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MM JUÍZO DO 3º JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DA

COMARCA DE VILA VELHA/ES

PROCESSO Nº 5012682-26.2022.8.08.0035

RAMON PAULO MOREIRA, já devidamente qualificado nos autos do processo em


epígrafe, que move em face do MUNÍCIPIO DE VILA VELHA, vem, respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, apresentar RÉPLICA À CONTESTAÇÃO constante no
ID de nº 19994518, com fulcro nos art. 350 e 351 do CPC, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos:

1. DA TEMPESTIVIDADE

A presente peça processual é tempestiva visto que o sistema ainda não abriu prazo para
defesa.

2. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de Ação de Indenização por Ilícito Civil movida em face do Município de Vila
Velha, em razão de acidente de veículo ciclomotor sofrido pelo Autor devido à falta de
sinalização prévia de Ondulação Transversal.

O acidente resultou em um trauma cranioencefálico, hemorragias e diversas escoriações,


que impossibilitou o Requerente de trabalhar por 38 (trinta e oito) dias.

Em razão deste lamentável fato, ajuizou ação requerendo indenização por danos morais e
lucros cessantes.
3. PRELIMINARMENTE
3.1. DOS DOCUMENTOS INDISPENSÁVEIS À PROPOSITURA DA
AÇÃO

Inicialmente, o Requerido afirma que não foi juntado aos autos documento que comprove
as revisões periódicas da motocicleta.

Entretanto, tal argumento não merece prosperar, visto que o objeto da ação não tem relação
alguma com o funcionamento do veículo automotor ou falta de manutenção, mas sim o fato
que ensejou o acidente do Autor por uma omissão do ente público ao não sinalizar uma
ondulação transversal de acordo com a recomendação legal.

Conforme já demonstrado na exordial, o objetivo da presente ação é a indenização em


razão da falta de sinalização prévia de uma lombada localizada na Rua Jaguaré, no bairro
Vale Encantado, que resultou no grave acidente que quase ceifou a vida do Requerente.

Assim, todos os documentos indispensáveis que comprovam a existência do fato e o nexo


de causalidade estão acostado na exordial, sendo estes: laudo médico, resumos de alta,
receituários médicos, exames de tomografia, prontuário, relatório de atendimento
concedido pelo SAMU, ficha de cirurgia, boletim de ocorrência, fotos e vídeos que
comprovam ausência de sinalização.

Ou seja, tudo relacionado ao ACIDENTE e a FALTA DE SINALIZAÇÃO, sendo


irrelevante apresentação de comprovante de revisão periódica da moto, visto que o que deu
causa ao grande desastre foi a omissão do Requerido de sinalizar a lombada e não mal
funcionamento do veículo.

Assim, não há que se falar na extinção do processo sem resolução do mérito por ausência
de documento indispensável à propositura da ação, uma vez que todos os argumentos
trazidos na exordial restam corroborados por provas documentais constantes nos autos.

3.2. DA DESNECESSIDADE DE FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO

O Requerido pugna pela necessidade de ingresso na ação da SRA. MARGARIDA MARIA


DA ROCHA MOREIRA, nome cujo veículo está registrado, sob argumento de que ela é
parte interessada, a fim de que seja demonstrada a regularidade da moto relacionada as
condições de trafegabilidade.

Ocorre que, conforme já explicitado anteriormente, o objeto da ação é o ACIDENTE e não


as condições da motocicleta. O objeto da ação trata de direito personalíssimo, relacionado a
dignidade da pessoa humana, sendo este um direito relativo a uma pessoa de modo
intransferível e só pode ser exercido por ela, que no caso concreto, é a integridade física do
Autor, a sua vida que quase foi ceifada por uma omissão do Município.

O art. 5º da Constituição Federal tem como uma das garantias o direito à vida, sendo este
um bem inviolável.

Assim, resta demonstrado que não há interesse jurídico na presente ação da pessoa cujo no
nome está registrado a motocicleta, pois não se trata do objeto (motocicleta) em si, mas de
um direito inerente e exclusivo do Requerente, cabendo somente a ele a autoria da presente
ação, o que dispensa o litisconsórcio.

Portanto, tal argumento não merece acolhimento de modo que seja dado prosseguimento ao
feito.

4. DO MÉRITO
4.1. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO MUNICÍPIO.
EXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL

Primeiramente, o Requerido afirma ser culpa exclusiva do condutor e que não existe nexo
causal entre a omissão do município e o acidente.

Entretanto, tal argumento não condiz com a realidade dos fatos, a vermos:

O Município, ao afirmar que o Autor não foi diligente em reduzir a velocidade para passar
na lombada, demonstra total descaso para a situação do Requerente, uma vez que o
acidente ocorreu por pura omissão do ente.
Conforme Resolução nº 600, do CONTRAN, o art. 3º demonstra os tipos de Ondulações
Transversais: TIPO A e TIPO B. In verbis:

Art. 3º A ondulação transversal pode ser do TIPO A ou doTIPO B e


deve atender às características constantes do ANEXO II dapresente
Resolução.

I - ondulação transversal TIPO A: Pode ser instalada ondeocorre a


necessidade de limitar a velocidade máxima para 30km/h,em:

a) rodovia, somente em travessia de trecho urbanizado;

b) via urbana coletora;

c) via urbana local.

II - Ondulação transversal TIPO B: Pode ser instalada somente


em via urbana local em que não circulem linhas regulares de
transporte coletivo e não seja possível implantar a ondulação
transversal do Tipo A, reduzindo pontualmente a velocidade
máxima para 20 km/h.

O Anexo II da referida Resolução, determina as medidas da lombada, vejamos:


No caso concreto, verifica-se que o tipo de ondulação transversal onde o Autor sofreu
acidente é do TIPO B, pois trata-se de uma via urbana local em que não circula transporte
coletivo. Questiona-se se a lombada foi instalada nas medidas recomendadas pelo
CONTRAN.

Ademais, o art. 6º determina, de forma cumulativa, que a ondulação transversal na via só


será admitida se acompanhada da devida sinalização viária, constituída de no mínimo:

I - placa com o sinal R-19 - "Velocidade Máxima Permitida",


regulamentando a velocidade em 30 km/h, quando se utilizar a
ondulação TIPO A, e em 20 km/h, quando se utilizar a ondulação
transversal TIPO B, sempre antecedendo o dispositivo;

II - placa com o sinal de advertência A-18 - "Saliência ou


Lombada", antes da ondulação transversal, colocada de acordo
com os critérios estabelecidos pelo Manual Brasileiro de
Sinalização de Trânsito - Volume II - Sinalização Vertical de
Advertência, do CONTRAN, conforme exemplo constante do
ANEXO IV desta Resolução;
III- placa com o sinal de advertência A-18 - "Saliência ou
Lombada" com seta de posição, colocada junto à ondulação, de
acordo com os critérios estabelecidos pelo Manual Brasileiro de
Sinalização de Trânsito - Volume II - Sinalização Vertical de
Advertência, do CONTRAN, conforme exemplo constante do
ANEXO IV da presente Resolução;

IV - marcas oblíquas, inclinadas, no sentido horário, a 45ºem


relação à seção transversal da via, com largura mínima de
0,25m, pintadas na cor amarela e espaçadas de no máximo de
0,50 m alternadamente, sobre o dispositivo, admitindo-se,
também a pintura de toda a ondulação transversal na cor
amarela, assim como a intercalada nas cores preta e amarela,
no caso de pavimento que necessite de contraste mais definido,
conforme desenho constante do ANEXO IV, desta Resolução.

Vejamos como deveria ser ondulação transversal de acordo constante no ANEXO IV da


resolução:
Além disso, o MANUAL BRASILEIRO DE SINALIZAÇÃO DE TRÂNSITO –
VOLUME II apresentado pelo próprio município, constante no relatório técnico fornecido
pela SEMDEST demonstra a cumulação dos incisos ao usar o termo “deve”, palavra no
modo imperativo em forma de ORDEM, a vermos:
No caso concreto, o Requerido cumpre apenas 1 (uma) das ordens: Instalação de placa
com o sinal de advertência A-18 - "Saliência ou Lombada" com seta de posição,
colocada junto à ondulação, e ainda a instalou atrás de uma árvore, o que
compromete a visibilidade, conforme print do vídeo anexo:

E conforme determinação acima, em caso de comprometimento da visibilidade, se a


via for de mão única, pode ser posicionado semelhantemente ao lado esquerdo, o que
também não foi instalado, conforme fotos e vídeos anexos.

Outrosssim, o Requerido afirma que quando não há placa que sinalize a velocidade da via,
deve-se considerar a velocidade de 30 km/h, nos termos do CTB. Entretanto, conforme a
resolução do CONTRAN e MANUAL, quando há existência de ondulação transversal, a
velocidade da via deve estar sinalizada estar sinalizada, o que também não estava instalado
na via.
Ademais, NÃO EXISTE placa com o sinal de advertência A-18 - "Saliência ou
Lombada", antes da ondulação transversal e a lombada não estava pintada.

E ao final de tudo o que foi demonstrado, o Requerido argumenta que o Autor possui culpa
exclusiva ao não ser diligente em frear antes de passar por uma lombada a noite, conforme
consta no boletim de ocorrência e relatório do SAMU, sem sinalização qualquer, e ainda
assim, a única sinalização que havia estava posicionada atrás de uma árvore?

Tal argumento demonstra TOTAL descaso com a situação do Autor e omissão pela má
prestação de serviço. A conduta omissa do Município poderia ter ceifado a vida do
Requerente!

Não bastasse isso, o Requerido juntou nos autos relatório técnico da SEMDEST, que
afirma o seguinte:

Desta feita, embora alegue o autor alegue que se acidentou em


face a existência de um quebra-molas não sinalizado, noutro giro,
para tanto, anexa foto de um desnível de via (fls. 41), o que torna
a alegação primária confusa e insubsistente quanto ao real
apontamento da suposta causa de seu hipotético acidente na
via.

Ora, a alegação primária é tão subsistente que demonstra que não bastasse a falta de
sinalização, ainda existia um desnível na via ANTES da lombada, o que agrava ainda mais
a situação, pois só comprova a má prestação de serviço do Município e a sua
responsabilidade objetiva pelo acidente do Autor.

O referido relatório aduz também ausência de uso de capacete para proteção da cabeça, fato
este que pode ser comprovado através de prova testemunhal, pois no momento do acidente,
o Autor estava utilizando capacete.
Assim, resta impugnado a afirmação de culpa exclusiva por parte do Requerente.

4.2. DA CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL

O Requerido afirma que o acidente sofrido pelo Autor não configura Dano Moral pois,
segundo ele, é necessário que o titular tenha sentido uma dor em seu íntimo.

No caso concreto, o Requerente não sofre somente a dor em seu íntimo, como ficou
sequelado por uma conduta omissiva do Município.

Atualmente convive com um zumbido no ouvido e um olho ficou mais fechado que o outro
por causa da cirurgia que foi realizada na cabeça, fora a implantação de chapas de ferro em
sua face devido ao forte impacto no momento do acidente, conforme fotos do antes e
depois a seguir:

ANTES
DEPOIS
No mesmo sentido é o posicionamento da jurisprudência em caso semelhante ao do Autor:

EMENTA: RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL
E MORAL. ACIDENTE DE MOTOCICLETA. QUEDA.
LOMBADA RECÉM INSTALADA. AUSÊNCIA DE
SINALIZAÇÃO PRÉVIA DE LOMBADA. MUNICÍPIO NÃO
OBSERVOU AS DIRETRIZES DA RESOLUÇÃO 600/2016
DO CONTRAN. RESPONSABILIDADE CIVIL
CONFIGURADA. DEVER DE INDENIZAR. SENTENÇA
MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.
RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 4ª
Turma Recursal - 0000203-58.2019.8.16.0168 - Terra Roxa - Rel.:
JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS TIAGO GAGLIANO PINTO ALBERTO - J.
01.03.2021)
(TJ-PR - RI: 00002035820198160168 Terra Roxa 0000203-
58.2019.8.16.0168 (Acórdão), Relator: Tiago Gagliano Pinto
Alberto, Data de Julgamento: 01/03/2021, 4ª Turma Recursal, Data
de Publicação: 05/03/2021)

Deste modo, conforme já demonstrado na exordial e na presente réplica, há configuração


do Dano Moral.

4.3. DOS LUCROS CESSANTES

O Requerido afirma que a Autora não comprou o direito aos lucros cessantes sob
argumento de que as conversas via aplicativo Whatsapp não servem como meio de prova.

Pois bem.

Como relatado na exordial, o Autor trabalha como motoboy, trabalhada seis dias por
semana e recebe por cada dia trabalhado o correspondente a R$ 90,00 (noventa reais).

As conversas do aplicativo Whatsapp anexa aos autos demonstram a tratativa do Autor com
o restaurante Sushira para prestação de serviço de motoboy, bem como o comprovante de
pagamento anexo do aplicativo pipcpay demonstra o recebimento de um valor de R$ 94,00
(noventa e quatro reais) do respectivo restaurante, sendo este o pagamento pelo serviço
prestado.

Assim, em razão do acidente sofrido e de sua gravidade, o Requerente ficou incapacitado


para trabalhar durante 38 dias, tendo um prejuízo de R$ 3.420,00 (três mil quatrocentos e
vinte reais). Deste modo, o pagamento dos lucros cessantes deve ser imposto ao Requerido,
tendo em vista que o Autor se acidentou devido a conduta omissa do Requerido ao não
sinalizar adequadamente a ondulação transversal.

Quanto ao BOLETIM DE OCORRÊNCIA, este foi produzido por procurador devido ao


impedimento do Requerente de o fazer por causa do acidente. Além do BU comprovar a
existência do fato, existem outras provas anexas nos autos como relatório do SAMU,
receituários e prontuários médicos que corroboram com a realidade dos fatos, não tendo
qualquer fundamento o argumento de que nada foi comprovado nos autos que gere o dever
de indenizar.

Portanto, restam impugnados todos os argumentos levantados pelo Requerido.

5. DOS PEDIDOS

Isto posto, resta impugnado toda a fundamentação alçada pelo réu na peça contestatória,
motivo pelo qual o Autor requer o prosseguimento do feito e o julgamento procedente de
todos os pedidos formulados na exordial.

Nestes termos,
Espera deferimento.

Vitória/ES, 10 de janeiro de 2023.

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ROGÉRIA L V DE SOUZA
OAB-ES 14.626

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