Você está na página 1de 4

04/10/2022 07:45 Estudando: Microbiologia - Bacteriologia Básico | Prime Cursos

Estudando: Microbiologia - Bacteriologia Básico

Exame de Líquor
Utilizado desde o final do século XIX, o exame de líquor é de grande importância no diagnóstico de doenças
neurológicas, como neuroinfecções, doenças inflamatórias do sistema nervoso, doenças neurovasculares,
demências e neoplasias que atingem, de forma direta ou indireta, o sistema nervoso.

O procedimento de coleta para exame de líquor, com a introdução de uma agulha na região lombar (em geral
entre a terceira, quarta e quinta vértebras lombares), é bastante seguro quando feito por profissionais
capacitados.

O que é líquor?

Líquor, ou líquido cefalorraqueano (LCR), é um líquido produzido nos ventrículos laterais (cavidades
localizadas no interior do cérebro). Sua principal função é fornecer uma barreira mecânica e imunológica,
protegendo o sistema nervoso central (SNC).

O volume normal do líquor em um adulto é de cerca de 150 ml. Levemente alcalino, sua composição é de
99% de água, e em adultos, a sua produção é contínua e equivale a três vezes o volume total de LCR, ou
seja, cerca de 450ml/24 horas.

Qual a finalidade do exame de líquor?

A análise do exame de líquor é de fundamental importância no diagnóstico de inúmeras doenças que afetam o
sistema nervoso.

Algumas doenças aumentam a pressão intracraniana, como a hipertensão intracraniana idiopática


(pseudotumor cerebral), uma doença neurológica que causa cefaleia (dor de cabeça) e que pode levar à
perda visual, se não tratada.

No momento da coleta do LCR é possível medir a pressão intracraniana e fazer o diagnóstico desta doença,
permitindo o rápido início do tratamento.

Além da mensuração da pressão intracraniana, a coleta auxilia no diagnóstico rápido através análise da
aparência do LCR. Em condições normais o LCR é límpido e incolor (transparente), com aspecto de “água de
rocha”. Quando apresenta-se turvo é indicativo de uma infecção (meningite). Quando o aspecto é
hemorrágico, indica uma um sangramento no SNC. Quanto está xantocrômico (coloração amarelada), sugere
sangramento prévio ou um bloqueio no fluxo liquórico.

Após a coleta, o LCR é encaminhado para o laboratório especializado para a realização de análise de
diversos parâmetros (contagem e análise das células, parâmetros bioquímicos, imunológicos e moleculares).
Com essa análise são obtidas informações relevantes para o diagnóstico de diversas doenças:

Infecções:

- Meningites (causadas por vírus, bactérias, fungos, parasitas)

- Encefalites (infecção do tecido cerebral, sendo também causada por inúmeros agentes infecciosos como,
por exemplo, diferentes tipos de vírus)

- Infecções da medula (mielites)

- Neurotuberculose

- Neurosífilis
https://www.primecursos.com.br/openlesson/20768/108114/ 1/4
04/10/2022 07:45 Estudando: Microbiologia - Bacteriologia Básico | Prime Cursos

- Complicações infecciosas em pacientes com deficiência imunológica

- Neurocisticercose (associada à teníase do porco)

- Doenças neuroinfecciosas raras

Doenças inflamatórias:

- Esclerose Múltipla (o exame de líquor é indispensável para esse diagnóstico)

- Outras doenças desmielinizantes do SNC como a Neuromielite Óptica e a Doença associada ao MOG)

- Vasculites (inflamação dos vasos cerebrais)

- Encefalites autoimunes (causadas por anticorpos que afetam o funcionamento do cérebro)

- Neuropatias autoimunes (causadas por anticorpos que atacam os nervos periféricos)

Cefaleias e Doenças vasculares do SNC:

- Hemorragia meníngea (ruptura de aneurisma cerebral)

- Pseudotumor cerebral

- Exclusão de causas graves de cefaleias

Demências (distúrbios com perda progressiva da memória):

- Doença de Alzheimer

- Causas mais raras de demências (Doença de Creutzfeldt-Jakob, uma doença rara que causa uma demência
de rápida evolução)

- Demências de causa infecciosa ou inflamatória

Neoplasias:

- Neoplasias hematológicas que infiltram o SNC e meninges

- Metástases de tumores sólidos que infiltram o SNC e meninges

- Tumores do cérebro ou da medula

Dependendo da suspeita clínica, o laboratório de LCR realiza a análise, incluindo testes especificamente
direcionados para o diagnóstico de cada uma destas diferentes doenças ou grupos de enfermidades.

Portanto, o exame de líquor não é um procedimento igual para todos os pacientes. Sendo assim, a análise
eficaz do LCR requer:

- Coleta por profissional capacitado não apenas a obter o LCR, mas também para interpretar os parâmetros
obtidos na punção,

- Análise adequada dos parâmetros celulares e bioquímicos do LCR,

- Utilização de testes imunológicos moleculares específicos e sofisticados, quando necessário e de acordo


com a suspeita clínica ,

- Interpretação clínica adequada de todos os parâmetros obtidos na punção e análise do LCR para a
elaboração das hipóteses diagnósticas

Como funciona a coleta do líquor?

https://www.primecursos.com.br/openlesson/20768/108114/ 2/4
04/10/2022 07:45 Estudando: Microbiologia - Bacteriologia Básico | Prime Cursos

A coleta para exame de líquor é realizada por um médico que recebe um treinamento específico para a
realização deste procedimento.

O paciente é colocado em posição de decúbito lateral, com os joelhos dobrados contra o peito, de acordo com
a orientação do médico. Pode ser utilizado anestésico local.

O local é identificado pelo médico com expertise na realização da punção, e, a seguir procede-se à
antissepsia da área da punção. Uma vez coletado, o LCR é armazenado em tubos próprios e enviado
rapidamente para análise.

O que fazer antes e após o exame de líquor?

Não há necessidade de permanecer em jejum antes do exame de líquor. A coleta é um procedimento bastante
seguro, contudo, o médico sempre deve excluir potenciais contraindicações.

Neste sentido, frequentemente há necessidade de análise prévia de exames de imagem, como uma
tomografia ou ressonância do cérebro.

Há necessidade de avaliar o uso de medicamentos que podem interferir na coagulação, aumentando o risco
de sangramento. Para tanto devem ser respeitados protocolos específicos a depender do medicamento em
uso. Além disso, doenças locais da coluna podem também interferir no procedimento da punção.

Após a coleta do LCR, pode ocorrer tontura e, em alguns casos, cefaleia. O paciente deve permanecer em
repouso por 24 horas após a coleta do LCR. A cefaleia pós punção do LCR pode ocorrer em cerca de 10-15%
dos pacientes e caracteriza-se por uma dor de cabeça quando o paciente fica de pé.

O uso de agulhas finas e mais modernas e o repouso após o exame reduzem o risco desta cefaleia. Outros
incômodos que podem surgir após a coleta são dor na região lombar, principalmente no local da punção e
dores nas pernas, principalmente em crianças.

Portanto, a coleta do LCR para exame de líquor é bastante segura se feita de forma adequada. Considerando
que o organismo produz e absorve todo o volume de LCR três vezes por dia, a quantidade retirada não
causará nenhum dano no cérebro e medula.

Não há nenhum risco da agulha lesar a medula, pois, a medula não tem relação anatômica com o local da
punção (a medula termina e a primeira e segunda vértebras lombares e a punção é feita em geral entre a
terceira e a quarta). Devido à importância vital do sistema nervoso central, à gravidade do quadro clínico e à
urgência por se tratar de um sítio normalmente estéril, o líquor (LCR) deve ter máxima prioridade, devendo ser
processado imediatamente. Avalie e anote o volume e o aspecto do LCR.

Procedimentos técnicos de cultura do exame:

O volume mínimo recomendável para coleta é de 1-2 ml, que será utilizado na bacterioscopia, pesquisa de
antígenos e cultura. Caso o serviço não tenha plantão de microbiologia, a cultura pode ser semeada, 5 a 10
gotas, diretamente durante a punção em tubos contendo o meio ágar chocolate, ágar sangue e caldo
tioglicolato (esse último, em caso de suspeita de bactéria anaeróbia).

No caso de exame direto e cultura de fungos, o volume recomendado é de 2 ml (caso exista indicação).
Mesmo volume recomendado para coloração de Ziehl e cultura para micobactérias (se indicado). Para provas
virológicas, o volume recomendado é 2-3 ml (caso haja indicação).

Realize a cultura em ágar chocolate e ágar sangue. Incubar em 5 a 10% de CO2, a 35-36ºC. A primeira leitura
deve ser feita em 24 horas (se positivo, informar ao médico imediatamente), se positiva fazer identificação e o
teste de suscetibilidade aos antimicrobianos (seguindo as normas vigentes do Clinical and Laboratory
Standards Institute – CLSI). Caso a cultura esteja negativa, reincube e faça leituras diárias até completar 72
horas.

https://www.primecursos.com.br/openlesson/20768/108114/ 3/4
04/10/2022 07:45 Estudando: Microbiologia - Bacteriologia Básico | Prime Cursos

Quando da realização da cultura de líquor, outros parâmetros devem ser avaliados para uma interpretação
correta do achado microbiológico, tais como a celularidade, o nível de glicose e proteínas. A contagem normal
de leucócitos no líquor é < a 5 células /mm3, todas mononucleares. Na meningite bacteriana está aumentada
com predomínio inicial de polimorfonucleares (>80%), podendo aparecer linfócitos subsequentemente. Valores
de glicose menores que 30 mg/dl ou menos que 50% dos níveis séricos, em 50% dos pacientes, sugerem
meningite bacteriana, fúngica ou por micobactérias. Valores de proteínas acima de 100 mg/dl indicam
provável infecção bacteriana.

Veja também esta interessante palestra, que explica o tema aprofundadamente:

PALESTRA CRF-PR: "Líquido Cefalorraquiano - LCR"

https://www.primecursos.com.br/openlesson/20768/108114/ 4/4

Você também pode gostar