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UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

Faculdade da Educação

Departamento de Psicologia e Pedagogia

Socialismo no Estado e Crise no Socialismo.

(Licenciatura em Ciências de Educação)

Grupo II

Brain António Bento

Esperança Alberto Joaquim

Julieta Afonso Berro

Letícia António Augusto

Yónicia da Amajú Abel Machava

Universidade Pungue

Chimoio

2023
Grupo II

Brain António Bento

Esperança Alberto Joaquim

Julieta Afonso Berro

Letícia António Augusto

Yónicia da Amajú Abel Machava

Socialismo no Estado e Crise no Socialismo.

(Licenciatura em Ciências de Educação)

Trabalho de pesquisa a ser apresentado ao


curso de Licenciatura em Ciências de
Educação, de carácter avaliativo na cadeira
de Ideias Políticas, Sob orientação de: Mrs
Cassene Fombe.

Chimoio

2023
Índice
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO..................................................................................................4

1.1.Introdução..........................................................................................................................4

1.2.Objectivo...........................................................................................................................4

1.2.1.Objectivo geral...........................................................................................................4

1.2.2.Objectivos específicos................................................................................................4

1.3. Metodologia do trabalho..................................................................................................5

CAPÍTULO II: REFERĖNCIA TEÓRICO............................................................................6

2.1.Conceito básico:................................................................................................................6

2.1. Socialismo no estado........................................................................................................6

2.2. Louis Blanc......................................................................................................................7

2.3.Buchez...............................................................................................................................8

2.4. Ferdinand Lassalle..........................................................................................................10

2.5. Eduard Bernstein............................................................................................................11

2.5.1. No domínio político.................................................................................................12

2.6. Karl Kautsky..................................................................................................................13

2.7. Vladimir Lenine: Estado revolucionário........................................................................14

2.7.1. Organizações revolucionárias..................................................................................15

2.8. Crise do socialismo........................................................................................................16

2.9. Albert Camus: O homem revoltado...............................................................................16

2.10. J. P. Sartre: Existencialismo revolucionário.................................................................17

1.12. Herbert Marcuse: A nova análise revolucionária.........................................................18

2.13. Novo utopismo comunista............................................................................................19

2.13.1. A administração no sistema comunista.................................................................20

2.14. Comunismo diversificado: Chinês, Castrismo e eurocomunismo (Francês e italiano)20

2.14.1. Comunismo Castrismo..........................................................................................21


2.14.2. Partido Comunista Francês....................................................................................22

2.14.2. Partido Comunista Italiano....................................................................................23

CAPÍTULO III: CONCLUSÃO........................................................................................24

3.1.Conclusão........................................................................................................................24

4.0.Referências bibliográfica.................................................................................................25
5

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
1.1.Introdução
Neste presente trabalho referente à cadeira de Ideias Politicas, fala-se acerca de Socialismo
no estado, Socialismo de estado e Crise do socialismo. Dentro destes temas ira-se encontrar
vários precursores que debruça sobre o socialismo.

O socialismo entende se como uma sociedade em que reina plena igualdade e liberdade para
todos seus membros. Socialismo de estado, o próprio conceito de socialismo de Estado
reflecte adequadamente a mais profunda contradição do processo efectivo de
desenvolvimento. Da perspectiva das estruturas social e de classe, isso significou a definição
da classe trabalhadora como classe dirigente e, de fato, a sociedade soviética ela mesma foi
colocada institucionalmente e economicamente sob o governo da burocracia, de um sistema
burocrático institucional, cujo governo seria legítimo apenas enquanto servia e protegia os
interesses da “classe dirigente”, àqueles dos “trabalhadores”. Não é por acaso que durante
toda a era do socialismo de Estado o próprio governo burocrático tenha funcionado sob a
bandeira da luta ideológica e cultural contra a burocracia, e recorrido, finalmente, até mesmo
à dizimação física da ordem burocrática.

O trabalho apresenta (3) capítulos, onde no primeiro capítulo (CAPÍTULO I: Introdução)


introduz-se o trabalho, assim como os objectivos traçados e metodologias. O segundo capítulo
(CAPÍTULO II: Referencial Teórico) busca Compreender o socialismo no estado e crise no
socialismo. No último capítulo (CAPÍTULO III: CONCLUSÃO) apresenta-se as conclusões
obtidas no desenvolvimento do trabalho, e por fim, a referência bibliográfica.
1.2.Objectivo
1.2.1.Objectivo geral
 Compreender o socialismo no estado, socialismo de estado e crise no socialismo

1.2.2.Objectivos específicos
 Identificar as acções políticas do socialismo no estado segundos autores: Louis Blanc
e Buchez: Ferdinand Lassalle, Bernstein e Karl Kautsky.
 Caracterizar o Estado revolucionário no Socialismo de estado segundo Vladimir
Lenine.
 Descrever Crise do socialismo segundo Albert Camus e J. P. Sartre Herbert Marcuse .
6

1.3. Metodologia do trabalho


Segundo LIBÂNEO, (2006), método é o caminho para alcançar um determinado objectivo.
Para a efectivação do trabalho usou-se a seguinte metodologia:
 Revisão bibliográfica, que consistiu na busca de algumas informações de certos
autores.
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CAPÍTULO II: REFERĖNCIA TEÓRICO

2.1.Conceito básico:
 O socialismo ……………. Brain

O socialismo entende se como uma sociedade em que reina plena igualdade e liberdade
para todos seus membros. Uma sociedade democrática, em que o sufrágio é universal, o
governo é representativa e os cidadãos têm os mesmos direitos e deveres e o mesmo acesso
aos meios de produção SINGER, (2008).

Socialismo, portanto, significa uma economia organizada de tal modo que qualquer pessoa
ou grupo de pessoas tenha acesso a crédito para adquirir os meios de produção de que
necessitam para desenvolver actividades de sua escolha. Isso implica, evidentemente, na
eliminação da pobreza, da exclusão social e, portanto, da necessidade das pessoas de acharem
um emprego para ganhar a vida ENGELS (1978).

O grupo entende que o socialismo é uma filosofia política, social e económica que abrange
uma gama de sistemas económicos e sociais caracterizados pela propriedade social dos meios
de produção.
 Estado

O Estado é a expressão legal, jurídica e policial dos interesses de uma classe social
particular, a classe dos proprietários privados dos meios de produção ou classe dominante. Ele
“não é uma imposição divina aos homens nem é o resultado de um pacto ou contrato social,
mas é a maneira pela qual a classe dominante de uma época e de uma sociedade determinadas
garante seus interesses e sua dominação sobre o todo social MARX (1809).

2.1. Socialismo no estado


Nos anos 1960, houve um debate, especialmente na Europa, que visava compreender o
carácter socialista do desenvolvimento soviético por meio do conceito de modo de produção
asiático, não independentemente do fato de que esse conceito, que você utilizava, tenha sido
colocado ad acta na União Soviética na década de 1930, graças à intervenção directa de Stálin
(a saber, com o uso da violência estatal), MARX (1809).

O próprio conceito de socialismo de Estado reflecte adequadamente a mais profunda


contradição do processo efectivo de desenvolvimento. Da perspectiva das estruturas social e
de classe, isso significou a definição da classe trabalhadora como classe dirigente e, de fato, a
8

sociedade soviética ela mesma foi colocada institucionalmente e economicamente sob o


governo da burocracia, de um sistema burocrático institucional, cujo governo seria legítimo
apenas enquanto servia e protegia os interesses da “classe dirigente”, àqueles dos
“trabalhadores”. Não é por acaso que durante toda a era do socialismo de Estado o próprio
governo burocrático tenha funcionado sob a bandeira da luta ideológica e cultural contra a
burocracia, e recorrido, finalmente, até mesmo à dizimação física da ordem burocrática. Isto
é, o poder da burocracia, que não era homogéneo nem do ponto de vista institucional, nem do
ponto de vista social, estava longe de ser descontrolado: ao contrário, havia uma luta
permanente entre suas diversas fracções pelo controle dos recursos do orçamento estatal, pela
preservação do seu próprio status, pelo aumento ou diminuição do poder de influência sobre
os vários aparatos, pelo controle de um sobre o outro, ENGELS (1978).

O socialismo de Estado surgiu principalmente como uma nova forma social que, à luz das
tuas próprias considerações teóricas, não era nem capitalismo e nem socialismo. Algumas
funções da burguesia foram assumidas pelo Estado, que exercia um controle quase completo
sobre o capital e o trabalho acumulados. Enquanto, sob o capitalismo (ao menos em sua forma
pura, por exemplo e sobretudo nos Estados Unidos), toda a comunidade só pode sobreviver
actualmente como uma comunidade mediada pelo dinheiro, sob o socialismo de Estado, toda
a existência comunitária estava ligada à mediação estatal. A propriedade estatal de empresas,
fábricas, terra, máquinas. Contrariamente à ideologia legitimadora – excluía o seu controle
sócio-comunitário, para o que os Conselhos de trabalhadores húngaros de 1956 (também)
chamaram a atenção, MARX (1809)

2.2. Louis Blanc


Louis Blanc, de batismo Louis Jean Joseph Charles Blanc foi um socialista francês. Teve
importante participação na Revolução de 1848, quando suas ideias foram colocadas em
prática devido à associação entre liberais e socialistas, na tentativa de derrubar a monarquia
BLANC (2002).

Louis Blanc escreveu a “Organização do trabalho”, obra publicada em 1839 que, durante
décadas, foi o texto mais lido pelos operários franceses, apesar de que dificilmente se poderia
dizer que seu socialismo fosse proletário. Seu conteúdo de classe era dado pelos artesãos e
pequenos proprietários, esmagados pelo desenvolvimento capitalista. (TEIXEIRA, 2002).

Essa obra foi, por muito tempo, considerada como uma das mais representativas do
socialismo francês, na qual se apresenta, de forma muito evidente, a oposição entre o regime
9

da concorrência e o da associação, sendo que, para o autor, todos os males econômicos


provêm da primeira8. A concorrência, então, aparece, ao mesmo tempo, como a explicação da
miséria dos operários, de sua degradação moral, da progressão dos crimes, das crises
industriais, das guerras entre povos (GIDE, 1941).

Louis Blanc defendia a associação de operários em fábricas sociais, que no primeiro


momento seria organizada e financiada pelo estado, pois defendia que o estado era
responsável pelos problemas económicos e sociais. As fábricas sociais seriam organizadas por
estatutos próprios, mas dentro do princípio da igualdade, segundo o qual as sobras líquidas
seriam divididas em três partes, sendo uma para os operários, uma constituiria um fundo de
assistência social e o restante para capitalização e fortalecimento financeiro do
empreendimento BLANC (2002).

Foi precursor das chamadas “oficinas sociais” que constituíam associações de trabalhadores
por ramo de produção (OPUSKA, 2007).

Em 1839, publicou "A Organização do Trabalho", obra que critica a economia liberal e a
concorrência exacerbada que levaria à miséria aqueles que nada possuíam. Opõe-se aos
patrões e convoca os operários a se associar para defender seus direitos. Defendia uma
economia guiada pela fraternidade. Defende a criação de associações operárias de produção,
oficinas sociais, com fins lucrativos, que seriam controladas pelo Estado no primeiro ano.
Essa defesa do apoio estatal o distinguiu dos outros teóricos socialistas da época. Blanc
acreditava que os trabalhadores poderiam controlar seus próprios meios de subsistência, mas,
para isso, deveriam receber ajuda financeira para viabilizar as oficinas cooperativas.
Portanto, Blanc apresentou um modelo de financiamento nacional destas oficinas até que os
trabalhadores pudessem assumir o controlo (TEIXEIRA, 2002).
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2.3.Buchez ……………. Esperança


Philippe Joseph Buchez defendia a associação cooperativa dos operários por categoria
profissional de forma pacífica e sem espoliações, para que eles se tornassem produtores livres,
e, com isso: tivessem poupança e empréstimo em comum; assegurassem rendimentos iguais a
todos.
As principais características da associação cooperativa defendida por Buchez eram:
sustentação financeira sem auxílio do estado; a dupla função aos associados de empresários e
empregados; retorno das sobras proporcionais ao trabalho; a indivisibilidade e
inalienabilidade do capital social da cooperativa (SANTOS, 2001)

Philippe Joseph Benjamin Buchez (1796-1865) defendia uma associação cooperativa


livre, pacífica e sem espoliação, reunindo operários de mesma categoria profissional para
produção em comum. È considerado o pai do cooperativismo (AGUIAR, REIS, 2002).

O cooperativismo é compreendido como um “novo paradigma de trabalhadores auto


gestores, com participação democrática, autonomia e independência no processo de
produção”. Mas para que esta alternativa obtenha sucesso, faz-se mister uma consciência
desta nova realidade, a qual, frequentemente, exige muito mais desempenho dos
trabalhadores.

[...] uma das únicas práticas ao alcance de todos, independentemente de origem, religião, idade,
sexo, religião ou capacidade de investimento. O cooperativismo é atraente porque não depende
de investimentos governamentais, embora devessem ser feitos por governos 'preocupados com
o social', como estamos cansados de ouvir. A cooperativa é uma forma de efectiva de
organização democrática e uma maneira legítima dos cooperados oferecerem sua força e sua
qualidade de trabalho (PONTES, 2004, p. 51).

O cooperativismo não busca a extinção da propriedade privada, nem visa a prejudicar


empresas individuais, que sempre existiram e vão continuar a existir, tendo estas, inclusive, na
grande maioria das vezes, maior potencial competitivo do que uma sociedade baseada em
acções solidárias, como as cooperativas.
Nenhum outro modelo económico é tão democrático quanto o cooperativismo, pois, um dos
princípios que regem este tipo de relação é a participação de todos os associados em todos os
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processos decisórios, na exacta medida de um voto por pessoa e com o lema: “um por todos e
todos por um” (FRANKE, 1976, p. 4).
Por ser a cooperativa um modelo de organização democrática e igualitária, sua experiência
proporciona um verdadeiro resgate à cidadania. Com sua constituição visa-se não só à
manutenção de postos de trabalho, como a garantir aos trabalhadores, também, sua autonomia
económica.
De qualquer modo, integrado ao pensamento e ao agir cooperativista está o apontamento
para a emancipação do trabalhador em relação ao capital; a cooperação é, pois, a essência da
estratégia utilizada para a superação da exploração da classe trabalhadora FRANKE, (1976, p.
1).
2.4. Ferdinand Lassalle
Ferdinand Lassalle (1825-1864 Idealizador do Estado do Bem-Estar Social, vislumbrava
uma sociedade formada por uma grande cooperativa das classes trabalhadoras (SANTOS
2008).
Ferdinand Lassalle foi um teórico social-democrata, escritor e político alemão de origem
judia. Considerado um precursor da social-democracia alemã, foi contemporâneo de Marx, e
ambos estiveram juntos durante a Revolução Prussiana de 1848 até romperem relações, em
1864. Ele representou uma vertente do movimento socialista do século XIX, LASSALLE,
(1969)

Lassalle se demonstrava bastante incomodado com tal situação, de modo que a unificação
da Alemanha, na sua opinião, configurava-se como um dos principais objectivos do
movimento socialista alemão. Para tanto, a Prússia – em sua opinião, a região mais
desenvolvida economicamente – apresentava-se como protagonista nessa tarefa. Toda a
importância dada por ele para a necessidade de se unir a Alemanha, na verdade, era
acompanhada pela profunda super valorização nacional presente em seu modo de pensar. Para
este autor, o movimento nacional assumia tanta importância quanto o próprio socialismo. Para
alcançar êxito em tal empreitada, aceitava alianças até mesmo com os sectores conservadores
e dominantes de seu país LASSALLE, (1969, p.20).

[…] Se Lassalle, em 1859, pensava ser a Prússia a única força que poderia efectivamente
unificar a Alemanha, seria lógico que mais tarde considerasse possível persuadir Bismarck a
introduzir as mudanças sociais que as classes médias pareciam incapazes de realizar. O grau no
qual o movimento dos trabalhadores alemães foi influenciado por sentimentos nacionalistas
deve ser ressaltado nesse estágio. (MACKENZIE, 1967, p. 65)
12

Uma das principais reivindicações que se colocava para o movimento progressista da


Alemanha, referia-se a implantação de uma Constituição Democrática. Durante o período das
revoluções europeias das décadas de 1830 e 40, em especial, no caso alemão, boa parte das
insurreições possuía como meta prioritária a instalação de uma Constituição que contemplasse
a maioria dos cidadãos, ou melhor dizendo, o sufrágio universal MACKENZIE, (1967).
O autor propõe que a Constituição não se funda somente sob uma simples formulação
jurídica, pois na verdade a sua existência também emerge das relações de poder, ou como o
próprio diz, dos "factores reais de poder". Segundo afirmava, essas relações de poder possuem
como matriz a existência e, ao mesmo tempo, o choque de diferentes classes sociais. Por isso,
ele acreditava ser a Constituição um meio fundamental para a harmonia de uma nação: a
“Constituição não é uma lei como as outras, é uma lei fundamental da Nação, LASSALLE,
1969, p.20). Em outros momentos, ele ainda diz:

Da mesma forma, e pela mesma lei da necessidade que todo corpo tem uma constituição
própria, boa ou má, estruturada de uma ou de outra forma, todo país tem, necessariamente, uma
constituição real e efectiva, pois é não possível imaginar uma nação onde não existam os
factores reais do poder, quaisquer que eles sejam. (LASSALLE, 1969, p.77)

A luta de classes, portanto, no pensamento desse autor não adquire uma perspectiva de fim,
pois ao que tudo indica a disputa pelo poder sempre existirá. Por isso, o Estado, a
Constituição e o sufrágio universal, são tão importantes para os trabalhadores. No entanto, o
ponto decisivo da constituição democrática na Alemanha, correspondia ao fato de que ela
provocava o poder centralizador, fundamental para a unificação dos seus Estados autónomos.
A unificação alemã se caracterizou como sendo um dos problemas centrais para o
movimento socialista liderado por Lassalle. Mesmo possuindo uma burguesia em certa
medida desenvolvida, os andamentos da economia e da política ainda sofriam amplos
obstáculos devido aos resquícios feudais presentes no território alemão. A explicação para
isso, reside na debilidade revolucionária da própria classe burguesa que era tímida, pusilânime
e indecisa, disposta, quando necessário, a lutar ao lado dos latifundiários, contra as massas
populares MACKENZIE, (1967, p. 65).
13

2.5. Eduard Bernstein


O fim do século XIX foi marcado pela intensa discussão no interior dos recém-criados
partidos socialistas de massas europeus acerca da legitimidade da via reformista e da
viabilidade da luta directa revolucionária. Tal disputa tornou-se mais evidente nos debates
travados no âmbito dos congressos da Segunda Internacional Comunista, entre os anos de
1890 a 1914, onde são colocadas em xeque diferentes concepções do Estado e das instituições
burguesas. O surgimento de uma corrente revisionista, liderada por Eduard Bernstein, dá
início a um grande cisma no interior da social-democracia que veio a ser considerado como “a
primeira crise do marxismo”, introduzindo uma nova tendência de rechaço à concepção
dialéctica da história e de abdicação de quaisquer pretensões revolucionárias.
A premissa básica de Bernstein é a de que “há no avanço constante uma maior garantia para
êxito duradouro do que nas possibilidades oferecidas por uma catástrofe”. Nesse sentido, a
função do partido deveria ser organizar politicamente a classe trabalhadora e formá-la para a
democracia, para lutar pelas reformas políticas que ampliem os direitos políticos e
profissionais dos trabalhadores alemães. Em linhas gerais, Bernstein defendeu a necessidade
do ideal e da crítica, assim como reconheceu a presença de fundamentos morais no socialismo
BERNSTEIN, (1899).
A elaboração teórica bernsteiniana, dever-se-ia empreender um esforço de revisão e
correção das teses enunciadas por Marx e Engels. Haja visto que o capitalismo teria
demonstrado uma grande capacidade de adaptação e estabilidade, comprovada pela ausência
de crises e pela crescente democratização do Estado Liberal de Direito, a hipótese
determinista que previa o colapso inevitável do sistema deveria ser descartada
LUXEMBURGO (1986).
Bernstein manifesta abertamente seu repúdio à via revolucionária, defendendo firmemente
o reformismo e o papel da actuação parlamentar e sindical na consecução dos objectivos da
classe operária. Opondo-se às ideias de que a derrubada da sociedade burguesa estaria
próxima e de que a social-democracia deveria regular sua táctica e pautar suas acções tendo
em vista essa grande catástrofe iminente, Bernstein passa a desferir sérios ataques ao
marxismo ortodoxo. BERNSTEIN, (1982).

2.5.1. No domínio político ………… Yonicia


Segundo Bernstein, também haver-se-ia produzido uma série de transformações em
direcção à democratização da sociedade. Os privilégios da burguesia, ante o progresso das
instituições democráticas, estariam em vias de extinção. Teriam sido introduzidas igualmente
14

formas de controlo social sobre as tendências exploradoras do capital, como a legislação sobre
as fábricas, a democratização da administração municipal e a emancipação das instituições
sindicais e corporativas de toda a trava legal. Bernstein conclui então que em lugar de
especular sobre a grande catástrofe, dever-se-ia tratar de organizar politicamente a classe
operária, preparando-a para a democracia e para a luta em prol da reforma do Estado, que
desta forma perderia seu carácter de classe BERNSTEIN, (1982).
Segundo Bernstein lança-se à procura de novas fontes de fundamentação para o socialismo,
encontrando na ética kantiana a base de sua teoria. Realizando a separação entre juízos de fato
e de valor, busca a complementaridade entre Comte e Kant, reconhecendo a existência de uma
ciência social empírica, cientificamente neutra, fundamentada em fatos bem delimitados, e de
uma moral ideal, pura, absoluta e eterna. Os valores liberais de democracia e justiça
pertenceriam, assim, ao património do socialismo, tal como haviam pertencido à ordem liberal
burguesa.

2.6. Karl Kautsky


O austríaco Karl Kautsky aderiu ao movimento socialista por volta de 1875, quando o
sucesso da unificação dos partidos operários alemães começava a ecoar na Europa.
Experiência até então inédita na história do socialismo, embora generalizada em sua geração,
sua trajetória manteve-se, durante quase toda a sua existência (1854-1938), ligada
indissociavelmente ao andamento e aos percalços da vida partidária. Mas também pode-se
dizer que, em um movimento concomitante, sua obra teórica tornou-se, em sua época e ainda
hoje, uma das marcas distintivas da imagem da social-democracia alemã HORIZONTE
(1988).
A obra teórica de Kautsky desenvolveu-se também, à maneira de Marx e Engels, a partir de
um acerto de contas com a sua formação juvenil, no caso, com o darwinismo. Mas, enquanto
Marx e Engels dedicaram-se à superação da filosofia, Kautsky contentou-se em integrar o
legado de Darwin ao marxismo. Destacando os aspectos comuns a ambos – a base
materialista, a vocação científica, o telos evolucionista – propôs uma síntese que, no campo
do saber, assumiu a forma de uma convergência entre ciências da natureza e ciências do
espírito e, no terreno político, adotou a “vontade de viver” como força motriz do conflito
económico e da luta de classes KAUTSKY (1979).
Kautsky separa, assim, na contramão do Manifesto do partido comunista, socialismo e
movimento operário. Segundo ele, são diversos pela origem: um nasceu como resistência
prática ao capitalismo industrial, sob a forma de uma luta exclusivamente económica, o outro
15

surgiu, em meios burgueses, em parte graças ao conhecimento científico LUXEMBURGO


(1986).
Sem o movimento operário, o socialismo é impotente e este, sem a teoria socialista, debate-
se em vão. Deixadas em si mesmas, as associações profissionais (corporações) limitam-se a
salvaguardar as conquistas imediatas de seus membros, sem atinar para a comunidade de seus
interesses, o que dificulta a passagem do conflito puramente económico para a luta política.
Por sua vez, desconectada das lutas dos trabalhadores, a doutrina socialista não vai além do
detalhamento de projectos utópicos destituídos de viabilidade prática KAUTSKY (1979).

2.7. Vladimir Lenine: Estado revolucionário


Vladimir Lenin foi um dos grandes nomes do socialismo russo. Um dos líderes da
Revolução de Outubro, passou a governar a Rússia a partir de 1917. Ele foi um revolucionário
russo que, influenciado pela teoria marxista, tornou-se um dos grandes nomes por trás da
Revolução de Outubro, o evento que levou os bolcheviques ao poder na Rússia de 1917,
LENIN (2004).

O pensamento de Lênin é fruto de um esforço sistemático para tirar conclusões práticas da


máxima de Marx, segundo a qual “os filósofos até agora interpretaram o mundo, mas se trata
é de transformá-lo”, e de seu necessário corolário: “a teoria converte-se em força material
quando penetra nas massas”. Sua intenção é levar a ruptura com a atitude contemplativa do
mundo às últimas consequências, fundindo materialismo histórico e luta revolucionária. O
desafio consiste em converter a força potencial do proletariado – a classe social que
representa a antítese da burguesia em força política real com poder de impulsionar a
revolução socialista ENGELS (1983).
No âmbito do pensamento marxista, a reflexão de Lênin representa uma ruptura com o
materialismo evolucionista, determinista e mecanicista que dominava a social-democracia
europeia no início do século XX e que tinha em Bernstein, Kautsky e Plekhanov suas
principais referências. Preocupado em recuperar o papel estratégico da ação política como
elemento decisivo da História, Lênin retoma o problema clássico do materialismo dialético
sobre a necessária unidade entre Teoria e Prática, cuja essência consiste em colocar a política
como elo entre a reflexão e a acção. Com tal procedimento, Lênin integra organicamente a
luta de classes como elemento vital do materialismo histórico e restitui o papel central da
classe operária como alfa e ômega da praxis revolucionária. Sua visão pode ser sintetizada na
ideia de que, assim como não existe movimento revolucionário sem teoria MARX (1983).
16

Lênin concebe a formação da classe operária como um complexo processo histórico que
combina lutas econômicas – que envolvem a relação dos trabalhadores com os capitalistas
nas fábricas - e lutas políticas - que colocam em questão as relações de poder entre as classes;
lutas que reivindicam mudanças dentro da ordem – a reforma do capitalismo – e lutas que
pleiteiam mudanças contra a ordem – a revolução socialista; movimentos espontâneos -
que brotam naturalmente da insatisfação das massas com as péssimas condições de vida - e
movimentos organizados – que exigem a presença de um centro de comando que possa
aglutinar, catalisar e direcionar a energia da classe operária para objetivos políticos
predefinidos MARX (1983).
A originalidade de sua contribuição encontra-se na fundamentação da necessidade de
“organizações revolucionárias.

2.7.1. Organizações revolucionárias


Como elemento indispensável para a constituição do proletariado como sujeito histórico
que pode negar o modo de produção capitalista. O desafio fundamental consiste em criar as
condições para que as lutas destinadas a enfrentar os problemas concretos e imediatos da
classe operária se transformem em lutas que impulsionem seus interesses estratégicos e de
longo prazo. O nó da situação concreta que camufla os elementos essenciais da realidade, a
visão crítica depende de um elemento externo às relações imediatas do proletariado com o
capital. Somente quando exposto à reflexão crítica da realidade, que desnuda as forças
motrizes que determinam a luta de classes, o proletariado tem condições de realizar um salto
de qualidade no seu grau de consciência de classe e adquirir a clareza política e a consistência
ideológica necessárias para impulsionar a luta revolucionária LENIN (2004).
Na visão de Lênin, a formação da consciência de classe do proletariado como classe em si e
classe para si é um processo histórico condicionado pela possibilidade de uma fusão entre a
luta por reformas e a luta pela revolução. A importância estratégica da organização
revolucionária como factor de centralização da força política da classe operária e de elevação
de seu espírito revolucionário decorre de seu papel crucial na mediação entre a luta
económica, que brota espontaneamente do conflito entre o capital e o trabalho, e a luta
política revolucionária, que requer uma perspectiva que transcenda a ordem burguesa LÊNIN
(1978).
A defesa da “organização revolucionária” como elemento catalisador indispensável para
elevar o grau de consciência de classe do proletariado apoiava-se na tradição do movimento
social-democrata europeu e tinha em Kautsky sua referência teórica fundamental. O
17

raciocínio é o seguinte: a incapacidade do movimento operário de impor à luta de classes, por


conta própria, um radicalismo que transcenda os marcos do regime capitalista é atribuída à
natureza fetichista das relações de produção capitalistas e ao carácter alienante do processo de
trabalho. No contexto de uma situação concreta que camufla os elementos essenciais da
realidade, a visão crítica depende de um elemento externo às relações imediatas do
proletariado com o capital LENIN 2004.
Enquanto a luta de classes se apresenta como um dado objectivo inserido na essência da
própria sociedade capitalista, a consciência que a percebe provém das lutas teóricas, embates
travados num domínio fundamentalmente intelectual. Por isso, no que se refere a consciência
política do proletariado, Lenin rejeita qualquer forma de espontaneismo e na sua polémica
com os ‘economicistas’, reitera que “[...] o movimento operário espontâneo não pode resultar,
por ele mesmo, senão no trade-unionismo (e inevitavelmente resulta), e a política trade-
unionista da classe operária não é mais do que a política burguesa da classe operária”
(LENIN, 2010, p. 163).

2.8. Crise do socialismo ………….. Julieta


A crise do socialismo ocorreu no final do século 20 com o fim da URSS. No final do século
XX, mais precisamente nas décadas de 1980 e 1990, o socialismo entrou numa grave crise
conjuntural e estrutural, que levou a União Soviética e os países do leste europeu a
abandonarem o socialismo e aderirem ao capitalismo HOBSBAWM (1995)

Principais causas (dificuldades e problemas) da crise do socialismo no final do século XX:

 Falta de democracia e concentração máxima de poder político e econômico nas mãos


dos líderes do Partido Comunista.
 Privilégios para os integrantes da burocracia estatal, enquanto grande parte da
população recebiam o mínimo necessário para sobreviver.
 Controle total dos meios de comunicação por parte dos governos socialistas, quase
sempre propaganda política e ideológica do regime.
 Falta de liberdade religiosa. Por assumirem posições ateias, os governos socialistas
dificultavam e, muitos meses, impediam o exercício da religiosidade da população.
 Baixos salários recebidos pela população, racionamento de produtos e dificuldades
para o consumo.
18

 Elevados investimentos em produção de armamentos, em função da competição


gerada pela Guerra Fria, feitos pelos países que adoptavam o socialismo, sobretudo
pela URSS.

2.9. Albert Camus: O homem revoltado


Encontramos em Albert Camus importantes e detalhadas descrições da experiência do
Homem com o Mundo, das suas lutas, dos seus desgostos, das suas revoltas e das suas
soluções. Nas personagens de Camus deparamo-nos com uma acentuada consciência quer do
Homem quer do mundo, um despertar para a complexidade cada vez mais mecanicista do que
nos rodeia BARRETO (1971).
As obras de Albert Camus destacam em geral dois conceitos: o absurdo e a revolta. Em O
homem revoltado, o autor faz vários questionamentos de ordem filosófica. Coloca-se a favor
da liberdade humana e da dignidade do indivíduo e contrário ao comunismo, aos regimes
totalitários e ao terrorismo, pois incitam a revolta humana, os assassinatos e a opressão
AMITRANO (2014).
O Absurdo, como mais adiante explanaremos, é a relação do homem com o mundo, uma
relação cada vez mais fechada, mais densa, mas não questionada, e o Homem que toma
consciência do universo do absurdo deixa de ver com simplicidade os aspectos mecânicos da
vida, deixa de ver o acto de viver como «fazer os gestos que a existência ordena», passa a
divorciar-se da fechada relação que tinha com a vida até aí, até àquele pequeno instante em
que algo irrisório o despertou. É sobre este despertar para o mundo, este encarar do
sentimento de absurdo, que nos vamos debruçar, reflectindo em cada sentimento, em cada
obstáculo e em cada expectativa do homem retratado por este autor que viveu na pele o
divórcio entre os homens e o mundo e, ainda mais, o divórcio entre os homens. Como tal, este
debruçar perante a condição do Homem que se depara com o absurdo de uma existência oca,
exige acima de tudo um esclarecimento do que é realmente o absurdo, de onde provém e o
que proporciona, permitindo repensar as relações entre o homem, a sua existência e o sentido
da vida, tanto da sua como da de outrem CAMUS (1993).
O Homem Revoltado é apenas para o autor uma forma de escapar das críticas de uma
apologia da violência desencadeada pela revolta, não era possível abordar a questão da revolta
por outro prisma, uma vez que é justamente o amor por uma sociedade que entretanto se
encontra perdida e que se pretende reconstruir que provoca toda a revolta deste homem
estrangeiro, ainda que na sua pátria CAMUS (1993).
19

2.10. J. P. Sartre: Existencialismo revolucionário


Jean-Paul Sartre foi o expoente máximo do "existencialismo" – corrente filosófica que
pregava a liberdade individual do ser humano. O existencialismo nasceu com o filósofo
dinamarquês Soren Kieekegaard (1831-1855) que combatia a filosofia especulativa SARTRE
(2003).

Existencialismo é uma doutrina filosófica centrada na análise da existência e do modo como


seres humanos têm existência no mundo. Visa encontrar o sentido da vida através da liberdade
incondicional, escolha e responsabilidade pessoa.

O existencialismo ele tem por base a própria acção, que por sua vez se estrutura na
responsabilidade. O homem é o que ele quer se tornar, e nada é senão seus próprios actos. Ter,
fazer e ser não só são as categorias cardinais da realidade humana, como abrangem todas as
atitudes do homem. Ele escolhe pois, livremente o seu futuro, mas essa liberdade lhe é
necessária: urna vez consciente da contingência biológica, sua capacidade de reprodução, o
homem pode escolher entre se casar ou não, ter ou não filhos; em caso -de guerra ele pode se
alistar ou desertar, mas não pode deixar de escolher SARTRE (2003).

1.12. Herbert Marcuse: A nova análise revolucionária


O filósofo alemão Herbert Marcuse trabalhou sobre esse problema, constatando que
tratava-se de um momento onde restariam poucas alternativas para a superação da sociedade
capitalista, em especial, após o desenvolvimento de seus moldes “unidimensionais”. A
influência das manifestações estudantis na França, Alemanha e Estados Unidos, bem como os
conflitos de libertação nacional que estavam ocorrendo no chamado “Terceiro Mundo” e os
movimentos por direitos civis norte-americanos, por sua vez, permitiram o filósofo a formular
uma nova perspectiva de sujeitos emancipa tórios, descentralizando a relação histórica da
classe trabalhadora com a transformação social MARCUSE (1993).
Marcuse tornou-se uma das principais influências da chamada nova esquerda (New Left),
na Europa e nos Estados Unidos, pois procurou compreender alternativas à esquerda “oficial”,
incorporando a crítica ao dogmatismo, o anti-totalitarismo, a partir da composição
heterogênea apresentada por esses novos atores sociais. A viragem teórica, operada pelo
deslocamento da centralidade da classe trabalhadora, principalmente europeia, para novos
sujeitos que surgiriam no chamado Terceiro Mundo trouxe uma abertura positiva para a
renovação das formas de acção política.
20

Marcuse questiona que como o homem pode criar condições de liberdade se, por fim, ele
acaba por se identificar com a sociedade tecnológica. Se a libertação depende da consciência
de servidão, o surgimento desta consciência acaba sendo impedido pela predominância das
necessidades falsas e das satisfações repressivas do próprio indivíduo, como a sublimação
repressiva do Eros MARCUSE, (1975).
O ideal seria a substituição das necessidades falsas e o abandono da satisfação repressiva,
ainda que isso pareça estar no campo da utopia. Quando se analisam as possibilidades de
escolha sobre a ampla variedade de mercadorias e serviços – o que aparentemente
representaria a liberdade de escolha – ela somente pode estar presente na forma da liberdade
de escolha sobre elementos que mantêm o controlo social da vida, determinando previamente
o grau de liberdade do indivíduo. A sociedade da tecnologia, por sua produção e distribuição
massificada, invadiu o espaço privado do indivíduo, eximindo-o do desfrute de sua liberdade
em plenitude ADORNO (1999).

2.13. Novo utopismo comunista


O socialismo utópico é uma corrente do socialismo muitas vezes descrita como a
apresentação de visões e contornos para as sociedades ideais imaginárias ou futuristas, com
ideais positivos sendo a principal razão para mover a sociedade em tal direcção.

A base da sociedade comunista deve ser a propriedade social dos meios de produção e
troca. Máquinas, locomotivas, navios a vapor, prédios de fábricas, armazéns, elevadores de
grãos, minas, telégrafos e telefones, a terra, ovelhas, cavalos e gado, tudo devem estar à
disposição da sociedade. Todos esses meios de produção devem estar sob o controle da
sociedade como um todo, e não como está actualmente, sob o controle de capitalistas
individuais ou combinações capitalistas, MARX (1983).

É evidente que a nova sociedade deve ser muito mais solidamente construída do que o
capitalismo. Assim que as contradições fundamentais do capitalismo destruíram o sistema
capitalista, sobre as ruínas desse sistema deve surgir uma nova sociedade, que estará livre das
contradições da antiga. Em outras palavras, o método de produção comunista deve apresentar
as seguintes características: em primeiro lugar, deve ser uma sociedade organizada; deve estar
livre da anarquia da produção, da competição entre empresários individuais, das guerras e
crises. Em segundo lugar, deve ser uma sociedade sem classes, não uma sociedade na qual as
duas metades estão em eterna inimizade uma com a outra; não deve ser uma sociedade na
qual uma classe explora a outra. Então, uma sociedade em que não há classes e em que a
21

produção é organizada só pode ser uma sociedade de camaradas, uma sociedade comunista
baseada no trabalho, ENGELS (1978).

O que queremos dizer com a sociedade como um todo? Queremos dizer que a propriedade e
o controle não são privilégio de uma classe, mas de todas as pessoas que compõem a
sociedade. Nessas circunstâncias, a sociedade se transformará em uma imensa organização de
trabalho para a produção cooperativa. Não haverá, então, nem desintegração da produção e
nem anarquia da produção. Em tal ordem social, a produção será organizada. Uma empresa
não competirá mais com outra; as fábricas, oficinas, minas e outras instituições produtivas
serão todas subdivisões, por assim dizer, de uma vasta oficina popular, que abrangerá toda a
economia nacional de produção. É óbvio que uma organização tão abrangente pressupõe um
plano geral de produção. Se todas as fábricas e oficinas juntamente com toda a produção
agrícola são combinadas para formar uma imensa empresa cooperativa, é óbvio que tudo deve
ser calculado com precisão. Devemos saber de antemão quanto trabalho atribuir aos vários
ramos da indústria, quais produtos são necessários e quanto de cada é necessário produzir,
como e onde as máquinas devem ser fornecidas ENGELS (1978).

2.13.1. A administração no sistema comunista ………….. Letícia


Em uma sociedade comunista não haverá classes. Mas se não houver classes, isso implica
que na sociedade comunista também não haverá Estado. Vimos anteriormente que o Estado é
uma organização de classe dos governantes. O Estado é sempre dirigido por uma classe contra
a outra. Um Estado burguês é dirigido contra o proletariado, enquanto um Estado proletário é
dirigido contra a burguesia. Na ordem social comunista não há latifundiários, nem de acordo,
aqui todos consultarão os relatórios estatísticos e orientarão seu trabalho de acordo. O Estado,
portanto, deixa de existir. Não há grupos e não há classe acima de todas as outras classes,
MARX (1983).
Manifestamente, isso só acontecerá no sistema comunista plenamente desenvolvido e
fortemente estabelecido, após a vitória completa e definitiva do proletariado, mas não
ocorrerá logo depois dessa vitória. Por muito tempo ainda, a classe trabalhadora terá que lutar
contra todos os seus inimigos, e em especial contra as relíquias do passado, como a preguiça,
a negligência, a criminalidade, o orgulho.

Em primeiro lugar, terá ocorrido a liberação da vasta quantidade de energia humana, que
agora é absorvida na luta de classes. Basta pensar quão grande é o desperdício de energia
nervosa, força e trabalho na luta política, nas greves, revoltas e sua repressão, nos julgamentos
22

nos tribunais, nas atividades policiais da autoridade do Estado, no esforço diário das duas
classes, inimigas hostis. A luta de classes, agora, engole grandes quantidades de energia e
meios materiais. No novo sistema, esta energia será liberada; as pessoas não vão mais lutar
umas com as outras. A energia liberada será dedicada ao trabalho de produção, ENGELS
(1978).

2.14. Comunismo diversificado: Chinês, Castrismo e eurocomunismo (Francês e


italiano)
O Partido Comunista da China foi fundado no ano de 1921 como a vanguarda Marxista-
Leninista da classe operária chinesa. A fundação do Partido se deu em um contexto no qual a
China então se configurava como um país semifeudal e semicolonial, submetido à dura
opressão das potências im-perialistas estrangeiras que então a dividiam em “esferas de
influências”, “áreas de arrendamento” e “concessões” QIOAMU (2018)
Reflectindo as lutas interimperialistas entre as potências estrangei-ras na arena
internacional, os diferentes países imperialistas se apoiavam em diferentes fracções das
classes dominantes chinesas, como a burguesia compradora e a classe latifundi-ária, para
levar a cabo guerras fratricidas pela conquista de mais territórios e áreas de influência dentro
da China.
Desde sua fundação em 1921, o Partido Comunista da China aplicava a política de
cooperação com o Kuomintang e outras forças patrióticas, inclusive destacando quadros
históricos seus (Mao Tsé-tung chegou a fazer parte do Comitê Central do Kuomintang) para
realizarem o trabalho político Marxista-Leninista dentro das fileiras do Kuomintang e do
exército nacionalista que este dirigia, QIOAMU (2018).
O PCC está oficialmente organizado com base no centralismo democrático, um princípio
concebido pelo teórico marxista russo Vladimir Lenin que implica uma discussão democrática
e aberta sobre a política na condição da unidade na manutenção das políticas acordadas. O
órgão mais alto do PCC é o Congresso Nacional do Povo, convocado a cada cinco anos.
Quando o Congresso Nacional não está em sessão, o Comité Central é o órgão mais alto, mas
como o órgão se reúne normalmente apenas uma vez por ano, a maioria das funções e
responsabilidades são atribuídas ao Politburo e ao seu Comité Permanente, sendo os membros
deste último vistos como a liderança de topo do partido e do Estado, QIOAMU (2018).
O Partido Comunista da China e o povo chinês, após a conquista do poder político pela
classe operária e aliados, passaram a se confrontar com a conclusão das tarefas políticas de
conteúdo anti-imperialista e antifeu-dal, como a conclusão da reforma agrária, a superação do
23

a-traso econômico e a industrialização nacional, para assentar as futuras bases para a


construção da sociedade socialista, QIOAMU (2018).
2.14.1. Comunismo Castrismo
A compreensão das disputas ideológicas na cúpula do poder revolucionário cubano ao
longo da década de 1960 – aqui abordadas a partir de dois casos que marcaram a
defenestração política de Aníbal Escalante – requer que se leve em conta as relações
estabelecidas entre Cuba e União Soviética no decorrer desse período, bem como a
metamorfose ideológica operada pelo governo revolucionário cubano no ano de 1961,
CASTRO (2017).
Construídas sobre bases pragmáticas, as relações cubano-soviéticas caracterizam-se, apesar
da dependência econômica e militar de Cuba em relação à superpotência comunista, pelas
divergências político-ideológicas entre os dois países. Castro ao afirmar-se como marxista-
leninista, o líder cubano empreendia uma mudança no percurso ideológico da experiência
revolucionária, mas buscava apresentar essa transformação em termos de continuidade, como
o resultado do cumprimento de uma teleologia histórica RAMIREZ, (1971: 45).
No plano internacional, a definição dos princípios ideológicos que guiavam a experiência
revolucionária cubana representava a adopção de uma postura menos vacilante, o que
favorecia o estreitamento de laços com a União Soviética e os demais países do bloco
socialista, de modo a atender ao propósito do governo cubano de conseguir uma ampliação da
protecção militar e da ajuda económica até então recebidas, BANDEIRA, (1998: 350).
Fidel Castro definiu os rumos a serem seguidos por um processo revolucionário que se
propunha a instaurar o comunismo, a imprensa soviética não silenciou a respeito da
declaração do líder cubano, repercutindo nos periódicos Izvestia e Pravda a sua filiação
ideológica ao marxismo-leninismo (RAMIREZ, 1971: 45).
Castro não era propriamente a expressão de suas convicções ideológicas e que ele não
estava disposto a seguir o marxismo em consonância com a ortodoxia soviética e muito
menos a perder o posto de líder máximo da Revolução, permitindo que os comunistas do PSP
controlassem o governo. Pouco tempo depois de ter declarado que o marxismo-leninismo era
“a única teoria revolucionária verdadeira”, Fidel Castro teceu fortes críticas – em uma
implícita referência aos comunistas do PSP – ao dogmatismo daqueles que, por serem
marxistas, consideravam-se os únicos que faziam jus ao “conceito de revolucionário”
BANDEIRA, (1998: 350).
O eurocomunismo trata de contrapor à revolução uma barricada de arbustos e espinhos
com a finalidade de proteger o sistema capitalista. No entanto, as chamas da revolução têm
24

destruído e reduzido a pó e cinzas não só este tipo de barricadas, mas também fortalezas
inteiras erigidas pela burguesia. Os revisionistas, em particular os eurocomunistas, não são os
primeiros a atacar o marxismo-leninismo e a lançar-lhe os maiores anátemas. A reação
burguesa e os imperialistas têm assassinado, torturado e atirado às prisões milhares e centenas
milhares de comunistas combatentes da revolução que abraçaram as idéias do marxismo-
leninismo e lutavam pela libertação do proletariado e dos povos.

2.14.2. Partido Comunista Francês


O Partido Comunista Francês foi fundado por aqueles que, dentro da SFIO, defendiam a
Revolução de Outubro na Rússia e se opuseram à participação na 1ª Guerra Mundial. Com
efeito, as tensões dentro da SFIO tinham vindo à tona em 1914 com o começo das
hostilidades. Àquela altura, a maioria dos membros da direcção da SFIO, chamados pela ala
esquerda de “social-chauvinistas”, alinhou-se na sustentação do esforço francês na guerra,
BACKES, (2008).

2.14.2. Partido Comunista Italiano


O Partido Comunista Italiano (em italiano: Partito Comunista Italiano, PCI) é a
denominação assumida a partir 15 de maio de 1943, pelo Partido Comunista da Itália (em
italiano, Partito Comunista d'Italia), secção italiana da Terceira Internacional, SPRIANO,
( 1976).

O partido contribui para a luta contra o regime fascista, através da sua participação na
Resistência italiana e, em 1943, altera a sua denominação, após a dissolução da III
Internacional. No pós-guerra, em 1948, renuncia à tomada violenta do poder e, a partir de
1956, adota a "via italiana para o socialismo" - a via parlamentar, formulada por Palmiro
Togliatti, secretário do partido desde a prisão de Gramsci, GUIAT, 2003.
25

CAPÍTULO III: CONCLUSÃO

3.1.Conclusão
Durante a realização deste trabalho, chegamos a seguinte conclusão, de que o socialismo de
Estado surgiu principalmente como uma nova forma social que, à luz das tuas próprias
considerações teóricas, não era nem capitalismo e nem socialismo. Algumas funções da
burguesia foram assumidas pelo Estado, que exercia um controle quase completo sobre o
capital e o trabalho acumulados. Enquanto, sob o capitalismo (ao menos em sua forma pura,
por exemplo e sobretudo nos Estados Unidos), toda a comunidade só pode sobreviver
actualmente como uma comunidade mediada pelo dinheiro, sob o socialismo de Estado, toda
a existência comunitária estava ligada à mediação estatal.

Ainda concluímos que o socialismo utópico é uma corrente do socialismo muitas vezes
descrita como a apresentação de visões e contornos para as sociedades ideais imaginárias ou
futuristas, com ideais positivos sendo a principal razão para mover a sociedade em tal
direcção.
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4.0.Referências bibliográfica

ADORNO, Theodor e MARCUSE, Herbert. Correspondence on the German Student.


Movement. New Left Review, London, January-February 1999, nº I/233, p. 123-136.
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Study (https://archive.org/d etails/philosophyeconom00arno) . [S.l.]: Oxford University
Press. pp. 7 (ht tps://archive.org/details/philosophye conom00arno/page/n21) –8. ISBN 978-
0-19-508827-4.
BACKES, Uwe; Moreau, Patrick (1 de janeiro de 2008). Communist and Post-Communist
Parties in Europe: Schriften des Hannah-Arendt-Instituts für Totalitarismusforschung 36 (em
inglês).

BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América


Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
BARRETO, Vicente. Camus – Vida e Obra. José Álvaro Editor S.A.: Rio de Janeiro,
1971.
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HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos. O breve século XX. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
27

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KAUTSKY, Karl, O caminho do poder. São Paulo: Hucitec, 1979, pp. 33-36.
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MARX, Karl .Direito e Estado. REVISTA SOCIOLOGIA JURÍDICA – ISSN: 1809-27
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SINGER, P., & MACHADO, J. (2000). Economia socialista. São Paulo: Perseu Abramo.

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