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DEONTOLOGIA

E ÉTICA
PROFISSIONAL

Débora Czarnabay
O que é Deontologia?
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir o significado da palavra Deontologia e sua diferença em relação


aos conceitos de moral e ética.
 Reconhecer os princípios deontológicos e as bases do raciocínio moral.
 Descrever a Deontologia aplicada à Biomedicina.

Introdução
A palavra Deontologia deriva das palavras gregas deon (dever) e logos
(estudo). Na filosofia moral contemporânea, a Deontologia é um tipo
de teoria normativa que indica quais escolhas são moralmente exigidas,
proibidas ou permitidas. Em outras palavras, a Deontologia se enquadra
nas teorias morais que orientam e avaliam nossas escolhas sobre o que
devemos fazer.
Neste capítulo, você vai aprender o conceito de Deontologia, além de
entender qual a diferença entre deontologia, ética e moral. Além disso,
também vai compreender o que são obrigações e deveres, levando ao
entendimento da Deontologia biomédica.

O que é Deontologia?
Na filosofia, Deontologia é um conjunto de teorias éticas que enfatizam a
relação entre o dever e a moralidade das ações humanas. O termo deontologia
é derivado do grego deon, que significa dever, e logos (ciência ou estudo). Na
ética deontológica, uma ação é considerada moralmente boa por causa de
alguma característica da ação em si, não porque o produto da ação seja bom.
A ética deontológica afirma que pelo menos alguns atos são moralmente obri-
gatórios, independente das suas consequências para o bem-estar humano. Em
contrapartida, a ética teleológica (também chamada de ética consequencial ou
consequencialismo) sustenta que o padrão básico de moralidade é precisamente

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o valor do que uma ação traz. As teorias deontológicas foram denominadas


formalistas, pois seu princípio central reside na conformidade de uma ação
com alguma regra ou lei (NILL, 2013).
O primeiro grande filósofo a definir princípios deontológicos foi Im-
manuel Kant, o fundador alemão da filosofia crítica do século XVIII. Kant
afirmou que nada é bom sem qualificação, exceto uma boa vontade, e uma
boa vontade é aquela que quer agir de acordo com a lei moral e por respeito a
essa lei, não por inclinações naturais. Moral, ética e deontologia são termos
que geralmente se confundem e podem ser usados equivocamente. Antes
de aprofundar a discussão sobre os preceitos da Deontologia, alguns pontos
devem ser abordados para que você acompanhe o raciocínio.
Então, qual é a diferença entre deontologia, moral e ética? Como já foi dito,
deontologia vem do grego deon (dever) e logos (ciência), representando um
tratado de deveres, princípios e normas adotados por um determinado grupo
profissional. Moral vem do latim mos ou mores, significando os usos e os
costumes de um povo. Moral também é dita como o conjunto de normas que
regula o comportamento do homem em sociedade, as quais são adquiridas pela
educação, pela tradição e pelo cotidiano (WEISS, 2007). Durkheim (2002)
explica que moral é a ciência dos costumes, sendo algo anterior à sociedade
como conhecemos, tendo caráter obrigatório. Logo, a moral sempre existiu,
pois todo ser humano tem a consciência moral que o leva a distinguir o bem
do mal no contexto em que vive, e isso foi possível em tempos primitivos
quando o homem passou a viver em grupos/tribos.
Já a palavra ética é derivada da palavra grega ethos, que quer dizer o
modo de ser, ou seja, o caráter adquirido. Analisando a origem etimológica
dos três termos (deontologia, moral e ética), todos expressam uma forma de
comportamento adquirido, sendo essa a razão de, geralmente, não fazermos
distinção entre moral e ética. Para os pensadores filósofos, moral é o coletivo
de normas que regulamentam as ações do homem no convívio social, podendo
ser entendida como a cultura vigente que norteia e delimita as ações, ou
seja, age moralmente quem segue tais princípios que foram estabelecidos de
forma implícita. Mas e a ética? A ética é a reflexão acerca da prática moral
e a discussão ou o debate sobre as práticas exaltadas pelo costume ou ainda
aquelas instituídas como formas corretas de vida moral (COSSETIN, 2014).
Sendo assim, a ética passa a ser um estudo metódico ao redor de um objeto,
o qual, nesse caso, é a moral.
A ética estuda o comportamento dos indivíduos no seu cotidiano, por esse
motivo a ética não é normativa como a moral, mas, sim, uma discussão sobre
o sentido de alguma prática moral. Esse debate pode levar a uma interferência

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nas normas morais à medida que a observação e a reflexão evidenciam uma


necessidade de mudança do atual comportamento. Essa mudança só é possível
se os indivíduos assumem, gradativamente, um novo comportamento.
As teorias deontológicas afirmam que as pessoas individuais têm um status
(condição) especial e que, em virtude dessa condição especial, devemos respeito
a estas, não podendo haver violação, independente das consequências. Assim,
o respeito pelos indivíduos, por seus direitos e por suas obrigações formam
as bases do raciocínio moral. Segundo a abordagem kantiana, as pessoas têm
status especial, pois elas têm um valor intrínseco, ou seja, quando o bem faz
parte de sua natureza.
O ser humano tem capacidade de julgamento racional, o que independe
de como vivemos. Isso está ligado à capacidade de autonomia do indivíduo,
que, para o filósofo Kant, envolve a liberdade e a razão. Aqui, liberdade
significa ausência da influência de emoções, desejos e influências causais.
Dessa forma, artefatos e objetos naturais, como animais e plantas, têm valor
somente se forem úteis, o que os define como tendo um valor extrínseco – seu
valor está na dependência da sua relação com algo que encontra valor neles.
Sendo assim, os artefatos e os objetos naturais não são bons por si só, mas
devido a outros fatores, encaixando-se no que Kant chamou de imperativo
hipotético – princípio que nos guia a fazer algo somente se quisermos.
Quando você tem fome, come um sanduíche e esse sanduíche somente terá
valor se você ou alguém o considerar desejável. O mesmo fundamento vale
para os seres humanos, que têm seu valor extrínseco. Por exemplo, quando
um médico atende um paciente, ele só tem seu valor, pois presta um serviço
necessário para alguém em determinado momento. Porém, os seres humanos
têm valor intrínseco agregado ao extrínseco. Todos temos valor, independente
de alguém se importar conosco ou não, mesmo não tendo serventia para
ninguém, mesmo com comportamento deplorável, caracterizando o chamado
valor objetivo (KANT, 2007). Esse fato tem um impacto importante sobre
nossa conduta moral, uma vez que levamos em consideração que os seres
humanos têm valor objetivo, não podem ser tratados como instrumentos com
a finalidade de promover o bem comum. Logo, o raciocínio moral deve partir
do imperativo categórico.
O imperativo categórico é um parâmetro que nos guia a realizar algo,
independente do que queremos. A palavra categórico significa sem condi-
ções atreladas. Seguindo uma das formulações do expoente da Deontologia,
Immanuel Kant (2007, p. 33) diz: “Aja como se a máxima de sua ação, por
sua vontade, se tornasse uma lei universal”. Ao aplicar essa ideia em nosso
cotidiano, podemos determinar se a ação é obrigatória ou proibida.

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Imagine que você precisa entregar um trabalho final para uma disciplina
da faculdade, correspondendo a 80% da sua nota final. Você não conseguiu
realizar o trabalho e, em vias de entregar, acaba comprando um trabalho
pronto. Aplicando a formulação de Kant (2007), a sua máxima seria “Quando
me for solicitado entregar um trabalho final e eu não o escrevi, entregarei um
trabalho que comprei pronto como se fosse meu”. Se essa máxima se tornasse
lei universal, teríamos “sempre que lhe for solicitado um trabalho final e
você não o escreveu, compre um trabalho pronto e entregue como se fosse
de sua autoria” e todas as pessoas fariam o mesmo. Com isso, não teríamos
mais trabalhos finais próprios e não teria mais sentido pedir a entrega deles
como parte de uma nota final em uma disciplina. Entretanto, uma vez que
o princípio é irracional, a ação decorrente também é irracional. Logo, todos
têm a obrigação de evitar a entrega de um trabalho feito por outrem como se
fosse seu.
Enquanto indivíduos, todos devemos nos ver como agentes morais que têm
interesses, podendo deliberar, racionalmente, sobre tais interesses e escolher
com base na deliberação. Olhando por essa ótica, devemos ver os outros ao
nosso redor como possuidores das mesmas capacidades. Pensando assim
como um ser racional, a consistência demanda que você leve o valor objetivo
dos indivíduos em conta, o que lhe compromete a buscar ações conforme o
imperativo categórico. A plausibilidade de Kant (2007) propõe que “as pessoas
são dignas de respeito e nunca devem ser usadas meramente como meios para
um fim, para o qual elas não dão seu consentimento” se enlaça com o fato de
que “a moralidade consiste de princípios que estão em ação para todos em
todos os momentos”, sendo assim, cumprir promessas, respeitar propriedades
e não mentir é necessário, pois, se todos violassem esses preceitos, as próprias
práticas, cujas violações dependem, ruiriam.

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A teoria deontológica de Kant foi confrontada no século XX pelo filósofo britânico Sir
David Ross, o qual considerou que vários deveres prima facie são evidentes no cotidiano,
em vez de um único princípio formal. Ross distinguiu esses deveres prima facie, tais
como a manutenção de promessas, a reparação, a gratidão e a justiça dos deveres
considerados reais, pois, segundo ele, “qualquer ato possível tem muitos lados que
são relevantes para a sua justiça ou erro”.
As diversas facetas de uma ação devem ser pesadas antes de “formar um julgamento
sobre a totalidade de sua natureza” como uma obrigação real nas circunstâncias dadas.
A tentativa de Ross de argumentar que a intuição é uma fonte de conhecimento moral
foi, no entanto, fortemente criticada e, no final do século XX, as formas de pensamento
kantianas – especialmente a proibição de usar uma pessoa como um meio e não como
um fim – foram novamente fornecendo a base para os pontos de vista deontológicos
mais discutidos entre os filósofos.
Fonte: Nill (2013).

A obrigação e o dever
Ao pensar em obrigação, logo vem a ideia de que a moralidade, ou o agir
de forma moral, faz-nos exigências. Uma obrigação moral ou dever é uma
exigência que leva uma pessoa a fazer ou não fazer algo. Geralmente, você
expressa obrigações em frases que emprega a palavra deve, entretanto, o
sentido moral dessa palavra tem uma autoridade adicional associada a ela. A
palavra dever tem um grande peso e seu uso cotidiano é vinculado a algo que
devemos fazer, sendo que o não fazer provocará uma consequência negativa/
danosa (CHAUÍ, 2000). Por exemplo: “eu devo ir para a cama às 23h, pois não
quero estar cansado amanhã”. Apesar de não querer acordar cansado no dia
seguinte, você não é moralmente obrigado a dormir às 23h. Já o uso moral da
palavra dever designa o pensamento de que somos obrigados ou proibidos de
fazer algo – trata-se de uma ação obrigatória.
Para os seres humanos, a obrigação é habitual, uma vez que todos somos
obrigados a realizar determinada ação em algum período da vida. A partir
do momento que passamos de seres solitários a seres que vivem em conjunto,
algumas regras foram necessárias para amenizar a convivência entre todos.
Quando faço uma promessa, devo cumprir o prometido. Todos têm obrigações
para com seus familiares, amigos e animais e obrigações de pagar as contas,

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ou seja, nosso mundo moral está repleto de obrigações. A característica cen-


tral da obrigação é que ela é inescapável, entretanto, o problema filosófico
é compreender o que são as obrigações, as suas justificativas e em relação a
que elas são devidas.
Partindo do pressuposto de compreensão das nossas obrigações, as teorias
de obrigação devem conter a explicação para dois pontos importantes:

1. É extremamente árduo fugir das obrigações. Quando você tem uma


obrigação, ela é sua e ponto final. Uma mãe tem obrigações para com
seus filhos, independentemente de quantos filhos ela tenha.
2. Uma obrigação pode ser ofuscada por outra de maior importância.

Para entender a questão inexorável das obrigações, ela também pode ser
explicada de outra forma, dizendo que as obrigações engajam a nossa vontade,
ou seja, elas restringem o que moralmente podemos ou não fazer, apesar de
nossos desejos. Sendo assim, determinada obrigação está entre as fontes mais
robustas para que executemos ou deixemos de executar algo (LA TAILLE,
2006). Frequentemente, você fala que um indivíduo deve ou não agir, quando
ele está sob uma obrigação – então a ação proposta é uma necessidade moral.
Para Kant (2007), um dos filósofos expoentes na ética do dever, como já
foi mencionado, os princípios morais devem ser universalizáveis, excluído
do julgamento os interesses pessoais e colocando as obrigações no centro da
experiência. Ele dividiu a Deontologia em dois conceitos básicos: razão prática
e liberdade. O agir por dever é a maneira de dar para a ação o seu valor moral,
agindo por livre vontade. Nesse caso, a liberdade é um fator importante para
o sentido da vida de cada indivíduo. Nós podemos garantir a nossa liberdade
por intermédio do julgamento racional de nossas ações, submetendo-as ao
julgamento do imperativo categórico (sem condições vinculadas) para que
elas não estejam sob influência das emoções, dos desejos ou de outros tipos
de engajamentos.
Logo, você tem a obrigação de agir segundo o imperativo categórico, pois
somente desse modo poderá preservar a sua liberdade e, assim, preservar
também sua pessoalidade. Dessa maneira, voltamos ao ponto de as obrigações
serem inescapáveis, ou seja, ao honrar suas obrigações, você acaba preservando
sua liberdade que é essencial para sua pessoalidade.
A teoria do dever, de acordo com o filósofo Immanuel Kant, baseia-se no
princípio lógico, visando à sequência de atos e meios da ação por dever e não
pela consequência, tendo uma motivação (o dever) intrinsecamente boa e sem

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qualificação. Esse princípio, empregado no universo profissional, é usado na


tomada de decisões, norteando julgamentos e ações moralmente corretos. Na
Deontologia, tal teoria é a base para a formulação dos códigos deontológicos,
também chamados de Códigos de Ética Profissional. Cada profissão tem um
conjunto de princípios éticos, regras e normas de conduta estabelecido segundo
a lei, o qual orienta os profissionais durante a execução de seus misteres.

O filósofo Immanuel Kant foi o expoente na Deontologia e na teoria do dever, mas


existiam outras escolas dentro da Deontologia:
 A escola Teológica (Descartes, Guilherme de Ockham e os calvinistas do século
XVIII): tinha como base o comando divino e que determinadas ações deveriam ser
realizadas por serem a vontade de Deus. Por esse motivo, são deveres, não levando
em consideração as consequências.
 A escola Contemporânea: diversos pensadores com tópicos de estudo diversos,
tais como Roger Scruton, Thomas Nagel, Frances Kumm (filósofa que explora o
conceito de imperativo categórico de Kant) e Ian King (estuda a combinação de
Deontologia com o Utilitarismo, juntamente com um quase realismo metaético
para criar a ética com base em ações, virtudes e suas consequências).
Fonte: Lima (2017).

A Deontologia biomédica
Os códigos deontológicos tentam constituir o âmago das características de
um grupo social (profissional), o qual se identifica com as regras e as normas
propostas em tais códigos. A constante evolução do homem, as pressões
sociais e políticas, a adaptação aos incessantes avanços tecnológicos e uma
consequente necessidade de manter boas relações profissionais incentivam os
indivíduos a se guiarem por um fator comum. A necessidade do fator comum
permeou o estopim para a criação dos códigos deontológicos.
Em 1794, o médico britânico Thomas Percival propôs o primeiro Código
Deontológico em formato de panfleto, o qual era direcionado para a área
médica. Naquela época, não havia a ética normativa, então, o que regia a
sociedade eram os conceitos de virtude, honra e caráter. A proposta de Percival
era extremamente inovadora, visto que ele exaltava o dever e não o juramento

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proclamado pelo profissional – os médicos realizavam o chamado Juramento de


Hipócrates, que servia como código de conduta (NEVES, 2003). Além disso,
os juramentos permitiam uma interpretação pessoal e certa subjetividade nos
seus preceitos, desvalorizando o caráter coletivo, característica imprescindível
nos códigos deontológicos atuais.
A obra do médico britânico (Medical Ethics, publicada em 1803) até hoje
contribui com elementos fundamentais para a estruturação dos códigos deon-
tológicos de diferentes profissões. Esses elementos se baseiam em substituir a
autoridade pela responsabilidade, minimizar os desvios pessoais na atuação
profissional, estabelecer padrões comuns, a fim de clarificar valores profis-
sionais, e fornecer um modelo de conduta para assegurar a independência do
trabalhador em relação à entidade empregadora em nome do serviço prestado
aos indivíduos.
A Biomedicina forma profissionais que atuam no diagnóstico, na pesquisa e
no ensino e desenvolvem ações para a promoção, a manutenção e a reabilitação
da saúde da população, bem como para a prevenção de doenças. A área da
saúde, como um todo, exige do profissional a urgência, as tomadas rápidas
de decisão e a extrema competência tecnocientífica, visto que a vida humana
é um bem precioso. Como um profissional multidisciplinar capaz de exercer
atividades em todos os níveis de complexidade do sistema de saúde, algumas
normas, orientações e deveres são necessários para auxiliarem o biomédico no
seu dia a dia. Para tanto, foi instituído o Código Deontológico do Biomédico,
ou Código de Ética do Profissional Biomédico, tendo como missão regular e
supervisionar o acesso à profissão de biomédico e o seu exercício, elaborando
as normas técnicas e deontológicas, além de primar pelo cumprimento de tais
normas legais e regimentos da profissão.
No Código Deontológico Biomédico, existe uma dimensão axiológica –
reflexão sobre valores – e uma dimensão deontológica – reflexão sobre as
regras e forma de adesão a estas. Dessa maneira, o Código de Ética tem como
foco o que é considerado bom segundo os critérios do grupo profissional, ou
seja, os valores, os quais podem ser:

 Constitutivos: valores universais que expressam a finalidade da orga-


nização e antecedem a formação de uma estrutura social. Exemplo:
princípio da verdade e da honestidade.
 Comportamentais: valores que apreciam a conduta dos agentes (o pro-
fissional) frente aos seus objetivos, servindo como avaliação das ações
boas ou más. Exemplo: praticar ato profissional que cause danos físicos,
morais ou psicológicos ao usuário do serviço.

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No âmbito deontológico, ocorrem reflexões acerca das normas, das regras


e do próprio código. Mas quem/o que é responsável por verificar se os pro-
fissionais biomédicos estão cumprindo os deveres e as normas do Código de
Ética? Após a criação do curso de Biomedicina e o crescimento do nicho no
mercado de trabalho para os biomédicos, assim como em outras profissões,
havia a necessidade de uma entidade que os disciplinasse, orientasse e criasse
condições de enquadramento e valorização profissional. Essas entidades são os
conselhos profissionais, representadas pelo Conselho Federal de Biomedicina
e pelos Conselhos Regionais de Biomedicina, constituindo uma autarquia
federal com personalidade jurídica de direito público e autonomia financeira
e administrativa, tendo como objetivo a fiscalização do exercício profissional
de acordo com o Código de Ética da profissão.
O Código de Ética Biomédico dispõe sobre os deveres básicos da atuação
do biomédico, as obrigações e os direitos do biomédico, o exercício da Bio-
medicina e a relação com colegas e com o Conselho Federal de Biomedicina
e os Conselhos Regionais. Trata-se de um documento que foi aprovado pela
Resolução do C.F.B.M. - /V° 0002/84 DE i 6/08/84 - D. O. U. 27/08/84 e em
conformidade com o Regimento Interno Artigos 54º, 55º e 60º – publicado
em 31 de julho de 1984, o qual pontua as ações que norteiam as condutas
profissionais.

Se você quiser saber mais sobre quais são os direitos dos biomédicos previstos no
Código de Ética do Biomédico, pode acessar o link a seguir:

https://goo.gl/35Pkst

Além dos deveres, das obrigações e das normas profissionais do biomédico,


o código deontológico repercute um conjunto de considerações culturais,
políticas e econômicas correspondentes ao país de sua origem, nesse caso o
Brasil. As questões socioculturais se referem a gênero, raça, origem étnica,
orientação sexual e demais fatores considerados (ou subentendidos) nos itens
do código, e as questões político-econômicas afetam as tomadas de decisão

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dos profissionais devido ao meio em que se inserem. O início do Código de


Ética do Profissional Biomédico traz o seguinte trecho de abertura:

O CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA, institui o Código de Ética,


sabendo que o profissional Biomédico, pela sua natureza em cuidar do inte-
resse da saúde humana e animal; norteia seus princípios sempre na busca
da verdade real, jamais deixando-se aniquilar por atos que não sejam fiéis ao
seu juramento. Assim, todo profissional biomédico representa uma parcela de
grandeza especialmente pelo reconhecimento público daqueles que utilizam
de seus préstimos, visto que age com retidão, em perfeita sintonia com as
necessidades sociais a que se dirige e ao bem comum. O presente Código,
certamente abrirá oportunidades e projeções diversificadas, resultando em
benefícios da sociedade. Este Código, desta forma, tem duas vertentes, que
não se excluem, mas se completam: a consolidação e o interesse sobre a
proteção daqueles que utilizam dos serviços prestados pelos profissionais
Biomédicos e a consolidação das normas de prevenção e práticas de nos-
sos profissionais, visando unicamente serem fiéis aos princípios éticos, e no
domínio da ciência servindo com lealdade ao cliente e a sociedade (BRASIL,
2011, documento on-line, grifo nosso).

Esse trecho deixa claro que o Código Deontológico do Biomédico se baseia


nos princípios do bem, apresentando critérios para o estabelecimento do que é
considerado uma conduta ética e verdadeira, respeitando o ser humano, o meio
ambiente e os animais. Além disso, o exposto no texto está relacionado com
ideais de proteção ao profissional e ao paciente/cliente, aumentando o prestígio
da profissão e aumentando a confiança e a fé da sociedade nos profissionais
biomédicos, sendo estes os componentes inspirados (e por vezes adaptados)
nos citados por Percival em 1803.

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Os Códigos Deontológicos orientam e determinam regras e normas para o exercício


profissional. Assim como os biomédicos, outras profissões têm seus Códigos Deon-
tológicos específicos.
No Código Deontológico dos Enfermeiros consta quais são os deveres, as respon-
sabilidades e as proibições da profissão:

CAPÍTULO I - DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS


DIREITOS
Art. 1º — Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tra-
tado segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos
humanos.
Art. 2º — Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e cul-
turais que dão sustentação a sua prática profissional.
Art. 3º — Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profis-
sional e à defesa dos direitos e interesses da categoria e da sociedade.
Art. 4º — Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão,
por meio do Conselho Regional de Enfermagem.

RESPONSABILIDADES E DEVERES
Art. 5º — Exercer a profissão com justiça, compromisso, eqüidade,
resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade
e lealdade.
Art. 6º — Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no res-
peito, na solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica.
Art. 7º — Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos
que infrinjam dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício
profissional.

PROIBIÇÕES
Art. 8º — Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação
de membro da equipe de enfermagem, equipe de saúde e de trabalha-
dores de outras áreas, de organizações da categoria ou instituições.
Art. 9º — Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal
ou qualquer outro ato, que infrinja postulados éticos e legais (BRASIL,
2007, documento on-line).

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BRASIL. Conselho Federal de Biomedicina. Resolução nº. 198, de 21 de fevereiro de 2011.


Regulamenta o novo Código de Ética do Profissional Biomédico. Brasília, DF, 2011.
Disponível em: <http://crbm1.gov.br/RESOLUCOES/Res_198de21fevereiro2011.pdf>.
Acesso em: 10 abr. 2018.
BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução nº 311 de 09 de fevereiro de 2007.
Aprova a Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Brasília,
DF, 2007. Disponível em: <https://www.diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?n
umlink=1-39-34-2007-02-09-311>. Acesso em: 10 abr. 2018.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.
COSSETIN, V. L. Teorias éticas. Ijuí, RS: Ed. Ijuí, 2014.
DURKHEIM, E. Introduction à la morale: les classiques des sciences sociales. Quebec:
[s.n.], 2002.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. 70. ed. Lisboa: Edições 70, 2007.
LA TAILLE, Y de. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed,
2006.
NEVES, M. P. Thomas Percival: tradição e inovação. Bioética, v. 11, p. 11-22, 2003.
NILL, M. Deontology. New York: Routledge, 2013.
WEISS, R. A teoria moral de Èmile Durkheim. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASI-
LEIRA DE SOCIOLOGIA, 13., 2007, Recife. Anais... Recife: UFPE, 2007.

Leituras recomendadas
COTRIM, G.; FERNANDES, M. Filosofar. São Paulo: Saraiva, 2010.
GIANOTTI, J. A. Moralidade pública e moralidade privada. In: NOVAES, A. (Org.). Ética.
São Paulo: Companhia das Letras; Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
OLIVEIRA, M. A. de (Org.). Correntes fundamentais da ética contemporânea. 2. ed. Pe-
trópolis, RJ: Vozes, 2000.
VÁSQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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