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UC Análises de

Microrganismos e
vigilância sanitária
Infecções no Sistema Nervoso Central

Profa. Bruna Kuhn de Freitas Silva brunafreitasbiomedica


Indicações para coleta e análise de LCR
A coleta de LCR está indicada nos processos infecciosos
do sistema nervoso e seus envoltórios.
As infecções do SNC possuem alta morbidade e mortalidade,o que
requer diagnóstico e intervenção rápidos.
processos granulomatosos com imagem inespecífica;
doenças desmielinizantes;
estadiamento e tratamento de leucemias e linfomas, e
profilaxiade envolvimento do SNC;
imunodeficiências;
processos infecciosos com foco não identificado; hemorragia
subaracnoídea;
diagnóstico e avaliação prognóstica de hidrocefalia
de pressão normal (tap test).
Os processos infecciosos podem acometer pacientes imunologicamente
hígidos ou imunocomprometidos, que incluem meningites, encefalites,
cistos e abscessos cerebrais.

Como tratamento, a punção


lombar está indicada para aplicação de
medicação intratecal
para profilaxia do SNC nas leucemias e
linfomas; tratamento
da hipertensão intracraniana por punção
repetida no caso
de meningite por Cryptococcus spp.
(Amercian Academy Of
Neurology, 2005).
Fonte: Anghebem-Oliveira, 2016; Monticelli 2018; Deigendesch, 2017; Thompon, Thakur, 2017; Król-Turmi SKA & Olender, 2017.
Tratado de análises clínicas / editores Luiz Fernando Barcelos, Jerolino Lopes Aquino. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Atheneu, 2018.
Coleta e preservação da amostra LCR

Amostra de LCR deve


sempre ser coletada em tubos estéreis
(Anvisa, 2004).
Coleta e preservação da amostra LCR
A amostra encaminhada para as análises
microbiológicas deve ser mantida em temperatura
ambiente após a coleta e o envio ao laboratório, e
processamento deve ser o mais rápido possível;

Não deve ser resfriada ou congelada, pois a diminuição


da temperatura reduz muito a positividade da cultura,
principalmente para as bactérias mais frequentemente
causadoras de meningite.
Se possível, o LCR que será
encaminhado
para cultura de bactérias deve
ser coletado em meio
de transporte contendo ágar
chocolate, pois isso aumenta
a possibilidade de isolamento
das bactérias.
Análise
microscópica e
coloração para
microbiologia e LCR
A principal coloração utilizada para a análise microbiológicamicroscópica do LCR é a
coloração de Gram.
A coloração de Gram identifica bactérias Gram-negativas, Gram-positivas, e cora
todos os fungos como Gram-positivos.

Quando realizada por profissionais bem treinados, a coloração de Gram apresenta


uma sensibilidade de 60% a 90% e especificidade próxima de 100% (Anvisa).

Etapa 1- Coloração com violeta de cristal Etapa 2- A descoloração


(um corante solúvel em água, roxo) (utilizando etanol / acetona);

Etapa 3- A contra-coloração
(utilizando corante Safranina, vermelho);
MENINGITES
BACTERIANAS
A meningite bacteriana é um ainfecção que acomete as
membranas do SNC (meninges) e a medula espinhal.

As etiologias das meningites, variam de acordo


com a idade, o grupo e as regiões do mundo.

Laboratorialmente falando, os principais agentes etiológicos são:

Neisseria meningitidis

Haemophilus influenzae

Streptococcus pneumoniae
ANÁLISE LABORATORIAL DO LIQUOR
A coleta do LCR pode ser realizada na maioria das cavidades do SNC, porém, existem vias
preferenciais que propiciam segurança na extração, como a punção lombar entre L3 e L4,
L4 e L5 ou L5 e S1 (espaços entre as vértebras lombares), a punção suboccipital feita na
região cisterna magna entre o occipital e a 1ª vértebra cervical (na região das vértebras
occipitais), e a punção ventricular feita diretamente em um dos ventrículos laterais através
da trepanação da calota craniana.
POSICIONAMENTO DO PACIENTE
Características físicas
O exame macroscópico do LCR deve ser realizado logo após a chegada da amostra
no laboratório e inclui observações de:

aspecto, cor da amostra pura, cor do sobrenadante,


formação de coágulos e presença de película.

O volume colhido deve ser registrado, assim como a cor e o


aspecto antes e após a centrifugação.

A presença de coágulo também deve


ser relatada

(Melo et al., 2003).


A terminologia utilizada para descrever o aspecto do
LCR inclui:
límpido, discretamente turvo, turvo, oleoso, purulento/
leitoso, xantocrômico e hemorrágico

Um aumento nas
contagens de células
causa turbidez, que é
notada quando as
contagens de células se
aproximam de 200/μL
Uma amostra xantocrômica é aquela
que após a centrifugação apresenta
coloração amarelada ou alaranjada, e
a amostra hemorrágica apresenta
após a centrifugação presença de
hemólise com coloração vermelha ou
rósea. Também ocorrem alterações na
cor promovida pela alta concentração
de bilirrubina ou proteínas.
(1) lâmina de vidro;
(2) papel de filtro;
(3) citofunil;
(4) suporte.

Após a citocentrifugação as lâminas


devem secar naturalmente
antes de serem coradas e examinadas
microscopicamente.
https://www.youtube.com/watch?v=_f1trn2wCuc
Na análise citológica são considerados elementos figurados do LCR, hemácias, leucócitos,
células tumorais, leveduras e fungos. Normalmente o LCR não contém esses elementos,
porém após a extração é necessário que se faça a contagem global de hemácias e
leucócitos, sendo considerado normal uma contagem de leucócitos e hemácias de até 5
células/mL.

Esta contagem é realizada na câmara de Fuchs Rosenthal por possuir


maior precisão, embora outras câmaras de contagem possam ser utilizadas.
https://www.youtube.com/watch?v=hUMhUBYX8IQ
1- Está contagem diferencial é feita com o sedimento do LCR sobre uma lâmina de vidro,
que poderá ser extraído com o auxílio da câmara de Suta (técnica da sedimentação
gravitacional acelerada) ou de uma citocentrifugação.

2- Após a secagem do sedimento na lâmina, é realizada coloração utilizando o corante


May Grunwald-Giemsa (método para coloração de células de sangue periférico, medula
óssea ou para estudo citológico de elementos celulares, utilizado somente para
diagnóstico in vitro), embora possam ser utilizados outro corantes como panótico ou
Leishman. Depois da confecção e coloração da lâmina, esta é submetida a contagem
diferencial celular utilizando objetiva de imersão.
Células de morfologia normal no lcr
O LCR normal possui 70% de linfócitos e 30% de monócitos.

Monócitos e linfócitos (Aumento


1.000×).
Coloração de May Grunwald-
Giemsa
Neutrófilos (Aumento 1.000×).
Coloração de May
Grunwald-Giemsa.
Plasmócitos (A) Aumento 400× (B) Aumento 1.000.
Coloração de May Grunwald-Giemsa.
MENINGITE EOSINOFÍLICA
A meningite eosinofílica é definida
como a presença de 10% ou mais de
eosinófilos no LCR, e
as causas podem ser múltiplas.
Atualmente a principal delas
é a infecção por Angiostrongylus
cantonensis, causador de meningite
eosinofílica benigna autolimitada.

Eosinófilos (A) Cariopicnose (B) Cariorexis


(Aumento 400×).
Coloração de May Grunwald-Giemsa.
Análises bioquímicas

PROTEÍNA GLICOSE

ÁCIDO LÁTICO ADENOSINA


DEAMINASE
(ADA)
Tubo 1: destinado para testes químicos e sorológicos, esses tubos podem ser congelados
para manter a estabilidade da amostra;
- Tubo 2: destinado para laboratório de microbiologia, os tubos devem permanecer na
temperatura ambiente;
- Tubo 3: destinado à hematologia, os tubos podem ser refrigerados.
PROTEINORRAQUIA
O quociente de concentração da albumina no LCR em
relação à albumina no plasma pode ser utilizado para avaliar a
integridade da barreira hematoencefálica.

Os valores de referência da concentração de albumina no LCR


oscilam entre 10 e 30 mg/dl.
https://www.youtube.com/watch?v=GQ_RDwOYD1o
GLICORRAQUIA
Níveis de glicose no LCR devem sempre ser
comparados à glicemia, e geralmente espera-
se em condições normais a razão de 2/3.

A diminuição dos niveis indica processos


infecciosos agudos e crônicos, principalmente
bacteriamos.

O aumento pode ser um indicativo do


paciente portador de diabetes mellitus e ainda
quando a glicorraquia for superior à glicemia,
deve-se suspeitar de contaminação do frasco.
https://www.youtube.com/watch?v=JUcZTyBideU
LACTOTORRAQUIA (ÁCIDO LÁTICO)
A utilização da dosagem do ácido lático é bastante útil
na diferenciação de meningites virais das bacterianas,
principalmente, quando há perfil neutrofílico.

Os valores normais de lactato no LCR estão


entre 10 e 20 mg/dL (1,1 a 2,2 mmol/L). Os
níveis de lactato no LCR, diferente dos níveis
de glicose, não são dependentes da
concentração sanguínea, há produção
intratecal de lactato.
https://www.youtube.com/watch?v=RIg89G_oR6k
Adenosina deaminase no LCR
A adenosina deaminase (ADA) é uma enzima que participa no metabolismo das
purinas, onde degrada a adenosina produzindo a inosina e a amônia. A adenosina
deaminase é encontrada principalmente nos linfócitos T e está diretamente
relacionada com a ativação dessas células (Miranda et al., 2008; Feres et al., 2008).

Níveis aumentados de ADA têm sido


observados em condições que
envolvem a proliferação dos
linfócitos T, como nas meningites
tuberculosas, febre tifoide e
mononucleose.

https://www.youtube.com/watch?v=1Dk_i7czPi0
ANÁLISE MICROBIOLÓGICA

A análise microbiológica do LCR é importante


principalmente no diagnóstico etiológico das infecções do
SNC,mas vários métodos estão disponíveis com eficácia
diferente, dependendo do agente etiológico. A amostra de
LCR deve sempre ser coletada em tubos estéreis (Anvisa,
2004).
CULTURAS
https://www.youtube.com/watch?v=88Lg2qmPnNM
Na suspeita de meningite aguda, as culturas do LCR devem sempre ser
realizadas para identificação da bactéria e teste de sensibilidade aos
antimicrobianos. As bactérias mais comumente causadoras de meningite
bacteriana aguda em crianças acima de 30 dias e adultos são Neisseria
meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae.
MENINGITE EM NEONATOS
BACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS
Estreptococos do grupo B
Escherichia colI
Listeria monocytogenes
Estreptococos a-hemolítico
Klebsiella sp.
Enterobacter sp.
Citrobacter diversus
Bactérias intracelulares, sugestivas de Criptococcus sp com gemulações.
Neisseria meningitides Coloração Tinta da China.
(Aumento 1.000×). Coloração de May
Grunwald-Giemsa.
Bactérias intracelulares, sugestivas de Streptococcus pneumoniae
(Aumento de 1.000×). Coloração de May Grunwald-Giemsa.

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