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Física aliada à saúde: conhecimentos da área

permitem analisar a Covid-19


Estudos da Física Médica auxiliam a modelar, medir e prever o
comportamento do vírus SARS-CoV-2

Com o avanço do novo coronavírus, estudos interdisciplinares se tornaram


cada vez mais necessários. Dentre os diversos campos da ciência envolvidos
nesta tarefa, a Física tem contribuído com conhecimentos e
técnicas que permitem modelar, medir e prever o comportamento dos sistemas
biológicos causadores da doença. “Um exemplo dessa contribuição é que
a estrutura molecular do vírus SARS-CoV-2 foi determinada através de uma
análise de cristalografia por raios X e de microscopia eletrônica. Outro ponto
importante é que os medicamentos e as vacinas que podem combater a Covid-
19 devem ser previamente simulados computacionalmente e, na fase de
produção, investigados, usando as técnicas físicas de microscopia eletrônica,
difração e espalhamento de raios X”, explica a professora Ana Maria
Marques, relatando os experimentos realizados por diversos grupos de
pesquisa descritos na revista Physics Today, publicada neste mês.

A professora Michele Andrade, docente da Escola Politécnica, ainda destaca


que a física é fundamental para a compreensão da extensão do
contágio do coronavírus, pois trabalha diretamente nas simulações da
dispersão de gotículas liberadas nos espirros e o nível de proteção de
máscaras. “As simulações da física das partículas mostram que as gotículas
maiores não viajam por uma distância longa por serem mais pesadas, mas as
gotículas menores formam uma espécie de ‘nuvem gasosa’ que acaba se
movimentando pelo ambiente e pode permanecer suspensa por várias horas”,
salienta Michele.

A física também está presente nos hospitais que recebem os pacientes com
sintomas da Covid-19, como dificuldade respiratória. De acordo com a
professora Ana Maria, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Imagens
Médicas (NIMed), as técnicas de diagnóstico por imagem utilizando raios X são
essenciais para a avaliação da gravidade do quadro dos pacientes. “As
imagens da radiografia e da tomografia computadorizada mostram a extensão
das áreas afetadas pela inflamação no pulmão devido a contaminação pelo
novo coronavírus. A medicina nuclear também contribui para o diagnóstico,
através da cintilografia de perfusão pulmonar, um exame que possibilita
visualizar a extensão da perda de troca gasosa entre o sangue e o pulmão,
auxiliando na avaliação da gravidade da doença”, ressalta a professora.

Físico médico: um profissional da saúde


A Física Médica é um campo da física aplicada altamente interdisciplinar, que
combina os conhecimentos da física, da matemática e da computação, com a
biologia, a anatomia e a fisiologia para solucionar problemas relacionados à
saúde e à medicina. No combate à Covid-19, os físicos médicos estão
integrados na equipe de saúde, atuando diretamente no diagnóstico e no
tratamento de pacientes.

Além de garantirem a qualidade dos equipamentos envolvidos no diagnóstico


por imagem, eles atuam no desenvolvimento de sistemas computacionais de
comunicação, processamento e análise digital de imagens. “Esses sistemas
apoiam o médico no diagnóstico e possibilitam uma avaliação mais exata da
condição de saúde do paciente e da extensão da doença, sendo útil para a
tomada de decisões em relação ao tratamento. Adicionalmente, os físicos
médicos atuam no apoio à qualidade da telerradiologia, que é um braço da
telemedicina”, comenta a professora Michele Andrade.

Segundo ela, na telerradiologia, exames de imagem realizados em áreas rurais


ou mesmo em hospitais podem ser enviados e analisados remotamente por
vários médicos. Além disso, a rápida disseminação do coronavírus amplificou o
valor das ferramentas de telerradiologia, pois elas permitem que o médico
radiologista trabalhe fora do hospital, o que reduz o risco de contágio desse
profissional da saúde.

Já no ambiente hospitalar, os físicos médicos atuam nas áreas de diagnóstico


por imagem e na radioterapia. “Na área de diagnóstico por imagem, a função
do físico médico é garantir que as imagens produzidas pelos equipamentos de
radiografia, tomografia computadorizada, medicina nuclear, ressonância
magnética e ultrassom tenham qualidade e confiabilidade para um diagnóstico
seguro para os pacientes e para a equipe técnica. Na radioterapia, o físico
médico é responsável por planejar, em conjunto com o médico, a melhor forma
de tratar pacientes com câncer, utilizando feixes de radiação emitidos por
aceleradores lineares, para destruir células malignas e preservar as células
saudáveis”, resume a professora Ana Maria Marques, como pode ser visto em
mais detalhes na Associação Brasileira de Física Médica.

Pesquisa busca soluções para o diagnóstico da Covid-19


Uma das pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Computação em Imagens
Médicas (Medicom) da PUCRS vem utilizando métodos de inteligência artificial
para identificar padrões e analisar a extensão do comprometimento dos
pulmões durante a Covid-19. A pesquisa, que conta com uma equipe
interdisciplinar de físicos, cientistas da computação e médicos, está
desenvolvendo algoritmos que pretendem auxiliar o diagnóstico por meio da
diferenciação das imagens de raios X da Covid-19 e de outras doenças, além
de possibilitar a identificação de características nas imagens que estejam
relacionadas com a maior probabilidade de agravamento da doença.

A professora Ana Maria, coordenadora do Medicom, destaca que os resultados


iniciais demonstraram uma alta porcentagem de sensibilidade. “Os primeiros
resultados, utilizando redes neurais artificiais na diferenciação da Covid-19 de
outros tipos de doenças respiratórias com base em imagens de radiografia de
tórax de bancos de dados públicos, apresentaram uma sensibilidade de 95%”,
relata. A pesquisa está sendo realizada em cooperação com o Laboratório de
Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia. A
coordenadora do laboratório ainda comenta que a pesquisa segue com novas
fases. “Imagens estão sendo coletadas para ampliar a base de dados em
melhorar o desempenho da rede neural. Adicionalmente, a investigação com as
imagens de tomografia computadorizada está em andamento”, destaca Ana
Maria.

Como se forma o físico médico


No curso de graduação em Física Bacharelado: Física Médica, os estudantes
desenvolvem competências para a formação de um profissional com perfil
interdisciplinar. O curso oferece uma base sólida em física e matemática e
conhecimentos específicos e práticos nas áreas aplicadas, como radiologia,
medicina nuclear, radioterapia e proteção radiológica.

A graduação habilita os estudantes para atuar em instituições de saúde, como


hospitais e clínicas, indústria, centros de pesquisa e órgãos públicos. Assim
como na formação médica, após a graduação, os físicos médicos podem
realizar uma residência multiprofissional de dois anos em hospitais
credenciados, como no Hospital São Lucas, escolhendo uma das três áreas de
atuação: medicina nuclear, radiodiagnóstico e radioterapia.
Técnicas de diagnóstico por imagem utilizam conceitos da física / Foto: Shutterstock

Físicos médicos Daniela Estácio, Diego Teixeira e Mayara Prata, que atuam no serviço
de Radioterapia do Hospital São Lucas, realizando testes de controle de qualidade /
Foto: Arquivo Pessoal
Configuração geral da rede neural artificial utilizada para realizar a classificação dos
casos de Covid-19 e outras doenças, a partir das imagens de radiografia de tórax /
Imagem: Medicom

http://www.pucrs.br/blog/fisica-aliada-a-saude-conhecimentos-da-area-permitem-analisar-a-
covid-19/

A física por trás das soluções ao novo coronavírus

Infecções de todos os tipos constituem o maior dos desafios para a humanidade. Não se trata
apenas das novas doenças, como o COVID-19, mas as velhas doenças têm seus causadores,
principalmente as bactérias e fungos tornando-se resistentes aos antibióticos e fungicidas.
Todos estão prevendo uma tragédia, se ações não forem tomadas imediatamente. Como
enfrentar esta situação? Só com grandes investimentos em ciências e tecnologia. O
desenvolvimento cientifica é o motor que propulsiona a humanidade. Além de promover seu
avanço,ele será responsável pela sua salvação.É importante que isso esteja claro á todos
governantes. Em especifico, como a física tem sido determinante nas soluções destas
situações, é o tema deste artigo.

Na historia da humanidade, as chamadas pandemias ( doenças que se espalham por várias


partes do planeta) , sempre foram desastrosas . Elas normalmente matam mais que as guerras.
A humanidade viveu várias pandemias ao longo de sua existência, isto não é novo. A diferença
é que graças ao trabalho fantástico dos cientistas, cada vez conseguimos amenizar muito os
seus efeitos. Para uma pessoa comum, às vezes é difícil avaliar o grande valor que a ciências
faz no dia a dia de todos, e principalmente o grande beneficio que tem nestes momentos. A
ciência tem evitado que a tragédia seja maior.Todas as ciências básicas, como química, física,
biologia e matemática contribuem de forma definitiva. No entanto, a Física, tem tido um papel
de destaque. Ao longo da história, a Física evolui de mera geradora de conhecimento, para
protagonista das soluções. Hoje, podemos dizer, com segurança,que ela vem contribuindo com
conceitos e técnicas que fazem uma grande diferença, em momentos como este que estamos
vivendo. A cada ano que passa, as técnicas capazes de detectar, interferir, prever e amenizar
efeitos de pandemias progridem para o melhor. Isto graças ao avanço das ciências, em especial
a física. Neste contexto, tem vantagens quem nela investe.

O principal interesse da física é o entendimento do micro-mundo, aquele dos átomos e das


moléculas. O que acontece neste micro-mundo é que gera as conseqüências do chamado
macro-mundo,que nos humanos observamos. No passado , as doenças não tinham explicação,
depois veio a descoberta do microscópio ( Instrumento físico que permite ampliar e observar
um mundo de dimensões muito menores: os microorganismos) . Este instrumento físico tirou
o homem da escuridão e tornou visível algo que seus olhos não eram capazes de ver. Depois
veio a grande evolução no entendimento da estrutura molecular, em especial daquelas
moléculas essenciais a vida.Isto foi um novo salto, que graças as técnicas de espectroscopia
por Raio-X, tornou possível desvendar a vida vista no nível molecular. Diversas descobertas de
físicos e químicos , tornaram nossa visão ainda mais ampliada. Uma área denominada de
biologia estrutural, nasceu da evolução destes desenvolvimentos, e tem sido fundamental no
entendimento da ação dos vírus, através da determinação de sua estrutura e principalmente
da sua forma de multiplicar-se. Se não fossem estas técnicas desenvolvidas pela Física, hoje
não poderíamos em menos de dois meses, descobrir que a nova doença é devido a um novo
vírus: o Novo CoronaVirus ( SARS-Cov-2). Mais do que isto, o avanço da física e do estudo de
centenas de físicos e químicos que desenvolveram formas adequadas de processar dados que
advém dos instrumentos de medida como espalhadores de Raio-X e outros, permite já
determinar como deve ser a vacina que deverá impedir sua ação no ser humano. Olhando e
entendendo a estrutura das moléculas fundamentais que forma o vírus, é possível saber como
que uma molécula( ou conjunto delas) deve ser adicionada as células ( vacina) para impedir
que elas virem uma máquina de reprodução viral, e portanto evitando que a doença se instale
no indivíduo. As técnicas e visão do mundo molecular desenvolvido pela física, agora torna-se
sinônimo de sobrevivência para a humanidade. O recente aperfeiçoamento da microscopia
eletrônica, através da chamada microscopia eletrônica criogênica, também tem tornado
eficiente o processo destes estudos. O potencial de ver grandes moléculas fundamentais a
vida, determinar suas estruturas e comportamento é uma das principais missões do nosso
Laboratório Nacional de Luz Sincrotron, e agora com sua nova linha o SIRIUS. O Desenho de
medicamentos que tenham ação inibidora nos vírus e bactérias, dependem do conhecimento
de suas estruturas, caso contrário voltamos a atuar na forma de tentativa e erro. Isto não mais
é possível frente a atual situação, não temos mais tempo para jogos ao acaso. Certamente,
veremos agora o valor do investimento feito. E sobre os exames de diagnósticos, também
dependem da física? Claro que sim!. Tomar uma amostra de sangue do paciente, identificar
fragmentos moleculares que demonstrem a existência do vírus na amostra, é como procurar
uma agulha no palheiro. Somente com técnicas físico-químicas é que podermos ampliar o sinal
e detectar que ali temos o vírus. A chamada técnica de PCR ((Polymerase Chain Reaction) é
fruto de muito investimento e agora é fundamental para que possamos detectar e socorrer os
doentes. Os chamados marcadores, que são moléculas capazes de acharem substanciam
específicas indicadoras da existência de doenças em um indivíduo,usam técnicas físicas,
principalmente ópticas, para serem detectadas. Estas técnicas e aparelhos, hoje presente em
hospitais e laboratórios de análises clinicas, foram desenvolvidos em diversas pesquisas
cientificas, que dão a sociedade o retorno esperado. Assim que surgiu os primeiros alardes da
doença COVID-19, pesquisadores de todos lugares começaram a direcionar sua atenção para
poderem contribuir, melhorando as técnicas existentes e criando novas e ainda melhores. A
espectroscopia óptica e a microscopia eletrônica, nunca estiveram tão desenvolvidas e a
disposição . Muito já estão trabalhando, na formulação de uma vacina especifica ao Corona
Vírus, bem como desenhando drogas que deverão atenuar seus efeitos.
A física não para nos processos moleculares como descritos. As modernas técnicas de redes
neurais e inteligência artificial, tem permitido prever com precisão o avanço da doença bem
como suas conseqüências. Os físicos tem sido capazes de prever o comportamento da
progressão da infecção em diferentes cenários. Inclusive, sabendo que o vírus apresenta
mudanças ( mutações), estes procedimentos de física teórica tem permitido avaliar as
conseqüências destes fatos. Tais previsões são fundamentais para alertar governantes e
associações sobre os riscos envolvidos e direcionar ações.

Tudo isto vem ocorrendo, mas agora temos que nos preocupar em tratar os doentes.. Todos
dizem que no momento o melhor é ficar de repouso, mas também dizem que muitos não irão
resistir. Será que a física tem possíveis soluções para isto?. A resposta é sim. Há técnicas em
desenvolvimento para evitar a catástrofe da pneumonia resistente aos antibióticos, que
podem em principio, ser aplicada para aliviar a carga virial e os sintomas da doença em
pacientes infectados. A técnica que vem sendo desenvolvida na USP de São Carlos – Instituto
de Física de São Carlos (IFSC), e consiste na inalação de uma molécula denominada de foto-
sensibilizador, que tem afinidade por bactérias e vírus. Uma vez inalada , esta molécula pode
ser ativada por luz, tornando-se mortífera para os vírus e bactérias, mas não para as células
normais do sistema respiratório. A luz chega ao interior dos brônquios, através de um sistema
de iluminação extracorpórea, como demonstra o infográfico. O uso de ação fotodinâmica
( nome dado ao principio desta técnica) já vem sendo empregado com sucesso em modelos
animais com pneumonia resistente, em humanos no caso do HPV, infecções de garganta, e em
descontaminação de órgãos para transplantes, com inclusive ação sobre os vírus da hepatite.
Se funcionar bem , poderá ser uma excelente técnica pesquisada para rapidamente eliminar a
carga viral nas vias aéreas, eliminando sintomas de pacientes infectados , bem como diminuir
seu potencial de infectar outros. Tais desenvolvimentos, em vista destas possibilidades estão
agora sendo acelerados, inclusive com a elaboração de convênios com o setor produtivo para
alavancar tais tecnologias.

A Física vem avançando com conhecimentos, técnicas e tecnologias para todas as áreas do
conhecimento. Por trás das doenças, há uma grande atividade científica. De fato, somente o
conhecimento empregado e focado no problema pode contribuir para a solução. Decretos
governamentais minimizam o problema, mas não o resolvem. Estamos vivendo uma
pandemia, que para muitos de nós é novidade. No entanto, os indicativos são de que teremos
diversos problemas parecidos no futuro próximo. A lição tem que ser aprendida agora. Temos
que nos preparar com antecedência e permitir que a ciência, incluindo a Física, trabalhe a todo
vapor para dar sua contribuição. Como diz a famosa frase:“Escolhas e não sorte determina o
destino”. Temos que fazer as escolhas certas, pois o Brasil merece um destino seguro.
A luz chega ao interior dos brônquios, através de um sistema de iluminação extracorpórea,
como demonstra o infográfico. Fontes: Jornalista Científico – Ms. Kleber Jorge Savio Chicrala
do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) – Instituto de Física de São Carlos (IFSC) –
Universidade de São Paulo (USP) e Prof. Dr. Vanderlei Salvado Bagnato( Diretor do CEPOF –
IFSC – USP)

https://www.saocarlosagora.com.br/coluna-sca/scarlos-no-mundo-da-ciencia-e-da-
tecnologia/124867/

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