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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA – DISCALCULIA

1. AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA

 Como um aluno pode ler um parágrafo em voz em voz alta impecavelmente e não
recordar seu conteúdo cinco minutos depois?
 Como um aluno que lê três anos à frente do nível de sua série apresenta um
trabalho por escrito completamente incompreensível?
 Como um adolescente se sai muito bem em geometria e tem um desempenho
inferior em álgebra?

O que esses três estudantes têm em comum?

O que as crianças, adolescentes e adultos com dificuldades de aprendizagem (DA) têm


em comum é o baixo desempenho inesperado.

"Dificuldades de aprendizagem" é um termo genérico que diz respeito a um grupo


heterogêneo de desordens manifestadas por problemas significativos na aquisição e uso
das capacidades de escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou matemáticas.

As dificuldades de aprendizagem raramente têm uma única causa. Supostamente têm


base biológica (Lesão cerebral, alterações no desenvolvimento cerebral, desequilíbrios
químicos, hereditariedade). Mas é o ambiente-família, escola, comunidade - que
determina a gravidade do impacto da dificuldade.

Vários autores, como Sara Pain, Alicia Fernández, Maria Lucia Weiss chamam atenção
para o fato de que a maior percentual de fracasso na produção escolar, de estudantes
encaminhadas a consultórios e clínicas, encontram-se no âmbito do problema de
aprendizagem reativo, produzido e incrementado pelo próprio ambiente escolar.

Na pessoa com dificuldade, o desempenho não é compatível com a capacidade


cognitiva; a dificuldade ultrapassa a enfrentada por seus colegas de turma sendo,
geralmente, resistente ao seu esforço pessoal e ao de seus professores em superá-la,
gerando uma auto estima negativa podendo também surgir comportamento que causam
problemas de aprendizagem, complicando as dificuldades na escola.

Os problemas na aprendizagem de Matemática que são apontados em todos os níveis


de ensino não são novos: De geração a geração a Matemática ocupa o posto de
disciplina mais difícil e odiada, o que torna difícil sua assimilação pelos estudantes. Por
isso, antes de falar em dificuldades de aprendizagem em Matemática é necessário
verificar se o problema não está no currículo ou na metodologia utilizada.

1.1. Algumas causas das dificuldades de aprendizagem em Matemática

 Ansiedade e medo de fracassar dos estudantes - em consequência de atitudes


transmitidas por pais e professores e da metodologia e dos conteúdos muitas
vezes inadequados.

 Falta de motivação - que pode ter sua origem na relação da própria família com
os estudos (falta de importância dada pelos pais ao conhecimento em si; na
ligação da escola com castigos ou a algum tipo de pressão; questões emocionais
- ansiedade e agitação gerados por acontecimentos novos; ansiedade exagerada
causada pelos efeitos de medicamentos que interferem no ânimo ou causam
problemas de memória ou concentração; problemas de maturação do Sistema
Nervoso Central; Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade – TDAH.

 Distúrbios de memória auditiva:

 A criança não consegue ouvir os enunciados que lhes são passados


oralmente, sendo assim, não conseguem guardar os fatos, isto lhe
incapacitaria para resolver os problemas matemáticos.
 Problemas de reorganização auditiva: a criança reconhece o numero quando
ouve, mas tem dificuldade de lembrar-se do número com rapidez.

 Distúrbios de percepção visual: A criança pode trocar 6 por 9, ou 3 por 8 ou 2 por


5 por exemplo. Por não conseguirem se lembrar da aparência elas têm dificuldade
em realizar cálculos.

 Distúrbios de escrita: Indivíduos com disgrafia têm dificuldade de escrever letras


e números.

 Distúrbios de leitura: Os disléxicos e outras pessoas com distúrbios de leitura


apresentam dificuldade em ler o enunciado do problema, mas podem fazer
cálculos quando o problema é lido em voz alta. É bom lembrar que os disléxicos
podem ser excelentes matemáticos, tendo habilidade de visualização em três
dimensões, que as ajudam a assimilar conceitos, podendo resolver cálculos
mentalmente mesmo sem decompor o cálculo. Podem apresentar dificuldade na
leitura do problema, mas não na interpretação.
2. A DISCALCULIA

2.1. Confusões com os sinais matemáticos e dificuldades para fazer simples


continhas podem estar ligadas a um distúrbio neurológico.

Semelhante à dislexia - dificuldade com o aprendizado da leitura e da escrita -, a


discalculia infantil ocorre em razão de uma falha na formação dos circuitos neuronais, ou
seja, na rede por onde passam os impulsos nervosos. Normalmente os neurônios -
células do sistema nervoso - transmitem informações quimicamente através de uma
rede. A falha de quem sofre de discalculia está na conexão dos neurônios localizados na
parte superior do cérebro, área responsável pelo reconhecimento dos símbolos.

Não é uma doença e não é, necessariamente, uma condição crônica. Em geral é


encontrada em combinação com o Transtorno da Leitura, Transtorno da Expressão
Escrita, do TDHA. Não é relacionada à ausência de habilidades matemáticas básicas,
como contagem, mas na forma com que a criança associa essas habilidades com o
mundo que a cerca. Estima-se que apenas 1% das crianças em idade escolar tem
Transtorno da Matemática isoladamente.
APTIDÕES ESPERADAS DIFICULDADES
3 a 6 anos Problemas em nomear quantidades
Ter compreensão dos conceitos de igual e matemáticas, números, termos,
diferente, curto e longo, grande e pequeno, símbolos.
menos que e mais que. Classificar objetos
pelo tamanho, cor e forma Reconhecer Insucesso ao enumerar, comparar,
números de 0 a 9 e contar até 10. Nomear manipular objetos reais ou em
formas. Reproduzir formas e figuras. imagens.
6 a 12 anos
Agrupar objetos de 10 em 10. Ler e escrever
de 0 a 99. Nomear o valor do dinheiro. Dizer Leitura e escrita incorreta dos símbolos
a hora. Realizar operações matemáticas matemáticos
como soma e subtração. Começar a usar
mapas. Compreender metades, quartas
partes e números ordinais.
12 a 16 anos
Capacidade para usar números na vida Falta de compreensão dos conceitos
cotidiana. Uso de calculadoras. Leitura de matemáticos.
quadros, gráficos e mapas. Entendimento Dificuldade na execução mental e
do conceito de probabilidade. concreta de cálculos numéricos.
Desenvolvimento de problemas.

Fonte: http://crescer.globo.com/edic/ed77/rep_discalculia.htm
2.2. Requisitos necessários para o aprendizado de Matemática e as
dificuldades causadas pela discalculia:

Na discalculia, a capacidade Matemática para a realização de operações aritméticas,


cálculo e raciocínio matemático, encontra-se substancialmente inferior à média esperada
para a idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo.

As dificuldades da capacidade Matemática apresentadas pelo indivíduo trazem prejuízos


significativos em tarefas da vida diária que exigem tal habilidade. Em caso de presença
de algum déficit sensorial, as dificuldades matemáticas excedem aquelas geralmente a
estas associadas.

A) Diversas habilidades podem estar prejudicadas na discalculia:

 Linguísticas - (compreensão e nomeação de termos, operações ou conceitos


matemáticos, e transposição de problemas escritos em símbolos matemáticos).
 Perceptuais - (reconhecimento de símbolos numéricos ou aritméticos, ou
agrupamento de objetos em conjuntos).
 De atenção - (copiar números ou cifras, observar sinais de operação).
 Matemáticas - (dar sequência a etapas matemáticas, contar objetos e aprender
tabuadas de multiplicação).
 Dificuldade na leitura, escrita e compreensão de números - em realizar operações
matemáticas, classificar números e colocá-los em sequência; na compreensão de
conceitos matemáticos; em lidar com dinheiro e em aprender a ver as horas, etc.

B) O diagnóstico

Na pré-escola, já é possível notar algum sinal do distúrbio, quando a criança apresenta


dificuldade em responder às relações matemáticas propostas - como igual e diferente,
pequeno e grande. Mas ainda é cedo para um diagnóstico preciso. É só a partir dos 7 ou
8 anos, com a introdução dos símbolos específicos da matemática e das operações
básicas, que os sintomas se tornam mais visíveis.

É importante chegar a um diagnóstico o mais rapidamente para iniciar as intervenções


adequadas. O diagnóstico deve ser feito por uma equipe multidisciplinar - Neurologista,
Psicopedagogo, Fonoaudiólogo, Psicólogo - para um encaminhamento correto. Não
devemos ignorar que a participação da família e da escola é fundamental no
reconhecimento dos sinais de dificuldades.

Porém, devemos ter muita cautela quanto ao diagnóstico da discalculia ou qualquer DA.
Apesar de o professor dizer que não faz um diagnóstico da criança, ele estabelece que
as dificuldades de aprendizagem são possíveis transtornos específicos de
aprendizagem, tendo como causas a imaturidade, problemas psicológicos e sociais,
justificado assim o por quê da criança não aprender.
Antes de diagnosticar a discalculia, devem ser eliminadas outras causas de dificuldades,
como o ensino inadequado ou incorreto; os problemas com visão; audição ou os danos
ou doenças neurológicas e doenças psiquiátricas.
Devemos eliminar também a possibilidade de a criança apresentar acalculia ou pseudo
discalculia.

A acalculia é a total falta de habilidade para desenvolver qualquer tarefa matemática,


que geralmente indica um dano cerebral. O problema aparece quando a criança é
incapaz de aprender os princípios básicos de contagem. A falta de habilidade se torna
mais evidente quando vai aprender a ordem dos números de 1 -10 ou quando vai resolver
uma simples adição de 4 + 2 = 6. O grupo de pessoas com acalculia representa menos
de 1% da população.

A pseudo discalculia apresenta características semelhantes às da discalculia, mas é


resultado de bloqueios emocionais. O estudante tem habilidade cognitiva para ter êxito
em matemática. As meninas são a maioria esmagadora de estudantes com pseudo
discalculia. Os comentários negativos dos meninos levam à falta de confiança. Para
superar esta dificuldade o caminho são conversas com pais, professores e Orientador
(a) Educacional; trabalho psicopedagógico para elevar auto estima da criança e, nos
casos mais difíceis, acompanhamento de Psicólogo.

C) Efeitos

O desconhecimento dos pais, professores e até colegas podem abalar ainda mais a
autoestima do estudante com críticas e punições.

A discalculia pode comprometer o desenvolvimento escolar de maneira mais ampla.

Inseguro devido à sua limitação, o estudante geralmente tem medo de enfrentar novas
experiências de aprendizagem por acreditar que não é capaz de evoluir. Pode também
adotar comportamentos inadequados tornando-se agressiva, apática ou desinteressada.

D) Alguns caminhos

A intervenção psicopedagógica propõe melhorar a imagem que a criança tem de si


mesma, valorizando as atividades nas quais ela se sai bem; descobrir como é o seu
próprio processo de aprendizagem - às vezes, ela tem um modo de raciocinar que não
é o padrão, estabelecendo uma lógica particular que foge ao usual - e a partir daí
trabalhar uma série de exercícios neuromotores e gráficos que vão ajudá-la a trabalhar
melhor com os símbolos e com os jogos, que irão ajudar na seriação, classificação,
habilidades psicomotoras, habilidades espaciais, contagem.
Quanto à gestão, é necessário que dê aos professores condições para que desenvolvam
atividades específicas com este aluno, sem necessidade de isolá-lo do resto da turma
nas outras disciplinas. Para isso, é importante disponibilizar:

 Desenvolvimento profissional para a equipe de professores.


 Tempo adequado para planejamento e colaboração entre eles.
 Turmas com um tamanho adequado para o desenvolvimento do trabalho.
 Profissionais e auxílio técnico apropriado.

As atividades interdisciplinares e transdisciplinares de cultura matemática são muitas. A


tarefa central do professor é saber sistematizar a informação recolhida, organizar os
tempos e os espaços adequados, tendo sempre presente os interesses, as motivações,
as dificuldades, as potencialidades intelectuais relacionadas com a faixa etária dos
alunos. Com o apoio necessário, o professor tem a incumbência de:

 Planejar atividades que facilitem o sucesso do aluno, a fim de melhorar seu auto
conceito e aumentar sua autoestima.
 Utilizar métodos variados.
 Explicar ao aluno suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre que
precisar.
 Não forçar o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter
conseguido.
 Propor jogos na sala.
 Procurar usar situações concretas, nos problemas.
 Permitir o uso de uma calculadora.
 Oferecer fácil acesso às tabelas e listas de fórmulas (não exija que o aluno
memorize).
 Dar mais tempo para o aluno fazer a tarefa.
 Utilizar recursos tecnológicos disponíveis.

E) Possibilidades

A discalculia pode ser curada?

Sim. O diagnóstico discalculia é sempre apenas uma descrição do atual estágio de


desenvolvimento, aplicável por um período máximo de um ano. Como a criança
desenvolve, as dificuldades que existiam no ano anterior podem ter minimizado ou quase
desaparecem. Se a criança está recebendo tratamento adequado, a possibilidade de
desenvolvimento da capacidade matemática é grande. No entanto, muitas vezes
algumas partes das dificuldades permanecem de uma forma suave. Por exemplo, as
dificuldades em recordar fatos numéricos. É comum que os estudantes continuem a ter
características destas dificuldades, de uma forma suave, em toda a vida adulta. A
capacidade de concentração, no entanto, geralmente melhora consideravelmente, e
muitas vezes vêm com a compreensão de conceitos matemáticos e símbolos.

As avaliações são somente válidas por um tempo relativamente curto: Um ano para
crianças e adolescente e menos de dois anos para adultos. Muitas vezes algumas partes
das dificuldades permanecem de uma forma suave, por exemplo, as dificuldades em
recordar fatos numéricos. É habitual que os estudantes irão continuar a ter
características destas dificuldades, de uma forma suave, em toda a vida adulta.
Capacidade de concentração, no entanto, geralmente melhora consideravelmente, e que
muitas vezes vem com a compreensão de conceitos matemáticos e símbolos.

3. CONCLUSÃO

É um grande desafio identificar, diagnosticar e fazer as intervenções necessárias para


que a aprendizagem do aluno seja satisfatória, para sua vida acadêmica e para sua
autoestima. É necessário atenção para não rotular, condenando um aluno para o resto
de sua vida.

As dificuldades de aprendizagem ainda são assunto pouco explorado nas escolas. O


diagnóstico equivocado leva a encaminhamento para tratamentos desnecessários e à
exclusão, tirando a oportunidade do aluno de superar suas dificuldades.

É preciso levar o tema para dentro da escola - não como assunto pontual, mas numa
discussão permanente -, contemplando as diversas dimensões da vida do aluno, como
mais um instrumento para seu desenvolvimento integral, visto que as dificuldades de
aprendizagem não têm como causa apenas um fator.

Alguns comportamentos que causam problemas de aprendizagem complicando as


dificuldades na escola:

 Falta de controle dos impulsos - toca tudo ou todos que despertam seu interesse,
verbaliza suas observações sem pensar, interrompe ou muda abruptamente de
assunto em conversas, tem dificuldade para esperar ou revezar com outras
pessoas.
 Dificuldade para seguir instruções- pede ajuda repetidamente mesmo nas tarefas
mais simples (os enganos são cometidos porque as instruções não são
completamente entendidas).
 Dificuldade de conversação - dificuldade em encontrar as palavras certas, ou
perambula sem cessar tentando encontrá-las
 Distração - frequentemente perde a lição, as roupas e outros objetos seus,
esquece-se de fazer as tarefas e trabalhos, tem dificuldade em lembrar
compromissos ou ocasiões sociais.
 Inflexibilidade- teima em fazer as coisas à sua maneira, mesmo que esta não
funcione, resiste a sugestões e a ofertas de ajuda.
 Fraco planejamento e habilidades organizacionais- parece não ter noção de
tempo e com frequência chega atrasada ou despreparada, não tem ideia de como
começar ou de como dividir o trabalho em segmentos manejáveis quando lhe são
dadas várias tarefas ou uma tarefa complexa com várias partes.
 Falta de destreza - parece desajeitada e sem coordenação – geralmente deixa
cair as coisas ou as derrama – ou apalpa e derruba os objetos, pode ter uma
caligrafia péssima, é vista como completamente inepta em esportes e jogos.
 Imaturidade social - age como se fosse mais jovem que sua idade cronológica e
pode preferir brincar com pessoas menores.

REFERÊNCIAS

GENTILE, Paula. Tropeçando em números. In http://crescer.globo.com/edic/ed77


http://discalculicos.blogspot.com/2007/04/discalculia.html

SMITH, Corinne; STRICK, Lisa.Dificuldades de aprendizagem de A a Z. Um guia


completo para pais e educadores. Trad. Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed, 2001.

WEISS, Alba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia R. A Informática e os Problemas


Escolares de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 1999.

Prof.ª Ms. Ivonete Sacramento – I Simpósio Internacional do Ensino da Matemática – Salvador –


Ba – 18 a 20 de setembro de 2008 – Palestra 17 – Dificuldades de Aprendizagem em Matemática

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