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FUI AO MERCADO

Essa música é simples de explicar.


que a menina Filó era a garota mais Sabe-se
alguém já vira. Com sorriso na boca, doce que
tinha tempo para um bom--dia, um sempre
boa-tarde
um boa-noite. Na verdade, para ela não
e
tempo ruim, tudo estava nos conformes. existia

- Que sorte, que bom, que maravilha... el


sempre repetia!

Era enteada de Dona Andorinha, e as duae


apesar do forçado parentesco, eram melhores
amigas. Mas também, né, Filó era próprio
agrado vestido de gente. De tão doce, tão doce.
conviver com ela dava atécárie nos dentes.
Dizem os boatos lque de tão reais perduram
até hoje) que Filó não podia ir ao mercado para
a madrasta, pois láas formigas não a deixavam
em paz: ela as atraía pelo cheiro, pela docilida
de, pela brandura de caráter... Ganhava até das
compotas e dos caramelos, tão comuns por ali!
E acha que ela matava as formigas que ousa
vam subir pelos seus pés? De dó, apenas se sa
cudia, toda em festa, com cuidado para não as
a Simpatia até
machucar, é claro. Conquistava
solidarizavam com a situa
dac miúdas, que se
comprar para Dona
cão de Filó, que precisava e jerimum.
Andorinha café, batata-roxa, limão
Sacudidas entrou para a
Acoreografia de suas
música ainda se
história do mercado local, e a
criou o ter
oUVe Dor ai! Por causa dela e que se
daquela cocej
mo formigar. Fi sim, para falar
que te faz sacudir
ra presa que nao te pica, mas
um jerimum? Ai iá
por inteiro. E para que serveassim.
não sei, só sei que foi bem
E. ROSA AMARELA
Viadmúsita:
en tom
Olha a rosa amarela.
Rosa!
Tão mimosa e tão bela.
Rosa! (BIS)

laiá, meu lenço, 6, iaiá.


Para me enxugar, ô, iaiá.
Esta despedida, ô, iaiá.
Jáme fez chorar, ô, iaiá. (BIS)

Xilogravura
Pablo Borg
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ROSA AMARELA
Dona Matilde era a moça mais mimada de todos
0s velhos tempos. Tudo que queria sua ama lhe
trazia. Além de costurar, bordar, cozinhar, aiu
dar a vestir, como todas as damas de compa
nhia costumavam fazer, Tisha também provia
cada regalia estapafürdia da moça... E esta, por
Sua vez, não media esforços para ambicionar
coisas extremamente especificas.

É, graças àsua equivocada criação, ela tinha


duas manias: de querere de ter:

- Minha cara ama, traga-me ch£de folhas de


mirtilo.

- Quero bolo de noz-moscada, mas com sabor


de banana!

- Ama minha, faça-me mil tranças em meu


longo cabelo.

- Me balance na rede e me nine em francës!

- Ama Tisha, faça-me um vestido de laços lar


gos de cetim dourado. Ah! E não se esqueça de
arranjar espartilhos que não apertem.
- biose
a jeitode
se o pé nenhum. pOssuiam
visionários!E
dos.deiros a eramViviam
o difícil,Tisha
çaquando
pergunte uma mim,
-régia lilás e Wil GusTisha, Matilde mesma
verde, lindo dificultavam medo na
e da Mas
animou-se com escola do republicanos no
mais na Jantina, praia pediu dos
moço se prometa-me mandar Tisha
idade uma Rio
com como, lapela. um
tratavademorada pequena livros
Gus, terno da o nem de
cartola impossivel: e e eescola
com inteiramente
E Bica, as nunca Matilde
Preferiame Janeiro.
vestido demas rápido! aumentava, para
obedecer. e
de ocupavam. na os
lilás missão,Tisha,seria. a rosa educação
tarefa, camurça traga-me filho e espiar.haviam não fazenda.únicos
e
num amarela Os
a esperta Pois do viver
queriam
conseguiu
rosaterno pois mais As pais
apaixonado casal
verde, Até colOcado duasE ali
cafeeiros
bem,
quanto o quanto aquela era Eram de
amarela de de moço
lindo que os
como holandês
camurtrazer não cartola
vitória mimos
um tinham estudar para verda Matilde
mais mais
por dia um sim to que
de era me

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vitória-régia na lapela... Mas, para a infeli
cidade das duas, no caso, o jovem holandësS
não se encontrava apaixonado por Matilde.
Aquilo nem Tisha conseguiria fazer.

Arrastado e desconcertado com a situa


ção, estranhamente enfeitado, Gus tirou
a flor amarela de seu casaco e a entregou
para Matilde como um lorde, lisonjeado
com todo aquele aparato, entendendo
claramente a paixão da menina por ele.
Pediu desculpas, e por mais persuasivos
que os pedidos dos olhos da moça po
diam ser, ele disse não e se despediu. Foi
embora a pass0s largos, bem marcados
nas tábuas corridas da imensa sala da
casa-grande, que se tornara ainda maior
e mais vazia. Depois, quando nem resqui
cios das batidas de suas botas ecoavam
mais, Matilde desdobrou-se a chorar.

Tisha tentava se explicar para ela:


- 0, iaiá, coração não se manda buscar!
Não chore, iaiá!

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Eas duas juntas se debulharam mais ain
da em lágrimas, por motivos diversos e
conflitantes. Matilde, esgotada de tanto
sofrer sua autopiedade, que estava mes
mo doida de se ver, só se reteve quando
fez Tisha lhe prometer não mais (he pro
meter nada. E em comum acordo as duas,
a partir daquele dia, seriam como irms,
ajudando-se mutuamente a estudar de
uma vez por todas. Decidiram assim, ali,
de supetão, e de testemunha a amizade e
convivência desde a infância.

Dizem que as vitórias-régias do Jardim


Botânico de hoje em dia descendem da
quela muda amazônica da lapela de Gus.
Dizem que a casa-grande virou universi
dade, com um jardim de rosas amarelas.
Dizem que Matilde e Tisha se chamaram
de iaiáaté o fim. E eu digo que de fins eu
jánão seitanto, sóde começos, e este eu
seique foi bem assim.

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7. A GATINHA PARDA
Viden tom

A minha gatinha parda,


fugiu...
que em janeiro me

Onde estáminha gatinha?


sabe? Você sabe? Você viu? (BIS)
Você

Eunão visua gatinha,


mas ouvio seumiau.

Quem roubou sua ga tinha


Pica-pau. (BIS)
foia bruxa, foi a bruxa

Xilogravuras
J. Borges
A
GATINHA PARDA
Sabe-se que Mimosa, apesar de ser nome
de vaca preferida, era uma
gatinha. Da
quelas bem pardas, malhada! Escolhera
como menina de estimação uma de 7 anos
de idade, cabelos mestiços
iguais a0 seu
pelo - para combinar, era o mais lógico.
Em se tratando de gente, a gata
tinha lá
suas exigências, e eram bem específicas!
Gostava que lhe desse um dengo, mas
nem tanto. Gostava que lhe desse
banho,
mas nem tanto assim!
Gostava que
desse bom trato... Ah, jà isso amava lhe
sem
moderação.
Até que um dia, pelo
àtal convívio, se apegou
menina, Salita. E ao sentir sua falta,
quando agarota ia para a escola, se
sustou com o sentimento. Não as
era aquilo que lhe doía no sabia o que
peito,
a ponto de
quase lhe faltar o ar.apertando
Por mais
que se
distraisse, voltava pensar em Sa
lita, que insistia em
a
lhe picando a ocupar sua cabeça,
memória repetidamente.

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Contudo, ufa!, que alivio!, vieram as férias.
Tempos åureos de total dedicação de sua
menina de estimação a ela! Mas logo, logo
chegou novamente janeiro, e desespera
da agatinha parda fugiu da própria cria.
E quem foi a responsåvel? Foi a insupor
tável bruxa chamada Saudade.

Dizem que Mimosa se arrependeu da fuga


no meio do caminho, se perdeu por com
pleto e até colou cartazes de Salita por aí.
Oreencontro foi lindo de se ver, repleto de
ronronadas e muito mimo. Depois desse
episódio do suniço de Salita, a gata com
uma coleira de sino e que se ouviao seu ti
lintarno telhado da escola em pleno recreio
(era a Mimosa a espiar sua criatura)! Mas
aí já éboato de dois meninos que estuda
ram com Salita, Raimundo e Curvelo, que
se diga de passagem foram protagonistas
na companhia de uma moedinha de pra
ta em outro conto daquela mesma escola.
E eu?0 que eu sei? Oque eu vi? Eu só sei
que foi assim.
8. A PULGA ED PERCEVEJD
Video com
a músitA:

UBORGES

Apulga e o percevejo
fizeram a combinação.
Fizeram serenata
debaixo do meu colchão. (BIS)

Torce, retorce,
Procuro, mas no vejo.
Não sei se é a pulga
ou se éo percevejo. (BIS)

Xilogravuras
J. Borges
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APULGAEO PERCEVEJO
Sabe-se que hoje, em ToCantins, a catira é
uma dança tipica. Mas o que ná se sabe
pelo menos oS humanos, e que em seus
primórdios a mais concorrida competiçåo
não acontecia em grande escala, mas em
pequena. Entre insetos. Tendo como mais
assíduos os particularmente amantes de
viola e dança. Essa competição 0corria
uma vez por ano, num ass0alho afiado
para barulho e escondido entre duas ba
naneiras. A ideia erao torneio ser omais
democrático possivel, acontecendo bem
no centro do pais, pois Vinham insetos de
vários cantos le nem todos conseguiam
voar, não é mesmo?).
Mas, na verdade verdadeira, a injusti
ca começava na anatomia de cada bicho.
Os mosquitos, por exemplo, tinham uma
vantagem danada no jogo, por serem fa
cilmente levados às palmas: juntavam as
primeiras patinhas num ritmo invejável.
0 besouro, por sua vez, pela fortaleza,
sempre cadenciava o compasso em seu
próprio casco, e pra isso nem de pata pre
cisava. As formigas, com seus chapéus
alinhad0s, eram simétricas e mantinham
o passo bem marcado. E as aranhas? Ga
nhavam por quantidade. Como competir
com oito pernas? Além dos grilos violei
ros, dos pernilongos sanfoneiros... Mas
quem ganhava os prêmios consecutiva
mente eram os carrapatos. Também, né?
Anos e anos de convivência com os boia
deiros. Nas pernas dos profissionais é que
se adquiria a experiência da marcação
certa, literalmente.

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Sentindo-se assim maiS incluidos, aderi.
Algo também se repetia: a pulga e o per ram ao novo modelo num estalar de do
cevejo nunca consequiam participar dos
dos lpor mais que não os tivessem). Fou
ensaios, estavam sempre cansados pelo
dai que se pasSOU a oUVir alguns de seus
trabalho noturno. Aqueles vampirinhos ensaios, pulos e trotes pelasS camas, o
inteira.
Corriam atrás de sanque a noite
lugar sagrado de trabalho daqueles in.
Sentindo-se injustiçados, viviam em cho
setos tão dedicados, e diga-se de passa
rorôe protestos mil. gem muito afinados. Nao era pra menos:
haviam feito aulas de canto com cigarras
Até que um dia os representantes do con formadas e bem instruídas por natureza
selho-mor de insetos tiveram uma ideia,
canto 0 percevejo dava sempre o tom certo, e
em conjunto e em alvoroço: uma
a pulga ditava a marcação saltando entre
ria iria ser incorporada à dança. Sim, até
composta as modas e os recortados".
aquele momento a catira era
apenas pelas batidas dos pés e das pal
Dessa forma, consolidou-se a catira can
mas, que floreavam as solitárias melodias
instrumentais. tada e tradicional de bate-pé e bate-mão,
essa dança d0 cerrado que contamina o
incumbi Corpo, que noS pega e faz coçar até come
A pulga e o percevejo ficariam çarmos a dançar.
dos dessa parte das cantigas e poderiam
treinar o ano todo independentemente, na
hora que bem entendessem.

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A
competição ferrenha foi perdendo espa
ço entre os insetos; eles eram muito di
ferentes uns dos outros, de modo que a
confraternizaço e a tradicão foram assim
superadas. Não se sabe bem se foram os
insetos que incluíram a cantoria na catira
dos homens, mas a inclusão das mulhe
res eu sei que foi mérito das colônias de
joaninhas e borboletas, que lutavam sem
pre pelos seus direitos. E, diga-se de pas
sagem, elas eram dançarinas natas e se
esbaldavam em charme e precisâo.
As mesmas boas línguas também falavam
que a capital de Tocantins levou o nome
de Palmas devido às miúdas e misterio
sas palmas que se ouviam em meio ao si
lêncio, entre as madeiras e cupinzeiroS...
Mas aíjá acho que é lorota! Eu sei o que
sei, e sei que foi minusculamente assim.
9. FUINO ITORORÓ

Fui no Itororó
beber ågua, não achei.
Achei bela morena
que no Itororó deixei.
Aproveita, minha gente,
nada.
que uma noite não é
Se não dormir agora
dormirá de madrugada.
P, dona Maria,
ó, Mariazinha,
entrarás na roda
e dançarás sozinha!

Sozinha eu não danço


nem hei de dançar,
porque eu tenho... Xilogravuras
para ser meu par!

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FUINO ITORORO
Tediano era um menino famoso nos tem quem a tomasse
nunca mais
pos áureos e remotos, mas ganhara essa
fama não por ter um espírito heroico ou
na vida! 0
mostrOu
menino, pela
um tico"
sentiria sede
primeira e atése
vez,
destemido, mas por ser o mais preguiçoso um meio sorriSOo lhe
entusiasmado,
brotou
de toda a redondeza do Sul do Brasil. Ti
nha preguiça até de sorrir! Como pode?
É
timincomodava
parecia que a tal da sede o
bastante mesmo. idamente.
Ficava indignado, por exemplo, com a tal
da fome, que insistia em comparecer de Tediano, então, perguntou a avó a direcào
quatro em quatro horas, forçando-o a co da cidade
e partiu.
mer novamente.Easede, que reaparecia pelo menos tinha Vagarosamente,
tomado rumo. No
mas
muito mais rápido? Ainda mais no verão, do caminho, pensou meio
quando o obrigava a interromper a pros
seriamente em desis
tir e voltar, mas refletiu com seus botões
tração para se locomover até alguma bica Surrados de preguiça e eles o aconselha
mais próxima. Mas ele não resmungava ram a prossegUir, pois metade por meta
nem nada, lógico, pois tinha preguiça até de, melhor sequir em frente.
de resmungar!
Depois de muito caminhar, coisa que
Sua avó, muito sábia, faceira como de cos era um total sacriticio para aquele me
tume, aconchegou-se um dia a0 seu lado nino quase homem feito, chegou em Ito
e contou que em ltororó, cidade não tão roró. Procurou tanto a água milagrosa,
próxima, bebia-se uma água magica, pois que esqueceuem parte, e sem perceber,
de sua companheira, a preguiça de doer.
Enfim, não achou a bendita fonte, mas,
numa das nascentes dos vários rios que
visitou, ergueu os olhos e notou uma bela
morena e, fisgado pelo acaso, apaixonou
-se! Por Sorte ou inocência, ela se en
cantou por aqueles olhos entreabertos e
preguiçosos de Tediano. Sóque, por culpa
da preguiça que ainda restava nele, o ra
paz não foi falar com ela e a deixou por
lá mesmo! Ao voltar para casa, havia se
curado graças a tanta andança inútil.
E a Mariazinha? Aquela morena querida
lá da bica foi surpreendida numa dança,
tempos depois, por Tediano, que retornou
em postura mais altiva, olhos por inteiro
e coração aberto para uma valsa! O mo
mento foi tão marcante e bonito, que um
poeta da cidade fez questão de contá-lo, e
até hoje se cantam esses versos em cada
roda, por todo lugar. Se eles tiveram fi
lhos, eu não sei, sósei que foi assim...
10. MEU PINTINHD AMARELINHD
Viadegmúsita:com
Meu pintinho amarelinho
cabe aquina minha mão,
na minha mão.

Quando quer comer bichinhos,


Com seus pezinhos
ele cisca o chão.

Ele bate as asas,


ele faz piu, piu, mas tem muito medo
édo gavião.

Xilogravuras
Pablo Borges
50
MEUPINTINHO AMARELINHO
Lizito era o cacula de uma família mineira Assim eram os dias na roça,
qualquerdependentes
de treze filhos. Viviam num tempo antigo de Sol, de chuva, de
lao mesmo tempo nem tanto), em que as tempo edas
tradições da folhinha... Dia de pamonhada
brincadeiras iam de pular no barro de rio era saqrado.
Conhece? Era o prOcesso de
raso ao curral em miniatura, onde pasta producão
volvia não minucioso
da
vam vaquinhas feitas de manga com patas só a familia, pamonha que en
mas a vizinhanca
de gravetos... Um tempo bom, em que as inteira. Começava
dava no horário era cedinho
crianças viviam ao deus-dará. e quem man
o galo, lá do
de Lizito. Ao seu canto, os galinheiro
Apesar do mundão láfora, Lizito era ím homens jáiam
buscar o milho. Cada um tinha sua funcão
par, pois passava o dia todo no galinheiro. específica ao longo do dia: as mulheres
Não se sabia a origem de sua obsesso tiravam a palha e o cabelo da maçaroca,
por galinhas, mas era nítido que o menino as crianças catavam aquele cabelo
para
tinha um dom: elas lhe obedeciam e ele
montara cabeleira de bonecos de sabugo
sabia o nome, o sobrenome e 0 compor e arrumavam também as palhas. Depois,
tamento de cada uma delas, podendo até e já simultaneamente, os homens rala
mesmo imitå-las. Era interessante ver vam o milho, coavam para tirar o bagaço,
aquela maestria toda, pois se tratava de e todos juntos mais tarde temperavam,
um miúdo de apenas 4 anos de idade. E palpitavam e faziam copinhos de palha.
ele? Não arredava o pé de lá.
Eao final do dia inteiro de trabalho coo
perativo, desfrutavam merecidamente de
uma bela pamonha - ou várias.

Houve uma vez em que uma pamonhada


Lizito, aquele que se dava bem com gali
nhas mas a quem, no entanto, faltava tra
quejo com humanos (por falta de prática
ou pela tenra idade, mesmol, não conse
quiu se fazer entendido. Em desespero
total, tentou atrair a atenção, falando gri
tado, todo atropelado, apenas esta frase:
-Cadê pamonha? Cadê pamonha? Cadê pa
monha? - repetidamente, recitando como
um disco furado para cada um que apare
cia àsua frente.

O)
Naquele dia, qualquer um que fosse es primos, vizínhos, ate sua pröpria mãe, iá n
taria completamente entretido em seu estavam mandando ciscar lá no galinhei
afazer na dinâmica das pamonhas. E os ro,
que conseguiram lhe dar alguma bola do tão
"houvesse paciência!". Lizito foi fican
respondiam: nervoso, tao nervoso, que comecou
a mobilizar a parentada toda com uma
-Pamonha? Só no final do dia! choradeira descomunal, conseguindo pa
No primeiro momento eram rar o processo da pamonhada toda, e foi
amáveis, fa um deus nos acuda.
ziam atémesmo um afago em seu
cabelo,
que ficou cheinho de bagaço de milho. Um tio tentou acudir o
Mas depois do quadragésimo chamado meninoe caiu, ras
gando a saia da avó, que se
com a mesma interrogativa, irmos, tios, assustou e
perdeu a dentadura bem na panelona do
misturado da pamonha doce; a tia grávida,
que estava escorada no fogão de
( lenha,
começoua enjoar com a cena, preocupan
do o marido, que, no af de
por derrubar todo o milho ajudar,noacabou
ralado chão.
As criancas, como se não
ram milho espalhado umas bastasse, taca
nas outras,
achando tudo aquilo uma farra só, en
quanto a pamonha de sal azedou e muito 0 azar do miúdo fora perder justanente
mais aconteceu... 0 trabalho harmonioso o pintinho chamado pamonha bem no dia
descrito alguns parágrafos atrás se per da pamonhada. Pelo.que eu sei, acharam
deu rio abaixo, ou melhor, milho abaixo, o pintinho depois, e ouvi fofocas de que,
pois até descobrirem que a pamonha à ao crescer, Lizito tornou-se dono de gran
qual LiZito se referia era o nome de seu ja grande, "fábrica de frango", mesmo,
pintinho preferido, que ele apelidara as mas disso jánão tenho certeza, só sei que
sim por se tratar de um animalzinho ama foi assim...
relo, que cabia na palma de sua mão tal
qual qualquer pamonha. Aquela altura,
tudo játinha virado um caos. Haja ouvidos
para tanto choro!

A mãe de Lizito, de tanto dó do pobrezi


nho, peqou o remorso materno e juntos
compuseram uma música de ninar em
homenagem ao pintinho de estimação de
Lizito, e passou a cantá-la principalmen
te nos momentos em que ele precisava
se acalmar.

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