Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Como ser dotado de conhecimento espiritual e tendência racional, o ser humano se insere
no reino da moralidade.
2.Deus ordena todas as coisas para seu fim supremo, que é Ele mesmo, enquanto Sumo Bem;
todos os seres, inclusive o homem, estão sujeitos à Providência Divina.
3.O objeto da vontade humana é a beatitude - há certos bens particulares cuja posse é
dispensável para a felicidade (a estes bens a vontade não adere necessariamente)
4.Qual dos bens, entre os bens materiais, tem a capacidade de acontentar o ser humano?
Nenhum bem finito satisfaz o homem, por isso ele busca ultrapassar a contingência dos bens finitos.
6. O homem deve atingir livremente a beatitude para qual Deus livremente o escolheu (pré-
ciência divina/ações humanas livres)
7. O mal - resultado do livre arbítrio - atuação discordante da ordem da razão e da lei divina.
Senso moral: fonte de todo conhecimento moral que contém os preceitos da lei natural (ou da
consciência).
“habitus” natural prático - disposição natural que nos dirige para o bem; As virtudes são
“habitus”, disposições práticas para viver retamente.
II - a Política
2. lei eterna: razão que governa o universo e existe na mente divina; lei natural: reflexo
dessa lei eterna.
3.lei natural: inclinação para o bem natural ( conservação, educação dos filhos, vida em
sociedade)
4.lei humana: “inventada pelos homens e pela qual se dispõem de modo particular as
coisas que a lei natural já se refere” (S.th.II,1,q.91); lei divina: dirige o homem aos fins sobrenaturais.
5. “Da lei natural, que é a primeira regra da razão”, devem ser derivadas todas as leis
humanas” (S.th. q.95)
6. A lei tem como fim primeiro e fundamental dirigir para o bem comum - coletividade
7.governo civil subordinado ao governo religioso: “Pois àqueles a quem pertence velar
pelo fim último devem estar sujeitos aqueles aos quais pertence velar pelos fins subordinados: estes
devem estar sob o comando daqueles” (De reg.princ.I,14)
Respondo. Deve-se dizer que o mal não pode encontrar-se senão no bem. E, para melhor
compreensão disto, deve-se saber que, a respeito do bem, cabe falar de dois modos: de um modo, a
respeito do simpliciter; de outro modo, enquanto se fala de um bem [concreto], como um homem bom
ou um olho bom. Logo, falando do bem simpliciter, o bem possui uma amplíssima extensão, mais
ampla até que a do ente, como gostava de dizer Platão. Pois, do fato de que ao apetecer um fim
apetecemos aquelas coisas que se ordenam a este fim, segue-se que aquelas coisas que se ordenam ao
fim, pelo fato mesmo de que se ordena ao fim ou ao bem, adquirem a sua razão de bem – donde as
coisas úteis estarem compreendidas na divisão do bem. Ora, tudo o que está em potência com relação
ao bem, pelo fato mesmo de estar em relação ao bem, se ordena ao bem, dado que ao ser em potência
não corresponde senão ordenar-se ao ato. Logo, é claro que aquilo que está em potência, pelo fato
mesmo de estar em potência, tem razão de bem. Logo, todo e qualquer sujeito enquanto está em
potência com relação a qualquer perfeição, incluindo a matéria prima, pelo fato mesmo de estar em
potência, tem razão de bem. E, dado que os platônicos não distinguiam entre matéria e privação, os
que consideravam a matéria como não-ente diziam que o bem se estende a mais coisas que o ente. E
este parece ter sido o caminho seguido por Dionísio no livro Sobre os Nomes Divinos, no qual
previamente ordena o bem ao ente. E, conquanto a matéria se distinga da privação e não seja não-ente
senão per accidens, ainda assim esta consideração é verdadeira com relação a algo, dado que a matéria
prima não se diz ente senão em potência e tem o ser simpliciter pela forma; mas tem a potência por
sim mesma. Ora, conquanto qualquer ente, esteja em ato ou em potência, possa dizer-se bom
absolutamente, nem por isto qualquer coisa é algo bom; assim como, se qualquer homem é bom
simpliciter, daí não se segue que seja um bom citarista, não o sendo senão quando possui a perfeição
na arte de tocar cítara. Assim, conquanto o homem, pelo fato mesmo de se homem, seja algo bom,
nem por isto, porém, é um homem bom, não sendo, propriamente senão a sua virtude o que torna cada
um bom. De fato, a virtude é o que torna bom aquele que a possui, como afirma o Filósofo no livro II
da Ética. Ora, a virtude é o que vem por último da potência da coisa, como se diz no livro I de Sobre
o Céu. Motivo por que é evidente quem quando se diz que uma coisa é algo bom, é porque tem a sua
própria perfeição de homem, e que um olho é bom quando tem a sua perfeição de olho.
Logo, segundo o que se disse anteriormente, é claro que o bem se diz de três modos. Como
efeito, de um modo, a perfeição mesma da coisa se diz que é um bem dela, assim como a agudeza
visual se diz um bem do olho, e a virtude se diz um bem do homem. Do segundo modo, diz-se que é
um bem a coisa que tem a sua perfeição, tal como o homem virtuoso, e o olho que vê com agudeza.
Do terceiro modo, diz-se que é um bem o sujeito mesmo enquanto está em potência para a perfeição,
assim como a alma está em potência com relação à virtude, e a substância do olho está em potência
com relação à agudeza visual. Ora, não sendo o mal senão a provação de uma devida perfeição, como
se disse mais acima, e não existindo a privação num ente e potência, uma vez que dizemos que algo
está privado quando lhe corresponde ter algo por natureza e não o tem, segue-se que o mal se encontra
no bem, já que o ente em potência se diz um bem. Ora, o bem que é uma perfeição é privado de mal,
donde em tal bem não pode encontrar-se o mal. Mas o bem que é composto de sujeito e perfeição é
debilitado pelo mal, na medida em que a perfeição é eliminada e permanece o sujeito; assim como a
cegueira priva a capacidade de ver e debilita o olho que vê, e se encontra na substância do olho ou até
no animal mesmo como em seu sujeito. Por isto, se existe algum bem que seja ato puro, sem mistura
de nenhuma potência – e assim é Deus -, neste bem de modo algum pode haver o mal.
1. Em resposta ao primeiro argumento, portanto, deve-se dizer que Dionísio não propõe
que o mal não se encontra no existente como a privação num sujeito, mas sim que, assim como não é
algo que exista per se, tampouco é algo que exista positivamente num sujeito.
2. Em resposta ao segundo, deve-se dizer quem quando se diz que o mal se encontra no
existente enquanto defeito, isto pode ser entendido de dois modos. De um modo, quando enquanto
designa alguma concomitância, e, assim, é verdade o que se diz com este modo de falar, com o qual
também se poderia dizer que o branco se encontra no corpo porque o corpo é branco. De outro modo,
quando enquanto designa uma razão preexistente no sujeito; e assim, o argumento procede.
3. Em resposta ao terceiro, deve-se dizer que o mal não se opõe ao bem em que se
encontram, pois se encontra no bem que está em potência. Ora, o mal é privação; mas a potência não
se opõe à privação nem à perfeição, servindo antes de substrato a ambas. No entanto, Dionísio, no
capitulo IV de Sobre os Nomes Divinos, vale-se deste argumento para mostrar que o mal não se
encontra no bem com algo existente.
4. Em resposta ao quarto, deve-se dizer que este argumento possui vários defeitos. Pois, em
primeiro lugar, dizer que o que convém a muitos convém a eles de acordo com a natureza comum é
verdade naquelas coisas que se predicam de muitos univocadamente. Mas o bem não se predica
univocadamente de todos os bens, como tampouco o ente se predica univocadamente de todos os
entes, conquanto ambos abranjam todos os gêneros. E por esta razão Aristóteles mostra no livro I da
Ética que não há uma idéia comum de bem. Em segundo lugar, concedendo em embora que o bem se
dissesse univocadamente e igualmente o mal, ainda assim, porque o mal é uma privação, não se diria
de muitos segundo uma intenção. Em terceiro lugar, concedendo embora que um e outro fossem
unívocos, e que cada um significasse alguma natureza, certamente se poderia dizer que a natureza
comum do mal se oporia à natureza comum do bem. No entanto, não seria conveniente que qualquer
mal se opusesse a qualquer bem; assim como o vício em geral se opõe à virtude em geral, mas não
qualquer vício a qualquer virtude, pois a intemperança não se opõe à liberdade.
5. Em resposta ao quinto, deve-se dizer que, de acordo com a verdade da coisa, a regra dos
dialéticos não falha pelo fato de o mal se encontrar no bem; dado que mal não se encontra no bem
oposto a ele, como se disse; senão que só falha de acordo com a aparência, na medida em que o mal,
considerado absolutamente, e o bem parecem guardar oposição.
6. Em resposta ao sexto, deve-se dizer que o mal, por não se encontrar no sujeito como um
acidente natural, não é causado pelo sujeito, assim como tampouco a privação é causada pela
potência. Por outro lado, tampouco possui uma causa exterior per se, mas só per accidens, como
ficará claro quando se investigue a causa do mal.
7. Em resposta ao sétimo, deve-se dizer que o mal não está como em seu sujeito no bem que
ele diminui ou corrompe, mas particularmente no bem enquanto o bem se diz ente em potência.
8. Em resposta ao oitavo, deve-se dizer que, conquanto o ato em si seja algo bom, daí não se
segue que a potência em si seja algo mau, sendo-o, porém, a privação, que se opõe ao ato. A potência,
em contrapartida, pelo fato mesmo de ordenar-se ao ato, possui razão de bem, como se disse.
9. Em resposta ao nono, deve-se dizer que neste argumento há vários defeitos. Pois, em
primeiro lugar, ainda que o fim seja um bem em si, não só o fim é um bem, mas também aquelas
coisas que se ordenam ao fim têm, por esta mesma ordem, razão de bem, como se disse. Em segundo
lugar, dado que, embora algum fim se identifique com a sua forma, daí não se segue que todo e
qualquer fim seja forma; pois, em alguns casos até a operação mesma ou o seu resultado são fins,
como se diz no livro I da Ética. E, por outro lado, sendo o feito, de algum modo, o fim do fazedor, a
disposição para a forma é fim nas artes que dispõem de uma matéria; e a matéria mesma, enquanto é
produzida pela arte divina, por esta mesma razão é bem e fim, na medida em que a ação do criador se
conclui com a mesma matéria.
10. Em resposta ao décimo, deve-se dizer que este argumento é procedente se se trata dos
acidentes que derivam da natureza do sujeito, assim como o calor deriva da natureza do fogo; de outro
modo, porém, pertence ao acidente o afastar-se da natureza, como a doença. De fato, se a doença é um
acidente do animal, não se segue daí que, quanto, mas forte seja o animal, mais doente é, e sim que,
quanto mais forte seja, menos doente é; e o mesmo argumento vale para qualquer coisa má. No
entanto, pode-se dizer que, quanto mais algo está em potência e é mais apto para o bem, por isso
mesmo tanto pior é ser privado do bem. Ora, o bem que é sujeito do mal é potência; e, assim, de
algum modo, quanto maior é o bem que é sujeito de mal, tanto maior é o mal.
11. Em resposta ao décimo primeiro, deve-se dizer que o sujeito conserva o acidente que
naturalmente existe nele. Mas o mal não existe no bem como inerido naturalmente ao bem; e, todavia,
o mal não poderia existir se o bem fosse totalmente destruído.
12. Em resposta ao décimo segundo, deve-se dizer que, como sustenta Agostinho no
Enquirídio, a opinião do profeta vai contra aqueles que dizem que o bem enquanto bem é mau; mas
não contra aqueles que dizem que algo é bom de acordo com uma coisa, e mau de acordo com outra.
13. Em resposta ao décimo terceiro, deve-se dizer que não se diz que o mal se encontra no
bem com algo dito positivamente, mas como privação.
14. Em resposta ao décimo quarto, deve-se dizer que é perfeito não só o que tem razão de
bem, mas também o que está em potência para a perfeição; e o mal se encontra neste bem.
15. Em resposta ai décimo quinto, deve-se dizer que o que é sujeito da privação, conquanto
não seja apetecível pelo fato de estar sob a privação, é, não obstante, apetecível pelo fato de estar em
potência para a perfeição; e por esta razão é um bem.
16. Em resposta ao décimo sexto, deve-se dizer que o mal prejudica o bem composto de
potência e ato enquanto o despoja da sua perfeição; ademais, prejudica o próprio bem que está em
potência não por despojá-lo de algo seu, mas enquanto é a própria supressão ou privação da perfeição
a que se opõe.
Extraído de:
SANTO TOMÁS DE AQUINO. Sobre o mal.Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005
\
Leituras complementares:
CAMELLO, Maurilio. A felicidade como bem supremo: Santo Tomás lê Aristóteles. Veritas, v.40,
n.159 (1995), p.509-516
COSTA, Marcos R. N.; DE BONI, L. (orgs.) A ética medieval face aos desafios da
contemporaneidade. Porto Alegre: EdipucRS, 2004.
DE BONI, Luis Alberto (org.). Idade Média. Ética e Política. Porto Alegre: EdipucRs, 1996.
LIMA VAZ, H. C. Escritos de Filosofia IV. Introdução á Ética Filosófica I. São Paulo: Loyola,
1999. cap.III.
MAGNAVACCA, Sílvia. Léxico Técnico de Filosofía Medieval. Buenos Aires: Mino y Dávila, 2005.
NASCIMENTO, Carlos Arthur R. A Prudência segundo Santo Tomás de Aquino. Síntese Nova Fase,
v.20,n.62 (1993);365-385
NASCIMENTO, Carlos Arthur R. A Justiça geral em Tomás de Aquino. In: DE BONI, Luis Alberto
(org). Idade Média: Ética e Política. Porto Alegre: Edipucrs, 1996.
NASCIMENTO, Carlos Arthur. O Comentário de Tomás de Aquino à “Política” de Aristóteles e os
inícios do uso do termo Estado para designar a forma do poder político. Veritas, v.38, n.150 (1993),
p.243-252.
RUBY, Christian. Os regimes políticos segundo santo Tomás. In: ___.Introdução à Filosofia
Política. São Paulo: Unesp, 1998.
SANTO TOMÁS DE AQUINO. Sobre o mal. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005, v.1
TOMÁS DE AQUINO. Os sete pecados capitais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.