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Evicção Escolar - Artigos Variados Pesquisa de 2023
Evicção Escolar - Artigos Variados Pesquisa de 2023
«Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que poderemos solucioná-los»
Isaac Asimov
«O homem que vai mais longe é quase sempre aquele que tem coragem de arriscar».
Dale Carnegie
Resumo Summary
Passaram-se quase 20 anos sobre a publicação do Decreto-Lei regu- The publication of the regulatory Decree Law about the eviction of child
lamentar sobre evicção de crianças das creches, jardins-de-infância e daycare centers, gardens for children and schools due to infectious
escolas em virtude de doenças infeciosas. Será oportuno a revogação diseases was 20 years ago. The abolish of the current document will be
do atual documento, tendo em conta as profundas modificações epide- appropriate, taking into account the profound epidemiological changes,
miológicas, a melhoria dos conhecimentos científicos mas também as the improvement of the scientific knowledge and the social and econo-
modificações sociais e económicas verificadas nestas duas décadas. mic changes involved in these two decades. However it is crucial that,
Mas será de primordial importância que a legislação futura sobre a the future legislation of eviction by virtue of infectious diseases, is not
evicção por virtude das doenças infeciosas não se esgote no Decreto- ONLY BASED in Decree-Law.
-Lei. Será imperativo a elaboração de normas de orientação para toda It will be imperative to develop standards for all clinical situations that
SETEMBRO
a situação clínica que possa ser alvo de exclusão de crianças. Normas may be subject to exclusion of children from schools. In fact, it should
semelhantes às praticadas em vários países desenvolvidos. be applied similar standards to those practiced in many developed
Para que não haja arbítrios e/ou dogmatismos. countries and therefore, to avoid judgments and/or dogmatisms.
109-112
(2):(1): 01
ACRÓNIMOS
// 32
// 36
DL.95 – decreto-regulamentar nº 3/95, do Diário da Repúbli- EβHGA – estreptococo β-hemolítico do grupo A
2010
ca, de 27 de janeiro de 1995
2014
Introdução
SAÚDE INFANTIL
O vigente decreto-regulamentar sobre evicção de crianças e adoles- O processo dialético da legislação sobre evicção por virtude de doença
centes dos estabelecimentos de educação, por virtude de doença infectocontagiosas
infectocontagiosas, o decreto-regulamentar nº 3/95, do «Diário da Re- A exclusão de crianças de estabelecimentos de educação por virtude
pública», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995 (DL.95) tem quase de doença infectocontagiosas está regulamentada desde 1961, com
20 anos (1). As profundas modificações epidemiológicas resultante da derrogações em 1977 (16 anos depois) e em 1995 (intervalo de 18
melhoria das condições de vida e da vacinação universal, associado anos) (1). Volvidos 19 anos, são prementes novas alterações.
aos melhores conhecimentos científicos, justificam a imperiosa derro-
gação de medidas hoje obsoletas (2).
Também as extraordinárias modificações sociais e económicas dos As doenças do decreto-Lei e res-
séculos XX e XXI, com profundas repercussões na família, no trabalho petivas críticas à luz do século XXI
feminino e na necessidade da preservação dos empregos de ambos
São 15 as doenças catalogadas no DL.95 (1,2):
os pais, justificam a obrigação de se ter em conta as condições fami-
1) Difteria – doença mais conhecida por «gar-
liares e profissionais dos pais aquando da recomendação da exclusão
rotilho»; há décadas que não são declarados
duma criança doente dum estabelecimento de educação (2,3).
casos em Portugal.
Mais do que nunca, impõe-se bom senso e rigor científico em toda a
2) Escarlatina e outras infeções da garganta (farin-
situação que exija consequente absentismo ao trabalho dos pais: a
gites / amigdalites) por estreptococo β-hemolítico
exclusão dos filhos das creches, dos infantários e escolas com justa
do grupo A (EβHGA). Consta do DL.95:
causa; a não exclusão por doenças benignas e autolimitadas, sem real
a) «O afastamento deve manter-se até à cura clínica, devendo, contudo,
benefício nem para os doentes nem para os conviventes (2-11).
terminar após a apresentação de análise do exsudado nasofaríngeo
Em 2011 a Sociedade Portuguesa de Pediatria nomeou uma comissão
negativa para o EβHGA A, exceto no caso de início de antibioterapia
de «peritos» para propor a derrogação do DL.95. Os resultados dessa
correta. Esta opção nunca acontece pois todas as infeções da orofa-
comissão científica tardam em aparecer. Se aparecerem…
ringe suspeitas ou confirmadas pelo EβHGA são medicadas».
b) Antibioterapia correta: «o afastamento termina vinte e quatro
horas após o início do tratamento».
Correspondência: Manuel Salgado - Manuel Salgado mbsalgado27@gmail.com
109
ARTIGO DE OPINIÃO
3) Febre tifóide e paratifóide – são situações muito raras atualmente; 9) Poliomielite – Está praticamente erradicada do Mundo.
as recomendações confundem-se com as das gastroenterites. 10) Rubéola – Consta do DL.95: «O afastamento deve manter-se pelo
4) Hepatite A – atualmente é muito rara; mantém-se as recomenda- período mínimo de 7 dias após o início do exantema» (2-3).
ções prévias (2-11).
5) Hepatite B – Na maioria dos países foi retirada do catálogo das A rubéola é das doenças mais benignas que existe para uma criança,
doenças de exclusão (7-11). exceto para o feto nos 3 primeiros meses de gravidez. Impõe-se,
6) Impétigo – «O afastamento deve manter-se até à cura clínica ou até portanto, que as adultas cuidadoras estejam imunes, seja porque foram
à apresentação de declaração médica comprovativa da não existên- vacinadas (11) ou tenham contraído a doença em idade pediátrica.
cia de risco de contágio». A vacinação universal justifica que os casos atribuídos a «rubéola»
sejam hoje ≈ 100% de erros de diagnósticos (14).
Em relação ao impétigo, na generalidade dos países foi adotado: «Se Por estas razões, na França (11) e na Suíça (7,8, 10), a rubéola foi retirada da
SETEMBRO
antibioterapia correta, o afastamento termina vinte e quatro horas após lista das doenças de evicção obrigatória.
o início do tratamento» (7-10). Em França não é exigida a evicção se as Como alternativa à exclusão das crianças com rubéola, essas normas
lesões estiverem cobertas (3-11). Em contrapartida, nas formas extensas doutros países propõem que seja conferido o estado vacinal do doente e das
ou se as lesões que não podem ser protegidas, é exigida a exclusão por outras crianças e adultos conviventes; é sugerida uma 2ª dose da vacina
2014 // 36 (2): 109-112
3 dias, com início após o começo da antibioterapia (11). para os vacinados apenas com uma dose; aos não vacinados, é sugerido
o início imediato da vacinação (logo a partir dos 6 meses de idade) (7,8,10,11).
7) Infeções meningocócicas - meningite e sépsis – «O afastamento
deve manter-se até à cura clínica». 11) Sarampo – É uma raridade atualmente; a maioria dos casos diag-
8) Parotidite epidémica – Consta no DL.95: «O afastamento deve nosticados são também erros de diagnóstico (14); devem manter-se
manter-se por um período mínimo de nove dias após o aparecimen- as recomendações prévias (2,3).
to da tumefação glandular». 12) Tinha – Para poder voltar à «escola» é obrigatória declaração mé-
SAÚDE INFANTIL
110
ARTIGO DE OPINIÃO
Esta norma é assim assumida em quase todos os países do mundo. da Educação. Também surpreendente é o não contributo do Ministério da
Contudo, no Canadá desde 1999 (16,17), na Suíça (7,8,10) e em França (11), Saúde na elaboração das normas das creches e jardins-de-infância que
o afastamento não é atualmente obrigatório. A criança poderá voltar à deveriam reger as indicações para a exclusão das crianças.
creche, ao infantário ou à escola uma vez confortável para participar Como se tratasse de um país diferente. O espírito de «quinta», «quinti-
nas atividades do grupo; ou nunca sair da instituição se se mantiver nhas» começa logo nas tutelas (Ministérios).
sempre confortável (7,8,10,11,16,17). Nada que o bom senso, a vontade e o diálogo não resolvessem.
O facto da exclusão da criança doente não impedir a propagação da
varicela, justifica que, 15 anos após a instituição desta medida em 1999
(16)
, as normas Canadianas de 2014 reiter a não exclusão das crianças
com varicela (17).
Para refletir: a varicela é uma doença muito grave, potencialmente mortal na grávida, no feto e no recém-nascido. Assim, toda a mulher em idade fértil
deve estar imune antes de engravidar. Paradoxalmente, com as recomendações vigentes em Portugal, quando ocorre uma oportunidade de contrair a
doença em criança (período da vida em que a varicela em regra é muito benigna), são minimizados as possibilidades de contágio.
Isto é, toda a mulher tem de adquirir imunidade para a varicela, mas a norma vigente tem como objetivo exatamente o oposto. Que incongruência!
SETEMBRO
A aplicação do DL.95 implicará sempre um diagnóstico. Isto é, está em participar nas atividades do grupo (Quadro I) (2, 3) e na valorização
vocacionado para o médico (1). Isso será restritivo no dia-a-dia para os dos sinais clínicos de doença potencialmente grave. Implicitamente,
profissionais de educação. estas recomendações ultrapassarão, em muito, as orientações do
Quadro 1: Critérios de exclusão para aplicação por profissionais de educação, baseados nas capacidades da criança em realizar ou não as
atividades do dia-a-dia:
Caberá aos profissionais de educação especificar o grau de severidade das manifestações da doença em 3 graus (2):
SAÚDE INFANTIL
• Grau 1: As crianças que manifestam pouca vivacidade e atividade, com sinais e/ou sintomas que impedem o seu envolvimento nas atividades do grupo.
Nestas situações justificar-se-á sempre a exclusão.
• Grau 2: As crianças reduzem a sua atividade habitual normal, pela presença de sintomas, por exemplo por terem febre e ou dor.
Nestas justificar-se-á dar o benefício da dúvida. Uma vez aplicado um antipirético ou analgésico, se elas se mantém neste Grau 2, deverá considerar-
se contactar com os pais e depois decidirem. Se passarem para o Grau 3, a decisão será em função disso.
• Grau 3: As crianças que, apesar de doentes, manifestam interesse pelas atividades e têm envolvimento total nas atividades do grupo e não
apresentam sintomas sistémicos de doença compatíveis com doença potencialmente grave, poderão manter-se na creche ou jardim-de-infância,
exceto se têm alguma das doenças referidas no DL.95.
A exclusão das crianças dos estabelecimentos de educação, por virtude de doenças infeciosas, está muito longe de se esgotar em qualquer decreto-
lei, quando o alvo são os profissionais de educação.
À semelhança do que existe noutros países (6-11,17), será imperativo a elaboração de normas dirigidas especificamente aos profissionais de educação.
111
ARTIGO DE OPINIÃO
Necessidade do envolvimento
Manuel Salgado
SETEMBRO
do Ministério da Justiça
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112
ARTIGOS ORIGINAIS
Resumo Abstract
Os critérios para exclusão temporária das crianças doentes das ins- The criteria for temporary exclusion of sick children from educational
tituições de ensino e lazer baseiam-se maioritariamente no risco de and leisure institutions are largely based on the risk of transmission of
transmissão da doença em causa, no seu período de incubação e de the disease in question, in its incubation and contagious periods.
contágio. Incubation, contagious and exclusion periods of infectious diseases
Definem-se períodos de incubação, de contágio e de exclusão das that may exist in schools are defined, as well as the most common
doenças infeciosas que podem existir a nível escolar, bem como os
symptoms.
sintomas mais comuns.
The preparation of a summary table, sorted in alphabetical order, al-
A elaboração de uma tabela resumo, ordenada por ordem alfabética,
lows a quick overview of the different periods mentioned above.
permite uma consulta rápida dos diversos períodos atrás mencionadas.
ABRIL
Palavras-chave: Doença contagiosa, transmissão, período, incuba- Keywords: Infectious
nfectious disease, transmission, period, incubation, conta-
ção, contágio, excreção, exclusão. gious, excretion, exclusion.
2011 // 33 (1):17-22
ACRÓNIMO IEL – Instituições de Ensino e Lazer
Introdução
SAÚDE INFANTIL
Os critérios para exclusão temporária das crianças doentes das ins- A eficácia da exclusão de uma criança com determinada patologia in-
tituições de ensino e lazer (IEL) devem basear-se maioritariamente feciosa pode ser limitada pelo facto de que a excreção do agente infe-
no risco de transmissão da doença em causa, no seu período de incu- cioso preceder o início dos sintomas e poder persistir por um período
bação e de contágio (Quadro I). de tempo variável após a resolução dos mesmos (1).
17
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão
Na Tabela I são definidos, de forma sucinta e simples, os principais Por exemplo na diarreia por rotavírus, cada grama de fezes contém um
sintomas (o que é apenas sentido pelo doente, sendo subjetivo) e milhão de milhões de partículas (2) que são eliminadas, evitando assim
sinais (o que é constatado pelo observador) associados às doenças a perpetuação da infeção, o que é benéfico.
infetocontagiosas.
Estes não são doenças, mas sim manifestações clínicas de múltiplas
doenças (infeciosas ou não) e de gravidade muito variável. A sua pre-
sença não é sinónima de gravidade.
TABELA I • Principais sintomas / sinais e respetiva definição, das doenças infetocontagiosas mais frequentes
DIARREIA Aumento do número de dejeções diárias e/ou diminuição da consistência das mesmas (2).
Erupção cutânea com alterações na coloração e textura da pele resultante da inflamação e dilatação dos vasos cutâneos.
EXANTEMA Podem existir sob a forma de máculas, pápulas, pústulas, placas ou vesículas. Apesar de muitas vezes serem inespecíficos, as
suas características detalhadas, distribuição, evolução e resolução podem facilitar o diagnóstico (3).
Aumento da temperatura corporal, regulado centralmente em resposta a uma agressão, acima da variação diária normal de
ABRIL
Mecanismo de defesa que permite expelir partículas da laringe e da traqueia; é um sintoma/sinal de doenças infeciosas ou
TOSSE não-infeciosas das vias respiratórias, ou de outros órgãos ou sistemas, (estes por ativação dos diferentes tipos de recetores
da tosse) (5).
Expulsão ativa do conteúdo gástrico através do esófago e da boca. É muitas vezes o primeiro sintoma de uma doença gastroin-
VÓMITOS testinal, podendo no entanto ser a primeira manifestação de múltiplas outras patologias, nomeadamente do sistema nervoso
SAÚDE INFANTIL
central.
18
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão
TABELA II • Agente, sintomas principais, períodos de incubação, contágio e de exclusão recomendados para as doenças infectocontagiosas mais
frequentes nas IEL
PERÍODO DE PERÍODO DE
TIPO DE PRINCIPAIS SINTOMAS / SINAIS PERÍODO DE
AGENTE(S) INCUBAÇÃO EXCLUSÃO
InfeçÃO CONTÁGIO
RECOMENDADO
ABRIL
vírica) ocular 8,10
Vírus
respiratórios Início: Curto período an-
SAÚDE INFANTIL
MÃO-PÉ-BOCA Fim: Inferior a 7 dias (1)
rus do grupo A e B ocorrer febre, odinofagia e recusa alimentar (15)
e Enterovirus 71)
1 - 6 semanas
Lesões cutâneas papulares, vesiculares e «galerias» (10,16); (primo-infeção)
prurido intenso, sobretudo nocturno(10,16); nas crianças as (1,8-10) Início: Desconhecido
ESCABIOSE Sarcoptes Até terminar
lesões surgem sobretudo nos espaços interdigitais (mãos 1 - 4 dias Fim: Até terminar trata-
(sarna) scabiei tratamento (1,9,11)
e pés), região cervical e couro cabeludo (10,16) (infeção prévia) mento (1,8,9)
(8-10)
(8)
Febre e exantema maculopapular que surge quando apiré- Início: Alguns dias antes
EXANTEMA
Herpesvírus ticos (7); podem estar presentes sintomas respiratórios ou 5 - 15 dias (8-10,17)
SÚBITO (Roséo- Nenhum (1,8,9,17)
humano 6 ou 7 gastrointestinais (7) Fim: Alguns dias após
la ou 6ª doença) (8)
exantema
GASTROENTE- Vómitos, diarreia (com ou sem sangue), febre e dor Início: 1 - 2 dias antes (8,9)
Rotavirus 1 - 4 dias (1,8-10,18) Nenhum (10)
RITE AGUDA abdominal (7) Fim: 1 - 3 semanas após (8,9)
Vírus
Início: Dia anterior (5)
GRIPE A respiratórios Tosse, rinorreia anterior, febre, mialgias, cefaleias (7) 1 - 4 dias (8,10)
(8)
Fim: 7 - 10 dias após Nenhum
INFLUENZA (Influenza A,
sintomas (8,10,19)
B, C)
19
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão
PERÍODO DE
TIPO DE PERÍODO DE PERÍODO DE
AGENTE(S) PRINCIPAIS SINTOMAS / SINAIS EXCLUSÃO
InfeçÃO INCUBAÇÃO CONTÁGIO
RECOMENDADO
Streptococcus
Início: Desconhecido Até completar 24
pyogenes ou
IMPÉTIGO Lesões de base eritematosa com exsudado melicérico (23) 1 - 10 dias (8,9) Fim: Até completar 24 horas de antibiótico
Staphylococcus
horas de antibiótico (8,9) (8,9)
aureus
ABRIL
MEGALOERI-
Início: Desconhecido
TEMA (Eritema Eritema facial bilateral («doença da face esbofeteada») (25);
Parvovírus B19 21 dias (8,9) Fim: Até inicio do exan- Nenhum (1,8,11)
Infecioso ou 5ª Podem surgir febre e mialgias (24)
tema (8,9)
doença)
2011 // 33 (1): 17-22
Parotidite
20
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão
PERÍODO DE
TIPO DE PERÍODO DE PERÍODO DE
AGENTE(S) PRINCIPAIS SINTOMAS / SINAIS EXCLUSÃO
InfeçÃO INCUBAÇÃO CONTÁGIO
RECOMENDADO
do sarampo
Tinea capitis (Tinha couro cabeludo): Lesões eritemato- Tinea capitis: 2 - 4
sas, circulares, descamativas, com cabelos partidos na semanas (1,12)
zona afetada (10,12) Início: Desconhecido
Tinea corporis: 4 -
TINHA Fungos Tinea corporis (Tinha pele glabra): Lesões circulares, Fim: Enquanto lesões Nenhum (8-10)
10 dias (12)
com halo elevado e eritematoso e centro mais claro (10,12) presentes (8,10)
ABRIL
Tinea pedis («Pé de atleta»): Lesões descamativas e fis- Tinea pedis: 2 - 38
suras interdigitais e descamação da planta dos pés (10,12) semanas (12)
SAÚDE INFANTIL
(8,10)
Comentários finais
Realçam-se alguns pontos importantes relativamente a: – Na maioria dos casos trata-se de infeções de etiologia virusal,
pelo que o período de contágio não é passível de ser modificado
• Período de incubação: é muito variável, e depende do tipo de infe-
ção e do agente infecioso responsável. através de terapêutica específica.
– Nos poucos casos de infeções bacterianas, a terapêutica anti-
• Período de contágio: biótica adequada reduz eficazmente o período de contágio e,
– O seu início é desconhecido num número considerável de pato- portanto, o risco de transmissão da doença.
logias infeciosas a nível escolar; raramente coincide com o início
dos sintomas. • Risco de transmissão: sujeito à interferência de «fatores contro-
– O fim deste período é muito variável, podendo prolongar-se láveis», dos quais são exemplos a implementação de medidas de
de dias a meses, consoante a patologia infeciosa e o agente higiene e de prevenção, bem como de terapêutica adequada quando
implicados; por vezes prolonga-se para além da resolução dos possível, e de factores «pouco controláveis», como é o caso da
sintomas. ausência de conhecimento preciso sobre os tempos de contágio das
– Dificuldades inerentes a estas limitações: impossibilidade de diversas patologias infeciosas, características do agente e factores
conhecer corretamente o período de contágio e, consequente- inerentes ao hospedeiro. Quanto melhor o conhecimento acerca des-
mente, o respetivo risco de transmissão e o período de exclusão tes factores, melhor será o controlo da transmissão da doença.
mais eficaz.
21
Doenças infeciosas em idade escolar e pré-escolar e respetivos períodos de incubação, contágio, excreção e exclusão
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22
ARTIGOS ORIGINAIS
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas
por virtude de doenças infecto-contagiosas
Judicial opinion about children eviction from daycare centers, schools and public swimming-pools,
due to infectious and contagious diseases
Nuno da Silva Salgado (1), Manuel Salgado (2)
Resumo Summary
A retirada temporária (evicção) das creches, jardins de infância, esco- The temporary withdrawal from daycare and school facilities or leisure
las e piscinas em virtude de doenças infetocontagiosas (DIC) é uma recreation centers due to infectious and contagious diseases (ICD) is a
problemática diária das famílias, nos estabelecimentos de educação e daily problem for families and educational facilities very little or nothing
nas piscinas, pese ser pouco discutida em Portugal. discussed about in Portugal.
Neste documento, constituído essencialmente por uma entrevista a um In this document, composed mainly of a written interview to a jurist
jurista, é analisado e discutido: about eviction due to ICD, it is analyzed and discussed:
–A legislação portuguesa sobre evicção e sua evolução dinâmica, – The evolution on Portuguese legislation and its dynamic character,
assente na discussão dialética baseada na progressão dos conheci- established on the dialectical discussion of the scientific knowledge
mentos científicos sobre as modificações das condições epidemioló- about the epidemical modification conditions and the improvements
SETEMBRO
gicas e das melhorias diagnóstico-terapêuticas das DIC; of the diagnostic-therapeutics of the ICD;
– Os direitos e deveres dos utilizadores dos estabelecimentos de ensi- – The internal rights and duties of the respective institutions on eviction,
no e das piscinas, assim como a ilegalidade dos Regulamentos Inter- just like the illegal Internal Institution Regulations on eviction when
nos das respetivas instituições sobre a evicção quando contrariam o they contradict the decree-law 3/95 January 27th, from the «Diário
2012 // 34 (2): 08-20
Decreto-Regulamentar nº 3/95 de 27 de janeiro, do «Diário da Repú- da República», I Série B, number 23, of 27th January, 1995 (DR.3/95-
blica», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995 (DR.3/95-27.01.95); 27.01.95);
– As competências legais para determinar a evicção dum indivíduo e – The legal competences to determine the eviction of a person and its
os seus mecanismos; mechanisms;
– Os direitos e deveres dos cidadãos quando obrigados à evicção des- – The citizens’ rights and duties when forced to an unnecessary and
necessária e despropositada; absurd eviction;
SAÚDE INFANTIL
– A omissão da lei sobre evicção nas piscinas coletivas, com a conse- -– The law omission in Portugal about eviction in collective swimming-po-
quente aplicação analógica do DR.3/95-27.01.95 nestas; ols, with consequent analogical application of the DR.3/95-27.01.95
– O caráter obsoleto de algumas Normas do atual e ainda vigente in them;
DR.3/95-27.01.95 e da necessidade da sua derrogação. – The unconditional attitude of the actual and still valid decree-law
Após a explanação destas considerações legais, são feitas as princi- DR.3/95-27.01.95, and the need of its derogation.
pais conclusões das medidas legais, que todos devemos conhecer, After these legal considerations, we made the main conclusions of le-
sobre a exclusão temporária por virtude das DIC. gal rules, which all of us must know, about temporary exclusion from
school facilities or leisure recreation centers due to ICD.
Palavras-chave: doenças infetocontagiosas, evicção, infantário, cre- Keywords: infectious and contagious diseases, eviction, exclusion,
che, escola, piscina, educador de infância, regulamentos internos, day-care centre / childcare provider, school, swimming-pool, internal
decreto-lei, decreto-regulamentar. institutional regulation, law-decree, regulative-decree.
ACRÓNIMOS
CIJE – Creches, jardins de infância e escolas DR.3/95-27.01.95 –
Decreto-Regulamentar nº 3/95 do «Diário da
CPTA – Código de Processo nos Tribunais Administrativos República», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995
CRP – Constituição da República Portuguesa EE – Evicção escolar
DIAB – Doenças infeciosas agudas benignas MC – Molusco contagioso
DIC – Doenças infetocontagiosas PE – Profissionais de educação
DL – Decreto-Lei PS – Profisionais de saúde
Juiz conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo, jubilado, e ex-inspector-geral da Administração do Território. (2) Assistente Hospitalar Graduado,
(1)
8
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
1. Definição de evicção por virtude de doenças infetocontagiosas por doenças agudas banais dos filhos, do que as reais preocupações
A palavra evicção poderá ter origem no latim «evictiõne – S.f. Jur. ato com o estado de saúde deles (12).
ou efeito de evencer, despojar, desapossar» (1,2), que também signifi- No caso de discordância de opiniões entre os pais e os profissionais
cava «recuperação de qualquer coisa por julgamento» (2), ou provir do de educação (PE) das creches, jardins de infância e escolas, as So-
anglicismo «evictar», «expulsar com o apoio da lei» (1). Por evicção de ciedades Médicas Pediátricas e de Saúde Pública dos diversos países
crianças das creches, jardins de infância e escolas (CJIE) por doen- defendem a posição dos PE.
ças infetocontagiosas (DIC) deverá entender-se «afastamento legal
dos alunos de uma CJIE por motivo DIC, sem dar lugar a faltas» (2). Es- Se os pais e os PE das CJIE discordarem nas razões para a exclusão, e
pecificamente, evicção significa exclusão ou afastamento temporário estas assentarem ou nas capacidades da criança para participar ou na
disponibilidade desses profissionais em assegurar as atividades educativas
de forma a evitar ou minimizar os contágios das DIC (1-7).
às restantes crianças, os PE são soberanos na sua decisão (4,5,10).
SETEMBRO
com sintomas que não justificam a sua exclusão das crianças de locais
Saúde concelhia a decisão final (4,5,10).
públicos, por razões de saúde, tanto para as mesmas como para os
Em Portugal não são asseguradas formações regulares em questões
conviventes (3-10).
de saúde aos PE (13). Contudo, diariamente, os PE têm de tomar de-
No decurso das DIAB, a retirada de crianças doentes das CJIE, nem a sua
cisões sobre problemas de potenciais contágios de DIC das crianças
(2):08-20
separação do grupo, previne a propagação dos respetivos agentes infecio-
01
entre si. Para além de que a higiene e a segurança das crianças e do
sos às outras crianças e adultos conviventes (Quadro I) (2-11).
2012// //3434(2):
PE constituem um dos critérios de qualidade na avaliação das creches
Quadro I • Razões do insucesso na prevenção dos contágios de agentes infe- e jardins de infância (14).
2012
ciosos de DIC pela exclusão de crianças com DIAB das CJIE (6-9,11): As divergências entre os PE, pais e os profissionais de saúde nas
Os contágios de muitos dos agentes infeciosos: indicações para a evicção das crianças com DIAB são uma realidade
• Precedem de 1 a 3 dias o início dos sinais e/ou sintomas (6-9,11) diária em países com regras bem definidas sobre evicção (15-19). Em
SAÚDE INFANTIL
• Prolongam-se por dias a semanas para além da resolução dos Portugal, e na falta de regras bem definidas, essas divergências esta-
sinais e/ou sintomas (6-8,11) rão, naturalmente, potenciadas.
• Provêm também dos conviventes assintomáticos que ficaram As divergências de opinião são patenteadas por anseios, razões e postu-
transitoriamente portadores-sãos (6-8,11). ras frequentemente antagónicas dos pais, entre o bem-estar dos próprios
filhos, o bem-estar das outras crianças e as suas obrigações profissio-
Os critérios de exclusão de crianças com DIAB ou com DIC poten-
nais. E ainda os potenciais conflitos laborais e/ou académicos resultantes
cialmente graves das CJIE e dos locais públicos de lazer (piscinas
do absentismo ao trabalho, resultantes das DIAB dos filhos (12,16).
e ginásios), que estão regulamentados pelas Sociedades Médicas
Pediátricas e de Saúde Pública de outros países (Quadro II) (3-8), são
Em países com regras bem definidas de evicção escolar (3-8)
, por cada
abordados separadamente neste número da Saúde Infantil (6). criança justificadamente excluída dos infantários por DIC, outras 6
crianças são indevidamente excluídas (15).
Quadro II • R
esumo das indicações para exclusão de crianças com DIC Em Portugal, na ausência de regras bem definidas, elaboradas
das CJIE ou dos espaços de lazer (3-8). por peritos, a relação exclusão indevida / exclusão adequada será
substancialmente maior.
A – Doenças que, na interpretação do profissional de educação, impeçam
a participação confortável da criança nas atividades do grupo.
B – Doenças que exigem mais cuidados para a criança doente do que o Da evicção despropositada resultarão desnecessários absentismos ao
staff da instituição pode proporcionar, com risco de comprometer a trabalho pelos pais, eventuais conflitos laborais, que poderão culminar
saúde e segurança das restantes crianças.
C – Doenças com risco acrescido de contágio e de consequente doença
num eventual prejuízo no precário emprego, assim como consequên-
às restantes crianças (que constam em Decreto-Lei). cias socioeconómicas em cadeia: despesas inúteis em saúde, consu-
D– Presença de sinais e/ou sintomas cuja intensidade ou potencial mismos em serviços de saúde, absentismo à escola, etc. (6,12,17,19).
gravidade exijam cuidados médicos e/ou vigilância apertada.
4. Decretos
regulamentares sobre evicção de doenças infetocon-
3. Ambiguidades entre profissionais de educação e de saúde na tagiosas
exclusão de crianças das CJIE por virtude de DIC Em situações bem definidas, que são poucas, é a própria lei vigente em
Num trabalho realizado nos EUA, publicado em 2008, a vontade de não qualquer país, que obriga à evicção por virtude de DIC. Em Portugal as
faltar ao trabalho e/ou às próprias atividades profissionais / escolares, doenças e os períodos de evicção escolar por virtude de DIC são ainda
pesou mais na decisão dos pais de recorrerem aos cuidados de saúde regulamentos pelo Decreto-Regulamentar nº 3/95, do «Diário da Repú-
9
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
blica», I Série-B, nº 23, de 27 de janeiro de 1995 (DR.3/95-27.01.95) (20). 6. Parecer jurídico sobre evicção por virtude de doenças infeto-
À semelhança do verificado noutros países, a discussão dialética da evolu- contagiosas:
ção dos conhecimentos científicos sobre modificações das condições epi-
6.1. Parecer às questões formuladas no Quadro III:
demiológicas, das melhorias diagnósticas e terapêuticas das DIC, tem mo-
Uma vez que as questões sobre a evicção escolar e das piscinas são
tivado sucessivas atualizações da lei vigente em Portugal sobre evicção
colocadas sob a forma abstrata e não com a apresentação de um caso
de crianças, jovens e adultos dos estabelecimentos de educação e lazer.
concreto, terão necessariamente as respostas que irão ser dadas, de
Data de 1961 a primeira lei ordinária publicada em Portugal sobre
o serem sob a forma abstrata.
evicção escolar (EE), revogada em 1977 e, depois, em 1994 e 1995.
Refira-se que o sistema jurídico atualmente vigente em Portugal dá
Mais de 17 anos volvidos sobre a última revisão da lei da EE, os re-
resposta cabal às questões fundamentais que são colocadas na con-
centes avanços científicos e tecnológicos, questionam, por sua vez, o
sulta, isto é, está disponível para dar resposta às situações de neces-
DR.3/95-27.01.95, justificando para breve a sua derrogação.
sidade de tutela jurisdicional efetiva, como passaremos a demonstrar.
Quadro III • Perguntas práticas sobre evicção de crianças dos estabeleci- e no direito ao ensino (art.º 74º).
mentos de ensino e das piscinas Por sua vez, a evicção das piscinas coletivas que é o afastamento,
1. Podem os Regulamentos Internos das instituições, que determinam a
também temporário, da frequência daquelas por motivos das mesmas
exclusão temporária das crianças com doenças infeciosas agudas, serem
doenças infetocontagiosas, em relação não só aos jovens como a
elaborados sem o contributo de um profissional de saúde, médico ou
qualquer cidadão em geral que as frequente, e integra-se nos direitos
enfermeiro, com idoneidade científica em doenças infetocontagiosas?
e deveres da mesma natureza da referida Lei Fundamental consig-
2. São legais os Regulamentos Internos aludidos em 1, que contrariem o
Decreto-Regulamentar nº 3/95 do «Diário da República», I Série-B, nº 23, de
nados no direito à cultura física e ao desporto (art.º 79º).
27 de janeiro de 1995? Como direitos fundamentais que são, a nossa Constituição não deixa
3. A obrigatoriedade ao cumprimento das normas das instituições, impostas por dúvidas.
estes Regulamentos Internos, não poderá ser atribuída culpa, que poderá ser Assim, «A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias
sancionada e ressarcida? nos casos expressamente previstos na Constituição, devendo as res-
4. Mesmo que a evicção seja proposta por uma profissional de saúde ou a trições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou
Autoridade Sanitária concelhia, poderão as suas determinações contrariar as interesses constitucionalmente protegidos» (art.º 18º, n.º 2).
disposições legais do DR.3/95-27.01.95? «As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir
5. Poderão os pais das crianças obrigadas à retirada forçada da instituição em caráter geral e abstrato e não podem ter efeito retroativo nem diminuir
causa, responsabilizar as mesmas instituições por excesso de zelo, quando a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos preceitos constitu-
injustificadas, pedindo indemnização por danos materiais e /ou morais? cionais» (art.º 18º, n.º 3).
6. A evicção nas piscinas é diferente da evicção geral escolar?
7.
No caso concreto das conjuntivites, doenças não contempladas pelo As restrições ao exercício de direitos só podem ser estabeleci-
DR.3/95-27.01.95, poderão os profissionais de educação obrigar à evicção? das por lei, na estrita medida das exigências próprias das respetivas
8. Também no caso concreto do molusco contagioso (MC), tratando-se de funções, no âmbito do «exercício dos direitos de expressão, reunião,
uma situação clínica absolutamente benigna, em que nem sequer se tem manifestação, associação e petição coletiva e à capacidade eleitoral
a certeza se o contágio é ou não pela água, poderão os responsáveis passiva por militares e agentes militarizados dos quadros permanentes
/ professores de natação das piscinas proibir que as crianças com MC em serviço efetivo, bem como por agentes dos serviços e das forças de
frequentam as mesmas, contrariando a opinião de um médico? segurança e, no caso destas, a não admissão do direito à greve, mesmo
9. Quem legitimidade para decidir da evicção dum criança dum estabelecimento quando reconhecido o direito de associação sindical» (art.º 270º).
de ensino ou dum local de lazer?
10
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
Fora destes casos específicos, não são constitucionalmente admissíveis Por todas estas razões e por a própria Lei n.º 2109, no seu art.º 5º,
outras limitações aos direitos fundamentais, nem através de lei nem, muito prever a necessidade de revisão cíclica dos períodos de afastamento
menos, através de regulamento (neste sentido, Coutinho de Abreu, in «Sobre escolar, permitindo, assim, a sua atualização, acabou aquele diploma
os Regulamentos Administrativos e o Princípio da Legalidade», págs. 112 e 113). legal por ser revogado pelo D.L. n.º 89/77, de 8 de março.
O catálogo das doenças infetocontagiosas previsto na Lei n.º 2109
Por força destes normativos da nossa Lei Fundamental, qualquer cida- como suscetíveis do afastamento da frequência ou atividade no esta-
dão, aqui particularmente os jovens em idade escolar ou pré-escolar, ou belecimento educativo por período variável por parte do corpo docen-
os utentes das piscinas coletivas, têm o direito de exigirem do Estado te, discente, pessoal de estabelecimento de ensino ou seus familiares
e este os deveres correlativos de promoção e proteção na saúde con- era assim constituído: Difteria, Encefalite Infeciosa Aguda, Escarlatina,
cretizados, neste âmbito, no afastamento da frequência das atividades Meningite Cérebro-espinal Epidémica, Poliomielite, Rubéola, Sarampo,
educativas pré-escolares e do sistema escolar, ou da frequência das Tinha, Tosse convulsa, Tracoma, Trasorelho, Varicela e Varíola.
piscinas, por motivo de doenças transmissíveis, dos discentes, pessoal Deste elenco, o Decreto-Lei nº 89/77 retirou a Encefalite Infeciosa Agu-
docente e não docente ou ainda de qualquer utente, nas piscinas. da e o Tracoma e acrescentou a Amigdalite Estreptocócica, as Febres
Tifoide e Paratifoide, a Hepatite infeciosa, o Impétigo, a Pediculose, a
6.3. Legislação sobre evicção escolar em Portugal e sua evolu- Sarna e a Tuberculose pulmonar e substituiu a designação de Trasore-
ção dinâmica: lho por Parotidite epidémica. Pela primeira vez, distinguiu os períodos
A lei ordinária que, pela primeira vez em Portugal, estabeleceu os de afastamento escolar dos sujeitos atrás indicados que tivessem sido
SETEMBRO
períodos de evicção escolar por motivo de doenças transmissíveis e diretamente atingidos por tais doenças daqueles que apenas tives-
catalogou estas foi a Lei n.º 2109, de 24 de maio de 1961. sem coabitado ou contactos com indivíduos atingidos, já não com
Desde então para cá (Quadro IV), verificaram-se, na história natural todas aquelas doenças, mas apenas para a Difteria, a Escarlatina e
de algumas dessas doenças, importantes modificações no âmbito da Amigdalite estreptocócica, a Meningite por Meningococo, a Poliomie-
(2):08-20
prevenção ou terapêutica que permitiram, por um lado, o encurtamen- lite e a Varíola. Assim, estabeleceu diferenciados períodos de afasta-
01
to dos períodos de afastamento escolar e, por outro, alterações nas mento e de duração consoante o sujeito fosse diretamente atingido ou
2012// //3434(2):
condições epidemiológicas que tornaram desnecessária a inclusão, tivesse apenas coabitado ou contactos com indivíduos atingidos com
2012
nas leis de evicção, de algumas doenças primeiramente consideradas estas doenças ultimamente referidas.
ou então a inclusão de outras então não previstas. Entretanto, atendendo ao processo dialético da evolução das con-
dições epidemiológicas e aos avanços verificados nos campos da
SAÚDE INFANTIL
Quadro IV • L
ista das doenças de evicção escolar consignadas na lei,
prevenção e da terapêutica já atrás referidos, continuou a haver ne-
desde 1961 2 respetivas derrogações, em 1977 e 1995:
cessidade de retirar a referência a algumas doenças incluídas no
Decreto Regulamentar Decreto-Lei nº 89/77 e a inclusão de outras e, ao mesmo tempo, de
Lei 2109/1961 Decreto-Lei 89/77
3/95, 27 janeiro
reduzir os períodos de afastamento escolar obrigatório até aí fixados.
Difteria Difteria Difteria Deste modo, com a publicação do Decreto-Lei nº 229/94, de 13 de se-
Encefalite infeciosa tembro, procedeu-se à revisão e atualização do Decreto-Lei nº 89/77
aguda - -
no sentido de garantir uma proteção adequada da saúde dos alunos
Escarlatina e outras
Escarlatina e amigdalite infeções nasofaríngeas
e do pessoal, docente e não docente, das escolas face aos riscos de
Escarlatina contágio por doenças transmissíveis.
estreptocócica por Estreptococo
β-hemolítico do grupo A Em consequência da nova revisão do art.º 1º do Decreto-Lei nº 89/77, feita
Meningite cérebro- Meningite Infeções meningocócicas: pelo Decreto-Lei nº 229/94, e em execução de tais diplomas, foi publicado
espinhal epidémicas meningocócica meningite e sépsis o Decreto Regulamentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, que anunciou nova lista
Poliomielite Poliomielite Poliomielite atualizada das doenças transmissíveis que originam evicção escolar, bem
Rubéola Rubéola Rubéola
como também atualizou os respetivos períodos de afastamento.
Sarampo Sarampo Sarampo
Tinha Tinha Tinha
Assim, o seu art.º 1º determina que «São afastados temporariamente
Tosse convulsa Tosse convulsa Tosse convulsa da frequência escolar e demais atividades desenvolvidas nos estabe-
Tracoma - - lecimentos de educação e de ensino os discentes, pessoal docente e
Trasorelho Tosse convulsa Tosse convulsa não docente quando atingidos pelas seguintes doenças: Difteria, Es-
Varicela Varicela Varicela carlatina e outras Infeções Naso-faríngeas por Estreptococo hemolíti-
Varíola Varíola -
co do grupo A, Febres Tifóide e Paratifóide, Hepatites A e B, Impétigo,
Hepatites infeciosas Hepatite infeciosas Hepatites A e B
Infeções meningócicas - Meningite e Sépsis, Parotidite epidémica, Po-
Febres tifóide e Febres tifóide e
- liomielite, Rubéola, Sarampo, Tinha, Tosse convulsa, Tuberculose pul-
paratifóide paratifóide
- Impétigo Impétigo monar e Varicela. Foram retiradas ao elenco do Decreto-Lei nº 89/77
- Pediculose - a Sarna, a Pediculose e a Varíola e, nas Hepatites infeciosas, foram
- Sarna - autonomizadas as Hepatites A e B.
- Tuberculose pulmonar Tuberculose pulmonar São igualmente afastados os mesmos sujeitos na situação em que
coabitem ou tenham contactos com indivíduos atingidos pelas se-
11
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
Quadro IV • Lista
das doenças de evicção escolar consignadas na lei art.º 3º, assim como também são diferenciados em relação aos primei-
A partir de 1961 e, respectivas modificações, em 1977 e 1995: ros e à natureza das doenças em causa os prazos do afastamento dos
indivíduos que coabitem ou tenham contactos com os atingidos pelas
Decreto Regulamentar
Lei 2109/1961 Decreto-Lei 89/77 doenças referidas no seu art.º 2º (ibidem, art.º 4º).
3/95-27.01.95
12
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
exigir, antes, era o referido documento para a frequência e não 6.7.1. Se é um Regulamento Interno da escola pública ou privada
para a inscrição, ou seja, devia nele constar que a criança não é nas condições atrás mencionadas que prevê essa doença como
portadora de patologia que contraindique a frequência escolar. fundamento da evicção e esta é determinada com tal fundamento,
a primeira medida a tomar é a impugnação judicial das normas
6.5. Dinâmica legislativa da problemática da evicção escolar por ilegais desse Regulamento.
virtude das doenças infetocontagiosas Os Regulamentos desta natureza enquadram-se naquilo a que a dou-
Por tudo o que deixamos exposto, podemos concluir o seguinte: o pro- trina designa por Regulamentos Internos de Organização ou de Di-
cesso dialético da evolução das condições epidemiológicas e os avan- reção. Quer dizer, estes Regulamentos ao mesmo tempo que normati-
ços verificados nos campos da prevenção e da terapêutica das doenças zam as relações especiais de poder da Administração em relação aos
transmissíveis atrás indicado vai necessariamente continuar. Daí que se administrados, que são aqui os discentes, os docentes e funcionários
possa afirmar que a problemática da «Evicção Escolar por Virtude de não docentes e, concomitantemente, os sujeitos passivos da evicção
Doenças Infetocontagiosas» não é de forma alguma estática, mas escolar, e que estão, neste caso, sujeitos a uma especial dependência
antes dotada de uma dinâmica muita acentuada e própria, pelo que face à Administração (Ministérios da Educação e da Saúde), porque es-
a legislação sobre esta matéria terá necessariamente de estar em tão obrigados a observar e a cumprir as regras vigentes nesta matéria
permanente mutação. A última, como vimos, remonta a janeiro de 1995. e de subordinar o seu comportamento ao que o Regulamento Interno
Como curiosidade, aponte-se que a Região Autónoma dos Açores re- determina. Assim, estes Regulamentos regem a organização, discipli-
gulava o instituto da evicção escolar no chamado Estatuto do Aluno, na e funcionamento interno do serviço da escola ou outra instituição.
SETEMBRO
aprovado pelo D. Legislativo Regional nº 22/2005/A, de 5 de agosto, Contudo, é preciso acentuar que, na medida em que os Regulamentos
de forma diferente daquela como se encontra legislado no Continente também condicionam a vida desses administrados fora da escola, ao de-
nos citados Decreto-Lei nº 89/77, alterado pelo Decreto-Lei nº 229/94, terminarem a evicção e a sua ida para casa, é um Regulamento Interno
e regulamentado pelo Decreto Regulamentar nº 3/95. Aproveitando o mas com eficácia externa. Deste modo, os Regulamentos das escolas
(2):08-20
ensejo de ter elaborado uma Proposta de Decreto Legislativo Regio- ou outras instituições públicas não necessitam, para serem emanados,
01
nal, em dezembro/2006, de alteração àquele Estatuto do Aluno, intro- de lei habilitante, porque se fundam no poder geral de direção, uma vez
2012// //3434(2):
duziu nele a evicção escolar nos precisos termos em que se encontra que se está no âmbito de relações de hierarquia da Administração, ou
2012
atualmente regulamentada no Continente (veja-se o Decreto Legisla- seja, fundam-se no poder administrativo de auto-organização ou de dire-
tivo Regional n.º 18/2007/A, D.R. 1ª Série, n.º 138, de 19 de julho de ção das entidades administrativas e dos seus dirigentes. Quer dizer, os
2007 – art.ºs 53º a 55º). Regulamentos desta natureza, para serem editados, não necessitam de
SAÚDE INFANTIL
expressas habilitações legais para o efeito.
6.6. Conclusões a extraírem-se do regime legal da evicção escolar
Face a tudo o que se deixa exposto e resulta do teor da consulta, o Se o Regulamento Interno é de uma escola privada a funcionar nos ter-
Molusco Contagioso (MC) e as Conjuntivites tal como outra doença não mos do D.L. n.º 553/80, de 21 de novembro, a legitimidade da sua ema-
incluída no DR.3/95-27.01.95, pela sua natureza, não integram o catálo- nação resulta do disposto no n.º 2 do art.º 33º, do citado diploma legal.
go das doenças infetocontagiosas constantes do Decreto Regulamentar Todavia, qualquer destes Regulamentos Internos, apesar de estarem
n.º 3/95, de 27 de janeiro, no qual se determina, com fundamento, a legalmente habilitados a serem emitidos, o seu conteúdo normativo não
retirada, ou seja, a evicção legal dos sujeitos nele mencionados. poderá violar outras normas de hierarquia superior, ou seja, o chama-
do «bloco da legalidade», constituído pelas leis constitucionais, as leis
Assim sendo, o Regulamento Interno de qualquer estabelecimento
comuns, os decretos-leis, os decretos regulamentares, os atos legisla-
de ensino público ou privado, a funcionar nos termos do D.L. n.º tivos, os atos e os contratos administrativos e os princípios jurídicos.
553/80, de 21 de novembro – em que tal Regulamento é constituído por Assim, se o Regulamento Interno de uma escola pública ou privada a
normas emanadas ao abrigo de disposições de direito administrativo funcionar nas condições atrás indicadas incluir, como fundamento da
(ibidem, art.ºs 31º, nºs 2 a 4 e 85º) – não pode integrar o Molusco evicção escolar, por exemplo o Molusco contagioso está a violar as
Contagioso ou outra doença não incluída no DR.3/95-27.01.95
leis constitucionais atrás indicadas e as disposições do Decreto Regula-
como fundamento da evicção escolar nesse estabelecimento,
porque, se o fizer, é um Regulamento que enferma de vício de mentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, que são normas de hierarquia superior.
violação de lei. A forma que o administrado-lesado tem de atacar tal Regulamen-
to Interno é requerer a impugnação judicial das suas normas ilegais
através da ação administrativa especial de Impugnação de Normas
6.7. Modos de atacar esta ilegalidade ou atuação de quem deter- prevista nos art.ºs 46º, n.º 2, al. c) e 72º e segs do Código de Processo
minar a evicção com tal fundamento: nos Tribunais Administrativos (CPTA), aprovado pela Lei n.º 13/2002,
de 19 de fevereiro e alterada pela Lei n.º 4-A/2003, de 19 de fevereiro
a) A Impugnação Judicial de Normas (ação administrativa especial e pela Lei n.º 107-D/2003, de 31 de dezembro, que poderá requerer
de Impugnação de Normas); no Tribunal Administrativo de Circulo competente, podendo cumular-se
em tal processo um pedido de condenação da Administração ao resta-
b) A Impugnação Judicial de Ato Administrativo (ação administrativa belecimento da situação que existiria se o ato da evicção não tivesse
especial de anulação de ato administrativo). sido praticado ou com um pedido de condenação da Administração à
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Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
reparação dos danos resultantes da sua atuação (art.ºs 4º, n.º 2, al.s poderá ser impugnado pelo administrado-lesado, com fundamento em
a), b) e d), 46º, nºs 1 e 2, al. c), 47º, n.º 1 e 72º e segs do CPTA). vício de violação de lei ou qualquer outro vício que o ato concreto
Ao Ministério Público cabe também aqui um papel importante quanto eventualmente venha a padecer, em ação administrativa especial de
à sua legitimidade para propor e intervir, nos termos previstos na lei, anulação de um ato administrativo, a requerer no prazo de três meses
em processos principais e cautelares destinados à defesa de valores (art.ºs 46º, n.º 2, al. a), 50º, n.º 1, 51º, n.º 1, 58º, n.º 2, al. a), 59º, nºs
e bens constitucionalmente protegidos, como a saúde pública, como é 1 a 3 e 78º e segs do CPTA). Tal pedido poderá ser cumulado com o
o caso, o ambiente, o urbanismo, o ordenamento do território, a quali- pedido de ilegalidade de norma a que atrás se aludiu ou com o pedido
dade de vida, o património cultural e os bens do Estado, das Regiões de condenação da Administração à reparação dos danos resultantes
Autónomas e das autarquias locais. (art.º 9º n.º 2 do CPTA). da sua atuação ou da adoção dos atos ou operações necessárias para
reconstituir a situação que existiria se o ato anulado não tivesse sido
Os Regulamentos Internos de Organização ou de Direção das praticado (art.ºs 4º, n.º 2, al.s a), b) e f), 46º, n.º 2, al.s a) e c), 47º, nºs
instituições de ensino, educação ou lazer, normatizam as relações 1, 2, al. b) do CPTA).
especiais de poder da Administração em relação aos administrados. O regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais
Porque se fundam no poder administrativo de auto-organização, ou entidades públicas por danos decorrentes da função administrativa
de direção das entidades administrativas e dos seus dirigentes não
encontra-se hoje regulado na Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro. O
necessitam, para serem emanados, de habilitações legais para o efeito.
Assim, os Regulamentos Internos das instituições de educação, pedido de indemnização formulado ao abrigo de tal diploma pode ser
ensino ou de lazer, podem ser criados sem o contributo de um formulado pelo administrado-lesado cumulado com os pedidos de de-
SETEMBRO
profissional de saúde. Mas as suas normas não poderão violar outras claração de ilegalidade de norma ou de anulação do ato administrativo,
normas de hierarquia superior. como atrás se referiu, e, neste caso, a ação é de ação administrativa
especial (art.ºs 5º, n.º 1 e 46º do CPTA) ou, então, autonomamente,
6.7.2. Razão de não aplicação neste caso de providência cautelar e, nesta situação, seguirá a forma da ação administrativa comum dos
da suspensão da eficácia de normas
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que produzam efeitos imediatos (normas imediatamente operativas), «Os titulares de órgãos, funcionários e agentes são responsáveis pe-
ou seja, sem dependência de um ato administrativo ou jurisdicional de los danos que resultem de ações ou omissões ilícitas, por eles co-
aplicação (art.ºs 73º, n.º 2 e 130º, n.º 1 do CPTA). metidas com dolo ou com diligência e zelo manifestamente inferiores
Ora, a aplicação das normas da evicção está sempre dependente, àqueles a que se encontravam obrigados em razão do cargo» (ibid.,
como vimos, de um ato administrativo da autoridade de saúde conce- art.º 8º, n.º 1).
lhia ou do médico escolar (art.ºs 2º e 8º do D.L. n.º 89/77, na redação «O Estado e as demais pessoas coletivas de direito público são res-
do D.L. n.º 229/94), pelo que as normas regulamentares de evicção ponsáveis de forma solidária com os respetivos titulares de órgãos,
estão sempre dependentes de tal ato administrativo e, por conseguin- funcionários e agentes, se as ações ou omissões referidas no número
te, não são imediatamente operativas, não sendo, assim, autorizado o anterior tiverem sido cometidas por estes no exercício das suas fun-
pedido da suspensão da sua eficácia. ções e por causa desse exercício» (ibid., art.º 8º, n.º 2).
«Sempre que satisfaçam qualquer indemnização nos termos do núme-
ro anterior, o Estado e as demais pessoas coletivas de direito público
6.8. Evicção determinada por ato administrativo (ação administra- gozam de direito de regresso contra os titulares de órgãos, funcioná-
tiva especial de anulação de ato administrativo) rios ou agentes responsáveis, competindo aos titulares de poderes de
direção, de supervisão, de superintendência ou de tutela adotar as
6.8.1. Se a evicção for determinada por um ato da Autoridade de providências necessárias à efetivação daquele direito, sem prejuízo do
Saúde concelhia (delegado de saúde ou delegado adjunto de saúde) eventual procedimento disciplinar» (ibid., art.º 8º, n.º 3).
nos termos atrás indicados dos art.ºs 2º e 8º do D.L. nº n.º 89/77, na «A culpa dos titulares de órgãos, funcionários e agentes deve ser apre-
redação dada pelo D.L. n.º 229/94, ou seja, através de um ato admi- ciada pela diligência e aptidão que seja razoável exigir, em função das
nistrativo (art.º 120º do Cód. Proc. Administrativo) e violando o precei- circunstâncias de cada caso, de um titular de órgão, funcionário ou
tuado no Decreto Regulamentar n.º 3/95 ou com base em norma do agente zeloso e cumpridor» (ibid., art.º 10º, n.º 1).
Regulamento Interno que violar o que se encontra como normativa «Sem prejuízo da demonstração de dolo ou culpa grave, presume-se
naquele Decreto, ou mais concretamente, decretar a evicção com a existência de culpa leve na prática de atos jurídicos ilícitos» (ibid.,
fundamento no referido «Molusco Contagioso», doença que não se art.º 10º, n.º 2).
encontra na lista de doenças de evicção escolar e que, portanto, ca- As disposições da presente lei, além de se aplicarem à responsabili-
rece de fundamentação excecional no âmbito das funções genéricas dade civil dos titulares de órgãos, funcionários e agentes públicos por
da Autoridade de Saúde que, não sendo aceite pelas partes, tal ato danos decorrentes de ações ou omissões adotadas no exercício da
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Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
função administrativa e por causa desse exercício, aplicam-se tam- encontrámos nada referente à evicção das piscinas coletivas, apenas
bém à responsabilidade civil de pessoas coletivas de direito privado e a informação que a tal evicção tem sido aplicável, por analogia, o regi-
respetivos trabalhadores, titulares de órgãos sociais, representantes me da evicção escolar. A ser assim, afigura-se-nos estarmos peran-
legais ou auxiliares, por ações ou omissões que adotem no exercício te uma lacuna do nosso sistema jurídico que é preciso colmatar,
de prerrogativas de poder público ou que sejam reguladas por disposi- pelo menos através de uma referência expressa de que lhe é aplicável
ções ou princípios de direito administrativo (ibid., art.º 1º, nºs 2, 3 e 5). o regime da evicção escolar, o que pode bem constar dos diplomas
que regulamentam as condições de segurança, de acesso e de uso
6.8.2. Providência cautelar da suspensão da eficácia de ato das instalações desportivas ou, mais concretamente, dos Recintos
administrativo com diversões aquáticas, onde se integram as piscinas coletivas.
Contrariamente ao que sucede com a ação especial para declaração Estes últimos diplomas, onde se enquadram as piscinas coletivas, exi-
de ilegalidade de norma, aqui, na ação especial para a anulação de ato gem que seja elaborado um Regulamento Interno que contenha as
administrativo, poderá requerer-se, como preliminar ou incidentalmen- normas de utilização e de funcionamento a serem observados pelos
te com vista a assegurar a utilidade da lide principal de impugnação de utentes (art.º 56º do Decreto-Regulamentar n.º 5/97, de 31 de março e
ato administrativo, que poderá demorar algum tempo a ser decidida, art.º 17º do D.L. n.º 271/2009, de 1 de outubro).
a providência cautelar prevista na al. a) do n.º 2 do art.º 112º do CPTA A grande maioria dos Regulamentos Internos dessa natureza que consul-
da suspensão da eficácia do ato, que pode ser requerida previamente tamos dizem respeito a piscinas coletivas municipais, que assentam o seu
à instauração do processo principal, juntamente com a petição inicial poder regulamentar, ou seja, invocam como lei habilitante de tais Regula-
SETEMBRO
ou na pendência do processo principal e que tem de ser decidida em mentos com eficácia externa, além daqueles normativos, os art.ºs 241º e
prazo muito curto (art.º 112º do CPTA) para não prejudicar, como se 242º da CRP e a al. a) do n.º 2 do art.º 53º e al. b) do n.º 4 e al. a) do n.º
referiu, a utilidade da lide. 6 do art.º 64º da Lei n.º 169/99, de 18 de setembro, na redação da Lei n.º
5-A/2002, de 11 de janeiro e art.ºs 114º e segs do Cód Proc. Administrativo.
(2):08-20
6.8.3. Recurso hierárquico administrativo
01
Estes Regulamentos, normalmente, contêm disposições quanto à
Entretanto, antes da instauração da ação judicial para a impugnação
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evicção, que determinam a exigência aos utentes de declaração mé-
do ato administrativo, o administrado-lesado poderá instaurar recurso dica, comprovativa do seu estado sanitário, ou, então, a proibição de
2012
hierárquico do ato médico que ilegalmente determinou a evicção para poderem frequentar as piscinas, dos portadores de doenças transmis-
a autoridade de saúde nacional, que é o diretor-geral da Saúde, nos síveis ou de doenças infetocontagiosas, de pele ou outras lesões de
termos dos art.ºs 3º, n.º 3 e 13º do D.L. n.º 82/2009, de 2 de abril, e que possam resultar prejuízo para a saúde pública. Não encontrámos
SAÚDE INFANTIL
166º e segs do Código de Proc. Administrativo. nenhum que expressamente proibisse a entrada e a utilização a quem
A utilização deste meio de impugnação administrativa suspende o prazo estivesse afetado pelo «molusco contagioso».
de impugnação contenciosa do ato administrativo, que só retoma o seu Mas, se porventura, o Regulamento contiver alguma norma nesse sen-
curso com a decisão proferida sobre a impugnação ou com o decurso tido, a forma que o lesado tem de a atacar é sempre a indicada para
do respetivo prazo legal, que é de 30 dias (art.º 165º do Cód. Proc. a Evicção Escolar.
Administrativo). A suspensão do prazo prevista no número anterior não
Se, com base nele ou no Decreto Regulamentar n.º 3/95, a proibição for feita
impede o interessado de proceder à impugnação contenciosa do ato
pela Autoridade de Saúde concelhia (delegado ou delegado adjunto de saú-
na pendência da impugnação administrativa, bem como de requerer a
de, que são as únicas com competência para o efeito – art.º 5º, n.º 3, al. a)
adoção de providências cautelares (art.º 59º, nºs 4 e 5 do CPTA).
do D.L. n.º 82/2009, de 2 de abril), a forma de impugnar tal ato administrativo
Refira-se que a interposição deste recurso hierárquico não suspende
é também a indicada para a evicção escolar, acompanhada do requerimen-
os efeitos do ato impugnado, mas apenas o prazo da impugnação con-
to da providência cautelar da suspensão da eficácia do ato naquele local
tenciosa do ato. Os efeitos do ato da evicção só se suspendem com a
referida.
instauração da providência cautelar da suspensão da eficácia do ato
(art.º 128º do CPTA).
7. Aplicação prática do regime legal exposto na parte geral do pa-
recer nas respostas às perguntas formuladas:
6.9. Regime legal da evicção nas piscinas coletivas
Fixado o regime da Evicção Escolar por Virtude de Doenças Infetocon- Pergunta nº 1: Podem os Regulamentos Internos das instituições, que de-
tagiosas e modo de impugnação das normas de evicção ilegais ou dos terminam a exclusão temporária das crianças com doenças infeciosas agu-
atos administrativos anuláveis que determinam essa evicção, vejamos das, serem elaborados sem o contributo de um profissional de saúde, médi-
agora o regime legal aplicável à evicção nas piscinas coletivas, como co ou enfermeiro, com idoneidade científica em doenças infetocontagiosas?
também é solicitado na consulta. Resposta: Fixado o regime jurídico da Evicção Escolar por Virtude
A primeira questão que se nos suscitou foi a de saber se não have- das Doenças Infetocontagiosas e das piscinas coletivas e a forma da
ria um regime especial para a evicção neste âmbito, uma vez que os sua impugnação ilegal, supomos estarem respondidas, pelo menos
sujeitos passivos abrangidos por esta evicção são diferentes dos da implicitamente, todas as questões colocadas na consulta.
evicção escolar. Os Regulamentos citados na pergunta podem ser elaborados sem
Nas pesquisas de legislação que fizemos e ainda junto das autoridades necessariamente neles intervirem os profissionais de saúde referidos,
médicas de saúde pública e da própria Inspeção-Geral de Saúde, não mas as suas normas não podem é contrariar os normativos de diplo-
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Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
mas legais de hierarquia superior, como é o citado Decreto Regula- Administração à reparação dos danos resultantes da sua atuação ou da
mentar n.º 3/95, sob pena de poderem ser impugnados judicialmente, adoção dos atos ou operações necessárias para reconstituir a situação
como vimos (art.ºs 72º e segs do CPTA). que existiria se o ato anulado não tivesse sido praticado (art.ºs 4º, n.º
Pergunta nº 2: São legais os Regulamentos Internos aludidos em 1 2, al.s a), b) e f), 46º, n.º 2, al.s a) e c), 47º, nºs 1, 2, al. b) do CPTA).*
ver comentário b) em rodapé.
que contrariem o Decreto Regulamentar n.º 3/95, do «Diário da Repú-
blica», I Série-B, nº 23 de 27 de janeiro de 1995? Pergunta nº 5: Poderão os pais das crianças obrigadas à retirada for-
Resposta: São ilegais os Regulamentos Internos que contrariem çada da instituição em causa, responsabilizar as mesmas instituições
o citado Decreto Regulamentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, que como por excesso de zelo, quando injustificadas, pedindo indemnização por
atrás referimos podem ser objeto de impugnação judicial das suas nor- danos materiais e /ou morais?
mas ilegais através da ação administrativa especial de Impugnação Resposta: Já atrás demonstrámos que o administrado-lesado tem
de Normas prevista nos art.ºs 46º, n.º 2, al. c) e 72º e segs do Código direito a ser ressarcido pelos danos que na evicção ilícita lhe forem
de Processo nos Tribunais Administrativos (CPTA), aprovado pela Lei causados pelos titulares dos órgãos, funcionários e agentes públicos,
n.º 13/2002, de 19 de fevereiro e alterada pela Lei n.º 4-A/2003, de decorrentes de ações ou omissões adotadas no exercício das funções
19 de fevereiro e pela Lei n.º 107-D/2003, de 31 de dezembro, que administrativas, como é aquela evicção
poderá requerer-se no Tribunal Administrativo de Circulo competente, O regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais
podendo cumular-se em tal processo um pedido de condenação da entidades públicas por danos decorrentes da função administrativa
Administração ao restabelecimento da situação que existiria se o ato encontra-se hoje regulado na Lei n.º 67/2007, de 31 de dezembro. O
SETEMBRO
da evicção não tivesse sido praticado ou com um pedido de conde- pedido de indemnização formulado ao abrigo de tal diploma pode ser
nação da Administração à reparação dos danos resultantes da sua formulado pelo administrado-lesado cumulado com os pedidos de de-
atuação (art.ºs 4º, n.º 2, al.s a), b) e d), 46º, nºs 1 e 2, al. c), 47º, n.º 1 claração de ilegalidade de norma ou de anulação do ato administrativo,
e 72º e segs do CPTA). como atrás se referiu, e, neste caso, a ação é de ação administrativa
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Pergunta nº 3: A obrigatoriedade ao cumprimento das normas das especial (art.ºs 5º, n.º 1 e 46º do CPTA) ou, então, autonomamente,
instituições, impostas por estes Regulamentos Internos, não poderá e, nesta situação, seguirá a forma da ação administrativa comum dos
ser atribuída culpa que poderá ser sancionada e ressarcida? artºs 37º e segs do CPTA).
Resposta: Em princípio ninguém é obrigado ao cumprimento de Nos termos do aludido diploma: «O Estado e as demais pessoas coleti-
normas ilegais de Regulamentos Internos elaborados pelas entida- vas de direito público são exclusivamente responsáveis pelos danos que
des públicas ou privadas ao abrigo de disposições de direito adminis- resultem de ações ou omissões ilícitas, cometidas com culpa leve, pelos
SAÚDE INFANTIL
trativo, visto que a lei dá ao administrado-lesado os meios de tutela titulares dos seus órgãos, funcionários ou agentes, no exercício da fun-
jurisdicional efetiva para poderem impugnar essas normas ilegais ou ção administrativa e por causa desse exercício» (ibidem, art.º 7º, n.º 1).
os atos administrativos anuláveis praticados ao abrigo de tais normas, «Os titulares de órgãos, funcionários e agentes são responsáveis pelos
conforme se deixa expendido em geral no texto deste parecer. danos que resultem de ações ou omissões ilícitas, por eles cometidas
com dolo ou com diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a
Pergunta nº 4: Mesmo que a evicção seja proposta por uma profis-
que se encontravam obrigados em razão do cargo» (ibid., art.º 8º, n.º 1).
sional de saúde ou a Autoridade Sanitária concelhia, poderão as suas
«O Estado e as demais pessoas coletivas de direito público são res-
determinações contrariar as disposições legais do DR.3/95-27.01.95?
ponsáveis de forma solidária com os respetivos titulares de órgãos,
Resposta: Se a evicção for determinada por um ato da Autoridade de
funcionários e agentes, se as ações ou omissões referidas no número
Saúde concelhia (delegado de saúde ou delegado adjunto de saúde)
anterior tiverem sido cometidas por estes no exercício das suas fun-
nos termos atrás indicados dos art.ºs 2º e 8º do D.L. nº n.º 89/77, na
ções e por causa desse exercício» (ibid., art.º 8º, n.º 2).
redação dada pelo D.L. n.º 229/94, ou seja, através de um ato adminis-
«Sempre que satisfaçam qualquer indemnização nos termos do núme-
trativo (art.º 120º do Cód. Proc. Administrativo) e violando o preceituado
ro anterior, o Estado e as demais pessoas coletivas de direito público
no Decreto Regulamentar n.º 3/95 ou com base em norma do Regu-
gozam de direito de regresso contra os titulares de órgãos, funcioná-
lamento Interno que violar o que se encontra em normativa naquele
Decreto, ou mais concretamente, decretar a evicção com fundamento rios ou agentes responsáveis, competindo aos titulares de poderes de
no referido «Molusco Contagioso», doença que não se encontra na direção, de supervisão, de superintendência ou de tutela adotar as
lista de doenças de evicção escolar e que, portanto, carece de funda- providências necessárias à efetivação daquele direito, sem prejuízo do
mentação excecional no âmbito das funções genéricas da Autoridade eventual procedimento disciplinar» (ibid., art.º 8º, n.º 3).
b) S
ó os Delegados de Saúde têm competência para decretar a evicção escolar
de Saúde que, não sendo aceite pelas partes, tal ato poderá ser impug- que se enquadra no âmbito das funções de Autoridade de Saúde. Só muito
nado pelo administrado-lesado, com fundamento em vício de violação excecionalmente, doenças não constantes na lista oficial poderão ser motivo
de evicção, já que os poderes conferidos pelas funções de Autoridade de
de lei ou qualquer outro vício que o ato concreto eventualmente venha Saúde não se esgotam no diploma da evicção escolar. A fundamentação das
decisões de Autoridade de Saúde é obrigatória e, neste caso, um consenso
a padecer, em ação administrativa especial de anulação de um ato ad- clínico alargado seria desejável, já que a fundamentação explícita não está
ministrativo, a requerer no prazo de três meses (art.ºs 46º, n.º 2, al. a), previamente tipificada num diploma legal, sob pena de se poder acusar a
Autoridade de Saúde de não defender a saúde pública, como é sua obriga-
50º, n.º 1, 51º, n.º 1, 58º, n.º 2, al. a), 59º, nºs 1 a 3 e 78º e segs do ção. São exemplo as doenças emergentes – como a febre hemorrágica ou
o síndroma aguda respiratória severa – que por diversos motivos, não estão
CPTA). Tal pedido poderá ser cumulado com o pedido de ilegalidade incluídas na lista de doenças de evicção escolar, mas que, pela sua gravidade
de norma a que atrás se aludiu ou com o pedido de condenação da e natureza transmissível, colocam em risco a saúde dos contactantes.
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Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
Conforme se afirma atrás no texto, «as disposições da presente lei, ser ponderada a necessidade da revisão do Decreto Regulamentar n.º
além de se aplicarem à responsabilidade civil dos titulares de órgãos, 3/95, de 27 de janeiro, e a extensão do seu regime à evicção das pis-
funcionários e agentes públicos por danos decorrentes de ações ou cinas coletivas por se tratar de uma lacuna do nosso sistema jurídico.
omissões adotadas no exercício da função administrativa e por causa Pergunta nº 7: No caso concreto das conjuntivites, doenças não con-
desse exercício, aplicam-se também à responsabilidade civil de pes- templadas pelo DR.3/95-27.01.95, poderão os profissionais de educa-
soas coletivas de direito privado e respetivos trabalhadores, titulares ção obrigar à evicção?
de órgãos sociais, representantes legais ou auxiliares, por ações ou Resposta: Não. Dissemos, também na parte geral do parecer (6.3),
omissões que adotem no exercício de prerrogativas de poder público que tudo o que estiver fora do elenco das doenças infetocontagiosas
ou que sejam reguladas por disposições ou princípios de direito admi- acabadas ali de referir é matéria alheia à problemática da evicção le-
nistrativo (ibid., art.º 1º, nºs 2, 3 e 5)». gal. Ora se as conjuntivites não constam do elenco do Decreto Regula-
«A culpa dos titulares de órgãos, funcionários e agentes deve ser apre- mentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, é-lhes aplicável tudo o que dissemos
ciada pela diligência e aptidão que seja razoável exigir, em função das na resposta à pergunta n.º 4.* ver comentário c) em rodapé,
circunstâncias de cada caso, de um titular de órgão, funcionário ou
agente zeloso e cumpridor» (ibid., art.º 10º, n.º 1). Pergunta nº 8: Também no caso concreto do molusco contagioso
«Sem prejuízo da demonstração de dolo ou culpa grave, presume-se (MC), tratando-se de uma situação clínica absolutamente benigna, em
a existência de culpa leve na prática de atos jurídicos ilícitos» (ibid., que nem sequer se tem a certeza se o contágio é ou não pela água,
art.º 10º, n.º 2). poderão os responsáveis / professores de natação das piscinas proibir
SETEMBRO
As disposições da presente lei, além de se aplicarem à responsabili- que as crianças com MC frequentam as mesmas, contrariando a opi-
dade civil dos titulares de órgãos, funcionários e agentes públicos por nião de um médico?
danos decorrentes de ações ou omissões adotadas no exercício da Resposta: Nem os professores de natação, nem qualquer titular de ór-
gão ou funcionário têm competência para decretar a evicção, mesmo
função administrativa e por causa desse exercício, aplicam-se tam-
que esta seja legal. Na evicção escolar e nas piscinas, só a Autorida-
(2):08-20
01
bém à responsabilidade civil de pessoas coletivas de direito privado e
de de Saúde concelhia (delegado ou delegado adjunto de saúde) tem
2012// //3434(2):
respetivos trabalhadores, titulares de órgãos sociais, representantes
competência para decretar a evicção e, mesmo estes, só dentro dos
legais ou auxiliares, por ações ou omissões que adotem no exercício
limites fixados no Decreto Regulamentar n.º 3/95. * ver comentário d) em rodapé,
2012
de prerrogativas de poder público ou que sejam reguladas por disposi-
ções ou princípios de direito administrativo (ibid., art.º 1º, nºs 2, 3 e 5). Podem ser impugnados judicialmente as normas dos Regulamentos
Todos aqueles que cometerem danos que resultem de ações ou omis- Internos e os atos administrativos que violarem os normativos daquele
SAÚDE INFANTIL
sões ilícitas, são responsáveis por esses atos e estão sujeitos ao pa- diploma legal de hierarquia superior.
gamento de indemnizações. Aplica-se aqui também tudo o que foi escrito na resposta à pergunta
n.º 4. e na parte geral do parecer (6.9.).
Pergunta nº 6: A evicção nas piscinas é diferente da evicção geral
escolar?
Resposta: Na parte geral deste parecer (6.9.), para onde agora reme- O molusco contagioso (MC) não consta do elenco das doenças de
temos os leitores, demos reposta cabal a esta questão. evicção obrigatória determinada pelo DR.3/95-27.01.95. Não existe
nenhuma regulamentação legal que proíba a utilização das piscinas
públicas pelas crianças com MC;
Por lacuna do sistema jurídico português, não existe legislação
Será violar as leis constitucionais do País o obrigar à evicção duma
referente à evicção das piscinas coletivas, apenas a informação criança com MC duma piscina ou dum estabelecimento escolar;
que a tal evicção tem sido aplicável, por analogia, o regime da evicção A proibição de frequentar uma piscina pelo facto duma criança ter MC poderá
escolar. ser impugnada juridicamente pelos pais, que poderão ser ressarcidos.
17
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
Pergunta nº 9: Quem legitimidade para decidir da evicção duma crian- • Todos os profissionais de saúde estão obrigados a comunicar à
ça dum estabelecimento de ensino ou dum local de lazer? Autoridade de Saúde concelhia os casos de doenças de decla-
Resposta: Legalmente apenas as entidades referidas na resposta à ração obrigatória, referidos no DR.3/95-27.01.95, de que tenham
pergunta n.º 8. Se se pretender que tal competência seja alargada a conhecimento.
outras entidades, só com uma alteração legislativa dos diplomas que • Os órgãos responsáveis pelos estabelecimentos de ensino,
fixam tal competência, que são referidos na parte geral do parecer. Por sempre que tiverem conhecimento da existência de uma prová-
isso se sugere, tal como o fizemos na resposta à pergunta n.º 6, que a vel DIC entre discentes, pessoal docente ou não docente de tal
matéria constante da consulta e do presente parecer sejam remetidos estabelecimento, devem afastar provisoriamente o portador da
ao Ministério da Saúde, a fim de ali ser ponderada a necessidade da doença e comunicar o facto, dentro de 24 horas, à Autoridade
revisão do Decreto Regulamentar n.º 3/95, de 27 de janeiro, e a ex- de Saúde concelhia, para que esta e só esta, determine ou não
tensão do seu regime à evicção das piscinas coletivas por se tratar de a evicção.
uma lacuna do nosso sistema jurídico. • Pertence à Autoridade de Saúde concelhia (delegado ou delega-
do adjunto de saúde) a competência para determinar a evicção
de crianças e contactantes dos estabelecimentos de educação
Conclusões e das piscinas, nos casos de suspeita ou confirmados de esta-
rem atingidos por alguma das doenças transmissíveis citadas
• O afastamento temporário (evicção) da frequência dos estabele-
no DR.3/95-27.01.95
SETEMBRO
da mesma natureza.
• A proibição de frequentar uma piscina ou um estabelecimento
• Atualmente, tudo o que estiver fora do elenco das DIC referidas no
de educação pelo facto duma criança ter molusco contagioso ou
DR.3/95-27.01.95 é matéria alheia à problemática da evicção legal.
outra doença que não conste do elenco das DIC contemplados
• Os Regulamentos Internos das instituições de educação, en-
no DR.3/95-27.01.95, poderá ser impugnada juridicamente pe-
sino ou de lazer, podem ser criados sem o contributo de um
profissional de saúde. Mas as suas normas não poderão vio- los pais ou pelos encarregados de educação, que poderão ser
lar outras normas de hierarquia superior. Isto é, são ilegais ressarcidos.
os Regulamentos Internos das instituições que violarem o • A problemática da «Evicção Escolar por Virtude de Doenças In-
DR.3/95-27.01.95, havendo então razão à sua impugnação. fetocontagiosas não é de forma alguma estática, mas antes do-
• Só se pode restringir os direitos, liberdades e garantias a qual- tada de uma dinâmica muita acentuada e própria. Assim sendo, a
quer cidadão nos casos expressamente previstos na Constitui- legislação sobre esta matéria terá necessariamente de estar em
ção Portuguesa. Fora de situações expressas na lei, não são permanente mutação. Recomenda-se para breve a derrogação do
constitucionalmente admissíveis limitações aos direitos funda- DR.3/95-27.01.95.
mentais, nomeadamente através dos Regulamentos Internos
das instituições.
18
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
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01
20. Decreto-Regulamentar da fixação dos períodos de evicção escolar por virtude de doenças
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Nelson Textbook of Pediatrics, 18th edition. Philadelphia, 2007:81-6.
23, de 27 de janeiro de 1995.
2012
Agradecimento: Ao Dr. Eugénio Cordeiro, médico de Saúde Pública da
ARS de Coimbra, pela leitura crítica deste documento.
SAÚDE INFANTIL
Comentários do médico de Saúde Pública, Dr. Eugénio Cordeiro, assinala-
dos no texto nas notas a), b), c) e d).
19
Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infecto-contagiosas
Decreto-Regulamentar da fixação dos períodos de evicção escolar por virtude de doenças infecto-contagiosas
Decreto-Regulamentar nº 3/95, do «Diário da República», I Série-B, nº 23, de 27 de Janeiro de 1995
«É necessário que se mantenham permanentemente actualizadas as medidas de saúde pública tendentes à promoção e à protecção da saúde,
nomeadamente através da análise epidemiológica das causas e dos factores de risco subjacentes às doenças transmissíveis».
«A lista das doenças transmissíveis que originam evicção escolar encontra-se desactualizada face à evolução das condições epidemiológicas e aos
avanços verificados nos campos da prevenção e da terapêutica...».
Artigo 1º - São afastados temporariamente da frequência escolar e demais actividades desenvolvidas nos estabelecimentos de educação e de
ensino os discentes, pessoal docente e não docente quando atingidos pelas seguintes doenças:
a) Difteria; h) Parotidite epidémica;
b) Escarlatina e outras infecções naso-faríngeas por estreptococo i) Poliomielite
hemolítico do grupo A; j) Rubéola;
c) Febres tifóide e paratifóide; l) Sarampo;
d) Hepatite A; m) Tinha;
e) Hepatite B; n) Tosse convulsa;
f) Impétigo; o) Tuberculose pulmonar;
g) Infecções meningocócicas – meningite e sepsis; p) Varicela.
Art. 2º - S
ão afastados temporariamente da frequência escolar e demais actividades desenvolvidas nos estabelecimentos de educação e de ensino os
discentes, pessoal docente e não docente nas situações em que coabitem ou tenham contactos com indivíduos atingidos pelas seguintes doenças:
SETEMBRO
análises negativas dos exsudados nasal e faríngeo, feitas com o míni- período mínimo de nove dias após o aparecimento da tumefacção
mo de vinte e quatro horas de intervalo e após vinte e quatro horas de glandular;
suspensão do tratamento antimicrobiano; i) Poliomielite – o afastamento deve manter-se até ao desapareci-
b) Escarlatina e outras infecções naso-faríngeas por estreptococo mento do vírus nas fezes, comprovado através de análise;
hemolítico do grupo A – o afastamento deve manter-se até à cura j) Rubéola – o afastamento deve manter-se pelo período mínimo
clínica, devendo, contudo, terminar após a apresentação de análise de sete dias após o início do exantema; em função do risco de
do exsudado naso-faríngeo negativa para o estreptococo hemolítico
contágio deve proceder-se ao afastamento das mulheres grávidas
SAÚDE INFANTIL
Art. 4º - Os prazos de afastamento dos indivíduos que coabitem ou tenham contactos com os atingidos pelas doenças referidas no artigo 2º são os seguintes:
a) Difteria – o afastamento deve manter-se durante sete dias, podendo, c) Tosse convulsa – o afastamento deve manter-se durante um pe-
contudo, terminar antes desse prazo, mediante a apresentação de duas ríodo mínimo de cinco dias após o início da antibioticoterapia profi-
análises negativas dos exsudados nasal e faríngeo colhidas com, pelo láctica adequada, nos indivíduos com menos de 7 anos de idade e
não correctamente vacinados;
menos, vinte e quatro horas de intervalo; d) Infecções meningocócicas (meningite e sepsis) – o afastamen-
b) Poliomielite – o afastamento deve manter-se até à comprovação de au- to deve manter-se até à apresentação de declaração médica com-
sência de vírus nas fezes nos indivíduos não correctamente vacinados; provativa do início da quimioprofilaxia adequada.
20
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas
por virtude de doenças infeciosas
Temporary eclusion criteria of children from day-care centers and schools
due to infectious diseases Manuel Salgado
Resumo Summary
A exclusão temporária ou evicção temporária (ET) de crianças das cre- The temporary exclusion of children from day-care centers, schools
ches, jardins de infância, escolas (CJIE) e das instituições de desporto and sportive and leisure recreation centers due to benign acute infec-
e/ou lazer, em virtude de doenças infeciosas agudas benignas (DIAB), tious diseases (BAID) is a daily problem for families, businesses and
é uma problemática diária das famílias, das instituições empregadoras institutions and the educational facilities professionals.
e dos profissionais de educação e de saúde. In countries with well defined exclusion and inclusion criteria from par-
Em países com regras bem definidas de exclusão e inclusão destas ticipation in day-care centers and schools, for each child rightly ex-
crianças, por cada ET adequadamente proposta, outras seis são des- cluded, six others children with BAID are unduly obliged to exclusion
necessárias. Na ausência de critérios bem definidos de ET, a exclusão as well. When there are no rules in these education or sports centers,
excessive exclusion is usually higher.
SETEMBRO
desnecessária será substancialmente maior.
A ET pelas DIAB são responsáveis por mais de 40% do absentismo The BAID are responsible for more than 40% of parents’work absen-
dos pais ao trabalho (APT). Este é frequentemente responsável por teeism. This is a frequent cause of different opinions and conflicts be-
divergências e conflitos entre os pais, os profissionais de educação tween parents, the daycare staff, and health professionals.
das CJIE e os profissionais de saúde, sobre o real estado de saúde Parents’absenteeism from work due to BAID of their children is oner-
(2):21-28
01
das crianças com DIAB. ous for families, businesses institutions and for the countries. In Portu-
2012// //3434(2):
O APT devido às DIAB dos filhos é oneroso para as famílias, para as gal, at a time of economic restrain, it is very important to avoid unduly
instituições empregadoras e para o país. Em Portugal, onde a palavra expenses, and it is imperative to elaborate the daycare and school ex-
2012
de ordem atual é poupar, será imperativo criarem-se critérios de ET clusion criteria to minimize the erroneous exclusions and their conse-
uniformes e justos, de aplicação universal e responsável, de forma quences. Universal and responsible application of the exclusion criteria
a minimizar a ET desnecessária. Mas isso só será possível se esses in schools and daycare centers is fundamental to obtain this objective.
SAÚDE INFANTIL
critérios forem elaborados numa ação concertada, de peritos cientifi- Only a concerted action by all Portuguese Ministries involved, will allow
camente atualizados, e nomeados pelos diferentes Ministérios Portu- the creation of uniform and fair criteria of school and childcare evic-
gueses envolvidos nesta problemática, sem esquecer os profissionais tion, by scientific updated experts, without forgetting the educational
de educação. professionals.
Palavras-chave: doenças infecto-contagiosas, evicção, infantário, Keywords: infectious diseases, contagious, eviction, day-care centre,
creche, escola, piscina, educadores de infância, absentismo. childcare, school, swimming-pool, absenteeism.
ACRÓNIMOS
EUA – Estados Unidos da América
AAP – American Academy of Pediatrics FFCG – Fédération Fribourgeoise des Crèches et Garderies
APHA – American Public Health Association (Suíça)
APT – absentismo dos pais ao trabalho Hib – Haemophilus influenzae do tipo B
CJI – Creches e jardins-de-infância IDL – Instituições de desporto e/ou de lazer
CJIE – Creches jardins-de-infância e escolas NHMRCAG – National Health and Medical Research Council, Aus-
DIAB – Doença(s) infecciosa(s) aguda(s) benigna(s) tralian Government
DIC – Doenças infectocontagiosas PE – Profissionais de educação
ET – Evicção temporária PS – Profissionais de saúde
Por evicção temporária (ET) em virtude de doenças infectocontagio- afastamento temporário, de forma a prevenir ou a minimizar os contá-
sas (DIC) deverá entender-se «o afastamento temporário legal dos gios nas creches e jardins de infância (CJI), nas escolas e nas institui-
alunos de uma escola, por motivo de doença infecto-contagiosa, sem ções de desporto e/ou de lazer (IDL) (1-5).
dar lugar a faltas» (1,2). Especificamente, evicção significa exclusão ou
21
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas
São conhecidos cerca de 1.000 vírus capazes de induzir doenças em hu- Considera-se absentismo por DIAB a não comparência à estadia
manos (6). A agregação de crianças nas CJI e escolas facilita e potencia a programada ou o abandono das CJIE pela presença de pelo menos
transmissão de vírus e de bactérias dumas crianças para as outras (1-9). um sinal e/ou sintoma compatível com uma doença infeciosa (19,20).
Comparativamente às crianças que ficam ao cuidado dos familiares, as A taxa anual média de absentismo por episódios de DIAB (e não por
que frequentam regularmente as CJI adoecem pelo menos 2 a 3 vezes dias de doença), foi respetivamente de 4,9 episódios / ano na Finlândia
mais vezes com doenças infeciosas agudas benignas (DIAB) (2-5,9-14), em (10)
e de 3,3 episódios /ano na Austrália (23), sendo maior nos primeiros
especial nos meses de inverno (9,15,16). dois anos de vida (19,20,24,25).
As DIAB mais comuns nas creches, jardins de infância e escolas Como apenas 25% dos episódios de ET foi de apenas uma dia, mas
(CJIE), são as rinofaringites, as bronquiolites, as dispneias associadas 12,5% duraram entre 6 a 10 dias (24) (num estudo sueco), a média e o
à asma induzidas por vírus, as broncopneumonias, as pneumonias, as total de dias de ET por criança será significativamente maior (24,25) do
otites médias agudas, as gastroenterites agudas, as conjuntivites, os que a taxas anuais médias de absentismo atrás referidas (10,23).
exantemas virusais, e as febres e/ou as tosses e/ou os vómitos de etio- Num estudo finlandês, no ano letivo 1985-1986, a taxa anual de ab-
logia presumivelmente virusal, a amigdalite estreptocócica, a varicela e sentismo nas CJIE, em dias, foi de 11,4 dias, com extremos de 4,8 dias
o impétigo (2-5,10,11,17-20). entre os 7 e os 10 anos de idade, e de 20,2 dias nos dois primeiros
As DIAB são mais frequentes nos primeiros dois a três anos após o anos de vida (25). Noutros estudos alargados, da autoria do mesmo pri-
SETEMBRO
ingresso nas CJI (3,4,9-13,17-20), totalizando uma média de 6 a 9 DIAB por meiro autor (Cordell RL) (19,20), realizados nos Estados Unidos da Amé-
ano (3,10-15,19-21), mas com uma incidência inversamente proporcional à rica (EUA) entre 1992 e 1994, o absentismo anual médio nas CJIE,
idade (10,19,20) (Tabela I). Num estudo Finlandês, a duração média das em dias, foi de 4,6 dias (extremos de 2,8 e 8,2 dias) (19) e de 3,9 dias
DIAB foi de 4,7 dias, tendo sido de 5,8 dias no primeiro ano de vida (10). (extremos de 1,9 e 4,5 dias) (20), sendo maior nas idades mais jovens
2012 // 34 (2): 21-28
Tabela I • Incidências anuais médias dos episódios das doença(s) infeciosa(s) A taxa de absentismo anual das crianças às CJIE, por DIAB, em dias,
aguda(s) benigna(s (DIAB) nas CJIE em função da idade é diferente de instituição para instituição e de país para país (19,20,23-26),
variando de médias de 3,9 dias (20) a 11,4 dias (25), com extremos entre
Anos de vida Pönkä (10) Cordell (20) os 1,9 dias (20) e os 20,2 dias (25), com a maior taxa a verificar-se nos
1º ano 11,1 12,4 primeiros dois anos de vida (25).
SAÚDE INFANTIL
22
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas
4. Repercussões sociais da evicção desnecessária de Nas instituições em que a gestão da ET é orientada exclusivamente
crianças das CJIE pelos PE – baseados em experiências prévias, no «bom senso», na
pressão dos pais, etc. – a relação exclusão indevida / exclusão ade-
Em Portugal e em países desenvolvidos, tem sido crescente o aumen-
quada é substancialmente maior (35-46).
to do número de mulheres no mercado de trabalho. Nestes, mais de
70% das mães de crianças com menos de 5 anos de idade trabalham
fora de casa (30-32).
Em países com regras bem definidas de evicção de crianças
São muito consideráveis os custos familiares e sociais da ET das das CJIE e das IDL, por cada criança justificadamente excluída,
crianças das CJIE por virtude das DIAB. Nos cálculos dever-se-á ter outras 6 crianças são indevidamente excluídas (45). Na ausência
em conta os custos diretos da ET (consultas médicas e medicações) e do cumprimento de Normas regulamentadas, criadas por peritos
atualizados, a ET desnecessária será substancialmente maior.
os custos indiretos: absentismo dos pais ao trabalho (APT), despesa
com as viagens e os encargos com outros prestadores de cuidados
aos filhos em substituição das CJIE (16,21,25,27-29).
Estudos internacionais, alguns não recentes, constataram: Contudo, mesmo em países com Normas bem definidos de ET das
crianças das CJIE, é muito frequente o incumprimento das mesmas
• Na década de 80, mais de 40% do APT devia-se às DIAB dos filhos (36,45,46)
. O desconhecimento da existência e do teor dessas Normas,
(28)
; O APT representou o principal componente do total dos custos
pelos PE das CJIE, pelos pais e até pelos PS, justifica o frequente
com a ET das crianças das CJIE (16,25,28,29);
incumprimento (45,46). Num estudo realizado nos EUA, mais 70% dos
SETEMBRO
• Muitos pais têm dificuldades laborais devido às DIAB dos filhos, inquiridos por grupo profissional (pais, PE e PS) desconheciam o con-
com repercussões na carreira profissional e/ou académica; muitos teúdo das Normas de ET das crianças das CJIE (45).
não têm nem possibilidade, nem disponibilidade para recorrer ao Naturalmente que o incumprimento dessas Normas é maior se os di-
médico sempre que os filhos adoecem (33,34). retores das CJIE tiverem menos experiência do cargo, menos conhe-
(2):21-28
01
cimentos sobre noções básicas em saúde e desconhecerem essas
2012// //3434(2):
Num trabalho realizado nos EUA, e publicado em 2008, a vontade de
Normas (36,44).
não faltar ao trabalho e/ou às atividades escolares, pesou mais na
2012
decisão dos pais em recorrer aos cuidados de saúde por DIAB dos
filhos, do que as reais preocupações com o seu estado de saúde (33). 6. R
azões do insucesso da propagação das DIAB pela
evicção individual
SAÚDE INFANTIL
5. Razões e consequências das divergências entre os Embora a generalidade das doenças infeciosas agudas sejam contagiosas
profissionais de educação, os pais e os profissionais (2-8,46-49)
, a larga maioria são benignas e autolimitadas e só algumas são
de saúde
potencialmente graves (2,3,49). Só estas últimas justificam a adoção siste-
mática da ET dos doentes (2-5,49), seja pela gravidade e elevado risco de
Num inquérito realizado a 95 educadores de infância portugueses, em
contágio (são exemplos a tuberculose pulmonar e a tosse convulsa), ou
Dezembro de 2006 e Janeiro de 2007 (35), constatou-se o desconheci-
somente pela potencial gravidade, e menos pelo risco de contágio, de que
mento de noções básicas sobre DIC / DIAB e da legislação portuguesa
é exemplo a doença meningocócica (2,3,49).
sobre «evicção escolar» (Quadro I).
Em relação à doença meningocócica, o risco de um segundo caso (criança
ou adulto) nas CJIE nos contactos íntimos (mesma sala e/ou convívio
Quadro I • R
esultados dum inquérito realizado em Dezembro 2006 a 95
entre si a menos de 1,5 metros de distância nos últimos 10 dias) é
educadores de infância do distrito de Aveiro (35):
inferior a 3% (2,49).
• 95% desconhecia o teor do decreto regulamentar 3/95-27.01.1995 so-
bre evicção escolar (1);
• Mais de 70% não tiveram qualquer formação em questões de saúde;
• A larga maioria fazia confusão entre doenças e sinais e sintomas das Da maior abrangência nas exclusões das crianças das CJIE não
mesmas; se verificam reais benefícios, nem para as crianças excluídas,
• A larga maioria não distinguia as doenças contagiosas das doenças
nem para os conviventes destas (2,12,13,16,18-21,36-45).
não contagiosas;
• Mais de 35% desconhecia os significados de período de contágio e de
período de incubação;
• A larga maioria recomendava a evicção baseada no «seu bom senso», A ET das crianças e dos adultos com DIAB das CJIE e das IDL, só se
em experiências prévias, na pressão dos familiares, etc. justificará se essa exclusão diminuir os casos secundários (2,3,7,13,42,50).
Na prática, e pelas razões indicadas no Quadro II, não é o que acon-
As lacunas na formação em noções básicas de saúde pelos PE das tece no dia a dia.
CJIE, com a consequente adoção arbitrária e não uniformidade de
critérios de ET, são também uma realidade noutros países, condicio-
nando frequentes divergências entre pais, os PE das CJIE e os profis-
sionais de saúde (PS) (36-46).
23
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas
Quadro II • Razões do frequente insucesso na prevenção dos contágios mas previamente estabelecidas sobre ET (1). Essa foi a razão que
de agentes infeciosos pela exclusão temporária de crianças levou o American Academy of Pediatrics (AAP) modificar os critérios
(1-8,12,13,18,26,30,31,42,47,51)
das CJIE e das IDL de ET das CJIE sobre conjuntivites, gripe e gastroenterites no livro
• A maioria dos contágios dos agentes infeciosos das DIC/DIAB: «Managing Infectious Diseases in Child Care and Schools. A Quick
a) Iniciam-se um a três dias antes do início dos sintomas; Reference Guide», da primeira edição (2005) (52) para a segunda
b) Prolongam-se por vários dias a várias semanas após a resolução (2009) (3).
das manifestações clínicas; Nos Quadros III e IV são discriminadas as recomendações sobre ET
c) Podem ter origem em indivíduos pouco sintomáticos ou em portado- de crianças das CJIE, baseadas em consensos de peritos da Fédéra-
res-sãos (indivíduos colonizados sem sintomas); tion Fribourgeoise des Crèches et Garderies (FFCG) Suíça (2,53); da
• As fomites – as superfícies ou objetos inanimados, porosos ou não po- AAP (3,30,31,50,54); da American Public Health Association (APHA) (4) e do
rosos, contaminados com agentes infeciosos – são uma das principais National Health and Medical Research Council, Australian Government
formas de contágio dos agentes infeciosos nas CJIE e nas IDL. (NHMRCAG) (5).
De país para país não existe unanimidade na adoção dos critérios de
ET das DIC e DIAB, com algumas doenças – tais como varicela, a
7. Critérios de exclusão das crianças das CJIE por vir-
parotidite epidémica e a hepatite A – a serem motivo sistemático de ET
tude das DIAB
das CJIE nos EUA (3) e na Austrália (2-4), mas não na Suíça (2,53) (Tabela
A discussão dialética da evolução dos conhecimentos, justifica as II), nem no Canadá (55).
SETEMBRO
Quadro III • C
ritérios de exclusão temporária de crianças das CJIE e IDL por motivo de DIA – baseados nas recomendações da FFCG (Suíça) (2,53)
, do
AAP (3,12,18,30,31,50,54)
, da APHA (4)
e do NHMRCAG : (5)
2012 // 34 (2): 21-28
A – Doenças que, pela interpretação dos profissionais de educação (PE), • Sangue nas fezes (retorragia) ou melenas;
impeçam a participação da criança nas atividades de grupo: (i,ii) • Vómitos repetidos (2 ou mais nas 24 horas prévias) ou com sangue;
B – Doenças que exigem mais cuidados dedicados à criança doente do • Diarreia profusa (muitas dejeções por dia ou dejeções muito volumosas) v;
que os profissionais de educação da instituição podem proporcio-
• Sede intensa e/ou outros sinais de desidratação;
nar, com risco de comprometer a saúde e a segurança das restantes
crianças; (i,ii) • Icterícia;
C – Doenças com risco acrescido de contágio e consequente doença às • Melenas e/ou retorragias
SAÚDE INFANTIL
24
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas
Tabela II • Recomendações da FFCG (2011) (2,53) e do AAP (2009) (3) sobre as doenças com risco acrescido de contágio e consequente doença às restan-
tes crianças (desde que o estado geral da criança o permita e não se aplique nenhuma das recomendações do Quadro III). Que doenças infeciosas
exigem evicção temporária?
SETEMBRO
Escabiose (sarna) Sim até que seja iniciado o tratamento (de um dia para o outro)
o outro)
Escarlatina Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico
Sim; até ao fim da diarreia; menos tempo se a instituição tem
Febre tifóide Omisso
capacidades de assegurar os cuidados higiénicos.
Furunculose Não; Sim se lesões expostas Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico.
(2):21-28
Sim se as dejeções saírem da fralda, a criança não
01
controla as fezes ou se se aplicar qualquer dos critérios Sim; até ao fim da diarreia; menos tempo se a instituição tem
Giardíase sintomática
2012// //3434(2):
A, B ou D do Quadro IV; capacidades de assegurar os cuidados higiénicos.
Não nas restantes situações
- Se < 5 anos de idade: sim até 6 dias após o início das queixas;
2012
Hepatite A Sim; até uma semana após o início da doença
- Se > 5 anos; não c)
Sim; até 24 horas após o início do tratamento antibiótico; no caso
Sim; até 24 horas após o início do tratamento
de Staphylococcus aureus meticilino-resistente a evicção está
Impétigo antibiótico; igual no caso de Staphylococcus aureus
indicada até declaração médica de que não representa risco de
SAÚDE INFANTIL
meticilino-resistente
contágio.
Meningite / doença Sim; imediatamente que haja suspeita; profilaxia dos Sim; imposta pela gravidade da doença e não pelo risco de contágio
meningocócica contactos íntimos d) (risco de um segundo caso < 3%).
Meningites bacterianas por Sim; não diferencia a doença meningocócica das
Streptococcus pneumoniae meningites não meningocócicas. Não; mas em regra a criança está incapaz de frequentar as CJIE
e Haemophilus influenzae do Mas em regra a criança está incapaz de frequentar as e as escolas
b), e)
.
tipo b CJIE e as escolas b), e)
Não; assegurar da imunidade ou do cumprimento da vacinação
Parotidite epidémica Sim; até 5 dias após início da tumefação com duas doses nas restantes crianças e nos profissionais de
educação;
Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi detetado) e até
Pediculose
detetado) e até que seja iniciado o tratamento que seja iniciado o tratamento
Pneumonia bacteriana Não b) Não; igual à das meningites não meningocócicas; b)
Não; assegurar o cumprimento da vacinação das restantes crianças
Rubéola Sim; até 7 dias após o início do exantema
e dos profissionais de educação;
Sarampo Sim; até 4 dias após o início do exantema Sim; até 4 dias após o início do exantema
Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi detetado) e
Sim (mas pode esperar até ao fim do dia em que foi
Tinha até que seja iniciado o tratamento; se tinha plantar, justifica-se a
detetado) e até que seja iniciado o tratamento
evicção das piscinas até à cura
Tosse convulsa Sim; até 5 dias após início de tratamento adequado Sim; até 5 dias após início de tratamento adequado
Sim; até declaração médica de que iniciou tratamento Sim; até à declaração médica de que iniciou tratamento adequado
Tuberculose pulmonar
adequado e não representa risco de contágio; d) e não representa risco de contágio; d)
Tuberculose extra pulmonar Omisso d) Não; d)
Tuberculose latente (viragem
Omisso d) Não; d)
tuberculínica)
Sim; até que todas as lesões fiquem em crosta
Varicela Não f)
(geralmente 6 dias após início do exantema).
Vírus da imunodeficiência Não; exceto se se aplicar qualquer dos critérios A, B ou
Não
humana (SIDA) D do Quadro IV;
Zona (herpes zooster) Não, exceto se as lesões estiverem expostas Não f)
a) Conjuntivite ou queratoconjuntivite epidémica por adenovírus, febre faringoconjuntival – a adenovírus – o período de contágio dura até 14 dias após o
início das queixas (56); um estudo prospetivo sobre conjuntivites purulentas em idade pediátrica, que comparou crianças medicadas com cloranfenicol
tópico versus placebo, mostrou uma resolução média em 5,4 dias nos medicados com antibiótico versus 5,0 dias nos que fizeram placebo (57);
b) Os doentes em regra têm critérios para a evicção (ver critérios A, B e D do Quadro IV),
c) O principal objetivo é a proteção dos adultos não imunes; se os PE estiverem imunes (por infeção natural ou por vacina) não é exigida a evicção; deve-se
vacinar os PE não imunes e reforçar os cuidados gerais de higiene;
25
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas
d) Está indicado contactar a Autoridade de Saúde na doença confirmada ou na suspeita da mesma (56);
e) A meningite bacteriana por Streptococcus pneumoniae é considerada não contagiosa, porque, para haver doença, é exigida a colonização prévia e, só
depois, se processa a proliferação e a invasão da corrente sanguínea e a consequente focalização à distância 49; nas crianças saudáveis com menos de
2 anos que frequentam CJI, a colonização das mucosas das vias aéreas superiores, por Streptococcus pneumoniae, varia entre 20% a 60% (15,18) e, por
Haemophilus influenza, entre 13% a 18,7% (15).
f) Não existe prova da eficácia preventiva da evicção dos doentes com varicela (2,55); também a Sociedade Canadiana de Pediatria não obriga a evicção das
crianças com varicela das CJIE (55).
Estas recomendações ultrapassam, em muito, o proposto pelo Decre- As hepatites B e C e a infeção pelo vírus da imunodeficiência humana
to Regulamentar nº 3/95, do «Diário da República», I Série-B, nº 23, de adquirida (SIDA) são transmitidas através do contacto com sangue,
27 de Janeiro de 1995 (1) . mucosas ou feridas expostas (3,12).
Para a FFCG (2,53), a AAP (3,12,18,30,31,50,54), a APHA (4) e o NHMRCAG (5) a) A saliva contém muito menos vírus do que os existentes no
não se justifica a ET das crianças das CJIE e das IDL com as doen- sangue (3,50);
ças e/ou os sinais ou sintomas discriminados no Quadro IV, a que se
b) Não obstante ocorrer a laceração da pele com a mordedura,
acrescenta-se as conjuntivites banais (2,3).
SETEMBRO
26
Critérios de exclusão de crianças das creches, dos jardins de infância e das escolas por virtude de doenças infeciosas
10. Medidas de prevenção ou minimização dos contágios em conta os variados condicionantes e as consequências da mesma
(Quadro V).
As medidas mais eficazes na prevenção ou minimização dos contá-
gios são (pelas crianças e pelos PE das CJIE) a vacinação, a lavagem Quadro V • C
onsiderandos a ter em conta na indicação para ET das crian-
frequente das mãos, a eliminação dos gérmens existentes nas fomites ças CJIE (1-5)
e o cumprimento, sem interrupções, das normas de higiene (3,17,18,31,54). 1) As necessidades das crianças doentes (de bem estar e conforto)
A lavagem das mãos (pelas crianças e pelos PE) mantem-se como a 2) Doenças graves com risco acrescido de contágio às restantes
forma mais eficaz de prevenção da transmissão dos agentes infecio- crianças;
sos (3,6,8,17,31,47,48,60). 3)
As capacidades das instituições em assegurar os cuidados
suficientes à criança doente, sem comprometer a segurança
Nas CJIE e IDL onde existem regras escritas, sucintas mas claras, das outras crianças;
permanentemente disponíveis em locais acessíveis para consultas re- 4) As necessidades profissionais e sociais dos pais;
gulares, e quando cumpridas, verifica-se uma acentuada diminuição 5) Os eventuais benefícios e os prejuízos sociais da evicção.
da incidência das DIC / DIAB (5,17,18,30,31,40,50,54).
Mas as recomendações escritas têm pouco valor e não serão cum- A adoção de Normas uniformes e justas de evicção das crianças dos
pridas, se não forem compreendidas (40). A formação adequada e CJIE e das IDL, foram já delineados noutros países (2-5). Em Portugal,
contínua dos profissionais de educação nas medidas preventivas dos para a implementação de Normas de ET das crianças com DIC/DIAB
contágios das DIC / DIAB são as medidas mais importantes para uma das CJIE, é�����������������������������������������������������������
necessário�����������������������������������������������
haver vontade política dos diferentes Ministé-
SETEMBRO
significativa redução da transmissão de agentes infeciosos nas CJIE rios envolvidos, mas com o parecer de todos os intervenientes no dia
8,17,18,31,51
. A explicitação dessas Normas sai do âmbito desta revisão, a dia: representantes das famílias, dos profissionais de saúde e dos
podendo ser consultadas noutros textos atualizados (3,61). profissionais de educação.
(2):21-28
01
11. Conclusões
2012// //3434(2):
A decisão para recomendar a ET das crianças das CJIE e IDL justi-
2012
fica que se deva ponderar das consequências dessa medida, tendo
SAÚDE INFANTIL
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28
20 Saúde região bairradina 18-11-2015
O nome e a incidência
Em 2013, a médica americana Pamela Bailey usou e definiu pela primeira vez a designa-
ção de “daycaritis”, que tento traduzir pelo neologismo infantarites.
As alternativas a este nome seriam “infantáriosites”, “crechites”, “jardinites”, “jardinzites”
ou frases tais como “carrosséis de infeções nos infantários”. Se bem que esta última
traduza o essencial, optei por “infantarites”. Aos outros caberá aceitar ou sugerir um nome
melhor. Figura 2: Os anticorpos maternos, transmitidos através da placenta, protegem os bebés
nos primeiros 6 meses de vida; depois desta idade, a criança terá de adquirir imunidade
por si só, contraindo doenças (sintomáticas ou não); ou pela simulação destas (pelas
vacinas)
A entrada nas creches (na maioria das vezes,logo nos primeiros 2 anos de vida) e/ou nos
jardins-de-infância coincide com o período da vida destas crianças que:
a) Ainda não tiveram oportunidade para adquirir imunidade gradualmente (como sucedia
até há várias décadas atrás);
b) Estão disponíveis para adoecer ao ritmo das oportunidades. Que não vão faltar, como
se explica de seguida.
Figura 1: As “Daycaritis” têm o pico de ocor-
rência nos primeiros 12 meses de infantários Oportunidade: Nunca na vida uma criança estará mais tão propícia a adoecer, pois as
(algumas das “novas” crianças dos “balas”(as infeções) são inúmeras e vêm de todos os lados (dos colegas); já os “escu-
infantários que chegam a adoecer 2 ou mais dos” (as defesas = imunidade) são quase inexistentes; e as poucas defesas que exis-
vezes por mês); continuam a ser muito fre- tem, não são “compactas”, antes feitos de malhas com largos buracos, pois conferem
quentes no segundo ano da “escolinha”, mas uma imunidade parcial, pois os diferentes vírus têm muitas variantes “cepas”, não pro-
progressivamente, as infeções vão reduzin- porcionado imunidade, justificando as reinfeções. Só como exemplos: são 101 rinovírus,
do em número. 51 adenovírus, 13 rotavírus.
A retirada temporária (evicção) das creches, jardins-de-infância, escolas e piscinas em Portugal. Noutros países existem regras bem definidas da retirada temporária das
(CJIEP) em virtude de doenças infecto-contagiosas (DIC) é uma problemática diária das crianças das CJIEP, estabelecidas pelas respectivas Sociedades Médicas Pediátricas e
famílias, nos estabelecimentos de educação e nas piscinas, pese ser pouco discutida de Saúde Pública (Quadro I).
Quadro I • Critérios de exclusão (evicção) temporária de crianças dos estabelecimentos de Para estas Sociedades Médicas não se justifica a exclusão de crianças das CJIEP as crianças com as
educação e lazer por DIC, de outros países: doenças e sintomas sem gravidade, descriminados no Quadro II.
A – Doenças que, pela interpretação do profissional de educação, impeçam a participação Quadro II • Situações clínicas que NÃO justificam a evicção / exclusão dos estabelecimentos
confortável da criança nas actividades do grupo: (i) de ensino ou lazer (desde que não se aplique nenhuma das recomendações do Quadro
B – Doenças que exigem mais cuidados para a criança doente do que o staff da instituição pode I, eventualmente após a administração de analgésico / antipirético):
proporcionar, com risco de comprometer a saúde e segurança das restantes crianças (i).
C – Doenças com risco acrescido de contágio e de consequente doença às restantes • Amigdalite virusal (após teste rápido ou • Laringotraqueíte
crianças: cultura negativos) • Megaloeritema (5ª doença) em doente sem
• Amigdalite / escarlatina estreptocócicas – até 24 horas após o início do tratamento e tér- • Bronquiolite e bronquite infecciosa doença hematológica nem compromisso da
mino da febre; • Corizas, rinorreia, independentemente da imunidade – doença provocada pelo parvo-
• Conjuntivite purulenta – definida com hiperémia da conjuntiva, com exsudado branco ou amare- cor das secreções, com ou sem tosse; vírus (*)
lado ou verde – até observação médica e o início do tratamento (ii); • Febre sem nenhum dos sinais de alerta • Meningite virusal
• Diarreia (gastroenterite) – até 24 horas após a sua resolução dos vómitos e da diarreia – (enunciados na alínea D da Quadro I) em • Molusco contagioso
excepto se a criança não usar fraldas, for autónoma e não apresentar nenhum dos sinais criança com mais de 4 meses, e que, após • Mononucleose infecciosa
de alerta do grupo D (iii). a aplicação de antipirético, não impeça as • Otite média aguda (excepto se otorreia)
• Escabiose (sarna) – até à realização do tratamento completo; actividades diárias próprios do grupo etário; • Parasitas intestinais helmínticos – (oxiúros,
• Hepatite A – até uma semana após o início da icterícia; • Candidíase oral e genital Ascaris lumbricoides, etc.)
• Impétigo e dermatite estreptocócica perianal – até 24 horas após o início do tratamento • Conjuntivite não purulenta - com epífora de • Pediculose – até ao primeiro tratamento
antibiótico; exsudado aquoso, sem febre, sem dor ocu- (pode aguardar-se pelo fim do dia da identi-
• Meningite / doença meningocócica – até completar o tratamento lar ou hiperémia conjuntival notória; olhos ficação da doença para se iniciar a exclusão
• Parotidite epidémica – até 9 dias após início da tumefacção das parótidas; com ramela sem hiperémia conjuntival; – que poderá não ser necessária);
• Pediculose – até ao primeiro tratamento (pode aguardar-se pelo fim do dia da identificação • Doença boca-mãos-pés • Pneumonia ou broncopneumonia - até 48
da doença para iniciar a exclusão – que poderá não ser necessária); • Exantema / erupção cutânea na ausência de horas após o início antibioterapia
• Rubéola – até 6 dias após o início do exantema; febre e/ou de alteração do comportamento; • Tinha – até se iniciar o tratamento (pode
• Sarampo – até 4 dias após o início do exantema; • Exantema súbito aguardar-se pelo fim do dia da identificação
• Tosse convulsa – até 21 dias após o início dos sintomas; reduz para apenas 5 dias no caso • Gengivo-estomatite herpética (infecção da doença para se iniciar a exclusão – que
de tratamento correcto com antibiótico macrólido; pelo vírus herpes simplex) poderá não ser necessária);
• Tuberculose – até declaração médica de que iniciou tratamento adequado e não representa • Giardíase assintomática (sem diarreia) • Toxoplasmose
risco de contágio; na tuberculose latente não está indicada a exclusão; • Gripe sazonal • Verrugas
• Tinha (dermatofitose) – até iniciar tratamento (pode aguardar-se pelo fim do dia da identifi- • Hepatites B e C • Vírus da imunodeficiência humana adquirida
cação da doença para iniciar a exclusão – que poderá não ser necessária); • Infecção por citomegalovírus (SIDA)
• Varicela – até que todas as lesões fiquem em crosta (geralmente 6 dias); • Infecção urinária • Zona (herpes-zooster) - desde que as le-
sões fiquem cobertas pela roupa.
D – Presença dos seguintes sinais e/ou sintomas cuja intensidade ou potencial gravida-
* o parvovírus B19 inicia o contágio uma semana antes do início do exantema deixa de ser contagioso uma vez
de exijam cuidados médicos e/ou vigilância apertada:(ii) iniciado o exantema.
• Mau julgamento clínico - “Parecer estar > convulsões; No decurso das infecções ligeiras sofridas pelas crianças, nem a retirada de crianças doentes CJIEP,
muito doente” > sonolência progressiva ou excessiva; nem a sua separação do grupo, previne a propagação dos respectivos agentes infecciosos às outras
> rigidez da nuca; crianças e aos adultos conviventes (Quadro III).
• Febre no contexto de:(ii) > exantema associado a febre ou a
> idade inferior a 4 meses; alteração do comportamento ou do
> alteração do comportamento ou do estado de consciência (ii);
estado de consciência; Quadro III • Razões do insucesso na prevenção dos contágios de agentes infecciosos de DIC pela exclusão de crianças
> sinais de dificuldade respiratória;
> prostração; > incapacidade em falar; com doenças ligeiras das CJIEP:
> exantema / erupção de início recente; Os contágios de muitos dos agentes infecciosos responsáveis por DIC:
> tosse perturbadora para a criança;
> convulsão.
> sangue nas fezes;
> vómitos repetidos (2 ou mais nas 24 • Precedem de 1 a 3 dias o início dos sinais e/ou sintomas;
• Sintomas ou sinais de potencial do- • Prolongam-se por dias a semanas para além da resolução dos sinais e/ou sintomas;
ença grave e/ou perturbadora do bem- horas prévias) ou com sangue;
• Provêm também dos conviventes assintomáticos que ficaram transitoriamente portadores-sãos.
-estar (ii): > diarreia profusa;
> letargia (≈ excessivamente sonolento e > sede intensa ou outros sinais de de-
pouco reactivo), prostração; sidratação; Em países com regras bem definidas de evicção escolar (Quadros I e II), por cada criança justificada-
> gemido, choro ou irritabilidade manti- > icterícia; mente excluída dos infantários por DIC, outras 6 crianças são indevidamente excluídas. Em Portugal,
dos ou intermitentes; > aftas orais / inflamação na boca com
na ausência de regras bem definidas, elaboradas por peritos, a relação exclusão indevida / exclusão
> dores mantidas, intermitentes e/ou sialorreia (babar-se continuamente) (ii).
adequada será substancialmente maior, sendo os excessos o dia-a-dia das nossas famílias.
intensas;
i) Se os pais e o staff das instituições dis- razão para a exclusão se dever a poten-
cordarem nas razões para a exclusão, cial a DIC que ponha em risco as outras Da evicção despropositada resultará, frequentemente, o desnecessário absentismo ao trabalho,
e estas assentarem ou nas capacida- crianças do grupo, e existirem diferentes eventuais conflitos laborais, que poderão culminar num eventual prejuízo no precário emprego, as-
des da criança para participar ou na opiniões por profissionais de saúde, ca- sim como consequências socioeconómicas em cadeia: despesas inúteis em saúde, consumismos
disponibilidade do staff em assegurar berá à Autoridade de Saúde concelhia a
as actividades educativas às restantes decisão final. em serviços de saúde, absentismo à escola, etc.
crianças, os profissionais de saúde são ii) Excepto se um profissional de saúde
soberanos na sua decisão, não podendo determinar que a situação clínica não Saúdam-se a Direcção Geral de Saúde e a Sociedade Portuguesa de Pediatria que nomearam uma
os pais exigir ao staff a responsabilidade exige a exclusão. comissão de peritos que, desde há uns meses, estão finalmente a definir critérios de evicção das
em aceitar a criança e em assegurar- iii) As GEA são 17 vezes mais frequentes CJIEP baseados em conceitos científicos actuais, mais justos e práticos.
-lhe os cuidados e a vigilância, durante nas crianças que usam fraldas do que
o período em que a criança cumpre os nas que nas que já têm controlo dos es- Esperemos que, antes da sua conclusão, peçam igualmente opinião a peritos profissionais de edu-
critérios do staff para a exclusão. Se a fíncteres. cação. Depois sim, que se façam cumprir as normas elaboradas.
Figura 1: Quando os dogmatismos (falsas verdades A norma aplicável para os jardins-de-infância é o Decreto-Lei 542/79, de 31 de dezembro.
inquestionadas) preponderam sobre o bom senso, o re- Diário da República - I Série, n.º 300-12º Suplemento (do Ministério da Educação) –
sultado é um conjunto de exigências absurdas, fúteis, inú- Quadro II.
teis e dispendiosas.
Quadro II - Legislação que regulamenta os jardins-de-infância.
Que ministérios tutelam as creches e os jardins-de-infância?
As creches são tuteladas pelo Ministério da Solidariedade e da Segurança Social. Já os
jardins-de-infância são tutelados pelo Ministério da Educação.
Paradoxalmente não existe consonância nos dois ministérios, num perfeito divórcio entre
eles. É notória a indiferença, tanto do Ministério da Saúde (que deveria tutelar a elabora-
ção de normas referentes a questões de saúde) como do Ministério da Justiça, que
deveria uniformizar as leis, zelando assim pela justiça (igualdade de direitos).
1) Declarações médicas são precisas para a inscrição das crianças
saudáveis?
1.1. Para a creches, atualmente não é preciso qualquer declaração (Portaria nº 411/
2012 de 14 de dezembro de 2012).- Quadro I
Comentário: Assim, uma família com dois filhos respetivamente de 12 meses e 3 anos
Quadro I - Legislação que regulamenta as creches. que se vão inscrever na mesma instituição, para um filho não precisará de declaração
médica, enquanto para outro, essa declaração será obrigatória.
Sinceramente!... Há cada uma!...
Nenhum médico está obrigado a fazer qualquer declaração deste teor. Os pais podem
exigir ao médico um relatório clínico. Como este relatório é depois utilizado, não é da
responsabilidade dos médicos.
Será da exclusiva responsabilidade dos pais a informação se o filho deverá fazer medica-
ção durante o período em que criança permanecer no estabelecimento de educação.
Aos médicos caberá apenas educar e aconselhar os pais. Se houver necessidade de
alguma declaração, esta deve ser passada pelos pais. Estes é que se devem responsa-
bilizar pela passagem a outrem da responsabilidade de tratar /cuidar a criança.
Próximo número:
Que declarações devem os médicos passar se uma criança adoece com uma doença
infectocontagiosa?
16 Saúde região bairradina 05-08-2015
Sim, em cerca de 8% dos casos poderá estar em causa uma pneumonia, uma infeção
urinaria, uma artrite setica, entre outras; em 0,05% dos casos poderá ser uma infeção
muito grave que coloca a vida em risco.
Será preciso observarem-se cerca de 2.000 febris para que surja uma doença febril muito
grave que exige recorrer ao médico sem demora. Estas doenças têm outros sinais, que
associados à febre, levam os pais a recorrer à urgência hospitalar em tempo útil, em
regra no primeiro dia de febre. Figura 1: amigdalite virusal
Nos 8% de doenças graves, o diagnóstico em regra não é realizado nos primeiros dois típica (o teste rápido foi ne-
dias de doença. Nos restantes 92%, tratam-se de infeções benignas, das quais 2/3 irão gativo; não precisou de an-
resolver-se sem necessidade de antibióticos. tibiótico)