Anteprojeto de Pesquisa
1- TEMA:
“O processo de construção das identidades sexuais, realizadas
através da educação do corpo, analisado a partir do estudo das relações de poder e
saber disseminadas e difundidas ao longo dos tempos e confrontado com as atuais
propostas preconizadas pelas Leis que regem a Educação Nacional.”
O presente anteprojeto pretende investigar historicamente como se desenvolveu o
processo de Educação Sexual através dos tempos. Com isso, analisar como as diversas
identidades sexuais (em especial a homossexual) foram definidas, construídas, legitimadas
e/ou negadas a partir das relações de poder e saber, para em seguida confrontar com as
atuais propostas preconizadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as leis que
dão autonomia ao sujeito (Direitos Humanos) e as iniciativas realizadas pela Secretária
Municipal de Educação de Duque de Caxias no período de 1998 aos dias atuais.
O Problema:
Questão central: Como os mecanismos de poder e saber interferem ou
determinam o processo de construção e legitimação das identidades sexuais a partir
das propostas de Educação sexual preconizadas pelas escolas?
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OBJETIVOS
Geral:
Investigar, a partir de uma perspectiva histórica, como a educação sexual determina o
processo de construção das identidades sexuais e confrontar com as propostas educacionais
preconizadas pela Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias a partir da
implementação da Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96 e dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN).
Específico:
- Analisar o processo de construção das identidades sexuais a partir das relações de
poder saber.
- Examinar como as Leis, a partir do século XX, buscam dar autonomia ao sujeito ao
garantir seu direito de vivenciar sua identidade sexual.
- Investigar a partir das propostas pedagógicas como a Educação Brasileira respalda o
projeto de Educação Sexual (Corpos Educados Sexualmente) nas Escolas.
- Descrever como as Escolas oferecem subsídios para construção da identidade
sexual.
- Analisar a s propostas da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 e da Pedagogia Queer.
- Confrontar os dados obtidos com as propostas preconizadas pela Secretaria
Municipal de Educação de Duque de Caxias.
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JUSTIFICATIVA
Trabalhar com questões relativas à sexualidade tem sido uma constante em minha
vida profissional. Talvez por trabalhar em regiões (comunidades) carentes, sempre me vejo
envolvido com questões relativas ao programa de orientação sexual: gravidez na
adolescência, homossexualidade, DSTs, entre outras. Me identifico com este trabalho,
acredito em sua importância.
Atualmente, uma questão que tem me incomodado bastante nas escolas e na
educação em geral é o processo de construção e legitimação das identidades sexuais. Como
a comunidade escolar legitima e reconhece determinadas identidades ao mesmo tempo em
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que nega outras. Isso, em um momento no qual vivenciamos uma série de inquietações,
questionamentos de verdades consideradas absolutas e que segundo Stuart Hall estamos
vivendo uma “crise nas identidades” onde diversas identidades procuram conquistar seu
espaço.
Assim, acredito que um estudo que relacione uma compreensão histórica sobre
como os mecanismos de poder determinam a construção das identidades sexuais certamente
ajudará aos/às educadores/as a refletirem sobre sua responsabilidade no desenvolvimento
do programa de orientação sexual nas escolas.
Torna-se relevante destacar que, segundo os PCN, o desenvolvimento do
programa de orientação sexual nas escolas é uma responsabilidade de todos/as
professores/as, o que reforça a importância de trazer essas discussões para o núcleo escolar.
Destaco também minha trajetória acadêmica e profissional como justificativa para
realização deste trabalho de pesquisa. Sou licenciado em Desenho e Plástica pela FUMA
(Fundação Universidade Mineira de Artes “Aleijadinho”) com especialização Latu-Sensu
em Metodologia de Ensino pelo IEMG (Instituto de Educação de Minas Gerais). Assim que
me formei, em 1989, fui lecionar Artes Industriais em uma escola na periferia de Belo
Horizonte. Nesta escola que tive minha primeira oportunidade de observar o cotidiano de
meus/minhas alunos/alunas perceber a necessidade do desenvolvimento de um programa de
educação sexual: em 1990, uma aluna da oitava série ficou grávida de um vizinho casado,
em busca de solução, a jovem foi levada por ele a uma fazedora de anjos (como
chamavam). O aborto foi realizado com talo de mamona. Meses depois, a aluna estava
internada em um hospital, perdeu útero, causa: aborto mal realizado.
Esse caso me incomodou muito na época, começaram meus questionamentos em
relação à função da escola e a nossa responsabilidade enquanto professores/as. Busquei
algumas leituras como, entre outros, Foucault: A Historia da Sexualidade (1984) e
Microfisica do Poder (1979). O Sistema Educacional era regido pela Lei de Diretrizes e
Bases 5692/71, que não mencionava em seu conjunto um programa de orientação sexual.
Em conjunto com a orientadora educacional e com um professor de ciências começamos a
desenvolver um programa de educação sexual baseado em dramatizações, oficinas, jogos e
desenhos. Esse trabalho durou aproximadamente 3 anos, quando me mudei para Rio de
Janeiro.
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anos — admite Baena (secretário do grupo Cidadania)” (Dantas apud Mott, webpage,
2001).
Estes acontecimentos despertaram em mim o interesse por estudar questões
relativas a homossexualidade e a escola, que até então não havia dado relevância. Em
minhas leituras conheci alguns pesquisadores/as e professores/as, dentre eles/elas a
professora doutora Márcia Moraes que estava ligada a um então recente programa de
mestrado promovido pelo ISEP (Instituto Superior de Estudos Pedagógicos), gostei da
proposta, prestei concurso e me inscrevi no programa.
De agosto 2002 a 2004 foi um período de intensos estudos, escrevi artigos, entre
eles: Por um olhar mais atento às múltiplas e conflitantes sexualidades presentes no
interior das salas de aula (2003), dirigi grupo de estudo: Homossexualidade se aprende na
Escola (Duque de Caxias, 2004), realizei diversas leituras, e sob a orientação desta
professora defendi minha dissertação: Do Cotidiano Escolar à Escola no Cotidiano: um
estudo de caso sobre a orientação sexual e a homossexualidade nas Escolas pela
Instituição citada. Foi um período muito importante em minha vida acadêmica, pois
ampliou meus horizontes. Porém o programa ainda não foi reconhecido, o que não me
permite alçar novos vôos.
A partir desses estudos me aproximei de grupos que trabalham com
homossexuais e promovem discussões sobre questões relacionadas à homossexualidade
nas escolas. Em 2006, fui convidado pelo Grupo Arco-Iris para ministrar a oficina Ética e
Relações de Poder nas Escolas, no curso: Rompendo Fronteiras e discutindo a
diversidade sexual na Escola promovido pelo grupo em parceria com o MEC.
ABORDAGEM TEÓRIO-METODOLÓGICA
identidades sociais/sexuais são construídas ao longo dos anos. Assim, a sexualidade não é
apenas uma questão pessoal, mas uma questão social e política, estando diretamente
relacionada à forma como a sociedade se organiza culturalmente, pois, “ela segue as regras
da cultura, mesmo quando a cultura tende a domesticar a sexualidade” (Deborah Britzman,
2001).
Ainda dentro deste contexto, Nailda Bonato (1996,webpage) entende a sexualidade
como “ um dos elementos mais eficazes de controle sobre o sujeito e a sociedade, atuando
há mais de três séculos”, pois os discursos se produzem como dispositivos institucionais. O
poder é exercido através de práticas legitimadas pela sociedade dando direito a todo e
qualquer grupo que pertencer ao modelo discursivo de se anunciar como dominador e
estará evidenciado nas relações: marido-mulher, pai/mãe- filho/a, escola- alunos/as, entre
outros. No entanto, os grupos que não se enquadram nestes modelos criam mecanismos de
luta e resistência. Assim “as resistências são o outro lado do poder” Foucault (1988, p.9).
Outro autor relevante para análise desta problemática é Pierre Bourdieu (1995) que
afirma que “o conhecimento através do corpo é o que leva os dominados a contribuir para
sua própria dominação” (p.146), o que revela que corpos são educados ao longo da história
de maneira a formar modelos aceitáveis do ponto de vista social, tendo em vista o objetivo
de formar homens e mulheres que correspondam às formas hegemônicas de masculinidade
e feminilidade ajustados às regras convencionadas pela sociedade.
Esse processo histórico de educação de corpos acarretou na construção (definição)
de diversas identidades sexuais, que foram/são proclamadas ou negadas através dos tempos.
Como as identidades sexuais foram construídas historicamente? Como o
poder impôs o saber ao longo dos tempos? Quais os mecanismos utilizados para
construir o conhecimento?
Responder esta questão seria o ponto de partida do presente estudo. O objetivo
central do projeto é construir uma linha histórica desvendando como o corpo foi educado ao
longo dos tempos e analisando como a homossexualidade foi determinada como binômio
oposto negativo da heterossexualidade. Esse estudo será realizado através de leituras dos
diversos trabalhos realizados por Foucault, Richard Parker, Robert Connel, Pierre
Bourdieu, Jeffrey Weeks, Andrey Sullivan e outros pesquisadores.
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A caminhada pela história da educação de corpos irá conduzir ao século XVIII com
o surgimento dos colégios. Então, corpos passam a ser educados através das perspectivas
higienistas e da medicina. Deve-se ressaltar que com a chegada da Família Real ao Brasil,
em 1808, determinou novos rumos para Educação Nacional, reforçando o pensamento
religioso e introduzindo modelos educacionais vigentes na Europa no que se diz respeito à
Educação de Corpos Sexuados.
homossexual existe e não é o outro, no sentido de um continente à parte, mas está próximo
de qualquer cidadão comum.....” ( 2000, p.462). Essa preocupação fez com que através da
Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/1996 o Ministério de Educação e Cultura passasse a
estimular o desenvolvimento de projetos pedagógicos relativos a Educação Sexual através
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os quais enfatizam que as questões devam
ser discutidas de forma interdisciplinar através dos temas Transversais. O programa de
orientação-sexual propõe que o conteúdo seja discutido a partir de três eixos temáticos:
Corpo (Matriz de sexualidade), Relações de Gênero e Prevenção de DST´s.
Com as novas políticas de identidades, surge nos anos de 1990 uma nova proposta
pedagógica – a Teoria Queer - que apropriando da construção discursiva das sexualidades
definidas trabalhadas por Foucault e da proposta de Desconstrução de um discurso
impulsionada por Jacques Derrida, busca transgredir normas e currículos. “A teoria queer
permite pensar a ambigüidade, a multiplicidade e a fluidez das identidades sexuais e de
gênero, mas, alem disso, também sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento,
o poder e a educação.” (Louro, 2004, p.47)
REFERÊNCIAS:
BONATO, Nailda. Educação (Sexual) e sexualidade: entre o velado e o aparente.
Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Defesa: outubro 1996. Disponível em
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de 2006.
BOURDIEU, P. A Dominação Masculina.Trad. Guaciara L. Louro. Educação e
Realidade, 20(2): 133-184 jul/dez. 1995.
BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado, 1988.
_________. Congresso Nacional. Estatuto da Criança e do Adolescente. (Lei nº 8.069/90).
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_________. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (Lei nº
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_________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
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BRITZMAN, D. O que é esta coisa chamada amor. Trad. Tomaz Tadeu da Silva.
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_____________. Curiosidade, sexualidade e currículo. In: Louro, G. L. (org). O Corpo
educado: pedagogias da sexualidade. Trad. dos artigos: Tomaz Tadeu da Silva – 2ª ed. -
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CONNELL, R. W. Políticas de Masculinidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Educação e
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