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2019

2ª Edição e-book
Copyright © 2017 Vivy Keury e Geysielle Patricia

Revisão: Janaina Nascimento


Capa: Murillo Magalhães
Diagramação Digital: Sara Ester

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma


ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão expressa das
autoras: Vivy Keury e Geysielle Patricia

(Lei 9.610 de 19/02/1998)


Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer
semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados pela autora.
VIVY KEURY
Agradeço a Deus pelo dom da escrita, primeiramente. As minhas
leitoras que sempre estão me apoiando com um enorme carinho e que só
tenho a agradecer mesmo. A Janaina Nascimento pela revisão do livro,
deixando tudo mais lindo ainda. Aos parceiros, amigos e familiares pelo
apoio e divulgações constantes. E também, a Anny Caroline, minha beta que
deu dicas maravilhosas para o aperfeiçoamento da obra. Gratidão a todos
vocês.
Foi magnífico, escrever este livro com esta autora maravilhosa, que
considero uma irmã também. Obrigada!
Dedico este livro a você, que acabou de adquirir nosso ebook. Muito
obrigada!
GEYSIELLE PATRICIA
Agradeço primeiramente a Deus, por ter me abençoado com o dom da
escrita e principalmente, por ter colocado uma amiga irmã na minha vida, a
autora Vivy Keury, que está comigo nesta caminhada desde o começo e as
minhas leitoras maravilhosas que sempre estão comigo, obrigada pelo
carinho.
Pelo apoio incondicional da minha família.
E a você, que adquiriu nosso e-book.
Obrigada!
Karolina Garcez, é uma mulher forte e determinada. Com seus trinta
anos - bem aproveitados, diga-se de passagem -, já é dona de uma das redes
de joalheria mais famosa de Copacabana, mas, para isso, teve que fazer
muitos sacrifícios até se formar em administração e construir seu próprio
negócio. Dirige a joalheria Garcez com pulso firme e olhos de águia,
nenhuma ação lhe passa despercebida.
Ao contrário dos negócios, o amor para si, é uma coisa improvável de
acontecer. Ela acredita piamente, não ter nascido para amar, por isso, prefere
ter o homem que quiser por apenas uma noite e talvez até pagar pelos seus
serviços, - o que para ela, praticamente, não era necessário -, até porque,
possui um corpo irresistível, com curvas na medida certa e uma beleza de
tirar o fôlego.
Uma mulher marcante, não só pela beleza que detêm, sobretudo, por
suas atitudes, principalmente, nas reuniões de negócios, por sempre conseguir
fechar belos contratos com empresas importantes, justamente, pela fama de
ser uma CEO competente e respeitada em seu ramo.
“Dona de si”, essas são as palavras que definem Karolina Garcez.
Segura em tudo que faz e de uma personalidade, extremamente, forte. Mas
será que ela estará preparada para lidar com o amor?
Não é segredo para ninguém, que diante dos negócios, ela tira tudo de
letra. Mas em relação ao coração, terá ela a mesma destreza?
Sabemos muito bem, que lidar com papéis numa reunião é bem mais
prático que lidar com o coração. Ainda mais, quando se tem uma ideia fixa
em mente, de sob hipótese alguma, apresentar este seu órgão tão importante,
a um sentimento tão bonito, entretanto, que pode te levar a ruínas em questão
de segundos.
Como todos os empresários, Karolina sempre tem um jornal diário ao
seu alcance, o que é primordial para estar sempre por dentro de todos os
assuntos, e é claro, ficar de olho na bolsa de valores, já que a joalheria
Garcez, domina o primeiro lugar nos investimentos, sendo uma das empresas
que mais está rendendo belos lucros para o País.
Karolina adora mandar e desmandar. Ela se sente viva e tem a
empresa como se fosse um órgão de seu corpo, não mede esforços para
mantê-la bem. Passa noites em claro, quando preciso, para avaliar diversos
contratos de parcerias que chegam à sua mesa e prefere não correr o risco de
ligar seu sobrenome a qualquer negócio mal direcionado.
Apesar de ser bem rigorosa na questão do coração, Karolina o
mantém aquecido sempre que se recorda de seus pais: Joaquim e Serafina.
Eles moram numa pequena fazenda em Minas Gerais, uma cidade pacata do
interior. Gostam de lá e não se veem longe dali, mesmo que fiquem algumas
semanas ou até meses, sem ver a própria filha.
Ela teve de se esforçar bastante para conseguir concluir seu Ensino
Médio, pois sabemos que em cidades pequenas e pouco movimentadas, os
estudos não são tão valorizados, ou seja, nem sempre os que ensinam têm um
grau de conhecimento necessário para exercer o papel de professor (a), mas,
para não verem os mais jovens sem aprendizado algum, acabam por estudar
por conta própria através de livros velhos que tem em casa, para levar
conhecimento, nem que seja mínimo para os demais.
Seu amor por seus pais, ultrapassa qualquer linha tênue do amor, pois
carrega consigo lembranças maravilhosas e inesquecíveis de quando mais
jovem e que desfrutava da companhia e carinho dos dois. Joaquim já é
aposentado, tem sessenta anos, mas a esperteza e força física, ainda fazem
parte de suas inúmeras qualidades. Serafina é mais jovem um pouco, tem
cinquenta e seis anos, porém, sua jovialidade impressiona a todos,
justamente, por não aparentar em seu rosto, ter essa idade.
Karolina sempre os teve como maiores apoiadores em sua vida e os
carregará pelo resto de sua existência, com admiração pelo exemplo de casal
que soube superar suas diferenças e dificuldades para chegarem a ter uma
união sadia, linda e ímpar. Porém, não carrega o desejo de se apegar a
ninguém, porque prefere ser independente e dona de si mesma, sem ter a
quem dar satisfações do que decidir fazer. É sempre bem clara, quando
consegue ter alguma diversão com um homem e que não precise
necessariamente, pagar: Nada de compromissos e sem troca de números de
telefone. São suas regrinhas básicas e fundamentais.
Felizmente, nunca teve qualquer problema com isso. Todos com
quem já ficou até hoje, nunca quiseram aprofundar em um relacionamento.
Talvez, seja por saberem que jamais conseguiriam ter controle sobre sua vida
ou, apenas queriam diversão e nada mais.
Isso lhe chateia? Nem um pouco. Mas o destino prega peças
inesperadas, então, se aconchegue em seu sofá e acompanhe essa história.
— Shirley, está tudo pronto para a reunião? E as planilhas com as
fotos da coleção também? Por favor…
— Sim, dona Garcez. Tudo está arrumado, assim como me pediu.
Ahm… E me desculpe por interceptar a senhora dessa maneira, mas todos já
nos aguardam reunidos na sala de reuniões. — Ajustou seus óculos de grau
sob seu nariz bem afilado e me olhou nervosa, acho que pensando que iria lhe
repreender por isso.
— Por que está nervosa? — Estreitei meus olhos encarando sua face
rosada, um pouco mais do que o normal. Eu estava sorrindo por dentro. Sei
que tenho pulso firme, mas não imaginava que causava sensação de medo em
meus funcionários, apenas por dirigirem a palavra à mim.
Não sou tão ruim assim. Ou sou?
— Não é nada, senhora! — Minha boca formou um bico, mas logo
desfiz, pois imaginava que não me falaria nada.
— Tudo bem, então. — Lancei lhe um meio sorriso. — Vamos logo!
— Ordenei e comecei a fazer meu percurso, indo em direção ao corredor
oposto ao de minha sala e rapidamente estávamos adentrando a sala de
reuniões.
Como Shirley disse, todos estavam apostos e no momento que me fiz
presente, fui cumprimentada por todos e retribuí sorridente.
— Recapitulando, então! Querem que eu seja a modelo de minha
própria joalheria? — Perguntei, fitando um dos donos da revista mais famosa
que conhecia.
— Sim, isso mesmo, Sra. Garcez! — Afirmou.
Sorri um pouco incrédula.
— Nunca saí em uma revista. Posso saber o propósito disso? —
Aconcheguei me em minha cadeira macia e analisei o rosto dos donos da
revista, enquanto Shirley parecia alheia à reunião.
— Pois bem… É simples! Queremos uma mulher forte, determinada,
respeitada no mundo dos negócios e que seja madura, para que possamos
criar um marketing mais sugestivo às mulheres deste País, então, pensamos
numa CEO que representaria bem este perfil ao qual traçamos. Quem melhor
que a Karolina Garcez para tal proeza? Aliás, devo ressaltar que além dessas
qualidades, dispõe de uma beleza inebriante aos olhos dos homens. Não
acha? — Kaio um dos donos da revista, direcionou sua pergunta para Shirley
e ela ficou branca como papel.
Sorrio internamente com seu nervosismo excessivo.
— Está se sentindo bem, Shirley? Se quiser…
— Estou bem, senhora. Obrigada! — Assenti convencida de sua
resposta. — Sim, concordo plenamente com o senhor! — Respondeu à
pergunta de Kaio.
— Hum… — Ponderei.
— Além do mais, terá uma noite de gala no lançamento da Revista e
será exclusivamente o centro das atenções. O que me diz? — Ruan me
questionou.
— Sério que vai querer me convencer com um argumento tosco como
este? — Ele abaixou a cabeça e passou a mão pelo terno. Sorri desgostosa. —
Ruan, tenho trinta anos! Exerço este negócio desde meus vinte e quatro,
então, pode ter certeza que já fui a muitas noites de gala e fui o centro das
atenções em várias delas. O que acabou de tentar fazer aqui, foi somente, me
deixar admirada por vocês virem falar uma coisa dessas e nem ao menos,
saber dessas básicas informações sobre mim. Sou uma CEO, acha que fiz
fama como? Sentada atrás dessa mesa esperando os paparazzi me
fotografarem e saírem distribuindo minhas imagens em jornais, revistas ou
canais de fofocas na TV? Creio que não, né, senhores? — Disse contrariada,
pois dei meu sangue pela empresa, desde quando decidi abri-la.
— Desculpe-me, Sra. Garcez, meu primo foi um pouco indiscreto,
suponho que não se exalte por isso, por favor! — Kaio tentou me acalmar e
suspirei, querendo me tranquilizar.
Definitivamente, minha noite foi uma merda! Eu não precisava me
expor dessa forma, mas creio que já o fiz, então, não tem volta.
— Tudo bem, me desculpem! — Falei um pouco mais contida e com
os pensamentos no lugar. Eles assentiram silenciosos e pensei um pouco
sobre a proposta que me fizeram. — Eu aceito! — Kaio e Ruan me olharam
incrédulos, por fim, encararam um ao outro e sorriram vitoriosos.
— Muito obrigado! Será um grande sucesso a edição da revista. Pode
ter certeza disso! — Me levantei e sorri, acreditando em suas palavras.
Demos apertos de mãos e logo estávamos assinando todas as papeladas que
seriam necessárias para minha exposição na revista e das joias também.
Após assinar todos os papéis, me despedi dos dois e voltei para minha
sala, sendo seguida pela Shirley.
— Ainda não estou acreditando que aceitei ser modelo para a
campanha da revista deles. — Afirmo pensativa, olhando para Shirley, mas
isso foi mais para mim do que para ela.
— Permita-me darminha opinião, senhora Garcez? — Me questiona.
— Claro que sim, Shirley! Não precisa pedir permissão para isso. —
A repreendo, pois posso ser severa quando os assuntos são negócios,
entretanto, Shirley trabalha comigo há anos, além de funcionária, acabou se
tornando uma amiga e já deveria ter perdido todo esse medo que carrega de
mim.
— Já havia pensado em sugerir que a senhora assumisse essa
campanha como modelo, porém, fiquei com receio de não gostar da minha
ideia. — Disse séria.
— Sei que sou extremamente exigente com os assuntos da empresa,
Shirley, mas não precisa ter medo de mim, garanto a você que não mordo. —
Digo-lhe de maneira leve, para que compreenda de uma vez por todas que
não sou nenhum bicho papão.
— Não foi essa a impressão que eu quis passar, senhora. — Declara
um pouco nervosa, dá para perceber, então, acho melhor encerrar o
expediente de hoje, senão, Shirley acabará passando mal por aqui. Não sei o
que tanto lhe apavorou, ou será que é só medo de mim?
— Está bem, não se preocupe! Por hoje, está liberada, pode ir pra
casa. Só terminarei de organizar esses papéis, antes de ir para casa. — Como
não tenho mais reuniões, resolvi encerrar o expediente mais cedo.
— Tem certeza que não precisará mais de mim? — Pergunta
preocupada.
— Tenho, sim! Muito obrigada. — Dito isso, ela assentiu sorridente e
saiu da sala.
Terminei de analisar a última planilha do índice de vendas do mês e
me sinto exausta, porém, estou muito satisfeita com o que vejo deste último
mês, pois conseguimos faturar o dobro do valor arrecadado no mês anterior.
Guardo alguns documentos na gaveta de minha mesa, trancando-a e
guardando a chave na bolsa. Saio da sala, pego o elevador e desço até a
garagem para buscar meu carro.
Aperto o controle remoto, destravando as portas do meu SUV e tomo
meu assento de motorista. Ele é vermelho, para mim é uma das cores que
mais gosto de usar.
Chego em casa exausta e opto por um banho de banheira. Preparo a
água com os melhores sais que tenho, deixando numa temperatura agradável
e pela primeira vez no meu dia, permito me relaxar.
Saio da banheira, após dar meu banho relaxante e revigorante por
encerrado, me cubro com meu roupão, deixo o banheiro e resolvo descer para
ver se já tem algo pronto. Assim que chego a cozinha, sorrio ao ver que Beth
já serviu o jantar. Ela trabalha comigo há cinco anos e não a troco por nada,
está sempre a minha disposição, não importa o dia nem a hora.
Terminei de jantar e Beth não me deixou ajudá-la com as louças,
então, como sempre costumo trazer alguns documentos para casa, resolvi
analisar alguns, antes de dormir. Assim, fico com menos trabalho para
amanhã, pois terei outra reunião sobre a campanha da revista. Na verdade, só
faltam definir alguns detalhes.
Resolvi começar pelo contrato que assinei hoje, gosto sempre de ler
tudo atentamente, apesar de ter dois advogados, justamente para isso. Porém,
como meu pai sempre diz: “ O olho do dono é que engorda o gado”. Então,
por este motivo, gosto sempre de estar de olho em tudo que se refere a
empresa.
Realmente, o contrato é muito bom. Só não sei se serei capaz de ser
uma excelente modelo para a campanha. No entanto, adoro desafios e esse
será apenas mais um em minha vida e tenho certeza que conseguirei me sair
bem. Assim espero!
Apesar de confiar em mim mesma, resolvi deixar uma modelo de
prontidão, caso o resultado das sessões de minhas fotos não serem o
esperado, ela entrará em ação. Acabei de enviar o e-mail e já recebi sua
resposta. Aproveitei para abrir o meu e-mail no ramo dos negócios, afinal,
temos de estar conectados em todas as redes sociais. A propaganda é a alma
do negócio.
Não me surpreendi ao ver mais um e-mail, convidando me para dar
uma entrevista. É impressionante, mas todos adoram saber como consegui me
transformar numa CEO tão conceituada e respeitada no mercado. Depois de
avaliá-lo, acabei aceitando o convite, portanto, pedi para que tratasse
diretamente com minha assessora de imprensa, pois ela recebe uma fortuna,
justamente para eu não ser importunada com assuntos deste tipo. Caso seja
para alguma emissora, só é me passado a data e horário para que compareça.
Vou até a adega em busca de um vinho para encerrar a noite com
chave de ouro. Encontro um dos meus vinhos favoritos e me sirvo com uma
taça. Após terminar, volto para sala, recolho alguns papéis que acabei
levando do quarto para ali e os guardei em meu escritório, pois como trabalho
até em casa e por teimosia de minha parte, foi necessário criar um aqui.
Depois de me certificar que tudo estava bem organizado e sem nada
fora do lugar, subi as escadas em direção ao meu quarto, planejando ter uma
boa noite do sono, pois o dia de amanhã promete.
Acordo um pouco atrasada - algo incomum de acontecer - e corro
para me arrumar. Hoje, tenho que acertar os últimos detalhes para tirar as
fotos para a campanha da revista que será daqui uma semana. Após estar
pronta, pego minha bolsa e o que vou necessitar para a reunião, desço as
escadas rapidamente, pego apenas uma maçã na cozinha e sigo para a
empresa.
— Bom dia, Shirley! As pessoas com quem marquei a reunião para
hoje, já chegaram? — Saudei e questionei em seguida.
— Bom dia, senhora Garcez! Na verdade, só chegaram os fotógrafos
e já os encaminhei para a sala de reuniões. — Hoje ela parece estar mais
tranquila, o que me deixa aliviada, pois diante desta constatação, penso que
posso não ter sido a causadora de seu nervosismo excessivo de ontem.
— Ótimo! Pode me trazer uma xícara de café, por favor? Ah, não
esqueça, bem forte! — Peço e ela prontamente sai para buscar.
Já em minha sala, organizo o contrato que assinei para levar junto
comigo à sala de reuniões, apesar de que provavelmente, não irei precisar,
mas gosto de sempre estar prevenida.
Shirley logo trouxe meu café, a agradeci e ela saiu, me deixando
sozinha. Depois de terminar de tomá-lo, sigo em direção ao corredor oposto
ao meu e entro na sala de reuniões.
— Bom dia a todos! — Cumprimentei-os sorridente e fui saudada,
enquanto me ajustei em minha cadeira. — Creio que só precisamos acertar
alguns detalhes, certo? — Questionei.
— Certo! — Respondeu-me um rapaz bem bonito. — Gostaríamos de
saber, se tem sugestão de algum local, onde ficará mais à vontade para
fazermos as fotos? Ah, esqueci de me apresentar. Prazer, sou Rodrigo. —
Apresentou-se após sua indagação e sorriu discretamente.
— Muito prazer, Rodrigo! Bom, respondendo sua pergunta... Um
lugar onde me sinto mais à vontade é em minha casa. — Respondo com
sinceridade.
— Ótimo! Então, na próxima semana, poderia ir com minha equipe
para lá. O que me diz? — Especulou com certo entusiasmo.
— Por mim, está perfeito! — Ele sorriu contente com minha resposta.
— Só de pensar nessa sessão de fotos já fico extremamente nervosa. Sempre
escolhi modelos, nunca pensei em ser uma. — Demonstrei-me receosa.
— Não se preocupe, se sairá muito bem, assim como sempre se sai
em seus negócios. — Confesso que respirei mais aliviada, após seu relato e
sorri em agradecimento. — Em relação a alguma cláusula do contrato, tem
alguma observação a fazer? — Indagou-me.
— Sim! A cláusula que se refere a fotos com um ar mais sexy, eu
queria fazer algumas observações.
— Claro! Estamos aqui para escutar suas observações. Fique à
vontade, senhora Garcez.
— Quero salientar que não posso ligar minha imagem a nada vulgar,
portanto, espero que essas “fotos com um ar mais sexy”, não venha me causar
nenhum problema, até porque, tenho um nome a zelar. — Digo rígida.
— Não se preocupe com isso, lhe garanto que com a beleza
exuberante que possui, suas fotos ficarão perfeitas. Nada de vulgar será
imposto a sua imagem. — Disse-me bastante convicto de suas palavras, o que
me deixou tranquila.

— Obrigada! Era o que precisava ouvir. — Ele sorriu contente. — A


reunião está encerrada, então. Agradeço por estarmos de acordo, diante de
minha observação.
— Nós que agradecemos, senhora Garcez. — Me levanto de minha
cadeira e lhe dou um aperto de mão, seguido de um sorriso que me é
retribuído. — Com licença. — Pede.
— À vontade. — Digo.
Vejo ele sair pela porta, acompanhado por mais um homem e duas
mulheres, que não se manifestaram em nenhum momento. Em seguida, ajusto
minha postura em minha cadeira confortável e nem saio da sala, pois tenho
mais duas reuniões à serem feitas.

Chego ao final do dia exausta. Diante das reuniões, quase não


consegui almoçar direito. Saio da empresa louca para chegar em minha
residência. Assim que entrei em minha casa, subo direto para o quarto, antes
disso, vislumbro que Beth, como sempre, já havia deixado meu café bem
forte, pronto e a mesa posta para o jantar. Sim, sou viciada em um café.
Saio do banho enrolada no meu roupão e desço para tomar o café.
Definitivamente, preciso dele. Meu telefone toca e já imagino que seja a
Beth, para saber se já me alimentei.
— Oi, Beth! — Digo ao constatar seu nome na tela. — Não se
preocupe, sei que ligou para saber se já jantei. — Emendei.
— Se eu pudesse, ficaria te esperando, até chegar em casa, mas
infelizmente, moro longe. — Declarou. — A comida não ficou fria? —
Indaga preocupada.
Sorrio pelo seu modo carinhoso e protetor.
— Claro que não! Fique tranquila, tudo estava uma delícia. — Minto
para tranquilizá-la, pois ainda não jantei.
Logo nos despedimos e encerro a ligação. Já na cozinha, tomo um
pouco de café, o que me faz soltar um gemido ao ser agraciada por seu sabor.
Janto em seguida, e a comida estava uma delícia, como sempre. Beth tem
mãos de fada, não me canso de dizer isso. Após deixar as poucas louças que
sujei limpas, subo para meu quarto e vou direto para cama. Essa semana
todos os dias estarão corridos na empresa. Logo pego no sono.
Acordei com um pouco de dor de cabeça, mesmo assim, tomei um
banho, me vesti e tomei um remédio antes de sair de casa para ir a empresa.
Assim que cheguei, resolvi alguns problemas pela manhã e no horário
de almoço, voltei para casa, pois a dor de cabeça estava me matando. Beth
insistiu para que me alimentasse, mas expliquei que só queria o conforto de
minha cama, daí, ela fez um chá e me trouxe aqui. Passei a tarde toda no
quarto descansando. Conforme a noite ia caindo, a dor havia amenizado.
UMA SEMANA DEPOIS
A semana passou voando, e pela primeira vez, decidi não trazer
qualquer trabalho para casa. Na verdade, o assunto referente as fotos que terei
de fazer para a revista, acabou tirando toda minha concentração, nesses
últimos dias.
De banho tomado, me encontro tomando o meu café da manhã,
enquanto observo as novidades do jornal de hoje. Beth, logo vem anunciar
que a equipe de fotógrafos chegou.
— Pode mandá-los entrar, por favor. — Peço, enquanto dou uma
última golada em meu café e deixo o jornal sobre a mesa.
— Claro. — Diz graciosa e se retira.
Instantes depois, vejo Rodrigo e sua equipe entrarem.
— Bom dia, senhora Garcez! Pronta para as fotos? — Indagou-me. —
Poderíamos começar pelo jardim. Está de acordo? — Foi direto ao ponto.
— Perfeito! Sinceramente, hoje estou às suas ordens, pois na arte de
modelar, eu não entendo nada, Rodrigo. — Sorrio nervosa.
— Relaxe! Não se preocupe, estou aqui para ajudá-la. Tudo bem?
— Tudo bem! — Disse incerta, pois ainda me sentia aflita.
Seguimos para o jardim e ele me faz escolher um dos modelos de
maiô que trouxe, pois diz que terá como as joias serem mais visualizadas em
meio às fotos. Sou instruída a usar uma das peças que é grande e assim o
faço.
Sou posicionada ao lado de um vaso enorme que contém rosas
plantadas nele e espero as ordens do fotógrafo, que não é o Rodrigo e sim um
rapaz mais jovem que é da equipe, do qual se apresentou como Alan.
— Vamos dar início, ok? — Assenti em concordância, diante de sua
pergunta. — Pode ficar na posição que você quiser, a qual se sinta o mais
confortável possível. — Salientou.
— Tudo bem. — Respondo.
Resolvi colocar as mãos por cima das rosas, suavemente para não as
danificar, acreditando que a foto ficaria com um ar delicado.
— Ótimo! Agora, preciso que se afaste das rosas e fique mais à
esquerda. — Fiz como pediu. — Isso! Fique um pouco de lado, coloque uma
mão na cintura e a que está no ângulo de minha visão, dobre-a abaixo de seu
queixo, deixando o conjunto: pulseira, brincos e anel de diamantes bem
visíveis. Não esqueça da expressão sedutora no rosto. — Dito isso, piscou o
olho para mim e voltou a falar em seguida. — Acredito que isso, não será
problema algum para ti. — Sorriu, demonstrando malícia em suas palavras.

Revirei os olhos internamente e respirei fundo. Fiquei na posição que


pediu e usei a melhor expressão sedutora que eu tinha. Tenho uma leve
impressão que ele está dizendo tudo com certa malícia. Era só o que me
faltava!
— Nossa, essa foto ficou linda! — Diz ao verificar a imagem na
câmera. Confesso que estou até me divertindo com seu lado pervertido.
— Agora, preciso que faça uma posição mais sexy. — Ele me explica
como quer dessa vez e apenas sinalizo com a cabeça, colocando-me do modo
que sugeriu.
Volta e meia, Rodrigo opinava em algumas posições que poderiam
melhorar as fotos. Alan continuava a me olhar de forma promissora, o que me
deixava ainda mais confiante sobre cada posição que fazia para ser
fotografada. Em meio a isso, troquei de roupas e joias referentes a coleção do
mês, diversas vezes. Amava cada look que vestia. Próximo ao horário de
almoço, deram a sessão de fotos por encerrada.
Após verificar todas as fotos em conjunto com ele e Rodrigo, ficando
satisfeita com o resultado final, os convido para almoçarem comigo, mas
recusam, pois tem outros trabalhos a serem feitos. Diante disso, nos
despedimos e Alan muito ousado, acaricia minha mão de forma maliciosa, o
que me faz sorrir incomodada e recolhê-la o mais rápido possível. Por fim,
vão embora e dou graças aos céus. Homens galanteadores tem demais, mas
aproveitadores reinam imensamente e eu só quero distância desses tipos.
DIAS DEPOIS
— Você está cada dia mais irresistível, delícia! — Sinto seu polegar
passear pelo meu peitoral, enquanto ainda nos recuperamos do sexo
prazeroso que tivemos a pouco.
Esboço um sorriso de canto, diante de seu elogio.
— Todas dizem isso! — Quando dou por mim, já falei e seu polegar
some de meu peitoral. Franzo o cenho ao avistá-la sentar-se na beirada da
cama, puxar o lençol que me cobria também, deixando-me nu e se enrola
nele, indo em direção ao banheiro. — Merda! — Praguejo ao ver que falei
besteira, mas não entendo sua mudança repentina de humor.
Levanto-me ao ouvir a porta ser fechada com força e passo a mão
pelo meu rosto sem entender nada. Vou até meu closet, pego uma cueca
boxer, me visto e vou até a cozinha tomar uma água, porém, não paro de
tentar puxar na mente o que foi que deixei passar entre mim e Estela.
Entretanto, nada me vem à memória.
Depois que me servi com um copo de suco de laranja gelado, após
tomar minha água, recostei na bancada da pia da cozinha e me tornei
pensativo. Estela é uma mulher bonita e muito atraente. Sua beleza não passa
despercebida aos olhos de homem algum. É loira, tem os olhos azuis,
cheirosa e muito gostosa. É minha cliente a anos. Podemos dizer que já fazem
uns dois anos que nos relacionamos como “amantes”.
Sim, ela é casada, mas não tem filhos. Decidi entrar nesse ramo de
“acompanhante de luxo”, após não aceitar as imposições de meus pais. Sou
bicho solto, jamais me submeteria ao que tanto queriam. Estela foi minha
primeira cliente e se tornou a número um, pois é fiel aos nossos encontros e
sempre me paga uma boa grana, o que sustenta minha vida de alta classe,
além do cachê das outras que sempre me contatam.
Só continuo não entendendo sua mudança de humor repentina, já que
ela tem plena noção que tenho muitas outras clientes e transo com elas,
realizando suas fantasias e desejos. Sou muito mais que apenas um
acompanhante, meio que me torno um psicólogo também, por sempre parar
para ouvir os problemas de cada uma e dar minha opinião sobre como
resolvê-los.
— Já vou indo, Thom! — Observo sua postura e vejo sua expressão
um pouco abatida. Franzo o cenho, deixo o copo sobre a pia e caminho até
ela. — Seu cheque está preenchido e assinado como de costume, deixei em
cima do criado-mudo em seu quarto. — Alcanço-a e junto nossas testas,
sentindo sua respiração ofegante.
— Sabe que não precisa ir agora. — Tento convencê-la, enquanto
envolvo minha mão em sua nuca e firmo meus dedos entre os fios sedosos de
seu cabelo, dando um leve puxão, fazendo sua cabeça se inclinar um pouco e
seu pescoço ficar exposto para mim, aproveito para mordê-lo suavemente e
ouço seu gemido rouco atravessar a garganta.
Já a queria novamente, pois meu pau clamava por atenção. Então,
enlacei sua cintura com minha outra mão, juntei nossos corpos e friccionei
minha ereção acima de sua virilha, pois era um pouco mais alto que ela,
mesmo estando com seus saltos matadores. Seu cheiro aguçava ainda mais o
tesão que estava sentindo.
— Acho melhor eu ir, Thom. — Falou um pouco gélida, mas ao
mesmo tempo, demonstrava em sua voz que também estava afetada pelo
desejo em se entregar para mim.
— Por que? Eu disse algo que não te agradou minutos atrás? —
Continuei mordendo o lado de seu pescoço, mas dessa vez ela me empurrou
com força e foi inesperado por mim. Encarei sua expressão triste. — Ah,
qual é, Estela? Não vai me dizer o porquê disso agora? Sempre nos demos tão
bem na cama. — Cruzei meus braços e esperei uma explicação, mantendo
uma distância mínima entre nós dois.
Ela desviou seus olhos dos meus, pareceu pensativa por um tempo.
Após alguns minutos, quando estava pronto para sair dali, porque não
aguentava mais seu lado dramático, vi que respirou fundo e me encarou.
— Eu… — Ponderou. Passou a mão ajeitando seu cabelo e voltou a
falar. — Eu acho que estou te amando, Thom. — Disse-me com lágrimas
contidas nos olhos.
Soltei um riso amargo.
— É o que? — Praticamente cuspi essa pergunta, porque não estava
acreditando no que tinha ouvido sair de sua boca. — Diz pra mim que isso é
uma piada, Estela! — Ela comprimiu seus lábios, encarou outro ponto
qualquer na cozinha, evitando me olhar e negou com a cabeça.
— Não é, Thom. Eu queria que fosse, mas não é! — Vi uma lágrima
escorrer pelo seu rosto e definitivamente, isso não poderia ter acontecido.
— Vai embora! — Disse rude e ela me olhou espantada.
— Como assim, "vai embora", Thom? Eu digo que te amo e você,
simplesmente, me manda ir embora? É isso? — Ralhou, olhando-me
magoada, pois dava para ver em seus olhos.
— Você sabe muito bem, que nosso relacionamento sempre foi só
sexo, Estela! Nunca te prometi, especificamente, nada, além de uma boa foda.
— Passei a mão pelo rosto sem acreditar que isso estava, realmente,
acontecendo.
— Uma foda, então? — Indagou irritada. — É só isso que me
considera, Thomás? — Grita inconformada. Para dizer a verdade, nunca
havia levantado seu tom de voz, dessa forma, para mim.
— Fala baixo, Estela. — Esbravejo no mesmo tom de voz que ela. —
E faça o favor de não confundir as coisas, meu nome pra ti é Thom, esqueça
o Thomás! — Repreendi mais calmo.
Seu rosto tomou uma cor avermelhada, eu sabia que estava furiosa
com minha repreensão.
— Você é um completo imbecil! Mas não se preocupe, prometo fazer
da sua vida um verdadeiro inferno. — Ela me ameaça, ajustando a alça da
bolsa em seu ombro. Não me contenho, acabo com a pequena distância entre
nós e agarro-a pelo braço.
— Não me ameace, Estela. Sabe muito bem que odeio me sentir
encurralado, como se devesse alguma coisa pra você, sendo que não tenho
nenhuma dívida contigo. — Digo entre dentes.
— Me larga! Está me machucando. — Percebo que meu agarre em
seu braço estava forte e a solto, quase que imediatamente, ao reclamar de
meu ato estúpido. Reconheço isso, mas não quero que ela me ame. Não
aceito! Sou um “ Acompanhante de Luxo”. Diante dessa minha “profissão”,
como ela chegou a cogitar a hipótese de que eu poderia lhe dar carinho e
atenção? Só pode estar louca, pois não mereço ser amado. Nem por ela ou
por qualquer outra que seja.
Passei a mão pela nuca, inconformado comigo mesmo.
— Me desculpa, Estela! Não quis te machucar, apenas surtei ao
escutar sua declaração, pois não esperava. Jamais pensei que fosse se
envolver emocionalmente por mim. — Digo envergonhado pela cena que
acabei de fazer.
— É muito fácil pedir desculpas agora, Thom! Suas palavras foram
piores que qualquer tapa. Jamais imaginei que me declarar pra ti, lhe faria me
desferir todos esses absurdos. — Evitou olhar-me.
— Tem toda razão de ficar chateada, Estela. Mas como queria que eu
reagisse? — Continua sem olhar para mim. Vendo que optou pelo silêncio,
continuo. — Confesso que jamais pensei em ouvir isso, pois sempre nos
demos bem na cama e pensei que pra você fosse apenas diversão. — Digo
com sinceridade.
Ela solta uma risada amarga.
— É claro que estou chateada! Praticamente, sustento todos os seus
luxos e o pagamento que recebo é esse Thom? — Ironiza. — Nem deveria te
pagar pelo dia de hoje, na verdade, poderia diminuir a quantia, já que está me
dispensando. — Dá de ombros, mais contida.
Gargalho alto.
— Estela, eu não estou mendigando míseros reais pra ti, não. Só está
pagando um serviço que já lhe fiz. — Digo calmamente, vendo sua raiva
voltar a aflorar em seus olhos.
— Seu idiota! Te odeio, Thom! — Proferiu irritada.
— Sério? Não foi isso que ouvi a pouco. — Ironizo. — Quer saber,
pegue seu cheque e vá embora. Até porque, você não é a única cliente e se
não te agradei, procure outro idiota pra ser seu cãozinho de estimação. Agora,
se me der licença, acabei de me lembrar que tenho uma cliente mais tarde,
então… — Deixo subentendido, apontando em direção a porta de saída.
Ela me lança um olhar de puro ódio.
— Está me expulsando da sua casa, Thom? — Fala com uma calma
que sei muito bem, não ter no momento.
— Entenda como quiser, Estela! — Digo ríspido, fazendo pouco caso
do que está achando de minha postura.
— Vai se arrepender, amargamente, por estar me tratando assim. —
Volta a me ameaçar.
Sorrio descontraído.
— Faça como preferir, Estela. Já disse que não gosto de ameaças.
Agora, você vai sair sozinha ou prefere que eu te mostre a saída? — Pergunto
impaciente, por causa de suas ameaças.
— Sei o caminho da saída, não se preocupe em me acompanhar, pois
não faço questão. — Ela me dá as costas, mas ao dar um passo, se volta para
mim e fixa seu olhar no meu.
— Considere essa sua carreira ridícula de Acompanhante de luxo,
acabada. — Sorri. — É só um breve aviso, Thom. — Me lança uma piscadela
e volta a caminhar até a porta, saindo em seguida.
— É o que veremos, Estela. — Pronuncio ao fechar a porta que ela
acabara de passar e deixou aberta.
Estela pensou que eu iria cair no seu jogo, mas não preciso de
migalhas de pão.

Tomo um banho revigorante e me visto para esperar minha próxima


cliente, pois chegará dentro de poucos instantes. Já pronto, sigo para a sala e
logo escuto a campainha tocar. Abro a porta e me surpreendo ao ver uma
senhora, deve beirar os sessenta anos e sorrio ao cumprimentá-la,
convidando-a para entrar.
— Pode entrar e fique à vontade. — Ela me agradece e entra. Fecho a
porta em seguida.
— Ah, meu rapaz! Você sabe que preciso apenas de uma boa e velha
conversa, como mencionei no telefonema que lhe fiz. Se lembra? — Diz
educadamente.
É comum para mim, ser procurado por senhoras em meio a essa
idade, para apenas ser uma espécie de psicólogo. Só preciso escutá-las e
aconselhá-las da forma que eu achar ser a melhor solução para seus
problemas.
— Sim, me recordo! — Ela sorri em agradecimento. — Sente-se, por
favor! — Peço que relaxe, respire fundo e comece a falar. Logo faz como
pedi.

Depois de finalmente, me ver liberado da sessão psicólogo, ela vai


embora satisfeita, o que me deixa feliz. Vou até a cozinha, tomo uma água
gelada e assim que saio dali, indo em direção ao meu quarto, ouço a
campainha tocar. Franzo o cenho, pois não sei quem poderia ser. Talvez a
senhora Madalena tenha esquecido algo.
Faço o caminho de volta e me surpreendo ao abrir a porta.
— O que faz aqui? — Pergunto.
Sorrio desgostoso, enquanto ela permanece em minha frente e me
olha da cabeça aos pés. Aguardo sua resposta.
— Posso entrar, pelo menos, Thom? — Disse de forma espontânea e
fitou meus olhos.
— Claro. — Respondi seco, enquanto dei espaço para ela entrar.
Fechei a porta, me virei para ela e cruzei meus braços, aguardando
algum pronunciamento de sua parte, do que poderia estar fazendo aqui, justo
após tê-la enxotado daqui a algum tempo atrás.
— Vou ser direta com você, Thom. — Profere e já fico em alerta,
diante de suas palavras. — Sabe muito bem, que não costumo enrolar em
meus assuntos. — Ela tem uma linha de um sorriso em seus lábios, parece
expectante por algo, mas não sei o quê.
— Estou escutando, Estela! Pode falar. — Deixo-lhe ciente e ajusto
minha postura. Algo me diz que não vem coisa boa por aí, pois ela não
voltaria aqui, caso não tivesse uma ideia fixa em mente e determinada a
colocar em prática.
— Tenho uma proposta para lhe fazer. — Assim que abro a boca para
protestar, ela continua. — Mas quero que me escute primeiro. — Avisa.
— Disse que iria direto ao ponto e está rodeando, Estela? — Ela me
lança um sorriso promissor. — Confesso que está me deixando impaciente.
— Complemento rispidamente.
— Qual é o seu preço? — Sinceramente, minha postura se enrijeceu,
diante desta pergunta descabida e inesperada por mim. Me mantive o mais
sério, deixando bem à mostra em minha face, o quão descontente estava.
Estela continuou me fitando silenciosa, aguardando uma resposta, da qual eu
preferia não me pronunciar, pois seria o mais sensato. Vendo que não lhe
daria um pronunciamento, continuou: — Eu pago o valor que você quiser, só
precisa ser, exclusivamente, meu. — Disse audaciosa.
Mordi meu lábio inferior, querendo frear as palavras que já estavam
na ponta da língua e respirei fundo, conseguindo me conter um pouco.
— Só um momento, Estela. Deixa eu ver se entendi… — Ponderei.
— Você é casada, tem um marido rico, o trai com muita naturalidade comigo
e acha que vou me submeter a ser algum tipo de pau mandando e ser
controlado por ti? É isso? — Tento soar tranquilo, mas a raiva me domina no
momento.
— Na verdade, estou te oferecendo tudo. Até mesmo, uma vida, pois
quero tirá-lo desse mundo de promiscuidade. — Continuei olhando-a, sem
esboçar qualquer sorriso. — Qual é, Thom? Quer viver como um prostituto
até o fim de sua jornada nessa Terra? — Permaneci calado. Ela bufa em sinal
de frustração. — Fala sério! Eu sei muito bem que é muito mais que isso. É
formado em uma área admirável, não exerce a função por ser orgulhoso ao
extremo. — Caminhou até mim e ficou a poucos centímetros de distância. —
Posso te dar um mundo repleto de regalias, é só me dizer o que quer…
Talvez, um carro ou apartamento? Eu compro! Só preciso que me diga e farei
acontecer. E também, conforme for, posso assinar o cheque agora. Necessito
apenas, que seja meu. Só meu, Thom. É o que mais desejo. — Olhou-me nos
olhos, como se suplicasse por um “sim” de minha parte e acarinhou meu
rosto. Porém, retirei sua mão de forma contida dali.
— Estela, me desculpa. Mas não posso cogitar a pequena hipótese de
você, uma mulher sensata e de extrema elegância, ter chegado a enganar-se,
achando que eu aceitaria essa proposta absurda e totalmente sem nexo. —
Sorrio amargo e consigo detectar frustração em seu olhar.
Ela passa a mão pelo cabelo e fita um ponto qualquer atrás de mim,
parece pensar em algo. Mas logo começa a falar:
— Tem algo que não entendo… — Ponderou, balançando a cabeça
em negativa. — Como pode preferir viver de cama em cama, invés de agarrar
a chance especular de mudança de vida, da qual estou disposta a te dar,
Thom? — Sua pergunta sai amarga, como se tivesse sido desapontada por
mim, algo que não esperava.
Gargalho divertido.
— Que chance, Estela? A de deixar minha vida tranquila de lado e me
submeter aos seus caprichos, me tornando seu pau mandado? Não me faça
rir! — Exclamei completamente, irônico.
— Não vejo do modo que está colocando, Thom. Mas, sim, que é uma
grande oportunidade para sua vida, poder mudá-la. E o melhor de tudo isso, é
que não terá de ficar com várias mulheres, apenas comigo. Verá o quão
prazeroso será. Você sabe que nos damos muito bem na cama. E é bem
simples: Te dou uma vida luxuosa e estabilizada, em troca, o terei só para
mim. — Disse de forma maliciosa.
— Pare com isso, Estela! Se poupe da falta de classe. — Ralho
incomodado com suas súplicas descabidas.
— Tudo bem, Thom. Já entendi! Você precisa de um tempo para
pensar, não é mesmo? Então, te darei todo o tempo do mundo, se for preciso.
— Ela diz cínica como se não estivesse percebendo o meu nervosismo.
— Eu não quero e muito menos preciso de tempo, porque já te deixei
ciente sobre minha resposta, referente a essa sua proposta absurda, Estela. —
Digo friamente e sorrio, não acreditando em nada do que ela me propôs aqui.
Ela estreitou seus olhos para mim e me analisou por belos segundos.
— O melhor é aceitar, Thom. — Impõe.
Olho para ela e fico sem entender o porquê, dela imaginar que
dinheiro pode comprar tudo na vida. Se eu enxergasse as coisas dessa forma,
não estaria nessa vida de acompanhante de luxo, mas sim, sendo o filhinho de
papai que era antes, pois meus pais são ricos. Saí de casa, justamente por
odiar que tentem me controlar e infelizmente, Estela quer fazer justamente
isso. Porém, se enganou e feio.
— Saia daqui, Estela. Antes que eu mesmo coloque-a para fora,
novamente. — Ela arregalou os olhos como se não estivesse acreditando em
minhas palavras.
Ouço sua gargalhada desgostosa.
— É o quê? Você só pode estar de brincadeira, Thom! —
Esbravejou.
Ela diminuiu nossa distância, olhou firme em meus olhos, enquanto
sustentei seu olhar, numa forma dela ver que estava falando sério e de
repente, começou a me estapear com raiva e lágrimas contidas em seus olhos.
Respirei fundo, segurei em seus pulsos e a fiz me encarar. Notei total
descontentamento em seus olhos azuis.
— Não estou brincando, Estela. Você sabe disso. — Tentei controlar
a raiva que dominava meu interior. — Quero que vá embora da minha casa e
não retorne mais, pois é o melhor a fazermos. — Seu olhar me fulminou e ela
puxou seus braços de meu agarre, demonstrando insatisfação, diante de
minha recusa a sua proposta.
Estela ficou de costas pensativa, voltou a me olhar depois de alguns
minutos, mas apenas fechou os olhos, parecendo manter a calma e caminhou
em direção a porta em seguida, sem ao menos dirigir-me alguma palavra
final. Passei a mão em sinal de frustração pelo meu cabelo e fechei a porta,
assim que a vi ir embora. Ainda com raiva, por causa de sua afronta, peguei o
primeiro objeto que vi na frente e joguei contra a parede, fazendo seus
estilhaços esvoaçarem pelos cantos da sala. Fora uma tentativa de poder tirar
um pouco desse sentimento de meu interior.
Estela sempre me viu como um brinquedo sexual, isso sempre foi
óbvio, até porque, o que ela veria de diferente em um homem que é
contratado e se deita com várias mulheres, quando ela tem um corno manso e
rico para lhe dar todas as regalias de uma vida luxuosa? Porém, vir querer me
tratar como se eu fosse um tipo de mercadoria barata e qualquer, pensando
que não sou movido por sentimentos e que é só me dar um cheque e ser todo
dela, e tudo fica uma maravilha? Aí já extrapolou os limites.
Jamais vou ser capacho de mulher alguma. Certo ou errado, eu vivo a
minha vida sem ser bancado por ninguém, muito menos pelos meus pais.
Atordoado, sigo até meu frigobar, coloco dois cubos de gelo no copo
e encho-o de uísque. Caminho até meu sofá, me sento e tomo um gole de
minha bebida, sentindo-a atravessar minha garganta com certa dificuldade,
pois aquela maldita proposta da Estela, ainda estava entalada.
Pensando bem, sinto que todas as minhas clientes me veem como um
pedaço de carne, o que de certa forma, não deixa de ser verdade. Porém,
sempre sou o mais profissional que consigo, por não gostar de misturar
trabalho com vida pessoal. Tanto é, que nunca disse meu verdadeiro nome a
elas. Todas me chamam de Thom, a única que sabia, era a Estela, mas foi um
deslize, do qual me proíbo não cometer mais.
Não vou mentir, dizendo que esperava uma proposta descabida
dessas, ainda mais, vindo da Estela, porque não cogitava. Ela era uma cliente
fiel e companheira. Achei que conhecia meu caráter, entretanto, me enganei.
Não queria tê-la tirado de minha lista dessa forma, porém, foi necessário.
Esse negócio de “estou te amando”, não me agradou, muito pelo contrário.
Estela não tem condições de me ter só para si, pois é casada e jamais
trocaria a galinha dos ovos de ouro dela por mim. E também, eu nunca me
submeteria aos seus caprichos, pois uma hora ou outra, o banana do marido
dela poderia descobrir toda essa palhaçada, do qual ela queria me impor, e
quem sairia mal na fita? Isso mesmo, EU. Justamente, para não correr o risco
disso acontecer, é que prefiro ser livre e fazer da minha vida o que bem
entender.
Diante dessa noite desastrosa, só tenho uma única certeza: Não quero
mais saber da Estela em minha vida, por mais que fora ela quem praticamente
me apresentou a este mundo do qual consigo dinheiro para sobreviver. Era
minha melhor cliente, mas outras virão e com certeza, irei conseguir repor o
dinheiro que ela me pagava.
Nem que eu tenha que me desdobrar para que isso aconteça, mas não
vou precisar dela.
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
— Estão dispensados! — Encerrei a reunião.
Já é final de tarde, e confesso que estou extremamente cansada, pois
foram mais de duas reuniões exaustivas hoje. Ainda bem, contratos muito
importantes foram fechados e algumas parcerias renovadas, o que me deixa
feliz, mesmo estando esgotada.
Sorrio em forma de despedida a todos que estavam participando da
reunião e eles se retiram da sala.
— Shirley, quero o relatório dessas reuniões na minha mesa na
segunda-feira pela manhã, tudo bem? — Peço, arrumando minha pasta.
— Sim, Sra. Garcez! — Responde prontamente.
— Obrigada! — Sorrio em sinal de agradecimento, enquanto pego
minha bolsa e pasta.
— Vai precisar de mais alguma coisa, Sra. Garcez? — Pergunta-me
ao sairmos pela porta da sala de reuniões.
— Não, pode ir embora. Vou só até minha sala salvar algumas
planilhas que deixei em aberto e desligar o computador. — Respondi.
— Ah, deixei um envelope que chegou no horário do almoço sobre
sua mesa. A senhora viu?
— Não. Do que se trata? — Indaguei curiosa, pois mal almocei,
cheguei na empresa e nem tive tempo de ir até minha sala.
— Não sei, Sra. Garcez. Não quis ser evasiva, portanto, não olhei. —
Diz sutilmente.
— Tudo bem, Shirley! Obrigada e tenha um ótimo final de semana.
— Ela agradeceu, desejou-me o mesmo e caminhou rumo ao elevador.
Segui até chegar em minha sala, fechei a porta atrás de mim e me
sentei atrás de minha mesa. Vi o envelope ao qual Shirley havia me
informado, mas nem me dei o trabalho de lê-lo, pois queria ir embora logo,
meus pés estão reclamando para se livrarem dos saltos. Salvei as planilhas
com rapidez e desliguei o computador, recolhendo o envelope de cor dourada
e o colocando em minha bolsa.
Saí dali e fui até o elevador. Aguardei por pouco tempo e logo estava
dentro dele, descendo até o subsolo, onde fica o estacionamento. Assim que
as portas se abriram, caminhei até meu carro e ao estar tudo ajustado, dei
partida e rumei para minha casa.
O trajeto não foi muito tranquilo, pois houve uma ou outra demora no
trânsito, mas, enfim, cheguei em casa. Ao entrar, Beth vem sorridente ao meu
encontro e me abraça, diz que deixou meu lanche pronto e a janta também.
Lhe agradeço e ela vai embora.
Às vezes, sinto um vazio tremendo dentro de mim, assim como
quando lhe observo ir embora. Parece que não tenho ninguém. Sei lá, uma
sensação esquisita e a cada dia que passa, só aumenta.
Caminho até meu quarto, me livro dos meus sapatos, jogo a bolsa
sobre a cama, juntamente com a pasta e vou direto para o banheiro, pois
preciso relaxar um pouco. Já de banho tomado e com uma sensação de leveza
sobre meu corpo, me enrolo no roupão e saio. Pesco o envelope dentro de
minha bolsa e desço as escadas, indo em direção a cozinha. Ainda beira às
dezoito horas, então, resolvo fazer apenas um lanche, no momento.
Beth deixou um sanduíche natural feito e suco de maracujá, confesso
que foi uma escolha maravilhosa da parte dela, estava realmente, precisando
de algo que me acalmasse um pouco. Assim que finalizei, fui para a sala de
estar e tentada a saber sobre o que havia dentro do envelope, me ajeitei em
meu sofá extremamente macio e o abri. Assim que retirei a folha de dentro,
que era brilhante, assim como o envelope, comecei a lê-lo e me vi honrada
pelas palavras que continham ali.
— Uau! Não acredito! É o convite oficial para a noite de lançamento
da revista. — Cobri a boca com a mão, pois estava admirada por saber que eu
seria o centro das atenções daquele evento e meu coração saltitou no peito,
bastante alegre. Sei que já tive olhares voltados para mim em muitas festas
que já compareci, mas esta é especial, porque além de dona da joalheria,
também sou referência como modelo na revista. — Isso é maravilhoso! —
Exclamei a mim mesma.
Logo me tornei séria e pensativa, pois teria de ter uma companhia,
mas quem? Meus pais não moram por aqui e o evento é no Domingo. Mesmo
que os convidasse, não viriam. Os conheço bem para afirmar isso.
Me levanto do sofá e caminho de um lado ao outro no meio da sala,
tentando encontrar uma solução para este meu pequeno problema, no
momento. Após alguns segundos pensando e depois de quase ter feito um
buraco no chão, olho o jornal que estava sobre a mesinha de centro e logo
uma ideia me vem à mente.
— Claro! Como não pensei nisso antes? — Questiono a mim mesma.
Recolho o jornal e volto a sentar-me no sofá macio. Vou até a página
dos classificados e analiso os anúncios ali. Enquanto verifico cada nome -
que creio ser apenas sugestivo, pois nunca revelam seus nomes verídicos -
meu subconsciente, trata de me importunar, dizendo-me que essa não está
sendo uma boa ideia, porém, o afastei para longe. Pode não ser um ilustre
plano, mas é o mais oportuno, no momento. Aliás, o que eu poderia fazer? O
lançamento é domingo, depois de amanhã e um acompanhante de luxo é tudo
que preciso, para não cometer o erro de aparecer sozinha neste evento onde a
estrela da noite serei eu.
Após verificar até da letra A até o T e não encontrar nenhuma
característica que me agradasse, penso em desistir, mas antes que pudesse
fazer isso, um nome que me chamou bastante atenção, entrou em meu campo
de visão. Tentada, li as informações contidas ali.
— Se procura um rapaz responsável, discreto e pontual, entre em
contato. Sou branco, cabelo curto, barba rala, corpo sarado e tenho um metro
e oitenta e cinco de altura. — Só de ler essas mínimas informações, já me
senti curiosa em saber mais sobre este homem. Para dizer a verdade, até o
imaginei. — Nossa, amei esse. — Seu nome é Thom e mais abaixo, tem um
número para contato.
Sem pensar duas vezes, subo as escadas, vou até meu quarto e busco
meu celular na bolsa. No momento que o encontro, me jogo sobre a cama e
com o jornal em mãos, disco o número que contém ali. Após dois toques, é
atendido.
— Alô? — Atende. Confesso que levei alguns minutos para me
recuperar, pois assim que ouvi sua voz, me senti levemente zonza, diante de
sua intensidade. É rouca e grave ao mesmo tempo.
Isso não é bom! — Meu subconsciente me alerta, mas o afastei para
longe, voltando a ligação.
— Oi, boa noite! — Respondo cordialmente e continuo — Estou
ligando, porque necessito do seu serviço como acompanhante. Se chama
Thom, não é isso? — Vou direto ao assunto, pois odeio enrolar, porém, sei
que fui idiota em falar “preciso do seu serviço como acompanhante”. Qual
outro serviço seria? Bufo contrariada comigo mesma.
— Boa noite! Certo. Como se chama? — Sua voz continua sendo um
enorme problema para mim.
— Karolina Garcez. — Respondo de imediato, não querendo
demonstrar admiração através de minha voz.
— Senhorita Garcez! — Exclama, parece ter gostado do meu
sobrenome. Ou não. — O que exatamente, necessita de mim? — Sua voz saiu
carregada de luxúria, porém, tratei logo de espantar meus pensamentos
maliciosos, diante dessa constatação.
— Apenas que me acompanhe, pois preciso ter um par ao meu lado,
na festa de lançamento de uma revista muito importante pra mim. Nada mais
que isso. Está de acordo? — Indago.
— Perfeitamente, Senhorita Garcez! — Fala em um tom tranquilo. —
Bem, pelo seu sobrenome, acredito que seja a primeira vez que recorre a
mim, certo? — Especula.
— Sim, a primeira vez. — Digo.
— Então, agradeço pelo contato e confiança. Necessito que me passe
a data, endereço do local e horário, do qual nos encontraremos, pois preciso
anotar em minha agenda, para que não me perca, diante de meus outros
compromissos. — Uau! Pelo visto, o homem além das características citadas
no jornal, ainda é organizado. Muito bom! Penso.
— Só tem um pequeno problema… — Ponderei. — O evento será
depois de amanhã, domingo, pra ser mais exata. Sei que está em cima da
hora, mas…
Antes que pudesse terminar de falar, ele me interrompeu.
— Não se preocupe, Senhorita Garcez. Isso não é problema nenhum
para mim. — Tratou de me deixar tranquila e confesso que conseguiu. Ufa!
— Tudo bem. Muito obrigada! Anote aí, então. — Passei o endereço
do local e horário para ele, que anotou atentamente, pelo menos pareceu no
telefone. Aproveitei e já lhe questionei o valor, coisa que não me surpreendi
ao saber, pois sei que esses acompanhantes de luxo são caríssimos, porém,
não tive outra alternativa.
— Estarei lá, conforme o combinado. Até breve. — Ele diz e antes
que pudesse respondê-lo, a linha ficou muda.
— Cretino. — Praguejo ao constatar que a ligação havia sido
encerrada.
Coloco meu celular sobre o criado mudo ao lado de minha cama e
volto a me deitar, pensando na sua voz grave e desejando que ele seja um
homem tão bem apresentável, quanto suas características contidas no jornal e
que não me forneceu nenhuma foto. O me deixa receosa.
Optei por dormir sem jantar, afinal, havia feito um lanche a pouco
tempo e estou completamente sem fome. Só de pensar que esse evento já é no
domingo, todo o meu corpo estremece. Pois é difícil ser dona de uma
joalheria e me imaginar, sendo destaque numa revista importante com as
peças da coleção deste mês e ainda ser uma referência para outras mulheres
deste país. Confesso que é um tanto quanto desesperador, mas sei que vou
conseguir agradar a todos.
Acordo zonza de sono, mas acabei vencendo isso e fui direto para
meu banheiro. Tomei um banho maravilhoso, fiz minhas higienes matinais e
ao terminar, saio dali. Peguei meu celular e constatei que já passavam das dez
horas e notei que estava realmente cansada, pois apaguei na noite anterior e
nem vi mais nada.
Vou até meu closet e escolho um vestido soltinho, pois hoje passarei o
dia em casa, então, o máximo que farei é ir até meu escritório e revisar alguns
papéis referentes a empresa. Já pronta, desço as escadas e na cozinha, resolvo
preparar uma torrada. Como acompanhada do suco de maracujá que Beth
havia feito no dia anterior e sentada à mesa, me pego pensativa sobre o tal
rapaz que me acompanhará no evento de amanhã.
Só estou um pouco insegura de ser deixada a ver navios, caso ele não
apareça. Porém, tratei logo de tirar isso da minha cabeça, pois me deu sua
palavra de que estaria por lá no horário marcado. Ao finalizar meu desjejum,
subo para o meu quarto na tentativa de aniquilar da minha mente, o
pensamento de querer conhecê-lo, antes de nosso devido encontro amanhã.
Porém, ao me deitar em minha cama, essa ideia continua impregnada em
minha mente e parece não querer me deixar.
— Sei que não vou sossegar, enquanto não ligar pra ele e perguntar se
posso conhecê-lo antes. — Digo a mim mesma em tom de frustração, assim
me arrasto sobre a cama até o criado-mudo ao lado e pesco meu celular,
colocando para chamar, assim que identifico o último número que havia
ligado ontem à noite: O de Thom.
— Bom dia! — Ele atendeu educadamente e mais uma vez, sua voz
me causou um rebuliço por dentro.
— Bom dia, Thom! — Saúdo-o. — É a Karolina Garcez. — Me
identifico.
— A que devo sua ligação, Senhorita Garcez? Alguma observação
para me fazer? — Pergunta com sua voz grave e que soa extremamente sexy.
— Na verdade, não é bem uma observação, mas me recordei de que
eu sequer tenho uma foto sua... Como vou lhe reconhecer amanhã, no
evento? — Indago.
— Está querendo propor de nos vermos antes do evento de amanhã,
Senhorita Garcez? — Questiona.
— Deu bandeira, Karolina e acho que ele já deve ter percebido sua
curiosidade excessiva em conhecê-lo. — Meu subconsciente, volta a me
importunar e não lhe dou atenção.
— Bom… se você aceitar, me sentirei muito mais segura amanhã, ao
revê-lo. — Tento soar formalmente.
— Isso é contra minha maneira de agir. Não costumo me encontrar
com minhas clientes antes do dia e hora combinada. Todas me conhecem,
apenas no momento do encontro, Senhorita Garcez. — Diz impenetrável.

É o quê? Como ele me nega um simples pedido como esse? Isso é


surreal. Ninguém nunca me negou nada assim, todos sempre quiseram me
agradar, mas pelo visto, o Thom não se preocupa com isso.
— Poderia abrir uma pequena exceção? Prometo que isso não sairá
daqui. — Insisto, tentando convencê-lo.
— Infelizmente, não há exceções, Senhorita Garcez. Todas que
contratam o serviço, só podem me conhecer na hora. É uma regra minha. —
Expõe irredutível. E isso me irrita.
— Tudo bem. — Tento soar calma.
— Não se preocupe, estarei lá, amanhã. No lugar e horário marcado.
Jamais deixei de cumprir um compromisso e garanto que o seu não estará
fora disso. — Profere mais irritante ainda.
Ok! Já vi que fui derrotada. Só me resta engolir essa.
— Bem, desculpe o incomodo. Nos veremos amanhã, então. — Falei
e desliguei o telefone, impedindo-o de me responder.
Frustração. É isso que me define no momento. Ninguém nunca teve
coragem de me negar nada e esse tal Thom teve. Mas ele que me aguarde
amanhã, pois vai se arrepender de ter negado algo a Karolina Garcez.
Neste instante, encontro-me olhando minha imagem refletida no
espelho. Estou satisfeita com o resultado. Passei o dia no salão, onde pude
fazer as unhas e os cabelos. Em seguida, passei numa loja sofisticada e
escolhi um vestido longo na cor vermelha, de alças finas e com um decote
nas costas. É realmente lindo. Confesso que me olhando assim, fico
imaginando o que meu acompanhante pensará, mas também, admito que
estou muito curiosa para conhecê-lo. Já me passaram mil e uma formas pela
cabeça de como ele deve ser, mas na realidade, só saberei ao chegar na festa
de lançamento da revista.
Ansiosa, pego minha bolsinha com os pertences que irei necessitar e
que já havia colocado dentro, dou mais uma rápida olhada no espelho e saio
pela porta do quarto. Desço e sigo até os portões de minha casa, cumprimento
o segurança Diego, e entro no carro que Júlio irá me levar até a festa. Hoje
ele será meu motorista temporário. Confesso que não gosto que dirijam para
mim, porém, a ocasião exige. Afinal, tenho que chegar ao evento em alta
classe.
Nosso percurso é rápido. Chego na festa e como combinado, fico
esperando meu acompanhante. Olho de um lado ao outro, depois de aguardar
por um tempo e ao constatar o horário, vejo que ele está cinco minutos
atrasado. Bufo nervosa, pensando que serei deixada a ver navios, mas assim
que finalizo este meu pensamento nada feliz, ouço meu nome ser chamado.
— Senhorita Garcez? — Sua voz é grave e intensa. Imediatamente,
sou arrebata por ela, mas fecho meus olhos ainda de costas para ele e respiro
fundo, mantendo minha postura intacta. Sendo assim, logo me viro em sua
direção, esbanjando um sorriso no rosto.
Mas admito que nada havia me preparado para encontrar o homem
lindo a minha frente. Uau! Penso. Se esse for o Thom, estarei perdida esta
noite, pois esbanja um ar sedutor incondicional. Não serei hipócrita em dizer
que não pensei que ele fosse bem elegante. Porém, aparenta ser muito mais
em carne e osso, melhor ainda, diante dos meus olhos.
— Sim, sou eu! E você? — Respondo, após deixar minhas divagações
e observações de lado. O questionei em seguida, com um olhar curioso.
— Ah, sou Thom. Prazer! — Aproximou-se, deixando a pequena
distância que existia entre nós, minúscula. Tomou minha mão para si e
olhando fixamente em meus olhos, depositou um beijo singelo sobre seu
dorso.
Seus olhos negros e aqueles lábios desejosos, me deixaram
completamente sem chão. Sem graça, diante de seu gesto educado, mas bem
pretensioso, dei-lhe um meio sorriso e assim que se afastou, recolhi minha
mão com rapidez e passei-a pelo meu pescoço, tentando em vão, apaziguar o
nó que havia se formado em minha garganta. Lógico que não funcionou.
— Costuma se atrasar em seus compromissos? — Pergunto séria,
querendo que ele não perceba o quanto havia me afetado, mas também, por
querer mudar um pouco o rumo que as coisas estavam tomando entre nós
dois.
— Me desculpe, Senhorita Garcez! O pneu do meu carro furou no
meio do caminho, acabei tendo que acionar a seguradora e pedir um táxi. E
não, não sou de não honrar com meus compromissos, muitos menos, me
atrasar. Só que imprevistos acontecem. — Sua explicação foi sútil e acabou
me fazendo encolher por dentro, pois me senti um pouco rude, diante de
minha insinuação. Ele sorriu, ao ver que fiquei silenciosa e o analisava. — Se
preferir, podemos entrar. — Sugeriu, tirando-me de meus pensamentos.
— Claro! Mas antes, faremos uma pausa para as fotos. Tem algum
problema para você? — Pergunto.
— Problema nenhum, Senhorita Garcez. Na verdade, estarei ao seu
dispor essa noite. Então, faça o que bem entender de mim. — Sua resposta
me soa com duplo sentido e ele dá um sorriso sacana, o que me faz quase ter
uma parada cardíaca.
Precisava ser tão direto? Aff!
— Então, vamos! — Antes que darmos algum passo adiante, parei. —
Thom, não precisa me chamar de Senhorita Garcez, apenas Karolina, por
favor! Me sentirei mais à vontade se me tratar dessa forma. — Sorri para
ele.
Quando menos esperei, Thom descansou sua mão direita no meio de
minhas costas, onde havia o decote e que estava nua, fazendo com que uma
eletricidade transpassasse por todo meu corpo. Estagnei no lugar, saindo de
meu transe, assim que ouvi sua resposta.
— Como preferir, Karolina! Hoje estou aqui para deixá-la
completamente à vontade. — Ainda tentando procurar meu cérebro, pois
tinha certeza que o havia perdido em algum canto — que não sabia onde —
forcei minhas pernas a caminharem, mesmo sendo uma tortura ter sua mão
sobre minha pele desnuda.
Logo na entrada, fomos obrigados a pararmos no tapete vermelho que
nos levaria para dentro da festa, pois uma chuva de flashes acabam de ser
disparados sobre nós e fazemos algumas poses sorridentes para as fotos.
Todos devem ter se surpreendido por eu estar com uma companhia, afinal,
nunca vou a qualquer evento acompanhada por um homem, sempre é com a
Shirley em meu encalço, mas dessa vez, não quis fazer isso com ela. Tanto é,
que nem mencionei.
Na última foto, Thom, envolveu sua mão, que estava no meio de
minhas costas, em minha cintura, apertando-a de leve, o que me causou um
fogo alastrador por dentro. Mas não querendo perder minha pose altiva,
descansei minhas mãos, uma sobre a outra em seu ombro e fiquei de lado,
sorrindo alegremente para a imagem que seria tirada de nós. Assim que os
flashes foram disparados, acenei em forma de agradecimento e nos
colocamos a caminhar. Já na entrada do espaço da festa, mais uma vez fomos
abordados pelo fotógrafo responsável pelo site da revista pedindo que
pudesse registrar aquele momento. Thom concordou de imediato, voltando a
tomar minha cintura com certa posse, meio desajeitada, consegui sorrir e fiz
uma pose elegante ao seu lado. Em seguida, nos liberou e tratei de manter
uma curta distância entre mim e Thom, afinal, estava cada vez mais inebriada
pelo seu modo viril.
Já degustando um belo champanhe e alguns petiscos deliciosos, que
estavam sendo servidos em nossa mesa, conversávamos abertamente - até
mais do que eu esperava, para ser mais exata - percebi que Thom era bem
animado, porém contido, pois não falava muito sobre si, mas era invasivo
quando se tratava de mim, querendo saber mais sobre minha vida. Falei
apenas o essencial, sobre a empresa e como consegui o reconhecimento que
tenho hoje em dia. Depois de ter falado sobre isso, ele sorriu meio sem graça
e me parabenizou por eu ter tanta garra e correr atrás do que verdadeiramente
almejava para minha vida, e também, deixou claro sua admiração em ver que
eu era feliz e gostava do que escolhi fazer. Como não gosto de especulações,
não questionei o fio de tristeza que vi atravessar seu olhar, apenas continuei
desfrutando de sua companhia, o que estava me distraindo bastante.
Em um dado momento, nossas atenções são todas voltadas para o
pequeno palco que tem no salão, onde Kaio e Ruan falam sobre o verdadeiro
significado do lançamento da revista e qual o verdadeiro propósito de terem
escolhido a mim, para ser fotografada diante da minha própria coleção de
joias. Ao ouvi-los, me pego emocionada por ter conseguido me sair bem e é
quando sou convidada a me juntar a eles. Assim que me ponho a caminhar
para longe de minha mesa, uma salva de palmas preenche o salão e me sinto
lisonjeada por isso.
— Boa noite, senhoras e senhores! Primeiramente, quero agradecer a
todos pelo reconhecimento de que fiz um belo trabalho diante das câmeras,
pois confesso que posar não é meu forte. — Alguns sorriem e eu também. —
Kaio e Ruan, foi uma honra ter recebido esse convite ilustre, como modelo,
para mostrar a coleção da Joalheria Garcez. O que só me enche ainda mais de
orgulho, porque amo o que faço e ver que está rendendo bons frutos, só
fortalece cada vez mais meu pensamento de que todo esforço para fazer
aquilo que verdadeiramente se ama, vale muito a pena. Enfim, obrigada pela
presença de todos e curtam bastante a festa, pois está só começando.
— Com certeza! Nós que agradecemos por ter topado, Karolina
Garcez. Obrigado! — Sou envolvida por um abraço do Kaio, em seguida,
recebo um do Ruan, que ainda aproveita para elogiar-me, deixando-me um
pouco sem jeito. — Mais uma salva de palmas para nossa grande estrela da
noite, por favor! — Ruan pede. E mais palmas são ouvidas, assim que desço
os pequenos degraus do palco, voltando para minha mesa.
Ao tomar meu assento a mesa, as fotos que tirei para a revista,
começam a ser exibidas num grande telão. Confesso que fico orgulhosa ao
ver cada imagem com as caras e bocas que fiz diante das lentes. Como se isso
não bastasse, logo é mostrada a que eu e Thom tiramos na entrada do salão,
fazendo-me quase engasgar com o gole que havia acabado de dar em meu
champanhe. A imagem demonstrava o quanto formávamos um casal lindo, ao
mesmo tempo, Thom me direcionou um olhar enigmático, e eu nem tinha
percebido.
— Ficaram perfeitas as fotos. Deveria investir na carreira de modelo
também, não acha? — Sorrio diante de seu elogio.
— Não deve estar falando sério! — Respondo irônica.
— Por que não? Você é bonita e tem o que uma modelo precisa... um
corpo escultural. — Suas palavras soam maliciosas, mas dou de ombros.
— A correria do meu dia a dia não me permite isso. — Respondo
firme. — E nunca é bom, deixar o certo pelo duvidoso. — Completei.
— Talvez seja. — Fala meio incerto.
Depois disso, não trocamos mais nenhuma palavra. A festa prosseguiu
e quando me vi entediada e já com uma vontade imensa de ir embora, Kaio
veio até nossa mesa e de forma educada, pediu que desse uma entrevista
coletiva à imprensa que estava ali para me fazer algumas perguntas. Respondi
que sim e chamei por Thom, após me pedir que o acompanhasse. Ele fez
como solicitei. Assim que chegamos em uma sala reservada, que ficava um
pouco distante do salão que estava ocorrendo a festa, fomos instruídos a
sentarmos em uma mesa que continham microfones, onde poderíamos
responder e logo deram início a entrevista. Eram poucos repórteres, apenas de
imprensa privilegiada pela revista. Kaio sentou-se do meu lado direito.
— Primeiro, queremos agradecê-la por humildemente, nos conceder
essa entrevista e parabenizá-la pela excelente desenvoltura nas fotos. Sua
beleza contribuiu bem para isso. — Uma moça muito bonita disse-me.
— Obrigada! — Agradeço diante do microfone.
— Disponha. Mas como foi inverter as profissões? Ser modelo da
revista que apresentaria o lançamento dessa sua nova coleção de joias? —
Pergunta.
— Confesso que de início, assim que o Kaio e o Ruan me
convidaram, achei uma loucura. — Todos sorriem, inclusive o Kaio ao meu
lado. — Mas o mais difícil é termos que receber e obedecer às ordens, porém,
tudo torna-se ainda mais complicado quando o nervosismo ataca. Tirando
isso, não tenho o que reclamar, pois o Rodrigo juntamente com sua equipe
soube me deixar bem à vontade. — Respondo.
Agora o microfone é passado para um repórter. Sorrio e aguardo sua
pergunta.
— Boa noite! Sei que é a estrela da noite, mas foi impossível não
notar a presença do seu acompanhante. É um alguém especial? — Sua
especulação me é lançada como uma bomba, mas mantenho meu sorriso
intacto. Antes de respondê-lo, observo Thom um pouco nervoso ao meu lado,
pois deu para ver que passou a mão pelo pescoço.
— Thom é um amigo, só posso dizer isso. — Minto e dou o assunto
como encerrado em seguida.
— Kaio, podemos encerrar? — Questiono e pelo meu semblante, ele
deve ter percebido que eu já estava me sentindo descontente e entediada com
as perguntas dos repórteres. Ele me respondeu que sim e me levantei dali, o
agradecendo. Peguei na mão de Thom e o puxei para fora dali. Eu odiava
entrevistas e não sei porque concordei em dar uma hoje. Frustração me
consome.
Assim que chegamos fora daquela sala, me voltei para Thom que
parecia inerte com alguma coisa. Soltei sua mão e parei abruptamente. Foi
então, que ele também interrompeu seus passos e me olhou.
— Sobre a saia justa que o coloquei lá dentro… me desculpe. Jamais
imaginei que… — Ele me interrompeu.
— Por que está se preocupando com isso? — Perguntou curioso.
Cruzei meus braços.
— Percebi que ficou nervoso diante da pergunta do repórter. Por
acaso… — Fui interrompida mais uma vez.
— Acho que deve ter imaginado coisas, Karolina. — Desdenhou.
É o que? Eu estava furiosa com ele, mas preferia morrer a ter que
demonstrar isso.
— Tudo bem, então. — Dei a nossa conversa por encerrada e voltei a
caminhar para o salão, que agora era preenchido pelo som alto de uma
música eletrônica.
Cheguei até lá e nem me dei o trabalho de olhar para trás, pois havia
sido uma tola em me preocupar com Thom. Prossegui até um dos garçons
que passavam por ali e peguei uma taça de champanhe de sua bandeja, o
agradeci e beberiquei um pouco da bebida o mais rápido que consegui,
porque estava precisando de algo pra me refrescar e refrear o calor que sentia
só de estar perto de Thom.
— Não está mais acompanhada? — Questionou. Assim que me virei a
fim de me certificar quem era o dono daquela voz, me surpreendi ao ver Ruan
sorrindo para mim.
Bebi mais um pouco de meu champanhe antes de respondê-lo,
enquanto varria o salão com meu olhar à procura daquele cretino, mas não sei
o porquê, acabei não me surpreendendo em não o encontrar por ali.
— Parece-me que sim. — Sorri docemente.
— É até deselegante deixar uma dama tão linda como você sozinha.
Se me permite, gostaria de me dar a honra de uma dança? Prometo não ser
insistente, caso detecte que sou péssimo dançarino. — Definitivamente, sorri
de sua gracinha. Ele até me pareceu um homem sensato e respeitoso.
— Aceito. Mas digo o mesmo, caso veja que não sou boa nos passos
de dança. — Ressaltei.
— Algo me diz que isso é pura modéstia de sua parte. — Sorri
agraciada, assim que ele se aproximou e tocou o meio de minhas costas. O
engraçado é que não senti nada, comparado a eletricidade que havia
percorrido meu corpo, quando Thom tocou-a.
Tratei de beber logo o restante de minha bebida e no instante que
terminei, depositei minha taça na bandeja de um dos garçons que passou por
mim e logo estávamos no meio do salão, onde alguns casais já começavam a
se juntar por ali, ao som de uma música lenta em inglês que começou a tocar.
Ruan segurou minha mão direita com a sua esquerda um pouco suspensa no
ar, enquanto juntou nossos corpos, envolvendo minha cintura com precisão.
Descansei minha mão esquerda sobre seu ombro e fui contemplada pelo seu
cheiro amadeirado. Seu rosto foi encostado no meu e sorri contente, estava
gostando.
Nossos passos estavam em perfeita sincronia e ao contrário do que
havia me falado, dançava muito bem. Em um dado momento, ele se afastou e
me girou, o que infelizmente, me fez ver Thom dançando com outra mulher.
Ele sorria alegre, diferente de quando esteve em minha presença. Um pouco
desconcertada, fui envolvida pelos braços de Ruan novamente, fazendo-me
voltar a realidade. Sei que não deveria me importar, mas acima de tudo, eu
havia lhe pagado para estar ao meu lado e não ter me abandonado como tinha
feito. Tá certo que deixei-o para trás, mas isso não justificava tamanha
ousadia.
A música logo cessou, o que me fez agradecer sorridente a Ruan pela
dança maravilhosa, mas ele pediu que lhe concedesse mais uma dança e
aceitei. A verdade, é que queria ir logo embora e nunca mais ver a cara
daquele cretino do Thom na minha frente, só que não lhe daria o gostinho de
demonstrar minha insatisfação, diante de seu trabalho mixuruca. Karolina
Garcez nunca foi assim e não seria agora que ela se tornaria. Aproveitei para
desfrutar da companhia do Ruan, o que me fez descontrair, até esquecer que
Thom existia por ali. Sorrimos à beça e depois de terminar a música, nos
sentamos na mesa que tinha estado antes.
Estávamos numa conversa bastante animada, até que Thom resolveu
chegar e estragar o clima agradável que desfrutávamos.
— Com licença, mas acho que devo ter a honra de dançar com a
minha acompanhante, não acha? — Ele disse irônico. Confesso que estou a
ponto de explodir com esse homem. Estou me controlando, afinal, o que
todos vão pensar de Karolina Garcez, dando um verdadeiro escândalo na
própria festa?
Calma Karolina, logo poderá colocar esse folgado em seu devido
lugar. — Digo a mim mesma, respirando fundo.
— Claro! Creio que o Ruan não irá se incomodar, não é mesmo?
Afinal de contas, ele me fez companhia enquanto você estava distraído por aí.
— Alfineto.
— Me desculpe, mas agora sou todo seu. Se me der licença
cavalheiro, irei dançar com a minha bela dama. — Avisou.
Bufei ao perceber o quão cínico Thom era, mas agora, garanto que
vou descontar com juros sua falta de profissionalismo nesta noite.
— Você não está cumprindo com o que acordamos. — Afirmei ao
estarmos no meio do salão.
— É claro que estou! Acaso não está me vendo aqui com você? —
Responde totalmente petulante. O que só aumenta minha irritação.
— Não me lembro de te pagar para ir dançar com aquela mulher
azeda. — Revido com ar de insatisfação.
— Está com ciúmes, Senhorita Garcez? — Sorrio com desdém.
— Ciúmes? — Gargalho. — Não me faça rir, Thom! — Faço pouco
caso. — Ciúmes de um desconhecido que está sendo pago pra me fazer
companhia? Nunca! — Digo com altivez.
Percebo seu olhar mudar e sem nem um aviso solta-me, deixando-me
sozinha em meio ao salão, onde dançávamos. Recomponho minha postura e
vou atrás dele.
Maldita hora que tive a ideia de contratá-lo. Só podia estar louca!
— Posso saber o motivo pra você me deixar plantada no meio do
salão? — Exigi uma explicação ao alcançá-lo.
— Pelo mesmo motivo de que a cada segundo você faz questão de me
lembrar que sou pago para te acompanhar esta noite. — Diz gélido, nenhum
pouco contente com meu comentário anterior.
Não posso acreditar que ele esteja chateado por isso. Eu estou
pagando, sim. Era só o que me faltava agora!
— Recapitulando, então… você está irritado, porque eu simplesmente
te disse a verdade? — Indago, tentando compreendê-lo.
— Não gosto que me tratem dessa forma, Karolina. Sei qual é meu
devido lugar, não precisa me lembrar sobre isso. — Confesso que acabei me
sentindo mal agora.
— Vamos voltar e continuar de onde paramos a dança. Admito que
minha cota de paciência com você essa noite já acabou, Thom. — Não dou o
braço a torcer, mas tento mudar de assunto.
— Está bem, como quiser, Karolina. — Profere com um olhar
distante.
Talvez eu tenha sido dura demais com ele.
Voltamos para o salão e continuamos a dançar. Thom não me dirigiu
mais a palavra e parece que iríamos continuar assim a noite toda. Ótimo voto
de silêncio!
Pouco tempo depois, demos nossa dança por encerrada e voltamos
para nossa mesa, não encontrei mais o Ruan, talvez tivesse ido embora. A
noite passou rápido, dei graças a Deus pois estava entediada com o silêncio
sepulcral entre Thom e eu. Logo me chamaram de volta ao palco. No final, eu
ainda tinha algumas declarações a dar para a imprensa coletiva.
— Espero que todos tenham gostado da noite. Para mim foi uma
honra poder contar com a presença de todos. Muito obrigada e até um
próximo evento. — Digo ao estar no palco e encerro com poucas palavras.
Na verdade, se dependesse de mim já estaria em casa. Porém, ainda tenho
outra entrevista cansativa pela frente.
Desço e vou ao encontro de Thom. Não faz mais sentido ele continuar
aqui, afinal, já cumpriu com o seu dever.
— Você já está liberado, Thom. Agora terei apenas de dar uma
palavrinha com os repórteres, não tem porque continuar aqui. — Profiro um
tanto exausta, meus saltos estão me matando.
— Não que seja da minha conta, mas você não me parece estar em
condições para falar com inúmeros repórteres. Deveria remarcar essa coletiva
e ir pra casa. — Ele sugere sério.
— Eu não posso desmarcar meus compromissos assim, Thom. Tenho
essa obrigação a cumprir com todos. Mas agradeço pela preocupação. — Falo
sincera.
Nos despedimos e Thom vai embora. Me arrasto até o espaço onde
será realizada minha entrevista com a coletiva de imprensa e rogo aos céus
que seja o mais rápido possível, pois estou louca para ir para casa.
— Boa noite a todos. — Digo sorrindo, porém, exausta por dentro.
Todos me respondem e faço sinal para que comecem as perguntas.
— A senhora estreou a própria campanha da sua joalheria como
modelo das peças em destaque deste mês. Como se sentiu sendo o centro das
atenções e com olhares voltados em dobro para si? — A moça soou bem-
educada em sua pergunta.
— Um sonho do qual nunca imaginei que poderia se concretizar. —
Respondo em poucas palavras, para não alongar muito a coletiva.
— E o rapaz que lhe acompanhou hoje, durante a noite, será que
finalmente o coração da poderosa CEO foi fisgado?
Sorrio divertida com a pergunta.
— Não. Era apenas um amigo. — Tento me convencer que o Thom
era só isso. Talvez nem eu mesma sei o que senti em sua presença. Só posso
afirmar que foi… diferente.
Cheguei em casa exausto daquele maldito evento. Sinceramente, não
sei onde estava com a cabeça quando aceitei ser acompanhante daquela
petulante. Se bem que eu adorei irritá-la. Foi bem divertido ver que não
gostou nem um pouco de eu ter dançado com outra mulher. No momento que
Karolina saiu na minha frente como se estivesse fugindo de algo e caminhou
até o salão, juro que respirei fundo pra não ir até seu alcance e prendê-la entre
meus braços, mas me contive e tentando achar uma distração, convidei a
primeira moça que vi para dançar.
Após tomar uma ducha relaxante, de lavar a alma, estou prestes a ir
dormir quando escuto o som da campainha. Franzo o cenho, achando
estranho. Só espero que não seja a Estela, minha cota de paciência já não
existe para ela.
Ao abrir a porta, dou de cara com uma caixa muito bem ornamentada
no chão. Como estou bem cansado, decidi abrir no dia seguinte e verificar o
que tem dentro.
Deixo a caixa sobre o sofá e vou até meu frigobar, me sirvo de um
copo de uísque e fico lembrando da deliciosa Karolina. Aquela mulher me
deixou fora de mim. Confesso que isso nunca aconteceu com cliente alguma,
pois só após alguns encontros que conseguiam toda minha atenção, mas com
ela foi bem diferente. Já ganhou meu olhar e admiração, desde o momento
que avistei-a de costas, assim que cheguei ao local do evento. Aquele vestido
com o decote nas costas. Hum… Só de pensar, meu pau ganhou vida. Uma
mulher e tanto, pena que não quis estender nossa noite. Uma pena mesmo.
Algo que odiei foi aquele cara que a chamou para dançar… Se me
lembro bem, Karolina o chamou de Ruan em algum momento. Ele achou que
eu deixaria o caminho livre… É ruim, hein!
Sou tirado de meus devaneios ao ouvir o toque de meu celular e
adivinhem? É a deliciosa da Karolina. Só de pronunciar seu nome em mente,
meu pau pulsou na cueca, o que me fez dar um sorriso de lado. Talvez ela
tenha visto que foi uma besteira ter me dispensado e queira estender a noite.
Confesso que eu ia correndo até ela. Nossa!
— Olá, Senhorita Garcez! A que devo a honra da sua ligação a uma
hora dessas? — Perguntei divertido e malicioso ao mesmo tempo, enquanto
beberico um pouco de meu uísque, indo de encontro ao meu sofá e me ajeito
nele.
— Apenas Karolina, por favor! — Pediu.
— Desculpe-me.
— Tudo bem. Liguei apenas para lhe agradecer e pedir para o caso de
algum jornalista lhe procurar, não dê nenhuma declaração a não ser que
somos apenas amigos. — Seu tom de voz é sério.
— Não se preocupe, Karolina. Jamais direi ao jornal que você me
pagou e que sou um acompanhante de luxo, se é com isso que está
preocupada. — Alfinetei.
— Eu sei muito bem quem você é, querido. Só estou preocupada com
o que possam inventar ao nosso respeito. — Sorrio malicioso.
— Não se preocupe! Não sou como certas pessoas que saem falando
sem pensar se vão ou não magoar as outras. — Desabafo, pois não gostei de
suas palavras lá no evento. Confesso que me senti um lixo e não ia perder a
oportunidade de lhe falar sobre isso.
A linha fica muda e pelo visto, ela entendeu bem o que eu quis dizer.
— Ainda está na linha, Karolina? — Indaguei. — Sabe, já está tarde e
eu gostaria de me recolher o quanto antes. Ou então… serei obrigado a cobrar
por hora extra. — Brinco só para ver como será sua reação.
— Escuta aqui, não ouse vir com essa história de hora extra,
entendeu? Seu valor já foi um absurdo, que por sinal, fora devidamente pago.
Portanto, não te devo mais nada, querido. Estamos quites! — Sorrio em
silêncio, após sua explosão.
— Hum… Ainda fala. Achei que o gato tinha comido a sua
maravilhosa e afiada língua. — Digo malicioso.
— Se o gato comeu ou não, creio eu que não é da sua conta! Não sei
porque eu perco o meu tempo com você. Enfim, é isso. Até nunca mais. —
Diz claramente irritada.
— Jamais diga “nunca”, essa palavra é muito forte, Karolina. E o
nunca pode te surpreender. — Falei e encerrei a ligação em seguida, antes
mesmo que ela me respondesse.
Termino de tomar meu copo de uísque e volto minha atenção para a
caixa sobre o sofá ao meu lado. Curioso, decidi abri-la, afinal, essa ligação da
Karolina me deixou extremamente duro, o que conseguiu esvair todo meu
sono.
Abro a caixa e me choco com o que vejo: um boneco com a cabeça
arrancada acompanhado de um bilhete. Droga! Isso é uma ameaça, mas de
quem? Paro de pensar e desdobro o bilhete.
“ Você mexeu com a pessoa errada, Thom. Prepare-se, porque vou
transformar sua vida num verdadeiro inferno. Se você não for meu, não será
de mais ninguém. ”
Está sem assinatura, mas infelizmente, não é preciso me esforçar
muito para perceber de quem se trata, é óbvio que é a Estela. Ela acha que
temerei suas ameaças baratas, só que está redondamente enganada. Dois
podem jogar esse jogo.
Corro escada acima, visto uma calça jeans, camiseta e calço um tênis.
Recolho minhas chaves, documentos necessários e sem pensar muito, saio de
casa. Hoje é domingo e sei muito bem onde irei encontrá-la. Como meu carro
está no concerto, ligo para um táxi que não demora muito.
Minutos mais tarde, chego ao clube e entro sem nenhum problema, já
que eu costumava frequentar aqui com a desmiolada da Estela. Hoje irei lhe
dá um breve ultimato e espero que isso a coloque em seu devido lugar, de
uma vez. Meus olhos varrem o local, a música alta está estridente, as luzes
piscantes, ofuscam um pouco minha visibilidade, mas logo lhe avisto de
costas próximo ao bar. Vou ao seu encontro, segurando-a pelo braço ao
alcançá-la. Ela se vira e me olha assustada.
— O que tem na merda dessa sua cabeça, Estela? Achou que iria me
ameaçar e eu ficaria quieto no meu canto amedrontado? — Praticamente
cuspi essas perguntas a ela.
— Me solte! — Pediu, ignorando minhas perguntas.
Sorrio amargo.
— Olha, vou te dar um breve aviso aqui. Porque ao contrário de ti,
tenho coragem o suficiente para vir até você e dizer-lhe face a face… —
Ponderei, enquanto ela continuou a me olhar com certo desdém. — Não
quero voltar a receber as suas malditas ameaças, me ouviu bem? —
Questionei, mas permaneceu em silêncio. — Senão, seu marido irá receber de
presente um lindo vídeo nosso, o que acha? — Estela puxou seu braço de
meu agarre, olhando para todos os cantos, parecia preocupada de alguém nos
ouvir.
— Está louco? — Sorrio vitorioso, pois finalmente consegui tocar em
seu ponto fraco. Cruzo meus braços e a observo preocupada. — Você não
seria capaz de fazer isso! — Desdenhou.
Sorriu despretensiosa.
— Pois me teste, Estela! — Bati a mão sobre o balcão de bebidas
furioso ao olhá-la nos olhos e vi seu sorriso debochado desaparecer de seu
rosto, dando lugar a uma expressão assustada. — Experimenta continuar com
isso pra você ver. Dois podem jogar esse jogo. Acredito que não me conhece
o suficiente para fazer tal afirmação. — Ralho irritado.
Ajeitei minha postura e saí de sua presença o mais rápido que
consegui, pois se continuasse a olhar para sua cara cínica, nem sei o que seria
capaz de fazer. A Estela consegue me irritar num grau exorbitante. Fico cada
vez mais preocupado de perder minha sã consciência diante da raiva que ela
me faz passar.
Fora do clube, pesquei meu celular no bolso, solicitei um táxi e me
informaram que não iriam demorar mandar um, onde me encontrava.
Enquanto aguardava, pensei uma coisa meio doida, até. Mas voltei a pegar
meu celular, olhei o que precisava na internet e assim que o táxi chegou,
passei o endereço a qual iria e relaxei no banco. Confesso que não sabia o
que daria isso, mas eu precisava tê-la. Nem que tivesse de me contentar com
apenas uma vez ou… ser escorraçado.
Assim que o táxi estacionou em frente aos portões verifiquei o
endereço no telefone e conferi se era ali mesmo. Ao constatar que sim, pago
o taxista, agradeço e desço do veículo. Me ponho a caminhar em direção a
residência e me pego deslumbrado pelo quão linda é. Não é pra menos, já que
a dona é um espetáculo.
— Boa noite! — Digo ao me aproximar dos portões e ver dois
homens apostos por ali, feito estátuas. Sei que são seguranças.
— Boa noite, senhor! O que deseja? — Pergunta sério.
— Avise a Karolina Garcez que o Thom está aqui, por favor! — Ele
acena positivo e o vejo levar seu dedo ao ouvido, deve ter alguma espécie de
aparelho ou um mini comunicador que o coloca em contato direto com ela.
Aguardo pelo que me pareceu anos, até que ele diz que minha entrada
foi liberada. Sorrio extasiado, pois não imaginava que Karolina me aceitaria
tão fácil em sua residência. Caminho tranquilo pelo caminho de pedras bem
ornamentado em meio a um gramado, seguido por um jardim que contém
lindas flores. O ar aqui é denso, muito bom.
No momento que subo os três degraus e fico de frente para a porta de
entrada, ela é aberta, me revelando uma Karolina com olhos avermelhados,
rosto meio inchado e sonolenta. Parecia ter sido acordada repentinamente.
Mas estava devidamente vestida com um vestido de tecido fino o que me
deixava muito para imaginar.
— Aconteceu algo do qual não poderia ter esperado para me ligar
amanhã? E como descobriu meu endereço? — Desferiu suas perguntas a
mim.
Sorrio descontraído.
— Não vai me convidar para entrar? — Indaguei mudando de
assunto. Sei que estou sendo impertinente.
— Entrar? Claro que não! Thom, você nem deveria ter vindo até aqui,
porque…
A interrompi.
— Porque os paparazzi podem nos fotografar juntos e acabarem
descobrindo que estava acompanhada por um acompanhante de luxo na sua
festa monumental? Está com vergonha de mim? — Ela estreitou seus olhos
esverdeados em minha direção, enquanto sustentava meu olhar.
— Deixa de ser ridículo, Thom! Vergonha de ti? — Soltou um riso
amargo e resmungou algo que não entendi.
— O que disse? — Questionei.
— Nada! Agora, pode me falar logo o que quer? Eu estava dormindo
e você acabou atrapalhando meu sono. Ainda estou mega cansada do evento.
— Bocejou, claramente sonolenta e cruzou os braços recostando no batente
da porta, evitando que eu entrasse.
Escorei o antebraço esquerdo na porta, um pouco acima de sua cabeça
e nos deixei cara a cara. Dava até pra sentir sua respiração mais ofegante que
o normal, o que me fez olhar profundamente naqueles olhos esverdeados.
Confesso que meu pau retesou na cueca. Eu queria essa mulher!
— Por que faz de tudo pra me evitar? — Provoquei.
Ela sorriu divertida, o que me fez encarar seus dentes bem alinhados e
brancos. Seus lábios eram rosados e muito convidativos. Isso só fez o desejo
que me corroía por dentro em tê-la em meus braços, aumentasse
drasticamente.
— Você me acorda e eu estou te evitando? Fala sério, Thom! —
Passou a mão nervosa pelos fios que haviam desprendido de trás da sua
orelha, os arrumando no mesmo lugar.
— Bom, já vi que não era nada de importante o que tinha pra falar, se
é que queria dizer alguma coisa, então, tenha uma excelente noite. — Assim
que ela se vira para entrar, sou rápido e enlaço sua cintura, grudando suas
costas em meu peitoral, o que faz meu pau saltar dentro de minha cueca.
— Me solte! — Resmungou com certa dificuldade e era visível, o
quanto seu corpo estava estremecido pelo meu toque. Ela queria isso, tanto
quanto eu. Tinha certeza disso!
— Tem certeza que quer isso, Karolina? — Indaguei baixinho com
minha boca próxima a sua orelha. Pude perceber que ela engoliu sua saliva
com certa dificuldade.
— Por que está fazendo isso? Um tipo de vingança pelas palavras que
te desferi lá no evento e que te magoaram? Não precisa…
Apertei sua cintura com força e friccionei meu membro duro de
encontro a sua bunda, o que lhe tirou um arfar baixo, mas muito excitante
para mim.
— Acha que isso é um tipo de vingança, Karolina? — Juntei em meus
dedos aos fios soltos que continham sobre sua nuca e trilhei algumas
mordidas ao estar livre.
— Ahhhh! — Ouvi seu gemido rouco.
— Me responda, Karolina. — Exigi, ainda dando pequenas mordidas
na lateral de seu pescoço. Seu perfume adocicado me fez ficar ainda mais
duro.
— Não… não acho. — Responde ofegante.
Voltei a apertar sua cintura, juntando ainda mais nossos corpos.
— Deliciosa! — Falei próximo a sua orelha após abandonar a lateral
de seu pescoço e sugar o lóbulo de sua orelha. Ela respirava com certa
dificuldade e era óbvio que me queria, mas precisava ouvir isso sair de sua
linda boquinha. — Diz que me quer o tanto quanto te quero, Karolina. —
Pedi.
Enquanto aguardava sua resposta, retirei o prendedor que me impedia
de enfiar meus dedos e enrolar seus fios entre eles e o fiz em seguida, dando
um puxão de leve, deixando seu pescoço ainda mais exposto para que minha
boca e língua explorasse.
— Ahhh! Sim, eu te quero, Thom! — Não era preciso ela dizer duas
vezes. Sorri vitorioso, em seguida mordi consideravelmente a lateral de seu
pescoço e a empurrei para dentro, fechando a porta atrás de mim.
Sem dar tempo para que ela pensasse muito ou desejasse se afastar de
mim, a virei para mim e rapidamente a encostei na porta, a que havia
fechado. Olhando-a dos pés à cabeça, umedeci meus lábios malicioso, pois
estava divinamente gostosa, porém, nada tinha me preparado para enxergar o
ardente desejo e luxúria que se encontravam presentes em seus olhos, assim
que os encarei. Notei sua respiração acelerada, era perceptível para nós dois
que respirar havia se tornado quase impossível, por causa do tesão que nos
englobava no momento, era quase palpável, eu diria.
— Sabe, eu te desejei, no instante que cheguei na frente daquele
evento. — Passei meu dedo indicador suavemente por sua bochecha, o que a
fez fechar os olhos. — Eu… — Fui impedido por ela e não pude concluir
meu pensamento.
— Cala essa boca, Thom! Me beija logo! — Repreendeu-me ao abrir
seus olhos. Enlaçou suas mãos macias em minha nuca e nossas bocas se
encontraram. E como foi delicioso!
Nossas línguas se chocaram no vão de nossas bocas e traçaram um
duelo entre elas, me fazendo aprofundar cada vez mais nosso beijo. Com
minhas mãos em sua cintura curvilínea, apertei-a fortemente o que me fez
tirar um grunhido ensandecido de Karolina enquanto nossos lábios se
esmagavam deliciosamente um contra o outro. Assim que me vi com uma
dificuldade enorme para puxar o oxigênio, afastei consideravelmente nossas
bocas e aspirei o ar com força e juntei nossas testas.
— Deliciosa! Seu beijo é mais saboroso do que imaginei. —
Confessei. Ouvi seu sorriso baixo e assim que me vi respirando com mais
facilidade, levei meu dedo indicador abaixo de seu queixo e ela encarou meus
olhos com os seus esverdeados.
Eu não conseguia entender, mas essa mulher me fascinava sem igual.
Não falei nada, apenas lhe encarei e deixei que o silêncio falasse por
nós. O desejo que nos embalava no momento, se tornava cada vez mais
presente. O tesão que estava nos corroendo por dentro e pedia libertação, se
propagava aos poucos e se tornava mais voraz. Querendo ou não, sentia uma
enorme necessidade desse nosso desejo se intensificar descontroladamente e
que perdurasse por toda noite.
Sentia extrema vontade de tornar este momento diferente de todos os
outros que tive com minhas clientes ou mulheres passadas da minha vida.
Karolina me fazia enxergar a química que estávamos tendo neste instante,
diferente.
— Onde fica seu quarto, Karolina? — Perguntei ao me aproximar de
seu ouvido com um tom baixo e rouco, em seguida, mordo o lóbulo de sua
orelha.
Ouvi seu gemido ensandecido.
— Subindo as escadas, primeira porta à direita. — Respondeu com
certa dificuldade, pois se encontrava mais ofegante que o normal.
Ao ouvir sua resposta, me afastei dela e sem deixar que ela pensasse
alguma coisa, já a peguei no colo rapidamente e subi os degraus para o andar
de cima, seguindo suas indicações anteriores. Incrivelmente, Karolina não
pestanejou e confesso que isso me deixou ainda mais duro para tê-la, mas não
antes de explorar seu corpo maravilhoso.
Confesso que nada havia me preparado para estar em um momento
como o qual está ocorrendo agora. Não vou mentir que Thom mexeu
diferentemente comigo, como nunca havia sido afetada por outro a um bom
tempo. Eu o desejei no instante que o vi, pois meu corpo reagiu ao seu
charme de imediato. No final do evento, o dispensei logo, porque não o tinha
contratado para fazermos sexo, era só para companhia que o tinha solicitado.
Entretanto, não nego que ao chegar em casa, tê-lo telefonado, ouvido aquela
voz sexy e sorriso capaz de derreter o gelo do polo norte, não tenha fechado
meus olhos e imaginado o que seu corpo e boca poderiam fazer ao meu.
De qualquer forma, neste instante me encontro aninhada em seus
braços contra seu peitoral rijo e lógico que estou mordendo meu lábio inferior
e encarando sua boca desejosa, enquanto um sorriso safado preenche seus
lábios. Eu sei que Thom já deve imaginar o que estou querendo com o modo
que o fito. Ouço a porta ser batida atrás dele ao entrarmos no quarto e logo
sou posta sobre meus pés, em seguida prensada pelo seu torso escultural,
contra a mesma.
Ele me encara com extrema luxúria em seus olhos, confesso que já
não estou me aguentado e então, envolvo meus dedos no tecido de sua
camiseta e o puxo contra mim. Logo sua boca ataca a minha com exatidão.
Nossas línguas batalham no vão dentro de nossas bocas, querendo provar
tudo uma da outra. Sinto meu clitóris pulsar freneticamente no meio de
minhas pernas e isso só aumenta, pois, sua mão envolve minhas nádegas de
repente, apertando-as, enquanto fricciona sua ereção acima um pouco de
minha virilha, por ele ser mais alto que eu.
— Deliciosa! — Sussurra em meu ouvido, ainda apertando meu
bumbum em suas mãos e corpo contra si, após deixar minha boca. — Fique
de costas pra mim, Karolina. — Pediu com extrema luxúria através de suas
palavras.
Sem dizer qualquer palavra, fiz como me pediu, apoiando minha mão
de encontro a porta. Eu respirava com dificuldade por não saber o que ele iria
fazer comigo, mas só de imaginar, podia sentir o quão encharcada minha
calcinha já estava.
Ele leva a mão até a barra do vestido que estou usando, o sobe, mas
aproveitando para acariciar a lateral do meu corpo, o que me faz morder o
lábio, para que um gemido rouco não escape de minha garganta e como seu
tecido é fino, logo é passado por minha cabeça, sendo jogado em um canto
qualquer do quarto.
— Nossa! — Ouço-o grunhir e confesso que sorri vitoriosa, por
mexer tanto com ele.
Meus cabelos que ele desprendeu no andar de baixo, foram
envolvidos em seus dedos e recebi um puxão leve, mas muito excitante,
enquanto recebi uma lambida seguida por uma mordida em minha orelha,
descendo para meu pescoço, até chegar na nuca, onde fez questão de dar um
pouco de atenção, mordendo e chupando, fazendo-me revirar os olhos pelo
tesão que estava aumentando, fora os arrepios que transpassava toda a
extensão do meu corpo. Thom era sensacional, conseguia me embriagar só
nas preliminares, imagine no ato em si. De repente suas mãos percorreram
para baixo, nas laterais de minhas costas, deixando um aperto por onde
trilhavam.
Pequenas mordidas e lambidas foram deixadas no meio de minhas
costas, até chegarem ao meu bumbum, o que me fez gemer em antecipação,
pois sentia seu hálito quente de encontro ali.
— Thom… — Balbuciei seu nome, excitada, mas não pude concluir,
pois logo recebi um tapa em meu bumbum. — Ahhhh. — O que me fez
gemer alto.
O senti morder cada banda da minha bunda e voltou a ficar altivo
atrás de mim. Espalmou suas mãos sobre as minhas que estavam contra a
porta e envolveu seus dedos nos meus, ficando próximo ao meu ouvido.
— Vou te dar muito prazer hoje, Karolina. Espero que esteja
preparada, porque não tenho hora para terminar contigo aqui. Você é uma
perdição. — Disse languido em meu ouvido, fazendo-me estremecer com seu
aviso. Apenas acenei em concordância, pois era incapaz de formular qualquer
palavra agora. — Deite-se na cama, retire sua calcinha e se toque para mim.
Tudo bem? — Acho que posso morrer neste exato momento. Senhor! Esse
homem está saindo-me, melhor que imaginei. Acenei novamente um
positivo.
Me virei e logo ele deu-me espaço para ir de encontro a minha cama.
Caminhei em sua direção e me arrastei até o meio dela, sentindo cada vez
mais o desejo de tê-lo, se propagar com força em meu interior. Retirei minha
calcinha e joguei-a para algum canto do quarto. Em seguida, lambi a ponta de
meus dedos, abri minhas pernas e os levei até minha carne inchada, sentia
pulsar ainda mais sob meu toque. Fiz tudo isso, olhando-o nos olhos,
enquanto ele permaneceu próximo a porta. Seu olhar era capaz de incendiar o
quarteirão do qual morava, era nítido que estava se segurando ao máximo
para não avançar de vez sobre mim e preencher-me totalmente.
— Porra, que delícia! — Praguejou com seus olhos sobre os
movimentos circulares que meus dedos faziam em meu clitóris. Confesso que
já sentia meu líquido escorrer de dentro de mim, pois estava muito excitada.
Sem esperar mais, o vi despir-se de modo sedutor para mim e
enquanto retirava cada peça, não abandonava meus olhos. Por fim, se livrou
de seus sapatos, abriu sua calça com pressa e a puxou para baixo junto com a
cueca, fazendo seu pau ficar exposto e eu salivei, aumentando mais os
movimentos de meus dedos sobre minha carne. Estava próxima de me
libertar.
— Não faça isso. Se gozar antes de minha boca estar sobre sua boceta
gostosa, a deixarei sem saber a sensação de ter meu pau enterrado em você.
— Gemi em meio a frustração ao ouvir suas palavras e diminui os
movimentos de meus dedos sobre meu clitóris.
— Então, vem, Thom. Confesso que não aguento mais esperar. Por
favor! — Pedi chorosa de desejo.
Ele sorriu malicioso, saiu do restante de sua calça e cueca que ainda
estavam a redor de seus pés e caminhou até mim. Ajoelhou sobre a cama na
altura de meu rosto, abaixou-se e tomou minha boca na sua.
— Vou te dar prazer ao mesmo tempo que me dará, tudo bem? —
Indagou-me ao deixar meus lábios.
— Sim, Thom. Por favor! — Choraminguei desejosa.
Vi que ele se deitou ao meu lado.
— Traga sua boceta deliciosa até aqui. Quero chupá-la, enquanto a
sinto enterrar meu pau em sua boca, Karolina. — Ele queria fazer o famoso
meia nove, o que me deixou ainda mais excitada.
Me movi sobre a cama e logo estava passando minha perna direita
sobre sua cabeça, o deixando de cara no meu sexo. Antes que eu pudesse me
ajeitar sobre seu corpo, Thom, já puxou minha cintura para baixo, me
desestabilizando por completa e abocanhou meu sexo. Senti sua língua
explorar minha abertura diversas vezes, alternando entre golpear meu clitóris
e escorregar para dentro.
Uau! Confesso que estava me desmanchando de tanto prazer que
estava recebendo.
Tentando deixar um pouco de lado as loucuras que ele estava
proporcionando ao meu corpo, voltei a me ajeitar, envolvi seu comprimento
envolta de meus dedos e para provocá-lo, circundei minha língua por sua
cabeça.
— Delícia da porra! — Praguejou, ao deixar meu sexo por alguns
segundos e eu sorri feliz, por saber que lhe causava tal efeito.
Logo tomou minha boceta em sua boca novamente, me fazendo
delirar de tesão, então enfiei parte de seu pênis em minha boca, deixando o
prazer que ele estava me dando, se refletisse no oral que eu o fazia. Alternava
entre lamber sua extensão, chupar a cabeça e afundá-lo em minha garganta.
Isso sempre tirava muitos gemidos dele.
Em um dado momento, não aguentei mais e acabei sentindo meu
corpo convulsionar, gozando em seguida. Mesmo assim, Thom não parou
suas investidas contra meu sexo, somente ao saber que eu tinha finalizado
completamente meu gozo. Sendo assim, saí de cima dele me deitando no
meio da cama de forma correta e o vi se levantar.
Eu não sabia o que iria fazer e para dizer a verdade, essa libertação
me deixou meio grogue. Logo senti o colchão se afundar ao meu lado e ao
olhar, Thom estava ajoelhado na borda, enquanto envolvia uma camisinha em
seu pênis grosso e da cabeça rosada. Seu comprimento era normal, nada
exagerado e me vi ansiosa para recebê-lo entre minhas pernas.
Sem aviso algum, chegou até mim e beijou meus lábios com urgência,
enquanto as pontas de seus dedos exploravam o bico rijo de meu seio direito,
alternando em seguida para o esquerdo.
— Me fode logo, Thom. Não aguento mais. — Implorei.
Ele abandonou meus lábios, sorriu malicioso e quando menos esperei,
abocanhou um de meus seios, circulando sua língua ao redor da auréola.
— Quer que te foda, deliciosa? — Indagou ao abandonar meu seio
direito e tomar o esquerdo, fazendo o mesmo que fez ao outro, me causando
um tesão avassalador.
— Sim, Thom. Muito. E, rápido! — Mesmo embargada pelo desejo,
consegui pronunciar essas palavras.
Então, logo deixou meu seio esquerdo, cobriu meu corpo com o seu,
ajustou seu pau em minha entrada que já escorria novamente para recebê-lo e
o senti entrar de uma vez em mim.
— Ahhhh. — Urramos ensandecidos em uníssono.
Enquanto sentia-o entrar e sair de mim de forma tortuosa, pois meu
tesão por este homem magnífico só aumentava, Thom olhou em meus olhos
profundamente.
— Você é fodidamente gostosa. — Sussurrou contra meus lábios e
mal deu tempo de eu assimilar suas palavras, pois estocou mais forte em mim
e tomou meus lábios com urgência, fazendo-me delirar de tesão. Uma de suas
mãos tinha seus dedos envolvidos nos fios de meus cabelos, mantendo uma
pressão a mais em minha cabeça para que nossos lábios permanecessem
grudados de forma possessiva. Já a outra mantinha um aperto firme em minha
cintura, durante suas investidas cruas em meu sexo.
De repente, ele cessou nosso beijo e olhou dentro de meus olhos.
Dava para ver claramente sua expressão de puro desejo, uma chama parecia
queimar dentro de suas órbitas. E eu pude ver um sentimento a mais ali, do
qual não fazia ideia do que poderia ser.
— Estou próximo. — Revelou, ainda olhando dentro de meus olhos.
— Também está? — Indagou em seguida.
— Oh, sim! — Gemi ao senti-lo estocar mais firme em mim.
— Então deixe vir. Goza pra mim, Karolina. — Murmurou essas
palavras contra meus lábios e voltou a atacá-los com certa volúpia.
Assim que sua língua se chocou com a minha, nosso tesão se
intensificou, pois grunhimos em uníssono de prazer em meio ao nosso beijo.
Mas assim que ele a sugou dentro de sua boca, abri meus olhos de imediato
por causa do calor que havia se intensificado em meu núcleo e logo vi alguns
pontos brilhantes em minha frente.
— Thom. — Seu nome escapou por entre meus lábios.
— Vai, Karolina. Goza. — E não foi preciso pedir mais, o calor se
propagou com força e o senti explodir dentro de mim.
— Ahhhh… — Gritei em meio a minha libertação.
Com Thom não foi diferente, pois deu mais algumas estocadas e com
seu rosto entre o vão de meu pescoço, gritou ensandecido, enquanto seu
corpo estremeceu em cima do meu.
E essa, foi a melhor noite que poderia ter imaginado acontecer em sua
companhia.
Quando finalmente consegui recuperar meu fôlego, após o que rolou
entre mim e Thom, é que caio em mim e paro para pensar no que aconteceu
de verdade aqui. Não vou negar que foi o melhor sexo da minha vida, porém,
isso nunca deveria ter acontecido. Para ser sincera, não sei o que passou pela
minha cabeça ao abaixar a guarda desta maneira, a ponto de me tornar tão
vulnerável e ir parar na cama com o Thom. Aliás, sequer sei se esse é o seu
nome verdadeiro e já me entreguei de bandeja. Ele deve estar se achando por
ter conseguido uma foda tão fácil assim.
— Acho melhor ir embora. — Digo assim que consigo formular
algumas palavras. Na verdade estou com vergonha de ter cedido tão fácil
assim. Thom deve estar me achando uma oferecida. Eu nunca tinha pago um
homem para transar, sempre os conseguia sem problema nenhum, mas com
Thom é diferente. Para ser sincera, nem sei mais o que pensar.
— Ir embora? Vai me dizer que você não gostou? Nem muito menos
que esse foi o melhor sexo da sua vida? — Ele perguntou. O tom de sua voz
denunciava que estava chateado. Acho que não esperava por essa minha
atitude. Para dizer a verdade, nem eu mesma.
Mas no fundo, ele tem toda razão. Não tem como eu mentir
descaradamente e dizer que foi o pior sexo da minha vida, sendo que minhas
ações provaram completamente o contrário. Nunca me entreguei tanto no
quesito sexo quanto hoje com o Thom, praticamente obedeci a todos os seus
comandos e sem hesitar, coisa que ainda não tinha acontecido e
principalmente na cama, pois eu sempre prezei estar à frente de tudo.
Levanto da cama ao analisar seu corpo escultural e só agora percebo
uma tatuagem que desce por seu ombro, pegando um pouco do seu peitoral
esquerdo e termina acima de seu cotovelo. Uma verdadeira perdição, eu diria.
Balanço minha cabeça, tentando sair do transe de imaginar tocá-lo ali e pego
meu vestido, o qual usava antes, no canto do quarto, vestindo-o rapidamente
em seguida.
— Não é isso, Thom! Apenas estou meio confusa com tudo que
aconteceu conosco aqui. Foi tudo muito rápido e, gostaria que você
respeitasse o meu espaço, por favor. — Pedi a contragosto, ao passar os
dedos entre os fios de meu cabelo, pois estavam revoltosos.
— Eu não vou embora, enquanto não nos entendermos de vez, afinal,
não somos crianças para ficarmos agindo como tal, Karolina! Somos adultos.
Temos maturidade o suficiente para conversamos e resolver essa merda toda.
— Proferiu desgostoso.
Logo se levantou da cama e começou a recolher suas roupas, onde
começou a vestir peça por peça. Assim que o vi cobrindo sua bunda
redondinha com sua cueca branca, mordi meu lábio inferior, tentando
reprimir a súbita vontade de ir até ele e passar minhas mãos por seus ombros
largos e costas. Definitivamente, Thom era muito gostoso, mas o que me
intrigava muito era esse seu lado “prostituto”. Pra ser sincera, eu gostei muito
dele, mas diante de sua “profissão”, seria um tanto quanto impossível de
imaginar um algo a mais com ele.
Bom, na verdade, sei nem o que estou pensando mais. Aff! Acho que
estou ficando louca, só pode! Karolina Garcez nunca se apaixonou e não será
agora que isso ocorrerá, ainda mais por um… um… prostituto.
É claro que agora, no calor de toda emoção, eu não vou conseguir
raciocinar direito e provavelmente, me arrependerei das atitudes que irei
tomar neste momento. O difícil será convencer esse cabeça dura sobre isso.
— Eu sei que somos adultos, Thom! Porém, agora não creio que seja
o momento mais adequado para discutirmos sobre como ficaremos. Afinal,
ainda estamos sob o efeito do orgasmo que acabamos de ter, portanto, não
precisamos tomar decisões as quais podemos nos arrepender assim que
cairmos na real. — Digo calmamente.
Observo ele terminar de calçar seus sapatos com uma expressão
irritada. Ótimo! Tudo que eu não preciso depois do orgasmo maravilhoso que
essa perdição de homem me deu, é ter que lidar com um Thom irritado.
— Thom, apenas quero que entenda que não podemos tomar decisões
agora. Eu estou confusa, assim como tenho certeza que você também está. —
Tentei mais uma vez argumentar.
— Não precisa se explicar. Eu me enganei ao achar que com você
seria diferente, Karolina. Afinal, você acaba de me provar que é igual às
outras clientes que já tive, me vê apenas como um homem que foi pago para
o seu belo prazer. — Ele diz chateado, dá para ver em seus olhos, assim que
decide me encarar.
Sorrio desacreditada.
— Tem noção do que está me dizendo? Que eu saiba, não o paguei
para me satisfazer sexualmente, apenas quis sua companhia na festa de
lançamento da revista, tanto é, que te liberei assim que dei como encerrada
pra mim. E se não percebeu, foi você quem veio até minha casa e me seduziu.
— Cruzo os braços e o olho desafiadoramente. Ele vem até mim e me
encurrala entre seus braços fortes e a parede, enquanto sustenta meu olhar.
— Vim e não me arrependo. — Confessa, enquanto me tortura,
passando seu nariz na lateral do meu rosto, parece tentar gravar o meu cheiro.
— Ter essa sua boca deliciosa sobre meu pau foi excitante pra caralho! —
Diz próximo a minha orelha e morde seu lóbulo ao terminar de falar.
Reprimo um gemido rouco, antes que deixasse minha garganta.
— Por favor, Thom. — Peço em meio a sua tortura delirante.
— Tem certeza que não quer continuar? Posso tirar toda essa
confusão de sua cabeça em meio a múltiplos orgasmos que irei proporcioná-
la, caso me permita. — Dito isso, suga a lateral do meu pescoço dando uma
pequena mordida em seguida.
— Thom… — Tento falar, mas sou impedida ao quase engasgar com
minha própria saliva, após sentir mais uma mordida em meu pescoço e senti-
lo friccionar sua ereção acima de minha virilha.
— Deliciosa! — Fala ao deixar meu pescoço e me fitar nos olhos. Vi
que os dele estavam cheios de puro tesão e luxúria.
— Eu…
Sou impedida de falar, pois minha boca é coberta pela dele em
seguida. Sem muita saída e movida pela excitação que nos cerca, envolvo
meus braços em seu pescoço e me entrego ao seu beijo delirante. Sinto suas
mãos pegarem minhas coxas e me suspender, fazendo com que as envolvesse
em seu quadril. Fiz isso rapidamente, enquanto suas mãos apertavam forte
minha bunda de cada lado, levando-me a um grau de tesão irreconhecível por
mim. Confesso que já estava mais que encharcada e como me encontrava sem
calcinha, acredito que meu líquido iria molhar sua calça. Nossas línguas
duelavam dentro do vão de nossas bocas, sem me conter, friccionei minha
boceta de encontro do seu pau ereto por cima do tecido e o senti fazer o
mesmo.
— Porra, Karolina! Você é muito deliciosa. — Falou ao afastar nossas
bocas. — Te quero de novo. — Confessou e mordeu meu lábio inferior.
— Você tem que ir embora. — Argumentei embargada pelo desejo de
tê-lo novamente também, mas não podia esquecer de frisar isso.
— Tanto eu quanto você, sabemos muito bem que não quer isso,
Karolina. — Ele tinha toda razão.
Não consegui mentir para mim mesma, que não o queria. Então, ainda
com minhas pernas envolta de seu quadril, o ajudei a tirar sua blusa e apalpei
seu ombro e peitoral, coberto pela tatuagem, assim como quis ao vê-la ali.
— É bonita! — Elogiei sob seu olhar faminto.
— Gosta? — Indagou assim que o encarei.
— Sim, muito! — Respondi e mordi meu lábio em seguida.
Thom não perdeu tempo e logo cobriu minha boca novamente,
chupando e sugando meus lábios com extrema voracidade, o que estava
fazendo eu me desmanchar em seus braços de prazer. Sendo assim, logo senti
se movimentar e em seguida, minhas costas descansaram em algo macio e já
previ que era minha cama. Nosso beijo foi cessado e rapidamente o vi se
afastar e tirar sua calça, junto com a cueca, se livrando de seus tênis também.
Antes de cobrir meu corpo com o seu, fez com que me desfizesse do vestido
e logo o quarto foi preenchido por um gemido alto meu, após senti-lo sugar
meu mamilo.
— Deliciosa! — Disse ao abandonar meu seio.
Sorrio satisfeita e logo o vi envolver um preservativo em seu pênis.
— Eu vou fodê-la, Karolina. Não posso mais esperar. — Se
pronunciou ao estar sobre meu corpo, com seu membro procurando minha
entrada.
— Ahhh! — Gemi extasiada, assim que o tive dentro de mim,
entrando com tudo. Foi maravilhoso!
Em meio a beijos, carícias e muitas estocadas rápidas, logo estávamos
gemendo feito loucos, saciados pelo desejo e tesão que nos englobavam no
momento. Thom é sempre muito carinhoso, independentemente de estar só
me fodendo ou não. Depois disso, tomamos um banho juntos e finalmente ele
foi embora, o que me deixou com um aperto no peito, mas também com um
sorriso satisfeito nos lábios, ao me deparar com seu endereço no papel sobre
o criado-mudo, que havia feito questão de anotar.
Já não sabia se tinha feito a coisa certa ou o que aconteceria depois,
mas tinha certeza de algo: O sexo com Thom tinha sido esplêndido. Isso não
dava para negar.
UMA SEMANA DEPOIS
— Tudo bem, agradeço mesmo assim por me atender. Obrigada,
querido! — Ela se despediu e desliguei o telefone.
Sim, mais uma de minhas clientes que dispenso, desde o dia que
voltei da casa da deliciosa, Karolina. Aquela mulher me virou do avesso, fez
minha cabeça girar e acabei tomando a decisão de deixar a vida de prostituto
de lado. Pelo menos, estou tentando. Porém, a própria não atendeu nenhuma
das minhas ligações essa semana. Confesso que estou uma pilha de nervos
por isso.
Olho para o telefone em minha mão e resolvo tentar mais uma vez.
Hoje é sexta-feira e esse horário, ela deve estar na empresa, mas não me
importo e disco seu número. Chama algumas vezes, até que cai na caixa de
mensagem. Pode ser que ela esteja me evitando, ou simplesmente, não está
com seu celular. Prefiro pensar que seja a segunda hipótese.
Vou para meu quarto e decido tomar um banho, quem sabe isso não
me deixa mais relaxado. Após sair do banheiro, sinto que estou realmente
mais tranquilo e durante a ducha que tomei, acabei pensando na hipótese de ir
até a empresa da Karolina e lhe fazer uma pequena visita. Sei que pode
parecer loucura, mas aquela mulher mexeu diretamente comigo, foi
inevitável, eu não consegui me esquivar do seu poder. Ainda não tinha
pensado em ir em sua residência, por achar que não iria me receber, já que
parecia estar me evitando, só que no seu trabalho, não terá como me mandar
embora de cara.
Me vesti rapidamente e peguei minha carteira, junto com meu molho
de chaves. Fui até a garagem de minha casa e entrei em meu carro. Sim, ele
estava arrumado. No dia seguinte ao do evento, o pessoal da seguradora veio
deixá-lo aqui. Giro a chave na ignição e saio dali, indo em direção ao meu
destino.
A viagem até aqui, foi tranquila. Estacionei um pouco antes, pois
passei em uma floricultura para comprar um pequeno buquê de rosas para
presentear a deliciosa Karolina. Ela pode se assustar? Talvez, mas um buquê
não quer dizer muita coisa, ou será que diz? Bom, eis a questão.
Caminho até a recepção, digo que estou à procura da Karolina Garcez
e uma moça muito bonita e simpática, me informa em qual andar eu a
acharia. Aguardo o elevador e assim que o adentro, aciono o botão
correspondente ao andar dela. Enquanto aguardo, analiso meu reflexo no
espelho que continha ali e vi um sorriso despojado aparecer em meu rosto.
Acho que estou sorrindo demais para o meu gosto, pois só vou visitá-la, nada
mais que isso. Talvez, ela nem me recebesse, caso estivesse mesmo me
evitando.
Finalmente o elevador soou, avisando que estava no andar que
desejava. Passei por suas portas e analisei o local, era bem sofisticado. Tudo
em mármore, muito bonito. Cheguei até uma mesa adiante e não havia
ninguém por ali. Achei estranho e me sentei para aguardar. Após uns cinco
minutos, nada de alguém aparecer, então, me pus de pé, pois estava sentado
em um dos sofás de couro que tinha por ali e comecei a dar algumas
passadas, atento, tentando ver se conseguia avistar alguém vir em minha
direção. Porém, assim que olhei à minha direita, mais adiante se encontrava
uma porta de madeira bem elaborada. Curioso, dei alguns passos até estar
diante dela e pude ler com clareza “Karolina Garcez, CEO”.
Empolgado, levei minha mão até a maçaneta sorridente e abri uma
pequena fresta, porém parei, no momento que ouvi a voz de Karolina.
— Ah, não diga isso, Shirley! O Thom foi só um passatempo. Até
porque, ele é um prostituto assumido. Nunca passaria por minha cabeça em
me envolver mais a fundo em uma relação com o próprio. Jamais! — Pelo
tom de sua voz, deu para sentir a exatidão de suas palavras, o quanto estava
convicta sobre elas.
Sem pensar muito e magoado pelo que havia ouvido, reprimi meu
sorriso idiota que prevalecia em meu rosto antes de ouvi-la e abri a porta por
completo, revelando minha presença. De imediato, identifiquei Karolina
imponente, atrás de sua mesa, enquanto uma moça estava de pé ao lado
contrário que ela se encontrava. Seus olhos foram direcionados para mim,
mas só consegui sustentar o olhar de Karolina, do qual me deixava bem claro
o quão surpresa se encontrava, por me ver como um tolo ali em sua empresa.
Talvez tenha sido uma péssima ideia ter vindo aqui.
— Thom? — Ouvi sua pergunta desacreditada e apenas maneei minha
cabeça em negativo. Girei e saí dali. Eu precisava estar longe daqui o mais
rápido que conseguisse. Apertei as flores entre meus dedos com muita raiva
e assim que avistei a primeira lixeira, joguei-as de qualquer forma, sem me
preocupar se haviam caído dentro da mesma ou não. No momento, só queria
sumir dali por ser um grande idiota.
Nunca tinha me portado dessa maneira, não sei o que me deu para
fazer isso, logo hoje.
Acionei o elevador completamente enfurecido, pois eu poderia tê-la
confrontado, mas nunca imaginei que ela pensasse dessa maneira, em relação
a mim. Como fui burro ao achar que uma mulher de seu porte, poderia querer
assumir algo com um “ Prostituto”, assim a mesma fez questão de frisar.
Ao escutar passos atrás de mim, deixo minhas indagações mentais de
lado e assim que me viro, não consigo acreditar que Karolina está diante de
mim.
— Thom, por favor, me escuta! Não é nada disso que você está
pensando. Eu posso explicar. — Dou um sorriso irônico ao escutar sua última
frase e estreito meus olhos em sua direção.
— Não perca seu tempo com um mero “Prostituto“, Karolina. —
Retruco sentindo a raiva perpassar por minhas veias.
Eu preciso sair daqui ou vou acabar explodindo. — Penso ao me
colocar de costas para ela e a porra do elevador não chega nunca. Respiro
fundo, tentando me controlar.
— Você não pode sair irado dessa forma, tente se acalmar, pois não
vou deixá-lo dirigir neste estado. — Giro meu corpo, me pondo de frente para
ela novamente e encarando sua face, não acredito no que tinha saído de sua
boca.
— Me poupe do seu cinismo, Karolina. Como se você realmente fosse
se importar, caso eu sofresse um acidente. Acho que pelo contrário, estaria
comemorando, já que eu ficaria impossibilitado de gritar aos quatro cantos do
mundo que a tão poderosa CEO se envolveu com um “Prostituto” e tem
vergonha disso. Não é esse o seu medo? Que todos descubram e acabe
sobrando para sua imagem impecável? — Esbravejei irritado.
Assim que terminei de falar, senti o atrito da palma de sua mão contra
meu rosto.
— Você está louca? — Gritei desacreditado por sua atitude
inesperada e involuntariamente, levei minha mão sobre o local em minha face
que havia sido atingido por seu tapa, o massageei, pois tinha doído.
— Louco está você, por ter a coragem de dizer que não me importaria
caso você sofresse um acidente. Muito pelo contrário, Thom, iria doer
profundamente em mim e eu nunca me perdoaria se essa fatalidade, por
ventura, viesse a acontecer. Portanto, não tire conclusões precipitadas só
porque você chegou no meio de uma conversa, da qual estava sendo levada
pelo calor das emoções. E-eu não queria ter dito o que me ouviu dizer. —
Vejo que seus olhos se enchem de lágrimas e depois de um tempo em
silêncio, só nos olhando, vejo que uma lágrima escorre por sua face, mas me
recuso a deixar que suas lágrimas de crocodilo, derretam meu coração.
— Não preciso de suas malditas explicações, guarde-as para si e vê se
fica longe de mim, porque não quero ter o desprazer de vê-la nunca mais,
Karolina.
Nesse instante, o abençoado do elevador abriu suas portas e sem
esperar mais nenhum minuto, agradeci por ter chegado neste exato minuto e
entrei sem ter a mínima vontade de olhá-la. Assim que ele se fechou por
completo e me vi sozinho ali, gritei e desferi um soco em uma das paredes,
tentando extravasar toda a raiva que estava sentindo. Raiva, por perceber
como fui burro, enquanto estava aqui querendo bancar o homem romântico e
ela estava me xingando pelas costas, não dando a mínima para mim.
Segui para fora da empresa, pois tinha estacionado fora dali e mais
alguns passos adiante, entrei em meu carro e praticamente voei até minha
casa. Assim que me vi em minha residência, busquei uma garrafa de uísque
para acalmar a fúria que me corroía por dentro e diferente dos planos que
tinha em mente para hoje, a bebida seria minha única e exclusiva
companheira.
Começo a beber sem parar, em menos de trinta minutos já estou na
metade da garrafa e pela primeira vez na vida, me arrependo de tentar desistir
de alguma coisa por uma mulher. Eu já deveria ter aprendido a muito tempo
que elas não valem a pena.
Termino de beber a última dose e dou um sorriso amargo ao me
lembrar de como me enganei em respeito à Karolina. É claro que ela não
seria diferente das outras. Num acesso de fúria, o qual eu não pude controlar,
acabei por estourar o copo em minha mão e infelizmente, essa minha
imprudência me ocasionou um corte profundo.
— Droga! — Esbravejo irritado comigo mesmo e me levanto a
contragosto, indo à procura da minha maleta de primeiros socorros.
Encontro-a no banheiro e volto para sala.
Limpo o corte com cuidado, como eu sabia. Por causa da bebida,
estou tão anestesiado que sequer, sinto um resquício de dor. Vi que pelo
corte, precisaria de dois a três pontos, mas não iria a um hospital. Suspirei
aliviado ao constatar que essa minha estupidez poderia ter me ocasionado
uma dor de cabeça maior.
Em seguida, enfaixei e percebi que o sangue não tinha estancado, pois
ainda sangrava um pouco. Porém, não dei muita importância para isso.
Logo escutei meu telefone tocar. Assim que atendi, a voz de uma
senhora que ultimamente vem me pagando apenas para escutar os seus
problemas, preencheu a linha. Tentei convencê-la de que não estava em um
dos meus melhores dias para atendê-la. Depois de tanta insistência da parte
dela acabei cedendo.
Combinamos para às dezoito horas e dentro deste tempo, tomei um
banho e tentei relaxar, para não ter que mostrá-la como eu me encontrava um
verdadeiro lixo e pior ainda, por causa de uma maldita mulher. Assim que
deu o horário, o som da campainha soou alto, fui de encontro a porta e
cumprimentei-a. Quase duas horas depois, ela assina o cheque para me pagar,
me entrega e levo-a até a porta, mas no momento que a abro para que vá
embora, dou de cara com a Karolina. Ela me olha com uma expressão nada
boa e já imagino que deva estar interpretando mal a situação, entretanto, não
ligo.
A senhora acaba se despedindo de mim, saúda a Karolina que
direciona-lhe um sorriso cínico e vai embora, nos deixando a sós.
— Se ofende com o que falo, mas não muda suas atitudes? —
Karolina indaga-me ironicamente, após estarmos a sós.
Me esqueci completamente que estava com a mão enfaixada por
causa do corte e levantei-a para repreendê-la, mas antes que pudesse fazê-lo,
ela me interceptou.
— O que aconteceu com sua mão, Thom? — Questiona com o
semblante preocupado.
Olho minha mão e percebo que continua sangrando um pouco.
Ela se aproxima de mim e coloca a mão na minha testa, parecendo
medir minha temperatura corporal. — Você está mais quente que o normal e
esse ferimento está sangrando, pode acabar pegando uma infecção. Eu vou
chamar um médico. — Disse, já procurando seu celular dentro da bolsa.
— Não precisa.
— Você não está em condições de decidir se precisa ou não, eu vou
chamar um médico e nem pense em me impedir. — Avisou.
Por um segundo, esqueci de tudo que escutei no escritório e me
peguei ainda mais encantado pela mulher que se encontrava diante de meus
olhos.
Assim que terminou o expediente, não pensei duas vezes e saí da
empresa, indo direto para a casa do Thom.Havia ligado pra Beth e pedido que
me passasse o endereço que estava anotado em um pedaço de papel dentro da
gaveta do criado-mudo ao lado de minha cama, deixei lá, desde o dia que fora
embora e resolvi não procurá-lo.Eu tinha que conseguir fazê-lo entender que
minha intenção, nunca foi ofendê-lo, muito pelo contrário. Jamais iria querer
magoá-lo.
Assim que cheguei em sua casa, no instante que a porta foi aberta, o
sorriso que jazia em meus lábios, deu lugar a um vinco que se formou em
minha testa, pois não conseguia esconder minha decepção ao ver uma
senhora saindo dali. Fiquei completamente irritada, porque enquanto eu
passei o dia preocupada com o que devia estar pensando em relação a nós
dois, ele estava se divertindo num de seus programas? Ah, por favor!
Ao estarmos devidamente a sós, comecei a soltar minhas pérolas e já
previa que mais uma vez, nossa discussão terminaria em mais uma briga.
Porém, logo percebi que sua mão estava envolvida em uma faixa e assustei-
me ao notar que ainda sangrava. Por impulso, levei minha mão até sua testa e
constatei que sua temperatura corporal estava acima do normal.
Imediatamente, pensei em levá-lo a um hospital, mas rapidamente
descartei essa hipótese, pois ele recusaria no ato. Sem muita escolha, opto por
deixá-lo ciente de que chamaria um médico até aqui para dar uma olhada em
sua mão. Thom até tenta dispensar minha ajuda, só que isso é inegociável e
lhe deixo ciente disso. Visto que não adiantava discutir comigo, aceita que eu
chame o médico e confesso que isso acaba me tranquilizando um pouco.
— Eu vou ligar para o médico, já volto. — Informo ao entrarmos e
sigo até uma parte da casa, que ao analisar, vejo que se trata da cozinha.
Prefiro deixá-lo sozinho para fazer a ligação com mais privacidade.
Liguei para o médico que é dono da clínica que atende o convênio da
empresa, onde sempre faço meus checapes semestrais, também. Rapidamente
ele atendeu e expliquei-lhe o que estava ocorrendo. Prontamente, pediu o
endereço, pois iria até meu encontro. Como eu não tinha decorado o
logradouro dali, corri até a sala e pedi que Thom me dissesse, o que fez sem
pestanejar. Após passar ao Dr. Afonso o que me pediu, deixou-me avisada
que não demoraria e encerrei a ligação.
— Dentro de pouco tempo, o médico estará aqui. — Informei para
Thom, que neste momento, se encontrava jogado no sofá. — O que tem,
Thom? — Indaguei.
— Obrigado, mas realmente não precisava se preocupar com um
prostituto. — Agradeceu de forma irônica, pois ele não perderia essa
oportunidade de jogar na minha cara o que, erroneamente, falei na empresa.
— E não lhe interessa o que tenho. Mas, caso estivesse bem, eu mesmo já
teria feito minha sutura. — Complementa.
De imediato, me sinto ofendida por sua resposta, porém, me vejo
intrigada com a parte que ele cita “eu mesmo já teria feito minha sutura”.
Como assim? Será que o Thom tem formação em Medicina? Não, acho que
não. Caso tivesse, acredito que nunca se prestaria a este papel de
“Acompanhante de luxo”. Talvez ele esteja delirando.
Enquanto aguardo, analiso a sua sala, visto que ele ainda está jogado
no sofá. Em meio a minha observação, acabo vendo uma garrafa de uísque
vazia em cima de um frigobar, e constato que Thom deve estar bêbedo, por
isso frisou que não estava bem. Minutos mais tarde, escuto o som da
campanha. Thom faz menção de levantar, porém, o interrompo e Informo-lhe
que atenderei.
Caminho até a porta e abro-a.
— Boa noite, Dr. Afonso. — Cumprimento com um aperto de mão e
peço que ele me acompanhe.
Chegamos até o sofá chamo o Thom que parece estar dormindo.
— Thom, o médico chegou. — Digo e logo ele se senta no sofá.
— Pai! — Exclama surpreso ao olhar o Dr. Afonso.
Fico parada, pois não tive reação alguma. Como assim, pai? —
Indago mentalmente.
— Thom! — Dr. Afonso diz incrédulo. E sem entender nada, fico
quieta e os observo. Ele logo continua. — Quando fui chamado pela
senhorita Karolina, não imaginei que você seria o amigo que ela se referia.
Aliás, pode me explicar como conseguiu esse corte na mão? — Indagou,
assim que retirou a faixa que estava envolvida em sua palma e examinando-
a.
— Não foi nada, só uma estupidez minha. Apenas cheguei irritado,
acabei bebendo demais e estourei o copo na minha mão, pai. — Fala com um
ar exausto. — O senhor sabe que era só eu ter esperado o efeito da bebida
passar, que faria a sutura. São apenas dois ou três pontos.
Dr. Afonso o encara intrigado, mas volta sua atenção ao ferimento,
fazendo a sutura em seguida. Thom balbucia alguns gemidos de dor e apenas
fico calada, observando. Assim que termina de fazer o curativo, o questiona.
— Thomás, agora pode me dizer porque abandonou os seus plantões
no hospital? — Thom está cabisbaixo e passa sua mão esquerda diversas
vezes em sua face, parece pensar em algo.
Eu sou pega de surpresa, ao ouvi-lo dizer que Thom deixou os
plantões no hospital. Isso só confirmou minhas suspeitas. Só não conseguia
entender, o porquê de ele ter largado uma profissão tão bonita, para se prestar
ao papel de “Acompanhante de luxo”. Logo sou tirada de meus devaneios,
após ouvi-lo se pronunciar.
— Pai, agora não é hora e muito menos o lugar correto para termos
essa discussão. Ainda mais, na frente da Karolina.
— Desde que saiu de casa, você apenas conversa comigo e sua mãe
ao telefone e sequer nos deixou cientes de onde estava morando. Além de ter
decidido abandonar os plantões no hospital em um ato totalmente
irresponsável. — Proferiu entredentes. Dr. Afonso parecia estar bem irritado.
Sem saber se intervia ou não, logo vi Thom se levantar do sofá e
começar a andar pela sala.
— Não foi um ato irresponsável, pai. Eu, apenas queria viver uma
vida sem amarras. Do que me adiantaria ter uma profissão, ser bem
remunerado e não ter uma vida? Ser médico não é fácil e o senhor tendo
tantos anos nessa área, deveria me entender. — O tom da voz dele, soou um
tanto cansado.
Dr. Afonso olhou-o por um tempo. Se levantou, após fechar sua
maleta, caminhou até Thom, e o abraçou fortemente. — Vá lá em casa
amanhã, filho! Eu e sua mãe sentimos sua falta. Quanto ao que me revelou
aqui hoje, conversaremos sobre isso. — Disse ao se afastar, dando um
tapinha de leve em seu ombro.
Thom sorriu agradecido, parecia aliviado. E então, Dr. Afonso se
despediu e o acompanhei até a porta. Antes de me dar tchau, pediu que
cuidasse de seu filho e lhe deixei avisado de que daqui eu não sairia hoje.
Assim que retornei para a sala, Thom já não estava por ali. Alheia,
caminhei por um corredor e no final dele, entrei pela porta que se encontrava
aberta. Ouvi barulho do chuveiro e previ que tomava uma ducha. Cansada,
me sentei na borda de sua cama, livrei-me de meus saltos, retirei minha roupa
e só de calcinha, caminhei até seu closet, encontrando uma de seus camisas
largas e que ficou perfeitamente bem em mim, assim que vesti.
No momento que retornei ao quarto, Thom deixou o banheiro com
uma toalha enrolada em sua cintura. Confesso que paramos e nos olhamos
por longos segundos, até ele resolver quebrar o silêncio.
— O que ainda está fazendo aqui? Vai embora, Karolina! — Disse
rudemente e passou por mim, indo para dentro de seu closet.
— Ainda está com raiva de mim, Thom? Fala sério! Eu que deveria
estar te odiando por ter chegado aqui e o encontrado com a aquela senhora,
que possivelmente, já tinha… — Antes que terminasse de falar, minhas
costas chocaram-se contra a parede que continha atrás de mim e minhas mãos
foram seguradas acima de minha cabeça.
— Transando com ela. Era isso que ia dizer, Karolina? — Gritou,
parecia irritado. Sustentei seu olhar e mesmo vendo que estava com raiva de
mim, não abaixei a cabeça. Com um aceno positivo, confirmei o que havia
me questionado. Ele sorriu amargamente. — E daí? Se eu tivesse fodido com
ela, o que você teria a ver com isso? — Inquiriu em tom desafiador. Tentei
sair de seu agarre, mas ele era mais forte que eu. — Não tem uma resposta,
Karolina? Pois eu faço questão de dizer por ti. — Olhou-me com um sorriso
debochado em seus lábios. — Simplesmente, nada do que eu faço lhe diz
respeito. Enfia uma coisa na sua cabeça, sou um prostituto, como me
intitulou, então, vivo fodendo as mulheres, independentemente da idade que
tenham. Me ligou, já estarei prontamente disposto.
Ouvi-lo dizer isso, deixou-me duvidosa, mas não queria acreditar em
suas palavras.
— Está enganado, Thom. E-e… — Fechei meus olhos, respirei fundo,
até que encontrei as palavras corretas. — Se fez isso, me diga agora, pois irei
embora e prometo que nunca mais voltarei. Mas se não fez, juro que vou
ficar, mas te quero só pra mim, pois serei somente sua. — Ao proferir essas
palavras, Thom segurou em meu queixo, fazendo com que nossos olhares se
chocassem e assim que isso aconteceu, vi uma vulnerabilidade exposta em
seus olhos, algo que não tinha visto na vez que ficamos. — Por favor, Thom.
Só me fala. — Peço.
Ele fechou os olhos e abaixou a cabeça.
— Merda, Karolina! Não, eu não fiquei com aquela senhora, tá legal?
Aliás, nem com ela, ou qualquer outra cliente que me procurou, desde o dia
posterior ao que ficamos. Tá feliz agora? — Ao terminar de ouvi-lo, um
sorriso imenso brotou em meus lábios e assim que ele voltou a me encarar,
proferi.
— Eu te quero, Thom! Agora! — Disse convicta.
Diante de minhas palavras, nem uma outra precisou ser dita, pois seus
lábios tomaram os meus possessivamente.
Assim que sua boca cobriu a minha, gemi ensandecida, pois Thom
tinha o poder de fazer isso comigo. Sua língua explorava cada canto de seu
vão e num momento de puro tesão, prendi-a entre meus dentes de forma
maliciosa e suguei-a avidamente, o que acabou levando-o a grunhir desejoso,
diante de meu ato. De repente, soltou minhas mãos que estavam presas em
seu agarre acima de minha cabeça, sem desgrudar nossas bocas, desci por
seus ombros e apalpei seu peitoral firme.
— Deliciosa! — Disse em meio ao nosso beijo, em seguida, sua mão
esquerda segurou com firmeza a minha nuca, aprofundando ainda mais nosso
beijo voraz.
Senti-me, imprensada entre seu corpo e a parede, Thom fricciona seu
membro acima de minha virilha, o que me fez estremecer por dentro, pois já
ansiava em tê-lo dentro de mim mais uma vez, desde o dia em que ficamos,
tentei negar a mim mesma que o que tivemos fora apenas uma explosão de
tesão reprimido, mas depois de tê-lo visto na empresa hoje, percebi que
estive enganada essa semana inteira que permanecemos afastados, por
escolha minha, porque ele sempre me ligava e eu fazia questão de não
atender.
Sem aviso algum, passei minha mão direita por sua barriga durinha e
no instante que cheguei até a borda da toalha que estava presa em sua cintura,
dei-lhe um puxão. Assim que ela se desfez e caiu no chão, Thom esboçou um
sorriso em meio ao nosso beijo e então, ao abrir meus olhos, fui contemplada
por um fogo abrasador que demonstrava em seu olhar. Cessando nosso beijo,
tratou de me perguntar:
— Tem certeza que é isso que quer? Porque eu juro que depois de
uma transa nossa, você não sairá daqui tão cedo, Karolina. — Proferiu,
acarinhando minha bochecha do lado esquerdo.
— Sim, Thom. Tenho certeza, como jamais tive em toda minha vida.
— Ele me encarou silencioso, enquanto ainda afagava minha bochecha. —
Aliás, quem te disse que iria embora tão rápido? — Mordi meu lábio
pensativa e ele roçou de leve o seu nariz no meu. — Eu te quero, Thomás.
Te quero muito. — Confessei.
— Que maravilha ouvir isso, Karolina. Também te quero muito. Não
só para mais uma transa, se é que me entende. — Um sorriso puxou o canto
de seus lábios de forma maliciosa ao encarar minha boca e sorri alegre com
sua revelação. — Toque-me, Karolina. — Pediu roucamente, o que fez
calafrios percorrerem pelo meu corpo.
Dito isso, voltou a colar nossos lábios e sem aviso algum, envolvi
minha mão em seu pau, sentindo-o pulsar entre meus dedos, o que causou
uma lubrificação ainda maior entre minhas pernas. Comecei a instigá-lo com
maestria, enquanto nossas línguas duelavam em nossas bocas. Gememos em
uníssono, assim que Thom levou sua mão acima da minha, fazendo com que
o masturbasse com mais força. Essa sua atitude me causou uma euforia por
dentro, pois o que mais queria era ele dentro de mim.
Cessei nosso beijo em seguida.
— Ai, Thom. Não aguento mais, preciso de você dentro de mim,
agora! — Murmurei contra seus lábios, cabisbaixa, pois estava tentando
recuperar meu fôlego.
Ele não me respondeu. Apenas se abaixou e quando pude tomar
ciência do que estava acontecendo, envolveu seus dedos nas laterais de minha
calcinha, livrando-me dela e cobriu meu sexo com sua boca, o que me fez
gemer alto. Quase engasguei com minha própria saliva. Minha perna direita
foi colocada em cima de seu ombro, deixando-me ainda mais exposta à ele.
Thom chupava meu clitóris com exatidão, golpeando-o consecutivas
vezes com sua língua ávida, fazendo minhas pernas perderem suas forças, por
causa do desejo extremo que me atingia em cheio, diante do que estava
proporcionando-me. Girei meu quadril, tentando aprofundar ainda mais o
tesão que sentia, mas ele deu uma mordida em minha carne inchada e
sensível, levantando em seguida.
Olhou-me profundamente e beijou meus lábios, o que me fez gemer
ao sentir seu gosto um pouco salubre, por causa de minha lubrificação.
Rapidamente se afastou, tirou-me sua blusa que eu usava, massageou meus
seios desnudos e abocanhou um deles, dando atenção ao segundo logo
depois. Thom me causava sensações das quais não havia explorado ainda e
isso era o céu para mim.
Quando menos esperei me penetrou em uma só estocada, grunhi de
prazer e ao mesmo tempo eu não conseguia entender o misto de sensações
que estava sentindo, só sabia que precisava de Thom muito mais do que eu
imaginava. O único som que ouvíamos ali dentro eram os nossos gemidos
seguidos do atrito de nossos corpos.
Depois de duas rodadas de sexo bem proveitosas, estávamos os dois
tentando controlar nossas respirações. Era óbvio que não tínhamos como
continuar negando que sentíamos mais do que uma simples atração pelo
outro, só que para nos entendermos precisaríamos acertar nossos ponteiros.
— Precisamos nos entender, Thom. Não podemos passar a vida toda
brigando. — Falei ao estarmos nus, apenas cobertos por um lençol de pano
fino, deitada sobre seu peitoral e passando meu indicador num leve sobe e
desce.
— Tem toda razão, Karolina. — Ele falou e passou sua mão em meu
braço, acarinhando-o, o que fez meu coração se aquecer ainda mais. Porém,
soltou o ar cansado e continuou.
— Mas preciso que deixe de me ver como um prostituto. — Suas
palavras saíram pesadas, como se fosse difícil pronunciá-las.
Paro de circundar seu peitoral e fico quieta, deixando que o que
acabou de dizer, fosse processado em minha mente. Ao fazer isso, percebi o
quanto minhas palavras cuspidas ao vento por um simples orgulho
momentâneo, o magoaram. Já notei que Thom é um homem de fibra, porém,
eu consegui feri-lo e juro que não era minha intenção. Nunca foi.
Pisco meus olhos algumas vezes e sustentando meu peso sobre meu
antebraço, decido encará-lo.
— Thomás, eu já te expliquei que disse aquilo da boca pra fora e no
fundo, você sabe que nunca diria algo para te magoar. — Tentei me redimir e
fazê-lo entender que falava a verdade.
— Mas magoou, Karolina. — Evitou olhar em meus olhos. — Fui na
sua empresa louco para te ver depois de dias, aliás, quase uma semana
insistindo em ligar para você e não ser atendido. Queria fazer uma surpresa e
na verdade, eu fui o surpreendido, não é mesmo? — Sorriu desgostoso.
— Se vai continuar batendo nessa mesma tecla, não vejo porque eu
continuar aqui. — Fiz menção para me virar e me pôr para fora da cama, mas
fui impedida por ele.
— Não vai embora, fica! — Fitou meus olhos e passou a mão por
minha bochecha. — Aliás, precisamos começar a nos entender feito dois
adultos.
Respirei fundo, diante de suas palavras e me deliciei com a carícia
que fazia em minha bochecha. Notei que se eu quisesse saber mais sobre o
verdadeiro Thomás, a hora era agora. Sentei-me na cama com o lençol
cobrindo meus seios e o encarando.
— Tudo bem. De início, quero que me esclareça algumas coisas ao
seu respeito. — Deixei claro e ele sorriu lindamente, o que me deu vontade
de sentar sobre ele e lhe encher de beijos, mas me contive. Com um leve
aceno de cabeça, concordou. — É óbvio que Thom se trata de um apelido,
certo? — Indaguei.
— Meu nome é Thomás Lobos. E sim, Thom foi um apelido que
decidi usar quando me vi fazendo o que já sabe. — Evitou tocar no assunto.
— Satisfeita? — Questionou.
Neguei e voltei a perguntar.
— Bom, quero saber o porquê de você, mesmo tendo uma formação
tão séria e bonita, que admiro, insistiu em embarcar numa vida assim, como
“Acompanhante de luxo”? Se puder me explicar, agradeço, pois não consigo
entender. — Fui sincera.
— Eu simplesmente desisti de exercer essa profissão, apesar de amá-
la muito. — Passou a mão pelos cabelos.
Diante de sua explicação, me vi ainda mais confusa, pois eu amo
comandar minha empresa e se me tirassem isso, eu seria capaz de morrer.
Contudo, o que ele tentou me dizer aqui, não faz sentido algum.
— Continuo sem entender. Aliás, deixou-me ainda mais confusa. Se
ama sua profissão, como diz, deve ter acontecido algo que lhe fez desistir de
exercê-la, porque eu amo comandar minha empresa e se me visse deixando-a
de lado, com toda certeza, não seria por escolha minha. — Notei que ficou
pensativo por um tempo e voltou a me olhar em seguida.
— Talvez, dias consecutivos repletos de inúmeros plantões
cansativos, não fosse bem o que eu queria pra minha vida, Karolina. E
também, sempre haviam as cobranças infinitas do meu pai, querendo que me
transformasse na perfeição em pessoa e isso é impossível na medicina. Uma
hora ou outra, teremos um momento de falha, coisa que nenhum médico se
orgulha de ter. — Falou pesadamente.
Sem conseguir me conter por muito mais tempo, passei minhas pernas
sobre a dele e sentei-me em suas coxas grossas, evitando um contato entre
nossos sexos, pois de relance, vi que ele já estava duro.
— Eu compreendo que exercer essa profissão de médico não seja
fácil, ainda mais, quando se tem um pai te cobrando essas coisas que disse,
pois, ser pressionado nunca é bom. Mas tente entendê-lo, os pais muitas
vezes, desejam ver os filhos alcançando um sucesso que talvez eles próprios
não tenham conseguido. — Falei, após ter segurado seu rosto entre minhas
mãos e seus olhos me fitarem.
Ele logo sorriu descaradamente.
— Quer beber alguma coisa? — Pergunta, quebrando a tensão que
havia se instalado entre nós.
— Já viu que horas são, Thomás? — Vi que ele ergueu sua
sobrancelha em sinal de desafio. — Nem eu e muito menos você, vai beber.
Como médico, deveria saber que a bebida cortará o efeito do analgésico que
tomou. — Ouvi gargalhar divertido.
— Sei, sim, Senhorita. Apenas quis ser gentil. — Tentou se explicar
após parar de gargalhar.
Ele me encarava com certa intensidade e isso estava me deixando
aquecida por dentro.
— Seja gentil tendo mais cuidado consigo mesmo e parando de tomar
atitudes imprudentes que te machuquem, olha a forma que se encontra sua
mão. Fiquei desesperada quando eu vi que tinha se cortado. — Confessei.
Ele logo envolveu minha cintura e me puxou, fazendo com que
sentasse próximo ao seu membro duro e meu clitóris pulsar frenético.
— Você não acha que já falou demais? Eu tenho uma ideia bem
melhor do que falar. — Sorriu malicioso e antes mesmo que eu tivesse tempo
para pensar em protestar, Thomás apertou minha carne com força e cobriu
minha boca com a sua. Gememos ensandecidos e logo estávamos desfrutando
de mais uma rodada de sexo maravilhoso.
Sem sombra de duvidas, o meu lugar era nos braços dele.
FINAL
Se meses atrás, tivessem me dito que encontraria uma mulher que
viraria meu mundo de ponta cabeça, a ponto de eu abrir mão de uma vida
fácil e cheia de regalias, como a que tinha, sorriria feito um louco, porém, fui
agarrado pela mulher mais sexy e enlouquecedora que poderia ter imaginado
algum dia. Meses se passaram e não poderia me sentir mais feliz do que me
encontro. Graças a Deus não soube mais da doida da Estela e isso fora de
grande alívio para mim.
Há exatamente três meses que eu e Karolina nos acertamos de vez e
resolvemos morar juntos. Confesso que tê-la ao meu lado durante este tempo,
vem sendo os melhores da minha vida. Além disso, conversei com meus pais
e contei tudo a eles, lógico que não ficaram contentes com minha confissão,
mas o bom é que me senti mais leve diante desta minha escolha. Meu pai
intercedeu por mim, conversando com o diretor do hospital que trabalhava
antes e com muito custo, conseguiu fazê-lo me encaixar na escala novamente,
algo que me deixou muito feliz, pois amava minha profissão e desejava muito
voltar a exercê-la.
Hoje tive folga no hospital, foi difícil me darem esse bendito
descanso, mas depois de muitos argumentos usados para convencer o diretor,
ele finalmente cedeu. É um dia especial, pois pedirei minha deliciosa em
casamento à noite. No decorrer do dia, fui até o mercado com a Beth, que é
quem cuida da casa. Karolina a considera muito e dá para perceber o quanto
gostam uma da outra. Ela me ajudou, preparando o jantar e opinou na escolha
das alianças de noivado também, foi divertido ter a companhia dela.
Assim que ajeitamos tudo, Beth vai embora e resolvo tomar um banho
rapidamente. Escolho usar uma camiseta com um short tactel, Karolina ama
me encontrar vestido dessa forma, diz ela que fico com um ar despojado, o
que me faz amá-la ainda mais. Desço as escadas e exatamente às sete em
ponto vejo a mulher da minha vida passar pela porta, sorri abertamente para
mim e vou ao seu encontro.
— Boa noite, minha deliciosa! — Digo ao agarrar sua cintura e dar
um beijo singelo em seus lábios.
— Uau, isso tudo é saudade, meu amor? — Indaga ao fitar meus
olhos com os seus esverdeados e amo a cor deles.
— Não imagina o quanto. — Já duro, cobri sua boca com a minha e
friccionei meu membro contra seu corpo. Nossas línguas se chocaram e ouvi
ela gemer em sinal de antecipação, o que me fez apertar sua cintura com
firmeza. Senti suas mãos segurarem minha nuca com veemência, o que me
fez aprofundar mais o nosso beijo. Assim que nos afastamos, juntei nossas
testas e aguardei nossas respirações voltarem ao normal, pois estávamos
ofegantes.
— Hum… Se toda vez que receber folga, eu for recebida com tanta
receptividade, ficarei mal-acostumada, Thomás. — Disse contendo um
sorrisinho ousado nos lábios.
— Pois a deixarei mal-acostumada com maior prazer. — Envolvi seu
rosto entre minhas mãos e olhei-a nos olhos demoradamente.
— O que foi? — Questionou desconfiada.
— Tenho uma surpresa e já digo que precisarei vendar seus lindos
olhos. — Ela sorriu agraciada. — Pode ser? — Indaguei.
— Se é surpresa, pode vendar. — Permitiu sorridente, o que me fez
afastar dela e retirar uma gravata minha do bolso traseiro. Contente, cobri
seus olhos e direcionei-a para as escadas, subimos até o terraço. O chão
estava forrado por pétalas de rosas vermelhas e a mesa já se encontrava posta
com um belo jantar que nos aguardava.
— Vou tirar sua venda. — Ela acenou em concordância e tirei-a com
cautela.
— Nossa! Está tudo lindo, meu amor. — Diz ao terminar de observar
a ornamentação, se vira para mim, envolve seus braços em meu pescoço e me
beija com certa intensidade, o que me faz retribuí-lo com muito gosto.
— Eu te amo, Senhora Lobos. — Falei ao nos afastarmos.
— Eu também te amo, meu amor. — Passou a mão sutilmente pelo
meu rosto e beijou meu lábios rapidamente.
Assim que se afastou, nos acomodamos nas cadeiras, um ao lado do
outro na mesa. Antes de nos servirmos, respirei fundo e preparei-me para
falar tudo que eu vinha ensaiando dizer há dias para ela. Arrastei minha
cadeira, deixando-a de frente para Karolina e tive sua atenção voltada para
mim, o que me deixou ainda mais nervoso.
— O que… — Antes que completasse, levei meu dedo indicador até
seus lábios e silenciei-a, pedindo que apenas me ouvisse, ela assentiu positiva
e comecei a falar.
— Bem, eu ensaiei muito para este momento, mas não há nada
melhor do que deixar o meu coração falar por mim… — Pausei para respirar
e continuei. — Pra começar, quero agradecê-la por ter me mostrando o
quanto amo a profissão a qual me formei. Você foi a responsável por me
fazer enxergar que a medicina foi tudo que eu sempre quis e não valia a pena
deixar para trás, algo que havia batalhado tanto para conseguir. — Karolina
me encarou em silêncio, mas vi a emoção tomar seu olhar. Envolvi suas mãos
nas minhas e prossegui. — Sinto-me realizado e honrado por ter uma mulher
como você ao meu lado, e só me resta reconhecer isso. Obrigado por ter me
dado a oportunidade de viver esse nosso amor… Karolina, eu só preciso que
você me diga um único sim, para fazer-me ainda mais feliz do que já sou por
tê-la comigo. Minha deliciosa, aceita se tornar oficialmente a Senhora Lobos?
— Tirei a caixinha do meu bolso que continham as alianças de nosso
compromisso e abri.
Karolina não conseguiu conter sua emoção e se desmanchou em
lágrimas, envolvendo meu pescoço em seguida.
— Sim, eu aceito. — Se afastou rapidamente e fitou meus olhos. —
Não precisa me agradecer, eu te amo e faria tudo de novo se precisasse,
Thomás. — Beijei seus lábios sutilmente e ela me encarou sorridente. — Na
verdade, nós te amamos. — Complementou.
Paralisei ao ouvir o “nós”. Como assim?
— Como “nós”, meu amor? — Pergunto encabulado.
Ignorando completamente minha pergunta, Karolina retira as duas
alianças da caixinha que estava em minha mão, pega a maior delas e coloca
em meu dedo anelar direito. Me olhando sorridente, faz sinal para que
encaixe a sua em seu dedo e assim o faço. Ao terminar, ela segura minha mão
e cobre seu ventre.
Perplexo, analiso sua face e detecto que não é preciso ser dito mais
nada.
— E-eu vou ser pai? — Gaguejei em meio a pergunta e aguardei sua
confirmação.
— Sim, meu amor. Fiz o exame de sangue hoje no meu horário de
almoço e descobri o que eu já suspeitava. Porém, só queria te contar quando
tivesse certeza. — Ela disse sorridente e emocionada ao mesmo tempo.
Era tudo o que eu precisava para me sentir completo: um filho, fruto
do nosso amor.
— Tem noção do quanto essa notícia é a melhor que eu poderia ter
recebido em toda a minha vida? — Uma lágrima deixa seus olhos e não me
contive, abaixei entre suas pernas e beijei sua barriga demoradamente.
— Assim você me fará chorar ainda mais, meu amor. — Profere com
a voz embargada pelo choro e imagino que esteja sentindo a mesma emoção
que eu.
— Pode chorar, minha deliciosa. Afinal, hoje só representa o primeiro
de muitos outros dias felizes que teremos. Aliás, precisamos marcar logo a
data do nosso casamento. Quero me casar o mais depressa possível. —
Deixei-a ciente.
— Ah, não! Sem pressa, Thomás. Quero ter tempo para curtir cada
detalhe do meu casamento. Nem vem que não tem. Não quero nada com
pressa, aliás, a partir de agora, senhor Thomás, temos que nos lembrar que
estou carregando o seu filho ou filha e não posso sair por aí igual uma louca,
me ouviu?
— Você está certa, minha deliciosa. Terá o tempo que precisar para
que o nosso casamento saia da maneira que sempre imaginou, mas peço que
seja rápida, pois quero que todos saibam do nosso amor e principalmente, que
é somente minha e de mais ninguém.
— Hum… Mas todos já sabem, seu bobo! Afinal, só tenho olhos para
você. — Ela me responde sorridente e soa um pouco maliciosa.
Acomodo-me novamente em minha cadeira e envolvo suas mãos nas
minhas, beijando o dorso delas em seguida. Definitivamente, sou apaixonado
por tudo que há em Karolina. Seu olhar e suas atitudes, foram o que me
fizeram encantar por ela.
— Eu ia sugerir uma taça de vinho para comemorarmos, mas como
médico, não posso ser imprudente pois você não pode ingerir bebida
alcoólica. — Falei.
— É por esse e outros motivos que não se deve ser mulher de um
médico. Pelo que vi aqui, já quer me controlar. — Ela revira os olhos e bufa
em sinal de frustração, o que me faz gargalhar de sua atitude.
— Ainda mais, ser mulher do médico mais gostosão e que você ama,
não é mesmo? — Digo um tanto pervertido.
— Essa parte terei de concordar. — Confessa.
Sorrio e antes que comecemos a nos servir, beijo-lhe fervorosamente,
querendo deixá-la faminta por mim. Amo essa mulher completamente.
— Em pensar que nossa menina acabou de se casar, isso não tem
preço. — Sorrio abertamente ao ouvir as doces palavras de felicidades de
minha mãe.
Emocionada em ver tamanho contentamento em seu olhar, apenas
contemplo a visão linda que tenho de seu rosto tão perfeito. Apesar da idade,
Dona Serafina era muito bela, o que me fazia venerar ainda mais sua beleza.
Vendo que eu não falaria nada por hora, pois estava com medo de chorar na
frente dos convidados que estavam reunidos em minha casa, ela se
aproximou de mim, dando-me um abraço maravilhoso, ao se afastar,
acarinhou minha bochecha encarando meus olhos e no minuto seguinte, se
curvou em minha frente e beijou minha barriga que já estava bem
rechonchuda por causa dos meus seis meses de gestação. Involuntariamente,
uma lágrima escapou de meus olhos e não tive como conter um soluço que
rompeu por minha garganta.
— Oh, filha, não fique assim. — Ela pediu docemente e mais
lágrimas desceram pelo meu rosto, era inevitável.
— Tô tão feliz que esteja aqui, mãe. — Olhei-a com ternura e ela
sorriu para mim com o mesmo sentimento estampado em seu rosto. Levou
suas mãos carinhosamente até minha face e limpou minhas lágrimas.
— Nós também, querida! — Meu pai logo se aproximou de nós com
uma taça de champanhe em mãos e sorrindo alegremente.
— Sei o quanto deve ter sido difícil ter deixado a fazenda de vocês
aos cuidados dos vizinhos de lá, mas…
— Não diga besteiras, filha. Eu e Joaquim não fizemos esforço
algum. Maria e João se dispuseram a fazer esse enorme favor para nós e de
bom coração, além do mais, jamais iríamos perder esse momento tão especial
na vida de nossa única filha: seu casamento. — Disse-me sorridente.
— Devo ressaltar que o Thomás é um rapaz muito simpático, querida.
Desejo toda felicidade existente neste mundo para vocês e que meu neto ou
neta venha determinado como a mãe e carismática como o pai. — Nós três
sorrimos em uníssono, diante do comentário de meu pai, mas logo senti
minha cintura ser enlaçada por mãos fortes e fechei os olhos no mesmo
instante, querendo aproveitar a nossa proximidade.
— Perdi alguma coisa, minha deliciosa? — Soprou no meu ouvido, o
que me causou um arrepio repentino pelo corpo.
Sorrio diante de nossa intensidade.
— Não, meu amor! Meu pai só estava dizendo que gostou muito do
meu marido, sabia? — Voltei-me para ele e passei meus braços por seu
pescoço.
Enlaçando ainda mais minha cintura, ele grudou nossos corpos o
pouco que conseguiu, pois, minha barriga meio que atrapalhava estarmos
muito próximos.
— Isso é muito bom de se ouvir. — Ele olhou-me profundamente e
detectei em seus olhos, um misto de emoções, incluindo um desejo intenso.
— Bom, vamos deixá-los curtir um pouco a festa de vocês, afinal,
merecem isso. Vamos dar uma volta pela casa e não precisam se preocupar
conosco. — Fiquei de frente para meus pais e sorri sutilmente, vi de soslaio
que Thomás apenas assentiu em concordância e logo saíram. Voltei a
envolver meus braços envolta do pescoço dele e o fitei com desconfiança.
— O que foi? — Questionou, fingindo um tom surpreso.
— Pressinto que esteja aprontando algo, meu lindo esposo. — Ele
gargalhou alto, assim que apertou minha cintura e mordeu meu pescoço em
seguida.
— Acho que esse seu lado sensitiva não é nada bom. — Estreitei
meus olhos ao encarar sua face e aguardei ele me falar o que tanto me
escondia. Vendo que ele não iria falar, cobri sua boca com a minha e
enquanto nossas línguas duelavam entre si, desci minha mão por seu peitoral
másculo e ao alcançar sua ereção, apalpei-a por cima de sua calça o que fez
Thomás grunhi de tesão. Logo cessou nosso beijo. — Isso é jogo baixo,
minha deliciosa. — Falou roucamente, próximo de meu ouvido e sorri
contente, por saber do poder que eu tinha sobre seu corpo.
— Não é, meu lindo esposo, apenas quis dar-lhe uma pequena
demonstração do prazer que darei ao seu lindo corpo, caso desembuche logo.
— Confessei.
— Tudo bem. — Disse e mordeu o lóbulo de minha orelha em
seguida, causando-me mais arrepios pelo corpo. — Deliciosa! — Voltou a
morder e chupar meu pescoço, o que me fez soltar um leve gemido. — Tenho
uma surpresa. — Admitiu.
— Surpresa? — Afastei-me um pouco dele e encarei sua face
divertida.
— Sim, mas só saberá ao chegarmos lá. — Avisou-me.
Diante disso, deu-me um beijo singelo e sugeriu que fôssemos nos
despedir de todos os convidados e de meus pais também. Assim que
terminamos, fizemos as malas e ele enlaçou minha mão na sua, entramos em
seu carro e pegamos a estrada em seguida, só não sabia qual seria o nosso
destino, mas estava ansiosa para descobrir.

Encaro-o curiosa, ao ver que paramos em uma pista de voo particular.


Alheia, observo o local tentando imaginar o que Thomás está aprontando e
para onde irá nos levar, mas é em vão, pois não cheguei à conclusão alguma,
a não ser, a de sempre: Que irei amar qualquer que seja o que ele tenha
preparado como surpresa para mim. Amo tudo que o meu marido faz.
Assim que ele abre a porta do carro para mim, segurei em sua mão
estendida em minha direção e deixei o veículo. Em seguida, Thomás abriu o
porta-malas e pegou nossas malas.
— Porque precisamos desse jatinho particular, Thomás? — Indaguei
ao vê-lo vir em minha direção com nossas malas.
Um rapaz alto chegou até nós, no momento seguinte e nos
cumprimentou. Se apresentou como Michael, o piloto do jatinho e pediu para
que levasse nossas malas. Thomás o agradeceu ao entregá-las e assim que ele
se afastou, voltou sua atenção para mim.
— Deliciosa, só posso garantir que vai adorar a surpresa que preparei
para ti, que aliás, o nosso pequeno ou pequena também vai amar quando
estiver aqui conosco. — Disse ao segurar uma de minhas mãos na sua.
— Pode ao menos me dar uma dica? — Indaguei suplicante.
Ele sorriu e levou minha mão até seus lábios, beijando o dorso delas
suavemente.
— A única coisa que posso dizer, é que você irá gostar. — Bufei em
sinal de frustração, fazendo-o sorrir divertido. — Agora, vamos entrar
naquele jatinho e assim que estivermos lá dentro, irei vendá-la. — Franzi o
cenho ainda mais curiosa e ele entrelaçou seus dedos nos meus.
— Quanto mistério! — Proferi ao caminharmos para dentro do
jatinho.
Já dentro, permiti que colocasse a venda sobre meus olhos. Em
seguida, pude sentir um frio na barriga, quando o mesmo decolou. Thomás ao
perceber minha aflição, apertou meus dedos nos seus, fazendo com que eu
relaxasse.
— Falta muito pra chegarmos? — Depois de pouco tempo que
estávamos no ar, questionei-o novamente.
— Você acabou de me perguntar isso, deliciosa. — Repreendeu-me e
comprimi meus lábios em linha reta, tentando manter-me calada, pois a
ansiedade estava me fazendo tagarelar. — Mas, respondendo sua
pergunta...Sim, estamos perto e tente se acalmar, pois assim fará mal ao
nosso bebê. — Pediu-me.
— Está bem! Só estou curiosa, Thomás! — Expus.
— Fique calma, deliciosa, já estamos chegando. — Disse, por fim.
Mesmo me corroendo por dentro de curiosidade para saber do que se
trata sua surpresa inesperada, apenas assenti em concordância e Thomás mais
uma vez, beijou o dorso de minha mão direita. Dentro de poucos instantes, o
jatinho pousa e sinto quando suas rodas entram em atrito com o asfalto. Em
seguida, ouço-o dizer ao meu lado.
— Bem, deliciosa, eu vou te conduzir e quando eu disser para tirar a
venda, fique à vontade. — Concordei com um leve movimento de cabeça,
enquanto o mesmo me ajudou a descer do jatinho.
— Espero que goste da surpresa, deliciosa. Agora, pode tirar a venda.
— Proferiu no meu ouvido ao estar atrás de mim.
Diante de seu aval, levo minhas mãos até o nó da venda e finalmente
retiro-a. Minha vontade era de dar uns belos tapas no Thomás, pois esse
pedaço de pano incomoda um pouco, mas volto atrás, assim que observo a
linda casa a nossa frente.
— Meu Deus! — Exclamo boquiaberta e olho ao redor para ver se
não estou sonhando.
— Espero que essa alegria toda seja porque você gostou da surpresa.
— Ele diz esperando alguma reação minha.
— É claro que eu amei! Você sempre soube que eu queria uma casa
de praia, um lugarzinho calmo, só nosso, onde eu e você pudéssemos relaxar
e nos isolar do mundo quando precisássemos. — Digo completamente
emocionada.
— Fico feliz que tenha gostado, mas vamos entrar, pois as surpresas
estão só começando. — Diz um tanto alegre e encaro-o curiosa. Pelo visto, o
dia será regado de muitas emoções para mim.
Pacientemente, Thomás me apresenta toda a casa e por último,
caminhamos em direção ao nosso quarto. Aliás, estranho o fato de nosso
aposento ser o último cômodo a ser mostrado para mim, pois conhecendo
bem o meu esposo e pelas minhas contas, já era para gente estar na quarta
rodada de amor.
— Amor, por qual motivo deixou o quarto por último? — Pergunto-
lhe, pois não consigo controlar minha imensa curiosidade.
— Veja você mesma. — Thomás diz, dando-me espaço para que eu
abra a porta e assim que giro a maçaneta, abrindo-a, quase caio para trás, mas
sinto suas mãos me segurarem.
O quarto estava todo arrumado, pétalas de rosas forravam o espaço
formando um enorme coração que estava desenhado no chão. O cheiro do
cômodo estava maravilhoso, em nossa cama também haviam pétalas e as
paredes estavam cheias de fotografias minhas, dele e de nós dois juntos.
Inclusive, uma que me fez desmanchar em lágrimas, que foi no dia em que
contei para ele da gravidez.
— Tá lindo, meu amor! Obrigada por me fazer a mulher mais feliz do
mundo. — Digo no intervalo entre os inúmeros selinhos que distribuo no
rosto dele.
— Na verdade, eu que tenho muito o que agradecer. — Fala ao
colocar meu rosto entre suas mãos e me olhar profundamente. — Você me
ensinou a amar e quando digo isso, refiro-me ao amor verdadeiro. Antes eu
só vivia no automático, sem dar importância as pequenas coisas que
aconteciam no dia a dia, até porque, a vida de acompanhante de luxo não é
um mar de rosas. — Olho-o atenta, enquanto passa seu polegar por minha
bochecha, acarinhando-a suavemente. — Karolina, és a responsável por ter-
me feito perceber o quanto eu amo minha profissão como médico. O quanto é
prazeroso poder finalmente ser chamado de doutor Thomás Lobos. — Sorrio
extasiada, em meio a emoção de ouvir sua declaração tão amável para mim.
— Obrigada por tudo. — Finaliza, roçando seu nariz no meu.
— Não precisa agradecer, meu amor. Não vê que nós dois
aprendemos um com o outro? Que o verdadeiro significado do amor: é cuidar
e perdoar? Amar é quebrar a cara, mas ter um ao outro para ajudar a
reconstruir o que for perdido. É reconhecermos nossos erros e sermos
capazes de nos redimir e fazer o correto. É se jogar em uma relação, sem
medo do que possa acontecer. É tornarmos uma só alma e coração. —
Envolvi minhas mãos em seu pescoço e passei minhas unhas de leve entre os
fios de seu cabelo. — E tudo isso, nós aprendemos juntos, meu amor. —
Digo, por fim e sinto uma lágrima rolar por minha face, pois, encontro-me
emocionada com minhas próprias palavras.
Thomás me olha também emocionado e faz questão de beijar cada
lágrima minha. Em seguida, cobre meus lábios, tomando-os
apaixonadamente, fazendo com que me derreta de amores em seus braços
fortes. Assim que cessa nosso beijo, curva-se diante de mim e deposita um
beijo demorado em minha barriga.
— Vocês foram as melhores coisas que aconteceram na minha vida.
Eu amo vocês! — Declara ao estar altivo diante de mim.
— Nós também amamos você, meu amor! — Confesso alegremente.
Diante disso, Thomás não perde nenhum minuto sequer e volta a
envolver minha cintura em um aperto firme e preciso, tomando minha boca
na sua outra vez, dando-me mais um de seus beijos apaixonados.
Neste momento, noto que aquela Karolina Garcez do início que
imaginava que nunca precisaria de um homem em sua vida, estava
profundamente enganada. Porque o que percebo agora, é que as descobertas
tanto de prazer, como de felicidade que tive, desde quando Thomás surgiu em
meu caminho, valeram a pena. E, se fosse necessário, viveria tudo de novo.
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2018
Vivy Keury
Copyright © 2018 Vivy Keury
Capa: Laís Maria
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra ficcional.


Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida
real é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro
pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios
existentes sem a autorização por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na


lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal.
SINOPSE
O que é considerado traição em um casamento? Esquecer-se de uma
data especial? Atitudes impensadas?

Alberto estava vivendo em um conflito, pois havia de certa forma,


traído a sua amada esposa Priscila. Ele havia caído em uma armadilha e o que
Priscila viu acabou a destruindo emocionalmente. E isso foi o suficiente para
que Alberto se sentisse extremamente culpado.

Você seria capaz de perdoar uma traição?

Alberto tinha consciência da dor que causara em Priscila, sobretudo,


depois de fazer uma análise rápida dos anos de convívio — ele havia sido
omisso com a esposa. Diante de tais fatos e do pedido de divórcio, Alberto
desperta para a realidade e descobre que ele pode até ser inocente da
acusação de traição, contudo era culpado por muitas outras coisas dentro do
casamento.

Sentindo o peso da culpa nos ombros, Alberto não ficará de braços


cruzados e lutará para ter sua família de volta!
CAPÍTULO UM
ALBERTO
— Priscila, nós temos que conversar — impus.
Priscila mal me olhou e continuou a se vestir.
Paciente, eu soltei o ar pesaroso e aguardei que ela se pronunciasse,
contudo isso não aconteceu.
— Priscila…
Ela me interrompeu:
— Alberto, apenas pare, por favor! — Exclamou com uma fadiga
evidente no tom de voz e me encarou enquanto colocava um dos brincos na
orelha.
Soltei um riso nervoso.
— Parar? Priscila, você tem noção de quantas semanas estamos sem
ter qualquer relação íntima? — Ela me ignorou ao dar sua arrumação por
encerrada.
— Estamos em um impasse aqui, Alberto. Se bem me lembro, nós
estamos exatamente a… — fez uma expressão pensativa ao cruzar os braços
—, uma semana sem sexo, e isso não é o fim do mundo! É apenas um castigo
por você ter se esquecido do nosso aniversário em comemoração aos dez
anos de casamento — alegou, extremamente chateada.
Soltei um riso nervoso, pois foi uma reação inevitável.
— Priscila, até agora não vi fundamento algum para essa decisão
drástica. Eu errei de não ter me recordado da data do nosso décimo ano de
casamento, mas você sabe que sempre fui péssimo com datas, portanto, isso
não deveria ter te deixado surpresa. — Tentei me aproximar dela, mas ela se
afastou e entrou no closet. Mesmo impaciente com aquela situação, eu
descansei uma das mãos no bolso dianteiro da minha calça social e aguardei
até ela sair. Assim que a vi sair com sua bolsa em mãos, eu analisei seu corpo
escultural moldado pelo vestido preto, no qual usava; senti meu membro
ganhar vida, querendo acabar com aquele clima chato entre nós. Caminhei até
ela e a enlacei pela cintura. — Vamos nos entender, meu amor. Hum? —
Pedi analisando seus lábios rosados.
— Dá licença, Alberto. Minha mãe está me esperando para passarmos
o dia juntas e antes que pergunte, a Carla vai comigo, pois levarei as crianças
e ela ficará cuidando delas — Ela falou com seus lábios quase grudados aos
meus. Quando fiz menção de cobri-los com os meus, Priscila se esquivou e
fui obrigado a soltá-la.
— Chega! Eu vou para um hotel. Quando resolver conversar, eu
estarei te esperando. Mandarei o endereço no seu celular. — Caminhei a
passos largos até o closet; peguei uma mala pequena junto com algumas
peças de roupas. Voltei para o quarto.
— Está falando sério, Alberto? Ao invés de tentar se redimir, você vai
simplesmente fugir? É mais fácil, não é? — Priscila se encontrava irritada,
percebi pelo seu timbre de voz.
Evitei respondê-la, pois a raiva me consumia naquele momento.
— Quer saber, dane-se! Faça como achar melhor, mas já digo que
essa não é a melhor opção, Alberto. — A ouvi dizer e quando me voltei para
olhá-la, Priscila girou sobre seus saltos, batendo-os contra o piso e saiu do
quarto.
Soltei o ar pesaroso, mas não mudaria de ideia.

UMA SEMANA DEPOIS.


Uma maldita semana naquele hotel e nada da Priscila me procurar.
— Inferno! — Vociferei alto e mordi minha mão fechada em punho.
Era fim de expediente e eu me encontrava extremamente irritado.
Passei a semana de mau humor. Merda! Eu esperava que Priscila fosse me
procurar, mas isso não aconteceu. Todo dia, eu ia até a nossa casa para ver
meus filhos, porém, Priscila evitava a qualquer custo de ficar no mesmo
cômodo que eu e aquilo me deixava num grau de irritabilidade incalculável.
Soltei o ar inconformado com toda aquela situação. Jamais imaginei
que após dez anos de casados estaríamos passando por um momento tão
tortuoso. Eu tinha consciência de que vínhamos há algum tempo nos
desentendendo por diversas vezes. Sabia também que nosso sexo já não era
mais o mesmo, pois havia esfriado. Mesmo assim, eu não suportava ficar
longe dela e dos meus filhos. Sendo assim, eu esperaria por mais um dia, a
fim de ver se Priscila me procuraria, caso contrário, eu, voltaria para casa e
tentaria selar a paz entre nós dois.
Assim que terminei de arrumar os papéis sobre minha mesa, coloquei
alguns em minha pasta e desliguei meu computador. Em seguida, saí da
minha sala e me despedi da minha secretária, Ângela. Entrei no elevador e
desci até o estacionamento. Ao deixá-lo, segui até meu carro e ao tomar meu
assento, coloquei minha pasta sobre o banco do carona e parti para o Apart
hotel que eu estava ficando há uma semana.
Ao parar na entrada do hotel, eu entreguei as chaves para o guardador
de carros e segui para dentro. Caminhei a passos largos, pois a única coisa
que desejava no momento era tomar um banho para ver se conseguia relaxar
um pouco. Confesso que minha cabeça estava quase explodindo de
frustração.
Acionei o elevador e assim que entrei, apertei o botão correspondente
ao meu andar. Quando parou no meu destino, deixei o mesmo e segui até a
porta do meu apartamento.
— Alberto Castro? — Me virei surpreso ao ouvir meu nome e
mantive a porta aberta.
— Senhora Menezes! — Exclamei surpreso e ela sorriu.
— Ah, por favor, sem formalidades. Apenas Daniela — pediu ao se
aproximar e demos um aperto de mão. Assenti, levando em conta seu pedido.
Daniela era minha cliente. Como seu advogado, eu estava
defendendo-a numa causa referente a um processo sobre pensão, no qual, ela
estava exigindo receber do seu recém ex-marido.
— Um prazer revê-la, mas se não se importa, eu preciso entrar. —
Gesticulei na direção do apartamento.
— Hum… na verdade, eu precisava conversar com você referente a
algumas dúvidas que me surgiram. Eu sei que é antiético já que não estamos
no seu escritório, mas se não for muito incômodo, eu poderia entrar? Juro que
vai ser rapidinho e você pode me cobrar os honorários extras. — Franzi o
cenho estranhando aquele pedido e mesmo cansado, ansiando apenas ficar
sozinho, eu fui bastante paciente e pedi que ela entrasse.
Ela se acomodou no sofá da sala e perguntei se desejava beber algo.
— Se tiver champanhe, eu aceito.
Informei que tinha vinho e ela aceitou.
Fui até a cozinha, abri uma garrafa de vinho e coloquei em duas taças.
Rapidamente, eu bebi a minha ali mesmo, e assim que retornei, entreguei a
dela, mas para meu azar, o líquido derramou sobre seu vestido branco.
— Nossa! Desculpe-me.
Senti-me estúpido por ter me atrapalhado daquela maneira.
— Não se preocupe — Ela pediu calmamente. — Só me deixe usar o
banheiro e, eu darei um jeito.
Conduzi-a até o banheiro, que ficava em minha suíte. Afrouxei minha
gravata, enquanto ela se trancou no banheiro e aguardei. Quando ela saiu, eu
cobri meus olhos, surpreso ao vê-la só de calcinha.
— Meu vestido está manchado. Você em alguma roupa para me
emprestar?
— C-Claro. — Segui até meu closet e peguei uma das minhas
camisas de manga comprida.
Quando me virei para entregar a ela, Daniela avançou sobre mim e me
agarrou. No instante em que consegui afastá-la, desgrudando nossas bocas, eu
encontrei a figura da Priscila com os olhos marejados encostada no batente da
porta. Foi inevitável não notar o quanto ela estava linda!
— Então era essa a sua intenção ao vir para este hotel, Alberto? —
Decepção era evidente em seu olhar.
CAPÍTULO 2
PRISCILA
Era fim de tarde e beirava às dezoito horas. Deixei as crianças aos
cuidados da Carla, a babá, pois pedi que os colocasse para dormir. Eu que
sempre fazia aquilo, mas eu não queria que meus filhos percebessem minha
falta de ânimo, e isso seria inevitável, porque não estava mais conseguindo
disfarçar. Então, subi para o meu quarto, pensativa. Fechei a porta ao entrar e
segui até minha cama, sentando-me na beirada.
Mais cedo, eu havia ido almoçar com minha mãe e em meio a nossa
conversa sobre as conturbações do meu casamento com Alberto, ela acabou
me advertindo, dizendo que homens sempre serão falhos e eu com a
experiência de dez anos de casada, já deveria ter me acostumado. Mas, eu era
orgulhosa demais para reconhecer aquilo. Não me levem a mal, mas creio que
nunca conseguirei entender essas falhas constantes e que muitos julgam ser
normal e, que nós, esposas somos praticamente obrigadas a aceitar! Isso não
entrava na minha cabeça, afinal de contas, se eu podia tentar melhorar, fazer
as coisas darem certo com meu cônjuge, nada mais justo que ele se
propusesse a fazer o mesmo.
Bufei ao passar a mão pelo meu cabelo, uma das minhas manias de
quando ficava indecisa em determinados assuntos. Sem mais, eu segui até
meu closet, escolhi um conjunto de lingerie cor de vinho, um vestido na
mesma tonalidade e um par de saltos Louboutin[1] pretos. Voltei para o
quarto e repousei todos sobre a cama. Olhei-os ponderando minha decisão
recém tomada, porém soltei o ar, convicta e caminhei para o banheiro.
Em meio ao banho, pensei em Alberto e na intensa saudade que
estava sentindo. No quanto sua companhia, seus beijos, toques e carícias me
faziam falta. Há uma semana estávamos distantes e, eu sabia o quanto minha
personalidade forte atrapalhava na relação, eu não dava o braço a torcer tão
facilmente, mas pelo visto, Alberto também não ficava atrás, pois não tinha
voltado a me procurar. Sim, ele vinha aqui diariamente para ver nossos filhos,
só que eu evitava ficar em sua companhia, porque sabia muito bem que se ele
viesse com conversa mole para cima de mim, eu acabaria cedendo de alguma
maneira como sempre acontecia, e ele não merecia isso. Alberto tinha que
levar um gelo para abrir os olhos ou ao menos parar para pensar um pouco
mais em mim, e em nossos filhos. Aliás, até o momento em que subi para o
quarto, ele ainda não tinha aparecido para ver as crianças.
Deixando minhas divagações de lado, eu desliguei a saída de água,
me coloquei para fora do box e peguei um roupão no armário. Parei de frente
para o espelho e descansei minhas mãos sobre a bancada da pia, mordendo
meu lábio inferior. Iria ou não fazer as pazes com Alberto? Relutei comigo
mesma internamente e, por fim, permaneci com minha decisão tomada
minutos atrás: Sim, eu iria!
Deixei o banheiro, decidida e segui até a cama. Livrei-me do roupão e
comecei a me vestir. Segundos depois, eu desfiz o coque que havia feito em
meus cabelos para que não molhasse durante o banho e os penteei de frente
para o espelho. Resolvi deixá-los soltos e fiz uma maquiagem suave,
delineando meus olhos numa linha fina; na boca, eu optei por um batom
vermelho sangue. Sim, eu queria fazer as pazes com meu marido em grande
estilo! Sorri para mim mesma diante do meu pensamento perverso e após me
analisar mais uma vez, eu me dei por satisfeita. Saí do meu quarto.
No corredor, eu encontrei Carla saindo do quarto das crianças.
— Pedro e Mia já dormiram? — Indaguei.
— Sim, senhora — Ela respondeu sorridente.
— O Alberto veio vê-los? — Ela comprimiu os lábios em linha reta.
— Não.
Sem graça pela resposta, eu a agradeci e saí dali.
Voltei para o meu quarto e peguei meu celular. Disquei o número de
Alberto, mas de nada adiantou, pois deu na caixa de mensagens. Fui até meu
closet, peguei minha bolsa, verifiquei se tudo o que eu precisava continuava
dentro dela e, em seguida, caminhei para fora do quarto. Desci as escadas
firmemente e encontrei Marta em meio ao hall de entrada.
— A senhora vai sair? — Marta, a governanta da casa, inquiriu.
— Sim. Avise a Carla que se ela precisar de qualquer coisa é só me
contatar. — Ela acenou concordando.
— Quer que eu peça ao Fernando para preparar o carro? — Inquiriu.
— Não será necessário, obrigada. — Agradeci e ela assentiu. Em
seguida, me deixou sozinha.
Caminhei para fora da casa e fui até a garagem. Entrei em meu carro,
abandonei a bolsa sobre o banco do carona e coloquei a chave na ignição.
Tentei ligar mais uma vez para o Alberto, mas novamente deu na caixa de
mensagens.
— O que você deve estar aprontando, Alberto? — Pensei, ainda com
o aparelho em mãos depois de outra tentativa falha.
Joguei o celular dentro da bolsa e saí dali, pegando a estrada.
Momentos depois, eu estacionei em frente ao hotel e ao sair do carro,
entreguei as chaves para o manobrista. Caminhei para dentro do hotel e após
me identificar, a minha entrada foi liberada. Peguei o elevador até o andar do
apartamento do Alberto e assim que deixei o mesmo, segui até a porta.
Entretanto, percebi que a mesma se encontrava apenas encostada.
Franzi o cenho sem entender o motivo daquilo e empurrei a porta.
Entrei, ainda confusa, e identifiquei uma taça vazia sobre a mesinha de centro
da sala, porém, a marca de batom escuro em sua borda, não passou
despercebido diante dos meus olhos. Ao constatar aquilo, eu senti meu
coração martelar rapidamente no peito, mas me recusei a acreditar que
Alberto pudesse ter cometido tal covardia comigo.
Engoli em seco e com minha postura ereta, eu caminhei firmemente
sobre meus saltos até a suíte e, infelizmente, a resposta referente a minha
suspeita estava dolorosamente diante dos meus olhos. Alberto se encontrava
beijando uma mulher seminua e aquilo foi o suficiente para me trazer
lágrimas aos olhos. Ainda não estava acreditando no que estava sendo
projetado em minha frente.
— Então era essa a sua intenção ao vir para este hotel, Alberto? —
Minha voz saiu carregada de tristeza, assim que ele cessou o beijo com a
mulher desconhecida e me encarou, ainda encostada na porta.
Automaticamente, os olhos dele se arregalaram em completa surpresa,
claramente por eu tê-lo flagrado em pleno ato traidor. Confesso que meu
estômago estava se revirando naquele exato momento.
— Pri-Priscila, meu amor! Meu Deus! E-eu posso explicar — O
desespero era evidente, não só em seu timbre de voz, mas também em seu
olhar e postura.
Soltei um riso amargo, deixando algumas lágrimas molharem minhas
bochechas, pois a dor que sentia naquele momento era quase insuportável.
Movi minha cabeça em negativo ao vê-lo caminhar com o propósito de vir
até mim, mas antes que conseguisse obter êxito, eu praticamente saí correndo
dali e, por sorte, o elevador estava aberto quando o alcancei.
— Priscila, por favor, deixe-me… — Alberto gritou ao me ver dentro
do elevador, mas antes que concluísse seu discurso que, provavelmente havia
sido ensaiado, por sabe Deus durante quanto tempo, as portas se fecharam.
Limpei as lágrimas incessantes que deixavam meus olhos naquele
instante, sentindo meu coração pulsar em certa desordem, pois era perceptível
para mim, o quão despedaçado se encontrava. Jamais havia pensado que
Alberto me trairia de forma tão suja! Jamais ousei imaginar que passaria por
uma humilhação daquela.
Inconformada comigo mesmo por ter me deixado levar pela cega
confiança que havia depositado no homem que jurei amor e fidelidade eterna
diante do altar, eu saí do elevador e após me reorganizar sentimentalmente,
solicitei meu carro na recepção do hotel que logo me foi avisado que já se
encontrava em frente ao mesmo. Agradecida, eu saí dali encontrando o
manobrista na saída e o agradeci, entrando em meu carro.
Joguei a bolsa sobre o banco do carona, querendo esquecer tudo que
havia passado ali. Mais lágrimas deixaram meus olhos e coloquei o carro em
movimento. Dirigi para o único lugar que poderia encontrar consolo para a
dor cortante que parecia me sufocar: A casa da minha mãe.
CAPÍTULO 3
ALBERTO
— Saia daqui — Eu disse com veemência ao colocar o vestido de
Daniela em suas mãos.
Ela me encarou embasbacada, parecia desacreditada. Porém, eu estava
pouco me importando se ela sairia com a roupa manchada. Dane-se!
— Não posso sair daqui assim — informou em tom rude.
Cessei meus passos antes de atravessar a porta da minha suíte e passei
as mãos furiosamente pelos meus cabelos, enquanto analisava suas palavras.
— Se vista e saia logo — Pronunciei em tom seco, sem ao menos
olhar para ela. Eu não dei a mínima para sua preocupação.
Segui em direção a cozinha e enchi completamente a taça de vinho.
Tomei um bom gole, enquanto olhava para a porta aguardando que Daniela
passasse por ali, rumo a saída do meu apartamento. Sorvi um gole maior e
assim que a avistei, parada em frente à porta olhando para mim, eu fechei
meus olhos me lembrando da dor projetada nos olhos da minha esposa
momentos atrás.
— Eu… — escutei Daniela tentando iniciar algum argumento, mas a
interrompi antes que o fizesse:
— Só saia! — Exclamei mais alto do que desejei naquele momento e
logo ouvi o barulho dos seus saltos se tornando menos audíveis, em seguida,
escutei o clique da porta da sala, anunciando-me sua saída.
Encontrava-me em uma completa desordem emocional, por isso
preferi que Daniela apenas fosse embora dali, caso contrário, eu não sei se
seria capaz de moderar o teor de minhas palavras, e para evitar mais dores de
cabeça foi o melhor a se fazer. Mesmo sabendo que Priscila havia saído dali
completamente ferida, eu não fui capaz de alcançá-la. Eu sabia bem que ela
deveria estar me odiando, desejando que eu virasse fumaça e sequer fazia
questão da minha existência.
Sem conseguir controlar minhas emoções, que já se encontravam à
flor da pele, eu joguei a taça contra a parede a minha frente, que logo se
esfarelou em incontáveis cacos de vidro. Enfurecido era pouco para o que eu
estava sentindo, mediante ao que havia acontecido ali, e o pior era ter a
completa certeza de que não adiantaria em nada ir atrás de Priscila, pois ela
nunca acreditaria em mim e de certa forma, com razão, porque se eu a
encontrasse beijando um homem seminu num Apart hotel, eu pensaria o
mesmo que ela estava pensando sobre mim neste exato momento: Que eu era
um traidor! O certo seria dar um pequeno espaço de tempo para ela se
acalmar, aí sim, eu iria atrás dela e tentaria explicar tudo.
— Maldição! — Mordi minha mão fechada em punho, e esfreguei
meu rosto em seguida.
Soquei a bancada da pia a minha frente e senti uma dor aguda em
minha mão, mas que passou minutos depois. De olhos fechados e com as
mãos descansando sobre a bancada, eu me via perdido, pois não sabia ao
certo o que fazer. Minha esposa estava me odiando naquele exato momento,
o que eu poderia fazer para reverter aquela situação horrenda?
Sem uma resposta plausível para meu questionamento, eu saí da
cozinha e peguei meu celular de dentro do bolso da minha calça social, o
mesmo se encontrava descarregado. Merda! Com certeza Priscila teria
tentado me ligar antes de vir. Para ter certeza, eu caminhei até meu quarto e
assim que alcancei o carregador, coloquei o aparelho para pegar um pouco de
carga. Segui para o banheiro a fim de tomar um banho para tentar tirar toda a
tensão que havia se instalado em meus músculos nas últimas horas daquele
dia tortuoso.
Dentro do Box, sentindo a água quente sobre minha cabeça, eu pensei
se ao ir atrás da minha esposa, Priscila, ela pararia ao menos para me escutar,
se ela me daria o direito da dúvida.
— Em pensar que tudo isso está acontecendo pelo simples fato de eu
ter vindo para um hotel, ao invés de ter ficado em nossa casa para tentar
resolver nosso conflito em meio a uma conversa civilizada. Agora isso não
será possível — Lamentei e logo me veio à mente suas últimas palavras: “Já
digo que essa não é a melhor solução, Alberto”. — Se eu tivesse te
escutado… — proferi de olhos fechados e soltei o ar pesaroso, sentindo meu
coração doer no peito.
Desliguei a saída de água após dar meu banho por encerrado e saí do
banheiro, enrolado de um roupão. Cheguei até meu celular, verifiquei que já
tinha alguma porcentagem de carga e o liguei. No mesmo instante,
apareceram duas mensagens de tentativas de ligação e fechei meus olhos
apertando o aparelho em minha mão.
— Droga! — Praguejei ao constatar o que já havia imaginado:
Priscila realmente tinha tentado me contatar antes de vir até o Apart.
Mordi meu lábio inferior e joguei o celular sobre a cama, ainda
conectado ao carregador. Segui até meu closet, escolhi uma calça jeans,
camiseta e tênis. Assim que me vesti, eu peguei minha carteira, chaves e
celular.
Saí do apartamento e segui para o elevador. Acionei o botão e
aguardei por poucos minutos, pois logo o mesmo chegou até ali. Entrei, e
instantes depois o deixei já estava me encaminhando para o térreo. Segui até
a recepção, pedi meu carro e solicitei o serviço de quarto para que fizessem
uma limpeza em meu apartamento, já que eu havia feito uma verdadeira
bagunça expondo a minha ira.
Assim que anunciaram que o guardador de carros já estava com o
meu veículo na frente do hotel, eu agradeci e atravessei o hall saindo dali.
Agradeci ao rapaz e entrei em meu carro. A verdade é que incertezas
rondavam minha cabeça naquele momento, mas eu tinha que tentar me
explicar para Priscila.
Se fosse preciso, eu suplicaria por seu perdão, mas não deixaria que
esse mal-entendido nos afastasse de vez. Isso não era uma opção. Não
mesmo!
Coloquei o carro em movimento com aquela certeza em mente.
Determinado, dirigi em direção à nossa residência, pois resolveria aquela
infeliz situação. Priscila ia ter que me ouvir, mesmo se não fosse seu desejo.
CAPÍTULO 4
PRISCILA
Dentro do meu carro, eu olhei no retrovisor, verificando as visíveis
olheiras que denunciavam que eu havia chorado, mesmo assim, eu dei partida
e saí pelos portões da casa dos meus pais. Minha conversa com minha mãe,
fora muito mais do que reconfortante para mim; me fez enxergar o que
realmente eu deveria fazer e a decisão já estava tomada. Em meio ao
percurso, eu respirei fundo por diversas vezes, sentindo que meus olhos se
umedeceram, mas fui forte e não me permiti derramar nem uma lágrima a
mais.
Momentos depois, eu estacionei meu carro na garagem de casa e saí,
indo em direção a porta de entrada. Porém, estava tão distraída que quase não
notei o carro de Alberto ali. Balancei a cabeça em negativo antes de entrar
pela porta e segui com minha postura altiva, subindo as escadas calmamente.
Caminhei pelo corredor e entrei em meu quarto. Tomaria um banho
para tentar relaxar um pouco, antes de ir acampar no quarto dos meus filhos,
pois nada me deixaria mais serena do que tê-los próximos a mim. Porém,
assim que abri a porta, eu me deparei com Alberto de costas para mim. Pude
identificar certa tensão no ambiente.
— Priscila… — creio que com o barulho da porta se abrindo, ele
acabou percebendo minha presença e logo tentou se explicar, mas passei por
ele e segui para dentro do closet. Logo o tive em meu encalço —, nós…
Cortei-o ao me livrar dos meus sapatos e bolsa:
— Agora não, Alberto. — Tentei soar calma, mas a verdade é que eu
me sentia desmoronando por dentro, porém, não iria demonstrar fraqueza na
frente dele.
— Olha, eu imagino o quanto você deve estar me condenando agora
pelo que viu naquele Apart hotel, mas não é nada daquilo que pareceu ser —
Continuei me desfazendo das minhas roupas, enquanto escutava sua tentativa
de explicação.
Passei por ele, voltando para o quarto e quando ele notou que,
praticamente, eu o estava ignorando, tomou meu braço em um agarre firme,
fazendo-me girar sobre meus pés para encará-lo.
— Acaso não está me ouvindo? — Não fui capaz de respondê-lo, pois
analisava seus olhos negros e pesarosos, enquanto nossos olhares estavam
imóveis, fixos um no outro.
Várias perguntas se passaram em minha cabeça, das quais,
infelizmente, não obtive qualquer resposta. Por fim, eu soltei o ar,
desgostosa, e tentei me livrar do seu aperto.
— Solte-me! — Exclamei com veemência, deixando claro a minha
irritação no tom de voz.
Assisti o canto dos seus lábios se arquear num sorriso irônico,
enquanto nossos olhares continuavam fixos.
— Priscila, por favor! Você tem que acreditar em mim! — Seu olhar
era suplicante, assim como sua postura.
— Chega, Aberto! — Puxei meu braço do seu agarre mais uma vez e
ele o soltou. Ao me virar, eu me deparei com minha imagem refletida no
espelho, próximo a porta do banheiro, e notei que me encontrava apenas de
lingerie, no qual tinha colocado no intuito de que ela fosse tirada do meu
corpo pelo meu marido, entretanto, isso não foi possível de acontecer. Mordi
meu lábio inferior e encarei Alberto, que me fitava por trás com sede no
olhar. — Eu quero o divórcio — pronunciei sem vacilar.
Logo a expressão de Alberto se tornou incrédula.
— Priscila, por favor, você precisa acreditar em mim, meu amor. Eu
não te traí, eu… — impedi que ele continuasse.
— Eu acredito — Soltei num fio de voz e me voltei para ele.
Eu não sabia ao certo se minhas palavras eram verídicas, mas resolvi
ser prática naquele momento para evitar que Alberto se demorasse em ir
embora. A verdade é que, eu não estava suportando olhá-lo, pois
automaticamente, minha mente projetava o que vi em seu apartamento e
aquilo estava me matando por dentro, mesmo eu não demonstrando.
— Você precis... O quê? — Incerteza tomou conta de seu rosto, e ele
me encarou desacreditado do que tinha acabado de ouvir.
— Eu acredito que você não tenha me traído. Você pode ter todos os
defeitos do mundo, mas a sua integridade foi o que me fez amá-lo, Alberto.
Contudo, isso não muda o fato de que ainda quero a separação — Fui firme
em minha decisão, mantendo um discurso que nem eu mesma fazia ideia de
onde havia tirado. Mas diante da conversa que tive momentos antes com
minha mãe, eu tinha decidido que queria me separar dele.
Alberto passou a mão de modo furioso entre os fios negros do seu
cabelo e tentou se aproximar de mim, mas eu dei alguns passos para trás.
— Se acredita em mim, por que insiste nessa besteira de querer a
separação? — Soou inconformado e continuou: — Não percebe que a amo?
— Sua voz saiu carregada de arrependimento e, ele deu alguns passos em
minha direção, dessa vez, eu não fugi.
— Hoje, eu voltei a enxergar as coisas com mais clareza, Alberto e
acabei me redescobrindo, ou melhor, tomei ciência do quanto também me
amo e é por este motivo que insisto em querer o divórcio, no qual você vê
como uma besteira — falei com firmeza.
Ele soltou um riso nervoso, voltando a se distanciar de mim.
— Só pode estar brincando! — Fez pouco caso.
— Não, Alberto. Eu não estou brincando e você sabe disso — afirmei.
— Vai mesmo jogar anos de convivência no lixo por… — ele
ponderou —, nem ao menos sei o porquê, de fato, está ansiando pela nossa
separação, Priscila. — Deu de ombros. — E os nossos filhos, hum? Acaso
não pensa no estado que eles ficarão diante disso? — Inquiriu.
— Engraçado você tocar nisso, porque sequer pensou neles quando
decidiu ir alugar um Apart hotel com o intuito de fugir dos nossos problemas.
— Acusei-o com veemência e completa insatisfação diante desse
comportamento imaturo.
— Está fazendo tempestade em copo d'água, Priscila — lamentou. —
Há outra maneira de resolvermos isso — Tentou me convencer.
— Bom, eu creio que não temos mais nada a dizer um ao outro,
portanto, agora preciso tomar um banho — Dei nossa conversa por encerrada
e caminhei até o banheiro. Assim que cheguei até a porta, eu me voltei para
ele. — Logo, o meu advogado irá entrar em contato com você para que assine
os papéis do divórcio. Espero que seja feliz no novo rumo que dará a sua vida
— Dito isso, eu fechei a porta e encostei-me a ela. Deixei-me escorregar até
sentar no chão frio.
Meu coração se encontrava aos pulos. Apesar de me mostrar firme e
forte diante do Alberto, meu interior estava devastado. Era doloroso demais
toda aquela situação que nos envolvia, mas o divórcio era a decisão certa.
Deixei algumas lágrimas escorrerem dos meus olhos e envolvi meus
braços em torno dos meus joelhos, abraçando-os.
— Eu não vou assinar esse divórcio, Priscila! Escreve o que vou dizer
agora: custe o que custar, eu vou ter minha família de volta — Ouvi Alberto
dizer do outro lado da porta e por um momento, eu senti minha respiração
falhar por alguns segundos.
Mais lágrimas deixaram meus olhos após ouvi-lo bater a porta do
quarto. Aquilo nunca foi meu real desejo, mas diante de tantas falhas da parte
do Alberto, eu acabei chegando naquela decisão e não cederia. Confesso que
estava doendo e não era pouco, porém, daquele momento em diante, havia
decidido que jamais me anularia novamente em prol de qualquer outro
homem.
CAPÍTULO 5
ALBERTO
De frente para a janela que me dava uma vista panorâmica da cidade,
eu me encontrava com uma intensa dor de cabeça. Enquanto tomava um café
forte e sem açúcar, eu descansei minha mão livre no bolso da minha calça
social e bebi mais um pouco do líquido, no qual, eu ansiava que acabasse
com a dor insuportável que sentia naquele momento; consequência de uma
noite em claro.
Leves batidas foram dadas na porta, e mesmo assim, o grau de sua
intensidade fez com que minha cabeça latejasse e fui obrigado a apertar
minhas pálpebras fortemente, a fim de amenizar a dor.
— Senhor, aqui está o relatório que me pediu da última reunião —
Querendo esquecer meus problemas pessoais e aquela dor exorbitante em
minha cabeça, eu terminei de tomar o café e me voltei para minha mesa,
depositando o copo sobre a mesma.
Peguei a pasta em minhas mãos e abri. Ângela continuou de
prontidão, aguardando ser elogiada, mas quando vi erros de português no
relatório, eu mordi meu lábio inferior, tentando conter minha raiva, mas não
consegui por muito tempo.
— Está brincando comigo? — Joguei a pasta fechada sobre a mesa e
encarei Ângela, que parecia uma estátua humana e pálida na minha frente.
Ela me olhava nos olhos sem ao menos tremer a pálpebra.
— É... se-senhor… — gaguejou sucessivas vezes, me fazendo perder
a paciência de vez.
— Refaça esse relatório! Quero-o na minha mesa ainda hoje! —
Falei mais alto do que desejei naquele instante, e pude notar que ela engoliu
em seco.
— Mas senhor, e-eu…
Interrompi:
— Vá logo, sua incompetente! — Proferi entre dentes, com minhas
mãos descansando sobre o tampo da mesa.
Cabisbaixa, Ângela se voltou para ir em direção à saída, mas cessou
seus passos ao me ouvir.
— A pasta — falei em tom rude, repreendendo-a pela falta de
atenção.
Rapidamente, ela voltou, pegou a pasta sobre a mesa e sequer me
olhou. Seguiu até a porta e antes de atravessá-la, Matheus apareceu ali e a
olhou de modo piedoso.
— O que fez com ela? — Me joguei na cadeira e rolei os olhos.
— Lá vem a Madre Teresa de Calcutá! — Exclamei, impaciente
diante de sua indagação. — O que menos preciso agora é de você me
torrando a paciência, Matheus, porque isso eu já não tenho mais. — Frisei ao
passar a mão pelo meu rosto.
— O que está acontecendo, Alberto? Em todos esses anos, nos quais
somos sócios nesse escritório, eu nunca o tinha encontrado dessa forma —
Matheus e eu, apesar de sermos sócios, também éramos bons amigos. Desde
a faculdade, eu sempre dividi minhas frustrações com ele e dessa vez, mesmo
querendo manter meus problemas conjugais apenas para mim, eu não
conseguiria.
Soltei o ar pesaroso e me levantei. Coloquei-me atrás da minha mesa
e ponderei por um breve momento.
— A Priscila quer o divórcio — pronunciei, e senti cada palavra sair
cortante, como se fossem giletes que deixassem minha boca. Encontrava-me
devastado por toda aquela situação desastrosa em meu casamento.
— O quê? — Ouvi Matheus questionar com certa incredulidade no
tom.
Limitei-me a olhá-lo.
— É isso mesmo que ouviu — proferi no fim.
— Algo deve ter acontecido para que…
O interrompi ao soltar um meio sorriso.
— Bom, eu vou te contar tudo o que vem acontecendo nesses últimos
meses entre mim e Priscila, e então, você poderá me dar sua opinião. — Me
voltei para ele ao terminar de falar e contei sobre nossos desentendimentos,
inclusive sobre o episódio no Apart hotel. Momentos depois de finalizar,
Matheus se tornou pensativo, enquanto passava uma de suas mãos no queixo,
já que a outra descansava no bolso dianteiro de sua calça social.
— Pelo que me relatou, isso explica tudo! — Soltei um riso irônico.
— Não tem nada que explique essa postura da Priscila. — Nos
encaramos, ele em pé e, eu sentado em minha cadeira. — Ela nem mesmo
tem um motivo plausível para pedir o divórcio, Matheus! Quantas mulheres
estão buscando pela posição que ela tem ao meu lado? Por que a Priscila não
consegue enxergar isso? — Bati a mão contra o vidro da mesa, sentindo meu
sangue correr feito labaredas em minhas veias. Tamanha era a minha
frustração.
Notei que Matheus me encarou em estado de choque. Dado alguns
segundos, ele se pronunciou:
— Eu acho que quem não está enxergando é você, Alberto — proferiu
ao balançar a cabeça em negativo.
— O quê? — Questionei incerto sobre o que havia acabado de ouvir.
— Você não está enxergando a grande mulher que é a Priscila, aliás,
nunca enxergou. — Trinquei meu maxilar ao escutar tamanha afronta.
— Como ousa? — Proferi entre dentes, sentindo minha frustração
aumentar. Me levantei da cadeira, fechando minha mão direita em forma de
punho.
— Como seu amigo, eu posso falar: Você está agindo feito um
moleque! — Encarei-o sentindo uma vontade imensa de socá-lo, mas preferi
me conter.
— Acaso está de olho na minha mulher? — Matheus comprimiu os
lábios em um meio sorriso.
— Bom, ela ainda está casada com você, mas, visto que, daqui a
pouco tempo estará livre, que mal terá em investir? — Mordi minha mão
fechada em punho, tentando conter minha fúria naquele momento.
— Saia da minha sala! — Ordenei rudemente.
Matheus explodiu em uma gargalhada, no qual me fez olhá-lo
mortalmente.
— Você é patético, sabia? — Evitei respondê-lo, ou seria capaz de
avançar sobre ele.
Voltei a sentar em minha cadeira e comecei a focar nos processos de
clientes que eu tinha de analisar.
— Ah, essa cliente é sua — Encontrei o processo da Daniela Menezes
em meio aos outros e o entreguei. Não queria vê-la nem morta na minha
frente.
— Mas você está cuidando desse caso desde o início — retrucou.
— Estava. Agora ele é seu — Dei aquele assunto por encerrado, pois
Matheus não voltou a me responder. — Agora saia da minha sala — pedi em
tom seco.
Sem olhá-lo, eu ouvi seus passos seguindo em direção a porta e após
escutar a mesma ser aberta, ele falou:
— Você deveria tentar reconquistar a Priscila, sabe? Fazer coisas que
lembre momentos bons entre vocês — Parei o que estava fazendo para ouvi-
lo e o encarei. Matheus deu de ombros ao me lançar um meio sorriso e
deixou minha sala em seguida.
Ponderei sobre seu conselho e, naquele momento, me soou
perfeitamente bem.
CAPÍTULO 6
PRISCILA
UMA SEMANA DEPOIS
De frente para o espelho, eu soltei uma baforada de ar, no qual
denunciava meu extremo cansaço. Há uma semana, eu havia voltado ao
trabalho, no mesmo ramo que exercia quando conheci Alberto. Eu também
era formada em direito, e na época em que começamos a nos relacionar, eu
fui boba o bastante para aceitar me casar com ele e acabei deixando minha
profissão de lado logo quando me descobri grávida do nosso primeiro filho:
O Pedro.
Quando tomei essa decisão, eu quis ter tempo apenas para cuidar da
minha família, do meu filho e esposo. Dois anos depois, eu me descobri
grávida da Mia, minha princesinha. Se me arrependo? Claro que não. Mas
aos poucos, Alberto conseguiu me ludibriar para que eu desistisse dos meus
sonhos e da minha carreira, e confesso que isso era uma verdadeira lástima
para mim. Afinal de contas, eu fui uma esposa espelho, para quê?
— Por que Alberto? Por quê? — Proferi tais perguntas diante do
espelho, enquanto assistia lágrimas deixarem meus olhos.
Abaixei minha cabeça, movendo-a em negativo, pois me recusava a
ficar me lamentando pelos cantos sobre erros, nos quais não foram meus. No
final de tudo isso, eu fiz meu papel como esposa modelo, mas não recebi o
devido valor. Alberto não me merece —, pensei.
Decidida, eu saí do banheiro, enrolada em um roupão. Chegando no
meio do quarto, eu ouvi o toque do meu celular. Cessei meus passos e o
alcancei sobre o criado-mudo. Quase deixei o aparelho cair no chão diante do
choque ao ver o nome do Alberto estampado no visor. Afinal de contas, já
tinha se passado uma semana desde nossa última conversa neste quarto e, ele
não havia me ligado nem mandado uma mensagem. Apenas recebi um buquê
de rosas, mas sem qualquer frase, somente com seu nome. De certo modo,
aquilo aqueceu meu coração, só que me recusei a procurá-lo.
— Priscila Alcântara — Atendi de modo formal.
— Desde quando o seu sobrenome voltou a ser Alcântara? — Alberto
berrou do outro lado da linha e mordi meu lábio inferior, reprimindo um
sorriso. Eu queria vê-lo furioso!
— Desde que estamos em um processo de separação — respondi sem
vacilar.
O escutei grunhir audivelmente e mais uma vez me segurei para não
rir.
— Olha… — ele pareceu soltar o ar rapidamente —, eu já disse que
não vou assinar porcaria de divórcio algum! E se aquele seu advogado voltar
a por os pés em meu escritório… — seu tom era rude, então, rolei os olhos,
impaciente por causa de sua cena e o interrompi:
— Você como um advogado renomado, deveria medir suas palavras
antes mesmo de ameaçar o meu advogado — Tratei de lembrá-lo.
Ouvi-o limpar a garganta.
— Não estou ameaçando ninguém. É apenas um aviso — ressaltou de
modo seco.
— Pois bem. Estou buscando fazer tudo em comum acordo, de modo
amigável entre nós dois, mas já que insiste em dizer que não assinará o
divórcio, não cooperando comigo, eu serei obrigada a colocar o processo no
litigioso, assim não precisarei ficar a mercê de sua assinatura — Escutei-o
praguejar ao fundo e foi inevitável um sorriso brotar em meus lábios.
— Você não faria isso! — Duvidou de modo irônico, e foi impossível
não ouvir seu sorriso debochado.
Sua colocação foi o estopim para mim.
— Pois aguarde e verá! Ah, e passe aqui para buscar suas coisas, seu
estúpido! — Encerrei a ligação com lágrimas querendo brotar dos meus
olhos mais uma vez, contudo engoli em seco.
— Chega de chorar, Priscila. — Repreendi a mim mesma e segui para
dentro do meu closet.
Sentia-me exausta pela semana agitada de trabalho, como advogada
do meu pai, que era dono de uma das redes de hotéis mais luxuosas do país.
Em meio aos afazeres, eu havia esquecido um pouco dos meus problemas
conjugais, só que, infelizmente, Aberto não me permitia esquecer de sua
existência por muito tempo. Hoje era sexta-feira e meu pai havia me
dispensado mais cedo, alegando que era para meu próprio benefício. Eu ri
disso, mas não pestanejei, porque pensei realmente em usar esse tempo extra
para passar com meus filhos.
Eles viviam me perguntando sobre onde o papai deles estava, e eu só
sabia mentir, dizendo que o traste estava viajando a trabalho. Porém, eu tinha
ciência de que logo teria de ser franca. E, eu sabia que não seria fácil. Não
mesmo!
CAPÍTULO 7
ALBERTO
— Maldição! — Apertei o aparelho de celular em minha mão com
força, após ouvir a linha ficar muda, constatando que Priscila havia desligado
o telefone em minha cara. Pior ainda foi escutá-la me chamando de estúpido!
Rosnei insatisfeito ao me recordar daquilo.
— Está cada vez mais divertido vê-lo se roendo por causa da Priscila.
— Fui tirado dos meus devaneios, após ouvir a risada irritante do Matheus,
no qual nem tinha notado a presença.
— E está cada vez mais difícil eu me conter para não socar sua cara,
seu imbecil! — Ele reprimiu um sorriso, comprimindo os lábios em linha
reta, enquanto desviava seu olhar do meu. Observei-o sentar na cadeira de
frente para mim na mesa.
Fechei meus olhos ao depositar meu celular sobre a mesa e respirei
fundo, pois precisava me acalmar e pensar com mais clareza.
— Hum… — ouvi Matheus se pronunciar e ponderou ao limpar a
garganta — O que foi dessa vez? — Abri meus olhos repentinamente e o
encarei.
Levantei de minha cadeira e mesmo querendo manter uma postura
rígida, eu não consegui, pois logo deixei meus ombros caírem, deixando claro
o quão derrotado me sentia diante do que vinha acontecendo em meu
casamento com Priscila. Encontrava-me exausto!
— Eu estava dando o espaço que ela precisava e olha o que ela faz?
— Ressaltei após deslizar uma de minhas mãos para dentro do bolso de
minha calça e o encarar.
— Alberto, só… tente se redimir, tudo bem? A Priscila é uma mulher
linda, honesta, companheira, além de ser uma esposa fenomenal. Muitos
marmanjos por aí desejariam tê-la ao lado. Então, pare de perder tempo sendo
um completo babaca e vá reconquistá-la. — Continuei encarando-o e percebi
que me sentia mais calmo. Dessa vez, mesmo ele elogiando demais a Priscila,
eu não tive vontade de agredi-lo. Muito pelo contrário, eu até meneei a
cabeça em concordância.
Quando conheci Priscila, o Matheus já era meu sócio, então, ele a
conhecia bem, afinal de contas, nós três trabalhávamos juntos no escritório, já
que Priscila também advogava na época.
— É isso mesmo que farei. Obrigado! — Agradeci e ele sorriu.
— É assim que se fala, meu amigo. Estarei torcendo para que tudo se
resolva. — Ele sorriu e se levantou, alinhando seu terno e deixou minha sala
em seguida.
Pensativo, eu recolhi a papelada da minha mesa, colocando-as de
qualquer forma dentro da pasta, que em seguida guardei na gaveta da minha
mesa. Tudo arrumado, eu saí da minha sala, informando a minha secretária
que estava indo embora e não voltaria mais. Afinal de contas, eu já havia
finalizado meus afazeres do dia. No estacionamento, eu entrei em meu carro e
dirigi indo ao encontro de Priscila.
Momentos depois, eu me encontrava subindo os degraus até o andar
de cima da nossa casa. Confesso que estar ali nas condições em que eu e
Priscila estávamos, era devastador. Mesmo assim, eu não me deixei abalar,
pois lutaria para ter minha família de volta.
Cheguei até o corredor e antes de alcançar a porta, eu notei-a
entreaberta. Ao me aproximar um pouco mais, eu olhei pela pequena abertura
e não encontrei a figura da Priscila por ali. Entrei e pude sentir o aroma de
banho recém tomado, vindo da porta do banheiro, completamente aberta.
Segui até o closet e me escorei no batente ao me deparar com Priscila
tentando fechar o zíper do vestido.
Minha vontade foi de agarrá-la ali mesmo, afinal de contas, eu já
vinha há semanas sem um único resquício de sexo. Eu a desejava. Como a
desejava! Porém, eu tentei reprimir minha ereção, pois meu pau havia
ganhado vida automaticamente, diante daquela cena.
— Precisa de ajuda? — Indaguei e a assisti dar um pulo em completa
surpresa ao me ouvir.
— Não é necessário — Dito isso, ela continuou tentando fechá-lo,
mas foi em vão.
Logo a vi deixar seus braços caírem ao lado do corpo, denunciando
que havia sido derrotada por um simples zíper e fui rápido em ajudá-la.
Porém, eu quis me demorar mais do que o normal, mas Priscila me ignorou
completamente.
— Você já sabe onde ficam as malas. Leve todas se precisar. Vou
ver as crianças agora. — Ela praticamente saiu correndo dali ao terminar de
falar.
Meneei minha cabeça em negativo e comecei a arrumar minhas
coisas.
¥
— Isso será o suficiente — falei para mim mesmo, após fechar a
segunda mala. Eu havia pegado poucas peças, afinal de contas, eu teria
minha família de volta, custe o que custasse.
Arrastei as duas malas para fora do closet e coloquei-as próximo a
cama.
— Papai! Estava com saudades! — Me virei e logo tive os braços de
Pedro em torno de minha cintura.
Ao olhar para a porta, uma pequena miniatura também entrou, correu
até mim e eu me abaixei. Mantive os dois entre meus braços, sentindo seus
cheirinhos suaves. Me encontrei sorridente, ao mesmo tempo em que uma
paz invadiu meu coração, o aquecendo.
— Voltou de viagem? — Pedro especulou ao se desvencilhar do meu
abraço. Então foi essa história que Priscila inventou para nossos filhos? —
Indaguei mentalmente.
— Papa, posso domi com você essa noite, bem agarradinha? — Mia
perguntou e eu a encarei. Ela era linda, uma cópia perfeita da mãe, enquanto
Pedro se parecia mais comigo.
Eu sorri e beijei a bochecha dela.
— Hum… respondendo sua pergunta, filhão, não, eu não voltei de
viagem, na verdade, eu estou… — antes que eu terminasse de falar, eu
levantei meus olhos encontrando Priscila de braços cruzados encostada no
batente da porta e, ela meneou a cabeça em negativo, sinal de repreensão
sobre o que eu pretendia falar. Mordi meu lábio inferior e respirei fundo. —
Na verdade, a mãe de vocês está brava comigo, meus filhos. — Pedro se
voltou para Priscila e a vi me fuzilar com o olhar.
— Por que está brava com o papai, mamãe? — Soltei um meio sorriso
ao vê-la descruzar os braços, em completo desconforto diante da pergunta do
nosso filho.
Vendo-a desconcertada e sem saber o que inventar dessa vez, eu
cheguei próximo ao Pedro, enquanto Mia seguiu até Priscila estendendo seus
bracinhos pedindo colo.
— Tive uma ideia. Por que você não conversa com a mamãe e pede
para o papai dormir aqui, hoje? Podemos assistir a um filme todos juntinhos,
que tal? — Cochichei no ouvido de Pedro e, ele se afastou com um brilho
especial nos olhos, concordando comigo.
Assisti-o insistir para que a mãe aceitasse nosso pequeno programinha
em família. Acuada, ela me lançou um olhar fulminante, mas me coloquei em
posição ereta e apenas dei de ombros, reprimindo um sorriso de satisfação
por vê-la sem saída. A contragosto, Priscila acabou cedendo e as crianças
pediram pipoca para comerem durante o filme.
Apenas uma hora depois, o filme se encontrava na metade, mas Pedro
e Mia já dormiam entre mim e Priscila, na cama em nosso quarto. Peguei
Pedro em meus braços, enquanto Priscila ajeitou Mia nos seus, e os levamos
para o quarto deles. Devidamente embrulhados, acarinhei e beijei o topo da
cabecinha de cada um.
Ao sair dali, Priscila empurrou um edredom e um travesseiro em
meus braços. Ela fechou a porta do quarto após me desejar um boa noite, sem
sequer me dar tempo de respondê-la.
Fui obrigado a me direcionar para o quarto de hóspedes. Joguei o
edredom sobre a cama juntamente com o travesseiro. Me desfiz das minhas
roupas e entrei para um banho. Ao finalizar, eu me encontrei um pouco mais
tranquilo. Apenas de cueca, deitei na cama, sentindo-a enorme, pois sentia
falta da Priscila, assim como no Apart hotel, todas as noites.
¥
Apalpei o criado-mudo e ao alcançar meu celular, eu constatei que
eram três horas da manhã. Eu havia pegado no sono, acho que pelo cansaço
do trabalho durante essa semana. Levantei da cama e vesti um roupão.
Saí dali e vi que a porta do quarto da Priscila estava entreaberta outra
vez. Curioso, eu segui até ela e fui surpreendido ao ouvir o som de choro.
Triste por toda aquela situação, eu encostei-me à parede ao lado da porta e
lamentei com as mãos na cabeça. Um flashback passou pela minha mente e
finalmente caí em mim, percebendo o quanto fui falho em não valorizar e dar
a devida atenção a Priscila, minha esposa.
Entristecido com aquele episódio, eu caminhei para longe dali,
tomando uma decisão.
CAPÍTULO 8
PRISCILA
UM MÊS DEPOIS
É fim de tarde e, eu me encontrava no alpendre do meu quarto,
observando o Sol se pondo ao longe. Pensativa, eu mordi meu lábio inferior e
o vento ricocheteou meu rosto, esvoaçando meus cabelos. Fechei meus olhos
e um meio sorriso brotou em meus lábios, fazendo-me aspirar o ar
profundamente, dando-me uma tranquilidade que há um mês já não sentia
mais.
Diante de minha constatação, eu abri meus olhos e logo avistei o carro
de Alberto entrando pelos portões da nossa casa. Há um mês, ele se
encontrava hospedado em um quarto de outro hotel, sem ser o que o flagrei
com aquela mulher seminua. Céus! Nem mesmo sei exatamente o que
aconteceu entre eles naquele dia, mas eu simplesmente acreditei que ele não
havia me traído.
Soltei o ar em lamentação e resolvi sair dali depressa, assim que
Alberto estacionou o carro em frente à porta de entrada. Segui para dentro do
meu quarto e mais uma vez meu coração pulava no peito, somente pelo fato
de tê-lo visto. Suspirei baixo e passei a mão pelos meus cabelos, que agora
estavam curtos, acima dos meus ombros, já que antes eram compridos e
batiam na altura do meu quadril.
Eu quis fazer uma mudança radical, pois estava precisando.
Decidi doar a parte que cortei do meu cabelo para o salão, pois eles
eram parceiros de uma associação de crianças com câncer. Achei muito nobre
da parte deles e não me custou nada ajudar, afinal de contas, o que não me
servia, com certeza faria uma criança sorrir, sentir-se mais viva e nada me
deixaria mais feliz. Além disso, eu fiz algumas mexas douradas em meu
cabelo. Confesso que amei o resultado. Aproveitei e fiz a sobrancelha e as
unhas. Realmente havia aproveitado o dia, já que fiquei sozinha, pois Alberto
tinha levado as crianças para um passeio, algo que vinha me admirando, pois
ele estava fazendo isso todos os finais de semana durante o mês que se
passou.
Porém, sua mudança repentina não me fez mudar de ideia quanto ao
nosso divórcio, pois entrei com o pedido no litigioso há algumas semanas.
Bufei.
Sentada, eu abri a primeira gaveta do criado-mudo, pegando mais
uma vez o bilhete que encontrei na manhã seguinte a que Alberto viera fazer
as malas e acabou passando a noite ali, depois de assistirmos um filme com
nossos filhos. O desdobrei e reli novamente.
“Perdoe-me. Dou minha palavra que irei reconquistá-la, pois quero
minha família de volta. ”
Naquela manhã, após ler seu bilhete, eu segui até o quarto de
hóspedes, mas ele já não estava lá. Confesso que não esperava aquela atitude.
Desde então, trocávamos apenas palavras necessárias a respeito dos nossos
filhos.
Alberto até tentava mover nossa conversa para o lado conjugal,
porém, eu sempre o ignorava, evitando-o a qualquer custo. Eu tinha decidido
não o deixar me ferir outra vez e não cederia tão fácil, apesar de estar sendo
extremamente difícil, pois ultimamente, meu corpo dava sinais de que sentia
muita falta do seu toque, do seu cheiro másculo… de tê-lo ao meu lado.
— Mãe, você não vai acreditar! — Ouvi a voz do Pedro ao entrar em
meu quarto de uma vez e fui rápida ao dobrar o bilhete e colocá-lo de volta na
gaveta do criado-mudo.
Logo, ele se prostrou na minha frente e começou a relatar seu dia —
fantástico — que fez questão de frisar. Mia logo entrou sorridente e subiu em
minha cama. Eu sorri alegre por ter meus bagunceiros de volta. Confesso que
a casa ficava enorme e muito silenciosa sem suas presenças marcantes.
Notei de soslaio que Alberto nos observava, enquanto mantinha os
braços cruzados, sorrindo de modo ameno e recostado no batente da porta.
— Como já me contaram sobre o dia excepcional que tiveram, agora
está na hora de tomarem um banho bem relaxante, pois o jantar sairá dentro
de poucos instantes, tudo bem? A Carla vai cuidar de vocês. — Mal terminei
de falar e eles saíram correndo do quarto.
Naquele momento, levantei da minha cama e percebi que me
encontrava a sós com Alberto. Encontrei-o na mesma posição, ainda
recostado no batente da porta e notei que sua expressão tinha mudado,
pareceu-me… surpreso! Logo o vi sair dali e caminhar até mim, mantendo
seu olhar fixo ao meu, o que me fez engolir em seco.
— Está… — ele começou a falar ao parar bem próximo a mim, mas o
interrompi:
— Mudada? Sim, estou! — Adiantei-me.
— Ah, isso também, mas está ainda mais bonita do que já era —
Elogiou-me.
Perante seu elogio inesperado, eu me senti meio zonza e incerta sobre
o novo Alberto a minha frente, pois, de fato, ele havia notado minha
mudança. Em outros tempos, isso não aconteceria com tanta facilidade.
— Mesmo achando muito estranho o seu elogio, eu agradeço. — Ele
deu um meio sorriso. — Se me der licença, eu preciso ir ver se o jantar está
pronto — anunciei, mas antes de conseguir passar ao seu lado, tive sua mão
em volta do meu braço.
— Peço que espere, pois tenho uma proposta para lhe fazer — Suas
palavras me fizeram franzir o cenho com certa dúvida, porém puxei meu
braço do seu agarre, me colocando dois passos atrás e o encarei de braços
cruzados.
— Se puder ser rápido, eu agradeço. — Alberto apenas assentiu. —
Do que se trata? — Indaguei curiosa.
— Quero que venha trabalhar comigo novamente, em meu escritório,
como sócia. O que me diz? — Alberto me pareceu paciente e pronunciou
cada palavra com bastante convicção.
Sorri ironicamente.
— Você acha que fazendo isso, eu mudarei de ideia quanto ao fim do
nosso relacionamento? — Perguntei na defensiva.
Ele sorriu e disse:
— Essa não é minha intenção, Priscila. Aquele escritório é tão seu
quanto meu. Eu nunca deveria tê-la incentivado a abandonar a sua carreira,
pois você é uma advogada brilhante — O encarei por algum tempo,
meditando sobre o que acabou de me propor e logo me pronunciei:
— Eu preciso pensar — informei.
— Tudo bem, eu aguardarei sua resposta — Dito isso, apenas assenti
agradecida e logo Alberto deixou meu quarto.
No meio do cômodo, agora sozinha, eu passei a mão pelo meu
pescoço o massageando, tentando pensar com clareza, mas não obtive
sucesso. Em seguida, caminhei pelo corredor até alcançar os primeiros lances
da escada e enquanto descia, somente uma pergunta martelava em minha
cabeça: Trabalhando diariamente com Alberto, como eu faria para me manter
imune ao seu charme? E, pior, ao amor que ainda nutria fervorosamente por
ele?
Sem uma resposta plausível para tais perguntas, segui para a cozinha
e deixei para encontrar a solução daquele problema em outro momento.
CAPÍTULO 9
ALBERTO
UMA SEMANA DEPOIS
Era fim de tarde de sábado e caminhei a passos largos pelo hall do
prédio onde Matheus morava. Acionei o elevador e assim que me encontrei
dentro dele, eu apertei o botão correspondente ao andar do seu apartamento.
Mordi meu lábio, impaciente, e passei os dedos furiosamente entre os fios
dos meus cabelos. Sentia certa indignação pelo ocorrido de minutos atrás.
Virei-me para o lado espelhado do elevador e praguejei:
— Droga! — Constatei o lado do meu rosto ainda vermelho.
Fechei meus olhos ao me lembrar do momento em que consegui tal
proeza:
“— Fica se fazendo de durona, levando adiante esse assunto sobre
nosso divórcio, mas no fundo, eu sei que não quer nossa separação —
encurralei Priscila entre meus braços, enquanto nos encontrávamos no
escritório da nossa casa e assisti seu sorriso divertido.
— Você soa tão convencido, Alberto — Seu comentário me fez
endurecer o olhar, pois não havia gostado. — Com toda essa sua encenação
de bom pai e me mandando flores com frases românticas todos os dias
durante essa semana, até me fez repensar sobre meus conceitos referentes a
você, mas diante desse seu ego fenomenal, creio que mais uma vez me
enganei a seu respeito — grunhi insatisfeito com sua colocação. Ansiando
tirar aquele sorriso dos lábios dela, no qual estava me irritando,
rapidamente os cobri com os meus.
Priscila tentou me empurrar, mas fui ágil e juntei suas mãos sobre
sua cabeça. As segurando firmemente, aprofundei nosso beijo e pude
desfrutar de seu precioso gemido, o mesmo que me enlouqueceu por diversas
vezes quando estávamos com nossos corpos nus em nossa cama. Eu ainda a
desejava e como desejava! Podia sentir meu pau extremamente duro, quase a
ponto de rasgar o tecido da cueca, pois desde antes de me mudar da nossa
casa, eu me encontrava em abstinência de sexo.
Assim que cessei nosso beijo, um sorriso puxou o canto dos meus
lábios ao afastar nossas bocas e no momento que encarei Priscila, ela se
encontrava com uma expressão indecifrável por mim.
— Diga que não sente mais nada por mim, Priscila Diga-me que
realmente deseja esse maldito divórcio! — Inquiri, sério.
— Vá embora, Alberto — Incrédulo, eu tentei beijá-la novamente,
mas fui atingido por um tapa. — Eu já disse, vá embora! — Encarei seus
olhos umedecidos por breves segundos. Com minha postura ereta, eu apenas
assenti e, em seguida, saí dali. ”
Fui tirado de meus devaneios após ouvir o anúncio de que havia
chegado ao andar desejado. Caminhei a passos largos até a porta do
apartamento de Matheus e apertei a campainha por duas vezes seguidas,
atitude que demonstrou o grau da minha irritabilidade. Rapidamente, a
mesma foi aberta.
— Quanta impaciência! — Matheus comentou.
— Não imagina o quanto! — Segui para dentro sem esperar ser
convidado.
Como éramos amigos de longa data, eu tinha aquela liberdade em seu
apartamento, Matheus me conhecia bem. Diante disso, eu caminhei até sua
cozinha e na parte superior, dentro do seu armário, peguei uma das garrafas
de vinho que tinha ali, alcancei uma taça e a preenchi com uma boa
quantidade de vinho.
— O que aconteceu dessa vez? — Ouvi Matheus me perguntar e após
eu ingerir uma boa dose da minha bebida, eu me virei para ele, mas antes de
respondê-lo, eu me sentei.
— Isso aconteceu! — Proferi entre dentes, apontando para o lado
esquerdo do meu rosto, no qual estava vermelho.
Matheus fez menção de sorrir, mas lancei um olhar duro em sua
direção e ele mordeu o lábio, reprimindo-o.
— Seria sensato, eu perguntar onde conseguiu que parte do seu rosto
ficasse dessa forma? Na verdade, espera… — revirei os olhos, impaciente
com seu lado debochado de sempre.
— Cala a merda da boca, Matheus! — Vociferei e ele sorriu
divertido. — Achei que encontraria um amigo por aqui capaz de me ouvir,
mas vejo que me equivoquei — frisei, descontente, e bebi o restante do vinho
em goles rápidos.
Notei Matheus perder o riso debochado e tomou uma postura séria.
Logo o encarei se sentando do outro lado da mesa.
— Me desculpe. — Notei que ele falava sério dessa vez e apenas
assenti, desculpando-o. — O que aconteceu? — Inquiriu.
Contei tudo o que havia acontecido, desde minha chegada do passeio,
no qual havia levado meus filhos, até o momento em que saí da casa, após ter
levado um bofetão de Priscila.
— Que situação, meu amigo. — Matheus lamentou.
Soltei o ar cansado.
— Acho que vou desistir. Priscila está irredutível. Há mais de dois
meses que venho tentando mostrá-la um “eu” diferente, mas, pelo jeito, eu
não estou obtendo êxito. — Deixei meus ombros caírem e passei a mão pelo
meu rosto.
Enchi minha taça pela terceira vez.
— Preste bem atenção no que acabou de dizer, Alberto. — Franzi o
cenho sem entendê-lo. — Há mais de dois meses, você vem tentando fazê-la
te enxergar de outra forma. Vai mesmo desistir depois de tanto tempo? Não
acha melhor mudar de estratégia? — Indagou.
Soltei um riso de canto e bebi meu vinho.
— E o que você sugere, senhor gênio da lâmpada mágica? — Naquela
altura, eu já me sentia levemente alterado pela quantidade de vinho ingerido,
pois, mais da metade da garrafa já estava vazia.
— Só é engraçado quando bebe? — Matheus perguntou divertido.
— Ah, cala a boca! — Exclamei e ele sorriu divertido.
— Não terá a conferência do escritório? Que tal usá-la a seu favor e
surpreendê-la? Garanto que vai conseguir amolecer o coração da Priscila —
Encarei-o, pensativo por um breve momento, ponderando sobre o que eu
poderia fazer para deixar minha esposa admirada, e logo uma fagulha se
acendeu em minha mente.
— É, pode dar certo — frisei em tom de aprovação e nós dois
comemoramos com mais uma taça de vinho.
CAPÍTULO 10
PRISCILA
Depois de sábado, o dia em que Alberto esteve em minha casa e me
beijou de modo abrupto e, eu tê-lo esbofeteado e praticamente o expulsado,
eu fiquei pensando sobre o pedido de divórcio e se realmente o queria. Por
diversas vezes, meu coração se comprimiu no peito ao me lembrar dos
momentos felizes que tivemos durante os nossos dez anos de casados.
Ponderei também sobre o fato de tê-lo visto atracado com aquela mulher no
Apart hotel, no qual estava hospedado antes.
Além disso, eu coloquei na balança tudo o que nós dois perderíamos
se nos separássemos. Afinal de contas, tínhamos dois filhos que amávamos
muito e por mais que já tivesse mais de dois meses que Alberto não dividia o
mesmo teto conosco, eles constantemente me questionavam sobre o motivo
do papai deles não estar na nossa casa. Lógico que eu sempre inventava
qualquer outro assunto para despistá-los, e confesso que estava cada vez mais
difícil conviver com essas especulações diárias, apesar de serem tão
pequenos.
Ainda tinha o fato de eu estar tendo pensamentos e até sonhos que
pareciam tão reais, nos quais, eu me encontrava entrelaçada ao corpo nu de
Alberto. Era mais do que certo que eu o amava e muito! E foi medindo tudo
isso em meus pensamentos, que fui obrigada a tomar uma decisão: Eu pediria
a anulação do processo do divórcio. Não pensei nem mais um segundo ao
decidir sobre aquilo e rapidamente liguei para o meu advogado e o pedi para
cancelar o pedido. Claro que ele se mostrou surpreso, mas acatou minha
solicitação.
O restante do final de semana passou rapidamente e nesse instante, eu
me encontrava dirigindo em direção ao escritório do Alberto, no qual agora
também era sócia. Admito que estar na presença dele diariamente sem poder
me aninhar aos seus braços ou até mesmo cumprimentá-lo com um simples
beijo de bom dia e, ou desejá-lo um ótimo trabalho, não estava sendo nada
fácil. Mas hoje, eu pretendia dar um ponto final nisso.
Certa sobre meu pensamento, eu saí do carro sorridente ao estacioná-
lo no estacionamento do escritório. Atravessei o hall de entrada dando um
bom dia a todos os funcionários e segui para o elevador. Assim que o mesmo
chegou até mim, entrei e acionei o botão do andar correspondente ao meu.
Pouco tempo depois, eu saí do elevador e cumprimentei minha
secretária Ariane, que me saudou com seu sorriso estonteante de sempre.
Segui para minha sala com a expectativa de encontrar mais um buquê
de flores acompanhado por um bilhete contendo uma frase romântica de
Alberto, pois ele havia feito isso durante toda a semana passada, porém, a me
ver ali dentro, minhas expectativas caíram por Terra. Minha mesa estava
limpa e arrumada, sem qualquer vestígio de flores.
Coloquei minha bolsa e pasta sobre a mesa e saí da sala. Encaminhei-
me até a mesa da minha secretária.
— Ariane, chegou alguma encomenda para mim essa manhã? —
Inquiri, o que a fez parar o que estava fazendo e voltar sua atenção para mim.
— Não, senhora. Estava programado para que recebesse algo? —
Indagou ao me responder.
É, realmente Alberto não tinha me enviado nada — constatei
mentalmente.
— Não, não tinha nada programado. Só quis tirar uma dúvida. —
Sorri amena ao informá-la e agradeci.
Caminhei pelo corredor que dava acesso ao lado oposto da minha sala
e segui direto para a porta da sala de Alberto, porém, eu fui parada por
Ângela, sua secretária.
— Senhora, você não pode entrar. O senhor Alberto foi extremamente
claro ao me pedir para que eu não permitisse a entrada de ninguém. — Franzi
o cenho ao ouvir tamanho absurdo.
— Mas, eu não sou um ninguém, eu sou a senhora Castro, esposa
dele. Acaso esqueceu-se disso? — A vi tomar uma postura desconcertante.
Ela ajustou seus óculos de grau com a ponta do seu dedo indicador.
— Não me esqueci, senhora. Mas o senhor Alberto frisou que sua
entrada também não estava permitida — Ela proferiu, segura de sua resposta.
— Quanto ultraje! — Exclamei, irritada com toda aquela situação, no
qual, Alberto tinha me imposto.
Marchei a passos firmes até sua sala, mesmo diante dos protestos de
Ângela. Abri a porta e me deparei com ele sentado na cadeira atrás de sua
mesa, enquanto falava ao telefone, parecia estar conversando com algum
cliente. Assim que me viu, ainda demorou por alguns minutos para encerrar a
ligação e fui paciente em aguardá-lo, pois não sairia dali sem tirar aquela
história a limpo.
— Senhor, eu tentei impedi-la, mas ela não me ouviu — Ângela
tomou a frente, tratando de se explicar para Alberto, assim que ele terminou o
telefonema.
— Pode se retirar, Ângela. Obrigado! — Ele pediu de modo cordial e
continuou sentado em sua cadeira.
— O que deseja é algo importante? — Cruzei meus braços, ainda
próxima a porta, que Ângela havia acabado de fechar.
Soltei um riso irônico.
— Que eu saiba ainda sou sua esposa, ainda tenho certos privilégios,
ou estou equivocada? — Alberto sorriu divertido.
— Estamos em um processo de divórcio, Priscila! Poupe-me de sua
ironia — Foi rude. — Diga logo o que deseja, pois tenho muito trabalho a
fazer — Complementou de modo grosseiro.
Caminhei até sua mesa e descansei minhas mãos sobre a mesma.
Naquele momento, nos encaramos.
— Você me beijou ao ir até minha casa e agora fica fazendo
joguinhos baratos, impedindo minha entrada em sua sala e simplesmente me
ignorando? O que aconteceu? — Ralhei, demonstrando minha insatisfação
diante de suas atitudes inesperadas.
— Eu apenas me dei conta de que nadar sozinho contra a correnteza é
inútil — Mesmo ao sentir o golpe da frieza contida em suas palavras, eu
mantive meus olhos fixos aos dele por alguns segundos.
Em seguida, eu ajustei minha postura e caminhei para a porta, saindo
de sua sala rapidamente. Encontrava-me uma verdadeira bagunça pelo que
tinha acabado de ouvir, tanto física quanto mentalmente. Naquele momento,
eu só precisava me organizar novamente, afinal de contas, eu havia cogitado
algo e aconteceu totalmente o contrário.
Mas uma dúvida rondava minha cabeça: Alberto realmente tinha
desistido ou só estava blefando?
CAPÍTULO 11
ALBERTO
Naquele momento, eu observei Priscila entrar na sala de modo formal,
onde cumprimentou a todos com um sorriso encantador nos lábios, mas que
morreu ao me encarar, pois tratou de endurecer sua postura e seguiu até a
mesa, servindo-se do café que estava sendo oferecido a todos os
colaboradores do escritório que se encontravam presentes. A conferência se
passava na sala de reuniões por ser um lugar fechado tendo espaço suficiente
para debatermos sobre as pautas levantadas durante a reunião que tivemos na
semana passada, aonde vimos necessidade de questionar sobre um
melhoramento. Enquanto fui obrigado a engolir Priscila conversando de
modo despreocupado com outro advogado do escritório, o Davi, eu tomei
meu café forte e sem açúcar, pois há meses vinha tendo aquele mesmo ritual,
porque a abstinência de sexo já estava afetando meus neurônios.
— Incomodado, meu amigo? — Soltei uma lufada de ar, ignorando
completamente a pergunta idiota de Matheus e me limitei a respondê-lo.
Minha atitude o fez sorrir ao meu lado e Priscila me encarou, deixando a
conversa que estava tendo de lado com seu mais novo conquistador barato.
Minha vontade era de ir até ela, tomá-la em meus braços e beijar sua boca
com paixão, porém, ainda não era o momento de eu colocar meu plano em
prática. — Acho que vou tirar uma foto para você ver sua cara de paspalho
enciumado. — Minha atenção foi voltada para Matheus após ouvir seu
comentário medonho, e percebi que ele realmente estava apontando seu
celular na direção do meu rosto.
— Deixa de ser imbecil, Matheus! — Proferi entre dentes, batendo
com a mão em seu aparelho e ele reprimiu uma gargalhada ao guardar seu
celular.
Querendo esquecer todo aquele assunto referente a mim e a Priscila,
mesmo querendo esganar o Davi por estar conversando de modo
desavergonhado com a minha bela e excitante esposa, eu tratei de iniciar a
conferência, frisando algumas pautas a serem discutidas entre nós. Alguns
colaboradores haviam preparado materiais interessantes, como alguns vídeos
explicativos. Enquanto assistíamos, meu ciúme de ver Davi sentado tão
próximo a Priscila, mesmo ambos prestando atenção no que nos era
apresentado, me corroía por dentro.
Por diversas vezes, eu me vi abaixar a cabeça e alisar minha testa,
puxando o ar profundamente em meio ao processo para não perder minha
compostura. Notei que Priscila me ignorou pelo restante da conferência. Hora
ou outra, eu notava suas olhadas de relances. Ao menos isso me fez sorrir por
dentro, pois, de fato, ela não estava me ignorando por completo.
Horas mais tarde, aproximávamos do horário de almoço e a
conferência foi encerrada com êxito. Contudo, eu pedi que todos
permanecessem em seus devidos lugares. Enquanto todos se encontravam
acomodados, eu fiquei de pé e suas atenções foram voltadas para mim, até
mesmo a de Priscila, mas seu olhar me denunciava que não só prestava
atenção em mim, como também mostrava estar curiosa sobre o que eu diria.
Matheus me encarava em expectativa e confesso que foi o que contribuiu
para que eu respirasse fundo e iniciasse meu propósito ali.
— Eu não sei se todos aqui sabem, mas a doutora Priscila é a nova
sócia do escritório e muito competente, por sinal. — Assisti ela se ajeitar em
sua cadeira com um sorriso agradecido nos lábios, enquanto os outros
colaboradores presentes a parabenizavam. — Bom, é lógico que deixei para
informar a todos sobre isso por último de forma proposital, porque além de
sócia, Priscila é minha esposa. — Fui firme ao pronunciar a “esposa” e assisti
Davi coçar a nuca, desconcertado, limitando-se a olhar para mim e também
fez questão de distanciar sua cadeira da dela, algo que agradeci mentalmente.
— Permita-me corrigi-lo, doutor Castro, mas logo estaremos
divorciados, pois estamos em um processo de separação — Priscila ressaltou
demonstrando firmeza em suas palavras.
Eu soltei um riso nervoso e balancei a cabeça em negativo ao
encontrar olhares especulativos voltados para mim, enquanto Priscila me
encarava com um olhar impenetrável.
— Foi muito bom tocar neste assunto, minha adorável esposa, afinal
de contas, você chegou ao ponto que eu queria… — ponderei — Há dez
anos, eu fui um grande sortudo por conhecer uma mulher linda e destemida.
Uma advogada de pulso firme e que jamais perdia uma causa. Eu me encantei
por sua beleza extraordinária! Não só a beleza física e estonteante que ela
desfila por aí, mas também me apaixonei por sua beleza intelectual. Sendo
assim, eu não perdi tempo em investir para ganhar seu coração de vez e eu
consegui. — Sorri balançando a cabeça em negativo. — Nos casamos, um
ano depois de iniciar nosso namoro, mas passados seis anos de casados, ela
engravidou e decidiu abdicar-se de sua carreira promissora para se dedicar a
mim como esposa, e ao nosso filho como uma verdadeira mãe preocupada, e
tudo isso, porque eu pedi e ela me concedeu sem pestanejar. — Direcionei
meu olhar para Priscila, que se encontrava atenta ao meu relato, mas
continuava indecifrável. Todos os outros presentes pareciam verdadeiramente
interessados no que eu falava, então prossegui: — Pedro nasceu, e dois anos
depois veio nossa princesa Mia. — Naquela altura, eu senti meu coração se
aquecer num grau altíssimo e me vi emocionado com minhas próprias
palavras. — Sabe, senhores… Eu e a doutora Priscila construímos uma
família linda, com dois filhos valiosíssimos, mas eu falhei como marido,
assim como pai também. — Notei que dessa vez, Priscila desviou sua atenção
da minha, mas deu para perceber emoção atravessar o seu olhar, sinal de que
eu estava conseguindo amolecer seu coração aos poucos. — Durante dez
anos de casados, eu fui omisso em muitos pontos como, por exemplo:
Esqueci datas que para mim eram apenas comemorações sem muita
importância, mas durante o tempo que não compartilhamos mais o mesmo
teto, eu tive tempo o suficiente para notar o quanto elas eram
importantíssimas, mas que eu fui cego o bastante para não notar. Também fui
omisso em elogiá-la diariamente, no qual dedicou tantos anos a mim e aos
meus filhos, com o único propósito de nos ver felizes. Como vocês podem
ver, eu deixei de notar pequenas coisas que faziam uma grande diferença para
ela. A verdade, meus senhores, é que nós homens temos o péssimo hábito de
não regar a planta que nos empenhamos tanto para conquistar, pelo simples
fato de já a termos conseguido. Afinal de contas, quando conquistamos algo
“facilmente”, raramente damos o devido valor, no qual merece — pronunciei
ao descansar uma de minhas mãos no bolso dianteiro da minha calça social e
caminhei a passos precisos até Priscila, que me encarava emocionada e
atônita.
Assim que parei diante dela, eu estendi minha mão esquerda para ela
ao tirá-la do meu bolso e para minha surpresa, sua mão pousou sobre a minha
e quando fez menção de se erguer de sua cadeira, eu movi minha cabeça em
negativo e me pus de joelhos, assistindo-a arregalar os olhos perante minha
atitude inesperada.
— Priscila, eu te peço perdão por todas as falhas que cometi com
você. Eu sei que tudo o que salientei aqui, pode não ter penetrado seus
ouvidos e chegado até seu coração como eu pretendia que ocorresse, porém,
apenas peço que me dê mais uma chance para que eu possa te mostrar que eu
aprendi a lição e vou passar a praticá-la. Eu juro que honrarei os votos
proferidos diante do altar da igreja no dia em que casamos, há dez anos, e que
agora vejo que nunca tive preocupação alguma em demonstrá-los com
atitudes. Eu te amo, Priscila! E nunca houve e jamais existirá outra mulher
em minha vida que não seja você. Me perdoa? — Assisti uma lágrima
involuntária escorrer pela sua bochecha, enquanto eu falava com nossas mãos
entrelaçadas, mas assim que pedi seu perdão novamente, um soluço rompeu
por sua garganta e ela me puxou, levantando-me do chão ao também se
erguer da cadeira. Ela enlaçou seus braços em torno do meu pescoço
enquanto ainda chorava.
Eu sorri feliz em tê-la entre meus braços novamente, e nunca mais
permitiria que saísse dali outra vez. Meu coração se aqueceu num grau
altíssimo. Era fato que eu a amava muito.
Ela logo se afastou e me encarou chorosa e com um sorriso nos
lábios.
— É óbvio que ainda temos alguns pontos a serem esclarecidos, mas
mesmo assim, eu te perdoo meu amor! Eu também te amo muito. — Após
sua declaração, juntei seu corpo ao meu, mesmo diante dos demais presentes
na sala e tomei seus lábios em um beijo urgente.
Ouvi que fomos aplaudidos, mas naquele momento, eu quis que
existisse apenas eu e Priscila. Queria aproveitar sua companhia e também
matar a saudade horrenda que estava sentindo de ter seu corpo colado ao meu
e era o que eu faria!
CAPÍTULO 12
PRISCILA
Confesso que diante do discurso realizado pelo Alberto na frente dos
demais colaboradores do escritório, foi impossível me manter indiferente. Fui
pega totalmente desprevenida e no final, ele realmente conseguiu atingir seu
ponto, na verdade, amoleceu por inteiro o meu coração. Já era certo que eu
não desejava mais continuar com o processo do nosso divórcio, mas diante do
modo grosseiro, no qual, Alberto me tratou no dia anterior, eu acabei
ponderando sobre aquele meu desejo, porém, ele me surpreendeu de maneira
inigualável naquela sala de reuniões, hoje pela manhã, após a conferência do
escritório.
O fato é que meu coração o pertencia há dez anos e isso eu não
conseguia mudar, nem mesmo se eu quisesse, afinal de contas, foi ele quem
escolhi para amar até que a morte nos separe.
Fui tirada dos meus devaneios pela voz de Alberto.
— Hum… está muito pensativa, meu amor. Volta para mim! —
Alberto afagou meus cabelos com seus dedos grossos e o juntou em suas
mãos em seguida, dando pequenas mordidas em minha nuca.
Eu gemi diante do seu ato e mordi meu lábio inferior reprimindo um
sorriso satisfatório.
Depois de finalizado nossos afazeres no escritório, não perdemos
tempo e fomos direto para o hotel em que ele estava “morando”. Em meio ao
percurso, enquanto Alberto dirigia, eu liguei para casa e informei a Marta que
eu chegaria tarde e pedi que dissesse a Carla, pois sabia bem que Pedro e Mia
sentiriam minha falta, pelo fato de eu sempre estar presente no jantar e
colocá-los para dormir. Assim que chegamos, logo deixamos qualquer
pendência que ainda pudesse existir entre nós e nos dedicamos a explorar
minuciosamente o corpo um do outro. Saudade era o que não faltava para
podermos sentir um ao outro.
Nosso grau de excitação estava elevadíssimo. Alberto me amou de
uma maneira que eu sequer me lembrava de quando havia sido a última vez,
já que antes de ele sair de casa, o nosso sexo tinha esfriado bastante. Porém,
daquela vez foi diferente, pois um fogo visceral nos tomou por completo e
fizemos muito mais do que um simples sexo, pois nos amamos de modo
ímpar. Confesso que ainda me encontrava com meu clitóris pulsando, porque
acreditava que estava longe de nos saciarmos.
Logo me movi na cama, colocando-me de frente para Alberto e ele
tomou meus lábios em um beijo ardente, mordendo meu lábio inferior ao
cessá-lo.
— Jura para mim que realmente não me traiu naquele dia? — Apesar
de eu tê-lo absolvido de qualquer culpa no dia em que tudo ocorreu, eu ainda
tinha minhas dúvidas internas, afinal de contas, eu só confirmei que
realmente acreditava nele por causa da conversa que tinha tido com minha
mãe, onde ela me pediu para ponderar sobre minha acusação a Alberto,
porque nem sempre tudo o que vemos é realmente o que parece ser.
Diante de meu pedido, Alberto mordeu seu lábio inferior enquanto
circulou seu polegar em minha bochecha, acarinhando-a.
— Naquele dia, eu fui pego desprevenido, Priscila… — ele iniciou o
relato sobre o que realmente tinha acontecido e eu cheguei justo no momento
exato para concluir uma grande besteira. Ainda me relatou que no dia
posterior àquele episódio indesejado, ele tratou de passar o caso daquela
cliente do escritório para outro sócio, o Matheus. Ouvi tudo atentamente e
assim que Alberto finalizou, eu argumentei:
— Me desculpa por ter posto seu caráter em dúvida, entrando em
contradição. Pois se formos analisar, eu já o tinha absolvido em relação
àquele episódio, porém, essa pequena dúvida insistiu em se impregnar em
meu cérebro, tornando-se tão estridente, a ponto de quase me deixar louca e
eu tive a necessidade de que você a sanasse de vez, para que não houvesse
mais nenhum assunto pendente entre nós. — Passei minhas unhas por sua
barba rala, sendo contemplada por seu sorriso espontâneo e galanteador.
— Não deve me pedir desculpas, afinal, eu te compreendo, pois se
fosse o contrário, também teria tirado as mesmas conclusões ou muito pior.
— Sorrimos em uníssono diante de sua declaração e logo nos encaramos. —
Eu que peço perdão por todos os erros que cometi com você, meu amor. Eu
prometo que serei um homem melhor. — Olhei-o emocionada pelo fato de
ele querer mudar por mim e nossos filhos, e isso fez meu coração acelerar.
— Eu já o perdoei, Alberto. — Ele sorriu e beijou levemente meus
lábios, agradecendo e ressaltou que eu não me arrependeria por estar dando-
lhe uma segunda chance. — Eu só não entendi o fato de ontem você ter me
tratado com extrema frieza em sua sala, até proibiu minha entrada! —
Complementei, deixando claro no meu tom que, eu não havia gostado
daquilo.
Alberto gargalhou alto e eu o assisti: lindo e charmoso. O homem, no
qual tinha meu coração nas mãos e que mudaria por mim e meus filhos.
Prova de amor maior do que aquilo para mim, não existia. Logo, ele grudou
ainda mais nossos corpos e me encarou.
— Foi apenas uma estratégia que usei para deixá-la em dúvida sobre
o meu querer, mediante o processo do nosso divórcio — comunicou.
— Seu… — antes que eu estapeasse seu peitoral nu, ele segurou meus
pulsos e senti seu pau duro contra minha virilha.
— Eu sei que sou gostoso. — Ele mordeu meu lábio, provocando-me,
arrancando-me um gemido agudo.
— Isso, sem sombra de duvidas você é! — Incitei-o ao levar minha
mão contra seu membro e apertá-lo sem cerimônia alguma. Ele me encarou
com um olhar cheio de luxúria e eu sorri. — Antes que continuemos com
isso, eu tenho algo a falar sobre o divórcio. — Ele franziu o cenho,
demonstrando preocupação através do seu olhar.
— Pois diga — pediu.
— Eu pedi o cancelamento do processo antes de ontem — Ele deu um
grito fervoroso, agradecendo aos céus pelo que eu havia acabado de falar e
pressionou seu pau contra minha virilha com mais firmeza dessa vez.
— Obrigado! Não vai se arrepender por isso. Farei de você a mulher
mais feliz desse mundo. — Sorridente, puxei-o para cima de mim.
Mais uma vez nos amamos. Desfrutamos de um sexo maravilhoso,
onde nenhuma palavra precisou ser dita para reafirmar o amor que tínhamos
um pelo outro. Nossos corpos já falavam por si.
FINAL
DOIS ANOS DEPOIS
“Jantar às dezenove horas? ” — Digitei a mensagem para Priscila, que
se encontrava em meio a uma audiência.
Eu sabia que ela não responderia naquele momento. Então, eu entrei
em contato com Marta, a governanta da nossa casa, e pedi para que ela
preparasse um jantar especial para mim e Priscila. Também solicitei que
ornamentasse a mesa com um vaso de rosas ao meio. Assim que a agradeci,
eu encerrei a ligação e continuei meus afazeres no escritório.
Por volta das dezessete horas, alguém rompeu a porta da minha sala
sem ser comunicado, até pensei na hipótese de ser o Matheus, porque ele
tinha aquela velha mania, mas deixei de me importar com esse fato ao ver
minha esposa entrando firmemente com uma postura profissional sobre seus
saltos. Recostei-me em minha cadeira e me deliciei ao assistir sua entrada
triunfal.
— O seu pedido para o jantar está mais do que aceito! — Ela
exclamou ao contornar minha mesa e chegar até mim. — Espero que ainda
esteja de pé — ressaltou.
Incapaz de me manter longe por mais tempo, eu me ergui da minha
cadeira e a prensei contra a mesa.
— Lógico que está de pé. — Enlaçado a sua cintura, eu proferi rouco
em seu ouvido e a encarei em seguida.
— Não me provoque, querido! — Eu sorri, diante de sua repreensão.
— Tudo bem. — Afastei-me dela e comecei a organizar os papéis
espalhados sobre minha mesa. — Ainda tem mais algum afazer? —
Questionei, colocando os papéis dentro da minha pasta.
— Depois de uma audiência cansativa, nada melhor do que ir para
minha casa e me deliciar com a companhia do meu amado marido, já que as
crianças passarão o final de semana com os avós, não acha? — Priscila
afagou minhas costas após sua declaração, frisando sobre o fato de estarmos
“livres” e eu a olhei de soslaio, sorrindo de canto.
— Sem sombra de dúvidas — declarei ao terminar de arrumar minha
mesa e me virei para ela, dando-lhe um selinho rápido.
Seguimos para fora da minha sala e nos despedimos da minha
secretária, Ângela. Momentos depois, nós saímos do estacionamento e fomos
em direção a nossa casa.
¥
Após o jantar, Priscila me agradeceu pelo momento a dois que
tínhamos tido, onde eu havia pedido a Marta que preparasse. Vê-la feliz era o
que vinha me tornando um homem melhor a cada dia. Na verdade, durante os
dois anos que se passaram, desde o infeliz episódio do processo do nosso
divórcio e que acabou não acontecendo, confesso que aprendi muito. Deixei
minha arrogância de lado e estava me dedicando a ela e nossos filhos como
um verdadeiro homem de família.
— Já disse que está estonteante nesse vestido? — Tínhamos
terminado de comer e eu ainda a elogiava, enquanto ainda desfrutávamos do
vinho que eu havia escolhido.
— Sim, várias vezes — Priscila salientou sorridente, fazendo-me
sorrir também.
— Eu tenho um presente para você — Ela me encarou com os olhos
brilhantes. — Na verdade, dois — corrigi.
— O que será? — Ela indagou de modo curioso.
Levantei-me da minha cadeira e fui ao seu encontro. Estendi minha
mão, que logo teve a dela sobre a minha e subimos para o nosso quarto.
Enquanto pedi que ela me aguardasse, eu segui para dentro do nosso closet e
peguei duas sacolas.
Voltei para o quarto com as mesmas em mãos e Priscila se encontrava
sentada em nossa cama com os pés descalços. Acomodei-me ao seu lado e
entreguei o primeiro presente. Assim que ela abriu, Priscila cobriu sua boca
me encarando com um olhar emocionado.
— Que lindo, meu amor! — Ela exclamou ao pegar o colar em suas
mãos e, em seguida, tocou o pingente que tinha um casal junto com duas
crianças, um menino e uma menina.
— Como completamos doze anos de casados e não a presenteei com
algo diferente de flores... — ela sorriu diante da minha ressalva —, então
pensei em algo que verdadeiramente, você pudesse usar e que representasse
nossa família. — Assim que finalizei, ela envolveu seus braços em torno do
meu pescoço e me beijou profundamente, fazendo-me apertar sua cintura
com veemência.
— É o presente mais lindo que você poderia ter me presenteado,
Alberto — Ela comentou, emotiva. — Eu te amo. — Meu peito inflou ao
ouvi-la, pois, fazer Priscila e meus filhos felizes era o que vinha me enchendo
de orgulho nesses dois anos que se passaram.
— E esse, eu quero que vista agora para mim — proferi ao entregar a
outra embalagem para ela, que ao rasgar, encontrou uma lingerie com meia ¾
e cinta-liga. — Quero aproveitar que estamos sozinhos nessa noite, e amá-la
da forma que merece — falei em seu ouvido e mordi o lóbulo de sua orelha a
incitando.
— Que maravilha! — Dito isso, Priscila colocou a caixinha com o
colar sobre o criado-mudo e com a lingerie, meia ¾ e cinta-liga em mãos,
correu em direção ao banheiro.
Enquanto a aguardava, eu desfiz o nó da minha gravata e comecei a
me despir com um sorriso que não cabia em meus lábios.
Há dois anos, eu vinha me deliciando em ser um homem melhor para
a minha esposa e meus filhos. Há dois anos, eu descobri o que é se doar
verdadeiramente a outras pessoas. Há dois anos, eu consegui ter minha
família de volta e nada me causava uma euforia maior do que ter consciência
sobre isso.
A verdade, é que, de fato, eu tinha voltado minha atenção para o meu
jardim e o estava regando cuidadosamente, com muito amor. Sobretudo, o
que vinha me impressionando era o deslumbre do seu florescer incomparável.
E, se dependesse de mim, permaneceria daquela maneira. Todos os dias. Para
sempre!
Eu tinha aprendido o verdadeiro significado do amor: Renúncia! Pois
entendi que, por diversas vezes, teremos de nos abdicar de algo em prol da
felicidade do outro, no meu caso, da minha esposa e dos meus filhos. A
minha família!
FIM!
1ª EDIÇÃO
Copyright © 2018 Vivy Keury
Capa: Laís Maria
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra ficcional.


Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida
real é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro
pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios
existentes sem a autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal.
NÃO ABRIREI MÃO DE
VOCÊ - CONTO
SINOPSE
Até quando suportaria a espera de ter um sonho realizado?
Gabriel e Michele moravam juntos há cinco anos. Porém, sua companheira
sonhava com o dia em que oficializariam essa união, entretanto, Gabriel não
se importava com isso, achava uma grande besteira. O fato de morarem
juntos, já não era o suficiente? — perguntava-se. Além disso, ele preferia
passar uma boa noite em companhia dos “amigos”, a ter que aproveitá-la ao
máximo, dando o aconchego que Michele tanto ansiava nos braços dele.
Afinal, dizem que depois de algum tempo com a mesma pessoa,
principalmente, morando debaixo do mesmo teto, a convivência já não será
mais a mesma. Michele e Gabriel sentiram isso, e aquela chama que deu
início ao envolvimento dos dois foi se apagando aos poucos.
Cansada de esperar Gabriel tomar uma atitude e, visto que era sempre
deixada em segundo plano, Michele finalmente resolveu ir embora, deixando
apenas um bilhete:
“Espero que seja feliz”
E agora? Poderá o amor fazê-lo mudar suas atitudes?
PRÓLOGO
Gabriel
Cinco anos antes
— Eu gostaria de fazer-lhe um pedido… — ponderei ao fitar seus olhos
amendoados e um sorriso abrilhantou seus lábios, aguardando que eu
continuasse — Bom, namoramos há quase um ano, mais precisamente
falando, dez meses, mas isso não quer dizer nada, pois quando realmente
amamos uma pessoa, o tempo é o que menos importa. — Alisei o dorso de
sua mão sobre a minha e, dessa vez fui eu a sorrir.
— Está me deixando apreensiva, Gabriel! — exclamou, fazendo-me olhá-
la nos olhos novamente, vendo um brilho diferente neles. Não soube
distinguir ao certo do que se tratava. — Vai, fala logo! — Se agitou sobre o
assento à mesa do restaurante que estávamos, e seu sorriso de antes se
alargou.
Mordi meu lábio inferior e senti minhas mãos suarem frias, afinal, eu tinha
vinte e cinco anos e, apesar dessa idade, nunca tinha tido algo tão sério com
uma mulher. Já tinha namorado antes, levado na casa dos meus pais para eles
conhecerem, mas nunca tinha passado disso, pois sempre que o assunto
referente a casamento era proferido, eu já dava um jeito de ir me afastando
até arranjar motivos suficientes para dar um fim ao relacionamento. Não me
levem a mal, mas eu não queria ter de me casar para separar dias, semanas,
ou até mesmo, alguns meses depois, quem dirá anos! Sempre ouvi de
familiares e até mesmo de amigos — que se casaram antes de mim — que
após casar no cartório ou religioso, simplesmente a união do casal caía por
Terra. Dádiva daqueles que mesmo perante as dificuldades, permaneciam
juntos.
Passei a ver que era melhor me manter avesso a oficialização do
casamento. Afinal, morar junto seria a mesma coisa, não é mesmo? Então,
manteria meu pensamento construído ao longo do tempo, mediante a relatos.
Tinha certeza que isso não seria um problema para mim e Michele, pois
namorávamos há quase um ano e nos amávamos o suficiente para morarmos
juntos, sem ser preciso assinar qualquer tipo de papel.
— Quer morar comigo? — De início, ela franziu o cenho, desviou sua
atenção da minha enquanto seu sorriso foi perdendo a amplitude e quando
voltou a me fitar, soltou um riso nervoso.
— Morar? Não seria casar? — indagou em dúvida, ao mesmo tempo em
que sua expressão me deixou claro o seu descontentamento.
— Então, eu já te expliquei sobre minha opinião referente à oficialização
de um casamento. Na verdade, nós estaremos casados, mas não no papel —
Tentei fazê-la entender meu ponto de vista.
— Morar junto é uma coisa, Gabriel, mas casar é outra completamente
diferente! — corrigiu-me.
A família de Michele seguia a Religião Católica e, para eles, sempre foi um
sonho vê-la entrando de véu e grinalda na igreja. Apenas morar junto não era
bem visto pelos mesmos. O pior é que Michele mantinha o mesmo
pensamento e por amá-la, eu preferia não ter que ir contra, mas não queria
dizer que eu concordava, pois não via problema algum nisso.
— Casar é apenas o fato de estarmos ligados por causa de uma assinatura
no papel, Michele! Nada mais do que isso! — exclamei, tentando fazê-la me
entender. — Morar junto não fará nosso relacionamento ser menos
importante por causa deste simples fato! — argumentei, voltando a acariciar
sua mão que ainda se encontrava envolvida na minha.
Ela pendeu a cabeça para o lado, desviou sua atenção, mordeu seu lábio
inferior e puxou sua mão da minha, deixando-me preocupado sobre qual seria
sua resposta, visto que sua atitude não tinha sido a esperada por mim. Eu
jurava que isso não seria um problema para nós dois.
Assisti ela colocar uma mecha do seu cabelo negro atrás da orelha e soltou
o ar com extrema insatisfação. Mesmo assim, me recostei na cadeira e cruzei
meus braços a frente do peito, aguardando sua resposta.
— Realmente não esperava um pedido desse — soltou entristecida. —
Poxa, Gabriel! Você sabe quantas vezes pensei em nós dois oficializando
nosso casamento? — Percebi seus olhos úmidos.
Vê-la daquela forma me fez engolir em seco. Desapontado por tê-la
entristecido, abandonei minha cadeira e me abaixei ao seu lado. Michele
evitou me encarar, mas peguei uma de suas mãos nas minhas e dei um beijo
singelo em seu dorso.
— Michele, eu acredito que nos amamos o suficiente para não deixar com
que este pequeno fato atrapalhe para que fiquemos juntos. Hum? — Tentei
soar convincente.
— Pode ser pequeno para você, mas para mim será uma grande realização.
Um sonho, Gabriel! — repreendeu-me.
— Tudo bem — concordei analisando as circunstâncias. — Olha, por te
amar verdadeiramente, eu pensei em fazermos o seguinte… Você pega suas
coisas e, em seguida, vem morar comigo. Enquanto vamos nos organizando,
eu prometo ir pensando na oficialização do nosso casamento. É bom que
teremos tempo para preparar tudo conforme desejarmos. O que acha? —
sugeri.
Naquele instante, sua atenção se voltou para mim acompanhada de um
sorriso imenso nos lábios, e um brilho intenso em seus olhos. Eu sorri em
resposta, feliz.
— Você promete? — inquiriu duvidosa, mas sorridente.
— Prometo. — Beijei novamente o dorso de sua mão e soltei um riso
nervoso.
— Vamos usar alianças enquanto apenas morarmos juntos, ou também é
avesso a isso? — indagou desconfiada.
— Claro que não sou avesso. Aliás, foi bom tocar neste assunto, pois já ia
me esquecendo. — Apalpei com uma de minhas mãos o bolso do meu terno
em busca da caixinha de veludo contendo as alianças e, assim que Michele a
notou, seu sorriso se alargou e seus olhos voltaram a umedecer de emoção. —
Viu?! Eu não sou tão avesso quanto pensa. — Ela balançou a cabeça em
negativo.
Assim que abri a caixinha, o sorriso que Michele mantinha nos lábios e o
brilho contido em seus olhos foram diminuindo gradativamente.
— Ah, claro que não é! — exclamou amarga.
— O que eu fiz dessa vez, Michele? — Olhei para as alianças dentro da
caixinha tentando identificar qual erro havia cometido, mas não encontrei.
— As alianças tinham que ser de ouro e não de prata, Michael! —
repreendeu-me.
— Que besteira! Isso não faz diferença alguma — impus meu ponto de
vista.
Ela revirou os olhos e soltou o ar, cansada.
— Visto que você vai pensar na oficialização da nossa união com carinho
e, como sei que me ama e o fará, teremos como organizar tudo com calma,
portanto, vou dar este desconto a você. De início, o importante é que nos
amamos e logo, logo, estarei realizando meu sonho de entrar de véu e
grinalda na igreja ao seu lado. Simples assim! — afirmou convicta e eu sorri.
Sob olhares curiosos dos demais clientes do restaurante, colocamos as
alianças no dedo anelar da mão esquerda um do outro e selamos nosso
momento com um selinho demorado.
— Eu te amo, Michele.
— Também te amo, Gabriel.
Envolvi sua cintura com maestria e puxei-a para um beijo ardente,
enquanto éramos aplaudidos. Definitivamente, felicidade transbordava meu
peito.
CAPÍTULO UM
Cinco anos depois
— Não vai sair hoje com sua irmã? — indaguei a Michele que me olhou
por cima do seu tablet. Ela estava sentada à mesa, após fazer seu desjejum,
antes mesmo de mim, algo que estranhei, pois ela sempre me aguardava, mas
dessa vez foi diferente.
— Não — respondeu seca e voltou a olhar seu tablet, passando os olhos
por alguma matéria boba da internet, algo que ela sempre fazia.
— Hum… — balbuciei e terminei de tomar meu café da manhã.
Assim que abandonei meu assento, eu recolhi meu paletó sobre o encosto
da cadeira e comecei a vesti-lo. Percebi que Michele me olhava de soslaio,
mas quando eu a encarava, ela desviava o olhar, voltando a se concentrar na
tela do tablet.
— Quer me dizer alguma coisa? — indaguei, enquanto fechava as
abotoaduras do paletó.
— Não — seu tom permaneceu rude.
Quando pensei em pedir uma explicação sobre o porquê de seu modo
monólogo, ela se adiantou:
— Aliás, você pretende ficar em casa hoje ou já combinou de sair com seus
amigos? — perguntou, demonstrando certa expectativa em no olhar, no qual,
não pude identificar o motivo. — Eu pensei em fazer um prato especial para
jantarmos à noite. Um programinha a dois, o que acha? — Ela terminou de
falar e abandonou o tablet sobre a mesa. Observei ela caminhar em minha
direção, ainda com minha camisa de manga comprida, no qual, vestiu ao se
levantar da cama.
Assim que chegou até mim, envolveu seus braços em torno de minha nuca
e me encarou expectante.
— Hum… Não vai rolar, querida. Já havia combinado com o Marcelo e o
Igor de irmos tomar algo hoje, colocar o papo em dia. Você sabe como é —
anunciei ao comprimir os lábios em lamento, e Michele soltou o ar
pesadamente retirando suas mãos do meu pescoço. Caminhou para longe, em
direção ao nosso quarto.
— Tudo bem, Gabriel — soou inexpressiva.
Franzi o cenho e cocei a nuca ao me recostar no batente da porta e vê-la
entrando no closet. Em seguida, voltou com dois vestidos diferentes.
— Está tudo bem, mesmo? — indaguei preocupado.
— Claro! Qual desses você acha melhor? — questionou ao colocar ambos
a frente de seu corpo.
— O segundo combina melhor com você — Escolhi o vestido da cor azul e
ela agradeceu. — Resolveu sair? — perguntei.
— Ah, sim. Vou até a casa da minha irmã, já que resolvi me dar uma folga
do ateliê hoje. Afinal, eu também preciso de descanso — Afirmou ao me
responder.
Michele era designer de joias, e mantinha seu próprio ateliê em nosso
apartamento. Produzia diversos modelos exclusivos e muitas vezes por sob
encomenda para joalherias conhecidas. Sendo assim, ela não tinha um horário
estipulado, a não ser, por ela mesma.
— Podemos marcar o nosso jantar para amanhã, pois o escritório estará
fechado. Assim teremos tempo. Além do mais, eu posso te ajudar a preparar
tudo — Desconcertado, acabei tentando me redimir, porém, ela mal me
olhou, pois entrou no banheiro do nosso quarto e saiu trajando o vestido que
abraçava bem suas curvas. Automaticamente, meu pau ganhou vida e fui ao
seu encontro. Enlacei sua cintura enquanto ela tentava arrumar o cabelo em
frente ao espelho.
— É melhor não. Fica para uma próxima, porque amanhã terei trabalho a
fazer. — Ela me deu um meio sorriso enquanto eu encarava seu reflexo no
espelho, e se desvencilhou dos meus braços, voltando ao banheiro.
Soltei o ar sem saber como contornar aquela situação desagradável que
tinha se instalado entre nós dois, mas não soube bem o que fazer.
— Aliás, já pensou numa data para o nosso casamento? — Ela gritou a
pergunta de dentro do banheiro e, eu olhei para a porta aguardando seu
retorno, meio sem jeito.
— Data? Mas… — tentei argumentar, só que ela se recostou no batente da
porta e cruzou seus braços sem permitir que eu concluísse o argumento.
— Você prometeu, Gabriel, lembra? — questionou me lançando um olhar
duro, enquanto deixou o banheiro e seguiu até o closet. — Disse que até o
final deste mês teria uma data para cerimônia, e assim eu poderia escolher o
local em que passaríamos nossa lua de mel — lembrou-me.
Droga! A verdade é que eu sempre inventava uma desculpa para ver se ela
esquecia essa besteira de casamento, porém, Michele estava cada vez mais
irredutível —, pensei.
— Eu preciso ir! — anunciei ao olhar no relógio em meu pulso. Em
seguida, voltei a encará-la constatando que já estava pronta para sair também.
Michele não precisava de muito para ficar bonita, pois ela já era linda por
natureza.
Claramente, eu estava fugindo mais uma vez. Mas a verdade, era que eu a
amava demais e não queria ter de oficializar nosso relacionamento de cinco
anos e tudo acabar de uma hora para a outra. Não queria perdê-la.
— Tudo bem, Gabriel. Eu não o pressionarei mais — informou-me com o
semblante triste.
— Michele, eu não estou fugindo, eu só… — ponderei ao suspirar
pesadamente. A verdade é que eu não tinha mais desculpas para enganá-la
daquela forma. Por cinco anos havia feito aquilo, já estava mais do que na
hora de parar — Michele, eu te amo. Isso não deveria bastar? Afinal, sabe
muito bem que não quero casar em cartório ou igreja alguma! — Finalmente
fui sincero.
Ela soltou um riso nervoso e me encarou de modo triste. Tentei me
aproximar dela, mas a mesma deu alguns passos para trás.
— Tenha um bom dia de trabalho, Gabriel! — Ao terminar de falar isso,
girou sobre seus saltos e saiu do quarto.
Limitei-me a não ir atrás dela, pois sabia que naquele momento era melhor
deixá-la sair para refrescar a cabeça. Eu sabia que ao retornar para casa, ela
estaria mais calma e nós conversaríamos sobre o ocorrido. Conversa, na qual,
resolveríamos essa pendência de uma vez por todas e, logo, terminaríamos
transando para selar as pazes. Assim como sempre acontecia.
Minutos depois, deixei o apartamento. Chegando no estacionamento, eu
entrei em meu carro e dirigi em direção ao meu escritório.
CAPÍTULO DOIS
MICHELE
— Mi, você não acha que está se precipitando? Terminar seu
relacionamento de cinco anos sem mais nem menos? — Eu havia acabado de
chegar na casa da minha irmã Andressa, e em meio as lágrimas de muita
tristeza, referente a falta de atitude e do não comprimento das promessas do
Gabriel, a informei sobre minha decisão.
— Não é sem mais nem menos. Eu cansei! Só não posso aceitar mais
mentiras da parte dele, irmã! Aliás, hoje estamos completando cinco anos
juntos — exclamei ao limpar minhas lágrimas e puxei o ar com força, me
proibindo de continuar derramando mais lágrimas por aquele que sempre
dizia me amar, mas era egoísta demais para pensar no meu querer. — Não
estou me precipitando — murmurei sem ao menos saber se realmente queria
aquilo, porém, dada a situação em que me encontrava com Gabriel, era a
melhor solução que havia encontrado.
— Então, já que hoje é uma data comemorativa, por que não tenta reverter
a situação? Hum? Faça um jantar especial, vista uma lingerie sensual e o
seduza. Simples assim! — Minha irmã sentou sorridente ao meu lado,
sugerindo coisas, das quais, estavam longe de serem realizadas.
Soltei um riso desgostoso e me levantei do sofá, fugindo do seu olhar.
— Sem chances! Ele já me informou que não poderia jantar comigo essa
noite, porque tinha combinado de sair com os amigos. — Bufei ao ter cessado
minhas lágrimas.
— O quê? Gabriel está louco? Como pode preferir os amigos a passar a
noite em companhia da mulher que sempre afirma amar? — Minha irmã
questionou incrédula.
— Pois é! O pior é que durante a semana sempre estamos atarefados com
nossos trabalhos, ele no escritório como contador e, eu com meu ateliê. Nos
resta a parte da noite, contudo mal jantamos juntos, porque quase sempre
Gabriel chega em casa e alega já ter feito algum lanche na rua ou
simplesmente não está com fome, e, se não bastasse tudo isso que listei, mal
fazemos sexo. — Suspirei com pesar ao me dar conta de que nada no nosso
relacionamento era como antes.
— Olha, é bem complicado eu te aconselhar, já que Gabriel se mostra tão
egoísta ao ponto de, praticamente, não a enxergar mais — soou
compreensiva. — Eu sinto muito, Mi! Pensei que com o passar do tempo, ele
deixaria aquela desculpa besta de não oficializar o casamento, de lado e,
finalmente se entregaria a você de verdade, além de realizar seu maior sonho
— Lamentou.
— Bom, de agora em diante, nós deixaremos os assuntos referentes ao
Gabriel, mortos e enterrados. Eu preciso me sentir viva novamente, pois já
não sei o que é isso — proferi com um sorriso nos lábios e Andressa se
levantou do sofá.
— Sempre conte comigo! Não sou casada, mas sirvo para ao menos
conversar, passar o tempo, ou até mesmo, te fazer companhia a saídas ao
shopping, cabeleireiro... — ela me puxou para um abraço, assim que
começamos a gargalhar feito duas loucas. Ela me fazia muito bem. Amava
isso nela.
Andressa era dois anos mais velha do que eu, mas por opção, ela preferia
estar sozinha. Ela era maquiadora profissional e uma mulher linda. Sempre
fomos muito apegadas. Quando ela resolveu sair da casa dos nossos pais para
se tornar independente, eu vibrei por sua força de vontade, além de ter
chorado muito em sua despedida, porque a casa ficaria sem graça sem a
presença diária dela. Mas não há nada nessa vida que não consigamos
aprender a conviver.
— Bom, o meu espaço é pequeno, mas tem um quarto reserva, então pode
ficar com ele, se preferir — ofereceu ao se afastar e me olhar nos olhos.
— Andressa, eu não vou tirar sua privacidade. Não mesmo! Além do mais,
aqui seria o primeiro lugar que o Gabriel me procuraria e eu não quero ser
encontrada. Ao menos, não por um tempo, sabe? Eu preciso ficar sozinha e
me organizar fisicamente e mentalmente — expliquei.
— Tudo bem, e onde vai ficar? — ponderei sobre sua pergunta.
— Vou alugar um apartamento, mas vou evitar usar cartão, pois Gabriel
pode me localizar através dele, já que temos conta conjunta.
— Hum… vamos pensar em algo. — Ela seguiu até a mesinha ao lado do
sofá e ao pegar seu notebook, sentou-se o abrindo. — Sente-se aqui, e vamos
pesquisar. — Bateu contra o assento ao seu lado e sorriu ao direcionar seu
olhar para mim. Logo me sentei ao seu lado e ela abriu o navegador, a
procura de opções para mim.
Eu tinha muita sorte por tê-la como irmã, pois ela sempre me aconselhava
ou ajudava quando eu mais precisava. Assim que vimos um apartamento que
ficava no Leblon, Andressa e eu fomos até lá. Após fechar o contrato com o
corretor responsável pelo negócio, eu paguei o primeiro adiantado. Utilizei
dinheiro da poupança, no qual, havia feito para usar em meu casamento com
o que eu desejasse, mas não aconteceu, infelizmente. Assim que a chave foi
entregue a mim, eu peguei o elevador, acompanhada da minha irmã e na
portaria do condomínio, eu pedi total sigilo referente à minha moradia ali.
Simpático, o porteiro me tranquilizou ao deixar claro que ele jamais deixaria
vazar qualquer informação sobre mim. Me tranquilizei ao ouvi-lo e segui para
fora dali.
Fui em direção ao apartamento que eu dividia com o Gabriel. Precisava
desfazer meu ateliê em tempo recorde, além de recolher alguns dos meus
pertences. Como o apartamento que aluguei já era todo mobiliado, eu não
precisaria me preocupar com móveis.
Enquanto me dirigia para lá em companhia da minha irmã, eu me peguei
pensativa no banco do carona, observando a paisagem através do vidro. Ao
me recordar dos meus momentos com Gabriel, os meus olhos teimaram em
umedecer, mesmo eu tentando conter as lágrimas. Um nó também se instalou
em minha garganta e não conseguia desfazê-lo por nada, porém, eu estava
decidida e não voltaria atrás.
Gabriel havia feito sua escolha e eu, infelizmente, fui forçada fazer a
minha.
CAPÍTULO TRÊS
GABRIEL
Ao final do expediente, eu sentei na cadeira atrás de minha mesa e soltei o
ar, cansado. Havia tido uma reunião cansativa, no qual, me tomou a tarde
inteira. Enfim, agora estava livre, e como era sexta-feira, eu voltaria para casa
mais cedo. Assim daria para me encontrar com os rapazes antes do horário
que tínhamos combinado.
Afrouxei minha gravata e passei os dedos furiosamente entre os fios
desajustados do meu cabelo, no intuito de alinhá-los, mas tinha certeza que
não havia obtido êxito algum. Verifiquei em meu celular se Michele havia
ligado ou mandado alguma mensagem, porém, nada. Entrei no aplicativo do
WhatsApp e ela tinha visualizado o mesmo, alguns minutos atrás. Franzi o
cenho ao ler seu novo status, atualizado há algumas horas:
“Não importa a imensidão do seu sonho, nunca desista de realizá-lo”

Analisei aquela frase por um momento, mas não dei muita importância.
Fechei o aplicativo e travei a tela do celular. Assim que juntei alguns papéis
dentro da minha pasta e desliguei meu computador, Tábata — minha
secretária — bateu em minha porta.
— Senhor, desculpa, mas eu não sabia que já estava de saída — desculpou-
se, mas tratei de tranquilizá-la.
— Não se preocupe. É algo importante? — indaguei.
— Sua prima Kelly está aqui, e deseja falar com o senhor. — Mordi meu
lábio inferior, ponderando se a receberia ou não.
Kelly tinha a mesma idade que eu e, antes de eu começar a namorar com a
Michele, ela vivia atrás de mim. Consequentemente, tivemos poucos
momentos juntos e depois que iniciei o namoro com Michele, não voltei a vê-
la, ou seja, durante esses anos, eu não tinha tido qualquer notícia dela.

Caminhei até a porta e sorri em resposta para Tábata.


— Como já estou de saída, eu vou acompanhá-la para fora do escritório.
Agradeço o aviso — Ela pediu licença e saiu em direção a sua mesa.
Fechei a porta da minha sala e, sem ao menos ter tido tempo para processar
o que estava acontecendo, Kelly envolveu seus braços em meu pescoço assim
que me virei em sua direção.
— Quanto tempo! Eu nem acredito que não nos vemos há anos — Ela
exclamou sorridente, após se desvencilhar de mim e olhar firmemente em
meus olhos.
Ao contrário de Michele, Kelly era loira dos olhos azuis, no qual, havia
herdado da família, já que eu tinha as mesmas características.
— Você está… — franzi o cenho ao analisá-la da cabeça aos pés e pude
perceber o quanto estava mais torneada, apesar de que ela sempre gostou de
manter seu corpo escultural, assim como frisava quando ficávamos.
— Mais bonita? — Supôs de modo ousado. Ela sempre foi assim.
— Diferente, eu diria. — Sorri minimamente e procurei um modo de me
livrar logo dela. — Kelly, me desculpe, mas você não chegou em um
momento oportuno. Eu estava de saída — avisei.
— Ótimo! Você pode me deixar a algumas quadras daqui? Só passei para
fazê-lo uma breve visita, já que não nos vemos há bastante tempo — Sorriu.
— Prometo não conversar muito — ressaltou, me fazendo sorrir sem jeito,
mas confirmei que a levaria.
Em seguida, nós entramos no elevador sob olhares curiosos. Pude ver
alguns homens encarando-a e admirando sua beleza. Kelly realmente
conseguia chamar atenção quando se tratava de beleza, mas perante sua
inteligência, já não dizia o mesmo.
Ao chegarmos no estacionamento, eu abri a porta do carona para ela, que
me agradeceu e após depositar minha pasta no banco traseiro, logo me
coloquei atrás do volante e dei partida no carro. Quando peguei a estrada,
Kelly iniciou uma conversa que de nada me agradou.
— E, então... Como está a vida? Já oficializou o casamento? — Assim que
olhei para ela, meus olhos se voltaram para suas pernas expostas, pois o
pedaço de saia que usava, não cobria muita coisa.
Limpei a garganta após voltar minha atenção para a estrada.
— Ainda não — respondi de modo seco.
— Ah, isso quer dizer que o fará? — Voltou a perguntar.
— Se não se importa, eu não gostaria de falar sobre isso — pedi.
— Tudo bem — Ela respondeu compreensiva e eu agradeci.
Algumas quadras depois, eu parei o carro para que ela descesse, mas assim
que ela foi se despedir de mim, sua mão pousou sobre minha perna esquerda
e beijou minha bochecha. Merda! Fechei os olhos, inspirando o ar com força
tentando resistir a qualquer custo àquela tentação.
— Até mais — disse melosa e saiu do carro.
— Até! — respondi com um sorriso sem graça e logo arranquei com o
carro.
Balancei a cabeça em negativa me amaldiçoando por ter me sentido
mexido pelo simples toque da minha prima. Eu não deveria ter me deixado
levar por sua conversa, pois na certa, ela estava querendo de alguma forma,
confundir meus pensamentos, mas não obteria êxito. Amava a Michele e nada
nem ninguém conseguiria nos afastar.
Eu só precisava ir para casa e abraçá-la, dizer o quanto a amava. Por mais
que estivéssemos um pouco distantes.
CAPÍTULO QUATRO
MICHELE
Por mais que eu tivesse dado fim ao meu relacionamento com o Gabriel,
ainda sim, essa foi uma das piores noites da minha vida. Eu não o tinha com
seus braços em volta da minha cintura, muito menos, a sua perna jogada
sobre a minha ou até mesmo, seu nariz passando por minha nuca, me fazendo
sorrir feito uma boa apaixonada ao inspirar meu cheiro. Frustrada, eu joguei a
coberta para o lado e me sentei na cama. Olhei minuciosamente cada canto
daquele apartamento e me senti abatida, com um grande pesar no coração.
Por fim, eu respirei fundo e me coloquei para fora da cama.
Era sábado e, eu não ficaria em casa me lamentando feito uma derrotada —
por mais que minha vontade se resumisse a isso — porém, eu iria aproveitar
o dia ensolarado para caminhar pela praia.
Meia hora depois, eu terminei de ajustar meu cabelo num rabo de cavalo.
Peguei meu celular, fones de ouvido e a chave do apartamento, e saí em
seguida. Diante do elevador, acionei o botão e enquanto aguardava, eu
conectei o cabo do fone ao meu celular e coloquei um dos fones em um dos
meus ouvidos.
Distraída, eu coloquei uma música eletrônica e abri o WhatsApp. Havia
várias mensagens de áudio do Gabriel, e chamadas de vídeos perdidas
também. Senti meu coração se comprimir no peito, mesmo assim, eu fingi
indiferença. Decidida, bloqueei seu número, tanto no aplicativo quanto no
meu celular.
Basta! Foi ele quem escolheu isso. — Pensei, triste.
Finalmente, o elevador chegou e, eu entrei. Agradeci aos céus por estar
sozinha, mas minha felicidade se esvaiu quando as portas foram se fechando
e alguém as impediu de fechar, fazendo-as abrir novamente. Assim que
absorvi aquela figura na minha frente, já não me senti mais agradecida, eu
praguejei por estar sozinha ali.
— Michele? — Saí do elevador em disparada, antes mesmo de realmente
ser reconhecida, porém fui parada por uma mão que agarrou meu braço,
fazendo-me girar em sua direção.
— Creio que está me confundindo com alguém. Não me chamo Michele —
Tentei soar convincente e Iago — um dos amigos de Gabriel — me encarou
sorridente, com seus olhos escuros.
Ao contrário de Gabriel — que era loiro de olhos azuis — Iago era
completamente o oposto; era moreno da barba rala, cabelos lisos e curtos,
além de ser bem mais malhado que meu ex.
— Ah, está de sacanagem? Nós nos vimos poucas vezes, mas eu não me
equivocaria dessa forma. — É! Pelo visto, não consegui convencê-lo. Droga!
Eu deveria ter imaginado que alguém poderia me reconhecer ali. Eu tinha que
ter usado ao menos um óculos de sol, porém, não fui inteligente o suficiente.
Puxei meu braço do seu agarre e caminhei de volta ao elevador, acionando
o botão mais uma vez.
— Michele, o Gabriel está igual um louco atrás de você — Ouvi-o dizer
próximo a mim, enquanto me mantive de braços cruzados, aguardando
ansiosamente pelo elevador.
— Não quero saber — soltei arisca.
— Tudo bem — Surpresa pela sua aceitação tão rápida, eu me voltei para
ele, que por sua vez, se encontrava ao meu lado. Ele sorriu de canto. Iago era
um homem muito atraente, mas tratei de espantar aqueles pensamentos,
afinal, eu tinha acabado de sair de um relacionamento e não iria entrar em
outra furada tão cedo.
— Obrigada! — agradeci e ele comprimiu os lábios ao assentir.
O elevador chegou e fiz questão de ficar no canto ao fundo.
— Térreo também? — Iago me questionou e nem havia me dado conta de
que não tinha acionado o local, no qual, eu iria. Respondi que sim e agradeci.
Voltei a colocar o fone de ouvido, porém agora em ambas as orelhas, e
fingi prestar atenção na música enquanto analisava Iago, de costas para mim.
Ele usava um short de malha fina, próprio para fazer algum tipo de esporte,
seus braços bem definidos estavam a mostra, pois trajava uma camisa sem
mangas. Quando notei ele se virar minimamente para olhar para trás, eu
peguei meu celular do cós da legue, que eu usava, e fingi mexer nele.
O elevador apitou, avisando que tinha chegado ao térreo e tratei de sair
rapidamente dali, sem ao menos me despedir do Iago. Segui para fora do
condomínio e comecei a caminhar pela calçada. Atravessei a faixa e cheguei
ao outro lado, onde se encontrava a praia. Entretida com a música, eu
aproveitei que não tinha colocado meias e retirei meus sapatos, pisando na
areia, sentindo-a quente sob meus pés.
Sorri ao inspirar o ar puro e, decidi ficar ali por alguns segundos. Queria
poder pensar um pouco na minha vida, nos últimos acontecimentos.
Caminhei um pouco mais e me sentei. Coloquei meus sapatos ao meu lado e
tirei meus fones de ouvido, parando a música em meu celular.
Pensativa, eu olhei para a água azul do mar, ouvindo o barulho das ondas.
— É bonito aqui, não é? — Fui arrancada dos meus devaneios, após ouvir
a voz do Iago.
— O que você quer? — soei rude.
Eu o encarei e o vi sorrir, balançando a cabeça em negativo.
— Calma! Se você está preocupada que falarei para seu marido… —
interrompi suas palavras.
— Ele não é meu marido! Apenas morávamos juntos, então... Não somos
mais nada um do outro! — exclamei chateada.
Recolhi meus sapatos para sair dali, mas quando fiz menção de me
levantar, Iago segurou meu pulso, impedindo-me. Olhei para sua mão em
torno do meu braço e o encarei.
— Tudo bem, não precisa ir. Só quis dizer que não contarei a ninguém
sobre seu paradeiro. Não se preocupe — Por mais que o tenha vista apenas
em alguns eventos — acompanhada do Gabriel — pude identificar que falava
a verdade. — Fica! — Ele pediu.
Assenti, permanecendo ali mesmo e deixei meus sapatos onde estavam
antes.
— Quer tomar uma água de coco? — Eu sorri verdadeiramente.
— Não. Obrigada! — Agradeci.
— Não faça essa desfeita. É por minha conta. — Nos encaramos por um
tempo e cedi ao seu pedido.
Ele saiu para comprar os cocos e permaneci ali, pensativa. Eu sabia que
não era certo estar ali em companhia do Iago, pois ele era um dos melhores
amigos do Gabriel, porém, nada me impedia de apenas conversar com ele.
Afinal, eu estava me distraindo de algo que eu preferia esquecer, mas sabia
que levaria tempo para que isso acontecesse.
CAPÍTULO CINCO
GABRIEL
UMA SEMANA DEPOIS
Maldita seja essa semana que passou —, pensei.
Soltei o ar pesadamente, não sabendo mais o que fazer para achar Michele.
Já tentei até rastrear o celular dela, mas não consegui. Pior de tudo é que ela
cortou todo e qualquer tipo de comunicação comigo. Até das redes sociais me
excluiu e, eu sequer sabia por onde ela andava.
Hoje era sábado e, consequentemente, eu me encontrava em meio a uma
completa bagunça no meu quarto. No dia anterior, eu saí e bebi com o
Marcelo, no qual, me alegou que continuava sem saber da Michele. Porém, o
que mais me intrigou foi ele me dizer que o Iago tinha recusado seu convite
para se juntar conosco, alegando que teria um encontro e não abriria mão dele
por nada.
Vejam só; Iago nunca foi de ter namoradas, seu lema sempre foi “pega e
não se apega” e agora surge com essa euforia toda por causa de um simples
encontro? Muito mal contada essa história —, pensei.
Enfim, tentei arrancar a informação através da irmã de Michele, para saber
onde ela estaria enfiada, porém, Andressa foi irredutível e ainda bateu a porta
do apartamento na minha cara, alegando que eu não passava de um vacilão.
Depois que saí de lá — muito irritado — eu dirigi rumo ao meu apartamento,
no qual, não desejava voltar, pois tudo lá me lembrava Michele. Um vazio
havia se instalado em meu coração, desde que cheguei em casa naquela noite
e encontrei apenas um bilhete escrito: “Espero que seja feliz!”. Acreditem,
essa foi a única frase existente naquele pedaço de papel. Desde então, eu
venho me sentindo um verdadeiro nada! Nem sequer sei o motivo que a levou
a ir embora daquela forma.
No meio do caminho, Marcelo me ligou para nos reunir em um barzinho no
centro. Ainda me encontrava com a mesma roupa do trabalho, pois depois de
sair do escritório, segui para o apartamento de Andressa. Objetivo que não
obtive sucesso, fora um fracasso total! Mesmo cansado, eu fui ao encontro
dele. Terminamos de beber já passava das três da manhã e ele, muito
responsável, deixou sua moto no estacionamento do local e me levou em
casa. Soube disso, porque li a mensagem dele no WhatsApp momentos atrás.
Eu estava com uma tremenda dor de cabeça. Levantei-me da cama e me
encontrava vestido, somente sem os sapatos, ainda bem! Segui até a cozinha
e me servi com um copo de água, acompanhado do comprimido para
amenizar a dor.
Enquanto fui em direção ao quarto, desabotoei minha camisa e a joguei
sobre a cama juntamente com minha calça, que retirei em seguida ao entrar
no cômodo. Parti para o banheiro e me livrei da cueca. Com a escova
contendo um pouco de pasta de dentes, entrei no Box e liguei o chuveiro.
Escovei os dentes e ao terminar, desliguei a saída de água e me ensaboei.
Minutos depois, eu deixei o banheiro um pouco mais relaxado e, me joguei
sobre a cama novamente. Com meus pensamentos voltados para Michele,
notei minha barriga reclamar de fome, mas grunhi em desgosto, pois sequer
tinha ânimo para comer. Em ocasião da falta que Michele estava me fazendo,
eu faltei nos dois dias que fazia academia na semana e creio eu, já ter perdido
alguns quilos, porque só comia qualquer coisa na rua antes de voltar do
trabalho.
Minha esperança durante toda a semana foi de chegar ao apartamento e
encontrá-la de volta, mas isso não aconteceu. Algo que estava me frustrando
cada vez mais. Onde eu havia errado?
Fui arrancado dos meus pensamentos assim que a campainha tocou e,
praguejei mentalmente quem estivesse por trás daquela porta me
atormentando pela manhã. Bati a mão sobre o criado-mudo e alcancei meu
celular, notei que já passava do meio dia e isso explicaria minha fome. Mais
uma vez tocaram a maldita da campainha e fui obrigado a me levantar.
Abri a porta me deparando com Marcelo e, ele analisou meu rosto.
— Você não está nada apresentável, Gabriel — disse divertido e entrou
fechando a porta atrás dele.
Segui para a cozinha sem querer lhe dar ouvidos.
— Me deixa, Marcelo — pedi.
— Escuta, eu pensei de nós irmos até o restaurante próximo a praia do
Leblon para almoçar. Depois damos uma passada no apartamento do Iago, já
que ele mora por lá. O que acha? — ponderei ao recostar no balcão da
cozinha e cruzei os braços, pensativo.
— Não vai rolar, Marcelo. Eu até estou sentindo fome, mas minha cabeça
está latejando pela bebedeira de ontem. E também, me falta ânimo para ir.
Convida o Iago para te acompanhar —sugeri.
Marcelo soltou um riso de canto.
— Iago disse que não ia rolar hoje também. — Franzi o cenho achando
aquilo estranho.
— O que ele deve estar aprontando? — indaguei desconfiado.
— Vai saber! Mas deve ser relacionado a algum rabo de saia — disse
divertido.
— Sobre isso, eu não tenho dúvidas — falei. — Bom, acho que vou te
acompanhar. Quem sabe não esbarramos com a mulher que deve ter fisgado o
coração do nosso amigo? Porque só isso explicaria o fato de ele recusar duas
vezes a companhia dos seus melhores amigos. — Comprimi os lábios em um
sorriso ameno e Marcelo comemorou minha decisão.
Arrumei-me rapidamente e meia hora depois, descemos para o
estacionamento e dei as chaves do meu carro para Marcelo dirigir, que por
sua vez, deixou sua moto ali mesmo. A dor em minha cabeça não estava
ajudando muito. Em seguida, ele pegou a estrada em direção ao bairro do
Leblon.
A verdade é que eu só queria minha Michele de volta, e que tudo pudesse
voltar a ser como era antes. Sua falta estava me matando aos poucos por
dentro. O duro era olhar suas roupas no closet, mas ter a certeza de que não a
veria mais, pois ela fez questão de não levar suas roupas.
Pensativo, balancei a cabeça em negativo e observei a estrada enquanto
Marcelo conduzia o carro.
CAPÍTULO SEIS
MICHELE
— Não acha que deveria tentar se entender com o Gabriel? — Minha irmã
indagou, enquanto eu procurava um vestido apresentável para ir almoçar com
Iago. Nesses últimos dias vínhamos conversando bastante, e era legal ter
alguém para isso, já que minha irmã não podia ficar muito comigo.
Não pensem que Iago já dormiu em meu apartamento, ou que tenha ficado
por para almoçar. Nem mesmo rolou beijo entre nós dois. Confesso que na
noite passada, Andressa e eu fomos até a casa dele e nos divertimos
assistindo filme de ação e comemos pipoca. Foi divertido. Há tempos, eu não
sorria como fiz ontem. Muito bom ter tido a companhia dos dois.
Apesar de ter se passado uma semana, ainda doía ter que pensar no
Gabriel. Querendo ou não, o meu coração pertencia a ele. O pior foi ter
descoberto em meio a essa semana, que eu estou grávida. Céus! Ainda não
tinha decidido o que faria. Lógico que levarei minha gestação adiante, mas
não sabia exatamente quando procuraria Gabriel para revelar isso a ele. A
verdade é que eu estava com medo da reação que ele poderia ter quando nos
encontrássemos novamente.
— Andressa, por favor, pare de tagarelar no meu ouvido. Desde ontem,
antes de irmos para a casa do Iago, que você está me perturbando com isso!
— exclamei irritada.
— Eita! A gravidez já está afetando seus hormônios, hein? — Estreitei
meus olhos para ela que levantou as mãos no ar. — Tudo bem — proferiu,
derrotada.
— O que acha desse? — perguntei mostrando um vestido cor de vinho para
ela, e que ficaria bem justo ao meu corpo.
— Acho que é perfeito. Mas não está se arrumando demais só por causa de
um almoço com o Iago? O cara que você me deixou bem claro em meio a
vários telefonemas que não está interessada? — Indagou em tom
desconfiado.
Rolei os olhos impaciente.
— O fato de eu querer me arrumar bem, não significa que seja para
alguém, além de mim, irmã! Sempre gostei de me vestir bem e isso não
mudou — frisei e comecei a colocar o vestido.
— Só acho que você chamará muita atenção. Deveria ir com um mais
discreto, já que não quer que o Gabriel saiba através de murmúrios sobre seu
paradeiro. — Vi que ela estava coberta de razão, então tirei o vestido e peguei
outro na cor rosa bebê que era rodado e mais soltinho, não ficaria justo como
o anterior.
Quando terminei de me arrumar, meu celular tocou e antes de atendê-lo, vi
que se tratava de uma chamada da minha mãe. Atendi eufórica, e coloquei a
chamada no viva voz enquanto Andressa se colocou ao meu lado para ouvir
atentamente tudo que dona Amélia e nosso pai Raimundo falavam. Eles
estavam viajando para o interior de Minas Gerais, foram visitar alguns
parentes por lá e chegariam de viagem dentro de alguns dias. Eles moravam
próximo ao apartamento de Andressa, e algumas vezes durante a semana
passada, eu conversei rapidamente com minha mãe, mas não cheguei a
comentar sobre meu término com o Gabriel. Esperaria sua chegada. Seria
melhor.
Minutos depois, eu e minha irmã nos despedimos de nossos pais e
encerramos a ligação. Algumas batidas foram dadas na porta do meu
apartamento e já imaginei de quem se tratava. Despedi-me de Andressa e saí
com minha bolsinha em direção a saída.
Iago me elogiou e eu sorri em resposta. Pegamos o elevador e momentos
depois saímos do condomínio. Como o restaurante ficava perto, nós fomos
caminhando e conversando durante o caminho. A pedido meu, ele não tocou
mais no nome do Gabriel e eu agradecia muito por isso.
Assim que entramos no restaurante, o garçom nos cumprimentou e nos
conduziu até uma mesa ao fundo. Foi nos entregue o cardápio, e ao anotar
nossos pedidos, ele saiu nos deixando a sós.
— Aqui é muito bonito. Ainda não tinha vindo nesse restaurante —
comentei com Iago, que por sua vez, prestava atenção em mim.
— Se me permitir, eu poderei levá-la a muitos outros lugares, nos quais,
conheço por aqui. — Iago alcançou minha mão que estava sobre a mesa e me
encarou com um brilho diferente no olhar. Sem graça, recolhi minha mão em
questão de segundos, e a passei em meu cabelo, fingindo arrumá-lo.
— Iago… — quando pensei em repreendê-lo, vi alguém puxá-lo fazendo
com que se levantasse da cadeira, e o socou bem forte no rosto, levando-o ao
chão — O que é isso? — gritei ao ser pega de surpresa com aquele ocorrido.
Assustada, eu me levantei do meu assento e logo identifiquei Marcelo —
outro melhor amigo do Gabriel — tentando conter quem estava sobre Iago, e
o esmurrava mais vezes. Um segurança do restaurante logo chegou até nós e
conseguiu tirar o homem de cima do Iago. Só então pude identificar que se
tratava do próprio Gabriel.
— Está louco? Por que fez isso? — gritei irritada e avancei sobre ele,
esmurrando seu peitoral, enquanto o segurança cuidava para que ele não
voltasse a agredir o Iago.

Ele soltou um riso nervoso e segurou meus pulsos. Confesso que pelo
modo o qual me olhou, cheguei a me encolher internamente. Então, ele parou
seu rosto próximo ao meu e proferiu:
— Então me abandonou para se aventurar com um dos meus melhores
amigos como uma completa vadia? — acusou de modo ofensivo.
Lágrimas não derramadas se acumularam em meus olhos, mas me recusei a
derramá-las diante dele. Sentindo-me humilhada por seu comentário infeliz,
eu puxei meus pulsos do seu agarre e sem ao menos me importar com o
estado do Iago, marchei em direção a saída. Quando finalmente me vi fora do
restaurante, atravessei a rua e caminhei para a praia.
No caminho, tristeza assolou meu coração e me abracei, deixando minhas
lágrimas rolarem pelo meu rosto.
CAPÍTULO SETE
GABRIEL
Fui incapaz de controlar minhas emoções ao chegar ali e me deparar com
Iago e Michele compartilhando sorrisos e até trocas de carinho, pois vi
quando o cara que considerava um dos meus melhores amigos acariciou o
dorso da mão dela sobre a mesa. Enxerguei vermelho ao ver aquilo e
caminhei a passos largos até arrancá-lo da cadeira e socar seu rosto com toda
a fúria existente em mim naquele momento.
Se não bastasse isso, acabei de desferir palavras duras a Michele, sem ao
menos saber da veracidade do acontecido e a vi praticamente correr para fora
do restaurante. Ela sequer olhou para trás. Passei os dedos furiosamente entre
os fios do meu cabelo sem saber ao certo o que fazer. Na verdade, eu queria
ir atrás dela e pedir desculpas, exigir a verdade, porém, meu ego ferido não
me permitiu pensar com clareza.
Fui conduzido pelo segurança para fora do restaurante, ou então, ele seria
obrigado a chamar a polícia. Sem qualquer reação da minha parte, fiquei
próximo a calçada que ficava em frente e observei Michele seguindo em
direção a praia. Soltei o ar pesadamente, precisando de um direcionamento.
— Vai atrás dela, cara! Ao menos tente saber o que realmente aconteceu.
— Marcelo se prostrou ao meu lado e descansou sua mão sobre meu ombro
esquerdo. Cabisbaixo, eu movi a cabeça em negativo, pois achava ser o
melhor a fazer. — Sei que o que viu aqui foi motivo o suficiente para ficar
fora de si e proferir o que viesse a mente, sem saber o que poderia ser
verdade ou não, mas lembre-se que você a ama, hum?! Ao menos foi isso que
ficou repetindo para mim a semana inteira — Ele frisou divertido.
O encarei, pensativo.
— Para de perder tempo, Gabriel. Aliás, deixa eu te salientar algo: A
Michele sempre teve o sonho de se casar e você, por medo de perdê-la por
causa de comentários medíocres de familiares e outros amigos, optou por
“adiar”, mas se formos analisar bem, independente de ter oficializado o
casório ou não, está perdendo-a do mesmo jeito. Será que não vê isso? Não
enxerga o quanto foi egoísta e continua sendo? — indagou dando um aperto
em meu ombro.
Passei a mão pelo meu rosto ponderando tais palavras e percebi que o que
ele tinha dito fazia sentido.
— Merda! — praguejei vendo o tamanho da besteira que tinha cometido ao
acusá-la minutos atrás e saí correndo em direção a praia.
Retirei minhas meias e sapatos ao chegar à areia e varri o local com meu
olhar a procura da figura da Michele. Pude identificá-la mais adiante,
caminhando de cabeça baixa e solitária. Corri até alcançá-la e assim que me
aproximei, segurei-a pelo braço, fazendo-a se virar para mim.
— Espera! — pedi mais tranquilo. A dor de cabeça que tanto me
atormentava antes de eu vir ao Leblon com Marcelo, já havia passado.
— Me solta! — Ela começou a se debater querendo se soltar do meu agarre
em seus pulsos e, a todo o momento evitou me olhar.
Quando ela viu que não teria sucesso, um soluço alto rompeu por sua
garganta e ela, de repente, se sentou na areia. Lágrimas deixavam seus olhos
e me senti um completo idiota por ter sido o causador de cada uma delas.
Ajoelhei-me de frente para ela e apoiei minhas mãos sobre meus joelhos,
enquanto aguardei que ela falasse alguma coisa.
— Michele, fala comigo — Ela continuou chorando e após me ouvir,
soltou um riso amargo e mordeu seu lábio inferior. — Você e o Iago estão
juntos? Por isso abandonou nosso apartamento? — inquiri mais calmo.
Ela passou o dorso de sua mão pelo nariz para limpá-lo e me respondeu,
ainda cabisbaixa:
— Não que isso vá fazer diferença, mas eu e o Iago não temos e nunca
tivemos envolvimento algum. Desde que aluguei um apartamento no mesmo
condomínio que ele mora, sem eu saber dessa infeliz coincidência, ele
prometeu não te contar nada e cumpriu com a palavra. Ele foi uma
companhia essencial para mim nos momentos que eu mais precisei de alguém
nem que fosse para ouvir um simples resumo do meu dia. — Sorriu
minimamente.
— Ele é um traidor, isso sim! E por mais que me afirme que não tiveram
ou tenham nada, eu sei muito bem que no pensamento dele, logo você cederia
fácil, fácil, já que de ótima companhia ele entendia bem — afirmei.
— Eu não vou discutir com você, Gabriel. Aliás, não deveria se preocupar
com quem eu ando ou estou, pois que eu saiba, isso já não te diz respeito —
Michele proferiu de modo altivo e se levantou da areia. Passou a mão pelo
vestido e se recompôs, limpando as últimas lágrimas que vi rolarem pelo seu
rosto.
— Como assim não me diz respeito? — indaguei incomodado com sua
observação. — Você é minha mulher, Michele! — salientei.
Ela bufou de modo amargo e sorriu desdenhosa.
— Só morávamos juntos, Gabriel! Portanto, não há nem um papel que
comprove essa sua afirmação. — Passei a mão pelo rosto de modo frustrado.
— O importante é que sabemos do nosso compromisso um com o outro.
Não precisamos de um simples papel ou assinatura para provar isso! —
ressaltei.
— Esse é o problema, Gabriel! Você sempre foi egoísta o bastante para
sequer pensar no meu querer. Iludiu-me com a falsa esperança de que
repensaria sobre seus conceitos sórdidos referentes à oficialização do nosso
casamento. Eu tive paciência, muita paciência! Por diversas vezes me peguei
chorando em nosso quarto quando era jogada para escanteio, porque você
preferia passar a noite em um barzinho jogando papo fora com seus amigos a
ter que sair comigo para ao menos tentar reavivar a chama que um dia foi
presente entre nós — Michele jogou suas palavras sobre mim, ficando
evidente seu descontentamento.
— Você nunca reclamou das minhas saídas com meus amigos, muito pelo
contrário, sempre se mostrou conivente — frisei sem realmente entendê-la.
— Quando amamos verdadeiramente uma pessoa, Gabriel, jamais iremos
privá-la de ter seus momentos de descontração. Desde que isso não atrapalhe
a relação do casal. Porém, você nunca se preocupou com isso, pois fez
exatamente o contrário! Momentos que eram para serem somente nossos,
você acabou abrindo mão para estar com seus amigos. Pois fique com eles!
— proferiu entre dentes e saiu caminhando para longe de mim.
— Michele, não é bem assim! — frisei ao segurar seu braço, fazendo-a se
virar para mim.
— Me solte! — Ela se debateu entre meus braços.
— Não! Não vou soltá-la até nos resolvermos — proferi com meus olhos
fixos aos dela.
CAPÍTULO OITO
MICHELE
— Já não somos um casal, portanto, não há o que resolver! — Puxei
novamente meu braço e me afastei dele.
— Michele, por favor, me escuta…
— Esquece que eu existo, Gabriel! Será um favor que fará a nós dois —
pedi e comecei a caminhar para longe novamente.
— Eu te amo, Michele! Não vejo minha vida sem você. — Cessei meus
pés sobre a areia e me voltei para ele, sorrindo.
— Que irônico, não?! Suas atitudes são totalmente contrárias ao que diz.
Passar bem, Gabriel. — Saí dali sem olhar para trás e agradeci aos céus por
ele não ter me seguido.
Gabriel havia me ferido muito mais do que ele podia imaginar.
No momento em que cheguei em casa, fui incapaz de segurar minhas
lágrimas. Minha irmã veio ao meu socorro e me aninhou em seus braços.
Contei tudo o que tinha acontecido e ela não gostou nada de saber o quão
idiota o Gabriel tinha sido, até queria ir atrás dele para lhe dizer poucas e
boas, mas frisei que seria perda de tempo, pois ele só pensava no próprio
umbigo. Seria incapaz de ouvi-la. Andressa me pediu calma, pois eu
precisava pensar unicamente no meu bebê.
Minutos mais tarde, eu consegui me acalmar. Tomei um banho revigorante
e me senti mais relaxada. Perante todo o ocorrido no restaurante, acabei não
almoçando, mas minha irmã fez questão de preparar uma sopa para mim, ela
disse que deixaria meu bebê forte. Eu sorri diante daquela colocação e
agradeci por tê-la cuidando de mim.
No período da noite, alguém bateu na porta do meu apartamento e eu já
tinha noção de ser o Iago, pois ele nunca usava a campainha. Eu e Andressa
estávamos assistindo tevê e ela me questionou se eu não queria que
dispensasse quem quer que estivesse por trás daquela porta. Agradecida por
sua preocupação, eu a deixei ciente de que estava bem e eu mesma atenderia.
Assim que abri a porta, eu me deparei com um Iago abatido, mas isso não o
impediu de me lançar seu famoso sorriso de canto. Notei que seu olho direito
estava arroxeado com um corte acima do supercílio. Dei um passo à frente e
levei minha mão até seu rosto e acariciei sua bochecha com meu dedo
indicador.
— Eu… Eu sinto muito. Jamais quis lhe causar isso — Lamentei, me
sentindo culpada por vê-lo naquele estado.
Ele comprimiu seus lábios em um riso contido e pegou minha mão nas
suas, depositando um beijo carinhoso em minha palma.
— Não sinta. Não foi você que me agrediu — ressaltou ao fitar meus
olhos.
— Mas foi por minha causa, Iago! — exclamei em alerta. Puxei minha
mão das suas e passei pelo meu cabelo, pensando. — Eu acho melhor
ficarmos longe um do outro. Não me sentirei bem se algo pior vier a te
acontecer por minha culpa — pedi, pois era o mais sensato a se fazer naquele
momento.
Sem aviso prévio, Iago enlaçou suas mãos em minha cintura e grudou
nossos corpos, beijando-me em seguida. O empurrei, assim que sua língua
pediu passagem para entrar em minha boca.
— Não faça isso, Iago. Não é correto — repreendi.
Ele sorriu de modo amargo e socou a parede ao meu lado. O encarei
assustada por tal reação de sua parte.
— O Gabriel não te ama, Michele. Acorda! Se ele te amasse já teria
casado com você, no entanto, fica com aquela conversa idiota de homem que
não quer assumir verdadeiramente a mulher que tem — Me senti triste por
seu comentário, mas sabia que não era mentira.
— É melhor você ir e não voltar mais aqui, Iago, por favor — pedi.
Ele balançou a cabeça em negativo.
— Eu gosto e respeito muito você, Michele, mas farei como pediu. Cuide-
se! — disse com seus olhos fixos nos meus e afagou minha bochecha.
Fechei os olhos sentindo o contato dos seus dedos em minha pele, mas
assim que parou, abri minhas pálpebras e ele comprimiu seus lábios em um
sorriso ameno, saindo dali em seguida. O vi se afastar e massageei o local
acima do meu coração, pois estava ciente que talvez o tivesse ferido, jamais
desejei aquilo, mas foi o mais sensato a fazer.

Na manhã seguinte, após me espreguiçar sobre a cama, caminhei até o
banheiro e me deparei com meu reflexo no espelho, constatando que meus
olhos se encontravam mais inchados do que o normal, pois antes de cair no
sono, eu chorei ao ver algumas fotos minhas com Gabriel em meu celular. Eu
sabia que já deveria ter me livrado delas, mas não consegui. Querendo ou
não, meu coração ainda o pertencia.
Terminei de fazer minha higiene e pensei em caminhar pela praia, mas
logo desisti ao pensar que poderia voltar a encontrar o Iago por lá, pois não
queria ter de encará-lo após mandá-lo embora daqui na noite passada.
Sentiria-me mal se o visse, e culpada também. Culpada por ainda não ter sido
capaz de deixar de pensar em Gabriel, e por chegar a cogitar de ir conversar
civilizadamente com ele.
A verdade é que eu não sabia mais o que fazer ou, até mesmo, pensar.
CAPÍTULO NOVE
GABRIEL
Depois que Michele se virou e foi embora da praia, eu preferi deixá-la ir,
pois nós precisávamos de um tempo para colocar nossos pensamentos e
emoções em ordem. Sequer retornei ao restaurante, pois não quis correr o
risco de olhar para a cara de falso amigo do Iago. Peguei um táxi ali próximo
e fui para casa. Em meio ao caminho, liguei para Marcelo e o avisei que
estava a caminho de casa e ele informou que levaria meu carro mais tarde. O
agradeci e após pagar o taxista, passei pela portaria e peguei o elevador.
Assim que entrei em meu apartamento, resolvi tomar um banho para tentar
relaxar um pouco.
A todo o momento, pensei em Michele e tomei a decisão que não abriria
mão dela. Não mesmo!
Saí do banheiro e com uma toalha enrolada em minha cintura, segui para o
quarto e liguei para Marcelo, pois precisaria dele para o que eu tinha em
mente. Após conversarmos, encerrei a ligação e a campainha do meu
apartamento tocou. Franzi o cenho e pelo porteiro não ter me ligado para
avisar ou pedir autorização para alguém subir, eu imaginei que pudesse ser
Michele.
Esperançoso, eu caminhei até a porta e assim que abri, meu sorriso deu
espaço ao meu cenho franzido, pois me deparei com minha prima Kelly.
— Uau! Que visão, hein, querido! — Ela tirou seus óculos de sol e desceu
seu olhar pelo meu abdômen, parando na toalha presa em minha cintura.
Bufei, desgostoso por sua visita inusitada, pois desde o dia em que ela
apareceu misteriosamente em meu escritório, não parou de me mandar
mensagens durante a semana seguinte. E sempre em momentos inoportunos.
Eu respondia por educação, mas sempre que a mesma tentava puxar conversa
relacionado a Michele ter ido embora de modo inesperado, eu tratava de
ignorá-la. Na última vez, me encontrava em uma reunião importante e recebi
fotos dela seminua. Enraivecido pela ousadia e falta de respeito comigo, eu
cortei qualquer meio de comunicação entre nós dois.
— O que deseja, Kelly? — indaguei sem ao menos convidá-la para entrar.
— Hum… com você seminu na minha frente, fica até meio óbvio a
resposta, não acha? — inquiriu-me de modo sugestivo, enquanto umedecia
seus lábios maliciosamente.
Em seguida, ela deu um passo à frente e espalmou meu peitoral.
— Vai embora daqui, Kelly. — Pedi, retirando sua mão de mim.
Ela sorriu divertida.
— Ah, por favor, Gabriel! Vai ficar chorando pela Michele ter ido embora
até quando? Se ela não te quer, tem quem queira: Eu, por exemplo —
proferiu próximo ao meu rosto.
Com minha mão ainda segurando em seu braço, empurrei-a para fora do
limite da porta.
— A minha vida não te diz respeito, Kelly, portanto, não se intrometa onde
não te cabe. Vá embora! — Voltei a repetir de modo rude, pois estava farto
de suas investidas forçadas.
— Que seja! Quem sabe quando você perceber que ela não voltará, então
venha atrás de mim, não é mesmo? — Soltei um riso nervoso, desdenhando
da sua falta de sanidade mental. — Passar bem, Gabriel! — proferiu meu
nome pausadamente e deu de ombros. Girou sobre seus saltos e saiu
rebolando dali.
Soltei o ar desgostoso e fechei a porta.
Depois de me vestir, Marcelo chegou até meu apartamento e fomos em
direção ao shopping. Entrei em uma joalheria e escolhi um anel de pedra
solitária. Se o único jeito de ter Michele de volta era me casando com ela, eu
o faria. Eu a amava e não abriria mão dela por nada. Provaria isso a ela.

Era domingo e, eu saí cedo do meu apartamento, eufórico. No dia anterior,
eu comprei o anel de noivado que seria um grande passo para mim e Michele,
pois finalmente realizaria seu sonho, no qual, a traria de volta e a manteria ao
meu lado pelo resto de nossas vidas. Eu estava disposto a abrir mão do que
fosse para fazê-la feliz. Passei numa floricultura e comprei um buquê de
flores. Durante o percurso, parei em uma padaria e comprei algumas
guloseimas para um possível café da manhã entre nós dois.
Cheguei até o condomínio em que ela estava morando e deixei meu carro
no estacionamento. Recolhi o buquê e as sacolas que continham nosso café
da manhã no banco de trás e, ao fechar a porta, segui até a portaria e me
identifiquei. Como não sabia o número do apartamento de Michele, falei o
nome completo dela e o porteiro ligou para o apartamento dela. Confesso que
me senti apreensivo, sem saber se seria recebido depois do ocorrido no dia
anterior. Para minha grata surpresa, minha entrada foi autorizada.
Ao ser informado do número do apartamento, eu peguei o elevador e em
questão de minutos me encontrava de frente para sua porta. Pressionei a
campainha e aguardei sentindo meus batimentos descompassados no peito,
pois não sabia o que sucederia nossa conversa, muito menos se ela aceitaria
meu pedido de casamento.
Logo a porta foi aberta e Michele não tinha uma de suas melhores feições
voltada para mim.
— Oi! — cumprimentei meio sem jeito.
— Oi — Ela respondeu inexpressiva.
— Eu posso entrar? — pedi, cauteloso.
Ela comprimiu seus lábios e olhou para as flores em minhas mãos.
— Ah, são para você. — Dei um passo à frente, ficando próximo a ela e
lhe entreguei o buquê de flores.
Nos encaramos por algum tempo, em seguida, ela abaixou o olhar,
verificando as flores e sorriu amena em agradecimento. Por fim, ela me
convidou para entrar. Dentro do apartamento, ela seguiu até a cozinha e eu a
acompanhei.
— Nós precisamos conversar, Michele — comuniquei.
— Gabriel, eu acho que tudo já foi dito no dia de ontem, caso não se
lembre. Creio que não necessitamos nos desgastar novamente. Eu não vou
voltar, se for esse o propósito por ter se deslocado até aqui. Você me enganou
por anos, e não quero mais isso. — Ela umedeceu seus lábios, após colocar o
jarro com as flores em cima da mesa e recostou no balcão da pia.
Abandonei as sacolas sobre a mesa e caminhei a passos largos, encarando-
a, até estar de frente para ela.
— Michele, por mais que tente me afastar, não vai conseguir, porque não é
isso que quer, seus olhos são capazes de evidenciar isso. — Ela desviou sua
atenção da minha e voltou a umedecer os lábios.
— Você tem toda razão ao afirmar que não o quero distante. Eu o amo, não
nego isso, mas só o amor não é capaz de sustentar uma relação, Gabriel. —
Ela fechou os olhos com certo pesar.
Segurei seu rosto delicado entre minhas mãos e ela inspirou o ar com força,
como se não fosse forte o bastante para resistir a mim. Logo abriu seus olhos
e nos encaramos.
— Michele, eu também te amo muito. Nunca quis te enganar durante esses
anos, mas confesso que menti por diversas vezes para não ter que ceder de
alguma forma aos seus pedidos excessivos para oficializar nosso
relacionamento. Eu… Só acho que não estava preparado para dar esse passo
tão importante e mediante a isso, acabei te enganando, assim como afirmou.
— Escorreguei meu dedo indicador até o canto de sua boca e nossas
respirações se tornaram mais rápidas do que o normal.
Antes de eu agarrá-la ali mesmo, evitei perder meu foco e me afastei
minimamente para pegar a caixinha das alianças no bolso da minha calça
jeans. Em seguida, me coloquei de joelhos em sua frente e tomei sua mão
direita na minha.
— O que isso significa, Gabriel? — Ela indagou com uma expressão
confusa.
— Confesso que já não consigo ficar mais um dia sem tê-la ao meu lado.
Eu não menti ao dizer que já não vejo minha vida sem você — Vi emoção
atravessar seu olhar. — Vamos resolver esse impasse de uma vez por todas.
Case-se comigo, Michele? — pedi ao abrir a caixinha e peguei o anel dentro
dela. — Me deixe provar que a amo verdadeiramente, porque é fato que sou
louco por você, meu amor, e não abrirei mão de você.
— Está falando sério? — Ela indagou e uma lágrima solitária escorreu por
sua bochecha. Assenti. — Eu aceito! É tudo que eu mais quero nesse mundo.
— Feliz por sua resposta, encaixei o anel em seu dedo anelar direito e me
levantei.
Tomei seus lábios em um beijo urgente, pois não aguentava mais me
manter distante.
TRÊS ANOS DEPOIS.
Cheguei do escritório mais cedo e não encontrei movimento da nossa filha
Valentina, que já tinha um pouco mais de dois anos, muito menos da
Michele. Subi as escadas da nossa nova casa, no qual, compramos
recentemente. Ficava em um condomínio fechado no bairro do Leblon.
Cheguei até o nosso quarto e afrouxei minha gravata e assim que acendi a
luz, coloquei minha pasta sobre a mesa no canto e me livrei de vez da
gravata.
Me desfiz das minhas roupas e entrei no banheiro. Assim que terminei de
tomar meu banho, saí do banheiro vestido com um roupão e fui surpreendido
ao ver Michele sentada com as pernas cruzadas à mostra. Trajava um robe
vermelho que se encontrava aberto. Confesso que ela estava radiante.
— Estava te esperando — Michele me deixou ciente e descruzou as pernas.
Abandonou a cama e caminhou em minha direção com os pés descalços.
— Onde está a Valentina? — perguntei ao ter suas mãos desamarrando o
nó do meu roupão.
— Ela está com minha irmã, não se preocupe. — Sorriu me deixando mais
tranquilo e me olhou de maneira promissora.
— O que está tramando nessa cabecinha? — proferi rouco, próximo aos
seus lábios, enquanto tomei seu rosto em minhas mãos. Ela sorriu maliciosa,
fazendo meu pau pulsar de ansiedade e empurrou o roupão para fora dos
meus ombros, que por sua vez, caiu ao chão.
— Hum… várias coisas. — Pronunciou com o tom manhoso, tomando
meu pau em uma de suas mãos.
— Isso é maravilhoso. — Soltei um grunhido pela minha excitação e
grudei nossos lábios em um beijo urgente.
Enquanto nossas línguas duelavam no vão de nossas bocas, retirei seu robe
e fui empurrando-a para trás, até chegarmos à nossa cama. A fiz se deitar na
mesma após cessar nosso beijo. Encarei-a e apalpei seus seios por cima do
bojo do sutiã vermelho, e suguei seus lábios entre os meus.
— Uma grata surpresa te encontrar me esperando vestida dessa forma.
Muito bela e degustativa, eu diria. — Desci minha mão direita até o meio de
suas pernas e massageei seu clitóris por cima do tecido.
— Hum… precisamos que a Andressa olhe a Valentina mais vezes então
— supôs.
— Acho válido. — Sorri e voltei a tomar sua boca na minha.
Michele gemeu alucinada e eu não me encontrava diferente. Cessei nosso
beijo e desci minha boca por seu queixo, chegando ao seu pescoço e o mordi
de leve. Movi até seus seios e ao descobrir um deles, abocanhei seu mamilo
rijo com certa fome e a assisti arquear o corpo, denunciando sua excitação.
Fiz o mesmo com seu outro seio, enquanto a vi se remexer abaixo de mim,
pronunciando palavras desconexas, se entregando ao nosso momento
prazeroso.
Momentos mais tarde, nós nos encontrávamos abraçados na cama, nos
recuperando.
— Hum, eu tenho algo a dizer — Michele anunciou, em meio ao silêncio
sepulcral que havia se instalado entre nós.
— Então diga — pedi ao beijar seus lábios de leve.
Michele ponderou por um instante e ao sorrir, encarou-me com um brilho
diferente contido em seus olhos.
— Eu estou grávida! — anunciou me deixando boquiaberto.
— Está falando sério? — questionei incrédulo e me coloquei por cima
dela, evitando que meu peso ficasse totalmente sobre seu corpo.
Michele sorriu e assentiu, passando seus braços em volta do meu pescoço.
Fui incapaz de não demonstrar minha felicidade quanto àquela notícia. Beijei
seus lábios demoradamente e ao nos afastar, eu encarei-a.
— Eu amo muito você, nossa filha Valentina, e nosso bebê que está em seu
ventre também. É um amor tão grande, que chega a faltar espaço em meu
coração — proferi amoroso e ela me encarou séria. — Obrigado por isso. —
Agradeci.
— Compartilho do mesmo sentimento, meu amor. — Ela passou a unha
por entre os fios do meu cabelo, acima da minha nuca, fazendo meu pau ficar
ereto novamente.
E, mais uma vez, nos entregamos completamente ao outro.
Analisando o passado, vi que perdi um tempo precioso ao não ter
oficializado nosso casamento antes. Tive que quase perdê-la para tomar uma
atitude decente e realizar seu sonho. Mas, enfim, estávamos juntos e, ao
contrário do que eu pensava, depois que casamos no civil e no religioso, nos
tornamos um casal muito mais companheiro e fiel ao outro.
Nos amávamos verdadeiramente e a assinatura num papel, só nos tornou
mais próximos, nos fortaleceu e me fez enxergar além do meu próprio
umbigo. Para ser feliz com quem se ama, você tem que aprender a ceder,
porque um relacionamento não se baseia apenas no seu querer.
FIM .
Copyright © 2018 Vivy Keury
Capa:
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra ficcional.


Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes sem a autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do código penal.
Sinopse
A palavra “perder” quase nunca é bem-vinda; o ser humano não gosta de
perder, e muitas vezes nem é uma questão de gostar, mas de aceitar.
Helena era uma mulher doce, divertida e decidida na vida. Entretanto, isso
mudou quando perdeu o marido em um acidente. Ela não aceitava o fato de
estar longe do seu grande amor, e por isso adotou um estilo de vida onde
priorizava apenas o superficial para manter seu interior intacto e longe de
relacionamentos. Contudo, Ana, sua amiga, decidiu interferir nessa equação.
De casamento marcado, Ana pretende atrair Helena para sua despedida de
solteiro a fim de trazer um pouco de cor na vida da amiga. Entretanto, Helena
será atraída para os braços do verdadeiro pecado. Será que ele conseguirá
amolecer seu coração?
“Estar em seus braços era muito melhor do que sentir medo”
Embarque nesse conto hot e descubra!
Sumário
Sinopse
Capítulo um
Capítulo dois
ALGUNS DIAS DEPOIS…
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
UMA SEMANA DEPOIS
Capítulo nove
Capítulo dez
DUAS SEMANAS DEPOIS
ALGUNS DIAS DEPOIS
EPÍLOGO
UM ANO DEPOIS
JONAS
HELENA
FIM!
Capítulo um
— Não sei, acho que precisa apertar um pouco mais. O que acha? —
Olhando para Ana, eu fui capaz de me lembrar do dia em que também me
preparei, assim como ela, para o meu casamento.
Fechei meus olhos tentando espantar aquelas lembranças e fazer com que a
dor da saudade, que eu sentia do Pedro, não voltasse a me assolar.
— Helena? — Abri meus olhos ao ouvir Ana chamar minha atenção e
comprimi os lábios ao forçar um sorriso.
— Acho que está bom, Ana. Acaso quer morrer asfixiada dentro do seu
vestido de noiva? — Tentei fazer piada, mas acho que perdi a prática, pois ela
fez uma careta e revirou os olhos e bufou desgostosa. Eu apenas sorri. — É
sério! Você está perfeita, não precisa de mais ajustes. — Naquele momento,
Ana juntou suas mãos e sorriu verdadeiramente para mim. Seus olhos
reluziam.
Eu estava muito feliz por ela.
Ana e eu nos conhecíamos desde o ensino fundamental. Terminamos o
segundo grau e partimos para a faculdade. Fizemos o mesmo curso:
Pedagogia. Amávamos crianças, isso era um fato. Ambas sonhávamos em ter
nossos filhos, mas pensar nisso me deixava de coração partido.
Fui casada durante cinco anos com Pedro. Queríamos aproveitar mais um
ao outro e por mais que tivéssemos feito planos para ter filhos em um
momento mais oportuno, ainda assim, me sentia extremamente triste, pois o
perdi e com isso a oportunidade de ter tido um pedaço de nós dois, porque
parte dele estaria viva e comigo, e me ajudaria a suprir esse enorme buraco
presente em meu coração.
— Obrigada, amiga. — Deixei minhas divagações de lado ao ouvi-la me
agradecer e sorri em resposta. Em seguida, eu vi que ela pediu para que o
vestido, finalmente, fosse embalado para levarmos.
Faltava apenas duas semanas para o tão sonhado dia e Ana estava eufórica
com isso.
Minutos depois, saímos da loja e após Ana colocar a caixa com o vestido
dentro do carro, falou que precisaria passar em outro lugar. A segui sem saber
de que “lugar” se tratava, mas logo tive conhecimento. Entramos numa loja
de lingerie e pensei: “ok”, só que minha amiga pediu para ir à área do sexy
shop.
— O que vai fazer? — perguntei ao sermos guiadas até a área do sexy
shop.
— Comprar alguns apetrechos, oras! Vai me dizer que nunca usou com o
Pedro? — Sua pergunta me fez pensar nele de modo automático.
— Não inclua o nome do Pedro nisso, por favor — pedi, mas foi inevitável
esconder a tristeza por trás dessas palavras.
Semana passada, completou um ano que não o tinha mais ao meu lado. Um
ano remoendo sua morte súbita. Um ano que preferi me fechar para qualquer
tipo de relacionamento com outro homem. Sequer saía para festas, a não ser
comemorações em família, ou da minha ou de Ana.
Pensar nisso, chegava a me deixar com um nó enorme na garganta, pois
minhas emoções ficavam afloradas. Como eu desejava que ele estivesse ali,
vivo e… Comigo.
— Me desculpa, Helena. — Deixei minha tristeza de lado e ofereci um
sorriso forçado para ela e, finalmente, engoli a vontade de chorar, assentindo.
— Eu só quis brincar, mas confesso que foi insensível da minha parte —
complementou, tentando se redimir.
— Está tudo bem, Ana. Vamos logo com isso. — Ela sorriu agradecida por
eu entendê-la e enfim, chegamos até uma sala cheia de “apetrechos” para dar
uma apimentada na relação entre quatro paredes.
Confesso que com o passar dos minutos, eu até me distraí, pois hora ou
outra, Ana fazia gracinhas em meio à sala. Gargalhei a ponto de sentir meus
olhos umedecerem ao vê-la ameaçar lamber um pênis de borracha maior do
que o normal. A expressão que ela fazia era extremamente safada e aquilo me
fez doer a barriga de tanto rir.
— Não sei qual é a graça. — Ela arqueou a sobrancelha, demonstrando
estar debochando de mim.
— Ah, confesse que foi engraçado! — exclamei divertida, enquanto ela
passava alguns géis de massagem que ajudavam a intensificar o prazer na
hora do ato.
— É, um pouco. — Ambas nos olhamos e caímos na risada.
— Mais alguma coisa, senhora? — Nos contemos ao ouvir a vendedora
questionar a Ana.
— Tem certeza que não quer levar nada? — Ana voltou a me questionar.
— Eu já disse que não. Afinal de contas, sequer tenho com quem usar e
você sabe disso. Deixe de pergunta idiota — respondi um pouco impaciente.
A verdade é que eu odiava ter que me recordar do fato de não ter mais um
companheiro. De não ter o meu Pedro ao meu lado, e isso me deixava
extremamente triste.
Assisti Ana se calar e, em seguida, respondeu a funcionária que era
somente aqueles produtos mesmo. Saímos da loja em completo silêncio. Ao
chegarmos no carro, Ana colocou as sacolas no porta-malas e, eu me adiantei
em entrar no veículo e me ajeitei no banco do carona, travando meu cinto de
segurança.
— Me desculpe novamente, mas eu não sei mais o que fazer para tirá-la
dessa solidão interna, que acabou se fechando, Helena. — Eu só fiquei ali,
ouvindo-a sem emitir qualquer som. Sequer a olhei. Ouvi-a soltar um sonoro
suspiro, parecia triste e continuou: — Vou dar uma festa de despedida de
solteira — Ela confessou em um só fôlego e foi inevitável não olhá-la.
— O Jorge sabe disso? — Gesticulei com os olhos arregalados diante da
surpresa em saber daquilo, pois jamais imaginei que ela faria uma despedida
de solteira.
— Claro que sabe! — exclamou em tom de repreensão. Levei minhas mãos
ao alto e me desculpei. — Tudo bem. Ele também fará, mas combinamos de
ter apenas homens na despedida dele, assim como terá apenas mulheres na
minha, salvo pela stripper que terá na dele e os gogoboys que terão na minha.
— Meus olhos quase saltaram das órbitas ao ter aquela informação.
— Vocês confiam tanto assim um no outro para serem tão liberais? —
Confesso que não concordaria com algo desse tipo, mas Ana tinha a “mente
aberta”, diferente de mim.
— Deixa de caretice, Helena! Não é como se eu fosse ficar com o gogoboy
ou ele com a stripper. Tudo isso é apenas para o entretenimento dos nossos
convidados. Ambos nem chegaremos próximos, mas é lógico que eu vou
apreciar o show — disse com um sorriso divertido nos lábios.
Eu sorri do seu modo de ser e, ao mesmo tempo, balancei a cabeça em
negativa. Definitivamente, minha amiga não tinha jeito, mas eu a amava.
Capítulo dois
ALGUNS DIAS DEPOIS…
Eu assistia a um filme de comédia romântica na televisão, enquanto sorria
de algumas cenas, bebericava meu copo de refrigerante e comia pipoca. Eu
amava sessões de filmes, mas sem a minha amiga era ruim; completamente
sem graça.
Porém, eu tinha que me acostumar. Afinal de contas, era noite de sexta-
feira, o dia tão esperado pela Ana. Hoje estava marcado para ser sua
despedida de solteira e, para falar a verdade, eu queria muito ter tido ânimo
para estar lá com ela, aproveitando a noite ao seu lado, como uma melhor
amiga de verdade, mas recusei o convite.
Sei que fui insensível em ter negado o convite, porque no momento em que
lhe disse “não”, Ana, praticamente, murchou sua postura, deixando claro sua
decepção. Como melhor amiga, eu jamais deveria ter agido daquela maneira,
entretanto, deixei minha indisposição falar mais alto, mas agora reconhecia
que havia sido um grande erro.
Bufei, contrariada comigo mesma. Olhei no relógio que tinha sobre a
mesinha de centro e notei que já beirava as vinte e duas horas. E, naquele
momento, a despedida de Ana já deveria começado. Enfim, eu tinha cogitado
a hipótese de ainda aparecer lá, mas, visto que já estava em cima da hora,
pensei ser uma má ideia.
Naquela altura, eu já havia perdido o interesse pelo filme que estava
assistindo. Peguei o controle da televisão e comecei a trocar de canal sem
muita perspectiva de encontrar algo que me chamasse a atenção. De repente,
a campainha da minha casa começou a tocar.
Franzi o cenho ao achar aquilo estranho, pois não me lembrava de estar
esperando alguém. Deixei meu pote de pipoca e o copo de refrigerante sobre
a mesinha de centro e me levantei do sofá e, em seguida, alinhei o blusão que
eu usava sobre o meu corpo. Passei as mãos pelos fios loiros do meu cabelo e
segui até a porta, alcançando sua maçaneta. Antes de girá-la, conferi pelo
olho mágico a figura que estaria do outro lado e abri minha boca, surpresa ao
constatar sobre quem se tratava.
Abri a porta rapidamente.
— Ana? O que faz aqui? — O tom de surpresa estava nítido em minha
voz.
— Posso entrar? — Ela ignorou completamente a minha pergunta e dei
passagem para que entrasse.
— Me responda, Ana! — exclamei. — O que faz aqui a essa hora? Não
deveria estar na sua despedida de solteira? — Voltei a questioná-la, sem nem
ter tido as respostas das perguntas anteriores.
— Blá-blá-blá! — Ana fez pouco caso enquanto eu ia atrás dela rumo à
sala. Notei que ela estava arrumada. Seus cabelos estavam em um penteado
elegante, presos no alto de sua cabeça. Seu vestido estava alinhado ao seu
corpo, muito bem moldado, por sinal. Nos pés, calçava uma sandália de salto
alto, porém, não tão alto. Médio, eu diria. Observei ela se sentar no sofá e se
abaixou a fim de desfazer as amarras da sua sandália.
— O que está fazendo? Não vai me responder? — De pé, a observando, eu
cruzei meus braços. Encontrava-me um pouco impaciente pelo modo que
Ana estava agindo naquele momento.
— Estou tirando minhas sandálias para ficar mais à vontade, aliás, escolhe
um filme para a gente assistir — sugeriu, de modo tranquilo.
Caminhei até ela e a impedi de continuar desamarrando uma das suas
sandálias de salto.
— Está louca? Não deveria estar na sua despedida de solteira? — indaguei
novamente.
Ana soltou um riso amargo e deu de ombros, jogando suas costas contra o
encosto do sofá.
— Deveria, mas… adivinha? Minha melhor amiga não comparecerá,
portanto, vim fazê-la companhia, já que minha despedida de solteira será um
grande fiasco, não acha? — Meus olhos se arregalaram ao ouvir aquele
absurdo sair da sua boca.
— Que besteira é essa, Ana? Saia daqui o mais rápido possível e vá curtir
sua festa! É a sua festa, minha amiga. Vai mesmo fazer isso, só porque eu
não vou? — perguntei, olhando firmemente em seus olhos.
Ana bufou.
— Se não estará lá, que graça terá para mim? Esperei anos por isso, Helena
e você sabe disso, mas preferiu negar meu convite. Um simples convite! —
Pude notar decepção em suas palavras e me senti mal com isso.
Me ajoelhei próximo às pernas dela e peguei suas mãos nas minhas.
— Tudo bem. Se é para vê-la feliz e com sua festa realizada, eu vou com
você. Certo? — Dito aquilo, a expressão de Ana mudou completamente.
Passou de chateação, para euforia em questão de segundos.
— Que emoção, Helena. Muito obrigada, minha amiga! — Ela envolveu
seus braços em torno do meu pescoço, demonstrando seu carinho e alegria
pela minha decisão.
Sorrimos em uníssono e, em seguida, fomos em direção do meu quarto,
pois ela me ajudaria na escolha do meu visual para sua despedida de solteira.
Capítulo três
Uma música sertaneja e romântica estava tocando enquanto o percurso era
feito até a casa de show, que Ana já havia comentado comigo alguns dias
antes que alugaria para tal acontecimento. Morávamos na barra da tijuca e a
casa de show em questão, ficava a uns vinte minutos da minha casa. Ana
cantarolava a letra da música e, eu a encarava achando graça de suas facetas.
Minutos depois, chegamos até a casa de show, porém, assim que saí do
carro, notei alguns carros estacionados ali e franzi o cenho ao fechar a porta.
— Ana, o que isso significa? — indaguei e apontei para os carros no
estacionamento ao tê-la me encarando com um olhar interrogativo.
Ela entendeu o que eu quis dizer e soltou uma lufada de ar e, em seguida,
colocou uma mecha dos seus cabelos atrás da orelha.
— Tudo bem, ok? Confesso que eu menti para poder fazer com que viesse
até aqui. — Minha boca abriu minimamente ao tomar nota sobre sua mentira.
— Olha, Ana, confesso que fiquei surpresa com sua jogatina só para me
arrastar até aqui, mesmo sabendo que eu não gosto muito de festas. E só
porque é a sua festa e um dos momentos que planejou com tanta euforia, eu
vou te perdoar. — Fingi irritação no meu tom de voz, olhando-a com meus
olhos semicerrados, mas ela sorriu alegre e comemorou.
Não consegui fingir estar irritada com ela por muito tempo, pois logo me vi
sorrindo do seu modo despojado de ser.
Ana tratou de pegar em minha mão e começou a me explicar que sua sogra
e cunhada — irmã do seu noivo e futuro marido — também estavam
marcando presença. Entramos pela porta dos fundos e as batidas da música
eletrônica invadiram meus ouvidos. Havia luzes piscantes e o salão estava
abarrotado de mulheres, algumas eu conhecia e outras não. Ana tratou de me
apresentar a todas e reconheci sua sogra e irmã do seu futuro marido, afinal,
as conheci no jantar de noivado que eles fizeram numa pequena chácara no
interior da cidade.
Apesar de a Ana ser de uma família rica, ainda sim, ela era uma mulher
humilde e de alma solidária. Trabalhamos na mesma escola, pois ambas
amávamos crianças. Elas nos trazem uma alegria contagiante.
Rapidamente, fui tirada das minhas divagações pela Ana que estava
acompanhada por sua cunhada, Priscila.
— Trouxe para você. — Soltei um riso e balancei a cabeça em negativo.
— Ana, você sabe que não bebo bebida quente. Nem pensar. Dispenso. —
Fui taxativa.
— Deixa de ser careta, amiga! — Ana exclamou e colocou o copo na
minha mão, mesmo ao meu contragosto. — É bom sair da mesmice,
experimentar coisas novas, sabe? — indagou me lançando um olhar
sugestivo.
Dei de ombros e antes de jogar a bebida goela abaixo, a ponto de nem
sentir seu gosto, levei-a até minha narina e inalei seu cheiro forte de álcool,
podia até dizer que me senti um pouco zonza. Olhei para as duas, que me
encaravam em expectativa e tomei coragem o suficiente para beber de uma
vez. Entornei o copo na boca e senti o líquido descer queimando.
— Que troço horrível! — Entreguei-lhe o copo fazendo uma careta que eu
podia jurar ser a pior da face da terra e Ana me entregou um limão. Olhei-a
com confusão.
— Chupa pra poder amenizar o gosto da bebida — sugeriu e assim o fiz.
— Que bebida é essa? — questionei, sentindo o gosto ácido do limão na
minha boca ao invés do da bebida.
— Uísque — Ana respondeu e sorriu, juntamente com sua cunhada.
— Hum… — foi apenas o que pronunciei — E… e os gogoboys? Ainda
não chegaram? — perguntei ao me lembrar que ela havia mencionado isso
alguns dias atrás, e acabei de notar que não tinha nenhum em meio ao salão.
— Tá interessada, não é, minha amiga querida? — Ana Indagou de modo
acusatório e sorriu junto com sua cunhada.
Revirei os olhos diante de sua ironia.
— Você sabe que não tem nada a ver com isso, Ana. Só perguntei, porque
notei que não tem nenhum por aqui — ressaltei.
— Eu sei. Eles ainda não chegaram. Marquei o horário para mais tarde.
Enquanto isso, nós vamos dançar um pouco. — Ana sugeriu e gritou em meio
à música agradável.
Me encontrava mais ao canto do salão e ela me puxou para o meio da pista.
Priscila, Ana e eu começamos a dançar a fim de nos divertir. Entre uma dança
e outra, sensualizávamos e inventávamos alguns passos. Sorríamos de nossas
“presepadas” e logo mais outras mulheres se juntaram a nós.
Momentos depois, eu já estava suada e ainda sim, não parei. Porém, logo a
música foi cessada, assim como as luzes piscantes também, dando lugar à
total iluminação do local. Sem saber o que estava acontecendo, eu e as
demais mulheres nos viramos em direção à porta de entrada dos fundos e
quatro homens em suas fardas de policiais entraram e caminharam em nossa
direção.
Naquele momento, eu me senti apavorada, pois não sabia o que policiais
estariam fazendo ali.
— Me diz que não fez nada de errado, Ana! — exclamei, sentindo-me um
pouco trêmula e preocupada com tudo aquilo.
— Não fiz nada, amiga. Relaxa — falou com tanta naturalidade, mas não
foi o suficiente para me fazer acalmar.
— Fiquem todas paradas e coloquem as mãos para cima. — Um dos
policiais ordenou e diante daquilo, senti a bile subir e lágrimas se projetaram
em meus olhos, querendo se derramar pelo meu rosto. Mesmo assim,
consegui me conter e respirei fundo, torcendo para que tudo aquilo fosse um
mal-entendido e que Ana não tivesse me enfiado em nenhuma “furada”,
porque se não fosse, eu iria me arrepender amargamente por ter deixado o
conforto e tranquilidade do meu lar para vir até ali, o que não seria nada bom,
porque Ana não sairia ilesa das poucas e boas que eu teria para lhe falar.
Capítulo quatro
Enquanto mantive-me na posição que os policiais haviam ordenado, um
deles se aproximou de mim, em seguida, me encarou de cima abaixo e depois
fixou seus olhos aos meus.
— Você é a que mais tem cara de arteira, garota! O que andou aprontando?
— Automaticamente meus olhos se arregalaram diante de tamanho insulto da
parte daquele policial.
— E-eu... — pigarreei —, eu sou honesta! — Me defendi.
Um sorriso brotou em seus lábios, mostrando-me seus dentes brancos e
perfeitamente alinhados em contraste com o tom negro de sua pele. Quando
menos previ, sua voz ressoou em meio ao salão, após desviar sua atenção da
minha.
— Não somos policiais, apenas os gogoboys contratos para fazer a alegria
de vocês, mulherada! — Voltei a minha posição normal e soltei uma lufada
de ar, sentindo-me um pouco aliviada por ouvir aquele anúncio.
A luz foi apagada, dando lugar às luzes piscantes e os gogoboys
começaram a sensualizar e se desfazerem de suas camisas no ritmo do som
que voltou a ser tocado. As mulheres presentes gritavam, histéricas, pelos
homens, que agora se encontravam com seus torsos desnudos. Eu já me
encontrava no canto do salão, isolada e quieta.
Notei que minha amiga se divertia com a apresentação, assim como as
demais mulheres. Ainda me recuperando do susto, caminhei até o balcão de
bebidas mais a frente e pedi uma dose de uísque, a mesma que Ana havia me
feito beber. Mesmo que odiasse bebida quente, eu não vi alternativa para que
pudesse me sentir mais tranquila.
O rapaz me entregou o copo e, eu joguei goela abaixo. Agradeci, e
permaneci parada ali mesmo. Olhei para o salão e uma mulher passava a mão
no abdômen do homem negro que me chamou de arteira, instantes atrás.
Arteira, eu?! — indaguei mentalmente e revirei os olhos.
Assim que voltei a mirar meus olhos nele, seu olhar chocou-se ao meu e
me vi um pouco incomodada pela intensidade do mesmo. Passei a mão pela
minha nuca por baixo dos fios do meu cabelo e mordi meu lábio inferior
desviando minha atenção. Me abanei diante do calor que me atingiu e pensei
em pedir para Ana me levar para casa, pois ela havia me trazido até ali, mas
ao perceber que se divertia em meio ao salão, sequer fui avisá-la que iria
embora, porque não quis acabar com sua diversão.
Caminhei em direção a saída e quando atravessei a porta sendo atingida por
uma leve brisa da noite, uma mão se fechou acima do meu cotovelo, fazendo-
me cessar os passos. Automaticamente, eu me virei a fim de saber quem
estaria me segurando ali e me deparei com um olhar intenso, o mesmo que
me foi direcionado enquanto estava próxima ao balcão de bebidas.
— Ei, garota arteira! Onde está indo? — Mais uma vez seu sorriso se
tornou presente e me vi fascinada.
— Na-não que seja da tua conta, mas estou indo embora. — Me condenei
mentalmente por me ver gaguejando. Sentia-me um pouco nervosa por conta
da sua aproximação repentina.
— Por quê? Não está gostando da festa? Ou há alguém lhe esperando em
casa? — Arqueei minhas sobrancelhas, sentindo-me surpresa por sua ousadia.
Mas me vi respondendo, como se estivesse hipnotizada.
— Eu não tenho ninguém há muito tempo. — Soltei sem ao menos
perceber.
E, então ele se aproximou um pouco mais, sem quebrar o contato e pude
sentir o calor do seu corpo, algo que me deixou ainda mais nervosa.
— Por que então você não me concede a oportunidade de passar o restante
da noite com você? — eu fiquei estupefata diante de sua tremenda petulância.
— O quê? Como ousa? Que tipo de mulher pensa que eu sou? — indaguei
com irritação em meu tom de voz.
— O tipo de mulher que eu gosto. — Pude sentir seu hálito quente contra
meu rosto e confesso que aquilo só me fez engolir em seco. Tentei rebater,
mas fui impedida. — Não minta que não sentiu nada quando me aproximei
de você. Eu vi o tesão explícito nos seus olhos. Você me quer, assim como
quero você. — Suas palavras causaram um rebuliço em meu interior,
fazendo-me aquecer. Engoli em seco sem saber o que responder e o assisti
sorrir, sem jeito. — Ok. Deixe-me levá-la para casa. Pode ser? — Ainda com
nossos olhos vidrados um no outro, me vi respondendo:
— Sim. Pode ser — respondi em um fiapo de voz e ele, finalmente, soltou
o meu braço.
— Vamos! — Apontou na direção do estacionamento e tive que forçar as
minhas pernas, meio trêmulas, a caminharem.
Ao chegar em seu carro, não pude deixar de notar que era um belo
automóvel para um simples gogoboy.
Enfim, vai que ele não tenha apenas essa profissão, não é, mesmo? Podia
ter outras profissões —, pensei.
Ele manteve a porta aberta para mim num ato cavalheiro e, eu agradeci ao
me sentar no banco de couro e travei meu cinto de segurança.
Minha porta foi fechada e o vi dando a volta no carro, tomando o assento
atrás do volante. Enquanto ele ligou a chave na ignição, eu tentei puxar um
pouco mais a barra do meu short, que estava um pouco curto demais, e foi
quando o encarei ao vê-lo me assistindo diante daquele ato sem sucesso. Ele
sorriu lindamente, deixando-me desconcertada.
— Você possui pernas lindas, sabia? Não deveria tentar escondê-las. —
Perante seu comentário, senti minhas bochechas ficarem rubras e sequer
pronunciei qualquer palavra.
Vendo que eu não o responderia, assisti o canto dos seus lábios arquearem
em um sorriso divertido e, enfim, deixamos o estacionamento da casa de
show.
Capítulo cinco
Após informar o meu endereço a ele, o percurso foi feito em silêncio.
Confesso que havia um fogo crescente em meu interior, o que não estava me
ajudando em nada, já que tentava disfarçar o meu interesse naquele homem
negro e belo, que dirigia ao meu lado. Com o intuito de mudar meu foco,
permaneci observando as ruas vazias através do vidro da janela do carro e foi
então que notei que ainda não sabia o nome daquele homem. Onde eu estava
com a cabeça?
— Acabamos não nos apresentando ao outro — mencionei ao vê-lo
dobrando a esquina e, em seguida, parou de frente ao portão da minha casa,
que eu havia indicado. — Meu nome é Helena. — Estendi minha mão para
ele, ainda dentro do automóvel. O assisti me encarar com um sorriso
malicioso e pegou minha mão na sua ao se desfazer do cinto de segurança.
— É um nome muito bonito. Helena — Cada letra do meu nome parecia
dançar entre seus lábios e, eu só pensava que poderia estar maluca por
reconhecer que, de alguma maneira, estava me deixando ser seduzida. Saí dos
meus pensamentos assim que ele prosseguiu: — Meu nome é Jonas. — Se
apresentou. Seu tom me soou um pouco malicioso, mas deixei aquilo de lado.
— Muito prazer, Jonas. — Tentei recolher minha mão, mas fui impedida
ao tê-lo depositando um beijo demorado em seu dorso.
— O prazer é todo meu. Pode acreditar nisso. — O modo como ele falou,
acabou fazendo com que todos os pêlos do meu corpo se eriçassem. Acabei
engolindo em seco ao tomar conhecimento sobre aquilo e consegui recolher a
minha mão.
Destravei meu cinto de segurança com o propósito de sair do carro,
entretanto, sua mão se fechou em torno do meu braço.
— Vai me conceder a oportunidade de estender a noite ao seu lado,
Helena? — Meu ventre se contorceu assim que ouvi sua pergunta e o encarei,
me deparando com seu belo sorriso.
— Não estenderia minha noite ao lado de um desconhecido! — Tentei soar
rude, mas ao invés disso, o vi sorrir divertido.
— Sempre tenta afastar os homens, dessa forma, Helena? — indagou e o
assisti pegar uma mecha do meu cabelo, deixando-me quase sem fala.
— Jonas…
Fui interrompida:
— Eu não sou um completo estranho, Helena. Afinal de contas, foi sua
amiga quem contratou o meu serviço como gogoboy para a festa. E outra, eu
te trouxe em segurança para o conforto do seu lar, será que realmente não sou
confiável? — Diante de suas palavras, pisquei algumas vezes sem saber o que
realmente pensar sobre aquilo.
Travei uma batalha interna comigo mesma sem saber ao certo o que faria.
Me entregaria a um completo estranho, mesmo que fosse apenas por um
momento? Ou, o mandaria embora e deitaria em minha cama tendo a solidão
como minha fiel e única companheira como já vinha sendo há muito tempo?
Soltei uma lufada de ar e resolvi dar um voto de confiança ao Jonas, afinal,
também me sentia atraída por ele.
— Tudo bem. Enfim, quer entrar? — Fiz o convite de repente, antes que eu
perdesse a coragem que de alguma maneira havia tomado conta de mim
naquele momento.
— Pode ter certeza que quero. — a firmeza com o qual ele respondeu
minha pergunta, fez meu clitóris pulsar em antecipação.
Deixamos o interior do veículo e seguimos para o portão. Atravessamos o
pequeno jardim e assim que me vi destrancando a porta de entrada, tive
minha cintura enlaçada, gesto que fez com que minhas costas batessem
contra uma parede de músculos bem firmes. Resfoleguei ao ter sua outra mão
acariciando a lateral do meu corpo em um leve sobe e desce. Naquela altura,
já me sentia extremamente excitada. Eu o queria.
— Diz pra mim que está encharcada para ter o meu pau entrando na sua
boceta, garota arteira — Suas palavras sujas fizeram meu clitóris piscar
freneticamente. — Eu vou te foder bem forte para que não se esqueça do meu
nome. — Fechei meus olhos ao gemer baixo e ainda consegui arranjar forças
o suficiente para terminar de abrir a porta.
Com a temperatura do meu corpo em alta por ter o dele grudado ao meu,
fechei a porta e a tranquei ao nos encaminhar para dentro de casa. O conduzi
até o quarto de hóspedes, pois não achava propício ir para o meu. Mal
entramos no cômodo e Jonas retirou sua camisa, deixando seu torso desnudo.
Apreciei cada ondulação presente em seu abdômen sarado e me sentei na
cama. Jonas me encarou com extrema excitação e caminhou até mim. De
repente, ele me fez sentar na beirada da cama e rapidamente se pôs a desfazer
as amarras das minhas sandálias de salto e logo sua boca trilhou pequenos
beijos em um dos meus pés, até a panturrilha.
— Diz para mim que está molhada e pronta para me receber, garota
arteira... — ele pediu com sua voz rouca de tesão e mordiscou minha
panturrilha, fazendo o meio das minhas pernas esquentar ainda mais.
— Sim, estou molhada. Pronta para tê-lo dentro de mim, Jonas. — Mordi
meu lábio inferior ao ter uma de suas mãos acariciando por entre minhas
pernas.
Tombei minha cabeça para trás e fui pega de surpresa quando as mãos do
Jonas seguraram as laterais do meu short.
— Deixe-me livrá-la desse short para que você mostre sua boceta para
mim, hun?! Eu quero chupá-la bem forte. — Resfoleguei ao ouvi-lo. Eu
queria muito aquilo, até pelo fato de eu estar a algum tempo sem sexo, pois
desde que meu marido havia falecido, não tinha feito mais nada.
Dei permissão para que ele retirasse meu short e assim o fez. Apenas me
levantei minimamente para que ele forçasse o tecido para fora da minha
cintura, passando-o pelas minhas pernas até jogá-lo no canto próximo a cama.
— Sente-se bem na beirada da cama e abra bem as pernas, Helena. — Fiz
como ele pediu e soltei um gemido agudo ao ter sua boca sobre a minha
boceta.
Jonas começou a mover sua língua com maestria, parecia saber muito bem
o que estava fazendo. Tesão. Era isso que estava me consumindo no
momento.
Capítulo seis
— Oh, isso! — gemi extasiada ao sentir que estava quase chegando ao
êxtase.
Jonas chupava meu clitóris com força, enquanto me preenchia com dois
dos seus dedos, fazendo-me encharcar cada vez mais diante do prazer que ele
estava me proporcionando.
— Eu imaginei que você fosse uma perdição de mulher, mas te provando
agora… vejo que é muito mais do que isso. Deliciosa! — Ele frisou,
deixando-me em puro delírio.
Sua língua circundou meu clitóris com precisão e o sugou forte. Não
consegui me segurar mais. Segurando os lençóis ao meu lado com extrema
força, gritei ao gozar, alucinada.
Meu corpo havia estremecido com a intensidade do orgasmo. Minha
respiração se encontrava alta o suficiente para ser ouvida, no silêncio do
quarto e, então senti Jonas chegar até minha boca e tomá-la em um beijo
enlouquecedor, enquanto acariciava minha boceta.
O modo como ele estava me proporcionando prazer, era sem igual. Ainda
me recuperava do recente orgasmo, pois meu corpo ainda tremia
minimamente, porém, Jonas aprofundou o beijo fazendo com que o meu
gosto também se impregnasse em meu paladar, deixando todo aquele
momento mais intenso.
Fomos diminuindo a intensidade do beijo, até que me levantei da cama e o
empurrei para que deitasse na mesma. Ele abriu um sorriso encantador, e
abriu os braços, como se me desse permissão para fazer o que quisesse com
seu corpo. Mordi meu lábio inferior ao direcionar meu olhar para a
protuberância que havia marcado sobre o tecido da sua calça.
— Gosta do que vê, garota arteira? — indagou de modo sugestivo.
Não o respondi, apenas levei minhas mãos até o botão da calça e o desfiz,
seguido pelo zíper. O encarei ao puxar o tecido para fora das suas coxas
grossas e bem definidas. Seus olhos me fitavam com curiosidade, embora sua
expressão fosse séria.
Terminei de tirar sua calça e a joguei para longe. Terminei de me desfazer
da minha blusa e sutiã, também a jogando em qualquer canto. Assim que
voltei a olhá-lo, Jonas já havia voltado a se sentar na cama e rapidamente se
pôs de pé em minha frente.
Quando menos esperei, ele abaixou a única peça que ainda estava nos
atrapalhando: sua cueca branca. Mordi meu lábio inferior assim que me
deparei com seu pênis ereto, pronto para ser degustado como um verdadeiro
picolé de chocolate. Logo voltou a se sentar, mas movia lentamente a mão
para cima e para baixo em seu membro, deixando-me a ponto de atacá-lo para
tê-lo em minha boca.
— Venha, garota arteira. Me mostre o que essa sua linda boquinha é capaz
de fazer — Ele não precisou pedir duas vezes.
Me aproximei e me ajoelhei. Segurei seu membro duro feito rocha entre
meus dedos, sentindo-o pulsar e o levei até minha boca. Gemi ao sentir o
gosto salubre ocasionado por sua lubrificação. Comecei a degustá-lo sem
qualquer cerimônia.
Jonas juntou meus cabelos em sua mão, segurando com firmeza, dando-me
a liberdade de chupá-lo como bem entendesse. Enquanto eu circundava
minha língua sobre a cabeça do seu pau delicioso, ele gemia, mas alheio a
cada movimento meu. O enfiei fundo em minha boca, até senti-lo bater na
minha garganta.
— Gostosa do caralho! — Seu vocabulário sujo me deixava ainda mais
ardente. — Chupa com força, deliciosa! — Fiz como ele pediu e o ouvi urrar
de tesão.
Minha boceta já estava encharcada novamente, ansiando fervorosamente
por tê-lo me preenchendo.
Continuei chupando-o com volúpia, enquanto ele murmurava um palavrão
ou algum elogio a mim. Envolvida pela manta de desejo que nos consumia no
momento, tirei seu pau da minha boca e passei minha língua por toda a sua
extensão. Jonas rosnou e, eu voltei a empurrar seu membro para dentro da
minha boca, fazendo-o bater fundo em minha garganta.
Quando menos esperei, senti o corpo de Jonas estremecer abaixo da palma
da minha mão, que me apoiava sobre sua coxa no momento e, ele se
derramou forte em minha boca. Aquilo havia sido extremamente excitante, a
ponto de quase me fazer gozar junto. Engoli todo seu líquido e, em seguida,
me afastei para olhá-lo.
Jonas arfava, talvez pela intensidade com que havia sido seu orgasmo. Sua
cabeça estava jogada para trás e, eu observei seu peito subir e descer devido a
sua respiração desregulada. Deixei seu pau de lado e subi minhas mãos pelo
seu peitoral definido, logo tive seus olhos vidrados nos meus.
— Gostou? — perguntei de modo ousado e ele não respondeu, apenas
abocanhou um dos meus seios e começou a chupá-lo com maestria.
Gemi alucinada pelo seu ataque repentino e fui induzida a me sentar em
seu colo, mas sem que ele me penetrasse.
— Você quase me matou, sua gostosa! — falou ao deixar meu seio de lado
e segurar meus cabelos com força, fazendo meu pescoço ficar exposto. Ele o
mordiscou e chupou em alguns pontos. — Agora, eu vou meter fundo nessa
sua boceta, que inclusive, está pronta para me receber — Ele falava em meu
ouvido, enquanto seus dedos eram lubrificados com o meu líquido.
— Então faça logo, Jonas. Quero você dentro de mim — proferi e Jonas
me deu um beijo voraz.
Quando ele cessou nosso beijo. Saí do seu colo e o vi ir até sua calça e do
bolso dela, tirou uma embalagem de camisinha. O assisti encapar seu pau
rochoso e, em seguida, caminhou em minha direção.
Meu clitóris pulsou em antecipação, só por imaginar o que aquele exemplar
de homem faria comigo nessa noite. Confesso que estava animada para
descobrir.
Capítulo sete
Abri os olhos sendo atingida pela claridade do quarto. Voltei a fechá-los e
passei minha mão direita no meu rosto. Quando decidi abri-los novamente,
me virei para o outro lado da cama e ele estava vazio.
Sentei na cama segurando o lençol contra meus seios e franzi o cenho. Me
arrastei sobre a cama até a sua beirada e nenhuma peça de roupa do Jonas
estava ali, muito menos os seus sapatos. Abandonei o lençol e tratei de me
levantar e consegui arranjar minha calcinha e blusa. Quando as vesti, eu
caminhei até a cozinha a fim de encontrá-lo, porém, não obtive sucesso.
Caminhei pelo restante da casa a sua procura e nada. Segui para o meu
quarto, coloquei um vestido comportado e caminhei até a porta da sala.
Assim que segui ao exterior da casa, notei que o carro do Jonas, que havia
ficado estacionado em frente, também não estava ali.
Diante daquele fato, eu poderia dizer que tudo que aconteceu na noite
passada havia sido um sonho, mas não! Foi real. Muito real! Seu cheiro
másculo ainda estava impregnado na minha pele.
Entrei e voltei para o quarto que havíamos passado a noite. Olhei
minuciosamente sobre o criado-mudo com a esperança de ter algum bilhete
ali em cima, mas foi em vão. Não encontrei nada.
Bufei descontente, pois realmente tinha gostado de transar com aquele
homem que exalava pura testosterona. Um pecado em pessoa. Porém, dei de
ombros ao me dar conta que tinha sido melhor daquela forma. Afinal, não
pretendia me apegar a ninguém no momento.
Avistei meu celular no chão do quarto, provavelmente tinha caído do bolso
do meu short quando Jonas o retirou na noite passada e sequer percebi.
Desbloqueei a tela e notei algumas chamadas perdidas da minha amiga Ana.
Preocupada, disquei seu número e, rapidamente, ela atendeu.
— Até que fim, Helena! — exclamou com irritação. — Por que não me
avisou ontem que iria embora da casa de show? Eu fiquei preocupada, sabia?
O que te salvou de eu ir até aí dar na sua cara por tamanha falta de
consideração, foi a minha sogra que acabou te vendo sair do estacionamento,
acompanhada. Mas o fato de ter demorado tanto para me atender, deixou-me
ainda mais aflita com o que possivelmente poderia ter acontecido com você
— soltou em um fiapo de voz. Ela realmente parecia chateada.
Ouvindo-a, acabei me sentindo uma péssima amiga.
— Me desculpa, Ana. Eu… tudo bem, olha… eu poderia falar inúmeras
razões pelo fato de não tê-la avisado ontem à noite sobre minha vinda para
casa, mas não farei isso. A única coisa que posso fazer é pedir que me
desculpe, e prometer que não voltarei a cometer esse deslize com você — Fui
sincera, esperando que ela realmente me desculpasse.
— Você é uma vaca, Helena! Uma vaca! Me ouviu? — Eu ri baixinho com
a intenção de ela não me ouvir, pois tinha conhecimento que já havia sido
desculpada diante do seu discurso disfarçado de ódio. — Aliás, vá logo me
falando sobre o seu acompanhante de ontem — pediu.
Sentei-me na beirada da minha cama e resolvi dizer a verdade a ela.
— Foi um dos gogoboy que contratou para a festa. — Mordi meu lábio
inferior, esperando que ela gritasse do outro lado da linha, mas apenas o seu
silêncio era presente no momento. — Ana? Está me ouvindo? — indaguei
para ter certeza que a ligação não havia caído.
— Estou ouvindo, mas ainda não digeri a informação que acabou de me
passar. — Eu sorri. — Sua miserável! Como assim você ficou com um dos
gogoboy que eu havia contratado para a minha despedida de solteiro? —
gargalhei diante da sua explosão repentina.
— Ué! Saindo, ora essa! — resmunguei em resposta.
— E aquele papo de manter as teias de aranha? Desistiu, não é, sua safada!
—acusou.
— Bom, não foi algo planejado, até porque, o Jonas era um homem muito
ousado e sequer tive chances para pensar em planejamento algum. Enfim, ele
me deu uma carona até em casa e chegando aqui, me colocou contra a parede
e, eu cedi. Confesso que não me arrependi nem por um segundo. O homem
era o pecado em pessoa. — Deitei sobre a cama e me lembrei de partes da
noite que nós dois tivemos.
— Sua traidora! — exclamou em tom acusatório, fazendo-me gargalhar.
— Também te amo, Ana. Agora tenho que desligar. — Inventei qualquer
desculpa, pois queria tirar o dia para cozinhar, algo que fazia com extremo
gosto quando me via relaxada. E olha que fazia algum tempinho que isso não
acontecia.
— Tudo bem. Mais tarde pode vir até a minha casa? A florista vai vir para
que eu escolha as cores das flores para a ornamentação da igreja e, eu quero
que me ajude — pediu. Pude perceber o quanto parecia eufórica.
Confirmei que iria e encerrei a ligação ao nos despedir.

Me encontrava pronta para ir até a casa de Ana. Já beirava às quatorze
horas e minha amiga havia me avisado que a florista chegaria lá em torno das
quinze horas. Ana iria recompensá-la com um cachê a mais do que a mesma
cobrava.
Peguei minha bolsa sobre a cama e saí pela porta do meu quarto. Caminhei
até a sala e recolhi meu celular sobre a mesinha ao lado do sofá. O coloquei
dentro da bolsa e quando destranquei a porta e abri para sair, acabei por ver
um envelope no chão.
Curiosa, me abaixei e o peguei.
— Para a linda e deliciosa, garota arteira — Li em voz alta e um sorriso
abrilhantou meus lábios. Olhei no lado contrário, mas não tinha mais nada
escrito.
Entrei e fechei a porta para ler o que tinha ali dentro.
— Eu tinha compromisso logo cedo, por isso não tive como apreciar você
acordando pela manhã. Espero que tenha apreciado a nossa noite, porque eu
apreciei cada maldito segundo. — Li em voz alta e mais abaixo estava sua
assinatura. Uma letra bem desenhada por sinal.
Balancei a cabeça ao ter algumas cenas de nossos corpos nus e
entrelaçados sobre a cama na noite passada, invadindo meus pensamentos.
Por certo momento, eu me permiti reviver aquelas lembranças, mas logo as
dispersei. O fato de ele ter me enviado um bilhete se explicando não queria
dizer nada demais.
Deixei o envelope sobre a mesa ao lado do sofá e, finalmente, saí de casa,
ou então, iria me atrasar para ir ao encontro de Ana.
Capítulo oito
UMA SEMANA DEPOIS
A semana havia passado tão rápido que sequer percebi, pois era a última
semana de aula para início das minhas férias, além do casamento da minha
amiga Ana, que seria dentro de poucas horas. Jonas continuou me mandando
cartas. Algumas vezes acompanhadas por flores ou caixa de bombons.
Confesso que tentei ao máximo não me deixar envolver, mas não obtive
sucesso. Seu modo atencioso estava me deixando confusa sobre o que pensar.
De fato, ele era um homem elegante, atraente e quente feito o inferno,
entretanto, eu ainda insistia em manter uma proteção em torno do meu
coração e mentia descaradamente a mim mesma que não cederia novamente a
ele, só que ficou apenas no pensamento, porque na noite em que ele veio
novamente a minha casa e jantamos juntos, eu cedi.
Lembranças da nossa noite invadiram a minha mente:
— Como senti falta dessa sua boceta, garota arteira — Jonas sussurrava
contra o meu ouvido enquanto arremetia dentro de mim, fazendo-me gemer
alucinada. — Ainda me deixará louco, Helena.
Voltei a realidade e encarei meu reflexo diante do espelho. Passei a mão
pela garganta sentindo um fogo se alastrar pelo meu interior e mordi meu
lábio inferior. Eu precisava focar em ficar sozinha.
— Foco, Helena! Mantenha o foco! Nada de se apaixonar! — repeti aquilo
diversas vezes diante do espelho e bati contra a minha testa.
A campainha da minha casa tocou e me girei sobre os meus saltos, saindo
do banheiro, que ficava dentro do meu quarto e caminhei em direção a porta
de entrada. Ao abri-la, me deparei com meu acompanhante, prostrado do
outro lado e me peguei sem fôlego diante de tamanha elegância. Jonas era um
belo exemplar de homem, isso estava mais do que comprovado por mim.
— Uau! — exclamou e me analisou da cabeça aos pés. — Está
deslumbrante, garota arteira. — Seu habitual modo de me chamar estava
presente, após o seu elogio.
Eu sorri.
— Obrigada! Entre. — Agradeci e o convidei a entrar.
Fechei a porta ao entrar e ele se virou, ainda bem próximo a mim.
— Estou imaginando várias formas para te ter após a festa de casamento da
sua amiga. — Passou seu dedo indicador sobre meus lábios, recém pintados
com um batom vermelho vivo, e levou sua boca até meu ouvido. — Porra!
Estou imaginando essa sua boca vermelha sobre o meu pau. Que tentação. —
Eu sorri um pouco sem jeito, diante da sua confissão. Meu interior se
aqueceu, claro!
— Não temos tempo para isso, Jonas. Vamos logo que Ana já deve estar
quase pronta. — Tentei mudar o rumo daquela conversa e passei por ele, mas
logo tive o meu braço puxado.
— Caralho, Helena! — exclamou, olhando intensamente em meus olhos ao
me colocar dentro dos seus braços. — Que vestido costas nua é esse? Como
quer que eu ignore o meu tesão, com você vestida dessa forma? — Sorri.
Quando menos previ, Jonas tomou minha boca com avidez. Suas mãos
deslizaram por minhas costas e chegaram até minha bunda, apertando-a com
precisão. Gememos em uníssono diante do seu ato e após juntar forças
inimagináveis, cessei nosso beijo.
Jonas, então se afastou de mim e se virou de costas. Notei que ele passou a
mão pelo seu rosto de modo frustrado. Pensei em falar algo, mas achei
melhor não.
Caminhei até meu quarto, retoquei meu batom e peguei minha bolsinha,
que continha o que eu necessitaria. Voltei para a sala e Jonas se encontrava
em uma postura mais tranquila, sua cabeça estava baixa. Chamei-o e saímos
da minha casa.
Enquanto o percurso era feito, Jonas não se pronunciou em nada. O
silêncio que reinou no interior do veículo não me agradou, muito pelo
contrário. Tê-lo tão quieto não era do seu feitio. Era certo que ele estava
chateado com o fato de eu sempre manter uma linha tênue entre nós.
Confesso que nem eu mesma me entendia. Só não queria entrar num
relacionamento sério agora. Por mais que estivesse gostando do Jonas, não
era o suficiente para que eu me jogasse em algo a mais. Pedro, meu falecido
marido, de certa forma, ainda se fazia presente em minhas memórias e no
meu coração.
Ana já havia me falado diversas vezes que eu tinha que seguir em frente,
mas era bem mais fácil dizer, do que fazer. Perder Pedro há um ano, me
devastou completamente. Fizemos tantos planos e sequer tivemos tempo para
realizá-los.
Chegamos em frente à casa de Ana e uma limousine preta estava parada
mais adiante. Seria o carro que levaria minha amiga para a igreja. Levei
minha mão para abrir a porta do veículo e sair dali o quanto antes, pois
aquele silêncio estava me sufocando. Porém, fui impedida por Jonas que a
segurou.
Quando o encarei, ele já se encontrava livre do seu cinto de segurança e
seu corpo estava inclinado na minha direção.
— Espera, Helena. — Ele desviou seu olhar do meu por alguns segundos e
passou sua língua entre os lábios para umedecê-los. — Olha, sei que nos
conhecemos de forma inesperada e também há pouco tempo, mas confesso
que gosto de estar com você. O que me deixa fora de órbita é o fato de você
sempre me querer longe, sendo que desejo o contrário — Jonas falava
olhando fixo em meus olhos. De repente, acarinhou minha bochecha. — No
jantar que tivemos essa semana, você disse que não conseguia esquecer seu
falecido esposo, por isso o fato de continuar sozinha, mesmo depois de um
ano do ocorrido. — Desviei meu olhar do dele ao ouvi-lo falar sobre aquilo.
Era difícil para mim. — Você sabe que sou dono de uma casa de show na
Europa e no decorrer da próxima semana, terei de viajar para lá. — Voltei a
encará-lo ao receber aquela informação. De certa forma, não queria ficar sem
vê-lo. — E enquanto dirigia até aqui, eu pensei que... bem e… — ele
ponderou e me vi curiosa para que continuasse.
— E… — o induzi a continuar.
— Por que não te levar comigo? Aceitaria me acompanhar nessa viagem,
Helena? — Minha boca se abriu minimamente ao ouvir sua proposta.
Não esperava por aquilo e sequer pude dar a ele uma resposta imediata.
Passei a mão pelo meu pescoço ao piscar, desacreditada e, finalmente, me
pronunciei:
— Confesso que me pegou de surpresa, e… — fechei os olhos e soltei uma
lufada de ar ao abri-los, voltando a fitá-lo, que mantinha uma expressão
expectante. — Jonas, eu… posso pensar? — Assisti seu olhar perder o brilho
que se fazia presente em seus olhos.
Jonas se afastou e me pareceu pensativo, enquanto ajustou sua postura de
volta no banco. O ouvi soltar um riso sem graça e, em seguida, me encarou.
— Tudo bem, garota arteira. Afinal, não quero pressioná-la. — Comprimi
meus lábios em forma de agradecimento e, ele saiu do carro. Deu a volta no
veículo e abriu a porta para mim. Estendeu-me sua mão e, eu pousei a minha
sobre a sua, deixando o interior do automóvel.
Capítulo nove
O casamento de Ana foi um verdadeiro sonho. Eu a assisti deixar a igreja
acompanhada do seu então marido e um sorriso imenso não deixou seus
lábios por um segundo. Seus olhos permaneceram marejados durante toda a
celebração.
Infelizmente, eu não fui uma das madrinhas. Meses atrás quando ela me fez
o convite, não pude aceitar pelo fato de ainda me recordar do meu casamento
com Pedro, que havia sido apenas uma cerimônia simples no cartório da
cidade. Mesmo com minha recusa, minha amiga me entendeu muito bem e,
eu a agradeceria pelo resto de nossas vidas por isso.
Segui junto com Jonas para a chácara que haviam alugado para a festa do
casamento. Ambos não tínhamos mais tocado no assunto referente à viagem
que ele me propôs. Um fato que eu não podia estar mais agradecida.
Assim que chegamos, Jonas continuou sendo o belo cavalheiro que era.
Deixou-me bem à vontade sem querer marcar território em cima de mim.
Alguns comes e bebes foram servidos em nossa mesa e notei que Jonas
estava alheio a tudo que acontecia, mantendo certa distância de mim e aquilo
não me deixou contente.
Cheguei minha cadeira mais próxima à dele e, Jonas me encarou com um
sorriso nos lábios.
— O quê? — indaguei e dei de ombros, fingindo não entender seu suposto
sorriso.
— Se quer que eu me mantenha distante para não correr o risco de eu
atacá-la, aconselho que volte para onde estava — sugeriu.
— Você está calado desde que chegamos à casa de Ana, antes do
casamento — afirmei e ele abaixou a cabeça. Logo voltou a me encarar e
mordeu seu lábio inferior.
— Só estou dando o seu espaço, Helena. Como deixei claro lá nos portões
da casa da sua amiga, e volto a repetir: Não quero pressioná-la. — Olhei-o
por um momento e, em seguida, desviei minha atenção.
Eu não tinha o que falar ainda. Não tinha pensado em uma resposta
plausível para dar a ele. Precisava falar com Ana, ela poderia fazer com que
meus pensamentos clareassem referentes a esse assunto.
Momentos mais tarde, Ana reuniu todas as mulheres no meio do extenso
salão da chácara para que alguma tivesse a imensa sorte de pegar o buquê.
Logo, ela anunciou que o jogaria quando contasse até o número três e assim o
fez. Um alvoroço começou. Um empurra-empurra para agarrar o buquê e
para a minha surpresa, eu o amparei em minhas mãos.
Vi-me estupefata, mas gritei alegre ao ter conseguido. Ao longe, vi Jonas
de pé, próximo a mesa em que estávamos sentados e, ele despojava um
sorriso meigo, ao mesmo tempo em que batia palmas me parabenizando.
Voltei minha atenção para as mulheres que me parabenizavam e, eu agradeci.
De repente, Ana me enlaçou em um abraço apertado, me dando os parabéns.
Esperei as mulheres se dispersarem e puxei Ana para o jardim que tinha,
afastado do salão.
— O que foi, Helena? — Ainda segurando o buquê que recém havia
pegado, olhei-o sem muita credibilidade e a puxei para nos sentarmos em um
dos bancos que tinha por ali.
— O Jonas… ele me convidou para acompanhá-lo em uma viagem e… Eu
pensei em aceitar, mas não sei se isso é o certo. — Balancei a cabeça em
negativo e comprimi meus lábios com tristeza.
— Viagem? Que maravilha, Helena! — exclamou em tom de alegria. — E
por que acha que aceitar seria errado? — indagou em tom baixo.
Soltei uma lufada de ar.
— Eu não quero que ele pense que estaremos firmando um relacionamento
pelo fato de aceitar acompanhá-lo nessa viagem, entende? Ainda não me
sinto pronta para entregar meu coração por completo a outro homem —
expliquei.
— Eu sugiro que faça essa viagem, pois talvez lá, você descubra
verdadeiramente o que seu coração realmente quer em relação ao Jonas,
minha amiga. Aproveita as suas adoradas férias para fazer novas descobertas.
Afinal, não acha que já passou tempo demais se dedicando ao luto? Veja
bem, não estou te criticando por continuar amando seu falecido marido,
entretanto, acredito que precisa abrir suas asas novamente e tomar vôo, só
assim terá a resposta que tanto anseia. — Ana sempre me trouxe as palavras
corretas em meio aos seus conselhos e, naquele momento, decidi aceitar o
pedido do Jonas.
Eu a abracei forte, agradecendo pelo conselho e voltamos para o salão onde
ainda acontecia a festa.
Capítulo dez
DUAS SEMANAS DEPOIS
— É tão bom senti-la — Jonas sussurrou em meu ouvido, enquanto eu
gemia tendo-o bombeando dentro de mim. Encontra-me de quatro.
Suas mãos alcançaram meus seios e os apertaram com força, fazendo-me
sentir mais excitada do que já me encontrava. Seus dedos brincaram com
meus bicos rijos, deixando-me a beira de um colapso.
— Se continuar assim, eu acho que não vou aguentar por muito tempo —
informei e ele alcançou minha boca, dando-me um beijo capaz de me deixar
sem fôlego.
— Ótimo! Eu quero vê-la gozando bem forte, chamando o meu nome —
proferiu em meu ouvido ao cessar nosso beijo e mordeu o lóbulo da minha
orelha, voltando a segurar minha cintura com força e arremeter dentro de
mim com ferocidade.
Estocou por mais algumas vezes e retirou o seu pau de dentro de mim,
deixando-me vazia, mas fui surpreendida ao senti-lo movendo seu membro
para cima e para baixo, esfregando-o em meu clitóris, deixando-me a beira do
abismo, pois estava próxima de ter um orgasmo.
— Oh, Jonas! — exclamei em tom de alerta, a fim de deixá-lo ciente de
que eu estava próxima a borda.
— Isso, garota arteira. Grita o meu nome, vai! Grita enquanto goza no meu
pau, sua gostosa! — Eu aprendi a gostar do seu vocabulário sujo. Me deixava
em puro êxtase.
Jonas intensificou suas estocadas e senti meu corpo se estremecer aos
poucos. Até que um fogo foi crescendo em meu núcleo e me vi gritando o seu
nome enquanto me derramava fortemente. Mesmo assim, ele não parou,
bateu contra um lado da minha bunda e o ouvi grunhir, fato que me deixou
ciente que também havia gozado.
— Você ainda vai me matar, garota arteira. — Saiu de dentro de mim, após
proferir tais palavras em meu ouvido.
Me sentei na cama e o assisti ir até o banheiro descartar a camisinha que
usava. Não pude deixar de observar sua bunda bem torneada. Suas costas
largas me deixavam completamente louca. Ele era um verdadeiro pecado em
forma de homem.
Deitei-me sobre a cama e pensei no quanto vínhamos nos conhecendo.
Jonas era um homem encantador. Um verdadeiro cavalheiro. Me tratava
como uma verdadeira rainha, mas mesmo diante de toda atenção, carinho e
prazer que ele me proporcionava, eu ainda não estava pronta para embarcar
em um relacionamento.
Decidimos intitular o que tínhamos como uma espécie de amizade
colorida. Aquela que você fica com a pessoa, dá prazer a ela e em troca,
também se beneficia com isso. O bom é que não existiam cobranças de
nenhum lado.
— É uma pena que terei de ir à reunião na casa de show. Ou, eu voltaria a
me deitar nessa cama e te tomaria de varias outras formas — Jonas falou ao
subir na cama e depositou um beijo singelo nos meus lábios.
— Você vem falando isso há duas semanas. Será mesmo que ainda possui
tantas ideias mirabolantes assim para me ter? — provoquei.
Jonas sorriu.
— Garanto que conseguirei mais tempo para te mostrar as minhas ideias,
garota arteira. — Ele passou o dedo indicador sobre a ponta do meu nariz,
fazendo gracinha e, eu sorri.
E, então, Jonas avisou que tomaria um banho e saiu em direção ao
banheiro. Ele até me fez o convite para acompanhá-lo, mas neguei, pois sabia
que não seria uma boa ideia aceitar. Intenso como ele era, não duvidava nada
que nos perderíamos nos braços um do outro lá dentro.
Sorri ao pensar nele nu dentro do Box. Confesso que meu ventre se
contorceu em excitação, mas tratei de dispersar meus pensamentos insanos
para com ele.
ALGUNS DIAS DEPOIS
Espreguicei sobre a cama assim que abri meus olhos. Enfim, estava de
volta ao meu lar. A viagem para a Europa na companhia do Jonas havia sido
incrível! Tivemos tempo o suficiente para sair, conversar, nos conhecer um
pouco, além de visitar pontos turísticos.
Chegamos na noite anterior. Ele me deixou em casa e foi embora, pois teria
alguns assuntos da casa de show, aqui do Rio de Janeiro para resolver.
Abandonei minha cama e caminhei para o banheiro. Escovei meus dentes e
amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo. Mal voltei para o quarto e ouvi
o toque do meu celular. O peguei sobre o criado-mudo e um sorriso imenso
tomou conta dos meus lábios, pois se tratava de Ana. Apesar de termos
conversado sempre que possível quando eu estava na Europa com o Jonas,
não foi o suficiente para aplacar a saudade que sentia dela.
— Não acredito que já está de volta, amiga! Senti tantas saudades. Pode ir
preparando o almoço com tudo que eu tiver direito, pois vou passar o dia com
você. — Sorri alegre diante daquela informação.
— Sim, já estou de volta. A viagem foi fantástica, Ana! E pode vir que
amarei ter a sua companhia — salientei.
— E você com o Jonas, hun?! —insinuou.
— Já disse que somos apenas amigos com benefícios. Não existe um
relacionamento sólido entre nós dois. A viagem, o Jonas e tudo que
aconteceu foi maravilhoso, mas não foi o suficiente para que eu decidisse
firmar algo sério. Por mais que eu goste de ter a companhia dele, ainda não
consegui me desapegar das lembranças do Pedro — ressaltei, deixando claro
que meu coração ainda pertencia ao meu falecido marido. — Além disso, o
Jonas em nenhum momento me cobrou isso — salientei.
— Hum… Mas você está feliz com isso? — Ana indagou, incerta.
— No momento, não tenho nada do que reclamar — Fui sincera.
— Então tudo bem. Me espera que estou quase saindo daqui para ir até sua
casa. Preciso compartilhar varias coisas sobre a minha vida de casada com
você. — Eu sorri do modo que ela falou.
Em seguida, nos despedimos e encerramos a ligação.
Caminhei até a cozinha e me lembrei que teria de abastecê-la. Então
esperaria Ana chegar para irmos ao supermercado. Era maravilhoso saber que
mataria a saudade da minha amiga. Seria bom passar o dia em sua
companhia.
EPÍLOGO
UM ANO DEPOIS
JONAS
Um ano atrás… Fazia um ano desde o dia em que perdi uma aposta para
um dos gogoboys da Casa de show, que eu era dono e fui desafiado por ele a
participar de uma despedida de solteiro para vivenciar o trabalho de um
gogoboy, por uma noite. Em momento algum, eu pensei em recusar, pois de
fato, senti vontade de fazer aquilo. De saber exatamente como seria ter vários
olhares direcionados a mim, querendo me comer vivo enquanto eu me
apresentava de forma sensual, tirando algumas peças da roupa que usuária.
Acabei escolhendo o traje de policial para aquela noite.
No momento em que me deparei com aqueles olhos cor de caramelo.
Cabelos loiros e um corpo escultural. Eu a desejei com tudo de mim. Quis tê-
la abaixo do meu corpo, apenas para mim. E, eu tive.
Mas nada havia me preparado para a enxurrada de sentimentos que eu teria
conforme o tempo passasse e fosse conhecendo-a mais a fundo. Não
imaginava que seria tão intenso. Jamais pensei que uma mulher arrebataria o
meu coração da maneira que ela fez.
Tê-la conhecido foi uma surpresa agradabilíssima. Uma mulher que se
jogou em meus braços na primeira cartada que lancei, mas que não me deu
brechas o suficiente para entrar em seu coração de primeira. Afinal, ainda
amava seu falecido marido e não se via em um relacionamento sério depois
de perdê-lo. E, eu a compreendi.
Na primeira vez que jantamos em sua casa, descobri que Helena era quatro
anos mais velha do que eu. Eu tinha vinte e oito anos, e ela, trinta e dois.
Analisando bem, não era uma diferença a ser considerada, mas Helena
achava que sim.
Eu tive a certeza que ela usou a nossa diferença de idade como um pretexto
para me manter longe, a ponto de me fazer quase desistir de conseguir de
alguma maneira, ganhar seu coração. Mas, eu fui paciente.
Perante a viagem que fizemos para a Europa, eu quis que ficássemos no
mesmo quarto, mas Helena não cooperou. Exigiu que tivesse sua privacidade
e, eu cedi. Conforme os dias foram se passando, então eu me dirigi até o seu
quarto no hotel e fiz a proposta de sermos amigos coloridos. Expliquei que
ficaríamos apenas um com o outro, mas sem muitas cobranças de um casal
normal. No entanto, deixei claro que se ela chegasse ao ponto de querer outro
cara, que poderia desfazer nosso acordo e seguir com o que quisesse. Depois
de ponderar sobre o que eu estava propondo, Helena aceitou.
Foi a única alternativa que encontrei para que pudesse continuar tendo-a
para mim. Explorando seu corpo de diversas formas. Dando-lhe o prazer que
eu tanto amava dar a ela.
Foi mantendo nossa relação dessa forma que chegamos a um ano. Sim, não
foi pouco tempo, mas foi o necessário para que eu conseguisse ganhar meu
espaço em seu coração. Jamais quis tomar o espaço que eu sabia pertencer ao
seu falecido esposo, pois sabia que ele havia chegado primeiro em sua vida e
teria aquela pequena parte reservada dentro dela para sempre. Mas eu ansiei
agarrar o coração dela para mim, mesmo sabendo que não seria capaz de tê-lo
cem por cento.
Enfim, nos encontrávamos apaixonados. Helena já havia demonstrado seu
amor, mas ainda não tinha dito em alto e bom som. Por isso, eu pedi que a
senhora Geovana, a governanta da minha casa, montasse um pequeno jantar,
mas muito bem apresentável para que eu e Helena jantássemos.
Minha mãe, Joana, queria ter ficado para que pudesse ver a Helena, porém,
meu pai tinha outros planos para os dois. Era muito bonito ver que mesmo
após duas décadas de relacionamento, ambos ainda se doavam ao outro.
Minha irmã, Renata, já a conhecia também, que, por sinal, se davam muito
bem, desde que se conheceram em um evento no qual ela me acompanhou.
Terminei de me arrumar e saí do meu quarto. Desci as escadas e caminhei
para a sala de jantar. Observei que a mesa estava posta e bem organizada. A
senhora Geovana sabia manter a ordem, sempre.
Havia ligado a pouco para Helena e ela me informou que estava bem
próxima de casa. Eu fiz questão de pedir ao meu motorista particular para
buscá-la. E não demorou muito, pois logo cruzei o hall ao ouvir Geovana
cumprimentar alguém na porta.
Assim que eu e Helena nos olhamos, enlacei sua cintura e beijei-a com
fervor. Quando nos afastamos, eu a guiei até a sala de jantar. Confesso que
estava aflito.
HELENA
Era noite de sexta-feira e Jonas se encontrava relaxado na mesa.
— Como foi o dia na escola com as crianças? — Jonas perguntou,
enquanto ainda conversávamos sobre o nosso dia a dia, mesmo depois de
termos finalizado o nosso jantar, que devo salientar: estava divino, tudo!
— Foi ótimo! As crianças são verdadeiros presentes para mim — Fui
sincera, enquanto sorria para ele.
De repente, Jonas tomou uma expressão séria e me vi preocupada. Será que
eu tinha falado algo errado?
E, então, Jonas se levantou da sua cadeira e deu a volta na mesa, vindo ao
meu encontro, fazendo com que eu quase caísse do meu assento quando o vi
abrir a caixinha que tinha duas alianças de prata. Reluziam de tão belas e me
peguei desacreditada diante do seu pedido de namoro. Passei a mão pelo me
pescoço.
Jonas dobrou seus joelhos ficando de frente para mim e começou:
— Eu acho que ficamos juntos o suficiente para dispensar tanta rasgação
de seda, Helena. — Eu sorri do seu modo xucro de ser.
E, então, Jonas se ajoelhou aos meus pés.
— Nos conhecemos de forma inusitada. Levamos um tempo considerável
para construir uma relação sólida de amizade e companheirismo. Eu a amo.
Quer namorar comigo, Helena? — Cobri a boca com minhas duas mãos e
encarei Jonas com admiração e amor.
— Estou emocionada. — Deixei claro, ao sentir meus olhos umedecerem.
— Só diga que aceita — Jonas pediu, parecendo aflito e, eu sorri.
— Eu aceito, Jonas. — Ele se levantou ao dar um soco do ar em
comemoração pela minha resposta e enlaçou minha cintura com precisão. —
E… eu também te amo.
— Repete isso — pediu, olhando no fundo dos meus olhos.
— Eu também te amo, Jonas. Muito. Não sabe o quanto sou grata por tê-lo
na minha vida; por você ter surgido de forma tão inesperada e também por ter
colorido o meu interior vazio e negro de antes. Enfim, obrigada por não ter
desistido de mim. De nós! — Agradeci e tive meus lábios tomados por ele.
Jonas, definitivamente, havia caído de paraquedas em minha vida e, eu fui
atraída para os braços do verdadeiro pecado. Mas, estar em seus braços era
muito melhor do que sentir medo.
FIM!
1 ª EDIÇÃO
2018
Copyright © 2018 Vivy Keury
Capa: Laís Maria
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester
Esta é uma obra ficcional.
Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é mera
coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem a
autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98
e punido pelo artigo 184 do código penal
Sinopse
Dizem que o Natal é uma data mágica, e que pode surpreender muita
gente. E foi justamente o que aconteceu com Catarina.
Pronta para desfrutar de suas tão sonhadas férias, ela aguardava com
ansiedade a visita de sua amada família.
Contudo, ela não sabia, mas um alguém "a mais" viria com eles. Uma
pessoa que ela pensou jamais ver novamente.
Será que a magia do Natal recairia sobre ela?
Um conto que mostra que somente o tempo é capaz de fazer com que
coisas boas aconteçam de verdade nas nossas vidas.
CAPÍTULO UM
CATARINA
— Enfim, minhas tão sonhadas férias — falei para mim mesma em alto
e bom som, assim que deixei o consultório dentário onde eu trabalhava. Eu
era auxiliar de saúde bucal e amava o que fazia, porém, meu corpo pedia por
um bom descanso e agora, eu iria aproveitar.
Atravessei a rua e desci até chegar num ponto de ônibus. Estava lotado,
como sempre. Afinal, já passava das dezoito horas e muita gente saía do
trabalho nesse mesmo horário.
Aguardei por longos minutos até que consegui pegar um ônibus
abarrotado. Essa parte era a pior de todas, mas não tinha alternativa. Estava
economizando para ver se conseguia comprar um carro para mim, pois já
tinha a minha habilitação.
Como eu morava sozinha na casa que minha mãe tinha aqui na cidade
de Sobradinho-DF, eu não precisava me preocupar com aluguel. Já morava
ali há um ano e meio, e tinha seus prós e contra. Morar sozinha era bom em
alguns momentos, em outros nem tanto.
Sorte a minha que tinha minha amiga Luane. Ela era enfermeira em
uma clínica particular. Eu a conheci logo que me mudei para a cidade em
busca de uma melhoria de vida.
Vim do interior do Goiás. Lá, eu consegui fazer um curso técnico de
auxiliar de saúde bucal e quando finalizei, resolvi me mudar para cá, com a
intenção de arranjar um emprego na área e poder construir minha vida. Não
foi uma escolha fácil. Além de ter que deixar meus pais e irmão, eu ainda tive
de abrir mão do homem o qual gostava muito. Não éramos namorados
oficialmente, mas tínhamos uma história, bacana.
Ítalo era um homem bonito e muito trabalhador. Ele ajudava seu pai,
que já era de idade, a cuidar da fazenda da família, até pelo fato de ser o filho
mais velho e, eu admirava muito seu gesto. Tínhamos três anos de diferença
na idade. Um ano e meio atrás, quando decidi vir para Brasília, ele
praticamente implorou que eu não viesse, porém, decidi deixá-lo a ter que
desistir de algo que eu queria. Desde então, não nos falamos mais.
Eu havia tentado contato com ele através do telefone, mas sempre dava
na caixa postal. Depois de muito tentar e não conseguir, eu resolvi questionar
ao meu irmão se ele sabia o que tinha acontecido, já que ambos eram
melhores amigos, e acabei descobrindo que Ítalo havia se desfeito do número
antigo. Na hora em que ouvi isso do meu irmão, uma tristeza me abateu,
afinal, sabia que ele estava me evitando.
Mesmo sem graça, eu agradeci ao meu irmão e encerrei a ligação,
dando-me conta que era hora de seguir em frente, já que Ítalo havia feito
questão de me apagar de vez da sua vida. E foi o que fiz. Um ano e meio se
passou e não tive mais notícias dele. Lógico que ainda me entristecia ao me
recordar dos momentos apaixonantes que havíamos tido juntos, porque
apesar de tudo, Ítalo era um homem romântico, até mais do que eu.
Eu gostava muito dele, mas não tínhamos oficializado por um pedido
meu. Talvez, eu soubesse que tomaria a decisão de deixá-lo para seguir atrás
dos meus sonhos, e por isso não quis iludi-lo por muito mais tempo. Mesmo
diante de todos esses acontecimentos, eu desejava do fundo do meu coração
que ele fosse verdadeiramente feliz com a mulher que ele escolhesse. Meu
coração se entristecia ao imaginá-lo com outra “paquera”, mas sabia que não
tinha esse direito, afinal, havia sido eu a deixá-lo e não o contrário.
Afastando meus pensamentos para longe, soltei um longo suspiro ao
descer do ônibus e caminhei até a rua em que eu morava. Passei pelo portão
da casa da minha vizinha e amiga Luane, mas não tinha ninguém. Duas casas
depois, cheguei até o portão da minha e em posse da minha chave,
destranquei o portão e entrei.
Peguei algumas peças de roupas que havia deixado estendida para secar
no varal e, em seguida, entrei na casa. Caminhei até meu quarto e me joguei
sobre a cama. Alcancei meu celular, dentro da minha bolsa, e resolvi ligar
para minha mãe.
Disquei seu número e após alguns toques, ela me atendeu:
— Oi, filha! Como está? — Sua voz doce acalmava meu coração e uma
imensa saudade me assolava no peito.
— Oi, mãe. Estou melhor agora falando com a senhora. — Certa
emoção tomou a minha voz. — Como está todo mundo aí? — indaguei.
— Ah, tudo na medida do possível. Seu pai chegou agora a pouco da
roça. — Eles moravam no interior do Goiás, em uma vila. Eu gostava muito
de lá, mas faltava trabalho e tudo era difícil, por isso minha escolha de vir
para Brasília, à procura de trabalho e estabilidade financeira. Todo mês, eu
mandava uma quantia significativa para ajudá-los com as despesas do mês.
Ambos sempre me agradeciam muito e, eu não via o porquê, pois não estava
fazendo mais do que minha obrigação como filha, que era ajudar aqueles que
deram a vida para eu me tornar o que sou hoje.
Como era dezembro, era momento de plantar para dentro de alguns
meses, terem alguma colheita de milho e feijão. A vida lá não era tão fácil,
mas eles eram felizes e não deixavam a cidade por nada. Então, eu faria de
tudo para continuar vendo-os felizes.
— Ah, que bom, mãe — proferi.
— Bom, temos novidades. Na próxima semana será o Natal, então, eu,
seu pai e seu irmão, vamos passar essa data com você. — Sentei-me
rapidamente na cama, surpresa pelo que tinha acabado de ouvir.
— Mãe! Está falando sério? — perguntei, eufórica pela notícia.
— Sim, filha. Estou falando sério — Seu tom saiu carregado de
felicidade.
Meu coração batia tão forte no peito que fui incapaz de refrear suas
batidas desgovernadas.
— Eu estou tão feliz! Quando vocês vêm? — indaguei.
— Vamos no sábado. A qualquer momento chegaremos aí. — Já era
noite de quinta-feira, então eu teria amanhã para arrumar tudo em casa para
esperá-los.
— Que maravilha! Nem acredito que irei revê-los após quase dois anos.
— salientei.
— Também estamos com muitas saudades, filha. — Minha mãe falou
naturalmente e logo pareceu responder a alguém do outro lado da linha. —
Eu vou ter que desligar agora, filha. Mas no sábado estaremos por aí para
matarmos a saudade. Fique com Deus — Despediu-se e encerrou a ligação.
Eu estava feliz que eles viriam até mim e organizaria tudo para
aguardá-los.
CAPÍTULO DOIS
ÍTALO
Sentado na beirada da cama, eu olhava uma foto no porta-retratos que
ainda havia guardado dela: Catarina. Podia parecer idiotice da minha parte,
mas ainda nutria sentimentos por ela, mesmo há quase dois anos sem ter nos
falado depois de sua partida. Juro que tentei arrancá-la dos meus
pensamentos, porém não consegui.
Troquei o número do meu celular para encerrar de vez a minha vontade
de ligar para ela, porque eu ansiei ir buscá-la e pedi-la em casamento para
que não tivesse mais nada que a fizesse sair do meu lado, só que pensei
bastante e vi que o ideal seria distanciar-me de vez. Quando Catarina me
contou que finalmente iria para Brasília a procura de um emprego na sua área
de especialização profissional, o chão pareceu se abrir sob os meus pés. De
início, soltei um riso de canto imaginando que poderia ter ouvido errado, até
que ela reafirmou o que havia dito. Como um completo tolo e apaixonado, eu
me vi implorando para que ela não fosse, mas foi em vão.
Confesso que senti raiva por um tempo. Mas ao passar dos meses, fui
entendendo que ela tinha sonhos e, eu não era ninguém para poupá-la de ir
atrás deles.
Enfim, nesse momento, encontrava-me com várias peças de roupas
sobre a cama, enquanto meus olhos continuavam fixos no sorriso dela,
gravado na foto.
— Catarina — proferi seu nome para mim mesmo, sentindo meu
coração martelar no peito e um sorriso bobo abrilhantou meus lábios.
Havíamos tirado essa foto em um passeio que fizemos na minha cidade
vizinha. Era um dia ensolarado e a paisagem do local, que era uma praça
pequena, também ajudou muito. Tirei com a câmera que tinha levado. Foi um
dia de lazer. Apesar de não termos oficializado nosso namoro, eu a
considerava minha namorada.
Revelei a foto no dia seguinte e guardei como recordação. Sempre que
ela vinha me visitar, vínhamos para o meu quarto e ficávamos comentando
sobre a mesma, relembrando aquele momento. Não era bom ficar pensando
nisso, afinal, não fazia ideia do que Catarina acharia da minha chegada em
sua casa, em Brasília.
Rafael era o seu irmão, meu melhor amigo. Quando o mesmo me
informou no final da última semana, que seus pais estavam pensando em ir
passar o Natal com ela, sequer parei para pensar direito, pois a vontade de ir
vê-la, me bateu em cheio. Meu amigo não entendeu nada. Até me questionou
se eu estava batendo bem da cabeça e o respondi que sim. Só via que estava
na hora de resolver a minha história pendente com Catarina, ou então,
encerrá-la de uma vez por todas.
Uma batida na porta me tirou dos meus devaneios e me levantei,
coloquei o porta-retratos sobre o rack, que tinha em meu quarto e me
encaminhei até a porta. Assim que a abri, minha mãe me olhou contendo um
sorriso nos lábios, parecia contente.
— O jantar está servido, querido. Não vai querer comer? — indagou.
— Já estou indo, mãe. Obrigado por avisar. — Ela comprimiu os lábios
num sorriso meigo e, eu fechei a porta.
Estava apenas de calça jeans e com o torso desnudo. Fui até meu
guarda-roupa e peguei uma camiseta. Calcei meu par de chinelos e saí do
meu quarto. Segui pelo corredor e cheguei até a cozinha. A mesa estava
realmente posta e meus pais, Sebastião e Antônia, já jantavam.
Assim que me servi, sentei-me à mesa e o Bruno ainda não tinha
chegado. Estranhei sua demora.
— O Bruno não vai jantar? — questionei e minha mãe me olhou.
— Acho que não vai vir, já que a Lisa está aí. — Lisa era namorada do
meu irmão há dois anos, e nesse Natal, ele pretendia pedi-la em noivado.
Eu e meu irmão tínhamos quatro anos de diferença na idade. Eu tinha
vinte e oito anos, e ele, vinte e quatro. Mas me sentia muito feliz por vê-lo
com a mulher que amava e tinha certeza que a queria ao seu lado para o resto
de sua vida.
— Hum… — foi o que proferi.
— E então? Vai mesmo atrás dela, filho? — Meu pai questionou.
— Sim, eu vou — disse com veemência.
— Espero que não se arrependa depois, hum?! — ele alertou.
De certo modo, ele não concordava com minha decisão repentina de ir
atrás da mulher que me deixou para trás, mas entendia que seus conceitos,
antigos, não o deixariam enxergar os motivos que Catarina teve para ir, com
os mesmos olhos que eu. Pelo seu modo turrão, já era de se imaginar que não
entenderia.
— Creio que a gente se arrepende muito mais daquilo que não fazemos,
justamente pelo medo de errar, pai. — O encarei ao falar aquilo e ele deu de
ombros, fazendo pouco caso.
— É. Vai ver você tem razão — disse, deixando-me com um sorriso
contente nos lábios.
O jantar prosseguiu em silêncio e assim que finalizamos, eu fiz questão
de lavar toda a louça suja e retornei para quarto. Sentia-me eufórico para a
minha ida à Brasília, mas também me sentia aflito por não saber como seria
recebido por Catarina.
Ao chegar em meu quarto, alcancei uma mochila e comecei a colocar as
roupas que já havia escolhido para levar na viagem. Afinal, ficaríamos por
poucos dias. Eu tinha conhecimento que iria ser uma tortura ter Catarina tão
de perto e não poder tocá-la, já que iria me hospedar em sua casa.
Meu coração palpitou rápido no peito ao se dar conta daquilo.
CAPÍTULO TRÊS
CATARINA
— Acha que está bom assim? — Era tarde de sexta-feira e, no
momento, tentava montar a bendita árvore de natal. Luane, minha amiga,
estava em minha casa e pior, rindo de mim.
— Nossa! Tá horrível! — Sua sinceridade, às vezes me irritava ao
extremo.
Revirei os olhos, impaciente, enquanto ela pegou alguns enfeites dentro
da caixa. Desfez tudo o que eu tinha feito e começou a arrumar da sua
maneira. Afinal, ela era virginiana, então, já podia imaginar o quão
perfeccionista era.
— Você podia ser mais delicada quando fosse me criticar — supus.
Luane sequer me olhou, parecia pensativa, enquanto encarava a árvore,
como se estivesse imaginando-a pronta em sua mente.
— Você me ouviu, Luane? — Voltei a importuná-la.
— Vou pensar com carinho. Pode pegar mais dessas bolinhas para
mim? — Soltei uma lufada de ar por não estar nenhum pouco contente com
sua resposta.
Pensei por um momento.
— Quer saber, deixa isso aí. Depois dou um jeito de arrumar da minha
maneira. — Luane colocou as bolinhas, que tinha em mãos, de volta na caixa
e se virou para mim.
— Tudo bem. Então? O que tem que fazer agora? — indagou.
— Preciso ir ao mercado comprar frutas, verduras, legumes… ah, tudo
para fazer uma ótima ceia de Natal para minha família — comentei, alegre.
— Nem estou acreditando que irei revê-los. — Meu coração batia rápido no
peito, mas também sentia uma fagulha de tristeza ao me lembrar da minha
família.
— Então vamos logo, Cata. — Luane me chamava daquela forma. Até
que eu gostava.
***
Momentos mais tarde, chegamos em minha casa e já era noite. Ainda
bem que Luane não teria plantão naquela noite. Arrumamos tudo na geladeira
e, em seguida, ela foi embora.
Tomei um banho relaxante e após me vestir, deixei o meu quarto a
caminho da cozinha. Peguei uma garrafa de vinho branco suave dentro da
geladeira, que havia deixado para gelar um pouco assim que cheguei, e me
servi de uma taça até o meio. Segui até a sala e encarei a árvore de natal, sem
qualquer enfeite.
Peguei algumas bolinhas e comecei a colocar, mas parei assim que
notei que realmente não estava bom. Desfiz tudo novamente e liguei a
televisão. Bebericando meu vinho, eu passava os canais de forma aleatória,
até ter minha atenção voltada para o filme de Natal que passava em um canal
qualquer.
Tratava-se de um romance em plena época de Natal. Confesso que
acabei nem vendo o tempo passar. Quando notei, o filme já havia acabado e
me peguei pensando no Ítalo.
Meu coração se apertou no peito. Soltei uma lufada de ar ao me
imaginar uma idiota por ainda pensar num homem que eu nem sabia se ainda
nutria algo por mim. Mas perante o fato de ele ter cortado todo e qualquer
contato que existia entre nós, tive minha devida resposta.
Sentindo-me triste comigo mesma, deixei o sofá com minha taça vazia
em mãos após desligar a televisão, segui até a cozinha e abandonei a taça
sobre a mesa. Caminhei para o meu quarto e deitei em minha cama. Imagens
dos momentos que tive com Ítalo pipocaram em minha mente.
Desde que me mudei para cá, não havia me esquecido um só segundo
dele. Fiquei triste por não termos mais contato, mas entendi que ter o coração
partido por alguém que jamais imaginou ser capaz de tal ato, deveria ser
desalentador. E, eu sabia que tinha feito isso com o seu coração.
Olhei no relógio do meu celular e notei que já beirava as vinte e duas
horas. Pensei em ligar para o meu irmão, para pedir o contato do Ítalo,
contrariando a mim mesma por ter jurado que não o incomodaria mais com
esse assunto, mas… sei lá! Minha vontade parecia querer me comandar. Era
muito mais forte que eu.
Por fim, acabei desistindo, até pelo fato de ser bem tarde. Acho que o
vinho estava fazendo efeito, pois o sono me atingiu em cheio. Bocejei e
acomodei minha cabeça, confortavelmente, sobre o travesseiro. Logo
adormeci.
***
Acordei assustada e coloquei minha mão sobre o peito. Minha
respiração estava ofegante pelo sonho que acabei de ter. Sonhei que Ítalo
dizia que me amava.
Soltei um riso irônico ao me dar conta daquele fato. O pior era ter a
certeza que nada daquilo aconteceria realmente. Bufei desgostosa com todo
aquele sonho ilusório e joguei minha coberta para o lado.
Já era manhã de sábado, constatei ao me dar conta de que o quarto
estava claro e o sol batia na janela, que estava fechada. Alcancei meu celular
sobre o criado-mudo e vi que já era oito e meia da manhã. Não tinha
nenhuma ligação da minha mãe ou do meu irmão.
Disquei o número da minha mãe e, em seguida, do meu irmão, mas
ambos só davam na caixa de mensagens. Deixei minha cama e entrei no
banheiro. Fiz minha higiene bucal e ao terminar, saí do quarto com o celular
em mãos indo em direção a cozinha.
Preparei um lanche e após comê-lo, fui pensando no que faria para o
almoço para minha família comer quando chegassem. Assim que me decidi,
peguei os legumes na geladeira e comecei a descascar.
Uma hora depois, as panelas já estavam todas no fogo. Para minha
completa surpresa, ouvi o som da campanha e um sorriso abrilhantou meus
lábios pela possibilidade de serem meus pais. Eu não sabia se eles viriam de
táxi ou de ônibus, tinha me esquecido de perguntar.
Abri a porta em completa euforia e me deparei com meus pais do outro
lado. Abracei-os tão forte, que parecia que meu coração iria explodir de tanta
felicidade e a qualquer momento. Foi inevitável segurar minha emoção, assim
como meus pais também não esconderam a sua de mim.
Quando nos afastamos, meu irmão apareceu no meu campo de visão. O
abracei forte, mas logo uma voz, que eu sabia muito bem de quem era,
preencheu o ambiente.
— Como vai, Catarina? — Minha boca se abriu minimamente.
Encontrava-me surpresa por sua aparição repentina.
Naquele momento, meu coração batia forte e, eu o analisei. Estava
ainda mais lindo do que me lembrava. Com certeza meu Natal seria muito
difícil.
CAPÍTULO QUATRO
ÍTALO
No momento em que estacionei em frente ao portão da casa da Catarina,
meu coração palpitou forte no peito. Soltei o ar aos poucos e desliguei minha
caminhonete. Ofereci-me para trazer todos, pois seria até mais confortável. A
verdade é que eu odiava andar de ônibus.
De carro, o trajeto levava em torno de três horas, se fosse de ônibus seria o
dobro disso. Fora que eu começava a me sentir sufocado lá dentro. O
estômago também embrulhava. Não era nada legal.
Enquanto o senhor José e a dona Maria saíram do carro, com a ajuda do
Rafael, me prontifiquei a pegar a pouca bagagem que tínhamos levado para
ficar até o próximo final de semana. Deixei avisado ao meu irmão Bruno,
sobre o dia do meu retorno e o mesmo me deixou aliviado ao me dizer que já
tinha visto outro peão para ajudar na fazenda enquanto eu estivesse fora.
Eu amava essa cumplicidade entre eu e ele. Éramos apenas nós. Sei que
sentiria muito a sua falta quando ele, enfim se casasse.
Terminei de pegar as bagagens e passei pelo portão que estava aberto.
Avistei Catarina se afastar do seu irmão, pois o abraçava e quando a
cumprimentei e tive seus olhos vidrados nos meus, além da sua boca, que se
encontrava minimamente entreaberta, senti o impacto dos meus sentimentos
para com ela. Ainda estavam ali, vivos como jamais imaginei que
estivessem.
— Uau! E-eu… hum… não sabia que você viria — Seu tom era
extremamente surpreso, mas detinha um sorriso sincero nos lábios. Eu
apreciei aquilo.
Soltei um riso de canto.
— Ah, foi mal! Eu me esqueci de avisar. — Rafael disse e coçou a nuca,
fingindo que realmente tinha esquecido.
Na verdade, nós tínhamos combinado de não comentar nada sobre minha
vinda. De certa forma, eu quis fazer uma surpresa. Ainda não sabia se teria
sido uma boa ideia, pois ela podia estar envolvida com outra pessoa.
— Não, que isso! Nada a desculpar. Entrem! — proferiu, eufórica.
Não fiz movimento para abraçá-la ou sequer dar um aperto de mão. Apenas
entrei em sua casa e logo foi mostrado o quarto que ficaríamos. A casa dos
seus pais, que ela morava, era grande e reconfortante.
Não me passou despercebido o cheiro da comida no ambiente antes de vir
para o quarto, pelo aroma parecia estar divina. Rafael avisou que tomaria um
banho e, eu aproveitei para ligar para Bruno e pedir que avisasse aos nossos
pais que tínhamos chegado na perfeita paz. Minutos depois, Rafael deixou o
banheiro e encerrei a ligação. Entrei no mesmo a fim de conseguir relaxar um
pouco após uma boa chuveirada.
— Acha que ela tem outra pessoa? — perguntei ao Rafael após deixar o
banheiro, minutos depois.
Rafael mexia na sua bolsa, parecia estar à procura de algo.
— Que eu saiba minha irmã não tem nenhum marmanjo em seu pé, muito
menos no coração. Quer dizer… acho que você ainda tem o coração dela nas
mãos. — Minha gargalhada se tornou presente em meio ao cômodo. Foi
inevitável.
— Se eu realmente tivesse o coração dela em mãos, Catarina não teria me
deixado para vir à Brasília — disse em tom irônico.
— E o que veio fazer aqui, hum?! Se realmente acredita que não tem
chance com ela, para que vir até aqui? Apenas para se torturar? — Suas
palavras me atingiram como se fossem socos. Fiquei estático diante da minha
mochila, usada para trazer poucas peças de roupas. Ele tinha conseguido me
deixar sem palavras.
— Esquece isso. — Balancei a cabeça em negativo, pois nem eu mesmo
sabia o porquê de estar ali. Na verdade, havia apenas uma certeza em mim:
Eu a amava muito. Jamais deixei de amar, mesmo depois que ela transformou
meu coração em zilhões de pedaços.
— Tenta conversar com ela, cara. Sei que ainda a ama e ela também nutre
o mesmo por você. Acho que vocês merecem uma segunda chance — Rafael
falou mantendo sua mão sobre o meu ombro.
Não fui capaz de proferir nada. Apenas comprimi os meus lábios e assenti.
Rafael me entendeu e após desferir alguns tapinhas de leve sobre meu ombro,
deixou-me a sós no quarto. Soltei o ar pesadamente. Aquele papo não tinha
sido nada agradável.
Segui até próximo à cama e me desfiz da toalha, que estava em torno da
minha cintura. Assim que me preparava para vestir minha cueca, a porta foi
aberta de uma vez.
— Oh meu Deus! Desculpe-me, eu pensei que… — Catarina se virou de
costas proferindo pedidos de desculpas. De certo modo, eu sorri diante da sua
falta de jeito.
— Não se preocupe. Afinal, não tem nada aqui que já não tenha visto. —
Fui ousado, eu sei, mas estava curioso para saber qual seria a reação dela.
— E-eu… — soltou uma lufada de ar — Deixa pra lá. — Já tinha vestido
minha cueca e assim que percebi seu próximo movimento, que seria sair dali,
eu a alcancei e fechei minha mão em torno do seu braço. Não permitiria que
saísse até que tivéssemos uma breve conversa.
CAPÍTULO CINCO
CATARINA
Ter entrado no quarto da forma que entrei sem ao menos bater, foi no
mínimo insano da minha parte. Eu pensei que meu irmão estaria ali, e não
que encontraria o Ítalo em sua forma escultural e, ainda por cima,
completamente nu. Não seria hipócrita em afirmar que meu ventre não se
contorceu diante daquela visão, mesmo que tivesse sido por breves segundos,
pois me virei a tempo de conseguir acalmar meus ânimos.
Mas ouvi-lo dizer que em seu corpo não tinha nada do que eu já não tivesse
visto, confesso que me pegou totalmente desprevenida. Jamais pensei que ele
tocaria naquele assunto. Algo tão íntimo; só nosso.
Lógico que tentei fugir dali, mais precisamente falando: dele. Só que fui
impedida quando meus passos foram cessados em decorrência da sua mão,
que envolveu meu braço. Seu toque me fez engolir em seco. Meu íntimo se
aqueceu.
— Não acha que devemos conversar de forma civilizada, Catarina? —
Puxei o ar com dificuldade ao ouvir sua voz. Ouvi-lo era como escutar uma
bela melodia e me perder na sua sintonia.
Mordi meu lábio inferior e fechei os olhos, até que criei coragem o
suficiente para me voltar em sua direção e encarar seu olhar após constatar
que ao menos trajava uma cueca, o que não era de grande valia, porque não
diminuía em nada o fato de ele ser uma verdadeira obra de arte. Ítalo era um
fazendeiro de tirar completamente o chapéu, não só isso, mas deixa pra lá.
— Concordo em conversarmos, Ítalo, mas pode ser após o almoço? —
Fitei seus olhos e impus, sem vacilar.
Ainda sentia o calor da sua mão que se encontrava segurando o meu braço.
Seu toque era capaz de me deixar completamente fora de órbita, mas estava
me esforçando para manter minha postura. Céus! O que ele tinha vindo fazer
aqui? Será que tinha planos para nós dois?
Com apenas um aceno de cabeça, Ítalo deixou claro que havia concordado
com minha imposição. Saí do quarto após dar uma rápida olhada em seu
físico escultural e segui para a cozinha. Minhas pernas pareciam gelatinas.
Respirei fundo e ao estar mais calma, eu passei pela sala e encontrei meus
pais e meu irmão conversando sobre alguma coisa que não havia prestado
atenção. Arrumei a mesa rapidamente e chamei todos para almoçarem. Fui a
última a me servir e confesso que ter comido sob o olhar inquisidor do Ítalo
não foi nada agradável. Ele conseguiu me deixar desconcertada.
Mesmo em meio a uma conversa ou outra, de modo descontraído com
meus pais, irmão e ele, não fui capaz de ignorar seus olhares sobre mim. Em
certos momentos, ele parecia me analisar, já em outros, era como se tentasse
perfurar a minha alma. Não sabia explicar com precisão.
Quando terminamos, minha mãe permaneceu na cozinha comigo. Meu pai,
irmão e o Ítalo, foram direto para a sala. Dali era possível ouvir seus
murmúrios, pareciam falar sobre alguém da cidade em que moravam. Ainda
tentei impedir minha mãe de me ajudar para se juntar aos mesmos e
descansar um pouco, mas ela era turrona e bateu o pé, me contrariando.
Estava distraída enquanto esfregava um prato, mas minha atenção foi
voltada para a minha mãe.
— Você ainda gosta dele, filha. — Não foi uma pergunta.
Resolvi não esconder a verdade sobre o que realmente sentia pelo Ítalo.
— Eu confesso que gosto muito dele, mãe. Pra ser sincera, nunca o
esqueci. Nem mesmo quando o deixei para vir atrás dos meus objetivos. —
Um fiapo de tristeza estava presente em minha voz.
— Eu acredito. Tanto que é possível ver o brilho no fundo dos seus olhos
quando ele te encara. — Minha mãe fez questão de salientar e, eu a encarei,
admirada por sua observação. — Creio que minhas experiências de vida me
tornaram uma verdadeira caça a apaixonados. — Fez uma comparação e
sorrimos em uníssono por seu comentário divertido.
— Ai, mãe! — Exclamei divertida e a encarei sorridente. Era tão bom tê-la
comigo. Verdadeiramente havia sentido muito a sua falta. Principalmente, das
nossas conversas divertidas. — Senti tanta falta disso — referi-me a nós
duas.
Minha mãe parou de secar o prato que tinha em mãos e me encarou.
— Também senti, filha — proferiu de modo doce e foi o suficiente para
aquecer meu coração. — E então? Vai dar uma chance ao rapaz? Afinal, ele
não veio até aqui para voltar chupando o dedo, não é mesmo? — Sorri diante
de mais um comentário descontraído.
— A senhora não tem jeito, mãe — falei contendo um sorriso abobalhado
nos lábios.
— E não tenho razão? — indagou, enquanto continuou a secar as louças
que eu estava lavando e colocando no escorredor.
— Sim, mãe, tem toda razão — afirmei. — Nós vamos conversar e ver
onde essa nossa conversa vai nos levar — ressaltei.
— Que bom, filha. Ítalo é um belo exemplar de homem, o único problema
foi você tê-lo deixado — salientou.
— Foi ele que não me apoiou, mãe — relembrei. — Poderíamos ter
mantido o relacionamento, mesmo que a distância. Ele que não quis —
expliquei.
— Você sabe que relacionamentos à distância quase nunca dão certo, filha
— Fez questão de frisar.
Soltei o ar pesadamente.
— Desde que se tenha confiança um no outro, tudo é capaz de dar certo,
mãe. Porém, acho que Ítalo não tinha total confiança em mim para isso —
Fui sincera.
— É, talvez. — Minha mãe disse pensativa e continuamos arrumando a
bagunça na pia da cozinha.
Confesso que me sentia ansiosa para minha conversa com o Ítalo. Minha
curiosidade já tinha chegado ao seu nível máximo. Mas me controlaria até
chegar o momento.
CAPÍTULO SEIS
ÍTALO
Depois do almoço, e de dona Maria ter ajudado a Catarina na cozinha, ela e
o senhor José foram tirar o cochilo da tarde, pois estavam precisando depois
das longas horas de viagem. Rafael me fez companhia, até que Catarina se
juntou a nós na sala e, rapidamente, inventou uma desculpa qualquer para nos
deixar a sós.
Assim que ficamos sozinhos, notei que Catarina esfregava uma mão na
outra e, eu sabia que aquele era um sinal claro de seu nervosismo. Não
entendi bem o porquê ela se sentia nervosa. Talvez por causa da minha
presença? Ou seria pelo que sucederia a nossa conversa?
— O que queria conversar, Ítalo? — Catarina estava sentada no outro sofá
e foi direto ao ponto.
Recostei-me no encosto do sofá, que me encontrava sentado e analisei seu
rosto, parecia desconfortável.
— Acaso está nervosa? — Ela parou de esfregar suas mãos diante da
minha pergunta, e me encarou.
— Não importa. Só quero que fale logo o que deseja conversar — falou de
modo calmo.
Fui incapaz de me manter distante. Já não conseguia vê-la e não tocá-la.
Cruzei o espaço que nos mantinha afastados e me sentei ao seu lado. Catarina
me olhou com seus lábios entreabertos, mas não disse nada.
— Acaso minha presença te incomoda, Catarina? Se for isso, apenas me
diga e, eu irei embora. — Ela soltou um riso sem graça e balançou a cabeça
em negativo.
— Não é nada disso, Ítalo. Eu realmente não esperava a sua visita, mas
confesso que amei que tenha vindo. — Voltou a me encarar e pude identificar
certa… culpa, no fundo do seu olhar.
De certo modo, sua declaração me fez soltar o ar, um pouco aliviado, mas
só me sentiria completamente despreocupado quando ela me afirmasse que
não tinha ninguém em sua vida, preenchendo seu coração. Só então, eu
poderia tentar me reaproximar novamente. Eu não tinha conseguido esquecê-
la, mesmo após esse tempo que tivemos afastados. A verdade é que eu ainda
a amava. Em nenhum momento, mesmo após ela ter me deixado, meu
coração deixou de pertencê-la.
— Vim porque, mesmo após esse tempo que tivemos afastados, eu não
consegui esquecer você. Juro por Deus que pensei que mantê-la o mais longe
possível, sem qualquer contato, eu acabaria conseguindo arrancá-la do meu
coração de uma vez por todas, porém não passou de um triste engano da
minha parte — expliquei. — Eu ainda amo você, Catarina. Pode até
parecer…
***
Quando menos esperei, Catarina se virou para mim e me silenciou ao
colocar seu dedo indicador sobre meus lábios, impedindo-me de continuar
meu argumento.
— Ítalo, eu sei que quebrei o seu coração em incontáveis pedaços. Sei que
escolher seguir atrás dos meus sonhos ao invés de ficar com você, foi muito
doloroso. Naquele dia, eu não entendi a sua raiva, mas com o passar do
tempo, finalmente compreendi que você tinha os seus pais e
responsabilidades com a fazenda, juntamente com o seu irmão — proferiu e
soltou o ar com força. — Tenho ciência que seu afastamento foi
consequência unicamente da minha escolha. É como aquele velho ditado:
Toda ação, gera uma reação. E pra dizer a verdade, eu também nunca o
esqueci, pelo contrário. — Ouvi-la proferir aquilo, me fez sentir como se um
peso enorme tivesse sido tirado dos meus ombros.
— Eu senti tanto a sua falta, Catarina — disse ao acarinhar seu rosto e ela
passou a ponta dos dedos sobre os fios da minha barba rala. Fechei meus
olhos apreciando seu carinho.
— Também senti a sua, Ítalo — Ela proferiu baixo e ao abrir meus olhos,
notei que ela se aproximava sorrateiramente.
Meu coração martelava no peito pela sua aproximação. Minha respiração
se tornou alta. E meus olhos encaravam seus lábios, desejando-os sobre os
meus o mais depressa possível.
E então, ela encostou seus lábios macios nos meus. Fechei meus olhos
degustando daquele nosso momento e contato, mesmo depois de ter se
passado quase dois anos. Cheguei a pensar no quanto havia esperado por isso.
O melhor de tudo era saber que seu sentimento por mim ainda se mantinha o
mesmo.
Estava tentando me manter controlado, mas falhei miseravelmente. Minhas
mãos cobriram sua cintura e apertaram sua carne com precisão. Aprofundei
nosso beijo, tornando-o urgente e, em questão de segundos, Catarina se
colocou sentada sobre o meu colo.
Gemi extasiado. Sentir o sabor da sua boca e poder apalpar o seu corpo era
algo que havia sonhado fazer desde que não a tive mais comigo. Mas eu
pretendia mudar isso. Não permitiria que se mantivesse longe outra vez.
Juntei seus cabelos loiros entre meus dedos e ela soltou um gemido contra
os meus lábios, fazendo com que meu grau de excitação aumentasse
desordenadamente. Eu a queria abaixo do meu corpo, mas sabia que não era
possível ali. Então aproveitei um pouco mais dos nossos amassos e beijos.
— Você continua o mesmo gostoso de antes — Catarina declarou assim
que cessamos o nosso beijo arrebatador.
Eu soltei um riso de canto, satisfeito com seu comentário.
— E você continua saborosa. Uma doçura de mulher. A verdade é que sou
louco por você, Catarina — Ela me encarou sorrindo e mordeu meu lábio
inferior, sugando-o entre seus lábios, deixando-me ainda mais excitado.
— É? — Ela indagou, sussurrando em meu ouvido. Meus pelos se
eriçaram.
Peguei-a desprevenida ao fazê-la se deitar repentinamente sobre o sofá em
que estávamos, e ela soltou um gritinho pela surpresa. Sorrimos em uníssono
quando cobri seu corpo com o meu e encarei seu rosto, apreciando sua
beleza. E sem dizer qualquer palavra, eu voltei a tomar seus lábios nos meus.
Ainda não estava acreditando que a tinha entre meus braços novamente.
Também me sentia incrédulo pelo fato de saber que ela ainda gostava de
mim. Mas, por hora, havia decidido que não pensaria em nada mais que
pudesse interromper o nosso momento.
CAPÍTULO SETE
CATARINA
O dia amanheceu bem mais bonito. Meu sorriso não cabia em meus lábios.
Não pensem que cheguei a transar com o Ítalo, porque não aconteceu. Nós
apenas nos beijamos e trocamos algumas carícias.
Confesso que nossa conversa foi bem agradável. Ele não me propôs
namoro novamente, combinamos que o tempo iria se encarregar de nos
mostrar o que sucederia entre nós. Se fosse para dar certo, com certeza, em
breve teríamos uma resposta, afinal, no próximo final de semana, ele e meus
pais partiriam.
Sentada em minha cama e com os cabelos bagunçados, pois fui capaz de
detectar ao passar a mão pelos mesmos, soltei o ar, um pouco descontente.
Pensar que logo estariam indo embora, fez o meu coração se comprimir no
peito. A casa ficaria silenciosa e num completo tédio.
Saí da minha cama sentindo-me triste com aquele pensamento, mas resolvi
que aproveitaria cada segundo ao lado deles. Segui para o banheiro, escovei
os dentes e minutos depois, deixei o meu quarto. Ainda era cedo e a casa
estava silenciosa.
Cheguei à cozinha e me adiantei em colocar a água para ferver, a fim de
preparar o café. Eu tinha que dar um pulinho na padaria para comprar pães.
Lavava minhas mãos na pia, quando mãos fortes adornaram minha cintura.
Um sorriso bobo tomou os meus lábios e pelo cheiro da sua fragrância
forte e marcante, eu pude confirmar minhas suspeitas: Tratava-se do Ítalo.
Em seguida, ele descansou seu queixo sobre um dos meus ombros e me deu
um beijo carinhoso na bochecha.
— Bom dia. — Proferiu com sua voz rouca, deixando-me um pouco
estremecida.
— Bom dia. Dormiu bem? — perguntei. Eu realmente queria saber sua
resposta.
— Não tão bem quanto poderia ter sido se você tivesse dormido
entrelaçada ao meu corpo e, de preferência: nua. Mas tá valendo. — Eu sorri
e senti minhas bochechas esquentarem. Sua declaração me aqueceu por
dentro. Fui capaz até de imaginar toda a cena na minha cabeça e mordi o
lábio inferior ao me dar conta disso.
Virei-me para ele e me mantive entre seus braços. Envolvi minhas mãos
em seu pescoço e ele me encarou, sorridente. Devolvi o sorriso na mesma
intensidade.
— Parece até um sonho tê-lo aqui, na minha frente. Nem acredito que
conversamos e resolvemos ir com calma e ver no que vai dar esse
envolvimento — proferi com sinceridade, enquanto nossos olhares estavam
fixos.
Ítalo mordeu seu lábio inferior e fui incapaz de controlar o meu olhar, que
acompanhava seu gesto atentamente.
— Nem eu, Catarina. Nem eu — afirmou com convicção, parecia que
realmente não acreditava.
Sorri alegre por sentir gratidão pela decisão dele de vir até mim. Foi um
gesto muito especial. Amoroso, eu diria.
Puxei-o para um abraço reconfortante e meu coração batia forte pelo nosso
contato. Ítalo era mais alto do que eu, e me sentia uma completa anã diante
do seu porte. Quando saíamos no interior do Goiás, onde eu morava antes de
vir para cá, muitas mulheres ficavam loucas por ele. Eu não sabia ainda como
que ele não havia se rendido a nenhum rabo de saia, mesmo depois de ter tido
o seu coração partido por mim.
Mas não importava. O que realmente valia era sua presença ali, em minha
casa. Só de ele ter vindo até mim, já significava que realmente me amava.
Não tinha nem como continuar duvidando disso.
***
— Não. Acho melhor mais embaixo — sugeri ao Ítalo, que montava a
árvore de natal. Ele levava muito mais jeito do que eu.
— Dona Maria, o que acha? — Ítalo ignorou minha opinião e questionou a
minha mãe.
— Da forma que está colocando fica mais bonito. Aproveita e tira aquele
enfeite que a Catarina colocou, porque ficou horrível. — Olhei para minha
mãe espantada. Como assim horrível?
Ouvi meu pai e meu irmão rirem após o comentário da minha mãe, e Ítalo
também quis sorrir, mas ao perceber meu olhar nada contente, ele comprimiu
os lábios tentando a todo custo para não se entregar à gargalhada como meu
pai e irmão estavam tendo.
— Mãe! — exclamei em tom chateado. E ela deu de ombros, sequer se
importando com meu estado emocional. Tudo bem, eu estava fazendo um
pequeno drama para comovê-la, mas de nada adiantou.
— Você sabe que não minto, filha. Nem adianta fazer bico. — Eu sorri,
após desfazer minha feição triste.
— É melhor não contrariar a sua mãe, filha. Sabe muito bem que a
sinceridade dela é de um grau incalculável — Meu pai salientou.
— Quanto a isso, já tive a minha cota por hoje — ressaltei e meu pai
sorriu, divertido.
Já era noite e todo aquele clima de descontração com Ítalo e minha família
estava tão agradável que sequer tive tempo para ver o dia passar. Confesso
que vinha me esforçando para não pensar o quanto eles fariam falta quando
partissem. Quanto ao Ítalo, eu também tinha que decidir o que faria.
Entre um enfeite e outro, Ítalo acabou arrumando da sua maneira e o
resultado ficou magnífico. Todos nós o parabenizamos pelo seu olhar
ornamentador. Ligamos o pisca-pisca e havia ficado realmente belo.
Eu, meu irmão e Ítalo, decidimos pedir uma pizza, mas meus pais
dispensaram, pois não trocavam um belo prato de comida por besteira.
Enquanto aguardávamos a entrega da pizza, colocamos um filme natalino
para assistir. Minha mãe e o meu pai se despediram e foram se deitar.
Me aconcheguei próximo ao Ítalo e aproveitei o carinho que ele fazia em
meu braço. Minutos depois, a pizza foi entregue e Ítalo fez questão de pagar.
Saboreamos cada pedaço e ao terminar, continuamos assistindo ao filme.
Rafael foi se deitar com a queixa de que estava com muito sono e acabou
me deixando na companhia do Ítalo. Mais uma vez, nós trocamos beijos
enlouquecedores e tivemos alguns amassos. Eu já não estava aguentando e
queria tê-lo de uma vez por todas.
— Vamos para o meu quarto, hum?! Dorme comigo essa noite, Ítalo? —
propus, ainda ofegante por causa dos nossos beijos e amassos.
— Não precisa pedir novamente — Ele proferiu com sua voz rouca ao
descansar sua testa na minha.
Desliguei a televisão e seguimos para o meu quarto. Eu estava ansiosa para
a nossa noite juntos. Finalmente iríamos nos perder nos braços um do outro
depois do tempo que estivemos afastados.
CAPÍTULO OITO
ÍTALO
Quando Catarina propôs para que eu fosse ao seu quarto e dormisse com
ela, eu não parei para pensar uma segunda vez.
Assim que chegamos ao seu quarto, Catarina trancou a porta e, eu a prensei
contra a porta. Tomei sua boca na minha com sofreguidão. Necessitava me
manter conectado a ela.
Catarina gemeu contra meus lábios e minhas mãos apertaram sua cintura.
Friccionei minha protuberância acima da sua virilha, em decorrência da nossa
diferença de altura. Soltei um grunhido rouco ao tê-la sugando a minha
língua. Meu grau de excitação aumentou de modo descontrolado e não fui
capaz de manter meu controle.
Alcancei a barra da sua blusa de alcinhas e livrei-a da mesma. Abandonei
sua boca ao ter seus seios pequenos e perfeitos, preenchendo as minhas mãos,
pois se encontrava sem sutiã e, eu apreciei aquilo. Mordisquei seu queixo e
desci pelo seu pescoço dando pequenas chupadas. Logo tomei o bico rijo de
um dos seus seios entre meus lábios e comecei a brincar com o mesmo.
Catarina soltou um gemido abafado, pois identifiquei que cobriu a boca
com a própria mão. Logo soube que havia sido pelo fato de não querer que
alguém nos ouvisse. Não tínhamos nada a esconder de ninguém, mas ela me
explicou rapidamente que não queria levantar alarde, afinal, podíamos ter
nossa cota de prazer sem incomodar o sono dos seus familiares e, eu
concordei plenamente.
Voltei a tomar sua boca ao sentir a necessidade de beijá-la novamente.
Catarina logo me fez retirar a camiseta e apalpou minuciosamente o meu
peitoral. Ter suas mãos sobre mim era divino.
Meu pau pulsou dentro da minha cueca e juro que meu autocontrole já
tinha se esvaído. Peguei Catarina por trás das suas coxas e a sustentei,
fazendo com que envolvesse suas pernas em torno da minha cintura. Seu
short jeans e o meu, ainda estavam em nosso caminho, atrapalhando que
nossos sexos tivessem algum contato pele a pele.
— Tem camisinha aí? — indaguei de repente, após abandonar seus lábios.
— Não tenho. — Catarina desviou seu olhar, preocupada.
— Tudo bem. Vou pegar na minha mochila. — Ela assentiu e após colocá-
la sobre seus próprios pés, tentei me acalmar e ao me recompor, deixei seu
quarto e segui até o cômodo que estava dividindo com seu irmão Rafael.
Não demorou muito, pois logo retornei para o quarto de Catarina e
seguimos de onde tínhamos parado. Coloquei-a deitada sobre a cama e retirei
seu short jeans, juntamente com a calcinha. Não fui capaz de pular a parte de
prová-la.
Fiquei de joelhos e fiz com que ela mantivesse suas pernas abertas para
mim. Abocanhei sua boceta com urgência e Catarina gemeu baixo. Enquanto
sugava seu clitóris com força, fazendo-a se contorcer, também movia dois
dos meus dedos dentro da sua abertura, deixando-a na beira da combustão.
Era lindo vê-la se contorcer de prazer. Melhor ainda era saber que o
responsável por isso era eu. Só conseguia me sentir muito mais excitado com
toda aquela cena.
Nem mesmo deixei que ela gozasse. Desfiz de meu short e cueca e
coloquei a camisinha no meu pau. Catarina me encarava ofegante e com um
olhar cheio de volúpia.
Meu pau pulsou, duro feito rocha e pronto para preenchê-la. Subi na cama
e me coloquei sobre seu corpo com cuidado. Depositei parte do meu peso
sobre o meu antebraço direito e Catarina me posicionou em sua entrada.
Movi meu quadril lentamente até estar todo dentro do seu canal quente e
enlouquecedor. Catarina soltou um gemido contido, mas que deixou claro o
quanto estava apreciando o nosso momento. Comecei a estocar fundo em sua
boceta e tomei seus lábios nos meus, a fim de abafar nossos gemidos para que
não fossem ouvidos pela casa.
Parecia surreal, mas estávamos ali, juntos. Pele a pele.
***
— Eu sei que não quis nomear o nosso relacionamento novamente, mas
não consigo manter isso por mais tempo, Catarina — Soltei de uma vez, pois
era o que realmente pensava em relação a nós dois.
Catarina se encontrava deitada sobre o meu peitoral, havíamos acabado de
tomar banho juntos e foi muito prazeroso, porque a fiz gozar em minha boca
diante do sexo oral que fiz nela debaixo do chuveiro. Eu amava dar prazer a
ela. Nada me deixava mais satisfeito.
— Tudo bem, Ítalo. O que pretende? — indagou.
— Eu sei que não tenho uma aliança comigo, mas… — ponderei e me
sentei na cama a fim de olhar em seus olhos. Seria preciso para o que eu
falaria a seguir. — Case-se comigo, Catarina? Acho que já perdemos tempo o
suficiente depois de quase dois anos que estivemos afastados, desperdiçando
algo de muito valioso: o nosso amor.
Catarina pareceu surpresa pelo meu pedido, seguido por meu discurso e
notei que ela engoliu em seco.
— É complicado, Ítalo. Eu tenho um trabalho aqui. Estou tentando
construir algo com meus próprios esforços — argumentou.
— Não tem nada de complicado, será que não enxerga isso? Eu posso te
dar uma vida digna! — salientei.
Catarina ponderou por certo momento e soltou uma lufada de ar.
— Será que podemos dormir? Eu prometo que pensarei sobre este assunto
e amanhã darei uma reposta definitiva. Tudo bem?
Eu poderia ter sentido raiva pelo seu pedido? Sim! Mas entendi o seu lado.
Voltei a deitar na cama e fiz questão de que ela repousasse sua cabeça
sobre o meu peitoral. Em meus pensamentos, estava orando para que ela
retornasse para o interior do Goiás comigo.
CAPÍTULO NOVE
CATARINA
Era noite de Natal e todos estavam eufóricos para a ceia. No momento, eu
estava em meu quarto e me encarei por uma última vez no espelho. Optei por
um vestido vermelho e deixei meus cabelos soltos. Como ficaria em casa com
a minha família, apenas calcei uma rasteirinha. Não me preocupei em fazer
maquiagem, afinal, estava em casa.
Satisfeita com minha imagem refletida no espelho, deixei meu quarto e
caminhei até a cozinha. As vasilhas de vidro contendo um prato diferente
cada um, já estavam sobre a mesa. Eu tinha organizado junto com a minha
mãe antes de ir me arrumar.
— O cheiro parece bom — Rafael salientou ao entrar na cozinha.
Eu sorri.
— Só saberemos quando comer. Mas como foi feito por mim, lógico que
estará de lamber os beiços. — Fiz gracinha e Rafael revirou os olhos. Eu sorri
do seu gesto divertido.
— Então… eu não devia falar nada, mas… — Rafael começou a falar — O
Ítalo preparou algo para você, mas é só isso que vou dizer. — Não soube
distinguir o que senti ao ouvir aquela informação.
— Obrigada. mesmo assim — Não insisti.
— Por nada — Ele disse e saiu da cozinha.
Parei próxima a bancada da pia e pensei por um instante. Ítalo havia
conhecido minha amiga Luane pela tarde, e ambos conversaram
amigavelmente.
Precisei de um ingrediente que tinha faltado para preparar um dos pratos
para a ceia e Ítalo se dispôs a ir com a minha amiga para comprar. Vai ver
que foi nesse momento que ele se aproveitou para fazer ou comprar alguma
coisa a fim de me presentear.
Eu não tinha tido tempo para sair e comprar um presente para ele, apenas
pedi que Rafael fosse à padaria mais próxima e comprasse bastante pão de
queijo, ao menos para não deixar passar em branco, já que Ítalo amava as
coisas simples da vida. Lógico que compraria o presente dele em outro
momento.
— Pensando em algo? — Me sobressaltei pelo susto que tinha levado com
a aparição abrupta do Ítalo.
Eu havia deixado para dar minha resposta em relação a nós dois após a ceia
de Natal, e ele concordou sem pestanejar.
— Não é nada. Estou apenas aguardando todos para celebrarmos o Natal e
comermos — menti.
— Hum… tudo bem — Ele pareceu acreditar. — Não vejo a hora de
chegar o momento para comermos, a comida está bem cheirosa — Ítalo me
elogiou.
— Obrigada! Foi feito com muito carinho — salientei ao agradecê-lo.
Ítalo se aproximou, e não pude evitar o desejo de inalar seu cheiro forte e
marcante.
— Tudo que você faz é com carinho, Catarina, e essa é uma das coisas que
mais admiro em você. — Abaixei meu olhar, um pouco envergonhada, mas
logo voltei a encará-lo.
— Eu não tive tempo de comprar algo para você, porque tive ocupada
preparando os pratos para a ceia com a minha mãe, então… eu providenciei
algo que você gosta. — Ítalo sorriu lindamente e acariciou minha bochecha.
— Sei que vou amar. Sabe muito bem que não me importo com presentes.
Na verdade, meu melhor presente é estar aqui, com você e poder tocá-la —
proferiu, olhando-me nos olhos.
— Desculpa a demora, filha. Acabei… — minha mãe falou, entrando na
cozinha, mas parou ao se dar conta da presença do Ítalo. — Espero não estar
atrapalhando — ressaltou, preocupada.
Eu e o Ítalo sorrimos sem qualquer constrangimento e ele se prontificou a
dizer:
— Eu vou deixá-las terminar o que tiverem de fazer. Estarei na sala
aguardando para vir provar de cada prato, apesar de saber que devem estar
divinos. — Assenti e ele depositou um beijo singelo sobre meus lábios.
No momento em que ele saiu da cozinha, minha mãe começou a falar que
eu tinha feito uma bela escolha, pois Ítalo era um homem de fazer qualquer
mulher perder o fôlego. Eu ri do seu comentário, porque foi inevitável.
Ter minha mãe por perto era uma verdadeira diversão.
***
Já tínhamos celebrado a ceia e já era bem tarde da noite. Mesmo assim,
ainda conversávamos sobre acontecimentos diários com conhecidos do
vilarejo de onde meus pais moravam, no interior no Goiás. Sorríamos de um
assunto comentado pelo meu pai e resolvemos abrir os presentes de Natal.
— Já adianto que não comprei presente para ninguém, mas logo farei isso,
afinal, ainda vão ficar por aqui por mais alguns dias — salientei.
— Não se preocupe, filha — Meu pai disse.
Então eles me entregaram os presentes que haviam trazido para mim, até
mesmo o Ítalo. Eu agradeci a cada um. Meus olhos se umedeceram diante de
tanto carinho de suas partes. No momento que pensei que tinham acabado,
Ítalo limpou a garganta chamando a nossa atenção.
— Eu quero falar algo. — Ele se pôs em minha frente e ao olhar
profundamente nos meus olhos, sorriu meio sem jeito e dobrou um dos seus
joelhos na minha frente.
Vi-me surpresa pelo seu ato. Meus pais e meu irmão assistiam a tudo,
calados.
— Ítalo… — tentei me pronunciar, mas ele não permitiu que eu
continuasse.
— Só me deixe falar, Catarina. — Comprimi meus lábios e assenti. —
Acho que essa data é mais do que especial para lhe dizer o quanto a amo e
que desejo do fundo do meu coração que nossa relação se perdure pelo resto
de nossas vidas. Sei que ficamos um belo tempo, afastados, e também tenho
consciência de que foi por mim causa e puro egoísmo. Não fui seu
companheiro de verdade quando precisou que eu fosse, porque eu poderia ter
compreendido o seu lado ao ter me revelado que desejava partir da nossa
cidade a procura de uma estabilidade financeira. Entretanto, eu quero dizer
que meus sentimentos e intenções, são os mais sinceros possíveis. — Senti
meus olhos voltarem a umedecer, mas contive minhas emoções.
Quando menos esperei, Ítalo mostrou-me uma caixinha de alianças, que ao
abri-la, notei que eram de ouro. Naquele instante, já não pude ser tão forte,
automaticamente uma lágrima involuntária escapou dos meus olhos e
escorreu por minhas bochechas. Ainda não estava acreditando em tudo
aquilo.
— Catarina, eu te amo e sei que também me ama, então, não me resta
dúvidas de que quero que seja a minha esposa. — Soltei um soluço, pois não
consegui segurá-lo. Ítalo se levantou e fez questão de limpar minhas lágrimas
com seu polegar. — Não chore — pediu gentilmente, olhando profundamente
em meus olhos. — Aceita se casar comigo, Catarina?
Seus olhos me encaravam com expectativa. Nem precisei pensar direito,
pois já tinha a minha resposta. Não perderia mais tempo longe dele. Não
mesmo.
— Eu quero dizer que realmente te amo muito e aceito ser a sua esposa. —
Ítalo me puxou para um beijo intenso e, eu retribuí.
Ouvi meus pais e irmão aplaudirem, alegres por mim e Ítalo. Eu ainda não
sabia o que faria em relação à distância que nos separava, mas não importava
no momento. Tinha certeza que daríamos um jeito.
FINAL
UM ANO DEPOIS
Era noite de Natal. Estávamos todos reunidos na sala da casa da fazenda
dos meus sogros. Sim, eu tinha voltado para a cidade do interior do Goiás
onde os meus pais moravam, mas não na casa deles. Eu deixei meu trabalho
em Brasília, para seguir o que meu coração desejava veemente e não me
arrependi um só segundo.
Ítalo era um marido esforçado, e me fazia feliz dia após dia, assim como
havia prometido em meio aos seus votos no nosso casamento no religioso, há
seis meses. Morávamos perto dos meus sogros, pois Ítalo cuidava da fazenda.
Era algo que ele amava fazer, além de ajudar seu pai, já de idade, mas que
também não sossegava. Eu admirava a garra dele.
Aguardávamos os outros familiares se juntarem na sala, onde meus pais e
irmão já estavam presentes. Luane também havia vindo passar o Natal
conosco e tinha gostado muito da fazenda, ela e meu irmão Rafael, estavam
em um relacionamento. Talvez, ela também se mudasse, ou ele fosse morar
em Brasília.
— E então? Como se sente? — Luane se sentou ao meu lado no sofá,
enquanto os outros familiares iam chegando à sala.
Esfreguei minhas mãos em sinal claro de nervosismo.
— Um pouco de nervosismo e ansiedade ao mesmo tempo. — Sorri fraco e
ela me abraçou carinhosamente.
— Não fique assim. Tente manter a calma — ela falou sorrindo ao se
afastar. — Onde ele está? — perguntou.
— Deve estar descendo para a ceia — respondi.
Luane comprimiu os lábios.
— Lá vem ele — avisou de repente e saiu do meu lado, indo até o meu
irmão, que se encontrava afastado, conversando com outros conhecidos da
família.
Tentei manter a calma, assim como ela havia me instruído.
— Demorei? — Ítalo perguntou exalando um amplo sorriso nos lábios.
Sorriso esse que eu amava. Era fascinante.
— Só um pouco — respondi de forma divertida e ele sorriu, abraçando-
me.
Devolvi seu abraço na mesma intensidade e quando todos estavam prontos
para, enfim, degustarem dos deliciosos pratos da ceia de Natal, eu pedi que
Ítalo aguardasse por um momento e resolvi me pronunciar em tom alto, a
todos que estavam presentes.
— O que está… — Ítalo tentou perguntar, mas pedi para que ele se
mantivesse em silêncio e sorri quando ele comprimiu os lábios num sinal
claro que faria conforme pedi. Movi meus lábios, agradecendo-lhe.
— Ítalo, eu tenho algo para falar — repeti as mesmas palavras que ele
havia dito a mim no Natal passado, onde havia me pedido em casamento. Ele
me observou, curioso. — Acho que essa data é mais do que especial para lhe
dizer que o amo muito e que… — ponderei por um instante —, nós teremos
um bebê, um fruto do nosso amor — falei de uma vez, um pouco
emocionada, talvez pelo fato dos hormônios da gravidez.
— Caramba! Isso é sério? — Ítalo me encarou, surpreso, e ouvi
murmurinhos dos outros familiares presentes, pareciam felizes por nós dois.
— Sim, muito sério — afirmei.
Ítalo me pegou de surpresa, quando se ajoelhou em minha frente e beijou
meu ventre por cima do vestido que eu usava. Meu sorriso se ampliou diante
do seu ato.
— Eu sou o homem mais sortudo que existe nessa Terra, minha querida.
Obrigado por esse presente incrível. Não poderia ter recebido presente
melhor nesse Natal. Eu te amo — Ítalo proferiu contra o meu ventre,
deixando-me ainda mais emocionada com suas palavras.
Ele logo se colocou de pé e me beijou nos lábios com ternura e paixão.
Ouvi assovios e palmas, vindo dos familiares, que nos parabenizavam.
Naquele momento, eu entendi que coisas boas sempre poderiam acontecer
em nossas vidas. Que o Natal era um momento mágico e que tudo estava
propício a acontecer. Bastava crer o suficiente para ter nossos sonhos
realizados.
Quanto a mim e ao Ítalo, eu jamais imaginei que iríamos nos reencontrar
há um ano, e que estaríamos juntos agora. Não que eu não desejasse, mas por
causa de tudo que tinha acontecido. Entretanto, o nosso amor tinha
transcendido o tempo e, finalmente, iríamos aproveitar tudo isso como uma
bela família.
FIM!
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[1]
Christian Louboutin é um designer francês de calçados que lançou sua linha de sapatos
principalmente femininos na França, em 1991.

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