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PRATICAS PROCESSO EXECUTIVO

07/04/22

Caso 03

O BANCO DINHEIRO FÁCIL, com sede em Lisboa, obteve a condenação de


BERNARDO, que tinha como seu único herdeiro o seu filho ROBERTO, ambos
residentes em Coimbra, no Juízo central cível de Coimbra.

BERNARDO foi condenado a pagar a quantia de 60.000 EUR (capital e juros) ao


referido Banco, por falta de cumprimento de um contrato de mútuo celebrado entre as
partes. BERNARDO faleceu já depois do trânsito em julgado da sentença.

Com base na referida decisão judicial, o BANCO quer instaurar acção executiva contra
ROBERTO, no referido Juízo central cível de Coimbra, sendo que o requerimento
executivo foi subscrito e enviado por via electrónica por um advogado estagiário.

Aprecie os pressupostos processuais da competência interna, legitimidade processual e


patrocínio judiciário; sua verificação; consequências da falta de verificação.

Competência do tribunal:

Temos dois tipos de tribunal de 1ª instancia – os tribunais de competência territorial


alargada (5) e os tribunais da comarca (23). O tribunal central de instrução criminal, o
mais importante, tem que haver um dos crimes do catalogo e ocorrer em território
nacional.

Ao nível dos tribunais da comarca temos uma repartição/desdobramento em juízos,


juízos de competência especializada (cível, criminal, família e menores, trabalho,
comercio), de competência genérica e de proximidade.

Competência dos tribunais judiciais para a ação executiva:

 Competência material geral dos tribunais judicias para a ação executiva

Critério de atribuição positiva = são da competência dos tribunais judiciais as ações


executivas nas quais esteja em causa o não cumprimento ou a não realização de uma
prestação que é devida segundo as normas de direito privado.

Critério de competência residual = os tribunais judiciais são também competentes para


julgar as ações executivas que não caibam na competência legal de outro tribunal de
outra ordem jurisdicional. Art. 66º CPC.
 Competência em razão da hierarquia

Estrutura hierárquica dos tribunais – pirâmide:

- STJ

- Tribunais da Relação

-Tribunais de 1ª instancia – Comarca

Só os tribunais de 1ª instancia tem competência para tramitar a ação executiva – art. 86º
CPC. As ações são sempre propostas em 1ª instancia, mas as vezes podem ir direto para
os tribunais da relação, que funcionam como tribunais de 1ª instancia nessas situações
excecionais – ex. revisão de sentença estrangeira.

 Competência em razão do território

1ª situação: o título é uma decisão judicial. Assim, vou executar uma sentença. Quem
julga, executa, vou ao tribunal que proferiu a decisão – art. 85º/1. É melhor termos um
juízo especializado para executar, vamos remeter o processo para o juízo de execução.

2ª situação: o título é outro, não tenho sentença, pode ser requerimento de injunção, uma
escritura público, títulos extrajudiciais – art. 89º/2. Vai ser o foro da situação da coisa,
ou o foro do réu, por exemplo.

 Competência em razão da matéria (dentro dos tribunais judiciais) para a concreta


ação executiva

Pergunta chave: há na comarca juízo de execução?

1ª situação: há juízo de execução. A lei diz então que este tem competência exclusiva –
art. 129º/1 LOSJ. Mas depois ainda há uma exceção a exceção, voltamos para a
premissa de que quem julga, executa. Ainda há um juízo de execução, mas vou defender
a regra de que quem julga, executa. Em que situação isso ocorre? Situações do 129º/2
LOSJ.

Ex.: na comarca de Coimbra há dois juízos do trabalho, um em Coimbra e outro em


figueira. Onde fica o juízo de trabalho na cidade de Coimbra? Um empregador não
pagou todas as férias ao empregado, há um prazo de 1 ano para os créditos laborais, o
empregado tem 1 ano para pedir aqueles créditos. Ele intenta uma ação no tribunal e
juiz dá-lhe razão. Ainda assim o empregador não paga. Tem que se executar a sentença.
Onde? No tribunal que julgou a solução? A partida sim, é o que diz o 85/1. Mas o n2 diz
que há situações que o competente é o juízo de execução – remessa. Mas o 129/2 diz
por alto que em matéria de direito do trabalho é tramitada no juízo que proferiu a
decisão. Logo, vai ser executada no juízo do trabalho.

2ª situação: se não tiver juízo de execução. Vai ser tramitada nos juízos cíveis, local ou
central.

O que ocorre se forem violadas as normas da competência em razão da matéria e


hierarquia? Gera incompetência absoluta – art. 96º CPC. Se forem violadas as normas
em razão do valor e território, então gera incompetência relativa – art. 102º CPC.

 Competência internacional

Não vamos estudar esse

Voltemos ao caso. Foi condenado no juízo central cível de Coimbra. Tanto em Lisboa
quanto em Coimbra existem juízos de execução. Quer intentar a ação no juízo central
cível de Coimbra.

Os competentes são os tribunais judicias, regras do direito privado. Em relação a


hierárquica, é o tribunal de 1ª instancia. Em razão do território, vou ligar meu caso em
duas alternativas – banco tem sede em Lisboa, mas a sentença foi proferida em
Coimbra. Art. 85º, será Coimbra o tribunal competente, onde a ação foi julgada. A
partida, se é assim, não há que chamar o juízo de execução de Coimbra. Ver se estamos
no caso em que o competente é juízo de execução ou se é outro juízo, se voltamos a
regra de que quem julga, executa. Para responder essa pergunta, vamos ao art. 126º/2
LOSJ.

Esse não é um dos casos da exceção da exceção, não se trata de uma decisão do juízo do
trabalho, de família e menores. Logo, conjugadas as normas do 85º/1, 85º/2 CPC e
126º/1 LOSJ, competente não era o juízo central cível, mas sim o juízo de execução de
Coimbra.

Legitimidade na ação executiva:

A lei diz, art. 53º CPC. Qual a diferença para ação executiva e ação declarativa? Vamos
olhar aqui para o título executiva, sentença, cheque, etc., e ver quem é o credor. Logo,
aqui está a legitimidade, é ser a parte certa naquele processo. A ação executiva é mais
simples que a declarativa. Mas há alguns desvios a regra geral, que estão no art. 54º
CPC.
Nº1: casos de desatualização do título, vou contar uma história correta para mostrar ao
juiz que agora eu sou o devedor, que mudou o credor, etc., que é o que ocorre no caso
prático. Bernardo morreu, Roberto é herdeiro, havia uma sentença, um título que
condenava Bernardo, título este que está desatualizado, pois o herdeiro agora é Roberto,
então vamos mover a ação executiva para o herdeiro. Segundo essa norma, o herdeiro
tem legitimidade. Vamos prescindir da ação judicial.

Nº2: “paitrocínio”. Se o banco quiser fazer valer a sua garantia, tem que faze-lo perante
o paitrocinador.

A luz do 54º/1, Roberto tinha legitimidade para a ação executiva.

Se fosse ilegítimo a consequência seria uma exceção dilatória de conhecimento oficioso


= art. 577º/e e 578º CPC.

Patrocínio judiciário na ação executiva:

Valor da causa excede alçada da relação É obrigatória a constituição de advogado


(>30.000) (art. 58º/1 1ª parte)

Valor da causa entre a alçada da comarca O patrocínio é igualmente obrigatório,


e da relação (>5.000 ≤ 30.000) mas pode ser exercido por advogado,
advogado estagiário ou solicitador (art.
53º/3)

Em caso de ação ou incidente que siga os É obrigatória a constituição de advogado


termos do processo declarativo (ex. (art. 58º/1/ 2ª parte e 58º/2)
embargos) ou, no apenso de verificação
de credito, para apreciação deste

Quando o valor exceder a alçada da


comarca (>5.000)

Consequência da falta de patrocínio judiciário: exceção dilatória de conhecimento


oficioso – art. 578º CPC.

21/04/22

Caso 4 – tramitação inicial da ação executiva


MARISA obteve a condenação de RUI, em Dezembro de 2017, no pagamento da
quantia de €35.000, correspondente a uma dívida comercial. Já depois do trânsito em
julgado, e na sequência de acordo celebrado entre ambos, RUI pagou parcialmente a
dívida (no montante de €10.000) em Janeiro de 2019. Não obstante, MARISA, por
intermédio do seu advogado, entregou um requerimento executivo, para obter o
pagamento por parte de RUI da quantia global, ou seja, €35.000.

Analise o caso apresentado quanto à tramitação inicial da acção executiva e quanto ao


exercício do contraditório por parte do executado.

Começa com a petição inicial, depois contestação, réplica e o juiz ainda não teve
nenhum contato com o processo. Já houve distribuição do processo no tribunal, já há o
juiz titular do processo, mas ele ainda não teve contato com o processo. Isso é assim em
99% dos casos de ação declarativa. E na ação executiva? Não, a realidade aqui é outra.
Qual o contato e como o juiz faz na ação executiva com as peças do processo?

Formas de processo: guião de tramitação, de passos, conjunto de ritos que se segue para
chegar ao final do processos. Quais as formas na ação executiva? Qualquer dos tipos de
ação executiva pode seguir uma de duas formas:

1. Forma comum
2. Forma especial

Ex.: execução por alimentos, direito da família, é uma execução especial, segue a forma
especial. Atenção maior a forma comum – pagamento de quantia certa, entrega de coisa
certa, prestação de fato.

Há duas modalidades de forma comum quando se trata de uma execução para


pagamento de quantia certa:

i) Forma comum ordinária

- Despacho liminar

- Citação prévia

ii) Forma comum sumaria.

Art. 550º CC

A forma ordinária será mais demorada, mas a grande diferença é que aqui há duas
coisas: despacho liminar e citação previa do executado.
O despacho liminar não existe na ação declarativa, liminar significa no início na lide, o
juiz no começo da ação não participa do processo. Na ação executiva na forma comum
ordinária, há despacho liminar, é a regra, no início da lide o juiz vai proferir um
despacho. A citação prévia é relativa a penhora, vamos avisar o executado relativamente
a penhora.

Na forma sumária não há nenhuma dessas duas coisas. Vamos penhorar o salário do
executado, por ex., sem que ele tenha sido chamado na ação executiva. Aqui não está
preocupado em avisar o juiz, vamos à procura de bens.

Saber quando sigo cada uma das formas = art. 550º CPC. Nas situações mais serias,
vamos aplicar a mais solene, a forma ordinária, nas menos graves a forma sumaria.

Al. d) é sobre fiador. Chamar primeiro o devedor principal e só depois do fiador.

No art. 550/2/a, quando seja uma decisão judicial, como uma sentença, nos casos em
que a decisão não deva ser executada no próprio processo.

*Relembrando: quando há juízo de execução competente, a ação é tramitada no juízo de


execução. Juízo central civil de Coimbra que emitiu o título executivo, mas há juízo de
execução em Coimbra, logo vamos mandar para este.

No nosso caso, não corre no próprio processo, logo, se aplica a forma sumaria. Quando
a execução sai do tribunal que emitiu a ação declarativa e vai para tribunal de execução,
a forma é sumaria!!!!

Mas e nos casos em que a execução ocorre nos próprio auto, já não se aplica o processo
sumario? Não faz sentido. Art. 626º/2 CPC vem dizer que quando a execução ocorra
nos próprio autos, também se aplica o processo sumario. Pra facilitar: quando o título
for uma sentença, vai ser sempre forma sumária, seja pelo 626/2 ou pelo 500/2/a.

Tramitação processo ordinário: começa com um requerimento executivo. Vai parar nas
mãos do agente de execução, é este quem vai receber o requerimento executivo – art.
725º CPC. A falta desses requisitos do art. pode levar a recusa do requerimento.
Advogado pode se conformar com a recusa ou então pode apresentar outro
requerimento ou documento em falta no prazo de 10 dias depois de ser notificado da
recusa. Depois, temos o recebimento da secretaria, que é um misto de tribunal e agente
de execução que não é tribunal, é profissional liberal. Por fim, passa para a tramitação
subsequente.
Depois temos o despacho liminar proferido pelo juiz. Pode ser 1 de 4: despacho de
indeferimento total ou parcial (título executivo é num guardanapo, por ex.); despacho de
aperfeiçoamento (a parte não trouxe o advogado e deveria ter trazido, pois é acima de
30 mil euros); despacho que ordena a citação previa do executado (é a situação normal,
está tudo bem com o processo); despacho que dispensa a citação prévia do executado
(isso é grave, esse despacho significa que vamos avançar direto a penhora sem o
executado ser ouvido).

Casos em que ocorre a dispensa de citação previa = art. 727º CPC. Tem as
características do procedimento cautelar, arresto, pois aqui há apreensão do patrimônio
quando há receio da garantia patrimonial. Pede-se a penhora, pois há receio de perda da
garantia patrimonial. No arresto não tem ação executiva.

Depois da citação do executado, é chamado o mesmo para deduzir a sua oposição a


execução. Quando ele é citado, vai ser citado ou para pagar ou deduzir oposição no
prazo de 20 dias – art. 726º. O legislador em certas situações limita os meios de defesa
do executado, não tem as mesmas armas que tem nas ações declarativas.

Portanto, quando o título for uma sentença, os meios de defesa são limitados, apenas os
meios do art. 729º.

Por que a lei diz 729/g – discussão é a parte final do julgamento. Se o pagamento é
anterior a essa fase, não pode ser invocado na ação executiva, tem que ser levado a ação
declarativa, se não acaba o direito de invocar esse pagamento. Se eu não apresentei o
pagamento, eu levo a responsabilidade, tenho que pagar duas vezes.

Voltemos ao caso prático. O pagamento ocorreu já depois do transito em julgado. Foi


depois do encerramento da ação declarativa, a partir desse momento não se pode trazer
nada a ação declarativa. Vamos para a ação executiva. Imputa-se a si próprio, auto
responsabilização das partes.

Pagamento é fato extintivo da obrigação.

Se eu nada disser na ação declarativa e pagar, vou ter que pagar de novo na ação
executiva. Se eu pagar após o fim da ação declarativa, extingue.

05/05/22

Retomemos a aula passada.


Na forma comum ordinária temos um despacho e a citação previa do executado, antes
de exercer a penhora temos o contraditório do executado. É diferente fazer a penhora
antes ou depois de ouvi-lo. Essa é a grande diferente da forma ordinária e da sumaria.

Na forma comum ordinária, esse despacho do juiz pode ser 1 de 4, vimos na aula
anterior.

Quando o juiz faz a citação, isso significa que o executado deve pagar a dívida ou então
opor-se a execução –726º/6.

No caso prático temos um título que é uma sentença, e isso quer dizer que já houve uma
ação declarativa onde foram apreciadas questões do direito material, já houve uma
história que levou a formação do título. Quando ele é uma sentença, será que a defesa, o
contraditório, deve ter a mesma amplitude que tem na ação declarativa? Ele vai repetir o
que fez na ação declarativa?

Se há uma sentença que já resolveu quem tem direito, na ação executiva vai se dizer
menos que o normal da declarativa. O art. 729º vai restringir, limitar os fundamentos da
oposição à execução quando o título for uma sentença. O fundamento da oposição a
execução, al. d, qualquer fato extintivo ou modificativo da obrigação, desde que seja
posterior ao encerramento da discussão no processo declarativo. Isso significa que não
vai deixar invocar qualquer pagamento posterior, tem que ser posterior ao encerramento
do processo declarativo. Essa norma quer dizer que se o devedor faz um pagamento
total ou parcial antes da sentença na ação declarativa, e não invoca esse pagamento
antes da sentença, é auto responsável por não ter trazido esse fato a ação declarativa;
concentração da defesa, o réu é responsável pela sua defesa. Se ele não utiliza esse
meio, é prejudicado. Se ele pagou antes do encerramento da ação e não invoca, ele vai
ter que pagar 2x.

Se a ação declarativa já terminou e ele pagou depois do fim dessa ação, ele pode invocar
na ação executiva que o que deve pagar já está extinto ou é uma quantia menor.

Injunção – art. 857º CPC. Há um alargamento que não existia, legislador alargou os
meios de defesa quando o título é um documento de injunção, acórdão TC 2015. Mas
ainda assim não é uma defesa irrestrita e ampla, o que pode colocar em causa questões
de inconstitucionalidade.

Como é tramitada a oposição a execução na forma comum ordinária nos termos do art.
732º e 733º? Há despacho liminar, citação previa, oposição a execução mediante
embargos, despacho liminar do juiz aceitando os embargos, notificação do exequente
para contestar os embargos, tramitação do processo comum declarativo.

Quando há dispensa de citação previa – art. 727º. O contraditório vai existir na mesma,
a única diferença é que ele ocorre depois da penhora. Ele vai defender-se relativamente
a penhora e a execução.

Gervásio, munido do respectivo título executivo, intentou acção executiva contra


Felismina. Nessa acção, foram penhorados os seguintes bens:

◦ Um apartamento de férias de Felismina, sito na Figueira da Foz;

◦ O único micro-ondas existente nesse apartamento;

◦ Metade do salário de Felismina, com o valor global líquido de €5000;

◦ O computador que Felismina utiliza na sua actividade de organizadora de eventos


sociais;

◦ Um cão da raça Rottweiler, de nome “Killer”.

Felismina considera a penhora destes bens ilegal e pretende reagir. Para além disso,
quer aproveitar uma boa proposta para a venda do apartamento da Figueira da Foz. Quid
iuris?

Em PT pode penhorar bens de família, casa de morada, etc., no Brasil isso já não
acontece.

O único micro-ondas que existe na casa de morada, o sofá, a cama... isso tudo é
problemático. E o salário, pode penhorar metade? Há sempre um equilíbrio a fazer em
relação a penhora e a não penhora.

Sabemos que só se pode penhorar 1/3 do salários, mas há exceções, limites.

Os instrumentos de trabalho, de estudo, são ou não penhoráveis?

Art. 727º - dispensa de citação prévia do executado na forma comum ordinária, é uma
exceção.

Penhora

A penhora é uma apreensão de patrimônio no contexto da ação executiva, no âmbito de


um processo judicial, ainda que quem a promova não seja o juiz, mas sim o agente de
execução – que é profissional liberal – que tem a finalidade de assegurar a realização
coerciva do direito de crédito do exequente.

A penhora não é um fim em si mesmo, é um meio, é um instrumento. A ação executiva


não é para conseguir a penhora, é para conseguir que seja pago o credor exequente, é
para o fim da ação executiva.

Regra que não admite exceção: só podem ser penhorados bem do executado. Só
podemos apreender o patrimônio de quem assuma o estatuto processual de executado. O
executado pode ser o devedor ou um terceiro, exemplo do “paitrocínio”, o bem do pai
pode vir responder às dividas do filho.

Outra regra: não podem ser penhorados todos os bens de quem seja executado. Há
limites, as famosas impenhorabilidades. Art. 736º e 739º.

Pergunta comum dos exames: distingua impenhorabilidade absoluta e relativa

Bens que não podem ser penhorados independentemente da natureza da dívida


exequenda ou do tipo da ação executiva – impenhorabilidade absoluta.

 Tudo que está fora do comércio jurídico;


 Os bens de domínio público do estado – a praça da república; bens que ofendam
os bons costumes ou que careçam de justificação econômica – art. 280º,
fronteiras mais difíceis de definir;
 Objetos especialmente destinados ao exercício do culto público – uma igreja, por
ex., tinha dívidas e colocou-se o problema da penhora, penhorar bens da igreja.
A igreja tinha um templo e ao lado um salão de festas, tudo que está nesse salão
pode ser penhorado? A igreja, o cálice, tudo isso é impenhorável, é
especialmente destinado, mas não o salão de festas, tudo que estava no salão de
festas poderia ser penhorado. Outro problema: banqueiro tem uma capela
privada onde é celebrada uma missa particular. O que está na capela é
penhorável ou impenhorável? Há zonas cinzentas.
 Os túmulos;
 Os instrumentos e objetos indispensáveis aos deficientes e ao tratamento de
doentes – cadeira de rodas, muletas, prótese;
 Animais de companhia
Voltemos ao caso: o cão é impenhorável, é um animal de companhia. Mas ainda há
zonas cinzentas, os coelhos podem ou não animais de cia, depende do caso concreto.

Bens que são insuscetíveis de penhora apenas em certos casos – impenhorabilidade


relativa. Depende do tipo de ação executiva que está em causa. Art. 737º.

O computador que ela tinha no caso é impenhorável, pois ela usava para trabalho, para
organizar eventos.

Não era penhorável o cão e o computador (736º/d e 737º/2).

Temos ainda bens totalmente penhoráveis e bens parcialmente penhoráveis – art. 738º.

Podemos penhorar a metade de um salário? Tem a ver com a penhorabilidade total e


parcial. É penhorável apenas 1/3 do salário. Há situações em que as pessoas ganham
muito mais dinheiro ou muito menos e por isso temos que ter um limite para
impenhorabilidade. As vezes 2/3 é muito grande para impenhorabilidade, deve-se
penhorar mais. Há limites máximos e mínimos da impenhorabilidade.

O salário mínimo é 705 euros. O limite máximo de impenhorabilidade é 2115 euros, 3x


o salário mínimo, vai ser sempre esse valor.

Vamos primeiro fazer a impenhorabilidade, aplicar a regra dos 2/3: 2/3 de 5 mil euros =
3333,33 euros. Se esse valor for maior aos 2115 então nosso caso está no limite do
738/3. Isso significa que podem penhorar mais que 1/3 do salário. Vamos penhorar mais
que 1/3 desde que deixem nas mãos do executado os 2115 euros.

Vamos olhar quanto foi penhorado e quanto foi deixado nas mãos do executado, se
deixaram mais de 2115 então a penhora é legal. No nosso caso penhorar metade é
valido, pois sobra 2500 nas mãos dela.

Imaginemos outro caso: o executado ganhar 710 euros, o agente de execução penhorou
1/3. Pode? Não. Há limite mínimo. Temos que deixar pelo menos 705 euros, logo, só
podemos penhorar 5 euros.

Isso cai no exame.

Aplicar ao salário 2/3, se der mais que 2115, então sei que posso penhorar mais que 1/3
desde que sobre 2115 nas mãos do executado.

Quanto ao apartamento de férias, ele pode ser penhorado, não há regra de


impenhorabilidade quanto a casa de habitação.
O único micro-ondas existente – art. 737º/3. Bens imprescindíveis a qualquer economia
doméstica. Essa não era casa de habitação efetiva. O sofá, micro-ondas, televisão, eles
são impenhoráveis se estiverem na casa de habitação efetiva do executado. Logo, a
partida o micro-ondas é indispensável ao funcionamento da economia doméstica. No
entanto, ele será penhorável, pois estava na casa de férias e não na casa de habitação
efetiva.

Casos de penhorabilidade subsidiaria: há situações em que certos bens só podem ser


penhorados depois de outros bens terem sido penhorados. Ordem cronológica de
penhora – art. 745º.

Art. 740º, 741º e 742º. Responsabilidade subsidiaria no caso de dívidas dos cônjuges.
1695º/1 CC e 1696º CC.

Art. 740º - se a dívida for exclusivamente do cônjuge executado se permite que, para
proteger o outro cônjuge, haja separação patrimonial para que na falta dos bens próprios
responda e meação dos bens comuns. É para proteger o outro cônjuge. O outro cônjuge
vai requerer a separação de bens, se não fizer isso, a execução vai para os bens comuns
e ele pode sair prejudicado. A execução fica suspensa até a partilha.

Art. 741º e 742º - execução movida contra apenas um cônjuge, mas a dívida é comum,
mas o título executivo é apenas contra um, é o cheque do marido (ex. da aula). Se o
título não for uma sentença, se não for judicial, permite que se crie no próprio processo
um “titulo” contra o outro cônjuge. E agora temos título contra ambos e vamos fazer a
penhora contra ambos. É um título complementar do título que já temos. Isso só se o
título NÃO for uma sentença. Se há uma sentença, houve uma ação declarativa, era
nessa ação que se devia chamar o outro cônjuge, se não chamou, não tem o ônus de
novo. Conseguir a comunicabilidade da dívida.

O outro cônjuge é citado para aceitar a comunicabilidade. Se nada disser, se presume


que sim.

O exequente ou o cônjuge executado pode alegar a comunicabilidade. Pode ser alegado


por ambos.

Efeitos da penhora
 Indisponibilidade material dos bens penhorados. A pessoa perde a
disponibilidade dos bens, não pode gozar dos bens, passa para o tribunal os
poderes de gozo que integram o direito do executado.
 Indisponibilidade jurídica dos bens penhorados: ineficácia relativa dos atos
dispositivos ou de oneração do direito subsequente (e também ao arrendamento)
– art. 819º CPC.

Ex.: posso vender um apartamento que foi penhorado? Pode, mas a venda de um bem
penhorado é ineficaz. É eficaz relativamente a execução, ou seja, a pessoa que compra a
casa só vai ter efetivamente a casa se o executado pagar a dívida e a penhora acabar. É
um negócio arriscado. Se tudo correr bem não há problema em vender o bem
penhorado.

LAST CLASS

 Confere ao exequente um direito real de garantia sobre os bens penhorados. O


exequente passa a ter um direito real de garantia com preferência. Art. 822º/1
CPC. O exequente só adquire o DR garantia agora, se não tiver outro. Pode
haver já outros credores com garantia anterior, ex. banco com hipoteca e pode
ser credor reclamante. O exequente passa a ter garantia agora, mas podem haver
outros titulares de DR com melhores posições do exequente que ganhou agora.
Ex. banco, que não é o credor exequente, emprestou dinheiro, vem reclamar
créditos mais adiante. O banco tem preferência ao exequente que ganhou a
garantia agora.

Normal sair dos exames

Problema dos terceiros para efeitos de registro e saber se a penhora é protegida,


abrangida, pelo conceito de terceiros para efeitos de registro.

TGDC e DC – terceiros para efeitos de registro, dupla alienação. Casos clássicos de


dupla alienação: A vendeu um terreno a B em 2008, essa venda não foi registrada, pois
B era imigrante e não registrou. B virou proprietário – art. 408º CC. Mesmo sem o
registro, quem compra, quem intervém no ato jurídico, passa a ser proprietário. O
registro consolida direitos, ele não atribui direitos. art. 7º CRP – presume-se o direito.

Efeitos reais se transferem por mero efeito do contrato – sistema de título e não de
modo.
Mas há uma exceção (não há hipoteca sem registro, mas não é esse). Mas há casos em
que o registro dá direitos – casos de terceiros para efeitos de registro, casos de dupla
alienação. A vendeu a B que não registrou, A é um trapaceiro, tem a coisa registrada a
seu favor e vende uma 2ª vez. A venda registrada em 2017, porque foi primeiramente
registrada, é a venda que prevalece, mas é uma venda a non domino, nula – art. 280º
CC, mas quem é titular do direito é quem registrou primeiro.

A pergunta que nos interessa na ação executiva é se a penhora também é abrangida pelo
conceito de terceiros para efeitos de registro, quem adquire na sequência da penhora, na
venda executiva, também vai ser protegido a uma venda anterior não registrada? Ex.: A
vendeu a B, B não registrou em 2008, A agora contraiu dívidas e alguém penhorou bens
que lhe pertenciam, esse agente de execução vê um terreno a favor de A e penhora.
Então não houve dupla alienação, mas existiu contração de dívidas, etc. A pergunta é
essa: a penhora é abrangida pelo conceito de terceiros para efeitos de registros? A
consequência pratica é, se vamos proteger a penhora e quem adquire na venda
executiva, o B que a luz do direito substantivo é o dono, não ganha os embargos de
terceiros. Se protegermos a penhora e o exequente, então B pode tentar embargar, mas
perde os embargos de terceiros. Se a penhora não for abrangida pelo conceito de
terceiros para efeitos de registro, então B ganha os embargos.

*abranger a penhora = proteger o exequente e anular a venda sem registro.

*não abranger a penhora = não protege o exequente e B que comprou e não registrou é o
dono.

Temos duas concepções defendidas em PT sobre o conceito de 3ºs para efeitos de


registro:

1. Concepção restrita: não abrange a penhora, logo, B era dominus, dono, ganha os
embargos, é proprietário pelo direito substantivo. Terceiros para efeitos de
registro são as pessoas que do mesmo autor ou transmitente adquiram direitos
total ou parcialmente incompatíveis sobre o mesmo prédio. Apenas os casos de
dupla alienação aqui e não os casos da penhora, apenas os casos em que há uma
dupla intervenção é que vamos proteger o terceiro. Casos de dupla alienação,
casos de trapaceiro. Atores como Manuel de Andrade, Orlando de Carvalho,
Mota Pinto defenderam essa concepção. Essa concepção ficou plasmada no
acordão de uniformização de jurisprudência do STJ, 18 de maio 99. Está ainda
consagrada no art. 5º/4 no código registro predial.
2. Concepção ampla: essa concepção abrange a penhora, então B não ganha os
embargos, quem fica com o bem é que o adquiriu na venda executiva, como na
dupla alienação, quem registra primeiro ganha. Os terceiros para efeitos de
registro são todos os que a restrita defende e mais alguns, ou seja, também
aqueles cujos direitos adquiridos ao abrigo da lei tenham o mesmo alienante
como sujeito passivo, ainda que ele, o alienante, não haja intervindo nos atos
jurídicos – casos de penhora, arresto, hipotecas judiciais. Essa concepção diz que
não é só nos casos da dupla alienação, é ainda aqueles casos em que alguém que
adquire tem um direito legal, por via da penhora, e veria seu direito afastado,
tem origem no mesmo autor. Defendem essa posição Monica Jardim, Antunes
Varela, Henrique Mesquita, etc. Ficou também plasmada no acordão 15/97 de 20
de maio. O acordão posterior afastou. Dois acórdãos com posições divergentes.

Existem as duas posições, saber quem protege a penhora, os efeitos práticos de uma e de
outra.

Caso 06

A sociedade Crédito Fácil, S.A, moveu ação executiva contra Joao, com fundamento no
incumprimento por parte desde de um contrato de mútuo.

Joao está casado com Maria, no regime da comunhão de adquiridos, desde 2010.

Nessa ação executiva, foi penhorado um prédio urbano que havia sido adquirido por
Maria, por via sucessória, em 2009.

Pode Maria reagir? Como?

Mesmo adquirido por sucessão, é um bem próprio de Maria, antes do casamento, ela já
leva o bem para o casamento, não poderia ser penhorado. Não há comunicabilidade da
dívida, é uma dívida de Joao e ponto final, responsabilidade exclusiva de João. Pelas
dívidas exclusivas de um cônjuge, responde os bens próprios e a meação dos bens
comuns. Aquele bem não responde por aquele dívida de acordo com o direito
substantivo.
Maria poderia reagir sim, oposição a penhora. Já não é embargos do executado, mas
oposição a penhora, como se reage a uma penhora ilegal ou que considera ilegal?
Temos quatro meios:

1. Oposição por simples requerimento – no ato da penhora, no próprio ato o visado


pode reagir fazer um requerimento ao juiz.
2. Incidente de oposição a penhora
3. Embargos de terceiros
4. Ação de reivindicação

Os dois primeiros tem lugar na própria ação executiva, ainda que o 2º por apenso.
Apenso, vamos ligar ao processo principal. Os embargos também correm por apenso,
podemos ter dois apenso, o n2 e n3. Os dois últimos são ações declarativas. Ação
reivindicação é completamente autônoma.

Embargos de terceiros – 342º e ss. CPC

Previstos nas normas dos incidentes e não da ação executiva, são um meio geral de
reação contra diligencias que agridem meu patrimônio, pode ser um arresto, penhora
etc., agressão ao meu patrimônio, desde que eu seja terceiro e não parte naquela ação
principal, quem não foi citado na ação. (1) Saber quem é terceiro. (2) Quem tem um
direito incompatível com a penhora. É disso que se trata.

A penhora não existe por si mesma, é instrumental da venda executiva, a penhora é um


meio, logo, eu só vendo aquilo que penhorei. O direito incompatível é aquele que foi
afetado pela venda executiva. Se a venda prejudica o direito de algum titular, então esse
titular pode embargar de terceiro. Temos que olhar para a venda. Ex.: primeiro
momento – senhor A é proprietário pleno de um terreno, constitui um usufruto a favor
de B e reserva para si a propriedade nua. Segundo momento – o terreno é penhorado
numa ação executiva, o usufrutuário pode ou não embargar, tem um direito
incompatível com a venda executiva ou não? A resposta de uma depende da outra. O
que foi penhorado? A nua propriedade ou a propriedade plena? Se foi penhora a nua
propriedade, o usufrutuário não é afetado pela venda, ele continua com seu direito, vai
ter que contar a frente com um novo proprietário. Se foi penhorada a propriedade plena
ele é afetado no seu direito de usufruto. Se for penhorada a propriedade plena então
ele pode embargar de terceiro. Devia ter sido penhorado apenas a nua propriedade, é o
que está em nome de A, então tudo bateu certo, o mundo está perfeito nessa matéria.
Mas por erro, se se penhorar a propriedade plena, então o direito de outrem é afetado.

O possuidor pode embargar de terceiro, o possuidor não é proprietário, mas tem a posse
da coisa. Meio de tutela possessória, enquanto não perder a posse tem uma presunção de
titularidade de direito, então o possuidor pode embargar. Locatário, depositário, parceiro
pensador também – pecuária – A tem 10 porcos, entrega a B para cuidar, esse outro é o
penso, alimento pecuário, tem tutela possessória, e pode defender a posse, direito de
gozo na verdade, mas tem a tutela, pode embargar de terceiro.

Vamos aos embargos do cônjuge do executado, Maria quer proteger um bem seu que
foi penhorado erroneamente – art. 343º CPC – modalidade especial de embargos de
terceiro. Para a defesa dos seus bens próprios e bens relativos aos bens comuns que
indevidamente tenham sido atingidos pela penhora.

Caso 07

Em ação executiva movida contra Joao, foram penhorados vários bens pertencentes ao
executado. Rodrigo, credor de João, mas não exequente naquela ação, quer reclamar
créditos.

Pode Rodrigo fazê-lo, ainda que só disponha de título executivo contra Joao?

Ação executiva está preparada para aparecerem figuras estranhas a ação executiva,
outras pessoas que não estava na ação, mas passam a estar. Por que? Quem é que vem a
ação executiva? Os bens penhorados são vendidos sem direitos reais de garantia, se
eles existem vão caducar. Se é assim, temos que permitir que quem tenha direitos reais
de garantia sobre o bem possa vir exercer seu direito de credito, se não perde a garantia
no fim da ação, isso era gravoso. A ação executiva está preparada para que outros, que
não o exequente, venham a ação executiva exercer seus direitos de crédito, reclamar
seus direitos. Os credores com garantias reais, que constituíram os direitos primeiros,
tem que ser os primeiros a serem pagos, tem que ser assim. Mas não é chamada toda a
gente na ação executiva, então quem? Quem tem um direito real de garantia sobre os
bens penhorados e um título executivo. Tem que ter os dois.

Fase da convocação e concurso de credores: efetuada a penhora, são convocados para a


execução os credores do executado para reclamarem seus créditos. Só são convocados
os credores que gozam de garantia real sobre o bem penhorado – art. 786º/1/b e 788º/1 –
e só podem reclamar se tiverem título executivo.
Duas perguntas importantes: (1) o que pode fazer um credor que tem título executivo,
mas não tem garantia real sobre os bens penhorados? Cheque, sentença, mas não tem
direito real de garantia. Como tem título, pode intentar outra ação executiva contra o
executado, indicar para penhora os mesmos bens, e nessa ação executiva nova com a
penhora dos bens, ele tem agora um direito real de garantia. Mas ele está em pior
situação do que os credores com garantia real na 1ª ação, ele vai ficar no fim da lista,
mas pelo menos agora constituiu um direito real de garantia. Essa 2ª ação executiva
susta-se quanto aqueles bens, fica suspensa quanto aqueles bens que estão penhorados.
Art. 788/5 e 794º. Pode ainda conseguir através de hipoteca judicial, arresto, etc.

(2) o que pode fazer um credor com garantia real, mas que não tem título executivo?
Pode requerer que a graduação de créditos, a lista de pagamentos, aguarde a obtenção de
um título – art. 792º/1. Ele vai conseguir esse título numa ação declarativa já pendente
ou a propor, é para conseguir o título, no prazo de 20 dias – art. 792/7/a. Pode ainda
obter um título judicial improprio, evita a necessidade da propor ação, fazendo um
requerimento e o executado é notificado para no prazo de 10 dias se pronunciar sobre a
existência do credito invocado – art. 792/2. Se o crédito for reconhecido ou este nada
disser, forma-se o título executivo, passando a ter os dois – 792/3.

Exequente tem que ser diligente, tomar as diligencias necessárias, realizar procedimento
pré-executivo extrajudicial para verificar se existem outros credores, principalmente
para verificar bens penhorados. Há uma sentença de graduação dos créditos e é a partir
desta que os credores serão pagos, os credores e o exequente.

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