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Monique Stephanie Piovan Ribeiro, Thayná Souza Neves, Bianca Depieri Balmant
Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE, Faculdade de Ciências da Saúde, Curso de Nutrição, Presidente
Prudente/SP. E-mail: biancadepieribalmant@hotmail.com
RESUMO
Este estudo avaliou o estado nutricional e aspectos dietéticos de portadores de Síndrome de Down (SD),
entre 5 e 18 anos, vinculados a uma associação para cuidados com pessoas excepcionais. A amostra foi
composta por 15 portadores de Síndrome de Down, sendo que para avaliação do estado nutricional
realizou-se medidas antropométricas (peso e altura) e verificou-se o percentual de gordura corporal (%G)
por meio de bioimpedância. Para avaliação de hábitos alimentares foi aplicado um questionário de
frequência alimentar. Observou-se uma alta prevalência de excesso de peso e %G elevado. O peso corporal
e %G foi maior nos indivíduos com consumo frequente de alimentos ricos em gordura e carboidrato, bem
como menor, naqueles com consumo frequente de frutas, verduras e legumes. Conclui-se que a obesidade
das crianças e adolescentes sindrômicas não está somente relacionada à alteração cromossômica, mas
também ao hábito alimentar que os mesmos podem possuir.
Palavras-chave: Avaliação nutricional, obesidade, composição corporal, consumo alimentar, síndrome de
Down.
NUTRITIONAL STATUS, FAT PERCENTAGE AND DIETS OF CHILDREN AND ADOLESCENTS WITH DOWN
SYNDROME
ABSTRACT
This study evaluated the nutritional status and dietary aspects of Down Syndrome (SD), between 5 and 18
years, linked to an association for the care of exceptional people. The sample consisted of 15 Down
Syndrome patients, and anthropometric measurements (weight and height) were used to assess the
nutritional status and the percentage of body fat (%Fat) was verified through bioimpedance. A food
frequency questionnaire was used to evaluate dietary habits. A high prevalence of overweight and high
%Fat was observed. Body weight and %G were higher in individuals with frequent consumption of high fat
and carbohydrate foods, as well as lower in those with frequent consumption of fruits, vegetables and
vegetables. It is concluded that the obesity of syndromic children and adolescents is not only related to the
chromosomal alteration, but also to the alimentary habits they may have.
Keywords: Nutritional assessment, obesity, body composition, food consumption, Down syndrome.
estudos anteriores. Dal Bosco et al.21, também adequada para idade, embora 33,33% da amostra
encontraram uma prevalência de excesso de peso apresente baixa estatura. Estes dados estão
similar, sendo 30,4% para obesidade e 26,1% de fortemente relacionados à síndrome, devido as
sobrepeso na população com Síndrome de Down. caracteristicas metabólicas como o
Outros estudos identificaram percentuais ainda hipotireoidismo e a disfunção do hormônio GH
maiores de sobrepeso e obesidade22,23, que resulta na alteração secretória desse
reafirmando que crianças e adolescentes com hormônio8. Resultados semelhantes foram
Síndrome de Down têm uma maior tendência a entrados por Mustacchi etal.30, ao avaliar 350
desenvolver execesso de peso. crianças e adolescentes com Síndrome de Down
WhittGlover et al.24 aponta em seu através dos índices antropométricos.
estudo, que a atividade física intensa em crianças Em relação ao perfil alimentar, verifica-se
com Síndrome de Down pode prevenir a neste estudo o alto consumo de alimentos ricos
obesidade. Entretanto, observa-se na literatura em carboidratos como arroz, pão e acúcares
que a inatividade física é comum nesta simples, associado ao consumo de óleos/frituras,
população21, por dinfunções patológicas e por molhos e condimentos. Embora seja relatado
ausencia de incentivo a prática10,11. Na amostra pelos responsáveis o consumo frequente de
deste estudo, as crianças e adolescentes frutas e verduras, percebe-se que há predileção a
apresentaram-se sedentarias de acordo com alguns alimentos, como banana, laranja, alface e
relato dos responsáveis, favorecendo ainda mais tomate.
a prevalência alarmante de excesso de peso. Estudos demonstram que crianças com
Observou-se ainda neste estudo, Síndrome de Down preferem consumir alimentos
percentuais de gordura alto em ambos os sexos, com carboidratos simples e limitam o consumo
com prevalência principalmente no sexo de frutas frescas e vegetais, resultando dentre
feminino. Segundo Alaniz et al.25 esta diferença outras complicações, a baixa ingestão de fibra
entre os sexos justifica-se pelo dimorfismo sexual dietética13,31. Em um estudo feito por Claretta e
na distribuição do tecido adiposo, na qual em Chiorzi13, foi observado que crianças com
mulheres é acentuado. Em um estudo que Síndrome de Down apresentam preferências por
avaliou a %G pelas pregas cutâneas, também foi alimentos altamente calóricos, ricos em gordura
encontrado percentuais altos de gordura, com e açúcares, corroborando para o perfil
diferença estatística entre os sexos26. Os achados encontrado na amostra deste estudo.
deste estudo também estão de acordo com o O baixo consumo de doces e sobremesas
realizado por González-Agüero et al.27, que relatado pelos responsáveis das crianças e
investigaram as diferenças de massa gorda e adolescentes com Síndrome de Down pode estar
magra entre meninos e meninas com Síndrome relacionado as limitações deste estudo, uma vez
de Down. que pode ocorrer omissão de consumo de
Vale ressaltar que pesquisas acerca da alimentos durante a aplicação do questionário.
composição corporal de portadores de Síndrome Através do QFA, verificou-se também um
de Down são escassos, sendo o público adulto, alto consumo de sal pelos participantes deste
geralmente, o foco principal destes estudos. trabalho. Estudos também revelam um alto
Além disso, embora a classificação do estado percentual de crianças e adolescentes com
nutriconal seja feita através de curvas específicas Síndrome de Down superando a ingestão
para este grupo, uma vez que o processo de dietética de sódio, denotando um
crescimento e tendencia à obesidade difere comportamento preocupante neste grupo, uma
muito da população geral28, as amostras vez que portadores de Síndrome de Down
utilizadas para o seu desenvolvimento foram apresentam aumento da incidência de doenças
relativamente pequenas, além de que no Brasil, cardiovasculares32-34.
por ser um país com grande diferença social, Ao correlacionar o peso com os alimentos
populações com baixa renda estão propensas a mais frequentes no habito alimentar de crianças
uma restrição no crescimento devido a e adolescentes deste estudo, constatou-se que
subnutrição29, o que nos leva a questionar a quanto maior o consumo de alimentos como
eficácia de tais métodos. Óleos, Pães e Biscoitos e Líquidos com Açúcar,
Ao analisar os dados de A/I, foi maior é o peso dos portadores de Síndrome de
constatado maior incidência de estatura Down, provavelmente por serem alimentos com
Colloq Vitae 2019 jan-abr; 11(1): 7-16. DOI: 10.5747/cv.2019.v11.n1.v247
ISSN 1984-6436/© 2018 - Publicado pela Universidade do Oeste Paulista.
Artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
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altos valores calóricos e estarem presentes com intervenção por parte de órgãos e profissionais
frequência na alimentação dessas crianças. Em da área da saúde neste grupo de índivíduos.
contrapartida, notou-se que quanto maior o Conclui-se ainda, que a má qualidade
consumo de frutas, legumes e verduras pelas alimentar identificada pelo questionário de
crianças e adolescentes, menor é o peso corporal frequência alimentar se relaciona diretamente
dos avaliados. com a incidência de sobrepeso e obesidade e que
Diante disto, realça-se a necessidade de a presença de nutricionista em escolas,
orientação e acompanhamento nutricional para associações e ambulatorios de atendimento para
as crianças e adolescente, mas principalmente esse público, pode ser um meio para reduzir tais
aos familiares, já que o ambiente familiar possui índices, pois contribuir para o atendimento das
extrema importância para a educação nutricional necessidades nutricionais, bem como para a
e é a partir dele que se formam os hábitos formação de hábitos alimentares saudáveis.
alimentares, onde os vínculos são criados e onde Sugere-se que novos estudos acerca
o aprendizado de hábitos sociais e desta temática seja feito, de forma a englobar
comportamentais é estabelecido. Essa amostras populacionais maiores e medidas de
intervenção se faz ainda mais necessária durante controle de ingestão habitual mais rigososas.
a infância e adolescência, pois crianças obesas
tendem a se tornar adultos obesos e AGRADECIMENTOS
consequentemente podem vir a desenvolver À Universidade do Oeste Paulista –
doenças crônicas não transmissíveis na vida UNOESTE pelo financiamento desta pesquisa.
adulta.
Conclui-se que, em ambos os sexos, a CONFLITO DE INTERESSE
prevalência de sobrepeso e obesidade, associada Os autores declaram não haver qualquer
a percentuais elevados de gordura, em crianças e potencial de conflito de interesse que possa
adolescentes com Síndrome de Down é interferir na imparcialidade deste trabalho
preocupante e evidencia a importância da científico.
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