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REDES DE ATENDIMENTO À MULHER

EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR

ANA PAULA O. C. M. LEWIN


DEFENSORA PÚBLICA
Articulação e Acompanhamento das Redes de Enfrentamento à Violência
contra as Mulheres

REDE X TRAMA

REDE: articulação entre as ações particulares de cada serviço e


interação de seus agentes, na produção dialogada de projeto
comum. A rede é horizontal e sem porta de entrada
definida.

TRAMA: agregados de serviços em torno de problemas


percebidos como distintos e que não se reconhecem
mutuamente.

Fonte: TERRA, M.F. 2014


TRAMA
REDE
Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
Conceitos

POR QUE TRABALHAR NA PERSPECTIVA DE REDE?

ROTA CRÍTICA

✓ Processo interativo entre a sequência de decisões e ações


realizadas por uma mulher para enfrentar a situação de violência
e as respostas encontradas;

✓ Constitui-se de situações inibidoras ou propulsoras e do


acolhimento ou rejeição encontrados nos serviços, que
retroalimentam as decisões/ações das mulheres;

[OPAS/Peru, 1998]
Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
Conceitos

Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as


Mulheres (2011)
Prevê 4 eixos (objetivos) a serem efetivados pela Rede de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres:
combate,
prevenção,
assistência e
garantia de direitos,
abarcando a complexidade do fenômeno da violência contra as
mulheres.

(Secretaria de Políticas para as Mulheres – Presidência da República)


✓ O trabalho em rede permite a construção e a
implementação de ações intersetoriais, criando
um caminho de diálogo entre as politicas de
educação, saúde, cultura, assistência social,
entre outras;

✓ Cada organização-integrante pode contribuir com


o seu saber, fortalecendo as ações comuns.

✓ A Rede, por sua vez, se torna um


espaço de diálogo plural e
 diverso, portanto mais eficaz, efetivo e eficiente
REDE DE SERVIÇOS e
ATENDIMENTOS
✓ O trabalho em rede é como uma estratégia para o enfrentamento de
problemas sociais complexos;

✓ As redes são uma alternativa de articular os atores envolvidos na


 busca de um objetivo comum;

✓ É uma maneira de potencializar as ações dos atores envolvidos


 para o alcance de determinado objetivo;

✓ Colabora na superação da fragmentação presente na intervenção de


 diferentes áreas;

✓ São formas não hierárquicas de trabalho;

✓ Interdependência, mas tem complementariedade


Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
Conceitos

Conceito de trabalho em Rede existe há alguns anos. Já temos muita


produção técnica, teórica e prática sobre o tema.

“Vem Pra Rede! – Guia de Apoio à construção de Rede de


serviços para o Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres (2002)” - Publicação em parceria com a Cooperação
Técnica Alemã e o UNIFEM- Fundo das Nações Unidas para o
Desenvolvimento das Mulheres.

Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as


Mulheres (2011).
Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher –
Conceitos

Quando serviços atuam na perspectiva de Rede:

✓ atuações específicas mantidas e interconectadas;


✓ Interação dos profissionais/serviços: relações dialogadas;
✓ buscam o reconhecimento e entendimento mútuo;
✓ combatem a violência institucional;
✓ combatem a banalização e o julgamento moral;
✓ oferecem cuidado integral;
✓ buscam decisões compartilhadas com a mulher;
✓ apoiando seu fortalecimento e emancipação;
✓ monitoram o processo de cada mulher

Fontes: PEDUZZI, 1998 e TERRA, M.F. 2014.


 Atuação
articulada entre as instituições/serviços
governamentais, não-governamentais e a
comunidade;

 Amplia e melhora a qualidade do atendimento;

 Identificação
e encaminhamento adequado das
mulheres em situação de violência e seus filhos;

 Desenvolvimento de estratégias efetivas


para os próximos atendimentos.
Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
Conceitos

Quando os serviços atuam como trama:

✓ Ações dos serviços: concentradas por setor, isoladas;

✓ Respostas: desalentadoras e/ou impeditivas;

✓ Decisões das mulheres: tardias, ambivalentes;

✓ Resultados: rotas interrompidas, reiteração da banalização.

Fonte: TERRA, M.F. 2014


Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
Conceitos

❖ Rede de Atendimento: ❖ Rede de Enfrentamento:

Definição: conjunto de ações e serviços Definição: atuação articulada entre


de diferentes setores (assistência social, instituições/serviços governamentais, não
justiça, segurança pública, saúde etc). governamentais e comunidade.

Objetivo: ampliação e melhoria da estratégias


Objetivo: desenvolvimento de
qualidade do atendimento: efetivas de prevenção e de políticas
que garantam:

1. identificação e encaminhamento 1. o empoderamento das mulheres e seus


adequados das mulheres em situação direitos humanos;
de violência; 2. a responsabilização dos agressores e
2. integralidade e humanização do 3. a assistência qualificada às mulheres em
atendimento. situação de violência.

(Secretaria de Políticas para as Mulheres – Presidência da República (Secretaria de Políticas para as Mulheres – Presidência da República)
Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
Composição

1. Instituições/serviços governamentais;

2. Instituições/serviços não governamentais (ONG’s,


OS’s...) e

3. Sociedade Civil
Rede de Atendimento

Serviços Especializados Sociedade Civil

Ex: Centros de Referência, NPV, JVD Ex.: Fórum de Mulheres


etc. da Zona Oeste;
Coletivos Feministas
Serviços Não-Especializados
de Universidades etc
Ex: UBS, NASF etc.

(Secretaria de Políticas para as Mulheres – Presidência da República)


Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher
Objetivos

Desenvolvimento de estratégias
efetivas de prevenção e de políticas
efetivas para as mulheres.

Rede de Atendimento
Sociedade Civil -
Ampliação e melhoria da Movimento de
qualidade do atendimento: Mulheres
1. identificação e
Garantir a existência
encaminhamento
adequados das mulheres; dos serviços públicos
2. integralidade e na quantidade e
humanização do qualidade necessárias.
atendimento.
(
Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher
– Experiências –

❖ Exemplos de atuações em Rede:

✓ Elaboração de materiais informativos (impressos e/ou virtuais) como: cartilhas, folders,


guias de serviços para mulheres em situação de violência (versão para mulheres e para
profissionais);

✓ Organização de eventos, como encontros intersetoriais, fóruns, seminários, congressos,


manifestações, grupos autoformativos (com ou sem convidadas) etc;

✓ Estabelecimento de fluxos intersetoriais de encaminhamentos, de acordo com


demandas específicas (ex.:Violência Sexual, pedido de Medida Protetiva sem necessidade
de B.O.);

✓ Produção de campanhas temáticas e elaboração de pesquisas (ex. Delegacias),


manifestos, moções de repúdio, abaixo-assinados, cartas-compromisso etc;

✓ Criação de grupos virtuais de discussão (e-mail, facebook, whatsapp) e sites


(ex.: Projeto - site das Redes de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da
cidade de São Paulo – reúne as 6 Redes).
Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher
– Articulação -

Como organizar-se em Rede – Algumas sugestões:

✓ Realizando encontros periódicos entre pessoas interessadas em atuar no


enfrentamento à violência contra a mulher (de comunidade, de
instituições/serviços governamentais e não governamentais, de movimentos de
mulheres etc);

✓ Identificando objetivos e projetos comuns (o que dá “a liga”), para que


cada integrante possa se sentir efetivamente pertencente à Rede;

✓ Desenvolvendo estratégias efetivas de prevenção e de políticas que garantam:


- o empoderamento das mulheres e seus direitos humanos;
- a responsabilização dos agressores e
- a assistência qualificada as mulheres em situação de violência;

✓ Algumas pessoas responsáveis pela organização: reserva de sala, elaboração de


registro, comunicação lembrando a próxima data e hora da reunião etc.
Rede de Atendimento à Violência Contra a Mulher

❖ Serviços NÃO especializados:


✓ Saúde: Hospitais Gerais, UBSs etc;
✓ Segurança Pública: Delegacias comuns, GCM etc;
✓ Assistência Social: CRAS, CREAS etc;
✓ Justiça: Defensoria Pública, Ministério Público, Tribunal de Justiça.
❖ Serviços especializados:
✓ Central de Atendimento à Mulher – 180;
✓ Centros de Referência para Mulheres (CRMs);
✓ Centros de Cidadania da Mulher (CCMs);
✓ Centros de Defesa e Convivência da Mulher (CDCMs);
✓ Casas-Abrigo (sigiloso);
✓ Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor;
✓ Serviços de saúde para atendimento de Violência Sexual;
✓ Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (JVDs) ;
✓ Delegacias Especializadas de Defesa da Mulher (DDMs);
✓ Casas de Acolhimento Provisório (Casas de Passagem); etc.
PREVISÃO LEGAL
 Lei Maria da Penha:
⚫ Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no
limite das respectivas competências:

⚫ I -
centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e
respectivos
 dependentes em situação de violência doméstica e familiar;

⚫ II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação


de
 violência doméstica e familiar;
⚫ III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de perícia
médico-legal especializados no atendimento à mulher em situação de violência doméstica
e familiar;

⚫ IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar;

⚫ V - centros de educação e de reabilitação para os agressores


Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher
– Articulação -

O processo de funcionamento em Rede :

✓ é bastante dinâmico: muda conforme as entradas e as saídas de


participantes, de acordo com os objetivos e projetos definidos
como mais importantes de serem trabalhados no momento etc;

✓ “O que faz da arquitetura de rede uma rede é seu modo de


funcionamento (...) que contemple, pressuponha e atualize a
autonomia dos membros da rede; que faça da horizontalidade, da
descentralização, do empoderamento e da democracia uma
ética de operação”. (MARTINHO, 2005, p. 3).
(Peduzzi, 2001)
• É importante que o município:

 Tenha protocolos de atendimento à mulher em


situação de violência com fluxos estabelecidos;

Desenvolva atividades de prevenção (capacitacão de


 profissionais, material impresso, palestras, reuniões);

 Tenha Projetos e legislações específicas (aluguel


social, prioridade de vagas, unidades
habitacionais, etc).
DESAFIOS DOS TÉCNICOS QUE
COMPÕEM A REDE
 Buscar
conhecimento sobre as
questões de gênero;
 Observar a ética profissional e no serviço
público;
 Respeitaros valores, crenças,
histórias pessoais e autonomia das
mulheres.
 Importante: a mulher tem autonomia em
suas escolhas e decisões
Acolhimento e Escuta de Mulheres
em situação de Violência
Escuta Qualificada com perspectiva de
gênero, raça e etnia
 Não se limita nas palavras (gestos, tom de voz,
ritmo, humor..)
 Reconhecer a queixa da pessoa, problematizá-la –
refletir
 Validar sentimentos apresentados na narrativa
 Utilizar linguagem adequada – dentro do possível,
técnica (estudar);
 Buscar soluções conjuntamente, estimulando o
protagonismo da mulher
Escuta Qualificada com perspectiva
de gênero
● Ouvir atenciosamente, a narrativa;
● Registrar os aspectos relevantes;
● Identificar e procurar entender a dor da mulher;
● Escutar com empatia, frisando que ela está
sendo compreendida;
● Exercitar a compreensão e o não julgamento da
situação relatada;
● Estimular a mulher com palavras de
fortalecimento;
● Estabelecer um laço de confiança, amigável,
objetivos importantes desse acolhimento.
Ética e Sigilo profissional
● São Aspectos fundamentais no atendimento;
● Compartilhar informações com a Rede de
forma técnica e objetiva;
● Filtrar aspectos que irão expor a mulher a
julgamentos;
● O conteúdo deve ser tratado em
momentos de trabalho com o objetivo de
encaminhar as questões existentes;
Procedimentos nos
Encaminhamentos
 Criarmos uma cultura de trabalho
compartilhado, na qual as/os profissionais
poderão discutir o caso, trocar saberes,
questionar condutas um/a do outro e
qualificar o acolhimento oferecido ao
usuário/a.
 Desburocratização, sem descaracterizar
as funções do serviço.
Desafios
 Transformar a escuta em oferta de serviços que
existam na Rede e que colabore com o Rompimento
do Ciclo da Violência.

 Compreender as especificidades das mulheres do


seu território.
● As ações públicas precisam ser articuladas( Conhecer o
Macro, para atuar com qualidade no micro)
● Cada Política tem que saber seu papel no
fortalecimento das mulheres (Entender que as
mulheres são destinatarias dos serviços)
Fortalecimento das Mulheres
● Educação (Enfrentamento a violência é um tema transversal,
que pode ser
 trabalhado de várias formas e em todas as disciplinas)
● Habitação (Importante priorizar as mulheres – pesquisas
sinalizam os motivos)
● Segurança Pública ( Qualificada )
● Saúde (porta de entrada fundamental – não a medicalização)
● Trabalho e Renda (autonomia econômica – perfil da mulher –
mídias, economia, línguas ...sejamos coerentes)
● Laser, Cultura (artes que dialogue com os Direitos Humanos,
entre outras;
Contato: nudem@defensoria.sp.def.br

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