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Educação

FÍSICA E SAÚDE
EDUCAÇÃO
FÍSICA E SAÚDE

1ª E diç ão
J a n e i ro | 2021
Gestão Universidade
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Pesq. e Extensão e Pró-Reitor de Graduação
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APRESENTAÇÃO
Prezado estudante,
A equipe da EaD La Salle sente-se honrada em entregar a você este material didático. Ele
foi produzido com muito cuidado para que cada Unidade de estudos possa contribuir com seu
aprendizado da maneira mais adequada possível à modalidade que você escolheu para estudar: a
modalidade a distância. Temos certeza de que o conteúdo apresentado será uma excelente base
para o seu conhecimento e para sua formação. Por isso, indicamos que, conforme as orientações de
seus professores e tutores, você reserve tempo semanalmente para realizar a leitura detalhada dos
textos deste livro, buscando sempre realizar as atividades com esmero a fim de alcançar o melhor
resultado possível em seus estudos. Destacamos também a importância de questionar, de participar
de todas as atividades propostas no ambiente virtual e de buscar, para além de todo o conteúdo aqui
disponibilizado, o conhecimento relacionado a esta disciplina que está disponível por meio de outras
bibliografias e por meio da navegação online.
Desejamos a você um excelente módulo e um produtivo ano letivo. Bons estudos!
Sumário
UNIDADE 1
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida.........................................................7
Objetivo Geral .............................................................................................................................................................7
Parte 1
Padrões de Saúde e Doença................................................................................................................................................9
Parte 2
Inter-Relação Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde..............................................................................................29
Parte 3
Programas de Educação Física na Promoção da Saúde.....................................................................................................49
Parte 4
Adesão à Atividade Física.................................................................................................................................................. 71

UNIDADE 2
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas �������������������������������������������89
Objetivo Geral ...........................................................................................................................................................89
Parte 1
Exercício Físico Para a Promoção da Saúde e Qualidade de Vida........................................................................................91
Parte 2
Atividade Física Como Prevenção a LERs e DORTs...........................................................................................................103
Parte 3
Doenças Crônico-Degenerativas......................................................................................................................................117
Parte 4
Saúde na Escola..............................................................................................................................................................139
UNIDADE 3
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença.........................................................157
Objetivo Geral .........................................................................................................................................................157
Parte 1
Práticas de Condicionamento Físico Para Populações Especiais.......................................................................................159
Parte 2
Saúde e as Aulas de Educação Física .............................................................................................................................183
Parte 3
Treinamento Para Idosos ................................................................................................................................................197
Parte 4
Exercícios Para Gestantes ..............................................................................................................................................213

UNIDADE 4
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública
229
Objetivo Geral .........................................................................................................................................................229
Parte 1
A Profissão Dentro da Área da Saúde: Nacional e Mundial...............................................................................................231
Parte 2
Atividades do Profissional Como Integrante da Equipe de Saúde......................................................................................245
Parte 3
Planejamento e Avaliação das Intervenções da Educação Física no Contexto da Saúde ���������������������������������������������������259
Parte 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico.................................................................................281
unidade

1
Exercício Físico, Atividade
Física, Aptidão Física, Saúde
e Qualidade de Vida.
Prezado estudante,
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados
com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado
tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os
tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Esquematizar os conceitos e as relações entre exercício físico, atividade física, aptidão física, saúde e
qualidade de vida.
8 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 1
Padrões de Saúde e Doença

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
10 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Padrões de saúde e doença


Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Discutir os conceitos básicos e ampliados de saúde.


„ Explicar promoção e prevenção no âmbito de saúde.
„ Listar as evidências e benefícios de estudos epidemiológicos para a
promoção da saúde.

Introdução
A saúde está geralmente está em pauta nas ações governamentais.
Recorrentemente, os discursos de autoridades públicas e dos setores
privados atentam para a importância de programas voltados à promoção
da saúde e da prevenção de doenças. Mas, afinal, qual seria o conceito de
saúde? Quais seriam as diferenças conceituais em promoção e prevenção
no âmbito da saúde? E como os programas voltados à saúde podem
encontrar formatos eficientes para a sua exequibilidade?
Neste capítulo, você vai estudar a evolução histórica dos conceitos
de saúde até os das atuais, onde muitos governos se utilizaram das de-
finições encontradas nas conferências organizadas pela Organização
Mundial de Saúde; explicar as diferenças conceituais e práticas nas ações
de prevenção de doenças e promoção da saúde; e, além disso, conhecerá
os estudos epidemiológicos que fornecem dados intersetoriais sobre as
características da população.

Conceitos de saúde
Os conceitos que buscam definir a saúde são bastante diversos e atravessam
os campos sociais, econômicos, políticos e culturais. Ou seja, a saúde pode
apresentar-se e ser apresentada por formas distintas por grupos sociais dife-
rentes. Essas diferenças ocorrem também em função do tempo histórico em
que a sociedade se encontra. Ao longo dos tempos, várias foram as causas
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Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
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2 Padrões de saúde e doença

e conceitos demandados à saúde dos indivíduos e das populações. Nesta


seção, buscaremos realizar uma aproximação à evolução histórica destas
compreensões.

Embora saúde e doença estejam relacionados, um indivíduo que não esteja doente
não necessariamente goza de boa saúde. Em outras palavras, a saúde não se trata
apenas de ausência de doenças, mas de gozar de um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, ainda que isso possa ser algo inatingível.

Evolução histórica dos conceitos de saúde


Junto às modificações dos conceitos de saúde, os conceitos de doença, uma
das negações à saúde, também se transformam. Scliar (2007) nos conta que,
em determinado período histórico, a masturbação era considerada uma prática
associada à condição de doença, relacionada à perda de nutrientes proteicos
presentes no esperma e a distúrbios mentais. O tratamento para esses quadros
ocorria através de imobilização do paciente com aparelhos que despendiam
descargas elétricas ao paciente que tentasse manipular a própria genitália.
Acompanhando essa elaboração, o mesmo autor ainda lembra que o desejo
que os escravos mantinham de fugir das situações escravagistas em que se
encontravam, e a “pouca disposição para o trabalho” também foram apresen-
tados como enfermidades, sustentadas por diagnósticos médicos, sobretudo
na época do apartamento racial dos Estados Unidos. O tratamento, como se
pode imaginar, ocorria através do açoite, até que o escravo demonstrasse o
desejo em servir ao seu senhorio, ou seja, demonstrando estar saudável.
Retrocedendo um pouco mais na história da humanidade, podemos evi-
denciar que as doenças, alheias a uma boa saúde, poderiam ser entendidas a
partir de concepções diversas. De todo modo, elas eram causadas por ameaças
alheias ao organismo do próprio indivíduo. Para os hebreus, as enfermidades
que retiravam a condição de saúde dos homens eram causadas pela cólera
divina, devido aos pecados dos homens. No mesmo âmbito, a dieta privativa
de alguns frutos do mar e de suínos, características da religião judaica, além
de buscar uma coesão como grupo e obedecer às leis divinas, também esta-
12 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 3

vam relacionadas à obtenção da saúde, uma vez que esses animais poderiam
transmitir algum tipo de doença.
Em alguns grupos indígenas, como os Sarrumá, que habitam a fronteira
entre Brasil e Venezuela, as mortes, provocadas por qualquer que seja a causa,
são resultantes de maldições de tribos inimigas. A saúde, portanto, era con-
siderada a partir da força que os espíritos protetores da aldeia exerciam sobre
os maus espíritos. Quando os males pairavam, era necessária a evocação de
espíritos capazes de afastar o mal. Nesses casos, o xamã, uma espécie de
curandeiro de todos os males, é responsável por convocar os espíritos capazes
de enfrentar o mal que foi lançado sobre sua tribo. Além disso, é o responsável
por coletar plantas e preparar substâncias alucinógenas, capazes de facilitar
a entrada dos bons espíritos e combater as moléstias que pairam sobre sua
tribo (SCLIAR, 2007).
No entanto, a visão que rompe com a ligação espiritual, ainda que possamos
encontrá-la nos dias atuais, começa a se desenhar na Grécia Antiga. Hipócrates
de Cós (460–377 a.C.), considerado o pai da medicina, atribuía a saúde ao pleno
equilíbrio de quatro fluídos corporais: bile amarela, bile negra, fleuma e sangue
(Teoria Humoral de Hipócrates). As desordens nesse equilíbrio causavam as
diversas doenças que afetavam a saúde dos seres humanos. A partir de sua
empiria, evidenciou que algumas doenças atingiam indivíduos em condições
específicas de idade e de localização nas quais viviam. Na sua interpretação, as
doenças que afetavam a saúde dos seres humanos eram desenvolvidas a partir
de desordens biológicas causadas pelo ambiente (ARAÚJO; XAVIER, 2014).
Durante a Idade Média (476–1492), a forte presença da Igreja alertava para
o pecado como forma de contrair doenças. No entanto, as ideias de Hipócrates
continuaram a se difundir na sociedade ocidental, em especial aquelas que aler-
tavam para a necessidade de cuidados quanto às questões sanitárias, higiênicas e
alimentares. Nessa época, o desenvolvimento dos estudos anatômicos do corpo
humano, que buscavam entender melhor o funcionamento dos órgãos, permitiu
compreender melhor como o organismo reagia a determinadas doenças. No
entanto, esses estudos só ganharam profundidade ao final do século XIX, na
denominada Revolução Pasteuriana (SCLIAR, 2007). O microscópio, até então
pouco utilizado, apesar de ter sido desenvolvido ainda no século XVII, revelou
a Louis Pasteur (1822–1895) a presença de microrganismos e a possibilidade
de combatê-los através de soros e vacinas. Os novos entendimentos etiológicos
passam a definir a doença como uma contaminação de organismos externos.
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Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
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4 Padrões de saúde e doença

Nessa mesma época, os estudos epidemiológicos começaram a surgir como


forma de transformar as causas e consequências das doenças em números,
motivados pela estatística, uma nova ciência que também começava a surgir.
Em 1826, Louis René Villermé (1782–1863) buscou identificar as doenças e
mortes em diferentes bairros de Paris, tendo como resultado a relação entre
as diferentes faixas de renda. Em 1850, nos Estados Unidos, o livreiro Lemuel
Shattuk elaborou um relato sobre as condições sanitárias de Massachusetts,
fazendo surgir uma diretoria de saúde, composta predominantemente por
médicos, naquele estado. Na Inglaterra, sobre os efeitos da Revolução In-
dustrial, como a crescente urbanização, industrialização e proletarização,
chegou-se aos mesmos entendimentos através dos estudos de William Farr
(1807–1883) e das denúncias nos manuscritos de Friedrich Engels. No mesmo
sentido, Karl Marx, durante seu período na França, indicava os males que o
capitalismo causava à saúde dos mais pobres em decorrência das mazelas
que se apresentavam à época. Otto von Bismarck, estadista alemão, alertava
os latifundiários quanto à sua ganância, que levava ao sacrifício da própria
mão-de-obra. Durante o seu mandato, instaurou a polícia médica, um sistema
de seguridade social onde o Estado poderia estar a par das condições de saúde
da população alemã, criando um conceito de saúde autoritário e paternalista
(ROSEN, 1979). Esse modelo inspirou outros países a implantarem em seus
territórios programas que pudessem manter a vigilância sanitária e médica de
suas populações, proporcionando a saúde e a melhor qualidade de vida para
seus cidadãos (SCLIAR, 2007).

Aspectos atuais dos conceitos de saúde


Ainda que diferentes nações tenham desenvolvido suas atenções aos sistemas
que visavam manter padrões de qualidade de vida para a população, era neces-
sário um consenso mundial acerca da saúde. Podemos constatar que os avanços
em medicina foram bastante evidentes à medida que a tecnologia avançava
no século XX. No entanto, as guerras ocorridas nesse período dificultavam o
diálogo entre os diferentes países. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1948,
surge a Organização das Nações Unidas (ONU), uma instituição criada com o
objetivo de promover a cooperação internacional. Entre as diversas agências
que integram a ONU, há a Organização Mundial da Saúde (OMS), que possui
o objetivo de promover a saúde de todos os povos.
14 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 5

O processo de constituição da OMS foi realizado em Nova Iorque, em 22 de Julho de


1946, com a elaboração da Carta de Princípios. No entanto, esse documento passou
a vigorar em 1948, no dia 7 de abril, data que passou a ser considerada o Dia Mundial
da Saúde.

Na busca de um conceito que pudesse ser amplamente aceito e que superasse


o entendimento de que, para ter saúde, basta não apresentar algum quadro
patológico, a OMS propôs a compreensão de que “[...] a saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência
de doença ou de enfermidade” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE,
1946, documento on-line). Esse conceito trouxe importantes avanços ao en-
tendimento de saúde. Primeiramente, como discutimos, há uma superação do
conceito de saúde relacionado à ausência de doenças. Em um segundo momento,
podemos perceber que a saúde deixa de ser algo estritamente relacionada ao
corpo biológico, englobando também aspectos psicológicos e sociais.
No entanto, a definição da OMS, ainda que possa propor um ideal a se
buscar no campo da saúde e definir padrões acerca do que é e do que não
é caracterizado como saúde, sendo internacionalmente aceito, o conceito
elaborado gera algumas dúvidas e críticas. As controvérsias geradas por
essa concepção alegam que é praticamente impossível delimitar o que possa
ser identificado como um bem-estar ou mal-estar psicossocial, uma vez que
essas compreensões variam de acordo com os significados, percepções e
entendimentos de cada sujeito. Também devido à amplitude que esse conceito
gera na dificuldade de implantar políticas sociais em saúde que atendam às
premissas expostas (ARAÚJO; XAVIER, 2014).
Buscando delimitar o conceito de saúde, permitindo a sua aplicabilidade
no meio social, Marc Lalonde, titular do Ministério da Saúde e do Bem-estar
do Canadá, propôs em 1974 o princípio dos campos da saúde. Para ele, tais
critérios devem se pautar nos seguintes campos:

Biologia humana: que compreende a herança genética e os processos bioló-


gicos inerentes à vida, incluindo os fatores de envelhecimento;
Meio ambiente: inclui o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho;
Estilo de vida: decisões que afetam a saúde, como fumar ou deixar de fumar,
beber ou não, praticar ou não exercícios;
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Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
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6 Padrões de saúde e doença

Organização da assistência à saúde: envolve as ações relacionadas à pro-


moção de saúde que não necessariamente se encontram em hospitais ou
ambulatórios, como acesso e consumo de água potável e alimentos saudáveis,
assim como a adoção de uma vida fisicamente ativa e de hábitos saudáveis
(SCLIAR, 2007, p. 37).

Os conceitos ampliados de saúde, elaborados após o pronunciamento da


OMS, e as críticas e desconfianças ao papel desta agência na organização polí-
tica e social dos Estados guiaram as ações em saúde coletiva em algumas partes
do mundo. Primeiramente, a OMS, em cooperação com os estados membros,
fugiu às suas atribuições meramente normativas e consultivas, elaborando um
plano de atuação para o combate de duas doenças amplamente transmissíveis.
Nessa situação, foram escolhidas a malária e a varíola. O combate à malária
baseou-se no uso de um inseticida que, alguns anos mais tarde, foi banido por
sua pouca eficácia no combate aos mosquitos e nos riscos que poderia trazer
aos seres humanos. Por outro lado, a varíola, que se encontrava em milhões
de infectados, teve sua vacina desenvolvida, e sua transmissão, de pessoa à
pessoa, eliminada. Com o habitat do vírus eliminado, o último caso de varíola
registrado foi em 1977. A erradicação de uma doença que afetava milhões
de pessoas fez com que a OMS, ganhasse crédito junto aos países membros
(ARAÚJO; XAVIER, 2014).
Mais tarde, esperava-se que a OMS realizasse alguma ação que pudesse
promover a erradicação de outra doença infectocontagiosa. Contudo, a ne-
cessidade de progresso social fez com que a agência ampliasse seus objetivos,
destacando a responsabilidades governamentais em promover programas de
saúde coletiva em cada uma das nações, em especial aquelas que apresentavam
características de subdesenvolvimento, onde as condições sociais se demons-
travam mais precárias. Scliar (2007) explica que as orientações às nações na
promoção de programas voltados à saúde baseiam-se nos seguintes pontos:

1. As ações de saúde devem ser práticas, exequíveis e socialmente aceitáveis;


2. Devem estar ao alcance de todos, pessoas e famílias - portanto, disponíveis
em locais acessíveis à comunidade;
3. A comunidade deve participar ativamente na implantação e na atuação do
sistema de saúde;
4. O custo dos serviços deve ser compatível com a situação econômica da
região e do país (SCLIAR, 2007, p. 38).

Embora o conceito de saúde aí não esteja explícito, é possível compreender


que a saúde deve ser promovida a partir de ideais comunitários, favorecendo
a abertura de instituições responsáveis pela sua promoção de forma decentra-
16 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 7

lizada. Essa perspectiva está presente na constituição brasileira, que também


não elabora uma conceituação para a saúde, ao estabelecer que:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promo-
ção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988, art. 196, documento on-line).

Nesse viés, surgem as diferentes políticas de saúde brasileiras, como, por


exemplo o Sistema Único de Saúde (SUS), os Centros de Referência em As-
sistência Social (CRAS), o Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC)
e a Política Nacional do Esporte, que fornecem o atendimento especializado
para a promoção do bem-estar físico, mental e social da população.
Atualmente, a visão simplista e dualista entre saúde e doença predomina
na sociedade. Para muitas pessoas, a ausência de doença ainda é sinônimo
de saúde. Isso faz com que os programas sociais busquem apenas tratar as
condições patológicas em si, não adotando práticas e hábitos que busquem
o pleno estado de bem-estar físico, social e mental. Assim, as políticas de
prevenção encontram muitas dificuldades de atuação, uma vez que a ausência
de doenças não faz com que a população procure e mantenha a busca contínua
da saúde. No entanto, podemos destacar que as ações que visam o desenvolvi-
mento da saúde populacional existem. De modo geral, essas propostas podem
ser divididas entre políticas de prevenção e de promoção da saúde, as quais
daremos ênfase na próxima seção.

Promoção e prevenção no âmbito de saúde


As ideias de promoção da saúde surgem com maior ênfase no decorrer da
década de 1980, motivadas por discussões que ocorreram predominantemente
nos Estados Unidos, no Canadá e em muitos países da Europa Ocidental
em decorrências das mudanças de hábito e do contínuo envelhecimento da
população. As recorrentes propostas voltadas à melhoria da qualidade de vida
das pessoas têm sido ampliadas significativamente, sobretudo, como aponta
Buss (2000), devido a avanços políticos, econômicos, sociais e ambientais.
Esse fenômeno é evidenciado, conforme o mesmo autor, através da evolução
das expectativas de vida dos países subdesenvolvidos. Na América Latina, por
exemplo, o último século representou um aumento de 50 para 67 anos na média
de vida nesses países no período que compreende o final da Segunda Guerra e
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Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
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8 Padrões de saúde e doença

o final do século. Podem estar atrelados a isso os avanços na medicina, capazes


de produzir medicamentos e tecnologias necessários à manutenção da vida.
Ainda que as expectativas de vida tenham avançado mundialmente, as
condições de mortalidade em alguns casos denotam a permanência de algu-
mas doenças que em determinados locais já foram superadas e apresentam,
ainda, o avanço de alguns problemas para a qualidade de vida, como aqueles
relacionados ao câncer, às doenças cerebrovasculares, à drogadição, às do-
enças sexualmente transmissíveis e ao estresse. Como resposta, uma série de
organizações governamentais e não-governamentais têm agido e investido em
ações que visam prevenir os problemas mencionados e que podem promover
a qualidade de vida da população. Essas reordenações das propostas em
saúde têm empreendido um novo entendimento para o campo da medicina:
ela não deve tratar apenas uma doença, em um sujeito isolado, mas promover
a prevenção dos eventos que possam colocar em xeque a saúde, articulando
ações sociais com toda a população.

Promoção da saúde
Como vimos ao final da seção anterior, os conceitos de saúde passaram a
abordar um enfoque de múltiplas responsabilidades que devem ser desen-
volvidas pelo Estado, de forma a garantir esse direito a cada cidadão. Nesse
sentido, quatro conferências ganharam destaque na busca por conceitos que
abordassem e pudessem orientar os Estados nas proposições de políticas
de promoção da saúde, realizadas em Ottawa (CARTA..., 1986), Adelaide
(DECLARAÇÃO..., 2002), Sundsvall (DECLARAÇÃO..., 1991) e Jacarta
(DECLARACIÓN..., 1997).

As conferências realizadas em diversos momentos históricos buscaram elaborar de


forma coletiva, por representantes de diversas nações, os preceitos orientadores da
promoção da saúde.
O link a seguir direcionará você para um documento que reúne os textos resultantes
de cada uma das conferências na íntegra, constituindo um importante instrumento de
fundamental referência para gestores, gerentes, profissionais de saúde, pesquisadores
e demais atores interessados nas questões pertinentes ao tema.

https://goo.gl/qJfRoz
18 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 9

Podemos destacar que a busca por um conceito de promoção da saúde, que


hoje baliza as práticas políticas nesse campo, parte de alguns anos anteriores a
essas conferências. Na década de 1940, Henry Sigerest, influente historiador
em medicina, foi um dos pioneiros na conceptualização da promoção em saúde.
Para ele a medicina deveria se preocupar com quatro eventos fundamentais: a
promoção da saúde, a prevenção das doenças, a recuperação dos enfermos e a
reabilitação. Nessas atribuições, a promoção da saúde se encaixa na oferta de
condições de vida adequadas ao desenvolvimento humano, boas condições de
trabalho, cujas jornadas não devem apresentar riscos à saúde física ou mental,
educação, possibilidades de atividades voltadas ao bom desenvolvimento físico
e formas de lazer e descanso (ROSEN, 1979).
No mesmo sentido, Leavell e Clark, em 1976, elaboravam um conceito de
promoção da saúde focado no indivíduo, e que era projetado para suas famílias
e para os grupos sociais de que participavam. Nessa perspectiva, a promoção
da saúde desenvolvia-se a partir de uma boa nutrição, elaborada para cada
fase do desenvolvimento humano, das influências positivas exercidas pelos
pais, das atividades sociais e em grupos, da educação sexual, de moradia
adequada, da recreação e das condições adequadas nas experiências do lar
e do trabalho. Na perspectiva dos autores, a orientação sanitária, através de
exames de saúde periódicos e do contato contínuo entre pacientes e médicos,
deveria compor a promoção da saúde (BUSS, 2000).
As compreensões desenvolvidas no século XX englobaram as conferências
realizadas pela OMS e acompanharam as concepções globais de promoção
de saúde, voltadas ao coletivo social e à promoção de ambientes adequados,
que não se limitam apenas ao campo físico, mas se estendem aos espectros
sociais, políticos, econômicos e culturais. Tais concepções estão ancoradas
nos princípios de promoção de saúde através das políticas públicas e das
condições de desenvolvimento da saúde adequadas, estas promovidas pelo
Estado, e pelo empowerment, a capacidade de engajamento dos indivíduos e
das comunidades em atitudes saudáveis.

Prevenção em saúde
Nesse contexto de promoção de saúde, surge o conceito de prevenção, que, para
Czeresnia e Freitas (2009), denota sentidos diferentes na forma de abordar a
saúde, contudo complementares. Para os autores, a promoção da saúde é um
processo mais amplo, que tem vistas a identificar e enfrentar os macrodetermi-
nantes ambientais, econômicos, culturais e sociais, transformando-os de modo
favorável na direção da saúde. Para tanto, a promoção da saúde busca modificar
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Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
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10 Padrões de saúde e doença

as condições de vida, direcionando ações individuais e coletivas para o bem-


-estar e a qualidade de vida. Convergindo nessa direção, a prevenção busca
modos de isentar a população, de maneira individual, de fatores que possam
contrariar a saúde. Nesse sentido, não contrair uma doença é o produto final
e o principal objetivo. A detecção, o controle e o enriquecimento de fatores
de risco são os principais modos de conduzir as políticas de prevenção em
saúde. Nesse aspecto, a prevenção ocorre em diferentes níveis.

„ Prevenção primária: relacionada ao controle de incidência; nessa


perspectiva, ocorrem ações para evitar as enfermidades. Por exemplo,
os programas de imunizações, como as vacinas para sarampo, polio-
mielite, entre outras.
„ Prevenção secundária: relacionada ao controle da duração e das preva-
lências; após a identificação de impossibilidade de evitar determinadas
enfermidades, a prevenção em saúde busca modos de curar determinadas
patologias. Nessa situação, podemos evidenciar os exames preventivos
ao câncer, que buscam identificar esta patologia em uma fase inicial
de desenvolvimento.
„ Prevenção terciária: também denominado de controle de complica-
ções adicionais, busca amenizar os efeitos que determinadas doenças
possam apresentar na sociedade. Como exemplo para esse nível de
prevenção, podemos destacar as ações voltadas ao público diabético,
que geralmente apresenta complicações em decorrência do descuido
da nutrição, gerando problemas associados à doença.

Promoção e prevenção: estabelecendo diferenças


Com o foco predominantemente nas doenças e nos seus efeitos, é possível
pensar que a saúde, em uma perspectiva preventiva, é tomada a partir da
ausência de doenças. Por outro lado, a promoção em saúde não se relaciona
apenas ao campo da medicina, propondo abordagens que fogem a esse setor
e que englobam a participação da sociedade, de modo geral, na construção
de ambientes e fatores favoráveis ao desenvolvimento de seu bem-estar e
qualidade de vida (BRASIL, 2002). Para melhor elucidar as diferenças que se
evidenciam entre a promoção e a prevenção em saúde, o Quadro 1 demonstra
um comparativo entre essas duas concepções.
20 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 11

Quadro 1. Diferenças entre promoção e prevenção

Categoria Prevenção de
Promoção da saúde
comparativa doenças

Conceito de saúde Multidimensional Ausência de doença

Modelo de intervenção Participativo Médico

Alvo Toda a população, no Principalmente os


seu ambiente total grupos de alto risco

Incumbência Rede de temas da saúde Patologias específicas

Estratégias Diversas e Geralmente únicas


complementares

Abordagens Facilitação e Direcionadas e


capacitação persuasivas

Direcionamento Oferecidas à população Impostas a grupos-alvo


das medidas

Objetivos dos Mudanças nas situações Foco em indivíduos ou


programas dos indivíduos e nos grupos de pessoas
seus ambientes

Executores dos Organizações Profissionais da saúde


programas não profissionais,
movimentos sociais,
governos locais,
municipais, regionais e
estaduais, entre outros

Fonte: Adaptado de Czeresnia e Freitas (2009, p. 39).

Com base no Quadro 1, percebemos que a promoção e a prevenção, embora


semelhantes e complementares, traduzem conceitos diferentes. Prevenir, no
sentido literal do termo, quer dizer “[...] preparar; chegar antes; chegar antes de
maneira que se evite o dano ou o mal; impedir que se realize determinado feito”
(CZERESNIA; FREITAS, 2009, p. 49). A prevenção, no âmbito da saúde, trata
das intervenções que orientam as ações capazes de evitar doenças específicas,
reduzindo sua incidência e prevalência em determinadas populações. A base
das ações preventivas são os estudos e conhecimentos epidemiológicos, que
buscam, em síntese, o controle de doenças infecciosas e a redução dos riscos
de doenças degenerativas. Os projetos de ações preventivas em saúde buscam a
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
21
12 Padrões de saúde e doença

divulgação de conhecimentos produzidos a partir de estudos epidemiológicos


e as recomendações de mudanças de hábitos dos indivíduos.
Por outro lado, o termo promoção remete a ideia de “[...] dar impulso;
fomentar; originar; gerar” (CZERESNIA; FREITAS, 2009, p. 49). A promo-
ção é um processo mais amplo em saúde, não se referindo a uma doença em
específico, mas oportunizando melhorias estruturais nas condições de vida
e no bem-estar geral. As estratégias de ação na promoção da saúde visam,
portanto, a melhoria ambiental e de condições de trabalho, abrangendo ações
intersetoriais.

Para melhor exemplificar os conceitos de promoção e prevenção de saúde, imagine


um ambiente corporativo em uma empresa qualquer. A perspectiva de promoção da
saúde passaria pelas ações ambientais, que podem fornecer uma melhor qualidade
de vida aos trabalhadores, como os recursos físicos adequados, salários e jornadas de
trabalho favoráveis aos momentos de lazer e culturais e a boa relação social entre os
empregados e os fatores psicossociais. As ações voltadas à prevenção de doenças se
enquadrariam nos aspectos relacionados com evitar doenças que atingem a população
em situações de trabalho, como campanhas de vacinação.

Os conceitos de promoção e prevenção orientam as políticas públicas,


privadas e público-privadas voltadas à saúde. Esses elementos pautam os
estudos epidemiológicos, que buscam, sobretudo, a identificação de arquétipos
da ocorrência de doença em populações humanas e fatores que determinam
e formam tais padrões. Na próxima seção, vamos debater como os estudos
epidemiológicos articulam-se aos conceitos de saúde discutidos ao longo deste
capítulo. Os estudos epidemiológicos buscam identificar padrões de recorrên-
cia patológica em determinadas populações. A partir dos dados fornecidos
por tais estudos, os órgãos de saúde pública podem planejar e realizar ações,
procedimentos e métodos que promovem programas e tecnologias voltadas à
saúde e ao controle e diminuição de incidência de determinados riscos à saúde.
22 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 13

Evidências e benefícios de estudos


epidemiológicos no âmbito de saúde
O termo epidemiologia deriva do grego (epi = sobre; demos = população;
logos = estudo), que significa o estudo sobre populações. Trata-se de uma
ciência que gera conhecimento e respostas às diferentes questões envolvidas
no processo saúde-doença, fornecendo suporte técnico aos profissionais e
sistemas de saúde. O estudo epidemiológico esteve presente por boa parte da
história da humanidade. Contudo, apenas no século XIX passou por avanços
significativos.
John Snow, considerado o pai da epidemiologia moderna, desenvolveu
uma pesquisa que revolucionaria os achados nessa área da saúde. O bairro em
que abriu seu consultório, Soho, em Londres, apresentava muitos moradores
sofrendo com a cólera, uma doença infectocontagiosa que atinge o intestino
e tem como consequência diversos sinais e sintomas, como diarreia, perda
de voz, dores na barriga e, em casos mais graves, a hipotensão decorrente da
perda de volume sanguíneo, podendo levar à morte. Até então, acreditava-se
que a cólera era transmitida pelo ar, em uma espécie odores fétidos que pro-
vinham de pântanos e locais com matéria orgânica em putrefação (miasma),
como propunha a teoria miasmática, muito difundida no século XVII. Em
contraposição a esta teoria, Snow propôs investigar a causa da cólera, partindo
da ideia que alguns indivíduos apresentavam os sinais e sintomas e outros
não. Assim, utilizou-se de mapas, gráficos e de dados colhidos junto aos
doentes e familiares daqueles que haviam falecido para identificar onde os
casos ocorriam e qual a relação entre eles. Identificou que muitos dos indi-
víduos que apresentavam a doença, haviam consumido água de uma mesma
fonte e que os médicos que tratavam os pacientes não apresentavam sinais de
contaminação. Após alguns anos de investigação, foi descoberto que a fonte
de uma das ruas do bairro havia sido contaminada pela fossa de uma casa.
Evidentemente, muitos anos se passaram para que Snow tivesse sua teoria
aprovada pela comunidade médica. A exposição de sua teoria ocorreu em
1849 e o fechamento da fonte apenas em 1856, demonstrando a incredibilidade
da sociedade médica à época. Ainda que tenha surtido efeito no controle da
cólera naquela localidade, somente em 1866 ela foi socialmente aceita, quando
Londres enfrentou mais uma ampla epidemia da doença (JOHNSON, 2008).
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
23
14 Padrões de saúde e doença

Pode-se dizer que o modo como Snow conduziu sua pesquisa, fazendo ques-
tionários, realizando buscas por incidências da doença e elencando estratégias,
está presente nas estratégias epidemiológicas atuais. Podemos encontrar ações
parecidas no controle da transmissão do vírus da Aids/HIV atualmente. Em
grande escala, os dados coletados apresentam os números de casos a partir de
regiões geográficas, sexo, idade, renda, ocupação entre outros determinantes.
No mesmo sentido, podemos verificar ações parecidas no controle de doenças
transmitidas por mosquitos, como a Dengue e o vírus Zika, e também naquelas
transmitidas a partir do contato próximo entre um infectado e um sujeito não
infectado, como o sarampo, por exemplo. A epidemiologia, portanto, contribui
com os avanços médicos no sentido de identificar as doenças, as populações
suscetíveis e as melhores formas de controlar ou diminuir a contaminação.
No Brasil, estes estudos começam a ganhar força ainda no período co-
lonial, quando a sede portuguesa foi transferida para nosso país, trazendo a
Família Real Portuguesa. O controle das doenças que se desenvolviam em
uma população crescente, em um território onde cada vez mais as atividades
comerciais ocorriam, com a consequente ampliação dos portos, era uma ne-
cessidade para proteger a saúde da corte real. Nesta época, D. João VI criou o
primeiro órgão que se propunha a erradicar as doenças que se apresentavam
no solo brasileiro. Consultando os médicos, foi elaborada a perspectiva de que
as doenças se transmitiam pelo ar, seguindo a teoria miasmática, e a origem
de bactérias que afetavam a saúde dos seres humanos estava nos cemitérios
das zonas centrais da cidade e nos pântanos de águas paradas, onde a matéria
orgânica animal e vegetal se decompunha, liberando gases prejudiciais. Para
combater esses males, D. João VI propôs padrões de urbanização da cidade,
envolvendo aterro de águas paradas, normas de saúde para enterro de mortos
e a demarcação de ruas, estabelecendo padrões de vigilância que permanecem
nos dias atuais (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 1999).
A vigilância é o processo realizado para coletar, gerenciar, analisar, interpre-
tar e relatar informações relacionadas à saúde. As ações em vigilância envolvem
diferentes órgãos e instituições, em geral públicos. O propósito principal das
ações de vigilância é estabelecer informações basais para compreender e
controlar a saúde da população. De modo a aprofundar a interpretação dos
dados referentes à saúde de determinada população, são necessários estudos
epidemiológicos, estabelecendo evidências fidedignas dos fatores que englobam
a saúde de determinada população em determinada região.
24 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 15

Abrangência da epidemiologia
A ciência epidemiológica busca respostas aos problemas da saúde. Para tanto,
utiliza-se de diversas outras ciências para formular tais entendimentos, como
a estatística, a antropologia, a biologia, entre outras. Os estudos epidemioló-
gicos são desenvolvidos em duas áreas principais: estudos epidemiológicos
descritivos e estudos epidemiológicos analíticos.
De modo geral, podemos estabelecer que a epidemiologia trata das relações
entre uma tríade formada pelo agente causador das doenças, como os vírus,
bactérias ou disfunções orgânicas, que incidem em determinadas populações;
o ambiente no qual o agente se desenvolve também está pautado pelos hábitos
e condições de cada ser humano e pelos hospedeiros, referentes aos indivíduos
e populações específicas (Figura 1).

Hospedeiro

Ambiente Agente
Figura 1. Tríade epidemiológica.

Os estudos epidemiológicos descritivos buscam entender a distribuição


da frequência de doenças através da tríade: tempo, lugar e pessoas. Ou seja,
objetiva compreender de que forma uma determinada doença se encontra
agrupada em determinado período temporal, em determinado grupo social e/
ou determinada região, assim como a quantidade de ocorrências dessa doença.
Utilizando um evento recente na realidade brasileira, podemos vislumbrar a
aplicabilidade desse estudo no levantamento de recém-nascidos que foram
afetados pela epidemia do vírus Zika, em 2015. Para tanto, evidentemente,
utilizam-se variáveis como tempo, espaço e número de indivíduos. Esses
estudos buscam responder três questões fundamentais (STEFFENS, 2018),
descritas a seguir.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
25
16 Padrões de saúde e doença

1. “Quem são as pessoas afetadas pelas doenças em questão?”: busca


identificar padrões de recorrência em determinados indivíduos, como
idade, hábitos, sexo, raça, etc.
2. “Quando a doença se mostra recorrente?”: busca identificar períodos
de recorrência das doenças, como os períodos sazonais em que os casos
aumentam, por exemplo.
3. “Onde a doença possui maior prevalência?”: busca identificar as
regiões em que as doenças se demonstram mais evidentes e recorrentes,
assim como quais localidades colocam as pessoas em situações mais
suscetíveis para contrai-las.

Por sua vez, os estudos epidemiológicos analíticos buscam comprovar


cientificamente uma hipótese anteriormente formulada através da tríade hos-
pedeiro, ambiente e agente. Nesse caso, os métodos estatísticos atestam as
relações entre a doença, os sujeitos em sua exposição e os fatores de risco.
Utilizando o exemplo anterior, acerca do vírus Zika, podemos evidenciar que
esse agente é transmitido através de um mosquito que habita as regiões mais
quentes do país, explicando sua maior incidência em determinadas regiões.
Nessa abordagem, duas perguntas guiam o estudo (STEFFENS, 2018).

1. “Com que frequência os eventos ocorrem?”: busca comparar a in-


cidência de indivíduos expostos aos fatores de risco em relação aos
indivíduos não expostos.
2. “A exposição e o desfecho estão relacionados?”: busca entender se a
hipótese formulada acerca da exposição de indivíduos está relacionada
à incidência da doença.

Objetivos e benefícios da epidemiologia


Como viemos discutindo até aqui, é possível pensar que os estudos descritivos
buscam apenas analisar e descrever os casos clínicos, enquanto o método
analítico busca a experimentação e explicação desses casos. Ao compreen-
dermos as bases que orientam esse estudo, é possível delimitar alguns dos
objetivos dessa ciência, que se apresentam como benefícios para a promoção
e prevenção de saúde, quais sejam:
26 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 17

Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas popu-


lações humanas;
Identificar e entender o agente causal e os fatores relacionados aos agravos
à saúde;
Identificar e explicar os padrões de distribuição geográfica das doenças;
Estabelecer metas e estratégias de controle;
Estabelecer medidas preventivas;
Auxiliar no planejamento e desenvolvimento de serviços de saúde ao elencar
as prioridades (STEFFENS, 2018, p. 17).

A partir desses objetivos, é possível coletar diferentes informações para


compreender as doenças e suas incidências na população, além de delimitar as
tomadas de decisão para melhor prevenir, reduzir e controlar os seus efeitos.
Os estudos epidemiológicos, portanto, elucidam algumas questões-chave para
a promoção da saúde e prevenção de doenças, como, por exemplo (GOMES;
LI; CARVALHO, 2005):

„ anormalidade — verificado o desvio ao padrão de normalidade, busca-


-se a definição de se, de fato, trata-se de uma doença;
„ diagnóstico — busca identificar se a precisão do diagnóstico é consi-
derada significativa;
„ frequência — estabelece indicadores de frequência em uma população
específica;
„ fatores de risco — compreende relacionar os fatores de risco ao de-
senvolvimento da doença;
„ prognóstico — identifica as consequências que a doença gera em um
indivíduo ou em uma população específica;
„ tratamento — identifica o melhor tratamento a ser conduzido;
„ causa — corresponde aos elementos que originam a situação a ser
enfrentada.

Esses elementos, resultantes da soma das informações biológicas e estatís-


ticas, constituem evidências que guiam o processo preventivo e promotor de
saúde de modo a otimizar os resultados das ações e a minimizar de prejuízos.
Nesse sentido, as indagações generalistas e precisas das doenças, aliadas ao
entendimento dos aspectos individuais de cada sujeito, pautam a condução das
ações em saúde. É possível compreender, portanto, que o conceito de saúde,
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Padrões de Saúde e Doença | PARTE 1
27
18 Padrões de saúde e doença

proposto pela OMS, e as concepções de prevenção e promoção, refletidas


e pautadas pelos estudos epidemiológicos, conduzem a sociedade ao pleno
bem-estar e à qualidade de vida individual. Nesse sentido, a Educação Física e
seus profissionais atuam buscando a promoção da saúde, através de programas
voltados à aptidão física, com atividades e exercícios físicos.

ARAÚJO, J. S.; XAVIER, M. P. o conceito de saúde e os modelos de assistência: Consi-


derações e perspectivas em mudança. Revista Saúde em Foco, Teresina, v. 1, n. 1, p.
117-149, jan./jul. 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da
Saúde. As cartas da promoção da saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2002. (Série
B. Textos Básicos em Saúde).
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,
1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm>. Acesso em: 4 nov. 2018.
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência e Saúde Coletiva, v. 5, n.
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CZERESNIA, D.; FREITAS, C. M. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. 2.
ed. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009.
DECLARAÇÃO de Adelaide. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas
de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As cartas da promoção da saúde. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2002. (Série B. Textos Básicos em Saúde). p. 35-39.
DECLARAÇÃO de Sundsvall. Sundsvall, 1991. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.
br/bvs/publicacoes/declaracao_sundsvall.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2018.
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Disponível em: <http://www.who.int/healthpromotion/conferences/previous/jakarta/
en/hpr_jakarta_declaration_sp.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2018.
GOMES, M. M.; LI, L. M.; CARVALHO, V. N. Estudos epidemiológicos. Journal of Epilepsy
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JOHNSON, S. O mapa fantasma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
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Saúde (OMS/WHO) - 1946. Nova Iorque, 1946. Disponível em: <http://www.direitoshu-
28 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Padrões de saúde e doença 19

manos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/
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2018.
ROSEN, G. Da polícia médica à medicina social. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. A. Epidemiologia e saúde. 5. ed. Rio de Janeiro:
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SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007.
STEFFENS, D. Epidemiologia: contexto histórico. In: MARTINS, A. A. B.et al. Epidemiologia.
Porto Alegre: SAGAH, 2018.

Leituras recomendadas
FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; FLETCHER, G. S. Epidemiologia clínica: elementos
essenciais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
HAYNES, R. B. et al. Epidemiologia clínica: como fazer pesquisa clínica na prática. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2008.
HULLEY, S. B. et al. Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica.
Porto Alegre: Artmed, 2008.

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA


SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

Parte 2
Inter-Relação Entre Atividade
Física, Aptidão Física e Saúde

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
30 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Inter-relação entre
atividade física, aptidão
física e saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Descrever os conceitos de atividade física, de exercício físico e de


aptidão física.
„ Construir a relação entre o exercício físico e a aptidão para o
desempenho.
„ Definir os efeitos da atividade física sobre a aptidão física relacionada
à saúde.

Introdução
Os termos “atividade física”, “exercício físico” e “aptidão física” são utilizados
como sinônimos de forma recorrente. No entanto, existem diferenças
fundamentais nesses conceitos que requerem a atenção dos profissionais
de educação física. Além disso, é fundamental que saibamos quais são os
efeitos que a atividade física exerce sobre a aptidão física, tendo em vista
que seus elementos são constituintes da busca pelo completo estado
de bem-estar físico, emocional e social.
Neste capítulo, você vai estudar as diferenças conceituais dos termos
“atividade física”, “exercício físico” e “aptidão física”. Conhecerá os principais
efeitos que a atividade física e o exercício físico exercem sobre a aptidão
física e entenderá como esses fatores, o profissional de educação física
e essa área do conhecimento se relacionam na busca pela promoção da
saúde e da qualidade de vida.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
31
2 Inter-relação entre atividade física, aptidão Inter-Relação
física e saúde Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2

Atividade física, exercício físico e aptidão física:


definindo conceitos
No último século, mudanças profundas ocorreram na sociedade em relação
aos hábitos e aos modos de vida da população. Em especial, destacamos que,
após a Revolução Industrial, os modos de produção se modicaram, foram
atribuídas novas configurações de trabalho no que tange ao empenho cor-
poral de trabalhadores. Glaner (2003), a esse respeito, afirma que, após esse
evento histórico, a energia necessária aos trabalhadores desempenharem suas
funções, em referência à força muscular, diminuiu de 90% para menos de
1%. Ou seja, a força de trabalho tem se modificado e a exigência física para
exercê-lo têm diminuído.
Em relação à saúde, o século XX trouxe avanços médicos e a implantação
de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças aumentou de
forma significativa, o que elevou a expectativa de vida da população mundial.
No Brasil, por exemplo, a expectativa de vida, em 1960, era de aproximada-
mente 48 anos. Atualmente, a expectativa de vida média de recém-nascidos
é de 75,8 anos de idade (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2016). Esse aumento de mais de 25 anos representa que as
pessoas, nos dias atuais, vivem mais e experimentam com maior duração os
fatores relacionados ao envelhecimento. Nos últimos anos, no entanto, podemos
reconhecer diferentes políticas e ações voltadas à atividade física para adultos
e idosos, que contribuíram, junto aos avanços médicos, para um processo de
envelhecimento cada vez mais saudável.
Ainda no mesmo século, podemos vislumbrar o aumento da urbanização, da
criminalidade e das mídias tecnológicas como forma de lazer. Esses três fatores,
associados, contribuíam para um quadro de hipocinesia (GLANER, 2003),
ou seja, a diminuição de movimentos que cada indivíduo realiza diariamente.
Associadas a isso, também estão as modificações nos hábitos alimentares,
com a ingestão de alimentos processados hipercalóricos, ricos em gorduras e
carboidratos, que extrapolam a necessidade diária de ingestão calórica.
A partir dessas ideias, queremos salientar que a qualidade de vida tem
sofrido influências de diversos aspectos sociais nos últimos anos. As modifi-
cações no desenvolvimento laboral, as altas expectativas de vida e a condição
hipocinética que se apresenta frente à evolução acelerada do que podemos
chamar de “Era Digital” (GLANER, 2003), tornam necessárias atitudes que
busquem a qualidade de vida e o envelhecimento saudável. Nesse sentido,
a atividade física e o exercício físico são fundamentais para a aquisição de
uma aptidão física voltada à promoção da saúde. Ainda que essa assertiva
32 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 3

possa parecer evidente e bastante discutida na atualidade, é necessário que


se faça uma contextualização, a fim de conceituar o que a atividade física, o
exercício físico e a aptidão física são e de que forma eles se apresentam no
cotidiano de cada um de nós.

Embora sejam etimologicamente parecidos, os termos “atividade física”, “exercício


físico” e “aptidão física” são muito diferentes. Podemos definir essas diferenças como:
„ atividade física — qualquer movimento muscular que resulte em gasto de energia;
„ exercício físico — atividade física repetitiva, estruturada e planejada;
„ aptidão física — estado de bem-estar físico atravessado, entre outros fatores, pela
atividade física.

Atividade física
Partindo da ideia da evolução, é possível pensar que os seres humanos, assim
como muitas das espécies vivas, só chegaram à condição atual por meio do
movimento corporal. Isto é, podemos imaginar que os hominídeos necessitavam
se movimentar para se alimentar e reproduzir, fatores que estão presentes
até hoje. Portanto, o movimento é imprescindível para que um ser humano
possa nascer, crescer e se desenvolver de forma autônoma. Esses movimentos
necessários à manutenção da vida, podem ser considerados como exemplos
de atividade física.
A atividade física, para Caspersen, Powell e Christenson (1985, p. 126)
é definida como “[...] qualquer movimento corporal produzido por músculos
esqueléticos que resultam em gasto de energia”. Ou seja, a maioria das ações
que realizamos diariamente são atividades físicas. Ao levantar da cama pela
manhã, escovar os dentes, correr, jogar uma partida de voleibol, varrer a casa,
quando estamos aparentemente parados e nossos músculos agem de forma
inconsciente para manter a posição ereta ou até mesmo durante o sono, quando
nos movimentamos para trocar a posição, estamos realizando atividades físicas.
No entanto, essas atividades são diferentes, são realizadas em momentos
diversos e com propósitos distintos. Assim, podemos realizar um agrupamento
delas formando categorias de atividades físicas. De maneira bastante simplista,
elas podem ser classificadas em:
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
4 Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde
Inter-Relação Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2
33

„ Atividades físicas durante o sono — são aqueles movimentos que


realizamos ao dormir, como mudar a posição corporal, mesmo que
ocorram de forma inconsciente. Essas atividades resultam em um pe-
queno gasto calórico, se comparado às demais categorias.
„ Atividades laborais — dizem respeito às tarefas realizadas durante
a ocupação profissional, como operar uma máquina ou escrever no
computador, por exemplo. Certamente, existem muitas atividades nessa
categoria que representam gastos calóricos distintos, uma vez que a
natureza do trabalho pode se apresentar de formas diversas, dependendo
da ocupação de cada sujeito.
„ Atividades de lazer — dizem respeito a todas as atividades que rea-
lizamos enquanto não estamos dormindo ou trabalhando. Isto é, elas
ocorrem quando realizamos as tarefas domésticas, ao praticarmos
algum exercício físico, ao fazer compras no mercado, entre outras
atividades. De forma geral, elas representam o maior gasto calórico
diário de uma pessoa quando comparadas às atividades de outras ca-
tegorias (GUEDES, D.; GUEDES, J., 1995; CASPERSEN; POWELL;
CHRISTENSON, 1985).

O gasto de energia, portanto, resulta no somatório de todas as atividades


desenvolvidas por cada indivíduo ao longo de um dia. Esse gasto é mensurado
em KJ (quilojoules) ou em kcal (quilocalorias). Aproximadamente, 4.184 KJ
equivalem a 1 Kcal. O quilojoule é utilizado por ser uma medida relacionada
ao dispêndio energético, no entanto, a quilocaloria, uma medida para o calor,
é utilizada de forma frequente para as necessidades e os gastos energéticos
humanos. Em relação à atividade física, o gasto energético diário para cada
pessoa é diferente e varia, basicamente pela quantidade, duração e frequência
das contrações musculares.

Exercício físico
As atividades físicas são as contrações musculoesqueléticas que resultam
em um aumento do gasto energético. Entre as suas subcategorias, encontra-
-se o exercício físico. Com isso, em uma análise de pertencimento, podemos
destacar que todo exercício físico é uma atividade física; no entanto, nem toda
atividade física é um exercício físico. Embora esses termos sejam utilizados
como sinônimos com frequência, eles são um pouco diferentes.
Os exercícios físicos, para serem apresentados como tal, devem possuir
uma série de elementos que os destacam entre o rol de atividades físicas. Ou
34 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 5

seja, a atividade física é constituída pelo movimento corporal resultante das


contrações musculares e ocasiona um gasto energético. O exercício físico,
para se diferenciar das demais atividades físicas possíveis apresenta, então,
além desses elementos mencionados, as características de ser “[...] um movi-
mento corporal repetitivo, planejado e estruturado” (CASPERSEN; POWELL;
CHRISTENSON, 1985, p. 129). Nesse aspecto, o exercício físico é, portanto,
uma subcategoria das atividades físicas. Além disso, podemos salientar que o
seu objetivo principal é manter ou aumentar os componentes da aptidão física.

Para melhor compreender as diferenças entre a atividade física e o exercício físico,


elaboramos um quadro apontando como algumas tarefas podem ser encaixadas
nesses dois grupos.

Exemplo de atividade física Exemplo de exercício físico

Caminhada até o trabalho como Caminhada em um parque, com


forma de deslocamento. um tempo e percurso planejado,
em um ritmo controlado.

Flexões e extensões de cotovelo Flexões e extensões de cotovelo em


que realizamos diariamente uma academia, durante o exercício
para nos alimentarmos. de rosca bíceps, com quantidade,
duração e frequência de contrações
controlada e planejada.

Aptidão física
Historicamente, o conceito de aptidão física tem sido apresentado por diversos
teóricos com definições diferentes. Guedes, D. e Guedes, J. (1995) destacam
que, por muito tempo, a aptidão física esteve estreitamente ligada às capaci-
dades que os indivíduos possuíam em relação à prática esportiva. No entanto,
essa visão reduz a abrangência da aptidão física e a sua relação com a saúde.
Partindo desse pressuposto, em 1978, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
buscou enfatizar que a aptidão física estaria relacionada à capacidade que
cada indivíduo possui de realizar o trabalho muscular de maneira satisfatória.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
6 Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde
Inter-Relação Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2
35

Nessa perspectiva, é possível reconhecer que a aptidão se torna, portanto,


uma competência atrelada às capacidades motoras.
Por outro lado, buscando um conceito mais amplo que pudesse englobar as
múltiplas dimensões corporais, Gallahue e Ozmun (2013, p. 467) conceitua-
ram aptidão física como o “[...] estado de bem-estar influenciado pelo estado
nutricional, constituição genética e participação frequente em uma série de
atividades físicas intensas ao longo do tempo”. Ou seja, nessa visão, a aptidão
física extrapola os propósitos da OMS, uma vez que está relacionada ao bem-
-estar e este, portanto, passa a englobar não só os aspectos motores, mas de
toda a complexidade biológica do ser humano.
A aptidão física, nessas perspectivas, pode ser dividida entre aquela se
encontra atrelada às práticas esportivas, com vistas à performance, e aquela
relacionada à saúde. Podemos evidenciar que, na primeira ocasião, a aptidão
busca o desempenho humano. Logo, não se torna necessário que alguém se
encontre em um estado que não contemple o bem-estar e tampouco esteja
associado a algum risco que possa comprometê-lo. Na segunda ocasião, a
aptidão física voltada à saúde, o foco torna-se a busca ou a manutenção do
estado de bem estar. Nessa tangente, Gallahue e Ozmun definem a diferença
entre essas duas vertentes da aptidão física:

Aptidão relacionada ao desempenho motor: Aspecto da aptidão física que


se refere a busca por uma otimização do desempenho motor, está relacionada
ao desempenho atlético ou com a habilidade esportiva. Neste sentido, com-
põem a aptidão física relacionada ao desempenho: flexibilidade, resistência
muscular, resistência aeróbica, agilidade, equilíbrio, velocidade, potência,
tempo de reação e coordenação.
Aptidão física relacionada à saúde: Aspecto da aptidão física que se refere
ao estado relativo de bem-estar, qualidade de vida, promoção da saúde e pre-
venção de doenças. O desenvolvimento e a manutenção da aptidão relacionada
à saúde ocorre em função da adaptação fisiológica a cargas crescentes. Neste
sentido, compõem a aptidão física relacionada a saúde a resistência cardior-
respiratória, a composição corporal, a flexibilidade, a força e a resistência
muscular localizada (GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 468).

Retomando o que foi abordado até aqui, podemos identificar uma relação
entre a atividade física, o exercício físico e a aptidão física. Ainda que sejam
conceitos diferentes, eles estão entrelaçados de modo que podemos estabelecer
uma relação de pertencimento. Quer dizer, a aptidão física, qualquer que seja,
só se torna possível por meio do exercício físico. Por sua vez, o exercício físico
trata-se de uma subcategoria da atividade física. Bem verdade que o contrário
pode não ocorrer. Ou seja, nem toda atividade física pode ser considerada um
36 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 7

exercício físico e nem todo exercício físico pode resultar em aptidão física (p.
ex., nos casos em que os exercícios em demasia acabam gerando lesões que
comprometem o bem-estar do indivíduo). De todo modo, podemos reconhecer
que a atividade física e a aptidão física estão intimamente ligadas.

O exercício físico e a aptidão para o


desempenho
A aptidão física relacionada ao desempenho está comumente associada ao
incremento de performance corporal. Caspersen, Powell e Christenson (1985)
definem que seus componentes dividem-se em:

„ agilidade;
„ capacidade de equilíbrio;
„ coordenação;
„ velocidade;
„ força;
„ tempo de reação.

Manter níveis adequados nessas variáveis, com certeza, também é essencial


para desenvolver as tarefas básicas do dia a dia, ainda que a aptidão esteja
relacionada, na literatura, aos padrões de desempenho e não à saúde. Como
poderíamos imaginar um sujeito amarrando os cadarços de seus sapatos sem
níveis mínimos de coordenação, ou dirigir um carro sem o tempo de reação
adequado a essa tarefa? A não realização dessas tarefas, podemos supor,
poderia afetar a saúde desse indivíduo em diversas dimensões, considerando
que ela se trata do estado de bem-estar, físico, emocional, social e cultural
(NIEMAN, 1999; NAHAS, 2001). A seguir, abordaremos brevemente cada
um dos componentes que englobam a aptidão física para o desempenho.

Agilidade
A agilidade consiste na capacidade que um indivíduo possui de realizar mo-
vimentos rápidos e de efetuar mudanças de posição de forma voluntária, no
menor tempo possível e mantendo a precisão nesses movimentos (GALLAHUE;
OZMUN, 2013). Por exemplo, se estivermos caminhando na rua e, repenti-
namente, alguém cruzar de forma despercebida o nosso caminho, devemos
desviar para não esbarrar nessa pessoa. Os níveis adequados de agilidade nos
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
8 Inter-relação entre atividade física, aptidãoInter-Relação
física e saúde
Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2
37

permitem reagir em um curto espaço de tempo e reposicionar nosso corpo de


forma a evitar o contato.

Equilíbrio
Para Gallahue e Ozmun (2013), o equilíbrio consiste na capacidade que um
indivíduo tem de manter a postura de seu corpo inalterada, mesmo quando
colocado em várias posições. As sinergias musculares dizem respeito à ativação
dos músculos que são responsáveis por manter o corpo controlado de forma
permanentes para que se mantenha o equilíbrio. Para se manter a ortostase,
por exemplo, muitos músculos dos membros inferiores, do abdome e do tronco
podem ser necessários. Assim, a visão, os sistemas somatossensoriais e vestibular
fornecem as informações necessárias para que o corpo se mantenha controlado e
equilibrado de acordo com o ambiente externo. Podemos também destacar que o
equilíbrio se divide em estático, quando os sujeitos encontram-se com seu corpo
parado e dinâmico, e dinâmico, quando o corpo se encontra em deslocamento.
No mesmo sentido, os sistemas adaptativos permitem que os músculos
regulem uma postura adquirida ou atuem resgatando um controle durante
eventos de perda de equilíbrio. As articulações, nesse aspecto, ditam as pos-
sibilidades e as limitações que os movimentos corporais podem tomar forma
para que o controle corporal e o equilíbrio sejam exercidos. O equilíbrio e a
estabilidade do controle corporal também exercem influências de elementos
morfológicos, como a altura, a distribuição do peso corporal, os tamanhos
dos pés, entre outros fatores.

Coordenação
A coordenação é a capacidade de integrar a mobilização de diferentes gru-
pos musculares com as modalidades sensoriais variadas de forma eficiente
(GALLAHUE; OZMUN, 2013). A coordenação mantém uma ligação bastante
próxima com outros elementos da aptidão física como o equilíbrio, a velocidade
e a agilidade. A ineficácia de qualquer um desses elementos compromete uma
coordenação corporal quando diante da exigência de realizar um movimento
em série, de forma rápida e precisa.
Gallahue e Ozmun (2013) destacam dois tipos de coordenação: a coor-
denação olho-mão/pé e a coordenação corporal rudimentar. A coordenação
motora olho-mão e olho-pé consiste na capacidade de controlar os movimentos
dos membros de maneira precisa para projetar, fazer contato ou receber um
objeto. Pegar um copo, realizar um aperto de mão ou rebater uma bola são
38 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 9

movimentos que podem servir de exemplo desse tipo de coordenação. A


coordenação corporal rudimentar, assim como a agilidade, envolve a rápida
movimentação do corpo; no entanto, a diferença se encontra na capacidade
de movimentar os grupos musculares de forma ordenada.

Velocidade
A velocidade consiste na habilidade de percorrer uma distância curta no menor
tempo possível. Essa capacidade é comum em esportes diversos, naqueles em
que a corrida é a principal atividade motora, como em algumas modalidades
do atletismo, até nos esportes coletivos, como o voleibol, que acontece em
pequenas distâncias, e o futebol.

Força
A força é a capacidade que o corpo tem de realizar movimentos em uma carga,
superando as influências da gravidade (GALLAHUE; OZMUN, 2013). Essa
valência pode ser mensurada a partir de diversos músculos; são comuns os
testes a partir dos grupos musculares abdominais e de membros superiores.
No teste de flexão de braços, o indivíduo deve se posicionar em quatro apoios,
tocando apenas as mãos e os pés (no caso do sexo masculino) ou os joelhos
(no caso do sexo feminino) no solo. A proposta é realizar o máximo de flexões
em 1 minuto. Indivíduos do sexo masculino, com idade entre 20 e 29 anos,
devem realizar entre 22 a 28 flexões. Já os indivíduos do sexo feminino, devem
conseguir realizar entre 15 a 20 repetições.

Tempo de reação
O tempo de reação consiste no intervalo entre a percepção de um estímulo e
a ativação voluntária de grupos musculares necessários para a sua resposta
adequada. Gallahue e Ozmun (2013) indicam que existem duas descrições
comumente encontradas na literatura sobre o tempo de reação. A primeira
descreve o tempo de reação não fracionado, indica o processo total entre o
estímulo recebido e a ação motora. A segunda, apresenta o tempo de ação
fracionado e busca subdividir o processo de reação em tempos distintos:

„ Tempo de reação pré-motor — mensurado no período em que ocorre


o início do estímulo e os primeiros sinais de atividades elétricas em
músculos ou grupos musculares específicos.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
10 Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde
Inter-Relação Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2
39

„ Tempo de reação motor — mensurado no período entre o primeiro


sinal elétrico no músculo ou grupo muscular e o início do movimento.

Os elementos da aptidão física para o desempenho, em muitas das tarefas, se


encontram entrelaçadas. Ou seja, cada uma das habilidades mencionadas pode estar
presente junto a outras em uma tarefa motora. Por exemplo, durante o arremesso de
dardo, é possível evidenciar que a velocidade, a coordenação, o equilíbrio, a força
e a agilidade se encontram presentes. Para mensurar a capacidade dos sujeitos,
no entanto, muitos testes lançam mão de tarefas específicas, aferindo algumas
variáveis que demonstrem o desempenho dos sujeitos. No quadro a seguir é
possível verificar quais variáveis são verificadas para cada um dos componentes.

Componente da
Medida de campo comum Aspecto avaliado
aptidão física

Agilidade Shuttle run Agilidade de corrida

Teste do quadrado Agilidade de


corrida e lateral

Equilíbrio Equilíbrio com bastão Equilíbrio estático


Equilíbrio apoiado em um pé

Caminhada sobre a trava Equilíbrio dinâmico

Coordenação Salto no cabo Coordenação corporal


Salto de precisão rudimentar
Elevação de joelho

Driblar com as mãos Coordenação olho-mão


Driblar com os pés
Coordenação olho-pé

Velocidade Corrida (deslocamento Velocidade de corrida


de 20 m e 100 m)

Força Dinamômetro manual Força isométrica


Dinamômetro de
costas e pernas
Tensiômetro de cabo

Tempo de reação Estímulo-resposta (visual, Avaliação entre a


auditiva, mecânica, etc.) recepção do estímulo
e a ação motora
Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 11
40 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Esses componentes são importantes indicadores para a saúde física de


todas as pessoas. No entanto, concebendo a saúde como algo que extrapola
o condicionamento físico, é necessário que sejam levadas em consideração
outras variáveis. Nesse aspecto, a aptidão física relacionada à saúde e ao
impacto que a atividade física exerce, ganham destaque. Na próxima seção,
vamos elaborar como esses fatores se relacionam.

Efeitos da atividade física sobre a aptidão física


relacionada à saúde
Como discutimos na primeira seção, a atividade física pode ser dividida em
algumas categorias. Todas elas encontram-se contextualizadas ao movimento
muscular esquelético resultante em gasto energético. Por sua vez a aptidão
física consiste em diversos fatores, entre eles a participação frequente em uma
série de atividades físicas intensas ao longo do tempo. Desde já, podemos
estabelecer que elas são imprescindíveis para elevar ou manter os níveis de
aptidão física. Na seção anterior, estabelecemos que aptidão física pode estar
relacionada à performance ou à busca e manutenção da saúde. É nessa segunda
perspectiva que iremos focar neste momento.
A aptidão física voltada à saúde, como buscamos contextualizar, refere-se
à complexa relação de adaptação fisiológica à necessidade que cada um de nós
necessita para exercer nossas tarefas diariamente. Isso significa dizer que não
está relacionada apenas à capacidade, habilidade ou potencialidade de exercer
determinadas tarefas. De fato, isso também é um dos fins da aptidão física.
Para melhor compreender as relações da aptidão física relacionada à saúde,
Pate (1988) define dois objetivos bastantes claros:

„ desenvolver a capacidade, habilidade e potencialidade de realizar tarefas


necessárias e presentes no cotidiano;
„ demonstrar traços e capacidades associadas ao baixo desenvolvimento de
distúrbios orgânicos que podem ser provocados pela baixa ou nenhuma
realização de atividade física.

Nessa concepção, a aptidão física está relacionada com os componentes


que estão diretamente relacionados com o bem-estar obtido por meio da
atividade física.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Inter-Relação Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2
41
12 Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde

A aptidão física está relacionada com quatro dimensões corporais: a dimensão mor-
fológica, a dimensão funcional-motora, a dimensão fisiológica e a dimensão corporal.
Cada uma dessas dimensões engloba componentes que estão relacionados ao estado
de bem-estar e com a capacidade, habilidade e potencialidade de exercer tarefas
cotidianas. A Figura 1 apresenta as dimensões e componentes que estabelecem
essa relação.

Aptidão física
relacionada à saúde

Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão


morfológica funcional-motora fisiológica comportamental

– Função – Pressão sanguínea


– Composição – Tolerância ao estresse
cardiorrespiratória
corporal –Tolerância à glicose
– Consumo máximo
de oxigênio e sensibilidade
– Distribuição insulínica
da gordura
– Função musculoesquelética – Oxidação de
corporal
– Força/Resistência substratos
– Muscular
– Flexibilidade – Níveis de lipídios
sanguíneos e perfil
das lipoproteínas

Figura 1. Dimensões e componentes da aptidão física voltada à saúde.


Fonte: Adaptada de Guedes, D. e Guedes, J. (1995, p. 24).

Os diferentes componentes são indissociáveis para atingir o estado de


bem-estar e, muitas vezes estão diretamente relacionados. Ou seja, as alte-
rações na dimensão morfológica, como a obesidade, por exemplo, podem
provocar alterações na função cardiorrespiratória, na pressão sanguínea, por
consequência, na tolerância ao estresse. Portanto, chamamos a atenção que o
corpo humano não deve ser visto de forma dicotomizada, em que o privilégio
de uma dimensão sustentaria as demais, embora façamos uma análise dessas
interferências e relações de forma isolada, a seguir.

Dimensão morfológica
A dimensão morfológica é composta pela composição corporal e pela distri-
buição da gordura corporal. Em tese, a composição corporal é obtida pelo
fracionamento do peso corporal a partir de quatro elementos: gordura, ossos,
42 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 13

músculos e resíduos (GUEDES, 1994) e também pode ser definida como


“[...] a proporção entre a massa corporal magra e a gorda” (GALLAHUE;
OZMUN, 2013, p. 467). Os valores para a composição corporal são obtidos,
em grande parte das vezes, por meio da razão entre as variáveis de altura e
peso corporal, isto é, o índice de massa corporal (IMC) (IMC = kg/m²). Por
sua vez, a distribuição da gordura corporal compreende a prevalência de
tecidos adiposos em determinadas zonas corporais (COUTINHO et al., 2013)
como, por exemplo, a incidência de gordura no abdome, nos braços (gordura
subcutânea) ou nos órgãos, como o coração e o fígado (gordura visceral).
Já é bastante conhecido que o excesso de gordura corporal compromete a
saúde, pode ocasionar o desenvolvimento de diversas doenças, entre elas se
destacam as doenças coronarianas, como:

„ insuficiência cardíaca;
„ acidente vascular cerebral;
„ elevação da pressão arterial sistólica;
„ elevação dos níveis de colesterol;
„ intolerância à glicose;
„ presença de hipertrofia ventricular esquerda.

Muitas dessas doenças, se não forem tratadas e não tiverem seus quadros
revertidos, estarão associadas à mortalidade (HUBERT et al., 1983).
A obesidade e o excesso de gordura corporal estão diretamente relacionados
com as dietas hipercalóricas e a falta de atividade física cotidiana. Ou seja, o
tecido adiposo, em muitos dos casos de excesso, está relacionado a uma ingestão
de calorias maior do que o dispêndio energético diário. Nessa perspectiva,
aliado ao consumo de uma alimentação balanceada, as atividades físicas e
os programas de treinamento demonstram ser muito efetivos no controle e
na diminuição de peso e gordura corporal, possibilitando uma vida saudável.

Dimensão funcional-motora
A dimensão funcional-motora envolve as capacidades de consumo máximo
de oxigênio, força, resistência muscular e flexibilidade. O consumo máximo
de oxigênio (VO2máx) é a capacidade máxima que cada indivíduo tem de
captar, de transportar e de metabolizar o oxigênio no corpo humano (KENNEY;
WILMORE; COSTILL, 2015). A força pode ser entendida como o esforço que
os músculos exercem sobre uma massa, resultando em movimento, cessação
do movimento ou resistência em relação a um corpo. A resistência muscular
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
14 Inter-relação entre atividade física, aptidãoInter-Relação
física e saúde
Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2
43

trata-se da capacidade do músculo ou de um grupo de músculos de realizar


um trabalho de forma repetida, contra uma resistência moderada. E, por sua
vez, a flexibilidade consiste na capacidade das várias articulações do corpo de
ir até́ o fim da sua amplitude de movimento (GALLAHUE; OZMUN, 2013).
Essas capacidades, como podemos imaginar, são necessárias para realizar
as inúmeras atividades diárias como trabalhar, utilizar o transporte público,
vestir-se ou realizar compras, por exemplo. Com o passar dos anos, a ausência
de atividades físicas resulta em um declínio gradual dessas capacidades,
resultando na perda de tempo de reação, perda de equilíbrio e, inclusive, na
capacidade de caminhar (ROSA NETO, 2009). Nesse aspecto, as atividades
físicas, sobretudo as que são realizadas por meio de exercícios físicos, são
fundamentais para a manutenção dessas capacidades.

Dimensão fisiológica
A dimensão fisiológica envolve a pressão sanguínea, a tolerância à glicose
e a sensibilidade à insulina, a oxidação de substratos e os níveis de lipídeos
sanguíneos e o perfil de lipoproteínas. A pressão sanguínea é resultante da
interação entre o trabalho do músculo cardíaco e a elasticidade dos vasos
sanguíneos. A tolerância à glicose e a sensibilidade insulínica correspondem
ao transporte de moléculas de glicose para o interior das membranas celulares.
A oxidação de substratos refere-se à metabolização de substratos energéticos,
em especial os lipídeos e os carboidratos, com vistas à sua transformação em
energia pelas células. Este fator está ligado aos níveis de lipídeos sanguíneos
e ao perfil de lipoproteínas que, por sua vez, estão relacionados aos acúmulos
de gordura corporal.
Guedes, D. e Guedes, J. (1995) apontam que as taxas inadequadas dessas
variáveis podem levar a consequências negativas sobre a saúde dos indivíduos,
como problemas relacionados a aterosclerose, hipertensão, diabetes melito e
ao maior acúmulo de gordura corporal no abdome e no quadril. Os mesmos
autores indicam vários estudos que demonstram a relação entre a atividade
física regular e a manutenção de níveis desejáveis dessas variáveis. Dessa
forma, os programas voltados à atividade física têm se mostrado eficientes
quanto à manutenção e à promoção da saúde, impedindo a variação negativa
desses indicadores e até mesmo na reversão de índices negativos.
44 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 15

Dimensão comportamental
A dimensão comportamental envolve a tolerância ao estresse, que pode ser
entendido como “uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou
psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a
pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, a
amedronte, a excite ou a confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz”
(LIPP; MALAGRIS, 2001, p. 477).

O estresse está bastante relacionado às mudanças repentinas que acontecem na vida


de um indivíduo. Quanto mais estressante for a situação experimentada, maior é a
probabilidade de desenvolver alguma doença em um período de até 2 anos. Esses
eventos podem ser negativos ou positivos. Entre os eventos mais estressantes se
encontram a morte de algum membro da família, o divórcio, a dispensa/demissão do
trabalho, a gravidez ou o nascimento de um filho, a morte de um amigo, o casamento
e a aposentadoria.

Entre os sintomas do estresse, encontram-se a ansiedade e a tensão que


podem influenciar de forma negativa o estado de saúde de cada indivíduo.
Guedes, D. e Guedes, J. (1995) ressaltam que esses sintomas estão relacionados
às incidências de risco de doenças cardíacas. Além disso, os autores destacam
que indivíduos estressados têm maior facilidade em aderir a hábitos de vida
prejudiciais à saúde como o uso de drogas, o excesso de consumo de bebidas
alcoólicas e a ingestão exagerada de alimentos.
Dentro dessa perspectiva, a atividade física regular pode contribuir com
a diminuição de níveis de estresse, uma vez que, ao se exercitar, o organismo
produz hormônios capazes de produzir uma sensação de relaxamento e de
bem-estar. Além disso, a atividade física pressupõe uma mudança nos hábitos,
sobretudo quando orientada por um profissional e praticada em contextos
sociais que adotam hábitos saudáveis.
Assim, podemos reconhecer que a atividade física exerce um papel fun-
damental na busca e na manutenção da aptidão física em suas diversas di-
mensões e componentes, e é essencial à saúde. Evidentemente, nem todas
essas variáveis são bastante visíveis, tendo a atenção dos setores da saúde
16 Inter-relação entre atividadeExercício Físico, Atividade
física, aptidão Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
física e saúde 45
Inter-Relação Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2

e do próprio indivíduo somente quando apresentam sinais e sintomas muito


evidentes, necessitando de uma intervenção, como é o caso da hipertensão, por
exemplo. Nesse sentido, tomam forma os programas voltados à atividade física
e à manutenção da saúde, em que a educação física exerce papel fundamental.
Podemos reconhecer que o papel do profissional de educação física se
encontra na promoção da saúde e na prevenção de doenças, no incentivo aos
indivíduos desde a tenra idade a aderirem a hábitos saudáveis e a se engaja-
rem em atividades físicas e em programas de exercícios físicos. Tais ações,
quando conduzidas de modo que respeitem as individualidades e atendam as
necessidades de cada pessoa, contribuem para a condução dos sujeitos a uma
vida de pleno estado de bem-estar, usufruindo da qualidade de vida.

CASPERSEN, C.J.; POWELL K. F.; CHRISTENSON, G. M. Physical activity, exercise and


physical fitness: definitions and distinctions for health-related research. Public Health
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COUTINHO, T. et al. Combining body mass index with measures of central obesity in
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KENNEY, L.; WILMORE, J.; COSTILL, D. Physiology of sport and exercise. 6. ed. New York:
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46 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Inter-relação entre atividade física, aptidão física e saúde 17

LIPP, M. E. N.; MALAGRIS, L. E. N. O stress emocional e seu tratamento. In: RANGÉ, B.


(Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto
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Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Inter-Relação Entre Atividade Física, Aptidão Física e Saúde | PARTE 2
47

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA


SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
48 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 3
Programas de Educação
Física na Promoção da Saúde

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
50 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Programas de
Educação Física na
promoção da saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Descrever as características de uma intervenção para a promoção


da saúde.
„ Identificar formas de avaliação de um programa de atividade física
com objetivo de promoção da saúde.
„ Organizar um programa de atividade física com foco no incremento
da saúde e da qualidade de vida dos participantes.

Introdução
Os programas de intervenção para a promoção da saúde são essenciais
para a busca da qualidade de vida social. Como a saúde é multidimen-
sional, isto é, envolve o estado de bem-estar físico, emocional, social e
cultural, existem inúmeras propostas de desenvolver tais programas.
Entre essas possibilidades, encontram-se aquelas voltados à promoção
da saúde através de incrementos nos níveis de atividade física, um dos
fatores primordiais que influenciam na qualidade de vida.
Neste capítulo, você vai estudar quais devem ser as características a
serem consideradas no desenvolvimento de programas de promoção
da saúde, conhecerá algumas das diversas possibilidades de avaliar os
programas voltados à atividade física e conhecerá, de forma prática, uma
proposta de programa voltado ao incremento da saúde e da qualidade
de vida de seus participantes.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
51
2 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

Características de programas de intervenção


para a promoção da saúde
Nos últimos anos, os debates acerca da promoção da saúde têm se intensifi-
cado. Mais especificamente, é possível compreender que uma ampliação do
entendimento de saúde ocorreu sobretudo na segunda metade do século XX,
quando a concepção de saúde como uma oposição à presença de doenças
surgiu. Em 1945, Henri Sigerest, médico e historiador, foi um dos pioneiros
do conceito de promoção da saúde, elaborando a perspectiva de que a saúde
e seus profissionais não deveriam deter-se apenas aos aspectos físicos e fisio-
lógicos, mas também preocupar-se em promover condições de vida decentes
e boas condições de trabalho, de educação, de atividade física e de descanso.
Atualmente, podemos evidenciar que as políticas em promoção da saúde
podem ocorrer em dois âmbitos: o conceitual e o metodológico (CERQUEIRA,
1997). O âmbito conceitual é caracterizado pelos princípios, premissas, nar-
rativas e discursos que devem guiar as políticas em promoção da saúde. O
âmbito metodológico envolve as ações práticas, as estratégias e intervenções
que são realizadas, aproximando-se das concepções de tais políticas. Com
as diversas pesquisas e reflexões acerca da saúde, podemos formular que o
âmbito conceitual, ou seja, o que se espera para programas de intervenção,
encontra-se bem desenvolvido. No entanto, o âmbito procedimental, ou seja,
como os programas de intervenção são desenvolvidos, ainda tem apresentado
grandes desafios, consistindo em uma lacuna entre o que se espera e o que se
realiza nos programas interventivos.
A Organização Mundial da Saúde, em 1998 (WORLD HEALTH ORGA-
NIZATION, 1998), na tentativa de superar as lacunas que ainda se encontram
nas abordagens amplas de promoção da saúde, elaborou alguns princípios que
devem orientar as políticas, as iniciativas, as propostas e as atividades plane-
jadas e executadas: concepção holística, intersetorialidade, empoderamento,
participação social, equidade, ações multiestratégicas e sustentabilidade.
Nesse sentido, é importante que os programas de intervenção em saúde, ao
serem elaborados, consigam compreender as especificidades de cada um
desses princípios, tentando e buscando a sua aproximação. A seguir, faremos
uma discussão de cada uma destas características, que devem fazer parte dos
programas de intervenção para a promoção da saúde.
52 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 3

Para melhor eficiência e eficácia nos programas de promoção de saúde e aumento


da qualidade de vida, os profissionais devem agir em caráter interdisciplinar, onde
cada um deles consiga estabelecer estratégias que partam das especificidades de
sua área do conhecimento.

Concepção holística
Por muito tempo, a saúde foi considerada apenas como um estado de não
doença. Essa visão dualista, que se centrava nas patologias como sinais e
sintomas bastantes visíveis, restringia a ampla complexidade do bem-estar
humano. Sendo assim, os programas de intervenção da saúde não devem
atrelar-se apenas aos aspectos fisiológicos patológicos, mas contemplar, além
da saúde física, a saúde emocional, a saúde espiritual e a saúde social de cada
indivíduo.
Nesse viés, podemos compreender que a saúde deve ser tratada como uma
produção social, envolvendo a população como um todo e sendo atravessada
por diversos fenômenos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 1996), os programas por si só não são suficientes
para a saúde populacional. Nesse sentido, são necessárias ações nos microssis-
temas econômico, político, social e cultural para que tal objetivo seja atingido,
tais como ações relacionadas à renda, à paz, e à alimentação, por exemplo.

Intersetorialidade
Partindo da premissa da saúde como algo que não se restringe apenas ao campo
físico de manifestação das doenças, é possível pensar que ela não deva ser objeto
de estudo e trabalho apenas do campo médico. Os programas de intervenção,
portanto, devem pautar-se nos diferentes campos de conhecimento. É nesse
sentido que Junqueira elabora que a saúde deve ser fruto da “[...] articulação de
saberes e experiências no planejamento, realização e avaliação de ações para
alcançar efeito sinérgico em situações complexas visando ao desenvolvimento
social e à inclusão social” (JUNQUEIRA, 1998, p. 84).
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
53
4 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

Nesse entendimento, é possível elaborar uma variedade de áreas do conheci-


mento que têm aderido aos programas de intervenção em saúde. Anteriormente
tida como uma especificidade médica, hoje os programas intersetoriais contam
também com a presença de profissionais de Educação Física, sociólogos, assis-
tentes sociais, psicólogos e economistas, entre outros profissionais que possam
vir a dar um enfoque específico para a complexidade da promoção da saúde.

Participação social e empoderamento


Ainda que as presenças de profissionais de diversas áreas sejam necessárias
ao desenvolvimento de políticas de promoção da saúde, a participação social
também é fundamental e consiste em um elemento-chave para o êxito das
propostas estabelecidas. A Organização Mundial da Saúde salienta que no
desenvolvimento de programas de promoção de saúde, é preciso que exista
contínua consulta, diálogo e troca de ideias entre indivíduos e grupos, tanto
leigos como profissionais. Os mecanismos políticos precisam ser estabelecidos
de uma maneira que garantam oportunidades de expressão e desenvolvimento
do interesse público na saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1984).
A participação comunitária é necessária para que ocorra a definição de
metas e estratégias concretas, assim como das tomadas de decisões que vis-
lumbrem a realidade vivida nas comunidades, com base nos problemas e
necessidades de cada região. A utilização de recursos humanos já existentes
nas comunidades torna viável a intensificação da autoajuda e do apoio social,
uma vez que torna possível a tomada de consciência para que essas pessoas
assumam maior controle sobre os fatores pessoais, socioeconômicos e am-
bientais que afetam a saúde.
Importante destacar que os programas de intervenção também promovem
a informação e a capacitação de pessoas com vistas ao seu desenvolvimento
em todas as fases da vida. Nesse sentido, o empoderamento comunitário e o
desenvolvimento de capacidades e habilidades pessoais devem ser tema de
diversas instituições, sejam elas organizações educacionais, profissionais,
comerciais, voluntárias e/ou instituições governamentais.

Equidade
Presumir que todos os cidadãos de todas as regiões necessitam das mesmas
ações, em um caráter isonômico de tomada de decisões implica, em muitos
dos casos, agir desnecessariamente em situações cujos indivíduos possuem
54 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 5

uma boa estrutura para a promoção da saúde e ineficientemente com sujeitos


que precisam de uma atenção e intervenção maior. Nesse sentido, os progra-
mas de promoção da saúde devem partir de uma concepção equânime de
desenvolvimento. Ou seja, àqueles que mais necessitam de uma intervenção,
onde sua saúde e qualidade de vida se encontram bastante comprometidas,
as ações devem ocorrer com maior ênfase, sem que isso comprometa a saúde
populacional de modo geral.
Nesse aspecto, a Organização Mundial da Saúde sugere que:

A promoção da saúde se centra em alcançar a equidade sanitária. A ação


é dirigida a reduzir as diferenças no estado atual da saúde e assegurar a
igualdade de oportunidades e as oportunidades que permitem que toda a po-
pulação desenvolva o máximo de seu potencial de saúde (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1996, p. 368).

Alcançando um caráter de equidade na promoção de saúde, as ações ten-


dem a eliminar as diferenças desnecessárias, evitáveis e injustas que ainda
perduram aos dias atuais. Torna-se imprescindível, portanto, que a ampla oferta
seja elaborada, sobretudo, para as populações vulneráveis e desfavorecidas
economicamente.

Ações multiestratégicas
Da mesma forma que os programas de intervenção na promoção da saúde
devem envolver profissionais de diversas áreas do conhecimento desde a sua
elaboração até o seu desenvolvimento, elas devem prever a combinação de
métodos e abordagens diversas. Tais abordagens devem prever o envolvimento
de todas as áreas a partir de diversas análises sobre o desenvolvimento de
políticas públicas, na formulação e aplicação da legislação, nas mudanças
organizacionais, no fortalecimento comunitário, na educação e na comunicação.

Sustentabilidade
Finalmente, a sustentabilidade pressupõe que as ações ocorram de forma
duradoura e forte. Os princípios da sustentabilidade também apontam que
ela envolve vários aspectos dimensionais, como indicado por Jacobi (1999)
ao mencionar que:
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Programas
55
6 Programas de Educação Física na promoção da saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

A noção de sustentabilidade implica uma necessária interpelação entre justiça


social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvol-
vimento com capacidade de suporte. Mas também se associa a uma premissa
da garantia de sustentação econômico-financeira e institucional (JACOBI,
1999, p. 43).

A sustentabilidade, portanto, visa contribuir para que os programas de


intervenção na promoção da saúde não se restrinjam ao momento em que os
profissionais das múltiplas áreas estejam diretamente atuando nas comunidades.
Mais do que isso, é uma formação que, através do empoderamento comuni-
tário, permite que as ações de prevenção da saúde se estendam, modificando
os hábitos e características prejudiciais à saúde que compõem a cultura local.
Entre as inúmeras áreas de conhecimento que devem compor os progra-
mas de promoção da saúde, a Educação Física desempenha um dos papeis
fundamentais na busca pela qualidade de vida, haja vista que as práticas
corporais são potentes fomentadores da saúde. Assim, podemos elaborar que a
Educação Física, em uma proposta de promoção da saúde, deve estar atrelada
às características até aqui mencionadas.
No entanto, não basta apenas que as políticas sejam implementadas e
desenvolvidas. Torna-se necessário que sejam avaliadas, de modo a buscar
sempre as suas dificuldades de implantação e melhores abordagens a serem
empregadas. Na próxima seção, abordaremos com maior ênfase as formas de
avaliação de um programa de promoção da saúde, dando mais ênfase a sua
expressão através das atividades físicas.

Formas de avaliação de um programa


de atividade física com objetivo
na promoção da saúde
As avaliações em programas de atividade física são fundamentais para re-
conhecer a sua eficiência ou traçar novos objetivos nas tomadas de decisão
que regem as ações. A Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1998) estabelece que tais ferramentas que buscam o exame
e a avaliação sistemática das características de uma iniciativa e de seus efeitos,
a fim de obter informações que possam ser utilizadas por quem tem interesse
em melhorá-la ou torná-la mais eficaz, devem ser amplamente desenvolvidas.
Considerando que a avaliação ocorre no sentido de melhorar ou aperfeiçoar
um programa já existente, é possível elaborar que ela não deve se restringir
apenas à construção de novos conhecimentos acerca da promoção da saúde,
56 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 7

mas envolver uma série de fatores que busquem melhorar tais programas para
focalizar no incremento da qualidade de vida de um grupo. Assim, podemos
pensar que ela deve ser desenvolvida em seis etapas: obter a participação das
partes interessadas, descrever o programa, focalizar o projeto de avaliação,
recolher evidências confiáveis, justificar as conclusões e assegurar o uso e
compartilhar as lições aprendidas.
Como dito na seção anterior, os programas de promoção da saúde não
se estendem diretamente àqueles que são atendidos por tais propostas. Em
uma visão mais ampla, eles se constróem na sociedade e voltam-se para a
sociedade através de seus benefícios. Nesse aspecto, a participação no seu
desenvolvimento e na sua avaliação deve abranger todas as partes interessadas,
inclusive aquelas que estão envolvidas de forma indireta. Podemos classificar
os participantes dos programas de atividade física como implementadores
(as pessoas envolvidas nas operações do programa), os parceiros (as pessoas
que apoiam ativamente o programa), os participantes (as pessoas atendidas
ou afetadas pelo programa) e os tomadores de decisão (as pessoas que têm
autoridade para tomar decisões em relação ao programa).
Dentro desse aspecto, é viável pensar que as avaliações dos programas
de atividades físicas podem se basear na compreensão e entendimento de
diversos objetivos.

Objetivos dos programas de atividade física


Os objetivos da atividade física em programas de promoção da saúde são
diversos, uma vez que sabemos da sua importância para a qualidade de vida e
dos inúmeros enfoques a qual pode ser abordada. No entanto, eles geralmente
estão relacionados aos hábitos comportamentais que se direcionam à quali-
dade de vida. Entre os objetivos mais comuns de tais programas, elencamos
os seguintes exemplos (U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN
SERVICES, 2003).

Programas voltados ao desenvolvimento


de atividade física de adultos

„ Reduzir a proporção de adultos que não se dedicam a nenhuma atividade


física de lazer.
„ Aumentar a proporção de adultos que se dedicam a atividades físicas
vigorosas que promovem o desenvolvimento e a manutenção da saúde
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
57
8 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

cardiorrespiratória durante 3 dias ou mais por semana, por períodos de


20 minutos ou mais a cada vez.

Programas voltados para força muscular/resistência


e flexibilidade

„ Aumentar a proporção de adultos que se dedicam a atividades físicas


que melhoram e mantêm tanto a força quanto a resistência muscular.
„ Aumentar a proporção de adultos que se dedicam a atividades físicas
que melhoram e mantêm a flexibilidade.

Programas voltados à atividade física de crianças


e adolescentes

„ Aumentar a proporção de adolescentes que se dedicam a atividades


físicas moderadas ao menos 30 minutos em 5 dias ou mais dos 7 dias
anteriores.
„ Aumentar a proporção de escolas públicas e privadas nacionais que
exigem educação física diária para todos os alunos.
„ Aumentar a proporção de adolescentes que participam diariamente da
educação física escolar.
„ Aumentar a proporção de adolescentes que permanecem fisicamente
ativos durante no mínimo 50% do tempo da aula de educação física
escolar.
„ Aumentar a proporção de adolescentes que assistem televisão durante
2 horas ou menos em dias de aula.

Programas voltados ao acesso à atividade física

„ Aumentar a proporção de escolas públicas e privadas nacionais que


fornecem acesso a espaços e instalações destinadas à prática de ativi-
dades físicas para todas as pessoas fora do horário normal da escola
(isto é, antes e depois da jornada escolar, nos fins-de-semana e durante
o verão e outras férias).
„ Aumentar a proporção dos locais de trabalho que fornecem programas
de saúde e atividade física patrocinados pelo empregador.
„ Aumentar a proporção de trajetos percorrido a pé.
„ Aumentar a proporção de trajetos percorridos de bicicleta.
58 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 9

Recolhendo evidências confiáveis


Dentro dos inúmeros enfoques que a atividade física pode ter, objetivando
mudanças sociais e estruturais diversas, é necessário que as avaliações sejam
coerentes e confiáveis para melhor analisar os objetivos alcançados e delimitar
o que ainda pode ser feito. Diversas ferramentas podem ser utilizadas nesse
sentido, desde questionários até a utilização de tecnologias que mensurem os
níveis de atividade física, como, por exemplo, os pedômetros.
Após definir o que se quer avaliar, é importante destacar também quando
se deve avaliar os programas. De modo geral, podemos estabelecer que as
avaliações devem ocorrer antes e após a intervenção, de modo a acompa-
nhar os efeitos imediatos causados. Podem ser realizadas também avaliações
no decorrer do programa, buscando identificar pontos a serem melhorados.
Ainda, podem ser realizadas avaliações após o término do programa, como
forma de acompanhar as mudanças comportamentais que ocorreram e como
a sustentabilidade do programa tem se mantido.
Logo, a partir dos objetivos estabelecidos, podemos realizar algumas me-
didas e formas de avaliação que buscam identificar o nível de atividade física,
as quais podem estar diretamente ou indiretamente relacionadas à frequência
de atividade física realizada por cada indivíduo. Existem diversas formas
de avaliar um programa de atividade física em nível individual. Em termos
gerais, podemos classificá-las em medidas diretas, indiretas e de intervenção.
As medidas diretas buscam identificar os níveis de atividade física rea-
lizada por determinado indivíduo. Para se obter essa quantidade, protocolos
realizados através de questionários e de tecnologias como pedômetros e ace-
lerômetros podem ser indicados.
As medidas indiretas referem-se à aptidão física dos indivíduos. Pessoas
que praticam atividades físicas regulamente e adotam outros hábitos saudá-
veis em suas rotinas tendem a apresentar alguns padrões antropométricos e
de aptidão física. Assim, podemos considerar que aqueles indivíduos que se
encontram dentro de uma normalidade possuem a circunferência abdominal,
o índice de massa corporal e um preparo físico atendendo a certo padrão.
As medidas de intervenção buscam identificar os hábitos que determi-
nados sujeitos possuem e avaliar a eficácia dos programas de intervenção em
saúde quanto aos resultados de seus objetivos. Outra vez, os questionários
são frequentemente utilizados.
O Quadro 1 apresenta algumas das avaliações possíveis de serem realizadas
e suas fontes de dados. Certamente, este quadro não é completo, uma vez que
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
59
10 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

cada programa possui seus objetivos, e os instrumentos e protocolos avaliativos


devem se atrelar a estes. No entanto, apresentamos um panorama geral.

Quadro 1. Indicadores de atividade física

Avaliação Fonte de dados Comentários

Medidas diretas

Níveis de Questionário Um MET corresponde ao índice


intensidade metabólico de repouso, quando
metabólica a pessoa está sentada e tranquila.
equivalentes Quando se expressam minutos
(MET*) num autorrelatório, cria-se uma
(minutos MET medida padronizada de atividade
por dia ou física que pode ser comparada com
semana) outros minutos MET de atividade.
Baixa: 6 METs Faça um cálculo com dados de
um relatório de atividade física
da semana anterior da seguinte
maneira: Min. MET/dia = (frequência
× tempo × intensidade) / 7 dias

Minutos de Questionário Por minutos ou minutos MET, pode


atividade física ser útil separar os seguintes tipos
por dia ou de atividade física, de acordo com
por semana os respondentes: relacionada ao
trabalho; transporte; trabalho de
casa, manutenção da casa e cuidados
da família; e recreação, esportes e
tempo de lazer. Note que os minutos
brutos de atividade física não
incluem a intensidade da atividade.
Faça um cálculo com dados de um
relatório de atividade física da semana
anterior, da seguinte maneira: Minutos/
dia = (frequência × tempo) / 7 dias

Passos Pedômetro Dispositivo simples e relativamente


caminhados econômico para avaliar a mobilidade
por dia ou
semana
(Continua)
60 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 11

(Continuação)

Quadro 1. Indicadores de atividade física

Avaliação Fonte de dados Comentários

Medidas diretas

Gasto de Acelerômetro O acelerômetro mede duas ou


energia (GE) três dimensões de movimento.
por dia ou O software pode calcular o GE
semana baseado na idade, no sexo, na
altura e no peso de uma pessoa

Medidas indiretas

Circunferência Medida com


da cintura fita métrica

Razão Medida com Equivale à circunferência da cintura


cintura-quadril fita métrica dividida pela circunferência dos quadris

Índice de Balança IMC= peso (kg) / altura (m)2


massa corporal Painel para
(IMC) medir altura
Autorrelatório

Preparo físico Esteira O Colégio Americano de Medicina


aeróbico Testes de do Esporte estabeleceu e publicou
(VO2 máx.) bicicleta protocolos válidos para todos esses
Testes com step testes, para medir o preparo aeróbico.
O VO2 máximo pode ser estimado pelo
ritmo cardíaco ou medido diretamente

Preparo físico Tempo de O tempo para completar a


aeróbico caminhada/ distância de 1,6 Km é uma medida
(medido no corrida semanal indireta do preparo físico
campo)

Preparo físico Tempo de A distância percorrida em 6 minutos


aeróbico caminhada/
de jovens corrida

Medidas de intervenção

Conhecimento Questionário Os respondentes conhecem os


níveis e a frequência recomendados
de atividade física? Conhecem as
diferentes recomendações para uma
atividade física moderada versus
uma atividade física vigorosa?

(Continua)
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
61
12 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

(Continuação)

Quadro 1. Indicadores de atividade física

Avaliação Fonte de dados Comentários

Medidas de intervenção

Atitudes Questionário O que os respondentes acham sobre


ser ativo fisicamente? O que acham que
acontecerá com eles se aumentarem
seus níveis de atividade física? Qual
é o grau de confiança sobre sua
capacidade de fazer atividades físicas?

Etapa de Questionário Os entrevistados podem estar em


mudança diferentes etapas na mudança
de comportamento. Diferentes
intervenções são adequadas para
diferentes etapas da mudança, e o
progresso pode ser medido avaliando
a progressão através das etapas

Fonte: Adaptado de U.S. Department of Health and Human Services (2003).

Avaliação do programa
Além da avaliação das modificações comportamentais, de hábitos e de aptidões
nos sujeitos de maneira individual, é preciso também realizar uma avaliação
do programa. Essa medida se faz necessária para identificar os pontos fortes e
fracos na elaboração dos objetivos, desenvolvimento do programa e resultados
obtidos.
Além disso, é importante para saber se ele está articulado às políticas
regionais de promoção da saúde, para a reavaliação epidemiológica. Nesse
sentido, Pedrosa (2004) salienta que a avaliação da promoção da saúde necessita
ser participativa, onde os atores envolvidos negociam, pactuam e decidem de
forma coletiva, a fim de atingir as mudanças desejadas.
62 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 13

Para melhor compreender o processo de avaliação dos programas de promoção de


saúde, elencamos algumas perguntas que podem ser feitas para identificar os pontos
fortes e fracos, elaboradas por Oliveira et al. (2017).
1. O Programa de Promoção da Saúde contou com a participação de outros setores com
vínculo na promoção da saúde (educação, assistência social, meio ambiente, outros)?
2. O Programa de Promoção da Saúde contou com a participação dos gestores de
saúde locais?
3. O Programa de Promoção da Saúde contou com a participação de diferentes
partes interessadas?
4. O Programa de Promoção da Saúde contou com parcerias de outras instituições
municipais, estaduais e federais?
5. O espaço disponível para realizar o Programa de Promoção da Saúde era adequado?
6. O Programa de Promoção da Saúde obteve recursos financeiros necessários para
sua realização?
7. Houve adesão da equipe para realizar o Programa de Promoção da Saúde?
8. Foi realizado levantamento dos conhecimentos, atitudes e práticas da população?
9. Foi realizado levantamento socioambiental da população?
10. Foi realizado levantamento epidemiológico da população?
11. A equipe, ao identificar situações de vulnerabilidade (casos complexos e/ou singu-
lares) de indivíduos ou de grupos, teve capacidade de produzir respostas?
12. Foi realizada Ação Educativa (atividades físicas, oficinas informativas, distribuição
de material informativo, etc.)?
13. Houve adesão da população à Ação Educativa realizada?
14. Houve a participação de profissionais de outras áreas de formação?
15. Foi realizado levantamento socioambiental da população após a Ação Educativa?
16. Foi realizado levantamento dos conhecimentos, atitudes e práticas da população
após a Ação Educativa?
17. Foi realizado levantamento do perfil epidemiológico da população após a Ação
Educativa?
18. A população e a(s) parte(s) interessada(s) participaram da definição de prioridade
dos temas abordados na Ação Educativa?
19. Quais as mudanças identificadas em decorrência da Ação Educativa?
20. Os resultados foram discutidos pela equipe local e gestores?
21. Houve indicação de desdobramentos e/ou aprofundamento dos temas a partir da
avaliação dos resultados do Programa de Promoção da Saúde?

Evidentemente, em muitos dos casos as avaliações podem ser realizadas


com diversos instrumentos ao mesmo tempo. Por exemplo, mesclando ques-
tionários, testes de aptidão física e medidas de conhecimento em um mesmo
programa de intervenção, de modo a aferir o programa a partir de diferentes
perspectivas. Na próxima seção, vamos buscar desenvolver um programa de
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
63
14 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

atividades físicas voltado ao incremento da saúde e da qualidade de vida,


articulando os tópicos até aqui relacionados.

Organização do programa
Caminhando até a escola
Como viemos discutindo até aqui, os programas de atividades físicas são
diversos e podem envolver diferentes elementos que serão necessários para
o seu desenvolvimento e sua avaliação. Assim, existem vários caminhos
possíveis de serem percorridos na elaboração de programas de saúde. Nesta
seção, vamos buscar desenvolver de forma prática um programa de atividades
físicas voltado ao incremento da saúde e da qualidade de vida. Uma das formas
possíveis de desenvolver tais propostas ocorre através dos modelos lógicos.
Um modelo lógico é um esquema que traça os principais caminhos a
serem percorridos durante o planejamento, desenvolvimento e avaliação dos
programas. Durante o percurso, metas podem ser reelaboradas para melhor
atingir os objetivos. Para melhor exemplificar, a Figura 1 demonstra alguns
dos principais tópicos que devem estar presentes em um modelo lógico.

INSUMOS FATORES INFLUENCIADORES


Investimentos ou O ambiente no qual é aplicado o programa (ex.: política, outras
recursos (ex.: tempo, iniciativas, fatores socioeconômicos, rotatividade de pessoal, normas
pessoal, voluntários, e condições sociais, histórico do programa, fase de desenvolvimento)
recursos financeiros, e que pode afetar seu êxito, positiva ou negativamente.
materiais.)

ATIVIDADES
RESULTADOS RESULTADOS
Eventos ou ações PRODUTOS
(ex.: workshops, INICIAIS INTERMEDIÁRIOS
Produtos
Efeitos do Resultados a
desenvolvimento diretos do
de plano de aulas, programa a médio prazo
programa
treinamento, marketing curto prazo (ex.: mudanças
(ex.: número
(ex.: mudanças comportamentais,
social, eventos de pessoas
no grau de normativas ou nas
especiais, defesa de alcançadas
conhecimento, políticas)
direitos) ou sessões
nas atitudes,
realizadas)
habilidades,
nível de
conscientização)
PRESTE ATENÇÃO ÀS SETAS RESULTADOS A
As setas do modelo lógico representam os vínculos entre LONGO PRAZO
as atividades e os resultados. Considere cada seta como OBJETIVO Impacto final
uma ponte entre dois quadros. Para construir essas Missão ou finalidade (ex.: mudanças
pontes, utilize teorias (consulte o Apêndice 3), pesquisas, do programa sociais ou
resultados de pesquisas anteriores, intervenções ambientais)
fundamentadas (consulte o Apêndice 2) ou modelos de
programas.

Figura 1. Componentes de um modelo lógico.


Fonte: U.S. Department of Health and Human Services (2003, p. 17).
64 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 15

Envolvendo os aspectos até aqui mencionados, vamos elaborar um programa


de intervenção voltado à adoção de hábitos de atividades físicas em crianças.
A atividade física, como sabemos, é um dos indicadores de qualidade de vida.

Tema e desenvolvimento
Como tema central está o fato de crianças praticarem poucas atividades físicas
diárias. A intervenção será necessária para que adotem a caminhada de suas
residências até a escola, todos os dias. Nessa fase, alguns elementos devem ser
realizados de forma a compreender e descrever com profundidade o problema.
Exemplificamos a seguir algumas das questões e respostas que podem servir
de exemplo para a elaboração da descrição e compreensão do programa (U.S.
DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 2003).

a) Qual é a natureza do problema?


A atividade física é um dos 10 principais indicadores de saúde de uma
nação (U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES,
2000).
b) Qual é a dimensão do problema (incluindo as subpopulações)?
De acordo com o Sistema de vigilância de comportamento de risco
juvenil, apenas 45% dos alunos apresentam o nível de atividade física
semanal recomendada.
c) Quais são as consequências do problema em relação à saúde?
A inatividade física é um dos fatores que leva a diversas doenças
ou condições crônicas, como obesidade, doenças cardiovasculares e
osteoporose.
d) O que causa o problema?
De acordo com os dados da instituição de ensino, apenas 40% dos
alunos praticam e/ou praticaram atividades físicas diárias no ambiente
escolar. A origem da inatividade física pela maioria dos remetem à
falta de espaços de práticas corporais diversas e a indisponibilidade
de programas de promoção da atividade física.
e) Que mudanças ou tendências estão surgindo?
De acordo com o diretor da escola, a participação em Educação Física
tem diminuído e, a cada ano, menos crianças andam ou pegam ônibus
para ir à escola, porque um maior número de pais as leva à escola de
carro.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
65
16 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

Existem diversas experiências de programas de atividades


físicas sendo desenvolvidos pelo Brasil. No link ou código a
seguir, você pode visualizar de experiências realizadas pelo
Grupo de Pesquisa em Atividade Física do GEPAF (Grupo
de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Atividade
Física e Saúde) da Universidade de São Paulo.

https://goo.gl/4h9v78

Insumos
Como abordamos neste capítulo, os recursos humanos necessários nem sempre
envolvem apenas os participantes diretos no programa. No exemplo que estamos
seguindo, cujo enfoque é aumentar a atividade física diária de crianças através
das caminhadas diárias de suas residências até a escola, será necessária a
participação da comunidade escolar, como os pais e responsáveis dos alunos,
que os guiarão até a instituição de ensino, os professores das instituições e os
próprios alunos, obviamente.
A adesão a esse programa também deve ser realizada por voluntários,
que podem realizar a sinalização do trânsito e o acompanhamento dessas
crianças. Além disso, é imprescindível, nesse caso, a concordância e adesão
das instituições de ensino, responsabilizando-se pelo fomento do programa
e pela interlocução com os pais e responsáveis. Em um caráter mais amplo,
outros participantes podem ser envolvidos, como os governos municipais e
estaduais, providenciando a segurança necessária nos entornos das escolas
com as patrulhas escolares e as sinalizações de ruas adequadas. Nessa fase,
os modelos lógicos se mostram importantes ferramentas para construir a ação
a ser desenvolvida.

Atividades
As atividades são as ações que serão desenvolvidas para aumentar a atividade
física e incrementar a qualidade de vida entre os estudantes. Selecionamos
algumas ideias que podem dar potência ao desenvolvimento e entusiasmo
dos participantes.
66 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 17

„ Buscar a parceria com os professores da instituição de ensino para


fomentar a importância da atividade física diária. Por exemplo, os pro-
fessores de geografia podem trabalhar os mapas locais; os professores
de artes, retratarem as paisagens do bairro; o professor de Educação
Física, desenvolver caminhadas orientadas na comunidade e abordar os
efeitos da atividade e inatividade física no corpo humano; o professor
de Ciências, os impactos que os combustíveis fósseis causam ao meio
ambiente; o professor de língua portuguesa, na elaboração de textos e
redações que versem acerca dos caminhos percorridos e das aprendi-
zagens com o programa; o professor de física, discutir as relações de
velocidade, tempo e distância dos diferentes percursos que são traçados
e realizados pelos alunos.
„ Estabelecer metas a serem desenvolvidas pelos participantes. Por exem-
plo, na primeira semana, realizar ao menos uma vez o percurso. No
caso de alunos que moram longe da escola, podem se dirigir de carro
até um local próximo da escola, completando o trajeto a pé.
„ Estabelecer formas alternativas de deslocamento, como a bicicleta e
o skate.
„ Buscar incentivo dos meios de comunicação local, dando visibilidade
através de reportagens e entrevistas com os praticantes.
„ Realizar alongamentos coletivos antes do início das aulas na instituição
de ensino.
„ Promover a comunicação entre os pais dos alunos, formando redes
de parceria e acompanhamento compartilhado dos estudantes em seu
trajeto.

Uma das grandes preocupações dos pais em relação ao trajeto até as instituições de
ensino é a violência dos centros urbanos. Para superar este desafio, algumas cidades
norte-americanas estabeleceram redes de cuidado coletivo às famílias utilizando-se da
própria presença dos pais e dos comerciantes na vigilância do trajeto até a escola. Como
resultado, os índices de tráfico e de outros tipos de crime reduziram drasticamente
nessas regiões. Outras ações, como o uso de lombadas (dificultando o acesso e a saída
rápida de consumidores de drogas e assaltantes em veículos), semáforos e câmeras
também incrementam a segurança pública.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
67
18 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

Focalizar a avaliação
A avaliação ocorre no sentido de adquirir conhecimentos acerca do tema
abordado, melhorar o programa e avaliar seus efeitos. Assim, a avaliação deve
buscar indicadores que apresentem os recursos que foram utilizados e os efeitos
do programa nos participantes diretos e indiretos, assim como seus efeitos
frente às dificuldades encontradas. No Quadro 2, apresentamos um roteiro
que pode ser elaborado na avaliação do programa que estamos apresentando.

Quadro 2. Exemplo de avaliação do programa

Perguntas da Fontes de Indicadores de


Indicadores
avaliação dados desempenho

Em que medida Número de Registros Total de 25


a implementação voluntários. administrativos. voluntários,
do programa Faixa etária dos Registros das inclusive 5
utiliza recursos voluntários. atividades dos voluntários
da comunidade? Tempo total de voluntários. principais.
trabalho dos Entrevistas com O tempo total
voluntários. informantes- de trabalho dos
Descrição das chave voluntários cobre
atividades dos (professores, pais, as necessidades.
voluntários. responsáveis). As atividades
Contribuições dos voluntários
de recursos cobrem as
escolares ao necessidades.
programa. A escola
contribuiu para
o programa.

Quais são os Número de Inquéritos com Aumento de


efeitos do dias em que pais e filhos 15% no número
programa nas as crianças (antes, durante de dias por
crianças de foram a pé ou e depois do semana que as
idade escolar? de bicicleta programa). crianças foram
até a escola na à escola a pé ou
semana anterior. de bicicleta.
Disposição das Aumento de
crianças de ir a 20% na média
pé à escola. da escala sobre
a disposição
das crianças.

(Continua)
68 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 19

(Continuação)

Quadro 2. Exemplo de avaliação do programa

Perguntas da Fontes de Indicadores de


Indicadores
avaliação dados desempenho

O programa teve Conhecimento Inquérito em Aumento de 50%


algum efeito das residências da no conhecimento
sobre outros recomendações comunidade dos membros
membros da de atividade (antes, durante da comunidade
comunidade? física por parte e depois do sobre as
dos membros da programa; ou recomendações
comunidade. apenas membros de atividade
Intenção dos específicos da física.
membros da comunidade Aumento de 20%
comunidade depois do nas intenções
de praticar programa). dos membros da
exercícios. Entrevistas com comunidade de
Exercícios informantes- fazer exercícios.
realizados pelos chave. Aumento de 10%
membros da em exercícios
comunidade nos por parte dos
últimos 7 dias. membros da
Escala de coesão comunidade nos
da comunidade. últimos 7 dias.
Aumento de
15% na escala
referente à
coesão da
comunidade.

Qual foi o efeito Descrição dos Inquérito sobre Melhorias


do programa obstáculos a possibilidade qualitativas nos
quanto aos a andar a de andar a pé obstáculos a
obstáculos a pé antes da (através de andar a pé.
andar a pé? implementação observações). O trabalho
do programa. Entrevistas com planejado de
Descrição dos informantes- ativismo para
obstáculos chave. andar a pé foi
de andar a Questionários realizado.
pé, depois do para voluntários.
programa.
Quantidade e
qualidade dos
trabalhos de
ativismo para
andar a pé.

Fonte: Adaptado de USDPHHS (2003, p. 27).


Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
69
20 Programas de Educação Física na promoção daProgramas
saúde de Educação Física na Promoção da Saúde | PARTE 3

Após a execução dos programas de promoção da saúde e de qualidade de


vida, os indicadores apontam os efeitos dos programas, as principais facilida-
des e dificuldades em desenvolvê-lo. É importante também que os resultados
obtidos sejam compartilhados, seja apontando as informações mais relevantes
para que outros profissionais que atuam com a promoção da saúde tenham
acesso às informações produzidas e aos principais efeitos e desafios, possibi-
litando antever estas questões, adaptando o programa à outras comunidades.
Finalizando, a atividade física é fundamental para a promoção da saúde
e para a qualidade de vida. Nesse sentido, é importante que os profissionais
de Educação Física busquem ativamente desenvolver programas que propor-
cionem à população uma vida fisicamente ativa. Como vimos neste capítulo,
a promoção da saúde deve ser abordada em caráter multiprofissional e com
estratégias variadas, uma vez que somente a atividade física não é eficiente
em elevar a saúde populacional. Além disso, os programas de saúde sempre
devem contar com o engajamento dos participantes, sejam diretos ou indiretos,
de forma a manter o empoderamento e a continuidade individual e coletiva
das mudanças dos hábitos mesmo após finalizada a intervenção.

CERQUEIRA, M. T. Promoción de la salud y educación para la salud: retos y perspectivas.


In: ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. La promoción de la salud y la educación para
la salud en América Latina: un análisis sectorial. Genebra: Editorial de La Universidad
de Puerto Rico, 1997. p. 7-48.
JACOBI, P. Poder local, políticas sociais e sustentabilidade. Saúde e Sociedade, v. 8, n.
3, p. 31-48, 1999.
JUNQUEIRA, R. G. P. A intersetorialidade do ponto de vista da educação ambiental: um
estudo de caso. Revista de Administração Pública, v. 32, n. 2, p. 79-91, 1998.
OLIVEIRA, R. T. Q. et al. de avaliação de programas de promoção da saúde em territó-
rios de vulnerabilidade social. Ciência & Saúde Coletiva, n. 22, v. 12, p. 3915-3932, 2017.
PEDROSA, P. I. S. Perspectivas na avaliação em Promoção da Saúde: uma abordagem
institucional. Ciência e Saúde Coletiva, n. 9, v. 3, p. 617-626, 2004.
U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. Healthy people 2010: unders-
tanding and improving health. 2. ed. Washington, DC: Government Printing Office,
2000. 2 vol. Disponível em: <https://www.healthypeople.gov/2010/document/pdf/
uih/2010uih.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018.
70 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Programas de Educação Física na promoção da saúde 21

U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. Physical activity evaluation han-
dbook. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease
Control and Prevention, 2003.
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In: WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health promotion: concepts and principles, a selec-
tion of papers presented at Working Group on Concepts and Principles. Copenhagen:
Regional Office for Europe, 1984. p. 20-23.
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ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Promoción de la salud: una antología.
Washington, DC: OPAS, 1996. p. 367-372.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. European Working Group on Health Promotion
Evaluation. Health promotion evaluation: recommendations to policymakers. Cope-
nhagen: WHO, 1998.

Leituras recomendadas
FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; FLETCHER, G. S. Epidemiologia clínica: elementos
essenciais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
HAYNES, R. B. et al. Epidemiologia clínica: como fazer pesquisa clínica na prática. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2008.
HULLEY, S. B. et al. Delineamento a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica.
4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA


SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

Parte 4
Adesão à Atividade Física

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é disponibilizado
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72 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Adesão à atividade física


Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Identificar os motivos para a adesão de adultos a protocolos de trei-


namento físico.
„ Reconhecer os fatores que aumentam ou reduzem a adesão de idosos
a programas de atividades físicas.
„ Estabelecer medidas e estratégias para aumentar a adesão aos pro-
gramas de atividades físicas no âmbito da saúde.

Introdução
Embora possamos presenciar uma crescente oferta de programas de pro-
moção da saúde por meio da atividade física, a participação da população
ainda é pouco efetiva. Além disso, mesmo aqueles que decidem participar
de programas de atividades físicas acabam desistindo poucas semanas
ou poucos meses depois de iniciá-las. Para compreender os motivos da
baixa participação nesses tipos de programas, é fundamental entender
as principais razões pelas quais os indivíduos iniciam, permanecem e
desistem das atividades.
Neste capítulo, você vai estudar os motivos que levam à adesão de
adultos aos protocolos de treinamento físico, diferenciará os principais
fatores que aumentam ou reduzem a adesão de idosos aos programas
de atividades físicas e estabelecerá algumas medidas e estratégias para
aumentar a adesão a esses programas com vistas à promoção da saúde.

Motivos para a adesão de adultos


a protocolos de treinamento físico
A atividade o exercício físico são importantes fatores para a promoção da
saúde e da qualidade de vida (HOWLEY; FRANKS, 2000; SHEPHARD,
1997; PATE et al., 1995). Ainda que possamos vislumbrar o aumento de
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
73
2 Adesão à atividade física

políticas públicas voltadas à promoção da saúde e o surgimento de muitos


estabelecimentos de práticas corporais diversas, como academias de ginástica,
centros de lutas, salões para danças, ginásios esportivos, entre outros, apenas
uma pequena parcela da população brasileira pratica atividades físicas (LIZ;
ANDRADE, 2016).
As academias de ginástica, que geralmente possuem um acesso mais facili-
tado em termos logísticos e financeiros, além de contarem com a possibilidade
do acompanhamento profissional constante, em geral, são os locais preferidos
por adultos sedentários que aderem a uma vida mais ativa. No entanto, dados
do American College of Sports Medicine (2000) sugerem que apenas 5% dos
adultos que não costumam praticar exercícios físicos, ao iniciarem um pro-
grama de atividades físicas estruturado, aderem à prática. Do mesmo modo,
no Brasil, as taxas de evasão das academias são bastante altas. Cerca de 70%
dos praticantes desistem da regularidade de sua prática, após algumas semanas
ou poucos meses de prática (ALBUQUERQUE; ALVES, 2007).
Assim, Santos e Knijinik apontam que existem quatro possibilidades de
comportamento frente aos programas de exercícios físicos:

Adoção: Crença dos benefícios proporcionados à saúde; é provável que a mo-


tivação esteja mais relacionada ao bem-estar. Motivadas por fatores internos
e/ou externos ao indivíduo.
Manutenção: mais automotivados, estabelecendo as suas próprias metas, tem
apoio familiar, a adesão está mais relacionada às sensações de bem-estar e
prazer, não percebem inconveniência nos exercícios.
Desligamento: falta de tempo, e a inconveniência, falta de motivação, fatores
situacionais, ocorre em maior número nos que têm histórico de inatividade
ou baixas capacidades físicas e motoras.
Retomada da atividade: melhor habilidade de administração do tempo,
sensação de controle e autoconfiança, metas mais flexíveis e pensamento
positivo. (SANTOS; KNIJINIK, 2006, p. 26).

Frente a isso, é possível pensar que a adesão aos exercícios físicos ocorre a
partir de fatores internos ou externos aos indivíduos, como as características
pessoais (sexo, idade, raça, ocupação, tabagismo, renda, estado médico, conhe-
cimento, experiência na prática, atitudes, crença) e os atributos psicológicos/
comportamentais (traços, habilidades). Ou seja, a adesão pode ser considerada
como um nível de participação alcançado em um regime comportamental, de
forma voluntária, individual ou em grupo (MARCUS; FORSYTH, 2003). De
modo geral, podemos caracterizar a adesão em três categorias:
74 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Adesão à atividade física 3

„ Variáveis sociodemográficas: envolvem o sexo, a idade, o nível de


escolaridade, a renda, o estado conjugal, a ocupação, a percepção do
estado de saúde e as morbidades referidas. Normalmente, indivíduos
de maior escolaridade, com maior renda e do sexo masculino são mais
propensos a aderir aos programas de atividades físicas.
„ Variáveis cognitivas/personalidade: envolvem a autoeficácia e a per-
cepção do nível de estresse. Indivíduos que possuem maior autoeficácia
e uma tolerância maior ao estresse são mais propensos a aderir aos
programas de atividades físicas.
„ Variáveis de comportamento: envolvem os hábitos e as experiências
dos praticantes. A adesão aos programas de atividades físicas é mais
efetiva em indivíduos que praticavam esportes e vivenciaram experi-
ências positivas na infância e na adolescência.

Elencamos, portanto, alguns motivos que têm sido relatados e que têm
ganhado destaque na literatura como contribuintes para a adesão de adultos
a protocolos de treinamento físico.

A prevalência dos motivos para a adesão de adultos à prática de atividades físicas


também depende do contexto sociocultural. Ou seja, em bairros mais favorecidos
economicamente, é mais comum vermos mais pessoas adeptas às práticas corporais. Do
mesmo modo, a importância que determinado grupo social demanda sobre a atividade
física é fundamental nas prevalências de adeptos às práticas. Dessa forma, a ordem
que estabelecemos nessa seção pode não ser a ordem de prevalência evidenciada
em todos os grupos sociais.

Recomendação médica
Entre as motivações que levam os indivíduos adultos a praticarem algum
tipo de atividade física estruturada, a recomendação médica é apontada por
Santos e Knijinik (2006) como uma das principais. A saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência
de doença ou de enfermidade. Nessa perspectiva, a saúde é um processo de
busca constante, não restringe-se apenas ao tratamento de doenças. É possível
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
75
4 Adesão à atividade física

reconhecer que para muitas pessoas a saúde ainda é vista como a ausência de
doenças, uma vez que a busca das atividades físicas só ocorre após a orientação
médica, quando uma patologia já apresenta sinais de desenvolvimento.
O sedentarismo ou a baixa atividade física auxilia no processo de desen-
volvimento direto ou indireto de inúmeras patologias. A hipocinesia favorece
o desenvolvimento da obesidade que, por sua vez, aumenta os riscos de de-
senvolvimento de doenças cardiovasculares (TRICHES; GIUGLIANI, 2005).
O surgimento dos sintomas e sinais da obesidade, da hipertensão arterial, da
hipercolesterolemia e de outros processos de regressão funcional, como a
perda da flexibilidade, a atrofia das fibras musculares e o comprometimento
funcional de vários órgãos, direcionam os sujeitos para os sistemas de saúde
na busca de auxílio médico. Associados aos tratamentos medicamentosos e de
mudança de hábitos alimentares, as pessoas são orientadas a procurar alguma
atividade física para ser desenvolvida de forma regular.
Podemos salientar, então, que a busca por atividades físicas, em grande parte
das vezes, é para enfrentar patologias que já demonstram sinais e sintomas
nos sujeitos. Nessa direção, a atividade física ainda é relacionada como um
instrumento de tratamento de doenças e também uma prática considerada
dispensável na vida adulta por grande parte da população.

Estética e autoconceito
Outro motivo bastante grande que leva os adultos à prática de exercícios
físicos é a preocupação com a estética. Na vida adulta, algumas modificações
corporais começam a ocorrer, como os declínios das capacidades físicas e a
mudança da composição corporal (PAPALIA; OLDS, 2000). Esses fenômenos
levam as pessoas a aderirem à prática de alguma atividade física sistematizada
como forma de recuperar certa aparência física ou na tentativa de retardar as
suas modificações.
No mesmo sentido, Codo e Senne (1984) já apontavam, há algumas décadas,
que o boom das academias de ginástica, iniciado entre as décadas de 1970 e de
1980, e influenciado por padrões inseridos nos moldes capitalistas, indicava
que esses espaços estavam servindo para a promoção de um corpo “desejável”
esteticamente. Atualmente, como apontado por Baptista (2001) a busca por
um ideal de corpo belo, o qual deve ser magro e de traços musculares bem
definidos, tem motivado adultos a procurarem as academias de ginástica. Cabe
salientar que o “belo” esteve por muitos anos direcionado ao sexo feminino
apenas. A presença do público do sexo masculino com o objetivo de aumentar
o autoconceito estético tem aumentado nas academias de ginástica.
76 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Adesão à atividade física 5

Convergindo com a busca estética, é possível pensar também que boa parte
dos praticantes aderem às práticas de exercícios físicos com o objetivo de
aumentarem o autoconceito. Tamayo et al. (2001, p. 158) define o autoconceito
como uma “[...] estrutura cognitiva que organiza as experiências passadas do
indivíduo, reais ou imaginárias, controla o processo informativo relacionado
consigo mesmo e exerce uma função de autorregulação”. Ou seja, podemos
elaborar que o autoconceito traduz as representações mentais elaboradas pelo
indivíduo sobre as próprias características. Os mesmos autores, em pesquisa
realizada com adultos praticantes e não praticantes de atividades físicas,
concluíram que, aliadas às concepções de beleza que os exercícios físicos
podem proporcionar, também se encontram as perspectivas de aumento de
autoconfiança e autocontrole.

Lazer e qualidade de vida


O lazer não é visto apenas como modo de ocupação dos tempos nos quais
as atividades laborais não estão sendo desempenhadas, mas está também
associado ao sentimento de diversão e de satisfação pessoal. Muitas empresas
têm surgido nesse campo, à medida em que o lazer passou a ganhar destaque
como uma das necessidades do ser humano para a manutenção da qualidade
de vida. Nesse aspecto, as atividades de satisfação pessoal e que estão relacio-
nadas também com a prática de atividades físicas, contribuem para a adesão
de adultos aos programas de exercícios físicos.
Sávio et al. (2008) apontam que a adesão às atividades físicas como modo
de lazer tem aumentado nos últimos anos, embora o número de praticantes
ainda seja baixo. Entre os praticantes de atividades físicas nos momentos de
lazer, é bastante evidente a predominância de indivíduos do sexo masculino,
de alta escolaridade e de renda média.
Ainda que possamos traçar algumas aproximações gerais quanto aos pro-
cessos de adesão à prática de exercício físico por adultos, é evidente que outras
motivações também podem se fazer presentes entre esses sujeitos. Por exemplo,
buscar uma atividade física que possa minimizar os efeitos da gravidez, aderir
a alguma prática como fator motivacional a algum membro da família ou
amigo próximo, como tantas outras possibilidades. O que buscamos, portanto,
foi traçar alguns motivos mais evidentes para a adesão de adultos, de forma
específica, uma vez que cada fase da vida possui suas próprias motivações,
como no caso dos idosos, que veremos a seguir.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
77
6 Adesão à atividade física

Fatores que aumentam ou reduzem a adesão


de idosos a programas de atividades físicas
Por muito tempo, os idosos representavam uma pequena parte da pirâmide
etária brasileira. No entanto, nas últimas décadas, algumas modificações da
estrutura etária vêm ocorrendo devido à interação entre o aumento da ex-
pectativa de vida e a diminuição do índice de fecundidade (BERQUÓ, 1999).
Aliado a isso, o aumento do número de idosos e da longevidade permitem que
as pessoas possam preocupar-se com o envelhecimento saudável, de forma a
evitar ou diminuir os efeitos causados pelo envelhecimento.
Nesse sentido, os programas de atividades e exercícios físicos voltado
ao público idoso se tornam cada vez mais frequentes. Entre as ativida-
des preferidas por esse público, algumas modalidades específicas têm se
destacado:

„ hidroginástica;
„ ginástica;
„ ioga;
„ dança;
„ musculação;
„ ciclismo;
„ tênis;
„ natação;
„ cavalgada;
„ golfe. (VARANDA, 2003).

A adesão às atividades físicas pode ser considerada um grau de participação


alcançado em um regime comportamental, de forma voluntária, individual ou
em grupo. Nesse sentido, algumas motivações parecem aumentar ou diminuir
o grau de motivação e de envolvimento em programas de atividades físicas,
especialmente em idosos, os quais vamos discutir a seguir e cuja síntese pode
ser apresentada no Quadro 1.
78 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Adesão à atividade física 7

Quadro 1. Motivos de ingresso, permanência e desistência de idosos aos programas de


atividades físicas

Ingresso Permanência Desistência

„ Indicação médica „ Saúde „ Percepção de


„ Problemas de saúde „ Convivência em grupo insegurança
„ Qualidade de vida e „ Atividade física „ Falta de apoio
saúde „ Atendimento oferecido social
„ Atividade física pelo programa „ Falta de incentivo
„ Acompanhamento „ Melhoria da qualidade familiar
„ Lazer de vida
„ Indicação geral

Fonte: Adaptado de Lopes et al. (2014).

Melhora da saúde
Com o envelhecimento, várias alterações fisiológicas começam a ocorrer no
indivíduo idoso. A senilidade, a osteopenia, a sarcopenia, a perda da flexibi-
lidade e, como consequência, da mobilidade articular, prejudicam os idosos
em suas tarefas mais rotineiras. Esses fenômenos podem ser revertidos com
a atividade física e ser facilmente identificados na autopercepção de idosos
quanto à melhora de sua saúde. Ribeiro et al. (2016) apontam que cerca de 60%
dos estudos com idosos que aderem à prática de atividades físicas relatam que
a melhora da saúde é o principal fator que os mantém engajados.
A adesão às atividades físicas também ocorre por determinação médica
quando ocorre alguma lesão, como no caso das fraturas em decorrência de
quedas. A necessidade de retomar sua condição de vida adequada às tarefas
pelo cotidiano faz com que muitos idosos busquem esse tipo de atividade como
forma de tratamento de lesões, como no caso dos exercícios fisioterápicos, no
fortalecimento muscular, para que sejam evitadas novas lesões. Com isso, progra-
mas cujo enfoque seja a melhora da saúde, podem facilitar a adesão por idosos.

Convívio social
Assim como as mudanças fisiológicas específicas acontecem durante o enve-
lhecimento, as modificações sociais também ocorrem. Ao envelhecerem, é
bastante comum que os meios sociais frequentados pelos idosos se modifiquem.
A aposentadoria pode ser considerada um marco dessa idade.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
79
8 Adesão à atividade física

Ao se aposentarem, muitos idosos acabam perdendo o vínculo com os


amigos com quem conviviam de forma cotidiana no trabalho. Aliado a isso,
os vínculos familiares também se modificam, já que seus filhos, de maneira
geral, já constituíram as suas famílias e, em muitos casos, ocorre o falecimento
dos cônjuges. Nesse aspecto, as crescentes possibilidades de realização de
atividades físicas com outros indivíduos que passam pelo mesmo fenômeno têm
aumentado. Estudos com idosos constatam que o convívio social é apontado
como um dos principais motivos para a adesão aos programas de atividades
físicas. Assim, os programas que facilitam o fortalecimento de vínculos afe-
tivos e sociais podem gerar maiores índices de adesão pelos idosos a esse
tipo de atividade.

Diminuição do estresse
O estresse é resultado da interação entre os sujeitos e o ambiente e pode ser
entendido como um estado de tensão que causa uma ruptura no equilíbrio
interno do organismo, ou seja, um estado de tensão patogênico para o organismo
(LAZARUS; FOLKMAN, 1984). Ainda que o envelhecimento seja marcado
pela diminuição das tensões laborais, o que poderia sugerir uma sensação de
bem-estar, o que ocorre em muitos casos é o contrário. A aposentadoria pode
representar certo luto aos idosos, despertando o sentimento de pouca utilidade
social e do fim de vínculos sociais e afetivos.
Além disso, as patologias e as disfunções que ocorrem em decorrência do
processo de envelhecimento, o falecimento de entes queridos e a diminuição
da aptidão que era apresentada na fase adulta, podem também resultar em
um estado de tensão que caracteriza o estresse na fase idosa. As atividades
físicas podem suprir essa tensão e seus efeitos são facilmente reconhecidos
pelos idosos, sendo esse também um dos motivos que facilita a sua adesão
aos programas de atividade física.

Os sintomas de estresse entre os idosos são bastante comuns e podem ter várias
origens, como a perda do cônjuge, a aposentadoria ou até mesmo a chega de um
membro novo na família. O estresse crônico eleva o risco de doenças cardíacas, pode
desencadear azia, agravar o quadro de diabetes, elevar a pressão arterial e causar
insônia, além de tornar as pessoas ansiosas, preocupadas, deprimidas ou frustradas.
80 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Adesão à atividade física 9

Aquisição de um estilo de vida saudável


O envelhecimento não significa necessariamente a aquisição de uma vida
doente. Muitos idosos envelhecem com uma vida fisicamente ativa e com
padrões consideráveis de saúde. Ainda assim, a longevidade tem feito com
que os indivíduos idosos procurem atividades físicas para desfrutar de um
envelhecimento mais saudável possível, ou seja, eles procuram atividades
pelo simples fato de manter ou de elevar os padrões de aptidão apresentados
durante boa parte da vida adulta.
Wallack, Wiseman e Ploughman (2016) apresentam a perspectiva de que,
a cada ano, mais idosos se preocupem com a aquisição de um estilo de vida
saudável. Ainda que a atividade física tenha um papel central na busca pela
saúde, a conscientização de outros hábitos saudáveis também faz parte do
repertório de tomadas de decisões dos idosos.
Entre suas compreensões sobre saúde, os idosos identificam o fato de terem
relações sociais, pensamento positivo, determinação, manutenção da identi-
dade, alimentação saudável, sono e descanso adequado, cuidados de saúde de
alta qualidade, gerenciamento dos medicamentos, terapias alternativas, controle
do peso, independência, realização de trabalho voluntário, desenvolvimento de
espiritualidade ou prática de alguma religião e segurança financeira. Assim, a
adesão aos programas de atividade física encontra-se entrelaçada aos demais
fatores que os idosos aderem para um estilo de vida saudável.

Percepção de segurança
Além dos fatores que conduzem os idosos à adesão aos programas de atividades
físicas, alguns fatores parecem gerar o efeito oposto, dificultando essa adesão.
Nesse aspecto, o sentimento de insegurança em desenvolver as atividades
é o principal fator mencionado pelos autores sobre a desistência de idosos aos
programas. Devemos salientar que a insegurança envolve aqueles aspectos
fundamentais de estruturas ambientais necessárias ao deslocamento do idoso
até o local de prática de atividades como, transporte adequado, iluminação
pública, policiamento e passeios planos. Outros aspectos são subjetivos, como
a segurança em desenvolver as atividades físicas e a autoestima em participar
dos programas.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
81
10 Adesão à atividade física

Suporte social e incentivo familiar


Outro fator para a desistência de idosos dos programas é a falta de suporte so-
cial. O envelhecimento, em grande parte das vezes, é marcado pelo isolamento
dos indivíduos idosos em seus lares (MATSUKURA; MARTURANO; OISHI,
2002). A falta da companhia de familiares e amigos pode ser prejudicial para
a saúde e comprometer a adesão de idosos à prática de atividade física. Esse
suporte envolve desde o compartilhamento de hábitos que formam a cultura
na qual o indivíduo idoso está inserido até o suporte financeiro que ele dispõe.

Os fatores que aumentam ou reduzem a adesão de idosos aos programas de atividades


físicas são diversos e podem variar de acordo com o sexo, os hábitos, a região onde
reside, o nível socioeconômico, entre outros fatores. No link a seguir, você poderá ter
acesso a um artigo que buscou identificar as principais barreiras que influenciaram a
não adoção de atividade física de um programa oferecido na cidade de Florianópolis,
no estado de Santa Catarina.

https://goo.gl/Jb6ux3

As atividades físicas são fundamentais para a promoção da saúde e a


busca por uma melhor qualidade de vida da sociedade. Ainda que a adesão
a programas possa encontrar inúmeras barreiras que, por vezes acabam por
afastar os indivíduos de sua prática, algumas estratégias podem ser elaboradas
para que esse processo de aderência se efetive. A seguir, buscaremos apresentar
algumas dessas estratégias que podem auxiliar os profissionais de educação
física na elaboração e no acompanhamento de programas de promoção da saúde.

Medidas e estratégias para aumentar


a adesão aos programas de
atividade física no âmbito da saúde
Conforme apresentado, alguns fatores dificultam ou aumentam a efetividade
da adesão dos indivíduos aos programas de atividades físicas. Compreender
esses fenômenos é fundamental para elaborar e adequar os planos e estratégias
82 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Adesão à atividade física 11

de modo a contribuir no engajamento de todos os indivíduos. Entendendo que


apenas a compreensão desses fatores não é suficiente para elaborar planos
em que a adesão seja concretizada, a seguir, buscaremos elencar algumas
estratégias para aumentar a aderência aos programas de atividades físicas.

A adesão aos programas de atividades físicas é permeada por fatores determinantes


pessoais e ambientais. Os fatores pessoais dizem respeito às características sociode-
mográficas, cognitivas, de personalidade e de comportamento. Os fatores ambientais
dizem respeito às características de ambiente físico e social e às características das
atividades físicas (Figura 1).

FATORES
DETERMINANTES

PESSOAIS AMBIENTAIS
Variáveis Variáveis relacionadas ao
sociodemográficas e ambiente social, ambiente físico e
cognitivas/comportamentos características da atividade física

Figura 1. Fatores determinantes para a adesão aos programas de atividades físicas.


Fonte: Tedechi (2013, p. 13).

Acessibilidade
Muitos programas de atividades físicas voltadas à promoção de saúde são cons-
tituídos por profissionais e materiais de excelente qualidade, mas, no entanto,
não se mostram acessíveis à população. Pitanga (2001) informa que um dos
principais fatores que contribuem para a adesão aos programas de atividade
física consiste na acessibilidade ao local de sua prática. Ou seja, quanto mais
próximo da residência dos participantes, maior será a probabilidade de sua
continuidade no serviço.
Os programas de atividades físicas têm elaborado estratégias para decen-
tralizar os serviços de promoção da atividade física e, como consequência,
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
83
12 Adesão à atividade física

da saúde. Nos últimos anos, podemos citar algumas alternativas criadas pelos
Governos Federal, Estaduais e Municipais na criação de Unidades Básicas
de Saúde (UBS), Academias ao ar livre e outras propostas que buscam dis-
tribuir com os espaços de práticas corporais pelos diversos bairros. Esses
espaços têm se mostrado importantes campos de atuação dos profissionais
de educação física, em que a presença desse profissional se mantém mais
próxima das moradias dos praticantes. Isso favorece a criação de vínculos e
a identificação das situações nas quais as comunidades em que os praticantes
vivem se encontram.
Uma das estratégias que deve compor os programas de promoção da saúde
é justamente o mapeamento residencial dos atendidos, elaborando a descen-
tralização e a criação de espaços para a prática de atividades físicas variadas.
Outro fator que merece destaque também são as vias próximas ao local de
prática de atividades, que devem permitir o deslocamento dos praticantes de
forma segura. Com isso, ações multisetoriais, envolvendo as secretarias de
planejamento urbano, os setores ligados ao trânsito e à segurança devem ser
efetivados.

Viabilidade financeira
As atividades físicas são possíveis de serem realizadas em qualquer ambiente,
por livre iniciativa de qualquer sujeito, como as caminhadas nos parques, por
exemplo. No entanto, muitas pessoas necessitam de um acompanhamento
ou de um programa de atividades que possibilitem a eficácia dessa prátiva.
Evidentemente, o acompanhamento profissional é feito por meio de materiais
adequados e gera custos aos participantes dos programas e isso, muitas vezes,
impede a continuidade nos programas.
Assim, é necessário que as políticas públicas promovam práticas físicas
a baixo ou a nenhum custo, permitindo que sejam acessíveis em termos fi-
nanceiros a qualquer participante. A Organização Mundial da Saúde (OR-
GANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2003) aponta que a alta renda é um
dos principais fatores que contribuem para a adesão e a continuidade em
programas de atividades físicas.

Flexibilidade de horários
Tendo em vista que os horários de trabalho ocupam grande parte do dia dos
indivíduos adultos, torna-se necessário que a oferta de atividades ocorra
em horários diversos. Por exemplo, sabemos que grande parte da população
84 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Adesão à atividade física 13

trabalha em horário comercial. Restringir os programas a esse horário limita


o atendimento a muitas pessoas. Do mesmo modo, os programas também
devem estar atentos àqueles que possuem horários de trabalho diferentes da
maioria da população, oferecendo atividades em turnos variados, abertos à
possibilidade de prática nesses diferentes horários.

Características de atividades
Um dos fatores mais importantes trata-se do desenvolvimento de atividades.
Os programas de promoção da saúde geralmente são voltados ao público
adulto. Nessa fase, algumas características devem estar presentes para que
se aumente o engajamento e a satisfação dos participantes em praticá-las.
Veja algumas características que devem permear o trabalho com os adultos:

„ Necessidade de saber: os adultos necessitam saber qual a razão de


estarem aprendendo/desenvolvendo determinado conteúdo. Cada ati-
vidade deve ter um objetivo claro para o praticantes.
„ Autoconceito do aprendiz: os adultos aprendem melhor a partir de
métodos experimentais. Ou seja, não basta apenas orientá-los às práticas
das atividades, mas incentivá-los para que descubram quais são as
atividades que mais satisfazem as suas vontades e anseios;
„ Experiências anteriores: os conhecimentos prévios orientam os per-
cursos de aprendizagem uma vez que deve ser levada em consideração
para aproximar o adulto das vivências já experimentadas. As atividades
novas, muitas vezes, levam ao sentimento de insegurança dos adultos.
Partir de atividades familiarizadas e de conhecimentos que já possuem
pode facilitar a adesão aos programas de atividades físicas.
„ Prontidão para aprender: a aprendizagem deve se basear nos conhe-
cimentos que o adulto entende serem necessários para a sua vida diária,
ou seja, os conteúdos e programas sempre devem ser guiados pela
necessidade. Para isso, os programas precisam basear suas atividades
para melhorar aspectos da vida diária de maneira imediata.
„ Orientação para a aprendizagem: para os adultos, a aprendizagem
se baseia na resolução de problemas e não na perspectiva de acúmulo
de novos conhecimentos. Assim, ela ganha maior potência quando
partem de contextualizações de situações reais. Por exemplo, abordar
as alterações fisiológicas e as consequentes alterações na qualidade de
vida obtidas por uma caminhada pode ser uma forma de abordar essa
atividade física.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
85
14 Adesão à atividade física

„ Motivação para aprender — os motivos para aprender são mais po-


tentes quando partem de desejos subjetivos e possuem uma aplicação
imediata. Os adultos devem se sentir confortáveis na prática de ativi-
dades e poder sempre experimentar aquelas que gostam mais.

Com isso, o tipo de atividade, a sua frequência, a duração e a intensidade


do esforço percebido, deve sempre ser objeto de avaliação pelo profissional e
pelo praticante, adequando-as aos objetivos do programa.

Vínculos socioafetivos
Outro fator que leva os indivíduos a aderirem aos programas de atividades
físicas são os vínculos sociais com os outros participantes e com os próprios
profissionais. Por isso, as atividades físicas devem, sempre que possível, ser
desenvolvidas em grupos, fortalecendo a criação de vínculos afetivos entre
os participantes. Ryan e Deci (2000) afirmam que a motivação intrínseca é
essencial para os processos de adesão à atividade. Os mesmos autores infor-
mam que os vínculos sociais e a percepção de pertencimento a um grupo são
essenciais para que se mantenham.
A criação e a manutenção desses laços é uma das atribuições dos pro-
gramas de promoção da saúde. As buscas aos sujeitos que demonstram os
primeiros sinais de desistência dos programas devem ser ativas, isto é, devem
ser promovidas por meio de telefonemas, de visitas às residências, ressaltando
a importância das atividades físicas para os praticantes e deles para o grupo
que foi constituído.

Para o fortalecimento dos vínculos nos programas de promoção da saúde e de ativi-


dades físicas, algumas atitudes podem ser tomadas como, por exemplo, a criação de
grupos em aplicativos de celulares, mensagens telefônicas de incentivo pelo profissional,
eventos com os membros da família em datas festivas (dia das mães, dia dos namorados,
etc.) e visitas domiciliares.
86 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Adesão à atividade física 15

É possível reconhecer que a adesão aos programas de atividades físicas


pode possuir muitos fatores. Entre os mais comuns, estão aqueles voltados
à busca da saúde e da qualidade de vida. No entanto, muitos praticantes ini-
ciam e não continuam nos programas, motivados por razões diversas. Dessa
forma, a compreensão, pelos profissionais de educação física, dos fatores que
levam os diferentes indivíduos a aderirem e a desistirem dos programas são
fundamentais.

ALBUQUERQUE, C. L. F.; ALVES, R. S. A evasão dos alunos das academias: Um estudo de


caso no centro integrado de estética e atividade física — CIEAF, na cidade de Caicó —
RN. Dominium Revista Científica da Faculdade de Natal, v. 1, n. 5, p. 1-33, jan./abr. 2007.
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BAPTISTA, T. J. R. Procurando o lado escuro da lua: implicações sociais da prática de
atividades corporais realizadas por adultos em academias de ginástica de Goiânia.
Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2001.
BERQUÓ, E. Considerações sobre o envelhecimento da população no Brasil, In: NÉRI,
A. L.; DEBERT, G. G. Velhice e sociedade. Campinas, SP: Papirus, 1999. p. 11- 40.
CODO, W.; SENNE, W. A. O que é corpo (latria). São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção
Primeiros Passos).
HOWLEY, E.; FRANKS, B. D. Manual do instrutor de condicionamento físico para saúde. 3.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
LAZARUS, R.; FOLKMAN, S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer, 1984.
LOPES, A. L. et al. Motivos de ingresso e permanência de idosos em um programa de
atividades aquáticas: um estudo longitudinal. Revista de Educação Fisica UEM, v. 25, n.
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MARCUS, B.; FORSYTH, L. H. Motiving people to be physically active. United States: Human
Kinetics, 2003.
MATSUKURA, T. S.; MARTURANO, E. M.; OISHI, J. O Questionário de Suporte Social (SSQ):
estudos da adaptação para o português. Revista Latino Americana de Enfermagem, v.
10, n. 5, p. 675-681, 2002.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Cuidados inovadores para condições crônicas:
componentes estruturais de ação: relatório mundial. Brasília, DF: OMS, 2003.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento humano. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Exercício Físico, Atividade Física, Aptidão Física, Saúde e Qualidade de Vida | UNIDADE 1
Adesão à Atividade Física | PARTE 4
87
16 Adesão à atividade física

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PITANGA, F. J. G. Tempo de permanência em programas de exercícios físicos em hi-
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RYAN, R. M.; DECI, E. L. Self-determination theory and the facilitation of intrinsic motiva-
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SÁVIO, K. E. O. et al. Sexo, renda e escolaridade associados ao nível de atividade física
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SHEPHARD, R. J. J. Aging, physical activity, and health. United States: Human Kinetics, 1997.
TEDECHI, M. R. M. Fatores determinantes da adesão de idosos aos programas de atividade
física da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação da cidade de São Paulo. 2013.
Dissertação (Mestrado em Ciências)- Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
TRICHES, R. M.; GIUGLIANI, E. R. J. Obesidade, práticas alimentares e conhecimentos de
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2003. Monografia (Especialização)- Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual
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ves of 683 older people with multiple sclerosis. Multiple Sclerosis International, v. 2016,
p. 1845720, jul. 2016. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/
PMC4967669/>. Acesso em: 18 nov. 2018.

Leituras recomendadas
BARBOSA, S. S. R.; SILVA, K. Hidroginástica: estética ou saúde?: discussões a respeito das
concepções de corpo e praticantes. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO
ESPORTE: sociedade, ciência e ética, 12., 2001, Caxambú. Anais... Caxambú: Colégio
Brasileiro de Ciências do Esporte, 2001.
FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; FLETCHER, G. S. Epidemiologia clínica: elementos
essenciais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
HAYNES, R. B. et al. Epidemiologia clínica: como fazer pesquisa clínica na prática. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2008.
HULLEY, S. B. et al. Delineamento a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica.
4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
88 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA


SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

2
Exercício Físico na Prevenção
e Tratamento de Doenças
Crônicas e Degenerativas
Prezado estudante,
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados
com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado
tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os
tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Explicar a relevância dos exercícios físicos para a prevenção e tratamento de doenças crônicas e
degenerativas e elaborar programas de exercícios físicos que atendam estas especificidades.
90 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 1
Exercício Físico Para a
Promoção da Saúde e Qualidade de Vida

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
92 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Exercício físico para


a promoção da saúde
e qualidade de vida
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Enumerar os benefícios da prática de exercícios físicos para a melhoria


da qualidade de vida.
 Reconhecer o exercício físico como fator de proteção para a saúde,
sendo seus benefícios associados à redução de doenças crônicas e à
diminuição do risco de morte.
 Elaborar programas de exercício físico específicos para atender indi-
víduos ou grupos de diferentes populações.

Introdução
A inatividade física está intrinsecamente relacionada à severidade de
certas doenças crônicas, e, com isso, a prática regular de exercícios
físicos passa a representar uma ferramenta fundamental para a pro-
moção da saúde. Dentre as doenças crônicas existentes, abordaremos
neste capítulo aquelas que abrangem grandes populações e que mais
apresentam benefícios diretos advindos de atividades físicas regulares:
doenças arteriais, depressão, diabetes, osteoporose, obesidade, câncer
e asma. Porém, para que esses benefícios à saúde sejam conquistados
e conduzam à melhoria de diferentes quadros clínicos crônicos, é
preciso analisar com cuidado as especificidades de programas de
treinamento para cada uma dessas populações especiais, conduzindo
a uma intervenção prática eficiente e adequada às necessidades de
cada indivíduo.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Exercício Físico Para a Promoção da Saúde e Qualidade de Vida | PARTE 1 93
2 Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida

Neste capítulo, você vai conhecer os principais benefícios da prática


regular de exercícios físicos para a melhoria da qualidade de vida. Além
disso, aprenderá sobre as diferentes doenças crônicas e suas relações
benéficas com o exercício físico. Por fim, será apresentado à rotina de
programação de treinamento de acordo com as necessidades específicas
de cada população especial abordada.

Atividade física e qualidade de vida


Adultos cujo estilo de vida inclui a prática frequente de atividades físicas
obtêm uma redução da incidência de várias doenças crônico-degenerativas,
e até mesmo redução da mortalidade envolvendo acidente cardiovascular e
cerebral. Tratando-se de crianças e adolescentes, atividades físicas regulares
podem contribuir para melhoria do perfil lipídico, melhoria do desempe-
nho metabólico e redução da prevalência de obesidade, um dos maiores
problemas do século XXI. Além disso, números indicam que crianças e
adolescentes ativos tendem a se tornar adultos também ativos, criando-
-se uma cultura prática que traz resultados para a vida toda (LAZZOLI
et al., 1998).
Por consequência, e do ponto de vista da saúde pública, é fácil compreen-
der que a promoção da atividade física na infância e na adolescência significa
estabelecer uma base sólida capaz de reduzir a possibilidade de sedentarismo
na idade adulta, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.
Nesse sentido, é possível compreender que a prática frequente de ativi-
dades físicas causa mudanças internas e externas no corpo humano, que
ultrapassam as fronteiras da estética e atingem diretamente a qualidade
de vida. Por si só, a atividade física não pode ser responsável por um êxito
completo nessa esfera, pois uma alimentação balanceada também é um fator
determinante para a manutenção dos benefícios propiciados pela atividade
física. De todo modo, os benefícios da atividade física ao nosso corpo são
inúmeros, e os 10 principais são listados no Quadro 1.
94 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida 3

Quadro 1. Os 10 principais benefícios da atividade física regular à saúde

Área de atuação Benefício

Obesidade A atividade física regular é uma das maiores responsáveis pela


manutenção do peso em condições que não ultrapassem a
faixa do sobrepeso ou da obesidade.

Pressão alta e A atividade física controlada e orientada por um profissional é


cardiopatias uma das formas de tratamento para indivíduos com hiperten-
são e pessoas que sofrem com algum tipo de cardiopatia.

Colesterol O controle dos níveis de colesterol no organismo é um dos


benefícios que a atividade regular pode trazer ao praticante.

Resistência e plas- O exercício físico regular é responsável pelo desenvolvimento


ticidade muscular de uma maior resistência muscular e articular, bem como pelo
e articular aumento de sua elasticidade, o que reduz a propensão a lesões.

Depressão A atividade física está comprovadamente atrelada a alterações


neurais e hormonais, e, por isso, é uma alternativa para o auxílio
do tratamento de transtornos e algumas doenças psicológicas.

Insônia A regularização do sono é uma das maiores buscas do século


XXI, e a prática física traz claros benefícios neste quesito.

Serotonina Conhecida como hormônio do bem-estar, a serotonina é pro-


duzida a partir da prática regular de atividades.

Estresse e Reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como


ansiedade os maus do século, o estresse e a ansiedade afligem a maior
parte da população mundial; a prática regular de exercícios
físicos diminui suas taxas de prevalência no organismo.

Libido Responsável pelo desejo sexual, a libido é aumentada por meio


da prática regular de atividades físicas.

Sistema A prática de atividades físicas frequentes é responsável pelo


imunológico fortalecimento do sistema imunológico e, consequentemente,
pela diminuição da propensão do corpo a doenças.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Exercício Físico Para a Promoção da Saúde e Qualidade de Vida | PARTE 1 95
4 Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida

De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (LA-


ZZOLI et al., 1998), os princípios gerais que regem as reações do nosso
corpo aos exercícios físicos e ao treinamento são os mesmos para qualquer
faixa etária, ou seja, os benefícios recém-citados estão ao alcance de
qualquer ser humano.

Embora as respostas corpóreas sejam, no cômputo geral, as mesmas, cada faixa etária
apresenta sua particularidade fisiológica, ou seja, cada organismo responde de uma
forma diferente aos estímulos, e o profissional deve ter um olhar atento para essas
diferenças.

Agora que você já sabe quais são os principais benefícios da prática


regular de atividades físicas, examinemos como o exercício físico pode ser
um fator de proteção para a redução de doenças crônicas e diminuição do
risco de vida.

Exercício físico e doenças crônicas


Para Gualano e Tinucci (2011), a inatividade física pode ser relacionada, de
forma intrínseca, à severidade de doenças crônicas, e, sendo assim, o exercício
físico passa a ser uma das mais importantes ferramentas para a promoção da
saúde. Dentre todas as doenças crônicas existentes, abordaremos as que estão
mais vinculadas aos estudos epidemiológicos realizados por Goodpaster et
al. (2006), que indicam uma relação direta entre a falta de exercícios físicos
regulares e o aumento da incidência de tais patologias.
Já Katzmarzyk e Janssen (2004) especificam a elevação percentual de
incidência de doenças crônicas relacionadas à falta de exercícios físicos:

 45% na propensão de doenças arteriais;


 60% em casos de infartos agudos do miocárdio;
 41% em casos de câncer de cólon;
 50% em diabetes do tipo 2;
 59% em casos de osteoporose.
96 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida 5

Todos esses dados são indicadores da necessidade de se estabelecer uma


rotina com bons hábitos e prática frequente de atividades físicas. Entretanto,
mais do que conhecer os percentuais e as doenças, precisamos entender as
relações fisiológicas do corpo frente à atividade física e como a prática de
exercícios auxilia no combate às principais patologias.

Doenças arteriais
Não muito tempo atrás, o exercício físico ainda era um tabu para pessoas
com algum tipo de doença arterial, pois a ciência enxergava a prática como
algo nocivo à saúde do paciente. Contudo, novos estudos destituíram o mito
e revelaram inúmeros benefícios para os pacientes com doenças arteriais
(WILLMORE; COSTILL; KENNEY, 2010).
O Instituto do Coração garante que o exercício físico monitorado é capaz
de auxiliar na dilatação dos vasos sanguíneos mais periféricos, além de levar
a uma diminuição da frequência cardíaca de repouso, ou basal, que é um dos
fatores principais da hipertensão.

Depressão
A depressão é considera uma das doenças que mais afligem a população
mundial nos tempos atuais. Para Lane e Lovejoy (2001), o exercício físico tem
resultados diretos sobre indivíduos com quadro de depressão, e, de fato, seus
estudos conseguiram encontrar uma relação direta na melhora de humor em
pacientes que praticavam exercícios físicos.
Nesse contexto, atividades como ioga e exercícios aeróbicos são os mais
indicados para esses casos, pois os aspectos relacionados ao controle respira-
tório são muito significativos para as fases de inspiração e expiração.

No link a seguir, você encontrará uma ótima reportagem no site UFRGS Ciência que
examina a relação entre depressão e atividade física. Nela, você verá que pesquisadores
da UFRGS, Universidade La Salle, UERJ, UFRJ e outras sete universidades estrangeiras
desenvolveram um estudo que investiga como exercícios físicos podem ajudar na
prevenção de quadros depressivos.

https://qrgo.page.link/znvNB
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Exercício Físico Para a Promoção da Saúde e Qualidade de Vida | PARTE 1 97
6 Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida

Diabetes
A prática de exercícios físicos como recurso para melhoria do quadro de
diabetes está diretamente vinculada ao efeito pontencializador das atividades
físicas no movimento orgânico de quebra das moléculas de glicose, gerando
energia e, assim, simulando a função do hormônio da insulina (WILLMORE;
COSTILL; KENNEY, 2010).
Além disso, pesquisas apontam para a redução do teor de gordura visceral
em órgãos como coração e rins, o que também ajuda a reduzir o risco de infarto
agudo do miocárdio, que, mesmo não sendo uma doença crônica, apresenta
uma relação intrínseca com indivíduos que têm diabetes.

Osteoporose
Ao contrário do que muitos pensam, a osteoporose não é uma doença que atinge
apenas a população de mais idade. As mulheres, por exemplo, já a partir da menarca
param de produzir tecido ósseo. Ademais, a OMS (2014) relata que quase metade
das mulheres do mundo sofrerá uma fratura vertebral até os 80 anos de idade.
Dentre os princípios do tratamento que auxiliam na neutralização dos impactos
da perda de tecido ósseo, o exercício físico surge como um grande aliado, pelo
fato de conseguir contemplar grande parte das necessidades do tratamento.
A atividade física de impacto ajuda o corpo a gerar massa óssea, apresen-
tando, assim, forte potencial osteogênico. Todavia, é de grande importância
ter os devidos cuidados no que diz respeito a frequência, carga e intensidade
de treinamento, pois cada caso deve ser tratado mediante sua especificidade
(BUTTROS et al., 2011).

Obesidade
Para Prado et al. (2009), a obesidade é uma doença inflamatória sistêmica, ou seja,
uma doença crônica relacionada à grande concentração de adipocinas no orga-
nismo, capazes de alterar o estado de saúde geral dos indivíduos. Embora poucos
entendam a obesidade como doença, este é o primeiro passo para seu tratamento.
O exercício físico surge para a obesidade como um modulador direto dos
processos corpóreos, causando uma eficiente resposta às inflamações contidas
nas adipocinas. Indivíduos que se exercitam elevam seu consumo calórico,
o que, aliado a uma ingesta calórica inferior ao despendido, gera uma curva
nutricional e metabólica descendente, que inverte a balança energética e
propicia a melhoria clínica do sujeito com obesidade.
98 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida 7

Câncer
Em termos dos benefícios oriundos das atividades físicas, o Instituto Nacional
do Câncer (2018) afirma que atividades físicas regulares com duração de 30
minutos já são suficientes para auxiliar na prevenção de três tipos de câncer:
de mama, de endométrio e de cólon.
Além de um grande aporte em termos de prevenção, a atividade física
regular também representa uma das ferramentas de tratamento para dife-
rentes tipos de câncer, sendo um forte aliado na busca pela neutralização
dos sintomas oriundos da doença e dos efeitos advindos de tratamento por
quimioradioterapia.

Asma
Mesmo com uma grande necessidade de adequações e controle de ritmo e
intensidade de treinamento, pessoas que sofrem de asma podem ser muito
beneficiadas pela prática de atividades físicas frequentes, isso porque tais
atividades ajudam a aumentar sua capacidade respiratória, propiciando trocas
gasosas benéficas capazes de suavizar os sintomas da doença.
No entanto, para Freitas, Silva e Carvalho (2015) é importante ter cuidado,
pois em períodos de crise, a atividade física não é benéfica para indivíduos as-
máticos. Os exercícios aeróbios são os mais recomendados, além das atividades
em meio aquático, já que dentro da água ocorre uma resistência no momento
da expiração, fazendo com que os músculos respiratórios sejam fortalecidos.
Agora que você está a par das devidas informações referentes aos bene-
fícios dos exercícios físicos regulares e da sua relação com a melhoria de
diferentes quadros clínicos crônicos, vamos analisar melhor as especificidades
de programas de treinamento de populações especiais, com o objetivo de
adquirir dados relevantes para uma intervenção prática eficiente e adequada
às necessidades de cada indivíduo.

Programas de exercícios para


populações especiais
Dentro das áreas da saúde e do esporte, é muito raro encontrarmos definições
técnicas para populações especiais ou grupos especiais (ANDRELLA; NERY,
2012). Muitos, inclusive, confundem grupos especiais com pessoas com defici-
ência. Portanto, é imprescindível, antes de mais nada, definir grupos especiais:
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Exercício Físico Para a Promoção da Saúde e Qualidade de Vida | PARTE 1 99
8 Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida

[...] todo indivíduo que apresenta algum problema de saúde ou condição de


caráter irreversível ou não, que interfira diretamente na prática esportiva ou
que apresente cuidados específicos para participar de um programa de exercício
físico, se encaixa em alguma população de grupos especiais.
Pensando dessa forma, podemos exemplificar algumas populações especiais,
como: diabéticos, hipertensos, ateroscleróticos, crianças, obesos, tabagistas,
cardiopatas, grávidas, deficientes físicos, deficientes cognitivos, pessoas com
síndromes metabólicas ou síndromes genéticas, lesados medulares e cerebrais,
etc. (IESPE, 2017, documento on-line).

Diante da explicação, é possível identificar muitas das doenças crônicas


citadas neste capítulo e, a partir disso, entender que as populações especiais
são muito mais comuns do que se pode imaginar. Por isso, é de extrema
importância que tenhamos os devidos conhecimentos para melhor auxiliar e
atender as necessidades de cada indivíduo.
Para elaborarmos um programa de treinamento ou atividade física para
um indivíduo que apresenta alguma limitação ou dificuldade oriunda de uma
doença crônica, não podemos esquecer que cada tipo de população e/ou doença
demanda uma determinada abordagem, e, quando não adequada à realidade,
tal abordagem terá impactos extremamente negativos na vida e no quadro
clínico do indivíduo em questão. Assim, na preparação de programações de
treinamento para populações especiais, as adaptações ou supressões técnicas
aos programas estão muito atreladas às necessidades caso a caso.

Pessoas com asma, por exemplo, devem, antes de qualquer atividade física, cumprir à
risca uma rotina controlada de aquecimento. Caso uma crise seja iniciada, a atividade
deve ser interrompida e retomada em outra oportunidade.
No caso de pessoas com algum tipo de doença arterial ou alguma cardiopatia, é
preciso ter o controle constante da sua frequência cardíaca. Além disso, sua pressão
arterial deve ser medida logo antes da atividade e outra vez após a atividade, a fim
de identificar qualquer alteração que possa agravar seu quadro.
Já no caso das pessoas com obesidade, a maior adaptação não está no controle
cardiovascular ou respiratório, mas sim na carga e no tipo de atividade física, pois em
decorrência do peso da pessoa, alguns exercícios podem sobrecarregar os agrupa-
mentos musculares e/ou articulações, e, com isso, gerar lesões graves.

Mesmo diante de todas especificidades e demandas, é de suma importância


compreender que não existe uma fórmula única e pronta para elaboração de
100 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade de vida 9

programas de treinamento, mas sim balizadores conceituais capazes de nortear


a proposta do profissional. Sendo assim, é dele a responsabilidade de buscar
um entendimento maior do quadro e do histórico de cada indivíduo atendido,
bem como de pesquisar um arcabouço teórico que sustente suas práticas
perante a necessidade de adaptação ou não das atividades. Assim, fica claro
que a presença do professor de educação física, aliado aos demais membros
da área da saúde, é de primordial importância para que se possa atingir com
maior êxito as demandas de cada indivíduo e sua doença crônica.

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Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Exercício Físico Para 101
10 Exercício físico para a promoção da saúde e qualidade deavida
Promoção da Saúde e Qualidade de Vida | PARTE 1

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WILMORE, J. H.; COSTILL D. L.; KENNEY, W. L. Fisiologia do esporte e exercício. 4. ed.
Barueri: Manole, 2010

Leituras recomendadas
HORTENCIO, R. F. H. et al. Exercícios físicos no combate à depressão: percepção dos
profissionais de psicologia. In: CONGRESSO NORDESTE DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 3.,
2010, Fortaleza. Anais [...]. Ceará: UFC, 2010. Disponível em: http://congressos.cbce.
org.br/index.php/conece/3conece/paper/viewFile/2475/969. Acesso em: 22 jul. 2019.
PORTUGAL. Lei no. 38, de 18 de agosto de 2004. Define as bases gerais do regime jurídico
da prevenção, habilitação, reabilitação e participação da pessoa com deficiência. Diário
da República, 18 ago. 2004. Disponível em: https://dre.pt/pesquisa/-/search/480708/
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https://www.efdeportes.com/efd152/reabilitacao-cardiovascular-efeitos-do-exercicio-
-fisico.htm. Acesso em: 22 jul. 2019.

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102 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 2
Atividade Física Como
Prevenção a LERs e DORTs

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104 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Atividade física como


prevenção de LERs e DORTs
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a atividade física como um dos mecanismos de prevenção


de LERs e DORTs.
 Explicar quais são as estratégias comumente utilizadas no processo
de prevenção e tratamento de LERs e DORTs.
 Examinar o papel da educação física nos portadores de LERs e DORTs.

Introdução
LER e DORT acometem milhares de brasileiros todos os anos, gerando
muitos prejuízos à saúde física e mental dos trabalhadores. É importante
ressaltar que na grande maioria das vezes esses sintomas poderiam ter
sido evitados com medidas simples, como a manutenção de uma prática
regular de exercícios físicos e a implementação da ginástica laboral dentro
do ambiente ocupacional.
Neste capítulo, você vai conhecer os conceitos de LER e DORT, iden-
tificando seus fatores de risco e de proteção. Além disso, vai examinar os
procedimentos mais adotados nos processos de prevenção e tratamento
de LER e DORT, reconhecendo a prática do professor de educação física
como protetor da saúde dos trabalhadores.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Atividade Física Como Prevenção a LERs e DORTs | PARTE 2 105
2 Atividade física como prevenção de LERs e DORTs

1 Conceitos de LER e DORT


Lesões provenientes de movimentos e atividades laborais são muitos comuns
no Brasil. Segundo o Tribunal Superior do Trabalho (CONSELHO SUPERIOR
DA JUSTIÇA DO TRABALHO, 2019), no ano de 2014 foram contabilizados
mais de 550 mil acidentes ocupacionais, dentre os quais 2.783 evoluíram a
óbito. Esses números foram coletados graças a um programa do governo federal
chamado Trabalho Seguro, que contabiliza os acidentes e cria estratégias,
como formações e ações, para que esse número seja reduzido.
As lesões mais comuns que podem ser adquiridas pelos trabalhadores são
as lesões por esforço repetitivo (LERs) e os distúrbios osteomusculares relacio-
nados ao trabalho (DORTs), que acometeram mais de 9 mil trabalhadores no
ano de 2016. Os trabalhadores mais afetados foram aqueles que trabalhavam
na indústria, comércio, alimentação, transporte e serviços domésticos e de
limpeza. Quanto ao sexo, parece que as mulheres (51,7%) são mais suscetíveis,
bem como os moradores dos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo e
Amazonas (BRASIL, 2019).
Segundo a Comissão de Reumatologia Ocupacional (SOCIEDADE BRA-
SILEIRA DE REUMATOLOGIA, 2011), uma LER não é uma doença, mas
uma mudança morfológica do sistema musculoesquelético, que pode variar em
intensidade e tipo. Já os DORTs “[...] resultam da superutilização do sistema
musculoesquelético, instalando-se progressivamente no trabalhador sujeito a
fatores de risco técnico-organizacionais” (BRASIL, 2001, p. 45). Vale ressaltar
que os DORTs são gerados unicamente no ambiente do trabalho, enquanto
as LERs podem ocorrer em todas as idades e nos mais diferentes ambientes.
A sigla DORT foi criada com o intuito de substituir a sigla LER, por se
acreditar que a maioria dos trabalhadores que apresentavam lesões no sistema
musculoesquelético não sofria de nenhuma outra lesão em demais estruturas
corporais. Também foi entendido que, embora o esforço repetitivo possa de
fato criar lesões, outros tipos de esforços, como a sobrecarga estática e posturas
inadequadas, poderiam gerar tais lesões. Porém, como o termo LER está muito
enraizado na sociedade, as duas siglas — LER e DORT — andam unidas, de
modo a se complementarem.
A Comissão de Reumatologia Ocupacional (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE REUMATOLOGIA, 2011) sugere que por trás de uma LER pode existir
alguma lesão mais séria que exige tratamento adequado e até mesmo cirurgias,
106 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividade física como prevenção de LERs e DORTs 3

como a tendinite e a síndrome do túnel do carpo, que podem de fato advir


de esforços repetitivos, mas são comorbidades totalmente diferenciadas e
devem ser tratadas de maneira adequada para melhorar a qualidade de vida
do paciente e evitar que essa injúria de saúde torne-se um fator impeditivo
para a realização da atividade ocupacional, gerando afastamentos do trabalho.
As LERs e DORTs podem ser muito impactantes na vida social dos traba-
lhadores, interferindo em aspectos relacionados não apenas à sua atividade
profissional. Um estudo de Paula et al. (2016) mostra que o escore de per-
cepção de qualidade de vida em funcionários acometidos por LER e DORT
era inferior ao daqueles não acometidos. Os principais aspectos em que as
diferenças foram mais pronunciadas são as dimensões físicas e ambientais.
Esse resultado pode ser explicado pela incapacidade funcional que as LERs
e DORTs impõem, gerando afastamento do trabalho e até mesmo quadros de
dor, que causam um afastamento social e invalidez.
Essas mudanças e adaptações no campo social e morfológico são tão
intensas que muitas vezes o sujeito que foi acometido dessa injúria divide e
relembra sua vida em uma época antes de sofrer de LER e DORT — quando
sua vida era melhor, com mais sentido de pertencimento a um grupo e com
menos dores, com rotinas participativas divididas entre trabalho e lazer — e
após o diagnóstico de LER e DORT — mostrando a incapacidade e as diferenças
substanciais que aconteceram na rotina e na diminuição do ciclo social e de
trabalho (BARBOSA; SANTOS; TREZZA, 2007).
Num esforço de evitar essas complicações, muitas empresas buscam criar
estratégias para prevenir LER e DORT. Além de trazerem malefícios à saúde
e ao bem-estar do trabalhador, tais distúrbios também acarretam diminuição
da produtividade e do lucro da empresa.
A prevenção de LER e DORT é um processo gradual, não existindo uma
fórmula mágica que garanta sua erradicação. Existem, porém, estratégias que
podem ser adotadas para diminuir a chance de que elas apareçam, como evitar
que os limites de exposição a fatores de risco sejam ultrapassados, oferecer
tratamento desde os primeiros sintomas e queixas de dor e desconforto e buscar
não apenas tratar a dor, mas descobrir suas causas (BRASIL, 2001). Uma
das estratégias mais utilizadas para isso é a ginástica laboral. A seguir, você
conhecerá mais sobre os conceitos e benefícios dessa prática desempenhada
em empresas por professores de educação física como uma ferramenta de
prevenção de LER e DORT.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Atividade Física Como Prevenção a LERs e DORTs | PARTE 2 107
4 Atividade física como prevenção de LERs e DORTs

2 A ginástica laboral como uma ferramenta


de prevenção de LER e DORT
Uma das ferramentas adotadas para a prevenção de LER e DORT é a prática
de atividade física no ambiente ocupacional, prática esta conhecida como
ginástica laboral. Ela está presente no Brasil há 40 anos, crescendo e se di-
fundindo cada vez mais por conta dos seus inúmeros benefícios (LIMA,
2018). A aplicação dessa ferramenta eleva o bem-estar dos funcionários e
diminui a incidência de doenças ocasionadas em função da atividade laboral,
como LER e DORT, que diminuem a produtividade e o lucro da empresa
(LIMA; NOGUEIRA, 2017).
Lima (2018) conceitua a ginástica laboral como um programa de exercícios
pensados e elaborados de modo a se adaptar às características da jornada la-
boral, visando preparar e compensar as estruturas musculares mais recrutadas
durante o trabalho e criando situações de promoção e proteção da saúde ao
estimular uma vida mais ativa. A ginástica laboral abrange exercícios espe-
cíficos, alongamento, relaxamento e fortalecimento muscular, criando novas
memórias motoras que irão modificar padrões de movimentos, buscando a
melhoria da postura corporal e a diminuição de encurtamentos e tensões
musculares, com o intuito de diminuir a incidência de LER e DORT (LIMA;
NOGUEIRA, 2017).
Segundo Oliveira (2007), a principal característica da ginástica laboral é
que ela prioriza a realização de exercícios dentro do local e horário de trabalho,
ocorrendo em sessões de curta com duração, de 5 a 15 minutos, e atuando
principalmente de maneira preventiva e terapêutica, variando e adequando seu
planejamento e postos de atuação de acordo com as características do trabalho.
Laux et al. (2016) realizaram um estudo com 113 funcionários de uma
empresa na cidade de Chapecó, SC, com idades ente 17 e 53 anos. Após 12
meses de prática de um programa de ginástica laboral, a quantidade de atestados
médicos diminuiu em 51,52%, o que representa uma melhora na qualidade
de vida desses trabalhadores a partir da implementação de exercícios, sem
que tenham sido realizadas outras intervenções na especificidade da tarefa
ocupacional. Essa diminuição na quantidade de atestados médicos apresentados
por funcionários pode ser visualizada na Figura 1.
108 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividade física como prevenção de LERs e DORTs 5

Figura 1. Comparação da quantidade de atestados médicos antes e


depois da implantação de um programa de ginástica laboral.
Fonte: LAUX et al. (2016, documento on-line).

Outro estudo (DUARTE et al., 2017) que avaliou o impacto da implemen-


tação de um programa de ginástica laboral em uma empresa concluiu que
antes da intervenção 44,1% dos participantes relatavam dor durante a jornada
laboral. Após a intervenção, esse número caiu para 23,5%, mostrando uma
diminuição importante da percepção da dor. Além desses achados, os pesqui-
sadores também identificaram as partes corporais em que os trabalhadores
apresentavam mais dores. O Quadro 1 mostra a evolução desses números antes
e depois da adoção de um programa de ginástica laboral.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Atividade Física Como Prevenção a LERs e DORTs | PARTE 2 109
6 Atividade física como prevenção de LERs e DORTs

Quadro 1. Comparação do aparecimento de dor antes e depois de um programa de in-


tervenção de ginástica laboral

Percentual de aparecimento Percentual de aparecimento


de dor (pré-intervenção de dor (pós-intervenção
de ginástica laboral) de ginástica laboral)

Coluna lombar (38,2%) Coluna lombar (14,7%)

Coluna dorsal (29,4%) Coluna dorsal (23,5%)

Coluna cervical (26,5%) Coluna cervical (14,7%)

Ombros (26,5%) Ombros (5,9%)

Quadril (23,5%) Quadril (17,6%)

Braços (17,6%) Braços (8,8%)

Punhos (14,7%) Punhos (5,9%)

Antebraço (2,9%) Antebraço (5,9%)

Fonte: Adaptado de Duarte et al. (2017).

Analisando esse quadro, é possível afirmar que em todos os quesitos


ginástica laboral foi capaz de reduzir a dor dos trabalhadores que estiveram
envolvidos no programa, atestando a efetividade da prática de atividades
físicas como aliada para a prevenção de LER e DORT.
De fato, a ginástica laboral é um dos principais mecanismos de prevenção
de LER e DORT. Sua prática pode ser dividida em quatro grupos (OLIVEIRA,
2007), descritas a seguir.

1. Ginástica laboral preparatória: abrange um conjunto de exercícios


que busca preparar o indivíduo para o seu trabalho, realizando as ações
necessárias de acordo com as exigências de velocidade, força ou resis-
tência, funcionando como um aquecimento para a jornada laboral. Por
este motivo, esse tipo de ginástica laboral deve ser realizado antes do
início das atividades ocupacionais para que seu objetivo de prevenir
os acidentes de trabalho, as distensões musculares e as doenças ocu-
pacionais seja alcançado.
110 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividade física como prevenção de LERs e DORTs 7

2. Ginástica laboral compensatória: como o próprio nome já diz, busca


compensar os músculos que ficam muito tempo tensionados, relaxando-
-os e tensionando aqueles que passam muito tempo relaxados. Por esse
prisma, a ginástica laboral compensatória busca fortalecer os músculos
mais fracos — que consequentemente são os mais trabalhados na ati-
vidade laboral — e alongar os músculos mais solicitados no cotidiano
de trabalho dos funcionários, equilibrando as tensões da musculatura
agonista e antagonista. Ao contrário da ginástica laboral preparatória,
este tipo é realizado durante o expediente de trabalho, ajudando a
reduzir as tensões da atividade ocupacional, servindo como uma pausa
ativa no trabalho, diminuindo o estresse a tensão e ainda fortalecendo
a musculatura do trabalhador.
3. Ginástica laboral corretiva: este tipo de ginástica laboral é bastante
especializado e deve ser aplicado a um grupo específico de pessoas: as
que possuem desvios posturais e/ou alterações morfológicas corporais.
Deve ser sempre pensada e executa em conjunto com uma equipe
multidisciplinar de médico do trabalho, enfermeiros e fisioterapeutas
para entender cada caso, com a finalidade de recuperar instâncias de
lesões graves, de limitações e de condições ergonômicas.

A ginástica laboral corretiva pode ser aplicada junto a trabalhadores com desvios
posturais importantes, como escolioses, que podem alterar o movimento corporal e
laboral. Para isso, é necessário realizar um trabalho muscular específico para este desvio
postural, buscando fortalecer e alongar as musculaturas que ajudarão a corrigi-lo.

4. Ginástica laboral de relaxamento: mais indicada para funcionários


com uma longa jornada laboral, baixa exigência física e alta exigência
intelectual, buscando um relaxamento muscular e mental dos trabalha-
dores. Por essas características, sua prática é mais indicada perto do fim
ou após o expediente de trabalho, garantindo uma liberação de tensão
que elevará a qualidade das atividades fora do trabalho.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Atividade Física Como Prevenção a LERs e DORTs | PARTE 2 111
8 Atividade física como prevenção de LERs e DORTs

É importante que o profissional contratado para realizar um programa de


ginástica laboral em uma empresa compreenda as características de cada um
desses tipos, adequando os programas especializados para cada trabalhador e
sua jornada laboral. Vale lembrar que essas atividades podem ser realizadas em
pequenos grupos ou de maneira individual, em casos muito específicos. Esses
cuidados ajudarão a garantir um bom atendimento, o que, por consequência,
trará benefícios para a saúde e bem-estar dos trabalhadores, sendo esse o
principal objetivo da ergonomia e da ginástica laboral.

3 A importância da educação física para


os portadores de LERs e DORTs
LERs e DORTs surgem a partir de situações estressoras da musculatura,
criando distúrbios musculoesqueléticos que podem evoluir para lesões e co-
morbidades mais graves e impactantes na saúde do indivíduo. Como já citado,
o profissional de educação física pode ser um aliado na melhoria do quadro
geral de saúde dos trabalhadores, não apenas ao implementar um programa
de ginástica laboral, mas também estimular um incremento das atividades
diárias desses indivíduos. Como LER/DORT surgem de desequilíbrios na
estrutura musculoesquelética, adicionar hábitos que envolvam o fortalecimento,
o alongamento e a mobilidade dessas estruturas cria condições para que elas
suportem os movimentos oriundos das atividades laborais sem gerar danos
à saúde do trabalhador.
Além dos benefícios à realização das atividades laborais, podemos incluir
a prática regular de atividade física orientada como um fator de promoção da
saúde física e mental na vida pessoal daqueles trabalhadores que adquiriram
ao longo dos anos alguma doença ocupacional e que buscam estratégias de
recuperação e fortalecimento para as estruturas lesionadas.
Além delas, existem também algumas estratégias que devem ser obser-
vadas atentamente. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2019) recomenda que
todos os empregadores estejam adequados à Norma Regulamentadora 17,
que estabelece parâmetros ergonômicos para a atividade laboral, buscando
aumentar o conforto e o bem-estar de todos os empregados, diminuindo as
lesões ocupacionais. Além disto, também é interessante que haja uma pro-
ximidade com a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador
para informar e prevenir as LERs e DORTs.
112 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividade física como prevenção de LERs e DORTs 9

No link a seguir, você conhecer mais a fundo a Norma Regulamentadora 17.

https://qrgo.page.link/2oUcP

Por mais que muitas ações possam ajudar a prevenir as LERs e DORTs,
tais problemas podem surgir pelos mais diferentes fatores, até mesmo con-
gênitos e hereditários. Por isso, nessas situações é de suma importância que
empregador e empregado assumam a responsabilidade sobre o tratamento,
buscando o atendimento médico especializado. Esse atendimento costuma ser
realizado por um médico do trabalho, que pode encaminhar o sujeito a um
atendimento mais direcionado, a fim de realizar o tratamento adequado para
voltar às suas atividades ocupacionais e laborais, que muitas vezes terão de
sofrer adaptações em termos de função e mobiliário.

Por mais que o professor de educação física possa exercer um impacto positivo nos
quadros de dor quando uma LER ou um DORT já estão instaurados no sujeito, é
importante que o tratamento especializado (médico e fisioterapêutico) seja realizado
pelo período determinado pelos especialistas, que devem ter um trabalho articulado
com o profissional responsável pelo programa de ginástica laboral da empresa para
que, após o período agudo do quadro da doença, possam ser empregadas estratégias
de manutenção, prevenção e diminuição da dor com o uso dos estímulos adequados
para cada caso.

Além das estratégias já citadas e da ginástica laboral, possuir uma rotina


ativa também parece ser importante para melhorar a qualidade de vida dos
portadores de LER e DORT. Pensando nisso, países como os Estados Unidos
criam programas que buscam aumentar a qualidade de vida mediante a prática
de atividade física diária, incluindo ações de deslocamento e trabalho, buscando
criar hábitos ativos (MACIEL et al., 2005).
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Atividade Física Como Prevenção a LERs e DORTs | PARTE 2 113
10 Atividade física como prevenção de LERs e DORTs

As ações de incentivo a uma vida mais ativa buscam compreender e iden-


tificar os hábitos do trabalhador, verificando a qualidade e a quantidade de
atividade física diária dos empregados, para então aplicar as devidas soluções
(como substituir o elevador por escadas, ou sair da estação de trabalho para falar
pessoalmente com alguém, ao invés de fazer uma ligação) e ainda incentivar a
prática de exercícios nos horários de lazer, buscando diminuir o sedentarismo
e melhorar a percepção de qualidade de vida (MACIEL et al., 2005).
Peretti Neto e Marques (2014) realizaram um estudo junto a trabalhadores
com cargos de características mais sedentárias (administrativos) e mais ativas
(de campo). Para isso, aplicaram um questionário de qualidade de vida, que
mostrou que os trabalhadores que possuíam um trabalho mais ativo tinham
uma percepção maior de qualidade de vida do que aqueles com um trabalho
tipicamente mais sedentário, revelando como o trabalho adequado do profis-
sional de educação física e uma vida mais ativa podem auxiliar os portadores
de LER e DORT.
Outro estudo relacionou o nível de atividade física com a qualidade de
vida, encontrando uma relação interessante. Nesse estudo, foi encontrado que
fatores emocionais como um humor mais deprimido possuem relação com uma
baixa quantidade de atividade física. Outra conclusão foi que fatores como
o ambiente (físico e social) podem interferir na prática de atividade física, o
que está relacionado com uma boa percepção de qualidade de vida (COSTA;
SILVA; MACHADO, 2018). Isso sugere que há uma relação proporcional
entre quantidade e qualidade de atividades físicas e o humor e a percepção
da qualidade de vida, demonstrando que pessoas mais ativas tendem a ser
menos deprimidas.
Sabendo que o sedentarismo pode causar diversas doenças, como a obe-
sidade, um estudo de Paixão, Paixão e Franco (2009) traz uma relação inte-
ressante da obesidade com os acidentes de trabalho, mostrando que uma boa
parcela dos trabalhadores afastados por comorbidades do sistema musculoes-
quelético estavam acima do peso, tornando a obesidade um fator associado à
perda de produtividade no trabalho. Esse dado é importante, uma vez que a
atividade física orientada por um profissional qualificado tem o potencial de
reduzir o peso corporal, que parece ser um fator de risco para diversas doenças
crônicas, além das doenças laborais como LER e DORT.
Dessa forma, fica claro que as características do trabalho afetam diretamente
a vida pessoal dos funcionários, e vice-e-versa, não sendo possível dividir entre
“corpos de trabalho” e “corpos de lazer” e mostrando que todas as escolhas
interferem no andamento de todas as esferas da vida humana contemporânea.
114 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividade física como prevenção de LERs e DORTs 11

Além disto, esses dados mostram quantos benefícios as atividades físicas


são capazes de proporcionar, mostrando-se uma ferramenta interessante de
manutenção da saúde corporal e psicológica. Além de melhorar a qualidade de
vida e a saúde, também cria um cenário interessante para as empresas, que, ao
terem funcionários mais saudáveis, acabam apresentando uma rentabilidade
maior, criando assim um ciclo de incentivo e de ganhos mútuos.

BARBOSA, M. S. A; SANTOS, R. M.; TREZZA, M. C. F. S. A vida do trabalhador antes e após


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Atividade Física Como Prevenção a LERs e DORTs | PARTE 2 115
12 Atividade física como prevenção de LERs e DORTs

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MACIEL, R. H. et al. Quem se beneficia dos programas de ginástica laboral? Cadernos
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dade%20fisica%20e%20percepcao%20da%20qualidade.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 13 jan. 2020.
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cional. Lesão por Esforço Repetitivo / Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho
(LER/DORT): cartilha para pacientes. São Paulo: Sociedade Brasileira de Reumatologia,
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Leituras recomendadas
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física. Revista CONFEF, ano 6, v. 23, p. 12–14, 2007.
NASCIMENTO, J. S.; GERIBELLO, R. S.; AMARANTE, M. S. A correlação entre ergonomia
e os reflexos sociológicos dos acidentes ao trabalhador e família. Revista Pesquisa e
Ação, v. 5, n. 3, p. 76–94, 2019. Disponível em: https://revistas.brazcubas.br/index.php/
pesquisa/article/view/743. Acesso em: 13 jan. 2020.
RIBEIRO, A. J. P.; PINHEIRO, C. E. S. Ginástica laboral na Unoesc, Campus de São Miguel
do Oeste/SC: atividades e benefícios. Anuário Pesquisa e Extensão Unoesc São Miguel
do Oeste, v. 3, p. e19985, 12 dez. 2018. Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.
edu.br/apeusmo/article/view/19985. Acesso em: 13 jan. 2020.
SILVA, M. B. M. et al. Tecnologia leve e dura: elaboração de uma cartilha de ginástica
laboral para colaboradores de uma fábrica. Encontro de Extensão, Docência e Iniciação
Científica (EEDIC), v. 5, n. 1, mar. 2019. Disponível em: http://publicacoesacademicas.unica-
tolicaquixada.edu.br/index.php/eedic/article/view/3131/2708. Acesso em: 13 jan. 2020.
116 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividade física como prevenção de LERs e DORTs 13

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unidade

Parte 3
Doenças Crônico-Degenerativas

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118 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Doenças crônico-
degenerativas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Discutir a influência do exercício físico nas doenças crônico-dege-


nerativas neurais.
„ Descrever a fisiopatologia das doenças crônico-degenerativas osteo-
articulares e a sua relação com exercício físico.
„ Reconhecer os potenciais benefícios do exercício físico no controle
da aids, da fibromialgia e do câncer.

Introdução
As doenças crônico-degenerativas afetam muitas pessoas e seus sin-
tomas restringem a movimentação diária desses indivíduos, acarretam
em perdas na qualidade de vida e desencadeiam sintomas associados,
como a depressão e a ansiedade. Os exercícios físicos, além de reduzirem
a incidência de várias dessas doenças por meio de sua prática regular,
ainda podem contribuir no tratamento e na recuperação dos pacientes,
reduzindo ou revertendo os impactos patológicos causados.
Neste capítulo, você vai compreender as principais doenças crônico-
-degenerativas neurais e osteoarticulares, a aids, o câncer e a fibromialgia,
as relações da prevenção dessas patologias e a promoção da saúde e da
qualidade de vida por meio dos exercícios físicos.

Influência do exercício físico nas doenças


crônico-degenerativas neurais
A degeneração de alguns tecidos é um processo natural do corpo humano.
À medida que envelhecemos, muitos tecidos apresentam perdas em tamanho e
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 119
2 Doenças crônico-degenerativas

em composição, que podem comprometer, também, o seu funcionamento. Em


alguns casos, esse fenômeno é acelerado por condições patológicas crônicas.
As doenças crônico-degenerativas afetam, de forma geral, indivíduos
da vida adulta, uma vez que muitas delas possuem incubação não inferior a
20–25 anos, isto é, se desenvolvem a partir de um processo longo e duradouro
(GILLIAM; MACCONNIE, 1984).
Por refletir uma condição que não se manifesta na infância e na adoles-
cência, os programas de promoção da saúde e, em especial, os currículos
escolares, pouco investem suas práticas para a adoção de hábitos saudáveis
que possam vir a evitar essas doenças ou minimizar os efeitos que elas possam
causar nos sujeitos que venham a desenvolvê-las. Portanto, as ações focadas no
tratamento dessas doenças, que revertem ou amenizam os seus efeitos, serão
realizadas pela educação física fora do ambiente escolar. Nesta seção, iremos
discutir as principais doenças crônico-degenerativas neurais e a influência
do exercício físico.

Esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma desordem desmielinizante dos axônios, em que
a autoimunidade acaba por destruir as estruturas nervosas, o que ocasiona
episódios repetidos de disfunção neurológica. Sua causa ainda é bastante des-
conhecida; no entanto, a hipótese mais aceita é a de que a esclerose múltipla é
fruto da predisposição genética e de algum fator ambiental desconhecido. Essa
doença provoca desordens no sistema imunológico que geram autolesões na
substância branca neural, isso resulta na perda de oligodendrócitos e mielina,
o que causa a dificuldade da transmissão dos impulsos nervosos (MOREIRA
et al., 2000). A dificuldade na condução nervosa tem como sinais e sintomas
principais as alterações sensitivas no sistema vestibular e as alterações mo-
toras, entre elas:

„ fraqueza muscular (principal sintoma);


„ marcha instável e lenta com tremores nas extremidades;
„ movimentos rápidos e involuntários dos olhos;
„ espasticidade (hipertonia muscular);
„ debilidade;
„ rigidez;
„ instabilidade no equilíbrio;
„ cansaço anormal;
„ distúrbios e dores pelo corpo;
120 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 3

„ fraqueza e perda da coordenação motora dos membros superiores e


inferiores;
„ dificuldades em andar ou em manter o equilíbrio, podendo ocorrer
perda da capacidade de andar.

Com os inúmeros sinais e sintomas que afetam o desempenho motor,


podemos esperar que os indivíduos acometidos pela esclerose múltipla têm
a suas vidas diárias bastante afetadas. A fraqueza muscular típica da doença
representa uma dificuldade grande em tarefas muito simples, como subir ou
descer uma escada. Além disso, é comum o desenvolvimento de depressão
frente às dificuldades encontradas para a locomoção e nos cuidados corporais
básicos, o que diminui a qualidade de vida (JANARDHAN; BAKSHI, 2002).
Nesse sentido, os exercícios físicos são grandes aliados no tratamento
dessa doença. O quadro clínico sugere que treinamentos aeróbicos sejam
realizados em cicloergômetros, uma vez que esses aparelhos podem com-
pensar a espasticidade, os déficits de força muscular, de equilíbrio e de fadiga
(PETAJAN et al., 1996).
A prática da ioga, especialmente em grandes grupos, tem sido indicada e
tem apresentado resultados significativos na aptidão aeróbica e no combate à
depressão (PETAJAN; WHITE, 1999). Outra atividade recomendada para a
esclerose múltipla são aquelas desenvolvidas em meio aquático, pois reduzem
a ação da gravidade e permitem maior equilíbrio e amplitude articular para
realizar movimentos que são difíceis em terra (SUTHERLAND; ANDERSEN,
2001).

Esclerose lateral amiotrófica


A esclerose lateral amiotrófica (ELA), também chamada de doença de Lou
Gehrig, é uma patologia caracterizada pela degeneração progressiva de células
nervosas do encéfalo e da medula espinhal. A morte dos neurônios motores
ocasiona a inatividade dos músculos responsáveis pelos movimentos voluntários
e involuntários. Ela pode ser adquirida ou hereditária. Quando afeta a região
dorsal da medula, afeta os nervos dos membros superiores, primeiramente, em
um dos lados, passando a afetar o outro lado do corpo, posteriormente. Quando
afeta as células nervosas do tronco cerebral, atinge de forma recorrente os
nervos que controlam os músculos dos olhos, da língua, da faringe e da face
(ASHWORTH; SATKUNAM; DEFORGE, 2012). Entre os sintomas e sinais
mais comuns, encontram-se os seguintes:
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 121
4 Doenças crônico-degenerativas

„ fraqueza progressiva;
„ atrofia muscular;
„ diminuição da força muscular;
„ cãibras musculares;
„ tremor involuntário das mãos;
„ perda de equilíbrio;
„ contrações involuntárias e descoordenação dos músculos;
„ hiperreflexia (reflexos muito ativos/reflexos exagerados);
„ disartria (dificuldade de articular as palavras de maneira correta);
„ disfagia (dificuldade na deglutição — engolir a saliva e os alimentos);
„ perda de peso;
„ paralisia da função respiratória, que pode levar a queixas de cansaço.

A associação entre a prática de atividades físicas e a ELA é bastante con-


troversa. Alguns estudos têm apresentado que o exercício físico pregresso
desencadeia o processo degenerativo (STRICKLAND et al., 1996; SCARMEAS
et al., 2002). Por outro lado, alguns estudos têm apresentado que não há uma
relação entre a prática de atividades físicas e o desencadeamento patológico
(LONGSTRETH et al., 1998; VELDINK et al., 2005).
Em relação ao tratamento da ELA e sua relação com o exercício físico,
diversos estudos têm apontado o treinamento de força muscular como benéfico
frente à perda progressiva dessa valência física. O treinamento de força pode
ocasionar a redução na deterioração nas escalas de espasticidade, a redução
no declínio da força e o aumento da capacidade funcional (NORDON; ES-
PÓSITO, 2009).

O termo “esclerose” significa endurecimento do tecido e pode se referir a:


„ aterosclerose — doença inflamatória dos vasos sanguíneos;
„ ELA — doença neurodegenerativa;
„ esclerose múltipla — doença neurológica crônica que é desmielinizante;
„ esclerose sistêmica — doença crônica degenerativa, caracterizada pela produção
excessiva de colágeno e morte de diversos tecidos do corpo;
„ esclerose tuberosa — doença genética que causa tumores em vários órgãos do
corpo humano.
122 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 5

Síndrome de Parkinson
A síndrome de Parkinson é uma doença que ocasiona a morte dos neurônios
produtores de dopamina e não apresenta causas específicas (CORRÊA, 1996).
O local mais comum de degeneração celular é a substância negra presente na
base do mesencéfalo, que é responsável pela produção do neurotransmissor
dopamina. No entanto, com o avançar da doença, outras regiões, além da
substância negra, podem ser afetadas, levando a anormalidades na produção
de outros neurotransmissores (serotonina, acetilcolina e noradrenalina). De
forma geral, as zonas afetadas são as responsáveis pelo controle motor. Entre
os sintomas e sinais mais comuns, encontram-se:

„ rigidez dos músculos;


„ tremor;
„ bradicinesia (lentidão dos movimentos);
„ instabilidade postural;
„ perda de reflexos posturais.

Em indivíduos com síndrome de Parkinson, o risco de queda é bastante


grande. Nesse sentido, as atividades físicas regulares podem contribuir para
melhora do equilíbrio e da marcha, menor dependência para realização de
atividades diárias, melhora da autoestima e da autoconfiança e significativa
melhora da qualidade de vida (NÓBREGA et al., 1999).

A Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson


(APDPk), uma instituição de Portugal, lançou em 2014,
um manual com o objetivo de transmitir os conhecimen-
tos produzidos por médicos, cientistas, fisioterapeutas
e psicólogos de forma clara e simples para o doente, o
seu cuidador e a comunidade civil. Para ter acesso a esse
documento, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/6mXCMB
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 123
6 Doenças crônico-degenerativas

Doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer é uma patologia progressivamente incapacitante
que atinge os neurônios do cérebro. A morte dos neurônios está associada à
acumulação e à deposição cerebral de aglomerados proteicos. Com isso, as
mitocôndrias neuronais têm seu funcionamento alterado, levando à falta de
energia dos neurônios e desencadeando processos inflamatórios no cérebro
(STELLA, 2006).
Em geral, as áreas afetadas pela doença de Alzheimer são responsáveis
pelas funções cognitivas, pela linguagem, pela agilidade nos movimentos
e pelo equilíbrio. Diversos estudos têm apontado para a importância das
atividades aeróbicas para a manutenção e a melhora da oxigenação cerebral,
contribuindo para as funções cognitivas e para a linguagem. Além disso, os
treinamentos de força, de tomadas de decisão e de agilidade são importantes
para a manutenção da realização das atividades de vida diária (COELHO et
al., 2009).
É possível pensar que as doenças crônico-degenerativas neurais compro-
metem a qualidade de vida de pessoas de ambos os sexos. Elas são bastante
comuns na vida adulta e têm se expressado com maior ênfase no início do
envelhecimento. As atividades físicas são importantes instrumentos na preven-
ção a essas doenças e também na manutenção e na recuperação das funções
motoras e cognitivas que foram comprometidas. Na próxima seção, vamos
buscar compreender como os processos degenerativos afetam os ossos e as
articulações.

Relação entre o exercício físico e as doenças


crônico-degenerativas osteoarticulares
Os ossos e as articulações podem apresentar alterações degenerativas que res-
tringem o movimento e as atividades rotineiras dos indivíduos, principalmente
dos idosos, que são as pessoas mais atingidas por essas alterações patológicas.
A seguir, vamos discutir cada uma delas e sua relação com o exercício físico.
124 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 7

Osteoartrose
A osteoartrose (ou osteoartrite) é uma doença degenerativa que afeta as car-
tilagens de articulações que sustentam o peso corporal como, por exemplo, o
joelho. É uma doença bastante comum em indivíduos com mais de 50 anos de
idade e atinge entre 44% e 70% dessa população. Em indivíduos acima de 75
anos de idade, a estimativa é de que atinja cerca de 80% das pessoas (REJAILI
et al., 2005). Entre os sinais e os sintomas mais comuns, podemos identificar:

„ dor intensa;
„ rigidez matinal;
„ crepitação óssea;
„ atrofia muscular;
„ estreitamento do espaço intra-articular;
„ formações de osteófitos;
„ esclerose do osso subcondral;
„ formações císticas.

Na osteoartrose, a cartilagem é o tecido que sofre mais alterações: perde sua natureza
homogênea e é rompida e fragmentada, com fibrilação, fissuras e ulcerações. Veja a
Figura 1.

Articulação normal Destruição da cartilagem

Terminação Esporão
Osso ósseo
óssea
Cartilagem
diluída
Cartilagem Cartilagem
em diluição

Figura 1. Desenvolvimento da artrose dentro de uma articulação. É possível observar a


articulação saudável, a forma como ocorre o seu estreitamento e o afinamento da cartilagem
em demasia a ponto de impedir o impacto entre as duas estruturas ósseas.
Fonte: Adaptada de Tefi/Shutterstock.com.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 125
8 Doenças crônico-degenerativas

Como consequência da osteoartrose, as pessoas tendem a se movimentar


menos e a perder a qualidade de vida. A atividade física, por meio de terapia
física local, de reabilitação, de exercícios, de redução dos fatores mecânicos
sobre a articulação, e ainda, de terapias alternativas, podem proporcionar à
pessoa acometida melhorias no quadro patológico e manutenção da função
articular, o que reflete principalmente no ganho de qualidade de vida dessas
pessoas.
Entre os exercícios que auxiliam no combate às limitações impostas pela
osteoartrite, os treinamentos de força muscular têm se demonstrado efetivos
nos ganhos dessa força, na melhora da dor e da função do tempo de caminhada.
Os exercícios aquáticos, por diminuírem a pressão exercida nas articulações do
joelho e do quadril e por permitirem os movimentos por mais tempo, podem
contribuir na melhora da aptidão física. Os exercícios isocinéticos também
têm se demonstrado eficientes na melhora da função articular e na diminuição
da dor (DUARTE et al., 2013).

Osteopenia e osteoporose
A osteopenia consiste na perda da densidade mineral óssea que, se não tratada,
leva ao quadro de osteoporose. A osteoporose, de forma geral, se encontra
relacionada à deficiência de cálcio e de vitamina D, ao sedentarismo, à baixa
ingestão de proteínas e à ingestão inadequada de alimentos alcalinizastes,
como frutas e hortaliças (VIEIRA, 2013). Essa patologia se encontra, com
maior frequência, em mulheres no período pós-menopausa, em razão das
alterações hormonais características dessa fase. Embora o processo de perda
da densidade óssea não seja reversível, ele pode ser evitado e amenizado com
o tratamento que geralmente ocorre com a reposição hormonal, com a ingestão
de cálcio e com a complementação desses tratamentos com exercícios que têm
cargas de peso e impactos (GALLAHUE; OZMUN, 2013).
Diversas pesquisas têm buscado identificar as influências dos exercícios
físicos no tratamento e na recuperação da osteoporose. O Quadro 1 traz uma
síntese desses estudos.
126 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 9

Quadro 1. Estudos realizados com indivíduos idosos osteoporóticos

Tipo de
exercício
realizado Objetivo do Complementação
no estudo exercício ao exercício Resultados

Caminhadas Preservação Não houve A densidade


rápidas da densidade mineral óssea
mineral óssea do quadril
em mulheres apresentou
osteoporóticas poucos ganhos

Corrida e Redução dos Não houve Houve leve


exercício de riscos de queda aumento no
extensão equilíbrio
de joelho estático, no
equilíbrio
dinâmico e
na força de
extensão
do joelho

Comparação de Verificação Não houve Quanto maior


atividade física da influência o nível de
diária por meio da atividade atividade
de acelerômetro física habitual física, maior
na densidade a densidade
mineral de ossos mineral do osso
em indivíduos
submetidos
à terapia de
substituição
hormonal

Extensão Diminuição do Não houve Exercícios de


isométrica de risco de fraturas força de baixa
tronco (posição vertebrais, intensidade
antigravitacional) fortalecimento são capazes
da musculatura de melhorar a
extensora de qualidade de
troco e melhora vida e a força
da qualidade dos extensores
de vida da coluna em
pacientes com
osteoporose

(Continua)
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 127
10 Doenças crônico-degenerativas

(Continuação)

Quadro 1. Estudos realizados com indivíduos idosos osteoporóticos

Tipo de
exercício
realizado Objetivo do Complementação
no estudo exercício ao exercício Resultados

Cadeia cinética Melhora da Não houve Exercícios de


aberta para qualidade de vida alongamentos
fortalecimento gerais, em cadeia
dos músculos cinética aberta
extensores e caminhada
e flexores aumentaram
do joelho a qualidade
de vida de
mulheres com
osteoporose

Modificação Prevenção Cálcio e vitamina D Programas de


do estilo de de fraturas educação e
vida quanto mudança de
a exercício e comportamento
nutrição com base na
comunidade
podem reduzir
de forma
significativa
os fatores de
risco para
osteoporose
e fraturas
relacionadas

Treinamento de Diminuição de Cálcio e vitamina D Muito eficiente


força muscular, riscos de queda, para diminuir
coordenação, aumento da risco de quedas.
equilíbrio e força muscular Eficiente para os
resistência e do nível de demais objetivos
atividade física

Exercícios de Redução dos Não houve As melhorias


equilíbrio, riscos de queda foram
coordenação e clinicamente
deambulação significativas e
aumentaram ao
longo do tempo

Fonte: Adaptado de Santos e Borges (2010).


128 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 11

Como o Quadro 1 aponta, a atividade física é essencial para a manutenção


da densidade óssea. Uma das grandes preocupações que afetam a qualidade de
vida de indivíduos com osteoporose são as quedas, que acarretam em constantes
fraturas em razão da densidade óssea diminuída. Os estudos indicam que o
treinamento de força muscular, de coordenação, de equilíbrio e de resistência
são essenciais para o tratamento do indivíduo osteoporótico, pois reduz os
riscos de queda e ameniza a perda de densidade mineral.
Com efeito, os exercícios físicos são muito importantes nas patologias
crônico-degenerativas, sejam elas neurais ou osteoarticulares. Além dessas
doenças, podemos evidenciar que, durante os últimos anos, houve avanços
científicos na pesquisa de doenças como o câncer e a aids. Na próxima seção,
vamos discutir a relação entre o exercício físico e essas patologias.

Benefícios do exercício físico no controle


da aids, do câncer e da fibromialgia
O exercício físico é essencial para a promoção da saúde e para o incremento
da qualidade de vida, esteja a pessoa com a afecção de alguma patologia ou
não. Nos casos em que os indivíduos sofrem com algumas doenças específicas,
o exercício físico pode ser fundamental para o controle e a recuperação do
paciente. Nesta seção, vamos elaborar uma breve discussão sobre a importância
do exercício físico no controle da aids, do câncer e da fibromialgia, patologias
que afetam muitos brasileiros.

O exercício físico no controle da aids


A aids é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV, do inglês human
immunodeficiency virus). O HIV é um retrovírus que causa a imunossupressão
profunda e o consequente quadro de infecções oportunistas, neoplasmas
secundários e distúrbios neurológicos (RASO et al., 2007) com a supressão
de linfócitos T CD4+ e glóbulos específicos, e compromete o potencial de
defesa do sistema imune. A aids é uma doença crônica e potencialmente letal.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 129
12 Doenças crônico-degenerativas

A aids foi reconhecida em 1981, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças


(CDC) dos Estados Unidos. No Brasil, segundo estimativas do Programa Conjunto
das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), estima-se que existam 630 mil pessoas
vivendo com o HIV, ou 0,6% da população adulta.

A transmissão do HIV ocorre pelo contato sanguíneo direto ou pelo con-


tato com fluidos corporais que contenham o vírus ou as células infectadas
pelo vírus. Esse contato envolve três vias de transmissão: o contato sexual, a
inoculação parenteral e a passagem do vírus da mãe ao filho recém-nascido. A
principal via de transmissão é o sexo sem o uso de preservativos. A infecção
pelo HIV se manifesta em quatro fases, descritas a seguir:

1. Infecção aguda — aparecimento de sinais bastante semelhante a outras


doenças virais, como, por exemplo, febre e dor de cabeça.
2. Fase assintomática ou latência clínica — caracterizada pela ausência
de sinais. Essa fase pode durar anos.
3. Fase sintomática inicial ou precoce — caracterizada pelas alterações
progressivas da imunidade como surgimento de febre prolongada,
diarreia crônica, perda de peso, suores noturnos, perda de força física
e aumento de glândulas.
4. aids.

A principal forma farmacológica de tratamento consiste na terapia antir-


retroviral de alta atividade (HAART, do inglês highly active anti-retroviral
therapy), que diminui a replicação viral e induz a consequente diminuição
da quantidade de vírus no sistema sanguíneo. Ainda que a HAART tenha
representado ganhos em relação à sobrevida do indivíduo com HIV, alguns
efeitos colaterais são bastantes evidentes:

„ Síndrome da perda de peso — a HAART promove o decréscimo na


massa muscular celular e a desregulação neuroendócrina, o que ocasiona
a redução no peso corporal.
„ Lipodistrofia — é uma síndrome caracterizada principalmente por
acúmulo de gordura visceral, por perda de gordura periférica nas extre-
midades e face e por distúrbio no metabolismo dos lipídios que exerce
130 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 13

consequências deletérias à integridade biopsicossocial do indivíduo


com HIV.

Além desses fatores, é comum observar o menor volume respiratório de


indivíduos com HIV do que de indivíduos que não apresentam essa condição.
Outros fatores bastante presentes são o desenvolvimento de osteopenia e os-
teoporose e a predisposição para o desenvolvimento de doenças cardíacas por
meio da calcificação da artéria coronariana, principalmente quando associadas
a hábitos de vida não saudáveis (MONTEIRO et al., 2011).

O exercício físico é um grande aliado no controle da aids, pois pode amenizar os efeitos
colaterais induzidos pela terapia farmacológica. Durante o exercício físico, neutrófilos
e linfócitos têm suas produções aumentadas. No entanto, o exercício físico bastante
intenso pode representar uma queda nos linfócitos após a prática, constituindo uma
janela para a contração e o desenvolvimento de infecções por até 72 horas. Logo, os
exercícios mais adequados devem ser executados em uma intensidade moderada e
por curta duração, sendo eles tanto aeróbicos quanto anaeróbicos (RASO et al., 2007).

Entre os benefícios mais evidentes do exercício físico para pessoas com


HIV, podemos constatar a melhoria da composição corporal, de problemas
cardiovasculares, nos aspectos psicológicos, do quadro de dislipidemia (dis-
túrbio nos níveis de lipídios e/ou lipoproteínas no sangue), em problemas como
osteopenia e osteoporose, do sistema imune e a redução da pressão arterial
(PALERMO; FEIJÓ, 2003).

O exercício físico no controle do câncer


O câncer é uma doença caracterizada por neoplasias benignas e malignas,
em que as células tendem a se multiplicar rapidamente e a se espalhar para
outras regiões do corpo. Mesmo com o tratamento adequado, as reincidências
da doença são bastante comuns (STEVENS; LOWE, 1996). Indivíduos com
câncer desenvolvem um intenso catabolismo, que pode resultar em atrofia
muscular, em perda de peso, em fadiga intensa, entre outras complicações.
Nesse sentido, os estudos que relacionam a prática de atividades físicas para
a prevenção e o controle do câncer são frequentes.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 131
14 Doenças crônico-degenerativas

O tratamento do câncer ocorre por três motivos principais: a cura do pa-


ciente, o prolongamento da vida (frente à irreversibilidade do quadro patológico)
e a melhora da qualidade de vida do paciente. O objetivo dos tratamentos,
portanto, dependem do estágio de avanço e do tipo de câncer a que cada in-
divíduo é acometido. De forma geral, o tratamento do câncer ocorre por meio
de cirurgia (para remoção de tumores), de quimioterapia, de radioterapia, de
hormonoterapia e de imunoterapia (NUNES, 1996). Associado a isso, muitos
estudos têm se dedicado a buscar outros métodos que venham a promover a
cura ou o controle do quadro patológico, como é o caso do exercício físico.
Com os avanços das pesquisas relacionando os hábitos de vida com o
desenvolvimento do câncer, é possível pensar que o sedentarismo se apresenta
como um fator de risco para o desenvolvimento da doença e a incidência da
mortalidade. Everson et al. (2003) concluem que os níveis de aptidão cardior-
respiratória e a obesidade são determinantes para o risco de morte em pacientes
com câncer. Como associação, os autores mencionam que índices elevados de
aptidão cardiorrespiratória podem impedir a formação de neoplasias.
No mesmo sentido, Nogueira e Lima (2018) concluem que o exercício físico
está relacionado à redução de danos celulares, ao efeito epigenético (regulação
de genes) e à redução dos efeitos deletérios de outras doenças preexistentes,
como é o caso da obesidade e da diabetes. O exercício físico também inibe a
produção de insulina e aumenta a ativação do sistema imunológico, contri-
buindo para a prevenção de neoplasias.
Em relação aos benefícios do exercício para o tratamento do câncer, Dimeo,
Rumberger e Keul (1998) relatam que a maioria dos indivíduos com câncer
experimenta perda de energia e limitação no desempenho físico. Esses fenô-
menos ocorrem, em grande parte, em razão dos tratamentos quimioterápicos
e radioterápicos e também estão associados ao desenvolvimento da depressão,
da esclerose múltipla e a da artrite. Nessa mesma perspectiva, Nogueira e Lima
(2018) ressaltam que o treinamento físico causa alterações no hipotálamo/
hipocampo, capazes de regular o apetite e liberar o hormônio BDNF, que atua
na ativação do crescimento do tecido nervoso. Também é capaz de reduzir as
inflamações neuronais, melhorar a cognição e a saúde mental. Esses resultados
têm como consequência a redução dos efeitos colaterais ocasionados pela
quimioterapia, pela radioterapia, pela hormonoterapia e pela imunoterapia, a
destruição de células cancerígenas e a regulação dos genes.
Quanto aos tipos de exercícios que podem ser realizados para o tratamento
de indivíduos com câncer, temos as seguintes recomendações:
132 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 15

Quanto à modalidade: a maioria dos exercícios que envolvem grandes gru-


pos musculares é apropriada, porém caminhar e pedalar são especialmente
recomendados. É imperativo modificar a modalidade do exercício com base
nos efeitos do tratamento agudo/crônico da cirurgia, da quimioterapia e/ou
da radioterapia.

Quanto à frequência: pelo menos, de três a cinco vezes por semana; porém o
exercício diário pode ser ótimo para os pacientes com câncer não condicionados,
que devem realizar exercícios de intensidade mais leve e de duração mais curta.

Quanto à intensidade: intensidade moderada, dependendo do nível atual de


aptidão e da gravidade dos efeitos colaterais dos tratamentos. As diretrizes
incluem 50% a 70% do consumo máximo de oxigênio (VO2máx.) ou 60% a
80% da frequência cardíaca (FC) máxima.

Quanto à duração: pelo menos de 20 a 30 minutos contínuos, porém esse


objetivo poderá ser alcançado em múltiplas sessões intermitentes mais curtas
(por exemplo, de 5 a 10 minutos) com intervalo de repouso para os pacientes não
condicionados ou que experimentam efeitos colaterais graves do tratamento.

Quanto à progressão: a progressão inicial deve ser na frequência e na du-


ração e, somente quando essas metas tiverem sido alcançadas, a intensidade
poderá ser aumentada. A progressão deve ser mais lenta e mais gradual para
os pacientes não condicionados ou que experimentam efeitos colaterais graves
do tratamento.
Dessa forma, é possível reconhecer que a atividade física é positiva para a
prevenção do câncer e para o tratamento dessa doença. É importante destacar
que, embora muitos estudos apresentem com veemência os benefícios da ativi-
dade física, diversos outros estudos ainda apontam que as investigações devem
se aprofundar, especialmente para identificar os mecanismos de formação de
neoplasias que são evitados pelos exercícios físicos.

O exercício físico no controle da fibromialgia


A síndrome da fibromialgia é uma doença reumática não inflamatória que afeta
principalmente mulheres brancas com idade entre 40 e 55 anos. É caracterizada
por dor muscular esquelética intensa e difusa em pontos específicos (chamados
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 133
16 Doenças crônico-degenerativas

de tender points) e sensíveis à palpação de 4kg. As causas da fibromialgia são


desconhecidas, embora alguns indícios apontem a relação com predisposição
genética, alterações neuroendócrinas, psicossomáticas e do sono, incluindo
outros fatores externos, como trauma, artrite periférica e possível microtrauma
muscular por descondicionamento físico (SANTOS; KRUEL, 2009).
Como principais sintomas associados, além das dores musculoesqueléticas
associadas, também ocorrem:

„ distúrbios do sono;
„ rigidez matinal;
„ cefaleia crônica;
„ distúrbios psíquicos.

A dor intensa pode dificultar os movimentos rotineiros e diminuir os perí-


odos de sono, induzindo os indivíduos a quadros de depressão e ansiedade e,
como consequência, a redução da qualidade de vida. Por ser uma síndrome de
difícil diagnóstico e tratamento, é comum o paciente desenvolver sentimentos
de vulnerabilidade e desamparo e iniciar uma série de processos emocionais,
incluindo alterações de humor.
Frente a isto, Bressan et al. (2008) sugerem que os exercícios de alongamento
façam parte do tratamento de pacientes com síndrome de fibromialgia, pois
conduzem para a melhora do sono e a rigidez matinal, comum nesses casos.
Outros exercícios físicos muito indicados são os aeróbicos de baixo impacto.
Valim et al. (2003) apontam que os exercícios aeróbicos têm demonstrado
resultados satisfatórios na diminuição da dor e dos sintomas emocionais e
psicológicos. Em especial, os programas de exercícios físicos incluem o alon-
gamento, o fortalecimento muscular, a hidroterapia e os exercícios aeróbios,
como caminhada, bicicleta e natação.
De forma geral, nota-se que os exercícios de baixa intensidade são os mais
eficazes, pois produzem diminuição do impacto da fibromialgia na qualidade
de vida dos indivíduos. No mesmo sentido, Steffens et al. (2011) afirmam que o
exercício mais prescrito é o aeróbio de baixo impacto, com gradativo aumento
de carga e intensidade de até 65 a 70%. Com isso, a prática de caminhadas
regulares pode representar aumentos na qualidade do sono e os estados de
humor em indivíduos com síndrome da fibromialgia.
134 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Doenças crônico-degenerativas 17

Para melhor compreender as atividades que devem ser oportunizadas para indivíduos
com fibromialgia, apresentamos como exemplo algumas possibilidades:
„ Aeróbicos — pedalada, caminhada, trote, natação. Fazer um exercício aeróbico três
vezes por semana ajuda a manter o peso e a manter níveis elevados de hormônios
que permitem o relaxamento muscular.
„ Musculação — existem estudos apontando que treinos de resistência melhoram
os sintomas da fibromialgia.
„ Pilates — o método trabalha a postura corporal, a flexibilidade, o equilíbrio e a
respiração, contribuindo para relaxar os músculos e combater a ansiedade e a
depressão.
„ Exercícios no meio líquido — natação ou hidroginástica favorecem a diminuição
das dores e possibilitam os movimentos mais amplos.
„ Alongamento — embora não existam tantos estudos sobre essa técnica no tra-
tamento da fibromialgia, há indícios de que ajuda a contornar a rigidez.

O exercício físico e os programas de intervenção são essenciais para a


manutenção da saúde e da qualidade de vida de indivíduos que venham a
desenvolver alguma patologia. Não só na prevenção e no tratamento das
doenças, os exercícios físicos também auxiliam no combate aos desequilí-
brios emocionais, como a depressão e a ansiedade, que acomete muitos dos
indivíduos que sofrem com as doenças crônico-degenerativas.

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Leituras recomendadas
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HAYNES, R. B. et al. Epidemiologia clínica: como fazer pesquisa clínica na prática. 3. ed.
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Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Doenças Crônico-Degenerativas | PARTE 3 137

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138 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 4
Saúde na Escola

O conteúdo deste livro


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140 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde na escola
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Identificar os tipos de obesidade infantil e as comorbidades associadas.


„ Desenvolver estratégias de promoção à saúde e combate à obesidade
infantil no ambiente escolar.
„ Definir parâmetros de prescrição de exercícios para crianças e adoles-
centes obesos e as formas de controle e acompanhamento necessários.

Introdução
A obesidade infantil é um problema de saúde pública com múltiplos
determinantes. Para conter seu crescimento, são necessárias diversas
ações, principalmente de âmbito escolar, uma vez que é na escola que
a criança e o adolescente passam grande parte do seu dia. A prática de
atividade física dentro da escola, com a correta orientação, é fundamental
na prevenção e no tratamento da obesidade infantil.
Neste capítulo, você vai conhecer os tipos de obesidade infantil e as
comorbidades associadas a ela. Além disso, vai estudar as estratégias de
promoção à saúde e de combate à obesidade infantil bem como os pa-
râmetros de prescrição de exercícios para crianças e adolescentes obesos.

Obesidade infantil
A obesidade é considerada uma doença crônica e multifatorial, sendo o distúrbio
nutricional mais comum na infância (BRASIL, 2017). Trata-se de “[...] uma
desordem da composição corporal caracterizada por um excesso absoluto ou
relativo de massa gorda, levando a um aumento do índice de massa corporal
(IMC)” (CAMINATO; YABARRA; FRANCO, 2017, p. 3). Seu evento final
é uma ingestão calórica superior ao gasto energético, levando ao acúmulo de
tecido adiposo.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 141
2 Saúde na escola

Já está suficientemente estabelecido que o IMC o melhor parâmetro para


definir a obesidade. São consideradas com excesso de peso pessoas com IMC
igual ou acima de 25 e obesas as que possuem IMC igual ou acima de 30. Esse
número é obtido por meio da divisão do peso do indivíduo pela altura dele ao
quadrado (BRASIL, 2017).
Para crianças e adolescente, entretanto, junto com o IMC utilizam-se
ainda as curvas de percentil ou o escore-z de acordo com a idade para avaliar
o peso do indivíduo.
As curvas preconizadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria são as da
Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual considera que “[...] indivíduos
com IMC acima do percentil 85 ou acima de um desvio-padrão (+1 escore-z)
são considerados como acima do peso ou com sobrepeso, e com IMC acima de
97 ou acima de dois desvios-padrão (+2 escore-z), como obesos” (CAMINATO;
YABARRA; FRANCO, 2017, p. 3). Os mesmos autores salientam que em
crianças menores de 5 anos, caracteriza-se sobrepeso quando o IMC estiver
acima de +2 escore-z e a obesidade acima de +3 escore-z.
A obesidade tem etiologia multifatorial, com determinantes hereditários,
genéticos, ambientais, metabólicos, comportamentais, culturais e socioe-
conômicos, os quais interagem e se potenciam (CAMARINHA; GRAÇA;
NOGUEIRA, 2016). Com base em estudos científicos, os autores sugerem
que o excesso de peso durante a infância é um fator de risco para o desenvol-
vimento de obesidade na idade adulta. Eles calculam que cerca de 60% das
crianças que se apresentem nessas condições antes da puberdade manterão,
quando jovens adultos, o excesso de peso, com efeitos adversos em curto e
longo prazo, que afetam a qualidade de vida do adulto.
Em um estudo publicado na revista Lancet, a revista de maior impacto na
área da saúde, a obesidade na infância e adolescência aumentou dez vezes em
quatro décadas (NCD RISK FACTOR COLLABORATION, 2016). Acredita-se
que os períodos mais críticos para o desenvolvimento da obesidade sejam na
fase intrauterina, nos primeiros dois anos de vida e na adolescência (BRASIL,
2017).
Os fatores de risco para o desenvolvimento da obesidade na infância são:

„ prematuridade, bebês pequenos para idade gestacional;


„ bebês grandes para idade gestacional;
„ filhos de mães diabéticas, pais obesos;
142 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Saúde na escola 3

„ interrupção precoce do aleitamento materno;


„ introdução inadequada da alimentação complementar, com oferta de
alimentos ricos em gorduras e açucares;
„ uso de leite de vaca antes de um ano de idade.

Além dos determinantes biológicos, a forte influência do ambiente no


desenvolvimento da obesidade infantil também deve ser considerada, e me-
didas que incidam no ambiente alimentar devem ser desenvolvidas e apoiadas
(BRASIL, 2017).
Afinal, quais os problemas que isso pode acarretar na vida adulta? As
principais comorbidades associadas à obesidade infantojuvenil são as doenças
cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica (HAS), aterosclerose corona-
riana e doença cerebrovascular, além de síndrome metabólica, diabetes melito
tipo 2 (DM-2), síndrome do ovário policístico (SOP), colecistopatias, apneia
obstrutiva do sono (AOS), doenças degenerativas das articulações, problemas
psicológicos e câncer (CAMINATO; YABARRA; FRANCO, 2017, p. 3).
Diante desse cenário, o professor de educação física tem papel fundamental
na luta contra a obesidade. Cabe a ele incentivar medidas preventivas e hábitos
de vida saudáveis, por meio, principalmente, da prática regular de atividade
física para além dos muros da escola. Também é seu papel promover iniciativas
que envolvam estratégias de combate à obesidade, como a implementação de
projetos sociais no contraturno escolar.

IMC × obesidade infantojuvenil


No que diz respeito à obesidade na infância e adolescência, o IMC é, na atualidade,
um aceitável indicador antropométrico preditivo de excesso de peso. Ele apresenta
muitas vantagens, como facilidade de aplicação, baixo custo associado e o fato de se
tratar de uma avaliação não invasiva. Isso, somado às dificuldades inerentes a outros
métodos de avaliação da quantidade de gordura corporal e à falta de referências
que permitam a sua interpretação, fazem do IMC ajustado para a idade o melhor
indicador para definir a pré-obesidade e a obesidade infantil (ONIS; LIBSTEIN, 2010
apud CAMARINHA; GRAÇA; NOGUEIRA, 2016, p. 35).
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 143
4 Saúde na escola

Estratégias de combate à obesidade infantil


De acordo com o Manual de diretrizes para o enfrentamento da obesidade
na saúde suplementar brasileira (BRASIL, 2017, documento on-line), as
estratégias para a prevenção da obesidade infantojuvenil devem se basear em:

„ desenvolvimento de ações educativas de promoção da alimentação


saudável desde o pré́ -natal;
„ promoção do aleitamento materno;
„ introdução adequada da alimentação complementar, de acordo com as
recomendações técnicas;
„ estímulo ao conhecimento sobre a importância da atividade física e
de práticas corporais no desenvolvimento da criança e do adolescente;
„ promoção de atividades físicas lúdicas e recreativas;
„ observação do comportamento sedentário;
„ promoção adequada de horas de sono;
„ controle do tempo de tela a que crianças e adolescentes estão submetidos
(TV, tablet, celular e jogos eletrônicos);
„ identificação dos pacientes de risco.

Vale ressaltar também as soluções para reduzir a obesidade infantojuvenil


propostas pela OPAS (2017). A OMS incentiva os países a implementarem
esforços para abordar os ambientes que hoje estão aumentando a chance de
obesidade em crianças e adolescentes. Para tanto, os países devem buscar
reduzir o consumo de alimentos baratos, ultraprocessados, com excesso de
calorias e pobres em nutrientes. Devem buscar reduzir o tempo ‘‘em tela’’ que
as crianças passam em atividades de lazer sedentárias e promover uma maior
participação em atividades físicas recreativas e esportivas.
A iniciativa da OMS, Ending Childhood Obesity, objetiva orientar os países
sobre as ações necessárias para implementar programas de combate à obesi-
dade. Essas ações são baseadas em seis áreas-chave, conforme vemos a seguir.

1. Implementação de programas integrais que promovam o consumo


de alimentos saudáveis e a diminuição do consumo de alimentos não
saudáveis e de bebidas açucaradas na infância e adolescência.
2. Implementação de programas integrais para a promoção das ativida-
des físicas e a redução de comportamentos sedentários na infância e
adolescência.
144 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Saúde na escola 5

3. Integração e fortalecimento das orientações para a prevenção de do-


enças crônicas não transmissíveis, com ênfase nas orientações sobre
preconcepção e cuidados pré-natais, para reduzir o risco de obesidade
na infância.
4. Fornecimento de orientações e apoio para dietas saudáveis, sono e
atividades físicas durante a primeira infância, para assegurar que os
hábitos saudáveis sejam adquiridos desde a mais tenra idade.
5. Implementação de programas integrais para a promoção de ambientes
escolares saudáveis, com aulas sobre saúde e nutrição e atividades
físicas para os escolares.
6. Oferta de serviços multicomponentes familiares de gestão de peso e
estilo de vida para crianças e adolescentes obesos.

Por meio das diretrizes que acabamos de ver, podemos perceber que a
prevenção deve começar desde o pré́ -natal, com a identificação de fatores de
risco familiar, a orientação e o monitoramento do estado nutricional da gestante
(BRASIL, 2017). No tratamento, e na prevenção também, os programas de
intervenção no ambiente escolar tornam-se essenciais, e aqueles que envolvem
a prática de atividade física têm se mostrado bastante eficazes.

A importância da educação física escolar na prevenção


da obesidade: recomendações gerais
A atividade física pode contribuir para o enfrentamento da obesidade, uma
vez que a prática de atividade física na infância e na adolescência auxilia
no equilíbrio do balanço energético e, consequentemente, na prevenção e
no tratamento da obesidade e de doenças relacionadas à obesidade nessa
fase da vida. Além disso, crianças e adolescentes ativos tendem a se tornar
adultos ativos, aumentando o gasto energético durante todo o ciclo de vida e
tendo menor probabilidade de desenvolver obesidade e doenças relacionadas
à obesidade na fase adulta. Por outro lado, jovens inativos têm mais de 90%
de chance de se tornarem adultos sedentários (HEARNSHAW; MATYKA,
2010 apud BRASIL, 2017).
Dentro desse contexto, a educação física escolar exerce papel essencial
no combate à obesidade, não apenas durante as aulas, mas, principalmente,
na conscientização sobre a importância de se realizar atividades físicas para
além dos muros da escola. Desse modo, a educação física busca despertar
no aluno o interesse pela prática constante da atividade física, alertar sobre
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 145
6 Saúde na escola

a problemática da inatividade física e da obesidade e enfatizar a importância


dos hábitos saudáveis e da alimentação balanceada.
Esses pressupostos são amparados por Darido (2004), que considera que a
educação física escolar deve buscar influenciar os escolares para a adoção de
hábitos regulares da prática de atividades físicas fora do seu horário e ambiente
escolar, ou seja, o aluno não deve se limitar a praticar atividades apenas nas
aulas de educação física, mas também em casa, nos espaços destinados ao
lazer, no seu tempo livre.
De acordo com a nova Base Nacional Comum Curricular — BNCC
(BRASIL, 2017), a educação física oferece uma série de possibilidades para
enriquecer a experiência de crianças e adolescentes, e por isso a partir dela

[...] é possível assegurar aos alunos a (re)construção de um conjunto de conhe-


cimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos
e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia
para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas
finalidades humanas (BRASIL, 2017, documento on-line).

Entre os elementos fundamentais comuns às práticas corporais está o


produto cultural, vinculado ao lazer e ao entretenimento e/ou ao cuidado com
o corpo e a saúde (BRASIL, 2017); nesse contexto, a conscientização sobre
os hábitos saudáveis no que concerne à obesidade é fundamental. Assim,
podemos encontrar na BNCC o amparo à saúde escolar quando descritos os
deveres do professor de educação física em abordar essa temática por meio
de seus conteúdos.
Especificamente quanto aos conteúdos voltados ao debate sobre a proble-
mática da obesidade, podemos citar a ginástica, na qual, entre suas diferentes
manifestações, encontra-se a ginástica de condicionamento físico. Podemos
verificar a importância dada à saúde da criança e do adolescente na ginástica
na seguinte citação (BRASIL, 2017, documento on-line):

[...] as ginásticas de condicionamento físico se caracterizam pela exercitação


corporal orientada à melhoria do rendimento, à aquisição e à manutenção da
condição física individual ou à modificação da composição corporal. Geral-
mente, são organizadas em sessões planejadas de movimentos repetidos, com
frequência e intensidade definidas.
146 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Saúde na escola 7

Pelo fato de almejar a mudança na composição corporal, a ginástica vai ao


encontro da proposta de prevenção e tratamento da obesidade.

Em princípio, todas as práticas corporais (ginástica, danças, lutas, esportes, brincadeiras


e jogos), podem ser objeto do trabalho pedagógico focado no combate à obesidade,
em qualquer etapa e modalidade de ensino, fazendo os escolares refletirem, critica-
mente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de
saúde/doença.

Atualmente, crianças e adolescentes têm apresentado níveis de atividade


física abaixo do ideal em relação à intensidade, duração, periodicidade, gasto
energético, entre outros, indicando uma crescente inatividade física e um
consequente aumento de diversas morbidades associadas ao sedentarismo
(LIMA et al., 2010). Para o combate à inatividade física, a OMS (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2015) preconiza, por meio de recomendações,
o que seria o ideal para a criança e para o adolescente serem considerados
suficientemente ativos. Essas recomendações incluem a prática regular de
atividade física — dependendo da idade, uma média de 60 minutos diários
com intensidade moderada a vigorosa — e a redução do comportamento
sedentário — ou seja, do “tempo em tela”, que deve ser inferior a 2 horas por
dia em crianças e adolescentes (5–17 anos).
No Quadro 1, é possível verificar as recomendações que contemplam a
primeira infância, a segunda infância e a adolescência.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 147
8 Saúde na escola

Quadro 1. Recomendações de atividade física para crianças e adolescentes

De 0 a 2 anos De 3 a 5 anos De 6 a 19 anos


de idade de idade de idade

Bebês devem ser A criança deve As crianças e


encorajados a serem acumular pelo menos adolescentes devem
fisicamente ativos, 180 minutos de acumular pelo menos
mesmo que por curtos atividade física de 60 minutos diários
períodos, brincando, qualquer intensidade, de atividades físicas
engatinhando, distribuída ao longo do moderada à intensa,
arrastando, alcançando, dia. Recomendam-se como pedalar, nadar,
segurando, puxando brincadeiras ativas, correr, saltar e outras
e empurrando; os que como andar de bicicleta; atividades que
ainda não começaram também atividades tenham, no mínimo,
a engatinhar, movendo na água, jogos de a intensidade de uma
a cabeça, o corpo perseguir e jogos com caminhada. Qualquer
e os membros. bola são as melhores tempo superior a esta
Crianças que maneiras para essa faixa recomendação mínima
conseguem andar etária se movimentar. resulta em benefícios
sozinhas devem ser A partir dos 3 anos de adicionais para a saúde.
fisicamente ativas todos idade, atividades físicas Crianças e adolescentes
os dias, durante pelo estruturadas, como devem ser encorajados
menos 180 minutos. natação, danças, lutas, a participar de uma
O “tempo de tela” esportes coletivos, entre variedade de atividades
(TV, tablet, celular, outras, também podem que contribuam para
jogos eletrônicos) ser incluídas, desde o desenvolvimento
deve ser nulo. que sejam realizadas natural, atividades
de maneira lúdica. lúdicas e estimulantes.
O “tempo de tela” deve O “tempo de tela” deve
ser de até 2 horas por ser de até 2 horas por
dia, sendo que, quanto dia, sendo que, quanto
menos tempo gasto menos tempo gasto
frente às telas, melhor. frente às telas, melhor.

Fonte: Adaptado de Brasil (2017, documento on-line).

É de grande valia o conhecimento sobre essas recomendações por parte do


professor de educação física, de modo que ele possa instruir de maneira eficaz
sobre a importância da prática de atividade física na creche ou pré-escola,
Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio. Dentro desse contexto, podemos
ponderar que, em uma aula tradicional de educação física (ou seja, que dura
de 45 a 50 minutos), descontando-se o tempo gasto com outras atividades —
realização da chamada, liberação dos alunos para beber água, tempo que o
148 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Saúde na escola 9

aluno aguarda na fila a sua hora de realizar uma tarefa —, sobra pouco tempo
para o aluno realizar atividades físicas com intensidade moderada a vigorosa.
Alguns estudos realizados com o uso de acelerômetro têm verificado que o
tempo médio que os alunos passam “se movimentando” nas aulas de educação
física é de 20 minutos. Esse tempo não é suficiente para que os escolares
cumpram as recomendações sobre a prática de atividades físicas. Desse modo,
aumenta ainda mais a importância da reflexão e da conscientização sobre os
hábitos de vida saudáveis por parte desses professores para além das aulas.

Programas de intervenção em escolares


com obesidade
As escolas são ambientes essenciais para a promoção de saúde e para a realiza-
ção de intervenções para o combate à obesidade, o que acaba por proporcionar
o desenvolvimento da consciência crítica para a construção e a promoção de
uma dieta saudável, da prática regular de atividade física e do monitoramento
do status nutricional na infância e adolescência (SCHUH et al., 2017). Diversas
agências internacionais, como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças
dos Estados Unidos (CDC) e o Instituto de Medicina dos Estados Unidos
(IOM), lançaram campanhas com diretrizes para a promoção de saúde em
escolas, visando a abordar a epidemia de obesidade e suas consequências
(SCHUH et al., 2017).
Em nível nacional podemos destacar o Programa Saúde na Escola (PSE),
realizado em parceria com o Ministério da Saúde e da Educação. O objetivo
desse programa é promover a qualidade de vida junto aos estudantes da rede
pública de ensino por meio de ações de prevenção, promoção e atenção à
saúde (BRASIL, 2018). O PSE pertence ao eixo de Promoção da Saúde do
Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis (DCNT) no Brasil, 2011–2022; entre os objetivos do plano está
a redução da prevalência de obesidade infantil (BRASIL, 2011).
Muitos programas destinados aos escolares com obesidade apresentam
como intervenções o aumento da oferta da atividade física e alimentação
saudável, a redução do “tempo de tela”, a realização de café́ da manhã̃ no
ambiente escolar, além da conscientização da importância dessas medidas
por meio de elementos educacionais (FREITAS et al., 2017). De acordo com
os mesmos autores, a partir da realização de metanálises, foi possível veri-
ficar a efetividade dos programas para o desfecho do percentual de gordura
corporal. Além disso, as revisões sistemáticas realizadas mostraram reduções
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 149
10 Saúde na escola

estatisticamente significativas nos desfechos do escore-z do IMC e do IMC


em quatro dos dez estudos avaliados.
Em outra revisão sistemática, realizada por Wolf et al., (2017), a qual buscou
verificar a efetividade de programas de intervenções educacionais baseadas
na orientação sobre atividade física e nutrição em escolares, concluiu-se que

[...] as intervenções baseadas na orientação de atividade física e/ou de nutrição


foram eficientes, contudo os estudos que associaram a atividade física às
intervenções apresentaram resultados melhores e mais significativos quando
comparados àqueles que realizaram programas baseados somente na orientação
(WOLF et al., 2017, documento on-line).

Entretanto, observou-se a necessidade da realização de novos estudos que


abordem as intervenções educacionais em escolares.
Esses dados reforçam ainda mais a relevância da prática de atividade
física como estratégia efetiva no combate à obesidade. Acredita-se que os
profissionais de educação física que realizarem ações que provoquem mu-
danças positivas no estilo de vida das crianças e adolescente com sobrepeso
e obesidade podem ter um papel importante para tornar esses escolares mais
engajados em tarefas mais ativas.

Parâmetros de prescrição de exercícios para


crianças e adolescentes obesos
Para a prescrição de exercícios físicos para crianças e adolescentes com obe-
sidade, devem ser observados os princípios apresentados a seguir, descritos
por Santos e Leme (2017).

„ Intensidade do exercício: é determinada empregando-se a porcentagem


da frequência cardíaca máxima (FCM), obtida por meio da equação
de Tanaka: 208 − (0,7 × idade). Em adolescentes obesos, sugere-se
que, para otimizar a oxidação lipídica, a intensidade do exercício deva
ser de 58% da FCM. Deve-se incentivar que a criança afira a própria
frequência cardíaca e perceba o esforço realizado, para conscientização
e autorregulação da intensidade do exercício prescrito.
150 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Saúde na escola 11

„ Frequência, duração e tipo do exercício: crianças obesas devem


realizar pelo menos 60 minutos diários de atividade física moderada
a vigorosa, com exercícios aeróbios estruturados. Tradicionalmente,
recomendam-se atividades predominantemente aeróbicas, que promo-
vam a aptidão cardiorrespiratória. Em razão da intolerância a esse tipo
de exercício, estuda-se permitir que a criança e o adolescente realizem
exercícios resistidos, que facilitem a sustentação do peso corporal,
favorecendo a adesão ao programa. A prescrição deve ser diferente
das crianças estróficas, em razão das restrições da obesidade, e deve
ter caráter lúdico e estrutura sequencial. Em obesidade grave podem
ser adotadas as seguintes etapas de exercícios:
1. educativos de postura, consciência corporal;
2. resistidos, fortalecimento dos membros inferiores;
3. de equilíbrio, estático e dinâmico;
4. aeróbios, posição sentada e em pé.

Ainda para Santos e Leme (2017), no caso de crianças com obesidade


grave, inicialmente, são indicadas atividades que envolvam a sustentação do
próprio peso corporal, com a utilização dos membros inferiores e superiores,
como a bicicleta estacionária horizontal e o cicloergômetro de braço. Todas as
brincadeiras podem ser adaptadas de acordo com o peso corporal e a compe-
tência motora da criança. Cuidados especiais devem ser tomados para evitar
assaduras entre as coxas, axila e regiões mais vulnerável ao atrito. Roupas
leves e confortáveis e calçados com amortecimento, além da hidratação correta,
devem ser priorizados.

Atividade física no tratamento da obesidade


infantojuvenil: recomendações gerais
O Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (HC–FMUSP), realiza, com a ajuda de pro-
fissionais da educação física, um aconselhamento de atividades físicas para
o tratamento da obesidade na infância e adolescência. Esse aconselhamento
procura seguir as diretrizes que vimos neste capítulo e abrange, durante o
período de atendimento do paciente, as etapas demonstradas no Quadro 2
(SANTOS; LEME, 2017).
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 151
12 Saúde na escola

Quadro 2. Aconselhamento de atividade física no tratamento da obesidade na infância


e adolescência

Avaliação da Compreende medidas de peso e altura,


composição corporal de pregas cutâneas, de perímetros
corporais e de diâmetros abdominais.

Histórico de hábitos Levantamento de atividade física escolar,


de atividade física atividades programadas (natação, academia,
dança no contraturno), atividades de lazer,
transporte e atividades domésticas. Verificação
das atividades físicas de maior preferência das
crianças e dos adolescentes, da disponibilidade
para a realização de atividades físicas e do
nível de participação em todas elas.

Hábitos de Levantamento do tempo despendido em atividades


inatividade física sedentárias e diante de telas (celular, computador,
televisão e videogame). Tem como objetivo
verificar a rotina da criança e a distribuição de
atividades ao longo do dia, em situação de vigília.

Hábitos de sono Levantamento do horário de dormir e acordar


e da presença de períodos de sono durante o
dia (cochilos e sonecas), além de verificação
da presença de distúrbios do sono (roncos e
apneia), que influenciam na qualidade do sono.

Orientações de Aconselhamento aos pais e esclarecimentos sobre


atividade física a necessidade de se estabelecer limites e uma
rotina diária na qual a prática de atividade física
e um estilo de vida mais ativo estejam presentes.
Como as crianças desenvolvem padrões de
movimento segundo a faixa etária e as escolhas
de atividades físicas, as sugestões de atividades
são ajustadas à criança e ao adolescente.

Proposta de atividades Devem ser observadas a natureza do exercício e a


considerando as sequência das etapas de readequação de habilidades
necessidades especiais e capacidades motoras para acompanhamento mais
da criança obesa efetivo em programas de exercício físico, além da
intensidade, frequência, duração e tipo de exercício.

Fonte: Adaptado de Santos e Leme (2017).


152 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Saúde na escola 13

De acordo com Frontzek, Bernardes e Modena (2017), para compreender


a obesidade infantil e pensar em intervenções mais eficazes, deve-se consi-
derar o sentido atribuído à obesidade, as relações familiares, as condições
socioeconômicas e todos os elementos que circundam o fenômeno. Deve-se
ainda enfocar a criança, e não a obesidade. A criança deve ser vista de forma
integral e repleta de possibilidades existenciais, dadas as condições adequadas
para isso (FRONTZEK; BERNARDES; MODENA, 2017).
Diante do exposto, questiona-se de que modo podemos implementar e
avaliar os efeitos de diferentes estratégias no combate à obesidade infantil
no âmbito escolar, com ênfase no incentivo e na influência na prática de
atividade física.
Estima-se que 50% da atividade física de crianças e adolescentes sejam
realizados no ambiente escolar (WOLF et al., 2017). Considerando que a escola
é o lugar onde essa população passa a maior parte do seu dia, pode ser, portanto,
considerada um ambiente ideal para a promoção de atividades físicas, não
somente durante as aulas de educação física curricular, mas, principalmente,
por meio de projetos que possam ser desenvolvidos no contraturno escolar.
É urgente a mudança de paradigma em toda a sociedade, aumentando o
conhecimento, a compreensão e a valorização dos múltiplos benefícios da
atividade física regular. Essa mudança deve iniciar já na infância, e, no caso de
crianças e adolescentes que já apresentam fatores de risco como a obesidade,
a atividade física é essencial e deve fazer parte do tratamento.

O documentário Muito além do peso aborda a temática da obesidade infantil no Brasil e


no mundo por meio de entrevistas e relatos com pais representantes das escolas, mem-
bros do governo e responsáveis pela publicidade de alimentos. Pautado em estudos
científicos, ele explica por que a obesidade tem feito diversas crianças apresentarem
doenças de adultos. Eles relatam também a influência negativa que a publicidade
exerce no comportamento alimentar das crianças e a carência de educação nutricional
nas escolas. Vale a pena conferir.
Acesse e assista ao documentário na íntegra:

https://qrgo.page.link/n4AuN
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 153
14 Saúde na escola

Diante do exposto, e considerando que, atualmente, grande parte das


crianças no mundo é especialista em jogos eletrônicos e analfabeta corporal,
podemos concluir que a questão da inatividade física é de extrema relevância
em termos de saúde pública, uma vez que ela é considerada o quarto maior
fator de risco de morte do mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2015). Neste capítulo, vimos como a prática de atividades físicas contribui de
modo essencial tanto para a prevenção quanto para o tratamento de doenças
multifatoriais, incluindo a obesidade e suas comorbidades.
Hábitos adquiridos na infância tendem a persistir na vida adulta. Por esse
motivo, promover e sustentar os benefícios da atividade física junto a crian-
ças e adolescentes é uma meta global de muitos países pertencente à Active
Healthy Kids Global Alliance. Hoje, mais da metade das crianças e 80% dos
adolescentes no mundo são insuficientemente ativos. Recentemente, essa meta
foi estendida também para a vida adulta, por meio de um plano de ação global
para a atividade física 2018−2030, intitulado Be Active, promovido pela OMS
(2018). O objetivo é diminuir a inatividade física em 10% até 2025 e em 15%
até 2030. Todos esses esforços surgem em resposta à crescente morbidade por
doenças não transmissíveis, e buscam reduzir o impacto dos principais fatores
de risco, como a inatividade física e a obesidade.
Assim, aumenta a importância de intervenções no âmbito escolar e da
atuação do professor de educação física escolar como agente de transformação
do estilo de vida na infância e adolescência.

BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Manual de diretrizes para o enfretamento


da obesidade na saúde suplementar brasileira. Rio de Janeiro: ANS, 2017. Disponível em:
http://www.ans.gov.br/images/Manual_de_Diretrizes_para_o_Enfrentamento_da_
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BRASIL. Ministério da Educação. Programa saúde nas escolas. Brasília, DF, 2018. Disponível
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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Plano de ações estratégicas
parao enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.
pdf. Acesso em: 11 jul. 2019.
154 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Saúde na escola 15

CAMARINHA, B.; GRAÇA, P.; NOGUEIRA, P. J. Prevalência de pré-obesidade/obesidade


nas crianças do ensino pré-escolar e escolar na autarquia de Vila Nova de Gaia, Portugal.
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CAMINATO, L.; YABARRA, M.; FRANCO, R. R. Obesidade. In: NERI, L. de C. L. et al. (org.).
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dade em adolescentes: revisão sistemática e metanálise. Ciências Saúde, v. 28, n. 2, p.
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FRONTZEK, L. G. M.; BERNARDES, L. R.; MODENA, C. M. Obesidade infantil: compreender
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LIMA, R. B. et al. Padrão de atividade física em crianças e jovens: um breve resumo do
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OPAS. Obesidade entre crianças e adolescentes aumentou dez vezes em quatro décadas,
revela novo estudo do Imperial College London e da OMS. Brasília, DF, 2017. Disponível
em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id
=5527:obesidade-entre-criancas-e-adolescentes-aumentou-dez-vezes-em-quatro-
-decadas-revela-novo-estudo-do-imperial-college-london-e-da-oms&Itemid=820.
Acesso em: 11 jul. 2019.
SANTOS, C. R. P. dos; LEME, R. B. de A. Aconselhamento de atividade física em obesidade
infanto-juvenil. In: NERI, L. de C. L. et al. (org.). Obesidade infantil. Barueri, SP: Manole, 2017.
SCHUH, D. S. et al. Escola saudável é mais feliz: design e protocolo de um ensaio clinico
randomizado desenvolvido para prevenir o ganho de peso em crianças. Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, v. 108, n. 6, p. 501−507, 2017.
WOLF, V. L. W. et al. Efetividade de programas de intervenção para obesidade com
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Geneva: WHO, 2015. Disponível em: https://www.who.int/dietphysicalactivity/global-
-PA-recs-2010.pdf. Acesso em: 11 jul. 2019.
Exercício Físico na Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas e Degenerativas | UNIDADE 2
Saúde na Escola | PARTE 4 155
16 Saúde na escola

Leituras recomendadas
BRASIL. Base nacional comum curricular: [educação infantil e ensino fundamental].
Brasília, DF: MEC; Secretaria de Educação Básica, 2017. Disponível em: http://basena-
cionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 11 jul. 2019.
MUITO além do peso. [S.l. : s.n.], 2013. 1 vídeo (1h). Publicado pelo canal Maria Farinha
Filmes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8UGe5GiHCT4&t=121s.
Acesso em: 11 jul. 2019.
ZANELLA, L. W. et al. Crianças com sobrepeso e obesidade: intervenção motora e suas
influências no comportamento motor. Motricidade, v. 12, supl. 1, p. 42−53, 2016. Disponí-
vel em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/mot/v12s1/v12s1a06.pdf. Acesso em: 11 jul. 2019.

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA


SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
156 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

3
Bases Clínicas Para Prescrição
de Exercício Físico na
Saúde e na Doença
Prezado estudante,
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados
com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado
tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os
tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Elaborar o processo de prescrição e monitoramento de programas de exercícios físico na saúde e na
doença, bem como o processo de prescrição de atividades para crianças, idoso e gestantes.
158 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 1
Práticas de Condicionamento
Físico Para Populações Especiais

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
160 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Práticas de condicionamento
físico para populações
especiais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as características específicas das populações especiais.


 Discutir cuidados, riscos e benefícios da prescrição de exercícios para
populações especiais.
 Apontar as práticas de condicionamento físico mais indicadas para
cada população especial.

Introdução
Devido a seus múltiplos benefícios, o exercício como prática para a
melhoria do condicionamento físico está em ascensão. Nesse sentido,
cada vez menos se observa a prescrição de um único tipo de exercício
e cada vez mais uma mescla desses estímulos, visando causar inúmeras
alterações positivas junto ao praticante. Podemos projetar essas melhorias
tanto para indivíduos saudáveis quanto para sujeitos com determinadas
particularidades ou cuidados especiais que, dependendo de suas altera-
ções metabólicas, poderão colher os benefícios da prática do exercício
de uma maneira mais intensa.
Neste capítulo, você conhecerá as características específicas das popu-
lações especiais, bem como os benefícios, riscos e cuidados da prescrição
de exercícios para populações especiais. Além disso, estudará as práticas
de condicionamento físico mais indicadas para cada população especial.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
161
2 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

1 Exercício físico e populações especiais


O exercício é uma prática extremamente importante para mantermos e me-
lhorarmos nossa qualidade de vida. Por meio dele, o corpo de uma maneira
geral tende a ficar mais eficiente e econômico para a realização de diferentes
atividades (DOMINSKI et al., 2019). Pensando na prescrição de exercícios
para promoção da saúde, o Colégio Americano de Medicina do Esporte reco-
menda que sejam realizadas ao menos duas sessões por semana, com duração
mínima de 30 minutos em intensidade moderada (AMERICAN COLLEGE OF
SPORTS MEDICINE, 2017). Naturalmente, essa recomendação de prescrição
de exercício é apenas uma premissa básica e, além dela, todos os cuidados
referentes a seleção, prescrição, acompanhamento e avaliação do treinamento
físico devem ser tomadas, sendo essas recomendações válidas tanto para
indivíduos saudáveis quanto para populações especiais, que requerem uma
atenção redobrada.
Entende-se por populações especiais um grupo de indivíduos com uma
condição clínica singular, que pode ser adquirida ou congênita, afetando
funções ou estruturas corporais e trazendo algumas dificuldades específicas
que podem limitar a atividade e participação em condições de igualdade com
as demais pessoas. De acordo com Andrella e Nery (2012), é justamente por
esse fator fisiológico que esses indivíduos se distinguem da “população geral”,
sendo colocados em um grupo especial, que requer supervisão adicional para
que a prescrição do treinamento seja segura e eficiente.
Apesar de exigir uma atenção maior do profissional de educação física que
acompanha esses grupos em sua rotina de treinamentos, o exercício físico gera
inúmeros benefícios para essas populações especiais, dentre os quais podemos
destacar a redução de sintomas e a melhoria do componente de aptidão física
e condição de saúde (DOMINSKI et al., 2019). Ou seja, o exercício físico
pode não curar cada um desses indivíduos, mas certamente trará adaptações
significativas para sua saúde e qualidade de vida.
Neste capítulo, abordaremos as seguintes populações: idosos, cardio-
patas, diabéticos, gestantes e obesos. Ao longo do texto, apresentarmos as
principais características de cada um desses grupos especiais, suas principais
limitações, pontos que exigem atenção/cuidado adicional do profissional de
educação física, os principais efeitos positivos do exercício para cada população
e estratégias de treinamento físico que podem ser extremamente eficientes
para seus praticantes especiais. Começaremos por uma condição que de certa
forma não é nem crônica nem adquirida, mas que, de todo modo, é almejada
por todos nós: a chegada à velhice.
162 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 3

Idosos
O envelhecimento é um processo natural, dinâmico e constante, influenciado
por uma série de fatores biopsicossociais que acarretam mudanças fisiológicas
significativas no corpo humano. Segundo Silveira (2017), apesar de ser um
processo natural, o envelhecimento não é vivenciado da mesma forma por
todas as pessoas, já que o ambiente, o contexto social, o contexto econômico
e o contexto familiar influenciam nesse processo e são fundamentais para que
transcorra bem e com saúde.
Considerando o processo de envelhecimento, observamos inúmeras mu-
danças fisiológicas no corpo e em seus diversos sistemas, como o nervoso, o
muscular, o cardiovascular, o endócrino, o respiratório e o esquelético, bem
como na integração entre eles. A maioria dessas mudanças ocasionadas pelo
envelhecimento representa processos que reduzem a capacidade funcional do
indivíduo idoso, prejudicando, por consequência, sua saúde e qualidade de
vida (SILVERTHORN, 2017).
O processo de envelhecimento pode começar a se tornar mais visível e
perceptível entre os 40–45 e os 60–65 anos de idade, podendo ser precoce ou
não dependendo dos hábitos e da qualidade de vida de cada pessoa. Além disso,
o processo de envelhecimento pode ser dividido em primário e secundário.

 O primário é caracterizado pelos processos deletérios fisiológicos


naturais do envelhecimento, independentemente da presença de
doenças ou de fatores do meio ambiente. Ou seja, são as mudanças
pelas quais todas as pessoas irão passar ao longo da vida devido à
degeneração celular.
 O secundário é caracterizado pelo somatório dos processos degenera-
tivos com a presença de doenças e fatores ambientais.

Esses efeitos deletérios do envelhecimento impõem mudanças significativas,


como no sistema neuromuscular, em que são observadas alterações como a
sarcopenia, um processo que envolve a perda de massa muscular e que, em
associação ao processo de dinapenia (perda de força muscular), impõe aos
idosos diversas limitações de movimentação e independência funcional. Ao
mesmo tempo, o envelhecimento também altera aspectos neurais, como o
processo de desmielinização dos neurônios, que causa uma diminuição na
velocidade de condução dos impulsos elétricos pelo sistema nervoso, afetando
a percepção do idoso, bem como sua velocidade de reação (AAGAARD et
al., 2007).
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Práticas de Condicionamento
163
4 Práticas de condicionamento físico para populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

A sarcopenia refere-se especificamente à perda de massa muscular associada ao


envelhecimento. No entanto, esse termo tem sido estendido à perda de força muscular
relacionada com o avanço da idade. A prevalência de sarcopenia é de aproximadamente
12% para adultos de 60 a 70 anos de idade, aumentando para 30% por volta dos 80
anos de idade. Na maioria dos estudos, seu desenvolvimento está fortemente asso-
ciado a elevada incapacidade, a desordens na marcha e no equilíbrio e a mortalidade
(CÂMARA; BASTOS; VOLPE, 2012).

Considerando o sistema esquelético, o processo de envelhecimento é


marcado por uma ineficiência na remodelação óssea, de forma que as ações
osteoclásticas, que induzem uma degradação óssea, ficam mais intensas e
frequentes que as ações osteoblásticas, que induzem uma síntese óssea. Dessa
forma, o envelhecimento promove um quadro de fragilidade óssea, conhecido
como osteoporose, em que há uma grande perda da densidade mineral óssea,
tornando os ossos mais frágeis e suscetíveis a fraturas.

A osteoporose é uma doença metabólica do tecido ósseo, caracterizada por perda gra-
dual da massa óssea, que enfraquece os ossos por deterioração da sua microarquitetura
tecidual, tornando-os mais frágeis e suscetíveis a fraturas. A perda da independência
funcional, decorrente da incapacidade de deambular, é a principal consequência da
fratura de quadril, seja por limitação funcional ou por medo de quedas. A inatividade
física leva à piora da osteoporose e aumenta ainda mais os riscos de novas quedas
(SANTOS; BORGES, 2010).

Observando os fatores recém-citados, identificamos que o idoso é um


indivíduo que vivencia diariamente o processo de envelhecimento, que causa
uma perda na percepção sensorial e espacial. Dessa forma, desequilíbrios são
mais frequentes. Quando ocorrem, devido à redução de força, resistência e
potência musculares, costuma haver uma grande dificuldade de retomada do
equilíbrio ora perdido, ocasionando uma queda. A queda, por sua vez, induz um
trauma físico de grande magnitude sobre os ossos do idoso, que já se encontram
fragilizados pela osteoporose e apresentam grande risco de fraturas. Caso
164 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 5

ocorra uma fratura no idoso, devido à sua fragilidade fisiológica, o processo


de cicatrização é mais complexo, demandando um tempo de recuperação
muito maior, durante o qual o idoso deverá permanecer imobilizado, reduzindo
significativamente seu nível de atividade física. Isso, consequentemente,
tornará as perdas funcionais causadas pelo envelhecimento ainda maiores, até
o desenvolvimento da síndrome da fragilidade, uma condição patológica com
grandes efeitos na saúde e qualidade de vida do idoso, além de uma grande
taxa de mortalidade.
Felizmente, o exercício físico tem se mostrado uma estratégia eficiente
no combate aos problemas causados pelo envelhecimento e para manter a
qualidade de vida durante o esse processo. Essa melhora da qualidade de vida
— e por consequência do condicionamento físico com o exercício — tende a
exercer uma influência favorável sobre a condição funcional do organismo e
sobre sua capacidade de desempenho. Segundo Cadore et al. (2014), a prática
de exercícios pode acarretar alterações benéficas para retardar os processos
deletérios do envelhecimento. Podemos observar, por exemplo, os resultados
da prática tanto no tecido ósseo quanto no muscular.
Considerando o sistema muscular, o treinamento físico é capaz de promo-
ver mudanças significativas nos níveis de força, massa muscular e potência
neuromuscular, representando um aumento extremamente importante dessas
valências físicas, que repercutem diretamente na independência funcional, bem
como na saúde e qualidade de vida. Para o tecido ósseo, o impacto proveniente
da prática da atividade física causa uma maior sobrecarga óssea, expondo o
osso a episódios de estresse e remodelamento e reduzindo o processo de oste-
oporose. Alguns estudos científicos indicam que há um efeito reverso, em que
o treinamento promove ganho de massa óssea; no entanto, isso não é consenso
na literatura. Seja como for, pelo mero fato de evitar um processo prejudicial
que é causado pelo envelhecimento, pode-se considerar que intervenções via
exercício são eficientes para o sistema ósseo (CHANDLER; BROWN, 2009).
Pensando na prescrição de exercícios para idosos, alguns estudos sugerem
que o treinamento concorrente é uma estratégia de treinamento físico mais
eficiente (CADORE; IZQUIERDO, 2003). O treinamento concorrente é um
método de treinamento físico que associa em uma mesma sessão o treinamento
de força, seja na forma de musculação ou de treinamento funcional, com o
treinamento aeróbico, realizado em esteira ou bicicleta ergométrica (cicloer-
gômetro). Esse método têm se mostrado eficiente, pois associa as adaptações
decorrentes do treinamento de força — como ganhos de massa muscular,
de força muscular, de potência muscular, de densidade mineral óssea, entre
outros — com os benefícios do treinamento aeróbico — como redução da
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
6 Práticas
Práticas de condicionamento físico para de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1
165

pressão arterial, redução de massa adiposa, aumento da capacidade aeróbica,


incrementos na resistência cardiorrespiratória, controle glicêmico, entre outros
(CADORE et al., 2010).
A prescrição do treinamento concorrente para idosos deve seguir uma
série de cuidados, desde a anamnese, que busca conhecer informações rele-
vantes do aluno, até o exame de doenças pré-existentes que possam afetar a
prescrição do exercício, como hipertensão arterial ou diabetes. Além disso, é
preciso identificar a experiência prévia do aluno com programas de exercício
físico. O planejamento deve envolver sessões de familiarização, cujo objetivo
é apresentar exercícios, movimentos e cuidados que o aluno deve ter com
os equipamentos. A prescrição de exercícios deve levar em consideração as
características, potencialidades e dificuldades de cada aluno, e sempre que
algum exercício causar algum desconforto específico, deve ser substituído
por outro exercício que trabalhe o mesmo grupo muscular.

Em um estudo recente, pesquisadores avaliaram o efeito benéfico potencial da prescri-


ção de treinamento de força com repetições máximas (SILVEIRA, 2017). Os pesquisadores
dividiram a amostra em três grupos diferentes e avaliaram os efeitos do treinamento
de força, dentro do treinamento concorrente, após 12 semanas. Os resultados desse
estudo demonstraram que grupos que obedeceram a regime de repetições até a falha
não obtiveram maiores incrementos de força ou massa muscular quando comparados a
grupos que realizaram o treinamento de força com um número reduzido de repetições.
Assim, conclui-se que não há necessidade de prescrever exercícios com repetições
máximas, já que essa condição, além de não trazer maiores incrementos, causa um
desconforto maior para os alunos, coloca-os em um risco mais elevado de lesão e
induz uma maior dor muscular tardia.

2 Condições crônicas

Cardiopatas
Cardiopatas são todos aqueles indivíduos que possuem alguma alteração pato-
lógica ou doença, seja crônica ou adquirida, que afeta o sistema cardiovascular,
atuando em especial no coração ou nos vasos sanguíneos. Como exemplos de
cardiopatias, podemos citar a doença cardíaca coronária, uma enfermidade
que afeta os vasos sanguíneos que levam o sangue para o miocárdio; a ar-
166 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 7

teriosclerose, uma condição em que há um acúmulo de gordura nas paredes


dos vasos sanguíneos, diminuindo o fluxo de sangue; e, sem dúvida, a mais
frequente dentre as cardiopatias, que é a hipertensão arterial, uma condição em
que o sangue que circula pelos vasos sanguíneos exerce uma força (pressão)
muito grande contra as paredes dos vasos arteriais (SILVERTHORN, 2017).
As cardiopatias merecem uma atenção especial, pois são os principais fato-
res de risco para o surgimento de eventos que levam ao óbito, tanto no Brasil
quanto no mundo, pois, quando se observa as causas de mortalidade, nota-se
que as principais são eventos cardiovasculares, como cardiopatias isquêmicas
e o acidente vascular cerebral (AVC). Tais eventos cardiovasculares que levam
a óbito são influenciados diretamente por cardiopatias, como as citadas. De
acordo com Monteiro e Sobral (2004), essa forte relação entre cardiopatias e
eventos cardiovasculares que levam a óbito se dá principalmente porque essas
cardiopatias causam um constante e progressivo desgaste e sobrecarga das
estruturas cardiovasculares.
Analisemos o caso da hipertensão arterial, a cardiopatia de maior inci-
dência na população, para observar como isso ocorre. O primeiro aspecto
a ser entendido é que o aumento da pressão causada pelo sangue contra as
paredes dos vasos sanguíneos gera um estresse mecânico nos vasos, graças
à força de cisalhamento que o fluído exerce contra o tubo pelo qual passa.
Esse estresse mecânico contínuo, ocorrendo cronicamente, induz a um des-
gaste das paredes dos vasos sanguíneos, que acabam mais suscetíveis ao
aparecimento de pequenas lesões, que comprometem a circulação sanguínea
ideal. Além disso, esse contínuo cisalhamento que ocorre contra as paredes
dos vasos pode causar sua ruptura, levando a uma hemorragia interna que,
como geralmente ocorre em vasos sanguíneos de pequeno porte, não causará
uma perda de sangue significativa; no entanto, prejudicará o fluxo sanguíneo
para determinadas células e tecidos, causando uma hipóxia nesses locais, que
ficam sem suprimento de sangue e oxigênio, causando assim uma condição
conhecida como isquemia ou derrame.
Um segundo aspecto importante é o seguinte: para que o sangue seja ejetado
do coração, é necessário que a sístole ventricular pressione o sangue existente
no ventrículo até que a pressão intraventricular seja maior que a pressão arterial
da aorta. Em condições normais, quando a pressão intraventricular passa de
80 mmHg, o sangue começa a ser ejetado do ventrículo para o interior da
artéria aorta. No entanto, em uma condição de hipertensão, há necessidade do
ventrículo contrair-se com mais força até gerar uma pressão que seja maior que
a pressão da artéria aorta, na ordem de 120 mmHg. Ou seja, acaba havendo
uma maior sobrecarga do miocárdio, que precisará constantemente se contrair
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Práticas de Condicionamento
167
8 Práticas de condicionamento físico para populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

com mais força para manter o ciclo cardíaco acontecendo. Em condições de


hipertensão crônica, portanto, o miocárdio sempre precisará de um trabalho
mais intenso e desgastante, até o ponto em que esse trabalho intenso fica tão
desgastante que induz a uma condição chamada de insuficiência cardíaca,
um quadro caracterizado por um coração ineficiente em bombear o sangue
para todo o corpo, o que representa uma importante causa de óbito (SILVER-
THORN, 2017).

A hipertensão é uma enfermidade ainda mais perigosa por seu caráter de doença
silenciosa, isto é, que não apresenta grandes sintomas ao indivíduo. Os principais
sintomas percebidos ocorrem em casos de crises hipertensivas, quando pode-se
observar uma forte dor de cabeça, tonturas, visão turva e dores no peito. Dessa forma,
com exceção de casos de crises hipertensivas, a hipertensão arterial costuma ser uma
doença assintomática e, por isso, pode levar anos (e até décadas) para ser diagnosticada.
Porém, enquanto isso todos os desgastes causados pela hipertensão arterial continuam
ocorrendo de forma progressiva, sem que a pessoa sequer tenha conhecimento.

Felizmente, o treinamento físico também é uma estratégia bastante eficiente


para prevenir, combater e controlar as cardiopatias, reduzindo significativa-
mente suas magnitudes e efeitos prejudiciais ao organismo. Eis algumas das
principais adaptações causadas pelo exercício:

 Redução da frequência cardíaca de repouso — a redução da frequência


cardíaca de repouso é uma manifestação que indica uma maior eficiência
do sistema cardiovascular. Ou seja, o sistema cardiovascular consegue
suprir todas as necessidades do organismo com um número menor de
ciclos cardíacos, reduzindo o trabalho do miocárdio e preservando-o
de desgastes que podem induzir a uma insuficiência cardíaca.
 Redução da pressão arterial — o treinamento físico induz a uma redução
da pressão arterial de origem multifatorial, como pela redução no débito
cardíaco; por alterações humorais, como a produção de substâncias
vasoativas, como o peptídeo atrial natriurético; pela liberação de subs-
tâncias vasodilatadoras, como óxido nítrico; e pela retirada simpática,
que induz a diminuição da secreção de adrenalina e noradrenalina,
substâncias com grande potencial vasoconstritor.
168 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 9

 Melhora do perfil lipídico — o exercício promove um aumento nas


concentrações de lipoproteína de alta densidade (HDL) e uma redução
nos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e colesterol total.
Essa mudança diminui significativamente o risco de surgimento de
problemas arteriais, como a aterosclerose, que é a deposição de gorduras
nas paredes dos vasos arteriais, causando uma redução significativa
do fluxo sanguíneo.

Dentro do campo do exercício físico, inúmeras estratégias de treinamento


podem ser prescritas para cardiopatas, desde que inúmeros aspectos sejam
observados e cuidados pelo profissional de educação física. No entanto, uma
prática extremamente eficiente para cardiopatas é o treinamento aeróbico,
que pode ser realizado em ambiente aberto, como em pista de atletismo e
praças, ou em ambiente fechado, como em academia, em esteira ou em bicicleta
ergométrica (cicloergômetro) (SILVA, 2019).
Destacamos o treinamento aeróbico porque, além das adaptações cardiovas-
culares citadas anteriormente, ele causa um aumento da capacidade cardiorres-
piratória, demonstrada principalmente por uma elevação do consumo máximo
de oxigênio e uma redução na massa adiposa, sendo uma efetiva estratégia de
emagrecimento. Além disso, o treinamento aeróbico é uma intervenção em que
o controle e a manipulação das suas variáveis é extremamente fácil, ou seja, o
profissional de educação física pode acompanhar em tempo real a frequência
cardíaca do aluno utilizando um simples frequencímetro (equipamento de baixo
custo e altamente eficiente, extremamente recomendado para profissionais de
educação física que atuam com a prescrição de exercícios). Como consequência,
consegue-se efetuar ajustes para aumentar ou diminuir a intensidade do exercício,
mantendo-o eficiente e seguro (MONTEIRO; SOBRAL FILHO, 2004).
Considerando a prescrição de exercício físico para cardiopatas, a Asso-
ciação Americana do Coração recomenda a prática semanal de pelo menos
75 minutos de atividade intensa ou 150 minutos de atividade moderada, que
podem ser divididos em 3 dias por semana (SMITH JR. et al., 2006). Além
disso, alguns cuidados precisam ser tomados, como o constante controle das
variáveis cardiovasculares antes, durante e após a sessão de treinamento. Por
isso, antes de iniciar a sessão de treinamento é extremamente importante
que seja mensurada a pressão arterial e a frequência cardíaca do aluno, pois
caso apresente valores elevados, deve-se aguardar em repouso para avaliar
novamente e, caso a pressão arterial continue elevada, deve-se suspender a
sessão de treinamento e recomendar que o aluno busque algum serviço de
saúde especializado.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
169
10 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

Considerando ainda a prescrição, deve-se optar por exercícios de intensidade


moderada, entre 60% e 80% da frequência cardíaca máxima, com duração
de até 50 minutos. Nesse quesito, é importante destacar que a sobrecarga
cardiovascular é influenciada mais pelo tempo em exercício do que pela
intensidade. Dessa forma, em indivíduos que já contam com um maior nível
de treinamento, é mais adequado promover incrementos na intensidade do
exercício do que no tempo de exercício, prescrevendo aeróbicos intensos,
mas de curta duração, como nas modalidades de treino intervalado de alta
intensidade (HIIT) (GÓES, 2017).
Por fim, é importante destacar que outras estratégias de treinamento também
podem ser utilizadas para o treinamento de cardiopatas, mas requerem também
cuidados especiais. De acordo com Mello (2019), o treinamento de força, por
exemplo, é uma estratégia bem interessante; porém, sua prescrição precisa
ser completamente adaptada, evitando principalmente sessões com grande
número de repetições e repetições máximas, já que nessas condições ocorre
maior sobrecarga cardiovascular, o que pode colocar em risco a segurança
do praticante.
Além dos cardiopatas, outro grupo das populações especiais são os diabé-
ticos, indivíduos que apresentam uma série de características que devem ser
levadas em conta na hora de prescrição de exercício físico.

Diabéticos
O diabetes mellitus é uma doença metabólica que causa uma condição de
hiperglicemia, isto é, grande quantidade de açúcar (glicose) no sangue. O
diabetes pode ser classificado em duas variações/tipos:

 Diabetes tipo 1 — nessa condição, o sistema imunológico ataca as


células do pâncreas responsáveis pela produção e secreção da insulina,
reduzindo significativamente a capacidade fisiológica de produção e
secreção desse hormônio, que, ausente, induz a um aumento na gli-
cemia. Esse tipo de diabetes é muito menos frequente e geralmente é
diagnosticado ainda na infância, sendo necessária a aplicação exógena
de insulina.
 Diabetes tipo 2 — nessa condição, a insulina é produzida e secretada
normalmente pelo pâncreas; no entanto, existe uma grande resistência
à insulina, isto é, algum tipo de alteração fisiológica faz com que a
insulina seja produzida e secretada, mas havendo dificuldade em
desenvolver sua atuação, ocasionando o acúmulo de glicose na cor-
170 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 11

rente sanguínea. Essa é a forma mais comum de diabetes, sendo sua


incidência maior a partir dos 30 anos de idade e estando diretamente
relacionada a hábitos inadequados de saúde, como sedentarismo e
obesidade.

O diabetes é uma condição bastante frequente na população. Estima-se


que mais de 400 milhões de pessoas no mundo e 14,3 milhões de pessoas no
Brasil sejam diabéticas, o que representa uma parcela substancial da população.
Desse total, estima-se que entre 7 e 12% dos casos sejam de diabetes tipo 1,
enquanto a maior parte, aproximadamente 90% dos casos, seja de diabetes
tipo 2 (SILVERTHORN, 2017).
O diabetes é prejudicial à saúde, sendo responsável por neuropatias que
podem causar fraqueza e perda de sensibilidade. Além disso, sua gravidade
é aumentada principalmente por ser um fator de risco para comorbidades,
em especial as doenças cardiovasculares. Nesse caso, é possível classifi-
car as complicações causadas pela diabetes em micro e macrovasculares
(LEITE, 2018).
Considerando as complicações microvasculares, isto é, as lesões causadas
em pequenos vasos sanguíneos, podemos destacar a retinopatia, principal causa
de perda da capacidade visual e até mesmo cegueira causada pelo diabetes,
além da nefropatia, que pode inclusive induzir a uma insuficiência renal que
pode ser fatal.
Já entre as complicações macrovasculares, ou seja, aquelas que afetam os
grandes vasos sanguíneos, podemos destacar situações como a aterosclerose, já
que a hiperglicemia é um dos principais responsáveis pela formação de placas
de ateroma, que podem bloquear parcial ou totalmente o fluxo sanguíneo,
podendo ser causadoras de infartos.
É interessante observar, no entanto, que o treinamento físico é uma es-
tratégia efetiva também no combate e prevenção ao diabetes, tanto do tipo
1 quanto principalmente do tipo 2. Entre os principais benefícios causados
pelo treinamento físico, destaca-se a sua eficiência no controle glicêmico,
causada principalmente por uma adaptação das células musculares, o que as
torna mais eficientes na capacidade de captação e utilização de glicose por
vias independentes de insulina, contribuindo significativamente para redução
da glicemia e dos níveis de hemoglobina glicosilada. Além disso, o exercício
físico contribui significativamente para diversos fatores de risco que estão
associados ao diabetes, em especial o diabetes tipo 2, como adequação do perfil
lipídico, aumento no nível de atividade física, aumento de massa muscular,
redução da massa adiposa, etc.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
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12 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

Dentre as inúmeras possibilidades de intervenção física, destaca-se o


treinamento de força como uma estratégia bastante efetiva para o trata-
mento de pessoas diabéticas. Essa escolha é pensada a partir de inúmeros
estudos que comprovam sua eficiência, promovendo ganhos de força, massa
muscular, capacidade funcional, além de aspectos metabólicos ligados ao
metabolismo da glicose, como aumento da sensibilidade à insulina e da
captação de glicose.
Considerando a prescrição do treinamento de força para indivíduos diabé-
ticos, recomenda-se a utilização de exercícios multiarticulares, que mobilizam
grandes massas corporais. Umpierre et al. (2011) afirmam que a intensidade
pode ser de moderada a intensa e grandes volumes de treinamento podem
ser recomendados, já que o tempo de atividade física é um fator que está
relacionado à eficácia do treinamento físico no controle do diabetes
O cuidado com a prescrição de exercícios para diabéticos deve levar em
consideração também o ambiente externo à academia, sempre consultando
qual foi o horário da última refeição. Nesse sentido, o controle da glicemia
deve ser feito ao menos antes e depois do exercício. Além disso, apesar do
treinamento de força envolver basicamente ações relacionadas ao sistema
ATP–CP, o profissional de educação física deve estar atento aos sinais de
hipoglicemia, que podem ser causados pelo exercício, como tonturas, palpita-
ções ou formigamento ao redor da boca. Nesses casos, o profissional deve ter
consigo sempre algum alimento com elevado índice glicêmico, como balas,
bebidas adocicadas ou chocolates, que causarão um aumento temporário da
glicemia sanguínea, normalizando-a.

Os sinais de hipoglicemia e hiperglicemia são os seguintes.


 Hiperglicemia: corresponde a uma alta taxa de glicose no sangue. Como sintomas,
observamos inquietação, nervosismo, sede, cãibras, visão turva, náuseas, dor ab-
dominal e aumento da diurese.
 Hipoglicemia: corresponde a uma baixa taxa de glicose no sangue. Como sintomas,
observamos suor excessivo, palpitações, tremores, confusão, sonolência, falta de
coordenação, náuseas e dor de cabeça.
172 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 13

Até o momento, observamos os cuidados necessários para a prescrição de


exercícios para populações especiais que possuem alguma condição crônica.
No entanto, dentre as populações especiais estão também indivíduos com
condições adquiridas e/ou temporárias, como é o caso das gestantes.

3 Condições adquiridas

Gestantes
A gestação é um momento ímpar na vida de uma mulher. Ao longo de 40
semanas, essa mulher passará por inúmeras alterações fisiológicas e biome-
cânicas em seu corpo, causando, entre outras coisas, mudanças posturais e do
centro de gravidade, que tende a se deslocar para frente, podendo provocar
forte dor lombar, a ponto de causar o afastamento de inúmeras atividades que
a mulher desenvolvia até então.
De uma maneira geral, durante a gravidez podemos observar um aumento
do volume sanguíneo, o que acarreta um aumento na frequência cardíaca em
cerca de 10 a 15 batimentos por minuto. Isso causa uma sobrecarga do músculo
cardíaco para bombear o sangue de maneira eficiente para a mãe e para o feto.
Paralelamente, com o transcorrer das semanas gestacionais, observamos uma
maior dificuldade para a mãe realizar os movimentos ventilatórios, o que
tende a aumentar a dificuldade na transferência dos gases entre a atmosfera
e suas células.
Outra região que sofre é o sistema musculoesquelético. A postura tende
a impor maior sobrecarga às articulações. Sabe-se que a gestante sofre um
aumento de peso (líquido, bebê e tecido adiposo), o que pode variar de 11 a
30 kg, causando maior desconforto e dificuldade para as atividades básicas.
Os músculos abdominais, dorsais e do assoalho pélvico acabam sendo os
principais prejudicados pela fraqueza muscular. A gestante tende a encontrar
uma posição que proporcione maior conforto, deixando de lado o correto
alinhamento postural, o que aumenta as lombalgias e acentua a cifose torácica.
Outros fatores significativos durante o período gestacional são o aumento
da flexibilidade pela elevação hormonal — a fim de aumentar a amplitude
articular da pelve no momento do parto — e também a alteração do centro
de gravidade.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
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14 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

O exercício físico gera muitos benefícios para a gestante, como aumento


de força muscular, menor ganho de gordura corporal e peso, melhor adaptação
do organismo materno às modificações da postura pela evolução gestacional,
prevenção de traumas, melhora do humor e da imagem corporal, redução da
depressão e ansiedade e diminuição de quedas e de desconfortos musculo-
esqueléticos (MCDONALD et al., 2016). O exercício pode amenizar alguns
ajustes que costumam causar desconfortos nesse momento. Acima de tudo,
o exercício na gestação é recomendado na total ausência de qualquer anor-
malidade e mediante avaliação médica especializada. Ademais, o exercício
durante o período gestacional deve ter apenas o objetivo de manutenção da
aptidão física e principalmente ser apenas visado para a saúde e não para
um treinamento em busca de rendimento, pois isso poderia trazer riscos à
gestante e ao feto.
O exercício físico para gestantes deve ser planejado conforme o período
da gestação. Para cada fase, são observadas algumas alterações importantes.
Podemos dividir de uma maneira mais simplista o período gestacional em
três partes.

1. Nas 12 primeiras semanas deve haver um cuidado redobrado, devido


ao risco de aborto por má implementação da placenta no útero. Dessa
forma, tanto a intensidade quanto o volume de treino devem ser ame-
nizados nesse período.
2. Entre a 12ª e a 28ª semana, a grávida está no melhor período para a
realização de treinamento. Com o maior aporte hormonal proveniente
da gestação, ela encontra-se apta a realizar todas as atividades, bastando
ter cuidado com aumentos de temperatura, humidade e sobrecargas.
3. Da 28ª semana em diante, são observadas grandes limitações pelo
aumento da barriga, menor capacidade de manter o equilíbrio, maior
sobrecarga cardíaca, entre outras. É nesse período que a grávida observa
as maiores limitações.

A prática de atividades na gestação é importante e recomendada, já que


traz inúmeros benefícios, podendo inclusive auxiliar no momento do parto.
No entanto, é importante destacar que não é recomendado que uma mulher
sedentária comece uma atividade de alta intensidade durante a gestação.
Sendo assim, é recomendado a continuidade de atividades para mulheres que
já praticavam a atividade antes do início da gestação. Em caso de início das
atividades, deve-se optar por atividades de intensidade leve a moderada e, nesse
caso, o Pilates é uma modalidade que se destaca, trazendo inúmeros benefícios
174 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 15

para gestantes em todas as etapas da gestação, como o desenvolvimento de


força da musculatura lombar, que causará uma minimização das dores na
região, além de uma melhora da postura corporal, mesmo com a mudança do
centro de gravidade. Como se não bastasse, há o aumento na força da parede
abdominal e assoalho pélvico, facilitando o trabalho de parto, bem como
melhora na circulação sanguínea, na qualidade do sono, na concentração
e na respiração. Já no pós-parto, a prática do Pilates acelera a recuperação,
reduzindo a incontinência urinária e constipação, além de melhorar o sistema
circulatório (JUSTINO; PEREIRA, 2016).
A prescrição deve ser individualizada e adaptada, considerando as etapas
gestacionais e evitando atividades complexas. Assim, é preciso que o profis-
sional de educação física esteja sempre avaliando as variáveis fisiológicas da
aluna, como frequência cardíaca, glicemia e pressão arterial.
Um ponto importante é compreender as etapas da gestação e adaptar a
rotina de atividades frente a essas demandas (MACEDO et al., 2018):

 O primeiro trimestre gestacional é a fase mais crítica da gestação,


quando devem ser tomados os maiores cuidados, já que ainda não há
formação ou fixação completa da placenta na parede do útero, não
protegendo totalmente o bebê. Nessa fase, exercícios que envolvam a
torção de tronco e exercícios mais dinâmicos com grande exigência de
força abdominal devem ser evitados.
 No segundo semestre, a placenta já está bem fixada e o bebê, bem
protegido. Portanto, há a possibilidade de incluir exercícios que exijam
maior trabalho da musculatura abdominal e do assoalho pélvico, que
inclusive, contribuirão para o trabalho de parto. Já movimentos comple-
xos e com risco de queda devem ser evitados nesse período. É preciso
estabelecer contato constante com o médico da gestante, já que pode
haver algumas restrições na intensidade ou faixa de frequência cardíaca.
 No terceiro semestre, a gestação já está no estágio avançado, com grande
proeminência abdominal e sobrecarga pelo peso do bebê, exigindo
bastante da coluna lombar e dificultando a mobilidade da gestante
Assim, é necessário recomendar movimentos mais simples, que evitem
a compressão e que não causem desconfortos para a gestante.

Dessa forma, pudemos observar as principais alterações fisiológicas vi-


venciadas durante o processo gestacional e como os exercícios podem ser
benéficos nessa condição. No próximo tópico, observaremos as características
da obesidade e como o treinamento físico pode ser eficaz no seu tratamento.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
175
16 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

Obesos
A obesidade é uma condição definida pelo acúmulo excessivo de gordura,
armazenada nos depósitos de tecido adiposo, tanto superficiais — na forma
de gordura subcutânea, presente imediatamente abaixo da pele nas regiões
abdominais, glúteas e femorais — quanto em depósitos de gordura profundos,
na forma de gordura visceral, localizada na cavidade abdominal junto aos
órgãos vitais. Esse acúmulo excessivo de gordura, em especial de gordura
visceral, traz inúmeros prejuízos para a saúde do indivíduo. Dados epidemio-
lógicos indicam que no mundo já existem mais de 500 milhões de pessoas
obesas. Segundo Rech (2014), no Brasil, essa condição tem demonstrado um
crescimento considerável, assim como nos países desenvolvidos.
O diagnóstico da obesidade é feito pelo índice de massa corporal (IMC),
que é encontrado a partir de um cálculo simples, em que a massa corporal
(em kg) é dividida pelo quadrado da estatura. Caso o resultado dessa equação
esteja acima de 30 kg/m2, o indivíduo é considerado obeso.
Apesar de simples, a avaliação do IMC tem sido utilizada em muitos estudos
clínicos e epidemiológicos e possui grande eficácia populacional. No entanto,
algumas ressalvas devem ser feitas, já que para indivíduos que apresentam uma
massa muscular muito desenvolvida, como no caso de fisiculturistas, o resultado
tende a ser impreciso, porque não distingue massa magra de massa adiposa.
Contudo, essa condição se aplica a um número muito baixo de pessoas e, portanto,
o IMC segue sendo uma avaliação bastante eficaz (CAPRA, 2016). O Quadro
1 apresenta os critérios de classificação de peso a partir do cálculo do IMC.

Quadro 1. Valores referente ao IMC, sua classificação, grau de obesidade e risco de co-
morbidade

Grau de Risco de
IMC (kg/m2) Classificação obesidade comorbidade

Abaixo de 18,5 Peso baixo 0 Baixo


18,5–24,9 Peso normal 0 Médio
25,0–29,9 Sobrepeso I Aumentado
30,0–39,9 Obeso II Moderado/alto
Acima de 40 Obeso grave III Altíssimo

Fonte: Adaptado de Capra et al. (2016).


176 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 17

Os problemas advindos da obesidade ocorrem porque o tecido adiposo


pode ser considerado, além de uma reserva de energia, um órgão endócrino,
capaz de interagir com os demais sistemas fisiológicos, causando na maioria
das vezes prejuízos que afetam o funcionamento correto desses sistemas,
como uma espécie de processo inflamatório.
A obesidade afeta os mais diversos sistemas. No cardiovascular, por exem-
plo, o acúmulo de gorduras pode contribuir para a formação de uma placa
aterogênica, induzindo hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Já no
sistema endócrino, a obesidade afeta a sensibilidade à insulina, tornando os
indivíduos mais resistentes ao hormônio pancreático e induzindo um processo
diabetogênico. No sistema muscular, pode-se observar um processo de infil-
tração de tecido adiposo no músculo esquelético, o que, embora não cause
uma atrofia, reduz a qualidade muscular pela diminuição de tecido contrátil
intramuscular e, consequentemente, causando prejuízos na capacidade de
contração e produção de força (RECH, 2014).
Para que ocorra redução nos acúmulos de gordura e, consequentemente,
o emagrecimento, o principal fator a ser observado é o déficit energético.
Sempre que o consumo calórico for maior que o gasto calórico, haverá um
estímulo para aumento do tecido adiposo. Já quando houver um consumo
calórico inferior ao gasto calórico, haverá um estímulo que promove a redução
na quantidade de tecido adiposo.
Nesse aspecto, o treinamento físico surge como uma estratégia impor-
tante, já que é capaz de promover o aumento no gasto calórico tanto de forma
aguda — seja durante a própria sessão de treinamento ou após o exercício —
quanto de forma crônica, já que a longo prazo o treinamento físico promove
um aumento da taxa metabólica basal, isto é, a quantidade de calorias gastas
diariamente pelo corpo.
Além disso, o exercício estimula o aumento da massa magra e o aumento
da mobilização de gorduras como fonte de energia. Podemos destacar tam-
bém a maior resistência para suportar uma sessão de treinamento, aumento
da oxidação de gorduras, elevação do consumo de energia pós-exercício,
intensificação do consumo de oxigênio e aumento no gasto calórico diário.
Como exemplo de recomendações, um programa de treinamento pode gerar
déficit de 500 a 1000 kcal para gerar perdas de peso entre 0,45 e 0,90 kg por
semana, e perda de peso de 10% em seis meses (FLECK; KRAEMER, 2017;
HAFF; BOMPA, 2012; ARRUDA, et al., 2010).
No entanto, diversos cuidados devem ser levados em consideração na hora
de selecionar qual o tipo de atividade física será realizada, tendo em vista que
o sobrepeso corporal traz um aumento na carga suportada pelo corpo e pelas
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
177
18 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

articulações corporais. Essa sobrecarga fica ainda maior quando são realizados
exercícios de alto impacto, como saltos, corridas, etc., que podem impor danos
significativos ao sistema articular do aluno e prejudicar sua continuidade no
programa de treinamento físico. Pensando nisso, as atividades no meio aquático,
em especial a natação ou a hidroginástica, são estratégias eficientes, já que pro-
movem inúmeros benefícios além do gasto calórico, sem que haja uma sobrecarga
articular por atividades de alto impacto (CAPRA, 2016). É importante destacar
que essas atividades em meio aquático podem ser aplicadas como estratégia de
treinamento para indivíduos obesos, já que nelas é possível modificar diversos
parâmetros de treinamento, como intensidade e volume, sem que haja aumento
na sobrecarga articular (PINHO et al., 2017; FERREIRA JUNIOR et al., 2019).
Na natação, por exemplo, a intensidade pode ser modulada pela velocidade
do nado (mensurada pelo tempo para se completar cada volta na piscina) ou
pelo uso de implementos que aumentem a força de arrasto, como palmares.
Já o volume do treinamento pode ser modulado pelo controle do número de
voltas realizadas, enquanto a densidade do treino é modulada pelo tempo
de intervalo entre cada volta ou entre cada ciclo de voltas. Já na hidroginás-
tica, a intensidade pode ser modulada pela velocidade de execução de cada
movimento, ou ainda pela utilização de implementos que aumentem a força
de arrasto, como palmares. Já o volume pode ser modulado pelo número de
repetições, séries ou exercícios para cada grupo muscular.
Em ambos casos, o treinamento promoverá diversas adaptações cardiome-
tabólicas que estão relacionadas à obesidade, como diminuição na quantidade
de tecido adiposo, maior eficácia no controle glicêmico e controle da pressão
arterial. Também pode promover adaptações em variáveis que não estão
diretamente relacionadas à obesidade, mas que contribuem para maior saúde
e qualidade de vida, como aumento da capacidade aeróbica, aumento da força
e resistência musculares, além de melhor coordenação motora.
Dessa forma, ao longo deste capítulo pudemos observar as caraterísticas de
cada um dos principais grupos considerados populações especiais. Além disso,
compreendemos como o treinamento físico pode ser uma estratégia eficiente para
o controle e prevenção dessas condições crônicas ou temporárias, além de identi-
ficarmos as intervenções mais adequadas para cada um dos grupos especiais. O
domínio desses conteúdos é importante para o profissional de educação física, já que
o exercício físico é utilizado como tratamento para todos esses indivíduos. Assim,
um profissional que compreenda as características, limitações e potencialidades
de cada um de seus alunos, poderá avaliar, planejar e prescrever um treinamento
físico de forma eficaz e segura, garantindo-lhes mais saúde e qualidade de vida.
178 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 19

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Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
179
20 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

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180 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Práticas de condicionamento físico para populações especiais 21

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Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
181
22 Práticas de condicionamento físico paraPráticas de Condicionamento
populações especiais Físico Para Populações Especiais | PARTE 1

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182 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 2
Saúde e as Aulas de Educação Física

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184 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde e as aulas
de educação física
Beatriz Paulo Biedrzycki

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Reconhecer a contribuição da disciplina de educação física para a compre-


ensão dos aspectos associados à saúde.
> Descrever projetos multidisciplinares com o tema saúde e qualidade de vida
a partir das aulas de educação física.
> Desenvolver um plano de aula de educação física para a exploração do tema
saúde com os alunos.

Introdução
Os temas transversais surgiram pela primeira vez com os parâmetros curriculares
transversais. Com a mudança de diretrizes nacionais para a educação, estrutura-
-se a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que mantém tais temas, apenas
adequando-os para a realidade atual. Nesse contexto, um dos temas é o da saúde,
que está muito próxima da educação física, devendo ser desenvolvido ao longo
de todas as unidades temáticas.
Neste capítulo, você vai ver como a educação física se relaciona com a saúde,
interpretando possibilidades de atingir tal objetivo nas aulas de educação física
de diferentes formas, inclusive em projetos interdisciplinares.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Saúde e as Aulas de Educação Física | PARTE 2
185
2 Saúde e as aulas de educação física

A educação física e o tema transversal


da saúde
Quando falamos em temas transversais, é importante entendermos que
essa proposta de abordar temáticas que falem da realidade do estudante,
extrapolando os conhecimentos acadêmicos, perpassando todos os diferentes
componentes curriculares, surge pela primeira vez na educação brasileira
em 1997, com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Nesse
documento, enfatizava-se que os temas transversais seriam uma forma de
contextualizar os conhecimentos específicos dos componentes curriculares,
propondo uma educação ética e cidadã. Com a mudança de diretrizes que
acontece em 2017 e a chegada da BNCC, os temas transversais também são
modificados e passam a ser tratados pelo nome de temas contemporâneos
transversais (BRASIL, 2019).
O documento “Temas Contemporâneos Transversais na BNCC — Proposta
de Práticas de Implementação” (BRASIL, 2019) é responsável por traçar esses
novos temas. O termo “transversal” pode ser definido como aquilo que corta,
que atravessa; logo, temas transversais, em um contexto educacional, são
aqueles assuntos que não pertencem a nenhuma área do conhecimento em
particular, mas que atravessam todas elas como se delas fizessem parte,
exigindo dos docentes que os abordem dentro de seus componentes curri-
culares (CORDEIRO, 2019). Isso também vai ao encontro do texto presente nos
PCNs, contribuindo para a busca de uma educação crítica e emancipatória,
focada na autonomia do estudante, ao afirmar que:

Educar e aprender são fenômenos que envolvem todas as dimensões do ser huma-
no e, quando isso deixa de acontecer, produz alienação e perda do sentido social
e individual no viver. É preciso superar as formas de fragmentação do processo
pedagógico em que os conteúdos não se relacionam, não se integram e não se
interagem (BRASIL, 2019, p. 6).

Neste capítulo, o enfoque recai sobre o tema transversal saúde, que per-
passa quentões relacionadas com a saúde física, mental e alimentar (BRASIL,
2019). Assim, é possível relacioná-las não apenas com os ganhos que essa
prática corporal pode proporcionar, mas também com os cuidados que são
necessários ou com o alerta para a diferença da sua prática recreativa e do
treinamento de alto rendimento, incluindo lesões e o uso de medicamentos
e anabolizantes como aliado dos treinos (GONZÁLES et al., 2017).
186 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde e as aulas de educação física 3

Vale a apena ressaltar que, apesar de a educação física pertencer à área


das linguagens, muitas das habilidades e competências previstas na BNCC
(BRASIL, [2017]) se referem aos conhecimentos sobre o corpo e à influência
da prática de atividades físicas na saúde, além de temas relacionados com
a alimentação, ou seja, existe uma relação direta e importante — e quase
natural — na relação das habilidades e competências da educação física com
a temática da saúde levando em consideração a histórica proximidade dos
objetos de conhecimento envolvidos.

A principal diferença apresentada pelos temas transversais do PCN e


da BNCC é que, no primeiro, tinham um caráter de sugestão, ou seja,
sua abordagem não era obrigatória, e a prática docente podia ser separada da
realidade. Já no texto da BNCC eles ganham outro patamar, tornando-se uma
referência nacional e obrigatória para a elaboração e para a adequação dos
currículos e das propostas pedagógicas das escolas, sendo entendidos como
um conjunto de aprendizagens essenciais e indispensáveis a que todos os estu-
dantes têm direito. Ou seja, todo o conhecimento deve ser pensado, estruturado
e contextualizado para a realidade em que o estudante está (BRASIL, [2017]).

A BNCC traz dez competências a serem desenvolvidas especificamente


no componente curricular da educação física. Dessas dez competências,
três abordam diretamente a necessidade de trazer à tona a temática do
tema transversal saúde para dentro do espaço das aulas de educação física
escolar (BRASIL, [2017]), mostrando que esse assunto não pode e não deve ficar
deslocado ou ser abordado em uma aula única com o nome, por exemplo, de
“Educação Física e Saúde”, mas, sim, permear todo o planejamento docente.
São as competências gerais da educação física que abordam a temática
da saúde (BRASIL, [2017], p. 223) e incluem:

3) Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais


e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. 4)
Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética
corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir
posturas consumistas e preconceituosas. [...] 8) Usufruir das práticas corporais de
forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar
as redes de sociabilidade e a promoção da saúde.

Quando voltamos nosso olhar para as habilidades, vemos que a BNCC


(BRASIL, [2017]) tem uma tendência a trazê-las nas unidades temáticas das
ginásticas. Podemos exemplificar esse movimento com as habilidades:
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Saúde e as Aulas de Educação Física | PARTE 2
187
4 Saúde e as aulas de educação física

„ “Construir, coletivamente, procedimentos e normas de convívio que


viabilizem a participação de todos na prática de exercícios físicos, com
o objetivo de promover a saúde” (BRASIL, [2017], p. 233);
„ “Identificar as diferenças e semelhanças entre a ginástica de cons-
cientização corporal e as de condicionamento físico e discutir como
a prática de cada uma dessas manifestações pode contribuir para a
melhoria das condições de vida, saúde, bem-estar e cuidado consigo
mesmo” (BRASIL, [2017], p. 237);
„ “Problematizar a prática excessiva de exercícios físicos e o uso de
medicamentos para a ampliação do rendimento ou potencialização
das transformações corporais” (BRASIL, [2017], p. 237).

Nesse sentido, é importante ressaltar que a concepção do termo “saúde”


a ser abordada nas aulas de educação física não está necessariamente re-
lacionada com ideia de hábitos e regras para se ter uma vida saudável, mas,
sim, com encontrar equilíbrio entre os conhecimentos fisiológicos do corpo, o
ambiente, a cultura e as estratégias de intervenção articuladas pela sociedade.
Por isso, existe uma “[...] urgência, dentro do campo da saúde, de uma educação
centrada na diversidade cultural” (GUIMARÃES; NEILA; VELARDI, 2015, p. 115).
É importante ressaltar que, para isso, é importante que o professor de
educação física tenha um conhecimento profundo sobre questões como
o funcionamento do corpo e sua relação com o exercício, podendo, assim,
desenvolver essa temática de uma maneira mais profunda, saindo da su-
perficialidade do tema e permitindo que os estudantes consigam realmente
refletir sobre suas ações — e não apenas decorando termos e funcionamentos
fisiológicos. Ou seja, “A organização e desenvolvimento de uma ação educativa
efetiva implica no domínio conceitual do objeto de ensino, bem como das
suas relações com aqueles conhecimentos que possam oferecer interfaces”
(GUIMARÃES; NEILA; VELARDI, 2015, p. 117).
Para além disso, a preocupação e a responsabilidade na valorização de
conhecimentos relativos à construção da autoestima, ao cuidado do corpo,
à nutrição e a todas as suas implicações para a saúde são compartilhadas e
constituem um campo de interação na atuação escolar que devem ser consi-
deradas de forma coletiva e reflexiva pelos professores de educação física na
elaboração de suas propostas pedagógicas (GUIMARÃES; NEILA; VELARDI, 2015).
No entanto, Oliveira, Martins e Bracht (2015) apontam que seria muito
pedante afirmar que o tema da saúde pertence unicamente à educação
física: esse tema é extremamente relevante e, por isso, compreende uma
188 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde e as aulas de educação física 5

responsabilidade de toda a escola. Está claro que, conforme vimos, a saúde


é uma questão pedagógica quando abordamos a educação física. Assim, sua
contribuição situa-se no plano de uma educação para a saúde, unindo a cultura
corporal de movimento e criando espaços de relacionamentos mais saudáveis.
Dessa forma, ao reconhecermos que esse tema contemporâneo pertence
à escola como um todo, sendo responsabilidade de todo o corpo docente,
imaginar uma metodologia que tenha um cunho interdisciplinar ou multidis-
ciplinar parece natural, como veremos a seguir.

O tema saúde em diferentes projetos


Como abordado anteriormente, a BNCC (BRASIL, [2017]) traz em seu texto um
compromisso e um discurso pautado na educação integral, entendo a educação
básica como um espaço que deve proporcionar experiências diversas, visando
o desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade
e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionis-
tas que privilegiam apenas a dimensão cognitiva do aluno (CORDEIRO, 2019).
Nesse sentido, é fundamental que a escola seja capaz de refletir sobre o que
realmente deve ensinar e, principalmente, sobre a maneira como deve ensinar,
que projetos devem ser desenvolvidos com o intuito de garantir a eficiência da
educação, configurando-se como uma peça central da educação.
Ou seja, desenvolver efetivamente temas transversais inclui criar, pensar e
utilizar es estratégias metodológicas que sejam inovadoras. Por isso é impor-
tante que, ainda que a educação seja dividida em componentes curriculares,
todos os componentes tenham algum ponto em comum — e isso é possível
por meio dos temas transversais. Vale ressaltar que existem diferentes ma-
neiras de realizar tais intervenções, que podem ser multidisciplnaridade,
intradisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar.

„ Multidisciplinaridade: é quando os diferentes componentes curriculares


atuam de forma independente e sequencial — sob a perspectiva de
cada área – em um determinado assunto, sem que que se relacionem
de maneira efetiva, ou fazendo uma ligação entre as habilidades e
competências (BERTON et al., 2020).
„ Intradisciplinar: é uma relação entre os conteúdos internos do pró-
prio componente curricular, ou seja, como os temas transversais se
atravessam dentro das habilidades das diferentes unidades temáticas
apresentadas (RODRIGUES, 2015).
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Saúde e as Aulas de Educação Física | PARTE 2
189
6 Saúde e as aulas de educação física

„ Interdisciplinar: é entendida como uma necessidade latente da edu-


cação atual; são previstas relações ente os diferentes componentes
curriculares buscando a integração e a complementação desses saberes
(TERRADAS, 2011).
„ Transdisciplinar: é um conceito recente segundo o qual a educação é
pensada em um sistema geral e global, em que o conhecimento não é
separado em componentes curriculares, mas diferentes componentes
conseguem estar envolvidos em uma única proposta/projeto. Dessa forma,
transcende a ideia de componentes curriculares (ARAUJO et al., 2019).

Oliveira, Martins e Bracht (2015), em seus estudos, apontaram diferentes


projetos envolvendo a temática da saúde nas aulas de educação física em
conjunto com outros componentes curriculares, buscando relacionar assuntos
conceituais com problemas que os estudantes percebem no seu dia a dia.
A seguir, você acompanha alguns relatos de experiência de docentes que
desenvolveram projetos interdisciplinares abordando a temática da saúde.

A metodologia ativa de projetos interdisciplinares busca confrontar


questões e problemas que pertencem ao mundo em que o estudante
vive, baseando-se em uma abordagem cooperativa e interdisciplinar. Para isso,
une os conhecimentos dos diferentes componentes curriculares buscando
solucionar o problema que foi inicialmente confrontado. Ao utilizar essa me-
todologia, é importante que o docente saiba conduzir os estudantes para uma
aprendizagem mais autônoma, pautada no fazer e experimentar o conhecimento
científico em questões práticas — tornando essa experiência e a aprendizagem
muito mais significativas.
É importante observar que esses projetos normalmente duram várias aulas
— de um mês a um semestre inteiro —, uma vez que precisam de um questiona-
mento aos estudantes sobre o tema que desejam estudar, as formas como vão
descobrir os questionamentos que possuem, conversas e debates com pessoas
que entendem desse tema ou, ainda, se possível, visitas de campo, a aplicação
das soluções encontradas, sua apresentação e avaliação. Além disso, vale
ressaltar que nem sempre o projeto engloba todos os componentes curriculares
por conta da especificidade da temática (CASTELAR, 2016).

Um dos projetos abordados nos estudos de Oliveira, Martins e Bracht (2015)


surgiu a partir de uma dificuldade da turma de 2º ano do ensino fundamental
de mediar os conflitos e diminuir os acidentes que aconteciam na hora do
recreio. Nesse contexto, a educação física contribui trazendo possibilidades
de práticas corporais e repertório motores que possam ser utilizados para
além das aulas, buscando construir práticas mais saudáveis (de respeito e que
190 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde e as aulas de educação física 7

não machuquem os colegas). Vale ressaltar que esse projeto aconteceu em


parceria com a professora regente da turma (que, nessa etapa da educação
básica, conta com unidocência e professores especializados). Para tal, foram
pesquisadas quais eram as principais causas de acidentes e conflitos no
recreio e, com esses dados levantados, foram construídos gráficos que permi-
tiram que os estudantes compreendessem os problemas que precisavam ser
solucionados. Em cada aula, foram abordados temas como respeito, práticas
de cuidado com o corpo, conscientização da importância do autocuidado e
da importância de práticas de lazer ativo na saúde de todos os estudantes.
Perceba como um projeto que nasce de algo corriqueiro (discussões e
acidentes no recreio — coisas que acontecem em diversas escolas) pode ser
um ponto de partida para desenvolver uma temática que, para essa faixa
etária (8 anos), pode parecer algo um pouco desconexo e distante da realidade
dos estudante, ficando apenas em abordagens tradicionais e datadas, pouco
significativas para os estudantes.

Buscando abordar a temática da saúde em uma proposta metodo-


lógica de projetos interdisciplinares, observe o projeto a seguir, que
buscou tratar do tema da saúde com estudantes da educação infantil (5 anos).
O projeto surge com o interesse dos estudantes de saber sua estatura, identi-
ficando que nem todos da turma tinham a mesma altura. A partir disso, uniu-se os
esforços das professoras de educação física e a professora regente da turma para
criar o projeto “Por quê temos a mesma idade e tamanhos diferentes?”. Nesse
projeto, foram abordados os fatores e hábitos que influenciam no crescimento
a partir de atividades lúdicas e recursos audiovisuais, utilizando gráficos para
a altura dos estudantes e seu peso em materiais concretos, desenvolvendo a
construção do número e das quantidades. Perceba que, por ser um projeto com
a educação infantil, ganha um caráter transdisciplinar, uma vez que não existe
nenhum tipo de separação quanto ao que está sendo desenvolvido diz respeito
a uma determinada área do conhecimento ou a outro.

Note que em ambos os relatos surge uma necessidade de responder aos


anseios dos estudantes sobre questionamentos que estão pulsantes em sua
imaginação, fazendo com que todos os conhecimentos que estão relacionados
a isso se tornem mais interessantes. Além disso, é importante olhar para a
construção diferenciada da saúde que ambos os projetos promovem, ao trazer
cada pessoa como um sujeito atuante da própria saúde, propondo ações de
cuidado de si e do outro, a inclusão, o respeito e os conhecimentos sobre o
seu corpo e o que o modifica (como na questão do crescimento), conferindo
“[...] autonomia às pessoas para que possam dirigir sua saúde, imbuídos
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Saúde e as Aulas de Educação Física | PARTE 2
191
8 Saúde e as aulas de educação física

em questões que vão do plano pessoal-individual até o plano das relações


sociais” (OLIVEIRA; MARTINS; BRACHT, 2015, p. 246), mostrando que as ações
das práticas corporais presentes na educação física atuam como uma forma
de promover saúde em sua essência.
Perceba como a ideia de projetos interdisciplinares está diretamente
relacionada com a ideia dos temas transversais, ou seja, que “cortam” e
“atravessam” todos os componentes curriculares, uma vez que os projetos
interdisciplinares também possuem essa mesma característica, de criar um
fio condutor entre conteúdos e conceitos que, por vezes, olhando de uma
certa distância, parecem desconexos.
É importante ressaltar que, mesmo com um projeto interdisciplinar, é
necessário que o docente crie estratégias para relacionar-se ao projeto e,
ainda assim, atenda o que está previsto nas matrizes curriculares vigentes
(habilidades e competências). A seguir, você acompanha a construção de
atividades para diferentes etapas da educação básica que buscam o desen-
volvimento do tema transversal “saúde”.

Educação física e saúde — proposições


práticas
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LD-
BEN — Lei n. 9.394/1996), a história da educação física como um componente
curricular obrigatório começa a ser desenhada. Tal legislação buscou garantir
o reconhecimento do componente curricular, que passa a assumir um papel
formativo e informativo no processo educacional. Cabe ressaltar de a LDBEN
afirma que a educação física deve estar integrada à proposta pedagógica
da escola, sendo parte pertencente da mesma e da comunidade onde está
inserida (JARDIM et al., 2014).
Assim, é importante salientar que, a partir dessa legislação, surgem outras
justificativas quanto à especificidade da educação física escolar. Jardim et
al. (2014) apontam que nenhum outro componente curricular é capaz de
abranger as habilidade e competências previstas na educação física — que
é a cultura corporal do movimento por meio de jogos e brincadeiras, lutas,
danças, esportes e ginásticas, tornando tais práticas significativas.
Corroborando com esse pensamento, Darido et al. (2017, p. 5) apontam que
“Nesse processo de integração, além do aprendizado por meio das vivências, os
alunos precisam refletir sobre como essas práticas se relacionam socialmente,
192 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde e as aulas de educação física 9

quais são seus impactos [...]” no espaço e ambiente dos estudantes. Ou seja,
a aprendizagem das práticas corporais deve ser realizada considerando-se
a visão integral do corpo que se movimenta, pertencente a um mundo que
influencia e sofre influência, uma vez que não é possível “[...] isolar tais
saberes do contexto em que eles estão inseridos” (DARIDO et al., 2017, p. 5).
Quando pensamos na educação física como parte pertencente da escola,
é importante que fique clara a necessidade de proporcionar espaços, por
meio das práticas corporais, de igualdade de oportunidades, reflexão crí-
tica, inclusão, respeitos , relacionando com o significado das práticas com
saúde e lazer, mostrando a sua importância para a construção igualitária
da sociedade, com o intuito de ensinar muito além de gestos técnicos e
movimentos táticos, mas que os alunos sejam capazes de interpretar cri-
ticamente tais movimentos, tornando-as uma aprendizagem significativa
(DARIDO et al., 2017).
Sabendo dessa importância do componente curricular como uma parte
fundamental da escola, é importante que sejamos capazes de desenvolver
os movimentos humanos de forma conectada e contextualizada com o que
está acontecendo na realidade escolar e comunitária, visando a ampliação do
vocabulário corporal dos alunos e utilizando, para isso, danças, ginásticas,
lutas e esportes (DARIDO et al., 2017).
Dessa forma, a seguir, veremos algumas possibilidades de práticas e ativi-
dades a serem desenvolvidas nas aulas de educação física com o objetivo de
desenvolver o tema transversal da saúde em diferentes unidades temáticas.
Uma abordagem interessante pode ser feita solicitando que os estudan-
tes realizem a aferição da sua frequência cardíaca de repouso. Após esse
momento, é realizada uma atividade dentro do planejamento do professor
(lutas, ginástica, atletismo, etc.). Depois disso, o professor solicita que os
estudantes verifiquem a frequência cardíaca novamente, comparando com
a de repouso e, então, que busquem compreender o que ocasionou essas
mudanças e como elas interferem na saúde de um modo geral.
Além dessa abordagem, também é interessante apresentar, para os
estudantes do anos finais do ensino fundamental, as relações entre o
esporte de alto rendimento e até mesmo o próprio doping, incluindo a
utilização de hormônios anabolizantes, a partir de pesquisas sobre esses
assuntos, buscando entender se essas ações fazem parte de uma vida
saudável ou não.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Saúde e as Aulas de Educação Física | PARTE 2
193
10 Saúde e as aulas de educação física

Plano de aula
„ Ano: 1º.
„ Número de alunos: 20.
„ Materiais: quatro baldes (dois com identificação dos baldes “hábitos sau-
dáveis” e dois com identificação de “hábitos não saudáveis”, cartões, vídeo
sobre os hábitos de higiene, lápis de cor, dois cones, desenhos de diferentes
hábitos (saudáveis e não saudáveis), cola, papel pardo ou cartolina.
„ Objetivo: desenvolver o autocuidado e práticas de higiene.
„ Parte inicial: mostrar o vídeo que aborda os hábitos saudáveis. Logo depois,
pedir que os alunos desenhem em um cartão um hábito saudável e em outro
cartão um hábito não saudável, colocando o nome dos estudantes em cada
cartão para realizar uma exposição desses conhecimentos.
„ Parte principal: divide-se a turma em duas equipes e se coloca o cartão dos hábitos
no centro da quadra. Os cestos estarão dispostos nas extremidades da quadra. A
atividade será uma estafeta, em que cada estudante terá que pegar um cartão e
colocar na cesta correspondente à sua equipe (hábito saudável e não saudável).
„ Parte final: verifica-se se todos os estudantes colocaram os cartões no seu
devido cesto. Os desenhos elaborados pelos estudantes servirão para a
construção de um cartaz separando os hábitos saudáveis e os hábitos não
saudáveis para que fique exposto na escola.

A questão da alimentação é sempre uma temática muito desenvolvida na


escola, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental e na educação
infantil. Essa temática também é abordada por outros professores e, às vezes,
pela escola como um todo (como no caso de semanas da alimentação ou outros
projetos/eventos promovidos pela escola). Por esse motivo, e entendendo
a educação física como parte pertencente da escola, abordar tal assunto é
extremamente importante. Claro que isso não precisa acontecer de maneira
isolada na quadra da escola, mas em conjunto com os demais professores,
pensando em estratégias que podem ser interessantes, adequando-as à idade e
ao desenvolvimento dos estudantes. Isso pode ser feito a partir de brincadeiras
em que os estudantes precisam categorizar tipos de alimentos (verduras, frutas,
carboidratos, etc.), promovendo debates e/ou pesquisas sobre esse tema.
Além disso, é interessante e importante apresentar os benefícios da prática
de atividades físicas regulares. Para tal, é possível apresentar tais benefícios e
perguntar aos estudantes (por meio de um questionário que possa ser quanti-
ficado) por quantas horas por dia eles se movimentam, se se sentem cansados
quando realizam tais atividades, entre outras. Pode-se incluir, nesse momento,
aferição de peso, altura e pressão arterial dos estudantes para montagem de
194 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde e as aulas de educação física 11

um gráfico com essas informações, de forma a compreender o estado de saúde


dos estudantes da escola, propondo estratégias para aumentar a prática de
atividade física (que pode acontecer a partir do recreio ativo) e a implemen-
tação de brincadeiras populares nas atividades de lazer que acontecem fora
da escola, ao mesmo tempo, ampliando o vínculo com as famílias.

Atividades que envolvem saúde não necessariamente precisam contar


com aulas extensas e teóricas, em que apenas se apresenta um conte-
údo sem que se tenha nenhuma vinculação prática. Muitas vezes, é possível criar
atividades lúdicas que envolvam a temática da saúde, complementando o que
está acontecendo em outros componentes curriculares. Por exemplo, no 5º ano
do ensino fundamental, o professor está desenvolvendo as habilidades que se
referem ao conhecimento do funcionamento do sistema cardiorrespiratório. Ou
seja, os estudantes terão conhecimento sobre a parte teórica e conceitual nas aulas
com o professor titular da turma. Agora imagine o professor de educação física
repetindo toda a explicação conceitual para abordar esse tema. Nesse sentido,
as duas aulas serão complementares, uma vez que a aula de educação física
virá para complementar e mostrar no próprio corpo a explicação teórica que foi
apresentada por outro professor, configurando uma perspectiva interdisciplinar.

Dessa forma, é possível perceber que as possibilidades de desenvolver a


temática da saúde são inúmeras, e o professor possui liberdade total para
planejar conforme sua necessidade. Por exemplo, caso haja na turma algum
estudante com uma doença específica, por que não abrir espaço para esse
estudante falar sobre essa doença, ou ainda fazer um seminário apresentando
diferentes comorbidades que esses estudantes conhecem e constatam em
suas famílias e/ou círculos sociais?
No momento em que entregamos para o estudante o papel de ator principal
da sua aprendizagem, todas as ações docentes devem estar voltadas para
eles, e não para as vontades e necessidades do professor. Claro que isso
não se configura como uma tarefa simples, mas algo que necessita de muita
observação, diálogo e escuta, para que sejam apresentadas propostas que
atendam as necessidades desses estudantes.
Ao longo deste capítulo, foi possível perceber que o tema tranversal da
saúde está intimamente interligado com a educação física e, justamente por
isso, apresenta inúmeras possibilidades de ser desenvolvido em uma per-
pectiva intra, inter ou ainda transdiciplinar. Uma maneira muito interessante
de desenvolver o tema tranversal da saúde é por meio de projetos interdisci-
plinares que possuem uma perspectiva ativa e voltada para os interesses do
estudantes, gerando, assim, uma aprendizagem significativa que é a intenção
de qualquer escola — e, por consequência, das aulas de educação física.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Saúde e as Aulas de Educação Física | PARTE 2
195
12 Saúde e as aulas de educação física

Referências
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BERTON, S. B. R. et al. Sequência didática para a promoção de estudo prático e mul-
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CORDEIRO, N. V. Temas contemporâneos e transversais na BNCC: as contribuições da
Transdisciplinaridade. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação) – Escola de Educação,
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DARIDO, S. C. et al. Práticas corporais: educação física: 1º e 2º anos: manual do professor.
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GONZÁLES, F. J. et al. (org). Lutas, capoeira e práticas corporais de aventura: prá-
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GUIMARÃES, C. C. P. A.; NEILA, M. G.; VELARDI, M. Reflexões sobre saúde e educação
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OLIVEIRA, V. J. M.; MARTINS, I. R.; BRACHT, V. Projetos e práticas em educação para a saúde
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196 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Saúde e as aulas de educação física 13

RODRIGUES, A. C. C. Relações intradisciplinares e interdisciplinares no ensino da didá-


tica no curso de pedagogia. In: REUNIÃO NACIONAL DA ANPED, 37., 2015, Florianópolis.
Anais [...]. [Rio de Janeiro]: ANPEd, 2015. Disponível em: http://www.anped.org.br/sites/
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TERRADAS, R. D. A importância da interdisciplinaridade na educação matemática. Revista
da Faculdade de Educação, ano 9, n. 16, p. 95–114, 2011. Disponível em: https://perio-
dicos.unemat.br/index.php/ppgedu/article/view/3901/3094. Acesso em: 23 nov. 2020.

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testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
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PREZADO ESTUDANTE

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SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

Parte 3
Treinamento Para Idosos

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
198 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Treinamento para idoso


Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar os padrões de mudança comportamental associados ao


avanço da idade, e a classificação do idoso na atualidade.
 Identificar os aspectos epidemiológicos da população idosa no Brasil.
 Desenvolver programas de treinamento específicos para idosos.

Introdução
O processo de envelhecimento pode trazer consigo um considerável
peso social, tendo em vista principalmente a costumeira perda de ca-
pacidade física e cognitiva para realização de atividades laborais, bem
como as mudanças de comportamento em decorrência da idade. Con-
tudo, se por um lado existe menor capacidade física e cognitiva, por
outro, a sociedade poderia aproveitar melhor a experiência do idoso,
a sua estabilidade emocional e conhecimento adquirido ao longo do
tempo. É fato inquestionável que o Brasil está envelhecendo. Dados
epidemiológicos revelam um crescimento de 26% da população idosa
entre 2012 e 2018, o que acabará gerando consequências sobre as faixas
etárias mais produtivas, se o Estado e a sociedade não se prepararem
para tal. Além da preocupação produtiva, é necessário prover melhores
condições de saúde para população idosa. Conhecer os limites fisiológicos
e emocionais, bem como os exercícios mais adequados para os idosos,
é de suma importância.
Neste capítulo, você conhecerá os padrões de mudança compor-
tamental associados ao avanço da idade, e a classificação do idoso na
atualidade. Além disso, será apresentado aos aspectos epidemiológicos
da população idosa no Brasil e entenderá as bases para desenvolver
programas de treinamento específicos para idosos.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Treinamento Para Idosos | PARTE 3
199
2 Treinamento para idoso

Mudanças comportamentais associadas


ao avanço da idade
Antes de analisarmos padrões de comportamento associados a idosos, preci-
samos entender que a definição própria do conceito abrange uma conotação
ou imagem negativa, remetendo à perda de características valorizadas pela
sociedade (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008). Para a Organização Mundial
da Saúde (WHO, 2005), é considerada idosa uma pessoa que tem 60 anos ou
mais de idade. Esta classificação, porém, pode ser flexível de acordo com a
região (município, estado ou país), com condições específicas determinadas
por lei etc. No Brasil, o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2013, documento on-line)
no seu Art. 1º estabelece: “É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular
os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos”. Já no contexto do desenvolvimento humano, muitas referências na
literatura abordam a pessoa idosa como aquela com 65 anos ou mais de idade.
Nesta unidade de aprendizado, será adotada a classificação legal do Estatuto
do Idoso, ou seja, 60 anos ou mais de idade.
Ao longo do ciclo de desenvolvimento humano, cada pessoa apresenta
padrões comportamentais que estão inseridos sobretudo no seu contexto
local e no ambiente em que ela vive. Já é sabido que a pessoa idosa apresenta
um declínio em termos de processos neurais, e algumas de suas funções
executivas ficam mais lentas, tais como capacidade de planejar, sequenciar
e executar atividades cognitivas, além do automonitoramento. Esses des-
gastes (físicos e cognitivos) acabam contribuindo para uma reestruturação
na forma de pensar, o que resulta também em uma reorganização do papel
do idoso na sociedade. Papalia, Feldman e Martorell (2013) ressaltam que a
fase do adulto jovem (18–45 anos) é o período em que acrescentamos papéis
complexos à vida e à sociedade e que exigem mais tempo. Já a meia-idade
(45–65 anos) é o período em que tais papéis são redefinidos e renegociados.
A fase do idoso (acima de 65 anos) é aquela em que muitos desses papéis são
postos de lado e quase esquecidos. O “papel de pai” e o padrão comporta-
mental associado a esta função acaba variando, dependendo se o indivíduo
se encontra na fase de adulto jovem, de meia-idade e de idoso. Assim, os
papéis de filho, de pai, de cônjuge ou mesmo o papel de profissional com
cargo remunerado perdem força ou até deixam de existir na fase do idoso.
Essas redefinições de papéis determinam mudanças comportamentais im-
portantes e que estão associadas às condições de vida assumidas ao longo
do desenvolvimento humano.
200 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Treinamento para idoso 3

Segundo o Ministério da Saúde, “O envelhecimento é um direito personalíssimo e a


sua proteção, um direito social, e é dever do Estado garantir à pessoa idosa a prote-
ção à vida e à saúde mediante a efetivação de políticas públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de dignidade” (BRASIL, 2013, documento
on-line). No link a seguir, você poderá acessar o Estatuto do Idoso na íntegra.

https://qrgo.page.link/mbhyx

Uma importante circunstância que ocorre para a população idosa em geral é


a aposentadoria. No Brasil, para os empregadores, a aposentadoria produz um
sentimento de “inclusão na parcela de carga social”; já para o idoso, pode levar
à “síndrome do inútil”, ou seja, a sensação de incapacidade e de não ter mais
uma responsabilidade laboral, acompanhada dos compromissos financeiros
crescentes em virtude da própria idade. O comportamento associado pode ser
variado; para alguns, a sensação de descansar e tentar aproveitar o resto de vida
é uma contingência psicossocial natural da idade, se houver condições físicas,
financeiras e emocionais para tal. Para outros, o comportamento pode ser de
tristeza, revolta e ampla necessidade, principalmente financeira. Neste caso,
dependendo da situação, o comportamento social é de continuar trabalhando
para assegurar um complemento de renda.
Outra circunstância comum testemunhada na população idosa é o “ninho
vazio”. Por volta dos 60–65 anos de idade, os filhos já crescidos e com suas
vidas encaminhadas acabam saindo de casa para assumir o seu papel na
sociedade, agora de adulto jovem. Com isso, os pais ficam com o “ninho
vazio” e agregam sentimentos que vão desde o “abandono” até o sentimento
de “dever cumprido”. A mudança comportamental também vai estar associada
às condições familiares do “ninho vazio”.
Sob o olhar social, o envelhecimento senescente — ou seja, o envelheci-
mento natural e saudável, sem doenças associadas ao comprometimento das
atividades diárias — está associado à maior longevidade das pessoas idosas.
Este fato indica novas perspectivas de vida, comas pessoas idosas mantendo-se
em boas condições físicas, realizando as tarefas cotidianas e contribuindo com
suas famílias. Contudo, o envelhecimento senil — aquele associado a altera-
ções decorrentes de doenças crônicas — acaba afetando todos os níveis que
cercam a população idosa, mudando o padrão de comportamento da sociedade.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Treinamento Para Idosos | PARTE 3
201
4 Treinamento para idoso

Em 2016, o Brasil estava ranqueado em 5º lugar em termos de maior po-


pulação idosa no mundo (IBGE, [2019]). Projeções estimam que, em 2030, a
proporção de idosos ultrapassará a de crianças entre 0 e 14 anos, e o Brasil será
considerado um “país envelhecido”. Assim, é preciso que o país se prepare para
esse cenário, para que não haja sobrecarga social e possa haver uma mudança
comportamental capaz de realocar as pessoas idosas na sociedade de maneira
qualificada, com papéis relevantes e, talvez, com um novo ciclo de trabalho,
enquanto cada idoso desejar.
Nas seções a seguir, você encontrará dados epidemiológicos da população
brasileira e referentes à proporção de idosos. Caso as tendências sigam avan-
çando no mesmo ritmo atual, o crescimento dessa população terá um efeito
preocupante sobre a capacidade laboral.

A OMS considera um país envelhecido quando 14% da sua população têm 65 anos ou
mais. Na França, esse processo levou 115 anos, na Suécia, 85 anos, e, no Brasil, levará
pouco mais de duas décadas (SBGG, 2019).

Aspectos epidemiológicos da população


idosa no Brasil
O Brasil já foi considerado um país jovem. Atualmente, encontra-se em fase de
transição e, possivelmente, será dentro em breve um “país envelhecido”. Essa
mudança epidemiológica implica em uma série de posturas que tanto o Estado
quanto a sociedade devem adotar, questões como programas de promoção de
saúde ou de apoio ao tratamento de doenças ligadas à faixa etária dos idosos,
reorganização dos meios de produção, reestrutura das cargas sociais, etc. É
notório que países orientais como Japão, Coreia do Sul e China já atuam no
sentido de prestar maior respeito e apoio ao idoso; porém, em países ocidentais,
esta cultura está em processo de evolução, mas ainda longe do ideal.
Como já mencionado, em 2016o Brasil tinha a 5ª maior população de idosos
classificados pela OMS. Dados projetados para 2030 apontam que o número
de idosos acima de 60 anos será maior que o número de pessoas entre 0 e
14 anos. Vários aspectos contribuem para este cenário, incluindo melhores
condições de vida, maior nível de informação e conscientização sobre a saúde.
202 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Treinamento para idoso 5

Em todo país, a taxa de crescimento da população com 65 anos ou mais


cresceu 26% entre 2012 e 2018, enquanto a taxa de 0 a 14 anos no mesmo
período recuou 6%. O desequilíbrio entre as pontas (abaixo de 14 anos e
acima de 60–65 anos) levará a população brasileira a médio e longo prazo
para a condição de país envelhecido, com repercussões sociais e econômicas
(IBGE, 2018). Uma explicação importante para o recuo de 6% da faixa
etária de 0–14 anos pode ser o comportamento social de maior controle de
natalidade e/ou o fato deque as famílias formadas atualmente não querem
mais do um ou talvez dois filhos. Na outra ponta, a maior expectativa
de vida traz consigo a evolução de doenças inerentes à população idosa,
onerando o sistema de saúde.
No Quadro 1, você pode acompanhar o crescimento populacional total de
homens e mulheres no Brasil desde 2010, e com projeções futuras até 2040.
De 2010 até a projeção de 2040, deve haver um crescimento populacional
de 19%. Logo a seguir, a Figura 1 mostra a mudança demográfica por faixa
etária no mesmo período. Veja a alteração na participação, por faixa etária,
da população brasileira de pessoas abaixo de 14 anos e acima de 60 anos.

Quadro 1. Crescimento populacional do Brasil desde 2010 com projeção até 2040

Total Homens Mulheres

2010 194.890.682 95.513.298 99.377.384

2012 198.314.934 97.132.054 101.182.880

2014 201.717.541 98.744.098 102.973.443

2016 205.156.587 100.379.640 104.776.947

2018 208.494.900 101.971.173 106.523.727

2020 211.755.692 103.527.689 108.228.003

2030 224.868.462 109.728.762 115.139.700

2040 231.919.922 112.962.751 118.957.717

Fonte: Adaptado de IBGE ([2019]).


Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Treinamento Para Idosos | PARTE 3
203
6 Treinamento para idoso

Figura 1. Alteração demográfica por faixa etária desde 2010 com projeção até 2040.
Fonte: IBGE ([2019], documento on-line).

Se por um lado o aumento da expectativa de vida é uma informação positiva,


por outro, cresce o número de pessoas acometidas por doenças associadas a
idades superiores aos 60–65 anos, entre elas a hipertensão arterial sistêmica
(HAS), diabetes mellitus tipo 2 (DM2), sarcopenia e osteoporose. A HAS e o
DM2 são mundialmente reconhecidos como as condições cardiometabólicas
com maior número de casos associados a óbitos. Já a sarcopenia e a osteopo-
rose estão ligadas a perda de autonomia nas tarefas diárias, risco de quedas
e redução da qualidade vida global.
Em termos gerais, a HAS é uma doença multifatorial caracterizada por
níveis elevados e sustentados de pressão arterial, resultantes de falhas na
regulação vascular devido ao mau funcionamento de mecanismos de controle
pressórico. Apesar da prevalência de HAS no Brasil ter diminuído aproxima-
damente 6% nas últimas três décadas, os índices ainda são altos, abrangendo
cerca de 30% de toda população. Trata-se de uma condição com relação direta
e linear com a idade. Evidências mostram que 68% dos idosos acima de 65
anos de idade apresentam HAS (PICON et al., 2013). Esse cenário é bastante
preocupante porque, dentre os fatores de risco para o desenvolvimento de
doença arterial isquêmica, a HAS é a mais relevante, seguida por dislipidemias,
excesso de peso corporal e glicemia de jejum elevada.
Por sua vez, o DM2 é uma doença metabólica caracterizada por uma
hiperglicemia constante na presença de quantidades fisiológicas de insulina.
As principais consequências do DM2 são: insuficiência renal crônica, doença
arterial isquêmica, HAS, amputações não traumáticas e cegueira. A prevalência
204 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Treinamento para idoso 7

de DM2 no Brasil é de 8,5%, segundo a International Diabetes Federation


Atlas (SBD, [2018]). Essa prevalência aumenta de acordo com a faixa etária,
podendo a chegar a 12% para indivíduos acima dos 60–65 anos.
A sarcopenia e a osteoporose são processos característicos do envelheci-
mento, e estão associados a maior risco de quedas em idosos. A sarcopenia
é o processo natural e progressivo de perda de força e massa muscular típico
do envelhecimento. Já a osteoporose é a perda da densidade óssea, tornando
o osso “esponjoso” e frágil. Com poucos dados epidemiológicos, estima-se
que 1 em cada 3 mulheres com mais de 50 anos sofrerá fraturas devido à
osteoporose; por sua vez, 1 em cada 5 homens com mais de 50 anos sofrerá da
mesma condição. Dados indicam que a osteoporose está presente em 15% dos
homens brasileiros com mais de 65 anos. Já para as mulheres, a prevalência da
doença varia de 14% a 29% em mulheres acima de 50 anos de idade, e chega
a cerca de 70% em mulheres acima de 80 anos de idade (SBEM–SP, 2017).
Como já mencionado, um dos maiores problemas ligados à osteoporose e
também à sarcopenia é o risco de quedas. A queda se dá em decorrência da
perda total do equilíbrio postural, podendo estar relacionada à insuficiência
súbita dos mecanismos neurais e osteoarticulares envolvidos na manutenção
da postura. Embora grande parcela das quedas esteja associada à perda de
força e massa magra, bem como a uma resposta neural mais lenta para reor-
ganizar a postura em situação de desequilíbrio (precedente à queda), fatores
extrínsecos devem ser observados, tais como: ambientes que favorecem as
quedas, circunstâncias sociais, entre outros. A preocupação é latente; no Brasil,
estima-se que aproximadamente 30% dos idosos sofrem quedas ao menos uma
vez ao ano (PERRACINI; RAMOS, 2002), com consequências graves para a
estrutura óssea e também associada a fraturas cranianas.
Embora os dados epidemiológicos existentes sejam preocupantes, essas
condições podem ser minimizadas com a prática regular de exercício físico,
entre outras mudanças no estilo de vida. Um estudo clássico realizado em
ambulatórios de geriatria e cardiologia em 36 centros de 13 estados brasilei-
ros, foi encontrada uma prevalência de inatividade física de 74% nos idosos
entrevistados, com predomínio nos pacientes do sexo feminino (79%). Para
os idosos do sexo masculino, a prevalência foi de 66% (TADDEI et al., 1997).
Já em 2016, foi encontrada 70% de inatividade física na população idosa, com
maior prevalência foi no sexo masculino (75%) (Ribeiro et al., 2016). Contudo,
para a prática regular de exercício físico para os idosos, a modalidade escolhida
é essencial, bem como a “dose” do exercício. Você verá a seguir como podemos
estruturar um programa específico para a população idosa.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Treinamento Para Idosos | PARTE 3
205
8 Treinamento para idoso

Programas de treinamento específicos


para idosos
De forma geral, os programas de treinamento físico visam a melhoria de uma
ou mais aptidões físicas relacionadas à saúde: capacidade cardiorrespiratória;
força, potência e resistência muscular; nível de flexibilidade; composição cor-
poral (isto é, a relação adequada entre massa gorda e massa magra). Em relação
à população idosa, este cenário não muda. No entanto, o maior desafio para
montar os programas de treinamento físico específicos para idosos é equilibrar
os riscos com os benefícios. Além disso, a priori, a estratégia primordial do
treinamento físico voltado à população idosa é o aumento de força e massa
muscular. Essa recomendação é indiscutível para os idosos senescentes, ou
seja, aqueles que apresentam um envelhecimento saudável e na ausência de
um risco cardiometabólico relevante. Caso o idoso apresente alguma condição
de maior risco, como HAS ou DM2, acompanhada de baixos níveis de con-
trole por parte do idoso, o objetivo primeiro do programa de exercício físico
deve ser o de mitigar essas condições. Você encontrará a seguir informações
necessárias para organizar um programa de treinamento enfatizando HAS,
DM2, osteoporose e sarcopenia.

Os termos a seguir podem ser facilmente confundidos entre si, por isso apresentamos
as definições estritas de cada um deles:
 Força: tensão máxima que um músculo ou grupo muscular é capaz de realizar em
apenas um movimento.
 Potência: é a capacidade física determinada pelo produto da força pela veloci-
dade de execução (potência = força × distância / tempo). Assim, fica claro que
para maximizar a potência não adianta aumentar somente a força ou somente a
velocidade (distância/tempo).
 Resistência muscular: consiste no máximo de contrações que um músculo ou
grupo muscular é capaz de realizar dada uma resistência.

Para a condição de HAS controlada, tanto sessões agudas de exercícios


aeróbicos quanto crônicas têm gerado diminuição da pressão arterial entre
indivíduos adultos hipertensos. A redução média em reposta ao exercício físico
fica em torno de 5 a 7 mmHg (PESCATELLO et al., 2015). As recomendações
206 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Treinamento para idoso 9

de prescrição de exercícios para indivíduos hipertensos preconizam exercí-


cios aeróbicos, em intensidade moderada (50 a 75% da FCreserva), 30 a 60
minutos por sessão, 3 a 5 dias por semana, mas preferencialmente todos
os dias (PECATELLO et al., 2015; MALACHIAS et al., 2016). Contudo,
sabe-se que quase metade dos indivíduos hipertensos (46%) não adere a essas
recomendações (MOZAFFARIAN et al., 2015). Assim, uma atenção especial
aos aspectos psicológicos, incluindo a motivação, deve ser estudada e reforçada.
Uma alternativa são os exercícios aquáticos, entre eles a hidroginástica. Esta
modalidade é comumente recomendada para a população idosa, por apresentar
baixo risco de quedas e menor impacto (diminuição de aproximadamente
80% do peso corporal total). A redução média nos níveis pressóricos em
reposta a uma sessão de hidroginástica assemelha-se às obtidas por sessões
aeróbicas de modalidades terrestres (caminhadas, corridas leves, bicicleta etc.).
Quanto aos exercícios de força ou sessões combinadas (aeróbico + força, ou
força + aeróbico), os dados na literatura ainda são controversos e reticentes
para inclusão desses programas como estratégia não farmacológica única
para a HAS. As principais diretrizes para hipertensão citam o treinamento
de força como estratégia adjuvante, ou seja, complementar aos exercícios de
característica aeróbica, mas como estratégia primária ou única no combate
ou tratamento da HAS.

A frequência cardíaca de reserva, ou FCreserva, é dada pela diferença entre a FCmáx e


a FCrepouso. O método de controle de intensidade de exercícios sobre a FCreserva tem
grande acurácia e é recomendado pelas principais entidades relacionadas à saúde. O
cálculo para a FCalvo do exercício físico, sobre a FCreserva, é baseado na seguinte fórmula:
FCalvo= [ (FCmáxima – FCrepouso) × %Intensidade ] + FCrepouso

Por sua vez, a recomendação para o DM2 baseia-se nas diretrizes para a
população geral (ACSM, 2018): acumular um mínimo de 150 minutos de
exercícios aeróbicos de intensidade moderada (50 a 75% FCreserva) ou 75
minutos de exercícios de intensidade vigorosa (intensidade superior a
75–80% FCreserva). Devido à fisiopatologia do DM2, o controle glicêmico é,
em grande parte, dependente da musculatura esquelética (entre 70–80% da
captação de glicose são realizados pelo músculo esquelético). Assim, é fácil
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Treinamento Para Idosos | PARTE 3
207
10 Treinamento para idoso

imaginar que o aumento do volume muscular, bem como o incremento do


seu metabolismo, favorece o controle (diminuição) da glicose plasmática. As
diretrizes para treinamento força para o DM2, então, são mais contundentes
do que as diretrizes para HAS. São recomendadas 3 sessões de intensidade
moderada por semana (aproximadamente 75% da carga máxima), com
exercícios priorizando grupos musculares maiores. Desta forma, o treina-
mento aeróbico tende a favorecer o controle glicêmico durante a prática dos
exercícios, e o treinamento de força contribui para o aumento da área tecidual,
potencializando o controle glicêmico.
Em relação à sarcopenia e/ou osteoporose, as recomendações envolvem
estritamente os exercícios de força, contra uma resistência qualquer. O prin-
cipal objetivo é garantir maior autonomia aos idosos e diminuir seu risco de
quedas. Segundo Perracini e Ramos (2002), idosos que necessitam de ajuda
para realização de atividades cotidianas têm 14 vezes maior probabilidade de
sofrer quedas do que pessoas independentes. Evidências sugerem que o índice
de potência muscular do quadríceps femoral em homens idosos apresenta
associação com o desempenho e aptidão física relacionados à saúde. Além
disso, tal associação é mais proeminente do que o próprio índice de massa
muscular (WILHELM et al., 2014). Em outras palavras, não basta objetivar o
aumento “puro” da massa muscular e, sim, realizar trabalhos de potência para
que o idoso obtenha maior reflexo nas atividades da vida diária. É importante
ressaltar que, assim com a sarcopenia também está associada à menor ingestão
de proteínas de alto valor biológico, a osteoporose está associada à diminuição
de ingestão e absorção de cálcio pelos ossos. Assim, paralelamente à prática
regular de exercícios físicos, os idosos devem receber apoio nutricional ade-
quado por parte de profissionais habilitados para tal.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2018) aponta que
os benefícios do exercício físico, se bem orientados, devem envolver: ganhos
de capacidade cardiovascular, força e potência muscular, além da densidade
óssea; prevenção de quedas e nível de flexibilidade; e, por fim, benefícios
psicológicos. Examinemos ponto a ponto algumas orientações que os profis-
sionais da saúde podem seguir:

 Capacidade cardiovascular: por especificidade, devem ser reali-


zados exercícios como caminhadas, corridas e pedaladas. Ademais,
atividades aquáticas são uma excelente alternativa. A intensidade
recomenda é de leve a moderada. Além da eficácia sobre aspectos
cardiovasculares, estudos apontam melhora cognitiva em reposta a
este tipo de exercício físico.
208 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Treinamento para idoso 11

 Treinamento de força e potência: é a estratégia primária para idosos


senescentes. Exercícios de força de intensidade leve a moderada deter-
minam incrementos na força em idosos. Trabalhando sobre a relação
entre força e velocidade de execução, você estará incrementando a
potência muscular. Priorize membros inferiores e da cadeia posterior
para melhor a postura e a reação à situação de desequilíbrio corporal.
 Prevenção de quedas e flexibilidade: deve ser incluído um programa
específico de exercícios para equilíbrio, envolvendo, por exemplo,
caminhadas e transferência de peso, com aspectos proprioceptivos.
A flexibilidade é um componente importante na prevenção de lesão
muscular e risco de quedas, e pode ser trabalhado especificamente ou
como complemento às sessões de força.
 Benefícios psicológicos e cognitivos: a atividade física e a função
psicológica na pessoa idosa estão bastante relacionadas. O exercício
físico conduz o idoso à sensação de prazer e bem-estar e à percepção
de controle (autonomia). Além disso, a função de socialização durante
as sessões de exercício também agrega ao estado psicológico benéfico.

Apesar das estratégias elaboradas pelo Ministério da Saúde e pelo Minis-


tério dos Esportes para colocarem em pauta a prioridade de prática regular
de exercício físico por parte da população idosa, os resultados alcançados
ainda estão aquém do efeito desejado. Políticas públicas consistentes deveriam
integrar profissionais de educação física, centros comunitários, academias,
universidades (via projetos de extensão), praças públicas etc., para oferecerem
o maior número possível de programas de exercício físico a fim promover
amplos benefícios de saúde à população idosa.

Imagine o seguinte cenário: um idoso de 70 anos com relativo deficit de força e massa
muscular, mas também com HAS (lembre que a presença de HAS aumenta em 40% o
risco de infarto agudo do miocárdio e em torno de 25% de acidente vascular cerebral).
Embora o treinamento de força, contra uma resistência qualquer, seja o recomendado
para aumento de força e massa muscular, o treinamento aeróbico de intensidade
moderada é a estratégia primária para os casos de HAS. O que você faria?
Nesse contexto, deve-se avaliar risco versus benefício tendo em vista a HAS e a
autonomia do idoso, sobretudo suas atividades cotidianas. Se a HAS estiver bem con-
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Treinamento Para Idosos | PARTE 3
209
12 Treinamento para idoso

trolada, com o idoso tomando os devidos medicamentos diariamente, sem a presença


de outro risco cardiovascular associado (obesidade, dislipidemia, DM2, tabagismo ou
abuso de álcool), e se o seu deficit muscular de fato prejudica a sua autonomia, você
deve priorizar os exercícios para ganhos de força e potência muscular. Contudo, se
a HAS presente revelar níveis preocupantes (estágio II ou III) e o idoso demonstrar
relativa autonomia para a realização de suas tarefas, você deve priorizar os exercícios
aeróbicos de intensidade moderada. Não há uma regra fixa ou receita pronta. Você,
como profissional da saúde, deve saber avaliar os riscos e os benefícios para cada caso
e atuar com base nas recomendações relevantes. Vale ressaltar ainda que as diretrizes
formam a base de um programa de exercícios físicos, e você pode (e deve) variá-los
de acordo com a situação, levando em conta, por exemplo, individualidade biológica,
condição financeira, experiência prévia, nível de saúde atual, condição ambiental, etc.

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da Saúde, 2005. E-book. Disponível em: http://dms.ufpel.edu.br/ares/bitstream/han-
dle/123456789/232/5%20%202005%20%20envelhecimento_ativo.pdf?sequence=1.
Acesso em: 9 ago. 2019.
WILHELM, E. N. et al.Relationship between quadriceps femoris echo intensity, muscle
power, and functional capacity of older men. Age (Dordr), v. 36, n. 3, p. 9625, 2014. Dis-
ponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24515898. Acesso em: 22 jul. 2019.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Treinamento Para Idosos | PARTE 3
211
14 Treinamento para idoso

Leituras recomendadas
BASYCHES, M. Atividade física para hipertensos e cardíacos — entrevista com Prof.
PhD Christiano Bertoldo. YouTube, 2016. 1 vídeo (18 min). Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=I3ZtpfioFQI. Acesso em: 22 jul. 2019.
CUNHA, R. M et al. Postexercise hypotension after aquatic exercise in older women
with hypertension: a randomized crossover clinical trial. American Journal of Hyper-
tension, v. 31, n. 2, p. 247–252, 2018. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/28985278. Acesso em: 22 jul. 2019.
IBRAGESP. Prescrição de exercícios físicos para diabéticos. YouTube, 2016. 1 vídeo (26
min). Publicado pelo canal IBRAGESP IBRAGESP. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=ts-doFYUnYY. Acesso em: 22 jul. 2019.
MALACHIAS, M. V. B. et al. VII diretriz brasileira de hipertensão arterial. Arquivos Brasileiros
de Cardiologia, v. 107, n. 3, p. 1–102, 2016. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.
br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019.
PEDRINELLI, A.; GARCEZ-LEME, L. E.; NOBRE, R. O efeito da atividade física no apa-
relho locomotor do idoso. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 44, n. 2, p. 98–101,
2009. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Luiz_Garcez_Leme/
publication/250052713_O_efeito_da_atividade_fisica_no_aparelho_locomotor_do_
idoso/links/554254f50cf234bdb21a10ab/O-efeito-da-atividade-fisica-no-aparelho-lo-
comotor-do-idoso.pdf. Acesso em: 22 jul. 2019.

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212 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 4
Exercícios Para Gestantes

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214 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Exercícios para gestantes


Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Enumerar os cuidados que devem ser adotados para a prática de


exercícios físicos, com atenção especial aos três primeiros meses de
gestação.
 Aplicar programas de treinamento específicos para fortalecimento
do core: músculos do quadril, lombar e pelve.
 Desenvolver estratégias de treinamento para atendimento e otimiza-
ção do treinamento aplicado a diferentes perfis de gestante: sedentária
e atleta.

Introdução
Gravidez não é doença, mas requer cuidados especiais. Esta frase traduz
o tema que será abordado neste capítulo. De fato, a gestação não implica
doença ou condição patológica alguma. Contudo, as gestantes são clas-
sificadas como “população especial” perante os programas de exercícios
físicos, por exigirem cuidados extras àqueles normalmente aplicados
na população em geral. Não são todas as modalidades, volumes, inten-
sidades e/ou posições de exercícios que as gestantes podem executar.
O entendimento dos principais cuidados, especialmente no primeiro
trimestre de gestação, pode determinar o sucesso de um programa
de exercício físico. Além disso, o fortalecimento do assoalho pélvico e
lombar, entre outros objetivos, tanto para gestantes sedentárias quanto
para aquelas habituadas a treinos, deve ser executado com segurança.
Assim, neste capítulo você conhecerá os cuidados que devem ser
adotados para a prática de exercícios físicos, com atenção especial
aos três primeiros meses de gestação. Também aprenderá a aplicar
programas de treinamento específicos para fortalecimento do core:
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Exercícios Para Gestantes | PARTE 4
215
2 Exercícios para gestantes

músculos do quadril, lombar e pelve. Por fim, ficará a par das dife-
rentes estratégias de treinamento para perfis distintos de gestantes:
sedentárias e atletas.

Cuidados para a prática de exercícios físicos


em gestantes
É importante respeitar as alterações no corpo da mulher frente à gestação,
principalmente quando o assunto é a prática de atividade física e/ou exer-
cício físico. Ainda circulam por aí mitos de que o exercício físico pode ser
prejudicial tanto para a mãe quanto para o bebê. Assim, é fundamental
entender as alterações que a gestação proporciona e confrontá-las com os
possíveis mitos. As modificações ocorrem em todos os planos: físico, emo-
cional, psicológico etc. Todas as alterações manifestadas nos 9 meses (ou
aproximadamente 40 semanas) de gestação servem para preparar a mulher
para o nascimento do filho.
Primeiramente, o aumento do hormônio gonadotrofina coriônica (HCG, na
sigla em inglês) e da progesterona tem a função de inibir a musculatura lisa para
evitar contrações e movimentos indesejáveis neste período (LEVENO, 2014;
CARVALHO, 2016). Contudo, o sistema gastrointestinal possui musculatura
lisa ao seu redor, que também é afetada. Assim, a digestão torna-se mais lenta,
elevando a probabilidade de acidez e azias no estômago. Com a motilidade
mais lenta, aumentam as chances de constipações, e os enjoos e regurgitações
são comuns em 70–80% das gestantes (GOMES, 2012). A tendência é que
esse quadro, iniciado principalmente pelo HCG, perca intensidade no início
do segundo trimestre.
Em paralelo, o corpo da gestante apresenta metabolismo mais acelerado,
com objetivo de desenvolver o embrião ou feto. Essa aceleração leva a um
maior esgotamento geral, exigindo mais horas de sono. No segundo trimestre
de gravidez, outra mudança latente é a maior frequência de micção. Isto ocorre
porque durante a gestação a mulher aumenta sua volemia (quantidade de sangue
total no corpo) entre 40-50%, e a maior parte deste aumento se dá na forma de
volume plasmático (SOUZA; BATISTA FILHO; FERREIRA, 2002). Com isso,
os rins trabalham mais para que todo o sangue seja filtrado, produzindo maior
quantidade de urina. Além disso, o crescimento do feto no útero pressiona
fisicamente a bexiga, reduzindo sua capacidade de armazenamento. Os seios
216 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercícios para gestantes 3

ficam maiores, preparando-se para a produção de leite e maior circulação


sanguínea. Em paralelo a isso, as aréolas tornam-se bem mais sensíveis, o
que pode trazer desconforto para as mulheres, principalmente durante um
exercício físico em que haja atrito pelo movimento corporal.

Por definição, o embrião, produto da união do gameta masculino e do gameta femi-


nino, ocupa os primeiros estágios de desenvolvimento gestacional, estendendo-se
até a 8ª semana (período embrionário). A partir da 8ª semana, começa o período de
desenvolvimento do feto, já implantado no útero, o que exige maior mobilização de
nutrientes, oxigenação etc. para este local.

Embora estes aspectos físicos sejam importantes, são os aspectos emo-


cionais que requerem maiores cuidados. Há mulheres, especialmente na
primeira gestão, que transitam do riso ao choro com extrema facilidade.
Essas alterações de humor e sensibilidade à flor da pele são causadas pela
variação hormonal do primeiro trimestre, bem como pelas incertezas que
surgem pela nova situação. Embora o quadro geral possa parecer preocupante
em relação às alterações no corpo da mulher, muitas respostas corporais
são benéficas e podem ser potencializadas pela prática regular de atividade
física e/ou exercício físico.

Você sabe qual é a diferença entre atividade física e exercício físico? Atividade física
é todo movimento corporal realizado pela musculatura esquelética que requer gasto
calórico acima do repouso. Exercício físico, por sua vez, é uma atividade física com o
objetivo específico de aumentar a aptidão física relacionada à saúde e/ou desempenho
esportivo. Assim, por atividade física, entenda “movimentar-se mais”, e por exercício
físico, entenda “[...] praticar atividade física programada e com objetivo definido sobre
a aptidão física” (GUEDES; GUEDES, 1995, documento on-line).
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Exercícios Para Gestantes | PARTE 4
217
4 Exercícios para gestantes

Em relação à prática de exercícios físicos, se na população geral a pre-


valência de sedentarismo fica entre 40–50% (BRASIL, 2015), para as
gestantes a prevalência é ainda maior. Em uma coorte de 118 gestantes,
a maioria mostrou um baixo nível de atividade física durante o período
gestacional. Além disso, 100% da amostra apresentaram comportamento
sedentário na 32ª semana de gestação (NASCIMENTO et al., 2014). Em
outro trabalho, foram avaliadas 305 gestantes, verificando-se que 80%
apresentaram um padrão de leve atividade física ou sedentarismo. A di-
retriz do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG
COMMITTEE OBSTETRIC PRACTICE, 2002) recomenda a prática de
atividade física na gestação, o que é reconhecidamente seguro para todas
as gestantes saudáveis.
Inúmeros benefícios podem ser elencados tanto para a mãe quanto para o
feto pela prática de atividade física. Os benefícios maternos são:

 manutenção do gasto energético, associado à capacidade cardiorrespiratória;


 controle do peso corporal para esta condição;
 prevenção/tratamento do diabetes gestacional;
 prevenção/tratamento da pré-eclampsia;
 menor estresse cardiovascular;
 ajuda no trabalho de parto;
 melhora da recuperação pós-parto;
 melhora da postura para esta condição;
 prevenção de dores na região lombo-sacra;
 melhorados aspectos psicológicos e emocionais (humor, autoimagem,
ansiedade etc.).

Para o feto, os benefícios estão associados a menor risco de complicações


no parto e menor prematuridade.No entanto, por se tratar de uma população
que requer um cuidado adicional, foram elaboradas certas contraindicações
absolutas (aquelas que são indiscutíveis e não exigem avaliação) e relativas
(aquelas que são vistas “caso a caso” e que podem ser avaliadas mediante
pontos de cortes para cada contraindicação) para a prática de exercícios
(Quadro 1). Embora essas contraindicações possam se impor em qualquer
período da gestação, o primeiro trimestre é o mais preocupante, porque
o desenvolvimento do bebê ainda é muito dependente das condições ma-
ternas, incluindo nutrição, nível de oxigenação (fluxo sanguíneo) e grau
de imunidade.
218 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercícios para gestantes 5

Quadro 1. Contraindicações absolutas e relativas na prática de exercícios físicos para


gestantes

Absolutas Relativas

Doença cardíaca Anemia (hemoglobina inferior a 10 mg/dL)

Doença pulmonar restritiva Arritmia cardíaca

Incompetência istmocervical Bronquite

Gestação múltipla (após 30 semanas) Diabetes não controlado

Sangramento durante a gestação Hipertensão arterial crônica, epilepsia ou


doença da tireoide

Placenta prévia Obesidade extrema, desnutrição ou


desordem alimentar

Trabalho de parto prematuro Restrição de crescimento fetal

Ruptura prematura de membrana Fumante em excesso

Pré-eclampsia ou qualquer hiperten- Estilo de vida sedentário


são arterial não controlada

Fonte: Adaptado de Nascimento et al. (2014).

A prescrição adequada de exercício físico passa, obrigatoriamente, por


uma bateria de avaliações, incluindo as avaliações físicas. Para a população
gestante, devem ser observadas algumas orientações especiais nesse caso:

 Não deve ser prescrito exercício máximo, mesmo que seja para avaliação.
 É recomendada a presença ou supervisão de um médico.
 Para avaliação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), pode ser
realizado um teste submáximo (até 80% FCmáx predita pela idade, ou
65–70% FC de reserva).
 Gestantes sedentárias devem ser avaliadas pelo médico antes da rea-
lização dos testes físicos.

A resposta fisiológica durante os testes, sejam eles para determinação de


VO2máx ou de força, é similar à da população em geral, porém com mais in-
tensidade. Assim, a frequência cardíaca responderá de forma mais acentuada e,
em consequência, o mesmo ocorrerá com o débito cardíaco e a pressão arterial.
A ventilação será maior em profundidade e frequência para garantir o aporte
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Exercícios Para Gestantes | PARTE 4
219
6 Exercícios para gestantes

de ar necessário em resposta ao exercício físico. Este cenário provoca exaustão


mais precocemente em mulheres gestantes, se comparadas às não gestantes.
Outros cuidados gerais são importantes para a prática de exercício físico,
tais como:

 evitar esportes de contato físico;


 evitar exercícios isométricos e posições supinadas após o primeiro
trimestre, especialmente devido à obstrução venosa;
 evitar a manobra de Valsalva, prática comum nos exercícios de muita
força; e
 evitar, sob todos os aspectos, o estresse térmico, ou seja, manter a
gestante hidratada e praticar o exercício físico em ambiente ameno.

Mesmo com estas precauções, é importante que o profissional de educação


física reconheça os principais sinais para interromper o exercício físico:

 todo e qualquer sangramento vaginal;


 dispneia durante e/ou imediatamente após exercício físico;
 tonturas, dor de cabeça ou dor no peito;
 dor muscular excessiva ou inchaços repentinos;
 diminuição do movimento fetal;
 perda de líquido amniótico.

A adoção de um estilo de vida mais saudável deve fazer parte da vida de


todos. Na condição de gestantes, essa prática deveria ser ainda mais incisiva.
A falta de conhecimento dessa condição, partindo da fisiológica da gestante
até os sinais de alerta, é uma realidade que deve ser revista. As diretrizes
apresentadas, embasadas na ciência, garantem os benefícios e a segurança da
prática regular de exercícios físicos. Uma grande parte destes exercícios deve
objetivar o fortalecimento do core, como você verá a seguir.

Programas de treinamento específicos


para fortalecimento do core
O conceito de “core” vem do significado da palavra em inglês (núcleo, cerne,
centro, âmago etc.), ou seja, uma região central que é responsável por grande
parte do equilíbrio (realinhamento central) e postura do corpo. São músculos
profundos da região abdominal, lombar e pélvica, cujo objetivo é manter a
220 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercícios para gestantes 7

estabilidade dessa região proporcionando melhor equilíbrio e postura (EVAN-


GELISTA, 2015). Pessoas com core enfraquecido têm maior chance de desvios
posturais e lesões, principalmente hérnia de disco. Assim, o fortalecimento
do core para as gestantes é de grande valia.
Para que seja possível determinar um treinamento específico da região, é
importante conhecer os músculos envolvidos no core. Ao todo são 29 músculos,
sendo os principais deles apresentados no Quadro 2, acompanhados das respectivas
ações. Além dos músculos elencados no Quadro 2, os glúteos têm fundamental
importância para o core, pois realizam diversas ações sobre os quadris. Para
complementar, temos ainda os músculos do assoalho pélvico: quando contraídos,
elevam os órgãos pélvicos e mantêm a continência urinária e fecal; quando rela-
xados, permitem o esvaziamento intestinal e vesical. São músculos com ação de
grande distensão para permitir e auxiliar no trabalho de parto. Evidências indicam
que cerca de 10% das mulheres sofrem lesão na musculatura do assoalho pélvico
durante o parto. Assim, o trabalho de fortalecimento prévio é fundamental.

Quadro 2. Principais músculos para o fortalecimento do core

Ação geral Ação específica

Reto abdominal: a contração Multífidos: estabilização e extensão da


aumenta a pressão intra-abdominal coluna vertebral, rotação e flexão lateral.
para a respiração, regurgitação, defe-
cação, micção e trabalho de parto.

Oblíquo externo: rotação do tórax, Psoas maior: a flexão da coxa e a contra-


flexão do tronco e aumento da ção unilateral inclinam a coluna lombar e a
pressão intra-abdominal. contração bilateral eleva o tronco, saindo da
posição supina.

Oblíquo interno (porção anterior): Transverso do abdômen: aumenta a


similar ao oblíquo externo; contudo, pressão intra-abdominal e estabiliza a coluna
rota o tronco para o mesmo lado da lombar.
contração.

Iliocostais: inclinam a cabeça Quadrado lombar: inclinação lateral do


lateralmente, estendem a cabeça e tronco e depressão da 12ª costela.
parte da coluna vertebral.

Oblíquo interno (porção posterior): similar


ao oblíquo externo; contudo, rota o tronco
para o mesmo lado da contração.

(Continua)
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Exercícios Para Gestantes | PARTE 4
221
8 Exercícios para gestantes

(Continuação)

Quadro 2. Principais músculos para o fortalecimento do core

Ação geral Ação específica

Longuíssimo: extensão da coluna vertebral


e flexão lateral.

Diafragma: as bases dos pulmões estão


apoiadas no diafragma; quando da sua con-
tração, aumenta a área do pulmão e diminui
a pressão intrapulmonar e, por diferença
de pressão em relação ao ambiente, o ar
entra nos pulmões (inspiração). Quando do
seu relaxamento, a musculatura expiratória
comprime o pulmão, elevando a pressão
intrapulmonar, e o ar é expirado. Além deste
processo, o diafragma é importante para o
espirro, a tosse, a defecação e no trabalho
de parto.

Fonte: Adaptado de Evangelista (2015).

O fortalecimento do core, baseado na musculatura envolvida, pode ser


feito por diversas modalidades, tais como: exercícios de força com o peso
corporal, utilização de bolas grandes, faixas elásticas, BOSU (meia lua de
borracha em que a pessoa fica em cima), exercícios com métodos Pilates ou
ioga, entre outros. Os exercícios podem ser feitos em sequência ou “circui-
tado”, de acordo com a necessidade. Você deve priorizar a utilização do peso
corporal da praticante e faixas elásticas, em vez de pesos guiados (aparelhos de
musculação). Evite tensões elevadas e fique atento aos exercícios isométricos
intensos que coloquem a gestante em risco quanto à posição de execução.
Para exercitar especificamente o assoalho pélvico, a gestante pode realizar
contrações sustentadas durante 5 a 10 segundos ou contrações rápidas (contrair
e relaxar) em diferentes posturas. Uma orientação segura é realizar diariamente
2 séries de 8 a 10 contrações.
Após os exercícios para fortalecimento do core, utilize técnicas de alonga-
mento muscular leve, que já foram evidenciadas para a diminuição das queixas
de dor pélvica posterior e de dor lombar durante a gestação. Cabe ressaltar que
durante a gestação ocorre um aumento dos níveis dos hormônios relaxina e
progesterona; assim, devem-se evitar alongamentos extremos.
222 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercícios para gestantes 9

Seguem alguns exemplos de exercícios para o fortalecimento do core que


podem ser executados pelas gestantes, sempre observando os critérios e sinais
de alerta. Os movimentos devem ser realizados em baixa velocidade e com
estabilização da cintura pélvica para melhor resultado. As gestantes jamais
devem realizar a manobra de Valsalva (segurar a respiração) durante os exer-
cícios. A partir dos exemplos recomendados, pode-se criar variações com o
BOSU ou faixas elásticas para aumentar a dificuldade (somente para aquelas
gestantes que já praticavam exercícios físicos e que tenham condicionamento
e experiência motora) (EVANGELISTA, 2015).

 Prancha reta ou com os joelhos apoiados: 2 a 3 séries; contrações sus-


tentadas de 10 a 15 segundos; descansar por 20 a 30 segundos.
 Elevação do quadril (ponte): em decúbito dorsal, pés apoiados ao chão
e com os joelhos dobrados, realizar a elevação do centro gravitacional
e sustentar na posição elevada (2 a 3 séries; contrações sustentadas
de 10 a 15 segundos, sem manobra de Valsalva; descansar por 20 a 30
segundos). Uma alternativa é apoiar os pés em uma bola grande.
 Agachamentos podem ser feitos preferencialmente sem peso adicional
(somente o peso corporal). Executar 2 a 3 séries de 10 repetições e inter-
valos de 45 segundos a 1 minuto. Uma alternativa para o agachamento
é a utilização da bola grande na parede, com ângulo próximo a 90º na
articulação do joelho e do quadril.
 Abdominal sobre a bola grande é ótimo e seguro; basta ter cuidado
para não estender demasiadamente a coluna vertebral na bola para não
sobrecarregar a região abdominal. Movimentos em decúbito ventral
não são recomendados em hipótese alguma.
 Elevação das pernas com a bola grande presa nos joelhos ou nos pés,
sempre em decúbito dorsal. Elevar as pernas (articulação do quadril)
e ao mesmo tempo pressionar a bola (adutores).

No link a seguir, você encontra exemplos de exercícios com método Pilates para
reforçar o core. É necessário ajustar os exercícios de acordo com a individualidade
biológica das gestantes, levando-se em consideração a experiência prévia, possíveis
dores e desconfortos etc.

https://qrgo.page.link/dmBmL
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Exercícios Para Gestantes | PARTE 4
223
10 Exercícios para gestantes

Além do fortalecimento do core, a prática de exercícios aeróbicos também


tem sua relevância. Contudo, é preciso separar as gestantes com experiência
prévia (atletas profissionais e/ou amadoras) daquelas que não praticavam
exercícios e, por recomendação médica, querem praticá-los durante a gra-
videz. A seguir, você verá pontos de otimização do treinamento físico que
devem ser observados para as diferentes populações: gestantes sedentárias e
gestantes atletas.

Estratégias de treinamento para diferentes


perfis de gestantes: sedentárias e atletas
A recomendação de prática regular de exercício físico na condição de gestante
está muito bem consolidada, e há consenso sobre o tema (ARTAL; O’TOOLE;
WHITE, 2003; BARAKAT; LUCIA; RUIZ, 2009; ROBLEDO-COLONIA,
2012). No entanto, quando a gestante já é uma atleta profissional ou mesmo
uma atleta amadora muito bem condicionada, qual seria a recomendação
neste caso? Ela pode competir em esportes que não sejam de contato? Dois
exemplos são emblemáticos e ajudam a embasar essa discussão. Em 2017, a
fi nal do Aberto da Austrália de tênis foi vencida por Serena Willians. Nada
fora do comum, não fosse o fato dela estar na 8ª semana de gestação. O se-
gundo caso foi um pouco mais intenso: a corredora americana Alysia Montano
participou de uma prova de 800 m entre o 7º e 8º mês de gestação! Ficou
na última colocação, mas participou de uma prova oficial de 800 m. Estes
fatos não devem ser levados como regra na sustentação de “fazer exercícios
físicos na gestação é amplamente recomendado”. Existem limites na gravidez
que devem ser respeitados. É verdade que a regra básica determina que a
mulher deve seguir a sua rotina pré-gestação, ou seja, praticar os exercícios
de acordo com o que o corpo estava acostumado antes da gravidez. Porém, é
necessário ajustar a prática de exercícios à nova realidade, tal como: reduzir
os impactos, diminuir a intensidade e grandes volumes, evitar determinadas
posições, ficar em alerta contra choques térmicos e ricos de quedas, entre
outros. Na Figura 1, podem ser observadas duas realidades, ambas de com-
petição: Alysia Montano em uma prova oficial de 800 m e uma segunda,
aparentemente em uma prática mais leve, sem a preocupação e a carga do
profissionalismo. Qual é a sua opinião quanto à conduta de um profissional
de educação física frente a estes dois panoramas?
224 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercícios para gestantes 11

Figura 1. “Competição” no período gestacional.


Fonte: UOL Esporte (2014, documento on-line); Halfpoint/Shutterstock.com.

Tradicionalmente, a rotina recomendada de exercícios e esporte para grávidas


costuma abranger acima de tudo hidroginástica, ioga e Pilates. Existem várias
outras modalidades que precisam ser encorajadas, de acordo com o histórico da
gestante e sua experiência prévia. Contudo, não é porque a ioga é aparentemente
mais calma que não possa trazer prejuízo à gestante. O cerne da questão ultrapassa
a modalidade e recai sobre a intensidade, volume, posições e condições ambientais.
A prescrição de exercícios aeróbicos deve preferencialmente partir de ca-
minhadas e/ou corridas leves, de acordo com o condicionamento prévio da
gestante (NASCIMENTO et al., 2014). Outras opções incluem a bicicleta e
modalidades aquáticas (deep running ou water bike). A intensidade dos exercí-
cios de característica aeróbica pode ser controlada pela frequência cardíaca e/
ou escala subjetiva de Borg. Neste sentido, a intensidade relativa para FCmáx
predita pela idade fica entre 60 e 80%. Outra opção é controlar a intensidade
pela frequência cardíaca de reserva com intervalo entre 45 e 65% da FCreserva.
Na escala de Borg, esta intensidade encontra-se entre 12 e 14 (para a escala de 6
a 20 pontos). A Sociedade Canadense de Ginecologistas e Obstetras (WOLFE;
DAVIES, 2003) generalizou estas zonas de treinamento da seguinte forma:

 idade inferior a 20 anos —140 a 155 bpm;


 entre 20 e 29 anos —135 a 150 bpm;
 entre 30 e 39 anos —130 a 145 bpm;
 mulheres com mais 40 anos —125 a 140 bpm.

Para as mulheres atletas, esta intensidade pode ser reavaliada de acordo


com a condição física da gestante. Contudo, não é aconselhável ultrapassar
o liminar anaeróbico.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Exercícios Para Gestantes | PARTE 4
225
12 Exercícios para gestantes

Para utilizar a fórmula de Karvonen (frequência cardíaca de reserva) deve-se conhecer


(ACSM, 2018):
 FCmáxima: por se tratar de gestante, não é aconselhável a realização de um teste de
esforço para a FCmáxima real. Uma alternativa é a utilizar “220 – idade”.
 FCrepouso: menor frequência cardíaca em 15 minutos de repouso absoluto (decúbito
dorsal), sem pernas ou braços cruzados.
 FCtreino = [ (FCmáxima – FCrepouso) × %intensidade ] + FCrepouso.

Quanto à frequência semanal e tempo da sessão, para mulheres sedentárias


pode-se iniciar um programa de exercícios com 3 vezes por semana de 15–20
minutos e progredir até 5 vezes por semana de 30 minutos, paulatinamente
(meta: 150 minutos por semana de exercícios leves à moderados). Em mulheres
atletas, treinos de 4 a 5 vezes por semana em sessões de 30–45 minutos já
garantem benefícios maternos e fetais.
Embora a prática de exercícios regulares seja encorajada durante todo
período gestacional, o 2º trimestre é o mais apropriado e seguro. Isso porque
no 1º trimestre a formação fetal deixa a gestante mais propensa a elevação da
frequência cardíaca em maior magnitude, indisposição (enjoos e regurgita-
ções), desequilíbrio hormonal, entre outros. No 2º trimestre, estas alterações
tendem a se estabilizar, e os aspectos corporal, emocional e psicológico
da mulher já estão em maior harmonia. Ademais, o desenvolvimento do
feto já não é tão delicado em comparação ao 1º trimestre. No 3º trimestre,
os cuidados recaem sobre o peso corporal agindo sobre a lombar, cintura
pélvica, espaço interno dos órgãos etc. Assim, os exercícios, especialmente
com deslocamentos corporais, devem ser aplicados com parcimônia frente
a esta realidade.
Resumidamente, a maior diferença entre a prática de exercícios físicos por
mulheres atletas e mulheres sedentárias é que em gestantes atletas pode-se
continuar realizando os mesmos exercícios que antes, devido à sua memória
muscular, mas ajustando alguns parâmetros, como a intensidade, tempo da
sessão, posições e condições ambientais. Já para as gestantes sedentárias, a
prática deve ser incentivada com progressões mais amenas e sem agressões
extras, como impactos ou sobrecargas na coluna vertebral. A prática regular de
exercícios físicos é o meio mais saudável e com menor custo para a população
geral, incluindo as gestantes.
226 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Exercícios para gestantes 13

Patrícia tem 30 anos e experiência mediana na prática de exercícios (realiza somente


exercícios aeróbicos 2 vezes por semana, por 60 minutos). No 1º trimestre de gestação,
os exercícios aeróbicos que ela já praticava foram reduzidos para 30–45 minutos por
sessão com intensidade moderada. Ela também incorporou um fortalecimento muscular
com aulas de Pilates. Atualmente está na 20ª semana de gestação, e por se mostrar
muito bem-disposta, ela quer evoluir e pediu para fazer uma aula experimental de HIIT
(high intensity interval training) na academia, modalidade ministrada por você. Nesse
caso, qual seria a sua conduta? Reflita sobre o caso e discuta com os seus colegas.

ACOG COMMITTEE OBSTETRIC PRACTICE. ACOG Committee opinion. Number 267,


January 2002: exercise during pregnancy and the postpartum period. Obstetrics &
Gynecology, v. 99, n. 1, p. 171–173, 2002.
ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 10. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2018.
ARTAL, R.; O'TOOLE, M.; WHITE, S. Guidelines of the American College of Obstetricians
and Gynecologists for exercise during pregnancy and the postpartum period. British
Journal of Sports Medicine, v. 37, n. 1, p. 6–12, 2003. Disponível em: https://www.ncbi.
nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1724598/. Acesso em: 15 jul. 2019.
BARAKAT, R.; LUCIA, A.; RUIZ, J. R. Resistance exercise training during pregnancy and
newborn's birth size: a randomized controlled trial. International Journal of Obesity,
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med/19636320. Acesso em: 15 jul. 2019.
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deo (2 min). Disponível em: http://www.esporte.gov.br/diesporte/. Acesso em: 15 jul. 2019.
CARVALHO, C. S. C. Fitoterapia na gravidez: segurança e eficácia de produtos à base
de plantas no alívio de sintomas e desconfortos associados à gravidez. 2016. Dis-
sertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) — Faculdade de Farmácia, Univer-
sidade de Coimbra, Coimbra, 2016. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/
bitstream/10316/47852/1/M_Claudia%20Carvalho.pdf. Acesso em: 15 jul. 2019.
EVANGELISTA, A. L. Treinamento funcional e core training. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2015.
GOMES, R. C. Enjoos e vômitos na gravidez. Portal Educação, 2012. Disponível em: https://
www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/enjoos-e-vomitos-na-
-gravidez/14012. Acesso em: 15 jul. 2019.
Bases Clínicas Para Prescrição de Exercício Físico na Saúde e na Doença | UNIDADE 3
Exercícios Para Gestantes | PARTE 4
227
14 Exercícios para gestantes

GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Atividade física, aptidão física e saúde. Revista Brasileira
de Atividade Física & Saúde, v. 1, n. 1, p. 18–35, 1995. Disponível em: http://rbafs.org.br/
RBAFS/article/view/451. Acesso em: 15 jul. 2019.
LEVENO, K. J. Manual de obstetrícia de Williams: complicações na gestação. 23. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2014.
NASCIMENTO, S. L. et al. Recomendações para a prática de exercício físico na gravidez:
uma revisão crítica da literatura. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 36, n.
9, p. 423–431, 2014.
ROBLEDO-COLONIA, A. F. et al. Aerobic exercise training during pregnancy reduces
depressive symptoms in nulliparous women: a randomised trial. Journal of Physiothe-
rapy, v. 58, n. 1, p. 9–15, 2012. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/
article/pii/S183695531270067X?via%3Dihub. Acesso em: 15 jul. 2019.
SOUZA, A. I.; BATISTA FILHO, M.; FERREIRA, L. O. C. Alterações hematológicas e gravidez.
Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 24, n. 1, p. 29–36, 2002. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842002000100006&ln
g=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 15 jul. 2019.
UOL ESPORTE. Alysia Montano corre os 800 m grávida. UOL Esporte, 2014. Disponível
em: https://esporte.uol.com.br/atletismo/album/2014/06/28/alysia-montano-corre-
-os-800m-gravida.htm?mode=list&foto=1. Acesso em: 12 jul. 2019.
WOLFE, L. A.; DAVIES, G. A. Canadian guidelines for exercise in pregnancy. Clinical
Obstetrics and Gynecology, v. 46, n. 2, p. 488-495, 2003.

Leituras recomendadas
FINKELSTEIN, I. et al. Comportamento da freqüência cardíaca e da pressão arterial, ao
longo da gestação, com treinamento no meio líquido. Revista Brasileira de Medicina
do Esporte, v. 2, n. 5, p. 376–380, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/
rbme/v12n6/a15v12n6.pdf. Acesso em: 12 jul. 2019.
MONTENEGRO, L. P. Musculação: abordagens para a prescrição e recomendações para
gestantes. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 8, n. 47, p. 494-98,
2014. Disponível em: http://www.rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/view/676/618.
Acesso em: 12 jul. 2019.
228 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA


SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
unidade

4
Avaliação, Prescrição e
Monitoramento de Programas
de Exercícios Físicos no
Contexto da Saúde Pública
Prezado estudante,
Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados
com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado
tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os
tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina.

Objetivo Geral
Aplicar os processos de avaliação, prescrição e monitoramento de programas de exercícios físicos no
contexto da saúde pública.
230 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 1
A Profissão Dentro da Área
da Saúde: Nacional e Mundial

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
232 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE UNIDADE 2
A profissão dentro
da área da saúde:
nacional e mundial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Elencar a atuação do profissional de educação física dentro da área


da saúde.
 Reconhecer a posição da Organização Mundial da Saúde em relação à
necessidade mundial de aumento da atividade física, como prevenção
de doenças crônicas provenientes da obesidade e do sedentarismo
na população mundial.
 Identificar o campo e a atuação do profissional de educação física no
âmbito hospitalar e na saúde pública.

Introdução
O campo de trabalho do profissional de educação física é amplo, e sua
atuação se insere em diversos ambientes de trabalho e áreas. Na área
da saúde, existem muitas possibilidades de colocação profissional. Entre
elas, podemos citar a saúde pública, a prevenção de doenças, o apoio na
reabilitação de pacientes no âmbito hospitalar, além da atividade dentro
de grupos de profissionais nos hospitais.
Neste capítulo, você verá a posição da Organização Mundial da Saúde
(OMS) a respeito da importância do profissional da educação física e da
atividade física. Além disso, você vai conhecer a atuação do profissional
de educação física no âmbito da saúde nacional e a ação do Ministério
da Saúde do Brasil, colocando esse profissional no projeto das Unidades

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Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
A Profissão Dentro da Área da Saúde: Nacional e Mundial | PARTE 1
233
24 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Básicas de Saúde (UBS) e no Programa Saúde da Família. Também vai


identificar o campo e a atuação do profissional na saúde púbica.
Por fim, você vai observar que o profissional de educação física ainda
precisa ocupar mais esse espaço e terá exemplos de profissionais que
já atuam na área.

A educação física dentro da área da saúde


Áreas de atuação do profissional de educação física na saúde:

 hospitais;
 UBS;
 grupo integrado de profissionais;
 clínicas;
 academias;
 clubes;
 escolas esportivas.

A educação física passou a ser reconhecida como área da saúde em 1997


e foi a partir dessa data que o profissional de educação física passou a ser
autorizado a atuar no Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar dessa profissionalização e do direcionamento para a saúde, ainda
existem muitos espaços para esse profissional assumir. O Conselho Federal de
Educação Física (CONFEF) define a educação física, inclusive a escolar, como
pertencente à área da saúde, pois a formação desse profissional, mesmo que
licenciado, inclui a prevenção de doenças por meio da promoção do esporte
e da atividade física.
Por muito tempo os profissionais de educação física, apesar de ainda não
serem apoiados por lei, já passavam a figurar na área da saúde. Foram cada vez
ocupando mais espaços e atuando em diversas áreas. Verifica-se que na política
e em espaços públicos de saúde falta a participação desse profissional e que
ainda não se vê um número expressivo de profissionais apresentando trabalhos
e pesquisas dentro dos seminários e conferências específicas da área da saúde.
234 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 25

Para atuar nessa área, a necessidade de cursos e de formação direcionada


é cada vez mais exigida, além da formação profissional de ensino superior em
educação física. Diversos são os cursos que se encontram no mercado com a
proposta de preparar e adequar melhor o profissional para atuar tanto na área pri-
vada, quanto na pública, bem como cursos de preparação para concursos e editais
públicos da área. Além da formação de bacharel em educação física, sugere-se
a especialização em saúde pública, saúde coletiva ou em áreas correlacionadas.
O profissional que trabalha com essa área passa da perspectiva profissional/
cliente para profissional/paciente. É importante que direcione seus cuidados ao
paciente, identificando aquilo que o indivíduo necessita e dando flexibilidade
aos objetivos e planos de tratamento preventivo (Figura 1).
O cuidado e a atenção são redobrados, além de uma constante atualização
e aperfeiçoamento para os atendimentos. A área da saúde é encantadora por
seu retorno verificado na melhora do seu paciente, porém, há um caminho
árduo até atingir os objetivos.

Figura 1. Cuidados em saúde do profissional de educação física.


Fonte: [Profissional...], ([2012]).
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
A Profissão Dentro da Área da Saúde: Nacional e Mundial | PARTE 1
235
26 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Texto do CONFEF extraído do site do conselho, que se encontra em sua revista


E.F. n. 27, de março de 2008 (SANTOS, 2008):

No ano de 1997, o Ministério da Saúde, após profunda e democrática


discussão no Conselho Nacional de Saúde, baixou resolução que apontou
a educação física como profissão de nível superior da área da saúde junto
com outras profissões, como medicina, fonoaudiologia, enfermagem,
biomedicina, farmácia, nutrição, dentre outras.
Em 1998, logo após o nascimento do Conselho Federal de Educação
Física, o tema virou pauta permanente do sistema nascido a partir de
Lei Nº 9.696, de 1° de setembro de 1998, e, logo após a instituição do
Código de Ética profissional, foi criada uma comissão para aprofunda-
mento e discussão do tema. Dela nasceu uma comissão especial para a
implantação dos códigos da profissão de educação física nos códigos
de procedimentos profissionais do Sistema Único de Saúde (SIA-SUS),
também conhecida com CBO-SUS.

Em 2002, a Organização Mundial da Saúde, em carta aos países que a integram, sugeriu
a construção de políticas públicas que priorizassem a importância da prática de
atividades físicas devidamente acompanhadas e orientadas por profissionais, bem
como a prática de atividade física rotineira para atingir uma qualidade de vida melhor.
O Ministério da Saúde do Brasil instituiu, a partir dessa carta, diversas ações que
integram o profissional de educação física em programas, projetos e grupos de pro-
fissionais da saúde. Também passou a promover ações que estimulam a prática de
atividade física para prevenir as doenças decorrentes de uma vida sedentária.
Por intermédio da Federação Brasileira de Associações dos Profissionais de Educação
Física, muitos anos antes disso, já se discutia a educação física, inclusive a escolar,
como sendo importante para a saúde e para a qualidade de vida. Hoje, em carta, a
OMS pede atenção às práticas da educação física escolar como meio para promover,
no indivíduo, o costume da atividade física.
236 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 27

A profissão na área da saúde no âmbito


mundial e a posição da OMS
A profissão já é reconhecida mundialmente como a solução para um dos
maiores problemas que assola o mundo atualmente: a obesidade.
Entende-se que a melhor maneira de resolver essa questão é investir em
aulas de educação física para fins de prevenção da obesidade infantil.
Grandes estudos estão sendo desenvolvidos com o interesse de analisar o
tempo/período necessário na educação escolar para reverter essa doença que
é a desencadeadora de grande parte dos problemas cardíacos dos adultos.
Segundo a OMS, deve-se observar a atividade física recomendada para
cada faixa etária e tomar uma atitude emergencial em relação à educação física
escolar. Segue a carta da OMS, de fevereiro de 2014, com a recomendação
aos países em relação à prática e à educação física:
Alguns dados importantes devem ser tomados como referência sobre a
razão da atenção especial à atividade física, entre eles:

 A inatividade física é o quarto principal fator de risco de morte no mundo.


 Aproximadamente 3,2 milhões de pessoas morrem a cada ano em
decorrência da falta de atividade física.
 A falta de atividade física é um fator de risco chave para doenças crônicas não
transmissíveis (DCNTs), como doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.
 A atividade física traz benefícios significativos para a saúde e contribui
para a prevenção das DCNTs.
 No mundo, um em cada três adultos não pratica atividade física suficiente.
 Políticas para combater a inatividade física estão em prática em 56%
dos países membros da OMS.
 Os países membros da OMS acordaram com a redução da inatividade
física em 10% até 2025.

A OMS define atividade física como sendo qualquer movimento corporal


produzido pelos músculos esqueléticos que requeiram gasto de energia – in-
cluindo atividades físicas praticadas durante o trabalho, jogos, execução de
tarefas domésticas, viagens e em atividades de lazer. O termo atividade física
não deve ser confundido com exercício, que é uma subcategoria da atividade
física e é planejada, estruturada, repetitiva e tem como objetivo melhorar ou
manter um ou mais componentes do condicionamento físico. A atividade física
moderada e intensa traz benefícios para a saúde. A intensidade das diferentes
formas de atividade física varia entre as pessoas. A fim de trazerem benefícios
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
A Profissão Dentro da Área da Saúde: Nacional e Mundial | PARTE 1
237
28 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

para a saúde cardiorrespiratória, todas as atividades físicas devem ser prati-


cadas em sessões de pelo menos dez minutos de duração. A OMS recomenda:

 Para crianças e adolescentes: 60 minutos de atividade física moderada


a intensa por dia.
 Para adultos (maiores de 18): 150 minutos de atividade de intensidade
moderada por semana (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014, p.1).

Texto da OMS a respeito dos benefícios da atividade física e a proposta de


aumento da atividade física (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2014):
A atividade física de intensidade moderada – como caminhar, pedalar ou praticar
esportes – traz benefícios significativos para a saúde. Em todas as idades, os benefícios
de ser fisicamente ativo superam os eventuais danos, decorrentes de lesões, por
exemplo. Um pouco de atividade física é melhor do que nenhuma.
Ao se tornarem mais ativas ao longo do dia de maneiras relativamente simples, as
pessoas conseguem facilmente atingir os níveis recomendados.
Níveis regulares e adequados de atividade física:
 Melhoram o condicionamento muscular e cardiorrespiratório;
 Aumentam a saúde óssea e funcional;
 Reduzem o risco de hipertensão, doença cardíaca coronária, AVC, diabetes, câncer
de cólon e de mamas e depressão;
 Reduzem o risco de quedas, bem como de fraturas de quadril ou vertebrais; e
 São fundamentais para o balanço energético e controle de peso.
Como aumentar a atividade física?
Os países membros da OMS acordaram com a redução da inatividade física em 10%
na plataforma do Plano de Ação Global para a Prevenção e Controle de Doenças
Não-transmissíveis 2013-2020. Políticas e planos para o combate à inatividade física
têm sido desenvolvidos em cerca de 80% dos países membros da OMS, embora estejam
em operação em apenas 56% dos países. Autoridades nacionais e internacionais também
estão adotando políticas em diversos setores para promover e facilitar a atividade física.
As políticas para aumentar a atividade física pretendem garantir que:
 Caminhar, pedalar e outras formas de transporte ativo sejam acessíveis e seguras
para todos.
 As políticas de trabalho e de ambiente de trabalho estimulem a atividade física.
 As escolas disponham de espaços e instalações seguras para que os estudantes
possam desfrutar de seu tempo livre de forma ativa.
 A educação física de qualidade (EFQ) ajuda as crianças a desenvolverem padrões
de comportamento que os mantenha fisicamente ativos ao longo da vida.
 As instalações esportivas e de lazer favoreçam oportunidades para que todos
pratiquem esportes.
238 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 29

Portanto, por meio do agente profissional de saúde/profissional de edu-


cação física e sua atuação em academia, clube esportivos e demais espaços,
segundo a OMS, o quadro de obesidade será diferente, baixando os níveis e
melhorando a saúde mundial.

Leia mais sobre as recomendações da OMS no link ou


código a seguir.

https://goo.gl/nhuxwA

O profissional de educação física e sua atuação


na área da saúde em âmbito nacional
Diante dos problemas relacionados à saúde que a sociedade enfrenta, o governo
criou alguns projetos visando a melhorar a qualidade de vida das pessoas. É reco-
nhecido que os custos para tratamento e cura de doenças provenientes de um estilo
de vida sedentário são altos e podem ser evidentes pela análise de custo do SUS.
Tendo em vista a necessidade de transformação nessa área, o governo brasileiro
criou diversos programas que têm como propósito a união de alguns profissionais
para atender a população. Nesses programas, o profissional de educação física tem
papel importante na prevenção de doenças causadas pela falta de prática física.
Com origem no ano de 1994 e proposto pelo governo federal, temos como
exemplo o Programa Saúde da Família (PSF), que foi criado com o objetivo
de implementar a atenção básica que visa à melhora nos serviços e na reorien-
tação das práticas profissionais em nível de assistência, promoção da saúde,
prevenção de doenças e reabilitação.
Dentro do Programa Saúde da Família existe a divisão em dois grupos, cha-
mados de Núcleos de Apoio à Saúde da Família – o NASF. Nesses núcleos, há
espaço para reuniões e atendimentos em conjunto, que, juntamente com as equipes
da saúde da família, contam com momentos de discussão e gestão do cuidado.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
A Profissão Dentro da Área da Saúde: Nacional e Mundial | PARTE 1
239
30 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Esses núcleos têm por objetivo dar entrada ao usuário para o sistema do
PSF e também um apoio às equipes de saúde da família. O NASF está dividido
em nove áreas:

 Atividade física/práticas corporais.


 Práticas integrativas e complementares.
 Reabilitação.
 Alimentação e nutrição.
 Saúde mental.
 Serviço social.
 Saúde da criança/do adolescente e do jovem.
 Saúde da mulher.
 Assistência farmacêutica.

Existem dois tipos de NASF:

 NASF 1: envolve, no mínimo, cinco das profissões de nível superior,


como psicólogo; assistente social; farmacêutico; fisioterapeuta; fono-
audiólogo; profissional da educação física; nutricionista; terapeuta
ocupacional; médico ginecologista; médico homeopata; médico acu-
punturista; médico pediatra; e médico psiquiatra;
 NASF 2: deve ser composto por, no mínimo, três profissionais de nível
superior de ocupações não-coincidentes, como assistente social; profis-
sional de educação física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo;
nutricionista; psicólogo; e terapeuta ocupacional.

O professor de educação física, nesse âmbito, entre outros profissionais,


possui um papel fundamental nesse projeto. Não se pode esquecer que o pro-
fissional de educação física, prioritariamente, mesmo em se tratando da área da
saúde, vai atuar na prevenção desta, deixando para os outros profissionais da
equipe a função de prescrição de remédios, a reabilitação e a avaliação médica.
Esse programa é de suma importância na saúde nacional, pois representa uma
alternativa primária de reorientação no modelo de atenção à saúde. Apresenta
um campo bem importante de intervenção para o profissional de educação física,
pois, tanto a atividade física, como a promoção da saúde são atualmente subáreas
da educação física. Observa-se que nos dois núcleos do programa se encontra
o professor de educação física e, dentro dos núcleos, este vai atuar diretamente
com ações que têm o objetivo de promover a saúde e também recuperá-la.
240 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial 31

Educação física e saúde pública


Atualmente, de forma ampla, a mídia e os órgãos públicos têm promovido
ações e divulgações com o objetivo de alertar sobre a necessidade da prática
física. Porém, além de praticar uma atividade física, é de suma importância
que essa atividade seja bem orientada por um profissional habilitado, pois a
má prática também pode causar prejuízos para a saúde do indivíduo.
Segundo Stein (2009), em sua análise sobre a situação do processo saúde-
-doença, discutiu-se a preocupação para o desenvolvimento de um trabalho voltado
à prevenção por meio da educação, pois, para se ter alcance preventivo, é necessário
compreender os três níveis de prevenção. Estes são apresentados pela medicina
como prevenção primária, secundária e terciária. Em seu texto, Stein ainda ressalta
que a educação física está presente nesse processo da seguinte forma:
Na prevenção primária, a educação física pode atuar desenvolvendo ações
que apresentem regras sadias de vida, tanto fisiológicas quanto psicológicas,
além de atividades prazerosas. O profissional de educação física deve intervir
antes, de forma preventiva, visando a uma educação para a saúde.
Na secundária, ela pode atuar no desenvolvimento da prevenção primária,
fazendo a manutenção das ações para o alcance dos objetivos pretendidos.
Por fim, na prevenção terciária, esse profissional já atuaria encaminhando
o indivíduo aos especialistas para tratamento e/ou reabilitação das doenças.

Atuação em outros programas de saúde pública


Segundo nota em revista mensal, o sistema CONFEF/CREF (Conselho Fe-
deral de Educação Física e Conselhos Regionais de Educação Física), do
Ministério da Saúde do Brasil, há um grupo de colaboradores formado por
diversos profissionais da área da saúde que atuam no Departamento de HIV/
aids. A educação física é representada por cinco profissionais nesse grupo.
Sua atuação tange em realizar análises sobre atividades físicas e exercícios
físicos para portadores de HIV e aids.
Entre os profissionais que trabalham neste grupo, o prof. Alexandre Lazza-
rotto é um deles. Em sua formação, consta mestrado e doutorado em Ciências
do Movimento Humano, pela federal do Rio Grande do Sul. Esse professor
atua coordenando equipes de pesquisa em HIV/aids, na parte de treinamento
físico e também na prevenção da contaminação pelo HIV no Brasil e na África.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
A Profissão Dentro da Área da Saúde: Nacional e Mundial | PARTE 1
241
32 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

Citada pelo conselho, a professora de educação física Cristina Calegaro,


que também é integrante do grupo e trabalha com reabilitação cardiopulmonar,
atua na avaliação, na prescrição e no monitoramento de treinamento físico.
Sua especialização é em Reabilitação Cardíaca e Atividade Física para Grupos
Especiais pela FMU-SP. Também em seu currículo há a especialização em
Fisiologia e Cinesiologia Aplicada à Saúde pela Gama Filho-RJ.
Também faz parte do grupo de tratamento e exercícios para pessoas so-
ropositivas, do Ministério da Saúde, o prof. Giovanni Nardin, que atua como
pesquisador do Laboratório de Fisiopatologia do Exercício (Lafiex), do Centro
de Pesquisas Clínicas do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (RS). Segundo
o prof. Giovanni, para atuar nesse campo, treinamento e conhecimentos apro-
fundados são fundamentais.

Educação física nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs)


Em 2006, após a aprovação da Política Nacional de Promoção da Saúde, foi permitida
a atuação do profissional de educação física nas Unidades Básicas de Saúde. Essas
unidades — conhecidas como postos de saúde —, antes dessa data, atuavam apenas
oferecendo atendimento médico e distribuição/aplicação de vacinas e remédios à
comunidade.
Nesses postos de saúde, o profissional de educação física passou a atuar no pla-
nejamento e na execução de aulas de educação física para grupos de portadores
de hipertensão, diabetes, entre outras doenças crônicas. Sua atuação é ampliada
também para promoção de palestras com o intuito de orientar a respeito da pre-
venção dessas doenças.
Para essa ação, cabe bem o dito popular: “É melhor prevenir que remediar”. A atuação
do profissional de educação física é fundamental e é regulamentada e definida pelos
respectivos decretos federais. Tendo em vista a saúde com a prevenção de doenças
crônicas relacionadas à obesidade e ao sedentarismo, esse profissional irá atuar no desen-
volvimento de projetos preventivos e de conscientização, alertando para a necessidade
do hábito da prática física, desde o início da infância até o final da vida do indivíduo.
atuação do profissional de (PNPS), foi aberta a possibilidade
educação física nas UBSs. de atuação do profissional de
e) Em
242 EDUCAÇÃO FÍSICA São Paulo, até pouco
E SAÚDE educação física nas UBSs.

BRASIL. Ministério da Saúde lança programa para estimular a prática de atividade física.
07 abr. 2011. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/esporte/2011/04/ministerio-
-da-saude-lanca-programa-para-estimular-a-pratica-de-atividade-fisica>. Acesso
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tAtividadeFisicaOMS2014_port_REV1.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2017.
SANTOS, L. R. dos. O profissional de educação física e a saúde da família. Educação
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atividade física na atenção primária à saúde. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de
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Leituras recomendadas
BILIBIO, L. F.; CECCIM, R. B. Singularidades da educação física na saúde: desafios à
educação de seus profissionais e ao matriciamento interprofissional. In: FRAGA, A. B.;
WACHS, F. (Org.). Educação Física e Saúde Coletiva: políticas de formação e perspectivas
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Cap_2_Intro_Educacao_Fisica.indd 35 27/10/2017 16:53:35


Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
A Profissão Dentro da Área da Saúde: Nacional e Mundial | PARTE 1
243
36 A profissão dentro da área da saúde: nacional e mundial

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Básica. Departamento de Atenção


Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Brasília, DF: Ministério
da Saúde, 2009.
COUTINHO, S. da S. Competências do profissional de educação física na atenção básica
a saúde. 208 f. 2011. Tese (Doutorado em Enfermagem)- Universidade de São Paulo,
Ribeirão Preto, 2011.
OLIVEIRA, C. da S. et al. O profissional de Educação Física e sua atuação na saúde
pública. EFDeportes.com: revista digital, Buenos Aires, ano 15, n. 153, fev. 2011.

PREZADO ESTUDANTE

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244 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 2
Atividades do Profissional Como
Integrante da Equipe de Saúde

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246 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE UNIDADE 4
Atividades do profissional
como integrante da
equipe de saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever o que é NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família).


 Reconhecer uma equipe multidisciplinar em um NASF.
 Identificar as atividades do profissional de educação física como in-
tegrante de uma equipe NASF.

Introdução
A importância de se ter uma boa saúde é incontestável em qualquer
lugar do mundo. Para que isso possa acontecer, são necessários siste-
mas de saúde com condições de atendimento e, principalmente, que
nestes atuem profissionais capacitados com qualificação adequada
em cada área.
Para que seja possível atender às necessidades da população na
área da saúde, é necessário criar equipes que possuam consonância de
pensamento e diversificação de profissões que irão atuar no atendimento
das necessidades populacionais na prevenção e na promoção da saúde.
Neste capítulo, você vai estudar o que são Núcleos de Apoio à Saúde
da Família (NASFs), reconhecer a equipe que os compõem e identificar
a atuação de um profissional de educação física como integrante de
um NASF.

Cap_7_Intro_Esucacao_Fisica.indd 91 30/10/2017 13:14:58


Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Atividades do Profissional Como Integrante da Equipe de Saúde | PARTE 2
247
92 Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde

Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)


O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado sobre a base de que a saúde é um
direito de todos e um dever do Estado em propor tal serviço para sociedade,
sendo definido pela Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 196º, em
consonância com as diretrizes de descentralizar o atendimento da saúde
pública, garantindo assim os princípios de universalidade, integralidade e
igualdade que são descritos na referida constituição.
Por meio da Lei Federal nº 8.080/90, é possível descrever que o SUS é o
conjunto de atividades e serviços de saúde que devem ser prestados por órgãos
e instituições públicas federais, estaduais e municipais, na administração direta
ou indireta, e das suas funções garantidas pelo poder público e complementadas
pela iniciativa privada, sendo um sistema universal e existente em cada região
do país e tendo hierarquização que visa à integridade do conjunto de ações de
saúde da União, dos estados, dos distritos e dos municípios onde cada esfera
possui sua função bem definida de competências específicas e que devem se
articular mutuamente.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) indica que o SUS deve promover a
justiça social atendendo todos os indivíduos, independentemente da sua cor,
da religião, da raça, da moradia, do emprego ou do seu status econômico,
pois todos os indivíduos devem ser tratados com igualdade perante o SUS.
Outro aspecto importante é a contribuição das políticas públicas de saúde
que estão sendo criadas e regulamentadas segundo os preceitos do SUS, que
apresentam como eixo norteador a Atenção Primária em Saúde, pois tal bali-
zador busca atender e intervir nos problemas sociais de saúde, possibilitando,
assim, o entendimento ampliado da ação saúde/doença, já que o foco dessa
nova percepção é a atenção da promoção da saúde e o bem-estar do indivíduo.
Deve-se ressaltar, ainda dentro das políticas públicas, a Política Nacional
de Promoção da Saúde (PNPS), que tem por objetivo, em seu cerne, promover
a qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e os riscos à saúde relacio-
nados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições
de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e
serviços essenciais à sociedade.
Uma das diretrizes da PNPS é o estímulo de ações intersetoriais, reforçando
a participação social e o incentivo de pesquisa em prol da saúde, destacando
também ações específicas para a prática corporal e para a atividade física na
rede básica de saúde e na sociedade.
Com o intuito de integrar essas políticas públicas na sociedade por meio do
SUS, foi instalado o Programa Saúde da Família (PSF), criado pelo Ministério
248 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde 93

da Saúde, dando uma nova abordagem e uma orientação ao modelo diferenciado


de auxílio à saúde da comunidade por meio que equipes multiprofissionais.
Um dos principais objetivos do PSF é o atendimento mais humanizado
que deverá ser realizado por intermédio da conexão entre os profissionais de
saúde e a população que está sendo atendida, passando assim a prestar uma
assistência mais integralizada e com resoluções de problemas mais efetivos,
pois se torna o primeiro contato da saúde da família na primeira entrada de
um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde, de cunho fundamental,
para melhor atendimento e organização à sociedade.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde criou, apoiado pela Portaria GM n°
154, de 24 de janeiro de 2008, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF),
buscando assim apoiar o Programa Saúde da Família na rede de serviços e
ampliar a abrangência do atendimento primário ao cidadão.
Então, o NASF é a composição de uma equipe de profissionais de diferentes
áreas de conhecimento, os quais deverão atuar de forma integrada, apoiando os
demais profissionais das equipes de saúde da família e das equipes de atenção
básica para os cidadãos, buscando sempre a disseminação das práticas e dos
saberes no âmbito da saúde.
Com o objetivo de ampliar a abrangência do atendimento das ações de atenção
básica da saúde, bem como resolver problemas de forma mais rápida, o NASF
busca contribuir a todos os usuários que chegam ao SUS, principalmente pela
ampliação da equipe clínica, auxiliando e melhorando a capacidade de análise
e atendimento nas questões relacionadas aos problemas e às necessidades do
atendimento da saúde, sejam eles em termos clínicos, sanitários ou ambientais.
Os trabalhos realizados pelo NASF são desenvolvidos na lógica do apoio
matricial de áreas, ou seja, busca uma estratégia na organização da clínica
e do cuidado da saúde a partir da fusão e da colaboração entre as equipes
responsáveis pelo atendimento em determinada região.
Alguns exemplos de ações de cunho matricial são:

 discussão de caso em atendimentos compartilhados;


 atendimento individual de profissional;
 construção conjunta de projetos terapêuticos;
 ações de educação permanente;
 intervenções no território e na saúde de grupos populacionais e da
coletividade;
 ações intersetoriais;
 ações de prevenção e promoção da saúde;
 discussão do processo de trabalho das equipes.
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Atividades do Profissional Como Integrante da Equipe de Saúde | PARTE 2
249
94 Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde

Nota-se, assim, que pensar hoje em uma saúde individualizada é algo


inconcebível, pois não há mais como existir pensamento sobre uma pessoa de
maneira isolada. Um indivíduo é um ser completo e como tal deve ser tratado
de maneira completa, com um pensamento compartilhado de profissionais em
suas mais diversas áreas do saber na busca pela melhor forma de atendê-lo e,
principalmente, auxiliá-lo no que for preciso.

O cuidado com a saúde não é somente de interesse nacional, mas também de nível
mundial, tanto é que, em 1986, foi realizada a Primeira Conferência Internacional sobre
Promoção da Saúde, em Ottawa/Canadá, em que foram propostas estratégias para a
qualificação da saúde, tendo ênfase a importância da comunidade em tal processo.

Equipe multidisciplinar em um NASF


Acredita-se que, na atualidade, empresas que acabam tendo bom reconheci-
mento e destaque em variados tipos de mercado são as que trabalham com
perfis de profissionais diversificados, aproveitando o potencial humano como
peça fundamental no desenvolvimento de sua organização e, consequentemente,
com equipes com diferentes profissionais.
Organizações que possuem por objetivo a excelência deverão investir
periodicamente em seus colaboradores, pois somente por meio delas que
obterão o sucesso, ou seja, necessitam de indivíduos motivados, competentes,
comprometidos, engajados no propósito da empresa e, principalmente, que
saibam trabalhar em equipe.
Nesse universo empresarial, cada vez mais acirrado, as organizações estão
preocupadas em criar equipes multidisciplinares na busca de diferenciar o
potencial de sua empresa perante o mercado, seja ele qual for.
Nessa linha, Dezorzi (2011, p.7) relata que “[...] pessoas de todos os níveis
são base de uma organização, e seu total envolvimento possibilita que suas
habilidades sejam usadas para o benefício da empresa”.
O trabalho em equipe necessita de profissionais capacitados e tem o objetivo
de que todos os envolvidos na empresa compreendam que o desenvolvimento
da organização passa pelo desenvolvimento de cada um dos profissionais
participantes dos processos aos quais lhe são atribuídos.
250 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde 95

Mas só o trabalho individual não é suficiente, o que realmente traz o


resultado é o somatório de cada um dos envolvidos na busca pelo mesmo
objetivo que foi traçado. Nessa linha, é necessário um perfeito afinamento
de cada indivíduo em saber qual o seu papel e qual é o papel do seu colega de
equipe, conhecendo bem o seu trabalho e o trabalho do outro, conhecendo
seu setor e o setor do outro, ou seja, deve haver uma noção do individual e do
todo para que seja possível desempenhar suas atividades de forma a contribuir
e não atrapalhar a equipe.
Alguns benefícios podem ser observados quando uma equipe multidisci-
plinar coesa atua. Entre estes, podemos destacar:

 menor dependência, ou seja, a equipe é autossuficiente;


 maior produção criativa;
 disseminação do conhecimento a todos os envolvidos;
 diferentes pontos de vista acerca de um mesmo problema;
 elevada motivação dos indivíduos que integram a equipe.

Segundo Silva (2014), equipes multifuncionais se baseiam em algumas


premissas:
Complementariedade: cada indivíduo controla uma parte da tarefa que
lhe foi designada, sendo que seus conhecimentos são primordiais para que o
trabalho possa seguir em frente.
Coordenação: mesmo que em uma equipe, em alguns casos, não exista
níveis hierárquicos, há a necessidade da presença de um líder da equipe nesse
momento, pois tal papel é fundamental para os ajustes das atividades e da equipe
e irá impactar, consequentemente, no atingimento dos objetivos desejados.
Comunicação: todo trabalho, seja ele qual for, necessita de comunicação
aberta por parte de todos na equipe e tal equipe deve funcionar como um
relógio, pois, para estar funcionando, há necessidade de engrenagem e cada
unidade deverá estar funcionando perfeitamente, caso contrário o relógio irá
parar de funcionar.
Confiança: primordial aspecto, pois deverá existir confiança em todas
as partes da equipe, ou seja, a confiança é o pilar que sustenta o trabalho das
equipes multidisciplinares.
Compromisso: cada indivíduo envolvido na equipe deverá se comprometer
e ajudar com algo no desenvolvimento das atividades, dispondo de seu melhor
para a realização da tarefa que lhes foi designada.
Pode-se assim dizer que todas as empresas, sejam elas públicas ou privadas,
devem desenvolver suas atividades para atender aos seus usuários, ou seja,
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Atividades do Profissional Como Integrante da Equipe de Saúde | PARTE 2
251
96 Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde

seus clientes, com qualidade, respeito e sinceridade para que possa satisfazer e
experienciar boas lembranças aos seus clientes, seja em produtos ou serviços.
Nessa linha, é notório que as equipes multidisciplinares são fatores de
extrema importância para o desenvolvimento de qualquer entidade organiza-
cional, pois elas irão melhorar a troca de informação e, consequentemente, o
desempenho das atividades, sejam elas individuais ou coletivas, pois todos os
profissionais envolvidos irão trabalhar no mesmo foco e no mesmo objetivo,
que é o sucesso profissional de cada um para um bem maior de todos.
Trazendo para dentro da área da saúde, é quase que ridículo não ter essa
percepção de equipes multidisciplinares ou multiprofissionais, e dentro do
NASF isso é muito mais que uma obrigação, mas, sim, uma necessidade.
Existem alguns tipos de equipes no NASF, que são NASF 1, NASF 2 e
NASF 3, em que, basicamente, o que mudará é a carga horária estabelecida
para uma das modalidades e o número de equipes empregadas (Tabela 1).

Tabela 1. Tipos de NAFS.

Nº de equipes
Tipo de NASF empregadas Carga horária empregada*

NASF 1 5-9 equipes Mínimo de 200 horas semanais

NASF 2 3-4 equipes Mínimo de 120 horas semanais

NASF 3 1-2 equipes Mínimo de 80 horas semanais


* Nenhum profissional poderá possuir uma carga horária menor que 20 horas por semana.

Fonte: Brasil (2012).

A composição dos profissionais para os NASFs 1, 2 e 3 deverá respeitar o


Código Brasileiro de Ocupações (CBO) e as profissões que terão possibilidade
de atuação são: médico acupunturista, assistente social, profissional/professor
de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico gineco-
logista/obstetra, médico homeopata, nutricionista, médico pediatra, psicólogo,
médico psiquiatra, terapeuta ocupacional, médico geriatra, médico internista,
médico do trabalho, médico veterinário, profissional com formação em arte
e educação (arte educador) e profissional de saúde sanitarista, precisando ser
graduado na área de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva
ou graduado diretamente em uma das áreas descritas acima.
252 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde 97

Com o rol de profissões descritas acima, nota-se que a multidisciplinaridade


e a multiprofissionalização estão diretamente ligadas às atividades desempe-
nhadas dentro dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, pois têm uma gama
de diferentes profissionais que poderão e deverão atuar no desenvolvimento das
atividades propostas em atendimento de prevenção e resolução de problemas
na área da saúde.

A composição de um tipo de NASF é definida pelos gestores municipais, respeitando


os critérios de prioridade a partir de dados estatísticos de epidemiologia e da real
necessidade dos locais e das equipes de saúde que serão auxiliadas.

O profissional de educação física como


integrante de uma equipe NASF
Falar sobre a importância da prática de atividade física para manutenção e
prevenção de doenças e para um melhor desempenho dos aspectos psicológicos
e sociais de uma pessoa até parece redundância nos dias de hoje, pois a busca
por corpo e mente saudáveis se tornou algo de extrema importância em todos
os níveis sociais e em qualquer parte do planeta.
Praticar regularmente exercícios físicos é o que os profissionais da saúde
recomendam a todas as pessoas de todas as idades, salvas as exceções por
situações clínicas que possam dificultar ou até mesmo impedir o desenvol-
vimento da prática física.
É de senso comum que o corpo humano possui um melhor funciona-
mento quando está em constante movimentação. Todos os sistemas corpo-
rais (esquelético, digestório, respiratório, muscular, circulatório, urinário,
endócrino, nervoso, reprodutor e linfático) são beneficiados com a prática
de atividades físicas.
Sendo assim, é correto dizer que a prática de qualquer atividade física é
mais que um ato social, deve ser qualificado como um estímulo de extrema
atração para todos que querem ter um bem-estar físico, mental e emocional
e, por consequência, uma melhor qualidade de vida, podendo, até mesmo,
prolongar sua longevidade com muito mais saúde.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Atividades do Profissional Como Integrante da Equipe de Saúde | PARTE 2
253
98 Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde

Você sabe qual atividade física combina com sua faixa


etária? Acesse o link ou código a seguir e descubra:

https://goo.gl/sBJrGm

É nesse campo que a educação física tem sua responsabilidade e po-


tencialidade, pois deve proporcionar aos seus diversos públicos o bem-
-estar em suas mais diferentes frentes, pois quando trabalha equilíbrio,
coordenação motora, velocidade, flexibilidade, socialização, respeito ao
próximo, inclusão e interação com os meios, sendo estes alguns poucos
aspectos que podem ser desenvolvidos, estará colocando em prática os
benefícios da atividade física.
Sendo uma profissão do campo da saúde, a educação física deve sempre
estar elencada como partícipe de qualquer programa de promoção, pre-
venção ou então na resolução de problemas ligados à saúde da sociedade
como um todo.
A inserção do profissional de educação física dentro do NASF é de suma
importância devido aos aspectos físicos, sociais e cognitivos que são propor-
cionados por ela, proporcionando assim a melhora da qualidade de vida de
todos que se beneficiarão de seus conhecimentos.
Atuando nas equipes de multiprofissionais dos NASFs, o profissional de
educação física consegue ampliar o nível de abrangência na atenção básica,
sendo o responsável por todas as ações de atividades físicas e práticas corporais.
Cabe ressaltar que, dentro dos objetivos de um NASF, a atuação de um
único profissional não é premissa somente dele, mas também que todos os
profissionais possam compartilhar seus conhecimentos, fazendo assim, do
trabalho em conjunto, um carro chefe para o desenvolvimento das atividades
que serão propostas, buscando interação e intervenção interdisciplinar/
interprofissional, ou seja, que o conhecimento do profissional de educação
física, nesse caso, possa contribuir de maneira positiva para integrar e for-
talecer a equipe.
A intervenção do profissional de educação física deve ser dirigida a
grupos-alvo, podendo ter diversas faixas etárias portando diferentes condi-
ções corporais e/ou necessidades de um atendimento mais especial, quando,
254 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde 99

juntamente com isso, o profissional de educação física deverá conhecer as


características da população e do local onde irá atuar e adequar suas práticas
a essas pessoas e esses locais.
Há dois campos em que o profissional de educação física deve atuar fortemente.
O primeiro é na promoção da saúde e o segundo é na prevenção de doenças.
A promoção da saúde não se direciona a uma doença específica, ela tem por
objetivo melhorar a saúde e o bem corporal como um todo, ou seja, proporcionar
uma vida saudável a todos que possa atingir. Já as questões de prevenções
visam a anular o surgimento de possíveis doenças, objetivando diminuir a
disseminação das doenças infecciosas e degenerativas.
É de suma importância saber a diferença entre os conceitos de promoção
e prevenção da saúde, pois esses saberes possibilitarão a ampliação do olhar
do profissional de educação física, não ficando assim limitado e focado em
ações destinadas às doenças, mas buscando também os melhores aspectos
que a atividade física pode proporcionar aos seus usuários.
Então, pode-se dizer que o profissional de educação física contribui em
um NASF quando ele atua:

 na área de prevenção da saúde;


 na promoção da saúde;
 com diferentes faixas etárias;
 com pessoas com necessidades especiais;
 desenvolvendo atividades de reeducação motora;
 desenvolvendo atividades de formação cultural, esportiva e de lazer;
 na concepção de eventos de inclusão social, proporcionando experi-
ências solidárias;
 no desenvolvimento dos indivíduos por meio de superações de estados
físicos;
 no benefício para a sociedade em que está inserido por meio do desen-
volvimento de habilidades motoras;
 na criação de uma perspectiva de melhora aos indivíduos em contexto
adverso em que está inserido;
 em uma busca efetiva pela melhora da qualidade de vida da população
em que está inserido por meio de atividades e exercícios corporais.

Cabe ressaltar que o profissional de educação física deverá ter o conhe-


cimento necessário para se posicionar em uma equipe multidisciplinar/mul-
tiprofissional, compreendendo os momentos de sua atuação na intervenção
interdisciplinar, não apenas se posicionando nas reuniões, mas conhecendo o
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Atividades do Profissional Como Integrante da Equipe de Saúde | PARTE 2
255
100 Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde

funcionamento das rotinas do local onde atua, ou seja, deve ser parte efetiva
da equipe de um NASF quando esta for sua atividade laboral, fazendo parte
na colaboração para o atingimento do objetivo maior, que é proporcionar uma
melhor qualidade de vida a quem procura auxílio.

O atendimento de um paciente com dificuldade motora e com restrições cardíacas


deve sempre ser realizado por mais de um profissional, pois, dessa forma, ele terá todo
o auxílio necessário para a sua melhora de vida.

1. O que é NASF? b) ações em somente um setor.


a) É uma equipe formada c) discussão das diferenças
somente por um tipo de entre os setores.
profissional que se destina a d) construção conjunta de
um tipo de atendimento. projetos terapêuticos.
b) É uma equipe formada por alguns e) decisões de um único
profissionais que se destina a profissional.
um único tipo de atendimento. 3. Dentro de uma equipe multidisciplinar
c) É uma equipe formada somente de um NASF é correto afirmar:
por um tipo de profissional que a) há disseminação do
se destina ao atendimento das conhecimento de todos
Equipes de Saúde da Família. os envolvidos.
d) É uma equipe formada por b) somente um ponto de vista.
alguns profissionais que se c) falta de motivação da equipe.
destina ao atendimento somente d) uma produtividade
do Atendimento Básico. sem criatividade.
e) É uma equipe formada por e) uma grande dependência
alguns profissionais que se da equipe.
destina ao atendimento das 4. Dentro dos tipos de NASFs
Equipes de Saúde da Família existentes, o NASF 1 é composto por:
e ao Atendimento Básico. a) de 5 a 9 equipes com no máximo
2. Dentre as ações desenvolvidas pelo de 200 horas semanais.
NASF em um modelo matricial, b) de 5 a 9 equipes com no mínimo
é correto afirmar que ocorrem: de 200 horas semanais.
a) estudo isolado de vários casos. c) de 10 a 20 equipes com no
física, como parte importante competitivos de desportos.
de uma equipe de NASF, e) somente com indivíduos sem
contribui quando atua: qualquer necessidade especial.
256 a) na
EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
prevenção e

BRASIL. Lei 8.080, de 30 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF, 1990. Disponível em: <http://
conselho.saude.gov.br/legislacao/lei8080_190990.htm>. Acesso em: 30 ago. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos
de Apoio à Saúde da Família – NASF. Brasília, DF, 2008. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/prt0154_24_01_2008.html>. Acesso em: 30
ago. 2017.
BRASIL. Portal da Saúde. Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). 2012. Disponível
em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/nasf_perguntas_frequentes.php>. Acesso
em: 15 out. 2017.
DEZORZI, M. Ferramentas da qualidade: aplicada a gestão de recursos humanos: trans-
formação do RH em parceiros estratégicos do negócio. Rio de Janeiro: Qualimark, 2011.
SILVA, C. M. Equipes multidisciplinares. 2014. Disponível em: <http://www.rhportal.com.
br/artigos-rh/equipes-multidisciplinares/>. Acesso em: 30 ago. 2017.

Leituras recomendadas
CARTA de Otawa. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO DA SAÚDE,
1., 1986, Otawa. Anais... Otawa, 1986. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/carta_ottawa.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017.
DECLARAÇÃO de Alma-Ata. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE CUIDADOS
PRIMÁRIOS DE SAÚDE, 1978, Alma-Ata. Anais... Alma-Ata, 1978. Disponível em: <http://
cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-
-Ata.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017.

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Atividades do Profissional Como Integrante da Equipe de Saúde | PARTE 2
257
102 Atividades do profissional como integrante da equipe de saúde

DECLARAÇÃO de Sundsvall. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO


DA SAÚDE, 3., 1991, Sundsvall. Anais... Sundsvall, 1991. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_sundsvall.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017.
OLIVEIRA, E. M.. SPIRI, W. M. Programa Saúde Família: a experiência de equipe multiprofis-
sional. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 40, n. 4, p. 2-7, ago. 2006. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102006000500025>.
Acesso em: 30 ago. 2017.
ROCHA, V. M., CENTURIÃO, C. H. Profissionais da saúde: formação, competência e
responsabilidade social. In: FRAGA, A. B. WACHS, F. (Org.). Educação física e saúde
coletiva: políticas de formação e perspectivas de intervenção. Porto Alegre: Ed. da
UFRGS, 2007. p. 17-31.

PREZADO ESTUDANTE

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258 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 3
Planejamento e Avaliação das Intervenções
da Educação Física no Contexto da Saúde

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260 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Planejamento e avaliação
das intervenções da
educação física no
contexto da saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Elencar as diferentes capacidades físicas relacionadas à saúde.


 Descrever um programa de intervenção física voltada para a promoção
da saúde em escolares.
 Identificar diferentes protocolos de avaliação da aptidão física rela-
cionada à saúde.

Introdução
O tema qualidade de vida e saúde está presente em nossas vidas,
direta ou indiretamente, a todo momento. As temáticas são conteúdos
imprescindíveis para o trabalho dos profissionais de educação física em
ambientes escolares, pois a educação física está classificada como uma
profissão na área da saúde, sendo assim, o profissional tem o dever de
trabalhar em prol da educação para um estilo de vida ativo e saudável por
meio da orientação de práticas de exercícios físicos e do esclarecimento
de seus benefícios.
Neste capítulo, você vai estudar sobre qualidade de vida, saúde, ati-
vidade física e exercício físico. Poderá conceituar e se aprofundar nos
diferentes elementos e dimensões que compõem a qualidade de vida e a
saúde. Serão apresentados exemplos práticos das principais capacidades
físicas relacionadas à saúde, seus conceitos e as formas de desenvolvi-
mento de práticas.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Planejamento e Avaliação das
261
2 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3

Capacidades físicas relacionadas à saúde


Qualidade de vida e saúde atualmente vêm sendo bastante estudadas e pes-
quisadas. O estilo de vida moderno, as grandes mudanças tecnológicas, a
automação de diferentes segmentos da indústria, o crescimento das áreas
urbanas, entre outros elementos tornaram o ser humano menos ativo no seu
dia a dia, levando a mudanças de hábitos. Existem diferentes tipos de capaci-
dades físicas do ser humano, sendo algumas com relação direta ao rendimento
e à performance e outras com relação aos aspectos pertinentes à saúde e à
qualidade de vida do indivíduo.

O que é saúde e qualidade de vida?


Para melhor compreender as principais capacidades físicas relacionadas à
saúde, primeiramente é importante ter uma definição geral do que é saúde.
Saúde é simplesmente a ausência de doenças? Existem diferentes definições
para a palavra saúde e que se diferem entre si em alguns aspectos, mas todos
os autores estudados concordam que saúde não se restringe única e exclusi-
vamente à ausência de doenças.
O conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e
cultural, ou seja, saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas.
Dependerá da época, do lugar e/ou da classe social. Dependerá de valores
individuais e de concepções científicas, religiosas e filosóficas. O mesmo,
aliás, pode ser dito das doenças. Aquilo que é considerado doença varia muito.
O conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgado na Carta
de Princípios de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde),
implicando o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na
promoção e proteção da saúde, diz que “saúde é o estado do mais completo
bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade”, ou
seja, baseados no conceito, não basta simplesmente não estar “doente” para
se ter realmente saúde, existem outros aspectos importantes que compõem o
contexto da saúde.
Segundo Dejours (1986, p. 8), a saúde das pessoas deve ser encarada como
“[...] um assunto ligado às próprias pessoas, alheia a qualquer padronização e
a qualquer determinação fixa e preestabelecida”, de modo a impedir diferen-
tes interpretações e legitimações, a priori, de controle e governo dos outros
(LUNARDI, 1999).
Dessa forma, a crítica mais incisiva feita por Dejours (1986) refere-se à difi-
culdade de definição “do estado de bem-estar”, pois bem-estar, de certa forma,
262 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 3

é bastante subjetivo, ou seja, pode-se diferenciar de pessoa para pessoa. Para


ampliar as possibilidades de entendimento e conceituação da palavra saúde,
apresentamos a conceituação de Nascimento (1992), que afirma que a saúde
resultaria, dentre outras variáveis, das condições de alimentação, moradia,
educação, lazer, transporte e emprego, e das formas de organização social de
produção, constata que, além de se dar a superação da tradição higienista e
curativa pela determinação social da doença, a saúde parece situar-se, assim,
num âmbito superestrutural, resultante de uma base socioeconômica. Portanto,
é possível afirmar que saúde não tem um conceito pronto e fechado, mas tem
diferentes dimensões que podem ser analisadas de diferentes formas de acordo
com o contexto em que está inserida.
Para reforçar a conceituação de saúde, veja a seguir a Figura 1, na qual são
destacados os principais pilares que compõem a saúde.

Figura 1. Pilares que compõem a saúde: físico, mental e social.

Agora, para ampliar a compreensão, é importante compreender a expressão


qualidade de vida, que tem uma ligação direta com saúde e também está muito
relacionada com a educação física, por sua relação com o estilo de vida ativo.
Para a OMS, a definição de qualidade de vida é a percepção que um
indivíduo tem sobre a sua posição na vida, dentro do contexto dos sistemas
de cultura e valores nos quais está inserido e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA
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Planejamento e Avaliação das
263
4 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3

SALUD, 1976). A conceituação de qualidade de vida pode ser tratada como


algo subjetivo e, portanto, é diferente de pessoa para pessoa, podendo mudar
ao longo da vida de cada um. Entretanto, existe consenso que são diversos
os fatores que são capazes de determinar a qualidade de vida das pessoas.
A combinação desses fatores, embora de forma abstrata, pode determinar a
qualidade de vida das pessoas (SCLIAR, 2007). É quase unânime entre dife-
rentes autores que as expressões qualidade de vida e saúde são indissociáveis.
A saúde contribui para melhorar a qualidade de vida das pessoas, ou seja, é
um componente muito importante desta. Dessa forma, qualidade de vida é
uma junção e um equilíbrio de diferentes fatores, físicos, mentais, espirituais,
comportamentais e sociais.
É inegável que o profissional da área da educação física, em razão de sua
estreita aproximação com conteúdos relacionados às práticas físicas e esportivas
e aos temas gerais relacionados à saúde e à adoção de um estilo de vida ativo,
tem grande importância como propagador e estimulador de hábitos saudáveis
de vida, voltados à prática regular de exercícios físicos e, consequentemente,
a uma melhora na qualidade de vida (PRIESS, 2011). Porém, o que seria
qualidade de vida? Como conceituar?
Mendes e Leite (2008) colocam que qualidade de vida é algo subjetivo e
individual, pois depende das expectativas, das perspectivas e do projeto de
vida de cada um. Assim, o que se considera uma vida com boa qualidade para
uma pessoa, poderá não ser para outra, por terem diferentes projetos de vida
e sensações de felicidade.
Há alguns componentes que são importantes e compõem a dimensão
qualidade de vida. São eles:

 Prática de exercícios físicos ao ar livre.


 Ouvir músicas para relaxar e se descontrair.
 Alimentação equilibrada e saudável.
 Relaxamento.
 Ser alegre e ter bom humor.
 Praticar a caridade.
 Praticar exercícios físicos.
 Contemplar a natureza.

No meio da educação física e dos esportes, é muito comum ouvir que


“esporte é saúde” ou “educação física é saúde”. Sabe-se que a prática de es-
portes de forma orientada e planejada pode, sim, interferir de forma positiva
na saúde e na qualidade de vida dos indivíduos, assim como a educação física.
264 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 5

No ambiente escolar, existem diferentes valências físicas e comportamentais


que podem ser avaliadas e acompanhadas pelo professor de educação física.
Sendo assim, o professor de educação física tem uma excelente ferramenta
para trabalhar durante suas aulas aspectos que podem interferir de maneira
positiva na saúde de seus alunos e familiares, por meio da informação, da
orientação, do desenvolvimento de projetos e das práticas voltadas a um estilo
de vida ativo e saudável.
É um consenso entre diferentes profissionais que o esporte pode ser uma
grande ferramenta para o profissional de educação física em um trabalho
voltado à saúde e à melhoria da qualidade de vida de seus alunos. Existem
diferentes manifestações do esporte que podem ser trabalhadas nos ambientes
escolares ou fora deles. A seguir, você poderá entender de forma mais detalhada
cada uma das formas e cada um dos objetivos de manifestação do esporte,
que são: esporte educacional, esporte participação e esporte de rendimento.

A Lei n°. 9.615/98, conhecida com a “Lei Pelé”, regulariza o esporte em nosso país e o
caracteriza nas seguintes manifestações (BRASIL, 1998):
 Esporte educacional: praticado em diferentes tipos de instituições de ensino
sem a finalidade de rendimento, com o foco no desenvolvimento integral de seus
praticantes por meio de uma prática para o lazer.
 Esporte de participação: realizado no dia a dia do indivíduo, sem finalidades com-
petitivas de rendimento, com foco na integração e na socialização dos praticantes
e na promoção da saúde e do bem-estar.
 Esporte de rendimento: praticado de forma profissional, ou não, seguindo as
normas e as regras das mais diferentes entidades desportivas, com a finalidade de
rendimento e performance esportiva.

Portanto, fica nítida a importância do profissional de educação física e de


sua atuação nos ambientes escolares, promovendo práticas físicas e esportivas
que proporcionem um estilo de vida ativo e saudável e, consequentemente,
melhorando a saúde e a qualidade de vida dos alunos. A seguir, você poderá
compreender melhor quais são as principais capacidades físicas que estão
diretamente relacionadas à saúde e as formas de trabalhá-las na educação física.
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6 Planejamento
Planejamento e avaliação e Avaliação das
das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3
265

Capacidades físicas relacionadas à saúde


A expressão capacidade física pode ser definida como todo atributo físico
treinável no ser humano, ou seja, o conjunto de qualidades físicas e motoras
passíveis de treinamento, podendo ser classificadas nos diferentes tipos, des-
tacando: agilidade, velocidade, força, equilíbrio, tempo de reação, coordena-
ção motora, flexibilidade, condicionamento cardiorrespiratório e resistência
muscular. Dentre as capacidades físicas citadas, pode-se destacar duas formas
distintas de aplicação delas:

 Capacidades físicas relacionadas ao rendimento: estão diretamente li-


gadas à performance e, geralmente, ao rendimento esportivo ou pessoal.
 Capacidades físicas relacionadas à saúde: estão diretamente ligadas
a aspectos que envolvem a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar
dos praticantes.

Na sequência, você poderá conhecer de forma mais aprofundada as capaci-


dades físicas que têm relação direta com a saúde e que podem ser trabalhadas
pelo profissional de educação física nos ambientes escolares:

Força: capacidade que o nosso organismo tem de reagir a uma resistência


por meio da contração muscular, ou seja, a capacidade do músculo de exercer
tensão. Segundo Nahas (2003), força muscular é a capacidade máxima de um
grupo muscular ou músculo contra uma resistência e pode variar de acordo
com a especificidade do grupo muscular, o tipo de contração (sendo estática ou
dinâmica; concêntrica ou excêntrica), a velocidade de contração e a articulação
que está sendo utilizada.
No contexto da saúde, o trabalho de força pode trazer os seguintes benefícios
para os seus praticantes:

 Melhoria do sistema osteoarticular: segundo Nahas (2003), pessoas


que fazem um trabalho constante com exercícios de força podem ter
uma densidade óssea até 40% maior que pessoas sedentárias, havendo
também uma maior proteção das cápsulas articulares, diminuindo
assim o índice de lesões.
 Diminuição do tecido adiposo: por meio do aumento da massa muscular
(massa magra), consequentemente o organismo necessita de um gasto
energético e calórico maior para a manutenção do organismo, facilitando
assim a diminuição do tecido adiposo.
266 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 7

 Diminuição da pressão arterial: diferentes estudos que analisam o


trabalho de força e seus efeitos apresentam uma diminuição da pressão
arterial com a prática regular de trabalho de força.
 Melhoria da postura: o fortalecimento muscular aliado com o trabalho
de flexibilidade tende a melhorar a postura do praticante.
 Diminuição de dores localizadas: com o aumento da massa muscular
por meio de exercícios contínuos de força, os trabalhos comuns diários
tendem a tornar-se menos cansativos, diminuindo, consequentemente,
a sensação de cansaço e as dores causadas por esses esforços.

Flexibilidade: é a capacidade de realizar movimentos em certas articula-


ções com apropriada amplitude de movimento, que depende da elasticidade
muscular e da mobilidade articular necessária para a execução de qualquer
atividade física, dentro dos limites morfológicos, sem risco de provocar lesões
(BARBANTI, 1994). No aspecto da saúde é de fundamental importância, pois
permite, por meio da maior amplitude dos movimentos, ações do dia a dia que
possam ser realizadas de forma mais eficiente e com menor risco de lesões.

Condicionamento cardiorrespiratório: também conhecido como capaci-


dade aeróbia, é a capacidade do organismo de resistir à fadiga nos esforços
de longa duração e intensidade moderada ou leve. Pode ser definido como a
capacidade de realização de exercícios dinâmicos de intensidade moderada a
alta com a utilização de grandes grupos musculares, por períodos longos de
tempo (BARBANTI, 1994). Relaciona-se com a saúde, porque níveis baixos de
aptidão física cardiorrespiratória têm sido associados ao aumento notável do
risco de morte prematura por várias causas, destacando-se as doenças cardio-
vasculares, e o oposto, ou seja, um bom condicionamento cardiorrespiratório,
tem um resultado inversamente proporcional, trazendo muitos benefícios para
a saúde geral do indivíduo.

Resistência muscular: capacidade de um músculo resistir à repetição de


movimentos durante um tempo prolongado, ou, se for estática, de manter
a tensão durante um longo período. Está diretamente ligada à força e seus
benefícios são similares, tais como: melhora na sensação do bem-estar e
relaxamento corporal; diminuição da fadiga diária e, consequentemente, da
qualidade do sono; melhora no metabolismo e, consequentemente, na queima
eficiente de calorias.
No ambiente escolar, o profissional de educação física pode trabalhar e
desenvolver diferentes capacidades físicas relacionadas à saúde, por meio de
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
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8 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3

exercícios físicos, jogos lúdicos, esportes, dinâmicas recreativas, entre outras


atividades. A educação física tem acompanhado a tendência mundial de promo-
ção e manutenção da saúde por meio de seus profissionais, que servem como
divulgadores e promotores da prática regular de atividades físicas, levando em
consideração que, muito mais importante que o alto desempenho na prática
esportiva ou de exercícios, a obtenção de níveis satisfatórios de aptidão física
para as tarefas diárias consequente vão influenciar de maneira positiva para a
prevenção geral de doenças e para a melhora da qualidade de vida e da saúde.
Para que você possa ter uma melhor visualização e compreensão das
capacidades físicas abordadas neste capítulo, veja a Figura 2, que se trata de
um esquema com os temas abordados anteriormente.

Figura 2. Capacidades físicas relacionadas à saúde.

Portanto, é possivel concluir que existem diferentes valências físicas trei-


náveis e algumas são imprescindíveis para uma melhora nos aspectos que
compõem a qualidade de vida e a saúde do indivíduo. Estas precisam ser
trabalhadas pelos profissionais de educação física nos ambientes escolares.
268 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 9

Programas de intervenção física voltada à


promoção da saúde
Um grande desafio aos profissionais de educação física que atuam em am-
bientes escolares é o desenvolvimento da promoção da saúde, ou seja, fazer
com que os alunos adquiram um estilo de vida ativo e saudável. Inicialmente,
é importante que os alunos gostem das aulas de educação física e que com-
preendam a importância dessa disciplina no contexto educacional. Para que
isso ocorra, é indispensável que haja o rompimento da visão de que educação
física é somente “esporte” ou “práticas lúdicas”.
Para tanto, se faz necessário que os professores trabalhem conteúdos diver-
sificados da educação física, tais como: esportes, jogos, qualidade de vida e
saúde, doenças relacionadas ao estilo de vida, exercícios físicos, alimentação
saudável, drogas lícitas e ilícitas, cultura, ética, dentre outros.
Cabe ao profissional de educação física, nos ambientes escolares, promover
e divulgar programas que promovam a saúde por meio de um estilo de vida
ativo e saudável, porque a educação física precisa romper com seu aspecto
“tecnicista” e “esportivista” que está enraizado no seu contexto histórico e,
ainda, estar voltada a promoção da saúde por meio do conhecimento e de
práticas físicas.
Embora existam muitos aspectos que podem influenciar, de maneira po-
sitiva ou não, a adoção de um estilo de vida saudável, sabe-se que quanto
antes os bons hábitos forem adotados, maiores serão as possibilidades de uma
melhora nos diferentes aspectos referentes à qualidade de vida e à saúde em
geral e, consequentemente, uma maior expectativa de vida. O estilo de vida
representa 50% dos fatores envolvidos nesse objetivo, ou seja, o profissional de
educação física tem em suas “mãos” uma excelente ferramenta para auxiliar
na promoção da saúde de forma geral.
A seguir, você verá alguns aspectos importantes na elaboração de um
projeto ou programa de intervenção voltados à saúde. Para o desenvolvimento
de programas voltados à qualidade de vida e à saúde no ambiente escolar, o
professor deve ter alguns cuidados e seguir um planejamento básico para que
os seus objetivos possam serem atingidos mais facilmente. Todo e qualquer
projeto/programa, quando bem organizado e elaborado, deve partir inicialmente
de algumas perguntas que irão nortear as ações e definir os objetivos e as
formas de execução. São elas:
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10 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3

O que? Aqui, deve ser definido o tema, o assunto, do projeto. É de grande


importância, pois será referência para todas as demais etapas. Deve ser deli-
mitado para que não se torne algo amplo demais e superficial.

Por que? Aqui, são traçados os objetivos gerais e específicos das ações/pro-
gramas. Devem ser analisados de forma detalhada e devem estar diretamente
relacionados ao tema principal do projeto/programa.

Para que? Todo bom projeto/programa deve ter uma justificativa, ou seja,
relevância, importância, e isso deve ser bem detalhado e esclarecido para
melhor fundamentar as ações.

Como? A metodologia das ações precisa ser bem definida e organizada, ou


seja, como será feito (procedimentos). Neste tópico, o professor deve definir
todas as ações que serão necessárias e a forma como estas ocorrerão.

Onde? O(s) local(is) onde serão desenvolvidas as ações devem ser pensados
antecipadamente para que se possa analisar a infraestrutura e as condições
para o desenvolvimento geral.

Quando? É importante que o período de realização seja estabelecido antecipa-


damente e também que siga um cronograma prévio das etapas que devem ser
cumpridas até se chegar ao objetivo final. Dessa forma, é possível acompanhar
“passo a passo” o desenvolvimento e, se necessário, fazer ajustes no processo.

Quantos? É necessário estabelecer um levantamento de custos do projeto/


programa para verificar a viabilidade. Deve-se verificar tudo que será ne-
cessário, desde equipamentos e materiais até serviços e pessoal. Outro fator
importante é como esses custos serão pagos e quais as formas necessárias
para captação de recursos. Pode-se também fazer parcerias para viabilização
das ações e diminuição dos custos.

Para quem? Por fim, é preciso definir o público-alvo e a quantidade estimada


de pessoas que serão beneficiadas com o programa/projeto. É importante
também estabelecer a faixa etária de foco, para que se possa ter um controle
geral das ações.

Esses são alguns procedimentos gerais prévios que são importantes e devem
ser organizados e detalhados para o melhor desenvolvimento e o sucesso nas
270 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 11

ações. Na Figura 3 a seguir, você pode visualizar um esquema que apresenta


os itens relacionados anteriormente e, dessa forma, ter uma visão do “todo”.

Figura 3. Perguntas importantes na elaboração de um projeto.

Voltando a discutir os temas saúde, qualidade de vida e estilo de vida ativo,


destacamos o autor Nahas (2003), que cita que até mesmo os jovens deveriam
estar mais atentos às questões da saúde, pois o estilo de vida e os hábitos
são estabelecidos em grande parte antes da vida adulta e podem influenciar
grandemente nossa saúde na meia-idade e na velhice. O autor ainda apresenta
diferentes dimensões que compõem a qualidade de vida: nutrição, atividade
física, estresse, relacionamentos e comportamento preventivo.
O Pentáculo do Bem-estar pode ser utilizado pelo profissional de educa-
ção física como uma forma de avaliação da qualidade de vida dos alunos. O
instrumento permite a visualização do pentáculo de cinco dimensões direta-
mente relacionadas à saúde (nutrição, atividade física, controle do estresse,
relacionamento social e comportamento preventivo), podendo, com aplicação
do questionário, fazer o preenchimento do pentáculo, pintando os campos
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12 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3

referente às respostas e, após o término, é possível analisar de forma figurada


quais dimensões estão impactando mais a qualidade de vida da pessoa (quanto
menos pintada a figura estiver, maior o impacto dos aspectos avaliados na
qualidade de vida da pessoa).
O profissional de educação física pode utilizar ferramentas como o Pen-
táculo do Bem-Estar aplicando o protocolo com seus alunos. Dessa forma,
pode ter informações importantes de diferentes dimensões que compõem a
qualidade de vida e estão relacionadas com a saúde e, assim, traçar objetivos
e metas específicos para as aulas e os projetos de intervenção.
Algumas ações e alguns projetos que podem ser realizados ou estimulados
pelo educador físico com o objetivo de promoção da saúde e melhora da
qualidade de vida são:

 Feira de qualidade de vida e saúde: organização de uma feira, envol-


vendo professores de diferentes áreas e com participação efetiva dos
alunos, abordando e expondo temas como doenças relacionadas ao
sedentarismo, drogas lícitas e ilícitas, efeitos do exercícios físicos na
saúde do coração, drogas lícitas e ilícitas, importância da água no or-
ganismo, alimentação saudável, alimentos nocivos à saúde, entre outros
 Passeio ciclístico ou caminhada ecológica: promoção de ações entre
os estudantes e os professores que promovam a saúde e um estilo de
vida ativo por meio de caminhadas ou passeios ciclísticos.
 Dia do desafio para a prática de atividade física: promover um dia na
instituição em que todos pratiquem no mínimo 30 minutos de atividades
físicas de forma conjunta.
 Gincanas esportivas e recreativas: realização de gincanas esportivas
e recreativas que promovam a atividade física e um estilo de vida ativo.

Portanto, são inúmeras as possibilidades de atuação do professor no am-


biente escolar por meio de ações que podem promover a saúde com aulas
e projetos desenvolvidos. Existem também diferentes protocolos e testes
que buscam avaliar diferentes aspectos relacionados à saúde e que são de
fundamental importância para o profissional de educação física. Estes serão
abordados no tópico a seguir.
272 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 13

Os maus hábitos diários e a falta de atividade física aumentam de forma significativa os


índices de obesidade e as doenças relacionadas ao sedentarismo. As novas tecnologias,
os equipamentos de informática e o tempo acentuado em frente à TV são alguns dos
vilões da saúde e da qualidade de vida.

Protocolos de avaliação da aptidão física


relacionados à saúde
Existem diferentes formas de avaliar aspectos relacionados à aptidão física.
Todo processo de avaliação precisa ser muito bem planejado e organizado
para que atenda seus objetivos e suas finalidades.
Afinal de contas, para que é importante avaliar os aspectos relacionados
à saúde? Quais os objetivos da avaliação na educação física? Como avaliar?
O processo de avaliação é de fundamental importância para o profissional de
educação física para que se possa primeiramente ter parâmetros iniciais para
o planejamento das ações e do trabalho e, em um segundo momento, para
avaliar o progresso, a evolução e o desenvolvimento das ações. Outro aspecto
importante no planejamento é que se tenha de forma clara os objetivos que se
tem com a avaliação, ou seja, não basta simplesmente avaliar, deve-se saber
para que se está avaliando, por que, como e o que fazer com os dados coletados.
Quais são os tipos de avaliação? Avaliação é tudo igual? Existem diferen-
tes tipos de avaliação? Vamos tentar esclarecer essas indagações. Em geral,
quando a palavra avaliação é mencionada, pensa-se em administrar testes e
atribuir graus aos indivíduos. Como será visto a seguir, a avaliação tem um
papel mais amplo do que testar e atribuir graus. Dependendo do objetivo, o
avaliador pode lançar mão de três tipos de avaliação: diagnóstica, formativa
e somativa (MARINS; GIANNICHI, 2003). Na sequência, você conhecerá de
forma mais clara o que o autor define sobre cada tipo de avaliação.

Avaliação diagnóstica: nada mais é do que uma análise dos pontos fortes e
fracos do indivíduo, ou da turma, em relação a uma determinada característica.
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14 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3

 Exemplo: como exemplos na educação física, podemos citar a avalia-


ção de medida de “dobras cutâneas”, podendo, dessa forma, se ter um
diagnóstico se o aluno se apresenta dentro dos padrões considerados na
normalidade para sua faixa etária em relação aos índices de massa magra
e tecido adiposo que podem ser identificados por meio da avaliação.
Observe a Figura 4 a seguir.

Figura 4. Avaliação de medida de “dobras cutâneas”.


Fonte: Maila Macchini/Shutterstock.com.

Avaliação formativa: este tipo de avaliação informa sobre o progresso dos


indivíduos, do decorrer do processo ensino-aprendizagem, dando informações
tanto para os indivíduos quanto para os profissionais, indicando ao profissional
se ele está ensinando o conteúdo certo, da maneira certa, para as pessoas
certas e no tempo certo.

 Exemplo: após ter dados coletados anteriormente pelo professor na


avaliação diagnóstica, pode-se fazer novas avaliações para verificar
se houve progresso em relação aos índices encontrados anteriormente
(comparar dados de peso, altura, circunferências, índice de massa cor-
pórea [IMC], dobras cutâneas, entre outros).

Avaliação somativa: é a soma de todas as avaliações realizadas no fim de


cada unidade do planejamento, com o objetivo de obter um quadro geral
da evolução do indivíduo. Tem o objetivo de verificar o resultado geral da
274 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 15

aprendizagem, não somente do ponto de vista conceitual, mas também dos


aspectos procedimentais e atitudinais. Ou seja, possibilita a verificação das
habilidades e competências adquiridas em todo o processo.

 Exemplo: as avaliações somativas podem ser realizadas por meio de


provas teóricas que envolvam os conteúdos e os conceitos trabalhados
no período, por meio de provas práticas, avaliando o desempenho inicial
do aluno, observado na avaliação diagnóstica, e comparando com o
desempenho final, verificando o crescimento e o desenvolvimento.

No ambiente escolar, existem diferentes valências físicas e comportamentais


que podem ser avaliadas e acompanhadas pelo professor.
A avaliação pode ter diferentes objetivos e, dessa forma, é importante
que o professor tenha ciência da finalidade da avaliação para melhor poder
selecionar os testes e as formas. São alguns exemplos:

 Determinar o progresso do indivíduo: esse é um dos mais comuns,


obtendo dados no início e no fim do planejamento, podendo, dessa forma,
avaliar os possíveis avanços. Exemplos: teste de flexibilidade; teste de
aptidão cardiorrespiratória; medidas de dobras cutâneas, entre outros.
 Classificar os indivíduos: pode ser utilizado para classificar os indiví-
duos em grupos mais homogêneos, quando necessário, e, dessa forma,
poder fazer um trabalho mais específico e eficiente com cada grupo.
 Selecionar os indivíduos: muito comum nos ambientes escolares,
quando há necessidade de formar um time para participar de alguma
competição esportiva.
 Diagnosticar: importante para determinar os pontos fortes e fracos de
cada aluno e, partindo dessas informações, desenvolver um trabalho
específico e mais efetivo.
 Motivar: a avaliação pode também ter o objetivo de motivar um grupo,
ou seja, para que cada um possa observar seus avanços e, consequen-
temente, ter mais motivação para continuar.
 Dados para pesquisas e estudos: outro objetivo importante das avalia-
ções é buscar dados para estudos científicos com diferentes finalidades.
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16 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
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Pensar que a avaliação é o ato final do julgamento, e não de um meio para observar o
progresso, algumas vezes é um engano. Outro conceito errôneo é pensar em avaliação
como sendo sinônimo de medida, que, na realidade, é apenas um processo da avaliação.
Seguem alguns conceitos importantes, segundo Marins e Giannichi (2003):
 Teste: é um instrumento, um procedimento ou uma técnica, usados para se obter
uma informação.
 Medida: é o processo utilizado para coletar as informações obtidas pelo teste,
atribuindo um valor numérico aos resultados.
 Avaliação: é o que determina a importância ou o valor da informação coletada.

Na educação física existem diferentes testes e formas de avaliação que


podem ser utilizados pelo professor para o melhor desenvolvimento de suas
aulas. Na sequência, você conhecerá alguns testes, formas de aplicação, ob-
jetivos, aplicabilidades e características. São eles:

Teste de IMC: embora seja um teste bastante simples, pode ser utilizado
para verificar se os alunos estão nos índices considerados adequados para a
faixa etária. É um teste interessante, pois é fácil de aplicar e exige somente
os dados do peso e da altura, mas tem fragilidades, pois em indivíduos com a
massa muscular bem desenvolvida pode apresentar resultados não fidedignos,
indicando algum nível de sobrepeso ou até obesidade.
Fórmula para cálculo do IMC:
Peso
IMC = ______
Altura2

Veja o Quadro 1 a seguir os valores de referência para o cálculo de IMC.


276 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 17

Quadro 1. Valores de referência para cálculo de IMC

Meninos Meninas

Obesidade

Obesidade
Sobrepeso

Sobrepeso
Normal

Normal
Idade

6 14,5 Mais de Mais de 14,3 Mais de Mais de


16,6 18,0 16,1 17,4

7 15 Mais de Mais de 14,9 Mais de Mais de


17,3 19,1 17,1 18,9

8 15,6 Mais de Mais de 15,6 Mais de Mais de


16,7 20,3 18,1 20,3

9 16,1 Mais de Mais de 16,3 Mais de Mais de


18,8 21,4 19,1 21,7

10 16,7 Mais de Mais de 17 Mais de Mais de


19,6 22,5 20,1 23,2

11 17,2 Mais de Mais de 176, Mais de Mais de


20,3 23,7 21,1 24,5

12 17,8 Mais de Mais de 18,3 Mais de Mais de


21,1 24,8 22,1 25,9

13 18,5 Mais de Mais de 18,9 Mais de 23 Mais de


21,9 25,9 27,7

14 19,2 Mais de Mais de 19,3 Mais de Mais de


22,7 26,9 23,8 27,9

15 19,9 Mais de Mais de 19,6 Mais de Mais de


23,6 27,7 24,2 28,8

Circunferência abdominal: medida bastante simples de ser realizada, utili-


zando apenas uma fita métrica para determinar a circunferência abdominal
na altura da cicatriz umbilical. Por meio dessa medida, pode-se analisar o
risco de doenças cardiovasculares do aluno. Observe o Quadro 2 a seguir os
valores de referência.
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Quadro 2. Valores de referência para circunferência abdominal

Risco elevado Risco muito elevado

Mulheres ≥ 80 ≥ 88

Homens ≥ 94 ≥ 102

Teste de flexibilidade: existem diferentes testes para avaliação da flexibilidade,


sendo um dos testes mais conhecidos o de “sentar e alcançar”. O teste tem o
objetivo de medir a flexibilidade do quadril e o dorso e é realizado utilizando,
principalmente, o banco de Wells.

Aferição da pressão arterial: a pressão arterial é um dado bastante impor-


tante para controlar e prevenir futuras doenças cardíacas. É um dado fácil
de ser coletado, podendo ser utilizados aparelhos digitais ou estetoscópio e
esfigmomanômetro manual.

Composição corporal: um teste bastante utilizado de verificação da com-


posição corporal é o de dobras cutâneas. A mensuração é feita por meio das
medidas das pregas cutâneas, utilizando-se de um compasso de dobras cutâneas.
Para análise dos resultados, são utilizados diferentes protocolos, de acordo
com os objetivos e faixa etária do grupo.
Existe uma quantidade enorme de testes e avaliações que podem ser rea-
lizados pelo professor de educação física, oportunizando dados importantes
para o planejamento e a avaliação do trabalho, podendo, dessa forma, ter
maior eficácia com suas aulas e proporcionando melhor qualidade de vida
para seus alunos.
Outra fonte interessante de testes para aplicação em escolares é o Projeto
Esporte Brasil (PROESP), no qual são sugeridos e apresentados diferentes
testes de crescimento corporal e aspectos relacionados à saúde e ao desem-
penho esportivo.
278 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Planejamento e avaliação das intervenções da educação física... 19

O PROESP é um instrumento de apoio ao professor de educação física para a avaliação


dos padrões de crescimento corporal, do estado nutricional e da aptidão física para
a saúde e para o desempenho esportivo em crianças e adolescentes. É um sistema
composto por três ferramentas intimamente integradas:
a) Uma bateria de testes.
b) Um conjunto de critérios e normas de avaliação.
c) Um sistema de apoio virtual amigável.
No link a seguir você pode conhecer de forma mais aprofundada o instrumento:

https://goo.gl/DE5gnR

Portanto, finalizamos destacando a importância do profissional de educação


física no trabalho voltado às questões de saúde e qualidade de vida de seus
alunos. São inúmeras as possibilidades de atuação e intervenção do profissional
junto aos seus alunos, podendo este ter uma contribuição bastante significativa
para as ações voltadas à obtenção de um estilo de vida saudável e ativo.

BARBANTI, V. J. Dicionário de educação física e do esporte. Barueri, SP: Manole, 1994.


BRASIL. Lei nº. 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá
outras providências. Brasília, DF, 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/L9615consol.htm>. Acesso em: 22 ago. 2018.
DEJOURS, C. Por um novo conceito de saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional,
v. 14, n. 54, p. 7-11, abr./ jun. 1986.
LUNARDI, V. L. Problematizando conceitos de saúde a partir do tema da governabilidade
dos sujeitos. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 20, n. 1, p. 26-40, jan. 1999. Disponível em:
<http://www.seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/viewFile/4219/2229>.
Acesso em: 22 ago. 2018.
MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação e prescrição de atividade física. 3. ed. Rio de
Janeiro: Shape, 2003.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Planejamento e Avaliação das
279
20 Planejamento e avaliação das intervenções daIntervenções da Educação Física no Contexto da Saúde |
educação física... PARTE 3

MENDES, R. A.; LEITE, N. Ginástica laboral: princípios e aplicações práticas. 2. ed. rev.
ampl. Barueri, SP: Manole, 2008.
NAHAS, M. V. Atividade física, qualidade de vida e saúde. 3. ed. Londrina: Midiograf, 2003.
NASCIMENTO, P. C. Democracia e saúde: uma perspectiva arendtiana. In: FLEURY, S.
(Org.). Saúde coletiva?: questionando a onipotência do social. Rio de Janeiro: Relume-
-Dumará, 1992. p. 177-196.
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Documentos básicos. 26. ed. Genebra: OMS,
1976.
PRIESS, F. G. Características do estilo de vida e da qualidade de vida de professores univer-
sitários de instituições privadas de Foz do Iguaçu e região. 2011. Dissertação (Mestrado
em Educação Física)- Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/1884/26495>. Acesso em: 22 ago. 2018.
SCLIAR, M. História do conceito de saúde. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva, v. 17, n. 1, p.
29-41, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a03.pdf>.
Acesso em: 22 ago. 2018.

Leituras recomendadas
FERNANDES FILHO, J. A prática da avaliação física. 2. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
NIEMAN, D. C. Exercício e saúde: como se prevenir de doenças usando o exercício como
seu remédio. Barueri, SP: Manole, 1999.

PREZADO ESTUDANTE

ENCERRA AQUI O TRECHO DO LIVRO DISPONIBILIZADO PELA


SAGAH PARA ESTA PARTE DA UNIDADE.
280 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
unidade

Parte 4
Prescrição de Exercícios Para
a Saúde e o Condicionamento Físico

O conteúdo deste livro


é disponibilizado
por SAGAH.
282 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Prescrição de exercícios
para a saúde e
condicionamento físico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Enumerar os aspectos relevantes da prescrição do exercício físico, do


condicionamento físico e da saúde.
 Identificar as particularidades de um programa específico de exercí-
cios para a saúde e condicionamento físico orientados às diferentes
populações especiais.
 Reconhecer a importância da prescrição de exercícios para a saúde
e condicionamento físico ao elaborar o programa de treinamento.

Introdução
Os princípios da prescrição de um programa de exercício físico são de
extrema importância para a organização do treinamento e para se atin-
gir resultados concretos. O entendimento desses princípios permite
compreender a relação entre as variáveis de controle intervenientes do
treinamento. Para a maioria dos adultos, um programa que inclua ativida-
des aeróbicas, de força, de flexibilidade e neuromotoras é indispensável
para a melhora e manutenção da aptidão física e da saúde. No entanto,
existem condições que exigem abordagens diferentes com prescrições
específicas.
Neste capítulo, você vai aprender quais são os princípios que orientam
a prescrição de exercício seja para a indivíduos saudáveis, seja para po-
pulações especiais, compreendendo as principais características de cada
condição. Conhecerá também as principais orientações e considerações
especiais para a prescrição de exercícios para as diferentes condições.
Por fim, vai entender o papel do exercício físico na promoção de saúde.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 283
2 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

Prescrição de exercícios,
condicionamento e saúde
Diversas evidências demonstram que a inatividade física é um fator de risco
primordial para o desenvolvimento de doença cardiovascular, equiparando-
-se ao tabagismo, à hipertensão e ao colesterol elevado. A prática regular de
atividade física (AF) rigorosa revela-se fundamental para a redução do risco
de doença coronariana para indivíduos fumantes ou hipertensos. De fato,
incrementos na AF e no condicionamento apresentam relação inversa com a
taxa de mortalidade por qualquer causa (POWERS; HOWLEY, 2017).
Primeiramente, precisamos distinguir o que vêm a ser AF, exercício e
condicionamento. A primeira representa qualquer forma de atividade muscular
que exija um gasto energético proporcional ao trabalho realizado. Exercício
representa um tipo de AF realizado de forma planejada com o objetivo de
promover incrementos no condicionamento. Este, por sua vez, é definido como
um conjunto de atributos inerentes ao indivíduo que podem ser desenvolvidos
e se relacionam à capacidade de executar AF (POWERS; HOWLEY, 2017).
Uma das maiores preocupações na prescrição do exercício está na dose
apropriada e necessária para que gere um efeito desejado (relação dose–resposta).
Qual, por exemplo, deve ser a dose necessária para se atingir um melhor desem-
penho na corrida de 100 m? Seria a mesma intensidade de quando o objetivo é
melhorar uma variável relacionada à saúde (tal como a pressão arterial) ou ao
condicionamento (como aumentar o VO2máx)? (POWERS; HOWLEY, 2017):

A dose do exercício é representada pela interação entre intensidade, frequência e tempo


(duração), que determinam o volume total do exercício. Tal dose está diretamente
relacionada com os benefícios tanto para a saúde quanto para o condicionamento.
Dessa forma, dependendo do objetivo proposto, o volume deve ser adequado (PO-
WERS; HOWLEY, 2017).

Sendo assim, a determinação da dose do exercício é crucial para a sua pres-


crição, tanto para a saúde quanto para o condicionamento. Algumas variáveis
fisiológicas relacionadas à saúde podem ser aprimoradas com intensidades
mais baixas, enquanto outras requerem intensidades mais elevadas, como,
284 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 3

por exemplo, a pressão arterial de repouso e o VO2máx, respectivamente. Além


disso, algumas respondem muito rapidamente a pequenas doses, como é o
caso do sistema nervoso simpático e a frequência cardíaca, que se adaptam
rapidamente ao treinamento físico. Em contraste, outras variáveis, como a
maior capilarização muscular, necessitam de maior tempo para ocorrerem
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

Em 1995, o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), juntamente com o Centro


de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), publicaram uma revisão a respeito da AF
e seus benefícios para a saúde. Essa publicação recomendava que todos os indivíduos
adultos deveriam acumular pelo menos 30 minutos de AF de intensidade moderada (3–6
METs) na maioria ou mesmo em todos os dias da semana. Cabe ressaltar que esses 30
minutos poderiam ser parcelados em atividades com duração de 10 minutos ao longo
do dia até atingir a meta total (POWERS, HOWLEY, 2017). Atualmente, é recomendada a
prática de 150 a 300 minutos por semana de AF de intensidade moderada (3–6 METs),
ou 75 a 150 minutos por semana de AF vigorosa (acima de 6 METs) (ACSM, 2018).

Orientações gerais para melhoria do condicionamento


Já está demonstrado que o risco relativo de desenvolvimento de doenças
crônicas, bem como de morte por todas as causas, é reduzido à medida que o
condicionamento cardiorrespiratório (VO2máx) aumenta (POWERS; HOWLEY,
2017). Estima-se que, para cada aumento de 1 MET no VO2máx, o risco de
morte por todas as causas é reduzido em até 13% (1 MET equivale a 3,5 ml de
O2/kg.min). Além desses benefícios, um maior VO2máx aumenta a capacidade do
indivíduo de realizar uma ampla gama de atividades (KODAMA et al., 2009).
Devido à grande importância da capacidade cardiorrespiratória para a saúde,
sua melhoria se torna um dos objetivos centrais na prescrição de treinamento
físico. A seguir, são apresentadas as diretrizes gerais para prescrição de pro-
gramas de exercícios com o objetivo de aumentar essa variável (POWERS;
HOWLEY, 2017; ACSM, 2018):

 Triagem: o primeiro passo na elaboração de um programa é a realização


da triagem pré-participação, que deve conter o estado de saúde do indiví-
duo, seu risco de desenvolvimento de doença cardiovascular (Quadro 1),
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 285
4 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

seu estado de prontidão para a prática de exercício físico e, se possível,


a avaliação do condicionamento cardiorrespiratório através de um teste
de esforço acompanhado de autorização médica. Existem instrumentos
validados que permitem a realização dessa triagem, como o Questionário
de Risco Coronariano (RISKO), o Algoritmo de triagem pré-participação
do ACSM e o Questionário de Prontidão para Atividade Física Comple-
mentar (PAR-Q+ 2014). Essas avaliações permitem reduzir o risco de
complicações cardiovasculares e até mesmo morte súbita durante a AF.

Quadro 1. Fatores de risco e critérios de definição da doença cardiovascular aterosclerótica

Fatores de risco Critérios de definição

Idade Homens ≥ 45 anos; mulheres ≥ 55 anos.


Histórico familiar Infarto do miocárdio, revascularização coronariana ou morte
súbita do pai ou outro parente masculino de 1º grau, ou antes
de 65 anos da mãe ou outro parente feminino de 1º grau.
Tabagismo Fumante atual, indivíduos que pararam de fumar há menos
de 6 meses ou fumantes passivos.
Inatividade física Não participa de pelo menos 30 min de AF de intensidade
moderada (40 a 59% VO2R) em pelo menos 3 dias da semana
por pelo menos 3 meses.
Obesidade IMC ≥ 30 kg/m2 ou circunferência abdominal > 102 cm para
homens e > 88 cm para mulheres.
Hipertensão Pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mm/Hg e/ou diastólica
≥ 90 mmHg, confirmada por medições em pelo menos
duas ocasiões distintas ou em medicação anti-hipertensiva.
Dislipdemia LDL-C ≥ 130 mg.dl-1 (3,37 mmol.l-1) ou HDL-C < 40 mg.dl-1
(1,04 mmol.l-1) ou em medicação hipolipemiante (p.
ex.: Sivastatina). Se somente o colesterol sérico estiver
disponível, usar ≥ 200 mg.dl-1 (5,18 mmol.l-1).

Fatores de
risco negativo Critério de definição

HDL-C* ≥ 60 mg.dl-1 (1,55 mmol.l-1).


*
HDL-C alto é considerado fator de risco negativo. Neste caso, um fator de
risco positivo deve ser subtraído do total de fatores de risco positivos.

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).


286 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 5

 Progressão: deve-se ter em mente que, para atingir resultados, é preciso


trabalhar com estímulos adequados ao condicionamento do indivíduo,
usando para isso a progressão no seu treinamento, ou seja, auxiliar no
seu deslocamento de uma atividade de intensidade mais leve para in-
tensidades mais vigorosas. Esta abordagem se aplica tanto para crianças
quanto adultos e até indivíduos mais velhos. Pode-se, por exemplo, ini-
ciar com atividades de intensidade leve a moderada e aumentar o tempo
ou a quantidade de dias por semana antes de se elevar a intensidade.
Recomenda-se um incremento de aproximadamente 10%, sendo menor,
geralmente, para indivíduos idosos menos condicionados.
 Frequência: para se alcançar o volume de exercícios recomendado
para a saúde, devem ser realizados exercícios aeróbicos de intensidade
moderada por 5 ou mais dias na semana, e de intensidade vigorosa por
3 ou mais dias na semana. Além disso, recomenda-se duas ou mais
sessões semanais de treinamento de força muscular.
 Intensidade: a intensidade descreve a sobrecarga necessária para provo-
car o efeito do treinamento. Para elevar o VO2máx, a faixa de intensidade
de exercício necessário se situa entre 40 e 89% do VO2reserva (VO2R), sendo
demonstrado melhores resultados para intensidades mais elevadas. Outra
forma de controlar essa intensidade é através da frequência cardíaca
de reserva (FCR), bem como a associação do nível de esforço (como a
escala de Borg de 6 a 20), equivalente metabólico (MET) e sintomas
ou sinais anormais (Quadro 2).

Quadro 2. Métodos para estimar a intensidade de exercícios cardiorrespiratórios e de


resistência

% VO2reserva % de PSE
Classificação %FCmáx ou FCreserva 1–RM (Borg) MET

Muito leve < 57% < 30% < 30 < 10 2

Leve 57–63% 30–39% 30–49% 10–11 2–2,9

Moderada 64–76% 40–59% 50–69% 12–13 3–5,9

Forte 77–95% 60–89% 70–84% 14–16 6–8,7

Muito forte ≥ 96% ≥ 90% ≥ 85 > 16 ≥ 8,8

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).


Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 287
6 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

 Tempo/duração: estudos demonstram existir uma relação dose–res-


posta com a duração do exercício. Deve-se ter em mente que pessoas
sedentárias podem apresentar mais facilidade na realização de sessões
de intensidades mais baixas, porém mais duradouras. No outro extremo,
uma das principais barreiras para adesão a um programa de exercício
físico é a falta de tempo, o que poderia ser contornado com exercícios
em intensidades mais elevadas e menor duração (como treinamento
intervalado de alta intensidade [HIIT]), respeitando o nível de condi-
cionamento do indivíduo.

Com base no que foi exposto, é possível concluir que a prescrição de


exercícios para a melhoria do condicionamento e da saúde é complexa e requer
um nível de conhecimento técnico-científico e prático.

Programas de exercícios para diferentes


populações especiais
A prescrição de exercícios físicos para populações especiais segue os mesmos
princípios e diretrizes gerais. No entanto, devido às particularidades de cada
grupo, existem diretrizes e recomendações específicas que devem ser respeitas
a fim de promover melhores resultados e, principalmente, trabalhar com maior
segurança. Dessa forma, serão apresentados a seguir as principais caracterís-
ticas da prescrição de treinamento físico para os diferentes grupos especiais.

Crianças e adolescentes
Segundo o ACSM (2018), indivíduos jovens, em sua maioria, são saudáveis e
estão aptos a iniciarem um programa de exercício físico de intensidade mo-
derada sem a necessidade de triagem médica. Após o período de adaptação,
eles podem iniciar um treinamento vigoroso. No entanto, crianças em idade
pré-púbere (até 12 anos) possuem o esqueleto imaturo, não sendo recomen-
dado participarem de grandes volumes de exercício em intensidade vigorosa.
Deve-se ter em mente que suas respostas fisiológicas agudas ao exercício são
qualitativamente semelhantes às dos indivíduos adultos, mas com diferenças
quantitativas. Além disso, as crianças possuem capacidade anaeróbica menor
que a dos adultos, o que restringe sua capacidade de realizar atividades vigo-
288 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 7

rosas (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018). As crianças e adolescentes, a


fim de alcançarem benefícios à saúde e à aptidão física, devem realizar AF de
intensidade moderada a vigorosa. Isso deve incluir de preferência atividades
lúdicas, apropriadas às suas idades, incluindo jogos ativos, não estruturados.
O Quadro 3, a seguir, apresenta as principais recomendações propostas para
o treinamento de crianças e adolescentes.

Quadro 3. Recomendações da prescrição de exercício físico para crianças e adolescentes

Fortalecimento
Aeróbico Resistência ósseo

Frequência Diária ≥ 3 dias/semana ≥ 3 dias/semana

Intensidade Moderada à Uso de peso Não aplicável


vigorosa, neste corporal ou 8
último caso em a 15 repetições
pelo menos 3 submáximas,
dias/semana até o ponto de
fadiga moderada

Tempo Como parte Como parte Como parte


dos ≥ 60 min/ dos ≥ 60 min/ dos ≥ 60 min/
dia de exercício dia de exercício dia de exercício

Tipo Atividades Não Corrida, pular


variadas: corrida, estruturados: corda, basquete,
caminhada brincadeiras com amarelinha
rápida, natação, equipamentos e treino de
dança, bicicleta de playground, resistência
e esportes subir em
árvores, cabo-
de-guerra, etc.
Estruturados:
musculação,
utilização
de faixas
elásticas, etc.

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).


Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 289
8 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

Além dessas, outras considerações especiais também são importantes


(ACSM, 2018):

 crianças e adolescentes podem praticar atividade de força, desde que


sejam bem instruídas e supervisionadas;
 crianças e adolescentes acima do peso ou fisicamente inativos talvez
precisem iniciar AF com intensidade moderada, conforme sua tolerân-
cia, e aumentar gradualmente a frequência e o tempo para atingirem a
recomendação de 60 min/dia.;
 se apresentarem alguma condição como asma, diabetes metilo, obesidade
ou outra, devem seguir as recomendações adequadas à sua condição.

Envelhecimento
Devido à repercussão que as alterações fisiológicas do envelhecimento têm na
capacidade de realização de atividades diárias, é recomendado que se realize
algum teste de desempenho físico (teste funcional) com os idosos. Existem
diversas baterias já validadas que estão associadas aos diferentes domínios
subjacentes à aptidão física. Os testes mais utilizados identificam pontos de
corte específicos que indicam as limitações funcionais, contribuindo para a
prescrição do exercício. Um exemplo é o Senior Fitness Test, que abrange um
conjunto de testes para avaliar força e flexibilidade dos músculos dos membros
superiores e inferiores, aptidão cardiorrespiratória, agilidade e equilíbrio
dinâmico (ACSM, 2018).
É recomendado que um programa neste âmbito contemple exercícios
aeróbicos de fortalecimento muscular e de flexibilidade. Além disso, exer-
cícios neuromotores específicos (posturas em dificuldades progressivas,
movimentos dinâmicos que perturbem o centro de gravidade, estímulo dos
músculos posturais, etc.) podem contribuir para melhorar o equilíbrio, a
agilidade e a propriocepção, o que pode auxiliar na prevenção de quedas
(ACSM, 2018). Atualmente, programas de exercícios multimodais (mul-
ticomponentes) — que incluem dois ou mais dos componentes de força,
equilíbrio, resistência ou flexibilidade — têm contribuído para melhorar
a capacidade funcional em idosos (POWERS; HOWLEY, 2017). O Quadro
4, a seguir, apresenta as principais recomendações para a prescrição de
exercício para idosos.
290 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 9

Quadro 4. Recomendações da prescrição de exercício físico para idosos

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Frequência ≥ 5 dias/semana ≥ 2 dias/semana ≥ 2 dias/semana


(moderada)
≥ 3 dias/semana
(vigorosa)
Pode ser
combinada

Intensidade Escala da 0 a 10: Iniciantes: leve Alongamento


5–6 moderada (40–50% 1–RM) até sentir tensão
7–8 vigorosa Avança para muscular ou leve
moderada desconforto
a vigorosa
(60–80% 1–RM)

Tempo 30–60 min/dia 8–10 exercícios Manter o


(moderada) para grandes alongamento por
20–30 min/ grupos 30–60 segundos
dia (vigorosa) musculares
Pode ser 1–3 séries
combinada 8–12 repetições

Tipo Qualquer Programas Qualquer AF


modalidade que progressivos que mantenha
não imponha de treinamento ou aumente a
estresse de força, flexibilidade
ortopédico calistenia ou
excessivo outra atividade
de força

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).

Vários fatores devem ser analisados para potencializar os resultados e


aumentar a segurança durante a realização de exercício físico para os idosos
(ACSM, 2018):

 idosos com sarcopenia (um indicador de fragilidade) necessitam au-


mentar sua força muscular antes de ingressarem em um programa de
treino aeróbico;
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 291
10 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

 quando qualquer condição impede a realização mínima de AF, os res-


pectivos indivíduos devem realizar o quanto tolerarem para combater
o sedentarismo;
 os idosos podem ser estimulados a exceder as quantidades mínimas
recomendadas, a fim de obterem melhor dose–resposta;
 devido a seus benefícios na função cognitiva, a AF de intensidade
moderada deve ser estimulada em indivíduos com declínio cognitivo.

Gestantes
Gestantes saudáveis que não apresentem contraindicações para os exercícios
devem ser orientadas a se exercitar ao longo da gravidez. Para isso, primei-
ramente, a grávida deve realizar um exame clínico completo, para que sejam
eliminadas possíveis complicações que a contraindicariam para a prática de
exercícios (POWERS; HOWLEY, 2017; ACSM, 2018):

 Contraindicação relativa: anemia grave, arritmia cardíaca materna


não avaliada, bronquite crônica, diabetes tipo I, hipertensão, hiperti-
reoidismo e/ou epilepsia mal controlados, obesidade mórbida, subpeso
extremo (IMC < 12), histórico de estilo de vida extremamente sedentário,
limitações ortopédicas e tabagismo intenso.
 Contraindicação absoluta: cardiopatia hemodinamicamente signi-
ficativa, doença pulmonar restritiva, cérvice incompetente, múltiplas
gestações com risco de prematuridade, sangramento persistente no 2º e
no 3º trimestres, placenta prévia após 26 semanas de gestação, trabalho
de parto prematuro durante a gravidez atual, ruptura de membranas
e pré-eclâmpsia.

Na ausência de qualquer complicação médica ou obstétrica, as recomen-


dações se assemelham às de adulto saudáveis, e, quando iniciante, aconselha-
-se a adotar uma progressão com 15 min, 3 dias/semana, até se alcançar o
objetivo de 150 min/semana. O programa deve ser modificado de acordo
com possíveis sintomas e desconfortos apresentados. O Quadro 5, a seguir,
apresenta as principais recomendações para a prescrição de exercício para
gestantes (Quadro 5).
292 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 11

Quadro 5. Recomendações da prescrição de exercício físico para gestantes

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Frequência ≥ 3–5 dias.-/semana 2–3 dias/semana 2–3 dias/semana


(não consecutivos)

Intensidade Moderada Intensidade que Alongar até o


(3–5,9 METs) permita repetições ponto que se
Vigorosa (≥ 6 METs) submáximas sinta tensão
múltiplas muscular ou leve
(p. ex.: 8–10 ou desconforto
12–15 reps)

Tempo ≥ 30 min/dia 1 série (iniciante) Manter


(moderado) Total 2 – 3 séries alongamento
150 min/semana (intermediários estático por
20–30 min/dia a avançados) 10 a 30 segundos
(vigoroso) Foco: grandes
Total 75 min/semana grupos musculares

Tipo Atividades com ou Aparelhos, Uma série


sem sustentação pesos livres e de exercícios
de peso peso corporal estáticos e/ou
dinâmicos para
cada unidade de
músculo/tendão

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).

A seguir, são apresentadas orientações especiais complementares para


elaboração de programas para gestantes (ACSM, 2018):

 como durante a gestação existe uma variabilidade da frequência cardí-


aca, a percepção subjetiva do esforço também pode ser utilizada para
monitorar a intensidade do exercício;
 mulheres que já praticavam treinamento de força podem continuar
normalmente durante a gravidez, caso não apresentam qualquer
contraindicação;
 após 16 semanas de gestação deve-se evitar a posição supina, devido
ao peso do feto;
 deve-se evitar o uso da manobra de Valsalva, de contração isométrica
prolongada e se manter imóvel.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 293
12 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

Diabetes melito
Existem algumas diferenças na prescrição de exercícios para pacientes com
diabetes melito do tipo 1 (DM1) e com diabetes melito do tipo 2 (DM2). Para
os pacientes com DM1, é importante um cuidado na monitorização da glicemia
antes, durante e após o exercício, além da variação da ingestão de carboidratos
e da utilização da insulina, para se evitar um quadro de hipoglicemia. Além
disso, deve-se ter cuidado com as condições pré-AF a respeito da hiperglicemia.
No Quadro 6, são apresentados alguns procedimentos de automonitorização
para o paciente com DM1 antes, durante e após o exercício. A prescrição de
exercícios para os portadores de DM1 deve levar em consideração outros fatores
associados à doença, como neuropatias, retinopatia e nefropatia (POWERS;
HOWLEY, 2017).

Quadro 6. Automonitorização da glicose e da necessidade de ingestão de carboidrato

Monitorização
Controle metabólico da glicemia pré e Ingestão de
pré-exercício pós-exercício alimentos

Glicose > 250 Identificar se há Ingerir mais


mg.dl-1 com cetose: necessidade de carboidratos, conforme
evitar o exercício mudanças na insulina a necessidade, para
Glicose > 300 ou na ingestão evitar a hipoglicemia
mg.dl-1 sem cetose: de alimentos
evitar exercícios de
intensidade vigorosa

Glicose < 100 mg.dl-1: Aprender como a Alimentos


ingerir carboidratos glicemia responde carboidratados devem
aos diferentes tipos e estar disponíveis
intensidades de AF durante e após a AF

Fonte: Adaptado de Powers e Howley (2017).

A combinação de exercícios com uma dieta controlada pode ser o suficiente


para eliminar a necessidade de uso de insulina ou de outra medicação para
estimular a secreção de insulina em pacientes com DM2. Estes indivíduos,
em comparação com aqueles que sofrem de DM1, não apresentam as mes-
mas variações de glicemia durante o exercício; porém, quando fazem uso de
294 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 13

algum estimulante para insulina, provavelmente deverão reduzir a dose para


manter a glicemia normal durante o exercício. Também deve ser levado em
consideração que muitas vezes os pacientes com DM2 apresentam outros
fatores de risco, como colesterol elevado, obesidade e hipertensão arterial
(POWERS; HOWLEY, 2017).
As orientações para prescrição de exercícios para DM1 e para DM2 são
semelhantes (Quadro 7). O incremento da força e da resistência muscular
mediante treinamento de força é benéfico para a ação da insulina e para o
controle da glicemia. Em treinamentos combinados, a realização do treinamento
de força antes do treinamento aeróbico pode reduzir o risco de hipoglicemia
em indivíduos com DM1 (ACSM, 2018).

Quadro 7. Recomendações da prescrição de exercício físico para DM1 e DM2

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Frequência 3–7 dias/semana ≥ 2 dias/semana ≥ 2 dias/semana


(não
consecutivos)

Intensidade Moderada (40–59% Moderada Alongamento


VO2R/FCR) (50–69% 1–RM) até o ponto
Vigorosa (60–89% Vigorosa de tensão
VO2R/FCR) (70–85% 1–RM) muscular ou leve
desconforto

Tempo DM1: 8–10 exercícios Manter


150 min/semana 1–3 séries alongamento
(moderado) 10–15 reps. estático por 10
75 min/semana próximo à fadiga a 30 segundos
(vigorosa) Progredir 2 a 4 reps.
DM2: 1–3 séries
150 min/semana 8–10 reps.
(moderado/ próximo à fadiga
vigoroso)

Tipo Atividades ritmadas Aparelhos, Alongamentos


e prolongadas que pesos livres e estáticos ou
trabalhem grandes peso corporal dinâmicos
grupos musculares

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).


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Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 295
14 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

Além disso, outros cuidados especiais devem ser tomados para a prescrição
do programa, bem como para a realização da sessão de treinamento, conforme
apresentado a seguir (ACSM, 2018):

 A hipoglicemia (< 70 mg/dl) é uma contraindicação relativa para exer-


cícios aeróbicos agudos.
 Durante o exercício, a hipoglicemia pode ser identificada pela manifes-
tação dos seguintes sintomas: tremores, fraqueza, sudorese anormal,
ansiedade, formigamento na boca e nos dedos e fome. Outros sintomas
mais graves incluem: cefaleia, distúrbios visuais, lentidão mental, am-
nésia, convulsões e até o coma.
 Insulina de ação mais longa tem menor chance de causar hipoglicemia
induzida pelo exercício.
 Independente da glicemia inicial, qualquer atividade vigorosa pode
aumentar a glicemia, devido à liberação exagerada de hormônios como
epinefrina e glucagon.

Obesidade
Existe uma relação dose–resposta entre os níveis de AF e a perda de peso.
Algumas recomendações sugerem uma quantidade mínima de 150 min/semana
de AF, enquanto outras defendem que seja realizado entre 200 e 300 min/
semana. Independentemente disso, os objetivos do exercício durante a fase
de perda de peso são maximizar a quantidade de gasto calórico e promover
adaptações neuroendócrinas que possam contribuir com a regulação metabólica
do indivíduo (incluindo maior sensibilidade à leptina, promovendo saciedade;
maior capacidade mitocondrial para transportar e utilizar ácidos graxos como
fonte energética) (EHRMAN et al., 2017; ACSM, 2018).
Para iniciantes, a duração da AF com intensidade moderada e vigorosa
deve progredir até alcançar pelo menos 30 min/dia. Para se manter a perda de
peso a médio e longo prazos, deve-se executar pelo menos 250 min/semana
em intensidade moderada a vigorosa. No Quadro 8, são apresentadas as reco-
mendações do ACSM (2018) para prescrição de exercícios a indivíduos com
sobrepeso e obesos.
296 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 15

Quadro 8. Recomendações da prescrição de exercício físico para indivíduos com sobre-


peso e obesos

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Frequência ≥ 5 dias/semana ≥ 2–3 dias/ ≥ 2–3 dias/


semana semana

Intensidade Moderada (40– 60–70% 1–RM Alongamento


59% VO2R/FCR) Progredir a até o ponto
Vigorosa (60– intensidade de tensão
89% VO2R/FCR) muscular ou leve
para melhores desconforto
resultados

Tempo 30 min/dia (150 2–4 séries Manter


min/semana) 8–12 reps. alongamento
Progredir para Grandes grupos estático por 10
60 min/dia ou musculares a 30 segundos
mais (250–300 2–4 reps.
min/semana)

Tipo Atividades Aparelhos, Alongamentos


ritmadas e pesos livres e estáticos ou
prolongadas peso corporal dinâmicos
que trabalhem
grandes grupos
musculares

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).

Outras considerações especiais na prescrição para este grupo incluem


(ACSM, 2018):

 Uma redução do consumo calórico de 500–1000 kcal/dia contribui


para uma perda de peso entre 0,5–0,9 kg/semana. Para perdas de peso
maiores, podem ser necessárias alterações mais acentuadas na nutrição,
no comportamento e nos exercícios.
 Indivíduos que não respondem a quaisquer das intervenções no estilo
de vida podem necessitar de intervenção médica.
 Um foco importante no processo de perda de peso recai na capacidade
de mudança de hábitos alimentares e comportamento em relação aos
exercícios físicos. Isso exige uma boa relação entre o profissional e o
aluno/cliente/paciente.
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
16 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento
Prescrição físico
de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 297

Doenças cardiovasculares
Pacientes que apresentam insuficiência cardíaca (IC) devem ingressar em um
programa de exercícios com os objetivos de reverter a intolerância ao exercício e
diminuir o risco de um evento clínico. Primeiramente, é necessário que realizem
exames médicos específicos, além de ser recomendado que façam um teste de
esforço com medição de gases espirados, um eletrocardiograma e medições
hemodinâmicas. Uma vez liberados para iniciar o programa e munidos dos
resultados dos exames, o treinamento pode ter início (ACSM, 2018).
Recomenda-se que o volume de treinamento seja aumentado a cada semana,
de forma lenta e consistente, elevando-se primeiro a duração e a frequência,
ao invés da intensidade. Após um período de quatro semanas de treinamento
aeróbico, exercícios de força podem e devem ser incluídos à rotina de treina-
mento (ACSM, 2018). No Quadro 9, a seguir, são apresentadas as diretrizes
para pacientes com IC que desejam praticar exercícios.

Quadro 9. Recomendações da prescrição de exercício físico para indivíduos com IC

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Frequência 3–5 dias/semana 1–2 dias/semana ≥ 2–3 dias/


(não consecutivos) semana
Intensidade 60–80% Iniciante: Alongamento
VO2R/FCR 40% 1–RM — até o ponto
PSE: 11–14 em membros superiores de tensão
uma escala 50% 1–RM — muscular ou leve
de 6–20 membros inferiores desconforto
Progredir para
até 70% 1–RM
Tempo Aumentar 2 séries Manter
progressivamente 10–15 reps. alongamento
para 30 min/dia, Foco: principais estático por 10
objetivando grupos musculares a 30 segundos
≥ 60 min/dia 2–4 reps.
Tipo Esteira Dar preferência Alongamentos
ergométrica para exercícios em estáticos ou
ou caminhada equipamentos dinâmicos
livre e bicicleta
estacionária

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).


298 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 17

Para casos com hipertensão arterial sistêmica (HAS), deve ser dada ênfase
às atividades aeróbicas, que podem ser complementadas com treinamento de
força. Dados mais recentes demonstram que, por si só, o exercício de força
promove reduções da pressão arterial (PA). É importante considerar o nível de
controle da PA associado a terapia farmacológica. A progressão do treinamento
deve ser gradual, evitando acréscimos exagerados em qualquer uma das vari-
áveis do treinamento. É importante manter a PA sistólica ≤ 220 mmHg e/ou a
PA diastólica ≤ 105 mmHg durante o exercício (POWERS; HOWLEY, 2017;
ACSM, 2018). As principais recomendações para a prescrição de exercícios
a essa população são apresentadas no Quadro 10.

Quadro 10. Recomendações da prescrição de exercício físico para indivíduos com HAS

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Frequência 5–7 dias/semana 2–3 dias/semana ≥ 2–3 dias/


semana

Intensidade Moderada (40– 60–70% 1–RM Alongamento


59% VO2R/FCR) Progredir para até o ponto
PSE: 12–13 em até 80% 1–RM de tensão
uma escala muscular ou leve
de 6–20 desconforto

Tempo ≥ 30 min/dia 2–4 séries Manter


contínuo ou 8–10 reps. alongamento
intermitente Grandes grupos estático por 10
(sessões de musculares a 30 segundos
10 min) 2–4 reps.

Tipo Atividades Aparelhos, Alongamentos


ritmadas e pesos livres e estáticos ou
prolongadas peso corporal dinâmicos
que trabalhem
grandes grupos
musculares

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).


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Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 299
18 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

Para a prescrição de exercícios físicos a pacientes cardíacos que fazem uso de betablo-
queadores, é importante realizar a redução do percentual da sua frequência cardíaca
de trabalho, a depender da dosagem utilizada, como é demonstrado no I Consenso
Nacional de Reabilitação Cardiovascular, que você pode acessar via o link a seguir.

https://qrgo.page.link/LT2yQ

A prescrição de exercícios, tanto em caso de IC quanto de HAS, também


deve levar em consideração os seguintes fatores complementares (ACSM, 2018):

 Pacientes que apresentam IC do ventrículo direito tendem a se beneficiar


de exercícios intermitentes, realizados de forma parcelada ao longo do
dia, com duração mínima de 10 min cada sessão. Para esses indivíduos,
é apropriado utilizar uma percepção subjetiva de esforço (PSE) entre
11 e 13 para prescrever a intensidade do exercício.
 Pacientes com HAS podem fazer uso de betabloqueadores e diuréticos,
o que pode alterar o seu centro termorregulador e aumentar as chances
de hipoglicemia. Dessa forma, eles devem ser orientados sobre os
possíveis sintomas que podem apresentar.
 O término da sessão de exercício deve ser gradual, com monitoramento
constante da PA e FC, para minimizar o efeito hipotensor pós-exercícios,
principalmente em pacientes com HAS.

Doenças pulmonares
Para indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) capa-
zes de se exercitar, recomenda-se treinamento aeróbico. Além disso, a
realização de exercícios de força se revela bastante eficaz no tratamento
da disfunção cardíaca, que às vezes é observada nesses pacientes. Nesses
indivíduos, ainda se observa um aumento nos episódios de quedas, associado
a fraqueza muscular e anormalidade da marcha e equilíbrio; portanto, o
fortalecimento dos membros inferiores e o treinamento de equilíbrio são
indicados (ACSM, 2018).
300 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 19

Ao longo do tempo, deve-se progredir para exercícios de intensidades mais


elevadas, pois promovem maiores benefícios fisiológicos. Uma das formas de
controlar a intensidade do exercício é mediante o grau de tolerância do indi-
víduo, que pode ser avaliado por uma escala de Borg CR-10 modificada para
avaliação de dispneia (EHRMAN et al., 2017). Uma classificação entre 3 e 6
nessa escala, por exemplo, corresponde a uma intensidade entre 53 e 80% do
VO2pico, respectivamente (HOROWITZ; LITTENBERG; MAHLER, 1996). O
controle da intensidade através da FCmáx ou da FCR pode ser inadequado, pois
esses indivíduos tendem a apresentar uma FCrepouso mais elevada e, além disso,
suas limitações ventilatórias inibem a obtenção da FCmáx prevista (ACSM, 2018).
Na prescrição de exercício físico para pacientes com asma, deve-se ter uma
atenção especial com o risco de broncoconstrição induzida pelo exercício (BIE).
Para isso, é recomendado evitar a realização de exercícios em ambientes com
ar frio ou seco, com alto índice de poluição ou outros alérgenos. Também é
recomendada a realização de exercícios de aquecimento de intensidade vigo-
rosa ou variável por um período de 10–15 min, o que tem sido demonstrado
como uma medida redutora no risco de desenvolver BIE (ACSM, 2018). As
recomendações para ambas condições, DPOC e asma, são semelhantes, com
diferenças quanto à intensidade e seu controle (Quadro 11).

Quadro 11. Recomendações da prescrição de exercício físico para indivíduos com DPOC
e asma

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Frequência 3–5 dias/semana 2–3 dias/semana ≥ 2–3 dias/


semana

Intensidade DPOC: Iniciantes: Alongamento


moderada a 60–70% 1–RM até o ponto
vigorosa (4–6 escala Avançados: de tensão
CR-10 de Borg) ≥ 80% 1–RM muscular ou leve
Asma: desconforto
Iniciante: moderada
(40–59% FCR ou VO2R)
Progredir para
60–70% FCR ou
VO2R após 1 mês

(Continua)
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Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 301
20 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

(Continuação)

Quadro 11. Recomendações da prescrição de exercício físico para indivíduos com DPOC
e asma

Aeróbico Resistência Flexibilidade

Tempo DPOC: Força: Manter


20–60 min/ 2–4 séries alongamento
dia (moderada 8–12 reps. estático por 10
a vigorosa) Resistência: a 30 segundos
Pode ser intercalado 2 séries 2–4 reps.
Asma: 15–20 reps.
30–40 min/dia

Tipo Modos aeróbicos Aparelhos, Alongamentos


comuns, como pesos livres e estáticos ou
caminhada e ciclismo peso corporal dinâmicos
estacionário

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).

Existem algumas considerações especiais para prescrição de exercício


físico para pacientes com DPOC e asma (ACSM, 2018):

 Pacientes com DPOC tendem a apresentar disfunção muscular periférica,


que está associada a um pior prognóstico e maior taxa de mortalidade.
Dessa forma, o aumento da força e resistência muscular são alvos do
treinamento, especialmente para os músculos dos membros superiores.
 Pacientes com alta restrição do fluxo aéreo podem melhorar a tolerância
ao exercício com uso de broncodilatadores.
 Indivíduos que experimentam exacerbações dos sintomas, tanto para
DPOC quanto asma, devem ser desencorajados a realizar a sessão de
treinamento até a melhora dos sintomas.

Câncer
De maneira geral, os pacientes com câncer, independente da fase de tratamento,
não devem exercitar-se ao máximo. A prescrição inicial tem por objetivo
promover a deambulação, desde que não existam contraindicações específicas,
302 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 21

devendo o praticante ter sido liberado pelos médicos responsáveis. A prescrição


ainda deve proporcionar atividades que promovam melhora da amplitude de
movimentos, força muscular, redução de tecido adiposo e a mobilidade global.
A progressão pode ser realizada iniciando-se com exercícios na proporção
de 1:1 entre estímulo e repouso, aumentando para 2:1, com duração de 15
min, com o objetivo de realizar esse tempo de forma contínua (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2018).
A Sociedade Americana do Câncer, juntamente com o ACSM, propuseram
as seguintes recomendações para a prescrição de exercícios físicos junto a
essa população:

 Atividade aeróbica moderada até se atingir 150 min/semana, ou, quando


condicionados, atividade de intensidade vigorosa por 75 min/semana.
 Treinamento de força 2–3 dias/semana, com 8–10 exercícios e 10–15
repetições, com pelo menos 1 série.
 Continuar as atividades de vida diária normalmente, na medida do
possível, e exercitar-se o maior número de dias possível.

A importância da prescrição de exercícios


para a saúde e o condicionamento físico
A manutenção de um estilo de vida ativo está associada ao aumento da lon-
gevidade; porém, mais interessante ainda é aumento na expectativa de vida
saudável, que representa o número esperado de anos que uma pessoa poderia
viver desfrutando de uma saúde plena (POWERS; HOWLEY, 2017; MCAR-
DLE; KATCH; KATCH, 2018).
O comportamento sedentário parece ser um fator de risco isolado para
um conjunto de condições patológicas que podem levar à morte prematura,
tanto que foi definido o termo “síndrome de morte sedentária” (SMSe).
Estudos demonstram que, só nos Estados Unidos, a SMSe causará a morte
de 2,5 milhões de indivíduos. Frente a isso, esforços vêm sendo destinados
para reduzir o período gasto em comportamento sedentário (assistindo
televisão, utilizando computador, jogando videogame, etc.) e promover o
aumento na atividade física além das rotinas diárias (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2018).
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 303
22 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

A SMSe está relacionada com diversas condições de saúde envolvendo altos níveis de
triglicerídeos, colesterol e glicose, maior risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2,
hipertensão arterial, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, obesidade, síndrome
metabólica, câncer de mama, cólon, endometrial e epitelial do ovário, depressão,
acidente vascular encefálico, dentre outros. Essas condições se tornam mais urgentes
ainda devido ao fato das crianças estarem apresentando doenças relacionadas a SMSe
(ACSM, 2018).

Nesse contexto, o hábito de permanecer sentado por períodos prolongados


e ter comportamentos sedentários traz prejuízos para a saúde, independente
do nível de AF do indivíduo (ACSM, 2018). Essa situação é altamente preo-
cupante, pois estudos populacionais demonstram que a maioria das pessoas
passa mais de 50% do seu dia em comportamento sedentário (MATTHEWS
et al., 2008). Manter-se em um estilo de vida sedentário parece equivaler ao
risco de fumar um maço de cigarros por dia ou de estar com o peso acima de
20% do ideal (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Além disso, a falta de atividade física regular está associada a um maior
risco de desenvolvimento de cardiopatias, podendo apresentar um risco até
duas vezes maior quando comparado a indivíduos ativos. Ao se comparar o
número de pessoas que apresentam estilo de vida sedentário com os outros
fatores de risco para doença cardiovascular, observa-se que o sedentarismo
representa o maior risco para essa condição. Vale ressaltar que exercícios
de intensidade moderada, como caminhadas, já demonstram ser altamente
benéficos, auxiliando no controle do diabetes melito, na hipertensão arterial
e no colesterol elevado (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).
Em 2008, nos Estados Unidos, o Comitê Consultivo das Diretrizes de
Atividades Físicas apresentou duas conclusões importantes para as recomen-
dações de AF para a saúde (ACSM, 2018):

1. a realização de uma quantidade moderada de AF durante a maior parte


dos dias da semana traz benefícios importantes para a saúde;
2. quando o volume de AF é aumentado, obtêm-se benefícios adicionais.

Dessa forma, aqueles que mantêm uma rotina de AF com maior duração
e/ou maiores intensidades (> 6 METs) podem obter maiores benefícios para a
saúde. Cada vez mais, novos estudos demonstram haver uma relação de dose–
304 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 23

resposta entre a AF regular e um menor risco de morte prematura associada


a diversos fatores (Quadro 12).

Quadro 12. Evidências da relação dose–resposta entre AF e resultados de saúde

Evidência de
relação inversa de
Variável dose–resposta Força de evidência*

Mortalidade geral Sim Alta

Saúde cardiorrespiratória Sim Alta

Saúde metabólica Sim Moderada

Perda de peso Sim Alta

Obesidade abdominal Sim Moderada

Saúde óssea Sim Moderada

Saúde das articulações Sim Alta

Saúde muscular Sim Alta

Saúde funcional Sim Moderada

Câncer de cólon e mama Sim Moderada

Depressão e estresse Sim Moderada

Ansiedade e saúde Dados insuficientes Baixa


cognitiva
*
A força de evidência foi classificada da seguinte maneira: “alta” — consistente
em estudos e populações; “moderada” — regular, razoavelmente consistente;
“baixa” —limitada, inconsistente em estudos e populações.

Fonte: Adaptado de ACSM (2018).

Níveis elevados de força muscular também estão associados a maiores be-


nefícios para a saúde, como um menor risco cardiometabólico, de mortalidade
geral, de eventos de doenças cardiovasculares (DCV), de desenvolvimento
de limitações de funções físicas e de doença não fatal (ACSM, 2018). Duas
metanálises publicadas em 2014 demonstraram que, de fato, o treinamento
de força é tão eficaz quanto o treinamento aeróbico na melhoria do perfil
lipídico de pessoas com sobrepeso/obesidade, bem como no tratamento de
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 305
24 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

indivíduos com DM2 (SCWHINGSHACKL et al., 2014; YANG et al., 2014).


Quando comparados ao treinamento aeróbico, protocolos de treinamento de
força com intensidade leve a moderada demonstraram ser mais efetivos na
redução da pressão arterial, tanto em indivíduos normotensos quanto em hi-
pertensos, (CARLSON et al., 2014). O aumento da força e da massa muscular
está positivamente associado ao aumento da massa óssea, contribuindo para
a prevenção, retardo ou reversão da perda de massa óssea na osteoporose.
Além disso, o treinamento de força parece contribuir no manejo da dor e da
incapacidade de indivíduos com osteoartrite (ACSM, 2018).

A osteoartrite é uma condição articular degenerativa que cada vez mais vem acome-
tendo indivíduos mais novos, podendo estar associada à obesidade e a lesões ligadas
ao esporte. Ela ocorre quando a cartilagem articular sofre um desgaste. Antigamente,
o tratamento tradicional era conservador e orientava os indivíduos com essa condição
que aliviassem ou reduzissem a sobrecarga nas articulações acometidas. Atualmente,
é recomendado que os pacientes artríticos associem atividades de baixo impacto
como atividades aquáticas, pedaladas ou caminhadas, com redução do peso corporal
e o fortalecimento da musculatura estabilizadora articular. Essa abordagem vem se
revelando mais eficiente na melhora da saúde e da qualidade de vida para esses
indivíduos (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2018).

Portanto, frente às modificações comportamentais da sociedade atual, a


orientação à prática de exercícios físicos cada vez mais deve ganhar destaque
na área da saúde como forma de combater as principais doenças associadas
à inatividade física e ao comportamento sedentário. Diante desse quadro,
devemos reconhecer a importância do profissional de educação física na área
de saúde, como o responsável pela prescrição de programas de exercícios, seja
no âmbito coletivo ou individual. Isso ressalta a necessidade de especialização
por parte desses profissionais para que possam ser capazes de atender a esta
demanda, cada vez mais crescente na atualidade. O próprio ACSM iniciou um
movimento recentemente na defesa do exercício físico como “remédio”, e é
fundamental o engajamento dos profissionais do exercício nessa ação, que tem
por objetivo conscientizar a população de maneira geral sobre a importância
de mudanças de hábitos com a inclusão da prática regular de atividade física.
306 EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE
Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico 25

ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 10. ed. Rio de Janeiro:
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EHRMAN, J. K. et al. Fisiologia do exercício clínico. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2017.
HOROWITZ, M. B.; LITTENBERG, B.; MAHLER, D. A. Dyspnea ratings for prescribing exercise
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KODAMA, S. et al. Cardiorespiratory fitness as a quantitative predictor of all-cause mor-
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MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e
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POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condiciona-
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Leituras recomendadas
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
KETEYIAN, S. J. High intensity Interval training in patients with cardiovascular disease: a
brief review of the physiologic adaptations and suggestions for future research. Journal
Avaliação, Prescrição e Monitoramento de Programas de Exercícios Físicos no Contexto da Saúde Pública | UNIDADE 4
Prescrição de Exercícios Para a Saúde e o Condicionamento Físico | PARTE 4 307
26 Prescrição de exercícios para a saúde e condicionamento físico

of Clinical Exercise Physiology, v. 2, n. 1, p. 13–19, 2013. Disponível em: https://jcep-cepa.


org/doi/abs/10.31189/2165-6193-2.1.13?journalCode=ceph. Acesso em: 2 ago. 2019.
KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Berne & Levy: fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
WEST, J. B. Fisiologia respiratória: princípios básicos. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

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