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BartolomeuDDias é o marinheiro

português que, em 1488, N


das Tormentas (atual Cabo da Boa
Esperança), tendo ai
,dobrou oCabo EPITÁFIO DE
BARTOLOMEU DIAS
daviagem de Pedro Álvares Cabral à India, via Brasil, em morido aquandodo
O mais curto de 1500.
Mensagem, este poema evoca a
gador. O poeta enaltece a sua coragem, porque figura desse nave Jaz aqui, na pequena praia
extrema,
dominou o mar e o Dobrado o Assombro,
medo "Dobrado. Assombro"- e relembra a O Capitão do
Fim.
formou o mundo até então
grandiosa tarefa que trans- jáá ninguém o
tema!
conhecido, ao é o mesmo:
O
ultrapassar o
mar
seu limite austral no seu
ombro.
o mundo
-
"Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro." Por isso, Pessoa Atlas, mostra alto
o
designa como
o
"Capitão do Fim"
35
O plural do título aponta para o facto de, tal como
aconte VI.
os
portugueses terem servido de inspiraçãoe modelo Colombo,
a
Os COLOMBOS

gadores
aos
restantes s nave-

No titulo de poema,
pressente-se a clara ironia do poeta,
TE é reforçada pelos jogos de palavras presentes na primeira ironia aua Outros haverão
de ter
haverão de ter/O que houvermos de quadra"Outros -

de perder.
perder". "Outros poderão achar/O O que
houvermos

VI. no nosso encontrar,/Foi


achado, ou não achado". que Outros poderão achar

Querendo, talvez, relembrar o contencioso entre Oque, no


nosso encontrar,

em volta da figura do
Portugal Espanha
e
não achado,
navegador Cristóv o Colombo (descobridor da Foi achado, ou

América, que aprendeu a arte de navegar com os destino dado.


Segundo o
faz alusão à falta de "magia" do portugueses), o poeta
navegador, a única que confere grandeza
às descobertas ' o que a eles näo toca
eles nâo toca/Ea magia que evoca/O Mas o que a
dele história". Longe efaz E a Magia que
evoca

dele história.
O poema
exemplifica, assim, o que os navegadores portugueses O Longe e faz
isso a s u a glória
representaram para outros navegadores, o valor de que se E por
revestiram, sendo dada
Colombo apenas o pálido reflexo dessa E justa auréola
grandeza maior, "auréola dada / luz emprestada.
Por uma luz
emprestada" Por uma
B6.87 O poeta, uma vez mais, associa Vil
as descobertas marítimas à
vontade de Deus ação do coniugar
ugaçãoda OCIDENTE

Destino-/Desvendámos". Deus foi homem-Com


com a
duas
"alma" amàos-o Ato eno
homem teve e o
e tornou-se "máo que desvendou"
a
a
ousadiia Ato e o Destino
-

mãos o
PARTE Por obra do "Acaso, ou Vontade, Com duas céu
GUES
homem rasgou o "Ocicdente", ou
ou
Temporal, ocerto é quea mão do Desvendámos.
No mesmo gesto, ao
seja, as naus de Pedro Álvares Cabral facho trémulo
e divino
. descobriram o Brasil, em 22 de Abril de 1500. Uma ergue o
ent
véu.
outra afasta
o
O poema alude, assim, à descoberta do Brasil, Ea
que, segundo alguns
historiadores, aconteceu em virtude de uma forte havia
desviado as naus de Pedro Álvares Cabral tempestade que terá Fosse a hora que haver
ou a que
que rumavam ao oriente e não Ocidente o véu rasgou,
ao ocidente, não mão que ao
tendo chegado ao Brasil A
por objetivo definido. Ciência e corpo
a
Ousadia

Foi alma a
desvendou.
Da mão que

Vontade, ou
Temporal
ou
Fosse Acaso,
o
facho que luziu,
A mão que ergueu
Portugal
alma e o corpo
Foi Deus a
conduziu.
o
Da mão que
O poeta evoca a figura de Fernão
Magalhäes, navegador VII
em 1519, iniciou a
viagem de portuquec
cireum-navegação,
FERNAO DE MAGALH

Espanha, Carlos V. O célebre navegador terá sido


ao
servico da rot
rei de
das lhas Molucas, no assassinado por natiu
arquipélago das Filipinas. tivos
Recriando um cenário que mais nãoé No vale clareia
uma fogueira.

dançam na morte do marinheiro", o poema


que uma dança fünebre-"Oue sacode a terra inteira.
pretende sublinhar que o espirito Uma dança
aventureiro de Fernão Magalhäes disformes e descompostas
persiste, mesmo para além da E sombras
da morte "a alma
ousada/Do morto ainda comanda a armada" contingéncia Em clarões negros
do vale vão
Embora morto, "ausente", já "sem Subitamente pelas encostas,
corpo, o navegador continua a
encerrar "A terra inteira com o seu escuridão.
abraço', pelo que o seu propósito aven Indo perder-se na
tureiro, provar que a terra era redonda,
perdura para além dele, vencendo a noite aterra?
própria morte: "Violou a Terra. Mas eles De quem é dança que a
não/0sabem, e dançam na solidão'.
a
filhos da Terra,
São os Titãs, os
marinheiro
da morte do
Que dançam vulto
Que quis cingir o
materno

Cingi-lo, dos
homens, oprimeiro-
fim sepulto.
Na praia ao longe
por
nem sabem que a alma ousada
Dançam,
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço
Que até ausente soube
cercar
A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas eles não
solidão;
O sabem, e dançam na
descompostas,
E sombras disformes e
horizontes,
Indo perder-se nos
Galgam do vale pelas
encostas
Dos mudos montes.
93
Vasco da Gama, um dos mais
conhecidos navegadores
portugueses, foi o
IX.
grande responsável pela descoberta do caminho ASCENSÃO DE VASCO DA GAMA
a India,
acontecimento que data de 1498.
maritimo portuqiue.
espara
Opoeta evoca a figura do nauta
portugués apósa sua
E o momento da
gloriosa ascensão de Vasco da Gama aos morte, recriando Os Deuses da
tormenta e os gigantes da
terra

analogia com a figura de Cristo. A figura do céus, numa clara


o ódio da sua guerra
umeleito que, uma vez Argonauta surge, então, como Suspendem de repente céus
cumprida
X.

missão na terra, ascende


a sua vale onde se ascende aos
E pasmam. Pelo
e

11a para pasmo dos 'deuses da tormenta" e dos aos


céus, da névoa ondeando os
véus,
E, uma vez mais, a "gigantes da terra'" Surgeum silêncio, e vai,

afirmação da dimensão do herói, Primeiro um


movimento e depois um assombro.

ultrapassa a dimensão terrena, aquele que medos, ombro a ombro,


comungando na
transcendência. Ladeiam-no, ao durar, os

nuvens e clarões.
E ao longe o rastro ruge em

e a flauta
terra é, o pastor gela,
Em baixo, onde a
à luz de mil trovões,
Cai-lhe, e em éxtase vê,
abismo à alma do Argonauta.
O céu abrir o
Xx.
Opoeta dirige-se ao mar, um mar responsável pelo sofrimento MAR PORTUGU S
as
dos filhos, das nolvas de todos aqueles que ousaram cruzar måes,
as suas
com o intuito de o dominarem-"Para que fosses nosso, 6 mar!" águas
Terá valldo a pena tanto sofrimento? "Tudo vale a do teu sal
pena /Se a alma O mar salgado, quanto
ndo é pequena". E mais uma nova maneira do poeta afirmar a
da vontade da alma humana, vontade sempre insaciável.
importáncia São lágrimas
de Portugal!
choraram,
quantas m es
Por te
cruzarmos,

Se, na primeira estrofe, o mar ésinónimo de vão rezaram!


dor, jána segunda Quantos filhos
em

estrofe, o mesmo mar aparece assoclado à conquista do absoluto.O mar ficaram por
casar

Quantas noivas
encerra perigo" e "abismo, mas também espelha o céu; ou ó mar!
seja, ofered Para que fosses
nosso,

recompensas, ao permitir o acesso a um prémio superior, seja ele a Verdade,


a heroicidade, imortalidade, a glória...
a
pena? Tudo
vale a pena
Valeu a

Se a alma não é pequena.


além do Bojador
Quem quer passar
além da dor.
Tem que passar abismo deu,
ao m a r o
perigo e o
Deus
o céu.
espelhou
Mas nele é que
Esta última nau refere-se à nau que conduziu D. Sebastião XI.
numa vian
sem regresso. Por isso, o poema inicia-se com a agem
partida da nau envolta num
A ÚLTIMA NAU
clima de "pressago/Mistério, ou seja, de mau
augúrio.
A nau"Não voltou mais'" porém o poeta admite não ter
certezas rela- El-Rei D. Sebastião,
tivamentea não regresso coloca Levando a bordo
esse e
algumas interrogações- "A que ilha alto o pendão
indescoberta/Aportou? Voltará da sorte incerta/Que teve?"-, interrogações
um nome,
E erguendo,
como
que indiciam a sua crença num possível regresso. Do Império,
ao sol aziago
O Foi-se a útima nau,
poeta diz, então, que acredita na vontade divina e na sua de ânsia e de pressago
e entre
choros
ação protetora- "Deus guarda o corpo e a forma do futuro:' As duas últimas Erma,
estrofes são
expressão da sua
a forte convicção de Mistério.
que o regresso de D.
Sebastião é certo, só não sabe quando "Não sei a hora, mas sei ilha
indescoberta
que há a mais. A que
-
Não voltou
hora,"-mas sabe que, com esse regresso, vem, igualmente, a certeza de um Voltará da sorte
incerta
Aportou?
novo
império -
'e trazes o pendão ainda/ Do Império". Que teve?
Todo o poema adota forma do futuro,
um tom claramente sebastianista. Deus guarda o corpo
e a
escuro
sonho
Mas Sua luz projeta-0,
E breve.
Ah, quanto mais povo a alma falta,
ao

Mais a minha alma atlântica se exalta


E entorna,
E em mim, n u m mar que n ão tem tempo ou 'spaço,
vulto baço
Vejo entre a cerração teu
Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,


embora
Demore-a Deus, chame-lhe a alma
Mistério.
e a névoa
finda:
Surges ao sol em mim, ainda
A mesma, e trazes o pendão
Do Império.
101
Trata-se do último poema da
segunda parte de Mensagem,
onde são exaltados os Mar Portun XIL.
acontecimentos e os heróis das
mas
portuguesas, constituindo, também, um descobertasrtuguês,
ma PRECE

estruturadora da última parte da prenúncio da linha tems


O poema é, sem Mensagem-O Encoberto. m ca
dúvida, um apeloa uma entidade
"Senhor"- em quem o sujeito divina e superiar Senhor, a noite veioea alma é vil.
-

poético deposita a
esperança de um futuro Tanta foi a tormenta ea
redentor. Se, na primeira vontade!
quadra, domina um sentimento de Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
ea disforia se torna notória, no resto do poema sucede desencanto
nem tudo é irremediável a certeza de que O universal e a saudade.
de que é mar

pelo menos, conquistar uma


e
possível recuperar a grandeza
ou, perdida,
possível restaurar o passado
outra
grandeza. O poeta acredita que é Mas chama, que a vida em nós criou,
grandioso a

positivo.Assim, para ele, a esperançaavançar


e
para um futuro promissor é finda.
e Se ainda há vida ainda não
ainda não está ainda sobrevive, a chama da ocultou:
Ofrio morto em cinzas
vida a
completamente extinta, ela apenas dorme debaixo do ainda.
morto em cinzas "frio A mão do vento pode ergué-la
O que é
preciso, então? Basta que a "mão do
vento" a desgraça ou ânsia
-

ou
apenas golpe de vontade e, uma vez erga, basta Dá o sopro, a aragem
-

um
o
esforço ganhará forma e, de novo, levantado o
sopro, a aragem, Com que a chama do esforço se remoça,
haverá a certeza de a Distância
Distância" Esta diståncia não tem conquistar a
-

E outra vez conquistemos

será, sobretudo, "nossa, ou necessariamente que ser a do mar, mas Do mar ou outra, mas que seja
nossa!

do desencanto do
seja, essa "Distância"'
será a condição redentora
povo português. O tom das
duas quadras é,
um claro
apelo à ação, numa antevisão de pois, o de
Império um império não mais material,
-
um novo
império o Quinto -

porque eterno.
Este texto, que abre a terceira parte de PRIMEIRo
Mensagem, é o
segundo Doer D. SEBASTIÃO
pessoano dedicado a D. Sebasti o. ema
utilizando um discurso de primeira pessoa,
O poema,
inicia-se com
um
apelodo rei aos portugueses, a quem o monarca transmite a
de um futuro promissor.
Para o rei, a "hora
esperanca Sperai! Caí no areale na hora adversa
adversa"
do presente nãoé mais concede aos seus
do que o intervalo" necessário
para o início da realizaç o de um Que Deus
grande alma imersa
que esteja
a
sonho universal e eterno "EO que eu me sonhei Para o intervalo em
que eterno dura"- que
são Deus.
ultrapassará a precariedade do momento em que o D. Sebastião Em sonhos que
aquele que desapareceu em Alcácer-Quibir, caiu no areal. histórico,
a desventura
A derrota em areal e a morte e
Alcácer-Quibir é, assim, apresentada como um 'mal Que importa o
necessário' para se ultrapassar a dimensão Se Deus me guardei?
material e efémera do império com

português- 'o arealea morte e a desventura"-e se EO que eu me sonhei que eterno dura,
começar a construir uma
outra grandeza possuidora de uma dimensão espiritual e E Esse que regressarei.
eterna, o Quinto
Império, inspirado na figura do rei -"É Esse que regressarei.: O rei assume-se
como uma
espécie de Messias, um enviado de Deus
aos seus"; "Se com Deus -"Que Deus concede
me guardei?" -, um salvador que conduzirá o seu
povo à glória eterna.
Neste poema, Pessoa assume, de forma
anunciando ao longo de Mensagem: o futuro xplicita, o que já vinha SEGUND0

o QUINTO IMPÉRIO
redentor de
indissociavelmente ligado à construção de um império de Portugal est
espirituais e eternas, o Quinto Império. caracteristirae
sticas
As primeiras três estrofes
constituem uma reflexão sobre a Triste de quem vive em casa,
humana. Partindo de afirmações condicão
provocatórias controversas Contente com o seu lar,
/ Contente comoseu lar" e Triste de quem é -Tristete
e
de quem vive em casa, de
Sem que um sonho, no erguer
asa,

pretende-se mostrar que a felicidade torna o homem felizt"-, brasa


mando-o num ser sem sonhos, acomodado, transfor- Faça até mais rubra a
que apenas "Vive porque a vida Da lareira a abandonar!
nada mais faz durante a dura" e que
sua existência do
que esperar a morte: "Ter
por vida
a
sepultura". A conclusão deste momento
reflexivo é a de que ser homem Triste de quem éfeliz!
passapelo descontentamento que leva à realização de Vive porque a vida
dura.
Nas duas últimas grandes obras.
estrofes, o poeta desvenda a 'chave' do Nada na alma lhe diz
Assim, desencanto do poema.
presente-"'erma
o
a lição da raiz
noite"-será ponto partida
-

de Mais que
para uma nova era, designada como "dia claro" Esta nova era distancia-se Ter por vida a sepultura.
das glórias
materiais-"Quem vem vivera verdade/Que
-e
apresenta-se comoa continuadora das matrizes
morreu
D.Sebastião?" somem
Eras sobre eras se

a identidade espirituais que moldaram


europeia ao longo dos séculos-Grécia (a No tempo que
em eras
vem.

ocidental), Roma (a potência que expandiu os origem da civilizaçåão descontente é ser homem.
fundamentos greco-latinos), Ser
Cristandade (a dimensão espiritual e humanista Que as forças cegas
se domem
europeia), Europa (influencia alma tem!
europeia no resto do mundo, operada após a Pela visão que a

Tempos tiveram o seu ciclo de vida, mas o renascença).


Estes "quatro/
Quinto Império, império da
línguae da cultura portuguesas, näão só conduzirá Portugal a uma nova
glória, como será eterno e universal.
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
verdade
Quem vem viver a
Que m o r r e u D. Sebastião?
Este é oterceiro dos quatro poemas cuja
figura central é D. 7ERCEIRo
designado pelo epíteto de O Desejado Sebastiäa aqui O DESEJADO
O poema constitui-se
como um
para que regresse e conduza o
apelo
ao
rei-"Galaaz com pátria"
seu
povo- "Aalma
A Eucaristia Nova", ou penitente
seja, o leve até a uma dlimensão do teu povo"-atá entre sombras e dizeres,
ilumine o mundo "Que sua Luz ao
mundo
espiritual que Onde quer que,
As referências às dividido
lendas do ciclo arturiano /Revele Santo Graal"
o Jazas, remoto, sente-te sonhado,
(lendas celtas E ergue-te do fundo de não-seres
constituem uma constante neste texto.
Assim, medievais)
dos recordemos que Galaaz é Para teu novo fado!
um cavaleiros da Távola Redonda,
cavaleiro
o
privilégio de contemplar o Santo Graal, o cáliceimaculado, que terátido
na Ultima Ceia, pelo qual Cristo bebera Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
simbolo de pureza e da
Desejado como um novo Galaaz plenitude interior. Ao apresentar o Mas já no auge da suprema prova,
(aquele que não se separa da sua A alma penitente do teu povo
mágica e sagrada, a Excalibur), a espada
intenção de Pessoa é evidente: o herói, A Eucaristia Nova.
que conduzirá Portugal e o seu
povo a uma nova glória, será um
Paz, um "Mestre da
Messias, um lider espiritual. Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
tal
Excalibur do Fim, em jeito
mundo dividido
Que sua Luz ao
Graal!
Revele o Santo
O caráter místico e ocultista que percorre
terceira parte de
a QUARTO
Mensaoen
gem
acentua-se neste poema, que nos leva até certas ilhas AS ILHAS AFORTUNADAS
enigmáticas -"São terras sem ter lugar" -, onde mora o Rei que
misteriosas
o povo
português, essa "criança / Dormente, conduzindo-o a
despertará
novo e grandioso.
um futuro
ondas
Que voz vem no som das
Dessas ilhas misteriosas desprende-se uma voz
que incita a novas Que não é a voz do mar?
descobertas, porque "não éa voz do mar", também as
mas,
Ea voz de alguém que nos fala,
não serão de ordem material e, assim, esse Rei
descobertas
que espera que o seu povo Mas se escutamos, cala,
que,
acorde é o novo Messias,
que transformaráos
seus súbditos nos novos Por ter havido escutar
descobridores de uma India nova, aquela que dará
origem ao Quinto
Império. E só se, meio dormindo,
ouvimos,
Sem saber de ouvir
Que ela nos diz a esperança

A que, como uma criança


sorrimos.
Dormente, a dormir

São ilhas afortunadas,

São terras sem ter lugar,


Onde o Rei mora esperando
despertanda
Mas, se vamos

Cala a voz, e
há só o mar.
Contrariamente ao que é comum aceitar-se, o mito do QUINTO

Encoberto no ima. O ENCOBERTO


ginário nacional é anterior ao desaparecimento do rei D. a-

Alcácer-Quibir. Na verdade, são as famosas trovas do Sebastiäão em


em

nascido em 1500, de alcunha o Bandarra, as


sapateiro Gonçalo Anes,
primeiras a referir a vinda,
desde Que símbolo fecundo
uma ilha envolta nevoeiro (dai a designação de
em

um rei messias determinado a salvar o


"encoberto"), de Vem na aurora ansiosa?
seu povo
prisioneiro. Estas trovas são morta do Mundo
claramente influenciadas pelas narrativas arturianas e Na Cruz
foram
sobretudo em épocas de crise, de acordo com os anseios dointerpretadas, A Vida, que é a Rosa.
momento. É,
pois, lógico que, após Alcácer-Quibir, o mito do Encoberto se
ligue indis- Que símbolo divino
sociavelmente à figura de D. Sebastião.
Neste poema (o último dedicado a D. Traz dia já visto?
o
Sebastiäo), o mito do Encoberto Destino,
surge ligado algumas referências do rosacrucianismo
a Na Cruz, que é o
(movimento cono- Cristo.
tado com algumas sociedades secretas, nomeadamente a A Rosa, que é o
Maçonaria,
com
quem Pessoa simpatizava) e dos misticismos cristão e nacionalista. Carlos
Que símbolo final
Castro da Silva Carvalho afirma, a propósito deste poema, que "a Rosa é
Mostra o sol já desperto?
simultaneamente o Cristo e o Encoberto, ambos são a Vida - o Cristo é a Vida e fatal
Na Cruz
morta

doMundo eo Encoberto éa vida da Nação'. Assim, e embora de uma forma Encoberto.


mais hermética que em outros poemas, O Encoberto anuncia a A Rosa do
necessidade
de um salvador que leve ao
ressurgimento da naç o.
23 Esta figura do imaginário mitico nacional, sapateiro de PRIMEIRO
profissão e quase con-
temporâneo de Nostradamus (astrólogo e profeta do início do século O BANDARRA
xVi,
nasceu em Trancoso em 1500 e morreu em 1566. Nas
suas trovas
proféticas,
anuncia a chegada de um "Encoberto, um salvador da
pátria, muito antes
do desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer-Quibir. O Sonhava, anónimo e disperso,
caráter profético visto,
Império por Deus
mesmo
das suas trovas valeu-lhe a perseguição da O
Inquisição.
Confuso como o Universo
Este poema de Pessoa constitui uma
homenagem a um homem que
sendo plebeu como Jesus Cristo, não sendo "santo nem herói, foi E plebeu como Jesus Cristo.
escolhido
por Deus "Mas Deus sagrou com Seu sinal" para anunciar
-
-

um novo
santo nem herói,
futuro para Portugal: "O Império por Deus mesmo visto. Não foi nem

com Seu sinal


Bandarra é mais um dos heróis de Mensagem, aqueles que Mas Deus sagrou
são foi
escolhidos por Deus para cumprirem uma missãotranscendente, que os
Este, cujo coração
mas Portugal.
Não português
ultrapassa eàqual nãopodem fugir. Amissão de Bandarra
foi anunciar
um novo
Portugal: "Este, cujo coração foi/Não português mas Portugal".
SEGUNDo

ANTÓNIO VIEIRA
António Vieira, missionáriojesuita a quemo poema exalta, nasceu em Lisboa
1607 e morreu na Bala, Brasil, em 1696. E, sem dúvida alguma, a
em figqura
cimeira do século XVil português, não só pelo seu papel fundamental na grandeza.
o azul e tem
defesa dos direitos dos indios brasileiros contra os desmandos dos colonos, O céu 'strela
teve a fama eàglória tem,
mas também pela ação, junto das principais cortes europeias, no reconhe- Este, que
portuguesa,
da lingua
cimento da restauração da independência portuguesa após os sessenta Imperador
também.
céu
anos do domínio flipino. Mas a importância de Vieira assenta, sobretudo, Foi-nos um

na forma como, através dos seus textos, enriqueceue consolidou a língua


seu de meditar,
imenso espaço
portuguesa, facto que o poema realça- "mperador da lingua portuguesa' No
de visão,
de forma e
António Vieira é, igualmente, na senda de Bandarra, um dos visio- Constelado

claro do luar,
nários que acredita que a Portugal estará reservada uma missão superior prenúncio
Surge,
El-Rei D. Sebastião.
e divina: a construção de um Quinto Império, universal e eterno -A
madrugada irreal do Quinto Império': Daí que o poeta atribua a Vieira uma etéreo.
é luar: é luz do
não
ânsia de absoluto e de infinito -

"Foi-nos um céu também"- eo carac- Mas não,


céu amplo
de desejo,
terize como um sonhadore um visionário -

"No imenso espaço seu de E um dia; e, no


Quinto
Império
irreal do
meditar, (..)/ Surge, prenúncio claro do luar,/El-Rei D. Sebastião".
madrugada
A
do Tejo.
margens
Doira as
TERCEIROo

Este é o único poema de Mensagem que não apresenta titulo, sendo.por


esse facto, considerado como aquele em que o discurso se identifica com
n
o próprio Pessoa.

O poema estrutura-se em torno do desencanto e da máqoa livro à beira-mágoa.


Screvo meu

do poeta "dias vácuos", o vazio que subjaz à ruína do


que sente os seus que ter.
tem
Meu coração não
império de quinhentos, e que anseia pela chegada de um Messias, de um
Tenho meus olhos quentes de água.
salvador, que possa restituir a Portugal a grandeza perdida "Quando dás viver.
Só tu, Senhor,
me

virás, ó Encoberto,/Sonho das eras portugués


O predominio das interrogações revela dor do presente e a
essa te pensar
Só te sentir e
ánsia da chegada da "Nova Terra" e dos "Novos Céus: Atente-se, ainda, na vácuos enche
e doura.
Meus dias
identificação realizada pelo sujeito poético entre o sonho e a entidade voltar?
Masquando quererás Hora?
divina inspiradora- "Quando, meu Sonho emeu Senhor?"-que o torna uma Rei? Quando
éa
Quando é o
das forças impulsionadoras da vontade humana.
Cristo
a ser o
Quando virás
morreuo
falso Deus,
De a quem existo
do mal que
Ea despertar Céus?
Novos
os
A Nova Terra e

Encoberto,
ó
Quando virás,
portugues,
Sonho das
eras
incerto
sopro
mais que o
Deus fez?
Tornar-me

anseio que
De um grande

voltando,
quererás,
Ah, quando amor:
esperança
Fazer minha
quando?
da saudade
Da névoa e
meu
Senhor?
Sonhoe
meu
Quando,
Fste Doema narrativo evoca a saga maritima dos irmãos Corte-Real: aspar, PRIMEIRo
Miquel e Vasco. Os dois primeiros perderam-se no mar da Terra Nov e, NOITE
quando o último pediu autorização ao rei D. Manuel I para partir em busc

dos irmãos, o rei negou-lha.

Partindo deste episódio factual da nossa história, o poeta faz dele A nau de um deles tinha-se
perdido
os dois irmãos perdidos -'o Poder e o Renome"- sim-
No mar indefinido.
uma leitura simbólica:
bolizam a grandeza perdida, enquanto o irmäo que o rei não deixou O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
partir, aquele que vive na "vil(...)prisãoservil',
éo retrato de um país perdido
à espera de recuperar a gloria do passado: "Ea busca de quem somos, na Da descoberta ir em procura
distância/De nós". Do irmão no mar sem fim ea névoa escura.
Se, no primeiro momento do texto, é o Rei que impede o herói de
missão, no final do poema é Deus que se opõe a que o destino Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
cumprir a sua

do homem (e, por extensäo, o da nação que encarna, Portugal) se cumpra. Volveu do fim profundo
Atente-se, ainda, na carga negativa do titulo do poema, que se opõe Do mar ignoto à pária por quem dera
à esperança que a manh de nevoeiro sebastianista transmite. O enigma que fhzera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
El-Rei negou.
Licença de os buscar, e
Como a um cativo, O ouvem a
passar
Os servos do solar.
E, quando o veem, veem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.

Senhor, os dois irmåos do nosso Nome-


O Poder e o Renome -

Ambos se foram pelo mar da idade


A tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói,

Queremos ir buscá-los, desta vil


Nossa prisão servil:
E a busca de quem somos, na diståncia

De nós; e, em febre de ânsia,


A Deus as mãos alçamos.

Mas Deus não dá licença que partamos.


SEGUNDo

As interrogações que abrem o poema oscilam entre o desencanto con


n-
TORMENTA
certeza de que
sequência do abismo em que Portugal jaz, basta quere
e a

a noite que nos submergiu.


para ultrapassar
oúltimo versoda primeira estrofe-"Odesejarpoderquerer-aponta
Que jaz no abismo sob o mar
que se ergue?
claramente para a certeza futuro será diferente do presente.
de que o
já Nós, Portugal, o poder ser.
Será a força divina, simbolizada no "relâmpago, farol de Deus" que
Que inquietação do fundo nos soergue?
impulsionará Portugal para um tempo grandioso, o da construção do
O desejar poder querer.
Quinto Império.

Isto, mistério de que a noite é o fausto...


e o

Mas súbito, onde o vento ruge,


O relâmpago, farol de Deus, um hausto
Brilha e o mar scuro 'struge.
TERCEIR0
seguir a Tormenta, ilustrando
posição deste poema, logo
a
Atente-se na
o
CALMA
à tempestade, vem a bonança». O poeta parece
aforismo popular «A seguir
um periodo de desencanto, um nova
assim, querer indiciar que, após
tempo se aproxima. Que costa é que as ondas contam
Partindo de uma série de questóes que evidenciam a dualidade maté-
E se não pode encontrar
ria/espírito -"0 que é que as ondas encontram/E
nunca se vê surgindo?"-
Por mais naus que haja no mar?
o sujeito poético transmite
a dificuldade em apreender uma realidade
O que é que as ondas encontram
misteriosa - "lha próxima e remota,/Que nos ouvidos persiste, / Para a
E nunca se vê surgindo?
vista não existe"Aí, perdida no tempo e no espaço, talvez se encontre a ilha
encoberta, onde o Rei desterrado espera o momento certo para resgatar
Este som de o mar praiar
Portugal do desencanto do presente.
Onde é que está existindo?

Ilha próxima e remota,


Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
A praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?

Haverá rasgões no espaço

Que deem para outro lado,


E que, um deles encontrado,

Aqui, onde há só sargaço


Surja umailha velada,
O país afortunado
desterrado
Que guarda o Rei
Em sua vida encantada?
QUARTO

138.13 Este poema e OMostrengo de Mar Portugues constituem como que o verso
ANTEMANH
realidade.
eoreverso de uma mesma

Na verdade, enquanto em O Mostrengo, o monstro é o inimigo que o


nome do povo português e da vontade
homem do leme tenta vencer, em
inflexivel do seu rei, D. João ll, neste poema, o monstro, jácompletamente
O mostrengo que está no fim do mar
EIRA PARTE
do senhor que nada mais
Veio das trevas a procurar
NCOBERTO
submisso, não entende a passividade seu

faz que "lembrar /Que desvendou o Segundo Mundo, / Nem o Terceiro quer
A madrugada do novo dia,
S TEMPOS
Do novo dia sem acabar;
desvendar?:
A imagem do mostrengo que tenta acordar aquele que"foi outrora E disse, «Quem é que dorme a lembrar
Quarto
ntemanhà
Senhor do Mar simboliza a revolta daqueles que se recusam a aceitar Que desvendou o Segundo Mundo,
o desencanto do presente e que acreditam que é possível recuperar, Nem o Terceiro quer desvendar?»
embora de modo diverso, a grandeza do passado, através co desvendar
do Terceiro Mundo, ou seja, o Quinto Império. Eo som na treva de ele a rodar
Faz mau o sono, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo

Que seu senhor veio aqui busca.


Que veio aqui seu senhor chamar
-

Chamar Aquele que está dormindo


Efoi outrora Senhor do Mar.
QUINTO

uma caracterização negativa de NEVOEIRO


Mensagem apresenta
O poema final de
Portugal, país marcado pela
falta de identidade -"nem rei nem lei, nem paz
"Brilho luze sem
falta de entusiasmo -"fulgor baço,
sem
nem guerra- pela
"Ninguém sabe que coisa quer"-, pela falta Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
arder-pela falta de objetivos
-

-"Nem o que é mal nem o que é


bem'. Define com perfil e ser
de valores morais
mergulhado na incerteza, vivendo
Portugal é um país fragmentado, Este fulgor baço da terra
asombra de um passado glorioso que morreu-"Comoo que o
fogo-fátuo
Que é Portugal a entristecer
envolve Portugal traz em si o gérmenda Brilho sem luz e sem arder,
encera'Noentanto,o nevoeiro que
anunciado pela exclamação final-"Éa Como o que o fogo-fátuo encerra
mudança, indicia um outro tempo
irm os). É o tempo
hora"-e pela saudação latina -"Valete, Fratres"(Saúde,
do Quinto Império, que dará à línguaeà cultura portuguesas uma Ninguém sabe que coisa quer.
dimensão eterna e universal Ninguém conhece que alma tem,
é bem.
Nem que é mal nem o que
o

(Que ànsia distante perto chora?)


Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nadaé inteiro.
OPortugal, hoje és nevoeir...

ÉaHora
Valete, Frutres

SCOLASEc.

DARIAgIA DDEE S/U.


BIBAIOTECA

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