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ARTIGO

A auação
esraégica de
mulheres negras
no combate às
brechas digitais
de gênero e raça

Glenda Dantas Cardozo


glendadantas1@gmail.com

Comunicadora Social e Jornalisa


(Facom/UFBA), Pós-graduanda em
Comunicação Esraégica e Gesão
de Marcas (FacomUFBA), Ciberaivisa
e membra da Rede Negra sobre
Tecnologia e Direios Digiais.
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A auação esraégica de mulheres


negras no combate às brechas digitais
de gênero e raça

Palavras-chave Resumo
iberativismo negro O presente artigo explora as principais barrei-
Brechas digitais ras encontradas para produção e circulação do
ulheres egras conhecimento - no contexto de mundo globa-
Internet lizado - quando produzido por pessoas negras
em geral e, particularmente, por mulheres ne-
gras.  partir disso, discute-se como brechas
digitais de gênero e raça imputam às mulheres
negras formas de atuação que driblam as ma-
zelas que assolam grupos historicamente mar-
ginalizados, dentro e fora do ambiente digital.
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The sraegic role o black women


in the ght against digital gender
and race gaps

Keywords Abstract
lack cyberactivism his article explores the main barriers in the
igital gaps production and circulation o knowledge - in
lack omen the context of a globalized world - when pro-
Internet duced by black people, particularly black
women. From this, it is discussed how digi-
tal gender and race gaps impute black women
ways of acting that circumvent the ills that
plague historically marginalized groups, inside
and outside the digital environment.
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da produção e do desenvolvimento das tecno-


Introdução logias de inormação e comunicação. m um
contexto de intersecção entre as relações ra-
cistas-cissexistas, mulheres negras aparecem
O presente artigo pretende compreender como, ainda mais vulnerabilizadas, considerando que
em um contexto de brechas na cultura digital, elas compõem o setor da população que é du-
mulheres negras se apropriam de tecnologias plamente afetado pelas brechas digitais de gê-
da informação e comunicação para maximizar nero e raça. lém disso, apresenta-se os mar-
seus ativismos e potencializar as narrativas con- cos iniciais para o ciberativismo de mulheres
tra hegemônicas das populações negras e ou- negras no Brasil, estratégia utilizada para am-
tros grupos historicamente marginalizados no plicar suas vozes e impulsionar mobilizações
rasil. e orma especíca — a partir de análise sociais. or m, na medida em que os discur-
bibliográca e dados estatísticos — pretende- sos se amplicam em uma disputa de narrativas
-se mostrar como as brechas digitais de gênero na web, cresce também o número de violências
e raça, ou seja, a reprodução das desigualdades que acometem mulheres negras na rede, con-
sociais, de raça e de gênero no desenho, desen- vocando as ciberativistas a traçarem estratégias
volvimento, uso e acesso às tecnologias digitais, de cibersegurança, tendo como base suas expe-
sobretudo à Internet, colocam mulheres negras, riências vivenciais dentro e fora da Internet.
maior grupo social do Brasil, como grupo mais
impactados pelas brechas na cultura digital. al
discussão ganhou corpo a partir dos estudos de 1. Racismo e sexismo
ciberativistas negras, as quais, a partir da am- no Brasil
pliação do acesso em cursos de graduação e pós-
-graduação, passaram a racializar as discussões
acadêmicas sobre ciberferminismo, partindo  lósoa, antropóloga e historiadora élia
de uma perspectiva feminista negra e contem- onzalez 2020 ornece insumos undamen-
plando, assim, grupos historicamente invisibili- tais para análise do panorama da divisão racial
zados dentro e fora da academia, sobretudo em e sexual do trabalho no Brasil desde o período
relação à produção de conhecimento sobre tec- colonial. Segundo a autora, o desumanizador
nologia e outras áreas do conhecimento. regime escravocrata teve na exploração da força
Para esse propósito, o trabalho se inicia reto- de trabalho de mulheres e homens negras e ne-
mando o pensamento de mulheres negras que gros a sua fonte de enriquecimento e, embora
contribuíram para consolidação do pensamento para ambos o peso do racismo fosse marcador,
feminista negro no Brasil, e que construíram as os conhecimentos/vivências que fundamentam
bases para a compreensão de como uma tríplice o ideário negro feminista apontam para um
discriminação raça-classe-gênero estariam im- imbricamento entre raça-classe-gênero, fator
bricadas, connando as mulheres negras à base determinante para a construção social de paí-
da pirâmide social no rasil.  seguir, disserta- ses da diáspora negra, condição em que os “es-
-se sobre como as desigualdades socioeconômi- tereótipos gerados pelo racismo e pelo sexismo
cas de raça e de gênero aparecem nos ambien- a colocam [mulheres negras] no nível mais alto
tes digitais, uma vez que a parcela da população de opressão” p.58.
que ca à margem desse processo não é so- ara onzález a “tríplice discriminação”,
mente acometida pela precariedade do acesso, assim como seu lugar na força de trabalho,
como também são estrategicamente excluídas está assentada em três imagens de controle,
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demarcadas ainda no período colonial: 1 e desigualdades” e que não descolam desta luta
oméstica/mucama, quando recaía sobre as as violências especícas que atingem “as comu-
mulheres negras “a tarefa de manter, em todos nidades quilombolas, a intolerância religiosa, o
os níveis, o bom andamento da casa-grande: extermínio da juventude negra, a LGBTfobia, o
lavar, passar, cozinhar, ar, tecer, costurar, ama- feminicídio de mulheres negras e a ditadura da
mentar as crianças nascidas do ventre “livre” beleza eurocentrada”. omes, 2017, p. 74.
das sinhazinhas” p. 53; 2 ãe-preta, “aquela ma das expoentes do ovimento de
que efetivamente, ao menos em termos de pri- ulheres egras brasileiras, ueli arneiro
meira inância, cuidou e educou os lhos de 2003, explica que na medida em que avan-
seus senhores” p. 53, 54; e 3 ulata, posição çavam os “processos relacionados à globaliza-
“exercida por jovens negras que, num processo ção e à nova ordem mundial” p. 125, mulhe-
extremo de alienação imposto pelo sistema, res negras foram conscientizando-se de que
submetem-se à exposição de seus corpos [...] aquele cenário exigiria novas formas de atua-
para o deleite do voyeurismo dos turistas e dos ção. esse sentido, elas apropriaram-se de tec-
representantes da burguesia nacional” p. 59. nologias de informação e comunicação para
ssa estrutura racializada é extremamente viabilizar representações positivas da popula-
sosticada na mérica atina, pois o poder à ção negra, bem como para visibilizar mobiliza-
branquitude é assegurado sob o mito da supe- ções e lutas contra o racismo, sexismo e outras
rioridade branca que se utiliza da ideologia do opressões interligadas. estaca-se, sobretudo, o
branqueamento para manter negros e indíge- uso da ferramenta Internet enquanto recurso
nas na condição de segmentos subordinados no para potencializar o fazer revolucionário e ati-
interior das classes mais exploradas onzalez, vista de mulheres negras no ciberespaço.
2020, p. 131. o rasil, a leitura sobre a história
e cultura do negro ainda tem sido pautada am-
plamente pela sociedade “via racismo ambíguo 2. Brechas digitais de
e mito da democracia racial. sta visão tem sido gênero e raça
disseminada nos diferentes espaços estruturais
do poder e marca de forma diferenciada a his-
tória da negra e do negro” omes, 2017, p. 95. pesar das limitações estruturais já menciona-
s mulheres negras, em particular, com- das, que se reetem na desigualdade de acesso
põem o maior grupo social do rasil, sendo à Internet, por exemplo, “o espaço virtual tem
aproximadamente 28% da população, mas per- sido um espaço de disputas de narrativas, pes-
manecem na base da pirâmide social, com os soas de grupos historicamente discriminados
estigmas assentados no período colonial ainda encontraram aí um lugar de existir.” (Ribeiro,
relegando-as às condições sociais mais desa- 2017, p. 86. ongurando-se como espaço de
voráveis, desumanizantes e subalternizantes. disputa de narrativa, o contexto permitiu à
as, o não assujeitamento e o azer revolucio- mulheres negras tornarem-se “produtoras cul-
nário são características destas mulheres, como turais, podendo assim disputar com o poder
se pode destacar na atuação do ovimento de dominante (nesse caso, as mídias hegemôni-
ulheres egras MMN em denunciar as “lacu- cas as narrativas sobre o grupo” ilva, hais,
nas existentes nas políticas públicas para mu- 2019, p. 493. ntretanto, uma vez inseridas no
lheres, igualdade racial e de saúde que ainda ciberespaço, outros desaos apareceram. om
contemplam de forma muito incipiente a in- o avanço da nternet em escala global no m
ter-relação entre racismo, machismo, sexismo dos anos 1990, entusiastas vislumbravam esta
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ferramenta como a possibilidade de estabeleci- poder político, econômico e cultural para os


mento de uma sociedade hiperconectada inse- brancos no espaço digital” ynes, et al. 2019,
rida em um novo universo informacional livre, apud. ilva, arcízio 2020, p.130, além disso,
que alcançaria todas as pessoas de forma similar, a hegemonia masculina branca na construção,
mas, se o mundo é hierarquizado, tampouco o apropriação, pesquisa e desenvolvimento das
ciberespaço não o seria.  própria ideia de rede tecnologias, tornam-se obstáculos
remete a uma falsa ideia de “neutralidade” das
tecnologias, mas conhecimento não existe fora que as mulheres enentam para
de um contexto social que o concebe. apropriarem-se da cultura tecnológica [...]
Para explorar todas as potencialidades que as essa brecha engloba dimensões da vida
ecnologias de normação e omunicação TIC que não podem ser entendidas unicamente
oferecem, requer-se dos sujeitos competências através de métodos estatísticos que
(educacionais, comunicacionais, culturais, cog- medem presença e ausência por gênero,
nitivas que os permitam uma participação crí- idade, classe social e demais indicadores
tica e produtiva neste novo uxo inormacional. sociais athansohn, 2013, p. 16.
odavia, o desenvolvimento tecnológico segue
um uxo que mantém e reproduz desigualda-
des sociais, acarretando não somente a parti- om eeito, torna-se imprescindível com-
lha desigual dos recursos, como dicultando preender que discutir apenas a dimensão da
as possibilidade de pessoas ou grupos histori- desigualdade no acesso não dá conta de expli-
camente marginalizados tornarem-se sujeitos car as relações entre as desigualdades de gê-
ativos na construção e uso das TIC. al cenário nero e raça e a tecnologia. este sentido, a au-
mina as possibilidades desses sujeitos de me- tora “astaño 2010 [...] identica três tipos de
lhoria de sua condição social, bem como a sua divisões ou brechas digitais. ma delas reere-
participação no mundo lmeida, 2014; arros, -se à capacidade de acesso às redes, mensurável
. 2020. É nesse contexto que o enômeno das quantitativamente através de estatísticas demo-
brechas digitais ou tecnológicas acontece. grácas” atansohn, 2013, p.170.
o rasil, segundo a pesquisa TIC omicílios1
recha tecnológica [...] se congura na 2019, 74% do público masculino e 73% do
reprodução das desigualdades sociais público feminino são usuários de Internet.
no universo tecnológico. rupos ntretanto, no que se reere ao uso exclusivo
subalternizados, com pouco ou nenhum da Internet pelo celular, entre os homens o nú-
acesso à educação, acometidos por mero é de 52%, enquanto entre as mulheres
deciências socioeconômicas e pertencentes a porcentagem é de 63%.  questão se apro-
a grupos minoritários como mulheres, funda quando são analisados contextos ainda
negros e indígenas, enentam diculdades mais especícos, como o de mulheres traba-
de acesso e uso das ferramentas tecnológicas lhadoras domésticas brasileiras, por exemplo.
ima e liveira ima, 2020, p. 3. egundo a pesquisa omésticas conectadas:
acessos e usos de internet entre trabalhadoras
domésticas em ão aulo 2018, 98% das 400
Importante situar que em uma estrutura so- entrevistadas acessam a Internet apenas pelo
cial racializada, as desigualdades étnico-raciais celular, e segundo o ossiê ulheres egras:
no ambiente digital se conguram em um “sis- retrato das condições de vida das mulheres ne-
tema de práticas [...] que privilegiam e mantém gras no rasil 2013 do IPEA,
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que avaliou a exclusão digital desse s diculdades no acesso e uso da nternet


segmento populacional a partir da posse pela população negra no rasil é identicável
de computadores em domicílio e do acesso na pesquisa TIC omicílios 2019, revelando que
à internet, e concluiu que os domicílios 71% das pessoas pretas e 76% das pessoas pardas
cheados por mulheres negras são os são usuários de nternet. ntre as pessoas bran-
que mais carecem desses recursos em cas o número é de 75%. om a porcentagem de
comparação com domicílios cheados por usuários brancos e negros quase proporcional,
homens negros, mulheres brancas e homens o que aponta a desigualdade são os dados re-
brancos. sses dados vão de encontro às lativos à qualidade do acesso: 65% das pessoas
inormações ornecidas pela íntese de pretas e 61% das pessoas pardas utilizam o te-
ndicadores ociais de 2018 do IBGE na lefone celular de forma exclusiva para acessar
sessão que discute restrições de acesso a Internet, enquanto entre as pessoas brancas o
em múltiplas dimensões, que apontam número diminui para 51%.
os domicílios cheados por mulheres Quando acrescidos os aspectos econômicos,
negras como os que apresentam maiores o uso exclusivo de telefone celular para acessar
restrições de acesso à moradia adequada, a Internet é maior entre as parcelas da popula-
educação, proteção social, serviços ção que se encontram nas classes mais empo-
de saneamento básico e comunicação brecidas: / 85%,  61%,  26% e a 11%.
ima e liveira, 2019, p. 8 e 9. m relação ao tipo de plano de pagamento do
teleone celular, os dados indicam que 28% dos
pretos, 30% dos pardos e 38% dos brancos uti-
 partir dos anos 1990 o acesso à nternet lizam o plano pós-pago.
passou a ser considerado serviço fundamen- Os dados da pesquisa TIC domicílios apre-
tal em diversos países, razão pela qual gover- sentados permite ainda constatar a vulnerabi-
nos começaram a lançar políticas de incen- lidade de pessoas pobres no Brasil à uma grave
tivo ao desenvolvimento desse setor, para dar problemática da democracia brasileira: a de-
conta do crescimento do uso. o rasil, pes- sinformação, que atinge com mais intensidade
quisadores indicam que a expansão do acesso a parcela da população que possui apenas o ce-
à internet entre as camadas sociais ,  e  lular como ferramenta de acesso à informação.
aconteceu a partir de meados dos anos 2000, Àqueles que utilizam apenas o plano pré-pago
a partir da contribuição de alguns atores: 1. o estão sujeitos ainda à prática de zero rating* (ou
período de aquecimento econômico teria acar- taria zero, estratégia “pela qual as empresas
retado a ampliação do poder de consumo e na de teleonia oerecem acesso a aplicações como
acilidade do acesso ao crédito, 2. mpliação o hatsapp sem descontar dados da anquia
e diversicação da conectividade comercial, do pacote de Internet contratado pelo usuário
3. popularização do rkut no rasil; 4. cria- ntervozes, 2019, p. 22”, dicultando a circu-
ção de programas públicos de inclusão digi- lação e checagem de inormações.
tal, como os elecentros; 5. quisição de com- esde 2005, o omitê estor da nternet
putadores, em substituição ao acesso nas an no Brasil (CGI .br realiza a pesquisa TIC
ouses; 6. barateamento dos smartphones; e 7. omicílios com o objetivo de mapear o acesso
popularização de erramentas como acebook às TIC nos domicílios rurais e urbanos do país
e Whatsapp, oferecidos gratuitamente nos pla- e as suas ormas de uso por indivíduos de 10
nos de dados das operadoras ima e liveira, anos de idade ou mais, mas somente na edi-
2019; ilva. ivaldo, 2015. ção de 2019 passaram a ornecer indicadores
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de raça/cor. onsiderando que os dados obti- é fundamental ter algum conhecimento


dos contribuem para direcionar ormulações sobre manipulação das ferramentas
de políticas públicas sobre TIC no Brasil, a in- digitais. ima e liveira, 2019, p. 5.
serção deste recorte, embora tardia, tendo em
vista a necessidade de perpetuação de poder
pelos grupos dominantes, pode signicar me- Os estudos ciberfeministas investigam se as
lhor direcionamento de ações que combatam relações com os aparatos tecnológicos impac-
a desigualdade no acesso para a população tam de maneira subjetiva a escassez de mu-
negra e indígena no Brasil. lheres atuantes no desenvolvimento das tec-
É relevante destacar que no contexto de nologias, no ensino superior e nas prossões
Sociedade da Informação (CMSI, 2003, 2005, tecnológicas. Suas teses apontam para os im-
a brecha no acesso é precedente de violação do pactos do sexismo desde a infância, bem como
direito à comunicação, previsto no rtigo 19 à falta de estímulo dos familiares para que elas
da eclaração niversal dos ireitos umanos sigam carreira nesta área, considerada mascu-
1948, além de impactar ainda na possibilidade lina ima e liveira, 2019; athansohn, 2013.
de eetivação prática dos 10 rincípios para o o rasil, segundo o enso da ducação
so e overnança da nternet no rasil, apro- uperior 2018, edagogia e erviço ocial são
vados por consenso pelos membros do omitê os cursos com predominância feminina, com
estor da nternet no ano de 2009, com des- respectivamente 92,5% e 89,9% de mulheres,
taque para o princípio da Universalidade, in- enquanto ngenharia ecânica e istema de
dicando que “o acesso à Internet deve ser Informação são os cursos com maior predomi-
universal para que ela seja um meio para o de- nância masculina, com respectivamente 89,8%
senvolvimento social e humano, contribuindo e 86,2% de alunos homens, um contraste per-
para a construção de uma sociedade inclusiva ceptível desta brecha digital, fortemente ba-
e não discriminatória em benefício de todos” seada em gênero. Para negras e negros pesa
(CGI.br, 2009. ainda a diculdade do ingresso e permanên-
Uma brecha ainda mais complexa “se de- cia no ensino superior. e acordo com uma
tecta investigando o uso que as pessoas fazem pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de
da tecnologia e isso é o que demarcaria o grau eograa e statística IBGE em 2018, o per-
real de incorporação efetiva à cultura digital” centual de mulheres brancas com ensino su-
athanson, 2013, p.170. ssa brecha acontece, perior completo 23,5%, era 2,3 vezes maior do
em grande parte, por não serem ofertadas as que o de mulheres negras 10,4. o curso de
possibilidades para as pessoas participarem ati- ngenharia da omputação, as mulheres ne-
vamente dos processos de inteligência coletiva, gras representam apenas 3% das matriculadas.
que só seriam possíveis com a literacia digital,  desigualdade no acesso ao ensino supe-
ou seja, a aquisição pelos indivíduos das habi- rior é reexo da reprodução sistemática dos pa-
lidades técnicas e cognitivas para o uso das TIC: drões de subalternidade imposta às pessoas ne-
gras, em geral, dimensão do racismo estrutural
Sem dúvidas, é possível fazer uso da que também aparece no apagamento sistemá-
internet sem conhecimentos aprofundados tico de toda a contribuição negra para a histó-
sobre soware ou hardware, mas para ria. ssa crença orjada e limitante que diz que
que o uso não se restrinja ao consumo pessoas negras são desqualicadas para produ-
passivo de inormações, mas que ção de conhecimento é uma das estratégias que
possibilite também a criação de conteúdo, atualiza os dispositivos de racialidade/biopoder.
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 pistemicídio, como nos ensina a lósoa leis que incidem no combate ao epistemicídio,
ueli arneiro 2005, se constitui “num dos ins- com a produção e circulação do conhecimento
trumentos mais ecazes e duradouros da domi- quando produzido por aodescendentes, são
nação étnica/racial, pela negação que empreende elas as eis 10.639/03, alterada para lei 11.645/08,
da legitimidade das formas de conhecimento, do que inclui no currículo ocial da ede de
conhecimento produzido pelos grupos domina- nsino a obrigatoriedade da temática istória
dos e, consequentemente, de seus membros en- e ultura ndígena e o-rasileira, e a ei
quanto sujeitos de conhecimento” p. 96. 12.711/12 que instituiu o sistema de ações ar-
Se a história que contam é propositalmente mativas em universidades e institutos federais.
estruturada para o imaginário coletivo acredi- sta última permitiu que sujeitos discrimina-
tar que o negro é, por natureza, inferior, o apa- dos saíssem da posição de objetos de pesquisa,
gamento da contribuição aodiaspórica e ai- para se tornar agentes ativos na construção de
cana nas ciências e tecnologias inheiro, 2019 saberes acadêmicos sobre si e seus territórios.
é fundamental para este projeto. Importante sse cenário é reetido também na terceira
situar que “as lacunas também se apresentam brecha digital “detectada seguindo astaño
nos recortes de pesquisa que raramente se de- [quando] se observa o lugar das mulheres na
bruçam sobre a intersecção entre raça, gênero produção, desenho e governança da tecno-
e tecnologia” ima e liveira, ano, p. 9. logia digital, isto é, em postos de comando
 combativa atuação do ovimento egro athanson, 2013, p.170”.  ausência de mu-
na década de 1970 em alertar a sociedade e o lheres, em geral, e mulheres negras, em parti-
stado sobre a complexa imbricação entre as cular, dentre os pers daqueles que trabalham
desigualdades socais e raciais impactou de tal com tecnologia no Brasil é percebida na pes-
modo que tais temáticas passaram a serem in- quisa #QUEMCODABR, que identicou, não
corporadas as análises sociológicas, sendo im- surpreendentemente, que o perl nestes cargos
prescindível para se pensar de forma mais é de homens 68%, brancos 58,3% e jovens de
prounda e ecaz os enômenos sociais. lém 18 a 34 anos 77%, que começaram as suas tra-
disso, contribuiu para a promulgação de duas jetórias nos centros formais de ensino.

[Gráfco 1] roduzido pelo retaab, o gráco


demonstra qual o perl predominante
daqueles que trabalham com tecnologia no
rasil retaab, .
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m 2017 a labi - organização sem ns lu- Os dados coletados revelaram que apesar das
crativos com foco em democratizar tecnologias brechas digitais de gênero e raça, mulheres ne-
- realizou a retaab, uma pesquisa que mapeou gras têm se apropriado das tecnologias e atra-
onde estão as mulheres negras na tecnologia. vés das suas múltiplas experiências, desen-
e orma inovadora, para além das áreas de tec- volvem um potencial extraordinário, seja nas
nologia convencionais, que “engloba eletrônica, áreas de inovação 29,1%, transormação social
robótica e inteligência articial, mas também - 14,6% ou 3,2% “com paixão conessa por tec-
e talvez principalmente - a experimentação com nologia” retaab, 2017, p.54.
fazeres outros que podem ser tradicionais e ana-
lógicos” retaab, 2017, p. 7, o mapeamento
teve o objetivo de estimular a inserção e perma- 3. Ciberativismo de
nência de meninas e mulheres negras e indíge- mulheres negras
nas no universo das novas tecnologias.
 pesquisa da labi contou com 570 respon-
dentes, todas mulheres, 96% eram negras e 4% Pesquisadoras brasileiras têm se debruçado em
indígenas, de todos os estados brasileiros, in- pesquisar e compreender como os feminis-
cluindo o istrito ederal e teve dois objetivos mos latino-americanos utilizaram estrategi-
principais: “mostrar como a alta de representati- camente as novas ecnologias da normação
vidade é um problema não só para o ecossistema e omunicação para gerar visibilidade às suas
de tecnologia e inovação, mas para os direitos lutas arros. . 2009; athansohn, 2013; ima,
humanos e a liberdade de expressão” e “estimu- 2017; arros. . 2020. e acordo ima 2017,
lar referências positivas na busca que mais meni- os discursos dos feminismos contemporâneos
nas e mulheres negras enxerguem as inovações, são marcados “pela horizontalidade [...], práti-
a tecnologia, as ciências como campos possíveis cas plurais e heterogêneas, articulação com se-
e interessantes de atuação” retaab, 2017. tores diversos da sociedade civil e o uso das
Silvana Bahia, diretora de projetos do Olabi TIC” p. 4 e 5.
e coordenadora do retaab, chamou atenção  archa de ulheres egras 2015, por
para os imbricamentos entre acesso e falta de exemplo, é “possivelmente o primeiro grande
referência, fatores que impactam na ausência levante de mulheres negras no Brasil que arti-
de mulheres negras e indígenas nos espaços culou estratégias de comunicação e mobiliza-
voltados para área de tecnologia e inovação: ção “sustentadas nos conhecimentos antigos do
correio nagô e as tecnologias digitais de comu-
Quase tudo relacionado a esse campo é caro, nicação” arros, . 2020, p. 206. euniram-se
em inglês e são raras as políticas (públicas cerca de 50 mil mulheres negras das cinco re-
ou privadas destinadas ao nosso ingresso giões do rasil para marchar contra o racismo,
e permanência nesses espaços.  alta de a violência e pelo bem viver, em Brasília (DF,
reerência é outro ator determinante: no dia 18 de novembro de 2015.
se ser uma mulher nas tecnologias já é o ocumento nalítico e eclaração da
um desao, imagina para nós, negras. archa 2015 o coletivo de mulheres denuncia
 ausência de reerências positivas sobre “o capitalismo racista patriarcal excludente, que
mulheres negras e indígenas é uma questão nos engessa em espaços sociais de exploração
social que perpassa não apenas o mundo das [...] e que associa qualidade de vida a consumo”.
tecnologias, mas os mais variados campos estaca-se ainda a crítica às propostas desenvol-
prossionais e de poder. ahia, 2017. vimentistas brasileiras, executadas a partir da
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reprodução de lógicas “violentas, exploradoras, sua própria representação possibilita


privatizadoras e monopolizadoras de saberes a crescente veiculação de estereótipos
e recursos”. Segundo elas, tais saberes e fazeres e distorções pelas mídias, eletrônicas
“correspondem ao padrão tecnológico das so- ou impressas. arneiro, 2003, p. 126.
ciedades, onde tecnologia está relacionada com
a arte de decidir bem sobre o território e suas
riquezas naturais, materiais e simbólicas”. sta m exemplo é o eledés - nstituto da
concepção de tecnologia argumentada por elas ulher egra3, organização da sociedade civil
evoca as relações de poder no ciberespaço, onde criada por ueli arneiro em 30 de abril de
as práticas violentas contra pessoas racializadas 1988, que avigora a sua atuação depois da cria-
no online ocasionam propositalmente a manu- ção do ortal eledés, em 1997.  página web
tenção do poder para a branquitude. congurou-se como um espaço de expressão
Pesquisadoras defendem “a apropriação das pública das ações e compromissos políticos da
tecnologias por parte de grupos socialmente organização, ao mesmo tempo em que se con-
excluídos como potencial exercício de práticas solidou como disseminadora de reportagens,
de resistência e negociação ente ao processo artigos, documentos e denúncias de questões
de globalização ima e liveira, 2019, p. 10”. étnico-raciais, de gênero e temas interligados.
arros. . 2009, por exemplo, estimula mu-  internet pode contribuir para mobilização
lheres negras a aproveitarem as oportunidades social, mas não só isso. É possível aos atores
de interação possíveis no ciberespaço para cria- sociais “a criação de novos canais e circulação
ção de redes “cuja atuação extrapolem o espaço de informação, colaborar na construção identi-
virtual e permitam, por sua vez, a criação de tária [...] e transormação organizacional” ima
estratégias coletivas - e também presenciais - e liveira, 2020, p. 11, deste modo a internet
para o enentamento da exclusão p. 4”. congura-se como uma erramenta que pode
 advento da eb 2.02 permitiu a expansão ser utilizada para o ativismo.
das lutas de movimentos sociais, com desta- esse sentido, aconteceu entre os dias 20
que para os feministas latino-americanos, que e 25 de novembro de 2012, “a primeira grande
passaram a atingir uma ampla diversidade de marcha de mulheres negras online arros, .
classes e movimentos sociais. ssa guinada es- 2020, p. 207”: a logagem oletiva ulher
tratégica “que facilitou a criação e consolidação egra.  objetivo era aproximar duas datas sig-
de redes entre coletivos e organizações emi- nicativas, o ia da onsciência egra 20 de
nistas, permitiu o surgimento de novos gru- novembro e o ia nternacional de ombate
pos, [...] bem como colaborou com o desenvol- À iolência ontra a ulher 25 de novem-
vimento de novas estratégias e áreas de atuação” bro, para colocar em evidência a mulher negra,
(BARROS. . 2009, p. 5. personagem central de ambas as discussões
logagem oletiva, 2012.  blogagem incen-
s mulheres negras vêm atuando no tivou mulheres negras de todo o país a fazerem
sentido de não apenas mudar a lógica de postagens sobre temas como sexualidade, be-
representação dos meios de comunicação leza, direitos humanos, consumo e representa-
de massa, como também da capacitar tividade, nas plataormas wordpress, acebook
suas lideranças para o trato com as novas e witter, utilizando as hashtags #bcmulherne-
tecnologias de informação, pois falta gra e #bcmulheresnegras.
de poder dos grupos historicamente  êxito da logagem oletiva “revelou
marginalizados para controlar e construir não somente a existência de um grupo de
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blogueiras negras e aodescendentes escre- o mobilizar reexões acerca de assuntos


vendo muito bem e muito; mas também a ne- como racismo, machismo, classismo,
cessidade de criarmos espaços de visibilidade lesbofobia, transfobia, gordofobia, a partir
para produção tão signicativa” unes, 2014, de experiências pessoais, situações
assim surgiu também em 2012 outra iniciativa cotidianas, casos midiáticos e tendo
marcante para o ciberativismo de mulheres ne- por base a produção de acadêmicas
gras no rasil, o logueiras egras4. o site negras (especialmente as brasileiras
“blogueirasnegras.org”, reúnem e estimulam as e norte americanas, as mulheres negras
produções por e para mulheres negras. em atuação na web tem desenvolvido
elinda arros 2009 chama atenção a ne- uma produção que cononta as
cessidade de analisar criticamente as possibili- bases epistemológicas de orientação
dades oferecidas pela cultura digital, tendo em etnocêntrica e que se constitui como
vista que a evolução tecnológica além de pro- contranarrativas ao discurso hegemônico
vocar a introdução de novos produtos e usos, que invisibiliza e silencia a experiência
também ocasiona a “alteração de comporta- negra e eminina. ima, 2017, p. 6 e 7.
mentos prévios e a emergência de novos com-
portamentos num dado grupo social p. 03”.
ntretanto, a produção contra hegemônica
“É um cenário controverso, tendo em e contranarrativa de mulheres negras, mesmo
vista que no mundo real mulheres antes da Internet, já eram vistas como ameaças
negras presenciam seus discursos serem dentro de um sistema racista-cissexista. “Somos
invisibilizados pelos meios de comunicação vistas como suspeitas, promotoras da desordem
tradicionais, mas no ambiente digital, e ameaças à segurança da sociedade, que sem-
onde também se reproduzem violências pre esteve em condição de tensão diante de um
estruturais, permite às mulheres negras conglomerado de gente preta, cuja cidadania
um alcance discursivo incalculável nunca oi plena” arros, . 2020, p. 209.
ima e liveira, 2020, p. 10. Sendo os marcadores de gênero e raça deter-
minantes no acesso, uso e desenvolvimento das
tecnologias, observou-se que ao mesmo tempo
esse contexto, logueiras egras, logagem em que se multiplicam as produções engajadas
oletiva e ortal eledés através de um espaço de ciberativistas, multiplicam-se também
Guest post, iniciativas encabeçadas por eminis-
tas negras, estimulam e amplicam a escrita “estudos acadêmicos, matérias jornalísticas
protagonista e as mobilizações sociais de mu- e denúncias de organizações de direitos
lheres negras na nternet. demais, os novos humanos que apontam o crescimento da
espaços de produção e veiculação de informa- violência digital contra grupos identitários,
ções que surgem com a nternet, sobretudo disseminação do ódio, hipervigilância
com a popularização das plataformas de mídias e manipulação em níveis inéditos, como
sociais, ao serem apropriados por mulheres ne- a disseminação de ake ews, estratégias
gras, despontam como tecnologias que oportu- amplamente utilizadas nas eleições de 2018
nizam “contestar estereótipos e discursos que e que favoreceram a ampliação dos quadros
deformam e marcam negativamente mulhe- da extrema-direita no legislativo e no
res, negros, corpos e sexualidades dissonantes executivo”. ima e liveira, 2017, p. 11
ima, 2017, p.5”.
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A Safernet5, através do serviço Hotline - re- que 81% das vítimas de discurso depreciativo
cebimento de denúncias anônimas de crimes e vio- nas redes sociais são mulheres negras, na faixa
lações de Direitos Humanos na Internet - identifcou etária de 20 e 35 anos. oi identicado tam-
que no período entre 2006 e 2020, o racismo foi o bém que 65% dos usuários que disseminam
crime de ódio mais denunciado no Brasil, com cerca os discursos de ódio são homens, com idade
de 600 mil casos reportados, valor correspondente entre 20 e 25 anos.
a 23% dos crimes de ódio recebidos pela plataforma s desaos se tornam ainda mais comple-
dentre as sete categorias de denúncia estabelecidas, xos quando analisamos a materialidade dos
fcando atrás apenas da categoria de apologia e inci- modos pelos quais o racismo se imbrica na
tação a crimes contra a vida, consoante com o grá- inaestrutura ou na interace das tecnolo-
fco abaixo: gias digitais, como no reconhecimento facial
e processamento de imagens ou na recomen-
dação de conteúdo, recursos automatizados di-
cilmente identicáveis pelos usuários SILVA,
2020. esse sentido, pesquisadores do rasil
e do mundo se esforçam para desvendar as ori-
gens e profundidades de temas como Racismo
lgorítmico ilva, arcízio. 2019; ilva, arcízio.
2020; ilva, arcízio. 2020. apitalismo de
igilância ubo, 2019 e olonialismo de
ados oldry e ejias, 2019.
e acordo com ilva, arcízio 2020, “ma-
niestações algorítmicas de racismo são mi-
croagressões equentes de diversos tipos, que
[Gráfco 2] ráco produzido pela aeret, podem afetar os usuários de plataformas de
que ilustra o total de denúncias de discurso orma individual ou vicária” p. 136. o exem-
de ódio entre  e . aeret,  plicar o racismo algorítmico, o autor apre-
senta notícias como “ecanismos de busca de
bancos de imagens inviabilizam famílias de
or denição, discurso de ódio segundo pessoas negras”7 e “pp que transorma seles
a aerab6 são «maniestações que atacam e in- equipara beleza à brancura”8. este mesmo
citam ódio contra determinados grupos sociais percalço, a pesquisadora hiane arros 2020
baseadas em raça, etnia, gênero, orientação se- analisa que
xual, religiosa ou origem nacional”, sendo os
principais alvos destes discursos LGBTs, pes- em Dark matters: on the surveillance of blackness
soas negras, mulheres e outras minorias sociais. a pesquisadora estadunidense Simone Browne, ao
m estudo realizado por rindade 2018, escrever sobre as tecnologias de biometria, que
identicou que mulheres negras são as princi- criam padrões de rosto, por exemplo, afrma que
pais vítimas de discurso de ódio no acebook. existe uma “alsa ideia de que certas tecnologias
 autor analisou mais de 109 páginas de de vigilância e sua aplicação é neutra em relação
acebook e 16 mil pers de usuário, além de à raça, gênero, defciência e outras categorias de
224 artigos jornalísticos que citam casos de determinação e suas intersecções” (p. 128) e que os
racismo nas redes sociais brasileiras entre os corpos de mulheres negras são 9 vezes mais vigiados
anos de 2012 e 2016, e chegou à conclusão de em câmeras de aeroportos. (Barros, T. 2020, p. 209)
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as discussões sobre apitalismo de s matrizes tecnológicas aicanas e espalha-


igilância, ubo 2019, explica que o termo das na diáspora se materializam na força do
se refere a uma “economia de vigilância” que que “az a gira girar”. stá no culto aos rixás,
“baseia-se em um princípio de subordinação nas rodas de samba, na reza, na contação de
e hierarquia”, ela diz: histórias, na capoeira, no canto, na dança e na
musicalidade, saberes e fazeres preservados
ós não somos mais os sujeitos da graças também à cibersegurança de pessoas
realização do valor. ambém não somos, negras que “hackeam” o sistema para man-
como alguns já armaram, o “produto” terem vivas as suas tradições igiério, 2011;
vendido pelo oogle. omos os objetos odrigues da ilva e rito ias 2020, arros,
cuja matéria é extraída, expropriada . 2020. aberes que se atualizam também nas
e em seguida injetada nas usinas de encruzilhadas estratégicas de mulheres negras
inteligência articial do oogle, as quais que se apropriam das tecnologias digitais, ao
fabricam os produtos preditivos que são mesmo tempo em que combatem as brechas
vendidos a clientes reais – as empresas tecnológicas de gênero e raça.
que pagam para jogar nos novos mercados
comportamentais. ubo, 2019 tentas a isso, inclusive, é que em entrevista
ao site do rupo de esquisa em ênero,
omunicação e ecnologias igitais,
sta conguração moderna do apitalismo, arissa antiago ressalta a necessidade de
sob a ótica de exploração da análise de dados de mulheres negras buscarem “ferramentas,
grupos sociais inteiros, gera impactos severos em ações e táticas para se proteger, prevenir
populações já marginalizadas, como nos casos ou mitigar possíveis ataques ou ameaças
de povos ameríndios em territórios demarcados on e ofine” 2019. ara essa orientação,
ou em vias de demarcação, quilombolas, comu- um conjunto de coletivos feministas
nidades periféricas, periferias e favelas dos cen- criou a Guia Prática de Estratégias e Táticas
tros urbanos. O processo está além de uma fase para a Segurança Digital Feminista 2017
de acumulação, e pode ser entendida como uma com o “objetivo de proporcionar às
nova ase histórica, já que se congura em práti- mulheres maior autonomia e segurança na
cas de extração de riqueza concentradas nas pes- internet” p.10, dicas de cuidados digitais
soas e em suas relações, enômeno nomeado de para mulheres negras de toda a mérica
olonialismo igital austino; ippold; 2022. atina. arros, . 2020, p. 209 e 210
O “uso de dados, está para além dos usos econô-
micos que se podem azer dessas inormações,
sendo úteis também para escamotear as liberda- a retaab, além da coleta e análise de
des democráticas” aul, 2019, p. 184. dados, foi realizada ainda uma série de vídeos
ssas táticas de controle e vigilância que se reunindo passagens com histórias e depoimen-
atualizam no ciberespaço, acarretam ainda em tos de algumas das participantes do projeto.
uma mudança no comportamento de ciberati- as entrevistas elas mencionam 15 iniciativas
vistas. Se inicialmente a estratégia era a expo- criadas e/ou protagonizadas por mulheres ne-
sição de si para atingir objetivos de visibilidade gras ciberativistas, são elas: lackocks tartup,
e protagonismo, a valorização da privacidade logueira egras, oletivo uvem egra, riola,
torna-se mais tarde umas das principais for- ataabe, esabao ocial, atoidia, no
mas de segurança arros, . 2020. reta, nstituto ídia Étnica, ariaab, inas
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rograma, labi / retaab, xenTI enina, em contextos adversos e profundamente com-


retas ackers e reta, erd e urning ell. plexos, mulheres negras têm assimilado con-
ima e liveira 2019, com o objetivo de ceitos e práticas feministas negras ao apropria-
compreender as apropriações de tecnologias rem-se de mecanismos fundamentais, como
por estas mulheres negras, desenvolveram um a Internet, para reverberarem globalmente suas
estudo de análise dos dados estatísticos e de- ideias e experiências.
poimentos em vídeo da pesquisa retaab,
além dos 15 projetos mencionados pelas en-
trevistadas. Os resultados da pesquisa indicam
que mulheres negras “buscam dominar as tec-
nologias, a m de propor soluções para as bre-
chas tecnológicas e fazer uso social das habili-
dades adquiridas p. 1”.

4. Conclusão

omo demonstrou-se, a partir do pensamento


feminista negro, é possível a compreensão
de fenômenos também relativos às tecno-
logias da informação e comunicação e seus
imbricamentos com o racismo, sexismo e as
desigualdades sociais. om base em um ree-
rencial de mulheres negras que analisam os
fenômenos relativos aos seus ativismos, den-
tro e fora da Internet e os dados apresenta-
dos e detalhados, foi possível analisar como as
ONGs eledés, logagem oletiva, archa de
ulheres egras 2015 e logueiras egras
despontaram como marcos no ciberativismo
de mulheres negras brasileiras, e o retaab,
como uma plataforma fundamental para apro-
ximar mulheres negras ao mercado de tecno-
logia - estratégias que potencializam a produ-
ção e circulação de conhecimentos de grupos
historicamente marginalizados.
s desaos para mulheres negras na nternet
se atualizam, na medida em que avançam tam-
bém as tecnologias. Os indicadores apontam
desigualdades no acesso, na ausência de di-
versidade no desenvolvimento das tecnolo-
gias, que resulta na reprodução do racismo
e sexismo no código das plataformas, e, mesmo
1.
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12
V. 3 ⁄ N.  ⁄ DEZEMBRO DE  A ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DE MULHERES NEGRAS GLENDA DANTAS CARDOO
PÁGINAS 5 A 19 NO COMBATE ÀS BRECHAS DIGITAIS DE GÊNERO E RAÇA

Notas fnais 6 É um laboratório de ideias que apoia o


protagonismo de jovens na criação de projetos
que ajudam a tornar a internet um lugar me-
lhor - com mais diálogo e respeito à diversi-
1  pesquisa conta com apoio do dade eerência: <http://saerlab.org.br/
inistério da iência, ecnologia, novações
e omunicações , do nstituto 7 <http://desabaosocial.com.br/blog/2017/06/12/
rasileiro de eograa e statística , desabafo-social-interfere-no-mecanismo-de-busca-do-
do nstituto de esquisa conômica plicada -maior-banco-de-imagem-do-mundo/
pea e de um grupo de especialistas de diver-
sos setores. Para permitir a comparabilidade 8 <https://www.theguardian.com/technology/2017/
de seus resultados, a  omicílios segue pa- apr/25/aceapp-apologises-or-racist-ilter-which-
drões metodológicos e indicadores denidos -lightens-users-skintone
internacionalmente.

2  termo web 2.0 surgiu em meados de


2004 e se reere a segunda ase da web que
permitiria maior interação e participação de
usuários e desenvolvedores.

3 É uma organização da sociedade civil


que se posiciona em defesa de mulheres e ne-
gros por entender que esses dois segmentos
sociais padecem de desvantagens e discrimi-
nações no acesso às oportunidades sociais em
função do racismo e do sexismo vigentes na
sociedade brasileira. eerência: www.geledes.
org.br/geledes-missao-institucional

4 m 2013, harô unes, arissa antiago


e aria ita asagrande criaram o site colabo-
rativo logueiras egras .

5 “ aeret rasil é uma associação


civil de direito privado, com atuação nacio-
nal, sem ns lucrativos ou econômicos, sem
vinculação político partidária, religiosa ou ra-
cial. undada em 20 de dezembro de 2005,
com oco na promoção e deesa dos ireitos
umanos na nternet no rasil”. eerência:
<http://saernet.org.br/

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