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MODELAGEM

DIGITAL

Adriana Silva da Silva


Modelagem digital:
definição
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar o que é modelagem digital.


„„ Enumerar as possibilidades de aplicação da modelagem digital.
„„ Ilustrar as aplicações da modelagem digital no design de interiores.

Introdução
Os avanços tecnológicos de computação digital viabilizaram a evolução
das representações gráficas. A modelagem digital corresponde a um dos
processos executados por software para criar a representação matemática
de algo, podendo esta representação ser bi ou tridimensional. As áreas de
design de interiores, arquitetura e engenharias são diretamente impactadas
pelas possibilidades da modelagem digital, apresentando diversos pontos
positivos. Nestas áreas, a linguagem gráfica deve pressupor um conjunto
de princípios consistentes para representar os espaços.
Neste capítulo, você conhecerá a modelagem digital e suas possi-
bilidades e verá como a modelagem digital é aplicada em projetos de
design de interiores, arquitetura e engenharias. Estas áreas precisam de
sistemas de representação para transmitir suas ideias para os clientes,
possibilitando que estes tenham uma noção mais realista do projeto.

O que é modelagem digital?


Desde a Renascença, o homem cria geometrias cada vez mais complexas,
sendo o período pós-guerra mundial o estopim para a produção acelerada de
habitações, estradas e maquinários durante o século XX. Concomitante a isso,
as técnicas de modelagem foram evoluindo, de desenhos manuais a desenhos
desenvolvidos por meio de computadores. Estes equipamentos modificaram o
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modus operandis de diversas áreas e, progressivamente, foram integrados aos


processos industriais e, hoje, impactam inclusive os métodos de educação e
treinamento, bem como as áreas técnicas de design, arquitetura e engenharia.
Antes dos computadores, desenhos técnicos e arquitetônicos eram feitos à
mão, o que demandava muito tempo na criação, revisão e reprodução desses
trabalhos.
Em face disto, profissionais destas áreas encontram nessa ferramenta o meio
imprescindível para a projetação e a solução de problemas de diversas ordens,
fomentados pelo barateamento destes equipamentos, máquinas cada vez mais
potentes e softwares cada vez mais eficientes. Na indústria, os computadores
estão viabilizando o desenvolvimento de novos métodos para análise e projeto,
criação de desenhos técnicos, geração de modelos tridimensionais e criação
de novos conceitos no campo de automação e robótica. Com a capacidade de
armazenar dados, realizar funções lógicas e cálculos matemáticos, as pos-
sibilidades em termos de software ampliam a capacidade humana, gerando,
inclusive, novos modelos de negócios e de indústria (GIESECKE et al., 2002).
O conceito de modelagem digital nasce no cerne dos programas de desenho
assistido por computador e refere-se à capacidade dos softwares de representar
e mediar a produção de imagens gráfico-digitais em duas ou três dimensões.
Para entender melhor o caminho percorrido para chegarmos ao que temos no
mercado atual em termos de software de modelagem digital, veja a como se
desenvolveu a história da computação gráfica.

Computação gráfica e as bases do CAD


É importante estar atento ao fato de que, conforme as tecnologias de hardware
avançam, os softwares acompanham o desenvolvimento, gerando imagens cada
vez mais realistas, com precisão nos dados e assertividade na apresentação dos
projetos. A computação gráfica surge no período de 1950, quando os computa-
dores passaram a apresentar capacidade gráfica, o que consistia basicamente
na representação de pequenos pontos, símbolos ou números numa tela de tubo
de raios catódicos. A computação gráfica se consolidou enquanto área em
1963, com uma demonstração de Ivan Sutherland no Instituto de Tecnologia
do Massachusetts (MIT) que explorava os computadores, aplicando-os ao
desenvolvimento de projetos arquitetônicos (GIESECKE et al., 2002).
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De acordo com a International standards organization (ISO), a computação gráfica


agrega o conjunto de métodos e técnicas empregadas na conversão de dados para um
software gráfico por meio do computador. Ela é explorada em áreas como produção de
gráficos, mapas e cartografias, engenharia civil e arquitetura, arte, animação, publicidade
e jogos eletrônicos (PYAMPY, 2018).

O sistema apresentado denominava-se Sketchpad e utilizava um tubo de


raios catódicos, cujos desenhos eram obtidos por meio de uma caneta óptica.
O Semi-automatic ground environment (SAGE), sistema lançado antes do
Sketchpad, havia sido desenvolvido pelo comando de defesa aérea norte-
-americana na década de 1950, que também utilizava a caneta óptica para
representar seus desenhos. O SAGE convertia informações recebidas por meio
de radar para uma tela de tubo de raios catódicos (GIESECKE et al., 2002).
A pesquisa de Sutherland despertou o interesse da indústria automobilística
e aeroespacial americana. Isso levou a empresa General Motors a desenvolver
o precursor dos programas computer-aided design (CAD), que são programas
de desenho assistido por computadores. Ao final da década de 1960, esse tipo
de software já estava difundido nas indústrias mencionadas. De acordo com
Yee (2017), durante os anos 1960, o professor Charles M. Eastman se dedicava
ao design e às ciências da computação. Surgiu com ele a ideia de produzir um
sistema que gerisse todas as relações existentes entre a forma e a função de
objetos. Seu objetivo era concatenar todas essas informações em uma única
plataforma (GIESECKE et al., 2002; OLIVEIRA, 2014).
Na década de 1970, foram desenvolvidos técnicas e algoritmos utilizados
até hoje. Neste período, a tecnologia dos circuitos integrados e as máquinas
passam a ser mais acessíveis, sendo que em 1975 surge o primeiro computador
de interface visual. O jogo Pong da empresa Atari é lançado neste mesmo
ano por Nolan Bushnell. Nesta década, a computação gráfica passa a ser
entendida como uma área que compõe o campo científico. Benoit Mandelbrot,
pesquisador da IBM, apresenta imagens geradas no computador por meio de
fractais. A indústria cinematográfica passa a explorar a computação gráfica:
o filme Star Wars aparece como a grande revolução da área, contendo uma
cena com 40 segundos de duração gerada por computadores. A partir destes
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acontecimentos, hoje temos a possibilidade de explorar modelos paramétricos


que transformam formas complexas da arquitetura por meio da tecnologia
digital. Com isso, hardwares e softwares passaram a ser aprimorados de forma
constante (GIESECKE et al., 2002).
Atualmente, pode-se encontrar programas para desenvolvimento de projetos
elétricos, de iluminação, acústica, planejamento térmico, entre outros. Em
decorrência dos inúmeros avanços, foi em 1975 que a computação gráfica
passou a compor os currículos universitários e a ser aplicada em escritórios
de arquitetura e engenharia. Os computadores estão presentes desde a etapa
de concepção projetual, podendo ser aplicados de modo que o contratante do
projeto consiga, inclusive, ter uma visão tridimensional do espaço, explorando-
-o virtualmente. Além dos softwares possibilitarem o desenvolvimento de
animações em que o observador se desloca no espaço, eles também viabilizam
a experimentação e a simulação de acabamentos, tanto para área interna
quanto externa. Portanto, o desenho representado é compatível com o projeto
arquitetônico e facilita a reprodução e a distribuição dos desenhos de projetos
(GIESECKE et al., 2002; OLIVEIRA, 2014).
Os softwares disponíveis atualmente são rápidos e precisos. Dessa forma,
viabilizam uma percepção geral do projeto, pois assim é possível ter um projeto
inteiro em um mesmo arquivo, ou seja, independente do porte do projeto,
um único arquivo pode conter todos os dados necessários, que antes eram
apresentados por meio de um volume grande de desenhos de planta. Devido
à diversidade de objetivos dos programas, é possível realizar a modelagem
em mais de um software. Assim, explorar as vantagens de cada um é de
responsabilidade do projetista, que precisa dar conta de diferentes métodos
de modelagem. Nestes casos, é preciso estar atento para que a transferência
de dados de um software para o outro não demande perda nas informações
contidas.
A digitalização agregou eficiência às etapas de projeto, aguçando a cria-
tividade dos profissionais da área. Cabe ressaltar que a projetação executada
por meio de esboços e croquis é de suma importância, mas a computação
gráfica serve para potencializar aquilo que ainda é limite para o desenho
feito à mão (CHING, 2017). Alguns defendem que os desenhos digitais não
colaboram com o desenvolvimento da criatividade no processo de criação do
arquiteto, engenheiro ou designer de interiores. De fato, o traço à mão garante
liberdade e espontaneidade na geração de ideias; no entanto, outros defendem
que o desenho por meio de ferramentas digitais permite que se antecipe e gere
possibilidades de forma mais ágil no que diz respeito a composição, materiais
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e cores, entre outros. O que não se pode negar é que a convergência das duas
opções de produção é, de fato, extremamente valorosa para o processo de
criação. Além disso, somente por meio de ferramentas digitais é possível fazer
com que informações sobre a obra, como quantificação de materiais e custos
de projeto, sejam apresentadas em uma única fonte de conteúdo ou arquivo.
Quando falamos em modelagem digital é preciso considerar que qual-
quer objeto tridimensional, por mais simples que pareça ser, é formado por
diversas superfícies ou planos, que podem ser achatados ou curvos. Ou seja,
o objeto com características tridimensionais é composto por linhas e planos
que o definem e, desta forma, é possível representar um objeto por meio da
modelagem digital. As superfícies são compostas por planos com coordenadas
dispostas no espaço, representadas pelos eixos x, y e z. Assim, pode-se dizer
que a geometria é a base de todo e qualquer desenvolvimento de modelagem
digital. A complexidade de modelar um bloco retangular é, por exemplo, bem
menor do que desenhar uma superfície curva irregular. Logo, a complexidade
da representação guarda a complexidade da própria forma. Partindo deste
pressuposto, é preciso ter em mente que projetar um sólido difere pela comple-
xidade de projetar um espaço. Por isso, os croquis são de grande importância,
pois irão orientar o projetista no desenvolvimento digital do ambiente. Durante
a modelagem digital é possível identificar e prever problemas na aplicação
do projeto e, por isso, pode-se dizer que essa etapa se refere à prototipação
daquilo que será construído em escala maior (LEGGITT, 2004).
A modelagem digital compõe uma subárea da computação que está cada vez
mais próxima ao campo da construção civil. Esta técnica explora elementos da
comunicação visual, como ferramentas computacionais associadas aos vídeos,
desenhos e maquetes eletrônicas, entre outras. Assim, simulam-se espaços,
ambientes e objetos. São imagens constituídas por códigos e cálculos em
um software gráfico digital, explorando o que há de mais caro à projetação:
imaginação, criatividade e realidade. A modelagem digital também favorece
o desenvolvimento de projetos criativos, visto que superfícies curvas, por
exemplo, que demandavam muito tempo para ser representadas, tornaram-
-se mais fácil de desenhar, pois com alguns comandos é possível representar
uma forma irregular e curva de modo mais dinâmico e exato. Existem dois
modelos de tecnologias voltadas à modelagem digital: a mais antiga são os
desenhos assistidos por computador, que originaram o CAD; e a tecnologia
buiding information modeling (BIM), que gera modelos da informação da
construção, cujo maior representante é o Revit, software também desenvolvido
pela Autodesk. A título de comparação, pode-se dizer que o CAD guarda
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relação com a prancheta, enquanto o BIM representa a o que se tem de mais


atual no que diz respeito à maquete. Devido às vantagens oferecidas pelo
sistema BIM, acredita-se que ele será o futuro do mercado de modelagem
digital (GIESECKE et al., 2002).
Tendo em vista todas essas possibilidades, no contexto da modelagem
digital se percebe a necessidade de uma perspectiva contemporânea do desenho
técnico diante das necessidades do mercado, já que as tecnologias digitais
geram impactos nos setores de produção. Assim, a modelagem por meio de
modelos paramétricos aponta para este avanço, permitindo que engenheiros e
arquitetos tenham a sua disposição ferramentas cuja capacidade de represen-
tação guardam ampla relação com o mundo no qual foram criadas. Portanto,
em um contexto que exige cada vez mais o encurtamento dos prazos para
entrega e execução de projetos, a modelagem digital e seus avanços têm se
mostrado a melhor aliada para arquitetos e projetistas (SILVA et al., 2018).
Observe que a natureza da modelagem digital — gráficos construídos em
softwares — resulta em uma representação de algo a ser construído de forma
concreta, ou seja, aquilo registrado em um arquivo de computação tem o caráter
representacional daquilo que pode ser construído de fato.
A modelagem digital corresponde à modalidade de síntese de imagens,
uma das áreas da computação gráfica voltada para a produção de imagens
virtuais. Para tanto, pressupõe-se a inserção e a delimitação de parâmetros
matemáticos a objetos bi ou tridimensionais. Neste contexto, podemos citar
alguns softwares, como o AutoCAD e o SketchUp. As imagens resultantes desse
processo podem ser uma reprodução da realidade ou uma criação, podendo ser
real ou fictícia. O termo modelagem está relacionado à construção de algo em
duas ou três dimensões, como uma maquete digital, que permite a visualização
de um projeto em ângulos distintos (OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018).
A modelagem digital exige profissionais que estejam em constante atualiza-
ção, seja no que diz respeito à manipulação dos softwares, seja reconhecendo
as potencialidades que o uso de mais de uma tecnologia pode agregar a um
projeto. A modelagem conta com softwares de qualidade e gratuitos, assim
como com softwares cada vez mais potentes, que são pagos.
Existem diversos softwares para a modelagem digital. Eles permitem a
visualização e a fabricação de objetos e ambientes a partir de vetores e traçados
de linhas. Você irá conhecer alguns deles no próximo tópico.
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Possibilidades e aplicações da
modelagem digital
Quando usamos o termo modelagem digital, estamos nos referindo à mode-
lagem 3D, que corresponde à construção de um desenho, modelo, objeto ou
espaço baseado em modelos matemáticos para serem representados. Para isso,
gera-se uma malha tridimensional em um software gráfico digital.
A modelagem digital está amplamente difundida no senso comum, devido
ao grande volume de filmes cinematográficos que tem utilizado esta linguagem
para constituir suas visualidades. Além do cinema, podemos citar o crescente
cenário dos jogos que, com o desenvolvimento de consoles mais potentes, são
capazes de gerar imagens cada vez mais realistas. No entanto, a modelagem
vai além do contexto do entretenimento. Originada no seio do setor industrial,
possui aplicação a diversos propósitos no campo da linguagem gráfica técnica
(YEE, 2017).
Com a modelagem tridimensional podemos representar um objeto ou
ambiente de forma virtual, tanto no que diz respeito ao seu aspecto técnico
quanto aos visuais. Como resultado disso, temos as maquetes eletrônicas, que
correspondem a plantas humanizadas, cortes tridimensionais, apresentação de
um produto, geração de animações de processos, entre outros. A representação
de objetos de forma realista implica na aplicação de materiais, texturas, ima-
gens, iluminação e ambientação, cujo resultado expressivo apresenta imagens
que simulam condições.
A modelagem digital também viabiliza que um projeto seja desenhado
antes da execução, permitindo que se avalie a viabilidade da construção e
que se simule materiais, cores e design. É possível verificar a assertividade
de encaixes, tamanhos, estruturas, entre outros. A vantagem da modelagem
digital consiste em evitar desprendimento financeiro alto para a etapa de
testagem que, anteriormente às possibilidades da computação gráfica, só
podiam ser testadas já na fase de prototipação ou produção. O protótipo gerado
com a modelagem é utilizado em testagens diversas e pode ser produzido
em impressoras 3D. Essas impressoras podem produzir peças de pequena,
média e grande dimensão. Por meio de desenhos técnicos bidimensionais,
pode-se produzir imagens tridimensionais. Esses desenhos compõe as fichas
técnicas do projeto e são fundamentais nos processos de produção. Por meio
da modelagem 3D é possível chegar a resultados bem precisos e realistas.
A modelagem digital é aplicada a áreas como design, engenharia e produção
de produtos, arquitetura e engenharia civil, elétrica, mecânica, cinema, jogos e
ilustrações. Existem diversos softwares orientados para a modelagem digital.
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Dentre os softwares que podem ser explorados no contexto da modelagem


digital, podemos citar: SketchUp; FreeCAD; Revit; ArchiCAD; AutoCAD;
Bentley; RealCAD; SolidWorks; 3DS Max; Blender; Maya; Cinema 4D; Zbrush;
e Rhinoceros. Estes softwares possibilitam a representação de elementos
que compõe um ambiente ou um objeto, seja de forma bi ou tridimensional.
Softwares como 3D Studio Max, Maya, Rhino e SketchUp permitem que os
clientes tenham uma visualização prévia do projeto, criando detalhes realistas
(OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018). Esses softwares são baseados nas
tecnologias de CAD e BIM, sistemas que serão apresentados a seguir.

CAD
Em analogia, podemos dizer que o CAD veio a complementar as pranchetas
utilizadas no desenvolvimento de projetos em arquitetura e engenharia. Os
primeiros sistemas permitiam o desenvolvimento de desenhos técnicos a
partir de primitivas, em estruturas aramadas, o que impactou profundamente a
produtividade na etapa projetual. Por volta de 1980, surgem os sistemas CAD
parametrizáveis, nos quais era possível alterar os valores de dimensão dos
objetos preservando as relações que este possui com os demais elementos. A
construção por meio de geometrias em três dimensões com CAD tinha como
objetivo a prototipação sem a necessidade de altos investimentos na produção
(GIESECKE et al., 2002).
O CAD é um dos softwares mais utilizados entre os disponíveis no mercado
e viabiliza que arquitetos e engenheiros desenvolvam desenhos técnicos repre-
sentados por linhas, formas e textos. Esses softwares podem ser considerados
uma resposta dada ao homem moderno diante da necessidade de representar
e documentar geometrias complexas (PAIXÃO, 2013).
A implementação de softwares CAD fez com que muitos arquitetos e enge-
nheiros passassem a explorar essas ferramentas, considerando a dinamização
que agregam ao projeto.
Passando por diversas atualizações, o CAD está entre as ferramentas
mais eficientes para aplicação em projetos. Por meio das imagens geradas,
pode-se representar, refletir, manipular e revisar os desenhos de forma rápida
e dinâmica.
O CAD permite, por exemplo, a modelagem de uma cidade inteira. Existem
também programas que viabilizam a manipulação de espaços tridimensionais.
Com os pacotes de renderização, a criação de representações realistas de
materiais e acabamentos é representada. Os softwares de modelagem digital
são equipados com ferramentas diversas que propiciam a exploração de ideias
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e conceitos, apresentando a complexidade do projeto. De acordo com Ching


(2017), o processo de construção de perspectiva no CAD distingue-se do dese-
nho feito à mão, sendo este caracterizado por linhas anguladas e paralelismos,
no caso de cavaleiras e isométricas, ou fazendo com que linhas convirjam para
um ponto de fuga, como nas cônicas. Quando se fala de perspectiva no CAD,
parte-se sempre da planta baixa, que já possui as cotas de altura, comprimentos
e larguras. A partir destes dados, pode-se gerar qualquer tipo de perspectiva.
Além disto, é possível realizar animações, inserir materiais que definem as
superfícies dos objetos e luzes, de forma muito realista, por meio do processo
de renderização. No campo do design de interiores, os softwares mais comuns
são o AutoCAD, o FreeCAD e o SketchUp.
Criado pela Autodesk, o AutoCAD se popularizou muito no que diz respeito
à representação de geometrias. Lançado em meados dos anos 1980, rapidamente
passou a ser utilizado por grandes e pequenas empresas, tornando-se crucial
em projetos de qualquer porte. Suas ferramentas viabilizam o desenvolvimento
de desenhos técnicos para tudo aquilo que é produzido pela indústria. Para a
criação de espaços bidimensionais, utiliza-se o CAD 2D; e para a modelagem
tridimensional, o CAD 3D (GIESECKE et al., 2002).
O FreeCAD É um modelador 3D de múltiplas plataformas e código aberto.
Ele permite o uso de bibliotecas open-source e é uma alternativa para quem
precisa de softwares livres. Já o SketchUp é um software de rápida aprendi-
zagem, intuitivo e mais dinâmico que o CAD, sendo indicado para iniciantes
e para a criação de esboços.
O SketchUp viabiliza um bom grau de realismo na modelagem, pois simula
texturas, cores e perspectivas de forma muito próxima à realidade. No entanto,
é preciso considerar que as imagens geradas no SketchUp também podem ser
trabalhadas em processadores de imagens, como o Photoshop. Dessa forma,
adicionam-se elementos extras, como vegetação e objetos, e realizam-se
correções na iluminação. Isso denota a necessidade de se ter conhecimento
sobre uma variedade de softwares.
Sua renderização eficiente permite que esboços sejam transformados em
modelos tridimensionais em tempo real, mas não é indicado para projetos
complexos. Como o SketchUp possui ótimo controle na modelagem, é possível
desenvolver projetos de arquitetura, design de interiores, design de produtos
e projetos mecânicos. Atualmente, a realidade aumentada permite a visuali-
zação síncrona de modelos CAD no ambiente real. O software de realidade
aumentada pode ser instalado em dispositivos móveis e, no ambiente, por meio
de câmeras, inserindo-se um modelo digital para a visualização do projeto.
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A realidade aumentada não é o mesmo que realidade virtual. Esta simula de forma
digital um ambiente ou objeto, permitindo que o usuário interaja com ele. Já a realidade
aumentada propicia uma interação entre o produto digital projetado, tendo o mundo
real como background. Em outras palavras, a realidade virtual passa a ser simulada
de forma digital. A realidade aumentada é menos imersiva que a realidade virtual.
No CAD, a realidade aumentada permite que o usuário visualize os modelos a partir
de diversos pontos de vista. A realidade virtual permitirá que o usuário interaja com
o ambiente: o usuário pode, por exemplo, caminhar no interior de uma construção.

Ainda que alguns softwares sejam mais populares, é preciso considerar


que optar por um ou outro está relacionado aos resultados gráficos que você
pretende atingir em seu projeto e da sua habilidade em manipular as ferramentas
dos programas. É recomendável conhecer todos estes programas citados, para
que você consiga escolher aquele que atende melhor suas necessidades. No
próximo tópico, você irá conhecer a tecnologia BIM para geração de modelos
digitais.

BIM
A tecnologia BIM possui maior complexidade que o CAD, mas é baseada em
seus recursos. Utiliza um banco de dados com informações do projeto, ou seja,
possibilita que as informações sejam integradas. O BIM é a grande promessa
em termo de tecnologia voltada para a arquitetura, engenharia e construção.
Com esta tecnologia é possível gerar um modelo digital com a geometria exata,
adicionando dados necessários para a execução da construção. Considerado
superior ao CAD, descreve modelos construídos por meio de geometria e
texturas, que tem como função humanizar os projetos, fazendo com que se
compreenda o funcionamento de uma construção antes da etapa de execução
(CHING, 2017; GIESECKE et al., 2002).
Difere-se do CAD pelo tipo de desenho gerado, por meio de modelagem
orientada por objetos, que assumem as características de acabamentos infor-
madas ao software. Por exemplo, ao desenhar uma parede, inclui-se altura,
largura e comprimento, além de detalhamento sobre o material a ser empre-
gado, as propriedades térmicas e acústicas, precificação do material e de mão
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de obra, possibilitando a inserção de dados de acordo com as necessidades


do projeto. De acordo com Ching (2017), o BIM tem a capacidade de criar,
gerenciar e coordenar tanto geometria quanto relações espaciais, bem como
a quantidade e as propriedades dos materiais da edificação. O BIM trabalha
com a parametrização dos objetos, visto que eles são atualizados em tempo
real. Assim, o projeto é atualizado de modo mais rápido, pois o BIM consegue
aplicar a parametrização ao projeto inteiro. É possível projetar as funções que
determinam o ciclo de vida de um prédio, gerando a estrutura e as capacidades
da construção, indexando a equipe envolvida na produção. Seu uso adequado
implica em construções de qualidade com prazo de execução reduzidos. Os
softwares mais avançados deste tipo são Revit, ArchiCAD e Vectorworks.
O Revit é utilizado para desenvolver projetos e documentação consistente,
de forma coordenada e completa, baseada em modelos. Permite a atualização
de plantas de piso, vistas em elevação, corte e 3D. Possui ferramentas de en-
genharia mecânica, elétrica, hidráulica e projeto estrutural. Também permite
que diferentes profissionais atuem em um mesmo projeto.
O ArchiCAd possui os mesmos objetivos do Revit, mas sua plataforma é
Macintosh. Já o Vectorworks possui recursos de modelagem 3D, renderização
e maquete eletrônica. Além da aplicação para projetos de arquitetura, design
de produtos, interiores, paisagismo e planejamento de áreas urbanas, pode
ser empregado para projetos de shows e espetáculos, iluminação e desenho
mecânico.
Apesar de os softwares CAD e BIM demonstrarem inúmeros avanços,
atualmente eles estão defasados no que diz respeito à interatividade e à imersão,
pois a aparência estática do projeto ainda é predominante. Para suprir essas
necessidades, alguns softwares dotados de realidade virtual dão suporte para
arquitetos, engenheiros e projetistas, uma vez que é possível explorar outras
visualidades por meio da realidade virtual. Este é outro processo que contribui
para a tomada de decisões ao longo da etapa de projetação (GIESECKE et al.,
2002; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018).
Do ponto de vista técnico, os desenhos produzidos por CAD e BIM são
corretos, mas podem gerar dificuldades na interpretação, visto que podem
apresentar falhas no que diz respeito à falta de contraste e ao peso das linhas.
Isto é destacado em casos em que é preciso identificar elementos cortados
ou em vista, seja em plantas ou em cortes. Veja, no próximo tópico, algumas
aplicações da modelagem digital no campo da engenharia, arquitetura e design
de interiores.
12 Modelagem digital: definição

Modelagem digital aplicada


Em projetos de design de interiores, arquitetura e engenharia, é preciso trans-
mitir as informações sensoriais de composição aplicadas ao espaço. Portanto,
uma maquete deve apresentar as relações entre cheio e vazio (e como as
formas se compensam no espaço), proporção, escala, entre outros fatores. Já
os desenhos são responsáveis por informar dados técnicos da edificação, como
dimensão, especificações, entre outras (GIESECKE et al., 2002; OLIVEIRA,
2014; SILVA et al., 2018).
Ao executar a graficação em projetos é preciso estar atento para que este
se mantenha legível no que diz respeito à forma e à materialidade. O desenho
digital deve transmitir precisão e, para evitar contradições no projeto de
interior e exterior, é fundamental que se tenha visualizações 3D de fachadas
e perspectivas. Isto ajuda a manter a coerência no projeto.
Uma das técnicas utilizadas é a sobreposição de imagens para criar um
referencial sobre o projeto. A Figura 1 mostra um desenho criado a partir de
fotografias do local, sobrepostas por imagens do projeto e com a inserção de
calungas por meio do computador, com a finalidade de demonstrar o escalo-
namento do projeto.

Figura 1. Sobreposição de imagens para criar uma referência para escalonamento.


Fonte: Farrelly (2014, p. 121).
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Maquetes eletrônicas exploram as características de imagens em duas ou


três dimensões e permitem ao usuário deslocar-se em um ambiente, interagindo
com o espaço. A qualidade gráfica permite que sejam exploradas em diferentes
etapas do projeto, desde a geração de ideias, passando pelo detalhamento e
a implantação durante a obra. A maioria dos programas parte de dados da
planta baixa e elevação (coordenadas, medidas e parâmetros específicos)
gerando, assim, um conjunto adequado de imagens. No Brasil, os softwares
mais utilizados são o SketchUp e o AutoCAD, sendo o último considerado o
mais preciso e completo. O SketchUp é mais intuitivo e gera renderizações de
forma dinâmica. A Figura 2 mostra uma modelagem realizada no SketchUp.
Observe que os modelos podem ter aparência de desenhados à mão ou realistas.
Com o uso de diversas extensões é possível produzir imagens fotorrealistas.

Figura 2. Modelagem no SketchUp.


Fonte: Trimble (2019, documento on-line).
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No AutoCAD é possível trabalhar com geometrias em duas ou três di-


mensões. Também é possível inserir textos, fazer marcações das dimensões.
Pode-se trabalhar com vistas, cortes e elevações em sua interface. A etapa de
projetação ocorre numa interface similar a esta e o resultado sem renderização
resulta em um esqueleto da edificação, como observamos na Figura 3.

Figura 3. Modelagem no AutoCAD.


Fonte: Paixão (2013, documento on-line).

É preciso ter em mente que a modelagem digital propicia um melhor enten-


dimento de projeto, fazendo com que clientes tenham uma melhor percepção
do que está sendo representado. A representação pode ser feita por meio de
volumetria, não necessitando, obrigatoriamente, de composição de cenas,
ainda que esse processo torne a experiência de visualização mais próxima do
real. Após o processo de renderização, o resultado gráfico obtido por meio
de volumetrias é semelhante à imagem mostrada na Figura 4.
Modelagem digital: definição 15

Figura 4. Renderização no AutoCAD.


Fonte: Paixão (2013, documento on-line).

Observe, na Figura 5, que quando inserimos elementos contextuais à ma-


quete digital é possível fazer com que o cliente entenda melhor as relações de
proporções. Além disso, insere a edificação no espaço real. Ao se criar uma
maquete eletrônica, é possível inserir objetos que irão ilustrar o contexto da
habitação.

Figura 5. Maquete no AutoCAD.


Fonte: Paixão (2013, documento on-line).
16 Modelagem digital: definição

Além do AutoCAD e do SkechtUp, outros softwares podem ser utilizados,


gerando diferentes qualidades gráficas ao projeto. A Figura 6 mostra uma ren-
derização feita no software 3D Studio Max. Sua modelagem é mais complexa
em comparação a outros softwares, porém o resultado é bastante realístico.

Figura 6. Renderização 3D Studio Max.


Fonte: Autodesk (2019, documento on-line).

Neste capítulo, você conheceu um pouco sobre a evolução da computação


gráfica ao longo dos anos e como ela propiciou o desenvolvimento de tecno-
logias para desenho assistido por computador. Explorar os diversos softwares
voltados para a prática do arquiteto, engenheiro e designer de interiores é de
suma importância, pois, assim, pode-se escolher a tecnologia mais adequada,
de acordo com o projeto. Portanto, estar ciente das possibilidades que estes
softwares fornecem de forma prática enriquece seu repertório. Por fim, a partir
da leitura deste material, você pode compreender o contexto da modelagem
digital e vislumbrar algumas de suas possibilidades.
Modelagem digital: definição 17

AUTODESK. Arnold para 3ds Max (MAXtoA). 2019. Disponível em: https://knowledge.
autodesk.com/pt-br/support/3ds-max/learn-explore/caas/CloudHelp/cloudhelp/2020/
PTB/3DSMax-Rendering/files/GUID-D4401CED-4D25-4CDB-8ECC-3A46BA5D641F-htm.
html. Acesso em: 18 ago. 2019.
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
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GIESECKE, F. E. et al. Comunicação gráfica moderna. Porto Alegre: Bookman, 2002.
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YEE, R. Desenho arquitetônico: um compêndio visual de tipos e métodos. 4. ed. Rio de
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Leitura recomendada
NETTO, C. C. Desenho arquitetônico e design de interiores. São Paulo: Érica, 2014.

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