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Tipos de pesquisa
Universidade Rovuma
Nampula 2022
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Tipos de Pesquisa
Universidade Rovuma
Nampula 2022
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Índice
1.1. Introdução
2.1.1. Conceitos
Pesquisa no sentido amplo, é procurar uma informação que se sabe e que se precisa saber.
Consultar livros revistas, verificar documentos, conversar com pessoas, fazendo perguntas
para obter respostas, são formas de pesquisa, considerada como sinónimo de busca, de
investigação e indagação. Este sentido amplo de pesquisa, opõe-se ao conceito de pesquisa
como tratamento de investigação científica que tem por objectivo comprovar uma hipótese
levantada, através do uso de processos científicos (ALMEIDA JUNIOR, 1988, P. 102).
Segundo Lakatos e Marconi (1987, p. 15), a pesquisa pode ser considerada um procedimento
formal com método de pensamento relativo que requer um tratamento científico e se constitui
no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdade parciais. Significa muito
mais que apenas procurar a verdade mas descobrir respostas para perguntas ou soluções para
os problemas levantados através do emprego de métodos científicos.
O planeamento de uma pesquisa depende tanto do problema a ser estudado, da sua natureza e
situação espaço temporal em que se encontra, quanto da natureza e nível de conhecimento do
pesquisador (KOCHE, 1987, p. 122). Isso significa que pode haver vários tipos de pesquisa.
Cada tipo de possui, além do núcleo comum de procedimentos, suas peculiaridades próprias.
Tipo de pesquisa
quanto à/aos
Descritiva
Qualitativa
Aplicada
Explicativa
Quanti/Quali
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e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes” (MINAYO, 2009, P. 21). A
pesquisa qualitativa é difícil de ser traduzida em números e indicadores quantitativos pois
trabalha com o mundo das relações humanas, de suas representações, significados e
intencionalidades, aos quais é necessário sempre um processe hermenêutico-interpretativo por
parte do pesquisador. Devido a complexidade histórica e social do objecto de pesquisa nas
ciências sociais, não é incomum haver uma multiplicidade de opiniões acerca de um mesmo
fenómeno em função da subjectividade presente nos resultados e análises dos resultados e
análises dos dados, da forma como alguns factos são interpretados, já que a diversidade de
interpretações é uma consequência directa da subjectividade presente na pesquisa. Os
instrumentos mais comuns para colecta de dados nesse tipo de pesquisa são: entrevista,
estudos de caso, grupo focais, etnografia.
Godoy (2005) destaca alguns pontos fundamentais para se ter uma “boa” pesquisa qualitativa,
tais como:
Deve-se destacar que alguns autores têm argumentado sobre a inconveniência de definir
limites entre os estudos ditos qualitativos e quantitativos nas pesquisas, devendo ser afastada a
idéia de que somente o que é mensurável teria validade científica.
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Nesse sentido, dentro das ciências sociais e, por influência da perspectiva positivista, “a
tradição quantitativa condenava a pesquisa qualitativa como sendo impressionista, não
objetiva e não científica [...] já que não permite mensurações, supostamente objetivas [...]”
(MOREIRA, 2002, p.43-46). A perspectiva positivista “aprecia números [...] pretende tomar a
medida exata dos fenômenos humanos e do que os explica”, na busca da objetividade e da
validade dos saberes construídos (LAVILLE & DIONNE, 1999, p.43). De acordo com Demo
(2002, p.7), “a ciência prefere o tratamento quantitativo porque ele é mais apto aos
aperfeiçoamentos formais: a quantidade pode ser testada, verificada, experimentada
mensurada [...]”.
Quanto aos objectivos, que Gil (1987, p. 44-46), também chama de níveis de pesquisa,
as pesquisas se dividem em: exploratórias, descritivas e explicativas.
Segundo Selltiz et al. (1965), enquadram-se na categoria dos estudos exploratórios todos
aqueles que buscam descobrir idéias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade
com o fenômeno pesquisado. Nem sempre há a necessidade de formulação de hipóteses
nesses estudos. Eles possibilitam aumentar o conhecimento do pesquisador sobre os fatos,
permitindo a formulação mais precisa de problemas, criar novas hipóteses e realizar novas
pesquisas mais estruturadas. Nesta situação, o planejamento da pesquisa necessita ser flexível
o bastante para permitir a análise dos vários aspectos relacionados com o fenômeno.
De acordo com Gil (2008), o objectivo de uma pesquisa exploratória é familiarizar-se com um
assunto ainda pouco conhecido ou explorado. Assim, se constitui em um tipo de pesquisa
muito específica, sendo comum assumir a formar de um estudo de caso. Nesse tipo de
pesquisa, haverá sempre alguma obra ou entrevista com pessoas que tiveram experiencias
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práticas com problemas semelhantes ou análise de exemplos análogos que podem estimular a
compreensão.
Diferentemente dos autores anteriormente citados, Castro (1976) considera que a pesquisa
descritiva apenas captura e mostra o cenário de uma situação, expressa em números e que a
natureza da relação entre variáveis é feita na pesquisa explicativa.
“Quando se diz que uma pesquisa é descritiva, se está querendo dizer que
se limita a uma descrição pura e simples de cada uma das variáveis,
isoladamente, sem que sua associação ou interação com as demais sejam
examinadas” (CASTRO, 1976, p. 66).
As pesquisas descritivas, por sua vez, têm por objectivo descrever criteriosamente os factos e
fenómenos de determinada realidade, de forma a obter informações a respeito daquilo que já
se definiu como problema a ser investigado (TRIVINOS, 2008). A diferença em relação à
pesquisa exploratória é que o assunto da pesquisa já é conhecido. A grande contribuição das
pesquisas descritivas é proporcionar novas visões sobre uma realidade já conhecida. Nada
impede que uma pesquisa descritiva assuma a forma de um estudo de caso, apesar de essa
possibilidade ser mais comum nas pesquisas exploratórias (Gil, 2008).
Segundo Gil (1999), a pesquisa explicativa tem como objetivo básico a identificação dos
fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência de um fenômeno. É o tipo de
pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, pois tenta explicar a razão e as
relações de causa e efeito dos fenômenos.
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Para Lakatos & Marconi (2001), este tipo de pesquisa visa estabelecer relações de causa-
efeito por meio da manipulação direta das variáveis relativas ao objeto de estudo, buscando
identificar as causas do fenômeno. Normalmente, é mais realizada em laboratório do que em
campo.
Bibliográficas Documental
Experimental
Pesquisa acção
Pesquisa de
Campo
Etnográfica
Estudo de caso
Levantamentos
Quanto aos procedimentos que também podem ser chamados de delineamento da pesquisa
(GIL, 1987, p. 71-78), embora a primeira nomenclatura seja mais exacta, as pesquisas se
dividem em:
Pesquisa Bibliográfica; e
Pesquisa Documental.
Experimental;
Ex post facto;
Participativa;
Pesquisa acção;
Etnográfica;
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Estudo de caso; e
Levantamentos.
Delineamentos experimentais;
Delineamentos quase-experimentais;
Delineamentos não experimentais.
A pesquisa etnográfica tem origem na Etnografia (do grego ethnos, que significa nação e/ou
povo e graphein, que significa escrita) e na Antropologia Social, onde o principal foco é o
estudo da cultura e o comportamento de determinados grupos sociais, que envolve um exame
aprofundado (intenso e prolongado) de tais comportamentos, costumes, crenças, entre outras
coisas compartilhadas dentro daquela comunidade e que por isso consolidou a pesquisa
participante como disciplina científica. Baseia-se no contacto intersubjectivo entre o
pesquisador e o seu objecto, seja ele um grupo indígena ou qualquer outro grupo social sob o
qual o recorte analítico seja feito. O etnógrafo se enverada em uma cultura ou situação social
para explorar, colectar e analisar dados.
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Segundo Yin (2001), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo dos
fatos objetos de investigação, permitindo um amplo e pormenorizado conhecimento da
realidade e dos fenômenos pesquisados.
A pesquisa por meio de levantamento “se caracteriza pela interrogação directa das pessoa cujo
comportamento se deseja conhecer [...] procede-se à solicitação de informações a um grupo
significativo de pessoas do problema estudado” (GIL, 1989, p. 76) a partir das quais se
reflecte sobre os dados, mediante análise quantitativa, para se chegar a uma conclusão.
Indutivo
Tipos de
Método Dedutivo
pesquisa
quanto ao
Dialéctico
Fenomenológico
Quanto ao método científico utilizado nas ciências sociais, Gil (1987, p. 28-36) divide em
gerais e específicos: entre os gerais estão o método Hipotético dedutivo, dialéctico e
fenomenológico (aos quais é preciso acrescentar o método indutivo e dedutivo, próprios da
ciências naturais, sendo que o método hipotético dedutivo, a rigor, corresponde basicamente
ao método dedutivo), entre os específicos, que possibilitam os meios técnicos e operacionais
da pesquisa, estão o método experimental, observacional, comparativo, estatístico e clinico.
O método indutivo foi defendido científico pelo filósofo inglês Francis Bacon e ganhou
destaque com o empirismo da escola inglesa e as descobertas dos fenómenos e leis da física
empreendida por Galileu Galilei. O método indutivo coloca a observação dos fenómenos
como o ponto de partida para a investigação científica e a elaboração de hipóteses. Da
observação de casos particulares, pretende-se construir uma teoria geral. “De acordo com o
raciocínio indutivo, a generalização não deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a
partir da observação de um número de casos concretos suficientemente confirmadores da
suposta realidade” (GIL, 1989, p. 29).
O método dedutivo parte de uma teoria que se pretende geral para só então realizar a
observação de casos particulares e, assim, testar a teoria. A rigor, não nos parece que exista
uma diferença significativa entre o método dedutivo e o hipotético-dedutivo e, por isso,
vamos trata-los aqui de modo similar, embora Gil (1989, p. 28) ressalte que o método
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Método Científico
Hipoteco-dedutivo
(referencial teórico)
(percepção significativa)
PROBLEMA CONTEXTO DE
Imaginação
DESCOBERTA
criativa (duvida)
HIPOTESE
S
Intersubjectividade e falseabilidade
CONTEXTO
DE
Interpretação e avaliação da testagem das hipóteses JUSTIFICAÇÃO
Rejeição das
Não rejeição das
hipóteses
hipóteses
(corroboração)
Nova Teoria
Como pondera Koche (2015, p. 72), apoiado nos trabalhos de Karl Popper, a “ciência não é a
mera observação de fenómenos [...] a percepção de problema é uma percepção empregada de
fundo teórico”. Ao identificar um problema que pode ser tratado de maneira científica, o
pesquisador começa a conjectura sobre possíveis soluções a alternativas para explica-lo.
Nesse momento a hipótese esta sendo elaborada de forma dedutiva e depende “da capacidade
criativa de propor ideias que sirvam de hipóteses, de soluções provisórias que deverão ser
confrontadas com os dados empíricos através de uma testagem” (id., ibidem, p. 72).
Se prefere fazer uma distinção entre o método dedutivo e o método hipotético-dedutivo, este
geralmente é associado as ideias do filósofo Karl Popper, a partir das teorias desenvolvidas
pelo filósofo em sua obra A Lógica da Pesquisa Científica, que propõe a teoria do
falsificacionismo ou, em outras palavras, a ideia de que formuladas as hipóteses sobre um
determinado problema ou teoria, estas devem ser testadas com o objectivo de torna-las falsas.
Se a hipótese resistir aos testes de falseamento a teoria continua verdadeira, senão, uma vez
tornada falsa, deixa de ser valida a teoria.
O método dialéctico aplicado as ciências sociais se baseia em pelo menos três princípios
(GIL, 1989, p. 32): o princípio da unidade e da luta dos contrários, segundo o qual os aspectos
contraditórios do real (luta dos contrários) se apresentam organicamente unidos (unidade); o
princípio da transformação das mudanças quantitativas em qualitativas segundo o qual a
quantidade e a qualidade “são características imanentes a todos os objectos e fenómenos, e
estão inter-relacionados” (GIL, 1989, p. 32) e onde as mudanças quantitativas geram
mudanças qualitativas; o princípio da negaça, segundo o qual certos aspectos do estágio
inferior são repetidos em estágios superiores.
seus aspectos, suas relações e conexões, sem tratar o conhecimento como algo rígido, já que
tudo no mundo está sempre em constante mudança.
O método fenomenológico, tal como foi apresentado por Edmund Husserl (1859-1938),
propõe-se a estabelecer uma base segura, liberta de proposições, para todas as ciências (GIL,
2008). Para Husserl, as certezas positivas que permeiam o discurso das ciências empíricas são
“ingênuas”. “A suprema fonte de todas as afirmações racionais é a „consciência doadora
originária‟.” (GIL, 2008, p. 14). Daí a primeira e fundamental regra do método
fenomenológico: “avançar para as próprias coisas.” Por coisa entendemos simplesmente o
dado, o fenômeno, aquilo que é visto diante da consciência. A fenomenologia não se
preocupa, pois, com algo desconhecido que se encontre atrás do fenômeno; só visa o dado,
sem querer decidir se esse dado é uma realidade ou uma aparência.
O método fenomenológico não é dedutivo nem empírico. Consiste em mostrar o que é dado e
em esclarecer esse dado. “Não explica mediante leis nem deduz a partir de princípios, mas
considera imediatamente o que está presente à consciência: o objeto.” (GIL, 2008, p. 14).
Consequentemente, tem uma tendência orientada totalmente para o objeto. Ou seja, o método
fenomenológico limita-se aos aspectos essenciais e intrínsecos do fenômeno, sem lançar mão
de deduções ou empirismos, buscando compreendê-lo por meio da intuição, visando apenas o
dado, o fenômeno, não importando sua natureza real ou fictícia.
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5.1. Conclusão
ALMEIDA JÚNIOR, João Baptista de. O estudo como forma de pesquisa. In: CARVALHO,
Maria Cecília M de (Org.). Construindo o saber. Técnicas de Metodologia Científica.
Campinas: Papirus, 1988. P. 107-129.
CASARIN, Helen de Castro S,; CASARIN, Samuel S. pesquisa Científica: da teoria à prática.
Curitiba: Ed. Intersaberes, 2012.
DIEHIL, Astor A.; TATIM, Denise C. Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas: métodos e
técnicas. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
GIL, António Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 1989.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.