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ARTIGO DE OPINIÃO

O decreto-regulamentar sobre evicção de doentes dos estabelecimentos de


educação, por virtude das doenças infectocontagiosas: é imperioso a sua derrogação

«Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que poderemos solucioná-los»
Isaac Asimov
«O homem que vai mais longe é quase sempre aquele que tem coragem de arriscar».
Dale Carnegie

Resumo Summary

Passaram-se quase 20 anos sobre a publicação do Decreto-Lei regu- The publication of the regulatory Decree Law about the eviction of child
lamentar sobre evicção de crianças das creches, jardins-de-infância e daycare centers, gardens for children and schools due to infectious
escolas em virtude de doenças infeciosas. Será oportuno a revogação diseases was 20 years ago. The abolish of the current document will be
do atual documento, tendo em conta as profundas modificações epide- appropriate, taking into account the profound epidemiological changes,
miológicas, a melhoria dos conhecimentos científicos mas também as the improvement of the scientific knowledge and the social and econo-
modificações sociais e económicas verificadas nestas duas décadas. mic changes involved in these two decades. However it is crucial that,
Mas será de primordial importância que a legislação futura sobre a the future legislation of eviction by virtue of infectious diseases, is not
evicção por virtude das doenças infeciosas não se esgote no Decreto- ONLY BASED in Decree-Law.
-Lei. Será imperativo a elaboração de normas de orientação para toda It will be imperative to develop standards for all clinical situations that

SETEMBRO
a situação clínica que possa ser alvo de exclusão de crianças. Normas may be subject to exclusion of children from schools. In fact, it should
semelhantes às praticadas em vários países desenvolvidos. be applied similar standards to those practiced in many developed
Para que não haja arbítrios e/ou dogmatismos. countries and therefore, to avoid judgments and/or dogmatisms.

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(2):(1): 01
ACRÓNIMOS

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// 36
DL.95 – decreto-regulamentar nº 3/95, do Diário da Repúbli- EβHGA – estreptococo β-hemolítico do grupo A

2010
ca, de 27 de janeiro de 1995

2014
Introdução

SAÚDE INFANTIL
O vigente decreto-regulamentar sobre evicção de crianças e adoles- O processo dialético da legislação sobre evicção por virtude de doença
centes dos estabelecimentos de educação, por virtude de doença infectocontagiosas
infectocontagiosas, o decreto-regulamentar nº 3/95, do «Diário da Re- A exclusão de crianças de estabelecimentos de educação por virtude
pública», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995 (DL.95) tem quase de doença infectocontagiosas está regulamentada desde 1961, com
20 anos (1). As profundas modificações epidemiológicas resultante da derrogações em 1977 (16 anos depois) e em 1995 (intervalo de 18
melhoria das condições de vida e da vacinação universal, associado anos) (1). Volvidos 19 anos, são prementes novas alterações.
aos melhores conhecimentos científicos, justificam a imperiosa derro-
gação de medidas hoje obsoletas (2).
Também as extraordinárias modificações sociais e económicas dos As doenças do decreto-Lei e res-
séculos XX e XXI, com profundas repercussões na família, no trabalho petivas críticas à luz do século XXI
feminino e na necessidade da preservação dos empregos de ambos
São 15 as doenças catalogadas no DL.95 (1,2):
os pais, justificam a obrigação de se ter em conta as condições fami-
1) Difteria – doença mais conhecida por «gar-
liares e profissionais dos pais aquando da recomendação da exclusão
rotilho»; há décadas que não são declarados
duma criança doente dum estabelecimento de educação (2,3).
casos em Portugal.
Mais do que nunca, impõe-se bom senso e rigor científico em toda a
2) Escarlatina e outras infeções da garganta (farin-
situação que exija consequente absentismo ao trabalho dos pais: a
gites / amigdalites) por estreptococo β-hemolítico
exclusão dos filhos das creches, dos infantários e escolas com justa
do grupo A (EβHGA). Consta do DL.95:
causa; a não exclusão por doenças benignas e autolimitadas, sem real
a) «O afastamento deve manter-se até à cura clínica, devendo, contudo,
benefício nem para os doentes nem para os conviventes (2-11).
terminar após a apresentação de análise do exsudado nasofaríngeo
Em 2011 a Sociedade Portuguesa de Pediatria nomeou uma comissão
negativa para o EβHGA A, exceto no caso de início de antibioterapia
de «peritos» para propor a derrogação do DL.95. Os resultados dessa
correta. Esta opção nunca acontece pois todas as infeções da orofa-
comissão científica tardam em aparecer. Se aparecerem…
ringe suspeitas ou confirmadas pelo EβHGA são medicadas».
b) Antibioterapia correta: «o afastamento termina vinte e quatro
horas após o início do tratamento».
Correspondência: Manuel Salgado - Manuel Salgado mbsalgado27@gmail.com

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ARTIGO DE OPINIÃO

A este propósito justifica-se alguns comentários:


- Apenas ≈ 30% das amigdalites são bacterianas pelo EβHGA (≈ 70% são virusais); e, antes dos 2 anos de idade, ≈ 90% são virusais.
Se a escarlatina justifica a exclusão sem críticas, as amigdalites / faringites só por si, sem realização de teste rápido e/ou de cultura para o EβHGA,
não são motivo para a exclusão sistemática (6-8}, pois a probabilidade de erro rondará os 70%.
Na maioria dos casos de amigdalite / faringite, a exclusão deverá assentar na prova da infeção por EβHGA, só possível pela realização de teste rápido
(6-8)
; a morosidade do resultado da cultura das secreções da orofaringe retira-lhe valor prático no dia-a-dia.

3) Febre tifóide e paratifóide – são situações muito raras atualmente; 9) Poliomielite – Está praticamente erradicada do Mundo.
as recomendações confundem-se com as das gastroenterites. 10) Rubéola – Consta do DL.95: «O afastamento deve manter-se pelo
4) Hepatite A – atualmente é muito rara; mantém-se as recomenda- período mínimo de 7 dias após o início do exantema» (2-3).
ções prévias (2-11).
5) Hepatite B – Na maioria dos países foi retirada do catálogo das A rubéola é das doenças mais benignas que existe para uma criança,
doenças de exclusão (7-11). exceto para o feto nos 3 primeiros meses de gravidez. Impõe-se,
6) Impétigo – «O afastamento deve manter-se até à cura clínica ou até portanto, que as adultas cuidadoras estejam imunes, seja porque foram
à apresentação de declaração médica comprovativa da não existên- vacinadas (11) ou tenham contraído a doença em idade pediátrica.
cia de risco de contágio». A vacinação universal justifica que os casos atribuídos a «rubéola»
sejam hoje ≈ 100% de erros de diagnósticos (14).
Em relação ao impétigo, na generalidade dos países foi adotado: «Se Por estas razões, na França (11) e na Suíça (7,8, 10), a rubéola foi retirada da
SETEMBRO

antibioterapia correta, o afastamento termina vinte e quatro horas após lista das doenças de evicção obrigatória.
o início do tratamento» (7-10). Em França não é exigida a evicção se as Como alternativa à exclusão das crianças com rubéola, essas normas
lesões estiverem cobertas (3-11). Em contrapartida, nas formas extensas doutros países propõem que seja conferido o estado vacinal do doente e das
ou se as lesões que não podem ser protegidas, é exigida a exclusão por outras crianças e adultos conviventes; é sugerida uma 2ª dose da vacina
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3 dias, com início após o começo da antibioterapia (11). para os vacinados apenas com uma dose; aos não vacinados, é sugerido
o início imediato da vacinação (logo a partir dos 6 meses de idade) (7,8,10,11).
7) Infeções meningocócicas - meningite e sépsis – «O afastamento
deve manter-se até à cura clínica». 11) Sarampo – É uma raridade atualmente; a maioria dos casos diag-
8) Parotidite epidémica – Consta no DL.95: «O afastamento deve nosticados são também erros de diagnóstico (14); devem manter-se
manter-se por um período mínimo de nove dias após o aparecimen- as recomendações prévias (2,3).
to da tumefação glandular». 12) Tinha – Para poder voltar à «escola» é obrigatória declaração mé-
SAÚDE INFANTIL

dica de que iniciou tratamento;


Parotidite: Em alguns países o afastamento foi reduzido de 9 para 5 dias (4,6,9). 13) Tosse convulsa – «O afastamento deve manter-se durante cinco
Em Portugal, a vacinação universal com a VASPR (vacina combinada contra dias após o início da antibioterapia correta».
o sarampo, a parotidite epidémica e a rubéola), associada aos 95% de
eficácia da vacina (12), justifica que, atualmente a larguíssima maioria dos A tosse convulsa tem vido a ser cada vez mais frequente e prevê-se
diagnósticos de «papeira» (parotidite epidémica) sejam erros de diagnóstico. que aumente nos próximos anos (não obstante a vacina). A progressiva
Maioritariamente tratam-se de adenites bacterianas ou de parotidites perda da imunidade conferida pela vacina, sendo de quase 0% aos
recorrentes, entidade relativamente rara, mas comum para os pediatras (13). 12 anos, poderá vir a transformar a tosse convulsa um caso sério de
Em mais de 30 anos de trabalho no Hospital Pediátrico de Coimbra, saúde pública (15).
apenas me lembro de raros casos de meningite pelo vírus da parotidite,
todas há mais de 20 anos.
14) Tuberculose pulmonar – «O afastamento deve manter-se até à
Na minha experiência pessoal (informatizada), em 20 anos diagnostiquei apresentação de declaração médica comprovativa de ausência de
(clinicamente) 43 parotidites: 20 parotidites epidémicas, 17 até 1997; 1 em risco de contágio passada com base no exame bacteriológico».
2005; 1 em 2006 e 1 em 2010) e 22 parotidites recorrentes (em 9 crianças) Esta norma, em regra, é injusta para as crianças até à idade escolar (inclusive),
e 1 parotidite bacteriana. Desde Janeiro de 1998, das 21 parotidites pois a tuberculose quase nunca é contagiosa até à adolescência (9).
diagnosticadas, 17 eram parotidites recorrentes (7 crianças), 3 parotidites Em relação à tuberculose com localização não pulmonar, nalguns países as
epidémicas e 1 parotidite bacteriana. normas são explícitas: a criança não é obrigada à exclusão se o seu estado
As complicações da parotidite são raras (12). A mais comum é a meningite e clínico lhe permitir ir à escola ou ao infantário (7,8). Mas deverá ressalvar-se
a meningoencefalite. Estas têm bom prognóstico, evoluindo em regra para destas normas, a tuberculose cutânea ou com drenagem cutânea (9).
a cura sem sequelas. A epidídimo-orquite só ocorre nos adolescentes, pelo Assim, peritos recomendam que as crianças (desde que medicadas e
que não deve preocupar em idades mais baixas (12). Outras complicações capazes de realizar as tarefas comuns) frequentem os estabelecimentos
possíveis são excecionalmente raras (12). de ensino e/ou educação (9). As crianças mais velhas, os adolescentes
Estas são algumas das razões para que a parotidite epidémica já não faça e os adultos (potencias bacilíferos) obviamente deverão ser alvo
parte do catálogo das DIC na Suíça (7-8-10) e em França (11). Como alternativa duma maior exigência para voltar a frequentar os estabelecimentos de
é proposto que seja conferido o estado vacinal do doente e das outras educação, incluindo sempre a procura da potencial fonte de infeção no
crianças e adultos conviventes; é sugerida uma 2ª dose da vacina para os próprio staff da instituição (9).
vacinados apenas com uma dose; aos não vacinados, é sugerido o início 15) Varicela – «O afastamento deve manter-se durante um período de
imediato da vacinação (logo a partir dos 6 meses de idade) (7,8,10).
cinco dias após o início de erupção».

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ARTIGO DE OPINIÃO

Esta norma é assim assumida em quase todos os países do mundo. da Educação. Também surpreendente é o não contributo do Ministério da
Contudo, no Canadá desde 1999 (16,17), na Suíça (7,8,10) e em França (11), Saúde na elaboração das normas das creches e jardins-de-infância que
o afastamento não é atualmente obrigatório. A criança poderá voltar à deveriam reger as indicações para a exclusão das crianças.
creche, ao infantário ou à escola uma vez confortável para participar Como se tratasse de um país diferente. O espírito de «quinta», «quinti-
nas atividades do grupo; ou nunca sair da instituição se se mantiver nhas» começa logo nas tutelas (Ministérios).
sempre confortável (7,8,10,11,16,17). Nada que o bom senso, a vontade e o diálogo não resolvessem.
O facto da exclusão da criança doente não impedir a propagação da
varicela, justifica que, 15 anos após a instituição desta medida em 1999
(16)
, as normas Canadianas de 2014 reiter a não exclusão das crianças
com varicela (17).

Para refletir: a varicela é uma doença muito grave, potencialmente mortal na grávida, no feto e no recém-nascido. Assim, toda a mulher em idade fértil
deve estar imune antes de engravidar. Paradoxalmente, com as recomendações vigentes em Portugal, quando ocorre uma oportunidade de contrair a
doença em criança (período da vida em que a varicela em regra é muito benigna), são minimizados as possibilidades de contágio.
Isto é, toda a mulher tem de adquirir imunidade para a varicela, mas a norma vigente tem como objetivo exatamente o oposto. Que incongruência!

Papel dos profissionais de educação nas


indicações para a exclusão

SETEMBRO
A aplicação do DL.95 implicará sempre um diagnóstico. Isto é, está em participar nas atividades do grupo (Quadro I) (2, 3) e na valorização
vocacionado para o médico (1). Isso será restritivo no dia-a-dia para os dos sinais clínicos de doença potencialmente grave. Implicitamente,
profissionais de educação. estas recomendações ultrapassarão, em muito, as orientações do

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As recomendações para a exclusão a ser propostas por profissionais DL.95 (2,3,6-11).
de educação, deveriam basear-se na capacidade (ou não) da criança

Quadro 1: Critérios de exclusão para aplicação por profissionais de educação, baseados nas capacidades da criança em realizar ou não as
atividades do dia-a-dia:
Caberá aos profissionais de educação especificar o grau de severidade das manifestações da doença em 3 graus (2):

SAÚDE INFANTIL
• Grau 1: As crianças que manifestam pouca vivacidade e atividade, com sinais e/ou sintomas que impedem o seu envolvimento nas atividades do grupo.
Nestas situações justificar-se-á sempre a exclusão.
• Grau 2: As crianças reduzem a sua atividade habitual normal, pela presença de sintomas, por exemplo por terem febre e ou dor.
Nestas justificar-se-á dar o benefício da dúvida. Uma vez aplicado um antipirético ou analgésico, se elas se mantém neste Grau 2, deverá considerar-
se contactar com os pais e depois decidirem. Se passarem para o Grau 3, a decisão será em função disso.
• Grau 3: As crianças que, apesar de doentes, manifestam interesse pelas atividades e têm envolvimento total nas atividades do grupo e não
apresentam sintomas sistémicos de doença compatíveis com doença potencialmente grave, poderão manter-se na creche ou jardim-de-infância,
exceto se têm alguma das doenças referidas no DL.95.

A exclusão das crianças dos estabelecimentos de educação, por virtude de doenças infeciosas, está muito longe de se esgotar em qualquer decreto-
lei, quando o alvo são os profissionais de educação.
À semelhança do que existe noutros países (6-11,17), será imperativo a elaboração de normas dirigidas especificamente aos profissionais de educação.

Arbitrariedade na aplicação da exclusão e seus nos A necessidade da concertação


prazos e a necessidade de punição dos infratores de quatro Ministérios
Ninguém pode invocar não conhecer a lei, isto é o DL.95. Todos são obri- Não deixam de ser surpreendentes as incongruências e divórcio entre os
gados a conhecê-la(o). E, legalmente, todos poderemos ser punidos pelo Ministérios que deveriam estar envolvidos: o da Educação, com tutela ex-
seu não cumprimento, seja por defeito ou por exagero. clusiva dos jardins-de-infância, o da Solidariedade, Emprego e Segurança
Social, que tutela as creches, o Ministério da Saúde, o único com compe-
Mas a generalidade dos profissionais de educação e mesmo dos profissio-
tência criar normas cientificamente corretas sobre questões de saúde e o
nais de saúde não conhecem o DL.95. Daí os atropelos que se verificam, Ministério da Justiça para legislar e fazer cumprir essas normas.
todos os dias, ao DL.95, baseados no arbítrio e na conveniência, em regra Normas obsoletas exigidas pelo Ministério da Solidariedade, Emprego e
com exageros, mas também com omissões. Segurança Social, felizmente não fazem parte das normas do Ministério

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ARTIGO DE OPINIÃO

É preciso não ter receio de mudar


Mas não bastará mudar por mudar. Não bastará copiar normas de outros
países. Dever-se-á sim aproveitar o que de melhor tem cada norma des-
ses países.
«A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque é a qualidade
que garante as demais» disse Winston Churchill. «Nenhum indeciso é co-
nhecido por grandiosos feitos» (desconhecido).
Será preciso ter coragem para criar normas muito diferentes das vigentes,
assentes nos conhecimentos científicos atuais e sem medo dos «velhos
do restelo».

Hoje, mais do que nunca, são precisas Normas capazes de acordar


os adormecidos, de abanar os acomodados e de fazer tremer os
formatados.
Figura 1 • Os símbolos da justiça: sem espada nunca haverá justiça.

Necessidade do envolvimento
Manuel Salgado
SETEMBRO

do Ministério da Justiça

Não acredito em leis, nem vejo qualquer interesse na elaboração de normas


sem a punição dos prevaricadores. Não serão cumpridas e, quando muito,
serão contornadas. Sem espada, nunca haverá justiça. (Figura 1).
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SAÚDE INFANTIL

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ARTIGOS ORIGINAIS

Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de


incubação, contágio, excreção e exclusão
Infectious diseases in schoolchildren and preschoolers and their incubation, contagious and
exclusion periods Alexandra Paúl, Ana Faro, Carolina Cordinhã,
Manuel Salgado

Resumo Abstract

Os critérios para exclusão temporária das crianças doentes das ins- The criteria for temporary exclusion of sick children from educational
tituições de ensino e lazer baseiam-se maioritariamente no risco de and leisure institutions are largely based on the risk of transmission of
transmissão da doença em causa, no seu período de incubação e de the disease in question, in its incubation and contagious periods.
contágio. Incubation, contagious and exclusion periods of infectious diseases
Definem-se períodos de incubação, de contágio e de exclusão das that may exist in schools are defined, as well as the most common
doenças infeciosas que podem existir a nível escolar, bem como os
symptoms.
sintomas mais comuns.
The preparation of a summary table, sorted in alphabetical order, al-
A elaboração de uma tabela resumo, ordenada por ordem alfabética,
lows a quick overview of the different periods mentioned above.
permite uma consulta rápida dos diversos períodos atrás mencionadas.

ABRIL
Palavras-chave: Doença contagiosa, transmissão, período, incuba- Keywords: Infectious
nfectious disease, transmission, period, incubation, conta-
ção, contágio, excreção, exclusão. gious, excretion, exclusion.

2011 // 33 (1):17-22
ACRÓNIMO IEL – Instituições de Ensino e Lazer

Introdução

SAÚDE INFANTIL
Os critérios para exclusão temporária das crianças doentes das ins- A eficácia da exclusão de uma criança com determinada patologia in-
tituições de ensino e lazer (IEL) devem basear-se maioritariamente feciosa pode ser limitada pelo facto de que a excreção do agente infe-
no risco de transmissão da doença em causa, no seu período de incu- cioso preceder o início dos sintomas e poder persistir por um período
bação e de contágio (Quadro I). de tempo variável após a resolução dos mesmos (1).

Quadro I • Definições dos diversos períodos relacionadas com as doen-


No entanto, a transmissão dos agentes infeciosos depende de vários
ças infetocontagiosas
fatores (Quadro II). Por exemplo, na varicela o contágio esporádico e de
• O risco de transmissão define-se como a probabilidade da infeção ser
curta duração (com baixo inóculo) tem implicações diferentes do contá-
transmitida de um hospedeiro para outro suscetível (1).
• O período de incubação de uma doença contagiosa define-se como o gio prolongado e contínuo entre dois irmãos (com inóculo muito maior).
intervalo de tempo entre a exposição ao agente infecioso e o início dos
Quadro II • Variáveis que condicionam a transmissão das doenças infeto-
sintomas (1). Deve ser usado para se estimar o intervalo de tempo em
contagiosas nas IEL.
que possam ocorrer novos casos e, portanto, é o período mais eficaz
• Características dos agentes infeciosos, incluindo as respetivas resis-
para a introdução de medidas de controlo (1).
tências no ambiente (fomites)
• O período de contágio define-se como o intervalo de tempo em que
o doente pode transmitir a infeção a outra pessoa (desde o início dos • Tamanho do inóculo
sintomas) e pode ser usado para definir o período de exclusão de uma • Suscetibilidade dos hospedeiros
criança doente (1). • Características das instituições com agrupamentos humanos:
• O período de excreção do agente infecioso é o período durante o qual – Idade e número das crianças
o doente irá excretá-lo através de produtos biológicos (saliva, fezes ou – Número de funcionários por criança
urina), com risco de contágio para os contactos diretos (1). – Distribuição e contiguidade dos espaços
• O período de exclusão (evicção) diz respeito ao intervalo de tempo – Formação da equipa que trabalha na instituição
em que a criança doente não deverá frequentar a creche, jardim de – Regras de higiene
infância ou a escola (1). – Condutas de exclusão de crianças doentes

Hospital Pediátrico de Coimbra, Centro Hospitalar de Coimbra


Correspondência: Alexandra Paúl - xana.paul@gmail.com

17
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão

Na Tabela I são definidos, de forma sucinta e simples, os principais Por exemplo na diarreia por rotavírus, cada grama de fezes contém um
sintomas (o que é apenas sentido pelo doente, sendo subjetivo) e milhão de milhões de partículas (2) que são eliminadas, evitando assim
sinais (o que é constatado pelo observador) associados às doenças a perpetuação da infeção, o que é benéfico.
infetocontagiosas.
Estes não são doenças, mas sim manifestações clínicas de múltiplas
doenças (infeciosas ou não) e de gravidade muito variável. A sua pre-
sença não é sinónima de gravidade.

TABELA I • Principais sintomas / sinais e respetiva definição, das doenças infetocontagiosas mais frequentes

SINTOMA / SINAL DEFINIÇÃO

DIARREIA Aumento do número de dejeções diárias e/ou diminuição da consistência das mesmas (2).

Erupção cutânea com alterações na coloração e textura da pele resultante da inflamação e dilatação dos vasos cutâneos.
EXANTEMA Podem existir sob a forma de máculas, pápulas, pústulas, placas ou vesículas. Apesar de muitas vezes serem inespecíficos, as
suas características detalhadas, distribuição, evolução e resolução podem facilitar o diagnóstico (3).

Aumento da temperatura corporal, regulado centralmente em resposta a uma agressão, acima da variação diária normal de
ABRIL

cada indivíduo (4).


FEBRE Faz parte duma reação generalizada concertada, denominada reação de fase aguda, que inclui a ativação dos mecanismos de
defesa, a diminuição do apetite e do consumo energético muscular, entre outras.
Será importante referir que pode haver febre sem infeção e infeção sem febre.
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Mecanismo de defesa que permite expelir partículas da laringe e da traqueia; é um sintoma/sinal de doenças infeciosas ou
TOSSE não-infeciosas das vias respiratórias, ou de outros órgãos ou sistemas, (estes por ativação dos diferentes tipos de recetores
da tosse) (5).

Expulsão ativa do conteúdo gástrico através do esófago e da boca. É muitas vezes o primeiro sintoma de uma doença gastroin-
VÓMITOS testinal, podendo no entanto ser a primeira manifestação de múltiplas outras patologias, nomeadamente do sistema nervoso
SAÚDE INFANTIL

central.

Na Tabela II são descriminadas algumas das infeções mais comuns


Os sintomas ou sinais não são doenças. Por si só não constituem
que podem surgir nas IEL e respetivos períodos de incubação, con-
indicação para a exclusão (evicção) das creches, dos jardins de infância
tágio e tempo de exclusão recomendado. Para uma consulta rápida,
ou das escolas.
optou-se por fazer a ordenação das doenças por ordem alfabética.

18
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão

TABELA II • Agente, sintomas principais, períodos de incubação, contágio e de exclusão recomendados para as doenças infectocontagiosas mais
frequentes nas IEL

PERÍODO DE PERÍODO DE
TIPO DE PRINCIPAIS SINTOMAS / SINAIS PERÍODO DE
AGENTE(S) INCUBAÇÃO EXCLUSÃO
InfeçÃO CONTÁGIO
RECOMENDADO

Febre, odinofagia, cefaleia, abdominalgia (6) Início: Desconhecido


AMIGDALITE Exsudado amigdalino, petéquias no palato, «língua de
12 horas - 5 dias Fim: Não tratados 2 - 3 Até completar 24
ESTREPTO- Streptococcus framboesa» (6) (1, 8-10) semanas (8,10); tratados horas de antibiótico
CÓCICA E pyogenes Na escarlatina: exantema tipo lixa , inicialmente no tron-
(7)
24 horas após início anti- (6-9,11)
ESCARLATINA co, com linhas de Pastia, que frequentemente descama (6)
biótico (8,10)

Mucosa oral: placas brancas em base eritematosa (12)


Candidíase «da fralda»: Placas eritematosas na região Início: Desconhecido
CANDIDÍASE Mais frequente: perineal com pápulas ou pústulas (12) 1 - 5 dias (8,10) Fim: Enquanto as lesões Nenhum (8-10)
(muco-cutânea) Candida albicans Candíase vulvovaginal (raparigas adolescentes):
persistirem (8,10)
corrimento branco, espesso, com mucosa eritematosa (12)

CONJUNTIVITE Hiperémia conjuntival, epífora, exsudado ocular, edema Início: Desconhecido


(bacteriana ou Múltiplos agentes palpebral (7) 24 - 72 horas (8) Fim: Enquanto descarga Nenhum (1)

ABRIL
vírica) ocular 8,10

Vírus
respiratórios Início: Curto período an-

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(Influenza, Pa- Tosse «de cão», estridor, disfonia, febre (13,14) 2 - 4 dias (8) tes do início da clínica (8)
CROUP Nenhum (8)
rainfluenza, VSR, Fim: Até terminarem os
Adenovirus, sintomas (8)
outros)
Coxsackievirus
A16 Estomatite vesicular e lesões cutâneas extremidades (mas
DOENÇA Início: Desconhecido
(ou Coxsackievi- também punho, tornozelos e nádegas) (15); também podem 3 - 6 dias (1,7-10,15) Nenhum (1,10,15)

SAÚDE INFANTIL
MÃO-PÉ-BOCA Fim: Inferior a 7 dias (1)
rus do grupo A e B ocorrer febre, odinofagia e recusa alimentar (15)
e Enterovirus 71)

1 - 6 semanas
Lesões cutâneas papulares, vesiculares e «galerias» (10,16); (primo-infeção)
prurido intenso, sobretudo nocturno(10,16); nas crianças as (1,8-10) Início: Desconhecido
ESCABIOSE Sarcoptes Até terminar
lesões surgem sobretudo nos espaços interdigitais (mãos 1 - 4 dias Fim: Até terminar trata-
(sarna) scabiei tratamento (1,9,11)
e pés), região cervical e couro cabeludo (10,16) (infeção prévia) mento (1,8,9)
(8-10)

(8)

Febre e exantema maculopapular que surge quando apiré- Início: Alguns dias antes
EXANTEMA
Herpesvírus ticos (7); podem estar presentes sintomas respiratórios ou 5 - 15 dias (8-10,17)
SÚBITO (Roséo- Nenhum (1,8,9,17)
humano 6 ou 7 gastrointestinais (7) Fim: Alguns dias após
la ou 6ª doença) (8)
exantema

Até 24 horas após


Campylobacter 1 - 10 dias (1,8-10,18) Início: Desconhecido (8) o último episódio de
jejuni Fim: Dias a semanas
diarreia (1,8,9,11)

GASTROENTE- Vómitos, diarreia (com ou sem sangue), febre e dor Início: 1 - 2 dias antes (8,9)
Rotavirus 1 - 4 dias (1,8-10,18) Nenhum (10)
RITE AGUDA abdominal (7) Fim: 1 - 3 semanas após (8,9)

Início: Desconhecido Até 24 horas após


Salmonella 6 - 72 horas (8,10) Fim: Até várias semanas o último episódio de
enteritidis
após início dos sintomas (8,9) diarreia (1,8)

Vírus
Início: Dia anterior (5)
GRIPE A respiratórios Tosse, rinorreia anterior, febre, mialgias, cefaleias (7) 1 - 4 dias (8,10)
(8)
Fim: 7 - 10 dias após Nenhum
INFLUENZA (Influenza A,
sintomas (8,10,19)
B, C)

19
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão

PERÍODO DE
TIPO DE PERÍODO DE PERÍODO DE
AGENTE(S) PRINCIPAIS SINTOMAS / SINAIS EXCLUSÃO
InfeçÃO INCUBAÇÃO CONTÁGIO
RECOMENDADO

Se < 5 anos: 5 dias (1)


Início: 2 semanas antes do Se ≥ 5 anos:
Febre, mal-estar, vómitos, dor abdominal e icterícia (1,9,10,20) 15 - 50 dias início dos sintomas (9) Nenhum (1)
HEPATITE A Vírus Hepatite A
Pode não haver sintomas (10) (1,8-10,20)
Fim: 1 semana após início Se icterícia: 1
doença (1,8,9) semana após o seu
início (9-11)
Início: Pode ser prévio ao
aparecimento lesões (21)
HERPES Vesículas dolorosas, que evoluem para lesões ulceradas com 1 - 12 dias Fim: Na primoinfeção 2 - 7
Herpes simplex 1 Nenhum (8,9,22)
LABIAL posterior cicatrização (21,22) (1,8-10, 22)
semanas; nas infeções
recorrentes até 5 dias após
resolução dos sintomas (9,10,22)

Streptococcus
Início: Desconhecido Até completar 24
pyogenes ou
IMPÉTIGO Lesões de base eritematosa com exsudado melicérico (23) 1 - 10 dias (8,9) Fim: Até completar 24 horas de antibiótico
Staphylococcus
horas de antibiótico (8,9) (8,9)
aureus
ABRIL

MEGALOERI-
Início: Desconhecido
TEMA (Eritema Eritema facial bilateral («doença da face esbofeteada») (25);
Parvovírus B19 21 dias (8,9) Fim: Até inicio do exan- Nenhum (1,8,11)
Infecioso ou 5ª Podem surgir febre e mialgias (24)
tema (8,9)
doença)
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MENINGITE Início: Desconhecido Até 24 horas após


Neisseria Febre, prostração, cefaleias, náuseas, vómitos, rigidez da
MENINGOCÓ- 3 - 4 dias (8,9) Fim: Até 24 horas após ini- inicio do antibiótico
meningitidis nuca, exantema petequial, dores nos membros (10)
CICA cio do antibiótico (8-10) (8-10)

Nenhum, mas evitar


Lesões papulares com centro branco, habitualmente com Início: Desconhecido banho conjunto
MOLUSCO Poxvírus (Mollusci- 2 semanas - 3
1-5 mm de diâmetro, que surgem em qualquer localização, Fim: Até lesões desapare- (piscina) e partilhar
SAÚDE INFANTIL

CONTAGIOSO poxvirus) meses (1,8,9,25)


mas sobretudo na face, pescoço, axilas e coxas (25) cerem (1,8,9,25) toalhas até resolu-
ção da infeção (1,8,9,25)
Início: Desconhecido
MONONU-
Vírus Fim: Até 1 ano após
CLEOSE Febre, odinofagia, adenomegalias, esplenomegalia (10) 30 - 50 dias (1,8,9) Nenhum (1,8,9)
Epstein-Barr infeção (saliva) e depois
InfeciOSA
intermitentemente (8)
Vírus respirató-
rios (rinovirus, Início: 24 horas antes da
NASOFA- 12 horas - 5 dias
influenza, Rinorreia, crises esternutatórias, epífora, com ou sem clínica (8,10)
RINGITE (habitualmente Nenhum (8)
parainfluenza, febre (10) Fim: 2 - 5 dias após início
(constipação) 48 horas) (8,10)
adenovírus, sintomas (8,10)
outros)
Não há contágio direto
2 - 4 semanas
Ascaris lumbri- (horizontal); apenas por
Habitualmente assintomática, detectado aquando da saída após ovos
coides contacto com solo conta- Nenhum (1,8-10)
de parasitas pela boca, nariz ou ânus (10) infetarem o
(Ascaridíase) minado ou alimentos crús
intestino (1,8)
PARASITOSE ou mal cozinhados (1,8-10)
INTESTINAL Única parasitose com
2 - 4 semanas
Enterobius transmissão horizontal
após ovos
vermicularis Prurido perianal (10) Início: Desconhecido Nenhum (1,8,9)
infetarem o
(Oxiuríase) Fim: Até terminar o trata-
intestino (1,8)
mento (1,8,9)
Família Para-
myxoviridae Início: 6 dias prévios ao
Até 9 dias após
Género Rubu- Febre, edema das glândulas salivares (parótida e por ve- início da clínica (1,8,9)
PAROTIDITE 12 - 25 dias (8,9) inicio tumefacção
lavirus zes sublingual e submaxilar) (10) Fim: Até 9 dias após tume-
das parótidas (8,9)
Espécie Vírus facção parotídea (1,8,9)

Parotidite

Nas crianças o couro cabeludo é a localização mais fre- Início: Desconhecido


Pediculus huma- Até ao primeiro
PEDICULOSE quente, também pode atingir as sobrancelhas e pestanas 6 - 10 dias (1,8-10) Fim: Até terminar o trata-
nus (piolhos) (10) tratamento (8,9,11)
mento (1,8,9)

20
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão

PERÍODO DE
TIPO DE PERÍODO DE PERÍODO DE
AGENTE(S) PRINCIPAIS SINTOMAS / SINAIS EXCLUSÃO
InfeçÃO INCUBAÇÃO CONTÁGIO
RECOMENDADO

Família - Toga- Até 7 dias após o


viridae início do exantema
Início: Semana anterior ao (1,8,9,11)
Género – ; o grande ris-
RUBÉOLA Febre e exantema maculopapular (10) 14 - 23 dias (1,8,9) início do exantema (8,9)
Rubivirus (8,9) co é o contágio das
Fim: Até 1 semana após
Espécie – grávidas e não o de
Rubella virus outras crianças
Família - Para-
myxoviridae Início: Desde 2 semanas
Até 4 - 5 dias após
Gênero - Mor- Febre, tosse, conjuntivite, rinorreia; exantema surge após exposição (8,9)
SARAMPO 8 - 14 dias (8,9) início do exantema
billivirus entre o 3º e o 7º dia de doença (10) Fim: Até ao 4º dia de exan- (1,8,9,11)
Espécie - Vírus tema (8,9)

do sarampo
Tinea capitis (Tinha couro cabeludo): Lesões eritemato- Tinea capitis: 2 - 4
sas, circulares, descamativas, com cabelos partidos na semanas (1,12)
zona afetada (10,12) Início: Desconhecido
Tinea corporis: 4 -
TINHA Fungos Tinea corporis (Tinha pele glabra): Lesões circulares, Fim: Enquanto lesões Nenhum (8-10)
10 dias (12)
com halo elevado e eritematoso e centro mais claro (10,12) presentes (8,10)

ABRIL
Tinea pedis («Pé de atleta»): Lesões descamativas e fis- Tinea pedis: 2 - 38
suras interdigitais e descamação da planta dos pés (10,12) semanas (12)

Início: Desde o início tosse (3,4) Tratados: após 5


Fim: Nos tratados até dias de tratamento

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TOSSE Bordetella Tosse inicialmente irritativa e posteriormente acessu-
1 - 3 semanas (1,8,9) cumprir 5 dias de tratamento adequado (1,8-11)
CONVULSA pertussis al, com silvo (nem sempre está presente) (10)
adequado (1,8-11); nos não Não tratados: até 3
tratados até 3 semanas (1,8-11) semanas (1,8-11)
A infeção na idade pediátri-
Pode durar anos ca em regra não é contagio-
TUBERCULOSE Mycobacterium Febre, astenia, perda ponderal, suores noturnos e tosse 2 - 4 semanas nos
antes da doença se sa, visto que na maioria dos
PULMONAR tuberculosis (10)
bacilíferos (7,10)
tornar ativa (10) casos não são bacilíferos

SAÚDE INFANTIL
(8,10)

Início: 4 dias antes da clí-


Até todas as lesões
Vírus Varicela- Febre e exantema com lesões em diferentes esta- nica (1,8-11)
VARICELA 10 - 21 dias (1,8-10) em fase de crosta
-Zoster dios: maculo-papular, vesicular e crosta (7,10) Fim: Até todas as lesões (1,8-11)
em fase de crosta (1,8-10)
Início: Desconhecido (1,3,4)
Lesões cutâneas bem delimitadas, hiperqueratóticas,
Vírus Papiloma Fim: Desconhecido,
VERRUGAS de textura áspera, indolores, com dimensões muito va- 2 - 3 meses (1,8-10) Nenhum (1,8-10)
Humano provavelmente enquanto
riáveis, sendo a localização mais frequente as mãos (10)
durarem as lesões (1,8-10)

Comentários finais
Realçam-se alguns pontos importantes relativamente a: – Na maioria dos casos trata-se de infeções de etiologia virusal,
pelo que o período de contágio não é passível de ser modificado
• Período de incubação: é muito variável, e depende do tipo de infe-
ção e do agente infecioso responsável. através de terapêutica específica.
– Nos poucos casos de infeções bacterianas, a terapêutica anti-
• Período de contágio: biótica adequada reduz eficazmente o período de contágio e,
– O seu início é desconhecido num número considerável de pato- portanto, o risco de transmissão da doença.
logias infeciosas a nível escolar; raramente coincide com o início
dos sintomas. • Risco de transmissão: sujeito à interferência de «fatores contro-
– O fim deste período é muito variável, podendo prolongar-se láveis», dos quais são exemplos a implementação de medidas de
de dias a meses, consoante a patologia infeciosa e o agente higiene e de prevenção, bem como de terapêutica adequada quando
implicados; por vezes prolonga-se para além da resolução dos possível, e de factores «pouco controláveis», como é o caso da
sintomas. ausência de conhecimento preciso sobre os tempos de contágio das
– Dificuldades inerentes a estas limitações: impossibilidade de diversas patologias infeciosas, características do agente e factores
conhecer corretamente o período de contágio e, consequente- inerentes ao hospedeiro. Quanto melhor o conhecimento acerca des-
mente, o respetivo risco de transmissão e o período de exclusão tes factores, melhor será o controlo da transmissão da doença.
mais eficaz.

21
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão

• Período de exclusão: noções de contágios, duração e medidas preventivas da trans-


– Em muitos casos é inferior ao período de contágio; nem todas missão de agentes infeciosos.
as doenças infeciosas necessitam de ser alvo de evicção das IEL. – Justifica a adoção de regras bem definidas sobre exclusão das
– Os sinais e sintomas por si só não justificam a exclusão. crianças e adultos das IEL, elaboradas por peritos e universal-
– Mais importante do que exigir a exclusão das crianças das IEL, mente implementadas, com suporte legal.
será investir na formação dos profissionais de educação sobre
ABRIL
2011 // 33 (1): 17-22

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22
ARTIGOS ORIGINAIS

Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas
por virtude de doenças infecto-contagiosas
Judicial opinion about children eviction from daycare centers, schools and public swimming-pools,
due to infectious and contagious diseases
Nuno da Silva Salgado (1), Manuel Salgado (2)

Resumo Summary

A retirada temporária (evicção) das creches, jardins de infância, esco- The temporary withdrawal from daycare and school facilities or leisure
las e piscinas em virtude de doenças infetocontagiosas (DIC) é uma recreation centers due to infectious and contagious diseases (ICD) is a
problemática diária das famílias, nos estabelecimentos de educação e daily problem for families and educational facilities very little or nothing
nas piscinas, pese ser pouco discutida em Portugal. discussed about in Portugal.
Neste documento, constituído essencialmente por uma entrevista a um In this document, composed mainly of a written interview to a jurist
jurista, é analisado e discutido: about eviction due to ICD, it is analyzed and discussed:
–A legislação portuguesa sobre evicção e sua evolução dinâmica, – The evolution on Portuguese legislation and its dynamic character,
assente na discussão dialética baseada na progressão dos conheci- established on the dialectical discussion of the scientific knowledge
mentos científicos sobre as modificações das condições epidemioló- about the epidemical modification conditions and the improvements
SETEMBRO

gicas e das melhorias diagnóstico-terapêuticas das DIC; of the diagnostic-therapeutics of the ICD;
– Os direitos e deveres dos utilizadores dos estabelecimentos de ensi- – The internal rights and duties of the respective institutions on eviction,
no e das piscinas, assim como a ilegalidade dos Regulamentos Inter- just like the illegal Internal Institution Regulations on eviction when
nos das respetivas instituições sobre a evicção quando contrariam o they contradict the decree-law 3/95 January 27th, from the «Diário
2012 // 34 (2): 08-20

Decreto-Regulamentar nº 3/95 de 27 de janeiro, do «Diário da Repú- da República», I Série B, number 23, of 27th January, 1995 (DR.3/95-
blica», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995 (DR.3/95-27.01.95); 27.01.95);
– As competências legais para determinar a evicção dum indivíduo e – The legal competences to determine the eviction of a person and its
os seus mecanismos; mechanisms;
– Os direitos e deveres dos cidadãos quando obrigados à evicção des- – The citizens’ rights and duties when forced to an unnecessary and
necessária e despropositada; absurd eviction;
SAÚDE INFANTIL

– A omissão da lei sobre evicção nas piscinas coletivas, com a conse- -– The law omission in Portugal about eviction in collective swimming-po-
quente aplicação analógica do DR.3/95-27.01.95 nestas; ols, with consequent analogical application of the DR.3/95-27.01.95
– O caráter obsoleto de algumas Normas do atual e ainda vigente in them;
DR.3/95-27.01.95 e da necessidade da sua derrogação. – The unconditional attitude of the actual and still valid decree-law
Após a explanação destas considerações legais, são feitas as princi- DR.3/95-27.01.95, and the need of its derogation.
pais conclusões das medidas legais, que todos devemos conhecer, After these legal considerations, we made the main conclusions of le-
sobre a exclusão temporária por virtude das DIC. gal rules, which all of us must know, about temporary exclusion from
school facilities or leisure recreation centers due to ICD.

Palavras-chave: doenças infetocontagiosas, evicção, infantário, cre- Keywords: infectious and contagious diseases, eviction, exclusion,
che, escola, piscina, educador de infância, regulamentos internos, day-care centre / childcare provider, school, swimming-pool, internal
decreto-lei, decreto-regulamentar. institutional regulation, law-decree, regulative-decree.

ACRÓNIMOS
CIJE – Creches, jardins de infância e escolas DR.3/95-27.01.95 – 
Decreto-Regulamentar nº 3/95 do «Diário da
CPTA – Código de Processo nos Tribunais Administrativos República», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995
CRP – Constituição da República Portuguesa EE – Evicção escolar
DIAB – Doenças infeciosas agudas benignas MC – Molusco contagioso
DIC – Doenças infetocontagiosas PE – Profissionais de educação
DL – Decreto-Lei PS – Profisionais de saúde

Juiz conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo, jubilado, e ex-inspector-geral da Administração do Território. (2) Assistente Hospitalar Graduado,
(1)

Hospital Pediátrico de Coimbra


Correspondência: Questões jurídicas: Nuno da Silva Salgado - nunossalgado@gmail.com Questões médicas: Manuel Salgado - mbsalgado27@gmail.com
xxxxxxx

8
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

1. Definição de evicção por virtude de doenças infetocontagiosas por doenças agudas banais dos filhos, do que as reais preocupações
A palavra evicção poderá ter origem no latim «evictiõne – S.f. Jur. ato com o estado de saúde deles (12).
ou efeito de evencer, despojar, desapossar» (1,2), que também signifi- No caso de discordância de opiniões entre os pais e os profissionais
cava «recuperação de qualquer coisa por julgamento» (2), ou provir do de educação (PE) das creches, jardins de infância e escolas, as So-
anglicismo «evictar», «expulsar com o apoio da lei» (1). Por evicção de ciedades Médicas Pediátricas e de Saúde Pública dos diversos países
crianças das creches, jardins de infância e escolas (CJIE) por doen- defendem a posição dos PE.
ças infetocontagiosas (DIC) deverá entender-se «afastamento legal
dos alunos de uma CJIE por motivo DIC, sem dar lugar a faltas» (2). Es- Se os pais e os PE das CJIE discordarem nas razões para a exclusão, e

pecificamente, evicção significa exclusão ou afastamento temporário estas assentarem ou nas capacidades da criança para participar ou na
disponibilidade desses profissionais em assegurar as atividades educativas
de forma a evitar ou minimizar os contágios das DIC (1-7).
às restantes crianças, os PE são soberanos na sua decisão (4,5,10).

2. Razões do insucesso na prevenção dos contágios das DIC e as


Os pais não poderão exigir dos PE a responsabilidade em aceitar a
indicações para a evicção:
criança e de lhes assegurar os cuidados e a vigilância, durante o perí-
As doenças infeciosas em regra são contagiosas, mas apenas algu-
odo em que a criança cumpre os critérios dos PE para a exclusão (4,5,10).
mas são potencialmente graves. Só estas justificarão a evicção sis-
Se a razão para a exclusão se dever à possibilidade de se tratar de
temática. A larga maioria das infeções contraídas pelas crianças são
DIC que ponha em risco as outras crianças do grupo, e existirem pro-
doenças infeciosas agudas benignas (DIAB) e autolimitadas e cursam
fissionais de saúde com diferentes opiniões, caberá à Autoridade de

SETEMBRO
com sintomas que não justificam a sua exclusão das crianças de locais
Saúde concelhia a decisão final (4,5,10).
públicos, por razões de saúde, tanto para as mesmas como para os
Em Portugal não são asseguradas formações regulares em questões
conviventes (3-10).
de saúde aos PE (13). Contudo, diariamente, os PE têm de tomar de-
No decurso das DIAB, a retirada de crianças doentes das CJIE, nem a sua
cisões sobre problemas de potenciais contágios de DIC das crianças

(2):08-20
separação do grupo, previne a propagação dos respetivos agentes infecio-

01
entre si. Para além de que a higiene e a segurança das crianças e do
sos às outras crianças e adultos conviventes (Quadro I) (2-11).

2012// //3434(2):
PE constituem um dos critérios de qualidade na avaliação das creches
Quadro I • Razões do insucesso na prevenção dos contágios de agentes infe- e jardins de infância (14).

2012
ciosos de DIC pela exclusão de crianças com DIAB das CJIE (6-9,11): As divergências entre os PE, pais e os profissionais de saúde nas
Os contágios de muitos dos agentes infeciosos: indicações para a evicção das crianças com DIAB são uma realidade
• Precedem de 1 a 3 dias o início dos sinais e/ou sintomas (6-9,11) diária em países com regras bem definidas sobre evicção (15-19). Em

SAÚDE INFANTIL
• Prolongam-se por dias a semanas para além da resolução dos Portugal, e na falta de regras bem definidas, essas divergências esta-
sinais e/ou sintomas (6-8,11) rão, naturalmente, potenciadas.
• Provêm também dos conviventes assintomáticos que ficaram As divergências de opinião são patenteadas por anseios, razões e postu-
transitoriamente portadores-sãos (6-8,11). ras frequentemente antagónicas dos pais, entre o bem-estar dos próprios
filhos, o bem-estar das outras crianças e as suas obrigações profissio-
Os critérios de exclusão de crianças com DIAB ou com DIC poten-
nais. E ainda os potenciais conflitos laborais e/ou académicos resultantes
cialmente graves das CJIE e dos locais públicos de lazer (piscinas
do absentismo ao trabalho, resultantes das DIAB dos filhos (12,16).
e ginásios), que estão regulamentados pelas Sociedades Médicas
Pediátricas e de Saúde Pública de outros países (Quadro II) (3-8), são
Em países com regras bem definidas de evicção escolar (3-8)
, por cada
abordados separadamente neste número da Saúde Infantil (6). criança justificadamente excluída dos infantários por DIC, outras 6
crianças são indevidamente excluídas (15).
Quadro II • R
 esumo das indicações para exclusão de crianças com DIC Em Portugal, na ausência de regras bem definidas, elaboradas
das CJIE ou dos espaços de lazer (3-8). por peritos, a relação exclusão indevida / exclusão adequada será
substancialmente maior.
A – Doenças que, na interpretação do profissional de educação, impeçam
a participação confortável da criança nas atividades do grupo.
B – Doenças que exigem mais cuidados para a criança doente do que o Da evicção despropositada resultarão desnecessários absentismos ao
staff da instituição pode proporcionar, com risco de comprometer a trabalho pelos pais, eventuais conflitos laborais, que poderão culminar
saúde e segurança das restantes crianças.
C – Doenças com risco acrescido de contágio e de consequente doença
num eventual prejuízo no precário emprego, assim como consequên-
às restantes crianças (que constam em Decreto-Lei). cias socioeconómicas em cadeia: despesas inúteis em saúde, consu-
D– Presença de sinais e/ou sintomas cuja intensidade ou potencial mismos em serviços de saúde, absentismo à escola, etc. (6,12,17,19).
gravidade exijam cuidados médicos e/ou vigilância apertada.

4. Decretos
 regulamentares sobre evicção de doenças infetocon-
3. Ambiguidades entre profissionais de educação e de saúde na tagiosas
exclusão de crianças das CJIE por virtude de DIC Em situações bem definidas, que são poucas, é a própria lei vigente em
Num trabalho realizado nos EUA, publicado em 2008, a vontade de não qualquer país, que obriga à evicção por virtude de DIC. Em Portugal as
faltar ao trabalho e/ou às próprias atividades profissionais / escolares, doenças e os períodos de evicção escolar por virtude de DIC são ainda
pesou mais na decisão dos pais de recorrerem aos cuidados de saúde regulamentos pelo Decreto-Regulamentar nº 3/95, do «Diário da Repú-

9
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

blica», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995 (DR.3/95-27.01.95) (20). 6. Parecer jurídico sobre evicção por virtude de doenças infeto-
À semelhança do verificado noutros países, a discussão dialética da evolu- contagiosas:
ção dos conhecimentos científicos sobre modificações das condições epi-
6.1. Parecer às questões formuladas no Quadro III:
demiológicas, das melhorias diagnósticas e terapêuticas das DIC, tem mo-
Uma vez que as questões sobre a evicção escolar e das piscinas são
tivado sucessivas atualizações da lei vigente em Portugal sobre evicção
colocadas sob a forma abstrata e não com a apresentação de um caso
de crianças, jovens e adultos dos estabelecimentos de educação e lazer.
concreto, terão necessariamente as respostas que irão ser dadas, de
Data de 1961 a primeira lei ordinária publicada em Portugal sobre
o serem sob a forma abstrata.
evicção escolar (EE), revogada em 1977 e, depois, em 1994 e 1995.
Refira-se que o sistema jurídico atualmente vigente em Portugal dá
Mais de 17 anos volvidos sobre a última revisão da lei da EE, os re-
resposta cabal às questões fundamentais que são colocadas na con-
centes avanços científicos e tecnológicos, questionam, por sua vez, o
sulta, isto é, está disponível para dar resposta às situações de neces-
DR.3/95-27.01.95, justificando para breve a sua derrogação.
sidade de tutela jurisdicional efetiva, como passaremos a demonstrar.

5. Questões comuns sobre a evicção das crianças por virtude de


6.2. Direitos e deveres sobre evicção dos estabelecimentos de
doenças infetocontagiosas:
ensino e das piscinas:
Não obstante a falta de uma estratégia nacional sobre a evicção de
Começaremos, então, por indicar, em termos gerais e abstratos, como
crianças dos estabelecimentos públicos de educação (CJIE) e de la-
atrás se referiu, qual o regime jurídico atualmente vigente no nosso
zer (6), proliferam em Portugal as instituições públicas e privadas para
País sobre a evicção escolar por virtude de doenças infetocontagiosas.
SETEMBRO

crianças − creches, jardins de infância, escolas, piscinas, etc. − cujos


Regulamentos Internos incluem as recomendações sobre a EPVDIC.
A evicção escolar por virtude de doenças infetocontagiosas, ou seja,
Contudo, na sua maioria, estes Regulamentos Internos não têm em
o afastamento temporário da frequência dos estabelecimentos de en-
conta o regulamentado no DR.3/95-27.01.95, ignorando a atual lei vi-
sino dos indivíduos atingidos ou que apenas coabitem ou tenham con-
gente em Portugal sobre esta temática.
2012 // 34 (2): 08-20

tactos com os atingidos por doenças com tal natureza, é um instituto


A propósito das diversas questões do dia a dia em torno da evicção
que se integra nos direitos e deveres fundamentais reconhecidos
das creches, jardins de infância e escolas por DIC, foi pedido um pare-
pela Constituição da República Portuguesa (CRP) de 1966, mais
cer jurídico, a um juiz conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo,
jubilado, e ex-inspetor-geral da Administração do Território, sobre as concretamente na complexidade dos chamados direitos e deveres so-
questões descriminadas no Quadro III. ciais da saúde (art.º 64º), da proteção da infância (art.º 69º), da prote-
ção da juventude (art.º 70º), no direito à educação e à cultura (art.º 73º)
SAÚDE INFANTIL

Quadro III • Perguntas práticas sobre evicção de crianças dos estabeleci- e no direito ao ensino (art.º 74º).
mentos de ensino e das piscinas Por sua vez, a evicção das piscinas coletivas que é o afastamento,
1. Podem os Regulamentos Internos das instituições, que determinam a
também temporário, da frequência daquelas por motivos das mesmas
exclusão temporária das crianças com doenças infeciosas agudas, serem
doenças infetocontagiosas, em relação não só aos jovens como a
elaborados sem o contributo de um profissional de saúde, médico ou
qualquer cidadão em geral que as frequente, e integra-se nos direitos
enfermeiro, com idoneidade científica em doenças infetocontagiosas?
e deveres da mesma natureza da referida Lei Fundamental consig-
2. São legais os Regulamentos Internos aludidos em 1, que contrariem o
Decreto-Regulamentar nº 3/95 do «Diário da República», I Série-B, nº 23, de
nados no direito à cultura física e ao desporto (art.º 79º).
27 de janeiro de 1995? Como direitos fundamentais que são, a nossa Constituição não deixa
3. A obrigatoriedade ao cumprimento das normas das instituições, impostas por dúvidas.
estes Regulamentos Internos, não poderá ser atribuída culpa, que poderá ser Assim, «A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias
sancionada e ressarcida? nos casos expressamente previstos na Constituição, devendo as res-
4. Mesmo que a evicção seja proposta por uma profissional de saúde ou a trições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou
Autoridade Sanitária concelhia, poderão as suas determinações contrariar as interesses constitucionalmente protegidos» (art.º 18º, n.º 2).
disposições legais do DR.3/95-27.01.95? «As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir
5.  Poderão os pais das crianças obrigadas à retirada forçada da instituição em caráter geral e abstrato e não podem ter efeito retroativo nem diminuir
causa, responsabilizar as mesmas instituições por excesso de zelo, quando a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos preceitos constitu-
injustificadas, pedindo indemnização por danos materiais e /ou morais? cionais» (art.º 18º, n.º 3).
6.  A evicção nas piscinas é diferente da evicção geral escolar?
7. 
No caso concreto das conjuntivites, doenças não contempladas pelo As restrições ao exercício de direitos só podem ser estabeleci-
DR.3/95-27.01.95, poderão os profissionais de educação obrigar à evicção? das por lei, na estrita medida das exigências próprias das respetivas
8.  Também no caso concreto do molusco contagioso (MC), tratando-se de funções, no âmbito do «exercício dos direitos de expressão, reunião,
uma situação clínica absolutamente benigna, em que nem sequer se tem manifestação, associação e petição coletiva e à capacidade eleitoral
a certeza se o contágio é ou não pela água, poderão os responsáveis passiva por militares e agentes militarizados dos quadros permanentes
/ professores de natação das piscinas proibir que as crianças com MC em serviço efetivo, bem como por agentes dos serviços e das forças de
frequentam as mesmas, contrariando a opinião de um médico? segurança e, no caso destas, a não admissão do direito à greve, mesmo
9. Quem legitimidade para decidir da evicção dum criança dum estabelecimento quando reconhecido o direito de associação sindical» (art.º 270º).
de ensino ou dum local de lazer?

10
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

Fora destes casos específicos, não são constitucionalmente admissíveis Por todas estas razões e por a própria Lei n.º 2109, no seu art.º 5º,
outras limitações aos direitos fundamentais, nem através de lei nem, muito prever a necessidade de revisão cíclica dos períodos de afastamento
menos, através de regulamento (neste sentido, Coutinho de Abreu, in «Sobre escolar, permitindo, assim, a sua atualização, acabou aquele diploma
os Regulamentos Administrativos e o Princípio da Legalidade», págs. 112 e 113). legal por ser revogado pelo D.L. n.º 89/77, de 8 de março.
O catálogo das doenças infetocontagiosas previsto na Lei n.º 2109
Por força destes normativos da nossa Lei Fundamental, qualquer cida- como suscetíveis do afastamento da frequência ou atividade no esta-
dão, aqui particularmente os jovens em idade escolar ou pré-escolar, ou belecimento educativo por período variável por parte do corpo docen-
os utentes das piscinas coletivas, têm o direito de exigirem do Estado te, discente, pessoal de estabelecimento de ensino ou seus familiares
e este os deveres correlativos de promoção e proteção na saúde con- era assim constituído: Difteria, Encefalite Infeciosa Aguda, Escarlatina,
cretizados, neste âmbito, no afastamento da frequência das atividades Meningite Cérebro-espinal Epidémica, Poliomielite, Rubéola, Sarampo,
educativas pré-escolares e do sistema escolar, ou da frequência das Tinha, Tosse convulsa, Tracoma, Trasorelho, Varicela e Varíola.
piscinas, por motivo de doenças transmissíveis, dos discentes, pessoal Deste elenco, o Decreto-Lei nº 89/77 retirou a Encefalite Infeciosa Agu-
docente e não docente ou ainda de qualquer utente, nas piscinas. da e o Tracoma e acrescentou a Amigdalite Estreptocócica, as Febres
Tifoide e Paratifoide, a Hepatite infeciosa, o Impétigo, a Pediculose, a
6.3. Legislação sobre evicção escolar em Portugal e sua evolu- Sarna e a Tuberculose pulmonar e substituiu a designação de Trasore-
ção dinâmica: lho por Parotidite epidémica. Pela primeira vez, distinguiu os períodos
A lei ordinária que, pela primeira vez em Portugal, estabeleceu os de afastamento escolar dos sujeitos atrás indicados que tivessem sido

SETEMBRO
períodos de evicção escolar por motivo de doenças transmissíveis e diretamente atingidos por tais doenças daqueles que apenas tives-
catalogou estas foi a Lei n.º 2109, de 24 de maio de 1961. sem coabitado ou contactos com indivíduos atingidos, já não com
Desde então para cá (Quadro IV), verificaram-se, na história natural todas aquelas doenças, mas apenas para a Difteria, a Escarlatina e
de algumas dessas doenças, importantes modificações no âmbito da Amigdalite estreptocócica, a Meningite por Meningococo, a Poliomie-

(2):08-20
prevenção ou terapêutica que permitiram, por um lado, o encurtamen- lite e a Varíola. Assim, estabeleceu diferenciados períodos de afasta-

01
to dos períodos de afastamento escolar e, por outro, alterações nas mento e de duração consoante o sujeito fosse diretamente atingido ou

2012// //3434(2):
condições epidemiológicas que tornaram desnecessária a inclusão, tivesse apenas coabitado ou contactos com indivíduos atingidos com

2012
nas leis de evicção, de algumas doenças primeiramente consideradas estas doenças ultimamente referidas.
ou então a inclusão de outras então não previstas. Entretanto, atendendo ao processo dialético da evolução das con-
dições epidemiológicas e aos avanços verificados nos campos da

SAÚDE INFANTIL
Quadro IV • L
 ista das doenças de evicção escolar consignadas na lei,
prevenção e da terapêutica já atrás referidos, continuou a haver ne-
desde 1961 2 respetivas derrogações, em 1977 e 1995:
cessidade de retirar a referência a algumas doenças incluídas no
Decreto Regulamentar Decreto-Lei nº 89/77 e a inclusão de outras e, ao mesmo tempo, de
Lei 2109/1961 Decreto-Lei 89/77
3/95, 27 janeiro
reduzir os períodos de afastamento escolar obrigatório até aí fixados.
Difteria Difteria Difteria Deste modo, com a publicação do Decreto-Lei nº 229/94, de 13 de se-
Encefalite infeciosa tembro, procedeu-se à revisão e atualização do Decreto-Lei nº 89/77
aguda - -
no sentido de garantir uma proteção adequada da saúde dos alunos
Escarlatina e outras
Escarlatina e amigdalite infeções nasofaríngeas
e do pessoal, docente e não docente, das escolas face aos riscos de
Escarlatina contágio por doenças transmissíveis.
estreptocócica por Estreptococo
β-hemolítico do grupo A Em consequência da nova revisão do art.º 1º do Decreto-Lei nº 89/77, feita
Meningite cérebro- Meningite Infeções meningocócicas: pelo Decreto-Lei nº 229/94, e em execução de tais diplomas, foi publicado
espinhal epidémicas meningocócica meningite e sépsis o Decreto Regulamentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, que anunciou nova lista
Poliomielite Poliomielite Poliomielite atualizada das doenças transmissíveis que originam evicção escolar, bem
Rubéola Rubéola Rubéola
como também atualizou os respetivos períodos de afastamento.
Sarampo Sarampo Sarampo
Tinha Tinha Tinha
Assim, o seu art.º 1º determina que «São afastados temporariamente
Tosse convulsa Tosse convulsa Tosse convulsa da frequência escolar e demais atividades desenvolvidas nos estabe-
Tracoma - - lecimentos de educação e de ensino os discentes, pessoal docente e
Trasorelho Tosse convulsa Tosse convulsa não docente quando atingidos pelas seguintes doenças: Difteria, Es-
Varicela Varicela Varicela carlatina e outras Infeções Naso-faríngeas por Estreptococo hemolíti-
Varíola Varíola -
co do grupo A, Febres Tifóide e Paratifóide, Hepatites A e B, Impétigo,
Hepatites infeciosas Hepatite infeciosas Hepatites A e B
Infeções meningócicas - Meningite e Sépsis, Parotidite epidémica, Po-
Febres tifóide e Febres tifóide e
- liomielite, Rubéola, Sarampo, Tinha, Tosse convulsa, Tuberculose pul-
paratifóide paratifóide
- Impétigo Impétigo monar e Varicela. Foram retiradas ao elenco do Decreto-Lei nº 89/77
- Pediculose - a Sarna, a Pediculose e a Varíola e, nas Hepatites infeciosas, foram
- Sarna - autonomizadas as Hepatites A e B.
- Tuberculose pulmonar Tuberculose pulmonar São igualmente afastados os mesmos sujeitos na situação em que
coabitem ou tenham contactos com indivíduos atingidos pelas se-

11
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

Quadro IV • Lista
 das doenças de evicção escolar consignadas na lei art.º 3º, assim como também são diferenciados em relação aos primei-
A partir de 1961 e, respectivas modificações, em 1977 e 1995: ros e à natureza das doenças em causa os prazos do afastamento dos
indivíduos que coabitem ou tenham contactos com os atingidos pelas
Decreto Regulamentar
Lei 2109/1961 Decreto-Lei 89/77 doenças referidas no seu art.º 2º (ibidem, art.º 4º).
3/95-27.01.95

Difteria Difteria Difteria


6.4. C
 ompetências legais para determinar a evicção dum indivíduo:
Encefalite Infecciosa Em princípio, a competência para determinar a evicção dos discentes,
- -
aguda
do pessoal docente e não docente dos estabelecimentos de educação
Escarlatina + e outras e de ensino, nos casos de suspeita de estarem atingidos por alguma
Escarlatina + infecções nasofarín-
Escarlatina
Amigdalite estreptocócica geas por Estreptococo
das citadas doenças transmissíveis pertence à autoridade de saúde do
β-hemolítico do grupo A Agrupamento de Centros de Saúde (delegados de saúde e delegados
de saúde adjuntos de nível municipal (n.º 5 do art.º 3º, n.º 3, al. a), do
Meningite cérebro- Infecções meningocóci-
Meningite meningocócica art.º 5º e art.º 8º do D.L. n.º 82/2009, de 2 de abril).
-espinhal epidémica cas-meningite e sépsis
A evicção escolar cessa mediante declaração médica de cura clínica
Poliomielite Poliomielite Poliomielite ou de inexistência de doença, sem prejuízo dos prazos legais fixados
Rubéola Rubéola Rubéola para cada uma das aludidas doenças no Decreto Regulamentar n.º
3/95 (ibidem, art.º 3º).
SETEMBRO

Sarampo Sarampo Sarampo

Tinha Tinha Tinha


A evicção escolar cessa uma vez cumpridos os prazos da lei, sem
Tosse convulsa Tosse convulsa Tosse convulsa necessidade de qualquer justificação médica a atestar da mesma,
Tracoma - - exceto nos casos que em que uma eventual medicação encurte os
2012 // 34 (2): 08-20

respetivos períodos ou para a interrupção da mesma evicção por cura


Trasorelho Parotidite epidémica Parotidite epidémica
ou inexistência da doença.
Varicela Varicela Varicela

Varíola Varíola - Todos os profissionais de saúde estão obrigados a comunicar à


Autoridade de Saúde concelhia todos os casos de que tenham
Hepatites infecciosas Hepatites A e B
conhecimento no exercício da sua atividade e que tenham relevo
SAÚDE INFANTIL

Febres tifóide e parati- Febres tifóide e


para efeitos de aplicação do Decreto Regulamentar n.º 3/95 (ibid.,
fóide paratifóide
art.º 4º). Os médicos que, no exercício da sua profissão, suspeitem ou
Hepatites infecciosas Impétigo Impétigo
confirmem a existência das doenças atrás mencionadas entre os su-
Pediculose - jeitos escolares que temos vindo a tratar devem comunicá-lo à Autori-
Sarna - dade de Saúde concelhia, no prazo máximo de 48 horas (ibid. art.º 5º).
Tuberculose pulmonar Tuberculose pulmonar

Os órgãos responsáveis pelos estabelecimentos de ensino,


sempre que tiverem conhecimento da existência de uma doença
guintes doenças: Difteria, Poliomielite, Tosse convulsa e Infeções me- infetocontagiosa, incluída no Decreto Regulamentar n.º 3/95, entre
ningócicas (art.º 2º). Em relação ao diploma anterior, foram retiradas discentes, pessoal docente ou não docente de tal estabelecimento, devem
deste elenco a Escarlatina e Amigdalite Estreptocócica e a Varíola e afastar provisoriamente o portador da doença e comunicar o facto,
dentro de 24 horas, à Autoridade de Saúde concelhia, para que estes
acrescentada a Tosse convulsa».
determinem ou não a evicção (art.º 7º do Decreto-Lei nº 89/77).

Tudo o que estiver fora do elenco das doenças infetocontagiosas


acabadas de referir é matéria alheia à problemática da evicção legal.* As faltas dadas pelos discentes, pessoal docente e não docente dos
ver comentário a) em rodapé
estabelecimentos de educação e de ensino por força da evicção não
implicam a perda de quaisquer direitos ou regalias, tendo apenas rele-
Por último contacto entende-se o momento em que o indivíduo doente
vância para efeitos estatísticos (ibid. art.º 9º).
ou que vai adoecer dentro de dias contacte pela última vez (falou, aper-
Outra forma preventiva de doenças infetocontagiosas em relação a
tou a mão ou beijou…) com outros indivíduos (Circular n.º 45/79, GDG
crianças, mas que não se integra propriamente na evicção escolar de
Pessoal).
que estamos a tratar, é a que é feita no ato da sua inscrição para
Os prazos de afastamento temporário dos indivíduos atingidos pelas
frequência nos jardins de infância, nos termos da al. d) do n.º 4 do
doenças citadas no art.º 1º são diferenciados de acordo com a nature-
art.º 22º do Decreto-Lei nº 542/79, de 31 de dezembro, que aprovou
za da doença com que se foi atingido de harmonia com o disposto no
o Estatuto dos jardins de infância. Assim, no ato da inscrição,
a) Exceção feita à invocação dos poderes conferidos pela função de Autorida- exige-se uma declaração médica referindo que a criança não so-
de de Saúde. fre de doença infetocontagiosa, quando o que tal normativo devia

12
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

exigir, antes, era o referido documento para a frequência e não 6.7.1. Se é um Regulamento Interno da escola pública ou privada
para a inscrição, ou seja, devia nele constar que a criança não é nas condições atrás mencionadas que prevê essa doença como
portadora de patologia que contraindique a frequência escolar. fundamento da evicção e esta é determinada com tal fundamento,
a primeira medida a tomar é a impugnação judicial das normas
6.5. Dinâmica legislativa da problemática da evicção escolar por ilegais desse Regulamento.
virtude das doenças infetocontagiosas Os Regulamentos desta natureza enquadram-se naquilo a que a dou-
Por tudo o que deixamos exposto, podemos concluir o seguinte: o pro- trina designa por Regulamentos Internos de Organização ou de Di-
cesso dialético da evolução das condições epidemiológicas e os avan- reção. Quer dizer, estes Regulamentos ao mesmo tempo que normati-
ços verificados nos campos da prevenção e da terapêutica das doenças zam as relações especiais de poder da Administração em relação aos
transmissíveis atrás indicado vai necessariamente continuar. Daí que se administrados, que são aqui os discentes, os docentes e funcionários
possa afirmar que a problemática da «Evicção Escolar por Virtude de não docentes e, concomitantemente, os sujeitos passivos da evicção
Doenças Infetocontagiosas» não é de forma alguma estática, mas escolar, e que estão, neste caso, sujeitos a uma especial dependência
antes dotada de uma dinâmica muita acentuada e própria, pelo que face à Administração (Ministérios da Educação e da Saúde), porque es-
a legislação sobre esta matéria terá necessariamente de estar em tão obrigados a observar e a cumprir as regras vigentes nesta matéria
permanente mutação. A última, como vimos, remonta a janeiro de 1995. e de subordinar o seu comportamento ao que o Regulamento Interno
Como curiosidade, aponte-se que a Região Autónoma dos Açores re- determina. Assim, estes Regulamentos regem a organização, discipli-
gulava o instituto da evicção escolar no chamado Estatuto do Aluno, na e funcionamento interno do serviço da escola ou outra instituição.

SETEMBRO
aprovado pelo D. Legislativo Regional nº 22/2005/A, de 5 de agosto, Contudo, é preciso acentuar que, na medida em que os Regulamentos
de forma diferente daquela como se encontra legislado no Continente também condicionam a vida desses administrados fora da escola, ao de-
nos citados Decreto-Lei nº 89/77, alterado pelo Decreto-Lei nº 229/94, terminarem a evicção e a sua ida para casa, é um Regulamento Interno
e regulamentado pelo Decreto Regulamentar nº 3/95. Aproveitando o mas com eficácia externa. Deste modo, os Regulamentos das escolas

(2):08-20
ensejo de ter elaborado uma Proposta de Decreto Legislativo Regio- ou outras instituições públicas não necessitam, para serem emanados,

01
nal, em dezembro/2006, de alteração àquele Estatuto do Aluno, intro- de lei habilitante, porque se fundam no poder geral de direção, uma vez

2012// //3434(2):
duziu nele a evicção escolar nos precisos termos em que se encontra que se está no âmbito de relações de hierarquia da Administração, ou

2012
atualmente regulamentada no Continente (veja-se o Decreto Legisla- seja, fundam-se no poder administrativo de auto-organização ou de dire-
tivo Regional n.º 18/2007/A, D.R. 1ª Série, n.º 138, de 19 de julho de ção das entidades administrativas e dos seus dirigentes. Quer dizer, os
2007 – art.ºs 53º a 55º). Regulamentos desta natureza, para serem editados, não necessitam de

SAÚDE INFANTIL
expressas habilitações legais para o efeito.
6.6. Conclusões a extraírem-se do regime legal da evicção escolar
Face a tudo o que se deixa exposto e resulta do teor da consulta, o Se o Regulamento Interno é de uma escola privada a funcionar nos ter-
Molusco Contagioso (MC) e as Conjuntivites tal como outra doença não mos do D.L. n.º 553/80, de 21 de novembro, a legitimidade da sua ema-
incluída no DR.3/95-27.01.95, pela sua natureza, não integram o catálo- nação resulta do disposto no n.º 2 do art.º 33º, do citado diploma legal.
go das doenças infetocontagiosas constantes do Decreto Regulamentar Todavia, qualquer destes Regulamentos Internos, apesar de estarem
n.º 3/95, de 27 de janeiro, no qual se determina, com fundamento, a legalmente habilitados a serem emitidos, o seu conteúdo normativo não
retirada, ou seja, a evicção legal dos sujeitos nele mencionados. poderá violar outras normas de hierarquia superior, ou seja, o chama-
do «bloco da legalidade», constituído pelas leis constitucionais, as leis
Assim sendo, o Regulamento Interno de qualquer estabelecimento
comuns, os decretos-leis, os decretos regulamentares, os atos legisla-
de ensino público ou privado, a funcionar nos termos do D.L. n.º tivos, os atos e os contratos administrativos e os princípios jurídicos.
553/80, de 21 de novembro – em que tal Regulamento é constituído por Assim, se o Regulamento Interno de uma escola pública ou privada a
normas emanadas ao abrigo de disposições de direito administrativo funcionar nas condições atrás indicadas incluir, como fundamento da
(ibidem, art.ºs 31º, nºs 2 a 4 e 85º) – não pode integrar o Molusco evicção escolar, por exemplo o Molusco contagioso está a violar as
Contagioso ou outra doença não incluída no DR.3/95-27.01.95
leis constitucionais atrás indicadas e as disposições do Decreto Regula-
como fundamento da evicção escolar nesse estabelecimento,
porque, se o fizer, é um Regulamento que enferma de vício de mentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, que são normas de hierarquia superior.
violação de lei. A forma que o administrado-lesado tem de atacar tal Regulamen-
to Interno é requerer a impugnação judicial das suas normas ilegais
através da ação administrativa especial de Impugnação de Normas
6.7. Modos de atacar esta ilegalidade ou atuação de quem deter- prevista nos art.ºs 46º, n.º 2, al. c) e 72º e segs do Código de Processo
minar a evicção com tal fundamento: nos Tribunais Administrativos (CPTA), aprovado pela Lei n.º 13/2002,
de 19 de fevereiro e alterada pela Lei n.º 4-A/2003, de 19 de fevereiro
a) A Impugnação Judicial de Normas (ação administrativa especial e pela Lei n.º 107-D/2003, de 31 de dezembro, que poderá requerer
de Impugnação de Normas); no Tribunal Administrativo de Circulo competente, podendo cumular-se
em tal processo um pedido de condenação da Administração ao resta-
b) A Impugnação Judicial de Ato Administrativo (ação administrativa belecimento da situação que existiria se o ato da evicção não tivesse
especial de anulação de ato administrativo). sido praticado ou com um pedido de condenação da Administração à

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Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

reparação dos danos resultantes da sua atuação (art.ºs 4º, n.º 2, al.s poderá ser impugnado pelo administrado-lesado, com fundamento em
a), b) e d), 46º, nºs 1 e 2, al. c), 47º, n.º 1 e 72º e segs do CPTA). vício de violação de lei ou qualquer outro vício que o ato concreto
Ao Ministério Público cabe também aqui um papel importante quanto eventualmente venha a padecer, em ação administrativa especial de
à sua legitimidade para propor e intervir, nos termos previstos na lei, anulação de um ato administrativo, a requerer no prazo de três meses
em processos principais e cautelares destinados à defesa de valores (art.ºs 46º, n.º 2, al. a), 50º, n.º 1, 51º, n.º 1, 58º, n.º 2, al. a), 59º, nºs
e bens constitucionalmente protegidos, como a saúde pública, como é 1 a 3 e 78º e segs do CPTA). Tal pedido poderá ser cumulado com o
o caso, o ambiente, o urbanismo, o ordenamento do território, a quali- pedido de ilegalidade de norma a que atrás se aludiu ou com o pedido
dade de vida, o património cultural e os bens do Estado, das Regiões de condenação da Administração à reparação dos danos resultantes
Autónomas e das autarquias locais. (art.º 9º n.º 2 do CPTA). da sua atuação ou da adoção dos atos ou operações necessárias para
reconstituir a situação que existiria se o ato anulado não tivesse sido
Os Regulamentos Internos de Organização ou de Direção das praticado (art.ºs 4º, n.º 2, al.s a), b) e f), 46º, n.º 2, al.s a) e c), 47º, nºs
instituições de ensino, educação ou lazer, normatizam as relações 1, 2, al. b) do CPTA).
especiais de poder da Administração em relação aos administrados. O regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais
Porque se fundam no poder administrativo de auto-organização, ou entidades públicas por danos decorrentes da função administrativa
de direção das entidades administrativas e dos seus dirigentes não
encontra-se hoje regulado na Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro. O
necessitam, para serem emanados, de habilitações legais para o efeito.
Assim, os Regulamentos Internos das instituições de educação, pedido de indemnização formulado ao abrigo de tal diploma pode ser
ensino ou de lazer, podem ser criados sem o contributo de um formulado pelo administrado-lesado cumulado com os pedidos de de-
SETEMBRO

profissional de saúde. Mas as suas normas não poderão violar outras claração de ilegalidade de norma ou de anulação do ato administrativo,
normas de hierarquia superior. como atrás se referiu, e, neste caso, a ação é de ação administrativa
especial (art.ºs 5º, n.º 1 e 46º do CPTA) ou, então, autonomamente,
6.7.2. Razão de não aplicação neste caso de providência cautelar e, nesta situação, seguirá a forma da ação administrativa comum dos
da suspensão da eficácia de normas
2012 // 34 (2): 08-20

artºs 37º e segs do CPTA).


Incidentalmente com tal ação especial, não se poderá, neste caso, Nos termos do aludido diploma: «O Estado e as demais pessoas coleti-
requerer a providência cautelar, com vista a assegurar a utilidade da vas de direito público são exclusivamente responsáveis pelos danos que
lide da impugnação da norma referida, da suspensão da eficácia de resultem de ações ou omissões ilícitas, cometidas com culpa leve, pelos
normas prevista na al. a) do n.º 2 do art.º 112º do CPTA, visto que titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes, no exercício da fun-
tal providência só é autorizada em relação a normas de tal natureza ção administrativa e por causa desse exercício» (ibidem, art.º 7º, n.º 1).
SAÚDE INFANTIL

que produzam efeitos imediatos (normas imediatamente operativas), «Os titulares de órgãos, funcionários e agentes são responsáveis pe-
ou seja, sem dependência de um ato administrativo ou jurisdicional de los danos que resultem de ações ou omissões ilícitas, por eles co-
aplicação (art.ºs 73º, n.º 2 e 130º, n.º 1 do CPTA). metidas com dolo ou com diligência e zelo manifestamente inferiores
Ora, a aplicação das normas da evicção está sempre dependente, àqueles a que se encontravam obrigados em razão do cargo» (ibid.,
como vimos, de um ato administrativo da autoridade de saúde conce- art.º 8º, n.º 1).
lhia ou do médico escolar (art.ºs 2º e 8º do D.L. n.º 89/77, na redação «O Estado e as demais pessoas coletivas de direito público são res-
do D.L. n.º 229/94), pelo que as normas regulamentares de evicção ponsáveis de forma solidária com os respetivos titulares de órgãos,
estão sempre dependentes de tal ato administrativo e, por conseguin- funcionários e agentes, se as ações ou omissões referidas no número
te, não são imediatamente operativas, não sendo, assim, autorizado o anterior tiverem sido cometidas por estes no exercício das suas fun-
pedido da suspensão da sua eficácia. ções e por causa desse exercício» (ibid., art.º 8º, n.º 2).
«Sempre que satisfaçam qualquer indemnização nos termos do núme-
ro anterior, o Estado e as demais pessoas coletivas de direito público
6.8. Evicção determinada por ato administrativo (ação administra- gozam de direito de regresso contra os titulares de órgãos, funcioná-
tiva especial de anulação de ato administrativo) rios ou agentes responsáveis, competindo aos titulares de poderes de
direção, de supervisão, de superintendência ou de tutela adotar as
6.8.1. Se a evicção for determinada por um ato da Autoridade de providências necessárias à efetivação daquele direito, sem prejuízo do
Saúde concelhia (delegado de saúde ou delegado adjunto de saúde) eventual procedimento disciplinar» (ibid., art.º 8º, n.º 3).
nos termos atrás indicados dos art.ºs 2º e 8º do D.L. nº n.º 89/77, na «A culpa dos titulares de órgãos, funcionários e agentes deve ser apre-
redação dada pelo D.L. n.º 229/94, ou seja, através de um ato admi- ciada pela diligência e aptidão que seja razoável exigir, em função das
nistrativo (art.º 120º do Cód. Proc. Administrativo) e violando o precei- circunstâncias de cada caso, de um titular de órgão, funcionário ou
tuado no Decreto Regulamentar n.º 3/95 ou com base em norma do agente zeloso e cumpridor» (ibid., art.º 10º, n.º 1).
Regulamento Interno que violar o que se encontra como normativa «Sem prejuízo da demonstração de dolo ou culpa grave, presume-se
naquele Decreto, ou mais concretamente, decretar a evicção com a existência de culpa leve na prática de atos jurídicos ilícitos» (ibid.,
fundamento no referido «Molusco Contagioso», doença que não se art.º 10º, n.º 2).
encontra na lista de doenças de evicção escolar e que, portanto, ca- As disposições da presente lei, além de se aplicarem à responsabili-
rece de fundamentação excecional no âmbito das funções genéricas dade civil dos titulares de órgãos, funcionários e agentes públicos por
da Autoridade de Saúde que, não sendo aceite pelas partes, tal ato danos decorrentes de ações ou omissões adotadas no exercício da

14
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

função administrativa e por causa desse exercício, aplicam-se tam- encontrámos nada referente à evicção das piscinas coletivas, apenas
bém à responsabilidade civil de pessoas coletivas de direito privado e a informação que a tal evicção tem sido aplicável, por analogia, o regi-
respetivos trabalhadores, titulares de órgãos sociais, representantes me da evicção escolar. A ser assim, afigura-se-nos estarmos peran-
legais ou auxiliares, por ações ou omissões que adotem no exercício te uma lacuna do nosso sistema jurídico que é preciso colmatar,
de prerrogativas de poder público ou que sejam reguladas por disposi- pelo menos através de uma referência expressa de que lhe é aplicável
ções ou princípios de direito administrativo (ibid., art.º 1º, nºs 2, 3 e 5). o regime da evicção escolar, o que pode bem constar dos diplomas
que regulamentam as condições de segurança, de acesso e de uso
6.8.2. Providência cautelar da suspensão da eficácia de ato das instalações desportivas ou, mais concretamente, dos Recintos
administrativo com diversões aquáticas, onde se integram as piscinas coletivas.
Contrariamente ao que sucede com a ação especial para declaração Estes últimos diplomas, onde se enquadram as piscinas coletivas, exi-
de ilegalidade de norma, aqui, na ação especial para a anulação de ato gem que seja elaborado um Regulamento Interno que contenha as
administrativo, poderá requerer-se, como preliminar ou incidentalmen- normas de utilização e de funcionamento a serem observados pelos
te com vista a assegurar a utilidade da lide principal de impugnação de utentes (art.º 56º do Decreto-Regulamentar n.º 5/97, de 31 de março e
ato administrativo, que poderá demorar algum tempo a ser decidida, art.º 17º do D.L. n.º 271/2009, de 1 de outubro).
a providência cautelar prevista na al. a) do n.º 2 do art.º 112º do CPTA A grande maioria dos Regulamentos Internos dessa natureza que consul-
da suspensão da eficácia do ato, que pode ser requerida previamente tamos dizem respeito a piscinas coletivas municipais, que assentam o seu
à instauração do processo principal, juntamente com a petição inicial poder regulamentar, ou seja, invocam como lei habilitante de tais Regula-

SETEMBRO
ou na pendência do processo principal e que tem de ser decidida em mentos com eficácia externa, além daqueles normativos, os art.ºs 241º e
prazo muito curto (art.º 112º do CPTA) para não prejudicar, como se 242º da CRP e a al. a) do n.º 2 do art.º 53º e al. b) do n.º 4 e al. a) do n.º
referiu, a utilidade da lide. 6 do art.º 64º da Lei n.º 169/99, de 18 de setembro, na redação da Lei n.º
5-A/2002, de 11 de janeiro e art.ºs 114º e segs do Cód Proc. Administrativo.

(2):08-20
6.8.3. Recurso hierárquico administrativo

01
Estes Regulamentos, normalmente, contêm disposições quanto à
Entretanto, antes da instauração da ação judicial para a impugnação

2012// //3434(2):
evicção, que determinam a exigência aos utentes de declaração mé-
do ato administrativo, o administrado-lesado poderá instaurar recurso dica, comprovativa do seu estado sanitário, ou, então, a proibição de

2012
hierárquico do ato médico que ilegalmente determinou a evicção para poderem frequentar as piscinas, dos portadores de doenças transmis-
a autoridade de saúde nacional, que é o diretor-geral da Saúde, nos síveis ou de doenças infetocontagiosas, de pele ou outras lesões de
termos dos art.ºs 3º, n.º 3 e 13º do D.L. n.º 82/2009, de 2 de abril, e que possam resultar prejuízo para a saúde pública. Não encontrámos

SAÚDE INFANTIL
166º e segs do Código de Proc. Administrativo. nenhum que expressamente proibisse a entrada e a utilização a quem
A utilização deste meio de impugnação administrativa suspende o prazo estivesse afetado pelo «molusco contagioso».
de impugnação contenciosa do ato administrativo, que só retoma o seu Mas, se porventura, o Regulamento contiver alguma norma nesse sen-
curso com a decisão proferida sobre a impugnação ou com o decurso tido, a forma que o lesado tem de a atacar é sempre a indicada para
do respetivo prazo legal, que é de 30 dias (art.º 165º do Cód. Proc. a Evicção Escolar.
Administrativo). A suspensão do prazo prevista no número anterior não
Se, com base nele ou no Decreto Regulamentar n.º 3/95, a proibição for feita
impede o interessado de proceder à impugnação contenciosa do ato
pela Autoridade de Saúde concelhia (delegado ou delegado adjunto de saú-
na pendência da impugnação administrativa, bem como de requerer a
de, que são as únicas com competência para o efeito – art.º 5º, n.º 3, al. a)
adoção de providências cautelares (art.º 59º, nºs 4 e 5 do CPTA).
do D.L. n.º 82/2009, de 2 de abril), a forma de impugnar tal ato administrativo
Refira-se que a interposição deste recurso hierárquico não suspende
é também a indicada para a evicção escolar, acompanhada do requerimen-
os efeitos do ato impugnado, mas apenas o prazo da impugnação con-
to da providência cautelar da suspensão da eficácia do ato naquele local
tenciosa do ato. Os efeitos do ato da evicção só se suspendem com a
referida.
instauração da providência cautelar da suspensão da eficácia do ato
(art.º 128º do CPTA).
7. Aplicação prática do regime legal exposto na parte geral do pa-
recer nas respostas às perguntas formuladas:
6.9. Regime legal da evicção nas piscinas coletivas
Fixado o regime da Evicção Escolar por Virtude de Doenças Infetocon- Pergunta nº 1: Podem os Regulamentos Internos das instituições, que de-
tagiosas e modo de impugnação das normas de evicção ilegais ou dos terminam a exclusão temporária das crianças com doenças infeciosas agu-
atos administrativos anuláveis que determinam essa evicção, vejamos das, serem elaborados sem o contributo de um profissional de saúde, médi-
agora o regime legal aplicável à evicção nas piscinas coletivas, como co ou enfermeiro, com idoneidade científica em doenças infetocontagiosas?
também é solicitado na consulta. Resposta: Fixado o regime jurídico da Evicção Escolar por Virtude
A primeira questão que se nos suscitou foi a de saber se não have- das Doenças Infetocontagiosas e das piscinas coletivas e a forma da
ria um regime especial para a evicção neste âmbito, uma vez que os sua impugnação ilegal, supomos estarem respondidas, pelo menos
sujeitos passivos abrangidos por esta evicção são diferentes dos da implicitamente, todas as questões colocadas na consulta.
evicção escolar. Os Regulamentos citados na pergunta podem ser elaborados sem
Nas pesquisas de legislação que fizemos e ainda junto das autoridades necessariamente neles intervirem os profissionais de saúde referidos,
médicas de saúde pública e da própria Inspeção-Geral de Saúde, não mas as suas normas não podem é contrariar os normativos de diplo-

15
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

mas legais de hierarquia superior, como é o citado Decreto Regula- Administração à reparação dos danos resultantes da sua atuação ou da
mentar n.º 3/95, sob pena de poderem ser impugnados judicialmente, adoção dos atos ou operações necessárias para reconstituir a situação
como vimos (art.ºs 72º e segs do CPTA). que existiria se o ato anulado não tivesse sido praticado (art.ºs 4º, n.º
Pergunta nº 2: São legais os Regulamentos Internos aludidos em 1 2, al.s a), b) e f), 46º, n.º 2, al.s a) e c), 47º, nºs 1, 2, al. b) do CPTA).*
ver comentário b) em rodapé.
que contrariem o Decreto Regulamentar n.º 3/95, do «Diário da Repú-
blica», I Série-B, nº 23 de 27 de janeiro de 1995? Pergunta nº 5: Poderão os pais das crianças obrigadas à retirada for-
Resposta: São ilegais os Regulamentos Internos que contrariem çada da instituição em causa, responsabilizar as mesmas instituições
o citado Decreto Regulamentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, que como por excesso de zelo, quando injustificadas, pedindo indemnização por
atrás referimos podem ser objeto de impugnação judicial das suas nor- danos materiais e /ou morais?
mas ilegais através da ação administrativa especial de Impugnação Resposta: Já atrás demonstrámos que o administrado-lesado tem
de Normas prevista nos art.ºs 46º, n.º 2, al. c) e 72º e segs do Código direito a ser ressarcido pelos danos que na evicção ilícita lhe forem
de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), aprovado pela Lei causados pelos titulares dos órgãos, funcionários e agentes públicos,
n.º 13/2002, de 19 de fevereiro e alterada pela Lei n.º 4-A/2003, de decorrentes de ações ou omissões adotadas no exercício das funções
19 de fevereiro e pela Lei n.º 107-D/2003, de 31 de dezembro, que administrativas, como é aquela evicção
poderá requerer-se no Tribunal Administrativo de Circulo competente, O regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais
podendo cumular-se em tal processo um pedido de condenação da entidades públicas por danos decorrentes da função administrativa
Administração ao restabelecimento da situação que existiria se o ato encontra-se hoje regulado na Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro. O
SETEMBRO

da evicção não tivesse sido praticado ou com um pedido de conde- pedido de indemnização formulado ao abrigo de tal diploma pode ser
nação da Administração à reparação dos danos resultantes da sua formulado pelo administrado-lesado cumulado com os pedidos de de-
atuação (art.ºs 4º, n.º 2, al.s a), b) e d), 46º, nºs 1 e 2, al. c), 47º, n.º 1 claração de ilegalidade de norma ou de anulação do ato administrativo,
e 72º e segs do CPTA). como atrás se referiu, e, neste caso, a ação é de ação administrativa
2012 // 34 (2): 08-20

Pergunta nº 3: A obrigatoriedade ao cumprimento das normas das especial (art.ºs 5º, n.º 1 e 46º do CPTA) ou, então, autonomamente,
instituições, impostas por estes Regulamentos Internos, não poderá e, nesta situação, seguirá a forma da ação administrativa comum dos
ser atribuída culpa que poderá ser sancionada e ressarcida? artºs 37º e segs do CPTA).
Resposta: Em princípio ninguém é obrigado ao cumprimento de Nos termos do aludido diploma: «O Estado e as demais pessoas coleti-
normas ilegais de Regulamentos Internos elaborados pelas entida- vas de direito público são exclusivamente responsáveis pelos danos que
des públicas ou privadas ao abrigo de disposições de direito adminis- resultem de ações ou omissões ilícitas, cometidas com culpa leve, pelos
SAÚDE INFANTIL

trativo, visto que a lei dá ao administrado-lesado os meios de tutela titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes, no exercício da fun-
jurisdicional efetiva para poderem impugnar essas normas ilegais ou ção administrativa e por causa desse exercício» (ibidem, art.º 7º, n.º 1).
os atos administrativos anuláveis praticados ao abrigo de tais normas, «Os titulares de órgãos, funcionários e agentes são responsáveis pelos
conforme se deixa expendido em geral no texto deste parecer. danos que resultem de ações ou omissões ilícitas, por eles cometidas
com dolo ou com diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a
Pergunta nº 4: Mesmo que a evicção seja proposta por uma profis-
que se encontravam obrigados em razão do cargo» (ibid., art.º 8º, n.º 1).
sional de saúde ou a Autoridade Sanitária concelhia, poderão as suas
«O Estado e as demais pessoas coletivas de direito público são res-
determinações contrariar as disposições legais do DR.3/95-27.01.95?
ponsáveis de forma solidária com os respetivos titulares de órgãos,
Resposta: Se a evicção for determinada por um ato da Autoridade de
funcionários e agentes, se as ações ou omissões referidas no número
Saúde concelhia (delegado de saúde ou delegado adjunto de saúde)
anterior tiverem sido cometidas por estes no exercício das suas fun-
nos termos atrás indicados dos art.ºs 2º e 8º do D.L. nº n.º 89/77, na
ções e por causa desse exercício» (ibid., art.º 8º, n.º 2).
redação dada pelo D.L. n.º 229/94, ou seja, através de um ato adminis-
«Sempre que satisfaçam qualquer indemnização nos termos do núme-
trativo (art.º 120º do Cód. Proc. Administrativo) e violando o preceituado
ro anterior, o Estado e as demais pessoas coletivas de direito público
no Decreto Regulamentar n.º 3/95 ou com base em norma do Regu-
gozam de direito de regresso contra os titulares de órgãos, funcioná-
lamento Interno que violar o que se encontra em normativa naquele
Decreto, ou mais concretamente, decretar a evicção com fundamento rios ou agentes responsáveis, competindo aos titulares de poderes de
no referido «Molusco Contagioso», doença que não se encontra na direção, de supervisão, de superintendência ou de tutela adotar as
lista de doenças de evicção escolar e que, portanto, carece de funda- providências necessárias à efetivação daquele direito, sem prejuízo do
mentação excecional no âmbito das funções genéricas da Autoridade eventual procedimento disciplinar» (ibid., art.º 8º, n.º 3).
b) S
 ó os Delegados de Saúde têm competência para decretar a evicção escolar
de Saúde que, não sendo aceite pelas partes, tal ato poderá ser impug- que se enquadra no âmbito das funções de Autoridade de Saúde. Só muito
nado pelo administrado-lesado, com fundamento em vício de violação excecionalmente, doenças não constantes na lista oficial poderão ser motivo
de evicção, já que os poderes conferidos pelas funções de Autoridade de
de lei ou qualquer outro vício que o ato concreto eventualmente venha Saúde não se esgotam no diploma da evicção escolar. A fundamentação das
decisões de Autoridade de Saúde é obrigatória e, neste caso, um consenso
a padecer, em ação administrativa especial de anulação de um ato ad- clínico alargado seria desejável, já que a fundamentação explícita não está
ministrativo, a requerer no prazo de três meses (art.ºs 46º, n.º 2, al. a), previamente tipificada num diploma legal, sob pena de se poder acusar a
Autoridade de Saúde de não defender a saúde pública, como é sua obriga-
50º, n.º 1, 51º, n.º 1, 58º, n.º 2, al. a), 59º, nºs 1 a 3 e 78º e segs do ção. São exemplo as doenças emergentes – como a febre hemorrágica ou
o síndroma aguda respiratória severa – que por diversos motivos, não estão
CPTA). Tal pedido poderá ser cumulado com o pedido de ilegalidade incluídas na lista de doenças de evicção escolar, mas que, pela sua gravidade
de norma a que atrás se aludiu ou com o pedido de condenação da e natureza transmissível, colocam em risco a saúde dos contactantes.

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Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

Conforme se afirma atrás no texto, «as disposições da presente lei, ser ponderada a necessidade da revisão do Decreto Regulamentar n.º
além de se aplicarem à responsabilidade civil dos titulares de órgãos, 3/95, de 27 de janeiro, e a extensão do seu regime à evicção das pis-
funcionários e agentes públicos por danos decorrentes de ações ou cinas coletivas por se tratar de uma lacuna do nosso sistema jurídico.
omissões adotadas no exercício da função administrativa e por causa Pergunta nº 7: No caso concreto das conjuntivites, doenças não con-
desse exercício, aplicam-se também à responsabilidade civil de pes- templadas pelo DR.3/95-27.01.95, poderão os profissionais de educa-
soas coletivas de direito privado e respetivos trabalhadores, titulares ção obrigar à evicção?
de órgãos sociais, representantes legais ou auxiliares, por ações ou Resposta: Não. Dissemos, também na parte geral do parecer (6.3),
omissões que adotem no exercício de prerrogativas de poder público que tudo o que estiver fora do elenco das doenças infetocontagiosas
ou que sejam reguladas por disposições ou princípios de direito admi- acabadas ali de referir é matéria alheia à problemática da evicção le-
nistrativo (ibid., art.º 1º, nºs 2, 3 e 5)». gal. Ora se as conjuntivites não constam do elenco do Decreto Regula-
«A culpa dos titulares de órgãos, funcionários e agentes deve ser apre- mentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, é-lhes aplicável tudo o que dissemos
ciada pela diligência e aptidão que seja razoável exigir, em função das na resposta à pergunta n.º 4.* ver comentário c) em rodapé,
circunstâncias de cada caso, de um titular de órgão, funcionário ou
agente zeloso e cumpridor» (ibid., art.º 10º, n.º 1). Pergunta nº 8: Também no caso concreto do molusco contagioso
«Sem prejuízo da demonstração de dolo ou culpa grave, presume-se (MC), tratando-se de uma situação clínica absolutamente benigna, em
a existência de culpa leve na prática de atos jurídicos ilícitos» (ibid., que nem sequer se tem a certeza se o contágio é ou não pela água,
art.º 10º, n.º 2). poderão os responsáveis / professores de natação das piscinas proibir

SETEMBRO
As disposições da presente lei, além de se aplicarem à responsabili- que as crianças com MC frequentam as mesmas, contrariando a opi-
dade civil dos titulares de órgãos, funcionários e agentes públicos por nião de um médico?
danos decorrentes de ações ou omissões adotadas no exercício da Resposta: Nem os professores de natação, nem qualquer titular de ór-
gão ou funcionário têm competência para decretar a evicção, mesmo
função administrativa e por causa desse exercício, aplicam-se tam-
que esta seja legal. Na evicção escolar e nas piscinas, só a Autorida-

(2):08-20
01
bém à responsabilidade civil de pessoas coletivas de direito privado e
de de Saúde concelhia (delegado ou delegado adjunto de saúde) tem

2012// //3434(2):
respetivos trabalhadores, titulares de órgãos sociais, representantes
competência para decretar a evicção e, mesmo estes, só dentro dos
legais ou auxiliares, por ações ou omissões que adotem no exercício
limites fixados no Decreto Regulamentar n.º 3/95. * ver comentário d) em rodapé,

2012
de prerrogativas de poder público ou que sejam reguladas por disposi-
ções ou princípios de direito administrativo (ibid., art.º 1º, nºs 2, 3 e 5). Podem ser impugnados judicialmente as normas dos Regulamentos
Todos aqueles que cometerem danos que resultem de ações ou omis- Internos e os atos administrativos que violarem os normativos daquele

SAÚDE INFANTIL
sões ilícitas, são responsáveis por esses atos e estão sujeitos ao pa- diploma legal de hierarquia superior.
gamento de indemnizações. Aplica-se aqui também tudo o que foi escrito na resposta à pergunta
n.º 4. e na parte geral do parecer (6.9.).
Pergunta nº 6: A evicção nas piscinas é diferente da evicção geral
escolar?
Resposta: Na parte geral deste parecer (6.9.), para onde agora reme- O molusco contagioso (MC) não consta do elenco das doenças de
temos os leitores, demos reposta cabal a esta questão. evicção obrigatória determinada pelo DR.3/95-27.01.95. Não existe
nenhuma regulamentação legal que proíba a utilização das piscinas
públicas pelas crianças com MC;
Por lacuna do sistema jurídico português, não existe legislação
Será violar as leis constitucionais do País o obrigar à evicção duma
referente à evicção das piscinas coletivas, apenas a informação criança com MC duma piscina ou dum estabelecimento escolar;
que a tal evicção tem sido aplicável, por analogia, o regime da evicção A proibição de frequentar uma piscina pelo facto duma criança ter MC poderá
escolar. ser impugnada juridicamente pelos pais, que poderão ser ressarcidos.

Deste modo, e ainda quanto à criação de norma expressa que apli-


que tal regime da evicção escolar à evicção das piscinas coletivas, c) Deve então, a Autoridade de Saúde, expor de novo a fundamentação do
seu ato, cabendo ao tribunal decidir.
por se tratar de uma lacuna do nosso regime jurídico, afigura-se-nos
que o processo dialético da evolução das condições epidemiológicas d) Só os Delegados de Saúde têm competência para decretar a evicção escolar
que se enquadra no âmbito das funções de Autoridade de Saúde. Só muito
e os avanços verificados nos campos da prevenção e da terapêutica
excecionalmente, doenças não constantes na lista oficial poderão ser motivo
das doenças transmissíveis atrás indicado, permitem concluir que a de evicção, já que os poderes conferidos pelas funções de Autoridade de
problemática da «Evicção Escolar por Virtude de Doenças Infetocon- Saúde não se esgotam no diploma da evicção escolar. A fundamentação das
decisões de Autoridade de Saúde é obrigatória e, neste caso, um consenso
tagiosas» não é de forma alguma estática, mas antes dotada de uma
clínico alargado seria desejável, já que a fundamentação explícita não está
dinâmica muita acentuada e própria. Assim sendo, a legislação sobre previamente tipificada num diploma legal, sob pena de se poder acusar a
esta matéria terá necessariamente de estar em permanente mutação. Autoridade de Saúde de não defender a saúde pública, como é sua obriga-
ção. São exemplo as doenças emergentes – como a febre hemorrágica ou
A última, como vimos, remonta a janeiro de 1995.
o síndroma aguda respiratória severa – que por diversos motivos, não estão
Deste modo, sugere-se que a matéria constante da consulta e do pre- incluídas na lista de doenças de evicção escolar, mas que, pela sua gravidade
sente parecer sejam remetidos ao Ministério da Saúde, a fim de ali e natureza transmissível, colocam em risco a saúde dos contactantes.

17
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

Pergunta nº 9: Quem legitimidade para decidir da evicção duma crian- • Todos os profissionais de saúde estão obrigados a comunicar à
ça dum estabelecimento de ensino ou dum local de lazer? Autoridade de Saúde concelhia os casos de doenças de decla-
Resposta: Legalmente apenas as entidades referidas na resposta à ração obrigatória, referidos no DR.3/95-27.01.95, de que tenham
pergunta n.º 8. Se se pretender que tal competência seja alargada a conhecimento.
outras entidades, só com uma alteração legislativa dos diplomas que • Os órgãos responsáveis pelos estabelecimentos de ensino,
fixam tal competência, que são referidos na parte geral do parecer. Por sempre que tiverem conhecimento da existência de uma prová-
isso se sugere, tal como o fizemos na resposta à pergunta n.º 6, que a vel DIC entre discentes, pessoal docente ou não docente de tal
matéria constante da consulta e do presente parecer sejam remetidos estabelecimento, devem afastar provisoriamente o portador da
ao Ministério da Saúde, a fim de ali ser ponderada a necessidade da doença e comunicar o facto, dentro de 24 horas, à Autoridade
revisão do Decreto Regulamentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, e a ex- de Saúde concelhia, para que esta e só esta, determine ou não
tensão do seu regime à evicção das piscinas coletivas por se tratar de a evicção.
uma lacuna do nosso sistema jurídico. • Pertence à Autoridade de Saúde concelhia (delegado ou delega-
do adjunto de saúde) a competência para determinar a evicção
de crianças e contactantes dos estabelecimentos de educação
Conclusões e das piscinas, nos casos de suspeita ou confirmados de esta-
rem atingidos por alguma das doenças transmissíveis citadas
• O afastamento temporário (evicção) da frequência dos estabele-
no DR.3/95-27.01.95
SETEMBRO

cimentos de ensino ou dos espaços de lazer dos indivíduos atin-


• A evicção escolar cessa uma vez cumpridos os prazos da
gidos com doenças infetocontagiosas (DIC) ou que apenas coa-
lei, sem necessidade de qualquer justificação médica a
bitem ou tenham contactos com os atingidos por estas doenças,
atestar da mesma, exceto nos casos que em que uma eventual
é um instituto que se integra nos direitos e deveres fundamen-
medicação encurte os respetivos períodos ou para a interrupção
tais reconhecidos pela Constituição da República Portuguesa.
2012 // 34 (2): 08-20

da mesma evicção, por cura ou inexistência da doença.


• Por lacuna do sistema jurídico português, não existe legislação
•O  brigar à evicção por doenças que não constam do DR.3/95-
referente à evicção das piscinas coletivas. Apenas existe a in-
27.01.95 será violar a lei. Ninguém, nem Autoridade de Saúde
formação que a tal evicção tem sido aplicável, por analogia, pelo
está acima da lei, estando todos obrigados a cumprir o DR.3/95-
regime da evicção escolar. Assim, a evicção das piscinas cole-
27.01.95, podendo a sua decisão ser impugnada pelo administra-
tivas por virtude das DIC, integra-se nos direitos e nos deveres
do-lesado, com o fundamento de vício de violação da lei.
SAÚDE INFANTIL

da mesma natureza.
• A proibição de frequentar uma piscina ou um estabelecimento
• Atualmente, tudo o que estiver fora do elenco das DIC referidas no
de educação pelo facto duma criança ter molusco contagioso ou
DR.3/95-27.01.95 é matéria alheia à problemática da evicção legal.
outra doença que não conste do elenco das DIC contemplados
• Os Regulamentos Internos das instituições de educação, en-
no DR.3/95-27.01.95, poderá ser impugnada juridicamente pe-
sino ou de lazer, podem ser criados sem o contributo de um
profissional de saúde. Mas as suas normas não poderão vio- los pais ou pelos encarregados de educação, que poderão ser
lar outras normas de hierarquia superior. Isto é, são ilegais ressarcidos.
os Regulamentos Internos das instituições que violarem o • A problemática da «Evicção Escolar por Virtude de Doenças In-
DR.3/95-27.01.95, havendo então razão à sua impugnação. fetocontagiosas não é de forma alguma estática, mas antes do-
• Só se pode restringir os direitos, liberdades e garantias a qual- tada de uma dinâmica muita acentuada e própria. Assim sendo, a
quer cidadão nos casos expressamente previstos na Constitui- legislação sobre esta matéria terá necessariamente de estar em
ção Portuguesa. Fora de situações expressas na lei, não são permanente mutação. Recomenda-se para breve a derrogação do
constitucionalmente admissíveis limitações aos direitos funda- DR.3/95-27.01.95.
mentais, nomeadamente através dos Regulamentos Internos
das instituições.

18
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

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SETEMBRO
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01
20. Decreto-Regulamentar da fixação dos períodos de evicção escolar por virtude de doenças
10. S
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2012// //3434(2):
infetocontagiosas; Decreto-Regulamentar nº 3/95, do «Diário da República», I Série-B, nº
Nelson Textbook of Pediatrics, 18th edition. Philadelphia, 2007:81-6.
23, de 27 de janeiro de 1995.

2012
Agradecimento: Ao Dr. Eugénio Cordeiro, médico de Saúde Pública da
ARS de Coimbra, pela leitura crítica deste documento.

SAÚDE INFANTIL
Comentários do médico de Saúde Pública, Dr. Eugénio Cordeiro, assinala-
dos no texto nas notas a), b), c) e d).

19
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

Decreto-Regulamentar da fixação dos períodos de evicção escolar por virtude de doenças infecto-contagiosas
Decreto-Regulamentar nº 3/95, do «Diário da República», I Série-B, nº 23, de 27 de Janeiro de 1995
«É necessário que se mantenham permanentemente actualizadas as medidas de saúde pública tendentes à promoção e à protecção da saúde,
nomeadamente através da análise epidemiológica das causas e dos factores de risco subjacentes às doenças transmissíveis».
«A lista das doenças transmissíveis que originam evicção escolar encontra-se desactualizada face à evolução das condições epidemiológicas e aos
avanços verificados nos campos da prevenção e da terapêutica...».

Artigo 1º - São afastados temporariamente da frequência escolar e demais actividades desenvolvidas nos estabelecimentos de educação e de
ensino os discentes, pessoal docente e não docente quando atingidos pelas seguintes doenças:
a) Difteria; h) Parotidite epidémica;
b) Escarlatina e outras infecções naso-faríngeas por estreptococo i)   Poliomielite
hemolítico do grupo A; j) Rubéola;
c) Febres tifóide e paratifóide; l) Sarampo;
d) Hepatite A; m) Tinha;
e) Hepatite B; n) Tosse convulsa;
f) Impétigo; o) Tuberculose pulmonar;
g) Infecções meningocócicas – meningite e sepsis; p) Varicela.
Art. 2º - S
 ão afastados temporariamente da frequência escolar e demais actividades desenvolvidas nos estabelecimentos de educação e de ensino os
discentes, pessoal docente e não docente nas situações em que coabitem ou tenham contactos com indivíduos atingidos pelas seguintes doenças:
SETEMBRO

a) Difteria; c) Tosse convulsa;


b) Poliomielite; d) Infecções meningocócicas – meningite e sepsis.
Art. 3º - Os prazos de afastamento temporário da frequência escolar dos indivíduos atingidos pelas doenças referidas no artigo 1º são as seguintes:
a) Difteria – o afastamento deve manter-se até à apresentação de duas h) Parotidite epidémica – o afastamento deve manter-se por um
2012 // 34 (2): 08-20

análises negativas dos exsudados nasal e faríngeo, feitas com o míni- período mínimo de nove dias após o aparecimento da tumefacção
mo de vinte e quatro horas de intervalo e após vinte e quatro horas de glandular;
suspensão do tratamento antimicrobiano; i) Poliomielite – o afastamento deve manter-se até ao desapareci-
b) Escarlatina e outras infecções naso-faríngeas por estreptococo mento do vírus nas fezes, comprovado através de análise;
hemolítico do grupo A – o afastamento deve manter-se até à cura j) Rubéola – o afastamento deve manter-se pelo período mínimo
clínica, devendo, contudo, terminar após a apresentação de análise de sete dias após o início do exantema; em função do risco de
do exsudado naso-faríngeo negativa para o estreptococo hemolítico
contágio deve proceder-se ao afastamento das mulheres grávidas
SAÚDE INFANTIL

do grupo A, excepto no caso de início de antibioticoterapia correcta,


com menos de 20 semanas de gestação, até ao esclarecimento
comprovada por declaração médica, em que o afastamento termina
vinte e quatro horas após o início do tratamento; dos resultados serológicos para o vírus da rubéola, e quando estas
c) Febre tifóide e paratifóide – o afastamento deve manter-se pelo me- não se encontrem imunologicamente protegidas;
nos durante quatro semanas após o início do doença e até à apresen- l) Sarampo – o afastamento deve manter-se pelo período mínimo de
tação de três análises de fezes negativas, colhidas com um mínimo quatro dias após o início do exantema;
de vinte e quatro horas de intervalo e não antes de quarenta e oito m) Tinha – o afastamento deve manter-se nos casos de tinha do
horas após a interrupção da terapêutica antibiótica; se as análises se couro cabeludo até à apresentação de declaração médica com-
mantiverem positivas, o afastamento poderá ser suspenso de acordo provativa de que o doente está a efectuar o tratamento adequado.
com a apresentação de declaração comprovativa da autoridade de No caso de tinha dos pés, unhas e outras localizações cutâneas é
saúde concelhia; obrigatória a exclusão de actividades ou de locais de maior perigo
d) Hepatite A – o afastamento deve manter-se pelo menos durante sete de contágio, nomeadamente piscinas e balneários, até à cura clí-
dias após o início da doença ou até ao desaparecimento da icterícia, nica ou até à apresentação de declaração médica comprovativa
quando presente; de ausência de risco de contágio;
e) H  epatite B – o afastamento deve manter-se nos casos de doença n) Tosse convulsa – o afastamento deve manter-se durante cinco
aguda e até à cura clínica; nos portadores crónicos com ou sem do-
dias após o início da antibioticoterapia correcta. Na ausência de
ença hepática activa deve manter-se também o afastamento quando
se verifiquem dermatoses exsudativas ou coagulopatias com tradução tratamento deve manter-se o afasta mento pelo período de 21 dias
clínica e em fase de hemorragia activa; após o estabelecimento dos acessos paroxísticos de tosse;
f) Impétigo – o afastamento deve manter-se até à cura clínica ou até à o) Tuberculose pulmonar – o afastamento deve manter-se até à
apresentação de declaração médica comprovativa da não existência apresentação de declaração médica comprovativa de ausência
de risco de contágio; de risco de contágio passada com base no exame bacteriológico;
g) Infecções meningocócicas (meningite e sepsis) – o afastamento p) Varicela – o afastamento deve manter-se durante um período de
deve manter-se até à cura clínica; cinco dias após o início de erupção.

Art. 4º - Os prazos de afastamento dos indivíduos que coabitem ou tenham contactos com os atingidos pelas doenças referidas no artigo 2º são os seguintes:

a) Difteria – o afastamento deve manter-se durante sete dias, podendo, c) Tosse convulsa – o afastamento deve manter-se durante um pe-
contudo, terminar antes desse prazo, mediante a apresentação de duas ríodo mínimo de cinco dias após o início da antibioticoterapia profi-
análises negativas dos exsudados nasal e faríngeo colhidas com, pelo láctica adequada, nos indivíduos com menos de 7 anos de idade e
não correctamente vacinados;
menos, vinte e quatro horas de intervalo; d) Infecções meningocócicas (meningite e sepsis) – o afastamen-
b) Poliomielite – o afastamento deve manter-se até à comprovação de au- to deve manter-se até à apresentação de declaração médica com-
sência de vírus nas fezes nos indivíduos não correctamente vacinados; provativa do início da quimioprofilaxia adequada.

20
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas
por virtude de doenças infeciosas
Temporary eclusion criteria of children from day-care centers and schools
due to infectious diseases Manuel Salgado

Resumo Summary

A exclusão temporária ou evicção temporária (ET) de crianças das cre- The temporary exclusion of children from day-care centers, schools
ches, jardins de infância, escolas (CJIE) e das instituições de desporto and sportive and leisure recreation centers due to benign acute infec-
e/ou lazer, em virtude de doenças infeciosas agudas benignas (DIAB), tious diseases (BAID) is a daily problem for families, businesses and
é uma problemática diária das famílias, das instituições empregadoras institutions and the educational facilities professionals.
e dos profissionais de educação e de saúde. In countries with well defined exclusion and inclusion criteria from par-
Em países com regras bem definidas de exclusão e inclusão destas ticipation in day-care centers and schools, for each child rightly ex-
crianças, por cada ET adequadamente proposta, outras seis são des- cluded, six others children with BAID are unduly obliged to exclusion
necessárias. Na ausência de critérios bem definidos de ET, a exclusão as well. When there are no rules in these education or sports centers,
excessive exclusion is usually higher.

SETEMBRO
desnecessária será substancialmente maior.
A ET pelas DIAB são responsáveis por mais de 40% do absentismo The BAID are responsible for more than 40% of parents’work absen-
dos pais ao trabalho (APT). Este é frequentemente responsável por teeism. This is a frequent cause of different opinions and conflicts be-
divergências e conflitos entre os pais, os profissionais de educação tween parents, the daycare staff, and health professionals.
das CJIE e os profissionais de saúde, sobre o real estado de saúde Parents’absenteeism from work due to BAID of their children is oner-

(2):21-28
01
das crianças com DIAB. ous for families, businesses institutions and for the countries. In Portu-

2012// //3434(2):
O APT devido às DIAB dos filhos é oneroso para as famílias, para as gal, at a time of economic restrain, it is very important to avoid unduly
instituições empregadoras e para o país. Em Portugal, onde a palavra expenses, and it is imperative to elaborate the daycare and school ex-

2012
de ordem atual é poupar, será imperativo criarem-se critérios de ET clusion criteria to minimize the erroneous exclusions and their conse-
uniformes e justos, de aplicação universal e responsável, de forma quences. Universal and responsible application of the exclusion criteria
a minimizar a ET desnecessária. Mas isso só será possível se esses in schools and daycare centers is fundamental to obtain this objective.

SAÚDE INFANTIL
critérios forem elaborados numa ação concertada, de peritos cientifi- Only a concerted action by all Portuguese Ministries involved, will allow
camente atualizados, e nomeados pelos diferentes Ministérios Portu- the creation of uniform and fair criteria of school and childcare evic-
gueses envolvidos nesta problemática, sem esquecer os profissionais tion, by scientific updated experts, without forgetting the educational
de educação. professionals.

Palavras-chave: doenças infecto-contagiosas, evicção, infantário, Keywords: infectious diseases, contagious, eviction, day-care centre,
creche, escola, piscina, educadores de infância, absentismo. childcare, school, swimming-pool, absenteeism.

ACRÓNIMOS
EUA – Estados Unidos da América
AAP – American Academy of Pediatrics FFCG – Fédération Fribourgeoise des Crèches et Garderies
APHA – American Public Health Association (Suíça)
APT – absentismo dos pais ao trabalho Hib – Haemophilus influenzae do tipo B
CJI – Creches e jardins-de-infância IDL – Instituições de desporto e/ou de lazer
CJIE – Creches jardins-de-infância e escolas NHMRCAG – National Health and Medical Research Council, Aus-
DIAB – Doença(s) infecciosa(s) aguda(s) benigna(s) tralian Government
DIC – Doenças infectocontagiosas PE – Profissionais de educação
ET – Evicção temporária PS – Profissionais de saúde

1. Definição de evicção temporária

Por evicção temporária (ET) em virtude de doenças infectocontagio- afastamento temporário, de forma a prevenir ou a minimizar os contá-
sas (DIC) deverá entender-se «o afastamento temporário legal dos gios nas creches e jardins de infância (CJI), nas escolas e nas institui-
alunos de uma escola, por motivo de doença infecto-contagiosa, sem ções de desporto e/ou de lazer (IDL) (1-5).
dar lugar a faltas» (1,2). Especificamente, evicção significa exclusão ou

Hospital Pediátrico Carmona da Mota - Coimbra

21
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas

2. Incidência das doenças infecto-contagiosas nas 3. Incidência do absentismo às creches e jardins de


creches e jardins de infância infância por doenças infeciosas agudas

São conhecidos cerca de 1.000 vírus capazes de induzir doenças em hu- Considera-se absentismo por DIAB a não comparência à estadia
manos (6). A agregação de crianças nas CJI e escolas facilita e potencia a programada ou o abandono das CJIE pela presença de pelo menos
transmissão de vírus e de bactérias dumas crianças para as outras (1-9). um sinal e/ou sintoma compatível com uma doença infeciosa (19,20).
Comparativamente às crianças que ficam ao cuidado dos familiares, as A taxa anual média de absentismo por episódios de DIAB (e não por
que frequentam regularmente as CJI adoecem pelo menos 2 a 3 vezes dias de doença), foi respetivamente de 4,9 episódios / ano na Finlândia
mais vezes com doenças infeciosas agudas benignas (DIAB) (2-5,9-14), em (10)
e de 3,3 episódios /ano na Austrália (23), sendo maior nos primeiros
especial nos meses de inverno (9,15,16). dois anos de vida (19,20,24,25).
As DIAB mais comuns nas creches, jardins de infância e escolas Como apenas 25% dos episódios de ET foi de apenas uma dia, mas
(CJIE), são as rinofaringites, as bronquiolites, as dispneias associadas 12,5% duraram entre 6 a 10 dias (24) (num estudo sueco), a média e o
à asma induzidas por vírus, as broncopneumonias, as pneumonias, as total de dias de ET por criança será significativamente maior (24,25) do
otites médias agudas, as gastroenterites agudas, as conjuntivites, os que a taxas anuais médias de absentismo atrás referidas (10,23).
exantemas virusais, e as febres e/ou as tosses e/ou os vómitos de etio- Num estudo finlandês, no ano letivo 1985-1986, a taxa anual de ab-
logia presumivelmente virusal, a amigdalite estreptocócica, a varicela e sentismo nas CJIE, em dias, foi de 11,4 dias, com extremos de 4,8 dias
o impétigo (2-5,10,11,17-20). entre os 7 e os 10 anos de idade, e de 20,2 dias nos dois primeiros
As DIAB são mais frequentes nos primeiros dois a três anos após o anos de vida (25). Noutros estudos alargados, da autoria do mesmo pri-
SETEMBRO

ingresso nas CJI (3,4,9-13,17-20), totalizando uma média de 6 a 9 DIAB por meiro autor (Cordell RL) (19,20), realizados nos Estados Unidos da Amé-
ano (3,10-15,19-21), mas com uma incidência inversamente proporcional à rica (EUA) entre 1992 e 1994, o absentismo anual médio nas CJIE,
idade (10,19,20) (Tabela I). Num estudo Finlandês, a duração média das em dias, foi de 4,6 dias (extremos de 2,8 e 8,2 dias) (19) e de 3,9 dias
DIAB foi de 4,7 dias, tendo sido de 5,8 dias no primeiro ano de vida (10). (extremos de 1,9 e 4,5 dias) (20), sendo maior nas idades mais jovens
2012 // 34 (2): 21-28

como seria previsível (19,20,25).

Tabela I • Incidências anuais médias dos episódios das doença(s) infeciosa(s) A taxa de absentismo anual das crianças às CJIE, por DIAB, em dias,
aguda(s) benigna(s (DIAB) nas CJIE em função da idade é diferente de instituição para instituição e de país para país (19,20,23-26),
variando de médias de 3,9 dias (20) a 11,4 dias (25), com extremos entre
Anos de vida Pönkä (10) Cordell (20) os 1,9 dias (20) e os 20,2 dias (25), com a maior taxa a verificar-se nos
1º ano 11,1 12,4 primeiros dois anos de vida (25).
SAÚDE INFANTIL

2º ano 9,1 10,7


3º ano 6,6 7,6 As diferenças nas taxas de absentismo de instituição para instituição
4º ano 4,8 4,6
(19,20,23-26)
, refletirá a adoção de diferentes critérios de ET, de país para
5º ano 3,8 4,0 país, e de instituição para instituição (26).
>5 anos 3,2 2,8
Para o mesmo número de DIAB, a taxa e o número de dias de absen-
Média (0-10 anos) 4,9 ≈ 6,0
tismo por DIAB das crianças que frequentam as CJIE, é pelo menos
Nas crianças com idades mais jovens que frequentam CJI, é signi- duas a três vezes maior do que o verificado tanto em acolhimentos fa-
ficativo o número de infeções por ano. No primeiro ano de vida, as miliares com apenas 3 a 6 crianças (Suécia) (24), como nas instituições
crianças que frequentam creches poderão atingir uma média de 11 a nos com menos de 12 crianças (EUA) (19,20).
12 infeções por ano (10,20). Num estudo com 1.050 crianças francesas A maior tolerância às DIAB dos profissionais dos acolhimentos familia-
a frequentar creches, o�������������������������������������������
número máximo de �������������������������
DIAB adquiridas por algu- res, comparativamente aos profissionais de educação (PE) das CJIE,
mas crianças, foi de 19 em 10 meses (22). reflete-se numa significativa redução da ET das crianças nas peque-
nas instituições comparativamente às CJIE (19,20,24,26).
A formação aos PE em questões básicas de saúde, poderá reduzir
Em situações extremas, no primeiro ano de admissão nas CJI, significativamente o absentismo por DIC/DIAB nas CJIE. Um estudo
algumas crianças poderão totalizar duas novas doenças infeciosas
recente, realizado nos EUA, com a utilização de telemedicina, verifi-
agudas sintomáticas por mês (22).
cou-se uma diminuição de 63% de ET nessas CJIE (27).
A maioria das DIAB não justifica obrigar à ET das crianças das CJIE. Se
Com o aumento da idade, assiste-se a uma redução progressiva das as DIAB não perturbarem, nem a participação confortável das crianças
DIAB (Tabela I) (10,19,20). Contudo, as crianças que nunca frequentaram nas atividades do grupo e/ou não requerem, dos PE, maior disponibi-
CJI antes dos 3 anos de idade, quando ingressam no jardim de infân- lidade do que estes podem proporcionar, sem o risco de comprometer
cia ou na escola, inicialmente contraem um número significativamente a saúde e a segurança das restantes crianças, essas crianças com
superior de DIAB comparativamente às que foram residentes nos anos doenças benignas poderão continuar a frequentar as CJIE (2-5,19,20).
anteriores (3,9). Contudo, a frequente intransigência dos PE de muitas das CJIE, exi-
gindo a ET de forma arbitrária, transformam as DIAB num elevado
peso económico para as famílias, para as entidades empregadoras e
para o país (14,16,19,20,21,24,28,29).

22
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas

4. Repercussões sociais da evicção desnecessária de Nas instituições em que a gestão da ET é orientada exclusivamente
crianças das CJIE pelos PE – baseados em experiências prévias, no «bom senso», na
pressão dos pais, etc. – a relação exclusão indevida / exclusão ade-
Em Portugal e em países desenvolvidos, tem sido crescente o aumen-
quada é substancialmente maior (35-46).
to do número de mulheres no mercado de trabalho. Nestes, mais de
70% das mães de crianças com menos de 5 anos de idade trabalham
fora de casa (30-32).
Em países com regras bem definidas de evicção de crianças
São muito consideráveis os custos familiares e sociais da ET das das CJIE e das IDL, por cada criança justificadamente excluída,
crianças das CJIE por virtude das DIAB. Nos cálculos dever-se-á ter outras 6 crianças são indevidamente excluídas (45). Na ausência
em conta os custos diretos da ET (consultas médicas e medicações) e do cumprimento de Normas regulamentadas, criadas por peritos
atualizados, a ET desnecessária será substancialmente maior.
os custos indiretos: absentismo dos pais ao trabalho (APT), despesa
com as viagens e os encargos com outros prestadores de cuidados
aos filhos em substituição das CJIE (16,21,25,27-29).
Estudos internacionais, alguns não recentes, constataram: Contudo, mesmo em países com Normas bem definidos de ET das
crianças das CJIE, é muito frequente o incumprimento das mesmas
• Na década de 80, mais de 40% do APT devia-se às DIAB dos filhos (36,45,46)
. O desconhecimento da existência e do teor dessas Normas,
(28)
; O APT representou o principal componente do total dos custos
pelos PE das CJIE, pelos pais e até pelos PS, justifica o frequente
com a ET das crianças das CJIE (16,25,28,29);
incumprimento (45,46). Num estudo realizado nos EUA, mais 70% dos

SETEMBRO
• Muitos pais têm dificuldades laborais devido às DIAB dos filhos, inquiridos por grupo profissional (pais, PE e PS) desconheciam o con-
com repercussões na carreira profissional e/ou académica; muitos teúdo das Normas de ET das crianças das CJIE (45).
não têm nem possibilidade, nem disponibilidade para recorrer ao Naturalmente que o incumprimento dessas Normas é maior se os di-
médico sempre que os filhos adoecem (33,34). retores das CJIE tiverem menos experiência do cargo, menos conhe-

(2):21-28
01
cimentos sobre noções básicas em saúde e desconhecerem essas

2012// //3434(2):
Num trabalho realizado nos EUA, e publicado em 2008, a vontade de
Normas (36,44).
não faltar ao trabalho e/ou às atividades escolares, pesou mais na

2012
decisão dos pais em recorrer aos cuidados de saúde por DIAB dos
filhos, do que as reais preocupações com o seu estado de saúde (33). 6. R
 azões do insucesso da propagação das DIAB pela
evicção individual

SAÚDE INFANTIL
5. Razões e consequências das divergências entre os Embora a generalidade das doenças infeciosas agudas sejam contagiosas
profissionais de educação, os pais e os profissionais (2-8,46-49)
, a larga maioria são benignas e autolimitadas e só algumas são
de saúde
potencialmente graves (2,3,49). Só estas últimas justificam a adoção siste-
mática da ET dos doentes (2-5,49), seja pela gravidade e elevado risco de
Num inquérito realizado a 95 educadores de infância portugueses, em
contágio (são exemplos a tuberculose pulmonar e a tosse convulsa), ou
Dezembro de 2006 e Janeiro de 2007 (35), constatou-se o desconheci-
somente pela potencial gravidade, e menos pelo risco de contágio, de que
mento de noções básicas sobre DIC / DIAB e da legislação portuguesa
é exemplo a doença meningocócica (2,3,49).
sobre «evicção escolar» (Quadro I).
Em relação à doença meningocócica, o risco de um segundo caso (criança
ou adulto) nas CJIE nos contactos íntimos (mesma sala e/ou convívio
Quadro I • R
 esultados dum inquérito realizado em Dezembro 2006 a 95
entre si a menos de 1,5 metros de distância nos últimos 10 dias) é
educadores de infância do distrito de Aveiro (35):
inferior a 3% (2,49).
• 95% desconhecia o teor do decreto regulamentar 3/95-27.01.1995 so-
bre evicção escolar (1);
• Mais de 70% não tiveram qualquer formação em questões de saúde;
• A larga maioria fazia confusão entre doenças e sinais e sintomas das Da maior abrangência nas exclusões das crianças das CJIE não
mesmas; se verificam reais benefícios, nem para as crianças excluídas,
• A larga maioria não distinguia as doenças contagiosas das doenças
nem para os conviventes destas (2,12,13,16,18-21,36-45).
não contagiosas;
• Mais de 35% desconhecia os significados de período de contágio e de
período de incubação;
• A larga maioria recomendava a evicção baseada no «seu bom senso», A ET das crianças e dos adultos com DIAB das CJIE e das IDL, só se
em experiências prévias, na pressão dos familiares, etc. justificará se essa exclusão diminuir os casos secundários (2,3,7,13,42,50).
Na prática, e pelas razões indicadas no Quadro II, não é o que acon-
As lacunas na formação em noções básicas de saúde pelos PE das tece no dia a dia.
CJIE, com a consequente adoção arbitrária e não uniformidade de
critérios de ET, são também uma realidade noutros países, condicio-
nando frequentes divergências entre pais, os PE das CJIE e os profis-
sionais de saúde (PS) (36-46).

23
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas

Quadro II • Razões do frequente insucesso na prevenção dos contágios mas previamente estabelecidas sobre ET (1). Essa foi a razão que
de agentes infeciosos pela exclusão temporária de crianças levou o American Academy of Pediatrics (AAP) modificar os critérios
(1-8,12,13,18,26,30,31,42,47,51)
das CJIE e das IDL de ET das CJIE sobre conjuntivites, gripe e gastroenterites no livro
• A maioria dos contágios dos agentes infeciosos das DIC/DIAB: «Managing Infectious Diseases in Child Care and Schools. A Quick
a) Iniciam-se um a três dias antes do início dos sintomas; Reference Guide», da primeira edição (2005) (52) para a segunda
b) Prolongam-se por vários dias a várias semanas após a resolução (2009) (3).
das manifestações clínicas; Nos Quadros III e IV são discriminadas as recomendações sobre ET
c) Podem ter origem em indivíduos pouco sintomáticos ou em portado- de crianças das CJIE, baseadas em consensos de peritos da Fédéra-
res-sãos (indivíduos colonizados sem sintomas); tion Fribourgeoise des Crèches et Garderies (FFCG) Suíça (2,53); da
• As fomites – as superfícies ou objetos inanimados, porosos ou não po- AAP (3,30,31,50,54); da American Public Health Association (APHA) (4) e do
rosos, contaminados com agentes infeciosos – são uma das principais National Health and Medical Research Council, Australian Government
formas de contágio dos agentes infeciosos nas CJIE e nas IDL. (NHMRCAG) (5).
De país para país não existe unanimidade na adoção dos critérios de
ET das DIC e DIAB, com algumas doenças – tais como varicela, a
7. Critérios de exclusão das crianças das CJIE por vir-
parotidite epidémica e a hepatite A – a serem motivo sistemático de ET
tude das DIAB
das CJIE nos EUA (3) e na Austrália (2-4), mas não na Suíça (2,53) (Tabela
A discussão dialética da evolução dos conhecimentos, justifica as II), nem no Canadá (55).
SETEMBRO

atualizações e as consequentes periódicas modificações das Nor-

Quadro III • C
 ritérios de exclusão temporária de crianças das CJIE e IDL por motivo de DIA – baseados nas recomendações da FFCG (Suíça) (2,53)
, do
AAP (3,12,18,30,31,50,54)
, da APHA (4)
e do NHMRCAG : (5)
2012 // 34 (2): 21-28

A – Doenças que, pela interpretação dos profissionais de educação (PE), • Sangue nas fezes (retorragia) ou melenas;
impeçam a participação da criança nas atividades de grupo: (i,ii) • Vómitos repetidos (2 ou mais nas 24 horas prévias) ou com sangue;
B – Doenças que exigem mais cuidados dedicados à criança doente do • Diarreia profusa (muitas dejeções por dia ou dejeções muito volumosas) v;
que os profissionais de educação da instituição podem proporcio-
• Sede intensa e/ou outros sinais de desidratação;
nar, com risco de comprometer a saúde e a segurança das restantes
crianças; (i,ii) • Icterícia;
C – Doenças com risco acrescido de contágio e consequente doença às • Melenas e/ou retorragias
SAÚDE INFANTIL

restantes crianças Uma vez que existem atualizações recentes sobre


• Aftas orais / inflamação na boca com sialorreia (ii).
este grupo de doenças, na Tabela II, de forma comparativa, discriminam-
-se as recomendações atuais da FFCG (2) e da AAP (3).
D – Presença dos seguintes sinais e/ou sintomas cuja intensidade ou i) Os profissionais de educação (PE) deverão especificar o grau de seve-
potencial gravidade exijam cuidados médicos e/ou vigilância aper- ridade das manifestações das doenças em 3 graus (30):
tada: (ii,iii) • Grau 1: a criança apesar de estar doente, manifesta interesse pelas ativi-
dades e tem envolvimento total nas mesmas, e não apresenta sintomas
◊ Mau julgamento clínico – «Parecer estar muito doente» (i); mau aspeto;
sistémicos de doença (exemplos exantema macular não febril, varicela
◊ Febre associada a: (ii)
não febril);
• Idade inferior a 4 meses; • Grau 2: a criança reduz a sua atividade habitual normal, pela presença de
sintomas sistémicos – por exemplo por ter febre – mas volta a interessar-
• Alteração do comportamento e/ou do estado de consciência;
-se pelas atividades do grupo algum tempo após a administração do an-
• Prostração iv;
tipirético;
• Vómitos repetidos / incoercíveis; • Grau 3: a criança manifesta pouca vivacidade e atividade, com sinais e/ou
• Exantema / erupção de início muito recente; sintomas que impedem o seu envolvimento nas atividades do grupo (30).
• Petéquias, equimoses;
ii) Se os pais e os PE das instituições discordarem nas razões para a ex-
• Convulsão. clusão, e estas assentarem nas capacidades da criança para participar
ou na disponibilidade dos PE em assegurar as atividades educativas às
◊ Sintomas ou sinais de doença potencialmente grave e/ou perturba- restantes crianças, os PE são soberanos na sua decisão, não podendo
dora do bem-estar (iii): os pais exigir aos PE a responsabilidade de aceitar a criança e de lhes
• Prostração iv; assegurar os cuidados e a vigilância, durante o período em que a criança
• Letargia (≈ excessivamente sonolento e pouco reativo); cumpre os critérios dos PE para a ET (3,4,30). Se a razão para a exclusão
• Gemido, choro ou irritabilidade mantidos ou intermitentes; se dever a potencial DIC que ponha em risco as outras crianças do grupo,
e existirem diferentes opiniões por profissionais de saúde (3,4,30), caberá à
• Dores mantidas, intermitentes e/ou intensas, em qualquer local;
Autoridade de Saúde a decisão final (1,30).
• Convulsão;
• Sonolência progressiva ou excessiva; iii) Exceto se um profissional de saúde determinar que a situação clínica
não exige a exclusão (2-4,31).
• Rigidez da nuca;
• Exantema associado a febre e/ou a alteração do comportamento e/ou iv) Por prostração deverá entender-se, estando acordado, comportar-se na
do estado de consciência (iii); alma e no corpo como se estivesse a dormir;
• Sinais de dificuldade respiratória: polipneia, adejo nasal, gemido expi- v) As gastroenterites agudas são 17 vezes mais frequentes nas crianças
ratório, tiragem;
que usam fraldas comparativamente às que já têm controlo dos esfínc-
• Incapacidade em falar; teres (18).
• Tosse perturbadora para a criança;

24
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas

Tabela II • Recomendações da FFCG (2011) (2,53) e do AAP (2009) (3) sobre as doenças com risco acrescido de contágio e consequente doença às restan-
tes crianças (desde que o estado geral da criança o permita e não se aplique nenhuma das recomendações do Quadro III). Que doenças infeciosas
exigem evicção temporária?

Recomendações da AAP (3) (2009) Recomendações da FFCG (2,53) (2011)


Sim, até 24 horas após o início do tratamento antibiótico
Amigdalite estreptocócica Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico
e fim da febre
Conjuntivite bacteriana / banal Não; nem medicação a) Não; recomendado tratamento com antibiótico tópico
Sim; até declaração médica de que não representa risco de
Conjuntivite por adenovírus a)
Sim
contágio a)
Sim; até à declaração médica de que não representa risco de
Cólera Omisso b)
contágio b)
Dermatite perianal
Omisso Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico
estreptocócica
Sim se as dejeções saírem da fralda, a criança não
Sim, até parar a diarreia mas não é obrigatório;
Diarreia – gastroenterite controla as fezes ou se se aplicar qualquer dos critérios
aguda (GEA) (ver exceções) A, B ou D do Quadro IV; Não se a instituição tem capacidades de assegurar os cuidados
higiénicos;
Não nas restantes situações
Sim se as dejeções saírem da fralda, a criança não
Sim, até parar a diarreia mas não é obrigatório;
Diarreia aguda por controla as fezes ou se se aplicar qualquer dos critérios
Salmonella spp, Shigella spp A, B ou D do Quadro IV; Não se a instituição tem capacidades de assegurar os cuidados
higiénicos;
Não nas restantes situações
Diarreia aguda a norovírus Omisso Sim; até 48 horas após terminar a diarreia
Sim até que seja iniciado o tratamento (de um dia para

SETEMBRO
Escabiose (sarna) Sim até que seja iniciado o tratamento (de um dia para o outro)
o outro)
Escarlatina Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico
Sim; até ao fim da diarreia; menos tempo se a instituição tem
Febre tifóide Omisso
capacidades de assegurar os cuidados higiénicos.
Furunculose Não; Sim se lesões expostas Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico.

(2):21-28
Sim se as dejeções saírem da fralda, a criança não

01
controla as fezes ou se se aplicar qualquer dos critérios Sim; até ao fim da diarreia; menos tempo se a instituição tem
Giardíase sintomática

2012// //3434(2):
A, B ou D do Quadro IV; capacidades de assegurar os cuidados higiénicos.
Não nas restantes situações
- Se < 5 anos de idade: sim até 6 dias após o início das queixas;

2012
Hepatite A Sim; até uma semana após o início da doença
- Se > 5 anos; não c)
Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico; no caso
Sim; até 24 horas após o início do tratamento
de Staphylococcus aureus meticilino-resistente a evicção está
Impétigo antibiótico; igual no caso de Staphylococcus aureus
indicada até declaração médica de que não representa risco de

SAÚDE INFANTIL
meticilino-resistente
contágio.
Meningite / doença Sim; imediatamente que haja suspeita; profilaxia dos Sim; imposta pela gravidade da doença e não pelo risco de contágio
meningocócica contactos íntimos d) (risco de um segundo caso < 3%).
Meningites bacterianas por Sim; não diferencia a doença meningocócica das
Streptococcus pneumoniae meningites não meningocócicas. Não; mas em regra a criança está incapaz de frequentar as CJIE
e Haemophilus influenzae do Mas em regra a criança está incapaz de frequentar as e as escolas
b), e)
.
tipo b CJIE e as escolas b), e)
Não; assegurar da imunidade ou do cumprimento da vacinação
Parotidite epidémica Sim; até 5 dias após início da tumefação com duas doses nas restantes crianças e nos profissionais de
educação;
Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi detetado) e até
Pediculose
detetado) e até que seja iniciado o tratamento que seja iniciado o tratamento
Pneumonia bacteriana Não b) Não; igual à das meningites não meningocócicas; b)
Não; assegurar o cumprimento da vacinação das restantes crianças
Rubéola Sim; até 7 dias após o início do exantema
e dos profissionais de educação;
Sarampo Sim; até 4 dias após o início do exantema Sim; até 4 dias após o início do exantema
Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi detetado) e
Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi
Tinha até que seja iniciado o tratamento; se tinha plantar, justifica-se a
detetado) e até que seja iniciado o tratamento
evicção das piscinas até à cura
Tosse convulsa Sim; até 5 dias após início de tratamento adequado Sim; até 5 dias após início de tratamento adequado
Sim; até declaração médica de que iniciou tratamento Sim; até à declaração médica de que iniciou tratamento adequado
Tuberculose pulmonar
adequado e não representa risco de contágio; d) e não representa risco de contágio; d)
Tuberculose extra pulmonar Omisso d) Não; d)
Tuberculose latente (viragem
Omisso d) Não; d)
tuberculínica)
Sim; até que todas as lesões fiquem em crosta
Varicela Não f)
(geralmente 6 dias após início do exantema).
Vírus da imunodeficiência Não; exceto se se aplicar qualquer dos critérios A, B ou
Não
humana (SIDA) D do Quadro IV;
Zona (herpes zooster) Não, exceto se as lesões estiverem expostas Não f)

a) Conjuntivite ou queratoconjuntivite epidémica por adenovírus, febre faringoconjuntival – a adenovírus – o período de contágio dura até 14 dias após o
início das queixas (56); um estudo prospetivo sobre conjuntivites purulentas em idade pediátrica, que comparou crianças medicadas com cloranfenicol
tópico versus placebo, mostrou uma resolução média em 5,4 dias nos medicados com antibiótico versus 5,0 dias nos que fizeram placebo (57);
b) Os doentes em regra têm critérios para a evicção (ver critérios A, B e D do Quadro IV),
c) O principal objetivo é a proteção dos adultos não imunes; se os PE estiverem imunes (por infeção natural ou por vacina) não é exigida a evicção; deve-se
vacinar os PE não imunes e reforçar os cuidados gerais de higiene;

25
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas

d) Está indicado contactar a Autoridade de Saúde na doença confirmada ou na suspeita da mesma (56);
e) A meningite bacteriana por Streptococcus pneumoniae é considerada não contagiosa, porque, para haver doença, é exigida a colonização prévia e, só
depois, se processa a proliferação e a invasão da corrente sanguínea e a consequente focalização à distância 49; nas crianças saudáveis com menos de
2 anos que frequentam CJI, a colonização das mucosas das vias aéreas superiores, por Streptococcus pneumoniae, varia entre 20% a 60% (15,18) e, por
Haemophilus influenza, entre 13% a 18,7% (15).
f) Não existe prova da eficácia preventiva da evicção dos doentes com varicela (2,55); também a Sociedade Canadiana de Pediatria não obriga a evicção das
crianças com varicela das CJIE (55).

Estas recomendações ultrapassam, em muito, o proposto pelo Decre- As hepatites B e C e a infeção pelo vírus da imunodeficiência humana
to Regulamentar nº 3/95, do «Diário da República», I Série-B, nº 23, de adquirida (SIDA) são transmitidas através do contacto com sangue,
27 de Janeiro de 1995 (1) . mucosas ou feridas expostas (3,12).

Embora, teoricamente, seja possível a transmissão da hepatite


8. Situações que não justificam a exclusão das crianças
B, da hepatite C e da SIDA por mordeduras humanas, essa
das CJIE e das IDL:
possibilidade é muito remota, pelas seguintes razões:

Para a FFCG (2,53), a AAP (3,12,18,30,31,50,54), a APHA (4) e o NHMRCAG (5) a) A saliva contém muito menos vírus do que os existentes no
não se justifica a ET das crianças das CJIE e das IDL com as doen- sangue (3,50);
ças e/ou os sinais ou sintomas discriminados no Quadro IV, a que se
b) Não obstante ocorrer a laceração da pele com a mordedura,
acrescenta-se as conjuntivites banais (2,3).
SETEMBRO

o tempo de permanência dos dentes é muito fugaz, não dando


Quadro IV • S
 ituações clínicas infeciosas que NÃO justificam a exclu- tempo para a transferência do sangue da vítima para a que
são temporária das CJIE (desde que o estado geral da crian- morde ou vice-versa (3,12,18).
ça o permita e não se aplique nenhuma das recomendações do
Quadro III), segundo a FFCG a AAP, a APHA e o NHMRCAG) Mas este facto não dispensa a avaliação serológica nos casos
(2-5,12,18,30,31,50,53,54)
2012 // 34 (2): 21-28

suspeitos de potencial contágio (50).


• Amigdalite virusal (após teste rápido ou cultura da orofaringe negativos)
• Bronquiolite e bronquite infeciosa
• Candidíase oral, genital, da pele ou das unhas
• Citomegalovírus
• Conjuntivites banais
• Corizas, rinorreia, com ou sem tosse e independentemente da cor das 9. V
 ariabilidades de interpretação e de aplicação prática
secreções; dos conhecimentos científicos pelos profissionais
• Diarreia (gastroenterite) em criança autónoma nos cuidados de higiene de saúde
SAÚDE INFANTIL

pessoal, e não apresentar nenhum dos sinais de alerta do grupo D do


Quadro IV.
• Doença boca, mãos e pés (i) As recomendações para a evicção de crianças das CJIE e IDL por
• Exantemas / erupções cutâneas na ausência de febre e/ou de alteração
do comportamento e/ou do estado de consciência;
virtude de DIC não são universalmente aceites, nem são exatamente
• Exantema súbito (na fase de exantema, já com apirexia) iguais de país para país. A recomendação para a ET das crianças com
•F  ebre sem nenhum dos sinais de alerta (enunciados no grupo D do Qua-
dro IV após antipirético) em criança com mais de 4 meses;
varicela é exemplo.
• Gengivoestomatite herpética (vírus herpes simplex) O período de maior contágio da varicela ocorre desde um a dois dias
• Giardíase assintomática (sem diarreia)
antes das crianças manifestarem sinais e sintomas e durante os pri-
• Gripe sazonal
• Hepatites B e C e os portadores destes vírus. meiros dois dia de doença (2,3,55,56), podendo começar desde 96 horas
• Herpes simplex em qualquer local (recidivante ou não)
antes do início da erupção (55). Uma vez que é comum que, neste pe-
• Infeção urinária
• Laringotraqueíte ríodo, as crianças com varicela permaneçam nas CJIE, a sua exclu-
• Megaloeritema (5ª doença) (ii) são, não impede a sucessão de contágios e, consequentemente, o
• Meningite virusal
• Molusco contagioso (iii) aparecimento de novos casos (2,55). A varicela é, em regra, uma doença
• Mononucleose infeciosa benigna na primeira década da vida, sendo potencialmente mais grave
• Micobactérias não tuberculosas
• Otite média aguda na adolescência e na vida adulta (56,58). Daí ser preferível contrair-se
• Parasitas intestinais helmintas: Enterobius vermiculares (oxiúros), Ascaris a varicela nos primeiros anos de vida ou, em alternativa, adotar-se a
lumbricoides, etc.
• Portadores assintomáticos de gérmens intestinais patogénicos: Giardia vacinação universal (2,58), idealmente no segundo ano de vida.
lamblia, Salmonella spp, Shigella spp;
• Portadores assintomáticos de g���������������������������������������
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rmens patogénicos nas mucosas respira- Vários países recomendam a ET das crianças com varicela das CJIE
tórias: Neisseria meningitidis; Streptococcus pneumoniae; Haemophylus (3-5)
. Já o Comité de Doenças Infeciosas e Vacinas da Sociedade Cana-
influenzae b; Moraxella catarrhalis; Streptococcus pyogenes;
• Toxoplasmose diana de Pediatria (55) e o Comité Suíço que redigiu as recomendações
• Verrugas (qualquer local) para ET das crianças com DIC/DIAB (2,53) são muito mais liberais.
• Vírus da imunodeficiência humana adquirida (SIDA)
• Zona (herpeszooster) – desde que as lesões fiquem cobertas pela roupa.
Também em França é conhecido uma dualidade de recomendações
i) Apenas o NHMRCAG (5) recomenda a exclusão até à cura das lesões cutâ-
em relação à varicela (59). Em muitas CJIE recomenda-se a ET das
neas; crianças. Noutras, dado o caráter inevitável da doença e os riscos da
ii) O parvovírus B19 inicia o contágio uma semana antes do início do exan-
tema (31) e deixa de ser contagioso uma vez iniciado o exantema (12,50,54).
varicela a partir da adolescência (inclusive), justifica que sejam liberais
iii) A FFCG recomenda evitar-se os banhos em comum nas piscinas, manter aos contágios, permitindo que a criança permaneça na instituição e
as lesões cobertas e a utilizar sandálias de plástico (2).
adquira imunidade nos primeiros anos da vida (59).

26
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas

10. Medidas de prevenção ou minimização dos contágios em conta os variados condicionantes e as consequências da mesma
(Quadro V).
As medidas mais eficazes na prevenção ou minimização dos contá-
gios são (pelas crianças e pelos PE das CJIE) a vacinação, a lavagem Quadro V • C
 onsiderandos a ter em conta na indicação para ET das crian-
frequente das mãos, a eliminação dos gérmens existentes nas fomites ças CJIE (1-5)
e o cumprimento, sem interrupções, das normas de higiene (3,17,18,31,54). 1) As necessidades das crianças doentes (de bem estar e conforto)
A lavagem das mãos (pelas crianças e pelos PE) mantem-se como a 2) Doenças graves com risco acrescido de contágio às restantes
forma mais eficaz de prevenção da transmissão dos agentes infecio- crianças;

sos (3,6,8,17,31,47,48,60). 3) 
As capacidades das instituições em assegurar os cuidados
suficientes à criança doente, sem comprometer a segurança
Nas CJIE e IDL onde existem regras escritas, sucintas mas claras, das outras crianças;
permanentemente disponíveis em locais acessíveis para consultas re- 4) As necessidades profissionais e sociais dos pais;
gulares, e quando cumpridas, verifica-se uma acentuada diminuição 5) Os eventuais benefícios e os prejuízos sociais da evicção.
da incidência das DIC / DIAB (5,17,18,30,31,40,50,54).
Mas as recomendações escritas têm pouco valor e não serão cum- A adoção de Normas uniformes e justas de evicção das crianças dos
pridas, se não forem compreendidas (40). A formação adequada e CJIE e das IDL, foram já delineados noutros países (2-5). Em Portugal,
contínua dos profissionais de educação nas medidas preventivas dos para a implementação de Normas de ET das crianças com DIC/DIAB
contágios das DIC / DIAB são as medidas mais importantes para uma das CJIE, é�����������������������������������������������������������
necessário�����������������������������������������������
haver vontade política dos diferentes Ministé-

SETEMBRO
significativa redução da transmissão de agentes infeciosos nas CJIE rios envolvidos, mas com o parecer de todos os intervenientes no dia
8,17,18,31,51
. A explicitação dessas Normas sai do âmbito desta revisão, a dia: representantes das famílias, dos profissionais de saúde e dos
podendo ser consultadas noutros textos atualizados (3,61). profissionais de educação.

(2):21-28
01
11. Conclusões

2012// //3434(2):
A decisão para recomendar a ET das crianças das CJIE e IDL justi-

2012
fica que se deva ponderar das consequências dessa medida, tendo

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20 Saúde região bairradina 18-11-2015

Infantarites ou “carrosséis de infeções” em crianças


que frequentam creches ou jardins-de-infância Manuel Salgado
Médico Pediatra

Entrada das crianças em infantários: exantemas seja no início ou no decorrer da doença;


e) Exantemas banais, sejam virusais ou bacterianos (exemplo escarlatina).
mais infeções agora, menos mais tarde A extraordinária frequência, a cumulativa duração em dias de doença e a recorrência das
infeções com curtos intervalos livres ou ausência destes, confere, aos olhos dos pais, o
conceito de se tratar apenas da mesma doença, nomeadamente “terem as defesas
diminuídas”.
Globalmente estas infeções representam mais de 95% do total das infeções observadas
em crianças que frequentam creches e/ou jardins-de-infância

Quais as razões para essas infeções múltiplas e sequenciais nessas crianças?


As razões são essencialmente duas:
1) Disponibilidade e oportunidade para adoecer e, simultaneamente criar imunidade
para essas doenças
2) “Oferta” de agentes infeciosos
Resumo Estas crianças “põe-se a jeito”. Ou antes, as condições sociais próprias dos dias de hoje,
Nos primeiros anos de frequência de creches ou jardins-de-infância, especialmente é que “colocam as crianças a jeito” de contactarem permanentemente com esses agen-
nos dois primeiros, são muito frequentes as daycaritis (“infantarites”) que consistem tes infeciosos.
duma sucessão de infeções banais a intervalos muito curtos.
Trata-se de episódios muito frequentes e recorrentes de rinofaringites, febre sem 1) Disponibilidade e oportunidade
causa evidente, doenças infeciosas da boca, bronquiolites, gastroenterites agudas, Ao nascer a criança traz como herança as imunoglobulinas (IgG) maternas, transmitidas
otite médias agudas, conjuntivites, faringites, amigdalites, laringotraqueites e diver- ao feto através da placenta (Figura 2). Estas IgG conferem imunidade para a maioria das
sos exantemas (erupções cutâneas) que, globalmente representam mais de 95% infeções banais até cerca dos 6 meses de vida, precisamente as infeções que a mãe
das infeções observadas em crianças. contraiu ao longo da vida (Figura 2).
Esta sequência de infeções, por vezes quase ininterrupta, sugere aos pais poder
tratar-se duma mesma situação, sobretudo de “défice das defesas”.
Em qualquer país, esta extraordinária frequência e a cumulativa duração de dias de
doença sofridos por estas crianças, transformam as infantarites num pesado fardo
social e económico para as famílias, para os Serviços Nacionais de Saúde e para as
diversas estruturas económicas.
Só com o devido esclarecimento dos pais e da população se poderão tomar as medi-
das preventivas possíveis. Mas também obviar de preocupações desnecessárias, de
reduzir os consumismos em cuidados de saúde e de minimizar os incómodos vividos
pelas crianças e as suas famílias.

O nome e a incidência
Em 2013, a médica americana Pamela Bailey usou e definiu pela primeira vez a designa-
ção de “daycaritis”, que tento traduzir pelo neologismo infantarites.
As alternativas a este nome seriam “infantáriosites”, “crechites”, “jardinites”, “jardinzites”
ou frases tais como “carrosséis de infeções nos infantários”. Se bem que esta última
traduza o essencial, optei por “infantarites”. Aos outros caberá aceitar ou sugerir um nome
melhor. Figura 2: Os anticorpos maternos, transmitidos através da placenta, protegem os bebés
nos primeiros 6 meses de vida; depois desta idade, a criança terá de adquirir imunidade
por si só, contraindo doenças (sintomáticas ou não); ou pela simulação destas (pelas
vacinas)

A entrada nas creches (na maioria das vezes,logo nos primeiros 2 anos de vida) e/ou nos
jardins-de-infância coincide com o período da vida destas crianças que:
a) Ainda não tiveram oportunidade para adquirir imunidade gradualmente (como sucedia
até há várias décadas atrás);
b) Estão disponíveis para adoecer ao ritmo das oportunidades. Que não vão faltar, como
se explica de seguida.
Figura 1: As “Daycaritis” têm o pico de ocor-
rência nos primeiros 12 meses de infantários Oportunidade: Nunca na vida uma criança estará mais tão propícia a adoecer, pois as
(algumas das “novas” crianças dos “balas”(as infeções) são inúmeras e vêm de todos os lados (dos colegas); já os “escu-
infantários que chegam a adoecer 2 ou mais dos” (as defesas = imunidade) são quase inexistentes; e as poucas defesas que exis-
vezes por mês); continuam a ser muito fre- tem, não são “compactas”, antes feitos de malhas com largos buracos, pois conferem
quentes no segundo ano da “escolinha”, mas uma imunidade parcial, pois os diferentes vírus têm muitas variantes “cepas”, não pro-
progressivamente, as infeções vão reduzin- porcionado imunidade, justificando as reinfeções. Só como exemplos: são 101 rinovírus,
do em número. 51 adenovírus, 13 rotavírus.

O que são infantarites? Depois o que acontece?


Após criar imunidade a múltiplas infeções durante os primeiros anos de frequência no
São “carrosséis de infeções” (umas infeções atrás das outras) em crianças que frequen-
infantário, pouco ficará para contrair. Uma vez imunes, ficarão tempos e tempos sem
tam creches ou jardins-de-infância.
adoecer (Figura 1).
São sequências de infeções banais e benignas, mas muito frequentes e recorrentes,
Mas independentemente da idade com que se entra no infantário (antes dos 2 anos, após
envolvendo:
os 2 anos, ou nunca o frequentaram), aos 10 anos de idade, a taxa de infeções das
a) As vias aéreas superiores e a mucosa conjuntival: rinofaringites (as banais “constipa-
crianças é semelhante nos 3 grupos: todos já adquiriram imunidade. A sequência é que
ções” ou “catarros respiratórios superiores”, sinusites, otites médias agudas, estomatites
variou: uns levaram logo um banho de infeções, outros foram-se molhando sobretudo no
(doenças da boca), faringites e/ou amigdalites, conjuntivites; e/ou
início, e outros foram-se “salpicando”, durante 10 anos, de agentes infeciosos.
b) As vias aéreas inferiores: laringites, laringotraqueítes, traqueítes, laringotraqueo-bron-
quites, bronquites infeciosas (não alérgicas), bronquiolites, broncopneumonias virusais;
e/ou E lembremo-nos que, só poderemos ser saudáveis na vida adulta, se formos adoecen-
c) Aparelho gastrointestinal; gastroenterites por vírus, por parasitas (sobretudo Giardia) do e criando imunidade cumulativa enquanto somos crianças.
ou por bactérias (Escherichia coli, Salmonelas, toxina de Estafilococus aureus, …)
d) Infeções sem óbvia focalização: síndrome febril sem foco com conservação do estado Bibliografia:
geral, febre sem foco com discreta rinorreia e/ou tosse associada, febre associado não a 1. Bailey P. Daycaritis, Pediatr Emerg Med 2013;14(2):79-87.
Manuel Salgado

texto para pais


Critério de exclusão de crianças das creches, jardins-de-infância,
escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas

A retirada temporária (evicção) das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas em Portugal. Noutros países existem regras bem definidas da retirada temporária das
(CJIEP) em virtude de doenças infecto-contagiosas (DIC) é uma problemática diária das crianças das CJIEP, estabelecidas pelas respectivas Sociedades Médicas Pediátricas e
famílias, nos estabelecimentos de educação e nas piscinas, pese ser pouco discutida de Saúde Pública (Quadro I).

Quadro I • Critérios de exclusão (evicção) temporária de crianças dos estabelecimentos de Para estas Sociedades Médicas não se justifica a exclusão de crianças das CJIEP as crianças com as
educação e lazer por DIC, de outros países: doenças e sintomas sem gravidade, descriminados no Quadro II.
A – Doenças que, pela interpretação do profissional de educação, impeçam a participação Quadro II • Situações clínicas que NÃO justificam a evicção / exclusão dos estabelecimentos
confortável da criança nas actividades do grupo: (i) de ensino ou lazer (desde que não se aplique nenhuma das recomendações do Quadro
B – Doenças que exigem mais cuidados para a criança doente do que o staff da instituição pode I, eventualmente após a administração de analgésico / antipirético):
proporcionar, com risco de comprometer a saúde e segurança das restantes crianças (i).
C – Doenças com risco acrescido de contágio e de consequente doença às restantes • Amigdalite virusal (após teste rápido ou • Laringotraqueíte
crianças: cultura negativos) • Megaloeritema (5ª doença) em doente sem
• Amigdalite / escarlatina estreptocócicas – até 24 horas após o início do tratamento e tér- • Bronquiolite e bronquite infecciosa doença hematológica nem compromisso da
mino da febre; • Corizas, rinorreia, independentemente da imunidade – doença provocada pelo parvo-
• Conjuntivite purulenta – definida com hiperémia da conjuntiva, com exsudado branco ou amare- cor das secreções, com ou sem tosse; vírus (*)
lado ou verde – até observação médica e o início do tratamento (ii); • Febre sem nenhum dos sinais de alerta • Meningite virusal
• Diarreia (gastroenterite) – até 24 horas após a sua resolução dos vómitos e da diarreia – (enunciados na alínea D da Quadro I) em • Molusco contagioso
excepto se a criança não usar fraldas, for autónoma e não apresentar nenhum dos sinais criança com mais de 4 meses, e que, após • Mononucleose infecciosa
de alerta do grupo D (iii). a aplicação de antipirético, não impeça as • Otite média aguda (excepto se otorreia)
• Escabiose (sarna) – até à realização do tratamento completo; actividades diárias próprios do grupo etário; • Parasitas intestinais helmínticos – (oxiúros,
• Hepatite A – até uma semana após o início da icterícia; • Candidíase oral e genital Ascaris lumbricoides, etc.)
• Impétigo e dermatite estreptocócica perianal – até 24 horas após o início do tratamento • Conjuntivite não purulenta - com epífora de • Pediculose – até ao primeiro tratamento
antibiótico; exsudado aquoso, sem febre, sem dor ocu- (pode aguardar-se pelo fim do dia da identi-
• Meningite / doença meningocócica – até completar o tratamento lar ou hiperémia conjuntival notória; olhos ficação da doença para se iniciar a exclusão
• Parotidite epidémica – até 9 dias após início da tumefacção das parótidas; com ramela sem hiperémia conjuntival; – que poderá não ser necessária);
• Pediculose – até ao primeiro tratamento (pode aguardar-se pelo fim do dia da identificação • Doença boca-mãos-pés • Pneumonia ou broncopneumonia - até 48
da doença para iniciar a exclusão – que poderá não ser necessária); • Exantema / erupção cutânea na ausência de horas após o início antibioterapia
• Rubéola – até 6 dias após o início do exantema; febre e/ou de alteração do comportamento; • Tinha – até se iniciar o tratamento (pode
• Sarampo – até 4 dias após o início do exantema; • Exantema súbito aguardar-se pelo fim do dia da identificação
• Tosse convulsa – até 21 dias após o início dos sintomas; reduz para apenas 5 dias no caso • Gengivo-estomatite herpética (infecção da doença para se iniciar a exclusão – que
de tratamento correcto com antibiótico macrólido; pelo vírus herpes simplex) poderá não ser necessária);
• Tuberculose – até declaração médica de que iniciou tratamento adequado e não representa • Giardíase assintomática (sem diarreia) • Toxoplasmose
risco de contágio; na tuberculose latente não está indicada a exclusão; • Gripe sazonal • Verrugas
• Tinha (dermatofitose) – até iniciar tratamento (pode aguardar-se pelo fim do dia da identifi- • Hepatites B e C • Vírus da imunodeficiência humana adquirida
cação da doença para iniciar a exclusão – que poderá não ser necessária); • Infecção por citomegalovírus (SIDA)
• Varicela – até que todas as lesões fiquem em crosta (geralmente 6 dias); • Infecção urinária • Zona (herpes-zooster) - desde que as le-
sões fiquem cobertas pela roupa.
D – Presença dos seguintes sinais e/ou sintomas cuja intensidade ou potencial gravida-
* o parvovírus B19 inicia o contágio uma semana antes do início do exantema deixa de ser contagioso uma vez
de exijam cuidados médicos e/ou vigilância apertada:(ii) iniciado o exantema.

• Mau julgamento clínico - “Parecer estar > convulsões; No decurso das infecções ligeiras sofridas pelas crianças, nem a retirada de crianças doentes CJIEP,
muito doente” > sonolência progressiva ou excessiva; nem a sua separação do grupo, previne a propagação dos respectivos agentes infecciosos às outras
> rigidez da nuca; crianças e aos adultos conviventes (Quadro III).
• Febre no contexto de:(ii) > exantema associado a febre ou a
> idade inferior a 4 meses; alteração do comportamento ou do
> alteração do comportamento ou do estado de consciência (ii);
estado de consciência; Quadro III • Razões do insucesso na prevenção dos contágios de agentes infecciosos de DIC pela exclusão de crianças
> sinais de dificuldade respiratória;
> prostração; > incapacidade em falar; com doenças ligeiras das CJIEP:
> exantema / erupção de início recente; Os contágios de muitos dos agentes infecciosos responsáveis por DIC:
> tosse perturbadora para a criança;
> convulsão.
> sangue nas fezes;
> vómitos repetidos (2 ou mais nas 24 • Precedem de 1 a 3 dias o início dos sinais e/ou sintomas;
• Sintomas ou sinais de potencial do- • Prolongam-se por dias a semanas para além da resolução dos sinais e/ou sintomas;
ença grave e/ou perturbadora do bem- horas prévias) ou com sangue;
• Provêm também dos conviventes assintomáticos que ficaram transitoriamente portadores-sãos.
-estar (ii): > diarreia profusa;
> letargia (≈ excessivamente sonolento e > sede intensa ou outros sinais de de-
pouco reactivo), prostração; sidratação; Em países com regras bem definidas de evicção escolar (Quadros I e II), por cada criança justificada-
> gemido, choro ou irritabilidade manti- > icterícia; mente excluída dos infantários por DIC, outras 6 crianças são indevidamente excluídas. Em Portugal,
dos ou intermitentes; > aftas orais / inflamação na boca com
na ausência de regras bem definidas, elaboradas por peritos, a relação exclusão indevida / exclusão
> dores mantidas, intermitentes e/ou sialorreia (babar-se continuamente) (ii).
adequada será substancialmente maior, sendo os excessos o dia-a-dia das nossas famílias.
intensas;

i) Se os pais e o staff das instituições dis- razão para a exclusão se dever a poten-
cordarem nas razões para a exclusão, cial a DIC que ponha em risco as outras Da evicção despropositada resultará, frequentemente, o desnecessário absentismo ao trabalho,
e estas assentarem ou nas capacida- crianças do grupo, e existirem diferentes eventuais conflitos laborais, que poderão culminar num eventual prejuízo no precário emprego, as-
des da criança para participar ou na opiniões por profissionais de saúde, ca- sim como consequências socioeconómicas em cadeia: despesas inúteis em saúde, consumismos
disponibilidade do staff em assegurar berá à Autoridade de Saúde concelhia a
as actividades educativas às restantes decisão final. em serviços de saúde, absentismo à escola, etc.
crianças, os profissionais de saúde são ii) Excepto se um profissional de saúde
soberanos na sua decisão, não podendo determinar que a situação clínica não Saúdam-se a Direcção Geral de Saúde e a Sociedade Portuguesa de Pediatria que nomearam uma
os pais exigir ao staff a responsabilidade exige a exclusão. comissão de peritos que, desde há uns meses, estão finalmente a definir critérios de evicção das
em aceitar a criança e em assegurar- iii) As GEA são 17 vezes mais frequentes CJIEP baseados em conceitos científicos actuais, mais justos e práticos.
-lhe os cuidados e a vigilância, durante nas crianças que usam fraldas do que
o período em que a criança cumpre os nas que nas que já têm controlo dos es- Esperemos que, antes da sua conclusão, peçam igualmente opinião a peritos profissionais de edu-
critérios do staff para a exclusão. Se a fíncteres. cação. Depois sim, que se façam cumprir as normas elaboradas.

Assistente Hospitalar de Pediatria – Hospital Pediátrico de Coimbra • Correspondência: mbsalgado27@gmail.com


20 Bairrada região bairradina 04-11-2015

Que declarações devem os médicos passar para as


crianças frequentarem creches e/ou jardins-de-infância? Manuel Salgado
Médico Pediatra
1ª parte
Resumo Esta Portaria, emanada pelo Ministério da Solidariedade e Segurança Social determina
que, “… torna-se necessário proceder a ligeiros ajustamentos no que respeita aos ele-
mentos que devem constar do processo individual de cada criança, designadamente a
Não obstante as creches e o jardins-de-infância serem agrupadas nos mesmos edifí-
exigência de comprovação do grupo sanguíneo da criança e de declaração médica em
cios e serem a sequência natural do crescimento das crianças, são tuteladas por Minis-
qualquer situação”.
térios diferentes, com regulamentos diferentes, nalgumas vezes contraditórios.
No que toca à inscrição duma criança numa creche a lei, de 2012, adaptou-se ao século
“Assim, e não obstante tais exigências terem constado de legislação anterior, importa
XXI; já a lei que regulamenta os jardins-de-infância é velha (tem 46 anos), é absurda e
atender à experiência dos profissionais de saúde nesta matéria, o que vem não só elimi-
contradiz a das creches.
nar custos sociais às famílias, bem como desburocratizar processos e facilitar o acesso
Para uma criança normal, a lei das creches dispensa qualquer declaração médica na
das crianças à creche, sem prejuízo do seu bem-estar e saúde”.
inscrição. Muito menos será necessário renovar, anualmente, essa declaração.

Introdução 1.2. Para os jardins-de-infância:


Em Portugal, diariamente são exigidas aos pais de crianças que frequentam creches e/
ou num jardins-de-infância (CJI), variados tipos de declarações, seja para a inscrição,
para o regresso à instituição após um período em casa após doença aguda e em diver-
sas outras situações.
Na maioria das vezes as declarações são exigências de regulamentos internos dessas
instituições ou de meros arbítrios individuais que não têm em conta da legalidade ou não
dessa exigência.
Para facilitar a vida aos pais, a rotina do dia-a-dia tem tornado essa prática uma prática
que muitos nem a questionam. Tal como uma mentira que, “contada tantas vezes se
transforma numa verdade”. Figura 3: Crianças das ida-
des dos jardins-de-infância
(dos 3 aos 6 anos)

Figura 1: Quando os dogmatismos (falsas verdades A norma aplicável para os jardins-de-infância é o Decreto-Lei 542/79, de 31 de dezembro.
inquestionadas) preponderam sobre o bom senso, o re- Diário da República - I Série, n.º 300-12º Suplemento (do Ministério da Educação) –
sultado é um conjunto de exigências absurdas, fúteis, inú- Quadro II.
teis e dispendiosas.
Quadro II - Legislação que regulamenta os jardins-de-infância.
Que ministérios tutelam as creches e os jardins-de-infância?
As creches são tuteladas pelo Ministério da Solidariedade e da Segurança Social. Já os
jardins-de-infância são tutelados pelo Ministério da Educação.
Paradoxalmente não existe consonância nos dois ministérios, num perfeito divórcio entre
eles. É notória a indiferença, tanto do Ministério da Saúde (que deveria tutelar a elabora-
ção de normas referentes a questões de saúde) como do Ministério da Justiça, que
deveria uniformizar as leis, zelando assim pela justiça (igualdade de direitos).
1) Declarações médicas são precisas para a inscrição das crianças
saudáveis?

Figura 2: Criança de idade


de creche (dos 3 meses
aos 3 anos)

1.1. Para a creches, atualmente não é preciso qualquer declaração (Portaria nº 411/
2012 de 14 de dezembro de 2012).- Quadro I
Comentário: Assim, uma família com dois filhos respetivamente de 12 meses e 3 anos
Quadro I - Legislação que regulamenta as creches. que se vão inscrever na mesma instituição, para um filho não precisará de declaração
médica, enquanto para outro, essa declaração será obrigatória.
Sinceramente!... Há cada uma!...

2) Que declarações médicas são precisas no caso de medicação


regular ou ocasional ou em caso de suspeita de doença não infeciosa?

Nenhum médico está obrigado a fazer qualquer declaração deste teor. Os pais podem
exigir ao médico um relatório clínico. Como este relatório é depois utilizado, não é da
responsabilidade dos médicos.
Será da exclusiva responsabilidade dos pais a informação se o filho deverá fazer medica-
ção durante o período em que criança permanecer no estabelecimento de educação.
Aos médicos caberá apenas educar e aconselhar os pais. Se houver necessidade de
alguma declaração, esta deve ser passada pelos pais. Estes é que se devem responsa-
bilizar pela passagem a outrem da responsabilidade de tratar /cuidar a criança.

Próximo número:
Que declarações devem os médicos passar se uma criança adoece com uma doença
infectocontagiosa?
16 Saúde região bairradina 05-08-2015

Nas crianças, o 3º dia de febre será um mau dia


para se ir ao médico Manuel Salgado
Médico Pediatra
6. A febre que não volta ao normal sob antipiréticos é
grave?
Não. Tal como a febre elevada, esta particularidade não tem qualquer significado.
A maior eficácia da febre no combate às doenças situa-se para temperaturas que rondam
os 39,0ºC. Essas temperaturas são temporariamente precisas. Contrariar, é arriscar a
prolongar-se a doença.
Considera-se que os antipiréticos são eficazes se reduzirem a temperatura de 1,5ºC em
relação à temperatura pico prévia.
Resumo 7. Quais são os sinais, que associados à febre justificam recorrer aos
serviços de saúde?
A febre não é uma doença mas um mecanismo de defesa do organismo no combate
Para além da febre a presença de:
às infeções.
· Sonolência excessiva ou incapacidade em adormecer
Mais de 90% das doenças que causam febre são situações benignas, das quais,
· Apatia acentuada
cerca de dois terços dos casos curam espontaneamente. Apena em 1 em cerca de
· Irritabilidade; gemido mantido
2.000 episódios justificar-se-á recorrer ao médico sem demora.
· Dor perturbadora
Mais importante do que o valor da temperatura e da não normalização da mesma pelos
· Choro inconsolável; se criança que não tolera o colo
antipiréticos, será a presença de sinais de alerta. Estes estão sempre presentes e
· Aparecimento de manchas na pele nas primeiras 24-48 horas de febre
precocemente nas doenças verdadeiramente graves.
· Respiração rápida ou dificuldade em respirar
O 3º dia de febre será um mau dia para se ir ao médico: será tarde demais para as
· Vómitos repetidos entre as refeições
raras doenças graves e será cedo demais para as muito frequentes doenças benignas
· Recusa alimentar total (mesmo para alimentos líquidos) superior a 12 horas
autolimitadas.
· Sede insaciável
· Calafrios (tremuras generalizadas associadas a tiritra de dentes) pois é um sinal pouco
1. O que é febre? frequentes nas crianças
· Dificuldade em estar de pé, em caminhar ou em mobilizar qualquer membro.
É uma temperatura acima do normal de cada indivíduo. · Urina turva e/ou com mau cheiro.
Porque existem grandes diferenças individuais, será importante que cada um saiba a
sua temperatura basal. Algumas pessoas têm temperatura basais tão baixas que não se 8. Que sinais devem tranquilizar os pais?
devem basear na definição tradicional. Se a criança apresenta todos os seguintes critérios:
A definição tradicional assenta num único valor de temperatura, o mesmo para toda a - Brinca
gente. Esse valor representa a temperatura maxima duma população, obtido em estudos - Come menos mas não recusa alimentação
em que só foi realizado um único registo por pessoa. - Tem sorriso aberto ou fácil
- Acalma ao colo e fica com um comportamento quase habitual.
A amplitude da temperatura individual (oscilação entre o máximo e mínimo) é de cerca de pelo menos nas fase sem febre ou com temperaturas mais baixas que a fase de pico.
2,0ºC (1,0 acima da média e 1,0 abaixo da média). Portanto:
9. Mas que sinais sugerem uma infeção benigna?
Embora sejam desconfortáveis para a criança, os sinais seguintes sugerem doença
Febre é a subida de pelo menos um 1,0ºC acima da média da temperatura diária autolimitada e que não necessitará de tomar antibióticos:
individual no local de avaliação. - Tosse frequente e irritativa (nas pneumonias bacterianas graves a tosse é escassa)
- Vómitos induzidos pela tosse
Por exemplo, se uma criança tem temperaturas axilares que variam de 36,0ºC a 36,8ºC - Pieira sem dificuldade respiratória
(com média 36,4ºC), deverá considerar-se febre 37,5 ºC de temperatura axilar (que será - Placas brancas na garganta muito exuberantes (quanto maior a exuberância das pla-
1,0 ºC acima da sua média). cas, maior a probabilidade de amigdalite viral – Figura 1);
A temperatura corporal varia ao longo do dia sendo mais elevada entre as 16 e as 21 - Dor de garganta associada a olhos vermelhos e a tosse
horas e mais baixa entre as 3 e as 8 horas. - Olhos vermelhos com ramela
- Diarreia ligeira a moderada sem sede significativa
- Gengivas dolorosas, vermelhas, sangrantes, associadas ou não aftas
2. A febre é uma doença? Para que serve a febre? - Manchas vermelhas dispersas que surgem a partir do 4ºdia de febre.
- Gânglios aumentados de volume, aparecimento recente e não dolorosos.
Não. A febre é uma das manifestação de defesa do organismo no combater as infeções
ou outras alterações orgânicas. A febre é portanto benéfica.

3. Mas não poderá estar em causa uma infeção grave?

Sim, em cerca de 8% dos casos poderá estar em causa uma pneumonia, uma infeção
urinaria, uma artrite setica, entre outras; em 0,05% dos casos poderá ser uma infeção
muito grave que coloca a vida em risco.
Será preciso observarem-se cerca de 2.000 febris para que surja uma doença febril muito
grave que exige recorrer ao médico sem demora. Estas doenças têm outros sinais, que
associados à febre, levam os pais a recorrer à urgência hospitalar em tempo útil, em
regra no primeiro dia de febre. Figura 1: amigdalite virusal
Nos 8% de doenças graves, o diagnóstico em regra não é realizado nos primeiros dois típica (o teste rápido foi ne-
dias de doença. Nos restantes 92%, tratam-se de infeções benignas, das quais 2/3 irão gativo; não precisou de an-
resolver-se sem necessidade de antibióticos. tibiótico)

10. Quando se deve recorrer ao médico? Em que dia de doença?


4. Quantos dias duram essas doenças benignas autolimitadas? Não há nenhum dia mais indicado paras e ir ao médico. Deve-se recorrer quando for
preciso. Não se deve esperar se houver sinais de alarme.
Nestas doenças a febre resolver-se-á espontaneamente ao fim de alguns dias, variável Se a febre se prolongar para além de 5 dias, será prudente que a criança seja observada
de criança para criança e de doença para doença: por um médico experiente com crianças.
- 50% durará até 72 horas (3 dias completos)
- 30% durará 5 ou mais dias 11. Quando recorrer logo a um serviço de saúde em caso de febre?
- 9% durará 7 ou mais dias. · Crianças com menos de 3 meses de idade
· Crianças com menos de 6 meses com temperatura igual ou superior a 40ºC
5. Febre alta é sinal doença grave? · Criança com febre e com outro sinal de preocupação (ponto 7)
Não. Uma larga percentagem das infeções muito graves cursam com temperaturas entre · Criança com patologia crónica grave.
38,0 e 39,5ºC. E a maioria dos doentes com temperaturas > 40,0ºC têm doenças benig-
nas autolimitadas. Para mais informações consultor o blog - http://consultoriosalgado.blogspot.pt/

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