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Critérios de correção do exame de Direito das Obrigações II de 27 de junho de 2019 –

época de recurso

1- Quanto aos danos:


1.1- Indemnizabilidade dos danos, patrimoniais e não patrimoniais, causados a D,
nomeadamente o dano da morte (art.495.º e 496.º).
Identificação de E como um dos beneficiários da indemnização pelos danos não
patrimoniais, em conjunto com os filhos da vítima (F e G), com quem vivia em
união de facto, por força do n.º 3 do art.º 496.º.
1.2- Estabelecimento do nexo de causalidade relativamente à morte de D, tendo em
conta que a não existência no hospital de especialista capaz de efetuar a
imprescindível intervenção cirúrgica de urgência também contribuiu para o dano.
Colocação do problema no âmbito da doutrina da causalidade adequada e respetivas
formulações, positiva e negativa. Consideração de que não existe quebra do nexo
causal, pelo facto de as lesões decorrentes do atropelamento serem graves e também
por, nas condições verificadas, tendo em conta nomeadamente o local do acidente,
não ser improvável a carência de meios materiais e humanos disponíveis.

2- Apuramento da responsabilidade:
a) Relativamente a A: Responsabilização com fundamento na culpa. Verificação
da existência entre A e B de uma relação de comissão, pelo que é exigível a
colocação de duas hipóteses:
- Na hipótese de A conduzir no exercício das suas funções, aplicação da presunção
de culpa do 503.º n.º 3, que não sendo ilidida (já que conduzia com excesso de
velocidade) responsabilizaria igualmente B, como comitente, nos termos do art.º
500.º. Verificação dos pressupostos da responsabilidade do comitente.
- Na hipótese de A conduzir fora do exercício das suas funções, não haverá lugar à
aplicação da presunção de culpa do art.º 503, nº3. Ainda assim, no entanto, parece
possível aos beneficiários da indemnização fazer prova da culpa de A, tanto mais
que há violação de uma norma de proteção, já que o condutor circulava com excesso
de velocidade. Não havendo prova da culpa, A sempre responderá enquanto
detentor do veículo nos termos do art.º 503, nº1, para onde remete o nº3, parte final.
Nesse caso, igualmente B seria responsável enquanto detentor, a menos que a
utilização do veículo por A não houvesse sido autorizada.

b). Se o acidente se ficou a dever a avaria do sistema de travagem e a culpa da


lesada:
- Encontrando-se A no exercício das suas funções, apesar de onerado com
presunção de culpa, conseguiria, em princípio, ilidi-la, pelo que apenas responderia
B enquanto detentor do veículo, nos termos do art.º 503.º, n. º1. Verificação,
relativamente a este, da qualidade de detentor e consideração da falha do sistema
de travagem como um risco próprio do veículo.
- Encontrando-se A fora do exercício das funções responderá enquanto detentor do
veículo nos termos do art.º 503, nº1, para onde remete o nº3, parte final. Nesse caso,
igualmente B seria responsável enquanto detentor, a menos que a utilização do
veículo por A não houvesse sido autorizada.

Contribuição da culpa da lesada:


Problema da eventual exclusão da responsabilidade do detentor, nos termos do art.º
505. Interpretação tradicional e interpretação atualista. Opção fundamentada por
esta última e, com base nela, recusa da exclusão da responsabilidade do detentor
por força daquela disposição, uma vez que deve considerar-se que o facto da lesada
(ou seja, a circunstância de D circular em contramão) não é causa exclusiva dos
danos. Admissibilidade do concurso entre culpa e risco e aplicação do critério do
art.570.º, tendo em conta a contribuição de cada um dos fatores em concurso para
a produção dos danos, o que pode levar a uma diminuição ou até exclusão da
indemnização.

II

a)

- Caraterização da obrigação de entrega das 1000 árvores de fruto como uma obrigação
genérica.
- Aplicação do disposto no art.º 540.º, admitindo apenas a exoneração (total ou parcial do
devedor) em caso de efetiva impossibilidade de cumprimento (total ou parcial). Na
medida em que restem ao devedor outras árvores de fruto (coisas do género estipulado)
não fica este exonerado pelo facto de perecerem aquelas com que se dispunha a cumprir.
Havendo impossibilidade total da prestação não imputável ao devedor, aplicação do art.º
790.º e em caso de impossibilidade parcial, aplicação do regime do art.º 793.º. Neste
último caso, tratando-se de impossibilidade não imputável, o devedor pode desonerar-se
mediante a entrega do que for possível, reduzindo-se proporcionalmente a
contraprestação, mas o credor se não tiver interesse no cumprimento parcial, pode recusar
a prestação e resolver o contrato.

- O problema do risco: pelo facto de não ter havido concentração da prestação nos termos
do art.541º, não se havia ainda transferido o risco para o adquirente (art.408º e art.796º),
pelo que a compradora fica igualmente desonerada (total ou parcialmente) da obrigação
de realizar a sua prestação (pagamento do preço).

- Configuração da hipótese de a credora não comparecer no local no dia e hora


convencionados para levantar a prestação como um caso de mora do credor. Justificação,
atendendo ao disposto no art.º 813.º.
Havendo mora da credora concentra-se por esse facto a obrigação (art.º 541.º), transfere-
se a propriedade e o risco, pelo que o prejuízo resultante da impossibilidade passa a ser
por ela suportado, pois apesar da exoneração do devedor, continua obrigada ao pagamento
do preço. Solução que também resultará da aplicação do regime da mora do credor,
nomeadamente do art.º 815.º.

b)

- Configuração da obrigação de H como uma obrigação, além de genérica, alternativa


(art.º 543.º).
- Aplicação do regime da impossibilidade superveniente não imputável às partes, previsto
no art.º 545.º, concentrando-se a obrigação na prestação que se mantiver possível (a
entrega dos 5000 vasos de ervas aromáticas), no caso de a impossibilidade ocorrer antes
da escolha de qualquer das prestações em alternativa.
- Na falta de disposição em contrário, pertencendo a escolha ao devedor (art.º 543, n.º 2),
com a separação das árvores com vista ao cumprimento concentrou-se a obrigação numa
das alternativas possíveis, pelo que a impossibilidade total ou parcial dessa prestação não
imputável ao devedor obrigará à aplicação do regime do art.º 790.º ou 793.º,
respetivamente. Nestes termos, o devedor ficaria desonerado total ou parcialmente da
prestação de entregar as árvores (conforme lhe restassem ou não algumas árvores de fruto
no seu viveiro, já que a obrigação além de alternativa é genérica e por isso, há que ter em
conta o disposto no art.º 540.º), não sendo obrigado a entregar os 5000 vasos de ervas
aromáticas).

III

Valoriza-se o efetivo confronto entre os conceitos, não bastando debitar as noções


de forma isolada. Além da definição dos institutos, é necessário indicar a fundamentação
legal, o critério distintivo e a relevância prática e/ou teórica da distinção.

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