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02/05/2023

Desenvolvimento cognitivo – Piaget

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JEAN PIAGET (1896-1980)

Psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu


trabalho pioneiro no campo da inteligência
infantil. Passou grande parte de sua carreira
profissional interagindo com crianças e
estudando seu processo de raciocínio.

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O desenvolvimento cognitivo

Os trabalhos de Piaget têm tido uma maior divulgação neste âmbito.

De acordo com este autor, o desenvolvimento consiste numa reorganização das estruturas
cognitivas construídas através da ação do sujeito, ao longo de uma sequência de estádios.

Perspetiva Interacionista: salienta a ação do sujeito como essencial para o desenvolvimento,


considerando que o conhecimento é um processo interativo que envolve o sujeito e o meio.

Perspetiva Estruturalista-construtivista: distingue diferentes estádios sequenciais e explica


como as estruturas se desenvolvem ao longo do desenvolvimento.

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O desenvolvimento cognitivo

O autor considera que os processos de pensamento mudam ao longo do desenvolvimento, de forma a que se
possa atribuir sentido ao que nos rodeia.

Este modelo descreve o modo como as pessoas atribuem sentido ao mundo, reunindo e organizando
informações.

Através do método clínico e da observação naturalista Piaget procurou descobrir como é que o conhecimento se
organiza e estrutura.

Estruturas mentais Experiências

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Construtivismo genético: processo interativo entre o sujeito e o meio, em que o indivíduo é o


protagonista ativo na construção do conhecimento

Concilia as perspetivas do inatismo (carga genética) e do behaviorismo (influência do meio).

O sujeito dispõe ao nascer de um património genético que lhe permite interagir com as
experiências, mas são as experiências que, ao serem assimiladas através das estruturas mentais,
permitem o desenvolvimento mental.

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Organização: processo de combinar informações e experiências em sistemas complexos


de conhecimentos. Integração do conhecimento num sistema, dando significado ao
contexto.

As pessoas nascem com uma tendência para organizar os processos de pensamento em


estruturas psicológicas: esquemas mentais de que um indivíduo dispõe.

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Esquemas: são os elementos básicos do pensamento; são padrões organizados de ações ou


pensamentos que permitem representar mentalmente objetos e acontecimentos do mundo
(para pensar e agir nas diferentes situações).
São modelos de comportamento repetíveis, generalizáveis e aperfeiçoáveis.

À medida que os processos de pensamento se tornam mais organizados e se desenvolvem novos


esquemas, o comportamento também se torna mais sofisticado e adequado ao ambiente.

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Inteligência: sistema adaptativo do indivíduo e das suas estruturas cognitivas ao


meio.

Adaptação: ajustamento que a nova informação acerca do ambiente, através dos


processos de assimilação e de acomodação. É o modo como o sujeito lida com a
nova informação.

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Além da tendência a organizar as estruturas psicológicas, as pessoas tendem também a adaptar-se ao


ambiente. Para isso utilizam dois processos essenciais:

Assimilação: atribuição de sentido aos acontecimentos, através da utilização dos esquemas existentes.
Encaixar novas informações em esquemas já existentes. Permite a integração do meio nas estruturas
mentais que o sujeito dispõe.

Sujeito Meio

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Acomodação: processo de alteração dos esquemas de que o indivíduo dispõe ou criação de novos

esquemas de modo a incorporar novas informações. Se as informações não encaixam nos esquemas

existentes são desenvolvidas novas estruturas mentais. É um movimento do organismo (sujeito), no

sentido de se submeter às exigências exteriores, adequando-se ao meio.

Sujeito Meio

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Equilibração: se aplicarmos um esquema específico a uma situação e funcionar, o equilíbrio existe.


Se o esquema não produzir um resultado satisfatório, surge o desequilíbrio.

Motiva a procurar uma solução através dos processos de assimilação e acomodação.

O pensamento muda e progride.

Para manter o equilíbrio, assimilamos continuamente novas informações, usando os esquemas existentes, e
acomodamos o pensamento sempre que as tentativas de assimilar produzem desequilíbrio.

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O desenvolvimento cognitivo

Fatores que influenciam o desenvolvimento cognitivo

Piaget identificou 4 fatores que interagem e influenciam as mudanças no pensamento.

Atuam em conjunto, de forma coordenada e ordenada.

1. Crescimento orgânico e maturação biológica: mudanças biológicas geneticamente programadas em cada ser
humano (sequência desenvolvimental que se processa da mesma forma). Ainda que a maturação dependa
fundamentalmente de fatores genéticos, a estimulação de meio pode acelerar ou retardar o processo de
maturação.

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O desenvolvimento cognitivo

Fatores que influenciam o desenvolvimento cognitivo

2. Experiência adquirida no contacto com os objetos: através da interação com o ambiente, a criança
explora, testa, observa, organiza informações e aprende, alterando os processos de pensamento.
Uma criança inibida de manipular objetos poderá ter o seu desenvolvimento comprometido.

3. Interações sociais e transmissão de normas sociais: o desenvolvimento cognitivo é influenciado


pela interação com os outros e pela transmissão social, ou seja, o conhecimento proporcionado pela
cultura e educação.

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O desenvolvimento cognitivo

Fatores que influenciam o desenvolvimento cognitivo

4. Equilíbrio ou autorregulação: as mudanças efetivas no pensamento ocorrem pelo processo

de equilibração, que consiste na procura de estabilidade. Através da organização, assimilação e

acomodação ocorre a equilibração. Trata-se, portanto, de um mecanismo autorregulador

através do qual uma nova aquisição se deve equilibrar com as anteriormente adquiridas.

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Piaget distingue quatro estádios de desenvolvimento, sendo cada um qualitativamente diferente dos outros, pois
novas aquisições permitem uma nova compreensão do mundo e uma nova relação com este.

•Ordem constante (imutável): no entanto, os sujeitos podem passar por longos períodos de transição entre os
estádios, podendo demonstrar caraterísticas de um estádio numa situação e caraterísticas de outro superior ou
inferior, noutras situações

•Construção progressiva das estruturas e sua integração hierárquica: novas aquisições são integradas na estrutura
anterior, organizando-se uma nova estrutura hierarquicamente superior

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

•Estrutura de conjunto (explica toda uma série de comportamentos que o sujeito consegue realizar)

•Transição gradual com nível de preparação e nível de acabamento

•A passagem de um estádio ao seguinte é um processo de equilíbrio no sentido de uma


autorregulação

•Inclui processos de formação (desiquilíbrio) e formas de equilíbrio formal

•O desenvolvimento ocorre no sentido de uma melhor adaptação do sujeito ao meio

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O desenvolvimento cognitivo

Perspetiva Piagetiana: Conceitos Fundamentais

Quatro estádios de desenvolvimento:

1. Estádio Sensório Motor (0-18/24 meses)

2. Estádio Pré-Operatório (2 aos 7 anos)

3. Estádio das Operações Concretas (7 aos 11/12 anos)

4. Estádio das Operações Formais (11/12 aos 15/16 anos)

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O desenvolvimento cognitivo
Evolução do conteúdo do pensamento

Pré-operatório: o pensamento incide sobre as perceções

Operatório concreto: o pensamento incide sobre o real observável e verificável. As operações são concretas,
reagindo diretamente sobre os objetos e situações atuais, não sendo a criança ainda capaz de raciocinar sobre
situações hipotéticas.

Operatório formal: o pensamento incide sobre dados hipotéticos, virtuais e possíveis ou prováveis e não
obrigatoriamente reais (ex. hipótese)
O pensamento formal vai para além da realidade, atingindo a noção de possibilidade.
A realidade pode sofrer alterações, não é estática.

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O desenvolvimento cognitivo

Período Sensório-motor: dos 0-2 anos (as idades são meras referências teóricas)

https://www.youtube.com/watch?v=xscJbx6T7E8&t=5s

Desenvolvimento dos reflexos iniciais, da exploração visual e dos movimentos e deslocamentos no sentido de

uma descentração progressiva do próprio corpo. O pensamento da criança envolve ver, ouvir, mover-se, tocar,

provar, …

Os bebés passam de seres que respondem principalmente por reflexos e comportamentos aleatórios para

crianças orientadas por objetivos.

Os bebés aprendem através do desenvolvimento dos sentidos e das atividades motoras.

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O desenvolvimento cognitivo

Desenvolvimento da noção de objeto

https://www.youtube.com/watch?v=pCwiYCQr3xs

Aquisição importante: permanência do objeto, ou seja, a criança começa a procurar o objeto, pois é capaz de

conservar a sua existência apesar do seu desaparecimento de campo percetivo. Crença de que os objetos

coexistem como entidades físicas distintas e independentes num meio espacio-temporal comum.

A noção de objeto não é inata, mas sim adquirida através da experiência, seguindo uma sequência universal e

invariante.

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O desenvolvimento cognitivo

Desenvolvimento da noção de objeto

Pressuposto metodológico: procura do objeto desaparecido (os objetos são escondidos e é


pedido à criança que os procure)

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O desenvolvimento cognitivo

Desenvolvimento da noção de objeto

Adualismo inicial (0-1 mês)

Estado de indiferenciação face ao mundo que a rodeia; Egocentrismo inicial

Até busca ativa do objeto desaparecido após consideração dos deslocamentos invisíveis (18-24 meses)

• A criança utiliza a evidência visual como base para imaginar ou representar o itinerário do objeto por diversos
locais

• A criança representa mentalmente o objeto durante os seus deslocamentos invisíveis e percebe-o como uma
entidade externa que existe e se move, independentemente do contacto percetivo e motor que possa ter com
esse objeto (sabe que o objeto existe e procura-o).

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Estádio: exercícios reflexos (0-1 mês)

O bebé possui uma bagagem reflexa que constitui a forma mais remota de desenvolvimento

intelectual

Exercita os reflexos e ganha algum controlo sobre os mesmos. Não coordena a informação recebida

através dos sentidos. Não agarra um objeto para o qual está a olhar.

À medida que o recém-nascido exercita os seus reflexos inatos, adquire algum controlo sobre os

mesmos (ex. alarga o sistema de sucção).

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Estádio: primeiros hábitos ou adaptações adquiridas (1 a 4 meses)

Esquemas primários: constituem-se a partir dos esquemas reflexos, através de um mecanismo de repetição –
reação circular primária

processo pelo qual o bebé aprende a reproduzir acontecimentos desejados e que


foram inicialmente descobertos por acaso

Ocorre uma evolução dos esquemas sensório-motores – reações circulares primárias – a criança centra-se no
próprio corpo

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Estádio: primeiros hábitos ou adaptações adquiridas (1 a 4 meses)

Coordenação ou integração dos esquemas primários:

Os bebés começam a coordenar a informação sensorial.

oAudição-visão

oPreensão-sução

oVisão-preensão

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O desenvolvimento cognitivo

3.º Estádio: reação circular e esquemas secundários (4 a 9 meses)

Início: marcado pela coordenação entre os esquemas de visão e de preensão.

A ação passa a estar centrada nos objetos do meio (interesse em manipular objetos)

Início da diferenciação entre a finalidade e o meio utlizado. Porém a ação ainda não é iniciada em

função da finalidade (há uma pré-intencionalidade)

Reação circular secundária: ação intencional, repetida, não apenas para proveito próprio, mas para

obter resultados para além do próprio corpo.

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O desenvolvimento cognitivo

4.º Estádio: coordenação de esquemas secundários (9 a 12 meses)

Diferenciação de esquemas assumidos como meio e esquemas assumidos como fim

Emergência da ação intencional

Utilização de objetos como intermediários para obter algo desejado

Previsão de acontecimentos independentes da sua ação, graças ao reconhecimento de indícios

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O desenvolvimento cognitivo

5.º Estádio: reação circular e esquemas terciários (12 a 18 meses)

Exploração ativa, tentativa e erro, das potencialidades e propriedades dos objetos – procura de formas novas de

atuar sobre os objetos.

Resolução de situações problemáticas por tentativa e erro.

A reprodução dos esquemas é diferenciada em função da procura da novidade (faz variar uma ação para ver o

que acontece)

A acomodação assume um papel de relevo

Envolve a compreensão das relações de causalidade e conduta plenamente intencional

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O desenvolvimento cognitivo

6.º Estádio: combinação mental de esquemas (18 aos 24 meses)

A resolução de problemas práticos passa a fazer-se mais rapidamente quase sem recurso à tentativa e

erro – dedução mental

A experimentação deixa de ser feita exclusivamente através da ação para passar a ser mental

Os esquemas de ação são interiorizados e passam a esquemas mentais – representação

Início da atividade simbólica

Inteligência prática, antes da linguagem

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O desenvolvimento cognitivo

Estádio Pré-operatório (2-7 anos)

A denominação deste estádio relaciona-se com o facto das crianças ainda não dominarem as
operações mentais, mas estarem na emergência desta aquisição.

O que marca a entrada no período pré-operatório é o aparecimento da função semiótica ou


simbólica, acontecimento que assinala o início do pensamento.

As crianças tornam-se mais sofisticadas no uso do pensamento simbólico, mas ainda não são capazes
de usar a lógica.

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Aparecimento da função simbólica e início da representação: pré-concetual

Função simbólica

Capacidade de representar objetos ou ações por símbolos (linguagem, gesto, imagem, objeto). A
inteligência passa a ser representativa baseada em esquemas de ação internos e simbólicos
mediante os quais a criança manipula a realidade não ainda diretamente, mas através de signos,
símbolos, imagens, conceitos, etc.

Evocação representativa de um objeto, pessoa ou acontecimento ausente, através de um significante


diferenciado (capacidade de usar representações mentais às quais atribui um significado).

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Aparecimento da função simbólica e início da representação: pré-concetual

Função simbólica

Ao longo do 2.º ano de vida emerge um conjunto de comportamentos que supõem a existência da diferenciação entre significantes e
significados:

1. Imitação diferida:

• Repetição de uma ação observada anteriormente

• Repetição na ausência do modelo

• Gesto imitativo

• Ênfase na acomodação

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Aparecimento da função simbólica e início da representação: pré-concetual

Função simbólica

2. Jogo simbólico:

• As crianças fazem com que um objeto seja/simbolize outra coisa (ex. boneca - criança)

• Utilização de esquemas simbólicos – são a primeira forma de jogo simbólico e consistem em esquemas
sensório-motores que são utilizados fora do seu contexto habitual (faz de conta)

• O real é transformado e assimilado às necessidades do EU – ênfase na assimilação deturpadora do real,


indispensável ao equilíbrio emocional e intelectual da criança (quando tudo é novidade é importante
conseguir adaptar-se)

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Aparecimento da função simbólica e início da representação: pré-concetual

Função simbólica

2. Jogo simbólico:

Esta capacidade sofre uma evolução ao longo deste período:

• Menor deturpação do real a nível dos significantes utilizados

• Colagem cada vez maior aos modelos reais (influência da socialização)

• Maior complexificação – inclusão de cenários e dramas (jogo dramático)

• Inclusão de parceiros, adultos, pares, imaginários (passagem do jogo individual ao jogo social)

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Aparecimento da função simbólica e início da representação: pré-concetual

Função simbólica

3. Imagem gráfica ou desenho:

• Traçado

• Primeiras formas de desenho: garatuja com significado ou realismo fortuito

• A criança é realista na intenção e na interpretação

• Ênfase na acomodação e evolução ao longo do tempo

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Aparecimento da função simbólica e início da representação: pré-concetual

Função simbólica

4. Linguagem ou evocação verbal:

• Uso de um sistema comum de símbolos (palavras)

• Vocalização, palavra

• As primeiras palavras não correspondem a uma atividade simbólica na medida em que surgem na presença do referente

• Utilização da expressão verbal na ausência do objeto, pessoa ou acontecimento a que se refere

• Ênfase na acomodação

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O desenvolvimento cognitivo

1.º Aparecimento da função simbólica e início da representação: pré-concetual

Função simbólica

Todas as condutas, exceto o jogo simbólico, procuram copiar a realidade.

Quando imita um modelo, a criança procura fazê-lo da forma mais fiel possível.

Quando fala procura utilizar as palavras que ouve.

Nesta situação está perante a função de acomodação: há um esforço de cópia da realidade, que implica
uma alteração dos seus esquemas em função da realidade.

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico


https://www.youtube.com/watch?v=M244b2aDcz8&t=98s
Esta nova capacidade de criar e combinar representações abre inúmeras possibilidades, pois liberta o
pensamento do «aqui e agora». A representação permite uma certa distância do aqui e do agora.

A criança ainda está muito próxima das ações e da sua perceção imediata – intuição

A criança é pouco flexível: está centrada nos acontecimentos estáticos, nos resultados (indícios
percetivos) e não nas transformações

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2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico


Inexistência de pensamento operatório.

A criança torna-se capaz de explicar o que se passa à sua volta, na natureza (lua, sol, nuvens, etc)
e no mundo dos objetos (como constroi a realidade).

A criança torna-se capaz de falar acerca dos seus pensamentos e acerca dos seus sonhos e
exprimir os seus raciocínios (lógica intuitiva).

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico

Principais Caraterísticas

2. Dificuldade em distinguir aparência e realidade (realismo)

A realidade é construída pela criança. A criança não tem consciência da sua subjetividade e por
isso coloca todo o real num plano único, devido à confusão das atribuições externas e internas.
A criança materializa as suas fantasias (ex. se sonhou que o lobo está no corredor, pode ter
medo de sair da sala).

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2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico

Principais Caraterísticas

3. Finalismo

A causalidade que a criança atribui aos objetos é de natureza finalista, ou seja, tudo é orientado para um fim.
Necessidade da existência de uma resposta causal e final. Exemplo: os rios existem para se poder pescar, tomar
banho ou passear de barco.

4. Artificialismo

As coisas são consideradas o resultado do fabrico humano. Ocorre uma explicação dos fenómenos naturais como
se fossem produzidos pelos seres humanos para lhes servir.

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico

Principais Caraterísticas

5. Animismo

A criança concebe como vivas e conscientes (dotadas de intenção e sentimentos) os fenómenos


inertes. Confere caraterísticas humanas a seres inanimados. A linguagem reflete este animismo: o sol
levanta-se, o sol deita-se.

6. Centração/dificuldade em se descentrar

A criança focaliza-se num dos aspetos da situação e negligencia os outros (deformação do raciocínio)

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2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico

Principais Caraterísticas

7. Centração nos estados

A criança apresenta configurações percetivas estáticas e centra-se nos estados dos objetos e não nas
transformações, dependendo dos indícios percetivos.

8. Irreversibilidade

A criança não relaciona os estados iniciais e finais dos processos de transformação e não estabelece
compensações (não há reciprocidade)

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico

Principais Caraterísticas

9. Inexistência de noção de conservação das quantidades.

10. Egocentrismo verbal

Reflete cerca de um terço da linguagem espontânea da criança – opõe-se a uma linguagem socializada (ex. ecolálias,
monólogos, monólogos coletivos)

11. Egocentrismo social: conceito de regra

Existe uma heteronomia moral, em que existe um respeito mítico e unilateral sobre a regra (preocupação se o outro
cumpre); opõe-se a uma autonomia moral, que implica cooperação e reciprocidade

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico

Pensamento intuitivo ou pré-lógico:

•A criança adquire uma certa descentração cognitiva (focalizar-se em mais do que um aspeto ao
mesmo tempo), que lhe permite solucionar alguns problemas e efetuar aprendizagens.

•O pensamento está submetido aos dados percetivos, intuitivamente captados, sem a criança
compreender a diferença entre as transformações reais e aparentes (as perceções incidem
diretamente na inteligência)

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O desenvolvimento cognitivo

2.º Representações estáticas: intuitivo ou pré-lógico

Pensamento intuitivo ou pré-lógico:


•É uma experiência mental: uma replicação, passo a passo e fiel, das ações concretas
•Apesar de representativo, implica uma apreensão da realidade que tende a estar mais próxima
das ações e dos seus resultados, do que das construções mais abrstratas e esquemáticas
(operações)
•A criança tem dificuldade em apreender conceitos gerais, como os de espaço, tempo e
velocidade.

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O desenvolvimento cognitivo
3.º Regulações semi-reversíveis: passagem da intuição ao conceito e à operação

Intuição: ação interiorizada (representação), mas ainda isolada (as novas representações não
se integram nas anteriores), dependente dos indícios percetivos (estático) e irreversível
(equilíbrio instável, pendor subjetivo e pouco coerente)

Operação: ação interiorizada ou interiorzável, reversível e integrada em sistemas de


operações. Equilíbrio estável, não está dependente de aspetos mutantes da realidade.
Apresenta maior mobilidde e um sentimento de coerência lógica obrigatório.

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O desenvolvimento cognitivo
“Com uma porção de plasticina, divide-se a mesma ao meio com uma faca.
Com as duas porções de plasticina, faz-se duas bolas iguais. Mostra-se que as duas
contêm a mesma quantidade de plasticina. Diante da criança, enrolasse uma das
bolas de plasticina, transformando-a em salsicha. Pergunta-se à criança: Onde há
mais plasticina, na bola ou na salsicha?”

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O desenvolvimento cognitivo
Intuição Operação

•Salsicha é maior do que a bola •Salsicha é igual à bola porque é mais comprida,
porque é mais comprida mas também é mais estreita, ou ainda há pouco
era uma bola igual à outra e pode tornar a sê-lo

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O desenvolvimento cognitivo

Reversibilidade
Uma ação reversível é aquela que comporta a coordenação de um ponto de partida, com
um ponto de chegada.
A uma transformação do estado A em estado B, corresponde sempre a transformação
inversa do estado B em estado A.

A B

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O desenvolvimento cognitivo

Estádio das operações concretas (7-11 anos)

Corresponde à fase de consolidação e organização da evolução da inteligência


representativa.

Neste período é superado o caráter instável e subjetivo do pensamento pré-operatório,


no sentido de uma maior estabilidade, coerência e maior mobilidade: o pensamento
torna-se verdadeiramente lógico.

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O desenvolvimento cognitivo

A criança continua a «operar» sobre a realidade, transformando-a, mas o que é próprio


da operação e a diferencia da intuição é o facto de ser uma ação interiorizada integrada
num sistema.

O pensamento operatório pode seguir as transformações sucessivas da realidade através


de todos os caminhos possíveis, e em vez de seguir um único ponto de vista, consegue
coordenar diferentes pontos de vista: descentração.

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O desenvolvimento cognitivo
Tipos de operações estudadas no período Operatório Concreto
https://www.youtube.com/watch?v=j4lvQfhuNmg
1. Operações físicas (conservação)
Quantidades contínuas e descontínuas

2. Operações logico-matemáticas
Classificação; Seriação; Enumeração

3. Operações espacio-temporais
Espaço; Tempo

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O desenvolvimento cognitivo
Operações físicas

Conservação: A quantidade permanece a mesma, apesar das mudanças percetivas, se nada for
acrescentado ou subtraído.

A existência desta invariante (algo se conserva apesar de certas transformações) é uma consequência
direta do caráter integrador e sistemático das operações, graças ao qual a criança pode combinar as ações
e não ser vítima de ações isoladas como antes: as coisas conservam-se.

A conservação é, para Piaget, um dos indícios mais claros do agrupamento das ações em sistemas
organizados, ou seja, um dos indícios mais claros da passagem da intuição à operação.

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O desenvolvimento cognitivo

As quantidades são contínuas quando não possibilitam a especificação da sua unidade, nem a sua
quantificação numérica (água, areia, massa...). Exemplo da plasticina.

As quantidades discretas possibilitam a especificação das suas unidades e a sua quantificação numérica
(grãos de feijão).

“Com um copo, uma taça e grãos de feijão, o adulto, usando as duas mãos, coloca, simultaneamente, um
grão no copo e outro na taça. Diante da criança, repete este procedimento sucessivamente. Entretanto,
interrompe a tarefa e pergunta: Onde há mais grãos?”

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O desenvolvimento cognitivo

Conservação do peso: a criança compreende que as alterações da forma e/ou posição do objeto não são,
necessariamente, acompanhadas de consequentes alterações de peso. Muitas vezes, as respostas das
crianças variam de acordo com o material utilizado (provavelmente, pela familiaridade com esse
material).

“Mostram-se dois biscoitos à criança, sendo ambos da mesma forma. Usando a balança de dois braços,
mostra-se à criança que os biscoitos têm o mesmo peso, colocando um em cada braço da balança.
Retiram-se os biscoitos da balança e divide-se um deles em seis pedaços. Pergunta-se à criança: Achas que
o biscoito inteiro pesa o mesmo que o biscoito partido?”

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O desenvolvimento cognitivo

Conservação do volume: A conservação de volume existe quando a criança compreende que as


alterações de forma, posição e peso não estão, necessariamente, associadas às variações de volume.

“Utilizam-se dois copos iguais, com a mesma quantidade de água e duas bolas iguais de plasticina.
Colocam-se as bolas no copo com água, para que a criança perceba como sobe o nível da água.
Transforma-se uma das bolas num biscoito alongado. Pergunta-se à criança: agora, se puseres o “biscoito”
no copo com água, o nível da água vai aumentar a mesma quantidade que aumentará se puseres a bola?
Porquê?”

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O desenvolvimento cognitivo

A criança pode servir-se de argumentos para justificar a sua resposta: identidade, reversibilidade e
compensação (indicadores do pensamento reversível). Exemplo de água em recipientes diferentes (largo
e estreito).

Identidade: é a mesma água porque não se pôs nem se tirou nenhuma.

Reversibilidade: é a mesma água porque, se se voltasse a deitar no copo pequeno, ficava como antes

(referência ao ponto de partida da transformação).

Reciprocidade ou Compensação: é a mesma água porque este copo é mais alto mas também é mais

estreito (referência aos diversos pontos de vista presentes na situação).

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O desenvolvimento cognitivo
Operações lógico-matemáticas

Seriação: consiste na ordenação de elementos segundo uma quantidade variável (A<B<C<...). A seriação
requer a coordenação de relações entre objetos/acontecimentos.

Classificação: consiste em agrupar elementos em coleções (classes) que se encaixam umas nas outras, de
acordo com uma qualidade comum (valorização das semelhanças e desvalorização das diferenças).

Enumeração: funde as semelhanças e as diferenças pela operação de igualização das diferenças e seriação
das equivalências.
Síntese entre seriação e classificação

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O desenvolvimento cognitivo
Estádio das operações formais (11-16 anos)
https://www.youtube.com/watch?v=D9BoAn9lRqE
Este estádio carateriza-se por um pensamento abstrato e pelo exercício de raciocínios hipotético-
dedutivos.

O adolescente desprende-se do real, sem precisar de se apoiar em factos ou objetos concretos, deduz
mentalmente sobre várias hipóteses que se colocam, pensa sobre o pensamento, resolvendo problemas
através de enunciados verbais.

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O desenvolvimento cognitivo
Caraterísticas do pensamento formal

A realidade é concebida como um subconjunto do possível – o real está subordinado ao possível


Caráter hipotético-dedutivo: quando um enunciado é apresentado simbolicamente, o adolescente adquire
a capacidade de raciocinar dedutivamente a partir de hipóteses e consegue solucioná-lo (“Edite é mais
clara que Susana: Edite é mais escura que Lili. Qual é a mais morena das três?”).

O adolescente é capaz de formular hipóteses para resolver um problema e compreender princípios


abstratos relacionados, por exemplo, com ideais morais, políticos, religiosos…

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O desenvolvimento cognitivo

Com a capacidade para pensar de forma abstrata, o adolescente é capaz de fazer reflexões pessoais sobre
objetos e acontecimentos e definir conceitos e valores para si.
Esta atitude reflete o egocentrismo intelectual ou cognitivo que se manifesta na convicção de que o
pensamento está apto a resolver todos os problemas:
•As suas ideias são indubitavelmente as melhores;
• Os outros e o mundo organizam-se em função dos seus pontos de vista.

Progressivamente o jovem vai sendo capaz de se colocar na perspetiva do outro (tomada de perspetiva
social).

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O desenvolvimento cognitivo
Pensamento formal

• Pensamento universal.
• Uniforme e homogéneo (sistema de conjunto).
• A complexidade das relações lógicas, e não de conteúdo, determina a realização das tarefas. Tarefas
com a mesma estrutura lógica e conteúdos diferentes supõem a mesma dificuldade.
• Similar ao do adulto. As estruturas da inteligência estão formadas, segundo Piaget, no fim da
adolescência. Na idade adulta, estas estruturas adquirem mobilidade e maleabilidade, devido à
diversidade de experiências com que o ser humano se vai confrontando.

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O desenvolvimento cognitivo
Esquemas operatórios formais

1. Operações combinatórias
2. Proporções
3. Coordenação de dois sistemas de referência
4. Noção de probabilidade
5. Noção de correlação
6. Compensações multiplicativas
7. Formas de conservação que ultrapassam a experiência (dedução – ex. inércia)

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