Você está na página 1de 4

quarta-feira, 5 de Abril de 2017

Responsabilidade Por Acidentes de Viação


Ordem de Resolução
- Regra base:

• artigo 493º não se aplica aos acidentes de viação.


• 1º pessoa a analisar: quem está a conduzir.
- análise do artigo 483º: verificar a responsabilidade civil por factos ilícitos do condutor.

- Facto,

- Ilicitude.

- Culpa.

- Dano.

- Nexo de causalidade.

• Não verificação de um dos pressupostos: exclusão da responsabilidade.


• Verificação dos pressupostos: aplicação a titulo alternativo à responsabilidade pelo risco
(artigo 503º ou 500º).

- analisar o artigo 503º:

• O condutor é um comissário? Analisar o preenchimento dos vários pressupostos: liberdade de


escolha, incumbência de uma comissão, aceitação, existência de relação contratual, existência
de uma relação.

- Se sim: está a conduzir no exercício das suas funções?

• Se sim: aplicação do 503º/3 - não é um caso de responsabilidade pelo risco, mas de


responsabilidade aquiliana subjetiva.

- O artigo é um caso de responsabilidade de culpa presumida: joga contra o condutor


uma presunção de culpa.

- quando se analisa o facto do condutor: a culpa presume-se, mas provavelmente o


condutor poderia ilidir esta presunção (não assumir se o pressuposto culpa está
verificado). Logo, não será responsabilizado.

- Se o condutor for responsável pelo 503º/3, então quem tem a direção efetiva do veículo
seria responsável nos termos do artigo 500º.

- Se a culpa for ilidida, analisa-se o comitente por via do artigo 503º/1.

• Se não: 503º/3, parte final, que remete para o nº1 (responsabilidade do comitente).
- Não é um comissário: 503º/1.

1
quarta-feira, 5 de Abril de 2017
• 2º pessoa a analisar: quem tem a direção efetiva do veículo.
- Se o condutor não for responsável, não significa que quem tem a direção efetiva do veículo não o
seja: verificação dos pressupostos do artigo 503º/1 - remete para o 505º.

Aspetos Gerais do Regime


- PRESSUPOSTOS DO ARTIGO 503º/1: Aquele que tiver a direção efetiva do veículo e o utilizar em seu
próprio interesse, ainda que por intermédio de comissário.

• Direção efetiva do veículo: significa ter o poder de facto ou controlo do veículo (é presumido se
existir propriedade do veículo), independentemente da titularidade de algum direito sobre o mesmo.

- exemplos: detentores legítimos (proprietário, usufrutuário, locatário e comodatário) e detentores


ilegítimos (ladrão que procede ao roubo, ao furto ou furto de uso do veículo).

- Imputabilidade ao agente - nos termos do artigo 503º/2: considerando que os inimputáveis não
estão em condições de exercer poderes de facto sobre os veículos.

• os inimputáveis, de acordo com o Prof. Menezes Leitão, respondem nos termos do artigo 489º.
• Utilização no seu próprio interesse: tem como objetivo excluir aqueles que conduzem o veiculo por
conta de outrem, os comissários, aos quais se deve aplicar o regime da responsabilidade do
comitente (artigo 500º).

- o interesse pode ser económico ou moral

• Veículos abrangidos: todos os de circulação terrestre (não apenas de circulação rodoviária, mas
também circulação ferroviária - artigo 508º/3).

• Danos provenientes de riscos próprios do veículo, ainda que este não se encontre em
circulação: abrangem-se os danos resultantes da circulação do veículo (via pública ou recintos
privados) e danos causados pelo veículo quando imobilizado (incêndio por curto circuito, p.e.)

- CAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE: conforme resulta do artigo 505º, a


responsabilidade pelo risco é excluída quando o acidente seja imputável ao lesado, ou a terceiro, ou
quando resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo.

• Responsabilidade pelo 570º.


• Responsabilidade do lesado: porque? porque o acidente deixa de se poder considerar um risco
próprio do veículo e passa a ser devido exclusivamente a outros factores.

- de acordo com o prof. Menezes Leitão, não se exige culpa do lesado, mas que a conduta deste
tenha sido a única causa do dano (exemplos: comportamentos automáticos, medo invencível, atos
inimputáveis, eventos fortuitos relativos ao lesado);

- o que acontece se houver concorrência, em relação ao dano, do facto do lesado e da


condução do veículo?

2
quarta-feira, 5 de Abril de 2017
• Havendo culpa do condutor do veículo e não havendo culpa do lesado, a responsabilidade pelo
risco não é excluída.

• Se se verifica concorrência da culpa do lesado com a culpa do condutor: aplica-se o regime do


artigo 570º.

• Se se verifica concorrência da culpa do lesado com o risco próprio do veículo: deve ser excluída
a responsabilidade do condutor - em função do artigo 505º (redação abrangente) e do artigo
570º/2 (a culpa do lesado exclui o dever de indemnizar em caso de culpa presumida).

• Responsabilidade de terceiro: a responsabilidade exclui-se sempre que o acidente seja imputável a


terceiro.

- não se exige um ato culposo do terceiro, bastando que o facto seja a única causa do dano;

- sendo a responsabilidade excluída: o terceiro poderá responder a título desigual (pessoal) ou a


qualquer outro título (pelo risco - se, por exemplo, o dano é causado por um animal).

- em caso de concorrência da culpa do condutor com a responsabilidade do terceiro: ambos,


terceiro e condutor, responderão solidariamente perante o lesado (497º).

• Causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo: a responsabilidade é excluída


quando resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo.

- causa de força maior: acontecimento imprevisível, cujas consequências não podem ser evitadas,
e exterior ao funcionamento do veículo.

• circunstancias relativas ao funcionamento do veículo, ainda que provocadas por um facto


externo, não excluem a responsabilidade do condutor.

• excluirá, se, por exemplo, se tratar da projeção do veículo pelo ciclone ou por inundação: não se
podem considerar riscos de circulação do veículo.

- BENEFICIÁRIOS DA RESPONSABILIDADE: nos termos do artigo 504º/1, abrangendo tanto aqueles


que se encontravam no veículo como fora dele.

• Transporte por virtude do contrato: a responsabilidade apenas abrange os danos que atinjam a
pessoa ou as coisas por ela transportadas (504º/2).

- excluídos: danos em coisas não transportadas pela pessoa e danos reflexos sofridos pelas pessoas
referidas nos artigos 495º/2 e 3 e 496º/2.

• Transporte gratuito: apenas os danos pessoais da pessoa transportada (504º/3).


- excluídos: danos causados em coisas transportadas pela pessoa, coisas não transportadas pela
pessoa e danos reflexos sofridos pelas pessoas referidas nos artigos 495º/2 e 3 e 496º/2.

• Artigo 504º/4: são nulas as clausulas que excluem ou limitem a responsabilidade do transportador
pelos acidentes que atinjam a pessoa transportada.

3
quarta-feira, 5 de Abril de 2017
- raciocínio a contrario: permite que, no contrato, as partes excluam ou limitem a responsabilidade
do transportador pelos danos que atingem as coisas transportadas.

- RESPONSABILIDADE POR CULPA: a responsabilidade pelo risco nos acidentes causados por veículos
não dispensa a necessidade de se averiguar se existe culpa ou não do condutor do veículo.

• Averiguar se existe responsabilidade aquilina (483º): nesse caso não está sujeita a limites e abrange
todos os danos sofridos.

• A responsabilidade do condutor tem de ser provada pelo lesado, de acordo com as regras gerais
(487º), exceto quando se insere numa presunção de culpa.

• Durante muito tempo, entendeu-se que seria um caso de atividade perigosa, logo, estaria
abrangida pela presunção de culpa, nos termos do artigo 493º/2.

- Artigo 503º/3: compreende uma presunção de culpa, quando ocorra uma condução de veículos
por conta doutrem.

• O comissário só é responsável pelo risco (artigo 503º/1) se conduzir o veículo fora das funções
de comissário - apenas nessa condição se encontra preenchido o pressuposto de condução no
interesse próprio.

• Restantes casos: a responsabilidade pelo risco é atribuída ao comitente, que tem a direção
efetiva do veículo e o utiliza no seu próprio interesse, ainda que por intermédio de comissário.

• Artigo 503º/3: estabelece uma presunção de culpa do comissário - permite, ao comitente, caso
o comissário não vier a ilidir a presunção, exercer contra ele o direito de regresso pela
indemnização que tiver pago ao lesado, com fundamento na responsabilidade pelo risco.

- Discussão doutrinária: poderá, o lesado, demandar diretamente o comissário, com


fundamento na culpa presumida?

• consequências: excluir a aplicação dos limites (508º) e responsabilizar o comitente (500º)


• Rodrigues Bastos: nega a possibilidade - posteriormente, Menezes Cordeiro.
- a presunção de culpa do artigo 503º/3 funciona apenas nas relações internas, não
funcionando nas relações externas (entre comissário e lesado)

• Antunes Varela, Almeida Costa: aceitam a possibilidade.


- a presunção de culpa do artigo 503º/3 tem alcance externo, sendo eficaz perante o
lesado.

- solução que veio a ser fixada por assento 1/83: a primeira parte do artigo 503º/3
estabelece uma presunção de culpa do condutor do veículo por conta doutrem pelos
danos que causar, aplicável nas relações entre ele como lesante e o titular ou titulares
direito de indemnização.

Você também pode gostar