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RELATÓRIO – Fundamentação Teórica

A existência de multiplicidade de possibilidades na ação com grupos contempla


maneiras de intervenções ao ser atuante como membro desse agrupamento, assim como
instrumento de mediação ao possibilitar construções de vivências em intervenções e, ainda,
como intuito para ser um dos passos para a formação do psicólogo, ao tomar como base
especificamente a disciplina Prática Integrativa I (Estágio Básico), que produziu atividades
com o objetivo de envolver os alunos em práticas e campos de atuação com essa temática.
Segundo Zimerman (1993), um grupo não é apenas um somatório de indivíduos, mas
há uma reunião em torno de um interesse comum, com objetivos definidos, reciprocidade e
uma interação com um movimento contínuo. Ao estar alinhado com esse ponto de vista,
Osório corrobora tal afirmação ao utilizar a denominação sistema humano como: “[...] todo
aquele conjunto de pessoas capazes de se reconhecer em sua singularidade e que estão
exercendo uma ação interativa com objetivos compartilhados” (2003, p. 56 apud Costa; Silva;
Silveira, 2018, p. 62).
A organização social, que é constituída por inúmeras formas, estabeleceu-se durante o
progresso civilizatório na sociedade, além de provocar uma importância para o
comportamento individual, pois mesmo em um organismo grupal os componentes preservam
as suas identidades particulares. A cultura, a história e os relacionamentos sociais determinam
o cerne do sujeito, pois este singulariza o contexto e amplia os conhecimentos de determinado
grupo aumentando a capacidade de reflexões e ponderações, assim como apontam Zanella,
Filho & Abella: “o sujeito se apropria dos saberes da sociedade e dos grupos aos quais
pertence e ocupa diferentes posições simbólicas, baseadas em fatores culturais e históricos já
determinados, mas reconstruídos a cada momento”. (2003 apud Freitas; Pereira, 2018, p. 4).
A constituição de mundo tem um resultado maior advindo das interações e do coletivo, já que
os indivíduos modificam suas percepções através de influências mútuas e geram uma
construção que terá um local distinto de influência comportamental (Albuquerque; Puente-
Palacios, 2004).
Nesse sentido, o estabelecimento de um grupo de trabalho como proposta prática está
vinculada a uma participação ativa com papéis colocados segundo as diferenças dos
participantes, conforme Tuckett (2019) aponta como sendo uma junção proveniente de
tradições e realidades distintas com foco no comprometimento com o trabalho, visto que há
um desenvolvimento de objetivos, métodos e da problemática decididos de comum acordo,
sendo uma declaração amparada por Albuquerque; Puente-palacios (2004), ao elencar o
dinamismo nas relações e na execução das atividades, com o destaque dos elementos que
constituem um grupo, como os membros, o propósito e a tecnologia.
Um espaço de cuidado como o indicado traz a possibilidade de lidar com questões
rotineiras através da organização de grupos, sendo um processo que realça as relações sociais
e as interações advindas do encontro, uma vez que a delimitação espaço-temporal apresenta
um contato frente a frente com o intuito de abordar um objeto de discussão e maior clareza
para busca de solucionar uma questão, notando que tal espaço gerador de compartilhamentos
possibilita remodelações de ações e significados, sendo um local de reflexões sobre assuntos
naturalizados ou sobre aqueles não ponderados, permitindo a ampliação das possibilidades e
indo ao encontro de um lugar acomodado (Freitas; Pereira, 2018), lembrando que há efeitos
das práticas grupais, como o suporte para condições de vida difíceis, a criação de espaços de
sociabilidade, a troca de conhecimentos e o fortalecimento e qualificação dos vínculos (Neto;
Kind, 2010).
Diante de tais especificidades, a importância da comunicação no grupo foi a demanda
estabelecida como propósito para realização dessa atividade temporária. Relacionamentos
salutares, em inúmeros níveis, dependem de delicadezas e gradações em uma comunicação
significativa porque este processo é envolvido em uma complexidade tanto daquilo que é
transmitido, quanto para o que é de fato compreendido, como Bocato; Tavares (2016, p.108)
pontuam:

Em uma comunicação eficaz, aliás, é preciso primeiro estabelecer um significado


compartilhado em torno das palavras, construções e ideias que estamos discutindo e,
depois, ainda estabelecer um significado para alcançar um fluxo coerente de diálogo.
Tal conjunto de habilidades permite que os relacionamentos prosperem.

As palavras se apresentam concretamente para o pensamento, para as decisões


tomadas e para o processamento de comportamento, conforme apontam Bocato; Tavares
(2016, p. 129): “Todas as palavras são realmente apenas símbolos que representam certas
coisas, e cada pessoa pode ter uma compreensão um pouco diferente, mesmo no nível da
palavra individual”. Uma comunicação assertiva resulta em objetividade nos diálogos, seja
com a seleção dos melhores vocábulos ou com a especificidade e relevância necessária ao se
expressar, buscando se esquivar da afobação e das faltas de preparo, de consciência emocional
ou de empatia, exemplos de certos fatores que prejudicam a comunicação, pois criar uma
colaboração faz parte de uma escuta ativa e completa (Brum, 2021).
Vale salientar uma abordagem específica da comunicação, a não violenta (CNV), visto
que ela faz uma transação entre os envolvidos através de um sentido afetuoso, com o objetivo
de clareza e não arrependimento. Segundo Rosenberg (2019, np):

O processo se baseia na suposição de que qualquer coisa que os outros ouçam de nós
que soe como uma análise ou crítica (ou que leve a um erro de interpretação por
parte deles) nos impede de estabelecer a conexão que nos permite contribuir
voluntariamente para o bem-estar uns dos outros. Essa abordagem da comunicação
enfatiza que a motivação para agir é a compaixão – e não o medo, a culpa, a
vergonha, a censura, a coerção ou a ameaça de punição.

A CNV fortalece as capacidades de linguagem e comunicação com uma observação


cuidadosa por identificação de comportamentos e condições que afetam o funcionamento em
uma interação. Conseguir se expressar honestamente e receber as informações dos outros
através de observação, sentimentos, necessidades e pedidos geram empatia no fluxo de
comunicação (Rosenberg, 2006), ao contrário de optar por uma forma de transferir ao
domínio alheio o uso de julgamentos, comparações ou exigências descabidas.
Sendo assim, o psicólogo é o facilitador do processo grupal para que os participantes
consigam se encontrar mutuamente no ritmo do grupo de trabalho, sendo uma ferramenta para
diminuição das resistências, possibilitando as elaborações e a expressão dos participantes no
desenvolvimento da comunicação. A transformação só ocorre na atividade ao existir a junção
entre o pensar, o sentir e o agir, conforme afirmam Pereira; Sawaia (2020, p. 26):

Para além da conscientização, nos cabe fortalecer a potência de vida, individual e


coletiva, por meio da criação de bons encontros que façam a ação emergir. O
processo grupal é um espaço privilegiado de bons encontros.

O terapeuta determina o rumo a ser seguido de acordo com o interesse e o


fortalecimento imediato que a experiência emocional resulta no relacionamento do grupo, já
que desenvolver a interação e fortalecer essa ligação revela aos participantes as suas
semelhanças, assim como as suas diferenças, conseguindo que possam atuar como agentes
terapêuticos no grupo (Bechelli; Santos, 2005).
Referências

ALBUQUERQUE; F. J. B.; PUENTE-PALACIOS, K. E. Grupos e equipes de trabalho nas


organizações. In: ZANELLI. J.C.; BORGES-ANDRADE, J. & BASTOS, A.V.B. (Orgs).
Psicologia organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

BECHELLI, L. P. C.; SANTOS, M. A. O terapeuta na psicoterapia de grupo. Rev Latino-am


Enfermagem, p. 249-254. mar./abr. 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rlae/a/NXGj6QBgHMsW33ZL94Yx96v/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 19 nov. 2023.

BOCATO, Débora Cristina Curto da Costa; TAVARES, Fábio Roberto. Psicologia da


comunicação. Indaial: UNIASSELVI, 2016. 162 p.

BRUM, Débora. Comunicação assertiva: aprenda a arte de falar e influenciar. [São Paulo]:
Literare Books International, 2021.

COSTA, J. T.; SILVA, F. S.; SILVEIRA, C. A. B. As práticas grupais e a atuação do


psicólogo: intervenções em grupo no estágio de processos grupais. Vínculo [online] Revista
do NESME, v. 15, n. 2, p. 57-81, 2018. DOI 75d323ad165443c59fb-33b3. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/vinculo/v15n2/v15n2a05.pdf. Acesso em: 18 nov. 2023.

FREITAS; B. R.; PEREIRA, E. R. Formando psicólogos para o trabalho com grupos. Revista
Pesquisas e Práticas Psicossociais, São João Del Rei, v.13, n. 1, p. 1-13, jan./abr. 2018.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ppp/v13n1/11.pdf. Acesso em: 18 nov. 2023.

NETO, J. L. F; KIND, L. Práticas grupais como dispositivo na promoção da saúde. Physis:


Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4. p. 1119-1142. dez. 2010. Disponível
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PEREIRA, Eliane Regina; SAWAIA, Bader Burihan. Práticas grupais: espaço de diálogo e
potência. São Carlos: Pedro & João, 2020. 131 p.

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar


relacionamentos pessoais e profissionais. Tradução: Mário Vilela. São Paulo: Ágora, 2006.

______________________. Vivendo a comunicação não violenta. Tradução: Beatriz Medina.


Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

TUCKETT, David. O que são Grupos de Trabalho e o que podem fazer? Revista Brasileira
de Psicanálise, Tradução: Tania Maria Zalcberg, v. 44, n. 3. p. 15-32. 2010.

ZIMERMAN, David E. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artes


Médicas Sul, 1993.

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