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Um Cristão Pode Comemorar o Nascimento de Cristo?

Todo ano é a mesma coisa: “Um cristão pode celebrar o Natal? Natal é
uma festa pagã?” Parece que tova fez que chega dezembro “está aberta a
temporada de caça aos evangélicos que celebram o Natal”. Antes de
começarmos, vamos ao básico: eu amo Jesus, você ama Jesus – somos
irmãos em Cristo. Espero que lembrá-lo desta gloriosa verdade acalme
seus ânimos (e faça você desativar o botão CAPS LOCK).

Além disso, é bom lembrar que quando falo em comemorar o Natal estou
falando sobre comemorar o Nascimento de Cristo e não comemorar a
vinda do legalista Noel (o vídeo de quarta será sobre isso – muito bom). E,
sim, concordamos que Cristo provavelmente não nasceu no dia 25 de
Dezembro, porque era inverno na região e os pastores não estariam com
suas ovelhas ao ar livre.

Argumentos

Enfim, muito se tem falado contra o Natal. Os principais argumentos são


(1) origens pagãs, (2) a influência mercadológica nos dias de hoje e (3)
uma suposta violação do princípio regulador do culto. Apesar de haverem
pontos válidos, no VE não cremos que haja qualquer impedimento bíblico
para cristãos comemorarem o nascimento de Cristo.

(1) Origens pagãs

Este argumento afirma que por o Natal ter origens pagãs não devemos
celebrá-lo. Sobre isso, John Piper escreve:

Eu compreendo aqueles que querem ser rigorosamente e distintamente


Cristãos. Que querem ser libertos do mundo e qualquer raiz pagã que
possa repousar sob nossa celebração do Natal, mas não me posiciono da
mesma maneira nesta questão porque penso que chega um ponto onde
as raízes já estão distantes de tal forma que o significado presente não
carrega mais nenhuma conotação pagã. Fico mais preocupado com um
novo paganismo que se sobreponha a feriados cristãos.
Eis um exemplo que eu uso: Todo idioma tem raízes em algum lugar. A
maioria dos nossos dias da semana [em inglês] —se não todos— saíram de
nomes pagãos também. Então deveríamos parar de usar a palavra
“Sunday” (domingo) porque ela pode ter estado relacionada à adoração
ao sol em um tempo distante? No inglês moderno, “Sunday” (domingo)
não carrega aquela conotação, e é a própria natureza do idioma. De certa
forma, os feriados são como a linguagem cronológica.

Leia a íntegra

Frank Brito postou recentemente algo sobre o assunto, mostrando que


até os objetos de culto a Deus no Antigo Testamento foram inventados
por uma pessoa pagã:

Isso é verdade. Mas, muitas práticas e costumes pagãos se desenvolveram


em torno de tudo, não só do Natal. [...] O pagão Jubal inventou a harpa e o
órgão, mas isso não impediu estes instrumentos de serem usados no culto
à Deus (Sl 105.4). Não há nada que possamos imaginar de bom no mundo
que não haverá alguém usando desta liberdade para dar ocasião à carne
(Gl 5.13). Se há paganismo em torno do Natal, tudo o que um cristão
precisa fazer é evitá-lo.

Leia a íntegra

Ou seja, não é porque algo começou com um pagão que não podemos
usá-lo. Mesmo assim, cabe lembrar que estamos celebrando o nascimento
de Cristo e isso, certamente, não tem nada de pagão.

O que nos leva a objeção: mas o problema é o dia 25 de


dezembro. Quanto a data provavelmente bater com o dia da festa
pagã Saturnália, sendo isso verdade ou não, vamos deixar de ser
hipócritas, pois nossos jovens todo carnaval saem em acampamentos. Ou
seja, fizemos exatamente o que os cristãos dos primeiros séculos fizeram:
substituímos uma festividade pagã por uma festividade cristã. Outro
exemplo seria o culto de virada de ano. E não achamos todos que é algo
sadio e sábio tirar os cristãos da festividade do mundo lhes oferecendo
uma festividade cristã?
Outra questão é a árvore de Natal e toda a decoração. Não há nada na
Bíblia que lhe impeça. “Mas isso não é uma decoração pagã e idólatra?
Hoje em dia, não, pois até hoje nunca vi ninguém chegar na casa de
alguém, ver a árvore de Natal e perguntar: “você também idolatra essa
árvore e adora os deuses nórdicos?” A questão é: por que você quer
adicionar esses elementos? O que eles simbolizam para você? Lembre-se:
nosso alvo é celebrar a Cristo – se isso atrapalha, remova.

(2) Influência mercadológica nos dias de hoje

Certamente a indústria e o comércio aproveitaram (e moldaram) a


ocasião, mas eles não fizeram isso só com o Natal. Fizeram como o dia dos
pais, das mães, das crianças e a lista continua. Isso torna a comemoração
do dia das mães algo proibido para o cristão? Obviamente que não.

Apesar do consumismo ser errado, o outro extremo também o é. Não há


nada intrinsecamente errado em presentar alguém no Natal, desde que
isso não substitua o foco do precioso presente que o Pai nos deu. Aliás,
pense sobre esta ótica: “eu gostaria de presenteá-lo com este pequena
lembrança para recordá-lo do maravilhoso Presente que Deus nos deu”.

(3) Suposta violação do princípio regulador do culto.

Este argumento afirma que como a Bíblia não ordena a celebração do


Natal, então não devemos/podemos celebrá-lo. John MacArthur atesta
que Romanos 14 garante a liberdade cristã no assunto:

As Escrituras não ordenam especificamente que os crentes celebrem o


Natal — não há “Dias Sagrados” prescritos que a igreja deva celebrar. De
fato, o Natal não era observado como uma festividade até muito após o
período bíblico. Não foi antes de meados do século V que o Natal recebeu
algum reconhecimento oficial.

Nós cremos que o celebrar o Natal não é uma questão de certo ou errado,
visto que Romanos 14:5-6 nos fornece a liberdade para decidir se
observaremos ou não dias especiais:

Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias.
Cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente. Aquele que
faz caso do dia, para o Senhor o faz. E quem come, para o Senhor come,
porque dá graças a Deus; e quem não come, para o Senhor não come, e dá
graças a Deus (Romanos 14: 5-6).

De acordo com esses versos, um cristão pode, legitimamente, separar


qualquer dia — incluindo o Natal — como um dia para o Senhor. Cremos
que o Natal proporciona aos crentes uma grande oportunidade para
exaltar Jesus Cristo.

Leia mais sobre isso

Nós vemos uma ilustração dessa liberdade inclusive no Antigo Testamento


com a celebração do Purim, uma festa não ordenada por Deus que
celebrava a libertação do podo judeu que se deu no livro de Ester,
celebrada inclusive nos tempos de Cristo (leia sobre isso aqui).

Na história da igreja, duas confissões atestam a liberdade cristã de


celebrar o Natal:

A SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA

As festas de Cristo e dos santos. Ademais, se na liberdade cristã, as igrejas


celebram de modo religioso a lembrança do nascimento do Senhor, a
circuncisão, a paixão, a ressurreição e sua ascensão ao céu, bem como o
envio do Espírito Santo sobre os discípulos, damos-lhes plena aprovação.

SÍNODO DE DORT

“Além do Domingo, as congregações também observarão o Natal, a


Páscoa e o Pentecostes”.

Leia mais sobre isso

Eu tenho que comemorar o Natal?

Não. Eu tenho a liberdade para comemorar o Natal? Sim. Aliás, você tem a
oportunidade de redimir o conceito moderno secularizado do Natal,
usando a oportunidade para testemunhar sobre Cristo. Já escrevemos
sobre isso em Redimindo o Natal.

Liberdade Cristã
Por fim, quero retomar o texto de Romanos 14:

Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê
que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não
despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come,
porque Deus o acolheu. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu
próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é
poderoso para o suster. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais
todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente.
Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o
Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor
não come e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si mesmo,
nem morre para si. (Rm 14:1-7)

Aparentemente, havia um grupo de pessoas que se sentia constrangido a


não comer carne e/ou guardar alguns dias por serem mais especiais e
outro grupo que entendia que eles tinham a liberdade para comer carne
ou não, guardar um dia ou não. De forma similar, hoje, há um grupo que
se sente constrangido a não guardar um dia (Natal) e um grupo que afirma
ter liberdade de celebrá-lo ou não.

Qual é a resposta de Paulo para o problema:

(1) Não julgue

“Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em
pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster.”

Se você entende que é errado comemorar o Natal, simplesmente não


comemore. Contudo, no momento que você afirma que quem comemora
o Natal é um idólatra você está cometendo um julgando proibido pela
Bíblia.

(2) Não despreze

“quem come não despreze o que não come”

Se você afirma pomposamente sua liberdade para celebrar o Natal e


despreza quem é, segundo você, “bitolado”, você está caindo no pecado
do desprezo pelo próximo.
(3) Ambos fazem para o Senhor

“Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o
Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor
não come e dá graças a Deus.”

Isso talvez seja o mais difícil de entender porque vai direto contra o nosso
orgulho de afirmar “a minha forma é a forma correta de agradar a Deus”.
Paulo afirma que em assuntos de liberdade cristã (no caso, alimentação e
guarda de dias especiais), nosso alvo deve ser glorificar a Cristo. Tanto
aqueles que celebram legitimamente o Natal, quanto aqueles que não,
agem desta forma porque amam a Cristo e desejam honrá-lo. Você
consegue entender isso? Entender que aqueles que celebram o Natal
fazem isso porque amam a Cristo e não porque estão se desviando da fé?

(4) Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente.

Paulo, ao afirmar que devemos amar o irmão com o qual discordamos,


não diz que devemos ter aquele tipo de amor moderno que diz “tanto faz
o que você crê”. Não! O que você crê é fundamental, pois o que não
procede de fé é pecado (cf. Rm 14.23). Então, “nas coisas essenciais,
unidade; nas não-essenciais, liberdade; em todas elas, amor” – o amor
que busca a verdade.

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