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(DES)

APRENDENDO
A FAZER
DIETA

Gabriel Vendito
Gabriel Vendito
Bacharel em Nutrição
Pós graduação em nutrição esportiva e
hipertrofia
Especialização em metabolismo e
emagrecimento
Especialização em nutrição funcional e
bioquímica aplicada à nutrição

1
“Somos uma cultura em busca da dieta perfeita, e como prova
disso há uma porção de pessoas infelizes e inseguras por
ai...Precisamos repensar, retomar uma abordagem simples [...]
Mas somos distraídos e seduzidos por promessas de resultados
rápidos e milagrosos. Perdemos peso rapidamente, voltamos a
engordar, então partimos para outra solução mágica. Essa é
uma formula alimentada pela indústria da dieta para manter as
pessoas gordas”

Louise Foxcroft

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Boas Vindas (e um breve desabafo)

Se você está lendo essas páginas é por que provavelmente você consultou
comigo. Imagino que você ainda não sabe o que esperar enquanto lê o que
está escrito e por não gostar de encheção de linguiça eu vou ser bem direto:
eu quero que você veja seu corpo como a nave mais sofisticada já inventada
e quero te ensinar a pilota-la.

Pronto, é isso.

Conduzir alguém a pilotar uma nave (por mais simples que seja a nave) já
seria algo desafiador. Agora imagina ensinar alguém a conduzir, como eu
disse, a nave mais sofisticada, mais complexa já inventada: o corpo
humano!

É preciso todo um processo educacional que poucos estão dispostos a


oferecer (afinal oferecer milagre vende mais) e poucos estão dispostos a
aderir (afinal mudar de remédio é mais fácil que mudar de hábitos). Mas
como você já está aqui eu considero que você já tomou a decisão.
Costumo sempre dizer que eu tenho paixão pelo paciente desiludido. Esse é
o paciente que eu mais gosto de atender. Pois como diz um sábio, só se
desilude quem se iludiu. No momento que você se desilude, sua visão fica
mais clara e então temos um terreno fértil para colocar conhecimento de
verdade.

Você leu no titulo deste capítulo que há um desabafo meu. Sim, eu preciso
do seu ombro amigo para desabafar: não é fácil ser nutricionista.

Claro, nenhuma profissão é fácil. Não é fácil ser advogado e defender


alguém que cometeu crimes absurdos.

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Boas Vindas (e um breve desabafo)

Não é fácil ser um médico cuja vida do paciente está em suas mãos.
Não é fácil ser engenheiro e ser responsável por deixar um edifício em pé.
E não é fácil ser diarista, acordar 5 horas da manhã, pegar ônibus e ainda
voltar para casa e cuidar dos filhos. Não é fácil para ninguém.
Faço essa digressão para não soar que pretendo ser um mártir.
Mas ser nutricionista não é fácil porque trabalhamos com algo que sustenta
todas essas outras profissões: o alimento.

Se estiver anêmico o engenheiro não trabalha bem. Se comer errado o


médico não aguenta sua jornada. Se comer demais a diarista pode ter um
problema de doença crônica não transmissível (por exemplo diabetes) e se o
intestino do advogado ficar mais de dois dias preso, ele não vai exercer sua
profissão no auge da sua capacidade.

Percebe a importância da boa nutrição?


E veja aqui que nem precisei citar termos como “massa muscular”,
“abdomen tanquinho”, etc.
No entanto, infelizmente, as pessoas só pensam que a nutrição serve para
isso. Utilizam, usurpam a nutrição (mesmo não sendo nutricionistas na
maioria das vezes) em prol da estética do “custe o que custar”.

Em nenhum momento eu vou lhe prometer emagrecimento de anuncio de


revista aqui. Eu prefiro prometer dar o meu melhor para você atingir seus
objetivos do que perder/ganhar X kilos em tanto tempo. É diferente e é
sutil.

Mas enfim, acho que você já entendeu como penso, não é?


Chega de enrolação. Vamos lá?

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SUMÁRIO
1 Você precisa se conhecer

2 Carboidrato (não) engorda

3 Você (não) precisa comer de 3 em 3 horas

4 Jejum intermitente (não) emagrece

5 Frutose (não) faz mal a saúde

6 Para emagrecer (não) precisa fechar a


boca
7 Seja regrado (mas não seja bitolado)

8 Um último exercício
Capítulo 1

Você precisa
se conhecer
Você precisa se conhecer

Clichê, eu sei. Mas, extremamente profunda essa frase.

Enigma que somos de nós mesmos, não é difícil de imaginar porque os


humanos mais sábios do mundo tinham como meta de vida responder a
essa questão: quem sou eu? Quem é este ser que me olha todo dia no
espelho (ou este ser o qual evito encarar no espelho)?

Se você está buscando através de um milagre se reconciliar com a balança,


eu vou ser curto e grosso: não existe milagre. Por que não existe balança.
Parece um koan budista, não é? Pois é. Eu não estou aqui para reconciliar
você com a balança. A balança não é sua inimiga porque ela é um ser
inanimado, ela é composta por alguma estrutura metálica, algumas de
vidro, que serve para fornecer números às pessoas e que têm sua utilidade.
Mas ela não é sua inimiga (assim como um lápis, uma régua, nada disso pode
ser seu inimigo).

Aprendi com um grande pensador a seguinte premissa: o saber está no


paciente. Portanto, somos sempre acostumados a ouvir como temos que
fazer, mas isso, às vezes, só nos afasta de nós mesmos.

O nutri passou a ter um papel de fiscal alimentar na vida das pessoas (ou já
ouvi até pior: já ouvi gente dizendo “minha nutri-carrasca”) e, isso ao longo
do tempo, só mostrou que a nutrição, assim como todas as ciências do
mundo, precisa evoluir. Mas ela só irá evoluir se nós, nutricionistas,
aprendermos a ouvir os pacientes melhor.

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Você precisa se conhecer

Eu sempre falo que o meu papel é de alguém que te ajuda a ler o seu manual
de instruções. Entender seu metabolismo, entender seu biótipo e dar a nave
para você pilotar.

No entanto, toda nave deve ser entendida antes de se sair pilotando-a.


Se você conversar com algum comandante, vai saber o quanto ele estudou
para erguer o avião do chão (e convenhamos, o organismo humano é a nave
mais sofisticada e complicada de todas).

Portanto, a minha proposta é: vamos estudar juntos esse manual de


instruções, fazer o curso e sair pilotando a nave. Tentei deixar “o manual” o
mais simples possível, afinal, se eu estou dizendo que a solução está em
você, não tem sentido o manual lhe ensinar. Tem sentido ele lhe encorajar.

Por isso, deixe de lado algumas crenças, algumas ideias do que você acha
que é uma boa dieta ou um bom alimento e embarque comigo nesses
estudos. Garanto que você vai entender melhor a sua própria nave. E, antes
de finalizar, eu gostaria que você se respondesse com honestidade:

depois que ler o manual de instruções, você vai ter a coragem necessária?

8
Capítulo 2
Capítulo 2
Carboidrato (não)
engorda
Carboidrato (não) engorda

Você não faz ideia de como as pessoas perguntam isso aos nutricionistas. A
maior dúvida é essa: o que engorda mais afinal? O carboidrato ou a gordura?
Antes de tudo chamo sua atenção para o parêntese nos capítulos. Um
parêntese colocado estrategicamente, pedindo que você observe a sutileza.
Nenhuma afirmativa pode ser afirmativa quando há um parêntese que
muda completamente a natureza dela, certo? Nesse sentido o parêntese
desse capitulo abre a possibilidade de que o carboidrato não engorde. E que
se ele não estivesse ali (o parêntese) eu estaria afirmando que o carboidrato
engorda.
Independente de qualquer regra gramatical, aqui vai o meu significado para
todo e qualquer parêntese que aparece aqui: depende!

Outra coisa que digo bastante por aí (não sei de quem é essa frase) mas é a
seguinte: entre 8 e 80 existem 72 possibilidades.
Percebe isso?
Entre zerar e se entupir de carboidrato existe a justa medida que seu corpo
se adapta bem. E essa medida a gente tem que encontrar para que você pare
de ser refém das dietas da moda. Afinal é esse auto encontro que queremos
em um programa de autoconheci- mento, certo?
Eu diria hoje, sem medo de errar, que as pessoas engordaram não porque
comeram muito carboidrato, mas sim, porque comeram muitas calorias.
Acompanhe essa singela figura:

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Carboidrato (não) engorda

Veja como não é o carboidrato que te engorda: Imagine que você precise de
2000 kcal para manter seu peso. Na Dieta 1 (hipotética, é claro) você estaria
com uma dieta high-carb (porque 100% da energia dela é oriunda de
carboidratos) porém você estaria em déficit (pois você precisa de 2000 e
está ingerindo 1000) ou seja você emagreceria em uma “high-carb”.

Agora, seu eu pegar essas mesmas 1000 kcal de carboidrato e acrescentar


em 1000 kcal de proteína e 1000 de gordura, ela deixa de ser uma highcarb e
se torna uma normocarb só que em um contexto (e aqui temos uma palavra
de ouro: contexto) que provavelmente te fará acumular energia e ganhar
peso. Claro, a Nutrição é muito profunda e uma dietoterapia não se resume
em uma simples calculoterapia.

Falo que não é uma calculoterapia porque aplicar aqui a ideia reducionista
de que “para emagrecer é só consumir menos do que se gasta” não resume a
nutrição. Primeiro porque isso dá a ilusão de que somos robôs que gastam
todo dia a mesma quantidade de energia. Segundo porque nosso sistema
energético não é um sistema fechado. E terceiro porque se a pessoa não
tiver mitocôndrias saudáveis, nada vai adiantar.

Portanto eu não diria que o déficit energético é tudo, mas sim o começo.
Ninguém vai emagrecer sem déficit energético. É a condição sine qua non
do emagrecimento, mas a nutrição não para por aí. Perceba também a
seguinte confusão: todo carboidrato vira açúcar na corrente sanguínea
certo? Logo não tem diferença ingerir aveia e um copo de açúcar (desde que
equalizados a gramagem total de carboidratos), pois todos irão virar açúcar
no sangue, certo?

Erradíssimo. Nada pode ser tão errado.

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Carboidrato (não) engorda

E se você acha que o que eu falei não tem o menor sentido, é porque
não faz ideia quantos pacientes resumem a sua própria dieta a
calorias. “Gabriel, estava vendo aqui, você me passou alimento x na
dieta. Mas o alimento y tem as mesmas calorias. Posso substituir? ”

Quando eu digo “não” as vezes a pessoa não entende.

Lembra que eu falei que nosso organismo não é um sistema energético


fechado? Pois é. No exemplo da aveia, você pode ter colocado a mesma
quantidade de açúcar para dar a mesma quantidade de carboidrato
dela, porém: 1) o açúcar não trará benefício para as bactérias do seu
intestino como a aveia, e, a longo prazo, a aveia lhe tirará a vontade de
doce e o açúcar lhe aumentará a vontade de doce e 2) é difícil comer
mil calorias de aveia. De açúcar não é difícil (isso cabe em um copo de
milk-shake). Dentre várias coisas que eu poderia citar aqui, mas para
não complicar (visto que esse e-book não é para um acadêmico de
nutrição) vou me ater apenas a essas duas reflexões apelando para seu
próprio bom senso.

Carboidrato engorda? Não se estiver dentro de um contexto calórico


coerente. Por exemplo, um triatleta bem amador de IronMan poderia
consumir uma lata de refrigerante a cada meia hora que não iria
engordar. Afinal ele está fazendo uma competição de endurance que
vai levar 12 ou mais horas para ser concluída. Percebe? E tem mais,
não coloque todos os carboidratos na mesma cesta. Mas cesta lembra
fruta. E fruta a gente vai falar no capítulo 5.

Te vejo lá!

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Capítulo 3

Você (não) precisa


Capítulo
Capítulo 3
2
comer de 3 em 3
horas
Você (não) precisa comer de
3 em 3 horas

Imagine a maravilhosa situação: você recebe todo dia dois mil reais para
gastar. Simples assim. Se você não gastar tudo (se sobrar quinhentos reais
por exemplo) no outro dia, ao receber dois mil reais, você terá R$ 2.500,
certo?
Entenda bem essa analogia.
Então o que isso tem a ver com o que acontece no nosso corpo?
Bom, lembra que eu falei que nosso corpo não era um sistema energético
fechado? Por isso a ressalva. Tem dias que você gasta dois mil, tem dias que
você gasta dois mil e quatrocentas calorias, pois em um dia você caminhou
mais, foi visitar aquela amiga, foi ao shopping bater pernas, etc.
Mas faça de conta que sua média semanal foi de duas mil calorias dia (só
para você entender essa analogia).

Se o seu corpo receber mais que duas mil ele vai acumular. Certo? É como os
dois mil reais. Então você precisa gastar (para que não se acumule, pois, esse
acúmulo de energia não vira mais dinheiro. Vira gordura).
Sendo assim, voltando para a nossa metáfora, imagine que você não quer
que acumule dinheiro. Por qualquer motivo doido você quer sempre zerar a
conta no final do dia. O que você faz então se chegar no final do dia e você
ainda tem mil reais?
Compra uma coisa de mil reais e zerou.
Entende?
O seu corpo não sabe se você vai gastar esses mil reais (ou essas mil calorias)
em uma única atividade ou em 10 atividades. Ele não quer saber. A ingestão
das calorias obedece a mesma regra.

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Você (não) precisa comer de
3 em 3 horas

Seu corpo tem um saldo no final do dia. Se você ingeriu as duas mil calorias
em duas refeições ou em dez refeições não faz diferença.
Mas como falei no primeiro capítulo: nutrição não é contabilidade e nosso
organismo não é um sistema fechado de energia.
Existem alimentos que estimulam mais seu gasto energético (por exemplo:
proteínas) e existem nutrientes que não tem calorias (fibras) e essas mesmas
fibras que, se estiverem em um alimento, te deixarão mais saciado e no final
do dia você ficará em déficit sem passar fome.

Todas essas coisas são importantes para ser levar em conta antes de reduzir
tudo a calorias. E se eu for um paciente com sobrepeso e, portanto, sem
mitocôndrias saudáveis. Não é interessante que eu consuma alimentos que
além de tudo melhore minhas mitocôndrias para corrigir minha
metabolização energética?

Então são essas nuances que temos que falar para não dar a falsa ilusão de
que é só fazer déficit energético.

Você se sente melhor comendo de 3 em 3 horas? Ótimo. Coma.


Eu particularmente não gosto de comer de 3 em 3 horas. Eu faço quatro
refeições por dia.
Usando o exemplo acima de 2000 kcal eu prefiro fazer assim:

Refeição 1 (Desjejum): 250~300 kcal


Refeição 2(Almoço): 600~750 kcal
Refeição 3 (Lanche da Tarde): 250~350 kcal
Refeição 4 (Janta): 600~750 kcal
Refeição 5 (sobremesa): saldo extra

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Você (não) precisa comer de
3 em 3 horas

Por que eu faço isso?


Porque eu não tenho muita fome no desjejum, porque eu gosto de comer
pouco antes do treino (o meu lanche da tarde é meu pré-treino) e nas
refeições principais (almoço e janta) eu gosto de sentar e comer bem de
verdade. Eu (particularmente) não sacrificaria 150 kcal das refeições
principais para virar lanchinhos intermediários. Além disso, gosto e preciso
de algum docinho diário. Ai também está a importância da individualização!

16
Capítulo 4

Capítulo
Capítulo
Jejum 3
2
intermitente
(não) emagrece
Jejum intermitente (não)
emagrece
Olha que importante você ter chegado até aqui.
E que importante você ter lido os capítulos anteriores. A sua conclusão fica
praticamente inevitável agora sobre jejum intermitente emagrecer ou não
depois dos exemplos que dei acima, certo?

Mas o jejum intermitente não é benéfico?


Não estou dizendo isso. Nunca disse isso.

Para mim, não funciona (não eu como nutri, mas eu como paciente).
Como falei acima, gosto de acordar e comer algo, nem que seja (como naquela
situação hipotética) apenas 250 kcal ou uma fruta que seja. Mas gosto. Não
gosto de ficar com o estomago vazio. É uma tortura pra mim, por exemplo,
ter que fazer algum exame de sangue, deslocar-me a algum lugar e só depois
poder comer.

Primeiro porque no meu comportamento neurótico eu gosto de fazer todo


dia a mesma coisa ou seja, gosto de ter meu ritualzinho matinal toda santa
manhã.

6:50 – Acordo
7:00 – Faço café
7:20 – Dou comida para o Chester (meu gatinho dorminhoco) e desço com o
Toddy (meu cachorro endiabrado) e faço tiros de corrida com ele.
8:00 – Já tomei minha dose de café preto e começo então a preparar o café da
manhã, só que dessa vez, mais completo e elaborado.

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Jejum intermitente (não)
emagrece

Pego meu cereal matinal (uma mistura que faço de aveia, flocos de arroz,
flocos de milho, linhaça, chia, coco ralado, semente de girassol e abóbora)
com leite ou iogurte e levo para mesa. Esquento um pão de queijo (ou pão
francês) e como com manteiga ou geléia e requeijão. Escolho uma fruta e
pico em pedaços pequenos (o Toddy adora frutas e fica doido nessa hora).
Coloco em um pratinho e jogo aveia ou chia por cima.

Por que eu escrevi tudo isso? Por que imagine agora, eu indo ao
nutricionista e ele me colocando em jejum intermitente. Seria algo mais ou
menos assim:
-Então Gabriel, gostaria que você começasse a se alimentar apenas no
almoço.
-Não consigo. Acho tão gostoso acordar de manhã, tomar um cafezinho com
leite e depois fazer um pãozinho integral na chapa ou um bolinho de
caneca...

(Veja eu expondo toda minha subjetividade nisso). Porque provavelmente


se eu fizer jejum de manha já não vou conseguir ter uma boa adesão,
sentirei falta da minha rotina, etc.
Claro, muitas pessoas que advogam o jejum, dizem da capacidade de ficar
mais alerta, de render mais etc. Ok, bacana, mas, eu passo! Não quero
estimular acetilcolina para aumentar atividade parassimpatica pela manhã.
Eu quero é comer o meu pãozinho e tomar meu cafezinho. (Lembre que meu
pãozinho esta devidamente contabilizado).

Talvez esse nutri me atendendo tentasse outra manobra:


-Gabriel, mas então vamos fazer assim...que tal você comer então de manhã,
mas parar de comer lá pelas 17 horas.

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Jejum intermitente (não)
emagrece

- Mas e minha jantinha enquanto vejo os episódios da minha série? É tão


importante esse momento, nutri! E no mais, eu adoro fechar o dia com uma
caneca de leite morno e café solúvel (a cafeína [moderada] pela noite não me
atrapalha) ou então um docinho.

Percebem aqui a nuance da coisa?


Percebe como é errado pensar (apenas) nas questões numéricas?
E isso é muito sério, porque eu que já tive contato com muitos nutris do
Brasil todo e percebo quantos ignoram completamente as características
subjetivas do paciente. Mas também percebo como tem nutricionista
expecional também.

Um paciente certa vez me falou:


- Gabriel, sei que não é tua vibe, mas, poderia me passar jejum
intermitente? Não tenho paciência pra comer de X em X horas e eu funciono
melhor em jejum de manhã.
Sabe o que que eu fiz pra ele? Passei o jejum intermitente! Ele sabia já o que
funcionava. Era um trabalho a menos pra mim ir buscando por tentativa e
erro, saber o que funcionaria pra ele. Como falei no capítulo 1: o saber está
no paciente.

Em suma:
Jejum intermitente não tem nada de diferente de uma dieta controlada
como outra qualquer.
Pegando o exemplo das 2000 kcal do capítulo anterior, não adianta você, em
um dia de 24 horas, fazer 16 horas de jejum e nas 8 horas alimentado
consumir 3000 kcal. Vai sobrar 1000 kcal igual. A conta não fecha.

20
Capítulo 5

Capítulo
Capítulo 3
2
Frutose (não) faz mal
à saúde
Frutose (não) faz mal à
saúde

Com a evolução das industrias alimentícias (e a degeneração da nossa


saúde, portanto) nossos produtos alimentícios foram buscando cada vez
mais custarem menos para a indústria. Conta básica de administração:
quanto mais barato for a matéria prima, maior a margem de lucro.
Ou seja, quanto mais barato um produto custar para uma empresa, mais a
empresa pode lucrar em cima, ou investir dinheiro em outras coisas.
O problema é que essa conta fica perigosa quando estamos falando de
produto feito para as pessoas colocarem no seu organismo. Porque as coisas
que começam a ser colocar nos produtos são realmente baratas, mas, não
são saudáveis. Simples.

Então, nesse cenário, o xarope de frutose de milho aparece na indústria


para adoçar os mais diversos produtos: refrigerantes, balas, geleias, sucos de
caixinhas, guloseimas em geral. A frutose tem uma capacidade maior que a
da sacarose (açucar de mesa) para adoçar as coisas.
E vemos então uma criançada toda viciada em produtos açucarados.
Na verdade, nosso caso de amor com o açúcar é bem antigo. É até ancestral.
E temos exemplos até de animais que comem mel. Mas isso seria assunto
para uma outra hora.

O que quero pontuar aqui é que uma coisa é a frutose encontrada nos
produtos alimentícios, outra é a frutose das frutas.

Sim, são a mesma molécula de frutose. Mas, pera lá.


Pensa comigo:
20g (1 colher de sopa) de xarope de frutose tem 15g a 18g aproximadamente
de frutose.
100g de pêra tem 2g de frutose.
Preciso me estender mais?

21
Frutose (não) faz mal à
saúde
Para bom entendedor meia palavra basta, como dizem.

Claro que uma quantidade absurda de frutose entrando no organismo vai


agredir o corpo. O corpo “não entende” o que é essa enxurrada de frutose,
afinal ele evoluiu tendo frutose de uma maneira diluída e menos
concentrada.
Quando você ingere frutas você tem:
-Vitaminas
-Fibras
-Minerais
-Fitoquimicos
-Água
-Frutose

Quando você ingere xarope de frutose você tem:


-Frutose

Percebe? Não fica claro como o dia esse medo bizarro de fruta?

Costumo dar o exemplo da proteína também.


Sabemos que as proteínas são macronutrientes que se diferenciam de
outros macronutrientes (como a gordura e o carboidrato) por conterem
nitrogênio.
Oras...nitrogênio tem na dinamite. Portanto comer proteína poderia
explodir você, não? Lógico que não!
Não é estupidez ter medo de peito de frango porque tem o mesmo
nitrogênio da dinamite?
Sim.
Por isso que é estupidez ter medo de comer frutas porque elas têm frutose!
E fim de papo!!!

22
Capítulo 6

Capítulo
Capítulo 3
2
Para emagrecer
(não) precisa fechar
a boca
Para emagrecer (não)
precisa fechar a boca

Mantendo o tom direto e reto deste pequeno e-book vou começar da


seguinte maneira esse capítulo: uma imagem vale mais que mil palavras.
A imagem:

Oil = óleo
Chicken = frango
vegetable = vegetais

Geralmente as pessoas leigas não sabem disso, mas o nosso estomago


possui mecanismos de saciedade que são ativados de acordo com a
distensão que o alimento provoca.
Fechar a boca para emagrecer em outras palavras seria: “coma menos
comida para emagrecer”. Certo?
Mas quem disse que emagrecer é um problema de comida? Pior ainda, de
quantidade?
O seu estomago precisa justamente do oposto para emagrecer: precisa estar
cheio. Saciado. Você precisa se sentir alimentado para cumprir suas tarefas
cotidianas. Para não ter a sensação psicológica horrível de “estar em
privação”, sabe? (fora os mecanismos regulatórios e gatilhos de compulsão
que o corpo desencadeará para tentar te tirar desse quadro que ele enxerga
como 'suicida').
Já é difícil viver. Viver passando fome então nem se fala.

23
Para emagrecer (não)
precisa fechar a boca

O problema é o tipo de combustível que você está enchendo o seu tanque.


Vou citar uma mensagem polemica aqui:

“Essa figura já incita imediatamente uma pergunta no seu coração: Existe


comida errada? Sim. Existem alimentos que cotidianamente te deixam mais
saudáveis e outros que não. Você não pode balizar um alimento só por ter
ou não calorias ou por macronutrientes em uma tabela nutricional. A nova
Nutrição não permite isso. Por exemplo, existe comida que melhora seu
intestino e existe comida que piora seu intestino. Existe comida que "te
inflama e existe comida que desinflama" (salvo contexto). Existe comida que
te sacia e existe comida (ou produto) projetada pra não te saciar. Enfim, a
lista é grande.
Mas, agora sei que uma outra pergunta pode vir na sua cabeça: “Essa
dicotomia não é ruim? Não é terrorismo? “ Não. Leia as nuances. Estou
pedindo pra você não comer MUITO a comida errada. Não estou pedindo
pra você nunca mais na sua vida comer uma bobagem de maneira tranquila
e consciente. Entenda isso, por favor!. Como dizem: melhor comer uma
bolacha recheada feliz do que comer uma maçã cheio de angústia!
Lembra daquele nosso papo sobre equilíbrio? Pois é...pense sobre isso. No
entanto agora você me dá licença que sextou e eu vou ali comer um rodízio
japonês (isso é real. hahaha)”.

24
Para emagrecer (não)
precisa fechar a boca
Um ponto crucial agora: Não estou falando para você nunca mais comer as
porcarias que gosta. Quem não gosta de uma besteira? Eu estou pedindo
para você não fazer isso sempre.
Olha que legal esse comparativo aqui:

P = Proteína
C = Carboidrato
F = gordura

Perceba que na mesma marmita (portanto na mesma gramagem) eu posso


ter refeições completamente diferentes no meu perfil calórico. Isso que
estamos só olhando a refeição numérica e estamos desconsiderando por
exemplo que a refeição de 281 kcal levará mais tempo para ser digerida, terá
mais fibra e mais fitoquímicos anticancerígenos (dos brócolis) para a pessoa
que a ingeriu.
Estou falando para não comer mais arroz?
Não. Se você esta pensando isso de mim você ainda não me entendeu!
O que eu quero fazer aqui no nosso trabalho é te ensinar a não passar fome,
mas também não encher de qualquer coisa seu estomago.
Faça a seguinte reflexão: você ganhou (sei lá como) uma Ferrari. Com todas
as despesas pagas ate o final da vida. IPVA, óleo, gasolina, etc. Você só tem
que escolher quais as marcas das coisas que você vai colocar nela. É prová-
vel que você vai escolher a melhor gasolina aditivada, o melhor óleo, etc.
Certo?
Então...se com uma Ferrari você escolheria o melhor. Por que com algo que
vale bem mais que uma Ferrari (como a sua saúde), você não vai escolher?

25
Capítulo 7

Capítulo
Seja regrado 3
Capítulo 2
(mas não seja bitolado)
Seja regrado
(mas não seja bitolado)

Uma coisa delicada que merece um adendo é o excesso de determinação das


pessoas. O excesso de disciplina como um motivo quase que inconsciente
para se sentir superior a quem não tem tanta disciplina, é algo que merece
cuidado.
Tudo bem, queremos que as pessoas respeitem nosso estilo de vida, porém,
será que estamos respeitando o estilo de vida das pessoas?
Isso é algo que merece ser pensado com muito carinho porque chega a ser
patético pensar em alguém que, simplesmente porque se descobriu na vida
fitness, quer impor essa “fitnezisse” para todo mundo. Uma simples frase de
instagram pode resumir isso: Qual a sua desculpa?

Eu particularmente detesto essa pergunta. Tenho vontade de


responder:não é desculpa. É cansaço. Ou ainda: Mudei de prioridades!
Não é justo que uma mulher, que tem dois filhos para cuidar e que treina
para qualidade de vida se sinta pressionada a ser tão hardcore quanto a
musa fitness que só faz isso da vida e que todos os compromissos que ela
tem giram em torno de manter o ganha pão dela que é viver da imagem (não
estou falando mal desse tipo de profissão).

Não me interprete errado. Só estou dizendo que as pessoas que não vivem
do mundo fitness podem se dar o direito de ter outras prioridades, afinal o
exercício físico é pra te dar prazer e não pra ser mais uma das tantas
obrigações que já temos na vida.

26
Seja regrado
(mas não seja bitolado)

Mas eu falava que não achava justo que uma mulher normal se sentisse
pressionada, com isso será que quero culpar alguém? A ditadura da beleza,
talvez?
Na verdade, não. Não que não existam padrões estabelecidos pelas marcas
de suplementos ou roupas, mas, a pessoa que mais pressiona essa mulher,
as vezes, é ela mesma. E eu vejo em consultório pessoas que tem uma vida
boa, já que apenas deveriam fazer ajustes na dieta e no treino e manter a
consistência, se cobrando demais.

Ter equilíbrio geralmente não é uma opção para algumas pessoas. A


polarização nos fascina. E com a nossa alimentação não é diferente.
Achamos que a solução sempre se encontra no muito (muito treino, muita
restrição calórica, muita bomba, muito ovo..) ou no nada (não consumir
calorias, não consumir carboidratos, não comer mais que em um período de
8h num dia, etc).
Não julgo aqui estratégias nutricionais pontuais, mas sim nossa
incapacidade de ver no equilíbrio das coisas a maneira correta de se viver
(ou comer).

Viver com equilíbrio tem que ser a meta do Nutricionista RAIZ para com seu
paciente. Como acontece em tudo hoje em dia, seja no futebol, na religião, o
discurso “minha tribo x tua tribo” ou “sou superior aos demais porque como
ou deixo de comer isso” encanta num primeiro momento, mas, no longo
prazo isso cega. E tudo que um nutricionista (portanto, um educador da
alimentação) deve evitar é cegar as pessoas, mas sim esclarecê-las.

27
Seja regrado
(mas não seja bitolado)

Pense, portanto, que você esta se resignando, reajustando a rota do seu


GPS. Não tente mudar muito e muito rapidamente.
Papo clichê, mas é verdade: a direção é mais importante que a velocidade.

Assim, quando você começar a fazer sua progressão funcional (que você
verá mais adiante no programa) tome cuidado. Se em um dia você não
conseguiu comer os três grupos de alimentos funcionais, tudo bem. Está
tudo certo. Não se culpe e não seja maluco por isso. Diretrizes não são leis.

28
Capítulo 8

Capítulo
Capítulo 32
Um último exercício
Um último exercício

Peço que faça um exercício aí mesmo onde você está: feche os olhos e se
imagine contando para você mesmo quando era criança o que foi que você
fez da sua vida. Faça isso. Explique para o seu eu-criança como você chegou
aonde chegou (suas vitórias e suas derrotas) e, se achar necessário, não
pense duas vezes em se desculpar por algo que o seu eu-criança queria e
você não conseguiu.
Pense...

É profundo, não é?

Não sou psicólogo e por isso não tenho autoridade em afirmar certas coisas,
mas, a experiência clínica me deixou uma coisa bem clara: situações mal
resolvidas na infância e sentimentos infantis (nossa criança birrenta) às
vezes fazem com que a gente coma mais do que deveriamos. Às vezes, isso
não está ligado à quantidade do alimento, está ligado à qualidade também.

Aquele "paladar infantil" que percebo no paciente é uma tentativa de “sair


um pouco do mundo dos adultos”. Comer um salgadinho no final do dia com
o refrigerante pode sim, ser uma âncora emocional.

Então nos encontramos em um mundo de adultos que nos cobra, que temos
horários e prazos para cumprir, boletos a pagar etc. Entramos em conflito.

Às vezes não queremos ser adultos, queremos voltar para os 'velhos


tempos'. Às vezes, queremos voltar a estar na frente da TV às quatro horas
da tarde comendo um misto quente com achocolatado. Pense nisso.

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Um último exercício

Pense no quanto você busca aquelas sensações de conforto ancoradas em


momentos (que foram mágicos a seu tempo) e que às vezes você só está
vivendo um replay de um filme desbotado.

Pense que uma mesma piada, por mais engraçada que seja, se for ouvida
dez vezes acaba perdendo a graça. Isso acontece pela nossa incansável busca
pelo novo. É normal enjoar das coisas, é normal buscar o progresso e ter
sede de sair do lugar. Então, esses dispositivos, assim como a piada que
perde a graça, ou esse resgate atrás de uma emoção que já foi, nunca darão
certo.

Ressignificar, embora tenha virado vírgula ultimamente, acaba sendo uma


palavra com poderoso significado. É preciso ressignificar o próprio
ressignificar, então.

Buscar realmente dar novo significado às coisas. Vou dizer algumas delas
aqui para você refletir. Quero que você busque o significado mais leve e
gostoso das palavras a seguir.

Que novo significado você daria para:


-Corpo
-Comida
-Praticar Esportes
-Comer em Família
-Viajar
-Estar com quem se ama
-Estar nu de frente ao espelho

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Um último exercício

Forte essa última, não?

Agora, serei mais ousado: Se por algum momento, você estivesse se olhando
nu (a) em frente ao espelho e aparecesse um gênio de uma lâmpada mágica e
falasse para você “você pode ter o corpo que você quiser, é só pedir”, que
corpo você teria?

Agora eu pergunto:
-Por que você quer esse corpo?
-Ok, agora você está com o corpo perfeito. Você se ama mais?

Agora quero que feche os olhos e imagine do fundo do seu coração o seu
corpo antigo lhe dizendo: “O que foi que eu fiz de errado para você não me
aceitar? Eu te levei para tantos lugares. Eu suportei momentos tristes
contigo. Por que esse abandono comigo? “ Pense profundamente nisso.
Talvez, já que o gênio não virá mesmo, seja a hora de um pedido de
desculpas, não?

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Após essa breve leitura, espero ter conseguido fazer você
(des)aprender a fazer dieta, e que possa levar a vida com mais leveza,
saúde e autonomia.

Agradeço imensamente pela atenção,


um grande abraço e fique em paz!

FIM

Vendito_gabriel

(11) 941-944-443

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