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Atualizado em 11.

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Lacey Smith é uma linda jovem que arranca suspiros por onde passa, tanto pela beleza quanto pela jovialidade e
vulnerabilidade que exala. Mas o que as pessoas não sabem, é que por trás de toda aquela leveza, existe um coração
ferido e uma mente conturbada devido a um relacionamento problemático do passado.
Decidida a seguir em frente, ela consegue uma vaga na Ward Corporation e aposta todas as suas fichas em uma
nova rotina que a ajude a conseguir o equilíbrio emocional de que tanto necessita.

Thomas Ward é um verdadeiro lorde inglês que resolveu levar seus negócios para Nova York com a esperança de
deixar em Londres todos os problemas familiares que o acompanham desde muito novo.
Mesmo vivendo na cidade que nunca dorme, ele continua com sua rotina solitária e regrada, permeada de
relacionamentos passageiros, algo que o incomoda bastante, já que é um homem à moda antiga que prefere cortejar
e conquistar uma mulher, a dispensá-la após uma noite de sexo.

Embora estivesse decidido a focar seus esforços na expansão de sua empresa, ele se vê questionando vários
princípios quando o destino coloca Lacey Smith em sua vida.
Seria certo se apaixonar por uma garota tão nova, sofrida e que, ainda por cima, fazia parte de seu quadro de
funcionários?

Ele é um homem feito em busca de uma felicidade que nunca sentiu.


Ela, uma garota desiludida devido a um amor que lhe fez sofrer.
AVISO
NOTA DA REVISORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 1O
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
LEIA A CONTINUAÇÃO DA ESTÓRIA
TRECHO DA CONTINUAÇÃO DE WARD
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
CONTOS QUE SE TORNARÃO LIVROS
FALE COM A AUTORA
Caras leitoras,

Os personagens deste conto são derivados do livro LOUISE STONE, A DEUSA DO AMOR ,
e embora haja menção a alguns personagens deste, o enredo de WARD é independente.
Caso ainda não tenha lido A DEUSA DO AMOR , e queira saber como esta estória
começou, o link do livro estará no final do conto.

Boa leitura,
Cleo Luz.
O texto a seguir foi revisado de acordo com as novas Regras Ortográficas, entretanto, com
o intuito de deixar a leitura mais leve e fluida, a autora usou de linguagem informal em vários
momentos, especialmente nos diálogos, para que estes se aproximassem da comunicação oral
cotidiana, por isso, é possível encontrar objetos que não estão em conformidade com a
Gramática Normativa.
Para fácil diferenciação do leitor, termos coloquiais, gírias, estrangeirismos, neologismos,
regionalismos, termos técnicos, destaques da autora, entre outros, foram grafados em itálico.
Londres

Eu estava tenso desde a hora em que peguei meu boletim. Minha mãe
era totalmente inconstante e eu não sabia o que pensar.
Quando não tirava notas tão altas quanto todos esperavam, ela brigava
dizendo que eu tinha que ser o melhor, no entanto, quando isso acontecia,
sempre dava um jeito de me colocar para baixo, dizendo que mesmo com
notas altas, meu irmão era melhor em tudo o mais.
Suas atitudes me deixavam desnorteado e muitas vezes eu sentia
vontade de desistir e simplesmente ser um garoto de onze anos normal, que
tinha outras coisas na cabeça além dos estudos e da vontade de alcançar as
expectativas de seus pais.
Só que eu sabia que aquilo não seria possível, e isso porque Cybele
Ward, a mulher que me criara desde que eu tinha dois anos, não era como as
outras mães. Ela gostava de incentivar a competitividade entre mim e meu
irmão, era como se nada que fizéssemos fosse o suficiente. Vivíamos para
agradá-la, mesmo sabendo que jamais iríamos conseguir.
Graças a Deus, nunca era agressiva, mas suas palavras magoavam mais
do que qualquer tipo de agressão física. Minha mãe sabia falar coisas que
machucavam a alma de qualquer pessoa, especialmente a minha e por causa
disso eu vivia para agradá-la ou, pelo menos, para tentar algum tipo de
aprovação.
Quando o motorista de papai nos deixou em casa, subi os degraus que
davam acesso a porta de entrada, sem nenhuma pressa. Queria retardar aquele
momento o máximo que pudesse.
Devon passou por mim e foi correndo mostrar seu boletim, o pequeno
traidor nem se deu ao trabalho de me esperar. Mas o que eu podia fazer, ele
tinha apenas nove anos e ainda não entendia certas coisas.
Além disso era bastante mimado, mas isso não o impedia de levar boas
broncas por sua impetuosidade, afinal, nossa mãe não tinha muita paciência,
mesmo com seu filho preferido.
Ainda que relutante, caminhei atrás dele.
Quando cheguei à sala, mamãe estava ao telefone. Ainda assim, Devon
falava sem parar em volta dela, coisa que ela odiava, e eu já imaginava que
ele levaria uma chamada.
Quase dez minutos depois, ela finalizou a ligação e finalmente deu
atenção para meu irmão.
— Já disse para não interromper quando eu estiver ao telefone — ela o
reprendeu como eu sabia que aconteceria.
— Desculpe, mãe, só queria mostrar minhas notas — ele falou abrindo
a mochila e pegando o envelope para lhe entregar.
Mamãe deu um meio sorriso, indicativo de que Devon havia alcançado
suas expectativas.
— E o seu, Thomas? — ela perguntou.
Caminhei até ela e entreguei o envelope que já estava em minhas mãos.
Ela o abriu, analisou e depois me encarou com aquele ar decepcionado,
mas ao mesmo tempo satisfeito... diabólico, eu diria.
— Não estão ruins, mas não estão boas como esperávamos da pessoa
que um dia substituirá o pai. Se continuar assim, nunca vai chegar aos pés do
seu irmão.
Devon me olhou como se estivesse com pena, mas logo voltou a ficar
sério. Mamãe odiava que ficássemos nos consolando depois que ela chamava
nossa atenção.
— Mas a diferença foi pouca — justifiquei.
Seu olhar se tornou ainda mais duro.
— Não há espaço no primeiro lugar para duas pessoas e o mundo não é
gentil com perdedores, então trate de estudar mais.
Balancei a cabeça e fui para o meu quarto com o coração cheio de dor.
Queria que apenas por um dia ela fosse uma mãe de verdade e não essa
mulher cruel que sentia prazer em maltratar os filhos.
A falta de amor que eu sentia era tão grande, que às vezes a vida perdia
um pouco do sentido.
Graças a Deus eu tinha o meu pai, se não fosse por ele, tudo seria muito
pior.
Era por causa dele que eu me dedicava à escola... Queria lhe dar
orgulho, ser tão bom quanto ele, mas também queria mostrar a Cybele que
não era um perdedor.
E esse dia chegaria.
DIAS ATUAIS...

Nova York

Do alto no meu escritório, em um dos endereços mais privilegiados do


centro de Nova York, eu sentia o delicioso gosto da vitória. Tinha acabado de
fechar um contrato milionário e não poderia estar mais feliz.
Quando meu pai faleceu, há mais ou menos cinco anos, foi inevitável
que eu assumisse os negócios, já que Devon não tinha a menor vontade de
trabalhar no mundo corporativo.
Toda aquela disputa incentivada por nossa mãe tinha ficado no passado,
meu irmão virou uma espécie de ativista do meio-ambiente e causas
sustentáveis — para desgosto dela — e por isso mesmo, além de engenharia
civil, fez também a ambiental.
Mas depois de percorrer vários lugares do mundo criando confusão em
defesa do que acreditava, acabou se decepcionando com as pessoas com
quem andava e decidiu tomar seu lugar na empresa como engenheiro, mas
determinado a continuar fazendo a diferença.
Foi inspirado em sua luta, que comecei a direcionar os rumos da Ward
Corporation para um caminho sustentável. Adequamos nossas filiais para que
nosso trabalho não impactasse tão duramente no meio ambiente e nunca me
arrependi.
Os novos projetos estavam sendo totalmente voltados para o
desenvolvimento sustentável, tanto é que meu próximo hotel seria nosso
modelo piloto de sustentabilidade, todo seu sistema seria completamente
projetado para economizar água e energia, além de possuir o que havia de
mais moderno no que dizia respeito a reciclagem e reaproveitamento de
materiais.
Cybele surtou quando soube dos rumos que eu estava dando à empresa
e só se acalmou quando começou a perceber o quanto a imprensa nos dava
visibilidade, fazendo com que ganhássemos clientes cada vez mais
conscientes e dispostos a pagar um bom preço por projetos desse tipo.
Mas mesmo que ela não aprovasse minha forma de administrar os
negócios, teria que aceitar, pois meu pai foi claro em seu testamento quando
deixou as empresas em minhas mãos. Ele sabia que Devon não tinha qualquer
interesse em ser seu sucessor, mas deixou claro que esperava que ambos
pudéssemos trabalhar juntos algum dia e eu estava feliz por seu desejo estar
sendo realizado.
O restante dos bens, foi dividido entre Devon e Cybele, mas como a
empresa englobava mais de sessenta por cento de nosso patrimônio, meu
irmão recebeu um lote de ações e minha mãe foi autorizada a fazer retiradas
mensais. Papai estipulou um valor um tanto quanto baixo, mas que poderia
ser aumentado a meu critério.
Com isso, além dos dividendos provenientes das ações que possuía na
empresa, atualmente Devon ainda recebia um salário compatível com sua
função.
Já Cybele, vivia do que eu lhe dava, uma vez que não vendeu e sequer
quis alugar a propriedade campestre na qual não pisava há anos.
Quando Dev voltou para Londres, nossa mãe achou que eu me
esqueceria de que a empresa era minha e que, com seu retorno, o filho mais
novo seria meu vice-presidente. Essa foi apenas uma das vezes em que a
desafiei e deixei claro que se Devon quisesse um lugar na empresa, seria
bem-vindo, mas apenas como um empregado.
Ela, é claro, deu um ataque, mas meu irmão concordou na hora,
continuava sem o menor interesse em algum cargo de comando. Ainda assim,
havia se tornado o engenheiro chefe, apenas porque era competente e o mais
qualificado no ramo em que estávamos entrando.
Daria tudo para ver a cara de Cybele quando descobrisse que o filho que
ela costumava chamar de perdedor, conseguiu para a empresa da família um
contrato que estava sendo disputado por dezenas de outras empresas de
renome.
Tinha certeza de que meu pai teria ficado orgulhoso, onde quer que
estivesse, e era isso que me interessava.
Demorou uma vida para que ele percebesse o quão ardilosa sua esposa
era, na verdade, apenas quando ficou doente foi que tomou ciência do quanto
ela o manipulou. Ela mal aparecia no hospital e quando ia, acabava falando
sobre divisão de bens e afins. Isso abriu os olhos de meu pai e estava bem
certo de que foi nessa época que ele decidiu mudar seu testamento.
Depois que ele faleceu, foi uma surpresa para todos nós quando seu
advogado de confiança anunciou que a Ward Corporation seria
exclusivamente minha.
Cybele, é claro, esperneou, dizendo que seu filho também tinha direito,
mas no final, teve que se contentar com a retirada mensal e os bens, como a
mansão onde morava, a casa de campo em Hertfordshire, que fora legada
para ela e Devon, e a cobertura de Nova York, que ficara com meu irmão,
mas que eu comprei, já que ele não cogitava viver na América. Ainda havia a
casa nos Hamptons que fora deixada para usufruto da família.
Com o dinheiro que paguei, Dev comprou uma cobertura para si na
cidade e ainda sobrara uma boa soma que ele aplicou e, atualmente, já devia
estar lhe rendido bons frutos.
Em minha opinião, todos ganharam, por isso, não havia lugar para
reclamação.
Quanto ao que me foi legado, bom, eu não poderia estar mais
agradecido ao meu pai. Gerir o império que foi iniciado por meu avô era meu
sonho e faria de tudo para que progredisse cada vez mais a fim de fazer jus ao
nome Ward.
Todo esse sucesso me fez querer expandir os negócios e foi por essa
razão que voltei a Nova York. As coisas em Londres estavam bem, mas
estáveis, de forma que senti necessidade de novos desafios.
Mas não foi apenas isso. Eu ficara sabendo que uma ex-namorada da
época de universidade havia decidido montar seu consultório de psicologia na
cidade. Eu e Louise Stone tínhamos assuntos inacabados e eu esperava
reencontrá-la.
Nós namoramos por seis meses e devido a uma demanda egoísta de
minha mãe, eu renunciei ao relacionamento que estávamos construindo.
Naquela época eu não tinha autonomia nenhuma e simplesmente fiz o
que ela pediu, sem nem ao menos saber o porquê daquela implicância, bastou
ameaçar que me tiraria a presidência de nossas empresas, que eu acatei seu
desejo. Meu pai também era outro bobo da corte, que vivia para agradá-la,
então eu sabia que dele não haveria nenhuma ajuda, por isso, ao invés de
enfrentá-la, eu decidi me afastar de Louise e segui em frente.
Só que não fiz isso de maneira honrada. A mesma covardia que me
invadia sempre que precisava me impor a Cybele, havia tomado conta de
mim e eu apenas me afastei, sem explicar os motivos do término e, pior,
poucos dias depois já estava com outra garota.
Claro que eu não era cego e consegui sentir o olhar magoado que
Louise me lançava pelos corredores, mas em nenhum momento ela ligou ou
correu atrás, apenas respeitou a distância que instituí.
Estaria mentindo se dissesse que foi fácil esquecê-la. A imagem dela e
dos momentos que passamos juntos ainda permeavam minha mente vez ou
outra e quando finalmente a encontrei, senti que ainda restava em mim
resquícios de tudo de bom que vivemos.
Ela, no entanto, deixou claro que não estava mais interessada. Ainda
assim, eu me senti motivado a investir e provar que poderíamos dar certo.
Isso até Louise revelar os motivos que levaram Cybele a pedir que eu me
afastasse dela.
Depois disso tive certeza de algo que eu desconfiava há muito tempo:
minha mãe, nitidamente, nunca amou meu pai. Sim, ela o tratava bem e
apesar de todos os seus defeitos, ele foi feliz ao seu lado, mas isso não a
isentava de seus pecados.
Cybele era uma mulher desprezível e amargurada que por ter sido
rejeitada pelo homem que amava, resolveu transformar nossas vidas em um
inferno.
Por causa dela, eu perdi a única mulher que amei e, mesmo tendo
mudado e parado de querer agradá-la, estava ciente de que namorar a filha de
Harvey Stone seria algo completamente impossível.
Era óbvio que se ela me quisesse de verdade, eu enfrentaria qualquer
obstáculo, mas Lou não queria, parecia estar feliz com Tony Osbone, na
verdade, era nítido em seu olhar que as coisas já não eram mais como
antigamente e que seria inútil ficar forçando a barra e foi por esse motivo que
eu aceitei tirar meu time de campo.
Era o mínimo que eu devia fazer, após tê-la magoado tanto no passado.
Louise era uma mulher especial e merecia ser feliz, mesmo que não fosse
comigo.
Com isso consolidado em minha mente, decidi me afastar e focar no
que estava em meu alcance, que era a Ward Corporation e os novos
investimentos que viriam.
— A Broadway está toda engarrafada, senhor — meu motorista avisou
assim que entrei no carro.
A única coisa que me tirava do sério, era o trânsito caótico de Nova
York, as coisas só se acalmavam de madrugada. Não que em Londres fosse
diferente, mas nada se comparava ao caos daquela cidade.
— Pegue outro caminho.
Eu teria que participar de três reuniões naquela tarde, todas essenciais
para que o projeto dos meus hotéis começasse a sair do papel.
Jeffrey conhecia Nova York como a palma de sua mão e se esforçou
para chegar a todos os lugares na hora.
Durante nosso “passeio”, dei-me conta de que estava ali há várias
semanas e não tinha tirado nenhum tempo para conhecer a cidade.
No Central Park eu só fui por causa das consultas que tive com Louise,
consultas estas imputadas por mim, com o intuito de me aproximar dela.
Balancei a cabeça, achando ridículo ter me imposto daquela forma a
uma mulher que, claramente, não me queria.
A única coisa boa daquilo tudo foi que as sessões que tive com ela,
acabaram sendo efetivas, nossas conversas e seu ponto de vista me fizeram
enxergar várias coisas, por isso resolvi seguir seu conselho e continuar com a
terapia.
Pensar nisso acabou me lembrando do favor que lhe fiz.
O setor de recursos humanos me informara que haviam entrado em
contato com a paciente de Louise no mesmo dia em que falei com eles e que
sua contratação fora feita no dia seguinte, com inclusão imediata ao quadro
de estagiários. Isso significava que ela já estava trabalhando há dois ou três
dias.
Fiz uma anotação mental para dar uma passada no setor de projetos,
estava curioso para vê-la e talvez até conversar, para tentar entender o porquê
de Louise ter voltado atrás em sua decisão de nunca mais me encontrar,
somente para ajudá-la.

— Para casa, senhor? — perguntou o motorista quando entrei no carro depois


da última reunião.
Eu estava exausto e tinha certeza de que ele se sentia da mesma forma.
Ainda assim, ou talvez devido a isso, por dois segundos, pensei em pedir que
parasse em algum lugar calmo para que pudesse esticar as pernas, mas
desisti, tinha trabalho me esperando.
Todavia, prometi a mim mesmo que faria isso um outro dia, quando as
reuniões intermináveis referentes a esse projeto tivessem acabado.
— Não — falei —, vamos para o escritório, tenho que pegar um
documento.
Jeffrey assentiu e pegou o caminho que nos levaria de volta ao Financial
District[1].
A empresa ocupava os cinco últimos andares de um dos prédios mais
novos e modernos de Downtown. A presidência e a vice-presidência
ocupavam o último andar. No penúltimo ficava o setor de engenharia,
juntamente com o de arquitetura, e no antepenúltimo, que era onde me
encontrava naquele momento, os setores jurídico e contábil. Os setores de
compra, venda, tecnologia, marketing, entre outros, se dividiam entre os dois
outros andares abaixo deste.
Saí do elevador e comecei a atravessar o corredor que dividia o setor
jurídico do contábil.
Como de costume, de dentro de suas baias, algumas funcionárias
esticaram o pescoço para me ver passar e, como sempre acontecia, ignorei os
olhares de cobiça e segui em direção à sala de Owen Elliot, o advogado
responsável pelo jurídico de minha empresa.
Estava chegando ao final do corredor, quando uma moça loira saiu de
dentro de uma das baias.
Foi impossível desviar o olhar de seu corpo curvilíneo enquanto
caminhava em direção à impressora. Cheguei a diminuir o passo para
acompanhá-la até seu destino, tendo a certeza de que nunca a tinha visto por
ali.
Ela, entretanto, parecia bem concentrada nas cópias que havia
começado a fazer.
Continuei a andar e, então, como se sentisse meu olhar, a loira se virou,
tirando uma mecha de cabelo do rosto.
Dessa vez eu quase parei, apenas para ficar apreciando sua beleza.
A garota também ficou me olhando, mas de um jeito curioso. De
repente, vi suas bochechas corarem um pouco até que uma colega apareceu
ao seu lado e a distraiu.
— Ela se chama Lacey[2] Smith. Uma delícia, não acha? — Elliot
comentou em tom baixo, logo atrás de mim.
Lacey; quer dizer que essa era a paciente de Louise, pensei. Então as
palavras do advogado chamaram a minha atenção. Eu não conhecia a moça,
mas não gostei da forma como ele se referiu a ela.
— Eu gosto do seu trabalho, Elliot, foi por isso que o trouxe comigo,
mas apreciaria que não falasse assim de minhas funcionárias.
Meu advogado fez sinal de sentido e abriu caminho para sua sala.
— Você e toda sua compostura monárquica — zombou.
— Você é mais inglês do que eu e fala como se fosse americano, talvez
por isso tenha se esquecido de que na Inglaterra as mulheres gostam de ser
bem tratadas — comentei enquanto me sentava a sua frente.
— Aqui na América você só precisa ter milhões na conta e isso você
tem de sobra, meu amigo.
Acabei rindo da piada sem graça dele. Andava tão focado em Louise e
no trabalho, que meus encontros amorosos tinham sido colocados para
escanteio. E mesmo antes disso, não consegui me aprofundar em nenhum
relacionamento, já que tinha apenas uma pessoa em foco.
Quem sabe agora que ela tinha me dado um fora definitivo, eu
conseguisse me envolver com alguém de um jeito mais concreto e não apenas
por uma noite.
Então me lembrei de uma coisa. Louise havia me falado que a moça iria
fazer engenharia...
— Se ela quer ser engenheira, porque está aqui e não no setor de
projetos?
Elliot me olhou com um pouco de estranheza, provavelmente não tinha
ideia de que fora eu quem indicara sua contratação. Gostei de saber que meu
R.H. era discreto.
— Também achei estranho, mas me parece que a Abby não quis, disse
que não estava precisando de mais ninguém. Você a conhece.
Abby Randall era a responsável pelos estagiários de engenharia e
arquitetura, mas o que tinha de competente, tinha de intransigente,
especialmente no que se referia a mulheres. Eu não sabia se suas atitudes se
deviam a insegurança ou se ela possuía algum complexo de abelha rainha, só
sabia que todos os estagiários desses setores eram homens.
Resolvi que daria um jeito para que Lacey fosse transferida para o
penúltimo andar, não era justo uma futura engenheira perder tempo
estagiando no setor jurídico.
Apesar do olhar questionador de Owen Elliot sobre mim, optei por não
externar o que se passava em minha cabeça, mas sabia que ele tinha uma boa
ideia do rumo dos meus pensamentos.
Esqueci o assunto e perguntei sobre o documento que havia ido buscar
ali. Tinha que analisá-lo porque precisaria dele na primeira reunião do dia
seguinte.

Por mais de uma hora eu e o advogado discutimos as cláusulas do contrato e


quando saí de sua sala, o andar estava praticamente vazio. Inconscientemente,
olhei para o lado em busca da tal loira, mas ela não estava mais lá.
Dando de ombros mentalmente, segui para os elevadores e quando as
portas estavam quase se fechando uma mão surgiu do nada as impedindo.
— Desculpe, por isso, mas estou muito atrasada — Lacey Smith disse
entrando no elevador com a cabeça baixa.
O perfume dela dominou o pequeno espaço na mesma hora. Ele tinha
um toque amadeirado, do jeito que eu gostava, aliás, aquela garota certamente
seria meu número, caso não fosse minha funcionária e, pior, paciente de
Louise.
— Sem problemas — respondi e analisei o tom dourado de seus
cabelos. — Você é nova aqui, certo? — perguntei despreocupadamente,
enquanto ela mantinha os olhos fixos nos números do painel, como se
estivesse contando os minutos para que as portas se abrissem.
— Sim, acabei de iniciar meu estágio — falou com sua voz doce, mas
deixando claro que não estava a fim de conversa.
A Srta. Smith não deveria saber que o homem parado ao seu lado era o
dono da empresa ou não demonstraria um comportamento tão indolente.
Balancei a cabeça. Talvez estivesse acostumado demais com toda a
atenção e olhares que as outras funcionárias dedicavam a mim, sem contar
que uma garota bonita assim, certamente tinha um namorado ou mesmo um
noivo. Isso se já não fosse casada.
Inevitavelmente o elevador chegou ao térreo. Quando as portas se
abriram, ela acenou timidamente em despedida antes de sair.
Segui-a para fora, ficando vários passos atrás, analisando,
disfarçadamente, seu corpo bem feito até vê-la atravessar as imensas portas
de vidro do edifício que sediava a Ward Corporation.
Lá fora, meu motorista já me esperava e fui direto para casa. Precisava
de uma boa taça de vinho e algumas horas de sono para me recuperar do dia
estressante que tive e recomeçar tudo novamente no próximo.
Estagiar na Ward Corporation estava sendo melhor do que eu
imaginava. Mesmo sendo a primeira semana, já podia sentir uma grande
diferença dentro de mim. Estar ali acabava colocando outras coisas em minha
cabeça e me abstraía das incertezas que me rodeavam nos últimos tempos.
Aquela simples rotina estava me mostrando que, talvez, a obsessão que
sentia por meu ex-namorado, fosse causada pelo tempo ocioso que eu
passava pensando nele.
Jace e eu namoramos por um bom tempo e meu pior erro foi ter
colocado todas as minhas expectativas de vida nele.
Conforme nosso relacionamento foi evoluindo, eu fui desenvolvendo
uma certa dependência que acabou se tornando bastante doentia, algo que eu
não gostava nem de lembrar. Mas desde que comecei a trabalhar como
auxiliar administrativo no setor jurídico da Ward Corporation, sentia-me
muito melhor.
Claro que minha vontade era ter ido para o setor de projetos, contudo, a
única vaga que conseguiram foi essa, mas com a promessa de realocação,
quando fosse possível.
Porém, mesmo não sendo a minha área, eu estava gostando. As pessoas
eram legais, tratavam-me bem e pareciam felizes em me ensinar as coisas.
Os únicos de quem não gostava muito eram o nosso chefe direto, o Sr.
Owen Elliot, e sua secretária, Tori Graves. Ambos me olhavam de um jeito
estranho, ele com malícia, ela, com antipatia, o que me desconcertava.
Na sexta-feira recebemos a notícia de que o dono da empresa iria ao
andar na parte da tarde para falar com todos os funcionários. Era por esse
motivo que estávamos na sala de reuniões, em pé e ansiosos para saber o que
iria acontecer.
Meus colegas de trabalho pareciam inquietos e cochichavam entre si.
Eu, por outro lado, como não tinha muita intimidade com ninguém, fiquei na
minha. Mas por dentro estava apreensiva.
Quando entrei no elevador no dia anterior, não tinha ideia de quem era o
homem que me acompanhava, só soube quando uma das meninas falou para
outra, que havia faltado, que o chefão estivera ali para conversar com o Sr.
Elliot no final da tarde.
Ao ouvir aquilo, dei-me conta de tudo e nem pude acreditar que tinha
sido tão seca com o cara que me contratara sem ao menos me conhecer.
Entretanto, deveria ter imaginado que se tratava de Thomas Ward, pois
desde que começara a estagiar as funcionárias tinham falado tanto dele e de
sua beleza extraordinária, que não havia qualquer hipótese de aquele deus
grego ser outra pessoa. Talvez, se não estivesse tão absorta no trabalho,
fazendo de tudo para continuar ali, minha percepção estivesse melhor.
Alguns minutos se passaram até que a maçaneta da porta girou e o chefe
do setor entrou, acompanhado da secretária. Logo atrás deles apareceu o
mesmo homem alto de cabelos castanho-claros, quase loiros, e olhos verdes,
que esteve em nosso setor no dia anterior. Ele estava lindo e muito elegante
em um terno cinza de três peças.
Ele atravessou a sala, parando à nossa frente, seu olhar esverdeado e
marcante foi abarcando todos nós. Como não havia cadeiras para todos, parte
das pessoas ficou em pé, inclusive eu, que havia meio que me escondido lá
atrás.
Como havia alguns estagiários e funcionários novos, o Sr. Elliot fez
uma apresentação completa do CEO da Ward Corporation. Logo depois o Sr.
Ward começou a falar. Sua voz era grave, do tipo que impunha respeito, sem
ser arrogante.
Ele falou primeiro sobre o porquê de ter resolvido abrir aquela filial em
Nova York, seus anseios e objetivos, depois sobre a importância do trabalho
em equipe para que o resultado fosse alcançado e todos saíssem ganhando e
então da relevância que os setores jurídico e contábil tinham para a empresa.
Enquanto falava, vi-me enfeitiçada por seu modo de se expressar,
gesticular e olhar para cada um. Thomas Ward tinha um talento natural para
motivar e encantar as pessoas. Quando olhei ao redor, percebi que aquele
simples discurso tinha deixado todos naquela sala hipnotizados e loucos para
fazer exatamente o que ele mandou.
Ali, no modo CEO, não dava para negar que ele já era um dos magnatas
mais poderosos de Nova York. Sorri ao pensar que muitos desses homens
pareciam sair de uma linha de produção exclusiva, pois tinham características
muito definidas. Eram altos, fortes, donos de ombros largos e cinturas
estreitas, fora o rosto cativante e a voz sedutora.
Homens daquele tipo não passavam despercebidos onde quer que
fossem.
Entretanto, apesar de admirar, engravatados não faziam meu tipo.
Preferia o jeito descolado de Jace que, por ser bem mais jovem, gostava de
jeans, camiseta e cabelos bagunçados.
Voltei a mim quando ouvi as pessoas ao redor começarem a bater
palmas. O discurso havia acabado.
Depois de acenar levemente em agradecimento, o Sr. Ward caminhou
pela sala e começou a cumprimentar cada funcionário com um aperto de mão
e algumas palavras, talvez alguns dados básicos sobre a pessoa, já que todos
ali, eram, de certa forma, novos na empresa.
Quando ele estava chegando perto do meu grupo, um nervosismo
começou a tomar conta de mim. Fui tão relapsa no dia anterior, tão fria ao
responder sua pergunta e então, quando elevador chegou ao térreo, saí de lá
quase correndo, toda estabanada, para encontrar minha mãe.
Que vexame!
Fora isso, eu ficava extremamente nervosa ao falar com estranhos, se
fosse alguém importante, então, era certo que acabaria balbuciando feito uma
boba ou falando alguma besteira.
Engoli em seco quando ele parou à minha frente, subi o olhar e nos
encaramos por breves segundos.
— Como vai, senhorita... — ele falou estendendo a mão.
— Lacey Smith — respondi à pergunta silenciosa e apertei sua mão,
que era grande e quente.
Ele ficou me analisando por uns segundos a mais do que fez com os
outros funcionários e quando se deu conta disso soltou a minha mão.
— A Srta. Smith, começou esta semana — meu chefe emendou e
Thomas voltou a me encarar.
Seu olhar era intenso, misterioso, contendo algo que eu não sabia
identificar.
— Está gostando da empresa, Srta. Smith? — ele perguntou com
gentileza, aliás, ele era muito educado.
Só o fato de ter cumprimentado todos os funcionários pessoalmente,
fez-me sentir certa admiração por ele.
— Demais, senhor, obrigada, muito mesmo — falei, deixando claro que
não estava agradecendo apenas por sua pergunta educada.
Ele assentiu gravemente e passou para a próxima funcionária.
Apenas quando o Sr. Ward saiu da minha frente, foi que percebi o
quanto estava nervosa, as mãos suadas.
Quando ele finalmente cumprimentou todas as pessoas da sala, fomos
autorizados a voltar aos nossos postos. Mas foi só os chefes se afastarem para
a mulherada começar a falar do nosso CEO, a começar por Tori, a secretária
antipática do Sr. Elliot.
— Vocês viram só como ele olhou para mim? — uma das garotas disse
e se abanou em um gesto teatral.
Eu achei engraçado e patético ao mesmo tempo. Estava claro que um
homem como ele nunca se interessaria por garotas simples como nós.
Entretanto, ele era a personificação dos mocinhos maravilhosos que
encontrávamos nos livros, de forma que era normal se iludir e sonhar com
algo que nunca aconteceria.
De minha parte, preferia não me enganar. Precisava cuidar do meu
emocional antes de qualquer outra coisa.
Por isso as deixei falando de Thomas Ward e voltei ao trabalho.

ALGUNS DIAS DEPOIS...

Dez dias haviam se passado e eu estava cada vez mais satisfeita comigo
mesma.
Até mesmo o trabalho, totalmente fora do meu ramo de interesse, me
agradava. Era bom aprender coisas novas e aproveitaria para usar esse
conhecimento no futuro, talvez fosse necessário.
Estávamos no meio da tarde e eu estava focada em alguns papéis,
quando o alerta do meu telefone soou, indicando uma atividade no Instagram.
O único perfil que eu ativei notificações, foi o do meu ex, então, quando
vi escrito que Jace Morgan havia feito uma publicação, senti meu coração
disparar no mesmo instante.
Eu havia prometido à minha psicóloga que pararia de stalkear o
Instagram de Jace. Ela inclusive me ajudou a deletar uma conta fake que eu
havia criado semanas atrás, mas quando descobri que ele estava indo embora
de Nova York, acabei reativando para poder ver o que ele andava fazendo.
Era uma atitude fraca, vergonhosa, mas também a única forma de
acalmar um pouco a angústia que havia em meu peito.
Para não me sentir tão culpada, fiz um acordo comigo mesma de ao
invés de passar horas olhando fotos e lendo comentários, iria entrar no
aplicativo três vezes ao dia; de manhã, ao meio dia e antes de dormir e ficar
conectada, no máximo, dez minutos a cada vez.
Entretanto, desde que comecei a trabalhar, fui, gradativamente,
esquecendo-me, até mesmo, de olhar o telefone durante o dia, lembrando-me
de Jace apenas quando chegava em casa.
O fato de ele não ser tão efetivo assim em suas redes sociais, também
ajudou. Por isso, assim que vi a notificação, fiquei imediatamente excitada
com a possibilidade de ver uma foto nova.
Levantei-me discretamente e disse à minha vizinha de baia que iria ao
banheiro, precisava ter um pouco de privacidade.
Tinha passado um tempão montando esse perfil. Adicionei celebridades
e subcelebridades, interagi com estranhos e postei fotos aleatórias, para que
ele não desconfiasse na hora de me aceitar.
Graças a Deus deu certo e meu fake parecia tão real quanto o de
qualquer pessoa.
Entrei em um reservado, abaixei a tampa do vaso, sentei-me e digitei a
senha de acesso na tela do meu celular. Como sempre acontecia, senti a
adrenalina tomando conta do meu corpo, era como se eu estivesse prestes a
experimentar algum tipo de droga.
Cliquei no aplicativo, selecionei a conta e entrei no Instagram de Jace.
Havia uma única foto mostrando o prédio da biblioteca Baker.
Suas aulas só se iniciariam no mês seguinte, mas imaginei que ele
tivesse ido conhecer tudo e resolver questões de alojamentos entre outras
coisas. Jace era muito certinho e de forma alguma deixaria para definir
qualquer coisa em cima da hora.
Não duvidava nada que ele já estivesse até mesmo morando em Boston,
esperando apenas o início das aulas.
Meu coração se apertou ao imaginar como seriam nossas vidas se eu
não tivesse estragado tudo; com certeza iríamos para Yale juntos, uma vez
que era nossa primeira opção. Entretanto, depois de tudo o que eu fiz, ele
preferiu ir para Harvard, provavelmente para não haver possibilidade de
esbarrar comigo.
Entrei nos comentários e vi mensagens de seus amigos, algumas delas
confirmando que ele já estava morando lá.
Saber disso fez surgir um aperto no peito, mas nem se comparou ao que
senti quando li: “Mal posso esperar”, seguido de um coração.
Na mesma hora entrei no perfil da pessoa que, para minha sorte, ou não,
era desbloqueado. A foto era de uma garota chamada Ella Bristow. Ela devia
ter a minha idade, cabelos escuros e olhos claros.
Comecei a rolar suas fotos e, de repente, senti como se meu coração
tivesse se partido ao meio.
Lá estava Jace e ela, sentados à uma mesa, em um lugar que imaginei
ser um restaurante bem aconchegante. Ambos tinham taças de vinho nas
mãos e sorriam de maneira íntima.
Desviei o olhar de seus rostos e olhei o resto. Ele vestia um suéter preto
e estava com o mesmo cabelo bagunçado e sorriso fácil que eu conhecia tão
bem, já ela, vestia uma blusa rosa e seus cabelos, lisos e brilhantes, desciam
pelos ombros.
A expressão corporal e o olhar apaixonado me disseram que ela era sua
nova conquista. Mas para não ter qualquer dúvida, na legenda estava escrito:
“Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida”.
Tive a impressão de que meu coração sangrava de tanta dor. Era como
se cacos de vidro estivessem entrando em meu peito e, mais uma vez, senti-
me sem chão, sem ar, sem reação.
Embora soubesse que um dia ele iria encontrar outra pessoa, ainda não
me sentia preparada para vê-lo tão feliz com alguém que não fosse eu.
Não havia uma dor maior que essa e eu queria chafurdar nela sozinha,
longe de olhares piedosos ou acusadores.
Saí do banheiro correndo, enquanto um rio de lágrimas descia por meu
rosto.
Apertei com pressa os botões do elevador e aguardei um pouco, porém,
quando segundos depois ele não apareceu, abri a porta que levava às escadas
e comecei a subir, lance atrás de lance, sem saber ao certo o que estava
fazendo ou onde iria parar.
A verdade era que não ligava, eu apenas precisava respirar, pensar,
sumir...
Por fim, vi-me parada em frente a uma enorme porta corta fogo.
Enquanto tentava recuperar o fôlego, imaginei que além dela, provavelmente,
ficava o telhado. Girei a maçaneta e, ao sair, confirmei que estava no
heliponto da empresa.
Na mesma hora o ar frio de Nova York me atingiu em cheio, assim
como uma magnífica vista, repleta de prédios envidraçados e tão altos quanto
aquele em que estava.
Comecei a caminhar devagar pela lateral, sem rumo, tentando pensar.
Em minha última recaída, quando soube que ele iria para Harvard,
tranquei-me no quarto com uma intensa vontade de morrer. Isso só não
aconteceu porque minha terapeuta foi me socorrer. Foi Louise, com suas
palavras sábias, quem me manteve sã desde a nossa primeira consulta.
Tanto eu quanto ela e mamãe estávamos orgulhosas do meu progresso,
mas ver aquela foto me deixou completamente desnorteada, toda a alegria
que estava sentindo por estar trabalhando na empresa que tanto queria,
desapareceu quando vi aquela imagem.
O mundo voltou a ficar preto e branco e tudo o mais perdeu o sentido,
Jace era o meu mundo, só que eu não era o dele. Menos de um ano havia se
passado e ele já estava feliz com outra pessoa, enquanto eu...
Parei quando, finalmente, cheguei à borda do lado oposto à porta.
De lá, pude ver as pessoas caminhando pela rua. Elas pareciam
formigas vistas de tão alto. Todas apressadas, imersas em seus próprios
mundos, totalmente alheias ao que acontecia em seu redor.
Foi então que aquela voz maldita começou a tagarelar na minha cabeça:
“Pule, Lacey. Acabe logo com esse sofrimento.”
Fechei as mãos em punho e apertei meus ouvidos com força.
— Pare de falar! — pedi, fechando os olhos e afastando-me um pouco
da borda.
Todas as vezes que eu tinha uma crise, sentia como se estivesse caindo
de um precipício, era como se a vida não tivesse mais razão para ser vivida.
Nessas horas eu tentava pensar nos exercícios que Louise me ensinou, e
muitas vezes funcionava, mas em outras a força que me dominava era maior
que meu juízo, eu não sabia explicar o que acontecia, só sabia que, do nada,
deixava-me levar por ela.
“Deixar esse mundo é o único jeito de fazer seu coração parar de
sangrar e acabar com seu sofrimento”, a voz continuou, como se soubesse
exatamente como eu estava me sentindo.
E nessa hora eu já não pensava mais em Louise, minha mãe ou no que
as pessoas iriam falar, tudo o que precisava era acabar com aquela dor,
estancar aquele sangramento.
Para sempre.
Tirei meus scarpins e subi no parapeito de cimento.
Nova York ficou ainda mais assustadora lá de cima, por isso fechei os
olhos e deixei que o vento gelado esfriasse minha pele.
Talvez o que estava prestes a fazer fosse o maior dos pecados, mas não
havia mais sentido em viver num mundo no qual Jace não fosse apaixonado
por mim.
Coloquei um pouco de uísque com gelo em um copo e fui até as grandes
janelas do meu escritório.
Mais uma reunião bastante proveitosa havia acabado e eu me sentia
realizado. Depois de meses montando as equipes que trabalhariam em Nova
York, o quadro de funcionários da Ward Corporation estava, finalmente,
completo.
Por esse motivo, eu vinha fazendo reuniões com todos os setores, a fim
de falar de forma mais pessoal sobre nossa política, mas principalmente para
conhecer meus colaboradores. Assim como em Londres, fiz questão de
cumprimentar cada funcionário separadamente, perguntando seu nome e
alguma coisa aleatória.
O último setor foi o de arquitetura e como aconteceu em todos os
outros, a maioria dos homens se mostrava arredia. Conseguia ver que eles
pareciam um pouco ressentidos da minha posição e os entendia, era um
pouco difícil para grande parte dos homens no setor corporativo receber
ordens e esse era um dos motivos para eu ir me apresentar a cada um deles.
Apertar suas mãos mostrava que, sim, eu era o chefe, mas não os achava
inferiores, o que era verdade, cada um tinha uma função importante e todo
aquele mecanismo só poderia funcionar porque eles estavam ali.
Já com as mulheres as coisas eram diferentes. Todas elas me olhavam
com admiração, mesmo as casadas ou comprometidas, a diferença estava no
que vinha junto com isso. Enquanto umas apenas viam um homem bonito à
sua frente, outras viam uma possível conquista; algumas destas viam o CEO
rico e seus olhares vinham carregados de cobiça, já para o restante, havia
luxúria também.
Exceto por Lacey Smith.
No dia em que a vi pela primeira vez, notei que era bonita, claro, mas
não observei suas feições mais detalhadamente. Na reunião do setor,
entretanto, com ela bem à minha frente, foi impossível não perceber que a
garota não era apenas bonita, era belíssima.
Com cabelos naturalmente loiros e brilhantes, que desciam quase até a
cintura, um rosto perfeito que não tinha qualquer resquício de maquiagem,
lábios rosados e grandes olhos azuis e expressivos, ela era a mulher mais
linda daquela sala.
Só que, diferente das outras funcionárias, Lacey me olhou de forma
contida. Dava para perceber que ela estava nervosa, mas não havia desejo,
cobiça e muito menos expectativa e isso foi algo novo para mim.
As mulheres americanas eram um pouco mais atiradas que as londrinas,
não que isso fosse ruim, mas os homens de minha família eram galanteadores
e gostavam de fazer as coisas à moda antiga. Eu, especificamente, tinha uma
essência mais comedida e gostava do jogo da conquista.
Talvez fosse por esse motivo que estranhasse a ideia de dormir toda
semana com uma pessoa diferente.
Na época da universidade, eu sempre trocava de namorada, mas estava
com meus hormônios à flor da pele e, ainda assim, costumava ficar com a
garota tempo suficiente para conhecê-la e ver se daria certo ou não.
Após o divórcio, eu mudei um pouco minha forma de pensar e comecei
a fazer o tal sexo casual. Isso foi bem libertador, mas vazio. Não havia
emoção da conquista e nem o desejo de conhecer a outra pessoa, era apenas
um encontro para saciar necessidades físicas e, para mim, não existia nada
pior que isso.
No entanto, eu não era do tipo que desistia apenas por já ter sofrido por
amor ou porque o casamento não deu certo. Pelo contrário, esperava
encontrar alguém que despertasse meu interesse, pois não tinha a intenção de
ficar sozinho a vida toda.
Terminei minha bebida e fui para minha mesa. Na tela do meu
computador, o programa de acesso às câmeras de segurança estava ligado.
Eu não era um chefe carrasco, mas gostava de ver como estava o
andamento dos trabalhos, mais pelos chefes dos setores do que pelos
funcionários. Muitos deles se valiam de seus cargos para imputar suas
obrigações aos seus subordinados ou para intimidá-los e, até mesmo, assediar
as mulheres. Esse tipo de coisa era completamente inadmissível para mim e
quando via algo suspeito, gostava de conversar com o funcionário em questão
para saber o que realmente estava acontecendo e, assim, tomar as medidas
cabíveis.
Quando abri as câmeras do setor jurídico, a primeira coisa que vi foi
uma mulher saindo às pressas do banheiro feminino e se dirigindo aos
elevadores. A imagem não estava muito próxima, mas tinha quase certeza de
que se tratava da Srta. Smith.
Fui até a câmera que filmava as baias e ao ver que a garota não estava
lá, tive certeza de que era mesmo ela. Quando voltei ao quadro que mostrava
os elevadores, pude ver a porta que dava acesso às escadas se fechando e
imaginei que ela tivesse ido para lá.
Na mesma hora fui atrás das que mostravam esta área e a vi subindo os
degraus com máximo de rapidez que uma mulher com saltos poderia
conseguir. Quando passou em frente à câmera do 19º andar, pude ver que seu
rosto estava coberto de lágrimas.
Continuei acompanhando e quando ela finalmente chegou ao heliponto,
vi, por meio da câmera que ficava acima da porta corta fogo, que ficou parada
olhando para o nada, o vento fazendo seus cabelos voarem.
Lacey então caminhou calmamente e parou em um dos cantos. Notei
quando ela fechou as mãos em punho e balançou a cabeça em negativa como
se estivesse falando com alguém.
Cliquei na câmera mais próxima a ela e deixei que a imagem
preenchesse toda a tela. Foi então que percebi o que estava acontecendo.
Sem pensar duas vezes, afastei minha cadeira bruscamente e saí de
minha sala.
A Sra. Hoover, minha secretária, ficou de olhos arregalados quando me
viu passar correndo por ela.
Vai dar tempo, vai dar tempo, repeti isso internamente enquanto ia em
direção às escadas, eram apenas dois lances até chegar ao telhado e seria mais
rápido por ali.
Ao abrir a porta, Lacey estava jogando os sapatos para o lado. Eu sabia
que se gritasse, ela poderia se apressar em fazer o que pretendia, então,
aproximei-me cautelosamente, mas da maneira mais rápida que consegui.
Quando ela subiu no parapeito e abriu os braços, dei graças a Deus por
ele ser largo, ao mesmo tempo, senti alguma coisa me rasgando por dentro,
meu coração acelerou, assim como a respiração, por concluir que ela estava
mesmo disposta a fazer aquilo.
Pouco antes de eu estar atrás dela, percebi que ela fechou os olhos.
Ela está pronta para pular, pensei, aterrorizado.
Sabendo que não tinha mais tempo, circulei sua cintura e a puxei para
trás.
Lacey gritou de susto e ambos caímos, ela por cima de mim, de modo
que o impacto do meu corpo contra o piso de concreto foi ainda maior.
Quando se recuperou, ela se virou de frente, ficando por cima do meu
peito, a cabeleira loira cobrindo meu rosto. Ambos estávamos ofegantes, os
corações descompassados e, de minha parte, sentindo um enorme alívio.
Continuei segurando sua cintura de maneira firme, com medo de ela se
soltar.
— Por quê? — perguntei baixinho e vi seus belos olhos nublarem de
desesperança.
— A vida não tem sentido para mim — respondeu no mesmo tom, a
voz carregada de tristeza. — Não mais — completou e começou a chorar.
Puxei sua cabeça para que ela a descansasse em meu ombro e ficamos
assim por vários minutos.
Em certo momento, a garota se mexeu e tive que me segurar para não
gemer. Na mesma hora me repreendi, afinal, estávamos em uma situação
completamente fora do contexto sexual e, mesmo assim, não pude impedir as
sensações que chegaram ao meu corpo.
O momento era trágico, mas tê-la daquele jeito era uma tortura e, se
pudesse, bateria em mim mesmo naquele instante por estar pensando naquilo.
No entanto, era difícil não fazê-lo quando sentia a respiração dela contra
a pele do meu pescoço, ouvia os pequenos gemidos próximos ao meu ouvido,
sentia a mão pequena espalmando meu ombro, os seios macios esmagados
contra meu peito e uma das pernas bem torneadas entre as minhas.
Dei graças a Deus por ter um ótimo autocontrole, ficaria mortificado se
tivesse uma ereção.
Quando conseguiu se acalmar, Lacey levantou a cabeça novamente e
tudo o que vi em seu rosto foi uma grande desolação.
Ela puxou a manga de seu casaco e limpou os olhos e o nariz. Quando
voltou a me encarar, parecia estar mais dona de si, pois a vergonha havia
tomado o lugar da desesperança de alguns minutos atrás e dava para ver
verdadeiro arrependimento em seu rosto.
— Não consigo imaginar o que pode ter acontecido de tão horrível a
você para querer fazer algo assim.
Ao ouvir minha voz, ela pareceu se dar conta de onde estava e tentou se
afastar, mas apertei sua cintura ainda mais, temeroso de ter errado em minha
abordagem.
— Eu não vou pular, não se preocupe — ela disse, mas continuei como
estava, analisando seu rosto para ver se estava falando a verdade. — É sério,
a crise já passou — garantiu.
Relutantemente soltei seu corpo e esperei até que se sentasse ao meu
lado, para então fazer o mesmo.
Lacey juntou os pés e abraçou os joelhos, encostando o queixo entre
eles. As unhas pintadas num rosa bem clarinho — delicado como ela —,
fincavam a pele por cima da calça.
— Olha, me desculpe por tê-lo colocado nessa situação. E eu vou
entender caso queira me demitir, ninguém quer ter uma funcionária suicida.
Esse tipo de coisa não repercute muito bem.
Com certeza era a coisa certa a fazer, porém, não consegui me imaginar
a dispensando por causa disso.
— Não vou demiti-la, mas preciso que me prometa que, toda vez que
pensar em fazer isso, vai conversar com alguém antes. Como você mesma
disse, foi só uma crise, pensar um pouco antes de agir e conversar com
alguém, vai impedir que cometa alguma loucura.
— Geralmente converso com a Louise, ela é ótima e estávamos fazendo
bons progressos, eu estava feliz, especialmente depois de vir trabalhar aqui,
mas hoje aconteceu uma coisa que me deixou mal e acabei... — ela se calou,
mas apontou para o parapeito onde estivera em pé apenas alguns minutos
antes.
Sim, fora exatamente por isso que minha ex-namorada pediu que eu
conseguisse um emprego para sua paciente, para que a garota preenchesse
seu tempo vago. Louise queria tanto ajudá-la, que aceitou me encontrar,
mesmo sem querer e eu, idiota como era, acabei com o pouco de confiança
que ela tinha em mim.
— Eu sei que não é educado da minha parte e nem da minha conta, mas
gostaria de saber o que de tão grave aconteceu com você para tentar algo tão
drástico.
Ela ficou em silêncio, ainda abraçada aos joelhos, com olhar perdido,
vagando pelos arranha-céus de Nova York.
— Meu ex-namorado, começou a namorar com outra garota — explicou
e quando me viu com o cenho franzido, continuou: — Sei que parece
patético, mas isso acabou comigo. Jace foi o primeiro e único cara que eu
amei e até bem pouco tempo também me amava. Ele era meu mundo, e então,
tudo acabou... Só eu sei a dor que estou sentindo.
A maior parte das pacientes de Louise, a procurava devido a problemas
de relacionamentos, mas não imaginei que o caso de Lacey fosse tão grave.
— Eu sei que ninguém é capaz de mensurar a dor de outra pessoa.
Mesmo quem já passou por algo parecido, nunca vai sentir o mesmo que
você, mas não é inteligente sofrer por alguém que não vai se importar.
Ela me lançou um olhar magoado, mas eu continuei.
— Se você tivesse mesmo pulado, quem sofreria seriam as pessoas que
gostam de você. Seu ex-namorado iria se sentir mal por alguns dias, mas
depois seguiria sua vida, mas seus pais... Você tem ideia de como eles
ficariam? E a Louise? Tenho certeza de que ela se sentiria culpada por não ter
podido ajudar.
Lacey me encarou com olhar desconfiado, mas depois amenizou sua
reação.
— Você tem razão. Eu sou patética, tenho certeza de que deve haver
maneiras menos dolorosas e mais limpas de se acabar com a própria vida —
brincou com sua própria desgraça e deu um meio sorriso.
Foi o suficiente para perceber que era ainda mais linda quando sorria.
Era uma pena que alguém tão doce se visse incapaz de ser feliz apenas
consigo mesma. Saber disso me deixou mal.
Lacey tinha caído de paraquedas em minha empresa, mas depois do que
aconteceu, não conseguiria parar de me preocupar. De certa forma, após tê-la
impedido de pular, eu me sentia um pouco responsável por ela.
Talvez tenha sido isso que me levou a falar as palavras seguintes:
— O que acha de tomarmos um café? Você me conta melhor o que
aconteceu e quem sabe eu possa te ajudar com esse seu ex-namorado babaca.
Ela me olhou, incrédula, mas logo seu sorriso se ampliou.
— Ajudar como?
— Ainda não sei, mas daremos um jeito.
Falando isso, coloquei-me de pé e estiquei a mão para ajudá-la a se
levantar também.
A garota hesitou por um segundo, mas logo depois a aceitou.
Fui até o local onde ela largara seus sapatos e os peguei. Depois de
calçá-los, seguimos, lado a lado, para dentro da Ward Corporation. Eu ainda
tinha uma reunião no final da tarde, mas pediria à Sra. Hoover que
cancelasse, preferiria ficar um pouco mais com Lacey.
Decidido, disse-lhe para pegar sua bolsa e me encontrar na garagem.
Quando ela começou a argumentar, contei que tinha acesso à todas as
câmeras da empresa e que, se a visse saindo sem mim, eu correria atrás dela
novamente, o que acabaria me atrapalhando muito, uma vez que precisava
conversar com minha secretária.
Sim, eu havia feito uma espécie de chantagem, mas não me importava,
tinha acabado de salvá-la e não queria lhe dar oportunidade para fazer aquilo
novamente.
Assim que passamos pela porta corta fogo, fiz uma nota mental de
procurar saber se seria possível mantê-la trancada.
Como combinado, encontrei-me com Lacey no estacionamento
subterrâneo da Ward Co., de onde meu motorista nos guiou pelo caos que era
o trânsito de Nova York.
No caminho, para que a mãe não se preocupasse, ela mandou uma
mensagem avisando que iria tomar um café com o pessoal do trabalho.
Quando encerrou a ligação, perguntou:
— Para onde estamos indo?
— Conheço um lugar tranquilo onde podemos comer e conversar.
Ela assentiu e não fez mais perguntas. Na verdade, Lacey voltou a ficar
monossílaba e imaginei que fosse pela presença do meu motorista, era natural
que não quisesse falar sobre sua vida na frente de outras pessoas.
Quando chegamos ao Bryant Park, o lugar estava agitado, escolhemos
uma mesa em um canto afastado e só então Lacey voltou a falar.
— Não precisa fazer isso, eu não vou tentar mais nada.
— Isso o quê? — perguntei, despreocupado, olhando o cardápio.
— Eu sei porque me trouxe aqui.
Ela tinha percebido que minha intenção era distraí-la, fazer com que
aquela vontade de cometer alguma besteira acabasse completamente; mas não
era apenas isso, já que estávamos ali, procuraria conhecê-la melhor.
— O combinado era comer e conversar e é isso que iremos fazer.
Ela sorriu de um jeito tímido e concordou com a cabeça.
Depois que fizemos nossos pedidos, incentivei Lacey a falar um pouco
mais sobre si mesma.
— Acho que tudo começou quando meu pai morreu, nós éramos muito
apegados. Foi um baque e tanto, eu entrei em depressão profunda e nunca
mais fui a mesma — ela confidenciou.
— Sinto muito — disse, sincero.
— Então, no final do ensino médio, conheci Jace, foi ele quem me
ajudou a sair do luto em que ainda me encontrava e voltar a viver
plenamente. Eu comecei a tratar a depressão antes de ele chegar em minha
vida, mas, ainda assim, eu vivia em uma montanha russa de emoções. Tinha
dias em que estava muito bem e outros em que entrava em recolhimento total.
Um sorriso saudoso se abriu em seu rosto antes de continuar:
— Jace era lindo e sempre foi muito extrovertido, comunicativo e, aos
pouquinhos, conseguiu devolver a alegria que a morte do meu pai tinha
levado embora. Acho que foi por esse motivo que me apeguei tanto a ele e
exatamente por causa disso eu fiquei tão mal quando terminamos.
Lacey falava de forma calma, mas, em cada palavra, era possível
perceber a dor que sentia.
— E quanto à sua mãe?
— Eu e ela sempre tivemos uma boa relação, mas não se comparava ao
que eu tinha com meu pai. Mamãe também o amava profundamente e sofreu
tanto quanto eu, isso fez com que nos aproximássemos. Se não fosse por ela
eu já...
A frase foi interrompida, mas deu para perceber o que ficou oculto e, de
alguma forma, consegui entender o que ela sentia. Eu, melhor que ninguém,
sabia o quanto a relação parental influenciava uma pessoa ao longo da sua
vida adulta.
As poucas sessões de terapia com Louise, serviram para mostrar o
óbvio: que meus problemas emocionais e várias das decisões que tomei ao
longo da vida, aconteceram devido à péssima influência de minha mãe.
Apesar de estarmos, cada um, em um extremo da equação, eu conseguia
me identificar com Lacey. Ambos fomos traumatizados por nossos pais, a
diferença era que ela estava sofrendo pelo excesso de amor que recebeu e
pela privação brusca desse amor, causada pela morte de seu pai. Já eu,
colecionava desventuras por nunca ter sentido uma vírgula do amor que
deveria ter recebido quando criança, não da parte de minha mãe, pelo menos.
— Posso te confessar uma coisa?
Ela balançou a cabeça de forma contundente e arregalou os olhos,
esperando pelo que eu iria dizer.
— Nós fomos criados de maneira completamente diferente, mas, de
certa forma, eu consigo entender como se sente. Minha mãe verdadeira
morreu quando eu era bem pequeno. Um tempo depois meu pai se casou
novamente e a mulher que me criou era o exato oposto do seu pai. Por causa
do comportamento dela comigo, eu acabei tomando atitudes que não queria e,
ainda assim, mesmo depois de adulto, deixei que ela me persuadisse a fazer
as coisas do seu jeito e isso também mexeu com a minha cabeça de forma
muito negativa. Como eu disse, meu caso é bem diferente do seu, mas de
alguma forma, ambos fomos afetados em nossa infância por aqueles que
eram responsáveis por nós.
Lacey ficou me encarando com olhos cheios de lágrimas e na mesma
hora me arrependi da comparação que fiz. Minha intenção era lhe mostrar
que todos tínhamos problemas, mas que nem por isso deveríamos desistir de
viver.
— Talvez não tenha sido uma boa ideia falar sobre minha vida —
concluí.
Ela engoliu o choro, mesmo com semblante triste continuava linda. Os
cabelos loiros caindo pelos ombros, os cílios volumosos cobrindo aquele
olhar sem esperança.
— Sempre que as pessoas ficam sabendo dos meus problemas elas
tentam dar conselhos que nem elas mesmas conseguiriam seguir, mas
ninguém nunca havia compartilhado algo tão pessoal comigo. Talvez por eu
ser nova, elas não tenham levado meu sofrimento tão a sério, mas só eu sei o
quanto doeu e ainda dói, tudo o que aconteceu.
E apesar de suas últimas palavras, ela sorriu de um jeito tímido, como
se estivesse agradecida pelo que fiz.
— Prometa que não vai tentar fazer aquilo de novo — pedi, olhando-a
seriamente.
Ela ficou me avaliando por um bom tempo. Seus olhos passearam por
meu pescoço e rosto, analisando cada detalhe dele, e subiram para meus
cabelos.
Então, parecendo satisfeita, meneou a cabeça e respondeu de maneira
firme:
— Eu prometo.
Senti um enorme alívio, mesmo sabendo que, se tivesse alguma crise,
ela talvez nem se lembrasse dessa promessa.
Após minha confissão Lacey pareceu se sentir mais à vontade para
contar outros fatos, inclusive o porquê de o ex-namorado ter terminado com
ela.
Ela estava ciente de que fora culpa sua.
— Acho que ele se cansou dos meus ataques — falou, dando de
ombros.
Sim, obviamente o rapaz devia ter se assustado com seu comportamento
instável, mas preferi não falar nada.
Conversamos por umas duas horas e quando a deixei em casa, senti que
a conhecia um pouco melhor.
Ouvi-la falar sobre sua vida cheia de altos e baixos e repleta de
problemas psicológicos, fez-me lembrar da minha própria trajetória e dos
problemas que enfrentei até conseguir ter as rédeas da minha própria vida.
Talvez Lacey demorasse para chegar a esse nível de entendimento, mas
alguma coisa me dizia que com um pouco de ajuda e um ombro amigo, ela
conseguiria se curar.
Depois que meu chefe me deixou em casa, esforcei-me ao máximo para
conversar com minha mãe como se nada tivesse acontecido.
Eu jamais poderia revelar a merda que pensei em fazer por causa de
Jace, não seria justo, afinal, ela vivia preocupada comigo e isso seria mais um
golpe muito duro.
Pensei em ligar para Louise, mas depois desisti e fiz o que sempre fazia
quando aquele vazio me consumia, tranquei-me no quarto e chorei por
minutos intermináveis até que a fronha do meu travesseiro estivesse úmida.
Quando as lágrimas cessaram, fui até o banheiro e fiquei horrorizada ao
me olhar no espelho. As pálpebras estavam mais vermelhas e inchadas do que
o normal e ainda tinha aquele olhar triste que eu não via há um bom tempo.
Naquele momento perguntei a mim mesma que diabos eu estava
fazendo com a minha vida. Como podia estar me entregando daquela forma
por causa de outra pessoa.
Desejei ter o poder de entrar dentro de minha mente e coração e
arrancar essa doença que eu sentia por Jace. Porque, sim, isso era doença, não
amor.
Liguei a torneira fria e lavei meu rosto repetidas vezes, sentindo a água
gelada baixar a temperatura da minha pele.
Thomas tinha razão, eu tinha que me controlar e não deixar que um pico
de adrenalina ou tristeza tirasse minha vontade de viver.
Jace já estava com outra pessoa e mesmo sendo doloroso, eu tinha que
aceitar aquela realidade e seguir em frente.
— Não vai ser fácil, mas você precisa tentar — falei para a garota de
aspecto frágil que me olhava de volta através do espelho.
Dizer aquilo em voz alta fez um sentimento diferente surgir dentro de
mim. Eu não sabia o que era, mas me fazia sentir mais forte.
Foi com esse pensamento que me deitei para dormir, ainda triste, mas
com um fio de esperança de que as coisas seriam diferentes dali para frente.

No dia seguinte cheguei à empresa no horário habitual e fui direto para


o meu setor. Tinha ido dormir rezando para que ninguém estivesse sabendo
do que havia acontecido no terraço. Devia ser terrível saber que estava
trabalhando ao lado de uma suicida. Imaginava que algo assim devia deixar
todos extremamente desconfortáveis e não queria isso para mim, não
aguentaria trabalhar com todos me olhando, esperando que eu tentasse
novamente.
Para minha sorte, tudo parecia muito normal quando cheguei, então fui
direto à minha mesa e comecei a trabalhar.
Mais ou menos uma hora depois, o Sr. Elliot surgiu próximo à minha
baia. Ele conversava com uma das funcionárias, mas seu olhar estava fixo em
mim, deixando-me desconfortável.
Owen Elliot era loiro e seus olhos, de um castanho bem escuro,
chamavam a atenção por causa do contraste com sua pele clara, ele devia ser
apenas uns cinco centímetros mais alto que eu, que tinha 1m70, mas seu
corpo era bem proporcionado, além de ser bastante elegante. Não poderia
dizer que ele era um homem feio, porém, não me atraía em nada.
Eu sabia que muita da indiferença que sentia, se devia ao seu jeito de
ser. Ele parecia ser o tipo de homem que usava de seu posto na hierarquia
para conseguir subserviência e aquiescência de seus subordinados. Eu já
havia percebido com relação ao trabalho e, pela forma que me olhava, sem
qualquer pudor ou respeito, podia ver que isso valia para outras áreas
também.
Entretanto, por mais que me incomodasse, ele não tinha tentado nada,
nunca nem chegou perto de mim ou falou qualquer coisa, de modo que não
poderia reclamar com alguém.
Desviei o olhar e o voltei à tela do computador, não queria que ele
achasse que eu estava correspondendo a qualquer coisa que tivesse em mente.
Decidi que iria ao R.H. para afirmar que ainda estava interessada na
próxima vaga que surgisse em minha área, não queria que achassem que eu
havia me adaptado ali, quanto antes saísse daquele setor, melhor.
Durante o dia, tentei não pensar em Jace e nas fotos que vi. Também fiz
o máximo para não me lembrar que o dono da empresa tinha conseguido
evitar que eu cometesse a maior besteira da minha vida, pois sempre que isso
acontecia, era tomada por uma enorme onda de vergonha que fazia meu rosto
corar e meu estômago se contorcer em agonia.
Como acabei saindo mais cedo no dia anterior, devido ao que havia
acontecido, ao final do expediente ainda tinha várias coisas para fazer, então
fui me despedindo das pessoas conforme iam se levantando para encerrarem
seus dias de trabalho e continuei em minha baia.
Claro que só me permiti ficar até aquele horário, porque o Sr. Elliot já
tinha saído, jamais ficaria sozinha com ele.
Perto das 19h, desliguei o computador e dei o dia por encerrado.
Chamei o elevador enquanto trocava mensagens com minha mãe. Já
tinha avisado que trabalharia até mais tarde, mas ela sempre estava de olho
nos meus passos. E quem poderia culpá-la.
No momento em que terminei de responder a última mensagem, o
elevador chegou, e quando as portas se abriram, encontrei Thomas Ward lá
dentro.
— Fazendo hora extra em plena sexta-feira, Srta. Smith?
Sorri levemente e entrei no elevador.
— Na verdade, estava com algumas coisas atrasadas e precisei dessas
duas horinhas a mais para deixar tudo em dia.
Como sempre, o Sr. Ward vestia um de seus belíssimos ternos. Ele
ficava absolutamente lindo daquele jeito, mas senti uma curiosidade enorme
de vê-lo com jeans e camiseta. Tinha certeza de que pareceria bem mais
novo.
Imediatamente eu me amaldiçoei por ter pensado isso, pois era o tipo de
coisa que Jace usaria e não queria associar mais nada a ele.
— E como se sente hoje? — perguntou quando o elevador começou a
descer.
— Bom, não tive vontade de pular do heliponto nenhuma vez, então,
acho que estou bem.
Ele sorriu do meu humor negro e olhou o relógio em seu pulso.
— Quer que a deixe em casa? Está meio tarde para pegar o metrô ou
taxi.
Na verdade, não era tão tarde assim e se eu pegasse o metrô estaria na
porta de casa em quinze minutos. Por outro lado, eu gostei tanto da
companhia dele no dia anterior e não veria problema algum em aceitar sua
carona, mas daí me lembrei que ele era o dono da empresa em que eu
trabalhava e nossa amizade repentina poderia gerar comentários.
— Eu até aceitaria, mas não acho prudente, fico pensando no que as
pessoas podem falar, sendo um super-herói ou não, você ainda é meu chefe.
Ele riu novamente, mas depois ficou sério.
— Somos amigos, Lacey, além disso não tem mais ninguém na
empresa.
Era verdade, ninguém além dos seguranças e o pessoal que fazia a
limpeza.
— Tudo bem, então.
Quando o elevador parou no térreo, o Sr. Ward apertou o botão para
fechar a porta e descemos mais dois andares até chegarmos à garagem
subterrânea.
Seu motorista, Jeffrey, estava à espera, simpático e silencioso como da
última vez.
Durante o caminho, ele perguntou coisas sobre a minha rotina e se eu
estava gostando do trabalho, então fui sincera:
— Mesmo não estagiando na minha área, que é engenharia, está sendo
muito bom e acredito que será útil, futuramente. Mesmo assim, ainda
pretendo ir para o setor de projetos ou qualquer outra área que tenha a ver
com o meu curso. Deixei meu nome com a chefe do setor, assim como no
R.H. e espero que eles se lembrem de mim quando alguma vaga surgir.
— É bom que esteja gostando, mas não faz sentido ficar em uma área
que não vai ajudá-la em seu curso. Falarei com a responsável pelo andar
sobre sua transferência, vamos ver o que consigo.
— Minha intenção não era essa, Sr. Ward, juro que não estava
reclamando.
— Ontem eu disse para me chamar de Thomas quando não
estivéssemos na empresa.
Senti-me corar com a reprimenda.
— Desculpe, é o hábito.
— Tudo bem, mas voltando ao assunto, eu sei que não está reclamando,
mas penso que será melhor para você se estiver trabalhando em algo que
goste.
Quanto a isso ele estava certo, com certeza eu ficaria muito mais feliz
trabalhando na minha área.
— E o senh... — parei, quando ele me lançou um olhar de advertência.
— O que você costuma fazer quando não está na empresa? — perguntei para
não parecer que só ele fazia perguntas.
— Trabalho.
— Sério?
Ele assentiu.
— Não tenho muitos amigos em Nova York e sou um pouco caseiro, de
modo que minha interação fora de casa se dá, principalmente, com outros
empresários com o intuito de fechar algum negócio importante.
— Nisso somos parecidos, também não costumo sair muito e não tenho
amigos por aqui.
Era triste de admitir, mas as pessoas foram se afastando de mim
conforme minha obsessão por Jace aumentava, elas preferiram ficar do lado
dele, a parte sensata da história.
Conversamos sobre coisas aleatórias durante o resto do trajeto e quando
cheguei em casa, eu estava me sentindo estranhamente leve. Era tão fácil
conversar com ele, parecia até que já nos conhecíamos há muito tempo.
Antes de dormir, senti uma enorme vontade de bisbilhotar as redes
sociais de Jace, mas então me lembrei do que poderia acontecer caso visse
alguma coisa de que não gostasse e desisti.
Não poderia dizer que foi fácil dormir sem ter notícias dele, mas
consegui vencer aquela vontade masoquista de descobrir alguma coisa que
poderia acabar com meu equilíbrio.
Um dia de cada vez, era assim que eu iria me curar daquela obsessão.
O sábado chegou e, diferente do que acontecia nos últimos finais de
semana, acordei cedo e anormalmente animada. Fiz minha higiene matinal,
vesti um short e uma regata e desci para ajudar minha mãe com o café-da-
manhã.
— Bom dia, mamãe! — falei, indo até ela e lhe beijando a face.
Fazia tanto tempo que eu não acordava cedo e com aquele humor, que
devia ser estranho me ver ali.
— Está tudo bem com você, filha? — a Sra. Jenna deve ter se sentido
na obrigação de perguntar, uma vez que eu geralmente ficava trancada em
meu quarto, sofrendo por Jace e pelas loucuras que fizeram com que nos
separássemos.
— Tudo ótimo, acordei disposta, estou até pensando em correr no
parque — afirmei, quando nos sentamos à mesa.
Tinha muito tempo que eu não fazia exercícios ou qualquer coisa além
de lamentar.
— Que ótimo, filha, respirar ar puro te fará muito bem — falou, com
cuidado. Ela sabia que quando se animava demais eu me retraía.
Suspirei ao perceber aquilo. Mamãe era a mais prejudicada por causa da
minha depressão que ia e vinha sem aviso prévio, ela vivia com medo de que
um dia eu sucumbisse, o que me deixava ainda mais chateada, pois sabia que
era eu quem lhe causava isso.
No entanto, eu estava confiante de que as coisas começariam a
melhorar. Eu não sabia por que, mas já me sentia mais forte, mais dona de
minhas vontades.
Era interessante que, conforme me afastava dos pensamentos suicidas,
eu percebia como minha rotina era decadente e permeada de negatividade.
Ao terminarmos, mamãe tirou a mesa e, em seguida, se pôs a arrumar as
gavetas da cozinha. Já eu, peguei os produtos e fui para os quartos começar a
limpeza.
O apartamento onde cresci, possuía uma área ampla que abrangia a sala
de estar, jantar e cozinha, em estilo americano, e lavanderia, além de duas
suítes e um lavabo. Como éramos apenas nós duas e ambas sempre fomos
muito organizadas, não havia tanta coisa para fazer, de forma que em menos
de duas horas estava tudo pronto.
Após guardar tudo, juntei nossas roupas e levei para a lavanderia.
Mamãe gostava de ela mesma cuidar dessa parte, então apenas coloquei nos
cestos e voltei ao quarto, iria tomar banho para tirar o suor do corpo
aproveitar o tempo livre para ver alguns episódios de uma série que estava
acompanhando.
Na hora do almoço, mamãe me chamou, e quando terminamos, eu
cuidei da louça, enquanto ela foi cuidar das roupas.
Cerca de uma hora depois, eu estava vestida com um top e um short-
saia de ginástica, com meu fone de ouvido conectado ao iPhone, que tocava
uma playlist animada, e terminava de amarrar meus tênis de corrida.
Fui ao banheiro e, apesar do tempo fechado, passei filtro na pele
exposta, amarrei o cabelo em um rabo-de-cavalo e saí de casa em direção ao
Central Park.
Sorri ao me lembrar da felicidade que irradiava de minha mãe quando
me despedi, era bom vê-la daquele jeito.
Como de costume o lugar estava cheio de crianças, famílias e turistas,
todas parecendo imensamente felizes e na hora me lembrei de porquê havia
parado de ir ali. Era sempre a mesma coisa, eu olhava para elas e sentia
inveja, não uma inveja ruim, mas proveniente do desejo de sentir a mesma
alegria gratuita.
Tive vontade de ir embora, mas daquela vez não me deixei abater, pelo
contrário, aumentei o volume da música e peguei uma das trilhas mais curtas.
Estava sedentária há muito tempo e teria que começar aos pouquinhos.
Depois de quarenta minutos de caminhada intercalada com minutos de
corridas, parei e me sentei em um dos bancos para recuperar o fôlego.
Ao meu redor havia vários grupinhos de jovens rindo, conversando e
fazendo brincadeiras. Ver aquilo me fez perceber o quanto eu era solitária.
Mas a verdade é que sempre fui assim. Não possuía muitos amigos
antes de conhecer Jace e após as loucuras que fiz com ele, os poucos que
arrumara durante nosso namoro também se afastaram.
Estava perdida em pensamentos quando o alerta de mensagem vibrou
em meu celular. Tirei-o de dentro do bolsinho que ficava na cintura da saia
para ver que era de minha mãe, o que me deixou ainda mais frustrada; que
tipo de pessoa tinha apenas a mãe para trocar mensagens?
Isso me fez perceber que eu havia descido no fundo do poço e por uma
pessoa que, quando as coisas ficaram difíceis, virou-me as costas. Esse
pensamento trouxe um pouco de lucidez à minha loucura constante, mas ao
mesmo tempo me deixou irritada.
Sentindo-me um pouco vulnerável por tudo isso, acabei discando o
número de Thomas, queria provar a mim mesma que não estava sozinha, que
tinha alguém com quem conversar, mesmo que essa pessoa fosse meu chefe.
— Lacey? Está tudo bem? — ele perguntou assim que atendeu em tom
preocupado.
— Ah, sim, só liguei para dar um oi. — Acho que essa foi a coisa mais
patética que já fiz em anos, mas ele sorriu.
— Mesmo? Por que será que não acredito?
— Talvez porque não seja verdade — admiti. — Eu estou rodeada de
grupos de pessoas, todas felizes consigo mesmas e precisava provar a mim
mesma que também tenho amigos.
— Pelo visto tem alguém entediada do outro lado da linha — ele
brincou e escutei barulho de pessoas conversando o que me fez pensar que
ele estava na rua.
— É verdade, mas não quero te atrapalhar.
— Fique tranquila, eu vim me exercitar no Central Park, mas logo volto
para casa, só estou pegando um café na Starbucks.
— Qual Starbucks? — perguntei, animada.
— A da West End, por quê?
— Porque, coincidentemente, eu estou no parque também.
— Quer vir tomar um café comigo?
Bom, eu não tinha nada interessante para fazer em casa, então, tomar
um café com ele parecia uma ótima ideia.
— Claro, em cinco minutos eu chego aí.
Mal podia conter minha empolgação. Contra todas as probabilidades,
Thomas poderia, sim, ser meu amigo, pelo menos fora do escritório.
— Quer que eu peça alguma coisa? — perguntou.
— Hum, deixe-me ver... Pede um Mocha Cookie Cramble, por favor —
falei e ele começou a rir do outro lado, deixando-me sem graça. — O que foi?
— Nada, desculpe. É que às vezes eu me esqueço de que você só tem
dezenove anos. Mas isso não interessa, há apenas duas pessoas na minha
frente, então venha logo, antes que seu chantilly derreta.
Ele desligou e eu caminhei o mais rápido que pude, não queria deixá-lo
esperando.
Embora muitas pessoas se exercitassem com pouca roupa, somente
quando entrei na cafeteria e recebi vários olhares da ala masculina, inclusive
de Thomas, foi que percebi o quanto eu estava indecente.
Abaixando a cabeça numa tentativa de esconder minhas bochechas
coradas, caminhei até o fundo da loja, em direção à mesa que ele escolhera.
— Desculpe a demora — pedi ao cumprimentá-lo, eu havia demorado
mais do que o esperado.
— Não demorou — garantiu, indicando meu mocha geladinho.
Como estava um pouco constrangida, permaneci com a cabeça baixa
enquanto tomava alguns goles para me refrescar um pouco.
Thomas riu mais uma vez, quebrando a tensão, e iniciamos uma
conversa sobre a coincidência de estarmos ali, no mesmo horário.
Ele explicou que geralmente corria aos sábados e domingos, já que
eram os únicos dias livres que tinha.
Eu falei que costumava correr ao menos três vezes por semana, mas que
após a depressão, até isso eu tinha parado de fazer. Ele fez alguns
comentários e logo um assunto puxou outro, como acontecia com pessoas
que se conheciam há muito tempo.
Era fácil conversar com Thomas, ele era gentil, tinha paciência de
escutar minhas besteiras e parecia dar importância a tudo que saía da minha
boca.
De um jeito estranho, ele me fazia sentir importante, o que me deixava
muito bem comigo mesma.
Depois de outra rodada de bebidas, ficamos mais à vontade e ele falou
sobre sua vida em Londres, sobre sua mãe e sobre a ex-esposa, mas tudo sem
entrar em muitos detalhes.
Eu escutei com atenção e senti certa raiva da mãe dele por ter sido tão
bruxa a vida inteira, sem contar a ex-mulher, que mesmo após o divórcio,
ainda vivia no pé dele.
Achei tão interessante vê-lo se despir para mim daquele jeito.
O homem que estava à minha frente não era meu chefe e sim alguém
disposto a me mostrar que os problemas poderiam ser superados. Ele tinha
sofrido com o tratamento hostil de sua mãe e então com o casamento infeliz,
e mesmo após tudo isso, em vez de se revoltar, apenas focou sua atenção no
trabalho e parecia estar em sua melhor fase.
Talvez fosse isso que estivesse faltando para mim. Eu precisava focar
em alguma coisa que não fosse Jace e a minha obsessão, até porque ele estava
feliz com outra pessoa.
Quase duas horas depois, saímos da Starbucks e fomos caminhar pelo
parque e aquilo, sim, foi divertido, Thomas era tão gentil que em nenhum
momento senti que, na verdade, havia uma hierarquia. Claro que eu ainda não
havia experimentado isso dentro da empresa, mas precisava deixar em mente
que, lá, ele não era apenas meu chefe, mas de todos na Ward Corporation.
Mas nós não estávamos na empresa e ali existia apenas um casal de
amigos, aproveitando um tempo livre no parque.
Ele não tocou no nome de Jace e sempre tentava levar a conversa a um
lado positivo, estava claramente me fazendo perceber que a vida era muito
mais do que sofrer por um ex-namorado.
— Acho que vai chover — falei, ofegante, apoiando as mãos nos
joelhos.
Tínhamos corrido um bom pedaço do parque e eu estava morta.
— Na verdade, já está chovendo — ele disse esticando a mão para
sentir os primeiros pingos de chuva.
Thomas parecia tão mais jovem dentro daquela roupa de corrida e isso
me fazia sentir mais próxima dele, já que os ternos que usava para trabalhar o
deixavam com um ar extremamente sério.
— Talvez um banho de chuva leve embora todos os meus problemas —
comentei enquanto os pingos começaram a ficar mais grossos.
— Vamos nos proteger ali — ele apontou para um grupo de árvores
com as copas mais fechadas e corremos para lá, rindo feito bobos. Assim que
paramos, completou: — Eu moro aqui perto, quando a chuva passar posso
pegar meu carro e te levar para casa.
Eu poderia dizer não, pois morava a apenas alguns quarteirões dali, não
era tão perto, mas dava para ir caminhando, no entanto, eu gostava das
gentilezas de Thomas e especialmente de sua companhia.
Após tanto tempo sendo chamada de louca e obsessiva, era bom ter
alguém que se importava comigo.
— Tudo bem, vamos esperar a chuva passar um pouco e depois você
me deixa em casa.
Thomas sorriu.
Correr da chuva daquele jeito era tão bobo, tão infantil, mas foi a coisa
mais divertida que fiz nos últimos meses.
Eu estava exausto. Tinha ido me deitar relativamente cedo para os meus
padrões, dormi a noite toda, mas quando acordei, não me sentia tão
descansado quanto deveria, mesmo após quase dez horas de sono
ininterrupto.
Parecia que todas as reuniões de que participei durante a semana
estavam cobrando seu preço, apesar de achar que o maior culpado por todo
esse cansaço fosse o estresse que passei com Lacey, dois dias atrás, além da
preocupação que comecei a sentir desde então.
A possibilidade do que poderia ter acontecido caso não tivesse chegado
a tempo ainda martelava em minha cabeça.
Pensar que uma garota tão jovem pudesse se sentir infeliz ao ponto de
querer acabar com a própria vida, era algo triste de se ver.
Claro que depois de conversarmos, consegui entender um pouco mais
os conflitos que a afligiam, mas não deixava a situação menos inquietante.
O pior de tudo era a sensação de inutilidade que eu sentia. Sim, eu a
tinha impedido de pular, mas não estaria com ela o tempo todo e isso estava
me preocupando. Ela necessitava de ajuda e era o que eu queria lhe oferecer,
queria estar disponível para quando surgisse outra crise ou quando ela
quisesse conversar, mas para tal, eu precisava saber o que fazer.
Por isso, resolvi que, por mais que tenha prometido a Lacey que não
falaria a ninguém sobre o que ocorrera, procuraria Louise, mesmo ciente de
que eu, provavelmente, seria a última pessoa a quem ela queria ver na frente,
após o que aconteceu. Só que não se tratava mais de nós, a garota era
paciente dela e eu a conhecia o suficiente para saber que assim que lhe
contasse o que acontecera, faria de tudo para ajudar e ainda guardaria
segredo.
Com isso resolvido, espreguicei-me e alonguei um pouco o corpo, como
sempre fazia ao acordar, tomei um banho demorado, preparei meu desjejum e
o tomei lendo o The New York Times no meu iPad.
Depois disso, fui ler alguns relatórios e só parei quando senti fome
novamente, o que indicava que já era hora do almoço.
Encaminhei-me à cozinha e tirei da geladeira uma salada e um filé de
frango, preparados pela diarista que ia à minha cobertura todas as sextas para
limpar e deixar a comida do final de semana pronta.
Depois que o frango esquentou, temperei minha salada e almocei vendo
a reprise do jogo entre o Manchester United e o Chelsea.
Ao terminar, fui ligar para Devon a fim de conversar sobre alguns
contratos e precisava fazer isso logo, já era quase uma hora da tarde, o que
significava que em Londres eram quase seis, uma vez que havia cinco horas
de diferença entre as cidades.
A conversa acabou sendo mais rápida do que imaginei e assim que
desliguei, fui me trocar para a corrida que fazia sempre que minha agenda
permitia.
Pouco mais de quatro quilômetros depois, senti-me satisfeito e decidi
passar em uma cafeteria antes de voltar andando para casa.
Entrei na primeira Starbucks que encontrei e fui para a fila. Estava
pensando se sairia ou não naquela noite, quando meu celular tocou.
Assim que vi o nome de Lacey, tive um princípio de pânico, achando
que ela poderia estar ligando por causa de algum problema, mas logo um
sorriso se abriu em meu rosto quando ela falou.
Sim, ela parecia um pouco deprimida, mas nada de mais, só precisava
de um pouco de companhia e como eu também era pateticamente solitário,
convidei-a a se juntar a mim para um café, ao que ela aceitou prontamente,
deixando-me bem satisfeito.
Era muito melhor passar uma tarde conversando com aquela garota um
tanto problemática, do que ficar em casa trabalhando, ou pior, remoendo o
peso que carregava desde sempre.
Quase dez minutos depois, Lacey entrou no café e foi inevitável que
cada homem ali se virasse para ela.
Eu já havia percebido isso, mas ali tive a certeza de que aquela beldade
não tinha a menor ideia do quanto era bonita, ou não sairia vestida daquele
jeito.
Tirei os olhos de seu corpo e foquei no rosto corado, não sabia se
devido à corrida ou por causa da atenção que estava chamando.
As duas coisas, decidi, quando ela se aproximou.
— Desculpe a demora — falou sem jeito.
— Não demorou — garanti e indiquei a bebida que ela pedira.
Percebendo que Lacey parecia um pouco envergonhada, apenas mantive
silêncio por mais alguns minutos, até que ela se acostumasse com minha
presença. E quando isso aconteceu, foi ótimo como das outras vezes.
Conversamos amenidades, trocamos informações, rimos bastante, mas
também falamos sério.
Ela era uma boa ouvinte e, mais uma vez, me vi falando sobre minha
infância e juventude, compartilhando alguns dos traumas que ainda carregava
comigo e ela fez o mesmo, contando outras coisas.
Enquanto falava, percebi nitidamente o quanto parecia mais tranquila e
muito mais animada do que nas duas outras vezes em que nos encontramos.
Havia um brilho diferente em seu olhar, mais vívido e eu esperava que
aquilo fosse um sinal de que estava lidando com os problemas e tentando
derrotar a depressão.
Muito tempo depois, quando olhei meu relógio, notei que quase duas
horas haviam se passado e eu não percebera. Lacey espelhou meu gesto,
verificando as horas em seu celular e em um acordo silencioso, ambos nos
levantamos para ir embora.
Ao sair da loja, olhei para o céu e percebi o quanto o tempo havia se
fechado enquanto conversávamos, se não corrêssemos, acabaríamos
encharcados.
Como nós dois íamos na mesma direção, sugeri que fizéssemos
exatamente isso. Mas não teve jeito, faltando pouco tempo para chegar ao
meu prédio, a chuva começou a cair e fomos obrigados a nos refugiar
embaixo de algumas árvores, mesmo sabendo que aquela não era uma boa
opção em dias como aquele.
Enquanto corríamos até lá, percebi que nunca havia brincado na chuva,
como a grande maioria das crianças fazia em algum momento de suas vidas
e, de uma maneira um pouco estranha, achei aquilo libertador e acabei rindo,
sem nenhum motivo específico, acompanhado por Lacey que também parecia
imensamente feliz.
— Eu moro aqui perto — falei, apontando alguns prédios adiante para
mostrar que realmente ficava bem próximo de onde estávamos —, quando a
chuva passar, posso pegar meu carro e te levar para casa.
Ela pensou seriamente por alguns segundos, mas depois deu de ombros
e disse:
— Tudo bem.
Não demonstrei, mas fiquei bem contente por ter a companhia de outra
pessoa por mais algum tempo.
Assim que a chuva deu trégua, caminhamos até meu apartamento,
tomando cuidado para não levarmos um banho dos veículos que passavam
sem nenhum cuidado pela pista molhada.
Como precisava pegar as chaves do meu carro, eu a convidei para subir
e, mais uma vez, Lacey apenas aceitou, tranquila como sempre.
— Seu apartamento é muito lindo e organizado, Thomas, nem parece
que tem gente morando aqui — comentou quando entramos na sala principal.
— Eu passo a maior parte do tempo no meu quarto ou no escritório,
então, é fácil para o pessoal da limpeza manter tudo organizado.
Quando decidi comprar aquela cobertura, levei em conta a distância
entre casa e trabalho e também o acabamento impecável que o prédio recém
reformado apresentava.
O pé direito alto, fazia com que parecesse ainda maior, as comodidades
eletrônicas e a segurança oferecidas aos moradores, facilitavam minha vida e
isso contou bastante na hora da escolha.
Era um lugar realmente bonito, pena que, normalmente, apenas eu tinha
o prazer de apreciá-lo.
— Você faz muitas festas aqui? Esse espaço é ótimo.
A ideia dela não era ruim, mas...
— Não, porque não tenho ninguém para convidar, além de você — falei
em tom jocoso para não parecer tão patético.
— Nossa, nós dois somos uma vergonha — ela comentou, rindo.
— Eu diria que seletivos.
— Me sinto muito melhor agora — zombou, revirando os olhos.
— Você gosta de festas? — perguntei enquanto pegava a chave do
carro.
— Na verdade, eu nunca fui a uma festa de verdade ou a uma boate. Na
época em que estava namorando, na maioria das vezes fazíamos programas
com outros casais, mas eu tenho vontade de ir. E você?
— Eu também não sou muito baladeiro, mas de vez em quando eu vou,
não para dançar, mas para espairecer, conhecer pessoas — falei de forma
genérica, não ia lhe dizer que era nesses lugares que eu, normalmente,
encontrava companhia para a noite. — Podemos ir qualquer dia desses —
falei, encostado na bancada que dividia a sala da cozinha.
— Eu topo, vai ser bom ver gente diferente, quem sabe isso me ajude a
melhorar mais rápido, estou cansada desses altos e baixos — lamentou,
sorridente, e ajeitou o shorts que tinha subido um pouco quando se sentou.
Aquele corpo perfeito, dentro daquela roupa de ginastica, era uma
tentação para qualquer homem, inclusive para mim, e se fosse qualquer outra
garota, talvez até quebrasse minha regra de não me envolver com
funcionárias.
Balancei a cabeça. Deveria me sentir mal por ter pensamentos
libidinosos com uma garota dez anos mais nova que eu, mas ela já tinha
passado por tanta coisa, que precisou amadurecer mais rápido, de modo que
não percebia nossa diferença de idade.
E, na verdade, idade nunca influenciou minhas escolhas. Já tinha saído
com mulheres mais velhas do que eu e, no final do encontro, fiquei com
aquela sensação de que faltava alguma coisa.
O que apenas demonstrava que isso, muitas vezes, não fazia diferença.
Só que nada daquilo poderia se aplicar àquela bela garota que tentou se
matar dois dias atrás. Eu não podia esquecer que meu propósito naquilo tudo
era ajudá-la e não complicar ainda mais sua vida.
Lacey estava melhorando, prova disso era a facilidade que tinha de
zombar de seus próprios problemas. Ela me confidenciou que algum tempo
atrás isso era algo inconcebível, então, tínhamos que focar no que estava
dando certo.
Eu não era psicólogo, mas aprendi durante minhas sessões com Louise
que para melhorar, tínhamos que fazer as pazes com o passado e seguir em
frente, ou ele sempre nos perseguiria.
Por causa disso, estava convicto de que Lacey precisava esquecer o
idiota do ex-namorado, para só então voltar a viver plenamente.
E eu me empenharia em ajudá-la nessa tarefa. Conversaria com Louise
para saber até onde ir e daria um jeito de fazê-la perceber que uma garota
linda e inteligente como ela, tinha muita coisa para viver e aprender, bastava
deixar o passado para trás e se abrir para uma nova vida.
Praticamente uma semana havia se passado desde a minha quase
tragédia e eu me sentia bem melhor do que já estive em muito tempo, e isso
se devia ao fato de não ter me rendido ao desejo de entrar nas redes sociais de
Jace. A curiosidade foi grande, óbvio, mas minha força de vontade foi muito
maior e isso me incentivou a continuar. Tinha consciência de que precisava
sair daquele círculo vicioso e seguir em frente e estava me empenhando para
isso.
Quando cheguei ao meu andar, vi alguns funcionários conversando e
bebendo uma xícara de café, antes de começar o expediente.
Como acontecia sempre que alguém saía do elevador, recebi uma chuva
de olhares. A maioria neutros, outros simpáticos e alguns cheios de desdém.
Mas os piores vinham de Tori. A secretária do Sr. Elliot não gostava nem um
pouco de mim e não fazia questão de disfarçar.
Já que minha mesa ficava no final do corredor, passei desejando bom-
dia aos colegas que se voltaram para mim, independentemente do tipo de
olhares que me lançavam.
— Tori te olha de um jeito — minha vizinha de baia comentou,
baixinho.
Joly começou como estagiária pouco antes de mim e era uma das
poucas pessoas com quem eu mantinha contato. Ela fazia direito, tinha vinte
e dois anos, era alegre, muito sincera e a cada dia eu apreciava mais seu jeito
de ser
— Pois é, ela não gosta de mim e não se importa em mostrar isso a
todos.
A ruivinha afastou a franja do rosto e esticou o pescoço para chegar
mais perto.
— Acho que ela tem inveja de você.
— Inveja? — Joly balançou a cabeça afirmativamente e eu franzi o
cenho. — Mas por quê?
— Talvez porque você pareça uma Angel da Victoria Secret, com um
pouco mais de curvas, é claro.
Balancei a cabeça e sorri, sentindo-me bem por ter sido elogiada com
sinceridade.
Sim, eu sabia que era bonita, mas passei tantos meses remoendo minha
situação com Jace, que acabei me deixando de lado.
— Obrigada, Joly, você é um amor.
— Um amor nada, eu... Ah, meu Deus, lá vem aquele gatão do nosso
CEO — avisou.
Olhei para mesma direção que ela e vi-o avançar pelo corredor junto a
uma morena com cabelos iguais aos que víamos em comerciais de shampoo,
tão brilhantes, cheios e perfeitamente lisos, que até pareciam de mentira.
Ela sorria de um jeito contido e desfilou elegantemente com Thomas ao
seu lado lhe mostrando o setor. Enquanto passava, nosso chefe
cumprimentava os funcionários com a mesma polidez aristocrática de
sempre.
Thomas Ward era tão lorde, que sequer tinha uma rede social. Fiquei
sabendo disso no domingo à tarde, depois que mandei uma mensagem
perguntando qual era seu Instagram e ele me disse que nunca se preocupou
em fazer um, porque se achava velho demais para esse tipo de coisa.
Eu, é claro, achei um absurdo e lhe disse que, embora bisbilhotar a vida
das pessoas fosse bem divertido, ali não havia apenas entretenimento e então,
comecei a explicar sobre como ele podia usar seu perfil para atrair clientes
em potencial e finalizei dizendo que era uma ótima forma de paquerar.
Estava certa de que fora aquilo que mais o incentivou a abrir uma conta
no aplicativo de fotos mais famoso do mundo.
Pelo Skype dos nossos computadores, expliquei tudo certinho e quando
conseguiu criar sua conta, mandou um convite para me seguir, que eu aceitei
na mesma hora.
Poucos minutos depois, ele me enviou um direct para testar suas
habilidades com o aplicativo e com isso, passamos o resto do domingo
conversando bobagens e escolhendo a foto que colocaria em sua bio e mais
três outras que ele postaria em seu perfil.
Também perguntei como seria quando nos encontrássemos pela
empresa. Eu sabia como queria me comportar, mas não queria que ele
achasse que eu o estava ignorando.
Graças a Deus ele pensava como eu e concordamos que lá dentro, nós
nos trataríamos como patrão e empregada apenas, não queríamos iniciar
nenhum tipo de fofoca descabida.
Por isso, quando passou por nossas baias, ele nos cumprimentou com
educação, assim como ela, e os dois se dirigiram à sala de Elliot, sendo
escoltados por uma Tori toda empertigada.
— Pelo visto, essa é a nova contratação do Sr. Elliot — Joly explicou
despertando minha curiosidade.
— Como assim?
— Parece que ele pediu para o chefe contratar um advogado experiente
com a lei americana para ajudá-lo com alguns pepinos do setor, imagino que
a bonitona seja a escolhida.
— Bonita mesmo — comentei.
Ela deveria ter uns trinta anos, ou seja, vários a mais do que eu; era
linda, elegante e bem-sucedida.
Esse pensamento me fez imaginar a mim mesma no futuro, o que
acabou gerando algumas perguntas em meu subconsciente:
Será que eu ainda estaria trabalhando ali depois que me formasse?
Será que conseguiria esquecer o idiota do Jace?
E o mais difícil de tudo, será que conseguiria me apaixonar novamente
por alguém?
Essas eram perguntas que somente o tempo iria responder, e estava
conformada com isso, sabia que, por hora, precisava viver um dia de cada
vez.
Foquei no trabalho e só tirei a atenção das petições que estava lendo,
quando a porta da sala de Elliot se abriu, vários minutos depois, e ele,
acompanhado de Thomas e da morena, saíram.
Ao vê-los juntos, achei que haveria algum comunicado para o setor,
mas eles apenas seguiram em direção ao elevador e foram embora.
Como de costume, um burburinho se formou logo após a partida dos
três.
Tori aproveitou a ausência de seu chefe e fez uma roda da fofoca, com
mais umas três ou quatro desocupadas, em volta de sua mesa.
Como minha baia ficava bem próxima, deu para escutar quando ela
começou a falar mal da moça, o que para mim, não foi nenhuma novidade, já
que falava mal de todo mundo.
— Já estou até imaginando como serão as coisas depois que ela assumir
o cargo. E tem mais, não duvido nada que aquela ali já não esteja saindo com
um dos dois — a cobra destilou seu veneno, o que deu vazão para que as
antas que a cercavam fizessem o mesmo.
— Claro que ela deve estar saindo com um deles... Ou com os dois —
uma delas continuou e todas riram, maldosas.
— Eu aceitaria na hora, se nosso CEO me chamasse para sair — disse
outra.
— Não seja ridícula, Thomas nunca olharia para uma sem sal como
você — Tori soltou, sem se preocupar com os sentimentos da garota.
— Elas são patéticas — Joly comentou.
— Concordo e acho que um homem como ele ficaria extremamente
incomodado se soubesse que há uma funcionária espalhando mentiras a seu
respeito.
— Acho que fofocas são comuns em ambientes como esses, onde
dezenas de pessoas trabalham juntas, mas a mocinha ali não apenas espalha
fofoca, pelo que estou vendo, ela as inventa e passa para a frente.
Concordei com a cabeça, aborrecida por ver o nome do meu amigo na
boca daquelas mocreias, mas apenas dei de ombros e tentei trabalhar, só que
foi difícil, já que elas continuavam tecendo seus comentários cheios de
inveja, isso até o chefe do setor retornar.
Pela primeira vez, dei graças a Deus pela presença de Elliot, pois só
assim o grupo se dispersou e voltou a se ocupar.
O restante da semana passou sem nenhuma surpresa, mas com muito
trabalho, e com tantas coisas para fazer, nem me lembrei de Jace.
Na sexta-feira, Joly me convidou para tomar um café na galeria que
ficava no térreo e eu aceitei, precisava fazer novas amizades.
Enquanto ela me contava algo, vi Thomas saindo do elevador principal,
mais uma vez acompanhado da nova advogada que, dessa vez, usava um
conjuntinho azul-marinho. Ela havia prendido os lindos cabelos em um rabo-
de-cavalo e estava belíssima, como da última vez.
Os dois conversavam distraidamente quando passaram pela cafeteria e
vê-los juntos novamente, fez com que me lembrasse das palavras de Tori e
me peguei conjecturando coisas que não eram da minha conta.
Na mesma hora me recriminei. Não havia motivos para eu especular
sobre a relação deles, Thomas era o dono de tudo aquilo ali, alguém a quem
considerava um amigo, mas apenas isso.
Mais uma manhã de sábado havia chegado e ali estava eu, trocando
mensagens com Tom.
Era tão bom poder conversar com um homem sem esperar nada em
troca. Com Jace, por exemplo, eu sempre estava tensa ou com medo de fazer
alguma coisa que o desagradasse e isso ia dos nossos encontros até as trocas
de mensagens pelo celular.
Apesar de mais velho, cheio de responsabilidades e com vários traumas
nas costas, Thomas conseguia ser mais leve e isso era bem incrível.
Eu acreditava que a bagagem que carregava, tinha lhe dado experiência
e sabedoria suficiente para perceber onde eu estava errando e me aconselhar.
E ele fazia muito isso, afinal, estava empenhado em me colocar para cima a
qualquer custo.
— Estou adorando essas suas risadinhas para o celular — minha mãe
falou ao me entregar um pedaço de torta. — Isso, para mim, tem cheiro de
romance, ou estou enganada? — quis saber.
— Ele é só um amigo, mamãe, mas estou adorando essa nova fase da
minha vida, acho que muito em breve vou deixar tudo o que me aconteceu
para trás.
Ela assentiu, visivelmente feliz e conversamos sobre outros assuntos por
um bom tempo. Comentei sobre como estava indo meu trabalho na empresa,
a expectativa de ser transferida e as amizades que tinha feito nas últimas
semanas.
Fazia tanto tempo que não falávamos sobre assuntos leves e aleatórios,
uma vez que ao longo dos últimos meses, sua vida era me consolar por causa
da falta que eu sentia de Jace.
Essa mudança no meu comportamento, me fez lembrar das inúmeras
vezes em que Louise me aconselhou a fazer alguma coisa que eu gostasse,
conhecesse outras pessoas. Ela dizia que eu precisava mudar a frequência,
sintonizar em outras estações.
E isso estava acontecendo devido ao meu novo trabalho. A cada dia eu
tinha mais certeza do quanto estava sendo primordial para minha saúde
mental e isso se devia a ela, e a Thomas, é claro.
Quando a noite chegou, sentia-me cansada e resolvi dormir cedo,
agradecendo a Deus, mais uma vez, por estar, a cada dia, recuperando meus
hábitos anteriores, de dormir à noite e ficar acordada e bem-disposta durante
o dia.
Era ótimo apenas me dar o luxo de dormir.
O que não parecia nada bom era ser acordada pelo toque do telefone tão
cedo em pleno domingo.
Ao olhar o visor, vi que era Thomas e, isso, sim, me deixou surpresa.
— Você não dorme? — brinquei, com a voz sonolenta.
— Desculpe te acordar, mas estou indo correr no parque e resolvi ligar
para saber se não quer me fazer companhia.
Eu ainda estava com sono, mas sabia que não conseguiria voltar a
dormir, por isso aceitei.
— Será um prazer.
— Tudo bem, te encontro na Starbucks que fica em próximo ao meu
prédio, vamos tomar um café antes.
— Vinte minutos — pedi, antes de desligar e correr para o banheiro,
onde tomei um banho rápido, para acordar de verdade.
Fui até o closet e abri a gaveta onde guardava as roupas de ginástica.
Apesar da pressa, acabei ficando ali por vários minutos tentando decidir o
que usar, de maneira alguma sairia de forma tão indecente novamente.
Por fim, escolhi um top mais comportado e uma calça que fazia
conjunto com ele. Olhando para fora da janela, vi que o dia não estava muito
ensolarado e resolvi pegar um casaco preto de capuz, específico para
academia e o amarrei na cintura.
Cheguei à Starbucks dois minutos depois do horário que pedi e
encontrei Thomas na primeira mesa perto da entrada. Ele usava uma camiseta
preta e bermuda de corrida da mesma cor.
— Bom dia, Thomas — cumprimentei assim que ele se levantou.
— Bom dia. Pedi nossos cafés quando te avistei, já devem estar quase
prontos.
— Obrigada. E aí, como está se saindo com o Instagram?
Ele balançou a cabeça e sorriu.
— Entrei há uma semana e já tenho mais de mil pessoas me seguindo, é
rápido assim mesmo?
Sorri.
— Bom, você é um empresário conhecido e as notícias correm rápido
no meio virtual. Além disso, tem a vantagem de também ser conhecido na
Inglaterra. Resumindo, não é tão fácil assim para pessoas comuns, já para
grandes empresários...
— Devo ficar feliz, então?
— Uhum.
Quando nossos pedidos chegaram, continuamos conversando sobre
redes sociais e como isso poderia tirar a concentração de um empresário
ocupado como ele.
Depois de beber nossos cafés, seguimos para o parque e intercalamos
caminhadas e corridas em meio a muita conversa e risadas bobas.
Como era bom ter amigos!
— Eu pedi sua transferência para a área de projetos — disse ele, do
nada, fazendo-me parar de chofre.
— Ah, meu Deus! Obrigada — falei, eufórica, e, instintivamente, o
abracei.
O choque dos nossos corpos, fez-me lembrar do dia em que ele me tirou
da beirada do edifício, mas logo tratei de esquecer, o contexto daquele novo
abraço era outro e ao invés de tristeza, eu estava sentindo alegria e gratidão
por ele estar fazendo aquilo por mim.
— Obrigada, Thomas, de coração, não vejo a hora de isso acontecer —
falei ao me afastar.
— Não precisa agradecer, eu falei que iria te ajudar a passar por essa
fase conturbada e acho que trabalhar no que você gosta vai ajudar bastante
nessa melhora. Eu não sou o tipo de chefe que gosta de impor suas vontades,
quando se trata desses assuntos. Por causa disso, vai demorar alguns meses
para que consiga a transferência, precisará esperar até que os primeiros
estagiários se desvinculem da empresa. Mas seu nome já está cotado para
transferência imediata, ou seja, para a primeira vaga que surgir.
Assenti com a cabeça e engoli em seco. Sentia-me imensamente
agradecida aos céus por ter conhecido o lado tão humano de um homem que
mal me conhecia e não tinha qualquer obrigação de se importar comigo.
— Eu já me sinto muito melhor, até fiz amizade com uma menina lá do
setor — contei. — Minha psicóloga tinha razão, eu só precisava mudar de
ares para melhorar.
Thomas apenas assentiu e voltamos a caminhar.
Falar de Louise me fez lembrar que eles se conheciam e fiquei tentada a
perguntar sobre isso, mas decidi que ainda era cedo, além do mais, se ele
quisesse falar sobre o assunto, já o teria feito.
— Acho que nossa caminhada se estendeu um pouco demais, já são
11h30 — disse ele, olhando seu Apple Watch no pulso.
— Verdade — confirmei, vendo as horas no visor do meu telefone.
— O que acha de almoçarmos em algum restaurante aqui perto? —
sugeriu. — Se não tiver outro compromisso, é claro.
— Não tenho. Mas com essas roupas suadas? — questionei, fazendo
uma careta.
Ele olhou para si mesmo e depois para mim.
— Você está certa — concordou e depois de pensar um pouco, propôs:
— O que acha de irmos para a minha casa, sou um ótimo cozinheiro.
Eu já tinha ido ao apartamento de Thomas e me senti superconfortável
lá.
A verdade era que eu gostava de estar na presença dele, então achei a
ideia do almoço maravilhosa.
— Espero que cozinhe bem, mesmo, pois estou começando a ficar com
fome — respondi e caminhamos para fora do parque.
Assim que entramos em minha cobertura, pedi licença a Lacey, queria
tomar um banho antes de começar a manusear os alimentos para o nosso
almoço.
Quando voltei, cinco minutos depois, fomos para a cozinha. Ela se
sentou em uma das banquetas altas, enquanto eu pegava os ingredientes.
— Que tal uma taça de vinho branco? — ofereci.
— Vai me julgar se falar que prefiro uma cerveja?
Sorri. Essa garota era realmente diferente das mulheres que conheci ao
longo da vida. Todas elas teriam aceitado o vinho, nem que fosse para me
agradar, mas Lacey era apenas ela mesma.
— Óbvio que não — garanti —, também gosto de tomar cerveja nos
dias mais quentes, entretanto, tenho um fraco por bons vinhos.
Peguei duas garrafinhas de Heineken na geladeira e lhe ofereci uma.
Depois de abrir, brindamos e bebemos um gole. Aquele dia, com
certeza, estava sendo atípico em todos os sentidos. Tinha uma amiga em casa
e depois de muitos meses, estava fazendo alguma coisa normal em um sábado
à tarde, em vez de trabalhando.
— O cheiro está ótimo — ela elogiou, vários minutos depois.
Lacey tinha um olhar alegre e em nada lembrava a menina perturbada
de dez dias atrás, isso me deixou orgulhoso do papel que estava tendo e do
vínculo que estávamos criando.
— Aprendi a fazer este molho pesto em uma viagem que fiz ao norte da
Itália.
— Eu nunca viajei para fora dos Estados Unidos, acredita? — ela
confidenciou com ar tristonho.
— Você ainda é nova, terá oportunidade de fazer muitas viagens, e se
for uma boa engenheira, certamente irá viajar pela empresa também.
Os olhos de Lacey se iluminaram.
— Está falando sério. Você me vê na Ward Corporation por tanto
tempo assim?
Lacey ainda não me conhecia, mas eu prestava muita atenção aos meus
funcionários e sabia quais eram os leais, que realmente queriam trabalhar, e
ela demonstrava ser um deles.
— E por que não?
Ela sorriu e bebeu um pouco mais de sua cerveja.
Quando estava terminando de preparar a massa, mostrei a ela onde
estavam os utensílios e pedi que preparasse nossos lugares, ali mesmo, na
bancada.
Almoçamos sob os suspiros de aprovação de Lacey, que me olhava
deliciada a todo momento, como se tivesse sido presenteada com aquilo.
Nossa refeição só foi interrompida pela ligação da mãe dela, que
deveria se preocupar o tempo todo por causa dos problemas da filha. Mas
olhando para ela enquanto conversava alegremente ao telefone, senti que
esses dias obscuros estavam acabando.
Depois do almoço, ela quis me ajudar a limpar tudo e depois que
terminamos, fomos para varanda do meu apartamento, onde ficamos
conversando por um bom tempo. Lacey falou bastante sobre sua infância e de
como se divertia com os pais e amigos que tinha na época.
Eu gostava de vê-la falar e gesticular, gostava principalmente do brilho
que exibia no olhar quando se lembrava do pai, sempre com um sorriso doce
nos lábios.
Concentre-se, Ward, pensei comigo mesmo.
O intuito da minha amizade com Lacey era de ajudá-la a sair da
dependência que sentia pelo ex-namorado, a enxergar a vida sob outra
perspectiva, algo que até então eu não sabia se estava dando certo. Ela
parecia melhor, mas como não tocava no nome dele, eu tinha a impressão de
que ainda havia resquícios de sentimentos em seu coração, o que era normal,
não seria possível esquecer o rapaz de uma hora para outra.
E eu duvidava que, mesmo com todos os problemas, ele tenha se
esquecido completamente dela. Se mesmo para mim, homem feito, era
impossível não ficar admirado com a perfeição de sua beleza, imagine para
um garoto de dezenove anos.
Olhei-a de cima a baixo e foi difícil segurar um suspiro. Seu rosto
possuía traços tão precisos e delicados que faziam um enorme contraste com
o corpo voluptuoso.
Só parei de pensar no que não devia quando meu celular começou a
tocar dentro da sala. Pedi licença para ver quem era e entrei.
Para meu desgosto, vi o nome de minha ex-esposa na tela.
Aquele era um péssimo momento para falar com ela, então rejeitei a
ligação e coloquei o telefone no silencioso.
Nathalie, já era página virada em minha vida, mas ela ainda não tinha
entendido isso.
Quando nos separamos, dei tudo o que estava estipulado em nosso
contrato pré-nupcial e deixei bem claro que não queria mais nenhum tipo de
contato, achei que com isso fosse me livrar de suas ligações inconvenientes.
Mas não podia estar mais enganado, tinha impressão de que ela só me
deixaria em paz quando eu me casasse novamente e como isso não estava em
meus planos para um futuro próximo, ainda teria que aguentá-la por mais um
tempo.
Balancei a cabeça em desgosto. Como pude ter me deixado ser
manipulado a ponto de me casar com uma mulher por quem não era
apaixonado, esse, decerto, foi um dos piores erros que minha mãe me levou a
cometer.
Às vezes, uma parte de minha mente me fazia lembrar que foi a minha
ambição que me transformou numa verdadeira marionete nas mãos de
Cybele. Se não almejasse tanto ser o CEO da Ward Corporation, minha vida
poderia ter seguido outros rumos.
Entretanto, aprendi a não me culpar por isso e apenas aceitar as decisões
que tomei. A empresa era minha por direito e eu tinha a obrigação de lutar
por ela, mesmo à custa de minha felicidade.
Mas graças a Deus eu amadureci e consegui soltar minhas amarras,
aproveitaria essa nova etapa para fazer outras escolhas, sem aquela mulher
amargurada tentando me sabotar.
Voltei para a varanda e Lacey apenas sorriu para mim. Ela sabia que eu
não havia atendido ao telefone, mas era inteligente e discreta demais para
falar alguma coisa.
Eu apreciava isso, acreditava que se fosse qualquer outra funcionária, a
empresa toda já estaria sabendo sobre a nossa amizade e, pior, se
aproveitando dela.
Mas Lacey, não. Gostava de pensar que ela não era o tipo que usava sua
beleza para subir na vida, algo que seria normal para uma garota tão bonita,
que poderia deixar qualquer homem a seus pés.
— Está sendo ótimo ficar aqui com você, Thomas, mas eu preciso ir —
informou, pegando seu celular.
— Eu a levo em casa — ofereci, porque era o certo a se fazer, mas,
sinceramente, gostaria que ela ficasse, no entanto, entendia que sua mãe
estivesse preocupada, devido a inconstância da filha nos últimos meses.
— Imagina, eu vou caminhando, preciso queimar toda essa massa que a
gente comeu no almoço.
— Tem certeza? — insisti.
— Absoluta — ela disse e me deu um beijo no rosto —, a gente se vê
— falou enquanto se encaminhava para a porta.
— Claro. Obrigado pela companhia — falei, pois o dia realmente tinha
sido muito agradável.
— Eu que agradeço, apesar de você ter me tirado da cama tão cedo no
meu dia de descanso — brincou e então se foi.
Quase que imediatamente meu telefone tocou. Era meu irmão,
provavelmente para me repassar alguma informação da empresa.
Atendi e me encaminhei ao meu escritório. A diversão havia acabado,
era hora de trabalhar.
Eu estava anormalmente cansada naquele dia. A empresa havia fechado
vários negócios, tanto em Nova York quanto em estados vizinhos e a semana
foi pesadíssima.
Tudo bem que ainda nem eram 18h, mas era sexta-feira e para quem
ficou trabalhando até depois das 19h todos os dias, seria bastante normal estar
exausta. E era como me sentia.
Levantei-me de minha mesa e fui tomar um café antes de ir, esperava
que a cafeína me impedisse de dormir durante minha sessão de terapia, ou
pior, no trajeto até minha casa.
Olhei ao redor e, claro, meus colegas já tinham ido embora.
Às vezes me xingava por não ser tão desprendida quanto eles. Minha
mania de não deixar trabalho acumulado para o dia seguinte estava me
rendendo muitas horas extras e esta semana foi a pior de todas. Se Thomas
estivesse na cidade e me visse ali fora do horário todos os dias, já teria me
dado uma bela bronca.
Lembrar do meu amigo fez um sorriso brotar em meu rosto. Uma
semana depois de eu ter almoçado com ele em sua casa, Tom teve que ir para
a Inglaterra a fim de resolver várias pendências na sede da empresa.
Ele havia me dito que já era para ter ido dias atrás, mas os problemas
que surgiram desde a inauguração da matriz, o impediram de sair do país e
que por isso, acabaria tendo que ficar fora muito mais tempo do que
planejara.
E assim foi. Já tinha quase quinze dias que ele havia viajado e eu estava
com saudades dos nossos encontros, mas principalmente das nossas
conversas. Joly era uma boa ouvinte, mas com ele as coisas eram diferentes,
eu me sentia mais à vontade.
Claro que continuávamos trocando mensagens, mas era bem mais
difícil, uma vez que havia cinco horas de diferença entre as cidades. Desse
modo, ele mandava algo à noite, depois das reuniões e jantares que tinha,
quando eu já estava dormindo, por isso eu só podia visualizar no dia seguinte.
E então, quando eu respondia, acontecia a mesma coisa, ou ele estava
dormindo ou em horário de trabalho.
Por esse motivo, não tivemos nenhuma conversa de verdade e não
imaginei que fosse sentir tanta falta desses momentos.
Talvez por isso estivesse trabalhando tanto, cansada como ficava no
final do expediente, tudo o que eu queria era ir para casa dormir.
Terminei meu café, peguei minha bolsa e me encaminhei para o
elevador.
— Vestido bonito, Lacey, combinou com seus olhos — Owen Elliot
elogiou minutos depois chegando por trás de mim e na mesma hora meu
corpo enrijeceu.
Não acredito que ele ainda está aqui, pensei comigo mesma.
— Obrigada — agradeci e voltei a olhar para o indicador digital,
rezando para que tivesse alguém no interior do elevador.
Mas para minha infelicidade, estava vazio.
— Por favor — ele disse, dando-me passagem, como se houvesse
necessidade disso, uma vez que a preferência era minha.
Dei dois passos e me posicionei em frente ao painel, próximo a porta e
ele se colocou ao meu lado.
— Mora aqui perto? — perguntou e percebi que ele estava mais
próximo do que eu imaginara.
— Não muito — respondi, sem olhar para ele, e peguei o celular da
bolsa, numa tentativa de cessar aquele assunto.
— Se quiser uma carona, é só falar, meu carro está no estacionamento
do subsolo.
— Obrigada, Sr. Elliot, mas não precisa.
— Tem certeza? — perguntou, pegando uma mecha do meu cabelo, o
que me fez engolir em seco.
— Sim, estou indo para outro lugar, aqui perto, mas obrigada.
— Não precisa agradecer e se precisar de qualquer coisa, estarei às
ordens.
Assenti, dando graças a Deus por aquele elevador ser bem rápido e já
estar chegando ao térreo.
Assim que as portas se abriram, saí no mesmo instante, sem nem me
despedir.
Que convite mais inconveniente! Nós não tínhamos nenhuma intimidade
para isso!, pensei, sentindo-me um pouco ultrajada, pois estava bem certa de
que ele não era esse cara generoso.
“Mas você aceitou a carona do Sr. Ward”, uma voz provocou.
Sim, mas era diferente. Eu e Thomas nos conhecemos em uma situação
completamente anormal, ele me salvou de cometer a maior besteira da minha
vida e isso nos aproximou. As coisas entre nós foram acontecendo
naturalmente, até nos tornarmos amigos.
Já com o Sr. Elliot era bem diferente. A forma como ele olhava para as
funcionárias, e para mim em especial, desde que comecei ali, deixava-me
mais que incomodada. Ele não era o tipo que ficava rondando ou encarando o
tempo todo, mas muitas vezes o vi me fitar de maneira lasciva, como se
estivesse me imaginando nua em uma cama.
— Que nojo! — murmurei e tomei o caminho do consultório da minha
nova terapeuta.
Depois de tudo o que houve com Louise, ela parou de clinicar e indicou
outra psicóloga para mim. Elas eram bem diferentes em suas abordagens, mas
eu estava gostando muito. Já havia lhe falado sobre minha última crise e ela
foi uma das responsáveis por eu não ter que voltar a tomar antidepressivos,
algo pelo que me sentia muito agradecida.
Pouco mais de uma hora depois, estava me aproximando do
apartamento onde morávamos e decidi passar em uma adega. Eu não era de
beber, mas mamãe me ouviu falar tanto da Joly, que resolveu fazer um jantar
para conhecê-la e nada melhor que um bom vinho para acompanhar uma
massa.
Ela estava tão feliz por poder receber uma nova amiga minha que,
apesar de cansada, apenas acatei, deixaria para descansar depois.
Quando passei pela porta, o cheiro de tempero já perfumava a casa,
mamãe era uma excelente cozinheira e achava que tudo se resolvia com uma
boa comida.
De certa forma, eu concordava.
Fui até a cozinha, dei um beijo nela e me dirigi ao meu quarto.
Depois de tomar banho e me arrumar, voltei à sala para esperar por Joly
e quando ela chegou, toda falante e sorridente, minha mãe ficou encantada,
pois adorava pessoas alegres.
Convidei-a para se sentar à bancada que dava para a cozinha, enquanto
mamãe terminava a comida, e lhe ofereci uma taça de vinho.
Aquela estava sendo uma sexta-feira completamente diferente e mesmo
assim eu me sentia tão bem por estar fazendo aquilo.
Aos poucos, todas as besteiras que fiz no passado estavam ficando para
trás e só eu sabia o quanto isso fazia bem para minha cabeça e para o meu
coração.
— Ficou até mais tarde novamente? — Joly perguntou quando mamãe
pediu licença para ir trocar de roupa.
— Não tão tarde quanto nos outros dias, mas quando saí, não tinha mais
ninguém — admiti e logo me lembrei do meu encontro indesejado —, exceto
pelo Sr. Elliot, que saiu junto comigo — terminei com uma careta.
— Ele fez alguma coisa? — perguntou, repentinamente séria.
— Não, só apareceu do nada, oferecendo-me carona.
— E você aceitou?
— De jeito nenhum, não vou muito com a cara dele.
Percebi que minha amiga ficou mais tranquila ao ouvir aquilo.
— Sei exatamente como se sente. Quando comecei a trabalhar lá,
também ficava incomodada com suas atitudes, as coisas só melhoraram
depois que você entrou.
— Que maravilha, agora o foco sou eu! — falei, desanimada, e nós duas
rimos.
No entanto, por dentro, não me sentia confortável com aquela situação.
Não sabia o tipo de homem que ele era e se até Joly percebeu a atenção que
ele me dispensava, talvez fosse melhor tomar mais cuidado.
Graças a Deus, logo, logo, os estagiários antigos iriam embora, queria
mais que tudo mudar de setor.
Assim que mamãe voltou, iniciamos nossa refeição e a cada gemido de
aprovação que minha amiga soltava, mais feliz ela ficava.
Após o jantar, pegamos nossas taças de vinho e fomos para a sala,
mamãe queria tirar uma foto conosco para postar em suas redes sociais.
Subitamente tive vontade de fazer o mesmo. Há meses eu não postava
nada em meu Instagram e achei que estava na hora de começar a registrar
minha nova fase.
Ajeitei a postura e entreguei meu celular para Joly, que era aquele tipo
de amiga que se esforçava para pegar o melhor ângulo e tirava várias fotos
para depois vermos qual ficou melhor.
Enquanto ela fazia isso, lembrei-me do que havia me feito estagnar a
minha vida. Sim, eu era apaixonada por Jace e sofri demais com o nosso
término, mas será que toda aquela obsessão não aconteceu apenas pela falta
de coisas mais interessantes para fazer? Coisas do meu interesse? Afinal,
desde que comecei a estagiar na empresa, mesmo não estando em minha área,
pude sentir o quanto minha vida e percepções mudaram.
Não que tivesse esquecido Jace completamente, mas já não doía como
antes, minha curiosidade com relação a ele já não era a mesma e eu sentia que
em pouco tempo eu realmente o veria apenas como alguém que passou pela
minha vida.
Perceber isso era libertador e me peguei sorrindo.
— Isso, garota, a câmera ama você — falou Joly, fazendo com que
voltasse minha atenção a ela. — Olha que fotos lindas! — exclamou,
animada, ao me entregar o aparelho.
É, eu realmente tinha ficado bonita. Estava usando uma blusa de seda
com alças finas e decote em V, meus cabelos, claros e brilhantes, estavam
soltos e faziam uma bela moldura para meu rosto alegre. Nas imagens, dava
para ver que eu estava com uma taça de vinho na mão e aquilo deu um
charme a mais.
Sem pensar duas vezes, postei a foto no meu Instagram verdadeiro. Ao
vê-la em meu feed, fiquei muito satisfeita e tive certeza de que aquela beleza
tinha mais a ver com meu atual estado de espírito; o fato de estar bem
interiormente refletia em meu exterior.
Já que havia começado, resolvi colocar um filtro engraçadinho e me
juntei com Joly para fazermos uma pose. Esta eu coloquei nos stories e em
poucos minutos comecei a receber curtidas e comentários das mais variadas
pessoas que conheci durante a vida: “linda”, “oi, sumida”, “está cada dia mais
bonita”...
Como meu perfil era desbloqueado, também recebi alguns comentários
de pessoas desconhecidas que tinham começado a me seguir.
Lembrando-me de que Joly ainda estava ali, deixei o telefone de lado e
dei atenção a ela.
Mais tarde, já em meu quarto, voltei a pegar o celular para ler os demais
comentários e recebi mais uma notificação de curtida. Essa, entretanto, fez
uma sensação gostosa tomar conta de mim.
Era de Thomas.
Minutos depois, recebi um direct dele, falando que tinha conseguido
resolver tudo e segunda-feira já estaria na empresa.
Não sabia explicar a alegria que tomou conta de mim.
Duas semanas foi tempo suficiente para perceber o quanto ele fazia
falta. Talvez o fato de me sentir tão solitária nos últimos meses, tenha
aumentado o apreço que eu tinha pelos momentos que passávamos juntos,
pelas conversas que tínhamos e que sempre me ensinavam alguma coisa.
Era diferente ter amizade com um homem mais velho, Thomas me fazia
ver a vida sob outro ângulo e depois de conhecê-lo, voltei a enxergar todas as
possibilidades que o futuro me oferecia.
Quando me deitei para dormir, tinha um sorriso bobo no rosto.
Acordei um tanto preguiçosa na manhã seguinte e isso se devia às taças
de vinho que bebi na noite anterior.
Como ainda era cedo, permaneci deitada, aproveitando para olhar meu
perfil e ler os novos comentários, depois bisbilhotei as redes sociais de
amigos e curti uma foto que Thomas postou de Londres.
Após aquele momento de preguiça, tomei um café da manhã rápido e
fui ajudar na limpeza do apartamento. Ao terminar, fui direto para o chuveiro,
precisava me arrumar para ir encontrar Joly.
Sabendo que eu estaria em ótima companhia, mamãe também decidiu
sair, algo que me agradou muito.
Essa fase era nova para nós duas, pois fiquei tantos meses presa naquele
mar de sofrimento, que esqueci o quanto ela gostava de se encontrar com
suas amigas, coisa que não fazia desde que terminei com Jace.
Sem perceber, eu a estava libertando da tarefa de ser minha babá vinte e
quatro horas por dia.
Como pude ter sido tão egoísta?, pensei, sentindo-me muito culpada.
Sabia que não era saudável fazer isso, especialmente porque foi a
depressão que me deixou sem rumo, mas esses lapsos de consciência me
faziam cair na real e reafirmar a mim mesma que eu precisava ser forte e
seguir em frente, não só por mim, mas porque mamãe também merecia
aproveitar a vida em vez de ficar em função da filha, de olho para que ela não
cometesse alguma loucura.
No entanto, dia após dia, eu sentia a diferença no meu humor e,
principalmente, na qualidade dos meus pensamentos e isso se devia ao fato de
tê-los desconectado do meu passado tóxico.
Aquela tristeza que sempre me acompanhava, parecia estar diminuindo
e alguma coisa me dizia que em breve eu me livraria dela por completo.
Essa sensação de bem-estar, incentivava-me a continuar com minha
atividade física, com a terapia e com o cultivo de boas amizades.
Exatamente por isso decidi sair com Joly, mesmo tendo nos encontrado
na noite anterior. Nós iríamos a Harold Square para almoçar e fazer umas
compras, pois eu estava precisando de algumas peças mais modernas no meu
guarda-roupa.
Sabendo que o movimento na Macy’s era muito maior à tarde,
encontrei-me com ela na entrada da grande loja. Nós nos encaminhamos
primeiro à área de roupas mais formais, onde achei várias peças básicas para
o trabalho, depois fomos atrás de vestidos e blusas com estilo mais informal.
Depois, nos dirigimos à área de roupas de ginástica, onde comprei várias
peças, pois estava convencida de que os exercícios e corridas que andava
fazendo ultimamente estavam sendo cruciais para a melhora do meu humor.
Por fim, fomos atrás de lingeries, e acabei comprando três conjuntos lindos.
Joly também comprou algumas coisas e quando saímos de lá, cada uma
tinha duas sacolas grandes nas mãos.
— Sábado é o melhor dia para vir aqui, olha quantos rapazes estão
perambulando pelas ruas e restaurantes — ela comentou enquanto andávamos
pela calçada tentando decidir onde comer.
Joly estava certa, mas já que não tinha qualquer interesse em sair num
sábado à tarde para paquerar, apenas concordei.
Como passava das 13h, nós estávamos famintas e resolvemos ir ao Food
Gallery 32, devido às várias opções de restaurante. Nós duas optamos por
comida italiana e enquanto almoçávamos, ela me contou um pouco mais
sobre si mesma. Eu, por outro lado, não pude retribuir da mesma forma.
Sentia que Joly era realmente minha amiga e que podia confiar em sua
discrição, entretanto, tive vergonha de contar tudo o que aprontei. Mas falei
sobre a depressão e a terapia e foi bom ver que ela não tratou o assunto de
forma banal, como algumas pessoas faziam. Muita gente ainda achava que a
depressão era frescura ou somente uma desculpa para certos
comportamentos, o que era triste.
Depois disso, a pauta foi a empresa. Joly não era de ficar falando dos
outros, mas, assim como eu, ela não gostava de Tori, e era inevitável que a
secretária e sua mania de espalhar fofoca sempre aparecesse em nossas
conversas.
Após o almoço, pedi para passarmos na Amazon para eu comprar um
livro, mas, infelizmente, não achei nenhum exemplar.
Por volta das 14h30 estávamos nos despedindo, já que Joly precisava
terminar um trabalho de faculdade.
Peguei um taxi e quando cheguei ao apartamento, fui arrumar minhas
coisas.
Ao terminar, resolvi ir à Book Culture atrás do livro. Como a livraria
ficava próxima à minha casa, decidi ir andando. Para isso, coloquei um dos
conjuntos de ginástica que havia comprado, constituído por calça e regata
pretos e uma jaqueta estampada. Para combinar, calcei meus tênis pretos.
Coloquei meu celular e o dinheiro no bolso da jaqueta, fiz um rabo-de-
cavalo e saí.
Quinze minutos depois, estava me dirigindo à seção de bestsellers e
fiquei imensamente feliz quando achei o livro que procurava.
Quando rodeei a mesa para ler os títulos que tinham do outro lado, a fim
de ver se havia algo que me interessava, vi um homem muito parecido com
Thomas em outra estação. Esperei que se virasse e abri um sorriso enorme ao
constatar que era ele mesmo.
Fiquei parada por alguns segundos, observando de longe. Tom vestia
jeans escuro com um suéter preto e parecia concentrado. Próximo a ele, havia
duas garotas, elas cochichavam e sorriam enquanto o olhavam sem disfarçar.
Pude entender plenamente o que se passava por suas mentes. Um
homem com sua aparência numa livraria em pleno fim de semana, certamente
mexia com a cabeça de algumas mulheres.
Inclusive a minha.
Thomas Ward era culto, bonito, rico, inteligente e ainda exalava um
cavalheirismo que não era comum hoje em dia. Estava certa de que a mulher
que ganhasse seu coração, seria tratada como uma princesa.
Meu Deus! Porque estou pensando nisso?
Balancei a cabeça e fui até ele.
— Olá — falei, tentando não soar tão ansiosa quanto me sentia.
Thomas levantou o olhar e sorriu com aquela boca desenhada e cheia de
dentes perfeitos e brilhantes.
— Lacey, que surpresa! Como vai?
Seu perfume impregnou os meus sentidos quando me abraçou e isso,
misturado à saudade que estava sentindo, fez-me permanecer em seus braços
por mais tempo que o necessário. Seu corpo era sempre tão quente e
acolhedor...
— Que horas você chegou? — perguntei ao nos afastarmos.
— Essa madrugada. Quando mandei mensagem para você, estava
prestes a ir para o aeroporto. Aproveitei a manhã para dormir.
— Conseguiu descansar?
— Não completamente.
— Devia ter dormido mais.
— O cansaço não é apenas físico. Eu trabalhei muito nesses quinze dias
e precisava espairecer um pouco, desanuviar a mente. Foi por isso que vim
aqui. Eu adoro esse lugar.
— Eu também — concordei. — E como é perto do meu prédio,
normalmente é aqui que compro meus livros.
— Achou algo de interessante? — quis saber.
— Sim, estava querendo esse aqui — afirmei, mostrando o exemplar a
ele.
— Se gostar, quero que me empreste depois.
— Combinado — falei. — E você, encontrou alguma coisa?
Thomas me mostrou dois livros e me falou um pouco sobre eles,
deixando-me bem interessada. Então me indicou alguns outros títulos e
também me deu dois livros de presente. Um era uma biografia que ele achou
que me agradaria, já que a história da escritora era bem parecida com a minha
e o outro foi um livro técnico, que seu irmão, que é engenheiro, havia
indicado.
Achei a atitude tão fofa, nunca tinha ganhado livros de um homem e
aquilo mexeu comigo.
Fomos para o caixa e assim que chegamos à calçada, ele perguntou:
— Quer tomar alguma coisa?
Assenti e fomos andando até a esquina, onde havia um café.
Quando nos sentamos, pedi um café sem creme e sem açúcar, o que
deixou Thomas um tanto intrigado.
— Desde quando gosta de café preto?
— Desde que lembrei que minhas roupas começaram a ficar apertadas.
Não vou parar totalmente, mas quero dar uma maneirada.
Ele balançou a cabeça.
— Não acho que precise se preocupar com isso, sua genética é
maravilhosa.
O elogio velado fez minhas bochechas corarem, por isso mudei de
assunto.
— E aí, como foram as coisas em Londres?
Thomas relaxou um pouco na cadeira e começou a me contar em
detalhes como tinham sido essas duas semanas fora da cidade. Depois
perguntou como foram as coisas na empresa e achei melhor não falar nada
sobre Elliot. O cara era um idiota, mas eu não queria ser motivo de
desentendimentos entre Thomas e seus funcionários, especialmente um em
quem ele confiava.
Quase duas horas de conversa depois, resolvemos que já estava na hora
de ir.
Thomas me ofereceu uma carona e apesar de ter saído de casa com o
intuito de andar para me exercitar, resolvi aceitar para poder ficar um pouco
mais em sua companhia.
Quando ele estacionou em frente ao meu prédio, era nítido que nenhum
dos dois queria acabar com a conversa, era tão bom quando estávamos juntos
e o papo fluía de um jeito muito natural, como se nos conhecêssemos há uma
vida.
— Vai fazer alguma coisa mais tarde? — ele quis saber.
— A princípio, não, você sabe que minha vida não é muito agitada —
brinquei.
— Que tal um cinema depois? — ele perguntou.
Senti uma alegria enorme ao ver que ele realmente queria passar mais
tempo comigo e me peguei anuindo.
— Vai ser ótimo.
— Então vou comprar os ingressos e te mando uma mensagem falando
o horário, tudo bem?
— Perfeito — garanti.
Quando entrei no meu prédio, experimentava uma felicidade que há
muito tempo não sentia. Eu sabia que não era um encontro e que Thomas só
me via como amiga, e apesar de toda saudade que senti e dos pensamentos
estranhos que passaram por minha cabeça nesses últimos dias, era assim que
o via também. Mas isso não me impedia de me sentir bem por ele estar de
volta.
Thomas chegou para me pegar às 19h e fomos direto para o Magic
Johnson Harlem 9, que ficava mais próximo dos nossos apartamentos. Fiquei
surpresa quando ele me disse que tinha escolhido Os Vingadores.
Claro que eu já havia ido assistir a filmes ali, mas foi diferente ir com
ele. Thomas era dez anos mais velho do que eu, um homem super sério e
comprometido com o trabalho, então foi extremamente prazeroso vê-lo
apreciando um filme como esse. Mais ainda quando ele me zoava sempre que
eu suspirava nas vezes em que Chris Evans ou Chris Pratt apareciam, o que
lhe rendeu algumas pipocas na cara.
Quando saímos do cinema, ele sugeriu que fôssemos ao Sushi Inoue,
um restaurante japonês que ficava ali perto e eu amei a ideia, adorava comida
oriental.
Durante o jantar, perguntei se tinha visitado sua família e ele acabou me
dando mais detalhes sobre a relação com sua mãe. Uma coisa levou a outra e
ele se pôs a falar sobre a aversão que tomou pela ex-esposa.
Sempre tive curiosidade de tocar nesse assunto, e já que foi ele quem
começou, tirei o máximo de informações que pude.
Segundo me contou, apesar de ser uma boa pessoa, Nathalie era
mimada e fútil como sua mãe. Ela se preocupava tanto com a opinião das
pessoas, que ficou anos protelando o divórcio e mesmo tendo assinado os
papéis, continuava marcando em cima com a esperança de que eles voltassem
a ficar juntos, só para não ser assunto na alta sociedade de Londres.
Thomas, no entanto, deixou claro que não tinha nenhuma intenção de
reatar o casamento e deu graças a Deus por não terem tido filhos, pois, com
certeza, seria mais uma arma que ela usaria para fazer chantagem.
— Agora eu entendo por que quis sair de Londres, não dava para
continuar por lá com uma mãe controladora e uma ex obcecada.
— Não mesmo — ele confirmou —, elas apareciam o tempo todo na
empresa, perseguiam funcionárias, especialmente minhas assistentes, quando
achavam que estavam tendo caso comigo, era um inferno.
— Meu Deus, estou com medo de ser sua amiga — brinquei.
— Fique tranquila, jamais deixei que elas prejudicassem qualquer
pessoa por causa de suas mentes perturbadas, com você não será diferente.
O jeito honesto como ele encarava a vida me encantava, sua
personalidade era bem diferente, pelo menos em se tratando dos homens que
conheci.
— Eu adoro esse seu senso de justiça, sabe. Nós nos conhecemos há tão
pouco tempo, mas eu já confio tanto no seu julgamento — confessei e dei de
ombros, meio sem graça.
Ele sorriu e eu me derreti.
Thomas ficava incrivelmente bonito quando sorria.
Acho que em toda minha vida nunca conheci um homem tão sereno,
inteligente e charmoso.
Ele me explicava coisas sobre o céu a terra e o mar e isso me deixava
empolgada para querer viver e conhecer todas as coisas e lugares dos quais
ele me falava.
— Durante muito tempo eu agi mal, influenciado pela minha madrasta e
isso me fez magoar muitas pessoas. Hoje em dia eu me recuso a fazer algo
com que não concorde. Aprendi que no final das contas, é só isso que
importa, saber que fizemos a coisa certa, pois nada paga uma consciência
tranquila. Se sou justo é porque isso me deixa em paz.
— Aprendo muito com você, Tom — falei com sinceridade.
Thomas era tão mais experiente que eu, que às vezes me sentia uma
criança ao lado dele, não apenas pelos exemplos de vida que ele dava, mas
também quando escutava sobre as viagens que fez, sobre os negócios que já
fechou. Contudo, em vez de me sentir mal pelo que ainda não vivi, sempre
tentava levar isso para o lado positivo, tomar tudo como um aprendizado.
— Fico feliz em saber disso, Lacey, acho que é para isso que servem os
amigos.
Verdade. Se um tempo atrás alguém me falasse que eu me tornaria
amiga de um homem como Thomas Ward, eu seguramente não acreditaria.
Nós éramos de épocas diferentes e, apesar de meu pai ter nos deixado
financeiramente bem, nosso nível social era completamente distinto. Não
conseguia me ver em jornais e sites, como acontecia com ele e com Louise,
por exemplo.
Só que eles já nasceram super-ricos e eu tinha a impressão de que era
muito mais fácil quando a pessoa já é assediada desde sempre.
Sem querer, peguei-me imaginando como seria se eu fosse namorada
dele. Certamente acabaria sendo seguida por fotógrafos, teria minha vida
remexida, iriam descobrir sobre minha depressão, sobre meu descontrole, a
ordem de restrição...
Acordei dessa viagem totalmente infundada quando uma vozinha me
disse que nunca houve nenhuma insinuação da parte dele para que eu ao
menos ousasse imaginar algo desse tipo.
Claro que eu não era cega e já o vi secando meu corpo algumas vezes,
mas achava isso totalmente normal uma vez que ele era hétero e solteiro.
Contudo, o que realmente importava era que Thomas jamais me faltou com o
respeito. Na verdade, tinha a impressão de que se um dia eu me apaixonasse
por ele, eu é que teria que tomar a iniciativa. Ele não fazia o tipo de patrão
que dava em cima das funcionárias.
Mas a questão era que eu não pretendia me apaixonar tão cedo, nem por
ele e nem por ninguém, por enquanto, então, não tinha porque ficar pensando
nessas coisas.
Quando Thomas me deixou em frente ao meu prédio, já próximo à
meia-noite, nós nos despedimos com um beijo no rosto e a promessa de
descansarmos para estarmos bem-dispostos na segunda-feira.
Enquanto o elevador me levava ao meu andar, cheguei à conclusão de
que passar a tarde e a noite de sábado com Tom, foi uma das coisas mais
divertidas que fiz nos últimos tempos. E tinha certeza que isso estava
estampado em meu rosto, já que mamãe me lançou um sorriso enorme
quando entrei.
— Achei que já estivesse dormindo — falei assim que me sentei ao seu
lado para tirar minhas sandálias. — Imaginei que estivesse cansada depois de
ter ido para a farra com suas amigas.
— Que farra, menina! — ela ralhou, rindo. — Eu cheguei logo depois
que você me mandou a mensagem dizendo que estava saindo e acabei
cochilando por mais de uma hora. Mas isso não interessa, eu quero saber
como foi a sua noite.
— Foi legal, como sempre, Tom é uma pessoa maravilhosa, ele me
escuta, aconselha e me coloca para cima — relatei, enquanto apoiava as
pernas sobre a mesa de centro.
— Não sabe como fico feliz por estar conhecendo outra pessoa,
especialmente alguém como esse rapaz, que te faz tão bem.
— Mamãe, não crie expectativas, por favor, nós somos apenas amigos.
Eu ainda não tinha lhe falado que ele era o dono da empresa ou ela
ficaria pensando besteira. Não que mamãe fosse antiquada, mas estava certa
de que ela colocaria na cabeça que Thomas estava tentando me seduzir, coisa
que não era verdade.
— Sim, eu sei. Mas eu também enxergo.
— Não entendi.
— Eu vejo como seu rosto se ilumina sempre que fala dele.
— Mas é porque eu gosto dele de verdade, só que não há nada
romântico. Eu... não sei se estou preparada para isso.
— Eu posso imaginar e fico feliz por você pensar assim, essa cautela só
mostra o quanto amadureceu, prova que está superando as dificuldades.
— A senhora acha mesmo? Às vezes eu penso que estou me enganando.
— Não está, não, querida. Veja quanta coisa já conquistou nos últimos
meses: o estágio que tanto queria, ânimo para voltar com seus exercícios,
novos e bons amigos... Tenho certeza de que, aos poucos, tudo vai se ajeitar.
Basta ir devagar, como está fazendo agora. Você tem a vida inteira pela
frente, não apresse as coisas.
— Obrigada, mamãe — falei, aproximando-me dela e recebendo um
abraço em resposta.
— De nada, querida. E quando achar que está pronta e precisar
conversar, eu estarei aqui, tudo bem?
Eu apenas assenti e permaneci ali com ela, pensando no que havia
escutado.
Mamãe estava certa, minha vida que andava tão estagnada, tinha
começado a dar sinais de melhora e eu sentia que logo, logo, estaria
totalmente curada.
Conversei mais alguns minutos com ela e fui para o meu quarto, depois
de um banho quente, eu me deitei para dormir, mas me sentia inquieta.
Não conseguia tirar da cabeça o que minha mãe falou, a respeito de
como eu ficava ao falar de Tom.
Claro que eu o achava bonito, elegante, educado, mas sabia que não
estava apaixonada por ele.
Ainda.
Porém, não era boba. Estava ciente de que se não tomasse cuidado,
meus sentimentos poderiam mudar e tinha um pouco de medo. Agora que
estava me recuperando da depressão, eu sentia falta de contato físico, afinal,
minha vida sexual com Jace foi muito ativa, mas não tinha certeza de já estar
preparada para um romance, nem com Tom e nem com qualquer outro cara.
Pensar nisso, quase me fez questionar nossa amizade e repensar nossa
aproximação, mas coloquei essa ideia de lado. Thomas me fazia bem e
contanto que eu mantivesse as coisas bem separadas em minha cabeça,
conseguiria levar nossa amizade numa boa.
Ao menos era o que eu esperava.
DOIS MESES DEPOIS...

Era final de expediente quando Tori me avisou que Elliot queria falar
comigo quando voltasse da reunião que estava tendo com o setor comercial e
rezei para que fosse algo relativo à minha transferência.
A troca de estagiários já havia começado, mas pelo que Tom me falou,
a chefe do setor de projetos estava dificultando minha ida para lá. Entretanto,
ele já tinha dado um ultimato a tal Abby, então eu esperava ser transferida a
qualquer momento.
Sorri, imaginando-o dando uma de chefão para cima da mulher. Ao
mesmo tempo, tinha medo de que, por causa disso, ela achasse que eu estava
tendo um caso com ele ou algo nesse sentido. De forma alguma queria fofoca
com meu nome. Preferia que a sorte que estávamos tendo até agora
perdurasse.
Porque, sim, era uma sorte que ainda não tivessem surgido falatórios
associando meu nome ao de Thomas, uma vez que nossos encontros ficaram
ainda mais frequentes após termos ido ao cinema.
Desse dia em diante, não houve mais tanta cerimônia entre nós, era
nítido o quanto estávamos leves na presença um do outro e o quanto ele me
fazia bem. Queria acreditar que o mesmo acontecia com ele, já que agora nós
nos víamos quase todos os dias. Éramos ambos solitários e fazer companhia
um ao outro estava sendo uma ótima terapia para os dois.
Claro que eu tinha minha mãe e a amizade com Joly também havia
evoluído muito, de forma que ultimamente precisava dividir meu tempo entre
eles, o que era ótimo, já tinha ficado sozinha por muito tempo.
Ainda assim, meu foco era ele. Thomas raramente saía, não que não
acreditasse que um homem como ele não tivesse encontros amorosos, mas
como não falávamos sobre assuntos mais íntimos, não poderia afirmar com
certeza, então, eu tentava ao máximo lhe fazer companhia. Detestava saber
que estava sozinho naquele apartamento gigante.
E não era apenas eu. Depois de muita insistência tive que apresentá-lo à
minha mãe, que o adorou de cara e o tratava como filho.
Gostava tanto de vê-los juntos, sentia que ele também a via como uma
figura materna e que a amizade deles fez com que algumas de suas feridas
cicatrizassem.
Peguei o telefone e mandei uma mensagem para ela avisando o que
estava acontecendo para que não ficasse preocupada.
Àquela hora não havia mais ninguém no andar e tive vontade de ir
embora, mas achei que seria muita indelicadeza de minha parte, entretanto,
combinei comigo mesma que esperaria por mais meia hora antes de arrumar
tudo e partir, ele que me chamasse novamente no horário do expediente.
Vinte minutos após minha resolução, ele surgiu de dentro do elevador e
seus olhos procuraram pelos meus.
— Na minha sala, por favor — convocou com seu sotaque carregado ao
passar por mim.
Levantei-me, deixando minha bolsa sobre a mesa, e o segui.
— Sente-se — disse ele depois de fechar a porta.
Fiz como pediu e esperei que também se sentasse, mas em vez disso ele
apenas se encostou na mesa, bem à minha frente.
— Sabe, Lacey, trabalho na Ward Corporation há alguns anos e já
conheci várias garotas como você.
Levei um choque ao ouvir suas palavras e crispei o rosto.
— Garotas como eu?
— Sim.
— Sinceramente eu não entendi.
— Garotas como você, ou seja, lindas e interesseiras.
Arregalei os olhos e tentei me levantar, mas ele me impediu colocando
ambas as mãos sobre meus ombros e me empurrando para baixo.
— Eu tenho te observado há muito tempo, mas você é, digamos, um
pouco escorregadia — falou com um tom lascivo.
— Não estou entendendo — balbuciei, procurando uma forma de
escapar dali.
— Então — continuou ele, como se eu não tivesse falado nada —,
fiquei sabendo que pediu transferência para outro setor; setor este que fica
muito mais perto do andar da presidência... — terminou, deixando as
implicações disso no ar.
— Essa conversa é uma loucura.
Custava a acreditar que estava sendo mesmo assediada por aquele
verme nojento.
— Na verdade, não. O que eu estou fazendo aqui é te dando a chance de
reconsiderar sua transferência, porque seja lá o que tenha se passado por essa
cabecinha, não vai acontecer. Thomas é tão frio quanto uma pedra de gelo e
com o dinheiro que tem — falou com um esgar, nitidamente invejoso —, ele
nunca seria capaz de apreciar uma mulher como você, linda, mas que não está
no mesmo patamar. Eu, por outro lado, aprecio muito, desde o dia em que
chegou aqui...
Abri a boca para contestar, xingar ou até mesmo gritar, se fosse
necessário, mas estava me sentindo atônita com aquela conversa.
— Pense no quanto pode crescer na empresa, se tiver o meu apoio —
falou deslizando um dedo por meu ombro.
— Você é completamente louco! — exclamei, conseguindo me
desvencilhar dele e me levantar.
Sentia vontade de vomitar só de pensar em ter alguma coisa mais íntima
com esse homem.
Quando estava a uma distância segura, falei:
— Eu não sou esse tipo de mulher e não estou à venda.
— Está, sim, Lacey, só preciso descobrir o seu preço.
Abri a boca, cada vez mais abalada, mas decidi que não adiantava
discutir. Simplesmente virei as costas e saí da sala com o coração pulsando
nos ouvidos e a raiva queimando no peito.
Quem esse idiota pensa que é?
Peguei minha bolsa e quando cheguei em frente ao elevador, apertei os
botões de forma frenética, morrendo de medo de ele ir atrás de mim. Quando
as portas se abriram, entrei rapidamente e só me senti segura quando elas se
fecharam.
Ao apertar o botão do térreo, percebi que estava tremendo, e meu
tremor apenas aumentou à medida que descia.
Eu estava tão chateada. Nunca imaginei que esse tipo de situação fosse
acontecer na empresa de Thomas. Embora devesse ter sabido que aqueles
olhares de Elliot eram um prelúdio do que poderia ocorrer.
Saí do elevador às pressas, andando o mais rápido que conseguia sobre
os saltos altos, louca para chegar à minha casa e me trancar em meu quarto.
Estava tão desnorteada que acabei trombando com alguém que estava
saindo da cafeteria e quase caí no chão.
— Lacey? — a voz de Thomas fez minhas pernas amolecerem de alívio
e meus olhos se encherem de lágrimas.
Sem pensar em quem poderia estar olhando ou no que poderia
acontecer, eu o abracei apertado sentindo-me imediatamente protegida.
— Ei, o que houve? — perguntou, baixinho, abraçando-me de volta.
— Me tira daqui, por favor.
Tudo o que queria era ficar o mais longe possível de Owen Elliot.
— Venha comigo, meu carro está na garagem.
Segui com Thomas para o elevador.
Quando as portas se fecharam, ele perguntou:
— Quer ir para a cobertura?
Assenti, não queria que minha mãe me visse nervosa daquele jeito.
No minuto em que entramos no carro, eu relaxei.
— Direto para a cobertura — avisou ele ao motorista.
Como não poderíamos conversar, a única coisa que fiz foi ficar agarrada
ao seu corpo enquanto ele afagava meus cabelos.
Ali, aninhada ao peito de Thomas, com o cheiro gostoso que exalava de
sua pele me embriagando, senti uma paz enorme.
Nossa ligação tinha se tornado tão forte, que não sabia o que faria se
algo nos separasse.
Pensar nisso me deu um princípio de pânico. E se ele não acreditasse
em mim?
Antes que pudesse pensar no assunto, o carro chegou à garagem de seu
prédio e quando entramos em seu apartamento, eu estava um pouco mais
calma.
Thomas me deixou na sala e foi até a cozinha pegar um copo de água
para mim.
— Você teve uma crise? Foi alguma coisa com Jace? — perguntou me
entregando o copo e se sentando ao meu lado.
— Fiquei em pânico, sim, mas não foi por causa de Jace, na verdade,
não penso nele há algum tempo.
Vi o esboço de um sorriso se formar no canto de sua boca, mas logo ele
ficou sério novamente.
— Então, o que aconteceu? Nunca te vi tão nervosa.
Eu não sabia nem como começar a falar sobre o que havia acontecido;
Thomas gostava do Sr. Elliot e a última coisa que eu queria era causar
confusão dentro da empresa dele e colocá-lo em uma posição complicada.
Mas caso não falasse, aquele babaca poderia assediar outras
funcionárias.
Respirei fundo e comecei a contar.
— Tori avisou que era para eu esperar porque o Sr. Elliot queria
conversar comigo. Na hora pensei que pudesse ser algo sobre minha
transferência de setor ou até mesmo que ele tivesse alguma reclamação, mas
eu não poderia estar mais enganada. — Parei e tomei alguns goles de água.
Thomas enrijeceu o corpo e vi uma ruga enorme surgir em sua testa.
— Não me diga que ele tocou em você? — perguntou, já nervoso.
— Ele não seria louco, mas falou coisas nojentas — estremeci só de
pensar. — Meu Deus, eu jamais ficaria com ele.
Thomas se levantou, visivelmente irritado e andou em círculos pela
sala.
— Lacey o que exatamente ele disse a você? — perguntou, colocando-
se à minha frente.
— Fez propostas, você sabe, daquele tipo ‘Se ficar comigo eu posso
conseguir qualquer coisa para você.’ Pediu para eu reconsiderar minha
transferência. Ele acha que sou uma interesseira, que só estou fazendo isso
para ficar mais perto de você... — Balancei a cabeça, ainda descrente de suas
palavras. — Eu sinceramente não sei de onde esse cara tirou isso, eu jamais
dei qualquer tipo de liberdade a ele.
— Não é de hoje que os comentários de Elliot a respeito de algumas
funcionárias me incomodam, mas eu achei que ele fosse apenas um idiota,
nunca imaginei que chegaria tão longe a ponto de assediar alguma, ainda
mais você, que... Bom, está há tão pouco tempo na empresa.
Na mesma hora a conversa que havia tido com Joly no dia que ela
jantou em minha casa pela primeira vez me voltou à memória.
Será que ele já a tinha assediado daquela maneira? Bom, pensaria nisso
depois.
— Olha, Tom, eu posso até estar enganada, mas alguma coisa me diz
que essa não foi a primeira vez que fez isso, ele parecia muito confiante,
sabe, certo de que poderia falar o que quisesse e que mesmo que eu não
aceitasse, nada iria acontecer.
Em meu íntimo eu estava bem certa de não ter sido a primeira, mas era
perigoso afirmar.
— Ele sempre me olhou de um jeito estranho, mas hoje passou de todos
os limites. Sentada naquela cadeira, com ele à minha frente, eu me senti tão
mal, tão impotente...
Tom voltou a se sentar e me abraçou novamente.
— Sinto muito por ter passado por isso dentro da minha empresa, e te
prometo que não ficará impune. Eu já reprovaria sua atitude com qualquer
outra funcionária, com você então...
Seu abraço ficou mais apertado e tudo que pude fazer foi assentir.
Meu Deus, Thomas Ward era realmente maravilhoso. Tinha certeza de
que qualquer outro agiria de forma mediadora e procuraria ver os dois lados,
primeiro porque eles eram amigos e depois porque assédio era algo grave,
que acabava repercutindo negativamente para a empresa, mas em momento
algum ele duvidou de mim e tinha certeza de que, independentemente do que
Owen Elliot falasse, as coisas ficariam feias para o seu lado.
— Muito obrigada por ter acreditado em mim — falei, afastando-me
alguns centímetros de seu abraço.
Ele sorriu e acariciou meu rosto, deixando implícito que eu não
precisava agradecer.
Então, do nada, enquanto olhava para aqueles lindos olhos verdes, a
percepção que tinha sobre ele mudou. Não sabia se era devido ao momento
de fragilidade, à gratidão que sentia por sua confiança em mim ou se isso já
estava guardado em meu âmago, mas, de repente, comecei a vê-lo como
nunca antes.
Tom havia se tornado completamente indispensável em minha vida e já
havia feito meu coração acelerar diversas vezes por inúmeros motivos, mas
naquele momento meu coração batia apressado por causa dele, do homem, e
não do amigo.
Levada por um impulso, aproximei-me e toquei meus lábios nos seus.
Acho que Tom demorou alguns segundos para entender o que estava
acontecendo, mas quando o fez, não se afastou, pelo contrário, segurou minha
cintura com um pouco mais de firmeza e retribuiu ao beijo.
Sentir suas mãos me tocando de um jeito mais íntimo fez meu corpo
experimentar sensações completamente distintas das que estava acostumada.
Além disso, fiquei excitada imediatamente, era como se tudo em mim
estivesse à espera desse tipo de contato e não pudesse se conter.
Entrelacei as mãos em sua nuca e isso o incentivou a aprofundar o beijo.
E que beijo!
Apenas quando uma de suas mãos deslizou para dentro da minha blusa,
arrepiando minhas costas, foi que me dei conta do que estava acontecendo.
Do que havia feito.
Mortificada, espalmei as duas mãos em seu peito forte e o afastei.
— Por Deus, Tom, me perdoe por isso — falei rápido, levantando-me
em seguida. — Eu devo estar enlouquecendo de novo — choraminguei
enquanto olhava em volta à procura de minha bolsa, encontrando-a no chão,
ao lado do sofá.
— Não tem do que se desculpar... — garantiu e continuou falando, mas
naquele momento eu não estava mais prestando atenção.
Tinha que sair dali.
— Olha, eu não sei o que me deu, mas prometo que não vai acontecer
novamente.
— Não precisa ser assim, Lacey, eu...
— Preciso ir agora, a gente se fala depois.
E, sem dar tempo para que Thomas falasse mais alguma coisa, saí,
batendo a porta atrás de mim.
Enquanto seguia para casa no taxi que parou assim que cheguei à
calçada, tentava colocar a cabeça no lugar para não surtar, mas sabia que
precisava de tempo para conseguir digerir todas as sensações causadas por
aquele beijo inesperado.
Mas se fosse sincera comigo mesma, admitiria que, na verdade, sempre
quisera saber o que iria acontecer se acabássemos nos envolvendo de um jeito
mais íntimo. O que nunca imaginei foi que teria coragem de tomar a
iniciativa e tinha a impressão de que era isso o que mais me afligia.
Isso e o fato de que as coisas provavelmente não seriam mais as
mesmas porque eu havia estragado tudo.
Qual era o meu problema, e o que eu iria fazer? Gostava tanto do
cuidado que ele tinha comigo...
Ao mesmo tempo, sentia que isso seria bom para eu conseguir separar
as coisas e avaliar com mais precisão meus sentimentos.
Estaria mentindo se dissesse que, desde que nossa amizade se
consolidara, especialmente quando Jace parou de fazer parte dos meus
pensamentos, eu não havia pensado se meus sentimentos por Tom eram
normais ou se eu tinha apenas transferido minha obsessão.
O fato de nunca termos brigado, não havia ajudado nessa tarefa. Quem
sabe agora, depois da merda que fiz, eu não conseguisse entender o que se
passava em meu coração e, principalmente, em minha cabeça.
Num momento como aquele, eu queria muito ter uma amiga que
pudesse me escutar, mas a única que eu tinha no momento era Joly e não
podia lhe confidenciar que havia beijado o CEO da nossa empresa.
Não por causa de mim, mas por ele. Minha amiga nem sonhava que
éramos tão íntimos e acabaria pensando besteira, o que podia colocá-lo numa
situação complicada e isso não era justo.
Ao entrar em meu apartamento, encostei-me na porta. Sentia-me
subitamente drenada, mas ao mesmo tempo segura, sabia que Tom jamais
apareceria ali sem ser convidado. Isso era perfeito, a última coisa que queria
naquele momento era vê-lo.
Aproveitando que minha mãe não estava, fui para o meu quarto, tomei
um banho frio, coloquei uma camisola e me deitei.
Quando peguei meu celular, vi que havia duas ligações dele e uma
mensagem falando para eu retornar quando a lesse.
— Deus, o que eu vou fazer agora? — murmurei para o quarto escuro.
Thomas, era a pessoa com quem eu mais gostava de conversar, mas
naquele momento, eu necessitava ficar sozinha com meus pensamentos para
poder refletir sobre tudo o que senti — e ainda sentia — após aquele beijo.
Quando o telefone tocou de novo, senti-me na obrigação de tranquilizá-
lo, não era correto deixá-lo inquieto, com medo do que eu poderia fazer.
Enviei uma mensagem dizendo que havia chegado em casa e pedindo
para que não se preocupasse, porque não faria nenhuma besteira, precisava
apenas de um tempo para pensar.
Quase que imediatamente ele mandou outra de volta dizendo que nada
havia mudado e que estaria esperando para quando eu estivesse preparada
para conversar. E se eu não quisesse conversar também.
Isso me fez rir.
Tom era muito especial.
Mandei um emogi de coração para ele e coloquei o telefone sobre a
mesa de cabeceira.
Esperava que o final de semana me ajudasse a chegar a algumas
conclusões e a superar o que havia acontecido.
Após ter acordado mais cedo do que o normal, resolvi me arrumar e ir
para a empresa.
O meu fim de semana não foi nada fácil, eu pensei demais e dormi de
menos, mas, mesmo cansada, não consegui permanecer na cama por mais
tempo.
Estava agradecida por ter ficado sozinha pela maior parte do tempo e
ainda mais porque, quando me encontrei com mamãe, ela não percebeu o
quanto eu estava distraída, o que significava que eu conseguira fingir muito
bem que não passara aqueles dois dias relembrando o beijo.
Contudo, só eu sabia o que estava sentindo.
Quando cheguei ao prédio que sediava a Ward Corporation, parei no
café que havia no térreo e, para minha sorte, ou azar, dependia do ponto de
vista, Tom teve a mesma ideia e estava terminando de pegar um café.
Eu me encontrava logo atrás dele, então, quando se virou, deu de cara
comigo. Na mesma hora meus olhos foram para seus lábios, mas os desviei.
— Bom dia, Lacey — disse ele, como se nada tivesse acontecido.
— Ah, hum... bom dia — falei revirando minha bolsa para não ter que
encará-lo.
— Precisamos conversar — declarou e eu assenti.
Depois de mais de vinte e quatro horas sem falar com ele, achei que
fosse estar mais preparada para quando o encontrasse, mas a realidade nunca
condizia com nossos pensamentos.
Entretanto, eu não era covarde, se tínhamos que conversar, que fosse
logo.
— Posso pegar um café?
— Claro, te espero na mesa do fundo.
Enquanto aguardava meu pedido, analisei de longe a forma elegante
como ele estava acomodado na cadeira, o terno azul marinho que escolheu
para aquela manhã, perfeitamente cortado, o cabelo castanho-claro mantido
no lugar com um pouco de gel e os brilhantes olhos verdes que fechavam o
pacote.
Thomas era realmente muito bonito, e mesmo tendo chegado à
conclusão de que meu ataque a ele se deveu ao estresse que estava sentindo,
depois do que passei com o Sr. Elliot, nada mudava aquela realidade.
Depois de pegar meu café, segui para a mesa e esperei que falasse
alguma coisa.
— Lacey, eu sei que está chateada pelo o que aconteceu, mas...
— A culpa foi minha, Tom, fui eu que tomei a iniciativa — interrompi.
— Não se culpe porque não há problema algum. De minha parte está
tudo certo.
— Quer dizer que nossa amizade vai continuar?
— E por que não?
Eu não estava completamente certa de que as coisas seriam iguais, mas
senti um alívio daqueles percorrer o meu corpo.
— De verdade?
Ele assentiu, lançando-me um sorriso que, eu percebi, não chegou aos
olhos.
— Óbvio que sim, eu seria um idiota se deixasse isso interferir numa
amizade tão importante para mim.
Sorri e segurei a mão dele por cima da mesa.
— Obrigada. Não tem ideia de como estava agoniada com tudo isso.
— Então pode se tranquilizar. Nós somos adultos e sempre que
conseguirmos conversar para resolver as questões, vai ficar tudo bem.
— Está certo. Bom, agora eu tenho que ir — falei, levantando-me em
seguida.
Ele sorriu e se despediu com um “até depois”.
Meu andar ainda estava vazio quando me acomodei em minha cadeira e
rezei para que Tom já tivesse dado um jeito no Sr. Elliot, seria muito
constrangedor me encontrar com ele.
Vários minutos depois, o pessoal começou a chegar e se acomodar em
seus lugares.
— Vi nosso CEO na cafeteria. Jesus, que gato! — disse uma das garotas
cuja a baia ficava próxima à minha.
“Isso porque você não sentiu o beijo e a pegada, colega.”
Meu Deus! De onde surgiu essa voz?
Joly chegou logo depois. Ela parecia pensativa e após me cumprimentar
rapidamente, começou a trabalhar.
Tive vontade de perguntar o que estava acontecendo, mas se não
conseguia dividir meus problemas com ela, não achava justo pedir que se
abrisse comigo.
Entretanto, se ela não melhorasse, faria meu papel de amiga, a despeito
de mim mesma.
Pensar nos meus problemas me levou a Thomas novamente.
Estava me sentindo muito melhor depois da breve conversa que tive
com ele. Não tinha certeza de que as coisas não ficariam estranhas mais cedo
ou mais tarde, mas me esforçaria para que nada mudasse, não porque tivesse
chegado à conclusão de que não gostava dele de maneira romântica, mas
exatamente pelo contrário.
Isso me causava um medo de morte. Medo de que minha mente
perturbada conseguisse transformar essa linda amizade em um grande
problema.
Obriguei-me a parar de pensar nesse assunto e trabalhar.
Por volta das 10h da manhã, a ausência do Sr. Elliot começou a ser
notada por outros funcionários e, obviamente, a rodinha de fofoca se instalou
ao redor da mesa de Tori. Mas foi apenas no meio da tarde que recebemos
um comunicado avisando que Emma Sanders, a advogada bonitona recém-
contratada, seria a nova chefe do setor.
Senti um frio na barriga por saber que uma pessoa havia sido demitida
por minha causa, mas tentei não me sentir culpada, afinal de contas, o errado
foi ele em assediar uma funcionária que nunca lhe deu qualquer moral.
Para minha surpresa, uma hora depois da circular, Tori me entregou um
bilhete dizendo que eu estava sendo chamada no andar da presidência.
Pela cara de desgosto com que me entregou o pedaço de papel, ela não
havia ficado nada contente com a aquilo. Isso ou Elliot havia lhe falado que
eu era o motivo de sua ausência. Pelo perfil que apresentava, Tori era o tipo
que se dava melhor com chefes homens do que com mulheres e eu tinha a
impressão de que se não mudasse sua postura, não ficaria naquele cargo por
muito tempo. E ela devia saber disso também.
Enquanto me dirigia ao elevador, sob os olhares de algumas pessoas do
setor, fiquei pensando no porquê daquela convocação, não teria sido mais
discreto falar comigo por telefone?
Quando cheguei ao andar da presidência, achei tudo muito silencioso e
tão chique quanto eu imaginava. Sempre tive curiosidade de saber como era o
último andar e pude constatar que ele refletia o bom gosto de um CEO da
estirpe de Thomas, com a mobília escura sendo destacada devido ao mármore
claro e brilhante do piso e as paredes pintadas em um tom de creme.
— Boa tarde, sou Lacey Smith, do jurídico.
— Boa tarde, Srta. Smith, sou Freya Hoover, como vai? — A morena
baixinha de cabelo Chanel e sorriso aberto perguntou, levantando-se para me
cumprimentar.
— Muito bem, obrigada.
— Ótimo. Acompanhe-me, por favor, o Sr. Ward está a sua espera —
disse ela e me indicou as portas duplas que ficavam logo atrás de sua mesa.
Depois de bater levemente, Freya me guiou para dentro e saiu em
seguida, deixando-me sozinha com nosso chefe, que estava ao telefone.
Ao me ver, Thomas pediu um minuto. Eu acenei para que ficasse
tranquilo e aproveitei esse tempo para olhar ao redor.
A sala era tão bonita quanto o restante do andar, mas bem menos fria,
com algumas obras de arte na parede e uma estante lotada de livros.
Voltei minha atenção para Tom, que havia virado a cadeira de frente
para as janelas.
Sorri ao ver que ele não estava tão composto quanto de manhã, quando
nos encontramos no café. A camisa branca estava com as mangas dobradas, a
gravata enrolada em um canto da mesa e o blazer, acomodado no encosto da
cadeira.
Ainda assim, vê-lo atrás daquela imponente mesa envidraçada, com
Nova York como pano de fundo, foi um choque para mim. O fato de sermos
amigos e sempre nos encontrarmos em lugares comuns, acabou anulando a
questão hierárquica que existia entre nós. Entretanto, ali, pela primeira vez,
pude ver o quanto ele era poderoso e isso me excitou, fazendo-me reviver
nosso beijo, e também me lembrou o quanto éramos diferentes.
Mas então ele sorriu ao desligar o telefone. E aquele era o mesmo
sorriso afável que recebi dele desde o primeiro dia e isso me fez relaxar, mas
apenas um pouco. Eu estava curiosa para saber porque fui chamada ali.
— Então é aqui que você se esconde o dia todo? — brinquei para tentar
diminuir um pouco mais meu nervosismo.
— Isso mesmo. Gostou? — perguntou e apontou a cadeira em frente à
sua mesa.
— Sim, é lindo, se parece com você.
Apenas quando terminei de falar foi que percebi como a frase havia
soado e senti que corava até a raiz dos cabelos. Especialmente quando o
sorriso dele se alargou.
— Quer dizer... Eu...
— Desencana, Lacey, eu entendi — falou, ainda sorrindo, relaxando
contra o encosto da cadeira, e me obriguei a fazer o mesmo. — Tenho algo
aqui para você — continuou, pegando um envelope sobre a mesa e me
entregando.
— Espero que não seja minha carta de demissão — brinquei mais uma
vez.
Deus, como eu estava nervosa!
Tom sorriu e fez que não com a cabeça.
— De forma alguma. Esta é sua transferência para o setor de projetos.
Arregalei os olhos e senti meu coração vibrar de felicidade.
Sem pensar duas vezes, pus-me de pé, dei a volta na mesa e o abracei
apertado.
— Obrigada, obrigada, obrigada — repeti, emocionada.
— Não precisa agradecer. Eu só quis dar a notícia pessoalmente. Você
deve passar no RH apenas para oficializar e já pode iniciar no novo setor na
próxima segunda-feira. Mas já vou adiantando que Abby Randall é osso duro
de roer.
Sim, eu já havia especulado e ficado sabendo que minha nova chefe
tinha fama de durona, mas eu não queria nada além de fazer meu serviço
direito e aprender o máximo possível, então, daria um jeito para que as coisas
dessem certo.
— Contanto que ela não pegue no meu pé por motivos pessoais, acho
que vai ficar tudo bem — falei e ele balançou a cabeça em concordância.
— Imagino que já esteja sabendo que Elliot não faz mais parte do
quadro de funcionários — continuou ele.
— Sim, obrigada por isso também, seria bem constrangedor encontrá-lo
pelos corredores.
— Pensei o mesmo. Tivemos uma breve conversa e deixei claro que
jamais iria admitir esse tipo de comportamento em minhas empresas. Ele
tentou se defender, mas quando eu disse que tinha recebido mais de uma
reclamação, não havia como argumentar. Despedi-o por justa causa e o
aconselhei a não nos colocar como referência, ou quem entrasse em contato
saberia o porquê de sua demissão.
Não pude deixar de sorrir ao ouvir isso. Thomas Ward era um homem
muito correto e não admitiria que alguém de índole tão repreensível
continuasse em sua empresa.
— Eu nem sei como agradecer tudo o que você tem feito por mim —
declarei, mas ele apenas me olhou, como se estivesse me avaliando.
Um pouco sem graça, levantei-me e, com mais um obrigada, despedi-
me.
Assim que sentei em minha cadeira, ainda tentava conter minha euforia.
Joly, já totalmente recuperada, perguntou onde eu estava e lhe expliquei
que tinha conseguido a transferência que tanto desejava. Minha amiga,
obviamente, ficou feliz por mim. Ela, melhor do que ninguém, sabia o quanto
eu detestava aquelas pilhas de processos, contratos e petições.
Não contei, porém, que havia ido à presidência. E pela forma discreta
como Tori me deu o recado, imaginei que a secretária de Tom havia pedido
sigilo, de forma que eu duvidava que ela queimaria seu filme contando a
alguém.
Quando estávamos indo embora, Joly sugeriu que saíssemos para
comemorar, mas eu declinei, primeiro porque estava me sentindo
cansadíssima, uma vez que dormira pouquíssimo no fim de semana, e depois
porque ainda era segunda-feira e se iríamos comemorar, que fosse em grande
estilo, sem a preocupação de ter que trabalhar no dia seguinte.
Então, combinamos de sair na sexta-feira e não interessava muito para
onde iríamos, eu só precisava beber um pouco e espairecer minha cabeça.
Minha primeira semana no andar de projetos estava sendo bem diferente
do que imaginei. Abby Randall era uma verdadeira bruxa que parecia odiar o
sexo feminino, prova disso era a quantidade de homens que havia no setor.
Diferente de Elliot, que ficava praticamente o tempo todo em sua sala,
ela estava sempre de olho nos estagiários e também nos arquitetos e
engenheiros que trabalhavam ali, o que tornava o clima muito menos
descontraído do que no setor jurídico. Fofoqueiras como Tori, por exemplo,
não teriam lugar ao lado daquela mulher sistemática e mandona.
O fato de ser arquiteta e engenheira, lhe dava ainda mais poder para
mandar e desmandar em qualquer profissional do setor, e pelo que percebi,
todos agiam de acordo com sua cartilha.
Eu acreditava que ela devia ter, no máximo, 35 anos, mas o coque
apertado que exibia todos os dias e os terninhos sérios e bem alinhados, lhe
davam uma aparência bem mais velha.
Ela era tão metódica, que eu tinha certeza de que se medisse a distância
entre as coisas que se encontravam em sua mesa, encontraria a mesma
quantidade de centímetros.
Deveria ser terrível morar com uma pessoa tão organizada.
Quanto ao resto do pessoal, eram todos gentis. Claro que levaram um
susto quando apareci dizendo ser a nova estagiária, mas logo a estranheza se
dissipou e eles estavam sendo muito solícitos, sempre dispostos a me ajudar.
Isso, porém, a deixava ainda mais enfurecida. Quando me apresentei no
primeiro dia, ela não disfarçou sua desaprovação e tinha certeza de que toda
essa hostilidade se devia ao fato de ter sido colocada ali pelo chefão e não por
eu ser mulher.
Só que, por mais desgostosa que estivesse, não poderia fazer nada, era a
mandachuva do setor, mas não da empresa inteira.
Decerto ela estava achando que eu tinha um caso com Thomas, e isso
me incomodava, não por ela pensar que estávamos juntos, mas por achar que
eu só estava ali por causa dele e não porque merecia.
Devido a isso, eu me esforçaria para ser tão boa, ou melhor, do que os
outros. Como havia dito a Tom, ela podia falar o que quisesse em termos
profissionais, mas não aceitaria que me destratasse por motivos pessoais e
nem fugiria com o rabo entre as pernas.
Depois de tudo que passei nos últimos meses, não seria uma chefe
carrasca que iria me desanimar, não quando meu propósito era me tornar uma
engenheira renomada.
Empolgada com tudo ali, acabei pegando mais trabalho do que devia e
por causa disso, quando a sexta-feira chegou, eu estava mais cansada que o
habitual.
O fato de não ter conversado muito com Thomas, também repercutiu
em meu humor. As coisas entre nós tinham voltado, relativamente, ao
normal, mas na quarta-feira ele viajou para a Pensilvânia, a fim de se
encontrar com empresários locais e, embora tenhamos trocado mensagens
pelo celular, eu sentia falta de tê-lo por perto.
Com tudo isso, no fim do expediente eu estava zero animada para sair
com Joly, mesmo assim acabei cumprindo com nosso combinado, só
precisaria tomar um energético para permanecer acordada.
— Você fica ótima de preto — Joly elogiou enquanto estávamos no
elevador que nos levaria ao nosso destino.
Na semana anterior tínhamos saído para comemorar minha
transferência, mas optamos por um bar onde o pessoal do setor costumava ir.
Todos que se juntaram a nós estavam muito contentes por eu ter conseguido o
que tanto queria e beberam conosco até o final da noite.
Esta semana, entretanto, Joly tinha ganhado dois convites para essa casa
noturna que abrira poucos meses atrás e misturava bar e boate.
Como eu já sabia para onde iríamos, optei por um vestido preto e uma
sandália com o salto um pouco mais alto do que eu costumava usar no dia a
dia, tinha certeza de que se fosse em casa não teria pique para sair
novamente.
Antes de me juntar a ela, apenas joguei uns acessórios por cima e
retoquei a maquiagem, ousando um pouquinho mais, e estava pronta para a
noite.
— Obrigada, você também.
Joly optara por uma calça skinny preta e um cropped da mesma cor.
Nos pés, estava usando uma sandália bem parecida com a minha.
O look escuro e a maquiagem mais elaborada, apenas valorizaram sua
cabeleira ruiva, deixando a minha amiga lindíssima.
— Só não esqueça que não pretendo ficar muito tempo, ok? — avisei
antes de sairmos do elevador e ela anuiu.
Fomos guiadas para a área externa, que tinha uma bela vista da cidade
de Nova York, e lá nos deparamos com muitos empresários engravatados e
pessoas que pareciam ter saído direto do trabalho sedentos por um drink no
final do dia.
O ambiente era descolado e super agradável, cheio de pessoas bonitas e
animadas. Aquele conjunto de coisas me fez gostar de lá, muito mais do que
imaginara quando Joly anunciou nosso destino.
— Minha nossa, quanto homem gato! — ela declarou depois de
fazermos nossos pedidos.
Tive que concordar, os homens que estavam ali eram realmente bonitos,
mas, como sempre, eu não estava em clima de flertar com ninguém.
Bebemos alguns drinks — todos pedidos por Joly, uma vez que eu
ainda não tinha idade para comprar bebida alcóolica —, enquanto minha
acompanhante contava algumas das histórias de sua vida. Era tão engraçada,
que várias vezes me arrancava gargalhadas.
Fiquei agradecida por ela falar bastante de si mesma, pois assim, eu não
precisava falar de mim. Confiava bastante em Joly e já não sentia vergonha
de compartilhar minhas desventuras com ela, só achava que minha vida triste
não era um bom tema, mas Fiquei agradecida por ela falar bastante de si
mesma, pois assim, eu não precisava falar de mim. Confiava bastante em Joly
e já não sentia vergonha de compartilhar minhas desventuras com ela, só
achava que minha vida triste não era um bom tema, mas uma hora eu lhe
contaria tudo, apenas por achar que ela merecia saber. Era para isso que as
amigas serviam, afinal de contas.
Amiga.
Ali, enquanto ela falava pelos cotovelos, eu percebi que, se tivesse uma
na época de Jace, muita coisa teria sido diferente. Ter outra pessoa com quem
dividir meu tempo, alguém para me ouvir e aconselhar, teria me feito pensar
duas vezes sobre várias coisas, mas principalmente, teria me impedido de
investir todas as minhas emoções e desejos nele.
Mas essa época já passou e quanto menos eu pensasse no passado,
melhor.
Continuamos conversando e quando dei por mim, já passava, e muito,
das 11h da noite e embora estivesse me divertindo, sentia meu corpo
reclamar, necessitando de descanso.
Pedimos nossa conta, mas antes de irmos embora, Joly disse que iria ao
banheiro. Como tinha ido minutos antes, fiquei próximo à saída esperando
por ela.
Mesmo àquela hora, ainda tinha muita gente entrando, de modo que o
bar continuava bem cheio. As mesas estavam todas ocupadas e por isso havia
grupos de pessoas de pé, próximos às paredes ou em volta das mesas,
bebendo e conversando. Também havia muitos casais, tanto nas mesas
quanto em algum canto, alguns conversando, outros se agarrando... Normal.
Um pouco mais à frente de onde eu estava, algumas luzes começaram a
piscar. Essa casa noturna era um típico bar, mas após a meia-noite virava uma
baladinha e já podia ver uma movimentação próximo à mesa do DJ.
Foi nesse momento que meus olhos passaram por alguém que eu
reconheceria em qualquer lugar. Claro que a princípio eu achei que fosse
engano, afinal, pensei que ele ainda estivesse viajando, mas não, era mesmo
Thomas quem estava ali, conversando com uma morena.
Os dois pareciam bem íntimos, muito próximos um do outro. Fiquei
imaginando quem seria ela, mas antes que pudesse especular sobre qualquer
coisa, a mulher entrelaçou os braços no pescoço dele e o beijou.
Não!
Se já estava sendo difícil vê-la agarrada a ele daquela forma, quando
Tom desceu a mão pelas costas dela e a apertou contra a parede para
aprofundar o beijo, foi quase impossível.
A boca dele parecia tão habilidosa naquele beijo, as mãos tão hábeis,
que por dois segundos nosso beijo me voltou à mente e comecei a imaginar
que era eu no lugar dela.
— Uau. Pelo visto, nosso CEO tem pegada. Quem será a sortuda? —
Joly perguntou logo atrás de mim, assustando-me.
Tentei me recompor e respondi:
— Não sei. Podemos ir?
Minha amiga concordou e saímos do restaurante.
Enquanto andávamos em direção à rua para pedir um taxi, Joly voltou a
falar, mas dessa vez, o tema era Tom e a mulher que estava com ele.
Eu, entretanto, não teci comentários.
Já em casa, fui direto para o meu quarto, mas a toda hora o beijo dele
voltava a me perturbar, tanto o que ele deu na mulher quanto o que trocamos
duas semanas atrás.
Suspirei tentando dissipar as imagens que se formavam em minha
cabeça.
Aquela cena me abalou de um jeito que eu não sabia explicar, mas tê-lo
visto com outra pessoa fez um sentimento de posse me invadir.
Claro que um homem como ele deveria ter alguém, mas nós nunca
conversamos sobre isso, além do mais, Tom parecia sempre tão disponível
para mim, que em certo momento parei de conjecturar sobre esse assunto,
talvez por isso a surpresa tenha sido tão grande.
Outra coisa que me deixou intrigada, foi o fato de ele não avisar que
tinha voltado de viagem. Isso significava que, diferente do que pensei, nossa
relação poderia não estar tão bem assim.
Mas pior que isso foi confirmar que nosso beijo realmente não fora
importante ou ele não estaria com outra poucos dias depois.
Mas por que isso me incomoda tanto?
Era essa a pergunta que me consumia enquanto eu rolava de um lado
para outro da cama.
Sem permissão, minha cabeça começou a repassar todas as nossas
corridas, risadas, momentos juntos... Havia um baú de lembranças
maravilhosas, cheio de conversas interessantes, cuidados e conselhos
preciosos.
Ele se tornou tão importante para mim nesses poucos meses e estava
morrendo de medo de perder o que tínhamos.
Senti vontade de entrar no Instagram, não para bisbilhotar a vida de
Jace, mas a de Tom, saber se ele e a mulher se conheciam por lá, se curtiam
fotos um do outro, se tinham amigos em comum...
Não, eu não estava obcecada por ele, havia comprovado isso no final de
semana após o acontecido. Enquanto rememorava nosso beijo, uma e outra
vez, consegui avaliar meus sentimentos.
Era totalmente diferente do que senti quando estava com Jace, não havia
desespero, nem inquietação ou amargura, havia apenas...
Oh, droga, eu estou tão ferrada!

Sábado, no final da manhã, Tom me ligou avisando que já estava em


Nova York e me chamando para correr com ele no parque mais tarde.
Obviamente eu estava desconfortável por tê-lo visto beijando outra
mulher, mas precisava ser adulta. Primeiro porque não sabia se ela era apenas
um caso de uma noite — coisa que ele tinha todo o direito —, ou alguém
mais sério. Mas independentemente do que fosse, não poderia estragar nossa
amizade, quando ele mesmo não o fez quando eu ultrapassei o limite.
Encontrei-me com ele em frente à Starbucks que ficava na quadra do
seu prédio às 15h e nos cumprimentamos com um abraço apertado e
silencioso que demonstrava o quanto nós dois estávamos com saudade. No
entanto, ninguém falou nada, apenas pedimos nossos cafés e os tomamos
enquanto caminhávamos por uma trilha, lado a lado, para aquecer os
músculos.
Enquanto ainda podíamos conversar, pedi que me falasse sobre a
viagem que fizera durante a semana, o que ele fez, dando destaque ao projeto
que pretendia fazer.
Quando nossas bebidas acabaram, a corrida começou e não pudemos
falar mais nada.
— Você está fora de forma — ele brincou quando parei e apoiei as
mãos nos joelhos depois dos primeiros vinte minutos de corrida.
Tom parecia tão leve, descontraído, típica aparência de homem...
apaixonado.
Mas já?
— Quem manda você viajar tanto — brinquei e voltei a caminhar. —
Acabei me acostumando a fazer isso com você e não me animei de vir
sozinha.
Seu sorriso se ampliou ainda mais com as minhas palavras e seu olhar
vagou pelo meu rosto.
— E aí, como estão as coisas no novo setor? — perguntou, voltando a
olhar para a pista à nossa frente.
— Ah, ótimas.
— Você é tudo, Lacey Marie Smith, menos, uma boa mentirosa.
Revirei os olhos para ele.
— Abby é durona, mas eu dou conta dela — falei para não parecer a
chata que reclamava de todos os chefes.
— Tudo bem, mas se ela ultrapassar algum limite, me avise.
Assenti, sentindo-me importante, não pelo que ele falou, mas por saber
que confiava em meu julgamento e no fato de que eu jamais me aproveitaria
de seu afeto por mim.
— Combinado.
Eu estava louca de vontade de perguntar onde ele estivera na noite
anterior, ou comentar sobre minha saída com Joly, só para ver se ele falaria
alguma coisa, mas não achei prudente.
Eu já estava bem estressada por conta de tudo isso e se ele me dissesse
algo que eu não queria ouvir, tinha medo de sucumbir e me derramar em
lágrimas na frente dele.
Eu precisava esquecer os últimos acontecimentos, para o bem do meu
coração e da nossa amizade. Jamais me perdoaria se perdesse tudo aquilo que
construímos ao longo dos últimos meses por culpa minha.
Só que toda vez que eu pensava nele como amigo, imagens do nosso
beijo surgiam como raios em minha cabeça, fazendo-me lembrar o quanto
aquele dia mexeu comigo.
Balancei a cabeça para desanuviar aqueles pensamentos aleatórios e
falei:
— Vamos voltar a correr?
Ele abriu aquele meu sorriso lindo e fez o que sugeri, comigo ao seu
lado. Se dependesse de mim, correria até que meu corpo estivesse cansado a
ponto de não me dar tempo para pensar em besteiras.
— Mamãe queria que você fosse jantar lá em casa hoje — disse Lacey,
jogada no sofá da minha sala, depois de termos voltado da nossa corrida.
Pelo que ela falou, Jenna tinha ido visitar uma tia que morava em Nova
Jersey e eu me dispus a lhe fazer companhia no resto da tarde.
Por isso, naquele momento, estávamos em minha sala de TV, com ela
assistindo a uma série, enquanto eu respondia a alguns e-mails.
— Ah, é? — perguntei, soando desinteressado.
— Sim. Disse que vai preparar a lasanha que você gosta.
— Isso está me parecendo suborno.
— Foi exatamente o que ela disse que era — confessou e comecei a rir.
No dia em que subi até o apartamento de Lacey para conhecer a mãe
dela, senti-me como um adolescente que visitava pela primeira vez a casa da
namorada. Estava com medo de que ela pensasse que eu fosse algum
pervertido que queria enredar sua filhinha, mal saída da adolescência.
Mas foi exatamente o contrário. Jenna estava mais do que agradecida
por saber que Lacey tinha outra pessoa com quem contar e atribuía grande
parte de sua melhora a mim.
Desde então, ela me tratava como filho, fazendo convites ou enviando
todo tipo de coisa para comer por intermédio de Lacey, que apenas ria.
O que nenhuma das duas tinha ideia, era do quanto aquele carinho tinha
mexido comigo. O fato de ter sido criado por uma mulher como Cybele, fez
com que tanto eu quanto meu irmão crescêssemos totalmente carentes
daquele tipo de amor que só vem da mãe e o fato de Jenna me tratar com
tanta afeição e cuidado me emocionava.
— Bom, se é assim, como eu poderia negar — falei, como se não fosse
nada de mais ir jantar na casa da garota que andava tirando o meu juízo.
Eu não sabia mais o que fazer. Desde o dia em que Lacey me beijou,
vinha tentando manter as coisas estáveis entre nós, mas era nítido que aquele
evento havia mudado tudo.
Sem perceber, estávamos mais cautelosos um com o outro, ficávamos
sem graça quando um pegava o outro olhando...
Seria hipócrita de minha parte se dissesse que Lacey não me atraía. Ela
era linda, inteligente, graciosa, carinhosa; o tipo de mulher que me deixava de
quatro, e isso ficou óbvio para mim desde o dia em que a vi tirando aquelas
cópias.
Mas o destino nos juntou em um momento dificílimo, quando ela
precisava de alguém para conversar e devido a isso, algo que começou com o
intuito de evitar que ela fizesse uma besteira, acabou se tornando uma grande
amizade e agora que ela passou por aquela fase difícil, estava sendo
complicado vê-la apenas como amiga, especialmente depois daquele maldito
beijo.
Eu tinha a impressão de que sempre esperei por ele e fiquei quase louco
depois que ela saiu correndo daquele jeito, se desculpando pelo que tinha
feito.
Minha vontade foi de pegar meu carro, ir atrás dela e dizer o que sentia,
mas eu sabia que não poderia agir assim, não com Lacey. Depois de tudo o
que passou no último ano, ela precisava de tempo para colocar a cabeça no
lugar.
Entretanto, eu não era bobo. Por mais que ela tenha falado que devia
estar enlouquecendo novamente ou que aquilo não aconteceria de novo, a
verdade era que se Lacey não sentisse nada por mim, não teria feito aquilo e
cabia a mim gerir as coisas para que elas acontecessem em seu devido tempo.
Fora isso, tinha que me lembrar que o ex-namorado existia. Lacey não
falava mais dele e até onde eu sabia, já o havia superado, mas nunca tinha
ouvido essas palavras da boca dela, de forma que não dava para saber o que
se passava em seu coração.
Por isso, não forçaria a barra, a não ser que tivesse absoluta certeza de
que seria aceito por ela.
— Uau, que incrível! — ela exclamou quando imagens de montanhas e
terrenos cobertos de neve apareceram na TV.
— Sim, é lindo, mas daqui a alguns meses haverá neve em Nova York
também, sabia? — brinquei e ela revirou os olhos.
— Mas é diferente. Olha esse lugar. Aspen deve ser fabuloso.
— É, sim.
— Você já foi lá?
— Tenho uma casa na cidade.
Lacey arregalou os olhos e me encarou.
— Promete que um dia vai me levar?
O jeito que ela pediu foi tão espontâneo e doce que tive vontade de
levá-la naquele momento.
— Claro que sim — respondi.
Ela sorriu animada e chegou o corpo para frente a fim de ver as imagens
mais de perto.
Seu entusiasmo me fez imaginar como seria passar um final de semana
inteiro com ela naquela casa gigantesca.
Meu lado sensato, entretanto, alertou que seria muito perigoso passar
um tempo com ela, num lugar diferente, longe de tudo e de todos.
Perigoso para quem?, perguntei a mim mesmo e não consegui nenhuma
resposta, então voltei aos meus e-mails e ela continuou vidrada na TV,
encantada com o que via.
Naquele dia, ela ficou até mais tarde em minha cobertura. Sua mãe já
havia ligado avisando que o jantar estaria pronto às 20h, mas Lacey falou que
por volta das 19h30 estaríamos lá.
Quando chegamos, o cheiro que tomava conta de tudo era espetacular.
Jenna adorava cozinhar e fazia isso com maestria.
— Mamãe, chegamos! — anunciou Lacey, pegando minha mão e me
levando para a cozinha.
Sentei-me na banqueta que costumava ocupar quando ia lá e um minuto
depois Jenna apareceu com um sorriso enorme no rosto.
Depois de beijar a filha, ela foi até mim.
— Como você está, meu filho? — perguntou enquanto me apertava em
seus braços. — E porque está tão sumido?
Desde o beijo, eu não tinha aparecido por lá e se ela perguntou isso, era
porque Lacey não havia contado o que ocorrera.
— Eu estava viajando a negócios.
— Sempre trabalhando — reclamou. — Espero que Lacey não seja
como você, não adianta nada trabalhar feito cachorro para ganhar dinheiro e
não conseguir aproveitar a vida.
Ela tinha razão, por isso em vez de responder, ofereci a garrafa de vinho
que havia levado.
— Faça as honras — disse ela, entregando-me o abridor e três taças.
— Bom, se me derem licença, eu vou tomar um banho — Lacey falou e
se foi, deixando-me com sua mãe.
Jenna ainda era uma mulher muito bonita, alta como Lacey e com os
mesmos traços, de modo que se via de longe que eram mãe e filha. Ela tinha
uma conversa agradável e era alegre de uma forma que contagiava quem
estava por perto.
Numa das primeiras vezes que conversamos, ela me contou um pouco
sobre o que passou, desde que Lacey foi diagnosticada com depressão e
chorou ao falar do quanto estava feliz por ver a filha bem novamente.
Eu podia entender muito bem seus sentimentos. Se tinha ficado abalado
quando vi Lacey sobre aquele parapeito sem nem conhecê-la, imagina como
seria se algo assim acontecesse agora, depois de tudo que vivemos...
Cheguei a estremecer com essa ideia e tentei prestar atenção a Jenna,
que contava como tinha sido em Nova Jersey.
— Mas e você, querido. Como está? — perguntou depois de colocar um
refratário com nosso jantar dentro do forno, para em seguida começar a lavar
as louças que sujara.
— Muito bem. Há muita coisa para fazer, mas isso é o que me motiva,
foi para isso que me mudei para Nova York, encontrar novos desafios.
— Eu entendo o que quer dizer. Meu marido era do mesmo jeito,
trabalhava muito, mas nunca reclamava, a diferença era que ele tinha para
quem voltar no final do dia, e isso aliviava muito do estresse.
— Eu entendo. Meu pai sempre dizia que a melhor coisa do dia era
chegar em casa e nos encontrar.
Ela balançou a cabeça, como se concordasse plenamente com isso.
— E para você, qual a melhor parte do dia? — ela quis saber.
— Para mim?
— Tem algo de que goste mais do que trabalhar? Já tem alguém em
vista para voltar no final do dia ou ainda não está pensando nesse assunto?
O que eu devia falar para ela? Estava tão confuso nas últimas semanas...
Foi por isso que não avisei a Lacey sobre o meu retorno a Nova York na
sexta-feira. Em vez disso, liguei para uma garota com quem costumava sair
esporadicamente e combinamos de jantar. Do restaurante fomos a uma das
casas noturnas mais badaladas do momento para beber alguma coisa, antes de
finalizar a noite.
Meg era publicitária, também tinha vinte e nove anos e seria uma ótima
candidata a um relacionamento mais sério. No entanto, as coisas nunca
evoluíram entre nós, era sempre o mesmo: um jantar, alguns drinks e uma
noite de sexo, seguida de algumas mensagens que iam diminuindo de
intensidade com o passar dos dias.
O bom de Meg era que ela não esperava muito dos homens e sabia
como as coisas funcionavam, por isso, sempre que eu ligava, estava
disponível, e eu tentava corresponder, nas poucas vezes em que ela me
ligava.
Em nosso último encontro, pensei que teria uma incrível noite de sexo,
mas, no final das contas, foi um desastre. Eu não me senti à vontade, fiz
comparações entre o beijo dela e o de Lacey e isso afetou radicalmente meu
desempenho, fazendo-a perguntar se havia alguma coisa errada.
Mas o que eu iria dizer? Que uma garota de dezenove anos tinha se
infiltrado em minha vida de um jeito tão profundo que eu não conseguia
passar mais de duas horas com outra mulher sem pensar no que ela deveria
estar fazendo?
Tomei um grande gole de vinho, pensando no que iria inventar a Jenna,
mas fui salvo de responder quando Lacey voltou para a sala.
Ela tinha deixado os lindos cabelos soltos e usava um vestido
estampado com a saia levemente rodada. Estava linda, e parecendo ainda
mais nova do que era.
Que droga!
— Que bom que chegou, querida, faça sala para Tom enquanto eu tomo
um banho rápido — disse Jenna, saindo em seguida.
— O que vocês estavam conversando? — Lacey perguntou.
— Nada de mais. Ela quis saber sobre meu trabalho e depois falou um
pouco sobre como tinha sido na casa da tia. Quer um pouco de vinho?
— Ah, claro, obrigada.
Depois que a servi, ela me chamou para nos sentarmos na sala.
— Pensei que mamãe estivesse falando sobre assuntos constrangedores?
— Como assim?
— Ela acha que você é meu crush — respondeu e bebeu um gole de
vinho. O rosto corado indicando que havia ficado sem graça de ter tocado no
assunto.
— Crush? — questionei, virando o corpo para ficar de frente para ela.
— Ela acha que estamos saindo, tipo, como se fôssemos mais que
amigos, mas não tivemos coragem de contar.
Eu tinha certeza de que Jenna sabia que não estávamos envolvidos
emocionalmente, mas não descartava a possibilidade de ela estar criando
expectativas com relação a mim.
— É normal que ela pense isso, nós passamos muito tempo juntos.
— Verdade.
— Além disso, eu sou um partidão, bonito, rico, inteligente, educado...
Que mãe não iria me querer como genro?
Lacey me encarou com a boca aberta e os olhos arregalados em
descrédito.
— Hum, quer dizer então que o Sr. Thomas Henrich Ward, é um bom
partido, do tipo que toda mãe casamenteira sonha para suas filhas.
— É, mais ou menos isso — confirmei e dei de ombros.
— E o seu ego, ainda cabe dentro de você, Sr. Gostosão? — perguntou
e logo ambos estávamos rindo.
Quando a crise terminou, falamos sobre outros assuntos, nada sério,
nenhum de nós queria quebrar o clima amistoso que se formou, o mais
normal que aconteceu entre nós desde o... beijo.
Deus! Parecia que minha vida estava dividida entre antes e depois
daquele bendito beijo.
Assim que voltou à sala, Jenna pediu que nos sentássemos à mesa, pois
já iria servir o jantar, que, como era de se esperar, estava perfeito.
Na hora em que me levantei para desejar boa-noite, ela me entregou um
refratário pequeno com uma lasanha montada, dizendo que era para eu não
ter que ir comer em restaurante e afirmou que mandaria uma mensagem
explicando tudo o que eu deveria fazer.
Como já sabia que não adiantava reclamar, apenas agradeci, dei um
beijo nas duas e saí do apartamento com um sorriso no rosto e o almoço do
dia seguinte nas mãos.
Minha semana começou agitada, tanto na empresa quanto em minha
cabeça.
Por mais que tivesse tentado esquecer, o fato de ter visto Thomas com
outra mulher desencadeou uma verdadeira tormenta de pensamentos. E
mesmo após termos passado o sábado quase todo juntos no mesmo clima de
amizade de antes, havia uma voz tagarelando coisas completamente sem
sentido, fazendo aflorar emoções como ciúmes, possessividade e até mesmo
um louco sentimento de traição por parte de Tom...
Tudo isso estava colocando nossa relação sob outra perspectiva, o que
me deixava mais que confusa.
E embora as coisas parecessem bem normais entre nós, só eu sabia o
quanto estava me policiando para não cometer outra besteira e acabar com
tudo de vez.
Todos esses pensamentos aleatórios estavam atrapalhando meu
desempenho no trabalho, já que minha concentração tinha dado adeus há um
bom tempo.
— Isso está errado! — Abby resmungou com um dos estagiários em seu
tom nada amigável.
Pelo menos não é só comigo que ela implica, pensei.
— Vou refazer — o rapaz disse, visivelmente nervoso.
Eu ainda não entendia como ela podia estar ali, numa posição de chefia,
quando a filosofia de Tom era totalmente diferente da dela. A mulher era
muito mal-humorada e estava sempre pronta para dar uma patada em alguém.
Tinha curiosidade de saber como ela agia quando estava com o chefe,
apesar de que pelos avisos de Tom, o indício era de que tratava a todos do
mesmo jeito.
Já estava quase dando graças a Deus por ela estar voltando para sua
sala, quando Abby parou ao lado da minha mesa.
— Preciso dos orçamentos para o final do dia e tudo na ordem que te
passei — falou, desviando os olhos escuros do computador e os fixando em
mim.
— Tudo bem, estou quase finalizando.
— Eu pedi isso ontem, já era para ter terminado. Fique ciente de que
não admito procrastinação na minha equipe, Srta. Smith.
Arregalei os olhos sem acreditar.
Ela havia me passado uma pilha de orçamentos e mandou que eu
checasse os valores e separasse os mais altos de cada nota para que o setor de
compras conseguisse barganhar junto aos fornecedores.
Eu sabia que aquilo não era de nossa alçada, mas antes que eu pudesse
falar alguma coisa, ela explicou que todo profissional deveria entender sobre
pedidos, custos e tudo o mais.
Se eu não a conhecesse, estaria toda satisfeita por estar aprendendo
coisas novas, mas Abby deixou sua opinião bem clara desde o início. Ela não
gostava de mim e não facilitaria.
E eu já tinha comprovado isso.
A mulher vivia pegando no meu pé e me testando, mas esta semana
estava ainda pior. Talvez tivesse pensado que eu ia acabar desistindo e, então,
quando apareci para trabalhar na segunda-feira, ela resolveu descontar suas
frustrações me dando uma tarefa que não me acrescentaria em nada.
Chateada, achei que tinha chegado a hora de esclarecer algumas coisas.
— Olha, Srta. Randall. Eu respeito muito sua posição aqui na empresa,
sei o quanto é competente e a admiro por isso. Sei também que não desejava
minha transferência, só que eu estou aqui e pretendo ficar, não por capricho,
mas porque quero me especializar engenharia sustentável e a Ward
Corporation é a melhor empresa voltada para essa área. Por isso, não acho
justo ficar checando orçamento de material, enquanto todos os outros
estagiários estão aprendendo sobre engenharia. Meu curso só vai começar em
alguns meses, mas eu tenho muita vontade de aprender.
Abby não piscou enquanto eu falava e quando terminei, um silêncio
sepulcral tomava conta do setor, indicando que todos pararam o que faziam
para nos ouvir. Fiquei esperando pela resposta afiada que receberia, mas
antes que pudesse responder, um telefone tocou e sua secretária a chamou.
Respirando fundo, ela se foi, mas não sem antes me lançar um olhar
mortal.
Eu sabia que ela devia estar com raiva, por outro lado, uma mulher forte
devia apreciar a coragem de outra, não é?
Bom, eu esperava que sim. Não era justo estar estagiando no setor que
tanto desejei, apenas para ficar fazendo coisas bobas.
Decidida a esquecer o assunto, tratei de focar em minha tarefa.
Independentemente de qualquer coisa, faria o que ela mandou da melhor
maneira possível.
Quando o expediente acabou, pensei em mandar uma mensagem para
ver se Tom queria fazer alguma coisa, mas logo desisti; estava tão irritada,
que não conseguiria disfarçar e ele acabaria associando meu estresse a Abby.
Em vez disso, decidi andar um pouco para espairecer, de preferência
com um café na mão. Segui então para a Bowery por entre aquele mar de
pessoas que saía do trabalho.
Nova York era mesmo uma potência em termos de gente, carros,
negócios, luzes...
Estava me aproximando do Think Coffee, quando escutei meu nome
sendo chamado. Parei na mesma hora e prendi a respiração, querendo
acreditar que era uma alucinação.
— Lacey! — a voz inconfundível de Jace chamou novamente.
Balancei a cabeça e respirei fundo. Ao me virar na direção de onde
vinha o som, lá estava ele, em frente a uma galeria, andando entre as pessoas,
com o intuito de chegar até mim.
Eu achava que tinha mudado tanto nesses últimos meses, que me
espantei ao ver que ele estava do mesmo jeito que me lembrava: cabelo
milimetricamente bagunçado, camiseta e jeans surrado.
Enquanto ele se aproximava, fiquei esperando que meu coração
começasse a acelerar ou que as mãos suassem de nervoso, mas para minha
surpresa, nada aconteceu.
— Olá, Jace, como vai? — perguntei quando ele parou à minha frente.
— Estou bem e você? Puxa, você me parece ótima — falou antes que
eu pudesse responder.
— Estou mesmo. Que coincidência encontrá-lo por aqui.
— Vim visitar meus pais e pegar algumas coisas que esqueci. Mas meu
celular estragou e vim comprar outro — declarou, mostrando a sacola da loja
de eletrônicos.
— Ah, tá, legal — foi a única coisa que consegui falar.
Jace me avaliou por mais alguns segundos, do jeito que fazia quando
começamos a namorar, e fiquei com medo do que poderia sair de sua boca.
— Quer tomar um café?
Deus, quantas vezes desejei escutar essas palavras, principalmente nos
momentos em que achava que a loucura iria consumir minha alma. Mas
naquela hora eu simplesmente não via razão para termos qualquer ligação.
Inconscientemente, Jace se transformou em um gatilho para o caos na
minha vida e seria burrice de minha parte dar chance para que ele me
seduzisse ou me falasse coisas que poderiam desencadear algum sentimento
dúbio dentro de mim.
— Obrigada, mas estou atrasada para um compromisso — menti.
Jace passou as mãos pelo cabelo para ajeitá-lo, mas no instante seguinte
estava todo bagunçado novamente.
Esbocei um sorriso quando algumas lembranças surgiram em minha
mente. Ele sempre fazia isso quando estava ansioso, o que significava que
queria me dizer alguma coisa.
Eu e Jace nunca tivemos a oportunidade de conversar direito, uma vez
que logo após nossa separação, seus pais o proibiram de falar comigo.
Relembrar isso apenas me mostrou que esse era apenas mais um dos
motivos que eu tinha para me manter longe dele.
Sua família me abominava — com certa razão —, pois quando uma
crise me abatia, era Jace o alvo da minha loucura...
Não gostava nem de me lembrar dessa fase.
— Olha, eu sei que as coisas não terminaram muito bem entre nós, sei
que se eu...
— Jace — o interrompi, sem ligar para quem passava ao redor, sabia
que todos ali estavam preocupados somente em chegar às suas casas o mais
rápido possível. — Eu realmente sinto muito por tudo que você foi obrigado
a passar por minha causa. Minha cabeça não estava boa e isso fez com que
todos os sentimentos ficassem acentuados, eu sentia ciúmes demais, aí,
quando você brigava comigo, eu sentia raiva demais, depois, tristeza demais,
e isso foi se transformando num círculo vicioso até se converter naquela
obsessão descabida.
“Graças a Deus e aos anjos que encontrei após seus pais entrarem com
aquela ordem de restrição, eu melhorei. Foi preciso muita terapia e, mais
recentemente, uma nova rotina, além de bons amigos, para chegar onde estou
agora.
“Hoje sei que nossa relação não deu certo por uma série de motivos,
mas principalmente por causa da dependência que criei com relação a você.
Eu acabei com seu carro e te machuquei fisicamente, pelo amor de Deus, e
depois que entendi de onde tudo isso veio e do quanto estava fazendo mal a
mim e à todos ao meu redor, senti-me absurdamente envergonhada.
“Sei que depressão é uma doença e que a culpa não foi totalmente
minha, mas vendo como estou agora, penso que se tivesse sido um pouco
mais forte, as coisas não teriam chegado tão longe.
“Por isso, eu queria te pedir perdão, e aos seus pais também, sei que os
assustei naquela época sombria... Teria entrado em contato antes, mas vocês
mudaram os números dos telefones e não queria arriscar ser presa por me
aproximar demais de você — dei de ombros. — É isso, espero que possa me
desculpar.
Jace parecia muito surpreso com meu discurso, tanto que demorou um
bom tempo para começar a falar.
— Não há o que perdoar. Eu sempre me preocupei e torci muito para
que ficasse bem. Quando te vi, agora há pouco, tive medo de me aproximar e
te prejudicar de alguma forma, mas queria muito saber como estavam as
coisas e você não sabe como fico feliz por ouvir tudo isso.
— Obrigada, de verdade — falei e abri um sorriso.
Saber que mesmo com tudo o que fiz, Jace se preocupou comigo e
estava disposto a perdoar, foi um alento para mim e me fez sentir uma paz tão
grande, que era até difícil de explicar. A última coisa que queria era que ele
ficasse com raiva de mim a vida inteira.
— Bem, eu tenho que ir. Foi bom te ver, Jace — falei e fui me
afastando.
— Adeus, Lacey.
Dei um tchau tímido e virei as costas para me misturar ao mar de
pessoas que iam e vinham.
Enquanto minhas pernas se moviam, senti aquela paz se transformando
em algo muito maior, talvez gratidão ao universo por ter me ajudado a
entender que amor e obsessão são coisas muito distintas que nunca deveriam
ser confundidas.
Eu precisei passar por momentos tortuosos e permeados de desespero,
para poder entender que nosso relacionamento era tóxico para mim, e ver
Jace novamente, apenas serviu para que enxergasse toda situação com mais
clareza e me provar que eu estava curada.
Queria poder explicar como era a sensação de olhar para um ex-
namorado, que meses atrás me fazia ter vontade de tirar a própria vida, e que
agora não despertava nenhum tipo de sentimento a não ser carinho por tudo
que vivemos.
Queria muito que outras pessoas sentissem novamente como era não
estar aprisionada a um relacionamento que lhes fazia mal, apenas por
carência emocional.
Desci as escadas da estação de metrô de Bowery sentindo que um ciclo
havia se encerrado em minha vida. Não havia sensação melhor para alguém
como eu do que perceber que o passado já não me assustava e que,
finalmente, os monstros que se alojaram em minha cabeça, tinham
desaparecido, deixando-me livre para viver de verdade outra vez.
— Eu preciso de férias — murmurei comigo mesmo enquanto olhava os
prédios que serviam de vista para a janela do meu escritório.
Ainda era quarta-feira e eu já me sentia esgotado. Estava ciente de que
se devia aos novos contratos que a empresa havia fechado e sabia também
que depois de tudo acertado, as coisas amainariam um pouco, mas isso não
diminuía meu cansaço.
Além disso, Lacey me mandou uma mensagem esta manhã dizendo que
precisava conversar comigo e isso acrescentou ansiedade ao meu estado de
espírito.
Estava curioso para saber o que tinha acontecido, mesmo ela tendo
garantido que estava bem.
A verdade era que me sentia como se estivesse vivendo em expectativa
esses últimos dias. Pelo quê? Eu não saberia responder.
O interfone em minha mesa tocou e fui até lá para atender.
— Sim, Freya.
— Gostaria de saber se o senhor ainda precisa de alguma coisa —
perguntou minha secretária. Pelo visto o expediente já havia acabado e eu
sequer percebi.
— Não, pode ir. Obrigado.
— Tudo bem, senhor, até amanhã.
— Até.
Verifiquei meu relógio e vi que passava um pouco das 17h, o que
significava que em poucos minutos Lacey estaria ali, já que chegaria por
volta das 17h30, quando a maioria do pessoal já teria ido embora.
Sentei-me e voltei a ler os documentos que estivera analisando.
Algum tempo depois, ela bateu à porta e entrou. A roupa que vestia era
formal, mas compatível com sua idade. Seus cabelos estavam trançados e o
belo rosto não mostrava sinais de maquiagem.
Ainda assim, estava linda.
— Boa tarde, Sr. Ward, como foi seu dia? — perguntou, colocando uma
sacola sobre minha mesa.
— Ótimo, e o seu, Srta. Smith? — devolvi, o sorriso em meu rosto se
alargando.
— Foi ótimo também, mas está prestes a melhorar.
Franzi a testa.
— E posso saber por quê?
— Deixa só eu pegar uma coisa ali na copa e você vai descobrir.
Balancei a cabeça enquanto ela saía, voltando poucos minutos depois
com uma bandeja contendo duas xícaras grandes de café, dois pratos de
sobremesa e dois garfos.
Ela depositou a bandeja sobre a mesa, entregou-me uma das xícaras e
colocou a outra à sua frente.
Em vez de ficar em minha cadeira, resolvi ocupar a que estava ao lado
da dela, morto de curiosidade.
Lacey então abriu a sacola e tirou de lá uma vasilha transparente com
algumas fatias de torta de chocolate dentro.
Na mesma hora comecei a salivar. Adorava qualquer doce, mas
chocolate era o meu fraco.
— Mamãe fez ontem à noite e mandou que eu trouxesse para você,
então eu resolvi trazer uma para mim também, para lancharmos juntos —
explicou me oferecendo uma das fatias.
Esperei que ela se servisse e logo estávamos os dois revirando os olhos
em aprovação. Isso era a perfeição em forma de torta.
Quando tinha comido metade de sua fatia, Lacey tomou alguns goles de
café e jogou a bomba.
— Eu encontrei o Jace ontem.
Senti-me momentaneamente paralisado ao ouvir suas palavras.
— E... Como foi? — perguntei, tratando de disfarçar o enorme
desconforto que estava sentindo.
— Sei lá. Estranho.
Eu queria todos os detalhes, mas deixei que ela revelasse o que tivesse
vontade.
— Ao ouvir a voz dele, fiquei um pouco abalada, mas apenas pela
surpresa, não por ele, entende? — Ela parou, como se estivesse se lembrando
de como foi. — Em meu íntimo eu achava que estava curada, mas ainda
assim, morria de medo do que poderia acontecer quando nos encontrássemos
após todos esses meses separados.
Suas palavras refletiram todos os meus medos. Meu maior receio era
que se esse encontro um dia acontecesse, ela acabasse voltando à estaca zero.
— Mas a única coisa que constatei, foi o quanto meus sentimentos por
ele eram errados. Vendo Jace à minha frente, eu pude perceber, nitidamente,
que todos aqueles arroubos de loucura, que eu jurava estarem acontecendo
devido ao meu amor por ele, eram um engodo — ela deu um sorriso triste e
raspou um pouco do chocolate que havia em seu prato, colocando-o na boca
em seguida. — A verdade, Tom, é que eu nunca o amei e vê-lo apenas me fez
perceber a diferença que existe entre obsessão e amor verdadeiro.
Em nossas conversas, eu sempre tentava fazer com que Lacey
conseguisse diferenciar o que era real das utopias criadas por nossa mente. E
ouvi-la declarar tudo aquilo com tanta sobriedade, deixava-me aliviado e
extremamente feliz.
— Vocês conversaram por muito tempo?
Minha curiosidade era enorme.
— Não, não. Nosso encontro aconteceu no meio da rua, mas a rápida
conversa serviu para virar uma página na minha vida. Eu me sinto mais...
livre e pronta para seguir em frente — declarou, tirando a atenção de sua torta
e fixando os olhos nos meus.
Ela permaneceu assim por alguns segundos e eu achei que iria falar
mais alguma coisa, por isso permaneci calado, à espera.
Mas, por fim, ela sorriu, pegou sua xícara de café e falou:
— Um brinde aos novos ciclos.
Fiz como ela e ergui a minha para fazer o brinde.
Depois disso, ela deu um jeito de aliviar o clima, falando sobre o que
tinha feito naquele dia, enquanto terminávamos de comer a torta deliciosa e
tomar o café, já morno àquela hora.
— Deixe-me limpar isso aqui — falei, aproximando-me um pouco e
passei o dedo no cantinho de seu lábio para tirar a mancha marrom que se
instalara ali.
Depois, sem pensar, coloquei o dedo na boca.
Minha vontade era tirar aquela gota de chocolate com a língua e a forma
como Lacey me olhava, dizia que estava pensando o mesmo.
Mas eu não me atreveria a fazer, e ela não pediria que o fizesse.
Droga, isso só piora a cada dia, pensei enquanto me afastava dela.
— Acho que é melhor eu ir embora, está ficando tarde — Lacey disse e
começou a recolher o que havia sobre a mesa. — O restante é para você levar
para casa — avisou, indicando a vasilha com o restante da torta.
Eu agradeci e a ajudei a guardar as coisas.
— Muito obrigado pela torta e agradeça sua mãe por mim — falei
quando chegamos à porta.
— Farei isso — ela garantiu e se aproximou para me dar um beijo no
rosto, algo que se tornara normal entre nós.
Dessa vez, entretanto, o beijo foi depositado no cantinho da minha boca
e isso quase acabou com meu bom senso.
— Você me confunde, Lacey. — Fui sincero, estava cansado de tentar
adivinhar o que se passava por sua mente.
— As coisas estão confusas na minha cabeça também.
— Eu estou percebendo. O que acha de pensar sobre isso nesses
próximos dias e me dizer a que conclusão chegou no sábado, durante o
almoço?
— Combinado.
— Ótimo — falei e lhe dei um beijo na bochecha
Quando ela me deu as costas, eu fechei a porta e fui trabalhar, era isso
ou enlouquecer de vez.
Na sexta de manhã, recebi um telefonema de Jenna.
A princípio pensei que estivesse ligando para saber se eu tinha gostado
da torta, mas para minha surpresa, ela queria se encontrar comigo.
Achei bem estranho, mas depois lembrei do que Lacey havia me
contado e imaginei que estivesse precisando conversar sobre o assunto
Por isso, cancelei um compromisso com meu gerente de marketing e
combinei de me encontrar com ela às 16h30, na Starbucks que ficava perto da
empresa.
Ao chegar lá, Jenna já me esperava com um belo sorriso.
— Obrigada por ter vindo, querido — falou depois de me
cumprimentar.
— Jamais recusaria um convite seu — garanti de maneira gentil e
ganhei um sorriso.
— Sempre um cavalheiro — disse ela, dando uns tapinhas em minha
mão.
Logo depois fizemos nossos pedidos, mas ela só iniciou a conversa
quando os cafés chegaram.
— Imagino que minha filha tenha te contado sobre o encontro que teve
com Jace, certo?
— Sim — respondi antes de beber do meu café; precisava molhar a
garganta que, de repente, tinha ficado seca.
— Quando ela me falou que havia se encontrado com ele, todo aquele
medo, que há meses eu não sentia, voltou com tudo. Em minha cabeça,
começaria tudo de novo e tive certeza de que, dessa vez, eu não conseguiria
salvá-la de si mesma.
Sua expressão era tão desolada, que tive vontade de me levantar e ir
abraçá-la, mas eu não estava muito melhor, então o ideal era que cada um
ficasse em seu lugar.
Após alguns goles de seu expresso, ela continuou:
— Mas, graças a Deus, Lacey realmente mudou. Depois de tudo o que
me falou, eu tive certeza de que ela havia superado o passado e estava
olhando para frente, para o futuro. Muito disso se deve à Louise, ela foi
primordial, além de que foi por intermédio dela que minha filha conseguiu o
estágio, isso foi essencial para a vida social dela que havia se anulado. Mas
todo o resto eu devo a você. Como falei assim que nos conhecemos, não
tenho palavras para agradecer todo o cuidado e carinho que teve por ela desde
o primeiro dia.
— Não precisa agradecer, Jenna, Lacey é especial e sua amizade é
muito importante para mim.
Ela assentiu enquanto bebia mais um gole de café.
— É justamente sobre a amizade de vocês que vim conversar — falou,
cautelosa.
— Estou ouvindo — disse a ela, o cenho franzido em confusão.
— Lacey não me falou a seu respeito logo no início da amizade de
vocês, sabe, entretanto, eu sentia que se tratava de um homem, ou ela teria me
contado, como sempre fazia. Devido a isso, eu tive muito receio de que ela
pudesse se envolver emocionalmente e voltar àquele padrão. Quando fiquei
sabendo que o homem em questão era seu patrão, então, foi que minha
cabeça entrou em parafuso, arquitetando mil e um cenários.
— Eu posso imaginar — falei. Devia ter sido difícil para ela.
— Mas em pouco tempo fui percebendo que você a ajudava pensar com
clareza. Via mudança nas mínimas coisas que ela fazia, na forma como
começava a enxergar a vida e nas decisões que vem tomando até hoje. Ela se
tornou mais centrada e muito menos impulsiva.
— Que bom que pude ajudar de alguma forma.
— Só que de algumas semanas para cá, venho notando que Lacey está
agindo de forma diferente. Nada ruim, apenas diferente.
— Diferente como?
— Bom, eu conheço minha filha como a palma da mão e venho notando
que ela está dando indícios de estar apaixonada.
Senti um calafrio atravessando meu corpo.
— Mesmo?!
— Sim, Thomas, e não acredito que também não tenha percebido.
Depois de todo o cuidado com que a tratou, de todo o esforço que teve em
ajudá-la a sair daquele mar de tristeza em que ela estava afundada, era um
tanto óbvio que ela iria se apaixonar por você.
Fiquei calado por alguns segundos, processando suas palavras. Por fim,
respirei fundo e falei:
— Eu vou ser sincero com você, Jenna. Devido a algumas atitudes dela,
comecei a desconfiar de que algo estivesse acontecendo, mas preferi não me
ater muito a isso porque imaginei que ela talvez pudesse estar confundindo as
coisas, sabe, gratidão com amor... Numa garota da idade dela e com seu
histórico, eu não podia descartar essa possibilidade.
— Você está certíssimo, mas não conheceu Lacey antes de toda essa
bagunça. Ela sempre foi muito centrada e pé no chão. Uma vez Louise me
disse que tinha a impressão de que tudo o que aconteceu com Lacey, foi uma
espécie de surto retardado, proveniente da morte do pai. Lou achava que,
embora minha filha tenha chorado e se entristecido após a morte dele, ela não
tinha conseguido extravasar tudo o que estava dentro dela e quando se
apaixonou pela primeira vez, o que restava se juntou a esse novo sentimento
e exacerbou suas emoções de maneira doentia.
— Tem fundamento.
— Sim. Só que ela não estava certa disso e ficou bem preocupada
quando vocês começaram a sair, mesmo que como amigos. Entretanto, me
deixou tranquila ao dizer que confiava que você saberia lidar muito bem com
os sentimentos de Lacey e que se tudo corresse como estava imaginando,
minha filha conseguiria superar o que aconteceu e voltaria a ser a mesma de
antes. Porém, haveria uma grande possibilidade de ela se apaixonar, não
devido a gratidão, mas porque seria muito fácil nutrir esse tipo de sentimento
por você.
Ouvir aquilo me fez corar como um adolescente e se eu já não tivesse
suplantado o que sentia por Louise, era bem capaz de cometer alguma
loucura.
Mas a verdade era que há muito tempo eu não sentia mais nada por ela e
quando a procurei, estava apenas enganando a mim mesmo, tentando voltar a
um tempo em que fui feliz.
— Então você acha que os sentimentos dela não têm nada a ver com o
que fiz?
— Têm tudo a ver, mas o que ela sente não está baseado em
agradecimento e sim em admiração. Ela o admira como chefe e como
homem. Se fosse em outra época, Lacey já teria feito alguma loucura para
chamar sua atenção, mas agora, não. Ela está serena, apenas esperando por
uma oportunidade.
— E você não se importa? Quero dizer, além de ser seu chefe, sou dez
anos mais velho que ela. Eu...
— De forma alguma. Mesmo que fosse vinte anos mais velho que
minha Lacey, se você gostasse dela do jeito que eu sei que gosta, estaria
perfeito para mim.
— Então você notou — comentei, sem graça, por constatar que não
tinha disfarçado muito bem.
— Claro. E acho que se sentiu assim desde o início. Não acredito que
tenha se aproximado de uma garota tão problemática se não houvesse algo
por trás. A gente só ajuda outra pessoa dessa forma se nos importarmos muito
com ela, e você se importa.
— Sim, muito. E continuaria me importando, mesmo se ela não me
quisesse.
Jenna sorriu abertamente, demonstrando o quanto estava feliz por
constatar todas aquelas coisas.
— Eu sei, Tom, mas chegou a hora de sermos práticos. Lacey é o tipo
de garota que não vê problema em demonstrar afeição, mas como não sabe o
que você sente, não quer arriscar perder sua amizade.
— Eu também não quero isso.
— Imagino que não, mas o problema é que minha filha está em seu
limite. Quando conversamos ontem, ela me disse que iria almoçar com você
amanhã para que pudessem resolver as coisas, mas que ainda não sabia o que
falar, está com medo de estragar tudo. Por isso tive uma conversa muito
parecida com a que tivemos agora, com o intuito de incentivá-la a seguir seu
coração. Eu não vou sequer lhe falar que nós nos encontramos, mas imaginei
que estivesse tão confuso quanto ela e achei que seria justo você saber que o
que ela sente não é uma paixãozinha de menina.
— Eu compreendo e agradeço que tenha vindo conversar comigo, foi
muito importante.
Logo depois Jenna se despediu e me deixou sozinho com meus
pensamentos.
Suspirei pesadamente.
Precisava analisar o que ouvi e refletir muito bem sobre o que iria fazer.
Jenna talvez não se importasse, mas não tinha como esquecer o quanto
Lacey era jovem e muito menos que era minha funcionária, na verdade, esse
era o tipo de pensamento que transpunha a minha mente vez ou outra desde
que a conheci.
Mas depois do que ouvi, cheguei à conclusão de que se houvesse
alguma chance de ficarmos juntos, eu a agarraria. Primeiro porque dez anos
de diferença não era nada entre adultos, segundo porque tinha certeza de que
conseguiríamos administrar as coisas muito bem dentro da empresa e
terceiro, porque depois de tudo o que perdi por causa de Cybele, eu merecia
estar do lado de alguém que gostasse de mim e de quem eu gostasse também.
Claro que tudo isso era muito fácil quando estava em nossa cabeça,
colocar em prática era outra coisa. Mas no dia seguinte, para o bem ou para o
mal, nós resolveríamos nossa situação.
Mais tarde, naquela noite, eu custei a dormir. Imagens de uma boca
rosada falando besteiras e de um cabelo dourado caindo sobre o meu peito
permearam meus pensamentos até o momento em que, enfim, sucumbi ao
sono.
Como combinado, fui almoçar com Tom no sábado.
A fim de relaxar, resolvi ir andando, como costumava fazer, mas dessa
vez, não usava roupa de ginástica e sim uma blusa de seda branca e uma
minissaia estampada.
Apesar de nos conhecermos há tanto tempo, queria estar bonita para a
conversa que teríamos.
Mas à medida que me aproximava de seu prédio, minha ansiedade
apenas aumentava. Talvez porque, dessa vez, eu não poderia fugir, depois de
tê-lo beijado no canto da boca, Tom meio que cobrou uma explicação, uma
definição da nossa situação e por mais que tentasse me acalmar, ali estava eu,
com o coração saltando no peito.
Quando toquei a campainha, minhas mãos suavam e parecia que não
chegava oxigênio suficiente em meus pulmões. Na verdade, eu sentia que
estava prestes a infartar.
Mas por que, meu Deus, se eu já tinha ido ali milhares de vezes?!
— Achei que não viesse mais — ele disse ao abrir a porta, todo
charmoso dentro de um jeans claro e uma camiseta branca.
Suspirei internamente, Tom era lindo demais.
— Quando foi que eu te dei um bolo? — zombei e passei por ele
tentando aparentar uma calma que não sentia.
Ao adentrar, um cheiro delicioso tomava toda a cobertura.
— Quer beber alguma coisa?
— Água, por favor — pedi e me sentei comportadamente no sofá.
— Aqui está — falou, dois minutos depois, entregando-me uma
garrafinha de água mineral e um copo com gelo.
— Obrigada.
Ficamos calados por algum tempo, enquanto eu bebericava,
completamente ciente de que estava enrolando.
— Lacey, está tudo bem? — Tom quis saber, o cenho vincado de
preocupação.
Engoli em seco e fiz que sim com a cabeça.
— Quer conversar agora? — perguntou, sentando-se ao meu lado e
dificultando ainda mais minha linha de raciocínio.
Eu queria?
Na noite anterior, estava muito ansiosa e resolvi ligar para Louise.
Mesmo sem ninguém ter me falado nada, algo me dizia que ela e Tom já
haviam tido alguma coisa e precisava ter certeza de que realmente tinha
acabado.
Ela, como sempre, tranquilizou-me de todas as formas e me deu vários
conselhos. Foi ótimo e quando desliguei o telefone, tinha certeza do que
fazer.
Mas ali, na frente dele, sentia-me mais nervosa que nunca,
completamente tensa e morrendo de medo do que ele iria pensar. Contudo,
não tinha outro jeito, eu precisava falar o que estava sentindo, e quanto antes,
melhor, ou iria surtar.
— Bom, em primeiro lugar, preciso que saiba, que nossa amizade é uma
das coisas mais importantes que eu tenho.
Tom abriu um sorriso terno.
— Para mim também.
— Mas se depois de tudo o que ouvir, você quiser se afastar, eu vou
entender, ok?
— Isso não vai acontecer.
Sorri, esperançosa de que fosse mesmo assim.
— Olha, eu juro que fiz o máximo possível para que isso não
acontecesse, mas não teve jeito, e estou sentindo que se não revelar tudo o
que está aqui dentro — falei, apontando meu coração —, vou acabar
sufocando.
— Lacey... — ele chamou e quando o encarei, continuou: — Está tudo
bem. Apenas respire e diga o que precisa. Independentemente do que seja, eu
sempre estarei aqui, tudo bem?
— Tudo bem — falei e respirei algumas vezes.
Após engolir o nó que se formou em minha garganta, comecei:
— Quando a gente se conheceu, eu te achei o cara mais gentil e
educado do mundo. Estar com você, simplesmente parecia certo e pensei que,
mesmo com todas as diferenças que existiam entre nós, nossa amizade iria
durar para sempre. Conforme o tempo foi passando, comecei a perceber que
ficava mais tempo com você do que com a minha própria mãe, e quando você
não estava por perto, eu me sentia estranha, vazia...
Tom sorriu mais uma vez e afagou meu rosto.
— Comigo também foi assim — confessou, fazendo-me corar.
— Eu sei que somos de mundos diferentes, que você é o meu chefe rico
e bem relacionado, mas as coisas sempre foram tão fáceis entre nós, que
nunca o vi dessa forma, pelo menos fora do escritório. — Fiz uma pausa para
organizar meus pensamentos e continuei: — O problema é que desde aquele
beijo, não consigo mais te enxergar como amigo. Eu tentei separar as coisas,
dei mil desculpas a mim mesma, mas não dá, não consigo mais viver do seu
lado sem...
Parei de falar, pois a vontade de chorar veio com força.
Thomas me puxou para si e me agarrei a ele. Estava com tanto medo de
não ser correspondida e estragar tudo. Eu sabia que dessa vez estaria mais
preparada e não cometeria nenhuma besteira, mas isso não diminuiria a dor
da rejeição.
Soltei-me dele, respirei fundo novamente e ergui a cabeça, precisava
encarar seus olhos quando falasse aquilo.
— O que eu quero dizer é que estou apaixonada por você, Tom, mas se
não sentir o mesmo...
As palavras foram interrompidas quando sua boca tomou a minha de
uma forma deliciosamente brusca.
— Doce Lacey, eu me sinto tão atraído quanto você, mas não queria
pressioná-la, precisava que você se abrisse quando sentisse que era a hora
certa, entende? — explicou, um pouco ofegante do beijo arrasador.
Sorri e balancei a cabeça afirmativamente.
— Estava morrendo de medo... — confessei, a testa colada na dele
enquanto meu rosto descansava entre suas mãos.
Dessa vez, fui eu quem o beijou.
Havia tanto desejo em mim, tanta vontade de me entregar, que as
lágrimas se misturaram ao nosso beijo.
Tudo o que queria era saciar a vontade que passei nos últimos dias e
aproveitar a sensação maravilhosa de estar nos braços dele, porque a verdade
era que eu ainda não conseguia acreditar que estávamos ali, juntos.
— Quando foi que isso tudo aconteceu? — perguntei, baixinho, ainda
grudada a ele. — Quer dizer, quando você soube?
— Eu me senti atraído por você desde que a vi tirando aquelas cópias
no primeiro dia — confessou. — Mas esse sentimento mais profundo eu não
tenho ideia de quando surgiu. Não sei se sempre esteve aqui à espera de que
você estivesse pronta ou se foi surgindo aos poucos, mas sei que aquele beijo
foi um despertar... Acho que nunca me senti tão confuso em toda a minha
vida.
— Foi por isso que você ficou com aquela mulher? — perguntei e Tom
se afastou para encarar meu rosto.
— Como você sabe?
— Eu estava naquela boate com a Joly — confessei, abaixando a
cabeça, não queria olhar para ele.
— Ah — ele exclamou, a mão acariciando a minha. — Como eu disse,
aquele beijo me deixou completamente confuso sobre meus sentimentos e
sobre o que fazer. E o fato de ter ficado tantos dias longe de você apenas
piorou minha confusão. Por isso, quando cheguei, em vez de ligar para você,
eu liguei para ela.
— Então vocês já se conheciam — concluí com um fio de voz.
— Sim, Meg e eu já saímos juntos algumas vezes, só que nunca passou
de alívio sexual, para nenhum de nós dois.
Balancei a cabeça, ainda sem querer olhar para ele. Mas Tom não me
deixaria ignorá-lo por muito tempo. Ele pegou meu queixo e fez com que eu
erguesse a cabeça.
— Foi naquela noite que eu tive certeza de que estava apaixonado por
você — explicou, fazendo com que lágrimas surgissem em meus olhos. —
Enquanto eu estava com ela, percebi que não era aquilo que eu queria, que
quem eu queria tinha expressivos olhos azuis, um lindo cabelo loiro, um
corpo maravilhoso, uma inteligência sagaz e uma meiguice adorável.
Mal ele terminou de falar, eu já estava tomando sua boca novamente.
Dessa vez, porém, Tom me deitou no sofá e se colocou em cima de
mim, seu corpo poderoso encobrindo o meu por inteiro.
Nessa posição pude notar o quanto ele estava excitado e foi impossível
não me sentir da mesma forma. Eu já o queria há tanto tempo que meu desejo
estava multiplicado por dois, ou mais.
Quando estávamos ambos sem fôlego, ele se afastou para que
pudéssemos recuperar o ar.
— Como vão ser as coisas agora, vamos ser amigos coloridos? —
brinquei, assim que consegui falar e ele gargalhou.
— Acho que já estou velho para isso — devolveu Thomas e deu uma
mordida de leve em meus lábios.
O que isso queria dizer?
Eu não me importava com títulos, mas não queria outra pessoa e não
conseguiria dividi-lo com ninguém.
Droga!
— Eu sei que homens como você não gostam muito de rotular as coisas
e não vou exigir nada, só falei...
Mais uma vez Tom me interrompeu com um beijo, mas logo se afastou.
Ele sorriu e pareceu analisar meu rosto enquanto o acariciava, depois
me puxou para nos sentarmos no sofá, um de frente para o outro.
— Sou um homem à moda antiga, Lacey, quando eu gosto de alguém,
não tem esse negócio de ficar por ficar.
— Oh, eu achei que só tivesse relacionamentos casuais.
— Você não é casual e eu gosto de exclusividade.
Sorri, sentindo o verdadeiro gosto da satisfação.
— Isso quer dizer...?
— Que a quero como minha namorada.
Suas palavras não poderiam ter me deixado mais feliz.
— E então, o que me diz?
— Sim, sim, sim — falei enchendo o rosto dele de beijos.
Agarrei-me a ele, dessa vez num abraço carinhoso que traduzia todos os
sentimentos que eu tinha por ele.
Tom me transmitia tanta segurança, paz, acolhimento, paixão... Era
difícil acreditar que estivesse me sentindo tão feliz depois do que passei. Mas
era verdade e tudo por causa do homem em meus braços.
Ele voltou a me beijar, mas agora de um jeito mais lascivo,
mordiscando meus lábios e passando as mãos por meu corpo.
Entretanto, percebi que estava sendo cuidadoso, como se estivesse
preparado para se afastar, assim que eu falasse.
Mas isso não iria acontecer, eu desejava saber como seria estar em seus
braços de todas as maneiras, em todos os sentidos.
Foram tantos meses apenas vendo-o com a camiseta molhada durante as
corridas ou enrolado em uma toalha quando eu estava em sua cobertura, que
a ansiedade me consumia por inteiro.
Além disso, eu era uma garota de dezenove anos, com os hormônios em
plena ebulição.
Ousando um pouco mais, Tom alisou minhas costas por dentro da blusa
e sussurrou coisas em meu ouvido, deixando-me mole de desejo.
Seguindo seu exemplo, subi as mãos por suas costas e me deliciei com a
sensação da pele quente sob o meu toque.
Querendo ainda mais contato, agarrei a barra de sua camiseta e comecei
a puxar até alcançar a cabeça, terminando de tirá-la com sua ajuda.
Espalmei seus músculos com ambas as mãos e beijei seu pescoço
cheiroso; eu amava o perfume dele.
— Tem certeza disso? — ele perguntou, a voz rouca de tesão.
— Toda certeza do mundo.
Ao ouvir isso, Thomas me pegou no colo, arrancando gritinhos de
surpresa de mim, e me levou para seu quarto.
Eu já tinha ido ali algumas vezes, sempre para pegar alguma coisa que
ele pediu, mas nunca ficamos vendo TV ou fazendo qualquer outra coisa.
Tom me depositou na cama com cuidado e voltou a me beijar sem
pressa, uma mão deslizando por minha barriga, a outra descendo pela coxa e
subindo novamente por dentro da minha saia.
Sem hesitação, seus dedos ultrapassaram o limite da minha calcinha e
gemi em sua boca quando o polegar escorregou pela minha fenda até chegar
ao meu clitóris, já molhado e louco por atenção.
— Não sabe quantas vezes imaginei tê-la assim em minha cama —
falou baixinho contra minha boca, fazendo-me gemer enquanto o dedo
trabalhava em meu ponto mais sensível.
Eu estava há tanto tempo sem sexo que poderia gozar só com os dedos
habilidosos de Tom.
— Então aproveite seus direitos recém adquiridos — brinquei e ganhei
um beijo de, literalmente, molhar a calcinha.
Vagarosamente, ele levantou minha blusa e expôs meus seios. Após
observá-los por alguns segundos, Tom passou a língua por um dos bicos
túrgidos.
— Você é uma delícia, Lacey, a minha delícia.
Sim, eu apostava que depois do que os dedos dele estavam fazendo
comigo, eu ia querer ser sua delícia para sempre.
Quando ele desceu beijando meu corpo, eu já imaginei o que iria
acontecer, ainda assim fiquei envergonhada, e quando ele tirou minha saia
junto com a calcinha e ficou olhando para minhas partes íntimas, tive vontade
de cobrir o rosto para ele não ver o quanto tinha ficado corada.
Tom voltou a resvalar o dedo sobre minha fenda e depois o levou à
boca. Eu estava tão quente, molhada e... exposta. Sentia que meu desejo
exalava pelos poros.
Fechei os olhos e gemi alto quando sua boca cobriu minha boceta e sua
língua deslizou pelo caminho de nervos sensíveis.
Eu já recebera sexo oral de Jace, mas o que Thomas estava fazendo
comigo era o céu, não havia outro jeito de descrever a sensação de tê-lo entre
minhas pernas.
Ele me sugou por vários minutos, levando-me à beira do precipício por
diversas vezes, até que, finalmente, seus dedos se juntaram à brincadeira.
Sem afastar a boca, dois longos dedos me penetraram, fazendo-me
explodir quase que imediatamente. Como ainda estava um pouco
envergonhada, tudo o que fiz foi gemer feito uma gata.
Mas isso não fez qualquer diferença no que senti. Aquele tinha sido, de
longe, o melhor orgasmo da minha vida.
Apenas mais um dos benefícios de ficar com um homem experiente,
pensei.
Quando me recuperei e abri os olhos, Tom estava nu e completamente
pronto para mim. Enquanto ele deslizava o preservativo pelo membro, foi
impossível não fazer comparações.
Mesmo aos dezenove anos, Jace ainda era, na verdade, um garoto, alto e
magro, e seu membro, embora não fosse pequeno, era menor.
Já Thomas era todo grande, com músculos na medida certa e um pau
enorme que me deixou um tanto receosa.
Não tive mais tempo, nem para comparações nem para receios, porque
ele se estendeu sobre mim e voltou a me beijar, fazendo com que eu
esquecesse qualquer outra coisa. Era como se meu corpo entendesse que ele
jamais me machucaria; o vínculo de confiança que forjamos nesses últimos
meses era grande e se estendia ao que fazíamos naquele momento.
Deslizei as mãos por suas costas e me deixei ser acariciada até ficar
pronta para recebê-lo.
Enquanto me beijava, ele foi pincelando a ponta de seu membro em
minha entrada, deixando-me mais que excitada, ao ponto de me ver prestes a
empurrar o corpo em direção a ele a fim de conseguir mais contato.
— Não me torture — pedi de maneira sôfrega e Tom sorriu contra os
meus lábios.
Lenta e cuidadosamente, ele foi deslizando para dentro de mim,
preenchendo meu canal aos pouquinhos. Não estava doendo, mas era
estranho me sentir tão preenchida.
Quando entrou por inteiro, Tom mordeu meu ombro. Dava para ver que
ele se segurava, mas como eu estava relaxada, rapidamente consegui me
acostumar ao seu tamanho e espessura.
— Imaginei que seria gostosa, mas... — suas palavras se perderam
quando ele saiu e voltou a entrar, agora um pouco mais forte.
— Humm — gemi e rebolei embaixo dele.
Quando percebeu que não me machucaria, Tom não se fez de rogado e
praticamente me transformou em uma boneca. Ele me colocou em posições
que eu nunca imaginei que poderiam dar tanto prazer. O homem realmente
sabia dominar uma cama e fazer uma mulher sentir tesão a ponto de fazê-la
gozar quantas vezes ele quisesse.
Depois do meu segundo orgasmo, ele também se liberou e foi incrível
vê-lo sussurrando coisas em meu ouvido enquanto me apertava contra si.
O pós-sexo foi outra novidade para mim. Eu estava acostumada a ficar
sozinha depois da transa, porque Jace sempre ia tomar banho quando
terminava e sempre sozinho.
Isso me fez lembrar das vezes em que me deixou na cama, frustrada por
não ter conseguido chegar ao orgasmo.
Quando falávamos sobre isso, ele dizia que o problema estava na minha
cabeça, mas agora eu entendia que era puro egoísmo da parte dele. Jace não
se preocupava muito com preliminares e isso fazia com que meu prazer
ficasse pela metade.
Esperava que ele aprendesse a maneira certa de dar prazer a uma mulher
e principalmente percebesse o quanto era importante o carinho que vinha
depois que os corpos estavam saciados.
Após quase meia hora acariciando meu cabelo e me beijando de tempos
em tempos, Thomas se levantou e foi colocar a banheira para encher. Quando
voltou ao quarto, pegou-me no colo e me levou até ela.
No caminho, fiz um coque no cabelo bem a tempo de ser colocada na
água, com ele se posicionando logo atrás de mim, naquele mar de espuma,
onde permanecemos grudados um no outro.
— Eu não quero estragar o clima, mas preciso saber como vai ser de
agora em diante. Quer dizer, nós estamos juntos, mas eu ainda sou sua
funcionária...
Essa era uma das coisas que mais me preocupava.
— Namorar uma funcionária é algo inédito para mim, mas não vejo
motivos para esconder de ninguém, sempre soubemos separar as coisas e
acho que isso não será um problema.
— Por mim, tudo bem, mas gostaria que continuássemos sendo
discretos.
— Seremos, mas como minha namorada, você terá que participar de
almoços, jantares e eventos coorporativos cheios de fotógrafos. Aconselho
que se prepare para as fofocas.
Meu Deus. Nosso relacionamento seria um prato cheio para Tori e as
fofoqueiras de plantão. E Abby, como será que ela me trataria depois que
soubesse? E Joly, será que ficaria chateada comigo por ter mantido
segredo?...
Eu só saberia quando acontecesse. Mas a verdade era que eu não estava
muito preocupada, contanto que estivéssemos juntos, ficaria tudo bem.
— Acho que posso lidar com isso — garanti.
Tom me envolveu nos braços e ficamos em silêncio, apenas admirando
a vista de Nova York, através da parede de vidro em frente à grande banheira.
Aquele estava sendo um dos dias mais felizes da minha vida. Eu tinha
conseguido me declarar ao homem por quem estava apaixonada e fui
correspondida por ele.
Esse pensamento me fez lembrar de todo sofrimento que passei. Muitas
vezes a gente sofre por uma felicidade que só existe em nossas cabeças,
quando o verdadeiro amor está bem do nosso lado.
Desejava que mais mulheres encontrassem o que eu havia encontrado
em Thomas Ward.
— O que acha de almoçarmos agora? — ele perguntou vários minutos
depois.
— Daqui a pouco, me deixa curtir você aqui mais um pouquinho —
pedi e então recebi o sorriso mais lindo do mundo e um beijo carinhoso na
testa.
Nessa hora, fechei os olhos e pedi a Deus que fosse assim para sempre.

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Obrigada, Cléo.

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Ainda pode haver alguns erros no texto, que já estão sendo corrigidos. Então, peço que deixem a opção
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LEIA A CONTINUAÇÃO DA ESTÓRIA

WARD
(Lançamento 2020)

– DISPONÍVEL NA AMAZON –
CAPÍTULO UM

Lacey

Abri as cortinas do meu quarto com um sorriso reluzente no rosto. Nova York era
incrivelmente linda o ano inteiro, mas naquela semana em especial, eu estava achando a
cidade maravilhosa.
Claro que esse meu estado de espírito devia estar apenas refletindo meu interior, já
que nunca estive tão feliz.
Meu namoro com Thomas estava incrível e o curso que escolhi me surpreendeu de
maneira muito positiva. Parecia que, pela primeira vez, minha vida, sempre tão bagunçada,
estava se encaixando e eu me encontrava no lugar certo.
Quando as aulas iniciaram, eu pensei em deixar o estágio, porém, mesmo tendo
perdido um ano, concluí que lá na empresa aprenderia tanto quanto em Columbia e decidi
não pegar um número muito grande de créditos, dessa forma, ficaria com tempo livre
suficiente para continuar trabalhando. Isso aumentaria o meu tempo de universidade, mas
me proporcionaria conhecimento e experiência.
A princípio, Tom foi contra; ele achava que eu não conseguiria conciliar as duas
coisas, porém, ao perceber minha tristeza, acabou aceitando e abrindo uma exceção para
que eu estagiasse nas horas vagas, contanto que esse tempo não fosse atrapalhar meus
estudos.
Além disso, segundo ele, também seria uma forma de me ver todos os dias e, nesses
três meses, desde que iniciei o curso, estava dando muito certo.
Quanto ao nosso relacionamento, a empresa em peso já sabia. E embora, tanto eu
quanto Thomas, tentássemos ser discretos, sempre havia uma fofoca ou outra, no entanto,
resolvi não dar ouvidos a elas. Nós não estávamos fazendo nada de errado, estávamos
apenas apaixonados e não nos desculparíamos por isso.
Naquele dia eu cheguei ao campus mais cedo e fui diretamente ao prédio da Low
Library[3] para resolver algumas pendências. Quando saí, notei que alguns alunos já se
aglomeravam na escadaria para esperar os integrantes de suas tribos.
Estava me aproximando da Alma Mater[4] quando vi mais uma cena bizarra
protagonizada por Megan Wilson e seu séquito.
Tom achava engraçado quando eu falava que os filmes conseguiam retratar quase que
com exatidão o que acontecia nos colégios e universidades e que em Columbia havia uma
encarnação de Regina George[5].
Para aumentar o estereótipo, ela era alta e linda, com o corpo bem feito, cabelos cor
de avelã e olhos escuros como a noite, mas frios como uma pedra de gelo.
Desde que minhas aulas começaram, eu tentava passar despercebida entre aquelas
pessoas, mas isso não me impedia de ver o quanto eram cruéis, como acontecia naquele
momento.
Para variar, ela e suas amigas fúteis estavam fazendo bullying com uma garota que
passava apressadamente diante delas.
Após as “Patricinhas de Beverly Hills” zombarem da menina, ela se foi, quase
tropeçando nas próprias pernas, o que fez todas elas caírem na gargalhada.
Segui na mesma direção da garota e a encontrei sentada em um dos bancos próximos
à Avery Hall, bem fora do alcance daquelas idiotas.
— Oi, está tudo bem? — perguntei ao me aproximar.
— Está, sim, obrigada por perguntar, mas é melhor se afastar. Se elas te virem
comigo, será seu suicídio social.
Sorri e balancei a cabeça. Eu tinha passado por uma depressão terrível e superado,
não seriam algumas garotas mimadas que iriam me abalar.
— Meu nome é Lacey Smith e, sinceramente, não me importo com a opinião delas.
A garota sorriu sem jeito e devolveu o cumprimento.
— Amanda Dohler, prazer.
Apertamos as mãos e, depois de me olhar dos pés à cabeça, ela continuou:
— Você é linda, bem o tipo que Megan procura para se juntar a elas.
Sorri com aquele comentário.
— Obrigada pelo elogio, mas não tenho qualquer intenção de ser amiga desse tipo de
gente.
Enquanto seguíamos para o prédio de Matemática, descobri que Amanda havia
acabado de ser transferida e aquela era sua primeira semana. Ela, assim como eu, estava no
primeiro ano, motivo pelo qual teríamos algumas das aulas do currículo comum juntas,
como a de cálculo, a primeira de ambas naquele dia.
Alguns minutos depois de entrarmos na sala de aula, Megan entrou acompanhada de
uma de suas amigas. Por também estarem no primeiro ano, elas fariam algumas dessas
matérias comuns tanto comigo quanto com Amanda e apenas saber disso já me fazia
suspirar de desgosto.
Era possível ver o receio de alguns alunos conforme ela passava e, como já havia
acontecido outras vezes, me lançou um olhar avaliativo. Percebi que avaliou minhas
roupas, que certamente não eram de grife, e se demorou em meu cabelo.
Tive vontade de revirar os olhos, mas logo o professor entrou, contudo, antes que eu
pudesse respirar aliviada, ela foi se sentar bem perto de mim, algo que nunca havia
acontecido.
Era só o que me faltava, pensei.
A aula começou e a partir daquele momento foquei no conteúdo que estava sendo
passado. Sonhei tanto com aquele curso que jamais perderia meu tempo com outras coisas.
Eu estava orgulhosa de mim e do quanto estava me esforçando para dar conta de tudo.
Era trabalhoso e cansativo, mas a sensação de ter uma vida cheia de compromissos e
propósitos era maravilhosa e me fazia sentir útil.
Estava a caminho da minha segunda aula quando fui abordada por Megan.
— Lacey, não é? — perguntou ela, com falsa simpatia.
— Sim, Lacey Smith.
Ela deu um sorrisinho ensaiado e continuou:
— Vi você sentada com a Amanda, mas eu e minhas amigas estamos dispostas a
relevar esse seu engano — disse ela, toda cheia de si.
Não podia acreditar que estava ouvindo aquilo. Mas ela não me conhecia.
— Oh, mas não foi um engano, querida — falei, tão falsa quanto ela —, achei
Amanda incrível e ficarei super satisfeita se ela me quiser como amiga. Agora, se me der
licença, eu preciso ir — avisei e a deixei falando sozinha.
Antes de virar no corredor, olhei por cima dos ombros e a vi me fuzilando com o
olhar.
Eu só estava na universidade há dois meses e já tinha arrumado uma inimiga.
Que ótimo!

Eram 15h quando cheguei ao andar de projetos da Ward Corporation. Como acontecia
todos os dias, recebi aquela chuva de olhares. Talvez fosse apenas coisa da minha cabeça,
mas não conseguia parar de imaginar que, ao me verem, eles sempre pensavam: lá vem a
namoradinha do chefe, cheia de privilégios.
Abby continuava linha dura comigo, mas acatou a ordem de Tom sem pestanejar.
Contudo, eu não gostava de provocá-la e tentava a todo custo ser o mais eficiente possível
para não entrar em conflito com ela.
Fui direto para minha mesa e comecei a trabalhar. Estava tão envolvida com o que
precisava fazer que, quando dei por mim, o andar já estava completamente vazio. Na
maioria dos dias era assim, eu ficava tão focada que me esquecia do resto do mundo.
Tom falava que me via pelas câmeras e que as poucas horas que passava ali rendiam
mais do que o dia inteiro de certos funcionários que só passeavam e conversavam.
No fundo, eu achava que era brincadeira dele, pois todos naquela empresa eram
bastante comprometidos, especialmente em meu setor, com Abby sempre de olho.
— Que estagiária aplicada — disse Joly, parando em frente à minha mesa.
— Hey, que surpresa! — falei e me levantei para abraçá-la.
Por causa do meu novo horário de trabalho, era difícil nos encontrarmos pelos
corredores, e depois que minhas aulas começaram, nós nunca mais saímos, então, estava
sentindo muita saudade.
— Eu estava na cafeteria do térreo quando vi Abby saindo e resolvi comprar isto
aqui para você — disse, me entregando uma vitamina de frutas.
— Obrigada, é a minha preferida.
— Que tal um cinema essa semana? Se seu namorado gato deixar, claro — ela
brincou.
Bem que eu queria, mas não sabia quando poderia... Além de passar quase o dia todo
no campus e o restante do tempo na empresa, quando chegava em casa tinha que estudar ou
fazer algum trabalho.
Além disso, precisava dar atenção a Tom. Ainda bem que ele entendia que
estávamos em fases diferentes e me apoiava em meus planos, embora sempre me fizesse
pensar bem em tudo. Até então, coisas que poderiam se tornar um problema ao namorar um
homem mais velho, e com outros interesses, não existiam entre nós.
— Sempre durmo na casa dele na quarta-feira e nos fins de semana, mas vou ver se
consigo negociar e te aviso.
— Perfeito, te aguardo.
Logo depois que ela saiu, consegui finalizar meu trabalho e dei o dia por encerrado.
A caminho do elevador, pensei em ligar para Tom, mas acabei desistindo. Sempre
que nos ligávamos, ficávamos um tempão no telefone, mas naquele dia eu estava cansada
demais, com a cabeça fervilhando e louca para chegar à minha casa.
Aquela rotina era tão nova e tão boa, muito diferente de quando passava meu tempo
pensando em Jace e numa forma de reconquistá-lo.
Os meses de amizade e namoro com Tom me fizeram amadurecer, enxergar as
inúmeras coisas que a vida tinha a me oferecer e perceber que eu estava sendo muito boba
em apostar todas as minhas fichas em um relacionamento falido.
Quando saí do banho meu celular estava vibrando em cima da cama. Era ele.
— Oi — atendi.
— Ainda lembra que tem namorado? — ele brincou.
— Claro que sim, só precisava tomar um banho para estar relaxada antes de te ligar.
— Tudo bem, eu entendo. Bom, queria avisar que terei de ir a Londres amanhã para
resolver alguns problemas.
Eu não gostava de suas viagens, principalmente porque sabia que esses problemas
poderiam envolver sua ex-mulher. Porém, embora tivéssemos total liberdade para falar
qualquer coisa desde que éramos apenas amigos, eu nunca interferi ou opinei sem que ele
pedisse minha opinião.
— Vai demorar para voltar?
— Vou amanhã e volto na sexta.
— Quer dizer que ficaremos quatro dias sem nos ver? — reclamei, de brincadeira,
mas meu coração estava apertado.
— Sim, por isso pensei que você poderia dormir aqui hoje. Posso deixá-la na
universidade amanhã, antes de ir para o aeroporto.
Fiquei feliz com o convite dele. Era exatamente nisso que eu estava pensando, mas
não queria falar para não parecer a namorada grudenta. Nós dois nos dávamos muito bem,
mas eu ainda tinha minhas incertezas e medos.
Dez anos de diferença não eram muita coisa, mas o fato de eu ter somente 19 anos
quando começamos a sair fazia com que essa diferença se tornasse maior. Por mais madura
que fosse — ou tentasse parecer —, Thomas já tinha vivido muito mais, tido dezenas de
relacionamentos e experiências que estavam muito longe da minha realidade.
Por isso, eu talvez tivesse uma parcela maior de neuras do que as mulheres mais
velhas, e sabia que, às vezes, Tom percebia minha insegurança. Nessas horas ele falava ou
fazia algo para garantir o quanto estava satisfeito com o que tínhamos e eu tentava
compensar sendo uma namorada legal e companheira.
Isso não queria dizer que vivíamos em “lua de mel”. Nós já havíamos discutido
algumas vezes com ou sem alguma razão plausível, mas, no final, sempre nos acertávamos.
— Vou me vestir e em meia hora estarei aí — garanti.
— Combinado.
Joguei o telefone em cima da cama e corri para o meu closet. Ficaria sem meu
namorado o resto da semana, mas ao menos aquela noite seria cheia de sexo.
CAPÍTULO DOIS

Thomas

Londres tinha um clima meio nebuloso quando lá cheguei, bem diferente dos dias
ensolarados que Nova York nos brindava naquela época do ano. No entanto, eu gostava
bastante da cidade.
Todavia, mesmo ali, onde cresci e onde estavam todos os meus amigos, minha rotina
sempre foi bem comedida. Eu nunca fui muito de boates, e ainda que não fosse presunçoso
como minha mãe, tinha que admitir que meus programas eram mais esnobes, com pessoas
seletas. Não pelas pessoas em si, mas pelo potencial que tinham.
Sempre tive em mente conquistar a presidência das empresas da família, então,
precisei fazer esse tipo de articulação desde cedo e me associar com potenciais investidores
e clientes, era primordial para provar que eu estava pronto.
Após conseguir o tão sonhado cargo de CEO na Ward Corporation, eu trabalhei por
anos para elevar o faturamento e o prestígio do nosso conglomerado, confiado a mim por
meu pai, uma vez que meu irmão nunca demonstrou muito interesse em fazer parte desse
meu sonho e apenas nos últimos anos desistiu da vida boêmia que tinha e resolveu se
aquietar, motivo pelo qual lhe dei uma chefia.
Ao contrário de mim, Devon tinha um espírito livre. E quando mais jovem, adorava
viajar. Ele odiava rotina, então, trabalhava por alguns meses comigo, mas logo que se
enfastiava, ia embora novamente.
O problema de ele passar tanto tempo fora era ter que aguentar Cybele sozinho. Ainda
desconfiava de que o motivo de suas viagens constantes fosse exatamente esse: sair de seu
radar e não ter que conviver com ela.
Por causa disso, sua atenção era focada em mim, no meu casamento, no meu
desempenho como gestor e esse foi um dos motivos que me levou a expandir os horizontes.
Se não fosse minha mãe, acho que jamais teria pensado em abrir uma filial em outro país.
Isso não queria dizer que ela tenha me deixado em paz. A distância não a impedia de
entrar em contado incontáveis vezes, por meio de e-mails, mensagens e telefonemas, tanto
para meu celular quanto para minha secretária, com o intuito de me vencer pelo cansaço,
exatamente como vinha fazendo há 15 dias.
Depois de repetidas negativas, ela informou que, se eu não fosse a Londres, daria um
jeito de me encontrar em Nova York. E embora não a quisesse ali, em meu território, não
cederia às suas chantagens.
Mas meu irmão alertou que ela parecia muito decidida a falar comigo, então, como
teria que participar de várias reuniões e jantares com funcionários do alto escalão e
empresários de Londres, aproveitaria para ir à sua casa e resolver logo o assunto.
Depois de passar uma noite maravilhosa com Lacey, eu a deixei na universidade e
segui para o hangar, pois meu piloto já estava me esperando.
Quando desembarquei, o motorista da empresa me levou diretamente à casa onde
cresci, e foi só passar pelos portões da propriedade para uma enxurrada de lembranças me
invadirem.
Eu não tinha sido uma criança inteiramente infeliz, mas toda aquela disputa que
minha mãe incentivou entre mim e meu irmão rendera lembranças incômodas.
A porta foi aberta por um mordomo que eu não conhecia, mas isso não me espantou.
Cybele era o tipo de pessoa que tratava a todos com certa distância e não admitia qualquer
tipo de erro de seus empregados. Isso acabava causando uma troca frequente, e embora o
salário fosse atraente, a intolerância da patroa fazia com que não aguentassem trabalhar ali
por muito tempo.
Segui até a sala principal e enquanto esperava por ela, analisei a nova decoração.
Minha mãe nunca trabalhou, então, seu tempo era dedicado a comprar roupas e
redecorar sua mansão sem qualquer necessidade.
Fora isso, havia seus encontros com socialites britânicas e sua incansável luta para se
aproximar da realeza. Felicidade para ela era estar sempre bem relacionada e com muito
dinheiro na conta.
Não conseguia entender como alguém podia viver em meio a tanta ociosidade e
futilidade.
— Filho, que bom que você veio — disse ela, radiante.
Cybele estava elegantemente vestida com suas roupas de grife e toda enfeitada com
joias caríssimas, era assim que ela gostava de andar a qualquer momento.
Lembro que meus colegas de escola sempre falavam da beleza estonteante de minha
mãe, mas eu que convivia com ela não conseguia enxergar nada além de uma mulher que
vivia de aparências e de infernizar a vida de todos a sua volta, principalmente a minha.
— Seja breve, vim para Londres a negócios e esse foi o único tempo que consegui
para vir aqui.
Ela me avaliou por alguns segundos e assentiu.
— Você aceita beber alguma coisa, que tal um café?
— Obrigado, estou bem assim, só preciso saber o que de tão importante tem para
tratar comigo.
Quando percebeu minha frieza, deixou de rodeios e começou a falar sobre como
estavam as coisas na empresa de Londres, sobre suas retiradas mensais e sobre a
propriedade de Hertfordtshire.
Por mim e Devon, ela teria vendido aquela casa, mas tudo para Cybele tinha a ver
com status e alguém de sua posição, não podia ter apenas uma casa na cidade, mesmo que
apenas os empregados usufruíssem dela.
Como não adiantava argumentar, apenas acatei.
— Anotei todos os seus pontos e vou ver o que posso fazer — falei e comecei a me
levantar.
— Tem mais uma coisa — disse e voltei a me sentar. — Fiquei sabendo que vai levar
sua namorada ao evento da filial de Nova York.
Suspirei, cansado.
Eu já imaginava que Lacey seria uma das pautas daquela conversa.
Como eu não dava mais abertura para saber detalhes de minha vida pessoal, Cybele
mandou investigar quem me acompanharia no evento de sábado. Ela deveria estar
preocupada com o que as pessoas iriam falar, já que esse evento teria grande repercussão
na mídia.
— Sim — falei de forma suscinta.
— Bom, eu vi uma foto de vocês em uma coluna social e queria te dizer que a achei
linda e estou ansiosa para conhecê-la.
Ainda estava surpreso quando ela foi se sentar perto de mim.
— Thomas, sei que nossa relação não foi muito boa ao longo dos anos, mas acho que
a idade e a distância imposta por você e seu irmão estão me fazendo perceber o quanto errei
com vocês.
Bom, por esta eu não esperava. Aquela mulher que estava na minha frente não parecia
a Cybele que me criou.
— Acho meio cedo para se conhecerem — falei, cauteloso.
— Tudo bem, você está certo, mas quando se sentir à vontade para nos apresentar, é
só me ligar, garanto que vamos nos dar muito bem.
Sinceramente eu não acreditava que as coisas seriam assim, mas assenti e fingi
aceitar.
— Acho ótimo que não queira mais interferir em meus relacionamentos. Mas estou
curioso para saber o porquê dessa mudança repentina. Finalmente percebeu que suas
vontades não fazem a menor diferença para mim?
Ela semicerrou os olhos por milésimos de segundos, depois sorriu de forma gentil e
me encarou.
— Natalie me fez enxergar que eu estava forçando a barra com vocês.
— Natalie?
— Sim, ela está namorando e me pediu que parasse de tentar interferir na vida de
vocês dois.
Isso, sim, era uma surpresa, naquele momento o sumiço de minha ex-esposa estava
explicado.
Natalie não era uma má pessoa, pena que se deixava levar pelas loucuras de minha
mãe.
Eu ainda não sabia se Cybele era motivada apenas por essa obsessão em controlar
tudo e todos a sua volta ou se era seu ressentimento por meu pai ter me dado o controle de
nossa empresa que a fazia agir assim. De qualquer forma, parecia que seu intuito era apenas
um: me ver infeliz. E eu, tão louco por sua aprovação, sempre fiz suas vontades, chegando
ao cúmulo de me casar com uma mulher que não amava o suficiente, apenas para vê-la
feliz.
No início, Natalie e eu nos demos bem, afinal, ela era apaixonada e fazia de tudo para
nosso casamento dar certo, mas depois de algum tempo notei que ela estava ficando cada
dia mais parecida com minha mãe e, pior que isso, percebi o quanto Cybele a manipulava,
ao ponto de usá-la para tentar me influenciar em decisões da empresa.
Sem perceber, minha esposa tinha se tornado uma marionete nas mãos dela e o pouco
carinho que eu sentia evaporou.
Não dava para conviver com uma pessoa sem um pingo de personalidade. Eu tinha
sido manipulado por Cybele a vida inteira e não deixaria que ela usasse outra pessoa para
fazer isso de novo. Esse foi um dos motivos que me fizeram pedir o divórcio e dar outros
rumos para a minha vida.
— Que bom que ela está seguindo em frente.
Cybele parecia calma demais com tudo o que eu falava e isso era bem estranho. Ela
sempre tinha algum argumento e fazia questão de ter a última palavra no que quer que
fosse.
— Nesses últimos meses tenho passado muito tempo sozinha — continuou —, sinto
falta de você e do seu irmão e me sinto muito mal por saber que o afastamento da nossa
família se deve por minha culpa.
A cada minuto aquela conversa ficava mais surreal. Acho que nunca imaginei que
algum dia ela pudesse admitir ter errado sobre qualquer coisa.
— Estou surpreso em escutar tudo isso.
— Eu sei, filho, mas tudo o que quero é reaproximar nossa família, e para provar isso,
prometo não interferir mais em suas escolhas. Vocês dois são adultos e devem escolher por
si mesmos.
Cybele estava me mostrando um lado que eu não pensei que existisse. Quando me
tornei adulto, mas principalmente depois que me livrei do poder que ela tinha sobre mim,
pude enxergar todas as suas nuances e jamais a vi demonstrar tamanha vulnerabilidade.
— Bom, eu tenho que ir, mas vou pensar em tudo o que falou — foi a única coisa que
disse, precisava processar toda aquela conversa.
Quando me levantei, ela me acompanhou até a porta e me deu um abraço apertado e
demorado, coisa que nunca tinha feito antes; seus carinhos eram sempre forçados e
artificiais, mesmo com Devon.
Antes de eu sair, agradeceu a visita e voltou a me lembrar que queria conhecer minha
namorada.
Assenti e fui embora, ainda atordoado.
Geralmente era impossível ter mais de meia hora de conversa com ela sem que as
coisas terminassem em discussão. Sua vida era tão fútil e vazia que seu tempo era
preenchido tentando infernizar a vida dos filhos.
Mas naquela manhã as coisas tinham sido diferentes e suas palavras ficaram
chicoteando minha mente, me fazendo questionar se ao menos alguma coisa daquilo
poderia ser verdade, se ela realmente estava disposta a mudar.
Conforme o carro foi se afastando da mansão, comecei a analisar todas as coisas que
minha mãe falou e tentei imaginar como seria ter uma boa relação com ela. No entanto,
minhas memórias estavam preenchidas por conflitos e não consegui chegar a nenhuma
conclusão.
Decidi, então, que era melhor esperar para ver como seria seu comportamento dali em
diante, pois eu sabia que ninguém mudava da noite para o dia.
Tirando aquilo do caminho, resolvi focar nos negócios. Tentaria resolver tudo o mais
rápido possível e, assim, voltar para minha garota o quanto antes.
Pensar em Lacey fez sumir toda a amargura que surgia em meu peito sempre que me
encontrava com minha mãe. Ela era um sopro de ar fresco que fazia minha vida mais leve
e, definitivamente, mais feliz.
CAPÍTULO TRÊS

Lacey

Thomas chegou à Nova York já no final do dia, por isso, não foi à empresa. Ele
queria ir me buscar, mas pedi que preparasse algo para comermos, o que ele concordou,
mas, ainda assim, mandou o motorista ir me esperar.
Quando o vi, apenas dei de ombros e agradeci, afinal, estava morrendo de saudade e
quanto antes chegasse à cobertura, antes o veria.
Enquanto seguíamos para lá, me peguei pensando em nosso relacionamento.
A parte ruim de namorar um homem do nível dele era a quantidade de compromissos
que ele tinha, dentro e fora da empresa. Mas as viagens que precisava fazer de tempos em
tempos, com certeza, era a parte que mais me incomodava, mesmo sabendo que essa rotina
fazia parte de sua vida de homem bem-sucedido.
Isso também lhe rendia, volta e meia, notícias em jornais e revistas, tanto de negócios
quanto de fofocas.
A Ward Corporation, que já era conhecida desde a época de Larry, pai de Tom, ficou
ainda mais popular devido a bandeira de sustentabilidade que carregava, mas eu tinha
minhas desconfianças de que ter um diretor lindo e solteiro ajudava, e muito, nesse quesito.
Não era raro ver meu namorado dando alguma entrevista sobre seus ambiciosos projetos
sustentáveis. Ele era o garoto-propaganda perfeito.
Por vários minutos me peguei pensando em como tudo aquilo fugia da minha simples
realidade. Eu era uma pessoa comum, que vivia em um dos endereços mais caros de Nova
York apenas porque meu pai trabalhou muito para nos deixar bem, mas que não havia
qualquer luxo. Mamãe só continuou vivendo naquele apartamento porque era uma das
doces lembranças que ela possuía do marido.
Quando percebi para onde estavam indo minhas lembranças, desanuviei esse tipo de
pensamento que poderia se tornar um gatilho.
Passei pelo luxuoso hall de sua cobertura e o encontrei no meio da sala, de braços
abertos para mim.
Minha semana tinha sido cheia de estresse na universidade, então foi um alívio estar
nos braços do meu amor.
— Acho que nunca senti tanta saudade — falei, me aninhando ainda mais.
— Eu também, linda — garantiu e tomou a minha boca.
Nós nos beijamos de um jeito esfomeado, apaixonado, mas quando as coisas estavam
esquentando, o telefone dele tocou.
— Desculpe, mas eu preciso atender — disse assim que olhou o identificador.
— Tudo bem, vou tomar um banho e te espero no quarto.
— Combinado — falou e saudou a pessoa do outro lado da linha.
Sorrindo feito uma boba, fui para o quarto. Após deixar minhas coisas sobre uma
poltrona, entrei no closet, tirei minha roupa e coloquei um robe de seda que havia
comprado para deixar ali, junto com outras coisas. Foi a forma que encontramos para que
eu não precisasse ficar carregando bolsas nos dias em que decidia dormir em sua cobertura.
Tomei um banho relaxante e, quando terminei, ele ainda não estava no quarto.
Um pouco contrariada, coloquei meu robe novamente e fui atrás. Ao chegar à sala,
encontrei Tom sentado em uma poltrona, ao lado das janelas panorâmicas, com o notebook
no colo e o celular na orelha.
Torci a boca de um lado para outro e cruzei os braços em frente ao peito, mostrando
toda a minha insatisfação.
Nosso combinado, quando Tom voltava de longas viagens, era ele se desligar dos
negócios e eu, dos estudos, para que pudéssemos aproveitar um ao outro.
Por causa disso usei todo meu tempo disponível para estudar o conteúdo que
geralmente ficava acumulado para o fim de semana, de forma que minha intenção era ficar
grudada nele o máximo de tempo possível.
Percebendo minha insatisfação, ele pediu um minuto para finalizar a ligação.
Como era uma ótima namorada, resolvi que daquela vez não faria sua vontade. Mas
não brigaria, apenas usaria as armas que possuía.
Jogando o cabelo todo para o lado, encarei-o de maneira sugestiva e, sob seu olhar
distraído, comecei a desamarrar o robe, deixando-o cair aos meus pés sobre o tapete.
Nessa hora, a postura desinteressada de Tom mudou e ele levantou as sobrancelhas,
passando os olhos por meu corpo, mas continuou falando.
Sorri e fitei meus pés, que estavam com as unhas pintadas de vermelho, para depois
caminhar em sua direção, feito uma leoa espreitando a sua presa.
Quando estava na frente dele, tirei o notebook de seu colo e montei em suas coxas, as
pernas abertas expondo meu sexo.
Senti sua respiração mudar e logo sua mão direita subiu pela minha cintura e passeou
por minhas costas.
Aproximando-me, encostei a boca em seu pescoço e passei a língua da base até
chegar à orelha, fazendo questão de respirar sobre o rastro que deixei sobre sua pele quente
e cheirosa, fazendo-o se encolher e me apertar contra si.
Conforme eu rebolava em seu colo e chupava a ponta de sua orelha, sentia seu pau
duro entre minhas pernas. Estava louca para tirar o jeans que ele estava usando para chegar
ao objeto do meu desejo.
Tom estava um pouco ofegante, mas continuou falando e me apertando.
Afastei-me o suficiente para abrir o botão de sua calça e baixar o zíper. Massageei seu
pau por cima da boxer e ele reprimiu um gemido.
Aquela ligação devia ser muito importante ou ele já teria finalizado.
Pensando bem, talvez ele gostasse de toda aquela tensão e da possibilidade de que a
pessoa do outro lado nos escutasse.
Querendo tirar todo o seu controle, ajoelhei-me à sua frente, tirei seu pau para fora e,
sem nenhuma cerimônia, circulei a língua pela glande por alguns segundos para depois
abocanhar seu comprimento até chegar bem perto da base.
Tom respirou fundo e infiltrou a mão livre em meus cabelos, segurando firme
enquanto eu sugava seu membro, que ficava cada vez mais duro.
Aquela carne quente e rija pulsava entre meus lábios, deixando-me ainda mais
faminta.
Quando comecei a acelerar os movimentos de sobe e desce, passando a língua em
lugares que eu sabia que ele gostava, suas coxas começaram a ficar inquietas.
— Desculpe, prefeito, mas surgiu um imprevisto, posso retornar em meia hora para
falarmos sobre esse projeto?
Quase engasguei quando descobri que ele estava falando com um político e olhei para
ele com os olhos arregalados, retirando seu pau de minha boca imediatamente.
— Que ótimo, estamos combinados, então — despediu-se e desligou o celular.
— Eu sinto muito, Tom — falei, mortificada de vergonha —, não sabia que era o
prefeito — justifiquei, levantando-me.
Tom me encarou com os olhos semicerrados.
— Quer dizer que você gosta de me provocar, não é, Lacey? — disse com uma voz
ameaçadora, pondo-se de pé, e eu quase gargalhei.
Quase.
— Me desculpe, isso não vai se repetir — menti, mordendo o lábio inferior.
Era uma provocação e ele sabia disso.
Em duas passadas, Tom estava tomando minha boca de modo selvagem, como se eu o
tivesse levado às raias da loucura.
Nós nos beijamos esfomeados, suas mãos passeando por meu corpo enquanto eu
massageava seu pau, naquele instante completamente ereto. Tom me levou para o quarto e
sem muita delicadeza, me virou de costas e me jogou sobre a cama, de forma que ficasse de
bruços. Então, livrou-se das próprias roupas, colocou um preservativo e veio com tudo para
cima de mim.
Eu adorava deixá-lo desse jeito, a ponto de perder a cabeça de tanto tesão.
Depois de deslizar a boca por meu pescoço e costas, ele abriu minhas pernas e quase
revirei os olhos de prazer quando senti sua língua explorando os lábios sensíveis e subindo
até um ponto nunca explorado antes.
Suas mãos passeavam pelo meu corpo enquanto sua língua me castigava.
Eu adorava as preliminares que Thomas me proporcionava, sempre me chupando nos
lugares mais improváveis e altamente excitantes.
Segurei firme os lençóis quando ele puxou meu quadril para cima e colocou um
travesseiro embaixo da minha barriga. Agora sim, eu estava completamente a mercê de sua
língua habilidosa, que subia e descia, indo do meu clitóris sensível ao ânus, o que me
deixava mais louca de tesão a cada segundo.
Quando estava prestes a gozar ele se afastou, abriu ainda mais minhas pernas e me
penetrou firme e forte, enquanto eu gemia embaixo dele, agarrando firmemente os lençóis.
— Nossa, como você é gostosa... — ele falou enquanto entrava e saía.
Tom brincou com seu pau, que ia e voltava devagar, como se estivesse me
degustando.
Depois de alguns minutos nessa tortura, ele tirou o travesseiro que havia colocado
embaixo de minha barriga, deitou-se sobre minhas costas e puxou minha cabeça para tomar
a minha boca, ao mesmo tempo em que foi investindo em mim, daquela vez um pouco
mais rápido, dedilhando meu clitóris para intensificar tudo.
Meu Deus, que homem! Aquilo era o céu.
Delirei embaixo dele, sentindo seu pau entrando cada vez mais fundo, e comecei a
erguer a bunda, indo de encontro à sua pelve para garantir mais contato, mas isso durou no
máximo um minuto, pois logo meu corpo se desmanchou em um orgasmo delicioso.
Vendo que eu tinha chegado ao ápice, ele puxou minha cabeça e me beijou
apaixonadamente enquanto investia mais rápido, até começar a gozar.
Fiquei embaixo dele, sentindo seu peso, mas não tinha forças nem para reclamar.
Enquanto nos recuperávamos, fiquei inspirando o cheiro de sua pele e apreciando o
brilho que seus olhos exibiam.
Definitivamente ele era o cara mais incrível que já tinha conhecido na vida.
— O que foi? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada, e se ergueu um pouco
sobre mim.
— Às vezes custo a acreditar que tudo isso é meu — brinquei.
— Tudo isso? Seja mais clara — pediu, mas eu sabia que só estava querendo elogios.
— Bom, você é lindo, atencioso, gostoso — pontuei, dando beijinhos em seu rosto
—, ah, e podre de rico. — Nessa última parte ele gargalhou. — Mas é sério, não sei o que
está fazendo comigo.
— É, parece que não — falou, o cenho um pouco franzido. — O que você precisa
saber é que sou bastante seletivo e sempre soube escolher muito bem minhas namoradas
que, aliás, foram bem poucas.
Sorri, encantada por suas palavras.
— Posso me sentir especial por ter sido escolhida para fazer parte da sua vida, então?
— Você é especial — falou, charmoso.
Eu amava o jeito como ele me olhava e sentia vontade de falar mais vezes o quanto eu
o amava, mas nem tive oportunidade, já que no instante seguinte sua boca estava passeando
pela minha orelha e nuca.
— Você acabou comigo — resmunguei, ao mesmo tempo em que lhe dava mais
acesso.
— E o fim de semana está apenas começando — sussurrou, arrepiando todo o meu
corpo.
Aquilo era uma promessa clara de muito sexo e momentos inesquecíveis e eu estava
ansiosa para viver tudo aquilo ao lado do homem que estava me mostrando um outro lado
da vida.
O lado bonito, sem toda aquela agonia que vivi no passado.
Sorri e passei a língua pelos lábios.
— Eu mal posso esperar — falei sedutoramente e fui calada com um beijo.
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relações amorosas de um jeito apaixonante e divertido.

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Harry Stone cresceu em meio ao glamour, dinheiro, status e poder, coisas que sempre foram comuns ao clã
Stone, conhecido não apenas por gerir a maior fábrica de armas do mundo, mas também pela beleza que
transcendia as gerações. Entretanto, desde muito novo demonstrou um interesse genuíno pela política. Diante
disso, seus passos foram calculadamente guiados para que um dia conseguisse realizar o grande sonho de se
tornar Presidente dos Estados Unidos.

Tudo ia muito bem, até ele se dar conta de que não conseguiria chegar ao salão oval, sem ter uma primeira dama
ao seu lado.

Elizabeth Reagan é de uma família tradicional e completamente falida de Washington DC. Ela cresceu sob o
jugo de uma mãe opressora e viu a maior parte de sua vida passar de dentro dos muros da velha mansão dos
Reagan.
Quando ouviu o boato de que Harry Stone estaria à procura de uma esposa, Eleanor Reagan viu no bilionário a
salvação para sua ruína e ela faria de tudo para que um dos melhores partidos dos Estados Unidos, se interessasse
por sua filha.

Preparem-se, pois esse conto de fadas moderno irá aquecer nossos corações.

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ROMEO STONE – O HERDEIRO
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Julie Collins sempre foi muito racional e nunca se rendeu diante de um rosto bonito e um corpo musculoso,
até conhecer Romeo Stone, um playboy lindo e charmoso que está disposto a quebrar sua mais importante
regra só para tê-la em sua cama.

“Mudar para Nova York não era apenas uma promessa de vida independente, eu sentia uma grande necessidade de
descobrir outros mundos e sabores; sair da redoma de vidro onde passei os últimos anos e sentir o verdadeiro gosto
da liberdade.

Eu estava certa dos meus propósitos e bastante animada com a promessa de uma vida nova, mas o destino adora
zombar das pessoas e eis que surge Romeo Stone, a personificação de tudo que eu mais odiava em um homem.

Claro que eu não era imune à beleza dele, porém, um rostinho bonito nunca foi o suficiente para me manter
interessada. Sempre fui muito crítica e racional em relação aos homens e jamais ficaria com um tipo como ele. Pelo
menos até ser rejeitada.

Romeo fez meu ego inflamar, se tornou uma espécie de desafio e eu usaria todos os recursos que tivesse à mão, para
conquistar o homem mais cobiçado de Nova York.”

O segundo livro do Clã Stone, é um delicioso romance que você devorará em pequenas doses para que não acabe
tão cedo.

ROMEO STONE – O HERDEIRO | CLÃ STONE 02


HARVEY STONE - O CEO DOS MEUS SONHOS
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MAIS DE 1 MILHÃO DE LEITURAS ONLINES

Alyssa Finger sempre teve como meta, estudar em Harvard e tornar-se uma executiva de sucesso. Por isso ela
nunca se importou com as zombarias que recebia devido às suas roupas largas e coloridas e aos enormes óculos
que adotou como uma espécie de escudo.

Mas um dia, literalmente, esbarra com o homem mais lindo que seus olhos já viram e se apaixona
instantaneamente. Sabendo que nunca será notada, ela se conforma em observá-lo de longe.

Agora, anos depois, ela trabalhará com o homem dos seus sonhos e após uma mudança radical, feita com a ajuda
de seu melhor amigo, Alyssa está pronta para tentar conquistar o coração do bilionário mais cobiçado de Nova
York.

Harvey Stone é o CEO das Indústrias Stone, um dos maiores conglomerados do mundo. Ele é implacável nos
negócios e desde que assumiu a liderança do grupo, praticamente triplicou seu faturamento.

Rodeado por belas mulheres e frequentando os melhores lugares que o dinheiro pode pagar, este sedutor
encontrará em sua nova assistente um grande desafio.

Totalmente seduzido, ele está a ponto de quebrar sua regra número um: jamais se envolver com uma de suas
funcionárias.

Esse é um romance sensual que te fará amar nossos protagonistas, mas também os odiar em vários momentos.
Descubra o porquê após ler o primeiro livro do Clã Stone.

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UM LORDE EM MINHA VIDA

(Lançamento 2020)

Laura Hunt divide seu tempo entre a universidade e o estágio em um dos escritórios de arquitetura mais famosos de
Londres, por esse motivo, relacionamentos não estão em seus planos. Especialmente porque a seu ver, o amor é algo
inventado por filósofos bobos que querem propagar essa ideia pelo mundo.

No entanto, ela começa a mudar de opinião quando conhece Robert Collins, o novo cliente da Hankle e West
Arquitetura.

Robert é naturalmente charmoso, absolutamente lindo, além de ser um dos homens mais ricos da Inglaterra; e de
um dia para o outro, Laura se vê duvidando de todas as suas convicções, afinal, tudo o que começa a sentir desde o
dia em que o conhece, é forte demais e ela se recusa a aceitar que seja apenas uma ilusão.

Resta saber se o viúvo sério e extremamente sexy, está disposto a investir no amor novamente.

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GAROTA VIP
(Lançamento 2019)

ELE ERA SUA MISSÃO E SE TORNOU SUA PERDIÇÃO

Zara Maxwell é uma agente secreta treinada para se infiltrar entre os figurões de Washington e descobrir tudo o
que puder sobre eles. Esta esperta espiã usa de sua beleza, habilidade e inteligência fora do normal, para conseguir
cumprir todas as suas missões e segue apenas uma regra: jamais se envolver emocionalmente.

Blake Sullivan, vem de uma família de políticos influentes. Sua expertise e magnetismo tornaram-no
mundialmente conhecido e o fizeram ganhar as últimas eleições para deputado, com uma vantagem assustadora,
despertando a fúria de seus inimigos e a inveja de seus concorrentes.

Blake será a próxima missão de Zara, uma das mais importantes de que já participou, e talvez, a última.

GAROTA VIP
O DIABO VESTE ARMANI

O DIABO VESTE ARMANI TEVE MAIS DE 3 MILHÕES DE LEITURAS NA INTERNET E CHEGA À AMAZON COM
NOVA VERSÃO, REVISÃO E CENAS EXTRAS.

ELE TAMBÉM ESTÁ DISPONÍVEL EM FÍSICO NA EDITORA RICO.

Mia Banks sempre foi uma exímia jogadora de xadrez e embora sentisse simpatia pelo rei, era a rainha que a
deixava fascinada. Pelo menos até conhecer Rico Salvatore. Lindo, bem-sucedido e arrogante, aquele homem
sempre seria um rei, enquanto ela nunca passaria de um peão bobo e sem graça.

Mesmo achando difícil jogar de igual para igual, com um oponente que fazia seu mundo balançar com apenas um
olhar, ela passa a acreditar que sua inteligência é a principal arma para vencer aquele intenso jogo de sedução.

Ele quer sexo; ela, amor.


Quem vencerá esse delicioso e sensual embate?

O DIABO VESTE ARMANI


LOUCO POR ELA
(Lançamento 2019)

UM AMOR PARA A VIDA TODA

Ainda adolescente, Julia Albernaz se apaixonou por Leonel Brandão, que além de sócio, também era o melhor
amigo de seu pai. Desde então, ela nunca poupou esforços para chamar a atenção de seu amor platônico.

Leonel, por sua vez, achava graça dessa paixonite de Julia, para ele, suas declarações não passavam de brincadeiras
de criança, sem qualquer fundamento.

Depois de muita desilusão, Julia decidiu estudar fora do Brasil, com a esperança de esquecê-lo. Infelizmente,
quando retorna para casa, após cinco anos, descobre que seus sentimentos por Leo não mudaram.

Entretanto, ela não é mais aquela adolescente boba, que vivia implorando por atenção. Julia se tornara uma mulher
madura e confiante, e agora sabia muito bem como lidar com o único homem que virava seu mundo de ponta
cabeça.

LOUCO POR ELA – PARTES 1 e 2


O REI DOS DIAMANTES
(SÉRIE MILIONÁRIOS DE CHICAGO 01)

Andrew Petrov é um russo de temperamento difícil. Lindo, sério, irascível e inegavelmente misterioso, ele vive
para cuidar de seu império construído através da exploração e venda de pedras preciosas. No mundo corporativo é
temido e conhecido como O Rei dos Diamantes, mas intimamente, é um homem atormentado em busca de algo
que imagina nunca poder ter.

Leticia Garcia é uma jovem doce e inocente que foi entregue, contra a própria vontade, a um homem rude e
violento. Durante o dia, sem que ele saiba, Leticia aceita encomendas e cria os mais variados e deliciosos bolos de
Chicago. No entanto, se sente muito infeliz e mesmo não admitindo a si mesma, sonha com o dia em que aquele
homem cruel a libertará e ela finalmente poderá encontrar o amor.

E o que O Rei dos Diamantes tem a ver com uma jovem e sofrida dona de casa?
Venha descobrir nesse delicioso e moderno conto de fadas.

O REI DOS DIAMANTES


A GRANDE VIRADA
(SÉRIE MILIONÁRIOS DE CHICAGO 02)
– livro em processo de revisão –

Durante muitos anos, Milena Soares achou que sua jornada na terra, era apenas uma forma de ser castigada por
erros cometidos em alguma vida passada. Ilegal nos Estados Unidos, ela trabalha em uma empresa que presta
serviços de limpeza para grandes corporações e condomínios de luxo.

É através desse trabalho que ela conhece Ross Mayaf, um homem rico e solitário, que tem como único parente, um
neto que não se preocupa nem em saber se o avô está vivo ou morto. Quando Ross fica doente e contrata Milena
como sua dama de companhia, ela vê a oportunidade de realizar o sonho de seu amigo idoso e trazer o neto de volta
para casa.

E a partir daí as coisas começam a mudar drasticamente. Zen Mayaf é o pecado em forma de homem e deixa uma
legião de mulheres apaixonadas por onde passa. É um libertino incorrigível e herdeiro de uma das maiores fortunas
dos Estados Unidos.

Mas nem tudo é um mar de rosas na vida desse garanhão indomável, seu tempo está se esgotando e para assumir o
império dos Mayaf, ele terá que subir ao altar. Milena está mais do que disposta a aceitar esse delicioso desafio, até
se ver frente a frente com uma ex que não medirá esforços para se tornar a nova senhora Mayaf.

Afinal, quem será a escolhida do herdeiro mais cobiçado de Chicago?


A OUTRA

Das fantásticas galerias ladeadas pelas melhores grifes do mundo, aos cafés do centro do Golden Triagle,
Beverly Hills faz jus a sua brilhante fama e será palco desse delicioso romance.

Ava Shoe é a típica caipira bonita e malvestida, e só precisou de alguns minutos em Berverly Hills para sentir-se
fascinada e patética na mesma medida. Chegou ali movida pelo sonho de ser famosa, mas como, se só havia em sua
mala meia dúzia de vestidos floridos e algumas sapatilhas bastante usadas?

Brandon Languerfeld é o poderoso CEO de uma das maiores emissoras de TV da Califórnia. Playboy cobiçado
por sua beleza e fortuna, é dono da boate mais badalada de Beverly Hills e será objeto de desejo da nossa mocinha
recém-chegada dos confins do Texas.

Uma garota de língua afiada, um bonitão endinheirado e uma amiga “fada madrinha”. Esta é a receita perfeita
para um romance inesquecível.

A OUTRA
FALE COM A AUTORA

[1]
Distrito Financeiro
[2]
Pronuncia-se “Leicy”
[3]
Antiga biblioteca de Columbia que atualmente abriga a área administrativa do campus.
[4]
Estátua da deusa Athena que simboliza conhecimento e justiça.
[5]
Uma das meninas más do filme Garotas Malvadas.

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