).
Por estes bens, que cabem sob o domínio exclusivo da mulher, e que ficam
marido.
incomunicabilidade dá-se não só pela cláusula da doação, mas por força do pacto
antenupcial; em todo o caso pode o marido estipular a reserva de bens para seu domínio
no regime atual, porquanto a hipoteca da mulher casada era geral, compreensiva dos
aquisição que fazia a mulher, podia vir a tê- los e era de vantagem que se desse a
inscrição da hipoteca; tanto mais quanto esta não sendo especializada, podia-se tornar
marido, o que era regular e ocorria freqüentemente de acordo com os princípios que
comunhão, por falta de bens do marido em que ela especialmente tenha assento:
e os imóveis da comunhão não podem ser gravados por hipoteca, em favor da mulher,
que é condômina; e que como tal não tem a faculdade de criar em seu favor prelação
sobre os outros credores, em bens do patrimônio comum, que tanto respondem pelas
dívidas dela própria, como pelas do marido que são todas do casal.
comunhão de bens não existe, de modo absoluto, já porque o art. 64 da Lei de 1851,
garantindo as aquisições feitas pela mulher na constância do matrimônio, supõe este
contraído sob o regime exclusivo da comunhão e o marido tendo bens sobre os quais
porção de bens que a mulher traz para o casal com o fim de auxiliar o marido nos
encargos conjugais (Código Civil francês, art. 1.540; Pont, 1 - 435; Troplong, 2 - 585;
Martou, 3 - 884; Laurent, 26, ns. 156, 184 e 186) concedeu a hipoteca legal, quando do
deste direito é pessoal, é um crédito que se funda na obrigação que contrai o marido de
matrimônio (Laurent, 30 - 337, 339, 340 e 341; Pont, 1 - 435 e 439; Martou, 884; Aubry
109. A mulher, como já o fizemos ver, está garantida contra a alienação dos
imóveis dotais por duas ações: a hipotecária e a revocatória. A primeira ela exercita,
bonis quæ liberis; Troplong, 1, n. 429; Pont, 2, 489; Duranton, 19, 805; Laurent, 30,
262; Martou, 2, 769, in fine; Aubry et Rau, 3, § 264 bis, notas 29 e 32): o nosso direito
escrito é expresso:
As hipotecas constituem-se:
fato a que a Lei liga o efeito da hipoteca, em favor dos menores tutelados ou dos
tutor pelo juiz não é o gerador desse direito real: ele é, como diz Troplong, uma
preliminar para chegar à hipoteca; ele, porém, não a crêa; do contrário a hipoteca
deixaria de ser legal, isto é, oriunda da Lei para ter seu fundamento no ato praticado
pelo juiz. Ela está adstrita à tutela; existe hipoteca legal em favor dos menores e
tutelados por que eles estão sob tutela: só dá-se essa hipoteca existindo a tutela, regra
A hipoteca sendo de direito estrito, não pode ser ampliada por analogia para o
efeito de compreender pessoas e crédito a que a Lei não concedeu expressamente esse
Ela compete:
a) Aos menores órfãos de pai e mãe que são filhos legítimos (Ord. do Liv. 4.º,
Tít. 102; Dec. 181, de 24.01.1890, art. 94; Dir. das Cousas, 2, § 196; Aubry et Rau; 3, §
264; Martou, 2, 754; Laurent 30, 262; Troplong, 2, 420; Pont, 2, 490 e 491; Código
b) Aos menores que tendo pai ou mãe viva, os tem sujeitos a uma interdição.
(Ord. do Liv. 1.º, Tít. 88 § 6.º; B. Carneiro, Liv. 1.º, Tít. 26, § 223, ns. 8 e 9; Dir. das
estando sob a jurisdição dos juízes dos órfãos deve-se-lhes nomear tutor, salvo se
d) Aos que se acharem sob curatela por dementes. (Ord. do Liv. 1.º, Tít. 88, §
6.º, Tít. 102 princ. e § 1.º, Código Civil português, art. 206, n. 2; Dias Ferreira, 2, p.
e) Aos que estiverem sob administração por prodigalidade. (Ord. do Liv. 4.º,
Tít. 103, § 6.º; Dir. de Família, § 167; Dir. das Cousas, § 196; Dias Ferreira, 2, p. 357).
113. Não tem hipoteca sobre os imóveis dos que administram seus bens:
O Código Civil português criou essa hipoteca legal (art. 906, n. 2).
interditos e não no simples fato da administração dos bens por meio de representantes
dos bens futuros, mas deve incidir sobre os presentes, que serão especialmente gravados
370, de 02.05.1890, arts. 107, 114, 116, 131, § 1.º, 149 e seguintes.
para administrarem e regerem seus bens, a hipoteca parece que devia ampliar-se a todos
Levados pela analogia que com o tutor oferece, quanto aos resultados práticos,
a gestão do pro tutor, entenderam alguns que a hipoteca legal devia gravar os bens
deste, que, sem ser tutor, geria como tal os bens do órfão, bona fide ou não. (B.
(Dec. 169 A, de 19.01.1890, art. 3.º, § 2.º; Dec. 370, de 2 de maio, art. 131, 1.º) é o que
Laurent (30, 262) proclama: não há hipoteca legal sem tutela constituída nos termos da
A administração do pro tutor tal como a definia o direito romano (L. 1.ª, § 1.º,
D. de eo qui pro tutore) não confere ao menor a hipoteca legal; o menor tem apenas
ação para haver do administrador os rendimentos dos bens, todos os frutos e as perdas e
e 23 D. de reb. auctor, jud. poss.) outros, com melhor fundamento e apoiados no regime
116. O tutor de fato, nomeado para negócio especial, ou quando o órfão não o
efetivo, não é tutor completo, não tem a administração da pessoa e dos bens do menor,
não assiste a este, pois, hipoteca legal; não há necessidade de garantir o menor contra
desvios de administração que não existe. (Duranton, 19, 315; Pont 2, 496; Laurent, 30,
imóveis do tutor ordinário, não pode negá- lo, contra aqueles tutores que devem ser
nomeados para administrar os bens que o menor possua em comarcas diversas da do seu
domicílio. São estes que o direito francês denomina pro tutores (Thiry, vol. 4.º, n. 459;
art. 117 do Código Civil francês), e que são verdadeiros tutores diferentes dos que o
direito romano denominara de igual modo e que eram os tutores putativos do direito
jurídico para a hipoteca legal: esta garante tudo quanto o tutor deve pagar ao pupilo
tanquam tutos; o que ele houver recebido, o excesso das despesas feitas além das
taxadas, o valor dos bens que houverem perecido, ou estiverem perdidos por prescrição,
enfim todo o alcance das contas da administração. (Thiry, vol. 4.º, n. 460; Mourlon, 3,
1.457; Laurent, 30, 272 e 277; Aubry et Rau, 3, 264 bis, notas 20 e 23; Martou, 2, 786).
por falta, negligência e malversação. (Pont, 2, 501; Troplong, 2, 427); responde pela
alienação de imóveis feita sem as formalidades legais (Pont. 2, 501) pelos que deixou
arruinarem-se, pelos que lhe foram tirados, por meio de ação judicial, em que o pupilo
decaísse por má defesa de seus direitos. (Ord. do Liv. 3.º, Tít. 41 § 5; Ord. do Liv. 4.º,
A melhor opinião tem assentado que a dívida vencida durante a tutela, incide
conseguintemente devia pagar a si próprio por conta de seu pupillo (Pont. 2, 501;
sentir (n. 111), pela assinatura do termo da tutela ou curatela (art. 131, § 1.º, do Dec.
370, de 1890) os seus efeitos não datam, porém, da constituição e sim da inscrição (art.
sistema do direito francês, que a tamanhas controvérsias tem dado lugar. (Troplong, 2 -
428).
garantia assenta sobre os bens dos curadores e torna-se efetiva, por meio da prelação, se
os imóveis do curador forem objetos de ação por parte de credores dos curadores e por
meio da seqüela se estes alienarem os imóveis sobre os quais assenta a garantia. Estes
efeitos dependem, segundo a legislação atual, da inscrição, a qual, por sua vez depende
órfãos tutelados e dos incapazes sujeitos à curatela: os contratos hipotecários que o tutor
houver celebrado anteriormente à tutela e ainda no mesmo dia em que houver assinado
hipoteca legal do tutelado, que for inscrito posteriormente; se o tutor não possuir outros
bens senão os já hipotecados e se estes cobrirem o valor das duas hipotecas, poderão ser
aceitos para hipoteca legal. (Dec. 169 A, de 19.01.1890, art. 3.º, § 7.º; Dec. 370, de
02.05.1890, art. 167); ora, na hipótese dos bens se deteriorarem, surge a necessidade de
liquidar-se a hipoteca legal e destituir-se o tutor, desde que seja impossível o reforço,
belga, onde é ela dependente de especialização e de inscrição, para valer contra terceiros
francesa, não tardou em conformar-se com os princípios que dominam a hipoteca legal
dos menores.
Segundo uns a ação da hipoteca dura até a definitiva prestação das contas pelo
tutor cujos alcances devem cobrir o direito real constituído em favor dos tutelados e
curatelados, sob pena de proporcionar ela uma garantia ilusória, porque atos da
administração tutelar podem ser impunemente lesivos, desde que a hipoteca não proteja
Uma segunda opinião que se apóia no direito romano, resolve a dúvida, por
hipoteca legal alcança-os; é isto consectário natural dos princípios que regem a
veniet id tantum sine qua administratio tutelae expediri non potest; … et est verum ea
distrahendis).
arbitrium tutelæ);
tutela, não se estende a esse a hipoteca legal, porquanto esta foi instituída pela lei, em
favor do menor e sobre os bens do tutor; depois da maioridade não há mais menor, e
sendo a hipoteca stricti juris não pode ser ampliada em seus efeitos, por considerações
785).
seus efeitos, desde que com o fato da maioridade, cessa a presunção de incapacidade do
Acresce que o princípio que domina o assunto é que somente há hipoteca legal
onde existe tutela, esta liga-se ao fato da menoridade, supor a aplicação de seus efeitos a
por ocasião da decisão proferida, de acordo com os sãos princípios, pelo Tribunal de
A eqüidade quer que todos os cidadãos sejam iguais perante a lei. Por exceção
e para subtrair os órfãos em tenra idade aos inconvenientes de sua fraqueza a eqüidade
autoriza o legislador a colocá- los sob o poder de um protetor. Como conseqüência desta
exceção, quer a eqüidade que à lei tome, mesmo com perigo dos interesses de terceiros,
as precauções necessárias para que este poder não seja empregado contra o ser fraco que
cidadãos para gozar das mesmas liberdades e suportar os mesmos encargos que eles, a
eqüidade não mais reclama para ele tratamento privilegiado em prejuízo de terceiras
pessoas tão dignas, e algumas vezes ainda mais dignas do que ele da solicitude do
É este o modo de ter aceito por Laurent, que o justifica, com sólido fundamento
unicamente aos atos que, consumados durante a tutela, produzem, todavia seus efeitos
do tutelado, sem dúvida respondendo o tutor pelo dano a hipoteca legal deve garantir o
menor quanto à restituição dessas quantias porquanto: l’acte d’où resulte le préjudice
pour le mineur devem majeur a été consommé pendant la tutelle, c’est donc un acte de
Martou (n. 785) e Pont (n. 502), antes ela importa em uma petição de princípio.
Que o tutor, depois da maioridade, não responde por seus bens, sob
fundamento da hipoteca legal, por atos que praticar em referência ao patrimônio do ex-
estando o indivíduo maior, sob pretexto de que o ato que reputa danoso está ligado à
gestão tutelar, e esta ainda não atingiu a fase da completa apuração da responsabilidade
direito comum; a ele cabe o emprego dos meios que as leis proporcionam a todos para a
Ao maior compete chamar o tutor a contas para verificar o alcance em que ele
se possa achar; se não o fizer, se consentir que o tutor continue na gestão dos bens, fica
inovado o estado legal antigo, dá-se perfeito acordo de vontades, e ocorre, se não um
mandato tácito sujeito à ratificação, pelo menos a gestão de negócios, que nada tem de
comum com a gestão tutelar, antes procede de causa nova; “ce n‟est plus une tutelle,
c‟est un mandat tacite ou une gestion d‟affaires.” (Demolombe, 8 - 27; Laurent, 5, 117;
123. O nosso direito escrito parece oferecer uma limitação a esta resolução.
Pelo direito hipotecário em vigor a hipoteca legal do menor deve ser inscrita, a
ela aplicam-se todos os preceitos que regem as hipotecas convencionais (art. 167 do
Dec. 370, de 1890); ora, o art. 227 do Decreto citado dispõe que a extinção da hipoteca
devemos dizer, que a prova da extinção da hipoteca só se fazendo por meio da certidão
da averbação no registro, o tutor, seja ou não maior seu tutelado, fica com os imóveis
gravados com o direito real da hipotecar, em favor de seu pupilo, enquanto não oferecer
o único documento que prova, a anulação desse direito real e a deliberação de seus bens
é, do fato principal da tutela e da curatela, ao qual se acha ligado. A lei que rege o
principal rege o acessório. Se o direito escrito do país onde se defere a tutela liga a esta,
em favor dos menores e dos interditos, a hipoteca legal, esta tem vigor em toda a parte;
sob este aspecto é um estatuto pessoal; tal é a doutrina corrente (Laurent, 1 - 116, p.
183; Pasquale Fiore, ns. 220 e 226; P. Pont, 1, n. 489; Troplong, 2, n. 429).
A hipoteca incide, porém, sobre bens do tutor: sob o aspecto do seu objeto é ela
sobre todos ou sobre parte dos imóveis do tutor, com tal compreensão é que se faz
efetiva a hipoteca.
país rei-sitæ.
Brasil, hipoteca legal, que deve ser especializada e inscrita, se a lei do seu país confere
contra seu tutor, ainda que a tutela se defira em país estrangeiro, hipoteca legal nos
estrangeiro.
maternos ou adventicios dos mesmos filhos” (§ 3.º do art. 3.º do Dec. 169 A).
125. A hipoteca legal, sobre os imóveis do pai, é conferida, pelo nosso direito,
ou estranhos;
c) Para garantia dos bens que os pais binubos, com filhos do primeiro
segundo matrimônio.
126. A herança materna constitui no nosso direito pecúlio adventício do filho.
não adquire mais por meio do filho; o regime dos pecúlios era o meio de excepcionar o
rigor do direito quiritário e de reconhecer no filho domínio sobre bens que adquiria na
sucessão materna.
Sobre tais bens as Ords. do Liv. 1.º, Tít. 88 § 6.º, Tít. 97 § 19, Tít. 98 § 7.º
regime que no direito romano inaugurara Constantino (L. 1.ª Cód. de bonis materiais) e
Justiniano confirmou, ampliando a todos os bens adquiridos pelos filhos (Leis 6.ª e 8.ª
Cód. de bonis quæ liberis, etc., Instít. Liv. 2.º, Tít. 9.º, § 1.º, per quas personnas cuique
o usufruto dos pais, podem acarretar aos bens daqueles que a lei constituiu a hipoteca
legal em favor deles, sobre os imóveis do pai (L. 8.ª, § 2.º, 6.ª, §§ 4 e 5. Cód. de bonis
quæ liberis).
No atual regime hipotecário deve esta hipoteca ser especializada e inscrita (art.
O art. 94 do Dec. 181, de 24.01.1890, conferindo às mães, por morte dos pais,
pátrio poder sobre os filhos, colocou estes, em relação àquelas, em posição igual à que a
As mães têm o usufruto e a administração dos bens que os filhos adquirem por
“Esta lhe succederá nos seus direitos sobre a pessoa e os bens dos filhos
O Dec. 169 A, de 1890, não havia previsto o fato por ser ele anterior ao de n.
181 que estabeleceu o casamento civil; o Dec. 370, do mesmo ano, regulamentando a
matéria das hipotecas legais, ampliou ao caso previsto no art. 94 do Dec. 181 a
Os filhos menores têm atualmente, sobre os imóveis das mães, hipoteca legal
para garantia das legítimas paternas; é expressa a disposição do § 2.º do art. 131 do Dec.
“Desde a morte da mão, e por este fato, a hipoteca legal do menor pelos seus
bens maternos sobre os imóveis do pai, ou da mãe nos termos do art. 94 do Dec. 181, de
24.01.1890.”
desde a morte da mãe do pai, e por este facto, e não somente desde a morte da mãe,
recursos que lhe oferece o direito para por cobro à má gestão do pai, nega- lhe o favor da
hipoteca legal, que só concede ao filho menor.” (Lafayette, Dir. das Cousas, § 201, n.
1).
legado ou herança.
aplicação; os filhos têm hipoteca sobre os imóveis do pai ou da mãe, para garantirem-se
direito de administração (B. Carneiro, vol. 2.º, § 189, n. 4) ou de usufruto (Ord. do Liv.
4.º, Tít. 98; Ord. do Liv. 1.º, Tít. 88 § 6.º; Assento de 20.07.1780; Consolidação das
administração e no do usufruto, parece que não devia ter aplicação ao caso em que o pai
é privado de ambos estes direitos; a lei, porém, não isentou o pai do encargo da
hipoteca, porque, conquanto ele possa ser privado do usufruto por simples declaração
a) A restituição dos bens que constituem o pecúlio (Ord. do Liv. 1.º, Tít. 88 §
6.º) ou do seu valor (Ord. do Liv. 3.º, Tít. 9.º, § 4.º) logo que o filho se emancipe;
irregular.
do matrimônio do pai, hipoteca legal sobre os imóveis deste, para garantia dos bens
adventícios.
filhos. A razão fundamental é que o Código Civil francês ligou a hipoteca legal à tutela
dos parentes, dos estranhos e do próprio pai ou mãe sobreviventes (art. 320); quando o
pai goza e usufrui os bens do filho jure proprio (Código Civil, art. 398), isto é,
exercendo o pátrio poder, não é obrigado à hipoteca, porque não há preceito de lei que
conceda tal hipoteca ao filho e o direito hipotecário é de interpretação restrita, não pode
propriedade territorial por meio da gravação de ônus reais (Laurent, 30, n. 271; Martou,
2, 775; Pont, 2, 493; Aubry et Rau, 2, 264 bis, notas 23 e 26; Duranton, 1, 308;
desde que este é exigível (art. 130, § 3.º, do Dec. 370, de 02.05.1890).
128. c) A hipoteca que a lei confere aos filhos de um matrimônio anterior sobre
os imóveis do pai ou mãe binubo, para garantir os bens havidos pelo mesmo filho em
exclusão de quaisquer outros parentes, aos filhos que falecem sem descendência (Ord.
do Liv. 4.º, Tít. 91 pr. e § 1.º); se, porém, a mãe ou o pai houverem contraído segundas
núpcias e destas tiverem filhos, não herdarão os bens de qualquer dos filhos do primeiro
matrimônio que faleça, deixando irmãos do mesmo leito: em tal caso adquirem os pais
primeiro consórcio, isto quer a sucessão do filho se tenha aberto antes do segundo
Ord. cit.) no caso de existirem netos oriundos de filhos pré- mortos do anterior
consórcio, que devam concorrer com o tio sobrevivente na herança do tio falecido.
A lei, tendo por intuito garantir a sucessão dos filhos, excluiu, por disposição
expressa, de sua aplicação, a hipótese de não existirem filhos, mas sim netos oriundos
do primeiro casamento.
É para garantir os bens que compõem tal sucessão e sobre os quais o pai e a
mãe tem apenas o usufruto que foi instituída a hipoteca legal do § 4.º do art. 3.º do
Decreto de 19.01.1890.
Liv. 4.º, Tít. 91, § 2 in fine; Lafayette, Dir. das Cousas, 2, § 202, nota 2);
ainda que sobrevivam sobrinhos, netos do pai ou mãe binubo s. (Cit. Ord.; Dir. das
das segundas núpcias do pai ou da mãe, caso em que a sucessão transfere-se segundo o
direito comum .
Esta hipoteca constitui-se desde o casamento, e por este fato, sobre os imóveis
do pai ou mãe, que passam a segundas núpcias (art. 131, § 4.º, do Dec. 370, de
02.05.1890); conseguintemente:
4.º, Tít. 91, § 2.º substitui a propriedade que devia caber ao pai ou mãe; tal usufruto é,
pois, vitalício, como seria definitiva e perpétua a propriedade que ele veio substituir.
Sendo assim, como não admitir a perduração da hipoteca legal, quando o fato
de onde decorre sua existência, isto é, a obrigação principal – de restituir os bens re-
integra só se resolve com entrega por parte dos herdeiros post-mortem do de cujus?
do primeiro matrimônio (§ 9.º do art. 3.º do Dec. 169 A, de 1890; § 4.º do art. 131 do
Dec. 370, de 1890), não pode ser mantida quando a menoridade tiver cessado e a
130. Esta hipoteca funda-se no fato de ser a fazenda pública equiparada, quanto
à sua posição jurídica e encarada como pessoa civil, aos menores, e aos incapazes –
Rem publicam ut pupillum extra ordinem juvari moris est – que não podendo de per si
administrar os bens próprios são obrigados a confiá- los à administração de outros, que
agem em seu nome e interesse por força da representação (L. 4.ª, Cód., quibus ex-causis
vectigal. et commissis; L. 3.ª Cód. de jure reipublic.; Ord. do liv. 3.º, Tít. 41 §§ 4.º e 6.º;
art. 17; Lobão, Notas a Mello, vol. 2.º, p. 518 e seguintes; Instruções 164, de
27.04.1866; Laurent, Dir. Civil, vol. 30, n. 416; Pont, 2, n. 504) e no de querer a lei
garantir os dinheiros pertencentes a tais pessoas morais, por serem eles destinados a
131. Como essa hipoteca tem por fim garantir a fazenda pública, no caso de
concorrerem credores ao pagamento de seus créditos pelo produto dos bens daqueles
que se acham, por alcance verificado, obrigados a restituir à fazenda pública dinheiro
que tenham sob sua guarda e que despenderam ou malbarataram, ela somente incide
sobre os imóveis dos agentes da fazenda, que por força de seu cargo, recebem dinheiros,
pagam ou conservam-nos em seu poder.
fiança, contra os fiadores; data do título da nomeação e do termo da fiança (art. 131, §
7.º, do Dec. 380, de 02.03.1890); mas somente produz seus efeitos, contra terceiros, da
data da inscrição (Decreto 370, arts. 113, 114 e 116; Dec. 169 A, de 19.01.1890, art.
9.º).
dezembro do mesmo ano, marcaram o processo da tomada, das contas dos responsáveis
para com a fazenda nacional; o alcance apurado pela decisão que julgar ou apreciar as
contas, e que constitui a condenação, é pago por via de execução no juízo federal de
seção (art. 4.º, § 1.º, do Decreto Legislativo 392, e art. 240, do Dec. 2.409, do mesmo
ano). A sentença do tribunal de contas tendo força de sentença judicial, produz em favor
fazenda para a cobrança das dívidas fiscais é igualmente facultado, pela legislação
hipotecária, para acionar o terceiro adquirente dos bens garantidos por hipoteca legal,
que o responsável houvesse alienado (Dec. 169 A, de 19.01.1890, art. 14; Dec. 370, de
3.º do Dec. 169 A supra, são os particulares que outrora celebravam com a fazenda
se tuis impostos (arts. 156, 173, 174, 176 e 177), dispondo sobre os meios os mais
rendas da fazenda e pelos embaraços que dos sobreditos fiadores se tem seguido, tanto
nas arrematações dos contractos como nas execuções para os pagamentos dos preços
Fazenda do extinto Conselho d‟Estado (de 26.10.1867) ficou assentado, que somente a
primeira noção devia ser ligada às expressões usadas na Lei Hipotecária de 1864,
tem também personalidade jurídica e são capazes de adquirir bens; a hipoteca tem o
mesmo alcance e a mesma compreensão e constitui-se nos mesmos termos da que a lei
atribui à União(m).
(m)
O direito belga (arts. 47 e 48 da Lei de 16.09.1851) e o francês (Código Civil, art.
2.121) concedem a hipoteca legal aos estabelecimentos públicos, o que tem dado matéria para
longa controvérsia (Laurent, 30, n. 419; Pont, 2, n. 505) por ter o legislador deixado de
determinar, de modo preciso, que estabelecimentos auferiam essa privilegiada garantia.
135. A hipoteca da fazenda pública garante não somente a restituição dos
136. As corporações que têm como fim em sua organização e como objetivo
constitui o que o direito denomina – mão morta (Ord. do Liv. 2.º Tít. 18; Provisão de
137. Tais pessoas morais eram, desde remota data (Lei de D. Diniz de
Os Códigos posteriores (italiano, art. 1.969; português, art. 906) repudiaram esse
hipoteca.
No direito belga a hipoteca da fazenda pública é geral. (Art. 48 da Lei de 1851; Laurent,
30, 422): “mais, quoique générele, c‟est-à-dire frappant tous lês immeubles de ces comptables,
elle n‟en est pas moins soumise au principe de spécialité e de publicité, c‟est-à-dire qu‟elle doit
être inscripte et que l‟inscription doit désigner spécialemente chacun des immeubles soumis à
l‟hypothèque et faire connaître la somme jusqu‟à concurrence de laquelle cette hypothèque
existe. (art. 89).” (Thiry, Droit Civil, vol. 4.º, n. 490).
21.03.1291), proibidas de possuir bens de raiz, que se conservavam intransferíveis em
suas mãos e não sujeitos a tributos e imposições, com grave prejuízo da vida econômica
das nações (Ord. do Liv. 2.o , Tít. 18 § 1.º; Lei de 04.07.1768; Lei de 09.09.1769, § 10).
Essa proibição, que o direito português apenas relevava no primeiro ano e dia
do domínio, ou sob permissão expressa do rei, (Ord. cit. princ.) passou para o nosso
direito, com limitação do tempo concedido para a alienação e conversão dos bens
imóveis, com exceção d‟aqueles cuja conservação fosse permitida pelo governo.
podiam possuir bens de raiz, sem concessão expressa e sem ser para determinada
20.08.1864, art. 2.º; Dec. 4.453, de 12.01.1870, arts. 6.º, 9.º e 12; Ferreira Alves,
Proved., § 337; Ribas, Dir. Civil, 2, p. 175; Souza Bandeira, Man. do Proc. dos Feitos,
§ 332 e notas).
a) Dos bens de raiz que houvessem legalmente adquirido até a data da Lei de
20.08.1864 (Lei citada; art. 1.º; Dec. 4.453, de 1870, art. 1.º), o que já antigamente
dispunham as leis da amortização (Ord. do Liv. 2.º, Tít. 18 § 3.º) mantendo- lhes o
domínio dos bens que em seu patrimônio tivessem a 13.08.1432, dia do falecimento de
D. João I, e possuíssem até 1447 (B. Carneiro, Liv. 1.º, Tít. 36, § 305 n. 8);
306 n. 1; Coelho da Rocha, § 75; Lafayette, Dir. das Cousas, § 206, n. 2).
139. Foi para garantir as corporações de mão morta, que são pessoas jurídicas
(Ribas, Tít. 2.º, Cap. 4.o , § 4.o ) equiparadas aos incapazes (LL. 32 e 35, Cód. de episcop.
et clericis) e que não podem de per si só administrar seus bens, mas tem de fazê- los
gerir por prepostos que a lei (Dec. 169 A, § 6.º supra, e Dec. 370, de 02.05.1890, art.
107, § 1.º) conferiu- lhes hipoteca legal, que deve ser especializada e inscrita (Dec. 370
cit., arts. 114 e 116) sobre os imóveis de seus administradores, a datar do dia da
nomeação de tais prepostos (Dec. 370, art. 131, § 7.º; Lafayette, Dir. das Cousas, § 204,
os bens imóveis, que as corporações conservarem nos casos permitidos em lei (Decreto
corporações de mão morta, sofreu alteração, por força do disposto no § 3.o do art. 72 da
Constituição de 24.02.1891, que não pode ser entendido sem alcançar em sua
dívida pública, não se deve considerar em vigor por ferir o princípio do citado art. 72, §
3.º, da Constituição (art. 83 da Constituição), a despeito do que dispõe o art. 5.º do Dec.
119 A, de 07.01.1890.
porque não colide esse direito real com a capacidade para adquirir e possuir bens
imóveis.
fábricas das igrejas e os doutrinadores justificam tal alvitre com o fundamento de não
mas sim a uma seita religiosa, ao catolicismo, que não sendo na Bélgica religião do
Estado, não afeta senão a um serviço de ordem privada (Laurent, 30, n. 420).
art. 2.121 do Código Civil, só de modo restrito pode ser interpretado, quando faz
referência aos empregados responsáveis por dinheiros públicos (Aubry et Rau, 3, § 264,
quater).
bens sob os limites postos pelas leis concernentes à propriedade de mão morta.
consagrou.
propriedade de mão morta, revogar esses preceitos de direito singular e submeter a mão
República.
criminoso.
142. A hipoteca que se faz originar do crime e constituir-se desde a data deste,
tem por fim o fato altamente jurídico e moral da reparação do dano por parte d‟aquele
a) Fato criminoso, o que quer dizer fato considerado tal pela lei criminal, ainda
e antes se declare os seus autores isentos de pena: como os que têm em seu favor
qualquer das circunstâncias justificativas do Código Penal de 11.10.1890 (art. 32).
Desde que tal hipoteca só pode recair sobre os bens dos criminosos, e sendo
originar-se de fatos que a lei não considera crimes, por serem praticados por
irresponsáveis, e recai sobre os bens de indivíduos que a lei não considera criminosos?
negativa.
“Et ideo quaerimus, si furiosus damnum dederit, an legis Aquiliae actio sit?
Et Pegasus negavit: quoe enim in eo culpa sit, cum suae mentis non sit? Et hoc
est veris simum: cessabit igitur Aquilia actio, quemadmodum si quadrupes damnum
dederit, (Aquilia cessat): (aut) si tegula ceciderit. Sed et si infans damnum dederit, idem
erit dicendum.
Quod si impubes id fecerit, Labeo ait, quia furti tenetur, teneri et Aquilia eum;
et hoc puto verum, si sit jam injuriae capax:” (Lei 5.ª § 2.º D. ad legem aquiliam).
diversos textos.
Entende o Sr. Lafayette que o mesmo deve ser observado no nosso direito em
referência às pessoas de que tratava o art. 10 do Código Criminal de 1830 (Dir. das
Cousas, 2, § 205, nota 6), o que, a adotar-se esta opinião, deve aplicar-se aos
da responsabilidade civil.
Destas disposições deve-se concluir com o Sr. Lafayette que o Código Penal
com a legislação hipotecária que somente a confere sobre os imóveis do criminoso (§ 7.º
do art. 3.º do Dec. 169 A) e pelo fato do crime? (§ 8.º do art. 131 do Dec. 370, de
02.05.1890).
que ela ampara, não se pode considerar como existente, no nosso direito, hipoteca legal
responsável pelo crime e pelos seus efeitos e, apreciando os elementos que entram na
Igual competência assiste à lei criminal para estatuir que a indenização do dano
Sempre, pois, que a lei criminal declara o indivíduo não delinqüente, mas
responsável pela indenização do dano, ela firma um princípio que deve ser aceito em
entende com aqueles que a lei penal declara criminoso ou não, mas com aquele que a lei
penal torna responsável pelo dano produzido pelo crime, cuja reparação civil a lei
hipotecária tem por fim garantir.
que a lei criminal declara responsáveis civilmente, pelo dano resultante do crime,
Dir-se-á: a satisfação do dano não pode ser pedida se não por ação civil e esta
responsabilidade pelo dano que só no foro civil se apura: assim, só deve ser responsável
pela satisfação do dano aquele que o é segundo os princípios do direito civil, porquanto
as disposições do Código Criminal que se aplicavam ao caso estão sem vigor, por isso
O que o art. 68 da Lei de 03.12.1841 operou foi a transferência para o foro civil
satisfação; isto que está na ordem das coisas, porquanto se a decretação da reparação
material e pecuniária do dano oriundo do crime fosse afeta ao juízo criminal, estaria
deslocada: o próprio Código de 1830, como faz sentir o Dr. Silva Costa (Satisfação do
damno, p. 58) reconheceu a competência da jurisdição civil, já por força do que dispôs
no art. 31, já fazendo passar aos herdeiros do delinqüente a obrigação de reparar o da no,
o que importa reconhecer em tal obrigação um fato meramente civil, realizável por ação
civil;
responsável por ela, porquanto em face de tal condenação – não se pode mais questionar
civil, porque é coisa julgada, e o indivíduo absolvido no foro criminal não pode ser
condenado no civil à reparação do dano, pois a sentença estabeleceu não ser ele o
causador do dano resultante do crime, por não ter sido ele quem o praticou.
Código Penal em vigor e julgar findo o processo, é devida, ainda assim, a indenização;
porque a sentença não declara, como no caso da absolvição, que o acusado não praticou
o fato do qual se origina a obrigação de indenizar, mas sim que embora o houvesse
praticado, não é passível de pena, por não reunir as condições que o tornam responsável
no foro criminal, o que não importa não ser ele autor do dano e não dever repará- lo.
crime.
reparação, apesar de dever esta ser pedida por ação civil, não pode ser objeto de reparo
que a lei criminal regule os casos de tal responsabilidade, ainda quando decide sobre a
não criminalidade do fato, não por falta de força física objetiva do delito, mas por
ausência de sua força física subjetiva e da sua força moral objetiva e subjetiva.
objetiva do delito, conseguintemente a sua garantia, a hipoteca legal, existe sempre que
autorizava, na melhor opinião, a avaliação do dano resultante dos crimes que afetaram o
moral do indivíduo.
O fato é, porém, que na prática, quer nos corpos de delito, quer nas petições de
queixa, sempre dava-se tal valor; má inteligência do formulário mandado observar pela
quando não há relação direta nem indireta com o patrimônio do indivíduo é desvio de
apreciação.
atividade física; este dano é apreciável em dinheiro e a sua satisfação é garantida pela
de regulis juris, Instít. Lege Aquiliæ, § 9.º in fine; Serafini, § 110; Maynz, § 267).
144. A hipoteca legal é conferida aos herdeiros do ofendido (§ 7.º do art. 3.º do
Dec. 169 A); a razão é que o direito à indenização faz parte do patrimônio do ofend ido e
a hipoteca acompanha-o na sua transferência, como acessório que é. (Lafayette, Dir. das
§ 8.º Aos co-herdeiros pela garantia do seu quinhão, ou torna da partilha sobre
levou bens da herança, pela quantia que como torna, tem de prestar para completar o
quinhão do co-herdeiro;
hipótese de ter o juiz necessidade de lançar mão deste expediente para conseguir levar a
efeito a partilha, ou por acordarem os herdeiros em tal alvitre, para o fim de evitarem o
juridicamente divisível.
146. Esta inteligência, que acha apoio na disposição do § 4.º do Cap. 6.º dos
artigos das Sizas de 27.09.1476, resolve a dúvida suscitada pelo Sr. Lafayette (Dir. das
Cousas, § 206, nota 6) em face da disposição inteiramente igual do § 8.º do art. 3.º da
Lei 1.237, de 24.09.1864, extraída do art. 1.272, da Seção 3.ª, do Tít. 14, do Digesto
Não é pelo quinhão hereditário, em absoluto, que a lei confere hipoteca legal, é
por esse quinhão, quando consistente em torna e reposição feita para comodidade da
partilha, por ordem do juiz ou por acordo das partes, caso previsto nas disposições das
147. O juízo familiæ erciscundæ tem como fim a partilha da sucessão legítima
erciscundæ).
O nosso direito escrito exige que os quinhões sejam feitos em todas as classes
de bens do espólio, com máxima igualdade, quer no quantum da quota hereditária, quer
Pode, porém, ocorrer que o espólio contenha um ou mais bens que seja
juridicamente indivisíveis, isto é, que não possam ser fragmentados sem deturpação da
forma, sem destruição do todo (Savigny, Trat. das obrigações, § 29; Teix. de Freitas,
Tal hipótese, prevista na Ord. do Liv. 4.º Tít. 96 § 5.º, oferecia uma dificuldade
a que davam as leis duas soluções: a licitação e a reposição ou torna; aquela está definida
qualquer dos herdeiros, em dinheiro, por um dos herdeiros, a cuja parte fosse lançado o
bem indivisível. (L. 52 § 2 D. familiæ erciscundæ; Instít. de officio judicis, § 4.º ; artigos
das Sizas de 1476, Cap. 6.º § 4.º; Alvará de 10.12.1775, § 9.º, e art. 23, n. 3, do Dec.
5.581, de 31.03.1874, e Dec. 2.800, de 19.01.1898).
A licitação, medida dependente do acordo das partes (por seu aprazimento, diz
o § 5.º da Ord. cit.), nem sempre é aplicável e muitas vezes oferece grandes
inconvenientes pela emulação que faz suscitar-se entre os herdeiros e que, quase
Daí tem provindo o abandono da licitação, ainda por meio da hasta pública, e
prevalecido a prática atestada pelo sábio autor da Consolidação das Leis Civis: a torna ou
reposição.
deliberação do juiz – do em que ela tem lugar por acordo das partes, fazendo provir
compra e venda.
148. O n. 3 do art. 23 do Dec. 5.581, de 1874, não foi fielmente tirado do § 4.º
do Cap. 6.º dos artigos das Sizas e por isso consagra uma distinção que não tem
fundamento jurídico.
das partes, já porque estas podem não convir na licitação (§ 5.º da Ord. do Liv. 4.º, Tít.
96), já porque podem não assentir em receber o seu quinhão em reposição: o acordo a
compra e venda, como o é o de que faz menção o § 4.º do Cap. 6.º dos artigos das Sizas,
que supõe a partilha julgada e findo o juízo divisório, quando dá-se a permuta dos bens
“Porém se os ditos bens forem partidos (diz a disposição dos artigos das Sizas),
sem aí entrar de uma parte à outra tornas em dinheiro, e depois de tal partição feita
alguma das partes se concertar com outra, que lhe deixe tais bens, e lhe dá por eles
certos dinheiros, pague-se deles siza, porque é verdadeiramente venda”: o fato, porém, é
Assento de 16.02.1786), para adquirir em troca do direito real que perde, um direito
A hipoteca legal tem por fim restabelecer o equilíbrio neste estado de direito e
haver a torna; ela confere-lhe o direito de pagar-se, pelo preço do imóvel lançado ao
quinhão do reponente, ainda que em poder de terceiros, com prelação sobre quaisquer
reponente e os adquiridos por este, por outro título que a não sucessão partilhada,
escapam à hipoteca; a lei reputa esta especializada pela sentença, que julgou a partilha,
privilégios (Código Civil francês, art. 2.103, n. 3; Lei belga de 16.12.1851, art. 27, n. 4).
Sem estimação;
a) Ser feito por escritura pública a qual é da sua substância. (Lei de 06.10.1784,
§ 1.º; Consolidação das Leis Civis, art. 367, § 3.º; Dec. 370, de 02.05.1890, art. 132);
expresso, porque a hipoteca legal não se funda no casamento, mas no pacto, em virtude
do qual a mulher estipula o dote, isto é, a propriedade exclusiva dos bens para si e para o
marido. O ônus real grava os bens deste para garantir os bens próprios daquela, ou a
Não importa que a exclusão da comunhão seja parcial porquanto o regime dotal
pode existir de modo limitado, isto é, sem completa exclusão da comunhão: é o que se
deduz dos textos expressos que mandam cumprir todos os pactos estipulados em
79) e do que o direito moderno consagra (Código Civil francês, art. 1529 e seguintes;
Código Civil português, arts. 1.096, 1.102 a 1.137, parágrafo único; Laurent, 21, n.
156).
Deve o dote ser insinuado se exceder a taxa de 360$ ou de 180$ segundo for
instituído por varão ou por mulher. (Ord. do Liv. 1.º, Tít. 62; Lei de 25.01.1775 e
Alvará de 16.09.1814) sob pena de ser nulo, na parte que suceder à quantia taxada pela
Lei.
mulher, a qual não pode ter lugar sem a especialização (Dec. 370 de 1890, art. 116) e
venditionis causa, ou mesmo taxationis causa se os bens dotais pereceram por culpa do
marido (Bevilaqua, Dir. de Família, § 53, p. 308 e 309) e não podem ser restituídos em
espécie.
§ 11. Não se considera derrogado por este Decreto o direito, que ao exeqüente
condenado; mas, para ser oposto a terceiros, conforme valer, depende de inscripção (art.
9.º) e especialização.
lhe deram alguns práticos, de referir-se o preceito não à hipoteca judicial, que, diz-se, o
Nos casos em que a alienação dá-se em fraude da execução (Ord. do Liv. 3.º,
Tít. 86 § 16 ; Liv. 4.º, Tít. 10, § 9.º; Regulamento 737, de 25.11.1850, art. 494; Dec.
763, de 19.09.1890, art. 1.º; Pereira e Souza, Primeiras Linhas, nota 777, n. 5) a
penhora faz-se nos bens em poder de terceiro, porque este é mero detentor em nome do
executado, por isso que sendo nula a alienação não operou a transferência do domínio,
alienação é tornar esta nula. Se assim não fosse careceria de propriedade o emprego da
domínio – tal coisa não ocorrendo na alienação em fraude à execução, não se pode
entender a disposição supra como referente à hipótese da Ord. do Liv. 3.º, Tít. 86 § 16.
real de seqüela conferido pela Ord. do Liv. 3.º, Tít. 84 § 14, sobre os bens do condenado
por sentença judicial; esses bens a Ordenação citada declara hipotecados por esse mesmo
feito e por esta Ordenação para pagamento da condenação: se o vencedor fizer inscrever
a hipoteca, o direito de seqüela decorre dela, ainda que os bens se alienem em fraude de
execução – isto é, nos casos e nas condições – em que tal alienação é assim considerada
em direito; eis a explicação da referência feita no art. 201 do Dec. 370, de 02.05.1890, à
opinião dos que entendem que o § 11 do art. 3.º do Dec. 169 A, não se ocupou senão
exeqüente designar nos extratos, (nada mais) fez do que tornar claro, que os imóveis
assim alienados não saíram do domínio do alienante, tanto que sobre eles pode recair a
hipoteca.
Ord. do Liv. 3.º, Tít. 86 § 16, sustenta que os efeitos decorrentes deste texto de Lei
reconhece.
objeto da condenação em ação real ou pessoal in rem scripta, mas ainda os bens de
Pauliana ou revocatória (art. 494 do Dec. 737, de 1850; Silva à Ord. do Liv. 3.º, Tít. 86
§ 1.º n. 33; Pereira e Souza, Primeiras Linhas, nota 777); Lafayette, Dir. das Cousas, §
(n)
A execução nos bens alienados em fraude da condenação depende de requisitos que a
Lei enumera e exige de modo peremptório.
a) É preciso que os bens sejam litigiosos, isto é, que façam objeto de ação iniciada por
meio da citação da parte e acusada em audiência, abolida a antiga distinção entre a ação real, em
que pela citação fazia-se a coisa litigiosa, ao passo que nas pessoais tal efeito se produzia
unicamente pela litis contestação. (Dec. 737, art. 59; Ord. do Liv. 4.º, Tít. 10, § 2; Dec. 848, de
11.10.1890; Silva à Ord. do Liv. 3.º, Tít. 86, n. 8 e seg.; Pereira e Souza, notas 384 e 777;
Lobão, Segundas Linhas, à nota 381, n. 6);
156. A hipotecária judiciária é criação do direito moderno.
Aqueles que, como Grenier, acreditaram ver sua origem nos remédios que o
direito romano proporcionava ao credor, para amparar- lhe o direito executório, no caso
para concessão de tal remédio que o devedor se houvesse ausentado, sem providenciar
O credor obtinha a posse dos bens mera custodia, a venda sub-hasta não se
realizava senão mediante certas formalidades que não vem ao caso detalhar, mas que
tinham por fim tornar patente o abandono, por parte do devedor, da liquidação do seu
b) que a alienação se faça com fraude de ambas as partes (Pereira e Souza, nota 777) e
que seja sabido pelo adquirente que o devedor não possuía outros bens por onde pudesse pagar,
(Dec. 737, art. 494, n. 3; Dec. 848, de 01.10.1890, art. 247, letra b);
c) Que a alienação seja feita depois da penhora ou proximamente a ela (Silva a Ord. do
Livr. 3.º, Tít. 86, § 1.º, n. 33).
Sem que se dê o concurso destes requisitos a penhora em bens alienados pelo
condenado é violenta e nula, porquanto os bens passando para o domínio do adquirente já não
fazem parte do patrimônio do condenado e conseguintemente deixam de responder pela
condenação.
No caso de hipoteca judicial, previsto no § 11, do art. 3.º, do Dec. 169 A, acima citado a
inscrição da mesma faz valer o direito de seqüela, sobre os bens legalmente alienados pelo
vencido, em favor do vencedor, ainda que adquiridos regularmente pelo terceiro.
As disposições dos arts. 118 e 201 do Dec. 370, de 02.05.1890, só podem ser
entendidos de conformidade com estes princípios que dominam a natureza, as conseqüências e
os efeitos da hipoteca judicial.
débito.
fixado, via seus bens transferidos ao poder da pessoa designada pelo juiz e que era
emitida na posse deles e se o devedor não os resgatava dentro de dois meses, eram
passada em julgado.
Entre seus efeitos não se compreende o da tirada da posse imediata dos bens do
devedor; essa tirada opera-se pelos meios regulares da execução dos julgados, quando o
direito do condenado de dispor dos bens, por meio da faculdade que concede ao credor
pela primeira vez “conferida ao credor por efeito da condenação, em última instância, e
a datar do dia em que a sentença era proferida, sobre os bens do condenado para o efeito
Hipotecária, do 9 messidor do ano 3.º, e no art. 3.º, da Lei de 11 brumário do ano 7.º.
Transportada para o Código Civil (art. 2.123) ela sobreviveu aos ataques de
que foi objeto em França por ocasião da discussão do projeto apresentado em 1849 para
por ser mais exigente do que os outros, acudia a juízo com sua ação, coloca ndo o
criar meios de garantir o direito do credor; ela deve limitar-se a reconhecê- lo e a declará-
lo de acordo com os princípios: é esta a missão do juiz quando expede o decreto judicial”.
parte vencedora.
Antes de tudo, a situação do credor, que tem em seu favor uma sentença
passada em julgado não é idêntica à do que não tem senão o seu título creditório não
ajuizado.
sentença garante a execução que se obtém pela ação judicati e não depende da ação
principal, que tem por fim convencer o devedor, em juízo competente, para alcançar a
efeitos que a lei francesa lhe confere: a generalidade e a prelação despojada destes dois
atributos, que afetam as suas forças extensiva e intensiva, a hipoteca judiciária é objeto
dos encômios de todos os espíritos práticos e a sua falta na legislação belga é lamentada
dois defeitos; não somente no regime da legislação de 1890, atualmente em vigor, que
aboliu as hipotecas gerais, mas ainda no regime da legislação de 1864, que as admitia, a
hipoteca judiciária era considerada especializada e devia ser inscrita para valer contra
terceiros (Lei 1.237, de 24.09.1864, arts. 3.º, §§ 11 e 12, e art. 9.º, § 27; Dec. 3.453, de
que havia interposto agravo ordinário para a Casa da Suplicação de Lisboa, unicamente
hipoteca judicial em seu elemento substancial, no que é revigorada pelo preceito do art.
108 do Dec. 370, de 2 de maio, que reproduzindo, com pequena variante, o art. 111 do
Dec. 3.453, de 26.04.1865, acentua de modo claro o direito real, que constitui o
elemento básico da hipoteca judiciária: “O direito, que tem o exeqüente, de prosseguir na
influenciados pela discussão ocorrida em França em 1850 e pela que precedeu e deu
(Código das Duas Sicílias, art. 2.009; Código de Parma, art. 2.177; Lei Toscana de
italiano.
Chironi entende que resulta este efeito das sentenças definitivas e irrevogáveis,
quer proferidas pelos tribunais judiciários, quer por aqueles dos tribunais
por ex. a sentença que obriga à prestação das contas (Diritto Civile italiano, vol. 1.º, §
219).
“La sentenza che produce cotesto effetto é la decisione resa dal giudice,
qualunque ne sia la giurisdizione, in qualunque grado sia resa, e sia definitiva quanto
preferência, a datar do dia em que houver feito entrega desse mandado ao sheriff, sobre
qualquer credor do vencido para ser pago pelo preço dos bens móveis do mesmo. Para
ser arredado é preciso que outrem tenha sobre os mesmos bens um privilegio
sheriff, o credor não pode se julgar ao abrigo de qualquer preferente, nem mesmo da
descrição dos bens por parte do Condenado; antes o direito inglês reconhece a este a
faculdade de dispor livremente de seus bens (E. Glasson, Droit et Inst. de l’Angleterre,
1851, importa uma lacuna gravíssima no regime hipotecário; a prova está no afã com
suprir a falta da hipoteca judiciária, recorrendo a expedientes que pela ineficácia foram
sempre abandonados.
judiciária, restringindo-a aos bens presentes do condenado, e aos futuros à proporção que
por não limitar igualmente a força intensiva da hipoteca judicial, e deixar-lhe a prelação
que o devedor condenado pretendesse fazer dos bens do seu patrimônio, os quais
intensidade da hipoteca judiciária que lhe dá o direito francês; tais defeitos não
apresenta entre nós a hipoteca judiciária. A sua força intensiva é da Ord. do Liv. 3.º, Tít.
84 § 14, o direito real de seqüela; a sua força extensiva é definida e limitada de modo
expresso.
aos terceiros; esse direito entra em atividade mas como de transferência dos imóveis,
porque sendo nela a transferência pleno jure (Ord. do Liv. 3.º, Tít. 86 § 16) não saem do
faz-se a inscrição e nela se faz menção do numero de ordem do registro (art. 201 do
prestabilidade: “Otez lui l‟effet d‟atteindre immèdiatement les biens a venir ne lui livrez
que des biens présents, déterminés et elle perd pour le créancier ses avantages les plus
débiteur avait presque èpuísé ses ressources actueles et n‟offrait plus que ce que l‟on
prestação de perdas e danos, como nas obrigações de fazer e de não fazer (Ord. do Liv.
3.º, Tít. 84, § 14; Lafayette, Dir. das Cousas, § 209; Troplong, Privil. et Hypoth., vol.
2.º, n. 438; Mattirolo, Diritto Giudiziario Civile italiano, vol. 3.º, nota 3.ª, ao n. 834).
por decreto judicial, produz a hipoteca; não assim a nula de pleno direito, porque esta é
como se não existisse e nunquam transit in judicatum (Ord. do Liv. 3.º, Tít. 75 princ.;
Moraes Carvalho, nota 150; Paula Baptista, Proc. Civil, nota 2.ª ao § 184; Ramalho,
(Paul Pont, Privil. et Hypoth., vol. 1.o , n. 578; Aubry et Rau, Droit Civil, vol. 3.o , § 265)
é opinião combatida, mesmo em França, por escritores como Troplong (Hypoth., 2, n.
sentença de juiz incompetente, quando este vício desaparece, por ser a competência
a hipoteca?
produzem efeitos semelhantes aos das que provém dos tribunais judiciários.
as ampliações de outros escritores (Paul Pont, n. 582), se estão na letra dos pareceres
prestação de contas, por mandato ou por qualquer espécie de gestão, gera hipoteca judicial
(Paul Pont, 1 - 574; Aubry et Rau, vol. 3.º, p. 256; Mourlon, Répetit. E’crites, vol. 3.º, n.
1.462; Duranton, vol. 19, n. 337 bis) porque tal sentença pressupõe a condenação ao
que a sentença que obriga à prestação de contas só pode ter um efeito: a prestação das
importância da condenação, pagamento que ela tem por fim garantir, só depois de
proferido julgamento no processo da tomada das contas tem a hipoteca causa jurídica,
Estas últimas expressões deram causa a reviver a questão que havia suscitado,
sentido contrário.
Mattirolo (vol. 3.º, n. 834) decide-se por esta segunda opinião já porque “la
sentenza, che obbliga taluno a rendere un conto, non importa al certo condanna attuale a
pagare una somma o a consegnare una cosa móbile” já pela razão de que “un conto, per
sè stesso, non é altro che un mezzo di prova, e se come disse la cassazione di Napoli,
addi 19 Dicembre 1889, non é titolo efficace di ipoteca giudiziale la sentenza che
subordina all‟ esito di una prova 1'obbligo dei convenuto al pagamento immediato del
credito liquidato nela sentenza stessa, à potiori non deve valere à produrre ipoteca
giudiziale la sentenza, la quale non contienne intanto aleuna condanna a pagare, ma solo
ordina la prova di pretesi crediti de darse col mezzo del rendimento di conti...”
União, do Estado ou do município, não importa condenação, por isso que não decorre
não somente porque têm força de decreto judicial, como ainda porque têm execução em
juízo próprio.
pagá- lo ou liberava-os por meio de quitação (§ 3.º do art. 6.º da Lei de 04.10.1831, § 2.º,
do art. 2.º do Dec. 736, de 20.11.1850, art. 2.º, §§ 1.º, 2.º, 6.º e 10, do Dec. 2.548, de
judiciários, com força executória (art. 28 do Dec. 1.166, de 17.12.1892, art. 4.º, § 1.º, do
dezembro do mesmo ano); tais sentenças produzem hipoteca sobre os imóveis dos
sobre os bens do condenado existentes no Brasil, desde que tais sentenças obtenham o
dos tribunais brasileiros e produzam tal hipoteca segundo a legislação do país em que
brasileiras; se não infringe preceitos de leis que se fundam em motivos de ordem pública;
judicial.
7.777, de 27.07.1880).
França, inclusive o de gerar a hipoteca judicial contanto que tais sentenças sejam
hipoteca sobre os bens situados na Itália, senão quando a execução for ordenada pela
qual elas não existem; são como todas as hipotecas, acessórios de uma obrigação
principal; não se confundem, porém, com esta nem tomam a sua natureza.
só pode assentar em um contrato. (Laurent, Princ., vol. 30, n. 422; P. Pont, vol. 2.º, n.
606).
particular, seja qual for o seu valor (Decreto Legislativo 79, de 23.08.1892, art. 2.º); o
mesmo (art. 4.º, § 6.º, do Dec. 169 A, de 19.01.1890 e parágrafo único do art. 2.º do
enérgica a seqüela, expressão do direito sui generis (Demolombe, 9 - 472) que gera
hipoteca, o qual não é um jus ad rem (Marcadé, vol. 2.º, ns. 360 e 361), nem tão pouco
jurídico que de nenhum modo atestam, quer na seqüela, quer na prelação uma
ilusória se o credor não se pudesse pagar pelo preço com preferência aos outros credores
e nem ir procurar os bens onde estivessem, para sobre eles se pagar a seqüela e a
prelação são uma decorrência do direito especial que confere a hipoteca, sendo aquela
gravar novamente o imóvel, de usar dele com a mais livre e ampla ação, onde o
imóvel ao pagamento do credor, é uma verdadeira petição de princípio, desde que não se
prove que tal consignação limita o jus utendi, o jus fruendi, ou o jus abutendi do
devedor que pode exercitá- los sem que uma repressão legal o possa deter em sua ação;
pois que a seqüela e a excussão não importam as limitações criadas pela enfiteuse e
pelas servidões.
164. No direito belga os intérpretes da Lei de 1851 discutem se a hipoteca é
válida sendo aceita por parte do credor por um terceiro sem mandato, desde que o
credor retifique a aceitação, ainda que tacitamente. Laurent (Princ., vol. 30 ns. 449 a
453) resolve a questão pela negativa, apoiando-se nos princípios gerais que dominam os
no mesmo ato e no mesmo instrumento a aceitação pelo terceiro sem mandato era
regular, desde que este entregasse ao devedor a importância do mútuo, o que indicava o
tornava patente se além desse ato de suprir os fundos, ele apresentasse a hipoteca a
que se faz intérprete do parecer da comissão que sobre ela emitiu parecer nos seguintes
termos:
“A comissão responde que o art. 1.119 do Código Civil dispõe que em geral,
não é admissível, empenhar-se, nem estipular em seu nome senão por si mesmo, que
ainda que sem mandato. Enquanto não se der a ratificação, contractus claudicat; aquele,
porém, que prometeu não pode libertar-se. O contrato só produzirá efeitos pela
ratificação. Somente então a hipoteca terá sido adquirida. A ratificação não tem efeito
retroativo em prejuízo de terceiros.
A hipoteca existe então como acessório da ação principal, desde que esta ação
Droit Civil, vol. 4.º, n. 506), e tornado possível a ratificação não somente por escritura,
como pretende Laurent (vol. 30, n. 450) mas tacitamente feita, de acordo com a
contratantes ou seus procuradores (Ord. do Liv. 1.º, Tít. 78 §§ 4.º e 5.º), a estipulação
ainda que sem mandato, desde que haja declaração de que o fez pelo credor (Dec. 370,
A razão jurídica da disposição do § 3.º do art. 211 do Dec. 370, de 1890, que
declara válido o registro da hipoteca feito por terceiro, ainda sem mandato, preceito que
lícito aceitar o contrato hipotecário, porque este só produz os efeitos, que lhe são
inscrição, é que esta é ato autêntico, feito por oficial público, e em seus efeitos
compreende não só o valor do contrato, mas ainda a situação jurídica das partes que nele
do contrato feito por terceiro, sem oposição d‟aquele (Thiry, Droit Civil, vol. 4.º, n.
507).
bens presentes.
Art. 4.º Ficam proibidas e de nenhum efeito as hipotecas gerais e sobre bens
futuros.
todo o patrimônio do devedor (L. 9 Cód. quæ res pignori), alcançando até os bens futuros
– cætera etiam bona teneantur debitoris, quæ nunc habet et quæ postea adquisierit, como
diz Gaio (L. 15 D. § 1.º, de pignoribus et hypothecis), ou como diz Scœvola: creditor
pignori accipit à debitore quidquid in bonis habet, habiturus ve esset (L. 34 § 2.º D. h, tít.),
era aceita no direito romano; passou para o nosso direito na Lei de 20.06.1774, §§ 31 a
32, e no Dec. 482, de 14.11.1846, art. 4.º e foi condenada e substituída pela
especialidade na Lei 1.237, de 24.09.1804 (art. 4.º) e seu respectivo regulamento (Dec.
hipoteca – (Código Civil francês, art. 2.129, CódigoCivil italiano, art. 1.979; Código
Civil holandês, art. 1.219; Código Civil do Cantão dos Grisões, art. 281; Código Civil
uruguaio, art. 2.300) e a sua incidência sobre bens presentes, com a sanção da nulidade
feição especial que lhe imprimiu o moderno Código alemão nos arts. 1.115 e seguintes,
existência inteira é descrita na série dos atos autênticos e públicos que representam as
suas mutações; fazem inteira fé, constituem prova completa não só entre as partes
acidentes de sua história são assinalados com precisão e de modo autêntico “a fim, diz
hipotecas sobre bens futuros, significando esta expressão o mesmo que os dizeres do art.
2.129 do Código Civil francês – imóveis atualmente pertencentes ao devedor; nem outra
coisa se coaduna com o regime de publicidade adotado, que exige especificações que
belgas, e, a nosso ver com critério, a questão que suscitaram essas expressões da lei
futuros, melhorando assim o Código Civil francês, que no art. 2.130 permite ao devedor
que não tem bens suficientes para garantir sua dívida consentir que cada um dos bens
aquisição.
caso contrário ela anula-se (Arntz, vol. 4.º, n. 1.796; Martou, vol. 3.º, ns. 962 a 965;
No direito romano do tempo de Justiniano a hipoteca dos bens futuros era legal
e compreendia-se na hipoteca geral (L. 9, Cód. Quæ res pignor); no direito clássico os
bens futuros podiam ser objeto de hipoteca mas mediante convenção expressa; a
verdade, porém é que tal convenção acompanhava quase se mpre a constituição de uma
hipoteca geral sobre bens presentes: isto deduz-se do fragmento de Gaio, já citado, e
máxima resoluto jure dantis resolvitur jus accepientis invocada por Martou (vol. 3.º, n.
excepcionada, de modo expresso; não se deve perder de vista esta regra elementar.
exprime: “Um terceiro possui um imóvel que me pertence, ele não tem título algum;
posso hipotecar esse imóvel como pertencendo- me? Não pode haver dúvida nisso; com
efeito, a usurpação do meu direito não me despoja dele; eu sou e nunca deixei de ser
proprietário. Que importa que eu deva agir em juízo pelo fato de querer o usurpador
manter-se na posse? O juiz dando- me ganho de causa decidirá que nunca deixei de ser
proprietário, porquanto os julgados nada mais fazem do que declarar os direitos das
partes, eles não lhes conferem direito algum; a conseqüência será que a hipoteca
constituída por mim será perfeitamente válida, pois que ela foi consentida por aquele a
quem o imóvel pertencia na atualidade, como quer a lei (Principes de Droit Civile, vol.
30, n. 475).
É esta a doutrina que prevaleceu geralmente no direito francês; mas não é a que
isso deixa de ser substancial o seu decreto para que o imóvel entre no patrimônio do
reivindicante, de onde pode ter saído por motivos tais que fundamentem a prescrição
aquisitiva do possuidor, réu na ação de reivindicação e que pode possuir o imóvel com
reivindicação, que o direito comum considera imóvel pelo objeto a que se aplica e que o
nosso direito escrito não aceita como objeto de hipoteca, antes formalmente repele (art.
devedor; entende aquele jurisconsulto que a hipoteca pode ter por objeto tal imóvel. O
título do adquirente é anulado pela sentença, o que equivale a dizer que ele nunca
existiu. “Sou eu, acrescenta Laurent (n. 475) cujo direito o juiz reconheceu, que fui
momento do contrato eu não estivesse na posse do mesmo; mas a posse é de fato e não
decide do direito. O juiz anulando o ato por força do qual um terceiro possuía, declarou
por isso mesmo que o imóvel me pertencia no momento em que foi constituída a
Pont (vol. 2.º, n. 636) aceita esta doutrina e patrocina-a com dois textos de
que fazem parte do nosso patrimônio os imóveis que nele realmente se acham, e também
os que temos o direito de chamar ao nosso patrimônio por meio de ações competentes.
Pont é coerente porque entende que tais imóveis podem ser alienados ainda
antes da sentença definitiva que rescinde o domínio suposto do detentor e reconhece o
Mencionamos o fato, conquanto pouco freqüente na prática, para dizer que não
aceitável com o corretivo que oferece Martou (vol. 3.º, n. 970) de não serem os atos
§ 5.º Quando o crédito for indeterminado, a inscripção só poderá ter lugar com
supra.
essa individuação só se reputa feita de modo regular quando o imóvel é designado com
a denominação que tem, se for rural, na falta desta com a situação precisamente
indicação da rua em que está edificado e do numero que tem; devem ser salientados
todos os característicos que sirvam para melhor determinação do mesmo e como diz
indicados cada um dos imóveis, não sendo lícito declarar na escritura, de modo genérico,
A especialidade hipotecária tem por fim não tanto, como pretende Martou,
determinado credor, como não estabelecer a individuação de tais imóveis, como condição
direito comum?
quanto ao registro, pelo Dec. 482, de 14.11.1846, admitia a generalidade das hipotecas
imperfeitamente definido no art. 2.129 do Código Civil francês e com muito maior
precisão estabelecido e caracterizado no art. 78 da Lei belga de 1851, for mulada com o
podendo evitar as dúvidas que a obscuridade dos termos do art. 2.129 do Código Civil
francês autorizava.
A especialização que o § 1.º do art. 4.º supra exige na hipoteca deve constar da
escritura desta, sob pena de nulidade, e a sua falta não se reputa suprida pelas
declarações feitas na inscrição da hipoteca, nos termos do art. 196 do Dec. 370, de
efeitos da mesma quanto aos terceiros (art. 9.º do Dec. 169 A, de 1890) não pode suprir
analítica (Martou, vol. 3.º, n. 998; Paul Pont, 2, ns. 671 e 672; Lafayette, Dir. das
Chironi, Diritto Civile, § 220, n. 4; Laurent, Princ. de Doit Civ., vol. 30 n. 499); a
alegada pelo próprio devedor (Martou, vol. 3.º, n. 999; Laurent, vol. 30, n. 512);
relativa, por ter a especialidade por fim garantir unicamente os direitos dos terceiros.
do crédito, é o que a lei indiretamente declara no § 5.º supra do art. 4.º quando exige a
determinação do valor do crédito por estimação, quando a escritura não precisá- lo, o
especialização obrigatória das hipotecas legais, que não podem no regime atual, ser
da nulidade desta (Laurent, Princ., vol. 30, n. 525; Martou, vol. 3.º, ns. 1.013 e 1.014; P.
Pont, vol. 2.º, n. 702; Lafayette, Dir. das Cousas, § 221, n. 2; Thiry, vol. 4.º, n. 512); se
crédito aberto, não se pode concluir que ele deixasse de estar obrigado, caso o fato se
desse, e que nesta hipótese a hipoteca dependesse de sua vontade; ao contrário, como
faz sentir Laurent (n. 527) não dependendo do devedor que os bens dados em hipoteca
deixem de ficar hipotecados se a dívida for contraída, não depende a hipoteca de uma
largamente elucidada entre os tratadistas franceses, não tinha procedência senão em face
da disposição do art. 1.174 do Código Civil francês, que estabelecia a nulidade de toda
obrigação contraída sob condição potestativa; não entende com a índole do contrato
hipotecário, como já o dissemos; enquanto não existir a obrigação principal não pode ter
diferenciação de uma dívida futura; antes ele representa uma dívida atual porquanto o
banqueiro, desde que abre o crédito, põe a quantia à disposição do mutuário e não pode
mais dispor dela; a hipoteca garante, pois dívida existente; porquanto se é certo que o
mutuário pode utilizar-se ou não do crédito, nem por isso a hipoteca torna-se facultativa.
O art. 80 da Lei belga de 1851 contém disposição precisa e clara na sua 3.ª
alínea, a qual tem feito desaparecer todas as dúvidas que os doutrinadores apoiaram no
Uma Lei belga de 15.04.1889 confirmou de modo claro a terceira parte do art.
contra os terceiros da data de sua inscrição, sem dependência das épocas da execução
dos compromissos tomados pelo credor, a qual terá efetividade para todos os meios
os frutos pendentes das propriedades rurais e agrícolas, bem como os aluguéis dos
prédios;
enfitêuticos;
posteriormente fracionados por divisão ou partilha (art. 138, §§ 1.º, 2.º e 3.º, do Dec.
370 citado).
O § 2.º do art. 4.º do Dec. 169 A, de 1890, faz incidir a hipoteca sobre os frutos
citado Decreto que só reconhece como assento à hipoteca os imóveis por natureza e os
por destino; a esta classe pertencem os frutos pendentes; desde, porém, que são colhidos
perdem a sua natureza de imóveis, a qual é simplesmente devida a uma ficção de direito
Tornados móveis não podem ser objeto de hipoteca, porque esta só pode incidir
sobre imóveis, desde que estes se mobilizam por qualquer fato, por exemplo, se a casa é
desmanchada, a árvore cortada, os frutos colhidos, a hipoteca não subsiste mais, por
falta de objeto.
A disposição do § 2.º do art. 4.º do Dec. 169 A faz voltar a nossa legislação
hypothec e Leis 1.ª § 2.º. Quæ res pignorib): que conferia sobre os móveis hipoteca com os
seus dois efeitos de seqüela e prelação e do antigo direito francês que atribuía à hipoteca
Os frutos colhidos não são contemplados no art. 137 do Dec. 370, de 1890,
como acessões naturais para efeito da hipoteca; é a noção corrente no direito moderno
(Pont, vol. 1.º, n. 361; Troplong, vol. 2.º, 404 e 414; Martou, vol. 2.º, n. 719; Thiry, vol.
4.º, n. 446; Chironi, Diritto Civile, vol. 1.º, § 215; Cattaneo e Borda, nota ao art. 1.967
realizada como ato de administração pelo fato de haverem os frutos atingido o estado de
maturidade, mas feito com intuito de fraudar o credor hipotecário, confere a hipoteca o
jus persequendi pignoris sobre os frutos assim mobilizados; entre nós a questão carece
de importância.
Ainda quando a colheita seja feita por má fé do devedor o credor não pode
haver os frutos, por meio da seqüela hipotecária; resta- lhe apenas o recurso de pedir
excutir o imóvel hipotecado (Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 180, notas 7.ª e 8.ª).
móveis do devedor, quando os bens hipotecados são insuficientes para solver a dívida
hipotecária.
(Dirittto giudiziario civile e italiano, vol. 5.º, n. 1.081) a disposição do art. 1.949 do
Código Civil italiano que concede a todo o credor uma garantia geral sobre todos os
bens do devedor, garantia que não se reputa renunciada pelo fato de haver o credor
“Il creditore, col pottuire e coll‟aquistare una garantia speciale mercé l‟ipoteca,
non renunzia, non perde la garantia comune de cui nell‟articolo 1949. Data quindi
l‟insufficienza dell‟ipoteca, egli potra pur sempre, provando il pericolo della perdita del
suo credito, ottenere la cautela conservativa del sequestro; perche (giovi il repeterlo)
l‟articolo 924 del códice di procedura, nella generalitá della sua formula e del suo
concetto, comprende il pericolo di perdita de ogne maniera di garantie, e cosi sea quella
convenute.”
Ribas, Consolidação das Leis do Proc. Civ., arts. 894 e 895), e em referência à garantia
do direito real hipotecário só tem ação em referência aos imóveis hipotecados, sobre
eles somente pode ser exercitado, nos casos de oferecer o devedor, pela ocultação ou
ausência, impedimento e obstáculo à iniciação da ação executiva para a qual não é mais
1864 (art. 14 da Lei 1.237, de 24 de setembro, art. 284 do Dec. 3.453, de 26.04.1865);
desde o começo ter lugar nos bens hipotecados por furtar-se o devedor à intimação (arts.
02.05.1890).
A disposição do art. 138 do Dec. 370 contém dois preceitos que merecem deter
compreendia a dos novos edifícios sobre ele construídos. A razão de duvidar foi que em
tal hipótese o princípio da acessão era mal entendido, porquanto o solo não era
benfeitorizado, para o efeito de adquirindo as benfeitorias por acessão incidirem estas
sob a hipoteca – “não é mais a coisa primitiva, o solo, que foi melhorada; o seu valor
Direito de Grenoble, emitido por ocasião da consulta feita, em 1841, sobre as alterações
quod solo inedificatur, solo cedit, entenderam que seja qual for o valor das construções,
estas incidem sob a hipoteca que grava o solo sobre a qual forem assentadas (Martou,
vol. 2.º, n. 732; Duranton, vol. 19, n. 258; P. Pont, vol. 1.º, n. 410).
divergência sobre a natureza do direito que cabia ao terceiro, autor das benfeitorias, para
apenas um direito pessoal e não lhe caber a detenção do imóvel hipotecado até ser
indenizado das benfeitorias, e que o meio de avaliar tais benfeitorias era fixar o valor da
melhoria que o imóvel tivesse auferido – quatenus res pretiosior facta est (Troplong,
vol. 3.º, n. 836; Laurent, vol. 31, n. 304 a 308; Martou, vol. 3.º, ns. 1.318 e 1.319; P.
No nosso direito deve prevalecer esta solução (Lafayette, Dir. das Cousas, vol.
O § 3.o do art. 138 do Dec. 370, de 1890, resolveu, contra a noção jurídica, e
obedecendo exclusivamente a sua orientação econômica a questão de compreender a
hipoteca a aquisição pelo devedor de terrenos diferentes do imóvel hipotecado e que ele
a este incorpora.
imóvel e às adesões naturais, não podendo, portanto, ampliar-se ao caso figurado no § 3.º
do art. 138 citado (Duranton, vol. 19, n. 259; Martou, vol. 2.º, n. 730; P. Pont, vol. 1.º,
dividundo ou pela partilha (familiæ erciscundæ) tal divisão não anula a hipoteca, antes a
indivisibilidade desta faz com que a parte destacada vá gravada do ônus hipotecário. Se
o devedor a readquire antes do adquirente por divisão ter remido a parte que lhe coube
remidas, fazê-las cair gravadas da hipoteca sob o domínio do devedor, que as readquire,
especialidade, à qual repugna a hipoteca legal constituída sem os requisitos e fora dos
casos da especialização.
Acresce que tomada nesse sentido a disposição contém erro de direito, qual o
de fazer compreenderem-se na hipoteca bens que não podem estar a ela sujeitas pelo
princípio de acessão.
Se o que se teve em mente com o preceito da alínea do § 3.º do art. 138 do Dec.
370 foi regular uma espécie não tratada expressa, mas implicitamente na doutrina e na
jurisprudência, ainda assim, foram isolados os princípios gerais que dominam a matéria.
partes destacadas pelo ato da divisão não se pode como já o fizemos ver, considerar, em
novo, já diferente do primeiro por força da divisão juridicamente feita e cujo consectário
foi fazer do imóvel primitivo tantos imóveis quantas as partes ou porções divisas. Tem
os mesmos inteira aplicação o que dizia Treilhard dos terrenos novamente adquiridos
pelo devedor sendo inteiramente distintos do que foi dado em hipoteca, não se pode
invocar, para que a hipoteca os atinja, a acessão, porquanto tais terrenos não são
acessórios no primeiro.
é, aos frutos civis do imóvel hipotecado, foi uma inovação da legislação de 1890 e o
Decreto, de 2 de maio, que corrigiu (art. 137, § 4.º) o erro cometido no Dec. 169 A (art.
4.º, § 2.º, supra), quando fez recair a hipoteca sobre os frutos colhidos e beneficiados,
isto é, sobre bens mobilizados, deixou subsistir a hipoteca sobre os aluguéis dos prédios
atacando a essência da hipoteca que é um direito real conferido sobre a coisa alheia para
o único efeito de consigná-la ao pagamento da dívida, pelo que o direito que se defere
ao credor é o de vender o imóvel e pagar-se pelo preço. Enquanto não exercita esse
direito não pode o credor exercitar nenhuma das faculdades que constituem
decorrentes, entre os quais o da percepção dos frutos civis. Ora, o direito ao s aluguéis
supõe o direito de locar, pois que o aluguel é o preço da locação, e esta é a deslocação
da posse; a constituição da posse, como a regulava o direito romano, e tal qual passou
para o nosso, é, pois, fundamentalmente violada no preceito dos arts. 4.º, § 2.º, do Dec.
169 A, e 137, § 4.º, do Dec. 370, de 1890, além de sê-lo igualmente a noção jurídica da
beneficiados (art. 137, do Dec. 370), devia ter sugerido ao legislador a exclusão dos
Uns e outros frutos depois de percebidos escapam, por sua natureza e por sua
essência, ao ônus hipotecário, pelo fato da mobilização; apurada a noção jurídica dos
frutos civis no laço de dependência que os prende à posse, não considerada no elemento
material (corporis possessio), nem no intencional (animus domini, animus rem sibi
habendi), tais frutos só podem pertencer a quem tenha a juris possessio e quando o fato
percepção e o depósito de tais frutos era porque elas acompanhavam a sorte do imóvel
que era retirado da posse material do devedor (Savigny, Posse, § 22 A, n. 3). Como, sem
que os torne insuficientes para segurança da dívida, pode o credor demandar logo a
acentuando que ela tem aplicação, quer se trate de hipoteca legal, quer de convencional;
a declaração não parecia necessária desde que no regime hipotecário de 1890 quer as
A aplicação do § 3.º do art. 4.º supra tem lugar sem que haja necessidade de
de caso fortuito; desde que o fato do devedor não possa fazê- lo perder o direito ao prazo
e tornar exigível a dívida pelo credor, porque não há no nosso direito escrito preceito
idêntico ao do direito civil francês (art. 1.188 do Código Civil), nem a faculdade de
propor reforço de hipoteca seja concedida ao devedor unica mente na hipótese de serem
devidas a atos do devedor, este pode impedir a ação do credor oferecendo reforço, ainda
mais aquele só pode acionar para a cobrança da dívida, depois de intimar o devedor para
O nosso legislador foi mais favorável ao devedor do que o art. 2.131 do Código
A disposição do § 3.º do art. 4.º do Dec. 169 A, de 1890, não tem, porém,
ação o direito de seqüela do credor; é caso regido por disposições de direito escrito de
todo o ponto especiais, quais os arts. 217, § 3.º, e 257 a 277 do Dec. 370, de 1890, nem
cura dos casos em que o preço e o valor do imóvel hipotecado são pela Lei sub-rogados
perda do imóvel (§ 3.º do art. 2.º do Dec. 169 A, de 1890, P. Pont, vol. 2.º, 698): nestes
casos a ação do credor assentando como o seu direito hipotecário, no produto ou preço
obrigação principal, se o perecimento da coisa hipotecada ocorrer por fato que o credor
Pont, vol. 2.º, n. 695; Martou, vol. 3.º, n. 1.007; Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, §
material, mas à depreciação proveniente de causa econômica (P. Pont, vol. 2.º, n. 693;
Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 222; Laurent, Princ., vol. 30, n. 517).
quando ela traz como efeito tornar-se o imóvel insuficiente para garantir a obrigação
principal; a alegação por parte do credor de haverem os imóve is perdido em seu valor
não pode fundamentar o pedido de reforço (Laurent, vol. 30, n. 517); assim como a
insuficiência dos imóveis não autoriza o pedido de reforço, quando ela não sobreveio à
hipoteca mas já existia ao tempo dela, ainda que o credor estivesse em engano sobre o
valor dos imóveis, desde que tal ilusão provenha apenas de falta do próprio credor e não
de culpa do devedor (Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 222, n. 3, do § II; P. Pont,
vol. 2.º, n. 693) combate um julgado da Corte de Rouen que sustentou princípio
contrário, e o fundamento capital de sua impugnação, partilhada aliás, por Laurent (vol.
30, n. 518) é que apoiando-se o direito de pedir reforço na insuficiência que sobreviesse
aos imóveis, não pode servir- lhe de fundamento a insuficiência já existente ao tempo do
realmente no momento do contrato, para que qualquer recurso fosse vedado ao credor.
169. Esta disposição que se acha reproduzida no art. 124 do Dec. 370, de 1890,
e foi transportada da Lei 1.237, de 24.09.1864, (art. 4.º, § 4.º) foi inspirada pela do art.
2.128 do Código Civil francês que é objeto dos reparos de todos os seus comentadores,
quando não reconhece o contrato hipotecário celebrado nos países estrangeiros, como
tal, salvo quando cláusula ou estipulação de tratados assim o estatuírem, o que exorbita
que sendo tais atos inerentes à função executiva exercida pelo governo e portanto em
liquidação de preferências, etc., sem que à jurisdição dos tribunais territoriais hajam sido
sujeitos os contratos para serem declarados executáveis (Laurent, Princ., vol. 30, n. 456;
Troplong, Princ. e hypoth., vol. 2.º, ns. 511 e 512; Duranton, vol. 19, n. 362; P. Pont, vol.
2.º, n. 666); consideram, porém, demasia o declarar o citado art. 2.128 que os atos de
hipoteca lavrados no estrangeiro não conferem hipoteca sobre bens situados em França
tiveram os codificadores à tradição do direito daquele país, porquanto ela nada mais é
do que uma recordação infeliz, como diz Fiore, da Ordenação de 1629 que no seu art.
estrangeiras, por qualquer causa que fosse, não podiam ter hipoteca nem execução em
2.128 do Código Civil francês, antes estabeleceu que os atos constitutivos de hipoteca
situados na Bélgica desde que sejam visados pelo presidente do Tribunal Civil da
O visto só tem por fim apurar a autenticidade dos atos em países de origem
(art. 77 da Lei belga de 1851; Martou, vol. 3, ns. 986 e 987; Laurent, Princ., vol. 30, n.
456 e seguintes).
Droit Civil International, vol. 7.º, n. 372; e Savigny, Direito Romano, vol. 8.º, § 368, p.
191) e que se pode ver, apresentada em suas grandes linhas, pelo Sr. Lafayette no § 224,
aceito para todos os efeitos no país da situação do imóvel; a sua aplicação, os atos de sua
efetividade – a ação judicial, a prelação etc., regulam-se pela lex rei sitæ (Laurent, Droit
Civil International, vol. 7.º, n. 376; Pasquale Fiore, obra citada, ns. 220 e 224; Savigny,
Direito Romano, vol. 8.º, § 368): “quanto a eficácia do direito, e aos efeitos que do
mesmo podem derivar, aplicamos a regra geral, aplicável a todos os outros direitos reais,
isto é, que não podem ser eficazes senão de conformidade com as leis em vigor no lugar
ineficaz quando as coisas não forem susceptíveis de hipoteca, segundo a lex rei sitæ”.
ali estabelecido (sendo a primeira exceção a que se refere às estipulações dos tratados)
estabelecidas no Dec. 169 A para os contratos hipotecários (art. 96, § 7.º, do Dec. 4.968,
de 02.05.1872) são lavrados por autoridades brasileiras, de acordo com as nossas leis e
que são agentes; assim é que segundo o art. 96 do Dec. 4.968, de 1872, acima citado,
expressa, que nelas devem ser feitas por parte do mutuário, de estarem, ou não, os seus
declaração feita.
disposição supra.
declarando que se trata da escritura pública a conseqüência seria admitir como capaz,
para a formação da hipoteca a escritura particular nos termos do art. 2.º do Decreto
Legislativo 79, de 23.08.1892, 1.ª parte, por não se tratar da hipótese regida pelo
O art. 130 do citado Dec. 370, de 02.05.1890, ato de força legislativa igual ao
Dec. 169 A, declarou que só a escritura pública podia ser admitida como ato substancial
24.09.1864, com o acréscimo das expressões pena de nulidade, tão escudadas como as
como não realizado se tal escritura não existir, e tendo o privilégio sido abolido pelo
Decreto Legislativo 79, de 23 de agosto, supra citado e sendo todas as pessoas sui juris
atualmente aptas para contratar por escrito particular, quando a escritura só for exigida
antes do ato de 1892 e no regime da legislação em vigor quando foi expedido o Dec.
370, de 02.05.1890.
desde que as pessoas fossem daquelas que segundo a Ord. do Liv. 3.º, Tít. 59, §§ 11 e
seguintes pudessem celebrar por tal forma os contratos cuja prova devesse ser dada por
escrito.
como o assento do contrato hipotecário, no que foi imitado pela Lei 3.272 de 05.10.1885
O direito romano nem exigia a prova literal dos contratos hipotecários: sine
scriptura si convenit ut hipoteca sit, et probari poterit, res obligata erit de quæ
conveniunt.... Et sine his autem solet quod actum est, si habeat probationem (L. 4 D. de
pignor. et hypoth.); dava, no entanto, maior autenticidade à hipoteca provada por meio
de um ato escrito. “Fiunt enim de his scripturae, ut quod actum est per eos facilius
probari possit (Gaio, frag. citado), e preferência às que eram constituídas por escritura
pública. Eum qui instrumentis publicae confectis nititur, praeponi dicernimus, etiamsi
jurídico, as opiniões que pretendiam conciliar tão formais preceitos com a possibilidade
pública a Ord. do Liv. 3.º, Tít. 59, § 18, Tít. 69, § 2.º e o Tít. 3.º da Lei de 22.12.1761.
pública, só a escritura pública é admissível, e nenhuma outra forma pode supri- la, nem
mesmo os instrumentos públicos que têm força de escritura pública, porquanto esta
força poderá valer para prova dos contratos, mas não para a substância dos mesmos; é
princípio inconcusso que, quando a lei exige uma forma especial para o contrato, sem
28.10.1867, declarando que só por meio de escritura pública pode ser constituída a
hipoteca convencional.
O direito escrito francês (art. 2.127 do Código Civil) apesar de sua terminante
disposição declarar que a hipoteca convencional só pode ser consentida por ato lavrado
tem sido para alguns objeto de dúvida, e acreditando outros que os atos administrativos
podem gerar a hipoteca e que o mesmo pode suceder aos escritos particulares desde que
Lei de 11 brumário do ano 7.º; esta exigia expressamente para a hipoteca um ato
notariado, e pelo Decreto de 12.08.1807, posterior ao Código C ivil, determinava esta
(art. 1.º) que o direito de hipoteca sobre todos os bens de qualquer devedor fosse
apoio nem nos elementos de formação do art. 2.127 do Código, pois os pareceres de
assinatura do escrito particular, quando feito perante notários, a mesma força que ao
aqueles contra quem ele faz prova reconhecem sua autenticidade perante notário.
(Troplong, vol. 2.º, ns. 505 e 506; P. Pont, vol. 2.º, ns. 665 e seguintes; Duranton, vol.
19, n. 361).
ato autêntico ou por ato particular reconhecido em juízo ou perante notário (art. 76, da
Lei de 16.12.1851).
Como atos autênticos só eram considerados os atos notariados, por isso que são
os notários os únicos funcionários públicos que a lei estabeleceu para receber os atos e
contratos (Martou, vol. 1.º, n. 108, e vol. 3.º, n. 982; Thiry, vol. 4.º, n. 501; Arntz, vol.
4.º, n. 1.806; Laurent, vol. 30, n. 437); ou os atos lavrados em escritos particulares cuja
obrigação era reconhecida em sentença ou perante notário, que lavrava disso um ato, o
que importava o cunho de ato notariado, desde que o notário era quem o autenticava.
particular é, porém, segundo o direito belga mais do que nulo, é inexistente (Laurent,
Para que seja exigido o ato notariado, para a constituição da hipoteca, existe,
além da razão de garantia e segurança que demandam nesse ato um cunho de enérgica
autenticidade (Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 220), a razão de coerência para os
desagregação do domínio; este só pode alienar-se, quando recai sobre imóveis, por
escritura pública (art. 11 da Lei 840, de 15.09.1855); é, pois, decorrente que os seus
das Cousas, vol. 2.º, § 220, nota 1; Thiry, vol. 4.º, n. 501).
É da substância das escrituras de hipoteca, para que válidas sejam, além dos
demais requisitos exigidos pela legislação em vigor, a declaração expressa, que neles se
fará por parte do mutuário, de estarem ou não os seus bens sujeitos a quaisquer
Desde que as hipotecas legais só podem valer contra terceiros quando inscritas,
Esta disposição foi transportada do art. 8.º da Lei 3.272, de 05.10.1885 e do art.
87 do Dec. 9.549, de 23.01.1886, que não reconhecia quoad tertios as hipotecas legais
senão depois de inscritas, modificando o regime de tais hipotecas na legislação anterior,
e que nem sequer se justificava com o intuito de precaver os credores hipotecários contra
as hipotecas gerais não inscritas do regime de 1864, porquanto a essas foi fixado o prazo
de um ano para se inscreverem, sob pena de caducidade das hipotecas e de multa para
os funcionários aos quais corre o dever de promover a inscrição (art. 7.º, da Lei 3.272,
referida certidão.
O Código Civil do cantão dos Grisões deixa o título ao arbítrio das partes,
exige apenas que ele mencione certos fatos que devem constar da inscrição ( arts. 286 e
288).
A hipoteca não pode ser consentida senão por ato notariado, salvos os casos em
que a lei estabeleça expressamente um modo diferente para constituir a hipoteca (art.
§ 7.º O devedor não fica pela hipoteca inibido de hipotecar de novo o imóvel,
cujo valor exceder o dela, mas, neste caso, realizando-se o pagamento de qualquer das
totalidade.
alienação deste no antigo direito (Lei de 20.06.1774, § 33; Dec. 482, de 14.11.1846, art.
13), todavia era permissível constituir segunda hipoteca sobre o mesmo imóvel desde
que o valor deste bastasse para garantir as duas obrigações (Digesto Portuguez, Liv. 3.º,
Tít. 14, Secção 3.ª, art. 1.260), sendo a falta desta circunstância “quando houvesse má fé
por parte do devedor, elementar de uma das modalidades do estelionato” (art. 264, § 3.º,
transportada do art. 4.º, § 7.º, da Lei 1.237, de 24.09.1864, e do art. 241 do Dec. 3.453,
1.430); sendo, porém, da criação da lei, como atributo por esta emprestado, pode ser
modificada pela convenção das partes (Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 176;
nem é por ela de modo algum influenciada; considerando que ela tanto atua para o
como que o imóvel hipotecado a mais de uma dívida conserva-se gravado in totum
ativa como passivamente – de se remanet indivisum pignus vel hypotheca tam activé quam
dizendo que ela divide-se entre os herdeiros do credor e os do devedor (Laurent, vol. 30,
n. 177; Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 176; Pont, vol. 1.º, n. 335).
et dupla stipulatione, das constituições 6.ª Cód. de distractione pignorum e 1.ª e 2.ª Cód.
si unus ex-pluribus hæredibus, etc. e dos fragmentos 8.º § 2.º e 11 § 4.º Dig. de
for por elas pactuado se observará; as expressões do § 7.º supra constituem o princípio a
observar na falta de estipulação em contrário; por força desta o imóvel pode ficar
somente em parte hipotecado pela dívida subsistente, e a hipoteca que sobre a parte livre
o proprietário constituir considerar-se-á primeira e não segunda hipoteca (Duranton, vol.
19, n. 245).
por exemplo, prescrevendo a parte da dívida ativa que coube em partilha a um herdeiro,
que não usou dos meios regulares para interromper a prescrição, e como a extinção da
em mão do herdeiro, que interrompeu a prescrição (Laurent, vol. 30, n. 177; Duranton,
A partilha do direito creditório entre diversas pessoas dá a cada uma delas, pela
parte que lhe cabe, o direito de atuar hipotecariamente contra toda a massa dos imóveis
hipotecários e contra cada um deles em sua totalidade (Martou, vol. 2.º, n. 694); à
e em cada uma das suas partes, qualquer que seja a pessoa em cujo poder se acharem.
hipoteca ao valor da dívida subsistente, desde que ela nada mais é do que um contrato
ora a dívida paga é obrigação eliminada e esta supõe dirimida a garantia em igual
correspondência.
parte que nele tiver se for divisível, e só a respeito dessa parte vigorará a
manifesta.
172. O objeto do condomínio, quer seja imóvel, quer movel, não pode ser
alienado senão por todos os condôminos, que deverão demitir de si a parte virtual do seu
divisão, a disposição supra copiou sem crítica os preceitos idênticos dos arts. 4.º, § 8.º,
herdeiro (Troplong, vol. 2.º, n. 469 bis; Pont, vol. 2.º, n. 640; Martou, vol. 3.º, n. 971).
português.
não devia ter sido contemplado na legislação hipotecária de 1890, por não encontrar
apoio no regime baseado unicamente na especialização das hipotecas para dar- lhes força
em referência a terceiros.
necessariamente ser especial, com os requisitos dos arts. 196 e seguintes do Dec. 370,
de 02.05.1890, ao que vem permitir-se a hipoteca da parte ideal, como diz o Sr.
Lafayette, de um imóvel que, conquanto divisível, não tem firmado pela divisão o
quinhão de cada co-proprietário, antes mantém-se sem discriminação das partes
alcançara e tornara patente a inutilidade de tal preceito, quando dissera: “Desde que a
hipoteca”.
especial sobre uma fração ainda indeterminada de um imóvel, que conquanto divisível
não determinada?
§ 8.º, do art. 4.º, do Dec. 169 A, proibitiva do registro da hipoteca do imóvel comum
inadmissível porque tal hipoteca seria nula, visto como seria constituída sem sê- lo por
quem tivesse a faculdade de alienar o imóvel: os condôminos.
– divisão efetuada.
tem inteira aplicação não somente à hipoteca convenc ional mas à judiciária (Ac. da
19.01.1890, proíbe que uma fazenda possuída em comum e sendo indivisível, possa ser
tendo sido lavrada com o fim especial de reforçar a 1.ª... vê-se que só foi assinada pelo
devedor principal por si e como procurador de sua mulher, mas não pelos demais
metade do valor do imóvel, sendo ela materialmente indivisível, por compreender terras,
consentimento dos ditos condôminos, que constam da própria escritura, porque dava-se
Ord. Liv. 4.º, Tít. 96, § 5.º e por se tratar de condição atinente ao fundo e forma do
contrato, que em tais circunstâncias nem pode ser registrado, segundo tem sido
decidido, dá-se nulidade de pleno direito que não se baseia só no interesse das partes,
quer esta expresse quer não tal cominação, porque é essa a sua índole.
“Ora, a lei hipotecária no art. 4.º § 8.º diz: o imóvel comum a diversos
proprietários não pode ser hipotecado sem consentimento de todos, mas cada um pode
hipotecar a parte que nele tiver, se for divisível: pela disposição de direito e pela
inteligência que na prática se tem dado ao referido artigo, o imóvel que se acha nas
circunstâncias supra indicadas é indivisível fisicamente porque não pode ser partido sem
dano na frase da Ord. cit. ibi.: assim como escravo, moinho, lagar ou outra coisa
semelhante e assim sendo torna-se necessária a pronunciação da nulidade, que, por ser
de pleno direito, não depende de rescisão e pode ser por terceiros invocada, desde que
são nisso interessados.” (Regulamento 737, art. 686, § 5.º, n. 3.453, art. 237). Acórdão
de 07.08.1883 (Direito, vol. 32, p. 252 e seguintes).
que trata o art. 4.º, § 8.º, da Lei de 24.09.1864, deve ser decretada em sentença proferida
em ação ordinária e que antes disso produzirá a hipoteca os seus efeitos, entre os quais o
art. 4.º, da Lei de 24.09.1864, não é de pleno direito, mas depende da ação em que haja
sentença, que a decrete, estabeleceu que a nulidade não pode ser alegada pelos credores
que somente poderia ser alegada pelas partes imediatamente interessadas na validade do
ato; sendo certo que um dos condôminos do prédio hipotecado figura na ação, não nesta
qualidade, mas como credor, sem declarar a sua qualidade (Direito, vol. 48, p. 43).
§ 9.º Quando o pagamento a que está sujeita a hipoteca for ajustado por
porém, prevalecer-se da estipulação do prazo quando, por ato seu, diminuir as garantias
concedidas ao credor ou piorar a situação deste (Código Civil francês, arts. 1.187 e
1.188; Código Civil italiano, arts. 1.175 e 1.176; Duranton, vol. 11, ns. 104, 116 e 121;
Demolombe, vol. 25, ns. 621, 656, 671 e seguintes; Laurent, vol. 17, n. 204 e
seguintes).
cobrá-la de acordo com as regras que dominarem o caso (Laurent, vol. 17, n. 210); na
hipótese do§ 9.º supra é a excussão da hipoteca por meio da ação executiva.
devedor, este pode antecipar o pagamento, renunciando não somente aos prazos de cada
Federal Suisso das Obrigações, n. 112); mas ao credor assiste o direito de cobrar toda a
Em face da disposição do § 9.º supra, que é cópia da dos arts. 4.º, § 9.º, da Lei
perda do prazo e vencimento da dívida, tais fatos ocorreram por força do preceito da lei,
Incontestavelmente sim.
que diminui o prazo, é estabelecida em favor do credor e este pode renunciá- la.
estabelecida no art. 126 do Dec. 370, de 02.05.1890: a proibição da cobrança dos juros
não vencidos.
O credor pode excutir o imóvel, juntando o instrumento do contrato do qua l
De modo algum.
ao direito do credor que deve receber, não mais a prestação, mas toda a importância da
dívida.
TÍTULO II
Seção 1.ª
Dos privilégios
Aos móveis;
mesmo imóvel;
tanto a respeito dos bens móveis, semoventes e imóveis não hipotecados, como a respeito
persona e não um jus in rem, daí o não terem os credores privilegiados o direito de
Imperadores Deocleciano e Maximino que só pelo penhor, isto é, pela criação em favor
do credor de um jus in rem se lhe conferia preferência sobre todos os privilégios dos
quais decorrem apenas ações pessoais, importa a afirmação de que aos privilégios não
dos bens o que, aliás, os intérpretes deduzem da redação da Lei 8.ª. Cód. de servo pignori
que decorria da situação pessoal do credor, mas ainda na natureza do próprio crédito –
privilegia quædam causæ sunt, quædam personæ (Modestino, Lei 196 D. de regulis
conseguintemente uma ação pessoal; daí o ser o privilegio impotente para pôr o credor a
privilégio conferia ao credor preferência sobre a hipoteca: no das impensæ funeris (L. 45
os a somente fazerem valer o seu direito creditório, sobre o produto da venda dos bens
aos privilégios só estava ligado um direito pessoal e nunca um direito real, ainda quando
sua ação prelatícia não do tempo, isto é, da época da sua constituição, mas da natureza
uma decorrência de ser o privilégio mero direito pessoal, ao passo que a hipoteca
armava o credor de um direito real, que se tornava efetivo por meio da ação hipotecária,
na qual com justo fundamento diz Cujacio, plus cautionis est quam in personam.
hipotecários, que eram pagos de preferência, por força do seu direito de prelação.
privilegiados os seus créditos para se garantirem com um direito real contra as surpresas
de preferências, diante das quais deviam ceder; aquilo que constituía exceção – a
hipoteca adjeta ao privilégio para dar a este o direito real, com as suas naturais
aparecer com efeitos prelatícios de uma grande energia, as hipotecas privilegiadas que
eram a resultante da fusão dos privilégios com as hipotecas; por aqueles tinham elas a
força preferencial sobre as hipotecas simples, ainda que de data anterior, porque o
natureza do crédito; por estas firmava-se a seqüela, por força de direito real de que
gozavam.
na seguinte ordem:
Credores quirografários, privilegiados, hipotecários, hipotecários privilegiados;
tempo, do favor que a lei concedia ao crédito, isto é, operava-se por força do privilégio –
lei, mas nos contratos; isto é, tanto às legais como às convencionais podiam agregar-se
privilégios.
necessário que se desse uma versio in rem oppigneratum e o privilégio não ia além da in
rem versio; é a inteligência que deve ser dada às expressões da L. 5.ª D. qui potiores –
Si in rem istam conservandam impensum est, quod sequens credidit; e às da L. 7.ª Cód.
qui potiores in pignore habeantur, ibi – tamen eum, cujus pecunia prædium comparatum
probatur, quod ei pignori esse specialiter obligatum statim convenit, omnibus anteferri juris
auctoritate declaratur (Maynz, vol. 1.º, § 163, nota 2.ª; Mackeldey, § 355; Accarias, vol.
175. Para o nosso antigo direito foi transportado o mecanismo dos privilégios e
legislação por força do disposto no art. 5.º da Lei 1.237, de 24.09.1864, e nos arts. 5.º
mesmo ano, aqueles subsistem com força preferencial sobre os credores quirografários.
com o sentir do Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 269, nota 4.ª) julgamos em
no n. II do art. 70 do Dec. 917, de 24.10.1890: tais privilégios só podem ter assento sobre
os bens móveis, que não podem ser objeto de hipoteca, sobre os imóveis não hipotecados
e nas sobras dos produtos dos imóveis hipotecados após a solução das hipotecas.
hipotecas:
sociedades anônimas ou comanditárias por ações (art. 5.º supra, art. 220, do Dec. 370 de
1890).
pagamento pode ser esse produto em suas sobras aplicado aos créditos privilegiados e
finalmente aos quirografários (art. 221 do Dec. 370, de 02.05.1890, e art. 70, § 1.º, do
176. Para determinar com precisão a ordem em que devem ser contemplados os
créditos privilegiados, entre si, faz-se necessário conhecer a intensidade dos privilégios,
prioridade no tempo, mas sim do valor que a lei confere a cada um deles.
Pondo de parte a força preferencial dos debêntures, a qual só faz sentir a sua
privilégios sobre móveis, sobre imóveis não hipotecados e sobre as sobras do produto
dos imóveis hipotecados, depois de paga a hipoteca, devem ter prelação sobre os
24.10.1890 que rege não somente o concurso de credores em falências comerciais, como
é inerente aos créditos e a causa de que eles derivam (Dir. das Cousas, § 269); todavia
não podem ser invocados contra os terceiros detentores dos móveis ou imóveis sobre os
O que o direito moderno consagra é, por certo, mais consentâneo com a noção
jurídica dos privilégios; desde que estes se fundam na natureza dos créditos devem gerar
e for dado ao registro antes desta, se importa sacrifício da ação econômica da hipoteca,
não afeta a essência jurídica desta, como fá- lo a nossa legislação, desde que em 1864 ela
agrícola, sem atender a que o crédito imobiliário, com a sua feição moderna de
circulação da propriedade imóvel, por meio das letras hipotecárias, feição que se vê
acentuada, com singular firmeza de linhas, no Tít. 1.º da Sec. 8.ª do Liv. 3.º do moderno
Código Civil alemão, carece de grande expansão entre nós, a qual não pode deixar de
encontrar peias em muitas das disposições restritas da legislação de 1890, que entrega o
devedor manietado à ação do credor, armado com o uso injustificável de uma ação
executiva, que bem longe de fortalecer enfraqueceu a confiança no poder do nexo real da
hipoteca para ligar o imóvel à solução da dívida, de modo a oferecer toda a garantia e
segurança ao credor.
Não está para este o perigo na maior ou menor violência do meio formal de
imobiliária.
estabelecido no Código Civil francês por entender o legislador belga que a preferência
concedida no direito francês aos privilégios gerais dos móveis e imóveis sobre os
adquirirem segura garantia real e que no momento de tornar efetivo o seu direito viam-
se preferidos por credores privilegiados que absorviam grande parte do produto dos
imóveis.
Era, pois, com razão, que Lelièvre propunha em seu relatório a absoluta
Se os credores hipotecários não puderem contar com o valor integral dos bens
que são consignados à sua garantia, o fim do regime hipotecário falha por completo.
créditos, privilégio sobre os móveis e imóveis com prelação sobre quaisquer credores,
ainda os hipotecários.
Esses créditos, que eram em número de cinco (art. 2.101 do Código Civil), a
Lei belga de 1851 (art. 17) reduziu a um, as custas e despesas da justiça; todos os mais
privilégios são especiais aos móveis e imóveis, e os que assentam sobre esta última
40) do Alvará de 24.07.1793 (§ 1.º) e do art. 70, n. II, do Dec. 917, de 24.10.1890, como
Alvará de 12.05.1758 (ns. 10 e 11), da Lei de 20.06.1774 (§§ 34 a 38) e do art. 70, n. II,
relacionou o Dec. 917, de 1890, no art. 67, letras a a n, como dívidas privilegiadas da
massa para serem pagas pela totalidade desta de preferência a quaisquer outros credores;
como, porém, o citado § 2.º mantém ainda a preferência da hipoteca de conformidade
privilégios, estes ainda quando compreensivos dos bens móveis e imóveis do patrimônio,
hipoteca é absoluta.
insolvável:
dentro da casa, para pagamento dos aluguéis vencidos, e nos frutos pendentes a respeito
da renda ou foro dos prédios rústicos (Dec. 917, de 24 de outubro, art. 70, n. II, letra a;
Port., seção 3.ª do Tít. 13 do Liv. 3.º arts. 1.275 e 1.276; Trigo de Loureiro, § 549, n. 6;
Código Civil francês, art. 2.102, n. 1; Lei belga de 16.12.1851, art. 20; Código Civil
português, art. 881; Código Civil italiano, art. 1.958, n. 2; Código Civil espanhol, art.
pignori esse locatori, etiamsi nihil nominatim convenerit, como decidiu Paulo na Lei 4.ª
arrendamento não estiver fixada, o credor só se poderá fazer pagar, como privilegiado,
no ano corrente e no seguinte (Thiry, vol. 4.º, 370; Lei de 16 de dezembro, art. 20).
sublocação vencida, mas aos de quaisquer terceiros (Código Civil francês, art. 1,753;
Código Civil holandês, art. 1,618; Laurent, vol. 29, n. 426; Código Civil italiano, art.
1,958; n. 3, 4.ª alínea) contato, que o locador ignorasse que eles não eram da
propriedade do locatário (Laurent, n. 420 e seguintes; Martou, ns. 411 e 412; Thiry, ns.
378 e 379; Duranton, vol. 19, n. 86; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 261, p. 142; Arntz, vol. 4.º,
definitivamente (vol. 1.º, n. 151); distinção que ele pretende apoiar nos termos usados
agrícola, pelo fato de haverem sido eles colocados em referido prédio, post contractum,
posse do locatário a título precário (Thiry, n. 379, n. 2; Arntz, vol. 4.º, n. 1.673, letra c;
somente as mobílias, mas ainda os livros, as roupas e tudo quanto achar-se dentro da
casa?
Aubry et Rau entendem que os objetos que servem para os usos domésticos e
medalhas e até as mercadorias que fazem parte do comércio do locatário são alcançadas
pelo privilégio (§ 261, p. 140, do vol. 3.º); Pont compreende todos os objetos que se
acham na casa permanentemente (vol. 1.º, n. 120) e Mourlon (Rept. E’crites, vol. 3.º, n.
1.277, nota 1) vai até dizer que todos os objetos que estão na casa a guarnecem; no
entanto, exclui o numerário, os bilhetes de banco e as jóias (n. 1.277, 4.ª alínea).
a mobília, os trastes. (Ordenação do Liv. 4.º, Tít. 23 § 3.º; Alvará de 24.07.1792, § 2.º;
Coelho da Rocha, vol. 1.º, § 78, nota; Corrêa Telles, Digesto Portuguez, Tít. XIX, seção
3.ª, Liv. 3.º art. 1276; Consolidação das Leis Civis, art. 674, nota 32).
aplicar-se-lhes no nosso direito, porque, não produzindo ele direito real, não tem
seqüela, para o efeito de ir tornar efetiva a sua ação preferencial sobre o produto dos
Segundo o Código Civil francês (art. 2.102), a Lei belga de 1851 (art. 20), o
Código Civil espanhol (art. 1.922), Código Civil holandês (art. 1.188), Código Civil
italiano (art. 1.958, n. 3) o proprietário pode fazer penhorar (saisir) os bens móveis que
guarnecerem os prédios urbanos, quando o locatário retirá- los, removê- los da casa,
do Código Civil, que após longas discussões, terminam por convir que ela não visa o seu
dos objetos à posse do locatário conseguintemente, sempre que tal restituição tornar-se
impraticável o privilégio caduca (Duranton, vol. 19, n. 100 bis; Laurent, vol. 29, n. 441;
Martou, vol. 2.º, n. 429; Pont, vol. 1.º, n. 155; Arntz, vol. 4.º, n. 1.674; Aubry et Rau, §
dominante, no direito moderno, que a posse equivale título de domínio, em relação aos
móveis, é uma anomalia que uns, como Laurent (n. 439, última alínea), só explicam
como o reflexo do favor singular de que sempre gozaram em França le seigneur d’hotel
et le seigneur de métairie e outros, entre os quais Thiry (n. 382 do 4.º vol.), como uma
direito real, concretizado, segundo a maioria dos doutrinadores, em um penhor tácito dos
alienação dos móveis feita a um adquirente de boa fé; a opinião em contrário, sustentada
A seqüela exercita-se ainda sobre os móveis existentes na casa, que não sejam
da propriedade do locatário (Laurent, n. 442; Duranto n, vol. 19, n. 100 bis) solução de
todo o ponto coerente desde que a reivindicação tem, no caso, por fim antes o
serviana dos romanos, não o da reivindicatio que tem como assento o domínio.
em fraude da ação, situação jurídica diversa da figurada pelo direito escrito francês e
pelos doutrinadores.
permitem dúvidas; o art. 674 da Consolidação das Leis está redigido de conformidade
com os preceitos do nosso direito escrito, a mesma correção foi observada na letra a no
“In praediis rusticis fructus qui ibi nascuntur, tacité intelliguntur pignori ess e
domino fundi locati, etiam si nominatim id non convenerit.” (Lei 7.ª, Dig. in quibus
força de sua tácita e legal hipoteca, preferência, para haverem o pagamento dos seus
alugueres, foros e pensões dos rendeiros dando- lhes prelação sobre outros credores,
todavia estes são em primeiro lugar os objetos do concurso, como Pomponio o torna
hipótese e a doutrina dos comentadores dos códigos oferece larga provisão de elementos
Lei de 1774 em uma hipoteca tácita que ela concedia para o caso; no direito francês e no
(Laurent, vol. 29, n. 383) e mesmo uma hipoteca, sempre que não se trata de privilégios
sobre móveis, de acordo com a doutrina de Pothier (Laurent, obra citada, n. 439).
“eles são produto do solo e o solo pertence ao locador; foi pois, a coisa pertencente ao
locador que produziu os frutos dos quais aproveita-se o patrimônio do devedor; é justo
que sobre tais frutos seja o locador preferido aos outros credores, pois que, sem o
arrendamento, não se teriam tais frutos tornado penhor dos credores.” (Laurent, vol. 29,
n. 379).
colheita do ano corrente, mas os dos anos anteriores, os quais se entendem alcançados
pelas expressões – tudo quanto guarnece a propriedade rústica – dos arts. 2.102 do
urbana: “pode-se aplicar aos frutos colhidos o que a lei diz dos efeitos móveis que
no art. 20 da Lei belga de 1856, que assenta o privilégio nos frutos da colheita do ano,
deixando assim perceber que só estes frutos estão sujeitos e que os outros não se podem
De feito sobre estes é que podia ocorrer dificuldade por isso que pelo fato de
modo completo.
declarou-os sujeitos ao privilégio, e como no sistema belga (art. 12, da Lei de 1851) o
privilégio tem preferência sobre a hipoteca, por consistir aquele em um direito real, que
tem assento no próprio crédito e não em um direito pessoal inerente ao credor, a solução
último ano e os colhidos dos anos anteriores; destes a lei não fala, porque estão sob o
direito comum, que considera sob o privilégio os objetos que guarnecem a propriedade
rústico os frutos pendentes para considerá- los objeto do privilégio – o qual não poderia
são.
Parece-nos, porém, como diz o próprio Laurent (n. 429) que tal modo de ver
não está de acordo nem com a verdade dos princípios, nem com a realidade das coisas.
consumidos pelo rendeiro, que sobre eles tinha inteiro domínio, no uso e exercício de
seu direito de locatário e arrendatário, não podiam ser objeto de privilégio, porque não
se podiam supor subsistentes, mas sim consumidos, no sentido lato desta expressão; o
que tanto mais coerente é quanto os escritores franceses e belgas entendem que os frutos
colhidos, ainda quando encontrados armazenados, não podem ser objeto de privilégio,
senão como, móveis, utensílios e quaisquer objetos que guarneçam o prédio rústico;
correndo, o Dec. 917, de 1890, concedeu-o sobre os frutos pendentes, limitando assim a
hipoteca privilegiada do antigo direito, que incidiu sobre todos os frutos (Digesto
Portuguez, Liv. 3.º, Tít. 14, Seção 3.ª) e o penhor tácito do direito romano (L. 7.º D. in
quibus cas. pign. vel hypoth., etc.) que tinha o mesmo alcance (Martou, vol. 2.º, n. 498;
locador do prédio rústico no valor dos frutos; os trabalhadores rurais que fizeram a
colheita; o que vendeu estrumes e instrumentos aratórios.
trabalhadores que fizeram a colheita, e ao passo que aos que venderam os instrumentos
aratórios concedem privilégio sobre o produto de tais instrumentos (art. 20 da Lei belga
de 1851, n. 2; Código Civil italiano, art. 1.958, n. 5; Código Civil espanhol, art. 1.922,
n. 6; Digesto Portuguez, Tít. 14, Seção 3.ª, do Liv. 3.º, art. 1.277).
fabricaram ou converteram e dos quais estão de posse, para pagamento de seus salários,
que os fabricou tem em seu poder; desde que tais objetos saiam de sua posse, perdem o
pessoal e não real; apesar de exercitar-se a seqüela sobre os móveis no nosso direito,
pois, que a sua posse não equivale o título de domínio, segundo a doutrina posta em
circulação dos móveis se pudesse ter eficácia sobre os que houvessem sabido do poder
sob a forma do preço estipulado para o trabalho, é isto por um penhor tácito e
o operário que o objeto passe para o poder de terceiro importa a renúncia às vantagens
não ao que o direito escrito confere àqueles que construíram ou concertaram imóveis
que ele tem do objeto penhorado; se os terceiros pudessem provar que este existe em
penhor.
Os textos romanos que dão preferência àquele dos credores pignoratícios que
pign.) não devem ser entendidos no sentido de ser a posse da coisa dispensada no
de textos precisos, como entre outros o de Gaio, tão comumente conhecido (L. n. 238 §
corrente de que a posse é substancial para o privilégio oriundo do penhor; tanto assim
sentido:
Si debitor res suas duobus simul pignori obligaverit, ita ut utrique in solidum
conditionem”.
privilégio; o art. 2.076 do Código Civil francês assim o resolve, quando a posse do
credor pignoratício (Martou, vol. 2.º, n. 452; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.216, 4.ª alínea; Dir.
das Cousas, § 163, n. 5); antes este faz valer o seu direito real e a pignoris persecutio é
que a anticrese não confere ao credor privilégio sobre o preço do imóvel, ainda no caso
e dá-lhe a força de impedir a execução da hipoteca, desde que haja sido transcrita antes
da inscrição desta.
pagamento dos juros e do capital da dívida; enquanto a solução desta não se operar pelo
posteriormente, de excutir o imóvel não pode ter efetividade sem afetar o privilégio do
credor anticrético.
Quando, pois, Mourlon diz (ns. 1.231 e 1.233, do vol. 3.º) que o credor
anticrese outro direito senão o privilégio sobre os frutos e rendimentos, e que no caso de
pagamento de sua dívida. O direito de retenção que a lei lhe confere é um meio de
privilégio esvai-se com o direito de retenção, que é a garantia do mesmo (Arntz, vol. 4.º,
ns. 1.605, 1.606 e 1.608; Código Civil italiano, arts. 1.891 e 1.894; Código Civil
português, arts. 875 a 877; Código Civil francês, arts. 2.085 e 2.088; Thiry, vol. 4.º, n.
romano, considerou o Dec. 169 A, de 19.01.1890, a anticrese um ônus real (art. 6.º)
sujeitou-a à transcrição, como o direito francês, e desse fato fez decorrer efeitos para
hipoteca posteriormente inscrita (§ 2.º, do art. 6.º citado) consistindo tal preferência, não
percepção dos frutos até extinção da dívida, podendo só depois desta paga proceder o
propriedade dos frutos pelo fato da percepção; os textos eram formais; acentuadamente
pairar dúvidas sobre o direito real do anticresista. Esta parece ser a noção da anticrese
dada no moderno Código Civil alemão (art. 1.213): “O penhor pode ser constituído de
“Tudo o que fica estatuído no presente cap ítulo não afeta os direitos que
terceiros possam ter sobre o imóvel dado em anticrese. Se o credor, aparelhado com este
conservados, ele os exercitará na ordem que lhes couber e como qualquer outro credor”.
Parece resultar desta disposição que o credor anticresista, como tal, não pode
opor seu direito aos terceiros, no sentido de ter preferência sobre eles; ele só é
preferente se tiver hipoteca ou privilégio. Não se deve concluir que o anticresista não é
mais do que um credor quirografário, isto é, que ele não tem contra o devedor senão um
estiverem retidos (Dec. 917, de 24.10.1890, art. 70, n. II, letra j; Código Civil francês,
art. 2.102, n. 5; Código Civil holandês, art. 1.185, n. 6; Código Civil italiano, art. 1.958, n.
8; Código Civil espanhol, art. 1.921, n. 5; Código Civil uruguaio, art. 2.333, n. 2;
Código Civil do Chile, art. 2.474, n. 1; Código Civil português, art. 882, n. 2; Digesto
Port. Liv. 3.º, Tít. 14, seção 3.ª § 1.º, art. 1.277).
assim um ponto de interpretação do Código Civil francês que oferecia matéria para
desacordo de opiniões.
retenção, que não é decorrente do de privilégio, antes difere deste, pois consiste em um
meio eficaz de forçar o devedor a pagar, ainda quando seja solúvel, ao passo que aquele
retenção do hoteleiro, quando o art. 2.102 do Código Civil francês que consagrou o
privilégio criado no costume de Paris, não mencionou o direito de retenção que uma
hospedagem (Martou, vol. 2.º, n. 508; Pont, vol. 1.º, n. 167; Thiry, vol. 1.º, n. 396).
como assento e justificação o fato de ser o estalajadeiro obrigado a receber pessoas que
desconhece, para dar- lhes pousada, isto é, teto e alimentação e dever ter uma garantia
explicar o art. 175 desse ato do direito costumeiro francês dá como origem do privilégio
do estalajadeiro a necessidade de compensar a responsabilidade que o mesmo tem dos
ao depositário, é responsável pelo furto e subtração dos objetos e pelo dano que estes
possam sofrer, ainda quando o furto e o dano hajam sido praticados pelos outros
justo que a lei lhe concedesse uma proteção especial para o pagamento do crédito que
estão sujeitos ao referido privilégio todos os objetos que o viajante levar para o hotel,
sejam próprios ou alheios, desde que haja boa fé da parte do estalajadeiro, hajam sido
estalajadeiro é da mesma natureza, do locador (Pont, vol. 1.º, n. 165; Laurent, vol. 29, n.
privilégio esvai-se; por esta razão o privilégio não pode referir-se aos gastos feitos pelo
de pessoal de serviço e bebidas consumidas nas refeições (Laurent, vol. 29, n. 506;
Thiry, n. 395, citado; Duranton, vol. 19, ns. 128 e 129; Arntz, vol. 4.º, n. 1.686).
As casas de pensão, quer dêem ou não comida, têm o privilégio dos hotéis e
estalagens sobre os efeitos dos viajantes (Laurent, vol. 29, n. 506; Duranton, vol. 19, n.
128).
As expressões – que estiverem retidas – equivalendo a estas – enquanto
francês, se o hoteleiro pode reaver os objetos do viajante que este clandest inamente
houvesse retirado do hotel e sobre eles assentar a sua execução privilegiada (Troplong,
vol. 1.º, n. 206; Pont, vol. 1.º, n. 167; Martou, vol. 2.º, n. 505; Aubry et Rau, § 261, nota
privilégio aos hoteleiros sobre os objetos dos viajantes, não sobre os que pessoas
residentes no mesmo local conduzam ao hotel em que fixem residência (Mourlon, vol.
3.º, n. 1.314).
viajante levados ao hotel e que nele se achem e sono tuttora nel suo albergo (art. 1.958,
n. 8): “osser viamo quindi che il privilegio non dura parimente se non petempo che
quegli oggetti restai nell‟albergo o nelle localitá che ne dipendano” Cattaneo e Borda,
Comment. ao art. 1.958, n. 9; salvo retirada clandestina (Mourlon, vol. 3.º, n. 326).
albergaria, no valor das alfaias que o devedor tiver na pousada (art. 882, n. 2).
na pousada.
185. f) Desde que o § 2.º do art. 5.º supra manda vigorar as preferências
estabelecidas pela legislação atual devem ser, como já o fizemos sentir, respeitados os
preferência no produto dos imóveis hipotecados; nas sobras destes, no preço dos não
1.º) O das despesas do salvamento da coisa, para quem a salvou (art. 738 do
Código Comercial);
2.º) Sobre o valor ou preço do navio e sobre a importância dos fretes da última
3.º) No valor do navio os que houvessem concorrido com dinheiro para a sua
compra, para o seu concerto, aprestos ou provisões. (Lei de 20.06.1774, § 35; Código
pagamento do que lhe for devido em conseqüência do mandato (art. 156 do Código
Comercial);
despesas, adiantamentos que tiver feito, comissões vencidas e juros, enquanto os mesmos
qualquer outro lugar, ou em caminho para o poder do falido, se provar a remessa por
lucros que tiver no navio e fretes, pelo que dever à parceria (art. 537 do Código
Comercial);
10.º) Sobre o navio e frete o crédito dos donos da carga pelos danos que
186. Tem privilégio sobre determinados imóveis, desde que estes não estejam
hipotecados, os seguintes credores:
de 20.06.1774, §§ 34 e 36; Alvará de 24.07.1793, § 1.º; Corrêa Telles, Dig. Port., Liv.
3.º, Tít. 14, seção 3.ª § 1.º, arts. 1.273 e 1.274; C. da Rocha, vol. 2.º, § 658; Trigo de
Loureiro, vol. 2.º, § 548 , Consolid. das Leis Civis, art. 1.270, §§ 1.º, 2.º e 4.º; Código
Civil francês, art. 2.103, n. 4; Código Civil holandês, art. 1.185, n. 8; Código Civil
espanhol, art. 1.923, ns. 3.º e 5.º; Lei belga de 15.12.1851, art. 27).
Civil francês que os serviços hajam sido contratados pelo proprietário, para que os
privilégio, no direito moderno – dever ser pago com preferência aos outros credores,
aquele que coloca alguma coisa no patrimônio de outrem, ou aumenta o valor deste com
de Lisboa – teve por único fim animar a reconstrução de Lisboa danificada pelo
terremoto, por ser esse fato de grande vantagem, como se diz no parágrafo inicial do
citado Alvará com forra de lei; o que importaria em assentar o legislador o privilégio
estabelecia o direito romano (Leis 1.ª D. in quibus causis pignus, etc. e 24 § 1.º D. de
patente que o pensamento do legislador foi não mais consultar o interesse administrativo
do embelezamento das cidades, mas o princípio jurídico de não ser licito a alguém
privilégios conferidos aos ns. 4 e 5 daquela disposição; o § 34 da Lei de 1774 com a sua
extensão do privilégio dos que realizam benfeitorias nos imóveis rústicos, aos credores
trabalho braçal ou com o de fiscalização para levar-se a efeito o esgotamento dos pauis,
lagoas e lodaçais que tornem inúteis e impróprios para a cultura terrenos, que assim
ficam aptos para o plantio ou para edificação (Martou, vol. 2.º, ns. 591 e 502; Troplong,
vol. 1.º, ns. 242 e 242 bis; Pont., vol. 1.º, n. 210; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.555; Thiry, vol.
4.º, n. 428; Duranton, vol. 19, n. 190; Laurent, vol. 30, n. 42).
Além, porém, daqueles que concorrem com sua indústria para o aumento do
valor do imóvel de outrem, há o que tiver emprestado dinheiro para o pagamento dos
trabalhos executados, qui numum ministravit como diz Papiniano no L. 1.º, D. quib
causis etc., este não podia deixar de estender o privilégio, in pecunia, quae credita erit,
o direito moderno consagrou o privilégio nas disposições de alguns Códigos civis atuais
(Código Civil francês, art. 2.108, n. 5, Lei belga de 16.12.1851, art. 27).
francês atual o privilégio tem como limite ou como medida de sua extensão o aumento de
valor, a benfeitoria, no sentido restrito desta expressão, experimentada pelo prédio; assim
ou à quantia emprestada pelo credor, o privilégio só vai até o valor dessa benfeitoria,
desse aumento de valor – o credor pelo excesso de seu crédito é simples quirografário e
com os demais credores desta classe entra em rateio (Lei. de 20.06.1774, §§ 34 e 36; Lei
de 12.05.1758, § 10; Dec. 917, de 24.10.1890, art. 70, n. 11, letra 12; Acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça de 25.06.1883; Laurent, vol. 3.º, n. 48; Duranton, vol. 19,
n. 190; Thiry, vol. 4.º, n. 430; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.366; Pont, vol. 1.º, n. 213;
Troplong, vol. 1.º, n. 243; Martou, vol. 2.º, n. 596; Arntz, vol. 4.º, n. 1.699; Aubry et
termos um do estado do imóvel antes do começo das obras, outro por ocasião do
perito nomeado ex officio pelo presidente do Tribunal Civil da situação dos bens. – É o
processo belga (Martou, vol. 2.º, n. 599) e o francês (Pont, vol. 1.º, n. 215).
O direito francês exige ainda que o segundo perito emita o seu laudo dentro de
benfeitorias (Pont, vol. 1.º, n. 215); a razão é que no direito francês tal privilégio
constitui um direito real, e desde que a benfeitoria (la plus value) sobre o qual ele
e a vistoria (art. 189 e seguintes, e 209 e seguintes, do Dec. 737, de 1850, e Dec. 763, de
19.09.1890).
dinheiro, que este fosse aplicado ao pagamento ou embolso dos operários e que esta
circunstância ficasse provada por meio de recibos dos referidos operários, e por título
comprobatório do empréstimo contraído para tal fim pelo proprietário do imóvel; dadas
os direitos que a eles resultam do privilégio (Pont, vol. 1.º, ns. 224, e 227; Troplong, n.
248; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 263, n. 5; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.363; Duranton, vol. 19,
n. 196).
A Lei belga de 16.12.1851 não fez menção desse privilégio; não considerando-
o um privilégio originário, mas uma simples sub-rogação de direitos, deixou o caso para
ser regulado pelos princípios de direito comum, que regem a sub-rogação (Martou, vol.
2.º, n. 593).
que concentrava neste caso do prestador de dinheiro o privilégio que o direito moderno
etc., subsiste quando eles forem contratados não pelo proprietário do imóvel, mas por
empreiteiro.
A razão da dúvida está nos termos empregados pelo art. 2.103, do Código Civil
francês, e art. 27, da Lei belga de 1851, e referentes ao proprietário; a opinião geral é
Civil francês.
com o empreiteiro principal, ou com o arquiteto ou mestre pedreiro, não tem privilégio.
Eles não podem invocar o texto da lei, pois não foram empregados pelo proprie tário; não
têm direito creditório contra ele; daí a impossibilidade de ser o seu crédito contra o
empreiteiro, que não é proprietário do prédio, garantido por um privilégio sobre este
prédio. É certo que foram os operários que por seu trabalho fizeram a benfeitoria, mas
diretor das obras é que é a alma. A eqüidade está, pois, de acordo com o direito. Em
direito, não há privilégio sem crédito, e os operários não têm crédito contra o dono; e
materiais, ela é antes devida a quem dirige as obras; o privilégio deve, por conseguinte,
05.10.1792) assentava sobre a terça parte dos lucros dos fabricantes devedores,
avaliados por peritos e penhorados nas mãos dos próprios devedores que ficaram por
depositários de juízo e como tais obrigados a responder na forma da Lei pelas quantias
desses bens comprados; constando da escritura do empréstimo, que ele se fez com esse
24.07.1793, § 1.º; Consolid. das Leis Civis, art. 1.270, § 3.º; Código Civil francês, art.
Não se refere esse privilégio ao preço da venda não pago, que se vê consagrado
no n. 1, do art. 2.103, do Código Civil francês, e de que faz menção o art. 621 do
Regulamento anexo ao Dec. 737, de 25.11.1850.
É coisa diversa.
para compra de certo e determinado imóvel – casa, terras ou fazendas – sobre o produto
deste imóvel, quando vendido em praça para pagamento dos credores de um insolvável,
severa observância dos princípios que dominam os contratos, se pode dizer que na
Tanto foi esse o fundamento do privilégio, que é exigida como condição de sua
Para que possa ter lugar o privilégio fazem-se precisas duas condições que os
outorgado a um credor por fundamento creditório distinto dos outros privilegiados, mas
sim uma mera sub-rogação estabelecida por preceito especial do privilégio do vendedor
que não recebeu o preço, na pessoa daquele que emprestou o dinheiro para pagá- lo,
desde que este pagamento se prova com recibo do vendedor: et par la quitation du
vendeur, que ce payment a été fait des deniers empruntés.
francês, ao ponto de não incluir a maior parte dos Códigos Civis o crédito do mutuante
assim a Lei belga de 1851 que considerou o caso como uma modalidade da sub-rogação
regulada no n. 2, do art. 1.250, do Código Civil francês (Pont, vol. 1.º, ns. 221 e 222;
Troplong, vol. 1.º, 230, nota 1.ª; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.348).
É correta esta noção? Desde que a disposição do Código Civil francês exige,
entanto, o legislador francês apesar de haver sido esta circunstância lembrada pela Corte
Código Civil; ainda mais, a despeito de ser este o modo de ver de Tarrible, expressado
n. 2, do art. 1.250, do Código Civil, exige para que se opere a sub-rogação do credor
primitivo na pessoa do mutuante que o empréstimo contraído seja para fazer a dívida
desde que o pagamento deva ter lugar à vista e não habita de fide pretio; as hipóteses
não são pois, idênticas; acresce que a não ser no caso exclusivo do § 2.º, do art. 1.250,
do Código Civil francês, a quantia mutuada passa para o domínio do mutuário (art.
1.893 do Código Civil francês) sai da propriedade do mutuante; quando, pois, o
proprietário do dinheiro haver dele, e não de qualquer outro, recebido o preço da venda,
e este é a quantia mutuada, sendo o mutuário e não o mutuante proprietário dela, a sub-
este só figura como proprietário do dinheiro emprestado, com exceção aos princípios
para justificar entre nós o privilégio do credor por mútuo para a compra de imóveis,
mutuada.
legislador português de 1774 ateve-se à doutrina de Bartholo, que firmou exceção à dos
leis 5.ª D. qui potiores eis pignore, etc., e 5.ª § 17 D. de Tributoria act. “Quandoque
quae mutuat ad rem emendam, non expresso quod illa res sit ei obligata, et tunc habet
Seja ou não justificável esta opinião perante os textos do direito romano, o fato
é que ela foi o assento do privilégio do mutuante, que o direito antigo francês deduziu
do princípio nele dominante, que fazia nascer hipoteca de todos os contratos lavrados
em forma autêntica, e que o direito português fazia remontar até ao preceito excepcional
do Cap. 4.º da Novela 97.
tem privilégio sobre o produto dos mesmos imóveis em caso de insolvência do devedor.
crédito, transfere o domínio para o comprador (Alvará de 04.09.1810) ainda que não
A disposição da Ord. do Liv. 4.º Tít. 5.º, § 2.º que considerava o domínio
pelo fato de não pagamento do preço, foi revogada pelo citado Alvará de 1810; o
privilégio conferido ao vendedor é no caso figurado, a justa garantia do seu direito que,
de real que era tal como o conferia a Ordenação citada, passou a ser meramente pessoal,
Parece-nos que não tem fundamento a contestação que Teixeira de Freitas opôs
É certo que o Alvará de 1810 não conferiu tal privilégio ao vendedor; mas fê- lo
cabe resolver; o Supremo Tribunal Federal, em caso concreto, pode cassar tal preceito
concorreu o credor, que dá o privilégio de que trata o art. 621 do Regulamento 737,
disposições quer da Lei de 1774, quer do Alvará de 1793 exigem, como principal
são fundamento do privilégio, por força, do preceito geral a que já nos referimos e que
coisa adquirida, mas faz-se preciso que o prestador do dinheiro conserve o seu título
creditório para que o privilégio tenha razão de ser; o abandono desse título, por uma
coisa do crédito e não somente ao destino que possam ter as quantias mutuadas.
Esse destino que a lei deseja que fique comprovado é um dos elementos
falências o vendedor de imóveis, não pago do preço, embora haja feito a tradição (letra
g do art. 68).
celebrado à vista, isto é, com o pagamento imediato do preço; em tal hipótese a tradição
não é suficiente para operar a transmissão da propriedade ao comprador; para tal efeito é
A letra h do art. 68 citado contém disposição que declara, de modo preciso, não
ser reivindicante o vendedor a prazo não pago do preço, salvo o caso de haver o
vendedor, fiando o preço, sido induzido por dolo do comprador, ou se apesar de vender
a coisa a crédito, reservar a propriedade até ser pago do preço; a razão é que, em
qualquer dos casos figurados não se dá de modo algum uma venda a crédito; e
domínio.
reivindicação que lhe conferem as disposições das letras g e h, do art. 68, do Dec. 917,
vendido a coisa a crédito, mas não havendo feito dela a tradição, não houver ocorrido
nos lugares citados, protege o seu direito creditório ao preço não pago, em o concurso de
dívida em empréstimo a juros, o seu privilégio caduca (Pont, vol. 1.º, n. 190):
principal; só podem dar lugar a uma ação pessoal não privilegiada (Pont, vol. 1.º, n.
193); não é, porém, discutível que o vendedor tenha privilégio para haver as despesas e
gastos judiciais feitos para haver o preço (Pont, vol. 1.º, n. 194).
vendido, que faz objeto do contrato, não atinge ele o preço obtido em praça ou o
produto dos imóveis que o adquirente houver anexado ou incorporado ao primeiro, por
força de atos posteriores à compra (Pont, vol. 1.º, n. 197; Thiry, vol. 4.º, n. 417);
imóvel?
deve prevalecer a opinião afirmativa dos doutrinadores (Pont, vol. 1.º, n. 197; Duranton,
vol. 19, n. 158; Martou, vol. 2.º, ns. 557 e 558; Laurent, vol. 30, ns. 17 e 18).
Na venda a retro não tem privilégio o adquirente que entrega a coisa, sem
receber a restituição do preço por ele dado, por ocasião da primeira venda; a razão de
decidir é que não se dá nesta operação uma venda nova, mas sim o cumprimento de uma
cláusula do contrato da venda primitiva, condição que constitui uma verdadeira cláusula
resolutória – distractus potius quam novus contractus (Pont, vol. 1.º, n. 189; Martou,
todas, especiais ou especializadas, recair unicamente sobre imóveis, não podem deixar
de ser considerados em vigor alguns dos privilégios gerais sobre todos os móveis e
Tais privilégios quando têm assento nos imóveis do devedor são preferidos
pelas hipotecas sobre os mesmos imóveis, e só podem recai nas sobras do produto dos
no direito romano por importar no levantamento da quota com que cada credor devia
comum dos credores, os quais não poderiam fazer valer os seus direitos, se um dentre
eles, não houvesse tomado a defesa do patrimônio do devedor; e como dessa defesa
resultaram despesas judiciais, nada mais justo do que conceder ao credor privilégio
sobre os produtos dos bens para o pagamento das despesas por ele feitas com a ação da
justiça pública (Digesto Port., Liv. 3.º, Tít. 14, seção 3.ª § 1.º, art. 1.279; Martou, vol.
2.º, ns. 312 e seguintes; Pont, vol. 2.º, ns. 67 e 68; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.259).
no interesse geral dos credores (Laurent, vol. n. 29, 322; Pont, 2, 67; Martou, 2, n. 315);
tem privilégio para pagamento com preferência sobre os outros; Martou dá noção exata
deste privilégio quando diz que “aquele que o invoca não pode pretender preferir senão
os credores aos quais seus atos foram proveitosos” (vol. 2.º, n. 318).
Quais sejam as despesas judiciais a que se referem o Código Civil francês (art.
2101) e a Lei belga de 1851 (art. 17) diz Laurent nos seguintes termos:
“Le principe est donc que tous les frais faits pour la conservation, la
liquidation, la distribution du gage commun des créanciers et dans leur intérét commun
sont privilégiés, qu'ils soieut faits en justice ou hors justice. Par contre, ne sont pas
privilégiés, quoique faits en justice, les frais que l‟un des créanciers fait dans son seul
intérêt. Tels sont les dépens, c'est-à-dire les frais qu‟un particulier expose contre un
autre particulier pour faire juger un différent qui existe entre eux.” (vol. 29, n. 324).
Do exposto vê-se que estas despesas não são as feitas com a excussão do
imóvel; ainda em relação ao próprio credor hipotecário, assim se um credor houver feito
produto desse imóvel; se, porém, esse imóvel estiver hipotecado, o seu crédito é
móveis no interesse comum dos credores. No art. 1.959 confere a esse privilégio
funerárias do devedor, quando feitas sem pompa e segundo o costume do lugar (L. 14 §
Telles, Dig. Port., Liv. 3.º, Tít. 14, seção 3.ª, § 1.º, art. 1.285; Dec. 917, de 24.10.1890,
art. 67, letra b; Projeto do Código Civil do Dr. Coelho Rodrigues, art. 1.321, § 1.º).
Troplong (vol. 1.º, n. 135); Martou, (vol. 2.º, n. 356); Thiry (vol. 4.º, n. 355); Mourlon
(vol. 3.º, n. 1.262); Aubry et Rau (vol. 3.º, § 260, n. 2), aconselham a interpretação
restritiva do art. 2.101 do Código Civil francês, e art. 19, n. 2, da Lei belga de 1851,
Desde que não se perca de vista que trata-se de privilegiar um credor, para o
compreender-se-á que conquanto causa funeris publica est, e a inumação dos cadáveres
entenda não só com a higiene, mas com o respeito devido à dignidade humana, todavia
facultatibus vel dignitate defuncti – excluindo-se portanto todo o fausto no funeral e não
muito menos com construção de um monumento qualquer sobre a sepultura, com o luto
da viúva, dos filhos e dos domésticos do finado.
senão as que eram destinadas à guarda e à inumação do cadáver e não as que tinham
fins de ostentação.
citada, as despesas que se julgaram funerárias usa sempre das expressões – ut funus
ducatur, ut corpus perferretur (§§ 3.º e 4.º. do L. cit.) e acrescenta (§ 6.º) “Hæc actio,
quæ funeraria dicitur, ex bono et æquo oritur: continet autem funeris causa tantum
Carecem de apoio as opiniões de Pont (vol. 1.º, n. 73) e Duranton (art. 19, n. 48)
que concedem ao privilégio uma compreensão tão grande ao ponto de abranger despesas
posteriores à inumação do cadáver e que não são substanciais a esta e relativas a outras
É certo que no direito civil espanhol o privilégio tem essa compreensão, mas
igualmente dos funerais da esposa e dos filhos em seu poder, se não tiverem bens
próprios.
condição do devedor, e o costume da terra (art. 884, n. 1); mas concede privilégio às
despesas feitas com o luto da viúva e dos filhos do falecido, conforme a sua condição
Comentando esta disposição Cattaneo e Borda fazem sentir que este privilégio
compreende a despesa com a cera do enterro e com o féretro, o que nunca foi assunto de
dúvida “e refere que a corte de Turim julgou em 8 de outubro de 1866 que as despesas
O direito romano parece haver estabelecido essa equiparação na Lei 4.ª Cód. de
petitione hereditatis, ibi: “In restituanda hereditate compensatio ejus habebitur, quod te
in mortui infirmitatam, usque sumptum funeriis bona fide ex proprio tuo patrimonio
erogasse probaveris.”
Corrêa Telles (Liv. 3.º, Cap. 14, seção 3.ª, art. 1.286) reputavam protegidas por hipoteca
insolvência.
67, letra b) consagrou, revigorando-o, esse privilégio, que devemos ter como subsistente
no foro civil, para o efeito de serem pagas nos inventários tais despesas, em situação e
modo claro e preciso; na legislação das sociedades anônimas, o mesmo se observa (art.
devedor, desde que ocorressem nos últimos seis meses de sua vida (Código Civil
italiano, art. 1.956, n. 3; Código Civil português, art. 884, n. 3) ou no último ano
(Código Civil espanhol, art. 1.924, letra c) ou que se refiram à moléstia de que faleceu o
devedor (Código Civil holandês, art. 1.195, n. 3; Código Civil uruguaio, art. 2.332, n. 3;
Estas declarações relativas à época em que foram feitas as despesas tiveram por
fim sustar as dúvidas que haviam suscitado as expressões pouco precisas do art. 2.101,
Esta inteligência que está de acordo com o relatório de Lelievre, sobre a Lei
belga de 1851, parece procedente, desde que a apuração dos créditos pode dar-se não
somente por ocasião da morte do devedor, mas no juízo da execução em que se torna
patente a sua insolvabilidade ou no juízo da falência (Martou, vol. 2.º, n. 367; Laurent,
precisas para o tratamento, inclusive as que forem feitas com duchas, banhos especiais,
vol. 2.º, n. 363); mas entendem alguns comentadores do Código Civil que eles só se
referem à moléstia de que faleceu o devedor; era esta a opinião de Pothier que os
redatores do Código Civil francês não tinham motivo para abandonar (Valette, Traité
disposições não há dúvida; no do Código Civil francês parece- nos que é violentar o
privilégio; a noção passou para o Código Civil português, mas sem a precisa clareza,
doutrina de Valette, outros como Laurent (vol. 29, n. 361, 2.ª alínea) declaram-se
favoráveis a ela;
conferido pela nossa legislação: o do crédito por despesas com alimentos do devedor
permite que se compreenda nela todos os objetos essenciais à vida, além daqueles que os
de alim. et cibar. legat., que se deve entender a expressão alimentos usada no Dec. 917.
habitação, e isto porque, dizia Javoleno, sine his ali corpus non potest : a disposição,
como vemos, só tinha no direito romano aplicação aos legados de alimentos e não aos
alimentos convencionais.
e provisões de boca é combatida por Martou (n. 377), por Mourlon (vol. 3.º, n. 1.263) e
outros, como muito restrita; Mourlon entende que na expressão – subsistances – do art.
Com a opinião emitida por Mourlon concordam Pont (vol. 1.º, n. 92) e Laurent
verdadeiro quando diz que eles têm a mais restrita interpretação (vol. 29, n. 371);
como, porém, excluir dos alimentos aqueles objetos que, segundo faz ver Duranton, são
precisos para que os gêneros alimentícios sejam utilizáveis, como a lenha e o carvão?
contemplar no privilégio as despesas com o calçado; e Martou entende que a decisão foi
bem fundada, é o caso de dizer como Laurent (nota 1.ª ao n. 371, do vol. 29) que cada
Civil e a Lei belga de 1851 só concedem privilégio às despesas com aquilo que se
vida, menos o vestuário e a habitação que o próprio direito romano excluía dos
alimentos sempre que a sua prestação era objeto de contrato e não de legado; só nesta
última hipótese vigorava o que estatuía Javoleno na Lei 6.ª D. de aliment. et cibar.
legat. já citada.
família do devedor (art. 2.101, n. 5, do Código Civil francês) o Código Civil holandês
(art. 1.195, n. 5) e o italiano (art. 1.956, n. 4) têm disposição idêntica; na família quem
se compreende? Aqueles a quem o devedor deve alimentos (Laurent, vol. 29, n. 372).
opinião de Laurent; devem, porém, ser autorizados pelo juiz da falência para que o
a retalho que vendem os gêneros, ou ampara o crédito de todo aquele que supre quantias
Parece que só pode ser contemplado o terceiro que houver pago a despesa com
No direito espanhol o art. 1.924, letra e, do Código Civil, resolve algumas das
dúvidas que se agitaram no direito francês e foi redigida a disposição tendo em vista a
doutrina do comentadores.
aos membros de sua família, que se acham sob sua autoridade, em comestíveis,
todos os móveis do devedor – “Ao crédito para sustento deste, e d‟aquelas pessoas de sua
família a quem tinha o dever de alimentar, relativo aos seis últimos meses”.
O Código Civil do Chile concede igual privilégio “aos artigos necessários à
subsistência fornecida ao devedor e a sua família durante os últimos três meses (art.
2472, n. 5): igual disposição contém o art. 2.332, n. 5, do Código Civil uruguaio, apenas
O penhor agricola;
A servidão;
O uso;
A habitação;
O anticrese;
O usufruto;
O foro;
190. Depois dos privilégios, que constituem direitos pessoais, e que só têm
prelação sobre a hipoteca – quando assentam no crédito por despesas judiciais feitas
emitidas antes da hipoteca, enumera o art. 6.º os direitos reais, que podem afetar a
pertencentes a terceiros (Maynz, vol. 1.º, § 79, p. 622; Ortolan, Generalisação do direito
romano, n. 233).
que o direito moderno aceitou, conquanto não lhe desse aplicação em todos os casos
opera nas servidões, e de tal importância que protegeu a sua posse, posto que derivada,
considerações oriundas da natureza íntima desse direito real, que não parece oferecer
enfiteuse.
constituídos pelos diversos elementos dele desagregados (Maynz, Droit romain, vol. 1.º
§ 76; Mackeldey, Inst. de Droit romain, § 239; Accarias, vol. 1.º n. 199; Serafini, § 47;
Ortolan, Inst., vol. 1.º, n. 233) que importam a investidura de faculdades inerentes ao
domínio em pessoa, que não é o proprietário, investidura que tem como condição
substancial não trazer ao adquirente do direito real a posse jurídica e principa l da coisa,
mas apenas uma posse derivada, isto é, alieno nomine, nomine dominis, e excluir de
direito absoluto do homem sobre a coisa, e por isso admitia aquele direito que o
proprietário pudesse destacar do seu direito dominical os elementos que lhe aprouvesse
dispensar, para constituir direitos separados, restritivos do seu; a única limitação que a
tal faculdade opunha o direito clássico era a de não criar esse desmembramento um
estado que colidisse com os princípios fundamentais da propriedade; é isso que explica
direito real só foi reconhecido como tal e deveu a sua incorporação no sistema do direito
deste tinha, como decorrência da acessão, a propriedade sobre quanto na face do solo
O pretor conferiu ao que tivesse adquirido qualquer edifício sobre o solo alheio
um direito de superfície protegido por uma ação útil e por interdito especial, de ambos
dão notícia inúmeros trechos e principalmente as Leis 1.ª e 3.ª Dig. Uti possidetis e as
LL. 1.ª e 2.ª D. de superficiebus; só uma condição era exigida: – que a posse do
superficiário não fosse viciosa – Uti eas ædes, quibus de agitur, nec vi, nec clam, nec
precario alter ab altero possidetis: quo minus ita possideatis vim fieri veto, diz Ulpiano
(L. 1.ª D. Uti possidetis); mais preciso ainda quanto à ação concedida ao superficiário é o
in alieno solo habet, civili actione submissus est: nam si conducerit superficiem, ex
conducto; si emit, empto agere cum dominio soli potest. A ação utilis produziu o mesmo
efeito que a direta; Vinnio torna saliente este fato, que equipara à actio directa – quæ
non alii competit, quam vero rei domino – a utilis actio pretoriana, por meio da qual
eodem omnia obtinet, quæ in directo (Vinnio, Inst. de action. § 1.º, n. 15).
República e aos municípios; o que parece averiguado é que tais concessões tinham um
aliena).
Com justo fundamento diz, pois, Savigny que é somente por uma razão histórica
192. Seja embora esta a noção romana da superfície, o fato é que o nosso
direito, à imitação do direito francês, repudiou a superfície dentre os direitos reais sobre
a coisa alheia, direitos que o art. 6.º do Dec. 169 A, de 1890, denominou ônus reais,
para acentuar o efeito de gravame que deles decorre, quando transcritos no registro
público, quer em referência aos imóveis, que com eles passam ao poder dos terceiros;
quer em referência às hipotecas, por eles afetadas na sua força capital, naquilo que
para pagar-se por seu preço da importância da dívida garantida; diante dos ônus reais o
direito hipotecário estaca como ante um obstáculo, que não lhe é dado vencer (§ 2.º, do
art. 6.º, do Dec. 169 A, supra transcrito).
relaciona o art. 6.º, do Dec. 169 A, supra transcrito, excluiu todos os outros direitos
reconhecidos na legislação romana como jus in re aliena e que o nosso direito anterior
aceitara.
muitos escritores, como Cabedo (P. 1.ª Dec. 153) e outros considerados ônus reais,
modo de ver com o qual se conformaram autores modernos, (C. da Rocha, vol. 2.º, §
583; Corrêa Telles, Dig., Liv. 3.º, Tít. 12, Seção 1.ª, art. 1.153); Teixeira de Freitas não
aceitou esta doutrina e opinou (nota 24, ao art. 346, da Consolidação das Leis Civis)
“que a estipulação dos censos não dá direito real ao credor deles sobre o prédio alheio”
ônus reais, por força do disposto no art. 6.º, da Lei 1.237, de 24.09.1864, e deixaram de
figurar, assim como a superfície, entre os direitos reais (Dir. das Cousas, vol. 1.º, § 1.º,
n. 4, e nota 25), o que significa que o ilustre escritor os considerava ônus reais, no
domínio do direito anterior, opinião sufragada por Valasco de jura emphyt. quest. 32,
Gama, Cabedo e Pinheiro, sendo este o primeiro dos reinícolas que ocupou-se
alimentos constitui coisa diversa dos censos reservativos e consignativos: o ônus real
estabelecido na disposição final do art. 6.º não tem aplicação aos censos.
Estes eram objeto de contrato, sendo portanto atos inter vivos, o que aliás se
senhor do prédio.
sucessão é o caso previsto nas Leis 17 § 1.º e 21 do Digesto de annuis legatis et fidei
O nosso direito aceitou-o como um ônus tão gravoso que o imóvel ficava
obrigado à prestação ainda quando passasse ao poder de terceiro, o que aliás a Lei 21 D.
de annuis legatis já havia estabelecido, dando assim a tal onus, imposto ao legado do
imóvel, o cunho de um verdadeiro direito real. Eis o caso como o figurou Scoevola no
fragmento citado:
“Liberto suo ita legavit: Praestari volo Philoni, usque dum vivet,
O moderno Código Civil alemão consagrou o direito real fundado nos censos
consignativos.
15.07.1779.
dava ao contrato a feição de estipulação usuraria condenada pelas leis canônicas, mas
em frutos; não parecendo ainda assaz segura esta modalidade dissimulada do contrato,
ajeitou-se ele sob a forma de uma compra e venda com cláusula ou pacto de retro, para
O Código Civil alemão permite que um imóvel seja gravado de modo que
devam ser pagos por sua renda prestações periódicas àquele em cujo proveito se
estabelece o onus (art. 1.105), podendo ser constituído o onus real, em proveito do
eles só podem gravar uma parte do imóvel, quando essa parte constituir uma porção
divisão do prédio dominante, o onus real subsiste em proveito de cada uma das partes
do mesmo (art. 1.109), licet prædia vendita sunt. É o preceito que domina no nosso
direito.
de estipular em contratos quaisquer direitos reais, e as disposições dos arts. 544 e 686
não afetaram o poder de dispor da coisa (jus abutendi); as expressões do art. 686, que
O ponto é líquido entre nós; somente se consideram onus reaes, isto é, direitos
dúvidas.
com o proprietário não constituem direitos reais, não são entre nós compreensíveis entre
ad rem ou jus in personam (Maynz, Observ. 1.ª ao § 76), isto é, direito somente mediato
e indiretamente capaz de afetar a coisa, e ainda assim fazendo-o como realização final
de um nexo obrigacional.
registro geral; por isso dissemos que os direitos reais opõem ao direito hipotecário
obstáculo insuperável, quando ele procura tornar-se efetivo por meio da excussão da
hipoteca;
confirmação do que dispôs o art. 5.º, do Dec. 169 A, que os direitos pessoais, ainda no
caso de envolverem privilégio pela natureza dos créditos em que assentam, não podem
prejudicar os credores hipotecários; esta regra geral tem como exceções as que se
mencionam nos números 1 e 2 do § 1.º, do art. 5.º, e com os quais já nos ocupamos
anteriormente.
Convém notar, pois, que os onus que os proprietários impuserem aos seus
imóveis – não sendo do número dos relacionados no art. 6.º – não podem afetar a
hipoteca, ainda quando o oficial do registro os admita à transcrição, porque não são
direitos reais na coisa alheia, mas direitos pessoais do credor contra o proprietário.
por ser o direito real ainda de uso moderno; os censos consignativos e reservativos não
têm mais razão de ser desde que os princípios do direito canônico que vedaram a usura,
depois que a estipulação dos juros foi permitida na Lei de 24.10.1832 com a mais ampla
liberdade.
§ 2.º Os referidos ônus reais não podem ser opostos aos credores hipotecários,
para a validade dos mesmos contra os terceiros; antes dela não podem ser opostos,
constituição dos direitos reais (art. 8.º, do Dec. 169 A, de 1890, e art. 241, do Dec. 370,
influi na ação dos mesmos sobre os direitos decorrentes, para o credor hipotecário, da
constituição da hipoteca.
Como o registro é o instrumento de publicidade dos onus reaes e dele faz a lei
dimanar seus efeitos em referência aos terceiros, é muito natural que tais efeitos
transcrição é o meio único de destruir a ação dos direitos reais registrados: o preceito
da hipoteca prevalece para o dos onus reaes; enquanto ela não se der a transcrição atesta
a existência dos onus reaes e dá-lhes força contra terceiros, ainda, que por qualquer
modo se possa provar que estão extintos: tal prova deve servir de assento para obter-se o
cancelamento, para o efeito de liberar o imóvel ela é de todo o ponto ineficaz. [trecho
confuso]
di Diritto Civile, vol. 3.º, n. 411; Chironi, vol. 1.º, § 230; Martou, vol. 3.º, n. 1.179 e
seguinres) com assento nos verdadeiros princípios, que parece haver desconhecido o
legislador de 1890 quando faz depender da apresentação da certidão do cancelamento da
ponto inexato.
extinção da hipoteca, e o credor hipotecário não pago pode renovar a inscrição, o que
hipoteca, se ligasse a vida desta, a sua perduração como direito real, o que tem aplicação
O § 6.º, do art. 11, do Dec. 169 A, de 1890, parece fazer subsistir a hipoteca
anulada por meio de sentença passada em julgado por qualquer dos fundamentos dos §§
O pensamento é outro.
hipoteca; ele suprime apenas a inscrição e esta nada mais é do que o veículo da
publicidade do ônus real, a qual, tornando este conhecido dos terceiros e dos credores
hipotecários, imprime ao ônus real o efeito que lhes dão os §§ 1.º e 2.º, do art. 6.º, do
Assim como o fato de não ter sido inscrito o ônus real não afeta a situação
jurídica por ele criada entre as partes contratantes, do mesmo modo o não cancelamento
O onus real subsiste entre as partes contratantes quer seja ou não inscrito, e,
dada a inscrição, quer seja ou não cancelada esta; assim como a inscrição só tem efeito
preferência do credor pignoratício a ser pago pelo produto do imóvel, nos outros casos o
anulados.
sucessor.
ainda quando não tivesse sido expresso no dispositivo da lei que estes passam com a
coisa para o poder do terceiro adquirente, por qualquer título, agravação acompanharia o
real, eis seu caráter distintivo” (Teixeira de Freitas, Consolid. das Leis Civis, Introd., p.
LXX).
“O que é um direito que da pessoa recai sobre a coisa por uma afetação direta e
incessante, que segue esta coisa de mão em mão, que sob revive às alienações, e às
mudanças de proprietários?
tempos o tem chamado direito real.” (M. Troplong, Droit Civ. Expliqué – Louage, n. 5).
O direito de seqüela é a manifestação enérgica do direito real, quer este assente
re aliena.
caracterizou a in rem actio: “per mille manus ambulare possit, accidit quoque, ut actio
in rem non semper adversus eumdem locum habeat, sed adversum quemcumque qui pro
tempore agitur, rem possidet.” (De action – Tít. 6.º, do Liv. 4.º, da Inst., n. 10).
Esta noção (Maynz, vol. 1.º § 79; Van Wetter, vol. 1.º, § 161; Accarias, vol.
1.º, n. 199) não é a da época clássica do direito romano; então não só o jus in re não era
aquele, como faz notar Maynz, em face dos fragmentos 19 pr. D. de damno infecto; 30
correspondente senão a de jus in re – “sive aliquod in ea res jus habeant, qualia est
elementos do jus utendi e fruendi, presidio à constituição dos principais direitos sobre a
coisa alheia, que gravam esta, limitando o direito do proprietário, ainda quanto ao jus
a melhor opinião o direito que tem por fim a garantia de um direito creditório, não
substanciais do domínio; são, como diz Demolombe, direitos reais acessórios (vol. 9.º,
n. 472) ou como dizem Ortolan (Inst., vol. 1.º, Generalisação do direito romano, n. 234)
e Chironi (Diritto Civile, vol. 1.º, § 112), direitos que consagram, como a hipoteca,
Desde que tais títulos constituem onus reaes passam com os imóveis a eles
sujeitos para o poder dos terceiros adquirentes, os quais ou pagarão ou ficarão sujeitos
os impostos ser cobrados do produto dos próprios imóveis hipotecados, antes de paga a
Ainda assim.
reduzida a sua ação à da seqüela; assim deverá ser perante os princípios: o que
Se não tem por fim garantir a exação dos impostos, objeto de interesse público
na seqüela hipotecária, não tem tais expressões sentido apreciável; são de todo o ponto
inúteis na redação da citada disposição.
Esta disposição, que já existia na Lei 1.237, de 24.09.1864, (art. 6.º, § 4.º), foi
transportado para o § 1.º, do art. 27, do Dec. 5.581, de 03.03.1874, e art. 70, do recente
propriedade no Distrito Federal de acordo com o n. 55, do art. 1.º, da Lei 489, de
importância do imposto da décima, sobre o imóvel a ela sujeito (art. 21, § 2.º, do Dec.
inter vivos assim como as servidões adquiridas por prescrição, sendo a transcrição neste
caso por meio de justificação julgada por sentença ou qualquer outro ato judicial
declaratório.
prescrição incidem sob o preceito do § 2.º, do art. 6.º, e que as constituídas por qualquer
outro ato inter vivos não estão sujeitos à transcrição para valerem contra terceiros e
Na primeira estabelece-se que só os onus reaes instituídos por atos inter vivos
são sujeitos à transcrição, não o sendo os instituídos por atos de última vontade; é
aplicar aos onus reaes o preceito que regula as transmissões de imóveis, os quais só
serão sujeitos à transcrição quando operada por atos inter vivos, sendo expressamente
isentos os efetuados por atos causa mortis (art. 237, do Dec. 370, de 02.05.1890).
As servidões que forem constituídas por atos inter vivos devem ser sujeitas a
transcrição (art. 241, do Dec. 370, de 02.05.1890) e só dessa data começam a valer;
lugar, e a segunda parte do § 5.º, do art. 6.º, do Dec. 169 A, de 1890, estabeleceu modo
declaratório.
198. O art. 249, do Dec. 370, de 02.05.1890, torna preciso o pensamento; ele
ordena que a transcrição das mais servidões adquiridas por prescrição tenha lugar
como meio de reconhecer a servidão e dar como meio único a ação confessória; parece-
Do Registro Geral
aparelho desse registro deve servir para alguma coisa mais do que para publicar as
A eficiência do registro será tanto maior quanto mais exata for a atestação do
que a pessoa que vende é proprietária da coisa (Laurent, vol. 29, n. 7), como pretender
atingir esse fim por meio de um aparelho registral que apenas consegue indicar o último
domínio deste é falha a garantia que oferece o mecanismo de publicidade; desde que o
credor tem de provar o direito de propriedade do devedor para dar seguro assento à sua
Se não basta, para a validade da hipoteca, que o credor tenha títulos, mas faz-se
preciso que estes provenham do verdadeiro proprietário (Laurent, loc. cit.) o que adianta
Nem se diga que no regime de publicidade aceito, nenhum valor tem, segundo
a melhor opinião (Lafayette, Dir. das Cousas, nota 2, ao § 48), quer entre as partes
contratantes, quer erga tertios a translação de domínio não inscrita e que por outro lado,
declarado na transcrição.
Contra esta doutrina está a disposição expressa do § 4.º, do art. 8.º, do Dec. 169
A, de 1890, quando declara que a transcrição não induz prova do domínio, disposição
reproduzida no art. 235, do Dec. 370, de 2 de maio do mesmo ano, que no art. 234
declara a transferência do imóvel válida entre as partes, até à transcrição; além do que se
estatui no § 6.º, do art. 2.º, do Dec. 169 A, de 1890, que torna possível a hipoteca a non
não ocorrer, à anulação, apesar de inscrita a transferência que entre os efeitos erga
tertios não produz o de impedir a reivindicação, a qual assiste a quem provar o domínio.
inscrito:
transcrição, esta servirá apenas para induzir em erro o capitalista, que acabará por evitar
imóveis, com os vícios e defeitos inerentes a estes, mas o registro do verdadeiro estado
b) se prevalecer para tal efeito não somente com referência aos terceiros, mas
200. Não é este, porém, o mecanismo adotado pelos atos de 1890, e sim o
propriedade imobiliária e das hipotecas e ônus reais de que a mesma pode ser gravada.
inscrição; em sua estrutura material e mecânica são os dois atos idênticos e nem
oferecem o ponto de distinção, que tem no direito francês e no belga onde a transcrição
consiste na transportação integral do título para o registro (Marcadé, vol. 3.º, n. 657;
Troplong, Priv. e Hyp., Introdução, p. 39; Martou, vol. 1.º, n. 47; Laurent, vol. 29, n. 32;
Thiry, vol. 4.º, n. 329; Arntz, vol. 4.º, n. 1.365); ao passo que a inscrição, ato mais
delicado e que demanda grande cuidado e escrúpulo em sua confecção, consiste na
inserção do substrato das circunstâncias capitais, cuja enunciação deve ser resumida,
mas cautelosamente feita (Troplong, Priv. e Hyp., vol. 1.º, p. 39; Martou, vol. 3.º, n.
1.060; Laurent, vol. 29, ns. 221 e 222; Arntz, vol. 4.º, n. 1.819, 1.822 e 1.827; Thiry,
tem lugar por cópia integral do título quando a parte interessada requer que ela se faça
translativos do domínio a mancipatio e a in jure cessio não podiam deixar de visar o fim
quiritário, a expressão mais enérgica do direito real sobre as res mancipi e o domínio
Se com o decurso dos tempos e sob a influência dos pretores a traditio passou a
constituir a propria alienatio rerum nec mancipi, em substituição à in jure cessio, não
transferência, antes tornava-a mais precisa com o fato material da posse por parte do
adquirente, fato que envolvia em si a presunção de uma justa causa de transferência:
rerum nec mancipi dominia traditione ad prehendemus, scilicet si ex justa causa tradita
sint nobis.
fundamento no amor do cerimonial que tanto se revela nos menores atos do povo
romano, mas ainda no intento claro de tornar conhecida de todos a alienação do domínio
que se operava.
Serviu Tullio dividira a nação, classici testes, presididas essas testemunhas pelo
antestatus; o libripens, segurando a balança, onde era colocada a moeda, que nos
sacramentais que referem Gaio e Valerio Maximo, tudo isto não tinha por fim a
Tinha, pois, razão Teixeira de Freitas (Introdução à Consolid. das Leis, p. 185)
quando dizia que a traditio tinha como fim, no direito romano, prover a necessidade de
qualidade (Gaio, Instít., Comment. 2.º, § 24; Ulpiano, Frag. Tít. 19, ns. 9 e 10).
a propriedade (L. 20 princ. D. de adquir. rerum domin; LL. 11 e 54, D. de regulis juris;
L. 6 Cod. de rebus alienis non alienandis), importava a tomada da posse por parte do
transferir e adquirir o domínio (L. 55, D. de obl. et act., L. 15, § 2.º, D. de contrat.
dos imóveis de valor superior a 800$000, sob pena de não poderem tais transferências
ser provadas contra terceiros e entre as próprias partes contratantes, não era senão a
consagração da publicidade de tais atos, pois tanto significava proibir que eles se
realizassem por meio de escritos particulares, que podiam ser conservados ocultos nas
mãos dos adquirentes e mandar que fossem lavrados em livros públicos de notas dos
200$000, não pode ter lugar, sob pena de nulidade, senão por escritura pública (Lei 840,
de 15.09.1855, art. 11, parágrafo único, do art. 2.º, do Decreto Legislativo 79, de
23.08.1892) a inserção do ato no livro das notas era ainda uma ampliação da
O projeto de lei hipotecária oferecido em 1854 pelo Conselhe iro José Thomaz
Nabuco de Araujo foi que primeiro consagrou a publicidade dos atos translativos do
adquirentes de que o proprietário atual do imóvel não fizera hipo teca ou alienação
reflexões:
semelhante consultando os cartórios das escrituras, que hoje são essenciais nas
transmissões dos imóveis e principalmente os registros fiscais, dos quais deve constar o
pagamento dos impostos inerentes aos atos da alienação, que só assim tem valor
jurídico.”
fiscais nos lugares da situação dos imóveis para que o conhecimento e publicidade de
matéria de publicidade, sem dúvida por importar ela a consagração do regime anterior,
que não destacava o ato da publicação da translação do imóvel, do que era substancial
esclarecimentos:
publicidade constante do registro geral estabelecido no art. 7.º e desenvolvido, nos seus
elementos constitutivos, nos arts. 8.º e 9.º. Vingou ainda na legislação de 1890 o
dos esforços empregados na Câmara dos Deputados para que o registro da translação da
vistas das duas comissões, não vingou o mecanismo de publicidade alemão e o registro
como ainda a publicidade destas, por meio da inscrição, é elemento de eficiência das
mesmas.
definitivo da propriedade imobiliária, com sua situação jurídica apurada (Dec. 955 A, de
05.11.1890) repeliu- se o regime germânico, que não se julgou inaplicável sobre a feição
Dir-se- ia que a lição de Teixeira de Freitas atuara tanto nos espíritos que
arredava-os, ainda em 1890, de uma inovação que em 1857 este reputava perigosa, ao
passo que via no regime aceito pelo projeto, e consagrado na Lei de 1864, um sistema
que “se não purifica a propriedade, pelo menos a expõe à luz da publicidade no estado
em que se acha, preenche completamente o fim da tradição, separa os direitos reais dos
quando já estão onerados de direitos reais, além de outros enganos no mesmo sentido”.
Se não pode ser posto em dúvida que o direito costumeiro do norte da França e
de toda a Bélgica, oriundo dos costumes germânicos, fonte das instituições jurídicas
réalisation uma tradição solene coram judice; se o nantissement é, como diz Laurent,
judiciais de um das administrativas da outra, nem por isso há fundamento para afirmar
que o nantissement não tendia ao mesmo fim que a traditio romana, por visar o interesse
dos terceiros na translação do domínio, ao passo que esta só visava o das partes
interessadas.
convir, que não passava de um formalismo inútil, como o disse Teixeira de Freitas
(Consolid. das Leis, Introdução, p. 184 a 185, 3.ª edição), porque a imissão da posse da
re vendita não dependia dessa deslocação; ela não tinha lugar em relação aos imóveis,
cuja tradição operava-se, mesmo estando estes fora da presença dos contratantes (Ulp.
domínio; meio imperfeito, é certo, porque autorizava dúvidas futuras, não sendo
que por meio desta procurava-se dar uma revelação pública da transferência do domínio
e não somente realizar a entrega material da coisa; ela visava tanto a situação dos
do princípio, que a translação do domínio não se operava por força do contrato mas
jurídico, que o Código Civil francês abandonou, fato histórico que a noção do vest e
formalidades pela transcrição, expressão pela primeira vez usada então, não fazia mais
do que repelir as expressões feudais, para transigir com as idéias do tempo, mas adotar a
substância da coisa.
na Lei de 9 messidor ano 3.º, que foi de pequena duração e logo substituída pela de 11
direitos susceptíveis de hipoteca devem ser transcritos nos registros da conservação das
hipotecas da circunscrição em que os bens estiverem situados. Até então eles não podem
ser opostos aos terceiros que tiverem contratado com o vendedor e que se tiverem
entre as partes contratantes, quer em referência aos terceiros, pela simples convenção.
pagamento do preço, parecia autorizar a inteligência de que igual força não teria o
Combatida por Malleville e por Tronchet ela foi aceita pelo Conselho d‟Estado
com duas emendas; a primeira tinha por fim tornar a disposição inaplicável às vendas
serviram para tornar patente o desacerto da repulsa do art. 26, da Lei do 01.11.1798, que
adquirente que não houvesse transcrito, excutido o imóvel por credor hipotecário do
alienação.
“A verdade é”, diz Laurent (vol. 29, n. 28), “que o direito de propriedade fica
comprometido pelo próprio adquirente, que se deve queixar de sua negligência e não da
os privilégios e hipotecas; ordena que a transcrição tenha lugar no cartório das hipotecas
da circunscrição em que estiverem situados os bens, e estatui que, sem a transcrição, tais
atos não valham contra terceiros, que houverem contratado sem fraude.
belga a das sentenças com força de causa julgada, que servirem de título à transmissão
Esse registro criado pelo art. 695 do Código Civil serve para a inscrição dos
títulos de propriedade, das hipotecas e ônus reais e das interdições e proibições para
alienar (art. 31, do Decreto de 1857). Os títulos que devem ser inscritos são:
da hipoteca;
transfira para o adquirente (art. 696 do Código Civil); se sem a inscrição a transferência
não tem valor entre as próprias partes, como há de tê- lo em relação aos terceiros?
como o faz sentir o Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, vol. 1.º, § 48, nota 2).
de toda a propriedade e dos atos que importam alteração, em que constituem simples
modalidade da mesma (art. 949, §§ 1.º e 2.º, e art. 955), não declarou a inscrição
quem o provar (arts. 952, 953 e 954, do Código Civil; Dias Ferreira, vol. 2.º, comentário
art. 953 a qual entendeu-se que imprimira ao registro a força de legalizar a aquisição a
non domino, não podendo o verdadeiro proprietário defender a sua posse e o seu
domínio, se não houvesse feito o registro, isto porque o adquirente ao fazer o registro,
sim a conseqüência do domínio adquirido pela transmissão. O próprio artigo declara que
a transmissão da posse resulta da simples inscrição no registro de um título que
transferiu a propriedade, e portanto se o título, por provir a non domino não transmitiu a
propriedade ao registrante não podia também transferir- lhe a posse.” (Dias Ferreira,
domínio “mais perfeito e solene do que o consistente nos atos isolados, que constituíam
a investidura da posse, segundo as outras leis, atos que às vezes só eram presenciados,
pelo número de pessoas estritamente necessário para testemunhar o fato da posse” (Dias
imobiliária em relação aos terceiros, salvo no caso excepcional de ser ela indeterminada
(art. 951 do Código Civil) em que o registro não é o regulador dos efeitos da translação
um seguro assento de operações, pela certeza da situação dos imóveis sobre os quais
compreensivo não solene dos atos translativos da propriedade dos imóveis, mas ainda
dos que afetam a condição jurídica desses bens nas relações criadas pelos contratos, em
O direito escrito italiano manda sujeitar à transcrição, sob pena de não valerem
contra os terceiros, que por qualquer título tenham adquirido e conservado direitos sobre
f) os contratos de sociedade quando esta tiver por objeto o gozo dos imóveis,
arrendamentos e aluguéis ainda não vencidos, por prazo maior de três anos;
qualquer dos fatos supra enumerados (Código Civil italiano, art. 1.932, ns. 1 a 8;
Chironi, vol. 1.º, § 79; Cattaneo e Borda, vol. 2.º, p. 1.550 e Comment. ao art. 1.932).
valor dos imóveis (Chironi, vol. 1.º, p. 133; Cattaneo e Borda, Comment. ao art. 1.932,
n. 1) e devem ser conhecidos dos terceiros que tiverem interesses ligados à situação de
tais bens para que estes não sejam surpreendidos com a alteração do valor dos mesmos.
A locação de imóveis por tempo superior a nove anos foi sujeita à transcrição
por entender-se que da mesma decorre, senão uma desagregação do domínio, como na
enfiteuse e nas servidões, uma limitação à faculdade de dispor livremente do imóvel
“Pareceu lógico, dizem estes escritores, que a lei que submete à transcrição o
ato pelo qual se adquire uma servidão, que em suas conseqüências pode muitas vezes
205. O Código Civil holandês (art. 671) considera a transcrição o meio legal da
tradição dos imóveis; sendo esta enumerada entre os modos de adquirir a propriedade,
quando tem lugar após um título translativo do domínio, emanado de quem possa dispor
em referência aos terceiros, por isso que ela o é em referência às próprias partes
contratantes.
A transcrição pode ser feita por meio do extrato do ato, quando este contiver
objetos ou atos que não afetem à coisa entregue; neste caso o extrato deve conter
poderá ser feita de acordo com esse extrato (art. 671, 2.ª alínea).
outros direitos reais, sobre imóveis, no registro da propriedade para que tais títulos
da transcrição, a maneira de fazer o registro e o valor das menções deste (art. 608).
Como é sabido o Código Civil espanhol manteve a lei hipotecária anterior; por
ela regula-se a inscrição hipotecária e a transcrição da alienação da propriedade
imobiliária.
sujeitas, em tempos remotos, a certas medidas de publicidade, como sob o domínio dos
por três leis expedidas no reinado da rainha Anna e outra em 1735, sob o reinado de
Jorge II, que prescreviam a inserção nos registros públicos de todos os atos que
condados, quer a translação se operasse por atos inter vivos, quer mortis causa.
Inglaterra; resistência que inutilizou, de todo o ponto, as tentativas feitas em cinco bills
sujeitos à apreciação do parlamento de 1830 a 1835, ao bill proposto por Sir John
Durante longo período foi essa resistência dirigida por lord Saint-Leonard, que
Estas leis encontraram tão enérgica oposição dos práticos que nunca foram
executadas.
absoluto, com titulo possessorio e com título qualificado, o Ato de 1875 representa, em
propriedade oculta, a despeito de ter ela vindo complicar mais ainda a teoria já obscura
6.º, p. 344).
Middlessex, sem o registro de um extrato dos referidos atos unless a memorial thereof
shall have been registred in such manner and within such period as the acts direct.
Com esta amplitude o registro nunca foi estendido a toda a Inglaterra “has
never been extended to other parts of England”; o ato de 1875 aplicou-se sempre
hipotecas para que aqueles produzam efeitos contra terceiros e estas a prelação.
definitivamente, quer por meio de hipoteca, deve ser inscrita no cartório do escrivão do
4.º, n. 168).
União, sofre alteração e é agravado em alguns Estados, já pelo fato de fixar-se o prazo
para o registro, já por não valerem as translações de imóveis contra terceiros, quando
vale contra terceiros se não for registrada dentro de seis a doze meses e nos Estados de
transferência operada.
“The effcet of notice supplies the want of the register.” (Kent, Comment., vol.
4.º n. 170).
Alemanha, na última fase do seu direito civil, inaugurado pelo código promulgado em
real, para transferir ou gravar um direito real o atual Código Civil alemão exige:
(o)
A saisine germânica apresenta todos os elementos da saisine feudal o que, aliás, não
é para estranhar; porquanto o feudalismo não foi outra coisa mais do que a transportação do
elemento germânico para os países conquistados e a modelação da nova sociedade sobre as
idéias germânicas, que sofreram a ação dos sentimentos dos conquistadores.
entre elas laços de direito referentes ao ato, se as declarações houverem sido tomadas
inscrição, com os elementos exigidos para o registro territorial (art. 873 do Código Civil
alemão).
adquirente, a qual não depende das relações jurídicas existentes entre as partes.
vendedor só tem ação pessoal contra o comprador para haver o preço ou a indenização
e pode operar a reunião de muitos imóveis sob o domínio do inscribente, quando este se
imobiliário. O seu fim, como diz Meulenaere, é criar o que se pode denominar o estado
civil da propriedade imobiliária.
jurídica cuja existência refere-se em todos os atos de que elas foram objeto e que se
O ônus que gravam tais imóveis, e que tão grande influência exercem em seu
valor, como acidente da história desses bens, devem ser inscritos a fim de oferecerem
registro geral e como ela é exigida, na legislação de 1890, para toda a espécie de
hipoteca, sem exceção das dos menores, interditos e das mulheres casadas que, segundo
Este efeito revela a importância do ato; daí o cuidado e o escrúpulo com que as
autoriza a excussão do imóvel hipotecado, quando alienado pelo devedor, não confere
prelação ao credor hipotecário sobre os quirografários (Trop long, Hyp., vol. 2.º, n. 568)
Tem, pois, toda a procedência a asserção de Troplong (Priv. e Hyp ., vol. 2.º, n.
566) que a hipoteca conserva-se inerte enquanto a inscrição não a torna conhecida: “sem
isto ela não passa de um corpo privado das faculdades que o fazem mover-se, conserva-
ela não purga a nulidade da hipoteca, não lhe aponta os defeitos de origem, assim como
não lhe comunica os vícios de que estiver eivada (Dir. das Cousas, § 225).
Daí o poder ser válida a inscrição, estar regularmente feita e tornar-se inútil e
de todo o ponto ociosa, por ser a hipoteca substancialmente nula (Laurent, vol. 30, ns.
499 e 500 e vol. 31, n. 99, 2.ª alínea); por outro lado pode a inscrição estar afetada de
vício essencial e a hipoteca perdurar válida: como porém, o ato nulo nenhum efeito
produz, a inscrição cuja nulidade for provada não produz nenhum dos efeitos que os
preceitos das leis de 1890 ligam à publicidade da hipoteca (Dir. das Cousas, § 225;
Troplong, vol. 2.º, n. 566; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 267, in fine; Laurent, vol. 31, ns. 93
a 95).
esta existir sem aquela, encara a hipoteca sob ponto de vista diferente do da nossa
essencial da hipoteca, sem o qual esta não pode agir (Chironi, Diritto Civile italiano, §
221).
ocorrer por falta de observância de qualquer das formalidades a que se refere o § 25, do
prejuízo de ver repelida a sua prelação por nulidade da inscrição, pode intentar ação de
responsável pelo dano sofrido, desde que se trate de formalidade da iniciativa do o ficial
211. Foi sob o regime das hipotecas ocultas que vivemos até 1846.
fossem levadas ao registro não produziriam efeito algum (art. 17 do Decreto citado).
confecção do registro.
que o direito escrito admitiu então, e que podiam ser gerais ou especiais, ainda assim o
admitia a publicidade das hipotecas, antes fixava o critério das preferências nas datas
das escrituras das hipotecas, quer estas fossem gerais, quer especiais, e se estabelecesse
o concurso entre hipotecas de diferentes espécies (§§ 31 e 32, da Lei de 20.06.1774).
1885 que exigiu a inscrição das hipotecas gerais (art. 7.º da Lei 3.272, de 05.10.1885, e
modelado sob um plano melhor estudado pela legislação de 1890 que aboliu as
26.04.1865 isentaram da inscrição, imprimindo- lhes todos os efeitos, pelo simples fato
de sua regular constituição (art. 9.º, da Lei 1.237, arts. 116 e 123, do Dec. 3.453, de
hipotecas gerais.
reserva e o sigilo nas hipotecas não pode ser atribuído àquele direito.
Afigura-se-lhes mais do que clara a referência aos sinais impressos nas casas
sujeitas à hipoteca, no direito grego, nas exp ressões – tabulas fixeris – do texto de
Venuleio (L. 22, § 2.º. D. quod vi aut clam) e – signasset – do fragmento de Modestino
regime hipotecário romano (Troplong, Hyp .,vol. 2.º, n. 557 e autores por ele citados).
inércia em que, segundo a noção moderna, ela se conserva antes que a sua existência
seja comunicada aos terceiros; esses fatos são:
pignor et hypotheca; Const. 11, cód. Qui potiores in pignori habeantur; L. 12 § 2.º D.
duplicação oculta das hipotecas, considerada estelionato, pode oferecer certa garantia
aos credores.
tentativas de Henrique III até a Lei de 1855, tão bem descrita por Troplong, indica que
não foi sem luta com os preconceitos e as idéas arraigadas sobre a noção do crédito
terceiros da data da constituição; o registro de tais hipotecas era, até certo ponto, a
exceção no regime da legislação de 1864; basta refletir que tais hipotecas conservavam
o seu caráter de generalidade, e podiam ser inscritas sem especialização, conquanto esta
onerado assim o aconselhava (§ 10 do art. 3.º da Lei 1.237, de 24.09.1864; arts. 117,
somente em ser mais completa a publicidade, como ainda em não admitir hipotecas
gerais; todas são especiais, umas por natureza própria, como as convencionais, outras
porque devem ser especializadas, para poderem ser inscritas, como as legais (Dec. 370
terceiros; só por meio dela adquire a hipoteca força de prelação (Dec. 370 citado, arts.
112 e 113), que é o seu efeito em referência aos credores (Raoul de la Grasserie, La
adquirentes do imóvel (Raoul de la Grasserie, obra citada); por isso que só a publicidade
imprime atividade à hipoteca (art. 9.º, § 1.º, do Dec. 169 A, de 19.01.1890; Dir. das
Cousas, § 225; Pont, vol. 2.º, n. 728; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 267; Martou, vol. 3.º, n.
1.027).
determinar com precisão cada uma das peças que constituem esse aparelho de
publicidade.
do ano 7.º, repudiado por ocasião da confecção do Código Civil, foi aceito por quase
como condição substancial de sua validade para com terceiros (Lei belga de 16.12.1851,
art. 81; Código Civil português, art. 949; Código Civil italiano, arts. 1.982, 1.983, 1.986
e 1.989; Código Civil holandês, art. 1.224 e seguintes; Código Civil espanhol, art.
1.875; Código Civil uruguaio, art. 2.289; Código Civil chileno, art. 2.410 e Lei de
24.06.1857, arts. 31 e 32; Código Civil do Cantão dos Grisões, arts. 282 e 286), e suas
formalidades reguladas com a maior minuciosidade para que bem acentuados possam
menos moroso, admitiram algumas leis o expediente da prenotação; esta outra coisa não
escala de preleção àquele que houver acudido, dentro do prazo concedido para o registro
A legislação de 1864 e 1865 admitia a prenotação, que foi abolida pela de 1890
e que a melhor estrutura do aparelho hipotecário moderno dispensa como uma peça
inútil; de fato ela só serve para complicar as questões de prioridade das hipotecas,
acrescendo que na maioria dos casos a faculdade de prenotar a hipoteca era ilusória pelo
curto prazo de tempo em que era dado utilizá- la (Direito das Cousas, § 228).
transferências dos imóveis fora do lugar da situação destes, o fim da publicidade teria
sido iludido, pois, ver-se-ia quem tivesse interesse em conhecer a inscrição da hipoteca
todos os registros existentes no país, esforço ante o qual recuariam os mais resolutos e
as hipotecas e as aquisições de imóveis passariam a ser feitas sem o exame dos livros de
feito em todas elas (Dec. 370, de 02.05.1890, arts. 196, n. 3, e 245, n. 3); as inscrições
de hipotecas que forem feitas em comarcas diversas da da situação dos imóveis é nula, o
mesmo sucede à transcrição; é esta a sanção da lei ao preceito do § 1.º, do art. 7.º supra,
do Dec. 169 A, de 1890 (Dec. 370, de 1890, arts. 212 e 253; Dir. das Cousas, § 240;
Martou, n. 1.034; Código Civil português, art. 950; Dias Ferreira, vol. 2.º, p. 429 e 430;
Lei belga de 1851, art. 82; Laurent, vol. 31, ns. 1 e 2; Código Civil italiano, art. 1.938;
Chironi, vol. 1.º, § 221; Cattaneo e Borda, Comment. ao art. 1.938, n. 2; Aubry et Rau,
vol. 3.º, § 268; Pont, vol. 2.º, ns. 865 e 866; Martou, vol. 3.º, n. 1.547; Troplong, Hyp., n.
646 e seguintes; Thiry, vol. 4.º, n. 522; Duranton, vol. 20, ns. 74 e 75).
As despesas da transcrição incumbem ao adquirente. As despesas da inscrição
gastos que ela exige para que a transferência do domínio se torne efetiva em relação aos
terceiros que são todos quantos possam ser interessados em tê- lo apurado e reconhecível
primo-visu, devem ser pagos pelo adquirente, como os do contrato de compra e venda,
Hyp ., n. 729).
A transcrição sendo a tradição solene da coisa comprada (Dir. das Cousas, vol.
1.º, § 48; Consolid. das Leis, nota 27 ao art. 534) importa a consumação da translação
publicidade não a torna válida contra os terceiros; dá- lhe os dois grandes efeitos da
caber as despesas com o ato; a lei, porém, fá- las correr a conta do devedor, porque este
somente conseguia que o credor contratasse, dando- lhe garantias, ora se tal garantia só
se torna real e efetiva pelo fato da inscrição, esta deve ficar a cargo do devedor e todas
francês (art. 2.155) permitiu que as partes contratantes estipulassem que as despesas da
inscrição possam correr à conta do credor, apesar de ser o devedor a causa de necessitar
o credor de fazer a inscrição para que seu título seja garantido em referência aos
A disposição do § 2.º do art. 7.º supra impede que o mesmo se dê entre nós?
De modo algum.
caso; não veda as estipulações contratuais em sentido contrário; desde que se trata da
credor com as da inscrição, a estipulação é válida e como tal deve ser observada.
Este registro fica encarregado aos tabeliães, criados ou designados pelo Dec.
c) os que forem pelas mesmas autoridades nomeados nas cidades e vilas dos
d) os tabeliães dos termos que forem para tal fim designados pelo s
governadores dos Estados, e que são obrigados a aceitar o encargo (§§ 1.º a 3.º, do art.
indivisíveis; este caráter de indivisibilidade que afeta às funções dos oficiais não
impede, porém, que os atos da competência destes sejam lavrados por escreventes
protocolo, que a lei lhes atribui exclusivamente e pessoalmente (arts. 8.º, 9.º e 10, do
A inauguração do registro não deixará de ter lugar pelo fato de não se achar
instalação; em tais hipóteses o oficial será substituído por um tabelião ou escrivão que o
competentes logo que estes se prontificarem (art. 4.º, do Dec. 370, de 02.05.1890, e
justiça, na Capital Federal, e aos governadores nos Estados, cópia do auto de instalação
com o número de folhas fixado em lei, segundo a freqüência dos atos que devem neles
ser lançados: são isentos de selos, com exceção do protocolo, guardam uniformidade em
todas as comarcas, regulando-se pelos modelos anexos ao Dec. 370, de 1890 (arts. 13,
Capital Federal e pelos governadores nos Estados; os oficiais indenizam o valor dos
mesmos à repartição que lhas houver fornecido; findos esses, isto é, quando estiverem
escritos dois terços das folhas, os oficiais do registro comprarão e farão selar e rubricar
etc.
formulada em sua estrutura definitiva, o que só teve lugar pelos atos do Governo
Provisório de 22.06.1890 (Dec. 510) e Congresso Constituinte de 24.01.1891 que
não pode mais servir de assento à modelação dos livros da escrituração do registro das
hipotecas; no Distrito Federal não tendo os atos que organizaram a justiça local
16.08.1897) mantido a classificação dos juízes pela natureza, das jurisdições convém
considerar todos os livros como pertencentes ao número dos que o art. 18, § 1.º,
A escrituração de cada livro deve ser feita de modo que contenha nela a
menção dos fatos especiais que no livro devem ser consignados e as observações que
menção deriva o número de ordem do título, fato de suma importância; esse número de
ordem é dado segundo a data da apresentação (art. 23, do Dec. 370).
especiais e especializadas; esse registro tem lugar por meio da inscrição, que é
Este espaço divide-se em duas partes iguais: uma, a que ocupa o verso da folha
formar tantas colunas quantos forem os requisitos da inscrição mencionados no art. 196,
do Dec. 370, de 1890; a outra parte que ocupa toda a face da folha seguinte, fica em
As inscrições são separadas umas das outras por uma linha horizontal. (art. 24,
do Dec. 370).
suscetíveis de hipoteca.
necessário para conterem os requisitos exigidos no art. 245, do Dec. 370, para a
semelhante ao de n. 3.
As transcrições serão separadas umas das outras por uma linha horizontal, e o
penhor agrícola.
O Auxiliar n. 2 escritura-se como o da inscrição especial; o Auxiliar n. 3 é,
porém, escriturado como os livros dos tabeliães, devendo existir entre as transcrições
n. 3, de onde consta a transcrição por extrato (arts. 26 a 29, do Dec. 370, de 1890).
Cada folha desse livro corresponderá a uma das freguesias em que se dividir a
comarca.
página do livro, dividido em cinco colunas, cada uma das quais servirá para inserir a
O espaço formado por linhas horizontais de que trata o art. 24, terá em vez do
daí o serem cortadas as páginas desse livro em colunas que contenham menção do
número de ordem, dos nomes, domicílios e profissões das pessoas, referências aos
nomes ou indicações mas, fazem-se apenas referências, nas colunas próprias, ao número
Se, porém, cada inscrição ou transcrição referir-se a mais de uma pessoa ativa
o número de ordem das pessoas à respectiva letra do alfabeto (arts. 32, 33 e 34, do Dec.
370, de 1890).
continuando a dos outros no livro n. 6: neste caso dar-se- ia na distribuição das folhas do
livro seguinte, maior número à freguesia, ou à letra do alfabeto, cujas folhas se tiverem
esgotado antes de distribuídas às outras freguesias, ou às outras letras (art. 36, do Dec.
370, de 1890).
Estas expressões da lei são muito restritas se considerá- las em confronto com
A segunda alínea do art. 37, do Dec. 370, que contém essa disposição qualifica
o que seja força maior, desde que determina que a pretexto de diligências judiciárias e
extrajudiciais os livros não saiam do cartório devendo as diligências ter lugar neste.
O serviço do registro deve começar às 6 horas da manhã e terminar às 6 horas
Os registros lavrados antes das 6 da manhã e depois das 6 da tarde são nulos;
os oficiais respondem civilmente pelos danos que resultarem da violação desse preceito;
podem ser processados, nos termos do art. 207, n. 1, do Código Penal, como
horas da tarde para ultimar-se um registro começado, o que é justificável desde que se
DA TRANSCRIÇÃO
A transmissão inter vivos por título oneroso ou gratuito dos bens susceptiveis
de hipotecas (art. 2.º, § 1.º), assim como a instituição dos ônus reais (art. 6.º) não
operam seus efeitos a respeito de terceiro, senão pela transcrição, e desde a data dela.
A transcrição não induz a prova do domínio que fica salvo a quem for (art. 8.º e
enxergado no mecanismo da transcrição tal qual foi modelado, entre nós, pelo legislador
de 1890 não existe de fato, e o reparo é infundado, conhecido o ponto de vista jurídico
1864.
A transcrição não visou outro fim mais do que dar maior solenidade à tradição,
da riqueza imobiliária operada pelos atos translativos do domínio dos bens imóveis e
que sobre estes buscam assentar operações de crédito hipo tecário. A tradição, não
imprimindo maior força jurídica ao título do domínio, não pode ter como fim expurgá- lo
de passá-lo à posse do adquirente, não purga o domínio deste do vício de que veio
afetado; como não se pode transferir a outrem mais direito do que se tem, o tradente que
não tinha o domínio não podia transferi- lo ao adquirente e a transcrição não opera senão
a publicidade deste estado de coisas.
Segundo a noção romana o adquirente não obtém pela tradição senão o direito
“Non debeo melioris conditionis esse, quam auctor meus a quo jus in me
“Absurdum est, plus juris habere eum, cui legatus sit fundus, quam heredem,
“Alienatio cum fit, cum sua causa dominium ad alium transferimus, quae esset
futura, si apud nos ea res mansisset: idque toto jure civili ita se habet, praeterquam si
costumada precisão.
“Traditio nihil amplius transferre debet vel potest ad eum, qui accipit, quem
“Si igitur quis dominium in fundo habuit, id tradendo transfert: si non habuit,
Aceita a transcrição como uma forma solene da tradição (Dir. das Cousas, §
48; Consolid. das Leis Civis, Introd., p. 204) não podia ela oferecer o critério de
apreciação da situação dos imóveis em referência ao direito de propriedade dos seus
domínio dos imóveis nos quais podem ter assento hipotecas, não oferece critério que o
habilite a julgar da segurança com que poderá fazer o empréstimo, sob garantia
hipotecária, desde que não lhe proporciona outros meios de fugir à eventualidade de ter
imóveis.
1864, apenas oferece aos terceiros uma indicação ilusória; no fundo ele não indica a
atos inter vivos e mortis causa, a verdade é que a tendência dos espíritos está para a
oficiais (conservateurs) dos registros, e que se pretenda fazer deles des officiers de l’état
civil.
Não somente a exclusão está implícita no art. 8.º supra, mas cla ra e
A redação dada a esta disposição é defeituosa e parece indicar que só não são
operassem por meio da morte oferecia um certo grau de utilidade, proporcionando assim
bem. Para conseguir este fim, bastaria prescrever aos herdeiros a obrigação de
a transcrição torne esta impossível, nos casos de transmissão do domínio de imóveis por
meio da sucessão ab intestato (Laurent, vol. 29, n. 39; Martou, vol. 1.º, n. 14 in fine, p.
hereditária; de sorte que não fazem conhecer a transmissão mais importante e usual,
porque tem necessariamente lugar por ocasião da morte de cada proprietário. Não se
pode dizer dos testamentos o que dissemos das sucessões ab intestato, que a publicidade
é impossível, porquanto não existe testamento sem ato, e, de fato, existiam costumes de
permitidas quando se efetuarem por ato de última vontade, assim como quando tiverem
lugar por atos inter vivos (Laurent, vol. 29, n. 41). O projeto Darlan a que acima nos
intestato.
Fournier acha que: “c‟est aller encore plus loin et rendre plus inextacable la
publicidade das transmissões dos imóveis apresentam uma única razão de certo valor,
direito; e a máxima le mort saisi le vif é uma das regras essenciais do nosso direito.”
O Sr. Lafayette abunda nas mesmas idéias e nos seguintes termos: “A sucessão
transcrição este efeito que por óbvios motivos deve ser pronto seria derrogar sem
faz confusão da posse com a propriedade; aquela é que se transfere pelo simples fato da
morte – é a ela que se refere no direito francês a máxima le mort saisi le vif e no nosso
direito a Lei de 09.11.1754; ora, a transferência da posse nada tem que ver com a
transcrição nec possessio et proprietas misceri debent, nihil commune habet proprietas
cum possessione, somente a translação do domínio depende desta para valer contra os
terceiros; o argumento carece, portanto de aplicação e de procedência no caso figurado.
Bem longe de retrogradar, como diz Troplong, o legislador teria dado os justos
hipoteca.
O fato, porém, é que não deu ao registro essa extensão e os atos de transmissão
mortis causa foram excluídos; concorreram sem dúvida para tal resultado as reflexões
nos atos inter vivos, e não se poder dar colisão de fatos, porque só de um fato – o
formação e à luz de uma crítica fundada toda naquilo que constitui a verdadeira
substância da ciência do direito, a essência dos princípios, acode que essa aparente
anomalia que Laurent julga ser ilogismo e incoerência da lei, e opera a cisão do mais
absoluto dos direitos reais (vol. 29, n. 158), é no nosso direito um consectário jurídico
da noção romana, desprezada pelo Código Civil francês; que o domínio só se transfere
por meio da tradição das coisas e não por força da simples convenção.
Dir. das Cousas, § 48; Consolid. das Leis Civis, Introd., p. 210 a 211) não há como
estranhar que em sua falta a translação do domínio dos imóveis não opere seus efeitos
como tal nem entre as partes contratantes nem entre os terceiros.
expressa disposição do art. 234, do Dec. 370, de 02.05.1890, antes da transcrição apenas
existe entre as partes um simples contrato, e não sendo a convenção o meio de transferir
direitos pessoais que decorrem das convenções, não o direito de propriedade que exige a
tradição da coisa.
“A doutrina da nossa lei, diz o Sr. Lafayette, conserva a noção científica e legal
simples e claro – que antes da transcrição não há domínio – princípio diante do qual se
esvaem as questões entre adquirentes e terceiros, que tanto que fazer dão aos escritores
segundo, se trata das partes contratantes ou dos terceiros, que houverem contratado sem
fraude.
terceiros.
“É somente ao público, diz Martou, que a mutação deve anunciar-se por sinais
certos, a fim de fazer nascer a confiança e no intuito de prevenir os manejos
fundamental do direito moderno, que consagram os arts. 711 e 1.138, do Código Civil.
para garantir, quanto aos terceiros, a eficácia da transferência e pôr a coberto a plenitude
É em face desta noção do direito civil francês que segundo os escritores não se
justifica a dupla face do direito de propriedade, que lhe imprimem a Lei belga de 1857 e
Concebe-se, diz Laurent, que se possa ser dono da coisa somente em relação ao
vendedor e não sê-lo em relação aos terceiros? Pode alguém ser ao mesmo tempo
não o é em relação aos terceiros. Por sua vez, o vendedor deixando de ser proprietário
proprietário em referência aos terceiros enquanto não se faz a transcrição; ele pode
portanto alienar, hipotecar, gravá- la de direitos reais, e tais atos serão válidos; poderão
Não terá sido mais lógico fazer da transcrição uma condição necessária para a
translação de propriedade?
Foi sem dúvida sob a impressão desta anomalia do direito belga e do francês
que o Sr. Lafayette escrevia estas palavras: “O domínio é um direito absoluto, erga
omnes: se não existe em relação a terceiro, também não pode existir entre as partes
relação a terceiros, é uma monstruosidade que repugna à razão”. (Nota 2.ª ao § 48, do
Baviera, o Código Civil austríaco (art. 431), o do Reino de Saxe (art. 276), o de Zurich
(art. 532), o dos Grisões (art. 186), o de Shaffusa (art. 474), o de Argovia (art. 512), o de
Soleure (art. 738), o de Berne e o Ato prussiano de 05.05.1872 (arts. 5.º e 6.º), que o
novo Código Civil alemão promulgado em 18.08.1896, adotou nos arts. 873 e 925 foi
“Em duas partes principais pode ser dividido o projeto; uma que trata do
registro dos títulos de transmissão entre vivos, a que se deu o nome de transcrição;
encargos a que está sujeito; porém o meio do registro não produz esses resultados,
demonstra apenas, se os contratantes estão no lugar onde se operou o registro que até
esse momento o alienante não cedera a coisa a outra pessoa. Se porém o contrato é
celebrado em lugar diverso, bem pode acontecer que outra alienação se efetue antes
dessa, e então um dos dois adquirentes, aliás em boa fé, virá a ser prejudicado pelo que
“Em qualquer dos casos a propriedade continua sujeita às variadas ações reais,
não só do próprio cedente, mas as que este era obnóxio, visto como, segundo o disposto
no projeto o registro não prova o domínio, que fica salvo a quem o tiver...
incerteza dos limites das propriedades agrícolas, que em grande parte nunca foram
“Nos países em que essa formalidade foi adotada, acontece o contrário, porque
dividido, cuidadosamente.
“Se estas condições não existem entre nós, como transplantar o sistema que
nelas baseia?” (Parecer de 11.09.1857, assinado por Silveira da Motta, Muritiba e Souza
Ramos).
Concluía a comissão por condenar o regime da transcrição proposto no projeto
transcrições.
“Esta conclusão não nos parece justa, dizia Teixeira de Freitas (ofício ao
com primeiro juízo do parecer sobre o grau em que o projeto em questão reformara o
que fica salvo a quem o tiver, ao passo que a transcrição do registro germânico tem o
transcrições, produzindo efeitos tão diversos? Por outros motivos poderia a ilustre
comissão rejeitar a idéia capital do projeto no que toca à instituição do registro público;
mas nunca pela suposição de que esse registro fosse idêntico ao dos países a que alude o
dos países da Europa, vingaram na Lei de 24.09.1864 (art. 8.º, § 4.º), e dela foram
grande valia e no exemplo de países, como a Prússia e Alemanha, onde quase todos os
Civis, não pode deixar de reconhecer na inovação proposta pela Comissão da Câmara
garantias ao capital, que se teme sempre da incidência do domínio efetivo, que arrede o
putativo, único que a reforma hipotecária de 1890 achou para oferecer ao crédito
do que possui, por meio da transcrição que é simplesmente a tradição solene do imóvel
alienado, não se pode exigir que o ato, que é a expressão da tradição, altere o direito
sobre o objeto da mesma tradição; argumentar deste modo é responder a questão pela
questão; o que se diz é que a transcrição não deve ser a tradição solene do imóvel, mas o
imprevistas, como o é o registro do sistema Torrens, cujo aparelho não oferece essa
engrenagem complicada de que tanto se temia Teixeira de Freitas, cujos receios o Sr.
Lafayette parece justificar na, aliás luminosa, nota 2 ao § 49, do Direito das Cousas.
Como está estabelecido nas disposições do art. 8.º, e § 4.º, do Dec. 169 A,
adquirente, tal como se achava dele investido o transferente, com os mesmos atributos e
os mesmos vícios.
da qual não o defende a transcrição operada; se na crença de ter líquido o seu direito
seu movimento?
não poderá em caso algum ter assento em uma propriedade presuntiva, que terá sempre,
como diz Teixeira de Freitas, de ceder a propriedade verdadeira, do mesmo modo que a
presunção deve sempre ceder à verdade (Consolidação das Leis, Introd., p. 203).
preceito do § 4.º do art. 8.º, da Lei de 24 de setembro, uma restrição que afeta somente
as partes contratantes, únicas competentes para apurá- la, sem que tenha, porém, a
adquirente; até então pertence ao alienante, que é considerado senhor do imóvel, o qual
Esta decisão confirmada por dois acórdãos da Relação de Porto Alegre foi
fundamento de que não se faz precisa a transcrição quando o adquirente ocupa logo
Que o adquirente do imóvel que não faz a transcrição é vencido nos embargos
1865, a transmissão entre vivos, por título oneroso ou gratuito, dos bens suscetíveis de
hipoteca, não opera seus efeitos a respeito dos terceiros senão pela transcrição e desde a
data dela, sendo que até à transcrição o ato da transmissão é um simples contrato que só
resulta que antes da transcrição e até a data dela o domínio do imóvel, suscetível de
hipoteca, alienado por qualquer dos modos exemplificados no art. 259 do Decreto de
1865 não passa do alienante para o adquirente, ficando assim substituída a tradição
exigida pela Legislação anterior, pela transcrição prescrita do art. 8.º da Lei Hipotecária,
sem que se possa invocar a disposição do artigo citado § 4.º e art. 258 do Regulamento
de 1865 contra a procedência dessa ilação, porque, se a transcrição não induz a prova
do domínio; é ponto que só pode ser debatido entre as partes contratantes às quais
afeta, e em qualquer sentido que seja decidido não prejudica aos terceiros para os
imóvel por ele adquirido e cujo título de aquisição houver transcrito; devendo somente
julgar-se inválida a transcrição para tal efeito, quando a transferência tiver vício radical,
A importância destes julgados (O Direito, vol. 25, p. 228; vol. 50, p. 574 a 578;
vol. 58, p. 227 a 232 e outras) está em que o fato de reconhecerem no adquirente, por
título transcrito, um senhor e possuidor do imóvel, importa ver na transcrição a
revelação do domínio para com os terceiros, atenta a disposição restritiva do § 4.º do art.
de estudar o § 1.º, do art. 2.º, do Dec. 169 A, não se pode contemplar o edifício vendido
para ser demolido; conquanto os edifícios sejam compreendidos entre os imóveis por
natureza, as partes que os compõem, como os materiais de toda a espécie que nos
mesmos se acham incorporados, são móveis desde que são considerados desape gados
do todo, e se só com esta condição são objeto do contrato de venda, esta não transfere
direito real sobre o imóvel, nem sobre objetos que o contrato não pode deixar de
considerar móveis, pois os supõe desagregados do imóvel (Demolombe, vol. 9.º, n. 183;
atos inter vivos que devem ser considerados translativos do domínio e, como tais,
sujeitos à transcrição.
opção.
reputar vendido, a venda alternativa deve ser registrada imediatame nte; apesar de
ainda assim a melhor opinião é no sentido de não levar-se a efeito a transcrição senão
após a opção (Laurent, vol. 29, n. 58), porque só então o adquirente se torna
que desaparece, em referência a uma delas, pelo fato da escolha da outra, não parece
justificar-se com o fundamento de ter a transcrição por fim garantir o adquirente contra
os direitos que o vendedor concedesse sobre uma ou outra coisa das compreendidas na
venda e, que, no caso em que a opção pertence ao vendedor, a transcrição tem como
usado de sua faculdade de opção vendendo ou hipotecando uma das coisas, tivesse o
vendedor concedido ulteriormente sobre a outra (Aubry et Rau, vol. 2.º, § 209).
adquirente firmado sobre uma das coisas, tanto que no caso de perda de ambos, ao
66; Aubry et Rau, vol. 2.º § 209, letra c), e equiparado à compra e venda (Consolid. das
Indicador real (art. 256 do Dec. 370, de 02.05.1890; Aubry et Rau, § 209). (p)
compra e venda (Lobão, Notas a Mello, vol. 2.º, Liv. 2.º, Tít. 8.º, § 19, n. 13; Consolid.
das Leis, nota 1.ª ao art. 510; Aubry et Rau, § 209, letra b; Laurent, vol. 29, n. 63).
(p)
A disposição supra do art. 256 do Dec. 370, de 02.05.1890, reprodução do art. 281 do
Dec. 3.453, de 26.04.1865, exigindo no registro da permuta e da sub-rogação de imóveis duas
transcrições, deu causa a duvidar-se quando comparecia uma só das partes contratantes seria ela
obrigada a registrar, transcrevendo a sua aquisição e a do transmitente, ou tem ela aplicação
unicamente ao caso de comparecerem ambos os permutantes a transcreverem cada um o seu
título.
A dúvida acha-se formulada por um oficial de registro de hipotecas e devidamente
resolvida na decisão de que dá notícia O Direito, vol. 14, p. 410, e no artigo inserto na mesma
revista no referido volume a p. 667 a 669.
A disposição não veda que uma só das partes permutantes faça transcrição do seu título
de aquisição; importaria isso a exigência das duas transcrições, o que afeta o princípio cardeal
do regime da publicidade da transferência dos imóveis consagrado na legislação de 1864 e
transportado para a de 1890 – a voluntariedade do registro. Nenhum adquirente é obrigado à
transcrição; a sanção desta é não valer, sem ela, a aquisição do domínio contra os terceiros.
O art. 256 do Dec. 370 deve, pois, ser entendido como tendo aplicação ou no caso de
comparecerem os dois formulantes a fazer as transcrições de seus títulos, e, o que vem a dar no
mesmo, no de comparecer um só devidamente habilitado para fazer a transcrição do outro, ou ao
de comparecerem um após outro os dois contratantes; em tal hipótese a duas transcrições e as
referências recíprocas terão lugar quando comparecer a adquirente retardatário.
A transcrição é do título de aquisição da sociedade, a qual tem patrimônio
próprio como pessoa jurídica distinta dos sócios (Aubry et Rau, § 209, letra d;
Endemann, Manual de Direito Comercial, vol. 1.º, § 74, trad. italiano de Betocchi e
Vighi; Laurent, vol. 29, n. 67; Lafayette, Dir. das Cousas, § 51, n. 5).
que tiver por objeto o gozo de bens imóveis, quando a duração da sociedade for
propter nupcias e a renúncia translativa (Dir. das Cousas, § 51, n. 7; Aubry et Rau, §
A disposição do nosso direito escrito (§ 5.º, do art. 236, do Dec. 370, de 1890)
foi inspirada pelo do art. 939 do Código Civil francês; deve-se portanto, entender que a
transcrição das doações inter vivos de imóveis suscetíveis de hipoteca, nada tem que ver
com a insinuação exigida em tais doações, que de modo algum pretendeu substituir.
que estas excedem as taxas de lei (Ord. do L. 4.º, Tít. 62; Lei de 25.01.1775 e Alvará de
16.09.1814).
1) são aceitáveis no nosso direito de preferência às de Demolombe (vol. 20, n. 242, letra
de imóveis susceptíveis de hipoteca, quando o valor destes exceder das taxas da lei, não
é dispensável, não é suprível pela transcrição, que tem função diversa, qual a de
publicar a transferência do domínio operado pela doação; para que esta subsista,
publicada ou não, é preciso que seja válida, o que só se dá quando insinuada. Para que
possam valer contra terceiros, devem ser publicados, isto é transcritos; se, porém, forem
substancial- mente nulos, por falta de insinuação, o fato da transcrição não purga a
nulidade (q).
doações inter vivos, ainda que tenham como objeto móveis ou imóveis não suscetíveis
opinião mais seguida, acabou com a insinuação, que considerou um meio de publicidade
conformidade com o regime belga (Thiry, vol. 4.º, n. 306; Martou, vol. 1.º, n. 17;
(q)
Não é desprovido de interesse prático o apurar-se se perdura a insinuação, ainda sem
relação às doações de imóveis sujeitos à transcrição.
Os comentadores do Código Civil francês entendem que a transcrição das doações dos
imóveis suscetíveis de hipoteca é hoje não um modo de publicidade comum às transferências de
domínio dos imóveis, mas sim, como foi transportada do art. 26 da Lei de 11 do brumário do
ano 7.º, é condição necessária para a validade da doação para com os terceiros e substitui a
insinuação.
Tal substituição pareceu estar na intenção da seção de legislação do Conselho d‟Estado
em França, por ocasião da confecção do Código Civil, quando condenou como duplicação inútil
a necessidade da insinuação estabelecida na Ordenança de 1731, e a transcrição exigida no art.
26 da Lei do brumário do ano 7.º.
A oposição feita por Tronchet ao parecer do Conselho de Estado, fundava-se na maior
compreensão da insinuação, que abrangia todas as doações, ao passo que a transcrição
compreende apenas os imóveis hipotecáveis, o que indica que tal medida afeta mais a perfeição
do mecanismo hipotecário do que a validade substancial das doações.
O interesse prático está nisto: a falta de insinuação pode ser alegada pelos herdeiros, do
doador, para anular a doação; ao passo que não poderia alegar a falta na transcrição, porque o
contrato vale entre as partes independentemente de transcrição.
Laurent, vol. 29, n. 46), a transcrição dos ônus reais, por disposição expressa ( art. 241,
ano).
inestimado ou o estimado taxationis causa é que neles não tem lugar a transferência do
domínio dos bens, dados em dote, ao marido; o domínio da mulher, quando o dote é por
ela constituído, renasce logo que se dissolve a sociedade conjugal (Lafayette, Dir. das
Cousas, § 51, nota 7; Dir. de Familia, § 88; Consolid. das Leis Civis, arts. 122 e 129, e
O imóvel dotal, não sendo o dote estimado, não pode ser hipotecado – pelo
marido; porque este não tem sobre ele o domínio, – pela mulher porque, conquanto
proprietária, não tem exercício do seu direito e não pode alienar o imóvel, salvo o caso
a outra a propriedade de uma casa, tal transferência, como diz Laurent (vol. 28, n. 394),
não resulta da transação pois que o direito de propriedade da casa não era objeto da
contenda, não é sobre tal direito que assenta a transação; conseguintemente não é por
força da transação que se opera a translação do direito, é em virtude de um acordo de
transação não transfere domínio, nem importa a aquisição de novo direito ou novo
título; mas opera apenas a extinção da controvérsia; esta noção dada por Dumoulin foi a
transação não se daria a translação do domínio e que aquela foi o meio de operar-se esta
que não faz transcrever a transação (Aubry et Rau, vol. 2.º, § 209), salvo na hipótese de
consistir esta na cessão de um imóvel, que não fosse objeto da demanda, caso em que
vol. 1.º, n. 73), é uma perfeita filagrana; porquanto, na hipótese, a cessão foi o assento, o
elemento substancial da transação; sem ela esta não teria tido lugar.
“De resto, diz Aubry et Rau (loc. cit.) um ato, que qualificado de transação,
não passasse na realidade de uma cessão disfarçada, não poderia ser, aposta aos
Laurent entende (vol. 28, n. 297) que a transação, ainda quando importa
que a lei manda registrar e às renúncias de direitos de domínio sobre imóvel, que podem
“A renúncia que fazem os que transigem, diz Laurent, não tem como intuito
senão terminar a contestação que as divide” – como se por esse fato a renúncia da
propriedade de uma em favor da outra das partes contendoras, como meio único de pôr
termo a contestação, deixasse por isso de operar a transmissão de propriedade, ato que
deve ser sujeito ao registro na lei belga, ainda quando não se trate exclusivamente de
hipoteca.
translativos do domínio de imóveis; a razão é que por meio de tais distratos transfere-se
novamente a propriedade para o primitivo dono, o vendedor (Dir. das Cousas, § 51, n.
9, nota 15).
cláusula a retro?
No direito francês é ponto de discussão; Laurent opina pela afirmativa porque a
pois, foi na realidade o imóvel que ele comprou (vol. 28, n. 86).
Esta opinião é combatida por Aubry et Rau com o fundamento de que a venda
a retro ou com a cláusula rendimendi importa, por parte do vendedor, despojar-se este
de todo o direito de propriedade; somente conserva ele um simples jus ad rem; a cessão
preferir como de mais segura aplicação a de Laurent, pela seguinte e peremptória razão.
condicionais (Ord. do Liv. 4.º, Tít. 4.º; Consolid. das Leis Civis, notas aos arts. 550 e
551): ora cumprida a cláusula resolutiva, a força desta faz retroagir a situação jurídica
contra o comprador, como supõem Aubry et Rau; antes, chegado o termo estipulado, ou
prestado o preço da venda (Ord. do Liv. 4.º, Tít. 4.º princ.), o direito de propriedade que
todos os frutos e renovos, e vendas, que houver da coisa comprada, até que o dito preço
lhe seja restituído: mas, como diz Laurent, (vol. 24, n. 392) a transmissão é afetada de
uma condição resolutiva, e como toda a condição resolutiva importa uma condição
Este modo de ver, preconizado pela doutrina dos escritores franceses não teve
aceitável entre nós: sendo uma condição que afeta a venda de imóvel suscetível da
hipoteca deve ser transcrita nos termos do § 5.º, do art. 8.º, do Dec. 169 A, de
19.01.1890, e igualmente deve sê- lo a cessão que o vendedor houver feito do seu jus
redimendi.
234. A instituição dos ônus reais, enumerados no art. 6.º, do Dec. 169 A, de
1890, quando feito por atos inter vivos está sujeito a transcrição para valerem tais ônus
terceiros, para que não se dêem aquisições de imóveis como livres e desembaraçados,
quando são onerados de direitos reais, que suportam restrições das funções dominicais
do proprietário.
que tais direitos têm ação sobre o direito real do credor hipotecário, para o efeito de
sujeitar este às limitações decorrentes daqueles; para que esta ação possa ter lugar a lei
exige que o credor hipotecário tenha conhecimento da existência de tais ônus, antes de
publicidade dos direitos reais existentes sobre o imóvel, por meio da transcrição.
O Dec. 370, de 1890, que tem força legislativa, conquanto seja ato de caráter
executivo, abriu uma exceção à necessidade da transcrição dos ônus reais em favor do
que preside ao exercício das faculdades decorrentes dos preceitos do direito comum,
deve cessar por odiosa, e não se justifica, quando a fazenda pública tem funcionários
concedeu- lhes a investidura de direitos reais, de ônus, que gravam os imóveis, em sua
circulação?
ferro e canais (art. 243, do Dec. 370, de 02.05.1890), a qual aliás não precisava ser
declarada, por não constituírem tais concessões translações de domínio; porque não
O adquirente que quer ter o seu título transcrito leva-o ao oficial do registro da
necessárias para a transcrição e que esta deve conter. Estes extratos devem ser assinados
pela parte, por seu advogado ou procurador (art. 50, §§ 1.º e 2.º, do Dec. 370, de
02.05.1890).
número de ordem que lhe competir, reproduz no título essa data e esse número de
ordem.
assim sendo, se duas pessoas pedirem as transcrições de seus títulos ao mesmo tempo,
outro, com esse fundamento; poderão tê-lo, porém, com o fundamento de antiguidade
dos títulos o seu número, mas observando a numeração seguidamente; no segundo caso,
o número de ordem dos títulos será o mesmo, adicionando-se-lhes, nos outros títulos, as
letras a, b, c, etc.
A regularidade consiste:
na mesma ordem mencionada no citado art. 245 (art. 52, do Dec. 370).
Se os extratos não forem conformes entre si o oficial não os aceitará, e não fará
o registro, sem que sejam apresentados outros; sendo conformes um com o outro, mas
faltando- lhes qualquer das declarações exigidas no art. 245, o oficial fará a transcrição
suprindo a deficiência dos extratos, como o que constar do título (arts. 52 e 53, do Dec.
370).
permitido pelo Dec. 370, de 1890, desde que o interessado apresentasse o título em
duplicata, para que um dos exemplares ficasse arquivado no cartório das hipotecas é,
por força de maior razão, permissível na atualidade, depois da Lei de 23.08.1892, apesar
de que este ato manteve a necessidade da escritura pública em todos os casos em que ela
for da substância do contrato, como nas transmissões de bens de raiz de valor superior a
duzentos mil réis (art. 11, da Lei 840, de 15.09.1855; parágrafo único, do art. 2.º, do
celebrarem-se por escrito particular todos os contratos em que a escritura pública fosse
exigida como prova, na Legislação então dominante. O art. 74, do Dec. 370, admite para
brasileiros e traduzidos na língua nacional, por tradutor público (§ 3.º do artigo citado).
seguintes:
1. O número de ordem;
2. A data;
for urbano;
12. As averbações (art. 245, do Dec. 370, de 02.05.1890; Lafayette, Direito das
Cousa, § 52).
(arts. 54 e 55, do Dec. 370, de 1890); o outro extrato e o outro título, se for este escrito
particular, serão arquivados, sob o rótulo do ano a que pertencerem e nos maços dos
títulos e extratos nos termos do art. 76, do Dec. 370, de 1890 (art. 56 do mesmo
Decreto).
Os títulos que não puderem ser transcritos por ter chegado à hora do
encerramento do registro terão preferência para serem registrados no dia seguinte, para
parte, nunca ex officio; não somente as pessoas que adquirem ou transmitem algum
direito por meio dos títulos oferecidos ao registro são pessoas legítimas para pedirem a
transcrição, mas também as que lhes sucedem, ou as que as representam; as que não
forem partes no contrato, ou herdeiros destas, são considerados terceiros (arts. 62, 63 e
tem ele competência para recusá-lo sob pretexto de ilegalidade sem tomar nota da
apresentação e conferir ao título o número de ordem que lhe couber (art. 65 do Decreto
citado).
título ao interessado com a declaração da dúvida que encontrou a fim de poder a parte
deste livro destinada às anotações, declarar que a transcrição não teve lugar e ficou
adiada por haver sido posta a dúvida, que mencionará em resumo (arts. 66 e 67, do
citado Decreto).
proposta pelo oficial, e para isto juntará o título no qua l estará escrita a dúvida do
oficial, dirá sobre ela impugnando-a, como lhe parecer melhor, e pedirá que se mande
proceder ao registro.
decisão proferida, que será apresentada em certidão pela parte interessada, ao mesmo
tempo que o título. O oficial na coluna das anotações do protocolo declarará que a
dúvida foi julgada improcedente por despacho da autoridade tal, datado de tal dia, que
fica arquivado.
por despacho de tal data, e arquivará a certidão (arts. 68, 69 e 70, do Decreto citado).
Se a transcrição não tem outro efeito mais do que dar à publicidade, para que
domínio, e de modo algum tem como fim estabelecer a situação legal e definit iva do
domínio transcrito pelo adquirente do imóvel, a função do oficial, sendo como dizia
transferência, como a de ser feita a non domino; a fiscalização do oficial recai somente
sobre a estrutura formal do título; se esta for tão eivada de defeitos e de vícios, que
duzentos mil réis, caso em que a escritura pública é da substância do contrato; porque
legítimo do adquirente, o que não está nos moldes do nosso registro, de simples
título para operar a mutação do domínio, e repeli- lo do registro quando não tiver
idoneidade para tal efeito, e isto porque o contrário seria consentir na transcrição de
que equivaleria ao registro de uma transferência em que nada se transferia; porque não
pressão de Teixeira de Freitas? Nem sequer para tal afirmação do direito do adquirente
falta a autoridade do magistrado, que o exímio jurisconsulto dizia não existir no oficial
Todas as transcrições deverão ser assinadas pelo oficial do registro (art. 72, do
Dec. 370, de 1890), elas podem ser requeridas pelo adquirente, pelo transferente,
pessoas que os representarem, ou comparecerem por parte deles, ainda mesmo sem
procuração, e por todos os que tiverem interesse na transcrição (arts. 211 e 244 do
no livro auxiliar do Livro 3.º e não dispensa a transcrição por extrato; as expressões –
além da transcrição pela forma determinada nos arts. 245 e 246 – do art. 248 do Dec.
370 não deixam dúvida a respeito; assim também o entendeu o Sr. Lafayette o preceito
370);
- O título da transmissão;
- O valor do contrato;
Desde que a lei inflige a nulidade do ato como sanção à inobservância destas
imóveis, as pessoas que o detêm em domínio atual, o título de aquisição, o que habilita
Estas nulidades são de pleno direito e como não dependem de ação, uma vez
As expressões – uma vez provadas – não têm outro alcance além do de exigir
prova da nulidade e não simples alegação da mesma, e não se refere à necessidade de
O reparo feito pelo Sr. Lafayette à disposição do § 1.º do art. 10, do Decreto de
1865, tem, pois, todo o fundamento (Dir. das Cousas, § 53, nota 5.ª) .
direito e não dependentes de ação, quer efetue o contrato quer o registro, invalidam este
ainda que este não tenha sido cancelado (art. 103, parágrafo único, do Dec. 370, de
1890).
A razão desta disposição, que à primeira vista afigura-se pouco justa, pois,
torna a parte interessada responsável pelo ato deficiente do oficial, está em que a
não depende dos extratos, que são elemento de sua formação, mais não são o ato de
transcrição depois desta ultimado (Dir. das Cousas, nota 7.ª ao § 53). O direito de atacar
a transcrição por essas nulidades cabe aos terceiros interessados em que a transcrição
seja rescindida; as partes contratantes, o transferente e o adquire nte não podem alegar as
nulidades?
contratantes, não pode sê- lo igualmente pelos herdeiros e sucessores universais destes,
os quais sucedem- lhes nos direitos e nas obrigações, continuam, para tal efeito, a
todavia a razão de sua opinião. Aubry et Rau (vol. 2.º, § 209, nota 90) referem-se ao
caso da falta da transcrição e fundam sua solução em não ser necessária a transcrição
das mutações causa mortis, pelo que os legatários a título singular não se contemplam
na classe das pessoas, que, tendo direitos sobre o imóvel transferido, conservam tais
direitos desde que se conformem com as leis, expressões que supõem a necessidade da
transcrição.
Demolombe (vol. 24, n. 457) apóia a opinião de Aubry et Rau e entende que o
legatário não pode alegar a falta de transcrição da alienação do imóvel, que, posterior-
mente à transferência não registrada, lhe foi legado; este modo de ver, como o de todos
os escritores franceses funda-se em que a falta da transcrição só pode ser alegada por
aqueles que têm direitos sobre o imóvel, segundo a disposição do art. 3.º, da Lei de
ato anterior, que produziu todos efeitos translativos do domínio, segundo o sistema dos
arts. 711, 1.138 e 1.583, que Demolombe entende que não foi alterado, antes respeitado
pela Lei de 23.03.1855 que, como dizia Persel, por ocasião da elaboração da mesma não
de motivos – não tratava de pôr mão sacrílega sobre o Código Napoleão; suas
disposições por assim dizer adicionais; completar não é destruir (Demolombe, vol. 24,
n. 449).
O Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 53) opina que o próprio alienante pode
transferente, parte contratante – entre os terceiros aos quais a lei permite invocar – a seu
recusada faculdade de fazer desaparecer o ato de publicidade, e com ele todos os efeitos
dependerem de condições, estas se não haverão por cumpridas, ou resolvidas, para com
terceiros, si não constar do registro o implemento, ou não implemento, delas por meio
da declaração dos interessados, fundada em documento legal, ou com a notificação da
parte.
(§ 5.º do art. 8.º do Dec. 169 A, de 1890, e art. 250, do Dec. 370, de 2 de maio
do mesmo ano).
237. A transcrição sofre alteração dada qualquer das hipóteses a que se refere a
disposição supra; devem pois, ser averbadas quaisquer das circunstâncias ali referidas.
em seu lugar opera-se nova venda em que os papéis de vendedor e co mprador trocam-
grave erro, pois daria a conhecer um ato muito outro que o existente na atualidade, em
tais condições é essencial que seja promovida pelas mesmas partes interessadas que
declaração feita por interessados na exatidão dos dizeres do registro, que não sejam as
disposição supra do § 5.º, do art. 8.º, do Dec. 169, de 1890; mas em todos aqueles em
transcrito devem ser averbados, bem como devem sê- lo quaisquer ocorrências que
afetem as pessoas ou os imóveis que figuram em atos registrados (art. 75 do Dec. 370,
Como das averbações resulta alteração na transcrição, elas só podem ser feitas
pelo oficial do registro, que deverá datá- las e assiná- las, depois de numerá- las (arts. 73 e
As novas transmissões dos imóveis transcritos, quer eles tenham por objeto
todo o imóvel, quer parte dele, deverão ser averbados na primeira transcrição, com
menção dos nossos [novos?] números dados aos imóveis (art. 251 do Dec. 370).
239. Uma das averbações mais importantes é a que tem lugar para o efeito de
cancelar a transcrição.
O cancelamento, que tem como fim fazer desaparecer o registro, pode tornar-se
necessário por haver deixado de existir o ato primitivo, como se a venda houver sido
O cancelamento tem lugar por meio de uma certidão escrita pelo oficial do
Os títulos hábeis para tal efeito são somente: sentença passada em julgado
O cancelamento pode ser total ou parcial e ter como fim a supressão das
quando se prove por qualquer meio, que o contrato está desfeito, extinto, anulado ou
“Esta disposição do Decreto (de 1865) sempre nos pareceu iníqua e sem razão
que lhe colorasse a iniqüidade. Desde que a transcrição não induz prova absoluta do
domínio, que fica salvo a quem for, bastava dar-lhe a virtude de produzir a presunção
de validade do título, presunção porém, que pudesse ser dividida por qualquer gênero
de prova em contrário. Mas não permitir, que a presunção seja destruída senão pelo
cancelamento, é um rigor que o sistema da lei não exigia, e que veio derrogar práticas e
direito. Assim, as escrituras nulas de pleno direito, como as que não são assinadas pelas
nulidade proferidas em ação ordinária. Hoje se escrituras tais forem transcritas, a parte a
quem aproveita a nulidade, não a poderá invocar em juízo antes de obter sentença
que transcreve um título nulo de pleno direito vem com embargos de senhor e possuidor
à penhora; o exeqüente não o poderá repelir com a alegação da nulidade plena, mas ou
será vencido ou terá de intentar a ação de nulidade do título, para com a sentença que
vexame destes?
“Todavia pode-se dar ao citado art. 106 do Decreto (de 1865) uma inteligência
que ressalve os absurdos notados, e vem a ser, que ele alude tão-somente às nulidade
que dependem de ação, e não às de pleno direito.” (Dir. das Cousas, § 54, nota 21).
O vício está no sistema incompleto do registro, que nesta como na hipoteca dos
denunciado, e em tal caso, enquanto não fosse a transcrição eliminada pelos meios que
proporcionaria para tal efeito, devia produzir todos os consectários como ato válido e
para o efeito de invalidar esta, tirar- lhe a força, apesar de continuar esta subsistente e
O preceito do art. 106 do Decreto de 1865 como o do art. 103 do Dec. 370, de
1890 não contém uma iniqüidade e muito menos a violação de qualquer princípio do
direito comum.
ônus hipotecário; como admitir que ele possa deixar de ser o signo denunciativo de tais
fatos quando seja mantido na plenitude de sua vigência, a despeito de conceder a lei, no
cancelado; ou força é convir que deve ser eliminado como meio de publicidade, de
Dec. 370); no entanto, a inscrição da hipoteca produz todos os efeitos, enquanto não é
cancelada, a despeito de ter sido a hipoteca anulada e apesar de haver o devedor pago a
dívida hipotecária e obtido quitação do credor.
De modo algum.
publicação?
Porque a hipoteca foi anulada como julgá- la inválida para os efeitos ligados à
subsiste, mas sem valor para com os terceiros; no segundo a hipoteca anulada, paga,
invalidada, subsiste todavia para com os terceiros porque tal força não é inerente à
Já nos referimos a este fato; convém, porém, insistir para procurar a solução de
transferências obtiverem o mesmo número, como em tal hipótese esse número não pode
ser o critério para a prioridade (art. 46, do Dec. 370, de 1890), a lei estabeleceu outro,
para não deixar o conflito sem solução; as datas dos títulos passa a ser o critério para
estabelecer a prioridade; o título mais antigo em data prefere ao outro (art. 46 citado,
segunda alínea).
número de ordem?
imitido na posse.
É tanto mais aceitável esta solução entre nós, diz o Sr. Lafayette, quanto ela
estava consagrada no domínio da tradição pura pela Ord. do Liv. 4, Tít. 7.º, § 2.º.
mesmo tempo, isto é, das 6 da manhã ao meio-dia, ou desta hora às 6 da tarde e que
A tradição material não pode ser mais critério de prioridade, este só existe no
número de ordem da transcrição e na data dos títulos; a tradição tendo sido substituída
pela transcrição, que é tradição solene, a máxima melior est conditio possidentis só tem
aplicação ao adquirente que transcreveu o seu título de aquisição; desde que as regras
transcribentes.
ônus reais instituídos por atos inter vivos sobre os imóveis suscetíveis de serem
hipotecados.
real contra terceiro, porque ela é uma transformação do seqüestro e quando é uma
transcrita pela inscrição desta e valer contra terceiros. (Sent. e Accs. n‟O Direito, vol.
aquisição dos mesmos pelo prédio dominante por tempo necessário para a prescrição; se
se tratar de transcrevê- las o título hábil para tal fim é a sentença proferida em ação
confessória, ou a que reconhece a quase posse da servidão em ação possessória (art. 249
2.º Data;
4.º Denominação do imóvel, se for rural; menção da rua e número dele, se for
urbano;
7.º O ônus;
9.º Averbações.
especificadas acima, com exceção das 1.ª, 2.ª e 4.ª (arts. 246 e 253, do Dec. 370, de
1890).
Tem aplicação às transcrições dos ônus reais os preceitos reguladores das
já especificamos anteriormente.
242. No sistema do registro dos imóveis e ônus reais criado na Alemanha pelo
Ato de 05.05.1872, antes do registro, deve o empregado encarregado de fazê- lo, apurar:
representado por seu tutor ou autorizado por alvará judiciário. A transcrição não tem,
pois, lugar senão depois do exame prévio sobre a validade do título; este exame, porém,
não é um julgamento sobre o domínio, como supõe-se, tanto que Lehr (direito civil
germânico) torna saliente (n. 64) que em diferença da antiga Salung (forma da tradição
solene – traditio legitima, – que só podia ter lugar perante o juiz ou o tribunal local e
cauteloso e íntegro.
fica salvo a quem o tiver; qual o efeito dado à transcrição entre nós? O mesmo que Lehr
pela jurisprudência.
transferida inter vivos senão mediante a inscripção no registro territorial. A venda que
medidas para fazer passar a propriedade para a cabeça de Titius, e que este, por sua vez,
propriedade, porém, não se transfere do vendedor para o adquirente senão por meio da
vendedor para o adquirente? Somente, esta transferência pode não significar uma
translação real, porque o transferente pode ser non domino. E quando do título constar
evidentemente que o não é, não terá lugar a interposição da recusa do oficial do registro,
com o fundamento da ilegalidade do título, como no caso de ter este patente qualquer
vício formal?
Para que a hipoteca possa oferecer sólido assento ao crédito territorial, precisa
apoiar-se em registros que não sejam anuláveis, como títulos de domínio; a necessidade
registro da translação dos imóveis, como elemento instrutivo dos contratos hipotecários.
CAPITULO II
SEÇÃO 1.ª
DA ESPECIALIZAÇÃO
hipotecas da inscrição, para valerem contra terceiros e não podendo o registro ser levado
a efeito sem que o valor do crédito hipotecário seja fixado e o imóvel designadamente
ação as hipotecas conferidas pela lei, como garantia de interesses de pessoas que são
tidas em direito por incapazes, absoluta ou relativamente, por acharem-se sob o poder
por força de uma verdadeira ficção, e que da gestão de administradores tem dependentes
As hipotecas legais nascem sem nexo real sobre determinados imóveis; o seu
como o da legislação de 1890, que não permite as hipotecas gerais, importa a não
existência das hipotecas legais, antes de ser especificado o imóvel ou os imóveis sobre
convencionais.
Só estas se conformam com a noção e a estrutura modernas da hipoteca.
precisar a importância da dívida e designar o objeto dado em caução real, ou, como diz
Ela é, de acordo com esta noção, nos regimes que só reconhecem as hipotecas
direito real; sem especialidade a hipoteca não existe, porque depende de pacto em que
para garantia do pagamento da dívida determinada se consigna o preço que der, quando
princípio que diversos códigos consagraram (Código Civil argentino, Livro 3.º, Tíulo
14, art. 8.º; Código Civil uruguaio, art. 2.288; Código Civil chileno, art. 2.409; Código
Civil holandês, art. 1.217; Código Civil do Cantão dos Grisões, arts. 280, 286 e 288;
sempre dado por estimação, sob pena de nulidade da doação propter nuptias (art. 3.º, §
9.º, do Dec. 169-A, e arts. 132 e 164, do Dec. 374, de 1890); desde, porém, que a
determinação de tais valores e imóveis não caracteriza de per si só a hipoteca
convencional, única especial, e sendo o assento da hipoteca nos casos figurados não o
a especialização é indispensável.
370, de 1890); esta instrui a petição que deve ser dirigida, no Distrito Federal, ao pretor,
ou ao conselho no Tribunal Civil; segundo o caso (Dec. 2.579, de 16.08.1897, arts. 5.º,
ns. 5 e 7, letra a, e 17, § 1.º, n. 1 e § 2.º, n. 1, letra a, 1.º) com o documento em que se
funda a estimação da responsabilidade, e com a relação dos imóveis que possua, além
do que especialmente designa para ser hipotecado (arts. 144 e 145, do Dec. 370, de
1890).
julgar mais idôneo, este procederá à avaliação, feita a qual o juiz dará vista às partes por
imóvel ou dos imóveis designados e sobre a suficiência dos mesmos para garantire m a
necessária por constar o valor de documento legal – assim o dote devendo ser estimado,
sob pena de nulidade, tal estimação constitui o valor da responsabilidade do marido, que
terá de restituir a importância fixada (art. 147 do Dec. 370); no caso da hipoteca da
fazenda pública a responsabilidade do exator sendo fixada na fiança, não se faz precisa
curatela ou administração, o art. 149, do Dec. 370, faz uma exigência infundada e em
Como fixar a renda que o marido tem de accumular e a que tem de consagrar às
mão-morta? A quantia fixada para alimentos dos órfãos e interditos, nem sempre é
de mão-morta.
como sanção da obrigação estabelecida nos §§ 3.º e 22, da Ord. do Liv. 1.º, Tít. 88, no §
30, da Ord. do Liv. 1.º, Tít. 72 e no art. 32, § 8.º, do Decreto de 02.10.1851; assim deve
ser entendida a sentença no Direito, vol. 1.º, p. 136 e o Acórdão que a confirmou.
curadores, que vão tê- los sob sua guarda e administração, porque não podem ser
facilmente alienados e não são consumíveis (Lafayette, Dir. das Cousas, § 232); não é
judicioso o preceito: os tutores e curadores podem prejudicar os imóveis, reduzí- los de
responsabilidade dos mesmos devedores; acrescendo que ela pode ser igualmente
influenciada por uma grande valorização dos imóveis; cuja administração por parte dos
tutores e curadores ser lesiva aos interesses dos pupilos e curatelados, que mais tarde
não terão meios de conseguir reparação do dano sofrido, por parte de sucessores dos
expressadas em cifras que não possam ser iludidas em sua clareza e precisão.
especialização por sentença e determina que se faça inscrição da hipoteca, que designará
bem conhecido e estabeleçam, em qualquer tempo a sua identidade (arts. 153 e 154, do
reduzirá a hipoteca ao valor do imóvel, ou dos imóveis avaliados (arts. 155 e 159 do
Decreto citado);
citado).
Estas disposições têm sido objeto de reparos que indicam não ter havido na
nosso ver, do vício que lhe increpa Lafayette (Dir. das Cousas, nota 11 ao § 233); no
aos bens atuais, a da fazenda pública e a do herdeiro pela torna forçosamente haviam de
anexados aos já hipotecados, no caso do § 3.º do art. 142, do Dec. 3.453, de 26.04.1865,
A disposição não merece, pois, a censura que lhe faz na obra citada; na nota 35
Ela foi transportada, sem a devida crítica, do Decreto de abril de 1865 para o
atual regulamento hipotecário, sem refletir-se que a razão da disposição do art. 177 do
casada, dos menores e dos interditos, ela continuaria no regime de 1864 a vigorar como
Direito Hypothecario do Brazil, art. 34; Lafayette, Dir. das Cousas, nota 12 ao § 233).
suspensivo para impedir que se proceda à avaliação dos novos bens oferecidos (arts. 156
e 157, do Dec. 370; Dir. das Cousas, § 233, n. 4; Furtado de Mendonça, p. 114).
sentença, que só deve conter as decisões finais proferidas pelo juiz e o julgado sobre o
agravo, é o documento que serve para a inscrição da hipoteca (arts. 162 e 163, do Dec.
370, de 1890).
juiz da situação dos bens a avaliação destes; e o processo suspende-se até que seja
nulidade (art. 132, do Dec. 340); podem, porém, designar o imóvel, ou os imóveis que o
marido ofereça para segurança do dote; nesta hipótese a especialização só deverá recair
hipoteca sobre tais imóveis sem investigar se são ou não suficientes, porque a
legal em convencional e citando a autoridade de Cujacio opina que seria mais regular a
convencional; o fato de ser a indicação aceita pela outra parte, que figura na convenção
dotal, só pode importar a aceitação dos bens para o efeito de dispensar a apresentação
dos mesmos em a relação exigida, no art. 145, do Dec. 370; a avaliação destes e a
sem todavia, dispensar esta que é o único meio de converter em hipoteca especial a
para cobrir o valor do dote, não impedirá esse fato o julgamento da especialização nos
termos do art. 165, isto é, sem avaliação dos bens: o mesmo, porém, não sucederá se os
os credores deste se opuserem, à especialização da hipoteca sobre tais imóveis (art. 166
do Decreto citado).
imóveis hipotecados só pode ter lugar, como se pratica nas hipotecas convencionais,
cujas regras dominam os legados especializados (art. 167 do Decreto citado), mediante
acordo expresso do credor (art. 217, § 1.º, do Decreto citado), e a mulher casada não
pode dar consentimento para isso, porque segundo os princípios do nosso direito civil
não pode a mulher casada renunciar a sua hipoteca legal (Dir. das Cousas, § 191).
insuficientes para garantir a dívida; o reforço da hipoteca, tem lugar pelo processo de
especialização estabelecido nos arts. 146 e seguintes do Dec. 370 (arts. 168 e 169 do
Decreto citado).
processo de remissão estabelecido para as hipotecas especiais nos arts. 257 e seguintes
do Dec. 370, pelos terceiros adquirentes que não quiserem sujeitar-se à excursão dos
imóveis inscritos.
direito escrito atual ela não compreende todos os imóveis que o devedor possua
dívida, e o que mais é, torná- lo, em relação aos terceiros; isento de qualquer
apoio e assento na lei; só esta podia excepcionar o princípio que torna todo o patrimônio
do devedor sujeito à solução das dívidas por ele contraídas; nada afeta o direito real da
defender nem garantir os próprios interesses; assim como declarou que a convenção
impedia o legislador de fazer decorrer esse regime de exceção de fatos que interessam à
Existem, como já o fazemos ver, códigos que não reconhecem a hipoteca legal;
249. O Código Civil italiano que concede à hipoteca da mulher casada uma
compreensão que a torna geral, pois, fá-la abranger todos os bens que o marido possua
hipoteca, que o tabelião obrigue o marido a declarar a situação dos bens por ele
possuídos e todos os requisitos exigidos no art. 1.979 para especificá- los, o que importa
incidir a hipoteca que garante aquela (Chironi, § 216; Pacifici Mazzoni, vol. 3.º, n. 342).
A especialidade tem no direito italiano a mais íntima relação com a publicidade, da qual
qual não se pode ter como satisfatória quando se sabe apenas que tais bens são gravados
de hipoteca. “Ma lá especialitá dell‟ipotèca non impedisce che anco per un solo credito
siano sottoposti al vinculo ipotècario tutti e singole i biene del debitore che ne siano
exigiu a especialização das hipotecas legais, que eram gerais no direito francês e valiam
família fixa o valor da responsabilidade, isto é, a soma pela qual deve ser feita a
inscrição e os imóveis do tutor sobre os quais deve ela recair, e que são designados
segundo a fortuna dos menores e dos interditos, a natureza dos valores de que a mesma
1851; Martou, ns. 764 e 765; Laurent, vol. 30, ns. 297 a 302; Thiry, vol. 4.º, ns. 461 a
próprio contrato dotal, antes do casamento, ou na duração deste pelos bens que lhe
marido seja obrigado a fazer (arts. 64, 65 a 67, do Decreto de 1851; Martou, ns. 882,
883, 906 e 909, 910 e 919; Thiry, vol. 4.º, ns. 474 e seguintes; Arntz, vol. 4.º, ns. 1.764
e seguintes).
Thiry (n. 474) e Arntz (n. 1.764) consideram a hipo teca estabelecida no art. 64
da Lei de 16.12.1851, convencional e não legal e tiram o fundamento de sua opinião nas
“Elle pourra également stipuiler, dans son contrat de mariage, une hypothéque
casada é legal, por forca do art. 47 da Lei de 1851; o art. 64 regula a especialização
dessa hipoteca, o art. 66 provê o caso em que ela é insuficiente e o art. 67 o caso de não
ter sido especializada no contrato antenupcial.
1‟hypothéque legale de la femme; cela n‟empêche pas cette hypothéque d‟exister, puis
qu‟elle existe en vertu de la loi devait donc donner à la femme un moyen de la rendre
être insuffisante. Dans ce cas, la loi permet à la femme, toujours autorisée par le
comentadores às disposições dos arts. 911 e 936, admite as hipotecas gerais; não
somente podem sê-lo as legais, mas ainda as denominadas voluntárias, nas quais se
objetivo de facilitar o crédito territorial (Dias Ferreira, vol. 2.º, p. 352), seriam a
constituição da mesma; ela deve, porém, desaparecer perante o registro, que exige a
especialização dos bens sobre os quais deve ela incidir (Dias Ferreira, vol. 2.º, p. 353).
especificados, e não sobre bens futuros, que não podiam autorizar a inscrição da
hipoteca, o que está de acordo com o art. 911 do Código Civil e art. 77 do Regulamento
Esta solução foi repelida com fundamento nos arts. 917 e 935 do Código Civil
hipotecas legais e voluntárias de especialização para serem inscritas, não encontra apoio
nas disposições do Código Civil português, que permite o registro das hipotecas gerais,
sobre bens indeterminados (art. 936), e torna a especialização, ainda das hipotecas
Com razão sustenta Dias Ferreira que a Portaria de 1870 constitui direito novo,
e como tal não pode ser obedecida (vol. 2.º, p. 351); faz votos para que o direito
português se conformasse com o espanhol que proíbe as hipotecas gerais (vol. 2.º, p.
352); enquanto isso não sucede, diz ele que os tabeliães deverão prestar-se a redigir atos
de constituição de hipoteca sem designação de bens apesar do art. 911, em face do art.
936.
unicamente de ato do devedor designando os bens que devem ser inseridos no registro
registro sem especificação de bens, o que está de acordo com os preceitos dos artigos do
Código Civil acima citados e em divergência com o alvitre que Dias Ferreira sugere,
como o meio de salvar contradições que se possa enxergar entre os arts. 911 e 936, de
designação de bens e não permitir o registro do contrato sem documento autêntico que
353).
gerais dos menores e das mulheres casadas, não importa a exclusão da especialidade do
mecanismo hipotecário francês; basta assentar ele no princípio que dá como fundamento
da hipoteca a conveniência de garantir o mútuo com o valor dos bens imóveis, para o
regime hipotecário.
inscrição (Troplong, vol. 2.º, n. 635; Pont, n. 674; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.532).
Concedendo o grande favor das hipotecas gerais, não quis o legislador francês,
e das mulheres casadas pudessem ser reduzidas quando os imóveis fossem de valor
A redução estabelecida e regulada nos arts. 2.140, 2.141 e 2.144, outra coisa
legislação brasileira de 1864 e como formalidade prévia obrigatória para a inscrição das
em mãos o credito do devedor que ella acautela, obrigando o credor a contentar-se com
um penhor restricto, porém sufficiente; ella tem em vista em segundo lugar a segurança
tutor. Este fim não seria alcançado, se a mulher cujo dote fôr insignificante, se o pupillo
Dar-se-hia então garantia exagerada, offensa ao credito publico.” (Mourlon, vol. 3.º, n.
1.532)
indica e sobre tais imóveis tem exclusivamente, lugar a inscrição (arts. 2.141 e 2.142 do
Código Civil francês): o conselho de família representa o menor, para o efeito de dar o
tem lugar ou por ocasião da celebração do contrato dotal, isto é, antes do casamento
(art. 2.144 do Código citado); no primeiro caso basta o consentimento da mulher maior
no ato do contrato; no segundo, além desse consentimento, faz-se preciso o assenso dos
quatro parentes mais próximos e uma ação proposta pelo tutor ou pelo marido; as
contestará a ação e figurará como parte no processo (Pont, ns. 554 e seguintes; Mourlon,
3.º vol., ns. 1.533, 1.536 a 1.542, 1.543, 1.545 e 1.546; Troplong, Priv. et Hypoth., ns.
recusa formal?;
b) se após a especialização e verificado o fato da insuficiência dos bens
geral?
se que o consentimento da mulher era substancial tanto que se exigia que ela fosse
maior.
Esta solução foi contrariada pelas cortes de Paris e de Nancy, que pretenderam
da mulher; esta doutrina não prevaleceu; quer a disposição expressa da lei, quer o
insignificante a redução não tem lugar; ora, desde que a especialização houver sido
julgada por sentença, a extensão da hipoteca a novos bens violaria o caso julgado.
estabeleceu uma doutrina viciosa reconhecendo que a, situação criada pela sentença da
quanto às partes contratantes; que o fato imprevisto que reduz o valor dos imóveis não
pode prejudicar a hipoteca do credor.
Pont (n. 557) entende que a ampliação da hipoteca a todos os bens do marido e
do tutor pode dar-se porque a garantia sobre todos os imóveis destes responsáveis é um
direito da mulher, mas que esta deve respeitar os direitos adquiridos por terceiros por
evicção de um dos imóveis especializados a mulher não terá rec urso contra os terceiros
detentores dos imóveis não especializados, ainda que os tivessem adquirido antes da
redução da hipoteca.
só terá validade, a respeito dos terceiros, da data da inscrição (vol. 20, n. 59).(r)
(r)
Os escritores e tribunais franceses, procurando desenvolver o pensamento do art.
2.140 do Código Civil, deram-lhe uma aplicação, que a letra da disposição exclui, e que os
intuitos do legislador não parecem justificar.
É assim que entendem que a redução da hipoteca da mulher, estabelecida no art. 2.140,
pode ter lugar ou por meio da especificação dos bons que deverão ficar sujeitos à hipoteca, ou
por meio de declaração que isente determinados bens de tal ônus.
No primeiro caso dá-se uma especialização da hipoteca legal que passa a tornar-se
verdadeira hipoteca convencional. (Pont., ns. 545 e 546; Aubry e Rau, vol. 3.º, § 264, p. 232);
no segundo a hipoteca continuaria em seu caráter de geral a abranger todos os imóveis do
marido, com exceção dos determinadamente isentos no contrato antenupcial.
O efeito da hipoteca variaria segundo a hipótese figurada, a sua compreensão sobre os
bens que o marido viesse a adquirir na constância do matrimônio, seria indiscutível no segundo
caso, em que a exclusão de certos imóveis só importava a limitação da hipoteca geral em
referência aos bens especificados.
Como se vê a redução da hipoteca no segundo caso deixa de operar-se pelo modo
estabelecido no art. 2.140 – a especialização da hipoteca sobre certos bens.
O que mais estranho se nos afigura é ver escritores da ordem de Aubry e Rau
escreverem notas extensas e desenvolvidas, como a 46.ª ao § 264 ter para fundamentarem a
solução, aliás patrocinada pela Corte de Montepellier, desta questão: É lícito aos cônjuges no
contrato dotal reservarem-se a faculdade de mudar para outros bens suficientes a hipoteca
especializada sobre bens determinados e especificados nos termos do art. 2.140 do Código?
“Une pareille réserve, qui imprimerait a 1‟hypothéque légale de la femme un caractére
ambulatoire, et an livrerait le sort à la discrétion des époux pendant le mariage constituerait de
leur part une véritable usurpation de pouvoirs vis-á-vis de la loi. Elle serait d‟ailleurs pleine de
dangers pour la femme, qui pourrait, hors de la surveillance de sa famille, et sans les formalités
protectrices qui prescrit l‟art 2144, compromettre ses droits et reprises; à ce point de vue encore,
elle est repoussée, sinon par le texte même de cet article, du moins par sou esprit.” (Aubry e
Rau, nota citada). – Porque não julgar a dúvida sem fundamento – desde que o art. 2.144 do
Código Civil francês só permite a mudança dos bens, na constância do matrimônio quando não
forem suficientes?
SEÇÃO 2.ª
DA INSCRIPÇÃO
poder, e arranca-a à inércia (Martou, vol. 3.º, n. 1.027), a hipoteca só existe de fato
extrínseco a que a hipoteca deve a sua dupla ação poderosa – em referência aos demais
créditos – a prelação, em relação ao poder real sobre a causa – a seqüela (Lafayette, Dir.
das Cousas, vol. 2.º, § 225; Código holandês, art. 1.224; Código Civil italiano, art.
1.965; Código Civil argentino, art. 3.135; Código Civil português, art. 951).
como dizê- la subsistente entre as partes contratantes, quando os seus efeitos não
seguida o imóvel hipotecado a seu irmão; este constituiu mais tarde, em favor do
próprio Dubroca, vendedor, uma hipoteca que foi inscrita antes da de Sorbé; em um
Dubroca não assistiam mais direitos do que ao mesmo, não podia alegar aquilo que ao
direito preferencial que tinha em referência a ele Dubroca, que contratara com Sorbé a
hipoteca, teriam dado uma decisão inatacável, como, porém. aplicar o rigor do pr incípio
ao cessionário?
Transferindo-o, elle dispoz de um direito que estava plenamente em seu domínio. Este
direito existia em toda a sua plenitude, em referencia ao proprio Sorbé, sómente este
hypotheca e de todo o ponto estranho ás obrigações pessoaes do cedente, não podia ser
repellido pelo mesmo fundamento.”
que, como o Código Civil português (art. 961) a falta de registro não pode ser alegada
O que resulta, porém, quer da crítica, quer da decisão dos tribunais é que o
contrato hipotecário, não inscrito prevalece entre as partes contratantes, para todos os
254. A sanção da disposição do art. 9.º, do Dec. 169-A, de 19.01.1890, foi dada
hipoteca ser alegada em concurso de preferências, quando for nula a inscrição, por isso
que da data desta é que decorrem da hipoteca efeitos para com terceiros, e sendo nula a
não possuir o tutor bens a especializar para a hipoteca dos tutelados, importa a
citado Aviso, fica paralisada a hipoteca, até que adquirindo o tutor bens suficientes
hipotecas legais estabelecidas no art. 3.º do Dec. 169-A, de janeiro de 1890, tais
a todas as hipotecas que a lei faz dimanar dos próprios fatos da tutela, do casamento, da
paternidade etc., quando dispõe que a hipoteca legal, nos casos ali especificados, tem
assento nos imóveis do marido, nos imóveis do tutor ou curador, nos imóveis do pai etc.
da declaração do § 6.º, do art. 4.º, do citado Decreto, sempre que qualquer pessoa,
colocada nas situações especificadas no art. 3.º, quiser convencionar hipoteca sobre
imóveis de sua propriedade; eis precisado, de modo patente, o caso regido pelo § 1.º, do
por falta de condição substancial para que válida seja, qual a declaração exigida.
Depois de especializada, já tal direito não assiste aos referidos credores por
pelo julgado que a homologa, como primeiro efeito, a limitação da extensão da hipoteca
ao titular da mesma o direito de ser pago, pelo produto dos bens especializados e
hipotecados em poder dos terceiros, ainda que adquirentes por título regular; sem a
inscrição estes direitos esvaem-se; como diz Duranton (vol. 2.º, n. 4).
aceitas pela doutrina corrente (Aubry et Rau, vol. 3.º, § 267; Martou, vol. 3.º, n. 1.027;
Laurent, Princ. de Droit Civil, vol. 30, ns. 303, 400 e 546; Arntz, vol. 4.º, ns. 1.733,
1.817 e 1.818; Thiry, vol. 4.º, n. 521; Duranton, vol. 20, ns. 2, 3 e 4; Paul Pont, Hyp.,
vol. 2.º, ns. 728 e 729; Kent‟s, Commentaries on american law, vol. 4.º, n. 168; Pacifici-
registro respectivo não impede o credor quirografário de fazer valer sua ação e execução
sobre os imóveis do devedor; esta solução indica que a inscrição não é em substância
conhecimento obtido por qualquer outro meio é de nenhum alcance para os efeitos da
hipoteca (Mazzoni, vol. 8.º, n. 363; P. Pont., Hyp., vol. 2.º, n. 728).
Esta noção de Pont, no lugar citado, fundamenta nos seguintes termos: “Rien
ne peut suppléer l‟inscription considérée comme moyen de manifester aux yeux des
été prise, l‟hypothéque manque de son élément essentiel, qui est la publicité; et même,
pour ceux qu‟en connaissent l‟éxistence, elle est sans valeur parce qu‟elle est
légalement igonorée”.
Laurent combate este modo de ver (Principes , vol. 30, n. 552) em face do art.
1.º da Lei belga, de 16.12.1851, que dispõe que até a transcrição os atos traslativos de
domínio não poderão ser opostos aos terceiros que houverem contratado sem fraude;
desde porém, que os terceiros contratassem com fraude, isto é, sabendo da transferência
esta produziria efeito independente do registro; ora, diz Laurent, o princípio que no caso
sobre o mesmo imóvel, não tem prelação sobre esta pelo fato de não estar ela inscrita e
Essa opinião foi repelida pela jurisprudência belga; no entanto, ela é sustentada
“A more reasonable doctrine prevails in the English and american law; and it is
had notice, ate the time of making his contract, of the prior unregistered deed, he shall
not avail himself of the prority of his registry to defeat it; and the prior unregistry deed
is the same to him as if had been registered. His purchase is justly considered, in cases
where the conduct of the first mortgagee has been fair, as made in bad faith; and it
would ill comport with the honour of the law, and the wisdom of the administration of
justice, that courts should blind their eyes to such fraudulent dealing, and suffer it to
remise triumphant.” (Kent‟s, Commentaries on american law, vol. 4.º, ns. 169 e 170).
255. O regime de publicidade das hipotecas adotado entre nós desde a Lei de
não ser a que é transmitida pelo registro; fora permitir que a publicidade se pudesse
levar a efeito por modo diverso, por processo diferente daquele que a lei reputa
A inscrição é o único ato que imprime à hipoteca força e vitalidade, quanto aos
terceiros e porque assim é, senão pelo fato de ser ela o único veículo de publicidade que
o nosso direito escrito reconhece para todos os efeitos à mesma publicidade ligados?
como diz o Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, nota 6.º ao § 174) o próprio direito real em
atividade; no entanto, sem a inscrição, tal efeito não decorre da hipoteca para com os
terceiros.
seu único efeito – a seqüela (Direito, vol. 7.º, p. 95, 98 e 99; vol. 16, p. 782; vol. 29, p.
236 a 241; vol. 39, p. 215); a hipoteca convencional inscrita produz efeitos contra
terceiros enquanto não cancelada (art. 11, § 6.º, do Dec. 169-A, de 1890, arts. 103 e 227
do Dec. 370, de 02.05.1890) embora eivada de nulidade substancial, desde que esta não
seja declarada em sentença judicial, e feito cancelamento por força desta (art. 214 do
aos terceiros e nenhum em referência às partes contratantes (Direito, vol. 40, p. 393).
ponto duvidoso.
disposto no art. 235 do Decreto de 26.04.1865; a mesma solução parece-nos dever ser
dada em face dos arts. 212 e 214 do Dec. 370 de 1890, que reproduziu os dispositivos
§ 2.º A inscripção, salva a disposição do art. 11, valerá por trinta anos, e só
das sociedades de crédito real, que durará por todo o tempo da sua existência legal.
256. Não é motivo para louvar o legislador hipotecário de 1890 o fato de haver
ele conservado a perempção do registro, quando ligou a este não somente efeitos de
publicidade, mas tornou-o a expressão material da duração do direito real, fazendo este
subsistir, a despeito da anulação da dívida principal, enquanto perdurar a inscrição,
perempção do registro, por tempo menor de trinta anos, pode parecer uma medida
afetar a validade da inscrição e com ela a vida da própria hipoteca em referência aos
terceiros suprimindo a inscrição já feita por meio de uma prescrição extintiva de seus
efeitos.
brumário do ano 7.º; as razões que serviram para fundamentar a medida foram expostas
perante o Conselho dos Quinhentos por Crossous, e todas reduzem-se a uma única,
reproduzida sempre por aqueles que posteriormente, na própria França, por ocasião de
certo número de anos grande dificuldade para a verificação das hipotecas que tivessem
ou não força contra terceiros; ao fim de muitos anos tal verificação tornar-se- ia tão
difícil que ofereceria pouca segurança a pesquisa que fizesse o oficial do registro para a
de Troplong (Hypoth., vol. 1.º, Introdução, p. 50) a mais severa crítica, como sendo
causa da multiplicidade de processos, tendo aberto ensejo a muitas perdas por parte de
credores que confiavam nas primeiras inscrições que haviam feito. Enfim, diz Troplong
– “des difficultés sans nombre se sont elévees sur la question de savoir à quele époque
les inscriptions ont atteint leur effet, de maniére que leur renouvellement soit devem
inseriu a perduração da inscrição por tanto tempo quanto a da hipoteca; esta sendo
acessória deve ter a mesma vida que a obrigação principal e ela depende para tal efeito
seguintes termos: “As inscrições não precisam de ser renovadas; elas conservam todo o
perigosa; acabaria por chegar uma época em que tornar-se- ia dificílimo achar as
inscrições, acrescendo que o lapso de tempo podia mesmo de per si trazer a perda dos
registros; por isso ela concluía propondo a duração do registro pelo tempo de trinta
anos.
territorial. “Sem esta prudente medida, dizia elle, os certificados dos conservadores do
grande numero de inscripções cujas causas não existem mais e cuja avaliação era
necessario obter, quer por meio de atos notariados, quer por meio de acções judicia is.
que será muito raro que dentro de tal prazo não se tenha dada o pagamento das
hipotecas, por outro lado, não se deve recear a omissão do credor em renovar a
inscrição, desde que ele só por meio de nova inscrição pode obter novo título.
das hipotecas não assentam em razões jurídicas; estas militam em favor do princípio que
assenta exclusivamente no registro, sem o qual a hipoteca carece de efeitos para com os
terceiros.
16.12.1851).
pelo governo, só teve parecer em 16.03.1842, dado por Behr, relator da seção central da
no grande mal de não poderem muitos proprietários dispor de seus bens imobiliários,
conquanto efetivamente nada devam, vindo a achar-se privados dos recursos os mais
inscrições vão se tornando mais raras, e por isso julga ele de bom conselho que as
renovações se façam por prazo bem curto; o art. 90, da Lei belga de 16.12.1851, exige a
Esta disposição final resolve um ponto que era objeto de discussão entre os
comentadores do Código Civil francês (art. 2.154) apesar dos termos precisos deste
antigo julgado da Corte de Paris de 21.05.1814, não devendo contar-se nos dez anos do
art. 2.154 do Código Civil francês nem o dies a quo nem o dies ad quem, a renovação
renovada no nono dia do prazo, quando o décimo for feriado (Vazeille, ns. 334 e 335;
Troplong, vol. 3, n. 714; Duranton, vol. 20, n. 161; Arntz, vol 4.º, n. 1.846; Laurent, vol.
31, n. 111); a opinião contrária professada por Aubry et Rau (Hypoth., vol. 3.º, 280, p.
381), Pont (Hypoth., vol. 2.º, n. 1.040) funda-se em que o dies ad quem computatur in
termino; sendo essa a regra, a renovação deve dar-se no último dia ainda que feriado
seja; não no dia seguinte porque o prazo está findo, não no anterior porque o credor não
é obrigado a isso por preceito da lei. É a opinião de Pacifici Mazzoni (vol. 3.º, n. 373).
renovação fora do prazo importa nova inscrição, faz desaparecer o laço de continuidade
(Pacifici-Mazzoni, vol. 3.º, n. 373; Pont, vol. 2.º, n. 1.042; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 280,
n. 5; Troplong, vol 3.º, das Hypoth., n. 715; Laurent, vol. 31, ns. 120 e 121; Duranton,
vol. 20, n. 172): esta solução é a dominante no nosso direito hipotecário (Lafayette, Dir.
das Cousas, vol. 2.º, § 249) e o seu alcance é nada menos do que o da perduração ou da
hipotecários inscritos.
sociedades de crédito real (art. 215, parágrafo único, do Dec. 370, de 1890);
trinta anos.
hipotecas ainda as legais, sem excetuar a da fazenda pública que a Lei de 11 brumário
do ano 7.º fazia vigorar independentemente de renovação até os primeiros seis meses
que se seguissem à apuração das contas dos responsáveis (Troplong, Priv. et Hyp., vol.
3.º, n. 715; Duranton, vol. 20, n. 175; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 280, p. 373); a lei
francesa para garantir os menores e interditos e as mulheres casadas, quando as
legais da mulher casada, dos menores e dos interditos, que no caso da mulher enviuvar,
renovação da inscrição no prazo da lei comum sob pena de ficar a inscrição valendo
A inteligência do art. 2.154 foi fixada no sentido acima exposto por um aviso
A Lei belga de 1851 só exige a renovação da inscrição das hipotecas legais dos
Esta disposição foi calcada sobre a do art. 23, da Lei de 11 brumário do ano 7.º
(Martou, vol. 3.º, n. 1.138; Laurent, vol. 31, ns. 108 e 109; Thiry, vol, 4.º, n. 539).
quanto à inscrição da hipoteca legal dos menores e interditos deve ser renovada no
prazo estabelecido de 30 anos, sob pena de, dada a omissão por parte do tutor ou
curador, ficar este sujeito à indenização do dano que resultar da omissão, a uma multa
a garantia de seu dote: a disposição regula o caso de durar o casamento mais de trinta
anos e sua dissolução tenha lugar por parte do marido ou da mulher, ou por anulação do
casamento (Pacifici-Mazzoni, vol. 3.º, n. 373; Cattaneo e Borda, vol 2.º, nota 9 ao art.
inscrição; uma Lei de 05.06.1878 exigiu que todas as hipotecas então existentes fossem
curadores renovem as suas inscrições sob pena de perdas e danos; a mulher casada pode
de uma hipoteca anterior, quer por pagamento da dívida, quer por qualquer outro modo,
a hipoteca imediata não toma o lugar da anterior; esta passa a ser favorável ao
este o objeto da denominada hipoteca do proprietário (art. 1.163, 1.ª alínea, do Código
Cousas, § 249, n. 6): salvo o caso de existirem ações em juízo, em que a inscrição
inscrição; as referidas hipotecas, segundo o disposto no § 3.º, do art. 9.º, da Lei 1.237,
nota 18) dado o objetivo da hipoteca; foi por isso que o Dec. 169-A, de 1890, suprimiu-
senão as hipotecas das sociedades de crédito territorial que subsistem por todo o tempo
não teria razão de ser; elas são referentes a hipotecas e como estas subsistem enquanto
real têm igual duração, sendo o Decreto de 02.05.1890 ato posterior ao Dec. 169-A, de
revogada a isenção de renovação concedida no § 2.º, do art. 9.º, deste último Decreto as
fato inconcusso; quer o preceito do § 2.º, do art. 9.º, do Dec. 169-A, de 19 de janeiro,
quer o do art. 215, do Dec. 370, de 02.05.1890, não concederam a inscrição de
Parece-nos, porém, que a disposição do Dec. 169-A (art. 90, § 2.º, supra) deve
mulher casada e dos interditos, porque o preceito do art. 215, do Decreto de 2 de maio, é
puramente regulamentar, como o indica a epígrafe do referido ato, que foi expedido
para regular a execução do Dec. 169-A, o que o força a não alterar as disposições
daquele, fato que importaria excesso da função executiva de regulamentar as leis, que se
Convém não abandonar este assunto sem tornar saliente que a perempção da
inscrição, por não haver sido renovada em tempo, afeta unicamente a publicidade da
inscrição houver produzido todos os efeitos que a lei faz decorrer da publicidade da
hipoteca.
na situação jurídica criada aos credores pelo fato da arrematação, isto é; da conversão;
em dinheiro, dos bens sobre os quais se opera a execução e a venda em hasta pública.
A hipoteca tem por fim garantir o pagamento do credor pelo produto ou preço
hipotecário do imóvel para o preço deste, havido em hasta pública: desde, pois, que o
em que, operada pela hasta pública a substituição do preço ao imóvel, tiver lugar o
mutação no objeto do direito dos credores; deixará ele de ser um direito sobre o imóvel
para ser um direito sobre o preço, e como a inscrição só se faz precisa enquanto o direito
real existe, com assento sobre o imóvel, desaparecendo este não há mais coisa sujeita à
porque desde que estiver firmado o direito ao preço o fim da hipoteca está atingido,
Tais são os princípios sobre a matéria que se pode ver desenvolvidos com
grande clareza, em Troplong (Hyp., vol. 3.º, ns. 717 e seguintes); Martou (Hypoth., vol.
3.º, n. 1.155 e seguintes); Laurent (vol. 31, ns. 128 e seguintes); Thiry (vol. 4.º, n. 540);
P. Pont (Hypoyh., vol. 2.º, n. 1.055); Aubry et Rau (vol. 3.º, § 280, p. 375); Mourlon
(Repet Ecrits, vol. 3.º, ns. 1.590 e 1.591); Duranton (Droit Civil, vol. 20, n. 163).
enquanto o concurso das preferência não se dá, como opina Merlin; ou ainda menos, só
quando o concurso estiver ultimado pela classificação, ou o pagamento feito, como
Esta solução, dados os princípios que dominam os efeitos da hasta pública, não
oferece grandes dificuldades; se, porém, a venda tiver tido lugar por ato do devedor,
como os credores não adquirem direito ao preço pago pelo comprador, continua o
direito hipotecário com os seus dois efeitos, que devem convergir, na hipótese, para a
parecem ter aplicação a uma hipótese que somente se resolve perdurando em mãos do
credor o direito hipotecário com os seus efeitos naturais, os quais prendem-se por
São fundadas, no nosso direito, as ilações que o Sr. Lafayette tira da doutrina:
imóvel tiver tido lugar no prazo dos trinta anos; ao contrário, a renovação da inscrição
disposições do art. 70, do Dec. 917, de 24.10.1890, que manda regular os direitos dos
credores que tiverem hipoteca legal ou convencional inscrita pelos Decs. n. 169-A, de
“A sentença que declara a fallencia tira a posse do fallido e fixa a situação dos
credores. A partir deste momento, nenhum credor póde adquirir direito de preferencia
sobre os bens da massa; a lei não permitte aos credores hypothecarios que não tivessem
inscripção emquanto sua hypotheca não realizar-se pelo direito que elle adquira sobre o
preço. Por ventura, o facto da fallencia confere aos credores hypothecarios um direito
sobre o preço?
A questão não tem sentido; não póode haver direito sobre o preço emquanto
neste sentido.” (Princ., vol. 31, n. 145.). Confere Martou, vol. 3.º, n. 1.170.
259. A renovação da inscrição deve ser feita por todos aqueles que têm
obrigação de levar as hipotecas ao registro; a falta da renovação pode ser alegada por
todos quantos tiverem nisso interesse, sem que possa servir de limitação a esse direito o
fato de conhecer previamente que a inscrição devia ser renovada; ela tem lugar com as
mesmas formalidades com que se realiza a inscrição (art. 215 do Dec. 370, de
02.05.1890; Lafayette, Dir. das Cousas, vol. 2.º, § 249, n. 6; Pacifici-Mazzoni, vol. 3.º,
n. 374; Troplong, Hypoth., vol. 3.º, ns. 716 e 716 bis; Laurent, vol. 31, ns. 113 e
seguintes; Martou, vol. 3.º, ns. 1.142, 1.144 e 1.148; Código Civil argentino, arts. 3.151
e 3.935).
princípios estabelecidos.
Desde que a remissão é julgada por sentença o preço substitui o imóvel, que
fica livre e desembaraçado (art. 270, do Dec. 370, de 1890), e como a remissão se opera
com o concurso dos credores, ou à revelia destes, que devem ser citados para dizerem
sobre o preço proposto pelo adquirente (arts. 260 e 261 do Decreto citado), a renovação
da inscrição só se faz precisa se o prazo de trinta anos houver expirado antes de aceito
preço proposto para remissão, trata-se de sub-rogar o imóvel pelo preço; não é, pois,
mais o imóvel, que está em causa, é o seu valor, tanto que somente da fixação deste
depende a procedência da remissão; se esta não tiver lugar subsiste o estado de coisas
anterior; o credor hipotecário precisa ter válida a sua inscrição para usar da seqüela e
entre este, como terceiro detentor do imóvel, e aqueles; na hipótese de fiarem do julgado
a fixação do quantum da remissão, mediante o processo dos arts. 257 a 270, do Dec.
julgado fixar depois das licitações e mais formalidades processuais; fixado o preço e
remontar à iniciação do processo pela notificação dos credores para aceitarem o preço
proposto é justamente combatida por Troplong (Hypoth., vol. 3.º, n. 724; Martou, vol.
Acresce que julgada a remissão e à vista da sentença dela, da qual deve constar
alors que les inscripitons elles- mêmes sont ou vont êtres radiées?”
grande relevância..
segundo a Lei de 1818, da inscrição (art. 51) e a perempção da hipoteca não foi
consagrada.
Comentando as disposições dos arts. 123 e 124 da Lei polaca de 1818, diz um
notável escritor
a inscripção, para conservar sua efficacia, deve ser renovada dentro de dez annos de sua
data. Esta regra, tão perigosa para os credores, que deixa á mercê de um simples
esquecimento, não foi adoptada e mantida em França sinão porque em razão do modo
da organisação dos registros hypothecarios, as buscas tornar-se-hiam quasi impossiveis,
Ella poude ser tratada, com pouco appreço nos paizes, como a Allemanha ou a Polonia,
em que os registros têm uma base essencialmente territorial, em que cada movel tem seu
folio ou seu registro distincto, e onde todos os actos concernentes ao mesmo immovel
Com este systema, as buscas tornam-se faceis qualquer que seja a data das
inscripções. Portanto a lei poude dispôr sem inconveniente que a inscripção não é
sujeita á renovação e conserva o direito emquanto e por tanto tempo que não se der o
cancellamento; nenhuma perempção póde mesmo começar.” (Lehr, Direito Civil russo,
n. 404).
O mesmo tempo quer dizer, de manhã, das 6 horas até às 12, ou de tarde, das
12 até às 6 horas.
inscrições no registro hipotecário sob o mesmo número, porquanto estão eles sob a
mesma escala de classificação.
É líquido isto e, não carece de maiores desenvolvimentos além dos que estão
tempos.
conservador fizer menção desta differença” (art. 2.147, do Código Civil francês; Lei
belga de 16.12.1851, art. 81, 2.ª alínea; Código Civil holandês, art. 1.226).
Este sistema, que era consagrado pelo uso sob o regime da Lei francesa de 11
classificação dos credores hipotecários, pelos números da inscrição; a idéia não passou:
complacencia do conservador, ou até mesmo da dos agentes destes; e por isso voltou-se
inscripções tendo sido feitas no mesmo dia tiverem a mesma data, os credores que
houverem requerido estas inscrições tem direito igual entre si; concorrem ao preço do
immovel hypothecado na mesma ordem em pro rata de seu credito.” (P. Pont., Hypoth.,
instante mathematico em que o facto fosse apresentado, ter-se-hia que receiar essas
vol. 3.º, 1.032). O fim da disposição da lei belga é impedir que o conservador, quando
muitos credores houverem pedido a inscrição no mesmo dia, conceda uma preferência
imposta a um deles, fazendo sua inscrição antes da dos outros (Thiry, vol. 4.º, n. 520).
preceito da Lei belga, que reputa tanto mais injustificável, quanto em referência à
transcrição, o art. 123 da mesma lei manda regular a preferência dos títulos transcritos
Porque não aplicar este princípio à inscrição das hipotecas? pergunta o grande
jurisconsulto. O motivo que se tem dado não explica a situação diferente que a lei
“Se é impossivel, como se diz, que dois adquirentes sejam cada um proprietario
realidade a lei decidindo que os dois credores inscriptos no mesmo dia devem concorrer
ao preço, altera o direito do primeiro, porquanto este só obterá uma parte do preço,
emquanto que elle teria tido todo o preço se se lhe tivesse conservado a ordem a que
hipotecários.
que o francês; está, porém, longe de consultar o princípio que deve predominar no caso,
ordem ou da classificação a divisão do dia em dois tempos fora de todo o ponto inútil,
desde que só o concurso no mesmo momento fosse o critério para a fixação do mesmo
número; a crítica de Laurent tem toda a aplicação ao nosso regime como ao francês; o
fundamentalmente afetado desde que se lhe dê o mesmo número que ao que se houver
conferido ao que tem efetiva e realmente a precedência ainda que de momentos: é esta a
“Esta regra applica-se ainda que as inscripções se dêem no mesmo dia, contra a
hora em que houver tido lugar a inscripção e provar-se que o numero de ordem não
“Noi non vediamo che una presentazione di note per inscrizioni possa essere
presenta la prima, fosse d‟un sólo minuto, nel suo ufficio se intenda iscrivere o che altro
voglia.” (Cattaneo e Borda, Comment. aos arts. 2.008 e 2.009 do Código Civil italiano).
É a aplicação do princípio – qui prior est tempore, potior est jure – como a
dava o direito romano; isto é – qualquer momento de tempo sensível era suficiente para
conferir a prelação ao credor cuja hipoteca fosse anterior, na constituição (Voet, Liv. 20,
O Código Civil do Cantão dos Grisões consagrou este princípio quando dispôs
no art. 297:
que as seguintes.
Não se observará esta ordem consecutiva para os credores que forem colocados
na mesma ordem na própria obrigação; são, porém, considerados como tendo todos o
mesmo direito sobre a importância do crédito garantido. Tem do me smo modo direito
“A prioridade das inscripções é determinada pela data do dia em que são feitas,
e consideram-se, como feitas na mesma data todas as que são requeridas no mesmo dia.
prioridade dellas será regulada pela ordem do numero que tiverem; sendo as inscripções
da mesma data, mas de differentes especies, a prioridade dellas será regulada pela
pelo Código Civil português, à imitação do Código Civil francês, quanto aos efeitos da
“Marca o artigo a prioridade das inscripções pela data do dia em que são feitas,
e considera-as feitas na mesma data pelo simples facto de serem requeridas no mesmo
dia.
forem da mesma especie, como dois censos ou duas emphyiteuses, regula o numero de
(Regulamentos de 14.05.1868, arts. 79, 90 e 93, e 28.04.1870, arts. 56, 63 e 85). Se for
especie, porque tanto vale regular a prioridade pelo numero de ordem, como pela
apresentação a registro.
no mesmo dia são todos feitos debaixo de um só número de ordem commum designado
para esse dia, comquanto tenham outro numero privativo, seguido e continuado de uns
para outros. Porém este numero privativo é uma questão de methodo e não causa de
preferencia.
preferencia, e dão lugar a rateio no caso de não poderem ser satisfeitos integralmente
todos os credores.
inscripções hypothecarias.” (Cod. Civ. portuguez annotado, vol. 2.º, p. 437, coment. ao
art. 956).
em que permanece quando não levada a registro, e todos aqueles que possam, por ato
regular e válido, para os efeitos traslativos de direitos, ter interesses a resguardar por
dimanam.
dever de fazê- lo em resguardo de seus direitos – quoad tertios, por isso que só pela
inscrição tem a hipoteca força prelatícia (Martou, n. 1.048; Laurent, vol. 31, n. 3;
Duranton, vol. 20, n. 88; P. Pont, vol. 2.º, n. 929; Troplong, vol. 3.º, n. 672).
a inscrição ofereça os documentos que a lei exige para que o encarregado do registro
possa fazer a inscrição (Troplong, Hypoth., vol. 3.º, n. 673; P. Pont, Hypoth., vol. 2.º,
ns. 934 e 937; Laurent, vol. 31, n. 5; Duranton, vol, 20, n, 88; Martou, vol. 3.º, n. 1.050;
Como aquele que faz a inscrição da hipoteca não contrata, não manifesta
também por este fundamento que os credores do credor hipotecário podem promover a
documentos exigidos pela lei para tal fim, não assenta tão pouco em outro fundamento
entendem que a inscrição deve ser promovida por aquele a quem coube o crédito
hipotecário; como, porém, julgar inválida a inscrição feita por um herdeiro, que não o
que teve por quinhão o crédito hipotecário, quando é procedente como ato conservatório
de direitos a inscrição promovida por terceiro sem mandato e agindo apenas como
gestor de negócios? (Laurent, vol. 31, n. 4; P. Pont, loc. cit., n. 931; Lafayette, Dir. das
qualidade, porque é credor dos proventos civis e juros aos quaes tem direito dia por dia
hypothecario porque ella é guarda dos direitos deste e sendo- lhe entregues os titulos do
como objeto o crédito garantido pelo privilégio ou pela hipoteca; a cessão do crédito
importa a dos acessórios (Laurent, vol. 31, n. 8); o que se deve decidir, porém, quando
feita a inscrição pelo cessionário, a cessão for anulada, sobre os efeitos da inscrição?
cedente, porquanto a inscrição como ato da natureza indicada, afeta mais diretamente ao
sem efeito a inscrição, desde que nulo era o ato da cessão do crédito hipotecário, que lhe
servia de assento (Duranton, vol. 20, n. 96) prevaleceu sobre a da Corte de Cassação.
O § 7.º supra refere-se aos casos era que a lei obriga certas e determinadas
acham de exercerem por si os seus direitos (Lafayette, Dir. das Cousas, § 236).
Pelo marido;
Pelo pai.
§ 9.º Pode ser requerida, não só pela mulher e pelo devedor, como por qualquer
parente dela..
§ 10. Incumbe:
Ao tabelião;
Ao testamenteiro;
Ao juiz da provedoria;
marido para garantia do dote, pela escritura antenupcial e desde o casamento (Dec. 370,
de 02.05.1890, art. 131, § 5.º) é muito natural que a lei obrigue o próprio marido a
inscrevê- la, fixando prazo para isso, que é o de oito dias a datar do casamento (art. 172
do Decreto citado).
quando tratar-se de garantir à mulher os bens que lhe houverem sido deixados, sob a
cláusula de não se comunicarem com o marido (art. 131, § 6.º, do Decreto citado).
A hipoteca, tendo por fim garantir à mulher, a propriedade de tais bens contra
inscrita pelo próprio marido, primeiro obrigado pela restituição dos bens dotais re
integra, devendo a inscrição ter lugar dentro de oito dias a contar da data do título de
aquisição ou da época em que esta se torna exeqüível (§ 6.º, do art. 131, e art. 172 do
Para que o marido não possa alegar ignorância da aquisição de imóveis em tais
condições, por parte da mulher, a lei obriga o tabelião que houver lavrado a escritura de
que registrar o testamento em que a mulher seja instituída herdeira ou legatária com a
cláusula de não comunicar a herança ou o legado com o marido, a notificarem este para
fazer a inscrição da hipoteca legal da mulher (art. 173, do Dec. 370, de 02.05.1890).
por parte do tabelião que houver lavrado a escritura (art. 173 citado); em um e outro
marido não a tiver feito (art. 172, do Dec. 370 citado, Lafayette, Dir. das Cousas, § 237,
n. 2).
Para tornar efetiva a inscrição da hipoteca legal da mulher casada a lei, como já
comunhão, para que ele faça a inscrição; procurando garantir ainda a mulher contra a
omissão possível, não já somente do marido, mas do doador e do parente, a lei impôs ao
testamento, a hipoteca não estiver inscrita pelo marido, pelo pai, ou por algum parente
da mulher (art. 174, do Dec. 370, de 1890; Lafayette, Dir. das Cousas, § 237, n. 3).
impôs o dever da notificação ao marido da existência dos atos que conferem à mulher
direitos sobre imóveis e dos quais dimana a hipoteca legal à fiscalização dos juízes e
fazer o escrivão do seu juízo, não está efetuada, mandar fazê- la e punir o escrivão pela
omissão (art. 175, do Dec. 370 citado; Lafayette, Dir. das Cousas, § 237, n. 4, letra a).
processo criminal, para imposição das penas do arts. 207, n. 4, e 210 do Código Penal,
segundo o caso.
A pena está expressa no art. 180 do Dec. 370 de 1890 quando sujeita os juízes,
estelionato a que a Lei sujeita o marido, sempre que este alienar qualquer dos seus
imóveis, sem declarar que ele é responsável por hipoteca legal, por dote ou doação feita
à mulher, com exclusão da comunhão (art. 181).
A disposição deste artigo deve ser entendida em seus termos restritos: a lei
decorre conto consectário obrigado que desde que se tenha dado a inscrição o marido
não incorre em penas de estelionato, porque estas lhes foram cominadas justamente para
garantir a inscrição; ainda mais, não estando feita a inscrição não se supõe a omissão
responsável por hipoteca legal da mulher por dote ou por doação exclusiva da
cumprimento dos deveres que a lei lhes impõe em relação à inscrição, a responderem
O Sr. Lafayette na nota 10.ª ao § 237, do Direito das Cousas, faz sentir que no
regime da Lei de 24 de setembro, não havia hipótese de sofrer a mulher dano por falta
terceiros que, ignorando a existencia da hypotheca por não haver sido inscripta,
contra terceiros sem a inscrição, a mulher casada, pode ser altamente prejudicada em
hipoteca legal.
pela inscrição expressada no número de ordem, a omissão do marido pode ser de efeito
No caso de alienar imóveis, previsto pelo art. 181, do Dec. 370, de 02.05.1890,
responsável por hipoteca legal da mulher; não basta que ele declare ser casado por
contrato antenupcial exclusivo da comunhão de bens. Esta solução dada pelo Sr.
Lafayette (nota 13.ª ao § 237 do Dir. das Cousas) é de todo o ponto procedente; assim
como o é a doutrina por ele estabelecida que a presunção de fraude a que se refere o art.
181, do Dec. 370, de 1890, admite prova em contrário, quando fundar-se em fato
respondem pela hipoteca legal da mulher pelo dote e pela doação exclusiva da
1890?
O Sr. Lafayette resolve pela afirmativa (nota 14 ao § 237 do Dir. das Cousas)
1864, sob o qual escrevia o Sr. Lafayette; carece de fundamento sob o domínio das leis
das duas condições fundamentais as hipotecas legais da mulher casada e dos menores e
interditos.
A razão pela qual o art. 98, do Dec. 3.453, de 26.04.1865, cominava ao marido
a pena de estelionato, no caso de alienar imóveis de sua propriedade, sem declarar que
eles se achavam responsáveis pelo dote ou pela doação feita à mulher com exclusão da
comunhão, era, que a hipoteca legal da mulher não dependendo de inscrição, isto é, de
publicidade, podia o terceiro adquirente ser induzido em erro e ter a sua boa-fé
Esta, razão predominava, com justa aplicação, no caso da hipoteca, não tanto
pelo fundamento de ser esta uma espécie de alienação, como diz o Sr. Lafayette, mas
solução de uma obrigação, talvez levasse o credor a não aceitá-lo em hipoteca para
deve ser inscrita e só vale contra terceiros da data da inscrição; a publicidade sendo
obrigatória não há como reputar em fraude o marido quando aliena ou hipoteca imóveis
próprios sem declarar que estão hipotecados pelo dote da mulher, ou por doação feita a
esta com exclusão da comunhão; porque tal hipoteca legal só valendo entre as partes
antes da inscrição, e nenhum valor tendo para com os terceiros antes de inscrita, o
marido, que a não inscreveu, não tem seus imóveis por ela onerados – a doutrina, em
importaria a consagração das hipotecas legais com o cunho da generalidade, que são
10.º, do art 3.º do Dec. 169-A, de 19.01.1890; art. 114, do Dec. 370, de 2 de maio do
mesmo ano).
imóveis, sem declararem expressamente que eles estão sujeitos às hipotecas legais para
publicidade para valerem contra terceiros, estes podiam ser induzido em erro pelos
maridos e tutores? Desde, porém, que estes publicassem as hipotecas por meio da
lugar.
É o que estatui o art. 2.136 do Código Civil e o que, do modo mais terminante,
ensinam os comentadores.
“Si les tuteurs et maris ont omis de prendre ces inscriptions, et qu‟ils
consentent ensuite des hypothéques sur leurs biens, sans déclarer expressement la clarge
dont‟ils sont grevés, ils sont reputés stellionataires.” (Troplong, Hypoth., vol. 2.º, n. 632
bis).
“Mais remarquez que cette déclaration expresse n‟est nécesserie qu’autant que
l’hypothéque de la femme ou du mineur n’a pás eté rendue publique par l’inscription.
qu‟a voulu s‟armer de sévérité contre les maris ou les tuteurs qui n’ont pas pris
d’inscription pour leurs épouses ou leurs pipilles, et que ne suppléent pas à ce defaut
d‟inscription par des déclarations expresses.” (Troplong, Hypoth., vol. 2.º, n. 633).
Conforme: Duranton (vol. 20, ns. 41, 42 e 45; P. Pont (Hypoth., vol. 2.º, ns. 848 e
seguintes); Mourlon (Repét Ecrites, vol. 3.º, 1.526); Aubry et Rau (vol. 3.º, § 269, p.
313).
A disposição do art. 181, do Dec. 370, de 02.05.1890, não tem, portanto, razão
por hipoteca legal pelo dote ou doação feita à mulher: ou esta hipoteca: está inscrita e a
presunção de fraude não pode existir, porque, como se dá no direito francês (art. 2.156
terceiro; ou a inscrição não existe e a hipoteca, não produzindo efeito algum contra
terceiros, não afeta o adquirente por título transcrito, nem o credor hipotecário por
hipoteca inscrita.
Pode o art. 181 ter aplicação no caso de declarar o marido, que não inscreveu a
hipoteca, que ele não é casado sob o regime exclusivo da comunhão, e que sua mulher
dos ônus reais, existentes sobre os imóveis pelo fato da hipoteca conferida pela lei à
mulher.
caso de omissão em fazer o registro, e obrigá- lo à reparação do dano pela prestação civil
das perdas e danos (art. 1.984), podendo os tutores ser removidos da tutela (Pacifici-
Mazzoni, vol, 3.º, n. 364; Cattaneo e Borda, annot. art. 1.984, n. 2; Chironi, Diritto
moldados sob o princípio socialista que obriga o Estado a tutelar certos interesses do
Ou a lei não cria hipotecas em favor de quem quer que seja e impõe à
autoridade pública o dever de acautelar os interesses das mulheres casadas, dos menores
destas entidades por meio da hipoteca, há de estabelecer que a vitalidade e a força desta
de força maior.
O direito civil alemão quer anterior (Lehr, Droit Civil germanique, ns. 106 e
109), quer firmado no Código Civil que deve ser executado em 1900, não reconhece as
hipotecas legais.
Civil espanhol.
pessoas pela Lei hipotecária; mas segundo o art. 1.875 tais pessoas só têm o direito de
Pelo testamenteiro.
§ 13. Incumbe:
Ao tabelião;
Ao escrivão dos orfãos ou da provedoria;
legal do pupilo e do curatelado funda-se na situação jurídica dos mesmos para com os
menores e incapazes, cujos interesses lhes incumbe salvaguardar, ainda contra seus
hipótese de tais direitos deverem ser exercitados contra os próprios tutores e curadores.
proteção dos seus direitos patrimoniais, não podem igualmente efetuar ou promover a
promover a inscrição.
hipoteca, antes de entrar no exercício do cargo, é punida com a destituição que lhe pode
ser infligida pelo conselho de família; este tem inteiro arbítrio para avaliar a
Beckers (Hypoth. leg. n. 55) não prevaleceu, como contraposta ao texto do art. 52 da Lei
de 16.12.1857 (Martou, ns. 819 a 822; Laurent, vol. 30, n. 304; Thiry, vol. 4.º, n. 466).
sujeitos à pena de estelionato (§ 21 do art. 9.º do Dec. 169-A, de 19.01.1890; Dec. 370,
tutela ou de curatela, para ser requerida a inscrição e em todo caso faz depender o
exercício de um e outro cargo da inscrição (art. 182, § 1.º, do Dec. 370, de 02.05.1890).
Se findos os oito dias não estiver inscrita a hipoteca qualquer parente do órfão
instituição ou legado feitos no testamento de que ele houver sido nomeado executor, se
tal inscrição não for efetuada pelo tutor e curador ou parente do interdito ou do menor
dentro de três meses, contados da data do registro do testamento (art. 187 do Dec. 370
de 1890).
inscrição, e a fim de que os juízes de órfãos possam verificar se tal dever foi cumprido
exige que o escrivão certifique à margem do termo de tutela e curatela haver feito a
que fizer registrar testamento contendo legado ou herança a favor de menor ou interdito,
margem da nota ou do registro que fizerem (art. 185 do Dec. 370, de 1890).
desempenhar-se do dever de notificação que a Lei lhe impõe, esta lhe indica ainda,
detalhadamente, o que deve praticar para pôr em proveito as informações que lhe forem
ministradas.
para que se proceda à nomeação do tutor se esta não estiver feita, e caso já esteja feita,
ou logo que o seja; realizará ele a notificação de que já anteriormente se tratou, e fará os
autos conclusos ao juiz, depois de juntar o certificado, para que o juiz providencie sobre
fazerem a inscrição da hipoteca legal e não julgará as partilhas sem que conste dos autos
procedimento terá em referência às contas da tutela (art. 189 do Dec. 370, de 1890).
aos juízes da antiga organização judiciária, estão hoje afetas, no Distrito Federal, aos
Tribunal Civil e Criminal (art. 17, § 2.º, letra a, n. 3, do citado Dec. 2.579, de 1897), e
nos Estados aos juízes segundo as organizações judiciárias privativas a cada um deles.
As contas de testamento não podem ser julgadas cumpridas não constando dos
autos a certidão da inscrição da hipoteca legal dos menores e interditos (art. 193 do Dec.
370, de 1890).
corregedores não somente deverão verificar se foram cump ridos os deveres impostos
aos escrivães e mais oficiais públicos e juízes sujeitos a correição e no caso de omissão
meios regulares seja promovida a responsabilidade civil dos tutores e curadores, dos
escrivães e tabeliães omissos a fim de que possa ter lugar a reparação do dano causado
atribuições supletivas das dos tutores e curadores existem os curadores gerais de órfão
elemento funcional do Ministério Público (art. 11, do Dec. 2.464, de 17.02.1897), com
hipotecas legais, que cabia aos curadores gerais de órfãos da anterior organização (art.
191, do Dec. 370, de 02.05.1890; art. 48, § 1.º, n. 1, do Dec. 2.579, de 16.08.1897).
vintena em favor dos órfãos e interditos, como pena cominada em reparação do dano.
No direito belga (art. 52 da Lei de 1851) pena cominada, ao tutor que entra em
exercício sem inscrever à hipoteca é, como vimos, a destituição do cargo imposta pelo
conselho de família, convocado para tal fim à requisição dos parentes do menor, de
Não está, porém, nesta sanção da obrigação imposta ao tutor a garantia única
do menor; o sub-rogado-tutor, que a lei coloca ao 1ado do tutor para defender contra os
deste os interesses do menor, nas ocorrentes colisões de direito, tem como dever
promover a inscrição da hipoteca dos bens do tutor, e mesmo levá-la a efeito, sob sua
responsabilidade.
hipoteca fica sem ação real contra o tutor e a ação pessoal que contra o mesmo conserva
pode ser de todo ponto ilusória; é em referência à reparação do dano, que pode advir
Este não pode, porém, ser acionado pelo menor senão após a execução do tutor,
Martou, vol. 2.º, ns. 825 a 826; Thiry, vol. 4.º, n. 466).
mesmo conselho.
Esta pessoa responde pelo dano resultante da omissão levar a efeito a inscrição ;
a razão está em ser ela considerada investida de um mandato, porquanto, ainda o próprio
membro do conselho de família não deve fazer a inscrição em virtude da obrigação que
assiste ao conselho de promovê- la, mas sim por força da comissão que lhe é dada para
tal efeito (Laurent, vol. 30, n. 306; Martou, vol. 2.º, ns. 828 e 829).
protutor e ao secretário que houver assistido à referida deliberação; a lei italiana permite
autorizados.
No caso de omissão o tutor e o protutor ficam sujeitos a uma multa de mil liras,
A aplicação destas penas é promovida pelo procurador do rei, o qual pode, por
sua vez, requerer a inscrição da hipoteca legal do menor e do interdito (art. 1.984 do
Código Civil, Cattaneo e Borda, anotações aos dois artigos; Pacifici-Mazzoni, vol. 3.º,
n. 364),
O regime francês era o das hipotecas ocultas desde que se tratava das legais da
mulher casada e dos menores (art. 2.135 do Código Civil francês); elas podiam ser
opostas aos terceiros independentemente da pub licidade pela inscrição (Troplong, vol.
2.º, ns. 571 e 572; P. Pont., Priv. et Hypoth., vol. 2.º, ns. 737 e 738; Duranton, vol. 2.º,
n. 9; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 269, n. 2; Mourlon, Repét. Ecrit., vol. 3.º, ns. 1.514 e
1.515); a disposição do art. 2.136 não teve por fim imprimir a força à hipoteca legal dos
menores mas sim publicar a situação dos bens imóveis do tutor ou do marido, para
segurança dos terceiros; tanto que a sanção dada à disposição é toda referente aos
terceiros e tem como objetivo acautelá- las em relação às hipotecas convencionais sobre
os imóveis já gravados pelas hipotecas legais (Troplong, Hypoth., vol. 2.º, ns. 632 e 632
desde que se reduza o poder do tutor sobre os bens do menor, e porque a situação do
tutor caixa estabelece colisão com o crédito imobiliário do mesmo, situação que é
incumbe:
Ao promotor;
Ao escrivão;
24.09.1864 a não incumbir, como o fizera o § 15 do art. 9.º desta Lei, a inscrição da
trata-se, como faz sentir o Sr. Lafayette (nota 4.ª ao § 234, do Dir. das Cousas), de mero
interesse privado com o qual nada tem que ver a justiça pública – nem ocorre a
conveniência de tutelar interesses, que não podem defender pessoas incapazes às quais
eles afetam, de modo essencial, e que um declarado socialismo de Estado confia à ação
O art. 143, do Dec. 370, de 1890, dispõe que a especialização da hipoteca dos
número das hipotecas legais a do ofendido sobre os bens do delinqüente (art. 47;
Martou, n. 760); a qual a lei civil italiana não só para garantia da reparação do dano
Código Civil) e por isso também a confere ao Estado; não obriga, porém, especialmente
alguém a fazer a inscrição, limitando-se a declarar que esta pode ser feita antes da
§ 15. A inscrição da hipoteca das corporações de mão morta deve ser requerida
Ao escrivão da provedoria;
Ao promotor de capelas;
Ao juiz de capelas;
268. O art. 142 do Dec. 370, de 02.05.1890, declara que a especialização dessa
hipoteca legal deve ser requerida pelos responsáveis ou pelo procurador que as mesmas
corporações nomearem para tal fim; mas não designando outras pessoas para
promoverem a inscrição a estes mencionados para especializar, deixou o encargo de
registrar.
Não existindo, porém, as corporações de mão- morta sob o domínio das leis
Constituição e Aviso 35, de 11.12.1891), não têm mais hipoteca legal sobre os bens de
convencional.
encerrando preceito em vigor depois do que se acha no § 3.º do art. 72, da Constituição
menores e incapazes, por isso que a lei retirou- lhes o benefício de restituição (art. 14 da
que as sociedades acudissem ao registro (arts. 1.º e 5.º, da Lei citada de 1893) não têm
mais hipoteca legal, e qualquer que constituam sobre os bens dos seus administradores e
§ 18. Incumbe:
Ao tabelião;
certificará à margem do termo, que fez a notificação recomendada pela lei: igual
notificação deve ele fazer quando receber de qualquer tabelião escritura de doação a
menor que tenha pai vivo, ou certidão de verba testamentária, contendo instituição de
lhe tiver sido enviado e notificará o pai, fazendo conclusos os papéis ao juiz para
deliberar, como for de justiça no caso (arts. 184, 185 e 186, do Dec. 370, de
02.05.1890).
aplicação às mães, que no direito vigente têm pátrio poder, não tornando a casar-se (art.
Assim a mãe, como o pai omisso, pode ser constrangida pelo juiz a fazer a
inscrição não tiver tido lugar; os juízes corregedores deverão prover, nas correições, os
casos de omissão; os curadores gerais dos órfãos promoverão a inscrição se o pai ou
mãe forem omissos em efetuá-la e o pai e mãe deverão indenizar o dano resultante ao
alienarem, antes da inscrição, imóveis seus sem declarar que eles têm responsabilidade
por garantia de bens pertencentes a filhos menores, que se achem sob sua administração
aos empregados, que forem designados pelo Ministério da Fazenda, e deve também ser
seus fiadores, pelo empregado que o Ministério da Fazenda designar, quando tratar-se
quando se tratar da hipoteca deste e pelo empregado que o Prefeito, que é quem exercita
responsabilidade (art. 148 do Dec. 370, de 1890), é erro supor-se que o regime da
garantia real criado pela adoção da hipoteca legal da Fazenda Pública, no moderno
A legislação em vigor entre nós (§ 7.º do art. 131 do Dec. 370, de 02.05.1890)
faz dimanar a hipoteca legal da Fazenda Pública do título do nomeação ou do termo de
que a lei o considera o ato gerador da mesma hipoteca, um dos fatos de que ela
promana.
singularizam naquele sistema tão bem arquitetado sobre os dois sólidos fundamentos da
publicidade e da especialidade.
responsável adquirir, salvo se o fizer com dinheiro seu próprio (art. 48 da Lei de
16.12.1851).
(comptables), quanto ao ônus real estabelecido pela Lei sobre todo o seu patrimônio
hipotecário belga; deve, porém, ser cada imóvel singular e especialmente registrado,
imóveis e ainda que o valor destes exceda em muito o valor da responsabilidade, não
pode a hipoteca reduzir-se, segundo o preceito geral do art. 2.161 do Código Civil (art.
89 da Lei belga de 1851; Laurent, vol. 30, ns. 258, 416 e 417).
cidadãos, de sorte que si o fisco perde, todos perdem. É preferivel que a inscripção do
“Ce que nous disons de 1‟Etat”, acrescenta Laurent, “s‟applique aux provinces
aux communes et aux établissements publics. Dans tous ces cas il s‟agit d‟interêts
generaux à sauvegarder: inscription pourra être prise sur tous ces biens de comptables,
sans que ceux-ci aient le droit d‟en demander la réduction.” (n. 258, do vol. 30 citado).
das hipotecas legais dos menores, da mulher casada e do Estado (art. 2.122), estabeleceu
e regulou no art. 2.153 o registro, a inscrição dessas hipotecas, dando- lhe forma especial
que torna essa inscrição singular e não modelada pela geralmente estabelecida para as
demais hipotecas (arts. 2.118 e 2.150); a sua realização era garantida pela obrigação
imposta aos oficiais do registro das hipotecas (conservateur des hypothéques) de levá- la
legais, mas não as convencionais; porquanto nestas sendo a ampliação dada à hipoteca,
até a compreensão dos bens futuros, resultado do contrato celebrado pelo devedor, não
podia ser permissível a este modificar o contrato por ele celebrado (Troplong, Hypoth.,
vol. 3.º, n. 749; Pont, Hypoth., vol. 1.º, n. 600; Duranton, vol. 20, ns. 207 e 208;
Mourlon, Repetit, vol. 3.º, n. 1.605; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 282).
ou da Fazenda Pública, e mais coerente com o sistema hipotecário que não admite a
consideração feita por Laurent (vol. 30, n. 417) em referência ao destino, de utilidade
geral para a nação, que tem os dinheiros confiados, em sua arrecadação e guarda, aos
exatores, para justificar a severidade do preceito que não considera excessiva a garantia
mesmo quando exceda a importância dos créditos que o Estado pode ter contra os
devedores; porque essa reflexão levaria a Fazenda Pública a garantir-se com hipoteca
Fazenda Pública sobre todos os bens dos responsáveis; o devedor pode, porém, evitar o
fato ou especificando os imóveis que deverão ser inscritos, ou reduzir a inscrição aos
Civil francês; ela supõe, portanto, para sua efetividade a ação intentada pelo devedor e
que não pode ser de modo algum utilizada pelos credores e ntre si, os quais não podem
pretender a compreensão das hipotecas dos outros para garantirem-se com hipotecas
sobre bens que fiquem livres por efeito da redução da inscrição a certos e determinados
bens do devedor.
A redução é, pois, como diz Troplong (vol. 3.º, n. 748), uma consagração ao
hipotecas legais, deve ser feita nos termos do Dec. 544, de 05.07.1890 e quadro com
(art. 148, do Dec. 370, de 02.05.1890), por ser o valor legal da responsabilidade,
31.01.1898).
para com a Fazenda Pública, isto é, resolve o laço da obrigação principal da qual a
responsáveis.
poderá receber; e o marido (§ 8.º), o tutor e curador (§ 11), aqueles que administram as
fraude.
obrigações impostas àqueles que devem, por encargo da lei, promover o registro das
hipotecas legais.
A sanção penal supõe a fraude para a sua aplicação; a lei dispensa a prova da
possuir, sem declarar que eles têm responsabilidade por hipoteca legal, na qualidade de
tutores, curadores ou pais; como, porém, só produz efeito para com os terceiros a
hipoteca legal depois da inscrição, pode-se juridicamente reputar incurso nas penas de
estelionato o tutor, curador, pai, mãe, ou marido que alienar imóveis de modo a não
conservar garantia suficiente aos menores, e na hipótese de dispors destes, não declarar
que estão sujeitos à hipoteca legal, conquanto não esteja esta inscrita.
Qual a inteligência do art. 195, do Dec. 370, de 02.05.1890, na parte que
Já o fizemos notar que esta disposição não nos parece de acordo com o regime
1890, e não guardar coerência com os princípios gerais, quando comina as penas de
terceiros, isto é, só produzem seus efeitos regulares após a inscrição, como supor
marido antes de haverem estes inscrito as hipotecas – quando o terceiro adquire tais
imóveis livres de qualquer ônus, sem que sobre os mesmos possa quem quer que seja
exercer seqüela e excuti- los, para sobre o preço dos mesmos pagar-se, exercitando
direitos prelatícios?
fundamental e o preceito do art. 116, do Dec. 370, de 02.05.1890, e com ele toda a
estrutura da hipoteca, tal como a engendrou a nova lei rui por terra; se tais direitos só
promanam da inscrição, como não há negar, em que o ato da alienação dos imóveis,
referência aos terceiros adquirentes, a hipoteca com efeitos relativamente a estes, isto é,
A disposição do art. 195 do Dec. 370, de 1890, foi copiada, sem crítica, da do
art. 212, do Dec. 3.453, de 26.04.1865; esta continha um preceito de todo o ponto
justificável, em um mecanismo hipotecário, em que à constituição das hipotecas legais
podiam sofrer a excussão de tais bens; basta esta consideração para just ificar a
presunção de fraude, quando o alienante não denunciasse o ônus real que sobre os
produz nenhum efeito, porque ela não pode recair sobre bens que não pertencem mais
ao devedor; não há como aplicar-se ao caso da hipoteca legal doutrina diversa da que
mas não inscrita, só produzindo efeitos entre as partes – o direito do credor resolve-se,
na espécie, na prestação de perdas e danos, porquanto ele não tem meios de fazer valer o
único do art. 195, isto é, quando o tutelado, o curatelado, o filho ou a mulher não
com a amplificação que se lhe pretende dar nada mais curial do que a ela reportar-se no
disposição que autoriza, no regime da legislação de 1890, hipotecas gerais tácitas dos
órfãos sobre os bens dos tutores estabelecendo somente laços jurídicos entre o tutor e o
tutelado, até à data em que inscrita, depois de especializada, possa produzir efeitos
contra terceiros (Direito, vol. 55, p. 340) não afeta, de modo algum, ainda quando seja
gerais, de todo o ponto excluídas do regime de legislação da 1890; desde que se exige
nesta legislação a especialização da hipoteca legal, esta só existe de fato sobre os bens
especializados; supõe-se a hipoteca, desde seu fato constitutivo (art. 131 do Dec. 370,
geralmente obrigadas.
afetadas pela inscrição, ao que vem a exigência da declaração dos encargos da tutela, da
Suponha-se que vendendo tais imóveis eles declaram que são tutores,
curadores e pais e que os menores têm, segundo nossa legislação, hipoteca legal sobre
tais bens?
igualmente sabedor de que não havendo inscrição pode adquirir brevemente tais bens e
não deixará de fazê- lo; quanto aos menores (credores) como impedir a alienação?
A presunção da fraude foi, pois, estabelecida em defesa dos terceiros; o ponto
de vista dos que entendem tal presunção instituída em favor dos menores é
vivem depois desta; antes dormem na inércia de direitos sem ação que lhes imprima a
efetividade.
Quanto às convencionais;
A época do vencimento;
Os juros estipulados;
notificado.
todos afetam igualmente a publicidade dos contratos hipotecários e a das hipotecas que
a lei faz decorrer de certos atos que promanam das sentenças do poder judiciário.
Os livros próprios a que faz referência a disposição supra são os mesmos que
enumeram.
no art. 7.º, do Dec. 544, de 05.07.1890, que estabeleceu modelos especiais; eles vão,
Desde que a publicidade das hipotecas tem principalmente como objetivo fazer
pretender contratar com ele (Troplong, Priv. e Hyp., vol. 3.º, n. 665; Laurent, vol. 31, n.
54) compreende-se que os requisitos exigidos na inscrição não têm todos a mesma
(Troplong, obra cit., vol. 3.º, n. 665; Lafayette, Dir. das Cousas, § 244; Laurent, vol. 31,
para as especializadas (art. 196) mas tornou substanciais a menção do nome e domicílio
do credor e do devedor, do título, sua data e nome do tabelião que o fez, do valor ou
número, se for urbano, e da menção das averbações (art. 212 do Dec. 370, de
02.05.1890).
substanciais.
importância da dívida e a identidade dos bens gravados e permite a ratificação nos casos
de omissão ou de inexatidão.
370).
273. A menção do número de ordem de que trata o art. 196 supra não é
considerada substancial (art. 212 do Dec. 370), porque não se trata do número de ordem
do protocolo, a que se referem os arts. 43, 49 e 66, e outras disposições do Dec. 370 de
trata-se do número de ordem da inscrição, que, como a data, não tem efeitos práticos; a
lei considera tais requisitos meramente instrutivos (art. 212 do Dec. 370; Lafayette, Dir.
profissão do credor: é a reprodução do art. 87, da Lei belga de 1851; o art. 2.148 do
Código Civi1 francês exige a menção de um domicílio de eleição, no que foi imitado
pelo Código Civil italiano (art. 1.987, n. 2) este considera indispensável também a
indicação, do nome do pai do credor (artigo citado n. 1); o Código Civil português (art.
960, § 2.º, n. 1) exige que se mencione o nome, o estado, a profissão e o domicílio das
contenta-se com a menção do nome do credor do domicílio eleito por ele (art. 1.231); o
Código Civil argentino (art. 3.138) manda fazer a inscrição à vista do traslado da
aos terceiros, quanto aos efeitos da hipoteca, mas em relação à situação criada pelo fato
feitas no registro não têm outro intuito mais do que proporcionar esse conhecimento aos
interessados na remissão. Para esta faz-se precisa a citação ou notificação dos credores
(art. 257, do Dec. 370, de 02.05.1890) notificação que tem lugar no domicílio inscrito
(art. 261, do Decreto citado) , que no direito belga, no francês e no italiano é duplo,
pois, é o domicílio real e o de eleição, devendo ser neste feitas as notificações para a
remissão (Laurent, vol. 31, n. 48; Martou, vol. 3.º, n. 1.069; Thiry, n. 526; Troplong,
Hypoth., vol. 3.º, n. 679; Pont, Hypoth., vol. 2.º, n. 966; Mourlon, Repet., vol. 3.º, n.
direito hipotecário, parece que nenhuma das menções exigidas devia ser dispensada; no
acarretando a sua omissão a nulidade da inscrição ao passo que não considera de igual
Se a hipoteca, antes de inscrita, tiver sido objeto de cessão a inscrição pode ser
pode ser feita em nome do defunto, apesar de transferir-se o crédito hipotecário aos
dos escritores (Laurent, vol. 31, n. 46; Martou, n. 1.067; Duranton, vol. 20, n. 95; Pont,
vol. 2.º, ns. 931 e 963); não devem ser contestados no nosso direito; quando o
suam de cedente (Duranton, vol. 20, n. 95) e é por isso que se a cessão for anulada a
analisada por Duranton, e por este combatida em seus fundamentos (vol. 20, n. 96).
Se o credor for uma sociedade comercial basta declara o nome da firma social;
não se faz precisa a menção dos nomes dos sócios, mesmo porque é a entidade jurídica
constituída pela firma, que tem personalidade civil, que é a credora (Martou, n. 1.068;
Laurent, vol. 31, n. 47; Pont, vol. 2.º, n. 963; Lafayette, Direito das Cousas, § 244).
credor para obter-se o julgado a que se refere o § 1.º, do art. 102, do Dec. 370, de 1890,
que é um dos meios de decretar-se o cancelamento; ainda, mesmo no caso de incidir o
registro em vício radical, por estar afetado de nulidade de pleno direito, caso único em
que ele caduca ainda quando não cancelado (parágrafo único, do art. 103, do Dec. 370,
de 1890); porquanto a nulidade de pleno direito deve ser declarada por ato judicial,
podendo ser alegada e pronunciada por meio de ação ou de defesa (art. 686, § 4.º, do
Dec. 737, de 1850), o que supõe, no caso de ação, conhecimento do nome e domicílio
poder de hipotecar por parte do devedor (Arntz, vol. 4.º, n. 1.830); acresce que a
situação econômica (Mourlon, vol. 3.º, n. 1.563); o que é de grande alcance para as
pessoas que querem contratar com ele; por esta razão, a menção do nome do devedor é
considerado sempre essencial (Duranton, vol. 20, n. 108; Troplong, Hypoth., vol. 3.º, n.
eqüipolentes ao nome, domicílio e profissão, desde que por meio de tais sinais possa ser
designada de modo claro a pessoa do devedor; esta medida funda-se na impossibilidade
de poder o próprio credor mencionar o nome do devedor (Pont, vol. 2.º, n. 972; Martou,
No nosso direito escrito não é isto permissível; a menção dos nomes do credor
domicílio desde que ela é essencial do registro e este deve ser feito à vista do título
omissão não afeta a validade da inscrição (art. 50, do Dec. 370, de 02.05.1890).
No caso de ser a hipoteca constituída, não pelo devedor, mas por terceiro em
garantia da obrigação daquele (art. 2.º, § 7.º, do Dec. 169-A, de 19.01.1890, art. 122 do
belga, sobre o proprietário e não sobre os bens, como no regime hipotecário alemão. A
opinião de Martou (n. 1.074) não tem procedência em face do elemento histórico da
formação do art. 83 da Lei belga (Lafayette, Dir. das Cousas, § 244, n. 4; Arntz, vol.
4.º, n. 1.830; Thiry, vol. 4.º, n. 526). O Código Civ alemão (art. 1.715) exige também na
anterior a inscrição não tinha lugar sem que o encarregado dos livros do registro
verificasse a capacidade jurídica do devedor que constituía hipoteca (Lehr, Droit Civil
real quoad tertios, pelo fato de publicidade, quando ele não é válido inter partes por
no qual os registros não poderão ser substituídos, de modo algum, por eqüipolência.
No direito francês a questão tem solução em preceito expresso de lei (art. 2.149
do Código Civil francês), fato que se dá igualmente no direito belga (art. 86 da Lei de
fato da inscrição em nome de quem já não é nem devedo r, nem proprietário, e que em
qualquer destas situações e figuras jurídicas, tem sucessor, cuja investidura de direitos e
Pont., vol. 2.º, n. 973; Martou, n. 1.111; Laurent, vol. 31, n. 12).
Entre nós a inscrição só pode ser feita em nome de todos os herdeiros, o que
defunto é facultativa e excepcional (Laurent, vol. 31, n. 12; Martou, n. 1.114; Pont,
de sucessão, segundo o qual a posse e o domínio dos bens passam para os herdeiros pelo
saisit le vif produz idêntico efeito no direito francês é que fez-se preciso a disposição do
art. 2.149 do Código Civil, para que a inscrição da hipoteca possa ter lugar em nome do
defunto.
do imóvel?
antes da inscrição da hipoteca esta torna-se de todo o ponto sem efeito contra o
hipotecário que alienou o imóvel; contra o adquirente o seu direito real de hipoteca é de
todo ponto inócuo, porque não produz os efeitos que a lei faz depender da inscrição.
Não tem, portanto, interesse entre nós o ponto longamente discutido por
Troplong (Hypoth., vol. 3.º, ns. 656 e seguintes) sobre a possibilidade da inscrição da
Sr. Lafayette no § 244 do seu Direito das Cousas no sentido de inscrever-se o nome do
falido no registro das hipotecas, fazendo-se a nota devida entre as averbações da coluna
respectiva.
essência da hipoteca (Dec. 169-A, de 19.01.1890, art. 4.º, § 6.º; arts. 114, 115 e 116, do
Dec. 370, de 02.05.1890; Laurent, vol. 31, n. 58). A Lei belga exige nos casos de cessão
que a inscrição mencione o título constitutivo da hipoteca, não o de ce ssão (art. 83, n. 2,
entre as partes a constituição da mesma, para os efeitos dos direitos pessoais dela
decorrentes: o nome do tabelião serve para facilitar as buscas (Lafayette, Dir. das
Cousas, vol. 2.º, § 244, n. 5; Pont, vol. 2.º, n. 982; Laurent, vol. 31, n. 59; Martou, n.
1.075).
tabelião que houver lavrado a escritura da hipoteca, o que não exige o n. 3 do art. 83 da
Se o ato constitutivo da hipoteca tiver qualquer vício e for retificado por outro
entende Laurent (vol. 31, n. 61) que o título a mencionar na inscrição é o retificado, isto
diz ele, o que confere a hipoteca; é o primitivo que é a fonte única do direito
hipotecário; a indicação deste título é, pois, suficiente. (Laure nt, loc. cit.)
Troplong (Hypoth., vol. 3.º, n. 682) opina no sentido de não serem substanciais
Entre nós a menção do título, com indicação da data e do tabelião que lavrou é
substancial; a sua falta acarreta a nulidade radical da inscrição (art. 212, do Dec. 370, de
02.05.1890).
crédito ajustado pelas partes a que se refere o § 6.º, do art. 190, do Dec. 370, de
02.05.1890.
crédito (art. 158, do Dec. 370, de 02.05.1890), não pode figurar na inscrição, qualquer
estimação do crédito feita pelas partes; este valor é sempre fixado na sentença da
especialização.
A disposição do § 6.º, do art. 196, do Dec. 370, de 1890, foi copiada da do § 6.º
partes devem estimar a sua importância: a inscrição não é, em tal caso e sob tal ponto de
vista, senão a reprodução do ato que deu origem ao privilégio ou à hipoteca.” (Laurent,
vol. 31, n. 62).
É certo que o crédito pode ser estimado no caso do dote cujo valor fixar-se por
estimação; mas tal estimação não pode figurar na inscrição; esta é feita te ndo como
sentença deve ser fixado pelo juiz o valor do crédito (arts. 153, 158 e 165, do Dec. 370
citado) e esse valor é que serve de assento à inscrição e não a estimativa das partes que
terceiro adquirente do imóvel gravado de hipoteca tinha o direito de gozar dos mesmos
prazos concedidos aos proprietários anteriores do imóvel, para solução das dívidas
registro da hipoteca informação sobre o tempo em que ele devia pagar a dívida
vencimento desta (Troplong, vol. 3.º, n. 687; Pont, Hyp., vol. 2.º, n. 992). Depois da Lei
indicação do vencimento era substancial, por força da disposição da referida lei que
estava na letra, nem nos intuitos da Lei de 1807 (Hypoth., vol. 2.º, ns. 993 e 994); ou
pelo menos, que quando se o considere exigível, tal declaração pode ser substituída por
para o terceiro adquirente do imóvel hipotecado uma importância bem semelhante à que
advinha da disposição da Lei de 11 brumário do ano 7.º (arts. 15 e 30); segundo o art.
deste e contra o credor desde que não há estipulação em contrário. (Martou, ns. 1.083 e
não vencida, dentro do prazo de trinta dias da aquisição (arts. 259 e 267, do Dec. 370,
credor hipotecário, para defender o seu crédito hipotecário, contra outros credores de
hipotecas posteriormente inscritas, mas de prazo mais curto, ou contra a ação dos
credores quirografários.
executar os bens hipotecados, sem que ele possa fazer valer o seu direito prelatício, em
a sua hipoteca, no primeiro caso: embargos à venda dos imóveis, objeto de sua hipoteca;
Pode parecer que o legislador não quis assentir que o credor hipotecário de
dívida vencida, e conseguintemente com o seu direito de ação líquido e apurado, fosse
afastado e prejudicado por outro, que, se estava aparelhado para a prelação com uma
inscrição anterior à do outro, não tinha meios de tornar efetivo o seu direito, que ainda
Diz-se que esta razão não oferece senão um fundamento aparente, e não de
procedência incontestável.
tem inteira aplicação ao credor por hipoteca inscrita em primeiro lugar, aos de hipoteca
registrada posteriormente: se é certo que estes têm o direito real sobre os imóveis que os
quirografários não possuem, não é menos certo que o credor hipotecário primeiramente
inscrito tem, por este simples fato da inscrição, a sua prelação assegurada; o que a
medida do art. 84 do Decreto de 23.01.1886, lhe assegurava era o não ser iludido esse
direito dos segundos credores hipotecários; mas o de impedir que o do primeiro credor
que acudiu ao registro em tempo de ter garantida a sua prelação, veja esta naufragar e
sucumbir entre credores que não têm em seu favor o direito de pagar-se, com prioridade,
como não há no de 1890, disposição que regulasse o caso regido pelo art. 84 do Dec.
o princípio do direito romano, que autorizava o credor, com prioridade de tempo (prior
hipotecada.
da prioridade no concurso entre credores hipotecários; além do texto transcrito pelo Sr.
Lafayette (L. 8.ª Cód., qui potiores in pignore habeantur) que é de grande precisão,
muitos outros, ainda do Digesto, reproduzem insistentemente o princípio (L. 1.ª Dig. de
12, princ. D. qui potiores in pignore etc.; L. 5 D. de distractione pignorum; L. 1.ª Cód.
penhor ou da hipoteca (Leis 4.ª D. de distract. Pignorum, 8.ª, § 3.º, D. de pignor. act. e
Const 5, 6, 7.ª, 8, 14 e 16.ª Cód. de distractione pignorum).
segunda ordem com os da primeira; no caso de não ter o adquirente do imóvel feito a
remissão deste ou pago a dívida hipotecária; a razão pelo qual todos credores, seja qual
for a sua ordem podem, agir sobre o detentor do imóvel, é porque as dívidas
receber o pagamento do adquirente remitente (Troplong, Hyp., vol. 3.º, n. 795 ter.;
Martou, vol. 3.º, n. 1.268 a 1.272): é o que ocorre no nosso direito em caso idêntico.
decorrente do regime singular estabelecido em favor da hipoteca; mas não há por onde
válidas contra terceiros, credores, ou não, do mesmo devedor, para o efeito de excluir os
credores com dívida vencida, acionável; quanto a prelação dos de inscrição anterior só
se pode tornar efetiva em concorrência regular, e esta só se pode abrir entre credores de
direito do credor de hipoteca anteriormente inscrita deixa de estar defendido pelo direito
de seqüela; e é esta a razão de duvidar da omissão proposital dos Decs. 169-A e 370, de
1890.
pudesse ir, vencida a dívida, assentar a sua ação sobre o imóvel já excutido; mas desde
que se considera remido o imóvel do encargo hipotecário, pelo fato de haver sido a
legislação, com prioridade sobre os outros, ver-se prevenido na excussão do imóvel por
credor hipotecário inscrito anteriormente não tem, no nosso regime hipotecário atual,
meio de impedir a excussão do imóvel por credores de hipotecas posteriores; o art. 395
do Dec. 370, de 02.05.1890, não cura desta hipoteca e sim de caso diverso; trata-se aí do
modo único de rescindir o poder da hipoteca que tem prioridade pela ordem da inscrição
e que, tendo sua dívida vencida, pode entrar em concorrência e fazer valer seu direito
prelatício.
terceiro à penhora feita por quirografários nos bens hipotecados; a despeito do disposto
no § 5.º do art. 240 que proibia assentar execução sobre imóveis hipotecados, outro
que o credor hipotecário não podia opor-se à penhora com embargos de terceiros
211); nem de terceiro senhor e possuidor porque a hipoteca não transfere ao credor nem
domínio nem posse sobre os bens hipotecados (Direito, vol. 3.º, p. 275 e seguintes).
movida por credor quirografário sobre bens que lhe estavam especialmente hipotecados
art. 2.151 do Código Civil francês, que só permite a inclusão dos juros de dois anos,
além dos do ano corrente; o intuito desta disposição é, segundo Troplong (Hypoth., vol.
hypotheca que o credito, dar-se-hia grande incerteza sobre o augmento do capital pela
encargos inscriptos, além disto teve-se por fim evitar que o demasiado crescimento dos
Esta disposição tentou-se reprimir, por mais de uma vez em França; a proposta
Pougeard visava a conservação pela inscrição dos juros e gastos ou despes as por todo o
comissão criada pelo governo e o conselho de Estado registraram a proposta, que foi
acolhida pela Assembléia Legislativa; esta propôs um artigo redigido em termos que
colocavam os juros garantidos pela inscrição, desde que não excedessem a décima parte
do capital, nas mesmas condições da garantia do capital; atendendo-se, porém, que isto
importava, compreender a inscrição dois anos de juros somente, foi modificado o artigo
com a hipoteca ficam garantidos do mesmo modo que o capital; os juros a vencer só,
ficam garantidos pela inscrição por dois anos e o ano corrente; os outros dependem das
inscrições particulares que dar- lhes-ão hipoteca a contar das datas em que forem feitas
A Lei belga (art. 87) garante os juros a vencer, em relação aos termos, por meio
da inscrição da hipoteca do Capital pelo tempo de três anos, salvo se o credor inscrever
principal a dos juros estipulados só teve em vista o objetivo que sempre a preocupou,
ainda em detrimento da observância dos mais claros princípios que dominam o assunto,
garantir o credor e por este meio assegurar o crédito territorial; não se pode contestar
dívida garantida pela hipoteca inscrita, se a ela forem acrescendo os juros à proporção
que se forem vencendo; acresce que a inscrição só podendo publicar aos terceiros,
encargos existentes, não há como ligar a ela esse efeito em referência a encargos que
vencidos não constituem um direito, concretizado; a estipulação de juro não tem outro
inscrição é indispensável para que o credor possa fazer valer o seu direito preferencial
contra terceiros; segundo o direito comum só poderia ter lugar a inscrição dos juros
vencidos, por isso não se pode tornar público um direito que não existe (Laurent, loc.
cit.), a inscrição dos juros a vencer em três anos, é uma concessão, derroga o rigor dos
situação em referência aos credores que houvessem no intervalo dos vencimentos dos
juros feito outras inscrições, o que dar- lhes- ia preferência sobre o credor anteriormente
inscrito, para o pagamento dos juros, que são acessórios da dívida já registrada, porque
não levar a derrogação aos princípios, ao ponto a que a levou o legislador de 1890?
Esta razão, com que se defende a disposição do art. 196, § 8.º, ao Dec. 370, de
1890, não põe esta ao abrigo do reparo fundado no regime de especialidade adotado no
citado Decreto, como um dos assentos fundamentais do mecanismo hipotecário em
vigor.
direito romano (L. 18 D. qui potiores in pignor etc.) que dava a prioridade nos
esse, ou como dizia a glosa, intelligitur etiam prior in usura; princípio que a nossa
dos bens compreendidos na hipoteca (arts. 144 e 152, do Dec. 370, de 1890); este
princípio do art. 1.987, n. 5, do Código italiano sofre porém restrição da 2.ª alínea do
art. 2.010; segundo esta disposição a inscrição só coloca sob a proteção hipotecária os
juros vencidos nos dois anos anteriores e os do ano corrente na época da inscrição; os
se for rural, da rua e número dele, se for urbano, e bem assim dos característicos do
mesmo (9.º, 10.º e 11.º, do art. 196 do Dec. 370, de 1890; Lafayette, Dir. das Cousas, §
inscrição; o mesmo não sucede com a do § 11 que é dispensável (art. 212, do Dec. 370,
de 1890).
de 1890), todos os fatos que, por interessarem à situação da inscrição, devem ser
requisitos de cada uma das inscrições, tendo além disso uma margem em branco, tão
ocorrências.
determinarem, haverá dois grandes livros alfabéticos, que serão indicadores dos outros,
sendo um deles destinado para as pessoas e outro para os imóveis referidos nas
inscrições.
281. O modo de escriturar os livros foi regulado nos arts. 22 e seguintes até 39
modo de escrituração dos livros do registro nas novas comarcas e deu a inteligência de
abertura, assim como as que lhe seguem, serão cortados na parte superior por três linhas
horizontais, limitando entre si dois espaços, no primeiro dos quais lança-se o título do
livro e o ano em que se faz o serviço; no segundo espaço, escreve-se a inscrição de cada
uma das colunas formadas por linhas perpendiculares, que variarão segundo a forma
hipotecas especiais e especializadas, faz-se de modo que cada inscrição abranja o verso
de uma folha, e a face da seguinte, no caso de não poder caber neste espaço maior
requisitos que o art. 196 do Decreto de 02.05.1890 exige que tenha a inscrição; a face da
folha seguinte fica destinada toda ela para as averbações; as inscrições são separadas
uma das outras por linha horizontal (art. 24 do Dec. 370, de 1890, e art. 2.º do Dec. 544,
Pode ocorrer o caso de não ser bastante o verso da folha para menção dos
requisitos da inscrição (art. 196); nesta hipótese continua a inscrição no verso da folha
seguinte, contanto que sejam observadas as indicações do modelo (§ 1.º do art. 2.º do
mesma folha até se completarem, ficando reservada a face da folha seguinte para as
Dec. 370, de 2 de maio, deve-se fazer a indicação da 7.ª coluna com a epígrafe – Razão
da responsalidade e a da 8.ª, com esta – data da responsabilidade (art. 3.º do Dec. 544,
de 05.07.1890).
282. O Indicador real é, como denomina o Dec. 370, o repertório dos imóveis
que figuram nos outros livros; a sua escrituração faz-se repartindo as suas folha pelas
página do livro, este espaço é dividido em cinco colunas, formadas por linhas
a) número de ordem;
d) nome do proprietário;
f) às averbações.
escrevem-se por extenso o nome de todas as pessoas que figurarem nos livros do
a) número de ordem;
c) domicílio;
d) profissão;
f) anotações.
pessoa no Indicador pessoal, neste caso no nosso registro não se repete o nome já
caso.
Indicador pessoal, fazendo-se referência recíproca na coluna das anotações (arts. 31, 32
Cada indicação feita nos Indicadores tem número de ordem especial; o número
ordem das pessoas à letra do alfabeto (art. 34, do Dec. 370, de 02.05.1890).
deste artigo.
inscrição das hipotecas legais, que assentam sempre sobre a sentença da, especialização.
número de ordem que em virtude dessa apresentação lhe competir, segundo o tempo em
utilizável, a qual tem por ponto de partida as 6 horas da manhã, por ponto terminal a s 6
nele dado à hipoteca é que dimana a prioridade; assim, se por haver o oficial
manifestado dúvida sobre a legalidade do título, não fizer a inscrição, mas tomar o
objeto da dúvida, só venha a ser inscrito muito depois de outros, que hajam acudido ao
registro, quando já o número de ordem havia sido dado no protocolo, ao primeiro título
número de ordem (art. 46, do Dec. 370, de 1890); b) não tem números de ordem
diferentes os diversos títulos que uma mesma pessoa apresentar, sobre idêntico objeto; a
lei manda conferir- lhes um só número com adição das letras alfabéticas (art. 48 do
dado ao título da página do livro em que fica lançado e do tempo da apresentação, se das
6 ao meio-dia, ou se das 12 às 6 da tarde (art. 42 do Decreto de 02.05.1890).
do registro, e que consta da inscrição no livro próprio, mas que não confere de per si só
extratos, a qual o Sr. Lafayette censura com bons fundamentos (Dir. das Cousas, § 243,
nota 9).
De feito desde que a inscrição não se faz unicamente à vista dos extratos como
extratos ao ponto de entender-se que as declarações exigidas nos extratos o são em vista
da inscrição e particularmente para serem nela reproduzidas” (Pont, Hypoth., vol. 2.º, n.
955) – de considerar-se o oficial do registro – “um agente passivo cuja função reduz-se
registro, as declarações dos extratos, sem dever preocupar-se com a questão de saber se
estas declarações satisfazem as prescrições da lei” (Pont, vol. 2.º, n. 1.007); e limitando-
registro, quando conformes com as condições exigidas para a inscrição, isto é, quando
título a deficiência daqueles (art. 53, do Dec. 370, de 1890), para que exigir-se extratos
que nada valem, quando tudo deve ser suprido pelo título, afinal único assento da
inscrição?
1.061), no nosso é feita no próprio título (art. 55, do Dec. 370, de 1890); não sendo de
utilidade alguma para o interessado o exemplar do extrato, que a lei (art. 55, do Decreto
pela parte; nestes devem ser mencionados todos os requisitos, que a lei exige para a
inscrição e na ordem estabelecida no art. 196 do Dec. 370, de 1890 (art. 50, §§ 1.º e 2.º,
do Dec. 370).
página; faz no Indicador real menção dos imóveis inscritos, e no Indicador pessoal a
das pessoas que figuram na inscrição (art. 54, do Dec. 370, de 1890).
registro.
encerramento, estiver por acabar um registro começado; em tal caso o oficial prorrogará
Na hora da prorrogação não lhe é dado receber título algum para ser inscrito,
e não a prover a registros novos; é por isso que os títulos que tiverem sido apresentados
em tempo, isto é, antes da hora do encerramento, mas q uando já não houver tempo para
preceder a estes, ficarão reservados para o dia seguinte e serão neste registrados em
ônus real por ela criado, o que se coaduna, de todo o ponto, com o novo regime; que
isola e desagrega a hipoteca do crédito, despe-a do cunho de contrato acessório que lhe
(Lehr, Droit Civil germanique, n. 109; Meulenaere, exposição preliminar ao Título 1.º
da Secção 8.ª do Liv. 3.º do Código Civil alemão; arts. 1.163, 1.ª alínea, 1.168, 1.172,
A inscrição deve conter, segundo o Código Civil alemão (art. 1.115) o nome do
credor, a importância do crédito; quando a dívida produzir juros a taxa destes, e o valor
indicação do crédito pode ser feita por meio de referência ao ato de consentimento para
a inscrição, e quando esta tem lugar em relação a um empréstimo realizado por uma
prestações a pagar, não se tratando de juros, fazer referência aos estatutos desate que
alterou em certos pontos o direito anterior que se aproximava muito do direito civil
francês: assim a hipoteca por um capital que produz juros garante este por dois a três
anos, variando este período segundo os Códigos (Lehr, Droit Civil germanique, n. 111).
menção do que a Lei polaca de 16.04.1818 denominava o sumário hipotecário e que era
inscrição faz-se por meio de resumos redigidos pelas partes ou por uma só delas,
quando a inscrição é promovida por uma só; os erros dos resumos (extratos) ou as
omissões que neles se derem não prejudicam, nem aproveitam às partes interessadas.
tais como estiverem redigidas (Lehr, Droit Civil russo, ns. 400 a 401).
integralmente, em cada uma das suas partes, qualquer que seja a pessoa em cujo poder
se acharem.
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essenciais não em seus efeitos naturais, conquanto nos referíssemos a muitos destes.
apuração do valor do imóvel para por ele, depois de convertido em moeda corrente,
288. O artigo supra do Dec. 169-A, reproduzido no art. 216 do Dec. 370, de
02.05.1890, consagra a noção da indivisibilidade dada, por Dumoulin (Part. 8.ª, n. 28) –
omnis hypotheca sive legis sive hominis est tota in toto, et tota in qualibet parte – noção
conforme com os textos romanos (Leis. 8.ª, § 2.º, 11 § 4.º de pignoratitia actione, 19,
D., de pignoribus et hypothecis, 65, D., de evictionibus, 6.ª e 16.ª Cód. de distractione
pignorum, 1.º Cód. de luitione pignoris), aceita pela doutrina moderna e pelos Códigos
(Troplong, Priv. et Hypoth., vol. 2.º, n. 388; Aubry et Rau, § 285; Duranton, vol. 19, n.
245; Mourlon, Repet., vol. 8.º, n. 1.429; Pont, vol. 1.º, n. 331; Arntz, vol. 4.º, n. 1.877;
Laurent, vol. 30, n. 176; Martou, Priv. et Hypoth., vol. 2.º, n. 692; Thiry, Droit civil,
vol. 4.º, n. 444; Mattirolo, Diritto giudiziario civili italiano, vol. 6.º, n. 591; Chironi,
Diritto Civile italiano, vol. 1.º, § 213, n. 4; Código Civil argentino, art. 3.112; Código
Civil francês, art. 2.114; Lei belga de 1851, art. 41; Código Civil italiano, art. 1.964, 2.ª
alínea; Código Civil holandês, art. 1.209; Código Civil do Cantão dos Grisões, art. 275;
Código Civil chileno, art. 2.407, Código Civil uruguaio, art. 2.302; Código Civil
direito creditório – fazendo este prevalecer sobre aquele – noção que os romanos
possuíam de modo claro – intelligere debes vincula pignoris durare personali actione
submota (L. 2.ª Cód. de luitione pignoris) torna saliente que a indivisibilidade da
parcialmente.
mesma a situações que se revelam, à luz dos princípios, definidas de modo claro e
preciso.
desta?
garantido.
No direito francês a dúvida acha-se resolvida pela disposição do art. 9.º da Lei
de 23.05.1855, que permite a cessão da hipoteca legal da mulher casada, cessão que não
hipótese da hipoteca legal, só existe por força da disposição da lei da qual dimana a
Por duas vezes foi a solução proposta: em 1841, por ocasião da consulta feita
aos tribunais sobre as bases de uma reforma hipotecária, os tribunais de Rennes, Caen e
hipoteca, sem a do crédito, por contrária aos princípios que dominam os contratos
sem afetar as noções; fundamentais que presidem à estrutura jurídica das obrigações?
hipoteca, que esta não era destacada da obrigação principal para constituir um contrato
separado, para deixá-la isolada e dar-lhe existência própria, mas antes para ligá-la a
011,1 Si Cód. Si pignus pignori datum sit) parecem não curar propriamente da
translação do título creditório, mas sim do próprio direito real do penhor (Maynz, § 165;
Serafini, § 97); este modo de ver, que está de acordo com a opinião de Schiling, é
combatida por Van Wetter (Droit romain, vol. 1.º, § 281), que, apoiado na autoridade de
decorria da translacão do direito creditório, que se operava sempre, opinião que Van
hipoteca sem a do crédito; será isto simples manifestação de respeito supersticioso pelo
disposição rege apenas o assento do crédito territorial, o que não impede que se
garantir a dívida própria e não a alheia (Laurent, vol. 31, ns. 324 e 325).
Sob esta única restrição, não pode ser contestado o direito de cessão da
hipoteca sem a do crédito: não repugna tanto aos princípios como se afigura à primeira
exercício de seu direito não lhe ser dado ceder a um credor quirografário a situação
jurídica que lhe advém do direito real da hipoteca, de todo o ponto distinto do direito
escritores (Martou, vol. 1.º, n. 175; Valette, Priv. et hypoth, n. 128) mas é apoiada com
É mais defensável no nosso direito, apesar do que fica exposto, a opinião que
face de disposição como a do art. 13, do Dec. 169-A, de 1890, que assentam o
mecanismo do crédito real sobre a cessão da hipoteca operada por meio da do título
pagamento da dívida, isto é, da aquisição do crédito – como opinar que a lei cogitou
igualmente da cessão do direito real da hipoteca – quando a esse processo direto ela
Assim:
hipotecados ainda que a dívida oriunda da obrigação principal se ache red uzida a
proporções diminutas, a ponto de poder ser garantida pela metade do valor de um só dos
imóveis hipotecados;
excussão deste, mesmo que pague a parte correspondente à dívida hipotecária, pela qual
pagamento de todas libera o imóvel, que subsiste gravado até a definitiva e completa
solução da última dívida garantida (Dec. 370, de 02.05.1890, arts. 217 e 218; Lafayette,
Dir. das Cousas, § 176; Laurent, vol. 30, n. 176; Lei belga, art. 41; Código Civil
francês, art. 2.114; Segóvia nota 2.368 ao art. 3.176 do Código Civil argentino; Código
e válidas contra o proprietário primitivo, e exeqüíveis contra quem quer que for o
detentor.
(Lafayette, Dir. das Cousas, § 48; Teixeira de Freitas, Introdução à Consolidação das
translação não se opera nudis pactis, da translação como no direito francês (arts. 711 e
coisa, que lhe foi alienada, e do fato de ser o contrato válido entre os contratantes (art.
234, do Dec. 370, de 02.05.1890) não dimanam para o adquirente outros efeitos senão
um título de crédito, realizável por meio de uma ação pessoal e tendo como objetivo a
entrega do imóvel, a indenização das perdas e danos resultantes do ato do alienante, mas
por qualquer título, só o alienante responde pelas ações que tiverem assento na situação
jurídica do imóvel – porque ele não é, como impropriamente diz o texto do § 1.º do art.
10 do Dec. 169-A, de 19.01.1890, proprietário primitivo, mas proprietário atual e como
tal é que responde pelas ações, que entendem com o domínio do imóvel.
recair sobre o imóvel, embora esteja este em poder do adquirente, portanto a entrega
material do imóvel não constitui a tradição legal, que somente por meio da transcrição
se opera na atualidade.
decorrência da disposição do art. 8.º do mesmo Decreto e das dos arts. 233, 234 e 235
domínio com efeitos um pouco mais amplos do que os que ligam à simples publicação
ou tradição solene, que não é ato de publicidade, mas sim fato substancial da
transferência do domínio no nosso direito civil, segundo o qual o domínio das coisas
pelo mecanismo alemão apesar da afirmação de Martou – de ser a disposição do art. 711
É certo que a transcrição não purga o vício de origem do domínio; se, porém,
sua falta acarretar a não deslocação do domínio do alienante para o adquirente – ainda
que este tenha pago o preço e obtido imissão na posse do imóvel – força é convir que a
reivindicação: em que difere esta situação jurídica, criada pelo contrato, da descrita no
real, igualmente para transferir ou gravar semelhante direito, é necessário acordo das
inscrição desta no registro territorial, salvo se a lei dispuser por outro modo.”
declarações houverem sido reduzidas a ato em justiça ou por notário, feitos no cartório
O nosso direito atual não tem, como expressão material, um preceito de lei
diferente; o nosso direito escrito não se revela, sob forma diversa, na estrutura do
O art. 873 do Código alemão nada tem que colida com os preceitos dos arts. 8.º
e 10, § 1.º, do Dec. 169-A, de 19.01.1890, tão claramente interpretado em seus efeitos
A excepção da excussão;
devedor.
deste regulamento.”
Estas disposições foram transportadas para a nova legislação dos arts. 10, § 2.º,
prol da eficiência da garantia que a lei busca oferecer na hipoteca como assento do
crédito.
hipotecário, em sua efetividade, por meio da ação; ela é conforme com a intuição
terceiro adquirente, sem ser obrigado a liquidar a sua ação contra o devedor; a exceptio
ordinis ou excussionis personalis era, pois, nele desconhecida ou, pelo menos, não era
praticada.
Paulo deixa patente o princípio, atualmente aceito na L. 47 D. de jure fisci que
executar o seu direito contra o terceiro adquirente: veniat prius, antequam transeat viam
excussão, forçava o credor por hipoteca geral e por hipoteca especial a excutir
primeiramente esta, e deixar aquela, que compreende bens deixados a terceiro, para ser
dá igualmente notícia o fragmento 2.º de Papiniano do Dig., qui potiores in pignore etc.
de modo a só ter lugar a execução com graves dificuldades (Moraes, Excuç., Liv. 6.º,
os frutos na restituição ou abandono do imóvel (Leis 1.ª, § 2.º, e 29, § 1.º, D. de pignor.
et Hypoth.; Maynz, § 166, letra c), e as disposições dos códigos modernos não o são
menos (Código Civil francês, art. 2.168; Lei belga de 1851, art. 98; Código Civil
argentino, art. 3.163; Código Civil italiano, art. 2.013), nem os do nosso direito antigo
assentar a expansão do crédito real em um regime hipotecário, que não autorize desvios
não somente do imóveis gravados, mas das próprias responsabilidades pessoais presas
hipoteca (Troplong, Priv. et Hypoth., vol. 3.º, n. 785; P. Pont, Priv. et Hypoth., vol. 2.º,
n. 1.136; Martou, n. 1.253; Laurent, vol. 31, n. 275; Aubry et Rau, § 287).
abandono do imóvel hipotecado pelo adquirente não afetava nem a posse, nem a simples
detenção; os fundamentos desta opinião são jurídicos: de fato o credor hipo tecário, em
favor do qual se fazia o abandono, não adquiria o domínio, nem a posse sobre o imóvel
hipotecado que o terceiro adquirente abandonava, mas unicamente o direito de vendê- lo,
precedente.
pagar a dívida hipotecária, com todos os juros e acréscimos e não somente o valor do
imóvel hipotecado, como opinavam alguns (Troplong, vol. 3.º, n. 788; P. Pont, vol. 2.º,
escrito dos povos adiantados, força é convir que se conforma melhor com a estrutura da
encargo, como sucede com a venda em hasta pública, a conseqüência irrecusável do ato
é passar ao adquirente, com o imóvel, o encargo real de que o mesmo está gravado; e
imóvel desse ônus só se pode operar razoavelmente, por um modo regular: o pagamento
da dívida.
dívida, para liberar-se, por um processo de que o próprio devedor não se pode utilizar.
perdas e danos das custas e das despesas judiciais, remindo a hipoteca ou pagando-a
integralmente.
§ 3.º Se, nos 30 dias depois da transcrição, o adquirente não notificar aos
de perdas e danos;
às custas e despesas judiciais;
O imóvel será penhorado e vendido por conta do adquirente, ainda que ele
Se o credor consentir;
297. As disposições supra não fazem senão consagrar, como diz Paul Pont (n.
forçada.
mecanismo de hipoteca, que não abrisse largas a iludir o devedor o direito real, que
do credor, se o terceiro adquirente não ficasse, desde logo, isto é, pelo simples fato da
aquisição, preso entre dois alvitres, a tomar de pronto, e duas medidas judicia is de ação
enérgica.
Assim – sem que haja necessidade de estar a dívida vencida, como se exige no
direito francês (Pont, n. 1.142), – sem que se notifique o devedor principal para solver a
sua obrigação, como no Código Civil francês (art. 2.169) e na doutr ina corrente (Pont,
n. 1.144), sem mesmo assinar judicialmente prazo ao terceiro adquirente, como além do
direito escrito (artigo citado do Código Civil francês) reclama a eqüidade, além dela, os
entanto, o devedor principal não é chamado a juízo para acudir à solução da sua
obrigação.
caso de não haver lançador dá-se a adjudicação do imóvel ao adquirente pelo preço da
avaliação, ainda que seja superior ao da alienação (art. 274 do Dec. 370, de 02.05.1890).
operadas no imóvel durante a sua posse, por ser esta uma posse presuntiva a domino. Na
pode ser tornada efectiva por meio de ação (Código Civil francês, art. 2.175; Código
Civil italiano, art. 2.020; Código Civil holandês, art. 1.251; Pont, n. 1.199) na qual se
depreciação ou a deterioração devida a ato seu e não a fato que não lhe possa ser
imputável (Pont, n. 1.201; Lafayette, Dir. das Cousas, § 259, n. 2, letra a) nem mesmo
se ela for originária do uso regular da coisa, feito de b0a-fé e conforme o seu destino
responsabilidade terá, porque não é ele obrigado pela dívida, visto não ter contraído
obrigação pessoal para com os credores (Lafayette, Dir. das Cousas, § 259, letra b).
em que esteve sob o domínio do adquirente, este tem direito a haver o excesso ou
aumento de valor que o mesmo imóvel haja adquirido; não é lícito ao credor hipotecário
locupletar-se ele com a jactura alheia (Pont, ns. 1.205 e 1.206; Direito das Cousas, §
259, n. 4; Código Civil argentino, art. 3.170; Código Civil francês, art. 2.175 in fine;
Código Civil italiano, art. 2.020, 2.ª alínea; Lei belga de 1851, art. 103); por outro lado,
benfeitorias que exceda o gasto, o despendido com as mesmas: si plus pretii accessit,
Nem o Dec. 169-A, de 1890, nem o de 370, de 2 de maio do mesmo ano, fazem
apesar disso, direito a ela; e a aplicação dos princípios gerais de direito que tal
disposição entende com o devedor e não com o terceiro adquirente (Martou, n. 1.320).
Parece-nos que não, já porque a lei não o concede, já porque paralisaria o seu
privilégio, que só por analogia poder-se- ia, pretender estabelecer; mas uma espécie de
ação in rem verso, por meio da, final ele obtém a parte do preço correspondente ao
aumento de valor que auferiu o prédio (Pont, n. 1.208; Martou, n. 1.322; Mourlon,
despesas judiciais (art. 227 de Dec. 370, de 02.05.1890). A razão jurídica é que o
terceiro adquirente que paga, por qualquer modo, a hipoteca, fica sub-rogado aos
credores por eles pagos (Duranton, vol. 20. n. 234, Código Civil argentino, art. 3.185).
pode dar pelo imóvel o dobro ou mais do valor do mesmo, segundo for o preço da
aquisição.
Se pagar a hipoteca por preço maior que o da compra por causa da licitação, ou
recebê- la em adjudicação por preço também mais elevado – esse excesso representa o
seu prejuízo.
haver o adquirente aceito a situação criada pelo não pagamento da hipoteca, todavia
importa em desembolso pelos gastos do processo a que for arrastado para ter solução a
No direito francês a notificação não tem por fim fazer correr os frutos à conta
direito aos frutos depois de contestada a ação que lhe for intentada, por não ter
“Il est propriétaire paisible de 1‟immeuble, et il est juste qu‟il fasse les fruits
siens aussi longtemps qu‟il n‟est pas troublé dans sa possession ni menacé dans son
droit de propriété. On doit tout au moins ne pas le traiter plus rigoureusement que le
possesseur de bonne foi qui, d‟après les articles 549 e 550 du Code Civil, s‟approprie
les fruits jusquà ce qu‟il ait connaissance des vices du titre en vertu duquel il possedait
sim um possuidor animo domini, e este faz seus os frutos até a contestação da ação.
colono e o administrador, qualquer detentor alieno nomine; em tais casos a ação corre
não achar.
§ 5.º O credor notificado pode requerer, no prazo assinado para a oposição, que
Os credores hipotecários;
Os fiadores;
O mesmo adquirente.
adquirente propuser, se haverá por definitivamente fixado para remissão do imóvel, que
impedir a penhora e a venda do imóvel por outro meio que não o pagamento da dívida.
submeter-se à excussão da hipoteca, o que lhe pode acarretar, além da perda do imóvel
pagamento da dívida pelo preço que der o imóvel, quando vendido, desde que o
adquirente consigna aos credores o valor da alienação do imóvel, es tes não podem
exigir mais, porque foi essa a garantia que procuravam quando constituíram a hipoteca;
e, como dizia Persil em seu parecer de 1847, a remissão opera a substituição do imóvel
pela quantia que representa seu valor e esta substituição, que dá-se à sombra e sob a
garantia da lei, facilita, sem prejuízo dos credores, a circulação dos imóveis.
Como, porém, seria iludido o intuito dos credores se fossem obrigados a aceitar
sempre o preço da alienação, que podia ser propositalmente estipulado em cifra inferior
do preço da venda em relação ao valor do imóvel, elevando aquele preço, por meio da
se, porém, o instrumento não estiver lavrado a remissão se opera desde que o credor
certas condições que tendem a assegurar o direito real da hipoteca e por outro lado a não
obrigação principal, nem o que contratou a hipoteca podem curar de liberar o imóvel
hipotecado por meio da remissão; a situação dos herdeiros universais ou particula res é
idêntica à dos devedores a quem sucedem (Lafayette, Dir. das Cousas, § 263; Mourlon,
Répétit. Écrit., n. 1.685; Troplong, Priv. et Hypoth., vol. 4.º, n. 903 bis; Aubry et Rau, §
263 bis, n. 3; Pont, Hypoth., vol 4.º n. 1.270; Laurent, Princ., vol. 31, n. 421; Martou,
Priv. et Hypoth., vol. 4.º, n. 1.379; Arntz, vol. 4.º, n. 1.930; Thiry, Droit Civil, vol. 4.º,
garantia do pagamento da dívida de outrem (Pont, n. 1.272). De acordo com esta última
podem usar do recurso da remissão desde que esta tem por fim proporcionar um
aquisição.
troca ou permuta; em qualquer destes casos o adquirente pode remir o imóvel; somente,
como não houve preço de aquisição, a remissão se opera ou pelo preço que o adquirente
oferecer, ou pelo da licitação (§ 7.º supra, Dec. 370, de 02.05.1890, arts. 260, 262 e 264;
Código Civil francês, art. 2.184; Duranton, vol. 20, n. 378; Mourlon, n. 1.684; Pont, n.
1.270).
O adquirente de uma parte do imóvel diviso, que se acha gravado, pode remir
essa parte?
o imóvel, por força do princípio da indivisibilidade; a remissão não pode operar efeito
Duranton (n. 345) entende com o caso de diversos imóveis sujeitos a uma só hipoteca.
Aquele jurisconsulto é de opinião que não há como recusar ao adquirente de
opina que o herdeiro a quem coube parte do imóvel hipotecado, e que ficou responsável
por quota especificada da dívida hipotecária, se pagar esta pode remir a parte do imóvel
que lhe cabe. É uma doutrina que ataca por um lado a indivisibilidade da hipoteca e por
outro o princípio de que o devedor e seus representantes como sucessores, não pode
indivisible, c‟est uniquement dans 1‟intérét da crèancier; 1‟hypothéque par elle même
elle n‟empêche pas la dette de se diviser entre les hérètiers; et si un hérétier partiel paye
sa dette, son obligation est éteinte, il reste tenu hipotecairement, mais seulement comme
tout tiers détenteur; or, tout tiers detenteur peut purger en offrant le prix ou la valeur de
la chose aux crèanciers inscrits; dont 1‟héritier doit avoir le mème droit.” (Princ. de
para com os terceiros após o registro da transmissão do domínio; antes de tal registro o
proprietário, é o vendedor: da transcrição é que corre o prazo de trinta dias, dentro do
opera pelo simples contrato, foi exigida a transcrição do título de aquisição para poder o
adquirente realizar a remissão (art. 2.181 do Código Civil francês), voltando-se assim ao
imóvel hipotecado.
1771 – facultavam ao adquirente a liberação do imóvel gravado, que era transferido por
meio de venda particular, ou ato alienativo gratuito, desde que os atos translatícios do
voluntários era não a transcrição da venda – mas a simulação de uma venda em hasta
pública, era porque, não sendo os regimes hipotecários de então, assentes na publicidade
acabava em uma adjudicação forçada; e nas cartas de ratificação era uma verdadeira
– publicação que tinha por fim o conhecimento da alienação do imóvel, para que os
elevando o seu preço de alienação, que era o do resgate ou da remissão; mas fazer os
seus protestos, nas mãos do conservador das hipotecas, a fim de resguardar e conservar
adquirentes dos imóveis hipotecados (Troplong, vol. 2.º, n. 563; Pont, vol. 2.º, n. 1.264).
imóvel adquirido.
como, porém, este é resolúvel, ele só pode remir sob a mesma cláusula, que afeta o seu
direito dominical (Laurent, vol. 31, n. 427); em tal caso o que o adquirente purga ou
rime é o seu direito resolúvel; porquanto ele só pede remir o direito que tem e tal como
domínio, o que quer dizer impede que este exista de fato (Laurent, vol. 17, ns. 90 a
adquirente do nosso direito escrito é mais exata do que a detentor usada no art. 2.181 do
Código Civil francês, o adquirente sob condição suspensiva, não tendo o domínio antes
da incidência da condição, não pode usar da remissão (Laurent, vol. 31, n. 428 ; Aubry et
Rau, § 293 bis); em contrário à doutrina de Laurent estão Martou (n. 1.383); Pont (n.
suspensiva pouco provável – por isso que este não desejaria expor-se a não poder repetir
“Si pourtant il y voulait pour prévénir les poursuites la nature du droit dont il est en
possession n‟y ferait par obstacle: ce droit quoique suspendu par une condition, est
adquirido, sob condição resolutiva, por exemplo sob a cláusula a retro, a jurisprudência
firmou doutrina no sentido de ser a remissão absoluta, isto é, não somente resgatar o
transferente, ainda que com seu domínio dependente de uma cláusula suspensiva.
Esta solução dada pelos tribunais tem sido objeto das mais sérias contestações
por parte dos doutrinadores: o que o adquirente purga é o direito de propriedade tal qual
outro domínio sob condição suspensiva; ora, podendo cada um destes domínios ter sido
assento é objeto de hipoteca por parte dos titulares desses direitos reais, a doutrina dos
tribunais imprime à remissão feita por um deles, ação sobre o direito do credor
hipotecário do outro, o que é contrário aos princípios. Para que a remissão do imóvel
adquirido sob condição resolutiva seja completa é preciso que a condição não se torne
condição e retroagindo, anula os direitos do adquirente, desde que o vendedor faça uso
da sua cláusula de resgate; e se o adquirente não foi proprietário, todos os atos que ele
praticou como tais caem. Como, pois, a Corte de Cassação pode falar em remissão
definitiva, levada a efeito por quem não tem direito definitivo? (Laurent, vol. 31, n.
427).
como sendo os que dominam, no nosso direito, a constituição da hipoteca sobre imóveis
devendo subsistir, porque não fora justo que se deixasse ao arbítrio do devedor ficar a
coisa efetivamente obrigada ou não – conceito que está de acordo com o sentir dos
glosadores ao comentarem a Lei 3.ª. D. quibus modis pignus, vel hipoteca solvitur, – a
pelo transferente não se anula pela remissão operada pelo adquirente sob cláusula
caráter transitório que reveste este domínio, desde que a cláusula resolutiva se faça
efectiva.
desapropriados entre os próprios nacionais, impede de serem postos à venda tais bens,
que ficam fora do comércio e passam a pertencer ao domínio do Estado, sobre o qual
não se torna efetiva execução de sentença (Laurent, vol. 31, n. 436; Pont, n. 1.279).
302. A licitação, que o credor hipotecário pode requerer, tem por fim elevar o
O pedido de licitação deve ser apresentado dentro das 24 horas marcadas aos
credores para dizerem sobre o preço da aquisição ou o proposto pelo adquirente, para,
por eles efetuar-se a remissão (art. 260, do Dec. 370, de 1890; Lafayette, Dir. das
Cousas, § 264, n. 5); o fim da licitação sendo apurar o preço do imóvel para a liberação
ou resgate do direito real que o credor tem sobre o imóvel hipotecado, é justo que
tomem parte nela aqueles que são os mais interessados – os credores e o adquirente;
aqueles por terem a receber o valor da garantia com que julgaram amparar o seu crédito,
quando imstituíram a hipoteca; este por ter o maior interesse na liberação do imóvel que
adquiriu pelo modo que a remissão lhes faculta, isto é, a entrega ou a prestação do
débito pelo valor venal do imóvel; não deve autorizar a exploração do adquirente pelo
credor, que armado do direito real de seqüela, poderia pretender impor a remissão
unicamente por preço tão alto que tornasse ilusório o direito do adquirente liberar-se
pela prestação do preço do imóvel, elevando por meio da licitação tal preço a uma cifra,
que obrigasse o adquirente ou a desistir da remissão ou a levá- la efeito por preço muito
gravoso.
A primeira e mais importante condição da licitação é que ela só seja feita com
autoridade do juiz e no dia por ele fixado, o qual, será anunciado por três editais
A afixação dos editais tem por fim levar o dia da licitação ao conhecimento de
todos quantos são nela interessados ou nela queiram figurar e convidá- los a comparecer
deve ser permitida nos restritos termos e formas marcadas; a força maior, isto é, o
obstáculo que a diligência humana não pode superar, justifica a concessão aos que têm a
faculdade legal de licitar; que é afinal, um direito tão respeitável como o do adquirente
remir o imóvel pelo preço da aquisição. Acresce que desde que o juiz admit iu a
licitação, o preço da remissão não é mais o da aquisição, nem o que se fixar na licitação,
e desde que ao impossível ninguém é obrigado, fora operar a remissão por um preço
hipotecado.
pelo adquirente.
apesar de haverem requerido a licitação, não licitarem, nem fizerem qualquer objeção ao
preço posto, o juiz julga a remissão por sentença, fixa o preço proposto pelo adquirente
e ordena que, pago ou depositado este preço, seja o imóvel liberado da hipoteca e feito o
cancelamento do registro desta (Código Civil francês, art. 2.186; Pont, Hypoth., vol. 2.º,
n. 1.328; Laurent, vol. 31, n. 485; Lei belga de 1851, art. 116; Martou, n. 1.523 e
seguintes).
Por este efeito vê-se que a remissão é um dos modos de extinção da hipoteca.
303. Como ficou dito anteriormente só o adquirente do imóvel pode remi- lo;
condição substancial para que o título translativo produza efeitos em referência aos
Código Civil (art. 1.583) que consagram a referida transferência por simples força dos
aquisição era o primeiro ato preliminar da remissão da hipoteca (art. 2.181 do Código
novas hipotecas sobre o mesmo imóvel (Martou, Repetit, vol. 3.º, n. 1.691).
No direito belga, que exige a transcrição dos atos translativos do domínio dos
imóveis como condição substancial para a transferência do mesmo domínio (art. 1.º da
credores hipotecários ou privilegiados, é como proprietário que ele faz a remissão, antes
de praticar os atos iniciais desta deve, portanto, apresentar-se com um título regular de
domínio, e no direito belga, como no nosso, só o título inscrito e regular (Laurent, vol.
31, n. 440; Martou, vol. 4.º, n. 1.388); por essa razão a Lei belga não reproduziu no art.
A necessidade da transcrição impõe-se ainda nos casos em que a lei não a exige
como medida especial para o efeito de tentar-se a expurgação do imóvel do encargo real
da hipoteca.
A prova do asserto está no fato de fazerem algumas leis, como o nosso Dec.
370, de 02.05.1890, correr da transcrição o prazo de 30 dias, para dentro dele iniciar o
mortis causa?
apesar de reconhecerem que o adquirente por ato mortis causa, torna-se proprietário
independentemente da transcrição (Laurent, vol. 31, n. 441; Martou, vol. 4.º, n. 1.389;
Thiry, vol. 4.º, n. 575; Pont, vol. 2.º, n. 1.291; Troplong, Priv. et Hypoth., vol. 4.º, n.
903): o fundamento desta solução é a que dá Pont: “La loi nouvelle, enfaisant de la
transcription un moyen de consolider la propriété au regard des tiers, ne 1‟a par
por testamento, nem os atos judiciais (art. 237, do Dec. 370, de 02.05.1890). A
transcrição. Se a fixação desta, como ponta de partida do prazo para a remissão, não tem
outro fundamento a não ser ela o ato que opera a transferência do domínio do imóvel
para a pessoa do adquirente, em relação aos terceiros; como não fazer correr o referido
registro? Exigir este fundado em um preceito que regula os casos em que tal
da tradição, que aliás não é exigida sob forma concreta nas translações, por ato de
última vontade, antes é presuntivamente estabelecida, por expresso preceito da lei, qual
o alvará de 9 de novembro de 1754, é criar uma formalidade que não encontra apoio na
lei.
O Sr. Lafayette entende que o testamento deve ser transcrito para da data da
referida inscrição contar se o prazo de trinta dias dentro do qual deve o adquirente fazer
direito francês e do belga, que reconhecendo a posse presuntiva do herdeiro pelo fato da
jurídico que tem como expressão a máxima le mort saisit le vif, reconhecerão a
opposer à tous le droit de propriété resultant du testament et pour le feire prévaloir sur
tous actes que 1‟hérétier aurait pu faire avec des tiers à propos de la proprièté leguée, la
transcription lui sera necessaire, au contraire, dès qu‟ il voudra purger 1‟immeuble des
priviléges ou des hypothéques qui le grevent; et que nonobstant la loi nouvelle, qui
n‟exige ia transcription que pour ler actes entre-vifs, la procèdure de la purge devra,
pour lui comme pour tous autres, être précédée de la transcription de son titre”. (Pont,
Dec. 370, de 02.05.1890, só permitir a notificação dos credores para a remissão dentro
dos trinta dias posteriores à transcrição, não se deve entender que tal disposição
transferências de domínio por ato sucessório; mas sim que ela refere-se à transcrição
como ato necessário à translação do domínio inter vivos; e como ela, não é necessária na
hipoteca pelo preço proposto pelo adquirente, ou dizerem sobre o mesmo o que se lhes
a) dentro dos trinta dias da transcrição, no caso da aquisição por ato inter vivos,
ou mortis causa;
b) no foro civil;
achar;
aquisição, o preço, desta ou a estimação do valor no caso de não ter havido preço de
aquisição;
aquisição ou pelo estimado (arts. 258, 259, 260 e 261 do Dec. 370, de 1890; Lafayette,
oferecido; em tal caso o juiz julga a remissão por sentença e manda que, pago o preço,
370, de 02.05.1890).
facultado pedir ao juiz que mande abrir a licitação nos termos já expostos.
305. A disposição supra, em vez das do Código Civil francês (art. 2.185, , n. 2),
da Lei belga de 1851 (art. 115), do Código Civil italiano (art. 2.045, n. 2), não fixa o
legislação de 1890 e a estrangeira citada sobre o funda mento da licitação: impedir, por
um lado, que o imóvel hipotecado seja resgatado pelo terceiro adquirente, com lesão dos
direito dos credores, pelo preço da aquisição ou pelo que propuser o adquirente, quando
não houver fixação daquele, ou quando ele entender fixar outro maior; por outro lado
evitar que se perturbe o adquirente em sua posse, para o fim de propor uma elevação no
preço de aquisição; lesivo aos credores, que não seja suficiente para proporcionar uma
indenização digna de apreço ao prejuízo que possa vir a sofrer o credor hipotecário, que
“com a esperança mais ou menos fundada de alcançar preço superior à soma oferecida,
contratos celebrados, sob a melhor inspiração e com a mais segura esperança na garantia
do direito.
Tudo aquilo que sob qualquer denominação houver sido dado em pagamento pelo
comprador ao vendedor ou a credores deste (Pont, n. 1.363; Duranton, vol. 2.º, n. 396);
mencionar tais encargos sem distinguir os que entram como elemento do preço dos que
são alheios à prestação deste (Pont, n. 1.364; Martou, n. 1.466; Laurent, vol. 31, ns. 510
Os juros não são, porém, devidos pelo adquirente porque este, dentro do prazo
e enquanto não se opera a retirada do imóvel de seu poder, age como proprietário. A
preço para calcular a da licitação (Pont, n. 1.365; Martou, n. 1.467; Laurent, vol. 31, n.
512; Thiry, vol. 4.º, n. 576; em contrário: Troplong, Hypoth., vol. 4.º, n. 937).
Segundo o direito francês o credor que licitar é obrigado à dec ima parte do
preço da aquisição ou da proposta para a remissão (art. 2.185, n. 2), o mesmo dispõe o
Código Civil italiano (art. 2.045); a Lei belga de 1831, conformando-se com a Lei de 11
brumário do ano 7.º exigiu que o credor licitante aceitasse o imóvel cobrindo o lanço
desde que não se apresente credor que licite com maior lanço (Laurent, vol. 31, n. 509);
este lanço não pode ser inferior ao vigésimo do valor proposto para a remissão; ao passo
que no nosso direito não é lícito licitar o imóvel em mais do quinto do valor da
avalição de que trata o § 9.º supra; no direito francês e no belga o lanço pode ser aceito
até à maior quantia aventada, não podendo ser inferior ao vigésimo do preço do contrato
pela licitação, que pagar a hipoteca, que paga- la por maior preço que o da alienação por
causa da adjudicação ou da licitação, que suportar custas e despesas judiciais, tem ação
regressiva contra o vendedor.
306. Esta disposição que o art. 277 do Dec. 370, de 02.05.1890, repete,
com grande precisão, na hipótese figurada (Código Civil francês, arts. 2.178 e 2.191;
Lei belga de 1851, arts. 106 e 121; Código Civil italiano, art. 2.052; Código Civil
devedor no caso do abandono do imóvel hipotecado; como não é permissível entre nós a
faculdade de largar a hipoteca (Dec. 169-A, art. 10, § 2.º), não se pode compreender tal
Na hipótese, mais comum, de ter tido lugar a aquisição por meio de compra, se
o adquirente pagar a dívida hipotecária do vendedor ele fica sub-rogado nos direitos do
credor e aciona o vendedor para haver o preço, salvo cláusula do contrato que o obrigue
além do preço a pagar nova dívida, caso em que a importância desta faria parte do
preço; se porém, o adquirente houver sofrido a excussão da hipoteca tem o seu direito
regressivo fundado na evicção, como no caso de ser o imóvel reivindicado: daí o ser o
vendedor obrigado a restituir não só o preço da venda, como os gastos e despesas com o
adquirente age por força da evicção, quer pagasse a hipoteca, quer houvesse sofrido a
A aquisição pode ter lugar a título gratuito; se se tratar de doação inter vivos, o
adquirente em qualquer dos casos figurados não age por evicção, mas sim pagando-se
em praça ou pela prestação deste por parte do adquirente; este, como diz Pont, a fait
l’affaire de son auteur; é justo, portanto, que possa repetir a importância paga para
liberação do devedor (Pont, vol. 2.º, n. 1.393), fá- lo por força da negatiorum gestio
(Duranton, vol. 20, n. 284; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.702; Martou, n. 1.331; Lafayette, Dir.
hipoteca, sendo o preço da adjudicação superior ao da aquisição tem ele ação regressiva
Dec. 169-A, resolvem, por meio de preceito expresso, aquilo que era opinativo no
direito francês, apesar da disposição do art. 2.191 do Código Civil francês (Pont, vol.
2.º, n. 1.391).
“Os credores inscriptos não podem pretender ter direito a essa quantia,
porquanto elles estão inteiramente pagos; o antigo proprietário não tem melhor direito a
pretendel-o; elle é apenas credor do preço estipulado no contracto celebrado com o seu
adquirente, contracto que subsiste em relação a elle, com todas as suas clausulas;
pouco, porque esses não têm mais direitos que seu devedor; além de que elles não
podem prevalecer-se de uma licitação que lhes é absolutamente estranha e que faltava-
pertencem ao alienante.
domínio que tinha, por força do contrato de que resultou ou dimanou a aquisição; esta
não tem como título a adjudicação, que apenas revigora o título anterior; como, pois,
ficar com direito ao excesso do preço da adjudicação, depois de pagas todas as dívidas o
alienante, que só tem, como diz Pont, direito ao preço do contrato da venda?
adquirente: aquele perdeu o domínio que este conservou durante todo o tempo da
por entender com relações de direito que devera ser fixadas de modo claro e preciso.
para os juros deste excesso, a contar do dia de cada pagamento.” (Código Civil francês,
art. 2.191; Lei belga de 16.12.1851, art. 121; Código Civil italiano, art. 2.052).
mais onerosas, faz-se preciso que seja elle indemnisado dos sacrificios de que não
curava o seu contracto. Tal indemnisação não tem unicamente como objecto o principal
da differença adiantada pela adquirente, mas tambem os juros vencidos a datar de cada
concorreu assim para a sua liberação; sob este ponto de vista, o adquirente foi seu gestor
de negocios e o nosso artigo não é senão a applicação dos arts. 1.375 e 2.001 do Código
proprietário; para com este é ele credor, armado do direito regressivo que lhe conferem
as disposições supra citadas dos Decs. 169-A e 370, de 1890: conseguiu temente ele
afasta os credores quirografários do anterior proprietário, que não tem seqüela sobre o
imóvel; para consegui- lo basta usar do direito regressivo que lhe confere a lei, quer
integral das hipotecas; se houver sobra ela pertence, como já o dissemos, ao adquirente
imóvel pelo preço da licitação, mais gravoso que o do contrato, tem direito regressivo
estipulado no contrato.
A solução dada por Martou no final do n. 1.561 sobre a menção por parte do
3.º do art. 277, do Dec. 370, de 1890; tanto assim que Martou autoriza a retenção desse
excesso por parte do adquirente como dedução das indenizações que a lei lhe concede.
(Martou, 1.562).
§ 10. A remissão da hipoteca tem lugar ainda não sendo vencida a divida.
pessoas a que ela pertence, aquelas que pela legislação em vigor forem competentes.
308. Na legislação francesa e na belga não existe disposição expressa em
direito moderno.
remédio eficaz ao embaraço à circlação e exploração dos imóveis, que adviria do fato da
quantias superiores ao seu valor, forçosamente devia ser permitido àquele que
adquirisse um imóvel nessa situação liberá- lo, desde logo, do encargo que o gravasse,
sem precisar aguardar o vencimento da dívida. Por outro lado se ficasse impedido o
imóvel, que já houvesse corrido para muitas mãos, antes de dar-se o vencimento da
dívida.
podem estes acionar o terceiro adquirente (soit avant les pour suites – art. 2.183 do
Código Civil francês; desde que o remédio que a lei proporciona a este para evitar a
excussão, que é o objetivo da ação dos credores, consiste em dar a conhecer dentro do
mês a contar da primeira notificação, a seus credores por intimação judicial todos os
lei francesa (arts. 2.183 e 2.184 do Código Civil) presume a dívida vencida, para esse
efeito.
O direito belga não faz referência ao vencimento da dívida, mas exige, para a
primeira notificação que lhe for feita – notifique ao credor os mesmos fatos exigidos no
art. 2.183 do Código Civil francês (art. 110 da Lei de 15.12.1851). O fato, porém, de
Lei 1.237, de 24.09.1864, e da do art. 303, do Dec. 3.453, de 26.04.1865, não é preceito
curto prazo de tempo, após a aquisição, isto é muito proximamente a esta, oferecer-se a
liberar o imóvel pelo preço que deu por ele, poderia suceder que na época remota do
produziria o efeito corretivo que a lei procurou imprimir- lhe (Laurent, vol. 31, n. 416).
309. A 2.ª alínea do § 10 supra estabelece o princípio decorrente da situação
especiais por natureza, isto é, às convencionais (art. 167 do Dec. 370, de 1890) não pode
figurando, pela Fazenda Pública, o empregado competente; pela mulher casada e pelo
desenvolvimentos; aos casos das hipotecas legais nelas figurados aplica-se toda a
podiam deixar de ser inscritas quando garantissem os bens dotais nas mulheres casadas
complicado dos arts. 2.193 a 2.195 do Código Civil francês, que de tão porfiadas
discussões foi causa e cuja solução deveu-se muitas vezes não à jurisprudência dos
tribunais mas a atos legislativos, como a que a Lei de 21.05.1858 deu à dúvida
menores sobre o preço da aquisição, quando o direito de seqüela desaparecia por falta
da inscrição da hipoteca (Pont, vol. 2.º, n. 1.422; Troplong, Hypoth., vol. 4.º, n. 984;
Duranton, vol. 20, n. 421 bis). A remissão operava-se por meio da fiança (§ 11 do art.
10, da Lei de 24.09.1864; arts. 305 e 306, do Decreto de 26.04.1865), exigia-se a prova
da idoneidade dos fiadores, o promotor público tinha vista do processo como curador
geral, e a aceitação da fiança pelo juiz competente e a sua definitiva prestação tornava
art. 10, do Dec. 169-A, de 1890, e do art. 268, do Dec. 370, de 2 de maio, que destino
cuja dívida se reputa vencida; no caso figurado das hipotecas legais o direito do credor
hipotecário, só se devendo tornar efetivo se o marido não puder restituir o dote e o tutor
remissão a última fase desta não deve consistir na entrega do preço ao credor
hipotecário, este tem o direito de excussão dependente de fato, que só muito mais tarde
pode ocorrer.
Este ponto de difícil solução no direito civil francês, atenta a redação do art.
maiores vacilações na jurisprudência (Troplong, Hypoth., vol. 4.º, n. 984; Pont, Hypoth.,
vol. 2.º, n. 1.422; Duranton; vol. 20, n. 421 bis; Aubry et Rau, vol. 3.º, § 295, n. 2, nota
10), terá como solução, no nosso direito, a que é proposta pelo Sr. Lafayette (Dir. das
Cousas, § 266) isto é, o preço do imóvel, pago pelo remitente, deve ser depositado, para
ser em tempo oportuno levantado pelo credor hipotecário (menor, interdito ou mulher
casada), se ocorrer o alcance nas contas dos tutores e credores, ou ficar o marido com
responsabilidade verificada pelo dote; se qualquer destas hipóteses não ocorrer, pelo
devedor porque a ele pertence o preço da remissão, que representa o valor do imóvel, ao
que faz perdurar o direito prelatício sobre o de seqüela, quando a hipoteca extinguir-se
o preço pertence aos menores, interditos e à mulher casada, cuja situação deve liquidar-
se, em referência aqueles, no momento, havendo o alcance das contas, cuja tomada é
desapareceu com a remissão, deverá ser o devedor obrigado a oferecer nova garantia,
solução que se aplica à mulher casada, a qual, se tem o direito de pedir reforço da
hipoteca insuficiente; tem o de exigir nova hipoteca quando primeira se tiver extinguido
por um modo legal, qual a remissão (art. 11, § 4.º, do Dec. 169-A, de 19.01.1890).
TITULO V
§ 2.º Pela destruição da coisa hipotecada salvo a disposição do art. 2.º, § 3.º.
§ 7.º 2.ª alinea: a prescripção da hipoteca não pode ser independente e diversa
desaparecer, deve ter igual sorte e desaparecer com ela; a extinção da obrigação é, pois,
não uma causa primordial mas secundária da extinção da hipoteca; não tem o mesmo
cunho das outras indicadas no art. 11 supra. Neste caso a hipoteca desaparece por ficar
eficiência da notificação proporcionada pelo registro das hipoteca, devia ser a expressão
da situação da propriedade imobiliária, quanto aos ônus reais que a possam gravar; não
imóvel hipotecário, segue-se que de per si só o ato extintivo da hipoteca não impede o
assim como somente entre estas subsiste a hipoteca não inscrita, do mesmo modo entre
elas não prevalece a hipoteca, quando a obrigação principal estiver resolvida, ainda que
não se ache realizado o cancelamento da inscrição, isto por uma ra zão peremptória – o
dos meios de direito; somente exige-se que a extinção seja total e definitiva (Laurent,
Se a dívida perdurar em parte, por mínima que seja, a hipoteca subsiste, por
força do princípio da indivisibilidade, para garantir a parte da dívida não extinta (Pont,
n. 1.229; Mourlon, Répét. Écrites, n. 1.665, vol. 3.º; Martou, n. 1.336; Thiry, vol. 4.º, n.
Ainda faz-se preciso que a extinção seja definitiva, isto é, que não ressuscite a
dívida, após a sua extinção; em tal caso a hipoteca, quase sempre, revive com a dívida
(Laurent, vol. 31, n. 360; Martou, n. 1.336; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.666).
forma, porém, da dação em soluto ela pode oferecer dificuldades, quando a dação for
fundamentalmente afetada pela evicção da coisa oferecida e aceita em pagamento.
móvel de valor correspondente; se, aceito o modo de pagamento pelo credor, sofre este
tiver tido lugar, o credor evicto tem o direito de renová-la (Pont, n. 1.230; Troplong,
Hypoth., vol. 4.º, n. 864); no caso contrário a hipoteca conserva o número de ordem da
extinta a obrigação com a dação in solutum, que operou a dissolução do nexo, e faz
apreciação deste fato, que Domat torna saliente, quando faz sentir que a datio in
permanência; se for anulada a dação, como meio de pagamento, a sua força resolutiva
da obrigação desaparece, esta não sendo dissolvida subsiste e com ela deve subsist ir a
reviver com a obrigação, só produz efeitos entre as partes contratantes enquanto não for
de modo a dar ganho de causa às opiniões dos que entendem, como Laurent (vol. 31, n.
363) e Aubry et Rau (§ 292, nota 4), que a dação in solutum faz desaparecer a hipoteca,
ainda no caso de ser o credor evicto. O art. 2.038 dispõe: a aceitação voluntária por
(vol. 4.º, n. 864) – por não termos disposição idêntica à do art. 2.038 do Código Civil
francês.
evicção o efeito desta é tornar nulo o meio de solução da obrigação, que foi empregado,
A opinião de Laurent (vol. 31, n. 363) assenta em uma apreciação inexata dos
efeitos da evicção: desta, diz ele, somente resulta uma ação do credor contra o devedor
mas esta ação é diferente da que ele tinha em virtude da dívida originária – ela decorre
da evicção. Em que se funda ela porém? No fato de não estar paga a primitiva obrigação
por haver sido anulado o efeito da dação em pagamento. Em segundo lugar a ação
de resolução do nexo das obrigações, desde que a legislação de 1890 não estabeleceu
princípio diferente no regime hipotecário em vigor.
pagamento: “Si quis aliam rem pro alia volenti solverit, et evicta fuerit res, manet
evictione, não afetam de morte o direito do credor hipotecário pelo fato da evicção;
antes supõem o direito subsistente na garantia estabelecida: causa pignoris mutata non
est.
O fato de conceder esta lei uma ação útil de evictione ao credor, não importa o
com o seu acessório – a hipoteca (Voêt, ad. Pand., liv. 46, Tít. 2, n. 13).
como decorrência da obrigação nova, e não supõe a referida extinção como procedência
necessária da segunda obrigação; as expressões: hoc est, cum ex precedenti causa ita
nova constitutur, ut prior perimatur da L. 1.ª D. de novat. confirmam esta noção que é
aniquilamento da obrigação anterior (Van Wetter; Droit romain, § 518; Dr. Lacerda de
Almeida, Obrigações, § 85; Demolombe, vol. 28, n. 332; Laurent, vol. 31, n. 364 e vol.
18, n. 328).
pignus etc.” (L. 18 D., De novatione et delegat; Van Wetter, § 518; Dr. Lacerda de
Almeida, Obrig., § 87; Dr. Clovis Bevilaqua, Obrigações, § 46; Laurent, vo1. 18, n.
328): como, porém, o fundamento único da novação é a vontade das partes, e deve-se
condenar por injurídica, a denominada novação necessária, que não tem razão de ser,
constituída em garantia, da obrigação inovada; neste caso a hipoteca deve ter, segundo o
direito romano, a data da nova obrigação: “Creditor accepitis pignoribus, quæ secunda
conventione secundus creditor accepit, novatione postea facta pignora prioribus addidit:
superioris temporis ordinem manere primo creditori placuit, tanquam in suum locum
succedenti”, tal é o sentir de Papiniano (L. 3.ª D., qui potiores in pignore etc.).
O direito moderno (art. 1.278 do Código Civil francês; art. 1.274 do Código
Civil italiano; Código Civil holandês, art. 1.457; Código Civil argentino, arts. 803 e
804; Código Civil português, art. 807) aceitou a disposição romana e, estabelecendo
Estas disposições dos Códigos dão causa a diversas questões que não oferecem
todas interesse prático no nosso direito; como, po rém, a algumas delas prende-se a
solução de dúvidas, que se podem originar, no regime do nosso direito escrito, convém
deixá-las elucidadas.
Antes de tudo, a novação subjetiva é equiparável, quanto a seus efeitos, à
objetiva?
O direito escrito francês (art. 1.279 de Código Civil) proíbe que a hipoteca
acessória da obrigação inovada passe para a obrigação contraída pelo novo devedor,
ainda que tal coisa se estipule no contrato. Esta inteligência dada por Laurent (vol. 18,
n. 831) ao art. 1.279 supra é combatida por Demolombe (vol. 28, n. 353), que somente
julga irrealizável a reserva da hipoteca, sem o consenso do novo devedor, mas de todo o
devedor só pode ser garantida por hipoteca sobre os bens deste por escritura pública, em
que os bens sejam especificados com todos os requisitos exigidos no art. 4.º, § 1.º, do
com a lei; fazem-se precisos um ato e uma inscrição, e a hipoteca não tem número de
ordem senão a partir do dia em que for inscrita. Estes princípios elementares opõem-se a
que uma hipoteca seja constituída sobre os bens de um novo devedor co m retroação
anteriormente celebrada esta subsistirá (Dr. Clovis Bevilaqua, Obrigacões, § 46), dentro
da cifra da anterior (Dr. Lacerda de Almeida, Obrigaçõe, § 87); para ampliá-la a toda
dívida nova, se esta for maior que a anterior, faz-se preciso novo contrato hipotecário.
“Mais l‟hypothéque n‟est réservée que telle qu‟elle exista it. Si donc la nonvelle
dette était plus considérable, 1‟hypothéque réservée ne la garantirait que dans les limites
de la dette ancienne. C‟est une conséquence dos principes qui regissent notre systême
hypotecaire. L‟hypothèque est spéciale, elle n‟est valable que si l‟acte qui la constitue et
Esta era a solução do direito romano, o que indica que ela não tem como
87)
313. No direito moderno a noção que prevaleceu sobre a confusão é que ela
não extingue, apenas paralisa, a ação do credor; a obrigação não desaparece, não tem
resolução, apenas fica sem efeito, quanto à realização: a confusão consistindo assim na
(Laurent, vol. 31, n. 368) e este não pode acionar a si próprio (Demolombe, vol. 28, n.
efeitos desta desaparecem com ela (Laurent, vol. 18, n. 506; Aubry et Rau, § 292;
Duranton, vol. 20, n. 294); salvo quando afetarem direitos adquiridos por terceiro: daí a
segundo caso não se tendo anulado porque a obrigação principal não o foi, subsiste para
todos os efeitos (Demolombe, vol. 28, n. 17; Laurent, vol. 18, ns. 506 e 507; Lafayette,
Dir. das Cousas, § 277; Aubry et Rau, § 292; Duranton, vol. 20, ns. 293 e 294).
A distinção feita por Martou (n. 1.336) entre hipoteca revigorada para a partes
ex causa nova et voluntaria, a hipoteca revive; entre as partes contratantes, desde que
não haja sido cancelada a inscrição, ela vigora para com os terceiros, com o mesmo
número de ordem que tinha; na hipótese de haver sido cancelada a inscrição sua
renovação dá-lhe inteiro valor quoad tertios: não há como, inquinar de ineficiente a
hipoteca perante os terceiros, desde que ela seja válida entra as partes contratantes e que
o registro, do qual decorre este efeito não tenha vício pelo qual deva ser considerado
O que fica exposto não era o que prescrevia o direito romano; segundo os
hipoteca.
“At si idem alium; fidejussorem deserit, atque ita heredem te instituerit, rectius
existimari ait sublata obligatione ejus, pro quo fidejussum sit; eum quoque, qui
usurpat).
“Interdum et si soluta sit pecunia tamen pignoratitia actio inhibenda est, veluti
si creditor pignus suum emerit debitore” (L. 20, § 3.º D. de pignoratitia actione).
“Si rem alienam bona lide emeris, et mihi pignori dederis ac precario rogaveris
deinde me dominus heredem instituerit, desinit pignus esse: et sola precarii rogatio
actione).
Tais são, dentre muitos; os .principais textos dos quais deduziram sua doutrina
Maynz (Direito romano, § 168), e Accarias (§ 288): é este o direito em vigor, entre nós.
O § 7.º do art. 226, do Dec. 370, de 02.05.1890, separou da extinção da hipoteca, pela
extinção da hipoteca.
compensação; no nosso; direito a compensação é legal mas deve ser reconhecida por
decreto judicial, que a aplique aos casos concretos; a sua legalidade tem efeitos
extinta: desde o momento em que a compensação assim atua, como força dissolvente da
de existir, os juros cessam de correr e a prescrição igualmente. (Ord. do Liv. 4.º, Tít. 78,
princ.; Código do Comércio, art. 439; Consolidação das leis civis, nota 2 ao art. 841;
Demolombe, vol. 28, ns. 648 e 649; Duranton, vol. 20, n. 292; Laurent, vol. 18, n. 459).
o art. 138 apenas a admite quando alegada, como oposição, pelo devedor acionado.
francês, em que ela só opera ipso jure, dando os comentadores a estas expressões
sentido e efeito diversos dos que, com justo fundamento, dava Teixeira de Freitas, ao
nosso direito.
que é formulada, com tal fundamento, a oposição do devedor; o que está coerente com o
os acessórios das obrigações principais (Virgile Rossel, Manual do direito federal das
obrigações, n. 159).
à outra parte; tal declaração não pode ser condicional sob pena de não ter valor algum
principal.
hipotecário do Código Civil, que de acordo com o que consagrava a Lei de 05.05.1872,
de um título de crédito territorial (art. 1.177 do Código Civil alemão; Lehr, Droit civil
germanique, n. 117).
No direito civil português a compensação é legal, mas deve ser declarada por
decreto judicial; retrotrai os efeitos à época em que se deu de fato a compensação e tais
efeitos são a cessação dos juros, ainda que uma dívida seja gratuita e a outra vença
juros.
duas dívidas com todas as obrigações correlativas, desde o momento em que se realizar.
(art. 768 do Código Civil português; Dias Ferreira, vol. II, comentário ao art. 765).
obrigação principal ocorrida por algum dos modos designados para a extinção das
oposta pela parte interessada, o que se deduz dos arts. 820, 821 e 822, do Código Civil.
compensação não depende do decreto judicial; ela produz os seus efeitos extintivos
ainda que os credores e devedores ignorem a existência das duas dívidas e só pelo fato
que é (Laurent, vol. 31, ns. 369 e 370; Arntz, Droit civil, ns. 1.914 e 1.918; Direito das
Cousas, § 278).
Se de fato a prescrição não pode ser equiparada aos demais modos de extinção
dissolvidos, mas apenas a ação do credor pode ser inutilizada pela alegação da
prescrição, por parte do devedor, o que autoriza, sem dúvida, o conceito dos que
entendem que a prescrição só tem por efeito afetar o exercício do direito imprimindo-
lhe um cunho de passividade em vez da atividade, que lhe era inerente (Dr. Lacerda de
Almeida, Obrigações, § 92, nota 6.ª); todavia, como este influxo da prescrição sobre a
como um dos meios de extinção da obrigação principal, que afetam a hipoteca. Esta é,
ensejo de dizê-lo (n. 44) em uma razão capital – o desaparecimento do objeto do direito
preço da venda extinguem-se, desde que as coisas móveis, sobre as quais caírem,
tornarem imóveis por destino ou por incorporação (Laurent, vol. 31, n. 406), o que
coisa, sobre a qual incide a hipoteca; deve a fortiori acarretar a extinção desta.
da hipoteca por seu valor deve dar-se como conseqüência dos princípios econômicos
preço. Este ponto, longamente debatido no direito francês, no domínio do Código Civil,
foi resolvido na disposição do art. 10, da Lei belga de 16.12.1851, e na do art. 2.º, § 3.º,
da Lei 1.237, de 24.09.1864, e §§ 5.º e 6.º, do art. 142, do Dec. 3.453, de 26.04.1865: as
figurada, ao proprietário do solo, ainda que o edificante tivesse sobre o mesmo solo um
direito de superfície: superficies œdes appellamus, quæ in conducto solo posito sint
quorum proprietas, et civili, et naturali jure ejus, est, cujus et solum (L. 2 D. de
omne quod inedificatur, solo cedit – ao senhor do domino direto compete a propriedade
“Pour qu‟il y ait lieu à difficulté, il faut supposer que la vente n‟a pour objet
que la surface batie pour être démolie. Cette vente est mobilière; est-ce à dire que, dès
comme tel? Non; la vente est mobilière entre les parties contractantes, parce que
l‟acheteur achête la maison pour la demolir, c‟est-à-dire des matériaux; mais, à 1‟égard
des tiers, la maison reste ce qu‟elle est, immeuble par incorporation, le code dit même
par nature (art. 518). Il suit de là que le créancier hypothécaire conserve sou
hypothéque, il peut exercer son droit de suite sur 1‟immeuble contre le tiers acquereur;
vainement celui-ci dirait-il qu‟il n‟est pas tiers détenteur d‟un immeuble, qu‟il est
acheteur des matériaux qui composent l‟édifice. Cela est vrai à 1‟ègard da vendeur,
mais la vente ne peut être opposée au tiers detenteur qui n‟y a point figuré” (Laurent,
No nosso direito, em primeiro lugar, o edifício no caso figurado, não podia ser
objeto de hipoteca, porque como acessório do solo não pode, sem este, ser objeto de
hipoteca; em segundo lugar desde que fosse demolido, na hipótese de ser hipotecado
e 44 e seguintes).
porque os materiais em que ele se decompõe são coisas móveis, que não podem servir
de assento à hipoteca.
preço dos materiais do prédio: se a hipoteca subsistisse, como opina Laurent, porque em
pode ser acionado, o credor teria direito ao preço dos materiais, como sub-rogado nele o
repelida, porém, a solução por assentar em princípio que não é jurídico, qual o que
solução única é a oferecida pelo Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 276, n. 2): a ruína do
edifício não opera a extinção da hipoteca no solo; mas a destruição da coisa hipotecada
arrasta a perda da hipoteca no todo ou em, parte, segundo a perda da coisa é total ou
parcial.
A hipoteca não pode dar-se parcialmente; ela subsiste in totum sobre a parte do
Convém, para ultimar com o caso, tornar saliente que o julgado da Corte de
ponto sem aplicação no nosso direito, “o direito do credor ao preço do edificio não póde
ser contestado porque tal preço representa uma parte da garantia do credor, e o objecto
desta garantia conservou-se immovel até o momento em que foi oferecido o preço”.
exeqüibilidade.
É, porém, permissível a renúncia, sem ser por ato expresso? O nosso direito
reconhece efeitos de renúncia a atos dos quais ela possa decorrer por presunção de
casos:
hipotecado.
a eles dada por alguns de seus mais autorizados intérpretes, como Voet, e fundados na
opinião de Pothier resolvem que nos três casos figurados a hipoteca deve reputar-se
extinta.
Porque?
Voet, desde que o ato tenha execução definitiva, isto é, que a venda não se rescinda por
qualquer fundamento:
venierit res in cujus venditionem creditor consenserat, vel vendito quidem sit, sed a
venditione recessum fuerit, vel venditio ex aliqua causa inutilis sit, persecutio pignoris
etiamnum salva est” (Ad Pandect. Liv. 20, Tít. 6.º, n. 7).
Voet. “Creditor que permittit rem veniri, pignoris demitit”, diz Gaio (L. 158 D. de
Regul. Juris).
permutet, vel donet, vel in dotem det, dicendum erit, pignus liberari: nisi salva causa
pignoris sui consensit (vel venditione, vel cæteris): nam solent multi salva causa
pignoris sui consentire” (L. 4.ª, § 1.º D. quibus modis pignus vel hypotheca solvitur).
cum ideo passus est venire, quod siebat ubiqui pignus sibi durare; sed si subscripserit
forte in tabulis emptionis, consensisse videtur: nisi manifeste appareat deceptum esse.
emptorem, ut a venditione discederent Jus pignorum salvum erit creditori: nam sicut
debitori, ita et creditori prestimum jus restituitur: neque omnimodo creditor pignus
remittit, sed ita demum, si emptorem retineat, nec reddat venditori: et ideo si judicio
quoque accepto venditor absolutus sit, vel, quia non tradebat, in id quod interest
condemnatus, salvum fore pignus creditori dicendum est; hœc enim accidere potius sint,
não a negá- lo, nos textos citados: há, porém, uma condição: – que não exista expressa a
podem fundar em intenção presuntiva; como não se dar o mesmo nos casos de
citados e faça-se o confronto dos mesmos com as Leis 9.ª e 12 D. quibus modis e com o
própria expressão literal desta, e ainda sobre os princípios que dominavam no direito
que faz prevalecer o cunho definitivo, que à renúncia da hipoteca imprimiu a intenção
renunciou não a hipoteca, mas o direito de prelação (Pothier, Coutume d’Orleans, Tít.
20, Seç. 4.ª, n. 62; Aubry et Rau, § 292; Laurent, vol. 31, n. 378; Martou, n. 1.340;
318. Apesar de entender Pothier mais difícil a solução desta do que a das
dúvidas no, direito francês; elas afetam principalmente dois pontos, um dos quais tem
liberado de quaisquer encargos e ônus reais, importa a renúncia da hipoteca por parte do
credor?
intentio liberationis por parte do credor, mas porque “s‟il n‟a pas voulu remettre son
A solução dada por Modestino na L. 9.ª, § 1.º, D. quib modi pign. etc., parece
ser clara no sentido da opinião de Pothier: “Modestinus respondit, pignus, cui is de quo
(vol. 31, n. 377): “Cela est trop absolu; le créancier ne declare pas que le bien est libre,
il constate seulement par sa signature que la declaration a été faite. Ce qu‟on peut lui
reprocher, c‟est d‟avoir, par sa signature aidé à tromper les tiers, le fait qu‟il a posé est
un fait dommageable; par suite, les tiers ont contre lui une action en dommages
interêts...”
confronto do n. 2 do art. 2.180 do Código Civil com a disposição do art. 621 que exige a
envolvendo a renúncia tácita... “il faut une déclaration de de sa part qu‟il renonce à une
hypothéque, ou du moins qu‟il y ait dans, le contrat quelque clause de laquelle il resulte
évidemment que son intention a eté d‟y renoncer” (vol. 20. n. 301).
“La renociation tacite s‟induit d‟un fait posé par le créancier. Ce fait doit être
C‟est le principe général qui régit toute renonciation tacite. Si l‟on peut donner au fait
allégué contre le créancier une autre interprétation que celle qui implique la
Tais são os princípios que devem ser tidos como dominantes no nosso direito.
4.º, § 6.º, do Dec. 169-A, de 19.01.1890, art. 130, do Dec. 370, de 02.05.1890); se a
atendida em juízo à vista da certidão da averbação (art. 227 do citado Dec. 370, da
de 1890); como decidir que é possível a renúncia tácita da hipoteca com efeitos práticos
que o nosso direito exige a renúncia expressa para que a hipoteca se extinga por força da
A opinião dos que entendem, com Pothier, que o texto do § 1.º da L. 9.ª D.
quibus modis pignus, vel hypoth. solvitur, deve prevalecer entre nós, no caso de ser o
credor testemunha do contrato de venda do imóvel, que lhe era hipotecado, no qual este
se transfere como livre, ataca de frente as disposições dos Dec retos 169-A e 370, de
1890. A solução de Modestino é, como diz Laurent, muito absoluta e só pode servir de
O seu principal efeito sendo resgatar o imóvel hipotecado do ônus real, que o
forçosamente deve ela ser contemplada no número dos modos de resolver o nexo da
obrigação hipotecária.
hipoteca.
sentença passada em julgado, de modo que a nulidade provada nos embargos opostos à
ação executiva de que trata o art. 15 do Dec. 169-A, de 19.01.1890, pela carta de
sentença que a fulminara, não produzirá o efeito de impedir a condenação se não for
ou em parte pode ser renovada, e não importa, de modo algum, a anulação da hipoteca:
o preceito do § 5.º do art. 226 do Dec. 370, de 02.05.1890, dispõe de modo preciso,
desde que só declara extinta a hipoteca por força da sentença que a anule ou rescinda,
disposição do § 3.º do art. 108 da Lei belga de 16.12.1851, que incluía entre os modos
dos menores, quando feita com excesso sobre a efetiva responsabilidade do tutor.
“La loi s‟exprime mal en disant que 1‟hypothèque est restreinte, c‟est
1‟inscription qui est réduite. Il n‟y a donc pas d‟extinction de 1‟hypothèque légale” (vol.
31, n. 351).
fundamento jurídico.
“Lors qu‟en exécution de ces décisions les inscriptions sont rayées ou reduites,
Non, c‟es 1‟inscription qui est radiée pour partie ou même pour le tout; mais le
“por la cancellation que el acreedor otorgare por escritura publica, de que se tome razon
cancelamento do registro, é não esta atuando sobre aquela, com inversão das princípios
de direito.
Disposição idêntica a do Código Civil chileno contém o Código do Uruguai no
art. 2.310.
hipoteca se extingue pela arrematação do imóvel em hasta pública, ainda que não
carecendo do registro.
1.183) libera o devedor, por extinção da hipoteca, e, em tal caso é conferida ao devedor
pessoal, que tem qualquer direito de indenização contra o credor a quem paga, o
alemão.
321. Além das causas mencionadas no § 5.º do art. 11 do Dec. 169-A, de 1890,
devem ser contempladas entre as que extinguem a hipoteca as que são referidas nos §§
6.º a 10, do Dec. 370, de 02.05.1890. Assim a desapropriação do imóvel por utilidade
por ato público, qual o processo utilizado para tal expropriação pelo Decreto legislativo
353, de 12.07.1845.
hipoteca, porque o credor, tornando-se proprietário, não pode mais ter sobre o imóvel,
de que ele tem a propriedade completa, um direito real, que se considera, em geral, um
(Martou, n. 1.368).
retroage ou que não retroage, em que os escritores franceses assentam a solução do caso
confusão for originária e fundamentalmente nula, por sê- lo a aquisição do domínio por
parte do, credor, não pode dela promanar o efeito da nulidade da hipoteca.
Declarar nula a hipoteca por um fato qne não subsiste, eivado de vício
desaparece com ele a hipoteca; esta reputa-se não ter existido, dizem os doutrinadores,
porque a cláusula rescisória tem efeito de retroação (Laurent, vol. 31, n. 403); há, pois,
impropriedade em dizer-se que a hipoteca extingue-se; não se extingue aquilo que nunca
existiu.
deve decidir, salvo se a revogação da doação tiver lugar por motivo de ingratidão; a
disposição do art. 958 do Código Civil francês está de acordo com o nosso direito (Ord.
do Liv. 4.º, Tít. 63, §§ 9.º e 10.º; Consolidação das Leis Civis, arts. 390, § 3.º, e 423).
Nesta última hipótese a hipoteca feita pelo donatário subsiste, enquanto não for
revogada a doação (Laurent, vol. 31, n. 403; Duranton, vol. 20, n. 341).
hipoteca, que desaparece por ser, de então em diante, à non dominio; a retroação só se
colhidos impor-se- ia, por que a resolução do domínio ex tunc produz este efeito.
antecipação de legítima, em que pela colação pode o imóvel, entrado novamente para o
excussão, perde a hipoteca, porque esta extingue-se; dependendo, porém, a prova da sua
extinção da certidão do cancelamento nos termos do art. 227, do Dec. 370, de 1890.
principal.
pelo terceiro adquirente e detentor do imóvel hipotecado, a conjunção dos dois fatos
prescritivos – o que atua com força de extinção da obrigação e o que opera por meio da
dez anos entre presentes e vinte entre ausentes, o fenômeno dá-se porque o terceiro
imóvel pela posse no lapso de tempo de trinta anos – o detentor frui os efeitos da ação
2.180) com o da prescrição extintiva da Lei belga de 16.12.1851 (art. 108)? ou dever-se-
se por sentença judicial, que a declare; a averbação da extinção da hipoteca, por achar-
não se der tal averbação, que constitui o cancelamento do registro (art. 99 do Dec. 370),
a hipoteca produz seus efeitos contra terceiros (§ 6.º do art. 11 do Dec. 169-A, e art. 103
hipotecado, pelo detentor, por força da prescrição aquisitiva de dez anos, entre
Desde que isto ocorra a hipoteca, não podendo continuar a existir, porque o
prescrição da obrigação principal, para o devedor, e de trinta anos para o terceiro (art.
108 da Lei belga de 1851; Martou ns. 1.345 e 1.350; Laurent, vol. 31, ns. 385, 387 e
325. Desde que o direito escrito em vigor (art. 11, § 7.º, 2.ª alínea, do Dec. 169-
prescrição da obrigação principal, não pode ter aplicação o que doutrina Lafayette no
Direito das Cousas (§ 278, letra b) sobre a extinção da hipoteca por efeito de uma
faz prevalecer a hipoteca quoad tertios enquanto não cancelada, o terceiro adquirente
não pode estar de boa-fé sobre a liberação do imóvel, quando a inscrição perdura.
(Ord. do Liv. 4.º, Tít. 3.º) inspirado no mecanismo hipotecário do direito romano.
prescrição, esta não tinha, como efeito, extinguir nem sequer a própria ação pessoal
na ação serviana, tirava a eficácia da hipoteca por um meio indireto (L. 44, § 5.º, D. de
Honório e Teodósio (na L. 3.ª, Cod. de præscription 30, vel 40 annorum): “Sicut in rem
minime prætendantur: sed si qua res, ver jus aliquod postulatur, vel persona qualicum
que actione, ver persecutione pulsatur, nihil omnis erit agenti triginta annorum
præscriptio metuendo.”
A ação hipotecária foi declarada extinta, mais tarde, pelo imperador Justino,
vel apud debitores consistentium, vel apud debitorum heredes, non ultra quadraginta
anos ex quo competere cæpit, prorogari, nisi conventio, aut ætas intercesserit &” (L. 7.ª,
da ação hipotecária era devida à necessidade de garantir esta a obrigação natural, que
“Ratio esse, diz Perezius (citado em Martou), videtur quia præscriptione civilis
Era uma anomalia o concurso destas duas prescrições e Martou (n. 1.344)
transcreve o justo reparo de D‟Argentré a tão singular fato, que e o direito moderno
condena in limine por não ligar efeito semelhante à denominada obrigação natural, de
que trata o art. 1.235 do Código Civil francês, a qual, como diz Laurent, só é
reconhecida pela lei, no momento em que se extingue pelo pagamento (n. 385).
ou de vinte anos conferia a propriedade livre, desde que o possuidor por justo título
ignorasse a existência da hipoteca a que estivesse sujeito o imóvel (L. 8.ª pr. Cod. de
“Si quis emptionis, vel donationis, vel alterius cujus cumque contractus titulo
rem aliquam bona fide per decem vel viginta annos possiderit et longi temporis
exceptionem contra dominos ejus, vel creditores hypothecare ejus pretendentes sibi
adquisierit, posteaque fortuito casu possessionem ejus vi perdiderit: posse eum etiam
Aquele imperador diz ser esta a doutrina consagrada nas antigas leis: – “hoc
título por parte do possuidor, desde que, em boa-fé, possuísse pelo tempo de quarenta
anos: “nisi ipse injustus possessor triginta, vel quadraginta annorum, ex eo tempore
munitus est”.
O terceiro possuidor, que sabia que a coisa estava hipotecada, não adquiria por
prescriptio temporalis, ainda aos possuidores de má-fé (Maynz, Direito romano, vol. 1.º
§ 168, p. 922; Van Wetter, Droit romain, § 282; Serafini, Direito romano, § 99).
ação hipotecária e a pessoal fundem-se e vivem uma vida comum; de modo que se a
igualmente interrompida, sem que haja necessidade de praticar o credor qualquer dos
atos a que a lei liga o efeito de interromper a hipoteca; conservar o direito creditório
(P. Pont, Hypoth., vol. 2.º, n. 1.212 a 1.244; Troplong, Hypoth., vol. 4.º, n. 877;
modo especial de extinção da hipoteca; mas que esta se extingue pela prescrição da
obrigação principal e que a referência do art. 2.180 do Código Civil francês à prescrição
apoiava (Duranton, vol. 20, n. 308; Pont, n. 1.242; Troplong, vol. 4.º, n. 877; Laurent,
vol. 31, n. 385; Martou, n. 1.345; Thiry, vol. 4.º, n. 572) e deixar estabelecido que a
prescrição da ação hipotecária não deve ser diferente da da obrigação principal, quanto
ao lapso do tempo.
principal, o art. 2.180 do Código Civil francês admite que o terceiro possuidor de um
imóvel hipotecado possa adquirir por prescrição a liberação do imóvel; para tal fim a lei
exige que o possuidor tenha a sua posse revestida dos elementos e das condições
Assim, se ele tiver título e boa-fé prescreverá em dez anos entre presentes e em
vinte entre ausentes; no caso de falta destes elementos a prescrição exige o lapso de
tempo de trinta anos; ainda mais, se a prescrição for, por força de disposição de lei,
sujeita a menor lapso de tempo para aquisição do imóvel, a mesma condição vigorará na
prescrição do terceiro possuidor (Pont, vol. 2.º, ns. 1.246 e 1.247; Troplong, Hypoth.,
Rejeitou esta lei a prescrição pelo lapso de dez ou de vinte anos, porque, graças
Laurent critica este fundamento, como não podendo ter sido o da lei, apesar de
estar de acordo com o que expendeu Lelièvre em seu relatório perante a câmara belga.
sempre a boa-fé; basta que esta seja, como na hipótese, uma questão de fato, para que a
lei não possa presumir a má- fé. Acresce que o terceiro possuidor pode ser legatário ou
donatário e como tal ignorar os encargos hipotecários do imóvel (Laurent, vol. 31, n.
388).
hipotecário.
estar em contínua vigilância para interromper a prescrição; no entanto, ele pode ignorar
adquirente, terceiro detentor. É por esta razão que a lei exige que esta só possa invocar a
Este escritor torna saliente a diferença entre os casos de, prescrição da hipoteca
dois direitos: um contra o devedor, uma acção pessoal nascida do nexo da obrigação –
este direito extingue-se pela prescripção da obrigação; outro contra o terceiro possuidor;
é uma acção real – o direito do credor só prescreve com o lapso de trinta annos”
obrigação principal e por outro lado, agindo com força aquisitiva, levando à
moderna cedeu erradamente á influencia das tradições. O que fez admittir, no antigo
direito, esta prescripção, foi a clandestinidade das hypothecas; a circulação dos bens
sob o peso de encargos desconhecidos. Mas sob o imperio dos costumes que
direitos reaes, a existência desta prescripção especial não era considerada justificada”
(Martou, n. 1.350).
domino) e por titulo legal, mas que o immovel lhe veiu onerado de hypotheca. Neste
caso o possuidor o prescreve, não para adquirir o dominio, que lhe foi transferido por
titulo que dispensa a prescripção, mas tão sómente para libertal-o da hypotheca.
Eis, pois, a prescripção acquisitiva da liberdade do predio a funccionar, sem o
A Lei 1.237, de 24.09.1864, já continha disposição idêntica (art. 11, § 7.º, 2.ª
alínea), reproduzida no art. 254 pelo Dec. 3.453, de 26.04.1865; quando se admitia no
Direito das Cousas a prescrição da hipoteca sem ser pela forma extintiva da obrigação
constitutivo da hipoteca, já a lei condenava essa forma de prescrição, que parece haver
como prejudicada a disposição do § 1.º da Ord. do Liv. 4.º, Tít. 3.º pela do art. 254 do
330. Comentando o art. 1.026 do Código Civil português diz Dias Ferreira:
acção principal? De certo. E por isso o Código deveria em o n. 3.º do art. 1.027 referir-
se unicamente aos ns. 1.º e 2.º do art. 1.026, visto que, com relação ás hypothecas, a
averbamento.
seqüela.
hipoteca pelo pagamento e o credor não pudesse, opor a tal alegação a certidão do
20.06.1774.
nulidade da hipoteca de pleno direito, quer daquelas que dependem de declaração por
Enquanto não for cancelado, o registro produz todos os seus efeitos, ainda que
o contrato esteja invalidado por qualquer fundamento (art. 103 do Dec. 370, de
02.05.1890).
vício substancial, a inscrição reputa-se anulada, ainda que não tenha sido cancelada.
Esta disposição do parágrafo único do art. 103 afeta o registro e não a relação
demonstrar documentalmente:
averbações da folha em que são lançados os registros, e como nessa averbação é que
o cancelamento do registro.
103 do Dec. 370, que se deve conciliar com as disposições do § 6.º do art. 11 supra, do
“Dès que cet act est consenti, il a toute so n efficacité, et avant même que le
hipoteca o critério da sua perduração para com os terceiros, é forçoso concluir que à
É por isto que, com grande coerência, o art. 227 do Dec. 370 só permite que se
inscrição.
“Ainsi, un créancier revoquerait la main- levée qu‟il aurait consentie avant que
1‟inscription eût eté rayée par le conservateur, la main- levée n‟en serait pas pour cela
anéantie; elle resterait apposable au créancier non seulement par le débiteur, mais
encore par les tiers qui auraient traité aves le débiteur, et AURAIENT PRIS INSCRIPTION
AVANT QUE LA RADIATION EUT ETE MATERIELLEMENT EFFECTUEE.” (N. 105 citado.)
consentie conserve ses ffectes et son rang: c‟est jurisprudence de la Cour de Cassation”.
da nossa legislação de 1890, que é a que domina a belga nos seguintes termos:
desde que é consentido pelas partes e antes mesmo que o official haja cancellado a
inscripção. Fundam-se em que o levantamento é um acto unilateral e como tal não exige
O principio é verdadeiro; não se tira, porém, della uma conclusão falsa? Dizer
que a, renuncia é acto unilateral, é, porém, dizer igualmente que o credor póde mudar de
vontade emquanto não existir facto consummado, isto é, emquanto não fôr adquirido
“(...) Parece-nos que um acto que interessa a terceiros só tem effeito quando os
inscripções hypothecarias que não têm outro fim senão o interesse dos terceiros; ellas
cancellamento não póde ter effeito emquanto não se effectua nos registros” (vol. 31, n.
225).
dívida e juros vencidos, sendo por conta do credor as despesas do depósito, que se fará
com a cláusula de ser levantado pela pessoa a quem de d ireito pertencer (art. 228 do
Dec. 370).
quem pertencer.
a competente averbação.
se, o que pode ainda tornar-se da maior importância prática, se com a prestação do
pagamento ele desonerar imóveis gravados de hipotecas (Demolombe, vol. 28, n. 63).
Na censura de direito a faculdade de pagar por consignação ou depósito do
dívida, de embargo desta em poder do devedor, ou de ônus que grave a coisa comprada,
ou de obrigação a cuja solução esta esteja adstrita (Dec. 737, de 25.11.1850, art. 393;
Código Civil francês, art. 1.257; Código Civil holandês, art. 1.440; Código Civil
italiano, art. 1.259; Código suíço das Obrigrações, art. 107; Código Civil argentino, art.
757; Código Civil espanhol, art. 1.176; Código Civil alemão, arts. 293 e seguintes;
Tendo por fim evitar que os imóveis perdurem gravados de hipoteca e o crédito
devedor hipotecário pague por depósito da importância da dívida, desde que no dia do
vencimento o credor não comparecer a receber, ainda que não oponha qualquer dos
obstáculos que segundo o direito romano, o nosso direito escrito, a doutrina geralmente
dívida, sem a translação da propriedade da coisa, dada em solução, ao credor; para tal
efeito exige-se que o depósito seja efetivo e real; porquanto à recusa do credor remedeia
fato de grande alcance promana da recusa, ou da mora da aceitação por parte do credor
– os juros cessam de correr e a quantia ou a coisa depositada não fica a risco do devedor
e sim do credor (Laurent, n. 203; Aubry et Rau, vol. 40, § 322, notas 12 a 15); salvo se a
quais o pagamento não pode ser tido como válido, caso em que só a decisão judicial,
julgando regular a consignação, libera o devedor, in totum, isto é, quanto aos fins
Obrigações, § 38; Dr. Lacerda de Almeida, Obrigações, § 74; Coelho da Rocha, Inst. de
Direito Civil, § 151; Corrêa Telles, Dig. Port., Liv. 1.º, Tít. 10, arts. 1.120 e 1.121). É
Na hipótese do § 7.º do art. 11. do Dec. 169-A, de 1890, porém, o simples fato
et Rau, loc. supra cit.; Demolombe, vol. 28, n. 141; Duranton, vol. 2.º, n. 225).
ser efetuada pelo oficial do registro logo que lhe for apresentada a certidão do depósito
importância da dívida, libera o imóvel ou imóveis hipotecados, porque ela não pode, em
desacordo com os princípios gerais, que dominam o pagamento por consignação, ser
retratada; apenas feito o depósito é ele notificado, por editos, ao credor, aos fiadores ou
levantar o depósito: em todo o caso o devedor fica liberado pelo simples fato da
consignação.
Cód. de usuris.
manifestum est.”
mesmo princípio.
usurarum inhibeatur: in hoc autem casu publicam intelligi opportet, vel sacratissimos
ædes, vel ubi competens judex super ea re aditus deponi eos disposuerit, quo subsecuto,
que o credor a recuse (Ernest Glasson, Droit et Instit. De l’Anglaterre, vol. 6.º, p. 379).
devedor, desde que houver notificação do credor: “On ne voit pas comment le débiteur
serait libéré à l‟ègard du créancier par un simple dépôt, qui n‟a pas été porte à la
connaissance de la, partie directement interessée et dont celle ci n‟a pu tirer parti. Et, en
vèrité, que serait une mise à disposition qu‟on laisserait ignorer à celui envers lequel
elle doit avoir eu lieu” (Virgile Rossel, Manuel du droit fédéral des obligations).
“Le regule relative alla forma attuale delle offerte reali ed alla consegnazione o
depósito variano a seconda della natura dell‟oggetto della prestazione. Cosi, quando il
creditore di una somma di danaro rifiuta il pagamento di essa, il debitore od il terzo che
intende fare il pagamento, giusta gli articoli 1.238, 1.260, é autorizzato a liberarsi col
reali, in opposizione alle offerte puramente verbali o labiali per indicare che devono
Borda, Comment. ao art. 1.259 do Código Civil italiano.) Veja-se Mattirolo, Diritto
decorre que ao devedor não é lícito, depois de feita a consignação, retirá- la.
devedor assista o direito de retirar a consignação, antes de haver esta sido aceita pelo
credor, o que, no entender dos comentadores e tratadistas, torna patente que a lei
aceitando-a torna o pagamento definitivo (Laurent, vol. 18, ns. 204 e 210); todavia a
com o fim da consignação e evita as dúvidas a que abrem espaço as disposições dos
solutionibus et stipulationibus.
preceito do art. 1.257 do Código Civil supõe feita a consignação após ofertas reais ao
artigo do Código, estatuem, como ponto líquido: “Que les offres reélle libèrent le
consignação pelo credor, que já conhece as ofertas de pagamento, cuja últimação opera-
se pela consignação.
Direito Civil, § 150; Corrêa Telles, Dig. Port., Parte 1.ª; art. 1.120; Dec. 737, art. 393, §
1.º); como, pois, tornar incerto o efeito da consignação, enquanto não se dá a aceitação
do credor?
são graves.
A dívida renasce, os acessórios desta revivem com ela, o que prova, como diz
Laurent (n. 206), que a liberação não foi definitiva, a despeito do que dispõe o art. 1.257
do Código Civil francês e do que o próprio Laurent doutrina no n. 200 do vol. 31 dos
seus Princípios de Direito Civil: se a dívida tivesse sido extinta pelo fato da
liberação desta decorrente, no que afeta juridicamente à sua pessoa; não teria, porém,
força de fazer reviver uma dívida extinta com prejuízo dos direitos adquiridos de
terceiros. A dívida não estava extinta, conseguintemente tais direitos adquiridos não
inscrição.
consignação, o que é bem de ver, desde que foi o próprio devedor quem provocou a
ação judicial.
da consignação?
devedor hipotecário não pode ter lugar – quod nullum est producit effectum – da
pagamento torna-se definitivo e deve-se dar cumprimento aos arts. 229 e 230 do Dec.
370, de 02.05.1890.
hipótese, o devedor não pode arrepender-se e retirar a consignação: aplica-se entre nós,
O que doutrina Coelho da Rocha no § 151 das suas instituições do direito civil
334. Desde que é à inscrição que se prende a eficácia da hipoteca, desde que
esta, enquanto não registrada, constitui para o credor uma garantia nominal e sem efeito
contrato a consignação do valor dos bens a isso destinados pelo devedor, compreende-se
que ao ato que importa a supressão da inscrição liga-se a sorte dos mais elevados
interesses, que o direito abriga sob a proteção de um regime de exceç ão, em o qual
valor à solução de um credor, com preferência sobre os outros, e torna efetivo e real este
direito singular, por meio da faculdade de subtraí- los ao poder de terceiro possuidor,
titulado e de boa- fé, para apurando-lhes o preço solver por este o crédito prelaticiamente
148; Troplong, Hypoth., vol. 3.º, n. 737) e o ato de que depende a sorte desta (Martou,
Se a presunção carece de assento científico, por não haver por onde considerar
que a doutrina tem consagrado, como consectário natural do princípio que domina o
vitalidade daquela, é preciso, para não ser violada a boa- fé destes, estabelecer que eles
resultado, que lhes é imposto pela coerência a guardar mantendo a decorrência dos
princípios aceitos: enquanto não for cancelado, o registro produz todos os seus efeitos
legais, ainda quando se prove por outra maneira que o contrato hipotecário está desfeito,
efeitos quanto aos terceiros; é o meio que a lei proporciona para anular a inscrição,
hipoteca.
coluna das averbações do livro referido, nessa certidão o funcionário declara que a
inscrição é cancelada, por motivo que deve indicar, e em virtude do título que der causa
ao cancelamento.
a inscrição terá de ser revalidada, e nada impede que se faça averbação na primitiva
inscrição, declarando que ela fica revalidada, subsistindo, porém, unicamente da data da
31, n. 147; Martou, n. 1.178; Mourlon, vol. 3.º, n. 1.593; Thiry, vol. 4.º, n. 542; Chironi,
Diritto Civile, § 238; Dec. 370, de 02.05.1890, art. 99; Lafayette, Dir. das Causas, §
250, n. 6).
se de eliminar uma inscrição que não deve mais perdurar, por já não ser a expressão
já não ter causa jurídica a inscrição, ou não haver motivo para, sua permanência.
outro credor: aquele pode interessar que não produza a hipoteca efeito s contra terceiros
– porque assim poderá operar sobre os imóveis gravados de hipoteca de modo mais
vantajoso do que consegui- lo-ia se a inscrição existisse. A inscrição pode estar viciada,
ter sido feita com alguma das nulidades substanciais de que trata o art. 212 do Dec. 370,
O credor com prelação por precedência de inscrição, pode desistir deste direito
em favor de credor inscrito posteriormente; o meio prático de tornar efetiva a cessação
jurídica, não deixa de ter razão de ser, como diz Pont (n. 1.069) e, no entanto, tem lugar
não afeta a hipoteca; esta pode subsistir e aquela desaparecer pelo cancelamento –
cancelamento são duas coisas muito diferentes (Troplong, Hypoth., vol. 3.º, n. 737;
Pont, Hypoth., n. 1.072; Martou, n. 1.178; Laurent, vol. 31, n. 149; Mourlon, vol. 3.º, n.
1.664; Duranton, vol. 20, n. 184, Thiry, vol. 4.º, ns. 542 e 543).
concreta, ligada à sorte da obrigação principal e perecendo com esta, assenta todo ele na
pagamento da obrigação principal, o imóvel hipotecado não fica liberado, o título real
(bon foncier) subsiste, pode ainda ser cedido pelo credor; tal cessão é valida em relação
prend naissance par la publicité ne peut se transmettre que par une publicité diverse, ne
peut s‟éteindre que par une publicité contraire. Autreme nt les tiers sont trompés, et ils le
sont aussi bien en cas d‟extinction qu‟en cas de création ou de transmission. Tant que je
trouve un droit hypothécaire, je dois pouvoir me le faire céder en toute confiance. Ici
encore nous avons une grave lacune dans le système français.” (Raoul de la Grasserie,
uma certidão, ou extrato da inscrição da hipoteca, regularmente feita: tal era a força
desses títulos que contra os mesmos o devedor não podia provar, contra o terceiro
portador, salvo demonstração de má- fé, que a dívida era fictícia ou simulada, ou alegar
a exceção nom numeratæ pecuniæ ou de qualquer modo provar que não recebeu
le titre juridique, elle continue à subsister, nonobstant le payement, tant que l‟extinction
de la dette n‟a pas été formellement constatée et sur le registre foncier et sur la lettre de
adquirido pelo credor o direito à hipoteca, enquanto não lhe é entregue pelo proprietário
contrato de que o credor fica autorizado a fazer-se entrega a letra pela administração de
registro territorial: unicamente o resgate ou a anulação dessa letra opera a liberação do
imóvel, porque a posse da letra supre a inscrição e esta, enquanto perdura, imprime
hipotecário, o devedor não pode opor exceção alguma ao terceiro possuidor do título,
cancelamento do registro (Código Civil da Rep ública do Uruguai, art. 2.310; Código
chileno, art. 2.434) e os que revelam ter-se modelado por aquele direito, obedecendo à
publico das hypothecas. Este cancellamento sómente terá lugar á vista de provas
subsiste.” (art. 299 do Código Civil do Cantão dos Grisões, Trad. de Raoul de la
recente Lei de 06.08.1897 (Land transfer act), que modificou a Lei de 1875, a que já
nos temos, por diversas vezes, referido neste trabalho, no que entende com o registro
das transmissões dos imóveis.
O registro dos ônus reais constitui parte importante da lei, assim como o
imóveis ou constitutivos de ônus reais o encargos territoriais, por meio de sua inserção
em livros públicos, o que estava nos costumes de alguns condados entre os quais os de
York e Middlesex. A promulgação das leis de 1863, a que já nos referimos, foi um
belga; estas leis, por serem facultativas as suas providências, ficaram sem execução; a
Lei de 1875 teve aplicação, e a aprova de que os benéficos resultados por ela produzidos
venceram a resistência dos obstinados em repelir a publicidade é que por meio da Lei de
condados da Inglaterra.
(mortgage).
menção do nome do credor, e da natureza dos ônus reais; o credor pode obter um
credor inscrito, o que é fato de grande relevância por indicar a aclimação do regime
338. O cancelamento da inscrição diz o art. 12 supra tem lugar por convenção
forçado ou obrigatório (Laurent, vol. 31, n. 149; Martou, n. 1.179; Pont, n. 1.072;
Troplong, vol. 3.º, n. 736); estas expressões exprimem melhor a verdade do que a noção
como dizem os arts. 2.157 do Código Civil francês e 92 da Lei belga de 1851,
exclusiva da inscrição feita em detrimento do credor, a quem priva dos efeitos que à
se opere (Martou, n. 1.180; Pont; n. 1.073; Thiry, vol. 4.º, n. 543; Laurent, vol. 31, n.
art. 102 do Dec. 370, de 1890, que só permite o cancelamento mediante documento de
O cancelamento não exige, para sua validade, que exista convenção entre o
Não muda em nada a situação jurídica do cancelamento o fato de ser ele levado
a efeito antes de vencida a dívida; ainda que o consentimento do credor seja obtido em
virtude de acordo ou convenção em que se estipule indenização pelo dano, que lhe
resolvido, não tem por fim, solicitar o concurso das vontades do devedor, que só tem
interesse na radiação e do credor, que é o único apenas a perder com a medida, mas sem
obter o consentimento deste e para conseguir tal fim é que se propõe o devedor a
Esta convenção, como diz Laurent, não interessa aos terceiros, para estes é
suficiente o ato unilateral pelo qual o credor declara consentir no cancelamento (vol. 37,
n. 153).
cancelamento; este ato importa anulação dos direitos de prelação e seqüela; se o oficial
praticá-lo sem exigir a prova da capacidade dos que nele consentem, para dar
consentimento legal, incorre em responsabilidade pelo dano que causar (Laurent, vol.
31, n. 154).
a) que capacidade deve ser exigida naqueles que dão consentimento expresso
para o cancelamento;
consentimento.
inscrição costuma a doutrina distinguir o caso em que o cancelamento deve ter lugar,
principal, torna obrigatório o cancelamento; a inscrição deixa de ter causa legal, visto
como não há fundamento jurídico para assegurar a prelação e a seqüela a uma hipoteca
extinta.
determinada, apenas deve ter e provar interesse no ato; para requerê- lo basta a prova de
pode ser autorizado por quem teve capacidade para aceitar a solução da dívida principal.
Quem consente no cancelamento não pratica ato de disposição, não precisa ter
conseqüência forçada do pagamento, que está validamente consumado (Laurent, vol. 31,
n. 155; Pont, Hypoth., vol. 2.º, n. 1.077 in fine; Duranton, vol. 20, n. 185; Martou, n.
Assim o menor púbere não podendo solver nem contrair obrigações sem
assistência de seu tutor e sem que este esteja devidamente autorizado por juiz
imóvel de seu devedor, se houver dado quitação da dívida, estando seu tutor
por seu curador é equiparada à do menor púbere pelo tutor (Lafayette, Direito de
Familia, § 167).
Familia, § 46).
pode ser dada pelo marido, o cancelamento por ele requerido (Laurent, vol. 31, n. 162,
hipoteca; a mulher casada não os pode praticar sem autorização do marido, os menores
púberes sem assistência dos tutores, os impúberes são representados pelos tutores; em
um e outro caso os tutores devem ter autorização do juiz competente (Laurent, vol. 31,
n. 164; Trigo de Loureiro, Direito Civil, vol. 1.º, § 208; Clovis Bevilaqua, Dir. de
Família, § 84, p. 520; Lafaytte, Dir. de Família, §§ 42 e 153; Coelho da Rocha, Instit.
de Direito Civil, §§ 232 e 375; Borges Carneiro, Direito Civil, §§ 121 a 239, ns. 10 a
15).
1.188).
está, como no direito francês, ligada a situação criada pelo art. 472 do Código Civil ao
cancelamento enquanto não for provado o fato da prestação das contas da tutela e sua
definitiva liquidação (Martou, n. 1.187; Laurent, vol. 31, n. 163; Pont, vol. 2.º, n.
1.077).
casando. Por qualquer destes fatos entra no estado que os jurisconsultos portugueses
denominavam – quase-maioridade.
poderem alienar ou dispor, por qualquer modo, de bens imóveis (Ord. do Liv. 1.º, Tít.
88, § 28, e do Liv. 3.º, Tít. 42, § 2.º; Silva, coment. a esta última Ord. ns. 1 e 6; Borges
real.
mencionados, não pode autorizar o cancelamento; no negativo não se lhe pode contestar
tal faculdade.
qualquer meio regular, como o pagamento; todavia, considerando, que ele pode
acarretar a alienação de um direito imobiliário, quando tiver lugar, por exemplo, no caso
da hipoteca não estar paga, ou extinta por qualquer modo regular, opinam que o menor
emancipado não pode autorizar o cancelamento, por não tratar-se de ato de pura
administração.
Outros julgando esta proibição muito absoluta entendem que sempre que o
cancelamento não for praticado com o intuito de resignar ou renunciar o direito real da
hipoteca, é um ato que tem como objeto um direito imobiliário e pode, como tal, ser
estiver extinta, porque tal ato não seria de pura administração, e somente os atos desta
natureza podem os menores emancipados praticar (art. 484 do Código Civil francês).
imóveis, contratar hipotecas, se na carta não se lhe conceder faculdade para tais atos
(Borges Carneiro, vol. 3.º, § 257, ns. 13 e 14); o casado não pode, em caso algum,
praticar esses atos; a incapacidade compreende os maiores sui juris, casados com
mulheres menores, as quais, não podendo praticar atos dessa espécie, não podem dar
outorga aos maridos para efetuá- los (Borges Carneiro, vol. 3.º, § 258, ns. 13 e 15).
lei, e que já, estudamos detidamente. A inscrição cancelada pode ser renovada, valendo,
porém, da data da renovação; é preceito expresso da lei (art. 104 do Dec. 3.711, de
02.05.1890).
força; desde que ela não dê a seqüela, nem a prelação deixa de preencher os intuitos
os efeitos decorrentes dos atos extintivos da hipoteca (art. 103 do Dec. 370, de
02.05.1890); o cancelamento faz vigorá- los, dá- lhes ação e força para operarem a
extinção da hipoteca.
por casamento praticar atos que importem alienação de imóveis e de direito que lhes
correspondam, não se lhes pode reconhecer a faculdade de operar por qualquer modo a
reais: não é por outra razão que a doutrina, e o direito escrito proíbem aos menores
julgado.[Página: 582
deveria ser 340 (renumerar?, há remissões... acho melhor colocar uma nota do editor)]
própria inscrição?
16.12.1851) dispõem que os julgados dos tribunais devem ordenar o cancelamento por
não ter a inscrição fundamento na lei ou em um título, ou quando esta for irregular,
estiver extinto ou saldado, ou no caso de achar-se a hipoteca extinta por modo legal.
Na primeira hipótese a inscrição não tem causa legal (Laurent, vol. 31, n. 174;
Martou, vol. 3.º, n. 1.239; Pont, vol. 2.º, n. 1.082); na segunda o título não produzindo a
hipoteca, ou não servindo mais de assento a ela por indicar uma obrigação extinta, a
Assina pode ela ter qualquer dos defeitos a que se refere o art. 212 do Dec.
(Laurent, vol. 31, n. 177), casos em que a sentença do juízo competente, e somente esta,
pode servir de assento ao cancelamento (art. 102, § 1.º, do Dec. 370, de 02.05.1890).
A sentença deve ter passado em julgado; se ela for apelável ou recorrível não
Enquanto está exposta, a ser modificada por tribunal de instância superior, que
a pode rever, a sentença não tem a sua força estabelecida de modo definitivo.
339. quais são as pessoas que podem requerer o cancelamento judicial?
O art. 101 do Dec. 370, de 02.05.1890, declara que todas as pessoas a quem o
Esta disposição supre uma lacuna do Código Civil francês, da Lei belga de
requerê- lo.
de pedir o cancelamento.
É certo que a inscrição não afeta ao devedor e sim aos terceiros; aquele só é
prejudicado pelo contrato hipotecário, que subsiste completo e perfeito entre as partes
contratantes, ainda que não inscrito; mas se o contrato for nulo, ou formal ou
cancelamento é indispensável para fazer parar a ação judicial contra o mesmo int entada?
Acresce que toda a inscrição, como diz Laurent (vol. 31, n. 180) embaraça o
exercício do direito de propriedade, embaraço que não provém, segundo se diz,
somente, da hipoteca, porque não estando esta inscrita o terceiro adquirente não está
sujeito, pela seqüela que tem o credor, a ver excutido o imóvel que adquiriu.
de seqüela (Laurent, vol. 31, n. 181), como dissemos; apesar da seqüela ser inerente à
hipoteca como direito real, todavia as leis fazem depender da inscrição a sua ação contra
Laurent combate em seus fundamentos, partia do fato de ver no domínio do terceiro que
adquiria o imóvel hipotecado uma condição resolutiva realizada desde que o adquirente
O direito do adquirente, diz com razão Laurent (n. 181), é puro e simples; se
o julgado da Corte de Aix, não tem procedência porque funda-se também no suposto
Este domínio é definitivo, a evicção e a ação que tende à excussão não se funda
subrogada no dito crédito, excederá sobre o imóvel os mesmos direitos que competem
340. A translação dos direitos e dos encargos oriundos dos laços obrigacionais
era, no antigo direito, repelida como um ato violador da religião dos contratos.
pactuado, até a resolução definitiva da mesma, por um dos modos pelos quais as
convenções se dissolviam.
deveres, cuja promanação nãopodia ser afetada por ato de um só dos colaboradores do
contrato.
Obligationes quoquo modo contractæ nihil eorum recipiunt. Nam quod mihi ab
aliquo debetur, id si velim tibi deberi, nullo eorum modo, quibus res corporales ad
firmeza dos contratos, a faculdade de poder o credor substituir o devedor ou vice- versa
(Maynz, Droit romain, § 187; Mackeldey, Droit Romain, § 369; Troplong, Hypoth., vol.
1.º, n. 340).
reais, que, aliás, podiam ser objeto de toda a espécie de translações e transferências; a
ações.
porém, à situação imposta, muitas vezes, pelo próprio interesse das partes, que não era
de modo algum satisfeito, pois não ficava provido com o remédio adotado.
Sem que o credor transferisse a outrem a situação que lhe criava o contrato, ou
operasse a translação dos diretos que promonavam da mesma situação acudiu aos
jurisconsultos fazer com que terceiro usasse, em nome do credor, dos direitos que a este
mandato encobria-se, na realidade das coisas, uma verdadeira cessão de direitos, que
era o objetivo intencional do credor, este conferia ao seu mandatário poderes de agir
como investido dos direitos de credor, em seu próprio nome e não em nome deste.
credor, sem ciência, sem interferência do devedor; para este o cessionário não passava
de simples procurador do credor (Maynz, Droit romain, vol. 2.º, § 187; Mackeldey,
Direito romano, § 366); como, porém, entre o mandante e o mandatário o mandato era
procurator in rem suam, para poder reter o que ganhasse na coisa; o procurator
condemnatio o do cessionário (Savigny, Direito das Obrigações, vol. 1.º § 23; Maynz,
provinha da formalidade complicada, que podia necessitar de longo tempo para realizar-
se, pois, que o adversário do cessionário podia protraí- la até definitiva execução do
deixar herdeiros, porque a ação não podia intentar-se em nome do cedente, o que se
indireto da procuração in rem suam, levarão à pesquisa de modo mais expedito para
Por força de tal expediente o cessionário agia não mais em nome do cede nte,
mas em seu próprio nome; na fórmula da ação não figurava, na intentio, o nome do
da lei (L. 5 Cód. de hered vend.), produziu na hipótese figurada em Savigny (Direito
das Obrigações, vol. 1.º, § 25) a substituição de mais de uma actio emti por uma só
obrigá- lo a usar contra um vendedor resistente e pertinaz, tantas vezes a actio emti
procurasse operar; utiles actiones emptori hereditatis dandas, diz Ulpiano (L. 16 D. de
Pactis) solução que se vê reproduzida na lei 7.ª Cód. de horeditate, vel actione vendita e
especificadamente na Lei 8.ª do mesmo título do Código, ibi: “Ex nominis emptione
dominum rerum obligatorum ad emptorem non transit; sed vel in rem suam, procuratore
facto, vel utilis, secundum ea quæ pridem constituta sunt, exemplo creditoris persecutio
tribuitur”.
datio in solutum e de dote (Leis citadas 7.ª, 8.ª e 9.ª Cód. de hereditate, vel actione
vendita; Lei. 18 Cód. de legatis; L. 5.ª Cód. quando fiscus, vel privatus debitoris etc.).
por um direito creditório, referindo-se até à cessão que se operava como efeito da litis
contestatio subsecuta sit: utilem tamen marito actionem ad similittidinem ejus, qui
(Savigny, Direito das Obrigações, vol. 1.º, § 23; Mackeldey, Direito romano, §
cessão, vencendo a resistência da pessoa obrigada a fazer cessão quando esta opunha
obstáculos ao fato (Maynz, vol. 2.º, § 188) tinha efeitos tão eficazes como a ação direta:
“Nec refert directa quis, an utili actione agat, vel conveniatur: quia in extraordinariis
judiciis, ubi conceptio formularum non observatur, hæc subtilitas supervacua est;
maxime cum utroque actio ejusdem potestatis est, eundemque habet effectum” (Paulo,
aplicação a casos não compreendidos sob a eficácia da actio emti por Antonino Pio, foi
tornada extensiva; por Sétimo Severo a todos os casos de mandato, permitindo-se o seu
uso contra o mandante, a todos quantos houvessem tratado com os mandatários, para
Papiniano ampliou o uso dessas ações; é, assim que, ainda nos casos de não
haver cessão expressa, o adquirente de um direito creditório podia intentar todas as
A Lei 5.ª, § 2.º, Dig. quibus modis pignus, vel hypotheca solvitur, exemplifica
“Si convenerit, ut pro hypotheca fidejussor daretur, et datus sit, satis factum
pecuniam, acceperit : tunc enim manent omnes obligationes integræ, quia pretii loco id
cedência da obrigação principal; o fato de ser a cessão levada a efeito por compra não
confunde o caso figurado, que é o de pura cessão, com o de uma sub-rogação, porque a
quantia foi dada para comprar o direito creditório e não para pagar a obrigação.
341. O estudo desta marcha evolutiva da cessão no direito romano não oferece
interesse unicamente como elemento histórico, ele proporciona subsídio para a solução
operando-se assim uma cessão acessória das prerrogativas ligadas ao crédito, com este,
para as mãos do cessionário, tais quais existissem nas do cedente (Sub-rog. Cap. 2, n.
5).
Este princípio preconizado por Pothier passou para o Código Civil francês (art.
1.692) e para os Códigos dos países adiantados, como a expressão correta da noção
moderna (Código Civil italiano, art. 1.541; Código Civil holandês, art. 1.569; Código
Civil espanhol, art. 1.528; Código Civil português, art. 793; Código Civil chileno, art.
inspiraram (Código Civil italiano, art. 1.539; Código Civil português, art. 789; Código
Civil chileno, art. 1.902); no que não foi imitado pelo Código Civil alemão; este não
exige a notificação da cedência ao credor para que ela possa valer contra os terceiros,
apenas se o credor comunicar ao devedor que ele cedeu o direito creditório, a cessão
pode-lhe ser oposta, no que se refere às relações entre ele e o devedor, ainda quando a
cessão não se tenha realizado, nem esteja completa (art. 409 do Código Civil alemão).
com a obrigação principal (art. 1.153 do Código Civil alemão); a translação opera-se ou
por ato autêntico passado pelo credor anterior, o cedente, ou por meio da inscrição da
obrigação principal ou do direito creditório, segundo o ponto de vista sob que se encara
o ato jurídico, é exigida, no direito francês, porque sem tal notificação, ou sem aceitação
autêntica do devedor, não sendo este obrigado a saber se o direito do credor foi
Esta razão dada por Troplong não é jurídica; desde que se repudie a noção do
antigo direito romano que condenava a translação dos direitos e deveres oriundos do
Cessio fit invito debitore, diz Cujacio: o prolóquio significa que não depende
constituída em favor das sociedades organizadas com o fito de operar sob a garantia do
(art. 13, 2.ª alínea, do Dec. 169-A, de 1890, art. 222 do Dec. 370, de 2 de maio do
mesmo ano);
garante.
sobre os imóveis do marido, quando a cessão for unicamente em proveito deste ou, mais
ainda, quando tiver por fim levar a efeito operação necessária ao bem-estar da família
comum, constituída por ambos?
direito hipotecário que filia-se à escola belga, antes do que à francesa, a solução prende-
marido não sofresse a restrição, senão a paralisação, que lhe advinham do gravame que
operação realizada pelo marido e o seu concurso, manifestada por meio da assinatura do
contrato, o que acarretava, não propriamente a cessão da hipoteca, mas sim a renúncia
expressa feita em favor dos credores do marido do seu direito real, fato que importava
subrogation à l’hypothéque légale que les praticiens ont demandé ce moyen. La femme
intervient, et céde à celui qui traite avec son mari les suretés hypothécaires qu‟elle tient
l‟espece ont donc pour objet de favoriser le crédit du mari, ou plutôt de rétablir ce crédit
qu‟une application rigoureuse des principes sur l‟hypothéque légale aurait compromis
brumário do ano 7.º, quanto ao registro da hipoteca da mulher casada, uma disposição
expressa do art. 9.º da referida lei permitiu a cessão ou a renúncia da hipoteca legal da
mulher casada, nos casos em que ela possa fazer, com a cláusula de serem a cessão e a
renúncia realizados por ato autêntico, aquela inscrita e esta averbada na inscrição já
feita.
favor dos credores do marido, eram o de casamento sob o regime total, exclusivo da
com o dotal, em o qual alguns dos bens houvessem sido conservados pela mulher, como
dote (Pont, Hypoth., vol. 1, ns. 451 e 452; Laurent, vol. 31, n. 333; Martou, vol. 3.º, n.
931).
Fora destes casos era lícito à mulher sub-rogar os credores do marido em seu
do direito creditório, ou, finalmente nas faculdades decorrentes da inscrição, por meio
existência do pagamento, do qual somente ela pode decorrer (Laurent, vol. 31, n. 350.)
texto de lei, consectários que, se bem denunciem uma interpretação ampliativa, todavia,
É assim que a mulher casada pode, segundo a lei belga, no sentir dos
de credores do marido, ainda que este aufira do pacto um proveito qualquer, a inscrição
da hipoteca legal; esta renúncia não afeta, porém, nem o crédito hipotecário, que se
conserva integralmente, nem mesmo os direitos de prelação e de seqüela, decorrentes da
inscrição, a não ser em relação aos credores em favor dos quais houver ela feito a
renúncia (Laurent, vol. 31, n. 329; Thiry, Droit Civil, vol. 4.º, n. 488). Martou (vol. 3.º,
n. 934) faz confusão entre a cessão da hipoteca e a da inscrição que Laurent (vol. 31, n.
331), com a justeza de vistas que geralmente revela, ressalva, ou antes corrige,
Os credores, dada a cessão nos termos que a comporta o texto do art. 71 da Lei
principalmente no relatório de Lelièvre, assumem, como opina Martou (vol. 3.º, n. 934),
o lugar da mulher para o efeito de exercitarem o direito de que ela se despoja; mas não
exercem o direito hipotecário, que não lhes é cedido, nem transferido por qualquer
hipoteca isolada ou destacada do direito creditório (hipótese admitida por Martou) este
ordem que obteria o crédito do cedente; o fim que se alcança com a renúncia da mulher
à inscrição é impedir que o credor, em favor de quem é feita a renúncia, seja preferido
matrimônio; se tal proibição assenta na sua incapacidade legal, como admitir que ela
possa ceder ou renunciar a hipoteca que a lei lhe concede? Seria contradição
somente pelo fato do marido nisso consentir, ele o interessado em que seus bens
onerado com as inscrições sejam liberados; ninguém pode supor tal contradição na lei
Estes conceitos de elevado cunho jurídico tem aplicação, entre nós, para,
a solução do direito francês e do belga, que assenta qualquer deles, em preceito expresso
de lei.
hipoteca da mulher casada, desde que se faça por ato autêntico e seja levada ao registro
para inscrição ou para a averbação; a Lei belga de 16.12.1851, no art. 71, consente que a
apresentada por Laurent nas proposições acima transcritas: daí tendo a hipoteca a
consagração da inviolabilidade que o nosso direito impõe aos pactos antenupciais cuja
execução ela propõe-se garantir, não há como permitir que a mulher ataque de frente a
estabilidade da situação criada pelo casamento, e por este tornada no nosso direito
definitivo e irrevogável (Valasco, consulta 103, n. 29; Lobão, Notas a Mello, vol. 2.º,
Tít. 10, § 4.º, Secção 1.ª, n. 1; Consolidação das Leis Civis, nota 17 ao art. 88)
comunhão de bens tem como fito, pôr a salvo das eventualidades da administração do
marido.
em favor de um credor do marido, quer se trate da cessão do direito creditório, por força
da qual se operaria a da hipoteca, quer da inscrição feita, quer dos direitos de prioridade
Estes princípios expendidos pelo Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, §§ 191 e
notas, e 251, n. 6) não sofrem alteração pelo fato de não ter mais existência a hipoteca
geral da mulher casada e dever ela ser especializada e inscrita; a especificação dos bens
sujeitos à hipoteca, não importa rigor nos preceitos, que regem, entre nós, a situação da
vida conjugal, em relação a inalterabilidade dos fatos antenupciais (Lafayette, Dir. das
Cousas, § 191, n. 4); apenas torna mais precisa a situação a que se adapta a aplicação
dos mesmos.
amolda-se à situação jurídica do dote; sendo este inalienável, por qualquer modo, fora
preciso, para justificar a cessibilidade da hipoteca, que no nosso direito escrito houvesse
Ainda quando tal preceito existisse; fora duvidosa a sua aplicação ao caso do
os preceitos que regulam a capacidade das pessoas, a fetando o estado destas, são
feita pela mulher casada, só prevalecia quando do fato não advinha prejuízo, ficando a
liberado, se soluto matrimonio o marido não deixasse bens suficientes para resguardar o
dote da mulher; isto equivalia a ser de todo o ponto ilusória tal renúncia.
É certo que as disposições das Leis 4.ª, § 1.º, D, quib. modis. pign, 158 D. de
regulis juris e 2.ª Cód. de remissione pignoris e as supracitadas – dos títs. quibus modis
pign. solvit. e qui potior. são invocadas como favorecendo o caso de renúncia expressa e
tácita da hipoteca da mulher casada: mas os três primeiros textos não se referem de
modo algum a esta hipoteca e sim a renúncia tácita do penhor ou da hipoteca por
Dig. quib mod. pign. solvitur e no § 4.º da Lei 12 Dig. qui potior, se autorizam a
pelo dote, estabelecido no contrato antenupcial, essa renúncia era sujeita ao preceito
geral da Lei 21 Cód. ad senatus consultum velleianum, a que acima nos referimos.
Acresce que o efeito da renúncia era restrita ao credor, em favor de quem era
feita e não tinha o alcance da cessão, hipótese em que o cessionário excluía todos os
renunciante conservava o seu direito em referência aos credores, em favor dos quais não
cessionário.
Seja, porém, qual for a verdadeira: noção romana, o fato é que ela não tem
aplicação à situação criada à hipoteca da mulher casada pelo nosso direito escrito, que
hipoteca para com a obrigação que ela tem por fim garantir: per cessionem crediti et
Rubr. 1.ª, quest: 5.ª, n. 58) esta referência torna patente que entre os próprios inclinados
(Lafayette, Dir. das Cousas, § 251, n. 7). [não encotrei o item 1)]
Esta afirmação pode ser aceita, no nosso direito, do modo absoluto, porque está
formulada?
hipoteca nos termos do art. 4.º, § 6.º, do mesmo Decreto; ora, nesta disposição exige-se
acessório do contrato de mútuo, que se presume garantido por aquele (2.ª alínea do
citado § 6.º).
hipoteca inscrita, a do art. 225 torna precisamente claro – que a hipoteca é o crédito
hipotecário, isto é, o direito creditório garantido pela hipoteca, devendo ser contratados
que a escritura da hipoteca refere-se aos títulos, o fato da circulação destes não importar
a da hipoteca, apesar de ser esta obrigação acessória daquela, e antes o endosso das
pelos meios estabelecidos no art. 13, do Dec. 169-A, de 1890, isto é, escritura pública
ou termo judicial, deixa patente, diz- se, que a hipoteca pode conceber-se no nosso
diferente daquele, o que se vê estatuído, como regra, no art. 223, do Dec. 370, de
02.05.1890.
translação das letras, títulos de circulação rápida, transferíveis por endosso, importasse a
da hipoteca que as garante, desnaturaria esta, que não pode, como ato substancialmente
endosso.
inscrição feita no registro; isto impossibilita, por completo, a transferência por endosso.
Este modo de ver é adotado por Laurent (vol. 31, n. 347, 2.ª alínea) em
A hipoteca que se transfere pelos meios regulares, segundo o art. 223 do Dec.
e não pode ser deles destacada, pelo credor, para ir garantir outra dívida.
devedor para garantir certa e determinada dívida, como transferi- la para garantir dívida,
ou obrigação diversa, sem novo concurso de vontades, sem conve nção nova entre o
credor e o devedor
incapazes, como, retirar- lhe este cunho de direito substancialmente pessoal, para ligá- lo
a pessoas capazes, privando dele pessoas incapazes? (Laurent, vol. 31, n. 324).
Isto teve lugar, porém, por uma ficção – de algum modo – como diz Valette, –
com a natureza de um paliativo – à situação gravosa criada aos maridos pela hipoteca
geral das mulheres casadas, segundo Pont (vol. 2.º, n. 450); de modo algum, como um
Essa translação de urra direito acessório sem a do principal é, como faz sentir
“L‟esprit de notre législation s‟y oppose. Pourquoi la loi a-t-elle creé la fiction
de la subrogation? Pour faire passer au subrogé les garanties affectées à la créance qu‟il
a payée. Le moyen le plus simple d‟atteindre ce but était certainement de transmettre les
payement qu‟il fait, soit comme mandataire, soit comme gérant d‟affaires. Au lieu de
prendre cette voie si simple, la loi recourt à une fiction plus compliquée; elle suppose ou
elle feint que l‟obligation principale est cedée au subrogé, ce qui lui donne droit aux
point parce que les accessoires ne se transmettent pas sans le principal? Voulant
transporter les priviléges et les hypothéques au subrogé, la loi n‟a trouvé d‟autre moyen
que de le subroger à la créance principale. Elle 1‟a fait pour les droits réels aussi bien
que pour le cautionnement. Nous en concluons que, dans 1‟esprit de la loi, l‟accessoire
ne peu pas être cédé sans le principal” (Laurent, Princ., vol. 31, n. 324).
direito real, um direito, que pode ser avaliado e apreciado pecuniariamente, objeto de
uma cessão; nem se diga que a desagregação é impossível por não se compreender o
acessório subsistindo sem o principal: não é isso que se pretende de modo algum – mas
sim que o acessório se destaque de uma obrigação principal, para ir ligar-se a outra, e
nunca supor o fato de existir ela isolada e com vida própria (Pont, Hypoth., vol. 1.º, n.
334).
Este modo de ver tem em seu favor a opinião de Martou (Hypoth., vol. 1.º, n.
entre credores, na escala da graduação, o que, ao contrário do que afirma Martou, supõe
acessória garantidora e à mesma ligada: Aubry et Rau tornam muito salientes estes
pontos de diferenciação (nota 3.ª ao § 288), o que se pode ver confirmado pelo próprio
Pont (vol. 1.º, n. 459). Se é certo que o art. 9.º da Lei francêsa de 23.03.1855 permite à
mulher a cessão da hipoteca em favor do credor do marido, não o é menos que ela não
quis consagrar a desagregação da hipoteca da obrigação principal, mas antes pôs termo
favor dos credores do marido e que a prática geral e a jurisprudência dos tribunais tinha
admitido.
modelada sob o pensamento de facilitar a circulação da hipoteca, sob a forma alemã das
letras; hipotecárias, não reconhece a transferência da hipoteca, sem a da obrigação
346. O direito francês admitia a cessão da hipoteca por escrito particular, salvo
quando o cessionário desejava mudar o domicílio eleito pelo cedente; ao passo que
mandato para se operar o cancelamento (arts. 2.127 a 2.152 do Código Civil francês)
A Lei belga de 1851 (art. 2) corrigiu o que havia de ilógico nestas disposições,
consagrada no art. 2.
Em face das disposições tão precisas do art. 13 do Dec. 169-A e 222 do Dec.
370, de 2 de maio, não se pode pôr em dúvida a improcedência das cessões levadas a
efeito, por outro qualquer modo; o fato de assinar o credor a escritura de venda do
imóvel hipotecado feita pelo devedor, não importa renúncia da hipoteca, nem liberação
tem como conseqüência ceder a este o seu direito creditório e hipotecário, nem liberá- lo
da remissão.
oficial do registro não pode aceitar quaisquer outros títulos, para sobre eles fazer a
inscrição ou a averbação.
própria da inscrição da hipoteca cedida, produz efeitos contra terceiros; desde: que à
publicidade da hipoteca é que a lei liga os efeitos da mesma, erga tertios, e que a
inscrição deve conter o nome do credor, sob pena da nulidade (art. 112 do Dec. 370, de
mencionada, o que afetaria de nulidade a inscrição feita; porque fora o mesmo que não
averbação da cedência porque a “cessão não acrescenta nem diminui os ônus do imóvel
hipotecado; o conhecimento desta portanto, não interessa a terceiros. A lei, pois, deixa a
Lei de 24.09.1864, tem procedência, conquanto se nos afigure ter sido boa e necessária
a correção; o mesmo reparo não pode ter lugar em referência ao art. 225 do Decreto de
02.05.1890, que não consagra excesso das atribuições executivas, quando corrige o art.
13 do Dec. 169-A; ambos, tendo sido expedidos pelo Governo Provisório da República,
têm igualmente força legislativa; em tal hipótese a segunda disposição deve-se reputar
derrogatória da primeira.
A averbação, tendo por fim, como o fizemos ver, tornar pública a mutação da
pessoa do antigo credor inscrito, para a do novo credor cessionário, deve consistir em
uma certidão em que se declare o fato da cessão, a data em que se operou, a menção do
nome, o domicílio e a profissão do novo credor; se este em vez de averbar a cessão fizer
nova inscrição como credor hipotecário, não preenche o fim, que teve a lei exigindo a
averbação, e isto pela razão de não publicar a cessão da hipoteca, mas sim a
inscrição, a fazer nova inscrição do crédito cedido, apresentando cópia ou segunda via
exigência e que bastava a averbação para ressalvar os interesses dos terceiros (Martou,
23.03.1855 não conseguiu firmar de modo preciso, a porto de pôr cobro às divergências
da doutrina, antes as aumentou pelos subsídios que esta foi procurar nos elementos de
formação da mesma lei fora da verdadeira inteligência do art. 9.º referido. Troplong,
creditório e com ele o seu direito hipotecário por preço estipulado, realiza uma venda –
o comprador, muito naturalmente, adquire o objeto vendido, por força dos princípios
pessoa que paga, senão por uma ficção de direito, que, excepcionando os princípios, faz
com que transfira o credor pago o direito creditório, que já pão possui, porque o
pagamento o extinguiu, para a pessoa do pagador que não podia ter por fim adquirir,
Com muita procedência dizia Renusson que a sub-rogação tivera como causa
originária não operar uma cessão de direitos, mas, ao contrário, uma dissolução de nexo
solução das obrigações, antes com o pensamento de favorecer o pagamento delas por
terceiros, a lei faz, por uma ficção, a translação do direito do credor pago, para a pessoa
do terceiro não obrigado, que a paga. Preferindo à noção verdadeira que faz dimanar do
regressivo contra aquele, direito que visaria unicamente a restituição da quantia paga e
dos juros legais, fá- lo suceder na situação jurídica do credor, considerando não
resolvida, a obrigação do devedor, mas renovada e revivida para com o pagador, que
aparece investido do direito creditório e do hipotecário que lhe é acessório, sob a figura
À convenção das partes não fora lícito conferir ao credor um direito subsistente
tal direito para a pessoa do pagador: ao devedor não se podia impor a novação pela
substituição do credor, sem o seu consenso; esta violência à situação do devedor foi
do que o pagara; quer se tratasse de credor que tivesse apenas em vista melhorar de
tendo por objetivo a extinção da obrigação, mas antes a aquisição dos direitos do credor;
36 D. de fidejussor:
“Cum is, qui et reum et fidejussores habens, ab uno ex. fidejussoribus accepta
pecunia præstat actiones: poterit quidem dici nullas jam esse, cum suum perceperit, et
perceptione omnes liberati sunt; sed non ita est; NON ENIN IN SOLUTUM ACCIPIT, SED
pertenceria tal estudo ao da solução das obrigações, se ao exame deste ponto de direito
crédito hipotecário, convinha acentuar a noção da sub-rogação para tornar saliente que o
mulher casada, de Aubry et Rau que faz consistir a sub-rogação em uma caução ou
fiança sui generis a qual não investe o sub-rogado nem do crédito do sub-rogante nem
da hipoteca que a garante, opiniões que Laurent refuta de modo completo juntamente
A refutação desta opinião, no que entende com a cessão, tem inteira aplicação à
da sub-rogação.
O que paga dívida alheia, já o dissemos, só tem no rigor do direito civil, que
haver, por ação regressiva, contra o devedor principal a importância paga e os juros
devidos.
Instituta: si quid autem fidejussor pro reo solverit, ejus recuperanda causa habet cum
eo mandati judicium; a dívida paga ficaria extinta – Nec tamen interest quis solvat,
utrum ipse qui debet, an alius pro eo; liberatur enim et alio solvente (Inst. quibus mod.
para se estabelecer que em seus efeitos ela depende, de modo absoluto, das condições
exigidas pela lei, o primeiro princípio a firmar, em face do nosso direito escrito, é que a
dívida aquele a quem o devedor pedira por empréstimo o dinheiro para pagá- la e
3.ª, Dig. Quæ res pign., e L. 12.ª, §§ 8.º e 9.º, Dig. Qui potior in pign. vel hypoth. etc.)
dívida de outro credor hipotecário com prelação sobre aquele por prioridade de ordem
(LL. 16 e 17 Dig. qui potior in pign. vel hypoth. e L. 7 Cód. qui potior in pign.
italiano, art. 1.251; Código Civil holandês, arts. 1.457 e 1.458; Código Civil do Chile,
art. 1.609, Código Civil do uruguai, art. 1.455; Código Civil argentino, art. 767);
Quando os arts. 13 do Dec. 169-A e 224 do Dec. 370 exigem a prova da sub-
rogação, isto é, do pagamento da dívida de onde ela resulta, por meio de escritura
pública ou termo judicial, não supõem de modo algum uma sub-rogação fundada em
contrato e outra em disposição de lei, e que somente neste caso ela se opere ipso jure
pelo pagamento; mas sim que o pagamento, feito em virtude da cláusula contratual, de
per si só opera a sub-rogação e tem como prova a cláusula referida; que é levada a efeito
por meio de ação judicial, só por termo judicial se prova, e só depois de tal termo e da
averbação do pagamento se realiza a sub-rogação da hipoteca: em qualquer das duas
hipóteses a sub-rogação se opera por força da lei que excepciona, no caso, os preceitos
dos arts. 11, § 1.º, do Dec. 169-A e 226, § 1.º, do Dec. 370, de 1890, que dão a hipoteca
principal.
rogação em legal e convencional; segundo o art. 176 a sub-rogação é sempre legal, isto
que adquiriu um duelo fundado em título novo, que não é o que se fundava a dívida
paga, não se opera senão por meio de uma combinação da cessão com o pagamento,
atuando em sua ação conjunta para efeitos acordes (V. Rossel, Man. du Droit federal
cessãofeita porque desde que ela pode promanar do ato do devedor não teria causa lega1
porquanto o devedor não pode ceder o direito do credor; na hipótese figurada a sub-
luminosa exposição feita por Demolombe (vol. 27, ns. 312 a 315) do mecanismo da
verificar se consta ela de pagamento provado por escritura pública ou por termo
judicial; quando o caso houver sido levado a juízo.
geral.
para com terceiros não pode pretender-se sub-rogado o que pagou a dívida hipotecária
antes do outro que fez averbar o pagamento; ainda mais, como a sub-rogação se opera
sobre o que anteriormente houver convencionado a preferê ncia, mas não houver
influência tem para resolução do caso o fato de ter o segundo contratante conhecimento
do primeiro contrato (Martou, vol. 1.º, ns. 191 e 193; Chironi, Diritto Civile Italiano,
está sujeita aos princípios estabelecidos; ela só pode dimanar do pagamento das letras.
circulação dos títulos da dívida garantida; neste ponto ele consagra a verdadeira
sem escritura em que se faça efetiva a transferência, somente porque títulos ao portador
adquirente que paga a dívida hipotecária para evitar a excussão do imóvel ( Dir. das
vendedor do imóvel hipotecado (art. 10, § 8.º, do Dec. 169-A e art. 227, § 2.º, do Dec.
370, de 02.05.1890) a qual tem por fim obrigar o vendedor a restituir o preço pago, e as
Esta não seria sem objeto? Sendo a hipoteca um jus in re aliena, ninguém
podendo ter direito hipotecário sobre seus próprios imóveis como pode ser sub-rogado
Este caso de sub-rogação era reconhecido no direito romano (Leis 12, § 1.º, e
17 D. qui potiores in pign.) os textos citados decidem que o adquirente que paga o preço
pelo qual adquiriu o imóvel dos credores por hipoteca sobre o mesmo, sucede-lhes no
A dúvida suscitada pelos comentadores era que tal sub-rogação só tinha lugar
Esta opinião, que se deduz da L. 3.ª, Cód. de his qui in loc., etc.; era sustentada
por Pothier e justifica a asserção emitida pelo Sr. Lafayette de ser tal sub-rogação
convencional; não foi, porém, a que prevaleceu, no direito moderno, e sim a de Cujacio,
francês.
dos comentadores do Código Civil francês, tratou de prover o dispositivo do § 2.º do art.
1.251.
que o imóvel se acha gravado; não fora a sub-rogação que a lei lhe confere nos direitos
do credor pago, a situação do adquirente seria de todo o ponto precária: ele teria perdido
em sua pessoa.
vício substancial do contrato, ou por qualquer outro modo anulada, se o adquirente não
ficasse sub-rogado na pessoa do credor hipotecário por ele pago, o dano resultante da
a dívida por ele paga não é própria, é a do transmitente, o modo de garantir e assegurar
o êxito da ação regressiva é a sub-rogação: o imóvel hipotecada e adquirido, desde que é
objeto de reivindicação, não mais pode ser tido como de propriedade do adquirente, mas
Assim esboçada, esta sub-rogação não pode ser, no nosso direito, admitida
casos de sub-rogação legal são os estabelecidos, de modo preciso, na Ord. do Liv. 3.º,
direito romano, têm sido contemplados entre nós como legais e considerado
O Sr. Coelho Rodrigues no seu projeto de Código Civil (arts. 530 e 531)
Carece de interesse uma elucidação mais detida da matéria que só afeta a sub-
podendo a sub-rogação ter efeito prático quando levada a efeito por escritura pública, ou
por termo judicial, ligada ela a qualquer destes modos de prova de pagamento, carece,
de interesse real a apuração do modo pelo qual a sub-rogação opera a investidura dos
rogado em situação idêntica, quoad tertios, à do credor em favor do qual foi constituída
a hipoteca, nos termos do § 6.º do art. 4.º do Dec. 169-A, sobre elas assentou a
legislação de 1890 o regime de crédito real, utilizado por sociedades organizadas sob a
operações, que só terão seguros resultados se assentarem sobre contra tos de longo
prazo.
Não seria dado estimar o volume das grandes massas de capitais a empregar
por tais associações, desde que se estabelecesse a previsão de larga expansão no círculo
das associações, se não fora o uso do verdadeiro assento do crédito agrícola, o título que
grande cunho de segurança, conseguindo captar a confiança do capital desde que à sua
modo eficiente a preferência que lhes é concedido sob quaisquer títulos quirografários.
hipotecário brasileiro só acidentalmente nos cabe estudar a letra hipotecária tal como a
hipotecário unicamente pelos laços que prendem este à mais segura e eficaz circulação
da riqueza imobiliária.
contrato hipotecário (Código Civil alemão de 1896, art. 1.117); não é esta, porém, a
feição que ela tem no nosso direito; em todo o caso esboçamos em traços rápidos a
à elasticidade que lhe empresta a hipoteca, permitindo que as letras hipotecárias, que
não podem aliás exceder o valor não amortizado dos empréstimos, ofereçam assento a
dos imóveis rurais e três quartos dos valores dos urbanos (§§ 5.º e 6.º do art. 13 do Dec.
Elas só podem ser emitidas por associações de crédito real sobre primeira
portador, que podem ser, transferem-se por endosso ou por tradição (§§ 2.º e 3.º, do art.
13, do Dec. 169-A, e arts. 311, 312 e 314, do Dec. 370; Inglez de Souza, Titulos ao
Portador, n. 345).
A transferência das letras nominativas por endosso não impede o uso de outro
meio de transferência e opera apenas o efeito da cessão civil, isto é, o endossante não
fica responsável para, como portador, como no endosso comercial (arts. 312 e 313 do
A lei fixa o mínimo do valor das letras em cem mil réis (arts. 13, § 4.º, do Dec.
169-A, e 315, do Dec. 370) e estabelece como sinais de sua autenticidade o número de
As letras emitidas pelas sociedades de crédito real ou são negociadas por estas
ele próprio colocá- las: nesta hipótese acentua-se o seu cunho de título de crédito e de
operarem sobre elas, porque ficando com as letras podem empregá-las em novas
operações.
a hipoteca que recaia em bens do emissor, mas sobre o direito hipotecário deste,
constituído por contrato orgânico, ou por força de cessão ou sub-rogação, sobre bens do
No entanto, não tem este ação contra aquele e sim contra a sociedade emissora;
a principal razão está não só no fato de ser a letra a expressão titular do crédito real,
representado; em sua feição concreta, pela hipoteca que garante a realização da letra;
hipotecário, e sendo este a sociedade emissora, as letras por ela emitidas sendo apenas
garantia por meio do qual a sociedade emissora fica habilitada a responder pelo resgate
das letras emitidas (Inglez de Souza, obra citada, n. 347; Dec. 370, de 1890, art. 329)
para o qual cooperam o fundo social e o de reserva das mesmas (Dec. 370, de
hipotecárias, muito naturalmente, não têm época certa de pagamento; são sujeitas a:
resgate por via de sorteio, para o qual constituem um fundo especial a anuidade de
amortização e a importância dos pagamentos antecipados (Dec. 370, de 1890, arts. 318
e 319; Dec. 3.471, de 1865, art. 49 e 50; Inglez de Souza, obra citada, ns. 346, 365 e
366).
A ação contra a sociedade, já fizemos ver; tem por fim pagar-se o portador pelo
fundo de reserva, pelo capital disponível e pelos créditos hipotecários (Dec. 3.471, de
03.06.1865, art. 64; Dec. 169-A cit., de 19.01.1890, art. 18, § 13; Dec. 370, de
que elas proporcionam ao crédito real, comp reende-se que a eficiência de tal
todo o mecanismo se ressentirá de tal emperramento de função que as socied ades cairão
na liquidação forçada.
Tudo o que for procurar em outras bases a valorização das letras hipotecárias é
valorização da letra, hipotecária por meio da garantia dos juros das letras concedida
crédito real.
cofres públicas, é transitória e como tal desaparece, desde que cesse a referida garantia,
título da hipoteca, com ação direta do portador sobre o imóvel hipotecado, processo que
se não é novo, é o que foi empregado, mesmo em França, na lei reguladora do crédito
real em Argel sobre o mecanismo de letras hipotecárias emitidas pelo próprio oficial do
registro, até o valor do direito creditório de cada um dos credores por hipoteca, parece,
em absoluto, o mais seguro para a valorização dos contratos hipotecários; todavia os que
A desvalorização das letras hipotecárias teve, entre nós como principal fator o
fiscalização por parte do poder público é de todo o ponto impotente para trazer remédio
garantia, o que depende de medidas hoje ao alcance de todos, e a valorização das letras
ilusória.
encontrá- lo em associações que arrastam, com poucas exceções, uma vida tormentosa
dos valores dos bens, sem a apuração, por meio de pesquisas regulares, da renda
for deixada margem suficiente para cobrir as deficiências eventuais no valor ou na renda
menores, órfãos e interditos (Dec. 169-A, de 19.01.1890, art. 17; Dec. 370, de 2 de maio
do mesmo ano, art. 233) são elementos para a valorização da mesma, desde que a
Os que reclamam essa medida puramente arbitrária, não visam outro fim mais
confere à hipoteca, para tornar efetivo o direito real, essência de sua força garantidora e
preceder uma ligeira exposição da evolução que ela tem experimentado e, à noção
histórica da ação hipotecária, acrescentar uma rápida referência aos princípios que a tem
dominado nas diversas fases de sua vida evolutiva e os que modernamente lhe estão
traçando a sua marcha para a nova feição que vai tomar em tempo muito próximo. Ela
não será mais do que a resultante da mutação que vai experimentando a hipoteca em sua
assentados nos bens imóveis, em fator de expansão do crédito real, nas suas variadas
modalidades, com função econômica acentuada especialmente nas novas formas das
355. No direito romano a ação hipotecária era puramente real; o seu objetivo
era dar ao credor por hipoteca a nuda possessio do imóvel hipotecado, que se
encontrasse em poder de terceiro detentor (L. 16, § 3.º pr. D. de pignor. et hypothec.;
Ortolan, comentário ao § 7.º da Instít. de actionibus ns. 2.091 e 2.099; Van Wetter,
Direito romano, § 276; Accarias, Direito romano, vol. 2.º, n. 821; Mackeldey, Direito
romano, § 360; Maynz, Direito romano, § 166): actio hæc in ren est, constitutæ
et hypothecæ); pignoris persecutio in rem parit actionem creditori, afirma Ulpiano (L.
17 D. de pignor. et hypothec.).
por haver ele perdido a posse, sem dolo, como se a coisa tivesse perecido por causa
fortuita, o detentor era absolvido da ação (L. 16, § 3.º, D. de pign. et hypoth.): Nam si
non possideat, nec dolo fecerirt, quo minus possideat, absolvi debet, diz Marciano.
Apesar deste preceito, que nada mais faz do que consagrar o princípio que
domina, no direito romano, as ações reais, a ação hipotecária podia levar o detentor da
coisa hipotecada a pagar a hipoteca; era mesmo o meio facultado para que ele se
quibus modis pignus, vel hipoteca solvitur: ainda mais, o autor na ação hipotecária,
apesar de ser ela real, não age como proprietário, ele pede apenas a posse da coisa para
vendendi seu distrahendi) e o de se pagar pelo preço da venda, com preferência sobre os
outros credores, em relação aos quais tenha prelação pro antecendencia da data da
356. A ação hipotecária, com esse cunho de realidade, era uma ação de origem
que o colonus trazia consigo e entregava ao proprietário; no caso de irem parar tais
acionar os terceiros detentores para reaver a posse das coisas pertencentes ao colonus e
serviana, vindicatio pignoris, pignoris persecutio; ela o foi tambem a proteger o credor
as bases da hipoteca, segundo a noção aceita, desde então até hoje, e que merece do
“Nam pignoris appellatione eam proprie rem contineri dicimus, quæ simul
etiam traditur créditori, maxime si mobilis sit. At eam quæ sine traditione nuda
action, § 7.º.)
Ação real, com objetivo único de investir o credor da nuda possessio dos bens
hipotecados, para o efeito de poder vendê- los e pagar-se com preferência aos demais
credores, pelo preço, a ação hipotecária era dirigida, no direito romano, contra o
detentor do imóvel, embora não fosse dela proprietário nem o devedor pessoalmente
obrigado pela dívida: a condição necessária para poder ser acionado era possuir a coisa
dívida hipotecária, para livrar-se da entrega dos bens hipotecados: “Si vero possideat et
aut pecuniam solvat, aut rem restituat, æque absolvendus est. Si vero neutrum horum
Não se veja, porém, nesta solução uma infringência dos moldes restritos a que
prendia o direito romano a estrutura dos direitos e acções reais, – mas antes a
expediente que na severidade do direito civil quiritário acudiu aos jurisconsultos para
prover à asseguração das convenções: a adjeção do contrato de fidúcia tinha como efeito
fiar do credor, que adquiria o domínio da coisa dada em garantia pelo devedor, a volta
ao domínio deste, depois de paga a dívida o que tinha lugar por meio de uma
357. A ação hipotecária era no direito romano uma ação arbitral, se a entrega
da coisa hipotecada não se efetuava pela decisão arbitral o juiz do feito condenava o réu
daí o serem arbitrais todas as ações in rem civis, ou pretorianas (Ortolan, comentário à
Convém não perder de vista dois pontos capitais: o fim da ação hipotecária era
obter a entrega da coisa, mas como essa entrega – essa investidura do credor na nuda
possessio da coisa – tinha por fim habilitá- lo a realizar a hipoteca, isto é, pagar-se pelo
preço do objeto hipotecado, com prelação sobre os outros credores; desde que o credor
Mas quando coagido pela decisão arbitral não fazia o detentor a entrega da
Se o réu deixava de fazer a entrega por havê- la tornado impossível, ou por não
querer fazê- la, era ele condenado a pagar o que o autor jurasse: tal era a solução dada
por Marciano.
“Sin vero dolo quidem desiit possidere, summa autem ope nisus non possit rem
ipsam restituere, tanti condemnabitur quanti actor in litem juraverit, sicut in cæteris in
dado lugar sua interpretação (L. 21, § 3.º, D. de pinor et hypothec.); distinguiu a
hipótese de ser a ação intentada contra o próprio devedor hipotecário da em que o fosse
garantida pela hipoteca – nam adversus debitorem non pluris, quam quanti debet, quia
cæteros possessores etiam pluris, et quod amplius debito consecutus creditor fuerit,
Digesto.
por Ulpiano, que é a de um penhor, desviado do poder do credor, e pelo valor do qual
devia ele responder perante o devedor, paga a dívida, quando não pudesse restituir a
própria coisa penhorada: ainda no caso de haver ele o seu pagamento pela venda do
penhor devia restituir o excesso do produto do mesmo sobre a dívida garantida; sendo
tal restituição decorrente do contrato de penhor não se podia deixar de dar à condenação
valor da coisa.
coisa ou o seu valor está cumprida a condenação, ao credor hipotecário nenhum direito
mais assiste contra o terceiro detentor – ainda que o valor da coisa seja insuficiente para
natureza real da mesma ação; quando na sua marcha evolutiva a ação hipotecária já não
pessoal, que a penetrou, afetou- lhe até certo ponto a estrutura: a reação do elemento real
decendiária, toda pessoal, passou a ter a forma executiva, que lhe dá a legislação em
vigor.
358. A distinção, que o direito romano fazia entre e ação intentada contra o
devedor hipotecário e a que o era, contra o terceiro detentor da coisa hipotecada, foi
publicidade.
legislação de 1864 e 1865, o caráter de ação pessoal, quando utilizada contra o devedor,
hipotecado.
como no caso figurado no § 1.º da L. 12 do Dig. quibus modis pign., etc., ou remindo o
Marciano nas Leis 21, § 3.º, e 16, § 6.º, do Dig. de pignoribus et hypothec.
A ação dirigida contra o devedor passou a ser real, como a contra terceiros
detentores: o seu ato principal era a deslocação da posse material do imóvel hipotecado
por meio da penhora, desde que a dívida não era paga nas vinte e quatro horas.
A legislação de 1890 (Dec. 169-A, de 19 de janeiro, art. 14, § 6.º, e Dec. 370,
cessionária
Segundo os moldes anteriores à legislação de 1864 a ação do credor
hipotecário só revestia o cunho de realidade quando tinha de fazer valer a seqüela, que
dimanava da hipoteca, em favor do credor investido do direito real sobre o imóvel; fora
qual não era, modificado por circunstância alguma, porque gozando o terceiro possuidor
do benefício da excussão, não era contra ele exeqüível a sentença que condenava o
devedor; observava-se o preceito da Ord. do Liv. 4.º, Tít. 3.º que determinava que o
Desde que a Lei de 1864 declarou que a ação de dez dias, conquanto só
movida contra o devedor: a Lei de 1885 e os Decretos de 1890 tornando real a ação
dirigida contra o detentor não obrigado pela dívida; o fim desta ação era que o detentor
A estas duas, o direito francês acrescentava uma terceira ação, que tinha por
fim impedir a liberação do imóvel por prescrição, pelo fato da posse, como livre,
fundava-se no fato de não permitir a Novela 4.ª que o terceiro detentor fosse acionado
prescrição do imóvel, contra a hipoteca, isto é, como livre, desde que em tal condição
fosse possuído por dez anos, entre presentes, e vinte entre ausentes (L. 7, Código de
prescription).
A ação era sustentada contra o terceiro detentor para o único efeito, de obter
contra a mesma sentença que declarasse estar o imóvel, por ele possuído, hipotecado em
insolvabilidade do devedor, segundo a Novela 4.ª, não é menos exato que o fundamento
contidas na 2.ª parte, Títulos 1.º, 2.º e 3.º, do Reg. 737, de 25.11.1850, guardado, quanto
Dec. 5.737, de 02.09.1874, mas também todas as disposições sobre matéria de nulidades
trata a 3.ª parte do mencionado Reg. 737, com as seguintes alterações, extensivas
igualmente às execuções comerciais
bens penhorados não encontrarem na primeira praça lanço superior à avaliação, irão a
10%, e se nesta ainda não encontrarem lanço superior, ou igual, ao valor dos mesmos
bens, proveniente do referido abatimento de 10% irão a terceira, com igual abatimento
de 10%, e nela serão vendidos pelo maior preço, que for oferecido, ficando salvo ao
§ 2.º Quando nas execuções houver mais de um licitante, será preferido aquele
que ofereça na primeira praça preço, pelo menos, igual ao da avaliação, e, nas outras
ou dar lançador a todos ou a alguns dos bens penhorados até à assinatura do auto de
remir ou dar lançador a todos ou a alguns de seus bens é preciso que ofereça preço igual
ao da avaliação, na primeira praça, e, nas outras ao maior que neles for oferecido.
§ 5.º Nenhuma das pessoas acima indicadas poderá remir ou dar lançador a
alguém ou alguns bens, havendo licitante, que se proponha arrematar todos os bens,
estabelecido nos arts. 310 a 317 do Reg. 737, de 25.11.1850, efectuando-se a penhora
do imóvel ou imóveis hipotecados, podendo a intimação aos demais interessados ser
casos em que este couber, não será concedida, sem que a petição, em que ta is
476 a 570 do Dec. 737; em referência às nulidades o Tít. 2.º da 3.ª parte do mesmo
Decreto e quanto aos recursos o Tít. 1.º, teve como fim, proporcionar processo mais
executiva (§ 6.º do art. 14), em lugar da de dez dias da lei de 1864, que tão justas
censuras mereceu do Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 271, nota 10).
derrogando a disposição do art. 14, da Lei 1.237, de 24.09.1864, que tornava a hipoteca
acionável no foro civil, supõe a aplicação da legislação comercial reguladora da
do Dec. 169-A, quanto às fórmulas do direito adjetivo comercial mandou o Dec. 763, de
19.09.1890, adaptar o processo das causas cíveis em geral, com poucas exclusões, as
tais cartas conter unicamente a auto-ação a sentença exeqüenda, que é a proferida, nos
embargos opostos a sentença primitiva (art. 316 do Decreto citado) ou que julgar, afinal,
os embargos recebidos e não havidos como provados (art. 315 do Decreto citado), a
penhora e a petição e despacho para que se prossiga nos ulteriores termos da execução
existindo mais, por não ter o Supremo Tribunal Federal competência para rever senão os
arts. 59, ns. 3 e 81; Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal de 08.08.1891, art.
15, § 4.º; Lei 221, de 20.11.1894, arts. 22 e 74), deve-se considerar como não
local do Distrito Federal; no art. 37, § 3.º, mencionou as peças de que devem constar as
cartas de sentença nas ações executivas: deve esta disposição ser observada, no Distrito
Federal, nas ações executivas hipotecárias, a despeito dos Decretos 169-A, no art. 14, e
370, no art. 381, disporem que as peças das cartas de sentenças nas ações executivas
legislação em vigor, sobre a forma das cartas de sentenças, na época em que forem
subseqüente.
exigidas nas cartas de sentença das ações sumárias e mais o auto de penhora, ou
discriminadamente:
a) A auto-ação;
b) A petição inicial;
c) A fé de citação;
d) A contestação;
e) O auto de penhora;
legislação, antes foi transportado do art. 1.º, § 1.º, da Lei 3.272, de 05.10.1885, e do art.
na translação do domínio pelo ato judicial e forçado da adjudicação, mas sim operando-
corresponder, de fato, em seu valor, à importância da dívida, como nos casos figurados
no § 27 da Lei de 20.06.1774 e nos §§ 1.º e 2.º do art. 562 do Dec. 737, de 1850; mais
situação por ele aceita na persuasão de uma liberação por parte do devedor, na mesma
parte nos móveis sem tal valor e da quinta parte nos bens de raiz, não tem outro intuito
quaisquer praças realizadas com dedução de 10% ou para serem eles vendidos ao maior
lanço, que se oferecer, vir o credor a havê- los por arrematação; em todo o caso o
pagamento por meio da transferência do domínio dos bens hipotecados, para a pessoa
imóveis e poupar, ao mesmo tempo, ao devedor a tirada dos bens do seu domínio.
descendentes do mesmo remir ou dar lançador a todos ou a alguns dos bens penhorados,
enquanto não for assinado o auto de arrematação, isto sem que seja ouvido o executado
1890, não importa em mais do que na observância dos preceitos que regulam a hasta
credor exeqüente que são, na primeira praça, obrigados a oferecer lanço superior à
Exige-se que nas outras praças o preço oferecido cubra o maior apresentado,
Desde que o lanço do licitante for o maior oferecido a arrematação por tal
preço constitui um direito do licitante como uma decorrência natural da hasta pública;
em favor do executado, porém, permite-se – que ele, ainda nesta hipótese, possa impedir
contida no lanço mais elevado, contanto que ofereça preço superior a esse lanço, meio
único de estabelecer em seu favor preferência sobre o maior licitante, que, sem esta
remissão, que concede ao executado e à família deste. Quando houver lanço sobre a
totalidade dos bens penhorados, e este lanço assentar nos outros propostos sobre os
venda pronta dos bens da execução, para facilitar a apuração do direito do credor
hipotecário, o que é de grande vantagem para o crédito real, por importar a rápida
liquidaçao das suas operações, quando afetam aos processos judiciais, justificam a
medida, que em desfavor da remissão dos bens executados, por parte do devedor,
ampara mais do que o direito do credor a expansão do crédito real, que assenta
362. O § 6.º do art. 14 supra manda substituir a ação de dez dias estabelecida
no art. 14 da Lei de 24.09.1864, pela ação executiva dos arts. 310 a 317 do Dec. 737, de
25.11.1850.
A inovação pertence à Lei 3.272, de 05.10.1885 (art. 4.º, § 1.º); o Dec. 169-A
A ação de dez dias era pessoal e só utilizável contra o devedor (art. 285 do
Dec. 3.453, de 26.04.1865); para que o terceiro detentor pudesse ser levado a realizar a
entrega do imóvel hipotecado, a fim de sobre ele efetuar-se a penhora e a venda judicial,
não promoviam a remissão do imóvel (§ 2.º do art. 285 e art. 309 do Dec. cit. 3.453, de
1865).
Decreto de 26 de abril tratara da ação de dez dias sob o título de ação contra o devedor
Era esta efetivamente uma verdadeira ação que podia ter como preliminar o
seqüestro e que iniciava-se sempre pela apreensão da coisa, por meio da penhora,
O que acentua a noção da ação real era que o imóvel, retirado da posse do
adquirente pelo seqüestro ou pela penhora, na qual aquela acabava por se resolver, era
vendido por conta do adquirente; a venda judicial não deixava de ter lugar ainda que o
avaliação, ainda que este fosse superior ao da aquisição (art. 312 do Decreto citado).
A legislação de 1885 e a de 1890 abandonaram a ação pessoal e tornaram a
1890 conferiu o seu uso ao credor originário e ao cessionário (art. 382 do Dec. 370, de
02.05.1890).
A ação inicia-se pela expedição do mandado para que o réu pague incontinenti
os embargos: não sendo estes opostos dentro do referido prazo, julga-se a penhora por
Da sentença que julga a penhora cabe apelação (art. 312 do Dec. 737, de 1850).
Se o réu alienar embargos terá seis dias para produzir testemunhas; decorridos
os quais serão os embargos, com a prova dada, sujeitos à apreciação do juiz que os
receberá ou rejeitará: no primeiro caso serão assinados ao autor cinco dias para
contestá- los, depois do que abrir-se-á uma dilação de dez dias para a prova, finda ela as
partes arrazoarão em cinco dias cada uma e conclusos os autos o juiz julgará a final
quando não são opostos, dentro dos seis dias da penhora (art. 316 do Dec. 737, de
1850).
Os tribunais têm admitido a vista para embargos quando ela é pedida nos seis
dias, ainda quando a apresentação se der fora desse prazo: em tal caso os embargos não
podem ser rejeitados como opostos fora do prazo legal (Direito, vol. 66, p. 29).
revestida das formalidades legais, a qual deve ser extraída pelo autor quando requerer a
363. O devedor hipotecário pode ter falecido, a ação executiva em tal hipótese
não dificultar a execução do mandado executivo, a lei permite que este seja intimado
podem ser intimados por editais, com prazo de 30 dias, estando presentes no Estado e de
noventa, estando fora dele, ou da República (arts. 387 e 388, do Dec. 370, de
02.05.1890).
mesma audiência em que o for a intimação, depois de decorrido o prazo dos editais; na
ocasião da acusação da penhora ficam assinados os seis dias para opor embargo à
O § 2.º do art. 4.º da Lei 3.272, de 05.10.1885, foi a fonte da disposição o § 7.º
do art. 14 supra e os arts. 70, 71 e 72 do Dec. 9.549, de 23.01.1886, foram reproduzidos
em proveito do próprio credor; nas hipotecas legais tal remédio não tinha aplicação (art.
ao poder de outrem, com o fim especial de ser vendida para o pagamento da dívida,
hipoteca, ao passo que, sem o seqüestro, serão percebidos e utilizados pelo devedor, por
efeito, da posse material que tem; os acessórios do imóvel não podem mais ser
quando se ache ausente, e o caso justifique o emprego desse remédio assecuratório dos
direitos do credor.
O § 9.º do art. 14 supra e o art. 386 do Dec. 370, de 1890, não exigem que a
formalidades legais, quando a dívida não tiver sido constituída juntamente com a
hipoteca.
esta é estabelecida para garantia de uma letra; em tal hipótese a junção da escritura da
expedição do mandado executivo; sendo a ação executiva ligada à hipoteca e não aos
1898 consagra a verdadeira doutrina. O acórdão referido não supõe necessária a prova
título, com a menção de sua data e do nome do tabelião que a fez, sob pena de nulidade
da mesma inscrição (arts. 196, § 5.º, e 212 do Dec. 370, de 1890) não supre a
escritura indispensável; sem ela não pode dar-se o remédio, porque tal título não pode
ser substituído ou suprido por outro. Convém deixar patente que o primeiro traslado é o
mandado executivo.
podem julgar modificadas pela – escritura da hipoteca – do art. 386 do Dec. 370, de
1890, para o efeito de não juntar-se a letra garantida por hipoteca, mas sim para ter
ou instrumento.
constitui inovação na legislação de 1864 feita pela Lei de 1885 (§ 5.º do art. 4.º) e outra,
propositura da ação.
como a competente para a ação hipotecária (art. 14), ainda quando a dívida fosse
comercial (Lafayette, Dir. das Cousas, § 271, n. 4); à jurisdição comercial pertence
unicamente a ação em favor do credor com processo executivo; as ações que tiverem
por fim a nulidade da hipoteca pertencem ao foro comum, porque a hipoteca é de
admitido na legislação de 1864, de acordo com os princípios que a ele submetem todas
ações reais e pessoais, civis e comerciais (Assento de 23.11.1769, Ord. do Liv. 3.º, Tít.
11 pr. e 5.º, Regulamento 737, de 1850, art. 50); substituíra a Lei de 1885 (§ 5.º do art.
interesses do credor, e armando-o de uma medida que importa desaforar o réu do seu
admitindo que o devedor possa ser acionado, à vontade do credor, também no foro do
domicílio.
prevalece: como, porém, não é substancial que aos bens hipotecados se dê valor na
não constar esse valor (arts. 196 e 212 do Dec. 370, de 02.05.1890), a disposição do §
quando a avaliação não houver sido feita na escritura do contrato, o que não é exigido
Reg. 737, de 25.11.1850, não é permittido opor contra as escrituras de hipotecas outros,
quanto aos credores, as disposições dos arts. 617 e 686, §§ 4.º e 5.º, do art. 240, e do §
8.º do art. 222, do Reg. 3.453, de 26.04.1865, para os casos que não forem de
insolvabilidade ou de falência.
368. O Dec. 370, de 1890, precisou melhor os casos dos embargos, que é lícito
escritura pública;
O 5.º do art. 240 do Dec. 3.453, de 26.04.1865, veda a execução dos imóveis
hipotecados por outros credores que não os hipotecários salvo os casos de falência ou de
insolvabilidade do devedor.
o mesmo imóvel; os outros não podem impedir o pagamento do credor hipotecário, nem
contestar a hipoteca; têm apenas o direito de pagar-se pelas sobras do produto dos bens
depois de solvido o crédito hipotecário (art. 292, § 3.º, do Dec. 3.453, de 26.04.1865).
são todos preferidos pelo credor por hipoteca anterior devidamente inscrita.
autos, só podem ser recebidos com condenação (Direito, vol. 22, p. 343): os de nulidade
validade da escritura só pode ser contestada por ação ordinária (Direito; vol. 41, p. 231).
hipotecárias, não podem ser considerados de pleno direito (Direito, vol. 53, p. 210 e vol.
55, p. 249).
execução de sentença não inscrita, porque sem a inscrição e a especialização dos bens
da condenação não tem o exeqüente hipoteca judicial (Direito, vol. 37, p. 542).
concluída a arrematação, nem atacar vícios anteriores à penhora (Direito, vol. 18, p. 82).
Civil e Criminal a seguinte inteligência ao art. 15 do Dec. 169-A, a qual não nos parece
disposições dos arts. 617 e 686, §§ 4.º e 5.º, do citado Regulamento 737, sem prejuízo
das prescrições do art. 240, § 5.º, e do art. 292, § 8.º, do citado Dec. 3.453, de 1865,
modificação fiz ao direito estabelecido por aquelas leis; e, por conseguinte não há razão
justificativa para ser inovada a jurisprudência firmada pelos tribunais em 1.ª e 2.ª
instâncias.
para impedir os seus efeitos (Reg. 737, art. 686, § 5.º, n. 3), sem prejuízo das
inscrita, não pode ser objeto de contestação, mas produzirá todos os seus efeitos
enquanto não for anulada ou rescindida por ação ordinária, e o art. 292, § 3.º, que só
podem disputar preferência com o credor hipotecário outros credores que se apresentem
com hipotecas inscritas sobre o mesmo imóvel, sem que os demais credores; que
pagamento e contestar a hipoteca, essas disposições foram reproduzidas no art. 19, § 1.º,
credores as disposições do arts. 617 e 686, §§ 4.º e 5.º, do Reg. 737, de 1850, o
fraudulento e celebrado era fraude da execução (Reg. 737, art. 686, § 5.º, n. 3); direito
esse que lhe é facultado, bem como a qualquer outro credor, quando o exeqüente não é o
credor hipotecário, caso em que a hipoteca não pode ser contestada (Decreto de 1865,
art. 392, § 3.º) nem rescindida (Dec. 169-A, art. 19, § 1.º); e, sim, quando quirografário
do devedor (Decreto de 1865, art. 240, § 5.º). caso em que a dívida reputando-se
art. 617 do Reg. 737, por força da qual, no concurso de preferência, os credores podem
execução.
Relação de Ouro Preto (Direito, vol. 23, p. 31) e em 01.09.1883 pela Relação do Recife
A disposição do art. 517 do Dec. 737, de 1850, não prevalece quando um dos
preferencial.
contra o devedor comum, poderá o credor hipotecário defender, por via de embargos, os
hipotecados.
compreensão.
hipoteca, para o fim de imprimir- lhe os efeitos regulares, ainda quando não lhe seria
hipoteca ainda não vencida, contra os efeitos da arrematação dos bens hipotecados em
imóveis hipotecados por falta de outros bens e por não estar o credor hipotecário em
demais termos da execução, conseguissem a venda dos bens penhorados, tais bens
passariam aos que os adquirissem em hasta pública, livres da hipoteca, que ficaria
extinta pelo fato da arrematação (art. 226, § 9.º, do Dec. 370, de 02.05.1890).
remédio que impedisse a anulação de fato da hipoteca, com a inteira anulação de seus
esteja vencida, o opor-se por meio de embargos de terceiro prejudicado (Lafayette, Dir.
das Cousas, § 273, n. 2, nota 8.ª), à arrematação dos imóveis hipotecados penhorados
credor hipotecário habilitado a fazer valer o seu título para único efeito de embargar a
art. 240, § 6.º, n. 1, do Dec. 3.453, de 26.04.1865, que o art. 15 do Dec. 169-A, manda
guardar.
art. 84 do Dec. 9.549, de 23.01.1886, adotara e que Lafayette (Dir. das Cousas, § 273),
5.º, Dig. de re judicada e da Const. 8.ª Cod. qui potiores in prignore, entende dever ser
admitida no nosso direito, a despeito de ter sido omitida a sua adoção no mecanismo da
dívida não vencida, contra a excussão dos imóveis hipotecados, promovida por segundo
credor hipotecário de dívida posteriormente inscrita, de prazo menor, e já venc ida.
“Quod si res sit pignorata, quæ pignori capta est, videndum est, an sic distrahi
non cogatur creditor rem, quam pignori accipet, distrahere, tamen in judicati
exsecutionem servatur, ut si emptorem, invenerit res, quæ capta est, qui dimisso priore
creditore superfluum solvere sit paratus, admittendo sit hujus quoque rei distractio; nec
videtur deterior conditio creditoris fieri suum consecutum, nec prius jus pignoris
estabeleceram:
“Diversis temporibus eadem re duobus jure pignoris obligata, eum, qui prior
data mutua pecunia pignus accepit, potioren habere, certe ac manifesta juris est: nec
alios secundum creditorem distrahendi potestatem hujus pignoris consegui nisi priore
“No silencio da lei (patria), diz o Sr. Lafayette (loc. cit.) vigora como
subsidiario o direito romano, o qual sem embargo das differenças no que diz respeito á
primeira hypotheca. Desde que, pois, cessa a dita necessidade, com ella cessa o direito
prevalecer, por existir disposição que a repele, qual a que determinou claramente a
“Dado o caso de duas ou mais hypothecas sobre o mesmo immovel, não podem
possa haver a disputa sobre a preferencia de que trata o § 3.º do art. 292 do Reg. 3.453,
de 26.04.1865”.
um com inscrição de hipoteca anterior, sem dívida, vencida, outro com hipoteca,
posteriormente inscrita, mas com dívida vencida, e deixou prevalecer, no silêncio sobre
Ora, usando desta autorização, da qual, aliás, não tinha necessidade, desde que
o governo agia, ainda em 02.05.1890, época em que publicou o regulamento
suprimiu a do art. 16 do Dec. 169-A e no art. 408 revogou de modo preciso, os capítulos
1.º do mesmo Decreto, um dos revogados por tão clara e precisa disposição do Decreto
de 02.05.1890.
02.05.1890?
disposição – já porque ela estava consagrada em ato de força legislativa e não foi
169-A e 370, deve-se forçosamente concluir a revogação de tal artigo, aliás diretamente
revogado com o Capítulo 5.º do Tít. 1.º do mesmo Decreto no art. 408 do Dec. 370, de
1890.
com inscrição anterior, e a dívida, não vencida, sem o recurso de opor à execução do
devedor; então a dívida hipotecária é reputada vencida; desde que, como fá- lo sentir o
Sr. Lafayette (Dir. das Cousas, § 273), o fato de estarem os imóveis de alguém sujeitos
reputando vencida a dívida do credor de hipoteca, inscrita com prioridade de ordem, não
é dado a este opor embargos à arrematação dos imóveis hipotecados excutidos por
Só de um recurso pode lançar mão o primeiro credor para evitar o prejuízo total
O Sr. Lafayette opina pela possibilidade de uma ação ordinária intentada pelo
credor, assim arredado da execução por não ter efetiva a sua hipoteca, no intuito de
haver dos credores, que arremataram os bens sobre os quais havia incidido a sua
hipoteca, a parte precípua que lhe devia tocar como credor hipotecário.
quaisquer encargos para o poder do arrematante; como supor possível uma ação
ordinária intentada com o fim de liquidar e tornar efetivo um direito que não pode ter
assento na hipoteca, porque esta extinguiu-se pela arrematação?
art. 84 do Decreto de 23.01.1886, não pode ser, como temos visto algumas vezes opinar,
levado à conta de omissão acidental, se outra razão não existisse, para julgar-se
proposital o fato bastaria a que apresentamos – de haver o art. 408 do Dec. 370, de
para assim proceder, teve um móvel conhecido: apartar-se do regime romano e filiar-se
ao regime moderno.
creditor, tinha o poder de provocar a venda dos imóveis para pagar-se por seu preço; o
credor posterior devia aguardar a liquidação do direito do primeiro credor para fazer
valer o seu: o meio que o processo romano lhe proporcionava para evitar esta situação
primeiro – ao potior creditor – pagar- lhe a dívida; por este pagamento ficava o segundo
que o credor hipotecário, qualquer que fosse a sua ordem preferencial regulada pela
inscrição, pudesse, pelo simples fato de ter um direito real, possível de tornar-se efetivo
sobre o imóvel, isto é, hipoteca inscrita e vencida, excutir o imóvel sem preocupar-se
com o primeiro credor hipotecário, o da inscrição anterior, que neste simples fato tinha
o meio de fazer valer o seu direito preferencial na execução.
Se esse direito era irrealizável, por não estar a dívida vencida, fora atacar
com dívida vencida, fizesse valer o seu direito real sobre o imóvel, pelo fato de haver
um credor hipotecário com hipoteca anteriormente inscrita mas que não podia fazer
1818, que le droit de faire vendre sur le tiers détenteur 1‟immeuble hypothéqué n‟est
poursuivant cera colloqué en ordre utile. Le droit de saisie immobilière déféré à tout
créancier hypothécaire, quel que soit son rang, est absolu. Ce n‟est que par le résultat
lequel, jusque- lá, justifie, par la seule éxistence de son inscription, d’un intérêt suffisant
absorber la totalité du prix à provenir de la vente de l‟immeuble fût le tiers détenteur lui-
alterar-se-ia esta situação para chamar a atenção sobre a condição do credor inscrito
anteriormente e que podia ter sua hipoteca, sem efeito – o da insolvência do devedor; se
no rigor jurídico não estando a hipoteca vencida, não havia como pretender a realização
dos efeitos de um título que não tinha uma condição substancial, qual a de ser
fator do crédito real, convinha não retirar-lhe a sua ação garantidora das operações de
crédito, quando ocorresse o fato da insolvabilidade do devedor.
fazer valer o seu direito prelatício juntando apenas o seu título hipotecário (art. 15 do
Dec. 169-A), o qual não pode ser arredado senão sendo por ação competente (art. 19, §
suficientes para o pagamento dos credores, como nenhum prejuízo resulta para o credor
por hipoteca, que pode pagar-se como quirografário, além do produto dos bens
hipotecados, sem aguardar o vencimento de sua hipoteca para fazer valer os seus
direitos, não há necessidade de dar como vencida a sua dívida, porque um credor
hipotecado nas execuções movidas por credor quirografário contra o devedor comum,
fevereiro de 1899, p. 185); mesmo fora dos seis dias seguintes à penhora (Rev. citada,
legislação hipotecária.
372. Não há colisão entre esta disposição e a do art. 15, a aceitar-se como exata
a referência aos arts. 132, 133 e 134 do Dec. 3.453, de 26.04.1865. Nestes provê
legislador a três situações jurídicas do executado e define o direito que as regula; no art.
79 estatui sobre hipótese restritiva de uma das disposições gerais do art. 15.
la em seu assento fundamental a sentença exeqüenda e o processo da ação (§§ 1.º e 8.º
do art. 577).
sentença, ou por tornar esta sem objeto, porque o acordo das partes contendoras
modifica a situação criada pelo quase-contrato formado cone a aceitação do juízo (§§
3.º, 4.º e 7.º, do art. 577, e § 2.º, do art. 578, do Dec. 737), esses embargos não podiam
Tais nulidades são as que o art. 394 do Dec. 370, de 02.05.1890, menciona.
celebradas para garantia, de dívidas contraídas, anteriormente à data das escrituras das
celebradas dentro dos quarenta dias para garantias de dívidas contraídas no mesmo ato,
e às inscrições feitas após a sentença da abertura da falência (arts. 132, 133 e 134 do
A razão deste preceito, que, em vez de colidir com o do art. 15, o limita, é não
autorizar o executado a opor a tais escrituras embargos que se fundem em um vício que
o executado devia conhecer e que foi conivente em ocultar, com o intuito de defraudar
lhe é lícito opor embargos fundados em nulidades de pleno dire ito, estas afetam de tal
modo as escrituras de hipotecas contraídas nos casos dos arts. 152, 155 e 154, que o
vício proveniente destas disposições é sobrepujado por aqueles decretados no art. 684
O art. 394 do Dec. 370, de 1890, reproduzindo a disposição, faz menção dos
escritura pública;
e) Cessão de hipoteca inscrita sem ser por escritura pública ou termo judicial.
referência dos arts. 132, 133 e 134, do Decreto de 26.04.1865, feita não somente no art.
mesmo ano, referência que se explica pela maneira que o fizemos e que a justifica do
A não se dar esta inteligência conforme opinião que já vimos expender e não
aceitando como exata a referência aos arts. 132, 133 e 134, do Dec. 3.453, de 1865, o
art. 19 do Dec. 169-A é uma repetição escusada do art. 15 na parte referente aos
de que o legislador de 1890 se teria tornado igualmente culpado, é que produzimos essa
inteligência do art. 19 e aceitamos como exata a referência aos arts. 132, 133 e 134, do
Dec. 3.453.
que vê nos citados artigos dos Decretos de 1890, que são a reprodução textual do n. 5 do
§ 6.º do art. 240 do Decreto de 1865, uma referência errada: não é dos arts. 132, 133 e
134, do Decreto de 1865, que se trata e sim dos arts. 135, 136 e 137 do mesmo Decreto,
aos quais referia-se o art. 240 (n. 5, § 6.º) do Decreto de 1865 e não àqueles outros.
Explicar-se- ia, então, a referência errada – por qualquer alteração que tenha se
dado na numeração dos artigos, com a inclusão de novas disposições, por ocasião de
que entendiam com a constituição das hipotecas, e teve por fim reduzido o uso dos
estabilidade à constituição da hipoteca quando ela houvesse tido lugar, com observância
A referência aos arts. 132, 133 e 134 não teria razão de ser; e a explicação
da referência. Porque proibir ao executado alegar as nulidades dos arts. 132 e 134
No caso do art. 132 promana a nulidade da fraude e do, dolo que preside ao
contrato, no do art. 134, além de idêntica razão fundamental, convém acrescentar que a
inscrição radicalmente nula não imprime à hipoteca vigor contra terceiros, isto é, anula-
oficial das leis, dar-se a mesma referência, não deve servir para provar a exatidão desta,
mas, sim, para precaver os legisladores contra os descuidos da redação dos artigos de
leis e regulamentos.
lugar e sem concorrência, só por via de ação ordinária de nulidade ou rescisão, poderão
registro.
374. Esta disposição e a do art. 395 do Dec. 370, de 02.05.1890, tiveram por
fim revogar o art. 80 do Dec. 9.549, de 13.01.1886, que permitia aos credores
direito, como as resultantes de simulação, dolo e falsidade das dívidas executadas para
quirografários impedir que o credor hipotecário se pagasse, pelo produto dos bens
art. 240, e do § 3.º, do art. 292, do Decreto de 26.04.1865: a primeira destas disposições
declarava a escritura da hipoteca subsistente, enquanto não fosse anulada por escritura
tempos:
“A disposição do artigo precedente não exclue o direito, que assiste aos dema is
169-A e 394 e 395 do Dec. 370 ressalta o pensamento que presidiu à redação do § 1.º do
art. 19 supra: pôr o direito prelatício do credor hipotecário inscrito em primeiro lugar e
restringiu, a proteção ao direito dos credores quirografários e dos por hipoteca inscrita
credores, as disposições dos arts. 617 e 686, §§ 4.º e 5.º, do Dec. 737, para os casos que
não forem de insolvabilidade ou de falência; ora segundo o art. 617 do Dec. 737 a
disputa entre credores pode versar não somente sobre a preferência que cada um alega,
senão também sobre nulidade, simulação, fraude e falsidade das dívidas ou contratos e
segundo os §§ 4.º e 5.º, do art. 686 a nulidade de pleno direito pode ser pronunciada,
não somente por meio de ação, como de defesa (e conseguintemente por meio de
embargos), e pode ser alegada por todos aqueles que provarem interesse na sua
declaração, e, conseguintemente, pelos credores, os quais podem, ainda mais – opor por
em fraude da execução.
Parece-nos que do acórdão, já por nós citado, proferido pela Câmara Comercial
dúvida.
meios especificados nos arts. 617 e 686, §§ 4.º e 5.º, do Dec. 737 quando:
não, não o inibe de opor, fora dos casos de falência e insolvabilidade do devedor, por
do corrente ano.
número da ordem de inscrição possa alegar a nulidade de outra hipoteca inscrita, com o
mesmo número de ordem, por haverem concorrido ambos ao registro, no mesmo tempo
(§ 4.º, do art. 9.º,do Dec. 169-A, e art. 44, do Dec. 370, de 1890), por meio de
embargos, o que é inexato. A disposição do § 1.º, do art. 19, do Dec. 169-A é tendente a
garantir o credor hipotecário, que tem prioridade de ordem, contra o protraimento das
chicana e com o efeito protelatório alcançado, ainda quando os embargos fossem afinal
de ordem prelatícia, a alegação por meio de embargos da nulidade das hipotecas dos
concorrentes.
Se somente por meio da ação ordinária pudesse o exeqüe nte, com hipoteca
inscrita ou prioridade de ordem, opor a nulidade de outra hipoteca inscrita sob o mesmo
executado, que pode sempre opor embargos fundados em nulidade de pleno direito.
§ 2.º A disputa entre credores, dos quais algum tenha hipoteca inscrita em
primeiro lugar e sem concorrência, não pode versar senão sobre o ponto restrito da
preferência.
375. Se o credor por primeira hipoteca inscrita tiver concorrência fundada nas
disposições do art. 44, do Dec. 370, de 02.05.1890, ou do § 4.º, do art. 9.º, do Dec. 169-
A, do mesmo ano, não tem aplicação a disposição supra; em tal caso a disputa não
próprio direito de concurso, isto é, sobre a validade da hipoteca da qual promana esse
direito.
Jurisprudência.
Subsistindo a disposição do art. 15, do Dec. 169-A, de 1890, não revogado pelo
Convém distinguir.
escritura por meio de ação ordinária (§ 1.º, do art. 19); conseguintemente no concurso
Cousas, deve ser assim entendida, depois dos arts. 15 e 19, §§ 1.º e 2.º, do Dec. 169-A,
de 1890, e dos arts. 394, 395 e 396, do Dec. 370, do mesmo ano.
É certo que a hipoteca que tem a sua escritura eivada dos vícios substanciais,
que a lei considera pleno jure irritantes, não tem, como diz o Sr. Lafayette, existência
legal, e seria de toda a justiça que, ainda no concurso de preferência, pudesse o credor
quirografário não somente argüir estas nulidades, mas as que afetassem a própria
inscrição.
imprimia a este um curso de tal morosidade que não se podia coadunar com o fim da
exclusivamente protelatórios.
As disposições dos §§ 1.º e 2.º, do art. 19 supra, e os idênticos dos arts. 395 e
396, do Dec. 370, de 2 de maio, tiveram como objetivo dar remédio a tais abusos, que
definitivamente estabelecida, segundo o § 2.º, do art. 19, do Dec. 169-A, de 1890, desde
que exista um credor hipotecário com prioridade de ordem estabelecida ; este não pode
ser arredado para ser modificada a classificação, salvo sentença passada em julgado
anulando tal hipoteca. Fora desta hipótese, eivada ou não de vício de pleno direito, a
hipoteca entra no concurso com o seu direito prelatício firmado e a única disputa
3.471, de 03.06.1865, não poderá o devedor antichretico ser executado por nenhum
§ 5.º A anticrese devidamente julgada não póde ser invalidada senão por
a noção da anticrese segundo o direito moderno (Código Civil francês, art. 2.085;
Código Civil italiano, art. 1.891; Código Civil português, art. 873; Código Civil
argentino, arts. 3.239 e 3.240; Código Civil uruguaio, art. 2.312; Código Civil espanhol,
art. 1.881; Código Civil alemão, art. 1.213) e a que foi aceita no nosso (art. 6.º do Dec.
169-A, de 19.01.1890).
real de anticrese, proteção que lhe advém do seu caráter de direito real e não do fundo
a venda da coisa para pagar-se, pelo preço, com preferência sobre os outros credores;
desde; porém, que a lei declara que a anticrese constitui um direito real o credor
qualquer sujeito de um direito real: conseguintemente nenhum outro credor deve poder
arrancar da sua posse o imóvel, dado em anticrese, para vendê-lo e pagar-se por seu
preço, seja qual for o título preferencial que faça valer, sem satisfazer ao anticresista
do Código Civil francês é a que consagra o § 3.º supra do art. 19 do Dec. 169-A, de
1890.
De fato esta só constitui um direito real após a posse do credor e não pela
adquira o direito real da anticrese. Si antichresis pacta sit, in fundum aut in œdes aliquis
indicatur (L. 11 § 4.º D. de pignor. et hypoth).
para explorarem- no, a grande proteção que se concretiza no preceito do § 4.º supra e que
anticrese, antes da imissão da posse das mesmas sociedades, e para o efeito de realizar-
se tal imissão; o que equivale a autorizá- las a fazer valer o direito real da anticrese,
todos os efeitos; assim é que enquanto dura, não pode ser o imóvel objeto de seqüestro,
embargo, ou penhora; o credor anticresista exercitará o seu direito real até final solução
O devedor pode alienar o imóvel, mas este passa ao adquirente com o encargo
instruir de sólidos fundamentos o juiz que vai rescindir o ato judicial que sancionou a
anticrese, a qual em muitos dos casos figurados não é convencional, mas judicial.
ensuite le même immeuble, il n‟en transfère ou n‟en affecte la proprieté que dans la
mesure des droits qui lui restent, c‟est-à-dire sous la condition de respecter 1‟antichrèse
elle doit rester dans le patrimoine de celui-ci jusqu‟à, ce qu‟elle soit rachetée par le
379. Em vez de levar a termo a ação executiva a sociedade de crédito real pode
optar pela anticrese; em tal caso passa o imóvel para a posse da sociedade e é j ulgado
uma garantia para este; o direito de defender a posse do imóvel dado em anticrese, por
terceiro senhor, alegáveis contra penhora, seqüestro ou arresto, constitui uma garantia
seu direito creditório garantido pela anticrese (Direito, vol. 42, p. 183, e vol. 47, p. 413).
Direito, vol. 8.º, p. 344 a 354), quer estes se imputem aos juros, quer à amortização do
capital, sendo conveniente que se estipule a taxa dos juros, mas não sendo isto
anticrese, só dependem, quando ela se acha realizada, da respectiva transcrição, para ser
vez que a escritura do contrato seja incripta em primeiro lugar e sem concorrência,
que sucediam por sub-rogação a outras hipotecas inscritas com prioridade de ordem.
Para que tal se desse fazia-se preciso que os empréstimos contraídos com as
inscritas, fossem efetivamente aplicados a tal pagamento; assim sendo decorria do fato a
sub-rogação, segundo o § 1.º, do art. 19, do Dec. 3.471, de 1865; o que se dava quando
coerente esta disposição com a do art. 13, que só considera a soc iedade de crédito real,
com primeira hipoteca, quando houver sido ela sub-rogada a uma hipoteca com
primeira hipoteca, sob o domínio da disposição do art. 13 e do art. 19, do Dec. 169-A,
desnecessária.
381. Esta disposição foi alterada pelo art. 380 do Dec. 370, de 02.05.1890, que
dispõe:
art. 379, do Dec. 370, de 02.05.1890, estão sujeitos à falência, porque tais bilhetes
As dívidas civis não autorizam a abertura de falência (art. 1.º, § 2.º, do Dec.
917, de 24.10.1890), as dívidas por hipoteca são civis (art. 2.º, do Dec. 169-A, de 1890),
02.05.1890).
vimos.
Disposições transitórias
Art. 21. Fica extinto o privilégio das fábricas de açúcar e mineração, do qual
Tal privilégio havia sido derrogado pela Lei 1.237, de 24.09.1864, (art. 14, §
2.º); não tendo sido restabelecido por lei posterior, não havia necessidade do preceito do
art. 21.
Foi mais uma das disposições insertas por inadvertência no corpo da nova
legislação hipotecária.
A, de 1890; como, porém, foi expedido pelo Governo Provisório e tem originariamente
Art. 23. Ficam revogadas as Leis 1.237, de 24.09.1861, e art. 1.º, da Lei 2.687,
de 06.11.1876, e Lei 3.272, de 05.10.1885, e bem assim quaisquer disposições em
contrário.