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Senhor, tem piedade de mim:

O poder curativo da Con issã o


Scott Hahn

Indice
CAPA
FOLHA DE ROSTO
DEDICAÇAO
CAPITULO 1 OBTENDO O DIREITO DE NOSSAS ES TORIAS
CAPITULO 2 A CTOS DE C ONTRIÇAO: OS D EEPESTOS R OOTS DE P
ENANCE
CAPITULO 3 UM O RDER NA CORTE: O ABRIGAMENTO DO S
ACRAMENTO
CAPITULO 4 C ONFISSOES DA VERDADE: S EALED COM AS ACRAMENT
CAPITULO 5 O QUE ESTA COM O MUNDO: COMO INTESE
CAPITULO 6 C ONFECÇAO S ACRAMENTAL: O QUE OS ESSES PODEMOS
ENCONTRAMOS?
CAPITULO 7 OS TEMAS DA D ELIVERANCIA: C ONFESSAO COMO
CONVENIENTE
CAPITULO 8 C APRENDENDO O SEU: S ECRETOS DO S ON P RODIGAL
CAPITULO 9 E XILES NA ARVORE PRINCIPAL: NAO RUE H OME DE
FORMA DA H OME
CAPITULO 10 K NOW P AIN, K NOW G AIN: OS S ECRETOS DO
VENCIMENTO
CAPITULO 11 PENSANDO FORA DA CAIXA: H ABITOS DE P ENITENTES
HIGIHLY E FECTIVOS
CAPITULO 12 O H OME F RONT: C ONFESSION AS C OMBAT
CAPITULO 13 O OOR DO PEN
ANEXOS
A PPENDICE A: R ITE PARA R ECONCILIAÇAO DE P ENITENTES I
NDIVIDUAIS
A PPENDICE B: P RAYERS
A PPENDICE C: E XAMINAÇAO DE C ONSCIENCIA
FONTES E R EFERENCIAS
O UTROS OBSERVAÇOES DE S COTT H AHN
C OPYRIGHT P AGE

CONTEUDO

C OVER P AGE
T ITLE P AGE
D EDICAÇÃO

Capı́tulo 1
L CONFIGURAR O UR S CIAS S TRAIGHT

Capı́tulo 2
Um CTS DE C ONTRITION : T HE D EEPEST R OOTS DE P enance

Capı́tulo 3
UM EW O rDer IN THE C RIBUNAL : T HE F ULL F REDUÇAO DA DO S ACRAMENT

CAPITULO 4
T RUE C ONFESSIONS : S EALED COM A S ACRAMENT

CAPITULO 5
W HAT ' S W RONG COM O W ORLD : AS INTHESIS

Capı́tulo 6
S ACRAMENTAL C ONFECTION : W HAT ' S S S S weet Um ATAQUE S VEZ ?
Capı́tulo 7
T HE t hemes DE D ELIVERANCE : C ONFESSION AS C OVENANT

Capı́tulo 8
C Learing O H EIR : S ECRETS DE OS P RODIGAL S NO

Capı́tulo 9
E XILES EM M AIN S TREET : N S T RUE H OME Um MANEIRA DE H OME

Capı́tulo 10
K AGORA P AIN , K AGORA L AIN : T HE S ECRETS DE W VEZ P enance

Capı́tulo 11
t hinking O utside A B OX : H ABITS DE H IGHLY E FICAZ P ENITENTS

Capı́tulo 12
T HE H OME F Ront : C ONFESSION AS C Ombat

Capı́tulo 13
T HE O PEN D OOR

APÊNDICES Um PÊNDICE A:
R ITE PARA R ECONCILIATION DE I NDIVIDUAL P ENITENTS Um PÊNDICE B:
P RAYERS Um PÊNDICE C: E XAME DE C ONSCIENCE

S ONTES E R EFERÊNCIAS
O THER B ooks POR S COTT H AHN
C OPYRIGHT P AGE

Para Gabriel Kirk Hahn:


Omnia in bonum (Rom 8:28)
CAPITULO 1
L CONFIGURAR O UR S CIAS S TRAIGHT

A C ONFISSAO é um assunto confuso para muitos cató licos. Quanto mais


precisamos, menos parecemos desejá -lo. Quanto mais escolhemos
pecar, menos queremos discutir nossos pecados.
E natural essa relutâ ncia em falar sobre nossas falhas morais. Se você é
o arremessador perdedor no jogo inal da World Series, nã o vai
procurar os jornalistas esportivos no caminho para o vestiá rio. Se a má
administraçã o dos negó cios da famı́lia levou a maioria de seus parentes
ao tribunal de falê ncias, você provavelmente nã o vai oferecer essa
informaçã o em um coquetel.
Alé m disso, o pecado é a ú nica coisa da qual devemos ter vergonha na
vida . Pois o pecado é uma transgressã o contra o Deus Todo-Poderoso,
que é um assunto mais sé rio do que um erro crasso de negó cios ou um
grande lance no meio do prato. Quando pecamos, rejeitamos o amor de
Deus, até certo ponto, e nada pode ser escondido de Deus.

Raised from the Dread


Portanto, novamente, é natural que estremecemos só de pensar em nos
ajoelhar diante dos representantes de Deus na terra, seus sacerdotes, e
de falar nossos pecados em voz alta - em termos claros, sem cal, sem
desculpas. Auto-acusaçã o nunca foi o passatempo favorito da
humanidade. No entanto, é essencial para toda con issã o.
Temer a con issã o é natural, sim, mas nada do que é “apenas natural”
pode nos levar ao cé u, ou mesmo nos trazer felicidade aqui na terra. O
cé u é sobrenatural; está acima do natural e toda felicidade natural é
passageira. Nossos instintos naturais nos dizem para evitar a dor e
abraçar o prazer, mas a sabedoria de todos os tempos nos diz coisas
como "Sem dor, nã o há ganho".
O que quer que soframos por falar nossos pecados em voz alta, é muito
menos do que a dor que causamos em nó s mesmos por viver em
negaçã o interior ou exterior, agindo como se nossos pecados nã o
existissem ou nã o importassem. “Se dissermos que nã o temos pecado”,
diz a Bı́blia, “enganamo-nos a nó s mesmos” (1 Jo 1: 8).
O autoengano é algo desagradá vel em si mesmo, mas é apenas o
começo de nossos problemas. Pois quando começamos a negar nossos
pecados, começamos a viver uma mentira. Em nossa fala ou em nosso
pensamento, quebramos importantes conexõ es de causa e efeito,
porque negamos nossa pró pria responsabilidade por nossas faltas mais
graves. Depois de fazer isso, mesmo que seja em uma pequena questã o,
começamos a erodir os contornos da realidade. Nã o podemos deixar
bem claro nossa histó ria, e isso nã o pode ajudar, mas afeta nossas vidas,
nossa saú de e nossos relacionamentos - mais direta e profundamente,
nosso relacionamento com Deus.
Essa é uma grande a irmaçã o, eu sei, e algumas pessoas podem pensar
que estou exagerando. O resto do livro, eu oro, sustentará essa liçã o. E
uma liçã o que comecei a aprender, da maneira mais difı́cil, muito antes
de acreditar em Deus ou ver um confessioná rio.

Pittsburgh Stealer
Eu tenho uma con issã o a fazer. No inı́cio da minha adolescê ncia, corri
com o tipo de multidã o que é o pesadelo de todos os pais. Fizemos
algumas travessuras menores antes de passar para o crime
mesquinho. Por um tempo, roubar uma loja no shopping foi nosso
passatempo no sá bado à tarde. Um dia, fui pego roubando á lbuns de
discos. Nã o vou cansar você com os detalhes agora. Direi apenas que fui
mais há bil como mentiroso do que como ladrã o.
Dois detetives da loja, ambas mulheres de meia-idade, me arrastaram
para a sala de interrogató rio da loja de departamentos. Devo ter
parecido lamentá vel. Eu era o ilho mais novo da minha turma da oitava
sé rie. Eu tinha treze anos, mas parecia ter dez. Um dos detetives olhou
para mim e disse: “Você parece muito jovem para roubar…. Você roubou
aqueles á lbuns para você ? ”
Ela nã o sabia, mas com essas palavras ela me deu meu
á libi. Trabalhando a partir de sua mera sugestã o, inventei uma histó ria
sobre como um grupo de crianças locais - delinquentes conhecidos e
usuá rios de drogas - ameaçou bater em mim e em meu amigo, a menos
que roubá ssemos á lbuns para eles.
O rosto do interrogador enrubesceu com uma indignaçã o
maternal. “Como eles puderam fazer tal coisa? Por que você nã o contou
para a sua mã e? "
“Eu estava com medo,” eu disse humildemente.
Um policial de Pittsburgh logo chegou e, em pouco tempo, consegui -
com a ajuda dos detetives da loja! - persuadi-los de que a verdadeira
culpa estava em outro lugar alé m de mim. A polı́cia, por sua vez, me
ajudou a apresentar o caso de maneira convincente para minha mã e.

Scott-Free
Logo eu estava, literalmente, sem casa. Quando mamã e estacionou o
carro em nossa garagem, murmurei algo sobre estar cansado. Ela foi
simpá tica. Fui direto para o meu quarto e fechei a porta.
Imediatamente ouvi uma conversa abafada lá embaixo. Eu nã o
conseguia distinguir as palavras, mas sabia que a voz suave era da
minha mã e e que a voz que aumentava gradualmente de volume e tom
era do meu pai. Isso nã o era um bom pressá gio.
Logo o som de pé s pesados veio subindo os degraus e depois pelo
corredor até o meu quarto. Eu senti mais do que ouvi a batida na porta.
Era papai, claro, e eu o deixei entrar.
Ele ixou seus olhos nos meus, que imediatamente mudaram para um
ponto distante no tapete.
"Sua mã e me contou o que aconteceu hoje."
Eu concordei.
Ele continuou olhando para mim. “Você foi feito para roubar aqueles
discos?”
"Sim."
Ele olhou para mim com irmeza e repetiu: "Você foi feito para roubar
discos?"
Quando eu balancei a cabeça novamente em resposta, pude ver seus
olhos se voltando para a pilha enorme de discos ao lado do meu
aparelho de som.
Ele olhou para trá s em minha direçã o. "E onde você deixou os registros,
depois de roubá -los?"
“No toco de uma á rvore”, respondi, “na loresta perto do shopping”.
"Você pode me mostrar aquele toco de á rvore?"
Eu balancei a cabeça novamente.
"Tudo bem", disse ele. “Vista seu casaco, Scottie. Vamos dar um
passeio."

Forest Clump
A loresta icava a cerca de trezentos metros de nossa casa, e o shopping
icava a cerca de oitocentos metros de caminhada pela loresta. A
folhagem era densa, entã o eu tinha certeza que veria muitos tocos de
á rvore. Tudo que eu preciso fazer é escolher um.
Com certeza, enquanto caminhá vamos, vi muitas á rvores, muitas folhas,
muitos galhos, até mesmo alguns galhos caı́dos - mas uma notá vel
ausê ncia de tocos. Meu pai me deixou liderar, entã o ele nã o podia ver
meus olhos escaneando de um lado para o outro, com desespero
crescente. Senti um certo pâ nico ao ver a clareira à frente. A loresta
estava acabando e eu nã o tinha visto um toco.
Bem na beira do bosque, com o shopping bem na nossa frente, eu disse:
“Ali. E onde os caras estavam cheirando cola. ”
"OK", respondeu papai, "onde está o toco?"
“E aquele grande monte de terra ali. Essa moita. ”
Ele olhou de volta para mim. "Você disse toco de á rvore."
Eu me contorci. "Bem, clump, stump ..."
“Clump ... stump,” ele repetiu, pausando dolorosamente entre as
palavras. Eu esperava que seu temperamento explodisse, que ele se
virasse furioso e me chamasse de mentirosa - mas tudo o que ele disse
foi: “Vamos para casa”.
Na eternidade que levamos para caminhar pela loresta, meu pai nunca
disse uma palavra. Descobri que nã o temia mais a explosã o, mas quase
ansiava por ela. Seu silê ncio estava me matando.
Chegamos em casa. Ele fechou a porta. Ele tirou o paletó , tirou os
sapatos, subiu as escadas.
Em um momento, eu també m subi para o meu quarto sozinho e fechei a
porta. Você pensaria que eu estaria comemorando uma vitó ria. Eu tinha
conseguido manter minha histó ria distorcida o su iciente para enganar
dois detetives de loja, um policial da cidade e minha mã e! Mas eu nã o
estava comemorando nada. Eu estava experimentando uma coisa
totalmente nova. Foi nesse momento que comecei a perceber o que
signi icava ter um coraçã o humano. Senti uma enorme vergonha
porque meu pai nã o acreditou na minha histó ria, porque ele sabia que o
garoto que amava havia mentido e roubado.
O que aconteceu comigo nã o foi apenas o despertar de uma
consciê ncia. Foi a descoberta de um relacionamento. Sempre vi esse
homem em minha vida como juiz, jú ri e carrasco. Sempre que eu fazia
algo errado, temia ser pego, ser julgado e punido. Mas naquele dia,
descobri que havia algo pior do que incitar a ira de papai, e isso estava
partindo o coraçã o de papai. Eu tinha feito isso e odiava.

De inindo os registros corretamente


Meu pai nã o era o que algué m chamaria de crente devoto. Ele nem tinha
certeza de que cria em Deus. Mas eu iria discernir gradualmente, ao
longo dos anos, que naquele momento solitá rio quando eu tinha treze
anos, meu pai representou a paternidade de Deus para mim e ele
começou a explicar minha histó ria. Eu nã o estava mais me divertindo
com minhas mentiras ou roubos de “sucesso”. Eu fui exposto em minha
culpa; Eu estava com vergonha de mim mesmo e mais sozinho do que
nunca.
Eu gostaria de poder dizer que este foi o momento da minha conversã o
a Cristo - um milagre estonteante e repentino, como o encontro de Sã o
Paulo com Jesus na estrada para Damasco - mas nã o foi o caso. Ainda
assim, foi um despertar, um começo.
Minha delinquê ncia juvenil me diferencia, talvez, da maioria das
pessoas na juventude. No entanto, na elaboraçã o de á libis, certamente
nã o estou sozinho. Todos nó s izemos isso, em todas as geraçõ es desde
Adã o e Eva. As vezes, fazemos isso de maneiras pequenas, à s vezes de
maneiras maiores. Fazemos isso em nossas conversas diá rias e em
nossos devaneios particulares. Quando contamos a histó ria de nossos
problemas - no trabalho ou em casa - incluı́mos os detalhes que podem
lançar uma sombra sobre nossa pró pria responsabilidade nesse
assunto? Ou, em vez disso, nos retratamos como o heró i ou a vı́tima
indefesa em um escritó rio em andamento ou drama domé stico? Se você
e eu pensarmos muito sobre a maneira como falamos sobre os
acontecimentos da vida diá ria, provavelmente encontraremos casos em
que exageramos nossa condiçã o de vı́tima e ampliamos os defeitos dos
outros, mesmo quando ignoramos os nossos. Encontramos desculpas e
circunstâ ncias atenuantes para todos os nossos erros crassos; no
entanto, somos bastante implacá veis ao recontar as de nossos vizinhos
ou colegas de trabalho. Freqü entemente, nossos amigos e familiares
acreditarã o em nosso lado da histó ria. Freqü entemente, começaremos a
acreditar em nó s mesmos.
Tudo isso, algumas pessoas dirã o a você , é - como a aversã o à con issã o
- "apenas natural". Mas isso nã o é verdade. Nã o é nada
natural. Falsi icar fatos é , na verdade, destruir a natureza. Ele destró i as
coisas-como-elas-sã o, junto com a delicada teia de causa e efeito da
natureza, e as substitui por coisas-como-gostarı́amos-que-fossem:
castelos no ar.

Esquecido, não perdoado


Um de meus iló sofos favoritos, Josef Pieper, escreveu que essa
“falsi icaçã o da memó ria” está entre nossos maiores inimigos, pois
atinge “a raiz mais profunda” de nossa vida espiritual e moral. “Nã o há
maneira mais insidiosa de o erro se estabelecer do que por essa
falsi icaçã o da memó ria por meio de leves retoques, deslocamentos,
descoloraçõ es, omissõ es, mudanças de sotaque.”
Uma vez que fazemos isso - e todos nó s fazemos - começamos a perder
o verdadeiro io da narrativa em nossas vidas. As coisas nã o fazem mais
sentido para nó s. Relacionamentos esfriam. Perdemos nosso senso de
propó sito e nosso senso de nó s mesmos.
Vou repetir: isso é algo que todos nó s fazemos, embora nunca devamos
pensar que é natural. Assim, esses sintomas de mal-estar sã o, talvez,
igualmente familiares para todos nó s. Como, entã o, podemos superar
esse mal-estar, quando é pandê mico e, ao mesmo tempo, tã o sutil que
foge ao diagnó stico? Até Josef Pieper achou a tarefa assustadora. “O
perigo”, disse ele, “é maior por ser tã o imperceptı́vel. Nem pode tal
falsi icaçã o ser rapidamente detectada pela consciê ncia sondadora,
mesmo quando ela se aplica a esta tarefa. A honestidade da memó ria só
pode ser garantida por uma retidã o de todo o ser humano. ”
Essa é uma tarefa difı́cil. E, no entanto, alcançá vel, como podemos ver
na vida dos santos. Alé m do mais, essa retidã o total é o que Deus pediu
a cada um de nó s. “Sede perfeitos”, disse Jesus, “como o vosso Pai
celestial é perfeito” (Mt 5:48). Se Deus ordenou isso, Ele certamente nos
dará o poder para cumpri-lo. Alé m disso, naquele breve comando, Ele
até mesmo revelou a fonte de nosso poder: E a paternidade de
Deus. "Seja perfeito ... como seu pai."
Se na minha adolescê ncia eu tivesse passado todo o meu tempo à vista
de meu pai terreno, nunca teria furtado; Eu certamente nunca teria
mentido para meu pai.
No entanto, Deus é nosso Pai, e vivemos cada momento à sua vista; e
ainda pecamos. Agimos como crianças pequenas que pensam que a
mamã e nã o pode vê -los enquanto nã o puderem ver a mamã e. Entã o,
eles viram as costas para a mamã e e pegaram os biscoitos proibidos.
Vivemos sempre na presença de nosso Pai, que deseja que sejamos
perfeitos. Se nossos pais terrenos desejam que concluamos uma tarefa,
eles farã o com que tenhamos tudo de que precisamos para isso. Nosso
Pai celestial - que possui tudo e é todo-poderoso - certamente fará o
mesmo.
O essencial é que reconheçamos Sua presença constante, para que
possamos perceber que estamos sempre, em certo sentido, sob
julgamento. No entanto, Deus nã o preside em nossas vidas como um
magistrado em um tribunal. Ele julga como um pai julga, com amor. E
uma faca de dois gumes, é claro, porque os pais exigirã o mais de seus
ilhos do que um juiz exigirá do acusado; mas os pais també m
mostrarã o mais misericó rdia.

A estrada mais percorrida


Ansiamos por conhecer a paz nos braços de nosso Pai; no entanto, algo
escuro dentro de nó s nos diz que é mais fá cil virar as costas para
ele. Desejamos viver na verdade, sem segredos para encobrir e sem
mentiras para proteger; ainda assim, algo escuro dentro de nó s nos diz
que é melhor nã o falarmos de nossos pecados.
“Há um caminho que ao homem parece direito”, diz o sá bio rei da Bı́blia,
“mas o seu im é o caminho da morte” (Pv 14:12). Como podemos
conhecer essa estrada sem saı́da quando a vemos? Podemos ter certeza
de que é qualquer caminho - nã o importa o quã o certo pareça no
momento - que nos afastaria de confessar nossos pecados a Deus, da
maneira que Ele deseja. E triste dizer que nossos ancestrais
percorreram esse caminho, quase desde o inı́cio de sua jornada terrena.

CAPITULO 2
Um CTS de contriçã o: T HE D EEPEST R OOTS DE P enance

M qualquer pessoas PENSAM da con issã o como algo que foi introduzido pela
Igreja Cató lica. Isso é verdade, em certo sentido, porque a con issã o é
um sacramento da Nova Aliança e, portanto, nã o poderia ser
estabelecida até que Jesus selasse essa aliança com Seu sangue (Mt
26:27). Mas na tradiçã o de Israel, à qual Jesus foi iel, a promulgaçã o da
aliança sempre continha disposiçõ es para a remissã o de pecados.
A con issã o, entã o, era nova; mas apenas no sentido de que uma lor é
nova. Ela esteve presente quase desde o inı́cio dos tempos - como uma
lor está em suas sementes, brotos e botõ es - e aparece em muitas
pá ginas do Antigo Testamento. Enquanto o pecado existe no mundo,
també m existe a con issã o, a penitê ncia e a reconciliaçã o.
Abra sua Bı́blia, comece do inı́cio, e você nã o precisa ir muito longe
antes de encontrar os primeiros prenú ncios do confessioná rio. Na
verdade, você os encontra com o pecado original, o primeiro pecado do
primeiro homem e da primeira mulher.

A verdade nua
Adã o e Eva pecaram. No momento, nã o precisamos entrar na natureza
de seus pecados. (Estudaremos isso em profundidade em um capı́tulo
posterior.) Se tudo o que soubé ssemos de seus pecados fosse que eles
desobedeceram ao Senhor Deus, isso seria o su iciente. Ele era o seu
Criador; Ele era o Pai deles; e eles haviam violado Seu ú nico
mandamento: “Você pode comer livremente de todas as á rvores do
jardim; mas da á rvore do conhecimento do bem e do mal nã o comereis,
porque morrerá s no dia em que dela comerdes ”(Gn 2: 16–17).
Tentados por uma serpente mortal, eles tocaram e comeram - e
imediatamente souberam que tudo havia mudado. De repente, eles
icaram com vergonha de sua nudez. De repente, eles icaram com
medo. “E ouviram o som do Senhor Deus caminhando no jardim na
viraçã o do dia, e o homem e sua mulher esconderam-se da presença do
Senhor Deus entre as á rvores do jardim” (Gn 3: 8). Esse é o
comportamento de que falei no capı́tulo anterior. Eles se escondem
atrá s dos arbustos, como se pudessem se esconder de um Pai que tudo
sabe, tudo vê e amoroso.
O que Deus faz entã o? Você e eu podemos esperar que Ele troveje: "Eu
vi isso!" dos cé us. Mas ele nã o faz. Em vez disso, Ele joga junto com o
engano de Adã o e Eva. Deus clama a Adã o: "Onde você está ?" (Gê nesis
3: 9) - como se Ele precisasse ser informado do paradeiro de algué m!
Adam responde com uma declaraçã o evasiva: “Ouvi o teu som no jardim
e tive medo, porque estava nu; e me escondi ”(Gn 3:10). Notá vel: em
poucas palavras, ele consegue expressar medo, vergonha, atitude
defensiva, autopiedade - mas nã o arrependimento. Na verdade, ele
parece estar transferindo a culpa para Deus, cujo poder Adã o
repentinamente considera intimidante.
Deus novamente responde com uma pergunta: “Quem te disse que
estavas nu? Comeste da á rvore da qual te ordenei que nã o comesses?
” (Gê nesis 3:11).
Adam nã o hesita em colocar a culpa diretamente em sua esposa. “A
mulher que deste para estar comigo, ela me deu o fruto da á rvore e eu
comi” (Gn 3:12).
Deus ainda nã o pronuncia julgamento, mas faz mais uma pergunta,
desta vez dirigida à mulher: “O que é isto que izeste?” (Gê nesis 3:13).
O Deus Todo-Poderoso fez quatro perguntas em quatro versı́culos
curtos. O que ele está fazendo aqui? Se Deus sabe tudo, entã o Ele já
sabe a resposta para cada uma dessas perguntas, e Ele sabe melhor do
que este casal autoiludido e como uma serpente iludida. O que Deus
quer deles?
Está claro, a partir do texto, que Ele deseja que eles confessem seus
pecados com verdadeira tristeza. Ele começa com perguntas abertas
que convidam gentilmente a uma explicaçã o; Ele passa a ser mais
especı́ ico, até que, por im, pergunta à mulher à queima-roupa o que
ela fez. Por tudo isso, no entanto - da persuasã o ao interrogató rio -
nenhuma con issã o surge. Em vez de assumir a responsabilidade por
sua açã o, Adã o primeiro culpa sua companheira e depois culpa Deus:
" Você me deu esta mulher, e ela me deu o fruto!"
Como disse no inı́cio do capı́tulo anterior: quanto mais precisamos da
con issã o, menos parecemos desejá -la. Foi tã o verdadeiro para Adã o e
Eva como para todos os seus descendentes na raça humana.

Caim não é capaz


Considere apenas seu descendente imediato, seu ilho primogê nito,
Caim.
Caim, por inveja, comete o primeiro assassinato do mundo. Assim que o
assassino acaba com sua vı́tima, seu irmã o Abel, Deus diz a Caim: “Onde
está Abel, seu irmã o?” (Gê nesis 4: 9).
Novamente, Deus nã o está buscando informaçõ es. Ele nã o precisa ser
informado sobre o paradeiro de Abel. Ele está , ao contrá rio, dando a
Caim a oportunidade de confessar seu pecado.
Caim, entretanto, nã o aceita a oferta do Senhor. Ele mente em vez
disso. Onde está seu irmã o Abel? “Nã o sei”, responde Cain. "Eu sou o
guardiã o do meu irmã o?"
Mais uma vez, Deus nã o acusa Caim, mas o convida a confessar,
apresentando-lhe mesmo a prova do seu crime: “O que izeste? A voz do
sangue do teu irmã o clama a mim desde a terra ”(Gn 4:10).
Ao inal do episó dio, poré m, Caim permanece impenitente, seu pecado
nã o confessado. Em vez de reconhecer que fez uma vı́tima de Abel,
Caim culpa Deus por ter vitimado Caim! Quando ele reclama: “Meu
castigo é maior do que posso suportar” (Gn 4:13), ele nã o está apenas
dizendo “ai de mim”; ele está dizendo “Você é injusto” para com Deus,
seu juiz. Em vez de confessar sua pró pria injustiça, Caim acusa Deus de
injustiça. Ele prossegue, entã o, a castigar a Deus por tirar sua alegria e
seus meios de ganhar a vida: “Eis que me expulsaste da terra hoje; e da
tua face icarei escondido ”(Gn 4:14). Com efeito, Caim chega a acusar
Deus de o trair a um mundo cheio de assassinos: «Serei fugitivo e
errante pela terra, e quem me encontrar me matará » (Gn 4, 14).
Nã o é preciso ser psiquiatra para ver o que está acontecendo aqui. Caim
está assumindo a condiçã o de vı́tima de Abel e projetando sua pró pria
culpa em Deus. “Agora nã o consigo trabalhar. Agora eu nã o posso ter
companheirismo contigo. Agora tenho que sofrer injustiça ”. Alé m disso,
ele está acusando o resto da humanidade de intençõ es assassinas,
quando ele pró prio é , até agora, o ú nico assassino da histó ria. Como
seus pais, Caim pode reunir uma sé rie de emoçõ es - medo, vergonha,
defensiva, autopiedade - mas nã o vai pedir desculpas. Ele se recusa a
reconhecer seu pecado.

Arrepender-se ou ressentir-se
O comportamento de Caim pode nos parecer familiar. Todos esses
sé culos depois, homens e mulheres nã o estã o mais ansiosos para
reconhecer suas falhas. E o padrã o de evasã o nã o é diferente. Pessoas
que nã o se arrependem vã o icar ressentidas. Aqueles que se recusam a
se acusar encontrarã o maneiras bizarras de se desculpar. Eles - nó s -
culparemos nossas circunstâ ncias, limitaçõ es, hereditariedade, meio
ambiente. Em ú ltima aná lise, entretanto, quando fazemos isso, estamos
seguindo nossos primeiros ancestrais. Estamos culpando a Deus e
fazendo dele o objeto de nosso ressentimento; porque foi Ele quem
criou nossas circunstâ ncias, nossa hereditariedade e nosso ambiente.
Quanto mais escolhemos pecar, menos queremos discutir nossos
pecados. Quanto mais precisamos da con issã o, menos parecemos
desejá -la. Como Caim, Adã o e Eva, falaremos sobre quase tudo - causas
e consequê ncias, culpa e puniçã o - mas nã o sobre con issã o.

Deus o torna um ritual


Nos convê nios sucessivos - com Noé , Abraã o, Moisé s e Davi - Deus
gradualmente revelou mais sobre Si mesmo e Seus caminhos a um
nú mero maior de pessoas. Se a princı́pio as geraçõ es humanas nã o
conseguiram se confessar, Deus nã o se cansou de convidá -las. Na
verdade, nos pontos mais delicados da Lei de Moisé s, ele deu a Seu
povo maneiras rituais muito especı́ icas de confessar seus
pecados. Algumas pessoas hoje descartam o ritual como açõ es
meramente mecâ nicas ou irracionais; mas isso simplesmente nã o é
verdade. Nó s, humanos, somos dependentes de rotinas; sem eles, nã o
serı́amos capazes de ordenar nossos dias ou nossas vidas. Desde
escovar os dentes ou trancar as portas, até dizer “Eu te amo” ou fazer
votos de casamento, açõ es rotineiras - algumas grandes e outras
pequenas - nos permitem realizar o trabalho realmente importante da
vida cotidiana.
Muitos pontos da Lei se preocupam com tais rotinas e rituais, e vá rios
pontos se preocupam especi icamente com a con issã o de
pecados. Veja, por exemplo, Levı́tico 5: 5–6, que trata dos vá rios
pecados que as pessoas cometem quando juram
precipitadamente. “Quando um homem for culpado de qualquer um
destes, ele confessará o pecado que cometeu e trará sua oferta pela
culpa ao Senhor pelo pecado que cometeu, uma fê mea do rebanho, uma
cordeiro ou uma cabra, como oferta pelo pecado; e o sacerdote fará
expiaçã o por ele por seu pecado. ”
Ao dar a Seu povo um plano de açã o claro, Deus torna possı́vel que as
pessoas confessem seus pecados. Primeiro, Ele insiste explicitamente
em tal con issã o. Entã o, Ele dá aos pecadores algo para fazer - um ato
litú rgico de sacrifı́cio e penitê ncia. E, por im, Ele insiste em que tudo
isso seja feito com a ajuda e a intercessã o de um sacerdote. Todos esses
elementos sobreviveriam intactos ao longo da histó ria de Israel e do
Israel renovado, a Igreja de Jesus Cristo.
Nã o devemos subestimar o poder desses “atos” de contriçã o. Nas
palavras de um santo moderno: Amor signi ica atos, nã o apenas
palavras doces. Um slogan popular na dé cada de 1970 era "Amor
signi ica nunca ter que pedir desculpas". Mas isso nã o é verdade. Amor
signi ica nã o apenas dizer “sinto muito”, mas també m demonstrá -
lo. Esta é a natureza humana - embora nossa natureza decaı́da resista
fortemente - e o Deus que criou nossa natureza sabe o que funciona
para nó s. Precisamos dizer “sinto muito”; precisamos mostrar isso; e
precisamos fazer algo a respeito.
A lei de Deus reconhece esses pontos delicados da psicologia humana e
trabalha com eles, primeiro para mover Seu povo alé m de sua
resistê ncia à con issã o e, entã o, para movê -los alé m da con issã o
litú rgica para a satisfaçã o legal. “E o Senhor disse a Moisé s: 'Dize ao
povo de Israel: Quando um homem ou mulher cometer algum dos
pecados que os homens cometem por quebrar a fé no Senhor, e essa
pessoa for culpada, ele confessará o pecado que cometeu empenhado; e
ele fará a restituiçã o total pelo seu erro, acrescentando um quinto a ele
e dando-o à quele a quem ele fez o mal '”(Nm 5: 5-7). (Ambos os
aspectos legais e litú rgicos da con issã o igurarã o em nossa
consideraçã o posterior do sacramento da penitê ncia da Nova Aliança.)
Como a fé , a tristeza pelos pecados deve se manifestar por meio das
obras (ver Mt 3: 8–10 e Tg 2:19, 22, 26). Podemos ver isso até mesmo
nos relacionamentos humanos. Quando ofendemos algué m, muitas
vezes demoramos a admitir nossa culpa. Criamos desculpas; negamos
responsabilidade. Mas, para curar o relacionamento, precisamos
confessar - pedir desculpas - mesmo que nã o queiramos . Nã o apenas
isso, precisamos “compensar” a pessoa que ofendemos. Claro, tudo isso
se aplica, e em um grau muito maior, quando aquele que ofendemos é o
Senhor.

Uma bagunça para confessar


Deus tornou a con issã o possı́vel ao decretá -la na lei, na liturgia de
Israel. Nã o devemos, entretanto, subestimar a di iculdade desses atos
de penitê ncia da Antiga Aliança. Eles podem ter esclarecido o caminho
do homem para o arrependimento, mas nã o o tornaram
necessariamente mais fá cil. Apenas um inté rprete de poltrona
descartaria a con issã o, o sacrifı́cio e a penitê ncia de Israel como mero
ritual. Nã o, eram questõ es á rduas e custavam alguma coisa.
Imagine-se, depois de reconhecer que pecou, preparando-se para fazer
sua con issã o e sacrifı́cio. Isso só poderia ser feito no Templo em
Jerusalé m, entã o você teria que planejar sua jornada - talvez vá rios dias
a pé ou a cavalo - por estradas empoeiradas e rochosas que estavam
infestadas de bandidos e animais predadores.
Dependendo do tipo e da gravidade do seu pecado, você pode ter que
oferecer uma cabra, uma ovelha ou até mesmo um touro. Você poderia
trazer um com você ou, se tivesse dinheiro, comprar um dos
mercadores em Jerusalé m. Você teria, é claro, que subjugar o animal; no
caso de um touro, isso por si só seria bastante exigente. Mesmo assim,
sua penitê ncia apenas começou.
Uma vez em Jerusalé m, você conduziria seu animal morro acima até o
pá tio externo do Templo. No pá tio interno, você diria o motivo do seu
sacrifı́cio. Entã o, em frente ao altar, algué m lhe entregaria uma faca e
você - você mesmo - mataria o animal. Você mesmo mataria o
animal. Você faria o corte e o rasgo. Você faria a separaçã o das
partes. Você separaria os membros ensanguentados, retiraria os ó rgã os
e entregaria tudo, pedaço por pedaço, para o sacerdote queimar. Você
removeria qualquer resı́duo dos intestinos e puri icaria essas
partes. Você també m cantaria salmos penitenciais enquanto o
sacerdote pegava o sangue do animal e o espalhava sobre o altar.
Tudo isso constituı́a um “ato de contriçã o” que o pecador jamais
deveria esquecer. O estudioso do Velho Testamento Gordon Wenham
descreveu esses sacrifı́cios em detalhes exaustivos (e exaustivos!) Em
seus comentá rios sobre Levı́tico e Nú meros. No inal de tudo, ele
conclui: “Usando um pouco de imaginaçã o, todo leitor do Antigo
Testamento logo percebe que esses antigos sacrifı́cios eram ocasiõ es
muito emocionantes. Eles fazem os serviços religiosos modernos
parecerem monó tonos e monó tonos em comparaçã o. O antigo adorador
nã o ouvia apenas o ministro e cantava alguns hinos. Ele estava
ativamente envolvido na adoraçã o. Ele teve que escolher um animal
imaculado de seu pró prio rebanho, trazê -lo para o santuá rio, matá -lo e
desmembrá -lo com suas pró prias mã os, depois vê -lo se extinguir em
fumaça diante de seus olhos. ”
Quando você agia com sacrifı́cio na Antiga Aliança, era um assunto
profundamente pessoal, embora també m fosse um assunto
pú blico; també m era humilhante e caro. Você teve que sacri icar o
gado; e, em uma cultura agrá ria, isso é capital - isso é poder
econô mico. Que nã o haja dú vidas: Deus suscitou de Seu povo a tristeza
segundo Deus pelo pecado e o verdadeiro sacrifı́cio pessoal.
Com que freqü ê ncia os israelitas tiveram que passar por isso? Os leigos
confessavam seus pecados pelo menos uma vez por ano durante a
Pá scoa; os sacerdotes o izeram no Dia da Expiaçã o.

O luto acabou
Com o tempo, o povo de Deus desenvolveu um vocabulá rio rico para
contriçã o, con issã o e penitê ncia, em palavras e hinos, mas també m em
gestos e açõ es. A con issã o, entã o como agora, nã o era apenas uma
questã o espiritual; era algo que o pecador personi icava. As vezes era
algo que ele usava na pele. Era um sinal externo de uma realidade
interna. Foi um sacramento da Antiga Aliança. Isso nã o signi ica que foi
um mero ritual. Os pecadores mostraram sua tristeza e seu amor, nã o
apenas com palavras doces, mas com açõ es difı́ceis e sangrentas; e seus
atos, por sua vez, contribuı́ram para aprofundar sua tristeza e
humildade.
Novamente, essas con issõ es nã o eram meramente exercı́cios
mentais; eles foram incorporados de maneiras vı́vidas. Eles nã o eram
simplesmente privados; eles aconteceram na presença da Igreja, a
assemblé ia de Israel, ou seus delegados, os sacerdotes.
“E quando Acabe ouviu essas palavras, rasgou as suas vestes, e pô s saco
sobre a sua carne, e jejuou e se deitou sobre saco, e andou abatido” (1
Rs 21:27).
“Entã o Davi e os anciã os, vestidos de saco, caı́ram com o rosto em
terra. E Davi disse a Deus: 'Nã o fui eu quem ordenou [o pecado,
convocando um recenseamento]? Fui eu que pequei e agi de maneira
muito inı́qua '”(1 Cr 21: 16–17).
“Ora, o povo de Israel estava reunido com jejum e pano de saco e terra
sobre a cabeça. E os israelitas se separaram de todos os estrangeiros e
se levantaram e confessaram seus pecados e as iniqü idades de seus pais
”(Ne 9: 1-2).
Pano de saco e cinzas, choro, prostrado no chã o - todos esses eram
sinais comuns de luto no mundo antigo. Os israelitas os usaram, de
forma bastante espontâ nea, para expressar tristeza por seus pecados. E
a metá fora é perfeita, pois o pecado causa a morte - uma perda real da
vida espiritual, que é muito mais mortal do que qualquer morte
fı́sica. Os pecadores, entã o, tê m bons motivos para lamentar.
Nó s, pecadores modernos, podemos aprender muito com nossos
antepassados, como certamente izeram os primeiros cristã os.

CAPITULO 3
AN EW O rDer IN THE C RIBUNAL :
T HE F ULL F REDUÇAO DA DO S ACRAMENT
I srael ' S atos de contriçã o foram profunda e pessoal. Eles foram
certamente memorá veis; e devem ter produzido um efeito duradouro
na vida de muitas pessoas. Assim, quando encontramos Jesus e Seus
apó stolos falando de con issã o e perdã o, devemos ter em mente o que
essas palavras signi icam para eles, e devemos ter em mente as açõ es
que essas palavras signi icam.
Pois nã o podemos apreciar o Novo Testamento de forma alguma se nã o
tivermos compreensã o dos sacramentos do Antigo Testamento. Jesus
nã o veio para substituir algo mau por algo bom; Ele veio, ao contrá rio,
para tomar algo já grande e santo - algo que o pró prio Deus já havia
começado - e trazê -lo a um cumprimento divino.
Veja a Pá scoa, por exemplo. A festa do antigo Israel marcava a noite em
que cada famı́lia do povo de Deus sacri icava um cordeiro para que seu
ilho primogê nito fosse salvo do anjo da morte (Ex 12). A Pá scoa do
primogê nito representa um dos eventos centrais da histó ria de
Israel; ainda assim, empalidece quando comparada à Pá scoa de Cristo, o
Cordeiro de Deus, que veio para salvar o mundo inteiro. A renovaçã o de
Israel de sua aliança com Deus acontecia anualmente na festa da
Pá scoa. Mas a Pá scoa de Cristo - Seu sofrimento, morte e ressurreiçã o -
é reapresentada todos os dias na missa.
A Antiga Aliança nã o morreu, se exauriu e se esgotou, mas sim veio para
uma nova vida com a Nova Aliança de Jesus Cristo. Em sua forma antiga,
os sacrifı́cios da Antiga Aliança nunca eram su icientes e sempre
apontavam para algo maior do que eles pró prios. Deus os estabeleceu
para pre igurar seu cumprimento futuro. Eles izeram isso, de uma
maneira, insinuando a grandeza por vir; mas, em outro, mostrando sua
pró pria inadequaçã o.
Mesmo com os sacrifı́cios e os antigos sacramentos da con issã o, o
homem caiu no pecado repetidamente; e nenhuma oferta poderia
compensar suas ofensas contra um Deus in initamente perfeito, um Pai
perfeitamente amoroso. O sumo sacerdote em Jerusalé m, diz a Carta
aos Hebreus, icava todos os dias “oferecendo repetidamente os
mesmos sacrifı́cios, que nunca podem tirar os pecados” (Hb 10,11).
Os velhos mé todos nã o funcionariam. Se os sacramentos fossem para
tirar os pecados do mundo e os pecados dos indivı́duos, o pró prio Deus
teria que administrar os sacramentos. E foi o que Ele fez.

Coxo de deus
"Errar é humano, perdoar é divino." Milhares de anos antes de
Alexander Pope escrever essas palavras, o princı́pio era a religiã o de
Israel. Pessoas pecaram; e até mesmo “o justo cai sete vezes ao dia” (Pv
24:16). Perdoar esses pecados, no entanto, era competê ncia exclusiva
de Deus. As con issõ es e sacrifı́cios humanos nã o obrigavam o perdã o
de Deus. Errar era humano; mas perdoar era divino, um ato soberano
de Deus.
Assim, quando Jesus pronunciou o perdã o dos pecados, vemos que Ele
apresentava um dilema à s pessoas: ou usurpava uma autoridade que
pertencia a Deus, ou era Deus encarnado. Em nenhum lugar isso é
mostrado de forma tã o dramá tica como na histó ria do encontro de
Jesus com um homem paralı́tico, que aparece em trê s dos quatro
evangelhos.

Ele disse ao paralı́tico: “Meu ilho, seus pecados estã o


perdoados”. Agora, alguns dos escribas estavam sentados ali,
questionando em seus coraçõ es: “Por que fala este homem assim? E
uma blasfê mia! Quem pode perdoar pecados, senã o Deus? ” E
imediatamente Jesus, percebendo em Seu espı́rito que eles
questionavam dentro de si mesmos, disse-lhes: “Por que questionais
assim em vossos coraçõ es? O que é mais fá cil dizer ao paralı́tico: 'Seus
pecados estã o perdoados', ou dizer: 'Levante-se, pegue seu catre e
ande?' Mas para que saibais que o Filho do homem tem autoridade na
terra para perdoar pecados ”- Disse ao paralı́tico -“ Digo-te: levanta-te,
pega na tua cama e vai para casa ”. (Mc 2: 5-11)

“Seus pecados estã o perdoados.” Jesus, aqui, está reivindicando para si


um poder possuı́do nem mesmo pelo sumo sacerdote do Templo. Ele
está exercendo uma prerrogativa divina ao declarar a remissã o total dos
pecados de algué m. Para Jesus, curar a alma era uma açã o maior e mais
divina do que curar o corpo. Na verdade, Ele realizou o ú ltimo para
signi icar o primeiro. A cura é um sinal externo da (maior) realidade
interna.
Este é um assunto de imensas consequê ncias. Aqueles que
testemunharam a açã o de Jesus sabiam que enfrentariam uma decisã o:
ou deveriam ter fé em Sua divindade, ou deveriam condená -lo como
blasfemador. Os escribas, em seus coraçõ es, O acusaram de blasfê mia. A
Igreja, por sua vez, o invocou como Deus.

Cânones Soltos
E uma marca do crente, entã o, colocar fé no poder de Cristo para
perdoar pecados. Alé m disso, devemos reconhecer que Ele escolheu
exercer esse poder de uma maneira particular. No dia em que
ressuscitou dos mortos, Jesus apareceu aos discı́pulos e disse-lhes: “A
paz seja convosco. Assim como o Pai me enviou, eu també m te envio.
” Entã o ele fez algo curioso. Ele compartilhou com eles - os primeiros
sacerdotes da Nova Aliança - Sua pró pria vida e Seu pró prio poder. “E,
dizendo isso, soprou sobre eles e disse-lhes: 'Recebei o Espı́rito
Santo. Se você perdoa os pecados de qualquer um, eles sã o
perdoados; se você reté m os pecados de algué m, eles sã o retidos '”(Jo
20: 22-23).
Ele os estava estabelecendo como sacerdotes, para administrar um
sacramento, mas també m como juı́zes, para pronunciar julgamento
sobre as açõ es dos crentes. Ele, assim, deu-lhes um poder superior ao
que antes pertencera aos sacerdotes de Israel. Os rabinos se referiam a
esse antigo poder sacerdotal em termos de “ligar e desligar”, e Jesus
usou essas mesmas palavras para descrever o que estava dando aos
Seus discı́pulos. Para os rabinos, ligar ou desligar signi icava julgar
algué m por estar em comunhã o com o povo escolhido, ou cortado da
vida e adoraçã o desse grupo. Segundo os rabinos, os padres tinham o
poder de reconciliar e excomungar.
Jesus, poré m, nã o estava apenas transferindo autoridade. Ao levar este
antigo ofı́cio ao seu cumprimento, Ele estava adicionando uma nova
dimensã o. As autoridades nã o mais dariam uma sentença meramente
terrena. Visto que a Igreja compartilhava o poder do Deus encarnado,
seu poder se estenderia até o poder de Deus. “Em verdade vos digo que
tudo o que ligardes na terra será ligado no cé u, e tudo o que desligardes
na terra será desligado no cé u” (Mt 18,18).
Antes que os apó stolos pudessem exercer esse poder sobre as almas,
eles precisariam ouvir os pecados confessados em voz alta (ou
denunciados publicamente). Caso contrá rio, eles nã o poderiam saber o
que amarrar ou soltar.

Em terreno comum
Jesus era um judeu, um ilho iel de Israel; assim foram Seus
apó stolos. Como judeus, eles compartilhavam uma herança comum,
memó rias comuns e uma linguagem comum de experiê ncia
religiosa. Quando Jesus falou sobre perdã o e con issã o, Ele se valeu
dessas memó rias, dessa linguagem e dessa experiê ncia, sabendo muito
bem o que Suas palavras signi icariam para os judeus que O ouvissem.
Quando os apó stolos ouviram Jesus falar de perdã o e con issã o, eles O
compreenderam à luz do que sabiam - os sacramentos da Antiga
Aliança, que consideramos no ú ltimo capı́tulo. Novamente, Jesus nã o
apenas concluiu a Antiga Aliança; Ele o cumpriu. Ele investiu as
armadilhas da Antiga Aliança com maiores capacidades. De uma forma
misteriosa, a Antiga Aliança é concluı́da - e incluı́da na - Nova Aliança.
Com isso em mente, devemos voltar e reler o que os apó stolos tinham a
dizer sobre o assunto, tentando entender seus termos como eles os
teriam entendido - compartilhando com eles o vocabulá rio e a memó ria
que compartilharam com Jesus.
“Se confessarmos os nossos pecados, [Deus] é iel e justo”, disse Sã o
Joã o, “e nos perdoará os pecados e nos puri icará de toda injustiça” (1
Jo 1, 9). Sã o Paulo esclarece ainda que a con issã o é algo que você faz
“com a boca”, nã o apenas com o coraçã o e a mente (Rm 10:10).
A quem, entã o, devemos confessar? Para Deus, é claro, mas da maneira
que Ele ordenou por meio de Jesus Cristo - para um sacerdote. Sã o
Tiago retoma a questã o da con issã o no inal de sua discussã o sobre os
deveres sacramentais do clero. O termo que ele usa para clé rigos é o
grego presbuterous, que signi ica literalmente "anciã os", mas que é a
raiz da palavra sacerdote em inglê s :

Algué m entre você s está doente? Chame os presbı́teros [ presbuterous ]


da igreja, e estes façam oraçã o sobre ele, ungindo-o com ó leo em nome
do Senhor; e a oraçã o da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará ; e
se ele cometeu pecados, ele será perdoado. Portanto, confessem seus
pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que possam ser
curados. (Tg 5: 14-16)

Sempre que você vê a palavra portanto nas Escrituras, você tem que se
perguntar para que ela existe. Nesta passagem, Tiago está claramente
estabelecendo a prá tica da con issã o em conexã o com o ministé rio de
cura do sacerdote. Porque os sacerdotes sã o curadores, nó s os
chamamos para ungir nossos corpos quando estamos
doentes; e, portanto , ainda mais ansiosamente, vamos a eles para o
sacramento de cura do perdã o quando nossa alma está doente com o
pecado.
Observe que Sã o Tiago nã o exorta sua congregaçã o a confessar seus
pecados apenas a Jesus; nem lhes diz para confessar seus pecados
silenciosamente, em seus coraçõ es. Eles podem fazer todas essas coisas,
e tudo a seu favor, mas eles ainda nã o serã o ié is à palavra de Deus
pregada por Sã o Tiago - nã o até que eles confessem seus pecados em
voz alta para "outro", e especi icamente para um presbítero , um
sacerdote . A igura do pai está sempre à vista.
Desde o tempo de Adã o, Deus orienta Seu povo a fazer suas con issõ es
de maneira certa e e icaz. Agora, na plenitude do tempo, na era da
Igreja de Jesus Cristo, eles poderiam.

Primeiras con issões


Pode ser ú til para nó s, neste ponto, corrigir um mal-entendido comum
sobre as primeiras geraçõ es da Igreja. Muitas pessoas hoje acreditam
erroneamente que o cristianismo representou um abandono abrupto
do pensamento e das prá ticas do antigo Israel - algo tã o completamente
novo que os contemporâ neos de Jesus di icilmente poderiam
reconhecê -lo.
A verdade, poré m, é exatamente o oposto. Na verdade, os primeiros
cristã os se apegaram a muitas das prá ticas do judaı́smo primitivo, que
agora estavam investidas de um novo poder. Os cristã os construı́ram
suas pró prias sinagogas e, até AD . 70, eles se encontraram no Templo
de Jerusalé m també m. Alguns observavam o tradicional descanso
sabá tico no sá bado, bem como o Dia do Senhor no domingo. Os
cristã os adoravam usando muitas das oraçõ es, bê nçã os e formas
litú rgicas do Judaı́smo. Nos ú ltimos anos, os estudiosos adquiriram um
apreço renovado pelas "raı́zes judaicas da liturgia cristã ", e muitos
grandes estudiosos trabalharam para demonstrar precisamente como
as refeiçõ es rituais e os sacrifı́cios de Israel se desenvolveram na
refeiçã o ritual e no sacrifı́cio que está no cerne da Vida cristã : a missa.
O mesmo é verdade para o que a Igreja hoje chama de sacramento da
con issã o, sacramento da penitê ncia, sacramento do perdã o,
sacramento da reconciliaçã o. O Israel renovado, a Igreja Cató lica, nã o
abandonou a poderosa prá tica de seus ancestrais. Assim, encontramos
cristã os fazendo con issã o na primeira geraçã o e em todas as geraçõ es
posteriores.
A ideia de con issã o aparece duas vezes no documento judaico-cristã o
mais antigo que possuı́mos, alé m da Bı́blia. A Didache , ou Ensino dos
Apóstolos , é uma compilaçã o de instruçõ es morais, doutriná rias e
litú rgicas. Alguns estudiosos modernos dizem que partes dele foram
compostas na Palestina ou Antioquia por volta de DC . 48
“Deves confessar as tuas transgressõ es na Igreja”, ordena a Didache , “e
nã o deves vir a orar com má consciê ncia” (4.14, traduçã o de
Hoole). Isso vem no inal de uma longa lista de mandamentos morais e
instruçõ es para penitê ncia.
Um capı́tulo posterior fala da importâ ncia da con issã o antes de receber
a Eucaristia: “No Dia do Senhor, reú nam-se, partam o pã o e dê em graças
[em grego, eucaristesate ], confessando primeiro os vossos pecados
para que o vosso sacrifı́cio seja puro” (14.1) .
Mais tarde, no primeiro sé culo, provavelmente entre DC . 70 e 80,
encontramos a Carta de Barnabé repetindo, literalmente, a ordem
de Didaqué : “Na Igreja confessará s as tuas transgressõ es e nã o orará s
com má consciê ncia” (19).
Tanto a Didache quanto Barnabé podem sugerir que os cristã os
confessaram seus pecados publicamente; pois “na Igreja” també m pode
ser traduzido como “na assemblé ia”. Sabemos que, em muitos lugares, a
Igreja administrava penitê ncia dessa forma. A prá tica foi abandonada
nos sé culos posteriores por razõ es pastorais fá ceis de adivinhar - para
poupar o penitente do constrangimento, para poupar as vı́timas de
qualquer vergonha e por uma questã o de delicadeza. Esta é uma
maneira pela qual a Igreja aplicou sua misericó rdia de uma forma cada
vez mais misericordiosa.
Encontramos nossa pró xima testemunha na virada do sé culo seguinte,
por volta de DC . 107: Santo Iná cio, bispo de Antioquia, desenvolve a
ideia da penitê ncia ao serviço da comunhã o, como escreve ao povo de
Filadé l ia, na Asia Menor. “A todos aqueles que se arrependem, o Senhor
concede perdã o, se eles se voltarem em penitê ncia para a unidade de
Deus e para a comunhã o com o bispo” ( Carta aos Filadél ia 8.1). A
marca do cristã o que persevera, segundo Santo Iná cio, é a idelidade à
con issã o. “Pois todos quantos sã o de Deus e de Jesus Cristo estã o
també m com o bispo. E todos quantos, no exercı́cio da penitê ncia,
retornem à unidade da Igreja, estes també m pertencerã o a Deus, para
que vivam segundo Jesus Cristo ”( Carta aos Filadél ia 3.2).
A alternativa à con issã o era clara e assustadora para os padres da
Igreja. Disse o Papa Sã o Clemente de Roma em AD . 96: “Melhor é ao
homem confessar os seus pecados do que endurecer o coraçã o” ( Carta
aos Coríntios 51.3).

Desenvolvimento Lapse-Sided
Embora o sacramento esteja conosco desde o dia da ressurreiçã o de
Jesus, os cristã os o praticam de vá rias maneiras. A doutrina da
penitê ncia da Igreja també m se desenvolveu ao longo do tempo. Em
essê ncia, o sacramento permanece o mesmo, embora em
particularidades possa parecer diferente de é poca para é poca.
Por exemplo: Em alguns lugares, no inı́cio, os bispos ensinaram que
certos pecados - a saber, assassinato, adulté rio e apostasia - podiam ser
confessados, mas nã o absolvidos nesta vida. O cristã o que cometeu
esses pecados nunca mais poderia receber a comunhã o, embora
pudesse esperar pela misericó rdia de Deus na hora da morte. Em
outros lugares, os bispos absolviam esses pecados, mas somente depois
que os pecadores realizavam pesadas penitê ncias, que poderiam levar
anos de difı́cil trabalho diá rio para serem concluı́das. Com o tempo, a
Igreja modi icou essas prá ticas para torná -las menos pesadas, para
encorajar os cristã os a encontrar forças na Eucaristia para vencer o
pecado e para evitar que pecadores arrependidos caiam no desespero.
Nem todos os cristã os estavam ansiosos para receber os pecadores de
volta ao redil. Alguns argumentaram que a Igreja estava melhor sem
esses fracos e desajustados. A questã o veio à tona no norte da Africa,
quando um homem chamado Cipriano foi bispo de Cartago ( AD . 248-
258). Foi uma é poca de perseguiçã o; alguns cristã os corajosamente
foram para a morte, enquanto outros, é triste dizer, renunciaram a
Cristo quando enfrentaram a ameaça de morte ou tortura. Alguns dos
que “caı́ram” na fé mais tarde se arrependeram de sua decisã o e
buscaram readmissã o na Igreja. Eles encontraram forte oposiçã o,
entretanto, de outros cristã os que sobreviveram à tortura sem
renunciar a Cristo.
Cipriano insistiu que pecadores arrependidos deveriam ser
readmitidos à Eucaristia, depois de realizar as penitê ncias prescritas
pela Igreja. Ele implorou a todos os pecadores, grandes e pequenos, que
aproveitassem o sacramento da con issã o; pois, em tempos de
perseguiçã o, eles nã o sabiam nem o dia nem a hora em que poderiam
ser chamados. (Na verdade, em todos os momentos, nã o sabemos nem
o dia nem a hora em que enfrentaremos nosso julgamento inal.) Disse
Sã o Cipriano:

Rogo-vos, amados irmã os, que cada um confesse o seu pecado,


enquanto aquele que pecou ainda está neste mundo, enquanto a sua
con issã o pode ser recebida, enquanto a satisfaçã o e a remissã o feitas
pelos sacerdotes agradam ao Senhor. Vamos nos voltar para o Senhor
de todo o coraçã o e, expressando nosso arrependimento por nossos
pecados com verdadeira tristeza, vamos suplicar a misericó rdia de
Deus. Ele mesmo nos diz de que maneira devemos pedir: “Volta para
mim”, diz Ele, “de todo o teu coraçã o, com jejum, com pranto e com
pranto; e rasgue seus coraçõ es, e nã o suas vestes. ” (Jl 2:12)

Cipriano poderia evocar o profeta Joel para exortar um povo “gentio” a


fazer sua con issã o. Porque? Porque o profeta, o Salvador e o santo
compartilhavam um ú nico entendimento de con issã o, conversã o e
convê nio. A missã o da Igreja, do pró prio Cristo, era proclamar esse
entendimento como Evangelho, como boas novas: “que o
arrependimento e o perdã o dos pecados sejam pregados em nome [de
Cristo] a todas as naçõ es, começando por Jerusalé m” (Lc 24,47).
Lendo os Padres da Igreja, descobrimos que, onde quer que as pessoas
professassem a Cristo, elas confessavam seus pecados aos sacerdotes
da Igreja. Vemos isso nos escritos de Santo Irineu de Lyon, que serviu
na França desde AD . 177 a 200. Encontramos em Tertuliano, no Norte
da Africa, por volta de DC . 203; e Santo Hipó lito de Roma, por volta
de DC . 215. O erudito egı́pcio Orı́genes, por volta de DC . 250, escreveu
sobre a “remissã o de pecados por penitê ncia ... quando o pecador ... nã o
se envergonhe de revelar seu pecado ao sacerdote do Senhor e de
buscar a cura de acordo com aquele que diz: 'Eu te reconheci meu
pecado, e nã o escondi a minha iniqü idade; Eu disse: “Vou confessar
minhas transgressõ es ao Senhor”; entã o perdoaste a culpa do meu
pecado '”(Sl 32: 5).

O melhor assento da casa


Tudo vem junto. Deus deseja nossa con issã o porque é uma pré -
condiçã o de Sua misericó rdia. Esta é Sua mensagem constante, desde os
dias de Adã o e Caim até cada geraçã o da Igreja de Jesus Cristo. Ele foi
misericordioso desde o inı́cio, mas essa misericó rdia foi revelada
apenas gradualmente com o tempo. Assim, no Antigo Testamento, Ele
ordenou aos israelitas que construı́ssem um “propiciató rio” - o trono do
pró prio Deus - e o colocassem no Santo dos Santos, sobre a Arca da
Aliança. Lá , o assento era inacessı́vel a todos, exceto ao sumo sacerdote,
e mesmo ele só podia se aproximar uma vez por ano, no Dia da
Expiaçã o, quando aspergia o sangue de um sacrifı́cio pelos pecados do
povo.
Na Antiga Aliança, o propiciató rio era inacessı́vel e estava vazio. Na
Nova Aliança, o assento é inalmente ocupado por um sumo sacerdote,
Jesus, que é capaz de simpatizar com os fracos (ver Hb 4:15). Alé m
disso, esse sumo sacerdote nã o quer que iquemos com medo e tremor,
mas que avancemos. “Aproximemo-nos, pois, com con iança do trono da
graça, para que recebamos misericó rdia e achemos graça para socorro
na necessidade” (Hb 4:16).
Essa convocaçã o só poderia vir com a plenitude da revelaçã o de
Deus. Pois a misericó rdia é o maior atributo de Deus. Por que é o
maior? Nã o porque nos faça sentir melhor, ou porque seja muito mais
atraente para nó s do que Seu poder, sabedoria e bondade. E Seu maior
atributo porque é a soma e a substâ ncia de Seu poder, Sua sabedoria e
Sua bondade. Podemos distinguir aqueles atributos que pertencem ao
Seu poder, Seu conhecimento e Sua bondade. Mas a misericó rdia é algo
mais. Na verdade, é a convergê ncia de todos esses trê s
atributos. Misericó rdia é o poder, sabedoria e bondade de Deus
manifestados na unidade. Deus mostrou a Moisé s que a misericó rdia
estava ligada ao Seu pró prio nome, que para os israelitas signi icava Sua
identidade pessoal: “Farei com que toda a Minha bondade passe diante
de ti e proclamarei diante de ti o Meu nome 'O Senhor'; e terei
misericó rdia de quem tiver misericó rdia de quem tiver misericó rdia e
terei misericó rdia de quem eu tiver misericó rdia ”(Ex 33:19).
A misericó rdia foi totalmente revelada a nó s em Jesus Cristo. E
importante, no entanto, que o entendamos corretamente. Misericó rdia
nã o é pena. Nem é nosso passe livre “pecar com ousadia” porque
sabemos que podemos nos safar no inal. Como veremos em um
capı́tulo posterior, a misericó rdia nã o elimina todas as puniçõ es, mas
garante que cada puniçã o servirá como um meio de remé dio
misericordioso. Santo Tomá s de Aquino insistia que a misericó rdia e a
justiça sã o insepará veis: “Justiça e misericó rdia sã o tã o unidas que se
temperam mutuamente: justiça sem misericó rdia é crueldade,
misericó rdia sem justiça é desintegraçã o”.
A Enciclopédia Católica expressa isso de forma sucinta: “A misericó rdia
nã o se sobrepõ e à justiça, mas a transcende e converte o pecador em
uma pessoa justa, trazendo arrependimento e abertura ao Espı́rito
Santo”.
CAPITULO 4
T RUE C ONFESSIONS : S EALED COM A S ACRAMENT

L IKE todos os ritos da Igreja, a con issã o mudou sua aparê ncia ao longo
dos sé culos de adaptaçã o à s diferentes necessidades e diferentes
climas morais, de diferentes culturas. Mas a con issã o sempre
permaneceu a mesma em essê ncia. Permaneceu o que Cristo pretendia
que fosse: a continuaçã o, atravé s de todos os tempos, de Seu ministé rio
de perdã o e cura.
O rito tem variado de muitas maneiras. Em algumas vezes e em alguns
lugares, os cristã os confessaram seus pecados publicamente perante a
congregaçã o; em tempos como o nosso, a con issã o é assunto privado
entre o penitente e o sacerdote. Na Igreja primitiva, alguns bispos
permitiam que um crente batizado confessasse nã o mais do que uma
vez no decorrer da vida. Em tempos como o nosso, a Igreja recomenda
que vamos pelo menos uma vez por mê s e exige que o façamos pelo
menos uma vez por ano.
Outro elemento que tem variado é a severidade das penitê ncias
impostas pela Igreja. Nos primeiros dias, aqueles que confessavam
pecados graves - como assassinato, adulté rio ou apostasia - eram
readmitidos à comunhã o somente depois de muito tempo na Ordem
dos Penitentes. Esses pecadores podem passar anos em oraçã o
rigorosa, realizando obras de penitê ncia e esmola antes de receberem
novamente a Eucaristia. Na verdade, eles nem mesmo foram
autorizados a permanecer no pré dio da igreja durante toda a
missa; eles foram dispensados, junto com qualquer pessoa nã o
batizada, antes do inı́cio da Oraçã o Eucarı́stica.
Os monges dos desertos orientais geralmente obtê m cré dito por
desenvolver a prá tica da con issã o privada frequente. No Ocidente,
essas prá ticas encontraram promotores zelosos em monges irlandeses
que viajaram como missioná rios por toda a Europa. Por volta do sé culo
VII, o sacramento tinha, em sua maior parte, assumido a aparê ncia que
conhecemos hoje.
Mesmo agora, poré m, o sacramento pode mudar de forma. A Igreja
permite mais lexibilidade para este rito do que para quase qualquer
outro. O “lugar comum e adequado para ouvir con issõ es sacramentais
é uma igreja ou um orató rio”, em uma cabine confessional com uma
“grade ixa” ou tela. As vezes, o penitente prefere o anonimato de se
confessar atrá s de uma tela a um padre que nã o pode ver seu
rosto; outras vezes, ele pode preferir fazer sua con issã o cara a cara,
como entre velhos amigos. As vezes, os homens fazem sua con issã o em
um campo de batalha em meio a tiros de morteiro; em outras ocasiõ es,
a cura espiritual vem em uma cama de hospital durante uma longa
enfermidade. Posso testemunhar a variedade de experiê ncias
confessionais. Nos momentos em que nã o havia confessioná rio
disponı́vel, recebi o sacramento de muitas maneiras diferentes: ao
caminhar pelas ruas da cidade, ao andar de carro e ao esperar no
portã o de um aeroporto.
No entanto, quanto mais as coisas mudam, mais o sacramento
permanece o mesmo. Neste capı́tulo, examinaremos primeiro o cerne
essencial do ensino da Igreja e, em seguida, a doutrina em açã o,
conforme a Igreja celebra o sacramento hoje.

The Magni icent Seven


Antes de começarmos a discutir o sacramento da con issã o, no entanto,
devemos discutir os sacramentos em geral.
O que é um sacramento? No capı́tulo 2, usamos uma de iniçã o clá ssica:
Um sacramento é um sinal externo de uma realidade interna. Podemos
dizer alé m disso, como em outra de iniçã o clá ssica, que um sacramento
da Nova Aliança é “um sinal externo instituı́do por Cristo para dar
graça”. Graça é a vida de Deus, que Ele compartilha conosco por meio
dessas açõ es que Cristo con iou à Sua Igreja. A Igreja discerne sete
desses sacramentos: batismo, Eucaristia, con irmaçã o, con issã o, unçã o
dos enfermos, casamento e Ordens sagradas. Estes sete sã o
tradicionalmente divididos em sacramentos de iniciaçã o (batismo,
eucaristia, con irmaçã o), sacramentos de cura (con issã o e unçã o dos
enfermos) e sacramentos de vocaçã o (casamento e Ordens sagradas).
Os sacramentos da Nova Aliança sã o certamente “novos” com Jesus
Cristo, mas nã o no sentido de que sejam novidades. Pois a pró pria Nova
Aliança nã o é nova nesse sentido. E, antes, uma renovaçã o do que os
primeiros cristã os chamavam de “aliança eterna”, a aliança que
transcende o tempo. Podemos traduzi-lo com mais precisã o como a
“Aliança Renovada” - a renovaçã o consumada do que Deus fez repetidas
vezes na histó ria.
Ele fez uma aliança. No mundo antigo, uma aliança era o meio legal e
litú rgico pelo qual duas partes criavam um vı́nculo familiar. O
casamento era uma aliança; a adoçã o de uma criança era um
pacto. Sempre que Deus fez uma aliança com o homem - como fez com
Adã o, Noé , Abraã o, Moisé s e Davi - Ele renovou um vı́nculo familiar
entre Ele e Seu povo. A aliança era geralmente rati icada por certos
sinais externos: um juramento, uma refeiçã o comum e um sacrifı́cio.
Toda a obra de Deus na Antiga Aliança nã o se tornou irrelevante com a
vinda de Jesus Cristo. Nã o há um abismo que separa a Antiga Aliança da
Nova. O Novo é prometido no Velho; e o Velho é cumprido no
Novo. Assim, os sinais da Antiga Aliança - o juramento, a refeiçã o, o
sacrifı́cio - encontram perfeiçã o nos sacramentos da Nova Aliança. “Eis”,
disse Jesus, “faço novas todas as coisas” (Ap 21: 5). Ele renova todas as
coisas quando estabelece Sua aliança perfeitamente renovada.
Todos os sacramentos da Nova Aliança sã o ordenados para a Eucaristia,
que é uma refeiçã o familiar e um sacrifı́cio. Todos os sacramentos
invocam o sagrado nome de Deus e, portanto, todos tê m poder
vinculante como juramentos. Alé m disso, na Nova Aliança, como na
Antiga, “a liturgia da renovaçã o da aliança” tem “um vı́nculo particular
com a remissã o dos pecados”. E na Nova Aliança, entretanto, que esse
poder é aperfeiçoado e o perdã o completo.
(A palavra latina para juramento, aliá s, é sacramentum, de onde
obtemos a palavra inglesa sacrament. O uso da Igreja de sacramentum,
que signi ica simultaneamente “juramento” e “rito sagrado”, é
registrado já em 110 DC . )
A con issã o nos prepara para receber a Eucaristia com mais
dignidade. Torna-nos um vaso mais puro para reter a vida divina que
nos foi dada na graça dos sacramentos. A con issã o nos dá as
disposiçõ es corretas para a renovaçã o da aliança, nosso vı́nculo familiar
com o Deus todo-poderoso. Sem esse perdã o, podemos nos aproximar
Dele como escravos se aproximam de seu mestre, com nossos olhos
voltados para o chã o. Mas, com as palavras de absolviçã o, temos o
poder de olhar para cima com os olhos da inocê ncia, como os ilhos
admiram um pai amoroso.

Condições da Tradição
Como a con issã o faz isso? Os detalhes do rito à s vezes mudam; mas, diz
o Catecismo da Igreja Católica ( CCC ), “Por trá s das mudanças na
disciplina e na celebraçã o ..., deve-se discernir a mesma estrutura
fundamental ” (n. 1448). O sacramento da penitê ncia é composto por
dois elementos igualmente essenciais. Por um lado, está a nossa obra, a
obra do pecador arrependido; e, por outro lado, há o trabalho que Deus
faz por meio da Igreja.
E tudo obra de Deus, em certo sentido, porque até as obras que fazemos
sã o açõ es de um pecador “que se converte pela ação do Espírito Santo ”
( Catecismo , n. 1448, grifo do autor). Nó s, entretanto, devemos dar
consentimento e lutar para cumprir a vontade de Deus. Que açõ es,
entã o, constituem nossa parte do sacramento? A tradiçã o nomeia trê s:
contriçã o, con issã o e satisfaçã o. Em outras palavras, o sacramento
exige (1) que devemos nos arrepender de nossos pecados, (2) que
devemos declarar nossa tristeza claramente, nomeando nossos
pecados, e (3) que devemos completar a obra de penitê ncia ou
restituiçã o designada a nó s pelo nosso padre confessor. Vejamos um
por um.
1. Devemos nos arrepender de nossos pecados. A palavra té cnica para
essa tristeza é contrição. Sem essa tristeza, nã o podemos receber este
sacramento; pois a essê ncia do sacramento, de nossa parte, é nosso
pedido de desculpas a Deus, a quem ofendemos. Nossa contriçã o nã o
precisa ser perfeita; nã o precisa brotar de um motivo de amor
puro. Podemos, por exemplo, ser motivados pelo medo do castigo de
Deus. E um bom começo, e a graça de Deus completará a obra em nó s e
compensará o que está faltando em nossa tristeza. Devemos,
entretanto, oferecer alguma resoluçã o para mudar nossas vidas e evitar,
no futuro, os pecados que confessamos em nosso passado. Devemos até
mesmo decidir evitar as empresas e os lugares que podem nos levar a
pecar. A tradiçã o chama esta resoluçã o de " irme propó sito de emenda",
e é bem formulada em muitas das oraçõ es que chamamos de Atos de
Contriçã o: "Decidi irmemente, com a ajuda de Tua graça, nã o pecar
mais e evitar as ocasiõ es pró ximas do pecado. ”
Algumas pessoas pensam: “Bem, enquanto os cató licos contarem seus
pecados aos padres, eles podem continuar cometendo pecados quando
quiserem”. E esta nã o é apenas uma questã o cató lica; é verdade para
qualquer religiã o que enfatiza o arrependimento. O arrependimento
deve ser genuı́no, assim como o irme propó sito de emenda. O iló sofo
de Harvard William James disse certa vez: “Eu pecaria como Davi, se ao
menos pudesse me arrepender como Davi” (ver Sal 51). Isso, no
entanto, é uma ilusã o total. A verdade é que, a menos que o pecador
esteja verdadeiramente arrependido - a menos que esse pecador se
aproxime do sacramento com contriçã o e confesse todos os pecados
graves conhecidos com sinceridade, humildade e completamente - o
sacramento nã o confere a absolviçã o - os pecados nã o sã o
perdoados. Alé m do mais, o pecador cometeu o pecado adicional de
sacrilé gio.
O pró prio Jesus insistiu em uma mudança de vida quando pronunciou a
absolviçã o. Ele enfrentou a mulher apanhada em adulté rio e disse-lhe
que nã o a condenaria. Mas entã o Ele acrescentou: “Vá e nã o peques
mais” (Jo 8:11). Hoje, por meio de Sua Igreja, Ele nã o pede menos.
2. Devemos confessar nossos pecados. A Escritura faz uma distinçã o
entre dois tipos de pecado: pecado mortal e pecado venial (ver 1 Jo 5:
16–17). O pecado mortal é , como seu nome indica, o mais mortal dos
dois, pois sufoca a vida de Deus na alma. O pecado mortal nos mata
espiritualmente. O pecado mortal sempre envolve “maté ria grave” - as
coisas mais importantes da vida. Mesmo os descrentes muitas vezes
reconhecerã o a gravidade dessas ofensas. Assim, por exemplo, o
assassinato é um pecado mortal e é universalmente reconhecido como
um crime; o mesmo vale para roubo, perjú rio e adulté rio. Outros
assuntos graves, entretanto, só podem ser vistos com os olhos da
fé . Assim, por exemplo, é um pecado mortal faltar à missa no domingo.
Cada vez que vamos ao sacramento da penitê ncia, devemos confessar
todo e qualquer pecado mortal cometido desde nossa ú ltima
con issã o. Devemos declarar claramente os tipos de pecado mortal que
cometemos e o nú mero de vezes que os cometemos. Se retermos
quaisquer pecados mortais, nã o izemos uma con issã o vá lida. Na
verdade, reter deliberadamente a con issã o de um pecado mortal é em
si um pecado mortal. Visto que um sacramento é um juramento perante
Deus, tal sigilo representa uma espé cie de perjú rio.
Nã o somos estritamente obrigados a confessar nossos pecados veniais -
o Catecismo os chama de “faltas cotidianas” -, mas a Igreja, os santos e
os mı́sticos sempre recomendaram isso (cf. CIC , n. 1458).
E importante lembrar, em nossa con issã o, que nã o estamos dizendo a
Deus nada que ele já nã o saiba. Ele conhece nossos pecados melhor do
que nó s. Ele conhecia o pecado de Adã o quando o convidou a
confessar. Ele conheceu o de Caim quando o convidou a confessar. Ele
quer que confessemos nã o para o seu bem, mas para o nosso, porque
sabe que a con issã o é um passo necessá rio em nosso processo de cura
para a santidade.
A con issã o é necessá ria, mas existem algumas circunstâ ncias muito
limitadas nas quais um padre pode dispensar a con issã o e conceder a
absolviçã o de qualquer maneira. Em tempos de emergê ncia terrı́vel,
quando vá rias pessoas estã o em perigo imediato de morte - no calor da
batalha ou se um aviã o está prestes a cair - um sacerdote pode
pronunciar uma "absolviçã o geral". Mesmo isso requer que os
penitentes tenham pena de seus pecados, embora dispensa a
necessidade de confessá -los. Mesmo assim, o penitente, se quiser
sobreviver, deve ir o mais rá pido possı́vel para fazer uma con issã o
sacramental comum.
3. Devemos completar a obra de penitência ou restituição. Depois de
receber a absolviçã o do padre, praticamos algum ato de penitê ncia
designado pelo nosso padre-confessor. Pode ser uma oraçã o, uma obra
de misericó rdia, um ato de esmola ou um ato de abnegaçã o, como o
jejum (cf. CIC , n. 1460). Geralmente, eles sã o medidos para
corresponder à gravidade e à natureza de nossos pecados.
E importante que façamos isso prontamente, para nã o esquecer. Se nos
esquecermos, a absolviçã o ainda é vá lida; mas perdemos uma tremenda
oportunidade de crescer espiritualmente e talvez també m tenhamos
cometido um pecado venial.
Visto que nossos pecados sã o ofensas contra Deus todo-poderoso,
nossas pequenas obras de penitê ncia nunca poderiam ser totalmente
restituı́das, pois nossas ofensas sã o mais graves quando cometidas
contra pessoas de maior dignidade. No contexto de uma analogia da
sociedade civil: uma coisa é você tentar socar seu vizinho de
porta; outra bem diferente é tentar dar um soco no presidente do
paı́s. Para a primeira ofensa, você pode ser esbofeteado com um terno
ou uma queixa; mas para o ú ltimo, você certamente cumpriria pena e
pode até levar um tiro. Ningué m tem maior dignidade do que Deus; Sua
dignidade é in inita; e assim nunca poderı́amos realmente compensar
nossas ofensas a ele.
Mas Cristo pode compensar o que nos falta, e Ele o faz no
sacramento. Na verdade, essa é a razã o do sacramento. O trabalho de
reconciliaçã o nã o é principalmente nosso. E de Cristo e foi cumprido na
cruz. Por meio dos sacramentos, passamos a participar de Sua obra, por
Sua graça, e a conhecer Seus benefı́cios.
Fazemos penitê ncia, entã o, para restituir e reparar os danos causados
pelo pecado, mas també m para restaurar e fortalecer nosso vı́nculo de
amor com Cristo e o povo de Deus. Neste contexto, nã o posso deixar de
citar novamente o Catecismo : “Tais penitê ncias ajudam a con igurar-
nos a Cristo, o ú nico que expiou os nossos pecados de uma vez por
todas. Eles permitem que nos tornemos co-herdeiros com Cristo
ressuscitado, 'desde que com ele soframos' [Rm 8,17] ”( Catecismo , n.
1460).

O outro lado da tela


Tudo isso implica que há algué m recebendo nossa con issã o. Sim, é
claro, e Ele é Jesus Cristo. Na verdade, apenas Deus pode perdoar
pecados. Mas Jesus delegou Seu poder de perdoar à Sua Igreja,
personi icada por Seus sacerdotes. Ele soprou o Espı́rito Santo sobre os
primeiros clé rigos, os apó stolos, e disse: “Recebam o Espı́rito Santo. Se
você perdoar os pecados de qualquer um, eles serã o perdoados. ” E, ao
fazer isso, o Evangelho aqui usa o mesmo verbo grego usado em outro
lugar para descrever o poder ú nico de Jesus para perdoar (ver Lc 7,48;
Mt 9,2). Em certo sentido, nada mudou. O poder do perdã o ainda estava
somente com Deus. Só agora, Deus estava capacitando outros a
perdoar em Seu nome , como um sinal seguro e sacramental.
Por meio do sacerdote, Cristo perdoa os pecadores e encontra uma
maneira de o pecador fazer as pazes com Deus. O padre atribui a
penitê ncia. A Igreja també m ora pelo pecador e faz penitê ncia com
ele. Alé m disso, o sacerdote pode dar ao penitente alguns conselhos
sobre como vencer o pecado e crescer na virtude.
A coisa mais importante que o padre faz, poré m, é pronunciar as
palavras de absolviçã o. Se tivermos feito nossa parte - contriçã o,
con issã o e satisfaçã o - essas palavras exercem um tremendo poder
divino em nó s. Pois a fó rmula da absolviçã o nã o é a promessa de Deus
de olhar para o outro lado, ignorar nossos pecados ou deixar o passado
para trá s. Essas noçõ es sã o absurdas e, de fato, incompatı́veis com um
Deus onisciente e eterno.
As palavras de absolviçã o nã o sã o meros balbucios de um clé rigo. Eles
sã o a palavra de Deus, que Ele pronuncia com poder sobre nó s - assim
como Ele pronunciou com poder sobre as á guas no alvorecer da criaçã o
- assim como Ele pronunciou com poder sobre o pã o que declarou ser
Seu corpo. A palavra de Deus é criativa e e icaz. Esse é o tipo de poder
que Ele exerce també m no sacramento da con issã o. Criar é modelar
algo do nada. Com as palavras de absolviçã o, Deus nos renova como se
fô ssemos uma nova criaçã o. Quando o rei Davi orou: “Cria em mim um
coraçã o puro, ó Deus!” (Sal 51:10), ele falava sé rio. Deus, por sua vez,
prometeu que responderá a essas oraçõ es: “Um coraçã o novo te darei ...
Tirarei da tua carne o coraçã o de pedra e te darei um coraçã o de carne”
(Ez 36:26).
Esse poder é mais manifesto depois que um penitente confessa um
pecado mortal. Pois esse pecador certamente está mais morto do que
Lá zaro depois de quatro dias no tú mulo (ver Jo 11: 38–44). E os
pecados mortais sã o mais ofensivos e vergonhosos do que o fedor do
cadá ver de qualquer homem morto. Os efeitos prolongados de tais
pecados nos prendem as mã os e os pé s, como as bandagens feitas no
cadá ver de Lá zaro, e nos impedem de fazer o bem, de experimentar o
amor ou de alcançar uma paz duradoura.
No entanto, tudo isso muda com as palavras de absolviçã o. Quando
pecadores arrependidos ouvirem essas palavras, eles nã o devem sofrer
menos choque do que aquele homem morto há muito tempo quando
ouviu Jesus dizer: "Lá zaro, saia!" O pecado é uma morte maior do que a
cessaçã o da vida corporal; entã o, por meio da absolviçã o, Cristo opera
um milagre maior do que no tú mulo de Lá zaro.
Na verdade, a Tradiçã o chama esse milagre de "a graça da
ressurreiçã o". Porque? Porque, como escreveu um teó logo, "isso resulta
na ressurreiçã o dos mortos espiritualmente para a vida da graça". E
també m chamada de graça “da cura, porque por ela, com a cooperaçã o
voluntá ria do pecador, as feridas do pecado sã o cicatrizadas e curadas”.
A fó rmula de absolviçã o expressa todos os elementos essenciais do
sacramento da con issã o.

Deus, o Pai das misericórdias,


através da morte e ressurreição de Seu Filho
reconciliou o mundo consigo mesmo
e enviou o Espírito Santo entre nós
para o perdão dos pecados;
através do ministério da Igreja
que Deus lhe dê perdão e paz,
e eu te absolvo de seus pecados
em nome do Pai, do Filho e do Santo
Espírito.

Quem precisa de um sacerdote?


Os nã o cató licos freqü entemente objetam que o padre é desnecessá rio
neste processo, que os cristã os podem confessar seus pecados
diretamente a Deus. Sem dú vida, podemos; mas nã o podemos ter
certeza do perdã o a menos que façamos nossa con issã o da maneira
que o pró prio Deus planejou. Já discutimos a passagem de Joã o em que
Jesus comissionou Seu clero a perdoar pecados. Já discutimos a
exortaçã o de Tiago à con issã o, que chega na conclusã o de sua
discussã o sobre o clero e os sacramentos. O fundamento do Novo
Testamento para o sacramento é só lido e tem sido citado em apoio à
prá tica desde as primeiras geraçõ es do Cristianismo.
A soberania de Deus nã o é ameaçada quando Ele compartilha Seu
poder com outros. Na verdade, o poder continua sendo dele. Cristo
ainda é o sacerdote por trá s do sacerdote. Ele é o sacerdote dentro do
sacerdote e é o sacerdote agindo por meio do sacerdote. Portanto, nã o
vamos ao sacerdote em vez de irmos a Cristo. Nã o vamos ao
confessioná rio em vez de ir ao Senhor da Misericó rdia. Procuramos o
Senhor da Misericó rdia e Ele nos diz para irmos ao
confessioná rio. Cristo instituiu esses meios criaturas para a saú de de
nossa alma. O pecado é como uma infecçã o para a qual precisamos ir ao
mé dico para obter a receita certa, para a dosagem certa; e entã o
seguimos o conselho porque con iamos na autoridade.
Isso é algo que a Igreja primitiva viu claramente. No sé culo IV, Sã o
Bası́lio disse: “A con issã o dos pecados deve ser feita à queles a quem foi
con iada a dispensaçã o dos sacramentos de Deus”. No mesmo sé culo,
Santo Ambró sio declarou que “Cristo concedeu este poder aos
apó stolos, e dos apó stolos foi transmitido apenas ao ofı́cio dos
sacerdotes”. E quã o incrı́vel é esse poder! Sã o Joã o Crisó stomo, no
sé culo V, escreveu que “os sacerdotes receberam um poder que Deus
nã o deu nem aos anjos nem aos arcanjos: ... eles sã o capazes de perdoar
os nossos pecados”.
Somente Deus possui poder sobrenatural para operar milagres, mas Ele
indica operadores de milagres quando chama certos ministros, como
Moisé s, que fazem coisas que nenhum ser humano poderia fazer. Deus
usa meios de criaçã o porque é assim que Ele é glori icado, ao nos criar,
como um bom pai cria seus ilhos. Portanto, se vemos sacerdotes
fazendo coisas que só Deus pode fazer, isso nã o é prova de que o
sacerdote está diminuindo a posiçã o de Deus. E a prova de que Deus é
nosso pai, assim como Ele prometeu.
Alé m do mais, Ele está fazendo como sempre fez: por meio de uma
aliança, um juramento, um vı́nculo familiar, uma bê nçã o. E assim
começamos cada con issã o: Abençoe-me, padre .

CAPITULO 5
W HAT ' S W RONG COM O W ORLD : AS INTHESIS

W HAT ' de errado com o mundo?” é uma pergunta que leva muito bem a
sermõ es longos e pesados ou a grandes volumes sobre o declı́nio da
civilizaçã o. GK Chesterton respondeu com duas palavras curtas: “Eu
sou”. E a essê ncia da con issã o que todos nó s fazemos o
mesmo. Confessar nossos pecados é aceitar a responsabilidade por
nossas açõ es e suas consequê ncias, assumir a culpa diretamente sobre
nossos pró prios ombros, admitir que a decisã o de pecar foi somente
nossa e fazer tudo isso - da melhor maneira que pudermos - sem
desculpas, renú ncias ou eufemismos.
Isso nã o é fá cil para nó s. Embora ocasionalmente admitamos alguma
relaçã o tangencial com delitos menores, geralmente seguimos
rapidamente com "mas ..." e, em seguida, descrevemos a circunstâ ncia
de exoneraçã o. "Eu estava apenas fazendo o que fulano fazia." "Eu
estava apenas cumprindo ordens." "Como eu ia saber ...?" “E assim que
fui criado.” Ou até mesmo a famosa acusaçã o do comediante Flip
Wilson: “O diabo me fez fazer isso”.
O que há de errado com o mundo? E fá cil sondar os males da naçã o, da
Igreja e do planeta e chegar a um diagnó stico grave: é o colapso dos
valores familiares, a destruiçã o do ecossistema ou a ú ltima crise moral
na Igreja. Mas é necessá ria toda a força que podemos reunir para nos
levantarmos na missa e dizer honestamente: “Pequei por minha pró pria
culpa, em meus pensamentos e em minhas palavras, no que iz e no que
deixei de fazer”.

Sinceridade
E preciso mais coragem ainda para ajoelhar-se no confessioná rio e
acusar-nos de cada pecado pelo nome. No entanto, esse sempre foi o
corolá rio inevitá vel de um relacionamento ı́ntimo com Deus. Todos nó s
queremos saber a proximidade de Deus, Sua ajuda, Seu amor
paternal. No entanto, tudo isso vem, inevitavelmente, com uma maior
consciê ncia de Sua bondade, Sua pureza e Seu julgamento perfeito. O
profeta Isaı́as de repente se encontrou na presença de Deus, rodeado de
gló ria, assistido por anjos. O que ele fez? Ele fez sua con issã o: “Ai de
mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lá bios impuros e
habito no meio de um povo de lá bios impuros; pois meus olhos viram o
Rei, o Senhor dos Exé rcitos! ” (Is 6: 5). O apó stolo Pedro testemunhou
um ú nico pequeno milagre e imediatamente se lançou aos pé s de Jesus,
implorando: “Afasta-te de mim, porque sou homem pecador, ó Senhor”
(Lc 5,8).
O pecado nã o está lá fora; está bem dentro de você e de mim. “Porque
do coraçã o procedem os maus pensamentos, assassinato, adulté rio,
fornicaçã o, roubo, falso testemunho, calú nia. Isso é o que contamina o
homem ”(Mt 15: 19-20).
O que há de errado com o mundo? Eu sou, porque eu peco, e meus
pecados brotam das trevas em meu pró prio coraçã o.
E uma questã o simples, realmente, tã o simples quanto duas palavras,
um total de trê s letras. O pecado em si, entretanto, é um assunto
complicado, que exige que façamos muitas distinçõ es. Existem muitos
tipos de pecado. “Os pecados podem ser distinguidos de acordo com
seus objetos ... ou de acordo com as virtudes a que se opõ em, por
excesso ou por defeito; ou de acordo com os mandamentos que eles
violam. Eles també m podem ser classi icados de acordo com se dizem
respeito a Deus, ao pró ximo ou a si mesmo; podem ser divididos em
pecados espirituais e carnais, ou ainda como pecados de pensamento,
palavra, açã o ou omissã o ”( CIC , n. 1853). Existem muitas maneiras de
fatiar essa torta de sabor desagradá vel.
Neste capı́tulo, tentaremos fazer um catá logo bá sico dos tipos de
pecado. E um negó cio desagradá vel, mas algué m tem que fazer isso, e
esse algué m é você e eu.

Hábitos Graciosos
E impossı́vel entender o pecado a menos que primeiro entendamos a
graça. Nã o podemos entender o que perdemos, a menos que primeiro
entendamos o que temos. Pois graça é o que perdemos quando
pecamos; e nã o há perda maior que possamos sofrer.
Com o batismo, somos feitos “participantes da natureza divina” (2
Pedro 1: 4). Somos incorporados a Cristo, que é o Filho unigê nito de
Deus, e assim compartilhamos Sua iliaçã o. Compartilhamos sua vida
trinitá ria. O efeito essencial do batismo, entã o, é nossa adoçã o na
famı́lia de Deus. Como ilho ou ilha adotiva, o cristã o pode chamar
Deus de “Pai”, em uniã o com o Filho ú nico.
Essa vida divina que recebemos é chamada de graça santi icadora. A
palavra graça em inglê s vem da palavra grega charis , que signi ica
"presente". Santi icar vem das palavras latinas para "tornar sagrado". Só
Deus é santo; mas, por meio de um dom gratuito, Ele nos permite
compartilhar Sua santidade. Nã o há maior presente que possamos
receber. (Ver CCC , n. 1997.)
A tradiçã o nos diz que esse dom é “habitual” - isto é , é um estado de
equilı́brio, “uma disposiçã o está vel e sobrenatural que permite à alma
viver com Deus, agir por seu amor” ( CCC , glossá rio
complementar). Viver esta vida é viver em estado de graça.
Nó s, entretanto, somos livres para aceitar o presente ou rejeitá -lo pelo
pecado. Pecado é qualquer açã o - qualquer pensamento, palavra, açã o
ou omissã o - que ofende a Deus, viola Sua lei ou desonra a ordem de
Sua criaçã o.

A Grande Omissão
Observe que podemos até pecar por omissã o - por inaçã o, por silê ncio,
por não fazer algo que deverı́amos ter feito corretamente. As vezes,
esses pecados resultam de negligê ncia e à s vezes de escolha; de
qualquer forma, é pecado. A Carta aos Hebreus nos diz: “Se a mensagem
declarada pelos anjos era vá lida e toda transgressã o ou desobediê ncia
recebeu uma justa retribuiçã o, como escaparemos nó s
se negligenciarmos tã o grande salvaçã o?” (2: 2-3). De fato, quando Jesus
fala de julgamento e fogo do inferno em Mateus 25, Ele fala quase
exclusivamente em termos de pecados de omissã o e
negligê ncia. “Senhor, quando te vimos com fome ou com sede, ou
estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisã o, e nã o te servimos?” (v.
44). A resposta de Jesus nã o permite omissõ es: “Em verdade vos digo
que, como nã o o izestes a nenhum destes, nã o o izestes a mim” (v. 45).
A negligê ncia di icilmente é um pecado desprezı́vel. Na verdade, pode
ser mortal. Nã o é desculpa, por exemplo, dizer que perdemos a missa
no domingo porque nos esquecemos que era domingo. A “mensagem
declarada pelos anjos” nos ordena que devemos nos lembrar do Dia do
Senhor e santi icá -lo. Esquecer é uma violaçã o direta do comando para
lembrar. Assim, em nossa vida moral, como em nossa vida cotidiana, a
negligê ncia pode matar.
Assim como podemos dani icar nossa vida natural pela mutilaçã o, ou
acabar com nossa vida humana pelo suicı́dio, també m podemos
dani icar ou acabar com nossa vida sobrenatural pelo pecado. E assim
como recebemos esta vida de graça por meio de um sacramento,
devemos restaurá -la por meio de um sacramento - o sacramento da
con issã o.

Taxas de mortalidade
Isso nos leva à primeira distinçã o entre os tipos de pecado, uma divisã o
que abordamos brevemente no ú ltimo capı́tulo. Existe pecado venial e
existe pecado mortal. Simpli icando, os pecados veniais prejudicam
nossa vida sobrenatural; os pecados mortais acabam com nossa vida
sobrenatural. Os pecados veniais marcam a doença espiritual; pecado
mortal signi ica morte espiritual.
O pecado mortal destró i a vida com mais certeza do que qualquer arma
ou doença. Um homem que cometeu pecado mortal está mais morto do
que um cadá ver de uma semana - embora sua mente e corpo continuem
a mostrar todos os sinais de vida bioló gica.
Essa morte é a ú nica coisa que Jesus aconselhou Seus seguidores a
temer: “Nã o temais os que matam o corpo, mas nã o podem matar a
alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a
alma como o corpo ”(Mt 10,28). Inferno - o “lago de fogo” no livro do
Apocalipse - é a conseqü ê ncia inal quando algué m escolhe cometer um
pecado mortal. Pois se a vida divina é sufocada em uma pessoa, essa
pessoa nã o pode compartilhar a vida de Deus no cé u. Se nã o temos
comunhã o com Cristo, somos incapazes de viver na Trindade.
O que torna um pecado mortal em vez de venial? Existem trê s
condiçõ es necessá rias: assunto grave, conhecimento total e
consentimento deliberado.
A tradiçã o da Igreja e as Escrituras deixam claro quais tipos de pecados
sã o mortais. As vezes, a culpa de um indivı́duo pode ser reduzida
porque ele nã o sabia que determinada açã o era pecaminosa - talvez ele
estivesse mal informado - ou porque nã o tinha total posse de sua
vontade - talvez ele fosse forçado ou manipulado. Devemos, no entanto,
evitar a tentaçã o de aplicar essas condiçõ es excessivamente, visto que
temos certa responsabilidade por nossa pró pria ignorâ ncia da
moralidade cristã ou pelas circunstâ ncias particulares que provam,
para nó s, uma ocasiã o de pecado.
Para que nossa con issã o sacramental seja vá lida, devemos confessar
todos os pecados mortais (pelo menos aqueles que conhecemos) que
foram cometidos desde nossa ú ltima con issã o.

Endurecido, não perdoado


Existe um pecado tã o mortal que nunca pode ser perdoado? Jesus disse
que existe: “todo pecado e blasfê mia; mas quem fala contra o Espı́rito
Santo nã o será perdoado. E todo aquele que disser uma palavra contra
o Filho do Homem será perdoado; mas quem fala contra o Espı́rito
Santo nã o será perdoado, nem nesta era nem na vindoura ”(Mt 12,31-
32).
Teó logos, santos e pecadores tê m debatido o signi icado dessa
passagem por quase dois milê nios. Alguns defendem uma de iniçã o tã o
ampla que a maioria das pessoas pode se desesperar de chegar ao
cé u. Outros coam o caldo tã o ralo que o pecado imperdoá vel parece
quase insuportá vel.
O ensino da Igreja, como sempre, atinge o equilı́brio perfeito. Primeiro,
a Igreja nos avisa que podemos realmente nos colocar alé m do
perdã o. Nas palavras do Catecismo : “Nã o há limites para a misericó rdia
de Deus, mas quem deliberadamente se recusa a aceitar a sua
misericó rdia arrependendo-se, rejeita o perdã o dos seus pecados e a
salvaçã o oferecida pelo Espı́rito Santo. Essa dureza de coraçã o pode
levar à impenitê ncia inal e à perda eterna ”( CCC , n. 1864).
Isso parece ser senso comum. Se cortarmos nossos pró prios braços e
pernas, devemos nos desesperar de vencer o decatlo olı́mpico. Se
interrompermos nosso pró prio arrependimento, certamente nã o
devemos esperar obter perdã o.
Os fariseus, de quem Jesus falou na passagem “imperdoá vel”, nã o se
recusaram simplesmente a se arrepender de seus erros, mas passaram
a acusar o Filho de Deus dos pecados mais hediondos. Eles nã o apenas
se recusaram a reconhecer Seu poder como divino; eles o acusaram de
agir pelo “poder do prı́ncipe dos demô nios” (Mt 12,24). Assim, eles
in ligiram a si mesmos uma cegueira espiritual que era permanente e
de initiva. Seu exemplo deve inspirar um santo temor em todos nó s. No
entanto, nunca devemos nos desesperar.
Esse pecado é raro ou comum? O Papa Joã o Paulo II disse: “Certamente
é de se esperar que muito poucos persistam até o im nesta atitude de
rebeliã o ou mesmo de desa io a Deus”. Ele prossegue citando Santo
Tomá s de Aquino: “Considerando a onipotê ncia e misericó rdia de Deus,
ningué m deve desesperar da salvaçã o de ningué m nesta vida.”

Não é pouca coisa


“Todo o mal é pecado”, diz Sã o Joã o, “mas há pecado que nã o é mortal”
(1 Jo 5, 17). Pecado venial é o nome que damos à s faltas de menor
gravidade. Nã o existe mentira sem pecado; mas nem todas as mentiras
pesam tanto quanto perjú rio sob juramento ou falsa acusaçã o. Assim, o
perjú rio é um pecado mortal; mas mentir sobre sua idade, por vaidade,
pode ser venial.
O pecado venial enfraquece nossa vontade. Isso nos fere no espı́rito,
embora nã o nos mate. O Papa Joã o Paulo II escreveu: “O pecado venial
nã o priva o pecador da graça santi icadora, da amizade com Deus, da
caridade e, consequentemente, da felicidade eterna”. Podemos ir para o
cé u se morrermos com pecados veniais nã o confessados, mas primeiro
eles devem ser puri icados de nossa alma; pois “nada impuro entrará ”
na vida eterna de Deus (Ap 21:27).
Nã o somos obrigados a confessar nossos pecados veniais. Na verdade,
eles podem ser perdoados de outras maneiras. Por exemplo, cada vez
que recebemos a Sagrada Comunhã o, nossos pecados veniais sã o
apagados completamente. Podemos pedir e obter perdã o pelos pecados
veniais recitando um Ato de Contriçã o simples e sincero. A Bı́blia nos
diz que os pecados veniais podem até ser perdoados pela intercessã o
de outros: “Se algué m vir seu irmã o cometendo algo que nã o é mortal,
pedirá , e Deus lhe dará a vida por aqueles cujo pecado nã o é mortal” ( 1
Jo 5:16).
Ainda assim, faremos melhor se discernirmos esses pecados menores e
começarmos a vencê -los agora, buscando perdã o no confessioná rio. O
sacramento nos dará graça, entã o, para superá -los no futuro; e o padre-
confessor pode nos dar conselhos muito especı́ icos e prá ticos sobre a
melhor forma de corresponder a essa graça com açã o. A introduçã o ao
rito da penitê ncia nos diz que a con issã o dos pecados veniais nã o é um
mero “exercı́cio psicoló gico”. E, antes, “um compromisso constante e
renovado para re inar a graça do batismo para que, enquanto
carregamos em nossos corpos a morte de Cristo Jesus, sua vida seja
cada vez mais revelada em nó s”. Nenhum pecado - por menor que seja -
é compatı́vel com a vida de Cristo, que é para sempre sem pecado. Se
quisermos crescer em Sua vida, se quisermos que Sua vida cresça em
nó s, devemos estar irmes em nossa decisã o de nã o pecar de forma
alguma, ou pelo menos (para começar) pecar com menos frequê ncia.
Nã o precisamos desanimar se continuarmos a cair no pecado
venial. Mas també m nã o devemos desistir de nossa decisã o de adiar
totalmente esses pecados. Pois nã o devemos subestimar o dano que os
pecados veniais podem causar. Novamente, algumas mentiras sã o
menos sé rias do que outras, mas nã o existe mentira "pequena" ou
"branca". O Papa Joã o Paulo II ensinou: “Nã o se deve esquecer que os
pecados veniais podem in ligir feridas perigosas ao pecador”. Os
pecados veniais, especialmente se forem habituais, tornam-nos cada
vez mais fracos em nossa resistê ncia ao pecado mortal. Eles sã o a ponta
da cunha do pecado em nossas vidas.
Confessar esses pecados, no entanto, fornece uma poderosa força
contrá ria. Disse o Papa Joã o Paulo II: “A con issã o destes pecados com
vista ao perdã o sacramental, de facto, ajuda-nos de forma singular a
tomar consciê ncia da nossa condiçã o de pecadores perante Deus para
reparar.” Assim, armados com graça e bons conselhos, podemos
continuar resolutamente no caminho para a nossa perfeiçã o. “Desse
modo, o penitente tende para 'aquele homem perfeito, que é Cristo, à
sua plena estatura' [Ef 4:13]; alé m disso, 'professando a verdade em
amor', ele é estimulado a 'crescer até a plena maturidade de Cristo, a
cabeça' [Ef 4:15]. ”

Nenhum pecado é uma ilha


Todo pecado é pessoal. Algué m, em algum lugar, toma a decisã o de
cometer este ou aquele pecado especı́ ico, seja venial ou mortal. Mas
nenhum pecado é uma ilha. Os pecados geram outros pecados, nã o
apenas no pecador, mas també m nos outros. Quando pecamos,
mudamos o clima moral, talvez imperceptivelmente no inı́cio; mas
entã o nossos defeitos se juntam aos pequenos defeitos de muitas
outras pessoas e causam uma espé cie de efeito de bola de neve
moral. Os pequenos pecados de uma pessoa dã o permissã o tá cita para
os pecados um pouco maiores de um espectador, e esse processo de
degradaçã o dos pares continua - até que algué m decida reverter o
impulso descendente.
Todo pecado tem uma dimensã o social. Alé m disso, temos a
responsabilidade pelos pecados dos outros quando cooperamos com
eles:

• participando direta e voluntariamente neles;


• ordenando, aconselhando, elogiando ou aprovando (até mesmo
sorrindo para eles);
• por nã o divulgá -los ou impedi-los quando temos a obrigaçã o de fazê -
lo;
• protegendo malfeitores (ver CCC , n. 1868).

Nã o devemos apenas icar ali. Quando as pessoas estã o pecando, somos
moralmente obrigados a fazer algo. Santo Ambró sio escreveu: “Nã o
apenas por cada palavra ociosa, mas por cada silê ncio ocioso seremos
chamados a prestar contas”. Lembre-se de que o modelo bı́blico para
cuidar da pró pria vida é Caim, que perguntou: "Sou o guardiã o do meu
irmã o?" A pró pria pergunta trai seu pensamento desordenado. Ele era
irmã o de seu irmão , e isso deveria ser o su iciente para justi icar sua
preocupaçã o. Se somos ilhos de Deus, devemos começar a ver os
outros como nossos irmã os e irmã s; e por isso devemos corrigi-los
quando precisam de correçã o e ajudá -los a crescer. Alé m disso,
devemos contar com nossos irmã os em Cristo para nos corrigir quando
estivermos perdidos. E assim que a vida continua em uma famı́lia
totalmente funcional.
Os pecados que confessamos sã o pecados pessoais e pecados reais. Os
meus sã o meus. Seus sã o seus. Cada um de nó s assume a
responsabilidade por eles. No entanto, eles nã o sã o os ú nicos pecados
que nos afetam e nos enfraquecem. Visto que vivemos em sociedade,
como vivemos em famı́lias, nã o podemos deixar de ser in luenciados
pelos pecados dos outros. Embora todo pecado tenha apenas um pai - o
pecador individual que escolhe pecar - todos os pecados podem traçar
uma genealogia comum. Todos os pecados sã o, em certo sentido,
descendentes do pecado original.

Completamente errado
Qual foi esse pecado? Vejamos a histó ria de como tudo começou, no
livro dos primó rdios, o livro do Gê nesis. Deus criou o primeiro homem,
Adã o, em estado de graça. Ele estava em um estado de iliaçã o divina
em virtude da graça que lhe foi conferida quando Deus “soprou em suas
narinas o fô lego da vida” (Gn 2: 7). Alé m da vida sobrenatural, Adã o
possuı́a poderes naturais perfeitos e dons sobrenaturais: a
imortalidade, por exemplo, e uma inteligê ncia dotada de poderes sobre-
humanos. Alé m do mais, ele viveu no paraı́so ao lado da esposa perfeita,
com quem compartilhou o domı́nio sobre toda a terra.
Deus pediu apenas uma coisa em troca. “E o Senhor Deus ordenou ao
homem, dizendo: 'Você pode comer livremente de todas as á rvores do
jardim; mas da á rvore do conhecimento do bem e do mal nã o comereis,
porque no dia em que dela comeres morrerá s '”(Gn 2: 16–17). Em
retrospecto, parece pouco a pedir - todas as riquezas do mundo mais a
vida eterna, em troca da abstinê ncia de um certo tipo de fruta! Parece
quase fá cil demais. Mas, para Adã o e Eva, seria a provaçã o mais severa.
Antes de prosseguir, devo apontar uma estranheza no texto hebraico do
Gê nesis. A passagem traduzida acima como “você morrerá ” nã o
representa com precisã o o original. O hebraico realmente repete a
palavra morrer , de modo que se lê "você deve morrer, morrer". Agora,
em hebraico, a repetiçã o serve para intensi icar uma palavra (para
torná -la “mais” ou “certamente”); mas nos parece estranho encontrar
uma repetiçã o da palavra morrer. A inal, você nã o pode icar mais
morto do que morto.
O que isso poderia signi icar? O maior dos antigos comentaristas
judeus, Filo de Alexandria, explicou que existem dois tipos de morte: a
morte do corpo e a morte da alma. “A morte do homem é a separaçã o da
alma do corpo”, escreveu ele. “Mas a morte da alma é a decadê ncia da
virtude e a introduçã o da maldade. E por esta razã o que Deus diz nã o
apenas 'morrer', mas 'morrer a morte', indicando nã o a morte comum a
todos nó s, mas aquela morte especial, que é aquela da alma se
sepultando em paixõ es e maldades de todos os tipos. E esta morte é
praticamente a antı́tese da morte que nos espera a todos. ”
No entanto, essa morte é precisamente o que Adã o escolheu.

Serpentine Slide
Sua escolha parece insana ou estú pida; mas nã o foi nenhum dos
dois. Adam enfrentou apenas um ú nico adversá rio no jardim. Na arte,
essa “serpente” é geralmente retratada como uma cobra de jardim
pouco imponente, mas nã o é isso que o texto de Gê nesis (3: 1) sugere. A
palavra em hebraico é nahash , que possui um amplo espectro de
signi icados. E usado com mais frequê ncia para denotar uma cobra (ver
Nm 21: 6–9), mas també m é usado em referê ncia aos dragõ es malignos
(ver Is 27: 1; cf. Ap 12: 3, 9). Em todo esse espectro de uso, a
palavra nahash geralmente se refere a algo que pica (veja Pv 23:32),
com veneno (veja Sal 58: 4).
O que está claro é que Adam enfrentou uma força formidá vel com risco
de vida. Alé m disso, a serpente agarrou-se a algo que seria natural a
qualquer criatura com corpo fı́sico: o pavor instintivo de morrer. A
serpente seduz Adã o com promessas, mas ele també m representa uma
ameaça implı́cita. O Catecismo da Igreja Católica identi ica a serpente
como Sataná s (ver n. 391) e explicita o poder que ela tinha para seduzir
Adã o (n. 391) e para prejudicá -lo fı́sica e espiritualmente (n. 395 e
394).
Adã o temia a besta e temia a morte. Na verdade, ele temia por sua vida
mais do que temia por sua esposa; pois ele nã o deu um passo à frente
para protegê -la. Ele temia a morte mais do que ofender a Deus pelo
pecado. Ele nã o daria um passo à frente com a coragem de um
má rtir. Ele nã o conseguia nem mesmo clamar a Deus por ajuda. Com
orgulho e medo, ele se calou. Entã o, com sua esposa, ele desobedeceu
ao comando do Senhor. Eles comeram o fruto proibido. E o resto é
histó ria da salvaçã o.
Ele e Eva morreram? Se por morte você quer dizer a morte espiritual
discutida por Filo, entã o, sim, eles falaram. Se por morte você quer
dizer pecado mortal e a perda da graça divina, entã o, sim, eles
morreram - mais verdadeira e completamente do que se seus corpos
tivessem sido destruı́dos por uma granada diabó lica.
Eles tinham morrido a morte. Por que Deus sujeitaria Adã o e Eva a tal
prova? Porque algo maior estava do outro lado. Adã o e Eva receberam a
vida da graça, mas foi apenas a penú ltima. Deus pretendia que essa
graça fosse uma semente de gló ria. Adã o foi feito no paraı́so, mas para
o cé u. Deus queria que Adã o compartilhasse a vida interior da
Trindade, que é doaçã o completa: o Pai se entrega em amor ao Filho; o
Filho retribui esse amor completamente com o dom da pró pria vida; e
esse amor compartilhado pelo Pai e pelo Filho é em si uma pessoa
divina, o Espı́rito Santo. Para que Adã o pudesse compartilhar essa vida,
ele teria que começar a vivê -la na terra, no paraı́so. Ele teria que se
oferecer completamente em sacrifı́cio. E isso é o que ele falhou em
fazer.
Adã o nã o estava disposto a dar sua pró pria vida por amor a Deus ou
para salvar a vida de sua amada. Essa recusa em sacri icar foi o pecado
original de Adã o.

Linhas de falha
Pecado original é o termo que usamos para descrever a primeira
transgressã o da humanidade - a queda de Adã o. E també m o termo que
usamos para descrever as consequê ncias ou efeitos dessa queda. Para
Adã o, o pecado original era um pecado pessoal real. Para nó s, é um
pecado impessoal, nã o um pecado real. Mas aqui nó s distinguimos; nã o
nos separamos, porque tudo é uma só peça. Existe um vı́nculo que une
o pecado em todas as suas formas.
Quando os professores discutem o misté rio do pecado original, eles
costumam usar a metá fora de uma "mancha na alma". Mas isso é
apenas uma metá fora. O pecado nã o é essencialmente uma
mancha; nã o é uma substâ ncia espiritual. Nã o é uma coisa
absolutamente. E, antes, a falta de algo, a ausê ncia de algo, ou seja, a
graça santi icadora. A vida interior da Trindade foi evacuada da
natureza humana pelo pecado de Adã o. Isso é o pecado
original. Precisamos chegar a isso explicando o que nã o é . E a ausê ncia
de algo necessá rio para que os seres humanos alcancem seu im
divinamente designado. A ausê ncia da graça santi icadora certamente
nos mergulha nas trevas, na cegueira e na morte.
Mas é extremamente importante para nó s reconhecer que o pecado
original nã o é algo que é transmitido bioló gica ou psicologicamente. No
entanto, ao mesmo tempo, podemos falar do pecado original como algo
hereditá rio. O Papa Pio XI escreveu que “O pecado original é uma falha
hereditá ria, mas impessoal, dos descendentes de Adã o”.
Mesmo essa escolha de palavras - culpa - pode levar você a acreditar
que o pecado original é algo que nos torna culpados. Mas nã o é . Pense
na falha aqui no sentido da Falha de San Andreas, a fratura na crosta
terrestre que torna a Califó rnia vulnerá vel a terremotos devastadores. E
isso que a falha do pecado original faz na alma. Nã o é minha culpa , mas
é como uma falha que percorre minha alma e me inclina a me separar
de Deus.
O pecado original é a falha hereditá ria, mas impessoal dos
descendentes de Adã o: “A transgressã o de um homem levou à
condenaçã o de todos os homens ... [Pela desobediê ncia de um só
homem, muitos foram feitos pecadores, que pecaram nele” (Rm 5: 18-
19).
O misté rio, é claro, é como pecamos em Adã o. Pecamos em Adã o, em
certo sentido, porque há uma solidariedade mı́stica que
compartilhamos com ele, baseada em duas realidades: biologicamente ,
somos seus descendentes; e teologicamente , ele é o nosso cabeça da
aliança. Como nosso pai, ele é nosso representante em fazer a aliança
com Deus. Desde que ele quebrou a aliança, nó s, sua progê nie,
herdamos as consequê ncias. Considere uma analogia com as relaçõ es
humanas: se eu administrasse mal meus negó cios e acabasse
declarando falê ncia antes de passar minha propriedade para meus
ilhos e minha ilha, meus credores poderiam perseguir meus ilhos,
agora devedores por meio de nosso vı́nculo familiar.
Com efeito, o pecado original signi ica a perda da graça santi icadora e,
portanto, a perda da vida eterna. A vida eterna nã o é apenas vida
eterna. A alma é imortal, e as pessoas no inferno viverã o para sempre,
embora miseravelmente. A vida eterna é mais do que eterna. E a vida de
Deus, vida divina. Só Deus é eterno porque Ele transcende totalmente o
tempo. Portanto, quando falamos de vida eterna, estamos falando sobre
compartilhar o pró prio ser e a comunhã o do Pai, Filho e Espı́rito
Santo. E foi isso que a humanidade perdeu com o pecado original.
O pecado original é hereditá rio, mas impessoal. Está contraı́do, nã o
comprometido; e contraı́mos o pecado original sem consentimento. E
por isso que Deus pode remover o pecado original sem consentimento
pessoal, como Ele faz com os bebê s recé m-nascidos no dia do batismo.
A mesma coisa nã o pode ser dita para o pecado real. O pecado real só
pode ser cometido por meio do consentimento informado. E, portanto,
só pode ser removido por meio do consentimento informado. E por isso
que precisamos de con issã o.

A Lei da Gravidade (Moral)


Pode ser ú til ter em mente que o pecado é como uma doença terminal,
mas curá vel, que a lige todos os ó rgã os do corpo. Somente neste caso,
afeta a vida eterna da alma.
E melhor para as pessoas nã o saber que estã o doentes? Ou quã o
acessı́vel (embora difı́cil) é a cura? Eles icam mais felizes nã o sendo
informados sobre o quã o sé rio - mas també m como - tratá vel - sua
condiçã o é ?
Para mim, a chave é lembrar que o pecado é mais do que violar leis, é
violar vidas - as nossas e as dos outros. Da mesma forma, nossa vida
espiritual é muito mais preciosa - e frá gil - do que a vida fı́sica. E muito
mais grati icante, eternamente falando.
Só porque as pessoas nã o reconhecem todas (ou nenhuma) as leis de
Deus e como elas re letem Sua preocupaçã o amorosa por nossa saú de
espiritual e fı́sica, nã o muda o fato de que tudo ainda é verdade. Se a
esmagadora maioria dos americanos quisesse abolir a lei da gravidade,
e entã o ambas as casas do Congresso votassem por sua revogaçã o e o
presidente a sancionasse, o que aconteceria se o presidente e todos os
congressistas decidissem celebrar sua "libertaçã o" pulando do telhado
da Casa Branca? Eles nã o infringiriam a lei da gravidade, é claro; sua
queda demonstraria gravidade, e essa lei quebraria a eles e a todos os
ossos que atingissem primeiro.
O que as pessoas freqü entemente esquecem é que as leis morais de
Deus sã o tã o irmemente ixadas quanto as leis fı́sicas - só que os
resultados do pecado nã o sã o tã o visı́veis ou imediatamente dolorosos
quanto ossos quebrados.
E por isso que a Igreja tem que espalhar a palavra - as má s notı́cias do
efeito mortal do pecado e as Boas Novas de Cristo como a ú nica cura
total. E, novamente, é por isso que precisamos de con issã o.
CAPITULO 6
S ACRAMENTAL C ONFECTION :
W HAT ' S S S S weet Um ATAQUE S VEZ ?

A S UMA UNIVERSIDADE professora, eu os estudantes à s vezes atribuir a ler


de Santo Agostinho Confessions . O livro tem um apelo quase
universal. Mesmo os leitores mais mundanos e nã o convertidos se
encontram cativados pelo estilo brilhante de Agostinho - ou pelo
menos por suas lembranças sugestivas de um jovem mal gasto. Em
alguns casos, o livro do santo é lido principalmente porque seus
pecados eram escarlates. A cuidadosa auto-aná lise das Con issões de
Agostinho pode ser tremendamente ú til para aqueles de nó s que estã o
preparando nossas pró prias con issõ es sacramentais.
Há uma passagem, entretanto, que intriga até mesmo leitores
devotos. E mais do que uma passagem, na verdade. Agostinho
passa sete capítulos descrevendo um breve momento que passou uma
noite, quando tinha dezesseis anos. Que aventura emocionante poderia
consumir uma mente tã o magnı́ ica a tal ponto?
Agostinho e seus amigos roubaram algumas peras do pomar de seu
vizinho.
Os leitores acham isso desconcertante. Agostinho dedicou longos anos
de sua vida à busca pelos pecados da carne. Ele tinha amantes. Ele
concebeu um ilho fora do casamento. Com nã o menos ardor ele se
entregou aos pecados do espı́rito. Ele rastreou espiritualidades exó ticas
em regiõ es de heresia e apostasia. Ele pulou a instruçã o cristã e
entregou sua alma aos cuidados de um guru nã o cristã o. Muitas e
grandes foram suas transgressõ es. No entanto, nenhum pecado é
sujeito a uma aná lise tã o minuciosa como o roubo mesquinho de peras
quando tinha dezesseis anos.
Repetidamente, Agostinho pergunta por que ele cometeu o pecado. Nã o
era que ele estivesse com fome; na verdade, ele nã o estava. Nã o que ele
fosse tentado por peras excepcionais; na verdade, eram inferiores à s
peras que ele tinha em casa. Nem era hora de um lanche. Agostinho e
seus companheiros nem mesmo comeram as frutas que comeram; eles
jogaram para os porcos.
Por que, entã o, ele pecou? Agostinho faz a pergunta incansavelmente e
rejeita implacavelmente uma possı́vel motivaçã o apó s a
outra. Finalmente, ele pergunta se, talvez, ele encontrou prazer em
fazer o pró prio mal. Mas ele també m descarta isso como um
absurdo. Ningué m, diz ele, comete o mal por si mesmo. Ningué m
escolhe o mal só porque é mal. As pessoas pecam nã o por causa do mal,
mas por causa de algo bom.

Graças a Deus
Essa é a parte que escandaliza alguns cristã os. Como ele pode dizer que
os pecadores nã o escolhem o mal quando pecam? Agostinho rebate que
os seres humanos só podem desejar coisas boas. Queremos o que é
doce ao paladar, o que é confortá vel, o que nos torna mais livres, o que
tira as di iculdades da nossa vida. Alé m disso, todas as coisas que
desejamos sã o boas porque Deus as criou assim. “E Deus viu tudo o que
tinha feito e eis que era muito bom” (Gn 1:31). Todas as coisas no
mundo compartilham, de alguma forma, a gló ria de Deus. Cada obra de
arte carrega a marca distintiva de seu artista, entã o cada criatura é uma
manifestaçã o de um sacramento natural do criador. E é essa amostra da
gló ria divina que torna as coisas deste mundo tã o atraentes para nó s.
O que é , entã o, que pega o desejo de algo bom e o transforma em
pecado? Agostinho expressa isso de forma bela: “Os pecados sã o
cometidos quando, por um gosto imoderado pelas coisas - visto que sã o
os menores bens - abandonamos os melhores e mais elevados bens”,
que sã o Deus, Sua verdade e Sua lei. “Esses bens inferiores tê m suas
delı́cias”, continua ele, “mas nenhum como o meu Deus, que fez todas as
coisas; porque nele o justo se deleita, e Ele é a alegria dos retos de
coraçã o ”.
Agostinho conclui que roubou as peras pelo bem da companhia de seus
amigos e pelas risadas que eles compartilhariam. A amizade, a
camaradagem e as risadas eram coisas boas, presentes de Deus e boas
para desejar. Mesmo assim, o menino errou ao colocar o desejo por
essas coisas antes do desejo de agradar e obedecer ao Senhor Deus.
Nó s també m pecamos nã o porque queremos o que é mau, mas porque
queremos o que nã o é bom o su iciente. Entregamos nossos coraçõ es,
nossos corpos e nossas almas a ninharias e sensaçõ es passageiras
quando deverı́amos ir, em vez disso, ao cume de todos os prazeres, o
criador eterno de toda alegria. Ao nos ixarmos nas dá divas de Deus,
damos as costas ao doador.

Uma nova ordem giratória


O problema, entã o, nã o é que achamos as criaturas atraentes, mas que
as achamos mais atraentes do que Deus. O problema (nas palavras de
Agostinho) é nosso “gosto imoderado pelas coisas”, pelo prazer e pela
gló ria terrena. Esse foi o problema para Adã o e Eva. Pois o fruto
proibido no Eden - como o fruto do pomar da vizinhança de Agostinho -
nã o era mau. Na verdade, a á rvore do conhecimento do bem e do mal
era boa em todos os sentidos. Eva viu imediatamente “que a á rvore era
boa para comida, e agradá vel aos olhos, e que a á rvore era desejá vel
para dar sabedoria” (Gn 3: 6). A á rvore tinha todas essas boas
qualidades naturais porque Deus a fez assim. Parecia bom e poderia
fazer bem, dando sabedoria para a pessoa que comia. Mas Deus
ordenou ao primeiro casal que sacri icasse todos aqueles grandes bens
em prol de um bem maior, um bem sobrenatural. E é isso que eles
deixaram de fazer - por medo da serpente, por orgulho e por medo de
sofrer perda (ver Hb 2: 14–15). O fruto nã o era mau; mas a
desobediê ncia certamente foi. Nã o é ruim querer conhecimento ou ter
um desejo ardente por maçã s maduras, mas é ruim buscar essas coisas
em direçõ es que se afastam de Deus.
Adã o e Eva izeram isso. Eles reordenaram suas prioridades para que
seus desejos imediatos - segurança, autopreservaçã o, conhecimento e
prazeres sensuais - pudessem ser realizados, enquanto os bens mais
elevados - como fé , esperança e amor - fossem adiados. Eles nã o
escolheram diretamente o mal. Eles escolheram bens menores. Eles
escolheram produtos que pareciam mais reais no momento. A
autopreservaçã o e a fome sã o instintos animais arraigados, para os
quais o corpo produz respostas fı́sicas intensas. No entanto, nã o existe
um impulso fı́sico semelhante para a fé , esperança e amor. Nã o há
glâ ndula, ó rgã o ou hormô nio que nos pressione a escolher Deus acima
de tudo. O que foi exigido de Adã o e Eva foi um puro ato de vontade -
unir sua pró pria vontade com a vontade de Deus - e assim sacri icar
todos os desejos inferiores de seus corpos e almas, coraçõ es e mentes.
A escolha deles teve consequê ncias de longo prazo. Sua necessidade
criou novas necessidades: esconder-se, justi icar-se, cobrir sua
nudez. Adã o e Eva haviam dado o lugar principal aos seus desejos
inferiores, e agora seus desejos inferiores estavam assumindo o
controle. Enquanto antes estavam “nus e sem vergonha”, agora sua
nudez provocava sentimentos desordenados em ambos; e eles achavam
necessá rio cobrir-se com roupas tecidas com folhas de
igueira. Considerando que Adam havia anteriormente cultivado e
mantido o jardim de uma maneira aparentemente fá cil, agora ele se
encontrava trabalhando duro e suado.
Nossos primeiros pais inverteram a hierarquia divinamente pretendida
na pessoa humana e na raça humana. Agora, em vez de nossas almas
governarem nossos corpos, nossos corpos - e seus anseios e apetites,
prazeres e medos - estavam conduzindo nossas almas.
Sã o Paulo chama isso de rebeliã o da carne contra o espı́rito (ver Gal 5:
16-17; Ef 2: 3; CIC, n. 2515). Os teó logos chamam
de concupiscência (pronuncia -se kon-KYOO-pi-sens ), um termo que se
refere aos nossos “apetites ou desejos humanos que permanecem
desordenados devido à s consequê ncias temporais do pecado
original”. A concupiscê ncia é , por de iniçã o, irracional: nossos impulsos
caó ticos estã o em rebeliã o contra a ordem da razã o.
A concupiscê ncia em si nã o é pecado, mas é o resultado do pecado
original e a causa dos pecados atuais. E uma inclinaçã o inata para o
pecado; mas nã o é uma transgressã o pessoal. A concupiscê ncia nã o me
torna culpado, mas me torna vulnerá vel à tentaçã o e positivamente
propenso ao pecado.

Efeitos nocivos
“Assim como muitos foram feitos pecadores pela desobediê ncia de um
só homem, assim també m pela obediê ncia de um homem muitos serã o
constituı́dos justos” (Rm 5:19). Assim como Adã o extinguiu a vida
divina em sua alma e nas almas de seus descendentes, Cristo veio para
restaurar essa vida divina e nos capacitar a compartilhá -la. A maioria
de nó s recebe essa vida divina, quando somos bebê s, por meio do
sacramento do batismo.
O batismo tira a mancha do pecado original, mas a concupiscê ncia
permanece conosco. Nossos impulsos e paixõ es, embora bons em si
mesmos, estã o fora de ordem, e isso não é bom.
A concupiscê ncia se autoperpetua e nos puxa para baixo. Achamos as
criaturas atraentes porque Deus as fez assim, como amostras de Sua
gló ria, para nos levar a agradecê -Lo, louvá -Lo e amá -Lo ainda mais. Mas
tendemos a pegar essas coisas criadas e torná - las os objetos inais de
nosso desejo - seja um cô njuge ou amigo, chocolate ou á lcool, livros ou
carros. Quanto mais satisfazemos nossos desejos apaixonados, mais
eles se apoderam de nó s e mais aumentam nossa necessidade
deles. Quanto mais precisamos desses bens criados, menos sentimos a
necessidade de Deus - embora seja Ele quem nos deu os bens do
mundo!
A concupiscê ncia nos torna vulnerá veis, tentá veis. Somos tentados por
este mundo por meio de nossa concupiscê ncia. Mas só porque
alimentamos pensamentos errados, nã o signi ica que somos
culpados. Só quando permitimos que esses pensamentos comecem a
nos entreter é que cometemos um pecado real por dentro - e, a menos
que nos arrependamos rapidamente, em breve os cometeremos
externamente.
Para superar os efeitos da concupiscê ncia, devemos primeiro saber o
que sã o. A tradiçã o nomeia trê s.
1. Nossos intelectos estão obscurecidos. Nossa faculdade de raciocı́nio
agora recebe orientaçã o de nossas glâ ndulas e intestinos. E somente
com a graça de Deus, a verdade revelada e nosso pró prio esforço que
podemos pensar alé m dos sussurros de nossa carne.
2. Nossas vontades estão enfraquecidas. A vontade só pode desejar o
bem. Mas a vontade atua sobre os dados fornecidos pelo intelecto, que
agora está trabalhando nas trevas. Assim, nossa vontade é
freqü entemente mal direcionada - nã o para com Deus como nosso im
ú ltimo, mas para com as criaturas como nosso im pró ximo. A vontade
ainda escolhe coisas boas; ela apenas escolhe bens inferiores, bens
aparentes. Ningué m sempre escolhe o mal como mal, mesmo a pessoa
que comete suicı́dio ou assassinato. Hitler achava que estava fazendo o
bem ao livrar o mundo dos judeus, ciganos e padres cató licos. E assim
que a natureza humana pode se tornar distorcida, uma vez que a
concupiscê ncia tenha ré dea solta.
3. Nossos apetites estão desordenados. Nosso desejo por comida,
sono, intimidade sexual - tudo isso é bom em si mesmo, quando é
ordenado a Deus, como foi criado para ser. Mas, por causa da
concupiscê ncia, eles se tornam desordenados; e assim nossos corpos
tê m a tendê ncia de nos arrastar para a gula, preguiça, luxú ria e outros
pecados habituais.
Você pode ver os estragos da concupiscê ncia agora. O intelecto está
obscurecido, por isso nã o está alimentando a vontade. Assim, a vontade
ica ainda mais enfraquecida. Finalmente, os desejos da carne se
tornaram desordenados porque a alma nã o está mais governando o
corpo como deveria.

Punido pelo prazer


Já devemos compreender melhor o grito de Sã o Paulo: “Desventurado
homem que sou! Quem me livrará deste corpo de morte?" (Rom
7:24). Como Paulo, també m devemos ter certeza de que nossa
libertaçã o vem de Jesus Cristo, nosso Senhor. Devemos, no entanto,
aprender a discernir o chamado de Cristo ao arrependimento em nossa
vida cotidiana, pois esses sã o os momentos designados de nossa
libertaçã o.
O pecado começa, para nó s, com nossos desejos
desordenados. Primeiro, somos tentados por um anseio por algo que
nã o deverı́amos ter. Nosso primeiro nı́vel de obrigaçã o, entã o, é resistir
à tentaçã o: rejeitar o desejo e nos retirar da situaçã o que está nos
agitando.
Se nã o o izermos e pecarmos, temos uma obrigaçã o mais grave e difı́cil,
porque nos colocamos em maior perigo. Devemos agora nos
arrepender de nosso pecado particular, confessá -lo e fazer penitê ncia
por ele.
Mas e se nã o nos arrependermos? E se, em vez disso, voltarmos para
outra rodada do prazer proibido? Uma vez que deixamos de cumprir o
segundo nı́vel de obrigaçã o, enfrentamos o castigo de Deus. Mesmo
isso, entretanto, nã o é o que poderı́amos esperar. Deus normalmente
nã o pune pecadores enviando um raio de um cé u ensolarado. A pior
puniçã o que podemos receber é a atraçã o que o pecado exerce sobre
nó s. Quando as pessoas escolhem um prazer proibido, a puniçã o pelo
pecado passa a ser o prazer que experimentam ilicitamente, porque
uma vez que o experimentam, o desejam mais. Se Deus nos abandona
aos nossos prazeres ilı́citos, descobrimos que nã o podemos mais
resistir a eles. Em pouco tempo, estamos viciados. Somos dependentes,
co-dependentes ou viciados.
Uma vez que somos isgados pelo pecado, nossos valores sã o virados de
cabeça para baixo. O mal se torna nosso “bem” mais urgente, nosso
desejo mais profundo; o que é realmente bom é considerado um “mal”
porque ameaça nos impedir de satisfazer nossos desejos ilı́citos. Nesse
ponto, o arrependimento torna-se quase impossı́vel, porque o
arrependimento é , por de iniçã o, um afastamento do mal e em direçã o
ao bem; mas, agora, o pecador rede iniu completamente o bem e o
mal. Isaı́as disse sobre esses pecadores: “Ai dos que chamam o mal de
bem e o bem de mal” (Is 5:20).
A concupiscê ncia descontrolada é a puniçã o de Deus por pecados
impenitentes, e é uma puniçã o adequada ao crime. Quando as pessoas
persistem em escolher o bem menor, Deus acaba removendo suas
restriçõ es. No primeiro capı́tulo de sua Carta aos Romanos, Sã o Paulo
explica que “Deus entregou [os pagã os] na concupiscê ncia de seus
coraçõ es à impureza ... porque eles trocaram a verdade sobre Deus pela
mentira e adoraram e serviram a criatura em vez de o criador ”(Rom 1:
24-25). “Deus os entregou à s paixõ es vergonhosas” (1:26) e “a uma
mente vil e a uma conduta impró pria” (1:28). Ao punir as pessoas, Deus
respeita sua liberdade. Ele “os entrega” à s concupiscê ncias, à s paixõ es e
à conduta que eles pró prios escolheram. Mas quando Deus - Quem lhes
deu vida - os abandonou, eles podem estar mais mortos?
Vou repetir: o prazer de pecar é o primeiro castigo pelo pecado. Isso é
uma surpresa para a maioria das pessoas. Pensamos na puniçã o divina
como uma vingança pela qual Deus se vingará dos pecadores. Mas as
piores puniçõ es temporais que Deus permite sã o os apegos que surgem
de pecados escolhidos livremente.
Bê bados, por exemplo, nã o começam como bê bados. Eles começam se
embebedando uma vez, depois novamente, e entã o
novamente. Portanto, se desejamos á lcool e nã o moderamos esse
desejo, icamos intoxicados; e a embriaguez é o castigo pelo pecado de
beber excessivamente. Nesse ponto, devemos perceber que falhamos
em nosso dever inicial de resistir à tentaçã o; devemos entã o nos
arrepender, confessar e fazer penitê ncia. Mas se nã o nos
arrependermos - se, em vez disso, voltarmos para outra bebedeira -
entã o sentiremos em nossas almas o peso desse bem ilı́cito nos
puxando para baixo, para mais longe de Deus.
E o que acontece quando o intelecto está obscurecido e a vontade
enfraquecida. Tornamo-nos quase incapazes de nos arrepender, a nã o
ser por alguma intervençã o divina - um acidente de carro, abandono de
nossa famı́lia, despejo de nossa casa, perda de um emprego. Quando
ocorre um desastre, o pecador geralmente pensa que Deus inalmente
está acordando e começando a puni-lo. Mas isso nã o é ira divina; é a
misericó rdia divina, salvando o pecador de um destino pior e eterno.
O que vemos entã o como puniçõ es, como có lera, sã o realmente os
lashes de luz sú bita e brilhante que Deus envia para iluminar uma
alma escurecida pela concupiscê ncia e pelo pecado.

Ira como metáfora, ira como real


E importante que entendamos as puniçõ es de Deus da maneira certa. O
Antigo Testamento fala da “ira” de Deus ou Sua “ira” 168 vezes. No
entanto, podemos dizer com convicçã o que Deus nã o “ ica zangado”; Ele
nã o nos “pune” em sua “fú ria”. Pois Deus é eterno e imutá vel; assim, Ele
nã o sofre os movimentos e mudanças que os seres humanos
experimentam em nossas emoçõ es e paixõ es.
Quando a Bı́blia fala da “ira” de Deus, está falando metaforicamente,
como costuma fazer. Pense, por exemplo, na referê ncia do Salmista à
“destra de Deus e ao seu santo braço” (Sl 98: 1). Isso nã o signi ica que
Deus tenha membros e membros, assim como nã o tem emoçõ es e
paixõ es. Santo Tomá s de Aquino explica: “Quando a Escritura fala do
braço de Deus, o sentido literal nã o é que Deus tenha tal membro, mas
apenas o que é signi icado por esse membro, a saber, o poder operativo”
( Summa Theologica 1.1.10 ad 3m).
O que a metá fora representa? Raiva é uma palavra relacional. Se
estamos com raiva, devemos ter um objeto de nossa raiva - algué m de
quem estamos com raiva. Visto que a raiva nã o pode se referir
apropriadamente a algo na Trindade - pois o Deus imutá vel nã o tem
raiva eterna - ela nã o pode se referir à s relaçõ es eternas de Deus. Deve,
entã o, falar de uma relaçã o temporal entre Deus e o homem. Santo
Tomá s é ú til aqui: “Assim, conosco, é comum que um homem irado
castigue, de modo que a puniçã o se torne uma expressã o de
raiva. Portanto, a pró pria puniçã o é representada pela palavra raiva,
quando a raiva é atribuı́da a Deus…. [Ainda assim,] a raiva nunca é
atribuı́da a Deus de forma adequada, uma vez que em seu signi icado
primá rio inclui a paixã o ”( Summa Theologica , 1.19.11, c).
A ira , a raiva e o castigo divinos sã o termos que nos ajudam a
compreender as açõ es em nossas vidas e na histó ria pelas quais Deus
realiza a justiça e restaura a ordem. Mas esses nã o sã o os trapos de um
"juiz enforcado". Eles sã o, ao contrá rio, o instrumento de Sua
misericó rdia e bondade. Os castigos de Deus sã o como os castigos de
um pai amoroso ou a pressã o da vara e do cajado do pastor que nos
guiam nos caminhos certos. Eles sã o corretivos, restauradores,
redentores, medicinais. Disse Sã o Paulo: “A bondade de Deus visa
conduzir-vos ao arrependimento” (Rm 2,4).

Verdade e Conseqüências
A ira de Deus foi de inida como "os maiores desastres e golpes que
podem atingir as pessoas como resultado do pecado, como 'puniçã o'
que está ligada ao pecado porque Deus o quis." Sã o Paulo disse:
“Sabemos que o juı́zo de Deus recai sobre aqueles que fazem tais
coisas” - isto é , sobre os que pecam (Rm 2, 2).
Deus freqü entemente nos pune de maneiras que nã o esperamos. Mas
Suas puniçõ es nunca sã o vingativas ou arbitrá rias; eles sã o as
consequê ncias inevitá veis de nossas escolhas livres. Na verdade, Suas
puniçõ es - mesmo a puniçã o inal e eterna do inferno - sã o as pró prias
salvaguardas da liberdade humana e da certeza do amor divino. Pois
nenhum amor pode ser coagido. Devemos ser livres para escolher o
amor de Deus ou - tragicamente, em ú ltima instâ ncia - para rejeitá -
lo. Se nã o tivé ssemos a opçã o de escolher o pecado e o inferno, nã o
poderı́amos ter a liberdade de verdadeiramente escolher e amar a
Deus. Se Deus nã o nos permitisse dizer nã o a Ele, nosso sim seria inú til,
a resposta programada de uma má quina.
Precisamos enfrentar o fato de que, quando pecamos e optamos por
algo em vez de Deus, obteremos o que escolhemos.
Infelizmente, porque devemos fazer nossa escolha usando faculdades
enfraquecidas pela concupiscê ncia, será sempre uma luta. A
concupiscê ncia só pode nos arrastar em uma direçã o: para baixo, para
longe de Deus. Alé m disso, sua gravidade é avassaladora, dominando-
nos de corpo e alma.
Podemos começar a superar a concupiscê ncia por meio do autodomı́nio
e da abnegaçã o - na verdade, devemos fazer isso - mas mesmo isso nã o
é su iciente. Precisamos da ajuda que só Deus pode dar: a graça que Ele
dispensa gratuitamente no sacramento da penitê ncia. Essa graça opera
com poder divino e criativo; ele cria de novo o coraçã o que o pecado
desordenado, des igurado, e desgraçado.

CAPITULO 7
T HE t hemes DE D ELIVERANCE : C ONFESSION AS C OVENANT
W HO SERA ENTREGUE me do corpo desta morte?” (Rom 7:24). Sã o Paulo
deu voz a um grito que ecoou milê nios, desde o tempo do pecado
original. Aqueles que tinham fé em Deus també m tinham fé que Deus
os “libertaria”, de alguma forma, da “lei do pecado e da morte” (Rm 7:
2) - a consciê ncia - que governava seus corpos despoticamente.
O perdã o sacramental é uma maneira poderosa de experimentar essa
libertaçã o tã o esperada.
"Quem me livrará deste corpo de morte?" Paulo respondeu à sua
pró pria pergunta sem hesitar, sabendo que Deus havia enviado Jesus
como seu libertador. "Quem me livrará deste corpo de morte?" (Rom
7:24). “Cristo Jesus me libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 7:
2). “Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor!” (Rom 7:25).
Qual a forma dessa libertaçã o? As Escrituras e a Tradiçã o Cristã usam
uma sé rie de termos para o evento e o fato. Eles falam de expiação,
redenção, salvação, justi icação e santi icação, entre outros termos. A
maioria dos cristã os, talvez, trate essas palavras como sinô nimos
intercambiá veis. As palavras sã o, ao mesmo tempo, excessivamente
familiares para nó s, por sua repetiçã o em oraçõ es e frases piedosas, e
ainda assim nã o sã o familiares para nó s em relaçã o à realidade
cotidiana e rotineira. Para o cristã o mé dio, essas palavras signi icam
pouco fora de seu contexto religioso. Assim, a mente tende a se desligar
sempre que as sı́labas latinas começam a se acumular.
Aqueles que reservam um tempo para re letir sobre cada termo à s
vezes icam um pouco melhor. Pois as palavras representam uma
confusã o de realidades que parecem estar em con lito ou contradiçã o
mú tua: militar, religiosa, mercantil, legal. Nossa libertaçã o começa a
parecer uma mistura imprová vel de metá foras.
No entanto, nã o foi assim para aqueles que primeiro experimentaram
sua libertaçã o. Nã o era assim com Sã o Paulo, para quem todas aquelas
metá foras representavam uma ú nica experiê ncia unitá ria. Foi uma
experiê ncia comum a ele, aos outros apó stolos, a Jesus, a seus
ancestrais em Israel e a seus vizinhos no mundo antigo.
Deus sempre explica o que é desconhecido em termos do que é
conhecido. E todos esses termos - redenção, salvação, justi icação,
santi icação - vê m juntos em uma ú nica realidade que era conhecida
por toda a Igreja e Israel antigos. Eles vieram juntos na noçã o
de aliança .

Casa do pacto
Para entender a noçã o de aliança, devemos primeiro entender a cultura
do antigo Israel, na qual a grande e extensa famı́lia de inia o mundo de
um determinado indivı́duo. A famı́lia - a tribo, o clã - constituı́a a
identidade primá ria de um homem ou mulher, ditando onde eles
viveriam, como trabalhariam e com quem deveriam se
casar. Freqü entemente, as pessoas usavam um sinal conspı́cuo de sua
identidade familiar, como um anel de sinete ou uma marca distintiva no
corpo.
Uma naçã o no antigo Oriente Pró ximo era em grande parte uma rede
dessas famı́lias, visto que Israel compreendia as doze tribos nomeadas
em homenagem aos ilhos de Jacó . Uni icar cada famı́lia era o vı́nculo da
aliança, com todos os seus direitos, deveres e lealdades
concomitantes. Quando uma famı́lia dava as boas-vindas a novos
membros por meio de casamento, adoçã o ou alguma outra aliança,
ambas as partes - os novos membros e a tribo estabelecida - selavam o
vı́nculo do convê nio, geralmente jurando solenemente um juramento
sagrado, compartilhando uma refeiçã o em comum e oferecendo um
sacrifı́cio . O grande estudioso da Bı́blia Dennis J. McCarthy, SJ, escreveu:
“Nã o há dú vida de que os convê nios, até mesmo os tratados, eram
considerados como estabelecendo uma espé cie de unidade quase
familiar. No vocabulá rio té cnico desses documentos, um parceiro
superior era chamado de 'pai', seu ' ilho' inferior, e parceiros iguais
eram 'irmã os'. ”
Cada uma dessas famílias extensas era uma unidade econômica . Na
verdade, era literalmente uma economia. A palavra economia vem do
grego oikonomia , que signi ica "lei da casa". O mercado, com sua
compra e venda, era um assunto de famı́lia. A pro issã o de um homem
nã o era tanto uma questã o de escolha pessoal, mas sim de necessidade
familiar.
Cada família extensa era uma unidade militar . A famı́lia cuidava de si
mesma e estava preparada para defender seu povo, suas terras e seu
comé rcio. Se um membro da famı́lia estivesse em perigo de alguma
forma, a famı́lia enviaria um parente-redentor - em hebraico, go 'el -
para resgatar a vı́tima ou vingar o crime (ver Gn 14: 14–16).
Cada família extensa era uma unidade religiosa . A famı́lia estava unida
na pro issã o de religiã o e na prá tica do sacrifı́cio. Os pais
desempenhavam um papel sacerdotal, oferecendo sacrifı́cios por sua
famı́lia e passando o ofı́cio para seus ilhos primogê nitos. O deus da
famı́lia era o deus de seus ancestrais, os patriarcas: “O Deus de Abraã o e
de Isaque e de Jacó , o Deus de nossos pais” (Atos 3:13).
Cada família extensa era governada por seus próprios tribunais . A
famı́lia tendia a julgar suas pró prias disputas e processar crimes
cometidos por seus membros, contra seus membros ou em suas
terras. Os anciã os tribais serviam como juı́zes (ver Ex 18: 21–26; Dt 1:
12–17; e Dt 21:19).

Em outras palavras
O relacionamento de Deus com Seu povo escolhido foi de inido por uma
aliança. Portanto, a Escritura freqü entemente descreve sua interaçã o,
como podemos esperar, em termos familiares. Mas,
por familiar, devemos incluir també m o leque de atividades descritas
acima: econô micas, militares, religiosas e jurı́dicas. Assim, chegamos ao
vocabulá rio usado para a libertaçã o de Deus.
Econômico. A libertaçã o aqui encontra expressã o na linguagem do
mercado: “Fostes comprados por preço” (1 Cor 7:23). A palavra
també m pode descrever a compra de um escravo ou o resgate de um
cativo. O Novo Testamento usa desta forma, mas com uma reviravolta
familiar: “Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para redimir os que estavam sob a lei, a im de que possamos receber
adoçã o de ilhos” ( Gal 4: 4-5). Sã o Paulo també m relaciona a redençã o
com o perdã o dos pecados e a cura da concupiscê ncia: “Nosso grande
Deus e Salvador Jesus Cristo… se entregou por nó s para nos redimir de
toda iniqü idade e puri icar para si um povo Seu zeloso pelo bem obras
”(Tit 2: 13-14).
Militares. As vezes, as Escrituras retratam nossa libertaçã o na
terminologia do campo de batalha: o vingador-parente libertando seu
povo de seus captores ou inimigos. No ato de initivo de resgate, Jesus
nos salva do pecado: “O Senhor me livrará de todo mal e me salvará
para o seu reino celestial” (2 Tim 4,18). Ouvimos ecos disso també m na
Oraçã o do Senhor, onde Jesus nos ensinou a orar: “livra-nos do Maligno”
(Mt 6,13). O tema aparece, mais tarde, em Efé sios (6: 10-17), no qual
Paulo fala longamente sobre a guerra espiritual e nossa necessidade de
“revestir a armadura de Deus” (ver també m Is 59: 15-21).
Religioso (ou litúrgico). A palavra se refere literalmente ao ato de
tornar santo. No Antigo Testamento, o encontramos usado para
descrever os ritos de puri icaçã o relacionados com o Templo de
Jerusalé m e seu sacrifı́cio sacerdotal. Homens e mulheres puri icaram-
se na preparaçã o para o sacrifı́cio do Templo e, por sua vez, tornaram-
se mais puros com o sacrifı́cio do Templo. No Novo Testamento, é o
sacrifı́cio de Jesus Cristo - mediado pelos sacramentos - que puri ica a
Igreja e seus membros: “Lavaram as suas vestes e as branquearam no
sangue do Cordeiro” (Ap 7:14). “Mas fostes lavados, fostes santi icados,
fostes justi icados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espı́rito do
nosso Deus” (1 Cor 6,11). Nossa puri icaçã o, nossa santi icaçã o,
acontece por meio de nosso batismo.
Jurídico. Aqui vemos a salvaçã o descrita em termos legais, como a
exoneraçã o de nossos muitos pecados diante de Deus como nosso
juiz. Esta també m é a obra de Jesus Cristo, que ganhou nossa absolviçã o
permitindo-nos compartilhar Sua pró pria vida irrepreensı́vel. “Eles sã o
justi icados pela sua graça como um dom, pela redençã o que há em
Cristo Jesus” (Rm 3:24). “E o dom gratuito nã o é como o efeito do
pecado [de Adã o]. Pois o julgamento apó s uma transgressã o trouxe
condenaçã o, mas o dom gratuito apó s muitas transgressõ es traz
justi icaçã o. Se, por causa da transgressã o de um homem, a morte
reinou por esse homem, muito mais aqueles que recebem a abundâ ncia
da graça e o dom gratuito da justiça reinarã o em vida por meio de um
homem Jesus Cristo ”(Rm 5: 16-17).

Ensino Substituto
Redenção, salvação, santi icação, justi icação - embora todos esses
termos possam entregar a palavra salvadora de Deus, precisamos
redescobrir como eles convergem na ú nica realidade da aliança.
Nenhum estudioso ou leitor sé rio da Bı́blia nega que a aliança era uma
ideia central - na verdade, a ideia central - no antigo Israel. Todos
aceitam a palavra; temos menos certeza, no entanto, sobre o que a
palavra representa. Estamos tã o distantes no tempo e no espaço que é
difı́cil superar a distâ ncia conceitual. E á rduo para nó s reconstruir o
que parecia tã o natural para os escritores bı́blicos, mas que agora
parece nã o natural para nó s.
No entanto, quando começamos a juntar as peças da experiê ncia
israelita de aliança, logo nos encontramos descrevendo a realidade
vivida nesses quatro conjuntos de
termos: militar , mercantil , legal e litúrgico . E isso nã o é apenas uma
curiosidade histó rica. Pois quando aplicamos nossas descobertas
histó ricas ao raciocı́nio teoló gico, descobrimos que a teologia cató lica
oferece muito para remediar o que está faltando no trabalho de muitos
pregadores nã o cató licos. Ouça os sermõ es de muitos evangelistas na
TV e no rá dio, e logo você pegará alguns lugares-comuns: por exemplo,
que Deus puniu nosso pecado em Cristo; que o Pai nã o viu mais Seu
Filho unigê nito, mas apenas o nosso pecado, e por isso Ele desabafou
Sua ira sobre Jesus. Entã o - de acordo com essa leitura - a troca legal foi
concluı́da. Jesus assumiu nossa culpa e puniçã o, e recebemos Sua
justiça e recompensa.

Poupança mútua
O problema dessa troca legal é que é uma icçã o legal, uma troca
falsa. Jesus nã o era culpado do crime e, portanto, realmente nã o
poderia ser punido por isso. As convençõ es legais em Israel eram
semelhantes à s que conhecemos hoje. Se eu dani icasse a propriedade
de algué m e fosse considerado culpado em um tribunal de pequenas
causas, meu vizinho poderia intervir e pagar uma dı́vida que eu nã o
poderia pagar. Danos econô micos podem ser transferidos ou trocados -
mas nã o penalidades criminais. Se eu fosse considerado culpado de
assassinato, o mesmo vizinho nã o poderia se apresentar para ser
executado ou encarcerado em meu nome. As penalidades criminais,
entã o como agora, nã o podiam ser suportadas por substitutos.
Se Cristo tivesse meramente servido como nosso substituto,
poderı́amos corretamente perguntar por que ainda temos que suportar
a puniçã o por nossos pecados: Por que ainda devemos sofrer e
morrer? Como nosso substituto, Cristo deveria ter eliminado a
necessidade de nosso sofrimento.
Mas, de acordo com a ló gica da aliança - e o ensino da Igreja - Ele nã o
era nosso substituto penal. Ele era, ao contrá rio, nosso representante
legal; e, visto que Sua paixã o salvadora era representativa, ela nã o nos
isenta do sofrimento, mas sim confere nosso sofrimento com poder
divino e valor redentor (veja Colossenses 1:24).
Sim, a irmamos que Jesus pagou uma dı́vida que nã o tinha (porque
tı́nhamos uma dı́vida que nã o podı́amos pagar). Economicamente, a
teoria da substituiçã o funciona; mas no direito penal, nã o. Para um
homem inocente ser punido em nosso lugar seria uma espé cie de
injustiça. Isso por si mesmo indicaria uma cegueira divina ou loucura
temporá ria. A inal, como o Pai poderia “nã o ver” Seu ú nico Filho,
especialmente no momento em que o Filho está pendurado ali por total
obediê ncia e amor ao Pai? Claro, o Pai podia ver o Filho, e nunca a
humanidade de Cristo foi tã o bela como quando Ele foi pendurado na
cruz em amorosa submissã o à vontade do Pai!
Essa pregaçã o - de um Pai cego em vingança contra um Filho inocente -
é inaceitá vel e beira a blasfê mia. Exige ser corrigido e completado pelo
ú nico princı́pio que veri ica todas as metá foras da açã o salvadora de
Deus.
Precisamos conhecer a aliança. Mas, para entendê -lo, primeiro
precisamos icar na ponta dos pé s e espiar por cima da parede de nossa
cultura e ver o que tornou o Evangelho tã o sensato para os cristã os do
primeiro sé culo. Era a famı́lia da aliança entendida em termos jurı́dicos,
litú rgicos, econô micos e militares. Esse era o entendimento da famı́lia
natural e tribal de Israel. E o entendimento hoje na famı́lia sacramental
universal da Igreja, onde experimentamos guerra espiritual, trabalho
redentor e sofrimento, adoraçã o ritual e um tribunal no qual nos
declaramos culpados e pedimos misericó rdia: o sacramento da
con issã o.

Rite Turns
Cristo veio para cumprir os antigos convê nios de todas as
maneiras. Assim, vemos todos os aspectos da vida familiar do Antigo
Testamento lorescerem no Novo.
Em Seus convê nios com Adã o, Noé , Abraã o, Moisé s e Davi, Deus abriu a
condiçã o de membro de Sua famı́lia do convê nio para cada vez mais
pessoas: primeiro para um casal, depois para uma famı́lia, depois para
uma tribo, depois para uma naçã o, depois para um reino - até que,
inalmente, o convite se tornou universal com Jesus. A “verdadeira
famı́lia” de Cristo consiste naqueles que recebem um novo nascimento
como ilhos de Deus por meio do batismo (Jo 3: 3-8), e que continuam a
compartilhar Sua vida por meio dos sacramentos. Eles se tornam Seus
irmã os mais novos (ver Rm 8: 14-15,29).
Os sacramentos sã o agora o meio pelo qual homens e mulheres sã o
incorporados à famı́lia da aliança de Deus. Os sacramentos també m
servem para renovar a aliança e restaurá -la quando ela foi quebrada.
Os sacramentos marcam o juramento da aliança, a refeiçã o comum e o
sacrifı́cio do cristã o. A pró pria palavra sacramento dá testemunho
desta verdade. Como eu disse anteriormente, a palavra sacramento vem
do latim sacramentum , que signi ica “juramento”, e a palavra foi
aplicada aos ritos da Igreja desde os primeiros dias. O historiador
romano pagã o Plı́nio, o Jovem, registrou (por volta de 110 DC ) que os
cristã os de sua é poca se reuniam antes do nascer do sol para cantar
hinos a Cristo, apó s o que eles "se comprometiam por um juramento
solene ... de nunca cometer qualquer fraude, roubo ou adulté rio, para
nunca falsi icar sua palavra. ” Plı́nio passou a dizer que depois de jurar
este sacramentum, os cristã os se dispersariam e se reuniriam mais
tarde para receber a Eucaristia.
Parece muito com a “con issã o” antes da Comunhã o registrada
anteriormente, em Didache de meados do primeiro sé culo . Na verdade,
parece muito com o tipo de con issã o que Jesus prescreveu como o pré -
requisito adequado para nossa participaçã o em Seu sacrifı́cio: “Se você
está oferecendo a sua dá diva no altar, e aı́ lembre-se de que seu irmã o
tem algo contra você , deixe a sua dá diva ali diante do altar e
vá ; reconcilie-se primeiro com o seu irmã o, depois venha e ofereça o
seu presente ”(Mt 5,23-24).
Ser “reconciliado com seu irmã o” - aos olhos de seu Deus Pai - é ser
totalmente restaurado à famı́lia. E esse vı́nculo familiar é o que Deus
restaura aos cristã os no sacramento da con issã o. A con issã o nos
restaura à fraternidade e irmandade dentro da Igreja, que é a famı́lia de
Deus na terra; e nos restaura como ilhos de Deus, em Cristo, na eterna
Famı́lia de Deus no cé u.
Uma vez reconciliados, podemos, com o coraçã o puro, retornar ao altar
do sacrifı́cio. Lá podemos receber o sangue do novo e eterno convê nio -
o sangue de Cristo, pelo qual somos resgatados, justi icados,
santi icados e salvos.

The Son Set


O perdã o é um grande presente, mas é o penú ltimo presente. A intençã o
é nos preparar para algo ainda maior. Os cristã os sã o salvos nã o
apenas do pecado, mas para a iliaçã o - iliaçã o divina em Cristo. Nã o
somos apenas criminosos que foram exonerados; somos ilhos e ilhas
adotados. Somos ilhos de Deus, “ ilhos no Filho” e compartilhamos a
vida da Trindade.
De fato, somos perdoados pela graça de Deus, mas nã o meramente
perdoados; somos adotados e divinizados. Ou seja, nó s “nos tornamos
participantes da natureza divina” (2 Pedro 1: 4). Em ú ltima aná lise, é
por isso que Deus criou o homem, para compartilhar o amor vivi icante
da Trindade. O amor abnegado é a lei essencial da aliança de Deus, que
o homem quebrou, mas Jesus cumpriu. Por meio da encarnaçã o, Deus
transformou a natureza humana em uma imagem perfeita - e um
instrumento - do amor da Trindade, oferecendo-a como uma doaçã o
sacri icial ao Pai em nosso nome. O Filho de Deus “assumiu a forma de
servo” (Fp 2: 6) para que os servos pecadores sejam restaurados como
ilhos de Deus. Como Santo Ataná sio declarou: “O Filho de Deus tornou-
se Filho do Homem para que os ilhos dos homens pudessem se tornar
ilhos de Deus”.
O efeito essencial da con issã o, entã o, é permitir nosso perdã o para que
possamos ser restaurados à vida trinitá ria. Como ilhos adotivos, os
cristã os podem “chamar Deus de 'Pai', em uniã o com o Filho unigê nito”
( CCC, n. 1997).

CAPITULO 8
C Learing O H EIR : S ECRETS DE OS P RODIGAL S NO

C ONFISSAO E um assunto de famı́lia. E uma reuniã o de famı́lia. E o retorno


de um ilho rebelde à casa da famı́lia e aos braços do Pai.
Para os cristã os ao longo da histó ria, o sacramento foi mais do que uma
doutrina. E uma histó ria - a histó ria de uma queda e uma ascensã o,
estranhamento e reconciliaçã o. E a histó ria da pró pria vida de cada
um. Mas sempre que os cristã os falam sobre o sacramento,
inevitavelmente falam dele, assim como Jesus fez, em termos de
uma histó ria particular , uma histó ria de famı́lia. Essa histó ria é a
pará bola do ilho pró digo (Lc 15: 11-32).

Um ilho rebelde continua


Jesus nos fala de um homem rico que tinha dois ilhos. O ilho mais
novo perguntou se ele poderia receber sua parte da herança agora, em
vez de esperar até a morte do pai, e o pai atendeu ao seu desejo. O
jovem ilho prontamente fez as malas e viajou para um paı́s distante,
onde desperdiçou sua propriedade com uma vida perdida. E quando ele
gastou tudo, sua falê ncia pessoal coincidiu com um desastre
natural. Uma fome veio. Entã o ele conseguiu um emprego alimentando
porcos. O jovem estava com tanta fome que teria comido com prazer a
comida dos porcos, mas ningué m lhe ofereceu nada.
Por im, ele recobrou o juı́zo e pensou: “Quantos servos contratados de
meu pai tê m pã o su iciente e de sobra, mas eu perco aqui de fome! Irei
me levantar e ir ter com meu pai e dizer-lhe: 'Pai, pequei contra o cé u e
contra ti; Nã o sou mais digno de ser chamado de seu ilho; trate-me
como um de seus servos contratados. ' ”
Entã o ele começou a longa jornada de volta para casa. Enquanto ele
ainda estava a alguma distâ ncia, seu pai o avistou. Dominado pela
compaixã o, o pai desceu correndo a estrada, abraçou o ilho e beijou-o.
E o ilho começou o discurso que havia ensaiado: “Pai, pequei contra o
cé u e contra ti; Nã o sou mais digno de ser chamado de seu ilho ... ”Mas
o pai nã o o deixou terminar. Em vez disso, o velho voltou-se para seus
servos, dizendo: “Tragam rapidamente a melhor tú nica e vestam-no; e
colocar um anel em sua mã o e sapatos em seus pé s; e traga o bezerro
cevado e mate-o, e comamos e nos alegremos; pois este meu ilho
estava morto e reviveu; ele estava perdido e foi encontrado. ” E entã o a
festa começou.
Enquanto isso, o ilho mais velho estava voltando do trabalho no
campo; ao se aproximar da casa, ele ouviu mú sica e dança. Ele chamou
um dos servos e perguntou o que estava acontecendo. O servo explicou
tudo, enquanto o irmã o icou furioso. Ele se recusou a entrar.
O pai saiu e implorou a ele. Mas o ilho mais velho respondeu: “Eis que
todos esses anos tenho servido a você e nunca desobedeci à sua
ordem; no entanto, você nunca me deu um ilho, para que eu pudesse
me divertir com meus amigos. Mas quando este seu ilho veio, que
devorou sua vida com prostitutas, você matou para ele o bezerro
cevado! ”
O pai respondeu: “Filho, você está sempre comigo e tudo o que é meu é
seu. Convinha alegrar-se e alegrar-se, porque este seu irmã o estava
morto e está vivo; ele estava perdido e foi encontrado. ”
Mesma história de sempre?
Os crentes meditaram sobre essa histó ria e icaram maravilhados com
ela por dois milê nios. Poetas cantaram sobre isso. Os maiores artistas
tentaram capturá -lo na tela, no má rmore e nos vitrais. Os pregadores
re letiram sobre isso com frequê ncia e trovejaram sua mensagem de
seus pú lpitos. A histó ria foi recontada, reformulada, revisada e
expandida em romances, contos, programas de TV e ilmes. A pará bola
do ilho pró digo é provavelmente uma das trê s ou quatro histó rias mais
conhecidas do mundo.
Por isso mesmo, poré m, devemos parar um pouco aqui, fazer uma
pausa e estudá -lo mais de perto, em seu contexto e em seus pequenos
detalhes. Pois podemos nos familiarizar demais com uma
histó ria. Podemos nos tornar tã o familiares que iltramos tudo, exceto
os momentos familiares. Nã o ouvimos palavras; vemos imagens como
as evocamos anos atrá s, ou conforme as lembramos de nossa Bı́blia de
famı́lia ilustrada. Pulamos adiante, entã o, para as conclusõ es que
tiramos quando “descobrimos” pela primeira vez ou quando um
pregador explicou seu signi icado para nó s. Uma histó ria familiar é
aquela em que presumimos que nã o precisamos pensar.
Com algumas histó rias, talvez, isso seja verdade, mas nã o com as
pará bolas de Jesus Cristo. Pois Suas histó rias vê m do mesmo gê nio
divino que formou o universo do nada. Deus escreveu o mundo da
maneira como os autores humanos escrevem livros. Entã o, quando Ele
coloca Sua mente em uma histó ria, você pode apostar que seu
signi icado, como o do mundo, será inesgotá vel.
Com esta histó ria, precisamos dar um passo atrá s e considerar o
quadro maior. Precisamos olhar para a histó ria como Jesus a contou e
Sã o Lucas a relatou, em seu contexto literá rio, histó rico e cultural.
Todos os quatro evangelhos sã o ricos em material sobre misericó rdia,
mas nenhum tanto quanto o de Lucas. Somente Lucas nos fala do “bom
ladrã o” que, apó s uma vida de pecado, ganha seu lugar no paraı́so com
seu ú ltimo suspiro, pendurado ao lado de Jesus na cruz (ver Lc 23: 39-
43). Quando Lucas nos mostra Jesus contando a histó ria do ilho
pró digo, vem em uma seçã o repleta de pará bolas - histó rias terrenas
com signi icados celestiais - e a maioria dessas histó rias trata, em certo
sentido, de misericó rdia.

O que o fariseu viu


O que desencadeia o amplo ensino de Jesus sobre a misericó rdia? O
contexto imediato é a reclamaçã o dos fariseus sobre Jesus. Ficam
indignados por ele se sentar e comer com homens de má
reputaçã o. “Agora os cobradores de impostos e pecadores estavam
todos se aproximando para ouvir Jesus. E os fariseus e os escribas
murmuravam, dizendo: 'Este homem acolhe pecadores e come com
eles' ”(Lc 15,1–2). Nã o foi a primeira vez que izeram essa
reclamaçã o. Em outra ocasiã o, Jesus respondeu-lhes breve e
bruscamente: “Nã o precisam de mé dico os que estã o bem, mas sim os
enfermos; Nã o vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento
”(ver Lc 5: 30–32). Mas aparentemente eles nã o aceitaram Sua
resposta.
Jesus e os fariseus eram semelhantes em um sentido: ambos
consideravam a comunhã o à mesa extremamente importante. Para
todos os judeus piedosos, as refeiçõ es comuns tinham um signi icado
religioso e eram regidas por certas rubricas litú rgicas. Houve bê nçã os
junto com o partir do pã o ritual e talvez a partilha de uma taça de
vinho. A pró pria ideia de “fast food” pareceria uma blasfê mia para eles.
Os fariseus observavam essas tradiçõ es escrupulosamente. Eles nã o
permitiam que suas refeiçõ es fossem profanadas pela presença de
pecadores, gentios ou outros considerados “impuros” (mulheres
menstruadas, por exemplo, ou qualquer pessoa que tocasse em um
cadá ver). Essa exclusividade era essencial, nã o acidental, para a
identidade dos fariseus. De todas as tradiçõ es das antigas escolas dos
fariseus Hillel e Shammai, 67% tratam da comunhã o à mesa e da
pureza. O pró prio nome fariseu foi derivado da palavra
hebraica parushim , que signi ica "os separados". Eles se mantiveram
distantes da turba com quem Jesus fazia suas refeiçõ es.
Jesus, por outro lado, parecia se deleitar com o tipo de pessoa que
formava as “grandes multidõ es” que O acompanhavam (Lc 14,25). Ele
falou metaforicamente em termos de um homem rico que planejou um
banquete, mas que foi rejeitado por todos os tipos de pessoas
"melhores" - os proprietá rios de terras, pro issionais e mercadores - e
entã o disse a seus servos para trazer os rejeitados da sociedade: "Vá
para fora para os caminhos e valados, e obrigam as pessoas a entrar,
para que a minha casa se encha ”(Lc 14,23).

Achados e perdidos
Os fariseus murmuraram: "Este homem recebe pecadores e come com
eles!"
Visto que respostas simples e diretas nã o pareciam funcionar, Jesus
respondeu desta vez, no dé cimo quinto capı́tulo do evangelho de Lucas,
contando trê s histó rias: a pará bola da ovelha perdida, a pará bola da
moeda perdida e a pará bola da perdida ilho. Esta ú ltima é mais
conhecida como a pará bola do ilho pró digo.
Em cada pará bola, a posse perdida é algo valioso. Considere a ovelha
perdida. Nas terras onde Jesus pregava, as pessoas dependiam de
ovelhas para lã , comida e sacrifı́cios rituais. Para um pastor, uma ú nica
ovelha perdida signi icava renda perdida ao longo de vá rios
anos. Assim, o pastor deixa seus noventa e nove para buscar o ú nico
extraviado. Considere, també m, a "moeda perdida". Era um dracma, o
salá rio de um dia para um homem saudá vel. As mulheres tinham muito
menos in luê ncia econô mica e, portanto, um dracma perdido pode
signi icar dias sem refeiçõ es para a heroı́na da histó ria.
Mas quem poderia dar valor ao ilho perdido?
A histó ria do ilho pró digo começa com uma famı́lia: um pai e seus dois
ilhos. Os trê s estã o unidos por laços de sangue, mas ainda mais por
laços de aliança. E a ordem da aliança - a ló gica da aliança - que
sustenta a pará bola e molda o drama.
Um pai nunca poderia estabelecer um preço por seu ilho. O jovem,
poré m, estava disposto a vender-se barato - embora achasse o preço
bastante extravagante. Ele perguntou se poderia sacar imediatamente
de sua parte da propriedade da famı́lia. Este foi um pedido
estranho. Era considerado incomum e até vergonhoso um ilho exigir
sua herança com antecedê ncia - como se estivesse impaciente com a
morte do pai. O Livro de Sirach, escrito pouco antes da vida de Jesus,
estabelece o tempo adequado para conceder uma herança: “No
momento em que acabares os dias da tua vida, na hora da morte,
distribui a tua herança” (Sir 33:23) . Um ilho que corresse o dia
pareceria desrespeitoso, no mı́nimo.
O pai, no entanto, atendeu ao pedido do ilho, e o menino passou a se
comportar como se o pai realmente tivesse morrido. O ilho pró digo
nã o perdeu tempo em fazer as malas e deixar sua famı́lia para trá s. Nã o
devemos perder o signi icado de sua “viagem a uma terra distante” (Lc
15,13). Ao deixar para trá s as terras da famı́lia, estava se colocando fora
da aliança, abandonando os costumes de seu povo, abandonando o
Deus de seus pais. Ele estava escolhendo viver como um gentio.
Seu comportamento subsequente con irmou isso. Jesus resume isso
como uma “vida perdida” (Lc 15:13). Sem um pai para cuidar dele, o
jovem cedeu aos seus desejos já desordenados, que se tornaram ainda
mais degradados. Seu irmã o mais velho nos informa que as prostitutas
foram as primeiras bene iciá rias da prodigalidade do jovem (Lc 15:30).
A falê ncia moral do ilho mais novo chegou bem antes de sua ruı́na
inanceira, que veio no momento em que a fome atingiu seu paı́s de
residê ncia. Depois de meses entregando-se a todos os caprichos, ele
agora nã o conseguia nem mesmo satisfazer suas necessidades fı́sicas
bá sicas. Ele estava morrendo de fome. Entã o, ele aceitou o ú nico
trabalho disponı́vel para ele - e foi o trabalho mais degradante que um
judeu poderia imaginar. Ele trabalhava como pastor de porcos,
cuidando do mais impuro dos animais (ver Lv 11:17). Trabalhando para
um empregador gentio, esperava-se que ele violasse o sá bado semanal
també m (ver Ex 20: 8-11). Somente as condiçõ es mais desesperadoras
forçariam o ilho a assumir essa posiçã o vergonhosa.
Alé m disso, ele descobriu que sua pró pria sorte era muito pior do que a
dos porcos. Eles, pelo menos, eram alimentados em intervalos
regulares. Ningué m demonstrou preocupaçã o semelhante com sua
alimentaçã o. Ele se viu ansiando pelas cascas e vagens que jogava para
o rebanho; mas nenhum estava pró ximo.

Homeward Bound
Anteriormente, eu disse que a ruı́na moral e inanceira do jovem
“coincidiu” com o desastre natural de uma fome. Nã o quero dizer,
entretanto, que isso foi uma ocorrê ncia casual. Foi coincidente,
simultâ neo, mas nã o foi um acidente. Na verdade, eu diria que foi
providente. Pois apenas tal catá strofe poderia ter ocasionado a
conversã o do ilho pró digo. Nã o foi uma onda calorosa de nostalgia que
o colocou no caminho para a casa de seu pai. Era fome, vergonha e
medo da morte. Quando voltou a si, percebeu que seria melhor viver
como um escravo de seu pai do que morrer, em uma terra estrangeira,
como um escravo de sua sensualidade. Enquanto ele ansiava por provar
a raçã o para porcos, os servos mais humildes em casa tinham “pã o de
sobra” (Lc 15,17).
Entã o ele começou seu retorno, e certamente a longa jornada parecia
mais longa ainda com o estô mago vazio. No momento em que avistou as
terras de seu pai, sua fome e vergonha devem ter sido tã o insuportá veis
quanto seu odor.
Seu pai o avistou de longe. Como poderia ser se ele nã o estivera sempre
à procura do ilho perdido?
O velho entã o faz algo notá vel. Ele corre pela estrada para
cumprimentar seu ilho. Isso era quase um tabu cultural. Era
considerado impró prio para um nobre correr. Mas esse patriarca
deixou de lado sua grandeza e dignidade para saudar seu ilho e
derramar seu amor sobre ele. Ele abraça o ilho - a frase grega é mais
evocativa: ele “caiu sobre o pescoço” (Lc 15,20).
O ilho começou a dar voz ao discurso preparado, mas depois de
algumas palavras o pai ouviu o su iciente. “Pai, pequei contra o cé u e
contra ti.” A contriçã o do ilho era imperfeita, apenas um pouco mais do
que um desejo ardente por uma barriga cheia e uma cama quentinha,
mas foi o su iciente. Pois ele tinha vindo para sua casa e reconheceu seu
pecado.
O comentarista do sé culo III Orı́genes observa que foi somente depois
que o ilho mostrou alguma pequena contriçã o - somente depois que
ele fez sua con issã o - que o pai o trouxe para casa. “Ele nã o
acrescentaria o pecado 'contra o cé u' se nã o acreditasse que o cé u é sua
pá tria e que errou quando o deixou. Entã o, tal con issã o deixa seu pai
bem disposto a ele. ”
Entã o, de repente, um pecado que tinha sido mortal - um pecado que
matou a iliaçã o do menino, sua herança e sua vida familiar - foi
instantaneamente perdoado, absolvido, retirado: “pois este meu ilho
estava morto e está vivo novamente ”(Lc 15:24).

Um endosso de toque
E uma histó ria notá vel - apenas algumas linhas, na verdade, no
evangelho. No entanto, tudo está lá : a lei do pecado, a espiral
descendente da concupiscê ncia, o intelecto cada vez mais
obscurecido; a mortalidade por pecado grave, a “morte” moral do
ilho; a severa misericó rdia da providê ncia de Deus, os desastres; e a
prontidã o de Deus para sair e encontrar os pecadores no meio do
caminho, enquanto eles ainda estã o no caminho da verdadeira
contriçã o.
O que o ilho recebe ao se reconciliar com o pai? O “melhor manto”, um
anel para sua mã o, sapatos para seus pé s e um banquete em sua
homenagem (Lc 15: 22–23). Cada um desses presentes tem um enorme
valor simbó lico. O anel de sinete é o emblema da famı́lia da aliança, à
qual o ilho é restaurado. Junto com o manto, é um sinal de sua
participaçã o na autoridade de seu pai. (Para obter os paralelos do Velho
Testamento, ver Gê nesis 41:42; Est 3:10; 1 Mac 6:15.) Os sapatos sã o a
marca distintiva de um homem livre. Os escravos domé sticos
normalmente andavam descalços. Embora o ilho tenha escolhido ser
escravo de suas paixõ es e, depois, de senhores pagã os - e embora ele
implorasse para ser feito escravo em suas terras ancestrais - seu pai
nã o aceitou nada disso. A juventude nã o foi libertada da escravidã o
pagã apenas para desfrutar de um tipo melhor de escravidã o. Ele foi
salvo para a iliaçã o; e se ele é um ilho, entã o ele é um herdeiro,
compartilhando da autoridade de seu pai.
Mas primeiro ele deve compartilhar a vida de seu pai, e assim
compartilhar sua mesa! A narrativa se move da estrada para o salã o de
banquetes, da con issã o para a festa, do afastamento para a comunhã o
de mesa. A palavra grega mais comumente usada para essa comunhã o
é koinonia , que à s vezes traduzimos como "comunhã o". O pai devolve o
ilho à comunhã o no lugar onde todos tê m “pã o de sobra”.
Do pai pró digo, o que podemos dizer? Sem hesitar: “Este homem recebe
pecadores e come com eles!”

Big Brother está assistindo


Nã o devemos, entretanto, esquecer que há um terceiro personagem
neste drama. E se a pará bola de Jesus é dirigida principalmente aos
fariseus, entã o esse personagem é talvez o mais importante de
todos. Acredito que sim, e muitas vezes chamo essa histó ria de pará bola
do irmã o mais velho.
Pois a atitude do irmã o mais velho re lete a amargura dos fariseus (Lc
15,2), que erroneamente viram a aceitaçã o dos pecadores por Deus
como uma violaçã o da justiça da aliança. Pense por um momento sobre
a fó rmula clá ssica de um juramento de aliança:

Eu chamo o cé u e a terra para testemunhar contra você neste dia, que
eu coloquei diante de você a vida e a morte, a bê nçã o e a
maldiçã o; portanto, escolha a vida, para que você e seus descendentes
possam viver, amando o Senhor seu Deus, obedecendo à Sua voz e
apegando-se a Ele; pois isso signi ica vida para você e extensã o de dias,
para que você possa habitar na terra que o Senhor jurou a seus pais. (Dt
30: 19–20)

Pecadores sã o aqueles que, por de iniçã o, violaram o juramento da


aliança, transgrediram a lei, escolheram a morte, escolheram a
maldiçã o e perderam o direito de viver na pá tria como ilhos e
herdeiros. O ilho pró digo é , por de iniçã o, um grande pecador que
mereceu toda a força da maldiçã o.
O irmã o mais velho, como os fariseus, se enfurece com ressentimento
contra uma injustiça percebida; e ele, como os fariseus, nã o começa a
entender a ló gica do amor da aliança.
Na verdade, existem consequê ncias que devem seguir-se à violaçã o de
um convê nio. Mas també m há uma maneira de voltar para casa. A
aliança é um vı́nculo familiar, nã o uma carta de escravidã o. Uma aliança
quebrada pode ser restaurada e renovada.
O problema do irmã o mais velho (como dos fariseus) é que ele nã o
pensa em termos de famı́lia, mas em termos de escravidã o. Sua fala o
trai. Embora tenha sido constante em seus trabalhos, ele trabalha com a
atitude triste de um escravo, meramente obedecendo à s “ordens” de
seu mestre (Lc 15,29). Ao contrá rio de seu irmã o mais novo, ele nunca
se dirige ao velho como "Pai", mas "você ". Nem o primogê nito jamais se
refere ao jú nior como “irmã o”, apenas “este seu ilho” (Lc
15:30). Mesmo no ciú me do banquete do irmã o mais novo, o irmã o
mais velho nã o deseja um jantar em famı́lia, mas uma festa com os
amigos - “um menino, para me divertir com os amigos” (Lc 15,29). Esta
é a retó rica da escravidã o, nã o da iliaçã o.

Problema Perpétuo
Jesus dirigiu sua pará bola a certas pessoas que estavam diante
dEle. Eles eram fariseus que queriam fazer uma lei já impossı́vel de
cumprir e torná -la ainda mais difı́cil. Ele certamente nã o pretendia que
a histó ria fosse antijudaica, como alguns crı́ticos acusaram; pois o
pró prio Jesus era um judeu praticante que louvava o poder duradouro
da lei de Moisé s (ver Mt 5:18).
Alé m disso, o problema nã o é peculiar aos irmã os mais velhos, nem aos
fariseus, nem a nenhum grupo religioso especı́ ico. E nosso
problema. Pertence a todas as idades e pessoas. E um pecado
recorrente entre os justos que se orgulhem de sua retidã o; eles
reivindicam cré dito por suas boas açõ es; e desejam impor uma
obrigaçã o correspondente a Deus. E uma perversã o da aliança, e tem
sido tã o difundida sob a Nova Aliança como sob a Antiga.
A maioria das heresias que a Igreja sofreu foram erros de hiperpureza,
nã o de hiperfrouxidã o. No sé culo III, os montanistas icaram
escandalizados com o comportamento indolente de alguns clé rigos e,
por isso, se destacaram; eles se separaram dos pecadores. Pouco tempo
depois, os donatistas julgaram a Igreja muito branda em readmitir
traidores. Eles decidiram celebrar sua pró pria Eucaristia, apenas por
convite. Todas essas heresias mais puras do que você (e muitas mais)
encontraram escâ ndalo no desejo da Igreja de "receber pecadores e
comer com eles". Em vez de uma comunhã o cada vez maior, eles
escolheram o caminho do separatismo, exclusivismo e divisã o - o
caminho escolhido por aqueles fariseus de longa data.
A Igreja, como Cristo, nã o poderia acomodar esta doutrina. Esta é a
razã o pela qual nó s, cató licos, professamos, nas palavras dos antigos
credos, nossa crença no “perdã o dos pecados”. Nó s professamos isso
porque sempre há algumas pessoas que irã o negar isso.

Sem medo
O drama da pará bola vai da escravidã o à iliaçã o, da excomunhã o à
comunhã o à mesa, da con issã o à comunhã o. O pai deixou de lado sua
grandeza e dignidade e se humilhou para participar da condiçã o de seu
ilho, para que este pudesse mais uma vez ter uma vida elevada na
famı́lia. Esse era o jeito do pai pró digo. Era o caminho do pró prio Deus,
que se encarnou para que o homem se divinizasse: “Que possamos vir a
compartilhar da divindade de Cristo, que se humilhou para participar
da nossa humanidade”.
Esta nã o é apenas uma histó ria de muito tempo atrá s e muito
distante. E a nossa histó ria, assim como a histó ria de Sã o Paulo, que
escreveu o que poderia ser um comentá rio à pará bola de Jesus: “Porque
nã o recebestes o espı́rito de escravidã o para voltar ao medo, mas
recebestes o espı́rito de iliaçã o. Quando choramos, 'Abba! Pai!' é o
pró prio Espı́rito testi icando com o nosso espı́rito que somos ilhos de
Deus e, se ilhos, herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo
”(Rm 8: 15-17).
Deus continua a nos encontrar no meio do caminho para o
arrependimento. Ele nos encontrou de uma vez por todas em Sua
encarnaçã o. Ele nos encontra agora mesmo no confessioná rio, para que
possa nos guiar até a Sua mesa, onde está o Pã o da Vida - “pã o
su iciente e de sobra”.

CAPITULO 9
E XILES EM M AIN S TREET :
N S T RUE H OME Um MANEIRA DE H OME

E ACH DE NOS é o ilho pró digo de Deus. Fugimos de casa e perdemos os


dons que nosso Pai nos concedeu. Em nossas escolhas, preferimos as
tentaçõ es de uma terra estrangeira ao amor e à liberdade que os ilhos
desfrutam na casa de seus pais. Tudo isso acontece sempre que
pecamos. Voltamos para nosso Pai sempre que voltamos ao
sacramento da penitê ncia.
No entanto, inevitavelmente, pecamos novamente e voltamos para
casa. Ao contrá rio do ilho pró digo, nã o conheceremos
nosso retorno de initivo ao lar até o momento de nossa morte - que,
idealmente, deveria ocorrer logo apó s nossa ú ltima con issã o.
Até aquele momento, devemos viver nossas vidas como se estivé ssemos
em “um paı́s distante” - diferente de nosso verdadeiro lar - um paı́s
estranho, encantador para os sentidos e cheio de coisas boas. E tã o
delicioso, de fato, que poderia nos fazer esquecer nossa pá tria.
Novamente, somos como o ilho pró digo. E pela bondade de nosso Pai
que podemos visitar este paı́s. Nã o poderı́amos ter chegado aqui sem
Suas riquezas para pagar pelo caminho. Nã o poderı́amos sobreviver
aqui sem nossa parte de Sua fortuna. Pois Deus criou o mundo onde
vivemos como estranhos, e Ele o manté m na existê ncia; e Ele també m
nos criou.
Devemos viver neste mundo, entã o, como bons ilhos de nosso Pai,
embora estejamos longe de casa e nosso Pai nã o nos obrigue a isso.

Sojourners 'Truth
Ao longo de sua vida na terra, os cristã os vivem como se estivessem no
exı́lio do cé u. Um cristã o anô nimo do segundo sé culo expressou desta
forma: “Habitando cidades gregas, bem como cidades bá rbaras ... eles
seguem os costumes dos nativos no que diz respeito a roupas, comida e
o resto de sua conduta normal. Eles moram em seus pró prios paı́ses,
mas simplesmente como peregrinos. Como cidadã os, eles
compartilham todas as coisas com os outros, mas suportam todas as
coisas como se fossem estrangeiros. Cada terra estrangeira é como um
paı́s nativo para eles, e cada terra de seu nascimento é como uma terra
de estranhos ”(Epı́stola a Diogneto 5).
Deus nos fez para o cé u, mas nos fez na terra. Por enquanto, o cé u está
separado de nó s nã o por anos-luz de espaço, mas por nossos
pecados. Nã o conheceremos os confortos de nosso lar celestial até que
cheguemos ielmente ao im de nossa separaçã o e sejamos puri icados
de nossos pecados. Até aquele dia, vivemos, em um grau ou outro, no
exı́lio.
Mesmo assim, Deus nosso Pai criou nosso lugar de exı́lio, e é um bom
lugar. Na verdade, Ele fez o mundo para que seus prazeres - embora
nunca possam nos satisfazer completamente - nos lembrem de nosso
verdadeiro lar no cé u. Todos os bens terrenos sã o meros exemplos de
perfeiçõ es celestiais. O escritor espiritual padre John Hugo colocou
desta forma:

A beleza, a bondade, a verdade, toda excelê ncia contida nas criaturas


é … in initamente multiplicada na bondade sem limites de
Deus…. Glori icamos a Deus por meio das criaturas quando as vemos
como amostras ou raios da beleza e bondade divinas e, portanto, uma
escada e meio para nos aproximarmos de Deus e amá -Lo, fonte de todo
bem criado. Depois disso, esse amor de Deus, o bem supremo, abrange
todas as criaturas que usamos, tocamos ou manejamos. Nã o os
buscamos como meta inal, nã o colocamos nossa felicidade neles, mas
eles se tornam um meio de amar Aquele que é nosso verdadeiro e
ú ltimo bem, nossa alegria e nossa real realizaçã o.

Deus planejou as coisas deste mundo para que, por sua incapacidade de
nos satisfazer, nos impelam cada vez mais para o cé u.
Eles deveriam, mas nã o necessariamente . Pois somos homens e
mulheres e nã o bestas ou á rvores. A realizaçã o de nosso objetivo inal
nã o vem instintivamente para nó s, como acontece com os esquilos,
leõ es e cã es - ou inexoravelmente, como acontece com os vulcõ es,
continentes e estrelas. A razã o e a natureza podem indicar o que é
melhor para nó s. Mas ainda somos livres para escolher o contrá rio. Um
mé dico ou confessor pode nos dizer clara e explicitamente o que
precisamos fazer. Mas ainda podemos fazer outra coisa. Devemos
escolher o bem livremente. E resta a questã o de nossa pró pria vontade
e intelecto, que estã o feridos pela concupiscê ncia.
As delı́cias deste mundo tê m o poder de nos enfeitiçar. Devidamente
ordenados, eles devem estimular nosso apetite por Deus. Mas, por
causa da concupiscê ncia, tendemos a desenvolver apetites
desordenados pelos pró prios bens terrenos. Queremos mais deles do
que realmente precisamos. Tornamo-nos viciados neles. Em breve, nó s
os escolherı́amos em vez do que é realmente bom para nó s. Preferimos
pecar do que deixar um desejo terreno insatisfeito.
A de iniçã o clá ssica de pecado é "afastar-se de Deus e voltar-se para as
criaturas". Nã o é que as criaturas sejam má s; na verdade, eles sã o muito
bons, pois foram criados por Deus. No entanto, escolhemos mal quando
decidimos desfrutar das criaturas em vez de amar a Deus, fazer Sua
vontade e seguir Seus mandamentos. Colocar uma criatura no lugar de
Deus é o que nossos ancestrais quiseram dizer com a
palavra idolatria . Todo pecado é , em certo sentido, uma forma de
idolatria: preferir a criatura ao criador, o presente ao doador.
Este mundo é tã o maravilhoso que é fá cil para nó s “ir atrá s do gosto”
em nossos momentos fugazes na terra e esquecer nosso destino
eterno. Esquecemos que somos exilados, longe de casa, e gostarı́amos
de poder simplesmente nos estabelecer confortavelmente nesta terra -
nã o importa o quanto nossa nova cidadania possa nos custar.

Ande como um egípcio?


Nã o é por acaso que o enredo da histó ria da salvaçã o gira com mais
frequê ncia em histó rias de ê xodo, exı́lio, peregrinaçã o e peregrinaçã o
sem rumo. Adã o e Eva foram expulsos do Jardim do Eden (Gê nesis 3:
23–24). Como consequê ncia de seu fratricı́dio, Caim teve que deixar sua
terra natal e viver com medo na Terra das Peregrinaçõ es (Gn 4: 12-
14). Pelos pecados do mundo, Noé teve que sair em um barco enquanto
as á guas inundavam todas as terras (Gn 9). Os cidadã os de Babel se
rebelaram contra o Senhor Deus, que “os espalhou dali sobre a face de
toda a terra” (Gn 11: 8). Abraã o viveu em prosperidade em Ur dos
Caldeus até que Deus o chamou para fazer uma viagem imprová vel a
uma terra distante (Gn 12: 1).
O povo de Deus está sempre a caminho . Nã o há como icar parado em
sua vida terrena. Eles (e nó s) estã o progredindo em peregrinaçã o para
Deus e para Sua terra prometida, ou vagando, vagando ou fugindo para
outro lugar.
Os primeiros cristã os viam esses eventos histó ricos como sı́mbolos ou
“tipos” de realidades espirituais. A escravidã o dos israelitas no Egito
representou o estado da humanidade em escravidã o ao pecado
original. Os israelitas nã o conseguiram se libertar por seus pró prios
esforços. Deus teve que livrá -los milagrosamente. E, mesmo assim, o
povo escolhido teve que subjugar muitos inimigos, por dentro e por
fora. Pois, ao longo de 430 anos (ver Ex 12:40), até mesmo o melhor
dos israelitas havia se assimilado muito bem à cultura egı́pcia. Eles
desenvolveram há bitos mentais, corporais e espirituais que precisavam
ser superados. Esse é um dos motivos pelos quais Deus ordenou que
eles sacri icassem certos animais - os mesmos animais que o Egito
pagã o considerava divinos. Os sacrifı́cios dos israelitas eram um
repú dio violento de suas antigas in idelidades a Deus, quando adotaram
as superstiçõ es de seus captores. Deus sabia que há bitos desenvolvidos
ao longo dos sé culos só poderiam ser erradicados com
di iculdade. Assim, Ele impô s a Israel uma lei exigente, um regime
abrangente que prescrevia minuciosamente novos costumes para dieta,
higiene, sexo e adoraçã o.
O novo caminho era difı́cil para o povo escolhido; na verdade, para
muitos, os anos de peregrinaçã o no deserto pareciam muito piores do
que os sé culos de opressã o e trabalho forçado. Eles icaram nostá lgicos
com o tempo da escravidã o, quando pelo menos suas barrigas estavam
cheias. “Quem vai nos dar carne para comer? Pois estava bem conosco
no Egito…. Por que saı́mos do Egito? ” (Num 11:18, 20).
Israelitas que não deixam o touro
E nã o eram apenas suas barrigas que gemia depois de sua partida do
Egito. Eles també m construı́ram uma imagem dourada de Apis, um
bezerro, o deus egı́pcio da virilidade, e conduziram uma orgia lá no
deserto (Ex 32: 1-6).
Israel era seu pior inimigo, mas certamente nã o o ú nico. No caminho
para a ocupaçã o da terra prometida, os israelitas tiveram que
conquistar sete naçõ es poderosas que se opuseram ao seu avanço.
Tudo isso, segundo os Padres da Igreja, é como a situaçã o da
humanidade. Nascemos escravos. E por isso que o perı́odo servil de
Israel com o Egito é uma imagem tipoló gica da alma no pecado
original. E també m por isso que Israel sendo conduzido atravé s do Mar
Vermelho é um sı́mbolo do batismo (ver 1 Cor 10: 1–4). Deus nos
libertou, por meio do batismo, da escravidã o do pecado original, mas
ainda sofremos seus efeitos colaterais na concupiscê ncia
prolongada. Portanto, é apenas com di iculdade que abandonamos os
há bitos pecaminosos. Alé m disso, nossa natureza corrupta continua a
ansiar pelos prazeres sensuais que acompanham uma vida de
escravidã o ao pecado. Se quisermos nos libertar da terra de nosso
exı́lio, devemos matar esses anseios - nossa concupiscê ncia. Devemos
sacri icar, em nossas vidas, as coisas criadas que os pecadores tendem a
transformar em ı́dolos.
Precisamos nos disciplinar para resistir à tentaçã o. Precisamos nos
treinar para fazer guerra contra o mundo, a carne concupiscente e o
diabo. Os pais da Igreja salientaram que, como os israelitas, nó s
també m devemos conquistar sete “naçõ es” antes de podermos
reivindicar a terra prometida do cé u. As naçõ es pagã s representam os
sete pecados capitais tradicionais: orgulho, raiva, gula, luxú ria,
preguiça, inveja e ganâ ncia.

Público cativo
Existe, de acordo com os primeiros cristã os, um segundo grande evento
histó rico que simboliza a pecaminosidade humana. E o cativeiro de
Judá na Babilô nia. Embora esse exı́lio tenha sido muito mais breve do
que a escravidã o no Egito, nã o foi menos mortal para o modo de vida
judaico.
Por volta do sé culo VI aC , o povo escolhido estava enfraquecido e
dividido por muitas geraçõ es de lutas civis. O rei babilô nico
Nabucodonosor teve poucos problemas para conquistar a terra de Judá
e torná -la um estado vassalo da Babilô nia. Ele drenou a terra de seus
melhores e mais brilhantes cidadã os, deportando-os para sua terra,
para servir ao seu reino. Lá , por setenta anos, eles serviram bem e
foram recompensados e respeitados por seu trabalho. Muitos homens
judeus tomaram esposas babilô nicas. Muitos comerciantes
aprenderam novas habilidades com seus colegas babilô nios. Os cativos
izeram grandes avanços, por exemplo, na ciê ncia da astronomia, na
pro issã o de banqueiro e na tecnologia da moeda.
O povo escolhido prosperou na terra de seu cativeiro. Talvez tenham se
saı́do bem lá , pois alguns começaram a perder a esperança de voltar
para a Judé ia. Eles se acostumaram com a lı́ngua babilô nica, as ruas da
Babilô nia, os costumes da Babilô nia. Novamente, como no Egito, eles
começaram a afrouxar sua observâ ncia religiosa e a adotar os mé todos
de seus captores. Aqueles que permaneceram ié is ao Deus de Israel
tiveram que lutar fortemente, invocando uma maldiçã o sobre si
mesmos se eles se sentissem muito confortá veis em seu cativeiro:

Se eu te esquecer, ó Jerusalém,
deixe minha mão direita murchar!
Deixe minha língua agarrar-se ao céu da boca,
se eu não me lembro de você,
se eu não colocar Jerusalém acima da minha maior alegria! (Sal 137: 5-
6)

O iel exilado recusa-se a permitir-se até consolos legı́timos, por medo


de que aliviem a dor da sua separaçã o de casa. Ele nega a si mesmo a
alegria de cantar suas cançõ es favoritas “junto à s á guas da Babilô nia”
(v. 1).
Como a escravidã o egı́pcia era um tipo de pecado original, entã o - para
os pais da Igreja - o cativeiro babilô nico representava o pecado
real. Uma coisa é nascer como uma criança israelita no Egito. Outra bem
diferente é ser levado ao exı́lio como consequê ncia direta de seus
pecados reais. Babilô nia foi um cativeiro provocado pela escolha dos
cativos e entã o sustentado por sua escolha. A medida que cresciam com
os confortos materiais em uma terra pagã , eles se esqueceram de como
era ser livre em sua terra natal. Por que eles deveriam trocar sua
prosperidade, segurança e conforto pela difı́cil e arriscada tarefa de
reassentar e reconstruir Jerusalé m?
Por que, també m, os pecadores deveriam evitar a fraude - mentir para o
IRS - quando é tã o lucrativo? Por que abandonar a gula quando os
melhores alimentos estã o à mã o? Por que fugir da raiva quando as
crı́ticas mais inteligentes vê m tã o prontamente à mente?
Pode ser confortá vel permanecer em pecado. Mas o conforto da
Babilô nia tem um custo: nossa liberdade, nossa cidadania, nossa
herança.

Próximas atrações
“Criaturas in ié is! Você nã o sabe que a amizade com o mundo é
inimizade com Deus? Portanto, quem quer ser amigo do mundo torna-
se inimigo de Deus ”(Tg 4: 4).
Somos exilados no mundo e nunca devemos perder de vista esse
fato. Nunca devemos esquecer quem somos, de onde viemos e para
onde vamos. Devemos viver na terra, mas devemos viver para o cé u.
Portanto, como o povo eleito, devemos “matar” a idolatria que
permanece em nó s. Como os cativos da Babilô nia, devemos negar a nó s
mesmos nã o apenas os prazeres pecaminosos, mas uma certa medida
dos prazeres legı́timos; pois eles podem servir de isca na armadilha do
mundo. E por nossa crescente atraçã o e apego aos bens mundanos que
nos afastamos, em graus cada vez maiores, de Deus.
E por isso que Jesus ensinou os apó stolos a jejuar. E por isso que os
apó stolos continuaram a jejuar depois que Jesus ascendeu ao cé u. E por
isso que a abnegaçã o sempre foi uma marca registrada do verdadeiro
Cristianismo, tornada o foco dos quarenta dias da Quaresma todos os
anos.
E també m por isso que Jesus podia dizer, nas bem-aventuranças: “Bem-
aventurados você s, pobres ... Bem-aventurados aqueles que tê m fome ...
Bem-aventurados aqueles que choram ... Bem-aventurados sois quando
os homens vos odeiam, e quando vos excluem e insultam, e expulsam o
teu nome como mal ”(Lc 6: 20-23). Todas essas calamidades, disse Ele,
sã o motivo de regozijo.
Nã o devemos perder o valor de choque das palavras de Jesus. Mesmo
depois de vinte sé culos de pregaçã o cristã , eles ainda sã o uma reversã o
radical dos valores mundanos. Como o sacrifı́cio dos animais sagrados
do Egito, as Bem-aventuranças representam uma “inversã o
normativa”; eles viram nossas expectativas de cabeça para
baixo. Sentimos instintivamente que ser empobrecido, faminto,
enlutado e caluniado é uma maldição . Mas Jesus apresenta todas essas
circunstâ ncias como momentos de bê nçã o. O sofrimento nos ensina o
desapego dos bens deste mundo e, assim, nos liberta para nos
apegarmos aos bens do cé u. Isso é verdade para o sofrimento que é
procurado ativamente (como no caso de jejum, vigı́lia ou peregrinaçã o)
ou sofrimento passivamente suportado (como no caso de uma dor de
dente, uma tempestade ou um trem que está atrasando). O sofrimento
permite-nos dizer com Sã o Paulo: “Mas seja qual for o ganho que tive,
contabilizei como perda por causa de Cristo. Na verdade, considero
tudo uma perda por causa do valor insuperá vel de conhecer a Cristo
Jesus, meu Senhor. Por causa dele, sofri a perda de todas as coisas e as
considero como refugo [literalmente, “como esterco”], a im de ganhar a
Cristo ”(Fl 4: 7-8).
Todas as coisas criadas sã o boas, simplesmente porque Deus as fez. Mas
mesmo as maiores delı́cias - sexo, livros, chocolate, café , vinho - tê m
valor mais pró ximo do lixo ou do esgoto do que de Deus!

Um teste para o abençoado


A medida que nos desapegamos das coisas, viemos (com a ajuda de
Deus) dominar nossos desejos e entregamos o domı́nio a Deus. A
disciplina e a graça divina curam o intelecto e a vontade dos efeitos da
concupiscê ncia. Podemos começar a ver as coisas claramente.
E quanto mais claramente vemos, melhor podemos enfrentar as
tentaçõ es diá rias de nos afastarmos de Deus e em direçã o à s coisas
criadas. Se devemos escolher entre Cristo e esterco, há apenas uma
escolha sensata e racional.
Poucas pessoas icam tã o distantes a ponto de ver as coisas dessa
forma, o tempo todo. No entanto, é isso que Deus quer de cada um de
nó s, e Ele nã o o negará a ningué m que peça e esteja disposto a receber a
graça, a bê nçã o.
Quando enfrentamos uma escolha entre o sofrimento e o pecado,
enfrentamos uma provaçã o, uma prova, uma provaçã o, assim como
Adã o fez, assim como os israelitas izeram no deserto, assim como os
judeus izeram na Babilô nia. Se escolhermos conforto momentâ neo,
segurança e proteçã o ao invé s do amor eterno, Deus respeitará nossa
escolha. Se escolhermos o sofrimento momentâ neo em prol do amor
eterno, nos aproximaremos da felicidade da pá tria, do cé u. Nó s nos
tornaremos mais semelhantes a Deus no seio do pró prio Deus.
Somos movidos pelos apetites que cultivamos. Viajamos na direçã o
para a qual dirigimos nossos corpos, nossos coraçõ es, nossas mentes,
nossos olhos. Mas se desejamos chegar ao nosso destino - se desejamos
um dia estar em casa no cé u - temos que nos afastar de nossos apegos
terrestres e nos voltar diretamente para Deus. Nã o nos fará nenhum
bem virar no meio do caminho; que ainda nos aponta o caminho
errado. Até que rompamos nossos apegos, nossa conversã o nã o será
completa.

Nenhum touro
Esse sacrifı́cio nunca é fá cil. Lembre-se, no capı́tulo 2, que um israelita
fazendo uma oferta pelo pecado tinha que subjugar o animal vı́tima,
amarrá -lo, abatê -lo, estripá -lo, cortá -lo e cantar alguns hinos. A maioria
dos sacrifı́cios que fazemos nã o será tã o sangrento, mas nã o devemos
esperar que sejam mais fá ceis. Um touro pode ser mais fá cil de subjugar
do que um corpo deformado pela concupiscê ncia. Entã o, como agora,
esse sacrifı́cio requer esforço, força, despesa, tempo.
O sacrifı́cio de animais de Israel foi um sinal e um prenú ncio do
sacrifı́cio que viria. Conseqü entemente, quando Cristo veio ao mundo,
Ele disse: “Sacrifı́cios e ofertas nã o desejastes, mas um corpo
preparastes para mim” (Hb 10: 5). Nó s també m oferecemos os desejos
do nosso corpo, os confortos e as delı́cias, em sacrifı́cio por nossos
pecados e por amor a Deus.
“O sacrifı́cio aceitá vel a Deus é um espı́rito quebrantado, um coraçã o
quebrantado e contrito” (Sl 51:17). Se izermos esse começo mı́nimo,
um ato de contriçã o do coraçã o, a graça de Deus compensará o resto.
E se você tiver alguma dú vida sobre a melhor maneira de começar esse
sacrifı́cio, visite o confessioná rio mais pró ximo. A conversã o é possı́vel
sem os sacramentos, mas é á rdua. A graça dos sacramentos facilita
nosso caminho.

CAPITULO 10
K AGORA P AIN , K AGORA L AIN :
T HE S ECRETS DE W VEZ P enance

I N A MAIORIA DA IGREJA documentos, a con issã o é chamado sacramento da


penitê ncia. Usamos os termos indistintamente para denotar o
sacramento, mas eles nã o sã o sinô nimos. A con issão descreve o ato de
contar o pecado de algué m. A penitência descreve duas coisas: uma
atitude e uma açã o. Passamos alguns dos capı́tulos anteriores
examinando o signi icado da con issão. Passaremos este capı́tulo
estudando o signi icado da penitê ncia.
A penitê ncia, considerada como uma atitude, descreve o ó dio pelos
pró prios pecados. A penitê ncia, neste sentido, é uma condiçã o
necessá ria para a con issã o sacramental. Precisamos nos arrepender de
nossos pecados; temos que desprezá -los, até certo ponto.

Crimes de ódio
Quando nossa atitude de penitê ncia é perfeita - quando odiamos nossos
pecados porque eles ofenderam a Deus, a quem amamos - entã o
confessamos nossos pecados com verdadeira contriçã o. Na maioria das
vezes, poré m, temos motivos mistos para odiar nossos pecados. Nó s os
odiamos porque temos vergonha deles, ou porque nos fazem sentir mal,
ou porque temos medo de ser punidos, ou porque causaram efeitos
nocivos em nosso corpo, mente, inanças ou relacionamentos. Esse ó dio
imperfeito aos nossos pecados é chamado de atrito e será su iciente
para uma con issã o vá lida, embora devamos sempre nos esforçar por
uma penitê ncia mais perfeita.
Quando a atitude de penitê ncia é habitual, dizemos que a penitê ncia é
uma virtude. Essa virtude é parte integrante da vida cristã e é uma
graça pela qual devemos orar. Mas també m devemos trabalhar para
crescer na virtude da penitê ncia fazendo atos de penitê ncia - assim
como crescemos nas virtudes da bondade, coragem e laboriosidade,
repetindo muitos pequenos atos de bondade, coragem e trabalho
á rduo. A virtude da penitê ncia, entã o, torna-se parte de nossa vida
cotidiana, um habitat natural e sobrenatural para o sacramento que
compartilha seu nome.
Os atos de penitê ncia, entretanto, nã o se limitam à s con issõ es
sacramentais. Tais atos incluem qualquer ato de abnegaçã o oferecido
para reparar nossos pecados ou os pecados de outras pessoas. No
ú ltimo capı́tulo, mencionei jejuns, vigı́lias e peregrinaçõ es; mas existem
muitos mais. Na verdade, o cristã o que tem a virtude da penitê ncia está
sempre ansioso para fazer sacrifı́cios pelo bem dos outros, e a maioria
deles serã o açõ es silenciosas e comuns - os momentos em que nos
incomodamos por causa do conforto, prazer ou consolaçã o.
Talvez a gente sugira ir ao cinema, porque sabemos que é isso que
nossos companheiros preferem, embora preferı́ssemos ir a um jogo de
bola.
Negamos a nó s mesmos um segundo pedaço de torta - mesmo que seja
o mais delicioso que já provamos - para que outra pessoa possa
apreciá -lo em seu lugar. Ou, por outro lado, pedimos ansiosamente por
um segundo pedaço de torta - mesmo que seja a pior que já provamos -
para que os sentimentos de um padeiro iniciante nã o sejam feridos.
Permanecemos alguns minutos com um colega de trabalho ou vizinho
que achamos chato ou chato. Em vez de nos desculparmos por uma
saı́da rá pida, dedicamos nosso tempo e nossa atençã o.
Concluı́mos tarefas rotineiras com cuidado e prontidã o, embora
preferı́ssemos fazer um tratamento de canal em vez de preencher outro
formulá rio de cinco pá ginas para nosso empregador.
Os melhores atos de penitê ncia sã o aqueles tã o comuns que passam
despercebidos. Nossos melhores dias e nossos dias mais felizes sã o
aqueles que sã o preenchidos com tais açõ es.

Verdade dolorosa
E importante que entendamos isso direito, porque muitas pessoas hoje
- até mesmo alguns cristã os - entendem mal a abnegaçã o cristã . Eles
tentam rejeitá -lo como psicologicamente doente, odioso ao mundo,
sombrio, sem alegria e masoquista. Sem dú vida, existem cristã os que
sã o psicologicamente enfermos, odeiam o mundo, sé rios, tristes e
masoquistas, mas essas caracterı́sticas nã o sã o a causa nem o efeito da
abnegaçã o cristã .
A primeira coisa a esclarecer é que a abnegaçã o vigorosa é uma parte
essencial da fé cristã . Jesus disse: “Se algué m quer vir apó s mim, negue-
se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16:24). “Quem nã o leva a
sua cruz e nã o me segue, nã o pode ser meu discı́pulo” (Lc 14,27). A
abnegaçã o, claramente, nã o é opcional; nã o existe uma forma
alternativa e auto-indulgente de salvaçã o disponı́vel para a
humanidade.
A pró xima coisa a esclarecer é que a abnegaçã o certamente não é uma
negaçã o da bondade do mundo. Os cristã os sacri icam o melhor das
coisas nã o porque acham que o mundo é mau e deve ser morto, mas
porque sabem que o mundo é muito bom - tã o bom que pode nos
distrair do que é muito melhor, desviando-nos de nosso caminho para
casa para o pai. Como os israelitas, podemos desejar retornar ao Egito
ou passear na Babilô nia. Podemos escolher desfrutar uma sé rie de
passatempos agradá veis em vez de nos confessarmos, irmos à missa ou
visitar nossa avó na casa de repouso. Novamente, o pecado nã o é uma
questã o de escolhermos "maté ria má " em vez de "espı́rito bom". E
sempre uma questã o de preferir um bem menor em vez de um bem
maior - ou em vez da pró pria bondade.
Finalmente, devemos a irmar que a dor nã o tem valor por si mesma. Os
cristã os nã o sentem prazer na dor. No entanto, encontramos bê nçã o na
dor, como Cristo encontrou.

Idol Talk
Pode haver alguma dú vida de que os primeiros cristã os seguiram a
admoestaçã o de Jesus de levar uma vida de penitê ncia e
abnegaçã o? Considere apenas Sã o Paulo, que escreveu: “Os que
pertencem a Cristo Jesus cruci icaram a carne com as suas paixõ es e
desejos” (Gl 5, 24).
Se algué m deseja impor uma leitura puramente espiritual ou
metafó rica a esse texto, Paulo é mais especı́ ico em outro lugar. Por
exemplo, ele aceitou de bom grado as adversidades que surgiram em
seu caminho, desde as irritantes do dia-a-dia até as mais crué is
torturas: “trabalhos,… prisõ es, com incontá veis espancamentos, e
muitas vezes perto da morte. Cinco vezes recebi das mã os dos judeus os
quarenta açoites menos um. Trê s vezes fui espancado com varas; uma
vez que eu estava chapado. Trê s vezes naufraguei; Uma noite e um dia
estive à deriva no mar; em viagens frequentes, em perigo de rios, perigo
de ladrõ es, perigo de meu pró prio povo, perigo de gentios, perigo na
cidade, perigo no deserto, perigo no mar, perigo de falsos irmã os; em
labuta e sofrimento, por muitas noites sem dormir, com fome e sede,
muitas vezes sem comida, com frio e exposiçã o ”(2 Cor 11: 23-27).
Paulo recebeu tudo isso em espı́rito de penitê ncia. No entanto, ele nã o
parou por aı́. Ele empreendeu ativamente outras di iculdades, impondo
disciplina ainda mais severa à sua carne. “Eu nã o boxeio como se
estivesse batendo no ar; mas eu soco meu corpo e o submeto, para que
nã o seja eu mesmo desquali icado, depois de pregar aos outros ”(1 Cor
9: 26-27).
Paulo nã o cedeu à auto-indulgê ncia ou à vida fá cil. Muito pelo
contrá rio: Ele sabia que o corpo deveria ser devolvido ao controle
estrito da mente, da alma e da razã o, e que essa nã o era uma tarefa
fá cil. Isso exigia uma certa determinaçã o severa, da qual ele falava nos
termos mais fortes. “Se você viver segundo a carne, morrerá , mas se
pelo Espı́rito matar as obras do corpo, você viverá ” (Rm 8:13). Matar -
essa frase chocante é uma ú nica palavra em latim e em traduçõ es
inglesas anteriores das Escrituras. Tudo se resume à morti icação , que
é sinô nimo de penitê ncia corporal.
“Mate, pois, o que há de terreno em você : fornicaçã o, impureza, paixã o,
desejo maligno e cobiça, que é idolatria. Por causa disso vem a ira de
Deus ”(Colossenses 3: 5).
Atos de abnegaçã o - morti icaçã o e penitê ncia - destroem os obstá culos
ao amor divino e à nossa participaçã o na vida divina. Eles destroem os
ı́dolos de nossa vida, para que nada possa nos distrair de amar a Deus.

Fazer dieta não é rápido o su iciente


Pense nisso em termos da experiê ncia dos israelitas. Para deixar o Egito
para trá s, eles tiveram que experimentar a “inversã o normativa” de
sacri icar os animais sagrados de seus captores. O povo escolhido teve
que “matar” a idolatria que um dia os manteve cativos.
Quando oferecemos atos de penitê ncia a Deus, praticamos um tipo
semelhante de inversã o normativa. Nó s “matamos” os desejos que
cativam nossa mente. Pois o que é que prende nossa atençã o e a
manté m trancada? Comida? Sexo? Dinheiro? Bens materiais - uma casa,
um carro, mó veis?
O que quer que nos mantenha cativos voluntá rios é um ı́dolo e logo
exigirá nossos sacrifı́cios. Os ı́dolos també m exigirã o uma “condenaçã o
à morte” porque os ı́dolos, como Yahweh, sã o deuses invejosos. Pense
em nossos ı́dolos modernos. Por causa do trabalho, muitas pessoas
sacri icam avidamente sua saú de, seu tempo, sua famı́lia. Por causa do
sexo desenfreado, muitos arriscam sua reputaçã o, sua saú de, seu
casamento e até mesmo suas vidas. Pelo consumo guloso, muitas
pessoas estã o dispostas a trocar anos de suas vidas. Nã o vou cansá -lo
com estatı́sticas, embora pudesse. (As doenças sexualmente
transmissı́veis sã o epidê micas. Mais de 61% dos adultos americanos
estã o acima do peso e 27% deles sã o obesos.)
Todos nó s conhecemos o poder cativante desses ı́dolos, a in luê ncia que
eles exercem sobre nossas vidas. Todos nó s sabemos os sacrifı́cios que
eles acabarã o exigindo de nó s; o cirurgiã o geral nos diz isso, com certa
regularidade. Alé m disso, estamos até dispostos a reconhecer que
precisamos fazer algo a respeito desses ı́dolos - matá -los. Existem
poucas verdades tã o evidentes quanto o velho ditado cristã o: O corpo
quer mais do que precisa, portanto, devemos dar menos do que ele
deseja. Sabemos que precisamos fazer dieta. Precisamos passar menos
tempo no trabalho e mais em casa. Precisamos estar menos
preocupados com sexo. E assim por diante. Mas essas soluçõ es naturais
nã o sã o su icientes. Pois existe uma tendê ncia humana absurda de
idolatrar o instrumento natural que destró i nossos ı́dolos. O ex-
bebedor, ex-fumante, ex-gordinho, ex-namorador muitas vezes se torna
um devoto detestá vel e faná tico da dieta da moda ou do programa de
doze passos que o “salvou”.
Nã o devemos cair nessa armadilha. E por isso que precisamos
sobrenaturalizar nossa abnegaçã o - torná -la penitê ncia - oferecê -la a
Deus, o ú nico Deus verdadeiro, o ú nico Deus que salva. Os ı́dolos devem
ser substituı́dos por uma devoçã o pura e divina, e nossa devoçã o deve
ser puri icada por nossa atitude de penitê ncia e nossos atos de
penitê ncia.

A grande imagem
O contexto é a chave aqui. Se nã o vermos o quadro geral, o sacrifı́cio
nã o fará sentido para nó s, ou terá um sentido pervertido.
O contexto de nosso sacrifı́cio é um relacionamento, um
relacionamento pessoal, um relacionamento de amor, um
relacionamento de famı́lia, um relacionamento de aliança.
Nã o é estranho que os membros da famı́lia façam sacrifı́cios pelo bem
uns dos outros. A vida de um pai é razoavelmente de inida por tais
sacrifı́cios. Um pai “mata” as coisas que o impedem de amar seus ilhos
como deveria. Uma mã e “mata” suas irritaçõ es, seus confortos, seus
desejos, para que ela possa ser livre para criar ilhos que sejam felizes,
sá bios e fortes. A criança, com o tempo, aprende a dominar os desejos e
impulsos corporais em prol de uma vida familiar saudá vel (treinamento
para usar o penico, há bitos regulares de sono, nã o comer entre as
refeiçõ es). A criança, por sua vez, torna-se um adulto, um cuidador, que
deve dedicar tempo e atençã o aos pais, conforme a idade e a doença
cobram seu preço.
O amor exige que façamos sacrifı́cios pelo bem de nosso amado. Um
homem apaixonado por uma mulher nã o pensa duas vezes antes de
icar acordado até tarde para escrever um poema de amor. Ele nã o
hesita em oferecer a ela suas luvas em um dia de inverno rigoroso,
mesmo que suas pró prias mã os estejam quase congeladas. Se ela disser
que nã o gosta do sué ter ou da colô nia dele, ele move o assunto ofensivo
para o fundo do armá rio ou para o fundo da lata de lixo. Um homem
apaixonado redobrará seus esforços heró icos se de alguma forma
ofendeu sua amada. Ele quer fazer as pazes rapidamente, sem perder
um minuto para atrasar.
Todos esses sã o atos naturais de abnegaçã o que as pessoas oferecem
espontaneamente por amor. Para aqueles que estã o apaixonados, o
sacrifı́cio vem mais facilmente, e até mesmo as dores suportadas sã o
consideradas doces. Nã o há como questionar a necessidade de
desapego de qualquer coisa que apresente um obstá culo ao
relacionamento.
Assim, vemos que o sacrifı́cio, a abnegaçã o, a penitê ncia e a
morti icaçã o di icilmente sã o atividades estranhas ou incomuns na
ordem natural. Estamos dispostos a nos sacri icar por objetivos que
podemos ver. Devemos aprender a sacri icar por um amor invisı́vel,
matando o pecado, a tentaçã o e a desordem da concupiscê ncia, tudo o
que nos torna propensos a ofender nosso Amado.

Na terra como no céu


O sacrifı́cio, entretanto, nã o é apenas negativo. Nã o é apenas uma
“morte”. E també m uma doaçã o. Nossos pequenos sacrifı́cios
simbolizam a entrega total que é essencial ao amor. Pessoas
apaixonadas se entregam inteiramente.
Com efeito, a Igreja ensina que o amor humano mostra-nos “a certa
semelhança entre a uniã o das Pessoas divinas” e a humanidade, que se
faz à imagem divina. Quando nos entregamos em amor, imitamos a
Deus. Pois “Deus é amor” (1 Jo 4:16), e a essê ncia do amor é vivi icante.
Considere a vida interior da Trindade. O Pai derrama a plenitude de Si
mesmo; Ele nã o reté m nada de Sua divindade. Ele dá toda a sua
vida. Ele é o pai do Filho eternamente. O Pai é , acima de tudo, um
amante que dá vida, e o Filho é sua imagem perfeita. Entã o, o que mais
é o Filho senã o um amante que dá vida? E o Filho dinamicamente
representa o Pai por toda a eternidade, derramando a vida que Ele
recebeu do Pai; Ele devolve essa vida ao Pai como uma expressã o
perfeita de agradecimento e amor. Essa vida e amor, que o Filho recebe
do Pai e retorna ao Pai, é o Espı́rito Santo.
Quando Deus se tornou homem em Jesus Cristo, Sua vida na terra era
uma imagem no tempo da vida divina na eternidade. A vida de Jesus foi
uma dá diva completa de Si mesmo, concedida ao longo de trinta e
alguns anos. Tudo em Sua vida - Seu perdã o, cura, ensino, pregaçã o - foi
uma encarnaçã o do amor transcendente que permanece eternamente.
O amor que é Deus é o ú nico amor que pode nos satisfazer e nos fazer
felizes. Nossos pró prios amores humanos nos abandonarã o, devido à
fraqueza, imperfeiçã o ou morte humanas. Os amores humanos - e a
felicidade limitada que eles trazem - sã o apenas uma amostra do amor
pelo qual Deus nos criou. Nã o seremos felizes, nã o conheceremos o
amor, até que amemos como Deus, até que amemos como deuses (Sl 82:
6; veja també m Jo 10:34), participantes da natureza divina (2 Ped 1:
4). O homem, diz a Igreja, “é a ú nica criatura na terra que Deus quis
para si, [e] nã o pode encontrar-se plenamente, exceto atravé s de um
dom sincero de si mesmo”.
Se entendermos a penitê ncia neste contexto, faz sentido. Pois nã o
podemos imaginar o amor sem sacrifı́cio. Nã o podemos amar
verdadeiramente essa pessoa, a menos que “matemos” esse vı́cio, esse
obstá culo, essa implicâ ncia ou preferê ncia.
E por isso que os antigos convê nios exigiam sacrifı́cios. Os convê nios
criaram um vı́nculo familiar, e o sacrifı́cio simbolizava os laços
anteriores que agora foram rompidos, agora condenados à morte. A
aliança també m simbolizava a doaçã o total de si, sem a qual o amor e a
vida familiar sã o impossı́veis.

Removendo Obstáculos ao Amor de Deus


A penitê ncia torna-se distorcida - psicologicamente doente, odiava o
mundo, sisuda, sem alegria ou masoquista - somente quando é
praticada ou considerada separada do amor, caso em que, de qualquer
maneira, nã o é a verdadeira penitê ncia.
Tenha em mente o que a penitê ncia nã o é , e você sempre saberá o que é
penitê ncia. Nã o é sofrimento por sofrer. Nã o é a imposiçã o grosseira de
um Deus sá dico ou de uma Igreja autoritá ria.
A penitê ncia é , antes, a remoçã o voluntá ria de quaisquer obstá culos ao
amor de Deus por nó s e ao nosso amor por Deus. E uma entrega
incipiente de todo o nosso ser, momento a momento, a Deus.
Nossa doaçã o de si mesmo, ao contrá rio de Deus, é gradual, concedida
ao longo da vida. Por natureza e pela graça de Deus, cada ato de
penitê ncia que oferecemos, cada con issã o sacramental, cada pequeno
sacrifı́cio nos conforma cada vez mais à imagem de Deus, torna nossa
vida mais semelhante à vida divina. Conseguimos isso, em parte, por
meio dos mé todos naturais de autodomı́nio, mas de maneira
esmagadora por meio de nossa correspondê ncia com a graça de Deus.
Atos de abnegaçã o tê m um efeito medicinal em nossa
concupiscê ncia. Eles nos curam compensando nossos muitos atos de
auto-indulgê ncia. Eles servem como remé dio para os atos de auto-
indulgê ncia pelos quais pecamos ou enfraquecemos nossa vontade.
A pequena penitê ncia que recebemos no confessioná rio funciona da
mesma maneira. No entanto, funciona de forma mais e icaz do que dias
de jejum, porque conté m o poder adicional da graça sacramental de
Cristo. A penitê ncia sacramental nã o deve ser nosso ú nico ato de
penitê ncia, mas sempre será nosso mais seguro, porque foi instituı́da
por Cristo para esse im.
O sacramento da penitê ncia é um ato de penitê ncia melhor praticado
com uma atitude de penitê ncia no contexto de uma vida de penitê ncia.
CAPITULO 11
T hinking O utside A B OX :
H ABITS DE H IGHLY E FICAZ P ENITENTS

Se a penitê ncia é um estilo de vida, como - nos mı́nimos detalhes do dia-


a-dia - devemos viver o sacramento da penitê ncia?
O sacramento é o ponto alto dessa vida. E o culminar de todos os nossos
atos penitenciais de sacrifı́cio, e os supera em vá rias ordens de
magnitude, porque o sacramento é o meio dado pela providê ncia para
restaurar e renovar o vı́nculo da aliança de nossa vida sobrenatural
com Deus. O sacramento foi instituı́do por Cristo para conceder graça. E
um ato de Deus - esse perdã o sacramental dos pecados - em paridade
com a criaçã o do mundo. Alé m disso, ao contrá rio de nossas outras
penitê ncias voluntá rias, o sacramento produz seus efeitos pelo poder
de Cristo somente, e nã o por nossos pró prios trabalhos ou os trabalhos
de nosso padre-confessor. O termo teoló gico latino para isso é ex opere
operato , que signi ica “pelo pró prio fato das açõ es serem realizadas”
(ver CIC 1128).
Se quisermos viver uma vida que seja iel à visã o bı́blica do mundo, nã o
podemos e nã o devemos viver sem con issã o frequente que seja
cuidadosamente preparada e totalmente integrada em nossos há bitos
de oraçã o.

Quando estou semanal, então sou forte


A Igreja insiste em que nos confessemos pelo menos uma vez por ano,
para confessar quaisquer pecados graves do ano passado. Isso
costumava ser chamado de dever pascal, porque muitos cató licos o
cumpriam a tempo de fazer uma boa comunhã o durante o tempo
pascal.
Mas se você estudar a vida dos santos, verá que con issõ es mais
frequentes sã o a norma, mensalmente, o mı́nimo. Eu faço parte do
nú mero crescente de cató licos que tentam receber o sacramento uma
vez por semana. Há menos de um sé culo, a con issã o semanal era a
prá tica normal em muitas paró quias, quando os cató licos jovens e
velhos faziam longas ilas todos os sá bados para aguardar seu breve
momento no camarote. Nã o tenho certeza do que aconteceu para
reverter essa tendê ncia, mas tenho certeza de que nã o foi um declı́nio
no nú mero ou na gravidade dos pecados cometidos pelos cató licos
americanos.
Existem muitas boas razõ es para fazer uma con issã o todas as semanas
ou todos os meses.
Em primeiro lugar, é mais fá cil do que ir uma vez por ano. Isso pode
parecer estranho, mas é verdade. Quanto mais nos confessamos,
melhores nos tornamos nisso. Como meu saque de tê nis, ica mais fá cil
e suave com a prá tica.
E mais fá cil també m porque estamos lidando com um perı́odo de tempo
mais curto. Se o justo cai sete vezes ao dia, isso signi ica que as pessoas
mais virtuosas da cidade, se confessam uma vez por ano, tê m pelo
menos 2.555 pecados para resolver (2.562 no ano bissexto). O intervalo
de uma semana, ou mesmo um mê s, é muito mais administrá vel e
permite uma con issã o mais sincera e completa.
A con issã o mais frequente signi ica um programa mais e icaz de
crescimento na virtude e uma conquista mais completa dos pecados
habituais. Vamos enfrentá -lo: o crescimento espiritual, como o
condicionamento fı́sico, nã o é fá cil. Todos nó s gostarı́amos de nos livrar
de nossos há bitos pecaminosos durante a noite, assim como icaria feliz
em perder dez quilos amanhã de manhã ou triplicar minha força
muscular na semana que vem. Mas as mudanças de cará ter sã o, como
as mudanças em nossos corpos, raramente discernı́veis de semana a
semana ou mê s a mê s. Somente ao longo de anos ou dé cadas notamos a
diferença. Precisamos ter um regime e devemos segui-lo a longo prazo.
As pessoas muitas vezes icam frustradas porque parecem repetir os
mesmos pecados sempre que confessam. Sim, isso pode ser humilhante,
mas poderia ser muito pior. Seria pior, por exemplo, se cometê ssemos
novos pecados! Se nã o parecemos estar melhorando, pelo menos
podemos ver que nã o estamos piorando - o que provavelmente
aconteceria se pará ssemos de nos confessar. Fazer a mesma con issã o
repetidamente é humilhante - nã o nego isso - mas humilhaçã o nã o é
uma coisa tã o ruim para um cristã o; a inal, é o que nos torna
humildes. A humildade, entã o, elimina o pecado em sua fonte, que é o
orgulho. Tudo isso é bom, pois Deus acha a humildade irresistı́vel e se
opõ e aos orgulhosos - mesmo quando eles estã o certos.
Precisamos permanecer com o sacramento por muito tempo, embora à s
vezes nos sintamos frustrados. A maioria das pessoas, com o tempo,
percebe que nã o estã o confessando todos os mesmos pecados que
cometeram há dez anos. A medida que progredimos em uma á rea, por
meio da graça e do esforço, notamos outras á reas que precisam ser
trabalhadas. Podemos seguir em frente, para cima e para Deus, se
perseverarmos.
O ú ltimo, mas nã o menos importante, motivo de con issã o frequente é a
advertê ncia de Sã o Paulo aos cristã os de Corinto: “Quem, portanto,
comer o pã o ou beber o cá lice do Senhor indignamente, será culpado de
profanar o corpo e o sangue do Senhor…. E por isso que muitos de você s
estã o fracos e doentes, e alguns morreram ”(1 Cor 11,27,30). Se
dissermos que nã o temos pecados, somos mentirosos. Se pecamos, mas
nã o confessamos, somos inó spitos a Jesus, que recebemos na
comunhã o. Se estamos recebendo um hó spede divino em nossos
coraçõ es no domingo, devemos pelo menos fazer a limpeza espiritual
da casa no sá bado. Pense em como limparı́amos nossas casas se
estivé ssemos convidando um acompanhante, um dignitá rio ou nosso
chefe para jantar.
O pró prio Jesus contou a pará bola de um homem rico que, por
misericó rdia, convidou muitas pessoas indignas para a festa de
casamento de seu ilho (Mt 22: 1-14). Pessoas “má s e boas”
compareceram, mas apenas um foi expulso, e esse era o homem que
apareceu sem roupa nupcial. O signi icado da pará bola nã o poderia ser
mais claro: Deus Pai, por meio de Sua misericó rdia, nos convida a todos
para a Eucaristia, que é a ceia das bodas de Seu Filho e da Igreja (ver
també m Ap 19: 9, 21: 9-10) . Devemos, no entanto, ter o cuidado de nos
preparar adequadamente para a ocasiã o. Fazer o contrá rio seria um
sinal de ingratidã o e presunçã o. Jesus nã o é menos severo do que Sã o
Paulo ao descrever as consequê ncias: “Entã o o rei disse aos assistentes:
'Amarrei-o de pé s e mã os e lancei-o nas trevas exteriores; lá os homens
chorarã o e rangerã o os dentes. ' ”

Encontrando uma Confessora


Nossa con issã o nã o deve ser apenas frequente, mas
programá tica. Devemos ter metas para vencer o pecado e crescer em
virtude, e devemos trabalhar para atingir essas metas. Podemos fazer
isso muito mais facilmente se estabelecermos um relacionamento
contı́nuo com um confessor.
Um confessor que nos conhecer, conhecerá , melhor do que nó s, os
obstá culos entre nó s e o cé u. Um confessor regular conhecerá nossas
circunstâ ncias na vida, nossas tentaçõ es peculiares, nossos pontos
fortes e nossas fraquezas. Assim equipado, ele pode observar
padrõ es. Ele pode rastrear nossos pecados até uma falha dominante. E
ele pode nos aconselhar sobre as melhores maneiras de seguir em
frente. Alé m disso, ele pode orar especi icamente por nossas lutas, e
nunca devemos subestimar o valor disso. Um confessor regular pode
ser como um mé dico de famı́lia, que com o tempo passa a nos conhecer,
conhecer nossos há bitos, conhecer nossas condiçõ es de vida e de
trabalho e saber o que realmente nos a lige.
Encontrar o confessor certo pode exigir tempo e esforço. Você precisará
perguntar por aı́ e talvez visitar muitos confessioná rios antes de
encontrar o certo - que pode nã o ser o que faz você se sentir bem. Há
pessoas que vã o de confessioná rio em confessioná rio até encontrar um
padre que lhes dirá que seus pecados nã o sã o realmente pecados. Mas,
como disse um amigo meu, se izermos isso, nã o estaremos realmente
procurando um novo confessor; estamos procurando por um novo
deus, aquele que mudará nossa maneira de pensar sobre
moralidade. Isso é consumismo em sua forma mais mortal. E como
fazer compras até encontrar um mé dico que vai mentir para nó s sobre
os resultados de um exame de sangue. Isso pode nos deixar aliviados
por um tempo, mas no inal vai nos matar. ” Amé m para isso. E o que
matará aqueles que procuram um novo deus é a morte espiritual
autoin ligida do pecado mortal.
Há muito debate sobre se é melhor pedir ao confessor uma direçã o
espiritual mais intensiva també m, ou se devemos procurar um diretor
espiritual separado para o trabalho de detalhe. Este livro nã o é o lugar
para examinar a questã o. Oferecerei apenas duas observaçõ es. (1) A
orientaçã o contı́nua é indispensá vel para o crescimento contı́nuo. O
velho ditado é verdadeiro: o homem que tem a si mesmo como
advogado tem um tolo como cliente. Você e eu precisamos ter um
diretor espiritual. (2) Se encontrar um confessor iel e disposto for
extremamente difı́cil, talvez nã o possamos nos dar ao luxo de procurar
um padre iel e disposto a ser nosso diretor espiritual.

Prepare-se, prepare-se ...


Se encontramos um confessioná rio, encontramos um horá rio,
encontramos um padre, ainda temos alguns preparativos a
fazer. Precisamos descobrir os pecados que cometemos para fazer uma
con issã o completa e contrita.
O há bito que nos ajuda a fazer isso é chamado de exame de
consciê ncia. Esta é uma revisã o perió dica de nossos pensamentos,
palavras, açõ es e omissõ es. E uma busca em nossa memó ria a im de
descobrir nossos pecados e detectar quaisquer padrõ es em nossas
tentaçõ es ou comportamento. O exame nos torna cientes de nosso
progresso, ou retrocesso, e nos manté m focados no que é real. Sem esse
escrutı́nio honesto, podemos dar desculpas incontá veis para nó s
mesmos e para nossos pecados e in idelidades a Deus e ao pró ximo. Ou
podemos desviar nossos olhos repetidamente, escolhendo olhar para
qualquer coisa ao invé s de nossas pró prias vidas.
Devemos tentar fazer nosso exame pelo menos diariamente. Como uma
vitamina, um regime de exercı́cios, uma dieta ou contabilidade, nã o
funcionará bem até que sejamos ié is a isso todos os dias. Muitos
escritores espirituais prescrevem a hora de dormir como a melhor
hora, porque o dia já passou. O Papa Joã o XXIII, poré m, recomendou um
segundo exame, ao meio-dia, para que possamos corrigir nosso curso
enquanto ainda temos muito dia pela frente. Podemos fazer breves
notas em cada exame, para marcar nossas preocupaçõ es, lutas e
pecados (em um có digo privado). Essas notas serã o muito ú teis ao nos
prepararmos para a con issã o.
Existem muitos mé todos bons para fazer um exame de consciê ncia. A
maneira mais simples é fazer uma aná lise cronoló gica do dia, desde o
despertar até o momento do exame. Outra maneira popular é
considerar cada um dos Dez Mandamentos e determinar o quã o bem
você os viveu hoje. Alguns livros de oraçã o fornecem uma sé rie de
perguntas para auto-exame. (Ofereço exemplos no Apê ndice C, no inal
deste livro.) Algumas pessoas gostam de compilar sua pró pria lista de
perguntas, com base em sua experiê ncia anterior de fraqueza ou nas
sugestõ es ou reclamaçõ es que recebem de colegas de trabalho, amigos
e familiares .
Nosso exame noturno deve ser breve, cerca de cinco minutos,
terminando com um ato de contriçã o. Mas, para nos prepararmos para
a con issã o, devemos planejar gastar mais tempo em devoçã o à
consideraçã o de nossos pecados.
A tradiçã o nos diz que o exame de consciê ncia deve, na verdade, ser
dividido em dois: o exame geral e o exame particular. O exame geral é o
que acabei de descrever: uma revisã o de todos os eventos do dia. O
exame especı́ ico concentra-se, em vez disso, em quã o bem estamos
praticando uma determinada virtude ou evitando um determinado
pecado. Algumas pessoas colocam o exame particular ao meio-dia e o
exame geral à noite.
Qual é a melhor hora, local e mé todo para os exames? Só você pode
responder a essa pergunta por si mesmo (embora, é claro, com a ajuda
de seu diretor espiritual). Experimente para ver o que funciona. O
importante é fazer.
Se nos prepararmos bem para a con issã o, realmente tiraremos mais
proveito da con issã o. Os sacramentos conferem sua graça ex opere
operato , mas o que fazemos com essa graça é problema nosso. Os
sacramentos nã o sã o feitiços má gicos e Deus nã o nos santi ica sem a
nossa cooperaçã o. Cristo dá gratuitamente, mas recebemos apenas o
que estamos prontos, desejosos e capazes de receber. Nossa boa
preparaçã o abre nossas almas para receber mais da graça que Cristo
está nos dando.

E ir!
O há bito mais e icaz de penitentes altamente e icazes é o há bito da
pró pria con issã o. Eles fazem isso; eles fazem isso frequentemente; eles
fazem isso tã o bem quanto podem. A grande convertida americana
Dorothy Day descreveu bem do lado do penitente da tela.

Ir à con issã o é difı́cil - difı́cil quando você tem pecados para confessar,
difı́cil quando você nã o tem, e você quebra a cabeça até mesmo para o
inı́cio dos pecados contra a caridade, castidade, pecados de
depreciaçã o, preguiça ou gula. Você nã o quer dar muita importâ ncia à s
suas constantes imperfeiçõ es e pecados veniais, mas quer arrastá -los
para a luz do dia como o primeiro passo para se livrar deles. O justo cai
sete vezes ao dia.
“Abençoe-me, padre, porque pequei”, é a maneira como você
começa. "Eu iz minha ú ltima con issã o há uma semana, e desde entã o
..."
"Eu pequei. Esses sã o meus pecados. ” Isso é tudo que você deve
dizer; nã o os pecados dos outros, ou suas pró prias virtudes, mas
apenas seus pecados horrı́veis, cinzentos, monó tonos.

Nã o é muito glamoroso ou româ ntico. E trabalho e, como tal, envolve


um pouco de suor na testa. Mas, mesmo na ordem natural, o trabalho é
o que coloca a comida na mesa e nos dá a sensaçã o de dever
cumprido; o trabalho é o que nos permite seguir em frente, progredir
na vida. Na ordem sobrenatural, “somos colaboradores de Deus” (1 Cor
3: 9) na obra de nossa pró pria salvaçã o. O trabalho de con issã o é o que
nos dá a graça de progredir na vida espiritual; e coloca comida na mesa
eucarı́stica para nó s.
Do lado do confessor da tela, Sã o Josemarı́a Escrivá , um padre do sé culo
XX, deu os melhores conselhos que já vi sobre o que fazer quando
estivermos no confessioná rio. Ele aconselhou seus penitentes a seguir
os quatro C's. Faça sua con issã o completa, contrita, clara e concisa.
Faça isso completo. Nã o omita nenhum pecado mortal, é claro, mas
certi ique-se de incluir os pecados veniais que estã o causando
problemas. Mais importante ainda, nã o abandone os pecados que o
envergonham. E melhor começar sua con issã o com o pecado mais
difı́cil de admitir. Depois disso, só pode icar mais fá cil.
Faça com que seja arrependido. Lamente por seus pecados. Lembre-
se de que foi a Deus que você ofendeu e que Ele o amou generosa e
irrestritamente.
Deixe bem claro. Nã o seja sutil. Nã o encubra seus pecados com
eufemismos. Certi ique-se de que o padre entende o que você quer
dizer.
Mas seja conciso. Nã o há necessidade de entrar em detalhes
sangrentos. Freqü entemente, quando o fazemos, estamos apenas
tentando nos desculpar, inventando circunstâ ncias especiais ou
culpando os outros. Alé m disso, o tempo do padre é valioso e será bem
gasto com outro penitente.
Mais uma vez, poré m, o importante é conseguir! Nã o deixe para outro
dia.

CAPITULO 12
T HE H OME F Ront : C ONFESSION AS C Ombat

A ATITUDE DA penitê ncia, a prá tica da penitê ncia, os há bitos da


penitê ncia, o sacramento da penitê ncia: tudo isso serve como lembrete
de quem somos. Somos ilhos de um Pai amoroso, um Pai
abundantemente rico; mas vivemos longe de casa, em condiçõ es
vergonhosas. Nosso exame de consciê ncia diá rio e nossa con issã o
semanal ou mensal nos ajudarã o a manter nossa histó ria correta - e a
fazer o caminho de volta para casa.
Ainda assim, a jornada de volta para casa será difı́cil. Pois nossa naçã o
sagrada está em guerra, e nossos inimigos profanos sempre nos cercam.

Vida durante a guerra


Cristã os sé rios sempre viram a vida como uma batalha. Esta é a
metá fora dominante do Combate Cristão de Santo Agostinho à cançã o
“Avante, Soldados Cristã os”. E nã o é menos relevante em nossos dias. A
ú nica maneira pela qual os descendentes de Adã o podem vencer a
tentaçã o é por meio da guerra total contra as coisas que nos afastam de
Deus.
Em qualquer batalha, existem vá rios inimigos: alguns visı́veis e outros
invisı́veis. Alé m de lutar contra os atiradores inimigos, os combatentes
lutam contra o desâ nimo, a fadiga e a insegurança. O combate espiritual
nã o é diferente. Nossa luta é contra o mundo, a carne e o diabo. Somos
enfraquecidos pela concupiscê ncia carnal e, por isso, achamos o mundo
e suas delı́cias mais atraentes do que Deus. O diabo conhece nossa
vulnerabilidade e concentra seus esforços onde quer que possa nos
enfraquecer ainda mais. Quando falhamos, podemos icar tristes e
cansados, e entã o o diabo alcançou uma grande vitó ria: nó s nos
tornamos nosso pior inimigo.
Um soldado que nã o tem disciplina nã o está à altura desta luta. E por
isso que os cató licos fazem exercı́cios espirituais de boa
vontade. Precisamos ser fortes para vencer tentaçõ es formidá veis. Pois
conhecemos muitos exemplos de grandes pessoas que falharam, de
Adã o a Sã o Pedro.
Na verdade, as chances contra nó s parecem tã o esmagadoras que
podemos ser tentados a desistir da luta antes de disparar um tiro. Mas
nunca devemos baixar nossas defesas. Devemos, em vez disso, redobrar
nossos esforços, movendo a batalha para mais longe das muralhas da
cidade, evitando até mesmo as circunstâ ncias que nos tentariam,
evitando toda ocasiã o de pecado.
No caso de tentaçõ es para o pecado mortal, devemos fugir sem olhar
para trá s, assim como Ló fugiu de Sodoma (ver Gê nesis 19: 15–23). O
pecado é tã o ruim que nã o deve ser combatido diretamente. Quando
nos sentimos apaixonadamente propensos a pecados graves - um
pecado sexual, por exemplo - devemos nos retirar imediatamente das
circunstâ ncias que nos tentam. Nã o é nenhuma vergonha para um
soldado enfraquecido bater em retirada de um inimigo mortal e muito
superior. Se ele preservar sua vida, ele viverá para lutar
novamente. Discriçã o é a melhor parte do valor.

Corpos Místicos
Quer tenhamos sucesso ou fracassemos, nunca lutamos sozinhos. A
“grande nuvem de testemunhas” que nos rodeia (Hb 12: 1) nã o sã o
espectadores passivos. Eles sã o aliados na batalha. Aqueles que sã o
santos no cé u conquistaram a vitó ria para nó s por seus pró prios
mé ritos. Se clamarmos por sua ajuda, Deus creditará sua justiça à nossa
causa. Desde a Reforma Protestante, os cristã os tê m se dividido quanto
a essa noçã o de “tesouro de mé ritos”; mas o conceito bı́blico é
realmente mais antigo que o Novo Testamento. O rabino Nahum Sarna,
ecoando os antigos rabinos, escreveu em seu comentá rio sobre o
Gê nesis: “Deus libertou Ló da catá strofe pelo mé rito de Abraã o. Esta
'doutrina do mé rito' é um tema frequente na Bı́blia e constitui o
primeiro de muitos incidentes em que a retidã o de indivı́duos
escolhidos pode sustentar outros indivı́duos ou até mesmo um grupo
inteiro por meio de seu poder protetor. ” Rabi Sarna encontra mais
evidê ncias da doutrina nas vidas de Moisé s, Samuel, Amó s, Jeremias e
Ezequiel.
A essa lista impressionante eu acrescentaria o nome de Jó , que nem era
israelita. Ainda assim, ele era um homem justo; e, vivendo apenas à luz
da lei natural, ele sabia que poderia estender os mé ritos de sua vida e
seus sacrifı́cios em benefı́cio de seus ilhos e ilhas: A Bı́blia nos diz que
Jó “se levantaria de manhã cedo e ofereceria holocaustos segundo o
nú mero de [seus ilhos]; pois Jó disse: 'Pode ser que meus ilhos
tenham pecado e amaldiçoado a Deus em seus coraçõ es' ”(Jó 1: 5).
Se os ilhos de um pagã o virtuoso podiam tirar proveito dos mé ritos de
seu pai, quanto mais podemos nó s, que seguimos em uma longa
linhagem de santos cristã os? A tesouraria do mé rito nã o se
esgotou. Nó s també m podemos tirar proveito deste baú de guerra. Mas
també m devemos contribuir para isso. Devemos oferecer nossos
esforços nã o apenas para o nosso pró prio bem, mas para o bem dos
outros, nossos amigos, vizinhos, familiares e até mesmo pessoas que
nã o conhecemos, porque sã o nossos co-combatentes. Assim como os
mé ritos dos santos trabalham a nosso favor, nossas penitê ncias o farã o
em benefı́cio de outros. Diz Sã o Paulo: “Agora me alegro nos meus
sofrimentos por amor de ti e na minha carne completo o que falta nas
a liçõ es de Cristo por amor do Seu corpo, isto é , a Igreja” (Colossenses
1, 24).
A Igreja é o corpo de Cristo (1 Co 12:27; Ef 4:12), e somos
individualmente Seus membros (Rm 12: 4-5; 1 Co 6:15, 12:12). Sempre
que optamos por fazer o bem, valorizamos os nossos companheiros
lutadores, porque existe uma solidariedade mı́stica que nos une.
Por outro lado, quando optamos por fazer o mal, nã o pecamos
isoladamente, mas enfraquecemos o nosso lado na batalha. Em vez
disso, ajudamos e encorajamos nossos inimigos: a rede de aliados do
diabo neste mundo.
Essa solidariedade entre os combatentes é real. Cada vez que pecamos,
diminuı́mos nã o só a nó s mesmos, mas també m a Igreja. Essa é uma das
razõ es pelas quais Cristo nos faz confessar nossos pecados à Igreja.
O corpo mı́stico de Cristo, a comunhã o dos santos, encontra a sua força
no sacramento da penitê ncia. Um dos grandes crı́ticos literá rios do
sé culo XX, Wallace Fowlie, reconheceu isso imediatamente quando ele,
entã o um protestante, vagou por uma pobre igreja paroquial franco-
americana na Nova Inglaterra.

Metade dos penitentes, de joelhos, rezava e os outros olhavam para o


nada. Uma criança saiu do confessioná rio e outra ocupou seu lugar. Em
alguns segundos, o menino alcançou a frente da igreja e se ajoelhou no
parapeito do altar. Eu me perguntei quais pecados ele acabara de
sussurrar e que nova pureza o enchia. Eu estava em uma casa estranha
que me permitiu uma união com muitas vidas, com muitos milhões de
vidas . A criança na balaustrada do altar segurava na mã o esquerda um
boné de esqui azul-escuro e seu coraçã o falava para a eternidade. Essa
penitê ncia em uma igreja que eu nunca tinha conhecido. Eu nunca
esperei por Ele na ila e nunca o ouvi falar em meio minuto, concedido
por algum senso humano de justiça.

Esse momento e sua realizaçã o foram um ponto de in lexã o para Fowlie,


que ingressou na Igreja Cató lica logo em seguida. Nossa “casa estranha”
tornou-se sua pró pria casa - tornou-se a casa de seu pai.

Logs e manchas
Vivemos em uma casa de famı́lia que nos permite “uniã o com muitas
vidas, com muitos milhõ es de vidas”. Tantas pessoas dependem de nó s:
os santos no cé u, os nossos contemporâ neos na terra e as geraçõ es
futuras que devem tirar, um dia, os nossos mé ritos.
Portanto, devemos odiar todos os pecados com ó dio santo, mas
especialmente nossos pró prios pecados. E muito fá cil odiar os pecados
dos outros - os grandes pecados que sã o lagrantemente malignos,
como genocı́dio ou racismo, ou os pecados intencionais que nos ferem
pessoalmente, como desprezos e insultos. Mas os pecados que
realmente importam para nó s sã o os pecados que nó s mesmos
cometemos. Jesus disse: “Por que você vê o cisco que está no olho do
seu irmã o, mas nã o percebe a trave que está no seu pró prio olho?” (Mt
7: 3). Os pecados mais importantes e odiosos da minha vida sã o
meus. Meus pecados me machucam muito mais do que os pecados de
todos os meus colegas de trabalho, vizinhos e familiares juntos.
Nosso amor por Deus nã o é nada - é apenas uma afetaçã o sentimental -
a menos que seja acompanhado por um ó dio apaixonado por nossos
pró prios pecados. Quer medir o quanto você ama o Senhor? Pergunte a
si mesmo (como eu): Estou mais chateado com escâ ndalos da igreja ou
prevaricaçã o polı́tica do que com os pecados que cometi esta
semana? Estou mais consciente das injustiças de meu chefe - ou de
meus colegas de trabalho, ou de meu cô njuge, ou de meus ilhos - do
que das minhas pró prias? Quando somos honestos conosco mesmos,
essas perguntas sã o muito dolorosas.
Devemos nos opor a todo pecado, começando pelo nosso, como um pai
se opõ e aos intrusos em sua casa. Temos muito em jogo. Nã o há pecado
pequeno demais para merecer nosso desprezo. Santo Agostinho nos
adverte: “Um homem, enquanto carrega a carne, nã o pode deixar de ter
alguns pecados leves. Mas estes que chamamos de luz, nã o
desprezem…. Muitas luzes fazem um grande pecado; muitas gotas
enchem o rio; muitos grã os formam o caroço. E que esperança
existe? Antes de tudo, con issã o! ”
A con issã o é a nossa esperança antes de tudo! Agora, há um antigo
testemunho de um pecador que perseverou e venceu a guerra por seu
arrependimento.

As probabilidades são de Deus


Quando as probabilidades estã o contra nó s e a batalha parece perdida,
nunca devemos perder a esperança, porque a con issã o pode realizar
em nó s o que nã o podemos, e a graça de Deus no sacramento é mais
forte do que qualquer coisa que o diabo possa operar contra nó s. O
poder de Deus para salvar, curar e criar de novo é in initamente mais
forte do que nosso poder de pecar e destruir. “Limpei as vossas
transgressõ es como uma nuvem e os vossos pecados como a
né voa; volta para mim, porque eu te remi ”(Is 44:22). Jesus é o Cordeiro
de Deus que “tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Ele tira o pecado , em
sua fonte. Ele nã o apenas perdoa pecados; Ele o arranca removendo
nosso coraçã o pecaminoso. Mas entã o Ele vai um pouco melhor
ainda. Ele cria em você e em mim um novo coraçã o, um coraçã o limpo,
como se nã o tivé ssemos manchado o primeiro que Ele nos deu. “Um
novo coraçã o te darei e um novo espı́rito porei dentro de ti; e tirarei da
tua carne o coraçã o de pedra e te darei um coraçã o de carne ”(Ez
36:26).
Cristo é invencı́vel. Nó s també m seremos, se apenas voltarmos a lutar
ao Seu lado.
Com amigos como Jesus e Seus santos, quem dá ouvidos aos inimigos?
Somos ilhos pró digos em um paı́s distante. Para nosso pró prio bem,
precisamos voltar para casa. Mas primeiro devemos desejá -lo e, entã o,
devemos fazer a longa e difı́cil jornada para chegar lá .
Em cada está gio, devemos depender da visã o clara que obtemos por
meio da con issã o sacramental. Pois nã o nos adianta enganar a nó s
mesmos ou aos outros sobre nossa condiçã o. Nã o podemos desejar
nossos pecados; e todas as té cnicas de visualizaçã o da Nova Era que
podemos experimentar nã o transformarã o nosso chiqueiro em uma
banheira de hidromassagem, os porcos em pô neis Shetland ou a
forragem de porco em cauda de lagosta.
Nã o há alternativa real para o arrependimento. Se nã o nos
arrependermos, icaremos ressentidos; e se nã o confessarmos,
projetaremos nossa culpa nos outros. Vamos culpar nossas
vı́timas. Vamos culpar nossos pais. Vamos culpar o governo. Vamos
culpar o chefe ou a diretoria. Vamos culpar nossa
hereditariedade. Vamos culpar nosso meio ambiente. Mas tudo isso é
uma distraçã o. Quem estamos realmente culpando? Existe apenas um
Senhor sobre a hereditariedade e o meio ambiente. Se nã o
confessarmos nossos pecados, nó s, como Adã o, culparemos Deus.

Desejo do seu coração


Se nã o confessarmos nossos pecados - se nã o vivermos uma vida de
penitê ncia - sempre sentiremos que a vida é uma batalha
perdida. Nunca vamos esclarecer nossa histó ria, porque a narrativa
será obscurecida por nossas desculpas e acusaçõ es. Nunca teremos
nada que se assemelhe a uma cosmovisã o bı́blica e, portanto, nunca
veremos o mundo como ele realmente é , mas apenas como a passagem
escura que se tornou para Adã o e Caim, ou o vale de alimentaçã o que se
tornou para os israelitas rebeldes e mundanos.
Passamos grande parte de nossa vida de oraçã o listando nossos desejos
a Deus. Isso nã o é ruim, mas a penitê ncia nos leva a um caminho
melhor. Por meio de nossos atos de penitê ncia, Deus muda nossos
desejos para que nã o desejemos mais o que ansiamos, mas o que
realmente precisamos para ganhar a eternidade, para compartilhar da
natureza divina.
Seus atos de penitê ncia irã o conquistar para você o novo coraçã o de
que necessita. E a con issã o sacramental abençoa, completa e magni ica
o poder de sua penitê ncia cotidiana, de modo que - nas palavras da
oraçã o inal do ritual - "qualquer bem que você izer e sofrer [pode]
curar seus pecados, ajudá -lo a crescer em santidade , e recompensá -lo
com a vida eterna.
"Vá em paz."

CAPITULO 13
T HE O PEN D OOR

I F J ESUS nã o tivesse ' t deixou-nos o sacramento da con issã o, nó s


provavelmente temos que inventá -lo. Pois Deus nos criou com uma
necessidade que somente a con issã o pode atender.
Aqueles que conhecem o consolo de confessar seus pecados tendem a
se apegar a ela com tenacidade. O reformador protestante Martinho
Lutero queria dispensar todos os sacramentos, exceto o batismo e a
Eucaristia; mas seus instintos prevaleceram sobre ele, e ele
“acrescentou o sacramento da penitê ncia a esses dois”. Ele explicou o
motivo: “Sem dú vida, a con issã o dos pecados é necessá ria e de acordo
com os mandamentos divinos…. Quanto à con issã o secreta praticada
hoje, (…) parece uma prá tica altamente satisfató ria para mim; é ú til e
até necessá rio. Eu nã o gostaria que isso parasse; antes, me regozijo que
ele exista na igreja de Cristo, pois é um remé dio singular para as
consciê ncias a litas. ” Ainda hoje, o Livro de Adoração Luterano inclui
um rito de con issã o auricular.
Aqueles que descobrem a con issã o quando adultos a acham
irresistı́vel. O apologista protestante CS Lewis sentiu a atraçã o, mas
teve que superar um preconceito arraigado contra quaisquer prá ticas
que tivessem o “cheiro de Roma”. Em 1940, ele decidiu adotar a prá tica,
mas admitiu que “a decisã o foi a mais difı́cil que já tomei”. Ele confessou
regularmente, depois, a um monge anglicano.
Lutero se apegou à con issã o mesmo depois de deixar a Igreja
Cató lica. Lewis procurou isso fora da Igreja Cató lica.
Há protestantes, poré m, que nã o conheciam a prá tica da Igreja quando
crianças nem a encontraram de maneira positiva quando adultos - e
mesmo eles se descobrem reinventando a roda penitencial, um falava
de cada vez.

Contas não pagas


Em 1979, descobri que era estudante do primeiro ano de divindade em
um prestigioso seminá rio protestante evangé lico. Minha esposa,
Kimberly, e eu é ramos recé m-casados, e ambos esperá vamos uma vida
inteira de serviço no ministé rio presbiteriano.
Eu saboreei minhas perspectivas. Adorei meus estudos. Eu me senti
forte em minha fé .
Mas algo continuou atormentando minha consciê ncia. Eram as contas
nã o pagas da minha adolescê ncia delinquente. Quantas centenas de
dó lares em á lbuns de discos eu roubei antes de minha conversã o ao
cristianismo? A pergunta me atormentou. Li Exodo 22, o capı́tulo que
ordena a restituiçã o dupla e quá drupla por atos de roubo, e fui ferido
no coraçã o - condenado (ver Ex 22: 1 e Lc 19: 1–10).
Eu me sentia um hipó crita - estudando teologia, testemunhando o
Evangelho, preparando-me para o ministé rio, quando nunca havia
acertado as coisas com aqueles a quem havia prejudicado. Claro, eu
tinha confessado meu pecado a Deus em meu coraçã o e me desculpado
com meus pais, mas eu sabia que havia algo mais a ser feito.
Depois de muita oraçã o, retomei o assunto com Kimberly. Embora
quase nã o tivé ssemos dinheiro, ela concordou que eu era obrigado a
fazer uma restituiçã o quá drupla das lojas que havia vitimado.
Eu vasculhei minha memó ria, tentando me lembrar de cada furto em
uma loja, onde havia ocorrido e quanto eu havia roubado. Eu iz
estimativas bastante precisas e os nomes de vá rios
estabelecimentos. Entã o respirei fundo e comecei a ligar.
As respostas que recebi foram variadas e curiosas. Alguns lugares
realmente nã o podiam me acomodar, exceto ouvindo minhas
desculpas. Suas prá ticas contá beis nã o lhes davam nenhuma categoria
para aceitar o pagamento há muito adiado por mercadorias perdidas há
muito tempo. Um funcioná rio de uma loja, no entanto, estava bem
preparado para minha oferta. Ele me disse que a loja havia recebido
muitas ofertas de "cristã os nascidos de novo" e, portanto, havia criado
um "fundo de restituiçã o".
Fiz meu esforço mais valente; e paguei de bom grado o ú ltimo centavo
de minhas economias. O Natal estava chegando e Kimberly e eu nã o
tı́nhamos dinheiro para comprar presentes. Mas nã o nos
importamos. Fazı́amos presentes pessoais e artesanais com as sobras
que tı́nhamos em mã os; mesmo assim, muitos de nossos familiares nos
disseram que foram os melhores presentes que receberam e ainda os
estimam hoje.
Pela primeira vez em anos, me senti completamente limpo, leve como
uma pena, em paz como o pró prio cé u.
Eu nã o sabia na é poca, mas a alegria que conheci foi a alegria de
confessar meus pecados, fazer penitê ncia e dar satisfaçã o.
A restituiçã o pode ser libertadora e à s vezes necessá ria (ver CCC , n.
2412). A Igreja, entretanto, nã o nos impõ e estritamente à s leis
mosaicas neste assunto. Nem todo mundo é obrigado a se desculpar
pessoalmente por cada pecado de sua vida passada. Na verdade, no
caso de alguns pecados (pecados sexuais, por exemplo), pode ser
espiritualmente desastroso tentar qualquer tipo de contato pessoal ou
restituiçã o.
O que a Igreja faz é nos dar um tempo e um lugar onde podemos
desabafar e receber o conselho e a graça de que precisamos para
consertar as coisas.
Trazê-lo em casa
Nossa experiê ncia de misericó rdia no confessioná rio nã o pode deixar
de se espalhar em nossa vida cotidiana. Lembre-se das palavras de
Jesus: “Sede misericordiosos, como també m vosso Pai é misericordioso”
(Lc 6,36). Na verdade, Jesus era insistente neste ponto, ensinando que a
medida da misericó rdia que recebemos depende da misericó rdia que
dispensamos aos outros. “Porque com o juı́zo que pronuncias será s
julgado, e a medida que deres será a medida que receberá s” (Mt 7,
2). Sã o Tiago escreve uma conclusã o arrepiante: “Pois o juı́zo é sem
misericó rdia para aquele que nã o mostrou misericó rdia” (Tg 2:13).
Deus estabeleceu uma maneira de buscarmos e recebermos
misericó rdia. E uma forma sacramental: espiritual, mas material, tanto
celestial quanto terrestre. Nó s també m devemos encontrar maneiras -
maneiras concretas e especı́ icas - de trazer misericó rdia para nosso lar,
nosso local de trabalho e nossa vizinhança. Pois nã o podemos guardar a
misericó rdia de Deus para nó s mesmos, a menos que també m a dê mos
a outros.
Há uma variedade in inita de maneiras pelas quais podemos fazer isso,
imitando o amor de Deus nas particularidades ú nicas de nossa vida. Em
minha famı́lia, adotamos o costume do “dia do jubileu”. E uma ideia
antiga, na verdade. Na verdade, é uma ideia do Velho Testamento . No
antigo Israel, um “ano de jubileu” ocorria a cada qü inquagé simo ano
(ver Lv 25: 8–55). Durante aquele ano, as dı́vidas foram perdoadas, os
escravos foram libertados e todas as pessoas voltaram para as terras de
sua herança. Foi um momento de restauraçã o familiar e de
reconciliaçã o entre as geraçõ es.
Tudo isso me atrai quando sinto que algo está errado em nossa casa. Se
nã o consigo fazer as crianças confessarem um problema, à s vezes
anuncio um jubileu de famı́lia, uma é poca em que qualquer pessoa
pode confessar uma falta ou um delito sem medo de ser punida.
Tenho icado continuamente surpreso com as mudanças que esse
costume tem causado em nossa vida domé stica e na vida de cada
criança. Em alguns casos, foi a ocasiã o para grandes avanços pessoais. A
liçã o que isso traz para casa - a liçã o que aprendo toda vez que me
confesso - é que o mais importante sã o os relacionamentos corretos e
nã o apenas fazer tudo de acordo com as regras.
Deus tem sido abundantemente misericordioso conosco. Na Antiga
Aliança, o jubileu acontecia a cada meio sé culo. Você teve sorte se viveu
para ver um. Até a Pá scoa acontecia apenas uma vez por ano. Na Nova
Aliança, poré m, o jubileu vem com a freqü ê ncia que desejamos receber
o sacramento.
A misericó rdia de Deus é abundante. Nã o é apenas uma suspensã o da
justiça; é uma paciê ncia paternal em nos ajudar a fazer justiça, aos
poucos, porque somos Seus ilhos. Sabendo como Deus opera
misericó rdia em Sua famı́lia, devemos nos esforçar ansiosamente para
replicar Sua misericó rdia em nossa pró pria famı́lia.
Diz Sã o Leã o Magno: “A misericó rdia deseja que sejas misericordioso. A
justiça quer que você seja justo, por isso o Criador deseja ver-se
re letido em sua criatura, e Deus deseja que sua imagem seja
reproduzida no espelho do coraçã o humano ”.

Baixa frequência
Comecei este livro - devo confessar - com certo medo e tremor. O
sacramento da reconciliaçã o caiu em desuso no paı́s onde
moro. Algumas paró quias reduziram para meia hora por semana os
horá rios a ixados para con issã o. Outros recuaram e agora oferecem o
sacramento apenas com hora marcada. Os pastores dizem que há pouca
demanda. E provavelmente nã o estã o surpresos. Um estudo recente
concluiu que quase metade de nossos sacerdotes se valem do
sacramento apenas “uma ou duas vezes por ano”, “raramente” ou
“nunca”.
No entanto, o mundo nunca conheceu tal necessidade do
sacramento. Nã o podemos viver sem ele, embora tentemos
continuamente à procura de substitutos. Algumas pessoas procuram
escapar de seus pecados por meio de drogas ou relacionamentos co-
dependentes; outros buscam alı́vio por meio de aconselhamento ou
outras terapias. Embora tudo isso possa nos ajudar a mascarar os
sintomas, nenhum, em ú ltima aná lise, pode curar a doença. Somente
confessando nossos pecados, permitimos que o Cordeiro de Deus os
leve embora.
Precisamos de con issã o. O desejo de misericó rdia que consumiu
incontá veis santos canonizados - sem mencionar Martinho Lutero e CS
Lewis - nã o diminuiu nem um pouco. Na verdade, ele icou mais
forte. Pois vivemos em tempos de ansiedade, quando muitas pessoas se
sentem excluı́das da casa de sua famı́lia - a casa de seu Deus Pai. E para
quem quer voltar para a lareira e a mesa, a con issã o é a chave. Melhor
ainda, o confessioná rio é a porta aberta para o ú nico lar que nos
satisfará .
O pró prio Jesus disse: “Eu sou a porta; se algué m entrar por mim, será
salvo ”(Jo 10,9). E uma a irmaçã o simples, mas que implica muita
misericó rdia, pois somos todos pecadores, e até o melhor de nó s (diz a
Bı́blia) cai sete vezes ao dia!

O poder de cura da misericórdia


Jesus é misericó rdia in inita, e Ele compartilha Sua misericó rdia
in initamente por meio de Sua Igreja, no sacramento da con issã o. A
con issã o é a chave para o nosso crescimento espiritual, e é a maneira
comum com que nó s, crentes, chegamos a um conhecimento mais
profundo de nó s mesmos como realmente somos - isto é , como Deus
nos vê . A con issã o nos impede de viver e trabalhar sob ilusõ es sobre o
mundo, sobre nosso lugar nele e sobre a histó ria de nossas vidas. Traz
os cantos escuros de nossa alma para a clara luz da manhã do dia
eterno, para que possamos ver à vista de Deus. Isso pode ser difı́cil e à s
vezes doloroso, mas no inal cura com o toque todo-poderoso de Jesus
Cristo.
Por meio da con issã o, começamos a nos curar. Começamos a esclarecer
nossas histó rias. Voltamos para casa pela porta aberta, para retomar
nosso lugar na famı́lia de Deus. Começamos a conhecer a paz.
Novamente, nada disso é fá cil. Na verdade, a con issã o nã o torna a
mudança fá cil, mas a torna possı́vel, sobrenatural e salvı́ ica - nã o
apenas para nó s mesmos, mas para cada vida que tocamos. A con issã o
nã o é uma soluçã o rá pida, mas é uma cura certa. Precisamos ir ao
sacramento, ir de novo e continuar voltando, porque a vida é uma
maratona, nã o uma corrida de quarenta metros. Freqü entemente,
queremos parar, mas, como um corredor de longa distâ ncia, precisamos
prosseguir para nosso segundo vento, e nosso terceiro, e nosso
quarto. Nesse caso, podemos contar com a chegada do vento, porque é
o “vento” do Espı́rito Santo.
Quando falo da necessidade contı́nua de con issã o, falo com
autoridade. Sou um pecador inveterado, embora tenha encontrado seu
caminho, repetidamente, para se ajoelhar e ser curado no trono da
misericó rdia de Deus.

ANEXOS

Estou fechando este livro com uma oraçã o por meus leitores - e um
tesouro de oraçõ es e guias. Nos apê ndices a seguir, você encontrará
recursos que se mostraram ú teis para mim, minha famı́lia e meus
amigos ao longo dos anos. Oro para que eles ajudem você també m.

APENDICE A:
R ITE PARA R ECONCILIATION DE I NDIVIDUAL P ENITENTS

RECEPÇÃO DO PENITENTE
Quando o penitente vem para confessar seus pecados, o sacerdote o
acolhe calorosamente e o cumprimenta com gentileza.
Entã o o penitente faz o sinal da cruz, que o sacerdote pode fazer
també m:

Em nome do Pai, do Filho e do Espı́rito Santo. Um homem.


O sacerdote convida o penitente a ter con iança em Deus, nestas
palavras ou semelhantes:

Que Deus, que iluminou cada coração,


ajude você a conhecer seus pecados e a con iar em Sua misericórdia.

O penitente responde: Amém.

LEITURA DA PALAVRA DE DEUS (OPCIONAL)


Entã o o sacerdote pode ler ou dizer de memó ria um texto da Escritura
que proclama a misericó rdia de Deus e chama o homem à conversã o.

CONFISSÃO DE PECADOS E ACEITAÇÃO DA SATISFAÇÃO


Onde é o costume, o penitente diz uma fó rmula geral de con issã o (por
exemplo, “Eu confesso a Deus todo-poderoso ...” ) antes de confessar
seus pecados. Se necessá rio, o sacerdote ajuda o penitente a fazer uma
con issã o integral e dá -lhe o conselho adequado. Exorta-o a ter pena
das suas faltas, recordando-lhe que pelo sacramento da penitê ncia o
cristã o morre e ressuscita com Cristo e é assim renovado no misté rio
pascal. O sacerdote propõ e um ato de penitê ncia, que o penitente aceita
a im de dar satisfaçã o pelo pecado e emendar sua vida. O sacerdote
deve certi icar-se de que adapta seu conselho à s circunstâ ncias do
penitente.

ORAÇÃO DO PENITENTE E ABSOLUÇÃO


O sacerdote entã o pede ao penitente para expressar sua tristeza, o que
o penitente pode fazer com estas palavras ou semelhantes:

Meu Deus, sinto muito pelos meus pecados de todo o coraçã o. Ao


escolher fazer o mal e deixar de fazer o bem, pequei contra Você , a
quem deveria amar acima de todas as coisas. Tenciono irmemente,
com a tua ajuda, fazer penitê ncia, nã o pecar mais e evitar tudo o que me
leva a pecar. Nosso Salvador Jesus Cristo sofreu e morreu por nó s. Em
Seu nome, meu Deus, tenha piedade.
Outras oraçõ es do penitente podem ser escolhidas, tais como:

Senhor Jesus, Filho de Deus,


tem piedade de mim, pecador.

Em seguida, o padre estende as mã os sobre a cabeça do penitente (ou


pelo menos estende a mã o direita) e diz:

Deus, o Pai de misericó rdia, por meio da morte e ressurreiçã o de Seu


Filho reconciliou Consigo o mundo e enviou o Espı́rito Santo entre nó s
para o perdã o dos pecados; pelo ministé rio da Igreja que Deus vos dê
perdã o e paz, e eu vos absolvo dos vossos pecados em nome do Pai, do
Filho e do Espı́rito Santo.

O penitente responde: Amém.

PROCLAMAÇÃO DE LOUVOR DE DEUS E DEMISSÃO


Apó s a absolviçã o, o padre continua:

Dê graças ao Senhor, porque Ele é bom.

O penitente conclui:

Sua misericó rdia dura para sempre.

Em seguida, o padre despede o penitente que foi reconciliado, dizendo:

O Senhor o libertou de seus pecados. Vá em paz.

Ou:

Que a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo,


a intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria
e de todos os santos, por todo
o bem que façais e sofram,
cure os seus pecados,
te ajude a crescer em santidade
e te recompense com a vida eterna.
Vá em paz.

APENDICE B:
P RAYERS

ATO DE CONTRIÇÃO
O meu Deus, sinto profundamente por ter te ofendido e detesto todos
os meus pecados por causa dos teus justos castigos, mas
principalmente porque te ofendem, meu Deus, que é s todo bom e
merecedor de todo o meu amor. Estou irmemente decidido, com a
ajuda de Tua graça, nã o pecar mais e evitar as ocasiõ es de pecado que
se aproximam. Um homem.

ATO DE CONTRIÇÃO
Meu Deus, sinto muito pelos meus pecados de todo o coraçã o. Ao
escolher fazer o mal e deixar de fazer o bem, pequei contra Você , a
quem deveria amar acima de todas as coisas. Tenciono irmemente,
com a tua ajuda, fazer penitê ncia, nã o pecar mais e evitar tudo o que me
leva a pecar. Nosso Salvador Jesus Cristo sofreu e morreu por nó s. Em
Seu nome, meu Deus, tenha piedade. Um homem.

ATO DE CONTRIÇÃO
O meu Deus, sinto muito pelos meus pecados porque te ofendi. Eu sei
que deveria te amar acima de todas as coisas. Ajuda-me a fazer
penitê ncia, a fazer melhor e a evitar tudo o que possa me levar a
pecar. Um homem.

ORAÇÃO ANTES DA CONFISSÃO


Recebe a minha con issã o, ó amoroso e gracioso Senhor Jesus Cristo,
ú nica esperança pela salvaçã o da minha alma. Conceda-me a verdadeira
contriçã o de alma, para que dia e noite eu possa, pela penitê ncia, fazer
satisfaçã o por meus muitos pecados.
Salvador do mundo, ó bom Jesus, que se entregou à morte de cruz para
salvar os pecadores, olha para mim, miserá vel de todos os
pecadores; tenha piedade de mim e dê -me a luz para conhecer meus
pecados, a verdadeira tristeza por eles e o irme propó sito de nunca
mais cometê -los novamente.
O graciosa Virgem Maria, Imaculada Mã e de Jesus, rogo-te que obtenha
para mim com a tua poderosa intercessã o estas graças do teu Divino
Filho.
Sã o José , reze por mim.

ORAÇÃO APÓS A CONFISSÃO


O Deus todo-poderoso e misericordioso, eu Te dou graças com todas as
forças da minha alma por esta e todas as outras misericó rdias, graças e
bê nçã os concedidas a mim, e prostrando-me aos Seus pé s sagrados, eu
me ofereço para ser doravante para sempre Seu. Nã o deixe nada na vida
ou na morte me separar de Você ! Eu renuncio com toda a minha alma
todas as minhas traiçõ es contra Ti, e todas as abominaçõ es e pecados
de minha vida passada. Renovo as minhas promessas feitas no
baptismo, e a partir deste momento dedico-me eternamente ao Teu
amor e serviço. Conceda que, no futuro, eu possa detestar o pecado
mais do que a pró pria morte e evitar todas as ocasiõ es e companhias
que infelizmente me trouxeram a ele. Resolvo fazer isso com a ajuda de
Sua graça divina, sem a qual nada posso fazer. Um homem.

SALMO 51
Um Salmo de Davi, quando o profeta Natã veio a ele, depois que ele tinha
ido para Bate-Seba.

Tem misericórdia de mim,


ó Deus, segundo o teu amor constante;
de acordo com a tua abundante misericórdia, apaga as minhas
transgressões.
Lava-me completamente da minha iniqüidade
e puri ica-me do meu pecado!
Pois eu conheço minhas transgressões
e meu pecado está sempre diante de mim.
Contra ti, só contra ti, pequei
e iz o que é mau aos teus olhos,
para que sejas justi icado na tua sentença
e irrepreensível no teu julgamento.
Eis que eu nasci em iniquidade
e em pecado me concebeu minha mãe.
Veja, você deseja a verdade no ser interior;
portanto, ensina-me sabedoria em meu coração secreto.
Puri ica-me com hissopo, e icarei limpo;
lava-me e icarei mais branco do que a neve.
Encha-me de alegria e alegria;
regozijem-se os ossos que quebraste.
Esconde a tua face dos meus pecados
e apaga todas as minhas iniqüidades.
Crie em mim um coração limpo,
ó Deus, e coloque um espírito novo e correto dentro de mim.
Não me lances fora da tua presença
e não retires o teu Espírito Santo de mim.
Restaura para mim a alegria da tua salvação
e sustenta-me com um espírito voluntário.
Então, ensinarei Seus caminhos aos transgressores,
e os pecadores voltarão para você.
Livra-me da culpa de sangue,
ó Deus, Deus da minha salvação,
e minha língua cantará em voz alta a Tua libertação.
Ó Senhor, abra meus lábios,
e minha boca mostrará Seu louvor.
Pois você não tem prazer no sacri ício;
se eu desse um holocausto,
você não icaria satisfeito.
O sacri ício aceitável a Deus é um espírito quebrantado;
coração quebrantado e contrito,
ó Deus, não o desprezarás.

O CHAPÉU DA MISERICÓRDIA DIVINA


A devoçã o à Divina Misericó rdia cresceu rapidamente na segunda
metade do sé culo XX, inspirada pelas revelaçõ es de nosso Senhor a
Santa Faustina Kowalska (1905–1938). No centro desta devoçã o está a
recitaçã o diá ria do Grinaldo da Divina Misericó rdia, à s trê s horas da
tarde, hora da morte de Jesus. O Chaplet of Mercy é recitado usando
contas de rosá rio comuns de cinco dé cadas.
Comece com o Pai Nosso, Ave Maria e o Credo dos Apóstolos:
Pai nosso, que está s nos cé us, santi icado seja o teu nome; Venha o teu
reino; Seja feita a tua vontade, assim na terra como no cé u. O pã o nosso
de cada dia nos dai hoje; e perdoa nossas ofensas como perdoamos
aqueles que nos ofenderam; e nã o nos deixes cair em tentaçã o, mas
livra-nos do mal. Um homem.
Ave Maria cheia de graça. O Senhor está contigo. Bendita é s tu entre as
mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre, Jesus. Santa Maria, Mã e de
Deus, rogai por nó s pecadores, agora e na hora de nossa morte. Um
homem.
Eu acredito em Deus, o Pai Todo-Poderoso, Criador do cé u e da terra; e
em Jesus Cristo, Seu ú nico Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo
Espı́rito Santo, nasceu da Virgem Maria, sofreu sob Pô ncio Pilatos, foi
cruci icado, morreu e foi sepultado. Ele desceu ao inferno; ao terceiro
dia, Ele ressuscitou dos mortos; Ele ascendeu ao cé u, está assentado à
destra de Deus, o Pai Todo-Poderoso; dali virá para julgar os vivos e os
mortos. Eu creio no Espı́rito Santo, na santa Igreja Cató lica, na
comunhã o dos santos, no perdã o dos pecados, na ressurreiçã o do corpo
e na vida eterna. Um homem.
Em seguida, na grande conta antes de cada década, ore:

Pai Eterno,
ofereço-te o Corpo e Sangue,
alma e divindade do Teu Filho amado,
Nosso Senhor Jesus Cristo,
em expiação pelos nossos pecados
e pelos do mundo inteiro.

Em cada uma das dez pequenas contas de cada década, diga:

Por causa de Sua dolorosa paixão,


tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro.

No inal de cada década, repita a seguinte oração três vezes:

Santo Deus,
Santo Poderoso,
Santo Imortal,
tenha piedade de nós
e do mundo inteiro.

APENDICE C:
E XAMINAÇAO DE C ONSCIENCIA

Os seguintes exames de consciê ncia foram reimpressos, com permissã o,


do excelente Handbook of Prayers, editado pelo Padre James Socias
(Chicago: Midwest Theological Forum, 1995). Você pode usá -los como
um guia ou fazer seu pró prio exame. Faça o que quer que o ajude a se
lembrar de seus pecados. Na presença de Deus, pergunte-se
calmamente o que você fez com pleno conhecimento e total
consentimento contra os mandamentos de Deus.

O PRIMEIRO MANDAMENTO
• Cumpri meus deveres para com Deus com relutâ ncia ou de má
vontade?
• Eu negligenciei minha vida de oraçã o? Eu recitei minhas oraçõ es
habituais?
• Recebi a sagrada Comunhã o em estado de pecado mortal ou sem a
preparaçã o necessá ria?
• Violei o jejum eucarı́stico de uma hora?
• Deixei de mencionar algum pecado grave em minhas con issõ es
anteriores?
• Acreditei seriamente em algo supersticioso ou me envolvi em uma
prá tica supersticiosa (leitura de mã os ou leitura da sorte, por
exemplo)?
• Eu duvidei seriamente de uma questã o de fé ?
• Eu coloquei minha fé em perigo - sem um bom motivo - ao ler um
livro, pan leto ou revista que conté m material contrá rio à fé ou à moral
cató lica?
• Eu coloquei minha fé em risco ao aderir ou participar de reuniõ es de
organizaçõ es que se opõ em à fé cató lica (serviços nã o cató licos,
Maçonaria, cultos da Nova Era ou outras religiõ es)? Participei de
alguma de suas atividades?
• Cometi o pecado de sacrilé gio (profanaçã o de uma pessoa, lugar ou
coisa sagrada)?

O SEGUNDO MANDAMENTO
• Deixei de tentar o meu melhor para cumprir as promessas e
resoluçõ es que iz a Deus?
• Tomei o nome de Deus em vã o? Usei o nome de Deus de maneira
irô nica, de brincadeira, com raiva ou de qualquer outra maneira
irreverente?
• Usei o nome da Bem-Aventurada Virgem Maria ou o nome de outro
santo para zombar, brincar, com raiva ou de qualquer outra maneira
irreverente?
• Fui patrocinador do batismo ou participei ativamente de outras
cerimô nias fora da Igreja Cató lica?
• Eu disse uma mentira sob juramento?
• Quebrei os votos (privados ou pú blicos)?

O TERCEIRO MANDAMENTO
• Perdi a missa no domingo ou em um dia sagrado de obrigaçã o?
• Nã o me vesti adequadamente para a missa?
• Cheguei, sem razã o su iciente, à missa tã o tarde que deixei de cumprir
o domingo ou dia sagrado de obrigaçã o?
• Permita-me ser distraı́do durante a Missa, por nã o prestar atençã o,
por olhar em volta por curiosidade, etc.?
• Eu iz com que outra pessoa se distraı́sse na missa?
• Desempenhei algum trabalho ou atividade comercial que inibisse a
adoraçã o devida a Deus, a alegria pró pria do Dia do Senhor, ou o
relaxamento adequado da mente e do corpo, em um domingo ou dia
sagrado de obrigaçã o?
• Fracassei em ajudar generosamente a Igreja em suas necessidades, na
medida do possı́vel?
• Deixei de jejuar ou abster-me no dia prescrito pela Igreja?

O QUARTO MANDAMENTO
Para os pais
• Deixei de ensinar a meus ilhos suas oraçõ es, de mandá -los à igreja ou
de dar-lhes uma educaçã o cristã ?
• Dei a eles um mau exemplo?
• Deixei de cuidar de meus ilhos; monitorar seus companheiros, os
livros que lê em, os ilmes e programas de TV que assistem?
• Nã o consegui providenciar para que meu ilho izesse sua primeira
con issã o e primeira comunhã o?
• Nã o consegui providenciar para que meus ilhos recebessem o
sacramento da con irmaçã o?

Para crianças
• Fui desobediente com meus pais?
• Eu deixei de ajudar meus pais quando minha ajuda era necessá ria?
• Tratei meus pais com pouco afeto ou respeito?
• Reagi com orgulho quando fui corrigido por meus pais?
• Eu tinha um desejo desordenado de independê ncia?
• Eu iz minhas tarefas?

O QUINTO MANDAMENTO
• Fiquei com raiva facilmente ou perdi a paciê ncia?
• Tive inveja ou ciú me dos outros?
• Eu feri ou tirei a vida de algué m? Eu já fui imprudente ao dirigir?
• Fui uma ocasiã o de pecado para outros por meio de conversa; contar
piadas religiosamente, racialmente ou sexualmente
ofensivas; curativo; convidar algué m para assistir a certos
shows; empré stimo de livros ou revistas prejudiciais; ajudando algué m
a roubar, etc.? Tentei reparar o escâ ndalo cometido?
• Quantas pessoas eu levei ao pecado? Que pecado ou pecados estavam
envolvidos?
• Eu negligenciei minha saú de? Eu tentei tirar minha vida?
• Eu me mutilei ou a outra pessoa?
• Fiquei bê bado ou usei drogas proibidas?
• Comi ou bebi mais do que o su iciente, deixando-me levar pela gula?
• Participei de alguma forma de violê ncia fı́sica?
• Eu consenti ou participei ativamente da esterilizaçã o direta
(laqueadura, vasectomia, etc.)? Eu percebo que isso terá um efeito
permanente em minha vida de casado e que terei que responder a Deus
por suas consequê ncias?
• Consenti, aconselhei algué m sobre, ou participei ativamente de um
aborto? Eu estava ciente de que a Igreja pune com excomunhã o
automá tica aqueles que procuram e realizam o aborto? Eu percebo que
este é um crime muito grave?
• Eu causei dano a algué m com minhas palavras ou açõ es?
• Desejei vingança ou abriguei inimizade, ó dio ou ressentimentos
quando algué m me ofendeu?
• Pedi perdã o sempre que ofendi algué m?
• Eu insultei ou provoquei outras pessoas de forma ofensiva?
• Briguei com um de meus irmã os ou irmã s?

OS SEXTO E NONO MANDAMENTOS


• Eu entretive intencionalmente pensamentos impuros?
• Consenti em desejos maus contra a virtude da pureza, embora nã o os
tenha realizado? Houve alguma circunstâ ncia que agravou o pecado:
a inidade (relaçã o por casamento), consanguinidade (relaçã o
consangü ı́nea), ou o estado de casado ou a consagraçã o a Deus da
pessoa envolvida?
• Eu me envolvi em conversas impuras? Eu comecei eles?
• Procurei diversã o em formas de entretenimento que me colocassem
em ocasiõ es pró ximas de pecado, como certos bailes, ilmes, shows ou
livros com conteú do imoral? Frequentei casas de má reputaçã o ou
mantive má s companhias?
• Eu percebi que já posso estar cometendo um pecado ao me colocar
em uma ocasiã o pró xima ao pecado, como dividir um quarto com uma
pessoa que considero sexualmente atraente ou estar sozinho com essa
pessoa em circunstâ ncias que podem levar ao pecado ?
• Deixei de cuidar dos detalhes de modé stia e decê ncia que sã o as
salvaguardas da pureza?
• Fracassei, antes de ir a um espetá culo ou de ler um livro, descobrir
suas implicaçõ es morais, para nã o me colocar em perigo imediato de
pecar e para nã o distorcer minha consciê ncia?
• Olhei deliberadamente para uma foto indecente ou lancei um olhar
indecente para mim ou para outra pessoa? Eu desejei voluntariamente
cometer tal pecado?
• Eu levei outras pessoas a pecados de impureza ou falta de
recato? Quais pecados?
• Cometi um ato impuro? Por mim, por meio da masturbaçã o (que
objetivamente é um pecado mortal)? Com outra pessoa? Quantas
vezes? Com algué m do mesmo sexo ou do sexo oposto? Houve alguma
circunstâ ncia de relacionamento (como a inidade) que poderia ter dado
gravidade especial ao pecado? Esse relacionamento ilı́cito resultou em
gravidez? Fiz algo para prevenir ou interromper essa gravidez?
• Tenho amizades que sã o ocasiõ es habituais de pecados sexuais? Estou
preparado para acabar com eles?
• No namoro, o amor verdadeiro é minha razã o fundamental para
querer estar com outra pessoa? Vivo o sacrifı́cio constante e alegre de
nã o colocar a pessoa que amo em perigo de pecar? Eu degradarei o
amor humano ao confundi-lo com egoı́smo ou mero prazer?
• Eu me envolvi em atos como “carı́cias”, “carı́cias”, beijos apaixonados
ou abraços prolongados?

Para pessoas casadas


• Eu, sem motivo grave, privei meu cô njuge do direito
conjugal? Reivindiquei meus pró prios direitos de uma forma que nã o
demonstrou nenhuma preocupaçã o com o estado de espı́rito ou saú de
de meu cô njuge? Traı́ a idelidade conjugal no desejo ou na açã o?
• Tomei “a pı́lula” ou usei algum outro dispositivo anticoncepcional
arti icial antes ou depois de uma nova vida já ter sido concebida?
• Eu, sem motivo grave, com a intençã o de evitar a concepçã o, usei o
casamento apenas nos dias em que provavelmente nã o haveria ilhos?
• Eu sugeri a outra pessoa o uso de pı́lulas anticoncepcionais ou outro
mé todo arti icial de prevençã o da gravidez (como preservativos)?
• Eu contribuı́ para a mentalidade contraceptiva com meus conselhos,
piadas ou atitudes? (Sobre aborto, contracepçã o, esterilizaçã o, etc., veja
també m o Quinto Mandamento.)

OS SÉTIMO E DÉCIMO MANDAMENTOS


• Eu roubei? Quanto dinheiro? Ou quanto valia o objeto? Devolvi ou
pelo menos tive a intençã o de fazê -lo?
• Eu causei ou causei danos à propriedade de outra pessoa? Até que
ponto?
• Eu prejudiquei algué m por engano, fraude ou coerçã o em contratos ou
transaçõ es comerciais?
• Gastei desnecessariamente alé m de minhas possibilidades? Gasto
muito dinheiro por vaidade ou capricho?
• Dou esmolas de acordo com a minha capacidade?
• Eu tinha inveja dos bens do meu vizinho?
• Esqueci de pagar minhas dı́vidas?
• Aceitei intencionalmente bens roubados?
• Tive vontade de roubar?
• Cedi à preguiça ou ao amor pelo conforto em vez de trabalhar ou
estudar diligentemente?
• Fui ganancioso? Tenho uma visã o da vida excessivamente
materialista?

O OITAVO MANDAMENTO
• Eu disse mentiras? Reparei algum dano que possa ter resultado como
consequê ncia disso?
• Acusei outras pessoas injustamente ou precipitadamente?
• Eu pequei por detraçã o, isto é , por contar as faltas de outra pessoa
sem necessidade?
• Pequei por calú nia, isto é , contando mentiras depreciativas sobre
outra pessoa?
• Eu me envolvi em fofoca, calú nia ou contaçã o de histó rias?
• Revelei um segredo sem justa causa?

MAIS CURTO EXAME DE CONSCIÊNCIA


• Quando foi minha ú ltima boa con issã o? Recebi a comunhã o ou outros
sacramentos enquanto estava em pecado mortal? Eu falhei
intencionalmente em confessar algum pecado mortal em minha
con issã o anterior?
• Eu deliberadamente e seriamente duvidei de minha fé , ou me coloquei
em risco de perdê -la por ler literatura hostil aos ensinamentos cató licos
ou por me envolver com seitas nã o cató licas? Eu me envolvi em
atividades supersticiosas, como leitura de mã os e leitura da sorte?
• Tomei o nome de Deus em vã o? Eu amaldiçoei ou iz um juramento
falso? Usei linguagem impró pria?
• Perdi a missa de domingo ou dia santo de obrigaçã o por culpa minha,
sem motivo grave? Jejuei e me abstive nos dias prescritos?
• Eu desobedeci a meus pais ou superiores legais em assuntos
importantes?
• Fui egoı́sta na maneira como tratei os outros, especialmente meu
cô njuge, meus irmã os e irmã s, meus parentes ou meus amigos? Eu
briguei odiosamente com algué m ou desejei vingança? Eu me recusei a
perdoar? Eu causei ferimentos fı́sicos ou mesmo a morte? Eu iquei
bê bado? Tomei drogas ilı́citas? Consenti, aconselhei algué m sobre ou
participei ativamente de um aborto?
• Eu olhei deliberadamente para fotos indecentes ou assisti ilmes
imorais? Eu li livros ou revistas imorais? Eu me envolvi em piadas ou
conversas impuras? Eu entretive intencionalmente pensamentos ou
sentimentos impuros? Cometi atos impuros, sozinho ou com outras
pessoas? Tomei pı́lulas anticoncepcionais ou abortivas, ou usei outros
meios arti iciais para prevenir a concepçã o?
• Roubei ou dani iquei propriedade de outra pessoa? Quanto valeu a
pena? Fiz reparaçã o pelos danos causados? Fui honesto em minhas
relaçõ es comerciais?
• Eu disse mentiras? Eu pequei por calú nia? Por detraçã o - contar faltas
graves desconhecidas de outros sem necessidade? Julguei os outros
precipitadamente em assuntos sé rios? Tentei restituir qualquer dano à
reputaçã o que causei?

Se você se lembrar de outros pecados graves alé m dos indicados aqui,


inclua-os també m em sua con issã o.

FONTES E
REFERENCIAS
“Não há maneira mais insidiosa…”: J. Pieper, The Four Cardinal
Virtues (Notre Dame, Ind .: University of Notre Dame Press, 1966), 15.

Mas na tradição de Israel…: Ver J. Klawans, Impurity and Sin in Ancient


Judaism (Nova York: Oxford University Press, 2000); E. Mazza, As
Origens da Oração Eucarística (Collegeville, Minn .: Liturgical Press,
1995), 7; S. Lyonnet e L. Sabourin, Sin, Redemption, and Sacri ice: A
Biblical and Patristic Study (Roma: Biblical Institute Press, 1970); S.
Porubcan, Sin in the Old Testament: A Soteriological Study (Roma:
Herder, 1963); BF Minchin, Covenant and Sacri ice (Nova York:
Longmans, Green and Co., 1958).
O Papa Joã o Paulo II enfatiza a necessidade de restaurar um senso
adequado de pecado com base nas Escrituras: “Existem boas razõ es
para esperar que um senso saudá vel de pecado loresça
novamente. Isso será ... iluminado pela teologia bı́blica da aliança ...
”Sobre a natureza distinta e o mé todo da teologia bíblica , ver A. Cardeal
Bea,“ Progresso na Interpretaçã o da Sagrada Escritura, ” Theology
Digest 1.2 (Spring 1953): 71: “Surgiu a teologia bíblica , que está
intimamente ligada à exegese. Esta ciê ncia nã o está primariamente
preocupada em encontrar argumentos nas Escrituras para verdades
dogmá ticas. Em vez disso, visa apresentar, de forma uni icada e
sistemá tica, a origem e o desenvolvimento da doutrina revelada em
seus está gios sucessivos. Assim, tira verdades individuais de seu
isolamento e as insere em um sistema homogê neo, que nã o é algo
arti icial, mas sim um sistema querido pelo pró prio Deus. Este é talvez o
maior progresso que a exegese fez ao longo dos sé culos ”.

Ele quer que eles confessem ...: Ver GA Anderson, “Puniçã o ou Penitê ncia
para Adã o e Eva?” em The Genesis of Perfection: Adam and Eve in Jewish
and Christian Imagination (Louisville: Westminster John Knox, 2001),
135–54.

Tome, por exemplo, Levítico 5: 5-6 ...: Veja H. Maccoby, The Ritual Purity
System and Its Place in Judaism (Nova York: Cambridge University Press,
1999), 192: “Para a funçã o da oferta de pecado (corretamente assim
chamado) é ... para expiar o pecado do ofertante. E por isso que o ponto
culminante da oferta é a declaraçã o ... 'e ele será perdoado' ”. J.
Milgrom, Leviticus 1-16 (New York: Doubleday, 1991); N. Kiuchi, A
oferta de puri icação na literatura sacerdotal (Shef ield: JSOT, 1981).

Amor signi ica obras…: Sã o Josemarı́a Escrivá , Caminho (Manila: Sinag-
Tala, 1982), n. 933.

“Usando um pouco de imaginação…”: GJ Wenham, The Book of


Leviticus (Grand Rapids, Mich .: Eerdmans, 1979), 52–55, 111. Ver GJ
Wenham, Numbers: An Introduction and Commentary (Downers Grove,
Ill .: Inter-Varsity Press, 1981), 26–30: “O grosso da lei ritual no
Pentateuco indica sua importâ ncia para os escritores bı́blicos…. Em
suma, se nã o entendemos o sistema ritual de um povo, nã o entendemos
o que faz sua sociedade funcionar. Os modernos tê m uma antipatia
embutida por gestos rituais e simbó licos…. Embora tais tendê ncias
sejam mais ó bvias entre os protestantes, tendê ncias semelhantes sã o
discernı́veis dentro do catolicismo…. Muito poucos se importariam com
as despesas, quanto mais com a bagunça, do sacrifı́cio do Antigo
Testamento. E fá cil cantar ... mas trazer um touro inteiro, matá -lo,
esfolá -lo, picá -lo e entã o assistir todo o lote queimar no altar, seria
outra histó ria. No entanto, era exatamente isso que se esperava que
algué m que oferecesse um holocausto [Lv 1] izesse. ” Em outro lugar,
Wenham observa: “O Levı́tico de fato instrui o leigo a matar seu pró prio
animal, mas em tempos posteriores esse direito era restrito aos levitas,
e mais tarde ainda apenas aos sacerdotes” (p. 76). Ver també m AI
Baumgarten, ed., Sacri ice in Religious Experience (Leiden: EJ Brill,
2002); RT Beckwith e MJ Selman, Sacri ice in the Bible (Grand Rapids,
Mich .: Baker Books, 1995); S. Sykes, ed., Sacri ice and
Redemption (Nova York: Cambridge University Press, 1991); GA
Anderson, Sacri ice and Offerings in Ancient Israel (Atlanta: Scholars
Press, 1987); RJ Daly, As Origens da Doutrina Cristã do
Sacri ício (Philadelphia: Fortress Press, 1978); R. de Vaux, Studies in Old
Testament Sacri ice (Cardiff: University of Wales Press, 1964); GB
Gray, Sacri ice in the Old Testament (Oxford: Clarendon Press,
1925). Sobre a antiga abordagem israelita da culpa e da inocê ncia, do
sofrimento e da penitê ncia, ver G. Kwakkel, Segundo My Righteousness:
Upright Behavior as Grounds for Deliverance (Leiden: EJ Brill, 2002); RA
Weline, Oração Penitencial no Judaísmo do Segundo Templo: O
Desenvolvimento de uma Instituição Religiosa (Atlanta: Scholars Press,
1998); F. Linstrom, Suffering and Sin: Interpretations of Illness in the
Individual Complaint Salms (Estocolmo: Almqvist & Wiksell, 1994).

Os leigos confessavam seus pecados pelo menos uma vez por ano…: Ver J.
Bonsirven, Judaísmo palestino no tempo de Jesus (Nova York: Holt,
Rinehart e Winston, 1964), 116: “A penitê ncia inclui vá rios
atos. Primeiro, deve haver uma con issã o de pecados, que deve
preceder qualquer oferta. També m é aconselhá vel confessar
anualmente no Dia da Expiaçã o, juntamente com o sumo sacerdote, e
vá rias outras vezes durante a vida [ Tos. Yom Hakkippurim , v,
14ss]. Para ser sincero, deve incluir uma admissã o detalhada de todas
as faltas das quais a pessoa é culpada e a promessa de nã o pecar
mais. Se estas duas condiçõ es nã o forem cumpridas, é falsa penitê ncia e
nã o pode levar ao perdã o divino…. [ Tos. Taan. , 1, 8]. Alé m disso, se
você ofendeu algué m, você deve reparar o dano e tentar se reconciliar
com ele. ”
Nós, pecadores modernos, poderíamos aprender muito ...: Para uma
aplicaçã o recente e muito frutı́fera da "teoria dos atos de fala" à
con issã o de pecado e absolviçã o (como "declaraçõ es performativas",
ou seja, "amarrar e soltar"), consulte RS Briggs, Words in Action : Speech
Act Theory and Biblical Interpretation (New York: T. & T. Clark, 2001),
217-55.

Ele, portanto, deu-lhes um poder superior ...: O poder de "ligar e


desligar", que Cristo conferiu aos doze apó stolos (Mt 18:18), é parte
integrante das "chaves do reino", que Cristo deu a Pedro (Mt 16: 17-19),
ambos relacionados à absolviçã o dos pecados; ver CCC 553: “O poder de
'ligar e desligar' conota a autoridade para absolver pecados ...” (ver
també m CCC 979, 981, 1444).

O termo que ele usa para clérigos…: Ver “ Presbyterorum Ordinis ”


(“Decreto sobre o Ministé rio e a Vida dos Presbı́teros”), em A. Flannery,
ed., Concílio Vaticano II: Os Documentos Conciliares e Pós-
Conciliares (Grand Rapids, Mich. : Eerdmans, 1992), 863–902. Sobre o
papel sacerdotal dos “presbı́teros” em Jas 5: 14-16, ver M.
Miguens, Church Ministries in New Testament Times (Arlington, Va .:
Christian Culture Press, 1976), 78-79; ver també m RA Campbell, The
Elders: Seniority Within Earliest Christianity (Edinburgh: T. & T. Clark,
1994), 234; e o documento ITC, “The Priestly Ministry,” in International
Theological Commission: Texts and Documents 1969–1985 (San
Francisco: Ignatius Press, 1989), 45–63.

Cristãos construíram suas próprias sinagogas ...: Veja LM White, “As


Origens Sociais da Arquitetura Cristã : Adaptaçã o Arquitetural Entre
Pagã os, Judeus e Cristã os,” Harvard Theological Studies 42 (Valley Forge,
Pa .: Trinity Press International, 1996); GF Snyder, Ante Pacem:
Archaeological Evidence of Church Life Before Constantine (Macon, Ga .:
Mercer University Press, 1985).

Alguns estudiosos modernos dizem que partes…: Mazza, As Origens da


Oração Eucarística , 40-41.
Suplico-vos, amados irmãos…: Sã o Cipriano de Cartago, O Decorrido 29.

O erudito egípcio Orígenes…: Homilias sobre o Levítico 2.4.5.

“Justiça e misericórdia…”: Santo Tomá s de Aquino, Catena Aurea in


Matthaeum 5.5.

“Mercy does not override justice…”: P. Stravinskas, ed., Enciclopédia


Católica (Huntington, Ind .: Our Sunday Visitor, 1998), 666. Ver a carta
encı́clica do Papa Joã o Paulo II, Dives in Misericordia: On the Mercy de
Deus (30 de novembro de 1980); e S. Michalenko, "Uma Contribuiçã o
para a Discussã o sobre a Festa da Divina Misericó rdia", em R. Stackpole,
ed., Divina Misericórdia: O Coração do Evangelho (Stockbridge, Missa:
Instituto Joã o Paulo II da Divina Misericó rdia, 1999 ), 128: “[A]
csegundo Santo Tomá s, a misericó rdia é a causa primeira de toda a
criaçã o e Sã o Bernardo declara que a misericó rdia é a causa causissima
causarum omnium .” Sobre a imensurá vel grandeza da misericó rdia
como o maior atributo e o maior nome de Deus, ver Ex 33: 17-23, e S.
Hahn, Um Pai que Mantém Suas Promessas: O Amor da Aliança de Deus
nas Escrituras (Ann Arbor, Mich .: Servant Books, 1998 ), 159–60.

Nos primeiros dias, aqueles que confessavam pecados graves…: Ver JA


Favazza, A Ordem dos Penitentes: Raízes Históricas e Futuro
Pastoral (Collegeville, Minn .: Liturgical Press, 1988).

O lugar ordinário e “próprio…”: CIC , Can 964, § 1, 3; Pontifı́cio Conselho


para a Interpretaçã o dos Textos Legislativos, Responsa ad propositum
dubium: de loco excipiendi sacramentales confessiones (7 de julho de
1998): AAS 90 (1998), 711. Papa Joã o Paulo II, Motu
Proprio Misericordia Dei (7 de abril de 2002).

No entanto, quanto mais as coisas mudam ...: Sobre o complexo


desenvolvimento do sacramento da penitê ncia, ver B.
Poschmann, Penance and the Uninting of the Sick (Nova York: Herder
and Herder, 1968), 5–219; P. Riga, Sin and Penance: Insights into the
Mystery of Salvation (Milwaukee: Bruce Publishing, 1962), 78-122; OD
Watkins, A History of Penance , 2 vols. (Nova York: Franklin, 1961); PF
Palmer, Sacramentos e Perdão: História e Desenvolvimento Doutrinal da
Penitência, Extrema Unção e Indulgências (Westminster, Md .: Newman
Press, 1959), 1–270; JA Spitzig, Sacramental Penance in the décimo
segundo e décimo terceiro séculos (Washington, DC: Catholic University
of America Press, 1947).
Sobre a in luê ncia formativa dos livros penitenciais medievais, ver AJ
Minnis e P. Biller, eds., Handling Sin: Confession in the Middle
Ages (Rochester, NY: York Medieval Press, 1998); H. Connolly, The Irish
Penitentials: Your Signi icance for the Sacrament of Penance
Today (Dublin: Four Courts Press, 1995); JT McNeill e HM
Gamer, Medieval Handbooks of Penance: A Translation of the Principal
“Libri Poenitentiales” (Nova York: Columbia University Press, 1990).
Sobre a sı́ntese doutriná ria da Igreja Cató lica desde Santo Tomá s de
Aquino, ver JMT Barton, Penance and Absolution (Nova York: Hawthorn,
1961); P. Galthier, Sin and Penance (Nova York: B. Herder, 1932); CE
Schieler, Theory and Practice of the Confessional (Nova York: Benziger
Brothers, 1905).
Sobre o sacramento desde o Vaticano II, ver a exortaçã o apostó lica do
Papa Joã o Paulo II, Reconciliatio et Paenitentia (2 de dezembro de
1984); GA Kelly, ed., O Sacramento da Penitência em Nosso
Tempo (Boston: Ediçõ es St. Paul, 1976); cf. K. Osborne, Reconciliação e
Justi icação: The Sacrament and Its Theology (Nova York: Paulist Press,
1990); J. Dallen, The Reconciling Community: The Rite of Penance (Nova
York: Pueblo, 1986); MK Hellwig, Sign of Reconciliation and Conversion:
The Sacramento of Penance for Our Time (Wilmington, Del .: Michael
Glazer, 1984).

O casamento era um convênio ...: Veja GP Hugenberger, Marriage as a


Covenant: A Study of Biblical Law and Ethics Governing
Marriage (Leiden: EJ Brill, 1994), especialmente seu tratamento
exaustivo de fazer convê nios e juramento (pp. 168- 279).

“A liturgia da renovação…”: Mazza, Origens da Oração Eucarística , 7.


A palavra latina para juramento ...: Ver Plı́nio, o
Jovem, Epístola 10.96; K. Hein, Eucharist and Excommunication: A Study
in Early Christian Doutrine and Discipline (Frankfurt: Peter Lang, 1973),
199–204; MG Kline, By Oath Consigned: A Reinterpretation of the
Covenant Signs of Circuncision and Baptism (Grand Rapids, Mich .:
Eerdmans, 1968), 79-81. A importâ ncia do juramento na prá xis da
aliança da antiga Igreja re lete um fenô meno semelhante na antiga lei e
liturgia israelita; ver a resenha de G. Giesen de DL Magnetti, Die Wurzel
“schworen”, no Journal of Biblical Literature 103 (1984), 438: “A
instituiçã o do juramento era de grande importâ ncia em todas as facetas
da vida social, jurı́dica e religiosa na antiguidade Israel."

O arrependimento tem que ser genuíno ...: Para um bom tratamento do


papel da contriçã o no ensino de Santo Tomá s de Aquino, ver HJM
Schoot, ed., Tibi Soli Peccavi: Thomas Aquinas on Guilt and
Forgiveness (Leuven: Peeters, 1996); CR Meyer, The Thomistic Concept
of Justifying Contrition (Mundelein, Ill .: Seminary Press, 1949).

Em tempos de extrema emergência ...: Ver CCC 1483.

As palavras de absolvição não são ...: O sacerdote absolvedor age na


pessoa de Cristo. Consulte CCC 1548–51.

No século IV, São Basílio dizia…: Regra 288.

No mesmo século, Santo Ambrósio declarou…: De poenitentiae , II, ii, 12


(ver I, ii, 6–7).

São João Crisóstomo…: Sobre o Sacerdócio , pp. 3,5–6.

O Papa João Paulo II disse: “Certamente…”: Reconcilatio et Paenititentia ,


17.6.

O Papa João Paulo II escreveu: “O pecado venial não ...”: Ibid.,


17.9. Explica ainda: “Santo Agostinho, entre outros, fala
de letalia ou mortifera crimina , contrastando-as com venalia,
levia ou quotidiana . O signi icado que ele dá a esses adjetivos foi o de
in luenciar o magisté rio sucessivo da igreja. Depois dele, foi Santo
Tomá s que formulou nos termos mais claros possı́veis a doutrina que se
tornou uma constante na Igreja ”(ibid., 17,8).

O Papa João Paulo II ensinou: “Não se deve esquecer ...”: Audiê ncia Geral,
11 de março de 1984, n. 2

Disse o Papa João Paulo II: “A con issão destes pecados…”: Ibid.

O hebraico, na verdade, repete a palavra morrer ...: Para uma explicaçã o


mais completa do signi icado da expressã o hebraica ( moth tamuth ),
consulte S. Hahn, First Comes Love: Finding Your Family in the Church
and the Trinity (Nova York: Doubleday, 2002 ), 66–75, 188–91; S.
Sekine, Transcendency and Symbols in the Old Testament (Nova York:
Walter de Gruyter, 1999), 240-42 (“Addendum [2]: On the contradiction
around dying”).

O maior dos antigos comentaristas judeus…: Philo, Legum


Allegoriae 1.105–108; citado por M. Kolarcik, A Ambiguidade da Morte
no Livro da Sabedoria 1–6 (Roma: Pontifı́cio Instituto Bı́blico, 1991), 77.

O que está claro é que Adam enfrentou uma força formidável com risco de
vida: Esta seçã o foi adaptada de Hahn, First Comes Love , 68-73, 187-
88; idem, Um Pai que Mantém Suas Promessas , 65–71, 272–76. Ver C.
Leget, Living with God: Thomas Aquinas on the Relation Between Life on
Earth and "Life" After Death (Leuven: Peeters, 1997), 117-18, 164-76,
265-66. Veja o documento promulgado pela Congregaçã o para a
Doutrina da Fé , Fé Cristã e Demonologia (Boston: St. Paul Books, 1975),
15-16: “E por isso que os Padres da Igreja, convencidos pelas Escrituras
de que Sataná s e os os demô nios sã o os adversá rios… nã o deixaram de
lembrar aos ié is sua existê ncia e atividade…. De uma forma mais ampla
e contundente, Santo Agostinho o mostrou trabalhando na luta das
'duas cidades'…. Na sociedade dos pecadores, ele viu um 'corpo' mı́stico
do diabo, e essa ideia reaparece mais tarde na Moralia de Sã o Gregó rio,
o Grande em Jó ”(citando De Civitate Dei XI, 9; PL 34.441-41; PL 76, 694,
705 , 722).

O Papa Pio XI escreveu…: “Sobre a Igreja e o Terceiro Reich,” em Mit


Brennender Sorge (14 de março de 1937); ele continua: “E a perda da
graça e, portanto, da vida eterna, que todos devem - com a ajuda da
graça, penitê ncia, resistê ncia e esforço moral - reprimir e
conquistar”. Sobre a noçã o de pecado original como a “morte da alma”
atravé s da “perda da vida divina”, ver C. Schonborn, Loving the
Church (San Francisco: Ignatius Press, 1998), 68-69: “O pecado original
nã o é uma qualidade positiva herdada por cada homem de seus
antepassados, mas antes a falta de uma qualidade que ele deveria ter
herdado. Pode-se interpretar o pecado original, portanto, como o
estado inicial de nã o pertencer ao Povo de Deus. ” Ver MJ Scheeben, The
Mysteries of Christianity (St. Louis: Herder, 1946), 295-310; C.
Belmonte, ed., Fé Buscando Compreensão: Um Curso Completo de
Teologia , vol. 1 (Manila: Studium Theologiae Foundation, 1993), 248–
51; DS 1512–13.

The Law of (Moral) Gravity: See S. Pinckaers, Morality: The Catholic


View (South Bend, Ind .: St. Augustine's Press, 2001); idem, The Sources
of Christian Ethics (Washington, DC: Catholic University of America
Press, 1995); R. Cessario, Introdução à Teologia Moral (Washington, DC:
Catholic University of America Press, 2001).

Sacramental Confection ...: The Confessions of St. Augustine (Nova York:


Doubleday 1960), 69-76.

Os teólogos chamam de concupiscê ncia ...: Retirado do “Glossary and


Index Analyticus,” em Catecismo da Igreja Católica (Washington, DC:
USCC, 2000), 871-72. Veja JJ Hugo, St. Augustine on Nature, Sex, and
Marriage (Chicago: Scepter Press, 1969), 52-78; Belmonte, Fé em Busca
da Compreensão, 251.

Punido pelo prazer: Ver J. Gildea, trad., Source Book of Self-Discipline: A


Synthesis of "Moralia in Job", de Gregory the Great (uma tradução
do "Remediarium Conversorum" de Peter of Waltham ) (Nova York:
Peter Lang, 1991), 47–56, 129–46, 152–60, 173, 193–200; LE Vaage e V.
Wimbush, Asceticism and the New Testament (New York: Routledge,
1999); EA Clark, Reading Renunciation: Asceticism and Scripture in Early
Christianity (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1999); TM
Shaw, The Burden of the Flesh: Fasting and Sexuality in Early
Christianity (Minneapolis: Fortress Press, 1998). Para um tratamento
notá vel dessa ê nfase na teologia moral e espiritual de Sã o Gregó rio, ver
C. Straw, Gregory the Great: Perfection in Imperfection (Los Angeles:
University of California Press, 1988). Cf. CS Lewis, The Allegory of Love:
A Study in Medieval Tradition (Londres: Oxford University Press, 1959),
14-23.
Santo Tomás de Aquino explica…: Summa Theologica I. 1. 10 ad 3. Santo
Tomá s de Aquino interpreta a ira de Deus como igurativa, mas real, ou
seja, como uma expressã o antropomó r ica que descreve como o amor
santo e justo de Deus é experimentado por um pecador impenitente
que se recusa Sua misericó rdia. Ver FJ de Grijs, "Thomas Aquinas
on Ira as a Divine Metaphor", em Schoot, Tibi Soli Peccavi , 19-46; Luigi
Cardeal Ciappi, O Coração de Cristo: O Centro do Mistério da
Salvação (Roma: CDC Publishers, 1983), 26–30. Cf. JI Packer, Knowing
God (Downers Grove, Ill .: Inter-Varsity Press, 1973), 139, que defende a
visã o protestante evangé lica comum da ira de Deus como uma "atitude
emocional ... de ó dio à irreligiã o".

A ira de Deus foi de inida como…: de Grijs, “Tomá s de Aquino


em Ira como uma metá fora divina,” 44. Ele acrescenta, “[T] que é
representado na metá fora da ira de Deus, deve se tornar um pouco mais
claro: a saber: , o Deus Triú no, que nã o se deixa desprezar, é um Deus
de amor cujo reino nã o é um berçá rio ”(p. 45). Ele resume o tratamento
cuidadoso de Santo Tomá s das 168 passagens do Antigo Testamento
que falam da ira de Deus: “Nã o é dito de Deus no sentido adequado,
porque implica uma paixã o e, portanto, um componente corporal e
reatividade” (p. 29). Ele conclui assim: “O falar da Escritura sobre
a iustitia [justiça] e misericordia [misericó rdia] de Deus só pode ser
entendido como estando enraizado no amor Dei [amor de Deus] e como
elaboraçõ es do que se entende por amor Dei … a Escritura fala a
verdade da ira e vingança de Deus, mas Ele pune ex animi
tranquillitate : Deus nunca perde a paciê ncia ”(pp. 33-34).

Assim, chegamos ao vocabulário ...: Para os vá rios "modelos da


expiaçã o", consulte R. Nicole, "The Nature of Redemption", em Standing
Forth: The Collected Writings of Roger Nicole (Roshire, UK: Focus, 2002)
, 245–82; JB Green e MD Baker, Recovering the Scandal of the Cross:
Atonement in New Testament and Contemporary Contexts (Downers
Grove, Ill .: Inter-Varsity Press, 2000). Para um tratamento profundo do
uso de Paulo de termos “econô micos” ao descrever a salvaçã o,
interpretado à luz da adoraçã o do culto e das antigas “economias do
templo” (na Judé ia e no mundo greco-romano), ver D. Georgi, “Is There
Justi icaçã o in Dinheiro? Uma Meditaçã o Histó rica e Teoló gica sobre os
Aspectos Financeiros da Justi icaçã o por Cristo ”, em Remembering the
Poor: The History of Paul's Collection for Jerusalem (Nashville: Abingdon
Press, 1992), 141-65. Veja també m Hahn, First Comes Love , 82-94.

Mas, de acordo com a lógica da aliança…: Ver Ciappi, O Coração de


Cristo , 234-35: “O misté rio da Redençã o é essencialmente e
principalmente um misté rio de amor. A Bı́blia, os Padres da Igreja e a
teologia cató lica em geral nos dizem que Jesus Cristo fez satisfaçã o
in inita por todos os pecados da humanidade, merecendo um tesouro
in inito de expiaçã o, nã o porque Ele foi feito o objeto do ó dio vingativo
de Deus o Pai ... mas porque Ele se imolou gratuitamente no altar da
Cruz, como Cabeça de uma nova humanidade, movida pelo Seu imenso
amor: 'Cristo, sofrendo com um espı́rito de amor e obediê ncia, ofereceu
a Deus mais do que o exigido em recompensa por todos os pecados da
humanidade '”(citando Tomá s de Aquino, Summa Theologica III, 48.2)
Em outro lugar, Tomá s de Aquino observa:“ Deus desejava manifestar
Sua in inita misericó rdia de tal forma que Sua justiça nã o fosse de
forma alguma comprometida ”( III Enviados ., Dist. I, 1, 2 , citado por
Ciappi, p. 40). Para ensinamentos magisteriais recentes que a irmam
"representaçã o do pacto" e "satisfaçã o vicá ria", mas nã o "substituiçã o
penal", consulte "Perguntas selecionadas sobre cristologia"
em Documentos da Comissão Teológica Internacional , 200-202: "O que
era tradicionalmente chamado de 'expiaçã o vicá ria' deve ser
compreendido, transformado e elevado ao á pice de um 'evento
trinitá rio'…. Por meio do conceito de substituiçã o, a ê nfase recai no fato
de que Cristo assume a condiçã o de pecadores. Isso nã o quer dizer que
Deus puniu ou condenou Cristo em nosso lugar, uma teoria
erroneamente avançada por muitos autores, teó logos reformados em
particular. ” Recentemente, um nú mero crescente de protestantes
evangé licos está tirando conclusõ es muito semelhantes; ver MJ
Gorman, Cruciformity: Paul's Narrative Spirituality of the Cross (Grand
Rapids, Mich .: Eerdmans, 2001); JR Wilson, God So Loved the
World (Grand Rapids, Mich .: Baker Books, 2001).

Os sacramentos são agora o meio ...: Sobre a derivaçã o dos sacramentos


da Igreja da paixã o salvı́ ica de Cristo, ver o comentá rio de Santo Tomá s
de Aquino sobre as Sentenças ( IV Sent. , D.18q. 1a. 1 qc. 1): “A porta do
o reino está fechado para nó s pelo pecado…. Assim, o poder pelo qual
tal obstá culo à entrada no reino é removido é chamado de chave…. Este
poder está na Santı́ssima Trindade por autoridade, mas este poder
estava na humanidade de Cristo para a remoçã o deste obstá culo pelo
mé rito de sua paixã o…. Agora os sacramentos luı́ram do lado de Cristo
dormindo na cruz, pela qual a Igreja foi criada. Por isso, a pró pria
e icá cia da paixã o permanece nos sacramentos da Igreja. E por isso que,
nos ministros da Igreja, dispensadores dos sacramentos, resta um certo
poder para a remoçã o do referido obstá culo. E esse poder nã o é pró prio
dos ministros, mas é o poder divino da paixã o de Cristo. Este poder é
metaforicamente chamado de chave da Igreja, que é a chave do
ministé rio ”. Para Santo Tomá s de Aquino, nosso pecado é superado - na
justiça - pelo amor de Cristo, como o gelo é superado - na natureza -
pelo calor do sol.

Como Santo Atanásio declarou…: De Incarnatione 54, 3: PG 25, 192B; ver


J. Gross, A Divinização do Cristão Segundo os Padres Gregos (Anaheim,
Califó rnia: A & C Publishers, 2002); JD Finch, “Santidade como
Participaçã o na Natureza Divina de acordo com os Pais Orientais Ante-
Nicenos, Considerada à Luz do Palamismo” (Ph.D. diss., Drew
University, 2002); CCC 460.
Os fariseus observavam essas tradições…: Ver T. Kazen, Jesus e a Pureza
“Halakhah”: Jesus era indiferente à impureza? (Estocolmo: Almqvist &
Wiksell, 2002); J. Neusner, The Rabbinic Traditions About the Pharisees
Before 70 (Lanham, Md .: University Press of America, 1999), 291-
94. Ver també m Santo Tomá s de Aquino, Summa Theologica I – II: 102,
5, 4: “A razã o igurativa para os diferentes tipos de impureza ritual era
que cada um signi icava diferentes tipos de pecado. A impureza de um
cadá ver signi ica a impureza do pecado, que é a morte da alma. A
impureza da lepra signi icava doutrina heré tica, visto que é contagiosa,
como a lepra ... ”

O velho então faz algo notável: Ver K. Bailey, The Cross and the Prodigal:
The 15th Chapter of Luke, Seen Through the Eyes of Middle Eastern
Peasants (St. Louis: Concordia, 1973), 54-61.

O comentarista do terceiro século Origen ...: Origen, Homilies on


Luke (Washington, DC: Catholic University of America Press, 1996),
215.

Esta é a retórica da escravidão, não da iliação .: Ver Papa Joã o Paulo


II, Crossing the Threshold of Hope (Nova York: Alfred A. Knopf, 1994),
227-28: “Algué m pode pensar - e nã o há falta de evidê ncias para este
efeito - que o paradigma de Hegel do senhor e do servo está mais
presente na consciê ncia das pessoas hoje do que a sabedoria, cuja
origem está no temor ilial de Deus. A ú nica força capaz de contrariar
efetivamente esta iloso ia encontra-se no Evangelho de Cristo, no qual
o paradigma do senhor-escravo se transforma radicalmente no
paradigma do pai- ilho. O paradigma pai- ilho não tem idade . E mais
antigo que a histó ria humana. Os 'raios da paternidade' contidos nesta
formulaçã o pertencem ao pró prio misté rio trinitá rio de Deus, que dele
emana iluminando o homem e a sua histó ria…. O pecado original tenta,
então, abolir a paternidade ..., colocando em dú vida a verdade sobre
Deus que é Amor e deixando o homem apenas com um senso de relaçã o
senhor-escravo. ”
O escritor espiritual Padre John Hugo ...: JJ Hugo, Your Ways Are Not My
Ways (Pittsburgh: Encounter with Silence, 1984), 113. Ver Santo
Agostinho, De Doutrina Christiana 4: “Suponha, entã o, que fô ssemos
errantes em um paı́s estranho, e nã o pudé ssemos viver felizes longe de
nossa pá tria, e que nos sentı́ssemos miserá veis em nossa peregrinaçã o
e desejando acabar com nossa misé ria , determinado a voltar para
casa. Descobrimos, entretanto, que devemos fazer uso de algum meio
de transporte, seja por terra ou por á gua, a im de chegar à pá tria onde
nosso prazer começará . Mas a beleza do paı́s por onde passamos e o
pró prio prazer do movimento encantam nossos coraçõ es, e
transformando essas coisas que devemos usar em objetos de prazer,
tornamo-nos indispostos a apressar o im de nossa jornada; e icando
absortos ... nossos pensamentos sã o desviados daquela casa cujas
delı́cias nos fariam verdadeiramente felizes. Essa é uma imagem de
nossa condiçã o nesta vida de mortalidade. Temos nos afastado de
Deus; e se quisermos voltar para a casa de nosso Pai, este mundo deve
ser usado, nã o desfrutado ... isto é , por meio do que é material e
temporá rio, podemos alcançar o que é espiritual e eterno. ”

Essa é uma razão pela qual Deus os ordenou a sacri icar ...: Ver M.
Aberbach e L. Smolar, “The Golden Calf Episode in Post-Biblical
Judaism,” Hebrew Union College Annual 39 (1968): 91–116; PC Bori, O
Bezerro de Ouro e as Origens da Controvérsia Antijudaica (Atlanta:
Scholars Press, 1990); SW Hahn, "Kinship by Covenant: A Biblical
Theological Study of Covenant Types and Texts in the Old and New
Testaments" (Ph.D. diss., Marquette University; Ann Arbor, Mich .: UMI,
1995), 44-51; Santo Tomá s de Aquino, Summa Theologica I – II, 102, 3:
“Assim, outra razã o é dada para as cerimô nias sacri icais, isto é , elas
serviam para impedir o povo de oferecer sacrifı́cios aos ı́dolos. Essa é a
razã o pela qual os preceitos que exigiam o sacrifı́cio de animais nã o
foram dados ao povo judeu até depois que eles caı́ram na idolatria por
adorar o bezerro de ouro ... ”

Como a escravidão egípcia era um tipo de pecado original ...: Ver J.


Corbon, Caminho para a Liberdade: Experiências Cristãs e a Bíblia (Nova
York: Sheed and Ward, 1969), 172: “O Cativeiro Babilô nico é aná logo ao
perı́odo de escravidã o em Egito. Historicamente, é simplesmente uma
repetiçã o por uma potê ncia oriental do padrã o estabelecido por uma
potê ncia ocidental. Mas há uma diferença teoló gica
signi icativa. Durante o cativeiro no Egito, o Povo de Deus ainda era
amorfo. Ao deixar o Egito, ele deixa a primeira escravidã o ... assim como
nó s, atravé s do batismo, somos libertados da escravidã o do pecado
original. Mas, no caso do cativeiro da Babilô nia, Israel cai na escravidã o
por sua pró pria culpa, assim como nó s somos escravizados por nossos
pró prios pecados pessoais. ”

Como o sacri ício dos animais sagrados do Egito ...: Sobre a noçã o de
"inversã o normativa", aplicada ao propó sito de Deus em exigir que
Israel sacri ique precisamente aqueles animais que os egı́pcios
veneravam ou adoravam, ver J. Assmann, Moses the
Egyptian (Cambridge, Mass. : Harvard University Press, 1997), 31ss .; S.
Benin, The Footprints of God (Albany, NY: SUNY Press, 1993); Hahn, um
pai que mantém suas promessas , 282-84.

Mais de 61% dos americanos…: A. Spake, “Super Size America,” US News


& World Report (19 de agosto de 2002, maté ria de capa); ver també m N.
Hellmich, “Obesidade na Amé rica é pior do que nunca,” USA Today (9 de
outubro de 2002), pá gina 1A.

Com efeito, a Igreja ensina…: Vaticano II, Gaudium et Spes , 24.

Considere a vida interior da Trindade: Ver Papa Joã o Paulo II, Carta às
Famílias (Boston: St. Paul Books, 1994); K. Hahn, "Triune Family: Life-
Giving Lovers and Life-Loving Love " in Life-Giving Love: Embracing
God's Beautiful Design for Marriage (Ann Arbor, Mich .: Charis, 2002),
31-47; S. Hahn, First Comes Love , 120–24.

“A única criatura na terra…”: Vaticano II, Gaudium et Spes , 24.

Um confessor regular pode ser como um médico de família ...: Sobre o


risco de mudar frequentemente de confessor, ver Sã o Francisco de
Sales, Introdução à Vida Devota , Parte II, cap. xix.
Mas, como disse um amigo meu ...: M. Aquilina, “How to Find a Regular
Confessor,” New Convenant (set. 1996), 8.

Ir à con issão é di ícil ...: D. Day, The Long Loneliness (Nova York: Harper
& Row, 1952), 9–12.

Rabino Nahum Sarna, ecoando os rabinos antigos ...: N.


Sarna, Understanding Genesis: The Heritage of Biblical Israel (Nova York:
Schocken, 1966), 150–51. Ver EE Urbach, The Sages: Their Concepts and
Beliefs (Jerusalé m: Magnes Press, 1979), 483-511; A. Marmorstein, The
Doctrine of Merits in Old Rabbinical Literature (New York: KTAV,
1968); GF Moore, Judaism (Cambridge, Mass .: Harvard University
Press, 1927), I, 535–45. Cf. CCC 1476–77.

Metade dos penitentes ...: W. Fowlie, Journal of Rehearsals: A


Memoir (Durham, NC: Duke University Press, 1977), 77-78.

Santo Agostinho nos adverte…: Tratado da Primeira Epístola de João 1.6.

“Vai em paz”: Bê nçã o inal, rito de reconciliaçã o.

O reformador protestante Martin Luther…: “The Pagan Servitude of the


Church,” in J. Dillenberger, ed., Martin Luther: Selections from His
Writings (New York: Doubleday, 1961), 319, 357.

CS Lewis sentiu a atração…: RL Green e W. Hooper, CS Lewis: A


Biography (Nova York: Harcourt, Brace, Jovanovich, 1974), 198.

No antigo Israel, um “ano de jubileu”…: Ver R. North, Sociologia do


Jubileu Bíblico (Roma: Pontifı́cio Instituto Bı́blico, 1954); idem, The
Biblical Jubilee… After Fifty Years (Roma: Biblical Institute Press, 2000).

“A misericórdia deseja que sejas misericordioso ...”: Sã o Leã o Magno,


Homilia 95.7. Ver a encı́clica do Papa Joã o Paulo II, Dives in
Misericordia (30 de novembro de 1980), II.4: “Desta forma, a
misericó rdia é em certo sentido contrastada com a justiça de Deus e,
em muitos casos, mostra-se nã o só mais poderosa do que essa justiça,
mas també m mais profunda. Mesmo o Antigo Testamento ensina que,
embora a justiça seja uma virtude autê ntica no homem e em Deus
signi ique uma perfeiçã o transcendente, o amor é "maior" do que a
justiça: maior no sentido de que é primá rio e fundamental. O amor, por
assim dizer, condiciona a justiça e, em ú ltima aná lise, a justiça serve ao
amor. A primazia e a superioridade do amor em relaçã o à justiça - esta é
uma marca de toda a revelaçã o - sã o reveladas precisamente pela
misericó rdia ”.

OUTROS LIVROS DE SCOTT HAHN

A Ceia do Cordeiro: A Missa como o Céu na Terra (Doubleday)

Salve Rainha Santa: A Mãe de Deus na Palavra de Deus (Doubleday)

Primeiro vem o amor: Encontrando sua família na Igreja e na


Trindade (Doubleday)

Um pai que mantém suas promessas: o amor da aliança de Deus nas


Escrituras (livros do servo)

Compreendendo “Pai Nosso”: Re lexões Bíblicas sobre a Oração do


Senhor (Emmaus Road Publishing)
Roma, doce lar: nossa jornada ao catolicismo (Ignatius Press)

Católico por uma razão: Escritura e o mistério da família de


Deus (Emmaus Road Publishing)

Para obter um catá logo de mais de 500 tı́tulos das palestras de Scott
Hahn em ita (ou CD), entre em contato com Saint Joseph
Communications em West Covina, CA
(telefone: 1-800-526-2151, online: www.saintjoe.com )

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DOUBLEDAY e a representaçã o de uma â ncora com um gol inho sã o


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Dados de Catalogaçã o na Publicaçã o da Biblioteca do Congresso


Hahn, Scott.
Senhor, tenha misericó rdia: o poder de cura da con issã o / por Scott
Hahn. — 1ª ed.
p. cm.
Inclui referê ncias bibliográ icas.
1. Penitê ncia. I. Tı́tulo.
BX2260 .H15 2003
234'.166 — dc21 2002041219
Nihil Obstat: Reverendo James Dunfee, Censor
Librorum Imprimatur: Muito Reverendo Robert Daniel Conlon, Bispo de
Steubenville, 18 de dezembro de 2002

eISBN 0-385-50877-8
Copyright © 2003 por Scott Walker Hahn
Todos os direitos reservados

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v1.0

Índice
CAPA
FOLHA DE ROSTO
DEDICAÇAO
CAPITULO 1 OBTENDO O DIREITO DE NOSSAS ES TORIAS
CAPITULO 2 A CTOS DE C ONTRIÇAO: OS D EEPESTOS R OOTS DE P
ENANCE
CAPITULO 3 UM O RDER NA CORTE: O ABRIGAMENTO DO S
ACRAMENTO
CAPITULO 4 C ONFISSOES DA VERDADE: S EALED COM AS ACRAMENT
CAPITULO 5 O QUE ESTA COM O MUNDO: COMO INTESE
CAPITULO 6 C ONFECÇAO S ACRAMENTAL: O QUE OS ESSES PODEMOS
ENCONTRAMOS?
CAPITULO 7 OS TEMAS DA D ELIVERANCIA: C ONFESSAO COMO
CONVENIENTE
CAPITULO 8 C APRENDENDO O SEU: S ECRETOS DO S ON P RODIGAL
CAPITULO 9 E XILES NA ARVORE PRINCIPAL: NAO RUE H OME DE
FORMA DA H OME
CAPITULO 10 K NOW P AIN, K NOW G AIN: OS S ECRETOS DO
VENCIMENTO
CAPITULO 11 PENSANDO FORA DA CAIXA: H ABITOS DE P ENITENTES
HIGIHLY E FECTIVOS
CAPITULO 12 O H OME F RONT: C ONFESSION AS C OMBAT
CAPITULO 13 O OOR DO PEN
ANEXOS
A PPENDICE A: R ITE PARA R ECONCILIAÇAO DE P ENITENTES I
NDIVIDUAIS
A PPENDICE B: P RAYERS
A PPENDICE C: E XAMINAÇAO DE C ONSCIENCIA
FONTES E R EFERENCIAS
O UTROS OBSERVAÇOES DE S COTT H AHN
C OPYRIGHT P AGE

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